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O Cordel do bem-querer
(Comédia romântica em 3 atos)
ZANNY ADAIRALBA
À minha família e amigos;
A todos os poetas e cantadores
que tão bem semeiam cores pelo mundo.
Personagens:
Outras participações:
Menestrel
Maracatu
Procissão
Retirante
CICINHA Encontrar?...
Silêncio.
Como quem brinca de procurar, corre de um lado para o outro. Coça a cabeça
como se quisesse ordenar os pensamentos. Faz caras e bocas. Dá saltos
pequenos para ver se o som está vindo do outro lado da casa.
Tenta cheirar os cabelos de Cicinha, que se afasta. Circula ao seu redor. Tenta
beijá-la. Cicinha vira o rosto. Romão entoa uma cantiga enquanto dança de
um lado para o outro, cercando-a. Ao mesmo tempo em que Cicinha tenta
escapar dos movimentos, demonstra apreciar a brincadeira. Romão canta:
Silêncio. Param.
CICINHA Romão?
CICINHA (Confusa) E é?
Cicinha pega o cesto de roupas e tenta correr em direção à casa. Romão segura
seu braço.
ROMÃO E tô?
CICINHA Está!
Música.
ROMÃO É...
Bailam apaixonados.
ROMÃO E...
CICINHA Decidiu?...
ROMÃO É! Decidi!...
CICINHA Hum...
ROMÃO Pedir...
CICINHA (Sorrindo) É!
ROMÃO (Performático) Sou formoso, não sou?
Sentam apoiando o queixo com as mãos. Olham para os lados como que
esperando uma resposta chegar.
Abraços.
ROMÃO Lhe deixar? Eu nunca que podia fazer uma
coisa dessas, Cicinha. Se não... O que
restaria de mim, sem seu sorrido? Que
cantador seria eu, Romão, sem o perfume
de teus cabelos? Que poemas nasceriam de
meus sonhos, se nem sonhar me seria
permitido, por tua ausência?! Não. Deixar
você? Não! (Esperançoso) Vamos lá agora
mesmo, falar com seu avô. Vai dar tudo
certo. Você vai ver!
Luzes apagadas.
ROMÃO É sim!
ZIDÓRIO (Bravo) É não!... (Ameaçando) Deixe minha
neta lá!
Silêncio.
TODOS Casar?
CICINHA Mainha...
ROMÃO E importa?
TODOS Ôxe!
TODOS Ôxe!
Silêncio.
Tambores tocam.
ROMÃO É! Sou!
ZIDÓRIO E é?
TODOS (A Zidório) É?
ZIDÓRIO E tá?
ROMÃO Tá!
ZIDÓRIO Tá mermu?
CICINHA É! Era!...
JANUÁRIA Encontrou?
Silêncio e expectativa.
“A flor
Minha flor do mato
É a flor do meu grande amor
Quem viu
Minha flor do mato?
Quem cheirou
O perfume da flor? (...)”
Passa por Romão. Quase toca suas mãos, solidária ao sofrimento. Romão
ergue a cabeça esticando-se para ser amparado, mas volta-se para o outro lado
do palco, de onde vem o maracatu. De longe, a retirante joga-lhe uma semente.
Romão apara com as duas mãos.
Rodopia e declama:
Passam dias e noites (Luz, escuridão). Romão não desiste. Em cenas rápidas,
tenta falar com Januária, que estende roupas. Ela sai. Bate à porta da casa.
A porta abre e fecha rapidamente. Encontra-se frente a frente com Zidório,
que lhe aponta uma espingarda. Romão recua com as mãos para cima. Chuta
barro seco uma vez (Pausa), uma segunda vez. Chuta várias vezes. Olha para
os lados, para cima. Joga o chapéu e assanha o cabelo, balançando a cabeça
negativamente como quem não aceita a situação. Bate o pé no chão.
Acendem as luzes.
CICINHA Romão...
ROMÃO Dez dias de sol (Retira o cantil e vê que a
água acabou)... De penar...
Romão levanta como que para ir embora. Olha a estrada na direção que segue
o maracatu. Dá os primeiros passos. Arrepende-se. Olha para trás. Volta-se
para a casa de Cicinha.
CICINHA Não!
“Ê, ê, ê
Que eu vou cantar
Vem de amor que a minha dança
Vai até o sol raiar (...)”
Cicinha é coroada princesa do maracatu. Vestida com um colorido manto.
Cicinha e Romão brindam à esperança, à felicidade e ao amor dando inicio a
um bailado que simboliza a união das famílias. Os noivos são abençoados por
todos, que dançam e cantam.
“(...) Ê, ê, ê
Meu canto faz
O milagre da esperança
Encher teu peito de paz!”
Fim
“Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos,
sem amor eu nada seria” (Coríntios 13)
Obras publicadas
Poesia
Cordel
Dramaturgia