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Nunes, Francyelle
Agora eu moro em mim [livro eletrônico] :
poemas sobre dor e libertação / Francyelle
Nunes. -- Goiânia, GO : Ed. da Autora, 2022.
PDF.
ISBN 978-65-00-47513-5
22-118152 CDD-B869.1
Índices para catálogo sistemático:
Confronto
5 Confronto
Débitos
Fim do mês
Sento-me para calcular as despesas
Entre contas e cadernetas, uma verdade se escancara
sobre a mesa
As dívidas mais caras, eu tenho comigo mesma
Eu x Eu
Do lado de dentro tento abrir a porta pra sair
Mas do lado de fora, eu seguro a maçaneta para me
impedir
Canalhinha
De olhos tapados, eu me enxergava como uma ótima
pessoa
Agora eu moro em mim
6
Teto de vidro
Defeitos fáceis de apontar no outro
Espelhos de você
Para ressus(citar) em
frente ao espelho
Qual é, doidera?!
Levanta o corpo, num desanima
A coisa tá braba, mas segue essa rima
Bola pra frente, cabeça pra cima
Agora eu moro em mim
Parte II 10
Libertação
11 Libertação
Imperfeição materna
Faltou tempo, paciência e mediação das palavras.
Mas eu nunca a vi faltar um dia de trabalho,
nem quando estava com dores.
Faltou carinho, faltou o cultivo de um laço para
nos unir.
Mas nunca faltou comida na mesa, nem roupas
ou mimos.
Não seria ingratidão ter desafeto por essa mulher,
seria injustiça.
Reconhecimento
Agora eu moro em mim
18
Histórico
Ai de mim, se não fosse as minhas dores
Ai de mim, se não tivesse as cicatrizes para lembrar
Ai de mim se não houvesse a memória do meu
sofrimento
Sem elas, eu sofreria muito mais.
19 Reconhecimento
Apontamento infeliz
Uma vez, lá pelo segundo ano de faculdade, chegou
aos meus ouvidos um comentário feito por uma colega
de classe. Na verdade, se tratava de um apontamento
sobre mim; “ela é desesperada por atenção
masculina”.
Lembro-me que, quando soube, fiquei
instantaneamente com raiva. Aquilo impregnou meus
pensamentos por dias me causando ódio e ira.
Reconhecimento
Não me sinto alguém boa ou má
Me sinto boa e má
Sou uma boa pessoa quando me motivo pelos meus
sonhos
Sou uma pessoa má quando me baseio nas memórias
O que fizeram comigo não dita o que sou,
mas com certeza mudou o que eu poderia ser.
Amante da imaginação
Sou ser que protagoniza a arte da observação
Contemplo o sublime e o belo
Gosto de investigar a natureza da sensação
Tenho fascínio pelo mundo do intangível
Daquilo que se constrói na interpretação.
21 Reconhecimento
SOU
Eu desisto, mas recomeço
Eu choro, mas limpo o rosto
Eu sangro, mas cicatrizo a alma
Eu desamo, mas redescubro o amor
Eu me forço a ficar, mas também me permito ir
Eu sofro, mas sonho
Eu tombo, mas levanto
Eu sou ímpar, mas posso ser par
Eu sou a sombra do sol e a luz do luar
Um ser simples complexo de se explicar
Eu sou parte de você e de tudo que no mundo há.
Sabote
Eu sei que posso o mundo,
mas as incertezas do dia a dia
me podam e eu afundo.
Estranhice
Aos 23, eu definitivamente sei que sou uma pessoa
estranha.
Na adolescência, eu não me reconhecia como uma,
até forçava ser pra tentar ser cool. Talvez essa tenha
sido a primeira forma de tentar me camuflar já que
por baixo daquela peculiaridade forçada havia um ser
naturalmente estranho
Reencontro
25 Reencontro
Existência irresoluta
Chamaram-me de sem futuro,
não discordei
Eu não tenho o futuro
O futuro é que me tem
Suficiência
Gira solidão em mim
Eu sou a flor e meu próprio jardim
Agora eu moro em mim
30
TIC-TAC PING-PONG
O tempo me fez ir e voltar
Me fez ficar de frente pro orgulho, me obrigou a
desacelerar
Borboleta rebelde
Minhas asas finalmente estão maduras
Sai do meu casulo
Ninguém me segura!
Ave
Renascer das cinzas me parecia um termo exagerado
para descrever um momento de superação
Até eu me dar conta de que nada traduz melhor os
processos que vivi
Emancipação
Minha solidão é uma criança que já sabe se virar
sozinha
Agora eu moro em mim
32
FIM
33
Sobre a autora
Francyelle Nunes
nasceu no interior de
Goiás e atualmente vive
em Goiânia.