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OAB e as Prerrogativas

dos Advogados
Elaboração

Leonardo Accioly da Silva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


sumário

sumário............................................................................................................................................3

Apresentação...................................................................................................................................4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa......................................................................5

Introdução.....................................................................................................................................7

Unidade Única
OAB e as Prerrogativas dos Advogados......................................................................................... 9

Capítulo 1
Prerrogativas profissionais como garantia constitucional.............................................. 9

Capítulo 2
Direitos e garantias em espécie............................................................................................... 17

Para (não) Finalizar.......................................................................................................................25

referências....................................................................................................................................26
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo
de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam
verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do
curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não
receber a certificação.

Para (não) Finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

Sempre que se fala em prerrogativas profissionais de qualquer classe ou segmento, ouve-se o mesmo
discurso de que estas seriam beneplácitos corporativos e vantagens das quais não poderiam gozar
o cidadão comum.

O próprio significado da palavra prerrogativa nos remete a essa ideia, já que vem do latim
praerogativa, que exprimia, primitivamente, a possibilidade de falar antes, com origem na outorga
legal conferida aos cavalheiros das centúrias, no império romano, que detinham a praerogativa do
primeiro voto, por ocasião das decisões obtidas pelo sufrágio.

Ocorre que, como se verá adiante, a aplicação do vocábulo à atividade da advocacia muito mais
se aproxima do conceito de “garantia” do que propriamente “privilégio”, pois representa a
exteriorização da vontade constitucional e legal de proteção à liberdade profissional dos advogados,
que dela necessitam para exercitar seu múnus público e resguardar o sagrado direito de defesa do
seu constituinte e da própria ordem jurídica e constitucional, conforme prometem em seu juramento
ao se tornarem advogados1.

Torna-se importante dizer que o exercício das prerrogativas profissionais constitui-se como um
poder-dever do advogado, pois o profissional que não exerce plenamente todo seu espectro de
direitos e garantias está consequentemente deixando de proporcionar uma defesa qualificada e
ampla a seu cliente.

Alçada a garantia constitucional, os direitos dos advogados estão protegidos contra o arbítrio de
qualquer autoridade, que pode ser punida nos termos da Lei 4.898/65.

Atualmente tramita no Congresso o projeto de lei que criminaliza o desrespeito às prerrogativas


profissionais (PLC 83/2008) que, além de tipificar criminalmente os abusos, possibilita à OAB
titularizar a ação pública condicionada nas hipóteses em que o Ministério Público não ajuíze a ação.
Se aprovada, a lei representará um grande mecanismo para que a OAB possa agir de forma mais
efetiva contra as autoridades que violentam a liberdade profissional dos advogados brasileiros.

Sob essa ótica, este caderno pretende, de forma objetiva e didática, transmitir os principais temas
relacionados às prerrogativas, bem como, exercitar de maneira crítica a compreensão acerca dos
direitos dos advogados, segundo nossa mais moderna doutrina e jurisprudência.

Objetivos

Falta

1 Art. 20. Do regulamento geral do estatuto da advocacia e da OAB. : “Art. 20. O requerente à inscrição principal no quadro
de advogados presta o seguinte compromisso perante o Conselho Seccional, a Diretoria ou o Conselho da Subseção:
“Prometo exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas profissionais
e defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação
das leis, a rápida administração da justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas.”

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Unidade Única
OAB e as Prerrogativas dos Advogados

Capítulo 1
Prerrogativas profissionais como garantia
constitucional

O art. 133 da Constituição Federal estabelece que “o advogado é indispensável à administração


da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites
da lei”.

Já o art. 2o da Lei 8.906/94(Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil) prescreve


que:

“ Art. 2o O advogado é indispensável à administração da justiça.

§ 1o No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce


função social.

§ 2o No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao


seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus
público.

§ 3o No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e


manifestações, nos limites desta lei.

Tais dispositivos, em conjunto com as demais disposições legais acerca da atividade da advocacia,
conferem à profissão dos advogados as características de I) essencialidade ou indispensabilidade, 2)
inviolabilidade; 3) múnus público e função social; 4) independência.

Essencialidade ou indispensabilidade
Por essencialidade ou indispensabilidade entende-se a necessária participação do advogado
na busca do cidadão pelo acesso à justiça de forma igualitária e ampla.

Dessa forma, a interveniência do advogado na busca pela consecução do direito de seu constituinte,
na esfera estatal ou não, é requisito essencial sem o qual vários atos descritos na legislação, praticados
pelos não advogados são nulos ou inexistentes.

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UNIDADE única OAB e as Prerrogativas dos Advogados

Não por outro motivo é que se considera contravenção penal o exercício da advocacia por não
advogado ou por advogado que esteja impedido ou suspenso.

Entende o STF :

“HABEAS CORPUS” – PRETENDIDO RECONHECIMENTO DE


ATIPICIDADE PENAL DO COMPORTAMENTO ATRIBUÍDO AO
PACIENTE – IMPROCEDÊNCIA – EXERCÍCIO ILEGAL DE PROFISSÃO
– ART. 47 DA LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS – ALEGADA FALTA
DE JUSTA CAUSA PARA A CONDENAÇÃO PENAL – INOCORRÊNCIA –
PEDIDO INDEFERIDO

. – A jurisprudência dos Tribunais – inclusive aquela emanada do Supremo Tribunal


Federal – tem assinalado, tratando-se de exercício ilegal da Advocacia, que a norma
inscrita no art. 47 da Lei das Contravenções Penais aplica-se tanto ao profissional
não inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil quanto ao profissional,
que, embora inscrito, encontra-se suspenso ou impedido, estendendo-se, ainda,
essa mesma cláusula de tipificação penal, ao profissional com inscrição já cancelada.
Precedentes. HC 74471 RJ. Rel. Min. CELSO DE MELLO. Primeira Turma. Dje-053
DIVULG 19-03-2009 PUBLIC 20-03-2009 EMENT VOL-02353-01 PP-00187

Além das atividades relacionadas à administração da justiça, a presença do advogado também se


mostra essencial, obrigatória nas atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas,
todas insertas no art. 1o do EOAB, como atividades privativas dos advogados.

A atividade de assessoria jurídica consiste em prestar auxílio, reunindo dados e informações de


natureza jurídica, a pessoas encarregadas da tomada de decisões, realização de atos e participação
em situações capazes de gerar efeitos jurídicos1.

Dessa forma, o trabalho de assessoria jurídica pode ser praticado pelo estagiário isoladamente,
desde que autorizado e supervisionado por advogado, o que não ocorre nas modalidades consultoria
e direção.

A atividade de direção consiste na administração, gestão, coordenação e definição de estratégias


e diretrizes na prestação de serviços jurídicos, exercidas no âmbito de empresas públicas ou privadas.

Já a consultoria jurídica implica responder a consultas do cliente, proferir pareceres e dirimir


dúvidas, acerca de questões por ele suscitadas.

Também obrigatório é o visto do advogado, nos atos constitutivos de pessoas jurídicas de


direito privado para registro nos registrados pelos órgãos competentes2, sob pena de
declaração de nulidade.

1 Cartilha de prerrogativas da OAB/SP : www.oabguarulhos.org.br_anexos_Cartilha.pdf

2 Art. 1o, § 2o do Estatuto da Advocacia e da OAB – Lei 8.906/94.

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OAB e as Prerrogativas dos Advogados UNIDADE única

Justifica-se a obrigatoriedade do advogado nesses casos em razão das consequências nefastas


advindas do exercício de tal atividade por pessoas sem qualificação técnica, como despachantes e
contadores, o que aumenta a litigiosidade envolvendo integrantes das sociedades.

A Lei 11.414/2007, que dispõe sobre separações, divórcios, inventários, partilhas


extrajudiciais, também impõe a participação do advogado na lavratura da escritura e
em outros atos notariais.

A capacidade postulatória conferida aos advogados torna os atos praticados sem assistência nulos
de pleno direito.

Comportam exceções a impetração de habeas corpus, a atuação nos juizados especiais


cíveis e na justiça do trabalho.

Com relação ao habeas corpus, justifica-se a exceção em razão da necessária proteção da liberdade
como valor constitucional sem qualquer condicionamento ou restrição. Dessa forma, o próprio
EOAB excluiu a necessidade de interveniência do advogado para a impetração do remédio heroico.

Nos juizados especiais, a Lei 9.099/95 dispensou a atuação de advogado nas causas cujo valor
seja igual ou inferior a 20 salários mínimos3.

Já nas causas acima de 20 e abaixo de 40 salários mínimos, e nos recursos, qualquer


que seja o valor, a parte deve se fazer obrigatoriamente acompanhada de advogado. 4

Nos Juizados Especiais Federais, a lei 10.259/01 facultou à parte demandar em nome próprio
ou designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.

Nas ações criminais perante os Juizados Especiais Estaduais e Federais, em razão da


necessária observância do princípio constitucional da ampla defesa, a assistência por advogado
habilitado é sempre obrigatória5.

Já na justiça do trabalho, foi conferido o jus postulandi às partes pelo art. 791 da CLT. Muito
embora as partes desacompanhadas de advogado, inequivocamente, colocam-se em posição
desvantajosa com relação aos representados por causídicos, há de se respeitar a disposição legal
que permite às partes postularem em juízo sem o patrocínio de advogado.

O TST, no entanto, vem sustentando o entendimento de que a exceção apenas se aplica à


instância ordinária6, devendo as partes constituir advogado para a postulação recursal.

Atualmente tramita no Congresso Nacional Projeto de Lei Complementar 33/2013, que


visa alterar o art. 791 da CLT de modo a estabelecer a obrigatoriedade do patrocínio de causas
trabalhistas por advogados, além do pagamento de honorários advocatícios.

3 Art. 9o, caput, da Lei 9.099/95.

4 Art. 41, § 2o, da Lei 9.099/95

5 Art. 68 da Lei 9.099/95

6 Instrução normativa 23/2003 TST

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UNIDADE única OAB e as Prerrogativas dos Advogados

Independência
O art. 6o do EOAB traz em sua redação a ausência de subordinação entre advogados, membros do
Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos.

Da mesma forma, em seu parágrafo único, estende às demais autoridades e aos servidores e
serventuários o dever de tratamento urbano e compatível com a dignidade e nobreza da profissão.

Segundo Paulo Lôbo, “(...) Cada figurante tem um papel a desempenhar : um postula, outro fiscaliza
a aplicação da lei e o outro julga. As funções são distintas mas não se estabelece entre elas relação
de hierarquia e subordinação. Em sendo assim, mais forte se torna a direção ética que o preceito
encerra no sentido do relacionamento profissional, independente, harmônico, reciprocamente
respeitoso e digno.7 “

Também representa um poder-dever, eis que o advogado que cede ao poder arbitrário de qualquer
autoridade está desrespeitando o mandato conferido por seu constituinte e seu dever ético de
portar-se com destemor e altivez.

“A independência é uma característica que distingue a profissão do advogado, bem como é


pressuposto indispensável para o exercício de seu mister. É condição que se ajusta à liberdade
e abomina a submissão. Ser livre significa decidir e operar como se quer; ou seja, poder agir de
modo diferente de como fizemos se assim quiséssemos e decidíssemos. Independência é estado ou
condição de quem ou do que tem liberdade ou autonomia (...), caráter de quem rejeita qualquer
sujeição. A independência jurídica é a que coloca a pessoa fora da autoridade de outra, podendo
aquela agir por si própria na prática de atos jurídicos de seu interesse.8”

Múnus Público e função Social.


Muito embora as relações entre cliente e advogado sejam regidas pelo direito privado, a atividade
da advocacia é eminentemente pública. Não se confunde, no entanto, com a administração pública,
regida pelas normas de direito público e submetidas ao princípio da estrita legalidade.

Não são, dessa forma, os advogados agentes públicos, tal qual o promotor e o juiz, mas como eles,
exercem função pública, derivada justamente da inserção de sua função no rol dos profissionais
indispensáveis à administração da justiça.

A busca pela consecução da justiça e pela pacificação social são atribuições que tornam os advogados
detentores de misteres que se revestem de interesse público, mas por outro lado tornam o advogado
um profissional com limitações inexistentes em outras categorias profissionais, como, por exemplo,

7 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. 7. ed. São Paulo : Saraiva, 2013, pág. 65.

8 http://www.oabgo.org.br/Revistas/39/juridico7.htm

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OAB e as Prerrogativas dos Advogados UNIDADE única

a vedação à publicidade, à captação de clientela e a impossibilidade de cumular a atividade da


advocacia com qualquer outra no mesmo local de trabalho, entre outras.

Já a função social, também prevista no art. 2o do EOAB, está diretamente relacionada à própria
função do direito que busca a construção da justiça social. “No exercício desse mister privado e
prestação de serviço público, o advogado exerce função social, o que decorre diretamente da própria
função social do direito de promover a paz social, pela promoção do respeito à ordem jurídica que
regula a vida em sociedade.”9

Inviolabilidade
Prevista no art.133 da Constituição, a inviolabilidade é também referida em várias passagens do
EOAB, mais diretamente nos arts. 2o §3o; 7o, II e §2o.

Tem como caracteres: a) a imunidade por manifestações e palavras, b) a proteção do


sigilo profissional e c) a proteção dos meios de trabalho, instalações correspondências,
e-mails e mídias.

No tocante à imunidade por manifestações, não pode o advogado ser responsabilizado


criminalmente por expressões consideradas ofensivas no exercício da profissão, por qualquer
pessoa, incluída nessa relação qualquer autoridade pública.

É decorrente do princípio da igualdade, já que, em razão de estarem advogado, juiz e promotor no


mesmo nível hierárquico, não pode a autoridade punir o advogado em decorrência de atos cometidos
no exercício de seu mister público.

Isto, no entanto, não exclui a responsabilização ético-profissional do advogado que


trata desrespeitosamente autoridades e colegas, eis que o próprio EOAB, em seu art. 6o o obriga a
dispensar a todos consideração e respeito recíproco, dever também presente no Código de Ética10.

Não se incluem na imunidade profissional as ofensas, ainda que no exercício profissional,


que possam configurar crime de calúnia, exigindo-se, no entanto, a intenção efetiva do advogado
de imputar crime a quem não o cometeu.

Nesse sentido, entende o STF:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. DIFAMAÇÃO. OFENSA


IRROGADA EM JUÍZO POR ADVOGADO. CALÚNIA E DIFAMAÇÃO.
PRERROGATIVA DO ADVOGADO. 1. Inocorrência de calúnia tendo em vista
que não foi imputado ao magistrado a prática de ato contrário a disposição expressa
de lei. Inexistência da configuração da prática do crime de prevaricação. Logo, não há

9 Cartilha de prerrogativas da OAB/SP : www.oabguarulhos.org.br_anexos_Cartilha.pdf

10 ART 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades e os funcionários do Juízo com respeito, discrição e
independência, exigindo igual tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tem direito.

Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem escorreita e polida, esmero e disciplina na execução dos
serviços.

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UNIDADE única OAB e as Prerrogativas dos Advogados

o cometimento do crime de calúnia, que é imputar a outrem falsamente fato tido como
crime. 2. A inviolabilidade das prerrogativas dos advogados, quando no exercício da
profissão, é constitucionalmente assegurada, nos termos da lei. Estabelece o art. 133
da Constituição Federal que o advogado é “inviolável por seus atos e manifestações
no exercício da profissão, termos da lei”. 3. O art. 142, I, do Código Penal exclui a
punibilidade nos casos de injúria ou difamação, quando a ofensa é irrogada em juízo,
ou seja vinculada à discussão da causa; e o § 2o do art. 7o da L. 8.906, de 04.07.1994
(Estatuto da Advocacia e da OAB), estabelece que: “O advogado tem imunidade
profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato (O STF, em liminar
concedida em 06.10.1994, julgando a ADI 1.127-8, suspendeu a eficácia do termo
desacato) puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade,
em juízo ou fora dele,sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos
excessos que cometer” TRF1. HC - HABEAS CORPUS – 200701000163658. Terceira
Turma., DJ 01/06/2007

Da mesma forma, excluído da imunidade o crime de desacato, muito embora vedada a prisão do
advogado por esse motivo por ser crime afiançável, como se verá a seguir.

Fato que está se tornando corriqueiro é a responsabilização criminal de procuradores ou advogados


pareceristas por opiniões dadas em processos envolvendo licitações públicas, cuja legalidade está a
se questionar.

Também nesses casos, os advogados não podem sofrer consequências no âmbito criminal ou sob a
égide da Lei 8.429/92, relacionadas à improbidade administrativa, eis que cobertos pela imunidade
quanto a atos e opiniões. Além de não se vincularem à administração, os pareceres dos advogados
exprimem apenas sua opinião acerca da legalidade dos contratos em análise, não se atendo a
aspectos fáticos relacionados ao cumprimento da avença.

Nesse sentido, o STF:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL DE CONTAS.


TOMADA DE CONTAS: ADVOGADO. PROCURADOR: PARECER. CF.,
art. 70, parág. único, art. 71, II, art. 133. Lei no 8.906, de 1994, art. 2o, § 3o, art. 7o,
art. 32, art. 34, IX. I. - Advogado de empresa estatal que, chamado a opinar, oferece
parecer sugerindo contratação direta, sem licitação, mediante interpretação da
lei das licitações. Pretensão do Tribunal de Contas da União em responsabilizar o
advogado solidariamente com o administrador que decidiu pela contratação direta:
impossibilidade, dado que o parecer não é ato administrativo, sendo, quando muito,
ato de administração consultiva, que visa a informar, elucidar, sugerir providências
administrativas a serem estabelecidas nos atos de administração ativa. Celso Antônio
Bandeira de Mello, “Curso de Direito Administrativo”, Malheiros Ed., 13a ed., p. 377.
II. - O advogado somente será civilmente responsável pelos danos causados a seus
clientes ou a terceiros, se decorrentes de erro grave, inescusável, ou de ato ou omissão
praticado com culpa, em sentido largo: Cód. Civil, art. 159; Lei 8.906/94, art. 32. III.
- Mandado de Segurança deferido. (STF - MS 24073 / DF - DISTRITO FEDERAL -

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OAB e as Prerrogativas dos Advogados UNIDADE única

Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO - Julgamento: 06/11/2002 - Órgão Julgador:


Tribunal Pleno - Publicação: DJ 31-10-2003)

Já o sigilo profissional, também, configura-se como um poder–dever, eis que não pode o
advogado ser obrigado a revelar o conteúdo de suas comunicações com seu constituinte, da mesma
forma que não pode, por um imperativo ético, revelar as informações por ele prestadas.

O sigilo engloba a recusa em depor sobre fatos que tenha conhecimento, em segredo
profissional, de seu cliente ou ex-cliente. (inciso XIX, art. 7o do EOAB). Tal restrição é prevista também
no art. 26 do CED, que impede o advogado de revelar informações, mesmo com o consentimento de
seu constituinte , com exceção nos casos em que se vê atacado pelo próprio cliente.

Já a proteção de seus meios de trabalho, também derivada da proteção do sigilo, e, por esse
motivo, já antes implícita na legislação, recebeu nova redação pela Lei 11.767/2008, modificando o
inciso II do parágrafo 7o e suprimindo as exceções antes existentes, como, por exemplo, a possibilidade
de busca e apreensão determinada por magistrado e acompanhada por representante da OAB.

Para gozar da inviolabilidade, exige-se que o advogado esteja no exercício da profissão e que o
local investigado e as interceptações estejam relacionados à sua atividade profissional.

A lei refere-se fundamentalmente ao escritório ou local de trabalho, entendendo-se tal como


qualquer lugar onde o advogado desenvolve seus trabalhos profissionais, inclusive sua residência,
já protegida pela garantia constitucional, inserta no art. 5o, XI da Constituição Federal.

A exceção se dá na hipótese em que o advogado também figure como investigado, § 6 do art.


7o. Mesmo nesses casos, a busca e apreensão deve restringir-se a dados, objetos e documentos
que guardem estrita relação com o objeto da investigação, não podendo a autoridade policial, em
hipótese alguma, apreender objetos, documentos pertencentes a clientes, salvo quando existirem
indícios de cumplicidade na atividade criminosa investigada.

Deve o mandado de busca e apreensão informar expressamente qual é o objeto da


investigação, individualizando-se o nome dos investigados e o fato imputado como crime. Do
contrário, estamos diante do chamado “mandado genérico” do qual se vale o agente para vasculhar
todos os objetos, comunicações com clientes e correspondência do advogado.

Também coberta pela inviolabilidade a correspondência recebida pelo advogado, que não
se relaciona à atividade criminosa investigada (art. 5o, XII da CF), e os demais documentos,
dados, arquivos, objetos igualmente estranhos à investigação. Não é possível, dessa forma, que se
use como prova ou indício para nova investigação qualquer objeto ou documento de terceiro, obtido
de maneira fortuita, no bojo de investigação contra o advogado.

Nesse sentido, decisão do Min. Sebastião Reis Junior:

HABEAS CORPUS. BUSCA E APREENSÃO EM ESCRITÓRIO DE


ADVOCACIA. DOCUMENTOS APREENDIDOS QUE DERAM ORIGEM A
NOVA INVESTIGAÇÃO, CONTRA PESSOA DIVERSA, NÃO RELACIONADA
COM O FATO INICIALMENTE APURADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

15
UNIDADE única OAB e as Prerrogativas dos Advogados

PACIENTE QUE NÃO ESTAVA SENDO FORMALMENTE INVESTIGADO.


1. Consoante o disposto nos §§ 6o e 7o do art. 7o da Lei n. 8.906/1994, documentos,
mídias e objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como demais
instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes, somente
poderão ser utilizados caso estes estejam sendo formalmente investigados como
partícipes ou coautores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra de
inviolabilidade. No caso, o paciente não estava sendo formalmente investigado e o
crime ora apurado não guarda relação com o estelionato judiciário (que originou a
cautelar de busca e apreensão). 2. Ordem concedida em parte, para afastar do Inquérito
Policial n. 337/09, instaurado contra o paciente, a utilização de documentos obtidos
por meio da busca e apreensão realizada no escritório do advogado do paciente. HC
201102975879. Rel. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR. Sexta turma. DJ 25/04/2012

Também é obrigatória a presença de representante da OAB na Busca e apreensão. ”O STF, no


julgamento definitivo da ADIn n. 1.127-8 decidiu pela inconstitucionalidade das expressões “e
acompanhada do representante da OAB”. Ocorre que, o novel § 6o., incluído pela Lei 11.767/2008,
novamente, que a diligência seja cumprida “na presença de representante da OAB”. Logo, vale a
exigência de presença de representante da OAB prevista na nova Lei.”

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Capítulo 2
Direitos e garantias em espécie

Comunicação com o cliente preso (inc. III do art. 7o)


A comunicação com o cliente preso é um direito do advogado a quem não se aplica a
incomunicabilidade excepcional a que é submetido o indivíduo em regime diferenciado de
detenção.

A imposição de qualquer elemento exógeno no momento da entrevista, além de violar o inc. III do
art. 7o do EOAB representa grave violação ao amplo direito de defesa garantido constitucionalmente
(art. 5o, LV).

A comunicação há de ser reservada, entendendo-se assim como livre do testemunho,


ingerência ou fiscalização de agentes prisionais ou autoridades judiciária e ministerial.

Tal direito traz consigo a obrigatoriedade da disponibilização de parlatórios dignos, que


preservem a privacidade e o sigilo da comunicação entre cliente e advogado.

A incomunicabilidade não pode ser imposta ao advogado, ainda que não munido de procuração.

Nesse sentido, entende o STJ:

STJ. ADMINISTRATIVO - DIREITO DO PRESO - ENTREVISTA


COM ADVOGADO - ESTATUTO DA OAB - LEI DE EXECUÇÕES
PENAIS - RESTRIÇÃO DE DIREITOS POR ATO ADMINISTRATIVO -
IMPOSSIBILIDADE. 1. É ilegal o teor do art. 5o da Portaria 15/2003/GAB/
SEJUSP, do Estado de Mato Grosso, que estabelece que a entrevista entre o detento
e o advogado deve ser feita com prévio agendamento, mediante requerimento
fundamentado dirigido à direção do presídio, podendo ser atendido no prazo de até
10 (dez) dias, observando-se a conveniência da direção. 2. A lei assegura o direito do
preso a entrevista pessoal e reservada com o seu advogado (art. 41, IX, da Lei 7.210/84),
bem como o direito do advogado de comunicar-se com os seus clientes presos,
detidos ou recolhidos em estabelecimento civis ou militares, ainda que considerados
incomunicáveis (art. 7o, III, da Lei 8.906/94). 3. Qualquer tipo de restrição a esses
direitos somente pode ser estabelecida por lei. 4. Recurso especial improvido. RESP
200400963961. ELIANA CALMON. Segunda Turma. DJ DATA:21/11/2005

STJ. ADMINISTRATIVO - PRERROGATIVAS DO ADVOGADO


RESTRINGIDAS POR RESOLUÇÃO DE SECRETARIA DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO PARANÁ - FALTA DE RAZOABILIDADE NA RESTRIÇÃO -
ILEGALIDADE ANTE O CONTRASTE COM A LEI FEDERAL N. 8.906/94.
1. Hipótese em que o Secretário da Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania/PR

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UNIDADE única OAB e as Prerrogativas dos Advogados

fez publicar a Resolução n. 92/03, que assim dita: “Art. 6o. Durante a permanência
do preso no Regime de Adequação ao Tratamento Penal - RATP, serão observados os
seguintes procedimentos:(...) V - O advogado interessado em manter entrevista com
o preso deverá requerer, por escrito, à Direção da Unidade Penal que abriga o preso
no Regime de Adequação ao Tratamento Penal - RATP, que designará data e horário
para o atendimento, após apreciação do requerimento. Em caso de indeferimento, o
diretor da unidade comunicará ao Juízo da Vara de Execuções Penais, no prazo de
24 (vinte e quatro) horas, para os fins que julgar cabíveis.” 2. Ilegalidade manifesta.
Nítido contraste com a Lei Federal n. 8.906/94 (Estatuto da OAB), que em seu art.
7o assim registra: “Art. 7o. São direitos do advogado: (...) III - comunicar-se com
seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se
acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda
que considerados incomunicáveis; (...) VI - ingressar livremente: (...) b) nas salas
e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de justiça, serviços
notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora de
expediente e independentemente da presença de seus titulares.” Também a referida
Resolução foi além do que as leis penais e processuais penais regulam sobre o tema.
3. Ausência de razoabilidade. Análise da adequação, necessidade e proporcionalidade
em sentido estrito. Todos esses elementos não configurados. Finalidade pública
almejada com a Resolução não atendida, tendo ainda a Administração outros
meios menos lesivos para alcançar o seu desiderato discricionário para a regulação
de visitas em presídios, sem ultrapassar os ditames da lei federal. 4. Declaração de
ilegalidade do art. 6o, V, da Resolução n. 92/03 da Secretaria de Estado da Justiça e da
Cidadania. Prerrogativas da advogada impetrante restabelecidas. Recurso ordinário
provido. ROMS 200400406721. Rel. HUMBERTO MARTINS. Segunda Turma. DJE
DATA:04/08/2008

Prisão em flagrante de advogado


(inc. IV do art. 7o e § 3o)
Quando no exercício da profissão o advogado só será preso, em flagrante delito, por crimes
inafiançáveis, sendo exigida a presença de representante da OAB ao ato de lavratura do auto
de prisão em flagrante, sob pena de nulidade.

Isto exclui a prisão por desacato, tão comum, em razão do constante choque entre magistrados
com os advogados, no desempenho de seus misteres profissionais.

O representante da OAB deve ser indicado pela diretoria do Conselho Seccional ou Subseccional do
local da ocorrência do fato.

Também o regulamento geral da Advocacia prevê em seu art. 16, que o advogado será assistido
por representante da OAB nos inquéritos policiais e ações penais onde conste como
indiciado.

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A autoridade que determinar a prisão de advogado por crime que comporte fiança ou sem a
comunicação prévia da OAB incorre em crime de abuso de autoridade e pode responder
criminalmente e administrativamente, tanto perante as corregedorias locais, quanto o CNJ.

Prisão em sala de Estado Maior (inc. V do art. 7o)


A prerrogativa de prisão em sala de Estado maior de advogado comumente é associada a um
privilégio injustificável, e vista com preconceito e reservas pelas autoridades judiciárias de primeira
instância, que, no entanto, se veem obrigadas a aceitar a posição majoritária do STF sobre o assunto.

Tal direito decorre da especificidade da profissão do advogado que no dia a dia forense é naturalmente
exposto a vendetas e sentimentos de ira por parte de detentos e mesmo de autoridades policiais.

Desta forma o legislador andou bem ao garantir não só o direito do advogado de ser recolhido nesse
tipo de estabelecimento prisional até o trânsito em julgado da decisão condenatória, mas também
de, na ausência de sala, ser recolhido em prisão domiciliar.

Segundo o entendimento prevalecente no STF, a Sala de Estado Maior deve ser aquela destinada ao
recolhimento de oficiais do exército, não se confundindo com prisão especial dos detentores
de diploma universitário. Como bem ressaltou o Min. Ayres Brito, sala não é cela, posto que tais
instalações devem ser condignas com a condição de advogado do detento, não podendo possuir grades.

Na ausência de tal estabelecimento, certificado como tanto pela competente Secretaria de Segurança
Pública ou Superintendência da Policia Federal do Estado onde ocorreu o delito, deve o advogado
se recolhido à prisão domiciliar.

Nesse sentido :

STF EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. SÚMULA 691


DO STF. SUPERAÇÃO. POSSIBILIDADE. FLAGRANTE ILEGALIDADE.
PRISÃO CAUTELAR. ADVOGADO. ESTATUTO DA ADVOCACIA. ART.
7, V, DA LEI 8.906/94. SALA DE ESTADO MAIOR. INEXISTÊNCIA.
PRISÃO DOMICILIAR. GARANTIA. ORDEM CONCEDIDA. I - É garantia
dos advogados, enquanto não transitada em julgado a decisão condenatória, a
permanência em estabelecimento que possua Sala de Estado Maior. II - Inexistindo
Sala de Estado Maior na localidade, garante-se ao advogado seu recolhimento em
prisão domiciliar. III - Caracterizada, no caso, a flagrante ilegalidade, que autoriza a
superação da Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal. IV - Ordem concedida. HC
96539. RICARDO LEWANDOWSKI. 1ª Turma, 13.04.2010.

“STF. HABEAS CORPUS. PRISÃO CAUTELAR. PROFISSIONAL DA


ADVOCACIA. INCISO V DO ART. 7o DA LEI 8.906/1994. SALA DE
ESTADO-MAIOR. PRISÃO ESPECIAL. DIFERENÇAS. ILEGALIDADE
DA CUSTÓDIA DO PACIENTE EM CELA ESPECIAL. Aos profissionais da
advocacia é assegurada a prerrogativa de confinamento em Sala de Estado-Maior,

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até o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória. Prerrogativa, essa,


que não se reduz à prisão especial de que trata o art. 295 do CPP. A prerrogativa de
prisão em Sala de Estado-Maior tem o escopo de mais garantidamente preservar a
incolumidade física daqueles que, diuturnamente, se expõem à ira e às retaliações
de pessoas eventualmente contrariadas com um labor advocatício em defesa de
contrapartes processuais e da própria Ordem Jurídica. A advocacia exibe uma
dimensão coorporativa, é certo, mas sem prejuízo do seu compromisso institucional,
que já é um compromisso com os valores que permeiam todo o Ordenamento
Jurídico brasileiro. A Sala de Estado-Maior se define por sua qualidade mesma de
sala e não de cela ou cadeia. Sala, essa, instalada no Comando das Forças Armadas
ou de outras instituições militares (Polícia Militar, Corpo de Bombeiros) e que em si
mesma constitui tipo heterodoxo de prisão, porque destituída de portas ou janelas
com essa específica finalidade de encarceramento. Ordem parcialmente concedida
para determinar que o Juízo processante providencie a transferência do paciente
para sala de uma das unidades militares do Estado de São Paulo, a ser designada pelo
Secretário de Segurança Pública.” (HC 91.089, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento
em 4-9-2007, Primeira Turma, DJ de 19-10-2007.)

Direito de acesso a repartições públicas ou reuniões


(inc. VI do art. 7o)
Advogado exerce função pública e é essencial à administração da justiça e, por esse
motivo, não pode sofrer embaraço no desempenho de suas atividades, especialmente
quando está a representar seu constituinte.

Dessa forma tem a prerrogativa de livre acesso, além dos cancelos, nas secretarias, cartórios,
salas de audiência, tribunais, cartórios ou serviços notariais e de registro, estabelecimentos
prisionais, delegacias, ou qualquer local onde funcione serviço público.

Em tais repartições públicas, o advogado tem o direito de ingresso independentemente da presença


dos titulares do serviço, juízes, chefes de secretaria, mesmo fora do horário de expediente, bastando,
para tanto a presença de funcionário que lhe deve prestar atendimento.

Obviamente tal direito deve ser exercido com proporcionalidade e razoabilidade, não se
justificando que o advogado interrompa, sem qualquer justificativa, outras atividades urgentes dos
serventuários ou titulares do serviço ou atrapalhe o regular andamento dos trabalhos nas secretarias.

O pleno acesso não se condiciona à existência de mandato conferido ao advogado, mas o bom
senso recomenda que o ingresso de tais profissionais tenha relação com o patrocínio de causa em
favor de cliente.

O direito ao livre acesso também abrange qualquer reunião, desde que, munido de procuração, o
advogado esteja atuando em favor do legítimo interesse de cliente.

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Também como consequência do princípio da igualdade e independência, o advogado possui o direito


de permanecer em pé ou sentado no recinto, podendo retirar-se sem solicitar licença.

Relação com os magistrados (inc. VIII do art. 7o)


Decidiu o STJ que “a delimitação de horário para atendimento a advogados pelo magistrado viola
o art. 7o., inciso VIII, da Lei n. 8.906/94” (RMS 15.706/PA). “O magistrado é sempre obrigado a
receber advogados em seu gabinete de trabalho, a qualquer momento durante o expediente forense,
independentemente da urgência do assunto, e independentemente de estar em meio à elaboração
de qualquer despacho, decisão ou sentença, ou mesmo em meio a uma reunião de trabalho. Essa
obrigação se constitui em um dever funcional previsto na LOMAN e a sua não observância poderá
implicar em responsabilização administrativa”

(Decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base em voto do conselheiro Marcus Faver,
ao responder consulta do juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de Mossoró, no Rio Grande do
Norte).

Embora tal decisão não tenha produzido efeitos erga omnes, conforme decidiu o próprio CNJ,
não se pode ignorar que o órgão de controle externo do judiciário, em análise de caso concreto,
posicionou-se pela ilicitude da restrição de horário ou assunto para atendimento do advogado.

Obviamente a proporcionalidade e a razoabilidade também se impõem nessa circunstância, eis que


não deve o advogado interromper injustificadamente e desprovido de razão ligada a seu exercício
profissional o trabalho urgente de magistrado, como por exemplo um despacho liminar
em habeas corpus ou mandado de segurança, o que não olvida a obrigação do juiz em receber
independente de hora ou marcação o advogado.

Direito a sustentar oralmente suas razões. Uso da


palavra oral para esclarecimento e reclamações (incs.
XI, X, XI, XII do art. 7o)
O inciso IX do art. 7o do Estatuto modificou o momento em que o advogado pode realizar sustentação
oral nas sessões de julgamento dos tribunais para após a leitura do relatório e do voto do relator. No
entanto, o Supremo Tribunal Federal julgou a modificação inconstitucional, na ADI 1.127-8.

Com a declaração de inconstitucionalidade do inciso IX, o STF retornou à sistemática anterior,


dando possibilidade da norma processual e regimental definir quais modalidades recursais são
suscetíveis de sustentação oral.

Obviamente o atual regime é algo que não contribui para o aperfeiçoamento dos julgamentos, já que
a sustentação da Tribuna é fundamental para o convencimento dos julgadores, especialmente em
um julgamento colegiado.

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Serve também para elucidar eventuais dúvidas no relatório e voto, razão pela qual, o uso da palavra
antes do relator diminui a importância de tão relevante instituto.

A OAB dá exemplo, na medida em que, em todos os julgamentos colegiados que ocorrem no Conselho
Federal, é respeitada a redação original do Estatuto, permitindo sempre a sustentação após o voto
do relator.

Já o uso da palavra em situações excepcionais, de forma breve e sucinta para esclarecer questão
de fato, erro ou defesa do advogado de suas prerrogativas, contra ofensas ou protestar contra
inobservância de preceito de lei, regimento ou regulamento, não pode sofrer qualquer limitação
regimental, devendo e podendo o advogado se pronunciar sentado ou em pé, conforme preceitua o
inciso XII do EOAB.

Direito a exame e de vistas de processos e inquéritos


(incs. XIII, XIV, XV, XVI do Art 7o)
O acesso aos autos em processos judiciais e administrativos é direito derivado da
liberdade profissional inerente à profissão do advogado e se relaciona diretamente ao
direito ao contraditório e ampla defesa, garantidos constitucionalmente ao cidadão.

O direito de exame prescinde de procuração, salvo na hipótese de processo ou inquérito que


corre em sigilo. Tal sigilo, no entanto, nunca pode ser imposto ao defensor do réu ou investigado,
com exceção na fase inquisitorial de coleta de provas.

Já o direito de vistas, que engloba o direito à retirada dos autos no prazo legal, é amplo e irrestrito,
não podendo sofrer embargo, além das hipóteses previstas legalmente.

Enquanto o acesso está limitado à realização de anotações, fotocópias e restrito aos processos
que não se encontram sob o regime de sigilo, o direito a vistas de procurador regulamente
constituído tem caráter absoluto.

No caso dos processos findos, podem ser retirados, mesmo sem procuração, por um prazo de 10
dias.

No entanto, nos processos findos que tramitaram em segredo de justiça, o direito de vista e
retirada de autos somente será admitido aos advogados das partes, devidamente constituídos nos
autos.

Da mesma forma, o direito de vista e retirada dos autos dos processos, ainda que findos, também
poderá ser limitado quando contiverem documentos originais de difícil reparação ou, ainda, quando
houver decisão motivada, apontando circunstância relevante para a permanência dos autos em
cartório ou na repartição pública, ressalvado o direito do advogado de obter cópias dos
documentos, sob pena da ocorrência de cerceamento de defesa.

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OAB e as Prerrogativas dos Advogados UNIDADE única

Por fim, também não se aplica o amplo acesso de vistas ao advogado que mesmo intimado apenas
restitui os autos após o final de seu prazo. Fica o advogado, até o Trânsito em julgado, apenas com
direito ao acesso.

Desagravo (inc. XVII, art. 7o)


Sempre que o advogado sofrer ofensa, ou restrição injustificada ao seu livre exercício profissional,
tem o direito a ser publicamente desagravado pelo seu órgão de classe.

É o ato pelo qual a classe externa seu repúdio à ofensa às prerrogativas profissionais de um colega e
solidariedade pelo agravo a ele imposto por ato arbitrário de qualquer autoridade.

Não depende da concordância do advogado (art. 18, §7o do Regulamento Geral), justamente porque
ofensas graves maculam preceitos que devem ser defendidos pela OAB e ultrapassam a esfera
individual do ofendido.

Não pode ser deferido por motivo banal ou que represente mero dissabor, sob pena de
enfraquecimento do instituto. Na verdade o desagravo público é reservado apenas para situações
com grande repercussão social e que maculem a imagem da advocacia.

Após a aprovação pelo conselho, o presidente da seccional efetua a leitura em sessão designada
para tanto, sendo posteriormente enviada a nota para publicação na imprensa, ao ofensor e às
autoridades, além de registro nos assentamentos funcionais do advogado desagravado.

Sempre que possível, deve ser feita na subseção ou no local onde ocorreu o agravo, como forma de
aumentar a repercussão do ato.

Apenas excepcionalmente o desagravo pode ser promovido pelo Conselho Federal, quando a ofensa
se der em desfavor de Conselheiro Federal no exercício de suas atribuições, ou quando a ofensa se
revelar grave a ponto de alcançar repercussão nacional.

Símbolos privativos (inc. XVIII, art. 7o)


São as marcas, desenho, adornos, togas e vestimentas tradicionalmente vinculados à advocacia,
criados e aprovados privativamente pelo Conselho Federal da OAB, de uso exclusivo pelos advogados.

Não se confundem com figuras que podem ser popularmente associadas à advocacia, como a deusa
Themis, balança, anel de formatura, mas que não possuem vinculação oficial com a OAB.

O logotipo da OAB é de uso exclusivo da entidade, sendo vedada a sua reprodução e uso, não
autorizado, pelos advogados (art. 31 do Código de Ética de Disciplina).

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Retirada do recinto (inc. XX, art. 7o)


O advogado deve estar sempre pontualmente presente nos atos processuais , audiências, perícias ,
oitivas, sob pena de ver prejudicado o direito de seus constituintes, podendo inclusive sofrer sanções
de natureza cível e disciplinar.

No entanto o mesmo cuidado com a pontualidade não é comum nos magistrados, que costumam
atrasar injustificadamente a realização de audiências, forçando as partes e os advogados a
reprogramar suas agendas e a adiar compromissos.

Nesses casos, o EOAB garante o direito do advogado a retirar-se após 30 minutos da hora marcada
para a realização do ato, devendo, para tanto, anunciar oficialmente sua retirada do recinto por
meio de petição protocolada, como modo de prevenir responsabilidades.

Tal direito não pode ser invocado quando o magistrado se encontra presente e o atraso se der em
consequência da demora ou prolongamento de audiências anteriores.w

24
Para (não) Finalizar

Falta Todos estes direitos aqui tratados são, na verdade, mais do que simplesmente garantias
previstas em nossa legislação. O caráter essencial, publico, inviolável e independente de nossa
profissão, longe de ser um privilégio, na verdade se constitui como uma garantia da democracia
brasileira que protege, de forma canina, no âmbito constitucional, o sagrado direito de defesa do
cidadão. Dar o advogado liberdade e independência, significa garantir ao seu constituinte uma
defesa igualmente livre da ingerência do poder arbitrário de qualquer autoridade.

Obviamente tal liberdade não é absoluta. Deve obedecer aos critérios de razoabilidade e
proporcionalidade, assim como aos limites éticos da profissão. Para tanto, a OAB deve ao mesmo
tempo defender e pugnar pelas prerrogativas profissionais, mas também efetivamente exercer o
controle sobre a atividade dos advogados através de seus Tribunais de Ética e demais instancias
disciplinares.

Tal equilíbrio garante a nossa entidade a isenção para continuar propugnando pelas garantias
profissionais da classe, sem, contudo, agredir a ordem jurídica, nem tampouco violar as liberdades
individuais de terceiros.

Deve-se, contudo, ter em mente que o primeiro defensor das prerrogativas profissionais da advocacia
é o próprio advogado. Faz parte do núcleo de sua profissão se portar de maneira altiva e corajosa.
Não se vergar, significa reafirmar a sua condição de defensor de princípios, sem os quais o advogado
se torna apenas um profissional que se legitima por seus procedimentos, e não pelas causas que
defende.

25
referências

BRITO, Cezar; COELHO, Marcus Vinicius Furtado. A inviolabilidade do direito de defesa. 2.


ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.

COMPARATO, Fábio Konder. A função do advogado na administração da Justiça. São


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CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Regulamento Geral do


Estatuto da Advocacia e da OAB. Publicado no DJ de 16/11/1994.

CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Código de Ética e


Disciplina da OAB. publicado no DJ de 1/3/1995.

FERNANDES, Paulo Sérgio Leite. Na defesa das prerrogativas do advogado. São Paulo: OAB/
SP. Departamento Editorial, 1994. Brasília: OAB Editora, 2004.

FIGUEIREDO, Laurady Thereza. Estatuto da OAB e Código de ética e disciplina comentados.


2. ed.São Paulo: DPJ Editora, 2008.

RAMOS, Gisela Gondin. Estatuto da advocacia, comentários e jurisprudência selecionada.


6. ed. São Paulo, 2013

GROSNER, Marina Quezado. A seletividade do sistema penal na jurisprudência do


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LOBO, Paulo. Comentários ao estatuto da advocacia e da OAB. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
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RAMOS, Gisela Gondim. Estatuto da advocacia. 4. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2003.

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao estatuto da advocacia e da OAB. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.

MAMEDE, Gladston. A advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. 3. ed. São Paulo:
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NINA, Carlos Sebastião Silva. A Ordem dos Advogados do Brasil e o Estado brasileiro.
Brasília: OAB, 2001.

TORON, Alberto Zacharias; SZAFIR, Alexandra Lebelson. Prerrogativas profissionais do


advogado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

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Bibliografia complementar:
ANÁLISE JUSTIÇA. Supremo e Superior Tribunal. São Paulo: Análise Editorial e Consultor
Jurídico, Revista. 2009

ANUÁRIO DA JUSTIÇA. STF, STJ, TST, TSE e STM. São Paulo: Consultor Jurídico e FAAP,
Revista. 2009.

INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS, Folha do IAB. Jornal do Instituto dos


Advogados Brasileiros. Rio de Janeiro, no 99 – maio/junho, 2010.

Bibliografia suplementar: internet


PITOMBO, Antônio Sérgio Altieri de Moraes, Supremo deve limitar acesso a advogados
despreparados, artigo publicado no site Consultor Jurídico. Disponível em: http://www.conjur.
com.br/2010-abr-21/advogado-despreparado-nao-defender-causas-tribunais-superiores. Acesso
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Cartilha de prerrogativas da OAB/SP. Disponível em: www.oabguarulhos.org.br_anexos_Cartilha.


pdf. e http://www.oabgo.org.br/Revistas/39/juridico7.htm.

Jurisprudência complementar
TRT 12ª R. – RO-V 02527-2004-035-12-00-9 – (07077/2005) – Florianópolis – 2ª T. – Relª Juíza
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STJ, Segunda Turma, RMS no 416, MG, julgado em 20/1/1991, publicado no DJ 18/3/1991, p. 2789,
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17/5/2006, publicado no DJe 4/6/2010.

STF, pleno, Inquérito no 2.424, RJ, Rel. Min. Cézar Peluso, julgado em 26/11/2008, publicado no
DJe em 26/3/2010.

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