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Crescemos acreditando que se relacionar é algo fluido, intuitivo, naturalmente

descomplicado. Qualquer comportamento que saia desse pressuposto já acusa


que há algo errado – conosco ou com o outro. O resultado disso é um misto de
expectativas irreais com frustração.
A infância confirma essa idealização romântica nos filmes onde princesas
estão sempre vivendo situações de perigo à espera de um príncipe invencível
que possa salvá-las. Seria muito mais fácil se nos fosse ensinado, desde
criança, que não existe príncipe encantado – existem pessoas reais, com
bagagens, medos, anseios e, claro, qualidades. Os dragões que cospem fogo
não são nada além de nós no ponto alto de nossos próprios traumas.
Não somos indefesas e não há ninguém fora que possa mudar a nossa
realidade interna, isso é trabalho de cada um. Só quando aprendemos a
encarar a realidade, somos, enfim, livres.
O amor é uma experiência multissensorial. Calor e frio, paciência e raiva,
negação e aceitação, importância e irrelevância. Se ele fosse um alimento,
certamente teria um sabor agridoce.
Este livro, apesar de ter sido criado pensando nos questionamentos femininos
na hora de se relacionar, se destina a todos aqueles que querem,
simplesmente, compreender como é possível se relacionar de forma mais
independente, forte e inteligente – consigo e, claro, com o outro –,
desvendando os mistérios da linguagem a dois.

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Prefácio

O título desta obra nasceu de um texto meu, publicado há mais de um ano:


curtido por mais de 50 mil pessoas, compartilhado por 20 mil e salvo por
mais de 15.
Acredito que ele mereça destaque.
“Não ponha o outro à prova, deixe que se prove.
Não teste a lealdade, deixe que ela se apresente.
Estar junto não signi ica obrigação de disponibilidade.
Não meça o amor de ninguém com a régua da sua exigência.
Antes de serem um, são dois.
Fidelidade é princípio básico, e compreender os limites de alguém, pasmem, também
é respeito.
Ampliemos nosso conceito de cuidado numa relação.
Silêncio que não constrange, cobrança que não é feita, presença que é valorizada,
espaço que é reverenciado: isso também quer dizer “eu te amo”.
Atente-se. É nos detalhes que o amor loresce.
Quem muito tenta exercer controle, só mostra o desequilíbrio que ali reside.
A di iculdade não está em con iar no outro, mas em si.
Ninguém te torna inseguro.
A loram sua insegurança.
Em caso de pânico, lembre-se que pode sempre optar pelo medo ou pelo amor, pelo
vou ou deixo que se vá.
Nessa vida existe muita coisa à primeira vista, mas convenhamos: amor é escolha, é
construção que se ergue juntinho.
Para ter sucesso a dois não é preciso ser perfeito.
É preciso ter feito.
Tentar melhorar, acredite, já é ser melhor.
Repensem essas relações que fazem o amor parecer inalcançável.

outubro•2021
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outubro•2021
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Introdução

Crescemos acreditando que se relacionar é algo luido, intuitivo, naturalmente


descomplicado. Qualquer comportamento que saia desse pressuposto já acusa
que há algo errado – conosco ou com o outro. O resultado disso é um misto de
expectativas irreais com frustração.
A infância con irma essa idealização romântica nos ilmes onde princesas
estão sempre vivendo situações de perigo à espera de um príncipe invencível
que possa salvá-las.
Seria muito mais fácil se nos fosse ensinado, desde criança, que não existe
príncipe encantado – existem pessoas reais, com bagagens, medos, anseios e,
claro, qualidades.
Os dragões que cospem fogo não são nada além de nós no ponto alto de
nossos próprios traumas.
Não somos indefesas e não há ninguém de fora que possa mudar a nossa
realidade interna; isso é trabalho de cada um.
Só quando aprendemos a encarar a realidade, somos, en im, livres.
Esse livro, apesar de ter sido criado pensando nos questionamentos
femininos na hora de se relacionar, se destina a todos aqueles que querem,
simplesmente, compreender como é possível se relacionar de forma mais
independente, forte e inteligente consigo e, claro, com o outro – desvendando os
mistérios da linguagem a dois.

l O amor é uma experiência multissensorial. Calor e frio, paciência e raiva,


negação e aceitação, importância e irrelevância. Se ele fosse um alimento,
certamente teria um sabor agridoce.

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1.
O relacionamento mais importante da
sua vida

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A diferença entre homens e mulheres

É curiosamente revoltante observarmos, entranhado no comportamento


cotidiano, a seguinte comparação: se um homem é solteiro por muito
tempo, ele: é um garanhão; pegador; bon vivant; “Não gosta de se envolver”;
“Gosta mais de curtir”; “Trabalha demais, não tem tempo”; é um cara livre.
Se uma mulher é solteira por muito tempo, ela: “Tem algum problema,
tadinha”.
Essa poderia ser uma visão à parte, mas, infelizmente, ainda é a nossa,
pensada por uma expressiva maioria sobre todos nós.
A quantidade de relatos que recebo de mulheres querendo descobrir
qual é o problema que as acompanha, pelo fato de nunca terem tido um
relacionamento sério, é impressionante.
É comum, mas não deveria ser normal.
Tudo começa na infância, quando meninas icam sorridentes ao ouvir
sobre seus penteados, vestidos, sapatos e sua beleza estonteante, enquanto
meninos ouvem elogios sobre sua força, inteligência, agilidade e
perspicácia.
Tudo o que se refere ao feminino, desde tão cedo, não só é relacionado à
estética, como a fatores externos: somos ensinadas a olhar para fora, a
buscar no outro o preenchimento desses espaços enormes de aceitação.
Romper com essas velhas estruturas é um trabalho árduo que vem se
perpetuando desde o século XIX.
Se este livro chegou até as suas mãos, é porque você tem, hoje, vontade
de ouvir e aprender o necessário para revelar o amor mais profundo por si
mesma.
Dei vida à poesia abaixo especialmente para esse momento.
Sugiro que pegue um chá ou um vinho, se aconchegue num cantinho
gostoso e ofereça um pouquinho de entrega a essa breve leitura.

outubro•2021
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“Fluo no meu espaço, não aperto o passo.


Sinto-me – ao compreender-me, comemoro.
Celebro minhas vitórias como quem realiza um sonho antigo.
Reconhecer-me vencedora traz mais brilho à minha jornada.
Quando pedi aos céus que me dessem asas, certamente foi no instante em que esqueci
que, aqui dentro, sou puro vendaval.
Vou nesse voo, leve, longe, linda, louca, livre: eu sou o meu destino.
Querer alguém, não precisar de ninguém.
Amar o outro, me amar sempre mais.
Aventurar-me em mim é a minha melhor escolha: estou de passaporte carimbado
rumo ao verdadeiro amor.
Eu – tão minha – antes de ser com alguém.

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Reciprocidade

É exatamente sobre isso.


Quanto vale a sua história escrita à mão?
E essas mesmas mãos estendidas que dão afago e tocam alguém com
cuidado, recebem o que quando precisam?
Reciprocidade é princípio básico pra sobreviver em solo afetivo. Você só
pode lorescer quando o outro te rega, lembre-se.
Suas dores, suas alegrias, seu passado, suas escolhas, sua escola, que é a
vida: quanto vale o seu tempo? Você sabe? A inal, qual é o seu valor?
Repense as companhias que te fazem suspeitar da sua potência.
Permaneça somente onde puder crescer.
Mude-se com pressa de onde não mais couber.
Amor próprio não é só skincare e se permitir fazer ou ser: se amar
também é saber quando se impedir de seguir.
Somos o início e o inal de tudo; tudo começa e termina em nós.
Feito feras que somos, é essencial que comecemos a lamber as próprias
feridas, de modo que sejamos nós as maiores responsáveis por curar
padrões nocivos em nossas vidas.
Numa sociedade que duvida da nossa força e enaltece o que é
domesticado, isso é ser verdadeiramente selvagem.

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A transformação do não

É preciso que haja um olhar sempre mais profundo para as nossas


permissões.
Quando temo dizer não, fatalmente quero chegar naquele ponto
inatingível que é: ser amada a qualquer custo, não desagradar sob
nenhuma circunstância.
Preocupe-se em ser de verdade e verá que permanecerão ao teu lado
aqueles que também são. Desagradar faz parte do processo da
autenticidade – dizer não para o outro pode signi icar dizer um belo sim
para mim.
Escolher a si não é egoísmo.
Construir uma base forte requer paciência com o processo.
Só quem se conhece verdadeiramente, verdadeiramente se ama.
Só quem se ama atrai um bom amor.
Entender que a desconstrução é o princípio básico para a construção é
o que você precisa compreender quando pensa em se transformar.
Só o espaço vazio convida o novo a se manifestar.
Se despedir de uma velha e conhecida face é o maior dos desapegos.
Quando a pequena menina dá adeus, a grande mulher pede para entrar.
Abra a porta.

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2.
Descomplique:
FIque com quem queira FIcar

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Respire e espere o próximo

Imagine a seguinte cena: não é o im dos tempos, é só mais um capítulo da sua


bela vida e você aguarda o motorista de um aplicativo chegar para te pegar num
im de tarde qualquer.
Você solicitou, marcou um lugar e está à espera.
Ele aparece, mas, por alguma razão, não para e segue o próprio rumo. O
máximo de explicação que você recebe é um aviso de cancelamento.
Você viu a placa, o modelo do carro e o seu desânimo estampado por conta
desse querido motorista ter posto fogo em todas as suas expectativas.
A inal, nesse cenário, você sairia correndo atrás do carro até o destino inal
dele ou respiraria e chamaria outro?
E com as pessoas que passam pela sua vida, você também arriscaria a
primeira opção? Aliás, quantas vezes você já a escolheu?
Tem gente que ica pouco; alguns fazem morada em nós; outros nunca saem
de cima do muro; há os que icam; há os que nunca quiseram mesmo icar.
Alguém quer ir embora da sua vida? Faça o favor de abrir a porta.
Educação é princípio básico para fortalecer o amor próprio.
Quando alguém verbaliza a vontade de ir ou te oferece uma falsa presença,
acredite: essa pessoa já se foi faz tempo.
Num coração que é casa quente, não aceite lidar com o frio.
Relação saudável é via de mão dupla; é andar ao lado e não atrás; é encaixar
uma peça enquanto o outro segura a estrutura; é montar junto; é mais do que
estar – é se esforçar para fazer valer a permanência.
Pessoas que vêm e vão acabam fazendo seu coração de passagem e gente que
“tá só de passagem” nunca quer mesmo icar.
O tipo de pessoa que vai quando bem entende e volta quando se cansa do
mundo lá fora não pode encontrar a porta aberta.
Se a encontra sempre sem chave, muitas vezes, limpa só os pés no tapete –
não puri ica as intenções; quando não, se esquece de tirar os sapatos para
honrar a sua casa e, claro, quando vai embora, deixa sempre a maior sujeira.
E o pior: quando volta, não é para te ajudar a organizar.

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Vivendo momentos plenos

Não seja a “de vez em quando” de ninguém.


Seja a “sempre sua”, respeite o seu espaço, honre o seu tempo.
Uma relação ioiô jamais compensará a angústia que traz a ausência com
a frágil alegria que traz a presença.
Quando a pessoa estiver ao seu lado, se pergunte: “Quando esse
momento acabar, como me sentirei?”.
Se a resposta não for “muito bem”, reconsidere a escolha.
Depois de repensar, se pergunte também o que ainda te faz permitir
essa estadia que tanto te custa, com livre retorno.
O que te mantém presa é a realidade dos fatos ou o que você criou
sobre eles?
O que quero dizer com isso é: atente-se. Provavelmente você não ama o
sujeito e nem sequer teve tempo de conhecê-lo para tal.
Há grandes chances de você amar os seus desejos ainda não realizados
com ele, a idealização da relação, ou seja, a sua criação e não a pessoa em
si.
Entende por que, muitas vezes, pode ser tão di ícil desapegar?
A verdade é uma só: ninguém supera um sonho!
Tudo o que você imagina que possa ser vivido por vocês – o café na
cama; a demonstração pública de afeto; a mensagem de bom dia; as lores
como pedido de desculpa; os domingos de edredom; as viagens ao redor
do mundo... tantas histórias não realizadas estão carregadas da sua
projeção, do que você gostaria que fosse – e não do que realmente é.
A realidade certamente seria bem diferente: só imaginamos a parte boa.
Vai ver ele nem é esse paraíso todo, certo?
E as chances dele não ser, convenhamos, não são pequenas.

outubro•2021
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Se os planos de uma vida a dois moram só em você, mude-se


urgentemente ou expulse esse inquilino folgado do seu coração.
Você merece mais.

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3.
Amores líquidos, desejos sólidos

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O que são amores líquidos?

Não podemos falar de amores líquidos sem entender o seu berço. Existe
um conceito denominado modernidade líquida, criado pelo ilósofo e
sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que de ine as relações sociais,
econômicas e de produção como frágeis, fugazes e maleáveis, assim como
os líquidos.
Bauman de iniu a modernidade líquida como um período posterior à
Segunda Guerra Mundial que ganhou força no início de 1960.
Vale lembrar que, anterior a esse período, havia o que ele denominou
modernidade sólida.
Já podem imaginar a diferença, né?
Na modernidade sólida, a rigidez e solidi icação das relações humanas
eram muito mais presentes, tornando as relações, assim, mais duradouras.
Não podemos ignorar – assim como Bauman também não ignorou –
que o excessivo rigor relacional também acabava sendo prejudicial em um
certo ponto.
Na modernidade líquida, as relações econômicas, por exemplo,
tornaram-se mais importantes que as relações pessoais. Ou seja, a lógica
do consumo entrou no lugar da lógica da moral.
Basicamente, o que você tem importa mais do que o que você é.
Reconhece esse conceito nos dias atuais? Provavelmente sim.

Calma, já vamos chegar nos amores líquidos.

Onde a modernidade líquida afeta as relações humanas?


Tornamos-nos mais conexão e menos relacionamento.
Estamos na era do acúmulo, dos números, dos views, dos likes.
Conexões podem ser rapidamente desfeitas – essa é a re lexão.

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Hoje, quando você quer se afastar de alguém ou demonstrar


descontentamento, você bloqueia.
Quando você deixa de seguir alguém nas redes sociais por pura falta de
a inidade, que seja, você pode estar declarando uma guerra sem a menor
intenção de se munir.
Não podemos negar, é evidente: as redes sociais intensi icaram o
processo que Bauman chamou de amor líquido – as relações
pseudoamorosas dentro dessa realidade moderna.
O sujeito tornou-se objeto, transformou-se em um meio para satisfação
do outro, ou seja, puro sinônimo de prazer.
Não há problema algum em querer sentir prazer: o problema está em
só querer sentir prazer.
Isso contradiz o conceito de se relacionar profundamente. Bem
sabemos que um relacionamento jamais será composto só de alegrias. O
outro não existe única e exclusivamente para nos agradar.
Isso ilustra toda a problemática relacional que vivemos hoje em dia.
Os amores líquidos são essas conexões focadas em números e não em
profundidade; são as relações que não mantêm as formas por muito
tempo; são as disputas do “quem se importa menos” ou “quem demorar
mais a responder a mensagem é o vencedor”.
Quanto mais a pessoa se expõe na internet, menos ela aceita a
vulnerabilidade de uma vida a dois.
Quanto mais se ampliam as possibilidades, mais se fragilizam os laços.
A maioria das pessoas está preocupada em estabelecer um contato com
alguém, mas não a conhecer esse alguém.

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Não esqueça sua voz

Em tempos como esse, não liquide os seus desejos mais genuínos.


Se a sua vontade é sólida, acolha-a: você não é estranha, o mundo é que
pode parecer meio louco de vez em sempre.
Se você gosta de diálogos mais profundos, se expresse.
Tem intenção de casar e ter ilhos? Deixe claro quando puder, sem
medo. Não pense estar sendo antiquada numa sociedade em que a maioria,
em público, jura ser desapegada, quando a realidade é esperar chegar em
casa para chorar no travesseiro.
Compreenda certos comportamentos, tendo consciência de que não é
porque é comum, que signi ica que seja bom.
Se a sua verdade é bem diferente da verdade da maioria ao seu redor,
acredite: você pode estar rodeada das pessoas erradas. Mude os círculos,
encerre velhos ciclos, mas não abra mão de um bom e velho afeto.
Tenha coragem pra ser de verdade em meio a tanta ilusão.

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4.
Quando o jogo começar, tire o seu
time de campo

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Cuidado com o vício do poder

Os “jogos relacionais” nada mais são do que meios de evitar a verdadeira


intimidade, além de também serem uma forma de atender às demandas do
ego daquele que joga.
Quem vive montando esquemas mentais para te fazer sentir-se
insegura, te manter ali em um estado de constante confusão, age como se a
responsabilidade pelos acontecimentos daquela relação nunca fosse dele.
O resultado? Você vive confusa ou culpada, sempre precisando “correr
atrás” de algo que você não sabe ao certo o que é.
No que diz respeito a atender às demandas do ego, quero falar sobre
aqueles que são incapazes de estabelecer um diálogo honesto com você
sobre o que querem (ou não) em um relacionamento.
Se você oferece todos os bene ícios de um relacionamento estável para
quem não te retribui com o mínimo de estabilidade, há um desequilíbrio:
as chances de essa pessoa usar “joguinhos” para te manter ali são enormes.
Sabe que peças compõem esse jogo? Sumiços e aparições repentinas,
desculpas esfarrapadas, declarações seguidas de comportamentos
completamente contraditórios e por aí vai.
O fundo disso tudo é um só: sentimento não genuíno.

l Desinteresse não é interessante

Preparadas para tatuarem isso na testa? (Quem tem pavor de agulha,


pode colar na geladeira.)
Já parou para pensar que, talvez, tudo o que você demonstra pelo outro
ou nos relacionamentos de maneira geral, e que todos tendem a chamar de

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“intensidade”, pode ser apenas preguiça de jogar? Ou seja, vontade de ser


transparente.
Vamos normalizar o “quero ver as coisas acontecerem”, pura e
simplesmente.
Se existe uma vida a dois em que você não pode ser você, então não
existe uma vida a dois. É melhor seguir com a sua vida.
Se você precisa contar o tempo no relógio para responder à pessoa com
a falsa sensação de tranquilidade de quem tem “mais o que fazer” ou “você
nem é tão importante assim”, você já está fugindo do propósito relacional.
Não tenha medo de dizer a verdade sobre a forma como se sente. Quem
se afasta de você quando a sua autenticidade é expressa, deixa bem claro
que não sabe lidar com a sua verdade.
E, a inal, você merece ser amada por inteiro. Sem renegar desejos e
partes esquecidas.

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Um jogo onde é melhor perder

Imagine um jogo de pingue-pongue: em vez de devolver a bola toda vez


que ela vem, para não entrar no jogo, você precisa deixar que ela passe por
você. Nesse caso, quando você perde, na verdade, sai ganhando.
Valorize o seu tempo.
Quando sentir que o jogo está começando, tire o seu time de campo. Há
milhares de pessoas que têm vontade de demonstrar interesse e também
não têm muito tempo a perder. Fuja de quem faz as coisas parecerem
extremamente di íceis ou de quem te deixa sempre em dúvida sobre o que
sente.
Quem parece não se importar, acredite: já não se importa.

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5.
ConFIe na intuição

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Medidor de interesse

Muitos me perguntam sobre como ter certeza de que o outro está


realmente a im. A resposta sempre veio clara: “Quando estiver, você não
terá dúvidas”.
Quem muito nos quer, muito nos mostra.
Há quem deixe várias incertezas pairando no ar.
Por falta de entrega ou interesse, vale lembrar que meia saudade até é
saudade, meio sanduíche até mata a fome, mas meio amor? Meio amor não
é nada!
Quem só te deixa interrogação, não merece tanta exclamação.
Existem alguns sinais que indicam que aquela pessoa pode não estar
tão interessada em você. Parece que quanto mais claro, mais di ícil
enxergar, eu sei – certas atitudes são mais que um sinal, são letreiros
luminosos que quase cegam.
Para poder interpretar os sinais do outro, antes, é preciso fazer as pazes
com a boa e velha intuição.

l O que é intuição?

A intuição é um sopro; é aquele conselho fugaz que surge no silêncio,


de dentro para fora, ao pé do ouvido; é um sentimento que faz vibrar tudo
dentro de nós – dá pontada no coração e no estômago; é aquele
pensamento certeiro e repentino que surge antes de a gente dormir; é a
certeza que aparece com maestria e some com sagacidade.
É preciso estar atenta a essa manifestação de poder interno.
Quantas vezes você se avisou e não se ouviu? Quantas situações você
pagou caro pra ver um inal que já havia previsto e complementou com o

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clássico “Eu sabia!”?


A verdade é que, no fundo, nós realmente sabemos quando as coisas
não estão indo bem – ou não tão bem quanto gostaríamos. Há um aviso
prévio de “Cilada à vista!” que insistimos em ignorar.
É impressionante a capacidade que temos de descon iar de nós ao
mesmo tempo em que depositamos todo o nosso crédito no outro.
Só quando você con ia no que sente a respeito de uma determinada
situação é capaz de atrair outras situações que con irmem o seu sentir o
quanto antes.
Já parou para pensar em quanta saúde emocional você pode
economizar com essa mudança de comportamento? Com o simples fato de
acreditar nesse pequeno desconforto que te traz grandes respostas?
Quando a intuição quiser falar, pare, ouça e con ie: mantenha o coração
aberto, ouvidos atentos e olhos mais ainda. Receba o que vier, esteja atenta
ao que houver, observe o que acontece e principalmente aquilo que não
acontece nunca.

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Cegueira emocional

Muitas vezes, as faltas, a indisponibilidade e a não correspondência que


somos capazes de sentir a respeito do outro são mascaradas pelo nosso
simples desejo de que aquilo não seja verdade.
Numa tentativa de atender às nossas expectativas e nos salvarmos da
dor que causa a frustração, acabamos icando surdas para a intuição e
escolhemos o caminho da cegueira emocional.
A cegueira emocional consiste em não sermos capazes de enxergar
certos comportamentos nocivos dentro de uma relação pelo simples fato
de a venda em nossos olhos ser composta por uma enorme esperança de
que algo, de repente, seja diferente.
Encarar a realidade não é uma tarefa fácil, mas renunciar à nossa
sabedoria interna sempre nos causará algum tipo de dor, anote isso.
Agora que você já sabe a importância de dar credibilidade à sua
intuição, chegamos a um ponto crucial – a linha tênue que a separa da
criação do ego.
Ultrapassar essa linha é o que pode fazer você se tornar aquele tipo de
pessoa viciada em criar situações, digamos, desagradáveis para si.

l A inal, como diferenciar criação mental da intuição?


A criação mental é fruto das nossas inseguranças e ansiedade e deixa
sempre aquela sensação de descon iança irreal dos outros, ou seja, sem
motivo aparente.
Se intuição é a fala, a criação mental é o teatro.
Imagine a situação a seguir: você acaba de embarcar em uma nova
aventura amorosa que está dando seus primeiros passos rumo à
intimidade. Seu relacionamento anterior foi um tanto quanto traumático.

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Você foi traída e descobriu inúmeras mentiras, entre elas, que seu ex nunca
participou do happy hour da irma que acontecia às quintas – ele usava
isso como pretexto para prolongar os períodos fora de casa para outros
ins.
Apesar de tudo, você seguiu e está novamente envolvida com um outro
alguém.
Vocês estão se conhecendo, ele é interessante, carinhoso, te trata bem e
você contabilizou um total de zero objeções: até sua mãe gosta dele.
Mas “é bom demais para ser verdade”, não é mesmo?
“Se o ex mentia, o atual também deve mentir.”
“Não houve nada, mas, pelo meu histórico, só posso estar sendo
enganada de novo.”
E assim adentramos no amargo caminho das criações ou viagens do
ego.
Se o atual demora a responder, você já acha que está cansado de você.
Se ele diz que vai precisar esticar um pouco o horário no escritório, você
tem certeza de que ele está passando tempo com outra pessoa (arrisca
dizer até o número de identidade da mulher em questão). Se num dia
atarefado, atipicamente, ele dá menos atenção às suas mensagens, você já
tem o diagnóstico: está falando com outras mulheres em outro aplicativo.
Tudo por conta do seu cabelo, que não estava tão cheiroso na noite
anterior. Ou será que foi o risoto que você deixou queimar?
As criações mentais são ilusões, literalmente devaneios nossos.
Geralmente, são baseadas em experiências anteriores que deixaram
alguma sequela.
Não é porque o relacionamento anterior foi frustrante, que o atual
também vai ser, por exemplo. Conheço casos de mulheres que não se
permitem viver um relacionamento digno pelo fato de viverem à sombra
de suas eternas descon ianças sem um aparente sentido. Repare que estar
nesse estado é sempre atender ao chamado de suas mais profundas
inseguranças.
Essa di iculdade em acreditar que você merece uma relação digna, se
não está relacionada ao passado, está relacionada à sua crença

outubro•2021
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inconsciente de não ser boa o su iciente. Desapegue disso: o amor é pra


você.

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Sinais reais

A intuição é quem avisa, enquanto a criação mental é quem incomoda.


Se ambos fossem pessoas, certamente uma seria a amiga sábia e a outra
seria a sem noção.
Nem preciso especi icar que lugar cada uma ocuparia.
Sabe aquelas suas mensagens que só são respondidas dois dias depois;
os sumiços repentinos; a saudade que nunca passa de uma palavra; os
compromissos que não te incluem, sempre inadiáveis, e o clássico “Não é
você, sou eu”? Esses são alguns dos sinais mais comuns de que o outro não
está realmente disponível para estabelecer um relacionamento com você.
A leitura é simples: o amor usa a linguagem universal: quem quer, dá
um jeito. Faz um pingo virar temporal e copo d’água reter tempestade.
Onde houver mais desculpas que atitudes, há mais desinteresse que
interesse. Não precisa ser perfeito, precisa ser feito.
Se você sente o peso da ausência do outro, naturalmente também se
sente em desvantagem. É como naqueles sonhos em que estamos correndo
e não saímos do lugar. Caso seja essa a sua sensação em um caso amoroso,
corra! Ouça a sua intuição: é uma cilada – e sempre é tempo de sair dela.

outubro•2021
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6.
A importância de dizer não

outubro•2021
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Quem você ama primeiro?

Se permitir é maravilhoso, mas saber quando se impedir é sensacional!


Assim como eu, você nasceu na sociedade da subserviência. É comum
te parecer muito mais digno agradar ao outro antes de pensar em si.
Vejamos, religiosos ou não, a maioria já se deparou com Mateus 22:39:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Lembro de já ter ouvido isso como forma indireta de resposta aos meus
mais severos posicionamentos. Eu, brasileira, ilha de um país
majoritariamente cristão, não religiosa, já estive nesse lugar confuso.
Deveria, então, priorizar o bem-estar do outro, ainda que me custasse
saúde emocional e outros transtornos? Talvez ser verdadeiramente amada
seja sobre isso – pensava eu.
Voltemos ao versículo. Justamente, “como a ti mesmo”, ou será que
sempre quer que esqueçamos essa parte?
Se você não se amar, de que forma acredita ser capaz de amar alguém?
De onde você vai tirar esse amor?
Uma doação amorosa sem amor próprio não é uma doação – é um
pedido de socorro.

outubro•2021
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Dependência afetiva

Se você quer um relacionamento saudável, é preciso amar a si antes de


embarcar em um: não existe caminho do meio para isso.
Veja bem, se amar inclui dominar o seu território e não deixar que
ninguém o invada.
Terreno afetivo não pode ser baldio.
Se você não se ama e tenta amar alguém, fatalmente acaba sempre
precisando do outro, construindo grandes chances de se tornar uma
dependente afetiva.
Você buscará nessa pessoa, inconscientemente, todo amor que você não
(sabe que) tem.
Pessoas que buscam o amor fora precisam de aprovação e tendem a ser
as piores em impor limites, vivem fazendo a vontade dos outros, mesmo
que isso seja o oposto do que ela realmente deseja.
O pensamento é: Qualquer coisa é melhor do que não ser aceita. E só
serei aceita se izer tudo o que o outro quer.
Há uma grande di iculdade em lidar com a rejeição.

outubro•2021
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Não expressão leva à explosão

Toda vez que você permite o que precisa negar, inconscientemente está
pensando em como é mais fácil lidar com a sua dor do que com a
desaprovação do outro.
Pura ilusão! A gente sabe que essa dor se acumula em cada canto do
nosso corpo e acaba se transformando em silêncios ensurdecedores ou em
viradas de mesa com um ar de insensatez.
É exatamente por guardar tantos silêncios que você tem vontade de
explodir.
Não ser autêntica é exaustivo, já reparou?
A capa da mulher boazinha nos é colocada quando, naquele doce lugar
de descobertas infantis, não podemos gritar, falar palavrão, contrariar
opiniões e, claro, sob hipótese alguma, sentar de perna aberta.
Nossas vontades são reprimidas por não serem vistas como “boas
maneiras”; meninas, claro, são as que mais sofrem com o constante boicote
ao seu comportamento.
É como se a instintiva fonte de expressividade feminina “não fosse coisa
de mulher”.
Onde já se viu?
Seu medo de ser uma megera não é ilho do acaso – eu vejo você,
estamos juntas nessa!
Dizer não é um processo que anda de mãos dadas com a aceitação.
Só sabe dizer não quem aprende a lidar com a negação alheia.
O início é desconfortável, o durante incomoda, o inal te dá asas.
Repare que, normalmente, as pessoas que mais se incomodam com os
seus limites são as que constantemente se bene iciam pela ausência deles.
A permissividade é inimiga dos amores saudáveis.

outubro•2021
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Abrindo as cortinas da sua verdade

Quando você teme se posicionar pensando ser possível que a sua irmeza
afaste quem você ama, você impede que o outro realmente te conheça.
Fica o questionamento: Ama a mim ou o que espera que eu seja?
Convenhamos, há um abismo entre esses dois.
Quem quer que esteja contigo deve admirar o teu voo, achar bonitas
tuas asas, compreender a razão de suas dores, respeitar o seu espaço.
Uma pessoa que só te aceita quando é bene iciada pela sua bondade
extrema, na verdade, não te aceita – vive mais preocupada com o fato de
não aceitar a si e precisar encontrar alívio em alguém.
Ninguém precisa ter livre acesso a você.
Até as pessoas que mais amamos precisam conhecer nossos limites.
Delimitar espaços saudáveis nada tem a ver com ausência de amor: tem
a ver com a presença do amor próprio.
O preço que se paga por querer ser aceita a qualquer custo é o preço de
nunca saberem o seu real valor.

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7.
Ninguém supera um sonho

outubro•2021
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Já vi esse ilme

Esse capítulo começa com um episódio da vida de uma grande amiga, a


quem chamaremos de A.
A. não faz o tipo dependente afetiva, é até bem desapegada e consciente
das relações que cria, mas como qualquer ser humano, nunca esteve livre
de cair nas garras de um conquistador-interrogação (voltaremos a falar
desse conceito mais a frente).
O homem em questão será chamado de Mister Mistério.
Mister Mistério costumava aparecer em belas, raras e repentinas
quintas à tarde, com doces mensagens de saudade, pedindo que
combinassem de se ver na sexta.
A. nunca rejeitava o convite, a inal, não era toda semana que ele
aparecia e parecia tão cuidadosa a forma de ele querer programar algo
com uma certa antecedência (ele sempre mandava uma mensagem para
con irmar o encontro na própria manhã do tal dia de se verem, o que
causava uma certa impressão de “Acordou pensando em mim”).
Mas era isso: uma mensagem de “saudade”, perguntando como ela
estava e se podiam marcar algo no próximo dia. Era uma conversa sem
muito desenvolvimento, não tinha um interesse profundo e esse era um
grande sinal o qual A. jamais havia se permitido enxergar. Quando a
conversa não se desenrolava, o que passava pela cabeça dela era “Ele é
muito ocupado. Estar aqui me mandando mensagem uma hora dessas já
diz muito”.
De fato, a maioria dos encontros realmente acontecia, mas como todo
relacionamento solto, é um dia após o outro, sem o menor conforto de
saber que, pelo menos, no dia seguinte, se não isicamente, estariam juntos
simbolicamente.
Não havia nem sombra desse sentimento.

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Até aí, tudo bem, a inal, quando não há acordos verbais, tudo pode
acontecer, inclusive nada.
Cada vez que ela saía da casa dele, levava consigo as promessas “Nos
falamos mais tarde” e “Amanhã a gente se vê”. O “mais tarde” nunca
chegava e o “amanhã” parecia eterno.
Era o combo jantar + sexo + dormir junto + acordar sem saber o que
fazer – um clássico moderno.
Mister Mistério mostrava-se sempre muito atarefado, principalmente
atarefado demais para mandar uma mensagem para A. quando houve uma
espécie de reuniãozinha na casa dele, que incluía convidadas conhecidas
dela – reunião essa que aconteceu quando ela havia acabado de sair de lá.
Segundo sinal luminoso em letras garrafais, mas esse, ela não só percebeu,
como sentiu a dor do soco no estômago; o incômodo de ter certeza de que
não era tão especial assim.
Mister Mistério era um jogador nato.
“Mais tarde te mando mensagem pra gente se ver. Quem sabe umas
21h? Pode ser? Tenho um compromisso um pouco antes, então, te aviso.
Vamos nos falando.”
Que mulher já não separaria a roupa esperando o encontro?
Chegava 23h, mas não chegava 21h. Nem sinal do homem.
Essa frustração dói, a gente sabe.
Existem expectativas e expectativas, convenhamos.
Uma coisa é você criar expectativas baseadas em nada ou só na
imaginação; outra coisa bem diferente é criá-las pautadas no que o outro
disse.
A nossa palavra é um dos nossos maiores bens, mas tem gente que não
sabe disso.
Nesse dia, pouco depois do horário que Mister Mistério possivelmente
estaria liberado, A. enviou uma mensagem – delicada por fora, lamejante
por dentro – do tipo “E aí? Vamos conseguir nos ver? Só pra eu me
programar aqui...”.
Claro. Se programar. Com a roupa escolhida e banho tomado, com
cabelos devidamente hidratados.
Quem nunca?

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A resposta foi algo como “Não vou conseguir. A reunião ainda vai
demorar, vou sair daqui muito tarde”.
Um balde de água tirada das geleiras do Ártico.
Entre tantos episódios, Mister Mistério já havia voltado com a ex-
namorada e dito a A. que talvez estivesse fazendo a maior burrada da vida,
mas precisava tentar.
Resumindo: tentativa concluída sem sucesso. Pouco tempo depois,
retornou dizendo que não havia dado certo lá e que sentia falta de A. (Sim,
ela cedeu aos encantos e juras de um amante arrependido. Shakespeare
choraria com esse romance.)
O que quero dizer com todo esse dramalhão mexicano comum, que
aconteceu pelo menos uma vez, na vida de muitas de nós?
Mister Mistério nunca esteve realmente presente.
Ele sempre soube como manter A. por perto, usando um dos
mecanismos mais e icazes de todos: a dúvida.
Entre o sim e o não, mora o talvez, e no talvez reside tudo aquilo que
gostaríamos de viver com o outro, mas não o que realmente vivemos.

l Ninguém supera um sonho, não é mesmo?

Planos que só existem na nossa cabeça, com toda a perfeição que a


imaginação nos dá o prazer de experienciar, costumam ser os mais di íceis
de se desapegar, justamente porque eles não incluem a realidade dos fatos.
Acabamos nos apaixonando pelas lacunas que o outro deixou em
branco, lacunas essas preenchidas pelo que gostaríamos que fosse, e não
pelo que realmente é.
Mister Mistério é o típico conquistador-interrogação de que falei
anteriormente. É o cara que fala as coisas certas na hora certa e quando
você pisca para suspirar, ele já sumiu na neblina.
Não vale a pena. Simplesmente, não.
É o tipo de relação que te faz construir planos sozinha; ter desejos
quase nunca correspondidos; ausências mais simbólicas que a presença; e

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ter o sexo como a única coisa que parece realmente estabelecer uma
conexão:
Não era amor, era só tesão.
São horas de encanto que não valem dias de angústia.
Quem deixa dúvida demais, entenda: não tem certeza de nada.

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8.
Como encontrar a pessoa certa

outubro•2021
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Rompendo a ideia de perfeição

Para encontrar a pessoa certa, basta desistir dessa ideia.


Para isso, vamos embarcar em um processo poético de desconstrução.
“A maturidade traz a bênção da realidade: ver as coisas como elas são, não como
gostaríamos que fossem.
Querer um romance tranquilo nunca excluiu a ideia de haver diferenças – é nas
rupturas que a gente cresce.
Irreal é desejar alguém que prometa, diariamente, amar e nunca partir.
A inal, amanhã, quem sabe?
O presente é a verdadeira bênção.
Quando olhamos para o futuro, que é sempre incerto, perdemos o que realmente
importa – a presença; o aqui e agora.
Quando vê, já passou.
O que a gente quer da vida é lealdade, honestidade, companheirismo.
A perfeição não existe e, se existisse, seria um tédio.
Todo mundo que aparece traz um pouco de si; leva um muito de nós.
Pessoas certas não existem.
Pessoas reais, sim.
Os que fazem morada; os que estão de passagem.
Os que fazem questão; os que não fazem nada: em cada um, vários aprendizados.
Certo mesmo é saber viver bem, com ou sem alguém.

A ideia da pessoa certa é um caos: ela basicamente invalida qualquer
um que não se assemelhe a uma pessoa perfeita para você.
Você faz uma lista mental e irreal, baseada em ilmes, músicas e no
0,1% da realidade dos casais felizes que você vê rolando no seu feed, e
espera que alguém apareça em sua vida dando check em todos os itens.
Assim, convenhamos, é melhor que espere por um robô.

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Somos seres eternamente incompletos, em eterno processo de


evolução, cheios de feridas em fase de cicatrização, descobertas e coisas
que não estamos preparados para descobrir ainda.
Partindo desse princípio, é cruel demais esperarmos que o outro
atenda às nossas altíssimas expectativas e que ele venha, basicamente,
para nos salvar dessa luta diária.
O outro também é gente – gente feito de luta e desconstrução.
Enxergar o parceiro como um salvador não vai te salvar.
Se enxergar como salvadora dele também não te dará o título de Melhor
Centro de Reabilitação do ano.
Simplesmente não.

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Amor não é compra de mês

Enfrentar esta realidade nos desafoga; nos desacelera; nos alivia.


Vivemos em tempos de consumismo afetivo: a urgência, a impaciência,
as intensas demandas, a comparação, a variedade, a facilidade.
Tudo isso nos coloca em um eterno contraste das posições “poderosa” e
“impotente”.
Em um momento, pode se sentir poderosa por estar passeando pelo
aplicativo de encontros e escolher quem quiser ou, ainda, rejeitar quem te
escolheu.
Em outro momento, ninguém te escolhe naquele dia ou quem te
escolheu é completamente o oposto do que você gostaria.
“Só sobrou isso pra mim? Talvez a culpa seja minha...”
É a dança das cadeiras da era moderna e a autoestima sempre em
cheque.
Um encontro atrás do outro, uma fuga após a outra, sem nem saber
mais por quê.
As pessoas viraram itens em prateleiras de um mercado que só vende
atacado.
A idealização de alguém sempre diferente do que se tem no momento;
de alguém que nunca vá incomodar; que nunca trará nenhum desconforto;
que se comunicará somente pelo olhar: a pessoa certa.
Essa pessoa não só não existe, como te fará sempre acreditar que, num
futuro próximo, haverá um ser humano irretocável que nunca chega. A
frustração vem de brinde.
Todo relacionamento saudável (logo, não se enquadram aqui os
relacionamentos abusivos) é composto por embates, atritos, eventuais
acordos e desacordos, argumentações e re lexões.

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Loucura é pensar que dois universos em união estarão sempre de


acordo, nunca precisarão de espaço e, por se amarem, tudo permitirão – é
justamente aí que nem tudo é permitido.
Discordar quando assim for; respeitar sempre.
Pessoas certas são todas as que aparecem em sua vida, te ensinam algo,
aprendem com você, marcam a sua história de alguma forma, não por
serem perfeitas, mas por terem sido pessoas reais.

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9.
Por que os homens somem?

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Chá de sumiço!

Um romance tranquilo, belas mensagens trocadas, encontros gostosos,


reações apaixonadas aos stories que você posta. As coisas vão icando mais
intensas, a intimidade ganha espaço, o contato visual durante o sexo deixa
cada vez mais evidente: lascou!
Em meio a tudo isso, sumiços repentinos, respostas evasivas, ausência
permanente.
É um fato: o cara sumiu sem deixar vestígio.
Para compreender parte desse mistério, precisamos, antes, entender a
construção social do homem nessa sociedade machista patriarcal.
Quando um menino chora ou demonstra o menor sinal de
vulnerabilidade, ele é automaticamente repreendido pelos homens de sua
família (sim, a mãe está sujeita a entrar nesse pacote também), com as
seguintes frases: “Isso é coisa de mulherzinha!” ou “Homem que é homem
não chora!”.
Comecemos a enumerar os absurdos.
Primeiro ponto: choro, que é sinal de fraqueza, que é sinal de
feminilidade? Ah, nos poupe!
Mas esse não é o foco aqui.
Segundo ponto: desde crianças, bem no auge da sua formação de
personalidade, os homens são repreendidos por entrarem em contato com
suas emoções de alguma maneira. Quanto mais expostos emocionalmente,
mais rechaçados.
O que isso tem a ver com os sumiços masculinos em meio a um
romance de novela?
Em vários casos, tudo!
Quando o homem começa a adentrar nesse universo de emoções e
sensibilidade, ele trava e prefere o sumiço ao diálogo.

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O medo gera a fuga.

l E quais são as variáveis?


.

1. O cara pode ser um belo ator e ou fazer o per il narcisista, envolvendo


mulheres em seus falsos encantos, só pelo prazer de tentar fortalecer
sua masculinidade – que é tão irme quanto uma geleia.

2. Por mais incrível que possa parecer, homens nutrem muito mais
inseguranças acerca de relações recém-iniciadas do que as mulheres.
Mulheres, por serem movidas pela emoção, “se jogam” nas relações
com mais facilidade. O homem é guiado pelo racional, o que o faz
analisar 350 possibilidades diferentes de aquilo dar errado. Isso gera
um foco em manter a mulher ali e não em tê-la por perto, de fato.
Isso explica bem os casos em que o cara vive em cima do muro, ou
fala e não faz nada.
Provavelmente, o foco dele é o poder, a falsa ilusão de segurança
que esse “distanciamento seguro” traz. Quando a fala não condiz com
as atitudes, entenda: essa pessoa não quer você por perto de verdade,
e, sim, manter você ali para quando ela quiser.

3. Você construiria uma casa num terreno desnivelado que sobe e desce
a ladeira?
Você pularia de cabeça numa piscina cheia até a metade?
Provavelmente não para as duas perguntas, certo?
Então, analise seus mergulhos e construções no espaço alheio
também.
É preciso observar a profundidade do vínculo afetivo entre você e a
outra pessoa antes de sair bancando a desesperada, enlouquecida,
apaixonada.
Cada um tem um tempo, um ritmo. Se você é do tipo que em dois
dias já diz que ama e quer construir planos para uma vida, repense se
é realmente sobre isso que se trata, ou se é sobre uma tentativa

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desesperada de mostrar para o outro “Olha todo esse amor que tenho
a oferecer. É melhor você icar, por favor, não vá embora”.
Se você faz isso com alguém com quem não estabeleceu um vínculo
profundo contigo, ainda que você seja uma pessoa incrível, isso
aumenta as chances da pessoa virar aquele cara que some e aparece
com a frequência de sabe-Deus-o-que-se-passa-pela-cabeça-dele.
Quando você inconscientemente faz isso, esperando uma resposta
positiva, o efeito pode ser justamente o contrário: ele vai ajustar os
encontros na medida do que é confortável para ele. Por exemplo, o
cara que aparece de vez em nunca parece curtir sua companhia, é
agradável, te deixa altas doses de esperança, mas se manda depois do
sexo; ele pode gostar do conjunto, mas o fato de se sentir sufocado ou
saber que você está indo com muita sede ao pote faz com que ele
pre ira se manter mais ausente do que presente.

Mulheres, o importante, independente da variável presente nesses


casos, é que vocês se valorizem.
Se há mais ausência do que presença; mais dor do que alegria; mais
dúvida do que conforto; mais descaso do que caso; mais desculpa do que
mudança: não insistam.
Quando o afeto vem em migalha, a gente mostra que não é isso que
mata nossa fome.

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10.
Ele não quer nada sério... com
você

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Isso não é problema seu

Vamos ao curioso caso do homem que disse não querer um


relacionamento sério, complementando com um “Não é você, sou eu”,
dando um toque de melancolia, fazendo com que você chegasse a sentir
pena do indivíduo em questão, e que uma semana depois apareceu
namorando alguém ou no clássico “De volta com a ex”.
A atitude não deixa dúvidas: ele não queria nada sério... com você.
Agora repita em voz alta até que se torne normal, ao invés de
assustador:

Ele não quer nada sério comigo e isso não é problema meu.

São várias as razões que levam dois laços a se tornarem fortes o


su iciente. Do amor, passando por uma imensidão de interesses e
chegando também aos vários tipos de dependência afetiva, nunca
saberemos exatamente qual é a força que liga duas pessoas.
Por que, ao olhar para esse e outros casos semelhantes, você precisa
pensar que, pelo fato de o outro optar por não ter um relacionamento sério
com você, mas com outra mulher, a razão é você não ser boa o su iciente?
Enlaces amorosos não têm nada a ver com ser melhor ou pior. Têm a
ver com a inidade, história, sintonia, sentimento. Têm a ver com a
in inidade de questões que atravessa cada um de nós.

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Nada de comparações

Maturidade é aceitar que isso também faz parte do processo relacional.


Nosso erro é, nesses momentos, pensarmos em tudo o que poderíamos
ter feito e não izemos; em onde erramos; em tudo o que nos “faltou”.
Nosso problema é se comparar. Ponto. Nosso problema maior é se
comparar a uma pessoa que não tem absolutamente nada a ver conosco.
A comparação é a mãe de todas essas dores.
Se você passar a compreender que cada um é livre para ser o que bem
entende, então, saberá que as escolhas alheias são pautadas no que,
simplesmente, cada um acredita ser importante para si naquele momento.
E se alguém chega à conclusão de que pertinente é viver a vida com
alguém que não seja você, simplesmente não cabe a ti o papel de se
lamentar ou buscar razões em suas falas e atitudes para que isso tenha
acontecido: essa escolha independe de você, maravilhosa.

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O verdadeiro valor

Pensarmos no outro como o único ser humano com poder de escolha nessa
situação é o que nos enfraquece.
O pensamento é sempre “Por que ele a escolheu e não a mim?”.
Então, te trago outra re lexão: E se você descobrisse que também tem
poder de escolha?
Que você não nasceu para ser escolhida por alguém e que, pasme, você
não é um objeto numa estante esperando uma chance de mostrar sua
utilidade?
Você é um ser in inito, cheio de possibilidades; uma cabeça pensante;
uma caminhante dessa complexa jornada feminina; uma mulher forte que
às vezes se cansa; você tem atitude; você é importante.
Ao invés de se colocar em segundo plano, que tal reescrever sua
história a partir dessas pequenas-grandes rupturas quase que, digamos,
forçadas pelas circunstâncias da vida?
Você não está em um lugar de espera, num beco sem saída em que a
única possibilidade de sobreviver é sendo escolhida pelo alecrim dourado
para um romance digno de Hollywood.
Trago verdades: o alecrim não é dourado. O romance nunca será digno
de Hollywood.
Alguém optar por não ter um relacionamento sério conosco não põe em
xeque nossos valores. E se isso está acontecendo, observe que as
mudanças que precisam ser feitas vão muito além de sofrer ou não por um
caso sem inal feliz.
Quando descobrimos nosso verdadeiro valor, paramos de dar desconto,
paramos de depositar no outro a responsabilidade por nos aceitar ou não.

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Aceitar o que a vida nos oferece

A aceitação é a chave para a liberdade.


Não te digo que, a partir de agora, a clareza vai te eximir de qualquer
sofrimento – somos bruxas, mas não desse tipo. O que eu quero te dizer é:
tudo bem se questionar, derramar várias lágrimas, tomar um porre de
vinho com a sua melhor amiga, enchendo o ouvido dela de
questionamentos como “O que ela tem que eu não tenho?” até o “Por que
eu fui me envolver com esse (insira aqui o seu palavrão)?”.
Estamos autorizadas a sentir tudo. Isso também é autenticidade.
A questão é saber que certos sentimentos são como cidades que icam
entre o ponto de partida e o destino inal de uma longa viagem: você sabe
que vai precisar parar nelas por alguma razão emergencial, mas
de initivamente não vai querer icar por lá.
Reconheça, assuma o que sente sem deixar que isso se torne o seu
principal sentimento.
E em hipótese alguma se compare. Tenha em mente que você sempre
vai comparar os seus árduos bastidores com o palco iluminado do outro.

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11.
Existe vida pós-término?

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O que realmente perdemos?

Terminar um relacionamento, especialmente quando terminam com você


sem aviso (luminoso) prévio, não costuma ser algo realmente agradável.
A sensação que temos é de que os dias são intermináveis; as noites são
dias; na rua acontece um fenômeno chamado multiplicação de casais.
Inclusive, nos nossos piores momentos da fossa, os casais parecem se amar
mais e de forma mais explícita, nos pontos de ônibus, restaurantes,
esquinas. Chega a ser uma falta de respeito com as recém-solteiras em fase
de luto.
Mas, a inal, por que é tão doloroso superar o im?
Acontece que, psicanaliticamente falando, segundo Freud, nós amamos
no outro aquilo que supomos que ele tenha e nós, não. Assim, projetamos o
nosso ideal no outro. Inconscientemente, desejamos ser amados, então,
pela nossa própria fantasia idealizada.

Tá, Thamires, e o que acontece com tudo isso no término?

Quando um relacionamento termina, a nossa maior (e inconsciente)


dor não é perder o outro, mas uma parte da nossa própria imagem:
sentimos falta da maneira com o que o outro nos tratava; da maneira como
ele nos olhava enquanto transávamos; sentimos falta do carinho que
recebíamos de um jeito especial; dos vários detalhes deixados pela casa
numa manhã de domingo só para ver nossa cara de surpresa. Perdemos,
então, a maneira com que recebíamos o amor do outro.
Sabe a sensação de “Parece que perdi uma parte de mim”? Ela é real e
parte desse princípio.
O que acontece é que, durante os processos de ruptura, o maior
questionamento é “Por que terminou?”, mas devemos começar a nos

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questionar, na verdade, por que começou. Vamos discorrer brevemente


sobre as questões consideráveis que nos atravessam antes do im de uma
relação.

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Todo im teve um começo

Se não houver clareza no início, não espere que ela vá chegar no inal.
Relacionamentos são amontoados de acordos, pactos, ajustes, reajustes,
desajustes. Ainda que muita coisa ique implícita, é emocionalmente
saudável que os dois saibam com quem estão se relacionando e o que
esperam de uma união.
Se você, por exemplo, espera ter como parceiro um cara que saia para
beber aos inais de semana e ame baladas e afters, não convém namorar
um workaholic esportista que trabalhe até tarde toda sexta e acorde todo
domingo às seis da manhã para correr, certo?
O problema consiste em querer, a todo custo, transformar as pessoas
em algo que elas não são.
É exaustivo quando a linha do “Só quero te apresentar o meu mundo” é
ultrapassada e chega no “Você precisa viver tudo o que eu acredito ser bom
pra mim”.
É literalmente romântico acreditar na ideia de que o outro vibrará com
absolutamente todas as nossas conquistas e com tudo o que é relevante em
nossas vidas, mas na realidade pode não ser bem assim. Lembrando que
“não vibrar com tudo” não signi ica torcer contra ou agir com indiferença,
ok? São coisas bem diferentes.
Não vibrar com tudo o que é relevante para nós signi ica que nem
sempre o outro estará num bom dia ou nem sempre saberá o real sentido
que aquilo tem para gente, a inal, o outro é ele mesmo, lembra? Existe um
mundo de criação que, de certa forma, separa ou aproxima todos nós.
Esse tipo de reclamação, quando recorrente no cotidiano de um casal,
sufoca, distancia, di iculta a convivência, esgota.
Entender como o outro se comporta, desde o início, é uma chave para
abrir outras portas.

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l Pane no sistema

Outro ponto crucial a ser observado numa relação é a comunicação.


Por sermos mulheres, já temos uma tendência social e problemática a
não falar o que nos desagrada, a inal, somos basicamente nascidas e
criadas para obedecer e não desagradar, lembram? (E cá estamos nós,
afrontosas, irritantes, espaçosas e falantes.)
Pois bem, esse medo de dizer ao outro, dentro de um relacionamento, o
que nos irrita e magoa, e que comportamentos gostaríamos que fossem
diferentes, vem do medo de perdê-lo.
E, por acaso, não estabelecendo uma comunicação clara e honesta,
aumentamos as chances de eternidade?
Sendo assim, entre o desconforto de saber dizer a verdade e deixar que
o outro escolha como lidar com isso, e o de engolir insatisfações que
podem, inclusive, re letir no corpo ísico em forma de doenças, qual deles
você prefere?
“Acabou do nada!”
Não. Nunca é “do nada”. O desamor é um processo; um término
normalmente emite sinais. Claro que há pessoas que são capazes de
esconder todos os sentimentos possíveis, mas desse tipo de pessoa, você,
geralmente, não consegue saber nem se o amor existiu – das incógnitas a
gente espera tudo. Ou seja, se o outro é indiferente, pode ser até que você
tenha se acostumado a isso.
A questão principal é: você é capaz de enxergar os sinais que o outro
dá? Ou você é do tipo que enxerga e ignora? Não se culpe nunca,
independente de quem você seja e eu vou te dar uma boa razão para que
não o faça: quando amamos alguém e somos, digamos, pouco realistas em
relação ao término, ainda que ele esteja se aproximando, automaticamente
ativamos o radar do medo, principalmente quando sentimos um inimigo
chamado Fim se aproximar. Acontece que o medo é um outro inimigo
disfarçado de radar e ele nos rouba a atenção, o senso de autovalorização,
a tranquilidade, a força. É por essas e outras que, nos momentos inais de

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uma relação, vemos súplicas, juras, promessas e lágrimas antes nunca


vistas. É por essas e outras que vemos algo chamado desespero.
Meu intuito não é dizer a vocês que sigam passo a passo para que a vida
de dor em um pós-término se transforme prontamente em alegria, até
porque considero de extrema importância que vivamos o nosso luto,
sabendo quando é hora de se despedir dele.

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Dicas para você e para quem te ama

A fossa é visitante, nunca moradora, entendeu?


Mas existem aliados e comportamentos que podemos evitar durante
esse período:

1. Não basta não procurar saber sobre a vida dele: é preciso que suas
amigas e familiares sejam avisados sobre esse fato também, para que
nada chegue “sem querer” aos seus ouvidos.

2. Não ique se fazendo perguntas do tipo “Onde foi que eu errei?” ou


“Será que a culpa é toda minha?”. Sempre vale a pena nos darmos
conta de nossas parcelas de responsabilidade nos acontecimentos de
uma relação, mas a re lexão deve ser honesta, sobretudo, com você.

3. Ninguém para de usar qualquer droga, quando ainda opta por usá-la
“Só de vez em quando”. Ou seja, se você está decidida a esquecer o ex,
principalmente quando ele já está fazendo o mesmo há algum tempo,
não caia na bobeira de relembrar os melhores momentos. Eles se
tornarão um pesadelo, você sabe.

4. Assuma o controle da sua vida. Monte um projeto novo, matricule-se


numa aula de lauta, num curso de escrita criativa ou de dança, faça
algo novo, ocupe-se de criatividade e novos impulsos. Além da
possibilidade de descobrir novas aptidões, você vai otimizar o tempo,
manter a mente focada em desenvolver novas habilidades, em vez de
se alimentar daquela vontade louca de stalkear o bendito.

Manas, força. E como já disse o maravilhoso Chico Xavier, em uma de


minhas frases preferidas: “Isso também passa”.
Nunca se esqueça.

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12.
Encarando o monstro da rejeição

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Dói de verdade

Sim, daremos início a esse capítulo concordando que a dor da rejeição é


pior que a dor de bater o dedinho na quina da cama. E mais, a mesma
vontade que temos de culpar a cama por estar ali é a vontade que temos de
nos culpar por termos sido, até então, rejeitadas por alguém com quem
construímos planos (que talvez ele não faça a menor ideia).
A rejeição vem cheia de porquês e “e se”: perigosas armadilhas. São
apenas formas do nosso cérebro tentar entender a razão de estarmos
catando pedaços do coração naquele momento que mais parece uma
eternidade.

l E por que nos culpamos?

Bom, a quem mais ousaríamos entender senão a nós mesmas? É cômico


como, quando imersas nesse momento, somos capazes de esquecer que
um relacionamento é composto por duas pessoas.
Sim, deixemos de amnésia seletiva: essa é a hora em que parece que nós
somos as únicas responsáveis por não termos mantido aquela pessoa
perto de nós.
Oi? Isso não é insano quando lido em voz alta?
É como se sempre tivesse nos faltando algo e só por isso que fomos
jogadas ao mundo dos solteiros novamente, com todos os nossos sonhos
na mala.
Mas você já parou para pensar que o que você mais admira em você
pode ser justamente o que mais assusta o outro? Ou seja, no lugar de terem
sido as suas di iculdades o motivo do afastamento, em vez de se colocar
pra baixo, alimentando o monstro da insegurança, pare para analisar se, de

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repente, não são as suas qualidades mais admiráveis que assustam pessoas
que não têm estrutura para lidar com elas.
Por exemplo: se você é uma mulher independente, trabalhadora, adora
estar à frente do seu tempo, certamente um cara com extrema necessidade
de controle e baixa autoestima sabe que não conseguiria icar muito tempo
ao seu lado.
E se você é uma mulher extrovertida, simpática, que faz amizade com
qualquer pessoa, en im, Senhora Sorriso que alegra os ambientes, me diga
qual é a chance de um cara inseguro carrancudo ou, ainda, de um
narcisista, conseguir assumir um compromisso com você? De que forma
esse homem suportaria a sua presença quase “Solar” sem ser ele o centro
das atenções?
É disso que eu estou falando: rejeição também é uma questão de ponto
de vista.
Para isso, proponho que, ao inal deste capítulo, enumere as suas três
principais qualidades e faça uma re lexão do quanto elas também podem
ter afastado pessoas que, simplesmente, não têm a menor condição
emocional de estar contigo, uma deusa maravilhosa.
Nem tudo é sobre o que há de ruim em nós.

outubro•2021
Clube SPA

Esse ponto nos leva à próxima re lexão

Você certamente já ouviu a frase “Cada um sabe o que é melhor pra si”,
certo?
Certas pessoas sabem, inclusive, que o seu melhor é demais para elas.
Por dé icit na autoestima ou momentos diferentes de vida, elas optam sim
por não estarem com pessoas incríveis, porque isso exigiria dedicação,
bom senso e responsabilidade – coisas que talvez elas nunca tenham;
coisas que talvez elas não queiram mesmo desenvolver nesse momento.
A inal, estar com alguém legal, em condições saudáveis de relacionamento,
requer que você seja legal o su iciente para se manter ali.
Nem todo mundo está apto a isso, entenda.

outubro•2021
Clube SPA

A escolha de enxergar com seus próprios olhos

Não receber o que você deseja no momento não signi ica que tenha que
diminuir seus padrões, muito menos insistir.
Talvez isso tudo esteja muito mais ligado ao fato de você descobrir se
aquilo que você deseja é o que você realmente precisa, é o que você
realmente quer.
A rejeição amorosa da forma como conhecemos não tem nada a ver
com você, entenda. Tem a ver com as escolhas do outro, com o direito que
ele tem de ser livre e feliz, assim como você.
Um dos fatores mais conectados à rejeição é precisar da validação
externa para sentir-se bem e autocon iante. Se a opinião dos outros é
carregada de seus próprios julgamentos, por que razão suas escolhas
amorosas seriam diferentes? Elas dizem respeito ao outro. E só.
Cada ser humano tem suas referências, sua história, sua visão de
mundo. A gente até pode agregar e trocar experiências, mas isso talvez seja
bem próximo do máximo que podemos fazer.

outubro•2021
Clube SPA

O insight está no que fazer com a casca quebrada

Você não conhece tudo nem sobre você mesma (e eu sei que você tenta),
imagine tentar decifrar o “não” do outro! Não con ie nas suas hipóteses:
elas provavelmente estão mentindo pra você.
E caso qualquer uma delas tenha se con irmado, me responda, com
honestidade, o que você realmente pode fazer a partir disso?
A rejeição é um sentimento comum e ninguém está livre dela, mas o
que fazer a partir daí é o que diferencia uns e outros.
Você sempre pode ser a menina que se joga no chão do shopping por
não receber o brinquedo desejado ou aquela que se convence de que não
há mais nada a fazer. Sabe, talvez aquele brinquedo nem seja tão legal
assim...

outubro•2021
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13.
Dependência afetiva:
não é esse amor que você quer

outubro•2021
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Amar tudo bem, só não vale se tornar um anexo

A dependência afetiva é algo que pode facilmente ser vista como “um
excesso de grude e amor de sobra”, mas não. Sabemos que um amor pode
transbordar e não ser dependente.
A dependência afetiva acontece, basicamente, quando um vira o anexo
do outro.
E o que signi ica isso?
Signi ica que, fatalmente, haverá uma despersonalização de uma ou
mais partes, como, por exemplo, quando os amigos são os amigos do outro;
quando os programas se tornam os programas do outro; quando as
preferências são as preferências do outro.
O dependente afetivo perde a referência de quem ele é.
A sensação que ele carrega no peito pode ser de inida pelas trágicas
(sim, trágicas declarações): “Fulano é a minha vida” ou “Sem fulano, eu
morreria”.
E se o dependente afetivo nunca chegou a essas conclusões, talvez ele
seja do tipo que concorda com tudo; não reclama para não desagradar;
aguenta traições e ofensas, porque o amor é grande e, né, o amor supera
tudo. E por aí vai.

outubro•2021
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Fake crenças

A verdade é que crescemos com esse estigma do amor dependente. É como


se, para ser amor de verdade, precisasse ser doído e inseparável. Logo,
enquanto houver amor, ainda que haja desrespeito e dor, é importante que
haja relacionamento.
Mais uma mentira.
Principalmente numa relação lotada de toxinas; não se pode esperar
deixar de gostar para então poder romper. Por acaso conseguimos nos
apaixonar por quem queremos? Ou nos apaixonamos por quem temos
“condição” de nos apaixonar?
Lembre-se dos almoços de família em que sua mãe diz, gentilmente,
que fulano é um querido e que é uma pena você não gostar tanto dele
assim. Ou, você já deve ter dito ou ouvido a frase “Só me apaixono por
quem não presta!”. Conscientemente, ninguém quer se apaixonar por
quem não agrega, certo? Mas a verdade é que ainda que o outro preencha
todos os pré-requisitos do que seria um bom par, foge à nossa alçada
realmente nos envolvermos ou não.
A dependência afetiva é um tipo de vício: um vício no outro.
Se a compararmos ao vício em qualquer substância, o processo de
rompimento é o mesmo. Vejamos, o alcoólatra não espera deixa de gostar
de álcool para, então, poder largar a bebida. É um processo tal qual
terminar um relacionamento cheio de armadilhas.
Nem tudo o que você gosta realmente lhe convém.
Não é o fato de gostar verdadeiramente de alguém que caracteriza um
dependente afetivo, mas sim o quão capaz essa pessoa seria de ir embora
caso o relacionamento naufragasse de variadas maneiras.
Amor não signi ica dependência emocional.
Indiferença não signi ica independência emocional.

outubro•2021
Clube SPA

Desapega!

Podemos criar laços, só não podemos deixar que eles virem amarras.
Se o amor te parece imóvel, certamente ele já se tornou dependente.
A base para a libertação emocional consiste em amadurecer as próprias
emoções, mas não se iluda: maturidade emocional não tem a ver com
idade, nem com saber mais ou menos sobre as questões da vida.
Maturidade emocional implica enxergarmos as coisas sob uma perspectiva
mais realista e menos ingênua.
Pessoas, por exemplo, que foram extremamente mimadas ou viveram
no que vamos chamar de “bolha parental” normalmente têm mais
di iculdade em lidar com os nãos, a perda, os términos, o desamor.
Assim, claro, como pessoas com histórico de abandono, também
tendem a viver à sombra do medo de serem deixadas pelo ser amado e, por
isso, nutrem a eterna sensação de que a presença deve ser algo constante
para garantir que o outro não as deixe.
Claro que esses não são os únicos per is possíveis de pessoas que
tendem a se caracterizar como dependentes afetivos, mas é evidente que o
contexto em que cada um foi criado in luencia muito para o reforço desse
comportamento. Lembrando que todo mundo é um pouco dependente em
algum ponto, até porque, para estarmos aqui, hoje, foi necessário muito
choro atendido, alimento na boca e colo para nos nutrir. A independência
100% também não é uma realidade tangível, porque sempre precisaremos
de alguém para alguma coisa. Lembre-se: a questão central é E se eu não
tiver esse alguém, consigo me virar? Se a resposta for sim, maravilha.
Caso seja não, calma, vamos juntas.

l Diferenciando dependência emocional de uma troca saudável

outubro•2021
Clube SPA

Tudo bem chegar no im do dia, exausta, e querer um colo bom para se


deitar, ou mesmo desejar ser romanticamente surpreendida.
Tudo bem querer conversar sobre medos e angústias, fazer planos a
longo prazo, desejar que os dias se apressem para que vocês possam se
encontrar.
Tudo certo em querer. Tudo desanda quando você começa a precisar. O
outro não pode ser uma necessidade para o seu bem-estar.
Não se divertir longe do outro; estar constantemente preocupada em
sua ausência; só conseguir escolher – da roupa à comida – quando o outro
dá a opinião por você.

outubro•2021
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O controle é uma ilusão

Desenvolver a autonomia e a independência emocional não signi ica


egoísmo, tampouco desamor. Isso é autocuidado; isso é saúde emocional.
Não podemos depositar a nossa capacidade de se (re)erguer nas mãos
do outro.
Não temos controle de nada, quem dirá sobre o sentimento do outro
sobre nós.
Não. Isso não é pessimismo, é realismo.
É fundamental compreendermos que é justamente isso o que torna as
relações valorosas: o fato de aproveitarmos o tempo com mais qualidade,
sabedoria, doação amorosa consciente, entrega leal. Sabendo que tudo
pode mudar; tendo em mente que dar o seu melhor é importante, e não ser
reconhecida por isso deve ser motivo su iciente para que você se vá.

l Desenvolva a autonomia nas coisas simples do dia a dia

Arrisque-se a sair para almoçar ou jantar sozinha; vá às compras


sozinha; encontre mais as suas boas e velhas amigas; marque encontros
despretensiosos; descubra novos prazeres ou programas que não
dependam do outro em questão para acontecer. Desenvolva novas
habilidades; matricule-se no ballet clássico que você fazia quando tinha
dez anos: faça algo diferente.
Isso tudo ajuda a mudar o foco da sua vida para você.

outubro•2021
Clube SPA

outubro•2021
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Quer enxergar sob uma outra perspectiva?

Dependentes afetivos tendem a ser vistos e também a se colocarem numa


posição de “coitadinhos”, desprotegidos. Mas a verdade é que a
dependência afetiva também é um tipo de egoísmo: trata-se da pessoa que,
inconscientemente, acredita que o outro está ali para tapar todos os seus
buracos e preencher todas as suas expectativas, desconsiderando o fato de
que esse mesmo outro também carrega suas bagagens e seus buracos, e a
função dele simplesmente não é atender às necessidades básicas de
ninguém.
Nesses casos, não há vítimas.
Somos todos responsáveis pela forma com que escolhemos nos
relacionar.
O amor tem um limite: o amor próprio.
Quando a relação cruza essa fronteira e invade o seu espaço, a sua
dignidade, é hora de se dar conta de que não: não vale tudo por amor.
Principalmente se for você em jogo.

outubro•2021

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