Você está na página 1de 3

A Mulher Esqueleto

Mulheres que Correm com os Lobos -Clarissa Pínkola Estés

A reflexão e partilha do conto da Mulher Esqueleto me afeta de maneira


profunda, meu coração é sacudido pela emoção, a mulher esqueleto fala da
relação amorosa e de como tudo começa em nós, entretanto antes de poder
manifestar o amor por alguém e ou por algo este amor precisa ser reconhecido
primeiramente dentro de nós. Desafio de uma vida toda!
Gosto de mencionar o que Clarissa traz na introdução do capítulo quando
descreve a relação de convivência dos lobos que vivem em parceria,
frequentemente por toda a vida, reconhecem entre si o vínculo de união, que
permitem ultrapassarem invernos rigorosos, se auto protegerem, cuidar dos
filhotes, como também, vivenciam momentos de discórdia, conflitos e ajustes na
convivência entre eles , manifestam o vínculo da confiança e da devoção
aspectos que estruturam e dão firmeza ao grupo a seguirem em frente e se
reconhecem incluídos no ciclo da natureza, integrados a força da vida- morte -
vida. Esta descrição do convívio dos lobos me faz perceber como nós- humanos
em nome do progresso, fomos nos distanciando da natureza, separando o
animal que habita em nós, que nutre nossos instintos e potenciais inatos que
nos conecta com o ciclo da natureza, com o ritmo da terra, do corpo, das
sensações, da transcendência do que a gente é na essência, da nossa mulher
selvagem e da nossa mulher esqueleto. Distancio de mim e vou ficando
desnutrida de intuição, da potência do coração e as sementes das regras e
valores sociais vão crescendo, alimentando pré-conceitos, julgamentos,
autocríticas e com isso as decepções, ilusões e medos florescem tanto dentro da
gente como na relação com outro, com o amor.
A mulher esqueleto vem me falar da relação de amor, de como eu fujo para
o fundo mar, escondendo entre corais, minhas fraquezas, minhas angústias em
me relacionar com alguém, muitas vezes se torna apavorante, e as expectativas e
pensamentos, já semeados anteriormente aparecem dizendo.... como a pessoa
é? vou gostar .... vai gostar de mim, de como sou e penso, e?...... e?......... claro
querendo muito que tudo corra maravilhosamente. E ao sinal do fantasma da
mulher esqueleto, guardada lá no fundo mar, balançando, os ossos, mostrando
as entranhas, eu corro, me fecho a possibilidade de enxergar o que estou vendo,
porque enxergar é diferente de ver, por exemplo quando vou caminhar posso
ver várias coisas a paisagem passa pelos meus olhos, agora se estou caminhando
vejo algo que me chama atenção aí começo a enxergar aquilo, e vem junto a
vontade de descobrir o que é, discernir aquela coisa e eu para isso acontecer
preciso ir mais perto, farejar, senti talvez o cheiro, o gosto, ou seja não tenho
controle sobre aquilo preciso me abrir para descobrir.

Clarissa diz- “a fase de correr e se esconder é o período no qual os amantes


tentam racionalizar” e aí perguntas como estas aparecem”

“posso me dar melhor com outras pessoas” eu acrescento com outro


projeto....

“não quero encarar minhas feridas, nem as de ninguém mais!”

“não quero mudar minha vida” (pág168)

E assim sigo ...pensando sobre a vida, querendo me relacionar, mas longe do


coração, dos instintos, dos potenciais inatos.
Gostaria de voltar aos lobos que Clarissa cita, a percepção feita por
estudiosos nas matilhas ressaltou observações direcionadas a confiança e a
devoção no convívio. Eles se relacionam encarando os afetos quaisquer que
sejam, no carinho, no aconchego como também nos conflitos, nas discórdias e
seguem juntos, pois sentem o ciclo da vida- morte- vida que tudo tem sentido.
E olho pra mim e percebo que no decorrer da minha vida a confiança em mim
algumas vezes foi trincada, deixada de lado e os pensamentos medrosos
assombrando as tomadas de decisão.
Como se a gente não pudesse suportar a perda, o não ganhar sempre, a finitude.
E desconstruir este pensamento hipnótico que a gente fica a mercê, se faz
necessário para esvaziar os pesos que carregamos ao longo da vida.

“Ainda não estou pronto...não quero ser transformado sem primeiro saber
nos íntimos detalhes como vou ficar ...me sentir depois” (pág168).

Na confiança há entrega, o apaziguamento de que tudo vai seguir, não preciso


fugir do desconhecido e mesmo temendo posso enxergar a mulher esqueleto
através do corpo, do coração, da mente e da alma, nossa quando me permito
experimentar como gera potência, amor por mim, empatia pelo o outro,
coragem para viver aquilo, viver o imprevisível.
“Onde quer que o amor esteja nascendo, a força da vida-morte-vida sempre virá
à tona” (pág167).

Pertencemos a este ciclo e por mais que as regras e valores sociais impositivos
tentem arrancar esta força a nossa mulher selvagem alimenta a gente, e a
mulher esqueleto se revela na hora do amor.

Você também pode gostar