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Semeando com lágrimas, colhendo com júbilo (At 13— 14)

A PRIM EIRA VIAGEM M ISSIONARIA de Paulo foi marcada por muitos incidentes e acidentes. Enfrentou
oposição, perseguição e até apedrejamento. Essa viagem missionária contém o relato do primeiro
período de atividade missionária de Paulo e Barnabé. E a que mais tem direito de ser chamada de
“viagem missionária”, pois nas outras duas seguintes Paulo se deteve por longo tempo em cidades
estratégicas como Corinto e Efeso. Howard Marshall afirma que era costume de Paulo permanecer numa
só localidade até estabelecer os alicerces firmes de uma comunidade cristã, ou até ser forçado a ir
embora por circunstâncias fora do seu controle (13.50; 14.3-7,20).374 A to s — A ação do Espírito Santo
na vida da igreja A primeira viagem missionária descreve o primeiro ato planejado de “missão
estrangeira” por representantes de uma igreja específica, e não por indivíduos isolados. E se iniciou por
uma decisão deliberada da igreja, inspirada pelo Espírito Santo, e não tanto por causa da perseguição
aos cristãos.375
A direção do Espírito na obra missionária (13.1-4)
A igreja de Antioquia era aberta às pessoas. Os cinco líderes mencionados (Barnabé, Simeão por
sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém e Saulo) simbolizam a diversidade étnica e cultural de
Antioquia.376 Barnabé era um judeu natural da ilha de Chipre. Simeão era africano, uma vez que a
palavra Niger significa “de compleição escura”.377 Alguns sugerem que esse Simeão é o mesmo homem
de Cirene que levou a cruz de Cristo (Lc 23.26). William Barclay observa que seria um fato maravilhoso
que o homem cujo primeiro contato com Jesus foi levar-lhe a cruz — uma tarefa que lhe deve ter
molestado amargamente — agora seja um dos principais responsáveis por levar diretamente a história
da cruz a todo o mundo.378 Lúcio era de Cirene, ou seja, do norte da África. Manaém tinha conexões
com a aristocracia e a corte379, pois era irmão de leite de Herodes Antipas, o rei que mandou matar
João Batista e escarneceu de Jesus em seu julgamento. Saulo era judeu, nascido em Tarso da Cilicia, e
também cidadão romano. Vale destacar que entre os cinco veteranos em Antioquia, com admirável
modéstia, Saulo estava contente com a posição mais inferior.380
Usando pontes de contato (13.5)
Paulo anunciava a Palavra de Deus (13.4,5) empregando os meios mais adequados (13.5). Não ousava
mudar 256 Semeando com lágrimas, colhendo com júbilo a mensagem, mas era sempre audacioso ao
escolher os melhores métodos. Em Salamina, os líderes anunciam a Palavra de Deus nas sinagogas
judaicas (13.5), onde judeus e gentios prosélitos se reuniam para estudar a lei. Ali havia pessoas
tementes a Deus e piedosas. Elas já estavam preparadas para receber a revelação de Deus por meio
do evangelho. Barnabé e Paulo foram consistentes com esse método de pregar nas sinagogas; este
padrão seria seguido frequentemente (13.14,43; 14.1; 16.13; 17.1,10; 18.4,19; 19.8; 28.17). Paulo não
somente seguia o princípio de primeiro ao judeu, mas também dava sentido prático ao estabelecer um
ponto de contato para o evangelho.388
Onde alguém se abre para o evangelho, o diabo cria resistência (13.6-12)
A ilha de Chipre havia sido conquistada pelos romanos e elevada a província imperial, estando agora
sob a jurisdição do senado romano. Para evitar as áreas montanhosas do interior da ilha, os missionários
viajaram 160 km, da costa leste até a costa oeste, em direção a Pafos. Essa cidade era famosa por suas
lindas edificações e um templo dedicado à deusa Afrodite. A cidade era o centro administrativo e religioso
da ilha, bem como a residência do procônsul romano. Esse tinha autoridade militar e judicial absoluta
(18.12; 19.38).389 William Barclay lembra que Pafos era uma cidade infame em virtude do culto à Afrodite
(Vênus),
Desistência no meio do caminho (13.13)
Ao saírem de Pafos para Perge da Panfília, o jovem João Marcos desiste da viagem missionária e retorna
a sua casa em Jerusalém (13.13). Longe de representar esse fato um desestímulo aos dois veteranos
da caravana, Paulo e Barnabé prosseguiram rumo a Antioquia da Pisídia, onde encontraram uma larga
porta aberta para o evangelho. Por que João Marcos desistiu dessa primeira viagem missionária? O texto
não nos responde. Temos, porém, pelo menos três sugestões. A primeira razão é que João Marcos era
primo de Barnabé e, quando eles saíram de Antioquia da Síria, Barnabé era o líder da caravana, porém
a partir de Pafos Paulo assumiu o comando. Possivelmente, isso trouxe constrangimento e até
insegurança ao jovem.
Uma porta aberta para o testemunho (13.14-41)
Os missionários continuaram sua jornada de Perge até Antioquia da Pisídia. Tiveram de viajar por muitos
dias, seguindo o rio Cestro, e subir a uma altitude de 1.100 metros. Além disso, a rota era perigosa
porque bandidos locais atacavam os viajantes nas passagens estreitas das montanhas (2Co 11.26). Os
missionários entraram num território que os romanos chamavam de Província da Galácia. Ali ficava a
cidade de Antioquia da Pisídia. Localizada à margem direita do rio Antios, ocupava a parte centro-
noroeste da Ásia Menor (hoje Turquia). A cidade era lar para numerosos gregos, frígios, romanos e
judeus. A população judaica tinha construído uma sinagoga e familiarizado os gregos com os
ensinamentos do Antigo Testamento.396
Um poderoso despertamento e uma cruel perseguição (13.42-52)
A mensagem de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia foi tão impactante que surtiu imediatamente
dois efeitos. O primeiro é que os líderes da sinagoga pediram uma repetição da mesma mensagem no
sábado seguinte (13.42). O segundo é que muitos dos judeus e prosélitos piedosos seguiram Paulo e
Barnabé, e foram persuadidos a perseverar na graça de Deus (13.43). Durante aquela semana, algo
extraordinário aconteceu na cidade. O evangelho produziu tal impacto nas pessoas que elas mal podiam
esperar o sábado seguinte para encontrarem os homens de Deus na sinagoga. As consequências 263
A to s — A ação do Espírito Santo na vida da igreja da pregação de Paulo foram esmagadoras.
Pregando aos ouvidos e aos olhos (14.1-3)
Os missionários deixaram Antioquia e rumaram para Icônio. Essa cidade ficava na estrada romana cerca
de 145 km ao leste de Antioquia, na mesma área da província da Galácia. Situada num planalto, Icônio
era cercada por campos férteis que recebiam água de fontes que fluíam das montanhas próximas. Era
um centro comercial que servia às comunidades agrícolas da área. Tornou-se uma importante cidade às
margens de uma rodovia principal e, desse centro, saíam pelo menos cinco estradas que rumavam para
o interior nos territórios vizinhos.404 Paulo e Barnabé chegam a Icônio e ali demoram muito tempo,
mesmo debaixo de tensão e perseguição. Na sinagoga de Icônio, Paulo e Barnabé falam com tal poder
que grande multidão, composta por judeus e gregos, crê no Senhor (14.1). Os missionários não pregaram
apenas aos ouvidos, mas também aos olhos. Não apenas falaram, mas também demonstraram. Somos
informados de que eles falavam com ousadia no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça,
concedendo que, por mãos deles, se fizessem sinais e prodígios (14.3)
Uma orquestração contra os obreiros de Deus (14.4-20)
Se em Antioquia da Pisídia os judeus lideraram a perseguição contra Paulo (13.50), em Icônio os judeus
incrédulos incitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra Paulo e Barnabé, bem como contra os
novos convertidos (14.2). A sanha dos adversários foi tão virulenta que o povo da cidade se dividiu, uns
se posicionando a favor dos judeus e outros se colocando ao lado dos apóstolos (14.4). Vendo que a
cidade estava dividida, os adversários usaram a arma do tumulto, e, assim, judeus e gentios, associando-
-se às autoridades, planejaram ultrajar e apedrejar Paulo e Barnabé (14.5,6). Destacamos aqui algumas
lições.
Coragem e zelo pela igreja (14.21-23)
Depois de anunciarem o evangelho em Derbe, Paulo e Barnabé tomam a decisão de voltar para o seu
quartelgeneral em Antioquia da Síria. Nessa volta eles não se afastam dos redutos de tensão. Ao
contrário, passam pelas mesmas cidades onde foram perseguidos - Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia
— e fazem isso por quatro razões. Em primeiro lugar, para fortalecer a alma dos discípulos (14.22). Paulo
e Barnabé não eram apenas missionários itinerantes, mas também pastores do rebanho. Não apenas
geravam filhos espirituais, mas também cuidavam desses neófitos. Sabiam que aqueles novos
convertidos precisavam de encorajamento para viver a vida cristã numa sociedade pagã e hostil.
Conta as muitas bênçãos, dize quantas são! (14.24-28)
E hora de voltar para casa. E hora de recarregar as baterias. E hora de testemunhar os grandes feitos
de Deus na obra missionária. Paulo e Barnabé voltam para Antioquia da Síria, a igreja que os tinha
enviado e recomendado à 270 Semeando com lágrimas, colhendo com júbilo obra missionária (14.24-
26). Esses bravos missionários fizeram três coisas importantes ao retornarem à igreja que os
encaminhara à obra missionária. Em primeiro lugar, eles relataram as intervenções extraordinárias de
Deus na vida deles (14.27). Paulo e Barnabé deixaram igrejas organizadas atrás de si. Em pouco mais
de dez anos, Paulo estabeleceu igrejas em quatro províncias do Império: Galácia, Macedônia, Acaia e
Ásia Menor. Antes de 47 d.C. não havia igrejas nessas províncias; em 57 d.C., Paulo podia dizer que
sua obra estava completa naquele lugar.408 O testemunho é algo legítimo e necessário para encorajar
a igreja. A igreja estava reunida para ouvir as notícias desse primeiro avanço missionário. Paulo e
Barnabé relatam cuidadosamente não o que fizeram por Deus, mas o que Deus fez com eles e por eles.
Não testemunharam para exaltarem a si mesmos. Não testemunharam para se colocarem debaixo dos
holofotes nem buscaram glórias para si mesmos. A ênfase deles estava nos feitos de Deus, e não nas
suas realizações. Em segundo lugar, eles

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