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Sugestão de trabalho: Recorte as partes de todos os textos e reagrupe essas partes, de modo a haver partes

de todos os textos em cada montinho. Entregue um título para cada grupo de alunos. Cada grupo terá de remontar o texto
pertencente ao título que lhe coube, recebendo dos colegas os trechos pertinentes. A aula vai virar uma feira, porque cada
grupo terá de entregar aos colegas as partes necessárias para a reconstrução dos textos. Para isso, todos os alunos terão
de ler tudo que receberam, separar o que considerarem adequado para cada cada grupo, de acordo com os títulos de
cada um. São 8 textos, 8 grupos então.

Depois de recebidos e conferidos, os alunos vão colar em uma folha os textos na ordem correta. O/A
professor/a precisa estar no meio dos alunos, orientando essa montagem, chamando a atenção para um detalhe ou outro,
que dê as pistas para essa construção. Conversem sobre os gêneros textuais vistos e o que mais você achar pertinente.

Else Emrich

Seleção de textos do site https://www.ufmg.br/cienciaparatodos?page_id=222

LENDA DO GUARANÁ

O guaraná é um fruto da Amazônia usado para fazer uma soda ou refrigerante de sabor
doce e agradável. É uma bebida bastante popular na Amazônia. A origem desse fruto é explicada
pela seguinte lenda: um casal de índios pertencente à tribo Maués vivia por muitos anos sem
ter filhos e desejava muito ter pelo menos uma criança.
Um dia, eles pediram a Tupã uma criança para completar sua felicidade. Tupã, o rei dos
deuses, sabendo que o casal era cheio de bondade, lhes atendeu o desejo trazendo a eles um
lindo menino.
O tempo passou rapidamente e o menino cresceu bonito, generoso e bom. No entanto,
Jurupari, o deus da escuridão, sentia uma extrema inveja do menino, da paz e da felicidade que
ele transmitia, e decidiu então ceifar aquela vida em flor.
Um dia o menino foi coletar frutos na floresta e Jurupari se aproveitou da ocasião para
lançar sua vingança. Ele se transformou em uma serpente venenosa e mordeu o menino,
matando-o instantaneamente.
A triste notícia espalhou-se rapidamente. Nesse momento, trovões ecoaram na floresta
e fortes relâmpagos caíram pela aldeia. A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os
trovões eram uma mensagem de Tupã, dizendo que ela deveria plantar os olhos da criança e
que deles uma nova planta cresceria dando saborosos frutos.
Os índios obedeceram ao pedido da mãe e plantaram os olhos do menino. Nesse lugar,
cresceu o guaraná, cujas sementes são negras e têm um arilo em seu redor, imitando os olhos
humanos.
A loura acordou

Estava dedicado a leituras nas antropologias e morava com meus pais e meus irmãos
num “apertamento”. Apesar da janela mais encantadora que já tive, não conseguia me
concentrar para escrever um trabalho com trechos recolhidos e anotados em fichas. Precisava
escrever, rascunhar meu texto.
Então tive a ideia de pegar tudo e levar para uma biblioteca perto de casa. Assim, um
dia depois do almoço fui para lá. Era toda uma única sala, num lado, os livros, no outro, as mesas,
mas as mesas eram mais para crianças que adultos. Havia umas bibliotecárias e jovens leitores
e leitores. E fiquei lá totalmente absorto no meu trabalho.
Quando me dei da hora, levantei-me, após guardar tudo e fechar minhas caixas, notei
que uma loura parecia acordar de um cochilo numa das mesas. Era a última funcionária da
biblioteca que esperava eu sair. Era bem roliça e por isso me lembrava uma mulher holandesa.
Tive vontade de voltar outras vezes, mas acabava tendo alguma outra coisa para fazer.
Eu dava tudo para saber o que ela pensou sobre minha presença inusitada, estranha, naquela
tarde, porque ela entrou nas minhas lembranças, afinal, dormindo, velava por meu trabalho.

AMANHECER

Hoje amanheci pensativa, os fantasmas do meu pensamento invadiram meu corpo, tal
ponto de sentir uma ansiedade terrível. A minha terapeuta disse que não deveria ter medo dos
meus pensamentos, que não poderia deixá-los tomar conta do meu eu.
Então vim para minha casa muito ansiosa, li a bíblia e não sentia as palavras de Deus
entrando no meu coração, mais uma vez meus pensamentos fazendo o meu pobre corpo sofrer,
então resolvi tomar um paracetamol, pois sentia a cabeça pesada, uma falsa dor de cabeça.
Depois de tantas idas e vindas, peguei o livro Ágape e li alguns parágrafos e sentia o
meu corpo sofrer com a tal da ansiedade, mas após ler o livro, animei e saí para ir ao dentista,
saí meio ressabiada, mas fui. Quando voltei li alguns parágrafos no ônibus e me senti melhor.
Após chegar em casa lembrei-me do conselho da minha terapeuta, que eu deveria fazer
uma caminhada, nada forçado, observando a paisagem e as pessoas. Graças a Deus agora à noite
sinto-me melhor, meu corpo já não sofre com os meus pensamentos, então entendi que devo
pedir a Deus não para tirar os pensamentos que me assustam, mas para eu apreender a lidar
com eles e não deixá-los me causar sofrimento.
MITO INDÍGENA DO SOL

Antigamente, muito antigamente, no tempo em que vivia entre os Tucuna, o Sol era um
moço forte e muito bonito. Por ocasião da festa de Moça-Nova, o rapaz ajudava sua velha tia no
preparo da tinta de urucum. Ia à mata e trazia uma madeira muito vermelha, chamada
muirapiranga. Cortava a lenha para o fogo onde a velha fervia o urucum para pintar os Tucuna.
A tia do moço era muito mal humorada, estava sempre a reclamar e a pedir mais lenha.
Um dia o Sol trouxe muita muirapiranga e a velha tia ainda resmungava insatisfeita. O rapaz
resolveu então que acabaria com toda aquela trabalheira.
Ele olhou para o fogo que ardia, soltando longe suas faíscas. Olhou para o urucum
borbulhante, vermelho, quente. Desejou beber aquele líquido e pediu permissão à tia, que
consentiu: - Bebe, bebe tudo e logo, disse zangada.
Ela julgava e desejava que o moço morresse. Mas, à medida que ia bebendo a tintura
quente, o rapaz ia ficando cada vez mais vermelho, tal qual o urucu e a muirapiranga. Depois,
subindo para o céu, intrometeu-se entre as nuvens. E passou desde então a esquentar e a
iluminar o mundo.

LENDA DA VITÓRIA RÉGIA

Conta a lenda que uma bela índia chamada Naiá apaixonou-se por Jaci (a Lua), que
brilhava no céu a iluminar as noites. Nos contos dos pajés e caciques, Jaci de quando em quando
descia à Terra para buscar alguma virgem e transformá-la em estrela do céu para lhe fazer
companhia. Naiá, ouvindo aquilo, quis também virar estrela para brilhar ao lado de Jaci.
Durante o dia, bravos guerreiros tentavam cortejar Naiá, mas era tudo em vão, pois ela
recusava todos os convites de casamento. E mal podia esperar a noite chegar, quando saía para
admirar Jaci, que parecia ignorar a pobre Naiá. Mas ela esperava sua subida e sua descida no
horizonte e, já quase de manhãzinha, saía correndo em sentido oposto ao Sol para tentar
alcançar a Lua. Corria e corria até cair de cansaço no meio da mata. Noite após noite, a tentativa
de Naiá se repetia. Até que ela adoeceu. De tanto ser ignorada por Jaci, a moça começou a
definhar.
Mesmo doente, não havia uma noite que não fugisse para ir em busca da Lua. Numa
dessas vezes, a índia caiu cansada à beira de um igarapé. Quando acordou, teve um susto e
quase não acreditou: o reflexo da Lua nas águas claras do igarapé a fizeram exultar de felicidade!
Finalmente ela estava ali, bem próxima de suas mãos. Naiá não teve dúvidas: mergulhou nas
águas profundas e acabou se afogando.
Jaci, vendo o sacrifício da índia, resolveu transformá-la numa estrela incomum. O
destino de Naiá não estava no céu, mas nas águas, a refletir o clarão do luar. Naiá virou a Vitória
Régia, a grande flor amazônica das águas calmas, a estrela das águas, tão linda quanto as estrelas
do céu e com um perfume inconfundível. E que só abre suas pétalas ao luar.

O conto de Blimundo

Havia um boi chamado Blimundo. Era grande, forte e amante da vida e da liberdade.
Além disso, era muito amado e respeitado por todos, pois sabia pensar por si próprio, além de
ser muito gentil com todos. Ao saber da existência de criatura tão autêntica, Senhor Rei
perguntou-se que boi seria esse, que ousava ser tão livre em seus posicionamentos e fazendo
com que os outros bois lhe seguissem o exemplo. Se ele continuasse assim, quem faria, depois,
o trabalho pesado do reino?
Ordenou, então, que Blimundo fosse pego morto ou vivo, a trazido até a sua presença.
Os homens do Senhor Rei saíram em busca do boi, mas este os encontrou primeiro e deu um
fim neles. Ao saber da notícia, Senhor Rei reuniu os homens mais valentes do reino e os mandou
capturar Blimundo, e os homens partiram. O boi, novamente, deu cabo dos homens. Quando
recebeu tão triste notícia, Senhor Rei desesperou-se, mas logo ouviu falar de um rapaz que fora
criado no borralho da cinza e que se prontifica a ir buscar Blimundo.
O menino pediu um cavaquinho, um “bli” d’água e uma bolsa de “prentém”. Além disso,
quando retornasse queria a metade da riqueza do reino e a mão da princesa. Senhor Rei
concordou e o jovem partiu. Então o jovem sai em busca do boi cantando uma canção que deixa
Bilmundo encantado, na qual o jovem diz que, se Blimundo for com ele, casará com a Vaquinha
da Praia. O boi pergunta se é verdade, o rapaz responde que sim. O jovem pede a Blimundo que
o deixe montar, pois o caminho é muito longo. Ele deixa com a condição de que o rapaz continue
cantando. Senhor Rei colocou a tropa em pontos estratégicos para receber Blimundo. Ao ver o
boi chegar, carregando o rapaz no lombo, cansado e feliz, Senhor Rei não acreditou.
À porta do palácio, o rapaz pediu para descer do lombo de Blimundo a fim de fazer a
barba antes de ser apresentado à Vaquinha da Praia. O jovem conta o seu plano ao Senhor Rei
e leva até o boi um barbeiro com seus instrumentos. Atrás deles, Senhor Rei. O barbeiro,
enquanto Blimundo sonha com o amor da Vaquinha da Praia, corta-lhe a garganta com a
navalha. Antes de morrer, o boi atinge o rei com uma patada que o mata. O rapaz e o barbeiro
fogem, mas jamais esquecem o último olhar de revolta de uma criatura cujo único erro foi
acreditar na harmonia, na justiça e na liberdade.
A lenda amazônica de Boiúna

A Boiúna é uma cobra gigantesca que vive no fundo dos rios, lagos e igarapés da
Amazônia, num lugar chamado “boiaçuquara” ou “morada da cobra grande”. Essa cobra tem um
corpo tão brilhante que é capaz de refletir o luar. Seus olhos irradiam uma luz poderosa a qual
atrai os pescadores que se aproximam pensando se tratar de um barco grande. Mas quando eles
chegam perto dela, viram seu alimento. Ao ficar velha, a cobra vem para a terra. Como é muito
grande e desajeitada fora d’água, para conseguir alimento, ela conta com a ajuda da centopeia
de 5 metros.
A Boiúna pode se transformar nas mais disparatadas figuras: navios, vapores, canoas…
para enganar e engolir as pessoas. Tal é o rebojo e as cachoeiras que faz, quando atravessa o
rio, que o ruído produzido recorda o efeito da hélice de um vapor. Os olhos, quando fora d’água,
assemelham-se a dois grandes archotes, a desnortear os navegantes. Sua lenda faz parte do
ciclo mítico de “como surgiu a noite”, segundo a qual a Cobra Grande casa a filha e manda-lhe a
noite presa dentro de um caroço de tucumã. Mas os portadores, curiosos, abrem o caroço,
libertam a noite e por isso são punidos.
Conta outra lenda que, em certa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida de
Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz duas crianças-cobras gêmeas: um menino, que recebeu
o nome de Honorato (ou Nonato) e uma menina chamada Maria. Para ficar livre dos filhos, a
mãe jogou-os no rio, onde sobreviveram como cobras gigantes. Honorato não fazia mal a
ninguém, mas sua irmã era muito perversa e causava sérios prejuízos aos outros animais e às
pessoas. Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la.
Em algumas noites de luar, Honorato perdia seu encanto e adquiria a forma humana:
transformava-se em um belo e elegante rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal
na terra. Para que se quebrasse definitivamente o encanto de Honorato, era preciso que alguém
tivesse muita coragem, para derramar leite na boca da enorme cobra e fazer um ferimento em
sua cabeça até sair sangue. Mas ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro. Até
que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato do terrível
encanto, fazendo com que deixasse de ser cobra d’água e vivesse na terra com sua família.
O MORCEGO DOMESTICADO

Na casa de meus pais, no interior de Minas, havia uma banheira antiga que ficava no
porão e que só eu usava. Chamávamos meu banheiro de “verde” em contraposição ao
“amarelo” de meus pais e do “rosa” social, como se habitássemos uma mansão! A “mansão da
esquina”, um sobradinho, começou a se parecer mais com a casa dos Adams quando um
visitante inesperado veio trazer jabuticabas para chupar aqui. No início, pensei tratar-se de um
calango gigante, daqueles que caíam pesadamente da trepadeira do telhado no chão da
varanda. Mas minha mãe sorriu seu sorriso de experiência índia e disse, categórica: “É morcego”.
Vi que ela tinha razão: quando eu chegava com o carro na garagem e, ao abrir o portão
e iluminar a escuridão, algo voava em direção à liberdade; desta vez, minha mãe julgava ser um
pássaro, eu já apostava no morcego. Mas o mais interessante é que o bicho usava a toalete, quer
dizer, ele vinha fazer suas necessidades na banheira _ não no vaso, como gatos e cachorros
ensinados, mas isso já é querer demais!
Então uma noite, depois de uma viagem, resolvi conferir se alguém mais havia usado
meu banheiro em minha ausência, e ei-lo, o morcego, dependurado no cano do chuveiro,
gordinho, chupando! Gritei a família inteira e eles desceram correndo. Meu pai queria pegar a
espingarda de chumbinho, mas tive medo que ele errasse a pontaria e furasse o cano d´água.
“A bala pode ricochetear no azulejo e ferir alguém”, completou minha mãe.
Nessa conversa, nosso hóspede invasor saiu voando para fora da garagem, pois as luzes
acesas o tinham espantado. Foi então que decidimos tomar uma providência. “Temos que
chamar alguém pra matar o vampiro. Ou ele ou eu.” “Matar não pode, os ecologistas não
deixam.” “ Mas a mordida desse bicho é igual à de rato, transmite raiva”, completei. “Chama
aquele rapaz meio doido, ele já matou um monte no sótão, uma vez”. “Já disse que é proibido,
gente, tem que chamar o veterinário que ele coloca um remédio num lugar para espantar os
morcegos”. “Cacá disse que na fazenda do pai dela tem um sujeito com boa pontaria”. “Eu podia
ter matado, meu tiro é bom, já matei, há trinta anos atrás, uma aranha caranguejeira...” “Pai, há
trinta anos atrás essa mão não tremia.” “ Gente, já disse que onde põe o remédio o bicho não
volta, se matar eles voltam.” “Eles? Então é mais de um?”
Vieram os técnicos e colocaram uma tela para impedir o morcego de entrar. Funcionou.
Na escola em que eu trabalhava, um outro morcego passou por mim em direção ao telhado do
velho casarão. Um aluno que estava por perto me tranquilizou: “ele é herbívoro, só come frutas.
Lindo, não?” O bicho era inofensivo, então...e eu com medo de um vegetariano!

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