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APOSTILA UM.

CONNECT (VOLUME 5)
ESTUDO 4. MATURIDADE

RECONHECENDO A GRAÇA DE DEUS

INTRODUÇÃO

Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e


João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a
Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que
devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos.
Gálatas 2:9

No estudo anterior, abordamos como a honra está entrelaçada ao amor, sendo-


lhe na verdade uma de suas faces. Abordamos duas maneiras de honrar uma pessoa,
tanto a que diz respeito à dignidade humana, quanta àquela que é uma maneira de
reconhecer o que Deus está realizando através de uma pessoa.
O apóstolo Pedro nos afirma que servir uns aos outros através dos dons que
Deus nos deu é uma forma de administrar fielmente a multiforme graça de Deus.
Servindo-nos dessa expressão, poderíamos dizer que reconhecer a graça de Deus que a
cada um foi dada, também pode ser uma forma zelosa de interagir e preservar esta
multiforme graça de Deus.
A seguir, colocaremos alguns casos no Novo Testamento que ilustra esse
cuidado de reconhecer o agir de Deus através das pessoas. Honrar uns aos outros em
reconhecimento da graça que Deus concedeu a cada um, é uma forma de abençoar e
enriquecer o Corpo. Vale lembrar que um dom não é uma capacidade impessoal de
produzir resultados, mas é um corpo encarnado destinado a dar frutos de justiça que
glorifiquem a Deus (João 15:8; 2 Coríntios 9:10-11).

1. MULTIFORME GRAÇA NA PRÁTICA

A trajetória de vida do apóstolo Paulo pode nos ilustrar com episódios em


diferentes etapas de sua vida, a compreender o processo de reconhecer a graça de Deus.

a) Conversão: Em Atos 9, o texto narra como Paulo teve um encontro


extraordinário com Cristo. Aquele que era separado desde o ventre de sua mãe foi
chamado pela graça de Deus (Gálatas 1:15), quando ainda respirava fortes ameaças
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contra a igreja. Uma luz brilhou e uma voz ecoou dos céus, dizendo: "Saulo, Saulo, por
que me persegues" (Atos 9:4). Caído no chão e atônito, ele pergunta "Quem és tu
Senhor?". A voz continua dos céus, dizendo: Eu sou Jesus, a quem você persegue.
Levante-se, entre na cidade; alguém lhe dirá o que você deve fazer" (Atos 9:5-6).
A voz misteriosa, sublime e desconhecida se revela. Era o próprio Jesus, a quem
Paulo perseguia. Depois da revelação, ele tem uma direção: (1) Entre na cidade (2)
Escute aquele a quem enviarei (3) receba dele informações do que fazer.
No começo de tudo, somos abalados em nossa velha natureza (velha
identidade) e somos confrontados nas velhas prioridades que acompanham esta velha
vida. Paulo era desafiado a abandonar o zelo de um fariseu legalista para conhecer o seu
propósito de vida. E como se não bastasse, ele abruptamente era conectado a um novo
grupo de pessoas, exatamente aquelas a quem furiosamente e de forma implacável
perseguia.
O Jesus que se revelou a Saulo, convocou um dos seus discípulos para uma
missão aparentemente perigosa. Ananias, o escolhido para a missão, deveria encontrar o
antigo perseguidor da igreja na casa de Judas. Ouvindo isto, ele confessa a Jesus tudo

quanto tem ouvido a respeito deste Saulo. E o que ele ouviu de Jesus: "Vá!"

E Ananias foi! Entrou na casa onde Saulo estava, enquanto orava, e impôs-lhe as
mãos para que as escamas dos olhos caíssem e que ele fosse cheio do Espírito Santo.
Ananias recebeu uma informação, uma semente, uma profecia para comunicar:

"Este homem é meu instrumento!". Contra todas as lógicas, todas as

aparências, no caminho inverso de tudo que ele sabia sobre a história de um homem,
Deus lhe revelou que aquele antigo perseguidor se tornaria um apóstolo para levar o
evangelho aos gentios.
Imagine-se no lugar de Ananias! Um desafio para as suas crenças (diante de tudo
que ele acreditava sobre Saulo), um desafio para as suas emoções (diante da aparente
ameaça que era encontrar-se com um feroz perseguidor), um desafio para a sua fé (que
era crer que um perseguidor e ímpio poderia tornar-se num grande instrumento de Deus
para levar o evangelho de Cristo aos gentios). A respeito deste último, o desafio não era
somente crer na transformação de um perseguidor, mas crer na relevância de anunciar o
evangelho para os gentios num contexto de tanta resistência para comunicar a salvação
não apenas aos judeus, mas também aos gentios.
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b) Fator Barnabé: Em Damasco, Paulo começou a pregar que Jesus Cristo


havia ressuscitado entre os mortos e que Ele era o filho de Deus. Depois de saber de um
plano para matá-lo, Paulo foge de Damasco, e chega a Jerusalém. Lá tenta aproximar-se
dos discípulos, mas não consegue por que estes temiam que ele não fosse
verdadeiramente um discípulo.
Barnabé, então, entra no jogo! Ele leva Saulo até os apóstolos, homens de
referência e autoridade entre os irmãos da igreja, contando como ele teve um encontro
com Jesus e como corajosamente já pregava em nome de Jesus. Barnabé, nesta
ocasião, o afirma em identidade (em seu novo nascimento e conversão) e em sua
missão (como já anunciava a Cristo em Damasco).
Quem não precisa de um Barnabé?! Quando é difícil perceber a graça
transformadora de Deus na vida e na história de uma pessoa, Deus envia Barnabé, o
encorajador (Atos 4:36), homem corajoso e generoso (Atos 4:37), bom, cheio do
Espírito Santo e de fé (Atos 11:24). E uma coisa é importante destacar! A vida de Paulo
não é a história de um homem que construiu uma carreira individual de apóstolo,
acumulando conhecimento, discípulos, plantações de igrejas e realizações de milagres.
Não é assim, que a bíblia nos ensina que é a história de uma pessoa. Fica bem claro, que
uma vida, uma única vida é a história de muitos! Se considerarmos que a segunda parte
do livro de Atos é sobre a história de Paulo, então, deveríamos concluir que a história de
Paulo, também é a história de Ananias, de Barnabé, Silas, Tito, Timóteo, Priscila,
Áquila e todas as comunidades que ele com a ajuda de seus irmãos cooperadores
fundaram. Atos não é sobre a história de homens extraordinários, fortes e imbatíveis,
mas sobre pessoas que em todas as suas limitações e fraquezas, receberam graça para
viver uma vida extraordinária de fé.
Não se vive uma vida de filho de Deus sozinho, destacado de uma comunidade e
nem se cumpre a missão de Deus sem cooperadores, dentre eles mentores, discípulos,
amigos e irmãos fiéis e comunidades inteiras.
Quando Deus começa um grande agir em Antioquia e o evangelho começa a ser
anunciado aos de fala grega pelos cipriotas e cirineus convertidos dispersos pela
perseguição, os apóstolos enviam Barnabé para compreender o que estava acontecendo
(Atos 11:19-22). Olhe como Barnabé percebe o que estava acontecendo e a subsequente
iniciativa que ele toma:
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Este, ali chegando e vendo a graça de Deus, ficou alegre e os


animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração
(...)Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo e, quando o
encontrou, levou-o para Antioquia. Assim, durante um ano
inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a
muitos. Em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez
chamados cristãos. (Atos 11:23,25,26)

Barnabé (1) viu a graça de Deus (reconheceu a graça de Deus), (2) alegrou-se,
(3) os encorajou a permanecerem fiéis ao Senhor e (4) foi procurar Saulo para trazê-lo à
Antioquia. Essa são as marcas de um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé (Atos
11:24). Ele reconhece a graça de Deus, se alegra, age e serve para preservá-la e chama a
outros para trabalhar de forma cooperativa naquilo que Deus está fazendo.

Qual é a "Antioquia" que Deus está incendiando? Um lugar, uma cidade não
só tem uma história de drama e tragédia. Antioquia era uma "cidade de refugiados", que
recebia aqueles que fugiam da perseguição ocasionada pela morte de Estevão (Atos
11:19). Mas, são estes "refugiados" que perderam os seus lares e talvez foram separados
de seus familiares que anunciavam corajosamente o evangelho aos gentios, rompendo
com a lógica de evangelização apenas aos judeus.
Algo novo estava acontecendo naquela cidade! Era necessário que uma pessoa
cheia do Espírito Santo fosse enviada para entender espiritualmente o que estava
acontecendo (1 Coríntios 2:14-16). Agora o evangelho também era anunciada aos
gentios por discípulos anônimos. Estamos preparados para perceber e reconhecer o que
a graça de Deus estava realizando em nossa cidade e entre nós?

Olha o tamanho da graça incomensurável de Deus! Aquele que estava no


derradeiro dia da prisão, do apedrejamento e da morte de Estevão, também tornou-se o
homem chamado para uma obra fruto do evangelismo dos discípulos que fugiam da
perseguição ocasionado pela morte do mesmo Estevão. Entendeu como mundo dá
voltas??? Só Deus consegue fazer uma coisa dessas! Aquele homem que consentiu na
morte de um inocente, foi também aquele que testemunhou um dos fenômenos mais
espetaculares que é um rosto de um discípulo de Cristo resplandecer a sua glória. Saulo,
o perseguidor, ouviu o sermão corajoso de Estevão, homem cheio do Espírito Santo e de
sabedoria, e foi "refém" da intercessão de um coração rendido a Jesus. O perseguidor
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transformou-se em apóstolo dos gentios e agora era chamado por Barnabé para pregar e
ensinar aos irmãos novos convertidos em Antioquia.

***

Nem sempre foi fácil para o apóstolo Paulo em seu ministério. Na verdade,
quando foi fácil para ele?! Na segunda carta aos coríntios, o apóstolo confronta a falta
de confiança de alguns dos coríntios em seu ministério. Para quem quiser se aprofundar,
leia toda a carta e perceba o tom amoroso, encorajador, mas firme e algumas vezes
confrontador do apóstolo Paulo, pelo fato, por exemplo, de alguns da comunidade não
reconhecerem o seu ministério entre os coríntios.
E em meio às tribulações e perseguições, e até mesmo aos seus "espinhos na
carne" (2 Coríntios 12:7), Deus irá manifestar a sua graça em meio às nossas fraquezas;
daí, poderemos dizer "quando sou fraco, é que sou forte" (2 Coríntios 12:10).
E pelas incomparáveis riquezas de sua graça (Efésios 2:7), nós viveremos para
a sua glória enquanto houver fôlego, e experimentaremos a sua recompensa quando
completarmos a carreira (2 Timóteo 4:7-8). Ele há de transbordar a sua graça sobre nós
(1 Timóteo 1:14), e nos conectará a "Ananias", a "Barnabés", a "Timóteos", a "Áquilas"
e "Priscilas", a comunidades de fé e a irmãos notáveis a ponto destes estenderem a mão
direita em sinal de comunhão, em reconhecimento da graça que nos foi confiada, para se
cumprir, assim, aquela palavra de Salmos: "Levanta o pobre do pó e do monturo levanta
o necessitado, Para o fazer assentar com os príncipes, mesmo com os príncipes do seu
povo" (Salmos 113:7,8). Um homem pobre de graça em seu orgulho, pode tornar-se
rico em graça e conhecimento no Senhor, quando humilha-se diante da poderosa mão do
Todo-Poderoso Deus.

Autoria: Victor Branco

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