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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

VINIL EM REDE: estudo etnográfico sobre a cultura do suporte no Rio


Grande do Sul

Transcrição de entrevista não-diretiva


Informante: Ionice / documentalista
Data: 16 de março de 2011
Local: Discoteca Pública Natho Henn

(Fernanda – entrevistadora)
Pode falar...nome, idade, formação...

(Ionice – informante)
Tá...meu nome é Ionice Prado de Oliveira, tenho 55 anos, sou bacharel em
Biblioteconomia, me formei há trinta anos. Vim trabalhar na Discoteca em
1992...93, então são mais ou menos 18 anos que eu trabalho aqui nesse setor
de catalogação de discos. Quando eu cheguei aqui éramos três bibliotecárias,
que foram se aposentando, restei, fiquei sozinha. No início, o usuário era bem
diferente do atual, porque eram muitos estudantes de música, professores de
música, o pessoal ligado ao teatro, propaganda, escolas...continuam...enfim,
pra apresentação das crianças e também pra formatura, muita gente vinha
fazer a gravação aqui...e pra ouvir a música, tinhamos uns fones de ouvido lá
na frente, faziam fila, as vezes tinham dez pessoas esperando o..a sua vez
de...de escutar um determinado disco.
E agora ficou reduzido, até em função da internet, mas isso não desmerece o
nosso trabalho, porque nós temos muita coisa que não tá...hum, que não foi
passado pra CD. E tem muita, muita música boa que não foi passada e são
essas músicas que as pessoas vem procurar na discoteca.

(Fernanda – entrevistadora)
Tá e fala um pouco assim sobre o desenvolvimento de coleção, como é que
era, que a maioria...

(Ionice – informante)
No início, quando o Natho Henn resolveu juntar os discos pra fazer
o...audições, pro povo em geral que...a Discoteca começou sendo uma salinha
na Biblioteca Pública do Estado e...então era só erudito, ele queria divulgar a
música erudita. Com o passar do tempo, a Discoteca foi ganhando corpo
próprio, vida própria e...abriu o acervo, aí atualmente nós temos erudito,
popular, nacional, estrangeiro, folclore, de tudo. Todos os discos que nos
doarem a gente aceita desde que não tenhamos e faz aquela seleção né,
quando tem, vê qual é que tá melhor. Tanto a capa, que é uma coisa muito
importante, quanto o vinil.
E...tinha mais alguma coisa que eu ia falar nesse...hum...não sei, me perdi,
desculpa...

(Fernanda – entrevistadora)
[risos] tá vamo fala sobre...

(Ionice – informante)
[risos] tinha uma outra coisa que era bem interessante falar...do acervo...aah,
do acervo que era comprado!

(Fernanda – entrevistadora)
Sim.

(Ionice – informante)
O acervo, 90%, mais de 90%, 99% ele é doado, houve um período quando
tínhamos uma associação de amigos, ela era ativa, algumas vezes ela chegou
a comprar material, discos, tanto vinil quando CD.
Principalmente quando vazíamos exposições e não tínhamos aquele
determinado material e era comprado, ele era adquirido.

(Fernanda – entrevistadora)
Fala um pouco dessa história mesmo, das exposições que vocês fizeram,
muito ligada a disco que teve a última, acho que foi o ...que vocês organizaram
acho que foi Woodstock, agora tem uma ali de música infantil, coisas assim.

(Ionice – informante)
É, as exposições é uma maneira da gente divulgar o acervo e...até um tempo
atrás era sempre o assunto que tivesse em voga, que nos motivava a faze a
exposição. Por exemplo, na época da Copa a gente fez todo um levantamento,
jogadores que cantavam e músicas que falassem de futebol, aí foi uma
exposição só sobre a música e o futebol.
Depois no aniversário da televisão brasileira, nós fizemos também sobre as
novelas da Rede Globo, que é...não tinham muitas novelas em outros canais.
Também fizemos levantamento de todas as trilhas sonoras que tínhamos e foi
uma baita exposição. A outra..teve uma do tango que foi muito bonita também
e todas essas exposições tinha música ao vivo, então ela tinha uma frequencia
anorme, muitas pessoas, enxia o...aquele espaço...o...ai eu não sei o nome
daquele espaço, Maurício Rosemblack? Eu não sei o nome daquele espaço
ali...

(Fernanda – entrevistadora)
O da exposição?

(Ionice – informante)
Enfim...tinha bastante gente! Ãh...depois a gente resolveu fazer aquelas
exposições menores ali perto da, ali na frente, porque todo mês a gente põe o
assunto que tá...daquele mês, as efemérides daquele mês, com uma música
alusiva, porque como música tem de tudo quanto é assunto, sempre tem uma
música referente a um assunto. Então todos os meses, as festividades daquele
mês, a gente relaciona com uma música, uma letra de música que..alusiva.

(Fernanda – entrevistadora)
Eu queria que tu falasse assim agora como...a tua experiência como
bibliotecária mesmo. As buscas mais difíceis que tu já fez, as buscas mais
estranhas que as pessoas já vieram atrás, se tu te lembra de alguma coisa...

(Ionice – informante)
É...tem, muita coisa. Mas o que mais me chamava a atenção, quando as
pessoas não sabiam nem o autor, nem título, nem o cantor, eles cantavam um
pedacinho da música. E quando a gente não sabia, saía a cantar pros colegas
até descobrir que música era, esse é um fato peculiar. Ou assim né, a gente
sabia...a minha irmã que sabia do Roberto Carlos, eu ligava pra ela e ela
matava todas né.
Até a família a gente envolvia, meu pai também, muitas músicas do Noel Rosa
e etc. ele também já quebrou várias, até emprestar disco pra gravar ele já
emprestou.

(Fernanda – entrevistadora)
É? Tinha muita coisa assim então desse intercâmbio de coisas que não eram
da Discoteca assim pra...conseguir...

(Ionice – informante)
Sim...

(Fernanda – entrevistadora)
Pra conseguir um...

Um monte de gente sabia que alguém sabia ou tinha alguma coisa que podia
emprestar...a gente usava sem pensar duas vezes.

(Fernanda – entrevistadora)
E a relação assim dos outros acervos e...outros acervos de discos no interior
assim, como é que funcionava, funciona, funcionava essa coisa de doação, de
troca.

(Ionice – informante)
Eles vinham visitar a Casa, ficavam sabendo da nossa existência, da Discoteca
e nos pediam as duplicatas. Então como é muita duplicata que a gente recebe,
nós sempre enviamos pro pessoal do interior. Igrejinha, eles nos pedem, Santo
Ângelo, tem um centro comunitário que já levou material nosso Boa Vista do
Buricá (Cadeado)...Cruz Alta também já levou...e a gente procura manter
contato com estas instituições. E é uma pena, são discos muito bons e as
vezes super conservados, mas como nós já temos e o nosso tá ótimo não tem
porque ficar com três, quatro exemplares.
(Fernanda – entrevistadora)
E como é que tu vê assim, essa volta assim do vinil...um monte de gente tá
lançando...

(Ionice – informante)
Aah, muito bom! Essa volta do vinil, bah...tava precisando, porque tem muito
disco em vinil e todo mundo que conhece disco sabe que vinil é bem melhor
que o CD. Tava na hora de voltar o vinil. Agora tem que ter o equipamento pra
poder escutar, aí a Discoteca vai tá com tudo encima.

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