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Contos

Transformando-se em mulher, a Arte Real desceu à terra e passou a procurar um marido. Primeiro
procurou entre os buscadores, entre os que se chamavam "alquimistas", procurou entre os apaixonados pela
Pedra Filosofal...Depois procurou entre os reclusos, entre os estudiosos da Ciência Hermética, procurou entre
os filósofos fechados em seus laboratórios.
Passou pelos bosques, aprofundou-se pelas escuras florestas, escalou montanhas e os mais altos
picos. Andou pelas cidades, por becos e vielas, no meio da multidão, entre parques e construções. Não houve
lugar por onde a Mulher não tivesse procurado.
Os primeiros, apaixonados pela Pedra, como todos os apaixonados estavam cegos pelo seu objeto
desejado. A procuravam por toda parte, falavam sobre ela, escreviam-lhe tratados e alguns, até poemas. Não
viram, contudo, quando Ela acenando, mostrou-lhes seu coração. Não a reconheceram, viram apenas mais
uma mulher..
Os filósofos de laboratório, mais sábios que os primeiros, haviam descoberto alguns segredos da
Arte. Mas, trancados em seus castelos, recusavam a misturar-se entre os homens do mundo e repartir com
eles, o pouco de Luz que encontraram.
Parando na sua caminhada, a Arte Real decidiu publicar uma pequena obra, contendo os requisitos
necessários para seus futuros eleitos. Nela falava das Virtudes que o noivo deveria possuir e o tempo
necessário à preparação do Casamento: Paciência, constância, prudência, silêncio e solidão. Enxergar atrás
dos símbolos, conhecer a linguagem dos Astros, a Sabedoria das pedras, a medicina das plantas. Praticar a
Caridade, ter Fé, não julgar ninguém e distribuir os frutos de seu Trabalho, eram alguns dos requisitos
exigidos. O Casamento se processaria no decorrer de longos anos, ninguém saberia e jamais o noivo tocaria
na noiva. Alguns apresentaram-se, mas foram imediatamente despedidos.
A humildade, era um dos requisitos também, e quem achava que possuía Sabedoria, Prudência e
outras Virtudes, o suficiente para desposar a Grande Arte, não as tinha de fato. Outros, reconhecendo o limite
de suas capacidades e seu despreparo, passaram daquele momento em diante a trabalhar para o conseguirem.
E assim o tempo passou...
Os apaixonados enlouqueceram, os egoístas morreram sozinhos, os que achavam-se humildes
venderam seus livros e desistiram da Obra e os que começaram sinceramente a trabalhar, sem pressa, nem
pausa, como recomenda a Mãe, num dado momento de suas vidas, riram... Riram como a Arte Real, como a
Mulher do alquimista na sua noite de núpcias. Riram não um riso de alegria, mas um riso de satisfação e
descoberta. Como o de um adulto que recorda as brincadeiras de criança, como o de uma criança que olha as
atitudes nervosas de um adulto.
A Arte deseja dos artistas esta presença, antes, mobilidade de espírito. Exige um recordar sempre, um
tombar constante de ilusões. O polimento da Pedra, a brancura que nasce da escuridão plúmbea e do vermelho
cardeal, nasce disso.
Na face de um verdadeiro Adepto da Arte, encontraremos rugas de sofrimento e sinais de sacrifício.
Mas nunca aquela melancolia e tristeza que lhes são dedicadas. Antes convida-se a olhar detalhadamente a
própria face ou o rosto daqueles consumidos pela procura egoísta dos mistérios de Hermes.

O Instante Mágico ~ Paulo Coelho ~


É preciso correr riscos.
Só entendemos direito o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.
Todos os dias Deus nos dá - junto com o sol - um momento em que é possível mudar tudo que nos
deixa infelizes. Todos os dias procuramos fingir que não percebemos este momento, que ele não existe, que
hoje é igual a ontem - e será igual a amanhã. Mas, quem presta atenção ao seu dia, descobre o instante
mágico.
Ele pode estar escondido na hora em que enfiamos a chave na porta pela manhã, no instante de
silêncio logo após o jantar, nas mil e uma coisas que nos pareceu iguais. Este momento existe – um momento
em que toda a força das estrelas passa por nós, e nos permite fazer milagres.
A felicidade às vezes é uma bênção - mas geralmente é uma conquista. O instante mágico do dia nos
ajuda a mudar, nos faz ir em busca de nossos sonhos. Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos
enfrentar muitas desilusões - mas tudo é passageiro, e não deixa marcas. E, no futuro, podemos olhar para trás
com orgulho e fé.
Viva intensamente e não tenha medo de correr riscos. Se até um Deus sofre para ver nascer a vida
novamente, então quem somos nós para não tirarmos disso uma lição.
Realidade
Havia uma fazenda, onde os trabalhadores viviam tristes e isolados. Eles estendiam suas roupas
surradas no varal e alimentavam seus magros cães com o pouco que sobrava das refeições.Todos que viviam
ali trabalhavam na roça do Sinhozinho João, um homem rico e poderoso, que, dono de muitas terras, exigia
que todos trabalhassem duro, pagando muito pouco por isso.
Um dia, chegou ali um novo empregado, cujo apelido era Zé Alegria. Era um jovem agricultor em
busca de trabalho. Recebeu, como todos, uma velha casa onde iria morar enquanto trabalhasse ali. O jovem
vendo aquela casa suja e largada, resolveu dar-lhe vida nova. Pegou uma parte de suas economias, foi até a
cidade e comprou algumas latas de tinta.
Chegando à sua casa, cuidou da limpeza e, em suas horas vagas, lixou e pintou as paredes com cores
alegres e brilhantes, além de colocar flores nos vasos. Aquela casa limpa e arrumada chamava à atenção de
todos que passavam. O jovem sempre trabalhava alegre e feliz na fazenda, era por isso que tinha esse apelido.
Os outros trabalhadores lhe perguntavam:
- Como você consegue trabalhar feliz e sempre cantando com o pouco dinheiro que ganhamos?
O jovem olhou bem para os amigos e disse:
- Bem, este trabalho, hoje, é tudo que eu tenho. Ao invés de blasfemar e reclamar, prefiro agradecer
por ele. Quando aceitei este trabalho, sabia de suas limitações. Não é justo que agora que estou aqui, fique
reclamando. Farei com capricho e amor aquilo que aceitei fazer.
Os outros olharam admirados. "Como ele podia pensar assim?" Afinal, acreditavam ser vítimas das
circunstâncias abandonados pelo destino...
O entusiasmo do rapaz, em pouco tempo, chamou à atenção de Sinhozinho, que passou a observar à
distância os passos dele.
Um dia, Sinhozinho pensou:
- Alguém que cuida com tanto cuidado e carinho da casa que emprestei, cuidará com o mesmo
capricho da minha fazenda. Ele é o único aqui que pensa como eu. Estou velho e preciso de alguém que me
ajude na administração da fazenda.
Sinhozinho foi até a casa do rapaz e, após tomar um café bem fresquinho, ofereceu ao jovem um
emprego de administrador da fazenda. O rapaz prontamente aceitou. Seus amigos agricultores, novamente,
foram perguntar-lhe:
- O que faz algumas pessoas serem bem sucedidas e outras não?
Ouviram, com atenção, a resposta:
- Em minhas andanças, meus amigos, eu aprendi muito e, o principal, é que: Não existe realidade,
existe em nós a capacidade de realizar e dar vida nova a tudo que nos cerca.

Coragem e medo
Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato. Um mágico teve pena dele e
o transformou em gato. Mas aí ele ficou com medo do cão, por isso o mágico o transformou em cão. Então,
ele começou a temer a pantera e o mágico o transformou em pantera. Foi quando ele se encheu de medo do
caçador. A essas alturas, o mágico desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse:
- Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem a coragem de um camundongo.

É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto. Mas saiba que coragem não é a ausência do
medo, e sim a capacidade de avançar apesar do medo.

A Borboleta Azul

Havia um viúvo que morava com suas duas jovens filhas, meninas muito curiosas e inteligentes. Suas
filhas sempre faziam-lhe muitas perguntas. Algumas ele sabia responder, outras não fazia a mínima idéia da
resposta. Como pretendia oferecer a melhor educação para suas filhas, enviou-as para passar as férias com um
velho sábio que morava no alto de uma colina. Este, por sua vez, respondia todas as perguntas sem hesitar. Já
muito impacientes com essa situação, pois constataram que o tal velho era realmente sábio, resolveram
inventar uma pergunta que o sábio não saberia responder. Passaram-se alguns dias e uma das meninas
apareceu com uma linda borboleta azul e exclamou para a sua irmã:
- Dessa vez o sábio não vai saber a resposta!
- O que você vai fazer? - perguntou a outra menina.
- Tenho uma borboleta azul em minhas mãos. Vou perguntar para o sábio se a borboleta está viva ou morta.
- Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-la voar para o céu. Se ele disser que ela está
viva, vou apertá-la rapidamente, esmagá-la e assim matá-la. Como conseqüência, qualquer resposta que o
velho nos dar vai estar errada.
As duas meninas foram, então ao encontro do sábio, que encontrava-se meditando sob um eucalipto
na montanha. A menina aproximou-se e perguntou:
- Tenho aqui uma borboleta azul . Diga-me sábio, está ela viva ou morta?
Calmamente o sábio sorriu e respondeu:
- Depende de você...ela está em suas mãos.
Assim é a nossa vida, é o nosso presente e o nosso futuro. Não devemos culpar ninguém porque algo
deu errado. O insucesso é apenas uma oportunidade de começar novamente com mais inteligência. Somos nós
os responsáveis por aquilo que conquistamos (ou não conquistamos). Nossa vida está em nossas mãos - como
uma borboleta azul - cabe a nós escolher o que fazer com ela, só a nós; não deixe ninguém interferir nisso.

~#~
Não tenha vergonha de dizer Eu Te Amo !
Dois irmãozinhos brincavam em frente de casa, jogavam bolinhas de gude. Quando Júlio o menino
mais novo disse ao irmão Ricardo:
- Meu querido irmão, eu te amo muito e nunca quero me separar de você!
Ricardo sem dar muita importância ao que Júlio disse, pergunta:
- O que deu em você moleque? Que conversa besta é essa de amar ? amar? Quer calar a boca e
continuar jogando?
E os dois continuaram jogando a tarde inteira até anoitecer. À noite o senhor Jacó, pai dos garotos
chegou do trabalho, estava exausto e muito mal humorado, pois não havia conseguido fechar um negócio
importante.
Ao entrar, Jacó olhou para Júlio que sorriu para o pai e disse:
- Olá papai, eu te amo muito e não quero nunca me separar do senhor!
Jacó no auge de seu mal humor e stress disse:
- Júlio, estou exausto e nervoso, então por favor não me venha com besteiras!
Com as palavras ásperas do pai, Júlio ficou magoado e foi chorar no cantinho do quarto. Dona Joana,
mãe dos garotos sentindo a falta do filho foi procurá-lo pela casa, até que o encontrou no cantinho do quarto
com os olhinhos cheios de lágrimas. Dona Joana espantada começou a enxugar as lágrimas do filho e
perguntou:
- O que foi Júlio, porque choras?
Júlio olhou para a mãe, com uma expressão triste e lhe disse:
- Mamãe, eu te amo muito e não quero nunca me separar da senhora!
Dona Joana sorriu para o filho e lhe disse:
- Meu amado filho, ficaremos sempre juntos!
Júlio sorriu, deu um beijo na mãe e foi se deitar .
No quarto do casal, ambos se preparando para se deitar, Dona Joana pergunta para seu marido Jacó:
- Jacó, o Júlio está muito estranho hoje, não acha?
Jacó muito estressado com o trabalho disse a esposa:
- Esse moleque só está querendo chamar a atenção... Deita e dorme mulher!
Então todos se recolheram e todos dormiam sossegados.
Às 2 horas da manhã, Júlio se levanta vai ao quarto de seu irmão Ricardo e fica observando o irmão
dormir... Ricardo incomodado com a claridade acorda e grita com Júlio:
- Seu louco, apaga essa luz e me deixa dormir!
Júlio em silêncio obedeceu o irmão, apagou a luz e se dirigiu ao quarto dos pais... Chegando ao
quarto de seus pais acendeu a luz e ficou observando seu pai e sua mãe dormirem.
O senhor Jacó acordou e perguntou ao filho:
- O que aconteceu Júlio?
Júlio em silencio só balançou a cabeça em sinal negativo, respondendo ao pai que nada havia
ocorrido. Daí o senhor Jacó irritado perguntou ao Júlio:
- Então o que foi moleque?
Júlio continuou em silêncio. Jacó já muito irritado berrou com Júlio:
- Então vai dormir seu doente!
Júlio apagou a luz do quarto se dirigiu ao seu quarto e se deitou.
Na manhã seguinte todos se levantaram cedo, o senhor
Jacó iria trabalhar, a dona Joana levaria as crianças para a escola e Ricardo e Júlio iriam à escola...
Mas Júlio não se levantou. Então o senhor Jacó, que já estava muito irritado com Júlio, entra bufando no
quarto do garoto e grita:
- Levanta seu moleque vagabundo!
Júlio nem se mexeu. Então Jacó avança sobre o garoto e puxa com força o cobertor do menino com o
braço direito levantado pronto para lhe dar um tapa quando percebe que Júlio estava com os olhos fechados e
que estava pálido. Jacó assustado colocou a mão sobre o rosto de Júlio e pôde notar que seu filho estava
gelado. Desesperado Jacó gritou chamando a esposa e o filho Ricardo para ver o que havia acontecido com
Júlio... Infelizmente o pior....
Júlio estava morto e sem qualquer motivo aparente.
Dona Joana desesperada abraçou o filho morto e não conseguia nem respirar de tanto chorar. Ricardo
desconsolado segurou firme a mão do irmão e só tinha forças para chorar também.
Jacó em desespero soluçando e com os olhos cheios de lágrimas, percebeu que havia um papelzinho
dobrado nas pequenas mãos de Júlio. Jacó então pegou o pequeno pedaço de papel e havia algo escrito com a
letra de Júlio.
"Outra noite Deus veio falar comigo através de um sonho, disse a mim que apesar de amar minha
família e dela me amar, teríamos que nos separar. Eu não queria isso, mas Deus me explicou que seria
necessário. Não sei o que vai acontecer mas estou com muito medo. Gostaria que ficasse claro apenas uma
coisa: Ricardo, não se envergonhe de amar seu irmão. Mamãe, a senhora é a melhor mãe do mundo. Papai, o
senhor de tanto trabalhar se esqueceu de viver. Eu amo todos vocês!"
>>>
Quantas vezes não temos tempo para parar e amar, e receber o amor que nos é ofertado? Talvez
quando acordarmos possa ser tarde demais... mas, ainda há tempo!
Muita gente vai entrar e sair da sua vida, mas somente verdadeiros amigos deixarão marcas em seu
coração!
Para se segurar, use a cabeça; Para segurar os outros, use o coração.
Ódio é apenas uma curta mensagem de perigo.
Aquele que perde um amigo, perde muito mais.
Aquele que perde a fé, perde tudo.
Jovem bonito é um acidente da natureza,
Velho bonito é uma obra de arte.
Amigos, eu e você...
Você trouxe outro amigo...
E nós iniciamos um grupo... seu círculo de amigos...
E como um círculo, não tem começo nem fim...
Mostre a seus amigos o quanto eles são importantes.

O vento e o Sol
O Vento e o Sol estavam disputando para ver qual dos dois era o mais poderoso. O Sol, ao ver um
caminhante na estrada, pensou cuidadosamente, e propôs uma aposta ao Vento.
- Sei como decidir nossa disputa! -- disse o Sol radiante.
- Aquele de nós dois, capaz de fazer o caminhante tirar a sua jaqueta, será o vencedor. Você
começa -- disse o Sol sorridente -- e retirou-se detrás de uma nuvem enorme, espiando de vez
em quando.
Então, o Vento começou a soprar, e a soprar... e a bufar!!!... Ufffff!!!!!! Fuuuuuuu!!!!! E o
caminhante começou a encolher-se, aferrando-se a sua jaqueta. Quanto mais o Vento soprava, levantando a
jaqueta do caminhante, mais ele se agarrava e se tapava, evitando que voasse sua preciosa jaqueta.
Tanto o Vento soprou, e areia atirou nos olhos do caminhante, que ele cada vez mais se enrolava na
jaqueta, impedindo que o Vento arrancasse-a do seu corpo. Finalmente o Vento deu-se por vencido e disse ao
Sol:
- Agora é a sua vez...
Então o Sol veio. Começou a brilhar, a brilhar com sua máxima intensidade. O viajante, já cansado
de tanto lutar com o Vento, começou a suar, e a sentir muito calor. Tanto calor que acabou tirando a jaqueta.

O Espelho
Isabel Aguirre
Olhando no espelho, mergulhei na imagem refletida. Através dos olhos da imagem adentrei em meu
mundo interior. Vi ali outro "eu" falante, outra face, outro corpo... Quem era aquela que vivia no espelho?
Cada dia, ao despertar-me, olhava aquela imagem que não era minha. Desejava ser quem sou e sei
quem sou, mas o espelho refletia sempre aquela outra forma, um novo aspecto do ser que vivia em mim.
Lutei, me rebelei, neguei aquela imagem irreal.
Enquanto a imagem se propagava saindo do espelho e refletindo-se nos olhos de todo aquele que me
observava. E a cada nova imagem plantada nos olhos dos observadores, uma crítica, uma idéia nova, errônea
e certeira, ia se formando a meu respeito. Saberiam eles em realidade quem sou?...
Uma vez que a idéia se formava na mente dos observadores, era a imagem do espelho quem se
materializava, era ela, só ela, quem vivia e era considerada por todos. Sufocada pela imagem, tentei adulterá-
la, até tentei destruí-la. Entretanto ela reagiu, se transformou e refletiu sua pior cara.
Fiquei doente, sem mesmo me conformar: por quê era ela mais poderosa que eu?
E foi olhando no espelho, o sofrimento refletido, quando então compreendi: era toda a importância
que eu dava a ela, que fazia dela um ser superior.

A ratoeira

Um rato olhando pelo buraco na parede vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo
em que tipo de comida poderia ter ali. Ficou aterrorizado quando descobriu que era uma ratoeira. Foi para o
pátio da fazenda advertindo a todos:
- "Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa."
A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a cabeça e disse:
- "Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que é um grande problema para o senhor, mas não me
prejudica em nada, não me incomoda."
O rato foi até o cordeiro e disse a ele:
- "Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira."
- "Desculpe-me Sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranqüilo que
o senhor será lembrado nas minhas preces."
O rato dirigiu-se então à vaca. Ela disse:
- "O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!"
Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro. Naquela
noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para
ver o que havia pego. No escuro, ela não viu que a ratoeira pegou a cauda de uma cobra venenosa. A cobra
picou a mulher.
O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que para
alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o
ingrediente principal - a galinha. Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.
Para alimentá-los o fazendeiro matou o cordeiro. A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente
veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca para alimentar todo aquele povo. Na próxima vez
que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito
lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.
Para refletir: "Por acaso sou responsável por meu irmão?"

A Pedra da Felicidade

“Nos tempos das fadas e bruxas, um moço achou em seu caminho uma pedra que emitia um brilho
diferente de todas as que ele já conhecera. Impressionado, decidiu levá-la para casa. Era uma pedra do
tamanho de um limão e pertencia a uma fada, que a perdera por aqueles caminhos, em seu passeio matinal.
Era a Pedra da Felicidade. Possuía o poder de transformar desejos em realidade. A fada, ao se dar conta de
que havia perdido a pedra em algum lugar, consultou sua fonte de adivinhação e viu o que havia ocorrido.
Avaliou o poder mágico da pedra e, como a pessoa que a havia encontrado era um jovem de família pobre e
sofredora, concluiu que a pedra poderia ficar em seu poder, despreocupando-se quanto à sua recuperação.
Decidiu ajudá-lo.... Apareceu ao moço em sonho, e disse-lhe que a pedra tinha poderes para atender a três
pedidos: um bem material, uma alegria e uma caridade. Mas que esses benefícios somente poderiam ser
utilizados em favor de outras pessoas. Para atingir o intento, cabia-lhe pensar no pedido e apertar a pedra
entre as mãos. O moço acordou desapontado. Não gostou de saber que os poderes da pedra somente poderiam
ser revertidos em proveito........ dos outros. Queria que fossem para ele. Tentou pedir alguma coisa para si,
apertando a pedra entre as mãos, sem êxito algum.... Assim, resolveu guardá-la, sem muito interesse em seu
uso. Os anos se passaram e este moço tornou-se bem velhinho. Certo dia, rememorando seu passado concluiu
que havia levado uma vida infeliz, com muitas dificuldades, privações e dissabores. Tivera poucos amigos,
porém, reconhecia ter sido muito egoísta. Jamais quisera o bem para os outros. Antes, desejava que todos
sofressem tanto quanto ele. Reviu a pedra que guardara consigo durante quase toda sua existência; lembrou-se
do sonho e dos prováveis poderes da pedra. Decidiu usá-la, mesmo sendo em proveito dos outros. Assim,
realizou o desejo de uma jovem, disponibilizando-lhe um bem material. Proporcionou uma grande alegria a
uma mãe revelando o paradeiro de uma filha há anos desaparecida e, por último, diante de um doente,
condoeu-se de suas feridas, ofertando-lhe a cura. Ao realizar o terceiro benefício, aconteceu o inesperado:- A
pedra transformou-se numa nuvem de fumaça e, em meio a esta nuvem, a fada - vista no sonho que tivera
logo ao achar a pedra - surgiu, dizendo:
- Usaste a Pedra da Felicidade. O que me pedires, para ti, eu farei. Antes, devias fazer o bem aos
outros, para mereceres o atendimento de teu desejo. Por que demoraste tanto tempo para usá-la ?
O homem ficou muito triste ao entender o que se passara. Tivera em suas mãos, desde sua juventude,
a oportunidade de construir uma vida plena de felicidade, mas, fechado em seu desamor jamais pensara que
fazendo o bem aos outros, colheria o bem para si mesmo. Lamentando o seu passado de dor e seu erro em
desprezar os outros, pediu comovido e arrependido:
- Dá-me, tão somente, a felicidade de esquecer o meu passado egoísta.”

O Gnomo Jacinto

Em algum ponto da floresta, o pequeno gnomo Jacinto chorava enquanto conversava com o sábio
Gnomo-mestre...
- Quando lembro de tudo o que já me aconteceu sinto o chão me faltar. Fico tonto, sabe? Por que será
que sofro tanto? Será que, por algum motivo, a Fada da Sorte escolheu caminhos distantes dos meus?
- Será que todos os contratempos a mim destinados resolveram acontecer de uma só vez? Mestre, já
não suporto viver assim...
O Gnomo-mestre, que reunia folhas numa pequena cabaça, olhou para o aprendiz e disse:
- Meu pequeno Jacinto, percebes o que acontece com as lágrimas que derramas?
- Como assim Senhor, eu não compreendo o que dizes.
Apontando para algumas áreas da mata, o velho e experiente gnomo respondeu:
- Olha com atenção. Por todo o caminho espalham-se flores justamente nos lugares onde tens vertido
teu pranto. Tuas lágrimas mágicas têm feito brotar lírios, papoulas e perfumadas alfazemas nos Lugares onde
caem.
Jacinto olhou ao redor e falou demonstrando admiração e um certo aborrecimento:
- Mas então... quer dizer que o meu destino é sofrer para fazer a floresta se encher de cor e perfume?
É preciso que meu coração morra aos poucos para a Natureza se encher de vida? Isso não é justo?
Com toda a tranqüilidade, o Gnomo-mestre respondeu:
- Os olhos vêem o que querem ver. O coração sente o que quer sentir. Então é essa a interpretação
que fazes? Se o teu sofrer, meu pequeno, faz brotarem as flores mais belas, o que poderia então surgir do teu
sorriso luminoso? Se transformas o verde da floresta num tapete multicolorido quando choras, o que poderia
acontecer no momento em que espalhasses a alegria? Não será esse o momento de mudar a semente que
espalhas? Percebes o poder que tens nas mãos? A dor cumpre o seu papel e tem sua razão de ser. Assim, deve
ser vista. Mas os olhos não podem se fixar nela por muito tempo, senão perdem a chance de ver o crescimento
que ela própria fez acontecer.
As orelhas do gnomo Jacinto se movimentavam enquanto recebiam as preciosas orientações do
sábio, como se não quisessem deixar escapar uma única palavra. Seus olhos, agora mais atentos, notaram que
uma luz começava a brilhar em seu peito. Teve vontade de sorrir mas estava difícil, uma vez que sua boca
tinha perdido esse hábito. Portanto fez um esforço e logo, logo, seus dentes estavam à mostra.
Foi aí que algo incrível aconteceu: quanto mais ele ria mais crescia. Crescia e crescia. Quem poderia
imaginar que Jacinto era um gigante? Aquele pequeno gnomo era agora um gigante grandalhão e sorridente.
Ele continuou rindo e sua risada ecoava nas montanhas e se transformava em música; musica mágica que
curava os passarinhos feridos e as plantinhas doentes. De uma hora para outra a floresta era só brilho e festa.
Jacinto procurou o Gnomo-mestre para agradecer, mas não conseguia mais enxergá-lo. E foi então
que, fechando os olhos, ouviu uma voz que dizia:
"Há e sempre haverá uma forma mais doce de viver. O sofrimento, no momento em que é percebido
como sofrimento, já está no ponto derradeiro da sua função e precisa ser substituído por uma outra semente.
Agradeça as lágrimas do passado e diga-lhes adeus. O momento agora é de focalizar os sorrisos do futuro. Há
e sempre haverá uma forma mais doce de viver."

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