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O buraco do coveiro

No cemitério o coveiro cavava uma nova cova, mas estava tão distraído que não
percebeu que cavava demais. Após algum tempo ele olhou para cima e percebeu que não
conseguiria sair dali sozinho. Ele gritou para pedir ajuda, mas ninguém apareceu.
Passaram-se várias horas e ele já estava desesperado e com muito frio. Ele então escuta
o som de passos e grita mais uma vez por ajuda, até que um bêbado se aproxima do
buraco.
- O que aconteceu? - pergunta o bêbado.
- Você tem que me ajudar, eu estou preso nesse buraco, morrendo de frio - explica
o coveiro.
O bêbado responde:
- É claro que está com frio, tiraram toda a terra de cima de você. Não se preocupe,
pobre mortinho, vou te ajudar!
E o bêbado cuidadosamente começou a enterrar o coveiro.

Sucuri é capturada próximo à residência na capital (Rondoniaovivo, 20/04/2018)

Populares capturaram na tarde desta sexta-feira (20) uma cobra da espécie sucuri
de aproximadamente dois metros de comprimento.
O animal estava em uma calçada tentando invadir uma residência na Rua
Maldonado com Rua Percy Holder, bairro Novo Horizonte, zona Sul de Porto Velho.
A sucuri, segundo testemunhas, teria saído dos fundos do terreno de uma
conveniência nas proximidades.
Um morador fez a captura da serpente e com apoio de uma gestora ambiental que
passava pelas imediações foi colocada em um saco.
Uma equipe do Ibama foi acionada para remover a sucuri do local e devolvê-la ao
seu hábitat natural.

Continuidade dos parques (Júlio Cortázar)

Começara a ler o romance dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou
à leitura quando regressava de trem à fazenda; deixava-se interessar lentamente pela
trama, pelo desenho dos personagens. Essa tarde, depois de escrever uma carta a seu
procurador e discutir com o capataz uma questão de parceria, voltou ao livro na
tranquilidade do escritório que dava para o parque de carvalhos. Recostado em sua
poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante
possibilidade de intromissões, deixou que sua mão esquerda acariciasse de quando em
quando o veludo verde e se pôs a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem
esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a fantasia novelesca absorveu-o
quase em seguida. Gozava do prazer meio perverso de se afastar linha a linha daquilo
que o rodeava, e sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no
veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que além dos
janelões dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido
pela trágica desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e
adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do monte.
Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara ferida pelo chicotaço
de um galho. Ela estancava admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava
as carícias, não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um
mundo de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal ficava morno junto a seu peito, e
debaixo batia a liberdade escondida. Um diálogo envolvente corria pelas páginas como
um riacho de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde o começo. Mesmo
essas carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo e dissuadi-
lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir.
Nada fora esquecido: impedimentos, azares, possíveis erros. A partir dessa hora, cada
instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O reexame cruel mal se
interrompia para que a mão de um acariciasse a face do outro. Começava a anoitecer.
Já sem se olhar, ligados firmemente à tarefa que os aguardava, separaram-se na
porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao Norte. Do caminho oposto,
ele se voltou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu por sua vez,
esquivando-se de árvores e cercas, até distinguir na rósea bruma do crepúsculo a
alameda que levaria à casa. Os cachorros não deviam latir, e não latiram. O capataz não
estaria àquela hora, e não estava. Subiu os três degraus do pórtico e entrou. Pelo sangue
galopando em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul,
depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no
primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz
dos janelões, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na
poltrona lendo um romance.

O lobo e o cordeiro (Esopo)

Um lobo, ao ver um cordeiro bebendo de um rio, resolveu utilizar-se de um pretexto


para devorá-lo. Por isso, tendo-se colocado na parte de cima do rio, começou a acusá-lo
de sujar a água e impedi-lo de beber. Como o cordeiro disse que bebia com as pontas
dos beiços e não podia, estando embaixo, sujar a água que vinha de cima, o lobo, ao
perceber que aquele pretexto tinha falhado, disse: “Mas, no ano passado, tu insultaste
meu pai.” E como o outro disse que então nem estava vivo, o lobo lhe disse: “Qualquer
que seja a defesa que apresentastes, eu não deixarei de comer-te”.
A fábula mostra que, ante a decisão dos que são maus, nem uma justa defesa tem
força.

Mito da Lua (povo tucuna)

A Lua, também, antigamente, era mulher.


Um dia o Sol, que era irmão dela, plantou duas árvores chamadas goçá, para pintar
os dentes das Moças-Novas, com o sumo das suas folhas.
A irmã dele perguntou o que tinha plantado na roça. — Duas árvores de goçá.
A Lua foi procurar as árvores. Achou e pintou os dentes com o suco das suas
folhas. Os dentes dela ficaram de um preto bonito.
Quando o irmão veio, a moça tapou a boca e só lhe respondia de cabeça baixa.
Não queria que o irmão visse que havia roubado as folhas de goçá e pintado os dentes
com o suco das mesmas.
Um dia a moça teve vontade de deitar-se com o irmão. Quando a noite veio, foi
deitar-se com ele. Todas as noites ia deitar-se com o irmão.
Quando ela apareceu prenha o Sol pensou:
— Aqui não mora ninguém mais, só nós dois. Minha irmã se deitou comigo.
Nessa noite esperou a moça com uma cuia cheia de sumo de jenipapo e a pôs
debaixo da rede. E, quando a irmã se deitou com ele, devagarzinho lhe foi passando pelo
rosto o sumo do jenipapo.
A irmã, pela manhã, viu n'água o rosto todo pintado de jenipapo e que o irmão iria
saber quem se deitara com ele. Então fugiu para o céu.
Hoje ela é a Lua.
Às vezes é Moça-Nova. E, às vezes, também está prenha.
Relatório de Estágio (trecho)

[...] No dia programado para a aula, chegamos à escola com vinte minutos de
antecedência. O período que antecedera à aula compreendia o horário de intervalo dos
alunos (9h às 9h20). Quando os alunos voltaram à sala de aula, após o intervalo, nós já
tínhamos nos encontrado com o professor responsável pela turma e, desse modo, não
houve atraso para darmos início à aula.
No primeiro momento da aula, apresentamo-nos aos alunos e explicamos qual
seria o tema da aula. Embora os alunos tivessem acabado de voltar do intervalo, não
tivemos dificuldades, no início, com relação à bagunça ou conversas paralelas. Muito
disso se deve à presença, além da nossa, do professor Thiago (responsável pela turma) e
da professora Maria Cecília (nossa orientadora de estágio), o que fez os alunos se
sentirem, do nosso ponto de vista, mais “vigiados” ou mais cercados por figuras de
“autoridade”; no caso, os quatro professores.
Com relação ao desenvolvimento da aula, não houve muitas mudanças em
comparação ao que foi planejado. Entregamos aos alunos, primeiramente, uma folha de
xerox que continha uma notícia de jornal. A estagiária Naiana leu em voz alta a notícia,
que relatava um assalto a uma casa. Tendo em vista a leitura e a compreensão dos
alunos, eu comecei a questioná-los, usando o quadro, sobre os aspectos que
constituiriam, na visão deles, o gênero notícia de jornal [...].

Memorial (trecho)
RODRIGUES, Ádria Maria Ribeiro. Rondonópolis, Mato Grosso, 2006.

[...] Falar sobre minha infância em Paraisópolis, cidadezinha localizada nas


montanhas de Minas Gerais, me traz um sentimento gostoso de saudade. Lembro-me,
como se fosse hoje, das ruas da igreja, da praça, da escola... Aprendi a ler com a Cartilha
“O circo do Carequinha”. Era um livro branco...
Já na adolescência, lia às escondidas obras como A Normalista, de Adolfo
Caminha, A Carne, de Júlio Ribeiro e outros que minha avó, minha doce cúmplice do
mergulho no que era deliciosamente proibido... [...]
Penso que a pessoa que tem uma história significativa de leitura, certamente terá
um olhar mais crítico em relação ao mundo e construirá novos caminhos para sua
existência na sociedade. [...] Não escolhi ser professora. Fui me compondo aos poucos.
Ingressei no Curso Normal por exigência do meu pai, que acreditava estar oferecendo às
suas filhas uma profissão...
A partir dessa experiência, tive certeza dos caminhos que iria trilhar. Não sei como
explicar esse sentimento, talvez fosse isso minha intuição. Na minha vida as coisas
acontecem sempre movidas pelo desejo do coração... [...]
Inicio minha trajetória como professora da Escola Estadual Joaquim Nunes Rocha,
onde trabalhei dois anos com Educação Infantil... Lembro-me da sala de aula, era meio
improvisada, bem pequena...
Começo, então, ainda menina, a construir minha identidade profissional que vai se
constituindo articulada com a minha identidade pessoal. Na época não era capaz de
perceber e refletir sobre as condições de trabalho que me eram oferecidas e nem fazer
uma leitura crítica daquele contexto perverso, desumano e excludente. [...] Apesar da
minha ingenuidade pedagógica, do desconhecimento da dimensão política e social do
fazer pedagógico, carregava saberes pessoais que se articulavam aos saberes da
docência... [...]

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