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POLÍTICAS EDUCACIONAIS

EM QUE MEDIDA A CONCEPÇÃO/MODELO DE ESTADO


É IMPORTANTE PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA?

Jhone Ramos da Silva

Prof.ª. Dr.ª Sandra Regina Davanço

Há sempre um movimento na descrição, ou sistematização de


conceitos/processos, que me parece ser útil quando se faz necessário analisar
a influência de alguma coisa sobre outra, no nosso caso, a
influência/importância - relação por assim dizer - entre o modelo de Estado e a
Educação que se pretende pública. O movimento a que me refiro é o de tentar
conceituar, ou pelo menos descrever o objeto de interesse dessa relação, que
aqui é a Educação objeto de interesse da influência do Estado. Para nosso
modelo de Estado que se pretende democrático, na obra de textos
selecionados de John Dewey (Westbrook, 2010), temos um panorama geral de
como este autor entende tanto a educação como sua relação imediata com a
sociedade:

Como a educação é um processo social e há muitas espécies de


sociedade, um critério para a crítica e a construção educativa
subentende um ideal social determinado. [...] uma sociedade
indesejável é a que interna e externamente cria barreiras para o livre
intercâmbio e comunicação da experiência. Uma sociedade é
democrática na proporção em que prepara todos os seus membros
para com igualdade aquinhoarem de seus benefícios e em que
assegura o maleável reajustamento de suas instituições por meio da
interação das diversas formas da vida associada. Essa sociedade
deve adotar um tipo de educação que proporcione aos indivíduos um
interesse pessoal nas relações e direção sociais, e hábitos de espírito
que permitam mudanças sociais sem o ocasionamento de desordens.
(p.108, John Dewey, textos selecionados).

Dewey defendia a ideia de que a educação pública é essencial para a


formação de cidadãos democráticos. Ele via a escola como uma instituição
central na promoção da democracia e na preparação dos indivíduos para
participarem ativamente na vida política e social. Para Dewey, a educação
pública não deveria apenas transmitir conhecimento, mas também cultivar
habilidades como pensamento crítico, colaboração e responsabilidade cívica.

Não há como negar alguns fatores sociais, como é o caso da influência


capitalista na escola, até porque em grande medida somos todos afetados por
esse sistema econômico que se tornou hegemônico no nosso cotidiano. No
artigo, Políticas públicas e educação: aspectos teórico-ideológicos e
socioeconômicos, Roberto Antonio Deitos, discute essa relação entre as
políticas públicas e a Educação no contexto brasileiro, ele destaca o fato de
estas políticas definidas pelo Estado estão diretamente ligadas ao processo de
produção social da riqueza e sua distribuição. Fica evidente a articulação
dessas forças hegemônicas na articulação de uma Educação voltada para
tendências liberais e socio-liberais.

Neste contexto, não apenas Dewey, mas também Martha Nussbaum


no texto Sem fins lucrativos: Por que a democracia precisa das humanidades
(2015), Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido (1987), concordam em uma
escola que eduque com vistas à libertação, empoderamento, que não se
resuma a desenvolvimento de habilidades técnicas, mas que formem pessoas
capazes de pensar criticamente a realidade que se apresenta. A escola e a
Educação neste sentido, se torna sempre um espaço de enfrentamento e
engajamento para a construção conjunta de uma sociedade mais decente e
humana.

REFRÊNCIAS
WESTBROOK, Robert B.: John Dewey / Robert B. Westbrook; Anísio Teixeira,
José Eustáquio Romão, Verone Lane Rodrigues (org.). – Recife:
Fundação Joaquim Nabuco, Coleção Educadores, Editora Massangana,
2010.
FREIRE, Paulo: Pedagogia do oprimido, 23ª reimpressão, 17ª. ed. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1987.
NUSSBAUM, Martha C.: Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das
humanidades / Martha C. Nussbaum ; tradução Fernando Santos. -São
Paulo : Editora WMF Martins Fontes 2015.
DEITOS, Roberto Antonio: Revista Acta Scientiarum. Education: Políticas públicas e
educação: aspectos teórico-ideológicos e socioeconômicos, Maringá, v. 32, n. 2, p. 209-
218, 2010.

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