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Para minha professora de literatura que me ensinou

sobre o romantismo
⚸Orexia
/cs/
substantivo feminino
desejo, vontade de comer; apetite.

Seus dedos trêmulos traçam linhas invisíveis, buscando o pulsar das


veias, o calor vital, o líquido escarlate que flui como rios ocultos. É a
dança da sede, o ritmo do desejo, a sinfonia silenciosa da noite. Ela
não é predadora, mas sim amante, afagando o mistério do sangue em
suas mãos.

Lana, uma jovem garota, sua pele cor de ébano brilha com o cintilar da
lua. Dona de um olhar vazio, suas roupas com correntes rangem pela
casa. Ela está sozinha... Não totalmente. As vozes de sua cabeça
imploram por atenção. As vozes sussurram, e o cérebro dança com
imagens vermelhas. Cada batida do coração é um convite para a
escuridão.

O gosto metálico do sangue é como uma canção ancestral, ecoando na


mente. Ela se pergunta: quantas gotas até a saciedade? As vozes a
instigam, sussurrando segredos antigos. Dizem que o sangue é a chave
para a compreensão mais profunda da vida. A língua anseia pelo toque
do líquido carmesim. É como se o próprio universo estivesse contido
em cada gota.

“Calem a boca!” – Sua voz ecoa pela casa vazia.

Silêncio.

A cacheada podia escutar seu coração batendo, seu corpo pulsando e o


vento uivando.

As vozes se calaram...

Por enquanto.
⚸Sonder
(N.)

a percepção de que cada transeunte aleatório

está vivendo uma vida tão vívida e complexa quanto a sua

Um mosaico de vidas entrelaçadas, Cada peça, uma história, um


segredo guardado. As paredes invisíveis desvanecem, Revelando almas,
sonhos, medos compartilhados.A senhora apressada, solitária talvez, O
homem de terno, inseguranças escondidas. O jovem estudante, livros e
esperanças, Todos carregam suas bagagens invisíveis.
A estranha sensação de perceber que outras pessoas tem uma vida,
um sonho, sentimentos e emoções. Lana é obcecada por isso, obcecada
por saber o que as pessoas sentem, o que elas fazem , quem elas se
importam. A jovem escolhe uma pessoa, a mais normal, a mais mundana,
a que passa despercebida aos olhos dos outros, e se apaixona, se apaixona
pelas manias, pelos gostos, pelos sentimentos sejam negativos ou
positivos, ela nunca chega na pessoa, mas descobre tudo sobre ela, e
quando percebe que a pessoa se tornou previsível ela procura outra.
A cacheada acha seu próximo amor, uma bibliotecária, não muito
jovem mas também não muito velha, olhos verdes e sardas, sempre de
cara fechada e mal educada, Lana se interessa, o que a faz sempre estar
com cara fechada? O que a faz sair todo dia 15 minutos mais cedo da hora
do almoço? O que a faz estralar os dedos toda vez que um homem entra ?
O que a faz sempre trançar o cabelo? Ela descobre tudo isso, passa
semanas a observando, semanas a seguindo, semanas reparando em cada
mania, cada detalhe, e cada vez Lana se apaixona mais…
Como sempre sua obsessão é passageira, quando ela começa a entender
que ela não é mau humorada porque quer e tenta ser educada e gentil mas
não consegue por nunca ter sido tratada com amor na infância, quando
ela descobre que ela tem uma irmã em casa e precisa sair mais cedo para
fazer o almoço para elas , quando ela descobre que ela tem problemas com
o pai e tem medo de homens, quando ela descobre que as tranças são o
único jeito que ela se acha bonita, tudo deixa de ser interessante.
Depois dela veio um advogado tímido, uma moradora de rua, um
médico que não consegue ver cores, e várias outras paixões passageiras.
Tudo na vida dela acaba, tudo na vida dela ela se enjoa, menos seu amor
pelos seres humanos, seu amor pelas imperfeições, seu amor obsessivo.
⚸Alexitimia
substantivo feminino

Incapacidade ou dificuldade excessiva para descrever,

para verbalizar os próprios sentimentos, sensações, emoções.

Na penumbra dos sentimentos, onde as palavras se escondem, a


alma vagueia em busca de respostas, mas os lábios permanecem mudos. A
teia que nos prende é composta por fios invisíveis que sufocam o coração,
uma dança incessante entre desejo e medo, um vórtice que nos consome
sem piedade. Nesse oceano de emoções não nomeadas, as lágrimas secam
antes de cair, e o silêncio se torna a única língua conhecida. Na escuridão
dessa dualidade, o amor se transforma em prisão, e a paixão, em
correntes invisíveis que nos arrastam para o abismo da alma.
Todos têm sua unicidade, mas padrões se repetem. Lana, tão focada em
suas obsessões passageiras, deixa passar detalhes despercebidos aos
olhos. Ao voltar para casa após um longo dia, ela pega um motorista de
aplicativo. O que Lana não percebe é que ele é o mesmo de ontem, o
mesmo de anteontem e o de antes disso. O mesmo homem, com pele
acinzentada, olhos castanhos e trajes sociais. Ele a deixa na porta de casa
como de costume, mas desta vez algo diferente acontece:
“O que você está fazendo?!” – Pergunta Lana exaltada quando o homem
desce do carro junto a ela e fica em sua frente.
Ele havia cansado de apenas observá-la, de ser invisível. Ele era igual a
ela, um amante de imperfeições. No entanto, diferente de Lana, ele queria
ser visto, queria ser uma parte da história das pessoas e não um mero
figurante.
“Lana Mendes Coelho, 21 anos, trabalha com assistência social, coça o
pescoço quando está nervosa, assim como está fazendo agora. Você gosta
de amar pessoas, conhecê-las, descobrir todas as suas imperfeições. Eu te
entendo, sou assim também” – ele segura o pulso dela – “Eu quero fazer
parte da sua vida, marcar você, assim como você marcou a minha vida.”
“Me solta!” – Ela tenta puxar seu pulso mas antes que conseguisse ela
sente algo perfurar seu braço, algo rasgando sua pele
Dentes… Não
Presas.
A dor lateja em pulso , o liqüido carmesim escorre pela pele
Ela se solta
Em choque sem reação ela corre para casa e liga para polícia
Eles não atendem
⚸Metanoia
/ói/

substantivo feminino

1. mudança essencial de pensamento ou de caráter

A noite se estendia como um manto escuro, envolvendo Lana em seus


braços gélidos. A ferida em seu braço, agora infectada, pulsava com uma
dor lancinante. Ela resistia à tentação de limpar o sangue coagulado,
deixando-o secar e formar uma crosta. A sensação de queimar, de ter a
pele rasgada, era uma âncora para a realidade. Como poderia esquecer o
momento em que o stalker obsessivo a atacara? Seus dentes afundando na
carne, a agonia e o terror.
A metamorfose da razão acontecia dentro dela. Os pensamentos, antes
lúcidos e ordenados, agora se contorciam como lâminas afiadas.
Cortavam sua consciência, deixando marcas gravadas em sua mente. Ela
se debatia, lutava contra a escuridão que a envolvia. O abismo a atraía,
sussurrando: “Machuque, destrua, não saia”. Mas havia uma centelha, um
último fio de sanidade, que a fazia resistir. Buscar a luz na escuridão.
Os dias se arrastavam, e Lana permanecia reclusa em sua casa. O medo
não era dos outros, mas dela mesma. Pensamentos intrusivos a
assombravam, ordenando-a a fazer coisas antiéticas. Ela sentia o desejo
de amar, de conhecer pessoas e suas falhas. Mas sabia que, se saísse,
perderia o controle. A escuridão dentro dela era como um poço sem
fundo, e ela temia o que encontraria lá embaixo.
Lana estava cansada, com sono, com fome. O coração pulsava, teimoso,
insistindo em continuar batendo. Ela queria a luz, mas também temia o
que encontraria quando a alcançasse. Afinal, a sanidade era uma linha
tênue, e ela caminhava sobre ela, à beira do abismo. E Lana se
perguntava: até onde iria para encontrar a redenção? Até onde iria para
salvar a si mesma?
Os dias se transformaram em semanas, e Lana não saía de casa. A ferida
em seu braço supurava, o pus escorrendo como uma lembrança viva do
ataque. Ela não conseguia mais distinguir entre realidade e alucinação. As
vozes sussurravam incessantemente, ecoando em sua mente. “Machuque,
destrua, não saia”, repetiam. Ela se via em um espelho quebrado,
fragmentada em pedaços de insanidade.
A luz do sol não mais atraía Lana. Ela preferia a penumbra, onde os
contornos se dissolviam e as sombras dançavam. O abismo a chamava
com uma voz sedutora, prometendo o esquecimento. Mas a centelha de
sanidade ainda brilhava, frágil como uma vela prestes a se apagar. Ela não
queria morrer, mas também não queria viver assim.
Uma noite, quando a lua estava alta no céu, Lana tomou sua decisão. Ela
se levantou da cama, cambaleando, e atravessou o corredor escuro. A
cozinha estava à sua frente, e na gaveta havia uma faca afiada. Ela a
segurou com mãos trêmulas, olhando para o brilho prateado da lâmina.
Era hora de acabar com o tormento.
Lana pressionou a faca contra seu peito, sentindo a resistência da carne. O
sangue escorreu, quente e libertador. Ela caiu no chão, o mundo girando
ao seu redor. A escuridão a envolveu, e as vozes finalmente silenciaram. A
centelha de sanidade se apagou.
⚸Ambedo
transe melancólico no qual você se torna completamente

absorto por pequenos detalhes sensoriais o que, por fim,

leva a uma avassaladora constatação da fragilidade da vida.

Na penumbra da noite, Lana despertou. Seu corpo, agora etéreo, ansiava


por algo que não podia nomear. O braço, antes marcado pela dor, estava
curado, mas uma nova fome a consumia. Confusa, ela havia se matado,
encerrado sua dor, encerrado seu sofrimento, mas estava de volta, e não
entendia muito bem. A noite se passou, e ela não dormiu. O sol bateu em
sua janela, a luz do sol, outrora acolhedora, agora a feria como brasas
ardentes. Mas não doía tanto quanto sua fome.
Sua língua desejava a macies da carne e o frescor do sangue, desejava
arrancar com os próprios dentes afiados, ela queria deixar sua marca em
algo enquanto se saciava
A jovem esperou a noite para deslizar pelas ruas, seus passos silenciosos
como o sussurro do vento. Seus olhos, famintos e vazios, buscavam o que
não podiam ver.
Lana emergiu da escuridão, seus olhos escuros varrendo a multidão. O
mundo parecia um quadro em tons de cinza, exceto por ela. A garota. Seu
rosto redondo e cabelos castanhos brilhavam como uma estrela solitária.
Lana não conseguia desviar o olhar. Ela se aproximou, mas antes que
pudesse dizer uma palavra, a garota desapareceu na maré humana.
A vampira sabia o que procurar após se alimentar, mas por agora Lana
sabia até onde devia ir…
Biblioteca, bibliotecária. A jovem a observava há meses, estudando seus
hábitos, seus segredos. Ela era o alvo perfeito. Lana se aproximou, os
passos silenciosos como as asas de uma coruja noturna. A bibliotecária
estava sozinha na sala dos fundos. Seus olhos encontraram os de Lana, e
algo passou entre elas. Medo? Reconhecimento? Lana não sabia, mas não
importava. Ela estava faminta. Ela ataca…
Os lábios da bibliotecária eram macios, o sangue quente e doce. Lana
bebeu, sentindo a vida fluir para dentro dela. E então, no auge da
saciedade, a imagem da garota desconhecida surgiu em sua mente. Ela
imaginou a garota ali, sob seus lábios, oferecendo-se a Lana. A fome se
transformou em desejo, e Lana soube que estava condenada. Ela não era
apenas uma vampira. Ela era uma criatura apaixonada, escrava de sua
obsessão.
⚸Aimonimia
O medo de que aprender o nome de algo

vai estragar tudo, transformando uma descoberta do acaso

em uma casca conceitual vazia

Os ecos nos seus sentidos, Dos seus afetos doentes, São mais longos, mais compridos, Do que
rastos de serpentes. Nascida profunda e pegada, A turbilhões de aflição: Na cara traz estampado
O seu perfil de obsessão. Trouxe consigo o espinho essencial de ser consciente, A vaga náusea, a
doença incerta, de se sentir. Sempre esta inquietação mordida aos bocados, Como pão ralo
escuro, que se esfarela caindo. A impetuosidade passageira a decepção com a previsibilidade, a
necessidade de imperfeições e perfeições, a necessidade de humanidade.

A imagem da garota não sai de sua cabeça cada curva, cada dobra de seu corpo está impregnada
em sua mente, ela queria achá-la, queria saber cada detalhe, cada falha, cada obsessão, cada
gosto. Mas ela sabia , sabia que se fosse fazer a mesma coisa de sempre iria se cansar, enjoar,
perder o brilho, Lana queria manter essa sensação de mistério, essa sensação de curiosidade.
Ademais não se aguentou…

Voltara aonde havia visto-a, no centro da cidade, nas ruas emboladas cheias de pessoas, a
procura de alguma pista, algo que a levasse a mulher. Depois de muito andar, muito procurar,,
ela finalmente a encontra em uma floricultura, parece que a jovem trabalhava lá.

O receio penetrava em sua espinha, entrar? Não entrar? Era uma dúvida cruel, e ela decidira não
entrar…

O sol se tornara um empecilho para sua perseguição ela se escondia na sombra de sua
sombrinha , espreitando , observando, admirando. a obsessão a corroía, como um verme
insaciável que se alimentava de suas entranhas. Cada passo em direção à floricultura era um ato
de sacrifício, uma oferenda aos deuses da curiosidade e do desejo. O medo de perder o encanto,
de desvendar os mistérios que envolviam aquela mulher, a atormentava. Ela queria conhecê-la,
mas também temia que a realidade pudesse desfazer o feitiço que a mantinha cativa.

A porta de vidro parecia um portal para outro mundo. Lana observava, escondida na sombra,
enquanto os clientes entravam e saíam. Seus olhos se fixaram na jovem, que manuseava
delicadamente as flores. Os dedos pequenos e grossos tocavam as pétalas com reverência, como
se cada flor guardasse um segredo.

Ela notou os cabelos castanhos, presos em um coque despretensioso. A pele, pálida como
porcelana, contrastava com os lábios vermelhos como cerejas maduras. Os olhos, ah, os olhos…
Lana não conseguia desviar o olhar. Eram da cor do oceano profundo, um azul intenso que
parecia esconder abismos de mistério. O rosto redondo, bochechas macias , tudo parecia
encantador

A jovem usava um vestido floral, com padrões de rosas e lírios entrelaçados. Lana imaginou o
cheiro das flores impregnado no tecido, como se a própria natureza a envolvesse. Os
movimentos graciosos, quase etéreos, faziam-na parecer uma criatura saída de um sonho.
Mas o que mais a intrigava eram as cicatrizes. Lana notou uma pequena marca no pulso da
jovem, quase imperceptível. Uma lembrança de algum passado doloroso? Ou apenas um
acidente banal? Ela queria saber, precisava saber. Mas o medo a paralisava.

A jovem olhou na direção da porta, como se sentisse a presença de Lana. Seus olhos
encontraram os dela por um breve instante. Lana sentiu o coração disparar, como se tivesse sido
atingida por um raio. A mulher sorriu, um sorriso enigmático que fez o mundo girar ao redor de
Lana.

Ela não podia mais recuar. A obsessão a impelia para frente. Com mãos trêmulas, empurrou a
porta de vidro e entrou na floricultura. O sino tilintou, anunciando sua chegada. A jovem olhou-
a novamente, e Lana soube que estava prestes a descobrir segredos que mudariam sua vida para
sempre.

“ Olá boa tarde vim a procura de um vaso de flores, dizem que cada flor tem um significado
próprio, poderia me auxiliar?” – Diz se dirigindo ao balcão

“Ah, seja bem vinda, claro que posso lhe ajudar, que tipo de flor está procurando? Que signifique
alegria? Calma? Plenitude? Amor?…” – Começa a citar e apontar para flores perto delas, uma
jarra de flores copo de leite, um ramo de rosas, e girassóis em vaso

“Talvez um sentimento um pouco mais forte que amor” – Os olhos de Lana engoliam a florista

“Err, que tal Angélicas? A Angélica, com sua beleza misteriosa e aroma intenso, representa a
intensidade e a fixação de sentimentos, incluindo a obsessão e luxúria” – A jovem começou meio
nervosa com o olhar de Lana, mas a medida que ia falando se empolgava

A vampira sorriu

“Perfeito, quanto que fica?”

“ 5 moedas”

Lana apenas deixa o dinheiro e se dirige para saída

“Senhora! E as flores” – Exclama a florista saindo do balcão com o vaso

“São pra você “ – responde quase saindo

Ela para por um instante e as bochechas da florista tomam uma cor avermelhada , a florista a
alcança e pergunta

“ Como pode me dar uma flor sem ao menos eu saber seu nome?!”

A cacheada finalmente sai da floricultura deixando somente uma palavra para trás

“Lana…”

A florista para por um segundo vendo Lana ir em bora

“ Eu sou Julieta…” – murmura

Julieta…

Julieta…

Julieta…

Isso estava se tornando mais interessante


⚸ Anchorage
O desejo de segurar o tempo enquanto ele passa,

como tentar se segurar em uma pedra no meio de um rio com muita correnteza.

O aroma de rosas vermelhas pairava no ar, impregnando a penumbra do


quarto de Lana. A luz da lua entrava pelas frestas das cortinas,
desenhando linhas prateadas no chão, ela estava sentada na cama.
Julieta.
O nome ecoava em sua mente como uma canção melancólica. A imagem
de seus lábios vermelhos, da pele alva como leite e dos olhos azuis como o
oceano profundo a perseguia. Lana sentia uma mistura de desejo e medo,
como se estivesse à beira de um precipício.
A obsessão a consumia.
Ela precisava saber mais sobre Julieta. Mas como fazer isso sem revelar
sua verdadeira natureza? Lana ponderou por horas, até que uma ideia
surgiu em sua mente.
No dia seguinte, ela voltou à floricultura. Desta vez, ela era ela mesma.
Seus cabelos cacheados estavam soltos e livres, seus olhos estavam
maquiados com tons terrosos e seus lábios estavam nus. Ela usava um
vestido vermelho que realçava sua pele marrom acizentada .
Julieta a reconheceu imediatamente. Seus olhos se arregalaram e seus
lábios se entreabriram em surpresa.
"Lana,"- ela murmurou . - "O que você está fazendo aqui?"
Lana sorriu, um sorriso misterioso que fez o coração de Julieta bater mais
rápido.
"Eu vim te ver," - ela disse.- "Eu quero te conhecer."
As semanas seguintes se transformaram em um jogo de gato e rato. Lana
visitava Julieta na floricultura todos os dias, sempre com um novo
pretexto. Um dia, ela precisava de flores para um evento. No outro, ela
queria uma opinião sobre um novo projeto. Ela fingia ser uma cliente
interessada em flores, uma escritora em busca de inspiração, uma poetisa
em busca de beleza.
Julieta, por sua vez, estava intrigada. Ela nunca tinha conhecido alguém
como Lana. Era misteriosa, elegante, e havia algo nela que a atraía e a
assustava ao mesmo tempo.
Um dia, Lana finalmente se aproximou. Ela convidou Julieta para um
piquenique Sob o luar que banhava a terra em tons pálidos e
melancólicos, Julieta e Lana se reuniram à margem de um rio. As águas
escuras corriam velozes, como lágrimas derramadas por um deus
esquecido, e o vento sussurrava segredos ancestrais entre as árvores
retorcidas, que se erguiam como espectros famintos.
Julieta, usava um vestido de renda laranja que se ajustava ao seu corpo
como uma segunda pele, revelando as curvas e dobras voluptuosas de sua
silhueta. As mangas bufantes caíam delicadamente sobre seus ombros.
Seus lábios estavam tingidos de vermelho escuro, combinando com o
esmalte de suas unhas
Lana, trajava um vestido longo de veludo cor de vinho, que fluía como um
rio de sangue ao seu redor. As mangas largas e esvoaçantes evocavam as
asas de um corvo em pleno voo, e seu colar era uma corrente prateada
com um pingente de lua crescente, que brilhava com um brilho sinistro à
luz do luar. Ela usava botas de couro preto, com fivelas e saltos altos que
deixavam marcas profundas no solo úmido. Seus cabelos negros como a
noite caíam em ondas sedosas sobre seus ombros.
O piquenique se desenrolou sob a copa das árvores retorcidas, que se
contorciam como se estivessem em agonia. Uma toalha xadrez foi
estendida sobre o solo úmido, e velas tremeluzentes lançavam sombras
dançantes ao redor, criando uma atmosfera lúgubre e misteriosa. As
frutas, dispostas em uma cesta de vime, eram doces e decadentes, como
promessas sussurradas ao ouvido pela própria lua. O vinho tinto, servido
em cálices de cristal, deslizava pelas gargantas das jovens, aquecendo-as
por dentro e intensificando a aura de sensualidade que pairava no ar.
Julieta ofereceu uma romã a Lana, seus dedos se tocando por um breve
instante, e uma corrente elétrica pareceu percorrer seus corpos. O suco
vermelho da fruta escorreu pelos lábios de Lana, manchando-os como
sangue fresco. Elas riram, uma risada alta e desafiante que ecoou pelos
confins da noite, como um grito de rebeldia contra os deuses e os homens.
Lana aproxima seu rosto do de Julieta tocando seu rosto gelado.
Os lábios de Lana eram frios o que contrastava com os de Julieta ,
quentes e macios. Era isso que a cacheada queria, queria ter Julieta por
completo, as línguas movimentavam de forma que encaixavam, a
dominância de Lana deixava o coração de Julieta acelerado, e por mais
irônico que seja , ela se sentia livre. O beijo era intenso, mas Lana queria
mais… contudo sabia que devia se conter e se afastou

Lana não conseguia se conter. Seus olhos percorreram a cesta de vime, e


uma fome insaciável dominou seu corpo. Ela agarrou uma maçã com
avidez, seus dedos crispando-se ao redor da fruta. Mordendo-a com
voracidade, o suco vermelho escorreu por seus lábios e pelo seu queixo,
manchando seu vestido de veludo "Ainda estou com fome", murmurou
ela, seus olhos fixos na lua, que observava a cena com um brilho sinistro.
"Preciso ir."
Ela precisava saber mais sobre Julieta, seus segredos, seus desejos, suas
obsessões.
E ela sabia que, a cada dia que passava, ela se aproximava de descobrir
tudo.
Mas mesmo assim, ainda havia um mistério em torno de Julieta que a
intrigava. Havia algo que ela não conseguia entender, algo que a deixava
curiosa.
E era essa a obsessão que a impulsionava,que a levava a voltar à
floricultura todos os dias, que a mantinha presa à florista. Lana sabia que
nunca seria completamente satisfeita.Sua obsessão era uma parte de
quem ela era, e ela havia aprendido a aceitá-la.
E era essa obsessão que a mantinha viva, que a mantinha apaixonada, que
a mantinha buscando por mais.
Lana precisava se alimentar, ela queria se alimentar, ela necessitava.
Ademais sabia que não seria Julieta, assim como não fora da última , nem
da penúltima e nem da antes dessa. Sabia que se alimentasse com Julieta
ela perderia o sentimento que está sentindo, perderia as respostas, por
mais que ter a florista por completo parecia aliciante, ela se controlaria.
Mais uma vez fora atrás de sua presa, um jovem aprendiz de uma loja de
conveniência, novo, bonito, e fresco. Ao achar ele sozinho no beco dos
fundos ela se aproxima. Ela ataca
O sangue quente descia por sua garganta , a pele um pouco rígida da boca
cedia as presas da vampira, mas no momento a única coisa que Lana
pensava era que Julieta estava ali no lugar do homem. Que ela podia
drenar até a última gota de vida mantendo a florista para si, em seu
âmago, juntas para sempre.
Mas a vampira negava isso, negava seus instintos, negava sua vontade
todo dia que visitava a floricultura, mas não sabia o quanto a negação iria
durar
⚸ Occhiolismo
(neologismo, raro)

A consciência do pequeno alcance da própria perspectiva

e da forma como ela limita a capacidade de compreender plenamente o mundo

A noite era densa, como um manto negro a encobrir a cidade adormecida.


Nas sombras, Lana observava a casa de Julieta, seus olhos ardendo com
um desejo que consumia seu ser. Há meses ela planejava este momento,
cada detalhe meticulosamente traçado em sua mente.
Lana não era uma mulher comum. Seus cabelos negros como a noite
emolduravam um rosto acinzentado outrora vivido como ébano, marcado
por olheiras profundas. Em seus olhos escuros, habitava uma obsessão
que a consumia por dentro. Julieta, a bela jovem que agora dormia
tranquilamente em sua cama, era o objeto de sua fascinação doentia.
Com passos silenciosos, Lana se aproximou da casa, como um fantasma
deslizando na escuridão. A lua, cúmplice silenciosa, banhava a cena com
uma luz prateada. Ela usava uma máscara que cobria seu rosto,
escondendo sua identidade e intensificando o mistério que a cercava.
Com destreza felina, Lana escalou a parede lateral da casa e pulou através
da janela do quarto de Julieta. A jovem dormia placidamente, alheia ao
perigo que se aproximava. Lana se aproximou da cama, seus olhos
famintos devorando cada detalhe do rosto adormecido.
De repente, Julieta se mexeu, abrindo os olhos sonolentos. Seus olhos se
depararam com a figura mascarada de Lana, e o terror a consumiu.
"Quem é você? O que quer comigo?", ela perguntou, a voz trêmula de
medo.
Lana se inclinou sobre Julieta
“Você é a minha musa", sussurrou ela, sua voz rouca. "Você me inspira,
me enlouquece. Eu te observo há tanto tempo, Julieta. Você é minha
obsessão."
Julieta se debateu, tentando se livrar da figura que a prendia, mas Lana
era forte e ágil. Com um movimento rápido, ela imobilizou Julieta,
segurando seus braços com força.
"Não lute, Julieta", disse ela. "Eu só quero te amar."
As palavras de Lana soavam como um mantra, ecoando na mente de
Julieta. Ela tentava entender o que estava acontecendo, mas o medo a
impedia de pensar com clareza.
"Isso é loucura!", ela gritou. "Me deixe ir!"
"Eu não posso te deixar ir", Lana respondeu, seus olhos cheios de uma
paixão doentia. "Você me pertence agora. Eu te amo, Julieta, e te farei
minha para sempre."
Com um sorriso Lana bateu na nuca de Julieta a apagando. Ao acordar a
florista se encontra em um local úmido e frio, o cheiro de mofo
impregnando o ar. Lana acendeu uma única lâmpada, revelando um
espaço vazio com apenas uma cama no canto e uma cadeira no centro .
"Aqui é onde você vai ficar", Lana disse, empurrando Julieta para a
cadeira. "Aqui, você estará segura e ninguém poderá te tirar de mim."
Julieta se sentou, atordoada e aterrorizada. Ela não conseguia acreditar
que sua vida havia se transformado em um pesadelo tão cruel. "Por que
você está fazendo isso comigo?", ela perguntou, as lágrimas escorrendo
pelo rosto.
Lana se ajoelhou na frente de Julieta, seus olhos fixos nos olhos da jovem.
"Porque eu te amo", ela disse, sua voz suave e melancólica. "E o amor,
Julieta, é uma obsessão. Eu preciso te ter perto de mim, mesmo que para
isso eu precise te privar da sua liberdade."
Julieta não sabia o que dizer. As palavras de Lana eram como um veneno
que se infiltrava em sua mente, corroendo sua sanidade. Ela se sentia
presa em uma teia de obsessão, incapaz de escapar.
Semanas se arrastaram na escuridão do porão. Julieta, presa em sua cela
de concreto, se acostumou à rotina solitária. Lana, sempre escondida nas
sombras, a observava pelas câmeras, sua voz rouca ecoando pelos alto-
falantes.
As conversas eram frequentes, um monólogo macabro de obsessões e
segredos. Lana narrava suas fantasias distorcidas, seus desejos macabros,
sua obsessão doentia por Julieta. Entre as histórias, revelações chocantes,
Lana confessou beber sangue humano para manter sua vitalidade
Ao ouvir as confissões de Lana, Julieta sentiu uma estranha mescla de
repulsa e fascinação. A obsessão da seqüestradora era evidente, mas
também sua fragilidade, sua solidão. A máscara, antes símbolo de terror,
agora se tornava um escudo que escondia a verdadeira face de Lana, uma
mulher marcada pela dor e pela loucura.
Com o passar dos dias, a repulsa inicial de Julieta deu lugar à compaixão.
Ela começou a ver Lana como um ser humano, não apenas como um
monstro. As histórias macabras, antes repulsivas, agora despertavam em
Julieta uma necessidade de compreender a mente perturbada da
seqüestradora.
Em um desses diálogos, Julieta finalmente perguntou: "Por quê?". A voz
de Lana, carregada de tristeza, respondeu: "Eu já lhe contei, eu te amo. E
o amor, Julieta, é uma obsessão que me consome, assim como o amor das
Angélicas ."
As palavras de Lana tocaram o coração de Julieta. Ela se viu diante de
uma mulher dilacerada pela obsessão, aprisionada em um mundo de
ilusões. A compaixão floresceu em seu coração, substituindo o medo.
Em um gesto de inesperada empatia, Julieta disse: "Eu te escuto, Lana.
Eu compreendo sua dor."
Na escuridão do porão, um fio de esperança se acendeu. A obsessão de
Lana ainda era uma força poderosa, mas a compaixão de Julieta também
era. Uma batalha silenciosa se iniciava, uma batalha pela alma de Lana,
travada entre a luz e a escuridão, entre o amor e a obsessão.
⚸ Opia
Etimologia (origem da palavra ópia).

Do latim oppia

Esta é a sensação que você tem quando olha para alguém nos olhos,
e percebe que está ficando mais vulnerável...

O ar fétido do porão úmido era um soco no estômago, impregnando-se em


cada fibra do ser de Julieta. Um sudário de mofo e sangue que se agarrava
à sua pele, um lembrete constante do horror que a cercava. A luz do sol,
outrora fonte de vida e calor, era apenas uma lembrança distante, um raio
solitário que se infiltrava por uma rachadura na parede, lançando longas
sombras que dançavam macabramente no chão empoeirado. As paredes
gemiam sob o peso da terra, como se estivessem vivas e sofrendo junto
com ela. Cada som, cada movimento, era amplificado no silêncio
claustrofóbico, ecoando nas profundezas do seu ser, um tambor ecoando a
sua agonia.
Julieta se sentou encolhida no canto, seus olhos arregalados de terror
fixos em Lana, sua captadora. Uma figura esguia que se movia com uma
graça macabra pela penumbra do porão, seus passos silenciosos como os
de um fantasma. Seus olhos, escuros como a noite, escondiam segredos
que Julieta ansiava desvendar, um poço sem fundo que a atraía e a repelia
ao mesmo tempo. Sua voz, ora suave como seda, ora áspera como aço, era
como um mantra que a enfeitiçava e a aprisionava.
As histórias que Lana contava eram macabras, teias de obsessão que a
envolviam e a aprisionavam. Cada palavra, cada detalhe horripilante, cada
descrição dos desejos doentios de Lana era como um punhal que rasgava
sua alma, mas que ao mesmo tempo a excitava. A tênue linha entre o certo
e o errado se dissolveu em um turbilhão de repulsa e fascinação, sanidade
e loucura. Uma dança macabra que a consumia por dentro.
Em uma noite úmida, sob o luar pálido que se infiltrava pelas rachaduras
da parede, Lana removeu a máscara que sempre escondia seu rosto.
Lágrimas brotaram em seus olhos, revelando uma alma atormentada pela
culpa e pelo remorso.
"Olhe para mim, Julieta", Lana implorou, sua voz quebrada pela angústia.
"Veja o que o amor fez comigo.”
As palavras de Lana ecoaram na mente de Julieta, mas não despertaram a
repulsa que ela esperava. Em vez disso, uma estranha compaixão tomou
conta de seu coração. Uma compaixão que se misturava com o medo, a
fascinação e a obsessão que a consumiam.
"Eu te amo, Lana", Julieta sussurrou, acariciando o rosto pálido de sua
captadora. "Eu te amo do jeito que você é."
Um sorriso triste surgiu nos lábios de Lana. Ela abraçou Julieta com
força, como se estivesse se afogando em um mar de desespero. Um abraço
que era um pedido de ajuda, um grito silencioso de uma alma dilacerada.
Nos dias que se seguiram, Julieta se tornou cada vez mais dependente de
Lana. As histórias macabras deram lugar a um silêncio melancólico, um
prenúncio do fim que se aproximava. Um fim que Julieta não queria
enfrentar, pois a obsessão que a prendia à sua captadora era agora uma
parte de si mesma. Uma sinfonia de cativeiro que a acompanharia até o
último suspiro.
As semanas se transformaram em meses, e os meses em anos. Julieta se
adaptou à escuridão do porão e à companhia de Lana. A obsessão que a
prendia à sua captadora se tornou uma teia da qual ela não conseguia
escapar. Ela se via como a única pessoa capaz de compreender Lana, de
aliviar sua dor e de salvá-la de si mesma.
Lana nesse tempo se via no espelho…pele marrom acizentada e sem viço.
Ela mal se reconhecia. Um lampejo de lucidez atravessou a névoa de
obsessão, e um pensamento a atingiu com a força de um raio: "Isso é
loucura. Isso não é amor."
A raiva, adormecida por tanto tempo, despertou dentro dela. Como Lana
pôde fazer isso com ela? Roubar sua vida, sua liberdade, sua sanidade,
tudo em nome de um amor doentio? Mas então, a culpa a atingiu em
cheio. Lana estava doente, presa em sua própria obsessão. Julieta, ao se
permitir ficar, só a estava tornando pior.
Uma luta interna se desenrolava dentro dela. A obsessão que a
aprisionava lutava contra o lampejo de sanidade recém-despertado.
Naquele momento, ela viu Lana de forma diferente. Não como uma alma
atormentada que precisava de salvação, mas como a carcereira que a
mantinha presa.
À medida que os dias se arrastavam, a mudança sutil em Julieta não
passou despercebida por Lana. As perguntas inocentes sobre o mundo
exterior diminuíram, substituídas por um silêncio carregado. Lana sentiu
um frio percorrer sua espinha. A obsessão de Julieta, o combustível que
alimentava sua própria sanidade distorcida, parecia estar minguando.
Um dia, enquanto jantavam (sempre as mesmas refeições sem graça
trazidas do mundo exterior), Lana quebrou o silêncio. "Julieta," sua voz
tremeu levemente, "você está diferente."
Julieta a encarou, seus olhos com uma nova determinação. "Estou
cansada, Lana. Cansada de tudo isso."
desespero se instalou no coração de Julieta como uma erva daninha,
tomando conta de cada canto do seu ser. A obsessão que antes a consumia
agora se transformava em uma necessidade doentia, uma fome insaciável
pelo amor de Lana. A cada dia que passava, a escuridão do porão se
tornava mais suportável, a companhia de Lana, mais doce. O mundo
exterior, com suas regras e julgamentos, parecia distante, irrelevante.
As histórias macabras de Lana, antes repugnantes, agora soavam como
canções de ninar, melodias que a embalavam em um torpor de obsessão.
Ela se agarrava a cada palavra, cada gesto, cada olhar de Lana, buscando
desesperadamente um sinal de afeto, um migalha de amor que a
alimentaria.
A culpa que antes a atormentava se transformou em uma estranha
devoção. Julieta se via como a única capaz de compreender Lana, de amá-
la de verdade, mesmo que esse amor fosse distorcido e doentio. Ela era a
única que podia salvá-la da solidão, da escuridão que assolava sua alma.
Em seus sonhos, Julieta via Lana sorrindo para ela, seus olhos negros
transbordando de amor. Elas corriam juntas por campos floridos, livres
da escuridão do porão, livres do mundo que as condenava. Eram felizes,
completas, unidas por um amor que transcendia a sanidade.
Ao despertar, a realidade a golpeava com brutalidade. O porão úmido, o
ar fétido, o silêncio claustrofóbico. Mas a esperança que florescia em seus
sonhos a impedia de sucumbir ao desespero.
Em um dia particularmente sombrio, Julieta se ajoelhou aos pés de Lana,
suas lágrimas banhando o chão empoeirado.

"Eu te amo, Lana", ela sussurrou, sua voz carregada de angústia. "Eu te
amo mais do que a mim mesma. Me deixe te salvar, me deixe te mostrar o
que é o amor verdadeiro."
Lana observou Julieta com uma mistura de piedade e repulsa. Sua
obsessão era doentia, um reflexo da escuridão que consumia sua própria
alma.
"Você não pode me salvar, Julieta", disse Lana, sua voz gélida como o
inverno. "Você está tão perdida quanto eu."
As palavras de Lana atingiram Julieta como um golpe fatal. A esperança
que a mantinha viva se estilhaçou em mil pedaços, dando lugar a um
desespero absoluto.
"Então me deixe ficar com você", Julieta implorou, suas mãos agarrando
as de Lana com força. "Me deixe te amar, mesmo que seja em meio à
escuridão. Eu preciso de você, Lana. Você é tudo que me resta."
Lana se afastou de Julieta, seus olhos cheios de tristeza.
"Você não sabe o que está pedindo, Julieta", ela disse, sua voz quase
inaudível. "O amor que eu ofereço é um veneno, uma maldição que te
consumirá por dentro."
Julieta ignorou as palavras de Lana. Ela se agarrou a ela com força, como
se estivesse se afogando em um mar de desespero.
"Eu não me importo", ela chorou. "Eu te amo, Lana. E isso é tudo que
importa."
Naquele momento, Lana finalmente cedeu. Ela abraçou Julieta com força,
suas lágrimas se misturando com as da jovem.
"Então fique", ela sussurrou. "Fique comigo até o fim”
⚸ Elipsismo
Uma tristeza de não saber como a história vai terminar

Julieta compreendeu o recado, e sua decisão estava tomada: ela


permaneceria ao lado de Lana. Para sempre.
Naquela noite, sentada à mesa de jantar sabia o que deveria fazer. Seus
olhos fixaram-se na faca de cortar carne, sua aliada silenciosa naquele
momento crucial.
“Coma meu coração,” sussurrou Julieta, a lâmina fria em suas mãos.
“Deixe-me viver dentro de você para sempre.”
Lana, atônita, não teve tempo de reagir. Julieta avançou, perfurando sua
garganta com precisão cirúrgica. A faca deslizou, abrindo o peito,
revelando seu amor e legado. O líquido carmesim escorreu pela toalha
branca da mesa, enquanto as lágrimas salgadas de Lana traçavam um
caminho pelo seu rosto.
Nos braços trêmulos de Lana, o corpo inerte de sua amada repousava. Ela
não hesitou. Mordeu o coração de Julieta, drenando o sangue e
mastigando a carne crua. Era um ato de amor completo, uma fusão de
almas. Finalmente, Lana se sentia saciada.
O sol da manhã nascente não a incomodava mais. Lana havia encontrado
sua eternidade, e o mundo exterior desapareceu diante desse amor
sombrio e voraz.
⚸ Énouement
A sensação agridoce de ter chegado no futuro,

visto como tudo aconteceu, mas não ser capaz de contar para o seu ‘eu’ do passado

Ela chegara ao fim, as vozes se cessaram, a vontade obsessiva também, ela


estava livre de amarras. Livre de tudo, e quando saía pelo sol pela
primeira vez em 2 anos, ela vê ele…
O motorista, quem a transformou naquilo, quem a fez ter que beber
sangue por anos
“ Você… Você me condenou a esse final” – a voz de Lana falha
“ Todo esse tempo eu a observei, todas as suas mortes, todas suas
obsessões, e tudo foi você, se tornar uma vampira não fora uma opção,
mas as suas ações foram”
Isso quebrou Lana, mas no fundo ela sabia, sabia disso. Mas não era
tempo pra remorso, se pudesse alertar seu eu do passado não o faria
No fim, Lana finalmente se sentiu livre, enquanto carregava sua amante
consigo
Agradecimentos
Obrigada a todos que estão lendo, agradeço a todas as minhas amigas que leram
e revisaram o meu livro, e sempre me encorajavam a escrever, isso é para vocês
Lana e Maria Luiza. Agradeço a minha professora de Literatura que me inspirou
a escrever uma história inspirada no romantismo . Obrigada a todos por tudo.

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