"É horrível dar tudo como certo; nem imagina que existe outra opção", disse Falar de cervejas,
ejas, livros e mulheres e chegar em casa beijando minha esposa
Layla. Mas o problema é que quando você entra totalmente em seus
sonhos, você acaba se sentindo muito animado no início e depois: pam!, a
realidade te atira na porra do templo e você é todo idiota pensando apenas
em duas opções: ou você tenta de novo, mesmo sabendo que pode perder
de novo, Ou você se resigna a viver em um quarto alugado, pago com o
salário mínimo que ganha em algum maldito armazém ou em um
supermercado, e bem, se alguém trabalha maravilhas o salário chega, mas
nesse caso, depois de alguns anos você precisa de coragem suficiente para
cobrir o rosto todos os dias e fingir que não se importa. E somado a isso, há
o fato de que é como estar morto em vida. Essa não é uma opção bonita.
Mas é isso", suspirou. Foi o que escolhi e não preciso criar mais problemas.
"Sim", eu disse. É isso.
— Por que você não me incentiva um pouco? Ele reclamou comigo depois.
Você deveria me contradizer ou dizer algo, caramba, você parece um robô
super legal. Você me dá nojo.
"Acho que você não vai escolher esse segundo caminho", admiti. A verdade
é que acredito que ninguém escolhe nada. Só se você está ferrado, você
recebe o que recebe e pronto.
"Parem, parem, parem um pouco", disse Layla. Você também não precisa
ser mais pessimista do que eu.
"Não sou pessimista, Layla", disse. Nós, pobres, não temos tempo para
pensar em pessimismo. Muito trabalho e muito esforço para sobreviver
para perder tempo colocando rótulos em nós mesmos.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
Não gosto de limites, fronteiras e pessoas que colocam um muro entre seus
desejos e sua moral. Não gosto de credos, credos, política ou vícios
supérfluos, como roupas e fama. Prefiro a saudação mundana de um amigo
que foi preso; Prefiro sua voz apelativa e seu olhar oscilante à ausculta fixa
do onisciente. Eu não acredito no Deus que encobre seus filhos. Não
acredito no eu posso ou na vontade de amar. Prefiro ser invisível. Mergulhe-
me em um copo. Cumprimentar meus inimigos sem ser respondido. Prefiro
sentar em um banquinho e fumar com os poucos amigos que me restam.
carregando meu filho e sendo apenas mais um ser humano.
-Gian Franco Huacache
Eles acreditavam na história de que todo mundo tem algo especial, um
presente ou um nome escrito em algum livro de ouro. Mas aquela
particularidade luminosa, aquele fogo inextinguível ansiava há anos, nunca
ardeu em suas almas. A morte os pegou de surpresa: arrependidos, cheios
de lágrimas, acamados. Mãos gastas de vasculhar a terra. As costas curvadas
de vagar sem recompensa. Não é uma faísca escondida. Nem um raio que os
atravessou sentindo que tinham sido observados durante todo esse tempo.
O desconhecido. Ah! Quanto tempo em busca do incompreensível. E eles
nunca tiveram tempo suficiente para ouvir seus próprios batimentos
cardíacos. Que ela estava lá, que existia, e que não era uma estrela singular
em um firmamento humano.
-Gian Franco Huacache
Não quero sair deste mundo sem antes ter provado apenas um pouco da
substância do amor verdadeiro. Não quero sair sem um nome sem um amor
cúmplice que, como me lembro, me consome na sua nostalgia porque era o
céu e o abismo. Quero subir, descer, a partir daí, assim como os loucos
amantes invadidos pela fé, pelos sonhos, mesmo sabendo que seu amor é
mortal. Não quero sair deste mundo sem ter feito o que minha alma grita.
Não serei a fenda pela qual cairão os mil homens que vivem em mim. Não
quero lamentar meu túmulo antecipadamente. Não vou velar lembranças
felizes dos outros, sendo outro, para os outros. Quero que cada um dos
meus dias tenha valido a pena e justifique o meu adeus. Quero deixar entre
o barulho dos homens que são o caos, e que são também a sensibilidade do
artista encarregado de declarar as entranhas do mundo. Ah, eu queria ter
vivido, ir embora rindo, enquanto sou engolido pelo centro dessa terra de
ossos! Porque da terra eu venho e lá eu vou. Vou ter que sair rindo, porém,
e deixar que os outros julguem se eu fiquei feliz ou triste, vou dizer: eu vivi!
-Gian Franco Huacache
"Acho que há uma grande diferença entre estar apaixonada e estar
verdadeira e loucamente apaixonada por alguém", disse ela.
- E que diferença é essa? Perguntei.
—Que estando apaixonada, às vezes se pode procurar desculpas para não
namorar o menino. Quer você saiba, goste ou não, em algum momento as
saídas tendem a nos esgotar. Agora... Isso não significa que eles não te
amam. Simplesmente há pessoas assim. Mas... —ele parou por um
momento— Vamos! Quando você está na verdade, apaixonado por alguém,
essas razões não existem. Em vez disso, inventamos desculpas de qualquer
lugar, apenas para ver mais tempo e de qualquer forma para aquela pessoa
que amamos.
"Eu vejo", eu disse. Suponho então que o tempo que se passa ao lado de
alguém é importante.
-Importante? O clima? Meu deus! — riu Layla — quando se está
apaixonado, o tempo nem existe. Os amantes tornam-se como dois bêbados
dormindo na calçada. Só a ressaca de tanto amor pode nos acordar.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
Você vive dando muitas explicações, eu disse, você não vai admitir que de
tantos sonhos adiados você nem magoa as decepções? E seus olhos se
apagaram como se uma manhã interrompesse subitamente com sua
luminosidade a luz miserável de um poste telefônico. Nada de especial,
respondi. Basta enviar o demônio para as pessoas e queimar com sua
própria chama.
- Gian F. Huacache
A espera. Uma língua pegajosa que, ao tentar rastejar por todo o nosso
corpo, leva consigo a pele que arranca. E eu achava que não podia piorar.
Como parar, diante de uma mulher que ama, e que ele despojou tantas
noites vivendo ao seu lado sob o mesmo teto, e aguenta um dia, o peso
daquela maldita frase que as pessoas usam para se dar algum tempo? O que
realmente significou nos dar algum tempo. Separar para provar que não nos
amávamos de verdade, ou ir embora apenas com a intenção de salvar o que
tínhamos até aquele momento? Quando soltei a mão dele, verifiquei; Ela fez
o que era necessário para recuperar a dela debaixo da minha. Aquele
pequeno gesto, abrindo mão de um espaço para sombra diante de um dia
de sol opressor, abriu meus olhos. Ela tentava fazer com que os problemas
que começavam a surgir entre nós há algum tempo, e que vinham
ganhando força ao longo dos meses, não acabassem nos afundando naquele
buraco do esquecimento em que mergulham depois de verificar que não há
para sempre. Ele entendeu sua necessidade de ser fiel às suas promessas.
Não é que o amor nela estivesse morrendo. Esse amor precisava de uma
pausa, longe da rotina dos meus lábios, dos meus olhos e das minhas
reivindicações. Esse amor ainda latejava nela, mas ela fez questão de não
abrir mão do mapa que poderia levá-la a outros caminhos se aquele que ela
havia escolhido por vontade já não fosse adequado para ela. Embora eu
tivesse pavor de estar longe de seu corpo, sua voz e suas mãos que me
deram carícias incondicionais e paz nos momentos em que mais sentia que a
vida estava me batendo sem merecê-la, aceitei a necessidade de ausência.
Eu não conseguia falar muito. Uma pedra ficou presa na minha garganta
formando uma gota na voz. Mas minhas lágrimas foram suficientes para que
ela sentisse pena da espera que estava por vir. Antes de se despedir, antes
de virar as costas para mim e fazer as contas de que não podíamos mais nos
tocar, ele me pediu para não renunciar todo esse tempo. "Será que eu não
vou sofrer também?", disse, com um sorriso que revelava uma certa
melancolia em seu rosto lívido. Eu temia perdê-la para sempre. Mas seu
amor estaria mais perto de morrer ao meu lado do que de estar longe de
mim.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Sou uma mulher séria", disse. Não gosto de perder tempo aqui e ali sem
inventar algo concreto.
"Ok", eu disse. E para onde você quer que a gente vá?
— Você não tem uma ideia foda? —ela se exaltou nos calcanhares, sem
deixar que a palavra "puta" alterasse seu rosto. Se não fosse o brilho nos
olhos, quase poderia dizer que estava diante de um elegante caixa a quem
acabei de dizer que esqueci meu cartão e que também não tenho dinheiro e
que, por esse mesmo motivo, devo devolver os dois carros de compras.
"Sem noção", repeti.
Ao nosso lado passava um do turno da noite. Ele sorriu para ela e ela fingiu
não perceber. Com alguma dificuldade fechou o armário e depois, sem que
eu percebesse, o alfinete que levava seu nome havia desaparecido de suas
mãos.
"Tudo bem", respondeu. Talvez você seja daqueles que gosta de improvisar.
Nada mau. Mas eu aviso que não levo nada. E se você vai me convidar para
beber cerveja, eu prefiro uísque ou uma bebida semelhante que não seja
rum.
"Tenho algumas garrafas de pisco em casa", disse. Sem marca, porque não
gosto de discriminar. Se você gostar pode combinar um pouco disso com
suco de laranja, mas eu não tenho suco de laranja.
"Esquece", disse ela. Você é muito louco.
E ele andou pelo corredor balançando a bunda com uma acrobacias
admiráveis que ele só tinha visto em algum programa de modelos enquanto
trocava de canal. Me arrependi de não ter insistido. Ela tinha lindos cabelos
pretos que se moviam em ziguezague sobre suas costas nuas e pernas
bonitas. Mas uma corrida em casa foi o suficiente para eu entender que
nenhuma pessoa no mundo tem uma bunda dourada, e que eu não
precisava fingir ser alguém que não era, apenas para chegar a uma pessoa
que também fingiu ser quem não era.
-Gian Franco Huacache
Quantas pessoas não se tomam como criaturas extraordinárias, infalíveis e
incondicionais. Alguns levam tão a sério suas vidas, que os personagens que
fizeram de si mesmos, baseados em seus preconceitos e medos, em suas
supostas conquistas e virtudes, são quase sempre patéticos e. São, em sua
maioria, os que se dizem sérios. Ou os que abominam a estupidez do
"vulgar". Mas dentro de suas cabeças não há nada além de um cérebro
semelhante ao de um extremista religioso cuja fé só está indo para um lado.
A única evidência de que eles são raros está em como eles nos informam.
Há quem consiga fotografar os seus mais de mil livros para publicar no
Facebook a sua vasta quantidade de consumo literário, científico ou político;
sem a necessidade de dizer que são animais quase extintos. Essa é a
estranheza deles: os mais sérios são os humildes que só mostram suas
coisas, mas não falam muito sobre elas. Há também aqueles que publicam
milhares de canções para gênios incompreendidos, e aqueles que, por uma
questão de humildade, decidem não compartilhar a música que realmente
gostam e publicar apenas músicas vulgares para rir dela; Quase sempre se lê
nas entrelinhas as suas queixas contra esta sociedade doente que dificulta
que sejam únicos, porque agora todos têm acesso a livros e filmes gratuitos
sem que possam dizer a si próprios: só eu conheci um autor desses, só eu
um músico prodígio, Só eu para esse diretor sensacional. Levar muito a
sério a vida que se leva, ou o caráter que cada um desenhou para si, exige
muito esforço. E quase sempre se auto-exilam em vão. Talvez devêssemos
ter em mente, de vez em quando, antes de reclamar contra a vaidade, a
vulgaridade e o mau gosto, que todos nós temos uma bunda onde a merda
é liberada ao nos aproximar uns dos outros de uma irmandade não de
sangue, mas de fezes.
-Gian Franco Huacache
Paramos perto de uma loja de roupas. Pelas portas transparentes, podíamos
ver os manequins acenando incansavelmente com os braços erguidos perto
de suas têmporas. Aproveitamos a sombra de um armazém de mercearia,
para nos abrigarmos um pouco enquanto esperávamos. Não fiz nenhum
gesto que pudesse expressar aborrecimento ou cansaço. Gostei de poder
acompanhá-la. Não importava a hora. Sei que daqui a pouco poderei dizer-
vos que não estarei a tempo. Mas não será neste momento. Layla não
ousaria me perdoar por mentir para ela agora. Mas depois, com o problema
resolvido, esqueceria o sol, o tempo e os manequins.
"Aí vem.
— É ele? —perguntei, apontando com o queixo para um cara pequeno e
barbudo que usava bermuda e uma camisa polo horrível com mangas tão
soltas que seus braços dançavam como lápis flexíveis.
"Sim, é ele", respondeu. Agora apresento-o a vocês.
— Você tem me esperado muito? O cara perguntou, e eu não sei por que
ele tinha feito aquela pergunta me olhando nos olhos.
Eu ia dizer que não. Mas aí percebi o absurdo dessa resposta.
"Não muito", disse Layla. Conheça J. "O cara apertou minha mão, eu estava
suando, J., ele é T.
"Muito prazer, velho", eu disse, e ele sorriu para mim.
"Layla me disse que você é sua melhor amiga e que vai nos ajudar na
viagem.
"Algo assim", eu disse. Qual é o seu carro? Aquele verde ao lado da loja?
"Não", disse ele, "vim a pé.
-A pé? —Layla ficou indignada, e o abraçou e beijou como se estivesse em
algum maldito manual de não sei onde alguém aconselhou aquele remédio
para o calor e o cansaço.
"Sua bunda está molhada", disse o rapaz, agarrando uma nádega.
"Eu sei", disse ela. Eu estava sentado em uma calçada molhada e não
percebi.
"Você nunca percebe", disse ele. Achei que era brincadeira. Mas então ele a
soltou e a fez sair por aí segurando uma de suas mãos. Tudo bem ser bobo,
mas você não precisa se esforçar.
"Ei, velho.
"Deixa ele", disse Layla.
"Não, espere. Por que você disse isso a ele?
"Diga o quê a ele.
"A coisa boba.
"Poxa, J. Deixe-o. Esqueça já.
"Vamos agora", disse o rapaz. Olhando para os lados, ele parecia um gnomo
engraçado como um daqueles que minha tia colocou no jardim de sua casa
por boa sorte.
"Adeus, J. Layla me contou. Cuidem-se e muito obrigado.
"Pare de agradecer", disse T. — Por que você não diz a verdade? Se ele
fosse seu verdadeiro amigo, você não precisaria esconder nada dele.
"Você é filho da puta", disse Layla. Você não tem ideia do que está falando.
"Vamos, diga a ele que você foi quem disse à sua menina magra que ele
havia dormido com você.
"Isso não é verdade.
"Layla, você fez isso?"
Ele me encarou como se eu estivesse prestes a me desintegrar como um
manequim de cera. Ele não disse nada. Ela pegou seu homem e só depois de
um tempo eu entendi que Layla tinha escapado de mim com minha própria
ajuda. E que sua relação com aquele cara era apenas mais uma ação das
muitas que ele realizava apenas para justificar seu distanciamento do
mundo. Quando comecei a procurá-la percebi que ela me amava. Eu não.
Não é assim da mesma forma. Mas eu precisava dizer a ele que eu não
guardava rancor contra ele sobre meu relacionamento. No entanto, não
consegui encontrá-la em todo esse tempo. Apenas um ano depois, na festa
de um amigo em comum, nos encontramos e eu disse:
"Layla, você se lembra de mim?"
"Sinto muito", disse ela. Há muitos no mundo, não acho que você seja um
em particular.
Nos abraçamos. Ele me apresentou ao seu povo e depois ficamos do lado de
fora, conversando, enquanto passávamos os cigarros vendidos por um velho
sentado em um banquinho em um canto.
"Senti muito a sua falta", disse. Ou melhor, eu precisava de você como
merda.
"Você tinha que crescer, seu sapo", me disse Layla. Agora que você
amadureceu, não usa mais as camisas dentro da calça ou penteia o cabelo
como um avô aposentado da Marinha.
"E você", eu disse. O que aconteceu com esse cara da outra vez. Será que
eles realmente foram morar no Chile como haviam planejado?
"Fomos embora", disse. E deu um longo suspiro. Como se sua alma estivesse
sendo apagada, ele se virou para me ver, e se desfez diante de mim
inesperadamente. Minha resposta foi inconsciente. Não sabia quando meus
braços o consolavam. E eu tinha no ombro, cheirando a bebida, e um
perfume frutado daqueles que tanto me enojavam.
"Mas acabou", disse mais tarde. Agora não quero ouvir de ninguém.
"Bem", eu disse. Comigo está tudo bem.
Layla soltou e depois se levantou. Ela começou a andar esperando que
talvez eu fosse atrás dela, mas eu não fui. Ele ainda era uma bagunça com o
Chile. Acho que no fundo eu tinha alguma esperança de que Layla não fosse
tão. Por que foi com ele? Por que com esse cara? Onde diabos ele esteve
depois que deixou o Chile? E ele me deixou... Droga.
"É difícil o que eu vou te dizer", disse Layla, voltando para a calçada onde eu
estava. Mas se eu não te contar, esse maldito monstro vai me matar. E não
me refiro a ninguém. Estou falando do monstro em mim, J. Dentro de mim,
você me entende?
"Não sei o que você quer dizer", eu disse.
"Eu sempre fui apaixonada por você.
"Eu entendi isso quando você saiu.
"Mas eu não queria, sério, eu não queria arruinar seu relacionamento, era
tão perfeito, que eu via você todos os dias falando comigo sobre isso, e seus
olhos estavam brilhando, e eu...
"Parem", eu disse. Por enquanto, Layla. Eu não gosto que você faça o papel
de ton... Quer dizer, você sabia bem que eu a amava. Mas então comecei a
pensar que talvez você e eu pudéssemos formar algo. E eu te procurei por
um ano. Eu imaginava as coisas com você, sabe? Mas foi estúpido
honestamente. Adivinha quem estava me esperando todo esse tempo: Ela.
Enquanto eu fazia ideias absurdas sobre nós, ela tinha certeza de que você
não voltaria e foi. Isso me fez entender que você realmente não me amava.
E tudo bem, Layla. Agora podemos ser melhores amigos novamente.
"Eu não quero ser isso, J. Ele disse, e veio até mim. Eu vim atrás de você, eu
simplesmente não sabia por onde começar a procurá-lo.
Deixei a mão dele descansar no meu rosto, não sei por quê. Eu também
teria deixado ele me beijar e colocar a outra mão dentro da minha calça.
Então eu teria simplesmente saído. Ele seria mais um em seu mundo. Mas
eu a amava demais. Eu não conseguia esconder a verdade dele.
"Ela está grávida", eu disse. Ainda estamos juntos, Layla.
Eu podia ver em seus olhos, apesar da escuridão, um certo brilho que se
expandia como o pequeno reflexo de um vidro contra a luz. Ele se afastou
de mim, pegou nos bolsos, depois pegou um cigarro, acendeu e antes de
jogar fora a fumaça me deu o último olhar que não apaguei desde aquele
momento.
"Você é um bom menino", disse ele. Tenho certeza que você vai deixá-la
muito feliz.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
- E onde você pretende passar a noite? — eu disse.
"É algo com o qual você não deve mais se importar.
"O que quer que você faça enquanto eu estiver aqui importa para mim.
"Isso não faz sentido", disse Layla. Quando eu passar por essa porta eu não
serei mais seu negócio, então me pare e termine o que você está fazendo e
me deixe terminar minhas coisas.
"Bem", eu disse, "e caminhei até a mesa onde ela havia colocado seus novos
vestidos e meias. Ele não tinha usado nenhum enquanto estava comigo. Ele
nem queria dar uma volta ao meu lado, ou apenas ir ao supermercado para
ver algo para almoçar. Puxei a toalha de mesa com força e os vestidos e
meias caíram perto da porta da cozinha. Vá em frente com suas coisas",
acrescentou. E vá para o inferno se quiser.
Mas Layla nem se mexeu. Ele olhou para as peras, maçãs e ameixas que
estavam em uma cesta em um quadro que havíamos comprado há alguns
anos e que havíamos colocado na sala de estar. Fiquei na frente dela e disse:
- Pagou o cabo e a água?
"Sim.
Sua resposta foi rápida demais. Mas eu estava calmo. Eu não tinha outras
preocupações, então decidi deixá-lo continuar com sua festa fúnebre de
despedida. Antes de ir ao banheiro, para finalizar... Como ela disse? Ah, sim,
com o que eu estava fazendo, eu disse a ela que a amava muito. E que,
embora não fosse fazer nada para que ficasse, desejou-lhe felicidades.
Então lancei-lhe um sorriso que parecia ser bem recebido, porque ela me
devolveu com um olhar fixo. Há quanto tempo você não me olha assim?
Depois fui para o quarto, fui para a cama, estava muito exausta com o
trabalho matinal na casa dos Messias, e quando me levantei ela não estava
lá. Olhei no espelho que estava na sala e, ao sacudir a penugem do rosto, vi
refletido no espelho um par de folhas escritas à mão sobre a mesa. Layla
gostava de fazer anotações de despedida antes de partir. Mas agora ele
tinha ousado mais. O engraçado é que ela sempre esquecia algo no armário
que a impedia de voltar. Então fui buscar algumas roupas para ele, mas não
encontrei nada. Também não encontrei o tênis, a maquiagem ou o pijama.
No banheiro também não encontrei nada. Ainda com um sorriso no rosto,
subi até o telhado e procurei nas roupas sujas as blusas que ela não lavava
há três dias. Nada. E finalmente me vi embaixo da cama tentando revirar no
escuro um único objeto que pudesse fazê-la voltar no meio do caminho, ou
que, depois de ter dormido com alguém, a lembre que ela o deixou em casa
e volta e me diz como foi e que conversamos até que possamos consertar as
coisas e nos despedir daquele cara e voltar ao nosso mundo, Como sempre
foi, e tem sido, mas não, também não havia nada por baixo. Saí correndo do
quarto e peguei os dois papéis que tinha ignorado. Com uma caligrafia
péssima – algo que Layla nunca se permitiria escrever – a sua, por causa da
forma como os olhos e os pontos da ascensão do i, ela havia escrito o
seguinte:
"Agora você já deve estar acordado. Que felicidade não te ver andando nua,
por toda a casa, com aquele hálito de porco com que você se aproximou de
mim para me dizer para preparar algo para você. É verdade que partilhamos
tudo. Que você também soubesse me mimar, cozinhar e fazer umas
compras para mim. Mas não estou mais interessado. Não vejo por que vivi
grato por você, se você sempre foi um arrogante e infeliz comigo. Sofri por
causa de sua mãe. Se eu não tivesse morrido, ela nunca teria lhe dado a
possibilidade de me manipular novamente com sua depressão. Eu estava
com você todo esse tempo tentando dizer a mim mesmo que em algum
momento você mudaria. Que voltaríamos a ser como no início. Mas isso
nunca aconteceu. E mesmo que eu tenha feito o meu melhor, para você foi
como dar algo que você merecia sem olhar para o que isso significava para
mim. Agora eu sei que quando você finalmente perceber todas as coisas que
eu fiz para estar ao seu lado, para estar com você, e para que nada e
ninguém viesse entre nós, você sentirá a necessidade de me recuperar. Mas
estarei longe. Eu sou deste momento. Agora você sorri, mas quase sempre,
querida, sorrisos escondem as frases que não ousamos dizer. O medo nunca
nos invade imediatamente. É um fantasma que um dia entra em sua vida, e
que primeiro sonda timidamente o lugar, e depois, acostumado com suas
fraquezas, se expande até fazer você abrir seus malditos olhos. Alguns
chamam de amadurecimento tardio. Para mim, são estupidezes. Prefiro
chamá-lo do que é: Justiça. O que você não sabe valorizar sempre encontra
seu lugar em outro lugar, e quando você quer ser outra pessoa, e quando
você quer abrir os braços e se entregar a Deus para levantar suas malditas
frases de amor e histórias sobre como você mudou e que você merece uma
chance, é tarde demais. Quando você solta alguém que deu tudo por você,
enquanto seus lábios desenham um sorriso estúpido, não há céu ou inferno
maldito que possa trazer de volta aquela pessoa que você magoou. O
esquecimento é seu único sinal de vingança.
Eu ia me debruçar sobre a frase anterior e depois me despedir. Mas
também gostaria de lhe dizer que consegui, sem que você soubesse,
conseguir alguém para consertar os livros que você me arruinou na outra
noite. Vou escrever, querida. É disso que estou falando. Vou escrever muito
e agora não quero que você seja o protagonista. Lembra de Harry, o Coelho
Angstrom? Eu falei sobre ele um dia e você só estava interessado que ele
fugisse de casa várias vezes. Que grande aquele filho da puta, você disse.
Que irônico que agora sou um coelho que vai em busca do que está por trás
das coisas. Mas você nunca se atreveu a abrir o livro, então você nem sabe
do que estou falando. Para você, escritores só são bons para entreter as
pessoas. É por isso que você preferiu ter minhas histórias contadas para
você enquanto tentava dormir. Pobre criança, acho que agora. Se eu
soubesse, nunca lhe disse nada além de sua própria vida. Sua existência foi
suficiente para recriar o personagem mais horrível e nauseante que deu
origem a este país. Mas já está na hora de eu acabar com você. Enquanto
escrevo isso, penso em como vou matá-lo. Eu sei, eu disse para mim mesmo
mais tarde. Vai morrer de esquecimento. E é assim que tudo termina. Com
você lendo esta carta de despedida. E comigo em outro lugar, longe de
você, saboreando um delicioso hambúrguer enquanto espero o amanhecer
para acordar lendo os livros que você tanto odiava que eu lia.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
Força de vontade é a amputação da ferida. O mundo não se importa que o
homem vagueie incompleto por seus caminhos que produzem dinheiro e
esquecimento. O mundo se importa que você esteja vivo. Não que você
viva, mas que você respire, apenas isso. Não que você fale, ou reclame, ou
fique com a cara ensanguentada. Se você pudesse girar seus lábios, cosre-os
de canto em canto. E se você amarrou as mãos e apenas andou, ou se
apenas engatinhava pelas ruas. Isso é que é importante! Viver. Sem saber o
que você está vivendo. Mas ser um botão que deve resistir à robustez do
homem, aprisionado numa camisa que está sempre prestes a rebentar e dar
tudo por consumado.
Gian Franco Huacache
"Você chora e ri, Layla. Mas basta saber onde suas lágrimas se inclinam
mais. A tristeza corre goela abaixo fazendo cortes e mapas de dor. A alegria,
em vez disso, leva lágrimas à boca, como se elas quisessem ser devoradas
ali, compaixão estúpida, você não aguenta e as machuca com uma mão.
Você não quer fazer nada além de chorar. Mas não assim. Você quer
inventar outro tipo de dor, em que sua força não seja ridicularizada pelo
poder que os outros exercem sobre você. Porque não é possível. Não faz
sentido. Como você pode chorar por pessoas que você mesmo expulsou de
sua vida."
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
Toda a vida atrás do fogo. Do fogo que não cessa nas almas. E a busca
silenciosa que o arrasta para um amor e outro como se em uma manhã uma
pista aparecesse de repente os traços do sucesso humano. Você não aceita
distrações. Até mesmo o sexo deve ocorrer sob certas regras, como
arrebatamento e esquecimento sob um corpo. Você cospe na cara daqueles
que acreditam que um passeio ao parque ou uma música horrenda vai fazer
você encontrar esse verdadeiro amor. Você anseia pelo tórrido aumento das
emoções. A flor se abre para o céu porque sabe que a primavera do homem
chegou E que a perfeição não está aqui ou ali ou em qualquer lugar onde
você tenha se sentido em dúvida. Você quer encontrar a voz de alguém que
não grita ou pede de si mesmo coisas que não sabe dar. A busca esgota
você, mas em algum lugar está o homem com quem o azul é azul e nas
tardes que você quer ir às compras ele estará atrás sorrindo enquanto
espera por você. Você não viu, nunca ouviu falar de um amor como esse.
Mas você persegue sua presença como se estivesse escrevendo um diário
dentro do sonho no ar. Você quer um relacionamento ardente que só
incendeia a cama. Que ele não discuta ou contradiga nem na sala nem na
sala que sempre prefere tréguas. Os incêndios temporários que os outros
vivem em mundos fechados onde dois dizem que se amam, mas depois
brigam e se odeiam e no dia seguinte voltam e não importa se são melhores
agora do que ontem são inúteis. Você quer viver o fogo desde o primeiro dia
maldito! Você já expulsou de sua vida aqueles que podem ter conhecido e
aceitado você como você é. Você já deixou claro que se aquele fogo não
arde dentro de você, nada lhe interessa... Ao longo dos anos aprendi a
admirá-lo, até as pessoas falam bem de você, sobre como você não tolera as
imperfeições de ninguém, porque você é confiante, porque você sabe que
não há idade que te assuste e te faça recorrer a nenhum amor fixo com o
qual morrer. E eles louvam seus mais de cem amores por ano, que você
coleciona, e risca porque eles não têm a face de Deus. Você aguenta esperar
pelo que realmente está procurando. "Pode demorar um pouco", você diz a
si mesmo. "Talvez o resto da sua vida", responde o fogo, que viveu em você
mais de uma vez e que você só deixou porque viveu em um corpo que você
não esperava, apenas porque tinha o rosto humano e uma alma; coisas que
são, por sua própria natureza, imperfeitas.
-Gian Franco Huacache
O que o suicida não sabe, ou se sabe que não faz nada para contrariar essa
revelação, é que a eterna espera pelo fim é também uma forma de morrer.
É por isso que não é verdade que o suicida seja um apóstata. Ele é fiel ao
seu destino. Sabendo ou não, fisicamente ou não, há muito que deixou de
viver. O golpe final, o gatilho que se puxa, ou a corda que cinge o pescoço
flácido de um doente, é apenas a confissão dessa morte. E as confissões
finais são geralmente dadas através de cerimônias que têm aquele efeito de
sempre parecer trágicas e insuportáveis, um ruído para a vida cotidiana do
homem. Talvez por isso achemos o suicídio desconfortável: seus cadáveres
de repente irromperam em nossas primeiras páginas e em nossas
televisões, e eles nos parecem covardes porque não se calam. O homem
tem pavor de ouvir o que os mortos têm a dizer, mesmo que seja a verdade.
"Você ocupou um lugar importante na minha vida", admitiu. Não vou te
negar isso. Mas alguém não pode ficar em um lugar onde todas as coisas
parecem ter perdido o sentido.
"É difícil pensar que a partir de agora temos que nos ver apenas como dois
estranhos", disse ele.
"É melhor sermos dois estranhos que não se amam, do que permanecermos
dois estranhos que vivem juntos e fingem se amar todos os dias", disse ela.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
É verdade, disse-lhe; Você provavelmente não é a melhor pessoa do mundo.
Mas você sabe de uma coisa? Você sempre esteve comigo. Mesmo que
todos tivessem virado as costas para mim. E se isso não torna alguém
especial, então eu me pergunto como você pode chamar aqueles que o
salvaram de cometer o pior dos infortúnios. Sei que minha vida certamente
não vale nada para muitos. Mas você me salvou, Layla. Você me deu uma
mão quando isso significou esforço fútil. Você apostou em mim no
momento em que eu estava mais convencido de que a vida não tinha
sentido algum. Então, para caramba com aqueles que dizem que você não é
importante, Layla. Você sempre será para mim.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
12h58 m.
Está um pouco frio por aqui. Chove um pouco.
Nada importante. Cobrir uma parte do corpo é suficiente. A questão está
dentro. Aqui é outro tipo de inverno. E não é que seja impossível para mim
viver nisso. Só que eu tinha me acostumado a preparar as coisas com você,
antes de irmos para a cama: o último café da noite, as meias estranhas, os
livros mal colocados na cama... Há pouco encontrei uma de nossas fotos na
prateleira do quarto em que você não está mais. Fiquei pensando que talvez
as fotos perfeitas tiradas por duas pessoas que se amam não passem de
uma despedida anunciada. Posso estar enganada, Layla. Perdoe-me se eu
esbravejar. Só há aqui um desastre que não vai parar. E eu sinto sua falta,
Layla. Sinto muita falta de você. Eu não parei de pensar em você em cada
gota que desliza pela janela.
-Gian F Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Eu sempre me fiz a mesma pergunta", disse Layla, "como você contorna
tanta merda no seu caminho?" Quando penso que seu coração foi partido,
descubro no dia seguinte que toda a sua vida continua como se nada tivesse
acontecido.
"E tudo bem, querida", disse Michelle. Depois do primeiro golpe, os que o
seguem são apenas mais do mesmo.
"Quando eu te vejo, imagino coisas que você não tem ideia", confessou
Layla. Admiro demais o seu talento para mandar tudo para o diabo.
"Esse é o seu problema", disse Michelle, "você acha que pode mandar tudo
para o diabo, Layla. E não é que eu mande tudo para o inferno de um dia
para o outro. Tenho dificuldade em me levantar. Sim, os amores são
superados. Mas estou falando de mim. Mesmo sabendo que não significa
nada que uma pessoa fique ou vá, sei que algo em mim está endurecendo
essa parte sensível que me aproxima dos outros. E acredite, eu não tenho
orgulho disso, hein. Posso perguntar-lhe alguma coisa?
"Sim.
"Por que você acabou com aquele menino. Pareceu-me que ele realmente
te amava.
"Eu nem sei", disse Layla. Fiquei com muito medo. Eu não queria acabar me
sentindo tão vulnerável ao seu lado, sabendo que amanhã sua despedida
me deixaria chorando como um sem esperança. Mas não sei se esse foi
realmente o motivo. Ele era tão bom, sabe? Eu adoraria continuar a
conhecê-lo, a me abrir mais para mim e...
— Sabe o que está acontecendo com você? Disse Michelle. Você nem
começou um relacionamento maldito com ele. Agora que eu te escuto, me
parece que você está tentando ver o coração daquele menino através do
buraco em uma bunda. Você quer fazer as coisas ao contrário. Se alguém
lhe disser que tem você na cabeça, você olha para os pés dele, e se alguém
disser que das pontas dos pés até a cabeça um sentimento puro corre em
sua direção, você começa vendo a cabeça dele, e acaba parando no pênis
dele. Você é realmente nojenta, Layla.
"Isso não me ajuda em nada", reclamou Layla, virando o rosto para
Michelle. Não é minha culpa que alguém ache que eu mereço. Tem muita
gente louca na vida.
"E você é o capitão", Michelle riu.
"Bem, continue assim", disse Layla, "seja um defensor de todos os homens.
Ganhe a aprovação deles se você quiser isso.
"Não vejo ninguém por aqui", disse Michelle, olhando para os dois lados. Só
vejo uma menina doce brincando de ser cartomante.
"Do que você está falando?", perguntou Layla.
"Vem cá", disse Michelle. Lá de cima, seu rosto borrado pelo rastro do
tabaco eram apenas dois olhos como os de um Deus falando com você das
nuvens. Você vive o fim a partir do momento em que começa um
relacionamento. Você tem um problema, e não é que você não é capaz de
amar como você diz. O que acontece com você é que quando você entra em
um relacionamento você acha que tudo vai acabar a qualquer momento. E
essa única ideia, passa a rodar na sua cabeça o dia todo sem deixar você
curtir nada do que está acontecendo com você. Quando aquele menino
olhou para você há alguns dias, lá no pátio das letras, não vi nada além de
um dente-de-leão magro esperando para ser iluminado por aquele sol
chamado Layla. Não acho que seja bom só pela primeira impressão que me
deu. Não. Havia muitas coisas que me faziam pensar por que ele não tinha
me notado. A forma de se tratar, de se preocupar que nada está faltando, a
prudência de evitar se corrigir a todo momento algumas das estupidezes
que você diz. Enfim, Layla. Se você não é lésbica, você só fica com uma coisa
que você pode ser e que é recepcionista de suporte ao cliente. Quem tem
talento para mandar tudo para o diabo é você, meu amor. Só me recupero
dos golpes, mas não os provoco. Quero conhecer alguém que me faça
duvidar de tudo.
— E por que não, em vez de ser recepcionista de atendimento ao cliente,
posso ser apenas eu mesmo? Disse Layla. Eu não quero chorar na frente de
um espelho por causa de como eu fui estúpido com os outros.
"Não é que você seja bobo por não tratá-los bem. Você é tolo por não
atender aqueles telefonemas que seu coração faz de vez em quando. Você
tem o direito de cair, você tem o direito de estar errado, e você tem o
direito de não pensar absolutamente tudo o que você faz.
"Nunca me falta sexo, Michelle, se você quer dizer isso.
"Nós, estando sozinhos, não levamos mais do que estar em um
relacionamento", disse Michelle.
-Com licença? É claro. Poderia mencionar apenas alguns de vós este mês.
"Esse mês você estava com aquele menino.
Layla ficou calada.
"Mas eu não quero dizer isso", disse Michelle, "Eu não quis dizer que você
não gasta seu tempo jogando com alguém. Mulheres solteiras
experimentam muito. Estamos muito curiosos e okey com isso, mas uma
verdadeira pegadinha, querida, não é dada a você por um cara com quem
você se beijou em um clube, mas alguém que fez você cambalear seus
malditos instintos e você não sabe se é amor ou o próprio diabo vindo te
levar para o quarto dele para te pegar até que você esqueça sua religião.
"Meu Deus, Michelle, você cora comigo", disse Layla. Eu não achava que
você também tinha talento para descrever detalhes.
"Você me inspira", disse Michelle, sorrindo.
"E você para mim", disse Layla. Que tal fazer amor comigo aqui mesmo?
"Eu não te dou porra", disse Michelle. Eu não quero que você me abandone
como um de seus meninos depois de vir até você.
"Eu não te abandonaria", disse Layla. Você é como minha irmã, e o incesto
não está na minha lista de amores perigosos.
"Eu vejo", disse Michelle. Então você terá que encontrar um primo pelo qual
você se apaixonou e então abrir seu peito, tirar seu coração e mostrar que
ele realmente existe, que faz você ver que ele sempre existiu e que você foi
capaz de amar toda a sua vida.
"Isso é muito triste, não é?" disse Layla, escondida entre as pernas de
Michelle. Saber que você tem um coração com capacidade de amar, mas
não ser capaz de usá-lo.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Você não quer concordar comigo", disse Layla, "Eu mudo de ideia a cada
momento. Agora você me parece legal, mas amanhã você vai ser mais um
que sai por aí tentando ser legal com todo mundo, e eu vou te odiar, eu vou
te odiar muito, sabe, porque você não tem coragem de ser você mesmo e
me dizer o que você realmente quer de mim.
Estávamos de pé, na parte de trás. Eu tinha bem na minha frente. Cada um
estava encostado em um corrimão e com uma das mãos na porta de
emergência pela qual ninguém desceu. Nessa época as pessoas voltavam de
seus empregos, ou, o noturno, entravam de madrugada, começando nos
asfaltos tímidos tomando café nos cantos, ou conversando em grupos em
torno das prostitutas que se escondiam nas sombras das portas dos
albergues.
"Como você pode ter tanta certeza do que eu sinto", eu disse mais tarde.
Você gasta seu tempo segurando tudo o que acredita, mas em que diabos
você realmente baseia essas crenças, apenas suas experiências? Deixa eu te
falar uma coisa, Layla, eu acrescentei: Nem todo mundo quer te machucar.
Ele me acenou para baixar um pouco a voz. Olhei para os lados um tanto
constrangida. Uma velhinha taciturna e mal-humorada, com pele parecida
com a de uma galinha nua, que estava ao nosso lado, deu alguns passos e se
iluminou em um dos assentos dados a ela por um cara que ia ficar na
próxima estação.
"Parem de pensar isso", eu disse mais tarde. Nem todo mundo quer te
possuir para sua conveniência, Layla.
— E o que mais você vai me dizer? —disse ela— Que ninguém neste mundo
se intromete na vida dos outros apenas para criar uma necessidade que não
existia antes de se apaixonarem?
"Eu te falei, Layla. Nem todo mundo pensa em arruinar sua vida.
— Arruinando-me! "Você me viu ainda, boba?" Eu sou a mesma ruína",
disse ele, "Minha vida gira em torno de meus próprios desastres. Mas claro,
se eu ainda estou vivo é só porque eu sei quem eu sou, e sim, eu não
acredito nessas mentiras de que ser eu mesmo é uma conquista. Eu sou
simplesmente assim para não ter que sofrer pelos outros, mas por mim e
por mim. E porque eu me conheço e porque eu não deixo que alguém me
puxe para me fazer sofrer, eu sei que isso não vai funcionar entre nós, você
me entende? Isso é algo sobre o qual sou muito claro.
Virei o rosto. Sim, claro que te escuto, Layla. Eu te escuto, mas não consigo
te entender. A voz que sai de você pertence a você. Isso é óbvio. Mas eu não
acho que é realmente você que está falando. No fim das contas, só eu sou
responsável pelo que entendo. Olhei-a novamente e encontrei-a calma, sem
a menor alteração em seu olhar que se dirigia para as janelas por onde
passam os prédios mutilados e o ar sujo de Lima.
"Não quero te fazer sofrer", joguei a frase com resignação, como se fosse
uma despedida; Eram os restos do meu próprio cadáver resistindo aos
vermes. O amor poderia fazer você se sentir assim? Não, não o amor, mas o
sentimento de não ser correspondido.
"Você quer se sentir um salvador", murmurou Layla. Todo mundo quer ser
herói. Mas eles não ousam ou simplesmente não querem ser heróis de seu
próprio mundo.
Seu rosto havia adquirido a seriedade de uma criança que sabe que foi
enganada, que a comida que lhe foi dada não era o que esperava e não
confia mais na próxima colherada.
"Não, não é isso, Layla. Nem poderia ser porque você não sente nada por
mim. Ninguém ama o outro só porque o salvou, não acha? Não basta sentir-
se grato a alguém para vir amá-lo.
— Sabe de uma coisa? Ele disse mais tarde. No fundo, eu acho que você é
um herói. Eu simplesmente não gosto de você, e isso torna tudo
complicado.
"Claro que não. Não estou", disse. E imediatamente senti que não era
necessário esclarecê-lo.
"Parem de ser humildes comigo", reclamou. Pelo menos se eu pudesse
sentir outra coisa... Mas não. Você é tão bom comigo, magro, que o pouco
de humanidade que me resta não me permite prejudicá-lo. Não tenho nem
curiosidade de saber como seríamos no sexo, porque pelo menos se
houvesse esse desejo eu poderia me enganar. Mas não tem nada, você me
entende? É por isso que não podemos nem conseguiremos fazer nada em
conjunto.
Ficamos em silêncio ouvindo os gemidos de uma família que havia sido
deixada para trás. Tinham sido avisados de que já estavam próximos,
porque eles próprios pediam para lhes passar a palavra, por favor, mas
adormeceram e agora culpavam toda a gente, derramando em cada pessoa
que encontravam à porta.
"Por que você não é sincera e me diz de uma vez o que você realmente
quer?", insistiu Layla novamente.
"Eu te amo, porra", eu disse.
Isso não era verdade. Ele estava constantemente se movendo, e seus olhos
pareciam dizê-lo: "Isso não é verdade, isso não é verdade... ".
"Bem, você não precisa acreditar em mim", avisei mais tarde. Mas eu acho
muito estúpido que a única coisa que você pensa é que todo mundo quer te
machucar.
"Lá vai você de novo", disse Layla. Não é estúpido o que eu penso, mas já
que você não está satisfeito com minhas opiniões...
"Espere um minuto", eu disse, "você realmente acha isso?" Sabe de alguma
coisa? Você é uma pessoa inteligente demais, mas também teimosa demais.
E esse é o seu problema, Layla. Você pensa demais em tudo, mas nunca
para para pensar na sua felicidade.
— Ah, pelo amor de Deus! exclamou Layla. De novo, não! Parece-lhe normal
que se venda como a minha felicidade? Você é um cara muito egocêntrico,
sabe?
"Eu não disse que eu sou a sua proposta de felicidade. O que estou dizendo
é que você não se atreve a ser feliz não porque não pode, mas porque se
força a acreditar que está muito melhor do que está agora.
— E então o que eu faço? —Ele me perguntou— Dê uma chance a si
mesmo?
"Talvez", respondi. Talvez tentando possamos ter certeza de que nada
funcionará.
"Sinto muito", disse ela. Eu te amo e não pretendo fazer nada para
machucá-lo. Mesmo que isso signifique perdê-lo, eu não vou deixá-lo entrar
na minha vida apenas para acabar me odiando. Você não merece. Se você
me odeia, que seja apenas por ser muito honesto com você.
Não sei por que de repente me lembrei da vez que ele segurou minha mão
no elevador. E aquela imagem reverberou em outra em que ela veio atrás
de mim e se agarrou às minhas costas me enchendo de beijos e mordidas. E
outra imagem sempre terminava em outra, e em outra. Todos aqueles
sinais, agora eram vidros quebrados e a última decisão de Layla uma pedra
que havia causado todo aquele estrago. Por que Layla colocou tantas janelas
no meu mundo, se depois de um tempo ela as destruiria em um breve
instante?
"Você vai se trancar nessa ideia então", eu disse.
"Você vai me agradecer na hora", se defendeu Layla. É apenas uma questão
de tempo até que você veja o que minha vida se tornou. Sua vingança será
me ver daqui a alguns meses em pó. Não tenho expectativas de mim
mesmo, sei o que vem a seguir, e o que vem é sempre uma vingança do
mundo por tudo o que fiz a alguém, permitindo que se apaixonem por mim,
mesmo sabendo que poderia ter evitado.
Lá estava. Layla começara a admitir, embora sem ser explícita, que suas
ações eram em grande parte cúmplices da ilusão. Não sei se ele assumiu a
responsabilidade por cada janela quebrada. Mas agora eu não só me
lembrava de suas mãos entrelaçadas com as minhas no elevador da
faculdade, nem me lembrava apenas de seu salto nas minhas costas para
me agarrar, eu também tinha começado a me lembrar da vez em que ele
me deixou beijá-la em uma daquelas poucas vezes em que saímos juntos
para longas caminhadas na praia durante aquelas madrugadas em que ele
estava A vida foi colocada sobre ela como uma pedra pontiaguda amarrada
aos braços sem que ela pudesse fazer nada para desistir do peso. Naquela
época ele me disse que pelo menos eu tinha conseguido fazê-lo esquecer
aquela pedra por uma madrugada, que não era que aquela pedra tivesse
desaparecido para sempre, mas pelo menos ele entendeu que poderia
sobreviver ao seu peso. E essa memória não era apenas mais uma janela.
Provavelmente era uma porta que Layla havia criado para mim, mas estava
relutante em abrir esta noite.
"Eu seria um tolo de verdade se eu me acreditasse vingado por te ver mal",
eu disse.
"Só não faça nada", disse ela. Amanhã vá para a aula e siga com sua vida.
— Por que você diz isso? "Você não vai amanhã?" Estamos a poucos dias de
sair de férias, não me diga que pretende abandonar o próximo ciclo.
"Uma vez pensei que podíamos estar juntos", confessou, mudando
abruptamente de assunto. E a ideia não era tão ruim, sabe? Não sei por que
eu queria que isso acontecesse. Mas depois admiti que não era suficiente
para eu querer que isso acontecesse. Eu precisava sentir que te amo,
magrinha, e isso nunca aconteceu. A única coisa que sinto agora é que...
Bah. Nem sei o que sinto. Só sei que há muitos buracos no meu peito e que
o amor me escapou todos os dias desde que me lembro. E sei que em breve
não haverá mais nada em mim. Não quero que você fique pensando que
existe uma chance de isso mudar, entendeu? Vou garantir que você não
compartilhe minhas opiniões e que faça algo apenas por si mesmo", disse
por fim.
Ele ergueu o olhar para a luz que anuncia a próxima parada. Ele pegou suas
coisas e se despediu de mim me dando um beijo no rosto. Eu não a detive.
Mal conseguia olhar para ela, como a sombra perdida de uma pessoa que
morreu, e que foge por um par de portas que se abrem como as mandíbulas
de um animal gigantesco. Quando a boca fechou, ela já estava do lado de
fora em uma das filas. Ela segurava seus livros nos braços e seu rosto se
recusava a deixar as lágrimas saírem de seus olhos. Com o queixo subindo e
as barbatanas dos narizes dilatadas, ficamos invisíveis à passagem do metrô.
Nunca mais nos vimos.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Continuamos abusando da nossa boa sorte", eu disse.
"Não adianta viver se não houver riscos, querida", disse Layla. Além disso, já
estou morto.
Mas esse era apenas o problema: que afinal a vida continuava. Perder-se
para ter certeza de que ainda estávamos respirando... É o que temos feito
nos últimos meses. Ela disse que estava morta e não era verdade, ela não
estava morta. Em seus olhos havia uma pequena chama queimando, sempre
à beira da extinção, mas ela estava lá, e eu de alguma forma me senti
agarrada a ela. Por isso a acompanhei. Não é que ela quisesse fazer as coisas
direito, como sempre diz. Eu só queria tentar algo diferente. Nossa vida
estava indo para as mãos dos outros. Tínhamos dinheiro, amigos, um bom
lugar para morar. Mas depois disso o quê. Não havia mais nada. Pura sorte e
desejo de nos destruirmos, como se assim salvassemos pelo menos uma
última memória desenfreada que estava escondida da dor que proliferava
em outros corpos.
"Para alguém que acha que nossa sorte está acabando, você tem muita fé",
exclamou Layla, apoiando o rosto na mesa de vidro. Você acha que fazer
bem as coisas significa viver? Bem, você está errado. Eu já fazia as coisas
certas há muito tempo, e o que o mundo fazia? Me dá um chute maldito na
bunda, me joga no abismo da porra e depois cuspiu em mim lá de cima. As
pessoas só querem que você fique quieto, ou bem, se você falar, é para
provar que elas estão certas. Não quero fazer parte disso. Sei que sou
alguém que pertence a eles, mas insisto, não quero fazer parte deles. Quero
me perder e não pensar em mais nada até que um dia a sorte, sim, essa
sorte que você tanto fala finalmente acaba e eu morro completamente.
"Layla", eu disse, "o fim da nossa sorte não é necessariamente a morte.
Refiro-me ao fato de que um dia, quando deixarmos de ter saídas para
todas as nossas estupidezes, a vida continuará e isso é muito pior do que a
morte. Vivendo sabendo que você não está aqui. Que você nem tem a si
mesmo. Isso é o que me apavora. Que de tanta merda em nossas vidas, um
dia acabamos não nos reconhecendo.
— Você se conhece agora? —ela me perguntou, rindo— Vai te foder, tá? A
vida te tratou como lixo, e você está aqui comigo, ainda enfiando aquela
merda no nariz, e você me diz que não quer parar de saber quem você é,
sabe o que está acontecendo com você? Você é um covarde. Você tem
dificuldade em dar ao mundo a mesma pegadinha que recebeu. Diga-me,
graças a quem temos tudo isso? De onde você acha que vem o maldito "Não, eu vou", ele se levantou e tentou me empurrar. E eu não sou
dinheiro com que você paga seus vícios caros, sim, porque a criança não apedrejado... Me conta...
quer colocar nada, não, ela tem medo de se comparar a um daqueles
"O quê.
bandidos que picam os braços nos cantos de um subúrbio, ela não quer ser
bandida. Sempre um bom garoto. Maduro, você quer? A vida é horrível e — Por que você disse que me ama?
nos comportamos assim porque o mundo se comporta assim conosco.
"Esquece, sim?"
"Eles estão jogando.
"Não, não quero esquecer", disse Layla. Você disse que me ama e eu quero
"Ah, sim, eu sei. Talvez seja sorte. O que você diz. Fazemos acontecer? Ou saber o porquê. Eu mereço saber.
eu sei, melhor ainda, você acha que se a ameaçarmos de morte?
"Pare de foder agora, Layla. Vá para o inferno.
"Isso não faz sentido", eu disse.
"Eu vou fazer, mas primeiro me diga por que você disse que me ama. Sabe
"Não me diga o que faz sentido ou não,. de alguma coisa? Isso seria uma coisa muito boa. Não que você me ame,
mas saber que você tem sentimentos.
"Bom, bom. Mas vá e abra.
-Você me ama? Perguntei.
— E por que diabos você não vai?
"Vem cá", disse Layla.
"Eu me sinto super tonta.
Eu o ignorei. Então ele ficou na minha frente e deixou as mãos no meu
"Mas não o suficiente para parar de dizer coisas estúpidas, certo?"
peito.
"Eu te amo, Layla", eu disse, levantando-se. Eu nem sabia por que ele tinha
— Por que você faz isso? — eu disse.
dito isso. Talvez porque as minúsculas estrelas, que se expandiam ao redor
de seu rosto enquanto ele se esforçava para se manter firme, não me "Faça o quê. Beijar você?
deixavam olhar em seus olhos.
"Não. Dá-me esperança.
"Isso é estúpido também, não é?" Disse Layla.
"Eu não te dei esperança", disse ela.
— O amor lhe parece estúpido? Perguntei.
— Sabe de alguma coisa? Acho que você me ama também", virei as costas e
"Não, amor não. Me ame, idiota. Eu acredito no amor. Também na fui até a porta.
felicidade. Mas sabe no que eu não acredito? Que você ou outra pessoa me
ama sem querer algo de mim. É o que eu acho. Que todo mundo sempre — E sabe no que eu acredito agora? Layla me perguntou.
quer guardar algo seu e que no final, quando eles te deixam, você fica sem "O quê.
esse algo, e por isso você fica frio no seu próximo relacionamento. Você é
como vazio, você me entende? "Você tem razão, a sorte está acabando. Por exemplo, agora sua sorte está
acabando. Você não me fez sentir nada com aquele beijo. Melhor esquecer,
"Você é muito apedrejado", eu disse. Vá para cama. Vou abri-lo. você quer?

"Se a minha sorte acabar, posso dar à luz outra", disse.

— E como você vai fazer isso? "E eu não.

"Espere para ver. "Diga-me, você quer ser minha namorada?"

Mergulhei na maçaneta, tropeçando. Abri a porta e lá estava um maldito — E se eu quiser ser sua namorada? você. Primeiro morto.
arlequim com um chapéu de dominó. Coloquei a mão no saco e tirei
"Olha que coincidência. Há um tempo você disse que estava morto. Isso
algumas notas. Peguei a mão do menino, expus a palma da mão e deixei
significa que já estamos namorando?
todo o dinheiro nele. Eu nem sabia quanto havia. Fique com a mudança. E
joguei a porta abaixo. "Eu não disse isso... Esperar... Merda, tudo bem. Vamos tentar, vamos? Mas
que seja a partir de amanhã. E eu serei o noivo, e a partir de agora me
"Pedi uma pizza com muita merda de cogumelos e azeitonas verdes. A coisa
comportarei de forma indiferente, e tomarei as que quiser e depois voltarei
mais nojenta que Layla costuma chamar de pizza. Mas o que posso fazer
para você com um ramo de rosas pedindo perdão e dedicando uma música
com ele? Feliz aniversário, meu amor.
estúpida a você. O senhor concorda?
— Como é que você sabia que era meu aniversário? "Eu nunca te falei.
—A pizza esfria.
Aproximei-me de uma porta que talvez levasse à cozinha. A partir daí eu
"Pois bem. Que não comece amanhã. Sinto que hoje preciso ser namorada
disse:
de qualquer um.
"Li suas mensagens sem precisar abri-las às três da manhã. Você me disse
"Eu não sou quem, Layla", eu disse.
que queria me dizer por que nunca tinha me contado antes. Que você sentiu
pena de seus pais e tudo mais. Em seguida, você excluiu as mensagens. Eu "Você é a minha favorita", disse ela.
brincava de burro e esperava a gente estar aqui, sozinho. De qualquer
maneira. Não há vela ou bolo, mas há pizza. Onde diabos você tem os "Pois bem. E essa categoria inclui sexo?
malditos pratos? "Depende se eu gosto de você", disse ele, e colocou a mão dentro da minha
"Na minha bunda, boba. camisa.

"Ah, nessa bunda linda eu não vejo pratos. Só vejo a melhor estação do — E você gosta de mim?
mundo para o meu menino. "Acho que sim", admitiu Layla. Ninguém é tão brega e chato quanto você.
"Sim, você é alto, seu. Em outras palavras, eu sei que você é tudo o que eu preciso para me
contradizer.
"De amor, Layla. Você é a mulher da minha vida.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Meu Deus, que porra nojenta.
Era inevitável. Ele tinha um talento especial para fazer você esquecer tudo o
"Você disse isso uma vez, Layla: O amor torna até o mais desprezível ser que ele tinha feito com você antes. De repente, estava sobre você,
brega. Bem, digamos que sou eu. apoderando-se do presente e de suas convicções, arrastando-o para seu
próprio mundo, onde as más lembranças não existem. Não uma maldita
"Você não é desprezível", disse ela. Você é só mais um ovo e pronto.
partícula do passado que se espalha, sobrevivente, em algum canto de seu
"Eu te amo. olhar. Ontem não ardeu no fogo. Tudo era isso agora. E sentia-se frágil, leve,
sem peso, como se uma bola de aço quicasse dentro do crânio e inquieta.
Aquela bolinha de aço inocente era a Layla. E por mais que você tivesse
sofrido com o abandono deles, as palavras eram inúteis. Você foi contagiado
por seu bom humor e frescor, e então estava pronto para mergulhar no lago
do fogo eterno. E como é maravilhoso vir à tona, abrir os olhos e encontrá-
lo lá, com você... Mas a partir do momento em que você mergulha, com ele,
você deve estar preparado para não vê-lo mais. Você deve estar sempre
preparado para não encontrar sua voz, ou melhor, encontrá-la em todos os
lugares sem saber de onde vem. Você assina um pacto de morte levando
com ela. Você se dá em alma e corpo, e isso magicamente te devora, te
absorve e te devolve à terra. Você bebe uma bebida e outra, e cada vez mais
concorda que nunca houve traição. Que por mais que ela tenha te trocado
por outro por um tempo, não vale a pena lembrar. E os óculos colidem um
com o outro e você pega a cintura dela, e você a pega de novo e assim
descobre que Layla não é uma pessoa capaz de machucar alguém. Você a vê
dormindo em seu braço e pensa: "Quem diabos puxou o gatilho um dia e
matou sua fé no amor". Ela era inocente. Tinha que ser filho da puta. Mas
quem. Você iria procurá-lo ad nauseam, mas onde, onde procurar se Layla
cobre tudo. Todo o seu passado o envolve em uma cortina infinita que
nunca envelhece. E você não sabe se foi feliz ou triste. Se ela foi ferida no
caminho ou se ela nasceu com essa ferida. Você fica em frente ao espelho
enquanto lava o rosto e ela está no quarto, nua, dormindo sem que
ninguém a machuque. Você se sente um herói. Um patético herói plástico. E
você fuma um pouco para esquecer que ela não é sua. Porque mesmo que
ela jure, mil vezes, pertencer a você, há algo inato em seus olhos que diz:
"Eu não posso". E não importa que ontem você tenha se sentido
estupidamente dele, loucamente dele. Depois de um tempo, ela pegava
suas coisas e deixava um bilhete em que sempre dizia: "Juro que tentei de
novo".
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Esses dias eu tenho pensado que talvez a gente não vá se ver com tanta
frequência", disse Layla. Estou cansada de você não me ouvir e perguntar
coisas o tempo todo. Sim, quero dizer coisas que eu já tinha te dito.
"Não é que eu não os escute. Eu posso ouvir as coisas que você diz, mas eu
não as entendo. Como pode parecer lógico se apaixonar por um astronauta
que você não conhece e escrever cartas para ele e chorar por ele se ele nem
existe?
"Você não tem sensibilidade", Layla me censurou, "seu problema é que você
leva tudo tão superficialmente.
"Bom. Eu sou um raso. Isso não significa que você está agindo de forma
estranha nos últimos meses", disse.
"Talvez se você olhasse além das coisas mostradas, entenderia", disse ela.
-Meu Deus! De novo com as frases banais? Achei que você estava curado de
tudo isso.
— Você está vendo? Ver? Lá vai você de novo. Sempre o homem sabe-
tudo", disse Layla.
Ele desviou o olhar. Era como se ele tivesse saído. Seu corpo nada mais era
do que um dente-de-leão que minhas palavras espalhavam em pedaços. E,
apesar disso, tive a infelicidade de lhe apontar que nem todos giravam em
torno dele.
"Bem, você gira no meu mundo. Meu mundo é tão pequeno que não precisa
de mais ninguém. E esse mundinho é a única coisa que importa para mim
agora. Mandei o diabo para quem eu não amo e é assim que sempre vai ser.
Mas eu te entendo. Então não se preocupe.
"Layla...
"Não. Não quero que você diga mais nada. Você poderia me acompanhar
para pegar um táxi?
"Se eu fosse esse astronauta, facilmente o levaria a qualquer lugar.
"Você é um", Layla me disse.
"E você uma criança vaidosa", respondi.
— Sempre foi assim? Toda a sua vida você me viu como uma criança,
mesmo que eu já tenha vinte anos de idade?
"Caramba, Layla. Estamos arruinando tudo. Vamos ver, me diga... Por que
primeiro aquela ambição de querer ter um amor como aquelas histórias de
Chandler e depois um amor impossível como o de um maldito astronauta?
"Você não se importa", disse Layla. Você nunca se importou em saber.
"Estou dizendo uma coisa para mim mesmo, espere... Ah, merda, eu sei! Eu
sou um sabe-tudo. Eu deveria ser, eu também posso ter uma necessidade
de saber o que há de errado com você.
"Você é um. No dia em que eu saí da reabilitação, você não segurou minha
mão. Entramos no metrô como dois estranhos que estão prestes a pegá-lo.
Nos olhamos com resignação, como se eu fosse seu amigo viciado em
drogas, que bem, eu sou, mas não seu amigo, e como se depois de tanta
comiseração você merecesse que eu te elogiasse e te amasse por tudo.
Você também não me parabenizou pelo tempo que passei sem receber
nada durante o meu confinamento. Você foi me buscar porque ainda
éramos alguma coisa. Porque ainda somos alguma coisa, não é? Naquela
noite estávamos em sua casa, assistimos a um filme estúpido que você
queria e...
"Meu amor...
"Você parece se lembrar disso finalmente.
— Eu poderia realmente ter sido tão infeliz a ponto de fazer isso com você?
—Passei o filme inteiro esperando você acordar e quando você acordou
você me pediu para colocar um que eu gostasse. Eu fiz isso. Era sobre um
cara que é astronauta que tem a missão de parar de ver a esposa para ir
resolver algumas coisas no espaço. Caramba, foi muito triste. Fiquei muito
sensível com a minha saída da reabilitação e vocês não sabem quanto eu
teria dado porque vocês me abraçaram no momento em que aquele sujeito
volta à terra e a esposa dele está lá, chorando inconsolável e diz que ele não
saiu um momento sequer. desde a sua partida, escrever-lhe cartas, mesmo
que não as fosse ler. Porque havia uma chance de ele não voltar. E todas
aquelas cartas... E você dormiu ao meu lado...
"Layla...
—E todas essas cartas que escrevo são as que comecei no centro. A
psicóloga nos disse que deveríamos escrever. E eu fiz. Ele também disse
para pensar em alguém que amamos para inspiração. E eu, o que você acha
que eu fiz todo esse tempo. Tudo o que eu podia pensar era em escrever
para você sem parar por um único dia maldito, porque no meu mundo,
naquele mundinho patético que você insiste em ignorar, só podíamos
habitar dois, e eu só podia escrever para outra pessoa que não eu. E, no
entanto, você...
Eu estava chorando. As palavras foram vãs naqueles momentos. Apertei a
mão dele e nos sentamos novamente. Ela estava pálida, mas sem um único
gesto que mostrasse tristeza. Era um tipo de dor que só brota na solidão. Eu
não quis dizer nada a ele. Não consegui. Dediquei-me a beijar a mão com
que ele me escrevera todo esse tempo e por dentro me sentia tão infeliz
que nunca encontrei a desculpa perfeita para ser perdoada. Um único
movimento falso e uma mina explodiriam até nos quebrarem e nos fazerem
chorar como duas crianças que se amaram a vida toda e que só na idade
adulta ousam confessar seu amor.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
Lembro-me de seus dentes mordendo minha camisa. Seus braços esguios
agarrados à minha cintura. Para si mesma, ofuscada pela própria sombra,
escondida dentro do meu abraço, sentindo-se tão segura dentro do meu
velho casaco. Ele gostaria que eu fechasse e que ficássemos assim até o dia
seguinte. Mas as luzes se apagaram e os sons desapareceram com o passar
do tempo. Quarto passado doze, eu disse. E ela me apertou ainda mais. Não
sei por que não tinha percebido. Achei que estava suando, mas não fazia
sentido. Agora finalmente vi o rosto dele. Estava muito frio lá em cima.
Estávamos no topo do miradouro, de costas para o mar. Eu era o único que
tinha sido pego como um na frente dos fogos de artifício. Achou tudo
ótimo? Ele me perguntou. Mas eu não conseguia responder. Apesar da
noite, e da luz medíocre de incandescentes pendurados na capela, suas
lágrimas haviam deixado traços visíveis em suas bochechas pálidas. Ele
tentou fazer com que ela o ignorasse. Ele deu alguns passos e parou perto
do corrimão, encostado em uma das grades. Olhou para o mar, inclinando-
se um pouco, como se estivesse prestes a lançar-se. Passei e me afastei.
Queria continuar vendo as últimas luzes. Afinal, nem todo dia era de Ano
Novo. E estar lá com ela me fez sentir estranho. Porque eu queria dar
companhia a alguém, embora eu não tivesse nada a dizer. Qual valia a
minha presença. Ele não guardava rancor contra ele. Quando ele chegou em
casa, por volta das seis horas, eu estava preso no meu quarto e não tinha
outros planos a não ser jantar às doze com meus pais e depois me trancar
novamente. Ele tinha destruído tudo de novo. Meus planos, embora fúteis,
foram projetados para não destruir o pouco que me restava de
humanidade. Layla não é para mim, ela tinha me contado a última vez que a
vi, quando fugiu de casa para ir morar em Santiago com um cara que
conheceu em um aplicativo. Eu sabia que estava conversando com alguém,
que eles gostavam um do outro, mas nunca medi a capacidade dessa
possível traição. Afinal, eu tinha me acostumado a receber surpresas de vez
em quando. Eu nunca tive um relacionamento com ela em que eu pudesse
esperar que fôssemos bem. Nem um mês inteiro. Chegar à quinzena sem ser
abandonado, ou enganado, mesmo que apenas para ficar longe de mim por
um tempo, não foi nada importante. O que mais me magoou foram suas
respostas: vagas e estúpidas. Ele, de alguma forma, se orgulhava de sua
autodestruição. Sempre soube que ela era uma mulher livre. Mas ela não
acreditou na história que conseguiu lidar sozinha. E não é que ele precisasse
de alguém para fazer seu mundo girar bem. Ele simplesmente não era deste
mundo. Também não foi especial. Layla era simplesmente um silêncio. O
silêncio em si. Se digo que era de outro mundo, não é porque não conseguia
entender, mas porque não conhecia alguém que estivesse sempre disposto
a estragar tudo da noite para o dia para ser fiel a si mesma. E agora que ela
tinha voltado, para receber o ano novo comigo, eu não a via de forma
diferente. Não foi a primeira vez que ele se escondeu dentro de mim.
"Eu te amo muito", disse ele.
Eu não respondi a ele. Peguei um cigarro e me atrapalhei com o isqueiro nos
bolsos.
"Sei que não mereço nenhum apreço de vocês. Mas agradeço por estarem
comigo", disse mais tarde. Não tenho para onde ir.
Lá estava de novo. A intenção dele era voltar para a minha cama e fugir no
dia seguinte. Passamos a noite inteira assistindo programas em um hotel
decadente. Mas não foi suficiente. Me abandonar assim, no meio da noite,
me deixar sozinha em um prédio onde chegam prostitutas e bandidos, não
era a forma como ela agia. Eu precisava chegar em casa. Que eu faça ela
passar, que eu conte o que eu fiz em todo esse tempo com meus álbuns, e
se eu continuar tocando naquela banda que ela sabe que nunca vai chegar a
lugar nenhum. Ele precisa assumir tudo, para que, uma vez satisfeito e
concluído sua tarefa, ele me deixe cagando para minha liberdade sem ter
que fechar a maldita porta do banheiro.
"Eu te amo também, Layla", eu disse. Mas não da mesma forma.
"Só há uma maneira de querer", alertou.
"Eu sei, Layla. Você não precisa me dizer.
Virou-se para as últimas luzes. Não havia nada além de edifícios e formigas
nos terraços servindo-se e bebendo sabe-se lá o quê.
"Gostaria de entender o que você quer dizer", disse ele mais tarde.
Eu não queria responder a ele. Mas senti que bastava. Peguei uma de suas
mãos e puxando-a coloquei na minha frente. Ela era apenas um pouco mais
baixa do que eu. Acho que tinha esquecido. Um tempo atrás, quando eu
estava pulando em mim mesmo, ele ficou mais alto. Por um momento tive
uma ideia absurda. Que sua tristeza o reduziu alguns centímetros. Eu ia
contar para ele, mas não era o momento. Ela queria saber a que eu me
referia.
"Que só eu te amo de verdade, boba", eu disse, "você não me ama.
"Isso não é verdade", irritou-se. Claro que eu te amo. É por isso que eu
procurei por você e não por outra pessoa. Porque só você sempre cuidou de
mim, e com você eu sinto...
"Minha querida... Você se sente amado. E tudo bem, Layla. Tudo bem que
você não me ama como eu. Eu não acho que eu poderia suportar todo o seu
amor. Sempre achei que você é quem costuma me trair, mas não é assim.
Eu nunca soube dizer não para você. E não sei se consigo. Quando você acha
que corre o risco de eu enlouquecer de amor por você, você foge como se
fosse ser morto. Mas, no fundo, é um ato de amor para mim. Uma
reprimenda como meus velhos dizendo: "esta noite você não sai" e eu fico
com raiva pensando que os odeio, mas no dia seguinte acordado, eu os vejo
felizes, eles me dão algum dinheiro e liberdade, e eu sei que eles se
esforçam para não perder as rédeas da minha vida. Afinal, eles pagam a
faculdade, Layla. E quanto a você. Você sempre volta, embora sem dinheiro,
é claro, e toda vez que você volta eu fico feliz. Então, do seu jeito. Do nosso
jeito.
"Já. Mas eu te amo, hein", repetiu.
Ele colocou minha mão em um de seus seios e começou a se esgueirar pelo
meu pescoço. Algo crescia lá embaixo dentro da minha calça. Layla havia
notado. Ele ficou ainda mais apegado e não sei quando estávamos no meu
quarto. Brincamos de burros olhando nos olhos um do outro. Meu rosto
estava entre as pernas dele e de lá eu disse:
"Este é o seu primeiro oral do ano, Layla.
— Ah, isso mesmo! "Isso não é uma coisa linda?" Algo me diz que este vai
ser o nosso ano, céu.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Concordo", disse ele. Você tem razão, essa pessoa te machucou. Mas eu
vou te dizer uma coisa, rapaz", completou: Você não precisa ofender
ninguém para defender quem você é. Fazer isso só te coloca no mesmo
nível daquele cara, e uma vez que você se permitiu ser dominado pela raiva
e já está arrastado por ela, não há como voltar atrás. Então ninguém sabe
reconhecer entre culpados e inocentes.
"Pelo que me importa o que as pessoas pensam", eu disse. Aqui o
importante é que aquele filho da puta pague pelo que falou de mim.
O velho me encarou. Nem um único gesto de compaixão. Eu acreditava que
se há uma coisa que os mais velhos sempre fazem, é incomodar sua vida
com uma série de afirmações de que, quando não são replicadas, eles
começam a olhar para você com pena pensando que eu gostaria que você
tivesse seguido seus conselhos. Mas quanto a ele, o quão longe ele estava
de ser uma dessas pessoas. Ele nunca usou sua idade para me fazer sentir
como um garoto rebelde miserável que não sabe o que está fazendo. Ele
estava lá apenas dizendo o que queria, e não me lembro de me sentir tão
livre para falar sobre todo o ódio que estava contido em mim. Para ele, o
rancor que eu guardava lá dentro não era o problema, mas saber como eu
iria usá-lo.
"Filhos da puta, como vocês chamam, nunca deixarão de ser", disse,
levantando-se. Você não é um deles. "Defenda-se se quiser, é a coisa certa a
fazer", disse. Então ele deixou cair sua mão flácida no meu ombro.
Senti o calor de seus ossos formando uma pequena fissura pela qual algo
que estava em mim escapou. Algo que não pertencia ao meu corpo e
mesmo assim eu tinha deixado entrar sem fazer nada para impedi-lo.
"Mas sim", acrescentou mais tarde, "não deixe que esse ódio que você
sente o turve e o impeça de se lembrar do que está procurando. A vingança
só acaba trazendo mais vingança. É um inseto quase invisível que um dia se
agarra ao seu pescoço e começa a se alimentar do sangue que ferve dentro
de você, de todo o seu ódio. Faz-lhe o favor, claro, de acalmar aquele fogo
que arde dentro de você. Ninguém suporta tamanho desamparo e sede de
justiça. Essa é a coisa triste de tudo isso. É por isso que achamos que esses
bugs nos fazem um grande favor. Mas o que acontece quando você se
acostuma com as cicatrizes deixadas pelas mordidas dessas coisas? Em
algum momento, os vestígios de sua trilha não permitirão que você
reconheça quem você é. Isso é vingança, filho. Mais cedo ou mais tarde só
acaba por desfigurar quem somos.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Sempre tenho fé que tudo vai dar errado para mim", diz Layla. Dessa
forma, quando as coisas vão bem para mim, eu posso realmente aproveitá-
las. Alguém disse uma vez que a verdadeira felicidade é indescritível. Bem,
eu digo que também é um mero acidente, e que quando isso simplesmente
acontece, a felicidade permanece conosco por mais tempo.
"Mas o que você não espera, e mesmo assim acaba acontecendo, nem
sempre funciona assim, não acha?" Quer dizer, todas as coincidências são
incríveis.
"Ah, mas você espera que isso aconteça?" Eu não. Como digo, sou uma
espécie de pessimista que também blasfema contra o pessimismo.
— E como diabos é isso? Perguntei.
"Simples. Quando pensei que as coisas iam dar errado para mim, apesar
disso, nunca, em nenhum momento, deixei de acreditar que eu também
posso ser feliz. Por que todo mundo poderia ser e eu não? O que poderia
ser especial nos outros que não está em mim? Se todos nós fazemos parte
desse mundo horrível, pelo menos, junto com os infortúnios que também
acontecem com os outros, eu também deveria, em algum momento, obter
uma pequena dose de felicidade, não é mesmo? Embora eu não espere, é
claro. Mas eu sei que ele está por aí. Nunca fechei a porta para ele. Talvez
para que ela pudesse entrar quando quisesse. Sei que, se o fizesse, não
fecharia a porta para tê-la sempre comigo. Vamos lá, isso seria chato. É
melhor deixá-la entrar e sair de mim sempre que quiser.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
— E se eu me destruir, quem vai pegar os escombros?
"Todo mundo se enterra sozinho, querida.
"A morte nunca me apavorou, sabe, mas tenho medo de pensar que meu
funeral será vazio e que ainda estarei acordada no meu caixão", disse Layla.
"Isso é uma coisa terrível, não é?" Eu disse. Saber que a vida vai além da
morte.
"É por isso que eu digo que pelo menos eu teria sido confortada ao ver
alguém, não sei quem, apenas alguém que ainda estava lá", disse ela.
"Não me emociono com o pensamento de solidão, Layla. Eu simplesmente
nunca iria ao seu túmulo porque sou alérgico aos mortos; De repente, eles
se afundam e me arrastam até me convencerem de que estão descansando
em paz. Se não fosse essa possibilidade de que a vida continue após a
morte, eu realmente não teria nenhum problema em ir vê-lo. Mas se você
está lá, deitado, e seus ossos estão me ouvindo, temo que você descubra o
quanto eu te amava quando estávamos juntos.
"Mas se eu souber disso, bobo. Você não precisa esperar eu morrer para
descobrir.
"Você tem uma ideia do quanto eu te amo, Layla. Mas você não viu as
entranhas desses sentimentos. Talvez você descubra um dia quando decidir
me deixar. Há amores que podem conhecer outros corpos, reconstruir suas
vidas com outro amor, e assim por diante, mas nunca conseguem sentir o
mesmo amor. Parece estúpido, eu sei. Mas quase sempre as coisas que
parecem estúpidas são as mais importantes.
"Adoro que você pense nesses detalhes", disse Layla. Pois é. A verdade é
que eu não sei o quanto você realmente me ama. Mas se isso acontecesse,
como as coisas mudariam?
"Nisso, você nunca mais me veria igual. As pessoas têm medo do amor
incondicional, daquele amor que torce com vontade de compartilhar tudo,
mesmo que seja a própria alma... Você simplesmente não suportaria tudo
isso.
"Mas você está me dizendo, e acho que é assim que você se sente em
relação a mim.
"Quem me dera que fosse, Layla. Mas há também outro tipo de amor. Uma
em que você permanece absolutamente em silêncio, porque mesmo sendo
amado, você tem um problema maldito consigo mesmo. E a porra disso é
que às vezes você acorda querendo tentar de tudo; Mas outras vezes você
sucumbe ao medo e se cala e simplesmente deixa a pessoa que você mais
ama ir embora.
"Agora eu não sei qual dos dois tipos de amor você sente por mim", disse
Layla.
"Você não precisa saber agora, meu amor. Enquanto você estiver aqui,
comigo, o resto não importa. Vou continuar dando tudo de mim para que
você nunca pare para pensar em qual dos dois tipos de amor se encaixa no
meu. Até agora eu acho que você já se fartou do que eu sou, e...
"E eu fui feliz assim.
"Bom saber.
"Mas você ainda não virá me ver quando eu morrer.
"Um morto visitando outro morto. Seria como recebê-la, Layla. E você sabe
que eu não gosto de cerimônias porque então você tem que fazer um
discurso e eu não sei dizer outras coisas além da grosseria, e eu amo você e
aquelas frases que eu prefiro te dizer toda vez que escrevo. Porque só
escrevendo você sempre chega, Layla, e acredite em mim você nunca
perdeu nenhum compromisso.
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
Quantas pessoas não se tomam como criaturas extraordinárias, infalíveis e
incondicionais. Alguns levam tão a sério suas vidas, que os personagens que
fizeram de si mesmos, baseados em seus preconceitos e medos, em suas
supostas conquistas e virtudes, são quase sempre patéticos e. São, em sua
maioria, os que se dizem sérios. Ou os que abominam a estupidez do
"vulgar". Mas dentro de suas cabeças não há nada além de um cérebro
semelhante ao de um extremista religioso cuja fé só está indo para um lado.
A única evidência de que eles são raros está em como eles nos informam.
Há quem consiga fotografar os seus mais de mil livros para publicar no
Facebook a sua vasta quantidade de consumo literário, científico ou político;
sem a necessidade de dizer que são animais quase extintos. Essa é a
estranheza deles: os mais sérios são os humildes que só mostram suas
coisas, mas não falam muito sobre elas. Há também aqueles que publicam
milhares de canções para gênios incompreendidos, e aqueles que, por uma
questão de humildade, decidem não compartilhar a música que realmente
gostam e publicar apenas músicas vulgares para rir dela; Quase sempre se lê
nas entrelinhas as suas queixas contra esta sociedade doente que dificulta
que sejam únicos, porque agora todos têm acesso a livros e filmes gratuitos
sem que possam dizer a si próprios: só eu conheci um autor desses, só eu
um músico prodígio, Só eu para esse diretor sensacional. Levar muito a
sério a vida que se leva, ou o caráter que cada um desenhou para si, exige
muito esforço. E quase sempre se auto-exilam em vão. Talvez devêssemos
ter em conta, de vez em quando, antes de fazer uma queixa contra a
banalidade, a vulgaridade e o mau gosto, que todos temos uma bunda onde
a merda é libertada aproximando-nos uns dos outros a uma irmandade não
de sangue, mas de fezes.
-Gian Franco Huacache
"O triste de algumas lembranças é que elas nos mostram as coisas que não
conseguíamos ver enquanto estavam acontecendo. E essas revelações, tardias
como todo aprendizado, são feridas de momentos que aparecem justamente
quando mais gostaríamos que começassem a cicatrizar."
- Gian F. Huacache - Brasil | Cinco Segredos
"Amadurecer é perder algumas ilusões para começar a ter outras." –Virgínia
Woolf
"É absolutamente errado supor que os outros estão em posição de entender nossos sentimentos
mais profundos." –Yukio Mishima
"Pode ter sido um acaso encontrá-lo. Mas ao seu lado, todos os dias, sinto
que, na realidade, sempre estive destinado a conhecê-lo" – Gian Franco
Huacache
"Não sou boa companhia; Falar não me faz bem. Não quero trocar ideias, nem almas. Eu sou
um bloco de pedra que se basta. Quero ficar dentro desse bloco, sem que ninguém me
incomode. Sempre fui assim." – Charles Bukowski
"Se você faz jus a quem eles querem que você seja, no final do dia, quando as pessoas se
foram e você só tem você, você realmente tem a si mesmo?" –Gian Franco Huacache
"Eu estava tão cheia de ódio que não havia espaço dentro de mim para
sentimentos como amor, tristeza, ternura, honra ou decência. Meu único
arrependimento é que eu não nasci morto, ou simplesmente não nasci." -Carl
Panzram
O mundo vai partir o seu coração de todas as maneiras imagináveis. Isso está
garantido e não sei explicar, nem a loucura que carrego dentro de mim ou a
loucura que os outros carregam. A vida nunca é justa, mas é preciso enfrentar
os golpes e seguir em frente. E quando você tem um coração partido você
terá que reconstruí-lo e, não só isso, você terá que confiar novamente e esta é
a parte mais difícil. Apesar de tudo isso, mesmo que a vida quebre todas as
suas ilusões você deve continuar sonhando, sabe por quê? Porque se você se
empolgar, porque se você não sonhar, porque se você não amar, que tipo de
vida você vai estar vivendo? Por que você quer uma vida se não está
aproveitando isso? Você não pode viver com medo a vida toda. A vida é
assim: você cai, levanta e cai de novo. Mas, se você nem se mexe por medo
de cair, na realidade, você já afundou.
"Não tenha medo de me deixar em paz, estou acostumada a abrir mão de
coisas que imagino ter amado." -Emily Dickinson
"Buscar serenidade me parece uma ambição mais razoável do que buscar a
felicidade. E talvez a serenidade seja uma forma de felicidade." –Jorge Luis
Borges
"Durante o dia é extraordinariamente fácil ser duro em qualquer assunto, mas
à noite é outra música." -Ernest Hemingway
"Não há liberdade, mas sim a busca da liberdade, e essa busca é o que nos
torna livres". --Carlos Fuentes
"De qualquer forma, aprendi uma coisa, e é o seguinte: as pessoas não são
bem conhecidas até que você tenha tido uma briga real com elas. Só assim se
pode julgar o caráter que eles têm." --Ana Franca
"A violência em suas palavras reflete o medo que o aflige. É o casaco que o protege
de sua própria vulnerabilidade; Quanto mais ódio você demonstra, mais
desamparado você fica." --Gian Franco Huacache
Quem conseguiu atravessar as barreiras do superficial, já entendeu, em algum
momento de sua vida, que todos podem ter a possibilidade de conquistar um
corpo. E isso alcança, em vez disso, o coração de alguém; Entrar nela, e formar,
depois de um tempo, parte daquele motor que impulsiona seus batimentos cardíacos,
é a coisa mais linda que pode haver. Somente quando você passa a amar alguém
além da pele, entendemos pela primeira vez que as imperfeições de uma pessoa, no
lugar certo, podem ser grandes virtudes. --Gian Franco Huacache
"Eu sei o que quero, tenho um objetivo, uma opinião formada, uma religião e um
amor. Deixe-me ser eu mesmo, e ficarei satisfeito. Sei que sou uma mulher, uma
mulher com força interior e com muita coragem". --Ana Franca
"Eu tinha vontade de fazer as coisas funcionarem melhor na minha vida. Repetidas
vezes fiz questão de deixar de lado o meu pessimismo. Mas o mundo, suas coisas,
não cessaram de me arrastar para aquele nada que depois sempre me devolveu para
casa com uma profunda necessidade de solidão. A parte difícil foi não me encaixar,
mas fingir que era o que eu realmente precisava para ser feliz." --Gian Franco
Huacache
"Mas não vale a pena deixarmo-nos invadir pela tristeza. Nada foi fixado: provas que
devem ser carregadas com nojo e resignação. E, como os gladiadores mais elegantes
do circo romano, com um vago sorriso nos lábios." --Camilo José Cela
"Dinheiro, poder e todas essas coisas pelas quais os homens se torturam e acabam
matando uns aos outros têm pouco valor para aqueles que se encontraram, para os
obstinados. Ele só valoriza uma coisa: a força misteriosa interior, que o comanda a
viver e o ajuda a crescer." --Hermann, Hesse
"Não sou muito forte; Mas o carinho que tenho por vós é forte e grande e não acaba.
É como uma árvore que se enraizou muito naquela terra que é você e da qual será
difícil me livrar mais. E porque você é assim, como a terra, nobre e bela e cheia de
maravilhas, é por isso que eu não poderei te esquecer. As piores coisas vão
acontecer, os piores dias e também os momentos em que a pessoa se sente azarada,
mas você sempre estará lá, como a lua da noite, acabando com as más impressões do
dia. Você sempre e a cada momento, menina com os olhos cheios de ternura, você
estará lá, você sempre permanecerá comigo. Não, não tenham medo, eu já te levo
aqui, profunda e cuidadosamente guardada, no lugar onde te digo que todo mundo
diz que temos coração. E eu lutarei por você; Lutarei contra tudo, por você" --Juan
Rulfo, Cartas a Clara
"Sempre me senti miserável, enormemente miserável, como já disse várias vezes.
Muito, porque eu queria ser, muito porque me fizeram sentir que sou. Eles me
bateram, sabe, me bateram forte no que chamam de sentimento. Não sei quem; Mas
sei que, às vezes, quando examino minha alma, a sinto um pouco quebrada." --Juan
Rulfo
---Sempre houve uma grande diferença entre nós--- disse ela ---. Nunca fomos no
mesmo ritmo. Eu dei para você. Vamos lá, era impossível não fazer, como eu poderia
esconder meus sentimentos se eles foram apenas os que me encorajaram a esperar o
dia em que você se abriu para mim? Passei tantos meses acreditando que em algum
momento você viria até mim, sem esperar que eu desse a iniciativa. E nada. Nada
disso aconteceu. E agora você quer que eu acredite que você está disposto a provar
tudo o que você não conseguiu provar em todo esse tempo? Não podemos mais fazer
isso juntos. ---Todos nós merecemos uma chance--- eu disse---. Eu errei
terrivelmente e não vou discutir com você de jeito nenhum. Estou falando apenas de
como as pessoas também podem mudar para melhor... Ficamos em silêncio, olhando
um para o outro como se nossos corpos tivessem começado a se diluir com o calor da
cozinha. Pela primeira vez na minha vida experimentei a terrível sensação de estar à
beira de perder tudo. E eu não me referia à vida, mas ao que a impulsionava sem tê-
la percebido em todo esse tempo. Não reparei no momento em que lhe perguntei: ---
Você não está feliz por eu estar aqui me mostrando finalmente como eu sou? Não era
isso que você sempre exigia de mim? ---Note que eu nego que seja uma boa notícia
que você tenha mudado", disse ela. No fundo, fico feliz que você reconheça que fez
coisas erradas. E eu digo que estou feliz porque tenho certeza de que, se isso for
verdade, você será capaz de fazer alguém feliz. Quanto a mim, como voltar no
tempo? Ou melhor: por que voltar no tempo? Por que remontar os fragmentos de um
amor que não existe mais? Não faz sentido. Agora estou convencido de que o mesmo
amor não pode ser dado duas vezes, sabe? Fique só com isso. Com essa verdade que
ninguém pode tirar de você. --- que verdade? ---Perguntei a ele. ---Que eu te amava e
nunca me arrependo de ter feito isso. ---Gian Franco Huacache I Cinco Segredos
Eles observavam meus passos há anos. E no dia em que reencontrei alguém depois
de muito tempo, não foi diferente. A ideia que fizeram sobre mim foi baseada no
meu comportamento e no meu confinamento. Aquela mulher que passa o dia todo
presa em casa? Você viu que ela acabou de conhecer um homem, e que ele parece
mais jovem do que ela? Não foi necessário se aproximar dessas pessoas, pois quando
os murmúrios não são ouvidos, eles podem ser vistos. E embora isso possa ser algo
engraçado, algo mais que está ligado à árvore do cotidiano, eu continuo pensando
que o mundo está sempre tão acostumado a acreditar que é tarde. Que é sempre tarde
para sair e tomar sol porque é noite. Que é sempre tarde porque uma mulher de
cinquenta anos não podia levar alguém como quisesse. Que é sempre tarde para o
amor e ainda mais quando você se entregou à solidão por tanto tempo. Ou seja, para
a maioria das vezes tudo tem que ser desespero. Correndo, atrás do amor porque ele
vai embora... Assistir ao pôr-do-sol porque nunca haverá outro no dia seguinte... E
faça amor com todos os homens que você gosta agora porque uma mulher velha não
pode perder a decência imolada em seus cabelos grisalhos... Iah! Como é patético
amarrar tudo e não deixar de lado o que realmente queremos. Quanto a mim, eu não
ia deixar que as opiniões dos outros interferissem nos meus desejos. É por isso que,
no dia em que conheci essa pessoa, me certifiquei de não levar minhas decisões
muito a sério. Porque era tão falível quanto qualquer outro. No entanto, eu esperava
sentir aquele mesmo fogo visceral que habitava em mim nos meses depois de
conhecer meu único amor. E sim, havia algo diferente talvez, mas o fogo era real. ---
Gian F. Huacache I Em Busca de Fogo
"A vantagem de desfrutar da memória ruim é que várias vezes das mesmas coisas
pela primeira vez." ---Friedrich Nietzsche
"Há o bom do mau e há o mau do bom. Em tudo que é bom há algo de errado; Em
tudo que é ruim há algo de bom. Entre o incenso da oração o crime é escondido, e
sob o perfume da oração a culpa é isenta. Há muita virtude nos ímpios, há muita
maldade nos virtuosos." ---Mercedes Palmer
--- Ok", disse ele --. Você está certo. Essa pessoa te machucou. Mas vou te dizer uma
coisa, rapaz", completou: Você não precisa ofender ninguém para defender quem você é.
Fazer isso só te coloca na mesma situação daquele cara, e uma vez que você se permitiu ser
dominado pela raiva e já está arrastado por ela, não há mais fim. Então ninguém sabe
reconhecer entre culpados e inocentes.
"O que me importa com o que as pessoas pensam", eu disse--. Aqui o importante é
que aquele filho da puta pague pelo que falou de mim. Ou você acha que é
exatamente isso que ele faz? Ele me encarou sem fazer nenhum gesto que eu pudesse
interpretar como compaixão. Eu acreditava que se há uma coisa que os idosos
sempre fazem, é para sua vida com uma série de afirmações que, quando não são
replicadas, tendem a olhar para você como pessoas perdidas que gostariam de ter
seguido seus conselhos, porque eles nos nutririam e nos tornariam mais sábios.
Quanto a ele, que estava longe de ser um deles... Ele nem se esforçou para me fazer
sentir uma criança. E embora de certa forma ele fosse, em suas palavras eu sentia
respeito. "Filhos da puta, como vocês chamam, nunca deixarão de ser", disse--.
Você, por outro lado, filho, não é um deles. Vá e se defenda se quiser, é a coisa certa
a fazer, não devemos reprimir nossos sentimentos mesmo que eles estejam com
raiva, mas não deixe que esse ódio turve o que você realmente está procurando:
justiça. A vingança só acaba trazendo mais vingança. É como um inseto invisível que
um dia se agarra ao seu pescoço e começa a sugar o sangue que ferve dentro de você.
Te faz o favor de acalmar aquele fogo que arde dentro de você, sim. Mas no final do
dia você perde sangue, que é a vida, e em algum momento a ferida dessa mordida
deixará em seu corpo vestígios de alguém que você é novo para reconhecer. Mais
cedo ou mais tarde, a vingança só acaba por desfigurar quem somos. --Gian Franco
Huacache I "Cinco segredos".
"Quando me sinto infeliz, penso na morte. É o consolo que tenho: saber que não vou continuar
sendo, achar que vou deixar de ser." --Jorge, Luís Borges
Eu a vi arrumando as malas e, dentro de mim, pensei: "O que vai acontecer
comigo quando você sair?" Eu nunca tinha recorrido à ideia de que as
pessoas têm a capacidade de destruí-lo, mesmo que tivessem jurado que
não. E, no entanto, deixe-a ir. Não tive coragem de pedir nenhuma
explicação, embora ela tenha exigido que eu dissesse algumas palavras. Ela
não suportou o fato de que meu silêncio abrigava tantas suposições. Mas
meu silêncio, na realidade, não passava de um sinal de amor. Ela estava livre
e eu não ia fazer absolutamente nada para contrariar a decisão dela. Quem
decide sair, da noite para o dia, é porque já pensa nisso há muito tempo. --
Gian F. Huacache I Cinco Segredos
Quem decide sair, da noite para o dia, é porque já pensa nisso há muito
tempo. E quando uma pessoa dá esse passo, não há força humana capaz de
voltar no tempo. Pode-se lutar por alguém estar dentro de um
relacionamento. Mas uma vez que você foi deixado para trás, uma vez que
alguém teve a coragem de suportar o peso de uma despedida, não há como
voltar atrás. A única coisa recuperável são os fragmentos de um coração
partido. E ela, em algum momento, me encontraria novamente no meio de
uma rua, e estaria disposta, depois de me ver, a reunir cada um desses
fragmentos? O adi6s é o passado que declaramos em um breve instante.
Não há nada a ser feito a respeito. Se eu podia fazer alguma coisa por ela,
agora que ela não estava mais ao meu lado, era para evitar lembranças
felizes. Só assim poderíamos ficar seguros. --Gian F. Huacache I Cinco
Segredos
"Amar de novo não está nos meus planos", ela me disse. É simples: não
tenho amor para dar. Sugiro que você não direcione seu olhar para a seção
romântica do meu coração. Não há nada lá, apenas uma enorme lacuna." -
Gian Franco Huacache
"Somente quando passamos a amar além da pele é que entendemos, pela
primeira vez, que as imperfeições de uma pessoa, no lugar certo, podem ser
grandes virtudes." -Gian Franco Huacache
"O triste de algumas lembranças é que elas nos mostram as coisas que não
conseguíamos ver enquanto estavam acontecendo. E essas revelações,
tardias como todo aprendizado, são feridas de lembranças que aparecem
justamente quando mais preferimos que comecem a cicatrizar" -Gian
Franco Huacache
"Você é bom em fingir para os outros que tudo está indo bem em sua vida.
Mas à noite, já em frente ao espelho e sem espectadores, pode continuar a
mentir para si mesmo? Você pode continuar a fugir do olhar daquele que
está refletido à sua frente, e simplesmente agir como se nada, como um
lugar silencioso, que há muito clama por ajuda, não existisse realmente?" –
Gian F. Huacache I Cinco Segredos
Naquela época estávamos sozinhos em sua casa, confessei, houve um
momento em que você se aproximou de mim, nua, e eu só conseguia
pensar em algo: eu te amava para sempre, Layla. Mas eu não sabia te dizer.
Você e eu havíamos gozado disso para sempre tantas vezes, que eu tinha
medo de estar me fazendo de bobo na sua frente, mesmo tendo tudo.
Nessa mesma época entendi que no sexo não havia nada mais forte do que
o que eu sentia por você. Aquele sexo entre nós funcionou porque você
existiu, porque foi você quem fez isso. Mas não acordei acreditando que
tinha conquistado alguma coisa. Claro que não. Eu te amava e não sabia te
contar. Essa foi a minha derrota. O que quero dizer, Layla... É que eu não
pretendo colocar mais ninguém na minha vida. Eu sou egoísta nesse ponto,
admito: não quero ter você longe de mim. Eu gostaria de poder mostrar a
vocês que eu me amo também e que eu não sou aquele cara que você acha
que conhece só porque eu costumava fazer coisas erradas. Não estou
dizendo que agora sou outro homem. Não. Não tem nada a ver com isso.
Não sou melhor do que ninguém. Eu simplesmente digo que agora, ou
melhor, por algum tempo, eu me apaixonei por tudo o que você significa
para mim. Vamos lá, eu sou uma bagunça. Eu disse depois. Falar sobre isso
não é fácil. É assim que o amor se sente? Você poderia me dizer, Layla, se é
você e eu aqui agora, ou estou louca e alucinando agora? Não sei mais,
Layla. Não sei de nada. Eu só quero poder dizer a mim mesmo um dia, que
tudo o que eu confessei para você valeu a pena, e que eu não me importo
mais se eu fizer certo. Tudo o que eu disse não pode ficar dentro de mim e
se eu te digo é porque eu te quero ao meu lado, sem pressa, sem condições.
Eu te amo e é isso, Layla. Eu gostaria de poder ser muito bom com as
palavras. É horrível falar de amor e só poder dizer amor, entendeu? Não é
vírgula quando falamos de outra coisa. Pode-se dizer árvore ou fogão, e
nada acontece. Mas com amor não sei o que acontece. Se não encontrar o
que quero expressar esta tarde, penso que estou morto. Claro, Layla:
Morrendo te dizendo amor, já é muita coisa, não acha? Pelo menos é uma
palavra que não foi dita só porque. Se eu te digo amor, é porque realmente,
daqui de dentro, há algas que impulsionam sua declaração. E como evitá-lo?
São coisas que não podem ser guardadas ou muito menos escondidas por
muito tempo, sabe? - Gian F. Huacache I Cinco Segredos
"Nunca diga que ama alguém se não viu sua raiva, maus hábitos, crenças
absurdas e contradições. Todos podem amar o pôr do sol e a alegria, só
alguns são capazes de amar o caos e a decadência."
-Jonathan Haller
"Tudo o que eu sei", eu disse, "é que se você não encontrar seu próprio
caminho, você não precisa ficar onde está. Mesmo que você tenha
dificuldade em aceitá-lo, há pessoas que podem ajudá-lo. "Não mais", disse
ela. Eu não quero meter mais ninguém no meu problema, entendeu? Estou
cansada de ser olhada com compaixão e acreditar que todos podem fazer
algo por mim como se eu estivesse clamando por isso. - Os mesmos
preconceitos de sempre. Parece que você vive pensando que, ao receber a
ajuda de alguém, automaticamente deixará de ser quem você é. Inferno!
Como se isso fosse verdade. -Continue a dar o nó na pulseira. Ela estava
rindo e eu não sabia o que "Você é incansável", ela me disse mais tarde.
Aposto que você nunca pega no primeiro encontro. Agora estávamos os
dois rindo. Quando soltei o pulso ele tocou meu queixo e me encarou como
se estivesse prestes a fazer alguma piada que por algum motivo ele preferiu
ignorar. Pensei naquele momento em que tinha acontecido o contrário: ela
estava chorando no meu ombro, quando de repente riu. E embora ele não
tivesse agora passado do riso à tristeza, sua súbita seriedade poderia me
explicar muitas coisas. Eu só quero que você veja o que acontece de
diferente. Não estou dizendo que alguém pode salvá-lo. O que estou
dizendo é que, para alguém te ajudar, você precisa de si mesmo. "Merda",
disse ela. Vai para o inferno, vai? "Bem", eu disse, "se você quiser isso, tudo
bem. Mas apenas me prometa que você vai abrir essa possibilidade. Sabe o
que eu vou fazer? - disse ele - Vou cavar um buraco e vou enterrá-lo lá até
que toda essa maldita ansiedade passe, você acha? Deus, isso seria incrível,
Layla! Um buraco no meio de um parque. E você, por favor, vai me trazer
algo para comer? -Eu? Você é doido. Sim, você é. É bom que você acabe
com isso de uma vez por todas. Estou indo embora. -Mas gostou ou não da
pulseira? -perguntei. -Digamos que ele expressa muito bem meus
sentimentos. Quer dizer, esse céu horrível. "O que eu faria sem sua
sinceridade, Layla. Acho que foi por isso que a gente ficou noivo, né? "Bem,
bem, há coisas para as quais posso ser útil, não é?" Somos todos bons em
alguma coisa, dizem. Eu sou bom em ser honesto. Vem da minha alma. "E
você acha que não tem salvação?" "Acho que tenho salvação", respondeu. -
Nada mau. "Bem", disse ela. No dia seguinte, ele me esperou na calçada da
minha casa para que eu voltasse das aulas. Ela estava usando uma camiseta
preta com o logotipo de um sorriso escandaloso e pela primeira vez eu a vi
maquiada. Seus shorts estavam rasgados, e seus sapatos de plataforma
escuros brilhavam com a luz que filtrava através da sombra de um jacarandá
esgarçado. Passei por ele e joguei de. "Ei, espere", ele me chama
calmamente. Você não me reconhece? "Apenas deixe-me ir para algumas
coisas e voltar", eu disse. Então virei-me para ela e a encarei. Eu não
conseguia sorrir porque tinha medo de errar. Ela fez, e eu gostei. Adorei vê-
la sorrir. Depois de algumas horas, o último sorriso que vi foi o que roubei
de mim antes de deixá-la no centro de reabilitação. "Eu vou ficar bem, ele
disse: 'Tira a cara desse idiota'. E então ele me abraçou na escuridão da sala.
Seu abraço durou todos aqueles meses que eu não pude vê-la. Eu tinha
orgulho dela não por mim, não por ter interferido no jeito dela... Senti-me
orgulhoso porque foi a primeira vez que experimentei a libertação de um
pássaro enjaulado. Aquela metáfora estúpida tantas vezes usada por todos
aqueles que querem explicar o seu confinamento e independência ao
mesmo tempo tinha tanta razão maldita. Já ela, sua estranha honestidade a
salvara de suas próprias correntes. Apenas acreditando que ele poderia ser
salvo. Só esse maldito "crer" a levou a enfrentar seus demônios, e hoje que
estou aqui, de pé, do lado de fora, esperando por ela, posso dizer
abertamente que acredito que ela os ganhou. - Gian F. Huacache I Cinco
Segredos
Às vezes vejo você passar, Layla, bem pertinho do estúdio onde ensaio, e me
pergunto quem será o responsável pelo seu olhar não se desviar do chão. As
horas que se seguem, depois de você, nunca mais são as mesmas. Levo um
tempo para aprender um novo acorde que Toto trouxe para fazer uma nova
música. Eu não sei compor música, sabe? Mas se eu pudesse fazer isso, eu
também não escreveria uma música para você. Não sei, sinto que não
aguentava pensar que um dia você me deixaria e aquela música continuaria
tocando o resto da minha vida... Talvez, Layla, você a tenha ouvido. E talvez
seja por isso que às vezes você passa olhando para baixo. É como se alguém,
em algum lugar do mundo, estivesse à frente de nossas ações. Quando paro
de pensar que não consigo mais esconder meus sentimentos, penso nisso e
isso me deixa triste. Quem pensa que em todas as suas formas possíveis ele
é um perdedor? Rute diz que seu amor me agita, Layla. Às vezes eu acredito.
Quando passais, fico dominado pelo vosso silêncio. Não é que eu te escute
ou não. Estou falando do silêncio que seu corpo expressa. Não entendo
muito bem. Mas um dia desses, se eu me atrevo, eu me aproximo de você e
te conto. Você vai surtar, Layla? Sou um pouco feio, mas não tenho cara de
assassino. Ou, em qualquer caso, se você desviar meu olhar, eu vou tentar
me enganar, que não era para você que eu ia falar... -Gian F. Huacache I
Cinco Segredos
Depois de termos convivido por um tempo com nosso carrasco, e depois de
termos começado a naturalizar suas ações, começamos a justificar todas as
suas ações apelando para sua personalidade, sua singularidade e seus
traumas de infância. A verdade é que uma explicação de um fato e uma
justificativa não são as mesmas coisas. Pode-se explicar por que alguém age
de determinada forma, mas não pode, por outro lado, fingir justificar tudo o
que faz, enquanto no dia a dia, há uma vítima que deixou de sentir empatia
por si mesma, para tentar entender seu vitimizador. -Gian Franco Huacache
Há aqueles que correm na direção oposta apenas para levar consigo aqueles
que vão rumba aos seus propósitos. Você pode vê-los. Eles estão em todos
os lugares dizer-lhe que você não será capaz de que eles tentaram saber o
caminho. E é verdade, eles o conhecem. Mas há estradas que não são para
todos. Você fará o seu, e o outro, o seu. Você só precisa saber como evitá-
los. Evite aqueles que temem choro, dor, solas quebradas e anos de esforço.
Não podemos fingir que não são, que existem. Você só precisa saber apertar
a mão deles, se despedir deles ao longo do caminho e continuar com a sua
coisa. Como se você estivesse perto – pense sempre no dia que acontece
com uma noite ruim – cada vez mais perto de alcançar seus próprios
sonhos. -Gian Franco Huacache
"Não sejais egoístas; Não tente impressionar ninguém. Seja humilde, isto é,
considere os outros como melhores do que você. Não cuide apenas dos seus
próprios interesses, mas também tente se interessar pelos outros."
Filipenses 2:3-4
Sempre senti que o grande privilégio, o alívio e o conforto da amizade, era não ter que explicar
nada. -Katherine Mansfield
"Sim, estou cansado, admito, mas não o suficiente para deixar de amar aqueles que amo
incondicionalmente." -Alberto Camus
"Estou farto de lutar por cada espaço ao ar livre para a mente. É por isso que fiquei longe de
todos por tanto tempo, e agora, vendo as pessoas novamente, acho que devo voltar para minha
caverna." -Charles Bukowski
"Dizem que eu não me encaixo nesse mundo. Francamente, considero esses
comentários elogiosos. Quem diabos quer encaixar nesses tempos?"
-Billy Wilder
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