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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

VINIL EM REDE: estudo etnográfico sobre a cultura do suporte no Rio


Grande do Sul

Transcrição de entrevista não-diretiva


Informante: Tiago Ramalho, comerciante de discos/ colecionador
Data: 15 de março de 2011
Local: Mercado Público de Porto Alegre (Feira do Vinil)

(Fernanda – entrevistadora)
Ãhh...eu quero que tu fale teu nome.

(Tiago Ramalho – informante)


Todo ele?

(Fernanda – entrevistadora)
Não...porque tu é conhecido...tua cidade e tal, quero que tu fale sobre ti.

(Tiago Ramalho – informante)


Nasci em Canoas, morei em tudo quanto é lugar, tô em Gravataí agora, por
herança em um sítio dos meus pais. Tô lá por opção. E...trabalho aqui acho
que uns oito anos.

(Fernanda – entrevistadora)
Tu trabalha mais com a feira assim?

(Tiago Ramalho – informante)


É...

(Fernanda – entrevistadora)
Com a feira....

(Tiago Ramalho – informante)


Faço outras coisas também assim, fora daqui, quanto tá rolando a feira, daqui a
duas semanas....duas semanas....e eu tô fora essas duas semanas. Lógico que
eu trabalho com eles em casa também mas...aí tem meu irmão, que tem outro
negócio, pede ajuda “vamo lá então”. Tanquilo.

(Fernanda – entrevistadora)
De família o negócio.
(Tiago Ramalho – informante)
Família, é. E...é isso aí, o trabalho é esse, entendeu? Vinil eu conheço desde
14 anos, tinha meu irmão mais velho.

(Fernanda – entrevistadora)
E aí vocês colecionavam assim?

(Tiago Ramalho – informante)


É, meu irmão mais velho era assim, ele fazia festinha de garagem e tal, daí eu
era pequeninho e ia lá dá uma olhada. Bah, cheio de namorada bonita, os
discos legal “ah, vou lá dar uma furungada pra ver qualé”.

(Fernanda – entrevistadora)
Fez isso que era pra pegar as meninas no início. [risos]

(Tiago Ramalho – informante)


É, muito legal, daí começou, daquela época pra cá conheci essas coisinhas
aqui (mostra disco) e nunca mais parei.

(Fernanda – entrevistadora)
Tá, eu queria que tu falasse assim da tua relação com os colecionadores. Pô,
tu tem uma coleção, tu falô que tem uma lista de mais de cem contatos e tal,
como é que funciona isso, como é que essas pessoas chegam aqui.

(Tiago Ramalho – informante)


É, além da feira aqui já tem os colecionadores, o pessoal que já me conhece
há muito tempo. A gente tenta manter contatos e também quando tem a feira
eles vem, a gente se comunica mais aqui né. Aí tem aqueles, claro, aqueles
que são mais chegados daí a gente se fala mais, muito mais do que aqui, só na
feira, fora daqui também. Procura eles nos locais deles, trabalho e tal e aqui me
ajudou a conhecer muita gente, já conhecia antes né, mas aqui eu já fiz muito
mais amizade, todo mundo me conhecia assim.

(Fernanda – entrevistadora)
Tá e o vinil é lucrativo ainda?

(Tiago Ramalho – informante)


É...

(Fernanda – entrevistadora)
Como item de comércio assim, é lucrativo ainda, vale a pena?

(Tiago Ramalho – informante)


Vale, vale a pena. Até pra minha própria surpresa assim, a gente tá no mês de
março né...mês de março...eu achei assim que um dos piores meses pra fazer
negócio de vinil seria no verão em fevereiro. Porque carnaval, férias e tal, o
pessoal tá mais afim de gastar com outras coisas mesmo e não sobra muita
grana pra ? e discos e tal. Mas aí me surpreendeu porque em fevereiro eu bati
meu recorde de vendas.
(Fernanda – entrevistadora)
De lucro assim...

(Tiago Ramalho – informante)


Não tem explicação...é muito relativo, muito relativo...

(Fernanda – entrevistadora)
E essa coisa assim, do vinil tá voltando, tu acha que...promete mesmo? Tu
acha que isso vai...o pessoal tá lançando assim...tu acha isso vai vingar?

(Tiago Ramalho – informante)


Até mesmo eu tô afim de comprar várias reedições aí, quando eu posso, eu
pego um coisa pra mim. Pra vender aqui, o meterial...pena não ter nenhum
aqui, se não ia te mostrar...tu pega ele, tudo zerado, tudo novinho...e dá um
prazer imenso pegar e abrir um disco.

(Fernanda – entrevistadora)
Porque assim, além de comerciante tu é colecionador.

(Tiago Ramalho – informante)


Também.

(Fernanda – entrevistadora)
Tu tem noção de quanto tá a tua coleção? Assim, quantos vinis?

(Tiago Ramalho – informante)


Não tenho mais porque assim, eu tenho uma estante, depois tem umas caixas,
separados, aí depois tem mais outra estante na sala, aí tem um ourto quarto
que tá cheio de vinil também aí fica difícil contar tudo.

(Fernanda – entrevistadora)
Mas tu já contou assim alguma vez, tinha uma noção assim de quantos tá?

(Tiago Ramalho – informante)


Tava com...três mil e alguma coisa a última vez que eu contei. De lá pra
cá...acho que faz o quê...uns três anos que eu não conto mais. Eu quero reunir
um pessoal pra me ajudar.

(Fernanda – entrevistadora)
Sim, a organizar isso.

(Tiago Ramalho – informante)


Com calma...paciência...

(Fernanda – entrevistadora)
E como é essa tua relação assim, entre ser comerciante e ser colecionados, o
que tu vende e o que é teu? É complicado né?

(Tiago Ramalho – informante)


É, as vezes é complicado. Me fizeram uma oferta muito boa pra mim pelo The
Dark Side of the Monn do Pink Floyd...eu abri mão do meu, da minha coleção,
que era o único que eu tinha, pra pessoa fechar a coleção dela.

(Fernanda – entrevistadora)
Pra atender outro colecionador....

(Tiago Ramalho – informante)


Aquele eu abro mão, porque eu sei que eu vou conseguir de novo depois...mas
eu tenho um Pink Floyd que só foi lançado na Inglaterra...tem uma bandeirinha
da Inglaterra na capa dele, pena não ter aqui pra mostrar....ah...esse aí não
tem como vender, depois tu não consegue outro. Uma edição limitada...esse aí
eu não abro mão!

(Fernanda – entrevistadora)
Mas ão deixa de ser uma satisfação, tu ajudar o cara a completar aqui ali...

(Tiago Ramalho – informante)


Sim...o The Dark Side é fácil…

(Fernanda – entrevistadora)
E essa função aqui da Feira, como é que funciona, como é que vocês de
organizam assim...

(Tiago Ramalho – informante)


Funciona...a duração dela é sempre agora tá sendo...antes, quando começou
assim, era só um sábado por mês...só um sábado por mês quando
começou...aí começou a ser sábado e sexta, daí depois passou a ser uma
semana inteira...aí depois começou...antes era só de três em três meses
também, daí começou a rolar todos os meses e tal. Parece que só em outubro
é que não tem aqui, por causa do aniversário do Mercado e tam que...eles
precisam muito de todos os espaços, no mês de outubro. Aí a gente fica assim,
uma semana inteira, sempre começando numa segunda e indo até o sábado.

(Fernanda – entrevistadora)
E outras feiras assim, tão aparecendo outras feiras...

(Tiago Ramalho – informante)


Eu já trabalhei como auxiliar, no Brique da Redenção, mas não era titular, só
ajudante, como se fosse ajudante...não era titular não. Até porque é muito difícil
entrar ali, muito mesmo, um grau de dificuldade assim enorme pra poder entrar.
Acho que devia ser mais fácil, por ser público né...acho que...mas isso aí é a
Prefeitura que...não sei qual é o problema dessa atual Prefeitura aqui.

(Fernanda – entrevistadora)
Tá e sobre clientes assim, tipo, tu trabalha nisso há anos, é meio que um
negócio de família, o teu irmão também mexe com isso assim...
(Tiago Ramalho – informante)
Sim, meu irmão tem loja até hoje...

(Fernanda – entrevistadora)
E o que que tu tem assim, pra me contar assim, de alguma coisa engraçada
assim, tipo...engraçado não...ou peculiar assim...porque sempre aparece
alguma coisa ou outra...um pedido estranho ou alguma pessoa assim...alguma
coisa ligada a quem te busca mesmo assim...

(Tiago Ramalho – informante)


Tenho duas histórias que eu acho muito...uma que eu acho muito...tu pediu
uma engraçada vou contar um engraçada tá...depois eu vou te contar uma do
Renato Russo do Legião Urbana, ele teve lá na loja. A engraçada foi a
seguinte, logo que saiu o CD tinha um rapaz, bem do interiorzão assim Santa
Maria e tal, aí ele era DJ ele pediu pra ouvir um CD. Aí ele sempre ouviu vinil,
novidade....chegou o CD...”vamo ouvir esse CD”...aí eu botei o CD pra ele, tava
acostumado né, a passar o vinil pra ele no prato e tal, só tinha um prato e
ficava do lado da mesa. Aí ele pediu pra ouvir o CD, daí eu passei todas as
faixas, digital né, fui apertando a tecla. Aí quando terminou e tal aí “bota o outro
lado agora”...[risos]

(Fernanda – entrevistadora)
[risos]

(Tiago Ramalho – informante)


Mas o CD só tem um lado cara... não tem dois...[risos]

(Fernanda – entrevistadora)
[risos]

(Tiago Ramalho – informante)


Foi muito engraçado sabe...aí tinha uma galera na loja assim, começaram a rir.
O cara não sabia, era tecnologia nova, não conhece, pô o cara tá
aprendendo...ah muito engraçado...até hoje...
E a história no mesmo local do Renato Russo, na loja, uma história mais
antiga, um pouco do que essa aí que eu contei agora, que é o seguite, eu tava
na porta, não tinha ninguém na loja só eu e um amigo do meu irmão que tava
lá conversando e tal e a gente tava na porta assim...na época eu fumava, tava
fumando um cigarrinho, aí dobrou um táxi na esquina...eu vi que o cara era
meio conhecido assim, pediu pro taxista parar e tal “ah, para aí”, parou na
frente da loja assim...”ah, mas eu acho que é o Renato Russo” , o cara desceu
e disse “ô, tudo bom? Posso olhar os discos?”...”tranquilo, entra aí...” Aí ele
entrou, olhou os discos, deixei olhar a vontade, aí ele separou três discos do
Little Richard, ?????? e o outro era um Alice Cooper, Billion Dollar...ele
separou esses três e aí veio pro balcão pra pagar né...”bah, cidade do interior
mas vocês tão por dentro dos preços né”...ah beleza....tem que tá né? Aí ele
era...vamos dizer que hoje seria assim R$35,00 o valor dos discos, ele pegou e
puxou uma nota de R$50,00 e “não, o troco é teu pode ficar com o troco”.
(Fernanda – entrevistadora)
Sim, só pelo prazer de....

(Tiago Ramalho – informante)


Ganhei um troco do Renato Russo, que legal né....quando era vivo ainda,
beleza...ali naquela época até eu já não era tanto do pop rock nacional, torcia o
nariz, porque meu negócio era mais metal aquela época. Era a época do disco
Dois do Legião Urbana, o segundo né? Acho que 86...pra confirmar a gente
podia olhar o selo do disco depois...86...eles tavam fazendo show na cidade. O
cara era, até hoje, quando pinta alguma coisa, uma reportagem sobre
ele...ãh..nunca deixam de citar que ele era colecionador né, deixou pro filho
dele até a coleção, parece que gramofones, equipamentos de som. Aí
ele...reclamou dos preços [risos]...

(Fernanda – entrevistadora)
Mas pagou e....

(Tiago Ramalho – informante)


Deixou o troco pra mim, beleza, bah que bom né...[risos]....”queria que tu
viesse sempre fazer show aí” eu disse pra ele...bah que pena né, que se foi,
não vai poder rolar isso nunca mais.

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