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BNDES Setorial, n. 6, set. 1997

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Setembro / 9 7

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BNDES
PRESIDENTE
Luiz Carlos Mendonga de Barros

VICE-PRESIDENTE
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Femando Pemne
JoseMauro Carneiro da Cunha
Sérgio Besserman Vianna

BNDES SETORIAL
PUBUUÇ&O SEMESTRAL EIJITADA
EM MARCO E SETEMBRO

L----.
EDKORES
Jorge Kalache Filho
Ivone Hiromi Takahashi Saraiva
Wagner Eiincoutt de Oliveira

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s sáo da exclusiva responsabilidade dos autores, nao reiieunao,
cessariádnte, a.0pinião do BNDES. É permitida a reproduçáo parcial ou total dos artigos desta

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ISSN 1414-9230
A Indústria Eletrônica na Zona Franca de Ma- s u m irio
naus - Paulo Roberto de Sousa Melo e Sérgio
Eduardo Silveira da Rosa 3

A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Interna-


cional e Nacional - Mana Lúcia Amarante de Andra-
de, José Ricardo Martins Vieira, Luiz Maurício da Silva
Cunha e Maria da Conceição Keller 19

Panorama do Setor de Borrachas - Ricardo Sá


Peixoto Montenegro e Simon Shi Koo Pan 49

A Indústria de Cimento - Mauro Thomaz de Oli-


veira Gomes, Ilka Gonçalves Daemon, Mary Lessa
Alvim Ayres e Paulo Cesar Siruffo Fernandes - 77

Cadeia da Carne Bovina: O Novo Ambiente


Competitivo- Paulo Faveret Filho e Sérgio Rober-
to Lima de Paula 97

Painéis de Madeira- Angela Regina Pires Macedo


e Carlos Alberto Lourenço Roque 117

O Segmento de Fiação no Brasil - Ana Paula


Fontenelle Gorini e Sandra Helena Gomes de Si-
queira 133

Esportes no Brasil: Situação Atual e Propostas


para Desenvolvimento - Angela Maria Medeiros
Martins Santos, Luiz Carlos Perez Gimenez, Car-
10s Enout Rebouças, Sérgio Leite Schmitt eTania
Rennó 155
BNDES setorial, n. 1, jul. 1995 -
Rio de Janeiro, Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, 1995 - n.
Semestral. ISSN 1414-9230
Periodicidade anterior: quadrimestral até o n. 3.

1. Economia - Brasil - Periódicos. 2. Desenvolvimento


-
econômico Brasil - Periódicos. I. Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social.

CDD 330.05
A INDÚSTRIA ELETRONICA NA
ZONA FRANCA DE MANAUS
Paulo Roberto de Sousa Melo
Sérgio Eduardo Silveira da Rosa*

'Respectivamente,gerente e engenheiro da Ger6ncla Setorial do


Complexo Eletrdnico do BNDES.
Resumo A Zona Franca de Manaus (ZFM) foi instituída
pelo governo federal em 1967, com o objetivo de estimu-
lar o desenvolvimento industrial, comercial e agropecuá-
rio da Amazônia Ocidental. Para compensar as desvan-
tagens decorrentes da localização, foram concedidos
diversos incentivos fiscais - detalhados no texto - as
empresas implantadas na ZFM.
O desenvolvimento da indústria instalada foipro-
fundamente afetado pelas transformações da economia
brasileira após 1990.A política de abertura comercial, em
particular, implicou a redução a metade do faturamento
da ZFM em apenas dois anos. A partir de 1993, entretan-
to, verificou-se uma notável recuperação do faturamento
(que triplicou de 1992 a 1996), em virtude da reestrutura-
ção radical da indústria de Manaus.
Da produção industrial da ZFM (cerca de US$13
bilhões), dois terpos correspondem ao complexo eletrô-
nico, com destaque para os bens de consumo, os quais
no Brasil são fabricados quase exclusivamente na ZFM.
A adoção nacional teve importante papel na consolidação
da indústria eletrônica em Manaus.
Apesardo sucesso obtido até opresente, o futuro
da ZFM é algo incerto, já que os incentivos fiscais que
viabilizam sua existência serão extintos até 2013. A con-
tinuidade da ZFM só estará assegurada se os produtos
ali fabricados forem competitivos no mercado internacio-
nal, o que não se verificou até o momento.

A hdUstria Elelrünica na Zona Franca de Manaus


A Zona Franca de Manaus (ZFM) foi instituída pelo De- ~ntrodução
creto-Lei n"88, de 28 de fevereiro de 1967, com o objetivo de
estabelecer um polo de desenvolvimento industrial, comercial e
agropecuário. Para compensar as desvantagens locacionais da
Amazônia, o mencionado decreto-lei definia a ZFM também como
área de livre comércio de importação e exportação, além de contar
com incentivos fiscais especiais.

No que se refere as atividades industriais, foco da nossa


atenção, a concepção original da ZFM não fazia distinção de nenhum
setor em particular. Entretanto, as dificuldades logisticas de produ-
ção na região restringiram, na prática, a atratividade da ZFM princi-
palmente a atividades de montagem de produtos a partir de compo-
nentes, partes e peças adquiridas ou no Sudeste do pais ou impor-
tadas. A produção de mercadorias, inicialmente sob forma de Semi
Knocked Down (SKD), que significa a junção de poucas partes,
evoluiu em alguns casos para a montagem Completely Knocked
Down (CKD), isto é, a montagem de produtos a partir de seus
componentes indivisiveis. Só em um ou outro caso verificou-se a
efetiva produção local de alguns componentes, partes e peças,
podendo-se dizer que, da criação da ZFM até hoje, não surgiu
nenhum pólo industrial efetivamente integrado a região que contasse
com rede de fornecedores industriais também locais.

O presente trabalho, após uma apreciação genérica do


conjunto da ZFM, concentra-se na análise do desempenho dos
setores do complexo eletrônico na região, bem como procura avaliar
suas perspectivas para o futuro.

A
capacidade de atração de investimentos da ZFM está O Quadro de
baseada numa extensa gama de incentivos, discriminados sucinta-
mente a seguir.
Incentivos

a) isenção do Imposto de Importação e do IPI relativos a ~I'IC~~~~VOS


importação de insumos destinados a produção para exportação e Específicos da
consumo local: ZFM

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 3-18, set. 1997


b) redução do Imposto de Importação incidente sobre
insumos utilizados na fabricação de produtos destinados ao resto do
país, podendo se verificar as seguintes situaçóes:

redução de 88% do imposto devido para produtos cujos projetos


na ZFM tenham sido aprovados até 31 de março de 1991 (exceto
para bens de informática e veículos terrestres);

para os demais produtos, aplicação de um coeficiente de redução


que estimula o aumento do seu conteúdo nacional; e

para veiculos terrestres, aplicação do critério acima, com acrésci-


mo de cinco pontos percentuais;

c) equiparaça0 a exportação, para efeitos fiscais, da venda


de mercadorias do restante do pais para a ZFM, compreendendo
isenção do IPI e do ICMS sobre as compras das empresas da ZFM;

d) isenção do IPI e do ICMS sobre as vendas de produtos


da ZFM ao exterior e ao restante do pais. No que se refere a bens
de informática, esta isenção está regulamentada por legislação es-
pecifica; e

e) redução de 25% para 10% no IOF sobre operações de


câmbio relativas as importações.

Incentivos de a) restituição do ICMS, variando de 45 a 100%. segundo o


Âmbito Estadual produto: e
e Municipal
b) isenção do Imposto sobre Serviços.

Incentivos As empresas localizadas na ZFM têm ainda direito aos bene-


Relativos à fícios concedidos pela Sudam a empreendimentos agrícolas e indus-
Sudam triais situados na Amazônia, dos quais os principais sáo os seguintes:

a) isenção, por 10 anos, do Imposto de Renda para empre-


sas instaladas na área da Sudam até 31 de dezembro de 1993;

b) possibilidade de não pagamento de até 50% do Imposto


de Renda devido por pessoas jurídicas, se aplicados no Fundo de
Investimento da Amazônia (Finam); e

c) não pagamento de até 40% do Imposto de Renda devido,


desde que aplicados em reinvestimentos,com igual contrapartida de
recursos próprios.

A indústria Eletrbnica na Zona Franca de Manaus


0 crescimento da indústria implantada na ZFM. em con- Desempenho
dições iocacionais fortemente adversas, foi viabilizado não só pelo Recente da
conjunto de incentivos fiscais descrito anteriormente, como também
pelo elevado nível de proteçáo tarifária que vigorava no país. A ZFM
Tabela 1 a seguir mostra a composiçáo estrutural da ZFM, para cada
pólo industrial (setor), em termos de faturamento.

Salta a vista a expressiva queda (para pouco mais que a


metade) no setor de produção nos primeiros anos da década de 90,
resultante da superposição da brusca abertura comercial com a
redução geral das atividades econômicas. De 1992 a 1996 ocorre
um processo de grande crescimento (quase triplicação) impulsiona-
do pela estabilizaçáo monetária e que, pelos indicadores disponíveis
até o momento. sofrerá interrupção em 1997. Deverá haver, contudo,
estabilização dasvendas nos novos patamares alcançados em 1996,
e não redução expressiva, conforme vêm alardeando alguns órgãos
da imprensa. Outro dado importante é a estagnação relativa, ou
mesmo redução das atividades, de diversos setores. como os de
brinquedos, metalúrgico, têxtil e, curiosamente, do pólo madeireiro.
Este último merece um estudo especifico de suas oportunidades,
tendo em vista as ameaças predatórias de exploração da madeira
bruta, sem agregação expressiva de valor.

Nos Gráficos 1 e 2 a seguir fica clara a preponderância, já


histórica, do pólo eletrônico e do de duas rodas (bicicletas e motos),
em termos do valor de suas vendas ante o total da ZFM.

Tabela 1
Faturamento da ZFM por Setor de Atividades - 1990196
(Em US$ Milhões)
SETORES 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Eletrônico 5.635 3.949 2.802 4.036 5.306 7.500 8.448


Bens de Informática
Relojoeiro
Duas Rodas
Termoplástico
Bebidas
Metalúrgico
Mecanico
Madeireiro
Qulmico
Têxtil
Mineral Não-Metálico
Ótico
Brinquedos
Canetas, Isqueiros e Barbeadores
Descartáveis 240 170 206 270 272 339 323
Outros 263 258 137 243 330 244 256
Total 8.381 5.983 4.544 6.636 8.821 11.748 13.141
Fonte: Suirarna.

BNOES Setorial, Rio do Janeiro, n. 6, p. 3-18, set. 1997 7


Grdflco I
Participação Percentual em 1990

Outros
24%

Duas Rodas
9% v

Eletrônico
67%

Gráflco 2
Participação Percentual em 1996

Outros
26%

Duas Rodas
9%
Eletrônico
64%

A notável recuperação da ZFM, após o choque repre-


sentado pela abertura da economia brasileira ao exterior. só foi
possivel devido a medidas drásticas de ajuste adotadas internamen-
te as empresas. Tais medidas. que serão examinadas com maior
detalhe na analise do setor eletrônico, refletiram-se na grande redu-
ção de mãode-obra empregada (da ordem de 40% de 1990 a 1996,
conforme a Tabela 2), simultaneamente a já citada triplicação do
faturamento.

Tabela 2
Mão-de-obra Empregada na ZFM - 1990196
Eletroeletr6nico 47.991 36.542 25.920 19.843 23.628 26.992 27.071
Duas Rodas 4.639 3.173 2.956 2.957 3.288 3.518 3.553
Termoplástico 3.687 2.917 2.507 2.010 2.407 2.539 2.585
Outros 20.481 16.243 8.972 12.924 11.851 15.217 14.348
Total 76.798 58.875 40.355 37.734 41.177 48.266 47.557
Fonte: Sulrama.

A hdúslria Eletr6nica na Zona Franca de Manaus


Uma observação importante refere-se a mudança ocorrida
na qualidade da mão-de-obra empregada antes e após a rees-
truturação das indústrias eletrônicas na ZFM. Enquanto até 1992 a
esmagadom maioria dos postos de trabalho referia-se as atividades
de inserção manual de componentes eletrônicos em placas de
circuito impresso, a automação em larga escala ocorrida a partir dai
gerou, ao lado da diminuição expressiva daquelas atividades - e
demissão dos que as exerciam - a necessidade de operários com
maior nível de qualificação
. para
. lidar com equipamentos
. . de última
geração, tanto na sua operação quanto na sua manutenção/otimiza-
cão. Tal necessidade não se achasatisfatoriamenteatendida. haven-
do entre algumas indústrias da região a demanda por maior qualifi-
cação de técnicos de nível médio em eletrenica e mecânica fina. A
este respeito merece destaque a atuação da Sharp, que mantém em
Manaus uma escola técnica gratuita para cerca de 200 alunos, a
Fundacão Machline. Verifica-se. também. uma crescente mioracão
de en&nheiros da universidade de campina Grande para ~ãna'us,
revelando adaptação mais fácil a região do que outros profissionais
vindos do ~ u l l ~ u d e s t e .

Finalmente, é importante registrar que as exportaçóes da


ZFM são infimas se comparadas as importaçóes, conforme mostra
a Tabela 3.

Tabela 3
Setor Industrial: Balança Comercial da ZFM - 1990196
(Em US$ Mil)

ANOS UWRTAÇÕES IMWRTACÕES SALDO

1993 91.572.50 1.375.036.20 (1.283.463,70)


1994 119.049,80 1.711.583,50 (1.592.533,70)
1995 100.993,40 2.626.262,80 (2.525.270,40)
1996 104.838.60 3.1 58.807,OO (3.053.968.40)
Fonte: Suframa.

Estes Últimos dados, que caracterizam a ZFM como cor-


redor de importação, podem até inviabilizar sua própria existência,
com todas as perversas conseqüências regionais daí decorrentes,
ou seja, sem um substancial aumento das exportações não se
vislumbra a auto-sustentação da ZFM, fator essencial para sua
continuidade.

BNOES Setonal. Rio de Janeiro. n. 6. p. 3-18, set. 1997


0C O ~ P I ~ X O A produção industrial da ZFM, como já foi visto, está
Eletrônico na fortemente concentrada no complexo eletrônico, que tem correspon-
dido a mais de 213 do faturamento global, se nele for incluído o setor
ZFM de informática. Embora não se disponha de informações relativas ao
faturamento por produto da ZFM. pela análise do faturamento das
Aspectos Gerais
empresas é possivel estimar que o segmento de imagem, ou seja,
televisores e videocassetes, representa cerca de 213 da produção do
complexo eletrbnico em Manaus. Os valores da produção física nos
últimos anos estão transcritos na Tabela 4.

As inúmeras vantagens oferecidas pela legislação da ZFM,


associadas ao alto nível de proteção da indústria brasileira ate 1990,
resultaram na transferência para Manaus de praticamente todo o
setor de bens de consumo eletrônicos.

Para lá foi transferida inicialmente apenas a montagem do


produto final, seguida por um processo de elevação do valor agrega-
do localmente. Embora esta elevação tenha efetivamente ocorrido
em muitas ocasiões, equipes de análise do BNDES que acompa-
nharam investimentos na ZFM verificaram, em alguns casos, um
processo de pseudonacionalizaçáode partes, peças e componentes,
para atendimento aos índices vigentes até 1990. Neste processo, foi
utilizada com freqüência a criação de coligadas/subsidiárias, que
"produziam" componentes, partes e peças "nacionais" para as mon-
tadoras. Assim, eram considerados nacionais diversos itens que, na
realidade, contavam com infima agregação de valor local, caracteri-

Tabela 4
Produção Física na ZFM: Principais Produtos - 1990196
(Em Mil Unidades)
~ -

SETORES 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

N em Cores 2.571 2.641 1.984 3.325 5.034 6.310 9.227


NPreto-e-Branco 557 564 264 445 453 159 119
Videocassete 635 679 510 828 1.218 2.017 2.840
Aparelho tr6s em um 2.447 2.141 1.068 1.977 2.420 3.291 2.930
Toca-Disco 157 194 236 408 1.046 913 804
Rádio Portátil 95 77 165 179 399 547 192
Rádio-Relógio 437 174 77 362 566 820 494
Rádio Gravador Tape DacWGravador Portátil 286 204 278 806 1.328 2.343 1.613
Telefone 550 395 213 350 722 1.306 2.082
Forno Microondas 215 154 175 420 523 843 1.370
Aparelho de Ar Condicionado 40 40 40 137 241 388 606
Monitor de Video 3 39 57 136 162 175 341
Motocicleta (Motoneta. Inclusive Ciclomoto) 143 123 82 83 145 243 296
Microcomputador 1 2 13 58 115 182 215
Fonte: Suframa.

10 A Indústria Uetrónica na Zona Franca de Manaus


zando uma atividade eminentemente rnaquiladora. E claro que estas
novas "indústrias" significaram, quase sempre, a duplicação de es-
truturas organizacionais, produtivas e administrativas, já existentes,
contribuindo para oaumentoda ineficiênciaefaltadecompetitividade
dos produtos da ZFM.

O modelo de organizaçáo empresarial padrão era cons-


tituído por três empresas: uma em São Paulo (áreas de adminis-
tração geral, financeira, comercial, engenharia do produto e, não
raro, do próprio processo) e duas em Manaus (uma de fabricação -
"nacionalização" -de componentes e outra montadora do produto
final).

Outros setores do complexo, como o de informática e de


equipamentos de telecomunicações, não foram transferidos na mes-
ma proporção, já que contavam com incentivos comparáveis aos da
ZFM, concedidos pela Secretaria de Informática elou Ministério das
Comunicações e válidos em todo o país. Além disso. sua maior
densidade tecnológica e sinergia com outras indústrias desaconse-
Ihavam a localização numa região remota do Brasil, sem as con-
dições de contorno desejáveis, as quais incluem, certamente. alguma
tradição em tecnologias de ponta.

As empresas do complexo eletrônico localizadas em Ma- Evolução


naus foram severamente afetadas pelas transformações da política Recente da
econômica ocorridas de 1990 em diante. A redução das aliquotas de Indústria
importação, em particular, fez com que diminuísse dramaticamente Eletrônica em
a competitividade da indústria brasileira de bens de consumo eletrõ- n,lanauç
nicos ante a internacional. Com efeito, em virtude da situação geo-
gráfica de Manaus. a indústria regional enfrenta consideráveis difi-
culdades de natureza logística, como elevados custos de transporte
e de estocagem, o que não sucede com seus concorrentes em nível
internacional, que além disso operam com maiores escalas (à exce-
ção da produção de televisores).

A queda de preços generalizada ocasionada pela concor-


rência dos produtos importados obrigou a indústriaeletrônicadaZFM
a reestrutirar-se de maneira radical. As principais medidas es-
tratégicas tomadas pelas empresa, bem como uma avaliação sumá-
ria de seu resultado. estão relacionadas a seguir:

a) Automação

A montagem de produtos eletrônicos era, até a década de


80, uma atividade com utilização intensiva de trabalho, em virtude,
principalmente. da inserção manual dos componentes eletr6nicos
(postos de inserção) em placas de circuito impresso, em linhas de

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, P. 3-18, set. 1997


produção também não-automatizadas, nas quais o deslocamento
das placas parcialmente montadas era também manual. A partir dai,
começaram a ser introduzidos equipamentos de inserção e teste
automático de componentes nas placas de circuito impresso, com
grande economia de mão-de-obra. Tais equipamentos são particu-
larmente apropriados para produção em grandes lotes (caso da
indústria de eletrônica de consumo), o que viabilizou sua dissemi-
nação nas empresas da ZFM. Mais recentemente, vem crescendo a
utilizaçáo da tecnologia Surface Mounting Device (SMD) - ou Sur-
face Mounting Technology (SMT) - na montagem de placas para
videocassetes e televisores, e que era utilizada apenas em equipa-
mentos de informática e telecomunicaçóes. Nestas novas linhas,
cada máquina chega a ligar na placa mais de 20 mil componentes
por hora, por programação de computador, contra algumas centenas
por empregado por hora, se inseridos manualmente.

b) Especialização
A concorrênciadas importaçõeslevou a indústria eletrônica
a se concentrar em determinadas linhas de produtos, sendo reduzi-
da, por exemplo, a fabricação de produtos destinados a faixas
superiores do mercado, cuja demanda se caracteriza por baixos
volumes. Ainda, a fabricação de produtos mais baratos, notada-
mente os denominados portáteis, foi praticamente abandonada,
pois não foi possível competir em custo com os produtos de alguns
países asiáticos, principalmente China e Tailândia. Nestes casos, a
baixa qualidade lerificada nos produtos não é um grande proble-
ma, pois os preços baixos tornam-nos com características de
descariáveis.

c) Inovações de Natureza Gerencial


Finalmente, a necessidade de enfrentar a competição com
os importados fez com que a indústria se esforçasse em implantar
novas técnicas no processo de produção, visando aperfeiçoar con-
troles de estoque, diminuição dos ciclos de fabricação, melhorias na
gestao da qualidade etc. Estes esforços podem ser considerado
como bem-sucedidos, já que as empresas lideres da região são
competitivas. obtendo indicadores de desempenho equivalentes aos
melhores padróes do mercado internacional. Atualmente, a opinião
dominante entre os diretores industriais que operam na ZFM é que
o ciclo "kaisen". como foi caracterizada a introdução de melhorias
incrementais ao longo do processo produtivo, está praticamente
esgotado. sendo possível, daqui para a frente, obter reduções de
custos e outras melhorias apenas a partir da elevação das escalas
de produção.

A Indústria Elehonica na Zona Franca de Manaus


Imediatamente após a brusca abertura da economia ao 0 Déficit na
exterior do Governo Collor, a única política industrial visível era a Balança
redução expressiva dos impostos de importação, levando diversas Comercial e o
empresas a atuar mais na comercialização do que na indústria, Aumento do
aumentando grandemente a oferta de produtos importados. A baixa Conteúdo
competitividade, em termos principalmente de preços e atualização ~ ~ ~ ~
tecnológica dos produtos ofertados internamente,colocou os setores
do complexo eletrônico no centro desse processo. As escalas de
produção ainda baixas, voltadas exclusivamente para o mercado
interno-o paradigma é o número de televisores produzidos anual-
mente, quepafinoudurantequase uma décadaem torno de2 milhões
de unidades -, evidenciaram a falta de competitividade da maior
parte dos componentes, notadamente aqueles eletrônicos, levando
ao fechamento de diversas unidades de montagem de circuitos
integrados, componentes discretos e placas de circuito impresso.

Só no primeiro semestre de 1993, diante da iminência da


total aniquilação do setor de informática e componentes, e da pers-
pectiva de desestruturação de todo o parque de eletrônica de consu-
mo a curto prazo, foi adotado o chamado Processo Produtivo Básico
(PPB), como critério de valor agregado interno, substituindo o antigo
índice de nacionalização. Com isto. foram estabelecidas. produto a
produto, etapas de fabricação que devem ser realizadas no pais para
concessão de incentivos, dentre os quais o principal é a isenção do
IPI.

Se, por um lado. a adoção do PPB fez aumentar expres-


sivamente o conteúdo importado dos produtos eletrônicos, permitin-
do a compra de componentes eletrônicos em qualquer parte do
mundo. por outro, levou a redução dos preços ao consumidor final,
ocasionando aumento das escalas e. em última analise, garantindo
a própria sobrevivência das indústrias do complexo. A conseqüência
negativa desta mudança é que, segundo os números oficiais da
Suframa. a participação dos importados no total dos insumos utiliza-
dos pelo complexo eletrônico passou de 18% em 1990 para 52% em
1995.

A Tabela 5 a seguir mostra os 20 principais componentes


eletrônicos importados pela indústria da ZFM no ano de 1996.
Apenas estes 20 componentes responderam por cerca de 75% das
importações totais de componentes eletrônicos, estimadas em cerca
de US$800 milhões em 1996. Além do óbvio destaque dos cinescó-
pios (tubos de raios catódicos), correspondentes a mais de 40%
deste último total, merecem destaque as partes e peças de televiso-
res (item 2 da tabela), provavelmentecorrespondentes a importaçóes
em SKD, da mesma fotma que partes e peças para microcomputa-
dores (item 3). A relativa complexidade da classificação de merca-
dorias do setor toma difícil analisar com maior precisão outros
componentes, mas agregações já efetuadas pelo próprio BNDES na
pauta de importações do complexo permitem concluir que umas

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6,p. 3-18, ser. 1997


Tabela5
Pólo Eletrônico: Principais Insumos Importados para a ZFM 1996 -
CÓOIGO - NEM OESCRIÇÁO DO PRODUTO VALOR (USS)

Tub. Catod. p/ Recept. TV e Monit. Video a Cores


Outras Partes de Aparelho da Pos. 8525 a 8528
Outros Acess. p/ Maqs. da Posição 84.71
Condensadores Fixos EletrolíticosAlumínio
QQ. Outro Trafo. Não Sup. 1KVA Baixa Frequéncia
Outros Suportes p/ Grav. D/ Som e Semelh., Grav.
Circuitos Impressos
Cond. Fix. Dieletrico de Papel ou Plástico
Discos Grav. Digit. p/ Leit. Óptica Raio Laser
QQ. Outro Alto-Falante Único Mont. Seu Recept.
Transi. FI, DET, REL, Linear. e Foco NISup 1KVA
Outras Resist. Fixas Pot. Não Superior 20w
Gabinete p/ Aparelhos das Pos. 8525 a 8528
Bloco de Bobinas de Ref. (Radiofrequência)
QQ.Outra Parte de Aito-Falantes
Caixa Acústica de Alto-Falantes
Outros Condut. El. N. Sup. 80V, c/ Peps de Conexão
Transf. p/ Ap. Medida Não Sup. 1KVA Baixa Freq.
Oul. Circuitos Integrados Digitais
20 8529900599 QQ.Out. Sintonizador de Radiofreqühcia 4.106.301
Total 590.122.109
Fonte: Suframa.

poucas famílias de componentes de uso gendrico (resistores, capa-


citares, diodos, transistores, circuitos impressos e circuitos integra-
dos) respondem por mais de 213 das importações, se excluidos os
cinescópios.

Já aTabela 6 mostra a balançacomercial do pólo eletrõnico


nos últimos anos, em que pode ser visto que o total de importações
é mais que três vezes maior que a importação dos componentes
eletrônicos propriamente ditos (Tabela 5). englobando desde papel
de embalagem e isopor até resinas, peças de plástico e moldes para
gabinetes, por exemplo. Salta a vista, também, que as exportações
são praticamente inexistentes, o que merece estudo a parte para
avaliaç20 de suas causas principais.

Note-se que o crescimento do faturamento da ZFM nos


últimos anosvern sendo acompanhado por um acréscimo do conteú-
do importado. conforme mostra o Gráfico 3: enquanto o faturamento
aumentou cerca de 60% de 1990 a 1996, a parcela de insumos
nacionais reduziu-se em 4% no mesmo período.

A hdustria Eletrbnica na Zona Franca de Manaus


Tabela 6
Pólo Eletrônicoa:Balança Comercial 1990196 -
(Em US$ Mil)

ANOS EXPORTAÇ6ES IMPORTAÇdES SALDO

1990 6.253,51 539.673,44 (533.419,93)


1991 8.848,50 581.385,57 (R2.537,07)
1992 12.091,98 524.093,57 (512.001,59)
1993 14.312,68 1.073.950,97 (1.059.638,29)
1994 29.613,32 1.475.407,86 (1.445.794,54)
1995 20.636,06 2.228.806,61 (2.208.170,55)
1996 13.533,12 2.591.051,59 (2.577.518,47)
Fonte: Suhama.
alnclusive bens de infomdlica.

GnmCO 3
Pólo EletrBnico: Evolução do Faturamento Total e das
Importações 1990196 -

.--
a
, ,c
i0.m.m
9.m.m
8.WOOOO
7
m
.O
e
m
.O
. W
O
. O

I.mOm
4m.m
3.m.m
2.m.m
1.m.m
o
r--jFl ...._.... ...... Faluramenlo

1-0 1991 1992 IWJ 1W4 1995 1900

Anos

A
ZFM oferece, conforme já foi mencionado, diversos Problemas e
obstaculos as atividades manufatureiras.As grandes distancias -da Perspectivas
oroem de milhares ae quilBmetros - dos centros consumidores e dos
fornecedoresde insumos, bem comoa precariedade dostransportes,
obrigam as empresas a arcar com elevados custos de frete e es-
tocagem. O isolamento em relação ao sistema elétrico brasileiro
implica dificuldades no suprimento de energia, inviabilizandoativida-
des que requeiramsua continuidade -como a indústria de vidro para
cinescópios. por exemplo. Dentre as dificuldades existentes a época
da implantação. a única que vem sendo resolvida de forma razoavel-
mente satisfatória, nos últimos anos, foi a da escassez de mão-de-
obra especializada, e mesmo assim com as ressalvas apontadas no
item 3.

BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 6.p. 3-18, sef. 1997


Em decorrência dos problemas apontados anteriormente,
os custos de se produzir em Manaus ainda são superiores aos do
mercado internacional. No caso do principal produto da ZFM, o
televisor, o preço de aquisição do componente de maior custo na sua
produção, o cinescópio, contribui para elevar este diferencial a cerca
de 10% do que seria o preço competitivo internacional.

O quadro descrito não apenas ameaça a competitividade


da ZFM, como impossibilita qualquer crescimento substancial das
exportações. Uma vez que os ganhos de eficiência que dependem
de medidas das empresas já foram conseguidos, o prosseguimento
da redução dos custos só será possível através de melhorias na
infra-estruturaou pela oferta de componentes a preços mais compe-
titios.

Algumas medidas a serem tomadas quanto a infra-es-


trutura são apontadas a seguir.

a) Transporte

Embora a distância de Manaus aos consumidores e forne-


cedores constitua uma desvantagem intrínseca, uma parcela signifi-
cativa dos custos de transporte pode ser eliminada por meio de
investimentos no sistema viário da Amazonia. Os mais importantes
são:

r asfaltamento da rodovia de Manaus ate a fronteira com a Vene-


zuela, orçado em US$400 milhões, que permitiria o acesso por
terra ao Caribe (o trecho da fronteira venezuelana até o litoral
daquele pais já está asfaltado);

modernização do porto de Manaus. com ênfase na melhoria da


área de manuseio de containers, com custo estimado de US$90
milhões;
outras obras de melhoria da navegação fluvial, como. por exem-
plo, na hidrovia do Rio Madeira.

b) Energia Elétrica

O abastecimento de eletricidade, embora náo apresente


padrões de qualidade de sewiço em nivel de empresado SullSudes-
te. por exemplo. não se constitui, no momento, em temlos de volume
de suprimento, em problema importante para a indústria da ZFM. Na
hipdtese, entretanto, de crescimento expressivo do consumo resi-
dencial e industrial de eletricidade, o sistema de geração da região,
formado pela hidrelétrica de Balbina e por pequenas termelktncas,
não terá condições de satisfazer a demanda.

A solução proposta, que consiste no aproveitamento do


gás de Urucu para geração térmica, deve ser examinada com cuida-

A Indústria Eletrõnica na Zona Franca de Manaus


do, em virtude de o investimento necessário ser muito elevado (cerca
de US$ 1,5 bilháo).

c) Telecomunicações

Os maiores problemas dizem respeito as comunicações de


voz e dados entre Manaus e o resto do país, que são criticas, já que
os centros de decisão das empresas encontram-se geralmente fora
da região. Espera-se, com a execução do Programa de Inves-
timentos do Ministério das Comunicaçóes (Paste), a superaçáo de
suas deficiencias.

Apesar das dificuldades mencionadas, a ZFM pode ser CO~CIUS~O


considerada como bem-sucedida, do ponto de vista industrial. Com
efeito, a região de Manaus passou por um processo real de indus-
trialização, que nada tem em comum com outras áreas francas, que
náo passam de entrepostos comerciais.

A evolução futura da ZFM. no entanto. apresenta conside-


rável grau de incerteza, em particular apos a data em que seus
incentivos específicos deverão deixar de existir, em 2013. Além
disso, o prazo de viabilidade dos incentivos da Sudam B bem menor.
As desvantagens locacionais de Manaus exigem a realização de
montante elevado de investimentos em infra-estrutura, necessários
a manutenção e ao aumento da competitividade já alcançada. Final-
mente, embora o assunto escape a natureza do presente trabalho,
os altos valores da chamada renúncia fiscal decorrente das isenções
existentes na ZFM são, também. uma permanente ameaça.

Por último, a continuidade da ZFM s6 será garantida em


condiçóes competitivas e com capacidade para exportar, o que
depende da série de fatores apontados no presente trabalho.

FRISCHTAK. Claudio Roberto (coord.). Programa de competitividade Referências


sistêmica da Zona Franca de Manaus -análise eproposta para o Biblioaráficas
e
segmento eletroeletrônico.

MINIST~RIO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO (Suframa). Indicadores


industriais da Zona Franca de Manaus (1997).

MINISTERIODO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO (Suframa). Estudo para


o fortalecimento da ZFM e da Amazônia Ocidental (Texto para
Discussão).

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6, p. 3-18. sef. 1997


A CADEIA PRODUTIVA DO
COBRE: PANORAMA
INTERNACIONAL E NACIONAL
Maria Lúcia Amarante de Andrade
José Ricardo Martins Vieira
Luiz Maurício da Silva Cunha
Maria da Conceição Keller*

'Respectivamente, gerente, engenheiro e economistas da Ger6ncia


Setorial de Mineração e Metalurgia do BNDES.
Os autores agradecem a colaboração da estagiária Renata Strubell Fulda.
Resumo Este trabalho aborda a importância da cadeia
produtiva do cobre e as perspectivas de crescimento da
produção e do consumo em nível mundial.
Nas projeções, levaram-se em consideração os
projetos em perspectiva, assim como o crescimento es-
timado para os principais setores demandantes.
Analisa-se, também, a tendência do comporta-
mento dos preços deste metal no mercado internacional
para os próximos anos.
No que se refere ao Brasil, procura-se mostrar a
crescente dependência do país de importações deste
metal, tanto em nível de concentrado quanto de refinado.

A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Internacional e Nacional


0 cobre é o metal não-íerroso mais utilizado, depois do Apresentação
alumínio, por ser excelente condutor de eletricidade e calor. O seu e USOS
principal uso 6 nas indústrias de fios ecabos elétricos, que absorvem
mais de 50% desse metal, sendo o restante utilizado em ligas
especiais. tubos, laminados e exirudados.

A indústria de cobre primário se organiza em tomo de


quatro tipos de produtos, originados em etapas distintas dos proces-
sos de extração, fundição e refino, os quais estáo relacionados a
seguir:

-
minério de cobre corresponde ao mineral extraido da mina. cujo
conteúdo oscila entre 0,7% e 2.5% de cobre;

-
concentrado de cobre corresponde ao minério de cobre que,
através de um processo de moagem das rochas e mistura com dgua
e reagentes, passa a apresentar entre 30% e 38% de cobre fino;

-
cobre fundido corresponde aos concentrados que, por meio de
processos pirometalúrgicos, se transformam no chamado cobre
blister (98,5%) e, posteriomente, no anodo de cobre. cujo teor é
de 99,7% de cobre; e

cobre refinado - corresponde aos anodos e as soluções (no caso


da lixiviação) que são refinados por processo de fundição ou
eletrólise, resultando nos catodos, com pureza de 99,9% de cobre.

Em relação ao cobre secundário, pode-se citar dois tipos


principais de sucata:

sucata para refino - é a sucata industrialde processo. assim como


a sucata comprada de terceiros no mercado, necessitando de
processamento de refino; e

sucata para uso direto - direcionada aos transformadores, sem


necessidade de refino.

A s reservas mundiais de cobre, medidas e indicadas, Reservas


atingem atualmente cerca de 607 milhóes de t de metal contido. ~ i ~ ~
Considerando a demanda atual de cobre refinado. da ordem de 11,8

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 19-48, set. 1997 21


milhóes de t, tais reservas danam para abastecer0 mundo por cerca
de 50 anos.

Mais de 40% das reservas mundiais estão localizados no


Chile (27%) e nos Estados Unidos (15%). A seguir, com valores
representativos, pode-se citar Polônia (6%), Zâmbia (6%), Rússia
(5%) e Peru (4%).

As reservas brasileiras medidas e indicadas atingiram, em


1995, 11,6 milhóes de t de cobre contido, representando 1,9% do
total mundial (Gráfico 1).

Grdfico 1
Reservas Mundiais de Cobre 1996 -
Outros Paises Chile

Rtissia
5%

64. Estados Unidos


Zaire peru P,,liinia 15%
5% 4% 6".

Fonte: Sumério Mineral.

Os principais tipos de ocorrência de cobre são de minério


sulfetado, de minério oxidado ou ocorréncias mistas, com presença
de sulfetos, óxidos, hidróxidos e carbonatos.

Das reservas mundiais. cerca de 80% são de minério


sulfetado, dos quais mais da metade é do tipo sulfetado porfiritico,
como as da mina de Escondida. no Chile. Nomlalmente, são reservas
de grande significado econômico pelo volume de minério, podem ser
lavradas a céu aberto e apresentam baixo teor de cobre. até 1,5%,
visto que este encontra-se disseminado em rochas.

As reservas mundiais de alto teorencontram-se esgotadas,


sendo que as mais ricas atualmente apresentam teores de cerca de
4% de cobre. Note-se que unidades novas para lavra subterrânea de
minérios apresentam viabilidade econômica para teores normalmen-
te superiores a 1,5% de cobre.

Tecno~ogiae Existem dois processos bAsicos de produção de cobre


Processos primario: o processo pirometalúrgico, mais utilizado para os minérios

22 A Cadeia Pmduffvado Cobre: Panorama Internacional e Nacional


sulfetados, e o processo hidrometalúrgico, apropriado para a extra-
çso de cobre de minérios oxidados de baixo teor.

Processo Pirometalúrgico

A indústriade transformação do cobre tem início a partir do


mineno, cuja extração da-se a céu aberto ou em galerias subterrâneas.
Com um teor metálico que varia normalmente entre 0,7% e 2,5%, o
minério é submetido a britagem, moagem, flotação e secagem, obten-
do-se o concentrado cujo teor de cobre contido já alcança 30%.

O concentrado é então submetido ao forno flash, de onde


sai o mate com teor de 45% a 60%, e este ao fomo conversor de
onde se obtém o blistercom 98,5% de cobre. Dependendo da pureza
desejável para o cobre, tendo em vista a sua utilização final, o blister
pode ser submetido apenas ao refino a fogo, onde se obtém cobre
com 99,7% (anodo) ou ser também refinado eletroliticamente, atin-
gindo um grau de pureza de 99,9% (catodo).

0 s catodos são submetidos ao processo de refusão para


obtenção do cobre no formato de tarugos ou placas. A partir da
trefilação destes tarugos. produzem-seos semi-elaborados de cobre
nas formas de barras, perfis e tubos e, através da laminaçáo das
placas, são produzidos semi-elaborados nos formatos de tiras, cha-
pas e arames. Se, entretanto. ao invés da simples refusgo o catodo
for fundido e Iaminado em processo continuo, obtém-se o vergalhão.
a partir do qual serão fabricados os fios e cabos.

Conforme o fluxograma apresentado, o gás sulfidrico resul-


tante da fundição é utilizado como insumo para a produção do
subproduto ácido sulfúrico, visando reduzir o impacto ambiental.

Processo Hidrometalúrgico

A hidrometalurgia é apropriada. principalmente, para a


extração de cobre de minérios oxidados de baixo teor. A utilização
deste processo para minerios sulfetados implica uma etapa anterior
de beneficiamento do minério para obtenção do concentrado sulfe-
tado, o qual deve sofrer processo de ustulaçáo para transformação
em produto intermediário oxidado.

O processo hidrometalúrgico consiste, em linhas gerais,


em lixiviar o minério moído com solventes adequados, sendo o mais
utilizado o ácido sulfúrico, obtendo-se soluções ricas.

Seguem-seafiltragem da solução e a precipitaçãodo metal


através de concentração (utilizando-sefeno), de aquecimento ou por
eletrólise.

BNOES Setonal. Rio de Janeiro, n. 6, p. 19-48, sei. 1997


Exportações As exportações de cobre concentrado representam entre
20% e 30% da sua produçáo anual. Os maiores exportadores são o
Chile e a Indonésia, que, em conjunto, representam 56% das expor-
tações mundiais de concentrado que se destinam em grande parte
ao mercado asiático, destacando-se o Japão e China (Tabela 2).

Tabela 2
Exportação Mundial de Cobre Concentrado - 1990196
(Em 1000 1)

PAIS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 I996

Chile 261,4 504,6 631,9 655,O 692,3 821,3 1.035.0


Indonesia 99,4 150,l 241,5 230,6 268,9 353.0 476.0
Canadá 348,8 319,7 3268 393,3 218,3 2560 391,3
Papua-Nova Guine 155,6 193,7 171,2 203,2 206,4 227,9 252,O
Austrália 67,3 44,7 68,3 99,l 114.3 97,8 197,O
Estados Unidos 258,2 252,6 265,8 226,9 260,9 238,7 195,3
Portugal 176,7 175.6 174,6 166,6 138,8 129,5 129,7
Filipinas 1025 97,9 86,3 82,3 67,6 71,l 73.7
Peru 25,s 28,7 22,3 15,9 31.1 46,9 503
Outros 199,6 189,l 173,5 57,7 102,2 76,4 80,2
Total 1.695,O 1.956,7 2.162,2 2.130,6 2.100,8 2.318,6 2.680,3
Fonte: World Metal Statistics.

Importação 0 Japão, que náo possui reservas de cobre, e o maior


importador mundial de cobre concentrado. o que possibilita sua
perfomance como terceiro maior produtor mundial de cobre refinado
(Tabela 3).

Tabela 3
Importação Mundial de Cobre Concentrado - 1990196
(Em 1.000 f)

PAiS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Japão 880,4 930,4 861,3 917,6 858.6 965.1 958.0


China 25,9 78,3 64.4 72,3 74.6 144,6 246.3
Espanha 98,4 116,2 111.4 1154 129,6 117,3 184,2
Alemanha 121,9 130,8 144,2 126,6 161,8 165,8 167.7
Brasil 88,O 102,O 119,6 126,O 130,O 125,O 138.0
Canada 33,8 68.3 118.4 147,7 181,8 149,9 135.7
Finlândia 69,9 76.0 79,7 80,s 73.2 73.4 126,7
Coréia do Sul 92,l 107.3 61,O 142,8 106,6 117,2 105.2
Estados Unidos 153,s 62,O 102,8 53,9 82,6 129,6 75,O
Outros 35.6 24.2 26.2 32.6 23,8 22.6 23.9
Total 1.599,5 1.695.5 1.689.0 1.815,4 1.822.6 2.010.5 2.160.7
Fonte: World Metal Slaiistics.

26 A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Inlsmadonale Nacional


Tabela 6
Produção Mundial de Cobre Blistere Anodo por País 1990/96 -
(Em 1.0001)

PAIS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Estados Unidos 1.463,3 1.450,3 1.573,9 1.679,9 1.715,O 1.600,8 1.628,7


Chile 1.218,6 1.173,6 1.201,5 1.219,l 1.260,4 1.293,8 1.355,O
Japão 1.040,6 1.085,4 1.174,9 1.184,8 1.122,O 1.168,5 1.233,4
Canada 523,O 532,2 552,4 562,4 560,5 613,7 612,7
Rússia 990,O 920,O 690,5 560,2 5N,7 540,O 540,O
China 358,5 385,O 418.0 443,7 482,4 538.0 537.6
Polônia 341,6 360,O 370,O 411,2 401,9 352,5 320,O
Peru 2358 313,O 3N,7 285,8 3150 347,3 346,8
Alemanha 256,l 256,2 234,9 201,3 292,2 304,9 3583
MBxico 174,O 182,5 228,9 281,5 276,9 298,l 298,8
Brasil 147,6 145,1 160,O 150,O 150,4 151,2 151,2
Outros 2.383.3 2.262,2 2.787.1 2.685.2 2.645,O 2.372,3 2.605,6
Total 9.132,4 9.065,6 9.692,8 9.665,l 9.728,4 9.581,l 9.988,3
Fonte: Worid Metal Sfatistics.

Japao, em conjunto, respondem por 42% da produção total, enquan-


to a participaçáo brasileira atinge 1,5%.

Exportaqão e O comércio mundial de cobre blistergira em tomo de 600


Importação mil tfano. representando cerca de 6% da produção (Tabelas 7 e 8).

Tabela 7
Exportação Mundial de Cobre Blistere Anodo - 1990196
(Em 1.000 1)

PAiS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Chile 151.1 92.5 127,O 139,6 196.1 176,4 230,6


México 47.6 60.5 109,7 138.7 120,3 124.4 124.4
Peru 92.8 101.0 88,7 92,9 98,O 69.4 62,3
Espanha 2,6 22.8 14,3 29.8 34,7 26.5 27.2
África do Sul 25.4 22.4 25.5 22,3 25,1 26,9 23.7
Estados Unidos 6.4 21.3 16.9 11,4 13.9 29,s 23,3
Namibia 30.0 333 341 30,2 26,2 25,1 22,l
Bblgica - - 25,l 28.5 19,l 29.6 18,4
Outros 251.7 151.2 125.5 48,O 37,7 23,4 8,7
Total 607.6 505.2 566.8 541.4 573,l 5532 560,7
Fonte: Worid Metal Statistics.

28 A Cadeia Produ&a do Cobre: Panomma intemauonai e Nacional


Cobre Refinado A produção mundial de cobre refinado cresceu 7,1% em
Primário e Total 1996. Se considerarmos o período 1990196, a taxa média foi de 2,7%
a.a. Os Estados Unidos foram responsáveis por 18,4% do total
PrOduçáO mundial em 1996, o Chile 13,4%, o Japão 9,9% e a China 9%,
representando, em conjunto, cerca de 51% do total do cobre refinado
produzido. A produção brasileira correspondeu a 1,4% do total
mundial (Tabelas 10 e 11).

A composiçáo da oferta mundial de cobre, no período


1990196, apresentou crescimento de 13,8%, equivalente a 2,2% a.a.
Observa-se que o uso direto da sucata apresentou-se praticamente

Tabela 10
Produção de Cobre Refinado por País - 1990196
(Em 1.000 I)

PAIS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Estados Unidos 2.017,4 1.995,l 2.143,9 2.252,s 2.220.0 2.279,8 2.332,O


Chile 1.191,6 1.228,3 1.242,3 1.268.2 1.277,4 1.490,9 1.697.2
Japão 1.008,O 1.076,3 1.160,9 1.188,8 1.119,2 1.188,O 1.251,4
China 561,s 560,O 659,O 733,O 736,l 1.079,7 1.140,O
Alemanha 476,2 521,s 581,7 632,l 591,9 616,l 670,E
Russia - - 620,7 537,l 551,8 560,3 577,l
Canadá 515,8 538,3 539,3 561,6 549,9 572,6 559,2
Polõnia 346,l 378,5 387,O 404.2 405,2 406,6 424,8
Bélgica 331,9 297,6 367.3 378,9 3750 393,O 396,O
Peru 181.8 244.1 251,l 261,7 253,O 282.0 342.0
Brasil 156,8 141.4 156.8 162.0 170,O 175.0 180,O
Outros 4.022,3 3.706,9 3.067.8 2.923.9 2.905.5 2.784.0 3.092.1
Total 10.809,4 10.688,O 1 1 1 8 11.304,O 11.155,O 11.828,O 12.662.6
Fonle: World Metal Statistics.

Tabela 11
Evolução Mundial da Cadeia Produtiva de Cobre 1990196 -
(Em 1.000 1)

ANO MINERIO PRODUÇÃO DE PRODUÇAO TOTAL DE COBRE SUCATA PARA SEMI-


CONCENTRADO BLISTER SX-EW REFINADO USO DIRETO ELABORADOS

1990 8.258.3 9.132.4 698.2 10.809.4 2.947 13.756.4


1991 8.327,7 9.0656 771,7 10.688.0 2.927 13.615.0
1992 8.589.6 9.692.8 826.2 11.177,8 2.927 14.104,8
1993 8.582.8 9.665,l 844.9 11.304.0 2.936 14.240,O
1994 8.501,5 9.728,4 898,3 11.155,O 3.157 14.312,O
1995 8.936.1 9.581,l 1.106.2 11.828,O 3.110 14.938,O
1996 9.260.4 9.988.3 1.464,5 12.662.6 2.992 15.654.6
Fonte: World Metal Statistia.

30 A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Intemauonal e Nacional


estável, tendo representado 20% da oferta de cobre refinado em
1996.

Desta forma, nota-se que o aumento da disponibilidade de


cobre depende exclusivamente da ampliação da produção primária
do metal.

O consumo mundial de cobre refinado permaneceu prati- Consumo


carnente estável no período 1990193 e apresentou crescimento de
3,9% a.a. no período 1993196, sendo os Estados Unidos e o Japão
os maiores consumidores (Tabela 12).

O comercio mundial de cobre refinado já representa cerca Comércio Mundial


de 40% do consumo total. sendo que os produtores mais competiti-
e Canadá) - estáo investindo para direcionar maior
vos (Chile. P ~ N
parcela da produção para exportação (Tabelas 13 e 14).

Tabela 12
Consumo Mundial de Cobre Refinado por País - 1990196
(Em 1.000 1)

PAiS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Estados Unidos 2.150.4 2.057.8 2.165.7 2.359,4 2.678.1 2.525,5 2.650.7


Japao 1.576.5 1.613,2 1.411.1 1.384,1 1.374,9 1.414,5 1.479.9
China 512.0 590,O 882,O 984,6 797,7 1.147.6 1.186,5
Alemanha 896.9 1.005.9 1.031.6 921,l 999.5 1.058.4 951.1
Coréia do Sul 324,2 343.2 353,5 399,8 476,8 539.6 588.1
Taiwan 264.7 399.1 415,6 477.2 547.0 563.2 543,7
Itália 474.8 470,7 502,4 489.5 480.0 498.0 518,6
França 477.6 481.2 487,9 473,9 513.3 549.1 513.2
Reino Unido 317.2 269,4 308,3 325.0 377.3 397.9 396,O
Bélgica 389.5 372.0 385,9 331.6 407,7 362.4 362.4
Brasil 128,7 170,8 162.2 168,O 183,3 197,6 222,2
Outros 3.269,g 2.921,7 2.7073 2.641,1 2.699,9 z.a00,3 2.667,O
Total 10.782,4 10.695,O 10.813,5 10.955,3 11.5353 12.054,l 12.279,4
Fonte: World Meia1 Statisiics.

BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 6, p. 1948. sel. 1997


Tabela 13
Exportação Mundial de Cobre Refinado - 1990196
(Em 1.0001)

PAIS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996


Chile 1.141,l 1.130.5 1.178,O 1.189,l 1.193,3 1.395,6 1.536,5
Rússia - - 473 153,O 3602 661,8 4962
Canadá 332,8 374,6 385,7 404,6 388,6 427,5 460,O
Peru 137,4 207,5 214,5 217,5 218,3 251,9 320,l
Zàmbia 459,9 382,3 411,9 436,5 360,7 291,9 280,3
Cazaquistão - - 1057 114,8 122,5 216,6 261,6
Cingapura 41 ,O 58,5 94,O 87,7 97,7 197,l 197,6
Alemanha 89,3 63,O 59,5 79.5 142,2 130,5 191,7
Estados Unidos 212.7 271,3 177,l 217,O l57,6 217,4 169,E
Japáo 50,7 64,4 100,O 160,O 114,4 158,7 164,6

China 18,O 8,7 9,8 1,9 10,7 34,2 39,8


Outros 1.010,O 970,9 852,l 880,4 818,7 766,2 827,2
Total 3.533,8 3.594,8 3.715,s 4.018,5 4.040,8 4.808,6 4.995,7
Fonte: World Metal Stalistics.

Tabela 14
Importação Mundial de Cobre Refinado 1990196 -
(Em 1.O001)

Estados Unidos 287,2 295,l 289,7 348,9 466,8 429,l 620,2


Taiwan 253.1 397,9 417,5 480,5 548,6 566,9 545.6
França
Alemanha
Itália
Japão
Coréia do Sul
Reino Unido
Cingapura
China
Brasil 36.4 75.9 80,7 57.6 64,l 91.8 91.8
Outros 658,l 786.4 855.2 886.5 1.018,l 1.003,2 1.084.2
Total 3.700,4 4.166.1 4.256.6 4.364,s 4.520,3 4.873,2 5.0623
Fonte: World Metal Slalistics.

A Cadeia Pmduliva do Cobre: Panorama Internacionale Nacional


N o s últimos 20 anos, a média do preço anual do cobre foi Preços e
de US$1,10 Ilb, variando no intervalo de US$0,7511b a US$1,4011b, Custos
apresentando-seabaixo de US$1,00lib apenas no período recessivo
de 1982186. Somente em 1980 e 1988 esse preço médio superou os Preços
US$ 1,301lb.

Para o período 199612004. estima-se que os preços do


cobre variem entre US$0,75/lb e US$ 1,00llb, apresentando media
em tomo de US$0,9011b. Esse preço, que é inferior a média anterior,
deve-se a maior oferta de cobre, aliada a reducáo dos custos de
produçáo resultante das novas tecnologias utilizádas, em particular
a aceleraçáo do uso do processo SX-EW, mantendo-se o crescimen-
to da demanda nas taxas médias históricas (Tabela 15 e Grafico 2).

Tabela 15
Projeçio do Preço do Cobre 199612004 -
(Em USS Centslb)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 MEDIA

104 102 90 82 77 75 80 90 100 90


Fonte: BNDES.

A composiçãodo custo de produção docobre envolve duas CUS~OS


etapas: custo da mineração, que vai at6 a produção docobre contido
em concentrado, e o da metalurgia do cobre - smeltere refino.

Este ultimo é bastante homogêneo, pois as beneficiadoras


utilizam processos tecnológicos semelhantes, e tem variado, em
nível mundial, entre US$0,20/lb e US$0,24/lb desde 1990, tendendo
para US$ 0.261lb em 2004, em face da ampliação das exigências
ambientais.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 19-48,set. 1997 33


O custo de mineração apresenta grande variação devido
as condições geológicas de cada mina que incluem, entre outras,
exploração a céu aberto ou subterrânea, percentual de cobre no
minério e ocorrência de outros minerais, item este que pode ser
fundamental na viabilidade econômica do empreendimento.

Este custo, considerando o universo de 90% das minas em


operaçáo no mundo, foi de ate US$ 0,671lb nos Últimos anos, es-
timando-se custos declinantes tendendo para US$0,5611b.

Comparativo dos custos totais de produção de cobre, in-


cluindo mineração e refino, dos principais países ofertantes, elabo-
rado em 1995, mostra que cerca de 50% da produção apresentavam
custos inferiores a US$ 0,70Ab, enquanto para 75% dessa oferta os
custos situaram-se em até US$ 1,15Ab. Verifica-se que há um movi-
mento de ampliação da oferta de cobre nos países mais competitivos
como Chile, Peru, México, Indonésia etc., confirmando uma tendência
de redução de custos de produção em nivel mundial (Gráfico 3).

GfbfiC0 3
Custos de Produção
11D T- -- --
T"
~

0
im I
2 m- ~.
e./~- I !-m

Fonle: MBM.
I OIIUCiiWI .- %
I

Tendências A s perspectivas quanto à ampliação da oferta global de


cobre são bastante favoráveis, devido aos projetos de implantação
Oferta de Cobre e expansão de minas. em particular na América Latina e na Asia.

Projetos em Dentre os projetos em ampliação e desenvolvimento no


Perspectiva mundo. os de maior importância em termos de capacidade de
produç3o de cobre contido em concentrado são:

Chile - Collahuasi, cuja mina deverá iniciar produção em 1999,


devendo atingir 320 mil tlano em 2004; Escondida. cuja produção
de 475 mil t. em 1995. chegará a 820 mil t a partir de 1997; e

34 A Cadeia Produtiva do Cobre Panorama Internacional e Nacional


Andina, com projeto de ampliação de 120 mil Vario para 240 mil
tiano a partir do ano 2000.

Argentina - projeto Alumbrera, cuja produção será iniciada este


ano, atingindo 180 mil t no ano 2000.
Austrália - mina de Ernest Henry, cuja produção deverá ser
iniciada no fim deste ano, atingindo-se a capacidade final de 90
mil Vario a partir de 1998.

Zâmbia- a mina de Konkola ampliará sua produção das atuais 46


mil ffano para 130 mil ffano em 2001.
Indonésia - a mina de ErtslGrasberg está ampliando a produção
de 426 mil tiano, em 1995, para 880 mil ffano a partir do ano 2000.

Com relação a produção de cobre pelo processo SX-EW,


os principais projetos estão no Chile, nos Estados Unidos e no
México.

Chile-Chuquicamata, com previsão de produção de 190 mil ffano


no ano 2000; Radomiro Tomic, com produçiio de 145 mil tiano no
ano 2000; e Escondida, que passará a produzir 200 mil tlano por
este processo no ano 2000.

e México - projetos La Caridad e Tyntaya.


Estados Unidos - vários pequenos projetos de reaproveitamento
das minas tradicionais e expansáo de duas minas da Phelps Dodge.

Aseguirapresenta-se a projeção da oferta decobrecontido


em concentrado, da produção através do processo SX-EW e da
metalurgia do cobre, bem como da sucata.

Se os projetos considerados forem concluídos nos prazos Produçáo de


previstos, a capacidade de produção de concentrado será ampliada Concentrado
em 3.650 mil t até o ano 2000 e em 4.700 mil t até o ano 2004, com
crescimentos de 34% e 48%. respectivamente.

Considerando que a produpo cresça 2,5% a.a., no período


199612000, 1,9% a.a. entre os anos 2000 e 2004. e analisando-se a
necessidade para atendimento do crescimento previsto da demanda,
verifica-se que haverá sobra de capacidade de cerca de 4,2 milhões
de t no ano 2000 e de 4,4 milhões de t no ano 2004. Desta forma, o
grau de utilização dacapacidade de produção irácairdos atuais86%
para 71%.

BNOES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6,p. 1948, sef. 1997


Os países que deverão apresentar maior crescimento da
produção de concentrado até o ano 2000 são: Indonésia (424mil t),
Chile (383mil t), Austrália (166mil i) e Zâmbia (126mil t) (Tabela 16).

Tabela 16
Produção de Cobre Contido em Concentrado - 199612004
(Em 1.000 1)

PAiS 1996 1997 1998 1999 2000 2004


Chile 2.450,2 2.540,9 2.634,9 2.732,4 2.833,5 2.833,5
Estados Unidos 1.358.5 1.410.7 1.393,1 . 1.379,6 1.383,7 1.370,2
Canadá 686.4 676,l 676,l 5953 628,7 617,2
Indonésia 525.9 5449 669.0 949,5 949.5 949.5
Rússia 480,O 490,O 495,O 500,O 504,5 509,5
Austrália 428.2 525,3 572,6 595,4 594,l 551,7
Peru 398,6 384,3 380,O 412,2 424,O 396,l
Polônia 384,O 384,O 384,O 384,O 384,O 384,O
China 368,4 408,O 416,O 425,O 432,9 442,O
Mexico 289,4 343,3 337,3 325,5 336,4 343,7
Cazaquistão 237,s 240,O 240,O 240,O 240,O 240,O
Zàmbia 211,4 263,O 280,5 281,5 337,O 335,O
Brasil 46,O 22,O 14,O 0,o 0,O 0,o
Outros 1.395,9 1.259,5 1.236,3 1.151,6 1.173,O 2.048,l
Total 9.260,4 9.492,O 9.728,8 9.972,O 10.221,3 11.020,5
Acréscimo 324,3 231,6 236,8 243,2 249,3 799,2
Capacidade Instalada 10.750,O 11.075,O 12.300,O 13.500,O 14.400,O 15.451,O
Utilização da Capacidade (%) 86 86 79 74 71 71
Fontc Norld PJefaiSiaPsl.cs n Proieçües BNDES.
hot3 inc ui cobre conr.00 em mfnerioe em concentrado

Produção de Cobre A produção de cobre pelo processo SX-EW deverá apre-


-P ~ O C ~ SSX-EW
SO sentar crescimento de 13.8% a.a. entre 1996 e 2000,acrescentando
cerca de 1 milhão de t a produção realizada em 1996,alcançando
2.458 mil t nesse ano.

Para 2004.projeta-se produção de 2.885 mil t, representan-


do crescimento de 4,1% a.a. a partir do ano 2000.

A utilização da capacidade de produção por este processo


deverá manter-se em 90%, em função de os custos de produçáo
serem inferiores aos dos processos tradicionais, elevando-se para
96% somente em 2004.

O Chile continuará sendo o lider de produção por este


processo, passando de 41% da oferta para 58% no ano 2000 e 61%
em 2004,seguido dos Estados Unidos, que também irá apresentar
crescimento da produção (Tabela 17).

A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Intsmacionaie Nacional


Tabela 17
Produção de Cobre: Processo SX-EW - 199612004
(Em 1.000 1)

PA~S 1996 1997 1998 1999 2000 2004

Chile 602,2 776,5 1.027,3 1.222,4 1.433,5 1.747.0


Estados Unidos 5288 574,9 607,5 645,2 684,4 841,8
Zâmbia 150,8 85,6 85,6 83,2 816 50,6
Peru 808 54,O 651 72,9 72,9 72,9
Austrália 53,8 58,O 59,O 63,l 69,2 42,7
México 36,O 71,4 82,4 82,4 82,4 95,2
Zaire 9,6 9.6 9.6 98 9.6 9.6
Canadá 2,s 2,4 1,6 1,s O O
Total 1.4643 1.649,4 1.963,1 2.205,4 2.458,3 2.884,8
Acréscimo 358.3 184,9 313,7 242,3 252,9 426,s
Capacidade Instalada 1.626,O 1.903,O 2.180,O 2.457,O 2.737,O 3.014,O
Utilização da Capacidade O()./ 90 87 90 90 90 96
Fonte: World Metal Stat;slics e Projeçües BNDES.

As unidades de metalurgia de cobre podem ser integradas Produção de Blister


as mineradoras ou ter operação independente, caso da Caralba e Anodo
Metais. sendo dimensionadas para atender a demanda por proces-
samento de concentrado de cobre e de refino.

Assim. a capacidade de produçáo prevista de blister e


anodo. obtidos no processamento metalurgico do cobre, deverá
atingir 12.7 milhões de t no ano 2000, superior as 1 1 milhões de t
atuais, mantendo o índice de utilizaçáo no patamar de 90%.

As maiores capacidades de metalurgia de cobre encon-


tram-se nos Estados Unidos e no Chile, maiores produtores do metal,
e no Japão. que importa a totalidade da matéria-prima, representan-
do, estes países em conjunto. 40% da produção mundial (Tabela 18).

As projeções para a produção mundial de cobre refinado Oferta Total


indicam crescimento da ordem de 5% a.a. no período 1996t2000 e
1% a.a. entre o ano 2000 e 2004,atingindo-se 15,4milhões de t de
cobre refinado produzidas no ano 2000 e 16,O milhões de t no ano
2004.

Esta produção. acrescida da oferta prevista de sucata para


uso direto, deverá representar a oferta total de cobre, com valores
de 18.9 milhões de t e 19.5 milhões de t nos anos 2000 e 2004,
respectivamente. conforme pode-se o b s e ~ aar seguir (Tabela 19).

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6,p. 1948, set. 1997


Tabela 18
Produçáo de Blister e Anodo - 199612004
(Em 1.000 t)

PAIS 1996 1997 1998 1999 2000 2004

Estados Unidos 1.628,7 1.759,7 1.759,7 1.759,7 1.759,7 1.759,7


Chile 1.3550 1.303,5 1.347,2 1.392,5 1.437,7 1.517,O
Japão
Canadá
Rússia
China
Alemanha
Peru 346,8 3557 355,7 3557 355.7 3557
Polônia 320,O 320,O 320,O 320,O 320.0 320,O
México 298,8 326,8 326,8 315,6 315,3 315,3
Brasil 151,2 154.1 112 1463 154.1 1541
Outros 2.605,6 2.956,5 3.064.1 3.375,2 3.635,9 3.671.1
Total 9.988,3 10.459,O 10.591,7 11.040,l 11.414,4 11.535,3
Acréscimo 407,2 470'7 132,7 448,4 374,3 120,9
Capacidade de Produçáo 11.000,O 11.175,O 11.683,O 12.191,O 12.700,O 13.208,O
Utilizaçáo da Capacidade (%) 91 94 91 91 90 87
Fonte: World Melal Stabslics e Projeçcies BNDES.

Tabele 19
Projeção Mundial da Cadeia Produtiva de Cobre - 199612004
(Em 1.000 1)

ANO CONCENTRADO PRODUÇÁODE PRODUÇAO TOTALDE SUCATAPARA TOTALDECOBRE


BLISTERE ANOW SX-EW COBRE USO DIRETO E SUCATA
REFINADO^
1996 9.260 9.988 1.464 12.662 2.992 15.654
1997 9.492 10.459 1.649 13.453 3.155 16.608
1998 9.728 10.592 1.963 13.948 3.195 17.143
1999 9.972 11.040 2.205 14.716 3.330 18.046
2000 10.221 11.414 2.458 15.413 3.442 18.855
2004 11.020 11.535 2.885 16.021 3.479 19.500
Fontes World Metal Stahsl~cse Pro,eçoes BN3ES
a sucata o~reclonadapara o o1 sier e o refino.bem como a produçáo oe SX-EW
BCon~~dera

Demanda de Como pode ser obse~adona subseção consumo, o cres-


Cobre cimento anual do consumo de cobre na China, Taiwan. Coreia do Sul
e Brasil, no período 1990196, foi de 15%. 12,870, 10,4% e 9.6%
respectivamente. enquanto nos Estados Unidos foi de 3,5%. na
Alemanha de 1% e no Jaoão de 0%.

A Cadeia Pmduhva do Cobre: Panorama Internacional e Nacional


Desta forma, o crescimento estimado para a demanda
mundial de cobre considerou a ampliação do consumo dos países
desenvolvidos na faixa de 3% a.a. e de cerca de 10% a.a. para os
Tigres Asiáticos e China. Para a América Latina, também espera-se
crescimento elevado semelhante ao do Brasil, ou seja, em tomo de
8% a.a..

Partindo-se, portanto, destes níveis de crescimento, obte-


ve-se um valor total para a demanda mundial de 18.9 milhões de t
no ano 2000, com crescimento da ordem de 5% a.a. no periodo
1996/2000, correspondendo a acréscimo de 3,2 milhões de t em
relação a demanda de 1996.

Deste modo. a oferta total projetada devera atender a


demanda estimada de cobre no ano 2000.

A indijstria brasileira de cobre engloba as produções de Situação


concentrado (46 mil ffano), de cobre refinado (176 mil tlano) e o Brasileira
segmento de transformação, com capacidade total de 433 mil ffano,
distribuída por fios e cabos (49%). laminação e extrusão (45%) e
outros produtos (6%).

O setor de cobre pode serconsiderado eletrointensivo. com


consumo anual de cerca de 1,3 GWh, sendo também grande consu-
midor de combustíveis (gás e 61eo), principalmente na etapa de
refino.

A indústria de cobre geracerca de 25 mil empregos diretos,


principalmente no segmento de fios e cabos. que emprega. atual-
mente, cerca de 14 mil pessoas.

Em temos de faturamento, verificou-se crescimento de


32% no periodo 1993196, atingindo US$ 3 bilhões em 1996. com
recolhimento de impostos de US$630 milhóes, representando 21%
da receita total (Tabela 20).

As reservas brasileiras medidas e indicadas decobre mon- Reservas


tam a 11.6 milhõesde t demetal contido. representando apenas 1,9% Minerais
das reservas mundiais estimadas em 607milhóes de t. Estas reser-
vas estão localizadas nos estados do Par6 (65%), Goiás (14,4%) e
Bahia (13,2%) e os 7,4% restantes distribuídos pelos estados do
Ceara, Alagoas, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais.
Paraná e Mato Grosso.

BNDES Setorial, Rio de Janeiro. n. 6,p. 19-48. set. 1997


Tabela20
Indicadores da Indústria Brasileira de Cobre - 1993196
1993 1994 1995 1996

Capacidade Instalada de Produção (mil tlano)


Cobre Refinado 170 170 176 176
Fios e Cabos 212 212 212 212
Laminaçáo e Extrusáo 196 196 196 196
Outros Produtos 25 25 25 25
Consumo de Energia Elétrica (MWh) 1.152 1.181 1.204 1.268
Consumo de Gás Natural (mil m3) 8.256 6.814 7.588 7.722
Consumo de GLP (1) 2.204 2.276 2.340 2.450
Consumo de Óleo Combustível (1) 46.715 42.21 1 42.1 71 42.1 00
Número de Empregos Diretos 29.917 24.957 25.135 25.135
Faturamento (USS Milhões) 2.285 2.574 2.874 3.010
Recolhimento de Impostos (USSMilhões) 570 566 603 632
Fontes: Sindicel- Anuario Es/alislicoda Indústria Brasileira de Cobre e BNDES.

O Rio Grande do Sul, apesar de ter apenas 0.2% das


reservas brasileiras, contribuiu com 10,3% da produção nacional de
concentrado de cobre em 1995.

Entretanto, a mina de Camaquã (RS) esta em processo de


exaustáo tendo encenado a produção em 1996.

Jaguaran (BA), responsável porcerca de 90% da produção


brasileira de concentrado, segundo pesquisas realizadas recente-
mente, ainda tem uma vida util de cerca de cinco anos no nível atual
de produção, se realizados os investimentos necessários em lavra
subterrânea.

As reservas do Pará, estimadas em 7,5milhões de t de


cobre contido, referem-se basicamente as jazidas de Salobo desco-
bertas pela Cia. Vale do Rio Doce (CVRD) com apoio do BNDES.
Segundo informações da Salobo Metais. suas reservas seriam equi-
valentes a 11,2 milhões de t de cobre contido, porém ainda não estão
computadas nas estatísticas do Departamento Nacional da Produ-
çáo Mineral (DNPM).

Fabricantes A produçáo de cobre concentrado que atingiu 46 mil t em


Nacionais 1996 é muito reduzida, representando menos de 0.5% da produçáo
mundial, sendo insuficiente para atender a Caraiba Metais, que
demanda cerca de 180 mil t de cobre contido ao ano (Tabela 21).

A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Inlernacionale Nacional


Tabela 21
Produção Brasileira de Cobre Contido em Concentrado
-1990196
(Em 1.000 1)

OISCRIMINAÇAO 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Jaguarari(0A) 26,6 27,9 30,l 33,O 33,7 43,O 42,O


Carnaquã (RS) 9,8 10,O 9,8 10,6 6,O 6,O 4,O
Total 36,4 37,9 39,9 43,6 39,7 49,O 46,O
Fontes: Sindicel e BNDES.

Na metalurgia, a iinica empresa produtora de cobre meta-


lico é a Caraiba Metais em Dias ~ ' Á v i l a(BA) com capacidade de
produção de 175 mil tlano. Para a produção de cobre refinado, a
Caraiba utiliza concentrado de cobre produzido no pais pela Minera-
ção Caraiba, além de produto importado principalmente do Chile e
de Portugal. de forma a ter um blending adequado de concentrado
para otimizar a produção de cobre.

Em relação ao cobre primário, pode-se afirmar que a


Caraiba Metais é uma empresa competitiva, atendendo a maior
parcela do mercado interno, ou seja, cerca de 60%. A empresa
tambem possui plano de expansão para a produção de 200 mil üano
a partir de 1998, o que deverá aumentar as importações brasileiras
de concentrado (Tabela 22).

Tabela ZI
Caraíba Metais S.A. - 1990196
(Em 1.0001)
-

DISCRIMINAÇAO 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Aquisição de Concentradoa 475,3 445,3 440,2 502,6 527,O 517,2 545,3


Jaguari 76,6 73.3 85.2 96.7 101,O 137,5 131,3
Camaquã 30.6 30,4 31.1 31,1 18,O 15.6 12,5
Importado 368.1 341.6 323.9 374.8 408.0 364,l 401.5
Produçáo de Catodo 152.1 141,4 156.8 161.1 170,l 165,5 174,s
Vendas Mercado Interno 90,4 94,9 79.7 84,9 103,2 99,9 110,2
VergalhZo 74.4 74,1 51.1 38,5 76,2 73,9 81,6
Catodo 14.8 20.2 28.3 29.0 25,9 25,O 27.6
PalanquilhafOutros 12 0,6 0.3 17,4 1,1 1,O 1.O
Exportaçóes 43.9 61,9 80,5 76.4 64,2 623 65,5
Vergalhão - - 3,4 2,s 6.2 3,1 5.5
Catodo 43,9 60,5 77,l 72.3 58,O 59,2 60,O
PalanquilhafOutros - 1,4 - 1.6 - - -
Fontes: Caraiba Metais e BNDES.
teor media de mbre contido no cuncenfrado é da ordem de 32%.

BNDES Setonal. Rio de Janeiro. n. 6, p. 1948, se!. 1997 41


Desta forma, tendo em vista que ate o ano 2000 não há
previsão de entrada em operação de novos projetos. a oferta interna
de cobre refinado deverásituar-se em 200 mil tiano, dada a limitação
da Caraiba Metais (Tabela 23).

Tabela 23
Disponibilidade Brasileira de Cobre 1990196 -
(Em 1.000 1)

DISCRIMINAÇAO 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Refinado 152.1 141,4 156,8 161,l 170,l 165,5 174,s


Sucata 49,6 37,O 52,2 54,O 54,3 54,4 56,O
Total 201,7 178,4 209,O 215,l 224,4 219,9 230,5
Fonte: Sumiino Mineral.

No segmento de transformados de cobre, estima-se que


atuam cerca de 180 empresas, a grande maioria de pequeno porte.
Nesta relação incluem-se também empresas que manufaturam cobre
para uso em seus produtos, como é o caso, por exemplo, de Siemens
S.A., Trafo Equipamentos Elétricos S.A., WEG Motores S.A. entre
outros, e que na realidade são consumidoras do produto.

Das empresas transformadoras, destacam-se as produto-


ras de fios e cabos, responsáveis por mais de 55% da produção de
transformados, e as Iaminadoras, responsáveis por cerca de 44%.
0 s outros setores vêm reduzindo sua participação no total de trans-
formados devido ao crescimento das importações (Tabela 24).

Tabele 24
Produção Brasileira de Transformados - 1990196
(Em 1.000 1)

DISCRIMINAÇAO 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Fios e Cabos 103.2 102,l 114,5 1169 119.9 123.6 132,9


Larninados 79,O 76,4 80,6 93.1 93.8 101,9 96.6
Outros 23.6 23,7 183 11,s 14.1 9,O 12,l
Total 205.8 202,2 213.6 221,5 227,8 234,5 241,6
Fonte: Sindicel e BNDES.

Os principais produtores no setor de fios e cabos são a


Ficap. a Furukawa Industrial SA. Induscabos Condutores Elétricos
Ltda. e Pirelli Cabos S.A.

No setor de laminaçáo, as principais empresas são a


Mawin S.A., que pertencia a Ficap e foi vendida para o grupo
Paranapanema, a Laminação Nacional de Metais (LNM). também
adquirida junto com a Eluma pelo grupo Paranapanema, e a Termo-
mecânica SA.

A Cadeia Pmdutiva do Cobre: Panorama Internacional e Nacional


Entre os produtores de outros tipos de transformados,
destacam-se a Eluma, a Termomecânica e a Rio Termo.

Encontram-se em desenvolvimento no Brasil alguns proje- Projetos em


tos de cobre relacionados a seguir: Perspectiva

Projeto Chapada, Alto Horizonte (Goiás)

A Mineração Santa Elina. que recentemente se associou


com a Echo Bay Mines, vem desenvolvendo estudos para implanta-
ção do Projeto Chapada, em Goiás. para a produção de 6,5 Vano de
ouro, como produto principal, e de 60 mil Vano de cobre como
suboroduto.

A lavra será realizada a céu aberto com beneficiamento


convencional. envolvendo moagem e flotação.

Projeto Cobre Salobo, Marabá (Pará)

Trata-se deempreendimentominero-metalúrgicodecobre.
ouro, prata e molibdênio, em desenvolvimento na jazida de Salobo
(PA) pela empresa Salobo Metais, uma joint venture formada pela
CVRD e pela Mineração Morro Velho (Grupo Anglo-American), com
participação do BNDES.

Salobo é a jazida de cobre mais importante do Brasil.


Possui reservas da ordem de 1,4 bilhão de t de minério, com teor de
0.8% Cu correspondendo a 11,2 milhões de t de cobre contido,
associado a ouro, prata e molibdênio.

O investimento total previsto é da ordem de US$1,2 bilhão


e envolve sistema integrado/verticalizado de mineração, beneficia-
mento e metalurgia abrangendo srneltere refino.

A produção prevista é de 500 mil Vano de concentrado de


cobre equivalentes a 188.500 t de cobre contido com teor médio de
37.7% Cu, 150 mil tiano de cobre refinado, 8 Vano de ouro e 20 Vano
de prata. As usinas de fundição e refino serão localizadas no Pará e
estarão interligadas a usina de concentração, situada na área da
mina, por sistema de mineroduto.

A tecnologia de fundição e metalurgia será Outokurnpu, da


Finlândia. A vida útil do empreendimento é estimada em cerca de 30
anos.

Embora o Projeto Salobo não se defronte com problemas


de mercado. a sua viabilidade técnico-economica ainda não está

BNDES Setonal. Rio de Janeiro. n. 6,p. 19-48.set. 1997


definida, pois o processamentodominerio de Saloboé bastante difícil
e o investimento muito elevado.

Importação e Apesar de a produção atual da Caraiba ser inferior ao


Exportação consumo interno, registram-se importação e exportação de cobre
metálico e de semi-acabados, em quantidade e valores quase idên-
ticos. em face da globalização do mercado, das baixas tarifas de
importação e dos financiamentos a custos internacionais.

Em 1996, as exportações brasileiras desses produtos


foram de 76 mil t. sendo, basicamente, de catodos (72%) da
Caraiba Metais, vendidos para Europa, Estados Unidos e Arábia
Saudita.

Para o periodo 199712000, estáo previstas exportações


totais de cobre da ordem de 95 mil tlano, com estabilidade na
exportaçãode semi-acabadose ampliação das exportações de cobre
metálico da Caraiba Metais, para o patamar de 80 mil tlano.

Em termos de valor, projeta-se crescimento para 1997,


em relação a 1996, e posterior queda, em função da redução
prevista para os próximos anos no preço do cobre no mercado
internacional. Estima-se decréscimo gradual dos US$ 1,04/lb em
1996 para US$O,iillb no ano 2000. revertendo-se somente a partir
de 2001 a tendência de queda dos preços e atingindo US$ 1.00llb
em 2004.

Com relaçáo as importações de cobre visando ao mercado


interno, para o qual se projeta crescimento anual de cerca de E?&, no
período 1996t2000, haverá necessidadede substancial aumento das
importações, inclusive de concentrado. visto que se estima redução
da produção interna nesse período.

Assim, as importações de cobre e de cobre contido em


concentrado passarão de 247 mil t em 1996, para 357 mil t no ano
2000. com crescimento de 45% neste periodo.

Em termos de valor, contudo, projeta-se que as impor-


tações brasileiras cresçam cerca de 6% em relaçáo a 1996, ou
seja, atingindo US$ 616 milhões no ano 2000, devido a previsão
de queda nos preços internacionais do produto. As exportações
deverá0 situar-se em torno de US$ 163 milhóes, obtendo-se um
saldo final negativo de US5453 milhões para a balança comercial do
cobre (Gráfico 4).

A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Inlernacional e Nacional


Grafico 4
Balança Comercial de Cobre - 199312000

Fontes: DNPMeBNDES. + ExpoMCào +lmpoMçao +sildol

A
Caraiba Metais adota um preço compatível com o de CUS~OS
e
outros produtores internacionais. visto que a empresa é eficiente Preços
operacionalmente. Como os niveis de proteção tarifária dos produtos
da cadeia do cobre são relativamente baixos, apesar de a Caraiba
Metais deter o monopólio da fabricação de catodos no Brasil, o
processo de formação de preços de que a industria dispõe não pode
ser considerado monopolista.

Ao invés de ser 'Yormador de preços", o preço do cobre é


fixado nas bolsas internacionais, principalmente a Bolsa de Merca-
dorias de Londres (LME) e a divisão Comex da Bolsa Mercantil de
Nova lorque (Gráfico 5).

Gráfico 6
Preços do Catodo: LME versus Mercado Interno - 199311997

140
, 130 1
,
--

.~- ~-
5.~.
~p -

-.

I
Ah
~ ~
h
-. -.
80 1
70 :
10 L.
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O s
7
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7

1 -tP- LHE rn Pmw Mamado Inbnio I


Fontes: Sindkol e BNDES.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6, p. 1948. seL 1997 45


Grdflco 6
Principais Setores Demandantes de Fios e Cabos

Fonte: Sindicel.

GráRco 7
Principais Setores Demandantes de Larninação

04,C. S%mlni~hCkH
24-4 20%

Mlqu-a
esu1psminIc.
8%

c &<roi Eoa
9%
,,V

0 cobre apresenta largo uso na indústria por suas ca- C O ~ C I U S ~ O


racterísticas de condutibilidadetérmica e elétrica, sendo mais de 50%
de seu consumo efetuados sob a forma de fios e cabos elétricos. Os
principais setores demandantes são constnição civil e eletroeletrõni-
co, os quais a b s o ~ e mcerca de 60% do consumo. O uso de cobre
em setores como informática. telecomunicações e outros de igual
importância denota a incontestável participação dessa indústria no
processo de globalização.

Em nível mundial, a demanda de cobre deverá crescer


cerca de 5% a.a. até o ano 2000. grandemente influenciada pelo
consumo da China. Tigres Asiáticos e América Latina. Levando em
consideração os projetos em perspectiva, verifica-se que haverá
ampliaçáo significativa da capacidade de produção. correspondente
a 3.7 milhões de t de concentrado, 1 milhão de t de cobre através do
processo SX-EW e 1,9 milhão de t de cobre refinado. gerando
excedente de oferta no ~erÍ0d0199712000.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6. p. 1948. sat. 1997


Em conseqüência, os preços projetados para o cobre no
-
mercado internacional - LME deverão apresentar tendência de
queda no periodo considerado.

O Brasil apresenta grande potencial geológico. carecendo


de maior nivel de ~esauisaDara definicão de novas iazidas de cobre.
AS reservas brasileira; do metal atualmente são estimadas em cerca
de 11,6 milhões de t, sendo de interesse o desenvolvimento de
pesquisa geológica.

A maior rentabilidade na indústria do cobre é da mineraçáo,


sendo pequena a agregação de valor na metalurgia, visto que cerca
de 70% a 80% do preço final do cobre metalico referem-se ao
concentrado.

Ressalte-se também que em nivel internacional o inves-


timento em mineraçáo se situa entre US$ 2.500lt e US$ 3.0001t de
produção anual de cobre contido, valor idêntico ao necessário para
implantação de uma unidade de metalurgia de cobre.

A produção brasileira de cobre contido em concentrado


esta hoje limitada a produção de 42 mil ffano da Caraiba Mineraçáo,
cuja vida Útil é estimada em cinco anos, sendo necessária a impor-
tação de concentrado para o atendimento da demanda da Caraíba
Metais. A ampliação da produção dessa empresa de 176 mil tlano
para 200 mil tlano em 1998 acarretará niveis crescentes de importa-
ção de cobre contido em concentrado. atingindo 182 mil t no ano
2000.

Para o consumo interno de cobre, estima-se crescimento


acelerado da ordem de 8% a.a., atingindo 300 mil t no ano 2000.
decorrente do crescimento previsto para os setores de construção
civil, infra-estmtura e eletroeletrônico. Também serão necessárias
importações crescentes de cobre refinado, atingindo importação
liquida de cerca de 100 mil t no ano 2000.

0 s projetos da Salobo Metais e da Mineração Santa Elina


não foram considerados nestas projeções por ainda não terem a sua
viabilidade técnico-econômica definida.

Em relaçáo ao setor minero-metalúrgico. verifica-se que o


cobre é o metal que gera maior deficit comercial brasileiro, se
excluidos os energéticos. devendo-se, portanto, dar ênfase a pes-
quisa geológica e ao fomento de novos projetos de produção de
cobre concentrado e refinado, desde que competitivos em nivel
internacional.

A Cadeia Produtiva do Cobre: Panorama Inlernaclonal e Nacional


PANORAMA DO SETOR DE
BORRACHAS
Ricardo Sá Peixoto Montenegro
Simon Shi Koo Pan*

'Respectimrnente, gerente e engenheiro da Gerdnua Setonal do


Complexo Ouimico do BNDES.
Os autores agradecem a colaboração da estagiária Márcia Cristiane
Martins Ribeiro, bem como da bibliotecária Mana de Lourdes de Jesus no
apoio bibliográfico.
Resumo Este trabalho apresenta uma visão global da
evolução do setor de borrachas, no mundo e no Brasil.
São estudados os tipos existentes, seus usos e os mer-
cados mais importantes. Analisou-se a situação do setor
no Brasil, bastante afetado pelo processo de aberfura da
economia iniciado em 1990. Finalmente, procurou-se
estabelecer as linhas básicas sobre as quais o setor
deverá evoluir.

Panorama do Setor de Borrachas


A s borrachas ou eiastômerosl são materiais poiiméricos Introdução
que se distinguem pela capacidade de retomar rapidamente a forma e
a dimensáo originais, quando submetidos a um esforço ou deformação
externa que aumente seu tamanho em pelo menos duas vezes. Apesar
de conhecidas e utilizadas. para fins Iúdicos ou ornamentais, há muito
tempo por povos indígenas das Américas, as borrachassó começaram
a ter utilização industrial a partir de principias do século XIX.

Atualmente, consomem-se cerca de 15 milhões de t de


borracha por ano no mundo, sendo 113 de borracha natural e 213 de
sintética. As atividades do setor sáo realizadas em dois estagios
principais:

a) produção de materiais; e

6)fabricação de artefatos.

A produção de materiais é realizada por duas vertentes


distintas:

borracha natural -atividade de natureza agroindustrial; e

-
borracha sintética atividade de base petroquímica.

A fabricação de artefatos também é dividida em dois gran-


des g ~ p o s :

indiistria pesada - constituída basicamente por fabricantes de


pneumáticos; e

indústria leve - inclui os fabricantes de todos os outros artigos de


borracha.

O faturamento mundial do setor é estimado em cerca de:

US$ 25 bilhões a 30 bilhões para os fornecedores de materiais;

i US$ 70 bilhões para os fabricantes de pneumáticos: e

US$35 bilhões a40 bilhões para osfabricantesde artefatos leves.

As cargas e os aditivos consumidos pela indústria de


borracha representam, ainda, vendas de produtos químicos da or-
~ ~ , " ~ ~ $ ~ ~ ~
designar apenas as bom-
dem de US$7 bilhões a 8 bilhões no mundo. chas sint4ticas.

BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76, set. 1997 51


As indústrias de transporte e automotiva são responsáveis
pelo consumo de 213 do total de borracha sintética e natural, dos
quais 90% sáo destinados aos pneumáticos e o restante a peças
diversas dos veiculos: mangueiras, molduras de portas e janelas,
tapetes, buchas antivibratórias etc.

No Brasil, o consumo de borrachas foi de aproximadamen-


te 500 mil t em 1995, correspondendo a 3,3% do mercado mundial,
sendo 150 mil t de borracha natural e 350 mil t de borracha sintética.
O setor, recentemente, tem passado por grandes transformações e
turbulências. Com a abettura da economia e a medida provisória do
setor automotivo, as empresas produtoras de materiais e artefatos
têm sofrido forte concorrência das importações. O saldo comercial
do setor, positivo ate 1994, tomou-se deficitário a partir dai. Com a
queda ou estagnação das vendas internas, as empresas produtoras
de materiais realizaram um forte ajuste de modo a elevar a sua
competitividade e permitir a sua penetração em mercados interna-
cionais.

Características 0 s mais de 500 tipos e variedades de borrachas exis-


Básicas tentes podem ser classificados em cerca de 20 grupos principais,
identificados por siglas ou nomes comerciais, conforme apresenta-
Deçcri~ão dos na iistagem a seguir.
SIGLA OU NOME DESCRIÇAO
CR Poiicloropreno (Neoprene da DuPont)
EPR Borrachas de Etileno-Propileno
IIR Borracha Butílica - Poliisobutileno
IR Poliisopreno
NBR -
Borracha Nitriiica (Acrilonitrila Butadieno)
NR Borracha Natural
SBR Borracha de Estireno-Butadieno
BR Polibutadieno
EPDM Borracha de Etileno-PropilenoDieno
ACM -
Borrachas Acrilicas (Outra Sigla AEM)
ECO Borracha de Epicloridrina (Outra Sigla - CO)
CSM Polietilenos Cloro Sulfonados (Hypalon da DuPont)
CFM -
Borrachas Fluoradas (Viton da DuPont) ou FPM, FKM
T Polissulfetos (Thiokol)
PUR Borrachas de Poliuretano (Outras Siglas - AU, EU. PU)
MVQ Borrachas de Silicone (Outra Sigla - Si)
FMVQ Borrachas de Silicone Fluoradas
HNBR Borracha Nitrilica Hidrogenada
TPE Borrachas Termoplásticas (Outras Siglas -TPR ou TR)
GPO Elastômeros de Óxido de Propeno

Panorama do Sebr de Borrachas


As características mais relevantes e os subtipos que inte-
gram alguns dos grupos mais significativos são apresentados a
seguir:

Borracha natural - pode ser extraída de um grande número de


plantas. O tipo derivado da seringueira, hevea brasiliensis, cons-
titui praticamente a Única fonte comercial deste material, a tal
ponto que é tratado como sinônimo de borracha natural. Outra
fonte potencial de borracha natural, semelhante a da hevea, é o
guayule, arbusto que ocorre na América do Norte. Os tipos co-
nhecidos por balata e guta-percha não podem ser utilizados em
substituição a borracha natural, por possuírem caracteristicas
técnicas inadequadas.

SBR - é a borracha de preço mais reduzido entre as borrachas e


apresenta uma resistência a abrasão que permite substituir a NR
com vantagens na banda de rodagem de pneus. Este produto
ainda possui as seguintes subclassificaçóes:

- XSBR: SBR carboxilado;


- HSIB: SBR com alto teor de estireno. também representado como
HSR;

- PSBR: SBR co-polimerizado com vinil-priridina;


- ESBR: SBR obtido por processo em emulsão; e
- SSBR: SBR obtido por processo em solução.
BR (polibutadieno) - possuicaracterísticas que cornplementamas
da SBR e da NR na produção de pneus, conferindo maior resis-
tência a abração e a degradação, mas aumentando, também, a
tendência ao deslizamento em superfície úmida. Por este motivo,
só pode ser empregado em mistura com as duas outras borrachas,
nunca isoladamente. O BR apresenta as seguintes variedades:

- alto cis, com teores de configuração cis entre 92% e 96%;


- baixo cis, com teores entre 36% e 43% de cis; e
- com teores de vinil (polibutadieno obtido por adição 1,2)entre 8%
e 70% - representado por ViBR ou VBR ou HVBR para teores de
vinil elevados.

NBR (borracha nitrílica) -possui excelente resistência aos hidro-


carbonetos como gasolina. graxas e solventes minerais. Os tipos
de NBR s2o determinados pelo teor de acrilonitrila na sua compo-
sição, que pode variar de 15% a 45%. Quanto maior o teor de
acrilonitrila, maior a resistência mecânica e a resistência a óleos
e solventes, porém menor a elasticidade e a flexibilidade.

BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76. sei. 1997


i EPDM -é um tipo particular do grupo de borrachas de etileno-pro-
pileno (EPR), adicionadas a um dieno que possibilita a sua vulca-
nização. Possui três caracteristicas especiais:

- é autovulcanizável, resultando em economia para o transformador


final com a eliminação de uma etapa da operação;

- possui excepcional resistência às intempéries; e


- possui capacidade de absorção de cargas como negro de fumo e
Óleos de extensão em níveis muito superiores aos da maioria das
outras borrachas, sem deterioração de propriedades, resultando
em formulações de custo bem mais reduzido.

-
IIR (borracha butilica) possui uma impermeabilidade excepcio-
nalmente elevada a gases, sendo a borracha preferida na fabrica-
ção de câmaras pneumáticas.

IR (poliisopreno) - é o equivalente sintético da borracha natural,


por possuir uma estrutura química (cis 1,4 poliisopreno) idêntica
e apresentar propriedades muito semelhantes.

i TPE (elastômeros termoplasticos) - é um grupo especial dentro


das borrachas e é constituído pelos seguintes tipos:

- Poliuretanos - representados por Thermoplastic Polyurethane


(TPU);
- Copoliésteres - copolimeros de poliéster (poliéster - sigla TEEs
ou Cope);
- Poliolefínicos - são misturas ou ligas poliméricas de polipropileno
com EPDM vulcanizado ou não. São representadas pela sigla
TPO-elastômeros termoplasticospoliolefinicos.Quando o EPDM
é vulcanizado, admite-se uma representação especifica para a
-
mistura Thermoplastic Vulcanizates (TPV);
- -
Copolimeros em bloco de estireno Styrenic Block Copolymers
(SBC) - com:
- -
butadieno sigla SBS;
- isopreno -sigla SIS;
- etileno (ou eteno) - butileno (ou buteno) SEBS; e
- -
- etileno propileno (ou propeno) SEP.

C I ~ S S ~ ~ ~ C A~s Ç ~ O podem ser classificadas segundo v6rios


borrachas
critérios:

a) Origem da Matéria-Prima:

Natural - oriunda na sua quase totalidade da planta nativa da


Amazônia brasileira, a hevea brasiliençis.

Panorama do Setor de Borrachas


-
Sintética obtida a partir de produtos químicos oriundos do
petróleo ou gás natural e abrange todos os outros tipos apresen-
tados na tabela, inclusive os TPEs.

b) Processo de Transformaçáo Utilizado:

Convencional-as borrachasconvencionais, como o próprio nome


indica, são as mais tradicionais e abrangem mais de 90% do total
de borrachas consumidas. A sua conversão no produto final
envolve, obrigatoriamente, uma etapa de mistura com cargas e
uma etapa de vulcanização, que as torna não-recicláveis. Reque-
rem processos de transformação com equipamentos de custo
elevado, alto consumo de energia e ciclos longos, ou seja, baixa
produtividade. Compreendem tanto a borracha natural como gran-
de numero de borrachas sintéticas.

TermoplBstica - as borrachas termoplásticas. em contraposição


as convencionais. dispensam a mistura com cargas e a vulcani-
zação. Podem ser processadas nos mesmos equipamentos utili-
zados para termoplasticos, que permitem elevada produtividade
e custos operacionais baixos. São também reciclaveis, permitindo
o aproveitamento de aparas e redução de custos de materiais.
Conferem, portanto. grandes vantagens econõmicas para os
transformadores finais. As limitaçóes das borrachas termoplas-
ticas residem na resistência mecânica e térmica inferiores. o que
impede o seu emprego. a curto prazo, na substituição das bor-
rachas utilizadas na fabricaçáo de pneumáticos.

c) Tipos de Processo Utilizados na Obtençâo da Bor-


racha Sintética:

Processo em emulsão - é o mais tradicional, sendo empregado


na produção de 80% a 90% do total de SBR produzido no mundo.
E um processo no qual os produtos são mais padronizados, com
menos possibilidades de modificação. Exemplos de borrachas
produzidas por este processo: SBR. NBR e EPDM.

Processo em solução - possui mais flexibilidade para alterar e


adaptar as caracteristicas dos produtos as necessidades. sempre
mutantes, dos consumidores. Exemplos de produtos obtidos por
este processo: SER e BR.

O SBR pode ser obtido por ambos os processos, motivo


pelo qual recebe um prefixo identificador do tipo de processo empre-
gado na sua obtenção: ESBR (emulsão) e SSBR (solução).

BNOES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76. set. 1997


4 Setor de Consumo:
-
Uso geral podendo ser:

- -
pneumáticos ou comuns neste grupo encontram-se as bor-
rachas de menor preço, que não apresentam alguma proprie-
dade que permita a sua aplicação em condições de exposição
maior a intempéries, calor ou produtos quimicos. São elas: NR,
-
SBR, BR e IR grupo de menor preço,sem propriedades
especiais e usadas predominantemente na fabricação de pneu-
máticos; e

- de alto desempenho - são borrachas de preços um pouco mais


elevados que as pneumáticas, mas que apresentam alguma pro-
priedade marcante, permitindo sua aplicação em condições es-
pecíficas. Integram este grupo o policloropreno (CR), a borracha
nitrilica (NBR), o EPDM e a borracha butílica (IIR).

-
Especialidades são borrachas utilizadas apenas em situações
muito particulares, nas quais serão submetidas a condições drás-
ticas ou extremas em termos de:

- temperatura;
- esforço mecânico;
- agentes químicos corrosivos; e
- cargas elétricas.
Formam este grupo as borrachas de silicone, de epiclori-
drina, fluoradas, acrilicas, os polietilenos cloro sulfonados e os polis-
sulfetos.

e) Propriedades Físicas:

-
Sólidas (borrachas) é a forma mais utilizada, correspondendo a
mais de 80% do consumo total.

Liquidas (látex ou Iátices no plural) -são dispersões aquosas de


borrachas. São reservadas para aplicações onde esta forma se
faz indispensável, como, por exemplo, na fabricação de es-
pumas, de luvas, de preservativos, de recobrimento de tecidos e
papel (cuchê), de impregnação de lonas para pneus e de goma
de mascar.

Área de Estima-se que existam, atualmente, entre 50 mil a 60 mil


utilizações possiveis para as borrachas.
~ t ~ ~ ~ á ~
56 Panorama do Setor de Borrachas
As principais funções desempenhadas pelos artefatos e
peças produzidos em borracha são:

- amortecedores de choques e vibrações - como, por exemplo,


pneus, solados de calçados, pés de aparelho, buchas antivibrató-
nas; e

- vedação - tais como de molduras (ou guarnições) de portas e


janelas de veículos, geladeiras e peças técnicas de vedação,
como anéis, gaxetas, juntas, retentores e diafragmas.

Os usos podem ser classificados em:

- pneumáticos; e

- não-pneumáticos - estes podendo ainda se subdividir em auto-


motivos e náo-automotivos.

A utilização em pneumáticos consome mais de 50% do


total usado no Mundo e no Brasil. conforme pode ser obsewado na
Tabela a seguir.

Tabela l
Distribuição de Borrachas Consumidas n o Setor de
Pneumáticos 1995 -
(Em %)

PRODUTO MUNDO BRASIL

SBR 70 75
BR 65 80
EPDM 4 n.d.
NBR O n.d.
CR O n.d.
Total de Sintéticos 51 60
NR 63 85
Total de Borrachas 56 65
Fontes: IISRP. ABIOUIM, IBGE, ANIP e estimativa BNDES.
n.d. = não-d~s~onivel.

A participação de borrachas em pneus varia entre 50% e


70% do seu peso total, basicamente dependendo do tipo (passeio
ou carga). A participação de elastômeros sintéticos é inferior nos
pneus radiais (60% a 65% do total) em relação aos pneus conven-
cionais (superior a 90%).

Além dos pneumáticos, estima-se que outras peças dos


autom6veis consumam mais 5% a 8% do total de borrachas. o que
significa que mais de 65% da demanda do setor borracha dependem
do segmento automobilístico.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76, set. 1997


Além das funçóes e aplicações principais, as borrachas são
empregadas em:

- impermeabilizaçãoe proteção de outros materiais - revestimento


de papéis (papel cuchê), tecidos, tanques industriais, fios e cabos
elétricos;

- isolamento elétrico;

- modificação de resistênciaao impacto de outros materiais-como,


por exemplo, BR em poliestireno, EPDM em polipropileno, NBR
em PVC (cloreto de polivinila) e TU em asfaltos: e

- fabricação de artigos diversos como luvas, tubos, mangueiras,


presewativos, chupetas etc.

Na fabricação de alguns artigos, as borrachas enfrentam


a concorrência de termoplasticos, dentre os quais merecem des-
taque o PVC e o EVA (etileno acetato de vinila). O PVC, com uma
carga adequada de plastificantes, adquire propriedades elásticas
que permitem a substituição de borrachas na fabricação de luvas,
tubos e mangueiras. O EVA concorre com as borrachas em solados de
calçados.

Algumas utilizações para cada tipo de borracha são apre-


sentadas a seguir:

NR - a borracha natural não pode ser inteiramente substituida


por borrachas sintéticas em pneus, porque aquela possui uma
geração de calor mais baixa. Devido a esta caracteristica, a NR
precisa ser utilizada em maiores proporções nos pneus de
carga, submetidos a maior esforço como os de caminhões e
Bnibus.

BR -além da utilização em pneus, o BR vem encontrando um


mercado crescente como modificador de resistência ao impacto
do poliestireno na produçáo do High Impact Polystyrene (HIPS)
ou PSAI.
NBR - devido a sua excelente resistência aos derivados de
petróleo, é especialmente recomendadapara fabricação de peças
e componentesdas indústrias automobilística, gráfica. de petróleo
e petroquimica que tenham contato com aqueles produtos, tais
como mangueiras para óleos e solventes, retentores. gaxetas.
juntas, anéis de vedação e revestimento de cilindros de impres-
são, vasose tanquesindustnais. A NBR tem sido utilizada também
como aditivo de PVC. para melhorar as propriedades de artefatos
que necessitam de resistência a Óleo, ozônio, intempéries e abra-
são, como coberturas de mangueiras. fios e cabos, solados e
botas industriais.

Panorama do Setor de Borrachas


EPDM - devido a sua especial resistência ao envelhecimento é
aplicado preferencialmente em peças externas de automóveis,
como molduras de vedação de janelas e portas de veículos,
batentes, frisos e palhetas de limpador de pára-brisas. Aplica-se,
também, como modificador do polipropileno nos TPOs (ver item
de borrachas termoplasticas).
Borrachas especiais - exemplos de aplicações onde estes mate-
riais são requeridos:

- isolamento de fios e cabos elétricos submetidos a condições de


-
temperatura extremas muito baixas em aeronaves e foguetes, e
elevadas em fornos elétricos;
- fabncaçáo de artigos médicos que precisam ser inócuos e inertes; e
- revestimento de máquinas e equipamentos, e peças de vedação
-anéis, gaxetas etc. -submetidos a contato com ambientes muito
agressivos, assim como:
- oxidantes (peroxidos e ácido crômico);
- ácidos e bases fortes (soda cáustica, ácido sulfúrico); e
- thinneffi para tintas em cilindros de impressão gráfica.

ATabela 2 a seguirapresenta uma idéia comparativa entre


as borrachas em temos de temperaturas-limite para aplicações
práticas e preços relativos.
T h l a2
Comparação dos Vários Tipos de Borrachas com
Tem~eraturas/PrecosRelativos
TIPO DE BORRACHA TEMPERATURA rc) PREÇO RELATIVO'

SER -40-60 1
NR -50-60 1,2-1,5
IIR -30-80 2,O
CR -20-70 2.6
NBR -10-90 1.6
EPDM -50-90 2.0
BR -60-70 1,1
ACM 180 1O
ECO -50-160 15
CFM 230 60-120
MVQ -70-300 17
CSM -30180 8
PUA -55-90 6
T -50-100 6
TPE -60-120 1,5-5.0
-
Fontes: Encyclopadia of Materiais B Technology; v. 5 Longman B De Bussy.
Encyclopedia o1Chemical Technology- Kirk-Othmer,DuPont Elastomers, Secrelaria
da Receita Federal (SRF), Plástim Moderno - maio/92 e Chemical & Engineering
N e m - AuguSf 5, 1996.
aConsiderando o SBR w m m i . . r M a .

BNDES Setorlal. Rio de Janeiro, n. 6. p. 49-76. set. 1997


Além da temperatura, diversos outros fatores precisam ser
considerados na avaliacão do desempenho de borrachas: resiliencia
(elasticidade), perda histerese (deração de calor), deformação
permanente, resistência mecânica, tração, compressão, rasgo, abra-
são, impacto, inchamento em óleos, resistência ao ozônio (enve-
lhecimento),flexibilidade (a baixa temperatura), resistência a solven-
tes e produtos químicos.

Retrospectiva 0consumo total de borrachas no mundo, em 1995, foi de


16 milhões de t, com aseguinte distribuição por gmpo (Gráficos 1 e 2).
Mundo
De 1930 a 1985, o consumo de borrachas convencionais
no mundo passou de 600 mil t anuais para 13,3 milhóes de t, ou seja,
um crescimento de cerca de 2.1 17%, equivalente a uma taxa média

GMco l
Consumo Total de Borrachas no Mundo por Tipo 1995 -
BN TR

0s
M9L
Fonte: IISRP.
Obs.: BN = borracha nalural.
BS = borrachas SintélIcBs.
TR = borrachas lermopl8sticas.

GrdriCO 2
Evolução do Consumo Total de Borrachas no Mundo -
1930195

$
2I
:lizEzEE
:;
6
4
2
om s a ~ ~ a

Iroa
a c s m n a m m ~

Fonas: Inlemalionallnstlhite of Çynthetrc Rubber Pmducers (IISRPJ e


lnstilure o1 Rubber Study Group (IRSGJ.

60 panorama do Setor de Bonachas


anual de 5,8% a.a. No período de 1985195, no &tanto, este cresci-
mento declinou para apenas 1,2% a.a., sendo 2,3%a.a. para as BN
e apenas 0,6% a.a. para as sintéticas. Estas taxas podem ser
comparadas com as de outros indicadores (Tabela 3).

Tabela3
Crescimento Medi0 de Diversos Indicadores 1985195 -
ITEM TAXA DE CRESCIMENTO AO ANO
PIB Mundial 2,7
FrotaTotal de Automóveis 2,9
Produção de Pneus 2,2
Consumo de Borrachas 1,2
Fontes: Banm Mundial, ONU. IiSRPe estimativa BNDES.

A participação de borrachas sintéticas. que era praticamen-


te inexistente até o inicio da década de 40, elevou-se rapidamente
durante a Segunda Guerra Mundial. atingindo o máximo de 79% do
total em 1979. quando passou a declinar sistematicamenteaté atingir
a 62% do total das borrachas convencionais em 1995. A proporção
do total de borrachas destinada a pneumáticos também se reduziu
de 66.8% em 1952 para 56% em 1995.

Alguns fatores que podem explicar os resultados observa-


dos são:

- substituição do pneu convencional pelo radial, de maior durabili-


dade e que exige maior proporção de borracha natural na sua
fabricação;

- reduçãodopesodopneu;
- evolução tecnológica do autom6ve1, com redução do peso e
resultando em menor desgaste do pneu; e

- evolução tecnol6gica do pneu, com novos desenhos da banda de


rodagem resultando em menor desgaste.

Os gráficos a seguirapresentam a distribuiçãoda produção


e do consumo de borracha entre os principais países.

0 s países do Sudeste Asiático pmduzem mais de 75% do


total mundial de borracha natural e exportam mais de 85% de sua
produção. A Malásia manteve-se como a maior produtora de BN até
1990. Atualmente, ocupa a terceira posição. atrás da Tailândia e da
Indonesia. As mudanças na Malasia ocorreram emfunçãodo acelerado
processo de desenvolvimento que este pais vem experimentando,
que pode ser constatado pela redução do percentual da produção
interna de BN que é exportada. de 96,5% em 1986para72,6% em 1995.

BNOES Setwial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76, set. 1997


G1811C0 3
Distribuição da Produção de Borracha Natural por Países -
1995

0
.
X
N
'?
--m..
V)

-
o
O
Tailaida
r)%
'%
2
-0

Z Muv%a
24%
Fonte: Rubber Slatistical Bulletin.

Distribuiçáo do Consumo de Borracha Natural por Países -


1995

I Fonte: Rubber Statistical Bunetln. I

No grupo das borrachas sintéticas (Gráficos 5 e 6), obser-


va-se maior equilíbrio entre produção e consumo internos. com os
Estados Unidos e o Japão destacando-se como os maiores produ-
tores e os maiores consumidores mundiais.

Gc4fico 5
Distribuição da Produção de Borrachas Sintéticas por
Países - 1995
OYIrOP
+
O
O
9
O

2-.. Esis&%Un*

-
.m-
o
o
26%

'%
3
D
e
a 399
Japao 5%
16%

Fonte: Rubbef Statistical Bulletin.

Panorama do Setor de Borrachas


Grálico 6
Distribuição do Consumo de Borrachas Sintéticas por
Países - 1995

-:
O
m
?
O
Mrm

@
3

E#*Uri&
-.m... 24%

-
o
O
n
a
3%
Ahmm
3
V1
5%
Chra
RWUMo
C 82 iiaw Mo
o i.i 174
O
Fonte: Rubber Slalistical Bulletin.

Cabe destacar que o SER, apesar de ainda ser a borracha


sintética mais consumida no mundo, vem perdendo posiçáo desde
1952. conforme exposto abaixo (ver também Gráficos 7 e 8):

Patticipação de SBR no Mercado de 1952 1964 1970 1982 1995


Borrachas Sintéticas
(%) 87,2 72,O 62,3 55.0 50,O

Grdfico 7
Distribuição do Consumo por Tipo de Borrachas: Borrachas
Convencionais 1995 -
EPm65C
IIR IR
9ob -
BR

CR SBR
3%
w
m
Fonte IISRP

Gdfico 8
Distribuição do Consumo por Tipo de Borrachas: Borrachas
Termoplásticas 1995 -
11% wr=

WlW*
5% E@rhcs 5P.

Fonte' Chemical (L Engineering News. Augvst5. 19%

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6, p. 49-76, ser. 1997 63


Estrutura Nos países do sudeste ~siático,que respondem por mais
Produtiva de 70% da produção mundial, a maior parte da produção (83%)
origina-se de pequenas propriedades rurais, possuindo áreas plan-
Borracha Natural tadas com seringueiras entre 0,5 ha e 5 ha, conforme discriminado
na tabela a seguir.

Tabela 4
Areas Plantadas com Seringueiras
(Em 1.O00ha)

PA~S PEQUENAS GRANDES TOTAIS M~DIA


DAS
PROPRIEDADES PROPRIEDADES PEQUENAS
Indonesia 2.020 485 2.505 1-3
Malásia 1.530 470 2.000 1-5
Tailindia 1.520 80 1.600 1-3
Fonte: Webter & Baulkwill- 1989.

A Malásia investe fortemente no apoio aos pequenos pro-


dutores através de diversos mecanismos, tais como:

- programas sociais;
- órgãos de pesquisa, extensão rural e assistència ao plantio:
- bgãos de apoio ao beneficiamento e comercialização; e
- subsidios estimados em US$0.60 por kg ou 68% do preço FOB
[Agrianual (1996 e 1997)l.

Borrachas A capacidade total de produção mundial de borrachas


SitIt%ticas sintéticas foi estimada em 14.450.000 t em 1995, incluindo-se es-
pecialidades e borrachas tennoplásticas. A Tabela 5 apresenta a
distribuição da capacidade entre os 15 maiores gnipos.

A T a ~ e l a5 permite verificar que os 10 maiores grupos


detêm ao redor de 40% da capacidade total.

Em t-.nnos de SBR, a capacidade total instalada mundial


em 1995 era de 6.554.000 t, com a seguinte distribuição entre os 10
maiores (Tabela 6).

O grau de contentração da capacidade produtiva em SBR


e muito semelhante ao da capacidade total, com os 10 maiores
detendo 37% do total.

Sob o aspecto empresarial é interessante destacar a for-


mação de associações, entre grandes empresas, voltadas a explo-
raçáo de nichos de mercado em elastômeros, como, por exemplo:

Panorama do Setor de Borrachas


.-- -.- -
Distribuiçao da Capacidade de Produção dos Principais
Grupos: Borrachas Sintéticas - 1995
ORDEM EMPRESA CAPACIDADE PARTICIPAÇÃO
TOTAL DE NA CAPACIDADE
PRODUÇAO MUNDIAL
(11 1%)

1 Bayer
2 Enichem
3 Goodyear 702.000 4,9
4 Japan Synthetic Rubber (JSR) 668.000 4,6
5 Shell 470.000 3,3
Michelin
Michelin/Ameripol
Nippon Zeon
Korea Kumho
Dow
DSM
DuPont Dow Elastomers
Petroflex
FirestoneIBridgestone
15 Taiwan Synthetic Rubber 196.000 1,4
Fonte: IISRP.

Tabela 6
Distribuiçáo da Capacidade Total Instalada de SBR dos
Principais Grupos - 1995
ORDEM EMPRESA PAIS DE ORIGEM CAPACIDADE PARTICIPAÇÃO
TCITbI ....
NA
INSTALADA CAPACIDADE
111 MUNDIAL

Michelin França
Enichem Itália
Goodyear Estados Unidos
Petroflex Brasil
Japan Synthetic Japão
Rubber (JSR)
Nippon Zeon Japão
Korea Kumho Coréia do Sul
DSM Holanda
9 FirestoneIBridgestone Japão 15.0000 23
10 Taiwan Synthetic Taiwan 12.0000 1,8
Rubber
Fonte: IISRP.

BNDES Setorlal, Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76, sei. 1997


- Borracha natural - 114.231 t - 25,2% do total; e

- Borrachas sintéticas - 338776 t - 74,8% do total.

Fontes: Abiquim, Revista da Indústria (Fiesp); SRF e Plás-


ticos em Revista.

O GrAfico 10aseguirmostraadistribuição portipo no grupo


das borrachas sintéticas.

A participação de SBR em solução (SSBR) no total de SBR


aumentou de 4,3% em 1977 para 7.2% em 1996.

As taxas de crescimento da demanda de borrachas, no


período 1985195, e sua comparação com outros indicadores estão
apresentadas na Tabela 7.

:r
Grdfico 9
Evolução do Consumo de Borrachas no Brasil: Natural e
Sintéticas 1940195-
YIO

Grn
E +rd
iCBmutaMN.1
200 --MM
Si"l6tr.i
150
tm
M
o /

IBIO 45 M 55 65 70 75 B<i 85 90 B5

Fontes: Supetinlend6nciada Bomcha. Ibama s &buim

Grdllco 10
Diçtribulção por Tipo de Borrachas Sintéticas no Mercado
Brasileiro 1996 -
BR m~
IN. 4Y. 341

SBA
mo/*

Fontes: Ablquni. Secreta& da R e l i a Federal (SRFJ e esfimeliva BNDES.

BNDES Setorial, Rio de Janefro. n. 6, p. 49-76, sel. 1997


Tabela 7
Taxas de Crescimento da Demanda de Borrachas no Brasil e
-
suas Elasticidades 1985195
iiEM TAXA DE CRESCIMENTO ELASTICIDADEWIB
MEDIO AO ANO (%)

1985145 1990195 1985195 1990195

PIE 23 13 - -
SBR 24 04 1.O0 0.26

NBR
EPDM
BN 3,O 13 1,26 1,32
BS 2,4 22 1,O0 1,51
Total de Borrachas 2,6 2,1 1,O7 1,45
Produção de Automóveis 5,4 5,9 2,52 4,90
Produção de Pneus 3,6 2,o 137 1,39
Produção de Câmaras -4,3 -3,2 -1,30 -1,75
Fontes: SRF, Abiquim, IBGE, Petroflexe Nitriflex.

Dos resultados obtidos merecem destaque as seguintes


observações:

- as borrachas, como um todo, apresentaram taxas reduzidas de


crescimento, acompanhando a evolução do PIB;

- a NBR apresentou crescimento nulo em 10 anos;


- o EPDM se destaca como o elastômero de maior crescimento,
exibindo taxas superiores mesmo as da indústria automobilistica;

- as reduzidas taxas de aumento da demanda interna de borrachas


em relação ao aumento da produção automobilistica; e

- o declinio da produção de câmaras.


Entre os fatores que afetaram a evolução da demanda de
borrachas merecem destaque:

- a redução das aliquotas de importação de artefatos de borracha,


as quais. no caso de pneumáticos, passaram de 65% para 16%;

- a legislação do setor automotivo (Decreto 2.072, de 14.11.96),


vigente desde 13.06.95, que facultou as montadoras de veiculos
a importação de peças e componentes (inclusive os de borracha)
com aliquotas reduzidas; e

- o avanço dos pneus radiais, de maior durabilidade que os pneus


convencionais.

Panorama do Setor de Borrachas


A evolução da participação de pneus radiais no Brasil (em
percentagem sobre o total de pneus) teve o seguinte desempenho:

TIPO DE PNEU 1975 1980 1985 1990 1996

Passeio 720 31,80 63,40 80,40 95,60


Carga 1,75 3,40 24,40 37,80 42,70

Fonte: Associação Nacionalda Industriade Pneumatiros (Anip).

A importação de pneus, o mais importante mercado para


as borrachas, sofreu grande elevação, conforme se pode observar
na tabela a seguir.

Tabela 8
Importações por Tipo de Pneumáticos - 1991196
(Em t)

Pneus 15.465 11.417 26.725 53.563 168.522 152.451


Novos 5.554 5.555 15.906 26.586 78.752 69.366
Usados 9.911 5.862 10.819 26.977 89.770 83.085
Outros 829 695 1.242 5.607 36.799 13.685
Total 16.294 12.112 27.967 59.170 205.322 166.136
Fonte: SRF.

A importação de pneus usados deve se reduzir a partir de


1997, devido aosefeitos da Portaria Interministerialn",
de 12.09.95,
que proibiu a importação de bens de consumo usados.

A evolução da estrutura de oferta de borrachas no pais Oferta hterna


poderá ser melhor apreciada pela cronologia de eventos principais,
apresentada a seguir:

1827 -produção e exportação inicial de borracha natural: 31 t;

1912 - maior produção e exportação de borracha natural já


registrada no país em um ano: 42.286 t;

1951 - inicio da importação de borracha natural: 5.500 t;


1962 (04 de março) - início da produção de SER no Brasil na
antiga Fabor (atual Petroflex) em Duque de Caxias (RJ). Capaci-
dade inicial: 40 mil tlano;

1965 (26 de setembro) - início da produção de BR na antiga


Coperbo (atual Petroflex) em Cabo (PE). Capacidade inicial:
27.500 tíano;

BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76, set. 1997


-
1975 (1 de outubro) inicio da produção de NBR na Nitriflex.
Capacidade inicial: 7.500 tlano;

r 1976-inicio daproduçãode SSBR (SBR em solução) na Coperbo


(atual Petroflex) em Cabo (PE). Produção inicial: 6 mil Vano;

1988 -Início da produção de TR na Coperbo (atual Petroflex) em


Cabo (PE). Produção inicial: 2 mil tiano;

-
1988 (dezembro) inicio da produção de EPDM na Nitriflex em
Triunfo (RS). Capacidade inicial: 10 mil tiano. Esta planta foi
vendida para a DSM em 1996;

1990 -inicio da redução de aliquotas de importação de borrachas;

8 -
1992 Privatização da Petroflex e assunção do controle da
Nitriflex pela Itap; e

-
1996 (novembro) inicio da produção de TR pela Shell em
Paulinia (SP). Capacidade instalada: 25 mil Vano.

Borracha Natural Desde 1951 que a produçáo interna de borracha natural


tem sido complementada por importaçi>es, para atender as neces-
sidades de consumo. Em 1996, a produção domestica cobriu 40%
das necessidades de consumo. 0 s preços de borracha natural
produzida no Brasil são superiores aos das borrachas importadas.
Nos primeiros meses de 1997, o preço da borracha nacional era de
U S 2 . 5 8 1kg e o da importada de US5 1 6 2 I kg. ou seja, 60% mais
elevada. Esta diferença já foi de mais de 200% nos anos 70 e 80.
Para assegurar0 escoamento da produção nacional. ante a diferença
de preços em relação ao importado, pratica-se uma política de
contingenciamento das importações. administrada atualmente pelo
Ibama. As importações somente são autorizadas após a aquisição
compulsória de um percentual das necessidades totais de borracha
natural no mercado domestico. Estes percentuais são definidos
periodicamente pelo Ibama. As importações estão sujeitas, ainda, ao
pagamento de aliquotas de importação de 4% e de 5% da Taxa de
Organização e Regulamentação do Mercado de Borracha (TORMB).
Esta taxa foi instituida pela Lei 5.227, de 18.01.67, e visa estabelecer
uma política de incentivo ao aumento da produção de borracha natural
no Brasil. Esta lei continua em vigor, ainda sem ter gerado resultados
concretos. Esta, no entanto, em vias de ser extinta. Projeto de lei em
fase final de tramitação no Congresso Nacional (julho de 1997)
propõe a concessão, pelo Tesouro Nacional, de subsidio ao produtor
nacional de borracha natural, no valor equivalente à diferença de
preço entre o produto importado e o nacional.

A estrutura de produção de borracha natural no Brasil tem


sofrido grandes modificações. com o aumento substancial da parti-

Panorama do Setor de Borrachas


cipação dos seringais de cultivo em relação aos seringais nativos
(Tabela 9 e Gráfico 11).

Tabela O
Participação por Tipo de Seringal na Oferta Nacional -
1975195
ANO SERINGAL NATIVO SERINGAL CULTIVADO TOTAL

toneladas (%) toneladas ( ) toneladas (%)

1990 14.074 49.47 16.634 53,97 30.826 100,OO


1995 3.199 7,69 38.404 92,31 41.603 100,OO
Fontes: Ibama e Revista de Industria (Fiesp) - março de 1997.

Grdiico 11
Distribuição Regional da Produção Brasileira de Borracha
Natural

Fonte: Ibama.

Em termos funcionais. a estrutura produtiva da borracha


natural pode ser dividida em dois segmentos:

Segmento produtor - integrado tanto por pequenas e médias


propriedades rurais, de 10 ha a 600 ha, como pelas chamadas
fazendas-empresa, mantidas pelas grandes empresa consumido-
ras como Michelin, Firestone e Pirelli; e

-
Segmento beneficiador constituído por usinas de beneficiamen-
to independentes ou vinculadas ao produtor de matéria-prima.

As borrachas sintéticas produzidas no Brasil se limitam as Borrachas


convencionais. de uso geral, e as tenoplasticas, do tipo estirenico. Sintéticas
A Tabela 10 a seguir mostra a capacidade nominal de produçáo
instalada no pais, por produto e empresa, em 1996.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6, p. 49-76, set 1997 71


Tabela 10
Capacidade Instalada Brasileira de Borrachas Sintéticas - 1996
(Em Vano)

EMPRESA LOCAL PRODUTO CAPACIDADE


INSTALADA

Petroflex Duque de Caxias (RJ) ESBR 190.000


Triunfo (RS) ESBR 96.000
Cabo (PE) BR 70.400
SSBR 35.000
TR - SBS 7.000
Nitriflex Duque de Caxias (RJ) NBR 14.000
HSR 6.000
DSM Triunfo (RS) EPDM 22.000
Shell Paulinia (SP) TR - SBS e SIS 25.000
Fontes: Plástico Moderno - abriU97, Pelroflex e Niiriflex.

Apesar de a capacidade instalada no pais ser suficiente


para atender praticamente a totalidade do consumo interno, as
imporiaçóes vêm tendo participação crescente no abastecimento
deste mercado.

Os Gráficos 12 e 13 ilustram bem este processo.

Com a redução das vendas internas, pressionadas pelas


importações, as empresas viram-se obrigadas a aumentar as expor-
tações, que apresentaram a evolução mostrada no Gráfico 14.

Esta combinação de eventos - redução das vendas inter-


nas mais aumento das exportações -trouxe como resultado liquido
uma redução da margem de lucratividade para as empresas, uma
vez que os preços internos foram superiores aos obtidos com as
exportações (Tabela 11).

Gnlflco 12
Participação no Brasil das Vendas Internas e Importaçóes
de SER no Consumo Aparente - 1991196

70

-t vendar ,nmrnnYCI)

2,
10
O
1991 1992 1993 1W 1995 1996

Fonle: Abiquim.

Panorama do Setor de Borrachas


3rMco 13
participação no Brasil das Vendas Internas e Importações
Je BR no Consumo Aparente 1991196 -

Grfinc~14
-

,i p ;
Evolução das Exportações Brasileiras de SBR e BR
1991196

15
10

5
o
1991 1992 1993 1994 1995 1998

Fonte: Abiquim.

Tabela 1I
Evoluçáo dos Preços Médios de SBR e BR nos Mercados
Interno e Externo 1995196 -
(Em US5A)

ITEM PREÇOS MCDIOS


1995 1996

Vendas Internas 1,390 1.290


Vendas Externas 1,080 960
Fonte: Abiquim.

A s trocas externas mais significativas e tradicionais do C0mér~i0


setor de borrachas no Brasil são a importação de borracha natural e Exterior
a exportação de pneumáticos.

Das importações de borracha natural, cerca de 25% são


realizados em regime de drawback, ou seja, são isentos do paga-
mento do imposto de importação e da TORMB.

BNDES Setorlal, Rio de Janeiro, n. 6, p. 49-76, set. 1997


Com a redução das aliquotas de importação, tanto de Zz
rn

borrachas como de pneus, o comércio exterior sofreu grandes alte- VI


raçóes. As aliquotas de importaçáo de borrachas, que eram de 40%
em 1990, tanto para a natural como para as sintéticas, sofreram
desde então uma redução gradual atingindo, a partir de 1995, o nivel
de 12% para as borrachas sintéticas e 4% para a natural.

Como resultado destas modificações, observa-se que, ja a


partir de 1994, o pais passou a ser também, simultaneamente,
grande importador e exportador de borrachas sintéticas, bem como
grande importador de pneumáticos, como já apresentado nos Gráfi-
cos 15 e 16. 0 s saldos comerciais também sofreram uma reversão,
tornando-se negativos a partir de 1995 (Tabela 12).

Gráfico 15
Evolução das Importações Brasileiras de Borracha Natural
no Consumo Aparente 1985196 -

Fonte: Ibama e Revista da Indústria (Fiespl -março de 1997.

Grdfico 16
Evolução das Exportações Brasileiras de Pneumáticos na
Produção Total 1985196-

Fonle: Associaç80 Nacionalda IndUsta de Pneumarkos (Anip).

Tabela 12
Evolução do Setor de Borrachas na Balança Comercial
-
Brasileira 1992196
(Em US$1.000)
ITEM 1992 1993 1994 1995 1996
Exporlação 471.572 533.491 602.866 694.854 724.385
Irnporiação 276.864 358.515 530.165 808.298 822.287
Saldo +194.708 +174.977 +72.701 -113.444 -97.902
Fonte: SRF.

Panorama do Setor de Borrachas


Diante dos dados e fatos divulgados ao longo do trabalho. Perspectivas
faz-se necessário tecer alguns comentários importantes:

- o crescimento do consumo de borrachas no Brasil, tanto naturais


como sintéticas, deve se dar a taxas próximas as de crescimento
do PIB:

- a produção interna de borracha natural deverá continuar aumentan-


do, reduzindo-se em conseqüência a necessidade de importações;

- os preços de borracha natural nacional tenderão a reduzir-se,


diminuindo a diferença em relação ao produto importado;
- a posição exportadora das empresas brasileiras produtoras de
borrachas sinteticas não só se manterá aos níveis atuais, como
tenderá a se ampliar;

- no grupo das borrachas sintéticas mais fortemente vinculadas aos


-.
pneumáticos - SBR e BR as obtidas por processo em solução
- SSBR e BR - provavelmente ganharão pariicipaçáo de mercado
em relação as obtidas por processo em emulsão:

- as possibilidades de ampliação de margem na produção de ESBR


se baseiam, exclusivamente, na redução de custos e nos ganhos
de produtividade; e

- as borrachas termoplásticas e o EPDM são as que possuem as


melhores perspectivas de crescimento de demanda no Brasil.

AGRIANUAL. Anuário estatístico da agricultura brasileira. São Paulo: Referências


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1994.

Panorama do Setor de Borrachas


Resumo Esse trabalho analisa o comportamento do setor
de cimento ao longo dos últimos anos, seja nos aspectos
de produção e demanda do produto, seja na observação
do movimento de reestruturação empresarial.
No período 1986/94, a produção brasileira de
cimento apresentou crescimento zero, refletindo a es-
tagnação dos setores de construção civil e de obras
públicas.
Nos dois últimos anos, no entanto, o crescimento
acumulado de 37% levou essa produção a níveis recor-
des e retornou o consumo per capita ao maior Nldice
anteriormente alcançado.
Também nesse período ocorreram significativas
alterações no comando acionário das empresas do setor,
com o fortalecimento da participação de alguns grupos,
em especial daqueles com capital estrangeiro.
Dando continuidade a essa evolução do setor,
espera-se para os próximos anos um crescimento de
consumo e produção de cimento, para o qual serão
necessários investimentos em modernizações e amplia-
ções de fábricas existentes.

A Indusiria de Cimento
A produção mundial de cimento (Tabela 1) no período
1990196 cresceu 28,4%, enquanto a brasileira aumentou 34,170. Em
1995 e 1996, o crescimento da produçáo brasileira superou os
índicesde crescimento de produção da China, país quedetém otítulo
de maior produtor mundial de cimento. No ranking de países produ-
tores, obsewamos que a China continua mantendo destacada lide-
rança. O Brasil que em 1994 ocupava o décimo terceiro lugar, passa
para o sétimo lugar no ranking dos principais países produtores
mundiais de cimento em 1996.

Em 1995, o continente asiático manteve sua liderança


como maior produtor e consumidor mundial de cimento, paiticipando
com mais de 60% da produção mundial de cimento (Tabela 2).

Tabela 1
Produção Mundial de Cimento Portland - 1990196
(Em Milhões de 1)

Total Mundial 1.156,8 1.169,6 1.243,O 1.301.4 1.375,8 1.428,O 1.484,9


Asia 516,4 5651 658-8 738,9 808,3 865,O 925,3
Europa (sem CEI) 273,s 255,l 253,8 241,O 250,2 252,7 249,8
América 166,6 164,3 167,l 173,8 187,O 183,4 196.9
África
CEI
Oceania 7,9 6,8 7,3 7,5 8,l 806 -
Principais Produtores
1 -China 209,7 243,6 308,2 360,O 4050 445,6 490,O
2 - Japáo 84,5 86,4 90.8 88,7 91,6 96.4 99.6
3 - Estados Unidos 71,3 66,8 70,2 73,9 78.4 75.5 80,6
4 - india 47.3 53,6 53.7 55.8 61.5 69.6 75.6
5 - Coréia do Sul 33,6 38,3 42.7 46,8 51.6 57.8 58.2
6 -Turquia 25,4 27.4 30.2 32.7 31,9 34,7 37.2
7 -Brasil 25.8 27.5 23,9 24,8 25.2 28,3 34,6
8 -Itália 40.9 40.8 41,4 34,8 33,2 34,O 33.8
9 -Alemanha 34,9 31,l 33.2 323 36,l 33,3 31,5
10- Espanha 28,7 28,O 250 23,9 26,7 28,s 27,8
11 - Mexico 23,8 25,l 26.9 27.6 29.8 24.2 27.7
12 - lndonésia 15.8 16,s 18.6 18,9 21.9 23.3 251
13 - França 27.0 25.8 22.6 20,5 21,l 20,7 19,s
14-CEI 137,3 122,4 100,O 50,O 37.2 - -
15 -Tailândia 18,O 18.8 22.4 26.4 31.1 35.8 -
16 - Formosa 18,4 19.3 21-4 23,9 23,4 22.8 -
Fonte: Sindicaio Nacional da Industria de Cimento (SNIC).

80 A Indúsfria da Cimento
Situação 0aumento do poder de compra do consumidor brasileiro,
Nacional fruto do plano de estabilização econômica, impulsionou em 1995 e
1996 o consumo aparente de diversos produtos, dentre eles o do
cimento, que cresceu 12,6% e 22,5%, respectivamente.

Em 1996, a produção brasileira de cimento é recorde,


conforme apresentado na Tabela 4. Nesse mesmo ano, o índice de
ocupação da capacidade instalada foi de 85%.

No periodo 1995196, os estoques de clínquere cimento, da


regiáo Nordeste, aumentaram de 13,3% para 25,7%, do total dos
estoques brasileiros. No mesmo periodo, os estoques da região
Sudeste diminuíram de 62% para 47,9% e da região Centro-Oeste,
de 12,5%para8,8%. Já na região Sul avariação foi menor, passando
os estoques de 11,3% para 15,24%. Esses fatos evidenciam maior
pressáo de consumo nas regiões Sudeste e Centro-Oeste,concomi-
tantemente ao aumento da oferta.

As capacidades instaladas de produção e moagem de


clínquer (instaladas e em operação) sáo apresentadas nas Tabelas
5 e 6.

Tabela 4
-
Produção Brasileira de Cimento Portland 1975196
(Em Milhões de 1)

ANO ~rtoouçAo A%
1975 16,7 12.2
1980 27,2 9,3
1981 26.1 -4,2
1982 25.6 -1.6
1983 20.9 -18.6
1984 19,s -6,6
1985 20,6 5.8
1986 253 22.4
1987 25.5 0.8
1988 25,3 -0,5
1989 25.9 2,3
1990 25,8 -0.3
1991 27,s 64
1992 23.9 -13,O
1993 24,8 3.9
1994 25.2 1,6
1995 28,3 12,O
1996 34.6 22.4
Fonte: SNIC.

A Indúslria de Cimento
Tabela 5
-
Clinquer: Capacidade Instalada Dezembro de 1996
CAPACIDADE INSTALADA TOTAL CAPACIDADE DE OPERAR
REGIOES
GEOGRAFICAÇ Número de Clinquer Numero de Clinquer
Fornos Mil VAno Fornos Mil VAno

Norte 4 1.254 4 1.254


Nordeste 26 7.038 18 6.163
Centro-Oeste 12 3.868 9 3.538
Sudeste 60 22.294 38 19.156
Sul 16 6.138 1O 5.551
Total Brasil 118 40.592 79 35.662
Fonte: SNIC.

Tabela 6
-
Moagem: Capacidade Instalada Dezembro de 1996
CAPACIDADE INSTALADA TOTAL CAPACIDADE DE OPERAR
,,.cincr
GEOGRAFICAS Nlimero de Moagem Final Nilmero de Moagem Final
Molnhos MII UAno Moinhos Mil UAno

Norte 5 1.392 5 1.392


Nordeste 36 9.81 1 32 9.1 93
Centro-Oeste 15 5.244 13 5.002
Sudeste 94 33.289 77 31.217
Sul 22 7.262 21 7.1 53
Total Brasil 172 56.998 148 53.957
Fonte: SNIC.

Em 1996. o setor manteve 39 fomos de clínquer desativa-


dos. cuja capacidade total de clinquer soma 4.930 mil t anuais. ou
seja. 12% da capacidade instalada total. Todavia. alguns desses
equipamentos não apresentam condiçôes de operar, carecendo de
reforma ou mesmo substituição.

Observada a capacidade instalada de clinquer e o consu-


mo de cimento em 1996, verifica-se uma ociosidade, teórica, de cerca
de 30%. No entanto, a identificação do real nivel de ociosidade do
setor é dificultada por se tratar de informação estratégica de cada
empresa.

A proximidade do mercado consumidor e das jazidas de


calcário, dada a relevãncia dos custos de transporte desse produto
homogêneo, condiciona o local apropriado a instalação das fábricas
de clinquer e de moagem. O raio econômico máximo para a ins-
talaçáo de uma fábrica de cimento situa-se em cerca de 300 km.
Assim. por concentrar a maior demanda nacional de cimento, a
região Sudeste responde por 61%da produção nacionalde cimento.
E seguida pelas regiões Sul, responsável por 15,6% da produção, e
Nordeste, com 12% desse montante.

BNDES Setonal. Rio de Jeneifo, n. 6. p. ii-96, set. 1997


A produção regional de cimento é apresentada na Tabela
7,a seguir.

Tabela 7
Brasil: Produção e Consumo Regional de Cimento 1996 -
(Em Mil t)

NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRWESTE TOTAL

Produção de Cimento 701,3 4.168,l 21.140.4 5.406.2 3.415,8 34.597,O


Consumo de Cimentoa 1.313,8 4.216,7 21.140,7 5.535,2 2.716,l 34.922,5
Fonte: SNIC.
aConsumode cimento nacionale importado.

O balanço entre a oferta e a demanda de cimento na região


Norte, em 1996,resultou em importação de cimento.

A tabela abaixo mostra as maiores empresas em 1996, que


obtiveram uma produção acima de 600 mil t. São 24 empresas que
se dividem em 10 estados, sendo que a maioria delas se concentra
nos Estados de Minas Gerais e São Paulo,
Tabela 8
Cimento: Maiores Empresas 1996 -
(Em 1)
EMPRESA ESTADO PRODUÇÃO
Votoranlim-Santa Helena SP 2.682.669
Rio Branco (PR) PR 2.545.940
Ciminas-Pedro Leopoldo MG 2.007.985
Itaú-ltaúde Minas MG 1.417.347
Cauê (2) MG 1.367.528
Ribeiráo Grande SP 1.250.322
Camargo Corrêa (SP) SP 1.216.957
Paraíso-Barroso MG 1.158.075
Votorantim-Salto SP 962.400
Itabira ES 942.917
Soeicom MG 933.198
Mauá-Cantagalo RJ 869.499
Itamb6 PR 810.606
Mauá-Matozinho MG 802.990
Goiás GO 770.434
Tocantins DF 729.491
Serrana (SP) SP 709.1 68
Votorantim-Cantagalo RJ 676.041
Matsuiiur (MG) MG 651.771
Serrana (RS) RS 650.146
Tupi (RJ) RJ 637.456
Cipasa PB 628.076
Gaúcho-Esteio RS 621.E70
Cearense C€ 612.403
Fonte: SNIC.

A Indústria de Cimento
A Tabela 9 apresenta a evoluçáo do consumo regional
aparente de cimento e a participação de cada região no consumo
nacional, entre 1993 e 1996.

No periodo 1993196, o consumo de cimento na região


Sudeste apresentou o maior índice de crescimento. No mesmo
periodo, a região Nordeste apresentou o menor indice de crescimen-
to de consumo de cimento. O crescimento concentrado na região
Sudeste tem promovido maior transporte desse produto entre essa
e outras regiões.

A Tabela 10, a seguir, apresenta o perfil dos principais


consumidores de cimento em relaçáo ao consumo total do produto
entre os anos de 1993 e 1996.

Tabela 9
Consumo de Cimento Portland Nacional 1993196 -
GERAL 1993 1994 A% 1995 A% 1 9% A% A%
94/5 9514 9515 9 M
Mllt % MII t (%) Mllt (%) Mll I (%I
Norte 945 4,O 982 4,l 3,9 986 3,7 0,4 1.135 3,4 15.1 20,l
Nordeste 3.785 15.9 3.767 15.7 -0,s 3.816 14,2 1.3 4.132 12.3 8,3 9,2
Sudeste 12.293 51,7 12.478 52,l 1.5 14.775 55,O 18.4 19.992 59,7 35,3 62.6
Sul 4.528 19.1 4.371 18.3 -3.5 4.987 18.6 14.1 5.527 16,s 10,8 22.1
Centrooeste 2.218 9.3 2.347 9.8 5,8 2.280 8.5 -2,9 2.713 8,l 19,O 223
Total 23.769 100 23.945 100 0,7 26.844 100 12,l 33.499 100 24,8 40.9
Fonte: SNiC.
Obs.: Não inclui vendas de cimento branm. importação e exportação de cimento.

Tabela 10
Brasil: Perfil da Distribuiçáo de Cimento Portland Nacional - 1993196
1993 1994 1995 19% 199-3
Mll t (%) Mil1 (%) Mil t (%) Mllt (%) A%
1. Revendedores 18.605 78,27 18.655 77.91 20.863 77.72 25.935 77,42 39,40
2.ConsumidoresIndusirials 4.067 17,ll 4.251 17.75 4.979 18.55 6.097 18,20 49,90
Concreteiras 2.118 8.91 2.263 9,45 2.738 10,20 3.476 10.38 64,12
Fibrocimento 951 4.00 931 3,89 1.031 3,84 1.179 3.52 23,97
Pré-Moldados 429 1,80 475 1.98 479 1,78 644 1,92 50,12
Artefatos 570 2,40 582 2,43 731 2.72 797 2.38 39.82
3. Outros Consumidores 1.097 4,61 1.039 4,34 1.002 3,73 1.469 4,38 33.91
Construtoras/ Empreiteiras 927 3,90 876 3,66 895 334 1.352 4.03 45.84
Governo: 170 0.71 163 0,68 107 0,40 117 0.35 -31,18
órgãos Públicos 137 0.57 i30 0.54 8s 0,32 96 0.29 -29,93
Prefeituras 33 0.14 33 0,14 22 0.08 21 0,06 -36.36
Total 23.769 100,O 23.945 100,O 26.843 100,O 33.500 100,O 40,94
Fonte: SNiC.
Obs.: Não inclui vendas de cimento branm. importação e exporiação de cimento.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 77-96, set. 1997 85


AS medidas de contenção de gastos públicos- municipais,
estaduais e federais-contribuíram para modificar a relação entre os
consumidores privados de cimento e o setor govemo (órgãos públi-
cos e prefeituras).

O Gráfico 1 apresenta a evolução do consumo de cimento


Portland nacional por consumidor.

Nos três últimos anos, o setor govemo reduziu sua deman-


da em 31.2%.

O consumo percapita brasileiro de cimento Portland, antes


do plano de estabilização econômica, acompanhou as incertezas da
economia. 0 s índices que medem sua variação percentual a cada
ano são apresentados na Tabela 11.

O consumo per capita brasileiro cresceu a taxa média de


3,49% a.a., entre 1990 e 1996. Já o crescimento do consumo per
capita mundial, entre 1990 e 1995, foi de 2,54%.

Gnlíieo I
Evolução do Consumo de Cimento Portland Nacional -

-
1993196

1m.000 -

--
+Revenddarer

1.m -A-Cm~urn~"~lMusinaii
I
- -8-Conrtraoiar e Ernpmltelra~

10 -CGwemo
1993 1994 1995 1996

Fonte: SNIC.

Tabela II
Brasil: Consumo Aparente de Cimento Portland per capita-
1990196
(Em kgmab)

ANO CONSUMO APARENTE PER CAPITA A%


-

1990 180,36 -1.33


1991 186,23 3,25
1992 161,65 -13,20
1993 164.71 1,90
1994 164,99 0.17
1995 183,30 11,lO
1996 221,60 20,90
Fonte: SNIC.

A IndOslria de Cimento
A tabela aseguirapresenta oconsumopercapita brasileiro
comparando-o com o de outros países, em 1994.

Tahla 12
Mundo: Consumo per capita de Cimento 1994 -
PA~S CONSUMO APAREME PER CAPliA
(Mil i) (kghabfano)

Coréia do Sul 52.668 1.185


Japão 80.259 643
Espanha 24.038 614
Itália 34.866 610
Alemanha 41.275 507
Turquia 26.698 436
China 403.000 333
Estados Unidos 85.482 328
México 28.708 309
Ex-URSS 64.504 221
Brasil 25.319 165
índia 59.868 65
Fonte: SNIC.
Obs.: inclui imporiapio e exportapio de cimento.

A Tabela 13 apresenta o volume de expottaçóes e impor-


tações de cimento, no período 1992196. As expoltaçóes apresenta-
ram crescimento de 42,8%. Em 1996, o nosso maior importador foi
o Paraguai (51%) seguido pela Bolívia (15%). No mesmo período, as
importaçóes cresceram 238%. Este volume representacerca de 1%
do total da produção nacional. Em 1996, os maiores exportadores
para o Brasil foram: Grécia (35%),Venezuela (26%), Cuba (18%) e
Marrocos (7%).

Tabela 13
Brasil: Importações e Exportações de Cimento - 1992196
(Em Mil t)

EXWRTAÇAO IMPORTAÇÃO

1992 55.6 110,7


1993 663 111.6
1994 42.3 239.6
1995 57-9 392,7
1996 79,4 374,3
Fonte: Secex.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6, p. 77-96, set. 1997


Preços de 0preço do cimento Portland nacional posto fábrica situa-
se entre os mais baixos do mundo. A Tabela 14, a guisa de compa-
Cimento
ração, apresenta os diversos preços praticados no mercado interna-
cional. Apenas em 1991, em plena transição entre o Plano Collor I e
o II, o preço do Portland atingiu valores inferiores aos praticados em
1996. Em janeiro de 1991, o preço praticado foi US$51,73/t.

De maneira geral, os preços do cimento nos paises do


continente americano, no período 1990196. sofreram acréscimos. Na
Europa, os preços têm-se mantido praticamente constantes. Entre os
países que possuem economias desenvolvidas. apenas a Itália e a
Èspanha tiveram preços inferiores aos brasileiros, e'm 1996. No Brasil,
no período considerado, os preços de cimento sofreram acréscimos
entre 1990 e 1993, com queda acentuada em 1991 e significativa
redução após 1993. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria
do C/mento (SNIC), os preços de cimento no pais sofreram redução de
30% nos ultimos très anos. A mesma tonelada que em 1993 era vendida
por US$89,46, em 1996 foi comercializada a US$ 63,OO (Tabela 14).

Para um produto cujo custo posto fábrica situa-se em US$


45R eao qual serão'agregados impostostaiscomo ICMSe IPI, custos
de transporte e distribuição, o preço atualmente praticado pode ser
uma barreira à entrada de novos interessados.

Observa-se aue a amoliacáo do consumo. resultante do


sucesso do plano de estabilizaçáo econômica, p o d e i registrar uma
natural recuperação dos preços aos níveis da média histórica recente.

A tabela a seguir apresenta a evolução dos preços em


paises selecionados.

Tabela T I
Preços do Cimento Portland em Países Selecionados- 199üi96
(Em USãIt)
JAWO JANII)l JAW2 JAtV93 JAN194 JUtV94 1996'

América
Brasil 78,95 51,73 81,27 69.46 7616 65.00 63,OO
México 45.00 45.00 45.00 4500 85,W 85,00 76,00
Estadosunidos 47.00 47,OO 47,OO 47,OO 6500 6500 7500
Argentina 63.60 83.60 89,OO 90,OO 90,OO 90,00
Chile 64,60 99,00 99,00 99.00 110,OO 110.00 110.00
Europa
França 4464 44,64 44,64 44.64 - - 73.96
Itália 55.00 69,61 69,61 69,61 69,61 69,61 50,70
Inglaterra 62.61 102,30 102,30 102.30 102.30 102.30 66,75
Alemanha 70.00 70.0 70,00 70.00 70,00 70.00 84,37
Espanha 80,OO 80,OO 80.00 80.00 80,OO 80,OO 55,33
Portugal 54,06 54,06 54,06 54,W 54-06 54,W 66,72
Suica 70.00 70.00 70.00 70.00 70,OO 70.00 87.43
Fonte: SNIC.
aMedia esiimda.

A Indúslria de Cimento
Os Drecos médios de cimento praticados em 1996 Dor
paisesvizinh~çe~arceiroscomerciaissão:~enezueia(US$81,00/t),
Colômbia (US$85,00/t) e Peru (US$85,00/t).

O Gráfico 2 apresenta a evoluçáo dos preços de cimento


nas regiões brasileiras nos últimos três anos.

GrbffCO 2

Preços de Cimento Portland Posto Fábrica 1994196 -


+Nordeste

+~ens

i,
2 70 -
es- +sul
I
60 -
-entro-Oeste
5ST
e
50 -X-su&le
1994 1995 1996

Fonte' SNIC.

A capacidade produtiva ociosa existente na indústria ci-


menteira agiliza decisões estratégicas das empresas nos momentos
de retomada de consumo. A manutenção de capacidade ociosa, via
implantaçáo de projetos com escala superior ao consumo existente
ou pela manutenção de equipamentos desativados, em situação de
stand by, tem sido usada como estratégia concorrencial. Assim, o
indice de ociosidade no setor de cimento, ao mesmo tempo que
funciona como barreira protegendo as atuais empresas contra a
entrada de novos concorrentes, também inibe as importações.

0 s preços do cimento nacional têm regulado a concor-


rência entre os diversos fabricantes. O seu valor tem sido declinante
desde 1992 (Gráfico 3), mas mesmo assim foi incapaz de proteger

GimsO 3
Cimento: Preço e Produção - 1993197

uxa- - 1W
25W -
8
6 0 1
w
- <)us"tida& PrmiaMa

MO -
01 " , ' Lo
im3 o
um luUer abri35 lni86 aiV88

Fonte: SNIC.

BNDES Setorlal. Ri0 de Janelm. n. 6, p. 77-96.Se!. 1997


integralmente o mercado da região da Grande Salvador, Bahia, e da
região Norte. Nesses locais, os concorrentes internacionais cons-
truiram facilidades portuárias para desembarque de cimento impor-
tado. O cimento produzido na região Norte e no Nordeste, por
questões de custo e de volume de oferta, sofreu concorrência direta
do produto importado. O mesmo não ocorreu nas regiões Sudeste,
Sul e Centro-Oeste, onde o preço praticado, somado a disponibi-
lidade de produto, serviu de barreira a importaçáo.

A redução dos custos industriais do cimento passa pela


diminuição dos custos de capital, pessoal e de matérias-primas.
Segundo Lia Haguenauer (A indústria brasileira do cimento, Estudos
Econômicos da Construção 2, 1996), o capital participa com 24,5%
do custo do cimento, contra 7% na Turquia, 16,3% na França, 13%
na Alemanha, só para citar alguns exemplos. O custo de máo-de-
obra (17,5%), segundo a autora, é superior ao dos paises que
adotaram projetos mais modernos com maior escala produtiva e
maior nível da automação, tais como Coréia do Sul (9,8%), Japão
(7%), Turquia (9%). Mas o custo da mão-de-obra brasileira ainda é
inferior ao da França (21,7%) e da Alemanha (21%).

Em 1996, o desempenho operacional e financeiro dos


projetosapresentou resultados diversos entre as empresas. ATabela
15 retrata os resultados daquele exercicio.

Tabela 15
Desempenho das Empresas de Cimento 1996 -
EMPRESA FATURA- LUCRO PATRIMÕNIO LUCRO LUCRO NUMERO INVESTI- GRUPOS
M E N T O ~ ~ Q U I D OL ~ U I W L~UIDOI LIOUIDOI DE MENTOI
AJUS. AJUS- FATURA. PATRIM~NIOEMPRESAS EMPRESA
TADOa TADOa MENTO LiOUIDO (USS Mil)

Votorantim 433.7 177.8 2800.4 41% 6% NI NI Votorantim


Cim. Rio
Branco 255.1 107.2 789.3 42% 14% NI NI Votorantim
Ciminas 2458 -29.2 412.5 -12% -7% 950 418.5 Holderbank
Cim. ltaú 303.9 18.8 631,s 6% 3% 1395 344.5 Votorantim
Cim. CauB 141.2 -23.4 86.9 -17% -27% 788 255.7 Camargo C o n b
Clm. Eldmdo 140,2 -5.7 346.2 -4% -2% 343 1061 .l Camarqo Con6a
-
Fonte: Revista Exame Maiores e melhores - agoslo de 1997.
aFaturamenlo. Lucro Liquido e Património Liquido em US$ milhóes.
Lucro Liquido Ajusluslado - resuihdo do exercido, desconfada a provisão para o impOSI0 de renda e conlribuição
---
snri;l1
e Pa~nmbn#o Liquido Ajustado - soma do capital. oas reservas. dos lucrosacumuladose dos resulladosde exercioos
lur~rosmenos a some do wp!lal a mlegra1,zar. das açóes em resourana e dos prejuizos acumulados

Emprego Sendo considerada de capital intensivo, a indústria de


cimento propicia poucos empregos diretos. Segundo estimativas, as
unidades fabris existentes no Brasil empregam, diretamente, cerca
de 23 mil pessoas. Ha 10 anos o numero de empregos diretos
somava 35 mil pessoas.

A Indústria de Cimenlo
O s anos de 1995,1996 e 1997 assistiram a importantes Reestruturação
mudanças nos controles acionários de tradicionais empresas cimen-
teiras.

Em setembro de 1996, o grupo Votorantim adquiriu 8% da


participação acionária da Ribeirão Grande (grupo João Santos).
Ainda em outubro de 1996, a mesma Votorantim adquiriu 30% do
controle da Itambé do Paraná.

o grupo Votorantim tem programados inves-


Para 1997,
timentos da ordem de US$800 milhões para suas atividades nos
setores cimento, papel e energia. Entre essas inversões programa-
das, est8 prevista a duplicação da ex-Santa Rita (SaltolSP), que
passará de 2,5 mil ttdia para 5 mil ttdia, com a entrada em operação
de um novo fomo cujo investimento soma US$180 milhões.

Haverá também a expansão, em 1997. da fábrica Tocan-


tins em Brasília, de 365 mil Vano para 766 mil Vano. A expansão da
fábrica Itaú Minas está prevista para final de 1997.

O grupo investe tamb6m em duas novas fábricas; fábrica


de Laranjeiras em Sergipe e a de Capão Bonito em São Paulo.

Em 1996, o grupo Holderbank (Suíça), que no Brasil con-


trola a Holdercim Brasil S.A, adquiriu as quatro fábricas Paraiso do
grupo Severino P. da Silva, com capacidade de 2,5 milhões de Vano.
As fábricas são localizadas nos seguintes municípios: Barroso (MG).
Cantagalo (RJ), Italva (RJ) e Vitória (ES). O grupo Holderbank. além
das fábricas adquiridas, já detinha o controle da Ciminas, localizada
em Pedro Leopoldo (MG) e produtora de 2,7 milhões de Vano de
cimento e da fábrica Ipanema, moedora de clínquer em Sorocaba
(SP).

O grupo Lafarge (França), segundo colocado no ranking


mundial de produtores de cimento. em setembro de 1996 adquiriu a
Matsulfur (que pertencia ao grupo Asamar), cuja capacidade ins-
talada de cimento é de 1,4 milhão de Vano. Anteriormente, a Lafarge
já havia assumido o controle da Cimento Mauá, a qual conta com
duas fábricas, sendo uma com capacidade de 896 mil Vano, no Rio
de Janeiro, e a outra em Minas Gerais com capacidade de 1.366 mil
Va. Esse gmpo em associação com a Manngá (leia-se grupo Bueno
Vidigal) participa acionariamente do controle da Cooperativa Minas
Oeste de Cimento (CMOC). No processo de reestruturação em
curso, o gmpo assumiu participação acionária relativa na Cimento
Tuoi.

Interessado no mercado brasileiro, o grupo poituguês Ci-


mentos de Portugal (Cimpor), que tem seu controle exercido pelo
governo português, adquiriu da Bunge & Bom. em janeiro de 1997,
a empresa Serrana e do grupo JMF a empresa Cisafra. Em 1996, as

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6. p. 77-96, set 1997


fábricas da Serrana em São Paulo e em CandiotalRS produziram 1,3
milhão de t de cimento e a Cisafra produziu 231 mil t. Com esses
investimentos, o gmpo Cimpor passou a deter cerca de 5% da oferta
nacional de cimento.

Por sua vez. em abril de 1997, o grupo brasileiro Camargo


Corrêa adquiriu do grupo Juventino Dias a Cimento Cauê, cuja
capacidade e 1'2 milhão de Vano, tomando-se responsável por cerca
de 8,6% da oferia nacional de cimento Portland (Tabela 16).

Tabela 16
Produção Nacional de Cimento segundo as Fábricas 1994 e -
1996
GRUPO 1994 1996

PmduçBo (I) (%) PmduçBo (I) (%)

Votorantirn 10.589.846 41,81 16.61 5.432 47,70


Holderbank 1.266.285 5,OO 4.144.834 11,90
Lafarge 1.065.892 4.21 3.806.458 10,93
Camargo Correa 1.177.456 4,65 1.618.095 4,65
João Santos 2.681.472 10,59 2.450.180 7,03
Cimpor - - 1.359.314 3,90
Brenand 1.288.673 5,09 1.428.604 4,lO
Cauêa 913.552 3,61 1.367.528 3.93
CharnpalimaudlSoeicom 1.087.855 4,29 933.198 2,68
Atalla
JMF~
Mauá-Maringa
Bueno Vidigal
Cibrex
Asamar
Severino P. da SilvaIParaiso
Santo Estevão
Bunge 8 Born
Slaviero 589.475 2,33 - -
Total 25.331.052 100,OO 34.831.908 100.00
Fonte: SNIC.
aEm 1997, a CauB foi vendida para o grupo Camargo Con6a.
b ~ 1997,
m a Cisafra loi vendida para o grupo Cimpor.

O grupo Votorantim é o principal produtor nacional de


cimento com acentuada liderança em todas as regiões do país, à
exceção da região Norte. onde o grupo João Santos e o único
produtor de cimento, com fábricas nos Estados do Amazonas e Para.

No Nordeste, o grupo Votorantim possui fábricas em quase


todos os estados produtores, com exceção dos Estados do Mara-

A Indústria de Cimento
Tabela 17
Produção por Grupo e Regiáo
- 1994 e 1996 -
REGIA0 GRUPOS PRODUÇAO~O~(1) (%I PRODUÇAO&~
(1) 1%-1
Norte 675.740 100,OO 701.326 100.00
João Santos 675.740 100,OO 701.326 100,OO
Nordeste 3.827.040 100,OO 4.168.163 100,OO
Votorantim 1.971.105 51,50 2.144.834 51,46
João Santos 639.901 16,72 805.937 19,34
Brennand 618.383 16,16 658.170 1579
Lafarge - - 327.578 7,86
JMFa 212.395 5,55 231.644 5,56
Asamar 385.256 10,07 - -
Sudeste 14.114.658 100,OO 21.140.422 100,OO
Votorantim 4.209.048 29,82 7.899.994 37.37
Holderbank 1.266.285 8,97 4.144.834 19.61
Lafarge 1.065.892 735 3.478.880 16,46
Juventino Dasb 913.552 6,47 1.367.528 6,47
Camargo CorrBa 91 1.777 6,46 1.216.957 5,76
João Santos 1.365.831 9,68 942.917 4,46
Champalimaud 1.087.855 7,71 933.198 4,41
Cimpor - - 709.1 68 3,35
Maua 194.489 1,38 223.283 1,O6
Bueno Vidigal 189.186 1,34 192.182 0,91
Cibrex 34.101 0,24 31.481 0,15
Asamar 532.000 3,77 - -
Severino P. da Silva 1.043.524 7,39 - -
Santo Estevão 799.882 5,67 - -
Bunae & Bom 501.236 355 - -
Sul 3.981.229 100.00 5.406.155 100,OO
Votorantim 2.91 6.757 73,26 4.756.009 87,97
Cimpor - - 650.146 12.03
Bunge & Born 474.997 11,93 - -
Slaviero 589.475 14,81 - -
Centro-Oeste 2.732.385 100,OO 3.41 5.842 100.00
Votorantim 1.492.936 54.64 1.814.595 53,12
Brennand 670.290 24,53 770.434 22.55
Alalla 303.480 11.11 429.675 12,58
Camarqo Corrêa 265.679 9,72 401.138 11,74
Total 25.331.052 34.831.908
Fonte: SNIC.
1997. a Cisafra foi vendida para o grupo Cimpor.
b ~ 1997,
m a Cau6 foi vendida para o grupo Camargo Corria.

Tebela 18
Desembolsos do Sistema BNDES
(Em US$ Mil)
ANO 1992 1993 1994 1995 1996
Valores 12.089 65.819' 14.054 83.896 127.896
- - -. .- - -.
. . .. .
',nc.un operação no valor de USá 49.540 mil referente b aquisiçáo da Papel Sim20
pela Cimenlo Rio Brancn (grupo Votorantim).denlm do Programa de Reeslnifura@.io
Empresarial.

A Indústria de Cimenlo
CADEIA DA CARNE BOVINA:
O NOVO AMBIENTE
COMPETITIVO
Paulo Faveret Filho
Sérgio Roberto Lima de Paula*

'Respectivamente,gerente e assistente técnicu da Geréncia de Estudos de


Agroindústria do BNDES.
Os autores agradecem as KifonnaNes prestadas pelas seguintes
instituiçóes e pessoas: Associaçáo Brasileira das Indústrias Exportadoras
de Carnes Industrializadas (Abiec), Frigorífico CeMen, Friprifico Gejota,
Frigorífico Bertin, Indústrias Sola, professor Antònio Carlos Silveira
(Unesp). professor Pedro Eduardo de Felício (Unicamp), Ministério da
Agricultura/Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal
(Dipoa) e Associação Nacional do Novilho Precoce. Agradecem também o
apoio de Heloiza Amambahy (informática) e Heloiza Miranda (bibliografia).
Resumo O artigo apresenta um panorama da cadeia da
carne bovina no Brasil, com ênfase nas transformações
pelas quais vem passando recentemente. O diagnóstico
básico é que a baixa coordenação entre os agentes que
compõem a cadeia é um ponto de fragilidade, que reduz
a competitividade da carne bovina em relação a outras
carnes, como a de frango.
A necessidade de introduzir mecanismos que
garantam a rastreabilidade do produto é condição im-
prescindívelpara a recuperação do setor, como sugerem
os impactos da vaca louca na Europa. No Brasil, há várias
iniciativas que aponfam na direção da ocorrência de
maior coordenação, como a Portaria 304, os programas
estaduais em São Paulo e no Rio Grande do Sul e as
estratégias de empresas.
A conclusão é de que a crise por que passa o
setor há alguns anos está acelerando sua modernização,
mas ainda há muito espaçopara ganhos deprodutividade
e qualidade, desde o campo até a comercialização.

Cadeia da Cama Borina: O Novo Ambiente Competitivo


A pecuária de corte no Brasil pode ser analisada a partir Introdução
de duas características básicas: diversidade e descoordenaçáo.
Diversidade de raças, de sistemas de criação, de condições sanitá-
rias de abate e de formas de comercialização. E descoordenação,
pois há baixa estabilidade nas relações entre criadores, frigoríficos,
atacadistas e varejistas.

A diverçidade expressa a variedade de rotas tecnol6gicas,


especialmente no campo. Diferentemente da avicultura, em que a
pesquisa genética levou a uma convergência em torno de poucas
linhagens, na bovinocultura as opções genéticas são muito mais
abertas. Na escolha da linhagem, os próprios produtores têm muita
influência, podendo optar por diferentes combinações de raças tendo
em vista condições particulares de clima, região, sistemas de produ-
ção etc.

A existência de um grande número de abatedouros clan-


destinos, a maioria em condições inteiramente inadequadas, em
paralelo a frigorificos alinhados com o estado das artes tecnológico
internacional. é outro indicador da diversidade de situações do setor.

As relações entre os vários agentes da cadeia são inteira-


mente baseadas no mercado. Não há, como na avicultura. contratos
de longo prazo vinculando produtores e indústrias. Ademais. o poder
de barganha dos produtores foi historicamente muito grande, pela
possibilidade de reter os animais no pasto. sem desembolso mone-
tario. A posição de mercado dos grandes frigoríficos é muito mais
fraca do que a dos lideres da avicultura -trata-se de um mercado
menos concentrado.

A prevalência de relações de mercado não seria um pro-


blema caso a avicultura não tivesse logrado desenvolver um sistema
que demonstrou enorme capacidade de aumentar sistematicamente
a produtividade e sobreviver em meio a um declínio persistente de
preços. Com isso, somado a diversificação da oferta, a indústria
' N a verdade. nãose trata de
avicola conseguiu subtrair expressiva parcela de mercado da carne caracteristica exclusiva do
bovina e reduziu o poder de fixação de preços do setor, contribuindo setor no Brasil Reed (i996.
para a crise em que ele mergulhou há alguns anos. p 5, al~rmaque nos Estados
Unidos b setor [tem] inle-
graçáo incompleta. pois a
A descoordenaçãoi da cadeia tem como um de seus verlicalização entre criado-
principais efeitos a falta de rastreabilidade dos produtos. Isso signi- res e indústria de processa-
mento está limitada a coor-
fica que o consumidor não consegue estabelecer as ligações entre denaçso dos volumes de
o produto que adquire e ofomecedor. Osfrigoríficos,em sua maioria, oferla:

BNDES Setorial. Riode Janeiro. n. 6, p. 97-116, set. 1997 99


trabalham sem marcas. Os açougues, quase por definição, não
podem assegurar a procedência da carne. 0 s produtores entregam
animais em situaçõesdiferenciadas (idade, raça, sexo, gordura etc.).

Como resultado, a diferenciação de produtos é limitada e


fica quase inteiramente nas mãos dos varejistas, atraves da manipu-
lação dos vários tipos de cortes. O pecuarista que trabalha com
qualidade (por exemplo, novilho precoce) náo recebe um centavo a
mais por arroba do que aquele que entrega para abate um animal de
quatro, cinco anos.

0 NOVO 0 controle da inflação e a estabilidade dos preços agrico-


Ambiente Ias desde o Plano Real modificaram significativamente o papel que
a terra cumpria anteriormente, de ativo especulativo, reserva de
Competitivo valor. Resulta daí que atividades pouco intensivas, como a pecuária
tradicional, remuneram insuficientemente o capital imobilizado em
terras, levando a substituição daquelas atividades por outras, mais
rentáveis.

A pritica dominante da criação extensiva, fruto daquela


mentalidade patrimonialista,teve como conseqüência poucos cuida-
dos com relação aos pastos, levando-os a degradação, erosão e
baixa capacidade de sustentaçáo. O nível de ocupação (animal por
hectare) e. em geral, extremamente baixo.

EmboraoBrasil sejaodetentordo maiorrebanhocomercial


do mundo a nossa pecuária de corte ainda é, em média, muito
atrasada. Na sua maioria, os animais são abatidos com cerca de
quatro anos de idade. o que determina um desfrute anual de 22% do
2 ~ estatisticas
s sobre o se- rebanho (Tabela 1).
torsáo classicamenteprecá-
rias. Peni (7996) analisa as
diferenças entre as lontes e O aproveitamento do rebanho brasileiro2 tem aumentado
as meiodologlas das pnnci- nos últimos anos, já que no final da decada passada o desfrute era
pais instiluiçóes depesquisa
do setor e conclui que a Pes-
de somente 16%. Nos últimos dois anos. o crescimento do desfmte
quisa Anual de Couro, do
IBGE, retrata com mais lide-
Irdade a ewlu@o do abate
rabeta ,
Principais Dados da Bovinocultura no Brasil - 1990196
do que a Pesquisa Mensal
de Abate. Entretanto. as di- 1990 1991 1992 1993 1994 1995 i996
ierenps entre as taxas de
variação são muito expres- ~ ~ (mm ~b ~ b . ~) 148,8~ 151,Oh 150.1~ 149.1 149,3 1432 144.5
sivas, o que dificulta análise
mais precisa sobre a ewlu. Abate (mm cab.) 24 27 28 28 28 30 32
@odo rebanho edoabate. Produção (mil t eq. carc.) 5.008 5.481 5.725 5.653 5.725 6.077 6.372
Para ilustrar, a dilerença en-
tre as estimativas do reba- Desfrute % 16.2 17,6 18,7 18.7 18.6 19,9 21,6
da FNP e do lBGE/Sa- Consumo (mm Ieq. carc.) 5.014 5.254 3.999 5.250 5.435 5.91 1 6.242
Iras & Mercados chegou a
7.8% em 1996, ou 12.3 mi- Consumo percapita 34.6 35.7 26,8 34,6 35.4 37.9 39.5
Ihóes de cabeças. quando
não superava 5% ale 1995. Fontes: FNPe Usda.

i00 Cadeia da Came Bovina: O NOW Ambiente Comoetitivo


deveu-se a combinação de redução do rebanho e aumento do abate.
Não há base suficiente ainda para determinar se isso configura uma
tendência de longo prazo, fruto do aprimoramento da pecuária, ou
se resulta de aumento no abate de fêmeas, o que configuraria a
preparação da próximafase de alta dos preços, reedição do tradicio-
nal ciclo de preços. Apesar do aumento recente, a atual taxa de
desfrute ainda é considerada baixa para níveis internacionais, que
se situam na faixa de 32% na União Européia, 38% nos Estados
Unidos, 41% na Austrália e 31% na China.

O crescimento da ofetia da carne de frango propiciou ao


consumidor uma alternativa a came bovina, funcionando como um
limitador a elevação dos preços do boi. É nítida a retração do
consumo como resposta as tentativas de elevação de preço tanto na
came bovina quanto na de frango. No entanto, dado o ciclo curto do
frango, este se adequa com maior facilidade as variações de deman-
da, com maior poder de suporte as flutuações de preço.

A liberalização comercial, especialmente o Mercosul, ex-


pôs a produção local a concorrência externa, que tem funcionado
como mais um limite a elevaçáo dos preços, mesmo na entressafra.

Outro fator que tem contribuído para aumentar a oferta de


carne na entressafra, reduzindo a pressa0 altista sobre os preços
nesta época, é o crescimento do número de animais tratados em
confinamento, que saltou de 520 mil cabeças em 1987 para 1.435
mil cabeças em 1996, com taxa de crescimento médio de 12% a.a.
A participação de animais provenientes de confinamento no abate
total passou de 2,7% em 1987 para 4.6% em 1996 (Gráfico 1).

Os três fatores anteriores determinaram uma sensível ate-


nuação dos ciclos de preço interno da pecuária (redução davariação
plurianual) e uma queda real no preço recebido pelos produtores de
boi gordo. O Gráfico 2 mostra a grande sensibilidade dos preços reais

Gráiico 7
Evolução do Confinarnento de Bovinos no Brasil 1987196 -
1.600.000
1.400.000
1.200.000
m
m0. 1.000.000
2 800.000
600.000
400.000
200.000

k g g g & : g z s g
z z z z z z z z z z
Anos
Fonts: FNP.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6, p. 97-116. ser. 1997


Gdiico 2
São Paulo: Preço do Boi Gordo em Dólares Deflacionado -
Janeiro de 1977IJulho de 1996

JvhJ
3
NO .
. .(

I00

0.0 , ,. , , , , ,.
\ g o- -~;' . :.s. .sn n; i; ~a ,a $ a ~ ~ z a ~ r $ n g g ; ~; ,% ~ ~ ~ ~ 2 g ~ í ~ ~ ~ ~ % : ~ : gx ~~ 3

Fonte: FNP (1997).


Obs.: Prep em mosda nacionalmnverlidoem dólares consfantesde dezembm de f996.

da arroba. em dólares constantes de dezembro de 1996. ante a


instabilidade macroeconômica. Depois das acentuadas v&iações
associadas a instabilidade do ~eriodo1986/90. o mercado ~arecia
ajustado até a entrada do plano Real, que provocou nova alta em
virtude da incerteza dospecuaristasquantoao sucesso das medidas.
Outra evidência importante parecesera tendência de queda do preço
real, que passou de mais de US$40 porarroba no final dos anos 70
para pouco mais de US$20 por arroba no final do período.

Por outro lado, a crescente necessidade de uma produção


mais eficiente para fazer frente à competição leva ao aumento dos
custos de produção, pelo uso de animais de melhor qualidade
genética, maiores cuidados sanitarios e nutricionais, reduzindo a
margem do produtor.

Balança A
produção do setor destina-se basicamente ao mercado
Comercial do intemo (96% em 1996). Mesmo assim. o Brasil é um importante

Setor
-
exportador foi o quinto maior em 1996 -, detendo cerca de 6% do
comércio mundial de carne. A exportação caiu entre 1992. quando
foram comercializadas 434 mil 1, e 1996, quando foram exportadas
somente 232 mil t.

As importações. por sua vez, vêm crescendo desde 1992.


passando de 10 mil t para 90 mil tem 1996, patamar ainda inferior a
1990 (120 mil 1).

Note-se que o que em outros setores pode ser visto como


sinal de contradição entre mercado intemo e externo, nesse caso é
minimizado pelo fato de apenas certas partes dos animais serem
exportadas, sob a forma de cortes (traseiro) ou de industrializados

102 Cadeia da Carne Bovina: O Novo Ambiente Compefifivo


(dianteiro).Assim, o crescimento das exportações não 6 inteiramente
contraditório com o abastecimento do mercado interno.

A balança comercial do setor sempre foi positiva, não só


pelas quantidades envolvidas, sempre maiores para exportação,
como também pelo tipo de came comercializada: a carne exportada
e na sua maior parte processadae a importadaé predominantemente
de carcaças e quartos, sendo a picanha o Único corte de importância
na importação-cerca de 10% de toda a importação dos últimos seis
anos e 28% em 1996 (GrAfico 3).

Em 1996.94% das importações tiveram origem no Merco-


sul, enquanto as exportações, no periodo 1990196, foram destinadas
a Europa (73%) e Naita (10%). Das expoitaç0es de 1996.51 %foram
de came cozida e comed beef.

O balanço poderia apresentar melhores resultados finan-


ceiros caso a negociação da cota Hilton fosse mais favorável ao
Brasil. Nossa cota é proporcionalmentepequena (5 mil t) se compa-
rada aos parceiros do Mercosul (Argentina28 mil t e Uruguai 6 mil 1).
O preço da carne negociada na cota Hilton tem alcançado o dobro
do valor da carne negociada fora da cota.

Além dos problemas com a cota Hilton, o Brasil ainda


encontra dificuldades de exportação de came in natura em virtude
de barreiras sanitárias impostas principalmente pelos Estados Uni-
dos e União Européia, em função da existência de febre aftosa no
rebanho brasileiro.

De fato, a doença ainda não foi totalmente erradicada no


pais:3 em 1996, foram constatados focos em Minas Gerais, Mato
Grosso. Tocantins e regiões Norte e Nordeste.

Grdiim 3
Balança Comercial da Carne Bovina 1990196 -
m

500

zi 'Oo
lai
*
"I

na
im

isno ,991 ,I?ir93 i9IU ,895 ,990


-
*no, - - - - -
IE-c~.~ Oimpa(qb.* +S.ld.l

3~evistaFundepec, Ano 3.
Fontes: FNP e üacen. n. 7.

BNOES Setoriel, Rio de Janelm. o. 6, p. 97-116, set. 1997


No esforço de erradicação da doença, os maiores proble-
mas se dão nas regiões Norte e Nordeste que, com exceção dos
estados da Bahia, Sergipe e Roraima, apresentam sistemas de
atenção e vigilância sanitária deficientes, programas de erradicação
não implantados e falta de controle da incidência da febre.

Nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a


prevenção a doença encontra-se em estágio avançado, com níveis
de vacinação de mais de 80% do rebanho e ausência de casos
clinicos há mais de dois anos. Estes estados já solicitaram a Orga-
nização Internacionalde Epizootias (OIE) a declaração de zona livre
de aftosa com vacinação.

Mato Grosso do Sul, Roraima e Distrito Federal apresen-


tam baixo risco de contágio do rebanho, pois, além de terem todo o
território coberto por programa de erradicação da febre aftosa, não
apresentaram casos clinicos há mais de um ano.

Os estados do Tocantins, Bahia, Sergipe e Rio de Janeiro,


com sistemas de vigilância sanitária deficientes, baixa cobertura
vacina1 e várias ocorrências de febre aftosa, são ainda considerados
pelo Ministério da Agricultura como estados de alto risco de conta-
minaçáo.

São considerados de médio risco os estados de São Paulo,


Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso, que, embora tenham
todo o território cobeito pelo Programa de Erradicação da Febre
Aitosa, e sistema devigilânciasanitária eficiente, ainda não deixaram
de apresentar casos clínicos de febre aitosa por mais de um ano.

Outro aspecto importante do setor externo, colocado na


ordem do dia por uma parcela dos produtores, é a liberação do uso
de promotores de crescimento (anabolizantes), que, segundo eles,
poderiam dar um ganho de peso maior ao gado. A proposta encontra
resistências não só no setor produtor, como também no setor de
frigoríficos, principalmente aqueles que trabalham com exportação
para a comunidade europeia.

A discussão sobre o uso de anabolizantes levada a cabo


entre os Estados Unidos e a União Europeia não chegou a bom
termo, pois os europeus continuam resistindo a permitir a entrada,
em seus mercados, de carne de animais tratados com promotores
de crescimento. Apesar da decisão do comitê técnico da Organiza-
ção Mundial do Comércio ter sido favorável ao pleito norte-amenca-
no, contrárioaproibiçãodos hormônios, a Uniáo Européia ira recorrer
e. mesmo que perca definitivamente, muitos paises, França entre
eles. deverão preferir pagar compensações aos exportadores dos
Estados Unidos ao invés de abrir seus mercados.

Cadeia da Carne Bovina: O NOW Ambiente Compeiitiw


Adeclaração do governo britânico, no início de 1996, Mercado
admitindo que o consumo de carne bovina de animais que apresen- Internacional/
taram Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mais conhecida
como doença da Vaca Louca, poderia transmitir aos seres humanos
Vaca Louca
o mal de Creutdeldt-Jakob (CJD), provocou grande impacto no
consumo de came na Europa.

Num primeiro momento chegou a ser registrada queda de


50% do consumo em alguns países, recuperando gradativamenteapós
as medidas de eliminaç50 do plante1exposto a doença (Tabela 2).4

Tabela 2
Principais Dados da Bovinocultura no Mundo - 1990196
1990 1991 1992 1993 1994 1995 19%

Rebanho (mm cab.) 1.047 1.048 1.041 1.039 1.041 1.046 1.040
Abate (mm cab.) 208 213 213 210 216 228 229
Produção (mil t eq. carc.) 46.363 47.345 47.002 45.887 47.128 48.374 48.400
Exportaçóes (mil t eq. carc.) 5.012 5.328 5.114 4.999 5.086 5.067 4.839
Fonte: FNP e Usda.

Mesmo assim o consumo per capita de carne bovina na


Europa, segundos dados do Usda, registrou queda de 10% em 1996,
em relação ao ano anterior, sendo mais forte na Itália (23%), Portugal
(2274, Espanha (15%) e Reino Unido (14%). O Linico pais que
registrou crescimento foi a Suécia (4%).

Já o consumo de cames em geral registrou queda de


apenas 3%. sendo maior na Itália (5%) e Espanha (4%). nos países
restantes a queda ficou em torno de 1% a 2%. chegando a haver
aumento de consumo na Grécia (1%). Houve clara substituição da
came bovina porfrango, suino e, especialmente. por carne de peru,
que teve crescimentos que chegaram a 42% na Bélgica e 34% em
Portugal.

Não há previsões de que o consumo de came bovina 4 ~ o l e - s eque a queda do


consumojá vinha ocorrendo
retome aos patamares pré-crise nos próximos dois anos. As previ- mesmo anles da crise da
sões da União Nacional dos Agticultores, Inglaterra. e da publicação vaca louca. De acordo com
especializada Agra Europe sáo de que, na melhor das hipóteses, o o Rabobank inlernalional,
consumo se estabilize num patamar 10% inferior ao de 1995. as principais razões para a
Iendáncia declinanle da
demanda por carnes verme.
Mesmo com a eliminaçáo de parte dos rebanhos ingleses, lhas sgo o longo tempo de
preparaçdo, preocupação
franceses e suiços. em decorrência da detecçáo da doença. a com niveis de coleslerd. a
previsão 6 de que a produção de carne bovina na Europa ainda seja ausancia de diferenciação
superavitária, esperando-se um crescimento constante nos seus de produtos e opossivei uso
de hormõnios e antibióticas
estoques. Dai devem decorrer pressões baixistas sobre os preços como promotores do cresci-
no mercado internacional. menb.

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6, p. 97-116. sel. 1997 105


Sendo a doença decorrente do consumo pelo gado de
rações a base de proteína animal, cresce a preocupação dos consu-
midores, subsidiados por campanhas de entidades ambientalistas,
quanto a forma de criação do gado. Abre-se assim espaço para o
marketing do chamado "boi ecológico", ou seja, gado alimentado a
pasto e sem ingestão de produtos químicos. Esta tendência pode ser
favorável para o Brasil, uma vez que a maior parte do gado brasileiro
é criada a pasto, desde que feita ampla campanha de marketing
institucional.

A reação das autoridades européias e dos agentes do setor


a crise provocada pela vaca louca aponta para um tema crucial: a
necessidade de estabelecer um enfoque integrado entre os elos da
cadeia, de modo a recuperar a confiança dos consumidores. A parte
medidas mais imediatas como restriçóesao comércio de certos tipos
de carne, elevação dos estoques de intervenção, introdução de
programa de abate de animais e incentivo a sistemas menos inten-
sivos de criação, um dos grandes desafios colocados pela doença é
a instituição de padrões de rastreabilidade do produto [Enriquez-
Cabot e Goldberg (1996)l.

Nesse sentido a União Européia propõs a adoção de


sistemas de identificaçãolregistro dos animais e de rótulos Para os
produtos, além de campanhas promocionais para recuperação do
consumo. A França dispõe de um sistema desse tipo há três déca-
das, quando foi criado o Centro de Desenvolvimento de Certificados
51nlormaçóes fornecidas de Qualidades Agrícolas e Alimentaresl(Cerqua). Ele avalia produtos
pelo Rabobank Intematio- e sistemas produtivos, os quais. se aprovados, recebem a designa-
na1 Na Inoiaterra. o omoo
ção de "oficialmente bons". Essa chancela visa garantir ao consumi-
dor um produto de qualidade superior, o que viabiliza preços até 20%
um sistema de fomecimento acima do normal. No caso da carne bovina. o sistema abrange cerca
de came de qualidade. Após
extensos tasles de qualida- de 30 mil produtores. 100 fabricantes de alimentos. 300 empresas
de. foram estabelecidos pa- de abate e 3 mil pontos-de-venda (80% açougues, mas também 60
rêmetms deseiados de ma- restaurantes).
c,ez. suculenc!a e sabor. a
parhrdosquazr se seleciona-
ram os produtores aptos a A viabilização desses sistemas requer maior cooperaçáo
a1end.G-10s. Ha dez anos o entre as instituiçóes governamentais e os vários segmentos do setor.
grupo eslabekceu parcerias
com as fazenaas seleciona- o que configura um padráo diferente do tradicional. Nos paises onde
aas e ho/e ha cerca de 500 esse esforço encontra mais dificuldades, os varejistas. especial-
membros inscritos no "Sis- mente grandes supermercados, estão desenvolvendo esquemas de
tema de Fazendas de Gado
Selecionadas" (Eurofood, marcas próprias com o objetivo de recapturar a confiança dos con-
17, July 1997. p. 14). ~umidores.~

Portaria 304 A crescente pressão por uma reformulação da comercia-


lização da came bovina, visando diminuir a participaçSo do abate
não-inspecionado, resultou na portaria do Ministério da Agricultura
n9 304. de 22.04.96, estabelecendo que toda carne comercializada

106 Cadeia da Carne Bcvina: O Novo Amblenle Competitivo


pelos frigoríficos seja refrigerada (temperatura máxima de 7T),
embalada e com designação de origem.

Após um plano piloto que incluiu São Paulo, Porto Alegre


e Curitiba e que durou um ano, o Ministério da Agricultura, através
da Portaria n"6 da secretaria de DefesaAgropecuária, de 30.04.97,
ampliou a obrigatoriedade do cumprimento da portaria para outras
180 cidades, em 12 estados. Em tese, isto contribuirá para diminuir
o abate clandestino, aumentar a quantidade de carne fiscalizada na
oferta ao consumidor final e permitir a este um maior exercício de
seu poder para diferenciar qualidade.

A implementaçáo da Portana 304 não trará mudanças


drásticas a curto prazo, uma vez que encontra dificuldades de
coordenação entre os três níveis de governo, além de nao haver
contingente suficiente de fiscais sanitários. Segundo a Abiec, dos 405
matadouros municipais do Estado de São Paulo, nenhum tem câma-
ra fria, o que dificulta ainda mais o cumprimento da Portaria. Mas, do
ponto de vista dos frigorificos inspecionados, a inibição sanitária do
abate clandestino deverá ter efeitos significativos, já que a informa-
lidade concorre com margens maiores, decorrentes da sonegação
fiscal, prática mais difícil nos frigoríficos inspecionados.

A Portaria 304 vem reforçar a estratégia dos frigorificos


que. mesmo antes de seu lançamento. já trabalhavam com cortes
especiais embalados com marca própria, na tentativa de estabelecer
um padrão e linha de produtos que os diferencie dos demais forne-
cedores do mercado.

Do lado dos supermercados que caminham mais acelera-


damente na modernizaçãode suas instalaçóes e nítida a preferência
por diminuir o espaço de seus açougues, reduzindo o processamento
e dando as carnes o mesmo tratamento de outros produtos, ou seja,
expô-las. embaladas. nas gÔndolas.6

A evolução dos dois movimentos. que ainda são timidos


tanto da parte dos frigorificos quanto dos supermercados. pode
provocar uma mudança radical na comercialização da came no
Brasil. já que o poder de escolha do fornecedor passa ao consumidor
e o campo da disputa entre os fornecedores passa ser o da qualida-
de, praticidade e da propaganda.

E m toda a cadeia estão acontecendo iniciativas quevisam Iniciativas


modernizar cada segmento do setor. A modernização da cadeia da Modernizanteç
came bovina vem se processando de maneira desigual, porem há
sinais de que é tendência irreversível. No entanto, seus efeitos "era entrevista de Atamir
agregados ainda não são mensuráveis, visto que o processo de Nosueira da Cruz8geren@
do Grupo PáodeAçúcar, na
modemização vem se processando de maneira desigual em cada Nacional da
ponto da cadeia. maio de 1997.

BNDES Setoriai, Rio de Janeiro, n 6, p. 97-116, ser. 1997 107


Diferentementeda avicultura, falta a bovinoculturade corte
um agente estruturante, como a grande f i n a integrada. capaz de
coordenar ações em prol da competitividade em todas as etapas da
cadeia. Em virtude disso, as mudanças parecem ser mais lentas do
que o desejável.

A diminuição dos componentes especulativos e patrimo-


niais na criação e comercializaçáo de gado de corte. associada a
pressão competitiva da carne de frango e das importações, tem
forçado os produtores a adotarem técnicas mais produtivas.

O uso de técnicas eficientes de manejo, como o pasto


rotacionado e confinamento na entressafra, tem se difundido entre
os criadores, solidificando umavisão de que o pasto deve sertratado
como uma lavoura e não explorado de forma extrativista. Assim,
reforma e fundaçãodos pastos passam a ser preocupação constante
de maior número de pecuaristas, com todos os cuidados e gastos
dai decorrentes.

Também a integração pecuária-agricultura dentro das pro-


priedades,para recuperação de terras e fornecimento de componen-
tes da ração, faz parte desta nova visão. Tal integração tem propi-
ciado expressivos ganhos na lotaçáo dos pastos, aumento da taxa
de desfrute e redução da idade de abate?

Os cruzamentos industriais, principalmente da raça Nelore


com raças europeias, têm sido usados como maneira de melhorar a
qualidade genética do rebanho na busca de melhorias no ganho de
peso, maior rendimento de carcaça e precocidade de abate.

Neste sentido, diversos estados (Mato Grosso, Mato Gros-


so do Sul e Goiás, entre outros) adotaram programas de incentivo ao
abate de novilho precoce (com, no máximo, 30 meses). 0 s produto-
res inscritos no programa, sob a supewisáo técnica dos órgãos
estaduais de agricultura, recebem isençáo de até 66% do ICMS
devido na venda do boi aos frigorificos.

No início de 1997, existiam cerca de 3.500 produtores


inscritos nos programas estaduais de novilho precoce, de acordo
com a Associaçáo Brasileira de Novilho Precoce. Estes programas
encontram-se em estágios diferenciados de desenvolvimento, náo
' ~ acordo
e com matéria pu-
blicada na DBO Rural. de
sendo possivel traçar um panorama mais preciso de suas trajetórias.
agosto de 1996. a uliliza@o Porém, nota-se maior receptividade e solidez nos programas do
desse mdlodo em uma pro- Centro-Oeste que, em conjunto já abateram 530 mil animais dos 575
priedade no Mato Grosso do mil animais classificadoscomo novilhos precoces no abate brasileiro,
Sul conseguiu elevar a taxa
de deslrufe de 24.1% w r a desde a implantaçáo em 1992.
31.ZDo.a iola@ode l . ~ & r a
2 35 cabeças por ha e a iaa- A participação de novilhos precoces no abate total do pais
de de abale caiu de mais de
Ir& anos para menos da ainda é pequena (0,84%), uma vez que os programas iniciaram-se a
dois. menos de cinco anos e o ciclo produtivo é longo.

108 Cadeia da Came Bovina: O NOM Ambiente Competitivo


triais de um frigorífico por outros situados na mesma região, evitando
a disseminação de capacidade ociosa.

Os resultados iniciais parecem animadores. O abate sob


inspeção passou de 900 mil cabeças para 1,4 milhão em 1996, com
perspectiva de alcançar 1,6 milhão em 1997. Mais inspeção significa
mais segurança para a população e maior mercado para os frigorifi-
cos que operam na legalidade. Alem disso, duas unidades industriais
que estavam paralisadas (Cicade, em Livramento, e Alegretense, em
- . foram arrendadas. conforme noticiado na Gazeta Mercantil
Alearete)
de 07.07.97, contribuindo para reduzir0 nível de ociosidade do setor
no Rio Grande do Sul.

A Aliança Mercadológica da Carne tem por objetivo es-


tabelecer canais estáveis de distribuição de came de boa qualidade.
Para tanto, sob o patrocínio do Fundepec, foi realizado um acordo
entre pecuaristas, frigorificos, transportadores e supermercados,
visando as relações estáveis entre os diversos elos da cadeia, o que
irá configurar abase para assegurar a qualidade dos produtos aos
consumidores finais. Os animais comercializados Delos suoermerca-
dos credenciados serão fornecidos por um grupo de pecuaristas
pré-identificados e abatidos por frigoríficos de primeira linha. Com
isso, o consumidor deverá encontrar um produto de boa qualidade -
-
carne de novilho precoce com regularidade.

Numa segunda etapa, será instituido um sistema de certi-


fica~:~,através de selos de identificação. Esse sistema introduzira
ata0 desejada rastrefibilidade na cadeia, permitindo aconexão entre
o produto final e o pecuarista, possibilitando ao consumidor selecio-
nar os produtores. Adicionalmente. os produtos de melhor qualidade
poderão obter preços diferenciados, o que atualmente náo ocorre.

Segmento de A indlistria de desmontagem e processamento tem paç-


Abate e sado por várias transformaçóes ao longo das últimas décadas. que
vão desde a desativação da maioria dos matadouros municipais a
Industrialização nacionalizaçáo do setor e, nos iiltimos anos, ao declinio dos grandes
frigorificos.

Uma das mudanças estruturais é o deslocamento das


unidades de abate para a região Centro-Oeste. Em 1996, o Centro-
Oeste concentrava 29% dos frigorificos em atividade registrados no
Serviço de Inspeção Federal (SIF), enquanto, em 1983, eram apenas
17%.

Tal deslocamento deve-se a própria migração da produção


primária e a modernização da bovinocultura nos estados do Brasil
Central, aumentando a oferta de boi gordo e possibilitando a criação

Cadeia da Carne Bovina: O Now Ambiente Competitiw


de uma logística mais eficiente e o aproveitamento de incentivos
fiscais (Gráfico 4).

As indústrias ligadas ao segmento de exportação apresen-


tam elevado nível tecnológico, em linha com os padrões intemacio-
nais de competição, podendo, portanto, responder as demandas
tanto de aumento das exportações brasileiras como de elevação do
nível de exigência do consumidor. Porém, apresentam elevado nível
de ociosidade média, expresso pelo fechamento ou paralisação de
diversas unidades (Tabela 3). A título de exemplo, se considerarmos
um abate médio da ordem de 500 animaisldia por unidade, o abate
com inspeção federal no Brasil ocupariasomente 54% da capacidade
dos frigoríficos em atividade registrados no pais.

A ociosidade dos frigoríficos, o deslocamento da produção


primária para o Centro-Oeste e a nova dinâmica do setor, imposta
pela estabilidade monetária, levam a necessidade de reestnituração

Grbiiclca 4
Evolução do Rebanho Brasileiro segundo Região 1975195 -
60.WO.rn

50.W0.000--

40.000.0M1 -

10.W0.000 -

1975 1980 1985 1990 1995


Anos
Fonte: IüGE.
Obs.: O Estado do Tocantinsloiinduido na região Centm-Oeste.

T.be1.9 3
Nível de Ociosidade dos Frigoríficos com Registro no SIF -
Junho de 1996
REGIAO COM SIF (A) ATIVOS (6) (BIA) Yo

Norte 15 14 93
Nordeste 19 12 63
Sudeste 1 O0 59 59
Sul 75 42 56
Centro-Oeste 74 53 72
BRASIL 283 180 64
Fonte: Dipoa.

BNDES Selorial. Rio de Janeiro. n. 6, p. 97-116, set. 1997


deste segmento industrial, tanto do ponto de vista da escala de
produção e localização das unidades produtivas, como, também, da
racionalidade operacional.

A dimensãodas plantas industriais é umadasquestóesque


têm sido abordadas nas discuss0es dos empresários do setor.
Fala-se em uma capacidade instalada ideal da ordem de 400 a 500
animais abatidosldia [Moricochi ef alii(1995, p. 66)]. Esta dimensão
parte de uma lógica de que a de implantação de unidades menores
de abate e fngorificação trará maior eficiência operacional e pode
reduzir as deseconomias de escala. Unidades menores também
poderiam ter enfoque logistico por conta dos deslocamentos da
bovinocultura, se localizadas em região mais próxima da produçáo.

Mesmo com o declínio dos grandes frigoríficos lideres da


década de 80, o setor continua evoluindo em temos logísticos,
tecnológicos e de estrutura empresarial. Os frigoríficos médios e
grandes assumiram, em geral, nova estrutura empresarial, incor-
porando setores laterais como o couro e sabões, além de es-
pecializarem-se no fomecimento de cortes especiais e produtos
industrializados. Algumas empresas têm investido no desenvolvi-
mento e consolidação de marcas próprias, através das estratégias,
não-excludentes, de lojas próprias e parcerias com redes de super-
mercados.

Persistem, no entanto, dificuldades de financiamento do


capital de giro. No período inflacionário as indústrias encontravam
financiamento na defasagem entre a aquisição da matéria-prima a
prazo e a valorização constante do produto acabado. Tratava-se de
um padrão fortemente mercantil. onde prevalecia a lógica de comprar
barato e vender caro. Entretanto, no novo ambiente, tanto os pe-
cuaristas como os consumidores têm pressionado as margens das
indústrias, o que pode ser visto na rigidez dos preços no atacado e
varejo no ano de 1996.

0 s efeitos combinados da Portaria 304 e da gradativa


redução da carga tributária deverá0 acelerar mudanças importantes
na estrutura do setor, entre as quais se destacam:

-
a) aumento da concentração econõmica o cerco aos
frigoríficos clandestinos, de pequeno porte, abrirá espaço para a
reativação e o crescimento das unidades modemas, hoje com seu
potencial limitado pela concorrência predatória. Em virtude da com-
petição por matéria-prima, parece improvável a concentração técni-
ca, ou seja, aumento do tamanho mkdio das plantas;

b) redefiniçáo de atribuições ao longo da cadeia - tradicio-


nalmenteosfrigoríficoslimitavam-seaabaterosanimais. entregando
as carcaças e meias-carcaças a atacadistas, responsáveis pela

Cadeia da Carne Bovina: O NOVOAmbienie Competitivo


GMico 5
Desembolsos do BNDES para a Cadeia de Carne Bovina -
1990197

15o.wo

1w.m
S
M
Vi
' 5o.WO

o
1990 1991 1992 1993 1994 1005 19Q5 1237
(ale junho)
Anos

0s principais projetos de fngorificos envolvem aquisição de


unidades industriais, diversificação de atividades (na direção de
sabão, couro e outros derivados) e modernização de unidades
existentes. Não houve financiamentos para a construção de novas
unidades.

As recentes modificações nas linhas do Finamex, para


financiamento as exportações, tomaram-nas atraentes para o setor.
Em virtude da possibilidade de obter financiamento para o incremen-
to de exportações, as empresas do setor têm realizado várias con-
sultas. A nova linha- pré-embarqueespecial - permite-lhes garantir
a aquisição de matéria-prima com antecedência. viabilizando as
vendas no inicio do período da cota Hilton, que coincide com a
entressafra brasileira.

Conclusões A
cadeia da came bovina é inequivocamente mais atra-
sada do que a avicultura e suinocultura. Entenda-se por atraso a
incapacidade de sistematicamente elevar a produtividade e reduzir
os custos ao longo de todos os elos da cadeia de forma a manter a
'porqueoabate clandestino competitividade dos produtos finais. No caso da bovinocultura, tal
é menos expressivo na avi-
cultura? Porque as empre- incapacidade traduziu-se em acentuada perda de mercado para
sas avimlas looraram mon- outras carnes. bem como no crescimento do abate clandestin~.~
lar um sistema &e reduz os
custos de produção e bver-
sifica o leque de produlos à Qual foi a reaçáo tradicional dos produtores e dos frigorifi-
disposição dos consumido- cos diante de uma reduçáo dos preços? Retraçáo da oferta mediante
res. Como a clandestinidade diminuiçáo do abate. Até alguns anos atrás essa estratégia funcionava
tem custos, expressos na
baixa propensão a investir e relativamente bem porque o consumidor dispunha de poucas altemati-
na aus4ncia de marcas. as vas e o pecuarista não desembolsava recursos monetários para manter
empresas de aves conse- o boi no pasto. Hoje isso não é mais possível, pois a came de frango é
guem manter a produçdo
clandestina em niveis inle- alternativa consistente a came bovina, pelo baixo custo e curto ciclo
riores aos da bovinocultura. produtivo. e cresceu muito o número de pecuaristas que "fazem as

114 Cadeia da Carne Bovina: O NOM Ambiente Competitivo


baixa rentabilidade/descapitalização/decadência têm conseguido
auferir grandes vantagens.

O tempo dessas transformações é longo. Afinal, mesmo


com aumentos acentuados da produtividade, o período de abate
continuará sendo medido em meses, não em dias, como na avicul-
tura." Além disso, diferentemente das empresas avicolas, a fragili-
dade das indústrias frigorificas e a descoordenação da cadeia impri-
mem um ritmo necessariamente lento as mudanças. Mas parece não
haver dúvidas de que, a médio prazo, a cadeia da came bovina
poderá recuperar posições perdidas para outras carnes. Basta que
todos seus componentes persistam nos novos caminhos da produti-
vidade e da qualidade, evitando as fórmulas surradas de manipula-
ção de mercado, especulação e desatenção a qualidade.

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''0que cunsisfe tremendo


avanço, já que atualmente a
idade dos animais abatidos
conta-se em anos.

Cadeia da Cama Bovina: O Now Ambiente Competitivo


Resumo Este artigo tem como principal finalidade divul-
gar alguns dados básicos sobre o desempenho e as
perspectivas do segmento de painéis de madeira, cujos
investimentos apoiados no âmbito do BNDES têm sido
crescentes.
O segmento produtor de painéis de madeira,
especialmentede MDFe aglomerados, tem demonstrado
elevado dinamismo, como reflexo das altas taxas de
crescimento da indústria moveleira, principal deman-
dante de painéis. A estabilização da economia incorporou
ao mercado de móveis novas parcelas de consumidores,
particularmente dos estratos representados pelas fami-
lias de menor renda.

Tal dinamismo deverá perdurar ainda por alguns


anos, sendo necessária, entretanto, a realização de in-
vestimentos direcionados para a expansão e a melhoria
da produtividade do parque industrialprodutor depainéis,
de modo a se obter maiores reduções nos preços destes
produtos.
O país dispõe de condições bastante especiais
para se tornar um importante produtor mundial de painéis
de madeira, uma vez que é detentor de tecnologia que
permite a utilização de extensas plantações de florestas
de rápido crescimento (pinus e eucalipto). Essa caracte-
rística, associada ao dinamismo do mercado interno e
internacional, tem sido um dos principais alavancadores
dos novos investimentos.

Paindis da Madeira
insumos formam-se várias cadeias produtivas, destacando-se que,
no caso dos setores de construção civil e moveleiro. os produtos de
madeira serrada e os diversos painéis de madeira são bens subs-
titutos entre si.

Os painéis de madeira dividem-se em três grandes gru-


pos: compensados, aglomerados e chapas de fibras comprimidas,
onde se insere o MDF. Em 1995, o consumo mundial, de 132
milhões de m3, estava dividido em 36% para os painéis de com-
pensado, 43% para os aglomerados e 31% para os painéis de
fibras comprimidas. No Brasil, o volume de 2 milh6es de m3
consumido em 1995 obedeceu as seguintes fatias: 50% para os
compensados, 40% para os aglomerados e 10% para os painéis de
fibras comprimidas.

Caracterização O MDF é o painel produzido a partir de fibras de madeira,


do Painel de aglutinadascom resinassintéticasatravésde temperaturae pressão,
MDF destinado principalmente a indústria moveleira. Possuindo consis-
tência similar a da madeira maciça, o MDF permite acabamentos do
tipo envernizamento, pinturas em geral ou revestimentoscom papéis
decorativos, lâminas de madeira ou PVC.

A produção e a comercializaçáo mundiais do MDF foram


iniciadas em meados da década de 60, como resultado de uma
pesquisa que tinha por objetivo a substituição da chapa de fibra dura
por um produto de melhor qualidade e com processo produtivo
menos poluente. No entanto. ao final da pesquisa. constatou-se que
o novo painel poderia ter maior espessura do que aquela inicialmente
prevista, o que permitiu, na época do seu lançamento, que o MDF
fosse tamb6mconsiderado umsubstitutodoaglomerado. Dadaasua
melhor qualidadee usinabilidade,o novo produto também teve ampla
aceitação nos mercados usuários de compensado e madeira ser-
rada.

Normalmente, o MDF apresenta preço maior do que o


painel de aglomerado e inferior comparativamente ao painel de
compensado. Cumpre observar. assim, o elevado valor que ele
proporciona, comparado ao preço pago pelo comprador. No caso
especifico do MDF é significativa esta relação, tendo em vista o
impacto cumulativo que proporciona na cadeia de valores do com-
prador vis-a-vis os produtos concorrentes. Destaque-se. assim, a
redução do uso de tintas, laca, vernizes e cola. além da economia
obtida com o menordesgaste das ferramentas e menores índices de
refugo.

Painéis de Madeira
O painel de aglomerado é formado a pariir da redu~ãoda Cat'a~teiiZa~á0
madeira em partículas. Após a obtenção das partículas de madeira, do Painel de
estas são impregnadas com resina sintética que, arranjada de ma- Aglomerado
neira consistente e uniforme, forma um colchão.

Esse colchão, pela ação controlada do calor, pressão e


umidade, adquire a forma definitiva e estável denominada aglomera-
do. O painel de aglomerado pode ser pintado ou revestido com vários
materiais, destacando-se papéis impregnados com resinas melamí-
nicas, papéis envernizáveis e lâminas ou folhas de madeira natural.

Grande parte da demanda de painéis de aglomerado está


associada ao setor moveleiro, sendo o consumo restante dividido
entre a fabricação de racks, caixas acústicas, gabinetes de televisão
e divisórias.

O painel de compensado tem múltiplas aplicações: cons- CaracteriZa~áo


trução civil, móveis, formas para concreto, embalagens etc. Suas do Painel de
caracteristicas mecânicas,grandes dimensões e variedades de tipos Compensado
adaptaveis a cada uso, constituem os principais atributos para jus-
tificar a ampla utilização desse material.

um produto obtido pela colagem de lâminas de madeira


sobrepostas, com as fibras cruzadas perpendicularmente. o que
propicia grande resistência fisica e mecânica. O compensado e
produzido sob duas principais especificações: a) para uso interno
(moisture resistenf) com colagem a base de resina de uréia-formol,
sendo empregado basicamente na indústria moveleira; e 6) para uso
extemo (boiling water proof) com colagem a base de resina de
fenol-fotmol, sendo normalmente utilizado na construção civil.

Sob o ponto de vista do ciclo de vida da indústria, o painel


de compensado pode ser considerado como um produto maduro.
Assim. em alguns nichos de mercado. como em móveis seriados.
vem sendo substituido pelo painel de aglomerado elou o MDF. O
consumo mundial e declinante. uma vez que vem sofrendo restrições
ambientais, escassez de matéria-prima e elevação dos custos de
produção.

E m 1996existiam, no mundo, cerca de 176 indústriascom Painel de MDF


capacidade instalada de 15,6 milhões m3/ano de MDF (Gráfico I),
destacando-se como principais regiões produtoras a Europa (39%), Mercado
a Asidoceania (35%) e a América do Norte (21%). A previsão de Internacional
aumento da capacidade instalada mundial. para os próximos très

BNOES Setonal, Rio da Janeiro, n. 6.p. 117-132,set 1997 121


evidência dessa perda de competitividade, as exportações dos Es-
tados Unidosdecresceramcerca de 60% no período 1992196, apesar
de terem sido instaladas novas plantas.

O Brasil é uma das poucas economias industrializadas do Mercado


mundo que ainda não produz pain6is de MDF, com o mercado Nacional
nacional praticamente suprido pelo Chile e Argentina. As imporia-
ções brasileiras de MDF, iniciadas em 1988, atingiram cerca de 65
mil m3 em 1996, conforme discriminado na Tabela 1.

As quantidades importadas, ainda que reduzidas em ter-


mos absolutos, vêm crescendo rapidamente nos Últimos anos, mos-
trando que o mercado já superou a fase de informaçóes e testes do
produto. A curva de substituiçáo, que normalmente assume a forma
de S, estaria no início da fase ascendente, em direção ao limite
máximo do mercado. Com efeito, tal trajetória é bastante comum no
período de introduçêo e consolidação de um novo produto. já haven-
do ocorrido com o MDF em outros paises, conforme os dados
apresentados na Tabela 2.

Tabela 1
Brasil: Importações de MDF 1988196 -
(Em m3)

ORIGEM 1988 1989 1964 1991 1992 1993 1894 1995' 19%~

Argentina 534 4.169 5.376 11.381 6.235 4.663 1.968 5.900 n.d.
Chile - - - 349 8.265 7.607 14.436 21.000 n.d.
Total 534 4.169 5.376 11.730 14.500 12.270 16.404 28.700 65.000
Fonte: STCP.
~~ ~

a 1995 - indui 1.800 d impor!ado de arfros paises.


1996 - estimativa.
n.d. = não-disponivel.

Tabels 2
Taxa Média de Expansfio do Consumo de MDF
(Em %)

PA~SES TAXA
Estados Unidos (1976186) 13,2
Europa (1980190) 16.5
Japáo (1988193) 11,6
Corbia (1988193) 16.1
Brasil (1991196) 40,8
Fontes Jaakko Pbyry. Sunds Deribrator e STCP
Nota Cresnmenlo anual medro apds abnqir 0.5% de pamclpaCão no mercado de
madeiras industrializadas.

BNDES Setorial, Rio de Janeim. n. 6. p. 117-132, se!. 1997


China, Coreia, Japáo, Indonésia e Tailândia tiveram, conjuntamente,
naquele mesmo período, um crescimento da produção próximo de
10% a.a., a taxa relativa do aumento da produção dos dois maiores
produtores - Alemanha e Estados Unidos - foi praticamente igual a
da média mundial, 2,5% a.a. (Gráfico 2).

Note-se que o maior aumento de capacidade instalada nos


próximos anos deverá ocorrer na área da Ásia/~acífico(2,7 milhões
de mJ), seguidada América do Norte (2,3 milhões de m3)eda Europa
(2 milhões de m3).

O volume exportado no período 1985195 cresceu de forma


consistente, apresentando uma taxa média em tomo de 5,9% a.a.,
a
alcançando, em 1995, II,3 milhóes de mg (26% da producao mun-
dial). No com6rcio internacional destacam-se como exportadores o
Canadá (27%) e Benelux (15%), enquanto os principais mercados
importadores são constituidos pelos Estados Unidos (30%) e pela
Alemanha (14%). Ressalte-se, contudo, que e na área da Ásial~aci-
fico que vêm se observando as maiores taxas de crescimento das
importações, especialmente na China, em Hong Kong, no Japáo e
na Coréia.

O aumento do fluxo de comércio entre os países tem


ocorrido principalmente com produtos de maior valor agregado (aglo-
merados revestidos com papel melaminico, lâmina de madeira etc.).
Com efeito, o painel de aglomerado standardé um produto com raio
de comercializaçáo restrito, posto que seu baixo valor e sensível aos
custos de transporte.

As previsões sobre o desempenho doconsumo mundial de


painéis de aglomerado mostram que o mercado continuará em
expansão (3,1% a.a.), se bem que a taxas bem inferioresh demanda
do mercado de MDF (8,4% a.a.). A tendência observada é a gradativa

Gnnlco 2
Participaçáo das Regiões Produtoras de Aglomerado 1995 -

Norte
25%
Produção Mundial: 55 milhóes '
m

BNDES Setorlal, Rio de Janeiro, n. 6, p. 117-132,sat. 1997


substituição do compensado grosso pelo painel de aglomerado na
indústria moveleira.

Mercado A industria nacional de aglomerados operou com sua ca-


Nacional pacidade máxima em 1996, não conseguindo atender plenamente a
indústria moveleira, que consome cerca de 90% da produção. Nesse
quadro, o nível de preços atingido naquele ano viabilizou impoitaçóes
da Argentina e mesmo da Europa, em quantidades nunca antes
verificadas (cerca de 100 mil m3).

Como resultado do plano de estabilização, ocorreu um


crescimento expressivo da demanda de móveis populares, que
utilizam o aglomerado como matéria-prima. O desempenho recente
do mercado interno de aglomerado pode ser melhor visualizado na
Tabela 4, que discrimina, a partir de 1990, o consumo anual.

O parque industrial de painéis de aglomerado no Brasil é


representado por poucos grupos econômicos, cujas unidades fabris
localizam-se principalmente na região Sul (Gráfico 3). Estima-se que
a capacidade instalada total seja da ordem de 1.515 mil m3lan0,
sendo a Duratex responsável pela maior produção (28%), seguida
da Satipel(23%) e da Placas do Paraná (17%).

Giallçb'J
Brasil: Capacidade de Produção de Aglomerado 1997 -
5DO

.,."o

Tsbela 4
Brasil: Evolução do Consumo de Aglomerado - 1990196
(Em Mil m3)

DISCRIMINAÇÁO 1990 1991 1992 1995 1894 1995 1996'

Consumo 486 511 626 653 685 785 1.210


A % a.a. - 5.1 22.5 4.3 4,9 14,6 54.1
Fonte: STCP.
'Estimativa.

Painéis da Madeira
Além desses fornecedores, deve ser destacado que a
Masisa, empresa chilena que possui uma planta industrial de aglo-
merados localizada na Argentina, vem abastecendo, também, o pólo
moveleiro de Bento Gonçalves (RS).

Não obstante alguns investimentos em curso para a expan-


são da produção, estimar que o mercado de'aglomerados
continuara a ser atendido de forma insuficiente pela produção inter-
na, especialmente nos segmentos que utilizam painéis revestidos.
Para atender satisfatoriamente a um incremento médio de demanda
da ordem de 6,5% a.a., o setor necessitará expandir a capacidade
instalada em tomo de 50%, nos próximos sete anos. Isso significará
O acréscimo de, pelo menos, 750 mil a atual oferta da indústria
m3
de aglomerados, além dos investimentos necessários a atualização
tecnológica de algumas linhas de produção (Tabela 5).

Tabeln 5
Brasil: Produção e Consumo de Aglomerado - 199712002
(Em Mil m3)

DISCRIMINAÇAO 1997 1998 1999 20W 2001 2W2

Produção 1.200 1.320 1.380 1.430 1.440 1.440


Consumo 1.171 1.247 1.328 1.415 1.507 1.605
Fonte: BNDES.

A participaçao
.. -
do compensado no mercado internacional Painel de
representa cerca de 34% de todos os tipos de painéis de madeira, Compensado
vindo logo depois do painel de aglomerado (37%). O volume total
produzido no ano de 1994 atingiu 49 milhões de m3, apresentando ~ ~ ~ ~ ~ d
uma recuperação em relação a produçãoobtidaem 1991 apósaforte ~ ~ t ~ ~ ~
queda observada no periodo 1988191. Ressalte-se que, no periodo
1988194, o crescimento total da produção de todos os tipos de painéis
de madeira foi próximo de 11%, sendo. entretanto, este desempenho
bastante diferenciado segundo a espécie de painel.

A indústria de painel de compensado foi bastante afetada


pela recessão do início dos anos 90. Entretanto, já em 1992 nota-se
uma forte recuperação de sua produção, embora ainda não tenha
atingido os niveis do inicio da década de 80. Observe-se que a
reativação ocorreu, principalmente, em função do dinamismo do
comércio internacional, cuja participação na produçáo total tem cres-
cido sistematicamente (Gráfico 4).

Cumpre salientar que o desempenho da produção do pai-


nel de compensado foi extremamente desigual entre os principais
países produtores. Efetivamente, enquanto China, Indonésia e Ma-
Iásia, em 1988, respondiam por cerca de 20% do compensado

BNDES Setonel. Rio de Janeiro, n. 6, p. 117-132,set. 1997


Gráfico 4
-
Compensado: Produção Mundial 1988194

produzido no mundo, em 1994 estes países ja eram responsáveis


por32%, tendoernvistaaexpansáo realizadaem, praticamente, todo
o período. Em contrapartida, o volume produzido pelo Japão, os
Estados Unidos e a antiga URSS, em 1994, ainda era inferior aquele
verificado em 1988. No caso especifico da ex-URSS, a queda de
produção foi substancial, atingindo cerca de 55%, no período
1988194.

Destaque-se, ainda, que Estados Unidos, Indonésia, Ma-


Iásia, China e Japão concentram, aproximadamente, 78% da produ-
çáo total, sendo que os Estados Unidos detêm 36%, a Indonésia
responde por 20%, seguida do Japáo com 10% e d a ~ a l á s i ae da
China com 6% cada uma.

De forma semelhante a produção, a demanda mundial de


compensados é bastante concentrada, com quatro paises abrangen-
do 72% do consumo: Estados Unidos, 37%; Japáo, 19%; China,
12%; e Coreia, 4%. Registre-se, ainda. o expressivo incremento da
demanda chinesa no período 1988/94, apresentando uma taxa me-
dia de crescimento da ordem de 16% a.a..

As transações internacionais referentes ao painel de com-


pensado envolvem cerca de US$ 8 bilhões, correspondentes a
aproximadamente 18 milhões m3, o que equivale a 36% da produçáo
mundial. Note-se, ainda, que o valor relativo a comercialização de
compensados no mercado mundial e o dobro daquele observado
para os demais tipos de painéis. A Indonesia é o principal pais
exportador (US$ 3,7 bilhões), respondendo por cerca de 46% do
volume do comércio internacional, secundada pela Malásia, com
17% os Estados Unidos. com 8%. e o Brasil, com 4% (Gráfico 5).

Nesse cenArio, os preços praticados no comércio interna-


cional são influenciados pela Indonesia, em face da sua expressiva
participação no mercado mundial. Ressalte-se. contudo, que o nivel
de exportação atingido pela Indonésia não deverá manter-se nos

Paindis de Madeira
Gráfico 5
Compensado: Exportações Mundiais 1988194 -

11988 m1994 1

Indonesta Malãsa
m,qah
Europa Estados Brasil Ouilos
-

Unidas

prbximos anos, tendo em vista sua menor disponibilidade de maté-


ria-prima.

Como principais importadores, destacam-se o Japão (23%


das importações globais) e a China (17%), seguidos dos Estados
Unidos e da Coréia com 9% e 6% das importaçóes, respectivamente.

O mercado mundial de compensado vem gradativamente


perdendo espaço para outros tipos de painéis, em virtude de aqueles
produtos apresentarem melhor relação preço/desempenho. O com-
pensado é considerado um produto maduro, com restrições de
natureza ambiental: a baixa disponibilidade de toras de qualidade
para laminação e seus custos elevados tendem a reduzir a oferta de
madeira compensada em todo o mundo.

Assim, especialistas do setor prevêem como principais


tendências. em nivel mundial, a estabilidade ou mesmo a reduçáo
do tamanho do mercado, além da diminuição progressiva das mar-
gens de lucro. Em uma competiçáo com tais características, é
fundamental que as empresas procurem se direcionar para um
determinado mercado geográfico elou segmento de linha de produ-
tos, de forma a recuperar as margens de lucro potencialmente
declinantes.

O segmento produtor de painel de compensado no Brasil Mercado


é constituído, predominantemente, por pequenas e médias empre- Nacional
sas, que possuem cerca de 400 fábricas, concentradas em sua
maioria na região sul e. em especial, no Estado do Paraná.

Sob o ponto de vista regional, o parque produtor de com-


pensados divide-se em duas vertentes: de um lado, a região Norte
projeta-se como o mais expressivo centro industrial de painel de

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6. p. 117-132.sei. 1997


são crescentemente pressionadas a deixar de comercializar produ-
tos elou utilizar processos que representem elevadas perdas de
recursos florestais, caminhando para uma operação ambientalmente
sustentável.

O Brasil, a par da sua tradição de exportador de produtos


sólidos de madeira, conta com todas as características para aumen-
tar sua inserção no cenário internacional, alem de atender a crescen-
te demanda interna por painéis de madeira, fruto dos benefícios
gerados pelo plano de estabilização, que propiciou a incorporação
de novos consumidores ao mercado, especialmente daquele cons-
tituido por móveis populares.

Esse expressivo crescimento do consumo de painéis, as-


sociado a existência de florestas plantadas já em idade de corte,
motivou grandes gnipos nacionais e estrangeiros a investirem novas
plantas, trazendo tecnologias até então inexistentes no pais, como a
da produção de MDF.

Especialmenteno que se refere ao painel de compensado,


ênfase deve ser dada aos investimentos direcionados para a atuali-
zação tecnológica do parque produtor, bem como devem ser criados
mecanismos que estimulem as indústrias locais a utilizar mais inten-
samente madeira proveniente de reflorestamento. Os produtores de
painéis de compensado terão seu mercado gradativamente absorvi-
do pelos demais tipos de painéis de madeira, exceto em determina-
dos mercados geográficos ou nichos específicos. Deve ser enfatiza-
do, contudo, o tamanho desse mercado, cujas dimensões são ainda
significativas. tanto mundial como nacionalmente.

Em resumo. a indústria nacional de painéis de madeira


desfnita de situação extremamentevantajosa, seja pelas dimensões
e dinamismo do mercado interno, seja pelo acesso a matéria-prima.
O país tem condições de formar extensas areas plantadas com
espécies florestais de rápido crescimento, que podem sustentar uma
expansão consideravel da produção atual de painéis de madeira.

Novos investimentos destinados ao aumento da eficiência


elou expansão do parque industrial de painéis de madeira terão
reflexos imediatos na indústria de móveis e no setor de construção
civil, a medida que o produto brasileiro se torne mais competitivo.

Paindis de Madeira
O SEGMENTO DE FIAÇÁO
NO BRASIL
Ana Paula Fontenelle Gorini
Sandra Helena Gomes de Siqueira*

"Respectivamente, gerente e tdcnica da Gersncia Setorial de Bens de


Consumo Náo-Duráveis do BNDES.
As autoras agradecem a colaboração do estag~ariode economia Mauro
Arnaud de Oue~rósMattoso e lambem a Jose Mar~aSlrnas de Miranda (do
SenaEetiqr) e Renato Francisco Mariins (ao BFVDESJ Agradecem alnoa o
apoio bibliograf~code Arihur Adolfo Garrido Garbayo
E m 1995,a produção nacional de fios (exciusive fiiamen- Panoiama
tos) alcançou cerca de 1,16 milhão de 1, representando uma queda Nacional
acumulada de aproximadamente 16% em relação a 1989 (Tabela 1).
da
Ressalte-se que a qtueda na produção foi bem menor que a diminui- Evaluç~o
çáo do número de empresas (-47%) e de mão-de-obra (-62%) no prOduFãO
mesmo perÍodo, como veremos mais adiante, refletindo OS ganhas
de produtividade e a modernização ocorrida nesse segmento. Em
1996, houve crescimento na produçáofisica de fios: 5.5% em relação
ao ano anterior [Carta Capital (1997)l.

As Tabelas 1 e 2 a seguir apresentam o volume de fios


produzidos, segundo a fibra predominante, e a evolução do valor
dessa produção, no período 1989195, que atingiu US$4.4 bilhões no
último ano. As estatisticas incluem o consumo cativo das empresas
integradas, o qual representou mais da metade da produção física
total de fios em 1995.

A implantação de uma unidade de fiaçáo economicamente


viável só é possivel a partir de grandes volumes de produçáo, pois
os equipamentos exigidos possuem escalas minimas de produção
elevadas e trabalham de forma interligada, em regime continuo.
Assim, o elevado volume de investimento se constitui em uma
barreira h entrada. tomando pouco viável (e ineficiente) a implanta-
ção de pequenas unidades nesse segmento. Além disso, e expres-
sivo o grau de integração vertical da fiaçáo com as demais etapas do
processo produtivo, especialmente com a tecelagem. No Brasil. por

Tabela i
Produções Física de Fios 1989195 -
(Em Mil 11

NATUREZA 1989 1990 1991 1992 1993 1994 ~~~SVARIAÇAO


1%)
, , 1989195

Algodáo 1.032 906 891 998 1.030 1.012 849 -17.8


Polipropileno 67 69 88 92 87 94 90 33,3
Poliéster 62 55 58 67 81 95 66 6,l
Acrilico 29 28 27 20 23 26 19 -33.8
Náilon 4 3 2 2 3 3 2 -37,O
Viscose 26 24 30 30 32 35 31 18,2
Outros 149 140 138 145 138 111 99 -33,6
Total 1.369 1.225 1.234 1.355 1.395 1.377 1.156 -15,6
Fonte: lerni.

BNDES Setorial. Rio de Janelm, n. 6,p. 133-154. sal. 1997


Tabela 2
Valor da Produção de Fios segundo sua Natureza - 1989195
(Em Milhões de US6)

NATUREZA 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 VARIAÇAO


1%) 1989195

Algodão 3.739 3.802 3.561 3.962 4.146 4.248 3.264 -12,7


Poliéster 323 348 309 355 419 492 344 6,5
Acrilico 266 324 250 164 193 227 153 -42,7
Seda 107 99 115 121 173 193 118 9,6
Outros 653 656 625 654 661 662 573 -12,2
Total 5.089 5.229 4.861 5.276 5.593 5.822 4.452 -12,5
Fonte: lemi.
Nota: Os valores foram calculados a partir dos preps médios dos artigos e não
representam efefivamenle o faluramenlo contabilizadopelas empresas.

exemplo, as fiações exclusivas representaram apenas 22% das


indústrias de fiação e 13%do total da produção física de fios em 1995
- percentuais que vêm caindo ao longo da década.
0 s fios provenientes das fibras sintéticas têm, em geral,
patamar de preços superior aos de algodão, não obstante, apresen-
taram tendência declinante no período 1989195, especialmente os
fios de acrílico e viscose (Tabela 3). Os fios de poliester- fibra têxtil
mais consumida no país, após o algodão - apresentaram nível de
. . estável no período, em tomo de US$ 5,36Ikg,
preços - em média,
representando, todavia, margem ainda elevada em relação ao preço
da fibra de poliéster no mercado doméstico (exclusive impostos), ao
redor de US$1,80 a US$2,20/kg (valores de maFo de 1995. com
base em infomlações das empresas).

Dentre os principais produtores mundiais, cabe destacar


que o Brasil foi o quinto maior produtor mundial de fios em 1995,

Tabela 3
Evolução dos Preços Médios da Fiação (exclusive Impostos)
- 1989195
(Em US$/kg)

NATUREiA 1989 1980 1991 1992 1993 1994 1995 VARIAÇÃO


..
1%) 1989195

Algodáo 3,62 4,20 4,OO 3.99 4.02 4,20 3,84 6.1


Polipropileno 1,05 1,09 1,04 0.96 0.96 1,01 1.02 -2.6
Poliéster 5,24 6.29 5.34 5.27 5.19 5,18 5.25 0,3
Acrflico 9.1411,73 9,17 8,18 8.24 8,63 7,91 -13.5
Náilon 10,39 14.01 11,43 10,85 10,58 10,61 9,49 -8,7
Viscose 4,04 5,25 4,13 3,92 335 4,Ol 3,54 -12,3
Seda 49.2249.7652.6649.7950.8754,7658.08 18,O
Fonte: ElaboraFdoBNDES, com base nos dados do lemi.

O Segmento de Fiação no Brasil


incluindo fios de algodão - que respondem por mais de 70% da
produção nacional de fios - e sintéticos, produção destinada quase
integralmente ao consumo doméstico. A produção brasileira é inferior
ao volume produzido na China, maior produtor mundial, com cerca
de 5 milhões de t, nos Estados Unidos, com 3,6 milhões de t, na índia,
com 2,3 milhões de t, e no Paquistão, com 1,4 milhão de t (Gráfico
1). Com relação a produção de fios de algodão, o Brasil também foi
quinto lugar, porém com uma participação maior, 7% (Gráfico 2). Em
termos defilamentos sintéticos, os maiores produtores mundiais são
os Estados Unidos, Taiwan, China e Japão [ITMF (1995)l.

A maioria das fiações brasileiras. cerca de 46%, utiliza


como principal fibra o algodão; no caso das fiações exclusivas, essa
predominância alcança 81% de participação. Algumas fiações são
fortemente voltadas para a exportaçáo, como e o caso das de lá (em
tops). seda e sisal.

Grdflco i
Distribuição da Produção Física de Fios (Algodão e
-
J9b -
Sintético) entre os 10 Maiores Produtores 1995
w-
2% 1X

m+z.-
%

?.,L

Fonte: ITMF.
'Dados de 1994.

Grdfico 2
Distribuição da Produção de Fios de Algodão entre os 10
Maiores Produtores Mundiais 1995 -

Fonte: ITMF
'Dadas de 1994

BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 6. p. 133-154.se!. 1997


consumo de energia, e eliminação de estágios de produção. Hoje,
no mundo. aproximadamente 25% de todos os fios provenientes de
fibras curtas são produzidos em máquinas open-end[Revista Têxtil
(1995)], sendo que os Estados Unidos apresentam a maior capaci-
dade instalada mundial de rotores, superior a 900 mil rotores. Não
obstante, os filatónos a anel apresentam maior flexibilidade de pro-
dução ante os demais sistemas considerados, o que explica a sua
coexistência com esses sistemas mais produtivos.

Os fios, que podem ser produzidos a partir de fibras natu-


rais (algodáo, seda, lá, entre outras), sintéticas (químicas ou celuló-
sicas), ou ainda da mistura entre elas, são em geral de dois tipos:
cardado e penteado. No Brasil, a predominância ainda é do tipo
cardado. enquanto na Europa predomina o fio penteado - com
-
eliminação de cerca de 20% das fibras curtas de melhor qualidade
e valor superior. Nos Estados Unidos. utiliza-se muito o fio semipen-
teado, em que a eliminação das fibras curtas é da ordem de 8%.

O parque têxtil brasileirocontacom661 empresasdefiaçáo Parque Industrial


e está fortemente concentrado na região Sudeste. onde se localiza-
vam 475 indústrias de fiação em 1995, cerca de 72% do total. O maior
produtor é o Estado de São Paulo, com 343 unidades, o que
representa 52% do total nacional. A região Nordeste aparece em
segundo lugar, com 102 empresas, ou seja, 15% do total.

O Estado de São Paulo que já representou parcela de 35%


da produção física nacional de fios em 1989, respondia por 28% no
final de 1995, sendo que a região Sudestesofreu declínio acumulado
da produção de 24% no periodo 1989195, passando a representar
parcela de 47% do total nacional. Em contrapartida, a regiáo Nordes-
te - segunda maior produtora depois do Sudeste - incrementou sua
participação em cinco pontos percentuais. passando a representar
30% do total da produção física nacional de fios em 1995. Cabe
destacar o estado do Ceará. que passou a ser o segundo maior
produtor nacional de fios depois de São Paulo, ultrapassando a
produção de Santa Catarina e Minas Gerais. respectivamente. o
terceiro e quarto maiores produtores.
3~ oarllrdoaumentodas ve-
Conforme já mencionado. apenas 143 empresas, 22% do locidaaesdorolor. o fioopen-
end avanpu nas garnas de
total, não têm nenhuma integração e se dedicam exclusivamente a litolos médios e mais finos.
fiação. A tabela a seguir, a qual inclui as fiações integradas, apresen- sendo uhl!zaOO m e em ma-
ta a distribuição geográfica das indústrias de fiação instaladas por Ianas. M prcdUçao de cam
sas. vestuário esmrlim mu-
região e a evolução do número dessas instalações. pas inhnws. enire outros m-
IemonadaF. apesardeserum
No período 1989195, o número de empresas no Brasil fio de m i s t 6 n d a mais dura
que o convencional, prove-
declinou 47%. cabendo destacar que a maior queda ocorreu no ano nienmda riaçãoaanel~vis-
de 1995, quando o número de indústrias de fiação passou de 941 ta Texiil (nov. 1995. p. 69)].

BNOES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6,p. 133-154,se!. 1997 139


Tabela 6
Parque Nacional de Mdquinas Instalado na Fiação 1989195 -
(Em Unidades)

MÁQUINA 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 VARIACÃO


(%) 1989195

Abridor de fardo 1.981 1.964 1.976 2.042 2.113 2.109 2.049 3,4
Binadeira 926 910 893 918 928 925 913 -1,4
Carda 10.807 10.644 10.424 10.530 10.532 10.538 10.379 -4,O
Filatório a Rotor 1.050 1.085 1.102 1.141 1.179 1.184 1.161 10,6
Filatório de Anel 26.135 25.666 25.277 25.799 25.827 25.938 25.541 -2,3
Maçaroqueira 3.234 3.216 3.217 3.287 3.263 3.275 3.211 -0,7
Misturador 159 159 159 172 204 223 225 41,5

Passadeira 7.676 7.600 7.563 7.658 7.602 7.582 7.424 -3.3


Penteadeira 9.399 9.404 8.992 9.288 9.081 9.042 8.803 -6.3
Reunideira 1.002 996 986 1.030 1.000 1.O04 959 -4,3
Fonte: lerni.

expressiva participação dos filatórios a anel, em contraposição a


pequena parcela relativa dos filatórios a rotor. Além disso, no que diz
respeito a idade média, o Gráfico 3 destaca o elevado patamar das
máquinas a anéis, com idade média superior a 13 anos, a partir do
qual podemos inferir a baixa produtividade dessas máquinas. Em
contraste, os filatórios a rotor apresentam idade media em torno de
cinco anos.

Podemos observar, contudo, que a idade média dos filató-


rios a rotor e a anel vem caindo nos últimos seis anos (Gráfico 3), o
que indica o esforço da indústria nacional para alcançar um grau de
modernização compatível com os parâmetros internacionais, dos
quais o Brasil ainda está distante: a título de exemplo. enquanto
apenas 32% dos fusos e rotores instalados no Brasil têm menos de
10 anos. em Taiwan esse número é de 52%. na Itália é de 70% e
atinge 76% em Hong Kong [Citibank (1995)l.

Embora o pais seja um dos mais importantes produtores


do continente americano -, o Brasil é líder em termos de fusos
instalados e só perde para os Estados Unidos na capacidade ins-
talada de rotores - as máquinas brasileiras de fiação possuem baixa
representatividade no total do parque mundial. com parcelas de 5%
e 2% dos fusos e rotores disponiveis em 1994 [ITMF (1995)], res-
pectivamente. Em contraste, a China, líder mundial na capacidade
instalada de fusos, detinha no mesmo ano 25% e 7% do total do
parque mundial instalado de fusos e rotores, seguida pela india, com
parcelas de 17% e 2% respectivamente. 0 s Estados Unidos, em
1994, possuíam 4% dos fusos e 13% dos rotores instalados no
mundo.

BNDES Setonal. Rio de Janeiro, n. 6, p. 133-154.set. 1997


Tabela 7
Indicadores EconÔmic~Financeiros 1995 -
EMPRESAS DE ESTADO FATURAMENTO 1995/94' MARGEM LUCRATIVIDADE
FIACAO L~OUIDO (%) BRUTA 1%)

Campo Belo SP 61.868 (26) 10 1


Bratac SP 50.375 (8) 15 2
Tebasa CE 41.713 (14) 18 1
Cotece CE 36.606 (42) 8 (13)
Noriil PB 31.522 (27) 20 3
TEM Têxtil CE 28.564 n.d. 9 2
Bezerra de
Menezes CE 25.195 (25) 2 (17)
Fonte: Balanp Anual 1996B7-Gazeta Mercantil.
alncluida a inflação do período.
n.d. = náo-disponivei.

Tebola 8
Indicadores Econõrnico-Financeiros 1995 -
EMPRESAS DE ESTADO FATURAMENTO 1985194" MARGEM LUCRATC
FlACnO E LIOUIDO /o) BRUTA VIDADE
TECELAGEM (USS MIL) 1%) (n)
(INTEGRADAS)

Alpargatas Santista SP 399.440 (16,7) 14 (15)


Vicunha N E CE 214.768 (12.1) 27 5
Cedro e Cachoeira MG 137.117 (21,l) 23 1O
Cremer SC 111.220 (17.1) 22 (9)
Braspérola ES 99.185 (27,8) 25 (10)
Santanense MG 94.313 (30,9) 6 1
Jauense SP 88.595 (0,4) 16 1
Itaunense MG 67.768 (14,O) 21 (19)
Paramount Lansul SP 67.066 (27) 24 1
Fonte: Balanp Anual 1996B7-Gazeta Mercantil.
alncluidaa inflaçãodo periodo.

Recentemente, algumas empresas do Sul e do Sudeste


deslocaram-se para o Nordeste, especialmente para o Ceará, devido
aos menores custos de mão-de-obra e aos incentivos fiscais ofere-
cidos, o que também repercutirá favoravelmente na rentabilidade
média do setor.

Entre outros movimentos observados no segmento, cabe


destacar:

a) algumas empresas integradas desde a fiação, tecela-


gem até o acabamento estão redirecionando o seu mixde produtos
para a produçáo de tecidos de maior valor agregado e rentabilidade,

BNDES Setoiial. Rio de Janeiro. n. 6.p. 133-154.sel. 1997


como, por exemplo, tecidos de brim em substituição aos tecidos d
base de viscose e popeline, que sofrem a concorr6ncia dos tecidos
importados no segmento de roupas mais populares;

b) aumento da concentração do setor, com algumas em-


presas de porte investindo fortemente no aumento da escala e
incremento da produtividade na fabricação de commodities direcio-
nadas as classes mais populares - aproveitando os incentivos fiscais
no Nordeste; e

c) concentração da produção de maior valor agregado


(caso dos sintéticos, por exemplo) próxima aos grandes mercados
consumidores.

De modo geral, esses movimentos retratam o esforço das


empresas do setor no sentido de enfrentaracrise desencadeada pela
abertura da economia e acirramento da concorrência dos importados
nos últimos anos, que resultou no fechamento de algumas empresas
e na reorganização de outras, a fim de permanecerem no mercado.

Emprego O segmento de fiação acompanha a tendência do setor


têxtil de redução da mão-de-obra, em função, principalmente, da
modernizaçáo do parque industrial e da maior concentraçáo produ-
tiva. A implantaçáo de equipamentos com comando eletrõnico, os
quais permitem que um operario possa controlar um maior número
de maquinas, toma a produção mais intensiva em capital. Conforme
podemos verificar na Tabela 9, apesar de a redução do nível de
emprego ter atingido todas as funçóes, a queda foi maior nas
categorias direta e indireta, que caíram a taxas superiores a média
do segmento, com declinio médio do pessoal empregado acima de
60% entre 1989 e 1995.

No gráfico a seguir, apresentamos uma comparaçáo das


linhas de tendência das principais variáveis relacionadas ao desem-

Tabelo 9
Máo-de-Obra Empregada na Fiação por Função - 1989195
MAO-DE-OBRA 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 VARIAÇAO
(.A) 1989195

Direta 292.581 227.015 199.063 130.586 119.486 120.635 107.455 -63.3


Indireta 44.460 31.533 24.884 16.493 15.007 15.068 13.461 -69.7
Administrativa 6.240 6.174 6.008 5.089 5.097 5.636 5.002 -19,8
Vendas 7.606 7.315 7.110 6.559 6.580 7.129 6.352 -16.5
Total 350.887 272.037 237.065 158.727 146.170 148.468 132.270 -62.3
Fonte: iemi.

144 O Segmento de Fiavão no Brasil


GrIifleO 4
Comparação dos Principais Indicadores: Fiação 1989195 -
105.
,,..----...

u
4s

35
\
.-cs----
- -.
1880 tObO 1891 1992 ffl! 1904 I@
Fonte: lemi.
,-WEmpnut-
- - - -m p P P W o ~ ~ m - - FU=/

EIaboraGa: BNDES.

penho do segmento: mão-de-obra empregada. número de indústrias.


produção e capacidade instalada (através do número de fusos).

Conforme podemos observar, embora tenha ocorrido uma


grande redução no número de empresas e pessoal no segmento de
fiação no Brasil entre 1989 e 1995, da ordem de 50%-60%, a
produção apresentou uma redução de 15,6% no mesmo periodo, o
que indica a maior produtividade dos equipamentos que vêm sendo
instalados. Cabe destacar ainda que a capacidade de produção do
país não foi afetada, tendo sido a redução do número de fusos de
apenas 5% no periodo considerado. Esses dados mostram dois
aspectos muito importantes: de um lado, a ocorrência da concentra-
ção industrial nesse segmento da cadeia têxtil, confirmando a neces-
sidade de escala para que a fiação seja economicamente viável e,
de outro, a tendència ao declinio do número de operários em relação
direta com o aumento do grau de modemização industrial.

O inicio da década de 90 foi marcado pelo processo de Exportações e


abertura comercial da economia brasileira. Desde então, as empre- Importações
sas nacionais do setor têxtil (incluindo vestuário) tiveram como Nacionais de
concorrentes os produtos importados, sobretudo, os de procedência Fios e Tecidos
asiática. Cabe destacar. ainda. o incremento expressivo das impor-
tações provenientes do Mercosul. que, em 1996, representaram
parcela de 30% do valor total das importaçóes nacionais tèxteis
(inclusive confeccionados), a frente da China, Indonésia, Japão,
Taiwan e Coréia do Sul (países que juntos representaram parcela de
16% das nossas importações), dos Estados Unidos, com 13%, e da
União Européia, também com 13% (Gráfico 5).

BNDES Setorial. Rio de Janeiro, n. 6.p. 133-154. set. 1997


Grático 5
Origem das Importações Nacionais Têxteis (inclusive
Confeccionados) 1996 -
(Em US$ FOB)

Estados
Unidos
Oinros 13%
28%

1% Japão China ~niwan Coreia


1% 6?$ 39% 5';

Fonte: Secex.

No caso dos tecidos, houve um enorme avanço das impor-


tações, principalmente dos tecidos de poliéster e náilon, originários
da China, Taiwan, Coréia, Estados Unidos e Irlanda. 0 s tecidos
artificiais e sintéticos, que em 1992 representavam 4% da pauta de
importações do setor têxtil nacional, passaram a representar parcela
de 17% em 1995, cerca de US$380 milhões no mesmo período, -
as importações têxteis totais mais que quadruplicaram. Muitos teci-
dos foram colocados no mercado brasileiro com preços inferiores a
metade dos cobrados pela indústria nacional e em alguns casos com
pretos abaixo do CUS~O do iabncante nacional. Não
de prvuu~á~
obstante, em 1996, as importaçõeS de tecidos artificiais e sintéticos
declinaram a uma taxa superior a 20% em relação ao ano anterior,
declinio em grande parte explicado pelas medidas adotadas no final
de 1995 e inicio de 1996, entre as quais cabe destacar o es-
tabelecimento de cotas em maio de 1996 para alguns fornecedores.
como a China, Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Panamá (com
vigência até 1999), e o aumento das aliquotas de importação de
certos produtos. especialmente tecidos sintéticos que. entre o final
de 1995 e meados de 1996. foram elevadas para 70%. mas já
voltaram novamente ao patamar da tarifa externa comum. de 18%
(Tabela 10).

Apesar do pequeno peso na pauta de importações téxteis


- a categoria fios representou 6% da pauta de importaçóes em 1995
-.
e 3% em 1996 as importaçóes de fios. assim como as de tecidos.
também aDresentaram incremento ex~ressivo:em 1992. totalizaram
US$25 m/lhões, passando para mais'de US$130 milhóes em 1995,
com destaque para o incremento das importações de fios de algodáo.
que totalizaram US$70 milhões naquele ano, e artificiais e sintéticos,
representando US$36 milhões. Em 1996, apesardo declinio de 40%
das impottaçóes de fios em relação ao ano anterior, estas ainda se
mantiveram em patamar superior ao do início da década, em tomo
de US$80 milhões (Tabela 11).

O Segmento de Fiação no Brasil


Tabela 10
Brasil: Irnportaçóes de Tecidos em Valor - 1991196
(Em US$ Mil)

PRODUTO 19% 1995 1994 1993 1992 1991

Seda 3.503 3.202 1.506 1.288 315 1.308


Lã 11.849 20.459 15.255 10.278 8.719 8.143
Algodão 75.439 109.805 33.423 11.044 5.485 14.417
Linho 2.151 2.728 2.598 4.213 1.471 4.658
Remi 3.650 11.547 14.924 14.853 2.701 618
Juta 62 201 177 67 67 134
Artificiais/SintBticosde Filamentos 94.017 250.580 124.549 48.1 60 16.419 29.048
Artificiais/Sintéticos de Fibras 49.221 135.451 54.725 18.448 6.840 7.687
Outros, inclusive Malhas 57.085 43.402 5.285 1.218 946 3.719
Total 296.975 576.733 252.443 109.571 42.962 69.732
Fonte: SinditBxtil/Abit.

Tabela 11
Brasil: Importaçóes de Fios em Valor - 1991196
(Em U S Mil)
PRODUTO 19W 1995 1994 1993 1992 1991

Seda 187 32 66 15 55 5
Lá 1.329 2.729 1.631 675 508 968
Algodão 43.218 71.517 29.638 20.583 2.394 9.061
Linho 5.786 15.586 15.018 25.405 17.029 30.561
Juta 1.521 2.233 599 440 237 335
Rarni 2.106 2.795 2.858 5.518 2.689 452
ArtificiaisISintBticos 25.460 36.506 5.719 2.705 2.266 7.963
Outros 33 62 6 8 132 54
Total 79.640 131.460 55.535 55.349 25.310 49.398
Fonte: .Sindit&kiiI/Abit

Com relação às exportações de tecidos - que representam


tradicionalmente parcela em torno de 20% das exportações totais
têxteis (inclusive confeccionados) -.
observamos uma melhora
inexpressiva entre 1992 e 1996: 1,6% no periodo, passando para
US$284 milhões. 0 s tecidos de algodão mantêm sua predominância
nas exportações totais de tecidos, tendo representado 79% desse
montante em 1995 e 75% em 1996.

No segmento de fios, as exportações declinaram a taxa


acumulada de 39% entre 1992 e 1996. totalizando US$180 milhões
(GrAfico 6). Nos casos específicos do linho e da juta, tivemos prati-
camente o encerramento das suas exportações em 1995, e uma
recuperação dos fios de linho em 1996 (Fonte: SinditêxtilIAbit).

BNDES Setorlal, Rio de Janeiro, n. 6. p. 133-154,set. 1997


Grdfico 6
Balança Comercial de Fios - 1992196
Ii E-
i<ponaçaesO l m p o i c a p e s -Saldo]
~ --

1992 1993 1994 1995 1996

Fonte: Sindt6xtiUAbit.

Por outro lado, os fios de seda vêm se situando em um


patamar relativamente estável, com exportações medias em torno de
US$ 75 milhões (parcela de 5% das exportaçóes totais em 1995,
aumentando para 7% em 1996). Em virtude da reduçáo das expor-
tações dos outros fios (algodão, juta, rami, linho e fios artificiaislsin-
teticos), a participaçáo dos fios de seda, em termos de valor, cresceu
de 26%em 1992para47%dototal das exportaç0es brasileirasde todos
os tipos de fios em 19%, passando a representar o principal produto
exportado dessa categoria, sobrepondo-se aos fios de algodão, com
parcela de 36% em 1996. Atualmente, o Brasil é o quinto maior
produtor mundial de fios de seda, contudo importa a maior parcela
desse tecido. não havendo praticamente qualquer produção interna.

Comparações De acordo com os dados apresentadospelo ITMF (1995).


de Custos sobre a cornposiçáo dos custos de produção na fiação de paises
selecionados - o algodáo é utilizado como matéria-prima básica -,
Internacionais
verificamos que o Brasil é competitivo em relação aos países do
Primeiro Mundo, sendo superado apenas pelos paises asiáticos,
exceto o Japão. Entre os países selecionados. quais sejam, (ndia.
Itália, Japão. Coréia do Sul, Tailândia e os Estados Unidos, o Brasil
perde apenas para a Coréia do Sul, a Tailãndia e a /ndia. Desse
grupo, o Japão é o pais com maiores custos de produção. destacan-
do-se o peso elevado da máo-de-obra nos custos totais.

Ao analisarmos a composição dos custos na fiação (Tabe-


las 12 e 13), obse~amosque o Brasil é competitivo na maioria dos
itens analisados. As principais vantagens do Brasil estão nos custos
de máo-de-obra e energia e as desvantagens, nos custos de capital
- item onde o pais perde, inclusive, para a índia. e que representa a
maior parcela dos custos totais de produçáo.

148 O Segmenfo de Fiação no Brasil


Tabela 12
Comparativo dos Custos de Produçáo nos Filatórios a Anel -
Países Selecionados
(Em Percentagem)

ITENS BRASIL INDIA ITALIA JAPÃO COREIA TAILANDIA ESTADOS


UNIDOS

Perdas 13 17 15 14 21 21 15
Salários 8 2 30 29 8 5 19
Energia 8 15 8 17 9 1O 6
Material Auxiliar 5 5 4 5 6 8 5
Depreciação 29 30 25 26 33 28 38
Taxa de Juros 37 31 18 9 23 28 17
Total (USâ/kgfio) 2,75 2,25 $00 3,40 2,25 2,20 231
Fonte: ITMF (1995).

Tabela I3
Comparativo dos Custos de Produçáo nos Filatórios
open-end- Países Selecionados
(Em Percentagem)

ITENS BRASIL INDIA ITAUA JAPAO COREIA TAILANOIA ESTADOS


-...- --
IINlnOS

Perdas 13 15 16 14 18 19 15
Salários 5 1 19 19 5 2 12
Energia 9 16 10 21 10 11 7
Material Auxiliar 7 7 7 7 8 10 7
Depreciação 29 30 28 29 35 29 41
Taxa de Juros 37 31 20 10 24 29 18
Total (USykgRo) 1,9B 1,78 1,98 2,3B 1,73 1,74 1,9B
Fonte: ITMF (1995).
6 ~ l o u nanalistasacredihm,
s
Uma comparação dos custos da mão-de-obra empregada in&sive. que com o fim do
na fiaçáo nos diversos paises das Tabelas 12 e 13 mostra clara- Acordo Mu11,iibras em 2005,
mente uma grande disparidade entre o Japão. Itália e os Estados o qual hoje impõe quotas aos
exoortadores nos .DrinciDais
.
Unidos e os demais paises, sendo que os custos do trabalho menados -entre os quas os
(inclusive encargos sociais) chegam a representar na Itália e no Estados Unidos. União Euro-
Japao em torno de 30% dos custos totais de produção. diferencial peia e Canada -, haveri um
sionificalivo innernenfo das
que chega a 28 pontos percentuais em relação a índia, porexemplo exporiapies dos pazses asta.
-país que apresenta o menor peso da mão-de-obra sobre os custos IICOS,os quais rnclusive. ia
de produção. Cabe destacar que essa diferença se estreita na fiação vem ultrapassandosuas quo-
-
a rotor (open-end) - mais automatizada contudo, ainda é muito
tas emortando via o u l m Daí-
ses Por esse lado o I,; do
significativa. Acordo Mull8l~brasdeverd ser
.
oreiudicial
, as exoorfacóes
brasileiras, as q"ais itual-
Considerando que o fio é uma commodity, em que a menleapresenhmbaixosín-
concorrênciase dá nos preços e osconcorrentes efetivos são apenas dices de aoroveitamenlo das
os paises asiáticos, verificamos que os baixos custos associados h quotas. excelo em algumas
mão-de-obra barata e a grandes volumes de produção tornam esses
países praticamente imbatíveis no mercado mundial.6
~jeans~ e, roupóes
~ o , felpudos.
""~i~~a;í:~~
FINDES SeMrial. Rio de Janeiro, n. 6,p. 133-154,sei. 1997 149
A titulo de ilustração, apresentamos no quadro a seguir o
custo da mão-de-obra na fiação e tecelagem em alguns países, o
que nos permite visualizar, ainda que parcialmente, sua capacidade
de competição nesses segmentos (Gráfico 7).

Grdtlco 7
Comparação Custo da Mio-de-Obra na Fiaçáo e Tecelagem
- 1996

Fonte: Wemer lnlemationelCoporafion.


Elaboração: BNDES.

Investimentos 0quadro de defasagem tecnológica do setor têxtil no


e Apoio do Brasil vem aos poucos se alterando, como atestam as crescentes
-
importações de máquinas e equipamentos incluindo filatórios,
BNDES teares, máquinas de costura, máquinas para acabamento, entre
outras- a partir de 1994 e que alcançaram. em 1995. o pico de US$
730 milhões, representando um incremento significativo em relação
a média de US$ 300 milhões do período 1989193 (Tabela 14). As
importações de máquinas foram principalmente da Alemanha, Itália,
Japão. Suíça e dos Estados Unidos e têm sido facilitadas por
reduções tarifárias ou concessão de financiamentos.

As máquinas para fiação representaram parcela de 15%


do valor total das importações nacionais de máquinas têxteis em
1995 e parcela de 18% em 1996. atrás somente dos teares para
fabricar malhas e tecidos, que representaram parcela de 25% da
pauta de importações naquele ano.

Não obstante. as aquisições nacionais unitárias de fusos e


rotores para fiação - quase 100% constituídas de importações -
representaram. respectivamente, parcelas de apenas 3% e 5% do
total mundial em 1995, conforme indica a Tabela 15. Destaca-se,
ainda, a expressiva participaçáo dos paises asiáticos nas compras
acumuladas entre 1986 e 1995, especialmente as compras indianas

O Segmento de Fiação no Brasil


Tabela 14
Importações Nacionais de Máquinas Têxteis - 1989196
(Em US$ Mil)

Máquinas para Extnidar. Estirar. Cortar


Materiais Texteis Sintéticos ou Arlificiais 2.748 24.869 16.092 27.141 20.576 25.369 27.428 46.239
Maquinas para Fiação 58.251 80.606 55.748 34.080 43.140 80.396 109.227 95.954
Teares para Tecidos 43.920 55.313 30.519 33.911 30.729 79.785 99.623 51.515
Teares para Fabricar Malhas 43.060 69.111 61.250 34.230 56.005 99.520 152.874 76.886
Máquinas e Equipamentos Auxiliares 67.384 78.593 68.343 50.407 63.981 157.374 85.926 66.946
Máquina para Fabricação de Feltros 2.560 5.236 4.684 2.734 4.225 11.546 24.371 9.255
Máquinas de Lavar Roupas 1.912 234 278 893 1.182 4.285 11.314 22.748
Maquinas para Lavar, Limpar,
Espremer, Passar, Tingir etç, 11,236 13,256 22.242 24.282 36.560 50.832 77.453 55.265
Máquinas de Costura 38.660 49.822 83.299 42.913 80.955 101.914 150.391 92.885
Total 269.731 377.040 342.455 250.591 337.353 611.021 738.606 517.694
Fonte: Çecew/Sinditéxtil.

Tabela 15
Aquisições Unitárias de Fusos e Rotores para Fiação 1995 -
[Em %do Total)

CONTINENTES 1995 ACUMULADO 1985195

An6is Open-end Adio Open-end

África 0,97 1.96 3,60 1,62


América do Noite
Estados Unidos
América do Sul
Brasil
Ásia e Oceania
China
índia
Paquistáo
Leste Europeu
Europa Ocidental
Europa Outros 7,33 20,20 4,62 3.84
-
Total Unidades 4.067.372 306.769 39.788.728 5.540.303
Fonte: ITMF (1995).

de fusos, que s e situaram e m patamar superior as importações totais


de fusos d a Europa Ocidental e dos Estados Unidos no mesmo
periodo. Tal volume de aquisições já s e reflete n a capacidade
instalada e m nível mundial, indicando deslocamento no fluxo de
investimentos: do total de 200 miihóes de fusos instalados e m 1994,
-
64% estavam n a Ásia parceia que era de 41% e m 1970. Todas as
demais regióes sofreram expressivo declinio no periodo. como, por
exemplo, a Europa Ocidental, cuja parcela de fusos instalada caiu de
16,7% para 7% entre 1970 e 1994, e a América do Norte, de 17,2%
para 6,5%.

BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 6, p. 133-154. set. 1997


No período 1990196, o Sistema BNDES liberou cerca de
US$900 milhões para investimentos no setor têxtil nacional (Tabela
16). Desse total, cerca de um terço foi destinado a aquisição de
máquinas e equipamentos.

O BNDES intensificou o apoio ao setor a partir da introduçáo


do Programa de Apoio ao Setor Têxtil, em 20.05.96, tendo o montante
total de financiamentos requeridos, dentro do programa, alcançado
pouco mais de US$230 milhões até junho de 1997-desse montante,
as liberações totalizaram cerca de US$38 milhões. (Tabela 17).

Dado o volume de investimentos previstos para o setor têxtil


no Brasil, na faixa de US$3,5 bilhões até o ano 2000? a tendência é
de que exista demanda significativa de financiamentos, sendo este um

Tabela 16
Liberações do Sistema BNDES - Produto Têxtil
(Em USS Mil)

ANO BNOES FINAME BNOESPAR TOTAL


1990 30.301 37.959 2.732 70.992

1996 97.000 37.000 2.000 136.000


'~onm: SPI/MICT, citado
naGazeta Mercantil [dez. Total 565,176 317,874 38,823 921,875
Fonte: BNDES.
Tabela 17
Liberações do BNDES até Junho de 1997: Programa Têxtil
(Em USS)

PRODUTO VALOR DA OPERAÇAO NUMERO DA OPERAÇÃO VALOR LIBERADO

Finem Direto 196.547.000 23 14.589.000


Finem Indireto 3.682.000 1 -
Finem Indireto Importaçáo BIS 117.000 1 117.000
BNDES AUTOMATICO 36.795.000 73 23.941.000
Total 237.141 .O00 98 38.647.000
GENEROIATIVIDADE VALOR DA OPERAÇÃO NUMERO DA OPERAÇAO VALOR LIBERADO

Fabricação de Produto T8xtil 227.356.389 69 31.969.610


Confec. Ari. Vest. Aces. 9.785.027 29 6.677.076
Total 237.1 41.41 6 98 38.646.686
FAIXA DE OPERAÇAO VALOR DA OPERAÇAO DA OPERAÇAO
NUMERO VALOR LIBERADO
O a 1.000.000 14.866 66 7.616.997
1.000.001 a 10.000.000 84.219 25 31.029.689
Acima de 10.000.001 138.057 7 -
Total 237.142 98 38.646.686
Fonte: BNDES (AP/Deplan).

152 O Segmento de Fiação no Brasil


do com 15% das indústrias instaladas, representou parcela de 30%
da produção total em 1995; em contraste, a região Sudeste, com 72%
do total das indústrias, representou 47% da produção naquele ano.

Desse modo, a reestrutumçáo da indústria nacional, em


muito apoiada pelo BNDES - que já aportou volume de recursos
acumulado da ordem US$ 900 milhões no setor têxtil entre 1990 e
1996, deve ser intensificada, já que, apesar da grande renovação do
parque de máquinas que vem ocorrendo, vimos ser esta ainda
pequena diante daquela implementada pelos concorrentes interna-
cionais, paiticularmente os asiaticos.

Finalmente, observamos que alguns dos maiores produto-


res mundiais de fios detêm vantaqens competitivas baseadas na
produção local do algodáo, principal-matéria-primapara países como
China, india, Paquistáo - três dos maiores produtores mundiais de
fios -, o que no caso do Brasil passou a ser uma desvantagem
competitiva, jáque a maior parte do algodão consumido internamente
é hoje importada. Assim, caberia uma ação coordenada no sentido
-
de aumentar a produtividade nacional do algodáo cuja produçáo
foi desgastada pelas pragas, pela baixa mecanização, financiamen-
tos e subsídios externos mais favoráveis que os nacionais, entre
outros -, conforme já analisado recentemente no relato setorial de
algodão [BNDES (1996)l.

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DA IND~STRIAOE
ANUARIOESTAT~STICO FIAÇÃO.São Paulo: lemi, nov.
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REVISTA
T ~ X T ISão
L . Paulo: R. da Silva Haydu e Cia. Ltda., nov. 1995.

SENAI/CETIOT. Entrevistas.

O Seqrnenro de Fiap3o no Brasil


ESPORTES NO BRASIL:
SITUAÇAO ATUAL E
PROPOSTAS PARA
DESENVOLVIMENTO
Angela Maria Medeiros Martins Santos
Luiz Carlos Perez Gimenez
Carlos Enout Rebouças
Sérgio Leite Schmitt
Tania Rennó"

'Respectivamente,gerente e engenheiro da Gerência Setorial de Comércio


e Serviços. chefe e engenheiro do Departamento de Análise 6 do BNDES e
assessora da Diretoria de Operações Industriais do BNDES.
Resumo 0setor de entretenimentoe lazer tem sido apon-
tado como uma das indústrias que vai apresentar maior
crescimento nos próximos anos. Além de propiciar alter-
nativas de diversão para a população local e de ser
responsável pelo incremento do fluxo turístico, este setor
tem se caracterizado como grande absorvedor de mão-
de-obra. Neste contexto, o segmento de esportes vai-se
transformando em importante atividade para esta indús-
tria. Além desse aspecto, o esporte proporciona grande
impacto no desenvolvimento social e da saúde da popu-
lação.
A partir da avaliação da importância do esporte
e da realidade brasileira atual, pode-se entender esta
atividade como importante agente capaz de contribuir
para a superação de problemas sociais e econômicos
apresentados pelo Brasil.

Esportes no Brasil: Situação Atual e Propostas para Desenvolvimenfo


0 conjunto de diferentes modalidades identificadascomo OSEsportes
esporte varia em função das condições climáticas, dos hábitos, mais
costumes e tradições de cada povo. Algumas modalidades es-
portivas, no entanto, têm preferência universal. Entre estes esportes Populares
estão o beisebol, o futebol, o basquetebol, o voleibol, o atletismo, o
golfe, o tênis, o hóquei em patins e o ciclismo. Pela importância que
sua prática alcançou no mundo, os esportes de preferência universal
têm sido alvo de esforço de disseminação em diversos paises, a
exemplo do futebol no Oriente e nos Estados Unidos.

Todos os esportes incluídos nas Olimpiadas são de reper-


cussão mundial, porque para um esporte ser considerado olimpico
precisa ser praticado em mais de 75 paises.

Além dos novos formatos desenvolvidos a partir de es-


portes tradicionais que são incluidos nas Olimpíadas, novas modali-
dades esportivas vêm sendo incluidas também. Um exemplo recente
é o futsal.

Os brasileiros, particularmente. demonstram preferência


por esportes com bola, movimento e participação coletiva. 0 s es-
portes com maior público possuem todos esses elementos. Dentre
esses esportes, o futebol concentra praticamente toda a atenção da
população. O vôlei. inclusive o de praia. teve seu público ampliado a
partir dos resultados obtidos nos últimos eventos internacionais. O
basquete é um outro esporte que desperta o interesse da população,
principalmente no Estado de São Paulo. O futebol de saláo e o de
praia já começam a ganhar a atenção do público e espaço na rnidia.
Quanto à prática esportiva, pode-se observar que, apesar de ser o
esporte mais difundido, o futebol não é o primeiro esporte escolar por
ausência de espaço para const~çãode campos nas escolas brasi-
leiras. O handball, que está entre os esportes mais praticados nas
escolas, não é trabalhado e náo obtém destaque além da escola. O
Brasil consegue algum destaque em esportes pouco populares no
país a partir da prática introduzida por imigrantes, como exemplo,
pode-se citar o destaque que o beisebol brasileiro consegue em
categorias de base.

0 esporte obedece a uma organização de base interna- A


cional que se estrutura de forma extremamente rígida. As modalida-
des que apresentam campeonatos e torneios envolvendo paises
Organização
subordinam-se a organismos de influência mundial, que ditam as Esportiva
respectivas regras e regulamentos. Mundial
Na quase totalidade das naçóes federativas, prevalece o
seguinte sistema de estruturação esportiva: agremiações particula-
res (clubes) que se reúnem em federaçóes estaduais, filiadas a

BNDES Selorial, Rio de Janeiro, n. 6, p. 157-168,se!. 1997


dos nos Jogos Olímpicos. Esse trabalho, realizado nas escolinhas e
através de peneiras, é responsável pelo surgimento de inúmeros
atletas de destaaue.

Destacam-se, ainda, as ações do Sesi e do Sesc, que são


organizados, fazem esporte de base, possuem boa infra-estrutura
espalhada nas maiores cidades do país e estão implantando progra-
mas que prevêem convênio com empresas.

Noque se refere a organização do esporte de alto ren-


dimento, destacam-se a criação de clubes-empresaspara participa-
ção em competiç0es de alto nível, atletas começando a ter carteira
assinada, empresas investindo no patrocínio esportivo e outras
trabalhando em sistema de co-gestão com clubes, construção e
aparelhamento de centros de treinamento pelas empresas. Algumas
confederaçõesvêm organizando ligas e começando a trabalhar com
sistema de franquias envolvendo clubes ou municípios com empre-
sas.

Em termos de eventos esportivos, muitas iniciativas podem


ser mencionadas, como a realização em alguns estados e cidades
de jogos intercolegiais ou estudantis e jogos do interior. O campeo-
nato paulista de futebol de 1997 apresentou diversas inovações
visando transformá-lo em verdadeiro evento. 0 s Jogos Mundiais da
Natureza, com um perfil inédito que relaciona esportes com preser-
vação ambiental, estão previstos para acontecer entre 27 de setem-
bro e 5 de outubro deste ano em Foz do Iguaçu.

Apesar das iniciativas recentes visando ao desenvolvi- Problemas do


mento do esporte mostradas no tópico anterior, o setor apresenta no Esporte
Brasil problemas estruturais que, para serem superados, precisam
ser equacionados de forma sistêmica. Alguns dos atuais problemas
Brasileiro
do esporte brasileiro e as ações gerais propostas que podem ajudar
a superá-los podem ser apontados:

Planejamento e organização - o esporte, pela sua impor-


tância, não tem recebido a atenção e prioridade que merece. Faltam
planejamento, programas, diretrizes, metas, acompanhamento de
resultadosetc. Há imediatismoe descontinuidade das ações. É baixa
a percentagem de praticantes de esportes em relação ao numero da
população. Há predominãncia de praticantes do sexo masculino e
disparidade na distribuição e no desempenho esportivo entre as
diversas regióes do pais. Verifica-se ausência de dados quantitativos
organizados. Há ausência de gestão em praticamente todos os
níveis. os dirigentes encaram o esporte de forma não-profissionale,
em sua maioria, não têm formação para atuar nesta area.

BNDES Setoriai. Rio de Janeiro. n. 6, p. 157-168. set 1997


Base esportiva - não ha uma política visando desenvolver
a base esportiva. Os recursos de todos os agentes estão voltados
apenas para os times adultos ou profissionais, não havendo preocu-
pação com a formação da base. O trabalho com a base se toma mais
difícil porque não ha retomo financeiro ou de mídia e, conseqüente-
mente, é dificil se conseguir patrocinio. Não se estabelecem dire-
trizes que induzam à realização de investimentos pela iniciativa
privada.

-
Esporte escolar há ausência de uma política para es-
timular a atividade em escolas e universidades. O des~oitoescolar
não possui objetivos específicos. AS escolas são despreparadaspara
o esporte. Os professores se reciclampor conta própria mas ganham
mal e então náo se aprimoram. Existe falta de materiais esportivos
em muitas escolas. As unidades escolares carecem de espaços,
instalações e recursos humanos qualificados. O esporte e também
pouco realizado em nível universitário e apresenta problemas seme-
lhantes aos das escolas quanto as instalações, materiais etc.

Esporte comunitário - a grande maioria da população


brasileira não pratica qualquer tipo de espbrte. Faltam ações de
sensibilização e conscientização sobre a importância da prática
esportiva. A rede de clubes é insuficiente para atender a demanda
da população.

Esportedealto rendimento- muitos resultados alcançados


pelo esporte brasileiro são produtos do talento e determinação pes-
soal de alguns atletas e treinadores. A medida que estes atletas se
retiram das competições esportivas, não acontece substituição. A
existência de poucos ídolos e a ausbncia de ídolos em muitos
esportes não contribuem para o surgimento de atletas e a mas-
sificação dos esportes. Nos clubes há uma cultura amadora que
dificulta a profissionalização, e a gestão e geralmente emocional. Há
falta de patrocinadores, muitas empresas se interessam apenas pela
promoção de eventos de curta duração, enquanto destinam quase a
totalidade dos recursos aos esportes mais populares. Não há conti-
nuidade assegurada do patrocínio, e a renovação de contratos
anualmente gera insegurança.

Outras modalidades esportivas- o futebol concentra prati-


camente toda a atenção da população brasileira. As outras modali-
dades esportivas recebem cobertura marginal da midia e de comen-
taristas esportivos. Alguns esportes, amplamente praticados em
outros paises, são elitizados no Brasil. Há poucas ações para rever-
são desse quadro e desenvolvimento de outras modalidades es-
portivas.

Recursos humanos - h& insuficiência quantitativa e quali-


tativa de profissionais com especializaçáo especifica, tanto de técni-

Esporles no Brasil: Situação Atual e Propostas para Desenmlvlmento


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BNDES BNDESPAR
FINAME

Editado oelo I
Departamento de Relações Institucionais
Setembro 1997

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