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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO


DISCIPLINA: EDUCAÇÃO: PROCESSO SOCIAL E POLÍTICA

ALUNO: JACOB YEBOAH

Reflexão sobre o sentido e natureza da Política da Educação

O objetivo desse trabalho é apresentar uma reflexão sobre a natureza da política da


educação, buscando ver o significado do termo “política” e os aspectos que permitem afirmar
isso segundo o pensamento de alguns autores.

Os vários problemas da sociedade de hoje: injustiças, pobreza, corrupção,


desigualdades sociais ou seja, as várias crises da política, fazem com que a política é mal visto
pela grande maioria, como se não existisse algo bom ou ético nela. E como relata o Nogueira
(2004), a política está em crise, ou seja, a ideia de crise da política sugere que a crise chegou
ao âmago da vida social, dificultando o acúmulo de energia para que se explorem os
elementos virtuosos que emergem. No entanto a pergunta é, como será a sociedade sem
política? Será que se extinguimos todos os políticos a sociedade será melhor? Não iriamos
voltar para o estado sem leis onde os homens viriam lobos de si próprios como afirmou
Thomas Hobbes no Leviatã?

A palavra política da língua grega, “polis” significa cidade e politikós 1 que também
significa polido, cortês, delicado. Segundo Nogueira, “a política é um espaço onde indivíduos
e grupos postulam a condição de determinar a conduta, as orientações e as opções dos
demais.” (2004, p.28). Segundo o autor, isso é feito por meio da dominação, da força, coação,
ameaças e seduções, com o uso da sabedoria, inteligência e sensibilidade. É uma luta pelo
poder ou uma luta de classes. O grande pensador, Aristóteles afirma que a condição do
homem seria a de ser social, isto é, ele é um animal político que existe num pólis (cidade)
(apud Kury, 1985). Essa vinculação da política com o ser humano e a sociedade explica que
“a cidade é sempre uma construção da política, um produto de cidadoas dotados de educação
e disposição para estabelecer regras e leis destinadas a disseminar justiça, liberdade,
igualdade, princípios básicos da ordem numa sociedade política.” (NOGUEIRA, 2004, p. 29).

A política, portanto, é uma prática, um ambiente institucional, uma arte e uma ciência.
Ela ajuda as pessoas a integrar seus desejos, vontades, interesses numa vivência de conjunto.
1
Pertencentes aos cidadãos. Também significa significar tanto cidade-Estado
quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana.
“Oferece-nos mais chances de domesticar a autoridade, a arrogância, o poder” (NOGUEIRA,
2004, p. 31). É necessário a valorização da política porque ela é essencial e importante para a
construção de qualquer nação. Os protagonistas da política são as cidadoas, seu desafio é
organizar a vida coletiva de uma maneira justa e eficaz, tanto quanto possível domesticando o
poder e colocando-o a serviço do povo.

Segundo o Charlot (2013, p. 55), “tudo é político, porque a política constitui certa
forma de totalização do conjunto das experiencias vividas em uma sociedade determinada”.
Eleições, greve, corrida, jogo de futebol etc. são ações políticas. A educação também é
política, mas como? A história mostra claramente a preocupação da política na educação. Ela
manifesta-se nas instituições e nas teorias pedagógicas. Os importantes momentos da história
apresentam essa ligação entre política e educação: era grega, egípcios, império Romano, a
revolução francesa. “A importância política da educação sempre foi compreendida pelos
políticos.” (CHARLOT, 2013, p. 64).

O Charlot elabora quatro sentidos do significado da política na educação: a sua


transmissão de modelos sociais, isto é, modelos de trabalho, de vida, de troca, de relações
afetivas, de relações de autoridade, conduta religiosa. “Eles definem o comportamento dos
indivíduos diante dos outros indivíduos e das instituições sociais, e regulam sua participação
na vida dos grupos sociais.” (CHARLOT, 2013, p. 56). Portanto a educação ajuda a criança a
aprender a ser livre, honesto, justo e solidário. Essa transmissão também tem um significado
político.

O segundo sentido é, educação forma a personalidade. “A educação age politicamente


sobre o indivíduo ao instalar, no âmago mesmo de sua personalidade, estruturas psicológicas
de dependências, renúncia e idealização.” (CHARLOT, 2013, p. 59). Isso acontece depois que
a criança internaliza tudo que ela aprendeu sobre a sua personalidade e transmite isso na
sociedade.

A terceira: a educação difunde ideias políticas. A educação ensina para as crianças as


ideais políticas como o funcionamento da sociedade, a justiça, a liberdade, a igualdade etc.
“Ela adquire, ao mesmo tempo, as ideias políticas de seu ambiente familiar e social e as
concepções políticas dominantes, impostas à sociedade inteira pela classe dominante.”
(CHARLOT, 2013, p.60).

O quarto sentido é, a educação é assumida pela escola, instituição social. na escola, a


criança aprende os modelos e normas de comportamento, fundamentos éticos e ideais sociais
e políticas. “A escola desempenha, portanto, um papel político, na medida em que propaga
uma educação que tem em si mesma um sentido político” (CHARLOT, 2013, p.62). Ela
transmite mais eficazmente os modelos e das normas de comportamento, dos fundamentos
éticos do controle pulsional e das ideais sociopolíticas. Percebe-se também que a educação
depende muito na política para seu funcionamento. E a política que decide muitas ações
educacionais: financies, gestores, professores, currículos.

Outro sentido é seu dignificado da classe, pois nas várias relações entre educação e
política, é sempre uma lógica de classe que se manifesta. “É ela que impregna os modelos
culturais e os ideais, alimenta a ideologia dominante veiculada pela educação, aproveite-se da
repressão das pulsões sexuais e agressivas e exprime-se nas finalidades e na organização
interna da instituição educativa.” (CHARLOT, 2013, p.67).

A educação antes de ser política, assegura a integração social do indivíduo e ao mesmo


tempo cultiva ele. O crescimento e transformação das relações do indivíduo com o meio
social ou com a cultura e integração social, o conteúdo mínimo da ideia de educação, tais são
os dois aspectos importantes da educação, quaisquer que sejam as teorias pedagógicas nas
quais se inspira. (CHARLOT, 2013, p.70).

É importante ressaltar que as legislações da política pública são importantes para


educação, sua igualdade no acesso e permanência, qualidade, seu papel e desenvolvimento: a
Constituição Federativa do Brasil, no capitulo 111, seção 1, art. 205, disse, “a Educação,
direitos de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. “Educação cultiva o indivíduo”
(CHARLOT, 2013, p. 69).

Aguiar e Bock (2016, p. 210), afirma que “a Escola para além da responsabilidade de
transmitir valores às gerações futuras, constitui-se como uma instância onde tais valores são
reproduzidos. Ou seja, o processo educacional reapresenta, em sua configuração, os elementos
da realidade social mais ampla”.

Por fim, é obvio que há uma interligação entre a política e a educação. O próprio
sentido da palavra “política” tem muito a ver com a sociedade, a cidade, as cidadoas etc. É a
política que organiza todas as partes da vida de uma sociedade. A educação é o resultado da
formação desses indivíduos rescendendo dentro dessa sociedade. Educação é uma integração
social e cultura individual. Ela tem um sentido sociopolítico e cultural. A educação, porém, é
política porque é determinada pelas realidades sociais e pela situação social do educando.

Referências

AGUIAR, Wanda. M de J.; BOCK, Ana M. B. A dimensão subjetiva do processo


educacional: uma leitura sócio-histórica (org). São Paulo: Cortez, 2016.

CHARLOT, Bernard. A mistificação pedagógica. Rio de janeiro: Zahar Ed. 2013.


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Planalto do
Governo, 2016. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 25
de março de 2020.
NOGUEIRA, Marco A. Em defesa da política. 2ª Ed. São Paulo: ED.SENAC, 2004.

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