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A antropologia teatral não busca princípios universais. Mas indicações úteis. Ela não
tem a humildade de urna ciência. Mas uma ambição em revelar conhecimento que
pode ser útil para o trabalho do ator-bailarino. Ela não procura descobrir leis. Mas
estudar regras de comportamento.
Decroux, assim como para os mestres orientais, essa não é uma questão de limitação
mental ou intolerância. É lima consciência de que as bases do trabalho de um ator, os
pontos de partida. devem ser defendidas como bens preciosos, mesmo sob risco de
isolamento.
COTIDIANO E EXTRA-COTIDIANO
Certos atores-bailarinos orientais e ocidentais possuem uma qualidade de presença que
impressiona imediatamente o espectador e prende sua atenção. Isto também ocorre
quando esses atores-bailarinos estão fazendo uma demonstração fria e técnica.
Durante longo tempo pensei que isto era por parte de uma técnica particular, um poder
particular que o possuía e adquirido através de anos e anos de experiência e trabalho,
Mas o que chamamos de t técnica é, de fato, um uso particular do corpo.
O EQUILÍBRIO EM AÇÃO
A observação de uma qualidade particular da presença cênica levou-nos a diferenciar
Técnicas cotidianas, virtuosísticas técnicas extracotidianas. São estas últimas que dizem
respeito ao ator. Elas são características da vida do ator-bailarino mesmo antes que
qualquer coisa seja expressa ou representada. Isto não é facilmente aceito por um
ocidental. Como é possível que exista um nível na arte do ator em que ele ou ela está
vivo e presente sem estar representando qualquer coisa ou tendo qualquer significado?
Para um ator-bailarino, este estado de ser fortemente presente, enquanto ainda não tem
qualquer caráter de representação, é um oximoro, urna contradição.
Moriaki Watanabe define o oximoro; da presença pura do ator desta maneira: "trata-se
de um ator-bailarino representando sua própria ausência". Isso pode parecer apenas um
jogo de imaginação, mas, de fato, é uma figura fundamental do teatro japonês.
EXEMPLO KOSHI
O termo japonês que descreve esta tensão de oposiçãoé HipPari Hai (li que significa
"puxaralguma coisa ou alguémpara si. enquanto
a outra pessoa ou coisa está tentado fazer o mesmo". Hippari
Hai se encontra entre as partes superior e inferior do corpo do
ator. assim comoentre a frente e as costas.
A virtude de omissão
DecfOuxcomo
um ator-bailarino indiano - considera o corpo como
sendo limitadoessencialmente ao tronco. Ele considera os movimentes dos braços e
pernas como aces sórios "ane-dóticos"),
apenas pertencendo ao corpo se originados do tronco.
No
século ),,7\111.o ator de Kabuki, Karneko Kichiwaernon, escreveu
um tratado so bre a arte do ator, intitulado Poeira 1/0S otnndos.Ele
diz que em dados momentos, em certas re prese nta ções, quando
some nte um ator está dançando, os outros atores voltam suas
costas para a platéia e relaxam. "Eu n50 relaxo", escreve ele,
" mas represento a dança inteira na minha mente. Se eu não E1ÇO
assim, a visão das minhas costas não é int ere ssante para o espectador"
.
A virtude te atral da omissão não consis te em "deixe para lá"
numa não-aç ão indefinida, No palco e para o ntor-bailarino, a
ornissíio significa "reter", o que distingue a vida cênica real e não
a dis persa ao redor num excesso de exp ress ividade e vitalidade.
t\ be leza da omissão. de fato, é a bele za da nçãoindireta. da vida
que é reve lada com um máximo de intensidade num mínimo de
at ividade. Mais uma vez é um jogo de oposições que vai além do
nível pré-expressivo tb arte do ator-bailarino.
Um corpo decidido
Um corpo fictício
Na tradição ocidental o trabalho do ator-bailarino tem sido
orientado para uma rede de ficções, de "ses mágicos", que lida
com a psicologia, o comportamento e SU,1hist ória e da personagcm
que está representando. Os princípios pré-expressivos da
vida do ator-bailarino não são conceitos frios relacionados somente
com a fisiologia e mecânica do corpo. Eles também são baseados numa redede ficções,
mas fi cções, "ses nuigicos". que
lidam com as forças fís icas que movem o corpo. O que o atorbailarino
está procurando, neste caso, é um corpo fictício, não
uma personalidade fictícia. Pura quebrar as respostas autornáticas
do comportamento cotidiano, nas tradiç ões orientais. no balé
e na mímica de Decroux, cada uma das ações docorpo é dramnrizada
imaginando que alguém está empurrando, levantando,
toca ndo objetos de determinado pesoe consistência.
Um milh ão de velas
ZEAMI
DILATAÇÃO
UM CORPO DILATADO
A ponte
Se alguém questio naros mestres do teatro oriental e ocidental e
comparar suas respostas. descobrirá que na base das diferentes
técnicas se encontram princípios semelhantes. Estes princípios
podem ser combinados em três linhas de ação:
1. ultera ção do equilíbrio cotidiano ~ procura de eq uilíbrio
precário ou de luxo;
2. a dinâmicadas oposições;
3. uso de uma incoerência coerente .
O ator
pode começar do físico ou do mental. não importa, desde que nu
transição de um pam outro. urna unidade seja rcconstitufda,
Perip écias
Os saltos do pensamento podem ser defin idos como peripécias
ou mutabilidade. Peripécia é uma trama de acontecimentos que
faz desenvolver uma nção por um caminho imprevisto ou bz
concluí-la de modo oposto ~1O que começou. A peripécia atua
por meio da negação: isto é o que se sabe desde o tempo dc
Aris tóteles.
O Princípio da Negação
Pensar o pensamento
Um
, núcleo pré-expressivodeve seralgumacoisaquese dilata e sofre
mura ção. mas retém sua identidade. como as metamorfoses da história do Holandes e
seu navio voador.