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POLÍTICA É CIDADANIA

Mario Sergio Cortella

Existe uma tendência a excluir a relação direta entre política e cidadania, criando
uma rejeição curiosa à política e valorizando cidadania, como se fossem termos diversos. Há
um vínculo inclusive de natureza semântica entre as duas palavras, que, objetivamente,
significam a mesma coisa.
A noção de política está apoiada num vocábulo grego, polis (cidade) e cidadania se
baseia em um vocábulo latino correspondente, civitatem. Embora a origem etimológica seja
diferente, os dois termos propõem que se pense na ação da vida em sociedade (ou seja, em
cidade). Isso significa que não é possível apartar ou separar os conceitos.
Hoje, encontramos uma série de discursos, lemas e planos pedagógicos e
governamentais que falam em cidadania como se ela fosse uma dimensão superior à política.
Muito se diz que a tarefa da escola é a promoção da cidadania, sem interferência da política.
Não se menciona o conceito de política, como se ele fosse estranho ao trabalho educacional;
com isso, pretende-se dar à cidadania um ar de ideia nobre, honesta, de valor positivo. Sob
essa ótica, política é sinônimo de sujeira, patifaria, corrupção. Claro que não é assim.
Ambas as palavras e ações se identificam. É preciso recusar a recusa do termo política
no espaço educacional! Ainda temos essa rejeição ao conceito, como se ele pertencesse a
uma área menos significativa e menos decente que a cidadania. Ora, não se deve temer a
identidade dos conceitos, pois só assim é possível construir cidadania, no sentido político do
termo: bem comum, igualdade social e dignidade coletiva.
Assim, é necessário debater a política e isso é debater a cidadania. Falar em política
envolve também os partidos, mas não se esgota neles. É toda e qualquer ação em sociedade,
portanto, toda e qualquer ação em família, em instituições religiosas e sociais, no mundo das
relações de trabalho.
Num momento em que nosso país caminha para um revigoramento do processo
democrático, não é aceitável – porque poderá ganhar um ar conservador e até reacionário –
admitir que é princípio da escola "não se meter em política". Ao contrário, é porque se meterá
em política que a cidadania se reinventa. Porém, não é tarefa da escola a promoção da política
partidária, porque partido ou é uma questão de foro íntimo ou deve se dar nos seus espaços
próprios. É imprescindível levar esse tema para o debate no projeto pedagógico da escola,
sem assumir um viés partidário e sem, porém, invisibilizar o conhecimento das múltiplas
posturas.
Há uma diferença entre partidarizar e politizar. Mas a política, no sentido amplo de
cuidar da vida coletiva e da sociedade, é sim obrigação escolar e componente essencial do
currículo. A escola não pode se furtar ao mundo da política, porque isso implicaria
diretamente na impossibilidade da cidadania.

Mario Sergio Cortella é Professor de pós-graduação em educação (Currículo) da PUC-SP.


http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_revistas/revista_educacao/junho02/panoramica.htm

Perguntas norteadoras para pensar o texto

1. Em quais etiologias as palavras política e cidadania se baseiam e o que significam?


2. Política e cidadania são aspectos da vida que se relacionam? Comente sua resposta.
3. A cidadania ocupa uma dimensão superior à política? Justifique sua resposta.
4. Porque é necessário debater política e cidadania?
5. Qual a relação do texto com a disciplina?

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