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Nome: Kaeru Kentaro

Origem: Nasceu numa família de bruxos

Cidade: Urausu - barril de vinho maquiado Usuko-nesan (mascote), plantações de uva. 1,9k

Familiar: Himari, a Dragoa

Aparência: Ruivo

Cicatriz: Corte longo em uma perna, precisa de bengala.

Personalidade: Honesto, você dará sua vida para cumprir o que prometeu.

CAMINHOS DA MAGIA
Animalismo: Básico Necromancia: Básico
Convocação: Básico Demonologia: Básico
Cósmico: Básico
Elemental: Básico
Encantamento: Básico
Herbalismo: Básico

CABANA
Ateliê: Destruído
Jardim: Destruído
Laboratório: Destruído
Porão: Destruído
Quintal: Destruído Cemitério: Destruído
Sótão: Destruído

MÁ FAMA: 0
O DESTINO DE KAERU KENTARO

Entre as famílias de bruxos no Japão, as de Hokkaido eram especialmente versadas em


todas as áreas da magia, principalmente pelo fator de ser a ilha menos populosa e mais isolada
do país, a famosa “roça”. Por conta disso, os bruxos puderam se especializar e crescer sem ser
descobertos ou subjugados pela tecnologia. Estamos no ano de 2022, é outono, a temperatura
está mais amena e as folhas já começaram a cair, nessa época as famílias decidem para onde
mandar seus filhos quando completam 15 anos para aprimorar sua magia.
Meu nome é Kentaro, completei 15 anos em agosto, como todo bom virginiano eu
preparei tudo o que era necessário em minha mala, incluindo mudas extras de roupas, minha
varinha mágica, o pergaminho de invocação do meu familiar e meu kit de sobrevivência, afinal
eu não faço ideia de para onde serei levado.
Eu me olho no espelho para ver se está tudo nos conformes e percebo que meus
cabelos continuam “rebeldes”, eu herdei os chamativos cabelos ruivos da mamãe, que é
holandesa, o que meu pai, um japonês tradicional, sempre odiou – Ele só casou com a minha
mãe por causa de seu incrível potencial mágico, para criar herdeiros de elite. Aliás, sempre
sofri preconceito se comparados aos seus irmão e irmã que haviam herdado melhor os traços
japoneses do papai e os poderes da mamãe, eu sou considerado meio imprestável pela família.

Ah! O papai de chama Gintaro, ele tentou me matar diversas vezes durante os nossos
treinamentos mágicos, inclusive quase decepou minha perna fora, o que causou danos
permanentes e hoje faz com que eu precise de uma Bengala, pois fiquei manco. Isso foi por
volta dos meus 12 anos de idade e quase não ligo mais para essa “cicatriz”.
- Então é hoje... – o garoto de cabelos vermelhos respirava fundo e se preparava para a
reunião de família.
A família Kaeru era especializada em magia temporal e espacial, eram conhecidos
como os gênios de Hokkaido e os maiores bruxos do clã estavam reunidos em uma grande
convenção aqui em casa, eu sou o mais jovem bruxo “adulto” da família.
- Atenção todos – Gintaro, meu “querido” pai, falava em alto e bom tom – Eu e o
conselho dos Kaeru decidimos hoje que Kentaro vai para a cabana da cidade de Urausu.
Excelente! Hokkaido, como já expliquei para vocês, é a “roça” do Japão. Pois bem, a
maior “metrópole” daqui é a capital, Sapporo, onde vivem as maiores famílias de bruxos,
inclusive a minha, aqui vivem cerca de 2 milhões de pessoas, mas nem se compara a Tóquio,
com os seus 14 milhões de habitantes. Já a “cidade” para onde vão me mandar, possui uma
“colossal” população de 1,9 mil pessoas, isso mesmo, tem menos pessoas lá do que alunos na
minha escola.
- Um brinde à jornada de meu filho para merecer o sobrenome que carrega! – falava
meu pai em um tom irônico enquanto segurava a risada.
Eu só aceitei de cabeça baixa, abracei minha mãe e minha irmã mais velha – o meu
irmão caçula estava na aula de poções com nossa tia. Então segui para pegar o trem, que me
levaria até a estação mais próxima da floresta de onde ficava a cabana de Urausu. Cabanas,
como são chamados os portais que separam o mundo material do espiritual, são literalmente
isso, cabanas. São barraquinhos de madeira no meio do nada, que concentram grande
quantidade de energia espiritual e por conta disso atraem muitas criaturas mágicas e tornam o
aprimoramento da magia pessoal de bruxo, mais fácil.
- Serão 6 horas de trem, é melhor eu tirar um, bom cochilo, porque essa viagem vai ser
cansativa, nem acredito que estou indo para o fim do mundo, e depois vou ter que me arrastar
para o meio do mato e me esconder ainda mais – eu pensava, já exausto da viagem que sequer
tinha começado.
Sempre que eu durmo, eu tenho um pesadelo com o dia em que meu pai me “aleijou”,
nesse dia ele trapaceou e usou uma magia que ele mesmo havia me proibido de usar, a partir
daí eu fiz uma promessa para mim mesmo: “Serei sempre honesto e darei minha vida se for
preciso, para cumprir o que prometo”. Uma brusca parada me desperta de minha soneca
profunda, era o trem chegando na estação de Urausu. Assim que abro meus olhos, vejo um
grande banner com o desenho de um Barril de Vinho todo maquiado e segurando uma garrafa,
a maquiagem servia para esconder as rachaduras na madeira, pois como era um barril
“fêmea”, ninguém podia saber a sua idade.
- Essa é a Usuko-chan, só tinha ouvido falar, mas jamais pensei em ver essa mascote
logo de cara – Sim, a cidade é tão grande que tem uma mascote da única coisa que eles são
reconhecidos por fazer, plantar uvas para vinicultura.
Após descer da estação, andei por cerca de 30 minutos e cheguei até a floresta de
Saruyama, ela não tem um nome específico chamado pelos Ningen – é como nós bruxos
chamamos quem não é bruxo, significa “humano” e é extremamente pejorativo, afinal somos
humanos também, mas né. Essa floresta possui esse nome entre os bruxos por dois motivos. O
primeiro é porque ela possui muitas criaturas mágicas se comparadas às outras florestas do
Japão, e no horóscopo chinês o Macaco representa a magia de Animalismo, o que justifica o
“Saru” no nome – que significa macaco em japonês. A outra parte do nome, “Yama”, significa
montanha em japonês, e é o segundo motivo da floresta possuir esse nome, porque ela fica no
topo de uma montanha que pode ser vista de qualquer lugar da cidade.
- Então aqui é a tal cabana, posso sentir a essência da magia fluindo por ela, é incrível!
– finalmente cheguei à minha nova residência e, apesar de ser toda acabada pelo tempo, é só
minha e aqui eu posso ser eu mesmo sem ser julgado por ninguém de casa ou da escola.
Assim que eu piso no carpete da entrada da Cabana, a placa em frente a porta começa
a se deformar e escrever uma frase, esculpida na madeira: “Bem-vindo(a) à Cabana do Macaco
Dracônico”.
- Como diabos essa casa sabe que eu sei mexer com magia dos Dragões? E quem
diabos é o macaco nessa história? Eu??? – Falei indignado para a porta, absolutamente crente
de que ela estava me ouvindo, afinal, ela sabe escrever, dar nome pra casa dos outros, e não
pode ouvir? Duvido muito.
A placa de boas-vindas existe por apenas um motivo, eu vim a essa Cabana em busca
de aprimorar os meus poderes, e para isso, precisarei ajudar as pessoas da região. Esta cabana
já pertenceu à Bruxos do passado, portanto, já existe uma lenda local sobre a Floresta ou a
Cabana ter algo de sobrenatural, o que faz as pessoas desesperadas procurarem medidas
desesperadas, como magia.
- Vamos abrir essa porta e ver como está por dentr... COF COF COF! – A poeira entra
por minhas vias aéreas e quase me mata sufocado – Deve ter sido o primeiro teste de
merecimento, ou só precisa de uma faxina mesmo.
Ao entrar na sala eu percebo que a Cabana é grande (maior por dentro do que por
fora), a sala dá acesso direto a outros 6 cômodos, um quarto, um banheiro, uma cozinha, um
ateliê, um laboratório e um salão com um altar. Além disso, cada um desses cômodos está
bem mobiliado, apesar de velhas e arruinadas, as mobílias podem ser usadas no seu dia a dia
sem complicações, claramente. Além dos cômodos que são acessíveis pelas portas, existem
outras áreas da casa acessadas por escadas, elas são: o Porão e o Sótão. Na frente da casa
existe uma vasto e belo Jardim e atrás da casa fica o Quintal, que basicamente é a parte mais
densa da floresta, logo após a floresta em meu quintal fica o antigo cemitério da cidade, que
está abandonado.
- Vou explorar o local, afinal não quero ter nenhuma surpresa no meio de um ritual... -
Após acomodar minhas coisas gentilmente no sujo e destruído quarto, eu decidi verificar o
restante da Cabana.
Saí pela porta e dei de cara com o jardim. A entrada da cabana é o local onde se
encontra o melhor local para meditação com velas, incensos, ervas e uma fonte d’água, é o
local menos detonado de toda a Cabana e até parece que alguém cuidou desse jardim
enquanto ninguém morava nela, suspeito. Além disso, é o local perfeito para entrar em
harmonia com os quatro elementos e aprimorar a minha magia elemental.
- Perfeito, agora vamos vasculhar direito os outros cômodos da casa – entrei pela porta
da sala e fui direto para o laboratório.
Ao adentrar a sala, vi duas prateleiras de livros repletas de escrituras antigas, alguns
ingredientes, sofá e poltrona. A porta ao lado é a do laboratório, usado por bruxos para
realizar suas poções. O laboratório possui um grande balcão cheio de ferramentas usadas
pelos Ningen para estudar química, como vidrarias, estufa, alguns produtos químicos e outras
bugigangas que eu não faço ideia do que são. Aqui pelo jeito poderei aprimorar a minha magia
herbalística.
- Agora vamos para a sala ao lado, se não me falha a memória lá está algum tipo de
escritório... – vou divagando pela Cabana enquanto ando, o lugar realmente é maior por
dentro do que por fora, já estou ficando cansado de toda essa caminhada, e ainda não havia
nem começado direito.
O cômodo vizinho do laboratório é o ateliê. Um antigo escritório foi transformado em
um ateliê, onde posso desenhar, fazer esculturas de madeira, argila e pedra, ou bonecos de
palha, aqui é o local ideal para encantar meus itens, e aprimorar o meu caminho da magia de
encantamento.
- Bem, o jeito é descer essas escadas estranhas... provavelmente é um depósito ou
porão, espero que seja... – abria uma porta suspeita e começava a descer as escadas no
escuro, a medida em que eu ia avançando, as luzes iam se acendendo sozinhas, o que prova
que a Cabana foi com a minha cara, pelo menos ela.
No final do ateliê existe uma porta, que ao ser aberta dá acesso à uma escada antiga
de madeira, ali fica o porão. O antigo porão estava trancado há dezenas de anos, está
empoeirado, mas os círculos mágicos nele desenhados provavelmente ainda servem para
invocar demônios poderosos que vão me ligar aos planos diabólicos e até mesmo a outros
Bruxos que tenham realizado pactos demoníacos, se eu assim desejar.
- Gostei muito desse porão, eu pensei que ele era mais macabro do que isso e ele está
até bem equipado, como a especialidade da minha família é justamente magias espaço-
temporais, aprimorar as minhas magias de invocação e convocação é o ideal – Pensando nisso
acabei me lembrando que a magia de convocação é realizada em um altar, e eu vi um salão
com um altar logo acima deste porão, ao lado do ateliê.
Magias de invocação e convocação são parecidas, as duas usam círculos mágicos e
conectam mundos e seres vivos, materiais e não-materiais. Só que a invocação é para seres
malignos e a convocação para seres não-malignos. Ao subir as escadas e ir até o altar, eu
percebi que no teto do salão havia um pequeno alçapão que dava acesso à parte superior da
casa, descobri como entrar no sótão! Lá encontrei livros sobre adivinhação, Tarôs, chás e bolas
de cristais. Obviamente foi construído por um Bruxo que estudava o caminho cósmico, pois,
existe uma plataforma perfeita para o meu telescópio, que possibilita olhar as estrelas em
todas as direções. Eu falei que tenho um telescópio?
- Esse lugar é perfeito para aprimorar o meu conhecimento Cósmico – falei enquanto
apreciava a vista da janela do sótão e vi novamente como o jardim na frente da Cabana era
bonito – Nossa, acabei esquecendo de verificar o quintal lá atrás!
Desci as escadas do alçapão e sai do salão do altar, fui direto para a cozinha caipira, lá
tinha um fogão a lenha e alguns utensílios básicos, a porta nos fundos dela dava acesso ao
quintal. Bom, os fundos da cabana nada mais são do que a própria floresta de Saruyama, que
considerei como “o Quintal”. Percebo muitos animais indo e vindo o dia todo, inclusive
criaturas mágicas. Sinto também muita magia brotando do solo, fazendo seres mágicos
perambularem mais perto da Cabana do que do restante da floresta, com isso a minha magia
do caminho de Animalismo pode melhorar.
- Puta merda! Se tudo aqui funciona com magia, então o banheiro só deve ter água
fria... – corro até o último cômodo que ainda não verifiquei, e como eu imaginava, tem apenas
uma privada, um chuveiro antigo e uma grande banheira. Tudo isso interligado numa bomba
manual daquelas que puxa água de poço ou de rio – Eu claramente terei que pegar lenha todo
o dia e esquentar a água lá na cozinha antes de encher a banheira para pelo menos relaxar, já
que a minha magia elemental de fogo não é forte o suficiente para aquecer a água.
Exatamente nesse momento eu me recordo de uma coisa muito importante, corro
para o meu quarto, abro minha mala e começo a jogar as coisas pro alto procurando
avidamente pelo pergaminho onde estava selado o meu familiar. Familiares são animais ou
criaturas mágicas que realizam um pacto com o bruxo, dividindo com eles sua magia,
capacidades naturais e seu tempo, isso significa que o meu tempo na terra e o tempo do meu
familiar são o mesmo, enquanto um não morrer, o outro também não morre, porém, se um
dos dois morrer, o outro morre junto.
- Venha Himari! Vamos ver agora se aquele seu poder vai ser útil para mim! – gritava
de felicidade com o pergaminho nas mãos, correndo e saltitando em direção ao banheiro.
Assim que eu abro o pergaminho, algumas escrituras em língua dracônica começam a
brilhar, logo em seguida eu desfiro as palavras mágicas.
- Desperte de seu longo sono, nossa viagem acabou, apareça e viva em seu novo lar,
minha serva, filha, mãe e irmã, agora e para todo o sempre estaremos juntos, eu te liberto
deste selo para que se materialize no mundo mortal, Himari, a Dragoa! – Nesse momento, uma
pequena explosão de fumaça acontece e dela, surge em cima do meu ombro, um pequeno
Dragão vermelho com o tamanho e peso de um gato de pequeno porte e asas do tamanho das
de uma coruja, com olhos da cor de esmeralda, a pureza e a inocência de um filhotinho, afinal
para a raça dela a Himari realmente era um filhote.
Himari balançava a sua longa cauda e esticava as suas escamas enquanto bocejava um
pouco de fumaça, ela estava cansada da viagem selada dentro daquele pergaminho. Eu
comecei a bombear a água até que a banheira ficasse cheia e então pedi para que a Himari
cuspisse uma bola de fogo no meio da banheira, para aquecer a água. Como ela era apenas um
filhote de Dragão, a pequena podia soltar o seu sopro de fogo apenas uma vez por dia e
mesmo assim ele não era mais eficiente do que uma mini-dinamite. A explosão jogou água
para tudo que é lado, mas, além de aquecer muito a pouca água que sobrou, ela também
aqueceu o fundo da banheira de pedra sem destruí-la, no final eu só precisei bombear um
pouco mais de água e “vualá”! Um banho quente depois de um dia árduo de viagem para o fim
do mundo destino à uma cabana mágica.
- Agora eu vou me preparar para dormir e amanhã começo o meu aprimoramento
mágico, vamos descansar por hoje Himari – eu levanto da banheira e cubro da minha cintura
até os joelhos com a toalha de banho, andando até o quarto para pôr meu pijama e pernoitar.
- Hima! Ri! – Falava a dragoa toda contente, por finalmente poder fazer barulho com o
seu humano sem levar bronca do velho Gintaro.

PRIMEIRO TRABALHO

- Ahhh! Bom dia Himari... – me espreguicei enquanto cumprimentava minha familiar –


Hoje pelo jeito nosso dia vai começar cedo, são 6 da manhã e alguém já está “perdido” na
neblina.
O dia nas montanhas geralmente começa com névoa bem densa, mas hoje em
específico a neblina está tão forte que não consigo enxergar nada fora da cabana, apenas
sentir. E sinto a presença de um Ningen se aproximando do campo de alcance, me levanto e
me visto rapidamente, coloco a lenha velha que já estava na cozinha, um pouco de água da
fonte do jardim em uma panela e acendo o fogo – sem magia tá. A água começa a ferver
rapidamente no fogão a lenha, eu jogo um pouco de água no fogo para apaga-lo e logo em
seguida ponho as ervas do meu chá matinal para curtir na água, odeio café. Assim que coloco
meu chá na xícara, já começo a andar em direção ao quintal, aparentemente o futuro cliente
está vindo por lá. Após alguns minutos apreciando meu chá enquanto olho para a imensidão
branca, aparece uma silhueta, a pessoa já ultrapassou os limites da barreira mágica, logo, ela
precisa de alguma coisa que ela não pode conseguir sem magia.
- Minha primeira cliente! – Pensei comigo mesmo, ansioso – Bom dia! Bem-vindo(a) à
Cabana do Macaco Dracônico, em que posso ajuda-lo(a)? – me apresentei da forma mais
educada possível, com a coluna ereta, enquanto tomo meu chá.
A pessoa parecia preocupada, mas ao ouvir minha voz começou a andar em um ritmo
um pouco mais acelerado em minha direção, ao se aproximar o suficiente para que
pudéssemos nos ver, eu finalmente vi uma mulher de meia idade, aparentava ter mais de 40
anos, a típica japonesa de escritório, com longos cabelos pretos e roupa social – camisa, blazer,
saia e meias calças.
- O que diabos essa senhora está fazendo no topo de uma montanha, no meio da
floresta, de salto alto? – pensei com uma das sobrancelhas arqueada, aquilo realmente não
fazia sentido para mim.
- Ai finalmente eu encontrei alguém! – Ela fala aliviada e se aproxima bruscamente, se
apoiando em meu ombro com uma das mãos, enquanto ajeita o salto com a outra, ele parecia
estar machucando seu pé, mas mesmo assim ela não o tirava.
Isso mesmo meus caros leitores, a mulher está me usando de apoio humano enquanto
ajeita o sapato, eu já tenho alguma serventia para ela, pelo jeito. Após alguns segundos de
silêncio ela se põe a falar novamente, em um tom meio irritado.
- Qual o seu nome? Que cabana é essa no meio do nada? Realmente é verdade que
mora um feiticeiro depois do cemitério? Que horror! – Para e olha para mim de cima abaixo –
Você é novinho né? Parece ser menor de idade... será que posso confiar em você mesmo? Ah
foda-se, eu já tentei de tudo mesmo – Ela continua o seu monólogo quase que
incessantemente.
Enquanto a mulher tagarela sem parar, eu percebo um detalhe, ela não tem
sobrancelhas! Eu, que já estava com uma sobrancelha arqueada, levanto a outra sobrancelha,
impressionado, e cerro meus olhos para ter certeza do que eu estava vendo na minha frente. A
senhora havia feito algum tipo de maquiagem definitiva, pintou/tatuou uma sobrancelha
ridiculamente grande e grossa, que claramente não era natural. Ela possuía seios
anormalmente grande e eles não se mexiam enquanto ela andava, além disso todo o seu
corpo era “escultural” demais para a sua idade. Nesse momento eu compreendi, ela era mais
alterada do que ciborgue de uma ficção cyberpunk de 2077. Será que ela queria reverter as
plásticas com magia? Eu faria isso pra ela de graça...
- Calma calma, uma pergunta de cada vez, a senhora deseja tomar um chá enquanto
conversamos? – falo calmamente até ser interrompido novamente.
- Senhora é a sua avó moleque! Meu nome é Aina, Aizawa Aina! Sou a secretária do
prefeito da cidade tá entendendo? Exijo respeito, mas senhora já é demais, me chame de
senhorita, ou de Aina-chan, ou simplesmente de secretária-sama.
Aquilo definitivamente estava me confundindo, senhora era a forma mais educada que
eu conhecia de tratar alguém mais velho que eu, para ela isso era falta de respeito e preferia
senhorita, mas “Chan” era o honorífico japonês para chamar meninas jovens ou crianças e ao
mesmo tempo “Sama” era o honorífico de maior respeito para chamar as autoridades e
divindades, realmente não dava pra saber o que aquela mulher queria, então a única forma
seria perguntando.
- Respondendo às suas perguntas, meu nome é Kaeru Kentaro, essa Cabana é o meu
lar e somente pessoas que necessitam da minha ajudam podem chegar até aqui, logo, você
precisa dos serviços de um bruxo, Aina....san? – respiro fundo e continuo – Eu sou um bruxo
qualificado, apesar da minha idade sou muito competente, no que posso ajuda-la?
“San” é o honorífico de respeito para chamar senhor/senhora, só que menos formal,
espero que chamando-a assim ela não surte também, porque das outras formas eu não vou
conseguir chamá-la.
- Ta bom, se você diz... – continua me olhando de cima abaixo, só que com uma
expressão de desprezo e agora com um pouco de nojo, enquanto encara meus cabelos ruivos
– Você é estrangeiro? Fala bem o japonês para um pirralho de fora... Acho que não tenho nada
a perder falando contigo sobre isso, já tentei de tudo mesmo e nada funcionou – Muda
rapidamente a sua postura, e toca os meus lábios com o dedo indicador, enquanto olha nos
meus olhos com a tentativa de uma expressão aparentemente sedutora, é meio difícil saber já
que as sobrancelhas dela não se mexem.
- Senho...rita – Falo, me equilibrando com uma mão na bengala, enquanto tiro a mão
imunda dela da minha boca com a outra, o indicador da mão, que ela ajeitava o salto alto,
estava cheirando a chulé – Por gentileza, me diga qual a sua necessidade e eu lhe direi como
são os procedimentos.
- Ai, procedimentos! Amo procedimentos! – os olhos dela brilhavam, ignorando
solenemente a minha falta de educação em tirar a mão fedida dela da minha boca – Eu sou
amante do prefeito sabe... E faz um ano que estamos transando loucamente, ele tá gozando
dentro com força e eu nunca engravidei, ele tem esposa e dois filhos, disse que nunca fez
vasectomia, então eu já fiz tudo que é tratamento de fertilidade, então não sei se o problema
é comigo ou com ele, mas se eu quiser garantir o meu futuro eu preciso de uma criança no
meu ventre pra ontem, antes que ele encontre uma mais novinha, é isso.
Tudo aquilo foi muita informação para mim de uma só vez, em parte por ela falar tudo
de uma vez assim na lata, o que era bom para eu não perder tempo e o chá não esfriar. Mas
em contrapartida, ela queria algo que eu definitivamente não estava afim de fazer, mas tenho
um juramento a cumprir.
- Você quer garantir que engravidará com uma relação sexual e ao mesmo tempo
garantir que seu parceiro terá fertilidade para te fecundar, são dois desejos em um só serviço,
por conta disso terei que realizar uma magia transcendental para que o seu pedido chegue até
Inari Okami, a deusa da fertilidade – Engolia a seco, e por pouco não mando ela voltar para
casa, mas não posso – Para estabelecer o preço, primeiro eu preciso saber o motivo pelo qual
você quer isso... realmente é só por dinheiro? Sendo assim poderia pedir dinheiro, ou será que
você ama o prefeito? Ou pior, você só quer ser mãe? – famosa crise da meia idade, mas eu não
quis ofender, guardei essa parte pra mim.
Ela olhou para mim no fundo dos olhos e deu um sorriso sombrio, de orelha a orelha,
enquanto gargalhava freneticamente. Nesse momento a lua refletia em seus cabelos e uma
aura maligna pairava em volta da mulher, ela não era apenas antipática, a sua essência em si,
era desprezível.
- Katsura... aquela vagabunda, desde o ensino médio ela rouba tudo o que é meu,
TUDO! Meus empregos, namorados, vaga na universidade, todas as oportunidades da minha
vida ela saía na frente e se dizia minha amiga, aquela vaca.... Hoje ela tem tudo o que EU
sempre sonhei, tem um casal de filhos lindos, um marido rico, é a esposa do prefeito! Eu quero
acabar com o casamento dela, eu quero arruinar aquilo que ela chama de família, eu quero
parir essa criança só para olhar para a cara desesperada dela e poder dizer “EU VENCI” – Ela
gritava alucinadamente enquanto falava de seu desejo invejoso para mim, eu não tenho
problemas com desejos escrotos, mas o jeito dela falar me dava náuseas e alguns arrepios, no
mau sentido, porque o hálito dela não estava muito bom e ela estava muito perto, enfim.
- Ok, a sua motivação é a vingança então – Eu falei decepcionado, não com o pedido,
mas sim com o preço que eu teria que cobrar pela motivação, era o pior possível – Primeiro
vamos fazer um ritual de fertilidade para você, vamos aproveitar que hoje temos uma lua
especial, a Lua Azul, e com ela a mana do local estará no ápice para magia... sexual – Fico
vermelho como um pimentão, meus cabelos e o meu rosto quase se tornam um só, afinal eu
estudei toda a teoria, mas na prática eu sou virgem – Precisamos fazer sexo sob a luz do luar
azul até que você... chegue ao orgasmo, depois coletarei os nossos fluidos misturados da sua
cavidade vaginal... E você poderá ir para casa, enquanto eu encontro a divindade ancestral e
faço o pedido dela utilizando nossa matéria prima para que ela compreenda o que você
precisa, hoje às 22:00 o seu pedido se realizará e a fertilidade do seu parceiro chegará ao
máximo, então tudo o que você precisa é transar com o prefeito por volta desse horário – Por
fim tomo fôlego e falo o preço do procedimento – Em troca de uma vida eu preciso de outra,
então a sua alma nojenta é minha, alguma objeção?
- Não, se é só isso o negócio tá fechado – Ela respondeu quase que instantaneamente,
com o mesmo sorriso sádico no rosto e sobrancelhas imóveis como um poste, só que dessa vez
ela falou já tirando a roupa e ficando nua na minha frente, acho que ela pensou que isso seria
agradável para mim, de alguma forma. Ou estava me torturando para ver se dava pra fugir do
pacto, nunca saberei.
- Aina-san... ainda são 7 da manhã, a lua vai demorar um pouco para aparecer hoje,
ainda mais com essa névoa, pode colocar suas roupas enquanto eu coloco outro chá para
esquentar e nós aguardamos o dia encerrar, por gentileza – Falava para ela já pegando
algumas ervas no quintal, tanto afrodisíacas para eu aguentar o tranco do ritual, quanto os sais
de banho para tirar a catinga de uma tiazona sedentária que subiu o morro de salto alto.
- Não não boy... se eu preciso chegar ao orgasmo, precisamos começar, agora mesmo,
eu demoro chegar lá sabe – Ela insistia no ato precoce 12 horas antes do combinado, nesse
momento eu descobri que era a segunda opção, ela realmente queria me deixar inconsciente e
fugir, mas eu não podia desistir, mesmo diante de tal provação. Sou um bruxo afinal.
Peguei as ervas e a convidei para entrar, na cozinha eu comecei a esquentar o chá e a
chamei para o banheiro, onde preparei o banho aromatizado.
- Primeiro o ritual de purificação, não podemos fazer nada diante da lua com nossos
corpos sujos – O ritual não exigia porra nenhuma além do sexo, mas eu exigia, por puro
instinto de autopreservação eu precisava que ela tomasse aquele banho. Tomara que a tinta
das sobrancelhas seja realmente permanente, porque as ervas desse banho tiram até mancha
de açafrão com limão num tecido branco depois de seis horas de sol intenso.
Ela demorou engolir a desculpa, mas logo entrou na banheira e se limpou, eu fui
obrigado a entrar no banho para acalmá-la e ela já aproveitou para começar as preliminares ali
mesmo.
- O que eu não faço por uma alma, meus Deuses! – gritei enquanto sacrificava meus
dedos indicador e médio no orifício diabólico de meia idade.
- Isso! Eu gosto, chama mais bebê! AAAAAI! – não preciso descrever mais nada, né?
Pulando a parte que literalmente me toca, são 20:00 e ela já deve estar de volta na
cidade, eu pedi para que a Himari fosse na frente abrindo o caminho na neblina para que a
cliente não se perdesse. Eu subi até o porão, me posicionei com o telescópio voltado para a lua
azul, e focando minha visão em sua maior cratera eu comecei o ritual.
- Oh grande deusa loba da fertilidade, sexo, da lua e do gelo! Inari Okami, aquela que
protege nossas plantações, aquela que protege a natureza dos caçadores! A detentora do
título de Deusa Loba da Lua, preciso de sua resposta, poderás abençoar essa humana com o
destino de ser mãe, hoje, de um filho(a) do homem com quem ela fará sexo agora a noite, logo
após o meu pedido indelicado? Mando este pedido através da via láctea e peço que retorne
até a caixa postal 73320666, no universo 7, dimensão 149, realidade alternativa 13, bruxo
certificado ISO9999, quadrante 4 de Hokkaido, amém!
Poucos segundos após eu terminar a ligação, as estrelas começaram a se mover,
distorcendo-se para cima e para baixo, para um lado e para o outro, estrelas cadentes
formavam rastros nos céus e por fim os astros haviam escrito a seguinte mensagem: “Pedido
recebido e encaminhado para Inari Okami-sama, favor aguardar o resultado a partir de 5
minutos após o envio, caso contrário entrar em contato novamente com o protocolo
2022/10/02.789456.
- Ótimo! Deu certo... – eu estava exausto, por diversos motivos, desci as escadas,
tomei outro banho, frio dessa vez, porque pedi para a Himari esterilizar tudo com o sopro de
fogo. E fui até meu quarto para dormir e esquecer do serviço de hoje, que de longe será meu
trauma mais profundo, creio eu – Boa noite Himari.
- Hi...mari – me consolou a dragoa que viu tudo e não pôde fazer nada. Ela estava com
uma expressão que dizia claramente: “ O que ele não faz por uma alma, tadinho”.
10 dias após a minha magia cósmica, eu decidi checar em uma bola de cristal se havia
tudo ocorrido bem. Aina fez um exame de gravidez com medo, ressalvas inclusive que ela não
demonstrou na hora da magia, essa mulher é realmente cética, e estranha. A magia foi bem
sucedida, como eu imaginei.
- E agora? Será que esse filho é realmente do prefeito ou eu engravidei daquele
pirralho tarado? O prefeito vai pedir exame de DNA com certeza, se der negativo eu vou me
fazer de vítima e levar a polícia junto com a cidade inteira para o covil daquele pestinha –
Resmungava a mulher, descrente de que Inari havia concedido um milagre.
Alguns dias depois o resultado do exame saiu positivo e o casamento do prefeito
acabou. Um grande escândalo ecoou pela cidade e a cliente até que divulgou bem os meus
serviços, mas algumas ideias progressistas da população mais conservadora levantam a pauta
sobre tudo não passar de ilusão e charlatanismo, portanto as coisas ficaram estagnadas, como
já eram.
- Pelo menos a alma, não falta muito para ela morrer mesmo – O que eu não contei
para a cliente é que para o bebê nascer, ela terá que morrer e o prefeito não escolherá ela no
lugar da criança, ela vai me pagar o preço antes do que ela imagina, essa criança me deve uma
por ter vindo a esse mundo.

SEGUNDO TRABALHO
É dia 19/10/22, solstício de inverno ocorre no dia 22 de dezembro, faltam 64 dias para a
convenção das bruxas do norte de Hokkaido. A convenção acontecerá nas Ruínas ancestrais
(cemitério).

Entre um trabalho e outro rolar temperos

Kaeru Kentaro - Macaco: Animalismo, Quintal Cão: Necromancia, Cemitério


Tigre: Convocação, Altar Rato: Demonologia, Porão
Cabra: Cósmico, Sótão Boi: Magia mais forte
Porco: Elemental, Jardim Coelho: Consequência mais rápida
Galo: Encantamento, Ateliê Dragão: Cabana mais viva
Cavalo: Herbalismo, Laboratório Serpente: Só vê a cabana, quem precisa dela

1 Utashinai: Minas de carvão abandonadas, Montanhas nevadas, Esqui e Chalés. 3k


2 Kamisunagawa: Instalação de Pesquisas Astronômicas, cogumelo Shi-tan (mascote). 3,2k
3 Akabira: cidade turística, Fontes Termais, Acampamentos, 10k
4 Naie: Carvão vegetal, Trem a vapor, 5k
5 Urausu: barril de vinho maquiado Usuko-nesan (mascote), plantações de uva, 1,9k
6 Ashibetsu: cidade grande cortada por um rio, cidade ao norte e picos de montanha ao sul.
14k
7 Sunagawa: “metrópole” da região, com praias de água doce e dunas de areia. 17,5k
8 Shintosukawa: fantasma de arroz que gosta de saquê Komezo (mascote), cidade do arroz. 7k
9 Takikawa: neva o ano inteiro, cortada por dois grandes rios, floresta, terras agrícolas.41k
10 Uryuu: pantanal, povo Ainu, templo dos Dragões. 2,5k
11 Moseushi: a vaca agrícola Utchi, com seu nakama Ushimaru e a apstora Aimo-chan
(mascotes). Maior criação de gado Agyu e leite de Hokkaido. 3,1k
12 Furano: campos de lavanda, cenouras, cebolas, melancias, vinho, queijos e pudim! 22k

Estações do ano
Haru Primavera: Março
Verão Natsu: Julho
Outono Aki: Outubro
Inverno: Dezembro

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