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Universidade Federal de Minas Gerais

FAE – Faculdade de Educação

Marina Rodrigues Ramos

Afetividade e interatividade na educação a distância: dimensões dos processos educativos


em cursos de graduação

Belo Horizonte
2018
Marina Rodrigues Ramos

Afetividade e interatividade na educação a distância: dimensões dos processos educativos


em cursos de graduação

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão
Social da Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Minas Gerais para obtenção do grau de
Mestre em Educação, Conhecimento e Inclusão
Social.
Área de concentração: Política, Trabalho e
Formação Humana.

Orientador: Eucidio Pimenta Arruda

Belo Horizonte
2018
FICHA CATALOGRÁFICA

Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do


Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFMG

Ramos, Marina Rodrigues


Afetividade e interatividade na educação à distância: [manuscrito]:
dimensões dos processos educativos em cursos de graduação / Marina
Rodrigues Ramos. – 2018.
169 p.
Orientador: Eucidio Pimenta Arruda Arruda.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,


Faculdade de Educação.

1. Afetividade. 2. Interatividade. 3. Educação a distância. 4. Ensino


Superior. I. Arruda, Eucidio Pimenta Arruda. II. Universidade Federal de
Minas Gerais. Faculdade de Educação. III. Título.
FOLHA DE APROVAÇÃO

Afetividade e interatividade na educação à distância: dimensões dos processos educativos


em cursos de graduação
MARINA RODRIGUES RAMOS
Dissertação submetida à Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-
graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão social, como requisito para obtenção do
grau de Mestra em Educação, área de concentração Política, Trabalho e Formação Humana.

Aprovada em 25 de maio de 2018, pela banca constituída pelos membros:

Prof. Dr. Eucidio Pimenta Arruda – Orientador


UFMG

Prof. Dr. Marcello Ferreira


UnB

Profª. Drª. Adriana Araújo Pereira Borges


UFMG

Prof. Dr. Fernando Selmar Rocha Fidalgo


UFMG

Profª. Drª. Juliane Corrêa


UFMG

Profª. Drª. Mára Lúcia Fernandes Carneiro


UFRGS
DEDICATÓRIA

A Deus, por guiar meus passos e conceder-me sabedoria nas escolhas dos caminhos trilhados.
Aos meus pais e à minha irmã, pelo amor incondicional, apoio, confiança e por me
impulsionarem sempre em busca de aprimoramento constante.
Ao meu marido, por ser um companheiro presente em toda a caminhada.
AGRADECIMENTOS

É difícil mensurar o tamanho da minha satisfação em chegar ao fim deste percurso. Quando
resgato um pouco da minha história, vem à mente uma aluna esforçada que sempre buscou
desenvolver tudo a que se propõe, com afinco e dedicação. Ver este trabalho concluído me
enche o coração de orgulho!

Mas, para que fosse possível atingir este objetivo e sonho, várias pessoas estiveram presentes
ao longo desta caminhada, umas com maior intensidade, e outras, mesmo que indiretamente,
contribuíram nesta fase. De antemão, gostaria de agradecer a todos que se fizeram presentes,
muito obrigada!

Primeiramente agradeço a minha mãe, Milú, exemplo de uma mulher guerreira, que veio do
interior da Bahia sem estudo e conseguiu se superar, criando duas filhas com muito esforço e
dedicação, com a simplicidade do seu trabalho. Quando me remeto a essa mulher, as palavras
me faltam e o sentimento é indescritível. Meu muito obrigada, mãe, por estar presente em
todos os momentos da minha vida, por me apoiar, aconselhar, acolher, corrigir, instigar,
enfim, por ser meu porto seguro em qualquer momento, seja ele triste ou feliz.

Agradeço ao meu pai, Messias Ramos, pelo seu jeito tímido e pela simplicidade com que está
sempre presente me apoiando em todos os momentos. E, não menos importante, à minha
irmã, Mariana Ramos, por ser metade de mim. Nunca pensei que meus pais pudessem me dar
um presente tão maravilhoso como é ter você, companheira, amiga e parceira de vida.

Agradeço ao meu marido, Felipe Augusto, pela paciência e amor incondicional. Por ser um
parceiro, amigo, cúmplice em toda esta caminhada. O ano que ingressei no mestrado
coincidiu com o ano do nosso casamento, e a compreensão do Felipe em abdicar de
momentos para que eu pudesse estudar foi crucial nesta etapa. Sou extremamente grata em ter
escolhido uma pessoa tão especial para compartilhar a vida comigo, seja nos momentos de
vitórias, seja nos momentos de fracasso. Ter você ao meu lado me dá forças para buscar
sempre ser uma pessoa melhor.
Agradeço ao meu orientador, Eucidio Pimenta Arruda, pela leveza na condução do processo,
por ser um exemplo de professor, pela paciência, pela confiança em me escolher sem mesmo
me conhecer, por apostar no meu potencial. Conciliar o trabalho e o mestrado não foi uma
tarefa fácil. Na maioria das vezes, o Eucidio agendava as orientações de acordo com a minha
disponibilidade, conciliando com a dele, sendo que o correto seria o inverso. Aprendi muito
com você, professor, obrigada de coração!

Agradeço ao Senac, empresa na qual estou há seis anos, que me oportunizou conciliar os
estudos com o mestrado. Foi uma rotina intensa de casa, trabalho e UFMG; porém, me
orgulho de ter desenvolvido meu trabalho enquanto profissional da educação e ter conseguido
ampliar meus olhares, fazendo uma transposição com o que a academia estava me
proporcionando de saberes, vivências e novas aprendizagens.

Agradeço aos docentes da UFMG, por permitirem que eu ampliasse significativamente meus
saberes. Quero destacar, em especial, a Mafá, por ter me orientado em relação às
problemáticas da pesquisa voltadas à psicologia.

Agradeço aos colegas, que se fizeram presentes ao longo desta caminhada, as amizades
construídas na UFMG. As problematizações, estudos e trocas foram muito significativas para
meu desenvolvimento enquanto educadora.

Aos sujeitos e às instituições envolvidos nesta pesquisa, que foram tão acolhedores e abertos
para que eu pudesse realizar todos os procedimentos aos quais me propus, com as melhores
condições. Meu muito obrigada a todos os atores envolvidos nas instituições pública e
privada. Em especial, às coordenações dos cursos, por fazerem todas as interlocuções
necessárias.

Por fim, agradeço por ter conseguido cursar meu mestrado em uma Universidade Pública
Federal. O aprendizado que adquiri ao longo desses dois anos e meio na UFMG é
indescritível. A sensação que eu tinha após cada aula assistida, cada lauda redigida, é a de que
quanto mais eu aprendia, mais eu constatava o quanto ainda tenho a aprender.
EPÍGRAFE

“Que as coisas são inatingíveis? Ora! Isso não é motivo para não querê-las. Que tristes
seriam os caminhos sem a presença distante das estrelas.” (Mario Quintana)
RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo analisar como são estabelecidas as relações de afetividade e
interatividade nos processos que envolvem os atores (da Educação a Distância (EaD) e de que
forma essas relações contribuem para o processo de ensino e aprendizagem. A
problematização busca investigar como acontecem as relações de interatividade e afetividade
nos processos que envolvem os atores (aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) da
educação a distância? Em que medida essas relações proporcionam um maior envolvimento,
participação e engajamento dos alunos nas atividades desenvolvidas? O referencial teórico foi
estruturado de forma a compreender o conceito de afetividade e suas implicações, para isso
foi realizado um estudo da teoria de Vygostsky, que aborda a questão da afetividade por meio
do estudo das vivências e de Henri Wallon, que integra afetividade, inteligência e ato motor.
Posteriormente, apresenta-se o marco regulatório da EaD baseando em legislações que
regulamentam a modalidade e explora-se a questão da afetividade nos processos educacionais
tendo como referência Freire (1996) e Vygostsky (1993). E o último capítulo teórico
apresenta o conceito de dialogia, interação e interatividade na educação a distância, com base
em autores como Peters (2006), Moore e Kearsley (2008), Marco Silva (2014), Lilían Valle e
Estrella Bohadana (2012). A pesquisa empírica foi obtida por meio de um estudo de caso
realizado em um curso de bacharelado em Administração, ofertado por uma Instituição de
Ensino Superior Privada (IES), e uma licenciatura em Pedagogia, ofertada por uma Instituição
de Ensino Superior Pública (IES) vinculada ao sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Os procedimentos metodológicos realizados foram observações on-line no Ambiente Virtual
de Aprendizagem (AVA) de ambas as Instituições, entrevistas e questionários
semiestruturados com uma amostra representativa de alunos regulamente matriculados nos
cursos. Os dados foram analisados sob a ótica da análise de conteúdo de Laurence Bardin,
para isso, elegeu-se duas categorias analíticas, sendo a primeira diálogo, interação e
interatividade e a segunda afetividade, de forma a identificar elementos que caracterizam a
presença do afeto e da interatividade na oferta de cursos a distância. Os resultados
demonstram que, apesar dos profissionais buscarem oportunizar diferentes estratégias
didáticas, a fim de contribuir com o processo de ensino e aprendizagem dos alunos, ainda
existe um longo caminho a ser percorrido para desenvolver as potencialidades da
interatividade e afetividade nos processos de ensino e aprendizagem superior. Com esta
pesquisa, pretendemos buscar subsídios para que o ato educativo desenvolvido nos cursos
EaD seja permeado pelo cuidado nas relações de forma a oportunizar aos estudantes um
aprendizado produtivo, prazeroso e instigador.

Palavras-chave: Afetividade. Interatividade. Educação a Distância. Ensino Superior.


ABSTRACT

This research aims to analyze how the relations of affectivity and interactivity in the processes
involving the actors (student, teacher, tutor and team of professionals) of distance learning
(EaD) are established and to what extent do these relationships lead to greater involvement,
participation and engagement of the students in the educational activities developed. The
problematization seeks to investigate how the relations of interactivity and affectivity in the
processes involving the actors (student, teacher, tutor and team of professionals) of distance
education? To what extent do these relationships lead to greater involvement, participation,
and engagement of students in their activities? The theoretical framework was structured in
order to understand the concept of affectivity and its implications. For this, a study of
Vygostsky's theory was carried out, which deals with the question of affectivity through the
study of the experiences and of Henri Wallon, which integrates affectivity, intelligence and
motor act. Subsequently, the regulatory framework of EaD is presented based on legislation
that regulates the modality and the issue of affectivity in the educational processes is
explored, taking as reference Freire (1996) and Vygostsky (1993). Based on authors such as
Peters (2006), Moore and Kersley (2008), Marco Silva (2014), Lilian Valle and Estrella
Bohadana (2012), the last theoretical chapter presents the concept of dialogue, interaction and
interactivity in distance education. The empirical research was obtained in a bachelors degree
in Administration, offered by a private university and a degree in Pedagogy offered by a
public university linked to the Open University of Brazil (UAB) system. The methodological
procedures were semi-structured interviews and questionnaires with a representative sample
of students enrolled in the courses. The data were analyzed from the perspective of Laurence
Bardin's content analysis. Two analytical categories were chosen: the first dialogue,
interaction and interactivity, and the second affectivity, in order to identify elements that
characterize the presence of affect and of interactivity in the offer of distance courses. The
results show that although the professionals seek to provide different teaching strategies in
order to contribute to the teaching and learning process of the students, there is still a long
way to go in order to develop the potential of interactivity and affectivity in higher education
and learning processes. With this research, we intend to seek subsidies for the educational act
developed in the EaD courses to be permeated by care in relationships in order to give
students a productive, pleasurable and instigating learning.

Keywords: Affectivity. Interactivity. Distance Learning. Higher education.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Apresentação da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente I


Figura 2 – Unidade 1 da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente I
Figura 3 – Unidade 2 da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente I
Figura 4 – Unidade 3 da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente I
Figura 5 – Trabalho final da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente I
Figura 6 – Última atividade do semestre e link para postagem de atividades em atraso
Figura 7 – Pesquisa Interatividade e afetividade na EaD
Figura 8 – Exame especial
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Hierarquia da Interação


Quadro 2 – Interatividade tecnológica e Interatividade situacional
Quadro 3 – Sujeitos da pesquisa
Quadro 4 – Roteiro de observação on-line
Quadro 5 – Docentes Privada x Docente Pública e Tutor Privada x Tutor Pública
Quadro 6 – Secretaria Privada x Secretaria Pública e Suporte Privada x Suporte Pública
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem


EaD – Educação a Distância
IES – Instituição de Ensino Superior
NDE – Núcleo Docente Estruturante
PNE – Plano Nacional de Educação
TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação
UAB – Sistema Universidade Aberta do Brasil
ZDI – Zona de Desenvolvimento Iminente
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Contatos IES Privada x IES Pública


Gráfico 2 – Frequência IES Privada x IES Pública
Gráfico 3 – Outras ferramentas utilizadas – IES Privada x IES Pública
Gráfico 4 – Conversas no AVA – IES Privada x IES Pública
Gráfico 5 – Linguagem – IES Privada x IES Pública
Gráfico 6 – Feedback – IES Privada x IES Pública
Gráfico 7 – Relação com a equipe pedagógica – IES Privada x IES Pública
4

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 17

2. CAPÍTULO I – AFETIVIDADE: COMPREENSÃO DO CONCEITO E SUAS


IMPLICAÇÕES ..................................................................................................................... 24

2.1 Constituição histórico-cultural do ser humano ................................................ 24

2.2 Concepções de Vigotski sobre vivência, sentimentos e afetos na perspectiva


histórico-cultural ....................................................................................................... 26

2.3 Afetos e sentimentos na atividade de imaginação e criação segundo Vigotski


.................................................................................................................................... 31

2.4 Emoções, sentimentos e afetos na perspectiva de Henri Wallon .................... 33

2.4.1 Emoções e afetividade ................................................................................... 33

2.4.2. Os sentimentos .............................................................................................. 39

2.4.3 Emoções e psiquismo .................................................................................... 42

2.4.4 Estudo integrado do desenvolvimento: afetividade e inteligência ............... 43

2.5 Conexões teóricas entre Wallon e Vygotsky ..................................................... 49

3. CAPÍTULO II – DIMENSÕES DA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO A


DISTÂNCIA ............................................................................................................................ 52

3.1 Marco Regulatório da EaD no Brasil e características da modalidade ......... 52

3.2 Afetividade na educação: implicações para o processo de ensino e


aprendizagem ............................................................................................................ 59

3.3 Afetividade e Educação a distância: visão da afetividade e processos


educacionais ............................................................................................................... 65

4. CAPÍTULO III – DIALOGIA, INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE ........................ 69

4.1 Dialogicidade e educação e o aluno da Educação a distância: aprendizado de


adultos ........................................................................................................................ 69

4.2 Diálogo: compreendendo o conceito .................................................................. 73

4.3 Diálogo na EaD.................................................................................................... 74

4.4 Interação na EaD ................................................................................................ 78


5

4.5 Interação e Interatividade .................................................................................. 81

5. METODOLOGIA............................................................................................................... 85

5.1 Delimitação do campo para coleta de dados .................................................... 86

5.2 Instrumentos para coleta de dados empíricos .................................................. 89

5.3 Caracterização dos sujeitos da pesquisa ........................................................... 90

5.4 Tratamento e análise dos dados ......................................................................... 91

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS: ............................................................. 95

6.1 Dialogia, interação, interatividade e afetividade na EaD sob o olhar dos


atores envolvidos na oferta dos cursos .................................................................... 95

6.1.1 Dialogia, interação, interatividade e afetividade compreendidas mediante


procedimento de observação on-line: IES privada x IES pública ....................... 95

6.1.2 Observação on-line IES Privada .................................................................. 96

6.1.3 Observação on-line IES Pública................................................................. 100

6.1.4 Dialogia, interação, interatividade e afetividade compreendidas mediante


procedimento de entrevistas e questionários: IES Privada x IES Pública ........ 106

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 133

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 137

APÊNDICE – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO E ENTREVISTAS ................................ 142


17

1. INTRODUÇÃO

São diversos os estudos sobre a Educação a Distância (EaD) e, comumente, as pesquisas


realizadas têm como foco aspectos relacionados às práticas pedagógicas de ensino e
aprendizagem na EaD, ao trabalho realizado pelo tutor e seus desafios, à história da EaD
e suas gerações, às tecnologias digitais de informação e comunicação utilizadas ou aos
materiais didáticos para EaD1. Os estudos sobre as relações de interatividade e
afetividade no processo de ensino e aprendizagem da EaD são ainda escassos na
literatura acadêmica, motivo pelo qual nos interessamos pela temática.

Na sociedade em que estamos inseridos, a comunicação, informação e conhecimento


estão presentes, seja no ensino presencial ou na educação a distância, e a escola com o
seu papel de “educar” busca possibilitar que advenha um ser humano, membro de uma
sociedade e de uma cultura, sujeito singular e insubstituível (CHARLOT, 2013). Assim,
o maior desafio das escolas é fazer com que esses elementos presentes na sociedade
sejam levados para o ambiente escolar, de forma a oportunizar uma aprendizagem que
faça sentido e contribua com o desenvolvimento dos alunos.

Durante o percurso que a escola vem trilhando, Silva (2014) elucida que esse processo
de comunicação, informação, produção de conhecimento e de aprendizagens vem sendo
construído por meio das interações entre os sujeitos envolvidos nesta ação – professores
e alunos que se beneficiam de elementos da comunicação presentes em cada tempo
histórico que contribuem com a educação. Elementos estes que oportunizavam, na
maioria das vezes, uma comunicação unidirecional.

Para exemplificar esta análise, Silva (2014) argumenta que a escola vem preparando os
sujeitos por meio de lições-padrão, para ocupar seu espaço, e atualmente ainda tem que

1
Exemplificamos alguns autores que tratam dos temas das pesquisas comumente realizadas sobre EaD,
como Mill e Pimentel (2010) no qual os autores discutem as práticas pedagógicas cotidianas, na
relação dialógica entre professores e alunos, além de problematizarem a questão dos materiais
didáticos para EaD. Rêgo (2010) traz uma problematização importante em relação ao trabalho do tutor
sendo um dos principais responsáveis pela interação com os alunos na EaD. Carmem (2007) apresenta
as gerações da EaD, a história da EaD no Brasil e no ensino superior e Rosa (2014) trata das
tecnologias digitais de informação e comunicação e os processos de reconfiguração de modelos de
educação a Distância de Nível Superior.
18

dar conta do espaço “virtual”, do ciberespaço, que não se limita ao modelo tradicional
da difusão de conhecimentos.

Com este desafio, o de oportunizar a aprendizagem utilizando-se dos recursos


tecnológicos existentes e dos recursos que surgem a cada dia, seja no ensino presencial
ou a distância, o professor tem um elemento de suma importância ao seu favor, que é a
interatividade. Utilizamos, aqui, o conceito de interatividade como um aporte da teoria
da comunicação que, segundo Silva (2014), pode ser pensada como uma nova tipologia
de ensino que está inserida em um processo de reconfiguração das comunicações
humanas em toda sua amplitude, não reduzindo o e/ou simplificando o conceito. Neste
sentido, as novas tecnologias interativas revitalizam a relação estabelecida entre os
atores envolvidos em um processo educacional, oportunizando o estabelecimento de
relações com textos, imagens e com o conhecimento em si.

Neste percurso, surge a relevância de analisar e discutir como a interatividade contribui


para o processo de ensino e aprendizagem na EaD e, problematizando essa questão,
evidencia-se um termo que merece atenção e destaque especial, tendo em vista que o
processo comunicacional exige elementos que irão fazer com que um aluno de um curso
realizado na modalidade a distância sinta-se próximo e acolhido pela equipe envolvida
naquela oferta, que é a afetividade. Assim, buscamos compreender como acontecem as
relações de interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores (aluno,
professor, tutor e equipe de profissionais) da educação a distância? Em que medida
essas relações proporcionam um maior envolvimento, participação e engajamento dos
alunos nas atividades desenvolvidas?

O termo afetividade tem uma característica relevante que pressupõe contato entre os
sujeitos. Carvalho e Lima (2015) definem que emoção e afetividade são elementos a
serem considerados em qualquer fase da vida, pois estão presentes em todas as situações
e relações pessoais, inclusive nas situações de aprendizagem, entendidas como processo
construído socialmente na interação entre os sujeitos históricos.

Desta forma, as relações de afetividade estão presentes na relação de educação, seja ela
presencial ou a distância. Podem ser evidenciadas com maior ou menor intensidade,
19

dependendo do grau de interação ou interatividade estabelecido entre os atores


envolvidos em um processo educativo.

É preciso aprofundar o estudo e a pesquisa sobre esse termo, para verificar algo tão
questionado nos cursos realizados a distância que são, muitas vezes, interpretados como
uma modalidade de educação “fria”, na qual existe um distanciamento dos envolvidos
devido à inexistência ou à pouca frequência com que ocorrem os encontros presenciais.

Corroborando com esse questionamento, Carvalho e Lima (2015) destacam que a


afetividade exerce um papel fundamental nas correlações psicossomáticas básicas, pois,
além de influenciar decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, a vontade e a
ação, constitui um componente essencial da harmonia e do equilíbrio: a personalidade
humana.

A educação a distância tem uma história construída por meio da utilização de suportes
tradicionais, como o impresso via correio, o rádio e a TV, e com o surgimento da
internet vive o seu boom. A EaD on-line, para Silva (2003), é demanda da sociedade da
informação, que cada vez mais compartilha e produz informações. Neste contexto, os
cursos realizados nesta modalidade ganham adesão devido à flexibilidade de tempo e
espaço, porém, apresentam um grande desafio, que é proporcionar a aprendizagem dos
estudantes por meio dos recursos de interação disponíveis nos AVAs e do pouco contato
físico entre docente e discente.

Uma das hipóteses a esta problemática pressupõe que o tutor é o principal responsável
pelo estabelecimento de vínculos de interatividade e afetividade com os alunos de um
curso realizado a distância. Outra seria a de que o professor é o principal responsável
pelo estabelecimento dessas relações. E, por fim, existe uma probabilidade de que a
equipe de profissionais que os alunos têm contato nos encontros presenciais é a mais
próxima deles, por isso, eles estabelecem uma relação de interatividade e afetividade
maior com esses sujeitos.

O objetivo principal desta pesquisa consiste em analisar como são estabelecidas as


relações de interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores da
20

educação a distância (aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma


essas relações contribuem para o processo de ensino e aprendizagem.

De maneira específica, pretendemos verificar como são realizados os contatos e as


possíveis relações de interatividade e afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno,
aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e tutor/professor/aluno; identificar o
tipo de linguagem utilizada na interação entre tutor/aluno, aluno/aluno, aluno/professor,
aluno e equipe de profissionais e tutor/aluno/professor; compreender como acontecem
os feedbacks recebidos pelo aluno nas atividades realizadas e observar as intervenções
da equipe pedagógica nas atividades desenvolvidas, sejam individuais ou em grupo, e a
presença da interatividade e afetividade.

Em busca de respostas para esses questionamentos, o primeiro Capítulo busca


compreender quais os autores da psicologia irão subsidiar a pesquisa. Inicialmente,
tínhamos como referência Piaget, Vygotsky2 e Wallon, porém, mediante estudo das
concepções teóricas dos autores, definimos pela psicologia histórico-cultural, que nos
permitiu analisar o conceito de afetividade e suas nuances entre emoções, sentimentos e
afetos sob a ótica de Vygotsky e Wallon.

Segundo Bastos (2014), Vygotsky concebe o ser humano como sujeito social,
influenciado e determinado pelas condições socioculturais, contextualizado e em
constante transformação. Já Wallon concebe o sujeito a partir da integração de
afetividade, inteligência e ato-motor (motricidade). Assim, referenciamo-nos nesses
autores para compreensão da afetividade e procuramos estabelecer uma conexão teórica
entre eles.

Consideramos que a afetividade é interpretada como um campo mais amplo que o das
emoções, na concepção de Wallon (1968). E, a partir do referencial de Clot (2016),
compreendemos a afetividade como um conceito amplo que engloba as emoções,
sentimentos e os afetos, sendo o afeto correspondente à atividade. Consideramos os
afetos como ação transformadora que aumenta ou diminui a potência de agir, e as

2
O nome Vygotsky será apresentado respeitando a grafia dos diferentes autores consultados, por isso terá
variações relacionadas ao emprego do (i) ou (y).
21

emoções como instrumentos da atividade para amenizar situações de defasagem de


afetividade.

Mediante entendimento desse conceito, no segundo Capítulo, fazemos a relação da


afetividade na educação e suas implicações para o processo de ensino e aprendizagem
na modalidade de educação a distância. Para Freire (1996), não é certo, do ponto de
vista democrático, que o professor será melhor quanto mais severo, mais frio, mais
distante e “cinzento” seja nas relações com os alunos. Tassoni (2000) explica que toda
aprendizagem está impregnada de afetividade, já que ocorre a partir das interações
sociais.

Além disso, procuramos compreender as legislações que regulamentam a EaD e como o


docente pode ser um mediador da aprendizagem, atuando na Zona de Desenvolvimento
Iminente (ZDI) dos estudantes tendo como subsídio teórico Prestes (2010), Pino (1991),
Freire (1996). Segundo Prestes (2010), Vygostsky diz que a instrução pode, em uma
ação colaborativa, seja de um adulto ou entre pares, criar possibilidades para o
desenvolvimento.

No terceiro e último Capítulo teórico, é realizado um estudo sobre dialogia, interação e


interatividade, buscando entender a aplicabilidade desses termos no desenvolvimento
dos cursos e como a interatividade está presente hoje na comunicação dos atores
envolvidos na EaD. Para isso, apresentamos elementos que caracterizam a
aprendizagem de adultos e correlacionamos aos conceitos de dialogicidade, interação e
interatividade, tendo como referência os estudos de Moore e Kearsley (2008), Silva
(2014) e Peters (2006).

Quando falamos de diálogo, precisamos ter em mente a importância e relevância desse


termo nos processos de ensino e aprendizagem na EaD. Peters (2006) elucida que o
diálogo não apenas desempenha funções auxiliares, mas, é também uma forma
autônoma de ensino e aprendizagem, com funções pedagógicas e didáticas específicas.

Além do entendimento do que venha a ser o diálogo nesta modalidade de ensino, é


fundamental compreender como ocorrem as interações. Moore e Kearsley (2008)
identificaram três tipos distintos de interação: interação do aluno com o conteúdo,
22

interação com o instrutor e interação com outros alunos. Procuramos explorar


características dessas interações na coleta de dados.

Não menos importante, a interatividade deve ser considerada com um elemento crucial
nos cursos a distância. O conceito de interatividade apresentado por Silva (2014)
vislumbra a possibilidade de uma conjunção complexa operando entre o usuário e a
tecnologia hipertextual.

O quarto Capítulo refere-se à metodologia desenvolvida para coleta e análise de dados.


Foi realizada uma pesquisa qualitativa, por meio de um estudo de caso, realizado em
uma IES Pública e em uma IES Privada que ofertam cursos de licenciatura e
bacharelado a distância, respectivamente. Nosso objetivo é analisar a oferta em uma IES
Pública Federal (por meio do Sistema Universidade Aberta do Brasil – UAB), e em uma
IES Privada, que desenvolve os cursos com recursos próprios.

Buscou-se uma IES Privada que possui sólida experiência na oferta do curso de
bacharelado em Administração, que possui uma equipe interdisciplinar que busca
atender as demandas sociais e do mercado de trabalho visando oferecer o ensino a
distância de qualidade, além de possuir turmas regulares do curso de Administração. E,
representando a licenciatura, elegeu-se uma IES Pública vinculada ao Sistema
Universidade Aberta do Brasil (UAB), que também apresenta sólida experiência na
oferta do curso de licenciatura em Pedagogia além de turmas regulares do curso em
andamento.

Para a coleta de dados, foram desenvolvidos três procedimentos metodológicos:


observação on-line, entrevistas e questionário semiestruturado, tendo como sujeitos os
atores envolvidos na oferta dos cursos, alunos, docentes, tutores, secretarias, suporte
técnico e coordenação de curso. Os dados foram organizados, classificados e analisados
seguindo as etapas de análise de conteúdo definidas por Laurence Bardin (2010) como
uma possibilidade de “analisar metodicamente com vistas a elaborar uma síntese fiel e
convincente” do estudo proposto.

Assim, finalizamos ilustrando que esta pesquisa surgiu por meio de uma vivência como
tutora em um curso realizado na modalidade a distância (Educação a Distância – EaD).
23

Percebemos que é designado ao profissional tutor um papel de extrema importância, que


deve ser permeado pelo cuidado com as relações estabelecidas no Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA), para que o processo de ensino e aprendizagem ocorra de forma
satisfatória, seja produtivo, prazeroso e instigador.

Com esta experiência, foi possível elencar uma série de competências e habilidades que
um profissional precisa ter e/ou desenvolver para realizar um trabalho de qualidade, que
vai muito além de corrigir trabalhos, conduzir fóruns e lançar notas. Já o professor
precisa ser um mediador, criar estratégias para despertar no aluno de um curso realizado
na modalidade EaD o interesse e o prazer pelo que está aprendendo.
24

2. CAPÍTULO I – AFETIVIDADE: COMPREENSÃO DO CONCEITO E SUAS


IMPLICAÇÕES

2.1 Constituição histórico-cultural do ser humano

O entendimento da história da psicologia e psicologia histórico-cultural é de extrema


relevância. Para Oliveira (1992), as dimensões cognitivas e afetivas do funcionamento
psicológico têm sido tratadas, ao longo da história da psicologia como ciência, de forma
separada. Esse fenômeno pode ser observado quando discutimos o estudo do termo na
visão de Piaget, que buscava compreender a afetividade separada da Razão.

Atualmente, percebe-se uma tendência de reunião desses dois aspectos numa tentativa
de recomposição do ser psicológico completo. E essa tendência, ainda segundo Oliveira
(1992), parece assentar-se em uma necessidade teórica de superação de uma divisão
artificial, a qual acaba fundamentando uma compreensão fragmentada do
funcionamento psicológico.

Oliveira e Rego (2003) explicam que Vygotsky procurou elaborar uma nova perspectiva
que tratasse de outro modo as relações entre mente e corpo e entre cognição e afeto, e
que para que isso acontecesse, o autor teve uma influência do filósofo holandês
Espinosa3. Este propunha uma solução monista para os problemas relacionados ao
corpo e à alma, ao sentimento e à razão, apontando para a necessidade de superar essa
tradicional fragmentação [...]. Vygotsky enfatiza que uma compreensão completa do
pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva:

Quem separa desde o começo o pensamento do afeto fecha para sempre a


possibilidade de explicar as causas do pensamento, porque uma análise
determinista pressupõe descobrir seus motivos, as necessidades e interesses,
os impulsos e tendências que regem o movimento do pensamento em um ou
outro sentido. De igual modo, quem separa o pensamento do afeto, nega de
antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do pensamento no
plano afetivo, volitivo da vida psíquica, porque uma análise determinista
desta última inclui tanto atribuir ao pensamento um poder mágico capaz de
fazer depender o comportamento humano única e exclusivamente de um
sistema interno do indivíduo, como transformar o pensamento em um
apêndice inútil do comportamento, em uma sombra sua desnecessária e
impotente. (VYGOTSKY, 1993, tomo II, p. 10).

3
A grafia do nome Espinosa pode variar ao longo do texto entre Espinosa e Spinoza, seguimos o que
estava na publicação citada.
25

Esta citação de Vygotsky permite inferir que é fundamental conhecer a relação entre
pensamento e a dimensão afetiva para os estudos psicológicos. Kravtsov (2014)
descreve que a história da ciência demonstra que as bases teóricas das concepções e
abordagens psicológicas estão na filosofia. A psicologia, assim como todas as outras
ciências, tem suas origens do conhecimento filosófico geral. E esse cordão umbilical
que liga as ciências, felizmente, existe ainda nos dias atuais. Deve-se dizer que esse laço
não é transitório historicamente, mas uma parte essencial e extremamente importante no
conjunto da ciência psicológica. A reflexão filosófica é a atribuição do sentido das bases
da teoria psicológica, protegendo a psicologia das abordagens infrutíferas e positivistas.

Esse fato é de extrema seriedade. Kravtsov (2014) explica que nem sempre os
psicólogos têm consciência da filosofia que apregoam e realizam, na realidade, em seus
trabalhos de investigação. A ingenuidade e a virgindade filosóficas são categoricamente
contraindicadas na ciência psicológica. O autor exemplifica com o fato de que até hoje
alguns psicólogos são seduzidos a reduzir todo o conteúdo do psíquico aos mecanismos
neurofisiológicos. Essa não reflexão sobre as bases filosóficas das teorias psicológicas
leva a um monstruoso ecletismo quando se junta o que é incompatível.

Kravtsov (2014) conta que já ouviu, em conferências científicas de renome,


convocações para, por exemplo, deixarem de contrapor Piaget e Vigotski, mas tomá-los
e unir o que cada pesquisador tem de melhor. Pensando desta forma, perderemos
exatamente o que há de melhor em Piaget e em Vigotski, porque é impossível unir
mecanicamente teorias que têm princípios basilares qualitativamente diferentes, assim
como visões de mundo dos autores estruturalmente diversas.

Desta forma, ao optar por utilizar a teoria de Vigotski é fundamental entendê-la em sua
plenitude. Segundo Jeresbtsov (2014), um dos feitos da teoria de Vigotski é a
generalização de muitos fenômenos psicológicos traduzidos no conceito de vivência
(perejivanie). Estudar vivências se liga à necessidade de compreensão teórica dos
fenômenos da existência da personalidade. E esses fenômenos não podem ser estudados
pela psicologia positivista, nem podem ser conceituados pela filosofia, culturologia e
outras ciências contíguas. O estudo desses fenômenos adquire importância prática na
aplicação das formulações teóricas sobre as vivências da personalidade na realização da
26

promoção psicológica e de outras práticas sociais como: educação, medicina, economia,


política etc.

Então, por que psicologia histórico-cultural? Para Jeresbtsov (2014), muitas das
considerações importantes sobre vivências da personalidade foram formuladas por L. S.
Vigotski, todavia, antes dele, outros autores buscaram interpretar as vivências. Dilthey
definiu as vivências como objeto de estudo da psicologia descritiva. B. Espinosa
buscava o entendimento das vivências, afeto e razão. Até meados do século XX, as
vivências foram estudadas no contexto da abordagem existencialista-fenomenológica,
com os autores Husserl, Rogers, Heidegger, Boss, Binswamger, Frankl, Lengle.

Posteriormente, M. M. Bakhtin, em um movimento que aconteceu de certo modo


isolado, com o nome de “tradição dialógica da psicologia”, estuda o dialogismo,
polifonia e polissemia das palavras – tendo o diálogo como existência – acrescentando
expressão de ideologias. Losev também estudou as vivências sobre a esfera do mito, e
Vasiliuk compreendeu as vivências como definição da correspondência semântica entre
consciência e existência.

2.2 Concepções de Vigotski sobre vivência, sentimentos e afetos na


perspectiva histórico-cultural

Com o intuito de estruturar um pouco as considerações de Vygotsky sobre as vivências,


Jeresbtsov (2014) destaca quatro pontos-chave:

1) as vivências se manifestam na qualidade de principal característica da


situação social de desenvolvimento; elas refletem a unidade do “interno” e do
“externo” no desenvolvimento. [...]
2) as vivências são a unidade afeto-intelecto. Não seria correto encará-las
como manifestação exclusiva da esfera emocional, no que insistem muitos
autores (V.P. Iliin, A.V. Petrovski, M. G. Iaroshevski). E é verdade, o que
são as vivências de uma pessoa sem a sua reflexão, sem a análise racional da
situação de vida? As vivências possibilitam superar a separação entre a razão
e os sentimentos, elas orientam o psicólogo para a realidade e a importância
da experiência sem mediadores. Na vivência, há espaço para o
entrelaçamento das linhas de desenvolvimento natural (necessidade, afeto) e
cultural (reflexão fundamentada em conceitos).
3) as vivências são uma unidade (indicador integrativo) de análise da
consciência e do desenvolvimento da personalidade, ou seja, com ajuda do
conceito de vivência L. S. Vigotski tenta entender as mudanças da
personalidade como uma unidade completa. [...]
27

4) a vivência leva ao desenvolvimento da personalidade; é o fator e, ao


mesmo tempo, a condição interna de uma neoformação. L. S. Vigotski diz
que o desenvolvimento etário pode ser representado como história de
vivências da personalidade em formação. As vivências são indicadores de
diversas etapas da história da formação da personalidade. [...]
(JERESBTSOV, 2014, p. 17).

Jeresbtsov (2014) explica que é importante levar em consideração alguns aspectos para
se aplicar a abordagem histórico-cultural às vivências, como por exemplo, o
imediatismo e a mediação das vivências; a utilização do método genético no estudo das
vivências; a historicidade das vivências, determinação e instrumentalização
sociocultural; a vivência como um processo de auto-organização, caminho ascendente
para a individualidade.

Ainda na percepção de Jeresbtsov (2014), a análise das vivências não pode ser feita
puramente por meio de técnicas (positivismo), nem tampouco por meio da pura
descrição, mas há que estudá-las por meio da compreensão dos fenômenos da existência
humana no processo de evolução do sistema que os gera – no seu processo de
desenvolvimento histórico-cultural – visando o desenvolvimento objetivo,
metodológico e histórico como partes necessárias do conhecimento psicológico.

É importante conceituar a psicologia histórico-cultural devido à sua relação direta com o


processo de construção cultural e caracterização dos aspectos cognitivos. Jeresbtsov
(2014) caracteriza-a como uma teoria relacionada ao paradigma das ciências humanas
do conhecimento psicológico. Sendo que o objeto das ciências humanas não é dado que
precisa ser quantificado, mas são as relações significantes que devem ser interpretadas
com ajuda dos órgãos culturais e conceitos científicos, antes de tudo. E o conteúdo
semântico da psicologia histórico-cultural, inclui uma multiplicidade de abordagens e
paradigmas da vida psicológica, conhecida pela história.

No nome histórico-cultural será iluminado não somente um ou outro


fenômeno psicológico numa dinâmica histórica (gênese da memória, da
atenção, da percepção, da fala, do pensamento, do comportamento
consciente, etc.), além da multiplicidade de abordagens para o estudo deste
fenômeno, avaliada num contexto sociocultural concreto. (JERESBTSOV,
2014, p. 19).
28

O estudo das vivências por meio da abordagem histórico-cultural para Jeresbtsov (2014)
é, antes de tudo, uma questão de visão de mundo pelo psicólogo, da sua compreensão
metodológica das realidades psicológicas, intrinsicamente ligadas ao seu
desenvolvimento profissional e pessoal [...]. Estudar as vivências fora da cultura e da
história simplifica, empobrece e torna rasas e unilaterais sua essência e fenomenologia.

Como podemos conceituar Vivências? Vivências são o processo de formação


pela personalidade da sua relação com as situações da vida, a existência em
geral com base nas formas e valores simbólicos transformados pela atividade
interna, emprestados da cultura e devolvidos a ela. (JERESBTSOV, 2014,
p.19).

Jeresbtsov (2014) apresenta a afirmação de Vigotski de que um passo na instrução pode


significar cem passos no desenvolvimento, assim como o enriquecimento das
possibilidades do homem não só no plano da sua intervenção no meio ambiente objetivo
e material, mas também no plano da vida psicológica interior, que erige fundamentada
em artefatos socioculturais (dos instrumentos, dos signos como instrumentos, dos
conceitos como palavras, dos sentidos como conceitos vivenciados – ou seja – da
mediação semiótica). Então, é a partir dos afetos e imagens espontâneos que prevalecem
no homem (durante o processo de ampliação e alteração qualitativos dos instrumentos
psicológicos) que ele passa ao domínio das vivências, à tomada de controle desses
instrumentos psicológicos.

Jeresbtsov (2014) explica que a ZDI (e não mais zona de desenvolvimento proximal ou
imediato) elabora as condições, os instrumentos, o espaço semântico para a vivência de
um novo eu – em colaboração, convivência com outros em eterno processo de
transformação.

Oliveira (1992) explica que um dos aspectos mais difundidos e explorados na teoria de
Vygotsky se refere ao funcionamento cognitivo4: a centralidade dos processos
psicológicos superiores no funcionamento típico da espécie humana; o papel dos
instrumentos e símbolos, desenvolvidos e internalizados pelos indivíduos de acordo
4
É importante destacar que Vygotsky nunca usou o termo ‘cognição’, apenas recentemente é que um
equivalente mais preciso de cognição entrou no léxico da psicologia soviética, com o termo ‘kognitivnii’.
Porém, isso não quer dizer que psicólogos soviéticos não estudaram processos como pensamento,
percepção e memória. Os termos utilizados por Vygotsky para designar processos que denominamos
cognitivos são “funções mentais” e “consciência”. O termo ‘função mental’ refere-se a processos como
pensamento, memória, percepção e atenção. (OLIVEIRA, 1992, p. 76).
29

com a cultura; as relações entre pensamento e linguagem; a importância dos processos


de ensino e aprendizagem na promoção do desenvolvimento, entre outros assuntos
fundamentais para o entendimento e compreensão do desenvolvimento integral do ser
humano.

O interessante do estudo das “funções mentais elementares” (como atenção


involuntária) e das “funções mentais superiores” (atenção voluntária, memória lógica),
para Oliveira (1992), é que nenhuma delas pode ser compreendida de maneira isolada.
A verdadeira essência está na inter-relação com outras funções. E a organização
dinâmica da consciência aplica-se ao afeto e ao intelecto. Para Vygotsky, a separação do
intelecto e do afeto é uma das principais deficiências da psicologia tradicional, uma vez
que esta apresenta processos de pensamento como um fluxo autônomo de ‘pensamentos
que pensam a si próprios’, separado da plenitude da vida, dos interesses e necessidades
pessoais, dos impulsos e inclinações daquele que pensa.

Oliveira e Rego (2003) explicam, a partir do estudo de Vygotsky, que o sujeito


postulado pela psicologia histórico-cultural é produto do desenvolvimento de processos
físicos e mentais, cognitivos e afetivos, internos (constituídos na história anterior do
sujeito) e externos (referentes às situações sociais de desenvolvimento em que o sujeito
está envolvido. É na interação dialética entre os vários planos genéticos que se dá a
constituição de cada sujeito singular.

Aprofundando na análise do termo afetividade sobre a ótica Vygotskyana, Oliveira e


Rego (2003) apresentam a distinção que o autor faz, entre emoções primitivas originais,
como a alegria, o medo, a raiva, e as emoções primitivas originais, como o desrespeito e
a melancolia (van der Veer e Valsiner, 1996). Contudo, diferente de seus
contemporâneos, ele postulava que as emoções primitivas originais poderiam
desenvolver-se em emoções superiores sofisticadas. Para Vygotsky, a qualidade das
emoções passa por mudanças à medida que o conhecimento conceitual e os processos
cognitivos da criança vão se desenvolvendo.

Nesta perspectiva, as emoções primitivas têm um caráter mais instintivo e biológico.


Oliveira e Rego (2003) exemplificam com o medo, que seria como uma fuga inibida,
isto é, uma forma consolidada de comportamento que surge do instinto de auto
30

conservação; a raiva, por exemplo, seria uma briga inibida, o instinto de


autoconservação em sua forma ofensiva. E na visão de Vygotsky, no decorrer do
desenvolvimento, as emoções vão se transformando, se afastando dessa origem
biológica e constituindo como fenômeno histórico e cultural.

Para Oliveira e Rego (2003), um aspecto essencial das postulações de Vygotsky sobre
as mudanças qualitativas que ocorrem com as emoções ao longo do desenvolvimento
humano é que estariam ligadas ao aumento do controle do homem sobre si mesmo.
Neste processo de constante evolução, Vygotsky, novamente inspirado em Espinosa,
atribui à razão e ao intelecto (desenvolvidos com a apropriação dos elementos culturais)
a capacidade de controlar os impulsos e as emoções mais primitivas.

Quando buscamos entender a questão do racionalismo e afetividade em Vygotsky, é


importante considerar, segundo Oliveira e Rego (2003), o papel de controle dos
impulsos emocionais no homem cultural adulto, relacionado à autorregulação do
comportamento. Porém, esse papel não pode ser entendido como uma razão repressora,
capaz de anular ou extinguir os afetos. Ao contrário, com o desenvolvimento do ser
humano, a razão está a serviço da vida afetiva na medida em que é um instrumento de
elaboração e refinamento dos sentimentos. Isso pode ser evidenciado quando Vygotsky
postula para o ser humano adulto a possibilidade de construir um universo emocional
complexo e sofisticado (se compararmos aos animais e às crianças isso é evidente) e não
uma ausência de emoções, que teriam sido, de certa forma, suprimidas pela razão.

Assim, pode-se dizer que o desenvolvimento do ser humano, ou melhor, a gênese da


vida afetiva e social, conforme aponta Oliveira e Rego (2003), é mediada pelos
significados construídos no contexto cultural em que os sujeitos se inserem. O ser
humano aprende, por meio do legado de sua cultura e da interação com outros humanos,
a agir, a pensar, a falar e também a sentir [...], e o longo aprendizado sobre emoções e
afetos se inicia nas primeiras horas de vida de uma criança e se prolonga por toda a sua
existência.
31

2.3 Afetos e sentimentos na atividade de imaginação e criação segundo


Vigotski

Vigotski (2009), ao buscar compreender o mecanismo psicológico da imaginação e da


atividade de criação, demonstra quatro formas de relação entre a atividade de
imaginação e a realidade. A primeira se refere às experiências anteriores da pessoa, ou
seja, quanto mais rica a experiência, mais material estará disponível para a imaginação
dela. A segunda forma se refere ao produto final da fantasia e um fenômeno complexo
da realidade, assim, a própria experiência se apoia na imaginação. A terceira forma de
relação e a que nos ateremos com mais afinco é a de caráter emocional, e a quarta forma
consiste em que a construção da fantasia pode ser algo completamente novo, que nunca
aconteceu na experiência de uma pessoa.

Neste sentido, para Vigotski (2009), a imaginação adquire uma função muito importante
no comportamento e no desenvolvimento humano. Analisamos a terceira forma de
relação entre a atividade de imaginação e realidade, que se dá por meio das emoções:

As emoções parecem possuir a capacidade de selecionar impressões, ideias e


imagens consonantes com o ânimo que nos domina num determinado
instante. Qualquer um sabe que temos olhares diferentes para as coisas ao
nosso redor conforme estejamos na desgraça ou na alegria. Há muito os
psicólogos notaram o fato de que qualquer sentimento não tem apenas uma
expressão externa, corporal, mas também uma interna [...]. Este fenômeno foi
denominado por eles de lei da dupla expressão dos sentimentos. (VIGOTSKI,
2009, p. 26).

Vigotski (2009) apresenta o exemplo do medo, que pode expressar-se não somente pela
palidez, tremor, secura na garganta, alteração da respiração e dos batimentos cardíacos,
mas, também, apresenta-se em todas as impressões recebidas e ideias que vêm à cabeça
de uma pessoa, cercadas pelo sentimento que a domina. Semelhante é o fato de as
pessoas expressarem externamente estados internos, as imagens da fantasia servem de
expressão interna dos nossos sentimentos. Por exemplo, a desgraça e o luto são
marcados com a cor preta; a alegria, com a cor branca; a tranquilidade, com o azul; a
rebelião, com o vermelho. Para o autor, as imagens e as fantasias evidenciam uma
linguagem interior para o nosso sentimento. O sentimento seleciona e combina
elementos isolados da realidade, determinados pelo nosso ânimo.
32

Os psicólogos denominam essa influência do fator emocional sobre fantasia, segundo


Vigotski (2009), como lei do signo emocional comum. Isso quer dizer que as
impressões ou as imagens que possuem um signo emocional comum, ou seja, que
exercem em nós uma influência emocional semelhante, tendem a se unir. Temos como
resultado uma obra combinada da imaginação cuja base está o sentimento ou signo
emocional comum que une os elementos diversos que entram nesta relação.

Como exemplo de combinações de imagens que têm o mesmo signo emocional,


Vigotski (2009) aponta casos cotidianos de associação de duas impressões diversas,
que, sem dúvida, nada tem em comum além do fato de nos provocarem estados de
ânimo semelhantes. Quando categorizamos que o tom azul-claro é frio e o vermelho é
quente, aproximamos a impressão azul e a impressão fria apenas com base nos estados
de ânimo que ambos induzem em nós. Entende-se que a fantasia guiada pelo fator
emocional – pela lógica interna do sentimento – constituirá o tipo de imaginação mais
subjetivo, mais interno.

Contudo, há uma relação de inversão entre imaginação e emoção. Vigotski (2009)


explica que enquanto descrevemos até o momento que os sentimentos influem na
imaginação, nesta inversão, a imaginação influi no sentimento. Esse fenômeno pode ser
chamado de lei da realidade emocional da imaginação. A essência dessa lei é
formulada por Ribot assim: “Todas as formas de imaginação criativa contêm em si
elementos afetivos”. Isso quer dizer que, qualquer construção da fantasia influi
inversamente sobre nossos sentimentos e, a despeito de essa construção por si só não
corresponder à realidade, todo sentimento que provoca é verdadeiro, é realmente
vivenciado pela pessoa e dela se apossa.

Um exemplo seria um caso de ilusão, imaginemos uma criança entrando no


quarto ao entardecer e ilusoriamente, percebe um vestido pendurado como se
fosse alguém estranho, um bandido que entrou na casa. A imagem do
bandido é irreal, porém o medo e o susto que a criança vivencia são
verdadeiros, são vivências reais para ela. Para o autor é essa lei psicológica
que pode nos explicar porque as obras de arte exercem uma ação bastante
forte em nós. (VIGOTSKI, 2009, p. 28).

Por isto, casos da ficção presentes em livros e histórias nos afetam. Vigotski (2009)
explica que apesar de estarmos diante de acontecimentos inverídicos, de invenções, de
fantasias, elas nos perturbam, nos inquieta, nos contagia. Isso acontece porque as
33

emoções provocadas pelas imagens artísticas fantásticas são muitas vezes reais e vividas
por nós de verdade, franca e profundamente. Muitas vezes, uma simples combinação de
impressões externas – por exemplo, uma obra musical – provoca na pessoa que a ouve
um mundo inteiro e complexo de vivências e sentimentos.

2.4 Emoções, sentimentos e afetos na perspectiva de Henri Wallon

2.4.1 Emoções e afetividade

Compreender as emoções e seus desdobramentos na vida de um ser humano é uma


tarefa instigante e desafiadora, entender a afetividade e suas manifestações é
estimulante. Henri Wallon5 buscou compreender como esses elementos se inter-
relacionam e qual o papel das emoções e afetividade na vida psíquica, desde o
nascimento do bebê até o seu desenvolvimento enquanto adulto. Para Veras e Ferreira
(2010), com base em uma perspectiva histórico-cultural, a teoria de Wallon destaca-se
nos estudos sobre afetividade na medida em que o autor afirma, em sua teoria da
Psicogênese da Pessoa Completa, que a dimensão afetiva tem um desenvolvimento
fundamental para a construção da pessoa completa ao longo de todo o desenvolvimento
do indivíduo.

Bastos (2014) explica que Wallon busca compreender as origens do psiquismo e suas
implicações para a evolução humana. A psicologia deste autor pauta-se na perspectiva
genética e destaca o papel das emoções, que são manifestações essencialmente
viscerais, impulsivas, mas capazes de expressar para o meio humano as necessidades
mais prementes do bebê.

Para Wallon (1968), o grito do recém-nascido, que tem diferentes interpretações, pode
ser considerado um grito de aflição, segundo Lucrèce, perante a vida que se abre diante
dele, um grito de angústia, segundo Freud, no momento em que se separa do organismo
materno, que não significa outra coisa além de um espasmo da glote, oriundo dos
primeiros reflexos respiratórios. Porém, é mítica a sua motivação psicológica. Contudo,
5
A psicogenética Walloniana investigou as origens e as transformações do psiquismo, da inteligência, das
emoções e da pessoa total (como denominou o sujeito humano integrado por inteligência, afetividade e
ato-motor), numa vertente integradora e complexa, conectando e articulando as influências recíprocas da
afetividade e da inteligência, da razão e da emoção, do eu e do outro, por meio de um método dialético de
investigação (Bastos, 2014, p. 22).
34

sua redução a um simples fato muscular é considerada uma abstração. Esse grito do
recém-nascido, para Wallon, faz parte de um todo, de um complexo sistema vital em
que as manifestações estão interligadas. Ao espasmo está ligado o grito e também um
conjunto de condições e de impressões simultâneas. Assim, não se pode distinguir entre
o sinal e sua causa nesse estágio tão elementar.

Ainda interpretando o espasmo, Wallon (1968) explica que não é possível distinguir no
espasmo o movimento de sensibilidade, como posteriormente as sensibilidades dos
movimentos de tipo mais evoluído, de circuito mais extenso e mais diferenciado. O
autor ilustra que o espasmo da íris não se efetua sem sofrimento, e a única solução para
isso, seria paralisar a íris. O espasma do intestino provoca cólicas frequentes na digestão
do bebê, que acarreta em gritos, oriundos da extensão fisiológica do espasmo ao
aparelho respiratório, porque somente depois de um tempo diferencia-se o grito como
meio de expressão simples, sem relação direta com o que ele exterioriza. Assim, a
generalização do espasmo a todas as vísceras traz consigo a angústia. Todavia, existem
espasmos que podem ser fonte de prazer.

De acordo com Wallon (1968), o prazer e o alívio parecem acompanhar os espasmos em


que se despende uma tensão excessiva em demasia. O mesmo acontece com os soluços,
que são um remate habitual da angústia, o riso intermitente e estridente que pode ser
igual a descarga de uma expectativa ou de um constrangimento prolongado. O autor
explica que o próprio riso normal é uma cascata de sacudidelas que consome a tensão
dos músculos e que habitualmente os amolece, suprimindo toda a capacidade de
esforço.

Os exemplos e situações citados tratam-se de espasmos já organizados que, segundo


Wallon (1968), ultrapassam as simples contradições dolorosas, ou seja, ao invés de
serem apenas elementos elementares e esporádicos dos aparelhos viscerais e motores,
eles desencadeiam-se e são regulados e até mesmo reguladores das energias que eles se
despendem.

A sensibilidade que acompanha cada um deles transfere-se para o conjunto e,


de puramente orgânica incialmente, pode pouco a pouco, tornar-se mais
moral. Com efeito, o sentimento bruto que correspondia a seus paroxismos é
deslocado, diluído, subtilizado e finalmente integrado em atos psíquicos que
transformam gradualmente a sua tonalidade incômoda em simples aguilhões
35

da consciência. Essa evolução pode ocorrer na criança ao longo das etapas


que assinalam os progressos de sua afetividade (WALLON, 1968, p. 147).

Em decorrência disso, na teoria Walloniana os primeiros reflexos estão ligados ao


tônus. Veras e Ferreira (2010) explicam que, para Wallon, o termo afetividade
corresponde às primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a criança
experimenta, sendo que essas manifestações de tonalidade afetivas, ainda em estágio
primitivo, ou melhor, de base orgânica, têm por fundamento o tônus. Este, por sua vez,
representa a base na qual sucedem as reações afetivas e mantém uma relação estreita
com a afetividade durante o processo de desenvolvimento humano.

E, ao se desenvolver, a afetividade passa a ser fortemente influenciada pela ação do


meio social. Wallon (1968) defende uma evolução progressiva da afetividade, em que as
manifestações vão se distanciando da base orgânica, tornando-se cada vez mais
relacionadas ao social. (VERAS; FERREIRA, 2010. p. 220).

A afetividade na concepção de Wallon (1968) apresenta-se como um conjunto funcional


mais abrangente que o das emoções, sentimentos e paixão, tanto que na teoria do autor,
é possível distinguir esses fenômenos que muitas vezes se confundem. Para Wallon
(1968),

As emoções consistem essencialmente em sistemas de atitudes que


correspondem, cada uma, a uma determinada espécie de situação. Atitudes e
situação correspondem e implicam-se mutualmente, constituindo uma
maneira global de reagir de tipo arcaico, frequente na criança. Opera-se então
uma totalização indivisa entre as disposições psíquicas, orientadas todas no
mesmo sentido, e os incidentes exteriores. Daqui resulta que, muitas vezes, é
a emoção que dá o tom ao real. Mas inversamente, os incidentes exteriores
adquirem quase seguramente o poder de a desencadear. Ela é, com efeito,
como que uma espécie de prevenção que depende mais ou menos do
temperamento, dos hábitos do indivíduo. Mas esta prevenção, focando
indistintamente à sua volta todas as circunstâncias de fato atualmente
reunidas, confere a cada uma, mesmo fortuita, o poder de a fazer ressuscitar
mais tarde, como faria o essencial da situação. (WALLON, 1968, p. 148).

Esse entendimento de Wallon para as emoções é fundamental para diferenciar os


conceitos de emoção e afetividade. Segundo Bastos (2014), a afetividade se apresenta
como um campo mais amplo, que abarca o das emoções, que são especificamente
fisiológicas, viscerais e impulsivas. Assim, entende-se que as emoções se manifestam
inicialmente sem mediação psíquica, diferentemente da afetividade.
36

Para Wallon (1968), pelo seu sincretismo, pelo seu exclusivismo em relação a toda
orientação divergente, pela sua vivacidade de interesse e de impressão, a emoção é
especialmente apta para suscitar reflexos condicionados. Ou seja, sob a sua influência,
ela pode muitas vezes opor-se manifestamente à lógica ou à evidência.

Assim, as emoções se constituem complexos afetivos irredutíveis à razão.


Contudo, a emoção também oportuniza uma rapidez nas reações, sobretudo
fornece uma totalidade que convém aos estágios da evolução psíquica e às
circunstâncias da vida em que não é possível a deliberação. (WALLON,
1968, p. 149).

Buscando entender o substrato corporal das emoções, Galvão (1995), ao estudar


Wallon, esclarece que as emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são
manifestações da vida afetiva, e explica que na linguagem utilizada cotidianamente,
costuma-se substituir um termo por outro, ou seja, a utilização do termo emoção no
lugar de afetividade e vice-versa, tratando-os como sinônimos, porém não o são. A
afetividade é um conceito mais abrangente no qual se inserem várias manifestações,
além de manifestações simplesmente fisiológicas, viscerais e impulsivas.

As emoções possuem características específicas que as distinguem de outras


manifestações da afetividade. Segundo Galvão (1995), as emoções são sempre
acompanhadas de alterações orgânicas, como aceleração dos batimentos cardíacos,
mudanças no ritmo da respiração, dificuldades na digestão, secura na boca. Além dessas
variações no funcionamento neurovegetativo, perceptíveis para quem as vive, as
emoções provocam alterações na mímica facial, na postura, na forma como são
executados os gestos. Na grande maioria das vezes, pode vir a apresentar modificações
visíveis do exterior, expressivas, que são responsáveis por seu caráter altamente
contagioso e por seu poder mobilizador do meio humano.

Assim, Bastos (2014) esclarece que é de suma importância compreender que a emoção é
essencialmente fisiológica, manifestando-se por meio de gestos e movimentos
involuntários, mediante as reações corporais vinculadas às necessidades básicas.

Para exemplificar, é interessante a contribuição de Galvão (1995), que faz uma relação
dos estados afetivos com base no estudo da obra de Wallon, a partir do bebê, que os
37

vive inicialmente através de sensações corporais, expressando-os sob a forma de


emoções. E a partir da aquisição da linguagem, diversificam-se e ampliam-se os
motivos dos estados afetivos e os recursos para sua expressão. Podem surgir
manifestações afetivas como os sentimentos que, diferentemente das emoções, não
implicam em alterações corporais visíveis. Ao longo do desenvolvimento, a afetividade
vai adquirindo relativa independência dos fatores corporais. Para Wallon,

as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço não podem deixar
de exercer uma ação determinante em sua evolução mental. Não
necessariamente porque originam as suas atitudes e suas maneiras de sentir,
mas pelo contrário, porque se dirigem, à medida que eles vão despertando,
aos automatismos que o desenvolvimento espontâneo das estruturas nervosas
mantém em potência e, por seu intermédio, às reações íntimas e
fundamentais. Para o autor, assim se mistura o social com o orgânico.
(WALLON, 1968, p. 148).

Desta forma, as emoções são consideradas a exteriorização da afetividade e podem


provocar transformações que tendem a reduzi-las. Um exemplo citado por Wallon
(1968) são as experiências gregárias, que são uma forma primitiva de comunhão e
comunidade. As relações que tornam possíveis afinam os seus meios de expressão e
fazem deles instrumentos de sociabilidade. Porém, à medida que, ao irem se tornando
mais precisos, o seu significado os torna mais autônomos, eles separam-se da própria
emoção.

Segundo Wallon (1968), entre a emoção e a atividade intelectual existe a mesma


evolução, o mesmo antagonismo. Ou seja, antes de qualquer análise, o significado de
uma situação impõe-se pelas atividades que suscita, pelas disposições e atitudes que
provoca.
Entre indivíduos, é o acordo ou a reciprocidade das atitudes que pode realizar
uma espécie de contato e de entendimento mútuo, mesmo que totalmente
absorvidos pelos apetites ou pela impulsividade. Assim, uma imagem que
sirva para realizar uma comparação e uma previsão só pode surgir dessas
relações pragmáticas e concretas através de uma redução gradual da parte das
reações posturais, quer dizer, das emoções e da afetividade. (WALLON,
1968, p. 153).

E, de forma inversa, cada vez que prevaleçam atitudes afetivas e a emoção


correspondente, a imagem perderá sua polivalência, desaparecerá. Wallon (1968)
exemplifica com o que se observa no adulto: redução da emoção ou simples tradução
intelectual por meio do controle ou da simples tradução intelectual dos seus motivos ou
38

circunstâncias; desordem do raciocínio e das representações objetivas provocadas pela


emoção.

No próprio domínio da afetividade surgem transformações que são o


resultado deste conflito. Se foram possíveis as teorias intelectualistas das
emoções, isso deve-se ao fato da preponderância adquirida pelos motivos e as
imagens intelectuais sobre o domínio dos sentimentos e das paixões. O seu
erro foi não terem notado a redução simultânea do aparelho verdadeiramente
emocional, de terem confundido emoção com sentimento ou paixão, quando
afinal daquela para estes se opera uma transferência funcional que, na
criança, depende diretamente da idade. Mas os mais emotivos não se tornam
necessariamente os mais sentimentais ou os mais apaixonados, longe disso.
Trata-se, com efeito, de tipologias diferentes, que dependem de um deferente
equilíbrio das atividades psíquicas. (WALLON, 1968, p. 153).

Com efeito, para Wallon (1968), a criança que é solicitada pelo sentimento não tem,
perante as circunstâncias, as reações instantâneas e diretas da emoção. A sua atividade é
de abstenção, o que se observa é que com um olhar longínquo ou furtivo a criança
recusa qualquer participação ativa nas relações que se encadeiam à sua volta. E se
alguém tenta obrigá-la a participar nessas relações ela ficará rabugenta e de mau-humor
devido à sua falta de capacidade e de gosto pelos contatos demasiados rápidos com
outras pessoas. Esse período inicial, defensivo e negativo, modifica-se somente com o
aparecimento e o progresso das representações mentais que fornecerão aos seus
devaneios motivos e temas.

Contudo, na criança, a paixão pode ser viva e profunda. Wallon (1968) explica que com
a paixão surge o poder de tornar a emoção silenciosa. Porque ela pressupõe a
capacidade de autocontrole que só é desenvolvida pelas crianças após os 3 (três) anos de
idade. Então, após essa fase, a criança torna-se capaz de amadurecer secretamente
frenéticos ciúmes, ligações afetivas exclusivas, ambições mais ou menos vagas, mas
existentes. Na idade seguinte, as relações mais objetivas com o ambiente poderão
atenuá-las, podendo ser características de um temperamento.

Portanto, é inquestionável que o sentimento e, sobretudo, a paixão serão tanto mais


tenazes, perseverantes, absolutos, quanto mais irradiarem uma afetividade ardente, em
que continuam a operar certas reações, de certo modo vegetativas da emoção
(WALLON, 1968, p. 154). Contudo, para Wallon, esses sentimentos não deixam de ser
a redução da emoção atualizada por outras influências. São resultados de uma
39

interferência ou mesmo de conflitos entre efeitos que pertencem à vida orgânica e


postural e outros que dependem da representação ou conhecimento, e da pessoa.

2.4.2. Os sentimentos

Leite6 (2005), ao buscar compreender as emoções, sentimentos e afetos, elucida que o


caráter comunicativo das manifestações emocionais, assenta-se na sociabilidade, na qual
se instaura a função expressiva da emoção. De acordo com a autora, é precisamente por
meio das emoções que as relações sociais dão um impulso decisivo à evolução psíquica.

E, devido a este fato, as emoções asseguram ao indivíduo sua adaptação e


compõe todas as formas de atividade, pois são mediadoras do psiquismo. As
emoções articulam, particularmente, as condições orgânicas e as condições
sociais. Nelas se incorpora o tríplice caráter humano, qual seja: o biológico, o
psicológico e o social. (LEITE, 2005, p. 96).

A partir do entendimento das emoções, torna-se relevante compreender os sentimentos.


Em que eles se diferem das emoções, como podemos compreendê-los neste contexto de
pesquisa. Leite (2005) aprofunda no entendimento dos sentimentos e suas
características. A autora explica que devido ao homem ser simultaneamente um
organismo vivo e um membro da sociedade, pode refletir e/ou refratar em seu cérebro
essas relações objetivas. Esta faceta singular do reflexo constitui o campo dos
sentimentos que, vinculados às emoções, configuram o psiquismo humano.

Começando o estudo dos sentimentos como uma categoria que integra a esfera da
afetividade, Leite (2005) apresenta a definição elaborada por Petrovsky (1982) para
sentimento que, para o autor, “são o reflexo, no cérebro do homem, de suas relações
reais, ou seja, das relações do sujeito que experimenta as necessidades com objetos que
têm significado para ele”. Esta definição nos leva a considerar que os sentimentos
existem como sistema de tendências, relacionados com objetos.

6
Ivanise Leite é pedagoga, doutora desde 1992. Autora de diversos estudos publicados, atualmente é
docente e pesquisadora do Departamento de Psicologia da Educação e do Programa de Pós-Graduação em
Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras / Unesp / Campus Araraquara – SP. A autora traz
uma importante contribuição para o campo da Psicologia Social, em particular no que se refere: 1) à
teoria da atividade e à Psicologia Sócio Histórica; e 2) à indissociabilidade das esferas cognitivas e
afetivo-emocional do homem. A autora utiliza como referencial teórico as perspectivas distintas
elaboradas por Leontiev, Wallon, Heller e Sartre, para mencionar algumas.
40

Um exemplo que pode ser citado são as relações sociais e o processo de comunicação.
Leite (2005) mostra que nesses processos é impossível ao sujeito deixar de valorar o
outro ao percebê-lo. E estas inter-relações, que se estabelecem entre os sujeitos,
vinculam-se as percepções. Os matizes oriundos dessas impressões emocionais – que
variam – podem favorecer o afastamento entre eles (sentimentos disjuntivos) ou podem
aproximá-los (sentimentos conjunturais).

É importante caracterizar esses sentimentos. De acordo com Leite (2005), os


sentimentos conjunturais acontecem quando o sujeito “aceita em sua consciência algo
como próximo dele, e o percebe como positivo”; ao contrário, os sentimentos
disjuntivos “separam as pessoas e dificultam as ações conjuntas”.

Quando um objeto é representado pelo pensamento, por meio de suas


características gerais e peculiares, o conceito dessa relação (conjuntiva ou
disjuntiva) tanto pode ser entendido como interação que se produz
objetivamente entre o sujeito e o objeto, como a impressão destes vínculos,
particularmente, as inter-relações entre as necessidades do sujeito e seus
objetos que podem satisfazê-las. (LEITE, 2005, p. 98).

Outro fator relevante é o entendimento científico da palavra “sentimento”:

Também é necessário que observemos que a palavra “sentimento” na vida


cotidiana, é utilizada em múltiplas acepções. Cientificamente, o termo
sentimento “deve ser empregado somente quando nos referimos ao reflexo no
cérebro dos seres vivos, de suas relações com os objetos que satisfazem suas
necessidades ou que os impedem de satisfazê-las”. (LEITE, 2005, p. 98).

Após essas constatações, é interessante caracterizar e diferenciar emoções e


sentimentos. Para Leite (2005), as emoções são entendidas como mediadoras do
processo psíquico, experimentam os sentimentos que se manifestam com extrema
claridade na língua. Para ilustrar, não podemos denominar emoções os sentimentos de
patriotismo, solidariedade, responsabilidade, dever, camaradagem etc. Isso porque os
sentimentos manifestam-se na vida psíquica como fluxos e impressões emocionais
distintos por sua intensidade, pelo grau, complexidade e conteúdo.

Desta forma, podemos dizer que as emoções experimentam os sentimentos que se


radicam nas condições de existência social, refletindo as exigências, as normas e os
valores historicamente acumulados e assimilados pelo homem individualmente.
41

(LEITE, 2005, p. 98). Podemos dizer que os sentimentos pertencem à esfera ideológica,
porque são encontrados nas significações sócio-históricas, atrelados a um determinado
momento.

Neste sentido, os sentimentos, assim como todos os fenômenos subjetivos do ser


humano, manifestam-se nas ações de conduta humanas. Leite (2005) esclarece que
podemos julgar os sentimentos de um indivíduo por suas palavras quando manifesta o
conteúdo de seus sentimentos ou quando fala dos objetos que nele despertam
sentimentos.

Portanto, para Leite (2005), é no contexto social organizado que o processo de


aprendizagem vai regular as emoções. Porque, nesse processo, as normas de conduta
admitidas socialmente são interiorizadas, internalizadas pelo sujeito. O indivíduo passa
a regular seu comportamento emocional devido às exigências sociais representadas
através de normas de conduta que são assumidas pelos outros sociais. Os sentimentos,
originados socialmente, vão depender da posição vital do individual no grupo, da
atividade por ele desenvolvida, das relações interpessoais e da posição social que ocupa.

Para ilustrar, Leite (2005) cita a alegria, a vergonha, a ira, o entusiasmo, o temor, a
indignação, o interesse, a valentia, que são sentimentos que variam conforme as
relações individuais e sociais devido à sua origem social. Assim, os sentimentos,
entendidos como produto social, são fixados no indivíduo quando as necessidades são
satisfeitas, gerando um estado emocional positivo. Porém, em contrapartida, os
sentimentos podem também servir de obstáculos – por meio de punições, reprimendas,
sermões, ameaças – dando origem a um estado emocional conflitivo ou saciado. Ou
seja, o que era agradável passa a ser desagradável e produz um estado emocional de
irritação.
O vínculo entre as emoções e os sentimentos ocorre quando a humanização
das emoções se manifesta no conteúdo qualitativo dos sentimentos que elas
experimentam. O homem domina suas emoções, freia suas manifestações que
não são procedentes, e valora através dos sentimentos que evidenciam uma
norma, uma lei, uma regra, um costume, uma moralidade determinada.
Devido a isso, o caráter dos sentimentos ser de ordem ontogenética e,
portanto, determinado historicamente. (LEITE, 2005, p. 100).

Assim, Leite (2005) esclarece que a mímica, os gestos, as poses, os suspiros


expressivos, a entonação da voz, toda linguagem dos sentimentos em diferentes épocas
42

históricas representa traços específicos pessoais e sociais. A linguagem tem uma função
emotiva ou expressiva na medida em que traduz opiniões e sentimentos do emissor da
mensagem. As diferentes formas de expressão emocional no homem não existem sem
fundamento, isso porque os sentimentos generalizados através da linguagem são
experimentados pelas emoções, ganhando complexidade no decurso histórico.

Por fim, está claro que os sentimentos são determinados pelas concepções criadas
socialmente. Leite (2005) explica que os sentimentos se encontram contidos nas
objetivações humanas, na consciência social de uma época, nas significações sócio-
históricas que a caracterizam. A característica fundamental dos sentimentos centra-se no
seu condicional, não podendo diferenciá-lo sem conceituação. São resultados do
processo de objetivação e subjetivação humanas, do processo de apropriação da
aprendizagem.

2.4.3 Emoções e psiquismo

Bastos (2014) mostra que a óptica walloniana marcará a passagem singular da emoção
enquanto manifestação especificamente orgânica para a dimensão social, à medida que a
emoção ganha representação no psíquico, o que pode ser evidenciado a partir de uma
evolução do plano orgânico para o psíquico. Para a autora, essa é uma das descobertas
fundamentais da teoria de Wallon, que coloca em evidência a estreita relação entre a
emoção e a vida mental, quando afirma que o psiquismo advém pelo poder de
expressividade das emoções.

Deste modo, a emoção é o ponto de partida do psiquismo, da consciência e da vida


social. Bastos (2014) explica que é através da emoção que vão se estabelecer as
primeiras trocas da criança com o meio humano, seus primeiros elos de significação e
sua inserção no mundo simbólico da cultura. Na visão de Dantas,

A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida


orgânica: corresponde à sua primeira manifestação. Pelo vínculo imediato
que instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao universo
simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos homens ao longo da
história. Dessa forma será ela que permitirá a tomada de posse dos
instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste sentido, lhe
dá origem. (DANTAS; LA TAILLE; KOHL, 1992, p. 85-86).
43

Assim, é importante considerar, segundo Bastos (2014), que o sujeito walloniano é um


sujeito geneticamente social, e é por meio das emoções que interage e comunica-se
ainda sem intencionalidade. O que vai marcar a preponderância das emoções sobre os
instintos e garantir a complexidade, a plasticidade e a adaptabilidade emocional é a
prematuridade do ser humano, gerando uma potencialidade de riquezas e possibilidades
praticamente ilimitadas.

Para Bastos (2014), o biológico e o social são indissociáveis no ser humano, sendo
fatores responsáveis pela evolução e estando em estreita conexão. O estudo da
importância da emoção para o desenvolvimento do psiquismo nos mostra como a
investigação avança e estabelece uma relação íntima entre o biológico e o social,
destacando de maneira singular e original a função social da emoção.

Veras e Ferreira (2010, p. 221) explicam que, embora o desenvolvimento humano na


teoria Walloniana seja descrito até a adolescência, Wallon afirma que esse
desenvolvimento não termina nesse momento, pois a “constituição do ‘eu’ é um
processo que jamais se acaba: o outro interior, ou fantasma do outro, vai acompanhar o
‘eu’ durante toda a vida”. As autoras apresentam uma afirmação de Mahoney e Almeida
(2005), que dizem que apesar desse movimento de incorporação e oposição de vários
outros, mesmo após a adolescência, o adulto se reconhece como o mesmo e único ser. É
capaz de afirmar com certa segurança: Eu sei quem sou. Nesta perspectiva, o adulto
conhece melhor suas possibilidades, limitações, seus pontos fortes, suas motivações,
seus valores e sentimentos, o que cria a possibilidade de escolhas mais adequadas nas
diferentes situações da vida.

Por esses motivos, a afetividade constitui um fator de extrema relevância para o


processo de desenvolvimento do indivíduo e, na relação com o outro, Veras e Ferreira
(2010) mostram que é por meio do outro que o sujeito poderá se delimitar como pessoa
nesse processo em permanente construção.

2.4.4 Estudo integrado do desenvolvimento: afetividade e inteligência

Complexa e inédita é a compreensão dialética do desenvolvimento, caracterizada pela


integração da pessoa por meio da afetividade, inteligência e ato-motor. Bastos (2014)
44

explica que a afetividade e a inteligência são funções preponderantes ao longo da


evolução psíquica, suas variações oportunizam diferentes rumos para as ações, além de
coloridos emocionais para as aprendizagens, descobertas e transformações. Os
progressos em um dos campos são capazes de promover saltos qualitativos simultâneos
e recíprocos entre eles.

Assim como em Vigotski, o método materialista dialético subsidiou toda a teoria de


Henri Wallon. Esse fato oportunizou, segundo Bastos (2014), uma investigação sobre o
desenvolvimento humano de maneira inovadora, complexa e articulada, por meio de
comparações, conexões e análises estabelecidas entre o desenvolvimento normal e
patológico, indivíduo e sociedade, fisiológico e psíquico, razão e emoção, o eu e o outro
etc. Esse fato pode ser claramente observado mediante estabelecimento desses pares
dialéticos, uma vez que, ao mesmo tempo que se opõem, são reciprocamente orientados,
influenciados e indissociáveis.

Também é importante considerar outros aspectos em relação ao método de estudo.


Bastos (2014) explica que o caráter de observações e comparações múltiplas é de
extrema relevância na medida em que permite, por meio de comparações, entender o
comportamento histórico da espécie humana, o comportamento do animal, da gênese e
das regressões funcionais dos ciclos psicofisiológicos, etc. Além disso, Wallon
preocupou-se com os estudos das origens do caráter – entende-se como sinônimo de
personalidade o estudo do psiquismo em sua formação e em suas transformações. Sendo
que a investigação das origens do psiquismo associadas à função social das emoções e
ao campo da afetividade encontra um paralelo com o estudo sobre as origens da
inteligência e sua estreita conexão com a evolução do pensamento. Neste sentido,
segundo Dantas,

A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa:


ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano
foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade
diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto, no início da vida, a
afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o
predomínio da primeira. (DANTAS; LA TAILLE; KOHL, 1992, p. 90).

Logo se inicia a diferenciação entre afetividade e inteligência, porém, Dantas (1992)


explica que a reciprocidade entre os dois desenvolvimentos se mantém de tal forma que
45

as aquisições de cada uma repercutem sobre a outra permanentemente. Ao longo do


processo, elas alternam preponderâncias, e a afetividade reflui para dar espaço à intensa
atividade cognitiva assim que a maturação põe em ação o equipamento sensório-motor
necessário para exploração da realidade. E, a partir deste momento, a construção da
pessoa se dá por uma sucessão de momentos dominantemente afetivos ou cognitivos,
não paralelos e integrados. O que significa que a afetividade depende, para evoluir, de
conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa.

Dantas (1992) esclarece que as ideias de fases do desenvolvimento da inteligência são


familiares, porém bem menos comum é a noção de fases da afetividade. Em seu
momento inicial, como vimos anteriormente, a afetividade reduz-se praticamente às
suas manifestações somáticas, ou seja, é pura emoção. Trata-se de uma afetividade
somática, epidérmica, em que as trocas afetivas dependem inteiramente da presença
concreta de parceiros.

Continuando na busca por essa compreensão das fases da afetividade, Dantas (1992)
elucida que, depois que a inteligência construiu a função simbólica, com a aquisição da
linguagem, a comunicação se beneficia. Assim, a possibilidade de nutrição afetiva passa
a ser adquirida por essas vias, denominando-se como forma cognitiva de vinculação
afetiva. E, por fim, o último momento de construção pode ser evidenciado na
puberdade, que agora é uma afetividade que incorporou a função categorial (quando
esta se construiu). Nascem, então, as condutas que colocam em exigências racionais as
relações afetivas: exigências de respeito recíproco, justiça, igualdade de direitos etc. E o
seu não entendimento tende a ser caracterizado como desamor.

Seguindo esta linha de raciocínio, Dantas (1992) enfrenta o risco do


esquematismo e apresenta três grandes momentos da afetividade: afetividade
emocional ou tônica, afetividade simbólica e afetividade categorial: o
qualitativo corresponde ao nível alcançado pela inteligência na etapa anterior.
Isto quer dizer que, nos momentos dominantemente afetivos do
desenvolvimento o que está em evidência é a constituição do sujeito, que se
faz pela interação com os outros; naqueles momentos de maior peso
cognitivo, o que está em evidência é o objeto, a realidade externa, que se
modela à custa da aquisição das técnicas elaboradas pela cultura. Sendo que,
ambos são processos sociais, porém no primeiro social é sinônimo de
interpessoal; no segundo é o equivalente de cultural. (DANTAS; LA
TAILLE; KOHL, 1992, p. 91).
46

No caminho trilhado em busca de entendimento e compreensão do termo afetividade,


consideramos fundamental elucidar Leite (2005) que apresenta um denominador
comum na concepção dos afetos, especialmente desenvolvido pelo cubano Manuel
Calviño (1983), na Psicologia-Histórico Cultural. O autor afirma que, em geral, os
afetos possuem um caráter universal, são expressivos e, sem exceção, comunicativos no
sentido de que implicam em contágio. A propriedade fundamental do afeto é o seu
contágio. Esse fato é exemplificado com os políticos que, em campanhas, pegam ao
colo, abraçam e beijam crianças com a finalidade de contagiar.

Leite (2005) explica que os afetos fazem parte integrante da espécie humana. Segundo a
autora, nascemos com eles; como decorrência, não são idiossincráticos (exceto em casos
patológicos). Tanto as emoções quanto os sentimentos suscitam o afeto. E além de suas
bases filogenéticas, podemos dizer que toda cultura conhece a expressão de medo,
vergonha, raiva, alegria, tristeza. Essas expressões de afeto não são espontâneas e seu
papel reside em preservar a homeostase social. Desta forma,

Os afetos têm função de vigilantes que se acumulam pelos costumes e neles


se preservam. São aprendidos e expressam sempre um sinal para o OUTRO,
cujo significado pode ser interpretado pela função denotativa da língua. Os
afetos fazem parte integrante da espécie humana, e também são possuidores
de caráter social. As expressões de afeto são adquiridas, isto quer dizer que
não são espontâneas e modificam-se com as situações emotivas. A
especificidade dos afetos centra-se no fato de que eles “aparecem com
determinadas condições que já se deram, ou ocorreram (ou se dão), quando
já ocorreu algo” (Calviño, 1983, p. 245). Isto é, os afetos aparecem
postfactum, depois que ocorreu uma situação afetiva. (LEITE, 2005, p. 105-
106).

Em comparação com outros fenômenos emocionais, os afetos, segundo Leite (2005),


têm uma relação particular com a consciência, porque dela são processos relativamente
independentes. Ou seja, sua existência não depende de sua conscientização, o que não
quer dizer que eles não se conscientizam. Nesses casos, os afetos continuam existindo e
mantendo a função de sinalizadores.

Se relacionarmos a personalidade, Leite (2005) explica que os afetos exercem a função


reguladora de forma indireta. Uma vez que eles são o reflexo da significação de uma
situação para o sujeito que vai expressá-la, comunicá-la, transmiti-la por contato durante
ou após a significação sentida. Por fim, temos o reflexo psíquico, tomado em sua
47

integralidade, que concretiza não só a dimensão cognitiva, mas processos afetivos e


emocionais. A autora elucida com uma citação de Rubinstein (1979):

trata-se de uma formação complexa que, em uma ou em outra medida, inclui


sempre a unidade de dois componentes contrapostos, um dos quais
representando um conhecimento e o outro uma atitude, um é intelectual e o
outro é “afetivo”; destes elementos componentes, ora um ora outro aparece
como dominante. (LEITE, 2005, p. 106).

Portanto, Leite (2005) esclarece que os afetos localizados como uma subclasse dentro
dos processos emocionais estão relacionados com algumas necessidades vitais. Na
espécie humana, para que eles possam se expressar, é necessário que haja uma situação
particular. Neste sentido é a situação, o conhecimento dela, que nos propicia a
compreensão dos fatos.

Na percepção de Clot (2016), quando lidamos com a questão da afetividade, é


importante ter a clareza de que as emoções são um momento extremamente importante
da afetividade, porém na afetividade há os afetos, os sentimentos e as emoções.

Clot (2016) explica que Henri Wallon é um dos raros autores que faz a distinção de
emoções, sentimentos e afetos, caracterizando os sentimentos como a forma intelectual
da afetividade. Os sentimentos são ideias que nos vêm, enquanto que as emoções são
profundamente corporais.

Clot (2016), a partir dos estudos de Vygotski, explica que as emoções não são somente
corporais, conforme defende Wallon. As emoções para Vygostki e Spinoza têm uma
imbricação muito forte entre as reações orgânicas e o vivido subjetivo. Para os autores
esses dois componentes estão em um sistema interfuncional. Ou seja, como citamos
anteriormente que não se pode separar emoção da razão, não se pode considerar as
emoções como puramente fisiológicas. Neste sentido, Clot (2016) apresenta a seguinte
formulação de Vygotski:

a emoção é um evento traduzido em duas línguas diferentes. A emoção é


traduzida em reações fisiológicas e em um vivido subjetivo que passa pela
linguagem. Portanto, é um sistema de dupla tradução. Há uma diferença entre
as duas traduções, mas é a interferência entre as duas que permite o
desenvolvimento. Na tradução de um texto, para passar de uma língua a
outra, é necessário pensar. No processo de dupla tradução, ou seja, de um só
evento em duas traduções diferentes, há uma relação interfuncional entre a
48

linguagem, o pensamento e as reações orgânicas. Isso significa que o corpo e


o organismo não são a mesma coisa. (CLOT, 2016, p. 88).

Desta forma, buscamos entender esta diferenciação. Na visão de Clot (2016), o corpo é
o organismo, acrescido da linguagem e da história singular e social. Ao nascermos,
todos possuímos o mesmo organismo, que possui as mesmas funções orgânicas, porém,
cada um possui um corpo diferente, porque temos uma história social e subjetiva. O
corpo é fisiológico desenvolvido em psicológico. Existe aí um dualismo. Finalmente,
podemos dizer que as emoções não estão alojadas no organismo, elas são nômades (essa
expressão é de Vygostski).

Prosseguindo, Clot (2016) se propõe a examinar o que é o afeto, que não é a mesma
coisa que emoção, ainda que ambos pertençam à afetividade. Baseando em Spinoza, o
autor explica que o afeto tem a ver com a ação, como algo transformador, força de
trabalho e desenvolvimento da atividade, citando uma expressão de Spinoza “denomino
afeto o que aumenta ou diminui a potência de agir”. E a outra expressão é a de que “um
afeto só pode ser ultrapassado por um afeto maior”. Ou seja,

É o desenvolvimento da afetividade que permite ultrapassar o afeto, pelo


enriquecimento das emoções e dos sentimentos, levando estes últimos a
desempenharem o papel de instrumento do desenvolvimento do afeto. É
porque a afetividade é conflitual e que há discordância entre as emoções,
sentimentos e afetos, que um pode se tornar o recurso do outro. Entre estes
três componentes da afetividade, há relações interfuncionais, suporte de um
processo de desenvolvimento no qual cada um pode ser tornar recurso do
outro. (CLOT, 2016, p. 91).

Assim, Clot (2016) explica que no processo afetivo, emoções e afetos são inseparáveis,
porém distintos. Ou seja, o afeto pertence ao campo da atividade, enquanto as emoções
são instrumentos da atividade para amenizar a falta de afetividade.

O afeto é a parte do vivendo no vivido, razão pela qual ele faz mudar o ritmo
da atividade. Aliás, o coração bate mais rapidamente no afeto, marcando
assim a mudança de ritmo da atividade, sinal de que são mobilizados todos os
recursos possíveis, históricos, pessoais, sociais como a linguagem ou os
signos, todos os recursos incorporados como emoções, permitindo amenizar
as situações onde há defasagem. Nesses casos, as emoções, que são
simultaneamente orgânicas e subjetivas, servem para prevenir o excesso de
atividade. Os afetos, por sua vez, transformam o vivido em vivendo e o
vivendo em vivido, o que vai ao encontro da definição de Spinoza, segundo a
qual os afetos aumentam ou diminuem o poder de agir. (CLOT, 2016, p. 95).
49

2.5 Conexões teóricas entre Wallon e Vygotsky

Wallon e Vygotsky investigaram aspectos do desenvolvimento humano de maneira


singular e diferenciada. Bastos (2014) mostra que ambos partiram dos pressupostos do
materialismo histórico dialético a partir de uma concepção própria. Wallon subsidiou-se
no materialismo histórico dialético tanto para conceber seu método de pesquisa e de
estudo do desenvolvimento humano, quanto para propor um estudo de pares dialéticos
como homem e sociedade, emoção e razão, desenvolvimento “normal” e patológico,
entre outros.

E Vygotsky mostrou-se muito interessado em discutir a influência e a relação estreita


entre o desenvolvimento humano e o contexto sócio-histórico, destacando o papel
fundamental do aprendizado impulsionando a evolução do sujeito. (BASTOS, 2014, p.
83).

Bastos (2014) explica que Wallon chegou a formular uma verdadeira e complexa teoria
do desenvolvimento infantil, demarcando momentos mais nítidos de diferenciação, de
tomada de consciência corporal e de si, de evolução do pensamento, sinalizando o
processo de evolução do pensamento, sinalizando o processo da evolução psíquica de
maneira descontínua, marcada por rupturas e tendo no conflito sua mola propulsora. O
desenvolvimento da atividade, que inicialmente é afetiva, começa a se constituir pela
função da inteligência, o que irá caracterizar ruma nova direção para a ação. Esse
processo é instável, ou seja, os estágios alteram-se um em detrimento do outro para que
uma das funções (afetividade ou inteligência) possam preponderar.

Devido ao curto espaço de tempo em que Vygotsky elaborou sua teoria, devido à sua
morte prematura, não foi possível elaborar uma teoria de desenvolvimento. Porém,

Sua pesquisa deu destaque à evolução da linguagem e do pensamento, ao


nascimento e ao detalhamento das funções psicológicas superiores (como a
memória e a atenção), à importância do uso de símbolos, num primeiro
momento da evolução, além de à importância fundamental da imaginação e
da função simbólica nas brincadeiras das crianças. Sem falar na concepção
original de zona de desenvolvimento proximal, que coloca em evidência o
papel da interação com os parceiros mais experientes para o aprendizado e a
evolução; além disso, discutiu com muita propriedade o papel do aprendizado
como mola propulsora do desenvolvimento, diferentemente de Jean Piaget e
à semelhança de Wallon. (BASTOS, 2014, p. 84).
50

A riqueza da teoria de Vygotsky contribui para o entendimento e compreensão do


processo de inserção do indivíduo na cultura e do seu desenvolvimento enquanto ser
social.

Um ponto importante a ser considerado em ambas as teorias é o papel da imitação.


Bastos (2014) explica que, para Wallon, a imitação tem uma função fundamental na
medida em que implica em uma representação mental que precisa ser internalizada e
apresenta um componente singular, subjetivo e afetivo, tanto para a criança, quanto para
a construção de sua identidade. Em Vygotsky, a imitação é denominada intelectual,
quando compreendida em sentido mais amplo, de forma a evidenciar como se constitui
a aprendizagem no desenvolvimento. Inicialmente está relacionada à realidade e
posteriormente configura-se como uma atividade imaginativa e singular de cada criança.

Neste sentido, para Wallon e Vygotsky a aprendizagem assume um caráter de extrema


relevância na medida em que proporciona desenvolvimento. Bastos (2014) elucida que a
aprendizagem para ambos os autores contribui para a construção de novos
conhecimentos e ainda permite um salto qualitativo no potencial afetivo-cognitivo. Em
contrapartida, Piaget pensa de forma inversa, que o desenvolvimento é o que
proporciona a aprendizagem. O que destacamos com essas evidências é o papel
assumido pelos educadores, que são imprescindíveis para a evolução do sujeito.

Ambos os autores buscaram estabelecer conexões entre a psicologia e a educação, com


isso o papel dos educadores assume relevância. Bastos (2014) elucida que os dois
autores enfatizam o papel e a intervenção do educador, a importância de sua formação e
a importância de priorizar a reflexão da prática aliada à teoria.

Outro fator de destaque nas duas perspectivas teóricas é a importância das interações
como categoria relevante para a constituição do conhecimento e da subjetividade.
Bastos (2014) explana que, tanto as interações com o contexto sociocultural, quanto
com as ações voltadas para o meio humano, são fundamentais para entender o
desenvolvimento e a evolução psíquica.
51

Podemos inferir que a contribuição walloniana mais significativa foi o estudo das
emoções e sua influência no desenvolvimento do sujeito de forma integrada,
constituindo-se de afeto, inteligência e ato-motor. E a contribuição Vygotskyana foi a
busca pelo entendimento da constituição do ser humano enquanto ser social, que se
constitui por meio da linguagem, influenciado pela cultura. Para Bastos (2014, p. 87),

Ambos os autores concebem a integração da dimensão afetiva e da cognitiva


no desenvolvimento humano, destacando a influência recíproca entre as duas.
Apesar de Vygotsky ter dado mais ênfase aos aspectos relacionados ao
funcionamento do pensamento, às funções psicológicas superiores e à própria
consciência (mais atrelada ao social do que ao individual), também destacou
o papel fundamental das interações. Wallon, por sua vez, preocupou-se em
pautar o desenvolvimento marcantemente integrado pela função da
inteligência e da afetividade, ao longo do desenvolvimento. Investigou de
maneira original a função da emoção, a preponderância alternada da função
da afetividade e da inteligência ao longo da evolução psíquica, destacando
ainda o movimento constante de diferenciação e de refinamento da
consciência de si.

Apesar de escreverem em contextos distintos, existe uma possibilidade de aproximação


dos autores na medida em que ambos entendem que não é possível separar razão de
emoção. Bastos (2014) finaliza explicando que razão e emoção devem ser analisadas
como um par dialético e interdependente na concepção walloniana. Da mesma forma
que não se pode conceber a subjetividade como uma questão individual, mas sim social,
como concebe Vygotsky.

Em suma, procuramos buscar estabelecer conexões entre os autores que concebem o


desenvolvimento humano mediante o desenvolvimento de relações sociais estabelecidas
pelos sujeitos em um contexto sociocultural. O estudo das emoções, sentimentos e
afetos em sua origem epistemológica constituirá fator relevante para a compreensão em
um contexto mais amplo que é o de ensino e aprendizagem que pretendemos discutir a
diante.
52

3. CAPÍTULO II – DIMENSÕES DA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO A


DISTÂNCIA

3.1 Marco Regulatório da EaD no Brasil e características da modalidade

A EaD é regulamentada no Brasil no final do século XX pela Lei de Diretrizes e Bases


da Educação Nacional (Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996), sendo normatizada
pelo Decreto nº 2.494 (de 10 de fevereiro de 1998), pelo Decreto nº 2561 (de 27 de abril
de 1998) e pela portaria Ministerial nº 301 (de 7 de abril de 1998).

Arruda e Arruda (2015) realizaram um estudo sobre a Educação a Distância no Brasil:


das Políticas Públicas e democratização do acesso ao ensino superior, fazendo uma
análise do Decreto nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, e evidenciam que este
apresentava interpretações confusas e controversas sobre a EaD.

Em seu Art. 1º a Educação a distância é definida como uma forma de ensino


que possibilita a autoaprendizagem, com mediação de recursos didáticos
sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de
informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos
diversos meios de comunicação. (BRASIL, 1998, p.1).

Neste artigo, a EaD apresenta-se como uma possibilidade de “autoaprendizagem” do


aluno sem levar em conta a ação docente e as possíveis relações estabelecidas nesse
contato de interatividade e afetividade, que pode contribuir para o processo de ensino e
aprendizagem, sendo mediado por recursos didáticos isolados ou combinados. A
interpretação de “autoaprendizagem” na EaD leva a inferir que o aluno é capaz de
desenvolver-se somente através do contato com o material didático, veiculado por
diferentes meios de comunicação.

Nessa trajetória, no mesmo texto, Arruda e Arruda (2015) prosseguem apresentando um


estudo sobre o Plano Nacional de Educação (PNE, 2001-2010) que permite uma
ampliação do número de vagas para a EaD ao estabelecer objetivos e metas para o
Ensino Superior, prevendo o estabelecimento de um “amplo sistema interativo de
educação a distância, utilizando-a inclusive associada aos cursos presenciais regulares
ou de educação continuada com o propósito de ampliar as possibilidades de
atendimento.”
53

Percebe-se que há uma mudança na visão sobre a EaD, e diferentemente do que está
contido no Art. 1º do Decreto nº 2.494, o texto do PNE menciona um sistema interativo
para a ead, além de possibilitar a utilização desta modalidade de ensino nos cursos
presenciais. A “interatividade”, uma das categorias de análise desta pesquisa, está
contida neste documento mediante o uso das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDICs) na educação. É importante ressaltar que um dos termos que se
pretende estudar nesta pesquisa, que é “interatividade”, está contido nesse documento e
traduz-se no uso das TDICs na Educação.

Com a evolução do tempo em um contexto político surgido no governo de Luiz Inácio


Lula da Silva em 2003, ocorre a revogação do Decreto nº 2.494 de 1998 pelo Decreto nº
5.622, de 19 de dezembro de 2005, apresentando um texto com mudanças significativas.
Neste Decreto, a EaD é caracteriza como,

Modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos


processos de ensino e aprendizagem acontece com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.
(BRASIL, 2005, art. Xº).

Com esta nova redação, percebe-se a consideração dos estudantes e professores como
principais atores dos processos de ensino e aprendizagem mediados pelas tecnologias de
informação e comunicação e, além disso, ampliam-se os níveis e as modalidades
educacionais como possibilidades para a EaD. Ou melhor, em seu Art. 2º evidencia-se
que a EaD poderá ser ofertada nos seguintes níveis e modalidades educacionais:

I - educação básica, nos termos do art. 30 deste Decreto;


II - educação de jovens e adultos, nos termos do art. 37 da Lei no 9.394, de
20 de dezembro de 1996;
III - educação especial, respeitadas as especificidades legais pertinentes;
IV - educação profissional, abrangendo os seguintes cursos e programas:
a) técnicos, de nível médio; e
b) tecnológicos, de nível superior;
V - educação superior, abrangendo os seguintes cursos e programas:
a) sequenciais;
b) de graduação;
c) de especialização;
d) de mestrado; e
e) de doutorado. (BRASIL, 2005).
54

No decorrer do Decreto, são estabelecidos critérios para a criação, organização, oferta e


desenvolvimento de cursos e programas na modalidade EaD, trazendo características
fundamentais para sua projeção. Ao definir a duração dos cursos, as formas de avaliação
(atividades on-line e presenciais), percebemos que existe uma visão mais ampla sobre as
possibilidades de desenvolvimento discente e atuação docente.

Com o passar do tempo, em 2016 é estabelecida a resolução CNE nº 1, de 11 de março


de 2016, que “Estabelece Diretrizes e Normas Nacionais para a Oferta de Programas e
Cursos de Educação Superior na Modalidade a Distância”. Sendo de suma importância
por ser a base para as políticas e os processos de avaliação e de regulação dos cursos e
das IES nos âmbitos dos sistemas de educação (BRASIL, 2016, p. 1). Destaca-se que a
EaD é

Caracterizada como modalidade educacional na qual a mediação didático-


pedagógica, nos processos de ensino e aprendizagem, ocorre com a utilização
de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal
qualificado, políticas de acesso, acompanhamento e avaliação compatíveis,
entre outros, de modo que se propicie, ainda, maior articulação e efetiva
interação e complementaridade entre a presencialidade e a virtualidade
“real”, o local e o global, a subjetividade e a participação democrática nos
processos de ensino e aprendizagem em rede, envolvendo estudantes e
profissionais da educação (professores, tutores e gestores), que desenvolvem
atividades educativas em lugares e/ou tempos diversos. (BRASIL, 2016).

Um aspecto de relevância desta Resolução nº 1 é a consideração da importância dos


papéis funcionais de cada ator envolvido no processo de oferta de um curso nesta
modalidade, trazendo não só a figura do docente, como a do tutor7, que é considerado

todo profissional de nível superior que atue na área de conhecimento de sua


formação, como suporte às atividades dos docentes e mediação pedagógica,
junto a estudantes, bem como, de considerar como corpo docente da
instituição, todo profissional, a ela vinculado, que atue como: autor de
materiais didáticos, coordenador de curso, professor responsável por
disciplina, e outras funções que envolvam o conhecimento de conteúdo,
avaliação, estratégias didáticas, organização metodológica, interação e
mediação pedagógica, junto aos estudantes, descritas no PDI (Plano de
Desenvolvimento Institucional), PPI (Projeto Pedagógico Institucional) e
PPC (Projeto Pedagógico dos Cursos). (BRASIL, 2016).

7
O tutor deve ser compreendido como um dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica.
Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presencialmente devem contribuir para o desenvolvimento
dos processos de ensino e aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico.
Um sistema de tutoria necessário ao estabelecimento de uma educação a distância de qualidade deve
prever a atuação de profissionais que ofereçam tutoria a distância e tutoria presencial. Fonte:
<http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf>.
55

Em 2017, o Decreto foi atualizado para Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, Art.
1º,

Para os fins deste Decreto, considera-se educação a distância a modalidade


educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino
e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de
informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso,
com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva
atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam
em lugares e tempos diversos.

Assim, na percepção de Silva (2003), em seu livro Educação On-line, a EaD apresenta-
se como uma demanda do novo contexto socioeconômico-tecnológico engendrado a
partir do início da década de 1980, cuja característica não está mais centrada na
produção fabril ou na mídia da massa, mas sim na informação digitalizada com nova
infraestrutura básica, com novo modo de produção. A internet e o computador ganham
espaço e proporcionam uma nova lógica comunicacional na sociedade de forma geral.

A partir deste cenário, surgem questionamentos por parte da sociedade a respeito desta
“Educação a Distância”. Seria possível educar sem o contato físico? Como educar
alunos separados pelo tempo e pelo espaço? O contato docente-aluno é imprescindível
para que ocorra a aprendizagem? Quando se discute a EaD e a infinidade de cursos
ofertados nesta modalidade esses questionamentos emergem e, muitas vezes, angustiam
os envolvidos direta ou indiretamente no processo de EaD.

Em seu livro ABC da EaD, Maia e Mattar (2007) levam a uma reflexão sobre a
existência de uma educação a distância, partindo do pressuposto de que a presença é
essencial para a intersubjetividade requerida em uma experiência de educação; neste
sentido, a educação a distância não seria possível. Seria possível um ensino ou instrução
a distância. Porém, outros autores defendem que não há problema com a sigla EaD, e
que é possível sim uma educação a distânciaintensa e proveitosa

Aproximando a esta reflexão, Tori (2010) argumenta que a aproximação (do aluno com
o conteúdo, do aluno com o professor ou do aluno com os colegas) é condição
necessária, mesmo que não essencial, para que ocorra a aprendizagem. Por isso, muitas
vezes, surge o questionamento de como ocorreria uma “aprendizagem a distância”.
Pensando em uma maneira para eliminar tal barreira, o ideal seria colocar todos os
56

protagonistas em um mesmo espaço físico. Porém, aí está a grande questão, os meios de


comunicação e as tecnologias interativas também podem contribuir significativamente
para a aproximação desses protagonistas, muitas vezes com menor custo e com maior
eficiência.

Quando o autor diz maior eficiência, relaciona-se ao fato de que na educação presencial
um aluno pode estar presente em sala de aula, porém ausente psicologicamente do
assunto que está sendo discutido. Neste caso, não há uma garantia de que exista um
envolvimento no processo de ensino e aprendizagem por parte deste aluno. Em
contrapartida, ainda segundo Tori (2010), há casos de interações on-line a distância, via
rede, que acabam por aumentar a empatia e a intimidade entre colegas que, muitas
vezes, frequentam a mesma sala de aula e mal se conhecem. A atividade desenvolvida a
distância, mesmo que “informal” contribui para uma aproximação entre os sujeitos.

Neste sentido, Maia e Mattar (2007) apresentam um estudo desenvolvido pelo professor
da Universidade da Califórnia, Hubert Dreyfus,8 que faz uma crítica ao projeto da
educação a distância ao considerar que muitos projetos de EaD privilegiam a economia
de recursos e interação em detrimento da EaD interativa, que privilegie o contato
professor-aluno. Para esse professor, a expertise não pode ser adquirida no ciberespaço
desencorpado, pois necessita do exercício de interconexões dos corpos, ou seja, da
presença em sala de aula.

Neste caso, podemos fazer uma análise da crítica de Dreyfus quando pensamos nos
cursos autoinstrucionais, em que prevalece apenas o ensino a distância, pois a função
desses cursos é “informar” sem que haja uma preocupação com o processo de ensino e
aprendizagem que está sendo estabelecido pelo aluno, uma vez que não há interação
entre aluno-docente ou aluno-tutor, o aluno tem contato somente com o conteúdo,
material e recursos disponibilizados por meio da plataforma virtual utilizada.

O processo de construção do conhecimento não é tão simples de se desenvolver, existe


uma série de fatores que irão corroborar com esse processo, discutiremos mais adiante.

8
Hubert Lederer Dreyfus (Terre Haute, Indiana, 15 de outubro de 1929) é um filósofo norte-americano. É
professor na Universidade de Berkeley. Seus principais interesses incluem fenomenologia,
existencialismo e a filosofia da psicologia e da literatura, bem como as implicações filosóficas da
inteligência artificial.
57

Porém, o que Valente (2011) apresenta é a ideia de que hoje, além de possuir a
informação, é necessário que cada aprendiz desenvolva competências que devem ser
construídas na interação com os objetos e as pessoas que coabitam o seu cotidiano.

A aprendizagem efetiva, relevante e condizente com a realidade da atual configuração


social, para Valente (2011), se resume em duas concepções: primeiro de que a
informação deve ser acessada e o conhecimento deve ser construído pelo aprendiz,
estando aí o desafio da Educação de modo geral e da EaD em particular, em criar
condições para que a aprendizagem ocorra baseada nessas concepções, elaboradas por
diferentes abordagens de EaD, alinhando a transmissão de informação ao processo de
construção do conhecimento.

Por isso a preocupação com os cursos ofertados a distância que privilegiam apenas a
transmissão de informações sem o desenvolvimento de ações que irão levar os
estudantes à construção do conhecimento. Segundo Valente (2011)

as teorias de aprendizagem baseadas no interacionismo9 afirmam que a


construção de conhecimento não acontece como fruto do autodidatismo, da
ação isolada do aprendiz. Para que essa construção ocorra é necessária a
interação entre o aprendiz e outras pessoas, que o auxiliem no processo de
compreender o que está sendo realizado, possibilitando, assim, novos
conhecimentos. (VALENTE, 2011, p. 14).

Portanto, para melhor entendimento da natureza de muitas dimensões e diferentes


interpretações sobre a EaD, adotaremos o conceito elaborado por Greg Kearsley10 e
Michael Moore11 (2008), sendo,

Educação a distância é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em


um lugar diferente do local do ensino, exigindo técnicas especiais de criação

9
Valente (2011) expõe uma análise das teorias que embasam a EaD e com base no estudo do Livro de
Keegan, 1996, The foundations of distance education, a EaD foi classificada em três grupos: Teorias de
independência e autonomia; Teorias de industrialização do ensino e Teorias de interação e comunicação.
10
Greg Kearsley é um consultor independente especializado na criação e disponibilização de educação
on-line. Ensinou na University of Maryland, na Nova Southeastern University e na George Washington
University, tendo desenvolvido igualmente cursos on-line em muitas organizações, incluindo NCREL,
Walden Institute e University of Wisconsin. Kearsley escreveu mais de 20 livros relacionados ao tema de
tecnologia.
11
Michael Moore é conhecido nos círculos acadêmicos pela liderança na conceitualização e no
desenvolvimento de estudos rigorosos de educação a distância. Em 1972, ele publicou a primeira obra
teórica em inglês sobre educação a distância e tem realizado diversos outros notáveis trabalhos pioneiros
nesse campo.
58

do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e


disposições organizacionais e administrativas especiais. (MOORE;
KERSLEY, 2008, p. 2).

Assim, os aspectos considerados essenciais a respeito da definição da Educação a


Distância podem ser citados, de acordo com Moore e Kersley, como: aprendizado e
ensino; aprendizado que é planejado, e não acidental; aprendizado que normalmente
está em lugar diferente do local de ensino; comunicação por meio de diversas
tecnologias.

Refletindo sobre essas características, a definição “Educação a Distância” inclui o


processo de ensino e aprendizado. Quando se deseja estudar aprendizado e ensino, é
preciso usar o termo “educação”, que descreve corretamente uma relação com ambos os
lados.

Então, como proporcionar uma verdadeira “Educação a Distância” que possibilite ao


aprendiz o desenvolvimento e construção do conhecimento de forma produtiva,
prazerosa e instigadora? Como se manifestam as relações de afetividade nesta
modalidade de ensino?

Dorjó (2011) realizou um estudo sobre as “Relações afetivas: reais possibilidades na


Educação a Distância” e apresenta elementos que corroboram para esta discussão. Ao
analisar as relações afetivas desenvolvidas entre alunos e professores de um curso de
Letras realizado na modalidade EaD, a autora destaca a importância de que o processo
pedagógico seja fundamentado na ação dialógica em interações por meio dos fóruns,
mostrando que no processo comunicacional por meio da linguagem, é possível
desenvolver a empatia, relações de amizade, que culminam em um sentimento que
causa prazer no contato humano, mesmo realizado a distância.

A autora apresenta um elemento fundamental presente no processo educacional


realizado na modalidade EaD, que é a comunicação por meio da linguagem, que
podemos inferir que influencia significativamente no estabelecimento de vínculos.
Quando pensamos nas ferramentas de interação síncronas e assíncronas utilizadas em
um curso a distância, o texto escrito e a linguagem são os principais meios de
comunicação estabelecidos entre os atores envolvidos.
59

A clareza das informações, a escrita cuidadosa, os termos e conceitos-chave


apresentados, as imagens e recursos audiovisuais disponibilizados nesses contatos entre
os atores envolvidos no processo educacional constituem a base para o entendimento e
progresso do aluno que desenvolve um curso na modalidade a distância. Pressupõe-se
que esses elementos podem contribuir para autonomia, motivação, engajamento,
envolvimento e participação do aluno.

O professor e/ou tutor é um dos principais responsáveis por esse processo na EaD, tendo
em vista a proximidade com que exerce seu papel junto aos alunos. Por isso, é
fundamental que esses sujeitos tenham clareza de seu papel e assumam uma postura
condizente. Entende-se o professor e/ou tutor nesta pesquisa como o facilitador do
processo de ensino e aprendizagem, ou seja, aquele que estabelece contato com os
alunos seja por meio das ferramentas de EaD presentes no AVA, como chat, fórum,
wiki, mensagens ou nas relações estabelecidas durante os momentos de encontro
presencial. Daremos um enfoque maior nas características que esse profissional precisa
ter e/ou desenvolver devido à sua relevância nesse processo educativo.

3.2 Afetividade na educação: implicações para o processo de ensino e


aprendizagem

A partir das constatações de Vygotsky e Wallon sobre o desenvolvimento da afetividade


é possível entender que a afetividade está diretamente relacionada aos processos
cognitivos e deve ser considerada de forma integrada ao desenvolvimento do ser
humano. Vygotsky (1993, tomo II) explica que “quem separa o pensamento do afeto
fecha para sempre as possibilidades de explicar as causas do pensamento [...]”. Na
perspectiva de Vygotsky, afeto e cognição estão dialeticamente relacionados.

Neste sentido, para ambos os autores, a aprendizagem assume um caráter de extrema


relevância, na medida em que impulsiona o desenvolvimento. Bastos (2014) explica que
a aprendizagem proporciona a aquisição de novos conhecimentos, além de gerar um
salto qualitativo no potencial afetivo-cognitivo. Neste sentido, pode-se destacar o papel
do educador que se torna imprescindível para a evolução dos sujeitos e precisa estar
diretamente alinhado com os objetivos pessoais de cada indivíduo.
60

O objetivo deste Capítulo é o de entender como acontecem estes processos de ensino e


aprendizagem tendo como pano de fundo a afetividade. Como os educadores podem
atuar para que este processo seja satisfatório, de forma a oportunizar a aprendizagem
dos alunos? Como deve se dar a intervenção dos educadores? Por que é importante a
formação dos docentes? E como deve ser priorizada a reflexão prática alinhada à teoria?

Como vimos no Capítulo anterior, para Vygotsky, o ser humano se constitui por meio
das relações sociais que desenvolve em um contexto histórico e cultural em que está
inserido. Prestes12 (2010) explica que entre 1925 e 1930, os estudos do grupo liderado
por Vigotski revolucionam a interpretação da consciência como uma forma especial de
organização do comportamento humano, “uma forma que se fundamenta no social, na
história e na cultura”.
Esses estudos começam a desempenhar um papel importante na formação dos
novos professores, deixando no passado a “velha escola”, pois “para a
formação de um homem novo fica perfeitamente claro que, do ponto de vista
da influência consciente sobre o curso do processo educativo, a nova escola
surge como uma das tarefas essenciais”. (PRESTES, 2010, p. 31).

Neste contexto, o professor tem um desafio que é o de proporcionar uma educação


pautada no desenvolvimento integral do indivíduo. Emiliano e Tomás (2015) destacam
que para Vigotiski, devido ao fato do desenvolvimento do indivíduo ser um processo
construído nas e pelas interações que ele estabelece com o contexto histórico e cultural,
a construção do conhecimento ocorre a partir de um processo constante de interação
social.

12
Zoia Prestes é filha de Luiz Carlos Prestes com Altamira Rodrigues Sobral. Passou a infância e início
da vida adulta em Moscou, capital da então União Soviética, no período em que a família Prestes recebeu
asilo político em função das perseguições e ameaças feitas pelo regime militar instalado no Brasil em
1964. Pela Universidade Estatal de Pedagogia de Moscou formou-se em pedagogia e psicologia pré-
escolar, além de realizar o mestrado. No Brasil, realizou doutorado em educação pela Universidade de
Brasília com orientação de Elizabeth Tunes. É atualmente professora da Faculdade de Educação da
Universidade Federal Fluminense. (CERICATO, 2012, p. 279).

Em sua tese, Zoia (2014) aprofunda nos conceitos apresentados por Vigotski, por meio de pesquisas em
fontes russas sobre a trajetória de publicações de alguns de seus textos, de entrevistas com seus familiares
e com alguns estudiosos russos da teoria histórico-cultural. E a partir destas análises a autora discute as
opções de alguns tradutores, analisando a trajetória de algumas de suas obras na União Soviética, na
Rússia e no Brasil. E com base em um exame detalhado de alguns conceitos basilares da teoria de
Vigotski, Zoia apresenta e justifica adulterações intencionais na tradução de obras que, segundo ela,
escondem-se sob um véu ideológico quase imperceptível para o leitor.
61

Tendo em vista que “Educar é possibilitar que advenha um ser humano, membro de
uma sociedade e de uma cultura, sujeito singular e insubstituível” (CHARLOT, 2013, p.
120), é fundamental compreender como se dá o processo de aprendizagem por meio das
interações sociais. Com o intuito de entender essas relações, voltamos à teoria de
Vygotsky, buscando explorar alguns conceitos basilares que constituem aspectos
essenciais para a aprendizagem. Discorreremos sobre a internalização, mediação e
Zona de Desenvolvimento Iminente.

Um dos conceitos importantes é o da internalização, que pode ser explicado por meio da
subjetividade e intersubjetividade. Oliveira (1992) esclarece que para Vygotsky, as
funções psicológicas superiores permitem ao indivíduo um maior grau de autonomia e
caracterizam-se como resultado do processo de inserção do homem na cultura. Portanto,
o processo de internalização dessas formas culturalmente dadas ao funcionamento
psicológico adquire extrema relevância.

A internalização envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo como


base a operação com signos [...] aspectos tanto da fala externa ou
comunicativa como da fala egocêntrica “interiorizam-se”, tornando-se a base
da fala interior. (OLIVEIRA, 1992, p. 80).

Já Tassoni (2000) argumenta, mediante a interpretação de Vygotsky, que o processo de


internalização abarca uma série de modificações que colocam em relação o social e o
individual. Ou seja,
todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes:
primeiro, no nível social, e, depois no nível individual; primeiro entre pessoas
(interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica).
(TASSONI, 2000, p. 1).

Desta forma, Oliveira (1992) elucida que quando o indivíduo toma posse do material
cultural, torna-o seu e utiliza-o como instrumento de pensamento e ação. Assim, o
processo de internalização, que é a própria formação da consciência, é também um
processo da constituição da subjetividade a partir de situações da intersubjetividade.
Esse avanço envolve, portanto, inúmeras relações pessoais densas, mediadas
simbolicamente.

Mediante esta constatação, o processo de aprendizagem não se estabelece por um


indivíduo sozinho, de forma isolada. O papel do outro e as relações e interações sociais
62

adquirem extrema relevância. Essas questões permitem-nos inferir que, mediação


semiótica e a qualidade em que são estabelecidas as relações emergem como essenciais.

Na perspectiva de Pino (1991), a mediação semiótica permite explicar os processos de


internalização e objetivação, as relações entre pensamento e linguagem ou a interação
entre sujeito e objeto do conhecimento.

Conforme Pino, 1991, p. 32,

Num sentido amplo, mediação é toda a intervenção de um terceiro


“elemento” que possibilita a interação entre os “termos” de uma relação.
Neste trabalho, o termo mediação é utilizado para designar a função que os
sistemas gerais de sinais desempenham nas relações entre os indivíduos e
destes com o seu meio. Mas especificamente, é utilizado para designar a
função dos sistemas de signos na comunicação entre os homens e na
construção de um universo sócio-cultural.

Pino (1991) continua sua definição para o termo “mediação” explicando que os
processos mediadores multiplicam-se na vida social dos homens devido à complexidade
de suas relações sociais. E compara os seres humanos com os animais – que têm
mecanismos instintivos de adaptação; já os humanos criaram instrumentos e sistemas de
signos, em que o uso lhes permite transformar e conhecer o mundo, comunicar suas
experiências e desenvolver funções psicológicas novas, constituindo assim a “mediação
semiótica” por meio dos sistemas de signos.

Sendo o processo de ensino e aprendizagem desenvolvido por meio das interações


estabelecidas no contexto de sala de aula, o docente assume um papel primordial na
aprendizagem dos estudantes. Interpretando a definição de Pino (1991) para o conceito
de mediação, toda intervenção de um terceiro “elemento” possibilita a interação entre
os “termos” de uma relação, podemos inferir que o docente pode ser considerado um
instrumento de mediação, dentre outras diversas possibilidades presentes em uma sala
de aula.

Retomando algumas das considerações de Vygotsky sobre as vivências apresentadas no


Capítulo I, que são elucidadas segundo Jeresbtsov (2014), tais como, unidade de afeto-
intelecto, unidade de análise da consciência e do desenvolvimento da personalidade,
63

condição de uma neoformação, entre outros, podemos considerar que são as vivências e
as experiências adquiridas ao longo do processo inserção do indivíduo na cultura que
irão oportunizar o estabelecimento de relações afetivas, o que pode ser transposto para
as relações desenvolvidas em sala de aula entre os atores envolvidos no processo
educativo.

E não menos importante, discorreremos sobre a ZDI que, segundo Prestes (2010),
aparece nas traduções para o português como Zona de Desenvolvimento Proximal ou
Imediata. A autora explica que a tradução deste conceito gerou diferentes interpretações
por pressupor que a zona de desenvolvimento pode ser aferida e quantificada. A autora
identificou esse fato ao ler o artigo de Anna L. Brown e Roberta A. Ferrara Diagnosing
zones of proximal development, em que as autoras admitem que a Zona de
Desenvolvimento Proximal é passível de quantificação, mediante o potencial de
aprendizagem do aluno, além de interpretarem-na como algo estanque, sem levar em
consideração as mudanças instantâneas e momentâneas que ocorrem na ZDI.

Prestes (2000) explica que as primeiras traduções do conceito de ZDI para o português
seguiram as traduções americanas, denominando-o de zona de desenvolvimento
proximal, e o autor Paulo Bezerra optou por usar zona de desenvolvimento imediato.
Houve a alteração das palavras – proximal para imediato, mas o problema continuou
gerando uma interpretação equivocada para o que Vigotski entende como zona
blijaichego razvitia.

Tanto a palavra proximal como a imediato não está se atentando para a


importância da instrução como uma atividade que pode ou não possibilitar o
desenvolvimento. Vigotski não diz que a instrução é garantia de
desenvolvimento, mas que ela, ao ser realizada em uma ação colaborativa,
seja do adulto ou entre pares, cria possibilidades para o desenvolvimento.
(PRESTES, 2010, p. 168).

Portanto, a tradução de Zona de Desenvolvimento Proximal é a mais utilizada e


difundida no Brasil por todos os pesquisadores que estudam o tema. Prestes (2010)
esclarece que essa tradução é simplesmente a forma com que o conceito foi traduzido
para o inglês e transportado para o português. O impacto disso é que os autores das
traduções não se atentaram ao estudo e entendimento do termo, o que impacta
diretamente no entendimento real de uma das ideias mais revolucionárias de Vigotski.
64

Para analisar esse termo, Prestes (2010) cita o texto “A dinâmica do desenvolvimento
mental do escolar em função do ensino”, estenografia de uma palestra proferida por
Vigotski em 1933 na cátedra de defectologia do Instituto de Pedagogia Bubnov.
Segundo ela, esse texto é um dos mais interessantes, porque nele se detém a análise de
algumas questões que a pedologia13 vinha elaborando, que tinha estreita relação com o
problema do desenvolvimento mental de crianças no processo de ensino ou instrução.
Para Vigotski, havia uma relação entre o desenvolvimento mental e o andamento
(marcha) do ensino ou instrução.

Porém, ainda segundo Prestes (2010), Vigotski critica esses estudos que buscavam
identificar a idade em que determinado ensino torna-se possível, ou seja, muitos autores
da época defendiam que o desenvolvimento era uma premissa para o ensino ou
instrução. Ou seja, as crianças eram classificadas por meio de testes nos quais se
verificava se ela estava madura ou não para o ensino mediante o desenvolvimento de
tarefas realizadas sozinhas, sem a ajuda de alguém. O autor diz que esse ponto de vista
foi completamente abalado quando se estabeleceu que existe uma idade mais sensível
para a instrução, uma idade preferencial para ensinar determinada matéria.

Essas problematizações compõem a análise de Vigotski para chegar ao conceito de zona


blijaichego razvitia, uma vez que a relação entre o desenvolvimento mental da criança e
a instrução escolar é um fator de extrema complexidade. E com o desenvolvimento de
diversos estudos, Prestes (2010) elucida que Vigotski fala de um paradoxo provocado
levantando algumas questões, como por exemplo: de que modo crianças que chegam à
escola com um desenvolvimento mental melhor revelam-se, no decorrer da instrução,
piores em seu desenvolvimento mental? Para o autor, esse paradoxo se complica quando
é comparado ao desenvolvimento escolar e buscando formas de explicar este fato,
Vigotski recorre à zona blijaichego razvitia,

A zona blijaichego razvitia é a distância entre o nível do desenvolvimento


atual da criança, que é definido com a ajuda de questões que a criança resolve
sozinha, e o nível do desenvolvimento possível da criança, que é definido
com a ajuda de problemas que a criança resolve sob a orientação dos adultos
e em colaboração com companheiros mais inteligentes. [...] a zona

13
Do grego: estudo sistemático da vida e do desenvolvimento das crianças (Dicionário Eletrônico
Hoauiss).
65

blijaichego razvitia define as funções ainda não amadurecidas, mas que


encontram-se em processo de amadurecimento, as funções que amadurecerão
amanhã, que estão hoje em estado embrionário. (PRESTES, 2010, p. 173).

Desta forma, a autora defende que a tradução que mais se aproxima do termo zona
blijaichego razvitia é zona de desenvolvimento iminente devido às possibilidades de
desenvolvimento para além do imediatismo e da obrigatoriedade da ocorrência, Prestes
(2010) esclarece que a criança pode ou não contar com a colaboração de outra pessoa
em determinados períodos de sua vida, porém ela pode ou não amadurecer certas
funções intelectuais, isso não é uma condição.

O entendimento e esclarecimento desses conceitos fundamentais da teoria de Vigotski


são essenciais para a compreensão da afetividade e interatividade no processo de ensino
e aprendizagem desenvolvido, seja na educação presencial ou a distância. Em ambas as
modalidades, o processo de aprendizagem desenvolvido pelos estudantes se fundamenta
nas possibilidades oportunizadas a ele por meio dos instrumentos de mediação
alicerçados à prática do docente.

3.3 Afetividade e Educação a distância: visão da afetividade e processos


educacionais

Ao discutir o termo afetividade, muitos estudiosos pensam na relação entre emoções e


sentimentos que estão presentes nos relacionamentos e exercem influência sobre o
comportamento humano. No âmbito educacional, a afetividade relaciona-se com os
atores envolvidos no processo educativo, sejam alunos, professores, equipe pedagógica
e/ou equipe técnica administrativa, e essas relações podem levar à construção ou não de
vínculos, seja na educação presencial ou na EaD, por meio dos AVAs14.

O dicionário Houaiss (2001) define afetividade como:

14
Para Grossi et al (2013), o panorama político, econômico e social da década de 2010 é caracterizado
pelo surgimento de novas perspectivas relacionadas à educação. Surgem assim, os Ambientes Virtuais de
Aprendizagem (em inglês, Learning Management Systems ou ainda em português, Sistemas de
Gerenciamento de Aprendizagem). Segundo Grossi et al (2013), apud Mattar (2011) os AVAs são a
marca registrada da EaD, embora alguns estudiosos já estejam apontando que esses ambientes estejam
ultrapassados e substituídos pelos Ambientes Virtuais de Ensino e Aprendizagem (AVEAs). Sendo os
AVEAs uma denominação mais abrangente do que a do AVA e que compreende as ações de ensino
necessárias à aprendizagem.
66

1. Qualidade ou caráter de quem é afetivo;


2. Conjunto de fenômenos psíquicos que são experimentados e vivenciados
na forma de emoções e de sentimentos;
3. Tendência ou capacidade individual de reagir facilmente aos sentimentos e
emoções; emocionalidade.

Interpretando esta definição, é possível inferir que esses fenômenos psíquicos podem
influenciar o interesse, envolvimento, percepção, raciocínio, memória, entre outros,
elementos que contribuem para tornar o ato educativo significativo.

A afetividade do ponto de vista de Grossi et al (2013) é indispensável em qualquer


atividade humana, dentre elas, pode-se destacar a educação, em especial na modalidade
a distância, uma vez que muitos discentes ainda têm a ideia de que a EaD é uma
modalidade de educação “fria”, na qual o discente estuda sozinho e não o tem apoio
significativo do professor.

Paulo Freire (1996),15 ao escrever a “Pedagogia da Autonomia”, sugere práticas e


apresenta possibilidades dos educadores(as) estabelecerem novas relações e condições
de educabilidade deles(as) entre si, dentro de cada um deles(as) mesmos, e com seus
educandos. Ele entendia que essas posturas pessoais e epistemológicas possibilitam a
abertura à apropriação do saber. Na realidade, Freire convida os educadores a exercerem
uma ética crítica, competência científica e amorosidade autêntica. Apesar do contexto
em que este livro foi escrito não se referir a Educação a Distância, podemos trazer a
noção de afetividade apresentada pelo autor, uma vez que se refere ao ato educacional
em qualquer instância.

Para Freire (1996), é preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade
docente e afetividade. Não é certo, do ponto de vista democrático, que o professor será
melhor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” seja nas relações com
os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que se deve ensinar. A afetividade não se
acha excluída da cognoscibilidade. O que o docente não pode permitir, é que a sua
afetividade interfira no cumprimento ético do dever de professor e do exercício da

15
Apesar dos fundamentos epistemológicos do autor Paulo Freire serem diferentes de Vygotsky e
Wallon, utilizamos alguns elementos de sua teoria por entender que são basilares ao entendimento de
processos educativos coerentes com a proposta desta pesquisa.
67

autoridade docente. A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade


científica, domínio técnico a serviço da mudança.

Ainda na visão de Freire (1996), não importa com que faixa etária trabalhe o educador
ou a educadora. O nosso trabalho é realizado com gente, miúda, jovem ou adulta, mas
gente em permanente processo de busca.

Não sendo superior nem inferior a outra prática profissional, a minha, que é a
prática docente, exige de mim um alto nível de responsabilidade ética que a
minha própria capacitação científica faz parte. É que lido com gente. Lido,
por isso mesmo, independente do discurso ideológico negador dos sonhos e
das utopias, com os sonhos, as esperanças tímidas, às vezes, mas às vezes,
fortes dos educandos. Se não posso, de um lado, estimular os sonhos
impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar.
(FREIRE, 1996. p.144).

Finalmente, para Freire (1996), como prática humana, a educação jamais pode ser
entendida como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções,
os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos. Para o autor, nem a arrogância é sinal de
competência nem a competência é sinal de arrogância. Assim, Freire (1996) não nega a
competência, por outro lado de certos arrogantes, mas lamenta a ausência de
simplicidade, que não diminui em nada seu saber, ou faria gente melhor. Gente mais
gente.

Carvalho e Lima (2015) realizaram um estudo sobre a “Importância da afetividade na


EaD: uma perspectiva de Wallon”, e definem que emoção e afetividade são elementos a
serem considerados em qualquer fase da vida, pois estarão presentes em todas as
relações pessoais e nas situações que envolvam relações entre pessoas inclusive nas
situações de aprendizagem, entendidas como processo construído socialmente na
interação entre os sujeitos históricos.

Desta forma, as relações de afetividade estão presentes na relação de educação, seja ela
presencial ou a distância. Podem ser evidenciadas com maior ou menor intensidade
dependendo do grau de interação ou interatividade estabelecido entre os atores
envolvidos em um processo educativo. Carvalho e Lima (2015) destacam que a
afetividade exerce um papel fundamental nas correlações psicossomáticas básicas, pois
além de influenciar decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, a vontade e a
68

ação, constituem um componente essencial da harmonia e do equilíbrio: a personalidade


humana.

Por exercer esse papel, o estudo da afetividade nas relações estabelecidas na modalidade
a distância exerce um potencial de aproximação ou distanciamento do educando. Tendo
em vista as características do ato educativo, Tassoni (2000, p. 3) explica que:

Toda aprendizagem está impregnada de afetividade, já que ocorre a partir das


interações sociais, num processo vincular. Pensando, especificamente, na
aprendizagem escolar, a trama que se tece entre alunos, professores, conteúdo
escolar, livros, escrita, etc. não acontece puramente no campo cognitivo.
Existe uma base afetiva permeando essas relações.
As experiências vividas em sala de aula ocorrem, inicialmente, entre os
indivíduos envolvidos, no plano externo (interpessoal). Através da mediação,
elas vão se internalizando (intrapessoal), ganham autonomia e passam a fazer
parte da história individual. Essas experiências também são afetivas. Os
indivíduos internalizam as experiências afetivas com relação a um objeto
específico.

Em ambas modalidades educacionais, presencial ou a distância, a base afetiva é


considerada de forma a interferir diretamente no processo de ensino e aprendizagem.
Mediante essas discussões, torna-se importante compreender, de forma sintética,
aspectos referentes à legislação que fundamenta a Educação a distância no Brasil, a fim
de realizar essas inferências específicas a essa modalidade.
69

4. CAPÍTULO III – DIALOGIA, INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE

4.1 Dialogicidade e educação e o aluno da Educação a distância:


aprendizado de adultos

A prática pedagógica desenvolvida nos cursos superiores ofertados na modalidade a


distância requer uma série de cuidados, visto que estamos trabalhando com a formação
de adultos. Por isso, discorreremos de forma sintética sobre o aprendizado de adultos no
contexto da EaD.

Embora a legislação, mais precisamente o Decreto nº 9.057, prevê que a educação


básica e a educação superior poderão ser ofertadas na modalidade a distância, nos
ateremos à modalidade na educação superior, foco da pesquisa. Moore e Kearsley
(2008) apresentam que a maioria esmagadora dos alunos de educação a distância nos
Estados Unidos são adultos, com geralmente 25 e 50 anos. Esse diagnóstico reforça a
importância de entender alguns aspectos que podem contribuir para o trabalho do
docente considerando essa realidade.

Moore e Kearsley (2008) elencaram algumas proposições sobre o aprendizado de


adultos baseados nos clássicos estudos de Malcolm Knowles (1978). Segundo ele,
existem alguns fatores que diferenciam o aprendizado entre adultos e crianças, como
por exemplo,

 Embora as crianças aceitem ser dependentes de um professor, os adultos


apreciam sentir que têm algum controle sobre o que está acontecendo e ter
responsabilidade pessoal.
 Embora as crianças aceitem a indicação do professor a respeito do que deve ser
aprendido, os adultos preferem eles mesmos definir isso ou pelo menos ficar
convencidos de que isso é relevante para suas necessidades.
 As crianças aceitam as decisões do professor relativas a como aprender, o que
fazer, quando e onde. Os adultos apreciam tomar tais decisões sozinhos ou pelo
menos ser consultados.
70

 Embora as crianças possuam pouca experiência pessoal em que se basear, os


adultos têm muita vivência e gostam de utilizá-la como um recurso de
aprendizado.
 As crianças precisam adquirir um conjunto de informações para uso futuro. Os
adultos supõem que possuem as informações básicas ou precisam adquirir o que
é relevante em termos imediatos. Em vez de adquirirem conhecimento para o
futuro, eles encaram o aprendizado como necessário para resolver problemas no
presente.
 As crianças podem precisar de motivação externa para estudar; os adultos que
geralmente se apresentam de modo voluntário para aprender têm motivação
intrínseca.

Tendo em vista os pontos levantados, consideramos que os adultos, por terem uma
vivência, uma visão de mundo, uma inserção na cultura e adaptação ao contexto
sociocultural mais consolidado que as crianças, já saibam discernir o que querem
estudar e o que não querem. Neste sentido, pressupõe que o adulto, ao realizar um curso
a distância, sabe que precisará dedicar tempo para os estudos, ter disciplina para
acompanhar as discussões e atividades, saber gerenciar os prazos, ter uma escrita clara e
coerente, entre outros fatores, que irão permitir o seu desempenho de forma satisfatória
no curso.

Moore e Kearsley (2008) discutem alguns motivos que podem ser considerados como
mais comuns para fazer um curso EaD, que é, em grande parte dos casos, desenvolver
ou aperfeiçoar o conhecimento necessário para um emprego. “[...] São inúmeras as
razões para fazer um curso nesta modalidade, e independente da disciplina, os alunos
são muito comprometidos, empenhados e altamente motivados no que se propõe a
fazer.”

Adultos geralmente optam por realizar um curso a distância devido à comodidade de


poder estudar em casa, ou devido ao fato de poder organizar seus horários de estudo, ou
também devido à indisponibilidade de realizar um curso presencial. Quando os
estudantes apresentam um objetivo e uma motivação intrínseca ao se matricular para
determinado curso, o envolvimento, dedicação e engajamento tendem a ser satisfatórios,
ou também pode acontecer o contrário, alunos que se dispõem a estudar a distância,
71

porém não conseguem gerenciar suas atividades, tendem a ter um desenvolvimento


inferior no curso. Muitos são os fatores envolvidos para que um curso ofertado
contribua realmente para a formação de um aluno crítico, autônomo e reflexivo, que
saiba se posicionar frente às demandas e problematizações que se apresentam a ele.

Outro fator de suma relevância, que pouco é discutido, segundo Moore e Kearsley
(2008), é a ansiedade do aluno adulto que realiza um curso a distância. Para os autores,
se essa ansiedade for revelada, na maioria das vezes é direcionada ao instrutor, que é o
representante mais próximo da instituição de ensino. Se o instrutor identifica o aluno
ansioso, ele tenta com sensibilidade assegurar que o aluno se familiarize com os
procedimentos e expectativas da instituição. Para o aluno, o maior desafio surge na
primeira tarefa, logo no início do curso, neste momento, existe maior potencialidade de
um aluno ansioso desistir do curso. Em contrapartida, se ele consegue vencer a
ansiedade e entregar a tarefa com sucesso, e recebe um feedback positivo à medida que
vai se adaptando ao curso e ganhando segurança, a ansiedade tende a ser controlada.

Sabendo que os alunos podem ter esta ansiedade, seja no início do curso ou até mesmo
no início de uma nova disciplina, cabe ao instrutor tentar diminuir o nível de tensão.
Moore e Kearsley (2008) explicam que não é necessário diminuir os padrões exigidos
pela instituição, mas, levar em consideração, previamente, medidas na elaboração do
curso. Os autores citam um estudo desenvolvido por Conrad (2002) que constatou que
os alunos eram ajudados tendo acesso aos materiais do curso antes do início e
desejavam ver uma mensagem do instrutor quando acessavam pela primeira vez,
portanto, é interessante que,

Ao criar o ambiente propício para o aprendizado, o instrutor deve explicar


que erros representam uma parte natural do aprendizado, e não existe razão
em temer cometê-los, pois se aprova quando um aluno assume riscos, e não
existe nenhuma “pergunta boba”, pois o instrutor admira e aprova o esforço e
o comprometimento, preocupando-se com que o aluno seja bem-sucedido e
se empenhe para atingir essa meta. (MOORE; KEARSLEY, 2008, p. 173-
174).

Neste sentido, o papel do instrutor é essencial para que os alunos apreciem o curso, se
envolvam e tenham interesse e motivação para realizá-lo. As relações estabelecidas via
AVA são de extrema relevância, tendo em vista que o contato realizado entre alunos e
72

atores envolvidos na oferta do curso, acontece mediado por tecnologias digitais. De


acordo com Peters16 (2007), o tripé, diálogo, estrutura e autonomia, defendidos por
Moore (1993), assumem significativa importância para o desenvolvimento teórico e
prático do ensino a distância, especialmente nos cursos superiores.

Peters (2006) explica que os docentes universitários internalizaram as tradicionais


formas de ensino, seja na educação presencial ou a distância, e facilmente criticam
propostas reformistas que giram em torno dos três pontos citados anteriormente,
diálogo, estrutura e autonomia. A grosso modo, o autor elenca as seguintes objeções por
parte dos docentes:
1) Longas discussões são perda de tempo. 2) Materiais de estudo
desenvolvidos sob o ponto de vista da tecnologia do ensino reduzem o ensino
e o estudo a uma mera racionalidade de fim e meio. 3) O estudante médio não
dispõe das condições prévias necessárias para o estudo autônomo. De modo
algum eles têm condições de planejar e cursar sem orientação algo tão
exigente e complexo como o estudo universitário. (PETERS, 2006, p. 72).

Assim, temos um sério problema, uma vez que o ensino a distância pressupõe a
articulação desses elementos. Peters (2006) elucida que a integração de diálogos
didáticos, de programas de ensino e estudo estruturados e atividades de estudo
autônomo, precisam estar engajados e serem aceitos. Se não, enfrentaremos ceticismo,
dúvidas e rejeições e tenderemos a permanecer com as mesmas práticas tradicionais.
Por isso, adentraremos na importância do diálogo, interação e interatividade como
proposta para vencer a barreira da distância física.

16
Moore e Kesley (2008) explicam que a expressão educação a distância que Moore escolheu para
definir o universo das relações ensino-aprendizado caracterizado pela separação entre alunos e
professores foi a primeira que ele ouviu em um diálogo com um educador sueco Borje Holmberg.
Holmberg era diretor da Hermods Correspondence Scholl na Suécia e, sendo fluente em alemão, havia
lido a respeito do trabalho de um grupo de pesquisadores na University of Tubingen. Em vez de se
referirem a “estudo por correspondência”, esses alemães usavam os termos Fernstudium ou educação a
distância e Fernunterricht ou ensino a distância. Entre as figuras de destaque, estavam K.H. Rebel, M.
Delling, K. Grall, G. Dohmen e Otto Peters.
Otto Peters publicou em 1967 um trabalho original, “Das Fernstudium an Universitaten und
Hochschulen”, que foi traduzido para o inglês em 1983 com o título “Ensino a Distância e Produção
Industrial. Esboço de uma Interpretação Comparativa” (Sewart, Keegan e Holmberg, 1983). Nesse artigo,
Peters explicava como “ficou claro que o estudo a distância é uma forma de estudo complementar em
nossa era industrial e tecnológica” (p.95). Sua tese foi que a educação a distância é mais bem
compreendida como a aplicação de técnicas industriais na transmissão de instrução e, a não ser que
métodos industriais sejam utilizados, a educação a distância não será bem-sucedida. Essas técnicas
incluem: planejamento sistemático, especialização da equipe de trabalho, produção em massa de
materiais, automação, padronização e controle de qualidade, bem como usar um conjunto completo de
tecnologias de comunicação modernas. Essa aplicação de práticas industriais terá como resultado uma
alta qualidade; o alto custo desse procedimento é amortizado quando os cursos são distribuídos para um
grande número de alunos, o que é denominado pelos economistas de grande escala de produção.
(MOORE e KEARSLEY, 2008, p. 239).
73

4.2 Diálogo: compreendendo o conceito

De acordo com Freire (2016), quando tentamos adentramento no diálogo como


fenômeno humano, se nos revela algo que já podemos dizer ser ele mesmo: a palavra. E,
encontrando a palavra na análise do diálogo, nos impõe buscar seus elementos
constitutivos. Para esse autor, a existência humana não pode ser muda, silenciosa, nem
tampouco nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens
transformem o mundo.

Essa investigação, para Freire (2016), pressupõe duas dimensões: ação e reflexão, que
são de tal forma solidárias, em uma interação extremamente radical que, sacrificada
uma delas, ainda que em parte, se ressente, imediatamente a outra. Para o autor não há
palavra verdadeira que não seja práxis. Daí que dizer a palavra verdadeira seja
transformar o mundo.
A palavra inautêntica, com que não se pode transformar a realidade resulta da
dicotomia que se estabelece entre seus elementos constituintes. Assim é que,
esgotada a palavra de sua dimensão de ação, sacrificada, automaticamente a
reflexão também se transforma em palavreria, verbalismo, blá-blá-blá.
Devido a isto, alienada e alienante. É uma palavra oca, da qual não se pode
esperar denúncia do mundo, pois que não há denúncia verdadeira sem
compromisso de transformação, nem este sem ação. (FREIRE, 2016, p. 133).

Em contrapartida, se por um lado enfatiza ou exclusiviza a ação, em detrimento da


reflexão, Freire (2016) converte a palavra em ativismo, este que é a ação pela ação, e ao
minimizar a reflexão, nega-se também a práxis verdadeira e impossibilita o diálogo.
Assim, qualquer dessas dicotomias, ao apresentar-se em formas inautênticas de existir,
geram formas inautênticas de pensar, reforçando a matriz que as constituem. Assim,
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco
pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os
homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo,
é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado
aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. (FREIRE, 2016,
p. 134).

De tal modo, a existência humana exige um pronunciar, o pronunciar pode modificar


realidades. Para Freire (2016, p. 134), “não é no silêncio que os homens se fazem, mas
na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. [...] Desta forma, dizer a palavra, que é
verdadeira, que é trabalho, que é práxis, é transformar o mundo, portanto, esse direito é
de todos os homens. Precisamente por isso, ninguém pode dizer a palavra verdadeira
74

sozinho, ou dizê-la para os outros, num ato de prescrição, roubando desta forma a
palavra dos demais.

Por isso, para Freire (2016), o diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo
mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. Se é dizendo a
palavra com que, pronunciando o mundo, ocorre a transformação, o diálogo apresenta-
se como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens. Por isso,
o diálogo é uma exigência existencial. Esta característica não permite uma redução,
simplificando-o a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, e também não é
discussão guerreira, polêmica, entre sujeitos que não aspiram a comprometer-se coma
pronúncia do mundo, nem a buscar a verdade, mas impor a sua.

Por isso, Freire (2016) explica que o encontro de homens que pronunciam o mundo não
deve ser doação de um pronunciar de uns aos outros. É um ato de criação, que não pode
ser um instrumento que lance mão de um sujeito para a conquista do outro. A conquista
implícita no diálogo é a do mundo pelos sujeitos dialógicos, conquista do mundo para a
libertação dos homens.

4.3 Diálogo na EaD

Quando falamos de diálogo, estamos nos referindo, segundo Peters (2006), à interação
linguística direta e indireta entre docentes e discentes, portanto, ao diálogo que acontece
de fato. Já Moore e Kearsley (2008) explicam que o diálogo é um termo que ajuda a
focalizar a inter-relação de palavras e ações quaisquer outras interações entre professor
e aluno. Esclarecem que diálogo e interação são diferentes, mas que as interações são
necessárias para criar diálogo.

Moore e Kearsley (2008) elucidam mediante análise de Moore (1993) que o diálogo é
utilizado para descrever uma interação ou várias interações que podem ter qualidades
positivas. O diálogo tem uma finalidade, é constitutivo e valorizado por cada
participante, ou seja, os envolvidos no diálogo são ouvintes respeitosos e ativos,
contribuindo e se baseando na contribuição de outro(s) participante(s). E, em um
sentido educacional, o direcionamento do diálogo inclina-se no sentido de uma melhor
compreensão do aluno.
75

No mesmo sentido, Peters (2006), também baseado em Moore (1993), explica que um
diálogo é direcionado, constitutivo e apreciado pelos participantes. O termo diálogo
sempre se reporta a interações positivas, apesar de haverem interações negativas e
neutras. Dá-se importância à proposição de soluções conjuntas de problemas discutidos,
a fim de que os estudantes consigam atingir uma compreensão do que está sendo
estudado.

Em relação às características deste diálogo, Moore e Kearsley (2008) explicam que sua
extensão e natureza estão alinhados à filosofia educacional do indivíduo, ou grupo
responsável pela elaboração do curso, à personalidade do docente e discente, ao
conteúdo do curso e fatores ambientais. Os autores listam alguns fatores ambientais que
afetam o diálogo, tais como: a existência de um grupo de aprendizado e sua dimensão, a
linguagem e o meio de comunicação.

O diálogo é extremamente importante no ensino e na aprendizagem na EaD, tendo em


vista a função que ele assume, é de grande valia adentrar no entendimento deste
conceito e suas implicações didáticas. Peters (2006) elucida que o diálogo não apenas
desempenha funções auxiliares, mas, sim, é também uma forma autônoma de ensino e
aprendizagem, com funções pedagógicas e didáticas específicas. Portanto, é importante
analisar o diálogo sob a ótica de diferentes disciplinas, em seus aspectos “didático-
científicos, didático-universitários, didáticos-teleducativos, pedagógicos, filosóficos,
antropológicos bem como sociológicos.” Para o autor, é importante considerar a
aprendizagem dialógica na EaD, reconhecendo seus objetivos e potencialidades para
além de um estudo baseado em materiais de ensino pré-moldados.

Em relação ao aspecto didático-científico, Peters (2006) explica, a partir do estudo da


tese de Hartmut von Henting (1971), que a comunicação se torna parte integrante
constitutiva e integral do saber e da ciência, isso implica que quem quiser restringir o
estudo a distância apenas à recepção de materiais, prejudica significativamente o ensino
em sua essência, inclusive sua cientificidade. Por isso, o autor esclarece que a
comunicação de saber é uma condição fundamental do ensino acadêmico. É
imprescindível a articulação de conhecimento e comunicação como princípio didático
para a educação a distância. Para Peters (2007, p. 77):
76

Por esta razão também não se pode prescindir do diálogo no ensino a


distância, sobretudo porque o perigo da escolarização do ensino acadêmico
por meio dos cursos elaborados e, por causa disso, fixados (“coagulados”)
antes é maior nessa forma do estudo do que no presencial. Quem quiser
restringir os telestudantes à comunicação escrita do saber – com provas
escritas, tarefas as serem remetidas pelos correios e trabalhos finais de
bacharelado ou mestrado – reduz seriamente a estrutura do estudo acadêmico.

Sobre o aspecto didático-universitário, Peters (2006) apresenta elementos fundamentais


para o aprendizado e reflexão sobre problemas científicos, que podem ser construídos
por meio da participação ativa no diálogo. Algumas ações promovem um grau elevado
de envolvimento dos estudantes frente ao conteúdo estudado, resultando muitas vezes
em um maior engajamento dos alunos, como por exemplo, troca de ideias distintas,
confronto de opiniões, assumir posições, exercer o senso crítico. O que não pode ser
desenvolvido somente com a leitura e reflexão isolada de determinado conteúdo.

Neste sentido, quando apresentamos essas potencialidades do diálogo, consideramos


que ele contribui positivamente para o processo de ensino e aprendizagem
especialmente na educação a distância. Segundo Peters (2006), o diálogo oferece,
possibilidades das quais nenhuma outra forma de ensino dispõe. O autor lista algumas
competências específicas, que podem ser aprendidas pelos estudantes, mediante
participação ativa no diálogo, como por exemplo,

 a argumentar objetivamente e no jargão de sua disciplina,


 a assumir, fundamentar, defender, modificar ou rejeitar espontaneamente, no
decorrer da discussão oral, uma posição teórica própria,
 a “questionar criticamente” e julgar o saber exposto por outros estudantes,
 a colher de uma discussão impulsos para a reflexão própria e, por outro lado,
impulsionar o andamento da discussão,
 a refletir consciente e autocriticamente com outros estudantes a aprendizagem
havida e os métodos empregados num metaplano,
 a experimentar progressos cognitivos coletivos e
 a proceder, o quando possível, de modo racional, sistemático e metódico na
exposição oral de ideias próprias.
77

Sobre o aspecto didático-teleducativo, Peters (2006) explica que a relação sujeito-objeto


se transforma em uma relação eu-tu, relação sujeito-sujeito. Devido ao grande número
de discentes, normalmente existe uma relação de anonimidade dos docentes, atendo-se a
uma relação de objetivação das funções didáticas e sua aplicação técnica,
desenvolvendo apenas relações sujeito-objeto. Portanto, o diálogo pode oportunizar a
relação eu-tu, de modo que haja um envolvimento da personalidade e individualidade
dos docentes e discentes para que as relações se tornem primordialmente educativas.

Um aspecto essencial elucidado por Peters (2006) é o aspecto pedagógico. Para o autor,
o diálogo assume caráter relevante pedagogicamente porque articula linguagem,
pensamento e ação em uma relação íntima que oportuniza o desenvolvimento individual
e social dos seres humanos. Assim, o falar torna-se uma ação social.

Peters (2006) também discute o aspecto filosófico e antropológico do diálogo. Em


relação ao primeiro, entende-se que no diálogo experimenta-se de modo insubstituível
uma forma de vida importante para a existência do ser humano, e em relação ao
segundo ponto, no diálogo, trata-se de uma relação elementar da existência humana,
porque ele é meio pelo qual surge a língua, em que o homem se torna humano e capaz
de conviver em sociedade.

Realizando um “balanço intermediário” desses aspectos, Peters (2006) sintetiza que


quando se leva o ensino a distância a sério, isso quer dizer que o curso não será
desenvolvido somente com a leitura de materiais, é imprescindível oferecer inúmeras
possibilidades de diálogo. E, além disso, quando se considera a educação acadêmica
como uma educação por meio da ciência, tem que se considerar a relevância do
processo de ensino e aprendizagem dialógico. Para isso, leva-se em consideração as
relações de diálogo estabelecidas entre docentes e discentes e entre os próprios discentes
em um processo contínuo e articulado de falar, pensar e agir.

Por fim, Peters (2006) apresenta aspectos sociológicos e esclarece a seriedade de


compreensão do diálogo em contextos importantes como o de interação social e
comunicação. A interação social é caracterizada pelas inter-relações em uma
determinada situação social, temos um processo de troca de valores e posicionamentos,
acontecendo, assim, a socialização dos indivíduos por meio da aprendizagem de
78

símbolos e papéis. Já a comunicação é, sob o ponto de vista psicossocial, interação


linguística, em que o interesse está no sentido e significado do que foi comunicado. O
que é fundamental entender é que como pano de fundo dessas teorias, ensinar e
aprender são processos de interação e comunicação.

4.4 Interação na EaD

Mediante a compreensão da importância que o diálogo assume para o processo de


ensino e aprendizagem na educação a distância, nos ateremos ao entendimento e
compreensão da natureza da interação e nas formas de viabilizá-la por meio de
comunicação mediada via tecnologia. Moore e Kearsley (2008) identificaram três tipos
distintos de interação: interação do aluno com o conteúdo, interação com o instrutor e
interação com outros alunos.

A interação do aluno com o conteúdo do curso para Moore e Kearsley (2008) é a


primeira que o docente tem que facilitar. Essa interação representa uma das
características definidoras da educação, que é um processo de aprendizado planejado de
determinada matéria, auxiliado por um docente. A partir do conteúdo do curso, que
geralmente é definido previamente pelos profissionais que o elaboram, o aluno precisa
construir seu conhecimento por meio de um processo de inserção pessoal das
informações em estruturas cognitivas previamente existentes.

A interação do aluno com o instrutor para Moore e Kearsley (2008) é considerada


essencial para o processo de ensino e aprendizagem. A partir da apresentação do
conteúdo, os instrutores auxiliam os alunos a interagirem com ele, ou seja, buscam
despertar nos alunos o interesse pela matéria que está sendo discutida. Além disso, os
docentes procuram auxiliar os alunos na aplicabilidade do que está sendo discutido.
Cabe aos docentes avaliar o desempenho dos alunos, por meio de avaliações formais e
informais, a fim de certificar se eles estão progredindo. E, esse tipo de interação permite
que os docentes proporcionem conselhos aos alunos, apoio e incentivo, dependendo da
personalidade e filosofia de cada um, além de outras variáveis.
79

Sendo possível uma interação on-line do aluno com o professor a distância, o discente
pode aprender com a experiência do docente, ao mesmo tempo que interage com o
conteúdo. Moore e Kearsley (2007. p.153) esclarecem que,

Quando o instrutor on-line tem em mãos um conjunto de tarefas dos alunos,


não existe uma classe, mas como alternativa, o instrutor inicia um diálogo
com cada pessoa. Embora cada aluno e o instrutor tratem de um conteúdo
comum, geralmente, em um determinado texto, porém, muito provavelmente
em uma web site ou por áudio ou videoteipe, a reação de cada aluno à
apresentação é diferente e, portanto, a reação do instrutor a cada aluno
também é diferente. Para alguns alunos é explicado algo que não foi
compreendido, para outros são feitas elaboração, e para terceiros,
simplificações; para um aluno são feitas analogias e para outros são sugeridas
leituras complementares.

O docente, especialmente em um curso a distância, assume uma posição de suma


relevância. Moore e Kearsley (2008) comentam que quando os alunos interagem com o
conteúdo do curso, sem uma mediação, se tornam vulneráveis no momento de aplicação
devido ao desconhecimento do que está sendo apresentado. Além de terem o papel de
apresentar potencialidades da matéria, os docentes auxiliam na aplicação correta do que
está sendo estudado.

Já a interação entre os alunos é uma dimensão relativamente nova para os docentes da


EaD. Moore e Kearsley (2008) explicam que essa interação para os alunos é estimulante
e motivadora. Esse tipo de interação pode acontecer internamente nos grupos e entre os
grupos, e de aluno para aluno em ambientes on-line. Os docentes podem criar grupos
para que os alunos realizem atividades juntos, oportunizando esse tipo de interação. Na
maioria das vezes, as discussões entre os alunos são extremamente valiosas e
contribuem para que eles reflitam sobre o conteúdo que foi apresentado.

A partir de Moore e Kearsley (2008), segue o Quadro 1, que permite classificar os


níveis de interação, denominada “Hierarquia da Interação”,

Quadro 1 – Hierarquia da Interação


Escala Criação de Meios de Instrução Interatividade dos Prova do Prova do
relacionamentos para a Interação Recursos de interesse do interesse do
Sociais para a Tecnologia aluno instrutor
Interação
Qualidade de O instrutor não As atividades de Fax, página na Ao final do O instrutor
interação incentiva os instrução não web ou outros curso, a maioria responde
reduzidas alunos a se exigem interação recursos dos alunos (50% somente de
80

conhecerem nos dois sentidos tecnológicos a 75%) está modo aleatório


melhor. do instrutor com permitem a respondendo às às perguntas do
Nenhuma das os alunos; essas veiculação de mensagens do aluno; as
atividades atividades informações em instrutor, mas respostas
requer requerem a um sentido (texto somente quando geralmente
interações transmissão de e/ou imagens). solicitadas; as demoram mais
sociais ou estão informações em mensagens de 48 horas; o
limitadas à um sentido (por algumas vezes feedback é breve
introdução exemplo, preleções não têm relação e oferece pouca
breves no início do instrutor, com os tópicos e análise do
do curso. veiculação do tendem a ser trabalho do
texto) e itens para breves ou aluno ou
o aluno com base excessivas e sugestão para
nas informações. dispersas. melhoria.
Qualidade de Além de As atividades de E-mails, listeserv, Ao final do O instrutor
interação introduções instrução requerem conferência/quadro curso, a maioria responde a
mínimas breves, o que os alunos se de avisos ou outro dos alunos (50% maior parte das
instrutor requer comuniquem com recurso a 70%) está perguntas dos
outro o instrutor apenas tecnológico respondendo às alunos; as
intercâmbio de individualmente permite troca de mensagens do respostas
informações (por exemplo, informações nos instrutor e dos chegam
pessoais entre formular/responder dois sentidos e outros alunos, geralmente no
os alunos, por as perguntas do assíncrona (texto e quando intervalo de 48
exemplo, instrutor). imagem). solicitada ou horas, o
biografia por voluntariamente, feedback
escrito as respostas algumas vezes
contendo geralmente têm oferece uma
formação e relação com os análise do
experiência tópicos, porém, trabalho do
pessoal. são breves ou aluno e
excessivas ou sugestões para
dispersas. melhoria.
Qualidade de O instrutor, Além de exigirem Além das Ao final do O instrutor
interação além de que os alunos se tecnologias usadas curso, todos ou responde todas
moderadas proporcionar o comuniquem com para o intercâmbio quase todos os as perguntas dos
intercâmbio de o instrutor, as de informações alunos (90% a alunos; as
informações atividades de nos dois sentidos e 100%) estão respostas
pessoais entre instrução requerem assíncrono, a sala respondendo às chegam
os alunos, que os alunos se de bate-papo ou mensagens do geralmente no
oferece pelo comuniquem entre outra tecnologia instrutor e dos intervalo de 48
menos outra si (por exemplo, permite outros alunos, horas, o
atividade em discussão em pares intercâmbios quando feedback
classe para ou em grupos síncronos de solicitada e algumas vezes
aumentar a pequenos). informações, voluntariamente, oferece uma
comunicação e principalmente por as respostas análise do
o escrito. sempre são trabalho do
relacionamento relacionadas a aluno e
social entre os tópicos, mas sugestões para
alunos. algumas vezes melhoria.
são breves ou
excessivas e
dispersas.
Qualidade de O instrutor, Além de exigirem Além das Ao final do O instrutor
interação além de que os alunos se tecnologias usadas curso, a maioria responde todas
acima da proporcionar o comuniquem com para o intercâmbio dos alunos (50% as perguntas dos
média intercâmbio de o instrutor, as síncrono de a 75%) está alunos; as
informações atividades de informações respondendo e respostas
pessoais entre instrução requerem escritas, enviando geralmente são
os alunos e que os alunos tecnologias mensagens imediatas, isto é,
incentivar a desenvolvam adicionais (por quando no intervalo de
81

comunicação e trabalhos atuando exemplo, solicitada e 24 horas; o


interação social, juntos teleconferência) voluntariamente; feedback sempre
também cooperativamente permitem as mensagens oferece uma
interage com os (por exemplo, em comunicação são detalhadas e análise do
alunos em uma pares ou em visual em um relativas aos trabalho do
base grupos pequenos) sentido e de voz tópicos e, aluno e
social/pessoal. e compartilhem o nos dois sentidos geralmente, sugestões para
feedback. entre o instrutor e refletem a melhoria.
os alunos. intenção de se
comunicar bem.
Qualidade de Além de Além de exigirem Além das Ao final do O instrutor
interação de proporcionar que os alunos se tecnologias que curso, todos ou responde todas
alto nível um intercâmbio comuniquem com permitem quase todos os as perguntas dos
de informações o instrutor, as intercâmbio de alunos (90% a alunos; as
e incentivar a atividades de textos nos dois 100%) estão respostas são
interação aluno- instrução requerem sentidos, respondendo e quase sempre
aluno e que os alunos tecnologias visuais enviando imediatas, isto é,
instrutor-aluno, desenvolvam como vídeo nos mensagens, no intervalo de
o instrutor tarefas trabalhando dois sentidos ou as quando 24 horas; o
oferece juntos tecnologias de solicitados e feedback sempre
estruturas cooperativamente videoconferência voluntariamente; oferece uma
permanentes do (por exemplo, em permitem as mensagens análise do
curso, cuja pares ou em comunicações são detalhadas e trabalho do
finalidade é grupos pequenos) síncronas relacionadas aos aluno e
promover o e compartilhem vocal/visual entre tópicos e sugestões para
contato social resultados e o instrutor e os constituem melhora,
entre alunos e feedback com alunos e entre os comunicações juntamente com
instrutor. outros grupos da alunos. bem dicas e
classe. desenvolvidas. informações
adicionais para
complementar o
aprendizado.
Fonte: Moore e Kearsley (2008, p. 156-158).

4.5 Interação e Interatividade

Para Silva (2014), a “comunicação interativa” já era presente no meio acadêmico dos
anos 1970, expressando bidirecionalidade entre emissores e receptores, expressando
troca e conversação livre e criativa entre os polos do processo comunicacional. Essa
concepção de comunicação foi engajada no contexto de crítica aos meios e tecnologias
de comunicação (rádio, jornal e televisão) marcadamente unidirecionais, onde prevalece
a força da emissão dos produtores sobre os consumidores.

De acordo com Almeida (2003), etimologicamente, interação diz respeito à ação


recíproca com mútua influência nos elementos inter-relacionados. E interatividade se
apresenta como um potencial que propicia a interação. E, para ela, alguns autores
aproximam os conceitos de interação e interatividade. Almeida (2003) explica que a
interatividade permite ultrapassar a condição de espectador passivo para a condição de
82

sujeito operativo. Assim, ocorre a interatividade relacionada ao diálogo entre emissor e


receptor, a criação coletiva da comunicação e a intervenção dos usuários.

Silva (2014) cita um estudo realizado pelos autores Rabaté & Lauraire, que realizaram
um levantamento das publicações que tratavam das redes de telecomunicação no plano
técnico-funcional e organizacional e a partir desse levantamento eles identificam mais
objetivamente três momentos dos quais procede à noção de interatividade, são eles:

 De um lado os campos teóricos supramencionados, notadamente das análises


que estão presentes na relação entre usuário humano e aplicações informativas
de caráter conversacional, onde
 Interação - > interatividade
 (termo neutro) (+ conversacional);
 No mesmo domínio, da ideia de um intermediário, de um dispositivo de
tradução com vocação de assegurar o diálogo: a noção de interface;
 E mais largamente, a ideia de uma bidirecionalidade, de uma troca bilateral:
quando a comunicação (a transmissão de mensagem) opera nos dois sentidos,
sob forma interindividual ou intergrupal, é a interatividade.

Neste sentido, para Silva (2014), a noção flutua então entre dois polos: a relação homem
máquina e a relação homem-homem. Para ilustrar, os autores oferecem o Quadro 2,
abaixo, onde distinguem a noção de interatividade em “interatividade tecnológica”,
prevalecendo o diálogo, e a comunicação e a troca de mensagens e a “interatividade
situacional” definida pela possibilidade de agir-interferir no programa e/ou conteúdo.

Quadro 2 – Interatividade tecnológica e interatividade situacional


- O diálogo Interlocutores humanos
- A comunicação entre Interlocutores humanos e máquina
- A troca Usuário e serviço
Assinante e cabeça de rede (fonte)

- A possibilidade
de agir sobre O programa
de intervir O conteúdo
Fonte: Silva (2014).

Valle e Bohadana (2012) aprofundam a análise sobre a interação e interatividade e


apresentam um estudo no qual é possível realizar uma diferenciação dos conceitos após
83

o estudo de Arendt (que se apoia nas teorias aristotélicas das práxis desenvolvidas nas
obras dedicadas às questões éticas, afirmando que a existência humana é marcada por
três tipos de atividades: o labor, o trabalho e a ação). Assim, toda práxis humana é
necessariamente interação – não há ação humana que não seja, direta ou indiretamente,
interação.

E o que seria então a interatividade? Prosseguindo, as autoras Valle e Bohadana (2012)


definem a interatividade como “atividade” entre humanos por intermédio de..., ou ainda
atividade do humano consigo mesmo, com a mediação de...: a referência ao ser humano
permanece, e a interação é estabelecida como pano de fundo que dá a ver o sentido que
o mundo natural ou o mundo artificial das coisas por si só não pode conceder a qualquer
modo ou aspecto da existência humana.

Assim, de acordo com Grossi et al (2013), a construção do conhecimento ocorre a partir


das relações sociais, da interação entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem (alunos-alunos e alunos-professores), subsidiados por suportes
tecnológicos que o professor pode utilizar para desenvolver estratégias didáticas que
vão de encontro ao objetivo do curso e permitam a maior interação entre os educandos.

Ainda para Grossi et al (2013), a interatividade é um elemento fundamental para a


aprendizagem a distância. Uma vez que, no contexto da EaD, o favorecimento da
interação oportuniza novas relações com o conhecimento, já que nos AVAs, o aluno
pode realizar escolhas que podem ser mediadas pelo uso de suportes e recursos
tecnológicos.

Ao escrever sobre a epistemologia da complexidade e interatividade, Silva (2014)


apresenta como “pedra angular” a compatibilidade entre a epistemologia da
complexidade de E. Morin e a modalidade comunicacional (interativa) disponibilizada
pelas tecnologias hipertextuais ou novas tecnologias informáticas.

Neste sentido, o conceito de interatividade apresentado por Silva (2014) vislumbra a


possibilidade de uma conjunção complexa operando entre o usuário e a tecnologia
hipertextual. Entendendo essa conjunção como “diálogo” e como “multiplicidade” que
se opõe à velha categoria unitária produtora de consensos coletivos baseados em
84

disjunções e simplificações. Neste contexto, o autor se refere à mídia clássica (rádio,


cinema, imprensa e TV). Portanto, é nesta concepção de pensamento complexo que o
autor formula uma primeira definição do conceito de interatividade:

Interatividade é a disposição consciente de um mais comunicacional de modo


expressivamente complexo, ao mesmo tempo atentando para as interações
existentes e promovendo mais e melhores interações – seja entre usuário e
tecnologias digitais ou analógicas, seja nas relações “presenciais” ou
“virtuais” entre os seres humanos. (SILVA, 2014, p. 25).

É importante esclarecer que Silva (2014) difere as tecnologias digitais e analógicas. As


tecnologias digitais são, por exemplo, o computador e o CD-ROM. O rádio e a TV são
tecnologias analógicas. Quanto às relações interpessoais, há a presença física, o cara-a-
cara, e há o virtual. Na internet, as interações se dão no “virtual”, uma vez que estão em
jogo a visão, o tato, a audição e a cinestesia entre atores que se encontram no ambiente
criado pela conexão de computadores. O “virtual” é o mundo das interações com
imagens e sensações aparentemente reais geradas por computador.

Já Araújo (2005) explica que, apesar do uso da palavra interatividade em português, esta
não consta no Dicionário Aurélio de 1986, aparecendo apenas o termo “interativo” se
referindo à interação. Para a autora, o termo interatividade é associado aos produtos
educacionais eletrônicos que buscam uma participação ativa do receptor. Com isso, a
interatividade é praticamente nula nos meios em que a comunicação conserva a
unidirecionalidade.
85

5. METODOLOGIA

A fim de cumprir com o objetivo e a problematização propostos nesta pesquisa,


descreveremos o percurso metodológico que oportunizou a legitimação da pesquisa em
seu caráter acadêmico-científico. Descreveremos nossos objetivos; a escolha e
caracterização do campo da pesquisa; os instrumentos e critérios para coleta de dados, e
por fim, como foram os respectivos tratamentos e análises diante desses dados, que
foram organizados por categorias de análise, na perspectiva da análise de conteúdo de
Bardin (2010).

O objetivo desta pesquisa é analisar como são estabelecidas as relações de interatividade


e afetividade nos processos que envolvem os atores da educação a distância (aluno,
professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma essas relações contribuem para
o processo de ensino e aprendizagem.

Também se faz necessário retomar o problema: como acontecem as relações de


interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores (aluno, professor,
tutor e equipe de profissionais) da educação a distância? Em que medida essas relações
proporcionam um maior envolvimento, participação e engajamento dos alunos nas
atividades desenvolvidas?

Os objetivos específicos que o fundamentaram são:

 Verificar como são realizados os contatos e possíveis relações de interatividade


e afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de
profissionais e tutor/professor/aluno;
 Identificar o tipo de linguagem utilizada na interação entre tutor/aluno,
aluno/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e
tutor/aluno/professor;
 Identificar se os alunos recebem feedbacks das atividades desenvolvidas e
 Observar a intervenções da equipe pedagógica nas atividades desenvolvidas,
sejam individuais ou em grupo, e a presença da interatividade e afetividade.
86

5.1 Delimitação do campo para coleta de dados

Tendo em vista a problematização apresentada, realizamos uma pesquisa das possíveis


Instituições em Minas Gerais que ofertam cursos de bacharelado e licenciatura na
modalidade a distância. Nosso objetivo é analisar a oferta em uma IES Pública Federal
UAB e em uma IES Privada, que desenvolve os cursos com recursos próprios.

Para isso, buscou-se uma IES Privada que possui sólida experiência na oferta do curso
de bacharelado em Administração, que possui uma equipe interdisciplinar que busca
atender as demandas sociais e do mercado de trabalho visando oferecer o ensino a
distância de qualidade, além de possuir turmas regulares do curso de Administração. E,
representando a licenciatura, elegeu-se uma IES Pública vinculada ao Sistema
Universidade Aberta do Brasil (UAB), que também apresenta sólida experiência na
oferta do curso de licenciatura em Pedagogia além de turmas regulares do curso em
andamento.

A IES Privada localizada em Belo Horizonte foi a eleita para a coleta de dados no curso
de bacharelado em Administração EaD. O curso é desenvolvido na modalidade a
distância, com avaliações presenciais conforme Decreto nº 5622/2005 (BRASIL, 2005).
O Núcleo de Educação a Distância da IES Privada está diretamente ligado ao Reitor da
Instituição e investe largamente em recursos próprios para que o ensino a distância por
ela praticado tenha a marca de qualidade que caracteriza todas as suas atividades.

Atualmente, o Núcleo oferta cursos de graduação, especialização lato sensu, cursos de


curta duração, além de disciplinas isoladas para graduação presencial, atendendo
público diverso, sejam estudantes e interessados em um programa de formação a
distância. Passados 15 anos da implementação do Núcleo de Educação a Distância na
IES, sua ação e metodologia alia inovações tecnológicas a uma orientação pedagógica e
didática adaptada a este contexto, acumulando assim uma experiência bastante sólida.

A IES conta com onze polos de apoio presencial para os cursos de graduação,
distribuídos em Belo Horizonte (Barreiro e São Gabriel), Arcos, Betim, Contagem,
Ipatinga, Juiz de Fora, Poços de Caldas, Serro e Teófilo Otoni.
87

A IES Pública Federal localizada em um Município de Minas Gerais, situado na Região


Metropolitana de Belo Horizonte, foi escolhida para a categoria de licenciatura em
Pedagogia por ter turmas em andamento no curso. O Centro de Educação Aberta e a
Distância (CEAD) é uma unidade acadêmica da Universidade, oferecendo, no âmbito
do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB17), cursos a distância,
de Graduação, Pós-Graduação e Extensão, que atendem um público amplo, em que se
destacam professores da rede pública do Ensino Básico, gestores públicos, interessados
advindos de demandas sociais, além de outros profissionais da Educação para formação
inicial e formação continuada.

O curso de Pedagogia também é realizado totalmente a distância, com avaliações


presenciais conforme Decreto nº 5622/2005. O curso é vinculado ao sistema da
Universidade Aberta do Brasil (UAB) da CAPES, sendo concebido a partir das
Diretrizes Curriculares Nacionais, estando vinculado ao Centro de Educação Aberta e a
Distância (CEAD). Atualmente, o curso possui 24 Polos de Apoio Presencial
localizados nos estados de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.

Para realização desta pesquisa, definimos os sujeitos apresentadas abaixo:

17A Universidade Aberta do Brasil é um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos
de nível superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por
meio do uso da metodologia da educação a distância. Prioritariamente, os professores que atuam na
educação básica da rede pública são atendidos, seguidos dos dirigentes, gestores e trabalhadores em
educação básica dos estados, municípios e do Distrito Federal.

O Sistema UAB foi instituído pelo Decreto nº 5.800, de 8 de junho de 2006, para "o desenvolvimento da
modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e
programas de educação superior no País". Fomenta a modalidade de educação a distância nas instituições
públicas de ensino superior, bem como apoia pesquisas em metodologias inovadoras de ensino superior
respaldadas em tecnologias de informação e comunicação. Além disso, incentiva a colaboração entre a
União e os entes federativos e estimula a criação de centros de formação permanentes por meio dos polos
de apoio presencial em localidades estratégicas.
Fonte: <http://www.capes.gov.br/component/content/article?id=7836>.
88

Quadro 3 – Sujeitos da pesquisa

INSTITUIÇÃO ÁREA DO TIPO DE CURSO SUJEITOS


CONHECIMENTO GRADUAÇÃO

Pública Humanas Licenciatura Pedagogia Aluno Docente Tutor Secretaria Suporte Coordenação
Técnico de curso
Privada Sociais aplicadas Bacharelado Administração Aluno Docente Tutor Secretaria Suporte Coordenação
Técnico de curso

Fonte: Elaborado pelos autores.


89

5.2 Instrumentos para coleta de dados empíricos

Foi desenvolvido um estudo qualitativo por meio de um estudo de caso, a fim de buscar
possíveis respostas para o problema de pesquisa que buscou compreender “como acontecem
as relações de interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores (aluno,
professor, tutor e equipe de profissionais) da educação a distância? Em que medida essas
relações proporcionam um maior envolvimento, participação e engajamento dos alunos nas
atividades desenvolvidas? ”

Para a coleta de dados, foram desenvolvidos três procedimentos metodológicos: observação


on-line, entrevistas e questionário semiestruturado. “O procedimento de observação foi
efetivado por entender que a observação engloba o conjunto das operações por meio das quais
o modelo de análise (constituído por hipóteses e por conceitos) é submetido ao teste dos
factos e confrontado com dados observáveis”. (QUIVY; CAMPENHOUDT, 2008, p. 155).

A observação foi realizada on-line, analisando o AVA utilizado por ambas instituições. Na
IES Privada, a observação foi realizada pela pesquisadora junto com a coordenação do curso,
ou seja, na primeira visita presencial da pesquisadora à IES, a coordenação do curso de
Administração acessou o AVA com login e senha da coordenação e foi apresentando as telas
do curso para a pesquisadora. Não foi possível, nesta IES, disponibilizar uma senha de acesso
para a pesquisadora navegar pelo ambiente, por isso, esse procedimento teve um olhar mais
restritivo.

Na IES Pública, foram fornecidos login e senha para que acessássemos o AVA como
pesquisadores. Esse acesso permitiu navegar pelo curso bem como visualizar e capturar telas
que possam contribuir no momento de análise dos dados. Para a realização desse
procedimento, elaboramos um roteiro com informações que oportunizassem uma análise mais
direcionada, a seguir:

Quadro 4 – Roteiro de observação on-line


Objeto de observação: Indicadores
Disposição e tipos de recursos;
Localização de informações gerais e específicas;
Estrutura do AVA – aspectos visuais (layout) e
Calendário e/ou agenda;
ferramentas disponíveis
Materiais didáticos;
Disposição de atividades pedagógicas;
90

Programa ou ementa do curso.

Tipos de fóruns;
Fóruns Linguagem utilizada pelos participantes.

Clareza nas explicações;


Atividades realizadas
Conteúdos e indicações de referências;
Sugestões de leitura.
Clareza nas informações;
Feedbacks e/ou devolutivas
Linguagem utilizada;
Tempo de retorno.
Interação estabelecida com: Como ocorrem as comunicações com a equipe de
Secretaria, profissionais;
Suporte técnico, Retorno pelos alunos.
Coordenação de curso

Fonte: Elaborado pelos autores.

Outro instrumento utilizado para coleta dos dados foi a realização de entrevistas com a equipe
de profissionais envolvida nos cursos (secretaria, suporte técnico, coordenação, professor,
tutor e alunos), por entender que a entrevista é uma técnica de coleta de informações sobre um
determinado assunto, diretamente relacionado aos sujeitos pesquisados. Para Severino (2007),
as entrevistas permitem uma interação entre o pesquisador e o pesquisado, sendo muito
utilizadas nas pesquisas da área de Ciências Humanas em que o pesquisador visa aprender o
que os sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam.

O questionário semiestruturado no google docs foi utilizado para coleta de dados com os
alunos da IES Pública, tendo em vista a localização dos polos, que dificultava a realização de
entrevistas presenciais.

5.3 Caracterização dos sujeitos da pesquisa

Na IES Privada, os alunos não são organizados por turmas, eles se matriculam e se organizam
em disciplinas. Buscamos uma disciplina e selecionamos os atores envolvidos nesta oferta da
seguinte forma, um docente, uma tutora, uma secretária, um funcionário do suporte Moodle
(Modular Object Oriented Distance Learning), coordenação de curso, e selecionamos uma
amostra aleatória representativa de 5 (cinco) alunos que possuem relação direta com esses
atores eleitos como sujeitos da pesquisa.
91

Na IES Pública, as turmas se organizam por períodos e disciplinas. Selecionamos uma


disciplina das turmas do 6º período e, a partir dessa escolha, realizamos as entrevistas com os
atores envolvidos diretamente nesta disciplina, como coordenação do curso, a docente, uma
tutora, uma secretária, duas funcionárias do suporte Moodle (na sala do suporte técnico da
IES haviam duas funcionárias, por esse motivo, a entrevista contou com a participação de
ambas).

E, devido ao fato de os alunos irem aos polos eventualmente quando ocorrem encontros
presenciais ou para realização de atividades avaliativas, elaboramos um questionário
semiestruturado no google docs com as mesmas questões realizadas nas entrevistas dos alunos
da IES Privada. Disponibilizamos o questionário para as 13 turmas ativas da disciplina
escolhida, e obtivemos uma amostra de 29 alunos respondentes.

5.4 Tratamento e análise dos dados

Após realização da observação on-line, entrevistas e questionários, realizamos a transcrição


dos dados. Como procedimentos metodológicos para análise e organização do material, nos
referenciamos em Bardin (2010), que apresenta “a análise de conteúdo como um conjunto de
instrumentos metodológicos que se aplicam a discursos.”

Bardin (2010) explica que as diferentes fases da análise de conteúdo organizam-se em torno
de três polos cronológicos: 1º) pré-análise; 2º) exploração do material e 3º) o tratamento dos
resultados, a inferência e a interpretação. Elaboramos um esquema a fim de representar a
organização da etapa de pré-análise, conforme exposto a seguir:

Fluxograma 1 – Pré-análise

•Referenciação
dos índices e
Leitura
•Analisar e Escolha dos •Entrevistas Formulação elaboração de
conhecer o de Hipóteses
flutuante documentos •Questionários ou objetivos
indicadores
texto dos
•Preparação
documentos
do material

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Bardin (2010).


92

A partir desse fluxograma, desenhamos um esquema de organização da análise das entrevistas


e questionários com o objetivo de comparar os diferentes sujeitos participantes da pesquisa
disponível no apêndice.

Para análise da observação on-line, seguimos os procedimentos listados anteriormente,


propostos para análise de conteúdo, nos baseando na organização estruturada no Quadro 2
(apresentado anteriormente). Porém, devido às especificidades das observações,
apresentaremos os resultados da IES Privada e Pública de forma descritiva analítica. O fato de
termos conseguido acesso ao AVA da IES Pública nos permitiu ilustrar os itens de
observação.

A segunda etapa proposta por Bardin (2010), de exploração do material, é simplesmente a


aplicação sistemática das decisões tomadas na fase de pré-análise. A autora explica que essa
fase longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação, decomposição
ou enumeração em função de regras previamente formuladas.

Com base no esquema apresentado nos Quadros 3, 4, 5, 6 e 7, utilizados para comparar os


dados organizados conforme as questões e os sujeitos da pesquisa. Partimos para a etapa de
codificação, que refere-se ao tratamento do material. Segundo Bardin (2010),

A codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas


– dos dados em bruto do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e
enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou sua expressão;
susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que pode
servir de índices [...]. (BARDIN, 2010, p. 129).

Como unidade de registro para a codificação, ainda nos baseando em Bardin (2010), elegemos
o tema. O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado
segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura. Para esse tipo de análise, pode-
se recortar o texto em ideias constituintes, em enunciados e em proposições próprias com
sentidos isoláveis. A autora explica que, para fazer uma análise temática, é preciso descobrir
os <<núcleos de sentido>> que estão contidos na comunicação e cuja presença, ou frequência
de aparição, podem dizer alguma coisa para o objetivo analítico definido previamente.
93

Bardin (2010) esclarece que geralmente o tema é utilizado como unidade de registro para o
estudo de motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências, etc. E
que as respostas às questões abertas, às entrevistas individuais ou de grupo, entre outros
procedimentos para coleta de dados, podem ser analisadas tendo o tema por base.

Como regras de enumeração, elegemos a frequência, que nos permite compreender como são
estabelecidas as relações de interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores
da educação a distância (aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma
essas relações contribuem para o processo de ensino e aprendizagem. Segundo Bardin (2010),
a frequência pode indicar que a importância de uma unidade de registro aumenta com a
frequência de aparição. Sendo assim, a aparição de um item de sentido ou de expressão será
tanto mais significativa, quanto mais a frequência se repetir.

A primeira categoria analítica foi a do Diálogo, Interação e Interatividade, desmembrada em:


formato com que são estabelecidos os contatos; características das interações e feedback das
atividades.

A segunda categoria analítica foi a Afetividade, desmembrada em: estabelecimento (ou não)
de relações afetivas entre os atores e características dessas relações.

Organizamos as expectativas de respostas das questões elaboradas na entrevista e no


questionário para cada sujeito participante e vinculamos as categorias pré-estabelecidas,
conforme Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Categorias analíticas x questões


Categorias Questões Questões Questões Questões Questões Questões
Alunos Tutores Docentes Secretaria Suporte Coordenação
técnico de curso
Diálogo, 1 1 1 1 1 1
Interação e
Interatividade
Formato com 1,2 1,2 1,2 2 2 2
que são
estabelecidos os
contatos
Características 3 3 3 2 2 2
das interações
Feedback das 4 5 5 3 3 3
atividades
Afetividade 5 1,4 1,4 1,3 1,3 1,3
94

Estabelecimento 5 1,4 1,4 1,3 1,3 1,3


(ou não) de
relações afetivas
Características 6 1,4 1,4 1,3 1,3 1,3
destas relações
Fonte: Elaborado pelos autores.

A análise se dará inicialmente de forma comparativa entre os mesmos sujeitos na IES Pública
e Privada (conforme apresentado nos Quadros 5, 6, 7, 8, 9 e 10). Posteriormente, faremos um
confronto dos dados entre os sujeitos envolvidos na oferta do curso na IES Privada e Pública,
a fim de identificar a coerência nas respostas e apontar possíveis inferências tendo em vista
nossa problematização.

Por fim, Bardin (2010) esclarece que o procedimento de análise de conteúdo, não é
obrigatoriamente quantitativo, como até então se admitia nos anos 50, a análise qualitativa é
válida na elaboração de deduções específicas sobre um acontecimento ou uma variável de
inferência precisa. Assim, a análise de conteúdo caracteriza-se como um procedimento
qualitativo que podemos dizer ser mais intuitivo devido a possibilidades de realizar relações
entre um índice da mensagem tendo em vista as diversas variáveis envolvidas na
comunicação.
95

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS:

6.1 Dialogia, interação, interatividade e afetividade na EaD sob o olhar dos


atores envolvidos na oferta dos cursos

6.1.1 Dialogia, interação, interatividade e afetividade compreendidas mediante


procedimento de observação on-line: IES privada x IES pública

Bardin (2010) explica que é possível resumir o terreno, o funcionamento e o objetivo da


análise de conteúdo da seguinte maneira:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por


procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens
indicadores (qualitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
(BARDIN, 2010, p. 44).

A autora esclarece que a explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens e da


expressão desse conteúdo é organizada a partir de um conjunto de técnicas. A finalidade dessa
abordagem é efetuar deduções lógicas e justificadas levando em consideração o emissor e seu
contexto. Desta forma, ainda segundo Bardin (2010), o analista possui à sua disposição (ou
cria) todo um jogo de operações analíticas, a fim de fundamentar impressões e juízos
intuitivos por meio de operações conducentes a resultados confiáveis.

Desta forma, para Bardin (2010), uma análise qualitativa vai além da mera frequência de
aparição de determinados elementos da mensagem, e sim recorre a indicadores não
frequênciais susceptíveis de permitir inferências. Desta forma, contemplamos na análise as
categorias definidas no item 4.1 alinhadas aos referenciais teóricos utilizados na redação dos
Capítulos I, II e III.

Estruturamos a análise a partir dos instrumentos utilizados na coleta de dados, ou seja,


iniciamos pela análise do procedimento de observação on-line realizado em ambas
instituições, tendo como referência o roteiro de observação apresentado no item 5.2. Em
seguida, partimos para a análise dos questionários e entrevistas realizados com os diferentes
atores envolvidos na oferta dos cursos de ambas instituições, levando em consideração as
categorias articuladas ao referencial teórico apresentado na dissertação.
96

Por fim, buscamos uma aproximação entre os procedimentos de observação on-line e


entrevistas/questionários, a fim de identificar a coerência na comunicação apresentada pelos
sujeitos da pesquisa.

6.1.2 Observação on-line IES Privada

No primeiro contato com a coordenação de curso da IES Privada de Belo Horizonte, foi
possível conhecer um pouco as características, organização e funcionamento do curso dentro
da IES, além de realizar a observação on-line no AVA. O curso que escolhemos como objeto
de pesquisa foi o de graduação a distância em Administração – bacharelado. De acordo com a
coordenadora, o curso de graduação é ofertado a distância e as provas são realizadas
presencialmente aos domingos, conforme legislação. As disciplinas são ministradas por um
docente efetivo da IES, ou seja, o mesmo docente que atua no ensino presencial também atua
nos cursos a distância.

A plataforma utilizada é o Moodle, sendo que cada docente realiza a mediação de uma
disciplina. Assim como no ensino presencial, cada docente organiza sua disciplina e planeja
suas aulas e atividades no AVA da turma. Os docentes realizam todas as intervenções e
acompanhamentos didáticos-pedagógicos referentes à parte técnica da disciplina, ou seja,
todas as orientações e esclarecimento de dúvidas referentes ao conteúdo, e à parte técnica do
curso, propriamente dito, são realizadas pelo docente.
Os tutores da IES pesquisada desempenham papéis diversos no curso: administrativo, no
suporte administrativo aos alunos na plataforma, esclarecendo dúvidas e orientando em
relação a aspectos diversos, não diretamente pedagógicos, relacionados ao curso; trabalham
com o suporte pedagógico ao docente, por meio do auxílio no gerenciamento e
acompanhamento das atividades que estão sendo desenvolvidas. Destaca-se nessa atividade
que os tutores não realizam intervenções pedagógicas não planejadas pelo docente, apenas
intervenções administrativas, por meio das orientações da coordenação do curso.

Todos os recursos educacionais do curso são desenvolvidos pela própria instituição, em


diferentes suportes midiáticos, como vídeo-aulas, e-books, simulações etc. Os recursos são
disponibilizados no AVA e os alunos possuem acesso a uma biblioteca virtual, facilitando
assim, o conhecimento de todos os livros e demais referências utilizadas no curso.
97

A etapa de observação on-line do AVA utilizado pela IES foi desenvolvida pelo pesquisador
junto à coordenadora do curso. Devido à forma com que o procedimento foi realizado, não
conseguimos ilustrar os itens previstos no roteiro de observação, portanto apresentaremos de
forma descritiva. Baseamo-nos nos princípios que elegemos como fundamentais para
conhecer a estrutura do ambiente, bem como o que ele oportuniza aos estudantes, como
fóruns, atividades, possibilidades de interação com os atores envolvidos na oferta, tendo
sempre em vista nossa problematização.

A IES utiliza o AVA – Moodle e todas as atividades desenvolvidas ao longo do curso são
realizadas nesse ambiente, considerando desde o momento de ambientação do aluno, até o
momento de solicitação de diploma ao final do curso. Sendo o Moodle uma plataforma livre
de apoio à aprendizagem, a IES dispõe de diversos recursos para que o aluno sinta-se acolhido
e atendido em todas as suas necessidades ao longo do desenvolvimento do curso, sejam elas
pedagógicas ou administrativas.

A IES disponibiliza, logo no início do curso, um espaço da coordenação de curso junto ao


aluno. Esse espaço é para que os alunos conheçam a IES e é uma forma de ambientá-lo de
forma virtual. É interessante descrever elementos e recursos presentes neste espaço que
proporcionam uma interação e aproximação do aluno aos atores envolvidos na oferta do curso
na Instituição. Logo no início, é disponibilizado um espaço para comunicação com um quadro
de avisos e um fórum denominado “converse com a coordenação” para que os alunos calouros
conheçam e dialoguem com a coordenação do curso.

Em seguida, é disponibilizado um espaço de boas-vindas, onde o aluno terá informações sobre


o curso, uma mensagem do Reitor, uma mensagem do Diretor e uma mensagem da
coordenação do curso, sendo que todas essas mensagens são gravadas em formato de vídeo,
permitindo ao aluno conhecer parte dos responsáveis pelo curso na IES. Existe um espaço
denominado “explorando a Universidade” onde o aluno irá conhecer o Núcleo Docente
Estruturante (NDE), o colegiado de coordenação didática do curso, fundamentos da pesquisa
na IES e orientações para realização de intercâmbios internacionais. Por fim, o aluno tem
acesso às normas acadêmicas, avisos da coordenação, documentos orientadores para
elaboração de projetos de pesquisa e vídeos das aulas inaugurais realizadas com temas
98

interdisciplinares, orientações sobre exames de validação, regulamentação da profissão e uma


biblioteca virtual.

Dando continuidade, logo após, o aluno tem acesso às disciplinas que irá realizar no decorrer
do curso, sendo que a estrutura interna do ambiente das disciplinas segue a mesma
organização e sequência lógica. Descreveremos de forma sintética a organização de uma
disciplina do curso. Inicialmente são apresentadas informações gerais importantes para o
desenvolvimento do aluno, como apresentação da disciplina, plano de ensino, cronograma,
quadro de avisos, fórum de discussão, atendimento administrativo, correio acadêmico,
biblioteca virtual e minha biblioteca. E, em seguida, são disponibilizados os espaços de
desenvolvimento do conteúdo propriamente dito da disciplina, que geralmente é dividido em
unidades, sendo que cada unidade contém orientações de estudo, esquemas teóricos, vídeos,
textos, materiais externos e atividades de aprendizagem.

Pretendíamos, com a observação on-line, conhecer como as IES organizam o AVA, no que
tange: à sua estrutura – aspectos visuais e ferramentas disponíveis; aos fóruns – tipos de
fóruns, linguagem utilizada pelos participantes, frequência das intervenções realizadas por
tutores e docentes, participação, envolvimento e engajamento pelos alunos; às atividades
realizadas – clareza nas explicações, conteúdos e indicações de referências, sugestões de
leitura; aos feedbacks e/ou devolutivas – clareza nas informações, linguagem utilizada, tempo
de retorno e forma com que são estabelecidas as interações entre: secretaria, suporte técnico e
coordenação de curso.

Com isso, a observação on-line na IES Privada nos permitiu inferir que, a organização do
AVA do curso permite uma interação do aluno com os atores envolvidos na oferta do curso.
Este momento de ambientação realizado é de suma relevância para que o calouro conheça
quais são as referências institucionais e os responsáveis pelo curso na IES. Percebe-se que
tudo que é considerado relevante para que os alunos sintam-se acolhidos e integrados à IES, é
oportunizado a eles por meio do AVA.

No momento da observação on-line, a coordenadora explicou que a IES se preocupa com o


“cuidado” no estabelecimento das relações na oferta de um curso, citou como exemplo o
procedimento de “Boas Vindas” que realizam para os calouros, que é efetivado por meio da
99

produção de vídeo com mensagem de todos os atores (desde o Reitor ao corpo técnico
administrativo) da IES para o aluno que acabou de ingressar na Instituição, além do espaço
“Explorando a Universidade”. Esse procedimento, segundo ela, é realizado para que o
discente se sinta ambientado a IES, ao AVA e conheça o corpo técnico e administrativo que
estará envolvido no desenvolvimento da oferta do curso. Esse procedimento é interessante,
uma vez que, de acordo com Silva (2014), na internet as interações se dão no “virtual” [...] o
“virtual” é o mundo das interações com imagens e sensações aparentemente reais geradas por
computador.

Essa diferenciação de papéis do docente e do tutor estruturada na IES é importante para que
os alunos tenham uma referência, e não se sintam confusos no momento em que precisarem
de quaisquer orientações desses profissionais.

Em relação aos recursos educacionais, que são desenvolvidos pela própria IES e acessados
pelos alunos em diferentes suportes além da biblioteca, corroboram com a visão de Silva
(2014), que afirma que as novas tecnologias interativas revitalizam a relação estabelecida
entre os atores envolvidos em um processo educacional, oportunizando o estabelecimento de
relações com textos, imagens e com o conhecimento em si.

A dimensão da interação e interatividade na perspectiva de Valle e Bohadana (2012) são


observáveis nas relações estabelecidas no AVA. Para as autoras, a interatividade é
considerada como uma “atividade” entre humanos por intermédio de..., ou ainda atividade do
humano consigo mesmo, com a mediação de...: a referência ao ser humano permanece, e a
interação é estabelecida como pano de fundo que dá a ver o sentido que o mundo natural ou o
mundo artificial das coisas por si só não pode conceder a qualquer modo ou aspecto da
existência humana. Neste sentido, percebemos que a equipe envolvida na concepção e oferta
do curso reconhece a importância das dimensões de interação e interatividade e oportunizam
possibilidades para que as relações aconteçam de forma harmônica, tentando aproximar do
aluno e acolhê-lo à IES por meio dos recursos e ferramentas disponíveis no Moodle.

Com a observação on-line foi possível identificar que o AVA da IES é organizado de forma a
oportunizar o diálogo, interação e interatividade entre os alunos e os atores envolvidos na
oferta do curso. Porém, esse procedimento sozinho não nos permite compreender a questão da
100

afetividade, considerada sob uma perspectiva que vai além das relações puramente formais
presentes no AVA. Pretendemos explorar essa questão com maior profundidade a partir da
análise dos outros instrumentos utilizados na coleta de dados, entrevistas e questionários.

6.1.3 Observação on-line IES Pública

Na IES Pública localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, realizamos o


procedimento de observação on-line nas turmas ativas de Pedagogia do 6º (sexto) período.
Assim como na Privada, o curso é realizado totalmente a distância, com avaliações e
encontros presenciais conforme Decreto nº 5622/2005. O curso é vinculado ao sistema da
UAB e, tendo em vista os objetivos da pesquisa, selecionamos como objeto de análise a
disciplina “Ensino e Aprendizagem de Ciências do Ambiente”, que atualmente possui 13
(treze) turmas ativas, dividas por polos. O AVA das turmas é estruturado pela docente
responsável pela disciplina e conta com a colaboração dos tutores para prever as estratégias
didáticas a serem desenvolvidas ao longo da oferta.

Devido ao fato de a estrutura interna do ambiente seguir o mesmo layout, escolhemos uma
turma em específico do polo X, e iremos descrever o procedimento de observação on-line
que, neste caso, foi realizado com o acesso de “pesquisador” fornecido pela IES. Nos
permitindo, portanto, apresentar figuras que ilustrem o que iremos descrever com base no
roteiro de observação.

Em relação à estrutura do AVA, aspectos visuais (layout) e ferramentas disponíveis,


observamos que os alunos têm acesso logo no início da disciplina a três fóruns gerais, sendo
um destinado aos “avisos”, o outro denominado “fórum de notícias” e um “fórum de
dúvidas”. Logo abaixo aos fóruns, os alunos têm acesso ao Plano de Ensino e cronograma de
atividades, conforme apresentado a seguir:
101

Figura 1 – Apresentação da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente


I

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.

A disponibilização desses fóruns nos permite observar que a IES, na pessoa do docente,
organiza espaços destinados aos avisos gerais, às notícias que serão enviadas aos alunos no
decorrer do curso e um espaço ao esclarecimento de dúvidas.

Em seguida, os alunos já têm acesso às Unidades do curso. No caso desta disciplina em
específico, observamos a composição de três Unidades. Cada Unidade é apresentada com o
título e uma ilustração remetente ao texto, em seguida os alunos têm acesso aos materiais
didáticos, neste caso observamos haver uma apostila e um fórum específico para cada
Unidade. Neste momento, os fóruns assumem um caráter didático, sendo utilizados para a
problematização de questões referentes à disciplina. Ilustramos com as Figuras 2, 3 e 4
abaixo:
102

Figura 2 – Unidade 1 da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de


Ambiente I

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.

Figura 3 – Unidade 2 da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente I

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.


103

Figura 4 – Unidade 3 da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de


Ambiente I

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.

Podemos observar que as Unidades apresentam um layout limpo, ou seja, as informações


estão claras e de fácil acesso, contribuindo para que os alunos localizem os materiais que
serão a base para o desenvolvimento das atividades previstas nas disciplinas.

Esta disposição corrobora com a discussão apresentada por Moore e Kearsley (2008) que
comentam que, quando os alunos interagem com o conteúdo do curso, sem uma mediação, se
tornam vulneráveis no momento de aplicação, devido ao desconhecimento do que está sendo
apresentado. Além de terem o papel de apresentar potencialidades da matéria, os docentes
auxiliam na aplicação correta do que está sendo estudado.

Em relação às imagens utilizadas pela docente, consideramos importante para deixar o
ambiente mais atrativo, tendo em vista que estão relacionadas ao que está sendo discutido.

Após a disponibilização das Unidades, é disponibilizado o trabalho final, que, neste caso em
específico, foi um único trabalho dividido em duas partes devido à estratégia didática
elaborada pela docente:
104

Figura 5 – Trabalho final da disciplina Ensino e Aprendizagem de Ciências de Ambiente


I

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.

A docente disponibiliza um espaço para a postagem da última atividade do semestre e um link


para que os alunos postem as atividades em atraso.

Figura 6 – Última atividade do semestre e link para postagem de atividades em atraso

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.

Como realizamos a pesquisa com os alunos desta IES por meio da realização de questionários
on-line, disponibilizamos o link de acesso na página da disciplina, conforme Figura 7 abaixo:
105

Figura 7 – Pesquisa Interatividade e afetividade na EaD

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.

E por fim, a docente disponibiliza um espaço para a realização do exame especial, a seguir:

Figura 8 – Exame especial

Fonte: Tela do AVA – IES Pública.

A observação on-line na IES Pública foi realizada conforme descrito anteriormente com o
acesso na condição de pesquisadora, no AVA das turmas. Devido ao fato das 13 (treze)
turmas ativas estarem cursando a mesma disciplina, escolhemos uma para o procedimento de
observação, tendo em vista que a estrutura do AVA é idêntica em todas as turmas.

Mediante esse procedimento, inferimos que na IES Pública, a estrutura do AVA no que se
refere aos aspetos visuais e ferramentas apresenta a disposição dos estudantes, o calendário
com os próximos eventos e as atividades recentes realizadas. Observamos a presença de
ilustrações (imagens) relacionadas ao conteúdo da disciplina em cada tópico do ambiente,
como pode ser visualizado nas figuras apresentadas. Acreditamos que essas imagens auxiliam,
na medida em que buscam despertar interesse do aluno pelos temas tratados.

Logo no início da disciplina, são disponibilizados os fóruns de avisos, notícias e dúvidas. Essa
organização contribui para que o aluno consiga identificar onde ele irá postar suas dúvidas e
onde irá localizar os avisos e notícias referentes à disciplina. Isso evidencia a preocupação
com o diálogo e interação com os alunos, oportunizando o acesso a informações que
perpassam os conteúdos do curso, mas que estão diretamente relacionadas à oferta da
disciplina.
106

Sobre a disposição das Unidades, que se apresenta de forma linear, alternando aspectos
relacionados ao conteúdo e propostas de atividades, inferimos que os diferentes suportes
midiáticos apresentados, vídeo, apostila e, em seguida, a discussão mediada sobre o assunto
em um fórum, permitem envolvimento e participação dos estudantes com o objetivo de
proporcionar o aprendizado. Essa disposição corrobora com a discussão apresentada por
Moore e Kearsley (2008), que quando os alunos interagem como o conteúdo do curso, sem
uma mediação, se tornam vulneráveis no momento de aplicação devido ao desconhecimento
do que está sendo apresentado. Além de terem o papel de apresentar potencialidades da
matéria, os docentes auxiliam na aplicação correta do que está sendo estudado.

Em relação ao trabalho final e à última atividade do semestre, percebe-se novamente que o


professor, além de apresentar um conteúdo referente ao que seria proposto na atividade,
organiza duas atividades de aprendizagem com diferentes possibilidades de produção, sendo
um texto dissertativo e um plano de ação, em que o aluno irá pensar, problematizar, agir e
refletir. Conforme citado por Moore e Kearsley (2008), ao criar um ambiente propício para o
aprendizado, o instrutor deve preocupar-se com que o aluno seja bem-sucedido e se empenhe
para atingir as metas propostas.

Esses fatos corroboram com a proposta da educação na modalidade a distância, que busca
utilizar-se das diferentes ferramentas e recursos disponíveis no AVA com o intuito de
oportunizar a aprendizagem dos alunos.

O procedimento de observação on-line não oportunizou identificar a interação do aluno


estabelecida com os outros atores da IES. Pretendemos discutir sobre esses aspectos no
próximo tópico, no momento da apresentação dos dados das entrevistas e questionários.

6.1.4 Dialogia, interação, interatividade e afetividade compreendidas mediante


procedimento de entrevistas e questionários: IES Privada x IES Pública

Apresentaremos de forma comparativa os dados coletados junto aos alunos da IES Privada e
Pública. Participaram da pesquisa uma amostra de 29 alunos da IES Pública e 5 (cinco) da
Privada. Tendo em vista nossa escolha do tema como unidade de registro, e da frequência
como regra de enumeração, selecionamos dentre as respostas os temas mais recorrentes e
107

realizamos a contagem afim de evidenciar a ocorrência. Em seguida, fazemos uma análise


qualitativa das respostas.

Iniciaremos pela análise da primeira categoria analítica que é a do Diálogo, Interação e


Interatividade; formato com que são estabelecidos os contatos; características das interações e
feedback das atividades.

Buscando entender como são realizados os contatos e possíveis relações de diálogo, interação
e interatividade entre tutor/aluno, aluno/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de
profissionais e tutor/professor e aluno, foi solicitado que os alunos discorressem sobre como
são realizados os contatos entre tutor/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e
tutor/professor/aluno.

Na IES Privada, um percentual de 100% dos alunos relataram que os contatos entre
tutor/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e tutor/professor/aluno
acontecem via AVA, por meio da ferramenta de fórum. Os alunos informaram também que na
plataforma é disponibilizada uma ferramenta de CRM18 destinada ao envio de demandas para
os docentes, tutores, secretaria e suporte técnico. Em relação aos contatos aluno/aluno, 60%
dos alunos informaram utilizar o WhatsApp para comunicarem-se.

Gráfico 1: Contatos IES Privada x IES Pública

20
5 13
3 2 2 4 6 7

WhatsApp Fórum
(Aluno-Aluno)

Fonte: Elaborado pelos autores.


Na IES Pública, os alunos ampliaram as possibilidades de comunicação para além do AVA.
Um percentual de 7% deles relataram comunicar-se via telefone, 7% por redes sociais, 14%

18
Customer Relationship Management ou Gestão de relacionamento com os clientes. Trata-se de uma
ferramenta que possui o objetivo de analisar e gerenciar interações, antecipar necessidades e amplificar questões
relacionadas ao mundo dos negócios. No caso, a ferramenta foi ajustada às necessidades pedagógicas da
instituição.
108

pelo AVA utilizando a ferramenta de fórum, 45% e-mail, 69% relataram utilizar a ferramenta
de mensagem do AVA para os contatos entre tutor/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de
profissionais e aluno/tutor/professor. Do mesmo modo que os alunos da IES Privada, 24% dos
alunos da IES Pública citaram utilizar o aplicativo WhatsApp para comunicação entre
aluno/aluno.

Os alunos focaram as respostas no contato aluno/professor, aluno/tutor e aluno/aluno. Na IES


Privada, esses contatos acontecem prioritariamente pelo AVA, sendo que o contato
aluno/aluno acontece via WhatsApp19. Já os alunos da IES Pública também se comunicam
preferencialmente pelo AVA, porém ampliam as formas de comunicação utilizando e-mail,
WhatsApp, fórum, redes sociais, telefone, entre outros.

Algumas questões nos chamam a atenção nas respostas. O maior percentual de interação
ocorre por meio de aplicações assíncronas, ou seja, recursos em que os processos de conversa
não ocorrem no mesmo tempo, mas em tempos distintos. O fórum, por exemplo, é uma dessas
ferramentas, uma vez que a mensagem postada pode ser respondida em minutos, mas também
em horas ou dias. O mesmo ocorre com o e-mail ou sistemas de mensagens internos.

Nos AVAs utilizados tanto pela IES Pública quanto pela Privada, o único recurso de
comunicação síncrono, ou seja, em que a comunicação ocorre em tempo instantâneo, é o chat
(sistema de bate-papo). Chama a atenção, no entanto, o grande percentual de alunos que
utilizam redes sociais e o WhatsApp, pois esses recursos permitem interação mais veloz.

Apesar disso, não é necessariamente a velocidade o que dita o nível de interação e


interatividade em uma relação educacional, a perspectiva na qual os sujeitos podem ir além
das repostas mecânicas e automáticas. São as situações nas quais os sujeitos prevalecem em
sua relação, seja com o conteúdo, seja com o outro sujeito relacionado no processo educativo.
É a potencialidade de se posicionar, de apresentar suas análises e leituras do processo e a

19
O WhatsApp Messenger é um aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz
para smartphones. Além de mensagens de texto, os usuários podem enviar imagens, vídeos e documentos em
PDF, além de fazer ligações grátis por meio de uma conexão com a internet. O software está disponível
para Android, BlackBerry OS, iOS, Symbian, Windows Phone e Nokia. A empresa com o mesmo nome foi
fundada em 2009 por Brian Acton e Jan Koum, ambos veteranos do Yahoo e está sediada na
cidade estadunidense de Santa Clara, na Califórnia. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
109

possibilidade de construir diálogos e conhecimentos acerca dos conteúdos e situações


educacionais construídas ou não pelos autores dos cursos a distância.

Um fato interessante observado é a utilização do aplicativo WhatsApp pelos alunos para


comunicação entre eles. Percebemos que, em ambas as Instituições, eles extrapolam o AVA e
criam grupos com o objetivo de dialogar, interagir e discutir assuntos referentes aos conteúdos
do curso. É necessário fazer uma comparação com o ensino presencial, em que a interação
extrapola o espaço da sala de aula física propriamente dita, os alunos têm na escola diversos
espaços que oportunizam esses contatos. Portanto, vimos no WhatsApp uma forma por meio
da qual os alunos extrapolam o AVA e interagem de forma mais “livre”, construindo
conhecimentos por meio de estruturas tecnológicas e linguísticas não planejadas pela escola.

Quando discutimos sobre esses contatos, retomamos a visão de Peters (2006) sobre o diálogo.
O autor esclarece que é por meio da interação linguística direta e indireta entre docentes e
discentes que o diálogo acontece de fato. Portanto, as relações estabelecidas entre os atores
envolvidos na oferta de um curso a distância, seja de licenciatura ou bacharelado, pressupõe o
estabelecimento de relações dialógicas e interativas a fim de oportunizar o aprendizado.

Dando continuidade ao processo investigativo, buscamos entender a frequência com que são
estabelecidos os contatos e se são utilizadas outras ferramentas para interação além do AVA
da IES.

Na IES Privada, 60% dos alunos relataram que a “frequência” dos contatos varia conforme a
atividade que está sendo desenvolvida, geralmente quando se fala do contato entre tutor/aluno
e docente/aluno. E, quando se refere ao contato entre os demais profissionais, depende da
solicitação realizada pelo aluno, mas que geralmente são atendidos com agilidade. E um
percentual de 40% não responderam com precisão a frequência com que ocorrem as
interações.
110

Gráfico 2: Frequência IES Privada x IES Pública

14
3
8
2 1 1 1 2 2

Não responderam Varia conforme


atividade

Fonte: Elaborado pelos autores.

Ainda sobre a frequência dos contatos, 28% dos alunos da IES Pública relataram que a
interação entre tutor/aluno e docente/aluno acontece sempre que há dúvidas em relação ao
conteúdo do curso ou na realização de alguma atividade. Um percentual de 3% relatou que a
frequência dos contatos é baixa, 3% diariamente, 3% semanalmente, 7% raramente e 7% nos
momentos em que há trabalhos a serem realizados em grupo.

Quando questionados sobre a utilização de outra ferramenta além do AVA, 100% dos alunos
da IES Privada relataram usar o aplicativo WhatsApp para comunicação aluno/aluno e 20%
citaram o FaceTime.

Gráfico 3: Outras ferramentas utilizadas – IES Privada x IES Pública

12
5
8
2 3 5

1
WhatsApp FaceTime

Fonte: Elaborado pelos autores.

Já na IES Pública, 10% dos alunos relataram conversar somente via AVA, 7% relataram usar o
Facebook, 8% o e-mail, 41% o WhatsApp e 17% não responderam à pergunta. Para essas res
postas, os alunos se referiam, em sua grande maioria, ao contato aluno/aluno.
111

Os alunos da IES Privada responderam que a frequência das interações varia conforme a
atividade proposta e que a outra ferramenta utilizada é o WhatsApp. Os da IES Pública
relataram que eles conversam e interagem na maior parte dos casos, sempre que surgem
dúvidas relacionadas ao conteúdo do curso e nos momentos de trabalho em grupo, e que
utilizam o WhatsApp, e-mail, Facebook, além do AVA.

O diálogo mais intenso e frequente acontece nas interações entre aluno/tutor, aluno/professor
e aluno/aluno e varia conforme a atividade desenvolvida. Neste aspecto, consideramos a
importância do professor e do tutor como educadores que realizam a mediação do aluno com
o conteúdo do curso. Como citado anteriormente, o processo de aprendizagem desenvolvido
pelos estudantes se fundamenta nas possibilidades oportunizadas a eles por meio dos
instrumentos de mediação alicerçados à prática do docente.

Um fato interessante observado é a utilização do aplicativo WhatsApp pelos alunos para


comunicação entre eles. Percebemos que, em ambas as Instituições, eles extrapolam o AVA e
criam grupos com o objetivo de dialogar, interagir e discutir assuntos referentes aos conteúdos
do curso. É interessante fazer uma comparação com o ensino presencial, em que a interação
extrapola o espaço da sala de aula física propriamente dita, os alunos têm na escola diversos
espaços que oportunizam esses contatos. Portanto, vimos no WhatsApp uma forma com que
os alunos extrapolam o AVA e interagem de uma forma mais “livre”.

Quando pensamos nessas interações, elucidamos uma análise de Moore (1993) citada no
Capítulo III, quando trata do “diálogo na EaD”, que ilustra essa questão. O autor explica que o
diálogo é utilizado para descrever uma interação ou várias interações que podem ter
qualidades positivas. O diálogo tem uma finalidade, é constitutivo e valorizado por cada
participante, ou seja, os envolvidos no diálogo são ouvintes respeitosos e ativos, contribuindo
e se baseando na contribuição de outro(s) participante(s). E, em um sentido educacional, o
direcionamento do diálogo inclina-se no sentido de uma melhor compreensão do aluno.

Quando eles dizem utilizar diferentes ferramentas que possibilitam o diálogo, a interação e a
interatividade, como o AVA, e-mail, WhatsApp, redes sociais, telefone, entre outros, para
conversar sobre assuntos do curso, entendemos, segundo Moore e Kearsley (2007), que a
extensão e natureza do diálogo estão alinhadas à filosofia educacional do indivíduo, ou grupo
112

responsável pela elaboração do curso, à personalidade do docente e discente, aos conteúdos


do curso e aos fatores ambientais. Os autores listam alguns fatores ambientais que afetam o
diálogo, tais como: a existência de um grupo de aprendizado e sua dimensão, a linguagem e o
meio de comunicação.

Procuramos entender se as conversas são relacionadas apenas ao conteúdo do curso ou se


discutem outros assuntos, e como é a linguagem utilizada na comunicação pelos profissionais.

Quando questionados se conversam sobre outros assuntos, 100% dos alunos da IES Privada
relataram que só conversam sobre conteúdo do curso. Referente à linguagem utilizada pelos
profissionais, 40% relataram que a linguagem é mais acessível, 40% relataram que é mais
formal e 20% que a linguagem é clara.

Gráfico 4: Conversas no AVA – IES Privada x IES Pública

28
5

1
Conversam sobre outros Conteúdos do curso
Conteúdos da disciplina assuntos

Fonte: Elaborado pelos autores.

Gráfico 5: Linguagem – IES Privada x IES Pública

28
2 2

Linguagem mais Formal Clara 1


acessível
(informal) Formal Cordial

Fonte: Elaborado pelos autores.


113

Os alunos da IES Pública relataram que conversam somente sobre conteúdos do curso,
representando 97% dos respondentes. Apenas 3% relatou conversar sobre outros assuntos. Em
relação a linguagem utilizada, 97% dos alunos relataram que a linguagem é formal, e 3%
citou a cordialidade.

Os alunos da IES Privada, sem exceção, relataram conversar apenas sobre os conteúdos da
disciplina. Verificamos o resultado de 97% dos alunos da IES Pública que também relataram
conversar somente assuntos sobre os conteúdos do curso.

Em relação à linguagem utilizada na comunicação, os alunos da IES Privada informaram que


a linguagem é mais formal e a mesma proporção mais informal. Na IES Pública a linguagem
que prevalece é a formal.

Em ambas Instituições prevaleceu o uso da linguem formal com saudações e cumprimentos.


Entendemos, nesse quesito, que é fundamental haver esse cuidado dos docentes e tutores e
demais atores envolvidos na oferta do curso na linguagem utilizada na comunicação com os
alunos. O cuidado é de não ser tão formal de forma a distanciar-se dos estudantes e, em
contrapartida, não ser informal de forma a desqualificar o ato educativo. É fundamental que
haja um “meio termo”, ou seja, um equilíbrio de formalidade com expressões de
aproximação.

Um aspecto essencial elucidado por Peters (2006) é o aspecto pedagógico que o diálogo
assume na EaD. Para o autor, o diálogo assume caráter relevante pedagogicamente porque
articula linguagem, pensamento e ação em uma relação íntima que geram o desenvolvimento
individual e social dos seres humanos. Assim, o falar torna-se uma ação social.

E, tendo em vista a importância do feedback para o progresso da aprendizagem, e


considerando a tabela de Moore e Kearsley (2008) apresentada no referencial teórico
denominada “Hierarquia da Interação”. Percebe-se que nas interações de alto nível, o
feedback sempre oferece uma análise do trabalho do aluno e sugestões para melhoria,
juntamente com dicas e informações adicionais para complementar o aprendizado.
Procuramos saber se o aluno recebe o feedback das atividades desenvolvidas ao longo do
curso e características desse retorno.
114

Quando questionados sobre como recebem o feedback das atividades desenvolvidas, 100%
dos alunos da IES Privada responderam que recebem o feedback automático do sistema
quando as atividades são objetivas, 80% informaram que recebem o feedback das demais
atividades e 20% informou que o recebimento depende do professor.

Gráfico 6: Feedback – IES Privada x IES Pública

19

5
1 4 2 4 4
Depende do Demais Atividades
professor atividades objetivas

Fonte: Elaborado pelos autores.

Um percentual de 66% de alunos da IES Pública relataram receber o feedback pelo AVA e
7% informaram que recebem também via e-mail. Outra parcela da amostra, correspondente a
14% dos alunos relataram que dificilmente recebem feedback e 4% não responderam à
pergunta.

Os alunos da IES Pública relataram receber o feedback das atividades objetivas


automaticamente via plataforma e informaram receber das demais atividades postadas. Um
aluno relatou que “o feedback depende muito do professor”. Na IES Pública, a grande
maioria dos alunos que participaram da pesquisa informaram receber o feedback das
atividades realizadas por meio do AVA e alguns relataram que dificilmente recebem
feedback.

Em relação ao feedback das atividades realizadas, inferimos que, independente da proposta


desenvolvida, o aluno tem que estar ciente da forma com que foi avaliado. Esta deve ser uma
preocupação do professor quando elabora suas atividades, privilegiando o desenvolvimento
do aluno como um sujeito autônomo e reflexivo. Quando Moore e Kearsley (2008)
apresentaram a tabela denominada “Hierarquia da Interação na EaD”, o feedback aparece em
todos os níveis de interação, seja em escala reduzida, mínima, moderada, acima da média e de
alto nível.
115

No nosso entendimento, esta tabela é uma evidência da importância desta prática. O aluno
tem o direito de saber como está sendo avaliado e porque atingiu ou não os objetivos
propostos em determinada atividade. Portanto, é fundamental a articulação entre docentes e
tutores de forma a oportunizar um feedback mais próximo ao desenvolvimento de cada
indivíduo, contribuindo de forma significativa para sua progressão e até mesmo
autoavaliação.

Assim, após a análise das entrevistas com os alunos referentes à primeira categoria,
ponderaremos sobre as entrevistas com os docentes, tutores, secretaria e suporte técnico do
curso, de forma comparativa (IES Privada x IES Pública) a fim de verificarmos se há relação
e aproximação entre os dados coletados. Mediante análise e entendimento das categorias do
diálogo, interação e interatividade, buscamos identificar se a partir da nossa compreensão de
afetividade, existe possibilidades dessas relações serem desenvolvidas na oferta de ambos os
cursos.

Quando solicitamos aos docentes para nos contarem sobre como é seu contato com os alunos,
tutor(es) e equipe de profissionais envolvida no curso, o docente da IES Privada relatou ter
um contato muito próximo com os outros docentes, uma proximidade com os tutores, porém,
no relacionamento com os alunos, o professor é mais reservado. Já a docente da IES Pública
relatou ter um contato bem próximo aos tutores devido à característica do trabalho, e pouco
contato com secretária, por exemplo. Citou que o vínculo com os alunos seria maior se ela
fizesse visita aos polos.

Quando questionamos sobre a frequência dos contatos e se a comunicação ocorre através de


outra ferramenta além do AVA, o docente da IES Privada comunica-se praticamente
instantaneamente com os alunos e utilizam o AVA. A docente da IES Pública explicou que se
comunica também diariamente com os alunos por meio do AVA ou e-mail evitando usar
outras ferramentas devido à quantidade de alunos.

Quando buscamos entender como é o envolvimento e participação dos alunos nas atividades
desenvolvidas, ambos os docentes relataram que os alunos gostam e participam das atividades
e que eles diversificam as propostas para que os alunos possam se envolver a cada nova
116

atividade. A professora da IES Pública relatou que oportuniza a recuperação de atividades


pendentes e oportuniza que o aluno realize uma avaliação da disciplina.

Quando procuramos compreender se as conversas e interações que eles estabelecem com os


alunos são relacionadas apenas ao conteúdo do curso, ou se discutem outros assuntos, e como
é a linguagem utilizada na comunicação, ambos os docentes relataram conversar apenas sobre
os conteúdos do curso por meio do AVA. Buscam utilizar uma linguagem clara e formal e
empregar expressões de cumprimentos e agradecimento.

Quando procuramos entender como o docente proporciona feedback das atividades


desenvolvidas ao longo do curso aos alunos, ambos os docentes relataram que o feedback
varia conforme a atividade. O docente do curso de Administração relatou que sempre dá um
feedback aos alunos das atividades desenvolvidas. Em contrapartida, a docente da IES Pública
relatou ter o auxílio dos tutores nesta atividade, e citou a dificuldade em dar feedbacks
individualizados devido à quantidade de alunos.

E, por fim, quando buscamos compreender como é sua relação com a equipe pedagógica
envolvida no curso (principalmente com o(s) tutor(es)), ambos citaram ter uma relação
harmônica e bem próxima à equipe, principalmente com os tutores.

Analisando as respostas dos docentes referentes à categoria Diálogo, Interação e


Interatividade; formato com que são estabelecidos os contatos; características das interações e
feedback das atividades, inferimos que em ambas IES o contato entre os docentes, entre
docentes e tutores e entre docentes e equipe é bem próximo e acontece de forma tranquila.
Porém, o contato dos docentes com os estudantes apresenta características diferentes dos
contatos com os demais profissionais.

Quando observamos a resposta do docente da IES Privada nos preocupamos com a questão
problematizada nesta pesquisa, esse contato com os alunos em que o docente age de forma
mais “reservada” pode dificultar o estabelecimento de relações dialógicas. E em relação à
colocação da professora da IES Pública, percebemos que as relações somente no virtual
dificultam a “aproximação” com os estudantes na percepção da docente. Peters (2006)
considera que os docentes universitários internalizaram formas de ensino tradicionais, seja na
117

educação presencial ou a distância, e têm dificuldade em se adequar às propostas reformistas


que giram em torno do tripé diálogo, estrutura e autonomia.

Ambos os docentes relataram utilizar somente o AVA na comunicação com os alunos,


interagindo diariamente com os estudantes. Pensamos que os docentes estão corretos ao optar
pela comunicação restrita ao ambiente, tendo em vista principalmente as características de um
curso ofertado na modalidade EaD e do perfil dos estudantes. Se a comunicação for ampliada
à utilização de outras ferramentas, o professor é responsável por acompanhar e dar todos os
retornos aos alunos. Portanto, é imprescindível que as ferramentas de comunicação e
interação presentes no ambiente oportunizem essas relações.

Em relação às interações estabelecidas com os alunos, acreditamos ser fundamental esse


cuidado do docente, tendo em vista seu papel, que segundo Moore e Kearsley (2008) é de
oportunizar primeiramente a interação do aluno com o conteúdo do curso. Essa preocupação
dever ser considerada pelo docente visando o aprendizado dos alunos. Isso não impede o
estabelecimento de outras relações, que podem vir a acontecer, porém, o viés educativo é
prioritário.

Em relação à linguagem utilizada, as respostas dos docentes vão de acordo com as dos alunos,
quando se preocupam em utilizar uma linguagem formal, porém que apresente elementos de
aproximação para com os alunos. Quando relembramos o estudo de Dorjó (2011),
entendemos a importância de que o processo pedagógico seja fundamentado na ação dialógica
em interações, mostrando que no processo comunicacional por meio da linguagem, é possível
desenvolver a empatia, relações de amizade, que culminam em um sentimento que causa
prazer no contato humano, mesmo realizado a distância.

Os docentes relataram que os alunos gostam e se envolvem nas atividades propostas, desta
forma, inferimos que é fundamental esta diversificação de estratégias didáticas utilizadas,
considerando que cada aluno aprende de uma forma. Quando retomamos características da
aprendizagem de adultos, Moore e Kearsley (2008) explicam que os adultos se apresentam de
modo voluntário para aprender, tendo motivações intrínsecas. Daí a responsabilidade do
docente ao oportunizar atividades que considerem essas características.
118

Em relação ao feedback, ambos os docentes se preocupam com esta prática e compreendem a


importância para o aluno. O docente da IES Privada consegue oportunizar os feedbacks para
cada atividade, porém a docente da IES Pública conta com o auxílio dos tutores devido às
características da oferta no sistema UAB. Neste sentido, inferimos que, devido a essa
quantidade de alunos sob a responsabilidade de somente um docente, o envio de feedbacks
individuais e com ponderações específicas e pontuais sobre as atividades de cada aluno fica
comprometido.

Este é um ponto de atenção, porque é por meio do feedback que o aluno consegue entender
como foi avaliado e identificar possibilidades de melhoria na realização de atividades. Esse
retorno está diretamente relacionado ao papel do docente como mediador da aprendizagem.
Discutimos no referencial teórico o fato de que o processo de aprendizagem se estabelece por
meio de relações e interações sociais. Na perspectiva de Pino (1991), mediação é toda a
intervenção de um terceiro “elemento” que possibilita a interação entre os “termos” de uma
relação. Portanto, em um curso realizado na modalidade EaD, docentes e tutores são os
principais responsáveis por esse processo de mediação.

Inferimos que, o ideal seria que o docente, mediante o acompanhamento do desenvolvimento


e aprendizagem desses alunos, atuasse na Zona de Desenvolvimento Iminente de cada um dos
estudantes de forma a potencializar o aprendizado. Tendo em vista que, segundo Prestes
(2010), p. 173,

a zona blijaichego razvitia é a distância entre o nível do desenvolvimento atual da


criança, que é definido com a ajuda de questões que a criança resolve sozinha, e o
nível do desenvolvimento possível da criança, que é definido com a ajuda de
problemas que a criança resolve sob a orientação dos adultos e em colaboração com
companheiros mais inteligentes. [...] a zona blijaichego razvitia define as funções
ainda não amadurecidas, mas que encontram-se em processo de amadurecimento, as
funções que amadurecerão amanhã, que estão hoje em estado embrionário.

Por fim, os docentes relataram ter uma relação harmônica e bem próxima à equipe,
principalmente com os tutores. Assim, inferimos que é fundamental que o contato entre
docentes e tutores, principalmente, aconteça de uma forma respeitosa, cordial, integrada e
articulada, tendo em vista que o trabalho realizado por ambos é muito próximo. A
preocupação com a aprendizagem do aluno deve ser sempre a referência.
119

As mesmas questões foram apresentadas aos tutores. Quando questionados sobre como é seu
contato com os alunos, professor(es) e equipe de profissionais do curso, ambas as tutoras
relataram ter um contato muito próximo aos alunos auxiliando-os no decorrer do curso em
todas as demandas enviadas, sejam relacionadas ao conteúdo do curso ou não. Também
relataram ter um contato próximo aos docentes e à equipe de profissionais.

Geralmente, em ambas as instituições, todas as demandas dos alunos chegam para eles
primeiramente, e eles direcionam para os setores e/ou profissional responsável, isso ressalta a
segurança que os alunos têm neste profissional.

Sobre a frequência dos contatos e se a comunicação ocorre através de outra ferramenta além
do AVA, os tutores relataram que o contato é diário para ambas. A comunicação acontece
prioritariamente via AVA, porém existem casos em que os tutores tiveram que usar telefone e
e-mail.

Em relação ao envolvimento e participação dos alunos nas atividades desenvolvidas, as


tutoras relataram que essa questão depende muito da disciplina, da atividade proposta e do
perfil do aluno.

Referente às conversas com os alunos, se são relacionadas apenas ao conteúdo do curso ou se
discutem outros assuntos, e como é a linguagem utilizada na comunicação, ambas as tutoras
relataram que as conversas são sobre os conteúdos do curso e que a linguagem utilizada é
mais formal, porém utilizando expressões que buscam uma aproximação com os discentes.

Sobre o feedback, o tutor da IES Privada relatou não fazê-lo; quem realiza esse procedimento
é o docente; já na IES Pública, a tutora auxilia no processo e proporciona ao aluno feedbacks
das atividades realizadas.

Na análise da relação do tutor com a equipe pedagógica envolvida no curso, ambas tutoras
citaram que a relação é muito tranquila e próxima, que todos os atores envolvidos na oferta do
curso estão sempre envolvendo-os seja por meio de reuniões ou por meio de discussões. A
tutora da IES Pública citou que tem dificuldade em estabelecer vínculos com os alunos a
120

distância, que o contato presencial, por meio de visita aos polos, é imprescindível para
estabelecer relações afetivas com os alunos.

Analisando as respostas dos tutores referentes à categoria Diálogo, Interação e Interatividade;


formato com que são estabelecidos os contatos; características das interações e feedback das
atividades, inferimos que os tutores têm uma proximidade com todos os atores envolvidos na
oferta do curso, em especial com os alunos e docentes. Desenvolvendo um contato diário com
os alunos, podemos constatar que os tutores se tornam uma referência. Apesar de não serem
os principais responsáveis pela mediação do conteúdo do curso junto aos alunos, eles
contribuem com esse processo à medida que auxiliam os alunos no que tange ao entendimento
da proposta das atividades.

O envolvimento e participação dos alunos nas atividades depende da proposta elaborada pelo
docente e do perfil do aluno. Sobre esse fato inferimos que os tutores têm um papel
fundamental devido ao fato de terem o contato direto e diário com os alunos. Cabe a eles o
papel de gerenciar a frequência dos alunos, que é computada por meio da realização e entrega
de atividades em tempo hábil e de auxiliar, quando necessário, no entendimento das propostas
de atividades desenvolvidas.

Sobre a linguagem utilizada na comunicação, percebemos que os tutores seguem a mesma


lógica que os docentes e entendemos que esse cuidado é importante, tendo em vista estarmos
lidando com o ato educativo. Porém, nada impede que o tutor possa oportunizar a esses
alunos aproximações além das formalidades do curso, como por exemplo, disponibilizar um
fórum com temas mais “livres” que podem variar conforme o interesse dos estudantes. Nesses
fóruns, podem ser exploradas diferentes estratégias didáticas visando o estabelecimento de
diálogos e interações para além do conteúdo do curso propriamente dito.

Em relação aos feedbacks, inferimos que apesar dos tutores da IES Pública não enviarem
esses retornos, é importante tecerem as considerações junto aos docentes tendo em vista o
acompanhamento diário do desenvolvimento dos alunos. Essas considerações podem
contribuir com um feedback mais assertivo por parte do docente.
121

Na IES Pública, os tutores têm a responsabilidade de auxiliar os docentes nos retornos junto
aos alunos, essa possibilidade exige que esse profissional tenha maturidade para compreender
o progresso do aluno e o que ele precisa desenvolver a fim de oportunizar o aprendizado.
Remetemos novamente ao conceito de ZDI e da mediação semiótica, que são fundamentais
para elevar o nível do feedback e consequentemente o progresso da aprendizagem.

Por fim, sobre a relação estabelecida entre a equipe percebe-se que os tutores participam
efetivamente das reuniões, resolução de problemas relacionados à vida acadêmica dos
estudantes, entre outras atividades desse caráter. Sendo o principal referencial do aluno, ele
age como interlocutor entre os alunos e os demais setores envolvidos na oferta do curso,
direcionando as demandas e auxiliando os discentes ao longo do desenvolvimento das
atividades de aprendizagem.

Apresentamos o Quadro 5, que sintetiza a visão dos docentes e tutores mediante entrevistas
realizadas:
Quadro 5 – Docentes Privada x Docente Pública e Tutor Privada x Tutor Pública
Questões Docente Privada Docente Pública Tutor Privada Tutor Pública

Contatos Reservado Seria melhor se Próximo aos alunos Próximo aos alunos
houvessem visita aos
polos
Frequência Diariamente Diariamente Diariamente Diariamente

Ferramentas AVA AVA AVA, e-mail e AVA, e-mail e


telefone telefone
Linguagem Clara e formal Clara e formal Formal buscando Formal buscando
– Assuntos Conteúdos do curso Conteúdos do curso aproximação – aproximação –
conteúdos do curso conteúdos do curso

Feedback Sempre Sempre com auxílio Não participa Auxilia a docente


dos tutores
Fonte: Elaborado pelos autores.

Buscamos entender as mesmas questões, porém voltadas para outro ator importante no
processo que, é a secretária, tendo em vista que o aluno tem contato com esse profissional ao
longo do curso. Quando questionadas sobre como é a relação com os alunos, tutores,
122

docentes, pedagogo e suporte técnico envolvidos na oferta do curso, ambas as secretárias


informaram trabalhar de forma bem integrada com as demais equipes. Na IES Privada eles
têm uma ferramenta específica para atendimento de questões da secretaria que é o CRM, na
IES Pública utilizam o próprio AVA.

Em relação à comunicação estabelecida entre a secretaria e os alunos e a linguagem utilizada,


ambas as secretárias relataram usar uma linguagem mais formal, porém clara para que os
alunos entendam os retornos. E as situações que os alunos mais recorrem a esse profissional
são referentes à vida acadêmica, ou seja, à história acadêmica do aluno na IES.

Sobre o principal meio de comunicação utilizado para estabelecer esses contatos com os
alunos e como é o retorno deles às solicitações, a secretária da IES Privada utiliza o CRM e
AVA, e a da IES Pública o e-mail, telefone e AVA.

E sobre como se dá o trabalho entre a equipe de profissionais envolvida na oferta do curso,


ambas informaram que existe sintonia no trabalho em equipe realizado nas Instituições, e que
os alunos têm muita aproximação junto à secretaria.

Analisando as respostas das secretárias referentes à categoria Diálogo, Interação e


Interatividade; formato com que são estabelecidos os contatos; características das interações e
feedback das atividades, inferimos que elas têm um papel de extrema relevância que é
“cuidar” da vida escolar do aluno. Ambas as secretárias informaram que as demandas dos
alunos são relacionadas aos processos de matrícula, transferência, aproveitamento de estudos,
desistência, declaração, entre outros.

Esses profissionais têm interlocução direta com os estudantes e algumas vezes chegam a ser a
referência dos alunos. Devido às características desse trabalho, a secretaria utiliza uma
“linguagem mais formal, porém humanizada” (cópia literal da resposta da aula). A secretária
da IES Pública relatou que se ela escrever utilizando uma linguagem muito culta e formal os
alunos têm dificuldade em entender se o requerimento foi deferido ou não.
123

Ambas informaram trabalhar em sintonia com os demais atores envolvidos na oferta do curso
e relataram ter um contato bem próximo junto à maioria dos alunos, devido ao fato de que ao
longo da realização do curso a grande maioria dos alunos tem uma interação com a secretária.

Um fato interessante citado no momento das entrevistas pela secretária da IES Pública foi de
que ela já conseguiu evitar algumas evasões de alunos devido ao contato realizado via
telefone. Ela relatou que os alunos entram em contato querendo desistir do curso devido a
diversos fatores, porém que ela escuta os alunos e conversa com eles mostrando o quanto já
caminharam, evitando que o aluno evada.

Junto ao suporte Técnico, outro ator objeto de pesquisa, buscamos entender elementos
similares à secretaria. Quando questionados sobre como é sua relação com os alunos, tutores,
docentes, pedagogo e secretária envolvidos na oferta do curso, o suporte técnico da IES
Privada relatou ter contato com os alunos somente por meio da ferramenta de CRM, já os da
Pública auxiliam os alunos por meio do AVA. Ambos relataram a proximidade do trabalho
realizado junto aos demais atores envolvidos na oferta do curso, tendo sempre como foco o
aluno.

Em relação a como é a comunicação estabelecida entre você e os alunos e a linguagem


utilizada na comunicação, a situação mais recorrente de contato do suporte junto aos alunos é
referente a problemas técnicos no AVA. Ambos relataram usar uma linguagem que busque
uma aproximação junto aos alunos.

Sobre o principal meio de comunicação utilizado pelo suporte técnico para estabelecer esses
contatos com os alunos, e como é o retorno deles às solicitações, na IES Privada utiliza-se o
CRM e na Pública o e-mail, telefone e plataforma.

Em relação ao trabalho entre a equipe de profissionais envolvida na oferta de um curso,


ambos relataram que existe sintonia no trabalho em equipe. Ambos os funcionários tentam
resolver as demandas e auxiliar os docentes na criação de diferentes recursos e possibilidades
de atividades a serem desenvolvidas no AVA.
124

Analisando as respostas dos funcionários do suporte técnico referente à categoria Diálogo,


Interação e Interatividade; formato com que são estabelecidos os contatos; características das
interações e feedback das atividades, inferimos que os contatos são menos frequentes uma vez
que o aluno só procura o suporte quando está com problemas técnicos. Portanto, se ao longo
do desenvolvimento do curso o aluno não precisar desse auxílio ele não terá contato com o
suporte técnico.

Já o contato do suporte com os docentes, tutores e secretária são mais intensos tendo em vista
o trabalho realizado por esses profissionais. Em ambas as instituições os funcionários do
suporte auxiliam o docente com capacitações voltadas às ferramentas do Moodle. Isso é
importante porque possibilita a utilização de diversos recursos, às vezes mais atuais, que
podem potencializar o processo de ensino e aprendizagem. Assim, inferimos que o suporte
técnico tem um papel de suma relevância.

Apresentamos o Quadro 6 que sintetiza a visão dos docentes e tutores mediante entrevistas
realizadas:
Quadro 6 – Secretaria Privada x Secretaria Pública e Suporte Privada x Suporte Pública
Questões Secretária Privada Secretária Pública Suporte Privada Suporte Pública

Contatos CRM AVA CRM AVA

Frequência Quando tem Quando tem demanda Quando tem demanda Quando tem
demanda demanda
Ferramentas AVA e CRM AVA, e-mail e AVA e CRM AVA, e-mail e
Telefone Telefone
Linguagem Clara e formal Clara e formal Buscam aproximar dos Buscam aproximar
alunos dos alunos

Fonte: Elaborado pelos autores.

Analisaremos agora os resultados da segunda categoria analítica, Afetividade,


estabelecimento (ou não) de relações afetivas entre os atores e características destas relações.
A discussão apresentada na primeira categoria suscita a questão da compreensão da
afetividade. É possível desenvolver relações afetivas à distância? A afetividade pressupõe
contato físico? Os alunos do curso a distância em Administração e de Pedagogia conseguiram
desenvolver relações afetivas com os atores envolvidos na oferta do curso? A presença da
125

afetividade nas relações educativas, realizadas à distância, oportunizam um melhor


envolvimento e participação dos alunos nas atividades desenvolvidas?

Em relação à segunda categoria, da Afetividade, buscamos compreender o estabelecimento


(ou não) de relações afetivas entre os atores e características dessas relações. Para isso, os
alunos foram questionados sobre como são estabelecidas as relações com a equipe pedagógica
envolvida no curso.

Quando questionados sobre como é a relação com a equipe pedagógica envolvida na oferta do
curso, 20% dos alunos da IES Privada relataram ser tranquila, 20% relataram que a relação
acontece por meio do CRM e correio acadêmico e 60% dos alunos relataram ter mais
proximidade com os tutores.

Gráfico 7: Relação com a equipe pedagógica – IES Privada x IES Pública

17
3
1 1 10
Tranquila CRM e Mais 2
Correio próximidade
Acadêmico com os Não Não há relação Boa relação
tutores responderam

Fonte: Elaborado pelos autores.

Na IES Pública, um percentual de 59% dos alunos relataram ter uma boa relação com a
equipe pedagógica envolvida na oferta do curso, 34% dos alunos responderam que não há
relação com a equipe pedagógica e 7% dos alunos não responderam à questão.

Os alunos da IES Privada informaram ter uma relação mais próxima com os tutores, com os
demais atores via CRM e correio acadêmico. Na IES Privada prevaleceu a resposta de que a
relação é boa, e em contrapartida um percentual de 34% respondeu que não há relação.

Este é um ponto de atenção, tendo em vista a questão da afetividade, porque se não há


relação, não há possibilidade de estabelecer relações afetivas positivas. Para discorrermos de
forma mais assertiva sobre o assunto, buscamos compreender o que o aluno entende como
126

afetividade e se eles conseguiram estabelecer relações de afeto com os atores (alunos, tutor,
professor, secretaria, suporte Moodle, coordenação, entre outros) na oferta da disciplina.

Consideramos que a afetividade é interpretada como um campo mais amplo que o das
emoções, na concepção de Wallon (1968). E, a partir do referencial de Clot (2016),
compreendemos a afetividade como um conceito amplo que engloba as emoções, sentimentos
e os afetos, sendo o afeto = atividade. Consideramos os afetos como ação transformadora que
aumenta ou diminui a potência de agir e as emoções como instrumentos da atividade para
amenizar situações de defasagem de afetividade.

Seguindo neste raciocínio, problematizamos: O que afeta o aluno? Como ele se sente neste
processo de desenvolvimento de um curso na modalidade EaD? Existem emoções envolvidas
nestas relações? Existem sentimentos? Conseguimos citá-los? O estabelecimento do afeto
pressupõe somente o contato físico? Como os estudantes consideram o formato de EaD da
Universidade? Permite superar o tecnicismo? Os Projetos Pedagógicos dos cursos contribuem
para o estabelecimento de relações dialógicas que permitem o estabelecimento de vínculos
afetivos por meio das ferramentas disponíveis no AVA?

Considerando que, para a análise dos dados, elegemos a unidade de registro “tema” e como
regra de enumeração a “frequência”, inferimos que na IES Privada os alunos consideram a
afetividade como “uma relação em que se cria algum tipo de sentimento mais profundo com
relação ao outro”, “em que o ser humano tem a necessidade de demonstrar seus sentimentos e
emoções” e “que permite mostrar cuidado e uma atenção nas relações que se desenvolvem no
contexto EaD. Desta forma, inferimos que eles se aproximam do conceito real de afetividade
e compreendem, mesmo que de forma superficial, suas nuances, entre emoções, sentimentos e
afetos.

Ilustramos com a explicação de Leite (2005) em que os afetos fazem parte integrante da
espécie humana. Segundo a autora, nascemos com eles; como decorrência, não são
idiossincráticos (exceto em casos patológicos). Tanto as emoções quanto os sentimentos
suscitam o afeto. E, além de suas bases filogenéticas, podemos dizer que toda cultura conhece
a expressão de medo, vergonha, raiva, alegria e tristeza. Essas expressões de afeto não são
espontâneas e seu papel reside em preservar a homeostase social.
127

Porém, quando questionados se conseguiram estabelecer relações de afetividade na oferta do


curso com os atores professor, tutor, secretária e/ou suporte técnico, os alunos relataram que
esse tipo de relação é estabelecida de forma muito sutil no contato entre tutor/aluno e
aluno/professor, mas que devido a mudança destes atores a cada semestre essa relação fica
comprometida.

Além de ter casos de alunos irregulares que apresentam mais dificuldade em estabelecer esses
tipos de relações. Apresentamos este fragmento de respostas para ilustrar a consideração de
uma aluna entrevistada: “para o tutor pode ser mais fácil, pois ele está mais presente no dia a
dia, mas de certa forma é uma relação bem profissional, de certa forma é ‘obrigação’ do tutor
ser cordial, atender bem, etc., então, às vezes, pode dar uma impressão de que ele está apenas
cumprindo com sua obrigação e nem sempre aquele abraço ao final da mensagem é real.
Particularmente, acho que na EaD a afetividade fica mais de lado, mas é possível sim”. Por
fim, consideramos a resposta de um aluno que pontuou “que quando um professor ou tutor
atende o aluno de forma cuidadosa e atenciosa, ele está desempenhando esta afetividade e isso
fortalece as relações entre os atores no contexto EAD”.

Diante desta apresentação inferimos que apesar de compreenderem o que é a afetividade e as


potencialidades do termo, na IES Privada, os alunos ainda não conseguiram estabelecer
relações afetivas com os atores envolvidos na oferta do curso. Para esta constatação podemos
levar em conta as repostas dos estudantes e considerar a análise dos dados da categoria
anterior em que o docente se diz “mais reservado e cuidadoso” no estabelecimento dos
contatos com os discentes, em que as conversas e interações são somente em relação ao
conteúdo do curso, em que o feedback é automático (nos casos de atividades objetivas).

Se considerarmos o docente o principal, ou um dos principais responsáveis por oportunizar o


desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, esses aspectos levantados precisam ser
aprimorados a fim de ampliar as possibilidades de estabelecimentos de vínculos afetivos que
contribuem para o envolvimento, participação, engajamento e até mesmo contribuindo com o
sentimento de pertencimento do aluno ao curso e à IES.
Consideramos importante associar as respostas dos estudantes às dos tutores, tendo em vista
que juntamente com os docentes, eles são os atores que têm contato muito próximo aos
discentes. No que tange ao estabelecimento de relações com os alunos, os tutores ampliam as
128

formas de atendimento aos estudantes, seja por demanda dos próprios alunos ou por
necessidade identificada pelo tutor, e, geralmente, na maioria dos casos, todas as solicitações
dos estudantes são direcionadas a esse ator.

Por isto, consideramos que o tutor na IES Privada, apesar de não ser responsável pela
aprendizagem dos alunos, é um dos principais responsáveis pela mediação dos alunos junto ao
conteúdo do curso, na medida em que fazem o acompanhamento da realização das atividades
e intervém, junto aos docentes, quando existem dúvidas por parte dos alunos.

Quando analisamos a relação entre os alunos, um fato interessante surgiu, que foi a utilização
do aplicativo WhatsApp. Inferimos que, por meio desse aplicativo, os alunos podem
desenvolver relações mais próximas, o que pode culminar no estabelecimento de vínculos
afetivos. Como não analisamos as conversas realizadas por eles ao usarem o aplicativo,
supomos que ele pode contribuir para uma aproximação, tendo em vista que extrapola o
espaço virtual utilizado formalmente no curso. E, conforme colocação dos alunos, nesse
aplicativo eles conversam sobre os conteúdos do curso e sobre outros assuntos e chegam até a
marcar momentos presenciais para estudarem juntos.

E a relação dos alunos com os demais atores envolvidos na oferta do curso, como a secretaria
e suporte técnico, é puramente formal, em casos de necessidade de resolver algum tipo de
problema relacionado à sua vida acadêmica ou ao AVA. Essas relações, na IES Privada são
realizadas por meio de um canal direto com esses setores, o que praticamente “robotiza” a
comunicação, tornando-a puramente formal. Temos aqui uma ambiguidade, esse tipo de
ferramenta é importante para que a IES possa gerenciar as demandas e até mesmo ter o
registro de todas as solicitações e atendimentos, em contrapartida, o sistema torna as relações
formais e burocráticas. Elucidando a resposta de um dos alunos, se não houver necessidade do
aluno em acionar esses contatos, não existe nenhum tipo de relação junto a eles.

Já na IES Pública os alunos consideram a afetividade como “vínculo que se cria com
vibrações positivas de admiração e respeito, que fogem àquelas de intolerância, arrogância,
frieza...” e “afetividade relaciona-se com vivências que envolvem emoções, sentimentos e
empatia”. Percebemos que os estudantes conseguem entender e conceituar o termo afetividade
considerando sua essência que envolve emoções, sentimentos e afetos.
129

Porém, quando adentramos nas respostas dos estudantes, verificamos que a grande maioria
(21 alunos, que corresponde a uma amostra de 72%) conseguiu estabelecer algum tipo de
relação afetiva ao longo do desenvolvimento do curso, mas esses estudantes que pontuaram
ter conseguido desenvolver algum tipo de relação afetiva com um dos atores considerados
nesta pesquisa (professor, tutor, secretaria e suporte técnico) citam o fato de ter conseguido
mediante o contato físico com esses sujeitos.

Ou seja, eles conseguiram estabelecer relações afetivas com tutores presenciais, professores
que visitaram os polos e secretaria de polo. Ilustramos com os fragmentos: “Com a minha
tutora presencial. Perdi a minha mãe há dois meses e dez dias. Estou ainda muito perdida e
sinceramente desmotivada. Logo que a perdi tivemos um encontro no polo e a minha tutora
foi muito gentil e atenciosa;” “Tenho aquelas que tivemos o contato em atividades presenciais
com professoras e tutoras em visita ao polo;” “Relações de afeto entre profissionais do polo e
alunos se desenvolveram ao longo dos períodos;” “Com alunos e a tutora presencial que
infelizmente saiu.”

Somente 1 (um) aluno citou ter conseguido estabelecer relações afetivas com um tutor a
distância. De forma geral, para os alunos, o estabelecimento dessas relações pressupõe o
contato físico, eles sentem que somente via AVA a afetividade é caracterizada como “um
afeto artificial”; “poucos professores e tutores dão espaço para as humanidades. No geral,
agem como robôs.”

Fazendo a mesma comparação realizada anteriormente, ao analisar os dados da IES Privada,


consideramos as respostas da docente e tutora entrevistadas, representando agora a IES
Pública. Ambas responderam ter dificuldades em estabelecer relações afetivas sem um
contato presencial, ambas citaram que o desenvolvimento da afetividade e dos vínculos está
diretamente relacionado ao contato físico.

Diante dessa constatação, inferimos que esse entendimento por parte dos profissionais (neste
caso professora e tutora) pode dificultar a aproximação com os estudantes, utilizando as
ferramentas de comunicação disponíveis no AVA, fazendo com que as relações sejam
desenvolvidas de forma mais formal. Ilustramos essa inferência com os fragmentos de
130

resposta de alunos da IES Pública: “Em minha opinião, afetividade é algo que demonstre
algum sentimento que saia das formalidades, ou seja, não enxergar nós somente como meros
alunos, mas pessoas que tem sentimentos” e “alguns alunos foram criando vínculos de
amizade, no qual levarei por toda minha vida. Infelizmente não posso dizer o mesmo com
tutores, professores, pois, por ser uma relação somente formal, não se criaram vínculos.
Acredito que seja por causa de ser um curso feito a distância, em que não temos contato
fisicamente. Acredito que isso atrapalhe um pouco.”

Quando consideramos as questões de oferta no sistema UAB, a professora tem em média 300
alunos, o que realmente pode dificultar um contato que amplie as possibilidades para além do
formalismo com o conteúdo. Apesar dessa dificuldade, a professora busca diversificar as
estratégias didáticas a fim de potencializar o aprendizado dos estudantes, porém, ainda há
casos de os alunos sentirem falta de uma aproximação maior junto aos docentes e tutores, “Eu
particularmente me sinto uma autodidata, não temos orientação nenhuma de professores e
nem de tutores”. (fragmento de resposta do aluno 13 IES Pública).

Este fato é preocupante, quando retomamos a posição de Valente (2011) em relação à


preocupação com os cursos ofertados a distância que privilegiam apenas a transmissão de
informações sem o desenvolvimento de ações que irão levar os estudantes à construção do
conhecimento.
Expõe que as teorias de aprendizagem baseadas no interacionismo afirmam que a
construção de conhecimento não acontece como fruto do autodidatismo, da ação
isolada do aprendiz. Para que essa construção ocorra é necessária a interação entre o
aprendiz e outras pessoas, que o auxiliem no processo de compreender o que está
sendo realizado, possibilitando, assim, novos conhecimentos. (VALENTE, 2011, p.
14).

Com essa quantidade de alunos, a docente da IES Pública, tem dois tutores que auxiliam na
mediação, esses tutores dividem as turmas e fazem a mediação a distância, ficando cada um
com aproximadamente 150 estudantes. Assim, ao entrevistarmos um deles, a tutora
argumentou que busca atender todas as demandas de todos os alunos, que primeiramente
recorrem a ela, e depois ela direciona para os responsáveis. As demandas são, na maioria dos
casos, destinadas aos docentes, uma vez que se referem à entrega de atividades e
esclarecimento de dúvidas sobre o conteúdo do curso.
131

De uma forma ampla, analisando as respostas dos docentes de ambas instituições, inferimos
que eles buscam oportunizar diferentes estratégias didáticas, a fim de contribuir com o
processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. Porém, ainda não conseguem potencializar
essas relações de forma a estabelecer um contato afetivo com os alunos na modalidade a
distância, utilizando somente as ferramentas disponíveis no AVA, que irão suprir as
necessidades dos estudantes. Sentimos que existe uma lacuna a ser preenchida para que o
processo seja mais dinâmico e interativo, menos mecanizado e mais humanizado.

O mesmo acontece com os tutores que, apesar de buscarem dar o retorno aos estudantes
diante de todas as demandas solicitadas, acabam dedicando grande parte do tempo, ou até
mesmo todo o tempo, atendendo essas solicitações relacionadas ao conteúdo do curso ou às
questões acadêmicas. Outra questão também pontuada pelos tutores é a utilização de uma
linguagem formal no trato com os alunos. Diante dessas constatações, inferimos que, essas
demandas geram uma dificuldade em aproximar dos estudantes, para além das formalidades
previamente definidas pela estrutura do curso.

Já a secretaria de ambas IES busca atender da maneira mais cordial e ágil às solicitações dos
alunos. Este é um ponto de suma importância, tendo em vista que muitos alunos têm diversas
demandas junto à secretaria ao longo da realização do curso, ou em contrapartida, existem
alunos que terão contatos mínimos com esse setor. O importante é que todos se sintam
acolhidos e que os profissionais, seja da IES Pública ou Privada, atendam as demandas dos
estudantes da melhor maneira possível.

Ilustramos esta inferência com a fala de uma aluna que citou a aproximação com a secretaria e
coordenação de polo, “todas as vezes no polo fui muito bem atendida, pela secretaria e pela
coordenação, tanto pessoalmente ou por telefone.”

O suporte técnico, em ambas IES, pouco se aproxima dos estudantes tendo em vista as
características do trabalho desenvolvido. Quando existem demandas elas são relacionadas a
problemas de acesso (login e senha) ou problemas com postagens. Consideramos importante
envolver esses funcionários na pesquisa, pois eles participam ativamente da gestão do AVA,
que é a principal ferramenta utilizada para a comunicação em um curso realizado na
modalidade a distância. Frente a este cenário, inferimos que apesar de terem pouco contato
132

com os alunos, esses atores contribuem para a disponibilização de um ambiente “limpo”,


organizado e acessível para a criação da proposta metodológica da disciplina pelo docente.

Apesar de serem os docentes os “responsáveis” pela estruturação das atividades no AVA, o


suporte técnico contribui para essa organização. Assim, a parceria entre docentes, tutores,
secretaria, coordenação de curso e equipe do suporte são essenciais para o bom
funcionamento das atividades desenvolvidas dentro do AVA, tendo sempre como referência o
aprendizado dos alunos.
133

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando retomamos nosso objetivo central, que era o de analisar como são estabelecidas
as relações de interatividade e afetividade nos processos que envolvem atores da
educação a distância (aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma
essas relações contribuem para o processo de ensino e aprendizagem. Buscamos, por
meio de pesquisa empírica, realizar um estudo de caso em uma IES Privada que possui
sólida experiência na oferta do curso de bacharelado em Administração e uma IES
Pública vinculada ao Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), que apresenta
sólida experiência na oferta do curso de licenciatura em Pedagogia. Sendo que, para a
coleta de dados, foram desenvolvidos três procedimentos metodológicos: observação
on-line, entrevistas e questionário semiestruturado.

Mediante análises dos resultados verificamos que ainda existe um longo caminho a ser
percorrido, a fim de desenvolver as potencialidades da interatividade e afetividade nos
processos de ensino e aprendizagem superior. Podemos pressupor que uma das
dificuldades no estabelecimento dessas relações de interatividade e afetividade nos
cursos realizados na modalidade a distância possa estar relacionada às condições de
trabalho e ao fato da falta de políticas públicas que regulamentem a atuação dos
profissionais que atuam nesta modalidade de ensino, como docente e tutor, de forma a
equiparar com as condições de um docente de um curso presencial, contribuindo assim
para potencializar a qualidade da oferta dos cursos.

Esta lacuna pode dificultar o trabalho do docente e tutor à medida que são abertas
possibilidades para uma oferta que, muitas vezes, foca-se somente na transmissão de
conteúdos, podendo comprometer a qualidade do processo de ensino e aprendizagem.

Em relação à análise realizada em uma IES Privada e uma Pública e em um curso de


bacharelado e um de licenciatura, poderíamos pressupor que o curso de licenciatura por
ser da área de humanidades promoveria um maior grau de afetividade entre os atores
envolvidos na oferta, em relação ao curso de bacharelado da área de exatas. Porém, após
realização da pesquisa, verificamos que as condições para o desenvolvimento da
afetividade seja na IES Privada ou na Pública estão intimamente relacionadas às
características da oferta, tais como, estratégias didáticas utilizadas, abertura dada aos
134

profissionais para se posicionarem pessoalmente, existência de instrumentos e


mecanismos digitais que permitam conversas que ultrapassem os roteiros pré-definidos
das disciplinas, entre outras características que impactam no estabelecimento de
relações de afeto.

De maneira específica, quando buscamos verificar como são realizados os contatos e


possíveis relações de interatividade e afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno,
aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e tutor/professor/aluno, procurávamos
analisar como se davam essas interações se as relações de afetividade e interatividade
entre os atores possibilitariam o desenvolvimento de relações afetivas. Porém, quando
olhamos para os resultados, inferimos que são múltiplos os fatores que estão
perpassando essas relações para que esses vínculos possam ser estabelecidos, um deles,
por exemplo, é a singularidade de cada indivíduo.

As interlocuções com esses sujeitos ao longo da realização da pesquisa evidenciaram


fatos que nos permitiram compreender a preocupação dos docentes e tutores em
promover as melhores estratégias didáticas para que o objetivo seja alcançado, que é a
aprendizagem dos alunos. Porém, sentimos que ainda existe um percurso a ser trilhado
visando potencializar essas relações para se tornarem de fato afetivas. Entendemos que
este é um desafio, visto a complexidade das relações entre humanos, sejam presenciais
e/ou a distância.

Buscamos também observar as intervenções da equipe pedagógica nas atividades


desenvolvidas, sejam individuais ou em grupo, e a presença da interatividade e
afetividade. E, quando olhamos para a equipe multidisciplinar envolvida na oferta dos
cursos, desconsiderando, neste momento, a atuação do docente e do tutor, verificamos
que o estabelecimento de relações afetivas também é limitado, tendo em vista que esse
fator está condicionado ao contato que o aluno estabelece com esses atores no
desenvolvimento do curso. Ou seja, se ele teve necessidade de se relacionar com
secretaria, suporte técnico, coordenação de curso, pode ser que venha a ser estabelecido
algum tipo de relação, caso contrário, não.

As respostas destes atores, secretaria e suporte técnico, demonstram que os contatos são
formais e impessoais, seja por meio do CRM, seja por meio do AVA. As histórias de
135

vida e as singularidades são suprimidas nesses sistemas, que automatizam


procedimentos e regulamentam relações que não podem sair do script.
Quando nos propusemos a identificar o tipo de linguagem utilizada na interação entre
tutor/aluno, aluno/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e
tutor/aluno/professor, constatamos a prevalência no uso da linguagem formal, o que de
fato deve ser prezado, mas deve-se avançar, oportunizando interlocuções escritas que
permitam um diálogo acolhedor.

Ao considerarmos o feedback como elemento importante a ser analisado, tendo em vista


características da oferta de ambos os cursos, elucidamos que os feedbacks automáticos
enviados pelo sistema, reforçam nossas colocações, em que as relações são puramente
formais e pouco oportunizam um diálogo visando a superação de dificuldades. Os
feedbacks precisam permitir as idas e vindas dos alunos no processo de aprendizado até
que se obtenha resultados satisfatórios. É fundamental que avancemos para oportunizar
uma aproximação entre aluno/professor, aluno/tutor e aluno/aluno protagonizando a
afetividade e a interatividade.

São múltiplos os fatores que influenciam no desenvolvimento e oferta de um curso,


existem muitos atores envolvidos na concepção e acompanhamento do curso, são
muitas as expectativas tanto dos educadores quanto dos educandos que precisam entrar
em sinergia para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça e faça sentido para a
formação de um futuro profissional que irá fazer a diferença no local em que for atuar.
Portanto, pensar em uma EaD que considere todos esses fatores, para além dos fatores
tecnológicos, é uma tarefa mais do que urgente para a melhoria da qualidade da
educação superior a distância contemporânea.

Mediante essas análises ainda nos questionamos: como os alunos se sentem em relação
ao curso? Como eles se veem neste processo? O que os docentes e tutores representam
neste processo de formação? O que é preciso para oportunizar o estabelecimento de
relações que vão além do ato de ensinar propriamente dito? Os alunos estão sendo
envolvidos em situações de aprendizagem que os permitem aprender de forma
significativa? Como se dá o processo de formação integral do aluno egresso de um
curso a distância?
136

Com este estudo abrimos um campo amplo de questões que ainda precisam ser
pesquisadas e compreendidas no que tange à interatividade e afetividade na EaD. É
necessário problematizar estas questões a fim de contribuir com avanços relacionados
ao processo de ensinar e aprender nesta modalidade de ensino.
137

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142

APÊNDICE – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO E ENTREVISTAS

Roteiro de observação:
Objeto de observação: Itens a serem observados:
Disposição e tipos de recursos;
Localização de informações gerais e
específicas;
Calendário e/ou agenda;
Estrutura do AVA – aspectos visuais
Materiais didáticos;
(layout) e ferramentas disponíveis
Disposição de atividades pedagógicas;
Programa ou ementa do curso.

Tipos de fóruns;
Linguagem utilizada pelos participantes;
Frequência das intervenções por tutores e
Fóruns docentes;
Participação, envolvimento e
engajamento pelos alunos.

Clareza nas explicações;


Atividades realizadas
Conteúdos e indicações de referências;
Sugestões de leitura.
Clareza nas informações;
Feedbacks e/ou devolutivas
Linguagem utilizada;
Tempo de retorno.
Interação estabelecida com: Como ocorrem as comunicações com a
Secretaria, equipe de profissionais;
Suporte técnico, Retorno pelos alunos.
Pedagogo
Coordenação de curso

Roteiro de entrevistas:
Público: alunos
1. Fale-me um pouco sobre como são realizados os contatos entre tutor/aluno,
aluno/aluno, aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e tutor/professor/aluno.
2. Qual a frequência desses contatos? Vocês conversam através de outra ferramenta
além do AVA?
3. As conversas são relacionadas apenas ao conteúdo do curso ou vocês discutem outros
assuntos? Como é a linguagem utilizada na comunicação pelos profissionais? É mais
formal ou mais informal – “espontânea”?
4. E como você recebe o feedback das atividades desenvolvidas ao longo do curso?
5. Como é sua relação com a equipe pedagógica envolvida no curso?
6. O que você entende como afetividade? Você conseguiu estabelecer relações de afeto
com os atores (alunos, tutor, professor, secretaria, suporte Moodle, coordenação,
entre outros) na oferta da disciplina? Conte-me como se deu essas relações.

Público: tutores
143

7. Gostaria que me falasse um pouco sobre como é seu contato com os alunos,
professor(es) e equipe de profissionais do curso.
8. Com qual frequência acontecem esses contatos? A comunicação ocorre através de
outra ferramenta além do AVA?
9. Como é o envolvimento e a participação dos alunos nas atividades desenvolvidas?
10. As conversas com os alunos são relacionadas apenas ao conteúdo do curso ou vocês
discutem outros assuntos? Como é a linguagem utilizada na comunicação, é mais
formal ou mais informal – “espontânea”? Como os alunos respondem às suas
solicitações?
11. E como você proporciona feedback das atividades desenvolvidas ao longo do curso
aos alunos?
12. E como é sua relação com a equipe pedagógica envolvida no curso?

Público: docentes
13. Conte-me como é seu contato com os alunos, tutor(es) e equipe de profissionais
envolvida no curso.
14. Com qual frequência acontecem esses contatos? A comunicação ocorre através de
outra ferramenta além do AVA?
15. Como é o envolvimento e a participação dos alunos nas atividades desenvolvidas?
16. As conversas e interações que vocês estabelecem com os alunos são relacionadas
apenas ao conteúdo do curso ou vocês discutem outros assuntos? Como é a
linguagem utilizada na comunicação, é mais formal ou mais informal –
“espontânea”? Como os alunos respondem às suas solicitações?
17. E como você proporciona feedback das atividades desenvolvidas ao longo do curso
aos alunos?
18. E como é sua relação com a equipe pedagógica envolvida no curso (principalmente
com o(s) tutor(es))?

Público: secretaria

19. Como é sua relação com os alunos, tutores, docentes, pedagogo e suporte técnico
envolvidos na oferta do curso?
20. Como é a comunicação estabelecida entre você e os alunos? Como é a linguagem
utilizada na comunicação, é mais formal ou mais informal – “espontânea”?
Geralmente eles recorrem a você em quais situações? Quais as mais recorrentes?
21. Qual o principal meio de comunicação utilizado por você para estabelecer esses
contatos com os alunos? Como é o retorno deles às solicitações?
22. E como se dá o trabalho entre a equipe de profissionais envolvida na oferta de um
curso (há sintonia, trabalho em equipe? Ou as atividades ocorrem fragmentadas?)?
Público: suporte técnico

23. Como é sua relação com os alunos, tutores, docentes, pedagogo e secretaria
envolvidos na oferta do curso?
24. Como é a comunicação estabelecida entre você e os alunos? Como é a linguagem
utilizada na comunicação, é mais formal ou mais informal – “espontânea”?
Geralmente eles recorrem a você em quais situações? Quais as mais recorrentes?
25. Qual o principal meio de comunicação utilizado por você para estabelecer esses
contatos com os alunos? Como é o retorno deles às solicitações?
26. E como se dá o trabalho entre a equipe de profissionais envolvida na oferta de um
curso (há sintonia, trabalho em equipe? Ou as atividades ocorrem fragmentadas?)?
144

Quadro 5 – Alunos IES Privada x Alunos IES Pública


Questões Objetivos Tema de análise
1. Fale-me um pouco sobre como são realizados Verificar como são realizados os contatos e Diálogo
os contatos entre tutor/aluno, aluno/aluno, possíveis relações de interatividade e afetividade
aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e entre tutor/aluno, aluno/aluno, aluno/professor, Interação e Interatividade
tutor/professor/aluno. aluno e equipe de profissionais e
tutor/professor/aluno; Afetividade
2. Qual a frequência desses contatos? Vocês
conversam através de outra ferramenta além do AVA?
Identificar o tipo de linguagem utilizada na
interação entre tutor/aluno, aluno/aluno,
3. As conversas são relacionadas apenas ao aluno/professor, aluno e equipe de profissionais e
conteúdo do curso ou vocês discutem outros assuntos? tutor/aluno/professor;
Como é a linguagem utilizada na comunicação pelos
profissionais, é mais formal ou mais informal – Identificar se os alunos recebem feedbacks das
“espontânea”? atividades desenvolvidas;

4. E como você recebe o feedback das atividades Observar a intervenções da equipe pedagógica nas
desenvolvidas ao longo do curso? atividades desenvolvidas sejam individuais ou em
grupo, e a presença da interatividade e afetividade.

5. Como é sua relação com a equipe pedagógica


envolvida no curso?
6. Para você o que é afetividade? Você conseguiu
estabelecer relações de afeto com os atores (alunos,
tutor, professor, secretaria, suporte Moodle,
coordenação, entre outros) na oferta da disciplina?

Fonte: Elaborado pelos autores.


145

Quadro 6 – Tutores IES Privada x Tutores IES Pública


Questões Objetivos Tema de análise
1. Gostaria que me falasse um pouco Verificar como são realizados os contatos Diálogo,
sobre como é seu contato com os alunos, e possíveis relações de interatividade e
professor(es) e equipe de profissionais do afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno, Interação e Interatividade
curso. aluno/professor, aluno e equipe de
2. Com qual frequência acontecem esses profissionais e tutor/professor/aluno; Afetividade
contatos? A comunicação ocorre através de
outra ferramenta além do AVA?
3. Como é o envolvimento e participação Identificar o tipo de linguagem utilizada
dos alunos nas atividades desenvolvidas? na interação entre tutor/aluno,
aluno/aluno, aluno/professor, aluno e
4. As conversas com os alunos são equipe de profissionais e
relacionadas apenas ao conteúdo do curso ou tutor/aluno/professor;
vocês discutem outros assuntos? Como é a
linguagem utilizada na comunicação, é mais Identificar se os alunos recebem
formal ou mais informal – “espontânea”? feedbacks das atividades desenvolvidas;
Como os alunos respondem às suas
solicitações?
Observar a intervenções da equipe
5. E como você proporciona feedback das pedagógica nas atividades desenvolvidas
atividades desenvolvidas ao longo do curso aos sejam individuais ou em grupo, e a
alunos? presença da interatividade e afetividade.

6. E como é sua relação com a equipe


pedagógica envolvida no curso?
Fonte: Elaborado pelos autores.
146

Quadro 7 – Docentes IES Privada x Docentes IES Pública


Questões Objetivos Tema de análise
1. Conte-me como é seu contato com os Verificar como são realizados os contatos Diálogo
alunos, tutor(es) e equipe de profissionais e possíveis relações de interatividade e
envolvida no curso. afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno,
2. Com qual frequência acontecem esses aluno/professor, aluno e equipe de Interação e Interatividade
contatos? A comunicação ocorre através de outra profissionais e tutor/professor/aluno;
ferramenta além do AVA?
3. Como é o envolvimento e participação dos Afetividade
alunos nas atividades desenvolvidas?
4. As conversas e interações que você Identificar o tipo de linguagem utilizada
estabelece com os alunos são relacionadas apenas na interação entre tutor/aluno,
ao conteúdo do curso ou vocês discutem outros aluno/aluno, aluno/professor, aluno e
assuntos? Como é a linguagem utilizada na equipe de profissionais e
comunicação, é mais formal ou mais informal – tutor/aluno/professor;
“espontânea”? Como os alunos respondem às suas
solicitações? Identificar se os alunos recebem
5. E como você proporciona feedback das feedbacks das atividades desenvolvidas;
atividades desenvolvidas ao longo do curso aos
alunos? Observar a intervenções da equipe
6. E como é sua relação com a equipe
pedagógica nas atividades desenvolvidas,
pedagógica envolvida no curso (principalmente
com o(s) tutor(es)? sejam individuais ou em grupo, e a
presença da interatividade e afetividade.

Fonte: Elaborado pelos autores.


147

Quadro 8 – Secretaria IES Privada x Secretaria IES Pública


Questões Objetivos Tema de análise
1. Como é sua relação com os alunos, tutores, Verificar como são realizados os contatos
Diálogo
docentes, pedagogo e suporte técnico envolvidos na e possíveis relações de interatividade e
oferta do curso? afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno,
aluno/professor, aluno e equipe de Interação e Interatividade
2. Como é a comunicação estabelecida entre profissionais e tutor/professor/aluno;
você e os alunos? Como é a linguagem utilizada na
comunicação, é mais formal ou mais informal – Afetividade
“espontânea”? Geralmente eles recorrem a você em
quais situações? Quais as mais recorrentes? Identificar o tipo de linguagem utilizada
na interação entre tutor/aluno,
aluno/aluno, aluno/professor, aluno e
3. Qual o principal meio de comunicação equipe de profissionais e
utilizado por você para estabelecer esses contatos tutor/aluno/professor;
com os alunos? Como é o retorno deles às
solicitações? Identificar se os alunos recebem
feedbacks das atividades desenvolvidas;
4. E como se dá o trabalho entre a equipe de
profissionais envolvida na oferta de um curso (há
Observar a intervenções da equipe
sintonia, trabalho em equipe? Ou as atividades
ocorrem fragmentadas?).
pedagógica nas atividades desenvolvidas,
sejam individuais ou em grupo. e a
presença da interatividade e afetividade.

Fonte: Elaborado pelos autores.


148

Quadro 9: Suporte Técnico IES Privada x Suporte Técnico IES Pública


Questões Objetivos Tema de análise
1. Verificar como são realizados os contatos Diálogo
Como é sua relação com os alunos, tutores,
docentes, pedagogo e secretaria envolvidos na e possíveis relações de interatividade e
oferta do curso? afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno,
aluno/professor, aluno e equipe de Interação e Interatividade
2. Como é a comunicação estabelecida entre profissionais e tutor/professor/aluno;
você e os alunos? Como é a linguagem utilizada na
comunicação, é mais formal ou mais informal – Afetividade
“espontânea”? Geralmente eles recorrem a você em
quais situações? Quais as mais recorrentes? Identificar o tipo de linguagem utilizada
na interação entre tutor/aluno,
aluno/aluno, aluno/professor, aluno e
3. Qual o principal meio de comunicação equipe de profissionais e
utilizado por você para estabelecer esses contatos tutor/aluno/professor;
com os alunos? Como é o retorno deles as
solicitações? Identificar se os alunos recebem
feedbacks das atividades desenvolvidas;
4. E como se dá o trabalho entre a equipe de
profissionais envolvida na oferta de um curso (há
Observar a intervenções da equipe
sintonia, trabalho em equipe? Ou as atividades
ocorrem fragmentadas?).
pedagógica nas atividades desenvolvidas,
sejam individuais ou em grupo, e a
presença da interatividade e afetividade.

Fonte: Elaborado pelos autores.


149

Quadro 10 – Coordenação de curso IES Privada x Coordenação de curso IES Pública


Questões Objetivos Tema de análise
1. Verificar como são realizados os contatos Diálogo
Como é sua relação com os alunos, tutores,
docentes, secretaria e suporte técnico envolvidos na
e possíveis relações de interatividade e
oferta do curso? afetividade entre tutor/aluno, aluno/aluno,
aluno/professor, aluno e equipe de Interação e Interatividade
2. Como é a comunicação estabelecida entre profissionais e tutor/professor/aluno;
você e os alunos? Como é a linguagem utilizada na
comunicação, é mais formal ou mais informal – Afetividade
“espontânea”? Geralmente eles recorrem a você em
quais situações? Quais as mais recorrentes? Identificar o tipo de linguagem utilizada
na interação entre tutor/aluno,
aluno/aluno, aluno/professor, aluno e
3. Qual o principal meio de comunicação equipe de profissionais e
utilizado por você para estabelecer esses contatos tutor/aluno/professor;
com os alunos? Como é o retorno deles(as)?
Identificar se os alunos recebem
4. E como se dá o trabalho entre a equipe de feedbacks das atividades desenvolvidas;
profissionais envolvida na oferta de um curso (há
sintonia, trabalho em equipe? Ou as atividades
Observar a intervenções da equipe
ocorrem fragmentadas?).
pedagógica nas atividades desenvolvidas,
sejam individuais ou em grupo, e a
presença da interatividade e afetividade.

Fonte: Elaborado pelos autores.


150

Transcrições das respostas das entrevistas dos alunos da IES Pública x Privada:
Aluno 1: Com a minha tutora presencial. Perdi a minha mãe há dois meses e dez dias.
Estou ainda muito perdida e sinceramente desmotivada. Logo que a perdi tivemos um
encontro no polo e a minha tutora foi muito gentil e atenciosa.

Aluno 2: Afetividade: vínculo que se cria com vibrações positivas de admiração e


respeito, que fogem àquelas de intolerância, arrogância, frieza... tenho aquelas que
tivemos o contato em atividades presenciais com professoras e tutoras em visita ao
polo, coisa de instantes, assim como aquelas com as quais acompanhamos pelas redes
sociais. A universidade (campus) tem sido uma realidade distante dos alunos dos
polos.

Aluno 3: Muito boas, não tenho o que reclamar nesse aspecto de afetividade.

Aluno 4: A meu ver, afetividade relaciona-se com vivências que envolvem emoções,
sentimentos e empatia. Relações de afeto entre profissionais do polo e alunos se
desenvolveram ao longo dos períodos, e assim também ocorre com professores e
profissionais que constantemente comunicam-se com os alunos. Relações de
afetividade também surgem quando a empatia entre as duas partes envolvidas é
recíproca.

Aluno 5: Afetividade nesse sentido pode ser compreendida como relação amistosa
pautada na boa fé entre as partes, no fino trato às questões solicitadas que geram
confiança entre as partes. Poucos professores e tutores dão espaço para as
humanidades. No geral, agem como robôs.

Aluno 6: A afetividade é uma conquista individual e coletiva. Com alguns professores


esse sentimento é espontâneo, em outros momentos parece haver uma hierarquia que
filtra a aproximação. Mas de modo geral não percebo o antagonismo por parte de
tutores, professores, coordenação, secretaria, entre outros.

Aluno 7: Sim, como na vida alguma chega para ficar, temos professores, tutores e
alunos que faz parte do meu cotidiano.
151

Aluno 8: Com os alunos colegas parceria e apoio para realizar as tarefas, com
secretaria do polo, pois é o ela elo físico mais próximo dos tutores e professores. Com
os outros não existe nenhum tipo de afetividade.

Aluno 9: Tenho uma relação bem bacana com os professores e tutores das primeiras
disciplinas, pois como já foi dito, tínhamos mais contato, hoje não tenho muita
afetividade, pois as conversas são somente para sanar as dúvidas.

Aluno 10: Afetividade refere-se ao relacionamento que o indivíduo desenvolve em


relação aos outros, ele surge quando você tem um sentimento de carinho por outra
pessoa, nele estão contidos os conceitos de emoção, de amizade com as pessoas. Isso
é só uma pincelada do que venha ser a afetividade.

Aluno 11: Alguns alunos foram criando vínculos de amizade, no qual levarei por toda
minha vida. Infelizmente não posso dizer o mesmo com tutores, professores, pois, por
ser uma relação somente formal, não se criaram vínculos. Acredito que seja por causa
de ser um curso feito a distância, em que não temos contato fisicamente. Acredito que
isso atrapalhe um pouco.

Aluno 12: Nós os colegas do curso criamos um grupo de WhatsApp para trocarmos
informações e dúvidas que temos, é a única forma que temos.

Aluno 13: Em relação ao curso de Pedagogia nessa modalidade não recomendo a


ninguém, pois é muito difícil não termos ninguém para nos orientar. Eu
particularmente me sinto uma autodidata, não temos orientação nenhuma de
professores e nem de tutores, os tutores acredito que são para ajudar apenas aos
professores. Um curso de Pedagogia que forma professores sem nenhum professor
para orientar é muito difícil. Sinto muita falta de vídeos ou mesmo aulas explicativas
dos professores. O fato que o aluno tem que construir seu próprio conhecimento, tudo
bem, mas deveria ter alguma participação do professor e isso durante esse tempo do
curso só tivemos apenas dois professores que se prontificaram para explicar a matéria.
Enfim essa modalidade de ensino não recomendo a ninguém, a não ser que passe a ser
152

obrigatória a participação do professor.

Aluno 14: Sim, com alunos e a tutora presencial que infelizmente saiu. As relações se
dão por necessidade e afinidade.

Aluno 15: Entendo que afetividade se relaciona ao carinho e consideração percebido


nas relações em geral. Não foi possível estabelecer relações afetivas. Salvo com
algumas colegas de curso.

Aluno 16: Entendo como afetividade estabelecer laços de carinho, de respeito, no


EaD de comunicação já ajuda muito, o que mais facilitou essas relações foi o
Facebook, acredito que isso permitiu conhecer e comunicar com todos que nos deram
essa abertura.

Aluno 17: Acredito que sim. E neste particular, creio que afetividade envolva,
colocar-se no lugar do outro, procurar compreender e auxiliar.

Aluno 18: Bem no Polo de Caratinga todos são muito atenciosos em nos atender,
nossa turma de Pedagogia somos bem unidos e nos comunicamos muito, temos
alguns professores que são bem comunicativos e sempre nos atendem, mas a maioria
é bem distante, já com o pessoal da universidade nenhum contato mais direto

Aluno 19: Sempre tem aquela pessoa que nos agrada mais do que outras, os colegas e
os tutores presenciais acabam se tornando uma família, pois todos os dias estão ali
nos recebendo, ouvindo e ajudando de acordo com nossas necessidades.

Aluno 20: Não tive contato com todos os professores do curso, mas os que conheci
são muito agradáveis e atenciosos, mas entendo que eles não têm tempo de conversar
com os alunos, afinal são diversos polos para lecionarem então o contato é mais breve
possível.

Aluno 21: A afetividade é a amizade, o carinho que brota de um relacionamento,


assim essa relação de afeto era percebida por parte da tutora presencial no início do
153

curso. Percebo que a EaD pouco promove essa afetividade entre seus elementos, pois
o objetivo principal é realizar as tarefas que não são poucas, sobrando pouco tempo
para tais relações.
Afetividade é um vínculo que criamos quando temos uma relação entre seres
humanos, todas as pessoas que se relacionam sejam lá pelo tempo que for acabam
criando alguma afetividadem, isso é normal nas pessoas. Sim eu tenho bastante
afetividade com todos os autores presentes no meu processo de ensino-aprendizagem.

Aluno 22: Acho que a afetividade é um ponto muito importante, e com nossa equipe é
ótima.
Não, não consegui afeto, pois a distância existe, isso não é bom para o aluno,
prejudica muito, as explicações são muito poucas, afetividade é quando trocamos
ideias, até informalmente, quando se entende, quando somos flexíveis um com o
outro ao entregar um trabalho em atraso, não se pergunta o que houve, é uma relação
direta, e um afeto artificial (eu sinto assim).

Aluno 23: Afetividade entendo relação de aluno com demais corpo pedagógico,
porém com retornos e orientações quando solicitadas mesmos que demore de dois a
três dias, mas não de 15 a 20, muitas vezes fora do prazo das atividades, o respeito e a
ética se relacionam dentro dessas questões. Atualmente não me sinto à vontade com
relação de afeto com os atores citados, exceto com a minha turma que somos alunos
unidos e buscamos nos ajudar uns com os outros.

Aluno 24: Em minha opinião, afetividade é algo que demonstre algum sentimento que
saia das formalidades, ou seja, não enxergar nós somente como meros alunos, mas
pessoas que têm sentimentos. Relação de afeto confesso somente com a professora
Márcia Ambrósio que realmente deveria ser referência para todos professores e
tutores, um pouquinho dela já ajudaria.

Aluno 25: Afetividade é uma relação tranquila, respeitosa e amiga. Sim, consigo
relacionar afetivamente com todos envolvidos no curso, que quase sempre foi via e-
mail ou nas aulas presenciais no polo.
154

Aluno 26: Afetividade, para mim, é uma troca de carinho, valores, confiança e
segurança entre seres vivos. E para haver essa troca, depende do encontro entre duas
ou mais pessoas. Em nosso caso a relação é focada no ensino e na aprendizagem.
Como toda relação tem dois polos e depende de ambos, vejo que dificilmente a gente
consegue estabelecer relações de verdadeiro afeto e amizade com nossos professores
e tutores, pois ambos estão bem distantes e trabalhando muito para atender a várias
pessoas ao mesmo tempo. Quando a gente tem alguma aula presencial percebemos o
quanto a proximidade faz com que conhecemos melhor aquele ou aquela professora e
a afetividade é mais natural. No meu caso, pelo polo ser em nossa cidade Barão de
Cocais, a proximidade com os outros colegas e profissionais do local foi mais intensa.
A relação entre os alunos é especial e a turma quase sempre se fala, e conseguimos
formar laços de amizade verdadeira.

Aluno 27: Sim, sou muito aberta, enquanto dúvidas. E converso, tirando todas as
minhas dúvidas.

Aluno 28: Eu acredito que afetividade seja que gera um carinho, ou simpatia, temos
professores que criamos vínculos outros parceiros no decorrer das disciplinas, alguns
que vou levar para a vida, autora que só enriqueceram meus conhecimentos, amigos
que marcaram momentos inesquecíveis.

Aluno 29: Acredito que a afetividade entre os atores pode contribuir melhor para uma
educação de qualidade e mais prazerosa, trazendo benefícios como segurança e
equilíbrio nas aprendizagens. No meu caso, eu consegui um contato maior do tutor
desta disciplina, por estar mais próxima a ele. Sempre que precisava tirar alguma
dúvida, eu conseguia imediatamente. Em outras disciplinas, o contato é mesmo por
mensagens. Todas as vezes no polo fui muito bem atendida, pela secretaria e pela
coordenação, tanto pessoalmente ou por telefone e com os colegas do curso é sempre
muito prazeroso o encontro com todos.

Respostas IES Privada


155

Aluno 1: A minha definição de afetividade parte do conceito que o ser humano tem a
necessidade de demostrar os seus sentimentos e emoções a outros com quem convive.
A partir dessas demonstrações os seres humanos criam laços e definem seus
relacionamentos no seu dia a dia. Esse tipo de afetividade ocorre no AVA da PUC
Minas Virtual, mas de maneira muito sutil, acredito que ela se aprofunda quando o
contato do aluno com o tutor, ou professor é contínuo e mais profundo, o que às vezes
não acontece, pois existe mudança de professores e tutores a cada semestre.
Setores como a secretaria e o suporte acadêmico são setores cujo contato é pontual e
quase não foi necessário acioná-los para alguma demanda, por isso, a afetividade não
existe no meu caso para essas situações.

Aluno 2: Entendo por afetividade uma relação em que se cria algum tipo de
sentimento mais profundo com relação ao outro. No EaD isso é possível dependendo
da sua atuação no curso e a sua situação. No meu caso, que sou irregular, fica bem
difícil estabelecer alguma relação mais afetuosa com algum outro aluno, pois em cada
semestre faço parte de turmas diferentes. Acredito que para alunos regulares, que
estão todo semestres interagindo com as pessoas isso seja mais fácil, tanto que muitos
alunos se conhecem nos dias de prova, se deslocam junto para o local da prova, etc.
Com o professor acho mais difícil de acontecer, porque o professor possui um número
muito grande de alunos, creio que deva ser bem difícil se lembrar de todos os alunos.
Para o tutor pode ser mais fácil, pois ele está mais presente no dia a dia, mas de certa
forma é uma relação bem profissional, de certa forma é “obrigação” do tutor ser
cordial, atender bem, etc., então, às vezes, pode dar uma impressão de que ele está
apenas cumprindo com sua obrigação e nem sempre aquele abraço ao final da
mensagem é real. Particularmente acho que no EaD a afetividade fica mais de lado,
mas é possível sim.

Aluno 3: Entendo que afetividade é mostrar um cuidado, uma atenção nas relações
que se desenvolvem no contexto EaD (neste caso).
A afetividade para mim se concretiza muito nas respostas e interações realizadas no
AVA, por meio de postagens de fóruns, mensagens individuais e avisos. Acho que
quando um professor ou tutor atende o aluno de forma cuidadosa e atenciosa, ele está
desempenhando essa afetividade e isso fortalece as relações entre os atores no
156

contexto EaD.

Aluno 4: Entendo que é o cuidado que pode acontecer nas relações a distância. Perdi
meu marido há pouco tempo e tem sido muito difícil me dedicar ao curso, porém
devido ao contato com a turma e com os professores e tutores estou conseguindo
retomar minhas atividades.

Aluno 5: Na minha opinião, a afetividade está relacionada à forma com que


interagimos, no nosso caso, pelo Ambiente Virtual.

Docente Privada x Pública


Identificamos o docente da IES Privada como D1 e o docente da IES Pública como D2.
Seguem as transcrições das respostas das entrevistas:
- Conte-me como é seu contato com os alunos, tutor(es) e equipe de profissionais
envolvida no curso.
D1: O professor atua em duas disciplinas, a disciplina objeto da pesquisa foi a de Teorias da
Administração.
Existe uma interação entre a equipe, é como se fosse uma família, tudo em casa. Devido ao
tempo que o grupo trabalhou junto, há mais de dez anos, o grupo de docentes é muito unido.
A relação com os tutores também é bem próxima, o tutor tem o papel de resolver as questões
operacionais e o docente as questões técnicas e pedagógicas relacionadas ao conteúdo da
disciplina.
Com os alunos o estilo do professor é “mais reservado, mais cuidadoso”.
D2: Cada experiência de EaD se estrutura de uma forma apesar de estarmos estruturados no
sistema UAB, a instituição possui estrutura diferenciada. A turma tem uma média de 300
alunos e a professora possui dois tutores, um formado em biologia e um pedagogo e
farmacêutico.
A professora elabora um cronograma de atividades para os alunos que é discutido
previamente com os tutores, devido ao fato de eles auxiliarem no feedback das atividades.
Não existe uma equipe multidisciplinar então o próprio docente elabora seu plano de curso e
organiza as atividades no ambiente virtual.
Raramente a professora tem contato com a secretaria do curso, por exemplo, com os tutores
o contato é bem próximo.
157

A professora acredita que o vínculo com os alunos aumentaria se ela fizesse visita aos Polos,
a aprendizagem tem uma relação muito forte com o vínculo. Ter momentos para estar
próximo aos alunos pode facilitar e contribuir com esta relação.
- Com qual frequência acontecem esses contatos? A comunicação ocorre através de
outra ferramenta além do AVA?
D1: Constantemente mediante o desenvolvimento das atividades da disciplina, depende muito
do tipo de atividade, por exemplo, nas atividades de fórum a comunicação é “quase
instantânea”, o professor monitora o espaço constantemente. A comunicação acontece via
Ambiente Virtual de Aprendizagem.
D2: Esses contatos acontecem exclusivamente via plataforma, existe um cuidado devido à
quantidade de alunos a professora evita contato através de outras ferramentas, pensando
também na questão do registro no AVA.
A professora evita interagir com os alunos via Facebook ou até mesmo e-mail, por não ter
Facebook esse contato fica inviável e por e-mail ela perde o controle das postagens das
atividades. Já houveram contatos via WhatsApp, porém apenas situações atípicas.
- Como é o envolvimento e participação dos alunos nas atividades desenvolvidas?
D1: Os alunos se envolvem, gostam e participam das atividades. O professor tenta
diversificar as atividades para que os alunos participem, utiliza diferentes recursos como, por
exemplo: vídeos curtos, textos, estudos dirigidos, slides, etc.
D2: São 11 polos, existem muitas realidades distintas, mas de forma geral os alunos
participam e se envolvem nas atividades desenvolvidas. A professora gosta que os alunos
justifiquem caso não consigam realizar alguma atividade, geralmente ela reabre o link,
dependendo da justificativa, e avaliação com 50% da nota.
A professora criou um fórum de avaliação da disciplina, vale um ponto, e o aluno tem a
oportunidade de falar o que gostou, o que falhou, e o que ele sugere para melhoria da
disciplina. As sugestões já foram incorporadas pela docente como, por exemplo, colocar as
datas na página do Moodle, questionamentos sobre qualidade no feedback.
- As conversas e interações que vocês estabelecem com os alunos são relacionadas apenas
ao conteúdo do curso ou vocês discutem outros assuntos? Como é a linguagem utilizada
na comunicação, é mais formal ou mais informal – “espontânea”? Como os alunos
respondem às suas solicitações?
D1: As conversas e interações com os alunos são relacionadas ao conteúdo do curso e
acontecem via AVA.
158

A linguagem utilizada é traduzida por meio de uma escrita clara e objetiva para aproximar
dos alunos, sempre utiliza expressões como “prezados”, “obrigado”, “boas-vindas”.
D2: As conversas e interações são relacionadas ao conteúdo do curso. Existe um fórum de
apresentação criado no início da turma. O aluno que envia qualquer mensagem a professora
responde. A natureza da professora é prática, porém devido ao fato de não ter contato físico
com os alunos ela relata ter dificuldades em ser muito afetuosa, apesar de não deixar as
pessoas distantes.
Na linguagem ela relata não usar gírias, algumas relações foram mais afetuosas com
algumas alunas que demanda mais atenção que questionam muito, e o uso de expressões
como “olá fulano...” “boa noite fulano...” “um abraço afetuoso”. Se a pessoa é muito formal
ela começa sempre agradecendo o contato, é a forma de a professora tentar aproximar.
- E como você proporciona feedback das atividades desenvolvidas ao longo do curso aos
alunos?
D1: Vai depender do tipo de atividade, nas atividades de fórum, o docente elabora um
relatório detalhado direcionado às postagens. Nas atividades em que é possível cadastrar um
feedback no Moodle o docente utiliza esta opção. Mas sempre é dado um retorno aos alunos
para todas as atividades desenvolvidas.
D2: Depende da atividade, a professora e os tutores que dão o feedback, é bem difícil dar
individualizado, nos esforçamos. Os alunos estão mais preocupados com a nota.
- E como é sua relação com a equipe pedagógica envolvida no curso (principalmente com
o(s) tutor(es))?
D1: A relação como dito anteriormente é muito harmônica, trabalhamos de forma
multidisciplinar, destaco um treinamento que tivemos com um professor de teatro que foi
muito rico para minha atuação como professor, ele nos ensinou a dar aulas de forma mais
descontraída e menos rígida. Foi muito rico! O professor acessou o ambiente interno da
instituição e me mostrou um vídeo aula deste treinamento realizado por um professor de
Teatro.
D2: A relação com o tutor é bem próxima, geralmente eles auxiliam no lançamento de notas,
nos momentos de feedback, porém existe uma cultura de uma planilha de avaliação e
acompanhamento dos alunos.
159

Tutores Privada x Pública


Identificamos o tutor da IES Privada como T1 e o tutor da IES Pública como T2. Seguem as
transcrições das respostas das entrevistas:
- Gostaria que me falasse um pouco sobre como é seu contato com os alunos,
professor(es) e equipe de profissionais do curso.
T1: O tutor na instituição auxilia o docente e o aluno em relação às atividades realizadas e
esclarecem dúvidas relacionadas à parte administrativa, fazendo o gerenciamento e
acompanhamento do aluno no decorrer dessas atividades propostas.
A tutora esclarece que ela tenta aproximar ao máximo dos alunos, eles ligam, vão até a
instituição, enviam mensagens, e-mails, os professores também têm uma interação muito
próxima ao tutor, quando ocorre qualquer tipo de problema é resolvido de forma rápida, às
vezes a tutora responde até dúvida de outro setor ou envia a solicitação do aluno e
acompanha o retorno, existe uma integração entre a equipe.
T2: O contato com os alunos é via AVA e acontece presencial nos momentos de aplicação de
provas presenciais, neste momento conhecemos os alunos. Os contatos entre tutor e professor
são estabelecidos por reuniões, a docente faz reunião antes de começar o semestre e durante
o andamento da disciplina e no final para fechamento dos resultados.
Os tutores auxiliam na escolha dos materiais, nas atividades a serem desenvolvidas, o contato
é bem intenso.
E com a equipe pedagógica sempre tem reuniões com o diretor, coordenador. Interagimos
com a secretaria e suporte técnico também.
Todas as demandas dos alunos vão inicialmente para os tutores e eles dão os
direcionamentos.
- Com qual frequência acontecem esses contatos? A comunicação ocorre através de outra
ferramenta além do AVA?
T1: O contato é diário, caso o tutor responda e o aluno não envia nenhum retorno, o tutor
entra em contato e conversa com o aluno, isso pode acontecer via AVA e, se for o caso,
telefone.
T2: A frequência é diária, a tutora fica com o ambiente aberto ao longo de todos os dias
praticamente. O contato é via AVA e-mail da plataforma, sempre que se inicia uma nova
turma os tutores dão as boas-vindas e colocam-se a disposição dos alunos.
- Como é o envolvimento e a participação dos alunos nas atividades desenvolvidas?
160

T1: Depende muito da disciplina, geralmente os alunos do primeiro período são mais
assíduos, isso varia de acordo com o perfil do aluno.
T2: Depende da atividade e depende do aluno, tem aluno que é mais dedicado, participa de
todas as atividades, quer saber se está indo no caminho certo, se o trabalho está bom, envia
com antecedência para o tutor. Porém, tem alunos que não se envolvem, talvez por questões
de tempo, por trabalharem.
Mas a grande maioria está sempre participando, perguntando sobre o que ele pode ler, se a
colocação dele está pertinente nos fóruns.
- As conversas com os alunos são relacionadas apenas ao conteúdo do curso ou vocês
discutem outros assuntos? Como é a linguagem utilizada na comunicação, é mais formal
ou mais informal – “espontânea”? Como os alunos respondem às suas solicitações?
T1: As conversas são relacionadas ao curso, alguns alunos inicialmente utilizam caixa alta
para se comunicar, mas de forma geral a linguagem do tutor para com os alunos é uma
mistura do formal com expressões para aproximar do aluno. Caso eles não concordem com
algum retorno ou informação eles respondem questionando novamente, eles têm muita
liberdade.
T2: As conversas são sobre o conteúdo do curso, dúvidas sobre postagens. A linguagem é
mais formal, prezados alunos, favor postarem as atividades, vocês têm o prazo até o dia tal...
qualquer dúvida estou à disposição... tutora. A gente tenta ser o mais formal, mas sempre
busco deixar uma frase de incentivo, participem, não deixe para última hora, a atividade vale
tantos pontos, leia os textos. Os alunos sempre retornam agradecendo, muito obrigada tutora,
abraços, bom final de semana, obrigada pelo lembrete.
- Como você proporciona feedback das atividades desenvolvidas ao longo do curso aos
alunos?
T1: O professor é o responsável por dar o feedback sobre o desenvolvimento dos alunos nas
atividades, o tutor faz o acompanhamento.
T2: Os tutores que avaliam as atividades e dão o feedback, a professora ajuda, porém o fluxo
maior de feedbacks é realizado pelo tutor. A gente que faz a maior parte das intervenções nos
fóruns e mediamos o decorrer das atividades. Existe uma planilha que o tutor gerencia o
lançamento das notas e eles comunicam os alunos que estão devendo alguma atividade.
- Como é sua relação com a equipe pedagógica envolvida no curso?
T1: A relação com a equipe pedagógica é tranquila, todos os envolvidos são muito abertos,
todos buscam resolver as questões de forma mais rápida possível, são realizadas reuniões
161

semanais (entre docente, tutor e coordenador) para discutir sobre questões do curso e
resolver problemas.
T2: A equipe está sempre pedindo a opinião do tutor, principalmente a professora. O que você
acha desta atividade? E sobre esse tema, o que podemos melhorar? Já houve momentos de
irem aos Polos e realizarem dinâmicas com os alunos de aulas práticas que eles podem
realizar, os alunos adoraram ter o encontro presencial com os tutores e docentes.
Observamos que os alunos têm uma vontade de aprender.
O contato presencial faz a diferença no estabelecimento de relações afetivas, os alunos se
sentem mais acolhidos quanto conhecem o pessoal. Somente a distância é mais difícil
estabelecer esses vínculos.
Secretaria Privada x Pública
Identificamos a secretaria da IES Privada como S1 e a secretaria da IES Pública como S2.
Seguem as transcrições das respostas das entrevistas:
- Como é sua relação com os alunos, tutores, docentes, pedagogo e suporte técnico
envolvidos na oferta do curso?
S1: O trabalho é realizado de forma bem integrada. Os alunos têm acesso ao sistema de
CRM que faz o direcionamento de todas as demandas diretamente para secretaria,
geralmente os assuntos são relacionados à análise de documentos, alteração de dados,
dispensa, logística de prova, procedimentos administrativos, atividades complementares,
entre outras demandas.
S2: A relação é bem próxima, em alguns casos consigo identificar os alunos pela voz ou pelo
tipo de problema. Poucos alunos vêm até a instituição, o contato é realizado via e-mail
telefone e Moodle. A relação com os demais é bem tranquila, depende muito do professor,
porém o contato é saudável.
O contato com os tutores EaD, tutores presenciais, bolsistas, público externo, coordenadores
de Polo e professores é realizado via e-mail e telefone de forma bem tranquila.
- Como é a comunicação estabelecida entre você e os alunos? Como é a linguagem
utilizada na comunicação, é mais formal ou mais informal – “espontânea”? Geralmente
eles recorrem a você em quais situações? Quais as mais recorrentes?
S1: A linguagem é mais formal, porém humanizada.
S2: A linguagem é mais formal, porém diversificamos a forma de escrever para que o aluno
consiga entender as informações, para que fique claro para ele.
162

Geralmente os alunos recorrem à secretaria para questões de nota, atestado médico, provas,
aproveitamento de estudos, matrícula, Enade, etc. Já houve caso de o aluno querer desistir
do curso e entrar em contato com a secretaria, nestes casos auxiliamos para que o aluno não
desista e conclua o curso.
- Qual o principal meio de comunicação utilizado por você para estabelecer esses
contatos com os alunos? Como é o retorno deles às solicitações?
S1: O principal meio de comunicação é o AVA através da ferramenta de CRM. Todos os
documentos são solicitados via CRM e tudo é facilitado devido ao fato de todos os
documentos serem digitalizados.
S2: O principal meio de comunicação é o e-mail, telefone e Moodle. Alguns alunos retornam
agradecendo, outros não...
Os alunos sentem uma confiança na secretaria, eles sentem que existe uma proximidade entre
as equipes devido ao fato da secretaria resolver todos os problemas da vida acadêmica deles.
Por exemplo, eles pedem telefones de outros setores da Universidade na secretaria,
endereços, telefone de professores, e-mails, além disso, atendemos o público externo
interessado em realizar um curso EaD e ex-alunos que recorrem à instituição com demandas
diversas.
- E como se dá o trabalho entre a equipe de profissionais envolvida na oferta de um
curso (há sintonia, trabalho em equipe? Ou as atividades ocorrem fragmentadas?)?
S1: Existe sintonia entre a equipe envolvida na oferta do curso. Os alunos têm muita
liberdade e enviam mensagens sempre via CRM.
S2: Há sintonia, muitas atividades são desenvolvidas de forma integrada e existe um
envolvimento entre as equipes.
Suporte Técnico Privada x Pública
Identificamos o Suporte Técnico da IES Privada como S1 e a Suporte Técnico da IES Pública
como S2. Seguem as transcrições das respostas das entrevistas:
- Como é sua relação com os alunos, tutores, docentes, pedagogo e secretaria envolvidos
na oferta do curso?
ST1: O suporte técnico não tem contato direto com o aluno, a relação mais próxima é com a
equipe de tutores e se dá de uma forma bem tranquila. Os docentes têm autonomia para
criarem suas atividades no AVA, então eles recorrerem ao suporte em casos de dúvidas, por
exemplo, para postar algum material.
163

ST2: A relação é muito próxima aos professores, tutores, alunos, docentes e secretaria.
Geralmente auxiliamos a secretaria no processo de matrícula, neste momento, acontece o
primeiro contato com os alunos presencialmente, em seguida, a relação é estabelecida via
ambiente virtual.
Mas auxiliamos os professores nas dúvidas em relação à plataforma, fazemos um
treinamento para eles com vídeos e tutoriais para auxiliar na criação de recursos.
- Como é a comunicação estabelecida entre você e os alunos? Como é a linguagem
utilizada na comunicação, é mais formal ou mais informal – “espontânea”? Geralmente
eles recorrem a você em quais situações? Quais as mais recorrentes?
ST1: Os alunos recorrem ao suporte técnico em casos de problemas referentes ao acesso à
plataforma, em casos de problemas técnicos no computador ou quando estão com problemas
relacionados a login e senha.
Alguns alunos realizam o curso em seu ambiente de trabalho, o que gera alguns problemas
devido às políticas de acesso das empresas, que muitas vezes bloqueiam alguns recursos que
eles precisam para abrir determinadas atividades, nestes casos eles também recorrem ao
suporte técnico.
SP2: A comunicação é estabelecida via e-mail (maior demanda), telefone e plataforma. Com
os coordenadores de Polo também utilizamos o Skype. Na linguagem procuramos aproximar
do aluno e sempre usar palavras de saudações.
Geralmente eles recorrem ao suporte com dúvidas de senha (esquecimento da senha), é o
mais recorrente, problemas com atividades (dependendo do formato) que varia entre fórum,
entrega, wiki, chat, entre outras.
- Qual o principal meio de comunicação utilizado por você para estabelecer esses
contatos com os alunos? Como é o retorno deles às solicitações?
ST1: O principal meio de comunicação é o CRM, os alunos enviam as solicitações e recebem
retorno, geralmente eles agradecem as orientações.
ST2: A comunicação é estabelecida via e-mail (maior demanda), telefone e plataforma. A
maioria dos alunos agradece o atendimento das solicitações, alguns não se posicionam.
- E como se dá o trabalho entre a equipe de profissionais envolvida na oferta de um
curso (há sintonia, trabalho em equipe? Ou as atividades ocorrem fragmentadas?)?
ST1: Existe sintonia, o suporte tem o papel de criar um ambiente limpo para que o docente
possa explorar os recursos. São desenvolvidas capacitações para os docentes aprenderem a
164

utilizar as ferramentas do AVA, como jogos, caça-palavras, forca, quiz, enquete, pesquisas de
avaliação, wikis, entre outras.
ST2: Existe sintonia, toda a equipe tenta resolver as demandas dos alunos da forma mais ágil
possível. O suporte também interage com os professores, coordenadores de Polo, tutores e
secretaria, que muitas vezes, têm problemas na configuração do Moodle, dúvidas na
ferramenta, esquecimento de senha.
165

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – ENTREVISTAS

Prezado(a) Professor(a),

Eu, Eucidio Pimenta Arruda, professor e orientador, e a mestranda Marina Rodrigues


Ramos, da Faculdade de Educação da UFMG, temos o prazer de convidá-la(o) a participar da
pesquisa: “Interatividade e afetividade na EaD: dimensões dos processos educativos em
cursos de graduação”.

O objetivo dessa pesquisa é analisar como são estabelecidas as relações de


interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores da educação a distância
(aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma estas relações contribuem
para o processo de ensino e aprendizagem.

Estamos te convidando a participar desta pesquisa devido a sua atuação como professor (a)
no(s) curso(s) a distância nesta instituição.

Embora saibamos que o projeto poderá oferecer algum incômodo, estaremos atentos de modo
a corrigi-los, visando propiciar situações em que todos se sintam à vontade para se
expressarem.

Diante das normas do Comitê de Ética da Pesquisa da UFMG, informamos que os


dados coletados na entrevista serão confidenciais e utilizados unicamente para fins dessa
pesquisa, podendo ser divulgadas em congressos, simpósios, seminários, revistas, livros e na
dissertação de Mestrado de Marina Rodrigues Ramos. As informações e dados obtidos serão
gravados e arquivados pelas pesquisadoras pelo prazo de cinco anos. Sua identidade ficará
preservada por meio do uso de um nome fictício e você não terá nenhum custo com a
pesquisa. Esclarecemos, ainda, que a qualquer momento você poderá pedir esclarecimentos
sobre ela e até mesmo se recusar a continuar participando.

Desde já, agradecemos a sua colaboração.

Caso você concorde em participar da pesquisa, pedimos que preencha o termo abaixo e assine
esse documento.

_______________________________________
Eucidio Pimenta Arruda
Pesquisador responsável

______________________________________________
Marina Rodrigues Ramos
Mestranda – Pesquisadora Corresponsável
Eu,________________________________________________________________________
___, RG _________________, declaro que fui consultado(a) pelos responsáveis pelo projeto
de pesquisa, Eucido Pimenta Arruda, telefone (31) 3409-4051 e-mail: eucidio@gmail.com e
Marina Rodrigues Ramos, telefone, (31) 99249-7891 e-mail:
rodriguesramosmarina@gmail.com, e respondi positivamente à sua demanda de realizar a
coleta de dados de sua pesquisa por meio de uma entrevista. Terei liberdade para manifestar
166

minha adesão ou não ao projeto, sem qualquer prejuízo. Entendi as informações fornecidas
pelas pesquisadoras e sinto-me esclarecido(a) para participar. Assim sendo, concordo em
participar da pesquisa, com meu consentimento livre e esclarecido.

____________________________________________________________
Local e data

________________________________________________________________

Assinatura do(a) professor(a) entrevistado(a)

COEP – Comitê de Ética em Pesquisa – Universidade Federal de Minas Gerais – Av. Antônio
Carlos, 6627 – Unidade Administrativa II – 2º andar, sala 2005 – Campus Pampulha – Belo
Horizonte, MG – telefax: (031) 3409-4592, e-mail: <coep@prpq.ufmg.br>.
167

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – ENTREVISTA

Prezado(a) aluno(a),

Eu, Eucidio Pimenta Arruda, professor e orientador, e a mestranda Marina Rodrigues


Ramos, da Faculdade de Educação da UFMG, temos o prazer de convidá-la(o) a participar da
pesquisa: “Interatividade e afetividade na EaD: dimensões dos processos educativos em
cursos de graduação”.

O objetivo dessa pesquisa é analisar como são estabelecidas as relações de


interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores da educação a distância
(aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma estas relações contribuem
para o processo de ensino e aprendizagem.

Estamos te convidando a participar desta pesquisa devido a sua atuação como aluno(a) nos
cursos de licenciatura a distância nesta instituição.

Embora saibamos que o projeto poderá oferecer algum incômodo, estaremos atentos de modo
a corrigi-los, visando propiciar situações em que todos se sintam à vontade para se
expressarem.

Diante das normas do Comitê de Ética da Pesquisa da UFMG, informamos que os


dados coletados na entrevista serão confidenciais e utilizados unicamente para fins dessa
pesquisa, podendo ser divulgadas em congressos, simpósios, seminários, revistas, livros e na
dissertação de Mestrado de Marina Rodrigues Ramos. As informações e dados obtidos serão
gravados e arquivados pelas pesquisadoras pelo prazo de cinco anos. Sua identidade ficará
preservada por meio do uso de um nome fictício e você não terá nenhum custo com a
pesquisa. Esclarecemos, ainda, que a qualquer momento você poderá pedir esclarecimentos
sobre ela e até mesmo se recusar a continuar participando.

Desde já, agradecemos a sua colaboração.

Caso você concorde em participar da pesquisa, pedimos que preencha o termo abaixo e assine
esse documento.

_______________________________________
Eucidio Pimenta Arruda
Pesquisador responsável

______________________________________________
Marina Rodrigues Ramos
Mestranda – Pesquisadora Corresponsável

Eu,________________________________________________________________________
___, RG _________________, declaro que fui consultado(a) pelos responsáveis pelo projeto
de pesquisa, Eucido Pimenta Arruda, telefone (31) 3409-4051 e-mail: eucidio@gmail.com e
Marina Rodrigues Ramos, telefone, (31) 99249-7891 e-mail:
rodriguesramosmarina@gmail.com, e respondi positivamente à sua demanda de realizar a
coleta de dados de sua pesquisa por meio de uma entrevista. Terei liberdade para manifestar
168

minha adesão ou não ao projeto, sem qualquer prejuízo. Entendi as informações fornecidas
pelas pesquisadoras e sinto-me esclarecido(a) para participar. Assim sendo, concordo em
participar da pesquisa, com meu consentimento livre e esclarecido.

____________________________________________________________
Local e data

________________________________________________________________

Assinatura do(a) aluno(a) entrevistado(a)

COEP – Comitê de Ética em Pesquisa – Universidade Federal de Minas Gerais – Av. Antônio
Carlos, 6627 – Unidade Administrativa II – 2º andar, sala 2005 – Campus Pampulha – Belo
Horizonte, MG – telefax: (031) 3409-4592, e-mail: <coep@prpq.ufmg.br>.
169

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – ENTREVISTA

Prezado(a) tutor(a),

Eu, Eucidio Pimenta Arruda, professor e orientador, e a mestranda Marina Rodrigues


Ramos, da Faculdade de Educação da UFMG, temos o prazer de convidá-la(o) a participar da
pesquisa: “Interatividade e afetividade na EaD: dimensões dos processos educativos em
cursos de graduação”.

O objetivo dessa pesquisa é analisar como são estabelecidas as relações de


interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores da educação a distância
(aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma estas relações contribuem
para o processo de ensino e aprendizagem.

Estamos te convidando a participar desta pesquisa devido a sua atuação como tutor (a) no(s)
curso(s) a distância nesta instituição.

Embora saibamos que o projeto poderá oferecer algum incômodo, estaremos atentos de modo
a corrigi-los, visando propiciar situações em que todos se sintam à vontade para se
expressarem.

Diante das normas do Comitê de Ética da Pesquisa da UFMG, informamos que os


dados coletados na entrevista serão confidenciais e utilizados unicamente para fins dessa
pesquisa, podendo ser divulgadas em congressos, simpósios, seminários, revistas, livros e na
dissertação de Mestrado de Marina Rodrigues Ramos. As informações e dados obtidos serão
gravados e arquivados pelas pesquisadoras pelo prazo de cinco anos. Sua identidade ficará
preservada por meio do uso de um nome fictício e você não terá nenhum custo com a
pesquisa. Esclarecemos, ainda, que a qualquer momento você poderá pedir esclarecimentos
sobre ela e até mesmo se recusar a continuar participando.

Desde já, agradecemos a sua colaboração.

Caso você concorde em participar da pesquisa, pedimos que preencha o termo abaixo e assine
esse documento.

_______________________________________
Eucidio Pimenta Arruda
Pesquisador responsável

______________________________________________
Marina Rodrigues Ramos
Mestranda – Pesquisadora Corresponsável

Eu,________________________________________________________________________
___, RG _________________, declaro que fui consultado(a) pelos responsáveis pelo projeto
de pesquisa, Eucido Pimenta Arruda, telefone (31) 3409-4051 e-mail: eucidio@gmail.com e
Marina Rodrigues Ramos, telefone, (31) 99249-7891 e-mail:
rodriguesramosmarina@gmail.com, e respondi positivamente à sua demanda de realizar a
coleta de dados de sua pesquisa por meio de uma entrevista. Terei liberdade para manifestar
170

minha adesão ou não ao projeto, sem qualquer prejuízo. Entendi as informações fornecidas
pelas pesquisadoras e sinto-me esclarecido(a) para participar. Assim sendo, concordo em
participar da pesquisa, com meu consentimento livre e esclarecido.

____________________________________________________________
Local e data

________________________________________________________________

Assinatura do(a) tutor(a) entrevistado(a)

COEP – Comitê de Ética em Pesquisa – Universidade Federal de Minas Gerais – Av. Antônio
Carlos, 6627 – Unidade Administrativa II – 2º andar, sala 2005 – Campus Pampulha – Belo
Horizonte, MG – telefax: (031) 3409-4592, e-mail: <coep@prpq.ufmg.br>.
171

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – ENTREVISTA

Prezado(a) secretário(a),

Eu, Eucidio Pimenta Arruda, professor e orientador, e a mestranda Marina Rodrigues


Ramos, da Faculdade de Educação da UFMG, temos o prazer de convidá-la(o) a participar da
pesquisa: “Interatividade e afetividade na EaD: dimensões dos processos educativos em
cursos de graduação”.

O objetivo dessa pesquisa é analisar como são estabelecidas as relações de


interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores da educação a distância
(aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma estas relações contribuem
para o processo de ensino e aprendizagem.

Estamos te convidando a participar desta pesquisa devido a sua atuação como secretário (a)
no(s) curso(s) a distância desta instituição.

Embora saibamos que o projeto poderá oferecer algum incômodo, estaremos atentos de modo
a corrigi-los, visando propiciar situações em que todos se sintam à vontade para se
expressarem.

Diante das normas do Comitê de Ética da Pesquisa da UFMG, informamos que os


dados coletados na entrevista serão confidenciais e utilizados unicamente para fins dessa
pesquisa, podendo ser divulgadas em congressos, simpósios, seminários, revistas, livros e na
dissertação de Mestrado de Marina Rodrigues Ramos. As informações e dados obtidos serão
gravados e arquivados pelas pesquisadoras pelo prazo de cinco anos. Sua identidade ficará
preservada por meio do uso de um nome fictício e você não terá nenhum custo com a
pesquisa. Esclarecemos, ainda, que a qualquer momento você poderá pedir esclarecimentos
sobre ela e até mesmo se recusar a continuar participando.

Desde já, agradecemos a sua colaboração.

Caso você concorde em participar da pesquisa, pedimos que preencha o termo abaixo e assine
esse documento.

_______________________________________
Eucidio Pimenta Arruda
Pesquisador responsável

______________________________________________
Marina Rodrigues Ramos
Mestranda – Pesquisadora Corresponsável

Eu,________________________________________________________________________
___, RG _________________, declaro que fui consultado(a) pelos responsáveis pelo projeto
de pesquisa, Eucido Pimenta Arruda, telefone (31) 3409-4051 e-mail: eucidio@gmail.com e
Marina Rodrigues Ramos, telefone, (31) 99249-7891 e-mail:
rodriguesramosmarina@gmail.com, e respondi positivamente à sua demanda de realizar a
coleta de dados de sua pesquisa por meio de uma entrevista. Terei liberdade para manifestar
172

minha adesão ou não ao projeto, sem qualquer prejuízo. Entendi as informações fornecidas
pelas pesquisadoras e sinto-me esclarecido(a) para participar. Assim sendo, concordo em
participar da pesquisa, com meu consentimento livre e esclarecido.

____________________________________________________________
Local e data

________________________________________________________________

Assinatura do(a) secretário(a) entrevistado(a)

COEP – Comitê de Ética em Pesquisa – Universidade Federal de Minas Gerais – Av. Antônio
Carlos, 6627 – Unidade Administrativa II – 2º andar, sala 2005 – Campus Pampulha – Belo
Horizonte, MG – telefax: (031) 3409-4592, e-mail: <coep@prpq.ufmg.br>.
173

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – ENTREVISTA

Prezado(a) suporte técnico,

Eu, Eucidio Pimenta Arruda, professor e orientador, e a mestranda Marina Rodrigues


Ramos, da Faculdade de Educação da UFMG, temos o prazer de convidá-la(o) a participar da
pesquisa: “Interatividade e afetividade na EaD: dimensões dos processos educativos em
cursos de graduação”.

O objetivo dessa pesquisa é analisar como são estabelecidas as relações de


interatividade e afetividade nos processos que envolvem os atores da educação a distância
(aluno, professor, tutor e equipe de profissionais) e de que forma estas relações contribuem
para o processo de ensino e aprendizagem.

Estamos te convidando a participar desta pesquisa devido a sua atuação como suporte técnico
(a) no(s) curso(s) a distância desta instituição.

Embora saibamos que o projeto poderá oferecer algum incômodo, estaremos atentos de modo
a corrigi-los, visando propiciar situações em que todos se sintam à vontade para se
expressarem.

Diante das normas do Comitê de Ética da Pesquisa da UFMG, informamos que os


dados coletados na entrevista serão confidenciais e utilizados unicamente para fins dessa
pesquisa, podendo ser divulgadas em congressos, simpósios, seminários, revistas, livros e na
dissertação de Mestrado de Marina Rodrigues Ramos. As informações e dados obtidos serão
gravados e arquivados pelas pesquisadoras pelo prazo de cinco anos. Sua identidade ficará
preservada por meio do uso de um nome fictício e você não terá nenhum custo com a
pesquisa. Esclarecemos, ainda, que a qualquer momento você poderá pedir esclarecimentos
sobre ela e até mesmo se recusar a continuar participando.

Desde já, agradecemos a sua colaboração.

Caso você concorde em participar da pesquisa, pedimos que preencha o termo abaixo e assine
esse documento.

_______________________________________
Eucidio Pimenta Arruda
Pesquisador responsável

______________________________________________
Marina Rodrigues Ramos
Mestranda – Pesquisadora Corresponsável

Eu,________________________________________________________________________
___, RG _________________, declaro que fui consultado(a) pelos responsáveis pelo projeto
de pesquisa, Eucido Arruda, telefone (31) 3409-4051 e-mail: eucidio@gmail.com e Marina
Rodrigues Ramos, telefone, (31) 99249-7891 e-mail: rodriguesramosmarina@gmail.com, e
respondi positivamente à sua demanda de realizar a coleta de dados de sua pesquisa por meio
de uma entrevista. Terei liberdade para manifestar minha adesão ou não ao projeto, sem
174

qualquer prejuízo. Entendi as informações fornecidas pelas pesquisadoras e sinto-me


esclarecido(a) para participar. Assim sendo, concordo em participar da pesquisa, com meu
consentimento livre e esclarecido.

____________________________________________________________
Local e data

________________________________________________________________

Assinatura do(a) técnico(a) entrevistado(a)

COEP – Comitê de Ética em Pesquisa – Universidade Federal de Minas Gerais – Av. Antônio
Carlos, 6627 – Unidade Administrativa II – 2º andar, sala 2005 – Campus Pampulha – Belo
Horizonte, MG – telefax: (031) 3409-4592, e-mail: <coep@prpq.ufmg.br>.

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