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Texto 2020 © Thamires Hauch

Edição 2020 © Opala

Coordenação editorial: Ana Cristina Melo


Assistente editorial: Juliana Pellegrinetti
Capa: Idée Arte
Projeto gráfico: Natália Peon | Sem Serifa
Conversão digital: Aline Martins | Sem Serifa
Ilustrações: iStock
Revisão: Gerusa Bondan
1ª edição: janeiro /2021

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Hauch, Thamires
Faça o amor ser fácil / Thamires Hauch. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Opala,
2021.
ISBN 978-65-991369-4-8
1. Amor 2. Autoajuda 3. Autoestima 4. Felicidade 5. Mulheres 6.
Relacionamento - Homem-mulher I. Título.

Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida total
ou parcialmente sem a expressa autorização da editora. O texto deste livro contempla a grafia
determinada pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, vigente no Brasil desde 1º de janeiro
de 2009.

Opala é um selo da Editora Bambolê


opala@editorabambole.com.br
www.editoraopala.com.br

Impresso no Brasil
Dedico este livro aos meus pais.
Sou grata por sempre terem tido a compreensão de que, desde criança, meu lugar
favorito não era uma loja de brinquedos, mas uma livraria.
Agradeço também o incentivo por meio das folhas de papel cedidas para que eu
pudesse escrever longas histórias, grampear e transformar em obras de sucesso para
ler na sala de casa.
Sem vocês, eu nada seria.
Sumário

Prefácio

Introdução

1. O relacionamento mais importante da sua vida

2. Descomplique: Fique com quem queira Ficar


3. Amores líquidos, desejos sólidos

4. Quando o jogo começar, tire o seu time de campo


5. Confie na intuição
6. A importância de dizer não

7. Ninguém supera um sonho


8. Como encontrar a pessoa certa

9. Por que os homens somem?


10. Ele não quer nada sério... com você

11. Existe vida pós-término?


12. Encarando o monstro da rejeição

13. Dependência afetiva: não é esse amor que você quer


Prefácio

O título desta obra nasceu de um texto meu, publicado há mais de um


ano: curtido por mais de 50 mil pessoas, compartilhado por 20 mil e
salvo por mais de 15.
Acredito que ele mereça destaque.


Não ponha o outro à prova, deixe que se prove.
Não teste a lealdade, deixe que ela se apresente.
Estar junto não significa obrigação de disponibilidade.
Não meça o amor de ninguém com a régua da sua exigência.
Antes de serem um, são dois.
Fidelidade é princípio básico, e compreender os limites de alguém, pasmem, também é respeito.
Ampliemos nosso conceito de cuidado numa relação.
Silêncio que não constrange, cobrança que não é feita, presença que é valorizada, espaço que é
reverenciado: isso também quer dizer “eu te amo”.
Atente-se. É nos detalhes que o amor floresce.
Quem muito tenta exercer controle, só mostra o desequilíbrio que ali reside.
A dificuldade não está em confiar no outro, mas em si.
Ninguém te torna inseguro.
Afloram sua insegurança.
Em caso de pânico, lembre-se que pode sempre optar pelo medo ou pelo amor, pelo vou ou deixo que se vá.
Nessa vida existe muita coisa à primeira vista, mas convenhamos: amor é escolha, é construção que se
ergue juntinho.
Para ter sucesso a dois não é preciso ser perfeito.
É preciso ter feito.
Tentar melhorar, acredite, já é ser melhor.
Repensem essas relações que fazem o amor parecer inalcançável.


Introdução

Crescemos acreditando que se relacionar é algo fluido, intuitivo,


naturalmente descomplicado. Qualquer comportamento que saia desse
pressuposto já acusa que há algo errado – conosco ou com o outro. O
resultado disso é um misto de expectativas irreais com frustração.
A infância confirma essa idealização romântica nos filmes onde
princesas estão sempre vivendo situações de perigo à espera de um príncipe
invencível que possa salvá-las.
Seria muito mais fácil se nos fosse ensinado, desde criança, que não
existe príncipe encantado – existem pessoas reais, com bagagens, medos,
anseios e, claro, qualidades.
Os dragões que cospem fogo não são nada além de nós no ponto alto de
nossos próprios traumas.
Não somos indefesas e não há ninguém de fora que possa mudar a nossa
realidade interna; isso é trabalho de cada um.
Só quando aprendemos a encarar a realidade, somos, enfim, livres.
Esse livro, apesar de ter sido criado pensando nos questionamentos
femininos na hora de se relacionar, se destina a todos aqueles que querem,
simplesmente, compreender como é possível se relacionar de forma mais
independente, forte e inteligente consigo e, claro, com o outro –
desvendando os mistérios da linguagem a dois.

l O amor é uma experiência multissensorial. Calor e frio,


paciência e raiva, negação e aceitação, importância e
irrelevância. Se ele fosse um alimento, certamente teria um
sabor agridoce.
1.
O relacionamento mais
importante da sua vida
A diferença entre homens e mulheres

É curiosamente revoltante observarmos, entranhado no comportamento


cotidiano, a seguinte comparação: se um homem é solteiro por muito
tempo, ele: é um garanhão; pegador; bon vivant; “Não gosta de se
envolver”; “Gosta mais de curtir”; “Trabalha demais, não tem tempo”; é
um cara livre.
Se uma mulher é solteira por muito tempo, ela: “Tem algum
problema, tadinha”.
Essa poderia ser uma visão à parte, mas, infelizmente, ainda é a
nossa, pensada por uma expressiva maioria sobre todos nós.
A quantidade de relatos que recebo de mulheres querendo descobrir
qual é o problema que as acompanha, pelo fato de nunca terem tido um
relacionamento sério, é impressionante.
É comum, mas não deveria ser normal.
Tudo começa na infância, quando meninas ficam sorridentes ao
ouvir sobre seus penteados, vestidos, sapatos e sua beleza estonteante,
enquanto meninos ouvem elogios sobre sua força, inteligência, agilidade
e perspicácia.
Tudo o que se refere ao feminino, desde tão cedo, não só é
relacionado à estética, como a fatores externos: somos ensinadas a olhar
para fora, a buscar no outro o preenchimento desses espaços enormes de
aceitação.
Romper com essas velhas estruturas é um trabalho árduo que vem se
perpetuando desde o século XIX.
Se este livro chegou até as suas mãos, é porque você tem, hoje,
vontade de ouvir e aprender o necessário para revelar o amor mais
profundo por si mesma.
Dei vida à poesia abaixo especialmente para esse momento.
Sugiro que pegue um chá ou um vinho, se aconchegue num cantinho
gostoso e ofereça um pouquinho de entrega a essa breve leitura.


Fluo no meu espaço, não aperto o passo.
Sinto-me – ao compreender-me, comemoro.
Celebro minhas vitórias como quem realiza um sonho antigo.
Reconhecer-me vencedora traz mais brilho à minha jornada.
Quando pedi aos céus que me dessem asas, certamente foi no instante em que esqueci que, aqui dentro, sou
puro vendaval.
Vou nesse voo, leve, longe, linda, louca, livre: eu sou o meu destino.
Querer alguém, não precisar de ninguém.
Amar o outro, me amar sempre mais.
Aventurar-me em mim é a minha melhor escolha: estou de passaporte carimbado rumo ao verdadeiro
amor.
Eu – tão minha – antes de ser com alguém.


Reciprocidade

É exatamente sobre isso.


Quanto vale a sua história escrita à mão?
E essas mesmas mãos estendidas que dão afago e tocam alguém com
cuidado, recebem o que quando precisam?
Reciprocidade é princípio básico pra sobreviver em solo afetivo.
Você só pode florescer quando o outro te rega, lembre-se.
Suas dores, suas alegrias, seu passado, suas escolhas, sua escola, que é
a vida: quanto vale o seu tempo? Você sabe? Afinal, qual é o seu valor?
Repense as companhias que te fazem suspeitar da sua potência.
Permaneça somente onde puder crescer.
Mude-se com pressa de onde não mais couber.
Amor próprio não é só skincare e se permitir fazer ou ser: se amar
também é saber quando se impedir de seguir.
Somos o início e o final de tudo; tudo começa e termina em nós.
Feito feras que somos, é essencial que comecemos a lamber as
próprias feridas, de modo que sejamos nós as maiores responsáveis por
curar padrões nocivos em nossas vidas.
Numa sociedade que duvida da nossa força e enaltece o que é
domesticado, isso é ser verdadeiramente selvagem.
A transformação do não

É preciso que haja um olhar sempre mais profundo para as nossas


permissões.
Quando temo dizer não, fatalmente quero chegar naquele ponto
inatingível que é: ser amada a qualquer custo, não desagradar sob
nenhuma circunstância.
Preocupe-se em ser de verdade e verá que permanecerão ao teu lado
aqueles que também são. Desagradar faz parte do processo da
autenticidade – dizer não para o outro pode significar dizer um belo sim
para mim.
Escolher a si não é egoísmo.
Construir uma base forte requer paciência com o processo.
Só quem se conhece verdadeiramente, verdadeiramente se ama.
Só quem se ama atrai um bom amor.
Entender que a desconstrução é o princípio básico para a construção
é o que você precisa compreender quando pensa em se transformar.
Só o espaço vazio convida o novo a se manifestar.
Se despedir de uma velha e conhecida face é o maior dos desapegos.
Quando a pequena menina dá adeus, a grande mulher pede para entrar.
Abra a porta.
2.
Descomplique:
FIque com quem queira
FIcar
Respire e espere o próximo

Imagine a seguinte cena: não é o fim dos tempos, é só mais um capítulo da


sua bela vida e você aguarda o motorista de um aplicativo chegar para te
pegar num fim de tarde qualquer.
Você solicitou, marcou um lugar e está à espera.
Ele aparece, mas, por alguma razão, não para e segue o próprio rumo. O
máximo de explicação que você recebe é um aviso de cancelamento.
Você viu a placa, o modelo do carro e o seu desânimo estampado por
conta desse querido motorista ter posto fogo em todas as suas expectativas.
Afinal, nesse cenário, você sairia correndo atrás do carro até o destino
final dele ou respiraria e chamaria outro?
E com as pessoas que passam pela sua vida, você também arriscaria a
primeira opção? Aliás, quantas vezes você já a escolheu?
Tem gente que fica pouco; alguns fazem morada em nós; outros nunca
saem de cima do muro; há os que ficam; há os que nunca quiseram mesmo
ficar.
Alguém quer ir embora da sua vida? Faça o favor de abrir a porta.
Educação é princípio básico para fortalecer o amor próprio.
Quando alguém verbaliza a vontade de ir ou te oferece uma falsa
presença, acredite: essa pessoa já se foi faz tempo.
Num coração que é casa quente, não aceite lidar com o frio.
Relação saudável é via de mão dupla; é andar ao lado e não atrás; é
encaixar uma peça enquanto o outro segura a estrutura; é montar junto; é
mais do que estar – é se esforçar para fazer valer a permanência.
Pessoas que vêm e vão acabam fazendo seu coração de passagem e gente
que “tá só de passagem” nunca quer mesmo ficar.
O tipo de pessoa que vai quando bem entende e volta quando se cansa
do mundo lá fora não pode encontrar a porta aberta.
Se a encontra sempre sem chave, muitas vezes, limpa só os pés no tapete
– não purifica as intenções; quando não, se esquece de tirar os sapatos para
honrar a sua casa e, claro, quando vai embora, deixa sempre a maior sujeira.
E o pior: quando volta, não é para te ajudar a organizar.
Vivendo momentos plenos

Não seja a “de vez em quando” de ninguém.


Seja a “sempre sua”, respeite o seu espaço, honre o seu tempo.
Uma relação ioiô jamais compensará a angústia que traz a ausência
com a frágil alegria que traz a presença.
Quando a pessoa estiver ao seu lado, se pergunte: “Quando esse
momento acabar, como me sentirei?”.
Se a resposta não for “muito bem”, reconsidere a escolha.
Depois de repensar, se pergunte também o que ainda te faz permitir
essa estadia que tanto te custa, com livre retorno.
O que te mantém presa é a realidade dos fatos ou o que você criou
sobre eles?
O que quero dizer com isso é: atente-se. Provavelmente você não ama
o sujeito e nem sequer teve tempo de conhecê-lo para tal.
Há grandes chances de você amar os seus desejos ainda não
realizados com ele, a idealização da relação, ou seja, a sua criação e não a
pessoa em si.
Entende por que, muitas vezes, pode ser tão difícil desapegar?
A verdade é uma só: ninguém supera um sonho!
Tudo o que você imagina que possa ser vivido por vocês – o café na
cama; a demonstração pública de afeto; a mensagem de bom dia; as
flores como pedido de desculpa; os domingos de edredom; as viagens ao
redor do mundo... tantas histórias não realizadas estão carregadas da sua
projeção, do que você gostaria que fosse – e não do que realmente é.
A realidade certamente seria bem diferente: só imaginamos a parte
boa.
Vai ver ele nem é esse paraíso todo, certo?
E as chances dele não ser, convenhamos, não são pequenas.
Se os planos de uma vida a dois moram só em você, mude-se
urgentemente ou expulse esse inquilino folgado do seu coração.
Você merece mais.
3.
Amores líquidos, desejos
sólidos
O que são amores líquidos?

Não podemos falar de amores líquidos sem entender o seu berço. Existe
um conceito denominado modernidade líquida, criado pelo filósofo e
sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que define as relações sociais,
econômicas e de produção como frágeis, fugazes e maleáveis, assim como
os líquidos.
Bauman definiu a modernidade líquida como um período posterior à
Segunda Guerra Mundial que ganhou força no início de 1960.
Vale lembrar que, anterior a esse período, havia o que ele denominou
modernidade sólida.
Já podem imaginar a diferença, né?
Na modernidade sólida, a rigidez e solidificação das relações humanas
eram muito mais presentes, tornando as relações, assim, mais
duradouras.
Não podemos ignorar – assim como Bauman também não ignorou –
que o excessivo rigor relacional também acabava sendo prejudicial em
um certo ponto.
Na modernidade líquida, as relações econômicas, por exemplo,
tornaram-se mais importantes que as relações pessoais. Ou seja, a lógica
do consumo entrou no lugar da lógica da moral.
Basicamente, o que você tem importa mais do que o que você é.
Reconhece esse conceito nos dias atuais? Provavelmente sim.

Calma, já vamos chegar nos amores líquidos.

Onde a modernidade líquida afeta as relações humanas?


Tornamos-nos mais conexão e menos relacionamento.
Estamos na era do acúmulo, dos números, dos views, dos likes.
Conexões podem ser rapidamente desfeitas – essa é a reflexão.
Hoje, quando você quer se afastar de alguém ou demonstrar
descontentamento, você bloqueia.
Quando você deixa de seguir alguém nas redes sociais por pura falta
de afinidade, que seja, você pode estar declarando uma guerra sem a
menor intenção de se munir.
Não podemos negar, é evidente: as redes sociais intensificaram o
processo que Bauman chamou de amor líquido – as relações
pseudoamorosas dentro dessa realidade moderna.
O sujeito tornou-se objeto, transformou-se em um meio para
satisfação do outro, ou seja, puro sinônimo de prazer.
Não há problema algum em querer sentir prazer: o problema está em
só querer sentir prazer.
Isso contradiz o conceito de se relacionar profundamente. Bem
sabemos que um relacionamento jamais será composto só de alegrias. O
outro não existe única e exclusivamente para nos agradar.
Isso ilustra toda a problemática relacional que vivemos hoje em dia.
Os amores líquidos são essas conexões focadas em números e não em
profundidade; são as relações que não mantêm as formas por muito
tempo; são as disputas do “quem se importa menos” ou “quem demorar
mais a responder a mensagem é o vencedor”.
Quanto mais a pessoa se expõe na internet, menos ela aceita a
vulnerabilidade de uma vida a dois.
Quanto mais se ampliam as possibilidades, mais se fragilizam os
laços.
A maioria das pessoas está preocupada em estabelecer um contato
com alguém, mas não a conhecer esse alguém.
Não esqueça sua voz

Em tempos como esse, não liquide os seus desejos mais genuínos.


Se a sua vontade é sólida, acolha-a: você não é estranha, o mundo é
que pode parecer meio louco de vez em sempre.
Se você gosta de diálogos mais profundos, se expresse.
Tem intenção de casar e ter filhos? Deixe claro quando puder, sem
medo. Não pense estar sendo antiquada numa sociedade em que a
maioria, em público, jura ser desapegada, quando a realidade é esperar
chegar em casa para chorar no travesseiro.
Compreenda certos comportamentos, tendo consciência de que não é
porque é comum, que significa que seja bom.
Se a sua verdade é bem diferente da verdade da maioria ao seu redor,
acredite: você pode estar rodeada das pessoas erradas. Mude os círculos,
encerre velhos ciclos, mas não abra mão de um bom e velho afeto.
Tenha coragem pra ser de verdade em meio a tanta ilusão.
4.
Quando o jogo começar,
tire o seu time de
campo
Cuidado com o vício do poder

Os “jogos relacionais” nada mais são do que meios de evitar a verdadeira


intimidade, além de também serem uma forma de atender às demandas
do ego daquele que joga.
Quem vive montando esquemas mentais para te fazer sentir-se
insegura, te manter ali em um estado de constante confusão, age como se
a responsabilidade pelos acontecimentos daquela relação nunca fosse
dele.
O resultado? Você vive confusa ou culpada, sempre precisando
“correr atrás” de algo que você não sabe ao certo o que é.
No que diz respeito a atender às demandas do ego, quero falar sobre
aqueles que são incapazes de estabelecer um diálogo honesto com você
sobre o que querem (ou não) em um relacionamento.
Se você oferece todos os benefícios de um relacionamento estável
para quem não te retribui com o mínimo de estabilidade, há um
desequilíbrio: as chances de essa pessoa usar “joguinhos” para te manter
ali são enormes.
Sabe que peças compõem esse jogo? Sumiços e aparições repentinas,
desculpas esfarrapadas, declarações seguidas de comportamentos
completamente contraditórios e por aí vai.
O fundo disso tudo é um só: sentimento não genuíno.

l Desinteresse não é interessante

Preparadas para tatuarem isso na testa? (Quem tem pavor


de agulha, pode colar na geladeira.)
Já parou para pensar que, talvez, tudo o que você demonstra pelo
outro ou nos relacionamentos de maneira geral, e que todos tendem a
chamar de “intensidade”, pode ser apenas preguiça de jogar? Ou seja,
vontade de ser transparente.
Vamos normalizar o “quero ver as coisas acontecerem”, pura e
simplesmente.
Se existe uma vida a dois em que você não pode ser você, então não
existe uma vida a dois. É melhor seguir com a sua vida.
Se você precisa contar o tempo no relógio para responder à pessoa
com a falsa sensação de tranquilidade de quem tem “mais o que fazer”
ou “você nem é tão importante assim”, você já está fugindo do propósito
relacional.
Não tenha medo de dizer a verdade sobre a forma como se sente.
Quem se afasta de você quando a sua autenticidade é expressa, deixa
bem claro que não sabe lidar com a sua verdade.
E, afinal, você merece ser amada por inteiro. Sem renegar desejos e
partes esquecidas.
Um jogo onde é melhor perder

Imagine um jogo de pingue-pongue: em vez de devolver a bola toda vez


que ela vem, para não entrar no jogo, você precisa deixar que ela passe
por você. Nesse caso, quando você perde, na verdade, sai ganhando.
Valorize o seu tempo.
Quando sentir que o jogo está começando, tire o seu time de campo.
Há milhares de pessoas que têm vontade de demonstrar interesse e
também não têm muito tempo a perder. Fuja de quem faz as coisas
parecerem extremamente difíceis ou de quem te deixa sempre em dúvida
sobre o que sente.
Quem parece não se importar, acredite: já não se importa.
5.
ConFIe na intuição
Medidor de interesse

Muitos me perguntam sobre como ter certeza de que o outro está


realmente a fim. A resposta sempre veio clara: “Quando estiver, você não
terá dúvidas”.
Quem muito nos quer, muito nos mostra.
Há quem deixe várias incertezas pairando no ar.
Por falta de entrega ou interesse, vale lembrar que meia saudade até é
saudade, meio sanduíche até mata a fome, mas meio amor? Meio amor
não é nada!
Quem só te deixa interrogação, não merece tanta exclamação.
Existem alguns sinais que indicam que aquela pessoa pode não estar
tão interessada em você. Parece que quanto mais claro, mais difícil
enxergar, eu sei – certas atitudes são mais que um sinal, são letreiros
luminosos que quase cegam.
Para poder interpretar os sinais do outro, antes, é preciso fazer as
pazes com a boa e velha intuição.

l O que é intuição?

A intuição é um sopro; é aquele conselho fugaz que surge


no silêncio, de dentro para fora, ao pé do ouvido; é um sentimento que
faz vibrar tudo dentro de nós – dá pontada no coração e no estômago; é
aquele pensamento certeiro e repentino que surge antes de a gente
dormir; é a certeza que aparece com maestria e some com sagacidade.
É preciso estar atenta a essa manifestação de poder interno.
Quantas vezes você se avisou e não se ouviu? Quantas situações você
pagou caro pra ver um final que já havia previsto e complementou com o
clássico “Eu sabia!”?
A verdade é que, no fundo, nós realmente sabemos quando as coisas
não estão indo bem – ou não tão bem quanto gostaríamos. Há um aviso
prévio de “Cilada à vista!” que insistimos em ignorar.
É impressionante a capacidade que temos de desconfiar de nós ao
mesmo tempo em que depositamos todo o nosso crédito no outro.
Só quando você confia no que sente a respeito de uma determinada
situação é capaz de atrair outras situações que confirmem o seu sentir o
quanto antes.
Já parou para pensar em quanta saúde emocional você pode
economizar com essa mudança de comportamento? Com o simples fato
de acreditar nesse pequeno desconforto que te traz grandes respostas?
Quando a intuição quiser falar, pare, ouça e confie: mantenha o
coração aberto, ouvidos atentos e olhos mais ainda. Receba o que vier,
esteja atenta ao que houver, observe o que acontece e principalmente
aquilo que não acontece nunca.
Cegueira emocional

Muitas vezes, as faltas, a indisponibilidade e a não correspondência que


somos capazes de sentir a respeito do outro são mascaradas pelo nosso
simples desejo de que aquilo não seja verdade.
Numa tentativa de atender às nossas expectativas e nos salvarmos da
dor que causa a frustração, acabamos ficando surdas para a intuição e
escolhemos o caminho da cegueira emocional.
A cegueira emocional consiste em não sermos capazes de enxergar
certos comportamentos nocivos dentro de uma relação pelo simples fato
de a venda em nossos olhos ser composta por uma enorme esperança de
que algo, de repente, seja diferente.
Encarar a realidade não é uma tarefa fácil, mas renunciar à nossa
sabedoria interna sempre nos causará algum tipo de dor, anote isso.
Agora que você já sabe a importância de dar credibilidade à sua
intuição, chegamos a um ponto crucial – a linha tênue que a separa da
criação do ego.
Ultrapassar essa linha é o que pode fazer você se tornar aquele tipo
de pessoa viciada em criar situações, digamos, desagradáveis para si.

l Afinal, como diferenciar criação mental da intuição?

A criação mental é fruto das nossas inseguranças e


ansiedade e deixa sempre aquela sensação de desconfiança
irreal dos outros, ou seja, sem motivo aparente.
Se intuição é a fala, a criação mental é o teatro.
Imagine a situação a seguir: você acaba de embarcar em uma nova
aventura amorosa que está dando seus primeiros passos rumo à
intimidade. Seu relacionamento anterior foi um tanto quanto
traumático. Você foi traída e descobriu inúmeras mentiras, entre elas,
que seu ex nunca participou do happy hour da firma que acontecia às
quintas – ele usava isso como pretexto para prolongar os períodos fora de
casa para outros fins.
Apesar de tudo, você seguiu e está novamente envolvida com um
outro alguém.
Vocês estão se conhecendo, ele é interessante, carinhoso, te trata bem
e você contabilizou um total de zero objeções: até sua mãe gosta dele.
Mas “é bom demais para ser verdade”, não é mesmo?
“Se o ex mentia, o atual também deve mentir.”
“Não houve nada, mas, pelo meu histórico, só posso estar sendo
enganada de novo.”
E assim adentramos no amargo caminho das criações ou viagens do
ego.
Se o atual demora a responder, você já acha que está cansado de você.
Se ele diz que vai precisar esticar um pouco o horário no escritório, você
tem certeza de que ele está passando tempo com outra pessoa (arrisca
dizer até o número de identidade da mulher em questão). Se num dia
atarefado, atipicamente, ele dá menos atenção às suas mensagens, você
já tem o diagnóstico: está falando com outras mulheres em outro
aplicativo. Tudo por conta do seu cabelo, que não estava tão cheiroso na
noite anterior. Ou será que foi o risoto que você deixou queimar?
As criações mentais são ilusões, literalmente devaneios nossos.
Geralmente, são baseadas em experiências anteriores que deixaram
alguma sequela.
Não é porque o relacionamento anterior foi frustrante, que o atual
também vai ser, por exemplo. Conheço casos de mulheres que não se
permitem viver um relacionamento digno pelo fato de viverem à sombra
de suas eternas desconfianças sem um aparente sentido. Repare que
estar nesse estado é sempre atender ao chamado de suas mais profundas
inseguranças.
Essa dificuldade em acreditar que você merece uma relação digna, se
não está relacionada ao passado, está relacionada à sua crença
inconsciente de não ser boa o suficiente. Desapegue disso: o amor é pra
você.
Sinais reais

A intuição é quem avisa, enquanto a criação mental é quem incomoda.


Se ambos fossem pessoas, certamente uma seria a amiga sábia e a
outra seria a sem noção.
Nem preciso especificar que lugar cada uma ocuparia.
Sabe aquelas suas mensagens que só são respondidas dois dias
depois; os sumiços repentinos; a saudade que nunca passa de uma
palavra; os compromissos que não te incluem, sempre inadiáveis, e o
clássico “Não é você, sou eu”? Esses são alguns dos sinais mais comuns
de que o outro não está realmente disponível para estabelecer um
relacionamento com você.
A leitura é simples: o amor usa a linguagem universal: quem quer, dá
um jeito. Faz um pingo virar temporal e copo d’água reter tempestade.
Onde houver mais desculpas que atitudes, há mais desinteresse que
interesse. Não precisa ser perfeito, precisa ser feito.
Se você sente o peso da ausência do outro, naturalmente também se
sente em desvantagem. É como naqueles sonhos em que estamos
correndo e não saímos do lugar. Caso seja essa a sua sensação em um
caso amoroso, corra! Ouça a sua intuição: é uma cilada – e sempre é
tempo de sair dela.
6.
A importância de dizer
não
Quem você ama primeiro?

Se permitir é maravilhoso, mas saber quando se impedir é sensacional!


Assim como eu, você nasceu na sociedade da subserviência. É
comum te parecer muito mais digno agradar ao outro antes de pensar
em si.
Vejamos, religiosos ou não, a maioria já se deparou com Mateus 22:39:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Lembro de já ter ouvido isso como forma indireta de resposta aos
meus mais severos posicionamentos. Eu, brasileira, filha de um país
majoritariamente cristão, não religiosa, já estive nesse lugar confuso.
Deveria, então, priorizar o bem-estar do outro, ainda que me custasse
saúde emocional e outros transtornos? Talvez ser verdadeiramente amada
seja sobre isso – pensava eu.
Voltemos ao versículo. Justamente, “como a ti mesmo”, ou será que
sempre quer que esqueçamos essa parte?
Se você não se amar, de que forma acredita ser capaz de amar
alguém? De onde você vai tirar esse amor?
Uma doação amorosa sem amor próprio não é uma doação – é um
pedido de socorro.
Dependência afetiva

Se você quer um relacionamento saudável, é preciso amar a si antes de


embarcar em um: não existe caminho do meio para isso.
Veja bem, se amar inclui dominar o seu território e não deixar que
ninguém o invada.
Terreno afetivo não pode ser baldio.
Se você não se ama e tenta amar alguém, fatalmente acaba sempre
precisando do outro, construindo grandes chances de se tornar uma
dependente afetiva.
Você buscará nessa pessoa, inconscientemente, todo amor que você
não (sabe que) tem.
Pessoas que buscam o amor fora precisam de aprovação e tendem a
ser as piores em impor limites, vivem fazendo a vontade dos outros,
mesmo que isso seja o oposto do que ela realmente deseja.
O pensamento é: Qualquer coisa é melhor do que não ser aceita. E só serei
aceita se fizer tudo o que o outro quer.
Há uma grande dificuldade em lidar com a rejeição.
Não expressão leva à explosão

Toda vez que você permite o que precisa negar, inconscientemente está
pensando em como é mais fácil lidar com a sua dor do que com a
desaprovação do outro.
Pura ilusão! A gente sabe que essa dor se acumula em cada canto do
nosso corpo e acaba se transformando em silêncios ensurdecedores ou
em viradas de mesa com um ar de insensatez.
É exatamente por guardar tantos silêncios que você tem vontade de
explodir.
Não ser autêntica é exaustivo, já reparou?
A capa da mulher boazinha nos é colocada quando, naquele doce
lugar de descobertas infantis, não podemos gritar, falar palavrão,
contrariar opiniões e, claro, sob hipótese alguma, sentar de perna aberta.
Nossas vontades são reprimidas por não serem vistas como “boas
maneiras”; meninas, claro, são as que mais sofrem com o constante
boicote ao seu comportamento.
É como se a instintiva fonte de expressividade feminina “não fosse
coisa de mulher”.
Onde já se viu?
Seu medo de ser uma megera não é filho do acaso – eu vejo você,
estamos juntas nessa!
Dizer não é um processo que anda de mãos dadas com a aceitação.
Só sabe dizer não quem aprende a lidar com a negação alheia.
O início é desconfortável, o durante incomoda, o final te dá asas.
Repare que, normalmente, as pessoas que mais se incomodam com
os seus limites são as que constantemente se beneficiam pela ausência
deles.
A permissividade é inimiga dos amores saudáveis.
Abrindo as cortinas da sua verdade

Quando você teme se posicionar pensando ser possível que a sua firmeza
afaste quem você ama, você impede que o outro realmente te conheça.
Fica o questionamento: Ama a mim ou o que espera que eu seja?
Convenhamos, há um abismo entre esses dois.
Quem quer que esteja contigo deve admirar o teu voo, achar bonitas
tuas asas, compreender a razão de suas dores, respeitar o seu espaço.
Uma pessoa que só te aceita quando é beneficiada pela sua bondade
extrema, na verdade, não te aceita – vive mais preocupada com o fato de
não aceitar a si e precisar encontrar alívio em alguém.
Ninguém precisa ter livre acesso a você.
Até as pessoas que mais amamos precisam conhecer nossos limites.
Delimitar espaços saudáveis nada tem a ver com ausência de amor:
tem a ver com a presença do amor próprio.
O preço que se paga por querer ser aceita a qualquer custo é o preço
de nunca saberem o seu real valor.
7.
Ninguém supera um sonho
Já vi esse filme

Esse capítulo começa com um episódio da vida de uma grande amiga, a


quem chamaremos de A.
A. não faz o tipo dependente afetiva, é até bem desapegada e
consciente das relações que cria, mas como qualquer ser humano, nunca
esteve livre de cair nas garras de um conquistador-interrogação (voltaremos
a falar desse conceito mais a frente).
O homem em questão será chamado de Mister Mistério.
Mister Mistério costumava aparecer em belas, raras e repentinas
quintas à tarde, com doces mensagens de saudade, pedindo que
combinassem de se ver na sexta.
A. nunca rejeitava o convite, afinal, não era toda semana que ele
aparecia e parecia tão cuidadosa a forma de ele querer programar algo
com uma certa antecedência (ele sempre mandava uma mensagem para
confirmar o encontro na própria manhã do tal dia de se verem, o que
causava uma certa impressão de “Acordou pensando em mim”).
Mas era isso: uma mensagem de “saudade”, perguntando como ela
estava e se podiam marcar algo no próximo dia. Era uma conversa sem
muito desenvolvimento, não tinha um interesse profundo e esse era um
grande sinal o qual A. jamais havia se permitido enxergar. Quando a
conversa não se desenrolava, o que passava pela cabeça dela era “Ele é
muito ocupado. Estar aqui me mandando mensagem uma hora dessas já
diz muito”.
De fato, a maioria dos encontros realmente acontecia, mas como todo
relacionamento solto, é um dia após o outro, sem o menor conforto de
saber que, pelo menos, no dia seguinte, se não fisicamente, estariam
juntos simbolicamente.
Não havia nem sombra desse sentimento.
Até aí, tudo bem, afinal, quando não há acordos verbais, tudo pode
acontecer, inclusive nada.
Cada vez que ela saía da casa dele, levava consigo as promessas “Nos
falamos mais tarde” e “Amanhã a gente se vê”. O “mais tarde” nunca
chegava e o “amanhã” parecia eterno.
Era o combo jantar + sexo + dormir junto + acordar sem saber o que
fazer – um clássico moderno.
Mister Mistério mostrava-se sempre muito atarefado, principalmente
atarefado demais para mandar uma mensagem para A. quando houve
uma espécie de reuniãozinha na casa dele, que incluía convidadas
conhecidas dela – reunião essa que aconteceu quando ela havia acabado
de sair de lá. Segundo sinal luminoso em letras garrafais, mas esse, ela
não só percebeu, como sentiu a dor do soco no estômago; o incômodo de
ter certeza de que não era tão especial assim.
Mister Mistério era um jogador nato.
“Mais tarde te mando mensagem pra gente se ver. Quem sabe umas
21h? Pode ser? Tenho um compromisso um pouco antes, então, te aviso.
Vamos nos falando.”
Que mulher já não separaria a roupa esperando o encontro?
Chegava 23h, mas não chegava 21h. Nem sinal do homem.
Essa frustração dói, a gente sabe.
Existem expectativas e expectativas, convenhamos.
Uma coisa é você criar expectativas baseadas em nada ou só na
imaginação; outra coisa bem diferente é criá-las pautadas no que o outro
disse.
A nossa palavra é um dos nossos maiores bens, mas tem gente que
não sabe disso.
Nesse dia, pouco depois do horário que Mister Mistério
possivelmente estaria liberado, A. enviou uma mensagem – delicada por
fora, flamejante por dentro – do tipo “E aí? Vamos conseguir nos ver? Só pra
eu me programar aqui...”.
Claro. Se programar. Com a roupa escolhida e banho tomado, com
cabelos devidamente hidratados.
Quem nunca?
A resposta foi algo como “Não vou conseguir. A reunião ainda vai
demorar, vou sair daqui muito tarde”.
Um balde de água tirada das geleiras do Ártico.
Entre tantos episódios, Mister Mistério já havia voltado com a ex-
namorada e dito a A. que talvez estivesse fazendo a maior burrada da vida,
mas precisava tentar.
Resumindo: tentativa concluída sem sucesso. Pouco tempo depois,
retornou dizendo que não havia dado certo lá e que sentia falta de A.
(Sim, ela cedeu aos encantos e juras de um amante arrependido.
Shakespeare choraria com esse romance.)
O que quero dizer com todo esse dramalhão mexicano comum, que
aconteceu pelo menos uma vez, na vida de muitas de nós?
Mister Mistério nunca esteve realmente presente.
Ele sempre soube como manter A. por perto, usando um dos
mecanismos mais eficazes de todos: a dúvida.
Entre o sim e o não, mora o talvez, e no talvez reside tudo aquilo que
gostaríamos de viver com o outro, mas não o que realmente vivemos.

l Ninguém supera um sonho, não é mesmo?

Planos que só existem na nossa cabeça, com toda a


perfeição que a imaginação nos dá o prazer de experienciar, costumam
ser os mais difíceis de se desapegar, justamente porque eles não incluem
a realidade dos fatos.
Acabamos nos apaixonando pelas lacunas que o outro deixou em
branco, lacunas essas preenchidas pelo que gostaríamos que fosse, e não
pelo que realmente é.
Mister Mistério é o típico conquistador-interrogação de que falei
anteriormente. É o cara que fala as coisas certas na hora certa e quando
você pisca para suspirar, ele já sumiu na neblina.
Não vale a pena. Simplesmente, não.
É o tipo de relação que te faz construir planos sozinha; ter desejos
quase nunca correspondidos; ausências mais simbólicas que a presença;
e ter o sexo como a única coisa que parece realmente estabelecer uma
conexão:
Não era amor, era só tesão.
São horas de encanto que não valem dias de angústia.
Quem deixa dúvida demais, entenda: não tem certeza de nada.
8.
Como encontrar a
pessoa certa
Rompendo a ideia de perfeição

Para encontrar a pessoa certa, basta desistir dessa ideia.


Para isso, vamos embarcar em um processo poético de desconstrução.


A maturidade traz a bênção da realidade: ver as coisas como elas são, não como gostaríamos que fossem.
Querer um romance tranquilo nunca excluiu a ideia de haver diferenças – é nas rupturas que a gente
cresce.
Irreal é desejar alguém que prometa, diariamente, amar e nunca partir.
Afinal, amanhã, quem sabe?
O presente é a verdadeira bênção.
Quando olhamos para o futuro, que é sempre incerto, perdemos o que realmente importa – a presença; o
aqui e agora.
Quando vê, já passou.
O que a gente quer da vida é lealdade, honestidade, companheirismo.
A perfeição não existe e, se existisse, seria um tédio.
Todo mundo que aparece traz um pouco de si; leva um muito de nós.
Pessoas certas não existem.
Pessoas reais, sim.
Os que fazem morada; os que estão de passagem.
Os que fazem questão; os que não fazem nada: em cada um, vários aprendizados.
CertoAmesmo
ideiaé saber
da pessoa
viver bem,certa
com ouésem um caos: ela basicamente invalida qualquer
alguém.


um que não se assemelhe a uma pessoa perfeita para você.
Você faz uma lista mental e irreal, baseada em filmes, músicas e no
0,1% da realidade dos casais felizes que você vê rolando no seu feed, e
espera que alguém apareça em sua vida dando check em todos os itens.
Assim, convenhamos, é melhor que espere por um robô.
Somos seres eternamente incompletos, em eterno processo de
evolução, cheios de feridas em fase de cicatrização, descobertas e coisas
que não estamos preparados para descobrir ainda.
Partindo desse princípio, é cruel demais esperarmos que o outro
atenda às nossas altíssimas expectativas e que ele venha, basicamente,
para nos salvar dessa luta diária.
O outro também é gente – gente feito de luta e desconstrução.
Enxergar o parceiro como um salvador não vai te salvar.
Se enxergar como salvadora dele também não te dará o título de
Melhor Centro de Reabilitação do ano.
Simplesmente não.
Amor não é compra de mês

Enfrentar esta realidade nos desafoga; nos desacelera; nos alivia.


Vivemos em tempos de consumismo afetivo: a urgência, a impaciência,
as intensas demandas, a comparação, a variedade, a facilidade.
Tudo isso nos coloca em um eterno contraste das posições “poderosa”
e “impotente”.
Em um momento, pode se sentir poderosa por estar passeando pelo
aplicativo de encontros e escolher quem quiser ou, ainda, rejeitar quem
te escolheu.
Em outro momento, ninguém te escolhe naquele dia ou quem te
escolheu é completamente o oposto do que você gostaria.
“Só sobrou isso pra mim? Talvez a culpa seja minha...”
É a dança das cadeiras da era moderna e a autoestima sempre em
cheque.
Um encontro atrás do outro, uma fuga após a outra, sem nem saber
mais por quê.
As pessoas viraram itens em prateleiras de um mercado que só vende
atacado.
A idealização de alguém sempre diferente do que se tem no
momento; de alguém que nunca vá incomodar; que nunca trará nenhum
desconforto; que se comunicará somente pelo olhar: a pessoa certa.
Essa pessoa não só não existe, como te fará sempre acreditar que,
num futuro próximo, haverá um ser humano irretocável que nunca
chega. A frustração vem de brinde.
Todo relacionamento saudável (logo, não se enquadram aqui os
relacionamentos abusivos) é composto por embates, atritos, eventuais
acordos e desacordos, argumentações e reflexões.
Loucura é pensar que dois universos em união estarão sempre de
acordo, nunca precisarão de espaço e, por se amarem, tudo permitirão –
é justamente aí que nem tudo é permitido.
Discordar quando assim for; respeitar sempre.
Pessoas certas são todas as que aparecem em sua vida, te ensinam
algo, aprendem com você, marcam a sua história de alguma forma, não
por serem perfeitas, mas por terem sido pessoas reais.
9.
Por que os homens
somem?
Chá de sumiço!

Um romance tranquilo, belas mensagens trocadas, encontros gostosos,


reações apaixonadas aos stories que você posta. As coisas vão ficando
mais intensas, a intimidade ganha espaço, o contato visual durante o
sexo deixa cada vez mais evidente: lascou!
Em meio a tudo isso, sumiços repentinos, respostas evasivas, ausência
permanente.
É um fato: o cara sumiu sem deixar vestígio.
Para compreender parte desse mistério, precisamos, antes, entender a
construção social do homem nessa sociedade machista patriarcal.
Quando um menino chora ou demonstra o menor sinal de
vulnerabilidade, ele é automaticamente repreendido pelos homens de
sua família (sim, a mãe está sujeita a entrar nesse pacote também), com
as seguintes frases: “Isso é coisa de mulherzinha!” ou “Homem que é
homem não chora!”.
Comecemos a enumerar os absurdos.
Primeiro ponto: choro, que é sinal de fraqueza, que é sinal de
feminilidade? Ah, nos poupe!
Mas esse não é o foco aqui.
Segundo ponto: desde crianças, bem no auge da sua formação de
personalidade, os homens são repreendidos por entrarem em contato
com suas emoções de alguma maneira. Quanto mais expostos
emocionalmente, mais rechaçados.
O que isso tem a ver com os sumiços masculinos em meio a um
romance de novela?
Em vários casos, tudo!
Quando o homem começa a adentrar nesse universo de emoções e
sensibilidade, ele trava e prefere o sumiço ao diálogo.
O medo gera a fuga.

E quais são as variáveis?

l
l .

1. O cara pode ser um belo ator e ou fazer o perfil narcisista,


envolvendo mulheres em seus falsos encantos, só pelo prazer
de tentar fortalecer sua masculinidade – que é tão firme quanto
uma geleia.
2. Por mais incrível que possa parecer, homens nutrem muito mais
inseguranças acerca de relações recém-iniciadas do que as
mulheres. Mulheres, por serem movidas pela emoção, “se jogam”
nas relações com mais facilidade. O homem é guiado pelo racional,
o que o faz analisar 350 possibilidades diferentes de aquilo dar
errado. Isso gera um foco em manter a mulher ali e não em tê-la por
perto, de fato.
Isso explica bem os casos em que o cara vive em cima do muro,
ou fala e não faz nada.
Provavelmente, o foco dele é o poder, a falsa ilusão de segurança
que esse “distanciamento seguro” traz. Quando a fala não condiz
com as atitudes, entenda: essa pessoa não quer você por perto de
verdade, e, sim, manter você ali para quando ela quiser.
3. Você construiria uma casa num terreno desnivelado que sobe e
desce a ladeira?
Você pularia de cabeça numa piscina cheia até a metade?
Provavelmente não para as duas perguntas, certo?
Então, analise seus mergulhos e construções no espaço alheio
também.
É preciso observar a profundidade do vínculo afetivo entre você
e a outra pessoa antes de sair bancando a desesperada,
enlouquecida, apaixonada.
Cada um tem um tempo, um ritmo. Se você é do tipo que em
dois dias já diz que ama e quer construir planos para uma vida,
repense se é realmente sobre isso que se trata, ou se é sobre uma
tentativa desesperada de mostrar para o outro “Olha todo esse amor
que tenho a oferecer. É melhor você ficar, por favor, não vá embora”.
Se você faz isso com alguém com quem não estabeleceu um
vínculo profundo contigo, ainda que você seja uma pessoa incrível,
isso aumenta as chances da pessoa virar aquele cara que some e
aparece com a frequência de sabe-Deus-o-que-se-passa-pela-
cabeça-dele.
Quando você inconscientemente faz isso, esperando uma
resposta positiva, o efeito pode ser justamente o contrário: ele vai
ajustar os encontros na medida do que é confortável para ele. Por
exemplo, o cara que aparece de vez em nunca parece curtir sua
companhia, é agradável, te deixa altas doses de esperança, mas se
manda depois do sexo; ele pode gostar do conjunto, mas o fato de se
sentir sufocado ou saber que você está indo com muita sede ao pote
faz com que ele prefira se manter mais ausente do que presente.

Mulheres, o importante, independente da variável presente nesses


casos, é que vocês se valorizem.
Se há mais ausência do que presença; mais dor do que alegria; mais
dúvida do que conforto; mais descaso do que caso; mais desculpa do que
mudança: não insistam.
Quando o afeto vem em migalha, a gente mostra que não é isso que
mata nossa fome.
10.
Ele não quer nada
sério... com você
Isso não é problema seu

Vamos ao curioso caso do homem que disse não querer um


relacionamento sério, complementando com um “Não é você, sou eu”,
dando um toque de melancolia, fazendo com que você chegasse a sentir
pena do indivíduo em questão, e que uma semana depois apareceu
namorando alguém ou no clássico “De volta com a ex”.
A atitude não deixa dúvidas: ele não queria nada sério... com você.
Agora repita em voz alta até que se torne normal, ao invés de
assustador:

Ele não quer nada sério comigo e isso não é problema meu.

São várias as razões que levam dois laços a se tornarem fortes o


suficiente. Do amor, passando por uma imensidão de interesses e
chegando também aos vários tipos de dependência afetiva, nunca
saberemos exatamente qual é a força que liga duas pessoas.
Por que, ao olhar para esse e outros casos semelhantes, você precisa
pensar que, pelo fato de o outro optar por não ter um relacionamento
sério com você, mas com outra mulher, a razão é você não ser boa o
suficiente?
Enlaces amorosos não têm nada a ver com ser melhor ou pior. Têm a
ver com afinidade, história, sintonia, sentimento. Têm a ver com a
infinidade de questões que atravessa cada um de nós.
Nada de comparações

Maturidade é aceitar que isso também faz parte do processo relacional.


Nosso erro é, nesses momentos, pensarmos em tudo o que
poderíamos ter feito e não fizemos; em onde erramos; em tudo o que nos
“faltou”.
Nosso problema é se comparar. Ponto. Nosso problema maior é se
comparar a uma pessoa que não tem absolutamente nada a ver conosco.
A comparação é a mãe de todas essas dores.
Se você passar a compreender que cada um é livre para ser o que bem
entende, então, saberá que as escolhas alheias são pautadas no que,
simplesmente, cada um acredita ser importante para si naquele
momento.
E se alguém chega à conclusão de que pertinente é viver a vida com
alguém que não seja você, simplesmente não cabe a ti o papel de se
lamentar ou buscar razões em suas falas e atitudes para que isso tenha
acontecido: essa escolha independe de você, maravilhosa.
O verdadeiro valor

Pensarmos no outro como o único ser humano com poder de escolha


nessa situação é o que nos enfraquece.
O pensamento é sempre “Por que ele a escolheu e não a mim?”.
Então, te trago outra reflexão: E se você descobrisse que também tem
poder de escolha?
Que você não nasceu para ser escolhida por alguém e que, pasme,
você não é um objeto numa estante esperando uma chance de mostrar
sua utilidade?
Você é um ser infinito, cheio de possibilidades; uma cabeça pensante;
uma caminhante dessa complexa jornada feminina; uma mulher forte
que às vezes se cansa; você tem atitude; você é importante.
Ao invés de se colocar em segundo plano, que tal reescrever sua
história a partir dessas pequenas-grandes rupturas quase que, digamos,
forçadas pelas circunstâncias da vida?
Você não está em um lugar de espera, num beco sem saída em que a
única possibilidade de sobreviver é sendo escolhida pelo alecrim
dourado para um romance digno de Hollywood.
Trago verdades: o alecrim não é dourado. O romance nunca será
digno de Hollywood.
Alguém optar por não ter um relacionamento sério conosco não põe
em xeque nossos valores. E se isso está acontecendo, observe que as
mudanças que precisam ser feitas vão muito além de sofrer ou não por
um caso sem final feliz.
Quando descobrimos nosso verdadeiro valor, paramos de dar
desconto, paramos de depositar no outro a responsabilidade por nos
aceitar ou não.
Aceitar o que a vida nos oferece

A aceitação é a chave para a liberdade.


Não te digo que, a partir de agora, a clareza vai te eximir de qualquer
sofrimento – somos bruxas, mas não desse tipo. O que eu quero te dizer
é: tudo bem se questionar, derramar várias lágrimas, tomar um porre de
vinho com a sua melhor amiga, enchendo o ouvido dela de
questionamentos como “O que ela tem que eu não tenho?” até o “Por que
eu fui me envolver com esse (insira aqui o seu palavrão)?”.
Estamos autorizadas a sentir tudo. Isso também é autenticidade.
A questão é saber que certos sentimentos são como cidades que ficam
entre o ponto de partida e o destino final de uma longa viagem: você sabe
que vai precisar parar nelas por alguma razão emergencial, mas
definitivamente não vai querer ficar por lá.
Reconheça, assuma o que sente sem deixar que isso se torne o seu
principal sentimento.
E em hipótese alguma se compare. Tenha em mente que você sempre
vai comparar os seus árduos bastidores com o palco iluminado do outro.
11.
Existe vida pós-término?
O que realmente perdemos?

Terminar um relacionamento, especialmente quando terminam com


você sem aviso (luminoso) prévio, não costuma ser algo realmente
agradável.
A sensação que temos é de que os dias são intermináveis; as noites
são dias; na rua acontece um fenômeno chamado multiplicação de
casais. Inclusive, nos nossos piores momentos da fossa, os casais parecem
se amar mais e de forma mais explícita, nos pontos de ônibus,
restaurantes, esquinas. Chega a ser uma falta de respeito com as recém-
solteiras em fase de luto.
Mas, afinal, por que é tão doloroso superar o fim?
Acontece que, psicanaliticamente falando, segundo Freud, nós
amamos no outro aquilo que supomos que ele tenha e nós, não. Assim,
projetamos o nosso ideal no outro. Inconscientemente, desejamos ser
amados, então, pela nossa própria fantasia idealizada.

Tá, Thamires, e o que acontece com tudo isso no término?

Quando um relacionamento termina, a nossa maior (e inconsciente)


dor não é perder o outro, mas uma parte da nossa própria imagem:
sentimos falta da maneira com o que o outro nos tratava; da maneira
como ele nos olhava enquanto transávamos; sentimos falta do carinho
que recebíamos de um jeito especial; dos vários detalhes deixados pela
casa numa manhã de domingo só para ver nossa cara de surpresa.
Perdemos, então, a maneira com que recebíamos o amor do outro.
Sabe a sensação de “Parece que perdi uma parte de mim”? Ela é real e
parte desse princípio.
O que acontece é que, durante os processos de ruptura, o maior
questionamento é “Por que terminou?”, mas devemos começar a nos
questionar, na verdade, por que começou. Vamos discorrer brevemente
sobre as questões consideráveis que nos atravessam antes do fim de uma
relação.
Todo fim teve um começo

Se não houver clareza no início, não espere que ela vá chegar no final.
Relacionamentos são amontoados de acordos, pactos, ajustes, reajustes,
desajustes. Ainda que muita coisa fique implícita, é emocionalmente
saudável que os dois saibam com quem estão se relacionando e o que
esperam de uma união.
Se você, por exemplo, espera ter como parceiro um cara que saia para
beber aos finais de semana e ame baladas e afters, não convém namorar
um workaholic esportista que trabalhe até tarde toda sexta e acorde todo
domingo às seis da manhã para correr, certo?
O problema consiste em querer, a todo custo, transformar as pessoas
em algo que elas não são.
É exaustivo quando a linha do “Só quero te apresentar o meu mundo”
é ultrapassada e chega no “Você precisa viver tudo o que eu acredito ser
bom pra mim”.
É literalmente romântico acreditar na ideia de que o outro vibrará
com absolutamente todas as nossas conquistas e com tudo o que é
relevante em nossas vidas, mas na realidade pode não ser bem assim.
Lembrando que “não vibrar com tudo” não significa torcer contra ou agir
com indiferença, ok? São coisas bem diferentes.
Não vibrar com tudo o que é relevante para nós significa que nem
sempre o outro estará num bom dia ou nem sempre saberá o real sentido
que aquilo tem para gente, afinal, o outro é ele mesmo, lembra? Existe
um mundo de criação que, de certa forma, separa ou aproxima todos
nós.
Esse tipo de reclamação, quando recorrente no cotidiano de um casal,
sufoca, distancia, dificulta a convivência, esgota.
Entender como o outro se comporta, desde o início, é uma chave para
abrir outras portas.

Pane no sistema

l
l Outro ponto crucial a ser observado numa relação é a
comunicação.
Por sermos mulheres, já temos uma tendência social e
problemática a não falar o que nos desagrada, afinal, somos
basicamente nascidas e criadas para obedecer e não desagradar,
lembram? (E cá estamos nós, afrontosas, irritantes, espaçosas e falantes.)
Pois bem, esse medo de dizer ao outro, dentro de um relacionamento,
o que nos irrita e magoa, e que comportamentos gostaríamos que fossem
diferentes, vem do medo de perdê-lo.
E, por acaso, não estabelecendo uma comunicação clara e honesta,
aumentamos as chances de eternidade?
Sendo assim, entre o desconforto de saber dizer a verdade e deixar
que o outro escolha como lidar com isso, e o de engolir insatisfações que
podem, inclusive, refletir no corpo físico em forma de doenças, qual
deles você prefere?
“Acabou do nada!”
Não. Nunca é “do nada”. O desamor é um processo; um término
normalmente emite sinais. Claro que há pessoas que são capazes de
esconder todos os sentimentos possíveis, mas desse tipo de pessoa, você,
geralmente, não consegue saber nem se o amor existiu – das incógnitas a
gente espera tudo. Ou seja, se o outro é indiferente, pode ser até que você
tenha se acostumado a isso.
A questão principal é: você é capaz de enxergar os sinais que o outro
dá? Ou você é do tipo que enxerga e ignora? Não se culpe nunca,
independente de quem você seja e eu vou te dar uma boa razão para que
não o faça: quando amamos alguém e somos, digamos, pouco realistas
em relação ao término, ainda que ele esteja se aproximando,
automaticamente ativamos o radar do medo, principalmente quando
sentimos um inimigo chamado Fim se aproximar. Acontece que o medo é
um outro inimigo disfarçado de radar e ele nos rouba a atenção, o senso
de autovalorização, a tranquilidade, a força. É por essas e outras que, nos
momentos finais de uma relação, vemos súplicas, juras, promessas e
lágrimas antes nunca vistas. É por essas e outras que vemos algo
chamado desespero.
Meu intuito não é dizer a vocês que sigam passo a passo para que a
vida de dor em um pós-término se transforme prontamente em alegria,
até porque considero de extrema importância que vivamos o nosso luto,
sabendo quando é hora de se despedir dele.
Dicas para você e para quem te ama

A fossa é visitante, nunca moradora, entendeu?


Mas existem aliados e comportamentos que podemos evitar durante
esse período:

1. Não basta não procurar saber sobre a vida dele: é preciso que suas
amigas e familiares sejam avisados sobre esse fato também, para
que nada chegue “sem querer” aos seus ouvidos.
2. Não fique se fazendo perguntas do tipo “Onde foi que eu errei?” ou
“Será que a culpa é toda minha?”. Sempre vale a pena nos darmos
conta de nossas parcelas de responsabilidade nos acontecimentos
de uma relação, mas a reflexão deve ser honesta, sobretudo, com
você.
3. Ninguém para de usar qualquer droga, quando ainda opta por usá-
la “Só de vez em quando”. Ou seja, se você está decidida a esquecer o
ex, principalmente quando ele já está fazendo o mesmo há algum
tempo, não caia na bobeira de relembrar os melhores momentos.
Eles se tornarão um pesadelo, você sabe.
4. Assuma o controle da sua vida. Monte um projeto novo, matricule-
se numa aula de flauta, num curso de escrita criativa ou de dança,
faça algo novo, ocupe-se de criatividade e novos impulsos. Além da
possibilidade de descobrir novas aptidões, você vai otimizar o
tempo, manter a mente focada em desenvolver novas habilidades,
em vez de se alimentar daquela vontade louca de stalkear o bendito.

Manas, força. E como já disse o maravilhoso Chico Xavier, em uma de


minhas frases preferidas: “Isso também passa”.
Nunca se esqueça.
12.
Encarando o monstro
da rejeição
Dói de verdade

Sim, daremos início a esse capítulo concordando que a dor da rejeição é


pior que a dor de bater o dedinho na quina da cama. E mais, a mesma
vontade que temos de culpar a cama por estar ali é a vontade que temos
de nos culpar por termos sido, até então, rejeitadas por alguém com
quem construímos planos (que talvez ele não faça a menor ideia).
A rejeição vem cheia de porquês e “e se”: perigosas armadilhas. São
apenas formas do nosso cérebro tentar entender a razão de estarmos
catando pedaços do coração naquele momento que mais parece uma
eternidade.

l E por que nos culpamos?

Bom, a quem mais ousaríamos entender senão a nós


mesmas? É cômico como, quando imersas nesse momento, somos
capazes de esquecer que um relacionamento é composto por duas
pessoas.
Sim, deixemos de amnésia seletiva: essa é a hora em que parece que
nós somos as únicas responsáveis por não termos mantido aquela pessoa
perto de nós.
Oi? Isso não é insano quando lido em voz alta?
É como se sempre tivesse nos faltando algo e só por isso que fomos
jogadas ao mundo dos solteiros novamente, com todos os nossos sonhos
na mala.
Mas você já parou para pensar que o que você mais admira em você
pode ser justamente o que mais assusta o outro? Ou seja, no lugar de
terem sido as suas dificuldades o motivo do afastamento, em vez de se
colocar pra baixo, alimentando o monstro da insegurança, pare para
analisar se, de repente, não são as suas qualidades mais admiráveis que
assustam pessoas que não têm estrutura para lidar com elas.
Por exemplo: se você é uma mulher independente, trabalhadora,
adora estar à frente do seu tempo, certamente um cara com extrema
necessidade de controle e baixa autoestima sabe que não conseguiria
ficar muito tempo ao seu lado.
E se você é uma mulher extrovertida, simpática, que faz amizade com
qualquer pessoa, enfim, Senhora Sorriso que alegra os ambientes, me diga
qual é a chance de um cara inseguro carrancudo ou, ainda, de um
narcisista, conseguir assumir um compromisso com você? De que forma
esse homem suportaria a sua presença quase “Solar” sem ser ele o centro
das atenções?
É disso que eu estou falando: rejeição também é uma questão de
ponto de vista.
Para isso, proponho que, ao final deste capítulo, enumere as suas três
principais qualidades e faça uma reflexão do quanto elas também podem
ter afastado pessoas que, simplesmente, não têm a menor condição
emocional de estar contigo, uma deusa maravilhosa.
Nem tudo é sobre o que há de ruim em nós.
Esse ponto nos leva à próxima reflexão

Você certamente já ouviu a frase “Cada um sabe o que é melhor pra si”,
certo?
Certas pessoas sabem, inclusive, que o seu melhor é demais para elas.
Por déficit na autoestima ou momentos diferentes de vida, elas optam sim
por não estarem com pessoas incríveis, porque isso exigiria dedicação,
bom senso e responsabilidade – coisas que talvez elas nunca tenham;
coisas que talvez elas não queiram mesmo desenvolver nesse momento.
Afinal, estar com alguém legal, em condições saudáveis de
relacionamento, requer que você seja legal o suficiente para se manter
ali.
Nem todo mundo está apto a isso, entenda.
A escolha de enxergar com seus próprios olhos

Não receber o que você deseja no momento não significa que tenha que
diminuir seus padrões, muito menos insistir.
Talvez isso tudo esteja muito mais ligado ao fato de você descobrir se
aquilo que você deseja é o que você realmente precisa, é o que você
realmente quer.
A rejeição amorosa da forma como conhecemos não tem nada a ver
com você, entenda. Tem a ver com as escolhas do outro, com o direito
que ele tem de ser livre e feliz, assim como você.
Um dos fatores mais conectados à rejeição é precisar da validação
externa para sentir-se bem e autoconfiante. Se a opinião dos outros é
carregada de seus próprios julgamentos, por que razão suas escolhas
amorosas seriam diferentes? Elas dizem respeito ao outro. E só.
Cada ser humano tem suas referências, sua história, sua visão de
mundo. A gente até pode agregar e trocar experiências, mas isso talvez
seja bem próximo do máximo que podemos fazer.
O insight está no que fazer com a casca quebrada

Você não conhece tudo nem sobre você mesma (e eu sei que você tenta),
imagine tentar decifrar o “não” do outro! Não confie nas suas hipóteses:
elas provavelmente estão mentindo pra você.
E caso qualquer uma delas tenha se confirmado, me responda, com
honestidade, o que você realmente pode fazer a partir disso?
A rejeição é um sentimento comum e ninguém está livre dela, mas o
que fazer a partir daí é o que diferencia uns e outros.
Você sempre pode ser a menina que se joga no chão do shopping por
não receber o brinquedo desejado ou aquela que se convence de que não
há mais nada a fazer. Sabe, talvez aquele brinquedo nem seja tão legal
assim...
13.
Dependência afetiva:
não é esse amor que
você quer
Amar tudo bem, só não vale se tornar um anexo

A dependência afetiva é algo que pode facilmente ser vista como “um
excesso de grude e amor de sobra”, mas não. Sabemos que um amor
pode transbordar e não ser dependente.
A dependência afetiva acontece, basicamente, quando um vira o
anexo do outro.
E o que significa isso?
Significa que, fatalmente, haverá uma despersonalização de uma ou
mais partes, como, por exemplo, quando os amigos são os amigos do
outro; quando os programas se tornam os programas do outro; quando
as preferências são as preferências do outro.
O dependente afetivo perde a referência de quem ele é.
A sensação que ele carrega no peito pode ser definida pelas trágicas
(sim, trágicas declarações): “Fulano é a minha vida” ou “Sem fulano, eu
morreria”.
E se o dependente afetivo nunca chegou a essas conclusões, talvez ele
seja do tipo que concorda com tudo; não reclama para não desagradar;
aguenta traições e ofensas, porque o amor é grande e, né, o amor supera
tudo. E por aí vai.
Fake crenças

A verdade é que crescemos com esse estigma do amor dependente. É


como se, para ser amor de verdade, precisasse ser doído e inseparável.
Logo, enquanto houver amor, ainda que haja desrespeito e dor, é
importante que haja relacionamento.
Mais uma mentira.
Principalmente numa relação lotada de toxinas; não se pode esperar
deixar de gostar para então poder romper. Por acaso conseguimos nos
apaixonar por quem queremos? Ou nos apaixonamos por quem temos
“condição” de nos apaixonar?
Lembre-se dos almoços de família em que sua mãe diz, gentilmente,
que fulano é um querido e que é uma pena você não gostar tanto dele
assim. Ou, você já deve ter dito ou ouvido a frase “Só me apaixono por
quem não presta!”. Conscientemente, ninguém quer se apaixonar por
quem não agrega, certo? Mas a verdade é que ainda que o outro
preencha todos os pré-requisitos do que seria um bom par, foge à nossa
alçada realmente nos envolvermos ou não.
A dependência afetiva é um tipo de vício: um vício no outro.
Se a compararmos ao vício em qualquer substância, o processo de
rompimento é o mesmo. Vejamos, o alcoólatra não espera deixa de gostar
de álcool para, então, poder largar a bebida. É um processo tal qual
terminar um relacionamento cheio de armadilhas.
Nem tudo o que você gosta realmente lhe convém.
Não é o fato de gostar verdadeiramente de alguém que caracteriza um
dependente afetivo, mas sim o quão capaz essa pessoa seria de ir embora
caso o relacionamento naufragasse de variadas maneiras.
Amor não significa dependência emocional.
Indiferença não significa independência emocional.
Desapega!

Podemos criar laços, só não podemos deixar que eles virem amarras.
Se o amor te parece imóvel, certamente ele já se tornou dependente.
A base para a libertação emocional consiste em amadurecer as
próprias emoções, mas não se iluda: maturidade emocional não tem a
ver com idade, nem com saber mais ou menos sobre as questões da vida.
Maturidade emocional implica enxergarmos as coisas sob uma
perspectiva mais realista e menos ingênua.
Pessoas, por exemplo, que foram extremamente mimadas ou viveram
no que vamos chamar de “bolha parental” normalmente têm mais
dificuldade em lidar com os nãos, a perda, os términos, o desamor.
Assim, claro, como pessoas com histórico de abandono, também
tendem a viver à sombra do medo de serem deixadas pelo ser amado e,
por isso, nutrem a eterna sensação de que a presença deve ser algo
constante para garantir que o outro não as deixe.
Claro que esses não são os únicos perfis possíveis de pessoas que
tendem a se caracterizar como dependentes afetivos, mas é evidente que
o contexto em que cada um foi criado influencia muito para o reforço
desse comportamento. Lembrando que todo mundo é um pouco
dependente em algum ponto, até porque, para estarmos aqui, hoje, foi
necessário muito choro atendido, alimento na boca e colo para nos
nutrir. A independência 100% também não é uma realidade tangível,
porque sempre precisaremos de alguém para alguma coisa. Lembre-se: a
questão central é E se eu não tiver esse alguém, consigo me virar? Se a
resposta for sim, maravilha.
Caso seja não, calma, vamos juntas.

l Diferenciando dependência emocional de uma troca


saudável
Tudo bem chegar no fim do dia, exausta, e querer um colo bom para
se deitar, ou mesmo desejar ser romanticamente surpreendida.
Tudo bem querer conversar sobre medos e angústias, fazer planos a
longo prazo, desejar que os dias se apressem para que vocês possam se
encontrar.
Tudo certo em querer. Tudo desanda quando você começa a precisar.
O outro não pode ser uma necessidade para o seu bem-estar.
Não se divertir longe do outro; estar constantemente preocupada em
sua ausência; só conseguir escolher – da roupa à comida – quando o
outro dá a opinião por você.
O controle é uma ilusão

Desenvolver a autonomia e a independência emocional não significa


egoísmo, tampouco desamor. Isso é autocuidado; isso é saúde emocional.
Não podemos depositar a nossa capacidade de se (re)erguer nas mãos
do outro.
Não temos controle de nada, quem dirá sobre o sentimento do outro
sobre nós.
Não. Isso não é pessimismo, é realismo.
É fundamental compreendermos que é justamente isso o que torna
as relações valorosas: o fato de aproveitarmos o tempo com mais
qualidade, sabedoria, doação amorosa consciente, entrega leal. Sabendo
que tudo pode mudar; tendo em mente que dar o seu melhor é
importante, e não ser reconhecida por isso deve ser motivo suficiente
para que você se vá.

l Desenvolva a autonomia nas coisas simples do dia a dia

Arrisque-se a sair para almoçar ou jantar sozinha; vá às


compras sozinha; encontre mais as suas boas e velhas amigas; marque
encontros despretensiosos; descubra novos prazeres ou programas que
não dependam do outro em questão para acontecer. Desenvolva novas
habilidades; matricule-se no ballet clássico que você fazia quando tinha
dez anos: faça algo diferente.
Isso tudo ajuda a mudar o foco da sua vida para você.
Quer enxergar sob uma outra perspectiva?

Dependentes afetivos tendem a ser vistos e também a se colocarem


numa posição de “coitadinhos”, desprotegidos. Mas a verdade é que a
dependência afetiva também é um tipo de egoísmo: trata-se da pessoa
que, inconscientemente, acredita que o outro está ali para tapar todos os
seus buracos e preencher todas as suas expectativas, desconsiderando o
fato de que esse mesmo outro também carrega suas bagagens e seus
buracos, e a função dele simplesmente não é atender às necessidades
básicas de ninguém.
Nesses casos, não há vítimas.
Somos todos responsáveis pela forma com que escolhemos nos
relacionar.
O amor tem um limite: o amor próprio.
Quando a relação cruza essa fronteira e invade o seu espaço, a sua
dignidade, é hora de se dar conta de que não: não vale tudo por amor.
Principalmente se for você em jogo.

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