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Lazuli Larimar – “Lala, Bibliotecária”

“Não basta apenas asas para voar, você precisa também saber seu próprio peso, o seu
lugar.”

Era uma frase que talvez descrevesse a disciplina e lealdade de uma coruja, quieta,
reservada e observadora.
Mas como já fora dito um dia, “você nunca está vestido sem um sorriso”, neste
ditado, podemos dizer que Lala vivia sua vida nua, sem sorrir, sem viver. Seu
propósito era simples, cuidar de quem tem a informação, quem deveria saber e quem
não deveria. Servindo a seu mestre e seus desejos desde sua criação, desde sua
primeira lembrança.

Anos se passavam, a coruja crescia seu conhecimento, sua perspicácia, mas o que não
crescia era sua vontade, seu propósito já estava sendo feito, sem objetivo final,
pois ela já está no final, ela sabe o que o dia de amanhã aguarda.
– É tedioso – Dizia ela consternada com toda essa situação.

Ela nunca sequer tinha lembranças da aparência de seu mestre, de seu criador, ela
apenas conseguia sentir e ouvir sua voz, mandando-a fazer seu trabalho. Todos os
dias, o ciclo era o mesmo, talvez aquela biblioteca, cada livro tenha sido aberto e
finalizado duas vezes por ela, de modo que algumas informações se tornaram
borradas, talvez era o tédio, a monotonia, mas era algo, que corroía a mente dela.
Nem sempre a senhorita Lala possuía aptidão mágica, ela nunca chegou a
questionar a possibilidade, até que um dia.
A última gota pingou e um livro caiu, ao lado dela, aberto em uma página que
descrevia a anatomia de um ser parecido com uma coruja, alto e com olhos escarlate.
Ela virava a capa do livro para sua frente e via que o mesmo não tinha título ou se
quer algum tipo assinatura.
– É curioso – Dizia ela mexendo a cabeça para o lado.

Lendo aquele livro, descrevia sobre magia, arcana, conhecimento e palavras


estranhas, palavras que não faziam sentido ou correlação.
– Lua, Cidade, Pecado, Vida, Sangue, Demônios…? – Ela lia parte da sequência
das palavras, confusa.

Ela folhava este livro percebendo páginas em branco, páginas que não possuíam um
resquício de tinta, como se este livro estivesse completo, e isto, despertou algo
na pequena coruja, uma curiosidade, um experimento.

Após alguns meses, sua aptidão mágica cresceu de forma exponencial, e


consequentemente, ela escrevia nas páginas em branco daquele livro inacabado, dia
após dia, se tornando como uma pesquisa.

Após completar seus 18 anos, ela também completou em seu aniversário, sua pesquisa.
O livro antes inacabado tinha recebido seu ponto final, com um suspiro aliviada e
finalmente um leve sorriso esboçado em seu rosto, ela fechava o livro apenas para
se deparar com algo estranho.
O livro possuía agora um título e uma assinatura de autoria, escrito.. “XXXX por
XXXX”

Ela saltava um pouco fora de sua cadeira, confusa e com medo, o livro se abria em
um som estrondoso, braços, tentáculos, seja lá o que eram, saiam de dentro do livro
segurando a coruja por suas asas, puxando-a para perto do livro, suas garras
arranhando a madeira da biblioteca até ela ser consumida pela escuridão.

Seus olhos abriam apenas para se deparar com um vazio, um eterno pingar de um
líquido que não pode ser visto, um chão preto translúcido, refletindo sua imagem
desfocada, olhando aos lados ou para cima, era visto apenas vazio.
Passando seus próximos dias presa nesta escuridão, ela não sentia fome, apenas
solidão e arrependimento, ela queria apenas uma aventura, uma fuga da monotonia,
ela só queria sorrir.
Ainda treinando sua aptidão mágica ela tentava entender sua situação neste local,
para onde ir, como voltar, mas sem muita esperança até que, um dia sua voz se
propagou pela escuridão.
– Eu só queria ver o lado de fora – Ela dizia, se sentindo derrotada.

E então, algo fez um som, diferente do som de gotejar eterno deste lugar, uma fenda
se abria mostrando uma linda paisagem de uma floresta, ela sorria estendendo a mão,
não era um portal, apenas uma janela, ela chorava, e após alguns minutos, a fenda
se abria e por mais que ela implorasse e pedisse, a fenda não se reabria.

E após 5 longos anos, ela entendia sua situação, estava presa, porém, com um acesso
limitado a uma visão perfeita a algo, ela tratou durante esses anos esta fenda como
uma TV, assistindo e vendo coisas que ela tinha curiosidade, aos poucos o desespero
fora sumindo e sendo colocado no lugar uma determinação, uma vontade, de assistir
uma aventura de se imaginar lutando contra demônios, como em uma infância que ela
nunca teve.
Ela ainda treinava sua magia, conjurando todos os dias, entendendo a si mesma e
suas magias de forma mais eficiente, seu dia era refletido em: Estudar e praticar,
assistir algo, dormir.

Ela finalmente não sabia o que esperar do dia de amanhã, era excitante.
Até que um dia, a fenda mostrou a ela, alguém, um grupo.
Um grupo que agora estava lutando junto no inferno, um grupo que teve suas perdas..
Um grupo que desde o começo teve uma espectadora, Lala se apaixonou pelo grupo e
suas aventuras.
Todos os dias os acompanhando torcendo, chorando…
Até que em um dia..
Um som atrás da coruja, um som diferente da fenda, diferente do gotejar, olhando
para trás, ela só podia dizer uma coisa.
– Nashandra...? –

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