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PERIGOSAS NACIONAIS

O LOBO
Adriana Vargas
1° edição - 2018

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Sumário

Prólogo
Capítulo I
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Epílogo

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Prólogo

Alejandro, o Lobo entre suas protegidas, dá a


cada uma, o valor que nelas observa, já que obtura
esta impossibilidade ilusoriamente e faz com que
revivam um estado de possibilidade ao serem
tomadas por um espaço de tempo. Ele preencherá a
falta que fora perdida na alienação da linguagem,
restaurando o narcisismo, a autoestima destruída
por consequência de relacionamentos
autodestrutivos e abusivos.
Não se trata da restauração do corpo
da mulher, mas do ser feminino secreto, guardado
para encontrar no imaginário, uma sutura daquilo
que está perdido e a espera, ou aquilo que fora
reservado para quem souber engajá-la no contato
com o olhar ou no atrito dos corpos, onde brotará
ao ser sexuado feminino, o desejo contínuo de
permanecer ávida nos braços dele, que
proporcionará a encarnação da linguagem em seu
corpo nu. Toda vez que ele a olhar e a desejar,
nascerá uma mulher ardente dentro do corpo
daquela que já havia se esquecido de viver ou que
tenha se frustrado sexualmente com os homens
mornos ou comuns.
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Ninguém sabia ao certo sobre sua vida,


apenas era perceptível os traços característicos de
uma beleza não apropriada para os padrões, mas
havia nele algo intrigante que rasgava por dentro,
ardia e intrigava. Habitava numa casa subterrânea,
cuja arquitetura parecia oriunda do século XIX,
bem como os móveis e decoração, local onde ele
tinha um laboratório para a criação de perfumes e
extração de essências raras.
Sua paixão pelas mulheres ultrapassava o que
as pessoas comuns conseguiam entender. Todas,
para ele, eram donas de beleza estonteante, jamais
se deixaria limitar por sua visão, ele trazia à tona o
que havia se perdido dentro delas. Por mais que
fosse apaixonado pelo feminino, ainda não havia se
apaixonado tão somente por uma protegida.
Alejandro as via como um conjunto. Todas eram
uma só. A única que a tocou foi Dolores, quando
ele ainda não sabia que era um Lobo. Porém...
Como tudo na vida nos surpreende, existem
mulheres que são capazes de transformar o
impossível.
Quando a porta de sua casa subterrânea se
fechava, havia ali um mistério que somente seria
revelado a quem fosse convidada a entrar e
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permanecer. Caso contrário, todos que não


conhecessem tal segredo iriam difamá-lo como
conquistador e mulherengo. Não saberiam o que o
move e de que é feito seu mundo entre o olfato, tato
e combustão. Seu universo era paralelo.
As mulheres jamais seriam as mesmas...
Nada restará daquela que um dia o Lobo tocar. Um
mundo novo sensações será revelado; o mundo do
sexo e do belo. Do toque e do reconhecimento de
cada polegada do corpo de quem ele escolher para
ser dele, não como objeto, e sim, como um corpo
para amar.
Alejandro fora escolhido pela Seita que
determinou seu destino para fazer com que as
mulheres se descobrissem como portadoras do
poder do prazer, do amor e da autoestima. Assim
como tudo na natureza não pode ser julgado por
boas ou más, certas características são inerentes à
personalidade de um Lobo, e são baseadas na busca
do equilíbrio de seu próprio ser.
O Lobo é geralmente uma pessoa que
constantemente analisa seu ambiente para ter uma
resposta constante que o rodeia, sua inquisição o
torna excelente guia em tempos de confusão
espiritual, mas também o torna manipulador e
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ambicioso para sempre olhar além dos limites que o


estabelece, tanto na amizade quanto no amor.
Ser um lupus é ser capaz de fazer
declarações, que para os outros parecem
impossíveis, mas ele mantem segredos que o
permite desempenhar esta tarefa, dependendo de
sua vontade para que suas ações sejam positivas,
mas há uma consequência, se for guiado pelo total
prazer e paixões, o efeito é quase sempre altamente
destrutivo.
Se um Lobo ama, não vai deixar de amar tão
facilmente, exceto em casos de traições, onde sua
dor será tão imensa quanto sua raiva, e é difícil
esperar dele a compaixão, porque seu ressentimento
irá o impedir de ver outra coisa além da destruição.
Acredite ou não... O Lobo tem o poder de destruir
mentalmente, na mesma proporção de ajudar e
construir, de fazer gozar e se apaixonar.
Ele é humilde por natureza, mas orgulhoso
por direito. Está constantemente orgulhoso dos atos
que realiza com seu coração, e até mesmo os Lobos
mais cruéis saberão como tratar seu inimigo com
respeito se eles provarem estar no mesmo nível.
Quando ele ama, ele o faz melhor do que
outros homens comuns, pois sabe muitas coisas que
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os outros nem compreendem, e às vezes isso pode


ser sua própria fraqueza.
Isso é ser um Lobo... Uma criatura cujo modo
de pensar está sempre dividido entre o mal mais
negro e a forma mais absoluta da pureza mental,
buscando o equilíbrio do ponto médio. Não se
deixa ser guiado pelo amor absoluto, porque sabe
que a fúria do ódio é poderosa, e que não pode dar
mais do que a dor o proporciona quando ama, se
este amor se transformar em ira, caso seja
decepcionado irremediavelmente.
Ele existe no equilíbrio das coisas, orienta
quem precisa de orientação, sofre a dor em silêncio,
a menos que esta dor seja necessária para continuar.
Odeia raramente, mas às vezes que acontece, faz
isso sem o perdão de alguém, porque não precisa
ser perdoado por ninguém além de si mesmo.
Não recua em suas ações quando sabe que
seus atos são de fé. Continua até o fim, mesmo se
souber que será doloroso. Por orgulho, por amor ou
ambição, um Lobo real não para a menos que haja
uma causa maior para sua existência.
Busca entender as coisas, compreende-las
mesmo se essas o machucarem, mas continua
aprendendo, porque é de sua natureza. Às vezes
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fere as pessoas com a sinceridade que o caracteriza.


Às vezes se deixa acreditar que essas mesmas
pessoas podem o manipular, se o fim o justificar...
Mas isso é uma farsa. Não creia nisso.
Amar um lupus significa conhecer o céu e o
inferno em um instante, poucas pessoas podem
fazê-lo sem ter a maturidade mental e emocional
para fazê-lo.
Alejandro é um Lobo por natureza, mas
humano por escolha... Isso é em essência, um Lobo
em espírito. Alguém que ainda não encontrou sua
companheira para praticar a finalidade
monogâmica, uma vez que estão ao seu lado apenas
suas protegidas, mulheres que serão colocadas
perante a sua responsabilidade de cuidar, ensinar a
se amar e descobrir sua própria sexualidade, que até
então estava obstruída por conta dos maus tratos
nas mãos de homens abusivos e violentos.
Mas ele buscava insistentemente encontrar
aquela que o faria repousar da caça, do mundo sem
paradeiro... Das paixões limitadas.

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Capítulo I

Um Lobo não apenas quer...


Ele arde ao desejar
Rasga-se por dentro
Toma para si...

A estrada naquela noite parecia mais deserta


que antes. Acelerei o carro com o desejo de chegar
a algum lugar. O dia fora cansativo, e a angústia
ainda me deixava aflito. Se alguém me perguntasse
o motivo, eu não saberia dizer além de minhas
percepções. Antes de ser Lobo, sou aquele que caça
o que ainda não tem nome, mas está em algum
lugar.
Nem mesmo a turbulência daquele dia
cansativo, me fazia parar de pensar. Eu havia
perdido em algum ponto o meu desejo de continuar
a a ser alfa, embora tivesse as minhas meninas
sempre prontas a me servir, ainda assim, custava
acreditar que meus dias de glória haviam
estacionado numa busca incessante de algo que se
chama... Paz.
Penei por longas datas. Não me importava
com o que pudesse parecer, eu queria apenas
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esquecer... Eu queria inventar um estilo diferente


para conseguir assim, o caminho de volta para o
Lobo que já se encontrava cansado das cinzas.
A chama estava se apagando, eu precisava de
uma dose dupla de ânimo e encorajamento. Ser
dominante levava sempre muito de mim, embora
fosse algo que eu mais amasse na vida. Não
consigo me desassociar da ideia de viver em grupo,
num clã em que eu pudesse proteger a quem
estivesse debaixo de égide. Porém, a constância e
perseverança nos cuidados, deixaram há algum
tempo um vácuo por dentro. Eu sou menos eu,
hoje. O fato é que ainda não encontrei a pequena
que preenchesse o lugar certeiro em meu coração.
Eu sinto falta dos sentimentos individuais, ao
contrário do que pensam em relação aos
dominantes. Não gosto da ideia de voltar sozinho
para minha alcova, e ter de ver minhas meninas
apenas em momentos esporádicos. Eu as quero por
perto, assim como tem de ser, mesmo quando este
querer significa perigo. Mesmo quando meu ego
insiste em me afastar, e me persuadir a estar só.
Necessito velar o sono de alguém.
Seduzir sem pressa, com carinho, mas com a
mão firme, para que saiba que sou o dono de seu
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corpo, alma e coração.


O valor que as mulheres possuem está rente a
sua entrega e confiança. Elas não são objetos que se
compra, preciso conquistá-las, e certamente me
sinto responsável por tudo que é conquistado por
mim, deste modo, quase não sobra tempo para
minha individualidade, porque após a escolha em
viver o que vibra em meu sangue, abdiquei de um
mundo normal, o qual as pessoas são escravas de
regras descomunais.
Em minha vida, as regras são minhas!
Nada foge do meu controle, conheço cada
curva do corpo de minhas protegidas; cada olhar ou
sensação, mesmo daquelas que teimam em se
esconder. Nem um gesto passa despercebido,
porque minha vida é dedicada a este ofício.
O preço é alto, mas este é meu estilo, o
caminho que eu quis seguir. Não tem mais volta...
Por mais que eu tente sair, o domínio não sai de
dentro de mim.
Baixei os faróis, coloquei a música que eu
mais gosto de ouvir, Não me compares, Alejandro
Sanz.

Espanha, 1979.
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O dia acabara de amanhecer. Levou poucos


minutos para eu abrir os olhos e sentir a brisa fresca
que vinha da janela. A tonalidade da cor pastel do
meu quarto era suave, mas já me incomodava,
mesmo desconhecendo o motivo. Os pássaros
gorjeavam lá fora, mas nada cobria o som vindo do
quarto ao lado. Novamente fechei meus olhos e
tentei abafar os sons com o travesseiro.
Gemidos se intensificavam com o passar dos
minutos. Absorto no desejo de não mais ouvir,
sentei-me na cama, tocando os joelhos com a ponta
dos dedos. Passei a gritar descompassadamente, tão
alto, que em poucos minutos a mulher seminua
surgiu na porta do meu quarto, olhando-me com
desaprovação.
− O que há, Alejandro, deseja acordar a
vizinhança? – perguntou impaciente, a mãe que
desejava voltar o quanto antes para seu quarto.
− Eu quero o meu pai! – respondi num
segundo grito.
− Psiu!!! – repreendeu minha mãe. – Volte
para a cama.
− Eu quero que meu pai chegue logo da
viagem. – disse choramingando.
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− Quando esquecer que ele existe, ele voltará.


− Você não ama meu pai! – meus olhos
estavam cheios de lágrimas.
− Volte já para a cama e pare com essa
chantagem emocional. Vamos logo!
A porta se fechou novamente. Minutos
depois, os gemidos persistiam em ressoar por toda a
casa. Em silêncio, coloquei um dedo em cada
ouvido, e dizia para mim mesmo:

Quando eu crescer odiarei as mulheres.

Ao anoitecer, após passar horas, sozinho,


brincando em meu quarto, minha mãe surge na
porta, trazendo uma bandeja nas mãos. Suco de
laranja, uma fatia de pão com pasta de amendoim e
uma banana. Deposita o alimento serenamente
próximo a mim, e me olha como se tivesse me
conhecendo naquele instante.
− Você é muito rebelde, Alejandro. Não deve
ser assim. Tem quase nove anos de idade... Isso é
feio para um rapaz.
− Você me deixa sozinho o tempo todo
trancado neste quarto. – respondi sem olhar para
minha mãe.
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− Faço isso, porque não quero bagunça pela


casa, gasto muito tempo para limpá-la. Olhe seu
quarto, parece um chiqueiro.
− Eu não sei limpá-lo. – respondi ainda
entretido com o carrinho.
− Pois deveria, era o mínimo que poderia
fazer para me agradar. Cuidar de suas coisas é a
única coisa que lhe cabe nesta casa.
− Você não ama meu pai e nem a mim.
− Por que diz isso?
− Porque vi um homem saindo do seu quarto.
Minha mãe deu um tapa em meus lábios. Ela
não entende que nada dói mais do que sua
indiferença.
− Nunca mais diga isso, está ouvindo? Está
fantasiando, vendo coisas.
− Não estou fantasiando, você também sabe
que o homem estranho estava lá, deitado na cama
do meu pai.
Ela me segurou firme pelo braço.
− Esta noite ficará sozinho novamente em seu
quarto. Irei sair e levar a chave da casa. Este será
seu castigo.
As lágrimas brotavam dos meus olhos
intensos de menino, rolavam pela face em
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desalento.
− Eu não vi nada. Eu juro que não vi. Por
favor, não vá! – pedi sem coragem de encará-la.
− Irei sim. E você irá se comportar como um
rapaz que é. Ficará aqui com o anjo que irá cuidá-
lo. E quando eu voltar, este anjo irá me contar tudo
que fez. Caso não me agradar o que eu ouvir, o
castigo será muito pior.
Sem despedidas, minha mãe saiu do quarto,
seu nome era Margareth. Uma mulher que deixou
seus sentimentos de lado, para entregar-se ao
prazer. Friamente, foi esta a sua escolha. Fechou a
porta como quem fechasse a porta da geladeira.
Passos à frente, retirou um pequeno espelho da
bolsa e passou mais uma camada de batom
vermelho nos lábios.
Dentro do quarto já escuro, deixei o
brinquedo e fui até à janela. Com as duas mãos, fiz
o formato de um avião, remexendo-se para lá e para
cá, tentando esquecer a solidão e a saudade de algo
que não tinha.
Aos poucos caminhei pelo quarto e fui até a
tomada, acendi a luz. Sentei-me no tapete, no meio
do quarto e passei a contar os filetes de madeira
que tinham no forro do teto.
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Eu sou infeliz.
Não adianta vir me dizer o contrário. Eu sei
o que sinto.

Dias depois, uma amiga de minha mãe


visitou nossa casa. Pela fresta da porta da sala, me
aconcheguei para escutar a conversa feita em
sussurros, justamente para eu não ouvir.
− Você está completamente louca,
Margareth, não pode deixar seu filho sozinho na
casa. Um encontro, um homem qualquer, não pode
ser mais importante que um filho.
− Não tenho escolha. – disse secamente. Eu
não via seu rosto, mas imaginava que os olhos frios
miravam qualquer peça ostentada na estante de
madeira clara. – Você sabe que não devo me apagar
ao menino... Logo... – parou de falar e suspirou.
− Claro que não deve ser assim! Arrume uma
babá ou assuma de vez seu papel de mãe. Não tem
como fingir que ele não depende de você.
− Não sei se confio em deixar uma pessoa
estranha morar aqui. Você sabe sobre minha vida
secreta... Ninguém pode saber a respeito...
− É muito pior deixar que seu filho
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permaneça sozinho enquanto se diverte. Ele não


tem culpa! Não percebe isso?
− Ele puxou ao pai... Não tem nada de mim...
− Não transfira para Alejandro este ranço!
Ele precisa de você. Olha como esse menino anda
abatido, recluso... Nem parece um menino comum
de sua idade. Não vejo vitalidade nessa criança.
− Ele não precisa de mim... É até melhor
assim... Sofreremos menos depois. Logo chegará o
momento de eu entregá-lo. Estou fazendo o certo,
pode apostar.
− Seu filho precisa da mãe, que está o
destruindo dia a dia. Não percebe ainda a gravidade
do problema que está dando forma debaixo do seu
nariz?
− Deixe de tolices...
Aquelas palavras ficaram na minha cabeça,
criando proporções. Eu entendi um pouco do que
disseram, mas o outro restante, eu fiz de conta não
entender. Nada que minha mãe diz, me surpreende.
Nada que ela faça, tem o dom de me ferir mais do
que já tem feito.
Penso nas longas tarde de pescaria com meu
pai, eu sentado entre suas pernas enquanto nos
divertíamos vendo o anzol se mexer, e a tarde
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ganhar um brilho especial, simplesmente porque ele


estava comigo, e estava de verdade. Quando
chegava a noite ele me colocava para dormir, me
contando histórias engraçadas a respeito de meu
avô e de sua infância. Além de tudo, eu era seu
pequeno cúmplice, ouvia com atenção os seus
segredos de infância. Tudo era fascinante quando
ele estava aqui. Agora estou sozinho.
Estou sozinho como nunca estive.

Alguns dias nublados de Janeiro se passaram,


e uma nova integrante da casa chega timidamente
com uma mala nas mãos. Eu a observo como
alguém que tenta estudá-la. Os olhos pequenos não
fogem do olhar da mulher estranha que sorri, assim
que percebe minha presença.
− Suas referências me satisfizeram
inteiramente, e a senhorita parece preencher todas
as condições exigidas por mim para habitar sob o
meu teto. Se então está decidida, podemos começar
de imediato. Quanto a mim, estou disposta a
recebê-la em nossa residência. A senhorita gozará
de inteira liberdade fora das horas de trabalho. – ela
pausou, e olhou para minha direção. − Alejandro,
cumprimente Dolores, sua babá. – disse minha
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mãe, esperando que eu dissesse olá. Permaneci


calado, ainda olhando para os olhos da estranha.
A babá se aproxima e toca em meus cabelos.
− Olá Alejandro. – sua voz é doce e quase
infantil. Não houve o retorno do cumprimento, em
vez disso, viro as costas e volto para meu quarto.
− Não se impressione, ele é um pouco
rebelde, mas logo se acostumará com você. O que
preciso é que o cuide em minha ausência.
Fiquei atrás da porta a observando. Ela tinha
joelhos bonitos. Um sorriso amplo e enigmático.
Seus olhos pareciam atentos a tudo, o que me
causou certo incômodo.

Nos dias seguintes, não houve nem um sinal


de receptividade em relação à Dolores. Tudo que a
moça tentava fazer para se aproximar era em vão.
Eu fugia do seu contato e a tratava como se ela não
existisse. Ela era o oposto do tipo de mulher que eu
conhecia. Era uma nova versão, talvez não
decadente, mas assustadora. Quase leviana.
Ela me absorvia em silêncio, e eu apenas
fugia desta versão. Mas nutria por este ser uma
admiração profana, algo que me entorpecia, mesmo
sem saber como era tomar um copo de vinho.
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Dolores me causava medo e indignação.


Seria minha personagem secreta quando fosse
brincar no escuro do meu quarto, buscando por
saídas que me salvassem do tédio.
− Você deve fazer amizade com Dolores. -
disse minha mãe me olhando enquanto eu assistia a
tevê.
− Ela não será a minha mãe. – respondi.
− Ninguém disse que ela será sua mãe, pedi
apenas que se aproxime dela, pois será ela quem o
cuidará quando eu não estiver aqui.
− Por que passa tanto tempo fora de casa?
Por que me deixa sempre sozinho aqui? –
questionei.
− Preciso viver a vida enquanto sou jovem.
Você quer sua mãe triste e enfadonha andando pela
casa?
− E meu pai, por que ele não voltou mais
para casa?
Ela me olhou sem achar as palavras certas.
− Ele está trabalhando... Talvez... Não volte
mais.
Parei por um instante, desviando os olhos da
tevê.
− Por quê? – quis saber.
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− Porque... Porque é assim... As pessoas


quando se tornam adultas, vão cuidar de suas vidas.
E chega... Chega de perguntas. Estou atrasada.
Comporta-se. Obedeça Dolores, e não tente ser
rebelde com ela.
Com hesitação, aproximou-se de mim e
beijou meus cabelos, muito rapidamente. Eu senti
seu perfume de flor, algo que me atraiu, mesmo
sem saber o que isso significava. Só queria ficar
perto dela. Queria apenas mais um toque ou algo
que me trouxesse o conforto. Saiu com pressa,
fechando a porta do quarto. Meus brinquedos
perderam a graça.
Assim que Margareth saiu, Dolores fez meu
lanche, tentando adivinhar tudo o que eu gostava.
Era a primeira vez que estaríamos a sós. Ela sentiu
que precisava acertar no agrado, para que eu a
aceitasse por perto. Mas isso era tão pouco perto do
que eu mesmo sentia por ela. Dolores era como se
fosse uma deusa do fogo, algo com poder e força.
Era alguém que me deixava sem medo da chuva ou
do escuro. Mas ela ainda não sabia. Este era meu
segredo.
Abriu a porta com a bandeja em mãos, e a
fechou com as costas. Não tive nenhuma reação,
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mesmo percebendo que a babá entrou no quarto. Eu


não queria deixá-la descobrir que ela fazia parte
dos meus personagens preferidos e mais secretos.
Ela se aproximou e depositou o lanche na
cama.
− Está na hora de comer. – disse, sentando-se
ao meu lado.
− Estou sem fome.
− Mas precisa comer para ficar forte e
saudável.
− Quem disse que quero crescer?
− Mas essas coisas não precisamos querer,
elas acontecem uma hora. – disse ela, num tom
amigável.
− Você têm filhos? – perguntei, o que causou
um riso baixo em Dolores. Quando ela ria daquele
modo, eu imaginava um lindo arco-íris se
estendendo a minha volta, e isso me trazia um
senso de felicidade.
− Não. Eu sou solteira. Sou muito jovem
ainda para me casar.
− E quando se casar dormirá com outro
homem na cama do seu marido?
Dolores riu, mas sentiu uma leve
preocupação com minha pergunta.
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− Não, Alejandro, mas... Por que pergunta


isso?
− Não é por nada.
Ela se levanta e tenta me ajudar a comer.
− Não precisa, eu já sou um homem.
− Ah é, e quem disse há alguns minutos, que
não queria crescer?
− Agora quero crescer.
− Ah, que bom... Fico feliz em ouvir isso.
Significa que irá comer tudo que lhe preparei.
Abocanho a fatia de pão e a olho de um modo
diferente. Ninguém jamais fez isso a mim, a não ser
meu pai. Como uma mulher pode ser tão boa?
Como uma mulher consegue amar um homem
como eu, sem ressentimento, sem querer me enfiar
uma faca pelas costas, ou me trair, deitando-se na
cama que um dia pertenceu ao meu pai?
− Quero crescer para me casar com você. –
eu disse seriamente.
− Nossa! Quanta honra... Fico feliz em saber
que serei eu, sua senhora.
− Espero que não maltrate nosso filho.
− Fique tranquilo, isso nunca acontecerá. –
disse a babá com os olhos compadecidos, sabendo
exatamente o que eu quis dizer. Talvez ela já tenha
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notado o clima de hostilidade na casa. – Agora


coma tudo, sem deixar nada nessa bandeja, senão,
não me casarei com você. – sua voz de bondade
tornou-se agressiva, como se sentisse raiva de
minha mãe por minha causa.
− Está bem. Mas fique aqui até eu terminar.
− Sim senhor, mocinho. – disse ela sorrindo,
voltando a se sentar.
Assim que terminei de comer, eu a olhei com
cuidado e toquei em sua mão, quando ela já estava
prestes a deixar o quarto.
− Meu beijo. – disse eu, seriamente.
Dolores se abaixou e beijou em minha
cabeça.
− Não é assim. Quero um beijo de namorado.
− Não podemos, Alejandro. Você ainda é um
rapaz muito novo, preciso esperá-lo crescer.
− Eu já sou um homem, e odeio as mulheres.
A moça se aproximou, abaixando-se até a
minha altura.
− Sei que quando for um rapaz forte e muito
bonito, amará muito as mulheres.
− Por que diz isso?
− Porque vejo em seus olhos, que será um
ótimo homem. – os olhos dela brilhavam. Eu
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jamais me esquecerei daquele brilho nos olhos que


me desejava tudo que dizia.
Sorriu e saiu do quarto, fiquei pensando sobre
o que era amar muito as mulheres.

Passaram-se sete anos de descobertas.


As mulheres que poderiam ser boas
companhias, Dolores fora uma boa pessoa,
ensinou-me muitas das coisas que não teria chance
alguma de aprender com aquela que se dizia minha
mãe. As gentilezas e etiquetas foram repassadas
com paciência e abnegação. O amor que me fora
dado me impediu de me declarar a ela como o mais
apaixonado de todos os homens do mundo. Sentia-
me parte daquela mulher que entrara em minha
vida para mudar meu futuro. Eu jamais seria o que
hoje sou, se não fosse pelo amor devoto de Dolores.
A paciência que me dispensou todas as vezes em
que ouvia os meus gritos de menino negando-se a
cumprir tarefas. Agora já era quase um homem.
Tinha dezesseis anos. Os olhos intensos ainda
corroíam as imagens por onde pousavam, como se
pudessem decodificar qualquer que fosse o alvo a
minha frente. Tinha por dentro, um senso de
intensidade... Um tremor pelo corpo quando me
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deparava com as coisas que amava demais. Queria


suprimi-las, sugá-las, arrancá-las de si, para serem
apenas minhas.
Quando Dolores saia para ir ao mercado, eu
ia atrás, cuidando-a, protegendo-a.
Nada poderia lhe fazer mal.
Nenhum outro homem poderia tocá-la.
Ela era minha sem saber.
Sem imaginar.

Tinha medo que ela conhecesse alguém mais


velho e fugisse com ele, como fazem as mocinhas
dos filmes que minha mãe assistia. Mesmo sabendo
que Dolores jamais faria isso comigo, eu suspeitava
que o mundo poderia contaminá-la de algum modo.
Além de ser a única pessoa que eu confiava, era
minha aliada, amiga e um amor mesclado ao salutar
e ao sagrado. A única que me ensinou que ser
mulher é o oposto do inferno, e que estar perto dela
também era estar um pouco mais perto do céu.
Nunca pude lhe confessar meus álibis. Jamais
pude tocá-la como sempre sonhei. No entanto,
naquela tarde de inverno, algo temente ao
desagrado ocorrera acompanhado por um grito
estridente e um bater de portas. Assustado, deixei
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minhas tarefas escolares e segui o corredor que


dava à sala de estar. Lá, encontrei minha mãe
sentada no sofá, sua fisionomia pálida não escondia
o sentimento de raiva que habitava em seu ser,
embora insistisse em olhar as unhas com uma falsa
calma que usava para não entregar os
acontecimentos reais, eu percebi seu mau estar.
− O que houve? – perguntei insistente, parado
a um metro e meio dela, que continuava a olhar as
mãos, como se nada ao seu redor pudesse fazer
alguma diferença.
̶ Já arrumou o seu quarto? – ela mudou a
conversa, não desejando responder o que eu
desejava saber.
̶ A Senhora entendeu a minha pergunta? –
continuei a insistir, olhando por segundos
infindáveis para o rosto dela, que se levantou
assoviando alguma canção leviana. ̶ Onde está
Dolores?
̶ A empregadinha da casa? Bem... Ela voltou
para o lugar que jamais deveria ter saído.
̶ Não estou entendendo... Como assim, voltou
para... – parei por alguns instantes e me lembrou
dos momentos de longas conversas em que a jovem
me confidenciara sobre sua família muito humilde
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que morava no campo, no Sul do país. Uma onda


de aflição e raiva percorrera meu corpo, e antes
mesmo de saber o motivo pelo qual minha mãe me
dissera aquilo, corri para o quarto de Dolores, a fim
de constatar de que tudo não passava de um triste
equívoco, até mesmo, exagero por parte de
Margareth.
Ao chegar ao pequeno cômodo o qual fora
ocupado por minha doce amada durante todos esses
anos, o ambiente estava sem alma. O quarto
encontrava-se sombrio, com as portas do antigo
armário, abertas, completamente vazio. Corri para
perto do móvel, abri as gavetas, nada mais havia ali
além de uma tela grande pintada a óleo. Retirei-a e
a pousei a minha frente observando o retrato de
uma jovem nua deitada sobre rochedos permeados
por árvores silvestres. A mulher retratada tinha o
sorriso de Dolores, os mesmos olhos e traços...
Seios grandes e alvos, pernas roliças e bem
torneadas.
Era ela...
Um retrato talvez pintado logo quando viera
para minha casa.
Inconformado com a ideia de que perdera
minha paixão platônica, talvez meu primeiro amor,
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dei um murro certeiro no armário que se afundou,


cedendo parte da madeira. Com passos firmes segui
até o quarto de minha mãe, que ainda sustentava o
ar teatral de outrora.
̶ Onde está Dolores? – minha voz espremia-se
entre o abatimento e a fúria. ̶ Diga, mulher, o que
fez a Dolores? – gritei num tom estridente.
Margareth soltou a peça de roupa que
dobrava e olhou sem acreditar no que ouvia, aquele
menino que desprezara um dia se tornou um
homem com porte másculo e voz potente. Jamais
pensara que eu me rebelaria contra si, por conta de
uma simples empregada.
̶ Enlouqueceu? Criados nos servem por algum
tempo, e a partir do momento em que não nos
agradam mais, são dispensados.
̶ Não posso acreditar que ousou a fazer algo a
Dolores! Você sabe o que esta simples criada, como
você mesma disse, representa em minha vida? Você
não sabe de nada... Nunca soube... É uma pessoa
triste, não sabe nem mesmo que é.
̶ Estou incrédula... Meu filho, um jovem
petulante se ira contra mim, indignado porque
mandei embora quem deixou de me agradar com
seus serviços? Puxou ao seu pai, rapaz! Mais um
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igual, eu não o suporto por perto...


̶ Esta mulher descartável para você, nobre
dama, fora a única mulher que amei em toda a
minha vida... A única que me ensinou que amar faz
parte do ser humano. Para onde ela foi? – gritei
mais uma vez.
Margareth apenas olhou em direção a porta.
Imagino Dolores andando pelas ruas em direção à
estação. Certamente seu dinheiro daria apenas para
pegar um trem até a cidade mais próxima da casa
de campo de sua família. De lá, conseguiria alguma
carona que a levasse em segurança até seus pais.
Saí correndo sem muito tempo a perder. Usei
minha antiga bicicleta para chegar mais
rapidamente ao meu destino. O tempo cinzento
parecia pesar ainda mais sobre meus pensamentos.
No peito, uma lágrima escorria silenciosa. Era
inexplicável descrever a dor da perda que suprimia
qualquer espaço que tenha vida dentro de mim.
Estacionei a bicicleta em qualquer lugar e
corri a passos largos. De longe reconheci o tecido
florido da saia que usava aos domingos, e os
cabelos cacheados que caiam nas costas enquanto
ela carregava duas malas antigas. Seus passos
pareciam peculiares ao que eu sentia. Estava triste,
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eu sentia o mesmo, à distancia, sem ser preciso


olhar nos olhos dela. Num impulso, aproximei-me,
segurei-a pelo braço na intenção de fazê-la parar
antes que entrasse no trem.
̶ Não pode ir sem se despedir de mim. – disse
afoito, com os olhos minando paixão. O coração
estava batendo descompassado. Meus dedos
podiam sentir sua alma à medida que se afundavam
na maciez da carne de seu braço. Senti sua pulsação
sanguínea e algo indecifrável sobressaltar dos
olhos.
Ah, como a quero...

Quando os olhos se encontraram, as lágrimas


então passaram a brotar, coisa que não acontecia
desde meus tempos de menino. Numa necessidade
espontânea, ela me abraçou fazendo com que as
malas fossem depositadas ao chão, enquanto os
braços trêmulos de emoção me socorriam pela
última vez. Senti seu calor em torno do meu
pescoço, e um pranto vivo molhando minha camisa.
Não sabia a extensão de seus sentimentos, mas
estava ali pronto para dividir com ela, seja qual
fosse sua dor.
̶ Você saberá se cuidar. Já é um homem.
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Daqui a pouco o mundo todo é seu. – disse ela,


limpando o rosto com a manga da blusa de lã de cor
salmão.
̶ Não poderei ser feliz sem você...
̶ Poderá ser feliz sem qualquer outra pessoa...
̶ Permite-me uma despedida à senhorinha que
conheci quando era só um menino, mas me ensinou
coisas que jamais poderei esquecer. Agora que sou
um rapaz, forte e muito desajeitado, talvez se
recorde de algo que me prometera quando eu ainda
vestia calças curtas.
Sei que se lembrou das diversas vezes em que
eu havia lhe pedido beijos como prêmios para
comer ou dormir. Ela sorriu deixando suas
covinhas em evidência.
̶ Nunca comia o suficiente... Sempre deixava
algo no prato.
̶ Mas me tornei um homem forte, como lhe
prometi.
Dolores fechou os olhos e deixou que eu
pousasse os lábios sobre os delas, suavemente. Ao
voltarmos a nos olhar, ela pegou as malas do chão e
seguiu seu destino. Fora a última vez que a vi.
Desolado, voltei para casa. Com raiva de
Margareth, tentei evitá-la o máximo. Preferi ficar
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com minhas lembranças, tentando traçar o que faria


da vida daquele momento em diante.
Voltei ao quarto que fora de Dolores e levei
comigo o retrato pintado. Preguei-o na parede de
frente a minha cama, sem me importar com o que
Margareth iria pensar.
Assim passaram-se muitos anos de minha
vida. Ora chorando ou tocando-me para ela. Talvez
a desposaria, se ainda estivesse ali, sem olhar para a
nossa diferença de idade. Havia a certeza de que
jamais a esqueceria. Sabia que toda mulher que um
dia eu conhecesse, a buscaria nela. E somente
conseguiria amar, porque a reencontraria em algum
sorriso ou toque. Em alguma palavra ou traço.
Dolores me ensinou a amar as mulheres. Fora a
porta aberta que diferenciava qualquer ser feminino
de minha mãe.
Passei longos anos olhando para aquela
imagem no retrato como se fosse meu segredo
contido, a parte oculta do meu corpo onde o prazer
era intenso, pintado nos traços curvilíneos de
Dolores. Os seios rosados pareciam acariciar meus
lábios. Eu podia senti-la me tocar. As veias do meu
sexo pulsavam fortemente e se dilatavam numa
combustão exacerbada de desejos proibidos. Já era
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um homem, mas meu coração ainda disparava ao


sonhar com ela entrando por aquela porta, trajada
por um roupão branco aberto na frente, revelando
os pelos muito finos da vulva exposta na abertura
frontal da roupa.
Podia enxergar os seios sendo revelados a
cada vez que ela trocava passos lentos vindos em
minha direção, e finalmente ao se aproximar,
oferecia-me o mamilo lânguido para eu acariciar,
esfregando-o em meu rosto vagarosamente,
deixando-me louco e completamente vulnerável.
Foram noites sem fim, sem poder dormir.
Anos a fio, esperando que ela voltasse. Mas isso
jamais aconteceu. Estava só, completamente só e
submerso em meu mundo de fantasias e espera.
Minha mãe foi embora com um fazendeiro,
deixando-me apenas um bilhete frio como
despedida. Senti certo alívio quando vi seu armário
vazio e sua cama sempre estendida, desfazendo
qualquer indício de sua presença em minha vida.
Finalmente eu poderia seguir com minha distinta
sina, fazendo o que gosto. Eu e a imagem de
Dolores naquela casa que agora era apenas nossa.
Estava trabalhando em uma indústria de
perfumes há alguns meses, e mesmo em tão pouco
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tempo já me destaquei ao mostrar aos colegas, sem


intenção alguma, uma fórmula com combinação
floral que havia criado, o que despertou a atenção
dos proprietários da empresa tão logo que chegou
aos seus ouvidos. Mas não estava em meus planos
o aperfeiçoamento. A criação era apenas um
passatempo nos momentos de lazer, onde inventava
combinações de aromas num processamento bem
amador.

O dia lá fora trazia nuances em tons dourados


quando abri a cortina para ver quem tocava a
campainha. Não havia ninguém lá fora, apenas
carros trafegando pelas ruas, uma árvore com
galhos dançantes em frente a minha janela, e uma
caixa pequena rente ao meu portão. Um tanto
curioso e transtornado, fui até lá para saber do que
se tratava. Torcia para que não fossem notícias de
minha mãe, na verdade não queria saber nada sobre
ela. Era uma página arrancada de minha vida. Não
sentia sequer remorso por pensar assim. Espero que
seja feliz com quem está. E que isso lhe baste.
Abri a caixa com sofreguidão, dentro dela
havia um envelope pardo com uma carta que me
causou ansiedade e um leve suor nas têmporas. Não
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havia remetente. Rapidamente abri e passei a ler o


papel amarelado pelo tempo, o que me causou
estranheza.

Iugoslávia, 1730

Caro escolhido, Alejandro

Certamente ao iniciar a leitura desta carta se


sentirá confuso por ter sido escrita em tal data,
como fora anunciado, entretanto já sabemos a
época certa em que ela deverá estar em suas mãos.
Creia, pelo motivo certo. Temos orientações do
guru e profeta de nossa Seita, que nos adiantou em
qual local se encontrará todos os nossos
convidados quando completarem 30 anos de idade.
Nossos sucessores recebem as cartas e repassam
aos destinatários durante décadas e séculos.
O profeta nos adiantou sobre toda a sua
vida, como seria desde seu nascimento até o dia em
que receberá a correspondência. Sabemos que é a
pessoa certa para cuidar de nossa herança
milenar, a arte de amar as mulheres, cuidá-las e
abrigar a quem necessitar em uma das nossas
casas subterrâneas distribuídas pelo mundo.
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A sua casa será construída em 1850, e


certamente zelará por ela. Sabemos que será
perfumista, e que através desta arte alimentará o
afeto por cada uma das mulheres carentes que
encontrará, perpetuando o bem-estar de suas
protegidas. Será cuidador, carinhoso, humanitário.
Abaixo segue o endereço para onde deverá seguir.
Lá já terá uma proposta de emprego para lhe
garantir seu sustento através do que sabe fazer.
Apenas é pedido algo - jamais se apaixone. A
paixão destrói nosso laço milenar e lhe fará querer
se dedicar a apenas uma de suas protegidas,
desprezando deste modo o nosso propósito,
destruindo nossa fortaleza e as profecias sagradas
milenares. Este é um compromisso, um pacto de
honra.
Você, assim como nós, é um Lobo,
denominação dada a homens com instinto
patriarcal, protetores, alfas e líderes por
natureza. Possui o poder da sedução e persuasão,
por mais que tente fugir disso, será em vão, está no
seu sangue. Fora escolhido mesmo antes de nascer.
Um Lobo pode perder os dentes, mas sua
natureza, jamais. Talvez venha a mudar a pele, mas
nunca a alma. O Lobo solitário é valente e forte,
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mas possui seus medos e angustias. Se, acuado,


fica agressivo. Mas se for solto, tentará
proximidade com seus pares, porém até por
instinto machucará quem gosta... Isso acontecerá
algumas vezes... É instintivo, é de sua natureza
voraz. É fisicamente belo e desejável, também
admirável, porém intocável, mas sempre seguirá
em defesa de seu pequeno território. Dentro de si
há a imensidão de sonhos e sentimentos, todos
inconfessáveis e não revelados, e isso sempre
deverá ser um segredo seu.
Do medo de ser aprisionado vem sua força
arredia. Do medo de ser tocado na alma vem seu
uivo de dor, força e sentimentos. Não se engane,
você não será um homem comum. Seu apetite não é
muito convencional.
Abaixo, segue uma gota de sangue de nosso
Sacerdote. O seu aceite se dará quando sobrepor à
gota deixada no papel, um pingo do seu sangue.
Esta carta é estritamente confidencial, jamais a
destrua ou repasse a alguém. Caso isso acontecer,
cairá sobre sua vida até a quarta geração, uma
terrível maldição.

Talvez demorou mais do que dez minutos


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para que eu voltasse à minha realidade e tentasse


entender o que estava acontecendo. Lobo? Amar
mulheres carentes? Casa subterrânea? Pacto de
sangue?
Para garantir minha lucidez, voltei a ler a
carta, duas, três, quatro vezes. Estava diante de algo
que muitos chamariam de loucura, caso chegasse a
confidenciar com alguém. Só mais tarde voltei a
olhar a caixa e percebi um fundo falso feito
também com papelão. Desfiz a montagem, e me
deparei com várias notas de dinheiro cuja moeda
jamais vira, uma carta de recomendação para o
trabalho proposto e uma passagem de avião com
data pré-marcada, revelando que eu teria
exatamente sete dias para me decidir sobre a
proposta. Por último, um molho de chaves antigas,
que provavelmente deveria ser da tal casa, e uma
matrícula em uma escola que me ensinaria a falar a
língua do país para onde seguiria – Brasil, Rio de
Janeiro. Eu tinha em mãos um recomeço.
Após quatro dias pensando a respeito, peguei
uma agulha e resolvi furar o dedo e selar o tal
pacto. Não teria uma razão em especial. Talvez
fosse bom sair daquele lugar e tentasse esquecer do
meu mundo tão particular. Embora não acreditasse
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em 70% do que fora dito, não custava nada tentar.


Nunca fui bom em contar minha vida para alguém,
sempre me mantive reservado com meu passado e
meus fantasmas. Não correria o risco de sofrer a tal
maldição. Mas seria imensamente difícil amar
mulheres. Eu amo apenas uma. Não sei onde está,
com quem está e como está. Talvez a idade tivesse
chegado, e por este caminho perdeu a beleza pueril
ou o encanto pela vida. Mesmo assim correria o
mundo para encontrá-la.
Fui ao meu quarto e abracei o retrato de
Dolores. Levei o quadro para minha cama e assim
desejei dormir, olhando para ela. Daria tudo para
sonhar esta noite, um sonho sequer, que pudesse
me fazer sentir seu gosto em minha boca.
Arrependo-me por não tê-la tocado enquanto podia.
Como fui tolo e infantil, deixando com que ela me
visse apenas como o menino indefeso que crescera
em seus braços.
Fechei meus olhos e sussurrei seu nome até
perder os sentidos.

A noite parecia ter um brilho especial no céu.


De longe eu via um vulto se aproximando. O vento
batia em seus cabelos longos, trazendo-os para o
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rosto. A pele nua reluzia com o contato da luz da


lua. Estava sublime caminhando pelas ruas
noturnas com as curvas expostas como carne
fresca, cheirando a baunilha e mate; ardendo como
chama que se propagava pelo ar.
Aproximei-me tocando em sua tez, deixando
com que meus dedos rolassem pelo meio dos seios
até chegarem ao umbigo. Uma camada forte de
vento chegara sucumbindo as folhas das árvores
que agora caíam sobre os cabelos flutuantes de
Dolores, impedindo-me de eu ver seu rosto; sua
forma esguia ia se perdendo aos poucos no
bálsamo turvo da escuridão, até que nada mais
restasse. Um uivo solitário se espalhou pelo ar
invadindo tudo que havia em mim.

Um dia antes de vencer o prazo da passagem.


Cheguei do trabalho e fui até a mala antiga deixada
por minha mãe. Peguei apenas o essencial,
deixando por último o retrato de Dolores, pondo-o
com cuidado sobre as poucas peças de roupas.
Abandonaria aquele lar que jamais fora
considerado um berço familiar. Havia decidido por
instinto, a seguir a proposta estranha, que muitas
vezes me parecia até mesmo insalubre.
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Furei o dedo e fiquei olhando a gota de


sangue pingar no papel enquanto se fundia com a
mancha antiga, já com um aspecto marrom bem
escuro. Não sei se deveria acreditar em tanta
fantasia, mas já estava consagrado, eu iria para a
terra do carnaval. Iria por adiante aquelas palavras
e pedido, mesmo sem ter a noção do que me
esperava.

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Capítulo 2

O íngreme dos sentimentos


É revelado no toque
Na angústia de prendê-la em seus braços
Para sempre...

Após cinco anos nessa terra diferente, passei


a compreender melhor as palavras daquela carta
que ainda trago comigo a sete chaves. Já havia
conhecido algumas mulheres que estranhamente
surgiram em meu caminho. A necessidade de
ampará-las era hoje algo necessário para minha
sobrevivência, acontecia de forma natural,
deixando o antigo ranço para trás. A maioria era
casadas ou pessoas que um dia foram rejeitadas de
algum modo. Minha obrigação não era mais um
dever, era algo prazeroso. Eu me comprazia em
protegê-las. Desejava estar por perto e me
desempenhar para curar cada cicatriz causada por
homens que não sabiam dar a elas o seu devido
valor.

Era um sentimento diferente.

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Incomum.
Eu as sentia por dentro
Pelo avesso.

Observava o comportamento e personalidade


a fim de encontrar uma melhor forma de ajudar.
Seja quem fosse o autor daquela carta, ele tinha
razão sobre o que escrevera. Se isso significava ser
um Lobo, certamente eu era um, e já tinha todas
essas características guardadas dentro de mim, só
estavam adormecidas para despertarem num dia em
que conseguisse me olhar no espelho e
reconhecesse minha verdadeira identidade.
Cada menina que eu cuidava era uma célula
do meu corpo. Cada pé, mão, lábios, olhos, sexo,
cheiro, suor de minhas protegidas - era o lugar
confortável e absoluto onde eu desejava adormecer.

Homem algum voltará a lhe fazer mal...


Eu não deixo. Não admito.
Se for necessário, eu a roubo para ensiná-
los,
como uma mulher deve ser tratada.
Bando de porcos!

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Eles não conseguem enxergar que no fundo


dos olhos dessas pequenas há um oásis, o céu e o
inferno juntos - o meu infinito.
Eu gostava daquele ambiente subterrâneo da
casa. Sentia-me confortável entre os móveis
clássicos do século XIX. Tudo se encontrava em
bom estado de conservação, outros Lobos que por
ali passaram, souberam cuidar com esmero da
propriedade. Não havia sombra de dúvidas de que
tudo me pertencia, e que eu pertencia àquele lugar.
A casa basicamente possuía cinco quartos,
mas somente um era ocupado, o que fora reservado
a mim. Nunca trouxera alguma mulher para lá. Eu
deveria ter o cuidado para selecionar aquelas que
ocupariam as três casas construídas na pequena
cidade subterrânea, cuja entrada se dava pelo
museu de perfumes. Este se tratava de um
antiquário que também fora construído no século
XIX, ali existiam essências e frascos requintados
muito antigos que foram trazidos para a casa.
Certamente criação dos antigos Lobos às suas
protegidas, material este que custaria uma fortuna
inestimável caso fosse avaliado.
Havia na casa uma senhora que fazia a
limpeza e manutenção apenas do museu. Esta
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pessoa fora criteriosamente selecionada para tal


função, pois minha intenção era manter o local em
discrição até saber exatamente o que fazer com ele.
Não havia para mim uma finalidade, a não ser
armazenar a criação das essências que eu me
inspirava em cada pequena que me encantava de
algum modo. Mas não poderia ser qualquer uma
que deveria ser levada para a cidade subterrânea,
apenas as que eu precisasse roubar de seus lares por
estarem correndo riscos e sofrendo abusos. Naquele
local eu iria restaurar sua dignidade e cuidá-las até
que pudessem cuidar de si mesmas.
Além do museu, havia ali meu laboratório de
criação. O método utilizado para a produção dos
perfumes era destilação a vapor, que é o mais
comum no sentido de extração de óleos essenciais,
matéria-prima para a produção de perfumes. É
rotineiro a utilização deste método para obter óleos
essenciais de folhas, sementes, raízes, madeiras e
algumas flores, tais como as rosas.
A destilação a vapor é feita em alambiques
onde partes da planta são colocadas. Saindo de uma
caldeira, o vapor da água circula através das partes
da planta forçando a quebra de suas moléculas e
liberação do óleo essencial. À medida que o
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processo acontece, as moléculas de óleos essenciais


evaporam junto com o vapor da água, passando
através de um tubo no alto do destilador, onde
passam por um processo de resfriamento através de
uma serpentina e se condensam. O óleo essencial
nesta fase volta a se liquefazer e a se misturar com
a água. É então separado através de decantação,
devido às diferenças de densidade. Lembrava-me
muito das aulas de química que tive na Espanha.
O acesso ao universo íntimo do local era
restrito, o que tornava a entrada nessa área um
privilégio. Poucas foram levadas para o meu
quarto. Meu desejo era preservar a casa e os
mistérios ali contidos, iniciando pelo retrato de
Dolores que carinhosamente fora colocado na
parede acima da cabeceira de minha cama, como se
fosse um pedestal. Mulher alguma ousara olhar a
peça que era protegida com um tecido de cetim
vermelho, para evitar a curiosidade.
As casas do século XIX costumavam ser
pensadas não pelo olhar do morador, mas do
visitante. Por isso, as áreas com decoração mais
exuberante eram as sociais, já que aqueles eram os
únicos cômodos que recebiam as visitas teriam
acesso. Esse hábito explica a simplicidade dos
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quartos, visto que precisavam conter apenas o


essencial para o cotidiano de seu dono.
Através de um extenso corredor, podemos
ver um quarto conjugado com quarto de
vestir (ou quarto de banhar); um quarto menor e
uma biblioteca que abriga obras raras da literatura
nacional e internacional. A documentação não
permite definir com exatidão a quem pertencia cada
um dos quartos. Supõe-se que o primeiro deles, por
ser maior, teria sido do Lobo Alfa por longos
séculos, porém hoje é o meu. O segundo, pela
proximidade do aposento maior, teria pertencido a
alguma visita muito intima que passaria um período
na casa, deduzo que seria alguma protegida
especial para os Lobos antigos. Alguém que estaria
a frente das demais. No meu caso isso ainda não
existia, uma vez que ainda nem consegui selecionar
as que morariam na cidade secreta da casa.
Provavelmente não me sentiria confortável em
dividir minha intimidade com outra pessoa, mesmo
que a ânsia de ter alguém ao meu lado me
consumia durante dias a fio. Daria o céu a qualquer
uma delas, mas cominando o pacto realizado com a
Seita, somado ao meu desejo de me manter
solitário, um coração protegido do lodo da paixão
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corrosiva, a decisão então é continuar só em minha


casa.
O lado mais obscuro de todos os cantos
daquela casa era sua extensão, uma porta de ferro
enferrujada que dava para um sombrio corredor o
qual me guiava até a cidade dos prazeres. Ali tudo
acontecia sem que a humanidade percebesse.
Apesar de parecer uma saída onde os Lobos com
suas convidadas usavam para fazer sexo, o lugar
estava deserto de alma, apenas o mecanismo
intenso e ao mesmo tempo, fútil de corpos
despidos, esfregando-se uns aos outros sem a
preocupação com a vida corriqueira. Uma leve
brisa me faz perceber o quanto lá fora era frio. A
mesma brisa aumenta gradativamente, levantando
papéis coloridos, cheios de frases obscenas pelo
beco.
Uma menina-mulher em confortáveis roupas
brancas aparece sem ter saído de lugar algum. A
escuridão da noite contrasta com o brilho de sua
presença. Seus passos são lentos, mas decididos.
Antes que eu perceba, o olhar mais tranquilo que já
me encarou em vida, me hipnotiza.
Esta é a cidade onde o mal é palpável, a
luxúria é a ordem vigente e todos seus terrores e
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desejos noturnos são reais. O escoadouro da


imundície dos demônios. Um portal por onde essas
criaturas que se parecem humanas,escapam do
inferno e invadem primeiro os pensamentos, e
depois as camas dos viventes daquele covil de
Lobos.
A mulher tenta como uma criança tímida,
dizer algo, qualquer coisa, mas só balbucia pedaços
de frases.
− Nem todos os demônios desta cidade têm
chifres. Eu a aconselho a ir embora deste lugar.
Esquecer que um dia visitou este covil. Se não tem
um protetor, é melhor que arrume um enquanto há
tempo de se salvar das garras dos mais predadores.
− Como sabe que não tenho ninguém por
mim aqui?
− Os ventos me dizem tudo o que preciso
saber. - eu respondo com uma voz tão suave que ela
hesita entre aceitar o conselho de ir embora ou ficar
para me ouvir um pouco mais.
− Assim... Onde há o mal construído pela
luxúria, esta cidade é amaldiçoada. Vá agora e não
olhe pra trás.
− Mas eu marquei um encontro aqui com... -
ela gagueja.
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− Acredite, você não tem amigos em nenhum


lugar desta cidade. Este não é seu lugar. – decreto,
enfático.
Já era o anoitecer, junto com o acender das
antigas lâmpadas de vapor de sódio que pintam as
pessoas em meu caminho com um opressivo tom de
sépia. Existe poesia na visão das avenidas banhadas
pela luz amarelada e sem esperança, enquanto rodo
por elas à procura de meu destino. O cenário me faz
sentir saudade de coisas tão perdidas quanto
inexplicáveis e me sinto estranhamente em casa
pela primeira vez. Não existe uma palavra em meu
idioma para essa sensação, mas os Lobos nomeiam
isso de desejo.
Conversamos sobre amenidades, com ambos
evitando ao máximo falar de si mesmos. Ela se
parece, de alguma maneira, uma garota de
programa que não quer falar da profissão, mas não
era, tratava-se de uma atriz de teatro; apenas uma
mulher carente a procura de sexo, trazida por
alguém, mas que fora abandonada no meio da
penumbra.
A segunda taça de vinho - por conta da casa -
vem fácil. Ela, apesar de fútil, consegue conversar
sobre absolutamente qualquer assunto que eu
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propor, sempre com um brilho nos olhos e um falso


interesse típico de quem quer ir para a cama, isso
aos poucos foi me excitando. Antes que ela
percebesse, já estava na terceira taça.

Aquela noite, eu era um Lobo sem intenções...


Ou melhor...
Com as piores ou melhores intenções.

Eu a tomei, roçando a barba e o casaco de


couro em seu pescoço. Segurando-a pelo pescoço,
levei-a para um dos esconderijos imundos da casa
dos prazeres.
Analisando mais de perto, percebi que o rosto
dela não era tão bonito assim. Um nariz adunco ou
olhos afastados demais um do outro, talvez. Era um
pouco cheinha para a roupa escolhida, e tinha uma
cicatriz de na barriga, que se fazia evidente,
demarcando bem a barriga. Os seios eram bastante
chamativos, mas era somente isso. Tinha as mãos
inteiramente tomadas por anéis e usava vários
símbolos e amuletos pendurados em correntinhas,
braceletes e pulseiras. Os jeans batidos cheiravam a
suor, perfume barato e cigarro. Mas tinha uma
beleza impar no modo como falava firme, segura de
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si.
Ela me encarava de maneira penetrante
enquanto as mãos inquietas - que terminavam em
unhas de vermelho obsceno - seguravam o cigarro
que nunca se queimava por completo.
Por quanto tempo tínhamos conversado?
Resolvi ousar um pouco mais. Queria que
naquele momento ela interpretasse uma puta
mundana, como se estivesse em cima de um palco.
− Você precisa de dinheiro... Quanto quer
para se ajoelhar aqui e me chupar? – percebi que
ela sentiu um prazer perverso no verbo ajoelhar.
Ela fez uma cara falsa de espanto e
indignação, mas quando percebeu que não me
convenceu, sorriu.
−Ah, só chupar? Sei lá, uns... vinte?
Foi a vez de eu rir, e me apoiar no muro meio
sujo. Ela olhou para os lados antes de se abaixar.
Desajeitada, não sabia o que fazer com a bolsa que
teimava escorregar de seu ombro enquanto abria o
zíper de minha calça. Não era uma profissional do
sexo, ao menos até aquele momento. Colocou a
mão toda dentro de minha cueca, e o segurou. Tirou
para fora com dificuldade, pois já estava ereto, e
lambeu a gota de excitação que brilhava na
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pontinha dele.
− Hummm, vai dar para encher a boca. Você
está me pagando para fazer algo que eu adoro. - a
frase saiu dela tão falsa quanto estúpida.
− Chupa logo e para de falar.
Ela obedeceu e engoliu, primeiro só a cabeça,
depois a metade. Ainda tensa, soltou a bolsa no
chão e se ajeitou, engolindo tudo que cabia. Era
macia e muito quente aquela boquinha de fumaça
que cheirava a bebida.
− Encher a boca você disse, né?
Meu pau já estava bem duro e avermelhado,
tanto de tesão quanto do batom desgastado dela.
− Meus joelhos estão doendo. - ela reclamou,
enquanto aproveitava para respirar um pouco.
Definitivamente não tinha jeito para a coisa,
pensei.
Quando olhei para baixo, reparei nos cabelos
mal-cuidados, displicentemente presos por um laço
e as marcas vermelhas que as alças do soutien
deixavam nos ombros de quem está acima do peso.
A mulher fazia aqueles barulhinhos cada vez mais
ritmados, indo e vindo da boca, quando a peguei
pelo queixo, apoiando a outra mão no alto da
cabeça dela.
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− Espera, o que você vai fazer? – ela quase


engasgou.
− Quieta. Abra bem a boca.
E enfiei. Segurei forte a cabeça dela,
metendo. Enterrava violentamente até meu saco
doer, mas era assim que gostava. A chupadora
reclamava de maneira abafada, mas ao mesmo
tempo aceitava desde que aquilo terminasse rápido.
Resmungou aliviada quando sentiu o esperma
amargo fluir.
−Você só goza assim?
Eu fiquei meio amolecido. Subi a cueca, e
depois fechei a calça em silêncio. Ela se sentiu uma
oferecida, mas pensava que o pior já tinha passado,
e que eu por já ter gozado uma vez, não se
demoraria muito.
−Não quer mesmo transar? - ela me odiou por
perguntar, por insistir no assunto.
− Escute, princesa, meu lance é outro. Meu
prazer se encontra em cuidar, zelar e proteger.
− O meu se encontra em ser livre, gozar e
gemer a noite inteira.
− Eu te disse, aqui pode não ser o seu lugar.
***
Nas noites em que não tenho sexo, meu
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apetite pela manhã é voraz, em todos os sentidos.


Acordo teso com o membro rasgando a cueca,
desde o momento em que abro os olhos até o
inebriar de um acontecimento inesperado no meio
do dia, meu jeito predileto de encontrar alguém.
Em todas as esquinas sempre haverá uma
pessoa especial. É fácil detectar isso quando se olha
por dentro, e sabe exatamente onde está o néctar.
Elas passam por mim de jeito simples ou elegante,
deixando um rastro de âmbar, almiscar, vanila,
patchuli... Tudo em uma mulher me incendeia e
vicia, e qualquer uma delas, não importando o tipo
físico, sabe levar um homem para as profundezas,
basta apenas que este cara encontre o modo certo
de tocar seu corpo e sua alma.
Entrei numa frutaria, gostava de sentir o
cheiro das frutas, isso me inspirava e me dava a
sensação de que cheiros novos jamais se esgotam
quando se tem um olfato apurado. Gostava de sentir
o cheiro do pêssego, tocar em sua textura aveludada
antes de comer, isso me excitava.
Fui até a sessão onde se encontravam os
pêssegos e passei a fazer o ritual tão íntimo com
esta fruta. Fechei os olhos para cheirá-la, depois a
toquei com as pontas dos dedos, tão suavemente,
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que podia sentir seu gosto em minha boca.


Antes que me desse conta do tempo que
passei assim, senti olhos curiosos me observando
por detrás de uma banca. Eu não me importo em ser
quem sou, nem mesmo dentro de uma quitanda.
Mas a senhorita que me cuidava às escondidas
parecia não saber disso.
Eu não a olhei, sequer sei a cor de seus
cabelos, mas o seu cheiro chegou até a mim com o
sofro do vento vindo de fora. Abri os olhos quando
ouvi sua voz perguntando sobre o quilo dos
pêssegos. Algo naquele timbre me deixou curioso,
parecia fatigada de algo. Uma nota de angústia
podia ser sentida.
Quando os olhos encontraram os olhos, um
falso tremor percorreu dentro de minha cueca como
algo necessário para a sobrevivência. Os longos
cílios eram fascinantes, à medida que piscavam
sem tréguas para esconder algo do mundo. Eu
insistia em perceber seus segredos a ponto de nos
tornarmos íntimos em fração de segundos.
As sapatilhas da cor de carne tinham laços
nas pontas, pareciam se enroscar em cada canto por
onde passava. Saí atrás dela observando o jeito que
caminhava com a ponta de sua saia preta de
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bolinhas brancas batendo na panturrilha. Percebi


que na pressa de escapar dos olhos do mundo,
deixou cair uma nota de cinquenta reais. Abaixei-
me para buscar o dinheiro e a chamei no intuito de
chamar a sua atenção.
O tempo que ela levou para virar o maxilar a
minha procura fora o suficiente para eu perceber
com mais detalhes a gravura saliente de seu queixo
bem feito, com uma cova suave que lhe dava um ar
sofisticado. Entreguei a nota olhando o movimento
que seus dedos faziam ao se aproximar dos meus,
exibindo um anel dourado de espessura chamativa
com algumas pedras de brilhantes. Era casada.
As pontas dos dedos eram suaves, quase
infantis com as unhas quadradas e curtas pintadas
com uma cor discreta. Os dedos tocaram nos meus
me incendiando por dentro, num suplício. Ela pedia
ajuda de modo silencioso.
− Grata. - sua voz me dizia tudo e nada ao
mesmo tempo. Suas costas foram viradas seguindo
firme o caminho que lhe restava frente. Fui atrás
como um farejador de corações partidos.
Entrou rapidamente na caminhonete e seguiu,
desobedecendo as leis de trânsito, passando em um
farol vermelho. Uma buzina a acordou para o
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mundo, quando estacionei ao seu lado e do outro,


um policial de trânsito, que pediu que estacionasse.
Nervosa, ela passou os documentos, sendo multada
e liberada em seguida. Com um suspiro deixou seu
corpo relaxar na impressão de uma morte súbita e
implacável. Fui até ela com a sensação de que
estava fazendo o melhor que eu podia. Cheguei a
sua janela e percebi a cor brilhante dos olhos
intensos e estranhos.
− Está precisando de algo?
Ela arregalou seus olhos não acreditando que
fui capaz de segui-la até ali na esperança de ter um
pouco mais de sua presença magnânima.
− O que quer afinal? - seu tom de voz estava
irritado e cansado.
− Quero que fique bem, e que dirija com
cuidado até seu destino. Não a conheço, nunca a vi,
mas algo em você me chamou muito a atenção. -
ela estava incrédula, à medida que eu abria a boca
para falar. − Sua aflição... Eu jamais deixaria uma
mulher como você expressar um sentimento tão
mórbido pelos olhos, sem percebê-la. Você merece
mais, Acredite nisso.
Ela se foi sem ao menos me dizer seu nome,
mas certamente foi pensado em minhas palavras.
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Naquela semana toda eu a segui, numa


obsessão que não me deixava dormir. Desejava
estar perto dela outra vez. Em um dos dias que se
seguiram, eu a vi entrando em uma farmácia.
Tentava a todo o custo esconder o ferimento no
braço, mas eu percebi.

Ela precisava se livrar deste traste!


Por que insiste em algo que a machuca?

Entrei na farmácia e fiquei esperando que


saísse da sala de curativos. Ao me ver ficou corada.
Certamente não queria que eu a visse naquele
estado. Eu a acompanhei até seu carro, sem que ela
me dissesse uma só palavra. Abri a porta para que
entrasse e me apoiei pelo cotovelo no vidro de sua
janela, com a mão entre os cabelos, não sabia o que
dizer para alguém que desejava morrer.
− Eu tenho total certeza de que este homem
não a merece... Não faça nada por ninguém, faça
por você. Hoje é seu braço, amanhã não se sabe
qual o próximo ferimento ou algo pior.
Eu tentava forçar meu português para que
minhas palavras fossem ditas num tom bem claro,
porém o espanhol sempre predominava e me
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atrapalhava na pronuncia, mas acredito que ela me


entendeu.
− Eu feri o braço enquanto limpava o jardim,
foi apenas isso.
Colocou os óculos e percebi no canto
esquerdo, próximo a sobrancelha, uma pequena
marca roxa que ela tentou disfarçar usando
maquiagem. Não sei se senti mais raiva dela ou
dele naquele momento, sei apenas que não
desistiria dela.
***
Cheguei ao restaurante um tanto faminto.
Pedi um vinho escocês e fiquei a saborear cada
sensação que a bebida me causava. Pedi uma carne
grelhada e legumes gratinados, e me deixei ser
levado pelo jazz que tocava mansamente no
ambiente requintado. Brinquei com os dedos nos
talheres e imaginei se ainda existia algum perfume
que não fosse sentido, algo que pudesse decifrar
fielmente a personalidade de alguém, quando um
casal sentado quase ao fundo do recinto, me
chamara a atenção. A feição tensa da esposa que
trazia no dedo uma aliança, não correspondia à
tranquilidade do marido, que não usava nada nos
dedos e bebia tranquilamente, alheio a qualquer
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acontecimento. Ele levantou um brinde e sorriu


sarcástico, tirando ainda mais a paz de sua senhora
que se escondia numa falsa aparência de boa
vizinhança. Nada parecia lhe fazer relaxar. Estava à
beira de um colapso, eu podia sentir sua ira ao olhar
para aquele que ainda sorria, ignorando
propositalmente o que dava causa. Ele se levantou
quando seu celular tocou, e seguiu rumo ao
banheiro. Era ela, a esposa insatisfeita da frutaria
com todos os seus grilhões estampados no rosto e a
mesma aflição de outrora que a perseguia, como eu,
por onde quer que fosse. Ela deu um tapa impulsivo
na mesa, na tentativa de se aliviar da pressão
enquanto meus olhos ainda continuavam fixos nela,
que tomou de uma só vez seu drinque, dessolada.
A face tomava cor, eu podia sentir daqui suas
reações. Os olhos agora febris não enxergavam
mais o mundo a sua volta. Estava no ápice de seu
desespero, quando o marido voltou para a mesa.
Assim que se sentou, passou a falar, daqui eu só via
seus lábios se movendo, e os dela, tremendo.
− Você não pode fazer isso comigo? - ouvi a
voz daquela refém de algo ainda desconhecido por
mim. Sua voz num tom altivo e sofrido revirou algo
por dentro de mim, enquanto todos os olhos que
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estavam no restaurante olhavam para a sua direção.


− Controla-se... Sabe que depois pagará por
isso. - disse ele tentando contornar a situação de
sua forma, estimulando o medo. Mas ela, ferida,
não se entregaria facilmente.
− Faça agora! Vamos?! O que pode segurá-
lo? Infiel! Nada do que diz me fará parar...
Ele se levantou, de longe vi um volume
marcando no cós de sua calça social. O cabo de um
revólver que ele tentava esconder, arrumando a
roupa.
− Voltará para ela agora? - ela gritou,
levantando-se em seguida. Tentou agarrá-lo,
impedi-lo de ir. Num solavanco, ele a empurrou,
derrubando-a sobre a mesa de trás, ocupada por
outro casal. Pratos com comida, copos com bebida
foram ao chão juntamente com a mulher bem
cuidada por fora e destruída por dentro. Não
satisfeito, ele a levantou pelo colarinho da blusa,
dando-lhe um tapa antes de sair.
− Eu lhe avisei... - foram suas últimas
palavras.
Ela continuou no chão, submersa em suas
lágrimas em meio ao burburinho e a música que
não parou de tocar.
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Levantei de minha cadeira e fui em direção


daquela que pedia por socorro sem falar uma só
palavra. Meus olhos e sentimentos estavam agora
concentrados nela. Meu mundo neste intervalo de
tempo entre a cadeira em que eu ocupava e a
metragem de chão em que ela estava, pertencia
àquela estranha, que não sabia ainda, mas era
valiosa. Sua dor doía em mim. Desejei naquele
milésimo e mísero segundo, levá-la dali, agasalhá-
la com minha pele, beijar cada mazela.
Estendi a mão sem muito pensar. Com a
sensação e sentimento de que ela já era minha
desde a primeira vez que meus olhos pousaram
sobre sua presença.
− Venha... - pedi, com ela olhando a minha
mão, e o rosto coberto por lágrimas.
−Por que está aqui também? Por que me
segue? - me perguntou, sem saber o que pensar.
−Eu irei cuidar de você. - respondi, ajudando-
a a se levantar, cobrindo seus ombros com meu
paletó.
Ela seguiu em silêncio, embora desconfiada.
Mas a dor que apedrejava sua alma era maior
naquele momento.
Liguei o carro e a olhei, imaginava como se
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sentia, mas somente ela sabia onde doía o peso de


sua história. Estava paralisada num sofrimento
íntimo e particular, e eu ali, tentando roubá-la de
seu mundo.
− Sempre nos encontramos por aí, nunca
tive a oportunidade de saber seu nome. Como se
chama? - meu tom era solícito.
− Laura. - seu tom era frágil, quase um
soluço.
− Quer conversar um pouco?
− Não tenho muito o que dizer. - os olhos
castanhos marejaram.
− Há quanto tempo está casada com
aquele... aquele sujeito? - eu ia dizer, canalha, mas
resolvi esperar que partisse dela qualquer
classificação. Ele não me interessava.
− Há tempo suficiente para me tornar
infeliz.
Fiquei confuso. Talvez, curioso. Olhei para a
aliança que ela usava. Senti que a realidade era
mais complicada do que eu imaginava.
− Ele tem uma amante, uma quase segunda
esposa. Na verdade, ele a trata como sua mulher, e
a mim como amante, e me obriga a usar a aliança
como se eu fosse a casada feliz, para espantar
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pretendentes.
Olhei para os cabelos escuros, o maxilar e as
maçãs do rosto bem marcados, era tão bonita.... Sua
dor era o que mais me chamou a atenção. Sua
situação era pior do que eu imaginava.
− Por que se sujeita a este tipo de relação?
Ela me olhou com raiva. Era tão claro no
motivo, mas eu queria ouvir de seus lábios o que
sentia.
− Porque eu o amo.
Parei o carro. Não sabia exatamente para
onde levar aquela mulher. Parecia resistente a
qualquer ajuda. Eu detesto esta palavra, mas há
pessoas que não entendem minhas intenções se eu
dissesse de outra forma. Então me lembrei que
ouvir é um dom.
− Eu entendo, por amor, algo tão bom e
especial, motivado pela quantidade de bem que o
outro nos causa. Entendo que o amor não nos
diminui ou nos põe em situação em que queremos
causar mal a nós mesmos na intenção de ter alguém
por perto. Porque alguém que nos ama jamais
quererá que algo de ruim nos acometa.
Ela me fitou por longos segundos. Sua face já
não tinha mais tremores, apenas o sinal do tapa que
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levou. Levantei a mão na intenção de acariciá-la,


mas me contive, não era o momento. Mas ela me
parecia mais bela a cada minuto.
− Por que me quer me ajudar? – perguntou,
olhando para minha mão, em transe, quase
incontrolável para poder tocá-la.
− Porque algo me prende a você. Sinto que
posso, se deixar. – sorri no diminutivo.
− Você é um estranho... Como poderá me
ajudar?
− Você quer mesmo saber? – questionei,
percebendo o riso dela pela primeira vez, num colar
de pérolas que eram seus dentes.
Encantadora.
− Sim, por favor, me diga. – sua súplica me
instigou mais ainda.
− Você tem para onde voltar? Digo, tem uma
casa, alguém para lhe ajudar?
− Não, eu morava no apartamento que ele
tinha me cedido. Fui tirada de casa aos quinze anos
de idade, hoje tenho 26. Desde então morava sob o
amparo financeiro dele. Nunca trabalhei. Fui criada
no interior, meus pais são muito humildes.
− Já namorou ou teve alguém além deste
homem?
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− Não... Ele foi meu primeiro em todas as


experiências.
− Ele já era casado com você quando
conheceu essa pessoa?
− Sim, mas não me contou, muito menos a
ela, vivia como se solteiro fosse. Descobri com o
tempo, quando ficava muito tempo sozinha. Um dia
a amante descobriu minha existência e foi atrás de
mim, então fiquei sabendo de toda a verdade. Mas
não quis embora. Não sabia como ter os meus
quinze anos de volta... Não sabia fazer nada, sequer
tinha um documento de identidade. Ele que me
ajudou a tirar.
− Tornou-se dependente dele... Uma presa
para saciar os desejos, as fantasias...
− Sinto vergonha de dizer, mas é isso.
− Não tentou fugir ou ir embora?
− Sim, mas ele ia atrás de mim, me prometia
que iria deixar a amante, que me amava, e que
teríamos filhos. Meu sonho era ser mãe.
− Talvez pudesse ser mãe após curar suas
mazelas. Uma mãe que iria transmitir às filhas, que
amar é bom, desde que seja este amor seja por
alguém que as valorize.
Ela me olhou assustada.
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− Ainda não entendi por que está me falando


todas essas coisas... Acabamos de nos conhecer. Há
poucos dias nos vimos pela primeira vez na
frutaria...
− Não importa, menina... Mesmo se soubesse
da sua história, ainda assim seria pouco para
encontrar a receita certa que te salvasse de si
mesma.
− Eu... não sei nada da vida, senhor.
Ela me chamou de senhor... Enchi-me de
vaidade e um sentimento de satisfação. Não
precisarei ensiná-la que esta é a forma correta de se
tratar um Lobo.
− Eu vou levá-la e colocá-la em segurança.
Mesmo que seja muito lhe pedir, preciso que confie
em mim. Não sou nada parecido com seu amante
ou qualquer outro homem que você possa encontrar
nas ruas, caso saísse agora, sem rumo, linda como
é.
− Qual a garantia que me dará, que não
estarei correndo perigo?
Sorri. Timidamente toquei em seu queixo, ela
fechou os olhos. Precisava sentir meu toque para
que eu pudesse lhe enviar sinais de segurança.
− A garantia é a minha palavra e minha
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honra. Quer comer algo? – perguntei, sabendo que


foi impossível ela ter comido algo naquele
restarante.
− Bem... Eu realmente não tenho para onde
ir... E confesso que estou com muito medo de
voltar para minha casa. Talvez eu possa... aceitar
seu convite por esta noite.
Ao chegar em minha casa, era natural que
estranhasse a estrutura subterrânea. Mas senti em
seus olhos um brilho fascinante. Tudo era novidade
para ela. Olhava para todos os lados por onde
passava. Suas mãos, sem perceber, procuravam
meu braço, tentando se apoiar para ver a decoração
e artefatos. Certamente jamais sonhara em conhecer
um lugar como este. Eu a conduzia, levando-a pela
mão. A cada passo que dava rumo à porta da cidade
subterrânea, ela me olhava como se adivinhasse
que ali seria seu novo lar. Era a minha primeira
protegida que ocuparia uma das três casas que lá
tinham, até o momento que ela decidir ir embora.
Assim que abri a porta, as luzes da pequena
cidade já estavam acesas. As ruas todas calçadas
por um piso brilhante, que dava para ver nossos
feições nele, caso olhássemos para baixo. Os olhos
dela miraram para a primeira casa, mas se fixaram
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na segunda. Estranhamente nasciam pequenas


flores num aparador que tinha na janela. A
maçaneta robusta acobreada, fora vista de longe.
− Que lugar é este? – perguntou curiosa, ao
andar quase na ponta dos pés.
− Este lugar fora criado para amparar
mulheres como você, que não têm para onde ir.
Parece diferente, não? Mas é onde estará em
segurança, até que possa novamente voltar para a
vida lá fora.
− Mas... Isso não parece nada real... E o que
lhe faz pensar que irei ficar aqui?
Aproximei-me da parede do lado de fora de
uma das casas, e cliquei num pequeno botão, que
funcionava como um dispositivo musical. Eram
cinco botões, entre jazz, blues, músicas
alternativas, escolhi a clássica. De repente o som do
violoncelo espalhou-se pelo ar.
Sublime.
− Nada me faz pensar... Eu tenho certeza,
pequena. – olhei firmemente para seus olhos, e
deixei-me estacionar assim, a dois passos do corpo
dela.
− E o que farei aqui? – quis saber, com os
lábios entreabertos. Respiração ofegante.
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− Será tratada como jamais fora em sua vida.


Seu corpo todo fora solto, como se a alma o
tivesse abandonado e vindo em minha direção.
− Eu... – ela não disse...
Peguei-a pela mão e fomos em direção a casa
que seus olhos escolheram. Abrimos a porta. Os
móveis também no estilo vitoriano arrancaram um
suspiro da bela, que saiu tocando em tudo, como se
assim pudesse ver melhor.
− Tudo aqui é... fantástico... – disse ela ainda
pasma. Abriu as prateleiras para tocar nas taças de
cristais. Tocou nos pequenos artefatos. Caminhou
em direção do violoncelo. – Eu não sei tocar isso
aqui. – riu com a palma das mãos sobre os lábios.
− Eu lhe ensino. – continuei sorrindo no
diminutivo. Fui até o instrumento e o peguei. –
Senta-se aqui. – indiquei o banquinho. Ela se
sentou e me posicionei por detrás de suas costas,
segurando por cima de suas mãos, o instrumento e
o arco, trazendo o som para a casa. – Nada tão
difícil que não se possa aprender. Eu a ensinarei
tudo que gostar, durante sua estádia aqui.
Ela levantou sua cabeça para me olhar. Os
olhos pediam. Absorvi seu hálito, e ela sentiu o
cheiro do meu perfume com notas de benjoin.
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− O senhor é... tão cheiroso...


− Eu sou perfumista. – sorri.
Minha barba roçou sem querer na testa dela,
o que a fez fechar os olhos para sentir.
− Posso olhar o quarto que irei ocupar?
− Isso significa que irá ficar? – perguntei,
observando todas as suas reações.
Ela não respondeu, apenas se levantou e
caminhou pela casa, tocando as cortinas, as
almofadas da namoradeira com estofado de veludo
vermelho. Saí à frente, e a levei novamente pela
mão até chegar ao quarto.
− Eis o quarto. – apresentei, notando que seu
sorriso agora era quase infantil. Num impulso,
correu e se jogou na cama, entre o véu e as dez
almofadas. Passou a mão no lençol sedoso,
cheirando os travesseiros.
Encostei-me ao portal da porta e me senti
satisfeito com a beleza da cena.
Mas ela parou.
Ela me olhou com um olhar convidativo.
Por onde meus olhos percorriam, as peças de
roupas iam caindo uma a uma sobre a cama. Talvez
ela não soubesse o que estava fazendo, ou agia sob
o efeito de alguma emoção.
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− Faça amor comigo, senhor? – ela pediu,


completamente nua, aproximando-se de mim.
Passou a mão em minha barba, tocando agora em
minha nuca. Fiquei inerte, apenas apreciando.
− Tudo tem seu tempo certo. – disse eu,
notando seu olhar de desapontamento, regozijando-
me com a cena. – Jamais se ofereça a um homem
quando se encontrar carente. Eu poderia ser um
canalha e me aproveitar de sua fraqueza. Poderia
lhe usar e arrancar sua alma.
− Desculpa... – disse sem graça, abaixando a
cabeça, procurando suas roupas para se vestir.
− Não peça desculpas... – disse eu, tocando
em uma de suas madeixas que caiam pelas costas
ainda nuas. – Não ponha suas roupas... – ela me
olhou sem entender. Apontei para o quarto de
banho. – Venha, vamos nos livrar das garras
daquele homem que estão em seu corpo.
A protegida que eu escolher para morar na
cidade subterrânea, jamais deverá ter as impressões
digitais de outro homem. Enquanto ela estiver aqui.
Somente as minhas marcas, saliva, esperma estarão
em seu corpo.
Coloquei-a na banheira, e antes de ligar a
água, fiquei observando seu corpo, os hematomas
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estavam à mostra em um corpo bem desenhado;


marcas de queimaduras causadas por cigarro;
cicatrizes horrendas.
− Ele fez tudo isso em você? – perguntei,
tocando os ferimentos e cicatrizes com a ponta do
dedo.
− Sim... – ela baixou a cabeça envergonhada.
− Não precisa se envergonhar. Vamos cuidar
disso. Porém... não irei tocá-la enquanto as marcas
de outro homem não saírem do seu corpo.
Não admitiria. Não seria honesto comigo
mesmo.
Ela não disse nada. Liguei a água e deixei
que escorresse pela pele macia e ferida. Meus olhos
pareciam marejar. Senti raiva ao me lembrar do
sorriso do desgraçado. Sofri em silêncio. A
sensação era de que aquela mulher sempre fora
minha.
Ensaboei seu corpo com cuidado, acariciando
sua pele, tentando me concentrar mais no que tinha
dentro dela no que se encontrava por fora. Seus
mamilos ficavam enrijecidos à medida que minhas
mãos a tocavam com cuidado. Iria curá-la. Não
demoraria muito para senti-la. Abocanhá-la. Provar
cada pedaço fresco daquela carne macia que me
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esperava.

Precisava me conter.
Precisava olhar para o que fizeram com ela.

O dia amanheceu, e entreguei os novos


projetos de perfumes finalizados ao furgão da
empresa de perfumes que veio recolhê-los. Assinei
o protocolo, e por um instante surgiu em minha
mente uma faísca de desejo de ter a minha própria
fábrica e pronta entrega. Não me agradava o fato de
repassar o que é meu, para ser assinado por outra
fabricação, mas não sei até onde isso poderia
interferir no acordo assinado com o meu sangue,
haja vista que a Seita me recomendou a empresa.
Talvez possa pertencer a alguém ligado à
irmandade, nunca fui atrás para saber. Quem sabe
um dia eu esclareça esta dúvida e consiga chegar
num novo acordo.
O perfume está ligado de algum modo ao que
desempenho, digo na parte que se refere aos
sentimentos e sensações envolvidas, algo acima do
que se possa imaginar.
Passei pelo museu e abri a porta lentamente.
O que será que ela está fazendo? Esta noite lhe
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farei uma surpresa. Ela gostou tanto do violoncelo


que resolvi lhe proporcionar momentos agradáveis
que envolvam o som do instrumento. Tive cautela
em escolher os músicos que virão nos agraciar, pois
não é recomendável que adentram a cidade
subterrânea, ou que alguém saiba o que ocorre ali.
Mas decidi arriscar por uma grande causa - o
sorriso dela. Ainda anda tristonha. Várias vezes a
flagrei chorando baixinho por quem não a merece.
Sei que com o tempo isso irá passar. Tudo passa.
Até mesmo a dor mais latente escondida na alma do
ser humano. Eu a entendo, embora a maioria das
pessoas julgam. A paixão é algo arrebatador que
leva para o fundo do âmago, a falta de perdão a si
mesmo, por amar quem não merece. Talvez seja
por este motivo que reluto ansiosamente por não
viver tal emboscada. Fora me pedido. Deve ter um
fundo de razão esta observação. Apenas não sei
ainda como me prevenir. O mais adequado seria
encontrar outra pequena a quem eu pudesse
descentralizar o sentimento que insiste em bater a
minha porta, mesmo diante de uma imposição
pessoal. O que poderia me acontecer? Mulheres
carentes são geralmente envolventes com sua sede
de se revitalizar. São flores que lutam para
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sobreviver em meio ao frio, a fome e o deserto.


Esta batalha intima me fascina, possui um poder
secreto sobre o meu instinto protetor.
Troquei passos em direção a casa onde ela se
encontrava. De longe a observei sentada na escada
de três degraus da entrada de sua alcova. Sua
cabeça estava sobre os braços; os cabelos quase se
encostavam ao chão. Senti desejo de roubá-la do
que a angústia. Por alguns segundos percebi uma
leve palpitação no peito, uma ansiedade para
descobrir seu corpo e todos os fragmentos que nele
se encontravam, mesmo que tivesse que passar
pelas marcas deixadas por outro homem. Mas meu
orgulho de Lobo não permitiria me colocar à prova
do que sou. Minha boca salivava e as sensações
perduraram até eu me aproximar e tocar em seu
braço.
− Está tudo bem? - minha voz quase falhou.
Ela levantou a cabeça e fitou meus olhos.
Nunca vi olhar tão meigo. A alça de seu vestido
caiu pelos ombros, e ficamos assim, nos olhando
por segundos infinitos.
− Me sinto só. - ela respondeu e eu abaixei
minha cabeça, consentindo algo que não gostaria
que sentisse.
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− Diga-me, gosta de cavalos? - lembrei de


um lugar onde poderia levá-la para se distrair.
Laura precisava de companhia além de distração.
Precisava encontrar o quanto antes outra menina
para estarem juntas nos momentos em que me
manter ocupado com o trabalho. Não seria uma boa
ideia colocá-la dentro de casa. Isso com o tempo
não daria certo. Na verdade, eu poderia me
apaixonar. Sair sozinha é perigoso, eu não
permitiria. Tem um idiota lá fora a sua procura,
louco para machucá-la novamente. Vulnerável
como está, voltaria a ser sua prisioneira. Ela ainda
não estava pronta para viver uma vida que merecia,
sem sofrer recaídas. Com o tempo poderá ir ao
shopping, fazer cursos ou até mesmo voltar a
estudar. Com o tempo também poderá ir embora, se
este for seu desejo, mas agora preciso cumprir
minha missão.
− Ele está atrás de mim. - disse, mostrando o
celular com uma mensagem ameaçadora.
− Se me encontrar, irei apanhar por ter
desaparecido.
− Aqui está em segurança. Jamais a
encontrará. Eu vou cuidar de você. - disse,
beijando seus cabelos. − É necessário passar por
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alguns momentos sozinha. Está se protegendo de si


mesma; de dizer sim novamente a ele. Vamos
passear juntos. Quero levá-la para conhecer um dos
meus lugares favoritos, o qual busco quando quero
pensar sobre a vida nas horas vagas.
− Ainda não entendi o motivo de fazer tudo
isso por mim. - seus olhos estavam úmidos.
− Não precisa entender, apenas confie.
Levei-a no haras onde deixava meu cavalo
hospedado. Cavalgar era um dos meus passatempos
favoritos. Adorava sentir o vento beijando minha
face enquanto lembrava dos meus melhores
momentos ao lado de Dolores. Lembrava também
de meu pai. Como gostaria de reencontrá-lo. Talvez
já esteja com os cabelos grisalhos. Não gostava da
ideia de pensar que já estivesse morto. As pessoas
que amamos jamais morrem.
O verde do gramado em contraste com as
montanhas que formavam um vale numa área com
baixa altitude era tipicamente meu oásis em dias de
relaxamento. Fomos até o estábulo buscar meu
cavalo quarto de milha.
Laura mantinha-se calada respirando
suavemente o ar doce vindo das montanhas. Seus
cabelos presos num coque não se desfaziam com o
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soprar do vento, mas chegava até a mim, sua


angustia interior, algo corrosivo que ela tentava
esconder num pequeno sorriso.
Ajudei-a a montar no animal, sentando-me
por trás, o que a deixou um pouco incomodada
quando iniciou o galope. Minhas mãos estavam ao
redor de seu corpo, segurando firme no laço que
direcionava o cavalo. Sentia o cheiro de sua nuca
que se esbarrava a todo o momento em minha
barba, fazendo-a suspirar enquanto tentava
controlar sua respiração.
Inevitavelmente passei a ficar excitado. Meu
pau parecia explodir de desejo quando suas nádegas
iam e viam num movimento espontâneo causado
pelo trote do cavalo. Ao passar por algum terreno
em relevo, seu quadril se levantava e sentava sobre
mim, o que me deixava louco a cada instante.
Avistamos o ribeirão. Apeei do cavalo,
ajudando-a a descer, sem tentar esconder minha
ereção marcada no jeans surrado. Ela precisava
saber o que era capaz de causar num homem.
Precisava sentir que me deixava louco de vontade
de tocá-la.
− Eis meu lugar favorito. - apontei para o
arco-íris que parecia ser constante naquele local,
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que tranquilizava a mente com o som da água


descendo lentamente pelas pedras.
Ela tirou suas botas e arregaçou a barra da
calça ao se sentar na ribanceira. Colocou os pés na
água, soltou os longos cabelos e fechou os olhos.
Fiquei extasiado com a imagem à minha frente,
sem conseguir me desfazer de minha ereção que
estava cada vez mais em evidência. Uma luz
azulada iluminava misteriosamente as alfombras da
mata e dava aos troncos das árvores uma aparência
de fantasmas. Banhava as encostas cobertas de
verdura e cortadas por enormes blocos de granito,
que desciam até o vale. Dir-se-ia uma paisagem de
sonho, uma terra do além, perdida no longe
adormecida para sempre.
− Quer entrar na água? - quis saber, mesmo
sem ter o desejo de desmontar a imagem tão
sensual de Laura a minha frente.
− Sim. - disse num sorriso sem abrir os
olhos.
Tirei a camisa e desabotoei o jeans.
Tirei as botas e a calça.
O vento deitava os pelos do meu peito, mas o
arrepio foi causado quando a vi se despir
maliciosamente, como se quisesse me provocar, o
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que me tornou naquele instante, um voyer que


desfrutava a imagem de cada peça de roupa sendo
retirada. Observei-a se preparando para entrar na
água, segurei firme em seu braço e a trouxe para
perto. Olhei em seus olhos com fúria, rasgando
seus espaços em branco, despindo sua alma. Toquei
em seu rosto com as duas mãos, e a trouxe para os
meus lábios.
− Eu nunca beijei... - disse ela com a boca
próxima a minha. Sentiu meu desejo, minha barba e
ansiedade. Provou do brilho dos meus olhos
derramado nos dela.
Parei por um breve instante, ela era uma joia
bruta a ser lapidada. Praticamente fora quase
estuprada ao ser desvirginada e usada durante
tantos anos, sem sequer ter ganhado um beijo na
boca.
− Não se preocupe, eu vou te ensinar. -
apertei-a contra meu corpo. Meu pau latejava, dias
e noites minha vontade por ela me consumia, não
sei se deveria fazer tudo que me desse vontade
naquele momento, pois ela já sabe como é ter pau a
penetrando sem dó. Mas um pau entrando com
desejo de fazer seu corpo todo tremer de tanto
gozar, beijando-a na boca, tenho certeza que não.
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Passei a língua no contorno de seus lábios,


beijando-a suavemente, brincando com sua língua,
devorando-a aos poucos. Quando senti sua
respiração ofegante, passei a mão em suas costas e
tomei posse de sua boca, com ânsia, tesão feroz,
deixando-a sem ar, sem ação. Deslizei os dedos
pela sua virilha, mordendo seus lábios, esfregando
a barba em seu rosto, pescoço, seios, mamilos, até
lhe faltar o ar. Coloquei meu pau já explodindo no
meio de suas pernas, e as fechei, deslizando sem
penetrá-la, sentindo seus contornos úmidos,
inchados de vontade. Busquei sua orelha e disse
baixinho:
− Quer que eu a foda gostoso?
Não deixei que respondesse. Beijei-a
novamente calando seus sons. Sufocando seus
pedidos, deslizando para frente e para trás,
lentamente para sentir seu latejar e suplícios
internos.
− Eu quero conhecer seu corpo, seus limites...
Entrega-se para mim...
Puxei seu cabelo, mordendo seu queixo que
ficou à mostra. Olhos nos olhos...
− Fique em silêncio... Dê quietinha... -
abocanhei seu queixo, apertando o mamilo. Peguei
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em meu pênis e passei a explorar seu clitóris,


roçando-o com minha glande roliça e saliente,
colocando e tirando da entrada daquela cavidade
molhada. Sei que ela estava gostando... Abria as
pernas insistentemente, mesmo quando eu a forçava
a fechar.
− Que delícia... Que coisinha gostosa,
quentinha e inchada.
Coloquei os dois dedos com as pontas um
pouco curvadas por dentro dela, como um
bandeirantes em desespero, queria conhecer seus
pontos por dentro, saber exatamente onde encostar
e provocar orgasmos. Toda mulher tem um mapa
dentro de si. Massageei-a sentindo seus relevos e
textura. Estoquei até que ela gozasse. Seu líquido
escorria pelos meus dedos... Como gozou gostoso.
Voltei a massagear seu ponto G, os volumes e
formas, sentindo seu desejo sendo impregnado
pelas minhas digitais. Ao perceber que novamente
gozaria, pressionei seus lábios com minha mão que
já ardia de desejo de lhe dar uns tapas gostosos na
cara. O tesão era tamanho que quase coloquei toda
sua orelha dentro de minha boca, desejava engoli-
la.
− Não grite, podemos ser ouvidos. Vamos
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terminar isso em casa.


Nos vestimos com pressa, tentando sair dali o
mais rápido possível.
No caminho para casa, a minha vontade era
de sentá-la sobre mim, e buliná-la até chegarmos.
Mas era arriscado. Não a colocaria à exposição.
Seu corpo vulnerável somente eu poderia ver. Eu
estava inquieto. Os olhos vorazes descortinavam as
ruas. Em aflição, coloquei o dedo em sua boca.
− Mame... - passei a foder sua boca com o
dedo, alcançando sua goela, tirando saliva espessa
de dentro, que era esfregada em seus seios. − Eu
gosto assim, babando de vontade...
Ao chegarmos, ela estava sonolenta, veio
dormindo no carro. Peguei-a do carro e a carreguei
no colo. Ela estranhou minha atitude, certamente
aquele idiota jamais fez o mesmo. Sua
incompetência não permitia. Eu gosto de sentir o
peso todo. A massa lânguida que irei devorar,
centímetro por centímetro.
Não estava conseguindo esperar para chegar
até a cidade subterrânea. Seria no meu quarto. Na
sala. No mezanino. Seria em qualquer porra de
lugar.
Depositei-a no chão, mal percebi quando
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rasguei sua roupa com as duas mãos. Abri suas


pernas e deixei exposta sua delícia, segurando os
grandes lábios para os lados. Olhei para seus olhos,
louco de desejo.
− Mulher não gosta só de pinto. Mulher gosta
de se sentir gostosa, deliciada, ter seu gosto
provado... Quisto de verdade.
Abocanhei o meio de suas pernas de pele
lisinha e carnuda, sentindo o prazer de conhecer o
gosto do que vou gozar por dentro. Ela sentia meus
lábios, a barba espessa tocando-a, enlouquecendo-a
aos poucos. Observei seu modo de se contorcer
com os lábios entreabertos e frios. Levantei seu
quadril com a cabeça ainda no meio de suas pernas,
e na ânsia de descobrir o segredo daquele gosto,
arrastei-a com as costas se deslizando no assoalho
da casa enquanto ouvia os sons de sua umidade em
minha boca, molhando meu rosto.
Quando estava pronto para penetrá-la, ouço a
campainha. Droga, nada poderia estragar aquele
momento.

***
Confidências de Laura

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Eu estava completamente desnorteada.


Aquele homem estranho havia chegado em minha
vida sem sequer perguntar se eu o desejava como
agora o desejo. Em tão pouco tempo tem mudado
de lugar o que eu jamais acreditei antes, pois via os
homens apenas como uma ameaça, algo enganador
e traiçoeiro.
Sinto ainda por tudo que me aconteceu
quando estava ao lado de Antunes. Embora ele
tenha feito tudo que fez, eu penso nele, mas não
mais como antes.
Aquele dia no restaurante estava tudo fadado
para minha vida ter um fim trágico e irreversível.
Eu estava disposta a ir até o fim, não conseguia
mais aceitar tranquilamente tudo que estava
vivendo, tratada como um animal, sem receber
amor e carinho. Sentia, não apenas ciúmes da
amante de Antunes, mas também, inveja, pois tinha
certeza de que ela recebia tudo que eu jamais
conheceria ao lado dele. Era ameaçada, caso eu
conhecesse alguém e tocasse minha vida. Por este
motivo ficava acorrentada quase o tempo todo em
que ele não estava em casa, e isso também se dava
enquanto eu dormia ou tomava banho.
Misteriosamente naquele dia ele me chamou
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para ir ao restaurante. Isso jamais aconteceu antes.


Nunca foi gentil. Eu podia notar em seu olhar, que
seria morta quando saíssemos de lá. Certamente
enterraria meu corpo, ocultaria meu cadáver.
Percebi isso quando colocou uma pá e um saco
plástico no porta-malas. Fiquei com medo, queria
não acreditar no que via.
Alejandro me observava sem que eu
percebesse. Estava tão perturbada com meus
próprios medos e anseios, que tudo a minha volta
parecia escuridão. Ele se aproximou como se
soubesse o que encontrar em mim. Estranhamente
me acalmou, mesmo quando não poderia mais
confiar em ninguém. Sei que existe nele algo
misterioso e incomum. Não parecia ser um homem
como os outros. Tudo neste seu habitat soava do
mesmo modo, um mundo completamente diferente
do que qualquer mulher pudesse imaginar.
Ele quase não fala de si mesmo. Tenho
vontade de especular, mas não tenho coragem de
ser invasiva. Ainda não compreendi que tipo de
relacionamento ele desejava ter, mas sei que não é
nada relacionado a se casar ou ter filhos. Também
nunca percebi a existência de outra mulher em sua
vida, exceto... Aquele estranho quadro na parede de
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seu quarto. Não cheguei a ir lá, mas hoje quando


entramos na casa e passamos pelos corredores,
enlouquecidos de desejo de nos sentir em qualquer
canto, eu percebi a tela, não estava coberta como
nas outras vezes que ali estive. A porta do quarto
estava aberta. Era uma linda imagem de uma
mulher. Talvez ele fosse viúvo... Ou talvez a
mulher o abandonou. De qualquer modo, perder
este homem é algo inconcebível.
Estávamos a ponto de explodir quando fomos
interrompidos pela campainha. Pensei que fosse a
minha chance de descobrir mais sobre ele, porém
antes mesmo de ele atender a porta, olhou para
mim um tanto perturbado. Seus olhos tinham um
azul escuro que pareciam ter vida, mesmo
embargados numa turva nuvem que impedia de
revelar qualquer que fosse seu segredo.
Ainda faminto, ele me vestiu com cuidado,
mesmo com a insistência da campainha. Olhou para
mim, e beijou minha testa.
− Vá! Tome um banho. Vista-se
adequadamente para uma grande noite.
Eu ia contestar, dizendo que não tinha roupas
para esta ocasião, mas antes de dizer qualquer
palavra, ele abriu a porta que dava para aquele
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estranho lugar que eu agora morava, e fechou com


a chave.
Fui perambulando rumo a minha casinha de
aspecto vitoriano. Ao chegar, abri o armário antigo
e fiquei surpresa com a quantidade de vestidos
novos pendurados nos cabides. Não estavam lá
quando saímos, eu podia garantir. Talvez alguém
que fizesse o serviço da casa colocou as roupas
dentro do móvel, em nossa ausência. Eram lindos!
Com certeza, caríssimos, feitos com tecido fino e
bordados à mão. Fiquei impressionada, nunca tinha
visto ou vestido nada igual. Escolhi um na cor
marfim, e fui para o banho.
Ao sair do quarto de banho, me troquei, o
vestido ficou certinho em meu corpo, caiu como
uma luva. O decote profundo nas costas era lindo,
mesmo deixando à mostra uma antiga cicatriz que
Antunes havia me provocado.
Voltei ao armário e escolhi uma echarpe que
escondesse o sinal. Ela cairia bem, uma vez que o
vestido era tomara que caia e longo. Fiz uma
maquiagem leve e saí do quarto. Não sabia
exatamente o que fazer nos minutos a seguir, ou o
que esperar. Então abri a porta da casa e dei de
frente a uma cena linda e inusitada. Uma mulher
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sofrida como eu, não poderia acreditar no que via...


Era como um conto de fadas, ele estava ali, lindo,
usando um smoking, a sua volta muitos arranjos de
flores, uma mesa decorada com velas e um fino
jogo de jantar.
As luzes estavam apagadas, apenas as luzes
das velas perfumadas iluminavam o ambiente.
Com aquele jeito sensual de movimentar seu corpo
grande, me chamou com um gesto, usando dois
dedos. Quando sorriu, fiquei paralisada. Mas aquela
boca linda contornada por uma barba espessa e bem
cuidada me chamava como um ímã. Fui quase
tropeçando, bêbada sem beber. Ao parar a sua
frente, ele colocou a mão dentro do seu paletó e
tirou de lá uma gargantilha de ouro com uma chapa
que trazia a inicial do nome dele gravada, a letra
estava cravada por diamantes. Respirei fundo sem
saber o que pensar. Ele me virou de costas e
colocou a gargantilha em meu pescoço.
− Isso é a simbologia de uma coleira. Quero
que a use.
− O que significa usá-la?
− Significa que você é minha pelo tempo que
estiver aqui, sob meus cuidados e guarita. Significa
que nada a faltará, e que está sob minha
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responsabilidade.
− O que devo dar em troca?
− Sua lealdade e entrega.
Fiquei tocando na gargantilha, e me lembrei
de um filme em que mulheres usavam tal objeto e
se submetiam a homens sádicos e controladores.
− Eu apanharei ou algo assim?
Ele riu de dobrar sua cabeça para o alto.
− Jamais. Eu sou um Lobo, e não um sádico.
Meu objetivo é cuidar e proteger. Você não será
minha masoquista... Uma Loba troca a palavra
masoquismo por lealdade.
Tremi. Gelei. Sorri e fiquei pálida. Senti até
prisão de gases.
Do outro bolso ele retirou um vidrinho
minúsculo de perfume e borrifou algumas gotas em
meu pescoço e entre os seios, passando a mão sobre
o local onde perfumou, deslizando pelas minhas
costas. Retirou a echarpe que eu usava e disse:
− Não é necessário... Eu conheço todo o seu
corpo. Não precisa esconder nada.
Sorri sem jeito, e me abaixei para buscar a
echarpe. Ele pisou na ponta da peça caída ao chão,
me impedindo de pegá-la. − Levanta-se. - pediu. −
Faça seu juramento de lealdade, válido pelo
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período em que estiver aqui.


Me levantei e olhei nos olhos dele. Não
precisava me pedir nada, tudo nele falava como
algo que ficava impregnado em minha pele,
pulmões e mente.
− Eu juro que por todo o tempo em que
estiver aqui, hei de ser leal ao Senhor.
Satisfeito, ele sorriu demoradamente. Segui
seus olhos e sabia o que eles queriam. Com
carinho, correspondi ao abraço dado com destreza.
Da escuridão, longe das luzes surgiu uma
orquestra de violoncelo, violinos e saxofone. A
música inundou tudo, dentro e fora de nós. Seus
braços me levaram para dançar, eu sentia os pés no
chão, mas estava flutuando. Não. Não eram meus
pés que flutuavam, e sim, meu estômago. Naquele
momento o Lobo quebrou todas as barreiras que
ainda existiam entre nós. Eu me sentia dele. Estava
pronta para me entregar, mas ainda existia um frio
em minha barriga. Eu precisava saber mais sobre
ele... Não como uma condição, mas como um modo
de conhecer melhor os caminhos que poderiam me
levar até seu coração. Eu desejava conquistar
qualquer parte existente nele.

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Capítulo 3

Sou um bardo à deriva de tudo que me cerca


E não reconheço nada em mim que não seja a ânsia

As paredes do quarto pareciam ser revestidas


de um pedaço de lugar profano e impuro. O cheiro
daquele lugar não era nada comum, o desejo
plantava em cada décimo de espaço, uma energia
latente, que a qualquer momento dava a impressão
de se impregnar na pele de quem ali estivesse sendo
parte do cômodo, como se assim sempre fora.
Os olhos dela, fixos nos meus sapatos, dava-
me a sensação de um poder inesperado, qualquer
coisa ou nada poderia acontecer naquele momento,
mas não teria o dom de me tirar o brilho e
magnetismo do conjunto de peculiaridades que me
formavam à medida que eu a olhava, desnudamente
e sem pressa, com os lábios entreabertos, sentindo
o cheiro da pele dela que percorria meu estado
febril e quase incoerente. Ela agora era minha...
− O jeito que você arruma seu cabelo de um
modo a me convencer que... sua coleira combina
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com tudo que há em você... Revela tanto...


Nada em uma mulher me parecia feio, nem
mesmo a desproporcionalidade de algum detalhe.
Eu as via realmente como elas são. Todas eram
lindas como se eu pudesse enxergá-las por dentro,
numa abstração e conflito entre o interior e o
exterior, perdia-me no que exalava delas.
Certamente por este motivo sentiu-me atraído pela
essência dos aromas, transformando-me num
reconhecido perfumista inspirado na beleza de cada
mulher que se revelasse em minha cama. Elas eram
exatamente gloriosas e maravilhosas, eu trazia à
tona a beleza que habitava dentro delas, e me
envolvia no que via e sentia. Apaixonava-se, nem
se fosse apenas naquele exato instante.
Suas mãos tocavam as madeixas escuras que
caiam pelo ombro em um dilúvio de cachos soltos e
sedosos, que se desmanchavam pelos meus dedos
curiosos, inebriados de carinho. Carinho pela dama
que mal conhecia, mas já fazia parte de mim como
as células do meu próprio corpo.
O corpo quente e moreno, sentado quase no
meio de minhas pernas, trazia uma filosofia
desconhecida e tentadora. Ela tinha uma linha
notavelmente elegante, sem possuir uma absoluta
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regularidade de traços, era na realidade mais do que


bela, pelo encanto profundo de sua fisionomia, ao
mesmo tempo altiva e meiga, pelo contraste dos
cabelos muito pretos de ondas brilhantes com os
olhos de um azul escuro, onde se refletia uma alma
ardente e pura. Eu a toquei, as mão de presa
estavam ansiosas, desejavam senti-la. E era
exatamente o que precisava ser feito para que ela se
sentisse plena e feliz.
Senti o cheiro mais uma vez, tenro e sedutor.
Vinha do meio dos seios dela, expostos como dois
beija-flores em festa, apontando para minha boca
faminta, que mordiscava os dedos de unhas bem
pintadas e cuidadas. Dedo por dedo... Brincava
entre os anéis de suas impressões digitais, fazendo-
a gemer baixinho ao perceber a língua do homem
que agora se apoderara dos braços, roçando os
lábios até o pescoço, a nuca, mordendo sem fôlego,
devagar e com gana, constantemente...
− Eu quero provar o gosto que tem este fogo
entre suas pernas... Sentir, rasgar... Inteiramente –
eu disse sussurrando, tocando por dentro da
calcinha recatada da moça.
Os dedos lânguidos desceram suavemente
pelas curvas das pernas delicadas e acariciaram a
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peça intima que parecia desnecessária. Subiram a


percorrendo o umbigo, saboreando os detalhes
apaixonantes do corpo feminino. Eu olhava
minuciosamente e em silêncio as reações ali
deixadas após cada segundo. Trouxe-a pela nuca,
pousando os lábios no colo dos seios, desejando
devorá-la, consumi-la. A alma da mulher era a
metade de tudo que me faltava, como um vão no
meio do mundo que o cercava banalmente.
Com uma das mãos, fechei os olhos azuis da
moça, pousando-a sobre as pálpebras. Desejava que
ela sentisse, assim como poucas. Desejava
ardentemente supri-la de todas as emoções
decorrentes daquele momento.
Olhando-a de olhos fechados, toquei com os
lábios na orelha, buscando pela boca carmim,
afogando-a num beijo como se mergulhasse
infinitamente no gosto quente que a pertencia. A
língua explorava os arredores febris, sugando mais
e mais, acariciando. Degustando a ponto de
enlouquecê-la, acelerando sua pulsação sanguínea.
Antes de me perder, puxei-a pelos cabelos, fazendo
com que olhasse em meus olhos. A respiração
ofegante quase me impedia de sussurrar, mas
arrisquei:
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− Seu cheiro me pede para roubá-la de tudo


que lhe pertence, menina.
Ela abriu os olhos e sentiu sua face queimar
num pequeno tapa, indolor e firme. Quando ia dizer
algo, novamente a beijei de súbito, levantando-a,
puxando-a, segurando-a pela vulva, até que ficasse
em meu colo.
− Hoje será minha. Como jamais fora de
alguém. Quero que encontre o pedaço seu perdido
dentro do meu. – disse mordiscando o mamilo
enrijecido. Olhei-a firmemente e apoderei-me com
vigor do meio de suas pernas, tocando-a como se
fosse a única. Saboreando cada parte do sexo dela
já em chamas. Senti o gosto agridoce escorrendo
em minha garganta. O gozo provocado com tudo
que essa pequena representava naquele único
momento em que eu desejava loucamente aquela
mulher, sabendo que quando ela saísse por aquela
porta ao ser liberada e devolvida ao mundo, talvez
jamais voltaria a vê-la.
Sentia-me comprimido pela ereção e o desejo
de consumi-la por dentro de meu terno sóbrio. O
tempo com ela já quase se esgotava. O objetivo era
apenas satisfazê-la. Foi difícil conter-me. Olhei
para o relógio e me levantei. Fui até minha maleta,
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e retirei de lá, o botão de rosa vermelha, passando-o


em seguida pelos seios da moça, que se jogou
novamente aos meus pés. Os lábios lânguidos não
ocultavam a ânsia de me sentir penetrá-la aos
poucos e profundamente.
Lambia minhas pernas com a respiração
ofegante. Os dedos frios passavam por entre os
pelos, enquanto vez ou outra parava para o olhar,
desejando entre suspiros e palavras soltas, ser
tomada como uma fêmea em seu último cio.
Desci um dedo até aos lábios pintados de
carmim, sentindo a língua matreira brincando e
empurrando-o para a goela aflita, deslizando pelo
céu da boca delicada e perigosa, dela. Desci um
indicador pelo queixo e pescoço, circundando o
mamilo ouriçado, mais suspiros ouvia-se pelo ar.
Pelos cabelos acima da nuca, levantei-a,
fazendo mirar em seus olhos que a roubava de seu
mundo de angústia. Ela ofereceu sua boca, que fora
negada no primeiro instante. Desejava olhar para
suas reações faciais. Descia a mão pelo seu ventre e
alcancei a calcinha de tecido sedoso, agradável ao
toque. Acariciei, sentido o filete de pelos fininhos e
ralos. O corpo dela todo tremia e suava. Somente
com o movimento dos lábios, pronunciou o que
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sentia, sem a voz.


O dedo contornava suavemente a
protuberância pequenina que se enrijecia como uma
sementinha rosada e delicada. Belisquei com
cuidado, expondo ainda mais o ponto, e com o dedo
indicador, deslizei entre o clitóris e a entrada
estreita e molhada, até perceber duas lágrimas
viçosas rolarem pela face morena, que agora
implorava por me sentir.
̶ Eu o imploro... Me coma, senhor...
Como resposta, dei um tapa em seu rosto e
mordi os lábios vermelhos. Mordi um pouco mais,
ao mesmo tempo em que penetrei a língua em sua
boca, apertando o corpo bem feito contra o meu, até
sentir a respiração ofegar.
− O que tanto deseja, menina... Diga, quero
ouvir sua voz.
̶ Desejo ser penetrada pelo senhor...
Larguei seu corpo com os braços caídos ao
longo dos quadris e pernas. Estava entregue. Solta.
Olhei-a mais uma vez, admirando os caracóis dos
cabelos caindo como cascata sobre os ombros. Era
uma bela paisagem. Os lábios carnudos,
entreabertos, enfeitiçavam-me. Os gestos doces das
mãos que mexiam os dedos... Era tão delicada e
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cheirosa. Esse juvenil semblante era singularmente


atraente, pela sua beleza ferida, e mais ainda pela
sua expressão de sofrimento resignado. Era difícil
de entender o motivo pelo qual fora desprezada
pelo marido. Senti vontade de agasalhá-la com a
minha pele; de aninhá-la em meu peito e fazê-la
dormir até que tudo que fosse árido em si,
florescesse.
Peguei-a pelas mãos e a levei para a cama.
Deitei-a e a guiei até que se aconchegasse com o
quadril todo sentado sobre meu rosto. Ao sentir seu
cheiro de lascívia, excitei-me a ponto de quase
enlouquecer. Meus nervos tremiam por dentro no
desejo de mordê-la inteira. Gostava daquele cheiro
natural de mulher no cio. Neste momento, o Lobo
que há em mim, surgiu de soslaio, cravando forte
suas garras no quadril arredondado. Rasguei com
os dentes cada fio de linha da calcinha delicada.
Uma bomba explodia em minha glande. Suguei-a
até que ela se revirasse por dentro. Lambi como se
fosse um doce que enfeitiça e instiga. Saboreei sem
pressa. Abocanhando até sentir o suco tenro
escorrendo pelos seus lábios. Sob o esplendor das
luzes o belo rosto da menina parecia de uma beleza
marmórea, que tornava mais enternecedores, mais
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expressivos ainda os seus grandes olhos


melancólicos.
Retirei-a de cima com cuidado, e a deitei com
as pernas flexionadas, encostando os joelhos em
seu queixo. Olhei fundo em seus olhos e desejei me
perder neles. Acariciei sua vulva e pernas, notando
cada traço que as davam forma. Posicionei-me
entre suas pernas, com as duas mãos tocando nas
beiradas de onde a penetraria.
Não sei se ela era capaz de compreender sua
verdadeira magnitude, no momento em que me
sentia deslizar por dentro de si, e sua face
desenhava feições de encanto. Acelerei os
movimentos até ela não conseguir respirar. Abri
suas pernas e me aproximei de seu ouvido.
− Faça algo por mim... - pedi serenamente,
desejando morar dentro dela.
− O quê? - perguntou com a voz embargada
de desejo.
̶ Sorria... - disse eu, quando senti seu gozo
desvairado, denso e abundante. ̶ Sorria sempre.
Goze sorrindo para se lembrar de mim. Seu gozo e
seu sorriso são meus, até quando eu não estiver.
Nunca se esqueça... Você é mais poderosa do que
imagina. Agora vá, faça o que mandei...
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Após ela ir, ao ver a porta se fechar, levando-


a de mim para o mundo lá fora, distante do meu,
senti um aperto no peito, característico ao que
sempre sentia ao me deparar com o que sou feito,
uma fusão de sentimentos que arde por dentro... Por
todas elas, pelas que se foram, e pelas que ainda
não conheci.
Me levantei e arrumei a gola de minha
camisa. Ao descer a escada já podia sentir o cheiro
da essência que mais combinaria com aquele corpo
moreno. Lembrei do gosto de sua intimidade em
minha boca. Do meu toque em seu corpo quente.
Novamente senti tudo de novo, como revivesse os
momentos. Os detalhes eram preciosos. Criarei um
bom perfume. Algo que levará seu nome no rótulo,
e que me fizesse senti-la novamente toda vez que
eu inalar o cheiro. Inspirado, abri a porta do meu
laboratório e separei as essências.
O rosto dela, uma faceta celestial; um mundo
de pureza nos olhos intensos. O aroma do vento. O
aroma do céu. O aroma da cor azul, uma vibração
pura e transparente. Uma presença amorosa e plena.
Era exatamente assim que a vi, a bergamota será
sua lembrança.
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A faceta deliciosa – o prazer contido no toque


dos dedos dela se deslizando no pelos de minhas
pernas. Eram memórias alegres, jogos cheios de
delícias. Pensando nisto, misturo o aroma
irresistível do caramelo e chocolate. A faceta
voluptuosa, terna e sensual. A essência de mulher.
A elegância e feminilidade da fêmea. A presença
excessiva do Patchouli e Baunilha marcavam o
cheiro que vinha de suas estranhas.
Faltava pouco agora, as notas de saída são
melão, coco, tangerina e jasmim, em conjunto com
o aroma marcante sonhador do algodão doce,
despertando o aspecto frutal e delicado. As notas de
coração são introduzidas e trazem o mel, pêssego,
framboesa, rosa, amora, orquídea, jasmim e lírio do
vale. E por último, aparecem as notas doces do
chocolate, Baunilha e Pralinê, que se opõem de
uma maneira instigante ao acorde mentolado de
Patchouli, Musk e Almíscar, finalizando um
perfume totalmente marcante e excitante. Encerrei,
escolhendo o frasco, vendo os olhos dela no fundo
do vidro.
Enquanto observava o frasco da essência que
acabara de criar, diminuto, mas instigante, como o
corpo de uma mulher pequena, cheio de mistérios.
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Era impossível não comparar tudo que fazia com a


outra metade do que gostava de viver. Certamente
procuraria alguém assim, com aparência frágil, de
alguém que muito precisa de cuidados e proteção.
Meu pau neste mesmo instante latejou... Como isso
realmente me completava e tinha muito de mim...
Mas algo ainda a me torturava por dentro, o
desejo do ir vê-la. E era por isso que precisava
urgentemente controlar meus instintos. Precisava
de uma segunda menina, antes que meu juramento
fosse por água abaixo. Era um Lobo, mas tinha em
mim, um coração. Não podia fazer de Laura, meu
mundo; precisava me concentrar em como fazer
para me tornar independente em meus negócios,
sem me prejudicar com a Seita e compromisso
selado. Não faria disso uma tormenta. Não dormiria
com Laura hoje, nem a comeria até amanhecer o
dia, como era seu desejo.
Sempre preferi as casadas, mas estavam em
meu rol, as rejeitadas ou reprimidas; as que
travaram seu prazer e gozo, porque algum estúpido
disse algo irreal sobre elas, ou fez qualquer
bobagem a ponto de desistirem de sentir capazes de
serem amadas.
Ali eu as escondia do mundo particular de
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cada uma, no qual sofriam nas mãos de maridos


egoístas e cruéis ou homens cegos por rótulos ou
descrentes da verdade de cada detalhe feminino. Eu
vejo a beleza onde ela se esconde, mas de meus
olhos era fatidicamente impossível algo passar sem
ser percebido. Vivíamos momentos prazerosos
durante algumas vezes por semana, eu e Laura, mas
faltava algo – o desapego. Não poderia ficar
comum. Não me casaria... Estava escrito nas
estrelas que este não era meu lema. Em casos
extremos, em que a mulher precisasse abandonar
seu lar por maus tratos, eu as roubava e as escondia
ali, sob minha tutela e cuidados na cidade
subterrânea, mas isso era o máximo que poderia
acontecer.
Peguei o carro e saí num desses dias em que
algo parece lhe corroer por dentro, e o máximo que
você sabe, é que precisa viver esta inspiração
atormentante. Algo continuava a me perturbar, as
ruas da cidade eram poucas para iluminar minha
solidão. Eu uivava por dentro feito um cão sem
dono, estava pálido, o sentimento de culpa me
corroía... Culpa pelo o quê? Não sei dizer, só sei
sentir.
Mais a frente um outdoor que mostrava uma
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mulher escultural fazendo propaganda de lingerie.


Qualquer homem daria o que tivesse na carteira por
uma noite bem vivida com o corpo dela. Eu pagaria
muito mais para descobrir o motivo pelo qual seu
sorriso era triste.
Talvez uma música neste momento fosse o
suficiente para me acalmar, parei num shopping
mais próximo, iria comprar algum CD que
estivesse em lançamento, algo não muito clichê,
suave e que me retirasse do mundo sem eu ao
menos perceber.
Subi a escada rolante e entrei na loja de
músicas. Assim que vi um terminal desocupado,
entrei e coloquei o fone de ouvido. Acessei os
lançamentos que ficavam disponíveis para os
clientes, ao meu lado havia outra vaga desocupada,
o que me aliviou, não queria dividir minha aflição
momentânea com ninguém. Fechei os olhos e me
entreguei profundamente. Assim que as notas
musicais chegaram ao meu ouvido, fui tomado por
uma robusta sensação de desejo, meu pau enrijeceu
automaticamente. Algo novo e inexorável tomei
posse do meu ser, levando-me para onde bem
quisesse. Assim são todas as coisas que conseguem
me convencer, com ou sem um botão de play.
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Assim que me senti completamente relaxado,


percebi alguém mais se postando ao um lado. Ela
não me olhou, mas sentia-se desconcertada com
minha presença, talvez sentisse necessidade, tanto
quanto eu de solidão em momentos assim. Talvez
também estivesse tentando fugir de alguma coisa
que a fazia se sentir perdida, exatamente como eu.
Sua mão tocou os botões do terminal e neste
momento vi a aliança marcando de forma afrontosa
seu dedo anelar. Por frações de segundos, deixou
escapar o cabo do fone de ouvido, então percebi
que ouvíamos a mesma canção. Sorri um pouco, o
que contribuiu mais para sua inadequação.
Eu a olhei pela primeira vez, e os olhos dela
fugiram dos meus. Fiz um positivo com o dedo, e
apontei para a máquina, querendo dizer que a
música era realmente boa, ela sorriu timidamente e
ficou estática, deixando que a música lhe roubasse
do mundo, sentindo as sensações que pareciam as
mesmas causadas em mim. Fiquei intrigado com
aquela mulher loira e pequena, com infinitos olhos
azuis. Estávamos tão próximos que pude sentir seu
cheiro e o calor do seu braço quando este se
encostou ao meu. Fechei novamente meus olhos,
estava excitado. Percebi que ela não fugiu do toque,
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continuou encostada como se precisasse disso


naquele instante. Parecia cansada e relutante, eu
insisti em pensamento para que continuasse
encostada a mim.
Antes da música acabar, ela saiu, deixando o
fone de ouvido em cima do terminal. Meus
devaneios foram interrompidos por uma brusca
sensação de segundos. Não queria que ela fosse
assim tão rapidamente. Em minutos, senti que
estava me conectando ao seu mundo quando
dividimos a mesma música e sensações, e agora ela
desapareceu entre as pessoas e eu não sabia nada,
exatamente nada sobre o seu mundo. Sem ter o que
dizer a mim, paguei o CD e saí atrás dela, tentando
localizá-la entre as pessoas que iam e viam, mas
nenhum rosto era o seu.
Percorri a parte de cima do segundo piso
praticamente inteira. Subi até o terceiro andar, e
olhei nos caixas eletrônicos de alguns bancos. De
longe avistei seu cabelo loiro reluzente. Estava
debruçada sobre um dos braços, parecia aflita.
Corri para chegar mais perto, não tinha a intenção
de assustá-la, mas aquele seria o momento ideal
para lhe dizer o quanto foi bom nosso primeiro
encontro, mesmo que rapidamente e sutil.
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Bati no vidro da cabine do caixa eletrônico,


ela me olhou assustada. No primeiro momento
fingiu não me reconhecer, mas eu teimei em deixar
meu olhar estático nos olhos dela. Sua mão que
jazia aquela aliança que mais parecia uma prisão,
abriu a porta da cabine, e numa voz aflita, ela
emitiu seus sons que entraram em meu ouvido
como se fossem uma flauta tocada de maneira
triste.
– Desculpa, eu já estava de saída. – de seus
olhos desciam duas lágrimas, ela tentou secar com
a manga do casaco de pelúcia, eu segurei sua mão e
sequei.
– Não vá ainda... Fique um pouco mais.
Num sorriso doce, se despediu, saindo com
passos rápidos.
– Ei! – gritei. Ela olhou para trás e parou. Fui
até ela com o CD que ouvimos juntos, nas mãos.
– Para você.
Ela corou de imediato, era uma menina-
mulher, doce, meiga, suave, confusa. Eu precisava
descobrir o que a deixou assim magoada.
– Obrigada.
– Foram os melhores dez minutos da minha
vida.
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– Agora preciso ir. – disse estendendo a mão.


Toquei naquela mão suave desejando-a
demais. Não havia explicações para isso, mas eu a
queria imensamente. Ao soltar, peguei pela cintura
e a trouxe para o meu corpo, ela tremeu, mas se
permitiu, oferecendo seus lábios rosados que foram
devorados meticulosamente. Me perdi entre
arfadas incontroláveis. Ela suspirava, apertando seu
corpo ao meu.
– Vamos sair daqui? – pedi.
– Não posso... – mas continuou em meus
lábios.
– Onde posso te encontrar novamente?
– Trabalho no primeiro piso, no antiquário.
Dizendo isso, ela se soltou e saiu correndo.
Seus cabelos soltos voavam ao seu redor, deixando-
me completamente louco por aquele corpo, aquele
cheiro... Aquela boca gostosa... O que fizeram a
essa pequena?

Dois dias depois, lá estava eu, tentando


reencontrá-la. Entre as peças e móveis antigos, eu a
vi uniformizada com um avental preto que batia
abaixo de seus joelhos, e cobria um lindo vestido
branco de renda. O rabo de cavalo prendia seus
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cabelos e um traço bem marcado nas pálpebras,


marcavam seu look na maquiagem. Fiquei uns
cinco minutos apenas a observando. Era uma
menina daquelas perigosas, que fariam um homem
se apaixonar por ela, sem que este percebesse.
Saímos dali, ela não disse nada, mas eu podia
sentir a ansiedade em seus olhos e gestos, que iam
sendo decorados por todo o caminho. Procurava
uma praia deserta, para tanto, andamos mais de
cinquenta minutos de carro pela estrada. Ela seguia
calada, e eu, petrificado em sua imagem pelo
retrovisor.
Quando o carro parou, ela desceu, fiquei
olhando-a andar pela areia branquinha. A barra do
vestido voava com o vento batendo em suas pernas.
Fui atrás dela, tocando nos fios de cabelos que
flutuavam no ar sob o céu tão claro de um tarde de
Abril.
O corpo dela parou. Parei atrás, tão próximo
que podia sentir suas vibrações. Toquei-a na
cintura, e ela se virou, oferecendo sua boca que foi
beijada, mordida, chupada, acariciada.
– O que tem em você, menina, que é tão
especial?
– Sou uma pessoa comum. – ela riu sem
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graça e eu admirava cada sinal que aparecia em seu


rosto com suas expressões.
– Não... Tem algo em você... Não sei dizer.
Manu saiu correndo pela areia branca,
olhando para trás, me convidando para pegá-la.
Não sabia se ia ou se ficava ali parado, só a
olhando. Estava me sentindo um bobo ou algo
assim.
Vi as ondas lambendo suas pernas, e as gotas
de água do mar, espirrando em seu colo, deixando a
pele clara iluminada pelos raios do sol. Só então saí
correndo e fui até ela, segurando-a tão firma para
que não se escapasse de mim.
Joguei-a na areia úmida, subindo sobre seu
corpo, sentindo o gosto do sal do mar em seus
lábios, quando os busquei e dei mais um beijo.
– Quero mais de você. Estou intrigado,
curioso e sem pressa de lhe conhecer melhor.
– Está convidado a entrar no meu universo
infinito e pessoal. – respondeu ela, derramando o
azul dos seus olhos, nos meus escuros e densos.
– Isso é perigoso. – respondi, tirando os fios
de cabelos de seu rosto.
– Eu adoro o perigoso, sou feita dele. Venha
me revelar. – ela disse num sorriso ousado.
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– E se eu for e me perder? – perguntei


empolgado.
– Se isso acontecer, eu te encontro e não te
devolvo para você.
– Não diga isso, menina... Você ainda não
conhece minhas origens.
– Não preciso conhecer, olhando-o percebo
que além de interessante é um homem diferente.

Não fizemos amor.


Eu queria conhecê-la de outro modo.
Queria desvendar seu mistério sem me
entorpecer.

Passamos dois meses nos encontrando


diariamente. Ela estava se infiltrando cada vez
mais. Eu estava me segurando para não soltar tudo
que havia em mim. Esperava pela calma e
autocontrole. Foi a primeira vez que estive com
uma mulher sem transar com ela. Eu fiz questão
que fosse assim. O desejo era intenso, mas tentei
algo que jamais tinha acontecido antes, e a
experiência está sendo maravilhosa. Mas um dia ela
sumiu e me enlouqueceu. Fui ao seu trabalho, pois
era a única forma de encontrá-la.
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Ao me ver, antes mesmo que eu fosse até ela, veio


até a mim.
– Saio daqui vinte minutos. – disse
seriamente, para que ninguém percebesse.
– Estarei no caixa eletrônico. – fiz um gesto,
apontando para a direção de onde havíamos nos
encontrado na última vez.
Ela balançou a cabeça, concordando.

Os minutos se passaram mais do que vinte.


Estava completamente ansioso, olhando o relógio
de pulso. Angustiado, resolvi dar uma sondada.
Talvez tivesse se esquecido ou deve ter acontecido
algum imprevisto. Olhei para todos os lados, ela
não estava. Fui até a loja onde trabalhava e
perguntei sobre ela. Disseram que havia saído há
mais menos quinze minutos. Voltei para o lugar de
nosso encontro, e não a vi.
Tudo bem. Poderia ser outro dia, mas algo
ainda me intrigava e isso aumentava de grau a cada
instante. Eu sou capaz e reconhecer quando algo
não deu certo. Não me importo se o que quero não
corresponde ao que a outra pessoa quer, mas neste
caso, havia algo a mais acontecendo ali. Meu
instinto de Lobo não me deixava me enganar. Eu
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precisava encontrá-la.
Peguei meu carro e saí por aí, em algum lugar
daquela cidade ela deveria estar. Andei mais
duzentos metros sem destino. Aumentei os faróis
ao perceber uma pequena correndo pelas calçadas.
Seu vestido branco de renda reluzia contra a luz da
noite. Estacionei indevidamente para observá-la.
Em seguida, eu a segui na contra mão para poder
alcancá-la. A mancha de sangue em seu vestido
revelava que estava ferida e buscava por socorro,
mas de algum modo, eu a repelia. Ela tentava se
esquivar, para que não a visse naquele estado.
Meus olhos ficaram petrificados.
Os pés delicados estavam descalços, embora
fosse um retrato mórbido pela ocasião trágica, eu a
vi como jamais outro homem havia notado. Eu a
senti em meus abraços sem mesmo tocá-la. Quando
abri a porta do carro para socorrê-la,
instintivamente ela arregalou os olhos, sentiu medo.
Notei a pequena mão cobrindo o ferimento, e nos
lábios, um vago tremor.
− O que houve com você? – quis saber,
desejando socorrê-la de qualquer modo.
− Não posso... Não posso! – saiu correndo
novamente.
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Deixei o carro onde estava, seria multado ou


guinchado, não teria problema. A missão principal
agora era ajudar aquela menina. Desci e passei a
correr atrás dela, que tropeçou e caiu, machucando
um dos pés. Corri ao seu encontro e a peguei no
colo, correndo em seguida em direção a meu carro,
suas mãos batiam contra as minhas costas.
− Me solte!!!Me solte! – ouvi a última
palavra num grito e lamento.
Coloquei-a dentro do carro, no banco
traseiro, e me apressei para levá-la a um hospital.
− O que houve com você? – insisti, vendo
que o sangramento no seu peito aumentava. Poderia
ser grave.
− Fui esfaqueada. – disse ela, chorando.
− Quem fez isso? – quis saber, já imaginando
que eu realmente tenho um radar que detecto essas
infelizes sem o menor esforço, e isso só poderia ser
programado pela Seita.
− Meu marido... – disse ela, cobrindo o
ferimento com uma das mãos. O sangue escorria
pelo braço.
− Por que ele fez isso em você?
− Porque eu desisti de lutar pelo meu
casamento.
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Ela não me parecia triste. Estava apenas


assustada. Talvez soubesse que poderia realmente
morrer se tivesse corresse a tempo.
− Você sofria violência? – perguntei, já
prevendo a resposta.
− Sim, por isso desisti. Hoje mesmo, antes de
ir para o trabalho, fui coagida por várias vezes.
Ontem, ele me agrediu antes de dormir. Ciumento,
possessivo, não consegue acreditar em minha
fidelidade. Esta semana descobri que usa drogas...
Achei melhor me separar.
Troquei a marcha, olhando para aquele rosto
borrado pelo rímel. Suas bochechas manchadas
pelo sangue eram alvas antes. Olhos azuis intensos.
Cabelos claros como raios de sol. Não tinha mais
do que 1.60m. Exatamente como sempre quis.
Fiquei ainda a observando por longos minutos até
senti-la sem jeito. Não queria constrangê-la em um
momento tão complicado, mas a verdade era que eu
não conseguia parar de olhá-la.
Chegamos ao hospital, desci e fui buscar os
enfermeiros com a maca. Eu a vi sendo levada e
fiquei na sala de espera. Dormiria ali, se possível,
mas só iria embora quando tivesse certeza de que
ela estava bem. Acredito que cochilei por dez
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minutos, e fui acordado pelo médico que a atendeu.


− O Senhor está acompanhando a senhorita...
Manuela?
Eu não sabia o que dizer, apenas queria que
ela estivesse bem.
− Eu a socorri... A menina do vestido
branco... – foi o que consegui dizer para ter certeza
de que a informação seria sobre ela.
− Sim, ela passou por uma cirurgia, teve uma
lesão séria no esterno. O ferimento pegou uma veia
e causou hemorragia interna.
− Mas ela está bem? – perguntei, aflito. Não
a conhecia, mas jamais precisei conhecer qualquer
mulher que me chamasse a atenção. Elas eram
conectadas de algum modo a mim, mesmo que eu
não conseguisse explicar este fenômeno.
− Agora está na UTI recebendo os cuidados
necessários. A polícia foi chamada e precisará
ouvi-lo, que é a única testemunha no caso.
Não sabia exatamente o que dizer. Não queria
meu nome em jornais ou fichas policiais. Precisava
escapar daquilo, mas não podia deixar Manuela ali,
sozinha. Não poderia abandoná-la. Teria que me
arriscar.
− Sim, estou à disposição.
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Em seguida um agente da polícia foi até a


mim, me fez uma série de perguntas e me detive
apenas no que sabia. Ele pegou o número do meu
celular e disse que voltaria a me procurar, caso
precisasse de mais informações. Senti-me aliviado
quando ele se foi. Minha vida era secreta, por mais
que não fizesse nada que pudesse infringir minha
índole ou moral, mas eu preferia assim. Lobos não
gostam de se mostrar para a sociedade, são
discretos e vivem em silêncio. Apenas se expõe
quando for necessário proteger seu bando.
Precisava vê-la. Fui até a recepção e pedi
uma visita, o que foi negado.
Eu voltarei...
Certamente eu voltarei.
Quando cheguei em casa, senti o faro de algo
estranho no ar. Abri a porta da cidade subterrânea e
fui procurar por Laura. Com cuidado, eu caminhava
olhando a rua. Era uma rua coberta por
paralelepípedos construída há centenas de anos,
onde esta prática já vinha sido colocada em ação
por homens que moraram na mesma casa que eu, e
tinham o dom de olhar as mulheres. Não havia vida
ali. Tudo era feito de concreto. Meus olhos
bailavam sobre qualquer movimento que fosse.
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O vestíbulo abobadado, ornado de objetos


tipicamente femininos, estava bem iluminado, mas
deserto. O som de uma orquestra, ritmando uma
valsa, advindo de uma vitrola do século XIX,
inundava o ambiente enquanto os olhos de Laura
brilhavam mais do que o céu coberto de diamantes
numa noite quente de verão. Estava perplexa,
perguntava a si mesma para que lado devia se
dirigir, quando de longe me viu caminhando, cuja
camisa branca enquadrava-se a um semblante
rígido, onde os olhos punham dois pontos agudos
muito luminosos. Era na verdade, uma linda
criatura, fina como uma boneca de luxo. Em seu
semblante mate e delicado, os olhos tinham belos
reflexos brilhantes. Os movimentos eram graciosos,
às vezes um pouco impacientes como os de uma
criança mimada.
Parei de frente à porta que foi se abrindo ao
passo que ela aproximava. Com braços e pernas
saudosas, ela me recebeu, atirando-se em meu
corpo enquanto seus pés se cruzavam ao longo do
meu quadril, e minhas mãos se deslizavam na coxa
exposta na fenda do vestido. Ela usava o perfume
criado em sua homenagem. Senti a disposição da
pequena ao desabotoar minha camisa e os mamilos
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já eretos se espremiam contra meu peito,


harmonizando-se com o corpo delicado em
tremores.
̶ Senhor... - disse Laura, com uma voz doce e
em tom baixo. Por um instante, aquele som e o
modo como fora pronunciado o fez se lembrar de
Dolores. ̶ Que saudades... – findou as palavras ao
ter sua boca tomada por um beijo ávido. Os lábios
exploravam os contornos dos lábios dela, sugando a
língua que desejava se perder na sensação quente e
aconchegante.
̶ Minha pequena... – disse eu enquanto seus
lábios ainda estavam nos dela. Degustando o que
lhe era oferecido, sem pressa. Ela era a única
naquele momento. Num ímpeto quase insano,
segurei firme no decote que deixava à mostra, seios
fartos, rasgando a fazenda do belo vestido. Explorei
com anseio o corpo revelado, mordendo e
sussurrando palavras que seu desejo expressava.
Sua excitação estava além do normal. O cheiro dela
me deixava louco... Apertei as nádegas
arredondadas e coloquei a mão entre as pernas de
pele macia, sentindo o calor que dali saia, úmido e
com cheiro de rosas brancas. Minha boca salivava
na vontade de senti-la o quanto antes.
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Precisava me recompor e dizer a ela as


minhas intenções, mesmo que isso interessasse
apenas a mim.
− Pequena, preciso te dizer algo... Sente aqui.
– ofereci meu colo, notando seu semblante um
tanto frustrado por ter interrompido nosso
momento. Ela se sentou e colocou as duas pernas
sobre as minhas. Acariciei seus cabelos e sorri. –
Sei que se sente sozinha, penso em trazer mais uma
menina para cá, gostaria que ela lhe fizesse
companhia.
Ela franziu o cenho, notei certa decepção
quando abaixou a cabeça. Novamente toquei em
seus cabelos e trouxe seu rosto de frente ao meu.
− Ei... O que pensa sobre nossa relação? – eu
queria ouvi-la. Precisava saber o que ela esperava
de nós.
− Ainda não sei. Sei que é cuidadoso e
carinhoso comigo, ainda não entendi bem seus
motivos, é difícil para uma mulher como eu,
acreditar que tudo isso não tenha um preço. Mas sei
que o senhor é diferente, não me pede nada, nem
exige nada além de minha felicidade e bem-estar.
Acontece que...
− Acontece quê? – esta palavra “acontece”,
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foi dita de forma diferente. Fiquei atento aos sinais


que eram emitidos dela. Precisava compreendê-la.
− Estou carente... Sei que quer me cuidar e se
diz um Lobo... Quando eu era criança entendia que
ser isso era como se fosse um lobisomem, alguém
que se transforma em lobo nas noites de lua cheia,
enquanto durante o dia possui as características de
um homem comum.
Eu ri. Não tinha como ser diferente.
− Eu não sou lendário. Ser um Lobo significa
cuidar de alguém, lutar por ela até o fim. Mas
termine de falar o que disse pela metade.
− Estou carente... Eu ainda tenho o sonho de
encontrar alguém que me ame e forme comigo uma
família.
Ela abaixou novamente sua cabeça. Eu
poderia compreendê-la. Poderia sentir nela, que
este era realmente seu sonho, e que o homem que o
realizasse seria muito feliz. Mas eu não era o
homem mais indicado para tanto. Embora goste
muito dela.
− Entenda uma coisa... Lobos não se casam...
Eles possuem alfas ou algo assim, mas uma esposa
seria algo além do que posso lhe ter. Não confunda
isso com desafeto... Por favor... – ela não poderia
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compreender o meu pacto de sangue. Sei que são


muitas informações para compreender, quando na
verdade nem mesmo eu tenho todas as respostas.
Sei apenas que foi um jeito de não morrer de amor
por Dolores, ou odiar de vez todas as mulheres do
mundo.
− E quantas mulheres um Lobo possui?
− Eu não tenho mulheres, pequena, tenho
protegidas. Veja aqui nesta cidade subterrânea.
Muitos outros Lobos passaram por aqui, desde o
século XIX, com a mesma missão de cuidar de
mulheres que precisam de proteção. Aqui temos
três casas para três mulheres. Essas são as oficiais.
Isso não quer dizer que posso ter encontros avulsos
com outras.
− Você se apaixona por essas mulheres?
− Defina paixão? – precisei ser um pouco
frio, para que não adentrássemos muito no que há
por trás do que realmente acontece em meu posto
de Lobo. Ela ficou calada, apenas me observando,
certamente tentava me entender.
− Virão mais duas protegidas para cá?
− Ainda não sei... Quando chegar o
momento, saberemos.
Eu sabia que se ficasse ali por mais dez
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minutos, acabaríamos transando até amanhecer o


dia. Saberia que apenas sexo, não significa tratar de
alguém. Fiquei pensando no que poderia lhe passar
para fazer enquanto eu estivesse ausente, e que ao
fazer, ela se sentisse próxima a mim, para não se
encontrar muito só.
Manuela estava no hospital. Algo me
chamava para lá. Eu podia sentir sua respiração.
Ela precisava de mim, e eu queria muito poder
fazer parte de seu mundo quebrado.
− Você gosta de perfumes? – perguntei,
sabendo que não havia nada neste mundo mais
próximo a mim, do que isso. E, mais, que o local
onde estavam eram sagrados para mim.
− Sim, amo perfumes.
− Então me fará um favor, enquanto eu
estiver ausente, quero que catalogue todos os que
estão no museu, em sua exata numeração de
localização, num caderno preto de capa dura, o qual
irei lhe entregar. Pode fazer isso por mim?
− Claro, senhor... Iria adorar ajudá-lo. O Sir
quem fez todos aqueles perfumes?
− Alguns são de coleção antiga. Mas a
maioria fui eu mesmo que criei.
Eu vi o sorriso de admiração nos lábios dela.
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− Fique tranquilo, farei tudo que precisar ser


feito, com muito carinho.
Puxou o ferrolho, abriu a porta pesada de
carvalho e se achou no museu iluminado apenas
pela claridade que se introduzia pelas grandes
vidraças e que se estendia em longas faixas sobre o
pavimento de mármore. Fechei a porta do meu
quarto com chave e tomei o cuidado de verificar se
estava muito bem trancado, antes de sair.

Vinte minutos depois, voltei para o hospital.


Desta vez consegui ir até a UTI para vê-la, mesmo
que de longe. Observei seu corpo pequeno deitado
naquela cama preparada para salvar sua vida. Ela
não poderia me ver ou me ouvir. Ela não podia ser
parte de mim, e mesmo assim, eu já era parte de si.
Cheguei mais perto do vidro, colocando a mão
sobre este, gostaria de tocar seus cabelos. Desejei
profundamente que se recuperasse logo, e que
viesse para meus braços assim que se levantasse
daquela cama enfadonha. Parecia a Branca de neve
envolva por uma pele alva e sedosa, naqueles
lençóis tão brancos que chegavam a incomodar.
Esforcei-me para sair dali. Não adiantaria velar seu
sono. Mas voltaria ainda hoje para saber como
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estava.
Ao voltar para casa, sinto algo estranho. Não
conseguia dizer o que é, mas meu instinto me dizia
que precisava de cautela. Apressei em chegar. A
localização da casa subterrânea era estratégica, nem
todos sabiam como chegar, justamente para se
manter em discrição, era toda coberta por terra e
grama, que fazem as vezes de um cobertor de
isolamento eficiente para proteger da chuva, baixas
temperaturas, vento e corrosão. A residência se
agrupava em torno de um lago artificial, que
funcionava como piscina e possuia janelas de vidro
reciclado grandes o suficiente para receber uma
quantidade generosa de luz, garantindo uma
iluminação natural, mas muito bem escondida da
curiosidade humana. Mas não era isso que me
preocupava. Desde criança meus instintos eram
aguçados para prever acontecimentos ruins.
Lembrei-me daquele dia enfático, em que vi
as malas de Dolores na Estação Ferroviária para
nunca mais voltar a vê-la. Meu coração doeu como
agulhas entrando e saindo e voltando a entrar.
Ao chegar, corri para o museu, Laura não
estava lá, sequer havia feito alguma tarefa que lhe
fora recomendada. Corri para a cidade subterrânea,
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ela não estava em sua casa. Apavorei-me.


Certamente o mau pressentimento seria em relação
a ela. Não tinha onde procurá-la. Mesmo assim
peguei meu carro e saí pelas ruas feito louco. Por
dentro, eu podia ouvir um uivo denso e forte. Eu a
chamava.
Perambulei por mais de duas horas e nada...
Eu não sabia como e onde encontrá-la. Estava em
algum lugar, podia sentir seu coração pulsar. Mas,
onde? Desanimado, estacionei e passei a caminhar
pelas ruas. Sentia-me fadigado. Não poderia ter
falhado como cuidador. Estava frustrado. Ao
mesmo tempo, com raiva de mim mesmo. Eu a
quero do meu lado.
Voltaria para casa sem ela. Dormiria sabendo
que ela estava por aí, por sua própria escolha, não
poderia fazer mais nada a não ser esperar. Ela
poderia estar em perigoso. Poderia ter procurado
aquele marginal. Mas tudo que está passando ou
vivendo neste momento são suas escolhas, local em
que não posso intervir. No juramento eu disse que
me deveria respeito enquanto estivesse sob minha
guarita. Não poderia negar que me sentia um
pouco chateado.
Só existe um remédio para o coração de um
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Lobo, o corpo de uma mulher. Iria voltar ao


hospital para ver como estava Manuela, e depois
não tinha mais uma programação. A noite me
esperava como espera o que lhe é devido e igual.
Escuro e denso. Solitário e profundo.
O escuro lago mostrava-se nesta noite,
transformado numa grande toalha de prata líquida.
Ao contrário, a bizarra capela erguia-se mais negra,
mais lúgubre sob a branca claridade do luar, que
descia do alto iluminando a fachada dos edifícios
que rodeavam o lago, e, de tal modo, que distinguia
no lado oposto do pátio, as vidraças das altas
janelas, até então sempre fechadas.
Parei em frente ao mar e absorvi um pouco
da umidade que vinha da maresia. Fiquei assim,
olhando apenas a escuridão tomando conta da
cidade que para mim, quase não tinha nome. As
ondas chegavam mansas e lambiam as minhas
pernas, molhando a dobra da bainha que arregacei
próxima aos joelhos.
Um vento suave e o som noturno do mar se
perderam quando a vi de longe, quase uma
incógnita. Passei a mão nos cabelos e senti os pelos
do meu braço se arrepiarem. Ela se aproximava,
perdida, o olhar fixo no nada até chegar muito perto
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de mim.
− Gosto da lua cheia, a única coisa é que
daqui a pouco não se pode mais passear
tranquilamente na beira-mar. – eu disse a ela,
tentando não me parecer invasivo. Mas não havia
nenhum outro jeito de me aproximar.
− Eu não me importo com isso. – ela se
pareceu indiferente a tudo, como fez desde o
principio quando meus olhos se fixaram nela e
perceberam sua superioridade perante o mundo.
− Eu também não me importo, desde que eu
consigo ficar um pouco mais.
Ela passou por mim como se não tivesse me
ouvido. Dois, três, quatro passos adiante. Parou. As
mãos foram colocadas na cintura. Vi a areia já
subindo pelas suas pernas e senti vontade de riscar
algum desenho em sua pele.
− Eu quero ficar mais um pouco... – disse ela,
como se falasse sozinha, mas se referindo ao que
havia acabado de dizer.
− E o que te impede?
− Milhões de grilhões, todos despencados de
uma só vez sobre mim.
− Se quiser, senta-se aqui... Somos então,
dois, que desejam ficar mais um pouco, com os
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grilhões se manifestando a cada segundo.


Eu ouvi seu riso. Ela se virou e voltou até
onde eu estava sentado.
− Obrigada pela companhia. – acabou
deixando-se envolver.
− Que bom que ficou. – sorri convencido de
que ela é realmente linda.
− Meu marido nem imagina que estou aqui,
neste momento... – disse ela, sarcástica.
− Onde ele está? – fiquei em alerta, então ela
é casada...
− Só Deus é quem sabe... Hoje é sexta-feira...
Ao sair do trabalho, ele sempre some com os
amigos. Cansei de esperá-lo... Cansei de bater a
gilete no piso do banheiro, se é que me entende...
Ela era perfeita para mim...
Assim que chegou a madrugada, quando os
loucos noturnos foram soltos de suas jaulas,
transamos loucamente com as ondas invadindo já o
espaço onde nos abrigávamos. A água entrava por
entre nossos sexos, ecoando um som causado pelo
atrito de nossos corpos. Eu a beijava como jamais
beijei uma mulher. Mordia seu queixo, com as
mãos latentes em força bruta, trazia seu quadril
para meu sexo, metendo com força, quase lhe
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roubando todo o ar de seus pulmões.


− Meta mais... Meta mais... Ah, que delícia
de pau... – ela falava quase gritando. Tapei sua
boca com uma das mãos, o que lhe causou ainda
mais euforia. Tentava gritar a todo o custo.
− Não grite... – sussurrei em seu ouvido. –Dê
essa boceta para mim, sem dizer uma só palavra. –
em seguida a olhei nos olhos para que sentisse que
não estava brincando. Ela entendeu e passou a
gozar, contraindo os músculos vaginais. Assim que
terminou seus espasmos e fruídos, tirei meu pau
ainda latente e coloquei em sua boca. – Me chupe
gostoso...

Após aquele sexo selvagem da madrugada,


sentia-me acuado e carente. Dolores... Laura...
Manuela... Todas perturbavam minha mente como
algo incapaz de se desfazer. Deitei-me sobre seu
ventre e assim fiquei por alguns infinitos minutos,
me refazendo. Ela não precisava saber nada sobre
mim. Nem ao menos meu nome, de onde vim e
para onde vou.
Voltei para casa um pouco bêbado de
sensações, observando as prostitutas voltando para
suas casas. Coloquei a música, Não me compares, e
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continuei meu trajeto. Laura havia ferido meu


orgulho de homem, e meu coração de certo modo;
de um jeito que seria muito difícil de ser
compreendido. Somente pessoas como eu, sabem o
que me dilacera neste momento.
Ao chegar, como se tivesse acordado de um
sonho ruim, eu a vejo sentada próxima ao hall da
escada que dá entrada para a casa. Parecia uma fada
ferida. Ao perceber seus olhos tristes, abri o portão
eletrônico e estacionei na garagem. Voltei e fui até
a frente. Não sabia o que esperar.
− Por onde andou, passarinho? – minha voz
estava calma, mas aflita.
Ela veio correndo com os braços abertos e
jogou-se em meu corpo de modo desesperado. Eu a
trouxe, segurando-a pela cabeça, queria olhar em
seus olhos para enxergar a verdade.
− Me perdoa... – pediu ela, ajoelhando-se aos
meus pés.
− Por que deveria lhe perdoar?
− Por não merecer sua confiança. –
respondeu com um soluço na voz. Então eu vi as
marcas em seu pulso.
− O que houve? – apontei para os pulsos. -
ela abaixou a cabeça,e eu insisti. – Não vai me
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responder? – de preocupado migrei para irado.


− Foi ele quem fez isso. – restringiu-se a esta
frase.
− Por que o procurou? – meus nervos
tremiam por dentro. Sua cabeça continuava baixa, o
que me causou ainda mais irritação. – Por que o
procurou? – quase gritei.
Com dificuldade e um pouco envergonhada,
ela passou a levantar sua cabeça, e a cada
movimento, uma onda de cólera invadia minha
alma.
− Senti ciúmes do Senhor, medo de perder
sua atenção para uma nova protegida...
− Então resolveu fazer uma merda dessas
contigo?
− Sim... Não era o meu desejo...
Olhei com mais atenção, eram cortes
profundos causados por algo que não consegui
reconhecer.
− Ele a tocou? Transou com você? – estava
ansioso pela resposta. Ciúmes e sentimentos de
posse me corroíam.
− Ele... Bem... Quase.
Esta resposta não me contentou. Desejava
saber mais... Se não me falasse, seria capaz de
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arrancar esta informação de qualquer maneira.


− Com o que foi amarrada?
− Fio de aço. – ela respondeu entre lágrimas.
– Consegui fugir, porque... a amante chegou em
seguida atrás dele e... ele precisou lhe dar atenção...
Então...
Eu a interrompi como um trovão cortando o
céu.
− Não me interessa o que aconteceu depois,
nem como conseguiu fugir. – suava frio. Podia
sentir minha camisa colada à umidade que a pele
causava no tecido. – Me dê o endereço desse
crápula.
− O Senhor não vai até lá, não é? – sua voz
estava trêmula.
− Isso não lhe interessa. Me passe já o
endereço e entre. Espera-me chegar, sabendo que
estou muito decepcionado com você. Agora me
passe o endereço, já!– gritei ouvindo o som do meu
próprio grito, sentindo os olhos se fixarem nela,
como se fossem arrancar sua pele.
Ela pegou uma caneta de sua bolsa e um
bloco de notas. Anotou o endereço. Suas mãos
tremiam. As minhas também, mas de raiva.
− Entre! – ordenei. A olhada que a dei me
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feriu muito mais do que tudo que ela podia


imaginar. Todavia gostaria de ouvir de seus
próprios lábios a explicação de sua fuga.
Ela entrou, acuada. Eu fui atrás do verme.
Mal podia sentir o asfalto, estava em alta
velocidade, e o maior perigo para mim naquele
momento, era de não fazer o que deveria ter feito
desde aquele dia no restaurante. Mas ela não era
minha... A bandida, mesmo após ser minha,
procurou o verme... Me desafiou... E ele tocou no
que é meu... Acelerei ainda mais. Sentia a saliva já
minando pelos cantos dos lábios ao me lembrar do
quadril dela, todo em minhas mãos. Dos seios em
meus lábios, sendo comprimidos por meus dentes.

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Capítulo 4

Trate-a bem... Caso contrário...


Eu a roubarei para mim
Cuidarei, protegerei...
Farei dela o meu santuário.

Cheguei ao endereço apontado no papel.


Desci do carro e bati a porta com toda a força que
existia em meu ser. Desabotoei minha camisa
branca e arregacei as mangas. Havia campanhia,
mas preferi bater na porta de ferro com as minhas
mãos. Soquei por várias vezes até que esta se abriu.
O rosto que ainda não havia apagado de minha
memória surgiu assustado. Olhei nos olhos dele
friamente, de meus olhos não saia expressão
alguma, apenas de que estava ali um Lobo com seu
orgulho ferido. Soquei a cara dele com gosto,
vendo-o cair ao chão com a mão no rosto, ainda
mais surpreendido.
− Este é por minha menina, por todo mau
trato dedicado a ela. Um aviso, não procure Laura
nunca mais... Não me responsabilizo pelo o que sou
capaz de fazer. Ela não é mais sua esposa, aliás,

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nunca foi, e agora jamais será... – catei-o pelo


colarinho para que seu tronco se levantasse, assim
como um homem deveria apanhar, e desferi mais
um soco em seu rosto. – Este é por mim, pela raiva
que me fez sentir neste momento. Aviso dado!
Saí de lá, cuspindo fogo pelas ventas, e na
mesma velocidade que cheguei até, voltei, tentando
controlar minha respiração. Ao chegar, mal pude
guardar o carro na garagem, tamanha era minha
ansiedade de acertar as contas com a traidora. Abri
a porta da cidade subterrânea e caminhei com
passos largos até o local onde ela estava. Logo que
cheguei a vi sentada num canto da sala, chorando
em descompasso.
Abaixei-me e toquei em seu braço. Meu
desejo era puni-la, mas não faria o mesmo que o
idiota tem feito durante todos esses anos. Minhas
atitudes seriam sutis deste momento em diante.
Receberia meu desprezo, para aprender. Eu estava
em suas mãos, praticamente. Meus pensamentos
eram todos em torno dela, mas feriu minha
confiança. Agora cabe a ela reconquistá-la.
− Vá buscar a caixinha de primeiros socorros.
– pedi secamente.
Minutos depois ela surgiu com a caixa nas
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mãos. Peguei todos os remédios e materiais para


fazer um curativo. Assim que terminei, ainda
agachado próximo ao rosto dela, olhei-a
demoradamente nos olhos para que sentisse a
dimensão do que eu sentia.
− Assim que se curar, se desejar ir embora,
faça o que for de sua vontade, pois se ficar aqui,
saiba que terá de suportar o que deu causa.
− Senhor... Não foi minha intensão... – ela
chorava.
− Traiu minha confiança...
− Senti ciúmes, senhor...
− Jamais prometi que seria a única ou que me
casaria com você, prometi lhe cuidar, curar as suas
feridas... Mas você preferiu procurá-lo com minha
coleira no pescoço... Tivemos uma noite
maravilhosa. Fiz tudo que estava ao meu alcance,
na tentativa de lhe fazer feliz.
− O senhor me disse que traria outra... Eu... –
eu a interrompi.
− Eu não sou monogâmico, seria se estivesse
procurando uma companheira. Um Lobo quando
entrega seu coração para uma pessoa, entrega
juntamente com sua vida. Não posso me apaixonar,
devo apenas cuidar. Mas você era especial para
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mim. E não era apenas para enfeitar meus olhos,


queria que se sentisse amada por si própria quando
se olhasse no espelho e conseguisse voltar a amar a
própria imagem. Cuidei pacientemente de cada
ferida. Enxuguei as lágrimas. Decorei todas as
curvas, expressões, traços... Eu a desejei
imensamente.
Levantei e segui sem olhar para trás.
Voltei ao hospital. Com o dia turbulento já
cedo, havia até me esquecido de ter notícias de
Manuela. Ela continuava estável, exatamente como
a deixei. Fiquei olhando de longe imaginando o
quanto essa menina ficaria linda se voltasse a sorrir.
Jamais vi um sorriso seu. Jamais pude observá-la
andando distraidamente, na ponta dos pés.
Antes de deixar o hospital, fui até a recepção
e deixei meu contato, caso ela despertasse ou
acontecesse algo. A recepcionista me garantiu que
eu poderia ficar tranquilo. Todas as despesas
estavam sendo pagas por minha conta, dificilmente
eles não me retornariam, caso houvesse alguma
novidade.
Ainda não era meio-dia e eu já estava
cansado, esgotado. Não poderia perdurar esta falta
de ânimo, precisava criar novos perfumes e
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começar a traçar os planos para fundar minha


própria marca. Mas Laura havia despertado o pior
em mim. Precisava me equilibrar. No fundo não
sentia desejo de cuidá-la como foi no início. O que
fez era algo que me abalou grandemente, logo no
dia seguinte quando declarei que seria minha. Ela
seria uma menina que eu iria fazer de tudo para
mantê-la ao meu lado como alfa, este era o grande
motivo da decepção.
Iria tentar comer algo, depois verei o resto.
Dia cinzento.
Meu peito também estava nublado.
Sentei à mesa de um bar que sempre gostava
de ir para comer. Pedi uma cerveja e fiquei assim,
ainda com Laura no pensamento... Talvez o melhor
fosse deserdá-la... Não queria fazê-la sofrer, mas se
ficasse, talvez não fosse a melhor saída.
Alguns minutos depois, olhava-me
atentamente de alguma mesa, um casal
desconhecido. Me senti desconsertado pela maneira
insistente que continuavam a me fitar, mesmo eu
deixando nítido em meu rosto o desconforto.
Minutos depois, a mulher se levanta e caminha até
a porta da saída. O homem foi atrás, olhando-me
discretamente, mas com certa convicção no olhar.
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Ele queria que eu percebesse que estava realmente


de olho em mim.
Levantei os olhos de soslaio ao ouvir as
buzinas e alguns xingamentos tomarem a atenção
da paisagem. Absorto em pensamentos inúteis,
tentei fugir do ego e me atentar a minha volta, onde
pessoas passavam num vaivém infernal, mas
ninguém notava a presença de uma menina sentada
no meio fio, ora se levantando ao tentar se jogar no
meios dos carros, ora voltando ao seu esconderijo
um tanto público, mas visível somente aos
motoristas que se desviavam da cena dramática.
Mesmo debaixo de uma temperatura
razoavelmente quente, a menina usava uma capa de
chuva vermelha cujo capuz cobria sua cabeça.
Apenas suas alvas canelas ficavam à mostra,
exibindo logo abaixo o cano marrom de um bota
que me intrigava à medida que minha curiosidade
aumentava, seguida de uma espécie de nostalgia
oculta.
Levantei da cadeira confortável que me
separava no mundo, quando a vi mais uma vez
tentando por em prática seu plano sinistro de tirar a
própria vida à vista de todos que se importavam
com o valor da existência humana. Corri a tempo
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de interromper sua estratégia, agarrando-a pelo


pulso, trazendo seu corpo frágil de encontro ao meu
peito, que suava debaixo do terno caqui. O coração
agora era o alvo de uma imagem que o tempo não
varreu de minha mente, tão pouco me fez tirar de
dentro a antiga sensação de olhar dentro de olhos
tão conhecidos e amados por mim.
− Dolores... - deixei escapar num sussurro
incrédulo, quando a reconheci de pronto, sentindo o
corpo todo arrepiar e lágrimas brotarem dos meus
olhos. Não podia acreditar que o tempo passou para
todos, mas para ela era como se ainda tivesse
dezenove anos. Algo estava inexplicável. Não
havia possibilidade. Era uma sósia. Era uma irmã
mais nova com seu mesmo rosto e olhar.
Ela mal reparou em meu espanto. Continuou
tentando se escapar e voltar para seu objetivo.
− Me solte! - gritava aos murros e pontapés.
− Ei! - precisava fazê-la parar e tirá-la dali.
Precisava entender o que estava acontecendo. Era
Dolores, eu tinha certeza. Só não sabia como ainda
se mantinha tão jovem, com a mesma idade que a
vi pela última vez. – Venha... Calma... - disse
tentando tirá-la do meio da rua.
− Eu não quero! Deixe-me em paz! - ela não
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me reconheceu... Peguei sua cabeça entre minhas


duas mãos, e a mobilizei, olhando atentamente para
aqueles olhos que já me fizeram sonhar. Olhos da
cor de mel, como os cabelos cacheados... As sardas
no mesmo lugar... O magnetismo no olhar. O sinal
de nascença na mão esquerda. Não havia dúvidas.
− Dolores... – quase falhou a minha voz. –
Sou eu, Alejandro...
Seu olhar pareceu confuso, mas não percebi
nenhum reconhecimento. Soltei-a e esperei que
dissesse alguma coisa.
− Não me chamo Dolores... Agora me deixe
em paz! – saiu na frente, batendo o salto de sua
bota no asfalto, deixando meu coração em
descompasso. Eu não poderia estar enganado.
− Como veio parar no Brasil? - mil coisas
passavam pela minha cabeça agora. Como
conseguiu de manter tão jovem?
− Você só pode ser um mais um maluco
perdido no mundo... Me deixe passar.
− Por que está tentando fazer isso com sua
própria vida? - mudei de assunto já que não
conseguiria fazê-la entender que ela era Dolores. A
mesma voz e timbre. O mesmo jeito de falar. Não
tinha como não ser. Não depois de ver o sinal.
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− Isso é um problema meu. Não preciso dar


explicações para estranhos.
− Mas eu não sou um estranho... - ficamos
perdidos nos olhos um do outro. Até que o vento
varreu o cabelo dela, fazendo com que voltasse a
realidade. Saiu novamente andando, arrumando o
capuz vermelho em sua cabeça.
Segurei firme em seu pulso.
− Posso levá-la até sua casa.
− Vá à merda!
Ao perceber que não conseguiria pará-la, me
pus a sua frente com os braços abertos, impedindo
que ela seguisse.
− Você não vai a lugar algum. Não antes de
se acalmar e tentar conversar sobre o que tentava
fazer. Não, não... Não vou me sentir culpado, caso
amanhã abra o jornal e eu der de cara com sua
imagem, morta, debaixo de um carro... Além do
mais, sou mais velho, deve me ouvir, ou... - ela foi
parando quando percebeu meu olhar ameaçador. −
Ou serei obrigado a chamar a polícia para lhe
impedir de fazer esta loucura consiga mesma.
− Você acha que nesta altura do campeonato
eu tenho receio de polícia?
− Isso não importa. Sua vida é um bem
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resguardado pelo Estado. Há interesse de conservar


sua integridade física.
− Pois bem... Faça o que quiser. - dizendo
isso, arrancou à frente indo novamente em direção
à rua. Fui atrás, tentando agarrá-la a qualquer custo.
Na ânsia de salvar a vida daquela selvagem, puxei-
a pela manga da capa de chuva, rasgando o tecido
de plástico. Ela me olhou com fúria e seguiu para
cima de um caminhão que vinha na direção
favorável a uma desgraça acontecer. Consegui
segurar em seus cabelos, e com toda força existente
em mim, trouxe-a arrastada.
Ela se debatia desejando a morte. Gritava
incessantemente, debulhando-se em lágrimas.
Consegui chegar até ao carro com pessoas nos
olhando. Haviam notado a presença de Dolores,
que até então parecia despercebida.
− Por favor, não quero lhe machucar. – disse,
tentando acalmá-la. – Uma menina tão jovem, tão
bela... Não pode morrer assim. Escute, você é
importante para mim. – eu disse, mas para ela não
havia sentido naquelas palavras que soavam
maluquice, mas era a mais pura verdade.
Ficou me olhando, jogada no banco do passageiro,
com o rosto todo vermelho parecendo estar em
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chamas.
−Acredite, ninguém se importaria se eu
morresse. - disse com o pranto novamente
estampado no rosto de traços perfeitos.
− Está enganada, menina. Para min sua vida é
importante. - tentei tocar em seu rosto, mas este foi
virado bruscamente.
− Não me toque! - me alertou. Decidi acatar,
era o único modo de estar perto dela. Tinha em seus
olhos um sofrimento implícito. Ao mesmo tempo
em que todos os seus traços eram os mesmos de
Dolores, porém nada mais além se assemelhava a
ela. Se não a tivesse por perto, jamais diria que se
tratava da mesma pessoa.
− Me conte sua história. - eu queria entender
seus motivos. Queria também poder desvendar
aquele mistério.
− Hoje não tenho mais uma história. Sou um
grão de areia na escuridão. Nada mais importa. Não
tenho nada para contar.
− Todos nós temos uma história para contar.
− A minha acabou.
− Eu não acredito no fim. Tudo inicia
novamente a cada momento.
− Por que me trata como se já me
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conhecesse? - o ponto de interrogação ficou


perdurado em seu olhar.
− Porque nos conhecemos. Parece loucura,
mas sabemos exatamente quem somos, por isso não
vou embora sem ter a certeza de que está em
segurança.
− Mas eu não o conheço... Nunca o vi em
toda minha vida.
− Qual sua idade? - eu necessitava saber...
− Vinte anos.
Eu já não sabia o que pensar. Era ela, eu
jamais poderia esquecer aquele rosto.
− Não é possível... - deixei escapar.
− Agora vou embora. Quero ficar sozinha.
− Quero deixá-la em sua casa.
− Nem pensar... Sou vigiada e seguida vinte
quatro horas por dia, não seria uma boa ideia.
− Por que não, Dolores?
− Meu nome é Shadia. Pare de me chamar
assim. Está me confundindo com outra pessoa.
− Tudo bem... Tudo bem. Desculpa-me.
Façamos assim, deixarei meu cartão.
− Droga! Eu não deveria deixá-la ir. Mas
tudo bem... Quando se acalmar, me procure, quero
lhe ajudar.
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Ela pegou o cartão e saiu do carro. Andava e


olhava para trás. Meu coração parecia parar.
Dolores que sempre fora um pouco esquisita,
era geralmente taciturna. Entretanto, às vezes por
pouco tempo, tornava-se loquaz com o passar das
horas. Então saíam dos seus lábios frases
desconexas, acompanhadas por grandes gestos de
suas mãos descarnadas. Depois, repentinamente,
caía num mutismo de que nada a tirava. Agora a
vejo indo embora como quem levasse consigo o
meu universo inteiro. Uma menina de apenas vinte
anos de idade, brincando com minha sanidade.
Fiquei com desejo de ir atrás dela, que aos
poucos foi sumindo entre as pessoas até se perder
de vez. Eu tinha duas alternativas, ou esquecer que
a vi ou só me lembrar dela no passado.

Não era real...


Não podia ser real...

Ao chegar a minha alcova, de imediato meu


faro não deixava eu me enganar, algo estava
estranho. Fui atrás de Laura imediatamente,
passando por toda a casa e tendo acesso rápido à
cidade subterrânea. O cheiro estava diferente, como
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acácias recém-colhidas e despejadas pelos cantos


numa concentração forte feita com o óleo de sua
essência.
− Laura... – chamei pelo nome quando não a
vi a minha espera.
Nenhuma resposta ao meu chamado, o que
poderia ser uma falta grave, se não tivesse ocorrido
algo ainda pior.
Ao abrir seu quarto me deparei com flores
por todos os lados, entre elas, o corpo bem feito
com linhas traçadas em curvas e cheiros que
pareciam entrar em minha pele. Lembrei-me de
quem sou e quem ela é. Meus olhos, porém, não
saíram da coleira que ela deixara à mostra por entre
as flores. Meu nome estava gravado lá, estampado,
sendo acariciado maliciosamente pelas pontas dos
seus dedos. Senti-me um tolo ouriçado pelas garras
de uma Loba satânica, que me enlouquecia em
poucos segundos diante de sua presença.
Mordi os lábios tentando não salivar de
desejo. Virei as costas, sagaz. Não a daria o gosto
de sentir prazer sem antes pagar pelo o que fez.
Mas senti seu corpo se aproximar do meu, tentando
me deter, abraçando-me pelo quadril, implorando
por me sentir. Virei-me de imediato, segurando
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firme com as duas mãos em sua cabeça linda.


− Não me tente... Não se aproxime de mim.
Não me toque... – meus olhos faiscavam coisas sem
nexo. Era um misto de raiva e desejo... Se eu
cedesse naquele momento, certamente ela iria se
arrepender por me provocar de tal forma. Meus
instintos estavam aguçados, poderia mordê-la até
sangrar, ou simplesmente maltratá-la a ponto de
pensar somente em mim, num coito hostil, egoísta e
humilhante. – Não me toque... – tirei delicadamente
suas mãos de meu paletó.
Ao caminhar rumo à porta, ainda a senti
parada por detrás de minhas costas, jogando-se ao
chão em um canto qualquer. Parei de frente a porta
antes de sair.
− O jantar estará servido às vinte horas em
ponto. – eu disse, fechando a porta com a mesma
amargura que senti quando vi Dolores
desaparecendo nas ruas.
Coloquei uma música e me sentei em minha
poltrona preferida. Faltava ainda meia hora para o
jantar. Fiquei contemplando a fumaça de meu
charuto se esvair no ar, enquanto a porta que nos
separava não se abria. Ela não era maluca de não
vir. Seria capaz de castigá-la cruelmente, com a
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mesma mão que a acariciou e a fez gozar. Mas tudo


foi interrompido com o zunido da companhia. Dei
um último trago e pus-me a imaginar quem poderia
ser aquela hora. O jantar encomendado. Não
deveria ter pedido, deveria ter colocado Laura para
prepará-lo. Não estava merecendo ser tratada como
uma princesa.
Coloquei o charuto no canto dos lábios,
passei a mão nos cabelos e abri a porta, quase
ofegante.O presente novamente se misturou ao
passado, causando-me uma angústia insólita, que
me absorvia a ponto de não me reconhecer,
tamanha era a surpresa.
Os olhos fixos nas pupilas dela, pareciam
dilatadas. Ainda usava a capa vermelha com capuz,
escondendo-se do mundo.
− Entre - pedi sem ter o que dizer.
Sinceramente não esperava por aquela visita. - Em
que posso ajudá-la?
Ela se sentou toda desengonçada, neste
momento não conseguia ver Dolores naquela
imagem... Ela jamais sentaria de qualquer forma,
sempre mantinha uma postura exímia, mesmo
dentro de casa ou em qualquer outro lugar.
Tirou o capuz, um tanto desconfiada e só
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então cruzou as pernas.


− Me disse que eu poderia procurá-lo, aqui
estou.
Seu tom de voz ou qualquer comportamento
de agora, diferenciava-se totalmente da menina que
encontrei na rua, tentando a qualquer custo retirar
sua vida. A pequena de antes, ofuscada pela ira e
desejo de morte, não deixava transparecer sequer
uma pista quanto a sua personalidade.
A menina de agora, embora um tanto arisca,
já revelava sinais evidentes de uma pessoa
desregrada, necessitada de disciplina ou algo que
ainda não consegui identificar, mas ambas estavam
muito distantes de ser Dolores. Muito e apesar da
semelhança.
− Evidentemente que sim... - eu, um Lobo
experiente, estava totalmente atordoado com a
presença daquela menina, que me provava a todo
instante ser realmente Shadia, e não a minha
Dolores.
− Fique à vontade. Só me diga o motivo de
ter vindo.
− Bem... Eu estou precisando de um
emprego. Não que esteja necessitando disso por
motivos materiais, minha família tem posses... O
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problema é mais para conquistar uma


independência mesmo.
− Entendi. - o linguajar dela era de uma
menina recentemente vinda da adolescência. Não
me parecia ter problemas conjugais ou com
namorado. Não sei como poderia ajudá-la, se fosse
realmente de outro modo. Tudo era ainda muito
novo para mim, e eu precisava me acostumar com
sua feição tão igual a de Dolores, o que não me
atraia em mais nada a não ser por esta mera
semelhança. − Gostaria de saber um pouco mais
sobre você. O que te levou a querer tirar sua vida?
Ela empalideceu de imediato e se levantou,
virando-se de costas.
− Olha... Eu não quero tocar neste assunto.
Preciso apenas saber se você pode ou não me
ajudar neste sentido?
Levantei, gostaria que ela se acalmasse, mas
qualquer gesto que eu fizesse, certamente sairia
correndo, e eu jamais a veria novamente.
− Eu posso ajudá-la. Mas antes preciso
pensar em como isso seria possível.
Antes de ela dizer qualquer coisa, a porta da
sala se abriu, revelando a imagem de Laura
lindamente vestida com uma túnica azul clara, com
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abertura nas laterais, e os seios expostos, como


duas maçãs sendo oferecidas. Os olhos cor de mel
de Shadia ficaram aturdidos. Sua face corou e ela
olhou-me assustada.
− Eu já vou... - disse já procurando a porta.
Fui atrás dela, olhando com ares de
reprovação para Laura, que entrou sem bater.
− Ei... - disse segurando-a pela capa.
− Não sei em que irá me encaixar no
trabalho, só espero em segurança, que não seja
nada relacionado ao que acabei de ver.
− Eu só quero lhe ajudar...
− Você trabalha com o que exatamente?
Contrabando de mulheres? É um cafetão?
− Ei, não é nada disso. Eu sou perfumista.
Tenha calma... Por que acha que todas as pessoas
estão tentando lhe ferir ou prejudicar?
− Eu não acho nada, apenas vi algo incomum
com meus próprios olhos.
− Mas pode ter certeza de que não é nada
referente ao que disse. Passa-me seu telefone, vou
ligar assim que conseguir pensar em algo.
Ela ficou relutante, mas acabou cedendo. Eu
estava mais na condição de um pai severo a um
antigo amor de infância.
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Voltei para minha alcova, encontrando Laura


no mesmo local e posição.
− Me perdoe, senhor. Eu não sabia que
receberia visitas.
− A partir de hoje, jamais entre sem bater na
porta.
− Sim senhor, isso não vai mais se repetir.
Nos sentarmos um de frente ao outro, meus
olhos insistentemente cercavam minha prenda, que
comia olhando para baixo.
− Não está ainda perdoada pelo o que fez.
− Entendo senhor.
Os poros dos pelos de sua coxa à mostra
ficaram arrepiados ao ouvir minha voz. Tudo nela
falava. Era minha, eu não tinha dúvidas quanto a
isso.
− Se teimar será castigada.
− Faça o que desejar de mim... - disse ela
limpando os lábios no guardanapo de linho,
deixando lá a marca de seu batom.
Sequei a taça de vinho e me levantei,
aproximando meu nariz de sua orelha. – Safada... -
disse baixinho. – Puta safada. - ela estava
completamente arrepiada. – Levanta-se! - ordenei,
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percebendo seu corpo todo tremer.


Assim que ficou totalmente ereta, passei a
inspecionar cada detalhe do seu corpo, cheirando,
mordendo, lambendo.
− Não se mova até eu mandar.
Ela ficou imóvel, apenas sentindo tudo com
os olhos fechados. Coloquei a mão por dentro de
sua calcinha e a senti molhada.
– Minha puta... - eu disse, me valendo da faca
sobre a mesa, cortando as laterais da peça íntima. –
Não quero que use isso quando estiver perto de
mim.
− Entendi senhor.
− Psiu... Calada... - abri suas ancas com as
duas mãos e deslizei a mão no vão que ficou, veio
de lá um cheiro de lasciva, de mulher louca para
fazer sexo.
Peguei minha gravata e a tirei, olhando para
ela. Coloquei-a em volta de seu pescoço, apertando
um pouco, até ela arfar.
− De joelhos... - pedi, sentindo-me explodir
dentro da calça. – Agora gatinhe como uma
cadelinha no cio.
Pus-me atrás dela, segurando com uma mão a
ponta da gravata, olhando seu quadril se mexer a
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cada vez que ela trocava de passo com os


joelhos. Enfiava o dedo em seu orifício delicioso,
sentindo-o pulsar a cada vez que massageava toda a
sua circunferência.
Abri a porta da cidade subterrânea e deixei
que ela gatinhasse até sua casa. Assim que a
acomodei lá, amarrei a ponta da gravata na madeira
lateral do sofá, e pedi que me aguardasse sem se
mexer.
Em poucos minutos voltei com um embrulho
nas mãos. Desatei a gravata de seu pescoço e pedi
que ficasse de pé. Do embrulho tirei uma bela
cauda de raposa que continha um plug de aço
inoxidável na ponta. Passei o pelo do acessório em
seu rosto, percorrendo o pescoço enquanto meus
dedos desabotoavam seu vestido, que caiu em torno
dos seus pés.
− Fique de quatro! - pedi, o que foi
obedecido. Posicionei-me próximo a sua anca
empinada e coloquei o plug anal, encaixando
perfeitamente em minha raposa. – Engatinhe até
sua cama.
Pus-me novamente a andar atrás dela,
admirando a graça com que mexia os quadris,
balançando a cauda que encostava a ponta em suas
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nádegas morenas.
Fiquei instigado.
Fascinado.
Ela estava de castigo, não poderia sucumbir e
abrir uma brecha para que fizesse de novo o que
fez, mas a negativa era algo que me arrebatava.
Deitei-a de quatro, com a cabeça deitada no
colchão e passei a olhar atentamente a imagem a
minha frente. Com sensação de delícia no toque,
passeia a tirar e colocar o plug, vagarosamente,
observando seu orifício ficar saliente, fazendo um
pequeno e breve bico, quando o acessório saía,
deixando-me louco. Comecei a ter contato com ele,
vendo como é a sensação de colocar o dedo ao
invés do plug, tocando a sua volta, sentindo o
contorno enquanto com a outra mão, eu explorava
seu clitóris lisinho. Pouco tempo depois, já estava
muito molhada, esperando o gozo; espumava entre
meus dedos, que penetravam-na apenas para que
ela soubesse que era minha.
− Não quero que goze. Não está merecendo.
Ela apenas balançou a cabeça, respeitando
minha decisão, o que me deixou ainda mais
excitado. Toquei em seu rosto e mordi com vontade
seu queixo, que me era oferecido a cada vez que
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meus dentes sentiam o desejo de dilacerar sua pele.


Deitei sobre a cama e a coloquei sentada em
meu corpo, de costas. Tirei meu membro de dentro
da calça e o esfregava em sua bunda, levantando e
abaixando. Desejava penetrá-la, foder sua bunda
até esfolar. Antes que eu perdesse a cabeça, me
levantei e coloquei novamente o plug em seu
orifício que mais parecia um olho de peixe. Olhei
mais uma vez. Deitei-a de lado e saí rapidamente
do quarto.
O cheiro dela estava impregnado naquela
pequena casa. Estava fatigado de desejo de voltar lá
e fodê-la de qualquer jeito, mas não o faria... Voltei
apenas para...
− Safada! – eu disse, apontando o dedo para
ela, que me olhava com profundo pesar. – Não
quero que se toque... Caso isso acontecer, vou lhe
colocar um cinto de castidade. A partir de hoje será
minha cadela... Minha...
Ela me lançou um pequeno sorriso, mas
minha fisionomia de Lobo ficou impenetrável.
Fui direto para o laboratório. Precisava ter
uma coleção razoável de perfumes, para iniciar
minha própria marca. Eu trarei Shadia para
trabalhar para mim. Tenho medo de perder a cabeça
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e deixar que meus desejos insanos se apossassem


de mim, e incendiassem o que estou tentando
apagar.
Ela não é Dolores...
É uma coincidência a mancha na mão.
Não posso acreditar em situações fantasiosas
ou sobrenaturais. As duas não se parecem em nada,
quando comparo as personalidades.
Shadia é só uma garotinha assustada...
Devo me lembrar disso.
Passei a noite em claro no laboratório. Ao me
deitar, fiquei imaginando que teria de modificar
algumas coisas na casa para transformar ali, meu
ambiente de trabalho. Não queria pessoas entrando
e saindo de minha alcova, teria de ter alguma sala
que levaria para o laboratório e para o lado externo
da casa, sem que minha privacidade fosse invadida.
O dia já estava quase amanhecendo quando
fui me deitar. Inspirei-me em Shadia para criar as
fragrâncias com ares juvenis. As mais ousadas, em
Laura. Manuela... as mais doces. Não vejo a hora
de rever Manuela, e cuidá-la como se fosse meu
anjo.
Meus olhos foram se fechando à medida que
o rosto de Manuela ia apagando de meu
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pensamento até que eu estivesse completamente


adormecido.

Acordei antes das dez da manhã, dormi


pouco, meus olhos pareciam cheios de areia.
Precisava agir. Estava pronto para mudar minha
vida. Não sabia se podia modificar a estrutura da
casa subterrânea, afinal, nada ali me pertencia, era
apenas emprestado. Não tinha noção de quem era o
responsável da Seita, apenas uma leve impressão de
que se fosse à sede da empresa onde deixo minhas
fragrâncias, talvez tivesse alguma pista. Algo me
diz que eles têm ligação com a irmandade, ou pelo
menos conhecem quem tenha. Na Cidade dos
Prazeres nunca ninguém ousou a tocar neste
assunto, talvez eu fosse suspeito se fosse o primeiro
a investigar.
Peguei o protocolo de recebimento e entrega
dos perfumes e anotei o endereço. Tinha que
telefonar para Shadia, mas ainda não era o
momento. Sou organizado. Farei isso apenas
quando estiver tudo definido.
Ainda não consegui definir seu cheiro. As
circunstâncias em que nos encontramos foram tão
rápidas e cheias de dilemas, que não houve
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oportunidade. Prefiro vê-la como uma sobrinha...


Não passará disso, apesar de que as práticas
referentes a mulheres adultas que vivem fantasias
de Lolitas, me deixam muito excitado, mas não a
usaria jamais para este fim. Ela tem apenas 20 anos
de idade, mas certamente deve ter um cheiro
inconfundível. Sem saber qual seria, criei na noite
passada, várias fragrâncias que lembravam a alegria
juvenil. Fiz isso em sua homenagem.
O sexo me causava inspiração a cada
momento vivido. O cheiro delas não saia do meu
corpo, alma e mente. Podem passar meses, ainda
assim consigo definir cada essência vinda das
curvas e gozo.

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Capítulo 5

Teu corpo, meu descanso


A paz que procuro incansavelmente
Para repousar meu desejo de caça
E desejar tão somente você, todos os dias

Cheguei à sede da empresa que compra


minhas fragrâncias e vende como se fossem suas
criações. Olhei para a estrutura gigantesca e
milionária, ganhavam muito dinheiro às minhas
custas durante todos esses anos, eu precisava
acabar com isso. Por mais que o eu ganhasse não
fosse algo ruim, porém não era totalmente justo. A
inspiração era minha, criada a base de minhas
noites de prazer.
Subi com o elevador para o vigésimo terceiro
andar, onde se encontrava a sala do poderoso
chefão. As pessoas com seus uniformes elegantes
me olhavam como se eu escondesse um segredo,
tudo ali cheirava o que eu passei grande parte da
vida criando. Estava um pouco nervoso, como se
não bastasse, a preocupação em deixar Laura
sozinha em casa, também me corroía os órgãos.

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Passei uma ordem para não se tocar. Imagino que a


qualquer momento, fogosa como é, saia atrás
daquele cafajeste. Não faria sentido trazê-la comigo
para resolver situações referentes a negócios. Olhei
em meu relógio de pulso, a essa hora ela deve estar
no banho, preparando-se para o almoço. Já havia
recomendado à senhora que trabalha para mim,
uma refeição equilibrada. Eu a queria bem e
recuperada.
A porta do elevador se abriu, as pessoas
andavam apressadas pelo extenso corredor. Saí
olhando para as plaquetas de prata que ficavam
ostentadas nas portas elegantes. Olhei para a que
indicava ser ali, a sala que procurava. Observei o
nome na placa – Otávio Hilgert. Bati por duas
vezes e entrei. A sala ampla coberta por um carpete
na cor tabaco tinha um aquário na lateral, cortinas e
armários planejados e uma requintada mesa quase
no centro. O homem de meia idade que usava terno
caqui, me olhou surpreso.
− Senhor Otávio, me desculpe entrar sem ser
anunciado, tive meus motivos. – na verdade fiz isso
de propósito. Não saberia como me apresentar,
afinal, não sei na verdade se esta pessoa é
realmente membro da Seita.
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− Seu nome, por favor? – perguntou ele,


ainda espantado com minha presença inesperada.
− Sou Alejandro, criador dos perfumes que a
multinacional distribui para o país inteiro.
Sua expressão mudou seu rosto, ficando um
pouco mais apreensivo. Ele balançou a cabeça e me
ofereceu a cadeira à sua frente.
− Em que posso ajudá-lo? – sua voz estava
um pouco mais receptiva.
− São vários assuntos, talvez eu deva
começar pelo o que julgo ser mais complicado.
− Fique à vontade. – creio que agora ele
relevou minha importância para empresa, até
esboçou um meio sorriso cordial.
− Eu pretendo não mais fornecer os perfumes
para a empresa. Quero seguir minha carreira
assinando pelo o que faço.
Percebi que um silêncio se fez e dos olhos
muito escuros saíram uma adaga pronta a me matar
ali mesmo.
− Podemos conversar, se o valor repassado é
insuficiente...
− Caro Otávio, a questão jamais será sobre o
valor que me pagam para assinar o que eu mesmo
crio e me inspiro. Quero me assumir como
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perfumista, por um motivo muito pessoal.


Ele se levantou, foi até a janela e levantou a
persiana, fingindo olhar para o infinito. De lá veio
sua voz, num tom seco quase autoritário.
− A casa em que mora fora construída para
que fabrique lá, os perfumes e nos repasse,
ganhando sua comissão. – continuou de costas. Ele
mesmo tocou no assunto sem que eu precisasse
iniciar a pauta. Agora tenho certeza de que tudo
está interligado com a Seita.
− O Senhor é da Seita? – falei diretamente.
− O que sabe sobre isso? – continuou com as
costas viradas.
− Somente o resumo necessário para estar
aqui no Brasil, morando na casa subterrânea e
cuidando de mulheres com problemas de
relacionamentos.
− O que mais sobre este assunto?
− Apenas o que lhe disse. Quero aproveitar,
agora sabendo que é parte da Seita, se posso
modificar a casa para poder atender aos meus
anseios profissionais.
Então ele se virou, agora eu tinha certeza de
que a adaga iria furar meus olhos.
− Esta casa não foi feita para atender suas
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necessidades pessoais, e sim, as nossas. Se está lá


até o presente momento, foi porque nos foi útil. A
partir do momento em que não ser mais, irá se
retirar de lá do mesmo modo como entrou.
− Certo... – dei um sorriso sarcástico. – Então
me diga, meu caro, como posso lhes ser útil, se não
for através dos perfumes e da função, modéstia
parte, cumpro muito bem, não porque me
ordenaram, mas por amar cuidar, velar e proteger
as mulheres que encontro no meu caminho.
− Elas não surgem em seu caminho... Nós
fazemos com que surjam... Apenas por isso você as
têm... Lobo...
Meu orgulho neste momento ficou como algo
queimando dentro de mim. Meu desejo era lhe falar
mais algumas poucas e boas e sair dali, mas o
tempo todo gasto naquele ambiente, era deveras
precioso para eu captar informações, que depois
serão juntadas como num jogo de quebra-cabeça.
− Okay, caro Otávio... Entendi que não devo
manter na casa o meu negócio em particular, caso
queira seguir minha carreira como é o meu desejo e
decisão. Hoje mesmo desocupo o local, para mim é
indiferente estar ou não lá, nada mudará...
− Está me desafiando, Lobo? Esqueceu de
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seu compromisso com a irmandade? Do seu pacto


de sangue?
− O que poderá acontecer, meu caro, caso eu
não acredite mais no mal que poderiam me fazer, se
não desejar mais estar sob a égide de vocês?
Ele não disse nada. Pegou um cartão da
gaveta de sua mesa e me entregou.
− A resposta está aqui. Vá lá e veja com seus
próprios olhos. Se sair da casa subterrânea, você
será o próximo da lista... – ele esboçou um sorriso
demoníaco, mas não me fez temer.
− Mas nada irá me impedir de não querer
mais trabalhar para vocês. Os perfumes são meus...
Eu farei o que quiser com eles.
− Mas as mulheres que cuida são nossas... E
devem ser cuidadas naquela casa... Caso não
cumpra o núcleo principal do pacto, estará
destruído em poucas horas, seu corpo, mente e
alma. Principalmente a alma...
Nossa conversa foi interrompida, por detrás
das grandes vidraças de uma janela do primeiro
andar, acabava de aparecer uma forma curvada,
vestida de branco. Distingui de passagem, um rosto
pronunciadamente abatido e uns olhos penetrantes
que produziram sobre ela uma sensação de
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repulsa.Era uma imagem um tanto aflita. Mal


notara minha presença, mas o cheiro dela se
esparramou por toda parte. O desenho das ancas me
despertou no mesmo momento, a lembrança. Era a
mulher da praia. A mesma e deliciosa mulher.
− Há um casal na sala de espera desejando
lhe falar. Não quiseram se identificar. – neste
momento, ela me nota de soslaio, tentando disfarçar
a surpresa.
− Helena, diga que já irei atendê-los em dez
minutos.
Mais surpresa era para mim... Tudo ao meu
redor parecia estar agora interligado a esta Seita e
às pessoas que lá estão. Helena... era o nome dela...
Helena... ela saiu deixando seu cheiro para trás.
Me levantei já disposto a encerrar aquela
conversa. Precisaria pensar em tudo que ouvi.
− Alejandro... Já sabe... – disse ele tentando
me lembrar da ameaça.
− Já sei... – assenti com a cabeça e saí.
Saí daquela sala acreditando que deveria
voltar lá e falar muito mais. Não gosto de sentir as
palavras presas na garganta. Jamais vou permitir
me sentir um joguete manipulável, mas é
justamente assim que sinto neste momento.
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Fiquei esperando o elevador na ânsia de sair


logo daquele lugar, acreditando que realmente tinha
entrado numa fria. Mas era jovem na época, queria
fugir das amarguras da vida. Aceitar tal aventura
foi um prato cheio. A única coisa de bom que tirei
de toda esta experiência insana foi o contato com as
mulheres.
Quando o elevador chegou e abriu a porta,
ela estava lá. A primeira sensação foi o cheiro que
impregnou minhas narinas.. Ela estava sorrindo
como se tivesse encontrado um velho amigo.
− Que bom revê-lo.
− Achei que não tinha me reconhecido... - eu
disse num tom meio rouco.
− Qualquer mulher faria o mesmo se
estivesse diante de seu marido.
Parei por um instante, olhando-a
estranhamente.
− Otávio Hilbert é seu marido?
Realmente todas as pessoas pareciam estar
mais interligadas a Seita do que eu poderia
imaginar.
− Sim... Mas acredito que isso não importa,
não é? Qualquer pessoa que estivesse no lugar dele
seria meu marido...
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− Pensando por este ângulo, sim, mas... É


estranho saber que... Bem, deixa para lá.
Resolvi não me estender. Talvez ela nem
soubesse da Seita. Mesmo se soubesse eu não
gostaria que ela tivesse conhecimento do meu papel
nisso tudo.
A porta se abriu e entrou um homem
uniformizado. Ela mudou a postura e silenciou,
apertando o botão que voltasse o elevador para
cima. Fiquei ali sabendo que ela queria me dizer
algo assim que o funcionário saísse do elevador.
Sentia-me ansioso, na verdade, para sair daquele
prédio de vez.
Assim que o homem saiu, ela me olhou
maliciosa. Aproximou-se, colocando sua mão por
dentro da minha calça.
Louca.
Safada.
Gostosa.
− Quer chupar meu pau... Está louca por um
pau bem grosso como o meu, engasgando-a...
− Me siga. - pediu, andando na frente por um
corredor menos movimentando. Eu estava me
arriscando muito sabendo que naquele local se
encontrava seu marido, certamente um dos chefões
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da Seita.
Ela abriu uma porta, o ambiente lá dentro
estava escuro. Não acendeu a luz. - Entre.
Fechou a porta por trás de si, e me puxou
com volúpia.
− Me coma...
Seus lábios pintados já estavam nos meus.
− Você está se arriscando demais... Mas
desse jeito se tornou irresistível. Não tem como
negar.
Minhas mãos já levantaram sua saia, tirando
a meia-calça, alcançando sua calcinha. A vontade
era de rasgar a roupa inteira, mas não resisti, a
lingerie que foi arrebentada com força entre meus
dedos vorazes.
− Quer que eu te foda... - eu disse em seu
ouvido, sentindo sua pele se arrepiar. – Quer que eu
te coma inteira até a esfolar?
−Sim... - a voz dela tremia.
Eu não sabia nem o nome da maldita.
Virei o corpo dela com avidez, e vi quando
suas mãos se apoiaram na porta, arrebitando a
bunda para eu penetrá-la. Esfreguei a cabeça do
meu pau em tudo que tinha direito, examinando
com cuidado cada traço, sentindo o cheiro de tesão
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molhando... O cheiro da mulher excitada é


impressionante...
Quando ela estava molhada no ponto exato
de fodê-la, eu queria além de meter até ralar meu
pau, provar aquele gosto que deixava minha boca
cheia d’água. Abocanhei-a pela bunda, sentindo seu
orifício gostoso todo em minha língua, que descia
até sua boceta e a penetrava no rabo, lindo e
enlouquecedor.
Já não me aguentava de vontade... Precisava
fodê-la. Assim que a glande entrou, já ouvi o
barulho de sua boceta molhada. Agarrei-a pelos
cabelos e tapei sua boca com uma das mãos.
− Dê para mim... Dê bem gostoso... Arrebite
mais a bunda para eu sentir lá no fundo de você... –
eu dizia mordendo seu pescoço e batendo em sua
bunda.
À medida que metia, suas pernas tremiam e
seu líquido quente de tesão desciam pelo interior
das coxas.
Puxei-a pelo quadril até que suas mãos
encostassem-se ao chão. Pressionei sua bunda para
baixo e subi por cima, flexionando meus joelhos.
Com ela no meio de minhas pernas.
− Agora você vai ganhar pau até amolecer as
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pernas.
− Me foda... me foda... - suas unhas
arranhavam o chão todas as vezes que eu
bombava.
− Goze cadela... Goze gostoso para mim.
Quando já estava quase sem forças até para
se vestir, comecei pela meia-calça, colocando com
cuidado, beijando suas pernas. Ainda estava aflito
por dentro... Queria mais. Tinha rasgado a calcinha,
não resisti, agora ficaria sem ela para se lembrar de
mim. Beijei seus ombros antes de abotoar o sutiã,
vesti a blusa sóbria, olhando para a expressão do
seu rosto, os cabelos castanhos caiam sobre os
olhos, eu os arrumava com carinho.
− Helena... Eu a quero para mim. – eu disse
sinceramente, vendo-a ficar atordoada aos poucos à
medida que seu rosto ia se corando.
− Mas eu... – não a deixei completar a frase.
− Seu marido é um panaca... Não soube lhe
tratar... Não soube curtir você gozando... Não
percebeu seu cheiro... Não sabe decifrar seu estado
febril de ser mulher. A prioridade dele é dinheiro, a
minha é lhe fazer gozar... Fazer com que se
descubra por dentro e por fora.
Levantei e me troquei com os olhos dela sob
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os meus. Arrumei meus cabelos e apontei um dedo


para Helena:
− Eu a quero. Na sexta, na mesma praia, no
mesmo horário.
Saí sem dá-la chances de ouvir sua resposta.

Fui ameaçado, isso era fato.


Várias vezes durante o dia me peguei
olhando para aquele pequeno cartão com o
endereço que soavam coisas bizarras, mas iria me
arriscar, afinal, um homem precisa de sua
independência para se sentir pleno. O fato de não
fornecer mais os perfumes não significa que irei
deixar de cumprir com minhas obrigações perante a
Seita. O restante a que fui obrigado se tratava de
abuso, e isso não vou admitir.
Olhei o endereço novamente, e percebi que se
tratava da rua de trás da minha casa. Só então me
lembrei que poderia ser a rua da entrada da Cidade
dos Prazeres. Ainda não o tinha visto por ali. Aliás,
todas as pessoas que encontrei ali não me pareciam
nada relacionadas à Seita, embora as figuras
masculinas se vestiam de preto e usavam o mesmo
anel no dedo anelar, isso não significava muita
coisa. O que estava relacionado àquele lugar com a
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Seita seria apenas o fato de estar interligada de


algum modo a minha casa subterrânea, e que talvez
fosse parte do segredo que eu deveria guardar.

Os dias foram se passando e a burocracia


com eles pareciam não ter fim, mas insisti em
continuar na labuta. Estava no laboratório criando o
perfume inspirado em Helena. Seu nome era
forte... ela não precisará mais usar um perfume que
fora criado para outras pessoas, fiz um
especialmente para ela.

Sexta-feira.
O dia esperado para nosso reencontro.
O que quero dela é muito simples entender.
Helena é casada com aquele embuste. Ele
deveria ser monogâmico, ser fiel a ela, assim como
todo Lobo que assume uma companheira e a esta
entrega seu coração. Mas ao contrário disso, ela é
uma mulher insatisfeita sexualmente, nem têm suas
necessidades realizadas. Por coincidência ou não, é
o que todo homem busca em uma mulher: bonita,
inteligente, fogosa... Por mais que existisse o
canalha entre nós, e sendo este idiota o chefe alfa
da Seita, não engolirei meu instinto.
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Preparei a maleta com alguns acessórios que


sempre gostei de usar. Mesmo que não utilizasse
todos, era bom tê-los por perto. Nunca se sabe o
momento certo de eu sentir desejo de usar um
deles. Tudo era tão improvável quanto ao que há
além do céu, mas certamente qualquer um dos
objetos ali levaria uma mulher muito além disso.
Já estava saindo da casa quando escuto um
ruído vindo da cidade subterrânea. Parei para me
atentar, mas não ouvi mais nada, apenas a porta
sendo batida por três vezes como havia
recomendado a Laura.
Ela surgiu lindamente com um semblante
iluminado.
− Devo lhe esperar para o jantar? – seu rosto
parecia triste, mas se manteve firme, enquanto suas
mãos deslizavam-se pelas coxas.
Aproximei-me e lhe dei um beijo sereno.
− Não, pequena. Jante e vá se deitar. Caso eu
chegue a tempo de ainda estar acordada, ficaremos
um pouco juntos. Desculpe por não ter lhe dado
tanta atenção como merece, estou tratando de
alguns negócios, mas logo teremos um tempo
somente nosso. Espero que em breve.
Estava novamente tentando me abrir a ela,
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mas algo ainda me incomodava por dentro, mesmo


que fosse mínimo. Não havíamos estado juntos
desde o último episódio. Tentava me esforçar para
perdoar o que considerei como traição, já que esta
palavra só define o significado do que seja, e não
determina exemplos como classificação, então eu
mesmo tenho meu próprio entendimento ao que se
refere a mim como Lobo, responsável por esta
menina que hoje está sob meus cuidados e deve
respeito a coleira que usa.
− Posso ir com o senhor? - ela me perguntou
um tanto apreensiva.
− Não, não pode.
− Irá tratar de negócios a esta hora?
O tom que usou para tirar informações sobre
o que eu iria fazer me deixou um pouco irritado,
mas manteria a calma. Ela irá entender um dia que
não sou seu esposo.
− Pequena, senta-se aqui. - ofereci meu colo
para lhe explicar algumas coisas. Ela se sentou e
colocou o braço em torno do meu pescoço. − O que
irei fazer depois que sair desta porta só diz respeito
a mim. Já conversamos antes, e você chegou até
fazer bobagens por se negar a entender a nossa
condição. Tenho muito carinho por você, quero lhe
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ver bem e recuperada para um dia ser devolvida a


sociedade sabendo exatamente o que você pode
esperar de si como mulher. Se resolver ficar,
conhecendo as regras que nos difere de um casal
comum da sociedade, certamente seremos muito
felizes. Hoje estamos passando por um momento de
adaptação. Com o tempo você irá entender... Hoje
preciso ir.
− Irá se encontrar com alguma mulher?
Eu não poderia mentir, não era de meu perfil,
mas também não poderia me sentir encurralado
conhecendo quem sou.
− Vou me encontrar com alguém e isso basta.
Levantei-me imaginando que realmente era
difícil ser minha menina, caso se apaixonasse por
mim de modo em que eu não pudesse corresponder
a altura em que desejava, sempre deixei isso bem
claro. Se ela quisesse sair hoje de meus cuidados,
com certeza ficaria muito triste e frustrado, mas era
sua escolha. A coleira só duraria o tempo em que
ela concordasse em usá-la.
Estacionei o carro no calçadão e fiquei ali
refletindo sobre os meus projetos enquanto
esperava passar os dez minutos que marcavam o
horário correto de meu encontro com Helena.
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Sempre gostei de chegar um pouco mais cedo da


hora marcada. Embora eu fosse espanhol, minha
pontualidade era britânica. Adorava ver a mulher
chegando um tanto nervosa, olhos aflitos, sem
saber muito do que esperar de um encontro.
De longe a vi na praia, vestido longo,
esvoaçante, frente única com aberturas laterais. A
cor creme da roupa ressaltava o bronzeado do sol
em sua pele de um dourado acetinado.
Ela não me viu se aproximar, mas meus
passos eram contínuos em direção a minha doce
pequena. Ao chegar a um palmo de distância,
agarrei-a por trás, num abraço mordaz. Sua pele
ficou arrepiada com o roçar de minha barba em
seus pescoço e nuca.
− Está maravilhosa... Vamos! Estou louco
para aproveitar cada segundo desta noite com você.
- eu disse já levando-a pela mão.
−Tem alguma ideia para onde vamos?
− Não... O que tenho é certeza.
Abracei-a pela cintura e saímos caminhando
pela areia fofinha naquela noite quente de verão,
até chegarmos ao carro.
Levei-a para um motel luxuoso, queria que se
sentisse bem-vinda. Meus olhos não se cansavam
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de olhar para ela, estava realmente muito bonita,


com os olhos cuidadosamente pintados e a pele
cheirosa. Sentia-me ansioso a cada segundo.
Num beijo aconchegante, com sua boca toda
envolta por minha barba, eu a despia sem pressa,
acariciando cada parte daquele corpo que já sentia
como meu. Eu podia sentir sua fome por sexo. Uma
carência fulminante, como se jogasse um copo de
água na terra árida do deserto. Explorei suas curvas
com a língua e muitos beijos. Deixei-me esquecer
na parte de trás de seu joelho, sentindo-a
estremecer. Cada lugar daquela mulher tinha um
cheiro diferente, e isso me fascinava a ponto de me
causar um frio na barriga.
Ela ouviu vários linda, gostosa, perfeita, você
me deixa louco, até eu me saciar completamente
nas preliminares.
Antes de partir para a segunda etapa, olhei
para sua mão e a levei até meus lábios, tirando sua
aliança com os dentes.
− Você não vai usar isso agora. - tirei a
aliança e coloquei no criado-mudo.
Coloquei-a de pé a minha frente e passei a
olhar cada pedaço e detalhe do seu corpo. Eu já me
encontrava nele como se fizesse parte de seu DNA.
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Olhava, virava, lambia, mordia.


Fui até minha maleta e trouxe um acessório
que a surpreendeu quando viu.
− Para que isso?
− Para saber que é minha; que eu te quero;
que seu corpo me pertence.
− Sabe que não posso...
− Não podia... agora pode. Sua aliança foi
retirada de sua mão, e assim será toda vez que usar
esta coleira. Usará somente em minha presença,
sem o anel que deixará de te lembrar qualquer coisa
além de que me pertence neste exato momento...
− Eu não sei na verdade o que dizer...
− Não diga nada, apenas sinta, permita que eu
lhe preencha em tudo que lhe falta. Consinta que eu
tome conta do seu corpo como meu diamante bruto
que será lapidado a cada toque. Saberá que é minha
quando seu telefone tocar e minha voz lhe pedir
que se entregue, deixando tudo que esteja fazendo,
para saciar minha fome e sede de você.

***
Confidências de Helena

Jamais em minha vida de casada, após longos


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vinte anos, pensei em encontrar alguém assim.


Quando ele me toca sinto o desejo de fazer xixi, de
tão ensandecida que este homem me deixa.
Tudo foi por um breve acaso, no entanto foi
algo que me fez transbordar... Por mais que não
fizesse ideia de como encontrá-lo novamente, eu
pensava nele todos os dias, durante o tempo todo.
O sexo com meu marido sempre foi horrível
e frio. Mas depois de Alejandro ficou bom e
consegui ter orgasmo imaginando que fosse o corpo
e toque deste homem.
Ele me quer, não sei o que isso significa, pois
não me sinto quista há muito tempo. Quando ele
me beija, a sensação é de tocar as nuvens com os
lábios. Nunca mais tinha provado disso. Todos os
vestidos, lingeries, perfumes, colares comprados
foram em vão. Meu esposo jamais percebera que
tudo aquilo eram tentativas de fazê-lo me notar.
Agora chega este homem e me diz que sou gostosa,
maravilhosa, que me quer para ele...
O que devo fazer?
Sempre fui somente o bibelô de luxo, adorno
para se exibir aos amigos e familiares, o quanto era
bem sucedido em todas as áreas de sua vida,
quando na verdade, nada dela eu sabia além do
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sucesso em seu empreendimento com perfumes, e


suas saídas durante a noite, muitas vezes chegando
quase ao amanhecer. As justificativas eram sempre
as mesmas, estava com os amigos.
− Como me quer?
− Você quer ser minha? - ele perguntou, já
colocando a coleira em meu pescoço, beijando
meus ombros, deixando-me molhada em segundos.
− Quero... - respondi com os olhos fechados,
recebendo aquele beijo gostoso de lábios febris.
− Então vem ser minha, quando e como eu
quiser. Na hora que eu quiser, como se eu fosse o
único a tocar seu corpo, porque comigo gozará, e
descobrirei seus desejos secretos, como e onde
gosta de ser tocada... O lugar que se encontram
seus pontos erógenos dentro desta boceta que é
minha. - disse ele me penetrando com a palma da
mão virada para cima e o dedo curvado, tocando
em locais deliciosos, que me fez gemer sem
perceber.
− Sou sua...
− Diga, sou sua, meu senhor... Meu Lobo.
−Eu sou sua... Meu senhor... Meu Lobo.
− Qual fruta você gosta mais, menina?
− Cereja... - disse sem entender a razão da
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pergunta, mas seu magnetismo era tamanho, que


tudo passou a fazer sentido, mesmo sem ter.
Ele me deixou por um instante, pegou o
interfone e disse seriamente:
− Me traga uma caixa de cereja. - esperou por
um momento e voltou a falar com o serviço de
quarto. - Se virem, para encontrar o que pedi!
Quero esta fruta em quarentena minutos. Estou
aguardando a encomenda que havia feito na reserva
da suíte.
Ele desligou o telefone e veio em minha
direção. Seus passos diminuíam a medida que se
aproximava. Ele mordeu os lábios enquanto
beliscou meus mamilos. Trouxe minha orelha até
sua barba e disse baixinho:
− Te fodi duas vezes; nas duas vezes você foi
minha. Hoje vou te foder até acabar meu estoque
de esperma, saberá então que para ser minha não
precisa estar somente ao meu lado. Será minha
quando sair daqui, e em todos os minutos que sua
boceta latejar, porque esta porra vai latejar só para
mim.
Minhas pernas passaram a tremer. Só
pararam quando alguém tocou a campainha da
suíte. Que encomenda será essa? Ele foi atender e
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pediu que eu ficasse no jardim de inverno, pois


estava nua. Logo que cessou o barulho, ele me
chamou e fui sem saber o que esperar. A surpresa
foi grande quando chego até a hidromassagem e a
encontro cheia, mas não de água, e sim de gelatina
vermelha.
− Entre! - ele pediu numa ordem.
Minhas pernas estremeciam, eu mal sabia
para qual outra utilidade tinha gelatina sem ser a de
comer. Espremi-me na maciez gelada da
substância, e assim fiquei até que suas mãos
tocaram minhas pernas, o toque era doce e brando,
misturando-se a delicadeza da matéria que me
envolvia. Fechei os olhos e soltei um gemido baixo,
regozijador.

Meninas sonham com este momento...


Meninas choram ao saber que existem
homens que as tratam bem, mas que jamais
receberam tal tratamento de seu cônjuge.

Contorci-me, apertando a pele fina de minha


coxa, quando sua mão subiu até minha parte íntima
e passou a massageá-la como se tocasse nuvens do
céu.
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− Gosta assim? – ele me perguntava, beijando


minha orelha, meus lábios. – Por que se permite a
não ser tratada assim sempre? Por que aceita tão
pouco para uma mulher formidável que é você? Por
que não se liberta para o mundo lá fora, e mostre
como é linda por dentro, onde o canalha do seu
marido não consegue enxergar?
Ele trouxe meu queixo, delicadamente ao
encontro de sua boca. Rocei os lábios em sua barba
volumosa. Fiquei derretida com o gosto bom que
vinha de seu hálito. Deixei que me levasse para
onde quisesse. Em apenas um toque por dentro,
fiquei naquela sensação quente e frio, latejante.
Virou-me de costas e passou a lamber minha pele
até as nádegas. A sensação de sua barba em meu
corpo era maravilhosa. Eu me sentia
completamente relaxada, com desejo inigualável.
Levantou meu quadril com uma das mãos que foi
passada por baixo de meu tronco, deixando-me
vulnerável, exposta para ele.
Não havia percebido que já estava nu, quando
entrou na banheira, no meio de minhas pernas.
Com o dedo do meio, passou a esfregar em minha
vulva, de baixo para cima ou fazendo o caminho
contrário. Aproximou-se e me abocanhou por trás,
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saboreando cada parte de minha vulva com


intensidade, deixando-me louca. Eu podia sentir
que suava sem suar. Eu me debatia entre espasmos
e gelatina vermelha.
Todo ambiente girava ao meu redor, eu o
senti por dentro. Estava teso, rígido, louco. Ele
movia meus quadris, trazendo-me para si, como
alguém que quisesse me dilacerar sem dor, sem
causar medo, apenas desejo.
− Preciosa... Como é linda gozando... – ele
sussurrava enquanto eu delirava em espasmos e
suas mãos passeavam pelo meu corpo.
Não sei quantas vezes gozei, sei apenas que
meu corpo deixou de me pertencer. Seus cuidados,
a forma delicada como me beijava e sussurrava em
meu ouvido... Eu não sei o que será de mim após
sair deste motel. Talvez não saiba sequer quem sou,
após anos de indiferença ao lado de alguém que
jamais havia me enxergado de verdade.

Ah, como ele é tudo que uma mulher deseja


para si...

Quando tudo se acalmou ao meu redor, me


deitei sobre o peito cheiroso dele, suas mãos
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passeavam em minhas costas e cabelos... Nossa,


quanta saudade do tempo em que isso acontecia
depois do sexo, quando estava apaixonada e era
correspondida. Em meu casamento, cinco minutos
depois Otávio já está dormindo, enquanto ficava
imaginando como seria se ele me tomasse em seus
braços de novo, e recomeçassemos até eu conseguir
me saciar.
O olhar fixo de Alejandro na parede dava a
impressão de que ele não estava ali, mas estava.
Seu toque era tão gostoso e macio, que me deixava
acesa sem muito esforço.
− No que está pensando? - fiquei curiosa.
− Estou apenas ouvindo sua respiração.
Era claro que ele estaria apenas tentando me
conquistar. Homens assim não existem. Mas está
tão gostoso que vou fingir que acredito.
−Humrum... - deitei novamente no peito
cheiroso.
Ele se virou para o meu lado, fitou meus
olhos tão profundamente que chegou a me molhar.
Senti um calor no meio das minhas pernas.
−Escute menina... Eu não preciso mentir para
mulher alguma a fim de tê-la para mim. Eu só
preciso senti-la, me inspirar e criar o cheiro dela,
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para ficar preso dentro de um frasco de perfume,


assim eu a tenho sempre comigo. Esse é o meu jeito
de dizer que você foi importante.
− Vai criar um perfume só para mim?
− Não. Vou expressar seu cheiro num
perfume e espalhá-lo pelo mundo, para que as
pessoas saibam que este momento foi especial.
Quando estava prestes a receber o beijo da
minha vida, a campainha tocou. Ele se levantou e
foi atender, voltou com um cesto pequeno de
cerejas nas mãos. Seu sorriso dizia mais que mil
palavras. Sentei-me para agradecer a gentileza, e
ouvi sua voz num sussurro sacana, com aquele
sotaque que me deixava louca.
− Fique quietinha, deitada com a barriga para
cima, sem se mexer.
Sentou-se no meio das minhas pernas,
deslizando a fruta em minha pele, levando até
minha boca. Quando fui morder, ele puxou.
− Não, belezinha... É apenas para molhar a
fruta. Passe a língua. - após atender seu pedido, ele
colocou a cereja dentro de minha xoxota. Senti um
pouco de receio, caso não conseguisse tirar aquilo
de dentro de mim. - Expulse a fruta... - ele pediu
tocando com o dedo arqueado, meus pontos
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erógenos na portinha de minha boceta. − Vamos,


contraia o abdômen e expulse. Quando estava
quase conseguindo, sua voz agridoce novamente se
fez presente. - Agora com os músculos vaginais,
contraia e sugue a fruta, impeça-a de sair. Aperte-a.
Ficamos nesta brincadeira gostosa até que ela
se tornasse séria, ao sentir sua boca na minha
boceta para receber a fruta, que foi mastigada ali
mesmo, lambida e sugada, misturada a minha
excitação. Não demorou muito para estarmos
novamente fazendo sexo como dois loucos.

Depois dos carinhos e cuidados recebidos,


algo ficou preso em minha garganta, nos minutos
seguintes o que mais queria era chorar até o céu
inteiro desabar sobre a minha cabeça, a ponto de
curar a dor existente, que somente eu conhecia a
ponto de não suportá-la. Não me sentia arrependida
de nada, ao contrário disso, eu queria viver todos os
dias a mesma situação, o mesmo toque... Queria
que Otávio tivesse um décimo da sensibilidade
deste homem. Mas só de pensar em voltar para casa
e encontrar a cama vazia novamente, fria, solitária,
sinto vontade de desistir...
Não pude conter e deixei que o pranto viesse
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à tona, como se algo neste homem tivesse o dom de


tirar de mim tudo que estava preso durante todos
esses anos. Tentei disfarçar e virar o rosto, mas ele
em segundos percebeu, e levantou meu queixo.
Seus olhar cortante ativou ainda mais o grito
sufocado.
−Por que sofre, Chapeuzinho, por alguém que
não enxerga o quanto consegue fazer um homem
feliz na cama? Que não conhece a delícia que você
é, quando retira sua roupa, e me olha como se
quisesse que a devorasse de uma só vez? Por que
não se entrega e esquece aqui comigo, gozando em
soluços, do jeito gostoso que a gente faz? Esse
idiota não a merece, acredite em mim. O que
significa uma aliança quando ela não é valorizada
por aquele que não a quer, como quero e vou
roubá-la para mim... Para cuidar de cada centímetro
do corpo que será só meu, quando eu tocar em suas
feridas e dizer que agora não está mais sozinha...
Deite aqui comigo, vem... Gostaria de te fotografar
para que visse o quanto é o que não consegue ver.
Mas eu vejo! Eu desejo! Eu quero para mim.

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Capítulo 6

Não tente compreender meu desejo


Aceita-o apenas
Para lhe matar de prazer
E incendiar onde está adormecido

Pensei em Shadia... Iremos conversar em


breve. Eu a trarei para trabalhar comigo, ainda não
sei qual ocupação teria, com tanta confusão que se
tornou minha vida, não quero assustá-la. Não sei
como separar meu mundo confuso de meu trabalho,
se ambos estão no mesmo local. Tenho toda esta
noite para pensar a respeito, sabendo que quando
estiver de frente a ela, já deverei ter uma solução.
Peguei o celular e disquei seu número. Senti
algo familiar ao ouvir sua voz do outro lado da
linha. Uma fadiga ainda insistia em confundi-la
com Dolores. Um pouco distante, ela concordou em
me encontrar amanhã para um jantar.
Saí do meu quarto e fui em direção à cidade
subterrânea. Precisava dar atenção a Laura. Talvez
a levasse para trabalhar na empresa, caso não me
trouxesse problemas. Não a queria presa ali, como
se fosse um bichinho de estimação.
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Ao abrir a porta, eu já pude sentir seu cheiro


à distância... Meus poros pulsavam, eu estava com
saudades de minha morena. Apressei os passos,
mas algo incomodava meus instintos. Não sabia
dizer o que era, mas nunca errava, nem duvidava do
que me traduz. Comecei a me preocupar. Olhei
para os lados, aparentemente estava tudo normal,
até que algo me chamou muito a atenção, a porta
que dava para a Cidade dos Prazeres. O cadeado
antigo e enferrujado que fora feito no século XIX,
estava aberto. Sempre tomo muito cuidado para
fechar o portão, as chaves se encontram comigo em
local seguro. Alguém está me vigiando.
Corri em direção a casa de Laura com o
coração a mil, não me perdoaria se algo de errado
lhe acontecesse. Demorou alguns segundos para
que eu me questionasse a respeito, estava apenas
preocupado com a menina. Algo me diz que isso
está relacionado com a Seita e minha resistência em
continuar enriquecendo suas empresas.
Um pouco aflito, entrei na casa e a abracei
com força. Senti-me culpado por permitir que sua
segurança sofresse algum risco.
− Você está bem? - perguntei, examinando
seu corpo e expressão no rosto.
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− Sim. O que houve?


Ela ainda não havia percebido o ocorrido.
Certamente a pessoa que entrou na casa, não deixou
que fosse percebido, mas desejava que eu soubesse
que esteve ali. Cheirei seu cabelo e desci os dedos
pelo seu rosto.
− Não aconteceu nada. Venha, vamos para a
minha casa.
Eu precisava tirá-la dali. Precisava mudar de
alcova, mas não sabia quais eram as consequências.
Lembrei de Otávio, iria averiguar qual era o tipo de
ameaça recebida naquele dia em que estive em sua
sala. O que de tão grave poderia me acontecer, caso
eu abandonasse a casa subterrânea, se poderia
continuar a exercer minha posição de Lobo
cuidador em qualquer que seja o lugar que
morasse? Por que teria que ser apenas ali?

Não temo por mim...


Temo apenas por quem está ao meu lado.

Levei Laura para dentro da casa, olhei com


cuidado para ter a certeza de que estava tudo
trancado. Estava certo de que esta situação não
poderia continuar assim. Algo deveria ser feito
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antes que tudo se perdesse de modo avassalador.


Sentia-me lesado de algum modo, eu confiei que
poderia dar o meu melhor sem ser cobrado pela
dignidade. Eu amo o que faço. Não existe nada
mais importante em minha vida do que cuidar
dessas mulheres.
Coloquei Laura em minha cama e a aninhei
entre travesseiros e cobertor. Ela não estava
entendendo nada, era melhor assim.
− Talvez teremos que nos mudar daqui. – eu
disse tentando não assustá-la, mas com o desejo de
deixá-la a par da situação, caso algo me forçasse a
tomar uma solução imediata.
− Eu confio no senhor, sei que tudo estará
bem enquanto estiver ao meu lado.
− E assim será. Agora durma, anjo. Estarei
aqui do seu lado até adormecer.
Mexi em seus cabelos até ter a certeza de que
estava adormecida. Sentia-me tão intrigado, não
conseguia parar de pensar em possibilidades. Olhei
mais uma vez para o rosto de minha pequena,
ajeitei seu cobertor e me levantei. Precisava
descobrir o que estava acontecendo.
Abri a porta com cuidado, estava tudo muito
escuro, não havia ar artificial como na parte em que
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eu ocupava, e minha respiração se tornou ofegante.


Andei por dez minutos através de um túnel feito de
pedras, com a ajuda da lanterna do celular até me
deparar com a porta da Cidade dos Prazeres. Cada
segundo parecia uma eternidade diante daqueles
segredos obscuros que estavam ali o tempo.
Fiquei diante da porta, segurando na
maçaneta antiga e enferrujada. Fui abrindo devagar,
até perceber que havia luz da porta adiante. Ouvi
conversas e risadas. Parei um pouco até que
pudesse respirar e me tranquilizar. Discretamente,
fui colocando a cabeça somente até o ponto de
conseguir ver alguma coisa.
Era uma cidade construída para encontros,
haviam ali muitos casais e meninas sentadas por
toda parte, em namoradeiras distribuídas pelo
extenso corredor que ligava várias casas e
ambientes também no estilo vitoriano.
No piso acarpetado, algumas meninas
estavam sentadas ou deitadas sobre almofadas, a
maioria segurava uma taça de bebida nas mãos.
Havia também, música, alguns casais dançavam,
outros faziam rituais. Os homens estavam vestidos
de terno, as mulheres com vestidos sensuais,
algumas tinham os seios à mostra, ou as costas e
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laterais das pernas. Nada muito diferente dos dias


normais.
O símbolo de um lobo numa placa muito
grande de metal que ficava ostentada em forma de
arco, ainda continuava intrigante, ele ficava bem no
meio de tudo que consegui observar. Eles estavam
me vigiando durante todo o tempo, eu apostaria no
nome Otávio, um dos suspeitos.
De repente um sino tocou e os homens
passaram a tocar nas meninas de modo abrasador.
Em poucos minutos tudo era orgia para todos os
lados, apenas os músicos da orquestra continuavam
na mesma posição que se encontravam antes. Eu já
participei de momentos assim, sei o quanto o fogo
queima por debaixo daquelas roupas, mas nunca
fiquei nu em público ou expus a parceira que me
acompanhava durante a noite. Também jamais
dividi, nem que seja apenas por uma noitada, a
mulher que estivesse ao meu lado. Mas algo, no
meio do sexo e cheiro de luxúria que exalava no ar,
me chamou a atenção. Uma menina sentada numa
poltrona de vime. A figura daquela mulher
envolvida num manto preto e a cabeça coberta por
uma manta também preta.Os cabelos tão claros
apenas ficaram à mostra quando o pano que cobria
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sua cabeça caiu, e os fios brilharam muito quando


tocados pela luz neon do local. O corpo mignon me
deixou sem ter o que dizer quando reconheci
Manuela.
Por que ela estava ali? Saiu do hospital e não
fui avisado.
Por que eles a trouxeram para cá?
Ela estava tristonha. Seus olhos voltados para
baixo, e as mãos juntas entre as coxas me revelou
uma menina fragilizada e coagida por algo. Minha
testa suava frio e eu precisava fazer algo. Dentro de
mim, algo me dizia que tinha perigo no ar.
O som estava deveras alto, as pessoas
envolvidas com o prazer da carne, não iriam me
notar, eu contava com isso. Peguei uma pequena
pedra e joguei em direção a ela, que primeiramente
olhou para a pedra, e depois voltou os olhos em
direção para onde olhava antes. Eu passei a
enlouquecer em silêncio. Precisava tirá-la dali.
Entrei porta adentro sem muito pensar, o
instinto protetor me dizia que precisava fazer
qualquer coisa, e ali estava destemido, morreria ou
viveria por ela. Passei a andar com passos dados
nas laterais, me escondendo por detrás dos pilares
de pedra até chegar muito perto dela. Nossos
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corpos eram separados por menos de um metro de


distância.
− Manuela... – sussurrei algumas vezes, até
ter a sorte de ter o seu olhar tão azul e intenso sobre
os meus olhos, me enfeitiçando a ponto de
realmente ser um homem morto naquele momento,
se fosse preciso salvá-la.
Fiz um gesto com a mão, seu olhar ficou
embaraçado, talvez estivesse tentando me
reconhecer. Talvez não se lembrasse mais de mim,
após o coma. Mas ela se levantou e veio a minha
direção, como se meus olhos fossem cordas onde
pudesse se segurar. Ao chegar tão perto, com sua
cabeça batendo em meu peito, senti vontade de
abraçá-la, mas não faria ali, apenas a agarrei,
tapando sua boca e encaminhei para a saída daquele
lugar, do mesmo modo como cheguei.
Quando fechei a porta misteriosa, tentando
deixá-la exatamente como encontrei, suspirei
profundamente. Estava inteiramente coberto de
suor. Os olhos da menina continuavam incertos, e
eu a encaminhei até minha alcova. Precisava sair
dali urgentemente, as meninas estavam correndo o
risco nas mãos de predadores pervertidos. Eu
jamais admitiria que participassem de orgias.
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− Escute, não se assuste... – eu disse olhando


fixamente em seus olhos. – Eu irei te proteger.
Embora não sei ao certo o que está acontecendo,
saiba que tem meu apoio, irei tirá-la daqui e levá-la
para um local seguro.
Ela não disse nada, apenas me olhou, o que
me incomodou um pouco, pois sei que algo muito
sério estava acontecendo. Diante disso, peguei
minhas malas, e passei a depositar nelas, meus
objetos pessoais. Precisava sair dali ainda hoje.
Estava tranquilo quanto ao laboratório que já se
encontrava vazio, não havia muitas dificuldades
para transportar as meninas e os objetos pessoais.
Minha intuição mais uma vez não falhou. Havia
sim, algo em mim que me era diferente das outras
pessoas. Talvez seja por este motivo que me
escolheram para participar disso tudo, embora eu já
não sabia mais nada sobre a Seita. Tudo que
imaginei passou a ser obscuro.
A respiração ainda continuava ofegante.
Ficou um pouco mais com o contato do meu corpo
junto ao dela, como se a energia ocorrente fosse
algo muito simples de ser decifrado, ela já era
minha. Era minha como a naturalidade de se
respirar ou tomar água. Eu não sabia ao certo para
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onde ia, queria apenas ficar junto dela, longe de


todos.
Então parei, tentei olhar para seus olhos
mesmo no escuro inóspito daquele corredor, e
toquei em seus cabelos.
− Você está bem?
Ela apenas balançou a cabeça. Encostei seu
rosto em meu peito e ficamos assim por alguns
instantes.
− Eu não podia sair dali. - finalmente ouvi
sua voz que parecia mais um ruído distante.
− Por que não pode? Lá não é um lugar
apropriado para você.
− Estou sob a guarda de outra pessoa.
− Quem?
− Não posso dizer. Na verdade, o que sei é
que devo permanecer lá, pois decidirão depois para
onde irei.
− Você sabe algo sobre eles?
− Não, apenas sei que pagaram o hospital
onde estive, e que irão me ajudar a mudar minha
vida, talvez até sair desta cidade.
− Isso é mentira! Fui eu que paguei as
despesas do hospital. Fiquei atento o tempo todo.
Só não entendo como veio parar aqui. Não está
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com medo de receber ajuda de pessoas que mal


conhece?
Ela baixou a cabeça e chorou.
− Não. Meu marido me procurou no hospital
quando acordei. Tentou me sufocar com o
travesseiro. Fui salva pelo Senhor Otávio.
Então é este desgraçado!
Estou me sentindo uma peça em seu
tabuleiro. Está se divertindo as minhas custas, sem
sequer me dar a chance de entender o que está
acontecendo de fato.
− Venha!
Fiz o caminho de volta, convicto de que não
tinha nada a temer. Não deixei de cumprir nada que
tenha prometido e concordado em relação ao que
estava escrito naquela maldita carta que trouxe para
este lugar miserável.
Ao chegar à cidade da Seita, todos pararam
para me olhar, como se soubessem que eu voltaria
com Manuela, pronto para tirar satisfações.

A orgia parecia ter finalizado em tão pouco


tempo, ou os minutos ao lado de Manuela pareciam
não passar?

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Otávio se aproximou com um sorriso cínico.


Senti o desejo de esmurrar seu rosto e lhe mostrar
que não me adapto ao que pretendem me
transformar.
− Deixe as coisas fluírem, acontecerem
naturalmente. Mas os famintos habitantes deste
lugar te enxergarão e abordarão de acordo com o
que traz dentro de si. Se for uma espada, saiba que
também somos guerreiros, e somos em muitos. Não
será uma boa pedida levantar guerra contra uma
legião de Lobos.
Então ouvi sua risada como um estrondo
ecoando por todos os lados daquele lugar que
cheirava a lascívia. A música que havia parado com
a minha chegada, voltou a tocar. Os casais que
estavam afastados, voltaram a se tocar sem se
importarem com a minha presença.
− Entrar no centro de nossa irmandade é uma
experiência sem precedentes. Tem música, mas
você é incapaz de distinguir qual. Todos seus
hormônios são afetados por uma onda de calor e
prazer que emana das pessoas bonitas que aqui
estão.
Reparei nas garçonetes desinibidas em seus
trajes sumários. Elas exibem suas pernas torneadas
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em vestidos curtíssimos de látex, e seus decotes


valorizam os seios exuberantes. As cinturas são
demarcadas com cintos brilhantes de vinil.
Era uma vasta pista de dança completamente
cheia, ensurdecida por um potente sistema de som,
iluminada por LEDs inteligentes de todas as
matizes possíveis. Feixes de luzes mágicos
brigavam com a música pelos sentidos dos
frequentadores. Uma parte das pessoas bebia em
compasso de espera no enorme bar instalado à
direita da pista, entre o elevador e uma escada de
mármore imponente.
− Eu quero esta menina... - disse eu, certo de
que a levarei de qualquer forma. Não sairia de lá
sem Manuela.
Novamente a risada vinda de Otávio
escandalizou o local.
− Então acertamos... Você a quer... Certo. -
ele abaixou sua cabeça ainda com o sorriso maldito
ostentado nos lábios. Segurava uma bengala
cravada de pedras preciosas. − Ela pode ir com
você... Aliás, nós a buscamos para você cuidar. -
novamente o som do riso, o que me fez cravar os
punhos na intenção de acertar sua cara. − Porém...
Porém, caro Alejandro, vamos negociar. Siga-me,
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por favor.
Entramos em um salão iluminado por
algumas lamparinas. Andamos sobre tapetes
estreitos por uma distância incalculável, nada ali
parecia ter fim. Finalmente chegamos diante de
uma porta, cuja chave grande de modelo antigo foi
retirada do bolso de sua calça.
− Entre, por gentileza.
Entrei e fiquei olhando para as imagens
talhadas por toda a parede de pedra. Haviam muitos
símbolos e figuras humanas. Sentei na cadeira
oferecida e o esperei se pronunciar.
− O que queremos é muito simples. Uma vez
que você também já sabe o que quer. Queremos
que continue a trabalhar para nós, e que não saía da
cidade subterrânea, pois é aqui que deve
permanecer e colocar em prática suas virtudes
como Lobo.
− Não vejo razão para não ser em outro lugar,
se o que eu faço, continuarei fazendo.
− Somos uma família, Alejandro. Caso não
tenha percebido, debaixo de toda a cidade existe a
nossa sociedade subterrânea. Cada Lobo com seu
clã. Estamos interligados um ao outro.
− Eu não sabia deste detalhe. Achei que
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estava sozinho no local onde moro, e que a


privacidade e segurança de minhas protegidas
seriam respeitadas.
− E quem lhe disse o contrário? O que você
tem que fazer a elas, será você a fazer, e mais
ninguém.
− Eu quero ter o meu próprio negócio.
− Não aceitamos.
− E por qual motivo não aceitam?
− É simples... Sua arte sustenta toda nossa
irmandade. Nos traz o subsídio para vivermos nas
cidades subterrâneas, e nos ajuda financeiramente
com os procedimentos...
− Quais procedimentos?
− Isso realmente não vem ao caso neste
momento.
− Estão me subornando. Não admito ser
comprado.
− Mas tudo tem um preço, caro Alejandro... E
você é pago, muito bem pago por seus serviços.
Não percebi quando dei um murro na mesa.
− Caso minha resposta for não... O que
acontecerá a menina?
− Neste caso, ela será devolvida ao esposo
psicopata e ele fará o que quiser com ela.
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Eu poderia matá-lo naquele momento. Só


havia nós dois ali. Fugiria com Manuela e Laura
para a Espanha. Mas em vez de fazer a minha
vontade, pensei que algo melhor poderia lhe
arrancar o coração orgulhoso, Helena... Isso era
melhor que matar um verme. Ele não merece estar
com ela. Porém ela também não merece estar no
meio deste desafio.

Tudo ao seu tempo...


Eu não tenho pressa.

− Tem a minha palavra. - me levantei


sabendo que isso não ficará assim. Se ele realmente
for um Lobo, também já deve saber que mesmo eu
concordando forçadamente a fazer sua vontade, um
dia as águas novamente se encontrarão, mesmo que
sutilmente. Essa história não terminará aqui.
− Sua palavra me parece um pouco menos do
que o suficiente.
− A minha palavra é de honra, assim como
meu posto de Lobo, muito diferente de você, que
deveria cuidar e proteger. Suas atitudes estão muito
longe de um Lorde. Sua conduta me parece
contraditória.
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− Para isso temos você, caro Alejandro...


− Certamente... - me lembrei de Helena ao
pronunciar isso. A esposa carente de um Lobo
canalha. Lembrei também de minha coleira em seu
pescoço, brilhando... Suas coxas bem torneadas,
abertas, pronta para me receber entre elas. −E eu o
farei com muito prazer.
Não deixei de soltar um riso medíocre antes
de deixar aquela sala. Ele não perde por esperar.
− Ei... - sua voz me chamou de volta quando
cheguei na porta. - Manuela ficará conosco até nos
convencer de que cumprirá o combinado.
− Tenho três casas no meu território, eram
para ser ocupadas. É lá é o meu domínio. - eu disse
de costas para ele, evitando assim de voltar lá e
esmurrá-lo.
− Cumpra sua parte!
Naquela noite saí da cidade do prazer,
cabisbaixo, mas em alguma parte do material,
estava furioso, tentando abafar em meu ser aquele
mau sentimento de acabar com tudo ou com
alguém.
Atravessei a cidade subterrânea com um
punhal no peito. As luzes ofuscavam minha visão,
mas eu pude vê-la em seu mundo paralelo,
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resguardada da verdade que me abatia naquele


momento. Fui até ela e cobri sua cabeça com a
manta preta. Deslizei um dedo pela face áurea e
beijei sua testa.
− Logo estará sob meu abrigo, eu prometo.
Voltarei amanhã.
− Pode me dizer o que farão comigo aqui?
− Nada. Eles sabem que você me pertence.
− Eu te pertenço?
Sua expressão ficou confusa. Não era para
menos. Turbilhões de pensamentos rodeavam sua
mente naquele momento, pois até esses dias estava
tentando se manter viva em um relacionamento
abusivo. Hoje está sendo disputada por Lobos.
− A função de te proteger é de minha
legitimidade. Eu a cumprirei.
− Acho que entendi.
− Vá para o aposento onde está acomodada,
eu não a quero por aqui.
Ela olhou ao redor, viu os pares em gestos sensuais,
outros até se tocando nos cantos obscuros da cidade
do prazer.
− O que é este lugar?
− É um local secreto para encontros, onde as
pessoas procuram prazer.
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− Uma espécie de prostíbulo?


− Não. As pessoas aqui não fazem nada por
dinheiro.
− E você, o que é neste universo paralelo?
Parei por alguns instantes. Era difícil de
explicar a ela qual era o meu papel, sem ser
repetitivo, e ter que contar sempre a mesma
história.
− Sou uma pessoa comum, apenas gosto de
proteger mulheres como você.
− E isso te causa algum... Digamos, algum
desejo?
− Isso me define no mundo.
Meus olhos a prenderam. Era como um radar
a procura de suas sensações. Ficou sem palavras,
antes que meus instintos falassem por mim. Fiz um
gesto para que entrasse e seguisse até seu aposento.
Ela ficou sem jeito, mas seguiu. Fiquei parado
observando até que sua imagem desaparecesse
porta adentro.
Voltei para minha alcova com um nó na
garganta. Se alguém a tocar, não sei do que seria
capaz... Se alguém fizer algo que a ferisse,
arrancarei o coração de Otávio.
Deitei-me e não consegui dormir. Eu a queria
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aqui comigo. Imagino os momentos difíceis pelos


quais passou, e ainda não conseguiu ter paz. Deve
estar se sentindo desamparada, confusa naquele
lugar. Fiquei atordoado. Levantei e já me senti
disposto a fazer qualquer loucura para estar com ela
naquela noite. Nada conseguiria me fazer mudar de
ideia.
Voltei novamente para o corredor que me
levava para a cidade do prazer. Estava neblinando,
a temperatura havia caído. Quando cheguei ao me
destino, ainda restavam algumas almas perversas
no deleite. Observei o ambiente, porque não estava
ali hoje para conhecer novas mulheres, e sim,
descobrir onde estava Manuela.
Algumas mulheres me abordaram pelo
caminho, oferecendo seu corpo de modo direto.
Não queriam um Lobo para galanteio ou tentativa
de pertencer a alguém, certamente convidadas por
alguém, especificamente para transar. Na maioria
das vezes eram atrizes de teatro ou artistas
plásticas. Pessoas totalmente bem resolvidas com
seu objetivo final. Como Lobo, jamais poderia
destratar uma mulher, nem se fosse uma meretriz.
Todas as mulheres são dignas de respeito,
independente do que fazem consigo mesmas.
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Desviei-me das mulheres e segui até a porta


de entrada da parte privada da Cidade dos Prazeres.
Passei pelo enorme salão que já conhecia, e me
deparei com um hall que levava para a ala dos
quartos. Olhei bem para todos os lados, ninguém
poderia saber que estive ali. Abri alguns quartos,
estavam vazios. Apenas um ou dois estavam
ocupados por casais que passaram a noite na
esbórnia.
Alguém passou por perto, precisei me
esconder atrás de um pilar, e esperar que não
houvesse mais nenhum barulho de pisadas no chão,
para continuar minha busca. Enfim, um quarto com
alguém deitada sozinha na cama. Meus olhos se
fixaram nela, linda dormindo tão desprotegida, com
a porta na trinca sem a chave.
Cheguei muito perto e me abaixei, cheirando
seus cabelos. Ela se assustou e se sentou na cama.
− Precisei ter certeza de que estivesse bem.
− Sim, estou. Apenas um pouco cansada.
− Logo estará sob meus cuidados.
Ela apenas balançou a cabeça concordando.
Levantei, e com uma lamparina saí procurando por
todo lado uma chave para a porta. Até que a achei
na gaveta de uma pequena mesa.
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− Tome isso. Feche assim que eu sair. Não


saia deste quarto durante a noite.
Sentia-me mais tranquilo, sabia agora que
pelo menos durante este fim de noite ela estaria a
salvo. Todos os dias, até resolver esta situação,
estarei aflito em torno desta causa.
Precisava relaxar um pouco enquanto criava
algum perfume. Isso me faz esquecer do mundo.
Tranquei-me no laboratório, e passei a misturar as
essências, ora com os olhos fechados, apenas
sentindo o espírito do que criava, ora com os olhos
abertos vendo em todos os lados, os olhos, a pele, o
cabelo claro de Manuela. Era assim sempre que
uma mulher se infiltrava em mim como parte do
meu DNA. Minhas defesas estavam arrebatadas, eu
não conseguia me defender das próprias reações.
Eram efeitos colaterais do que eu precisava sentir
para tê-la comigo e para mim. Apenas consegui me
desviar dos olhos azuis que pareciam pregados
naquelas paredes, quando meu celular passou a
tocar, e eu atendi imaginando que seria ela a me
chamar.
A voz do outro lado me jogou na realidade.
Assustei quando imaginei que Dolores havia
voltado para me fazer lembrar de quem sou.
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"Se esqueceu de nosso compromisso?" - ela


dizia sobre o nosso encontro marcado para hoje, a
fim de tratarmos sobre trabalho.
"Imagina... Estava criando um perfume,
aconteceram alguns problemas, mas já está tudo
sob o controle. Está sozinha?"
“Por que a pergunta?"
"Não quero que ninguém saiba para onde está
indo ao sair daí."
"Por quê?"
"Pela minha e sua segurança."
“No que está metido?"
"Você havia me dito que é seguida dia e
noite. Não quero problemas a mais."
"Não terá, pode ficar tranquilo."
"Estou lhe aguardando."

No horário combinado, ela chegou. E todas


as vezes que a via, a sensação era a mesma, um
misto de saudades do passado e uma confusão
tremenda quanto à realidade que a rodiava. Tentei
não olhar diretamente para os olhos dela, não era
Dolores, não tinha idade para estar entre minhas
protegidas de modo carnal. Precisava trabalhar em
mim, o autocontrole e a certeza de que esta menina
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jamais fez parte de minha vida, e de mim receberá


apenas a atenção de alguém que se importa com
ela, talvez um carinho paternal, isso era tudo.
− Senta-se. - pedi tentando livrar de mim as
antigas sensações.
−Aqui é um lugar bacana... Parece algo
misterioso ou é impressão minha? - ela olhava para
tudo, revirando meu universo que até então era
secreto.
−Depende da maneira como você vê... – eu
queria desconcentrá-la do lugar, mas então me
lembrei que a pestinha irá trabalhar comigo, e logo
em breve ela verá muito mais coisas que a farão
ficar ainda mais curiosa, isso será praticamente
inevitável. Lembrando que já viu Laura com os
seios de fora em minha sala.
− Entendo. Na real, não me importo... Pode
ficar tranquilo. Gostei muito do local, possui uma
ótima localização, é bem bonita a faixada, acho que
irá se dar bem. Imagino como seja difícil morar e
trabalhar no local em que trabalha. Mas... Por que
ainda não desmembrou a casa do trabalho? Não
sei... Talvez um prédio em outro lugar. Tudo bem...
– ela balançou a cabeça sabendo que falara demais.
– É só uma idéia.
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Sua juventude exalava um cheiro agradável.


Pela primeira vez pude perceber o aroma que vinha
dela. Era agradável. Natural, porém continha notas
entre a aflição e o inestimável.
−Eu prefiro assim como está. – certamente
menti, não iria lhe dar satisfações nem confidenciar
tudo que estava acontecendo.
−O que eu serei, uma secretária?
− Se prefere denominar assim, para mim tudo
bem. Eu preciso de alguém para me auxiliar na
fabricação dos perfumes.
– Serei um tipo de alguém que fará
experimentos ou algo assim? Vai testar os perfumes
em minha pele?
Jamais contaria com uma pequena curiosa no
meu ambiente de criação, muito menos em minha
casa. Estava literalmente em encrencas.
– Não seria esta a classificação, mas nada
impede de eu testar o perfume em sua pele.
− Não vou esperar a proposta salarial para
aceitar. De pronto, digo que quero a vaga. Na
verdade, preciso muito.
Olhei para suas mãos, unhas bem cortadas,
cabelos tratados. Sabia conversar, se não fosse sua
intensidade e ansiedade, não diria que tinha apenas
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20 anos.
− Eu disse que a vaga é sua, não irei voltar
atrás. Mas antes... - me levantei e fechei a porta. −
Precisamos conversar e combinar algumas coisas.
− Sem problemas, pode dizer.
− Nada de gírias, dialetos ou algo do tipo.
− Eu não uso gírias.
− Não digo que usa, digo apenas para ter um
pouco mais de cuidado, até mesmo com a postura e
modo de falar.
Ela se ajeitou na cadeira, tentando me passar
uma postura adulta ou me convencer de que é
capaz.
− Certo. Eu entendo, Alejandro, que estou
diante de um trabalho.
− Senhor Alejandro.
−Okay.
− Não se diz, okay. Não estamos fora do
Brasil. Aqui se diz, sim. De preferência, sim
senhor.
Seu rosto ficou rosado. Ficou evidente para
ela, de que serei exigente com a postura. Afinal,
será ela a atender primeiramente meus clientes.
Preciso confiar na pessoa que terá entrada na minha
alcova. Aqui serão sempre as minhas regras.
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−Tudo bem. Terei cuidado, senhor


Alejandro.
− Não aceito o uso do celular no horário de
trabalho, a não ser que seja sobre algum assunto
referente ao que fará aqui, mesmo assim teremos o
telefone da empresa à disposição.
− Eu pouco uso o celular.
− E sobre aquele assunto? - eu precisava falar
sobre isso. Não era comum uma jovem tentar se
matar em plena luz do dia.
− Qual assunto?- ela me olhou desconfiada.
−Veja, Shaida, não foi banal o que tentou
fazer naquele dia. É normal eu querer saber o
motivo, pois além de lhe impedir em cometer uma
tragédia, você irá trabalhar para mim, num cargo de
confiança.
− Já sei... Você quer dizer que me pareço
uma maluca, alguém não confiável, que poderá lhe
matar de susto se um dia chegar aqui, e eu estiver
pendurada pelo pescoço em sua nobre escadaria.
− Não é isso que quis dizer, você está fugindo
deste assunto desde que a conheci. Eu apenas quero
entender o que fizeram a você, para tentar fazer
algo tão mórbido.
− Não procure entender. Se não quiser me
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empregar porque não quero tocar neste assunto, é


um problema seu. Certamente é a única
oportunidade que encontrei nesta droga de cidade!
Eu vou superar, acredite.
− Ei... Não é uma negociação de trabalho. E
esses não são modos para conversar comigo, seu
futuro patrão. É uma preocupação.
Ela se levantou levando sua bolsa a tiracolo.
Eu a puxei pela alça da bolsa.
− Quer tomar um suco? - perguntei, tentando
impedi-la de fugir de mim.
−Embora eu não me pareça, senhor
Alejandro, eu sou uma mulher adulta. - seu tom foi
de deboche ao pronunciar o pronome de tratamento
referente a mim.
− Esta não é a discussão, Shadia. O que você
tentou fazer é algo grave. Eu estou preocupado com
você.
− Então se poupe, caro Alejandro, você não é
meu pai. Não deve se preocupar com os meus
passos.
Ela tentou chegar até a porta, eu a impedi.
Coloquei-me a sua frente e seu corpo todo ficou
colado ao meu, assim como os olhos castanhos e
profundos que pareciam me amaldiçoar.
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− Eu quero sair.
− Mas não irá sair... Não vou deixar. E não é
porque me acho seu pai. Porque de algum modo
preciso que esteja por perto.
Eu sei que não deveria ter dito isso, mas
meus anseios me traíram. Ela era a única referência
de meu passado, mesmo que seja apenas uma
lembrança. Eu a queria por perto, pois sabia que
tudo que existia nela era algo que me dava a certeza
de quem sou, quando Dolores me ensinou um dia,
que eu amaria as mulheres e que seriam minha
extensão que valeria a pena.
− O que quer de mim, pelo amor Deus?
− Que você fique. Que me permita ser parte
do que tenta me esconder. Eu quero te ajudar.
Eu vi a pulsação sanguínea em seu pescoço,
estava tensa. Os lábios entreabertos queriam dizer
algo que sua permissão negava.
− Estou em encrencas. É algo familiar, mas
logo estarei trabalhando e terei meu canto, não
precisarei me sujeitar a nada.
− Do que está falando, Shaida? Por favor, me
diga.
− É uma longa história. Eu só preciso de um
emprego, uma casa e distância de algumas pessoas.
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− Tudo bem, tudo bem... Você irá conseguir.


Irá superar, seja isso o que for. O emprego é seu.
Irei te telefonar para avisar quando poderá
começar. Por enquanto, se cuida...
Ela passou a mão em seus cabelos, respirou
profundamente como se quisesse expulsar algo de
dentro de si.
− Um dia irá me contar por que me chama de
Dolores?
Não pude esconder um riso. Chegou tão
perto, que se não fosse sua altura, sentiria sua
respiração. Os olhos curiosos me reviram
intimamente. Não eram de Dolores naquele
momento. Nem os lábios matreiros que esboçaram
um sorriso com minha reação. Tornei sua presa por
longos segundos. Seu sorriso ainda ostentava a
certeza de que apesar de sua idade, era uma mulher
esperta e tinha a estranha mania de deixar homens
mais velhos de saia justa.
− Sim. Irei.
Ela continuou na mesma postura, até que sua
mão alcançou a minha gravata e ajeitou o nó.
Tenho certeza de que terei problemas com esta
garota.
− Então neste dia também saberá do meu
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segredo. – sua voz foi diminuindo o volume até se


tornar rouca. Encostou de modo provocativo, sua
coxa nas minhas. Estavam quentes. Fiquei
totalmente sem ação, afinal, o Lobo sou eu.
− Combinado. - novamente sorri sem graça,
deixando que ela passasse e levasse minha paz logo
de uma vez.
Ela saiu olhando para trás, levando o mesmo
sorriso matreiro que parecia conhecer o que eu
sentia num momento tão inesperado e inoportuno.

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Capítulo 7

Seu cheiro, pequena...


Se infiltrou onde quer que exista vida dentro de mim...
Que vontade de morder seu corpo todo.

Eu não via a hora de acabar o dia para ver


Manuela na Cidade dos Prazeres. Aquele jeito doce
estava me enlouquecendo aos poucos, em certos
momentos percebi minhas têmporas suando frio.
Era uma mistura de desejo com preocupação,
saudades de olhar para os olhos azuis, que me
causava certo medo de ser sugado para dentro
deles. Neste momento não sei se me sentia mais
forte ou mais fraco, sei apenas que preciso dela do
meu lado, e isso me deixava confuso e receoso. Eu
não sei até onde chegaria.
Jantei olhando para a chama da vela sobre a
mesa. Na aflição interna, tomei quase toda a garrafa
de vinho. Laura me olhava por cima da garrafa,
sabia que eu estava angustiado por algum motivo.
Percebi quando ela se levantou da mesa, tentando
chamar minha atenção. Seus passos eram sedutores,
e meus olhos quase embriagados, fitaram seu corpo

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escultural andando como se fosse uma deusa. Ela


sabe como seduzir um homem, mas este homem
estava embriagado por um par de olhos azuis.
Percebendo minha ausência, ela abaixou uma
alça do vestido, deixando à mostra suas costas de
pele morena lisinha e acetinada, passando a mão
pelas curvas que enlouqueceriam qualquer homem
em sã consciência ou não. Em seguida, a língua
alcançou um ombro e passou a lambê-lo e olhar
para mim, com um jeito de loba manhosa.
Segui o corpo moreno até sua alcova. Ao
entrar, deixou que o vestido deslizasse todo por seu
corpo, lentamente. Foi para o banheiro e ligou o
chuveiro, deixando a água percorrer por tudo que
estava nela, mas era meu.
Fiquei parado na porta do box, meu corpo
reagia com pequenos choques. Laura pegou o
sabonete e passou a deslizá-lo nos seios e ventre,
descendo para a região pubiana, me atormentando
em instantes. Apoiei minha cabeça em dos braços
que seguravam o box, ela mexia os lábios
pronunciando palavras insanas enquanto assistia o
meu pau quase pular para fora da calça.
Vi os mamilos enrijecerem como duas
sementes. Vi quando sua mão atrevida me puxou
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pela gravata, colocando-me inteiramente debaixo


da água. Ela estava me esperando há dias para isso;
queria se esvaziar do tesão louco que tinha no meio
de suas pernas. Permiti ser levado por ela e sua
insanidade, beijando, mordendo, apertando,
entrando no meio de suas coxas.
Abaixei-me e passei o dedo em movimento
circular em torno de seu clitóris, que saltou
saliente. Ensaboei, e passei a brincar com ele,
sentindo o corpo de minha safada tremer inteiro.
Peguei a mangueirinha e espirrei naquele ponto
protuberante, que implorava por mim. Comecei
passando a barba, mordiscando entre os dentes,
enquanto Laura se debatia no azulejo com as unhas
arranhando algo imaginário. Queria lambuzá-la...
Sentir o gosto, explorar... Passei a língua em toda
extensão, fazendo um formato de oito, deixando os
lábios soltos, confortáveis para ela poder me sentir
melhor. Deixei minha língua estimular seu clitóris
descendo para a entrada de sua boceta, penetrando-
a. Apertei seus seios, estava muito teso, que gosto
gostoso ela tem...
− Assim... Aí... É bem aí... – ela dizia,
desalinhando meus cabelos.
− Delícia de boceta... – eu sussurrava.
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Senti seu jato em minha cara, deixando que


me lambuzasse todo...

Ela era minha...


Minha mulher.

Coloquei meu casaco de couro olhando a lua


no céu que já cobriam boa parte do espaço vazio.
Coloquei a luva preta de couro, imaginando o toque
sutil de meus dedos se deslizando pelas costas
inocentes, desejando ardentemente ver os olhos
dela expressarem o desejo secreto, o qual eu irei
rasgá-lo completamente, com meus lábios, com o
calor do meu corpo e um roçar que não tem
finalização, até que minha sede por seu corpo fosse
completamente suprida.
Eu nunca fui de aceitar pequenas moedas em
troca do meu âmago. Eu não consigo dar partes
desimportantes de mim para ninguém. Tudo é um
conjunto. Eu me compartilho com quem quero
legitimamente. Eu quero Manuela. Quero a boca
dela em meu corpo. Quero o gosto dela na minha
língua. Quero o cheiro dela esfregado em minha
pele; meus pelos sobre os poros dela... Nem mesmo
Laura conseguia me distrair deste desejo.
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Peguei o trajeto para a Cidade dos Prazeres.

O cheiro do cigarro predominava o grande


pátio. Os Lobos já estavam a postos, à caça pela
presa fácil que ali estava para a esbórnia,
passeavam com os olhos propícios a descobrir em
algum lugar, o prazer imediato para aquela noite.
De longe vi a pequena sentada na mesma
cadeira de vime. Ela me esperava com ansiedade
nos olhos. À medida que me aproximava, meus
passos eram acompanhados por tudo que havia
nela. Olhou meus sapatos, a calça de jeans preta,
meu casaco. Olhou em meus olhos, eu mordi meus
próprios lábios. Assim que fiquei de frente,ela se
levantou.
Ficamos um de frente ao outro, os olhos
brilhavam de tanto desejo. Toquei em sua cintura, e
senti seu corpo se encolher, depois de soltar até
suspirar.
− Você quer? – eu disse, despindo-a de
algum jeito imaginário.
− Sim...
− Eu, muito...
Ficamos assim, num beijo invisível, a
vontade de roubá-la dali era maior que meu juízo.
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− O senhor... – eu a interrompi, pondo os


dedos em seus lábios.
− Não diga nada, apenas me siga.
Olhei para todos os lados, e com passos
rápidos, ao perceber que não havia ninguém nos
olhando, saímos de lá. Já nos primeiros segundos,
eu a agarrei com força, beijando aquela boca
gostosa que me deixava louco, coloquei a mão por
debaixo de seus cabelos, levantando-a até ficar em
uma altura aproximada. Arfamos sem tirar o beijo
dos lábios. Ela me soltou, eu a peguei de volta.
− Venha, vamos sair daqui.
Entramos no carro sem saber ao certo para
onde iríamos. Eu levava comigo, uma menina que
estava sob o poder de uma Seita. Logo estariam
todos atrás de mim. Seria um ato arriscado, mas
naquele momento deveria seguir minha intenção.
Parecia que estavam anonimamente na vida das
pessoas ou em algum lugar de suas casas.
Olhei pelo retrovisor e me deparei com o
rosto inexpressível de Manuela. A única coisa que
sabia sobre esta menina, era de que teve um marido
abusivo, drogado e com tendências psicopatas. Que
fora esfaqueada, e por um acaso do destino, eu a
encontrei correndo pelas ruas, descalça e
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ensanguentada, e neste momento eu já não sabia o


que pensar. Não fazia idéia do que poderia lhe dar;
de qual modo iria lhe proteger de seus próprios
fantasmas e do momento em que a luz do seu
quarto se apagar e tudo em si for medo, angústia e
solidão.
Neste momento, sem que percebesse, eu a
abracei com meus olhos, sentindo que dentro de
mim, em algum lugar havia um abrigo que lhe
devolveria sua identidade. Não a deixaria, mesmo
que precisasse brigar com a tal Seita, mudar de país
ou tentar qualquer outro meio que a fizesse se sentir
segura. Então neste instante, não sei se eram meus
olhos que choravam em silêncio ou se vi dos olhos
dela uma lágrima matreira escorrer ligeiramente
sob o vento que entrava pela janela daquela noite
repleta de segredos e incertezas. Era inocente
perante o que pairava sob a minha noção
consciente, e a única certeza que eu tinha naquele
exato momento, era de que sou totalmente
responsável pelo seu bem-estar.
Acelerei o carro, as luzes da madrugada se
infiltravam nos pensamentos absortos que
acompanhavam aquele veículo sem destino.
Éramos duas vidas sem um radar que nos guiassem,
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assim como pássaros noturnos que se perdem na


escuridão devido ao tamanho de sua liberdade.
Um letreiro grande indicava que a menos de
duzentos metros havia um hotel, diminui a
velocidade e baixei os faróis do carro. Fomos para
uma suíte, e ao fechar a porta, percebi seu
nervosismo. Fui até ela e levantei seu queixo com
um dos dedos.
− Não precisa sentir medo, eu não farei nada
que lhe magoe ou que você não queira.
Ela balançou a cabeça, concordando. Beijei-a
novamente até que partisse dela o desejo de tirar a
roupa, e ela o fez pela metade. Eu a ajudei com
cuidado, beijando as partes despidas. Vi quando
prendeu a respiração, num total desequilíbrio de
suas emoções.
− Calma, bebê, respire fundo... Tente relaxar.
Não vai rolar, se ainda não estiver pronta.
− Sim, é que... Eu, eu nunca transei com
outro homem...
− Eu não sou outro homem... Este homem
que você chamava de esposo, nunca foi um
homem. Um homem de verdade reconhece os
valores que possuem a mulher que tem. O resto é
apenas um projeto.
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− Eu não o amo...
− Não tem como amar alguém que não te
ensinou que o amor só acontece quando há
reciprocidade.
Quando dei por mim, estava sobre ela na
cama, acariciando-a como se fosse uma pequena
flor delicada que precisava de carinho. Seu sorriso
em meio às carícias era tão diferente e excitante,
era uma menina diferente, não havia como
estraçalhar seu corpo ao meio, sem antes permitir
que ela se sinta à vontade e livre.
Totalmente nua em meus braços, eu admirava
cada detalhe do seu corpo, aureolas tão alvas,
pareciam feitas de algodão doce. O detalhe da gaze
sobre o ferimento, respeitei, não queria constrangê-
la. Passei a mão tão grande e pesada sobre o corpo
delicado. Beijei-a todinha, seu cheiro era doce,
assim como tudo que havia nela.

Eu sei exatamente onde devo chegar.


Onde homem nenhum conseguiu com você.

Quando ambos estávamos prontos, iniciei


uma massagem, ela estava deitada de costas com
um travesseiro sob a cabeça e outro sob os quadris
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para elevar o púbis. Dobrei com beijos e carinho,


seus joelhos e abrisuas pernas. Sentei-me
confortavelmente entre elas. Observei o contorno
do seu sexo nu, do orifício, das nádegas. Ela era
simplesmente perfeita.
Comecei massageando outras partes do corpo
para encorajá-la a relaxar. Suavemente, mas com
firmeza, massageei as pernas, coxas, barriga, seios
e braços antes de me aventurar na direção do seu
sexo. Em seguida, massageei a área do osso púbico
e, em seguida, desloquei-me para a área interna da
coxa. Com a mão direita, apliquei um óleo ou
lubrificante derramando apenas o suficiente para
que escorra pelos lábios externos e cubra o exterior
de sua boceta.
Massageei com suavidade, sentindo todos os
meus movimentos em contato com sua pele.
Esfreguei suavemente o óleo nos lábios externos
por algumas vezes. Com o polegar e o indicador,
apertei suavemente cada parte de seu sexo,
deslizando os dedos para cima e para baixo em toda
a extensão. Em seguida, repeti este processo
cuidadosamente em cada lábio interno.
Acariciei seu clitóris em movimentos
circulares, no sentido horário e anti-horário. Em
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seguida, apertei seu clitóris entre o polegar e o dedo


indicador. Devagar e com muito cuidado, inseri o
dedo médio em sua bocetinha rosada.

Emoções intensas...
Eu estava sentindo seus tremores e anseios
na ponta do meu dedo...

Não sei o que houve, talvez tivesse sido


apossada de emoções fortes, começou a chorar
enquanto eu sussurrava em seu ouvido.
− Está tudo bem... Eu a desejo mais que tudo.
E neste momento, passou a gozar lindamente,
gritando e chorando. Seu corpo todo em reações
controladas por meus cuidados. Novamente, mais
um orgasmo, seguido por mais dois, aumentando a
intensidade. Eu não parei com a mensagem.
Deliciava-me com seus delírios e lágrimas
derramadas da face ao pescoço, que escorriam pelo
lençol.
Continuei massageando muito devagar,
gentilmente e com respeito, retirei as mãos para que
ela pudesse relaxar e respirar, pois estava em estado
de alta excitação, queria que sentisse mais prazer,
mas precisava ir com calma.
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Ao acabar, senti que ambos estavam tomados


por uma série de sensações emocionais e físicas,
precisamos de um tempo para nos recuperar do que
já transbordava... Muita calma... Minha respiração
já oscilava entre a insanidade e o desespero. Um
Lobo não sabe lidar com sua lascívia de modo
controlado. Essa menina ia me ensinar a lidar com
ela.
Eu a cobri com cobertores para se aquecer, o
aconchego foi altamente encorajador. Ficou
aninhada em meus braços por longos minutos... Eu
sentia algo queimando por dentro, era a presença
dela me inundado de modo avassalador. Ficamos
assim, apenas sentindo a respiração um do outro até
que tudo se acalmasse e meus dedos deslizassem
por suas costas, deixando-a em paz. Adormeceu.

Eu esperarei.
Eu velarei seu sono enquanto dorme.
Minha Manu, minha menina, safada,
deliciosa... Minha!

Ela acordou com os olhos de borboletas,


piscando com o céu todo dentro deles. Eu beijei seu
nariz e queria ficar algum tempo assim, decorando
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cada gesto de seu despertar. Estávamos numa


sintonia diferente, não sei dizer se era pelo fato de
estar tudo tão proibido para nós, ou se essa menina
tinha realmente algo que a diferenciava de todas as
outras.
− O que vai acontecer agora? – ela perguntou
um tanto assustada.
− Vou atrás de sua liberdade. Quero-a
comigo em minha casa.
− Isso vai demorar?
− Não princesa, não irá demorar, apenas peço
que confie e tenha um pouco de paciência.
− Não quero ser encontrada por meu marido.
− Não será, eu prometo.
− Eu não confio no senhor Otávio. Ele me
parece estranho, aliás, aquele lugar é estranho, eu
ainda não entendi o que acontece ali.
− Não deve confiar. Aliás, se tiver que
escolher alguém para confiar, confie em você. É o
que mais desejo para sua vida.
− Na verdade, eu não sei como fazer isso...
Muitas coisas aconteceram, e me sinto um pouco
perdida.
− Você tem filhos?
− Não, ainda bem que isso não chegou a
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acontecer, pois se tivesse acontecido, eu não


saberia como lidar com esta situação.
− Tudo tem seu momento certo, e se não
aconteceu, certamente não era para ser, como diz o
clichê.
− Vamos voltar hoje ainda para aquele lugar?
− Não pense nisso. Fique comigo agora. É a
única coisa que deve nos interessar.
Ela me abraçou como alguém que tentava
fugir de seu mundo sórdido. Um beijo terno nos
acolheu como se existisse apenas nós dois neste
mundo cheio de maldades. Minhas mãos buscavam
por suas partes quentes e ela se abriu totalmente
para meu toque. Estava pronta. Ela desejava isso.
Eu havia me esquecido de quem era. Quando
estávamos quase nos encaixando, a porta do quarto
se abriu surgindo nela, Otávio e mais dois homens
vestidos de preto.
Cobri o corpo de Manu e me levantei de
imediato, para impedir que entrassem porta
adentro.
− O que fazem aqui? Quem os autorizou a
entrar no quarto? – perguntei com uma indignação
imediata, aberto para tomar qualquer atitude que
nos defendesse daquele momento tão evasivo.
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− Você já deveria saber que eu não estava de


brincadeira quando disse que não era para a menina
sair de onde estava. Eu avisei. – ele olhou para os
dois homens e os ordenou: − Levem a menina!
Antes mesmo que se aproximassem, peguei
Manuela e a escondi por detrás de meu corpo.
− Ninguém encostará um dedo na menina.
− Você já está passando dos limites
concedidos pela minha paciência. – disse Otávio,
sem intenção de parar de fazer o que veio dar
causa.
− Não se aproximem! – eu gritei, pronto para
matar ou morrer.
− Caro Alejandro, nada poderá nos impedir.
A menina está sob minha proteção. Ela não faz
parte de sua territorialidade.
− Manuela é e sempre esteve na
circunferência de meu território. Afastam-se!
− Vista-se, menina... Não vai querer sair nua
daqui, ou vai?
− Um Lobo decente jamais teria tal atitude.
Jamais colocaria em risco ou constrangimento
qualquer que seja a pessoa que ele diz estar sob
seus cuidados.
− Um Lobo decente jamais desacataria a
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Ordem. Jamais faria isso agindo pelo seu próprio


egoísmo, colocando em risco sua protegia.
Os homens se aproximaram, aguardando que
Manuela se vestisse.
− Saiam do quarto! Eu entregarei a menina,
não porque este é o seu desejo, mas justamente para
não por em risco a integridade física e moral de
Manuela. Esperem pelo lado de fora, como
cavalheiros que deveriam ser.
Os Lobos se entreolharam e Otávio assentiu
com um movimento na cabeça.
− Você tem cinco minutos para devolver a
menina. Estamos aguardando do lado de fora.
Assim que a porta se fechou, eu a abracei
fortemente e enxuguei suas lágrimas.
− Não se preocupe. Estarei por perto.
Vesti suas roupas em seu corpo, tentei
tranquilizá-la de algum modo, apesar de que nada
parecia espantar o assombro que vinha de seu rosto.
Assim que já se encontrava vestida, a levei até
Otávio.
− Você está proibido de entrar na Cidade dos
Prazeres por infringir regras que são valiosas para a
Ordem. E mesmo que tente desrespeitar mais esta
regra, já saiba de antemão, que não encontrará a
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menina lá, eu a levarei para outro lugar, bem longe


de seus olhos.
− Não pode me impedir de ser quem sou,
muito menos de eu fazer o que achar que devo.
− Obviamente poderá fazer o que sua
liberdade consentir, porém, em meu espaço, quem
manda sou eu.
Dizendo isso, ele se virou e saiu com
Manuela ao seu lado, deixando no total desespero.
O chão havia sumido dos meus pés, e eu realmente
não sabia o que fazer naquele momento.

No dia seguinte, após organizar o espaço na


casa para receber Shadia com sua função na
perfumaria, eu recebi uma visita. Otávio entrou
olhando para tudo. A impressão que me passou era
de que até mesmo onde eu morava, era sua
propriedade. Examinava com precisão os objetos
que continham nas paredes e sobre os móveis,
conferindo se algo havia sido adulterado.
− Qual o motivo de sua visita?
− Apenas queria deixar um único aviso. – sua
expressão dentro do terno escuro era mórbida.
− Já que veio até aqui, diga de uma vez e se
retire.
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Ele se sentou em uma das poltronas da sala


de visita.
− Estou revisando sua estadia neste local.
Talvez o melhor lugar para você morar fosse longe
daqui.
− E o que te fez mudar de idéia?
− Não é a questão a ser discutida no
momento, apenas acho que deve ser assim. Mas até
que não tenha certeza, seguirá as coordenadas.
− Eu não sou um joguete nas mãos de
ninguém. Sou livre.
− Não, meu caro, você não é livre. Você tem
um pacto com a Ordem do mundo inteiro, e irá
cumprir, seja por bem, seja por mal, até acharmos
que... não nos é mais útil.
Senti-me o pior dos homens diante de tais
palavras. Eu não poderia me acovardar perante
essas ameaças. Nada mais parecia fazer sentido.
− Entregarei a casa esta semana.
− Entregará quando eu achar que deve.
− Levarei a chave até sua empresa. – estava
convicto de que sou um homem e jamais uma peça
num tabuleiro. – Agora saia, acabou a visita.
− Não tente procurar por Manuela, ela está
neste momento com seu esposo. Foi devolvida, não
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precisamos dela, existem muitas outras mulheres


que podem muito bem ocupar o lugar que você
pretendia colocá-la.
Desta vez sua última expressão não fora o
sorriso irônico, e sim, um olhar odioso. Virou as
costas e saiu. Senti na pele o Lobo que morava
dentro de mim, ao jogar no chão a peça de cristal,
uma das mais valiosas da casa. Eu iria, sim, atrás da
menina, e a levaria comigo, não importando o que
iria passar para cumprir esta missão.

No dia seguinte aluguei um espaço grande,


que me serviria para levar o laboratório e montar
um meu antiquário com peças raras de perfumes e
toda a minha coleção já feita. Sei que com isso
desafiaria a tal sociedade dos Lobos desonrosos,
mas era justamente o que estava disposto a fazer.
Nos fundos, depois de uma grande piscina, havia
um sobrado grande, que me serviria como alcova.
Após a mudança e organização, sentia-me
aliviado. Estava fazendo a coisa certa independente
do resultado. Sem nenhuma sombra de dúvida, fui à
multinacional levar as chaves da casa subterrânea
pessoalmente ao grande e poderoso Otávio Hilgert.
Helena se assustou com minha presença
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altiva. Com o semblante muito sério, a ignorei


quando pediu para que eu esperasse, que iria me
anunciar. Abri a porta da sala do poderoso chefão
sabendo exatamente o que fui fazer ali.
− Eis que aqui estão as suas chaves. –
praticamente as joguei sobre sua mesa.
− Não pode entrar assim aqui. – ele disse,
tentando mudar o rumo de nossa conversa.
− O que irá fazer? Vai chamar a polícia?
Onde estão os códigos de honra de sua Seita, que
poderiam muito bem impedir o mundo de
prosseguir seguindo a ordem natural das coisas?
− Não pode se afastar da Seita como se isso
fosse um assunto banal.
− Até que eu descubra o motivo pelo qual
não posso me afastar, entregarei por minha conta,
as coleções da próxima estação. Cuidarei da
menina que está sob minha proteção. Apenas não
quero invasão em minha privacidade. Não permito
me sentir menos homem tendo que baixar a cabeça
para tudo que me ditam, como se perder a vida
fosse mais importante que perder a honra. Não
estou me negando a cumprir absolutamente nada do
que estava naquela merda de carta. Tudo continua
como antes, apenas não quero ninguém entrando
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em minha vida como se ela não tivesse propriedade


dirigida a mim.
− Mais alguma coisa a dizer?
Virei minhas costas sem lhe dar atenção.

Assim que entrei no carro, Manuela ainda


estava latente em minha cabeça. Meu telefone
tocou.
“Sou eu, Helena.” – disse ela numa voz
preocupada.“O que está acontecendo entre você e
Otávio?”
“Além dos perfumes que crio para ele
enriquecer?” – disse ironicamente. Sei que não
deveria descontar minha revolta na menina, mas
naquele momento, qualquer que fosse o assunto
que tocasse no nome daquele crápula, certamente
me irritaria.
“Eu não sei, senhor. Estou preocupada
somente.”
“Desculpe-me, menina. Não estou num bom
dia. Vou organizar minha cabeça, quando estiver
melhor irei lhe procurar.”
Desliguei o telefone e pensei que não deveria
ser rude com Helena. Mas algo passou a me
preocupar deste nosso relacionamento. Seria mais
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um problema com este Otávio. Nossos encontros e


caso é meramente sexual. Eu dou o que ela precisa,
e ela me agrada demais na cama. Mas algo parece
que não é o correto, pois estar ao lado daquele que
não a trata bem seria como anular todos os nossos
bons momentos. Mas jamais tomaria qualquer
decisão por ela.
Fui direto ao endereço do antigo trabalho de
Manuela. Lá poderia obter algumas informações a
respeito de sua vida pessoal, talvez um número de
telefone, ou o endereço onde mora ou algo assim.
− Em que posso ajudá-lo? – perguntou uma
moça que usava o mesmo avental em que vi
Manuela um dia na loja.
− Gostaria de falar com Manuela. – disse,
esperançoso.
− Senhor, já faz algum tempo que ela saiu da
empresa. Aliás, não temos notícias dela. Seria algo
relacionado ao antiquário?
− É algo pessoal, de interesse da senhorita
Manuela. O único contato que eu tinha era esta loja.
Você saberia me dizer onde eu poderia encontrá-la?
Talvez um endereço ou telefone? É de suma
importância.
Eu não quis me estender muito, pois não
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havia pensando em nada contundente para


justificar. A moça pediu licença e foi verificar no
escritório, que ficava no fundo da loja.
− Não tenho autorização para passar
informações de residência de funcionários ou
antigos funcionários, mas... – ela olhou para os
lados. – Eu era uma amiga pessoal de Manuela.
Caso queira, posso passar seu contato a ela, assim
que conseguir notícias.
− Mas você sabe onde encontrá-la? – minha
vontade era de perguntar como ela estava. Precisei
controlar minha ansiedade.
− Sim... – sua resposta foi hesitante.
Peguei meu cartão e a entreguei.
− Não se esqueça, é muito importante e
sigiloso. – fiz um gesto com o dedo nos lábios, o
que a fez notar meu interesse.
− Vou ver o que faço.
Saí dali me sentindo mais leve. Eu sabia que
voltaria a vê-la. Eu confiava nesta possibilidade.
Estava difícil de passar esses dias sem notícias dela.
Gostaria ao menos de saber como ela está. Sentia-
me culpado por estar de volta com o marginal do
marido. Se não tivesse agido pelo impulso,
poderíamos ter fugido juntos; quem sabe ter saído
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do país e voltado para a Espanha. Agora precisarei


de tempo e paciência para encontrá-la novamente.
Espero que nada de mal possa lhe ter acontecido.

Mudar de casa e ambiente foi a melhor


atitude tomada durante todos esses anos. A alegria
estampada no rosto de Laura era algo incrível,
parecia uma criança ao arrumar seu novo quarto, e
em outros momentos, seu deleite na piscina ou
deitada sobre as cadeiras de sol enquanto se
bronzeava, não fazia apenas ela feliz, mas
imensamente a mim.
Havia combinado com Shadia que iniciaria
seu trabalho comigo hoje, por isso fiquei sondando
o relógio para saber se ela realmente cumpriria com
tudo que havíamos combinado em termos de
responsabilidade e horário. Antes que eu julgasse,
faltando apenas um minuto para a hora marcado, a
campainha tocou e fui recebê-la.
Estava adequadamente vestida e bem
penteada. Nos pés, um lindo sapato vermelho no
modelo boneca. Nada nela parecia desagradável e
fora do tratado, veremos nos dias ou meses
seguintes, se permanecerá a primeira impressão.
Mostrei a ela a nova casa e laboratório, o que
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pareceu não lhe espantar muito com o requinte do


lugar, certamente viera de uma família com boa
situação financeira, e nada ali era demais ou
novidade.
Consegui encontrar um cantinho para ela
trabalhar; coloquei uma escrivaninha de mogno,
agenda, canetas e um armário multiuso. Acima da
escrivaninha, uma estante com uma pequena
coleção de livros. Não sabia ao certo se era de seu
agrado os títulos escolhidos, ou sequer, se a menina
apreciava leitura, mas tenho comigo que o
incentivo às coisas saudáveis da vida nunca era
demais.
Ela passou a mão na cadeira de couro
marrom, em seguida tocou com a ponta dos dedos
cada um dos livros. Não sabia dizer se estava feliz
com a pequena surpresa. Apenas esboçou um
sorriso inexpressível e falou sem olhar para mim.
− Crepúsculo já passou da época. - criticou
encerrando ali meu sorriso que guardava a
expectativa de que a agradaria.
− Não importa, livros sempre serão livros,
independente de quanto tempo foram lançados.
−Eu já o li, mas isso foi há muitos anos, não
sou mais tão adolescente para ler algo do gênero. -
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cruzou os braços e esperou minha reação que não


tardou.
− O preconceito é ruim em todas as idades. -
virei o rosto para não ter que acreditar, que em
menos de dez minutos de sua chegada, já estava
criando atritos.
− Tudo bem. Eu não vou discordar quanto a
gosto por leitura, porque como a maioria das coisas
pessoais, cada pessoa tem o seu favoritismo.
− Sem dizer que milhares de fãs do livro,
poderiam te pregar na parede, caso fizesse este
comentário publicamente.
− Meus pensamentos nem sempre precisam
ser públicos, aprecio minha autopreservação.
Atrevida.
Abusada.
− Bem, hoje mesmo pode retirar os livros da
estante. Vamos logo ao que nos interessa, que é o
trabalho.
− Serei hoje, a secretária ou tester do seu
produto?
Respirei fundo, cruzando os braços. Não
tinha mais idade para lidar com espécies rebeldes
que quer se impor a todo o custo.
− Senhorita Shaida, vamos começar pelo bom
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senso. Aqui, neste tipo de trabalho você fará o que


eu achar que precisa que seja feito. Não estou
gostando do modo afrontoso que tem demonstrado
logo nos dez primeiros minutos de sua permanência
aqui. Não precisa me provar nada além de que
realmente está interessada na vaga.
Ela me olhou com olhar de desculpas, mas
nada disse além de:
− Sim senhor.
Passei a ela o serviço do dia, na expectativa
de que voltaria a qualquer momento se rebelar
novamente, mas isso não voltou a acontecer. Não
retirou os livros ou falou pelos cotovelos. Horas
mais tarde, em seu intervalo, eu a vi lendo
Crepúsculo como uma boa menina. Sorri satisfeito.
Pensando na privacidade de minha casa,
tomei o cuidado para que Shaida não tivesse acesso
a meu espaço intimo, onde ficava minha casa. Mas
foi um pouco difícil de controlar, pois antes de sair,
foi à cozinha do escritório e viu pela janela, Laura
tomando banho de piscina. Entrei neste exato
momento, e a vi olhando fixamente para minha
menina.
− Esta é a moça que estava com os peitos
para fora naquele dia?
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Sem ter o que dizer, preferi que a conversa


fosse cortada pela raiz.
− Esta moça se chama Laura, e este assunto
não lhe diz respeito.
Ela balançou a cabeça e disse num gesto:
− Hummm...
− Por hoje, encerramos nosso expediente.
Amanhã passarei para você estudar as origens das
essências e algo sobre a produção de perfumes,
para que comece a me ajudar no laboratório.
− Tudo bem, estou ansiosa.
Pegou sua bolsa, a chave de seu carro e se foi
sem despedir.
Fiquei parado tentando entender que tipo de
garota era aquela.

Passei a noite deitado em minha cama. A


imagem de Manuela não saia de minha cabeça,
estava alucinado por essa menina. Não sei o que ela
tinha, nem o que fez, sei apenas que o azul dos seus
olhos me prenderam de tal modo, que não sentia
sequer vontade de estar com minha Laura.
Acendi meu charuto e fiquei olhando a
fumaça se esvair pelo ar. Deitei e me levantei da
cama. Tomei um banho e me servi de uma taça de
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vinho. Alucinado, saí pelas ruas à caça de prazer.

Um lupus em amargura precisa de diversão


que não sejam suas meninas.
Não as usaria para tirar de dentro de si, sua
própria dor.

Andei a pé, estava um pouco fresco e nada


parecia me satisfazer. Olhei para as meninas nas
calçadas, elas não são do tipo de brinquedo que me
preencheria naquele momento. Eu queria alguém
que tivesse carne real, coração e sangue; alguém
que gemesse de verdade, e tremesse quando tocada.
Uma mulher que balbuciasse palavras desconexas
quando sentisse que seu útero fora invadido por
algo quente e insaciável que o encostasse, sentindo
os pontos durinhos por dentro,que se lambuzasse
neste momento, exalando um cheiro de lascívia à
medida que fosse penetrada, espumando como
prova de sua realidade notória.
Coloquei a mão no bolso, para segurar meu
amigo que já se fazia visível. Quanto mais eu
andava, mais massageava minhas partes afetadas
por minha insanidade. Parei para respirar, quando
vi um carro estacionando. O vidro elétrico foi
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baixando, uma loira exuberante se revelou usando


um batom vermelho. Num sorriso provocante, ela
me abordou. Notei seu decote com os peitos quase
pulando para fora. As coxas estavam de à mostra
num vestido preto e curto.
− Olá bonitão...
Balancei a cabeça num jeito quase cafajeste.
− Boa noite. – disse, esperando o que vinha
adiante.
− Quanto está o programa?
Se alguém tivesse me contado sobre este
episódio, eu não iria acreditar.
− Hum... Bem, para você faço por cem reais.
– entrei na brincadeira.
− Nossa... Está em promoção?
Senti vontade de rir, mas estava disposto a
entrar no fetiche dela.
− Não, meu preço é muito caro, mas fui com
a sua cara. Podemos nos divertir por um preço em
exceção.
− Gostei de você... Aliás, gostei de tudo em
você... Principalmente do que está tentando
esconder aí no seu bolso...
Eu soltei o meu amigo, e deixei que ela se
deleitasse com o volume por baixo da calça.
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− Parece que ele gostou de você também...


−Então entre aqui, vamos ver se não estamos
enganados um com o outro.
Assim que entrei, fiz um tipo tímido, sorriso
pequeno e tentei desviar meus olhos dos dela.
Quando deu partida no carro, eu coloquei a mão
por debaixo do seu vestido e apertei os dois lados
de sua menina, de um jeito que comprimisse o
clitóris, ouvindo-a gemer, enquanto o outro dedo
escorregou até seu esconderijo, estava
extremamente molhada.
− Que dedo gostoso... Hummm...
− Ponha o pé agora no freio e estacione. –
ordenei, o que a fez me olhar espantada, mas com
certa malícia. – Agora abra bem essas pernas. –
disse eu, abaixando seu banco, e partindo para cima
dela. Deliciosamente, tirei meu cinto e com cuidado
pus em torno do seu pescoço. – Agora você vai ver
o que o garoto de programa é capaz de fazer com o
seu marisquinho.
Trouxe-a para meu lado e passei a sugá-la
como um bezerro que acabara de nascer. Segurei
com tanta força sua bunda, trazendo-a de encontro
a minha boca, que meus dedos pareciam entrar em
sua pele. Pelos cabelos, eu a coloquei no banco de
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trás, seguindo atrás dela. Pus um preservativo


guardado em minha carteira para momentos
repentinos como este, e a penetrei com tanto vigor,
que meu pau chegou a latejar com a compressão
que vinha de dentro dela. Segurando seu pescoço e
puxando seus cabelos, ela gozou aos gritos, precisei
tapar sua boca.
Quando terminamos, eu a pedi para me levar
de volta para onde me encontrou. Assim que
estacionou o carro, pegou sua bolsa e já ia tirando
uma nota de cem reais da carteira. Eu ri alto como
há muito tempo não fazia.
− Por que está rindo, moçinho?
− Porque não sou garoto de programa.
Guarde seu dinheiro para fazer suas unhas. Quem
sabe, se tivermos sorte, um dia nos encontramos
por aí.
Desci do carro ainda sorrindo. O pensamento
dela era dizer, filho da puta. Procurei meu carro e
entrei, enquanto ela ficou lá parada, olhando para
mim. Aproximei-me dela após dar a partida,
pisquei um olho.
− Como faço para te encontrar de novo? – ela
quis saber.
− Se merecermos, o destino se encarregará
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disso.

Sei que muitas não me entendem...


Mas somente sei me doar por completo,
para aquela que possui a desproteção.

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Capítulo 8

Estou com fome. Sede. Ânsia de você


De tomar seu corpo todo
E coloca-lo dentro do meu,
Para que nunca mais precise sair de perto de mim

Laura e eu dormimos juntos por dois dias,


pensei muito a respeito disso, e concluí que estava
me tornando um Lobo amolecido por dentro, que
também sentisse falta de carinho e cuidados, ela me
proporcionava isso, o ruim era de que me
encontrava assim, por apenas um motivo -
Manuela.
Depois de uma semana toda repleta de
angústia e provocações de Manuela, que ora se
aparentava uma menina rebelde desejando ver o
pior de mim, ora pareciva se esquecer de tudo que
fez, e demonstrava a menina admirável dentro de
si.

Uma incógnita.
Estava diante de uma caixa de pandora.

Entrei na sala onde se encontrava a mesa de


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Shaida e a vi lendo. Provavelmente não meu viu a


observar, pois estava distraída demais, era seu
momento de folga. Percebi quando gemeu baixinho
e vi suas mãos se movimentarem por debaixo da
mesa. Não era certo eu estar ali, sondando a
menina. E muito menos certo era o fato de ela estar
se masturbando em seu ambiente de trabalho.
Fiquei num impasse, não sabia se a interrompia ou
se continuava a espreitá-la. Continuei ali.
Ela fechou por instante o livro e gemeu um
pouco mais alto, num ruído instantâneo, certamente
estava receosa de ser flagrada. Escutei quando disse
baixinho:
− Senhor Alejandro... Ah, Senhor Alejandro...
Ela estava se masturbando para mim...
Quando estava quase lá, colocou sua cabeça
para trás e ficou se contorcendo e estremecendo o
corpo todo. Assim que terminou, estava ofegante e
visivelmente relaxada. Pegou seu celular e enviou
um áudio:
“Eu não sei, Pedro... Não sei se o verei hoje.
Você sabe que meu pai me visita frequentemente, e
seria uma péssima idéia ele te pegar em casa.”
Agora fiquei confuso.
Pedro?
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Shaida mora sozinha?


Ela havia me dito que queria a vaga para ter
sua independência, eu havia entendido, mesmo sem
perguntar, que queria morar sozinha, e não que já
morava sozinha. Tem alguma coisa errada aí.
Mentiu para mim, mas por qual motivo? Não
deveria ser uma mentirinha de menina, algo de
muito errado acontece na vida dessa pirralha.
Saí rapidamente, para que não me pegasse de
espreita.

Após ter terminado a nova coleção da


próxima estação, fiz como o prometido, paguei o
transporte da carga para ser entregue, não apenas na
multinacional de Otávio, mas para ser entregue em
suas mãos, e provar que minha palavra está
diretamente ligada a minha honra.
Meu celular tocou por algumas vezes, e a
ligação vinha de um número privado. Quando isso
acontecia, eu não conseguia dormir. Imaginava que
poderia ser Manuela tentando falar comigo, e por
algum motivo estava impedida. A sensação era de
uma completa impotência. Se ao menos tivesse
uma pista sequer, me sentiria mais aliviado. Por
este motivo passei a sondar várias vezes por dia o
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local onde trabalhava,quem sabe sua ex-colega de


trabalho tivesse conseguido entrar em contato com
ela e tivesse boas notícias.
Cheguei a entrar no antiquário, mas as duas
vezes que me arrisquei, a moça estava atendendo e
eu não quis incomodá-la. Em silêncio voltei para
meu carro com uma puta vontade de rasgar o
mundo atrás de minha prenda.
Quando tentei acalmar meu coração, meu
telefone tocou mais uma vez. Era o mesmo número
privado que me enlouquecia aos poucos e
irremediavelmente. Mais que depressa atendi. O
silêncio imperava do outro lado.
“Vai ficar ouvindo a minha voz ou falará o
que quer de vez?” – perguntei angustiado.
“Senhor...”
Era a voz dela. Não sei o que senti, mas de
repente uma vontade louca de entrar naquele
aparelho de celular era maior que a mim.
“Manuela, por favor, diga como está, onde
está...” – estava com uma voz aflita, tinha medo de
cair a ligação ou por algum motivo, ela desligar
sem que eu tivesse a chance de saber o que estava
acontecendo.
“Por favor, na Avenida Central, amanhã às
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17 horas, em frente ao café Bandego.”


Desligou.
Não sei se estava louco ou outra coisa que
não queria nem pensar a respeito, mas meu corpo
estava transpirando. Nunca me senti assim por
nenhuma outra mulher. Minha vontade era de
correr contra o tempo, aquela ansiedade me cegava
e consumia. O que eu desejava naquele momento
era que as horas passassem rapidamente e não me
dessem tempo de pensar.
Anotei o endereço e servi um drinque.
A porta se abriu e vi aquele rosto tão
conhecido olhando pela fresta. Estava tão fora de
mim, que se fosse algo que merecesse uma
chamada de atenção, eu não estava propício a isso
naquele momento. Shaida entrou sem esperar
minha permissão e ficou ali, prostrada a minha
frente com os braços languidos estendidos ao lado
do corpo. Olhava-me como se fosse uma criança
pedindo doce, o que me tirou as forças para
censurá-la.
− O que há, Shaida, terminou seu serviço?
Deve haver um motivo razoável para invadir em
minha privacidade sem pedir permissão.
− É que não o vi hoje direito.
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− E o que tem isso? – dei um trago no meu


charuto.
− Eu fiquei até preocupada...
− Preocupada com o quê?
− Nunca lhe vi assim, só isso.
− Está tudo bem comigo. Você já terminou
seu serviço?
− Sim, está tudo em ordem.
− Então pode ir, está liberada.
Ela ficou olhando para seus próprios sapatos,
como se desenhasse algo no chão, com a ponta de
um deles.
− O que há com você, menina? – disse eu,
percebendo que ela queria falar algo.
− Não é nada não. Bem, já vou então.
Ficou ainda parada olhando para o meu rosto,
causando-me certa intriga.
− Está me escondendo alguma coisa?
Então ela desatou um choro que parecia sem
fim, enquanto batia com as mãos em suas pernas.
Levantei-me e fui até ela, tentando acalmá-la.
− Fale de vez, está me deixando intrigado.
Ela respirou fundo, limpando o rosto com a
manga da blusa de linho azul.
− Às vezes sinto um desejo insano de
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desaparecer de uma vez por todas deste mundo, e


do outro, se realmente houver.
− De quem está falando?
− Minha vida, apenas isso.
− E o que tem sua vida? Acho que já
passamos da hora de termos um conversa franca,
você não acha?
Ela hesitou em respondeu, torcendo o nariz
para o lado, parecia com tanta raiva quanto eu.
− Não é nada, senhor Alejandro, estou na
TPM, não é nada sobre qualquer pessoa ou sobre
mim... – ela disse tentando esconder algo, eu notei
em suas expressões corporais, percebi também que
seu cheiro modificou, o ar estava todo tomado por
ele, algo cítrico e forte, não mais o cheiro das rosas
matinais, suave e doce.
Levantei e me aproximei dela, olhando
fixamente em seu rosto. Encolhia os ombros na
tentativa de me esconder o que tinha a dizer, mas
eu a espremia com o olhar, ela iria dizer por bem
ou por mal.
− Essa justificativa não me convenceu. A
quem pensa estar enganando? Seu coleguinha da
escola? – coloquei um braço na parede, parando de
frente a ela, comprimindo-a. – Vamos, diga logo de
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vez, sem enrolação.


− Mas estou dizendo a verdade, senhor... –
ela tentou fugir novamente num choro exaltado,
como se isso fosse me intimidar.
− Não, você não está falando a verdade. Acha
que sou tão idiota assim, a ponto de acreditar no
que disse? Não é mais um bebê para sentir medo de
bicho-papão, ou é? Dias atrás me provou
maturidade para me afrontar... Onde está a menina
atrevida e destemida que acha que o mundo é dela?
Ficou vidrada em meus olhos, pude sentir
medo sim, mas não era o de meu olhar.
− Não tenho nada a dizer... – seu corpo tentou
sair da parede onde fora encostada.
− Você começou a me falar... Entrou
assustada, alguém veio aqui? Alguém te disse
alguma coisa?
− Não! – disse num tom alto tentando
encerrar o assunto.
Dito isso, escapou pelo vão dos meus braços
estendidos contra a parede e saiu correndo. Ouvi
quando bateu a porta da frente. Saí atrás dela, mas
não tive sucesso, a pequena era arisca e ligeira. O
que deve ter acontecido só saberei quando ela
mesma dizer. Por enquanto tudo é apenas
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cogitação.
Laura entrou na sala naquele momento e
ficou me olhando de soslaio. Seu olhar me fazia mil
e uma perguntas.
− Senhor, esta menina...
− O que tem a Shaida?
− O senhor não a acha um pouco estranha?
− Não, não vejo nada de estranho nela. –
obviamente escondi a verdade, mas não iria
alimentar coisas na cabeça de Laura.
− Ela é realmente apenas uma funcionária?
Parei para tentar imaginar onde Laura queria
chegar com suas insinuações.
− O que há com você?
− Ela é aquela pintura em seu quarto...
− O que tem aquela pintura? Está fuçando em
minhas coisas?
− É a mesma menina ou muito parecida com
ela.
Eu havia me esquecido desse detalhe.
Certamente alguém algum dia, se tivesse conhecido
Dolores, iria dizer o mesmo. O quadro na parede
apenas revela detalhes que eu tentava esconder.
− Mera coincidência. Muitas vezes uma
pintura pode se assemelhar a muita coisa, mas é
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apenas ficção, algo criado, nada real.


− Está muito estranha essa história... Desde
que essa tal de Shaida adentrou aqui, o senhor anda
agitado. Já a vi algumas vezes lhe afrontando...
− Está me cuidando pelas arestas da casa?
− Não senhor, mas às vezes é impossível não
perceber, mesmo que eu não queira.
− Tudo bem, saiba apenas que quero meu
trabalho muito bem separado de minha vida
pessoal.

O dia amanheceu e com ele meu coração


batia em descompasso.
Iria ver Manuela... Finalmente teria alguma
notícia sobre ela.
Acordei e fui tomar meu café, que já estava
posto à mesa, caprichadamente pela senhorinha que
me acompanhava desde a casa subterrânea. As
pessoas não entendem ao certo, o que um homem
cheio de segredos como eu, fazia de minha vida,
mas esta senhora sempre cumpriu com seu dever
sem sequer ser indiscreta, isso fez com que
ganhasse meu respeito e admiração.
Olhei no relógio de pulso, Manuela estava
atrasada. Nunca havia acontecido isso, mas
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certamente sempre tem a primeira vez. Li o jornal,


fumei meu charuto, e nada dela aparecer. Peguei
meu celular e disquei seu número, caiu na caixa
postal. Não ficarei intrigado com isso, deve estar
querendo chamar a atenção, coisa de menina.
Levantei e fui para o laboratório criar meus
perfumes enquanto não chegava às dezessete
horas. O dia estava iluminado, assim como sempre
é quando acontece algo que desejamos muito.

Lá estava eu, ansioso em frente ao café. Olhei


pelo menos umas vinte vezes no relógio, contando
os segundos que não passavam. Eu havia chegado
com quinze minutos de antecedência. Assim faria
qualquer homem que se preze ao ir a um encontro
tão importante.
Quando a vi andando pelas calçadas, senti a
euforia de um menino de quinze anos. Meus braços
a abraçaram sem antes cumprimentá-la, tamanha
era o desejo de vê-la novamente. Sua pele estava
fria, senti nela a insegurança, beijei seus olhos.
Fomos para meu carro, era arriscado ficar ali, sem
antes saber o que estava acontecendo.
Dentro do carro, com uma mão, guiava, e
com a outra acariciava sua nuca, ombros, costas e
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cabelos. Aos poucos ela foi relaxando, e quando vi,


estava com a cabeça deitada em meu colo. O
sentimento me contagiava a ponto de sentir o
desejo de perder a cabeça e fazer qualquer coisa
para trazê-la para o meu mundo.
Fomos para um motel. Fiz questão de tirá-la
do carro nos braços, carregando-a até a cama. Abri
uma garrafa de champanhe e a servi.
− Antes de qualquer coisa, quero que me
conte o que está acontecendo com você. Senti medo
de nunca mais vê-la.
Ela tomou um gole de sua taça e me olhou
com os olhos cheios de lágrimas.
− Voltei para minha casa. Eles me levaram de
volta.
− Otávio me disse, mas como você está lá
com o crápula do seu marido?
Manu suspirou antes de dizer qualquer coisa,
era visível sua tensão.
− Nunca estaremos bem, mas pelo menos
desta vez ele pediu perdão.
− Você o perdoou? Não procurou uma
delegacia para entregar este miserável nas mãos da
polícia?
− Fiquei com medo. – abaixou sua cabeça e
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começou a chorar.
Enxuguei suas lágrimas e a beijei.
− Não precisa chorar, mas terá que enfrentar
esse medo e fazer o certo. O que ele fez é crime,
você poderia ter morrido. Não pode banalizar este
fato. Ele pode tentar novamente, não é uma boa
idéia você ficar no mesmo espaço que ele.
− Não estou conseguindo tomar nenhuma
decisão neste momento... Eu sei que estou sendo
covarde, me perdoe por decepcioná-lo... Procurei
um terapeuta para me tratar e tomar coragem de
enfrentar a situação.
− Você não precisa voltar para aquela casa.
Eu escondo você, te roubo do mundo, te cuido.
Olha para você... Não precisa se permitir a ser
magoada e maltratada. É jovem, tem muita coisa
ainda pela frente, que poderá te preencher de
alguma forma e te mostrar que viver é bom. As
mulheres hoje em dia não precisam ter um marido
para ser alguém na vida.
Ela me abraçou e deitou no meu peito.
− Vai chegar o momento em que isso
realmente irá acontecer, te peço que não desista de
mim, que continue acreditando que pode ser
possível.
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Eu peguei sua cabeça com as duas mãos e


beijei todo seu rosto.
− Menina, você não sabe o que está
acontecendo comigo por sua causa. – apertei seu
corpo contra o meu por uns segundos, e voltei a
olhá-la nos olhos. – Olha para mim... Eu nunca
disse isso a nenhuma outra mulher. Nem quando
senti vontade... Eu estou totalmente apaixonado por
você.
Ela quis dizer algo, ficou sem palavras.
Entendi que seu estado emocional a bloqueara de
tal forma que somente o tempo poderia consertar.
− Eu... também estou pelo senhor.
Tirei toda sua roupa entre beijos e carícias.
Estava tão louco por essa mulher, que mal quis
saber o que iria acontecer depois, eu só queria me
entregar a ela naquele momento. Queria estar em
seu mundo de algum modo.
Grudei em seus cabelos e a penetrei
desesperadamente, com gana e paixão, sentindo sua
carne macia e quente. A ânsia era tamanha, que
queria tudo de uma só vez, assim que a penetrei,
estoquei algumas vezes e senti a intensamente.
Cegamente.
− Estou louco por você...
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Um lobo jamais esconde o que sente,


por mais perigoso que isso se torne.
Sei que não podia... Mas estava apaixonado.
Agora era o momento de fazer uma escolha.

Queria de todas as formas e ângulos, meu


sentimento movia meu corpo como um radar. Seu
cheiro ia se espalhando por todo meu corpo como
algo incapaz de se dissolver. Jamais fodi uma
mulher assim, beijando na boca, me importando
para o que eu sentia por dentro, no local mais
íngreme existente em mim.
Na fúria louca, amarrei suas mãos na cama,
fiquei por minutos observando seu rosto, a
expressão de sua excitação. Esfreguei-me nela com
o pau por todo seu corpo. Queria deixar meu rastro
por onde existisse vida em si. Mordi com desejo,
deixando meus dentes cravados em sua pele, sua
nuca, bunda, coxas...
− Preste atenção, menina... Quero você em
mim, para que ao acordar, eu possa prová-la de
novo, como se estivesse ao meu lado. Quero que
meu coração bata e eu sinta você, respire você,
cheire você. Entendeu?
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Saímos do motel e fomos para o haras, queria


que ela conhece o lugar. O dia estava propício. Os
pássaros pareciam mais felizes, não sei se são
capazes de sentir o que acontece dentro das
pessoas, mas naquele momento, o universo parecia
conspirar para que tudo desse certo, e aquele dia...
Aquele dia estava tudo perfeito.
Pegamos o cavalo e eu a ajudei a montar no
animal. Fui atrás, com o rosto em cima do seu
ombro, beijando seu pescoço e nuca. O vento varria
seus cabelos em meu rosto, eram tão macios...
− Vamos embora comigo à cavalo para
algum lugar? Ninguém precisa saber sobre nós...
Não precisaremos ter uma casa ou problemas,
compromissos, nada que nos desviasse do que
poderemos viver por aí.
Ela riu e apertou minha perna.
− Se pedir de novo, eu vou. Juro que vou. –
riu, virando seu rosto para eu beijar sua boca
gostosa. Fiquei com o pau duro na hora.
Com o cavalgar do animal, o cheiro dela tão
próximo de mim, o corpo, a temperatura... Passeei
com a mão por todos os seus contornos e a toquei
na boceta, que já estava úmida. Não podia pensar
duas vezes, parei o cavalo e a desci dele sem dizer
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nada.
Tirei nossas roupas, olhando para os lados,
parecia que estávamos a sós, além dos pássaros,
pelo menos, era com isso que eu contava. Joguei as
roupas no chão e me deitei sobre seu corpo nu. O
cheiro do capim misturado ao gosto dela me deixou
extremamente excitado. Passei a penetrá-la com
força e vontade. Manu fechava seus olhos, e me
pedia mais, eu lhe dava o que ela queria.
Estávamos tão excitados, que a cabeça do
meu pau parecia que ia explodir. Peguei em seus
cabelos e puxei, trazendo o rosto dela para perto do
meu. Olhei em seus olhos, já quase gozando e
disse:
− Eu quero você só para mim...
A chuva fina veio, e nossos corpos ardentes
não conseguiam se desgrudar. Assim como o
primeiro e o segundo orgasmo, sem nos soltarmos.
Era incrível saber que eu estava sentindo e vivendo
este sentimento.
Foi difícil deixá-la ir. Nossas mãos foram se
soltando aos poucos. Confesso que meus olhos
lacrimejaram e o vazio me tomou por completo. Ela
fechou a porta e desapareceu no meio das pessoas.
Meus olhos a seguiram mesmo sem vê-la. Seu
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cheiro todo ficou em mim. Não importa o quão


mágico seja, o aroma dela é acima de tudo uma
obra de arte com as matérias-primas, um bouquet
magnífico de Ylang-Ylang das Ilhas Comores,
Rosa Damascena e Jasmin Sambac.
Neste dia fui dormir como se estivesse
vivendo um sonho, ou algo que fora resgatado
verdadeiramente, para ser vivido de uma vez por
todas. Talvez ela seja a pessoa certa para tirar
Dolores dos meus pensamentos.

No dia seguinte, esperei por Shaida, e ela não


veio novamente. Tentei várias vezes telefonar, e o
celular estava desligado, passei a me preocupar. Por
mais infantil que seja, não iria manter esse jogo
apenas para me preocupar.
Esperei o dia passar, quem sabe daria alguma
notícia, mas não tive sucesso nesta expectativa. Fui
até a ficha com seus dados que pedi que
preenchesse para poder lhe dar a vaga do emprego,
e anotei o endereço, irei atrás dela.
Meus passos andavam pela casa, mas minha
alma estava em Manuela, apesar de todas as
preocupações ao meu redor. Dentro de mim havia
apenas um pensamento fixo, a menina com cheiro
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de flor.

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Capítulo 9

Eu confio em mim,
e no quanto eu desejo uma mulher,
e no que me transformo quando isso acontece

Parei o carro de frente a uma casa bonita, mas


de aparência pequena. Parecia confortável, mas
solitária. Toquei a campainha e fiquei esperando
que aparecesse alguém. Depois de dez minutos,
nada. Toquei novamente. E de novo. Depois de
algum tempo, a imagem da menina descabelada
que usava um camisetão e pantufas, surgiu na porta
de madeira talhada. Ficou parada na dúvida se
vinha ou não me receber. Cruzei os braços e esperei
sua decisão. Olhei-a por cima dos óculos de sol e
balancei a cabeça em desaprovação.
Sem muita vontade, ela desceu o três degraus
de pedra de mármore que havia após a porta e foi
até o portão basculante vazado. Continuei com os
braços cruzados até ela abrir o portão e eu entrar
sem ser convidado.
− Costuma sempre invadir a casa alheia? Eu
costumo ligar antes para saber se posso ir. – disse

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ela, num tom mal-humorado.


− Ei... Seu celular estava desligado. Tentei
inúmeras vezes sem resultado. Quem você pensa
que é para sumir assim? – era num tom de
brincadeira, mas na verdade eu estava realmente
preocupado.
− Não lhe devo satisfações de minha vida
pessoal. – respondeu secamente, tentando se
defender de algo que eu não conseguia entender.
− Alto lá, mocinha, que mau humor é esse?
Me deve satisfações sim, afinal, sou o seu patrão. –
esperei por um momento o seu convite para entrar,
mas ele não veio, resolvi me convidar. − Agora que
estou aqui, posso entrar?
− Melhor não... Vamos conversar em outro
lugar.
Fiquei desconfiado de algo. O que tinha
naquela casa que ela tentava esconder? Talvez
estivesse ligado ao motivo de sua pequena mentira
ao dizer que morava com os pais, mas tudo era tão
hipotético, que somente através da boca dela, que
eu realmente conseguiria saber.
− Vamos lá, se troque e entre no carro.
− Não. Vou assim mesmo.
Eu a olhei dos pés a cabeça. Ela não iria sair
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assim...
Percebendo minha reprovação, tratou de se
adiantar:
− O que tem demais? Não vou descer do
carro, quero apenas sair daqui. Podemos dar uma
volta e parar num lugar tranquilo.
Partimos, mesmo contra a minha vontade.
No carro, ela mesma ligou o som e mexeu no
porta-luvas.
− Ei, o que acha que está fazendo? –
perguntei.
− Estou procurando um chiclete. – respondeu
com as sobrancelhas arqueadas.
− Eu não uso essas porcarias.
− Deveria, é ótima distração para pessoas
ansiosas. Melhor que fumar charutos.
− Estou bem assim. Não tenho ansiedade.
Passou a cantar a música que ouvia. Pegou
uma caneta que se encontrava no painel e prendeu
os cabelos. Notei um hematoma próximo a orelha.
− O que é esse roxo aí? – perguntei
preocupado.
− Não é nada. Bati na porta do banheiro.
Fiquei desconfiado.
Estacionei o carro debaixo de algumas
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árvores, num lugar pouco movimentado.


− Aqui está bom?
− Sim, menos mal.
− Então comece a falar. Deve-me algumas
explicações. – desliguei o som do carro e ela fez
um bico de descontentamento.
− Estou com problemas em casa. Briguei com
meu pai.
− E isso lhe dá o direito de faltar ao serviço?
− Sim e não... Bem... Estou passando por um
momento difícil, sabe... Pareço uma boba infantil,
mas na verdade minha vida é conturbada.
− Você nunca me falou muito sobre sua vida.
Fugiu disso o tempo todo. Eu poderia ter lhe
ajudado, se falasse a verdade.
− Eu não sou mentirosa, apenas não gosto de
falar sobre mim.
− Não me parece tão sincera assim... –
lembrei de sua mentira quanto a morar com a
família. – Com quem você mora naquela casa?
− Por enquanto, sozinha. – ela parou de falar
e me sentir medo de não concluir, como tudo que
quer dizer e não diz.
− E por que disse que queria conquistar sua
independência? Imaginei que quisesse ter sua
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própria casa, pois foi isso que quis dizer quando me


pediu o emprego.
− É quase isso, não é basicamente uma
grande mentira.
− O que tem a me dizer então?
Ela ficou séria e olhou para mim como
alguém que pedisse socorro sem pedir.
− Preciso sumir do mundo.
− Por quê? Brigou com o Pedro? – fui
impulsivo, precisava pegar essa menina na mentira.
− Como sabe dele? – arregalou os olhos, ela
pouco sabia mesmo sobre o quanto eu seria capaz
de saber.
− Eu posso acabar sabendo de muito mais, se
não começar a me dizer quem é você realmente.
Shaida abaixou a cabeça e ficou mexendo em
seus próprios dedos e anéis.
− Desculpa ter mentido para você... Eu só
não queria que soubesse de minha vida, ela é um
pouco complicada. Sempre quis trabalhar, achei
que se mentisse, iria ser maior a minha chance. –
molhou seus lábios. – Que droga! Estou mentindo
de novo... Desculpa, senhor, eu queria ficar perto
do senhor, por isso menti. – pôs as duas mãos na
cabeça.
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− Não precisava mentir, bastava dizer. – eu


disse isso, mas fiquei perturbado com o que ela
disse. – Por que queria ficar perto de mim?
− Porque você me inspira proteção e...
cuidados. Coisa que não tenho de ninguém, e nem
sei o que é.
− Fale mais. – minha intenção era deixar que
ela abrisse sua caixa de pandora e soltasse seus
demônios. Essa menina precisa de alguém para
ouvi-la. Algo gritava dentro de mim, ajude-a.
− Você poderia me esconder em sua casa,
assim como escondeu a Laura?
− O que sabe sobre a Laura? – fiquei
preocupado e espantado.
− Nada demais, somos mulheres, sabe... E
nas horas vagas, quando o senhor não estava, a
gente se falava.
Dei um tapa no volante do carro. Eu não
estava acreditando que Laura falou algo sobre nós
para uma menina como Shaida, quase uma
adolescente. Poderia me colocar em apuros.
Quando chegar em casa, teremos uma longa
conversa. Agora precisava me concentrar com o
problema que estava a minha frente. Confesso que
me sentia um pouco atordoado com tantos dramas e
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situações novas na vida dessas meninas.


− Tudo bem, resolvo isso depois com Laura.
Agora me diga, por que quer que eu a esconda em
minha casa? Não aceito enrolação. Se, eu aceitar,
no mínimo devo saber o motivo, pois estarei
escondendo alguém, de alguém, dentro de minha
alcova. De quem você está fugindo?
Ficou muda. Os olhos grandes ficaram ainda
maiores. Ela precisava falar.
− Do meu pai.
− O que seu pai lhe fez?
Agora os olhos grandes encheram-se de
lágrimas. Diminuí minha ansiedade, sabia que
aquele era um sinal de gatilho, existia algo dolorido
ali.
Ela retirou sua camiseta, ali mesmo dentro do
carro, não se importando com as pessoas que
passavam na calçada. Tinha um motivo maior.
Tinha algo que a corroia e não conseguia dizer com
palavras. Observei o soutien de algodão, tão
delicado quanto o tom de sua pele.
− É isso que ele me fez. E faz desde os cinco
anos de idade. – mostrou alguns hematomas nos
ombros e braços, mordidas próximas aos seios.
− O que é isso, menina? Por que seu pai faria
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algo assim?
Ela se calou e seu silêncio disse tudo. Eu
poderia continuar a perguntar, mas nada dizia mais
que seus olhos. Abaixei minha cabeça e fechei
meus olhos. Fiquei assim por minutos incontáveis.
Então é por isso... É exatamente este o motivo que
ela tentava se matar. Numa impaciente vontade de
poder fazer algo, eu a abracei forte. Senti que
lágrimas desciam pelo seu pescoço, eu sentia sua
dor. As lágrimas eram minhas. O repúdio me
tomou por completo, me lembro de sua expressão
quando tentava se matar, e ninguém a via,
certamente acontece o mesmo dentro de sua
família. Ninguém percebe o quanto de sofrimento
vem passando por todos esses anos. Quando isso
acontece com um cara fora da casa da vítima, é
odioso, mas quando o criminoso é o próprio pai, é
repugnante, inaceitável.
− Vamos a uma delegacia agora mesmo. –
disse eu, enxugando meus olhos muito rapidamente
para que ela não os percebesse molhados.
− Não! – disse quase num grito.
− Por que não? – fiquei indignado olhando
para seu rosto.
− Estou investigando algumas coisas em
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relação a ele... Com o tempo te conto tudo.


− Vai contar agora! – eu disse já um tanto
zangado. Estava agoniado com tanto mistério que
essa menina fazia em torno das coisas.
− Sobre minha mãe... Quero descobrir quem
é. – novamente seus encheram-se de lágrimas. – Eu
não sei quem é... – caiu em meu colo. Seu corpo
todo soluçava como uma criança pequena. Passei a
mão em seus cabelos e a trouxe para meu peito.
Escutei seu coração batendo tão forte, meu corpo
todo se arrepiou. Estava carente, como o passarinho
que caiu do ninho. Sentia-a tão frágil e sem rumo, e
mesmo assim não fazia a noção da quantidade de
sofrimento que jazia em seu peito.
− Não fique assim... Vamos descobrir
juntos... Vou te ajudar.
− Preciso das informações dele, suportei tudo
por este motivo. Meu sonho é conhecê-la.
Minha mente quis me manipular sobre uma
possibilidade, mas era melhor não cogitar, sem ter a
absoluta certeza. Não poderia criar uma falsa
expectativa na cabeça dessa menina e ser mais um
que a fizesse sofrer.
− Vamos para minha casa. Eu te guardo.
Prometo que esse monstro não chegará perto de
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você.
− Ele vai desejar me matar se não me
encontrar mais aqui... Suas visitas são duas vezes
por semana. Não sei se tenho irmãs ou irmãos, sei
apenas que ele não me deixa faltar nada, mas tem
sido caro demais o preço por tudo isso.
− Nunca mais ele irá encostar um dedo em
você... Nunca mais... Agora vamos, vou levá-la
para pegar suas coisas.

Chegamos a minha casa já escurecendo. Os


olhos de Laura se enraiveceram ao me verem entrar
com Shaida na alcova, mas não disse nada, apenas
nos olhou e saiu.
Eu não estava sabendo lidar com meus
sentimentos. Desde que Manuela se infiltrou em
mim, não consigo tocar em Laura. Ela tem sentido
meu afastamento, mas é mais forte que eu. Não
posso ser desonesto neste momento. Se me acertar
com Manuela e conseguir trazê-la para perto de
mim, Helena e Laura serão apenas minhas
protegidas até que possam caminhar com suas
próprias pernas, longe do perigo e das garras de
homem mau-caráter. Passarei a segunda etapa de
minha missão com elas, que é o diálogo constante e
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os desafios para a liberdade. Não podiam ficar


dependentes de mim, como se eu fosse a cura para
o mal que as feria. Elas apenas mudariam de
doença. Apenas tampariam o sol com a peneira.
Estava disposto a abandonar a Seita e seguir meu
caminho ao lado de apenas uma companheira.
Certamente era por este motivo que me pediram
para jamais me apaixonar.
Não sou como Otávio, caso eu decidir que é o
momento de me casar, meu coração será de apenas
uma mulher, até o final dos meus dias. Já estou
envelhecendo, os fios começaram a ficar grisalhos
nas têmporas e barba. Estava seguro de que era o
momento de ser o Lobo de minha Chapeuzinho.
Cheguei ao quarto, Laura já estava deitada na
cama. Seu corpo atravessava o pudor e feria
cegamente os olhos de um homem em tentação.
Quanto mais eu dizia não para mim, mais o meu
corpo pedia.
− Por favor, se levante. – pedi, pois ela havia
se acostumado a dormir comigo depois de três dias
seguidos. Ela se sentou e me olhou estranhamente.
– Precisamos conversar.
− Sim senhor, pode dizer. – sentou-se ao meu
lado.
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Era muito cedo para dizer alguma coisa, eu


precisava primeiramente ter certeza de que
Manuela viria para cá, mas de qualquer modo,
estava altamente afetado por uma angustia
constante no coração. Seguiria solitário caso ela
não me quisesse.
− Não quero te ferir, Laura, para tanto é
preciso saber que precisamos entrar na segunda
fase de nossa missão juntos. Não quero que se
apegue a mim de forma doentia. Meu papel é te ver
bem e recuperada, curar suas feridas, suprir... – eu
sei que se falasse isso ia trair a mim mesmo. –
Suprir suas necessidades. Mas precisamos focar em
nosso objetivo.
− Não estou entendendo, senhor... – estava
confusa. Seu rosto demonstrava também, que
mesmo se entendesse, não queria ouvir ou aceitar.
− Quero saber como se encontra consigo
mesma desde que chegou aqui.
Ela abaixou a cabeça num sorriso e tocou sua
coleira.
− Senhor, quando colocou isso em meu
pescoço, eu entendi que seria para sempre. Entendi
que o senhor ia abraçar a minha vida e me fazer
feliz. Por isso estou plena neste momento como em
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todos os outros dias que passei ao seu lado.


Era uma situação embaraçosa. Logicamente
ela iria se ferir se dissesse que ia desistir da Seita.
Obviamente, como fez o traste, irei cortar seu
coração em mil pedaços. Sentia-me culpado. Mas
eu juro que não sabia que um dia em minha vida ia
me apaixonar de novo. Jamais senti vontade de
deixar a Seita, pois cuidar dessas mulheres era o
consolo para uma vida tão fria como a minha. Elas
me ensinaram a ser dócil e esquecer a hostilidade.
Laura continuou sorrindo e tocou em minha
mão.
− Senhor, independente do que irá me dizer,
saiba que jamais fui tão feliz em minha vida. Eu
aceito qualquer situação que decidir, mas que eu o
tenha por perto sempre. Não posso e não quero
ficar longe de sua proteção.
− Não pode ficar dependente de mim, Laura.
Isso não é saudável. Não quero que fique doente.
− Sei bem disso... Mas... eu prometo que não
precisa mais ser do mesmo modo como antes,
contanto que me deixe ficar aqui.
− Vou pensar, menina. – agora me recolhi por
dentro. Fiquei esmagado entre meus pensamentos.
Sair da Seita era fácil. O difícil era sair de dentro
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delas sem lhes causar dor. Não iria me permitir a


ver nenhuma dessas meninas magoadas por minhas
escolhas. Ia pensar um pouco mais, e deixar o
tempo passar e trazer as respostas certas. Vai
chegar o momento em que haverá uma divisão de
águas em minha vida, assim como há na vida de
qualquer pessoa comum. – Peço que nesses dias,
não venha se deitar comigo. Não fique triste, me dê
um tempo para pensar.
− O tempo que o senhor precisar. – disse
passando a mão em meus cabelos. Saiu do quarto
deixando em mim, a dor que eu iria provocar em si,
caso tivesse dito o que estava sentindo.
Fui para meu quarto como um Lobo solitário,
certo de que passaria pelo deserto de minhas
escolhas. Ao entrar no aposento, o pé de alguém foi
colocado na fresta da porta a fim de me impedir de
trancá-la.
Fiquei sem saber se ia até a sala para saber o
motivo de tanta algazarra àquela hora da
madrugada, ou se virava para outro lado e tentava
dormir novamente. Havia demorado para pegar no
sono. Fiquei pensando em Manuela a noite toda,
sem achar uma posição para dormir, que não fosse
nos braços dela, confesso que acordei
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extremamente irritado. Não estou acostumado com


este trâmite na casa.
Levantei e fui, mesmo de samba-canção. O
que quer que fosse, haveria de parar e respeitar o
sono alheio. Fui resmungando, tropeçando em
minhas próprias pernas, e me deparei
primeiramente com Laura no corredor, olhando de
longe a cena na sala de TV.
Os meus olhos se voltaram para o sofá, então
vi uma menina de casaco vermelho com o capuz
todo enterrado em sua cabeça, por baixo uma
camisola rosa, usando infernais pantufas de coelho,
sentada com as pernas cruzadas. No meio das
coxas, uma tigela de pipocas, cujo cheiro tinha
inundado a casa toda. O volume da televisão estava
estridente. Ela assistia a um filme de comédia e
parecia se sentir completamente só no universo.
Fiz um sinal para Laura ir para seu quarto e
me aproximei da tal chapeuzinho vermelho. Ela
não me percebeu ou fingiu não me ver. Encheu a
mão de pipoca e colocou de uma só vez na boca.
Tossi bem alto, para chamar sua atenção. Ela
virou sua cabeça e sorriu com a boca cheia,
derrubando o que comia em sua roupa e no sofá.
Tirou a tigela do meio das pernas e bateu no espaço
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sobrado ao lado dela.


− Senta aqui, venha ver isso? - enfiou mais
uma vez a mão na tigela e levou a boca. − É
demais... Você vai adorar.
Eu olhei para o meu relógio, não estava
acreditando no que fui arranjar para a minha vida.
− Shaida, já está tarde. Você acordou Laura e
a mim. Daqui a pouco, tanto eu quanto você
precisamos nos levantar para trabalhar.
− Olha isso!!! - ela disse apontando para a
TV e se debulhava de rir.
Pacientemente fui até a TV e desliguei, prostrando-
me a frente dela.
− Agora chega. - falei encerrando a sessão
coruja.
Ela descruzou as pernas e se levantou do
sofá, vindo em minha direção como aqueles
personagens de desenhos juvenis. Não sabia o que
esperar, quando de repente suas mãos se deslizaram
pelo meu peito nu. Subiu até minha barba e
deslizou os dedos. Segurou em minha nuca, quase
me tirando do sério.
− Ei, o que pensa que está fazendo?
− Acariciando você... Não percebeu?
Peguei em seu braço no exato momento em
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que sua mão descia pelo meu abdômen, tentando


entrar em minha cueca samba-canção.
− Vamos parar por aqui. Cama! - disse eu,
puxando-a para seu quarto. − E nunca mais faça
isso.
− Quantos anos você pensa que tenho?-
perguntou irônica.
− Dez anos. Esta é a idade que demonstra ter.
− Isso eu tinha há dez anos. De lá para cá
muitas coisas mudaram. - disse ela se soltando de
minha mão, vindo para cima de mim, que fui
encurralado contra a parede. – Vocês, homens mais
velhos, acham mesmo que são muito espertos e
experientes, mas na verdade não sabem de nada...
Não imaginam que meninas assim como eu são
fantasiosas e curiosas...
Suas pernas pareciam abraçar as minhas.
Senti o calor que vinha do meio delas. Não era só
uma menina perdida. Era uma mulher em chamas.
Consegui sair a tempo. Ela não sabe onde está se
metendo. Eu só queria respeitá-la. Mas parece que
isso era o que menos queria naquele momento.
Vi seus olhos brilhando. Eles se confundiam
com a pureza de Dolores e o fogo de Shaida. Não
queria confundi-la com ninguém. Não queria iludi-
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la e ser o tio cafajeste de sua vida.


− Eu não quero! - disse seriamente, me
afastando dela.
− Tem preconceito quanto a minha idade, é
isso?
− Não é isso.
− É o que então? Não quer desrespeitar a
Laura? - perguntou num tom de ironia ao
pronunciar o nome da menina.
− Eu realmente não lhe devo satisfações.
Agora chega. Vamos dormir. - me virei e fui
caminhando sentindo seus passos atrás de mim.
Quando menos percebi, ela entrou em seu quarto.
Ouvi o barulho da chave fechando a porta. Respirei
aliviado. Por esta noite ela foi respeitada.

Acordei tarde. Eu tinha certeza. Meus planos


para hoje eram iniciar meu plano principal em
relação aos perfumes. Registrar a minha marca e
me livrar de uma vez por todas meu elo com Otávio
Hilgert. Não havia o que temer. Estava disposto a
enfrentar de vez aquela Seita de merda que não me
passou nada de concreto, a não ser me explorar
financeiramente de forma escancarada. Não havia
honra ali. Eles não capazes de me prejudicar. Tudo
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não passou de uma grande armadilha. Uma farsa.


Como eu, existem muitos ali que sustentam de
algum modo a conta bancária daquele suposto
Lobo. Um lupus de merda.
Ao me encaminhar para uma ducha, escuto
uma discussão feminina. Só me enrolei na toalha e
saí rapidamente. Eu suspeitava o que poderia ser.
Shaida realmente chegou nesta casa para me
distrair de mim mesmo.
− Que diabo está havendo aqui? - perguntei,
observando Laura em pé em volta da mesa, e
Shaida sentada na cabeceira da mesa, no local onde
eu costumo me sentar para tomar meu café da
manhã.
− Eu estava arrumando o café para o senhor,
tentando lhe fazer uma surpresa, aprendi a fazer os
bolinhos de chuva. Porém... Ela se sentou e comeu.
− Eu não sabia que não eram para todos
comerem... - respondeu Shaida ainda mastigando.
− Você é muito é sonsa, garota. É claro que
sabia... Acha mesmo que eu iria preparar o seu
café?
− Acredito que sim. Sou a hóspede da casa e
você a anfitriã.
− Parem as duas com isso. Não quero mal-
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estar nesta casa logo pela manhã. - passei as mãos


pelo cabelo. − Tudo bem, Laura. Agradeço pelo
carinho e lembrança. Façamos assim, vá se trocar e
vamos tomar o café juntos em algum lugar.
Shaida fechou a cara instantemente. Limpou
os lábios no guardanapo, marcando-o de batom.
Levantou-se da mesa e foi para o laboratório. Antes
de sair fui até lá passar as atividades do dia. Entrei
de mansinho e a flagrei experimentando em seu
pulso, os perfumes raros de minha coleção.
− Shaida! - disse eu reprovando
veementemente sua atitude. – Nunca mais faça
isso.
− Desculpe, fiquei curiosa. São vidrinhos tão
lindos. Dizem que os menores frascos guardam os
melhores perfumes, e o ditado não está errado.
− Mas eles não são para o uso. São coleções
raríssimas, muitos são únicos no mundo. Não quero
que mexa neles.
− Tudo bem. Desculpa. - ela saiu do
laboratório, e eu tinha a certeza de que mexeu em
minha coleção para me provocar, porque eu saíra
com Laura.

A minha tarde estava cheia de atividades.


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Estávamos entrando em contato com os


representantes comerciais de empresas de
cosméticos, finalmente eu conseguiria me livrar de
vez da ratoeira de Otávio.
Entrei em contato com a instituição especializada
no registro de minha marca, faltava pouco agora. A
coleção mais importante de minha carreira, que era
aquela dedicada às mulheres as quais me inspirei,
foi reservada para este momento. Eu irei
pessoalmente comunicar à empresa de Otávio de
minha decisão, assim que estiver tudo certo. Faria
questão de lhe entregar esta notícia, olhos nos
olhos, assim como todo Lobo legítimo tem a honra
de fazer. Estou ansiosamente aguardando por este
grande momento.
Meu celular tocou num instante de meu
completo relaxamento. Estava leve, me sentindo
livre. Mas aquela voz do outro lado do aparelho fez
com que meu sangue fervesse imediatamente. Era
Manuela querendo me encontrar. Deixei todos os
compromissos para depois, e saí ao seu encontro,
como o meninote de quinze anos que se apaixonou
pela primeira vez. O local foi o mesmo da vez
anterior. Meus pneus cantavam no asfalto. Um
minuto que perdia, era um minuto sem ela.
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Quando entrou no meu carro e seu cheiro


gostoso revirou meus desejos, meu pau vibrava por
dentro da cueca. Sentia-me completamente louco
de tesão, mal conseguia falar.
Não suportando de vontade de tocá-la,
puxava-a para minha boca, enquanto dirigia. Perdi
a noção do perigo, do tempo e do espaço. Meu
espaço era ela. Dentro dela. Eu só queria está
mulher.
Entramos no motel, um tocando no outro. Ao
sairmos do carro, eu a prendi na parede do
estacionamento, levantando-a para que cruzasse as
pernas em torno de meu quadril.
− Não faz ideia do quanto senti saudades...
Do quanto te quero. - disse segurando em sua
bunda, manipulando o movimento para esfregar
meu pau por cima de sua calcinha.
A boca de Manu era linda... Como tudo nela
era perfeito. Por mais que eu quisesse sentir sua
pele transpirando sexo, e provar dela como se fosse
um pedaço de carne vermelha, uma puta no meu
abraço, meu corpo pedia mais. Pedia que fosse para
sempre.
Apertei seu corpo nu, lambendo seu suor que
se dissolvia em minha saliva, entrando em contato
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com o mais ermo dentro dos sentimentos de um


Lobo.
− Fica comigo... Fica perto... Vem pra
mim...- eu sussurrava em seu ouvido sem pressa.
− Estou aqui. - ela respondeu com o corpo
tremendo.
Minha boca mordia seu queixo enquanto a
penetrava com vontade de explodir, derramar por
dentro e por fora, meu líquido quente que se
condensava à medida que ouvia nossos sons se
misturando um ao outro, e meu pau mais duro...
Rasgava por dentro dela.
− Não importa como, sou seu a cada
instante... - eu já não controlava minhas palavras,
meu desejo de me prender ao seu corpo como se
quisesse transmitir a ela tudo que havia dentro de
mim.
Virei-a de lado e levantei uma das pernas.
Senti seu líquido escorrer em torno do meu pau, e
fui mais a fundo... O colo do útero estava rígido,
ela se encontrava pronta para gozar. Brinquei com
seus desejos, esfregando a glande por dentro, na
entrada de uma cavidade em pânico.
− Quero gozar. - seus dedos apertavam os
lençóis, e eu não perdia uma cena sequer. − Meu
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corpo está ardendo em chamas e o prazer já me


toma por inteira.
Ela me queria todo. Erguia seu quadril para
que a penetrasse mais, numa incisão profana e
absoluta, eu a fiz gozar, esguichando sua ejaculação
em meu peito, pescoço e lábios.
Eu a beijei apaixonadamente enquanto
apertava seus seios com vontade de arrancá-los
para mim. Ela se envolvia com meus beijos, e em
meu pensamento só desejava devorar aquela
mulher que estava me deixando cada vez mais
ansioso por tê-la. Deitei-a no chão, coloquei minhas
mãos por debaixo de sua blusa, rastreando seus
espaços arrepiados. Na fúria louca, entre a vontade
de possuí-la e me perder em seu corpo, eu
arranquei com pressa sua roupa, jogando-a no chão.
Insanamente, ela subiu sobre mim e novamente me
beijou. Fiquei olhando seus movimentos,
cavalgando com os cabelos caídos sobre os seios,
as pernas dobradas, tão lindas... Fiquei louco na
mesma hora e comecei a lamber e beijá-las cada
parte. Desejando senti-la mais, tirei-a de cima de
meu pau e a trouxe sentada, para meu rosto, com a
língua dançando e penetrando sua boceta, enquanto
meu polegar comprimia e beliscava seu clitóris.
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− Coisa gostosa... Aqui… vem… fica


assim… isso, menina… empina mais um pouco…
abra as pernas mais um pouquinho… assim…
isso… que delícia… que bocetinha mais linda! – eu
falava enquanto a ajeitava na beirada na cama, de
quatro para mim.
– Ohhhh…Que gostosoooooo… Faz bem
gostosoooooo… – ela gemia e soltava uns gritinhos
quando eu a segurei firme pela cintura e meu pau
foi entrando, deslizando, abrindo centímetro por
centímetro, enchendo-a. Mesmo usando camisinha
ela sentia como meu sexo estava quente, e isso fez
meu tesão aumentar de forma incrível.
− Safada...
– Fodeeeee… fodeeeeee… Castiga-me nesse
seu pau, amor… me arregaça todinhaaaaaa…
tudoooooo… bem fundooooo… – começou a soltar
gritos de puro prazer.
– Sua gostosa… que boceta mais deliciosa,
apertadinha… quente… geme gostoso no meu
ouvido… – eu a apertava e a metia sem dó.
Exaustos, acendi meu charuto e fiquei
olhando-a se vestir. Parecia um anjo, mas era um
demônio na cama. Não queria que fosse embora.
Entramos silenciosos no carro, minhas mãos
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em suas pernas. Quando estacionei para deixá-la,


desejei que isso nunca mais acontecesse.
− Estou contando os minutos para você ser
minha.
− Espere por mim... Não desista.
− Jamais, minha pequena, jamais.
O beijo longo e apaixonado veio para que
pudéssemos nos despedir. Como toda vez que ela
se vai, eu fico a olhando até desaparecer, com um
nó no peito, estou morrendo por sonhar em ter esta
mulher um dia.

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Capítulo 10

Por mais que eu quisesse sentir sua pele transpirando sexo,


e provar dela como se fosse um pedaço de carne vermelha,
uma puta no meu abraço, meu corpo pedia mais

Eu escrevia nos momentos vagos.


Ultimamente todas as minhas poesias e textos
soltos eram para Manu. Encontrei este subterfúgio
um tanto pessoal, para amenizar no peito, o que o
coração não mais conseguia suportar sozinho.
Parecia estúpido e juvenil, mas funcionava. Eu a
encontrava entre as palavras. Sabia que ela viria
para mim, e que isso não demoraria a acontecer.
Ao terminar, guardei os textos na gaveta de
minha escrivaninha e me propus a trabalhar.
Precisava me concentrar para não ver o tempo
passar. Estava decidido a não mais tocar em outra
mulher. Manuela era a minha escolhida. Em muitos
momentos do dia me vi em sites de joias, olhando
alianças. Eu só podia estar louco. Nunca estive tão
louco em toda a minha vida.
Naquele dia iniciei uma coleção de quatro
fragrâncias em homenagem a Manuela. Queria que

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fosse o primeiro acervo a ser lançado com a minha


marca. Passei o dia obstinado a esta finalidade. Não
queria terminar tão rapidamente, para que eu
pudesse senti-la o tempo todo quando estivesse
acordado, assim eu tinha a impressão de que estaria
ao meu lado.
De vez em quando Shaida entrava na sala,
desconfiava de alguma coisa. Olhava para tudo,
questionava, ela poderia não saber de nada, mas era
tão esperta, que nada parecia passar despercebido.
− Para quem está criando esta coleção de
fragrâncias tão doce?
− Para os clientes. – respondi seriamente,
manipulando a essência.
− Será? Não sei se acredito.
− Não precisa acreditar, apenas aceite como
verdade.
Quando pensei que ela fosse sair da sala, ela
se sentou de frente a mim. Cruzou suas pernas,
tinha requinte nos gestos quando queria.
− Você está apaixonado? – perguntou do
nada.
− O que quer dizer? – fiz que não entendi.
− Quero dizer que um homem como você,
durão, cheio de charme está fisgado. – ela se mexeu
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um pouco e trocou de pernas, deixando à mostra


sua calcinha branca. Continuei fingindo que não vi.
− Escute, menina Shaida... Não estou
apaixonado, e se esse assunto fosse real, diria
respeito somente a mim.
− Eu acreditei mesmo, que a única mentirosa
nesta casa era eu. – tentou não rir, mas queria se
divertir com minha cara.
− Não estou mentindo. Não preciso falar
sobre minha vida pessoal.
− Hummm... – ela se fez que ia ficar quieta,
mas continuou. – A escolhida é a Laura?
Olhei para seu rosto e fiquei por quase vinte
segundos na mesma posição.
− E se fosse a Laura, o que você tem a ver
com isso?
− Muito obrigada por responder tão direta e
grosseiramente. – ela tossiu de mentira e se
levantou. – Agora vou para os meus afazeres.
Quando a porta se fechou, me senti aliviado.
Menina chata. Intrigante. Ela não se cansa nunca.
Estava cansado. Desgastado. As noites
pareciam longas para passar em branco. Fechei
meus olhos e fiquei assim, até adormecer ali
mesmo na cadeira.
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Acordei um pouco assustado. Não sabia que


horas eram, havia realmente caído no sono
profundo. A sala já estava escura, certamente já era
noite. Levantei da cadeira, tirei os pés da mesa e fui
ver o que acontecia a minha volta. Quando acendi a
luz, percebi algo incomum em meus pés. Ao olhar,
notei um par de pantufas de coelho.
Tirei aquelas pantufas que eu odiava e saí à
busca da autora deste sarcasmo. Olhei pela casa
toda, ela não se encontrava. Fui até seu quarto e
entrei sem bater. Deixei a luz entrar primeiro, e
mirei o corpo nu de Shaida sentada numa banqueta,
com as pernas abertas. Os olhos fixos na tela que
pintava com tinta a óleo, uma natureza morta
assombreada, com belíssimo efeito em ocre. Eu
desejei desviar o olhar da cena, mas este se fixou na
imagem da menina perdida, com mãos habilidosas.
Tentei voltar, mas fiquei petrificado.
A música suave que ouvia; os gestos
concentrados no que criava, me fez lembrar
imediatamente de Dolores. Quase a chamei por este
nome, então ela se virou tomando a cena, espantada
com meu olhar surpreso. Continuei parado,
tentando sair dali rapidamente. Esqueci até mesmo
do motivo que me levou até seu quarto.
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– Tudo bem? - ela me perguntou, não se


importando com sua nudez diante dos meus olhos.
– Ah... Sim... Eu... - fiquei perdido no que ia
dizer.
Então ela se levantou e foi até o cabideiro;
pegou um vestido de malha fina e o deixou
escorregar da cabeça para o restante do corpo.
– Quer falar comigo? - continuou insistindo,
mas a imagem que eu ainda tinha em minha mente
era a das curvas do seu corpo perfeito, o púbis bem
desenhado como uma pintura de alta envergadura.
– Não. Quero dizer, que merda era aquela
que me aprontou enquanto eu dormia?
– Bem... Não foi nada demais, queria apenas
que você risse um pouco.
– Rir de mim mesmo? Acha mesmo que sou
um palhaço?
Ela se aproximou. Dessa vez era a mulher
que fez a menina em si dormir para revelar sua
outra face. Ficou tão próxima, que pude notar sua
pupila brilhante. Fugi instantaneamente.
– Lobo... Eu não disse que você é um
palhaço ou que te vejo dessa forma. Eu quis falar
que em muitas vezes durante a nossa vida, devemos
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viver de um modo mais leve, fazer algumas coisas


bobas para percebermos que somos dignos de rir à
toa.
Ela tinha razão, mas não posso facilitar
muito, pois quando menos se espera, estará
aprontando outras.
– De onde tirou a denominação, Lobo? –
perguntei, porque não me lembro ter comentado
com ela sobre este detalhe.
– Calma... Não se estresse tão facilmente. Te
chamei do que você é, não é?
– De onde tirou essa conversa?
– Hummm... Eu ouvi Laura te chamando, e
achei curioso.
– Está ouvindo conversas atrás da porta?
− Não... Claro que não...
Não adiantava discutir com ela. Dá muito
trabalho tirar água de pedra. Dei meia volta e saí do
quarto.
Passei no quarto de Laura e a vi chorando.
Entrei silenciosamente e me sentei ao seu lado.
– Por que está chorando?

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– Eu... Estou me sentindo deixada de lado.


Quase não tem tido mais tempo para mim.
– Laura... - toquei em seu cabelo
suavemente. - Eu quero que você realize seu sonho
de entrar numa faculdade de psicologia. Que se
cuide e pense em você como sendo a pessoa mais
importante de sua vida.
– Está dizendo isso para me dispensar de
modo elegante e genuíno?
– Não. Estou dizendo isso porque me
importo com você. Porque desejo que construa em
sua vida, algo mais do que apenas relacionamento.
– Eu não quero mais estudar. Quero que
volte a ser comigo o que foi quando o conheci.
– Eu juro que não planejei nada. Você é uma
mulher deliciosa, não é por sua causa que estou
afastado. Eu estou fazendo uma escolha...
– Vai ficar com essa menina? - seus olhos
eram de raiva. Estava tentando encontrar as
palavras certas para ser sincero com ela. Não queria
enganá-la.
– Não. Shaida é apenas uma garotinha que
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eu gostaria de ajudar, e que... lembra muito alguém


do meu passado a quem tive muito apreço. Mas
posso te garantir que não há nada entre nós além de
um olhar protetor.
– Quem é a mulher então? Não quero que
minta para mim...
Fiquei sem saber se contava. Eu não
precisaria de desejasse, afinal, ainda não tinha nada
definido além de um vasto sentimento.
– É alguém que você não conhece. Mas um
dia irá conhecer. Eu não vou esconder nada, não
quero que pense coisas erradas a meu respeito.
– Um dia me disse que não procurava por
uma companheira... - sua voz estava embargada.
– Eu não menti para você... Aconteceu. Eu
também não esperava por isso. Nunca foi meu
objetivo, mas o que me incentivou a me dedicar a
meninas que precisam de proteção, me decepcionou
um pouco. - eu me referi à Seita. Não ia encher sua
cabeça de problemas que não são seus, preferi a
resguardar. – Mas jamais deixaria de cumprir com
meu compromisso em relação a você. Continuo me
preocupando com tudo que lhe rodeia e com seu
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bem-estar.
– Não me toca mais como mulher... Eu
aprendi a gostar de você...
– Me perdoe, pequena. Jamais tive a intenção
de lhe fazer sofrer. Não quero que sofra por mim. -
abaixei a cabeça e engoli minhas palavras. Doía em
mim a sua dor. – Nunca sabemos quando vamos
nos apaixonar, e quando isso acontece, não é culpa
de ninguém.
– Eu mesma me iludi acreditando que um dia
se apaixonaria por mim. Eu sou uma ridícula, uma
boba mesmo. Era óbvio que não iria acontecer
isso...
– Não, não... Nunca mais diga isso. Se você
gosta de mim, não repita mais essas palavras,
porque não são verdadeiras. Você é preciosa. Uma
mulher linda e maravilhosa. Mas as pessoas não
escolhem por quem se apaixonar. Quando a
conheci, estava crente de que me apaixonaria por
você, mesmo sem poder. Mas como disse, foi uma
surpresa para mim...
– Por favor, me deixe sozinha... - dizendo
isso, eu a respeitei. Levantei da cama e apaguei a
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luz quando vi que ela se aninhou debaixo da


coberta.
– Quero que durma bem, e pense no que lhe
disse sobre a faculdade. Vou pesquisar quando será
o processo seletivo do Enem. - já ia saindo, mas
resolvi dizer algo que me assolava. – Eu não estou
dizendo não a você, estou dizendo não a mim
mesmo.
Deixei-a em paz. Estava ferido por dentro. Eu
sentia sua dor. Nossa conexão sempre foi e sempre
será muito forte, mas ela me vê apenas como
homem.
Não sabia ao certo, se o que havia decidido
era o melhor neste momento tão incerto. Mas
minha natureza me fala sobre lealdade, e mais, me
diz que quando um Lobo encontra sua companheira
ele será fiel a ela até o final de sua vida. Eu
precisava também me respeitar. Respeitando-me,
eu consigo respeitar as pessoas. Principalmente a
Laura, que era uma menina especial e não merecia
outro canalha em sua vida. Não iria abusar do que
ela sente por mim, para me aproveitar de seu corpo,
que ainda me causa desejos profanos, e sempre
causará.
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Os dias se passavam e no coração a saudade


me corroía. Sentia-me refém daquele sentimento
que não me trazia a resposta que tanto desejava. Ela
não me ligou mais. Ficou presa dentro de minha
alma num desespero que não cessava. Então eu
continuava a escrever os versos sórdidos na
esperança de que ela poderia ler de algum lugar,
mesmo que não soubesse da existência deles.
Laura quase não falava comigo. Desde aquela
conversa tem trancado a porta com chave. Eu
estava respeitando seu momento de frustração, mas
não queria que este durasse por muito tempo. Sinto
falta dela. Do seu sorriso iluminando a casa. Por
muitas vezes tentei bater na porta, mas minha
lealdade aos meus sentimentos me impediram, eu
repousava a cabeça na porta até que passasse
aquela fobia louca de entrar e saciar o desejo que
sinto por ela. Mas não sucumbiria. Faria isso por
nós dois que merecemos dignidade. Não poderia
simplesmente descartá-la, caso Manuela aparecesse
e resolvesse se casar comigo. Não conseguiria
foder com Laura a noite inteira pensando nesta
possibilidade, e ser tão idiota achando que fiz o que
fiz, porque não consegui evitar. Eu posso e o farei.
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Então eu desisti de procurá-la e voltei para


meu quarto, com suor nas têmporas, devido ao
esforço inesgotável que eu fiz para não sucumbir às
minhas vontades. Eu consegui fazer sua inscrição
no Enem. Não sei se ela vai aceitar, mas
continuarei insistindo. Ela precisa retomar sua vida
e sair da redoma de vidro. Irei inspecionar se o seu
ex não irá colocá-la em risco, caso a veja em
liberdade, vivendo normalmente na sociedade,
como deve ser.
Finalmente consegui o registro de minha
marca, e por decência, antes de começar a distribuir
meu produto, vou procurar Otávio para comunicar
oficialmente sobre meu desligamento com a sua
empresa. Não que ele mereça minha satisfação ou
consideração. Mas eu mereço ser honesto até
mesmo com quem não merece minha honestidade.
Ainda hoje irei até ele para me livrar de uma vez
por todas de suas garras sujas.
Shaida passou esses dias muito quieta.
Observei até mesmo certa tristeza no olhar. Evitava
conversar assuntos que não fossem sobre trabalho.
Nunca mais cometeu nenhuma estripulia. Achei
muito estranho, pois geralmente esperava encontrar
alguma peraltice sua pela casa. Mas me deparei
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com uma mulher adulta, profissional e dedicada.


Com maestria, ela aprendeu tudo rapidamente,
inclusive fez todos os contatos comerciais de minha
nova empresa, tratando a todos como uma
verdadeira lady. Eu estava orgulhoso de seu
desempenho. Também a vi algumas vezes
conversando pelo celular com o tal do Pedro,
inclusive, marcando um encontro. Não falou mais
sobre seu pai, nem a respeito do sonho de conhecer
sua mãe, que será um assunto que voltarei a tocar
daqui a alguns dias.
Preparei toda a papelada que deveria levar
junto comigo até Otávio, e saí de casa, certo de que
estou pondo em prática a melhor decisão tomada
em toda a minha vida.
Cheguei à empresa com segurança. Ao passar
pela sala de Helena, ela me recebeu com o
semblante um pouco assustado. Parecia querer me
dizer algo, mas aquele não era o momento nem o
lugar. Sei que lhe devia explicações sobre meu
sumiço, talvez por este motivo nunca mais tenha
me procurado. Deixarei para resolver isso mais
tarde. Conversamos brevemente, apenas sobre
minha presença ali. Haviam câmeras no local, eu
não a colocaria em risco.
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Ela se levantou e foi anunciar minha


presença. Entrei de imediato, certamente o traste
estava ansioso para saber do que se tratava. Sempre
que cheguei ali, invadi sua sala, burlando a fila de
espera. Mas hoje era um momento especial, eu faria
este sacrifício para respeitar as normas da empresa
mercenária.
– Ora, ora... Qual a tempestade que o traz
aqui? Seria algum tipo de arrependimento por ter
sido tão ingrato à irmandade que o recebeu de
braços abertos numa terra desconhecida? -
perguntou ironicamente. Sua voz me causava certo
asco.
– Certamente se trata de um motivo muito
importante, mas não chega a ser tão hipócrita.
– Pelo o que percebo, meu caro Lobo
espanhol, você não mudou muito desde a última
vez que o vi. - sorriu falsamente.
– Eu não mudo minhas convicções. Não sou
do tipo de pessoa que se agrega ao levianismo ou se
vende a ele.
– Muito bem, além de uma natureza advinda
dos lobos cinzentos, o caro amigo também se
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confunde ao comportamento mais medíocre da


sociedade brasileira, a falta plena de educação ou
desinformação.
– Prefiro ser comparado aos porcos a me
vender por míseros vinténs. Mas, vamos aos pontos
que mais nos interessam, já que não estamos aqui
para mudar a moral de alguém, nem tenho a
pretensão, além de sentir vergonha alheia.
– Pode iniciar sua retórica.
– Vim apenas comunicar de modo
democrático, meu desligamento oficial de vossa
empresa. Deste modo não lhe devo mais satisfações
de meu produto. A última coleção fora entregue em
tempo hábil, encerrando deste modo meu antigo
compromisso com você. Aqui estão os protocolos
com a discriminação de todos os produtos
disponíveis a sua empresa durante esses anos, deste
modo, não temos mais o que dizer. Comunico
também, para poupar um futuro e inútil reencontro,
minha decisão de me desligar da Seita a qual você
pertence, se é que seja o responsável por ela neste
país. Diante disso, não temos mais nada a falar. -
dizendo isso, virei as costas e me encaminhei para a
porta.
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Ele se adiantou, chegando primeiro, colocou


a mão na porta a fim de postergar minha passagem.
– Antes de sair, devo dizer ao caro Lobo, que
este último comunicado deve ser feito perante à
comissão da Seita, na Casa dos Prazeres, e lá saberá
da tão bela surpresa que o espera. Caso sinta medo
de se apresentar, o que deve ser normal para um
lupus de sua categoria, reze antes de ir... Seu deus
poderá sentir compaixão e enviar algum dos seus
anjos para lhe acompanhar.
– Eu não tenho medo, fique tranquilo. O
quanto antes me livrar desta armadilha, melhor me
sentirei comigo mesmo. Avise à sua comissão de
merda, que tão logo estarei pessoalmente, como
homem que sou, comunicando a todos os pseudos
presentes, a minha imensa satisfação de não ser
mais um soldado de chumbo da irmandade.
Ele soltou da porta, e eu saí livremente.
Passei pela sala de Helena, e esta me fez um sinal
para conversar assim que eu saísse do ambiente.
Alguns minutos depois, ela estava em meu encalço.
Muito rapidamente falou, olhando para todos os
lados, a fim de fugir de olhares.
– Preciso urgentemente falar com o senhor.
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– Me telefone. Estarei aguardando sua


ligação.
– Combinado.
Sentia-me livre, mas sugado. A energia vinda
daquele lugar era massacrante. Imagino o quanto
Helena deve sofrer a mesma sensação diariamente,
mas ela tem uma escolha. Não precisaria estar ali se
não desejasse. Ao contrário disso, nunca citou a
palavra separação. Parecia cômoda à situação e
nível social. Isso era uma das poucas coisas que
não conseguia entender em algumas mulheres, o
medo de encarar a mais profunda realidade de sua
rotina de vida. Temo por ela, mas não poderei fazer
muito caso não partir de si mesma o desejo de não
estar mais ao lado de seu marido.

Voltei para casa, pensativo.


Precisava ir à Casa dos Prazeres resolver o
que me resta, o desligamento da Seita. Não existe
nada difícil para mim, estou seguro quanto as
minhas convicções.
Ao entrar na sala me deparo com uma
discussão vinda do meu quarto, me apressei. Já no
aposento, me deparo com Laura segurando o braço
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de Shaida. Estavam tão envoltas no calor das


emoções que não me notaram, mas vi uma cena que
me deixou nervoso. Shaida olhava para o retrato de
Dolores ostentado na parede. Os olhos dela
estavam tão fixos que não se importou com o gesto
de Laura.
− Diga, como você o conheceu? – sua voz
gritava por dentro um misto de ciúmes de revolta. –
Diga!!! – insistia.
Não veio a resposta.
− O que está acontecendo aqui? – surtei.
Laura me olhou espantada, soltando
imediatamente o braço de Shaida, que não se virou
para me olhar. Continuei parado, sabendo que seria
eu, a dar alguma resposta. Eu deveria ter retirado o
retrato da parede e escondido, desde o dia em que a
menina veio para esta casa. Mas foram tantos
acontecimentos seguidos um de outro, que acabei
me esquecendo deste detalhe. Agora estava
realmente com saia justa, não precisaria dar
explicações sobre meu passado, se não fosse a
evidência de que Dolores e Shaida são muito
parecidas. No entanto, eu também não tinha essa
resposta, e era muito mais interessado do que
qualquer pessoa.
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− Por que você me tem pintada nesta tela? –


ela perguntou, pegando a tela e olhando-a de perto.
Eu olhei para Laura e ela entendeu. Saiu do
quarto quase tropeçando na porta. Estava irada.
Depois iríamos conversar.
− Senta-se aqui. – convidei-a para se sentar
na cama.
Ela estava um tanto perdida. Arrumou os
cabelos para trás da orelha e ficou com o olhar
vagando pelo meu quarto.
− Esta tela é de uma pessoa que conheci há
muito tempo, quando ainda era um garoto. Esta
pessoa desapareceu de minha vida e ficou apenas
este quadro.
− Mas por que me pareço com ela? – quis
saber, olhando agora para os meus olhos.
− Eu também gostaria de saber. Por isso que
quando lhe encontrei, fiquei muito intrigado e a
chamei de Dolores.
− Dolores... – ela repetiu em tom muito baixo
e rouco.
− É também uma incógnita para mim.
Acredite. Mas um dia irei descobrir. E quando eu
souber, você também saberá.
− Tudo bem... – ela se levantou e saiu do
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quarto. Fiquei olhando seu jeito de pisar torto no


chão, e seus joelhos se encontrando quando trocava
de passos. Imagino como não deve estar sua
cabeça.
Levantei o mais rápido que pude e fui atrás
de Laura. Ela me devia uma explicação. Quando
entrei em seu quarto, ela estava parada olhando
pela janela.
− Por que fez isso? Não foi bacana fazer o
que fez. – eu disse um tanto decepcionado.
− O senhor está apaixonado por uma garota.
Trouxe-a para cá, e desde que ela pisou nesta casa,
passou a me rejeitar.
− Você está novamente enganada. Vai ficar
insistindo nisso até quando? Não tenho nada com
essa menina, ela apenas me faz lembrar muito de
alguém do meu passado, algo pessoal, e não preciso
explicar todas as coisas que aconteceram em minha
vida, mas o que você fez foi maldade.
− Não estou mais suportando vê-la andando
pela casa, como se fosse dela.
− Vocês duas estão na mesma condição, eu as
protejo do mesmo modo.
− Então já transou com ela? É isso?
− Nunca! E não tenho essa intenção. Creio
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que é melhor parar com infantilidade, isso não faz


bem a você e nem a ninguém.
− Eu não gosto dela. – disse com precisão nas
palavras. Eu podia sentir seus sentimentos
expelidos como veneno.
− Não precisa gostar, aceitar é o suficiente.
− Não permita que ela se aproxime de mim,
caso isso acontecer, não sei do que sou capaz.
Estava na hora do assunto se encerrar. Laura
queria que as coisas fossem exatamente do seu
jeito. Está cismada com Shaida porque acredita que
a conheço há muito tempo por conta do retrato, mas
acredito que se fosse outra pessoa no lugar de
Shaida, seria do mesmo jeito. Ela queria sexo.
Precisava de sexo. Eu podia enxergar isso em seus
olhos. Poderia dar o que ela queria, mas mesmo que
eu pudesse fazer o que seu corpo pedia, não
conseguiria naquele momento, o que acabara de
acontecer mexeu com tudo em mim. De repente a
presença de Dolores havia tomado conta de minha
casa, mesmo depois de tantos anos passados.
− Pense em sua faculdade, eu lhe peço.
Acredito que já possa sair com alguma amiga.
Talvez ir a um cinema, ver pessoas...
− Eu não quero ver ninguém... – saiu de
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minha frente e se trancou no banheiro.

A noite veio e nada de notícias de Manuela.


Fiquei me revirando pela cama, quando uma
fresta na porta se deu. A luz do corredor
imediatamente entrou em meu quarto. Vi a silhueta
da menina coberta pelo o escuro do cômodo. Olhei-
a até me deparar com o formato das pantufas de
coelho.
− Posso me deitar com você? – ela pediu, já
trazendo consigo seu travesseiro.
Queria dizer não de pronto, mas fui incapaz.
− Por que quer se deitar aqui?
− Estou confusa. Sinto medo. Viver para mim
é o suficiente para eu me sentir assim, porque o dia
todo deveria ser sol, e não ter a noite quando se é
sozinha no mundo. – disse ainda parada na porta,
aguardando minha aprovação.
Afastei-me um pouco para o lado, deixando o
espaço do lado esquerdo para ela se deitar.
− Venha, Shaida. Mas não se acostume... Eu
não gosto dessa ideia.
− Tudo bem, é só por esta noite. Acredite, as
pessoas jamais vão entender quando conhecem uma
pessoa assim como eu, que pensa com o
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sentimento, e não com o cérebro. – disse ela vindo


se deitar.
Assim que colocou a cabeça no travesseiro,
foi puxando de leve meu edredom até que eu o
cedesse um pedaço para ela. Não era minha
intenção deixar transparecer o que pensava sobre o
que acabou de dizer, mas não queria que ela se
sentisse como falou.
− Só por esta noite. – disse eu.
Quando estava quase me distraindo de mim
mesmo, desejando fechar os olhos e dormir, ouço-
a...
− Alejandro, você acredita que esta mulher da
foto possa ser minha mãe?
Despertei no mesmo momento. Eu estava
fugindo de pensar nesta possibilidade.
− Não sei... Acredito que não... Dolores
jamais teria um filho com uma pessoa como seu
pai.
Eu me lembrava de sua personalidade reta,
discreta, doce, mas firme. Ela jamais se envolveria
com alguém apenas por se envolver.
− E como pode ser possível?
− Tente dormir agora. Não pense nisso mais
hoje.
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Ela se virou para o meu lado. Seu rosto alvo


foi se iluminando no escuro do quarto.
− Posso dormir no seu peito?
− Não. – eu respondi antes que algo se
perdesse do meu controle.
− Só por hoje... – fez uma voz melosa. Eu
não queria ceder, mas não vi que poderia fazer nada
de mal a ela.
− Tudo bem... – suspirei sem saída. – Mas é
só dessa vez.
Eu não a vi sorrindo, mas pude perceber que
sorriu. Deitou em meu peito e ficou quietinha.
Poucos minutos depois, adormeceu, então perdi o
sono. O calor de seu corpo inundava o meu. O
cheiro dos seus cabelos penetrava em meu nariz.
Queria olhar seu rosto, mas estava escuro. Tentei
não pensar. Tentei não imaginar. Tentei... Então
sua perna subiu sobre a minha; a pele era lisinha e
deslizava em meus pelos. O hálito provocante
aquecia meu pescoço...
Sua mão me abraçou.
Sua voz disse, dormindo: Eu estou
apaixonada você.

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Capítulo 11

Olhe para mim agora...


Eu sou a mesma densidade e profundidade que você tem por
dentro
E teima em esconder de qualquer pessoa que consiga se
aproximar,
Mas eu te sinto...

Acordei cedo, Shaida não estava mais na


cama. Saí pela casa a sua procura. Estava na
cozinha preparando o café da manhã. A trança
comprida caia em suas costas. Usava as pantufas e
a camiseta confortável que dormiu.
− Bom dia... O que está preparando?
− O café da manhã. – respondeu sem me
olhar. Já havia colocado copos, pratos para três,
talheres, jarra de suco e algumas frutas.
− Você dormiu bem? – fiquei curioso e
surpreso. Não me deixava transparecer nada, mas
estava monossilábica. Não parecia com raiva de
Laura, pois tinha arrumado a mesa para três.
− Sim. – foi o que respondeu.
Laura entrou na cozinha olhando a cena.
Sentou-se à mesa em silêncio.
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− Não quero mais brigas aqui. – pedi, para


evitar alguma futura e nova desavença.
Ao terminar o que fazia, Shaida serviu a
mesa. Ao colocar o suco na boca, Laura se alterou.
− Está horrível... – afastou o copo sob meu
olhar, desprezando o que fora preparado. Shaida se
serviu e fingiu não ouvir, mas retrucou.
− É só não beber.
− É isso que farei... Aliás, não deveria tocar
em nada aqui na cozinha. A função de preparar o
café da manhã é minha. – respondeu Laura.
− Você não me dá ordens. – retrucou Shaida.
Laura esperou que eu dissesse algo, como
não disse, ela se levantou da mesa e correu para o
quarto. Soltei um suspiro longo e profundo. Estava
me cansando a infantilidade de ambas. Comi em
silêncio. O dia estava só começando.
Meu celular tocou. Era o número não
identificado. Fiquei tenso. Levantei-me e saí para
atender.
“Oi.” – eu sabia que era ela.
“Oi” – respondeu secamente.
“Saudades de sua voz.” – eu disse.
“Assim que resolver algumas coisas, te ligo
para nos vermos.” – ela disse rapidamente.
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“É o que mais quero.” – eu disse ternamente.


“Me espere...” – ela desligou a ligação, sem
mais nada dizer.
Meu nível de ansiedade passou de alto para
altíssimo imediatamente. Olhei para trás ao
perceber olhos me observando. Era Laura com uma
expressão no rosto, como quem dissesse que agora
sabia que era outra pessoa, a razão de meu
afastamento súbito.
Saí rapidamente, seguindo para o quarto. Iria
tomar uma ducha e esperar por Manuela. Isso seria
a prioridade do meu dia. Não demorou muito para
que ela ligasse de volta, queria me ver naquela
mesma hora. Suspendi todas as minhas tarefas da
manhã para ir ao seu encontro.
Quando estava quase saindo, resolvi passar
no quarto de Shaida para ver se estava tudo bem. Já
estava de banho tomado e roupa trocada.
− Pedro gostaria de me ver hoje. – sua voz,
olhos e gestos pareciam estar esperando por alguma
reação minha. Não sei se fez isso de propósito, por
me ver saindo para me encontrar com alguém, ou
se realmente queria ver seu paquera. Parei um
pouco para pensar. – Eu posso sair com ele? – ela
finalmente perguntou, como se eu exercesse algum
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poder em sua vida.


− Sim... – eu disse incerto. – Não... –
remendei, ainda mais incerto. – Quero dizer, pode
ver o moleque, porém... Não seria bom sair de casa
por enquanto, e em minha ausência. Não sei, temo
em encontrar seu pai por aí.
− O que faço então? – ela parecia se divertir.
− Pode convidá-lo para vir aqui, mas depois
do expediente, em minha presença. Mas espero que
isso não seja frequente.
Ela deu um pequeno riso, o que me irritou um
pouco. Fechei a porta e fui ao encontro de Manu.
Os olhos azuis estavam pensativos.
Estávamos nus, ela deitada sobre mim depois do
sexo. Eu notei algo diferente desde o momento em
que a peguei no local combinado.
− Diga para mim, o que está havendo com
você?
− Não é nada, senhor, estou apenas um pouco
alienada. Não se preocupe, não é nada com a gente.
− Mas o que diz respeito a você, se refere a
mim... Não me esconda nada, por favor.
Ela me abraçou forte, o que me deixou ainda
mais preocupado.
− Estou pensando em como faremos para
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ficar juntos.
Eu a coloquei com o rosto de frente ao meu,
queria que prestasse bem atenção no que ia dizer,
para ajudá-la a ficar segura.
− Pequena, não importa o meio, o jeito...
Vamos ficar juntos de qualquer maneira, basta você
sair daquela casa. Eu quero dividir uma vida com
você. A única coisa que me importa neste
momento, é o que sente por mim.
− Eu tenho medo de acontecer alguma coisa
muito ruim... De ele vir atrás de nós... E isso
desencadear uma tragédia.
− Você não pode continuar com alguém, só
porque tem medo dos resultados após a separação.
− Meu medo existe, porque sei que se trata de
traição... Um homem violento diante de uma
traição... Não sei do que ele seria capaz...
− Você só o traiu, porque ele não foi capaz de
cuidar da mulher que tem. E se ele não foi capaz de
cuidar, eu a quero para mim. De qualquer jeito. –
olhei para ela desejando roubá-la do mundo.
− Eu deveria ter me separado antes... Sei lá,
poderia ter tido coragem de me livrar.
− Mas não foi. Estava sob uma forte coação
emocional. Este estado paralisa um pouco as
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pessoas, elas não conseguem fazer naquele exato


momento, o que deveriam.
− E se eu fugisse? E se essa fuga ocorrer
amanhã? – ela olhou em meus dois olhos, para se
certificar de que seria acolhida.
− Você tem alguma dúvida sobre eu lhe
encaixar na minha vida, caso isso acontecer
amanhã ou agora?
Seus lábios se empalideceram. O corpo
estremeceu.
− Não...
− Então confie em mim e deixe esse canalha
de vez.
Ela apenas balançou a cabeça. Fiquei em
dúvida se aquilo era um sim ou um talvez. Senti um
medo de ela desistir. Abracei-a tão forte a ponto de
sufocá-la, queria-a ainda hoje comigo.
− Eu a quero. – apertei seu queixo. – Muito!
Safada, puta, bandida... Sou louco por você. Sinto
seu corpo o dia todo... – mordi seu ombro e
pescoço. – Sinto seu cheiro nas minhas roupas,
você é um demônio.
Perdi a cabeça com gana, ânsia, desejo de
arrancar um pedaço dela... De tanta vontade...
Saudade. Tesão. De tudo que essa filha da puta
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provoca em mim. Afundei-me nela como alguém


que tinha apenas aquele dia de vida.

Deixei Laura em torno do meio-dia. Estava


um pouco chateado, não sei dizer, mas parecia que
havia um muro invisível entre nós. Sua segurança
não era mais como fora um dia. Eu não sabia o que
fazer exatamente para mudar uma situação que não
dependia somente de mim.
Abri a porta da sala, um pouco encolhido em
meu universo pessoal, quando me deparei com uma
cena inesperada. Shaida sentada com o tal Pedro,
um frangote quase de sua idade, que ainda usava
bermuda, tênis e boné. Estavam esparramados em
meu sofá, como se estivessem trancados em algum
quarto que lhes proporcionassem intimidade.
Entrei com seriedade, lembrando-os de que
ali era um local de trabalho, e que se quisessem
estar mais à vontade, Pedro deveria esperar pelo
lado de fora, o horário do expediente acabar.
− Boa tarde. – eu disse para todos, com ares
de chefe.
− Boa tarde, senhor Alejandro. – ela agora se
lembrou de me chamar de senhor. Isso me irritou. –
Este aqui é o Pedro, gostaria de lhe apresentar.
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O moleque se levantou todo desengonçado, e


ofereceu sua mão para o cumprimento, o que me
deu fadiga em tocar, mas o fiz por educação.
− Muito prazer. – disse ele, enquanto eu
recolhia minha mão o mais rápido possível, e nem
retribuí o prazer em conhecê-lo.
− Pensei que seu encontro com o... Pedro,
não é este seu nome? – obviamente eu sabia o
nome do pirralho, só não me daria o luxo de dizer
que me lembrava. – Pensei que fosse após o
expediente...
Ela ficou vermelha, mas parecia gostar da
situação.
− Ah sim, eu esqueci de dizer o horário,
como consentiu, pensei que pudesse ser a qualquer
momento.
− Deveria se lembrar que este é um local de
trabalho, das oito da manhã às dezoito horas.
− Tudo bem, irei me lembrar disso numa
outra oportunidade.
O tal do Pedro deu um jeito de não voltar a se
sentar no sofá da recepção.
− Eu vou dar um rolê, passo mais tarde,
depois do expediente então. – Pedro disse a Shaida.
− Você não trabalha, Pedro? – eu quis saber,
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pois ele tendo mais de vinte anos, deveria pelo


menos estar se ocupando de alguma coisa naquele
horário do dia.
− Ah não... Só estudo... – disse ele sem graça.
Balancei a cabeça e me retirei da sala, fiquei
os espionando de longe, estavam se despedindo
pelo lado de fora. Fiquei pela vidraça, como um pai
ciumento ou um tio de uma única sobrinha, ou sei
lá o quê.
Senti uma raiva súbita olhando a mão dela na
nuca dele, acariciando-o enquanto o beijava. Em
pleno turno de trabalho. Não poderia deixar isso em
branco, fiquei aturdido. Agora ela passou dos
limites.
Cheguei próximo da porta, toquei na
maçaneta, ia chamá-la para entrar. Estava tão
possesso que perdi o raciocínio. Mas dei um passo
para trás e fiquei assim, até que a porta se abriu
diante de mim e a imagem esguia de Shaida surgiu.
Tive vontade de castigá-la.
− O que pensa estar fazendo no horário do
expediente? – falei sentindo minha pele queimar.
− Nada demais, apenas recebi um amigo que
veio bem cedo ao meu encontro. Acho que ele
estava com saudades.
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Se ela estava querendo me atingir, conseguiu.


Cheguei próximo de seu corpo, senti o frescor, o
olhar malicioso me rodeou. Abaixei-me para ficar
na mesma altura e fitar diretamente em seus olhos
de sem vergonha que é.
− Eu não quero saber de seus devaneios e
aventuras. Isso não me interessa. Quero apenas uma
coisa, respeite seu ambiente de trabalho!
− Assim como Laura, andando pela casa com
os peitos de fora?
− Isso não é de sua conta...
− Nem o que faço fora de sua casa, é de sua
conta...
− Cale a boca! – perdi o controle.
− Venha calar... – ela respondeu, agarrando-
me pelo pescoço e me beijando. Sua língua macia
tocou a minha, queria devorar tudo que havia em si,
mas antes que me perdesse, me afastei.
− Nunca mais se atreva a fazer isso, ouviu? –
eu disse segurando em seu pescoço, digo, apenas
segurando, mas com desejo de apertar. Então tomei
novamente sua boca, mordendo seu lábio carnudo.
– Nunca mais faça isso! – saí rapidamente em
chamas.
− Olhe para mim agora... Eu sou a mesma
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densidade e profundidade que você tem por dentro


e teima em esconder de qualquer pessoa que
consiga te sentir, mas eu te sinto... – disse ela, em
minhas costas.

Eu não deveria... Não deveria...


Repeti muitas vezes para me convencer disso.

Fiquei atormentado a tarde toda. Ia e voltava


do laboratório para o banheiro. Lavava meu rosto,
olhava-me no espelho. Eu nunca tinha convivido
com uma menina assim, tão cheia de si, decidida,
dona de suas vontades. Acho que arrumei para a
minha cabeça.
Passei pela sala dela, estava usando o
computador, preenchendo a tabela de perfumes.
Quando a olhava, isso me causava uma espécie de
raiva e febre, não sei dizer, mas era mais forte que
eu.
Aproximei-me e coloquei as duas mãos sobre
sua mesa. Ela parou de trabalhar e me olhou.
− De hoje em diante você está
terminantemente proibida de entrar em meu quarto.
Vista-se com decência. Não quero putaria na minha
casa. Ouviu?
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− Ahmram... Estou ouvindo...


− Se deseja receber a visita daquele moleque
aqui, vai ser somente nos horários fora do
expediente, e eu estarei sentado no sofá, olhando
para tudo que você faz. Ouviu?
− Ahmram... Continuo ouvindo.
− Ótimo! Não quero perturbações...
− Está perturbado? – ela quis saber, pegando
o espelhinho da bolsa e retocando seu batom.
− Expressei-me mal. Estou zangado. Suas
atitudes são ousadas, não quero! – disse me
sentindo uma fera solta no mato.
− Entendi. Mas... você gosta delas, não é? No
fundo você gosta...
Ia lhe dar uma resposta à altura, mas não
discutiria com essa pirralha. Melhor ficar quieto.
Virei minhas costas e saí. Meu pau estava duro, eu
tentava disfarçar, ao colocar a mão no bolso, sem
resultados.
Laura passou por mim, percebendo-me
naquele estado.
− Eu quero dar para você agora... Lobo...
Não esperava ouvir isso dela. Não naquele
momento em que o tesão me estourava os miolos.
− Já conversamos a respeito...
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− Não estou conseguindo acatar... – disse,


atirando-se em meus braços. Nossos corpos
contraídos contra a parede, a adrenalina
explodindo... Eu não iria suportar... Eu não
poderia...
Fomos nos arrastando na parede, beijando,
mordendo, ofegando até chegar ao seu quarto, que
fora trancado.
− Venha... Lobo... Me tome... – disse ela
provocante, passando as mãos sobre seus seios...
Minha boca salivava e eu engolia. Num
ímpeto de loucura e sede, eu rasguei sua roupa, dei
um tapa no seu rosto e agarrei-a entre minhas mãos,
jogando-a no chão.
− Quer foder, ordinária? Quer dar gostoso? –
disse eu, dando outro tapa e apertando seu pescoço.
– Então vou lhe dar o pau que merece até você
perder o ar... Para aprender a largar de ser puta...
Puta gostosa...
Então a fodi com jeito, sem lembrar de minha
promessa. Meu pau estava com tantas saudades
daquela boceta, que parecia dar câimbras. Ela
gemia tão gostoso, que fazia ecos no quarto.
Lembrei que Shaida estava lá, tapei sua boca... Mas
o atrito do meu pênis dentro da menina dela, muito
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úmida, chamava mais atenção do que qualquer


uivo. Meti com força e apetite até ela se desvairar
no gozo que veio rápido.
Então ouço uma batida na porta do quarto.
Ouço novamente a batida...
− Ei, por favor, o barulho está intenso...
Estou tentando trabalhar e não consigo... Podem
fazer mais baixo o que estão fazendo?
Brochei na hora.
Senti muita raiva dessa menina...
− Viu? Aqui é um ambiente de trabalho no
horário do expediente... As regras são para todos...
Parei. Não havia condições. Contei até dez.
Quebrei minha promessa e não consegui gozar.
Vesti rapidamente minhas roupas. Laura queria me
matar com o olhar, mas a folia havia acabado, e
meu juízo também.
Quando a tarde acabou, finalmente eu pude
respirar melhor, mas o silêncio foi interrompido
pelos gritos na cozinha. Eu já sabia o que estava
acontecendo. Apressei-me e segui até lá.
Laura estava cega de raiva, apertando Shaida
contra a parede. Seu olhar dentro dos olhos dela
cuspiam fogo.
− Eu quebro sua cara se repetir novamente
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isso... Vamos, cresça, seja mulher e diga! – disse


Laura quase cuspindo no rosto da menina.
− Se você foi rejeitada, cuide de seu
emocional, porque homem odeia mulher carente e
mal resolvida...
Escutei um tapa no rosto. Shaida se soltou e
revidou.
− Pegue suas coisas e suma daqui agora! –
Laura gritou, empurrando-a.
− Interna-se, está precisando... Olhe para
você... Amarga, desprezada... O problema está em
você que não tem amor próprio... Idiota!
Laura pegou como onça, Shaida pelos
cabelos, arrastando-a pelo chão da cozinha.
− Agora você vai sair daqui, nem que seja na
marra. Pegue seus panos de bunda e suma... – ela a
arrastava em direção ao corredor, sem se importar
com minha presença ali.
Quando Laura novamente ia investir para
pisar na menina, eu intervi. Suas mãos rasgaram
meu paletó, alcançando o pescoço, sangrando-me.
Tentei prendê-la contra parede, mas nada a fazia
parar. Bufava como um animal ferido.
Shaida veio por trás e me abraçou, colocando
seu rosto por cima do meu ombro.
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− Você tem força, mas não tem autoestima...


Use de sua força para se amar. – gritou Shaida com
o rosto todo marcado.
− Cale sua boca, Shaida, saia daqui! – gritei,
tentando prender Laura, que a mataria se eu a
soltasse.
Levei-a para o quarto e me tranquei com ela
lá, até que se acalmasse. Olhei seriamente para seus
olhos e suspirei fundo pela boca.
− Eu não posso acreditar que uma mulher de
sua categoria esteja envolvida em ciúmes bobos,
com uma menina de vinte anos.
− Só você não vê o que está acontecendo...
Essa rapariga dos infernos está conseguindo o que
quer...
− Não quero saber disso agora. Tente se
acalmar. Depois nos falamos. – disse eu, após
perceber que o calor das emoções já havia se
esfriado.

A angustia me tomava e só se acalmaria caso


eu fizesse algo que fosse capaz de substituir essas
sensações. Após ambas ter passado o resto da tarde
trancadas em seus quartos, saí de casa para respirar
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melhor, e passei no shopping para comprar


chocolate suíço para as duas. Era uma bobagem,
mas também uma lembrança, gostaria que
refletissem. Quero paz entre nós.
Escolhi os sabores que imaginei que as
agradariam, com as mais bonitas embalagens
disponíveis. De quebra, também fiz dedicatória em
cartões aveludados. Acertei quando imaginei que
isso faria com que me sentisse melhor. Já estava me
sentindo aliviado.
Faltava pouco para deixar o local, quando um
casal a minha frente me chamou a atenção. Eu não
queria acreditar no que via, no mesmo instante
minhas mãos passaram a suar, e as têmporas
também. Poderia ter visto qualquer cena
abominável, mas aquela a minha frente fez com que
eu sentisse um punhal cravado diretamente no
coração.
Manuela, num elegante vestido carmim
transpassado nos seios, passeava abraçada ao
suposto marido. Parecia um casal feliz, que nunca
atravessou crises conjugais. Arriscaria ir mais
longe, a troca de olhares e beijos carinhosos em
público, mais lembrava dois pombinhos em lua de
mel. Fiquei parado olhando, sem me importar se ela
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iria me ver. A dor absurda me impediu de ter


qualquer reação. Não conseguia raciocinar, porque
não havia sentido o que eu via. Não fazia a mínima
razão, diante de tudo que eu sabia sobre o
relacionamento de ambos. Não tinha como
acreditar ao me lembrar de nossas promessas e
juras de sentimentos. Senti-me traído. Enfurecido a
seguir. Louco. Esvanecido de meu próprio furor.
Repeti algumas para mim em voz alta, que não
deveria acreditar no que via, mas ela me olhou nos
olhos, com a mesma indiferença que olharia para
qualquer objeto desimportante à venda em alguma
vitrine, ignorando completamente minha presença
ali. Não demonstrou sequer alguma surpresa, medo
ou nervosismo.
Então foi somente nesta fração de segundos
pude perceber algo que jamais notei antes, devido à
paixão louca e convincente que me tomava todas as
vezes que a tinha nua em meus braços. Ela não tem
sequer uma cicatriz no peito, sinal da violência
sofrida no dia enfático em que foi agredida
seriamente, motivo este que poderia ter lhe tirado a
vida. Sempre que nos encontrávamos, ia com um
curativo por cima. Eu questionava e ela dizia que
ficou muito feio e preferia cobrir para não me
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entristecer. Aquele decote me revelou somente


agora, o quanto me encontrava tão cego e pensando
em nós, que jamais pude perceber algo tão
evidente.

Eu morri naquele instante...


Está mulher matou o melhor que havia em
mim.

Queria poder voar de onde estava até meu


carro, mas saí em passos lentos, amarrados por um
sentimento de decepção, fracasso, tristeza e ódio.
Um amor que me deu a falsa impressão de odiar a
única mulher que quis um dia com ela me casar, ter
filhos, ser fiel, ser leal, amigo, companheiro,
amante, confidente. Eu havia me guardado para
Manuela... Mas não sucumbiria na autopiedade.
Pelo menos, não naquele momento em que
precisaria de forças para dirigir até chegar a minha
casa.

Ao chegar, tentei disfarçar o máximo que


consegui para que as meninas não percebessem
meu lado destruído. Eu só não consegui deixar
transparecer por um único motivo, as malas no
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chão, ao lado de Laura, que num olhar sério e


caótico me aguardava para se despedir. Precisaria
multiplicar o caco de energia que me restara para
tentar fazer algo que a impedisse de sair naquele
momento.
Peguei em suas mãos, estavam frias, tanto
quanto tudo que havia em si.
– Eu resolvi aceitar sua proposta de entrar
numa universidade. Mas me decidi também a sair
de sua vida.
– Não faça isso... - foi o que consegui dizer.
– Farei. E não irei me arrepender. Antes
agora que mais tarde, quando não existir mais a
possibilidade de eu voltar para mim.
– Fique hoje? Fique mais um dia?
– Não. Estou decidida e sem lágrimas para
chorar ou me arrepender. Não quero conviver nesta
casa com Shaida. Não suporto a ideia de saber que
não fui eu a escolhida para receber seu amor. Sinto-
me grata por tudo, mas chegou o final de seus
cuidados em relação a mim.
Eu não tinha argumentos naquele momento.
Não queria que ela fosse embora, não daquele jeito.
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Não naquele dia. Mas precisa respeitar suas


escolhas, e isso também era prova de minha afeição
por ela.
– Eu não pude ser sua Chapeuzinho, Lobo.
Então prefiro não ser nada mais em sua vida.
– Você jamais seria minha Chapeuzinho,
menina, porque sempre te vi como a minha Loba,
companheira, parceira. Eu só não consegui mentir
para você.
Duas lágrimas rolaram de sua face, marcando
o pó facial da maquiagem. Ela não se importou em
mostrá-las. Pegou as malas do chão e seguiu rumo
à porta. Segurei minhas lágrimas ao ouvir sua voz
pela última vez:
– Adeus, Lobo. – pegou a coleira e jogou no
sofá.
A porta se fechou, era tarde demais para
qualquer sinal de vida em mim naquele dia. Sentei
no sofá e esperei pelo ânimo para ir me deitar.
A noite, quando se está triste, faz ecos na
solidão. As pessoas num instante desaparecem de
sua vida como se algum botão fosse desligado
instantaneamente.
Estava tão absorto em meus pensamentos que
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mal percebi os passos de alguém se aproximando


de espreita. Ficou parada me observando,
certamente nunca me viu naquele estado.
– Que bicho lhe mordeu? - perguntou sem
intenção de sair de onde estava sem uma resposta.
– Hoje, não, Shaida. Por favor, não estou
bem.
Fez que aceitou, e se sentou ao meu lado.
– Eu nunca te vi sorrindo...
– E com certeza demorará para ver. -
respondi pousando a cabeça para trás.
– Posso fazer algo por você?
Não gostaria que ela lesse meu pensamento
neste momento, pois foi maldoso. Era óbvio que ela
não poderia fazer nada. Uma menina tão nova, eu
tinha certeza de que não sabia como era se
apaixonar de verdade.
– Não. Mas não se preocupe, ficarei bem.
Bocejei, estiquei os braços, pisquei os olhos,
tudo na intenção de disfarçar minha tristeza, mas os
olhos dela não desgrudaram de mim.
− Posso ficar aqui com você? – ela perguntou
com uma voz carinhosa.
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− Não... É melhor ir dormir.


− Mas eu não posso... Não posso deixa-lo só.
Olhe para tudo que fez por mim, eu lhe devo a
minha vida; você a quis quando eu já não sentia
vontade de viver. Prometo ficar calada... Sei que
não tenho muita experiência para lhe passar, mas
ter alguém por perto que lhe quer bem, evita
acidentes.
Então eu sorri. Ela me tirava de dentro, algo
que eu não conseguia fazer sozinho.
− Você sorriu!!! Poxa, que lindo... É o
primeiro sorriso que ganhei desde que nos
conhecemos, e num dia tão drástico... Apesar de
não saber exatamente o que aconteceu, além de
Laura ter se mandado daqui, saiba que não existe
dor incurável.
Ela me deu um abraço. Meus braços ficaram
soltos, e Shaida os pegou, colocando-os em torno
de si.
− Obrigado por estar aqui... – eu disse
sinceramente, sentindo a dor no peito voltar,
querendo sair, extravasar... Segurei o choro, mas
quando ela olhou em meus olhos, foi inevitável.
− Chore se puder, se quiser, eu vou estar aqui
para não chorar sozinho.
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Eu me deixei ser levado por seus braços. Eles


me esconderam do mundo como algo que eu
pudesse suportar. A vontade de gritar era imensa,
mas ao invés disso desatei o choro preso na
garganta. Desabei dentro do carinho e amizade de
uma menina tão nova ainda.
Ela me pôs em seu colo, e eu abraçava suas
pernas sabendo que não havia outra escolha a não
ser me propor a sentir. Doía muito. Homem que é
de verdade reconhece sua fragilidade no momento
em que precisa se desfazer de tudo que aprendeu,
porque chega uma hora na vida, que nada mais lhe
serve a não ser mudar. Eu me perco neste momento
como lágrimas na chuva.
Depois de quinze minutos de pranto, sem me
importar com o que Shaida iria pensar de um Lobo
perdido em seus próprios sentimentos, dores do
passado que se fundiam com o presente, parei por
um instante, com a voz rouca e torneada pelo choro
que ainda haviam em meus olhos.
− Primeiro vem a dor. Depois o desespero,
que se funde com o vazio e a solidão. Vem o
silêncio, algo que parece não mais ter fim, neste
instante sou somente eu e minha sombra... Você
escuta ecos, mas é sua voz. Com o passar dos dias,
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vem a adaptação cominada com a aceitação. De vez


em quando você se esconde... Sente euforia, age
como se fosse normal. Finalmente o tempo passa...
E quando ele passa, você consegue perceber que
algo mudou, e esse algo sempre será você. – eu
disse.
− É exatamente assim... Toda vez que
acontecia aquilo comigo sobre o meu pai, eu
passava por essas etapas... Como são doloridas. –
sua voz estava embargada. Olhei para cima, ela
estava chorando. Acariciei seu rosto e seus cabelos,
imaginando como deveria se sentir por dentro.
− Ele nunca mais fará isso... Eu não vou
deixar.
Shaida sorriu, e me abraçou pelo pescoço,
enterrando sua cabeça com cabelos longos em meu
ombro. Ficamos assim silenciosos, sabendo que
naquela noite não estaríamos sozinhos.
− Eu tenho uma ideia... – disse ela ansiosa.
− Não sei não, você com suas ideias...
− É sério... Vamos tomar um porre. Um
grande porre. De vez em quando é bom perder a
sanidade.
− Você não tem idade para beber.
− Ah, pare com isso... – disse ela abrindo os
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braços. – Eu sou adulta. Nunca se esqueça disso.


Daqui dois meses completo 21 anos. Tenho mais de
18.
Fiquei pensativo, ela tinha razão, já estava
acostumada a sair com os amigos. E não seria uma
constante... Aquele dia seria necessário fazer algo
diferente.
− Tudo bem, vá ao barzinho e traga o que
desejar.
Ela se levantou e buscou uma garrafa de
vinho e algumas pedras de gelos nas taças.
− Vamos nos embriagar e soltar nossos
monstros, tirar tudo de dentro.
− Só um detalhe... Ninguém precisa se
embriagar para fazer isso. Mas hoje abrirei uma
exceção.
− Combinado.
Depois de termos quase terminado uma
garrafa, ela buscou outra. Eu já estava um pouco
mais solto e as palavras já saiam da minha boca
sem que eu pudesse contê-las.
− Ela mentiu para mim... Enganou-me. Não
tinha nenhuma cicatriz. Estão bem juntos.
− Ela quem?
− Manuela. A única menina a qual protegi e
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me apaixonei. Estava disposto a abandonar a minha


carreira de Lobo por ela.
− Seita? – ela perguntou fazendo uma cara
estranha.
− A Seita do calhorda do Otávio Hilgert.
Então neste instante ela ficou paralisada.
− Este homem não é dono da empresa que
compra seus perfumes?
− O que rouba os meus perfumes, você quer
dizer.
Ela se levantou e ficou andando de um lado
para o outro na minha frente. Estava visivelmente
nervosa, e mesmo eu estando alcoolizado percebi
seu nervosismo. Tomou um gole grande da bebida
e se ajoelhou no meio de minhas pernas.
− Vamos colocar todas as cartas na mesa? –
seus olhos eram de verdade.
− Comece por você, senhorita. – eu pedi, um
tanto zonzo.
Ela suspirou fundo e se sentou no tapete com
as pernas cruzadas. Fiquei esperando que iniciasse,
pois sei que ela ainda tinha muito o que me dizer.
− Certo. Vou falar. Promete não se alterar?
− Vá em frente. – pedi, tomando mais um
gole.
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− Eu já lhe contei que sou abusada


sexualmente desde os meus cinco anos de idade,
que me lembre. O homem que se diz meu pai
pagava uma senhora para me cuidar, porque eu
jamais soube quem é minha mãe. Este homem não
colocou seu nome no meu. Esta senhora quem me
registrou e fui criada por ela até o dia que ela
morreu. Há um ano, ele disse que ia se separar de
sua esposa para se casar comigo, e que se eu abrisse
a boca para contar seu plano para alguém, me
mataria ou me venderia para o mercado negro do
sexo.
Fui tomado de raiva, mas tentei não deixar
transparecer, para que ela pudesse me contar toda a
história.
− Então eu tentava sempre o suicídio, porque
era difícil ter que abrir as pernas para o meu
próprio pai, com medo de morrer caso dissesse não.
Sentia medo de matá-lo e jamais saber a respeito de
minha mãe. Minha esperança foi sempre encontrá-
la. Quando te conheci, eu havia acabado de vir de
uma clínica. Eu fiz um aborto. – parou um pouco
para chorar. Seu corpo soluçava inteiro, eu tentei
abraçá-la, mas ela não permitiu.
− Respire fundo... Isso... Mais uma vez... – eu
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pedia e ela fazia.


− Foi muito difícil ter que tirar meu filho,
porque eu sabia que vinha de mim, mas também
sabia que era fruto de estupro, uma relação doentia,
nojenta. Senti medo que a criança nascesse
deformada. Mas ouço choro de bebê nos meus
pesadelos, todo santo dia. Por isso pedi para dormir
com você naquela noite.
− Coloque tudo para fora, vamos... Por pior
que seja, diga. Fará bem a você.
− Meu pai é o Otávio Hilgert.
Neste momento me levantei. Até o efeito da
bebida parecia ter passado. Senti um sentimento tão
medonho... Jamais pensei que fosse capaz de ter o
desejo de matar alguém com minhas próprias mãos.
Fui até a parede e encostei minha cabeça. Fiz um
sinal para que ela esperasse um pouco. Lágrimas
desciam pelo meu rosto, num misto de ódio e
indignação. Este homem era um monstro. Este
canalha merecia morrer. Dei dois socos intensos na
parede com a mão fechada. Fiz outro sinal para que
ela me aguardasse.
− Por que não me disse isso antes? – me virei
para questioná-la. – Por que não me contou essa
maldita história antes?
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− Me desculpa... Eu não sabia se seria bom


dizer algo tão grave... tive medo.
− Eu poderia... Eu poderia socá-lo até a morte
neste exato momento. – eu disse enfiando as mãos
entre meus cabelos. – Desgraçado!
− Calma... Fique calmo, por favor. Eu estou
bem agora. Estou aqui.
− Ele não poderia fazer isso a você...
− Muita gente não poderia fazer muita coisa
para não magoar as pessoas, mas a maldade existe
no mundo.
− Oh Shaida... Venha cá... Shaida... minha
pequena... – eu abracei com tanta força, não queria
mais que se machucasse. Não permitiria que
ninguém mais fizesse algo que pudesse fazê-la
sofrer. – Você não pode mais sofrer. Nunca mais.
Entendeu? Eu não quero que você sofra. – repeti
isso algumas vezes, beijando sua cabeça que estava
toda envolta em meus braços. – Eu vou pegar esse
desgraçado.
− O que tem esse lance da Seita? Eu não
sabia a respeito.
Então contei a ela como tudo se deu, desde
minha iniciação, e como hoje tudo se transformou
dentro da minha cabeça. Eu achei que a assustaria,
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mas Shaida era corajosa, uma menina forte que


aprendeu a se defender da vida. Ela prestou atenção
em tudo que fora dito e não fez nenhuma pergunta,
acredito que tenha entendido.
Ficamos abraçados até que meu coração
diminuísse o ritmo. Era estranho dizer, mas daquele
dia tão difícil, era somente nós dois. Ela me
acalmava; me compreendia. Era familiar sua
companhia. Encaixei meu queixo sobre sua cabeça,
e senti seus lábios no meu peito. A respiração
estava quente, e suas mãos se encontravam frias por
baixo do meu paletó, coladas em minha camisa.
Shaida levantou seu rosto e pousou seus
olhos sobre os meus. Não dissemos uma só palavra.
Nada foi necessário para que nossos lábios se
encontrassem num beijo inicialmente terno. Passou
de carinhoso para curioso. E por fim, suas pernas
escalaram pelas minhas, apoiada ao meu pescoço.
O beijo passou para avassalador. Línguas se
tocavam, lábios sugavam, chupavam, paravam e
voltavam a se encontrar. Estávamos tentando
entender. Eu queria, ela queria, sem ter explicação.
O beijo agora era perturbador. Senti o fundo
quente de sua calcinha se encaixar sobre meu pau
que já rasgava a calça. Eu apertei a sua bunda,
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comprimindo-a contra meu sexo que a queria


demais. Shaida abaixava uma das mãos e o tocava,
excitando-se ainda mais ao perceber o volume e
espessura. Louca, foi retirando meu paletó,
desabotoando a camisa enquanto me devorava com
seus lábios. Ela me queimou todo por dentro.
Fui caminhando para qualquer lugar da casa,
levando-a envolta ao meu quadril. Parei na sala de
jantar, ela beijou meu peito e retirou sua blusa. Eu a
coloquei sentada sobre a mesa. Sua mão segurava
meu rosto, esfregava-se em minha barba, lábios,
peito. Fiquei muito excitado com seus movimentos
intensos. Ela não queria me provar o quanto era
gostosa, queria apenas sentir, soltando pequenos
suspiros e gemidos. Desabotoou minha calça e
abaixou o zíper. Tirou meu pau e o chupou com
volúpia, beijava-o na extensão, brincava com a
língua ao redor da glande robusta. Ao sentir sua
goela encostando-se ao em meu sexo, senti minha
própria pulsação, um desejo ardente de gozar em
sua boca, mas não o faria. Estava acontecendo um
momento especial. Não me senti um Lobo, me senti
um homem. Uma menina, idade para ser minha
filha, fazendo com que eu me sentisse um homem...
Rasguei sua calcinha. Toquei em sua
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bocetinha, estava tão molhada quanto inchada.


Toquei com o dedo indicador na entradinha,
sentindo-a por dentro. Ela parou de me chupar e
abriu bem as pernas, flexionando os joelhos e
levantando o quadril para se encaixar em mim. Ao
penetrá-la, senti a sensação de que estava voando.
Seu sexo correspondia, sugava, expulsava, melava.
Meti gostoso, e ouvi meu próprio som. Não me
lembro de ter gemido alguma vez na vida, mas com
ela isso aconteceu de surpresa.
Ao me ouvir, ficou ensandecida, levantava o
quadril e se remexia, gemia, pedia que eu metesse
mais... Queria sentir mais... Eu dava a ela, o pau
grande e grosso que ela desejava. Gozamos juntos,
com nossos sons e líquidos se fundindo no
ambiente.

Que foda gostosa...


Que menina hot, naturalmente deliciosa,
diferente e viciante.

Foi só uma transa, mas intensa. Ao acabar,


caímos com a cabeça encostada uma na outra. Ela
começou a rir, suspirante.
− O que houve? – quis saber.
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− Acabou o efeito do vinho.


Afastei-me sem jeito, não sabia ainda se
deveria ter feito o que fizemos, mas foi incrível.
Fiquei com vontade de dizer isso a ela, mas não
consegui. Ela pareceu não se importar. Eu fingi não
perceber. Não queria ser mais um na sua vida, tão
pouco, que ela fosse só mais uma conquista. Fiquei
perdido até chegar ao destino do meu quarto.
Fechei a porta mordendo o lábio, desejando voltar e
começar tudo de novo. Abri e fechei a porta, apertei
a mão com a palma fechada. Relutando, joguei-me
na cama. Queria esquecer o desejo sem poder...
Queria-a de novo.

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Capítulo 12

Preste atenção, menina... Quero você em mim, para que ao


acordar,
Eu possa provar você de novo, como se estivesse ao meu
lado.
Quero que meu coração bata e eu sinta você,
respire você, cheire você. Entendeu?

Os dias se passavam um a um, mas a


decepção me cegava. Não era saudade, ou era, tanta
faz, nada mudaria o que Manuela me causou por
dentro. Chorei por algumas noites na escuridão do
meu quarto. Quando se pensa que está a fazer o
bem para alguém, e descobre que o mal estava
apontado para sua vida, com a mesma espada que
você lutaria por esta pessoa, não há como segurar a
dor que corrói todos os seus órgãos.
Meu momento com Shaida ficou naquela
noite da verdade. Ela agia naturalmente, e parecia
aliviada depois de ter me revelado seus segredos.
Parecia menos rebelde, precisava se abrir para se
livrar do veneno que a vida lhe proporcionara. Eu a
observava de longe, estava sempre afundada em
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algum livro ou conversando com alguém pelo


celular, em seus momentos vagos. Saímos para
passear duas vezes, eu queria fazer parte de sua
nova etapa. Ela sorria livremente e isso me causava
contentamento, apesar da dor que me acompanhava
por onde eu fosse, mas eu tentava não demonstrar à
menina. Preferiria ter pulado esta página da minha
vida, tê-la deixado vazia. Não foi uma experiência
que valesse à pena.
Meu celular tocou, e toda vez que isso
acontece, penso que é Manuela. Não esperei o
terceiro toque para atender.
“Senhor...” – uma voz aflita do outro lado me
atingiu, eu podia sentir sua dor.
“Helena, o que houve com você?”
“Preciso vê-lo.”
“Sim, mas o que está acontecendo? Parece
aflita.”
“Precisamos conversar.” – ela disse sem
chorar, mas eu podia sentir as lágrimas descendo
por sua garganta.
“Anote meu endereço.”

Uma hora depois, ela estacionou na frente de


minha casa, eu fui recebê-la. Era seu primeiro
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contato com meu mundo pessoal. Helena estava


linda usando um vestido vermelho com um belo
decote. Percebi de imediato a coleira em seu
pescoço, ela estava atenta, não se esqueceu de
colocá-la para vir me ver. Sorri.
− Entre, fique à vontade. Se sente, por favor.
Helena se aconchegou no sofá da sala de
recepção do escritório. Suas pernas bem cuidadas
estavam cruzadas elegantemente. O perfume que
vinha de sua pele instantemente inundou todo o
ambiente.
− Agora me diga o que lhe trouxe aqui. –
pedi gentilmente.
− Estou aflita... Meu casamento desabou.
Descobri algumas coisas secretas sobre meu
marido.
Fiquei imóvel, ouvindo, nunca toquei no
assunto sobre a Seita. Esperava realmente que não
fosse este o motivo que a levara ali, pois não
saberia o que dizer.
− Continue.
Ela arfou e correu os olhos pela sala.
− Estamos a sós?
Levantei e fechei a porta com a chave.
Também puxei para baixo as persianas da sala.
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Estávamos seguros.
− Estamos a sós, fique tranquila e continue.
− Eu o segui... Descobri muitas coisas
estranhas, e outras, desleais. – ela parecia tomar
coragem para dizer. – Ele frequenta um lugar
subterrâneo. Eu vi quando entrou. Neste lugar
funciona uma espécie de casa noturna onde ocorre
um treinamento e seleção de mulheres brasileiras
com destino à prostituição no exterior.
Fiquei pasmo. Não podia acreditar.
Certamente isso seria apenas uma dedução, pois
frequentei durante anos a Cidade dos Prazeres, e
nunca percebi nenhuma ilegalidade. Sabia que lá
aconteciam práticas sexuais, mas entre pessoas bem
resolvidas que estavam lá por sua livre e
espontânea vontade. Até então, era apenas um local
onde os Lobos se reuniam para se divertir.
− O que quer dizer? Explica-se melhor.
− Você sabe sobre qual local eu falo... Eu o
vi na foto tirada pelo detetive particular que
contratei. – ela abriu sua bolsa e retirou de lá uma
fotografia. Realmente era eu na foto, ao lado de
Manuela. Fixei meus olhos naquela foto, gostaria
de acreditar que o que via fosse insignificante, que
esta pessoa jamais passou pela minha vida. Raiva e
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saudades. Mágoa e mentiras. Foi isso o que restou.


– Por que não me disse nada a respeito?
Fiquei sem palavras.
− Escute Helena, eu não sabia que este lugar
era um treinamento para prostituição, para mim
isso é novidade... Sinceramente estou surpreso.
Ela olhou para mim sabendo que eu jamais
mentiria a respeito.
− Por que o senhor frequenta esse lugar?
Mais uma vez era o momento de dizer a
verdade. Então contei toda a história, que a deixou
ainda mais preocupada, adentrou a um mundo
misterioso que não lhe pertencia, e não sabia como
funcionava.
− E foi assim que cheguei neste país, e fui
parar na casa subterrânea.
− Eu acredito no senhor. Sei que não tem
motivos para mentir para mim, embora esteja se
arriscando, eu jamais poderia esperar isso de
Otávio, apesar de suas mentiras para passar as
noites fora. O fato é que ele atrai e leva essas
mulheres para lá, manipula e mente para homens
como o senhor, com o intuito de cuidar de
mulheres, e em seguida ele toma essas mulheres e
vende para o mercado negro do sexo no exterior. É
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tudo uma farsa.


Ouvir aquelas palavras era uma bomba para
os meus ouvidos. Eu fui usado, manipulado, traído
na confiança. Um fogo apoderou-se do meu corpo
todo, eu sentia como se fossem chamas. Era o ódio
tomando posse do meu ser. Eu não saberia me
conter... Fui leal e honesto. Eu acreditei em
mentiras que foram crescendo em proporções
surreais. A todo o momento, um novo engano. Mas
depois do que soube sobre Shaida, nada mais me
surpreendia vindo de Otávio, que se tornou meu
arco-inimigo com louvor.
Ela mostrou mais fotos. Fotos de documentos
de identidade de muitas mulheres que foram
enviadas para o exterior, passaporte, e-mails de
negociação. Era odioso ver tudo aquilo se
revelando do pior modo para mim.
− É muito difícil de acreditar que eu estava
envolto em tudo isso, sem saber. – minha voz ia se
calando aos poucos, esta foi a pior rasteira de
minha vida. Uma ratoeira, algo fácil de enganar
pessoas ingênuas como eu fui um dia.
− E têm mais coisas, porém não sabemos
como descobrir. Coisas obscuras, como poderá ler
depois, nessas cópias dos e-mails que trouxe para
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ficar com o senhor. Quem sabe pode me ajudar a


descobrir.
− Sim, lerei com atenção, mas continue por
favor.
− Pelo o que sei, ele está há muito tempo
neste ofício e usa a multinacional como fachada
para poder entrar nos países sem sua intenção ser
percebida.
Neste momento, me levantei do sofá e
respirei descompassadamente. Eu fui
absolutamente usado em todos os sentidos. Ele usa
o meu trabalho, minha criação, para poder cometer
crimes. A única coisa positiva em tudo isso, é que
agora eu tinha as provas contra esse lixo. No
momento certo ele iria provar de seu próprio
veneno e desgraça. Ele não tinha todo este poder. A
Seita na verdade, era uma fachada também.
Significa que nosso pacto nunca existiu.
− Continue... – pedi sem poder expressar o
que sentia.
− Vou pedir o divórcio litigioso, e vou
desaparecer por um tempo.
− Para onde vai? – eu quis saber.
− Reconstruir minha vida; me proteger. Mas
darei notícias... Não nos veremos por enquanto.
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− Se for o melhor para você, tem o meu


apoio.
Ela se levantou e pegou sua bolsa. Sorriu
lindamente e me deu um longo abraço. Entendi que
era o momento de mais uma de minhas protegidas
partir. Levou delicadamente a mão em seu pescoço
e retirou a coleira, entregando-me.
− Muito obrigada pelos bons momentos.
Foram poucos, mas tenha certeza de que jamais o
esquecerei.
Balancei a cabeça e entreguei de volta a
coleira.
− Leve-a para se lembrar de nossos
momentos.
Aproximei-me de seu corpo e a beijei. Ao
abrir os olhos, Helena saiu por aquela porta, certa
de que a nova era chegou para si.

Abri o quarto de Shaida, vagarosamente.


Estava sentada no tapete entre tesoura, papéis,
cordão, cola e outros objetos. Ela era uma artista e
não sabia. Porém meu sorriso fora se
desmanchando quando me deparei com o que
estava preparando. Minhas poesias. Ela as
encontrou e fazia uma espécie de livrinho artesanal
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para os escritos. Senti vontade de brigar por estar


invadindo minha privacidade e mexer nas minhas
coisas, então contive o tom da voz.
− Por que mexeu em minhas coisas? – eu
quis saber, apontando para as poesias. – Isso é coisa
minha, não tinha autorização para fazer nada sem
pedir autorização.
− Desculpa, Alejandro, eu achei que iria... te
agradar. Ia te fazer uma surpresa.
− Agradeço pelo belo trabalho, mas não se
deve mexer nas coisas dos outros. Eu não me sinto
confortável com isso.
Ela se levantou e trouxe um livrinho artesanal
até minhas mãos.
− Você é um poeta. Eu o admiro muito pela
pessoa sensacional que é. Peço desculpas
novamente pelo impulso, era realmente para fazer
uma surpresa.
Peguei o livrinho e sorri ao olhá-lo. Ficou
muito bom. Ela não deveria ser tão xereta, mas seu
talento é inegável.

***
Confidências de Shaida

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Desde que o vi, senti um arrepio. Ele foi o


primeiro que me enxergou, mesmo na escuridão.
Não fez de mim a margem mais baixa de sua visão,
sequer me pediu algo em troca do que pudesse
fazer por mim.
Nunca fui muito de me abrir, sei que o irritei
desde o começo, mas é que ele realmente estava em
encrencas, se meter com uma boneca quebrada
como eu, é caso de sanatório. Eu desconfiei muitas
vezes de sua sanidade, mas seu coração me mostrou
que todas as suas loucuras na verdade eram vida.

Ele me devolveu o desejo de viver.

Existia nele algo tão mágico, que me fazia


sorrir, mesmo quando eu estava com os olhos
cheios de lágrimas. Por mais que existisse a
diferença de idade, eu nunca o vi como um homem
mais velho, porque ele me entendia... Ele sabia
exatamente como me fazer feliz. Eu ria de sua
rabugice e mau-humor, porém o que eu mais queria
era que ele sorrisse plenamente, pois isso era só um
pouco do tanto que ele merecia.
Se eu estou apaixonada? Nunca escondi dele
esta verdade, nem mesmo quando fingi que estava
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dormindo, naquela noite em seus braços. Sim, eu


menti algumas vezes... Eu queria só ficar perto dele
e sentir como era viver os dias ao seu lado, pois a
cada minuto era diferente para mim.
Ainda bem que Laura sumiu de sua vida. O
espaço ficou livre para mim? Mas não é só isso...
Ela é egoísta. Pensou somente nela no momento em
que ele mais precisou de apoio. Em seu lugar, eu
jamais o deixaria. Não faria isso porque as
dificuldades da vida são outras... Amor que não deu
certo é somente um detalhe diante das dores do
mundo. Se um braço se abre para me abraçar, eu
abraço tão forte que sou incapaz de me soltar,
porque sei o quanto vale este gesto quando não
temos mais ninguém para nos dar isso
gratuitamente.
O que este Lobo fez por mim, jamais vou
esquecer. Ele desejou minha vida, mesmo que ela
sendo suja ou fora dos padrões sociais. Quando me
apertou em seu peito pela primeira vez, senti que
todas as coisas ruins deste mundo poderiam desabar
sobre minha cabeça, pois naquele momento eu
estava segura, seu amor protetor saberia como me
cuidar para que eu não me machucasse. Ele
choraria por mim. Tomaria para si, minha ferida,
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aquela que mais doía, e eu não conseguia mais


suportar.
Não era apenas atração sexual, era algo que
vinha de dentro e se expandia para que o céu se
tornasse mais bonito em minha vida. Todas as
minhas maluquices eram feitas com intenção de
distrai-lo de si mesmo, ele precisava viver...
Precisava sentir que ao redor de mim, ou de
qualquer outra que estivesse ao seu lado, existem
pássaros cantando, mesmo se a pessoa que você
mais amasse, morresse.
Como não dizer que sou louca por seu todo?
Como não desejar que ele fosse feliz, mesmo
diante de qualquer lágrima que rolasse do meu
rosto, no momento em que eu não fosse a sua
escolhida?
Nunca gostei de homens barbudos, achava
isso coisa do século passado, mas quando ele veio
em minha direção, cada passo que dava eu ouvia
cantigas de anjos. Sua postura ao andar, seu jeito de
olhar e sorrir faz com que o mundo brilhe, e só para
de brilhar quando seus olhos se fecham no
momento de dormir, porque sei que lá de cima, as
estrelas estarão emprestando dele a luminescência.

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Ele pegou o livrinho e o guardou em seu


quarto, olhando-me de soslaio a sorrir. Mandei um
beijo e pisquei meu olho.
− Vamos sair para dançar? – ele me
perguntou.
Coloquei a mão por cima da boca, não
acreditava que estava sendo convidada para um
encontro... Quero dizer... não é bem um encontro,
mas eu fiz de conta que sim. Aliás, tudo
ultimamente eu fazia de conta que estava de
acordo. Ele estava tão abatido por causa da bandida
que lhe arrancou o coração, que por mais que eu
desejasse lhe dar o meu, não poderia, pois assim
não conseguiria amá-lo. Então eu o olhava...
Olhava-o tanto que pensei que meus olhos o
roubariam de seu mundo, para que ele pudesse
entrar no meu.
− Dançar??? – eu precisava que ele
confirmasse isso. Esperava ansiosamente que
ratificasse logo, antes que uma brisa ruim mudasse
seus planos.
− Exatamente... – sua voz parecia tímida,
então eu cheguei por trás de suas costas e o abracei.
Apertei. Aproveitei. Não poderia ser pela frente, eu
não sei lidar com isso...
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− Mas você está bem? Quero dizer, vai se


sentir legal no meio de fumaça de cigarro e gente
bêbada babando em sua camisa, na casa noturna?
− Estou falando sério.
− Eu acredito.
− Saímos às vinte e duas em ponto.
− Preciso me vestir com algo especial? –
falei, já o imaginando de terno e eu de capuz
vermelho e pantufas de coelhinho.
− Vá vestida de Shaida indo para a boate.
Por que ele precisa ser tão enigmático
sempre?
− Okay...
− Okay? – ele questionou, então me toquei
que detesta que eu diga esta expressão.
− Tudo bem... Vou me arrumar lindamente
para ter uma noite inesquecível... Quero dizer... –
tossi imaginando que ele pensou que eu imaginei
que seria papada pelo o Lobo Mau. – Para me
divertir ao lado do senhor.
− Senhor?
Hoje ele estava impossível.
− De você.
− Melhorou. Senhor, diga apenas quando
estamos trabalhando. Não quero que as pessoas da
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boate achem que sou seu tio.


− Ah, jamais pensariam isso... Posso garantir.
– disse isso já o imaginando me beijando no meio
de todo mundo.
Saí pulando pela casa. Ele me olhava
sorridente, gostava de me ver serelepe, mesmo
quando não queria demonstrar que sim.
Desmontei quase toda a arrumação do
armário escolhendo um vestido branco, azul,
preto... Vermelho... Vermelho Chapeuzinho por
uma noite. Yes!
Enfiei-me dentro da roupa desajeitadamente.
Olhei no espelho, aquela magrela lá não era eu,
tenho quase certeza, mas ele irá gostar. Não sei por
que, mas sei que vai. Virei as costas, estavam de
fora... Será magnífico sentir suas mãos grandes de
Lobo Mau tocando nelas. Não sei se suspirava ou
se escolhia o sapato ideal.
Bem, o sapato ideal penso eu que é aquele
que a mulher olha e diz, eu usaria essa porra
mesmo se arrancasse meu dedo. Olhei: coturnos,
tênis, sandálias, rasteiras, pantufas... Cacete!!!
Comecei a roer as unhas e fiquei sem saber o que
faria. Não tinha um capim furado no meu bolso.
No horário combinado, eu estava pronta, mas
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sem os sapatos. Fui à sala onde ele se encontrava,


quando me viu, olhou-me demoradamente. Eu
podia sentir seu olhar queimar sobre minha pele.
Então olhou para os meus pés descalços.
− Eu não tenho sapatos...
Ele demorou alguns segundos para responder.
Comecei a ficar com vergonha. Então se levantou e
só neste momento pude perceber que estava vestido
estilo o Bob Mau de Shaida.
Berroooooo!
Nunca em minha vida eu poderia acreditar se
alguém me contasse que o Lobo iria para a casa
noturna comigo, vestido em meu estilo, bermuda
preta e camiseta com tema de rock.
Berroooooo de novo!!!
− Venha cá. - disse ele me levando pelo braço
até meu quarto. Abriu meu armário, as roupas
caíram sobre seus sapatos, ele me olhou tentando
não rir de minha desorganização. Abaixou-se e
buscou a roupa perfeita para mim.
− Quero que use isso.
Passou-me uma saia jeans curta e um
casaquinho com capuz vermelho. Fiquei olhando
pensando com minha pantufa, como ele era
maravilhosamente perfeito, gostoso, o último gomo
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da mexerica.
− Obrigada. – sorri com os olhos olhando-o
de baixo para cima.
O Lobo queria que eu fosse eu. Ele seria eu
hoje, para que pudesse viver um pouco o meu
mundo... Eu amava isso nele.

Ao chegar à boate, eu me soltei sentindo as


luzes sobre mim e meu divo. Babei sobre os copos
de bebida que passaram por mim, mas ele já havia
dito que hoje era sem chance.
− Divo, vamos ali para o meio da pista. – saí
arrastando-o pelo braço, pois se dependesse dele,
ficaríamos escondidos como Bonnie e Clyde no
canto da boate. Ele veio meio sem jeito, quase não
querendo vir, mas eu insisti, ele ia dançar sim.
Sorrir; soltar os demônios.
Só um detalhe, tá? Ele dançava olhando para
os meus olhos. Fiquei me sentindo a própria e
última gostosura do universo. Suas mãos tocavam
minha cintura e me puxavam para si. Senti muito
calor... Que cheiro gostoso esse homem tem. Para
distrair da armaria, comecei a dançar, pular de
olhos fechados, pois se continuasse comendo a isca,
bem... Essa dança iria acabar no banheiro.
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Aí veio aquele ritmo mais lento. Não


consegui escapar. Abri os olhos e fiquei olhando
seus lábios. Bem assim... Fiquei mesmo... Tinha
que aproveitar. Ele me acariciava nas costas como
imaginei. Morri nesse momento. Por que não vim
com o vestido vermelho com tudo de fora? Que
mãos macias e quentes, pesadas e tudo mais...
Ele não parava de me olhar, meu pai. Fiquei
cismada. E se eu avançar e levar um fora daquele
de ir chorar lá no canto de Bonnie e Clyde? Logo
agora que estava tão gostoso, eu não ia dar uma
bola fora. Vou continuar correspondendo ao seu
olhar.
Ele me levantou um pouco só, e me colocou
por cima dos seus sapatos. Fiquei assim, pisando
em seus pés, que me conduziam para onde ele
quisesse. Morreria assim. Encostou a barba em meu
pescoço, apertando meu quadril contra seu corpo.
Pronto... Lá embaixo passou a pegar fogo.
Dançamos até às três da manhã. Saí com a
roupa toda suada no tempo bem fresco. Chuva!!!
Começou leve, mas passou a engrossar até
chegarmos ao carro. Ele colocou o capuz do
casaquinho em minha cabeça e corremos de mãos
dadas. Quando nos aproximamos do carro, já
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estávamos para lá de ensopados. Passamos a rir


como dois bêbados no meio da madrugada. Então
seus olhos novamente me olharam, e não era mais o
Lobo inocente da boate. Quando suas mãos me
pegaram pelo braço, como se quisessem me dar
uma prensa, quase mijei na calcinha. Ele veio com
sua barba molhada, me prensou de costas para o
carro e me beijou.

Beijos que estralavam, mordiam, sugavam,


latejavam...

Eu obviamente não sabia nem meu nome


mais. Como da outra vez, me suspendeu e me levou
para o carro com as pernas em torno do seu quadril.
Beijos com as duas mãos em meu rosto. Beijos com
mordidas no pescoço e no queixo. Eu sei que queria
dizer algo, mas não disse. Apenas me engolia.
Deitou-me no banco de trás e subiu sobre
mim. Seu corpo grande todo sobre o meu,
insignificante. Meu pai, o que vou fazer com esse
homão da porra?
O Lobo com uma só mão arrancou minha
calcinha, eu só ouvi o barulho de tecido rasgando
no ar. Colocou o preservativo, abriu minhas pernas,
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segurando minhas coxas por trás dos joelhos. Nem


vi quando ele começou a me penetrar, só pude
sentir o céu embaçado nos vidros do carro.
Depois de tudo pronto e concretizado, fomos
para casa. Deitei em seu ombro e segui ao seu lado.
Meu condutor. Meu Bob Mau. Suas mãos quentes
acariciavam minha coxa enquanto eu beijava seu
ombro sobre as ruas molhadas do Rio de Janeiro.
Ao entrarmos na casa, fiquei andando de
costas, olhando-o tirar sua roupa mordendo o lábio.
Eu sabia que não tinha terminando. Acabei
entrando no embalo, tirei a blusa, saia e sapatos.
Ele apontou o dedo para mim, e eu balancei a
cabeça. O anjo bom virou o mau e andava em
minha direção, e eu me afastava para instigá-lo,
mas juro que estava tão molhada que meu tesão
escorria pelas coxas.
− Vamos lá, se masturbe para mim...
Fiquei roxa. Eu desconfiei de que ele sabia de
minhas peripécias em sua homenagem, quando o
desejo era só um sonho longínquo.
− Eu não sei me masturbar... – disse, jogando
verde para colher maduro, vai que ele cai e
confessa que me sondou fazendo isso para ele.
− Ah sabe sim... – então sorriu e me
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entregou.
Coloquei a mão na xoxota e passei a fazer o
que a gente acaba fazendo um dia quando conhece
o homem da sua vida, mas ele não sabe que você
existe. Quando estava quase gozando, suas mãos
tocaram as minhas que estavam lá embaixo.
− Não goze ainda... – disse ele me contendo.
Agarrou-se a mim, e seu membro começou a
endurecer quase me guinchando para cima. Beijo
gostoso de novo... Então me levou para o chão e me
pegou ali mesmo. Enquanto me penetrava, eu me
arrastava para trás como bicho no cio. Ele me
acompanhava tentando me fazer parar, mas eu
estava tão louca que queria entrar no subsolo com
ele dentro de mim.
Fomos trepando pelo chão até chegar ao
quarto.
− Eu não vou dar um tapa nesse rostinho de
anjo, porque ele não merece, mas a minha vontade
é de te devorar toda, marcar, te foder até você
estremecer. – disse ele quando me levantou do
chão, ainda com o pau dentro de mim, sendo
enganchada de um jeito gostoso.
Jogou-me na cama e eu fiquei esperando as
cenas das próximas gozadas. Foi até ao criado-
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mudo, colocou a camisinha e veio... Veio como um


Lobo pronto para comer sua Chapeuzinho
Vermelho. Acariciou meus seios e me colocou de
quatro.
O sol estava nascendo pela vidraça e os gritos
pela casa retumbavam. Perdi a conta do quanto
gozei. Perdi a conta do quanto me apaixonei de
novo e outra vez... Agora sim, eu estava
literalmente fodida.
***
Eu me lembrava de Manuela como um
vendaval que passou pela minha vida com intenção
de me destruir. Tentava repudiar qualquer
pensamento de carinho correspondido, mas no
fundo algo ainda cortava e ansiava pelos momentos
que deixamos de viver. Eu sei que a perdi, e perder
para mim era algo difícil de resolver por dentro,
porque um Lobo quando se apaixona, venera a
pessoa amada, coloca-a num pedestal onde só
moram os deuses. E Manu não merecia este lugar.
Os cabelos claros ainda povoam minha
mente, e mesmo que eu quisesse reencontrá-la para
lhe dar o troco que merecia, era algo improvável, e
ainda bem que era assim. Ainda bem que não
poderei pegá-la pelos cabelos e arrastá-la até minha
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cama, batendo em sua cara, beijando sua boca,


fodendo-a como um animal selvagem. Ainda bem
que ela saiu de minha vida sem a oportunidade de
lhe dizer pela última vez que a desejo como nunca
quis a mesma mulher.
Apaguei meu charuto quando escutei um
choro insistente. Andei pela casa até me deparar
com aquele corpo pequeno debulhado sobre os
braços. Corri até ela, pegando-a pelos braços até a
cama, onde foi depositada com carinho. Beijei sua
testa, e vi o que não pude me conter. Os braços
magros com novos hematomas. Suspirei
pesadamente na ânsia de arrebentar aquele monstro
ao meio.
− Quando o encontrou sem que eu soubesse?
- perguntei ansioso, ávido por sua resposta.
Certamente terei que fazer algo para impedir que
seja morto por minhas próprias mãos.
− Ele me ligou, disse que iria me revelar
quem é minha mãe e onde a encontrar. - chorou
num soluço sentido na alma.
−E então você foi até ele para se ferir mais
uma vez? Não se cansa de tentar se enganar? Esse
idiota fez... Abusou de você?- eu mal conseguia
esperar por sua resposta. Levantei da cama
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passando as mãos pelos cabelos, pronto para o que


der e vier. – O que ele fez a você?
− Ele queria me levar na marra para nos
casarmos. – ela tentou virar o rosto, e eu a forcei a
olhar para mim, trazendo-a pela queixo.
− E o que mais?
− Ele me passou o endereço onde encontrar
minha mãe. - disse numa dor que parecia corroer
seus ossos, e eu ali tentando não existir, se não
fosse para arrancar de si o que a machucava. − É
um cemitério... Ele a matou! Ele a matou,
Alejandro. Jamais conseguirei conhecê-la. Jamais
ganharei um abraço, nem saberei o quanto me
pareço com ela. Tarde demais... Eu não tenho mais
ninguém... Ela era minha última esperança. Você
entende isso?
Abaixei a cabeça e permaneci assim por
alguns instantes. Este assunto sobre mãe é delicado
para. Eu nunca saberei o que ela está sentindo; que
tipo de amor é este que pode salvar. Era um alívio
saber que minha mãe estava bem longe de mim.
− Deixa-me ver esse endereço.
Ela me passou a anotação em um pequeno
papel dobrado. Ao abrir, certifiquei de que se
tratava de cemitério, o número do lote e jazigo.
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− Esse homem destruiu minha vida!


− Você quer ir até este cemitério para termos
certeza de que não seja um truque? Eu te
acompanho.
Entre a certeza de ir ou não, ela balançou a
cabeça.

Ao chegarmos, eu a abracei e fomos em


direção da recepção do cemitério.
− Se quiser, não precisa ir até ao túmulo, eu
vejo isso para você. - eu disse na intenção de que o
impacto não aumentasse ainda mais seu
desconsolo.
− Eu quero ficar. Preciso saber quem é minha
mãe. Este é o nosso primeiro encontro. - os olhos
dela derramavam lágrimas.
− Tudo bem. - eu disse, enxugando seu
pranto com o polegar.
Entreguei o papel para o rapaz da recepção e ele
veio com o caderno de registro. Depois de alguns
minutos procurando pelo túmulo, sua voz
pronunciou o nome Dolores, o que me fez perder
um pouco da força nas pernas, amparando-me no
balcão. Lembro-me que poucas foram as vezes que
me senti assim, uma delas foi quando Dolores
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partiu e fiquei impotente naquela estação. A


segunda vez ocorreu ao ver Manuela praticando sua
mentira diante dos meus olhos. Agora, ter a certeza
de quem era a mãe de Shaida, e que esta pessoa se
encontra morta há tantos anos, me causou náuseas.
Fiquei confuso. Triste. Infeliz.
− Tem a data do falecimento? - eu quis saber
com o desejo intenso de ir até este túmulo de vez.
Ele me passou a data e eu anotei no celular.
Tudo aconteceu logo que Shaida nasceu.
Olhei para Shaida e seguimos para o
endereço do túmulo em silêncio. Cada qual com
seus pensamentos. Ela ainda não sabia que a
mesma Dolores que me ensinou a amar as mulheres
era sua mãe. Eu não sabia qual era o momento certo
de contar. Só sabia naquele exato momento que
precisaria estar ao lado da menina e lhe amparar
muito mais do que antes ou mais do que a qualquer
outra.
Chegamos diante do túmulo. Os olhos dela
estavam inchados de chorar. Eu a abracei forte e
deixei escapar lágrimas do tempo, aquelas que não
mais voltarão para contar a mesma história. Apertei
Shaida contra meu peito e ficamos assim por
minutos eternos.
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Já estava escurecendo e o céu se confundia


entre o alaranjado e azul. Por dentro, o coração
batia forte, precisámos ir. Eu tentava, ela se negava.
− Precisamos ir... – eu disse, levando-a num
abraço.
− Eu não sei ir... – ela respondeu,
depositando sua boca no meu peito. – Esta mulher
que não me lembro ter conhecido é a única que
deve ter me amado, e a única que eu deveria amar.
Agora estou aqui, diante do seu túmulo, implorando
para que o tempo retorne e eu possa abraçá-la ao
menos uma vez.
− Você tem a mim, jamais vou te abandonar.
Jamais...
Ela foi se entregando, e eu a tirei dali. Sentia
muito carinho por aquela menina, não apenas por se
parecer fisicamente com Dolores, mas porque sua
personalidade era adorável, mesmo quando senti
muitas vezes vontade de apertar seu pescoço.
Passamos por dias depressivos. Ela chorou
algumas vezes, eu a levei para dormir em meu
quarto. Estávamos tão ligados um ao outro, como
se realmente fôssemos uma família. Não nos
tocamos, não havia clima, o que eu mais queria era
que ela conseguisse superar este momento, e
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estivesse pronta para denunciar aquele monstro,


pois agora não havia mais esperanças em encontrar
sua mãe.

Fiquei na porta encostado, vendo-a terminar


seu assunto pelo celular com Pedro. Ela ficou
desconsertada, e eu não me importei, queria saber o
que realmente acontecia entre ambos, uma vez que
agora sou responsável por tudo que lhe diz respeito,
e este não era o melhor momento para entrar em
uma nova fria.
Assim que desligou apressada, eu mantive
minha posição de observador, porém agora olhava
suas expressões. Ela não sabia o que fazer com as
mãos, esfregava as pernas e arrumava o cabelo, eu
continuava olhando sem parar.
− O que deu em você? – me perguntou, um
tanto sem jeito.
− O que acontece entre você e esse rapaz? –
eu quis saber, certo de que precisava acompanhar
melhor suas relações. Shaida não era uma menina
comum, que podia sair por aí, tinha um louco lá
fora com desejo de feri-la.
− Não rola nada... Ele é apenas um...
− Um??? – permaneci na insistência.
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− Um amigo que transo de vez em quando.


Não sei dizer, mas meu sangue esquentou por
dentro. Eu sei que não tinha razão para impedir que
a menina transasse com quem quisesse, desde que
se prevenisse, mas naquele momento a única coisa
que eu queria fazer era aumentar o tom da voz e
tentar fazer algo que... Eu nem sei o que queria
realmente.
− Um pau amigo? É isso que você quis dizer?
− Sim, é isso que eu quis, não, que quero
dizer. – sua petulância voltou à tona, e eu já estava
armado até os dentes.
− Você se previne? – minha voz não estava
para brincadeira, quem diria minha expressão no
rosto.
− O que quer dizer?
− Usa camisinha, toma anticoncepcional,
essas coisas que qualquer menina de sua idade
deveria saber.
− Sinceramente, Lobo, eu não preciso mesmo
falar sobre essas coisas com você. Além do mais,
está bancando um pai presente, que não quero.
− Não quer?
− Não! Não quero um Daddy, se é isso que
quer saber. Quero um homem que não se importe
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com a nossa diferença de idade, porque eu sou


mulher, só você não viu.
− Eu não sou Daddy, sou alguém que se
preocupa com você e quer o seu bem, mas vejo que
sua petulância não lhe deixa enxergar exatamente
nada do que estamos vivendo e compartilhando
juntos.
− O quê, por exemplo? Poderia me explicar
melhor esta parte?
− Não sabe mesmo o que aconteceu? Que
perdeu sua mãe, e que estamos sentidos com isso?
Enfim, chegou o segundo momento da verdade.
− Qual verdade? – ela se ajoelhou na cama
com as mãos na cintura.
− Dolores, sua mãe, é a mesma mulher que
amei quando era adolescente, e a mesma que está
naquele quadro.
Seus braços caíram ao longo do corpo, e
então ela pode se acalmar da ira que estava em si e
se lembrar do retrato na parede e da primeira vez
que o viu. Fiquei esperando que ela gritasse ou algo
assim, que me culpasse ou me xingasse, mas em
vez disso, veio correndo para minha direção e se
jogou em meus braços.
− Não me deixe, por favor... – ela pedia, me
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apertando aos poucos e sequentemente.


− Eu prometi não deixar, lembra?
− Promete não me deixar nem mesmo quando
eu me tornar malcriada e sentir vontade de chutar
sua canela? Sei que não sou um exemplo a seguir,
mas sei que você é a única pessoa que tenho. Minha
referência com o passado de minha mãe, e no
presente, minha referência como... – ela se calou e
abraçou pelo pescoço, escalando em meu corpo
como se pedisse colo.
− Sua referência como... – eu queria saber.
Ela precisava me dizer sem mentir. Precisava ser
sincera o bastante para que eu voltasse a confiar em
alguém.
− Como um pai. – seu rosto ficou vermelho,
ela demorou um pouco para pronunciar como se
estivesse pensando no que dizer.
Não sei o que pensar, mas isso não era
exatamente o que eu esperava ouvir, mas parecia o
correto. Não devo me precipitar, essa menina não
estava preparada para curar minhas frustrações.
Sim, como um pai que cobiçava sua filha, um novo
e maldito crápula em sua vida.
− Não sei, eu não quis me sentir um pai para
você... Só quis te proteger das mazelas da vida. Não
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tinha intenção de me aparentar...


− Um pai? – perguntou ela, subindo
novamente em meu corpo.
Estava me sentindo envolto por um balde de
água fria, e isso foi o suficiente para me afastar.
− Você está completamente certa, deve
procurar alguém de sua idade, porém alguém que te
respeite. – saí, deixando-a parada na porta.

Minutos mais tarde, a campainha toca e me


apressei em atender. Era o tal do Pedro. Shaida não
me disse nada que o convidaria para vir, confesso
que novamente me irritei.
− O que quer aqui? – perguntei, olhando para
trás, iria mandar o moleque embora antes que
Shaida aparecesse.
− Boa noite, senhor Alejandro. Vim visitar
Shaida.
− Ela não está. – disse rapidamente, já
fechando a porta por detrás de minhas costas, e
levando a conversa para a varanda.
− Acabamos de conversar, ela disse que
estava me esperando.
− Pois é, ela mudou de ideia. – pensei
rapidamente num jeito de tirá-lo dali, e me veio em
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mente em chamá-lo para uma conversa amigável de


homem para homem. Eu não estava acreditando no
que estava fazendo. Senti-me com vinte anos de
idade disputando a garotinha da faculdade. –
Façamos assim, vamos sair nós dois, quero ter uma
conversa com você.
− Não sei... Acho melhor...
− Está com receio do quê? Acha que sou
alguém capaz de fazer algo a você?
− Não é isso... é que hoje eu e Shaida iríamos
oficializar nosso relacionamento. Eu vim
justamente para pedir a mão dela em namoro ao
senhor. Acredito que já faz algum tempo que
estamos nessa lenga-lenga, e sinto que ela esteja
precisando de mim neste momento tão delicado de
sua vida. Quero estar ao lado dela. Mas vamos lá, é
melhor mesmo que tenhamos essa conversa
primeiramente entre nós dois.

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Capítulo 13

Eu sou uma Infinidade de coisas que não se explicam.


Se doam ou se sentem. Transbordam, consumem.
Te faz renascer ou te mata.

Engoli a seco desde que saí de casa até o


presente momento. Estava no volante, com o
moleque que quer namorar Shaida, ao meu lado. Eu
não acreditava realmente no que estava
acontecendo, e que meu tempo seria gasto com esse
tipo de assunto. Daddy... Daddy... Agora me parece
que estou cumprindo este papel, só não sei até
quando.
Estacionei o carro e o chamei para descer
num bar. Se ele era já um homem, não havia
problema em tomar uma cerveja comigo. Pelo
menos hoje ele não usava bermuda nem boné,
senão já tinha corrido com ele de minha frente.
− Vamos ao que interessa... – comecei a
conversa sem saber exatamente o que ia dizer.
Apenas queria que tivesse um ponto de partida.
− Eu quero namorar Shaida. Quero seu
consentimento. – disse ele seriamente, tomando um

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gole denso da cerveja em seu copo.


− Certo... Quer namorar a menina... Bem,
vamos ver se entendi... – minha voz era de puro
sarcasmo, e eu me odiava por estar ali, fazendo a
vez do pai de Shaida. – Ela deve ter lhe contado
sobre sua vida, e sabendo disso, João... – troquei o
nome de propósito.
− Pedro, senhor Alejandro.
− Tudo bem, Pedro. Tá... Então, qual sua
idade?
− Vinte e quatro.
− Vinte e quatro anos... Você com essa idade,
não estuda, não trabalha e quer namorar alguém
com tantos problemas como Shaida?
− Não trabalho ainda porque estou me
dedicando aos estudos.
− Não importa, isso não muda os fatos...
Importante é saber que agora... Bem... que nesta
maldita hora, eu sou como se fosse seu... Dad... seu
pai. E que se você encostar num fio de cabelo dela,
digo, assim meio sem cuidado, e se isso feri-la,
você irá se ver comigo. Eu não estou brincando. –
senti minhas mãos suando frio, afrouxei minha
gravata, meu desejo era dar um soco na cara de
feliz do moleque. Era assustador até para mim, o
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que eu sentia diante de algo tão natural. Shaida


deveria ter se apegado. É uma menina carente, sem
família. Pedro, um cara de sua geração, com a
cabeça cheia de novas ideias, isso poderia tê-la
prendido a ele.
− Acho que o senhor não entendeu... Serei
mais claro, eu estou apaixonado por Shaida. Eu a
quero para mim, desejo fazê-la feliz.
Meu rosto foi se desmontando aos poucos,
para que a realidade implacável se ajustasse aos
fatos, estavam apaixonados... Claro... Eles tinham
este direito. Eu não poderia interrompê-los.
− Tudo bem, vamos voltar para casa. Lá
conversaremos nós três.
− Agradeço. Espero não decepcioná-lo. Sei
que Shaida o tem como um pai, um amigo
necessário. Também sou grato por isso, mas agora
sou eu quem tomará conta dela, pode ficar
tranquilo, sei como fazer.
Então ela se confidenciou a ele... Disse que
me tem como pai. E vou além, ele não me quer a
protegendo, deseja fazer isso por mim, mas de um
modo diferente, como seu namorado. Tomei de
uma só vez toda a bebida que estava em meu copo
e peguei a chave do carro.
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Ao chegarmos, eu a vi apreensiva no sofá.


Pedro foi ao seu encontro e beijou suas mãos.
− Já conversamos. Deu tudo certo, não há
com o que se preocupar. – ele disse ao seu ouvido,
mas eu ouvi.
Sentaram-se no sofá e eu me prostrei de
frente ao casal.
− Shaida, eu conversei com seu... com o
Pedro, e ele pediu sua mão em namoro. Fiquei
pensando no motivo pelo qual não me contou esta
novidade antes, acha mesmo que iria te impedir de
ter sua vida?
Ela me olhou, parecendo ler o que eu
escondia.
− Acredito que não. Todas as pessoas
possuem o direito de se apaixonar um dia...
− Você está apaixonada? – sustentei o meu
olhar em seus olhos. Eu esperava que ela não fosse
infantil neste momento, e me revelasse a mulher
que se apresenta em momento especiais.
− Eu gosto de Pedro. – respondeu, com os
olhos ainda nos meus.
Eu não tinha mais nada a dizer. Não ia
disputar uma menina com um moleque. Não me
colocaria em uma situação ridícula com o simples
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desejo de ganhar no final. Shaida não era um


prêmio. Era uma criatura linda e admirável,
inteligente, esperta. Especial... Diferente. Única.
− Eu vou me retirar. Espero que saibam o
limite da liberdade, aqui ainda é minha casa e exijo
respeito.
− Pode ir descansar, senhor Alejandro, confie
em mim, meu pai me ensinou a ter respeito pelas
pessoas. – disse Pedro. Não olhei para ele, apenas
virei as costas e segui para o quarto.
Fiquei me revirando na cama. A cada ruído
na casa, sentia vontade de espiar pela porta.
Precisei engolir meu orgulho ferido e fechar meus
olhos. A vida seguia para todos, eu precisava me
desvencilhar do apego.

Passei os dias observando a menina. Ela não


veio mais para o meu quarto. Estava feliz,
aparentemente. Deixou de picuinhas e passou a se
cuidar mais. Via uma Shaida com os cabelos
devidamente arrumados, roupas novas, unhas
pintadas e um sorriso nos lábios. Não sabia dizer se
era tão egoísta a ponto de achar isso ruim, ou tão
imbecil a ponto de achar que ainda sou tão
importante como antes.
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Pedro passou a frequentar minha casa quase


todos os dias. Às vezes ia apenas apanhá-la para
sair, ou assistir televisão ao lado dela. Nunca faltou
com respeito, mas meus olhos não deixavam de ver
maldade em qualquer gesto mais afoito ou abraço
mais apertado que ele dava no corpo de Shaida. Eu
tentava me distrair criando os perfumes, mas minha
paz havia voado para outro lugar. Eu deveria me
acostumar àquela condição. Mas o que mais me
incomodava era o fato de ela me sentir como seu
pai. Isso jamais iria engolir, pois seu gosto ainda
estava em meus lábios. Seus tremores em meu
corpo... Sua pele na minha... Eu sentia falta de sua
companhia de antes. Ansiava por tê-la dormindo ao
meu lado, por este motivo deixava a porta do
quarto, aberta, na esperança de que ela viria, mas
nunca mais veio.
Hoje foram ao cinema. As duas tranças
cumpridas brilhavam nos fios sedosos dos cabelos
tão bonitos. Fiquei observando seu jeito de andar, e
o som que fazia quando sorria. Ela o abraçou e
seguiram para o carro de Pedro, meu olhar ficou
parado, olhando-a escondido pela persiana.
Horas mais tarde, a campainha tocou. Eu não
esperava que ela voltasse tão cedo ou que estivesse
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esquecido a cópia de sua chave. Fui abrir a porta, e


uma estranheza nebulosa me assombrou de pronto.
Manuela surgiu do nada, trazendo consigo duas
malas grandes e pesadas. Ela sorriu e esperou que
eu reagisse. Eu achei que não seria capaz de reagir,
mas meu instinto felino se apossou do que eu
conhecia como subconsciente. Não sorri, mas por
dentro um buraco espontâneo se formou, era o
momento certo de lavar a roupa suja ou de fazer o
que esperei por todo esse tempo de decepção
aguda.
Não era mais como antes... Meu corpo não
arrepiou, nem o coração acelerou, mas minha
mente despertou para o que ela deixou sobrar de
mim. Talvez não fosse bom ela se aproximar.
Talvez se fosse embora como um engano, ainda
assim, seria o melhor para sua preservação. Eu já
disse antes, que um Lobo ferido é muito pior que
um inimigo em crise. Controlei meus impulsos e
pedi que entrasse. Não recebeu meu abraço quando
seus braços me prenderam na tentativa de recuperar
o tempo perdido, porque o tempo que passou não
foi para mim, mais do que um acaso sombrio e
injusto. Tudo tem um preço, e o valor que restara
ela ainda não conhecia.
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− O que lhe trouxe aqui? – perguntei, não por


ansiedade em saber, mas por ouvi-la dizer que se
arrependeu.
− A certeza de que não é tarde demais. – sua
voz entrou em mim como um objeto estranho, eu
me rebatia naquela falsa intimidade, que agora era
quase desconhecida.
− Você acredita que um dia passado modifica
as pessoas? – perguntei ainda parado no mesmo
lugar, com seus braços em torno de meu corpo que
a rejeitava.
− Acredito que um amor verdadeiro não se
apaga com o tempo... E que pessoas se
conscientizam do quanto foram tolas ao perder de
viver o que sonham.
− Você fala de verdade? É isso que quer
dizer? Uma pessoa sincera e leal com seus
sentimentos, que mentiu para apagar da realidade, o
que não suportava enfrentar quando ainda havia
tempo? – me sentia cada vez mais indignado. Ela
causou em mim, o mal para si mesma.
− Eu deixei tudo para vir até aqui, dizer o que
aconteceu... Se me der uma chance de contar até o
fim, saberá que também sou humana, que erro, mas
não deixei de amar.
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− Algum dia você me amou? – este ponto de


interrogação me constrangia diante do que eu
sentia.
− Eu descobri isso quando lhe perdi. Me
aceite... Deixa-me falar...
Então dei passagem para ela entrar. Daria
também toda a oportunidade que precisasse para se
olhar, mas não mostraria tão facilmente o que me
causou.
Peguei suas malas como o cavalheiro que
sempre fui, não deixaria de ser ao carregar as malas
de um inimigo. Levei para o meu quarto e ela
aguardou na sala. Eu não sabia exatamente o que
estava fazendo, mas era necessário que fosse assim,
para que eu precisasse entender o que hoje éramos.
Ao voltar, me servi de uma bebida forte e me
sentei ao seu lado. Esperei que o clima se
normalizasse para ouvi-la falar. Ela percebeu e
aguardou o momento certo. Então abriu seus lábios
e passou a se pronunciar calmamente, foi somente
neste momento que percebi o quão fria fora no dia
em que mais precisei de respostas.
− Eu o vi no shopping naquele dia. – disse
tirando os olhos dos meus.
− Eu tenho certeza disso... – minha vontade
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era xingar.
− Mas eu não pude fazer nada, me desculpa...
Sei que devo ter lhe passado uma imagem horrível,
mas aquele não era o momento certo de contar o
que aconteceu.
− Não precisa se justificar por ter mentido
que não era feliz com seu marido... Nem precisaria
vir até aqui para tanto, ou deixá-lo pelo mesmo
motivo. Tivemos momentos incríveis, acredito que
por mais feliz que estivesse ao lado dele, seria
realmente difícil de esquecer. Mas as mulheres
modernas sabem separar o amor de uma aventura.
− Não foi uma aventura, Alejandro... Eu só
não podia corresponder como desejava... Fui paga
para isso.
Fui paga para isso.
Fui paga para isso.
Esta frase me tirou o pouco dos bons
momentos que me restaram na memória.
− Foi paga? Paga como? Paga? – eu não
podia acreditar no que ouvia. Era uma brincadeira,
só poderia ser.
− Recebi uma quantidade de dinheiro para
me relacionar com você e mentir.
Então me levantei e comecei a dar
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gargalhadas.
− Como uma pessoa consegue receber
dinheiro para fazer a outra se apaixonar? – ri
novamente. Eu ria de mim, a única pessoa que
provavelmente acreditou nela um dia.
− Não ria, é verdade. – pela primeira vez vi
sinceridade em seu olhar. – Nunca tive um
casamento ruim. Nunca fui esfaqueada pelo meu
esposo. Mas estávamos passando por momentos
difíceis financeiramente, e então surgiu uma pessoa
que nos trouxe um plano para ser colocado em
ação.
− Não... Espera... Você quer me dizer que o
corno do seu marido sabia de tudo e consentiu que
sua esposa feliz se deitasse com outro homem a
troco de um pagamento indireto? É isso mesmo? –
pela primeira vez alterei minha voz desde que ela
chegou. Era muita sujeira para eu conseguir
acreditar que fiz parte de uma trama imunda.
− É isso. Mas não estava nos planos eu me
apaixonar por você.
− Repita isso... Espere... Espere... – saí da
sala e fui atrás de um espelho. Minha alma doía. Eu
fui usado para beneficiar alguém. Eu fui sincero
como jamais deveria ser. Eu amei como não
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poderia. Fui até o quarto e trouxe o espelho que


ficava na parede do banheiro, e o coloquei com
raiva diante do rosto dela. – Olhe para você...
Agora repita o que disse. – ela ficou espantada e eu
continuei... – Repita!
− Não estava nos meus planos... Me
apaixonar por você... – balbuciou, gaguejou, mas
saiu.
− O que estava em seus planos? Diga se
olhando no espelho. – estava possesso, não havia
como suportar esta situação pacificamente.
− Eu... fazer você... se apaixonar e... receber
o dinheiro para isso.
A índole de uma pessoa a desenha em
qualquer lugar que ela passe. A intensão de um ser
humano se reflete em sua vida como este espelho,
que não é mágico, mas é implacável.
− E o que você vê no espelho? – minha mão
tremia ao segurar o objeto. Quem é você, Manuela
não sei de quê? Este é seu nome verdadeiro
mesmo?
− Não sei o que vejo, senhor. Não, este não é
o meu nome verdadeiro. Eu me chamo Inês.
− Inês... Inês... Eu não sei de quem se trata...
Porque você me fez acreditar que era a Manu,
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minha Manuela, a menina frágil, doce, sofredora. O


que você fez com a Manuela? Sua falsidade a
matou?
− Eu posso ser o que o senhor desejar, desde
que acredite que o amor aconteceu...
− Não há cicatriz de ferimento... Foi uma
farsa...
− Sim, foi uma maquiagem... Estava sendo
seguido, eu sabia que iríamos nos encontrar
naquela rua. Lá no hospital, senhor Otávio havia
providenciado um médico, que também fora pago
para me internar e passar informações sobre meu
estado de saúde. Realmente fiquei na UTI durante
todos aqueles dias, não estava e coma, mas estava
lá.
Tirei o espelho e olhei para os olhos falsos e
azuis.
Entre a cobra e o passarinho...
− E então você me procurou para que eu lhe
perdoasse, simplesmente... Para que eu me
esquecesse de Manuela e me apaixonasse por
Inês... Há dentro de si uma convicção de quem as
pessoas são realmente manipuladas por um botão, o
qual seus dedos possam apertar quando lhe for
conveniente. Então você pegou suas malas, como
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se tivesse certa de que iria te perdoar, porque você


mudou de ideia... E não suportou o que causou por
dentro de si. Não aguentou sua realidade falsa e
inescrupulosa. Quis se perdoar, porque dói quando
apaga a luz e já não sabe mais que é você... É isso?
− Não senhor...
− Não me chame de senhor.
Eu a levantei segurando-a pelos ombros. Os
olhos faiscavam de todo sentimento que existia.
Trouxe-a para perto dos meus olhos e desejei
imensamente que tudo fosse um pesadelo, e que
aquela miserável estivesse apenas surgido após
muito tempo sem dar sinal de vida.
***
Confidências de Manuela (Inês)

As mãos dele em meu ombro me causavam


calafrios. Os olhos dele em mim, me levavam para
uma realidade desconhecida... Eu só queria que ele
me beijasse e acabasse logo com isso. Desejava
voltar a senti-lo, para que meu arrependimento
valesse a pena. Eu não o usei durante os momentos
que passamos juntos, pois assim como eu, ele
também desfrutou do que cada um proporcionou ao
outro.
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Sei que não fui a amante ideal, porque ele


não queria uma amante, mas se fosse o que
desejasse, teria sido perfeito para Alejandro, pois
no fundo, o que todo homem deseja é uma mulher
em chamas. E eu estive assim durante todos os
minutos juntos a ele. Meu marido nunca foi
autossuficiente para me dar prazer, eu não disse
isso ao Lobo, porque iria me odiar ainda mais.
Jamais senti na cama o que ele me fez sentir.
Acredito que seja por este motivo que estou aqui,
além de ter sido sincera com meu marido acerca
dos meus sentimentos, e ele ter me posto para fora.
Não, não sou uma aproveitadora, mas é muito
difícil abandonar um lar por causa de outro homem.
Eu não sou vagabunda como ele imagina,
estava praticamente passando fome. Não achei justa
a proposta feita por Otávio, mas certifiquei-me de
que precisaria dela naquele momento. O que está
feito, já era. Estou aqui, diante dele, a fim de nos
acertarmos de um jeito ou de outro. Caso não dê
certo, voltarei para minha casa. Meu esposo não é o
melhor homem do mundo, mas irá me aceitar de
volta, caso eu lhe prometa fidelidade. Geralmente
os homens mais fracos e carentes são os mais
dependentes emocionalmente numa relação. Eu não
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vejo isso como usar alguém, e sim, ser esperta num


ecossistema em que precisamos fazer qualquer
coisa para sobreviver.
Eu senti seu hálito quente e sedutor em meu
rosto. Seus lábios me tomaram, era água fresca
num solo seco. O beijo não era mais o mesmo, ele
continha raiva, repúdio, mágoa, ainda havia desejo,
mas de um outro modo... Eu fechei os olhos e
correspondi ardentemente. Ele iria me perdoar. Iria
me aceitar de volta, e nossas roupas ficariam juntas
no mesmo armário, não precisaria mais mentir nem
para mim, nem para ninguém.
Suas mãos fortes seguraram firme em meu
vestido, rasgando-o totalmente. Senti o furor do
toque e me arrepiei inteiramente. Não podia
acreditar que seria dele novamente... Como esperei
por isso...
Jogou-me na cama com apenas um empurrão.
Fiquei petrificada naqueles olhos certeiros. Haviam
neles algo que jamais notei antes. Senti um pouco
de medo, mas me deixei ser conduzida por seu
toque.
− Quer ser puta? Será fodida como uma.
Chupe meu pau, cadela.
Abri seu zíper e tirei seu pau enorme de
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dentro da calça. Passei a sugá-lo com volúpia.


− Engula tudo... Quero sentir sua garganta.
Vagabunda!
Neste momento, senti dois tapas em meu
rosto, e sorri. Era exatamente assim que queria me
sentir na cama de um homem. Ele me pegava pelos
cabelos e me fazia engolir seu pau até chegar à
goela. Eu ansiei, mas segurei firme. Era forte.
Estava com saudades. Aguentaria a parada.
Tirou o pau de minha boca e passou a bater
no meu rosto. Era pesado e forte, doía, mas eu
queria. Doía, mas eu queria que ele me revirasse
pelo avesso e fizesse o que quisesse de mim.
Colocou-me de quatro. Fiquei ainda mais
excitada. Senti que ia gozar até me contorcer. Ah,
que saudades de sentir seu pau inteiramente em
mim. Foi até a mesinha e colocou um preservativo.
Mas quando se aproximou para me penetrar, ele o
fez no meu rabo. No seco. Sem dó. Dei um gemido
denso de dor, mas não me importei, sabia que
depois disso chegaria o prazer.
Seus movimentos eram intensos, puxava
meus cabelos e trazia minha cabeça para trás com
uma gravata em torno do meu pescoço. Se tivesse
sido pela frente, eu já estava gozando com certeza,
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mas parecia que ele não ia sair dali tão cedo...


− Por favor, senhor, me penetre na boceta... –
eu pedia, apertando o lençol da cama.
− Não me chame de senhor! – exigia ele,
metendo ainda mais forte.
Quando estava prestes a gozar, saiu de mim e
retirou a camisinha. Puxou-me pelo cabelo e me
trouxe novamente para abocanhá-lo.
− Chupe bem gostoso, puta, porque quero
que você engula toda a porra que merece.
Em segundos estava gozando, e não era
pouco. Meu senhor estava se depositando dentro de
mim, eu não iria achar isso ruim, afinal de contas,
de hoje em diante ele poderia fazer o que quisesse.
Eu era sua.
Ao terminar, ele se afastou, acendeu seu
charuto e eu fiquei sentada, esperando que se
recuperasse para me fazer gozar. Sei que o faria,
porque o Lobo não era como esses homens por aí,
egoístas que só pensam em si mesmos. Ele não...
Ele jamais teria tal atitude com uma mulher. Mas
estava tão tranquilo, olhando pela janela... Parecia
que eu não estava no quarto.
Levantei e fui devagar ao seu encontro.
Cheguei perto e passei a mão em suas costas
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tatuadas. Não houve nenhuma reação. Ele deu mais


um trago em seu charuto e jogou a fumaça. Ficou
assim até que terminasse o fumo. Em seguida foi
para o banheiro sem me convidar. Fui atrás, como
um cachorrinho sem dono, mas era como se eu não
existisse no mesmo espaço.
Lavou seus cabelos vagarosamente, eu via a
água infiltrar em sua barba e desejei tocá-la.
Aproximei-me e ajudei a se banhar, ele apenas tirou
minhas mãos e apressou-se no que estava fazendo.
Saiu do banheiro dando o lugar para eu tomar
meu banho. Sozinha. Então passei a sentir medo.
Não sei exatamente do que, mas preferi não
acreditar que meus planos pareciam falir.
Quando entrei no quarto, ele estava
segurando minhas malas que nem deram tempo de
serem desfeitas. Mordi o lábio não acreditando que
não daria certo de reconquistá-lo. Faria qualquer
coisa para persuadi-lo.
− O que quer dizer com isso? – perguntei,
ainda enrolada na toalha. Ele pegou minhas roupas
que havia tirado da mala, uma vez que rasgou por
completo o vestido que eu usava, e jogou em meus
pés.
− Troca-se!
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Passei a me trocar e ele saiu do quarto,


levando as malas consigo. Saí rapidamente atrás
dele, tentando persuadi-lo.
− Por favor, não faça isso.
Ele abriu a porta da sala.
− Vá embora! – falou rispidamente.
− Eu fui sincera com você, contei a verdade.
− Nada que existe em você é verdadeiro.
− Mas você transou comigo, sabe quem sou...
Não faça isso.
− Eu não transei, eu te usei. Agora saia daqui.
− Não posso acreditar que você está falando
sério... É mentira! – gritei, chorando, jogando-me
aos seus pés.
− Já chega, suma da minha vida! Nunca mais
me procure. Esqueça o dia em que me conheceu.
− Eu... não posso... – chorei, implorando.
Ele me pôs para fora, levando-me até ao
portão, trancando-o.
***
Entrei e me fechei por dentro da casa. A
sensação era de ter alcançado uma solução para
este problema. Estava tudo acabado, finalmente eu
poderia voltar para mim, como o velho Lobo de
antigamente. Não senti arrependimento algum,
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agora eu era aquele que consigo reconhecer.


Mulher alguma jamais voltará a habitar dentro de
mim a ponto de nossos passos se confundirem. O
uivo solitário por dentro, muitas vezes é melhor do
que um mar de enganos. Estava curado de
Manuela, ela poderia fazer o que quisesse, nada
mais me afetaria. Tudo chegou àquele ponto em
que se vira para a pessoa e diz, você morreu para
mim. Um Lobo não perdoa traição.
Horas depois chegou o casalzinho para
completar a minha noite. Shaida entrou como uma
bala casa adentro, enquanto o frangote seguiu atrás,
com os ombros encolhidos, mais parecido a Maria
Madalena arrependida. Servi uma dose e fiquei
virando as páginas do jornal como de não estivesse
me importando com nada.
Eu a escutei na cozinha, ela parecia estar
preparando alguma coisa para comer. Passei reto
pelo projeto de homem sentado no meu sofá, com
aquele boné ridículo virado na cabeça, e fui até a
cozinha para investigar o que acontecia. O
sanduíche que Shaida estava fazendo era tão
grande, que mal cabia no prato.
− Pela fome, imagino que a noite tenha sido
boa. - ironizei.
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− Ah sim, foi ma-ra-vi-lho-sa... - ela


devolveu a ironia.
− Posso saber onde foram? - arrisquei.
Shaida pegou o sanduíche com as duas mãos
e deu uma grande mordida. Com a boca ainda
cheia, olhou para mim e disse:
− Em lugar nenhum.
Fiquei parado olhando-a comer o lanche,
imaginando que este marginalzinho não deve ter
um centavo no bolso furado, para levar sua menina
para comer.
− Isso que dá namorar moleques.
− Bem, devo lhe informar que o culpado de
tudo isso é você. - disse ela com a boca cheia,
passando por mim, indo direto para o seu quarto.
Bateu a porta. Fiquei boiando numa piscina vazia.
Fui até à sala dispensar o garoto, afinal,
parece que está missão sobrou para mim. Cheguei
de mansinho, pensando no que iria dizer, pois já ia
me recolher também.
− Ei, rapaz, acredito que a noite tenha
acabado para todos. - apontei a mão para o
corredor, mostrando que Shaida foi se deitar.
− É, eu sei... Mas queria ter uma palavrinha
com o senhor.
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− Seja breve, pois meu dia foi cheio.


Ele pôs as mãos no bolso e tirou o boné.
− Meu namoro parece ter sido breve...
− E o que tenho a ver com isso? - estava
curioso, mas não queria demonstrar ao fedelho.
− Tem tudo a ver. Shaida não para de falar no
seu nome, a cada dez palavras, cinco se refere ao
senhor. Eu gostaria de saber o que rola entre vocês.
- me encarou depositando toda a culpa sobre os
meus ombros.
− Sinceramente, acredito que não lhe devo
satisfações. Se a própria Shaida não lhe disse, não
seria eu o primeiro a falar. – respondi, certo de que
esta era minha chance de jogar água na fogueira.
− Então minhas suspeitas estão confirmadas...
Eu tinha certeza de que estava se aproveitando de
uma menininha indefesa...
Senti a raiva automática corroer meus ossos e
o peguei pelo colarinho da camiseta.
− Escute aqui, pirralho na construção da
autoafirmação, eu jamais me aproveitaria de uma
pessoa tão especial quanto Shaida, você não sabe
de nada... Mal se deu conta de que ela é decidida,
linda, inteligente, mulher demais para o seu
caminhãozinho. Agora dê o fora de minha casa,
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antes que eu lhe ensine a ser um homem de


verdade. - joguei o moleque no sofá, que se
levantou e saiu de minha frente jurando ódio no
olhar.

Fui me deitar na certeza de que não


conseguiria dormir. Revirei a cama toda, e nada me
fazia parar de pensar na menina. Ousei a me
levantar e ir até a porta do seu quarto. Estava tenso
e louco para possui-la como jamais a senti. Toquei
na maçaneta e interrompi meus desejos quando
percebi que estava trancada com a chave. Dei um
pequeno soco na porta, imaginando-a linda e nua
sobre os lençóis. Meu pau estava tão duro que
dilatava as veias.
Desisti de tentar. Iria assustá-la. Como não
percebi antes? Essa garota já era uma mulher.
Tentou chamar minha atenção várias vezes para
este detalhe, mas eu queria vê-la como a filha de
Dolores. Virei as costas e saí dali tão perturbado
que não vi quando a porta se abriu, e sua voz surgiu
na escuridão do corredor.
− Venha Lobo... Venha comer a
Chapeuzinho...
Eu não a via, mas sentia seu cheiro de lasciva
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se propagando no ar, infiltrando em meu corpo,


alcançando meus desejos mais insanos.
Ao chegar perto dela, nua, meu pau se encostou
primeiro à vulva com simetria artística, antes
mesmo de sentir qualquer outra parte do seu corpo.
Era um desejo incontrolável. Essa menina sabia me
atiçar de modo que eu revele inteiramente meu
lado mais animal.
Trouxe-a, segurando sua nuca, para os meus
lábios sentirem cada pedaço e gosto seu. Seu
coração estava acelerado.
− Vem pra mim, Chapeuzinho... Quero te
comer inteira...
Primeiro, abocanhei seu pescoço, mordendo,
sentindo a carne, alcançado a orelha, o queixo, a
boca... Que tara eu tinha por ela... Que delícia...
Que gostosa... Então veio como nunca veio...
Agarrou-se a mim em profundo desespero.
− Diga, Lobo... Que não sou uma mulher...
Quero ouvir de seus lábios...
− Eu quero você para mim... - disse beijando-
a, mordendo, adorando estar com ela àquela hora
da noite, sem esperar que pudesse acontecer de
modo tão inusitado. Você é uma mulher deliciosa,
única e verdadeira...
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− Então me coma gostoso... Bem gostoso...


Olha como estou... - colocou minha mão no meio
de suas pernas. Estava toda molhada para mim.
− Vou lhe foder para mostrar que sou o
homem que você precisa. Olha como estou, sua
filha da puta... - pus sua mão em meu pau, que
pulsou veementemente em contato com aquele
toque macio que eu queria arrancar, roubar, comer,
lamber, só para mim.
Ela não pensou duas vezes e me chupou
intensamente.
− Adoro muito te chupar... Que pau gostoso...
– dizia enquanto escorregava sua boca por todo
meu membro. Não sei como nem onde aprendeu a
fazer assim, mas fazia como poucas. Eu sentia que
não era para me agradar. Ela realmente gostava. –
Goza na minha boca, Lobo... quero engolir tudo...
Ouvindo isso com tanta vontade, pensei que
não iria suportar, acontece que estava com fome
dela... Isso apenas não bastava, sentia saudades.
Queria tudo de seu corpo, de uma só vez.
− Não estou aguentando de vontade de lhe
penetrar... Minha sapequinha... Venha... Quero
você... – eu disse, levando-a para sua cama.
Pus suas pernas sobre meu ombro e esfreguei
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por alguns minutos, meu membro em sua coisinha


linda, até lambuzá-lo todo com sua lubrificação.
Com o polegar, massageei seu clitóris enquanto a
penetrava. Mordi seus peitos... Estavam tão
salientes que senti vontade de apertar um pouco
mais entre meus dentes.
As mãos dela agarravam os pelos do meu
peito, massageavam minhas coxas e seguravam em
meus cabelos. Perdia o controle a cada bombada
que a fazia suspirar intensamente enquanto
colocava a mão na própria boca.
− Que grande... Que gostoso... – dizia em
delírio.
Sua excitação já descia pelas coxas e
molhava o lençol. Seu descontrole me deixava cada
vez mais excitado. Precisei me controlar para não
gozar. Subiu sobre mim, e a cada dez cavalgadas,
ela saia e me chupava. Sei que estava jogando
baixo, desejava meu gozo em sua boca.
Eu a segurei firme, quando subiu novamente
para cavalgar. Meus olhos grudaram em seu corpo
através da luz efêmera que já inundava o quarto
pelas arestas da janela. Apertei seu quadril,
impedindo-a de sair de cima de mim. Comprimi
meu quadril para cima, endurecendo ainda mais o
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que já estava estourando e passei a meter,


levantando um pouco sua bunda com as duas mãos.
Não demorou muito para começar a gozar, e eu a
acompanhei.
− Que fim levou Pedro? – ela perguntou,
deitada exausta sobre o meu corpo.
− Tivemos uma conversa após você declarar
explicitamente que não o queria mais.
− Sério? E o que disseram um ao outro?
− Eu disse o quanto você era especial, e que
no caminhãozinho dele não cabia a mulher que é.
− Você se encaixa em mim... – ela disse.
− E eu gosto disso. – respondi, mexendo em
seus cabelos.
− Por que não disse antes?
− Porque você nunca perguntou.
− E o que vai acontecer agora? – ela levantou
o tronco, apoiando o queixo sob as mãos.
− Eu não sei... Deixa rolar. Não é assim que
você diz?
− Sim, é, mas não está vendo que eu fico
totalmente ansiosa, e não sei esconder o que
atravessa no meu peito neste momento?
Eu ri de sua intensidade. Beijei seus olhos.
Ela se aninhou como um passarinho. Cabia na
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palma de minha mão.


− Fique tranquila, não iremos nos perder um
do outro. Temos o tempo todo do mundo para
descobrir o que faremos depois.
− Eu não confio no tempo.
− Mas eu confio em mim, no quanto eu
desejo uma mulher, e no que me transformo quando
isso acontece. – respondi.
Ela me pegou com as duas mãos e me beijou
intensamente. Em cinco minutos, lá estava eu
novamente dentro do seu corpo. Um tanto estranho.
Muito certo apenas de uma coisa, eu a quero, com
idade a menos ou a mais, porque nesta madrugada
eu a enxerguei longe de todos os tabus. Distante do
medo.
− Não vai fugir de mim? – disse enquanto a
penetrava macio.
− Jamais... Jamais... – ela dizia gemendo.
− Então me aperta forte... E se entregue para
mim.
− Sou toda sua...

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Capítulo 14

Desejo sua vida, mesmo que suja


Seu corpo denso e carente
Sua boca que percorre minha pele
Desejo sua insanidade e seus desejos imperdoáveis

Assim que o dia despertou, os desejos com


eles foram se renovando. Eu queria viver
intensamente, deixar o velho para viver o novo, e
me entregar de modo a não sentir minhas pernas
carregarem meu corpo. A dor e a mágoa logo
dariam lugar a um sentimento que revela a verdade,
e já faz muito tempo que espero por isso.
Fui à cozinha e preparei o café da manhã. Fiz
tudo com carinho. Era necessário cuidar bem de
quem me mostrou o céu inteiro dentro de mim,
quando eu pensava que essa magia nem mais
existia. Antes era somente noite e o silêncio. Um
Lobo constituído de cinzas.
Ela acordou vestida com a camisa do meu
pijama. Os cabelos desalinhados caiam sobre o
rosto, e o andar com os pés cobertos pelas pantufas,
fez com que meu coração disparasse ao vê-la tão

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naturalmente linda.
Chegou bem perto e me abraçou, cheirando
meu peito. Suas mãos cálidas tinha um aspecto
carinhoso que me fazia derreter em segundos.
Beijei seus cabelos e puxei a cadeira para que se
sentasse. Servi seu café, sabendo exatamente do
que ela gostava. Sentei-me e fiquei observando-a
comer. Gostava de ver vida nela. Gostava de senti-
la perto de mim.
− Bom dia, princesa. – disse eu, observando o
semblante do seu rosto.
− Bom dia, Lobo mau. – respondeu ela,
sorrindo.
− Vou te levar para um lugar... Vamos passar
a semana toda só nós dois.
− Hummm... Desse jeito peço em casamento.
– respondeu ela roçando sua perna na minha
debaixo da mesa.
− Preciso refazer minhas energias. Quero
você do meu lado.
− Sempre disse a você, que precisaria viver
mais... Fico feliz que isso seja do meu lado.
− Estou feliz que esteja aqui ao amanhecer,
depois... de uma noite incrível... Você me
surpreendeu. – eu disse, apoiando meu rosto com
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uma das mãos.


− Imaginava que eu fosse o bebê chorão, não
é? Sempre lhe disse que sou capaz de ser mulher.
− Não... – eu ri. – Você não é apenas uma
mulher. Você é uma fêmea deliciosa, mexeu com
meus instintos. Estava guardando segredos, não é?
Imaginei que fosse isso. – ri novamente.
− Eu não consigo guardar segredos por muito
tempo, principalmente quando estou do seu lado.
Nunca escondi a bomba nuclear que sinto por
dentro quando... você está por perto.
Eu vi seu rosto ficar corado pela primeira
vez.
− Vamos tomar um banho. Antes, arrume
suas coisas para passar uma semana fora de casa.
− O que devo levar?
− Roupas leves e de banho para o dia, e
casaco para a noite, pois lá na pousada existe a
possibilidade de esfriar quando o sol se vai.
− Pousada? – seus olhos brilharam como de
uma criança que vai para o clube pela primeira vez.
− Isso. Já faz algum tempo que não apareço
por lá.
− E da última vez, foi acompanhado? – o
ciúme ficou estampado em seu rosto.
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− Isso não vem ao caso agora, não acha?


Ela deu de ombros e seguimos para o banho.
Fui abraçado atrás do seu corpo, caminhando em
seu compasso enquanto ela cedia seu pescoço para
minha barba roçar. Parecíamos um casal. Só não sei
o que faltava para sermos um. Parecia que nossos
corpos se encaixavam em sintonia, mas não
consigo achar a ponta solta no meio do caminho
que nos ataria.
Ensaboei todo seu corpo, brincando com o
sabonete em seu sexo. Num instante ela se excitava
e vinha sobre mim como uma pele com frio,
arrepiada e sedenta. Era tão pequena... Cabia
totalmente em meu abraço.
− Quais são suas fantasias? – eu quis saber.
Nunca havíamos conversado sobre sexualidade.
− Promete não rir? – perguntou ela, já rindo.
− Prometo.
− Gostaria de ser sua Lolita por um dia.
Então vi seu olhar de sapeca. A menina se
confundia com a mulher. O anjo e o demônio
entravam numa infusão inexplicável.
− Lolita... – já senti tesão pela ideia. Não
queria me parecer o tiozão que sentia desejo por
menininhas, mas vê-la com roupas colegiais seria
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uma sensação considerável.


− Sim... Uma brincadeira apenas... Você
como meu Daddy cuidador, e eu a menininha
birrenta e safada.
Meu pau ficou duro no mesmo instante. Eu
sempre a vi assim, e era exatamente desta forma
que se portava, tentando me chamar a atenção o
tempo todo. Passei a morder seu queixo e pescoço,
um animal em chamas perdido nas curvas dela.
− Por que me provoca tanto, menina?
− Porque gosto de me sentir sua.
− Você sabia que esta é minha fantasia
secreta? – eu disse em seu ouvido ao virá-la,
encostando-a no azulejo do banheiro, abrindo suas
pernas. – E você a realizou, mesmo sem saber. Foi
minha Lolita o tempo todo.
Após ensaboá-la um pouco mais passei a
esfregar meu pau por seu corpo todo, tentando
entrar nos espaços côncavos. Abaixei-me um
pouco até o ponto de conseguir penetrar no vão de
suas pernas. Apenas esfregando... Meu pênis
deslizava com o liso do sabonete e endurecia cada
vez mais. Abri suas nádegas para poder caber e me
esconder ali. Suas unhas deslizavam sobre o
ladrilho e o gemido em descompasso me levava
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para lugares indefinidos.


Ela mexia o quadril para cima e para baixo,
enquanto o sangue pulsava na minha glande de um
modo descontrolado. Peguei em seus cabelos,
puxando-os para trás num rabo de cavalo.
− Me machuque... – pedia ela mergulhada na
loucura e ânsia de sentir mais.
− Não posso... – eu dizia, tentando me
controlar diante de sua provocação.
− Mas eu quero, Daddy...
− Peça de novo... – eu queria ouvi-la
implorar.
− Me dilacere, me engula, me devore,
Daddy... Sua menininha quer ser judiada...
Passei a meter com força, puxando cada vez
mais seus cabelos, batendo em suas nádegas.
− Mais... – ela pedia e pedia.
Dei palmadas até que ficasse com a pele
quente, ardendo... Que tesão. Eu ia gozar se
continuasse...
− Ponha atrás... – ela pedia, querendo ter seu
rabinho penetrado. Arrebitou-se inteiramente,
abrindo suas ancas para eu penetrá-la. – Ponha...
Quero gozar assim... – pediu manhosa.
Só de ouvir sua voz pedindo, minha pele se
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arrepiava... A adrenalina subia a mil, algo dentro


dela que se misturava ao que existia dentro de mim,
de modo irrefutável.
Eu a penetrei de mansinho e de modo macio.
Seu orifício piscava para me receber, enquanto uma
das mãos a masturbava, e a outra tocava em seus
seios.
− Mais... Mais... – pedia quase implorando, o
que fazia minha glande latejar de desejo. – Me
machuque...
Não tinha coragem de fazer o que desejava,
se não fosse a vontade incontrolável de devorar
tudo que havia nela. Passei a puxar seu cabelo com
força e penetrá-la em movimentos ágeis e potentes.
Não sei se conseguiria suportar até o final...
Mas eu serei forte...
Vou esperá-la gozar até transbordar...
− Bata em minha bunda! – ela quase urrava
de tesão. Seu corpo todo já estremecia. A menina
havia adormecido dando lugar a uma mulher
deliciosamente incrível, com capacidade de
enlouquecer qualquer homem que quisesse.
Passei a bater em suas nádegas, deixando-as
vermelhas enquanto meu ritmo na penetração
aumentava cada vez mais, emitindo um som com o
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atrito dos nossos corpos.


− Bata mais! – ela gritava. – Deixe bem
vermelha... Bata...
E eu batia... Quando o gozo chegou profano
para a menina. Ela se debatia contra o azulejo, em
espasmo. Suas unhas arranhavam o ladrilho,
deixando a marca de seus dedos onde estava
embaçado.
Gozei em seguida, assim que desfrutei do
último instante de seu orgasmo, que parecia ser à
carne viva. Uma brasa que me queimava.
Esperei que tudo silenciasse, então seu corpo
se virou de frente ao meu, cansado, trêmulo, lívido.
Aconteceu um beijo prolongado e ansioso. Estava
diferente... Eu não sabia dizer onde como, apenas
sentia um gosto de céu sendo descarregado em alta
voltagem sobre mim.

Durante a estrada, suas pernas iam sobre o


painel do carro, exibindo os pelinhos dourados que
assanhavam meus desejos. A todo o instante, eu
sentia vontade de tomá-la de novo nos meus braços,
rasgar sua roupa e fodê-la até sentir suas pernas
bambearem.
As mãos viam e viam do meu volume para
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minhas coxas, abriram o zíper e ela se deitou sobre


o meu colo na intenção de me chupar. As pessoas
passavam quando o carro parou no sinaleiro, mas
ela parecia não se importar, muito menos eu, que
estava num tesão louco de colocar sua calcinha
para o lado e brincar em sua menininha tão
molhada.
Parei para que ela pudesse ir ao banheiro, a
pousada ainda estava a duas horas de estrada. Vi
quando sua saia ficou pendurada entre suas
nádegas, e o modo como ela tirou a calcinha que
entrava com vontade, ao descer do carro. Fiquei
ansioso para chegarmos logo ao nosso destino.
Desci do carro e comprei algumas besteiras
para irmos comendo até chegarmos. Parado no
caixa, esperando para ser atendido, Shaida se
aproxima e se encosta a mim, com as mãos tocando
em meu peito. Eu não estava acostumado àquele
tipo de carinho em público. Inicialmente, fiquei
sem jeito, mas seu calor foi me afetando a ponto de
relaxar. Ela esfregou suas pernas entre as minhas, e
pegou minha mão, levando até seu traseiro. Não
demorou muito para eu descobrir que tinha tirado a
calcinha, o que me causou ereção ali mesmo, e
precisei de artimanhas para poder arrumar meu pau
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que explodia na calça. Coloquei a mão no bolso e o


ajeitei. Cheguei ao seu ouvido e disse baixinho:
− Calma... Logo sairemos daqui.
Ela saiu na frente, sentando no banco do
passageiro. Sentei-me e a olhei, estava com o olhar
febril. Sorri e dei partida no carro.

Chegamos ao nosso destino depois de duas


horas de viagem. Retirei a mala do carro e entrei no
chalé que havia reservado. Escolhi o que tinha mais
privacidade, com piscina e área de lazer exclusivas.
Eu a queria longe dos olhos do mundo; queria que
se infiltrasse em mim durante aqueles dias, para
que eu pudesse descobrir o que estava sentindo por
ela.
Entrou sorrindo, olhando para a decoração
colonial. Jogou-se no sofá e cruzou as pernas.
Cheguei perto e arrumei seus cabelos.
− Sabe por que estamos aqui? – perguntei
tentando sentir o que estava sentindo.
− Imagino que queira momentos intensos
com sexo absoluto. – ela respondeu, sem sequer
entender o que estava acontecendo dentro de mim.
− Errou... – eu disse, achando graça das
expressões faciais que ela fazia na tentativa de não
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se demonstrar curiosa.
− Então me diga, Lobo, por que estamos
aqui, tão longe do mundo?
− Quero sentir você... – eu parecia o menino
bobo pela boca, olhos, gestos e hálito dela.
− Me sentir? – colocou as duas mãos por
detrás de minha nuca e passou a me olhar daquele
jeito que me seduz e me deixa totalmente submerso
dentro de si.
− Sim... Eu... Bem... Não sei mais o que
dizer. – ela me deixava confuso e sem palavras.
Parece que tirava de dentro de mim, aquele poder
que me fazia determinar as coisas.
− Façamos assim... vamos viver e quem sabe
a gente acaba descobrindo juntos... – ao dizer isso,
trouxe sua boca para perto da minha, mastigando
minhas intenções.
O beijo foi intenso, e nos jogou no tapete.
Meu corpo grande sobre o corpo pequeno dela me
deixou em chamas. Senti suas mãos buscando meu
zíper, abrindo... Revelando assim, um homem
completamente vulnerável.
− E o que vamos fazer depois disso? – ela
perguntou, retirando sua roupa, tocando em seus
seios e os trazendo para os meus lábios. Beijei um,
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depois o outro. Mordisquei os mamilos e toquei


com as duas mãos em torno de seu rosto.
− Depois disso a gente se ama...
− E depois? – ela estava me provocando,
mostrando sua menininha para me desconcentrar de
mim mesmo.
− Depois a gente vê o que faz.
Eu a abracei e a trouxe nua para o meu
abraço. Estava gostoso, intenso e quente. Shaida se
deslizava pelo meu corpo, procurando pelo meu
pau que já ocupava todo o espaço dentro de sua
boca. Ela o beijava como se tivesse beijando meus
lábios, circulando a língua em torno da glande.
Sentou sobre mim, dobrando as pernas sobre
as minhas pernas, cavalgando, remexendo-se,
enlouquecendo. Eu a beijava e pedia para que ela
fosse assim todos os dias para mim.
− Gostosa... – dizia, ao sentir seu sexo
comprimir o meu.

Passamos a tarde na piscina, estava quente a


temperatura. O dia tinha nuances coloridas nos
raios do sol, parecia domingo, mas não era.
Deitamos um ao lado do outro na beira da piscina e
ficamos de olhos fechados, sentindo o vento e o
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calor a nos envolver.


− Você quase nunca fala sobre sua mãe? – ela
perguntou.
− Não tenho muito o que falar sobre ela. Fora
algo que se perdeu com o tempo, pois quando
estávamos juntos, não podemos nos amar.
− Isso é triste... Eu daria qualquer coisa para
amar a minha, conviver com ela, experimentar sua
comida.
− Dolores era uma excelente cozinheira. Uma
moça maravilhosa. Eu só tenho boas lembranças
dela.
− Vou fazer uma pergunta intima, responda
se desejar. Você e minha mãe tiveram algum
momento intimo?
Sem abrir os olhos, eu sorri. Sabia que um
dia essa pergunta viria, e que me sentia muito bem
por nunca ter acontecido nada demais entre nós
dois.
− Não. Nunca. Eu era apenas um menino que
Dolores viu crescer, e ela, aquela moça linda que
todo menino pensa que se casará com ela quando
crescer.
− Que bom saber disso... Acho que me
sentiria estranha, sabe... Se tivesse rolado algo.
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− Confesso que eu também. No começo,


relutei muito para não olhar você de outra forma.
Preferia lhe ver como a menininha desprotegida, e
eu o tiozão que deveria se comportar. Confesso que
foi muito difícil...
− Por quê?
− Porque você é uma menina diferente,
atrevida, saliente... Tem iniciativa que muitas
mulheres mais velhas talvez não têm.
− Você acha que nossa diferença de idade
pode ser um empecilho para nós dois? – ela quis
saber, olhando em meus olhos.
− Confesso que no início eu não queria
acreditar que poderia ser possível algo entre nós,
pois estaria ferindo a imagem de sua mãe dentro de
mim.
− Mas esta não foi a resposta para a pergunta
que fiz.
Eu me virei de lado para responder.
− Não, Shaida. Nossa idade não importa...
Sua mãe era mais velha que eu, e meu sonho era
me casar com ela. Eu não me importo mesmo com
a diferença que nos separa, aliás, ela não nos
separa, isso tem nos unido. Você tem me trazido
força, vida, coragem...
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− Você ainda ama minha mãe? – sua


pergunta foi certeira. Pegou-me de surpresa.
− Não, Chapeuzinho... Eu não a amo mais.
Tenho muito carinho por sua memória. Gratidão,
por sua lembrança ter sido meu porto seguro por
todos esses anos de solidão, mas muitas coisas
mudaram... O tempo passou para isso também.
− E o que você sente por mim? – sua voz foi
baixando de tom. Se não tivesse prestado atenção,
não teria entendido o que ela disse. Ou não queria
entender... Como me pegou de surpresa agora...
− Vamos para o chalé preparar nosso jantar?
– cortei o assunto. Gostaria de dizer quando
estivesse me sentindo mais seguro.
− Ei, não mude de assunto. – disse ela ao me
ver me levantando e indo buscar o roupão.
− Vista isso, está ventando. Logo a
temperatura baixa, e não quero que pegue um
resfriado.
Ela não insistiu. Fez uma cara tristonha e se
levantou, vestindo o roupão.
− O que quer para o jantar? – perguntei,
tentando distrai-la.
− Vinho tinto. – respondeu.
− Já conhece as regras, Shaida.
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− Mas nada ficaria mais perfeito, combinado


com um luau e peixe grelhado. – ela respondeu
sobre o jantar.
− Tudo bem, hoje será mais uma exceção.
Mas é só hoje. Ei, eu não estava sabendo sobre o
luau.
− Nem eu... – riu. – Tive essa ideia ao ver o
violão no canto da sala. Sei que você toca... Eu já o
sondei algumas vezes em sua casa, cantando
alguma canção.
− Eu tenho certeza disso. – disse sorrindo. Eu
sabia que essa peste me vigiava a cada passo dado
naquela casa.

A noite chegou, Shaida e eu, estávamos de


avental, temperando os peixes. Lá fora já estava
bem fresquinho. Armei a rede perto da grelha e
coloquei os peixes para assar. Peguei o violão no
estilo folk, um instrumento que talvez seja o
segundo mais famoso, se não for o primeiro. Possui
um corpo maior, é levemente cinturado, tem um
braço mais fino e arredondado, e normalmente
é encontrado na forma elétrica ou eletroacústica, e
em cordas de aço, mais tensas que as cordas do
violão clássico.
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Passei a dedilhar, sentindo o cheiro do peixe


grelhar. Os olhos dela estavam em todos os
movimentos que eu fazia. Cantei olhando para ela,
desejando que sentisse em minha voz, as respostas
para suas perguntas. Cada palavra da letra daquela
música, era dirigida para a menina dos meus olhos
que estava diante de mim, tão linda e afável. Tão
pura e ardente... Eu não queria me precipitar, mas
estava despontando algo tão forte que era
insuportável prender ou esconder por muito tempo.
O brilho dos olhos dela me tocava com
malícia. Era aquela mistura de menina e de mulher,
uma alegria solta no ar, um riso, sei lá... Eu não
conseguia defini-la para dar nomes aos meus
sentimentos. Só sei que quando ela se esbarra em
meu corpo, eu me arrepio, transpiro, sinto o desejo
de sair de mim, para entrar nela.
Ela passou a cantar comigo, dos olhos dela
desciam lágrimas. Brilhavam como duas estrelas lá
no céu. Éramos muito parecidos, porém em
universos diferentes...

Deixei o violão de lado.


Puxei-a para perto de mim.
Meu coração estava em transe.
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Beijei seus lábios e disse em tom baixo:


− Obrigado por estar aqui... Poderia não
estar. Poderia não ser você, mas aqui estamos para
contarmos essa história daqui a alguns anos.
− Eu desejo ficar para sempre ao seu lado,
Lobo. – disse ela se aninhando ao meu corpo.
− Eu desejo lhe acolher pelo tempo que eu
conseguir me manter vivo.
− O que você sente por mim? – ela quis
saber.
− Por que é tão importante ouvir? – respondi
com outra pergunta.
− Para que você perca o medo de amar
novamente. Eu não sou como aquela bruxa que
magoou seu coração. Não vou lhe decepcionar,
sequer desejo lhe ferir.
Beijei seus olhos e lábios.
− Ninguém é como você, Chapeuzinho...
Acredite nisso.
− E como eu sou? – ela quis saber.
− Você é o sonho bom de acordar e viver. Sei
que não sou bom com as palavras, mas desejo que
consiga senti-las quando eu falar com você.
Quando eu cantar para você... Quando eu... – senti
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que estava transpirando. – Quando eu amar seu


corpo como se você fosse a única mulher existente
no mundo.
Ela me beijou. Eu me doei inteiro nos lábios
dela.
− Lobo, eu nunca encontrei alguém como
você. Não quero e não posso perdê-lo.
− Não vou nunca deixar que isso aconteça.
Não saberia deixar... Porque meu mundo tem
sentido com você por perto.
− E o meu mundo todo é seu. – disse ela,
deixando cair sua blusa pelo busto.
Prendi seus cabelos com a presilha, já caiam
os fios, depois disso a trouxe para mim.
− Venha me amar, venha minha pequena...
Quero sentir que esta noite é só nossa, e que jamais
se acabará.
Ela veio manhosa, e tirou minha roupa com
carinho. Não houve tempo de usar a camisinha. Sei
que é uma imprudência, mas aquele momento
parecia não poder ser interrompido.
Sob o véu de estrelas no céu, e envoltos pelo
vento frio da noite, a gente se amou naquela rede
como se fosse impossível desejar mais. Eu estava
completamente envolvido. Ela estava
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absolutamente entregue a mim. Não faltava mais


nada em nosso mundo.

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Capítulo 15

A tua boca boca na minha


Tirando a minha paz
Tirando a minha roupa
Desfazendo o ócio que é ficar sem você

Eu não tinha mais o desejo de desgrudá-la.


Passamos dias em saber o que é isso, mas naquela
manhã enfática, eu precisaria me ausentar para
visitar alguns distribuidores de perfumes. Meu
coração parecia apertado ao vê-la dormindo com a
blusa de manga comprida de meu pijama azul.
Estava exausta. Eu realmente estou em grandes
descobertas com esta menina. Não há cansaço que
me tirasse do calor do corpo dela, mas o dever me
chamava.
Toquei em seus pés, eram tão suaves, senti
vontade de beijá-los. Toquei em seus cabelos e
beijei suavemente seu rosto para não acordá-la. Saí
devagar, olhando para trás. Ela dormia como um
anjo.
***
Confidências de Shaida

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Eu acordei sentindo-o ainda dentro de mim.


Parecia um sonho, mas era verdade, a gente estava
junto como se fôssemos namorados ou coisa assim.
Eu prefiro ser otimista e esperar sempre o melhor.
A cada novo dia, eu sentia que estava cada vez
mais e mais na dele. Não que antes eu gostasse
menos, é que eu gostava de modo contido, sabe
como é que é? Aquele jeito que você prende algo
para não deixar transbordar, mas vai chegando uma
hora na vida da gente, que não dá mais para
segurar, então o coração explode e você sente
golfinhos nadando dentro de si.
Calcei minhas pantufas extraordinárias para
me levantar correndo da cama, ao ouvir o toque da
campainha. A blusa do pijama dele ia quase até
meus joelhos, não havia problemas se fosse um
homem no portão, então saí de qualquer jeito, e até
me esqueci de que estávamos em horário
comercial. Tudo bem, agora já era.
Não era um distribuidor, porque não havia
nem um caminhão ou carro com adesivos de
empresa. Aliás, não havia ninguém. Certamente era
brincadeira de criança, aquelas pestes que gostam
de apertar a campainha e sairem correndo para
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fazer a gente de besta. Eu mesma já fiz isso


milhares de vezes na minha vida.
Mas quando olhei para baixo, parecia que
algo estava me chamando para pegar para aquela
caixa estranha, bem de frente ao portão. Por um
minuto fiquei com medo de ser algum trote de
Laura, quem sabe não me mandou aí dentro, um
sapo morto ou uma cobra viva, ou até mesmo uma
bomba para me explodir em pedaços.
Mesmo assim, me abaixei toda desastrada e
peguei a maldita caixa, que não era pesada, mas
percebi que havia algo ali dentro. A curiosidade era
maior do que qualquer coisa existente naquele
momento que pudesse me distrair de mim mesma.
Fui correndo para a casa à procura de privacidade.
Sei que Alejandro iria me matar quando chegasse,
pois abri sua correspondência, mas antes eu morrer
por causa da suposta bomba de Laura do que ele ter
este destino.
Ao abrir, dei de cara com um livro bem
antigo, parecia até meio mofo e com cheiro
estranho. A capa era dura e meio avermelhada, com
escritos em letras douradas - Iugoslávia 1730 e o
nome completo de
Alejandro. Como isso parecia algo sobrenatural, eu
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me arrisquei a bisbilhotar e abri o livro. Passei a ler


as primeiras linhas, o que já demonstrou logo de
cara coisas mais que estranhas.

“Este é um livro de Profecias destinado ao


Lobo Alejandro Munoz, o qual fora escrito em
1730, quando nosso profeta maior previu o
ingresso deste Lobo no ano de 1979. Deste modo,
elencaremos neste livro sagrado o destino de
Alejandro e suas obrigações perante a Seita Lupus,
seguindo nossos códigos e o tratado de sangue,
tendo como pacto realizado entre este e Lúcifer,
nossa Divindade Maior, que conduz todos os seus
sacerdotes espalhados pelo mundo, com a
finalidade de aumentar a riqueza da Irmandade,
infiltrando-nos deste modo na mais alta
envergadura onde existir o comando e o poder.”

Fiquei boquiaberta. Não dava para assimilar


tudo de uma só vez. Precisei ler e reler umas quinze
vezes para acreditar no que estava acontecendo.
Fiquei sem entender, como Alejandro compactuava
com tal Seita Satânica com o objetivo de conquistar
o poder? Passei então a analisar de forma muito
rápida, toda sua vida, que para mim ainda é um
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mistério, desde o seu envolvimento com minha


mãe. Sei que havia algo de muito errado e secreto
ali, e o momento de descobrir era agora. Bastava ter
calma e ler com cuidado, afinal, Alejandro poderia
não demorar a chegar, precisava finalizar a leitura
antes de entregar a ele a sua encomenda. Que Deus
me defenda do que irei ler.

"Todo Lobo que se inicia na irmandade é


escolhido séculos antes através das profecias
sagradas. Já sabíamos que Alejandro iria conhecer
a esposa de um de nossos sacerdotes, e trai-lo,
mesmo ciente da situação. Por este motivo
adentrou à Irmandade com o único intuito, pagar
pela deslealdade cometida contra um de nossos
líderes, Otávio Hilgert."
Meu Pai do céu! Será que estou realmente
entendendo o que está escrito aqui? Minha cabeça
deu um nó tão grande, que não sei se sou capaz de
digerir essas informações. Então quer dizer, que o
pessoal da Seita satânica previu que o Lobo
transaria com minha ex-madrasta, e que por este
motivo está passando por tudo que passa, como um
ato de vingança da Irmandade? Que coisa mais
louca e absurda!!! Passei realmente a sentir medo.
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Um medo tão grande que poderia me impedir de


prosseguir, pois percebo que bem muita coisa ainda
pela frente, mas não sei se estou psicologicamente
preparada para saber, mas... vamos lá.

"Deste modo, será observado e perseguido


durante todos esses anos, do ventre de sua mãe
aos dias atuais. Sua progenitora também é uma de
nós, e nos entregou seu próprio filho à sorte,
sabendo que ele é um fruto concreto do exemplo
amoral da deslealdade contra aos seus iguais. Será
muito bem recompensada por este ato de coragem
e cumplicidade, recebendo percentual sobre todo o
lucro financeiro de nossa unidade na região onde
ela se encontra."

Não posso concordar com isso... O lobo


jamais fora desleal com alguém, ao contrário do
meu pai que nunca prestou, e é ele quem deveria
pagar por tudo que fez. Inclusive, o imundo me
afastou de minha mãe; me tirou o direito de ter sido
amada por ela. E que diabo é essa mãe de
Alejandro? Gananciosa e interesseira, destruiu com
a vida do filho para se dar bem? Eu nunca li nada
mais horrível.
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"Sendo assim, toda pessoa que se aproximar


de Alejandro na intenção de salvá-lo de seu
angustiante destino, deve ser eliminada da face da
terra. A regra se estende ao seu pai, que será
sacrificado por sua esposa, mãe do Lobo, e a
qualquer outra pessoa que possa estabelecer um
vínculo com ele."

Agora foi demais... Deixa-me pensar aqui...


Quer dizer que a bandida da mãe de Alejandro
matou o pai dele num sacrifício, porque o pai
poderia tentar salvá-lo de algum modo?! Eu não
posso acreditar nisso... Que crueldade... Como essa
tal de Seita o fez sofrer... Será que ele já sabe
disso? Mas algo pior veio à minha mente... Será
que minha mãe foi morta por ter tido um vínculo
com ele? Pelo o que sei, eles eram muito ligados
um ao outro, a ponto de se considerarem uma
família.

"Dolares, seu grande amor será também


sacrificada, não apenas por amá-lo, mas também
para ajudar no plano da cobrança da deslealdade
acometida contra o nosso homem de confiança,
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Otávio Hilgert. Em nome de Lúcifer, Otávio terá o


direito de roubar para si, a mulher amada por
Alejandro, Dolores, e terão uma filha, que o
pertencerá desde criança com a permissão de
nosso Mestre Maior, para lavar a honra de seu pai.
A menina se chamará Shaida, e será o fruto do
pecado..."

Duas lágrimas pesadas rolaram de minha


face. Senti enjoo. Uma tontura tomou meu ser por
completo. Eu não precisei reler para entender o
motivo arquitetado de tudo que diz respeito a
minha infelicidade e pior coisa que aconteceu em
minha vida. Chorei desesperadamente e passei a
andar de um lado o outro... Eu fui programada e
usada para foder a vida de minha mãe, a minha
própria e a de Alejandro. Será mesmo que ele não
sabe de tudo isso? Senti que o teto parecia desabar
em minha cabeça. Eu precisava pensar em algo,
mas não conseguia. Queria correr, e minhas pernas
travaram. Tudo isso é muito medonho e sujo, não
posso acreditar que Alejandro tenha o
conhecimento de tudo, e mesmo assim continuou
como membro dessa presepada toda.

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“Otávio Hilgert, como sacerdote principal no


Brasil, poderá criar com o dinheiro da Seita,
negócios dentro e fora do país, que possibilitará a
demanda financeira da irmandade na região, deste
modo, não existe o ilegal decretado por nós, desde
que seja rentável. Alejandro nascerá com grande
talento para a criação de perfumes, e poderá ser
explorada esta sua aptidão, trazendo lucros para a
nossa sede neste país.”

Ele estava sendo explorado... Disso ele sabia,


e certamente do restante das informações também...
Comecei a sentir certo receio de sua companhia,
caso ele esteja escondendo tudo de mim. O Lobo
também tinha conhecimento que a tal Seita lidava
com o mercado negro do sexo, vendendo mulheres
para o exterior. Por mais que tenha se afastado da
irmandade, ele sabia deste detalhe... Nada garante
que não conhecia o restante da verdade.

“Todas as suas protegidas irão traí-lo, e as


que não o fizerem pagarão de algum modo depois,
pois esta é a ordem do Universo, e tudo que nosso
Supremo ditar deverá ser concluído, seja por bem,
seja por mal. Será enganado no quesito de entrar
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para a Irmandade no afã de proteger mulheres,


esta será a isca que usaremos para mantê-lo sob
nosso comando.”
Eu jamais traí o Lobo. Nem mesmo quando
iniciei o falso namoro com Pedro, na intenção de
chamar sua atenção. Não fui tocada por homem
algum a não ser por ele, que amo mais do que a
minha própria vida. Não sucumbi ou lhe enfiei
alguma faca pelas costas, ao contrário das demais,
que o feriram depois de muito receber. Não sei
como poderão me punir por eu não ter sido desleal
a ele.

"O fruto do pecado será a única mulher que


completará o Lobo de forma plena, por ser ela a
pessoa correspondente a seus instintos de Lupus
(...) "

Eu o completo... Ele ainda não me disse


nada... Não sei se devo ficar feliz, depois de tudo
que li, como se fosse possível alguém que se
encontra destruída por dentro de repente se alegrar
diante de tantas revelações que me tiraram do
plumo. Meu coração está partido. Sinto-me neste
momento, a pior pessoa do mundo. Certamente é
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por este motivo que não devemos saber todas as


verdades do mundo. Não existe psicológico capaz
de suportar a consciência após saber o real motivo
de suas desgraças. Enquanto pensamos que o
sofrimento só advém da maldade causada por
alguém, que atinge sem você conhecer
profundamente a razão disso, ainda conseguirá dar
alguns passos na vida, conseguirá sorrir de vez em
quando. Mas agora que tudo fora revelado num
descortinar de sujeiras e traições, nem mesmo sei
quem sou, e quem é quem. Que diferença faz saber
que sou tudo que ele procura, se minha mãe foi
morta e eu afastada dela, estuprada, porque alguém
queria se vingar de Alejandro? Impossível ele não
saber disso...

"(...) Embora o fruto do pecado será de


grande valia para a lavagem da honra, ainda
assim, sua utilidade não servirá como um todo.
Alejandro irá errar muitas vezes na Irmandade. Irá
se rebelar contra os nossos princípios. Irá fugir de
seus compromissos, retirando de nós, a
rentabilidade advinda de seu talento com a criação
de perfumes, por fim, irá romper seu pacto sagrado
com a Seita, único meio que o fará passar pela
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prova de que realmente é um Lobo. Por essas e


outras razões, decidimos que Alejandro deverá
atrair para si, a menina Shaida, interromper sua
afetividade por ela, para não ter seu corpo e sua
alma atingida pelas desgraças resultantes de suas
escolhas. Em seu lugar, deverá entregar, como
sacrifício, o coração arrancando da menina, por
suas próprias mãos, como sacrifício, sendo esta
sua última chance de receber o nosso perdão."

Este é o motivo pelo qual ele não me


contou... Sou o seu pedido de redenção. Ele jamais
me contaria, que se um dia precisaria me matar,
para se livrar da morte. Quem não o faria pelo
instinto de sobrevivência em seu último minuto da
decisão? Quem não faria sob pressão? É muito
difícil de ter certeza. Eu não posso esperar por este
último minuto. Não tenho garantia de que ele me
desejou, por este motivo me atraiu, ou se atraiu
para poder ter uma carta na manga. Novamente
fiquei andando de um lado para o outro. Estava tão
assustada, que passei a me sentir mal. Corri para o
banheiro e vomitei por quinze minutos. Eu
precisava sair dali... Meu instinto de autoproteção
berrava dentro de mim.
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Peguei apenas algumas coisas. Não dava


para levar tudo sem saber ao certo para onde iria.
Não havia ninguém para me ajudar, exceto... Bem,
eu iria tentar falar com ele. Antes, porém, preciso
ter um acerto de contas definitivo com certa pessoa,
antes de entregá-lo a polícia, porque é o que irei
fazer. Não sei se isso resolverá alguma coisa em
relação a Seita e seu poder sobre nossos destinos,
mas o futuro daquele filho de uma puta será atrás
das grades.
Rapidamente peguei o livro das profecias,
este será a prova concreta para eu colocar aquele
vagabundo atrás das grades. Nunca mais me terá
como refém de suas malditas vinganças.
Peguei um bloco de notas, e escrevi um
bilhete de despedida para Alejandro. Por mais que
eu não soubesse de suas verdadeiras intenções, eu
sei o que sinto por ele. Sei também que vai demorar
muito tempo para apagar de mim, o que ele
construiu. Ele realmente terá que tirar meu coração,
para que eu possa esquecê-lo, mas não posso mais
dar continuidade a toda essa loucura de pessoas
morrendo por motivo fútil. Vou embora pela minha
mãe, que morreu inocentemente. E por mim, que
não pude conviver com ela, por este mesmo
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motivo. Se eu ficar, poderá haver mais mortes,


porque não deixarei de amá-lo.
Após escrever, saí apressada. Otávio agora
vai saber quem é realmente a pessoa que ele
colocou no mundo para se vingar.

Cheguei à frente da porta de sua luxuosa


sala, não bati. Entrei olhando diretamente em seus
olhos sem me preocupar em observar tudo que ele
adquiriu à custa do sofrimento alheio. Ele me
olhava, a princípio, assustado, depois abriu um
sorriso satisfatório, certamente sua mente
pervertida e doentia achou que eu estava ali, para
entregar os pontos.
− Que bom revê-la, minha pequena
princesinha... Eu sabia que um dia você voltaria
para o papai... – sua voz me causava asco.
− Sim... Você estava certo... – fui me
aproximando com intenção de cuspir no seu rosto,
de xingá-lo, pisar em seu pescoço, mas havia
muitas coisas interessantes a serem ditas.
− Eu sabia que um dia você colocaria essa
cabecinha linda para pensar. E não demorou
muito...
− Verdade, não passou muito tempo... – me
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lembrei de sua habilidade em destruir pessoas, e o


quanto de maldade traz em seu ser, que nem
coração tem. Aquelas mãos sujas que tocaram uma
menininha inconsolável, por noites e noites a fio,
chorando pela falta de sua mãe.
− Você não sabe ainda, mas ao se decidir
em se casar comigo, foi inteligente... Eu já sei que
anda iludida com o tal Alejandro... Acha mesmo
que ele é capaz de lhe livrar de algo tão maligno
que poderia lhe tirar sua vida? Não, cara criança...
Somente eu posso lhe salvar.
Eu sei do que ele estava falando. Dizia
sobre o sacrifício que o Lobo teria de fazer com me
coração, para obter o perdão da Seita.
− Eu não sei sobre o que está falando. –
menti. Levaria aquela conversa até onde
conseguiria, para poder tirar mais informações.
− Será que não... – ele riu. – Sei que é
esperta. Aliás, sei muito mais de você, do que possa
imaginar.
− Hummm... Dê um exemplo. – sorri
falsamente.
− Certo. Diremos... O que acha sobre este
livro que trás em sua bolsa?
Como ele sabe? Será que...
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− Não estou entendendo. – me fiz de boba.


− Está sim... Acha que não sei que estaria
sozinha hoje naquela casa para receber a caixa?
Acredita realmente que não te conheço, a ponto de
pensar que você tem boas maneiras, e que jamais
abriria algo endereçado a alguém? Era para você
mesma ler, porque o destinatário do livro já sabe
tudo sobre ele, e virá até a mim, buscar socorro do
papai.
− Mentira! – gritei com ódio. Ele está
blefando. Não vou acreditar em uma só palavra que
ele disser sobre Alejandro.
− Menina tola... Acha mesmo que um Lobo
é uma ótima pessoa? Principalmente este, que só
pensa em usar e abusar de mulheres? Ele procura
uma saída, criança... Você é a saída, porque todas
as suas alternativas deixaram de existir.
− Eu não acredito! Não acredito em seu
caráter. Você é sujo, nojento, asqueroso. Eu
desprezo tudo que lhe diz respeito.
− Venha, vou levá-la para a Seita e lhe
libertar de ser morta como um leitão. – disse ele
sorrindo.
− Podem me matar! Podem fazer o que
quiserem comigo, eu jamais vou me aliar a você ou
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a qualquer coisa que diz respeito a sua pessoa.


Criminoso, inescrupuloso! – minha voz já estava
em tom alto. Ele passou a se incomodar, mesmo
não querendo transparecer. – O que fará comigo
agora? Vai me estuprar aqui na sua empresa, ou
meter uma arma na minha boca para me obrigar a
realizar as suas vontades? – cruzei os braços na
cintura, convicta de que seus dias de glória estavam
acabando.
− Cale a boca. Fale baixo. – pediu
seriamente. – E me devolva esse livro.
− Me obrigue a calar. Quem é você agora,
sujeito a ser escandalizado? O livro você não verá
mais...
− Eu disse para calar a sua maldita boca. –
aproximou-se na intenção de me dar um tapa no
rosto.
Desviei e dei um chute bem forte em sua
canela.
– Este aqui é para se lembrar que sua mão
suja, nunca mais vai me tocar, nem me ferir.
Ele se curvou de dor, e eu senti vontade de
fazer mais. Então se levantou, seus olhos fixos nos
meus, faiscavam.
− Você vai morrer... Eu não vou poupá-la...
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− Faça isso... Prefiro morrer a ter que pedir


tréguas a um verme nojento... Sinto nojo de suas
mãos em mim.
− Não importa. Eu não ligo para o que
pensa sobre mim, desde que me dê prazer, pequena
vagabunda.
Mirei bem no seu saco, e dei um chute forte,
cheio de ódio.
− Este é para sempre se lembrar realmente
de mim.
Cheguei na porta, feliz e ofegante.
− Volte aqui! Me dê este livro. – ele se
esqueceu de que estava na empresa, pois já falava
alto.
− Venha pegar, Lobo velho. – disse eu,
abrindo a porta, enchendo o peito de ar e
preparando a voz para gritar bem alto. – Otávio
Hilgert, estuprador, ladrão, assassino... Acabaram
seus dias de glória!
Saí correndo, descendo pela escadaria, não
podia vacilar, certamente ele colocou alguém atrás
de mim, para pegar o livro, minha prova cabal
contra esse imundo.
Corri o mais que pude até chegar ao carro,
onde deixei Pedro à minha espera. Entrei e pedi que
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ele pisasse fundo no acelerador.


− Rápido, Pedro... Vamos à delegacia.
Corra, pois tenho certeza de que tem gente atrás de
nós.
Não demorou muito para eu perceber pelo
retrovisor, um carro preto em alta velocidade vindo
em nossa direção. Ao se aproximar, encostou do
meu lado. Um homem de terno preto e óculos
colocou a mão para fora.
− Estacione! – ordenou.
− Não pare, Pedro, acelere! – pedi em
desespero.
Seguimos em disparada, virando a próxima
rua à esquerda. O carro seguiu atrás de nós.
Passamos pelo sinal vermelho, um automóvel que
cruzava esta rua buzinou loucamente, quase
sofremos um acidente.
− Ele está vindo atrás. – disse Pedro, suando
nas têmporas.
− Continue. – disse eu, com o coração na
mão.
O carro se aproximava novamente em alta
velocidade. O motorista colocou a mão para fora,
portando uma arma. Eu sabia que não sairia viva
daquela situação, mas não iria entregar a única
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prova que tinha apontando que o desgraçado matou


minha mãe. Era tudo ou nada. De repente, um
estrondo, ele atirou contra carro. Mais um tiro,
dessa vez no pneu, ouvimos o barulho da borracha
se esvaziando e o carro perdendo a velocidade.
Como não paramos, o homem se enfiou em nossa
traseira. Era o fim.
− Entregue o livro! – disse ele gritando pela
janela do seu carro.
− Jamais! Pode me matar. – disse eu, com
lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
− Entregue essa porcaria, Shaida. – pediu
Pedro.
− Não irei entregar. – respondi.
O homem abriu a porta do seu carro e veio
em nossa direção com a arma em mãos. Neste
momento, por um sopro divino escuto o som de
sirenes da polícia. Não sei se era minha mãezinha
que veio ao meu socorro, mas agora a justiça havia
chegado para marcar a minha vida, e a vida de
todas as pessoas que um dia se foram por conta da
maldade de alguém.
Os policiais se aproximaram apontando a
arma para o homem de terno, que levantou os
braços, ainda olhando para mim.
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− Recebemos um comunicado de um
tiroteio na avenida. Pode sair do carro? – pediu a
mim e ao Pedro.
Saímos, e em pouco menos de quinze
minutos, eu pude explicar o que havia acontecido.
Fomos encaminhados para a delegacia. Fui com o
livro em mãos, que continha o endereço de um
lugar chamado, Casa dos Prazeres Lupus.
***
No caminho de volta para casa, algo parecia
me correr por dentro. Meu instinto me levava a um
lugar ermo, não sei exatamente do que se tratava,
mas de um minuto para o outro a ansiedade
voltava, e meu desejo de chegar logo era intenso.
Desejava vê-la tomar seu banho, ensaboando cada
parte do seu corpo, após prender seus cabelos num
coque que revelava sua nuca e as marcas que deixei
em seu pescoço.
Sentia-me teso só de lembrar... Sentia-me
como um balão solto em dias festivos, ela era real.
Ela era de verdade. Ela tinha o sorriso mais lindo
que já vi. Suas mãos delicadas não saiam de minha
mente, a imagem do modo como descia a meia 7/8
que colocava para me provocar. Os cílios espessos,
ela tinha uma beleza tão natural, nada parecia ficar
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feio quando chegava perto e fazia tudo mudar.


As gargalhadas intensas ecoavam em meu
ouvido, naquela guerrinha que fazíamos em cima
da cama, enquanto eu procurava seus pontos fracos,
sensíveis, que faziam a menina levada se entregar,
revelando a mulher que funcionava como um
vulcão em erupção. Jamais tive com uma fêmea tão
gostosa... Tão espontânea.
O controle remoto do portão de elevação
parecia demorar séculos para dar passagem para
meu carro entrar na garagem. Minhas mãos
suavam, eu estava ávido. Corri para a porta e abri, o
cheiro da casa era o dela, do nosso sexo da noite
passada. Ainda a via sendo arrastada pelos
cômodos, em chamas. Chamei por seu nome, tinha
pressa. Nenhum sinal de vida.
Fui até os quartos, ao chegar no dela,
novamente aquela velha cena que assisti anos atrás.
O armário vazio, aberto, ela saiu com pressa
levando suas coisas, jogando meu coração no chão.
Segurei para não dizer palavras que pudessem
afastar minha emoção anterior. Mas... Por quê? Por
quê? Por que agora, Shaida? Peguei um fio
comprido de seu cabelo que encontrei pelo chão,
trouxe até meu nariz e cheirei. Eu não posso perdê-
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la.
Saí pela casa em busca de respostas. Em
cima do barzinho da sala, um bilhete. Antes de
chegar até ele, coloquei a mão na testa, passei-a
pelos cabelos, suspirei fundo, estava aflito. Não
queria acreditar que ela tinha ido embora.
Toquei no bilhete, minhas mãos tremiam.
Passei a ler, descompassadamente.

Querido Lobo,
Sei que é chocante ler isso tão fora de hora,
logo agora que eu te encontrei, e que você me
enxergou no escuro. Quando eu quis morrer, você
me devolveu o desejo de lutar e acreditar em mim,
mas não tive escolha, sabe bem que esse negócio
de Seita é coisa para escorpiões, não para Lobos.
Não quero mais ver pessoas morrerem. Não quero
que se prejudique. Não sei se sabia de tudo, mas o
que sei foi o suficiente para não desejar
permanecer aqui. Muitas pessoas sofreram por
conta disso, inclusive você, que é o cara mais
lindo, mais céu que eu já vivi. Por favor, não me
leve a mal, eu vou precisar agir, e não posso estar
contigo, para que não piore ainda mais as coisas.
Apenas torça para que eu consiga fazer justiça.
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Quero muito acreditar que você não sabia sobre o


demônio daquele livro das profecias. Sei que veio
endereçado a você, mas vou precisar usá-lo. Se eu
conseguir, estaremos libertos. Caso não consiga, e
se chegar o meu momento de partir para perto de
minha mãe, saiba que morrerei lutando. Essa sou
eu, acho que nasci para isso. Não sei o que dizer
agora... Apenas sei que estou certa do que estou
fazendo.
Shaida.

Eu não entendi muito o que ela quis dizer. E


mesmo assim, meu peito queimava. Ela está se
metendo em fria, e eu vou descobrir o motivo agora
mesmo, depois paro pensar no bilhete. Chegou o
momento de enfrentar o que me aprisiona.
Não vou perdê-la...
Demorei a encontrá-la...
Ninguém vai tirá-la de mim.
Ninguém.

Saí em disparada. Já era noite, irei pegar os


Lobos na alcova. Vamos ver quem de lá nasceu
com o instinto à altura de minha ira. Ninguém vai
encostar num só fio do cabelo de Shaida.
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A noite estava escura, os faróis do carro


iluminavam a estrada, meu pensamento estava nela.
A cada metro rodado daquela via me fazia lembrar
de seu sorriso. Senti o suor umedecer minha
camisa, eu precisava encontrá-la.
Em vinte minutos, estava na frente da casa
subterrânea. Desci do carro, tranquilamente.
Mesmo suando, peguei meu paletó e me vesti. Por
um minuto lembrei-me de tudo que vivi naquela
casa, não sabia o quão iludido estava.
Ainda tinha a cópia da chave, não sabia que
um dia iria me servir para alguma coisa, apenas
havia me esquecido de entregá-la. Segui meu
caminho com o desejo de encontrar minha menina.
Eu iria encontrá-la, seja onde fosse. Depois de tanta
luz que vi reluzindo em seu olhar capaz de
transformar algo ferido em um homem cheio de
vida, impossível conseguir descrever o sentimento
de imaginar não tê-la ao meu lado ao amanhecer.

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Capítulo 16

Me obrigo a não querer


Ficar sem seu prazer
Dormir sem ter você...

Cheguei ao covil passando pelo corredor


que naquela noite parecia mais escuro e distante.
Algo me dizia que poderia ser a última vez que eu
pisava naqueles confins. Balbuciei algumas
palavras para mim mesmo, eu era destemido, mas
algo me incomodava, era eu contra centenas deles.
Abri o portão ouvindo uma música clássica
que de lá se expandia por todo o local. As pessoas
estavam como de costume, conversando pelos
cantos segurando um copo de bebida nas mãos.
Havia a mesma indiferença no local, ninguém
parecia olhar ou perceber nada a sua volta, só a
lascívia da conquista pairava no ar, enquanto
alguns casais entravam para a casa em busca de
quartos, que agora sei exatamente para que
serviam.
Aquelas mulheres que ali se encontravam
não eram artistas que frequentavam o local, e sim,

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presas que os Lobos levavam para lá a fim de


treiná-las e aperfeiçoá-las para o mercado negro do
sexo no exterior. Meus olhos buscavam por Shaida,
ela poderia estar ali, presa em algum lugar, à espera
de ser maltratada.
Parecia que o ritmo frenético do som
contagiava e hipnotizava as pessoas que ficavam
cada vez mais infiltradas em seu mundo perverso e
particular. Pisei em algumas bitucas de cigarro que
encontrei pela frente, enquanto meus olhos estavam
fixos em todo o movimento a minha frente.
Entrei na grande casa subterrânea, área
reservada para o treinamento. Saí abrindo as portas
dos quartos da ala privativa do corredor. A cada
minuto, tudo parecia ficar cada vez mais escuro e
minha ansiedade crescia.
Num dos quartos, para a minha surpresa, vi
Laura agarrada a outro homem. No primeiro
momento ela não me viu, mas eu continuei
prostrado na porta, como se não acreditasse no que
via. Então chamei sua atenção, e ela me olhou.
Ficou inerte por alguns instantes, e meus olhos só
faziam uma pergunta, por quê?
O homem que a acompanhava continuava
de costas para mim, enquanto explorava o corpo
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que um dia fora meu. Saí dali o quanto antes,


tentando tirar a imagem vista de minha mente, meu
objetivo era outro, embora eu não desejasse o que
ela mesma foi buscar ali.
Minutos depois durante minha caminhada
pelo corredor, Laura veio atrás de mim, puxando-
me pelo braço.
− Perdoe-me... Eu imagino como deve estar
se sentindo. – sua voz era num tom baixo para não
chamar a atenção.
− Foram suas escolhas, Laura, eu nada mais
posso fazer por você. Só não esperava que se unisse
a Otávio, que mais uma vez me provou que seu
assunto comigo é estritamente pessoal.
− Sei que não vai entender agora... Também
não posso demorar, mas acredite, Alejandro, eu o
amo, e estou aqui porque desejo te esquecer.
No escuro do corredor eu vi seus olhos
brilharem pela lágrima que estava chegando, e eu
não iria secá-la.
− Sinto muito por você... Creio que não
optou pelo caminho certo. Poderia estudar, realizar
sonhos, mas está usando seu corpo para se afundar
cada vez mais.
− Por favor, me espere, não vá embora... Eu
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não me demoro com ele... – ela apontou para o


quarto que havia saído.
− Não perca seu tempo comigo. Jamais
tocaria em uma mulher que hoje pertence a
qualquer um. Volte para sua ocupação. Apenas
quero que saiba, que este caminho que escolheu
para seguir não é o melhor, pois logo será vendida
como animal para as casas de prostituição no
exterior.
Ela abaixou sua cabeça e consentiu.
− Eu sei... – disse num tom muito baixo e
com certo pesar.
− Você sabe? Eu não acredito que concorda
com isso... Não... Você não é a Laura que conheci,
ou era e eu nunca percebi, porque gostava tanto de
você, que queria ver apenas a pessoa que inventei.
− Recebi uma proposta inegável, enfim, a
chance que precisava para dar uma guinada em
minha vida. Mas meu coração é seu.
− Adeus, Laura... E boa sorte em seu novo
caminho.
Virei minhas costas, profundamente
decepcionado. Eu não esperava que ela escolhesse
para si, o pior. Por mais que a vida tenha nos
separado, não era esse o destino que ela merecia,
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mas optou prosseguir nele por vingança, por


ambição, por qualquer coisa que não fosse
dignidade.
Ela ainda me chamou, eu ignorei. Não
poderia fazer mais nada... Preciso manter meu foco,
porque o que vim fazer esta noite aqui é algo sério.
Qualquer coisa que desse errado, estaria correndo
risco de morte, assim como Shaida, que não sei
onde está.
Voltei para o lado de fora da casa e me
aproximei do local onde estavam tocando a música.
Pedi licença e peguei o microfone, precisava
chamar a atenção dos Lobos, e se Otávio estivesse
ali, em qualquer lugar da casa, iria me ouvir.
Começou o fim de minha estádia na Seita.
− Caros amigos, peço um minuto da atenção
de vocês. – aos poucos as pessoas saiam de seu
universo particular para virarem seus olhos em
minha direção. A música parou e então eu ouvi um
burburinho, mas mesmo assim a imensidão da
solidão daquelas pessoas ainda sufocava. – Lobos
presentes, por favor, aproximem-se. Gostaria de
saber se Otávio Hilgert se encontra na casa. Caso
estiver me ouvindo, peço sua presença aqui.
As pessoas começaram a se aproximar,
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principalmente os homens vestidos de terno preto,


o que caracteriza um Lobo naquele local. Os olhos
atentos, outros surpresos, não me intimidaram. Eu
iria até o final.
De longe vi um casal se aproximando, o que
me causou mal-estar. Manuela e seu marido por
etiqueta. Pelo modo como estava vestido, ou entrou
recentemente para a irmandade como um ingresso a
troco de seus serviços sujos para me enganar, ou já
fazia parte e tudo que Manuela me contou era só
mais uma de suas mentiras.
Ao se aproximarem de onde eu estava, ele a
abraçou pela cintura, e ela dobrou um braço sobre
seu ombro, segurando o queixo. Fingi que isso não
me perturbava, mas por dentro me corroía. Se eu
fosse um covarde, tentaria amenizar meu desejo
ferido, surrando-a como se fosse uma cadela da rua,
mas jamais voltaria a perder meu tempo com esse
tipo de pessoa. Eu só não esperava ter de encontrá-
la naquela noite, naquele lugar.
Otávio surgiu entre as pessoas. Por onde
passava, os presentes abriam alas como se ele fosse
um semideus. Então eu tive mais uma surpresa, ao
seu lado, Laura. Era ele quem estava naquele
quarto escuro com a menina. Desta vez fixei meus
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olhos nos dela, mais uma decepção. Ela realmente


estava disposta a vender, não somente seu corpo,
mas a sua alma em troca de míseros vinténs.
Laura abaixou sua cabeça, não suportou o
peso de meu olhar e a decepção exalada. Antes de
voltar novamente a falar, veio a minha mente o
rosto de Shaida, e a certeza de que sempre fora
minha mais leal protegida. E é por ela que eu estava
ali naquela noite.
Otávio se aproximou de mim, mas não disse
nada. Parecia se comprazer do que estava por vir,
como se soubesse exatamente o que iria acontecer,
só esperava pelo momento certo de tirar sua carta
suja da manga.
− Eu estou aqui para declarar meu
desligamento desta Seita perante a todos, assim
como me foi recomendado. Antes, porém, gostaria
de deixar minhas impressões sobre a irmandade a
qual fui parte, mesmo sem saber de sua real
intenção, durante muitos anos de minha vida.
Cheguei ao Brasil e recebi uma casa e um trabalho
para me manter aqui, com o objetivo de cumprir
meu papel como Lobo, protegendo e amparando
mulheres que necessitam de cuidados. Meu instinto
de lupus se agradou com a proposta passada através
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de uma carta a qual fiz um pacto de sangue. Mas


com o tempo, e com algumas provas em mãos,
descobri que tudo não passada de fachada para
atrair mulheres e vendê-las para o mercado negro
do sexo no exterior. Se é que algum de vocês ainda
não tem o conhecimento sobre este fato, além de
toda a Seita ser regida por dogmas satânicos.
Alguns riram, outros permaneceram sérios,
apenas olhando para mim, como se tudo o que eu
disse não fosse novidade para ninguém. Parei por
um instante e olhei para Otávio, que aguardava em
silêncio o final do meu discurso. Não havia nele
nenhuma reação que eu pudesse decifrar, apenas o
silêncio para me ouvir.
− Diante de tantas revelações que me foram
escondidas, para que eu pudesse decidir, depois de
sabê-las, se era realmente isso que eu queria para
minha vida, deparo-me com maldades gratuitas,
vingança, ódio e desejo de destruição por parte do
ilustre Otávio Hilgert. Está tudo desfeito agora. Era
apenas isso que gostaria de dizer sobre a
Irmandade, além do fato de que o Lobo citado,
estuprou, ameaçou e perseguiu sua única filha
desde os cinco anos de idade. Especialmente por
este motivo, ainda me encontro aqui, para pedir que
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a devolva ou justifique seu desaparecimento de


minha casa.
Agora sim, eu vi o Lobo furioso nos olhos
de Otávio, que deu passos à frente e tomou o
microfone de minha mão.
− Nenhum Lobo pode simplesmente se
desligar da Seita antes de pagar por aquilo que nos
deve. E o que você nos deve é o sacrifício da
menina referida, justamente por ter me traído com
minha esposa, fato este reconhecido nas profecias
séculos atrás.
Sacrifício?
Eu não sabia sobre o que ele dizia.
− Poderia repetir? – perguntei.
Ele fez sinal para alguém com a cabeça, que
trouxe um papel amarelado enrolado como
pergaminho. Arrumou sua postura e passou a ler.
− Embora o fruto do pecado será de grande
valia para a lavagem da honra, ainda assim, sua
utilidade não servirá como um todo. Alejandro irá
errar muitas vezes na Irmandade. Irá se rebelar
contra os nossos princípios. Irá fugir de seus
compromissos, retirando de nós, a rentabilidade
advinda de seu talento com a criação de perfumes,
por fim, irá romper seu pacto sagrado com a Seita,
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único meio que o fará passar pela prova de que


realmente é um Lobo. Por essas e outras razões,
decidimos que Alejandro deverá atrair para si, a
menina Shaida, interromper sua afetividade por
ela, para não ter seu corpo e sua alma atingida
pelas desgraças resultantes de suas escolhas. Em
seu lugar, deverá entregar, como sacrifício, o
coração arrancando da menina, por suas próprias
mãos, como sacrifício, sendo esta sua última
chance de receber o nosso perdão. – ele leu,
pigarreou e continuou. – Está bem claro na
profecia, o que deve fazer. Eu quem pergunto, onde
se encontra o que nos deve. Você tem 24 horas para
trazê-la até nós, caso contrário, não só seu corpo,
mas sua alma queimará nas chamas do inferno.
Meu sangue esquentou, subindo pelas veias
do corpo, sacudindo por dentro todo e qualquer
vestígio de sanidade que me restara. Num impulso
incontrolável, retirei meu terno e camisa, rasgando
com uma só mão. Meus olhos faiscavam, o suor já
tomara posse de meu corpo.
− Nem se eu soubesse onde está Shaida
neste momento, eu diria. Agora vem... Vem... Você
e seu bando todo. Estou pronto para matar ou
morrer, mas escute... Preste atenção... Eu não tenho
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medo de nada do que disse, se esta era sua intenção


de me intimidar. Não tenho medo nem de morrer,
muito menos de queimar nas chamas do inferno,
porque eu te levarei comigo! – fui para cima,
desferindo um soco bem acertado em seu rosto, o
que fez com os demais viessem para cima de mim,
mas ninguém era capaz de me mobilizar, uma força
absurda me tomara, nada parecia me abalar ou
vencer, nem mesmo as tentativas dos murros
desferidos. Enquanto eu tivesse força, lutaria pela
dignidade que me sobrara.
− Você nunca comeu sua mulher de fato,
seu filho de uma puta. Jamais dera a atenção que
ela merecia. – disse com dificuldade, com cinco
homens me segurando pelos braços por detrás de
meu corpo.
− Vamos acabar com ele de vez, mestre. –
disse um Lobo, tirando de sua cintura um revolver
calibre 28.
− Pode atirar. Bem aqui... – bati no meio do
peito. – Mas não erre a pontaria, pois se me sobrar
forças, eu mato você primeiro, antes do meu último
suspiro.
Então senti a imobilização. Eram muitos
agora, todos contra mim. Não havia sequer como
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respirar. Ouvi vozes de mulheres gritando, alguns


murros atingindo minha face e a risada de Otávio
no microfone.
− Não acabem ainda com ele... Eu quero o
fruto do pecado... Ele terá que nos entregar com
suas mãos.
− Sim senhor, mestre. – respondeu alguns
dos homens.
Agora vi de longe a silhueta feminina se
aproximando com uma mão em seu rosto, aos
prantos, mas sendo pega por alguém que atavam
seus braços para trás, enquanto ela não desistia de
escapar.
− Alejandro, nãoo! – gritou Manuela ainda
tentando se aproximar. – Senhor Otávio, eu lhe
devolvo o dinheiro que me pagou, mas deixe-o em
paz.
− Menina tola... Eu não quero e nem preciso
do dinheiro. O que me fez, mal e porcamente não
me serviu para quase nada, você não concluiu o que
foi pedido...
− E jamais iria concluir! – gritou ela,
levando um tapa no rosto da mão de seu marido. –
Bata, pode bater! Eu não me importo, porque será a
última vez. Saiba que este homem aí, é amado por
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mim, e que jamais irei esquecê-lo, mesmo que


vocês me matem junto com ele.
− Cale a boca, vagabundinha... Você não
serve para nada... Não iremos perder nosso tempo
em sujar o chão da Casa dos Prazeres com seu
sangue inútil. Leve-a daqui.
Manuela saiu arrastada aos gritos. Eu não
iria julgar ou pensar sobre nada do que disse
naquele momento. Apenas desejava sair dali e
encontrar Shaida.
− Amarrem-no no pilar do meio do pátio. –
pediu Otávio.
Foi difícil me levarem, mas conseguiram.
Minha calça já estava quase toda rasgada por causa
de minha resistência. O rosto sangrava, mas nada
doía, apenas o peito. Não iria morrer tranquilo sem
salvar antes a minha menina.
Laura se aproximou com um lenço para
limpar meu rosto. Seus olhos estavam marejados,
mas não escorriam lágrimas.
− Calma... – ela pediu e minha respiração
ofegante soprava os fios de seus cabelos.
− Traidora... – eu ainda tive de dizer.
− Laura, se afaste. Caso encoste um dedo
neste merda para ajudá-lo, irá pagar juntamente
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com ele, por sua dívida com a Seita.


Ela se afastou de imediato, deixando-me
não surpreso por seu gesto. Depois de vê-la se
vendendo, mais nada poderia esperar daquela
criatura.
Otávio se aproximou muito perto do meu
rosto e passou a estudar meticulosamente minhas
reações, farejando-me como um animal.
− Um pobre coitado, deixado pela própria
sorte pela mãe, que gostava mais de dinheiro do
que de si mesma. Um amor perdido, que serviu
para eu me vingar, fazendo nela uma filha, que
serviria mais tarde para o sacrifício mais esperado
da Seita. Dolores... Ah, doce Dolores... Como era
gostosinha na cama... Pena que seu destino já
estava traçado dentro de uma cova.
Cuspi em seu rosto como se fossem lâminas
cortando sua pele com a saliva. Desejava matá-lo.
− Hummm, é um Lobo selvagem... Bem,
aqui costumamos adestrá-los da melhor forma.
Tragam o remédio para cãezinhos rebeldes...
− Faça o que quiser, verme... Você já
provou muito antes sua covardia ao estuprar
criancinha dependente de seus cuidados.
Ele pegou uma luva preta de seu bolso e as
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colocou nas mãos, rindo ao vento.


− Pretendo não sujar minhas mãos com seu
sangue impuro de vira-lata.
Chegou bem próximo de mim, e desferiu
um soco certeiro no meu olho esquerdo.
− Mata-me! Apresenta-me seu Superior,
estou louco para conhecê-lo. – disse eu, sentindo
meu olho queimar, inchando de imediato.
− Calma, menino... Por que tanto pressa?
Temos a noite toda para nos divertir. Aproveite.
Um dos Lobos trouxe um chicote de couro
cru, o qual fora acertado em meu minhas costas
várias vezes, cortando. Para não sentir tanto, eu
prendia minha respiração e a soltava devagar.
Passei a pensar no sorriso de Shaida à medida que
as chicotadas aumentavam o ritmo. Num apse de
loucura, passei a gritar, não pela dor, mas pela
angustia do fracasso.
− Tirem sua calça! – pediu Otávio se
divertindo com o que pensava em fazer. – A cueca
também. Virem-no.
Neste instante, após ser solto por alguns
segundos, consegui me soltar e correr em direção
do pescoço do Lobo velho, enforcando-o com a
força que me restara para fazer o que precisaria ser
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feito. Mas fui novamente imobilizado, desta vez


com um taco na nuca, que me jogou no chão,
deixando-me um pouco tonto.
− Surrem seu pau, até desfigurar! – Otávio
pediu, com a voz ainda presa por conta do
enforcamento.
− Não faça isso, senhor Otávio, eu lhe peço!
– pediu Laura que estava perto e eu nem havia
notado.
− Saia daqui, puta! – gritou Otávio,
empurrando-a.
− Não encoste um dedo em uma mulher na
minha frente... – eu disse ainda tonto. Nem que ela
não mereça sequer minha misericórdia.
Ele riu estrondosamente.
Sirenes, muito tumulto pude ouvir. Um
grito também, de alguém pedindo para fugirem,
mas não houve tempo, tudo fora cercado pela
polícia, que chegara com metralhadora nas mãos,
correndo em todas as direções. Alguns tiros foram
dados para cima, e eu já não sabia mais o que
estava acontecendo.
Eu a vi correndo em minha direção. Senti
suas mãos tentando me desamarrar, mas não
conseguiram. Neste momento dois policiais se
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aproximaram para fazer o que ela não conseguiu


terminar. Minhas mãos foram livres para abraçar
Shaida, que me apertou em lágrimas contra seu
peito.
− Está tudo sob o controle... Daqui a pouco
iremos embora, antes porém... Eu preciso fazer algo
muito importante.
Otávio estava imobilizado por um policial,
que agora pedia para ele levantar as mãos para ser
revistado.
− É este o homem. – Shaida disse, rodeando
o velho e prostrando-se a sua frente, vendo o
policial olhar os documentos de Otávio. – Eu
gostaria de pedir algo, se for possível me atender. –
disse ela ao policial, que esperou ela dizer o que
queria. – Algemá-lo. Por honra a minha mãe.
O policial ficou pensando a respeito do que
ela pediu, certamente receoso de que Otávio
pudesse fazer algo contra a menina. Chamou dois
policias e esses ficaram ao redor do verme, com a
arma apontada.
− Tem o meu consentimento. – disse o
policial, entregando a ela, as algemas.
Lentamente ela pegou o objeto, olhando-o,
depois para o rosto de pai monstruoso. O policial
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segurou suas duas mãos e deu o sinal para que


Shaida o algemasse.
− Eu não pude dizer a minha mãe, o quanto
eu a amava mesmo sem conhecê-la. Não conheci o
pai de Alejandro para parabenizá-lo pelo filho
incrível que ele teve. Não conheci sua mulher, mas
certamente ela é uma mulher muito forte, para ter
lhe suportado por todo esse tempo. Ainda bem que
ela não me deu irmãos, para que eu não pudesse
olhar nos olhos deles e sentir pena. Mas olhe para
mim, entojo... Tem medo ou vergonha de quê?
Todo poderoso, rei da matilha suja que você
contaminou... Olhe... Veja o quanto sou agora bem
melhor que você, um simples velho que se escondia
por detrás de uma mentira que é seu todo.
Ele levantou a cabeça com a ajuda do
policial forçando sua cabeça.
− Eu tenho nojo de você. – ao dizer, cuspiu
em sua face e foi afastada do verme.
− Vamos levá-lo, assim como todas as
pessoas que estão no recinto. Seu Alejandro, por
favor nos acompanhe para prestar depoimento e
fazer exame de corpo e delito. – disse o
comandante, levando o verme, e jogando para mim,
um macacão para que eu me vestisse.
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Abracei-me a Shaida e a beijei na testa.


− Você está bem? – perguntei, vendo Pedro
se aproximar dela.
− Sim, vou te acompanhar até a delegacia.
− Não... Vá para casa descansar. – pedi,
vendo as olheiras que já a abatiam.
Fui para o corredor daquele local imundo,
observando os Lobos presentes sendo levados,
entre eles, Laura, escoltada por uma policial. Ela
abaixou sua cabeça ao sentir meu olhar sobre o
dela.
− Você não precisava passar por isso... Eu
acredito que será liberada, porém, jamais será
libertada de sua ambição, caso não seguir o
caminho reto.
Ela não disse nada, apenas seguiu sem olhar
para os lados.
Saí até alcançar meu carro. Debrucei-me
sobre o capô e fiquei assim por alguns minutos.

Após cinco horas de especulação e exame


de corpo e delito, abri uma queixa contra Otávio.
Estava exausto. O dia já estava amanhecendo e meu
desejo era apenas um banho e cama. Meu
psicológico estava arrebentado, mas eu não queria
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pensar nisso agora, meu desejo era apenas esperar


que as horas passassem, e com elas todo aquele
mal-estar vivido.
Ao abrir a porta do carro, alguém veio por
trás de minhas costas, agarrando-se a mim como se
quisesse infiltrar em meu corpo. Virei-me quase
sem reação, devido ao cansaço físico e moral. Os
olhos azuis miraram os meus, pálidos. O rosto
marcado por sinais de espancamento e as roupas
rasgadas.
− O que faz aqui, Manuela? – perguntei,
chocado com seu estado.
− Eu consegui fugir e me esconder... Eles
estão atrás de mim, mas eu precisava me arriscar
para vir aqui e te pedir...
− Não... Você não pode estar aqui. Não
pode se aproximar de mim, eu não quero! – minha
voz ríspida rasgava a imensidão daquele amanhecer
de tom avermelhado.
− Ajuda-me somente neste dia... Prometo
que assim que me recuperar e lhe dizer o que
preciso, eu desapareço de sua vida.
− Não temos mais nada para falar um com o
outro. O que você deve a justiça, resolva-se com
eles. – disse eu, me afastando e entrando no carro.
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− Por favor, não... – começou a chorar


desesperadamente, sem se importar com a
delegacia quase a nossa frente. – bati forte no
volante... Eu não seria eu, se não a colocasse no
carro e atendesse seu pedido. Mas também não
seria eu, se fosse embora agora, sem olhar para trás.
Os segundos eram horas, meu olhar estava fixo no
nada. Abri a porta de trás do carro. – Entre.
Não sabia se este impulso me faria ver mais
tarde meu profundo arrependimento, mas naquele
momento de exaustão, eu não conseguia pensar
mais em nada, a não ser, sair dali o mais rápido
possível. De algum modo, não queria entregá-la à
polícia, sabia que ela merecia, mas não tinha forças
sequer para dirigir, muito menos para pensar. –
Deita-se no banco, não quero que ninguém a veja
em meu carro.
− Sim senhor. – respondeu ela.
− Não me chame de senhor! Eu a coloco
para fora do carro, caso repetir isso.
− Tudo bem...
− Não era para você estar aqui! Não era! –
fui repetindo a mesma frase até atravessar toda a
cidade. – Não era para se aproximar de mim... Você
não merece nada...
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− Desculpe... – ela repetia.


− Cale a porra dessa boca! – gritei. Não
conseguia sequer ouvir sua voz.
Quando cheguei em minha casa, parecia que
minha alma havia diminuído de tamanho. Entrei na
garagem e a tirei do carro.
− Agora vá embora! – pedi, indo em direção
do portão.
− Não! Por favor, me escute... – ela dizia,
agarrando-se a mim.
− Chega! Estou cansado, não quero te ver
na minha frente assim que acordar.
− Por favor... – ela abriu a blusa, mostrando
um ferimento em sua barriga. Lembrei-me da
última vez que vi sangue nela, e era de mentira.
− Não irá mais me enganar, cadela...
Acabou seu momento de glória.
− Dessa vez não é de mentira. – respondeu
ela, quase caindo sobre mim.
Peguei-a com pressa e a levei para dentro,
pensando no que iria fazer. Segui rapidamente para
o banheiro com ela nos braços. Passei pelo quarto
de Shaida, estava dormindo pesado.
− Eu não acredito que isso esteja
acontecendo... – sentia-me péssimo em ter que
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ajudar aquela mulher traidora, que me causou o


desejo de desistir da vida em dado momento.
Tirei suas roupas, ela estava quase
desmaiando em meus braços, e a coloquei sobre
meu colo, sentado no piso do banheiro.
− Eu nunca mais vou confiar em você...
Nunca mais... – disse eu, banhando seu corpo
completamente cheio de hematomas.
− Perdoa-me... – ela dizia num gemido.
− Jamais... – respondi.
Após tirar todo o sangue de seu corpo, olhei
o ferimento, era real, causado por um instrumento
de corte, mas nada tão profundo, mas havia perdido
muito sangue. Fiz um curativo e a vesti com uma
camisa minha. Arrumei-a na cama e me deitei no
tapete.
− Durma! Assim que eu acordar, quero-a
longe de minha casa. Longe de mim. Longe de meu
presente e de minha vida.
− Eu o amo. – respondeu ela, antes de
fechar seus olhos e adormecer.

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Capítulo 17

Sinto o seu corpo o dia todo...


Seu cheiro ficou em minha pele
Sua alma se infiltrou na minha

Ao acordar, senti um peso sobre meu corpo.


Eu nem imaginava que horas eram. Meu corpo
estava dolorido, dormir no tapete depois da noite
passada não era algo excitante.
O peso sobre mim persistia. Tentei me
mexer, mas percebi que o que estava acontecendo
era bem mais do que uma sensação. Abri os olhos e
vi os cabelos loiros de Manuela sobre meu peito.
Ela deitou sobre mim enquanto eu dormia. Para
minha surpresa, estávamos ambos nus. Assustei.
Antes de acordá-la, me levantei de qualquer
jeito, jogando-a para o lado e olhando tudo a meu
redor. A porta estava aberta. Peguei um lençol e
amarrei em minha cintura e fui até o quarto de
Shaida. A cama estava desarrumada. Ela já havia se
levantado. Corri para a cozinha, nem um sinal da
menina pela casa. Eu não podia acreditar que... Ela
deve ter passado pelo meu quarto e visto a cena de

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Manuela dormindo nua sobre meu corpo sem


roupa.
Sem ter o que pensar, corri para o quarto e
vi Manuela espreguiçando como se nada tivesse
acontecido. Peguei-a pelo braço e a fiz ficar em pé.
− O que está acontecendo aqui?
− Não estou entendendo... – ela disse, com
os olhos ainda preguiçosos.
− Você viu alguém aqui? – cocei a cabeça.
Nem eu mesmo estava conseguindo fazer a
pergunta certa. – Alguém entrou aqui no quarto?
Por que a porta está aberta?
Ela fez uma jeito de quem estava me
achando o cara mais louco da face da terra.
− Realmente não estou entendendo...
− A porta do quarto! – apontei para a porta.
– Por que está aberta?
− Ahm, sim... Eu precisei ir à cozinha tomar
um copo de água.
− Você saiu assim, pela casa?
− Não. Estava com a roupa que dormi, mas
quando voltei... – ela fez uma cara maliciosa e veio
perto de mim.
− Você não tinha o direito de se deitar
comigo. Não era para ter tirado a merda da sua
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roupa e... – então me lembrei de que dormi com


roupa e estava sem ela agora. – Não permiti que
tirasse a minha roupa.
− Mas eu não fiz isso... Foi você quem o
fez, quando me sentiu nua.
− Mentira! – gritei. – Mentirosa!
− Não estou mentindo.
Afastei-me. Eu não acreditava nela e não
conseguiria tirar nada de sua boca. Shaida foi
embora novamente, e não foi sem motivos. Algo
aconteceu que a fez decidir por isso.
− Troca-se! – pedi rispidamente.
− Eu não tenho roupas aqui.
Levantei a cabeça e passei a respirar
descompassadamente. Comecei a me arrepender de
ter ajudado essa mulher e perder a única pessoa que
me interessa neste momento.
− Vou sair para comprar alguma coisa para
você se vestir e sumir da minha vida, está
entendendo? Não é para sair deste quarto até eu
voltar. Aliás, vou te trancar aqui e levar a chave
comigo.
− Está com medo de eu desaparecer de sua
vida? – ela perguntou num sorriso bobo.
− Isso é o que eu mais quero... Que você
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suma e nunca mais volte a me procurar. Escuta...


entenda de uma vez por todas, acabou... Eu não
sinto mais nada por você. Seu tempo de ser feliz ao
meu lado passou, morreu. Eu jamais irei lhe
perdoar ou confiar em você. Agora fique aqui.
Dizendo isso, saí.

Quarenta minutos depois, voltei e abri a


porta. Ela estava sentada no mesmo lugar que a
deixei. Chorava. Joguei o vestido na cama e fiz de
conta que não percebi suas lágrimas.
− Agora se troque rapidamente. – pedi,
vendo-a retirar o vestido do embrulho e colocar
sobre seu corpo. Tudo nela me irritava.
Ao se trocar, saímos apressadamente. Eu
não sabia onde a deixaria ou para onde eu iria.
Precisava encontrar Shaida e saber o que aconteceu
que ela decidiu outra vez me abandonar.
− Onde devo deixá-la?
− Eu não tenho para onde ir. – disse num
tom triste.
− Deve ter algum parente ou algo assim.
− Não moram aqui. A polícia deve estar a
minha procura.
− Onde moram seus parentes?
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− Interior de Minas.
− Olha, Manuela, essa é a última ajuda que
lhe darei. Nunca mais me procure para nada. Vou
lhe deixar na rodoviária, você vai comprar a
passagem e vai para a casa dos seus parentes.
− Se me desse uma chance, iria descobrir
que sou o amor da sua vida, e que está apenas
magoado, mas com o tempo isso tudo passa.
− Você é louca? Não está entendendo que
eu não a quero mais?
Seu rosto ficou vermelho. Acredito que
dessa vez ela entendeu. Tirei vinte notas de cem
reais de minha carteira e lhe entreguei.
− Eu entendi sim. – disse ela por fim.
− Desça do carro!
Ela ainda titubeou, mas acabou abrindo a
porta. Mantive meu rosto para a frente. Não a vi
deixar o carro. Não queria saber como estava se
sentindo.
Parti em disparada para algum lugar. Em
minha cabeça não passava ideias, apenas a certeza
de que precisava encontrar minha menina.
Depois de duas horas andando como louco
pelas ruas da cidade, resolvi voltar para a casa.
Revirei todo o armário onde ainda tinha algumas
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coisas dela, na tentativa de encontrar uma pista que


me levasse onde estivesse neste momento.
Lembrei-me de sua agenda... Ela não iria se
lembrar de levá-la. Lá deveria ter algum contato,
sei lá. Eu precisava fabricar uma esperança. Peguei
a agenda quase em desespero e passei a olhar,
página por página. Vários números de celulares, e
finalmente... o de Pedro. Liguei apressadamente
para o moleque.
“Onde está Shaida?” – perguntei sem
cumprimentá-lo, assim que ele atendeu.
“Olha, seu Lobo, eu não sei...”
“Sabe sim, e vai me dizer...” – persuadi.
“Na real, não sei mesmo...”
“Sabe... Eu sei que sim... Basta relaxar e me
dizer, estou esperando...”
Ele ficou em silêncio do outro lado da linha,
e eu estava quase entrando no aparelho do celular
para fazê-lo falar.
“Ela me pediu segredo.”
“Não existe segredos entre mim e Shaida.”
“Mas ela...” – interrompi.
“Ela precisa de mim, Pedro. Eu sou a única
pessoa neste momento que posso ajudá-la. Se você
a considera, é bom colocar sua cabeça para
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funcionar e me dizer logo de vez.”


“Está bem... Vou dizer, mas não deveria...
Ela confiou em mim.”
“Ela vai lhe agradecer um dia, pode ter
certeza disso.”
“Ela foi para São Paulo tentar uma nova
vida. Eu pedi para ficar, que poderia ficar em
minha casa até que se decida melhor sobre o que
quer, mas... o senhor sabe como ela é teimosa...”
“E onde ela ficará lá? Endereço?”
“Shaida ainda não tinha ideia. Eu a dei
algum dinheiro a ela, mas disse que iria se virar. Na
verdade, eu não sei onde irá ficar lá.”
“Há quanto tempo ela foi?”
“Eu a deixei na rodoviária há uma hora.”
Poxa, eu estava lá.
Que droga!
“Tudo bem, obrigado.” – desliguei
rapidamente a ligação.
Do Rio de Janeiro a São Paulo são quase
445 km. Se eu metesse o pé na estrada, chegaria
antes dela, caso o trânsito estivesse bom na
rodovia. Chegaria em SP e a esperaria na
rodoviária, na plataforma do ônibus.
***
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Confidências de Shaida

Eu estava disposta a entregar minha vida a


Alejandro, porque isso era tudo que eu tinha
naquele momento. Ainda não tinha certeza do que
eu significava em sua vida, até ver a aquela cena
que não sai do meu pensamento. Tentei não
acreditar no que via, mas foi demasiadamente
impossível depois de ouvir tudo que ela disse.
Naquele primeiro dia que nos beijamos pela
primeira vez na sala de sua casa, embalados pelo
calor do vinho e da dor que o consumia por tê-la
visto com o marido, descobrindo toda a mentira que
ela o fez acreditar, eu sabia que o coração dele não
estava mais disponível a ninguém, mas meu desejo
de estar nos seus braços era tão grande, que não
pensei duas vezes, precisava me entregar e
esquecer o medo de me machucar, afinal, estar
sujeita ao erro faz parte da vida.
Havia uma pequena esperança de que tudo
um dia pudesse se ajeitar. Ele não iria me amar,
mas eu só queria ficar por perto... Pelo menos era
isso que eu imaginava de mim mesma. Mas é
burrice acreditar que uma mulher apaixonada
espera apenas pequenas doses de alguém. O
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coração lhe trai e você acaba querendo mais,


mesmo que secretamente. Muitas vezes até
acabamos nos convencendo de que estar perto é o
suficiente, mas as migalhas não sustentam uma
relação. As pessoas nasceram para ser felizes e
plenas.
Agora me ferrei. Estou aqui sentada na
poltrona deste ônibus, sem saber ao certo onde irei
morar, como vou me manter, como vou fazer para
esquecer o Lobo. Que burrice! Era evidente que
jamais seria eu a escolhida. A fulaninha ia voltar e
eu seria apenas a secretária, ou a pobre menina que
precisava de alguém para dar feliz Natal.
Enxuguei a lágrima que rolava em meu
rosto e fechei a janela do ônibus. Estava esfriando,
mas por dentro de mim estava mais gélido. Não
esperava que passaria por isso depois de ter
resolvido o problema que julgava ser o maior de
minha vida, que foi prender o idiota do Otávio.
Agora estaríamos livres, não tinha nada em nosso
caminho para nos impedir de sermos felizes. Só
faltou o desejo dele de ser feliz ao meu lado.
Aqueles olhos azuis não saiam de minha
cabeça quando ela me olhou pela primeira vez.
Estava nua sobre o corpo dele, beijando a boca que
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eu amava. Quando me viu olhando pela porta


entreaberta, ela se levantou, então entendi o motivo
pelo qual ela o enfeitiçou. Meu Deus, como ela era
perfeita. Muito diferente de tudo que há em mim.

− Algum problema? - ela me perguntou


com um tom natural ao me ver ainda parada,
tentando imaginar o quanto fui burra.
− Não... Nenhum...
− Você é a Shaida, filha do senhor Otávio?
- ela perguntou, tentando entender minha presença
ali. − Seu pai me disse que você e... Alejandro...
Bem, que ele lhe deu um emprego aqui no
laboratório.
− Não fale deste homem para mim. -falei,
visivelmente irritada.
− Entendo... Deve ser muito difícil para
você passar por tudo que passou, mas vai entender
a vida... Ainda bem que Alejandro lhe deu um
emprego temporário, acho que até acontecer a
nossa viagem, você estará mais preparada para
seguir o seu caminho.
− Viagem? - perguntei quase tendo uma
catarse.
− Ele não lhe disse?
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− Não. - estava sem reação.


− Nós reatamos há algumas semanas, e...
bem, resolvemos seguir uma nova vida na Espanha,
a terra onde ele nasceu. Ainda mais agora que
estou esperando nosso bebê... No fundo este
sempre fora o sonho de Alejandro. Constituir uma
família com a pessoa que ele ama. Acho que essa
criança veio numa boa hora.
Filho?
Reataram?
Como conseguiu esconder tudo isso de
mim? E por quê?
Aquela conversa já estava embrulhando
meu estômago. Senti ânsia e um desejo de gritar.
Eles tinham traçado um projeto de vida enquanto a
gente transava e eu acreditava que o que vivíamos
era diferente e intenso.
− Ah, sim. Sinceramente não estou sabendo
de nada. Agora, se me der licença, preciso me
arrumar para sair.
− Espere só mais um pouco até ele acordar.
Alejandro até tinha comentado há pouco tempo
antes de pegar no sono, que se a visse antes dele,
era para lhe pedir que fosse a panificadora mais
próxima para comprar algumas coisas para o
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nosso lanche. Estamos famintos, sabe como é, né...


Reatamos recentemente, estamos quase em lua de
mel...
− Olha, eu não preciso ouvir isso. –
respondi, segurando o choro. Virei as costas e saí
sem olhar para trás. Estava louca para correr. Ela
era bem pior que Laura. Como Alejandro pode se
envolver com um tipo tão tosco e vulgar?

Então foi exatamente assim que me vi


chegando ao destino que hoje me encontro. Não há
espaço na vida de Alejandro para mim. Eu não
seria a empregada doméstica da casa para o casal,
que já pensava em me despachar em breve, para
poderem viajar e terem seu bebê fora do país.
Nossos momentos não significaram nada. Iguais a
esses, ele deveria ter tido muitos. Quem sou eu na
fila do pão?
Peguei de minha velha mochila aquele livro
de profecias, era a única coisa que havia para ler até
o meu desembarque. Não tinha concluído toda a
leitura. Se eu tivesse qualquer outro tipo de
literatura, não iria ler essa merda que nem me
interessa mais. Jogaria pela janela e esqueceria de
vez todos aqueles absurdos que descobri.
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Fui mais para o final das páginas, não iria


me dar o luxo de ler as baboseiras novamente.
Porém... Algo me pareceu interessante, se ainda
tivesse algum sentido para mim.

"Só há uma exceção de Alejandro Munhoz


escapar do pacto, sem ser necessário entregar o
coração da filha do pecado, e ser perdoado e
liberado da Seita sem danos a sua alma, que
deixará de nos pertencer, quando ele
verdadeiramente entregar seu coração a alguém.
Por esse motivo pedíamos para que jamais se
apaixonasse, pois desse modo não poderíamos
cobrar o que a nós é devido. Quando florescer o
amor em seu peito, Alejandro será eximido de
qualquer obrigação para com a Seita. Sabemos que
até certo ponto seu fascínio é pelo todo feminino,
sem conseguir concluir esse sentimento transferido
a uma só mulher. Sacrificando a filha do pecado,
estaremos livres de que isso um dia possa se
concretizar."

Eu não acredito mais em uma só palavra


que esse povo diz. Mesmo se fosse verdade, eles
erraram a pessoa. Alejandro se apaixonou e
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concluiu esse sentimento com Manuela. Está com


ela hoje e serão felizes para sempre. A única coisa
útil que me fez foi me salvar de morrer como um
porco.
Abri novamente a janela, e joguei aquele
livro pesado. Não precisava mais daquilo. Agora
precisava ver se conseguia dormir um pouco para
começar a pensar no que iria fazer da minha vida.
O dinheiro que Pedro me arrumou dava para me
garantir por um mês até arrumar um emprego ou
um bico que seja. São Paulo é grande, em algum
lugar eu daria certo naquela cidade.
***
Fiz a viagem toda ouvindo a música, Não
me Compares. Em alguns momentos me vi muito
aflito com medo de perder a menina dos meus
olhos. Sei que já fui um caçador, e que fiz escolhas
erradas, mas estou tentando acertar. E justo quando
chegou este momento, ela decide ir embora.
Eu já não me importo de quantos fios
grisalhos eu tenho na cabeça. Antes me batia uma
puta insegurança de que Shaida pudesse me trocar
por um cara mais jovem, mas quando estamos a
sós, essa diferença não existe, porque ela sabe tocar
meu corpo como nenhuma mulher ousou. Algo
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acontece quando nos tocamos por dentro e por


fora... Sinto-me feliz com a paz que vem do seu
sorriso, e com as coisas simples que ela diz e
modifica meu mundo.
Alguma coisa muito séria aconteceu. Ela
não iria embora justamente agora, que
começaríamos algo novo em nossas vidas.
Procurei a plataforma do ônibus que vinha
do Rio no horário previsto que ela chegaria a São
Paulo, e me sentei numa daquelas cadeiras fixas.
Ainda demoraria algum tempo, o suficiente para
me enlouquecer.
Fazia muito tempo que não parava para
olhar as pessoas passarem por mim. Até em
momentos caóticos, Shaida me proporcionava
coisas assim. Eu quero ter uma vida mais normal.
Preciso fazê-la acreditar em mim de algum modo,
apesar de desconhecer os motivos que a fizeram vir
para cá.
Quando o ônibus despontou para estacionar,
meu coração bateu tão forte, pensei que não
suportaria a ansiedade. A vontade era me levantar e
sair como louco, entrar no veículo e a tirar de lá o
quanto antes.
À medida que as pessoas iam descendo e
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não a via, minha ansiedade aumentava, fazendo


com a adrenalina subisse a mil. Ela tinha que estar
lá dentro... Eu preciso dela. Eu preciso muito dela.
Então eu a vi com sua mochila desbotada
descendo pela escada. Meu coração apertou, pois
sei que se não a encontrasse a tempo, ela passaria
necessidade aqui, sem conhecer ninguém, apenas
com poucas roupas e um tênis surrado nos pés.
Fui correndo ao seu encontro no desejo de
protegê-la do mundo, mas quando me viu,
assustou-se, em seguida, ignorou-me
completamente, correndo entre as pessoas, e eu
como louco segui atrás na tentativa de fazê-la parar.
Ela subiu a escada rolante, correndo entre as
pessoas que lá estavam. Fui obrigado, chegando até
a empurrar o que havia pela frente para conseguir
alcançá-la. De longe eu via seus cabelos pelo ar,
indo na direção do metrô. Ela não tinha o bilhete,
precisou parar para comprá-lo, então era a minha
vez de alcançá-la e tentar fazer com que me escute
pelo menos.
− Shaida! – gritei. – Por que está fazendo
isso? – perguntei perplexo, ela tinha que me dar um
motivo. Queria ouvi-la, compreender suas razões.
Não a deixaria sozinha naquela cidade.
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− Vá embora! Saia de perto de mim! – ela


gritou de volta, e as pessoas passaram a nos
perceber.
− Você não vai sair a lugar algum sem antes
me dizer um motivo sequer. – eu disse, segurando-a
pelo braço, que se soltou rapidamente de minhas
mãos, e eu a agarrei pela mochila.
− Se continuar me impedindo de seguir, vou
começar a gritar e chamarei a polícia, porque agora
estou muito boa nisso.
− Escute, deixe de infantilidade... Eu vim
do Rio até aqui, para lhe impedir de fazer uma
besteira. Não sei o que está acontecendo, quero
uma justificativa.
Ela me olhou com muita raiva. Imaginei
que fosse me dizer algo, mas conseguiu se livrar de
minhas mãos, deixando cair a mochila no chão, que
estava com zíper aberto. Entre tantos objetos
espalhados, ficou num impasse entre prosseguir ou
voltar para levar as únicas coisas que tinha consigo
no momento.
Abaixei-me para ajudá-la, quando vi algo
que me chamou a atenção entre suas coisas, um
pequeno aparelho digital nas cores branca e azul, o
qual as mulheres usam para fazer teste de gravidez.
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Quando ela percebeu que eu ia pegar o objeto,


apressou-se para tomá-lo de minha mão. Esquivei-
me e vi o sinal de positivo. Não sei o que se passou
pela minha cabeça naquela hora. Um minuto de
surdez, uma taquicardia ou algo assim tomou de
mim, o raciocínio.
− O que é isso? – perguntei com o aparelho
na mão.
− Não interessa. Isso é meu. Coisa minha. –
disse ela, tomando o objeto de minha mão.
− Vai ter que me explicar tudo... Eu não vou
sair daqui enquanto não ouvir tudo que você tem a
me dizer, inclusive sobre... o que acabei de ver.
Ela se desmontou. Por um instante pensei
que sairia correndo novamente, mas não o fez.
Ficou encolhida, frágil, pequenina. Seus olhos
lacrimejaram e eu a levei pela mão até onde estava
estacionado meu carro. Não era momento de
bombardeá-la de perguntas, vou deixar que se
acalmasse mais, para que possamos começar a nos
entender.
Eu estava tão cansado, que meus olhos se
encontravam abatidos e marcados por orelhas, mas
não desistiria daquela missão, mesmo que isso me
custasse a vida. Seguimos pelas ruas de São Paulo a
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procura de um lugar discreto para comermos e


depois conversarmos.
Ajudei-a descer do carro e entramos num
café. Procurei a mesa do canto, a mais reservada do
local. Ela se sentou e colocou as duas mãos para
apoiar as bochechas, estava visivelmente abatida e
pálida.
− Por favor, coma algo. Precisa se cuidar.
Seu olhar de desaprovação diante do meu
comentário quis mostrar-me uma mulher
independente que não precisa de ninguém que a
diga o que fazer.
− O que quer que eu diga, não vai mudar
minha decisão. Não quero mais me iludir com
você.
− Nunca lhe iludi em circunstância
alguma... – eu disse seriamente.
− Tem certeza? E sobre aquela mulher que
você morria de amores por ela, cuja pessoa estava
deitada nua sobre seu corpo, nua, antes de me
contar sobre seus planos juntos?
Então me lembrei de que acordei com
Manuela sobre mim, exatamente como Shaida
havia relatado. Lembro também que estava sem
minhas roupas e não sabia como isso tinha
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acontecido sem que eu mesmo me desnudasse.


− Olha, sei que é difícil de acreditar no que
vou dizer, mas não há outra verdade. Não houve
nada entre nós. Eu a levei para casa, porque ela
tinha se ferido ontem, no meio da confusão, e me
procurou na rua, sangrando... Jamais deixaria uma
mulher naquelas circunstâncias sem socorrê-la.
− Olha... Não precisa mentir para mim...
Nós dois não tivemos nada um com o outro, certo?
Ela me contou tudo, inclusive sobre o filho de
vocês que está esperando. Tinham reatado enquanto
nós dois brincávamos de transar como bichos. Eu
jamais iria lhe dizer o que deve fazer de sua vida,
mas planejar em se mandar para a Espanha, sem ao
menos dizer quando iria, é demais para mim. Está
certo que não me deve satisfações, mas você
conhece minha situação.
Fiquei incrédulo.
Senti a raiva pulsando em minhas veias.
Nem vi quando dei um soco na mesa, chamando a
atenção do garçom.
− Isso é mentira! Como pôde acreditar em
Manuela, e ir embora sem ao menos procurar saber
a verdade?
− Não venha me culpar de seus erros. O
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culpado é você e não eu. Caí de idiota nessa


história. Assuma que é mais bonito.
− Não tenho nada para assumir. Essa
mulher é louca, e você mais ainda por acreditar
numa história sem cabimentos, sem provas... Olhe
para tudo que ela já fez? Acha mesmo que está
dizendo a verdade?
− Prove! – disse ela com raiva, tentando me
por contra a parede. Eu odiava esse tipo de atitude.
Jamais precisei provar algo a alguém, minha
palavra sempre fora apenas uma.
− Não preciso provar nada, menina... A
minha única justificativa é lembrá-la de todo o
cuidado e carinho que lhe dediquei, sem jamais
mentir uma palavra, nunca lhe pedi nada de volta.
− Como posso não dar atenção para uma
pessoa que se diz grávida de um filho seu? - ela
perguntou, dando ênfase à última palavra, e isso me
fez cair na realidade.
Não falamos ainda sobre o que descobri em
sua mochila. Na verdade estava com receio de
saber a respeito. Não sabia qual era a dimensão que
aquele assunto chegaria. Mas sabia que não tinha
como adiar.
− Como ela pode estar grávida de um filho
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meu, se já faz algum tempo que não a toco?


− Ela pode estar grávida desde aquela
época... Ou você esta me escondendo a
reconciliação com Manuela.
− Droga, Shaida! Eu já disse que isso não
existiu.
− E por que ela mentiria?
Não é possível que ela seja tão inocente
assim de não perceber a verdade...
− Que tal a ideia de nos afastarmos? – ela
me questionou.
− Não vejo razão para isso...
− Afinal, ela é tão linda e exuberante, não
sou páreo para esse tipo de mulher. – respondeu,
atiçando meus nervos.
Segurei firme em seu braço pela primeira
vez. Estava perdendo a paciência. Não era possível
que era tão cega que não conseguia enxergar as
coisas como elas são.
− Escute, menina... Se eu quisesse Manuela,
ela estaria comigo hoje. Não teria vindo atrás de
você. Não estaria insistindo tanto para mantê-la ao
meu lado a qualquer custo. É difícil de enxergar e
admitir que é você que eu quero? Que... - parei
quando seu olhar paralisou o meu.
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− Quê? - ela estava me pondo contra a


parede, e esta posição era desconfortável para
mim.
− Tenho uma ideia. Vamos acabar de vez
com este assunto. Assim que sairmos daqui,
procuraremos um hotel, descansaremos, porque
estou quebrado. E amanhã bem cedo vamos até a
cidade onde Manuela está, e tiramos a limpo essa
história.
− Está com medo de que ela esteja
realmente grávida?
Suspirei fundo para não ser grosseiro.
− Não. Eu tenho certeza de que ela não está.
E que isso não passa de um golpe para lhe
provocar.
− E se ela estiver? Quem garante que ela
não esteja de três a quatro meses de gestação?
− Você se esqueceu de que ela é ou era
casada? Quem garante que essa criança é minha?
− Então você é também como a maioria dos
homens, pensa realmente assim?
Senti que minha impaciência estava
chegando ao limite. Tudo bem, eu não tenho
certeza de nada, mas aquele assunto já tinha dado o
que tinha que dar naquele dia.
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− Não, Shaida, eu não penso assim. Estou


cansado, precisando dormir. Vamos encerrar esse
assunto por hoje, por favor? Aceite minha proposta
e vamos descansar um pouco. Amanhã bem cedo
vamos buscar as respostas.
Senti que ela queria hesitar, mas eu não
deixaria. Muito menos agora, que não terminamos
de conversar sobre todos os assuntos, e ainda tinha
aquele principal, sobre o teste de gravidez que caiu
da mochila.
− Olha, eu não deveria aceitar. E não é por
ciúmes ou algo assim. Também não é porque
duvido do que você tenha me dito. O problema está
em mim. Minha autoestima é frágil, estou tentando
me proteger para não me machucar. Não quero me
iludir com expectativas irreais.
− Tudo bem. Agora podemos ir? - eu queria
encerrar o assunto de vez.
Finalmente nos levantamos, e ela saiu ao
meu lado daquele café. Não foi difícil achar um
hotel, logo nas primeiras quadras encontramos.
Certamente ela se negou a dormir no mesmo quarto
que eu. Fiquei um pouco receoso de Shaida fugir
enquanto eu descansava, mas não havia como
forçá-la a dividir o mesmo espaço, principalmente,
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a mesma cama.
Estava um pouco distantes. Eu via isso em
seu olhar. Evitava proximidade e isso me deixava
aflito. Eu queria dizer de uma só vez o quanto ela
significava para mim, mas algo também me
prendia. Essa minha insegurança era passada a ela
com sucesso, não poderia culpá-la.

Acordei no meio da noite, perdido no tempo


e no espaço. Havia esquecido onde eu estava.
Quando lembrei, dei um pulo da cama e fui atrás de
Shaida. Bati em seu quarto, ela não abriu. Poderia
estar dormindo, como poderia não estar. Essa
Chapeuzinho era teimosa e destemida, não tinha
como ficar tranquilo quando ela cismava com algo.
Desci de elevador até a recepção. Estava detestando
aquele meu comportamento enlouquecido atrás da
menina, me lembrava do tempo em que ficava
assim o tempo atrás de Dolores. A diferença era
que agora eu era um homem maduro, sentindo-me
um frangote atrás de sua primeira namorada.
− Por favor, a hóspede que veio comigo e
está no apartamento 307, saiu? − não podia
acreditar que eu, um Lobo, estava prestando um
papel desses.
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− Ela desceu e está na piscina.


− Piscina? Nesse frio? - o espírito protetor
estava exacerbado, que nem percebi a exposição
perante o recepcionista.
− A piscina é aquecida.
Ao chegar à área da piscina me deparei com
Shaida flutuando na água, com os braços abertos e
olhos fechados. Cheguei perto da borda e fiquei
admirando a imagem esguia da menina brava,
como ela era bonita e não sabia... Eu tinha muito
que fazer por ela, tirar a mulher linda e presa por
debaixo dos traumas e escombros do passado.
Shaida se mexeu e me viu ali, como um
idiota olhando para ela. Ainda estava brava, com
cara de quem não quer papo. Pulou da boia,
mergulhou e saiu pelo o outro lado da piscina, me
ignorando com sucesso.
Peguei a toalha e dei a volta, tentando
alcançá-la e cobrir seus ombros. Quando consegui,
seu olhar de reprovação não me intimidou,
continuei com minha meta. Ela retirou a toalha e
jogou no chão.
− Você não pode tomar friagem, está gelada
a noite.
− E o que importa isso a você? – disse ela,
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chocalhando seu cabelo e espirrando as gotas em


meu rosto.
− Eu não a quero doente...
− Por quê? Será mesmo que você se importa
tanto comigo, a ponto de colocar aquela anta dentro
do seu quarto, nua em pelo, com a porta
completamente aberta? Ah sim, você é o Lobo das
mulheres mal amadas. Tinha me esquecido desse
detalhe.
Segurei em seu braço com força, precisava
pará-la.
− Quietinha agora... – fiz um gesto com a
outra mão.
− Não me peça para ficar quieta, porque
realmente sei que não temos nada para
conversarmos.
− Você tem certeza disso? – perguntei
olhando fixamente em seus olhos, o que arrepiou
seu braço.
− O que quer dizer? – perguntou, tentando
desviar o rumo da conversa. Ela sabia muito bem
onde eu queria chegar.
− Quero dizer sobre aquele teste de
gravidez que estava entre suas coisas na estação.
Ou estou enganado? Diga se eu estiver.
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Ela fez um silêncio irritante e saiu andando


como se eu não estivesse ali. Fui atrás dela e a
segurei pelos ombros, forçando-a a se virar.
− Chega de birrinha de menina mimada.
Você vai ter que falar comigo sobre esse assunto.
− Não tenho o que falar, porque esse
assunto não lhe diz respeito. – retrucou, fugindo de
meus olhos.
− Você tem certeza disso? – levantei seu
rosto pelo, tocando em seu queixo.
− Tenho. – ela não fugiu o olhar desta vez.
− Mas vamos falar a respeito assim mesmo.
− Você não pode me obrigar a nada.
− Okay, você pediu.
Num impulso, eu a peguei pela cintura,
colocando-a por cima de meus ombros com ela se
debatendo, socando minhas costas.
− Solte-me! – gritava.
− Acho melhor você ceder, pois não me
importo mesmo de subir assim pelo elevador de
serviço.
Como ela não parou, assim eu fiz. Quando
chegamos ao meu quarto, eu a coloquei na cama e
travei a porta com o cartão.
− Pronto... Agora vamos conversar.
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Eu vi chamas vindas do seu rosto em minha


direção. Acredito que seu desejo agora era de tirar a
minha pele.
− Vamos encerrar logo essa conversa. O
que quer de mim? – ela perguntou rispidamente.
− Você está grávida? – eu quis saber, e não
ia encerrar nossa conversa enquanto ela não me
dissesse algo convincente.
− Qual a diferença para você? Como já lhe
disse, você não tem nada a ver com isso.
− Eu sou responsável por você e por tudo
que diz respeito a sua pessoa.
− Estou grávida. – ela respondeu olhando
para o chão.
− Como isso aconteceu? – a resposta dela
parecia ser pouca para mim.
− Você realmente quer saber como uma
mulher coloca um bebê dentro de sua barriga?
− Quero saber quem é o pai dessa criança.
Um silêncio gélido foi propagado no ar. Se
sua intenção era me esconder algo, chegou o
momento de eu retirar dela toda a verdade, não
importando o que seja.
− De Pedro. – respondeu com o lábio
trêmulo.
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O teto pareceu desabar sobre minha cabeça.


Achei que ela iria me dar outra resposta, mas a
verdade agora doeu em mim.
− Quando estiveram juntos? – perguntei
com medo de ouvir o que ela tinha a me dizer.
− Não fiz o cálculo...
− Como não... O que quero saber é se o
bebê foi feito antes ou depois de nossa semana na
pousada.
− Irrelevante essa pergunta.
− Não é irrelevante... Não é! – gritei, e
depois me arrependi de ter gritado.
− O que quer saber? Detalhes de como
engravidei? Não precisa saber de mais nada, além
de que eu estou grávida e ponto final.
− Não se preservou com ele... – minha raiva
era aparente.
− Eu estava bêbada. Aconteceu e pronto.
Não tenho mais o que dizer.
− Bêbada? Você sabe que odeio quando
você bebe.
− Não é o que pareceu naquele dia... E
depois na pousada...
− Mas estava do meu lado. Eu sou o
responsável por você. Qualquer coisa que lhe
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acontecesse, eu estaria ali para ajudar.


− E se estivesse presente no dia em que essa
criança foi gerada, iria impedir como? Ah, para
com isso, você não tem o controlo sobre todas as
coisas.
− E se eu estivesse perto, você jamais
abriria as pernas para aquele fedelho. E agora? O
que pretende fazer?
− Lobo querido... Eu não tenho o que fazer.
Vou ficar grávida até o dia de parir.
Eu estava irritado. Não sabia digerir aquela
informação assim do nada, e deixar que ela se
misture a tudo que existe em mim, sem sentir o
processo. Eu não estava feliz com aquela notícia.
− Eu não sei o que pensar... Estou
decepcionado. Fizemos uma viagem juntos,
semanas atrás. Você estava feliz e plena. Eu... eu...
disse o que estava sentindo...
− Espera... Você quase disse o que estava
sentindo. Não conseguiu dizer, se lembra disso?
Fiquei de costas para ela e passei a mão
pelos cabelos.
− Não faz diferença agora, não é? Talvez eu
nem precise lhe provar nada sobre Manuela.
Minhas intenções em relação a você, quando vim
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aqui buscá-la, eram outras. Agora já não sei o que


esperar...
− Então as pessoas deixam de sentir apenas
apertando um botão? É assim que funciona para
você? – ela quis saber.
− Não... e é por isso mesmo... Eu tomarei
minhas providências em relação a você e àquele
moleque. Seu filho terá uma família.
− O que você está dizendo? – ela quase
berra, e eu quase a mando calar a boca.
− Estou dizendo que irão se casar. Isso é o
mais importante agora.
− Ei, está louco? Acha mesmo que vai
definir minha vida por mim? Eu sou uma mulher
forte, não preciso de um pai para o meu filho,
muito menos de um marido para mim.
− Vamos dormir agora! – eu ordenei.
− Vou para meu quarto, Lobo, e não vou
dormir agora.
Ela virou as costas, deixando-me louco.

Naquela noite não consegui dormi. Imaginei


Shaida na cama daquele moleque, parecia que via
as mãos dele sobre o corpo dela... que eu jamais
cederia a alguém. Estava louco para voltar ao Rio e
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resolver essa situação. Ele tinha muito a escutar de


mim. Eu confiei no sujeitinho de merda, e me
esqueci de que ele já reproduzia.
Não entrava em minha cabeça a ideia de
que Shaida foi capaz de transar com Pedro, antes
ou depois daquela semana tão intensa que tivemos.
Enfim, estou decepcionado, e mesmo assim, farei o
que for possível para apoiá-la. Mesmo desejando
nunca mais vê-la em minha frente. Será uma
batalha dura dentro de mim, aceitar o rastro de
outro homem sobre o meu, no corpo da menina que
se tornou o sol da minha vida.

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Capítulo 18

Os olhos viam o que ninguém mais podia ver na escuridão:


A sua boca, os seus olhos, as suas manias.
O inferno mais próximo do céu.

Assim que amanheceu, pegamos a estrada.


Ela seguiu introspectiva ao meu lado. Não fez
objeção em me seguir, mas não trocou sequer uma
palavra o tempo todo. Suas mãos pálidas
arrumavam os fios dos cabelos que se ouriçavam
com o vento. Eu sentia seu cheiro intensificando a
dor de não poder tocá-la. Nosso paraíso estava
radicalmente destruído. Era pó e silêncio.
Pensei em tocar no assunto da noite
passada, mas não houve espaço, também estava
sem disposição. Vou resolver isso do meu jeito,
assim que chegarmos ao Rio, tirarei a limpo essa
história com o moleque. Quero saber, olhando nos
olhos dele, que diabos ele aprontou com Shaida em
minha ausência. Era quase insuportável imaginar
que dentro de si havia uma vida que não fora
construída pelo sentimento que dediquei a ela.
Nossos momentos na pousada foram tão reais,

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estava difícil de acreditar que fui traído novamente,


sem ao menos poder escolher em prosseguir com
essa ilusão em minha vida. Agora eu posso, porém
com um coração quebrado.
Não sabia ao certo o que fazer sobre
Manuela. Iria até lá apenas pela questão de sua
suposta gravidez. Realmente era um assunto sério,
e não estava disposto a ser imprudente. Pode ser
que não esteja mentindo, como pode ser que esse
filho também não seja meu. As possibilidades são
muitas, mas nada me prova a sinceridade dessa
moça, que para mim é uma estranha agora. Mais
estranho ainda é admitir alguma possibilidade de
ter um filho com ela. Preciso acreditar que tudo não
passa de uma armadilha.
Não tenho que provar nada a Shaida, nunca
menti para ela. Não quero satisfazer seus caprichos,
certamente ela irá pensar que estaremos indo atrás
de Manuela para fazer suas vontades. Mas deixarei
que pense o que quiser. O importante é resolver
essa situação sobre a suposta gravidez, e seguir a
vida com o que me resta.
Assim que chegamos, liguei para o pai do
filho de Shaida. Não disse nada ao telefone, apenas
que viesse até minha casa para resolver uma
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questão. Como o esperado, ele atrasou uma hora.


Um irresponsável. Não consigo admitir que a
menina realmente tivesse escolhido um cara desses
para ter uma criança. Fiquei olhando-a de longe,
estava fingindo tranquilidade. Não me perguntou
nada, eu também não lhe disse absolutamente coisa
alguma. Eu estava puto e no amplo significado da
palavra.
Quando a campainha tocou, eu me apressei
em atender. Saí tropeçando no tapete, até me
deparar com aqueles olhos asquerosos. Pedro agora
era meu rival interior. Um moleque causando raiva
e dor em um homem feito, que perdeu para um ato
irresponsável.
Abri a porta e pedi que ele se sentasse.
Automaticamente os olhos de Shaida vieram a
nossa direção, e sua boca empalideceu. Eu tenho
certeza que por essa ela não esperava. Levantou-se
e colocou a mão na cintura, tentando encontrar uma
postura que pudesse intimidar.
− Que diabos está acontecendo aqui? -
perguntou intimamente chocada.
− Você achou mesmo que eu iria apenas
aceitar o que fez, sem sequer cobrar a
responsabilidade da parte de ambos?
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− Eu disse para que não se metesse em


minha vida... Não sou débil mental para decidir por
mim. Sou responsável.
− Não interessa. Existe uma criança menor
entre duas crianças irresponsáveis.
Os olhos de Pedro neste instante me
fitaram, depois seguiram na direção de Shaida,
olhando para seu corpo.
− O que está havendo aqui? - Pedro
perguntou a Shaida.
− O Lobo está sabendo sobre minha
gravidez. - ela respondeu, virando os olhos como se
isso fosse a coisa mais natural do mundo.
− Não estou apenas sabendo, como vou
tomar as providências necessárias.
− O senhor não deve se meter na vida de
Shaida. - disse o fedelho, e eu me agarrei àquilo
como um desafio. − Eu disse que tomaria conta
dela e vou fazer.
− Ah é? - ironizei. − Diga como...
Incentivando-a ir para São Paulo com seu filho na
barriga?
Ele se levantou, tentando vir em minha
direção.
− Pedro, deixa que eu resolvo isso...
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− Não, Shaida... Agora sou eu quem


tomarei as rédeas da situação. Vá pegar suas coisas,
vamos para minha casa.
− Daqui ela não vai sair. Você pode contar
com isso. - eu disse, entrando na frente da menina.
− Quem vai sair é você. E agora... - apontei para a
porta. − Eu vou assumir seu filho, seu vagabundo,
porque não serei conivente com duas pessoas nas
mãos de um irresponsável filhinho da mamãe.
Pegue sua cara de inútil e saia de minha casa agora!
- gritei, indo em direção à porta, abrindo-a.
Ele caminhou a contra gosto, sabendo que
estava em meu território, e que quem mandava ali
sou eu.
Ao sair, bati a porta e olhei para Shaida.
− Eu não sei quem presta menos. - disse eu,
com a raiva sapateando em minha cara.

Chegamos a Uberlândia depois de eu ter


persuadido a amiga de Manuela que trabalha no
shopping. Foi um pouco difícil, mas depois de
explicar a situação sobre a gravidez, finalmente
consegui o endereço da mãe da menina.
Assim que ela veio nos receber na porta da
casa simples de sua mãe, Shaida passou a sentir
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enjoo, fazendo ânsia. Correu até o carro e ficou lá


por dez minutos.
− O que veio fazer aqui com essa pessoa? -
perguntou Manuela ao fechar o portão por trás de
suas costas.
− Eu vim saber a verdade. - fui incisivo.
− Qual verdade? - perguntou na tentativa de
ganhar tempo.
− Você está grávida? - novamente fui
objetivo.
Ela sorriu ao ver o rosto de Shaida se
aproximando. Sua intenção era provocar, eu só
queria resolver tudo o mais rápido possível, para ir
embora.
− A coitadinha deu com a língua nos
dentes... - ironizou.
− Escute, garota, coitadinha é você, que
ninguém sabe quem é, e está aqui fugida da
polícia... Posso acabar com seu sonho de princesa
com três dígitos no celular. Quer ver? O 190 estará
aqui, pronto para te recolher. Não me provoque...
Seja uma boa piranha e abra sua boca.
Manuela arregalou os olhos imaginando que
Shaida é realmente porra louca é capaz de fazer o
que disse, afinal, foi ela que denunciou a quadrilha
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de Otávio.
− Alejandro, faça sua ninfeta calar a boca, e
vamos sair daqui da frente da casa de minha mãe.
Vamos somente nós dois. Então conversaremos.
− Negativo, piranha. Você vai dizer na cara
de Alejandro, tudo que me disse naquele dia.
− Parem as duas. Entrem no carro.
Realmente não precisamos levar o problema para a
família de Manuela. Vamos resolver longe daqui.
− Eu não acredito nisso... Essa vagabunda é
uma criminosa fugitiva... Não é justo todos
pagarem atrás das grades e ela continuar aqui,
pagando uma de boa moça.
− Cale a boca, Shaida! Entre na porra do
carro. Faça o que estou mandando. - ordenei,
sabendo que se não tivesse voz ativa naquele
momento, não conseguiria resolver o que me levou
até ali.
− Pois saiba, guria, que só estou aqui
porque ele me mandou para cá. Ele não me quer
presa... Entendeu?
Shaida me olhou com raiva, mas não tinha
uma opção. Sentou no banco de trás e fechou a
cara. Mas na primeira oportunidade, começou a
querer fazer do seu jeito.
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− Se eu soubesse que estava escondendo


essa puta, jamais teria vindo com você até aqui.
Eu não tinha uma resposta. Sabia que
realmente fiz isso, mas sem nenhuma pretensão
proposital. Apenas fui levado por uma consideração
pelo o que senti por Manuela no passado. Eu não
conseguia me culpar por isso.
− Viemos aqui com uma finalidade apenas.
Eu quero saber se você realmente está grávida, e de
quanto tempo? - perguntei estacionando o carro.
− Eu estou esperando um filho seu. Estou
com três meses de gestação. - ela encerrou o
assunto.
− Como pode ter certeza de que é meu?
Estava casada... Eu não posso confiar em você.
Mentiu, ludibriou... Enganou-me. Como pode me
provar essa história?
− Alejandro, vamos até um laboratório fazer
um teste de gravidez. - disse Shaida. O que me
causou um espanto. Se ela tem dúvidas quanto a
esta possibilidade, por que me infernizou a ponto
de querer praticamente me obrigar a vir até aqui
para saber a verdade?
− Eu não vou a lugar algum. - disse
Manuela.
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− Por que não, querida? Qual o seu medo?


Não disse que tinham voltado e que estavam de
passagem comprada para a Espanha? É uma bela
hora para provar ao Lobo que você não é uma
falcatrua.
− Eu não preciso disso... O Lobo sabe o que
ele fez bem gostoso comigo.
Não houve tempo para impedir, apenas vi a
mão fechada de Shaida socando a cabeça de
Manuela por trás. Quando ela foi reagir, eu segurei
seus braços.
− Se encostar um dedo em Shaida, eu te
levo agora para a delegacia. Agora vamos quietas
as duas para o laboratório.
Consultei pelo GPS o laboratório mais
perto, e seguimos. Ao chegarmos, Manuela entrou
a contragosto, comigo segurando-a pelo braço.
Minutos depois ela voltou, olhando para o chão. O
resultado sairia em uma hora, e eu precisava
acalmar os ânimos até lá. Estava nervoso, se desse
positivo seria a merda mais mal feita em toda a
minha vida.
− Era tudo mentira a reconciliação, vadia? -
Shaida perguntou a Manuela, cuspindo fogo pelas
ventas.
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Manuela não respondeu. Não disse uma


palavra sequer, enquanto eu censurava Shaida com
os olhos.
− Você não quis acreditar em mim, preferiu
agir pela pior forma. Eu jamais menti algo para
você. - disse eu com uma voz coberta de
ressentimento.
− Vocês estavam nus... - ela respondeu. -
Como queria que eu acreditasse?
− Ele não se lembra do que fizemos naquele
dia... - Manuela riu baixinho.- Somente eu sei da
verdade.
− Eu tenho certeza de que nada aconteceu. -
respondi convicto de que jamais transaria dormindo
e cansado.
− Pois reveja suas convicções, meu bem,
porque seu pau nunca esteve tão duro.
− Você é uma vadia, ordinária... Uma puta
baixa! - disse Shaida com a voz alterada.
Quando pensei que novamente sairia uma
nova discussão com socos e pontapés, a moça do
laboratório chegou com o resultado do exame. Ela
já ia repassando a Manuela, quando tomei de suas
mãos o envelope. Abri o papel sentindo o coração
em disparada. Não podia ser verdade. Não era para
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ser assim, mas o resultado deu positivo. Gravidez


de doze semanas. Abaixei minha cabeça e isso foi
o suficiente para Shaida sair correndo.
Fui atrás, mas nada do que eu fizesse,
parecia fazer minhas pernas alcançá-la. Num
impulso pulei contra suas costas e caímos no meio
da calçada.
− Perdoe, eu não quis lhe machucar... -
pedi, saindo de cima do seu corpo.
− Eu estava torcendo para que ela fosse uma
filha de uma puta mentirosa, mas ela disse a
verdade. - disse aos prantos.
− Calma, por favor, você não pode ficar assim...
Vamos descobrir se é meu... Só peço que se
acalme.
Eu a retirei do chão e a levei para o carro.
Precisava dizer algo que a fizesse parar de chorar,
mas nada tinha remédio. Decidi ser frio naquele
momento, pelo bem da criança que ela levava no
ventre.
− Não sei o motivo de tanto desconsolo...
Você não fez nada diferente, me traiu. Traiu minha
confiança.
Então ela parou de chorar e me olhou
indignada.
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− Assim que voltarmos, eu desejo que


sigamos nossas vidas. Não me impeça de eu me
afastar de você.
Talvez ela tenha razão. Eu não sei o que
farei com Manuela até descobrir de fato se sou o
pai de seu filho. Não havia respostas naquele
momento. Percebi que minha missão com as
mulheres mais uma vez falhara, e desta vez,
independente de qualquer resultado estava decidido
que abandonaria de vez minha carreira de Lobo.
Foi infinitamente triste ver Shaida arrumar
suas coisas e deixar a casa ao lado de Pedro. Eu
faria qualquer coisa para trocar de lugar e assumir
uma postura menos orgulhosa. Eu a perdi. Por
dentro, eu sabia que poderíamos dar certo, e que
nenhuma outra mulher me completava tanto a
ponto de me entrar pela minha pele e se fundir com
tudo que havia dentro de mim.
Antes de fechar a porta, ela veio até a mim
de forma pacífica, e disse num tom murmurante:
− Eu gostaria que me deixasse levar o
quadro de minha mãe.
Abaixei a cabeça sabendo que era uma
concessão difícil, mas justa. Fui até o quarto e
trouxe a tela, sem desejar olhar para os seus olhos.
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− Fique... Eu cuido do seu filho. Assumo-o


como meu. Eu cuido de vocês dois.
− Viva, Lobo. Viva...
− E o que vivemos? – perguntei,
gesticulando com as mãos.
− Ninguém irá apagar nossa história. Mas
agora precisamos diminuir nossos problemas. Foi
sufocante para nós dois, todos esses
acontecimentos. Preciso viver o luto de minha mãe,
que ainda não vivi, e me olhar como mãe desta
criancinha aqui. – pôs a mão na barriga.
Olhei para Pedro e pedi que ele esperasse lá
fora. Peguei nas mãos da menina e acariciei seu
rosto. Beijei sua testa e rocei em seus lábios.
− Eu ainda não disse... Sei que esperou para
ouvir, mas eu gosto muito de você. Muito.
Seus olhos choraram. Minhas mãos
secavam suas lágrimas. Cheirei seus cabelos e a
apertei em meus braços, desejando que ela fosse
feliz, mas do meu lado... Desejando que ela volta, o
quanto antes.
− Eu amo você... – disse ela. Não gosto
apenas...
− Eu... – ia dizer, mas ela se esquivou,
pegou a tela de minhas mãos e fechou a porta,
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assim como alguém que também fechasse a janela


do quarto de um tetraplégico que só tinha aquela
paisagem para olhar enquanto os dias passavam por
sua vida.
Senti duas lágrimas rolarem pela minha
face, era estranho chorar, mas um cara pode ser
valente, e mesmo diante de sua coragem é
suscetível de se envergar diante do amor.
O uivo de um Lobo é um som profundo,
como um berro longo, forçado com a boca
totalmente aberta; é emitido usando o hióide, um
pequeno osso que não é completamente rígido em
animais adultos, mas em mim, ele é feito de
sentimentos, solidão e desabafo.

Eu amo você, menina...

Repeti várias vezes até que me cansasse do


som de minha própria voz.
Como quando Dolores foi embora da minha
vida, voltei ao seu quarto e percebi que havia
esquecido algo, o par de pantufas que tanto
menosprezei. Peguei aquele projeto de sapato e o
abracei contra o peito, jamais me esquecerei da
imagem serelepe andando pela casa,
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completamente envolta por seus sonhos tolos e um


gênio do cão. A menina dos livros, que segurava
um nos braços por onde passasse.
Senti-me no chá e puxei o violão,
dedilhando uma canção que aprendi aqui no Brasil,
e que cantei para ela naquela noite na pousada. Foi
tão importante me sentir um cara comum pela
primeira vez. Foi tão necessário reconhecer meu
lado sensível quando seus lábios tornearam os
meus, e eu desejei me casar com ela ali mesmo,
esparramado no chão de piso de madeira, cantando
com meu sotaque desajeitado uma canção
brasileira, para a menina mais especial que
conheci. Então os sonhos foram se encolhendo
como se eu ficasse de deixá-los morrer
lentamente... Estava escrito em algum lugar
naquele livro de profecias, que eu nasci para ser
solitário. Talvez este seja o meu pior castigo por ter
infringindo a lei dos Lobos e ter lutado por uma
ideologia que só me fez desacreditar ao longo do
caminho.
Eu vi as luzes se apagarem e o dia
amanhecer. Depois percebi meu corpo deitado
sobre o piso, adormecendo abraçado às lembranças
de nossos momentos; do sorriso maroto dela; do
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toque suave das mãos tocando em meus cabelos; da


voz macia que me pedia para viver mais.

Semanas depois, após me informar de que


havia um jeito de testar a paternidade antes mesmo
da criança nascer. Eu fui até Manuela sem revelar a
minha intenção. Facilmente a trouxe para o Rio.
Certamente pensou que eu iria assumir a criança e
me casar com ela. Percebi no jeito cortês que veio
durante o trajeto.
O exame chama-se teste de paternidade pré-
natal não evasivo. Não falei nada a respeito, iria
pegá-la de surpresa, como se fosse apenas levá-la
ao médico para uma consulta periódica, e que lá
faríamos um exame para a prevenção de doenças
no bebê. O resultado viria em quinze dias. A pior
parte foi tê-la hospedada em minha casa enquanto
eu não tinha uma resposta definitiva.
Para passar o tempo, sem ter que dividir
nada de mim com ela, fiz sua vontade de irmos até
a algumas lojas que vendiam enxoval para bebês.
Comprei algumas coisas, mas mal olhei ou dei
importância. Sentia-me cabisbaixo, a falta de
Shaida era categórica em meu dia.
− Olhe para minha barriga... Você pode
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tocar nela se desejar... – dizia Manuela, e eu me


afastava. – Por que está agindo assim? – insistia.
− Porque não me sinto pai dessa criança, até
que isso se instaure em mim completamente.
− E quando será? Não acha que ela ou ele se
sentirá feliz crescendo ao lado dos pais?
− Não, não acho. Nenhuma criança é feliz
crescendo ao lado de pais que não se amam.
− Mas eu te amo. – respondeu ela com uma
expressão que parecia querer me convencer de suas
convicções.
− Não force uma situação... – estava
trabalhando minha paciência.
− Você ama aquela moleca? – perguntou
indignada.
− Eu gosto demais daquela menina... – nem
percebi ao dizer isso.
− Mas sou eu a mãe do seu filho, ninguém
mudará isso...
− Não importa... É ela que eu quero.
Manuela saiu do quarto e se dirigiu para a
sala, sabendo que jamais terá novamente o meu
carinho.

O dia tão esperado chegou, e com ele o


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prelúdio de uma manifestação astral em mim. Não


importando o resultado, estarei melhor, pois terei
uma direção. Fui pensando assim para o
consultório. Ainda não tinha comentado com
Manuela sobre o que significava o exame que
fizemos, mas ela me olhava desconfiada.
Quando o médico abriu o envelope com o
resultado, ele primeiramente olhou para Manuela.
Depois direcionou seus olhos em minha direção.
− O teste de paternidade deu negativo para
você, Alejandro.
Meus lábios e olhos sorriram
desesperadamente. Ao contrário de Manuela, que
se levantou da cadeira falando alto.
− O que significa isso? Que espécie de
exame fizeram em mim e em meu filho?
− Eu não sou o pai do seu filho. Está escrito
ali, no resultado do exame de sangue.
− Você não tinha o direito de fazer nada
sem meu consentimento. – ela disse de modo
alterado.
− Assim como você não tinha o direito de
mentir.
− E o que vai fazer comigo agora? Vai me
entregar também para a polícia?
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− Por favor, este não é o local apropriado


para esse tipo de discussão, queiram se retirar, por
gentileza. – pediu o médico.
Ao ganharmos a rua, ela novamente
perguntou.
− Vai me entregar para a polícia?
− Eu não seria tão covarde em mandar
prender uma mulher grávida. Mas acredito que
nosso assunto está encerrado.
− E a mim? O que será feito de mim? – ela
disse, parando no meio da rua.
− Vá pesquisar quem é o pai do seu filho. –
virei as costas e entrei no carro, com o coração
leve.
Agora poderia por em prática meu plano de
voltar para minha terra natal. Acredito que minha
missão como Lobo acabara ali. Todas as meninas
haviam tomado sua direção de acordo com suas
escolhas. Infelizmente eu não pude interferir, para
que pudessem enxergar a vida realmente como ela
é. Talvez eu me torne um lupus solitário, sem
âncoras ou margem de partida ou chegada. Estava
encerrando uma fase para dar início a outra...
Estava matando algo para deixar que novas raízes
nascessem. Mas eu tentaria pela última vez.
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Reservei a passagem pelo computador.


Fiquei horas olhando para o meu relógio... Eu tinha
uma semana no Brasil, para fazer exatamente tudo
que eu quisesse, e a única coisa que eu desejava era
me despedir de Shaida. Não sei como ela estava,
jamais atendeu uma só ligação minha. Mas eu ainda
tinha planos para nós, uma última e única tentativa
de fazê-la entender que a aceito como estiver. De
qualquer jeito. Assumo e a quero.
Passei numa joalheria e comprei um par de
alianças. Sei que me parece um tanto evasivo, mas
era tudo ou nada. Se não a convencesse de levá-la
comigo, iria perdê-la para sempre. Não conseguia
imaginar a ideia de ver o avião sumindo nas nuvens
e meu coração ficando ali, junto às lembranças que
se apagarão um dia.
Fui a um telefone público e tentei pela
última vez. Quando ouviu minha voz, silenciou.
“Eu sei que está aí...” – disse eu. “Diga
alguma coisa...”
“Como está sua mulher e seu filho?” – ela
perguntou.
“Não tenho mulher e nem filho.” –
respondi.
“Como assim? Eu os vi fazendo compras
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numa loja de bebê...”


“O teste de paternidade deu negativo.”
Novamente o silêncio do outro lado da
linha.
“Oi?” – insisti. “Vamos sair?”
“Não sei se seria uma boa ideia... Pedro
pode não gostar disso.”
“Onde a encontro?” – insisti.
“Alejandro... Estou comprometida...”
“Não me importo... Você não o ama...”
“Mas compromissos são compromissos...”
“Você não está com saudades?” – arrisquei.
Novamente o silêncio parecendo perpetuar.
“Realmente não posso... Sinto muito.”

Ela desligou.
Eu não disse que ia embora.
Peguei o celular e liguei para Pedro.
Precisava ver a menina, mesmo que para tanto
pedisse o consentimento do cara que ela se
relaciona. Jamais perderei meu senso de ousadia,
faz parte de mim ser assim.
Fiquei esperando que ele atendesse, devo
considerar que mesmo sendo um fedelho, ele tinha
um pé na audácia, pois muitas vezes também me
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encarou por causa de Shaida, não importando se ia


bater ou apanhar.
Assim que atendeu, não se surpreendeu com
minha voz do outro lado da ligação. Marquei com
ele no mesmo bar que fomos um dia na Barra da
Tijuca. Meia hora depois, eu estava lá, chegamos
praticamente juntos, o que fez com que eu lhe desse
pontos. Está melhorando... Certamente a
paternidade estava o fazendo crescer.
− Por que me chamou aqui? – disse ele, sem
se sentar.
− Estou em paz, quero apenas lhe pedir
algo. – respondi. – Senta-se. – pedi.
Ele se sentou, e continuou me encarando,
esperando pela resposta.
− Deve ser algo importante, não? – ele
estava ansioso.
− Ah sim, pelo menos para mim é
importante.
− Então diga logo de vez. – ele ensaiava
uma voz de seriedade para me impressionar.
− Quero seu consentimento para me
encontrar com Shaida. Sei que estão
compromissados, e não quero me encontrar com ela
sem seu consentimento, levando em consideração
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que a menina é importante para mim, e gostaria


muito de vê-la antes de voltar para o meu país.
− Quando voltará?
− Semana que vem. – respondi, disfarçando
a tristeza por ter que deixar ali todos os meus
apegos.
− Não sei... Bem... Talvez eu seja um
grande idiota em... – ele queria dizer algo, mas não
encontrava palavras.
− O que está querendo dizer? Pode ficar
tranquilo, ficará entre nós. Somos homens, não
somos?
− Eu sou homem. Não posso falar por você.
– respondeu de modo petulante. Preferi relevar.
Precisava ver Shaida.
− Quando posso vê-la? – perguntei,
trabalhando a humildade.
− Shaida é minha noiva hoje.
− Não... Tudo bem... Ninguém está tentando
roubá-la de você. Quero apenas me despedir da
menina, apenas isso.
− Estarei presente. – enfatizou.
− Por mim, tudo bem... Sem problemas.
Podemos pegar um cinema, nós quatro. Ou irmos
passar o final de semana na pousada... Eu acredito
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que ela vai gostar.


Logicamente que usei da maldade. A
pousada é o local onde mais me lembrarei da
menina. Foi lá que tudo foi revelado para nós, sobre
nossos sentimentos.
− A pousada onde... – ele parou.
− Continue... – eu estava gostando, surtiu
efeito. Evidentemente ela deve ter comentado com
ele que fomos muito felizes lá.
− Onde fizeram o filho de vocês?
Engasguei com o gole de cerveja. Talvez eu
tenha ficado por algum tempo de boca aberta,
apenas tentando captar a pergunta que ele me fez.
− Poderia repetir? – pedi gentilmente.
− Você entendeu... Mas agora é tarde
demais. Eu vou assumir Shaida e seu filho como
meu. Estamos de casamento marcado, e minha
família se encantou por minha noiva. Estou levando
tudo tão a sério, que nem contei a eles que a criança
não é minha. Prefiro deixar que pensam que é, pois
ninguém perceberá nada realmente. Shaida é meu
sonho desde quando me entendi por homem.
− Espera... Eu não sei se entendi ou se você
é um grande idiota em vir até aqui para me contar
uma mentira.
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− Não estou mentindo. Shaida me pediu


segredo. Além de tudo somos bons amigos, eu não
iria desapontá-la.
− Quero vê-la agora...
− Agora não será possível. Hoje ela terá
consulta, está na companhia de minha mãe.
− Sabe o que eu acho, Pedro?
Sinceramente? Foda-se sua mãe, você e sua família.
Eu vou agora até sua casa e vou trazer a minha
mulher e meu filho.
− Você não é louco de fazer uma coisa
dessas... – respondeu ele com os olhos arregalados.
Fique em pé, segurando a chave nas mãos.
Entrei em disparada no carro e fui atrás do que é
meu. A imagem de Pedro pelo retrovisor, gritando
no meio da rua na tentativa de me impedir era em
vão. Eu não conseguia nem pensar sobre a notícia.
Eu só não queria perder mais um segundo do meu
tempo.
Parei de frente a mansão do moleque, e logo
em seguida eu o vi, estacionando o carro quase em
cima do meu.
− Você não pode fazer isso! – ele gritava,
tentando me impedir de tocar o interfone.
− Opa, não encoste em mim. – pedi
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educadamente.
− Meus pais não precisam saber que Shaida
está grávida de você.
− Você foi muito imaturo, garoto, contando
seu segredo com ela, certamente achando que eu
não teria atitude... Não me conhece ainda...
− Achei que você respeitaria nossa decisão.
Olhei para ele, e toquei em seu ombro.
− Nunca espere de um Lobo, uma atitude
diferente, principalmente se isso diz respeito a sua
matilha.
− Podemos resolver isso em outro lugar...
− É aqui e agora. – respondi, tocando
novamente o interfone. Nada me impediria de levar
Shaida para casa. Mas ninguém atendia a porta.
Subi no capô do carro e passei a gritar.
− Shaida, saia aqui fora! – meu grito saiu
seguro e impactante.
Finalmente ela saiu na janela. Estava
assustada, parecia não acreditar no que via.
− Não saia, Shaida! – gritou de volta, Pedro.
− Se não sair, juro que pulo esse muro e te
tiro daí! – insisti.
− O que está acontecendo? – ela gritou da
janela.
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− Desça aqui. Estou esperando. – sentei no


capô para provar a quem quer que fosse, que eu
realmente tinha apertado o botão do foda-se.
− Você não pode fazer isso na porta da
minha casa. – apelou Pedro.
− Estou na estacionado na rua, moleque. E
faço o que quero por minha mulher.
− Ela é minha noiva. – justificou.
− Era. – finalizei.
Shaida surgiu no portão, ainda sem
entender.
− Onde estão meus pais? – Pedro
perguntou, tentando tomar alguma atitude.
− Saíram. Só estou eu em casa.
− Por que não me contou a verdade? – eu
quis saber.
Ela tentou se esquivar, fugindo do meu
olhar. Essa Chapeuzinho não sabe do que sou
capaz.
− Eu não sei do que está falando... –
respondeu.
Pulei do carro e me aproximei dela, que
tinha saudades no olhar, desejo nos lábios que
tremiam. Toquei em seu rosto, tudo em mim a
beijava.
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− Eu te amo, menina... Como nunca amei


ninguém... – finalmente eu consegui dizer o que
estava preso na garganta, e por orgulho não cheguei
a confessar naquele dia na pousada. Toquei em sua
mão, tirei a aliança que estava em seu dedo anelar e
joguei para Pedro. Coloquei a mão no bolso, e tirei
de lá uma caixinha preta de veludo. Abri. – Quer se
casar comigo?
Seus olhos se encheram de lágrimas. Eu a
abracei e ela sussurrou em meu ouvido.
− Eu sempre esperei ouvir isso de você...
− Eu quero ouvir a resposta para a minha
pergunta. – disse tocando em sua nuca, trazendo
sua boca para a minha, que a envolveu
completamente.
− Eu aceito me casar com você, Lobo.
Levantei-a pelo quadril, e coloquei suas
pernas em torno de minha cintura. Pedro nos olhou
e tentou me impedir de levar a minha Chapeuzinho
para o carro.
− Não podem fazer isso... – disse. – Meus
pais tomarão uma providência cabível.
− Diga aos seus pais, que agradeço muito
pelo o que fizeram por Shaida durante esses dias,
mas que infelizmente esta mulher é minha. E ela
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vai comigo para onde eu for.


Virei as costas e coloquei Shaida dentro do
carro. Acelerei e segui para algum lugar que
coubesse nossa saudade.
Tirei sua roupa, devagar, vendo toda ela se
espalhar pelo chão. Toquei em cada parte do seu
corpo, com paixão e avidez. Beijei sua boca
sentindo sua língua brincar dentro da minha,
mordi...
Toquei em sua nádega, trazendo-a para bem
mais perto, no desejo a colocar dentro de minha
pele, agasalhar, protegê-la de todo o mal ou todo
bem que pudesse tirá-la de mim novamente.
− Você nunca mais sairá de perto de mim,
Chapeuzinho...
Ela sorriu e se esfregou em meu peito,
colocando minha mão sobre seu ventre. Acariciei
nosso lobinho, sentindo a energia que vibrava sobre
nós. Meu pedacinho dentro dela... Tinha que ser
assim... Tinha que ser com ela...
Ajoelhei-me e beijei sua barriga
branquinha. Minha família estava diante de mim
como um caminho novo a seguir.
− Serei o teto, abrigo, proteção e cuidado. O
pai, o filho, o amigo, o companheiro, a lealdade. –
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disse eu, vendo-a se ajoelhar a minha frente


também. Senti sua respiração doce e o cheiro de
flores que eu tanto amava.
− Serei sua parceira, seu anjo protetor,
mulher, cúmplice e o que você precisar.
O beijo insano veio em instantes, quando
percebi, já estávamos nos arrastando pelo chão,
como dois lobos se procurando, infiltrando-se um
no outro, para descobrir que amar é bom e
transformador.

Era assim que deveria ser.

Como um sopro bom que chegasse e


mudasse tudo de novo, me trazendo a paz para
continuar meu caminho. Já não era mais um Lobo
solitário. Já não havia a necessidade de desejar
outras mulheres. Eu havia encontrado meu porto
seguro. Ela terá meu coração e fidelidade pela vida
toda, até que a morte nos separe.

Minha menina
Minha pequena
Pedaço de mim.

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Epílogo

Nem todo tempo é gasto à toa. Todas as


pessoas um dia acabam descobrindo o real sentindo
de suas vidas, o meu é Shaida e o nosso filhote.
Passamos momentos absolutos durante o tempo de
sua gravidez, confesso que me declarei para ela
durante todos esses meses, todos os dias e todas as
noites, para compensar as vezes que não consegui
dizer antes, e ela tanto esperou ouvir.

Laura saiu da prisão poucos meses depois, foi


até a mim para pedir desculpas. Seus olhos eram
sinceros, mas os meus estavam cheios, completos.
Desejei que ela seguisse seu caminho com toda a
sorte do mundo. Tempo depois me ligou, estava
matriculada na faculdade de seus sonhos. Sorri
feliz. Vê-la crescer era o que eu desejava do fundo
do coração.

Helena estava morando em Fernando de


Noronha. Optou por uma vida mais tranquila,
dedicando-se ao artesanato e novos caminhos.
Estava feliz, havia conhecido um pescador, um
homem simples e dedicado que fazia de seus dias,
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os melhores que já viveu.

Manuela deu a luz ao seu filho, e estava até


hoje tentando descobrir quem é o pai de seu filho.
Vivia infeliz, colhendo o que havia plantado.
Certamente não sabia o que mais queria para sua
vida. Todo o tempo que viveu, alimentou-se de
mentiras. Seu marido ainda estava preso, ela fora
obrigada a voltar a trabalhar no shopping para
sustentar sua criança. Tentou algumas vezes me
procurar, mas não teve sucesso. Desliguei o celular,
tirei o chipe e joguei fora. Estávamos de partida
para a Espanha. Aquela história trágica havia
ficado para trás.

Otávio foi condenado a pena de 30 anos de


prisão, mesmo que isso não seja cumprido no
tempo integral, pelo menos alguma lição ele levará
das consequências que deu causa. Vai envelhecer
sozinho e pobre. Terá muito tempo pela frente para
pensar sobre as maldades que fez.

Pedro se formou em Direito, dois anos


depois, e ainda mantem contato com Shaida. Jamais
vou impedir que minha menina tenha amizades que
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somam em sua vida. Ele entendeu que ela é minha,


e que juntos hoje somos um, e que nada nessa vida
é passível de nos separar.

Eu nunca mais tive notícias de minha mãe.


Talvez agora, depois de tudo que aconteceu, eu
esteja mais preparado para perdoá-la, mesmo que
tivéssemos que viver um longe do outro. Na
verdade, eu não sei se encontra viva, mas onde ela
estiver, certamente poderá sentir que seu filho hoje
é um homem que foi salvo por seus próprios
sentimentos.

Ver nosso pequeno Heitor nascer foi a maior


experiência vivida. Ele chorou e o céu de abriu para
mim, de um modo nunca visto antes. Eu, que não
tinha fé, chorei. Meu filho é a oração que nunca fiz.
Ele é o próprio som do meu coração.
Eu o peguei no colo e me manchei de sangue
e lágrimas. Não me lembro de ter chorado assim
antes, mas era um momento de alegria. Eu me vi
nele a continuação de uma estrada que fora um dia
tão difícil de caminhar. Seu pequeno peso em meu
colo, suas mãos que se mexiam, seu som estridente.

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Ah, Heitor, como você é vida em mim...


Como ver você fez de mim um homem tão mais
humano...

Eu a vi entrando na pequena capela, vestida


de branco, com uma coroa de flores na cabeça, em
seu colo, nosso pequeno usando uma túnica. O
sorriso dela clareava o ambiente. Seu sim tocou
minha alma. Sua entrega foi descomunal. Agora
estava tudo completo. A promessa havia se
cumprido em nossas vidas. Pela primeira vez, eu
pude sentir que realmente tinha uma família linda, e
que não havia nada neste mundo capaz de ser
comparado com esses momentos descobertos.

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