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Prólogo — o espaço em branco

Uma garota estava sentada em uma superfície macia, em sua frente, havia apenas escuridão. Ela
escutava uma voz masculina e rouca, era um idoso de idade drástica em comparação a sua. E
então, ela ouviu seu nome ser chamado:
— Helian.
— Diga. — a menina escutava os passos daquele homem perambulando, o dedilhar com cada
folha de papel e utensílio, sua respiração desajeitada, seu coração tomar conta de sua caixa
torácica, ele batia mais rápido.
— Você assume o risco, correto? — o homem pegava um bico de pena, o higienizando para
executar uma parte do processo, imbuir o equipamento com magia.
— Correto. — respondia a garota com uma voz vacilante, sua força de vontade estava se
esvaindo ali.
— Hum, bem corajosa ela. — O idoso após preencher a caneta com o feitiço, ele começava a
escrever runas em cada olho de Helian, elas servem para amplificar magias; No contexto,
servindo para que a criança voltasse a enxergar corretamente e consertar sua ambliopia, no
entanto, seu olho direito foi escrito que ela poderia enxergar o plano astral e magia de pessoas.
A reação de seu corpo não foi agradável, conforme o escultor escrevia, mais uma carga mágica
era recebida, suas artérias e nervos ópticos pareciam dar adeus, como se fossem arrancados
com mãos imundas, ele aparentemente se orgulhou de sua criação, ela aparentava entrar em
transe, desmaiando em seguida.
E ela acordava, em escuro novamente. No contexto, apenas enxergava suas mãos em paleta de
laranja e vermelho; a garota não quer seu olho direito aberto, pela tatuagem de runa que havia
sido feita. Seu corpo estava fraco, ela sentia cada músculo de suas pernas quando se levantava;
principalmente seus pés, rosto e joelhos, sua situação se assemelhava à miséria, mas só restava
prosseguir até achar a saída. A famosa luz no fim do túnel, no meio de tudo aquilo, enquanto
caminhava, o lugar se tornava cada vez mais úmido, Helian começava a sentir frio, não se
importando tanto, até que sua espinha se arrepia. Alguém havia lhe tocado, ela abria seu olho
por obrigação e virava seu rosto, mas não havia nada ali, nem um espírito sequer. Obviamente,
ela entrava em pânico enquanto questionava o que havia acontecido, e sem tempo de reação, o
local escuro era coberto por luz, como se houvesse uma explosão.
E então, ela acordava de novo. Dessa vez, estava em um espaço em branco, porém havia uma
singela pincelada de vermelho ali, era o sangue da menina, caída e se recompondo ao levantar.
Saíam lágrimas em seu rosto, não de propósito, mas sim por seu nariz ter sido machucado em
uma queda aparente. Ela olhava para cima, tentando estancar o sangue de forma burra, ela
notava que havia algo incomum, havia uma lâmpada... e ela tinha uma paleta de cinza ao preto.
Helian se levanta, observando seu redor para ver se havia mais alguma coisa além da lâmpada,
ela enxergava um computador e uma coberta no chão, pegando-a e se cobrindo. A textura era
ótima.
— Aparentemente.. só tem isso, além daquela porta. Eu realmente tô curiosa pra saber o que tem
atrás dela, mas vou deixar pra depois. Vou procurar por mais coisas. — a garota comentava para
si, caminhando pelo espaço sem dificuldade, até que comentava mais uma vez, sentindo um
sentimento confuso.
— Esse lugar é familiar pra mim, mas eu nunca nem tive alguma memória daqui.. de verdade. —
Por sua vez, ela finalmente enxergava algo, eram criaturas, aparentemente inofensivas, mas caso
enxergassem-a, poderiam atacar por conta de seu porte físico. Era uma criança, mas seu
zodíaco lhe favorece além de sua genética.
Haviam olhares, e Helian os notava. As criaturas monstruosas que lhe conheciam, elas se
rodeavam aos poucos, por uma enorme gama de motivos; ela era uma criança, estava coberta
por sangue, era uma presa fácil.. ela sabia que eles iriam tentar corroer a sua carne, iriam
mordiscar cada osso seu, iriam arrancar cada pedaço do tecido de sua pele.
Por sua vez, ela não estava preocupada sobre, já sabia como lidar com esse tipo de problema..
afinal era frequente, mas eram muitos. A criança adianta seus passos, os bichos lhe
acompanhavam, à cada passo, ela aumentava a velocidade, começando a correr; mas não com
tudo, havia mais alguma coisa.
Ela se jogava contra a porta, no entanto, ela caía novamente, de cabeça pra baixo, como se fosse
um mergulho.

Capítulo 1 —

Helian acordava, transpirando, seu suor era frio, realmente havia sangue em seu cobertor, se
questionando se era a puberdade ou outro tipo de coisa. Ela se levantava, alongando seu corpo
malhado, estralando suas pernas carnudas e braços extensos. A garota sequer falava algo, meio
óbvio, já que ela não deseja ou sequer gosta. Todas as suas palavras eram seus pensamentos
extrapolados, bem silenciosa na maioria do tempo.

— Eu queria dormir.. mas se o sonho for que nem aquele, nem quero mais.

A menina pegava o lençol, observando os resquícios de vermelho, certamente não dando


importância, mas um pouco ressentida.. era fácil de lavar, porém é um lençol e por isso Helian
estava assim; ela se via numa situação onde não havia escolha, com certeza trabalhosa e
cansativa. A garota abria a porta de seu quarto, notando que havia uma falta de presença na
casa, ela supôs que a pessoa havia saído. Seus olhos estavam quase fechados, a porta de sua
alma estava trancada, só restava procurar o que tinha em sua moradia.
— Tomara que a velha tenha deixado café pra botar..
Ela ia à cozinha, tomando um garrafão de água por conta de seu metabolismo, indo ao banheiro
em seguida, se olhando no espelho. Observando seu rosto largo de pele escura e seu cabelo
preso e desarrumando, seu nariz era pequeno, com lábios um pouco carnudos e sombrancelhas
grossas.
— Sinceramente, não aguento mais ser confundida com um homem na rua.. seria mais legal se
fosse realidade com as calças.
Seu pensamento não era mentira, realmente haviam leigos e leigas que certamente eram
errôneos em seu gênero, não era por falta de cuidado e sim pelo zodíaco que ela tem. Ela abria a
torneira, segurando um sabonete, molhando suas mãos junto dele, começando a lavar o rosto.
— Uma miséria por dia.. queria que não tivesse isso. — A menina começava a enxaguar o rosto,
sem medo, era como se fosse se afundar em um copo d'água, a garota se encarava no espelho,
sua expressão se assimila à um gato emburrado.
Ela saía dali, se direcionando a cozinha, observando que havia algo coberto por um pano de
prato; ela o tirava, vendo que havia uma caneca virada para baixo, uma jarra de café e um pote
com leite em pó.

— Valeu…vó. — Ela revirava a caneca, abrindo a jarra e derramando o café dentro dela, a garota
estava esperando encher perto de transbordar. Após colocar a quantidade que queria, a menina
colocou o leite em pó. Notando que não havia uma colher, ela foi procurar no armário.

— Eu não aguento mais meu período escolar, com aquela coordenadora insuportável.. — Helian
pegava a colher, voltando à atenção ao café, mexendo e remexendo o leite em pó dentro da
caneca. Finalmente um café com leite para começar o dia, não é?

Ela segurava a caneca com as duas mãos, tomando café aos poucos. Já que não tem nada para
fazer. Prostrando-te à remoer o passado, se corroendo à cada pensamento. Cada gole lhe
remetia memórias, aqui e ali, relembrando do sentimento de traição; relembrando a miséria que
passa e é repassada todos os dias, parece que é uma crise existencial rápida, afinal foi por conta
de um café que relembrou de certas coisas que por si mesma não deseja contar ou revelar à
alguém.

— Eu não me sinto culpada por aquilo.. devem me considerar um tipo de monstro por ser
’’insensível‘‘. — Ela remoía ainda mais, porém, seu sentimento transtornava; ela sentia desejo em
fazer mais alguma coisa, ela sentia desejo de fazer mais, ela sentia ódio e repúdio por não ter
destruído ainda mais. A menina se via perto de se tornar uma cega com sua própria necessidade,
mas ainda continua moralmente neutra.

— Eu certamente não ligo, afinal, não preciso de alguém que se pareça com algum parente meu
para me tornar feliz. Como alguns gnomos imprestáveis. — A cada frase, ela se tornava mais
agitada, focando em memórias mais profundas, querendo cutucar ainda mais a ferida; mas isso
não era dela. Ela estava se referindo à outro tipo de indivíduo.

— Você é certamente um estúpido que precisa fazer algo grande pra prestar atenção no quão
pequeno e infeliz você é.. você acha ruim quando as pessoas confundem sua identidade com
algum corpo morto que você chama de passado… — Helian segurava a caneca com uma força
maior, vendo que o restante de café tremia, aparecendo uma rachadura na caneca, à qualquer
momento ela poderia estourar em sua mão. Notando que deveria se acalmar.

— Até a caneca acha que preciso me conter.. que droga. — Ela colocava a caneca na pia, jogando
o pouco de café restante no ralo, começando a lavar. Ainda estava um pouco pertubada com o
que havia deixado pra não fazer, repudiando suas ações por não ter executado. Tentando afastar
seus pensamentos ruins com.. ‘’coisas felizes que lhe aconteceram ou vão acontecer’’; olhando
para a janela, vendo o sol raiar aos poucos em umas sete da manhã.

— As vezes eu me pergunto se.. vou ter uma dama pra compartilhar um lar, ou coisa do tipo..
certamente que não.

Virando-lhe a caneca para baixo, terminando de lavá-la, retornando ao seu quarto; era um tanto
quanto simplificado, com apenas uma cama e seu guarda roupa, com uma pequena janela a sua
frente, abrindo-a para tomar sol e receber-lhe benefícios com melanina e uma corrente de ar. As
nuvens que estavam se juntando acima de sua cabeça fizeram o tempo se fechar, Helian pegava
algumas vestimentas, colocando-as em seus ombros enquanto organizava sua cama, com o céu
coberto por chuva.

— Eu espero que vovó volte..

Retirando-se daquele cômodo, indo ao quarto de sua parente, observando a penteadeira,


arqueando sua mão para pegar uma escova leve. Ela arrumava seu cabelo de uma forma
delicada, afinal era uma das coisas que retocava sua beleza; também se aproveitando de uma
única loção, era de seu pai, mas o cheiro era tentador o suficiente para usá-la. Aplicando em
pontos específicos para que se torne mais perfumada, vendo que a água da casa havia sido
cortada.

— Que neste dia, eu arrume dinheiro. E também, uma acompanhante.

Então, inflava-se sua confiança. Helian havia uma certeza à mais do que os outros dias para que
fosse um mínimo diferente, ao menos uma chance, para que a meticulosa sorte que havia
estivesse como um utensílio de importância. Ela se vestia, sacando-lhe um molho de chaves para
sair; voltando à sala, calçando os sapatos um pouco rasgados.. era a moda do adolescente
aparentar ser pobre, não havia rasgado-o de propósito.

— Hoje é dia cinco.. ótimo, dia do salário cair na conta.

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