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𝐔𝐦𝐚 𝐩𝐞𝐪𝐮𝐞𝐧𝐚

𝐞𝐭𝐞𝐫𝐧𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 : 𝐀𝐥𝐞𝐱𝐚
Após aquele fatídico evento, todos decidiram seguir seus caminhos e explorar novos
horizontes, com a promessa de que se encontrariam em um futuro próximo, mas
incerto. Enquanto Kain, Boi Bem, e Gabriel pareciam ter alguma idéia do que fariam,
Alexa apenas os assistiu partir por um momento, antes de decidir o que faria. Estava
sem poderes, não havia como recuperá-los, ao menos ainda se tinha ciência de como
fazer isso.
— Sou bem inútil, não faria sentido eu tentar me juntar a algum outro grupo se não
posso ajudá-los, e eu também não tenho a mínima vontade se fazer isso.. — Pensou
consigo mesma, enquanto subia em seu cavalo branco e decidia vagar sem rumo por
enquanto, apenas explorando novos lugares até decidir o que faria.De vez em quando
se pegava sorrindo, relembrando dos momentos em que passou junta com os seus
amigos, seus primeiros e únicos amigos.
Não era problema ficar sozinha, mas após tanto tempo acompanhando um adolescente,
junto com um outro professor,e um Minotauro, Alexa finalmente pôde perceber o quão
solitária era de fato, mas esse pensamento nunca a apavorou. Poderia muito bem voltar
ás suas atividades como professora, mas não vía mais sentido nisso, perdeu uma das
maiores paixões de sua vida, que era ensinar todo o conhecimento que havia adquirido.
— Eram apenas crianças, não sei por que sinto tanta falta deles.. — Comentou,
seguindo caminho por vários dias pela estrada, sendo acompanhada apenas de seu
cavalo, seu comportamento tipicamente narcisista parecia estar sendo dissipado, mas
ainda haviam vestígios de seu orgulho “inabalável”.Sabia que poderia ir a onde
quisesse voando, mas por que não ter pelo menos a companhia de um ser vivo?.

Continuou naquela mesma rota,Decidindo que visitaria algumas cidades, negociaria


arcos e flexas, com o passar do meses, encontrou finalmente um bom propósito, um
objetivo.Decidiu que tentaria de fato explorar novos horizontes, no sentido de possuir
outras habilidades, para que pudesse se sentir um pouco mais útil.Já que a perca de
mana conseguiu deixá-la completamente deprimida, apesar de odiar admitir algo do
tipo.

Alexa odiava essa sensação, o fato de se sentir imponente ou incapaz de alguma coisa
sempre a fazia ter lembranças horríveis, memórias as quais gostaria muito de apagar.

Dois meses se passam, e Alexa atualmente vive na floresta, decidiu que ficaria bem
melhor assim do que em alguma cidade, apenas a calma das plantas e dos animais a
trariam paz o suficiente,o sossego necessário para começar a treinar.
Desde artes marciais, até mesmo tentar superar seus próprios limites, testando suas
capacidades, pouco à pouco deixando de depender de seu arco e flexa.

“500 flexões...”

“1600...”

Entretanto, sabia que o que planejava demandaria tempo, mas não poderi esperar,
porque fazer isso a fazia se sentir uma perdedora. Seu narcisismo começava a tomar
conta de si mesma mais uma vez.

Mas decidiu que não deixaria se abater por isso, resolvendo que iria até a cidade mais
próxima, para tentar se destrair um pouco.Percorreu as ruas com seu cavalo branco,
até decidir deixá-lo em um estábulo de confiança e se alojar em alguma pousada.

Quando anoiteceu, decidiu que exploraria outros lugares da cidade, e por um acaso o
destino a levou até uma taverna, que por sinal, não estava tão movimentada. O balcão
estava vazio, havia alguns homens bêbados jogados em sua própria mesa, alguns
choramingavam pela mesma mulher, o que era uma cena hilária para Alexa.

Caminhou até o balcão, poderia sentir aqueles olhares se voltarem completamente em


sua direção, aquilo a deixaria um pouco sem jeito,mas ignorou.Acomodou-se em um
dos brancos

— Uma cerveja, por favor. — Pediu educadamente, descansando o rosto em uma das
mãos

— Oh, uma boneca como você pedindo uma cerveja, estando completamente
Desacompanhada? — O bartender brincou, rindo um pouco, Alexa olhou para ele de
maneira severa, fazendo-o engolir suas palavras a seco e apenas ir pega a cerveja.
Minutos depois, a bebida finalmente chegou, a mulher bebeu apenas um gole e depois
deixou de lado, aparentando não estar satisfeita.
— Definitivamente deixaram tempo demais adormecida. — Murmurou para si mesma,
analisando o espaço por alguns minutos, antes de ser interrompida por uma voz
familiar
— Hmmm, bela análise. — Um rapaz sussurrou, se aproximando dela e se sentando ao
seu lado, rindo um pouco — Alexa, não é?
Ela arregalou os olhos, e depois os estreitou, tentando reconhecer aquele rosto, que de
algum modo parecia familiar.

— Como você sabe o meu nome, senhor? — Perguntou intrigada — Por acaso te
conheço?
— Bem, me chamo Jasper, eu e você dividimos quarto algumas vezes no orfanato. —
Ele sorriu — Talvez não se lembre muito de mim, porque você vivia grudada com o
maicol.

Ao ouvir aquele nome, alexa engoliu a seco, desviando o olhar algumas vezes. Mas por
algum motivo, a sua memória sobre Jasper parecia estar bloqueada, o que não era
surpreendente, tendo em vista o quão difícil a infância havia sido.

— Oh, é um prazer revê-lo.. —Alexa falou suavemente, ainda um pouco


intrigado,Jasper sorriu para ela novamente, dando uma pequena piscadela.
— Bem, não se importaria de sairmos daqui e explorarmos um pouco mais essa
cidade? — O elfo perguntou animado, se levantando e erguendo uma de suas mãos
gentilmente, para que alexa a segurasse.

Alexa não sabia se deveria confiar em alguém que veio daquele lugar,mas mesmo assim
decidiu que daria uma chance, porque achava que poderia ser diferente dessa vez.
Segurou a mão do rapaz e juntos eles saíram da taverna, caminhando pela cidade
completamente sozinhos, com o passar das horas, se aproximaram um pouco mais, já
que Jasper não parava de falar um segundo se quer, então acabou por facilitar as
coisas.
Ao amanhecer, subiram no telhado da Igreja abandonada no final de todo aquele
espaço urbano, decidindo que iriam assistir ao nascer do sol
— Você sempre faz isso? — Questionou, um pouco curioso, ao ver Alexa se sentar e
abraçar os próprios joelhos enquanto seus olhos pareciam hipnotizar-se. Pelo lindo
degradê que surgia no céu.
— Ah... Assistir o nascer do sol? — Ela perguntou, rindo um pouco ao ouvir o
questionamento de Jasper.
— Bem, sim...

— Sim, eu sempre faço isso, desde criança, de alguns anos para cá eu havia parado,
mas voltei, porque o céu me acalma, e eu não sei o que eu faria caso não pudesse mais
alcançá-lo.. — Alexa desviou o olhar por um segundo, deixando um sorriso amável
escapar, algo que não era comum.

— Oh, eu lembro, Maicol sempre te acompanhava nessas jornadas para ver o nascer
ou pôr do sol.. — Comentou mais uma vez, rindo com a memória, que na verdade era
dolorosa para Alexa — Hey, Alexa, você já amou alguma vez?
Ela se surpreendeu com a pergunta, ficando em silêncio por um bom tempo
— Já... Mas depois te conto sobre isso. — Ela falou baixinho, enquanto se levantava e
abria as suas asas em direção ao Sol Nascente — Bem, você deveria ir pra casa, ou o
lugar que está hospedado.
— Bem, vou te atrás de você depois, para passarmos mais tempo juntos..
Alexa deu de ombros, disparando e começando a sobrevoar a cidade, até finalmente
achar a pousada que estava.
Entretanto, com o passar dos dias, realmente se encontrou com Jasper mais algumas
vezes, e preferia acreditar que era por acaso.Depois de uma semana, voltou para a
floresta, já que sentia que havia passado mais tempo do que o necessário na cidade.

E inacreditávelmente, estava certa.


Deveria ter saído no momento em que viu Jasper, porque agora havia um problema
muito maior.
Estava caminhando na floresta, quando sentiu uma enorme densidade de poder rodear
a área em que estava, seus olhos se arregalaram imediatamente.
— Meu arco.. Meu arco não está aqui...— Sussurrou assustada, ao tocar em suas
próprias costas e sentir a ausência de sua arma de maior domínio. Um frio na barriga
automaticamente a percorreu, e uma sensação de desespero a invadiu completamente,
mas não poderia deixar isso transparecer.

— Eu não posso correr daqui, muito menos voar... — Respirou fundo — Estão por toda
a parte...
Decidiu que manteria a calma, entretanto, no exato momento em que baixou a guarda
apenas por um segundo, foi acertada com uma pancada na costela, que a fez voar para
longe e bater as costas em uma das árvores com força, o suficiente para fazê-la fechar
os olhos de dor.

— Desculpa, Alexa, mas negócios são negócios. — Jasper apareceu, segurando fações
extremamente afiados, cobertos por uma aura completamente incomum — Vão me
pagar muito bem suas asas.

Alexa arregaçou os olhos ao ouvir o que ele havia dito, mas não de surpresa, e sim de
choque. Estava desarmada, e a sensação de inutilidade tentava invadi-la, mas sabia
que precisava ser forte. Se levantou devagar, seus golpes estavam extremamente
melhores, e ela teve a confirmação disso ao conseguir ocultar sua própria presença e
acertar um golpe na coluna de jasper, entretanto, não havia conseguido se afastar a
tempo, recebeu um chute nas costelas e rapidamente teve seu corpo agarrado com
força, recebendo diversos golpes de uma só vez, sentiu aquelas mãos rapidamente
avançarem em suas asas, e alexa instintivamente lutou para sair, até finalmente
conseguir.

E em uma tentativa desesperada, decidiu que voaria para longe, não para fugir, mas
sim pra conseguir pelo menos um pouco mais de vantagem.

Entretanto, foi perseguida, por todos os lados, mas pelo menos havia conseguido pegar
o seu arco.
Posicionou a flexa rapidamente, acertou pelo menos três no estômago de Jasper, que
surpreendentemente não havia morrido, ao invés disso, se aproveitou do fato de que
alexa não estava conseguindo voar tão alto e avançou.

Em um momento de desespero, ela largou o arco, decidindo que usaria apenas a flexa,
cravando-a no pescoço do Homem, que gritou de dor, ao sentir a perfuração profunda,
e a lâmina liberar veneno, Ergueu os punhos, acertando em cheio a mandíbula de
Jasper.

Entretanto, alexa foi acertada novamente, até cair no chão. Mas mesmo assim se
levantou com dificuldades, se erguendo em seus próprios joelhos, sua visão parecia
estar ficando turva, o sangue já começava a escorrer, observou as gotas caírem de
maneira continua, a sensação era torturante, desesperadora, mas mesmo assim não
desistiu. Seus punhos já estavam machucados pela quantidade de vezes que havia sido
levada ao chão, mas mesmo assim não desistiu. Armou a postura novamente, erguendo
seus punhos

— Você ainda vai tentar, alexa? — Perguntou sarcástico, soltando uma risada
arrastada enquanto também fechava os punhos — Você não tem nada a perder, hm?

— De fato... — Limpou o sangue de sua boca — Mas morrer não fará diferença pra
mim

[....]

Foi acertada incontáveis vezes, entretanto, também atingiu pontos vitais, porém..
Jasper tinha cartas na manga, sabia que não conseguiria pegar o que tanto gostaria,
mas sabia exatamente como fazer e o que fazer para ter um pouco mais do que isso.

Alexa foi ao chão, e dessa vez parecia que não conseguiria se levantar,suas roupas já
estavam rasgadas e sujas, seu corpo não obedecia mais ao pedido de sua mente para
aguentar apenas mais um pouco
Jasper ficou em silêncio, se aproximou devagar, puxando-a pelas asas, Alexa se
desesperou completamente, mas permanecia imóvel. Suas asas se debateram, as
lágrimas escorreram, os estralos foram ouvidos.

Os flashbacks começaram a invadir sua cabeça, Alexa se lembrava constantemente de


quando era criança, o barulho estrondoso das pancadas que sofria estavam colidindo
com o presente, ela podia ver as crianças em sua volta, chutando seu corpo pequeno
com força enquanto ela se encolhia desesperadamente tentando se proteger

Cada estralo

Fazia uma memória ser desbloqueada.

E então ela finalmente se lembrou de Jasper, e quem de fato ele era.


Entretanto, ele havia deixado a faca cair,Alexa reuniu todas as suas forças e então
segurou-a, acertando em cheio o peito do homem, que caiu sem vida.
Ela respirou fundo, tentando conter as próprias lágrimas, de remorso e dor,até mesmo
pena, pena e si mesma, e raiva.
Raiva por ter deixado que alguém daquele lugar horrível tivesse se aproximado
novamente, sendo que já deveria ter aprendido a lição.

“Alexa, você já amou alguma vez?”

E foi por isso que ela deu ouvidos à Jasper, porque amou alguém, amou tanto alguém,
que depois a apunhalou pelas costas, e retirou seus sentidos até que se tornasse uma
casca vazia.

Mas antes disso...

Maicol era a sua razão.Ela ainda poderia ouvi-lo gritar

“deixem-a em paz! Ela não fez nada para vocês, parem com isso ou eu mesmo vou
bater em todos vocês!”

Ele era seu único amigo, o único que a enxergava como de fato era.

[...]

Alexa não sabia como, mas estava em cima de seu cavalo branco, que cavalgava
freneticamente para algum lugar, ele parecia assustado, talvez desesperado.
Alexa fechou os olhos por um momento, finalmente se permitindo desabar em lágrimas.

Suas asas não haviam sido cortadas, mas sim quebradas, isso não a tornaria um anjo
caído, porque foram fraturas superficiais, mas ainda sim, eram fraturas, que a
impediriam de voar.
Ela começou a chorar, enquanto escondia o rosto em “Sunrise “, nome de seu cavalo,
porque se sentia tão envergonhada, tão pequena, tão inútil.Mas mesmo assim, ele ainda
era o único que estava ao lado dela, e que não a trairia.

E então ela desenvolveu um novo propósito.

Ter a capacidade de destruir qualquer um que quisesse, e que achasse necessário,


incluindo aqueles que a trouxeram dor.

FIM DO 1° ANO.

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