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A MULHER ESQUELETO NO NOSSO DIA A DIA

A natureza da vida é um ciclo de animação vida-morte-vida

Ela se mostra quando se inicia e termina um ciclo, um projeto, um trabalho,


uma idealização, uma amor, uma angústia, uma dor e a sensação é que não vamos
aguentar... Vamos desfalecer..., mas a vida é assim: - se reanima, cai e inicia...

Nós podemos perceber nitidamente no nosso cotidiano as características de


agitação, movimento e hesitação... Eu quero, eu não quero. É uma morte em termos
de se fechar.

A mulher esqueleto sabe como é a natureza da vida e ela aparece quando


“algo” brota, ´quando “algo” amadurece e quando “algo” decai.

Porém é bom lembrar que a nossa natureza instintiva é a Mulher Esqueleto


agindo nas sombras com a capacidade miraculosa de nos curar para sobreviver a
cada situação, a cada consequência negativa e, manter uma conexão com algo ou alguém
no coletivo com o nosso Eu e com o Eu do outro.

Ler o conto da mulher esqueleto, que conta uma história de caça ligada ao
amor, vem as lagrimas. As lagrimas podem transformar as pessoas, trazendo
lembranças do que é importante e amparando sua própria alma, aliviando a dor e
purificando. Neste momento nós nos deparamos cara a cara com a mulher esqueleto
que traz nossas histórias à tona, lembrando de muitos relacionamentos que
terminaram. Neste momento em que ficamos cara a cara com a mulher esqueleto,
cara a cara com aqueles ossos, com aquela coisa que assusta, a gente sai correndo. Às
vezes culpamos o outro,

às vezes a nós mesmos ou, arrumamos desculpas e assim vai...

A morte tem uma conotação de coisa ruim, um peso, um mal. Contudo é a


morte que ativa a vida quando nos livramos daquilo que não pode continuar. A
morte no âmbito das emoções está presente nas nossas sombras/inconsciente e às
vezes a sombra nem é ruim, mas fica comprimida porque a princípio ela é sentida
como morte, como algo apavorante e como encarar se escondemos ela de nós
mesmos e, muitas vezes negamos.
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A gente percebe muito bem na história da mulher esqueleto, naquela parte


que o pescador atira o anzol e pega um peixe grande, ele fica contente e se ilude que
vai se alimentar durante muito tempo. Mas quando percebe que está embaraçado,
embrenhado naqueles fios das emoções junto com as sombras, nós saímos correndo e
ou nós nos atolamos.

Vem a compaixão e com cuidado aos pouquinhos, ele, o pescador desata os


nós dos fios embaralhados e descansa. Ela a mulher esqueleto se enche de carne ao
tocar o tambor do coração do pescador e reaviva a história deste amor.

“Para amar é preciso só ser forte, mas também sábio”.

Quando vivemos um relacionamento compartilhado, isso é, morando com


uma pessoa, nós podemos identificar que estamos sempre num movimento de um
fluxo e de um refluxo. Neste movimento não observarmos o que está por trás disso.
São as sombras embaraçadas pelo medo de sentir a emoção do amor e foge com
medo de encarar o que dói e incomoda ou acusa. Nós podemos perceber que essas
situações podem gerar um medo muito grande de encarar o compromisso.

A riqueza deste capítulo do caçador solitário nos ensina que um relacionamento


de amor passa por sete tarefas, que vai ensinando a alma amar outra alma
profundamente.

1. Descoberta da outra pessoa como uma espécie de tesouro;


2. Vem a caça e a tentativa de ocultar um tempo de esperança e receio dos dois
lados;
3. Vem a tarefa de desenredar e compreender os aspectos da natureza que nasce,
amadurece e decai. Momento de acessar a compaixão.
4. Daí vem a tarefa que gera o relaxamento e a capacidade e descansar na
presença do outro e da sua boa vontade.
5. Período de compartilhar os sonhos futuros e das tristezas do que passou
6. Início da cura de ferimentos arcaicos relacionados ao amor
7. O uso do coração para fazer brotar uma nova vida e a fusão do corpo e da
alma.
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Atualmente percebemos que esse amor profundo por alguém vem se diluindo
ficando fluído, rápido, isto é, começou a incomodar a solução é largar de mão ou se
contínua no relacionamento pode ser pela dependência, por interesses ou por
dificuldades diversas que impedem novas atitudes.

Quando descobrimos o tesouro, falamos: - “encontrei a pessoa certa, felizes para


sempre”. O tesouro sempre está enterrado e dá trabalho para cavar e quando ele
aparece, junto há algas e crustáceos que escondem as pérolas e esse tesouro é
desprezado.

Lá nas profundezas da natureza, a esquecida natureza da morte, não pode ser


ignorada porque sempre quando se inicia uma vida nova, um novo amor, uma nova
situação, sempre estará presente a rainha da morte...

Ela aparece, no fundo do nosso mar de emoções, para nos lembrar que sabemos
que nada de valor surge sem trabalho, assim desta maneira totalmente pronto,
porque no início de uma atração, existe a ilusão e as nossas projeções que precisam
ser desembaraçadas.

A morte governa a capacidade intuitiva que sopra, sussurra e diz que existe os
ciclos vitais de nascimentos e encerramentos... De lamentações e festejos... Ela a
morte ou a mulher esqueleto observa as coisas.

A morte deve participar de todos os relacionamentos amorosos, porém o que


fazemos:

 nós fingimos que podemos amar sem que morram nossas ilusões acerca do
amor
 nós fingimos que podemos prosseguir sem que morram nossas expectativas
superficiais
 nós fingimos que podemos ir em frente e que nossas emoções preferidas
nunca morrerão
 no amor, porém em termos psíquicos tudo é dissecado, TUDO.

Importante destacar o que é ser mulher selvagem?


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No nosso âmago a mulher selvagem se atraí por essa tarefa de lidar com vida-
morte-vida, essa é a sua natureza profunda, pois sabe que esta tarefa é inato,
pertence a natureza dos seres vivos.

Ela sabe... La que sabe...

É importante sinalizar que isso vale tanto para os relacionamentos amorosos,


para o relacionamento de mãe com o seu filho e vice-versa, de pai para filho e vice-
versa, com as amizades, portanto nos relacionamentos em geral, com o outro, ou
com a situação que nos envolvemos para pescar a sua realização.

Muitas vezes quando num relacionamento se propõe terminar o vínculo, essa


atitude paradoxalmente, recebe mais vida e traz o amor de volta, isto é, agita apesar
de hesitar. Uma frase comum é: - “preciso dar um tempo”; “ainda não estou pronto”.

Muitas justificativas surgem, mas não vem do coração e sim do medo de amar.

A MULHER ESQUELETO afunda para debaixo d’água, mas ela surgirá... surgirá
novamente... de novo e, caíra no nosso encalço insistente. É essa sua função...

Ela precisa respirar.

Ela precisa ser desembaraçada.

O medo é inato todos nós temos medo. O medo não é nenhuma novidade, quem
está vivo tem medo, o medo é um instinto de preservação.

Se algo não lhe parecer satisfatório de imediato ele sente medo, se ele aparece
satisfatório ele ataca.

Vamos entoar a canção do coração para ajudar na tarefa de desembaraçar a linha.

A canção auxilia na percepção para alcançar a agudeza de espírito.

Vamos cantar as nossas indagações:

- O que precisa morrer para gerar mais vida?

- O que precisa morrer que hesito e me atrapalho?

- O que precisa morrer em mim para que eu possa amar?


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- Qual é a não-beleza que eu temo?

O NÃO-BELO É O NOSSO ANSEIO SECRETO DE SERMOS AMADOS.

Este capítulo deixa a gente surpresa, porque toca em questões antes não
pensadas, em relação ao sentimento sobre o amor. Apresenta uma sabedoria para
desembaraçar a trama complexa dos relacionamentos amorosos, apresentando a
sutileza da desconstrução de conceitos patriarcais sem entrar nesta questão, porque
constrói o conceito de amor desligado da dependência e do controle e sim
emergindo o instinto da mulher selvagem que usa a intuição.

Há uma riqueza na sua sutileza em fazer a diferença entre inocência e


ignorância, que Clarissa Pinkola soube definir maravilhosamente, de tal modo, que
quando sentimos essa diferença pelo coração e não pela lógica da inteligência, muda
o sentido da emoção relacionada ao amor.

A IGNORÂNCIA está relacionada ao desconhecimento, inexperiência e


inabilidade.

A INOCÊNCIA é ausência de malicia e com a presença da virtude vai


percorrendo seu caminho.

Podemos falhar ou sofrer pela ignorância por não sabermos como lidar com
certas situações, nos tornamos pessoas desconfiadas, achando que deste modo
iremos nos proteger, mas caímos na armadilha da ação defensivo, impedindo que o
amor toque em nosso coração.

O estado de inocência é alcançado quando descartamos o cinismo e as


atitudes defensivas e voltamos a mergulhar no estado de deslumbramento e
confiança sem a presença da ilusão.

É a prática de se olhar com os olhos de um espírito sábio e amoroso, em vez


de olhar com os olhos do ser humano ferido, irritado e desconfiado.

Portanto quando estamos no estado de inocência alerta, usamos a intuição e


se permite conceber que tudo pode ser possível, porque não tem medo de
pronunciar os desejos de sua alma, porque acredita que sua necessidade será
satisfeita e sua alma se realizará.
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É dar o coração para uma nova criação, para uma nova vida, para as forças da
vida-morte-vida numa descida ao reino dos sentimentos.

Quando um homem entrega seu coração por inteiro, ele se torna uma força
espantosa ele se torna uma inspiração.

Quando a mulher esqueleto dorme com o homem, ele se torna fértil, ele é investido
com poderes femininos no meio masculino, ele passa a levar as sementes da nova
vida e das mortes necessárias.

A respiração desvenda e faz surgir certas faculdades que de outro modo


seriam inacessíveis.

A dança do corpo e da alma traz a cura através de seus corpos.

Para fazer amor, se queremos amar, bailamos... É aprender os passos e fazer


amor... É dançar a dança.

“Vou confiar em voce. Vou me permitir expor minha inocência”.


A força e poder de cada um são desembaraçados, compartilhados.
Ele lhe dá seu tambor do coração.
Ela lhe transmite o conhecimento dos ritmos e emoções mais complicados que se
possa imaginar.

Mônica Fixel e Virgínia Sampaio


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Capítulo 5 -A caçada: Quando o coração é um caçador solitário
A Mulher-esqueleto: encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

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