Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Salvador
2016
YAN GRACO DANTAS CAFEZEIRO
Salvador
2016
C129 Cafezeiro, Yan Graco Dantas.
Os muros antigos e as contribuições dos métodos de diagnóstico pouco
ou não destrutivo para avaliação física e mecânica / Yan Graco Dantas
Cafezeiro. 2016.
195 f. : il.
CDU: 72.025
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, à minha família, por me ter apoiado sempre nos meus caminhos
profissionais, incluindo estes estudos de mestrado.
Por fim, à minha companheira Milena, por tudo, por estar sempre junto e por ser
muito tolerante, mesmo nos piores momentos.
Il faut pouvoir être maçon avant de devenir architecte.
[É preciso poder ser pedreiro antes de se tornar arquiteto]
(Bernard Forest de Bélidor, 1729).
CAFEZEIRO, Yan Graco Dantas. Os muros antigos e as contribuições dos métodos
de diagnóstico pouco ou não destrutivo para avaliação física e mecânica. 194f. 2016.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2016.
RESUMO
ABSTRACT
Vencimento......................................................................................................... 89
do Vencimento..................................................................................................... 89
Figura 21 – Diagrama do fenômeno de esmagamento........................................ 90
do terreno............................................................................................................ 93
recalque ou rotação............................................................................................. 95
e elásticos (b)....................................................................................................... 98
(retangular)........................................................................................................... 118
de 1951................................................................................................................ 129
Figura 61 – Indicação de rachaduras internas, em concordância com as
externas, foto de 1951......................................................................................... 129
– US5................................................................................................................... 134
de arenito............................................................................................................ 137
de arenito............................................................................................................. 137
Figura 79 – Lesão analisada e sua maior dimensão, para E2, T2....................... 141
da alvenaria.......................................................................................................... 141
Figura 83 – Lesão analisada, e sua maior dimensão, para E3, T3...................... 142
Alvenaria.............................................................................................................. 143
Figura 87 – Lesão analisada e sua maior dimensão, para E4, T4....................... 144
planos.................................................................................................................... 157
em vermelho......................................................................................................... 161
Figura 118 – Realização do corte superior para inserção do macaco plano........ 164
Figura 121 – Fissuras na alvenaria, após aplicação dos macacos planos........... 164
de produção ....................................................................................................... 80
alvenarias .......................................................................................................... 99
muros.................................................................................................................. 101
Quadro 12 – Valores obtidos com o ensaio com macacos planos simples ....... 163
Quadro 13 – Valores obtidos com o ensaio com macacos planos duplos ......... 165
1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 21
1.1 JUSTIFICATIVA................................................................................. 21
1.2 OBJETIVOS....................................................................................... 24
1.3 METODOLOGIA................................................................................ 25
2 DA ARTE DE MURAR...................................................................... 27
2.1 DEFINIÇÕES GERAIS SOBRE OS MUROS.................................... 27
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARTE DE MURAR SEGUNDO OS
ANTIGOS........................................................................................... 31
2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARTE DE MURAR NA BAHIA E NO
BRASIL.............................................................................................. 49
1 INTRODUÇÃO
1
CÓIAS, V. Inspecções e ensaios na reabilitação de edifícios. 2. ed. Lisboa: IST Press, 2006. p. 9.
22
ser reduzido e de pequenas dimensões, para não gerar dano maior à parede já
afetada. Além disso, essas amostras podem sofrer avarias durante o processo de
remoção e transporte até o lugar onde serão avaliadas, resultando em dados
inconsistentes. Dessa forma, ensaios pouco destrutivos e não destrutivos têm sido
desenvolvidos, nos últimos anos, para avaliar o comportamento estrutural das
alvenarias. Segundo Buffarini e colaboradores2, entre essas técnicas, podem-se citar
as principais:
1 – georradar;
2 – métodos sônicos;
3 – termografia;
4 – fotogrametria;
6 – macacos planos;
8 – endoscopia;
Entre esses ensaios, destaca-se o uso dos macacos planos (flat jacks), que
vem sendo difundido em toda a Europa, principalmente na Itália e em Portugal, e
que visa avaliar o estado físico e mecânico das alvenarias antigas, já que permite
definir, in situ, o estado de tensão local instalado em determinada parede, bem como
estimar o módulo de elasticidade, o coeficiente de Poisson3 e a capacidade
resistente à compressão.
Nas intervenções de consolidação e de restauro estrutural, é fundamental
conhecer as características mecânicas de deformação e resistência dos materiais
que constituem determinado muro. Dominar os referidos parâmetros antecipa, ao
projetista, uma prévia da resposta da alvenaria em função do estado de solicitação,
dando respaldo à pesquisa sobre a melhor forma de conter o eminente colapso do
2
BUFFARINI,S.; D’ARIA, V.; GIACCHETTI, R. Il consolidamento strutturale degli edifici in cemento
armato e muratura. Roma: EPC LIBRI, 2010.
3
Relação entre a deformação transversal e longitudinal.
23
4
No ano de finalização desta dissertação, a Carta de Nara completará 22 anos.
5
UNESCO, ICCROM, ICOMOS. Conferência de Nara. In: CURY, I. (Org.). Cartas Patrimoniais.
Brasília: IPHAN, 2004. p.319-328.
24
1.2 OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa foi compilar dados sobre a arte de murar, ao
longo dos anos, bem como analisar e aplicar técnicas de diagnóstico pouco ou não
destrutivas em duas alvenarias antigas, localizadas no Centro Histórico de Salvador.
Este estudo teve o intuito de avaliar a aplicabilidade das referidas técnicas e o
comportamento físico e mecânico de alvenarias antigas.Os testes executados foram
os ensaios de macacos planos, os métodos sônicos, a endoscopia e a termografia.
Adicionalmente, foram feitas análises comparativas dos resultados das técnicas
aplicadas com outros estudos histórico-científicos já levados a cabo na história.
Especificamente, os objetivos foram os seguintes:
1.3 METODOLOGIA
6
Marco Vitrúvio Pollio (Século I a.C.) foi um arquiteto e escritor romano que serviu ao Imperador de
Roma nos fins da República e primeiros anos do império latino, a ele dedicando seu tratado. Seu
26
texto De Architectura foi a base para praticamente todos os tratados de arquitetura que surgiram na
história.
27
2 DA ARTE DE MURAR
1 – muros em monobloco;
8
Quando se fala, nesta dissertação, sobre os povos modernos, é importante não confundir com o
período da dita arquitetura moderna, que tem seu auge no início do século XX. A Era Moderna em
referência começa, historicamente, após a Queda de Constantinopla pelos turcos otomanos, em
1453, e termina com a Revolução Francesa nos fins do século XVIII. Em arquitetura, o início da Era
Moderna pode ser chamado de período renascentista, que começa com a construção da cúpula da
Basílica de Santa Maria Del Fiore por Filippo Brunelleschi, concluída em 1436.
9
PEREIRA, P. L. S. O comportamento da alvenaria de pedra ao esforço de corte: Relatório técnico.
Guimarães, Portugal: Escola de Engenharia da Universidade do Minho, 2003. Disponível em:
<www.yumpu.com/pt/document/view/34505199/comportamento-da-alvenaria-de-pedra-ao-esforço-de-
corte>. Acesso em: 20 jan. 2014.
10
Id., ibid., p. 6.
11
MÜLLER, W.; VOGEL, G. Atlante di Architettura: dalle origini all’era cristiana. 4.ed. Tradução para o
italiano de Enrico Gualini, Hellmut Riedger e Luca Trentini. Milano: Hoelpi, 2009. v.1.
29
2 – muros de alvenaria
O terceiro grupo diz respeito a muros construídos com técnicas mistas como o
Opus implectum, por exemplo, que se trata de sistema de alvenaria de blocos, em
sua face externa, com diversos tipos de enchimento, os quais podem ser, inclusive,
monoblocos.
Conhecer os três principais modos de edificar paredes é o primeiro passo para
o conhecimento da arte de murar ao longo da história. O método utilizado para
erguer os supracitados sistemas, no decurso do desenvolvimento das civilizações, e
o porquê do emprego dessa técnica de construção de paredes constam dos tratados
31
12
“O arco tem a função de cobrir, sem sustentações intermediárias, as obras em alvenaria mural. A
sua lógica construtiva diz respeito à grande força expressiva, baseada no contraste entre as
aberturas e os fechamentos dos muros com a clareza geométrica do semicírculo. A arquitetura
recorre de modo difuso aos muros maciços. Na evolução de um estilo maciço homogêneo, o arco e a
abóboda constituem-se como elementos construtivos fundamentais” (MÜLLER, W.; VOGEL, G.
Atlante di Architettura ..., op. cit., p.195. Tradução nossa).
32
13
“Material de origem vulcânica, sua primeira reserva foi encontrada em Pozzuoli, região próxima a
Napoli, na Itália. A pozzolana confere hidraulicidade às argamassas [...] esta propriedade propicia sua
utilização em locais úmidos ou alagadiços. Por isso, era recomendada pelo mestre romano, e por
outros que lhe sucederam, na construção de portos. [...] O material apresenta elevada porosidade, o
que favorece a reação entre a pozolana e a cal extinta, com a formação de compostos
hidráulicos”(SANTIAGO, C. C. Argamassas tradicionais de cal. Salvador: EDUFBA, 2007, p. 143).
14
Tambem chamado de Opus caementicium
15
A arte de construir segundo os romanos (Tradução nossa).
16
“os romanos souberam perceber todos os recursos que um meio de execução tão simples podia
oferecer à arte” (CHOISY, A. L’art de bâtir chez les romains. Cópia em fac-símile. Bologna: Forni
Editore, 1873. p.12. Tradução nossa).
17
“nunca, antes da época romana, tinham pensado em utilizar tais elementos em um sistema de
construção monumental” (Id., ibid., p. 12. Tradução nossa).
33
18
POLLIO, V. Tratado de Arquitetura. Tradução, introdução e notas de M. Justino Maciel. São Paulo:
Martins, 2007. p.61.
19
Opus reticulatum.
20
Opus incertum ou Opus antiquum.
21
POLLIO, V. Tratado de Arquitetura, op. cit., p.136.
34
outras formas de edificar (Figura 6), que proporcionaram, aos arquitetos da época e
da era moderna, uma gama de soluções construtivas.
Vitrúvio, em seu segundo livro, capítulo oito, também faz referência ao modo de
edificar os muros de acordo com os antigos gregos. Segundo o tratadista, os povos
do mar Egeu e entorno construíam de forma diferente dos romanos: “ordenando as
pedras horizontalmente e dispondo-as de modo alternado em comprimento e
espessura, não fazem enchimentos interiores”23.
No entanto, a influência de Vitrúvio na Antiguidade foi muito limitada. Crê-se
que o interesse no trabalho do arquiteto romano começa a crescer somente em
período pré-carolíngio, o qual é uma provável referência na obra Etymologiae, de
São Isidoro de Sevilha24. Outros manuscritos, como o do Abade Suger25 para a
reconstrução da Igreja de Saint-Denis e os escritos de Villard de Honnecourt26,
22
KOCH, W. Dicionário dos estilos arquitetônicos. Tradução de Neide Luzia de Rezende. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2009.
23
POLLIO, V Tratado de Arquitetura, op. cit., p.139.
24
Isidoro de Sevilha (560 d.C. – 636 d.C.). Cartaginês, Teólogo e Arcebispo de Sevilha. Escreveu um
compêndio de vinte livros sobre os saberes da Antiguidade clássica, o qual chamou de Etymologiae.
Foi canonizado em 1598 pela Igreja Católica.
25
Suger, Abade de Saint-Denis (1081 d.C. – 1151 d.C.). Realizou diversas obras na famosa Basílica
de Saint-Denis, entre as quais se destacam a reconstrução da fachada principal e as torres sineiras.
Seus escritos sobre o monumento e as intervenções na edificação são uns dos poucos documentos
de arquitetura que tiveram luz na Idade Média.
26
Villard de Honnecourt (viveu em torno de 1230 d.C.). Seu famoso Carnet trata das construções de
igrejas góticas do século XIII, embora dê mais ênfases às técnicas construtivas da época. Nessa
obra, podem se encontrar os desenhos da Catedral de Reims assim como de vários motivos
decorativos. Seu famoso tratado é conservado, atualmente, na Biblioteca Nacional da França.
35
27
Leon Battista Alberti (1404 d.C. – 1472 d.C.), um dos pioneiros do Humanismo e Renascimento na
Itália, escreveu diversos tratados importantes para a arte, entre eles: Della Famiglia, Della Pittura,
Della Statua e De Re Aedificatoria.
28
“Da arte de construir” (Tradução nossa).
29
Giorgio Vasari, em sua obra famosa obra Le Vite dei più eccellenti pittori, scultori e architetti, faz
referência a Alberti como Architetto Fiorentino, no entanto, outras fontes indicam que o notável teórico
nasceu em Gênova, filho de exilados políticos de Florença.
30
Das obras (Tradução nossa). Alberti escreveu De Re Aedificatoria em língua latina, no entanto
usamos, nesta dissertação, a tradução de Cosimo Bartoli de 1782, a seguir indicada.
31
“Dos defeitos dos edifícios, de onde nascem e quais são aqueles que são possíveis, ou não, de
serem corrigidos pelos arquitetos, e quais fatores fazem mal ao ambiente” (ALBERTI, L. B. Della
Architettura – Della Pittura e Della Statua. Cópia em fac-símile. Tradução de Cosimo Bartoli e
comentários de Alessandro Pierattini. Roma: Dedalo, 2009. p.247. Tradução nossa).
32
“A Pérola do Adriático” é um dos apelidos da cidade de Veneza, referência ao mar que banha a
famosa urbe.
36
33
Palavra italiana para definir casas de campo.
34
Os Quatro Livros da Arquitetura (tradução nossa). Lançados em Veneza, no ano de 1570 d.C.
35
Sebastiano Serlio (1475 d.C. – 1574 d.C.). Arquiteto e teórico bolonhês. Seu tratado I Sette Libri
dell’Architettura é um dos primeiros tratados a seguir uma linha de manual, sendo uma publicação
mais prática que teórica.
36
Jacopo Barozzi da Vignola (1507 d.C. – 1573 d.C.). Arquiteto e tratadista italiano, foi um dos
maiores representantes da arquitetura jesuítica em Roma. Seu tratado Regola delli cinque ordini
d'architettura foi publicado em 1562.
37
Principalmente pelos nomes do Lorde de Burlington (1694 d.C. – 1753 d.C.), no Reino Unido, e
Thomas Jefferson (1743 d.C. – 1826 d.C.), na América.
38
“Esparsas por todo o mundo ocidental, existem centenas de milhares de habitações, de edifícios
públicos e de igrejas com fachadas simétricas, com semicolunas coroadas por um frontão, que
derivam dos projetos de Andrea Palladio. Entre todos os arquitetos, ele foi o mais largamente imitado,
e é provável que, sozinho, tenha influenciado no desenvolvimento da arquitetura inglesa e americana
mais que todos os outros mestres do Renascimento juntos” (ACKERMAN, J. Palladio. Tradução de G.
Scattone. Torino: Einaudi, 1972. p. 3. Tradução nossa).
37
39
“Da maneira dos muros” (Tradução nossa).
40
Gaio Aurelio Varelio Dioclesiano (244 d.C. – 311 d.C.), Imperador Romano de 284 d.C. a 305 d.C.,
foi conhecido pelo constante ataque e perseguição aos cristãos.
41
É importante ressaltar que cada região da Itália, e do mundo, possuía seu próprio sistema de
medidas. Na Bahia, era utilizado o palmo português, 22 cm, e o pé português, de 33 cm. Já Andrea
38
Palladio, habitante de Vicenza, utilizava os pés vicentinos como unidade de medida para seu tratado,
que é calculado em 35,2 cm, no sistema métrico. Em muitos pontos da península itálica, utilizava-se o
pé romano, com 29 cm.
39
K - Camada de pedras assentadas com a face menor voltada para o lado externo
L - Camada de pedras assentadas com a face maior voltada para o lado externo
M - Tábuas de madeira
N - Parte de dentro do muro, enchido com cimento
O - Face da superfície do muro, após retirada das tábuas de madeira
Por último, é demonstrada, nos Quattro Libri, uma maneira mais refinada da
arte de murar, a qual é possível ser encontrada em Nápoles. Refere-se a
paramentos paralelos com fiadas de pedras grandes e pequenas em formato
retangular que se contraventam com paredes transversais.
40
O espaço vazio entre essas paredes que ligam as camadas externas são
preenchidos com seixos e terra (Figura 12). Trata-se de outra referência ao Opus
implectum vitruviano.
42
“Essas são, em resumo, as maneiras das quais se serviram os antigos e que, agora, é possível ver
os vestígios. Destes, compreende-se que nos muros, de qualquer tipo, devem-se fazer algumas
juntas, que são como nervuras que mantinham unidas todas as partes, o que se observará quando se
farão muros de tijolos; para que mesmo com a queda das estruturas internas, não se tornem muros
arruinados” (PALLADIO, A. I quattro libri dell’architettura. [Cópia em fac-simile] 2.ed. Milano: Hoepli,
2009.p.13-14.Tradução nossa).
41
Daremos pois sempre por regra geral onde a cal for boa, e os mais
materiaes de pedra, e saibro, ou area, quatro pés de grosso a
muralha no alto della, suba muito ou pouco, e a escarpa conforme a
altura a que houver de subir, e para saber em que grossura ha de
começar na base desde o fundo do fosso, se ajunte a da base da
escarpa com a grossura dos 4 pés da muralha, e a somma será a em
que ha de começar a parede escarpada.44
Logo após, exemplifica: "em uma muralha com 24 pés de altura45, é necessário
dividir esse valor por cinco, resultando em um valor de 4+4/5 que, somado com os
quatro pés, no alto da parede, como dito na citação anterior, resulta em 8+4/5, que
será o valor na base do fosso"46. O tratadista, depois, descreve como se deve
desenhar a parede de uma fortificação: "Seja pois a regra geral que riscada a
fortificação com a linha ichonografica, ou fundamental, se meta sempre a grossura
da parede de 4 pés desta linha para dentro"47.
O próprio Pimentel admitia, em seu tratado, que esses métodos de
dimensionamento são apenas fruto da experiência, uma forma empírica de calcular
muralhas, a partir da prática e conhecimento da obra, deixando a teoria e a ciência
em segundo plano: "[...] sobre a grossura das muralhas de pedra, e cal fallei
largamente na hercotectonica millitar, apontando os dittos de muitos autores e
discursando sobre a materia. Agora ponho aqui a resolução do que hei visto por
experiência"48.
Não obstante os estudos dos teóricos do renascimento italiano e dos
engenheiros portugueses, do século XVII, sobre a edificação dos muros em época
antiga e moderna, a arte de erguer este sistema construtivo só tem efetivo
desenvolvimento a partir do século XVIII, com o progresso do pensamento científico,
43
Antoine de Ville (datas de nascimento e morte desconhecidas), engenheiro militar e tratadista
francês, seu mais importante trabalho é intitulado O governador de praças, sendo um tratado sobre
artes militares. Foi traduzido para o português em 1708 a mando do imperador D. João V.
44
Citado como no original (PIMENTEL, L. S. Methodo lusitanico de desenhar as fortificaçoens das
Praças Regulares e Irregulares. Versão digitalizada. Lisboa: Antônio Craesbeeck, 1680. p.97).
45
Considerando o valor do pé portugês como 33 cm, tem-se uma altura de 8,58 m.
46
PIMENTEL, L. S. Methodo lusitanico de desenhar as fortificaçoens ..., op. cit., p.97.
47
Id., ibid., p.107.
48
Id., ibid., p.96.
42
Il y a dans tous les corps pesans, c'est a dire, dans toutes les figures
pesantes, un point par lequel cette figure étant suspendue, ou
soutenue comme sur la pointe d'un pivot fort aigue, toutes les parties
de la figure demeurent en équilibre ou en repos, or ce point est
nommé le centre de gravité de la figure.53
49
Bernard Forest de Bélidor (1698 d.C. – 1761 d.C.), engenheiro militar, nasceu na região da
Catalunha, na Espanha, foi professor de artilharia na escola de La Fère em Aisne, na França. Fez
parte do exército do Rei Luís XV e foi membro da Academia Real de Ciências da França, Inglaterra e
Prússia.
50
A ciência dos engenheiros na condução dos trabalhos de fortificação e arquitetura civil (Tradução
nossa).
51
Sabe-se que os estudos sobre o urbanismo moderno têm os escritos debutantes em Ildefon Cerdá
e Gustavo Giovannoni. A referência ao urbanismo, nesta dissertação, leva em conta as
recomendações dos antigos tratadistas, como Vitrúvio, Alberti e, evidentemente, Bélidor, para as
cidades e vilas.
52
“Da Teoria da Alvenaria” (In: BÉLIDOR, B. F. La science des ingénieurs dans la conduite des
travaux de fortification et d'architecture civile. Versão digitalizada. Paris: l'Image Nôtre-Dame,
1729.v.1, p.1.Tradução nossa).
53
“Existe, em todos os corpos pesados, isto é, em todas as figuras com peso, um ponto pelo qual
esta figura está suspensa ou apoiada, como um forte pivô, e nele todas as suas partes permanecem
em equilíbrio ou repouso. Esse ponto é denominado o centro de gravidade da figura” (BÉLIDOR, B.F.
La science des ingénieurs..., op. cit., v.1, p.6. Tradução nossa).
43
54
Para as citações que seguem, Bélidor utiliza o pé francês como unidade de medida, que
corresponde a 32,484 cm. O pé quadrado, por sua vez, é igual a 0,1055 m².
55
“Supondo que a força seja equivalente a um plano de 18 pés quadrados” (BÉLIDOR, B.F. La
science des ingénieurs..., op. cit., p.14. Tradução nossa).
56
“É necessário duplicar esse número para ter 36 pés quadrados, do qual a raiz é 6, que será a
espessura que buscamos” (BÉLIDOR, B.F. La science des ingénieurs..., op. cit., p.14. Tradução
nossa).
57
BÉLIDOR, B.F. La science des ingénieurs…, op. cit., v.3, p.2.
58
“Os raios da lua podem dissolver as partes mais compactas: neste caso, poder-se-ia crer que esses
raios são úmidos” (BÉLIDOR, B. F. La science des ingénieurs..., v. 3, p.2. Tradução nossa).
59
SANTIAGO, C. C. Argamassas históricas de cal. Salvador: Núcleo de Tecnologia da Preservação e
Restauração, 2004. p.26.
44
entanto, mesmo por observação, os relatos antigos não devem ser descartados, pois
descrevem as experiências dos autores em confronto com o tema da conservação
dos materiais.
As pedreiras, de onde são retirados os materiais construtivos para a edificação,
também são lembradas por Bélidor, considerando que as melhores são aquelas
onde, próximo a elas, existam edifícios antigos, sendo tais monumentos
testemunhos da boa qualidade da pedra adotada. No caso de novas pedreiras, o
tratadista recomenda observar o comportamento dessas composições após
períodos de inverno, analisando sua resistência à intensa umidade e ao gelo e
degelo.
Bélidor, adicionalmente às recomendações sobre os elementos pétreos, alerta
que, para a fabricação de tijolos, outro material fundamental para a construção de
fortificações, é necessário encontrar a terra mais indicada: "il faut qu'elle soit grasse
et forte, de couleur blanchâtre, ou grisâtre, sans qu'ils s'y rencontre des petits
cailloux ni gravier"60, e que os blocos sejam feitos em lugares onde exista a
possibilidade de realizar a sua correta cozedura.
Já para as argamassas de cal, "l'âme de la maçonnerie"61, parafraseando o
tratadista Vicenzo Scamozzi62, é proposto, pelo teórico, para sua composição, a
utilização de pedras duras, pesadas e brancas encontradas "sur les montagnes, ou
dans les rivières"63.
As areias presentes na argamassa, aconselha Bélidor, são de dois tipos: a
primeira, chamada sable de cave, é encontrada em jazidas terrestres, enquanto a
segunda, sable de rivière, pode ser obtida no leito de rios. Deve-se dar preferência,
em uma construção, segundo o autor, a esta última, devido à sua menor quantidade
de argila. Tal questão já é relatada por Vitrúvio, considerando a areia fluvial como
consolidante das argamassas, enquanto este material, se de origem marinha, deve
ser evitado64.
Propõe, o tratadista francês, a possibilidade da adição de material pozolânico
em uma argamassa, a qual é descrita pelo engenheiro francês como "très-bonne
60
“É necessário que seja uma terra rica e forte, de cor esbranquiçada, ou acinzentada, sem a
presença de pequenos seixos e cascalhos” (BÉLIDOR, B. F. La science des ingénieurs..., v.3, 1729,
p.5. Tradução nossa).
61
“A alma da alvenaria” (Id., loc. cit. Tradução nossa).
62
SANTIAGO, C. C. Argamassas históricas de cal, op. cit., p.67.
63
“Sobre as montanhas ou em rios” (Id., loc. cit. Tradução nossa).
64
POLLIO, V. Tratado de Arquitetura, op. cit., p.125.
45
pour les bâtiments, et rien au monde ne lie mieux les pierres que le mortier qui en est
fait"65.
Atualmente, com a Ciência da Restauração, entende-se que aditivos em
argamassas podem criar as mais diversas características, assim como se sabe que
a atuação de materiais pozolânicos influenciam nas propriedades hidráulicas do
elemento ligante66.
Bélidor, por fim, descreve, no sexto livro de La science des ingénieurs67, o
modo de construir muralhas, com os materiais supracitados. As paredes seriam
erguidas a dois paramentos externos, por meio de pedras e argamassas de cal de
excelente qualidade, enquanto a parte interna desses muros devem ser enchidos
com entulhos (Opus implectum).
Com relação ao sistema em tijolos, aconselha o mesmo modo de construir,
através de paramentos, no entanto, dava atenção à diminuição da espessura do
muro à medida que esse sistema ia sendo desenvolvido: "recommencera par trois
briques e demie d'eppaisseur, finissant toujours par une demie"68.
Quase um século depois da publicação dos trabalhos de Bernard Forest
Bélidor, um dos mais importantes tratadistas do século XIX, que discorre sobre os
sistemas construtivos em alvenaria, o arquiteto Jean-Baptiste Rondelet69 divulga seu
livro Traité théorique et pratique de l'art de bâtir70, amplamente influenciado pelo
antes citado engenheiro militar, o qual é largamente retomado por diversos autores
importantes como o português João Emílio dos Santos Segurado 71.
Atualmente, o tratado deu apoio a diversos estudos sobre alvenaria antiga nos
séculos XIX e XX, como aquele de João Mascarenhas Matheus72, entre outros
autores portugueses e italianos que se debruçam sobre o tema da crítica histórica
aos modos de edificar.
65
“Muito boa para os edifícios, e nada no mundo liga melhor as pedras que argamassas feitas com
este material” (BÉLIDOR, B. F. La science des ingénieurs..., op. cit., v.3, p.11. Tradução nossa).
66
OLIVEIRA, M. M. de. Tecnologia da Conservação e Restauração. 3. ed. Salvador: EDUFBA, 2006.
p. 37.
67
BÉLIDOR, B. F. La science des ingénieurs..., op. cit., v.6, p.22.
68
“Recomeçará com três tijolos e meio de espessura, terminando com um meio” (BÉLIDOR, B. F., La
science des ingénieurs..., op. cit., v. 6, p.22. Tradução nossa).
69
Jean-Baptiste Rondelet (1743 d.C. – 1829 d.C.), arquiteto e teórico de arquitetura, é descendente
direto do famoso médico francês Guillaume Rondelet. Foi responsável pela consolidação do Panteão
de Paris e escreveu diversas memórias sobre suas obras.
70
Tratado teórico e prático da arte de edificar (Tradução nossa).
71
SANTOS SEGURADO, J. E. Alvenaria e Cantaria. 2.ed. Lisboa: Bertrand, 1908.
72
MATHEUS, J. M. Técnicas tradicionais de construção de alvenarias: a literatura técnica de 1750 a
1900 e o seu contributo para a conservação de edifícios históricos. Lisboa: Livros Horizonte, 2002.
46
73
“Dos princípios de mecânica” (Tradução nossa).
74
“Fórmulas de Rondelet” (Tradução nossa).
75
MATHEUS, J. M. Técnicas tradicionais de construção de alvenarias..., op. cit., p.117.
76
“As espessuras que temos que dar muros e pontos de apoio, para obter o grau de estabilidade que
lhes convém, depende, não somente da carga que eles podem sustentar, e da força das pedras do
qual eles são formados, mas também da proporção de suas bases com suas alturas” (RONDELET, J.
B. Traité théorique et pratique de l'art de bâtir. Versão digitalizada, v.5, Paris: Rondelet, 1812. p.181.
Tradução nossa).
47
77
Rondelet utiliza a unidade pouce, ou polegada, para a determinação dos valores de medida em seu
trabalho. Na presente dissertação, essa definição foi convertida em centímetros (RONDELET, J. B.
Traité théorique et pratique..., op. cit., v 5, p.182).
78
MATHEUS, J. M. Técnicas tradicionais de construção de alvenarias..., op. cit., p.118.
79
BARBEROT, E. Tratado práctico de edificación. 2. ed. Tradução Lino Álvarez Valdéz. Barcelona:
Ed. Gustavo Gili, 1927. p.43.
48
FÓRMULAS DE RONDELET
Legenda
Muros divisórios
80
Ou não, alguns teóricos afirmam que Pedro Álvares Cabral, dito "Descobridor do Brasil", tinha em
mente o caminho a seguir para a descoberta de novas terras.
49
81
OLIVEIRA, M. M. de. As fortalezas e a defesa de Salvador. Brasília, DF: IPHAN/Programa
Monumenta, 2008. p. 16. (Coleção Roteiros do Patrimônio).
82
Tomé de Souza (1503 d.C. – 1579 d.C.), militar português, foi Governador Geral do Brasil de 1549
a 1553.
50
b) Pedra e cal;
c) Pedra e barro, ou taipais;
d) Madeira.
Condicionando-se, porém, o uso dos materiais à satisfação deu uma
condição imperiosa: como melhor poder ser de maneira que seja
forte.83
83
CEAB-UFBA. Evolução Física de Salvador: Edição especial. Salvador: Palloti, 1998. p.24-25.
84
OLIVEIRA, M. M. de. As fortificações portuguesas de Salvador quando Cabeça do Brasil. Salvador:
Omar G., 2004.
85
Id., ibid., p.160.
51
86
OLIVEIRA, M. M. de. As fortificações portuguesas de Salvador..., op. cit., p.160.
87
BAHIA. Governo do Estado. Salvador e a Baía de Todos os Santos. Edição Trilíngue. Organização
de Eugênio D’Avilla Lins e Mariely Cabral de Santana. Sevilla: Consejería de Obras Públicas y
Vivienda, 2012. p.85; 86.
88
CAPARÓ, E. F. Os arenitos de cimentação calcífera dos antigos edifícios em Salvador: origens.
1997, 158f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)-Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 1997. p.30.
52
89
Pedro de Alcântara Bellegarde (1807 d.C. – 1864 d.C.), engenheiro militar, nasceu em plena Nau
de Nossa Senhora da Conceição (ou Nau Príncipe Real) que trazia a Corte Real Portuguesa para o
Brasil, inclusive o Príncipe Regente Dom João VI, em fuga das invasões napoleônicas. Foi professor
da Escola Militar do Rio de Janeiro e da Escola de Arquitetos Medidores e importante incentivador da
pesquisa, sendo responsável pelo Observatório Nacional e fundador do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro.
53
90
BELLEGARDE, P. A. Compêndio de architectura civil e hydraulica. Versão digitalizada, Rio de
Janeiro, 1848. p.32. Todas as citações do autor, nesta dissertação, foram transcritas exatamente
como o texto original.
91
BELLEGARDE, P. A. Compêndio de architectura civil e hydraulica, op. cit., p.34.
92
Trata-se da aplicação da Estereotomia, ciência que concerne à geometrização dos materiais de
construção civil.
93
BELLEGARDE, P. A. Compêndio de architectura civil e hydraulica, op. cit., p.36.
54
94
BELLEGARDE, P. A. Compêndio de architectura civil e hydraulica, op. cit., p.32.
95
Id., ibid., p.41.
96
Id., loc. cit..
55
Barro 3
Areia 2
Cal 1
97
BELLEGARDE, P. A. Compêndio de architectura civil e hydraulica, op. cit., p.43.
98
Uma braça equivale a, aproximadamente, 2,20 m. A braça cúbica é uma das unidades de medida
utilizada pelo colonizador português para a construção no Brasil. Equivale a mil palmos cúbicos,
portanto, em torno de 10,648 m³ no sistema métrico.
56
baseada no peso próprio, para resistir aos esforços de compressão e aos empuxos
das pesadas coberturas abobadadas, que, geralmente, tinham a mesma constituição
do próprio muro.
As bases do pensamento racionalista disseminavam, em sua grande maioria, a
edificação com lógica estrutural, utilizando menor quantidade de materiais, em
contraste com o modo empírico de edificação das paredes estruturais. Com a
chegada da industrialização e dos novos elementos construtivos, fazia-se necessária
a construção de prédios mais rapidamente. A velocidade e a necessidade de edificar
acabou por tornar inviável o modo construtivo antigo e deu aval para a chegada do
movimento moderno com a consolidação do concreto armado e das estruturas
metálicas.
Não obstante o desenvolvimento de novas formas de edificar durante o século
XX, o período do novecentos trouxe à luz outros importantes trabalhos sobre
paredes resistentes, que foram bem distribuídos no Brasil, dentre os quais
destacam-se os livros publicados por João Emílio do Santos Segurado, em especial,
Alvenaria e Cantaria99.
Nesse trabalho, o autor destaca a execução de diversos tipos de muros, no
entanto, de maneira geral, relata que a geometria das pedras é fundamental para a
aderência de uma boa parede, expondo que, "[...] para executar a alvenaria começa-
se por escolher as pedras que melhor prestem pela sua forma a preencher os
espaços deixados pelas anteriormente dispostas, assentando-as em cheio sobre
argamassa"100.
Santos Segurado dispõe, também, questões práticas da construção de
alvenarias de pedras argamassadas aparelhadas ou desordenadas; ou de pedras
secas, mencionando:
99
SANTOS SEGURADO, J. E. Alvenaria e Cantaria, op. cit.
100
Id., ibid., p.64.
101
Id., ibid., p.65.
57
1– tijolo de cutelo;
102
SANTOS SEGURADO, J. E. Alvenaria e Cantaria, op. cit., p.67.
58
103
SANTOS SEGURADO, J. E. Alvenaria e Cantaria, op. cit., p.67.
59
COMPRIDO
OU LARGO
PERPIANHO
FLAMEN-
GO
ESPINHA
INGLÊS APARELHOS EM
DIAGONAL
104
Ferdinand Redtenbacher(1809 d.C. – 1863 d.C.), engenheiro mecânico, formou-se na Escola de
Viena de Engenharia e foi professor de Mecânica, Matemática e Geometria na Universidade de
Karlsruhe e no Instituto Tecnológico de Zurich. É considerado um dos fundadores da Engenharia
Mecância na Alemanha.
105
DEMANET, A. Cours de construction. Bruxelles: Societé Typographique Belge, 1847.
106
Curso de construção (Tradução nossa).
107
ROCHA, I. Tijolo por tijolo: construindo alvenarias no Vale do Paraíba. 2012, 310f. Tese
(Doutorado em Arquitetura) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
60
108
TAUIL, C. A.; NESE, F. J. M. Alvenaria estrutural. São Paulo: PINI, 2010.
109
Concreto executado com agregados muito finos, fluido e com baixa retração.
61
3.1 OS MATERIAIS
3.1.1 A pedra
De acordo com os tratadistas dos séculos XIX e XX, como Bellegarde110, os
muros antigos possuíam cerca de 3/4 de seu volume total composto por pedras. Isso
posto, nos itens a seguir, são caracterizados os parâmetros físicos e mecânicos dos
110
BELLEGARDE, P.A. Compêndio de architectura civil e hydraulica., op. cit.
63
111
OLIVEIRA, M. M. de. Pedra: arquitetura e restauração. Comunicação apresentada ao
WORKSHOP DO PROJETO PRONEX-MINOMAT "DOS MINERAIS AOS NOVOS MATERIAIS", 2.,
2011, Belém, Universidade Federal do Pará. p.2. Cópia digitalizada cedida pelo autor.
112
Período que vai do século V ao século XV, foi caracterizado não apenas pelo poder da Igreja
Católica, mas também pela grande descentralização política. Nessa época, quase não existiam rotas
comerciais, e conseguir materiais estrangeiros era uma tarefa muito difícil.
113
Do século XVI ao século XVIII.
64
114
CAPARÓ, E. F. Os arenitos de cimentação calcífera dos antigos edifícios em Salvador:.., op. cit.,
p.37.
115
OLIVEIRA, M. M. de. As fortificações portuguesas de Salvador quando Cabeça do Brasil, op. cit.,
p.153.
65
3.1.1.2 Propriedades físicas das pedras mais comuns, utilizadas nas alvenarias
antigas
3.1.1.2.1 Granitos
Os granitos, que podem ser encontrados em toda a costa baiana, são rochas
endógenas (magmáticas), formadas mediante o gradual esfriamento do magma,
116
OLIVEIRA, M. M. de. As fortificações portuguesas de Salvador quando Cabeça do Brasil, op. cit.,
p.153.
66
117
BOERI, A. Pietre naturali nelle costruzioni: requisiti – criteri progetualli – applicazione – prestazioni.
5.ed. Milano: Hoepli, 2000. p.12.
118
“Granitos são rochas ácidas, de granulação grossa, e consistem, em sua maior parte, de quartzo,
mica e feldspato. Sua porosidade é muito baixa e isso, junto com sua composição mineral, torna-os
muito resistentes às intempéries [...]. A grande gama de cores e aparências, combinadas com a
resistência e a dureza, faz que o granito seja comumente usado em edifícios e em outros diversos
locais” (YATES, T. Natural building stone. In: DORAN, D.; CATHER, B. Construction Materials:
reference book. 2.ed. New York: Routledge, 2014. p.202. Tradução nossa).
119
Alguns autores, como Tom Yates, relatam que os minerais principais do granito são o quartzo,
feldspato e a mica, embora existam, também, piroxênios e anfibólios.
120
SANTOS, A. M. A. Exposição ocupacional a poeiras em marmorarias: tamanhos de partículas
característicos. 2005, 376f. Tese (Doutorado em Engenharia Metalúrgica e Minas) - Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. p.12.
121
SANTOS SEGURADO, J. E. Materiais de construção. 4. ed. Lisboa: Ed. Bertrand, 1940. p.12.
122
Id., ibid., p.4.
67
3.1.1.2.2 Arenitos
123
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120: Cargas para cálculos de
estruturas de edificações. Rio de Janeiro,1980. p.2.
124
STOWE, R. L. Strength and deformation properties of granite, basalt, limestone and tuff at various
loading rates. Versão digitalizada. Vicksbourg: U.S. Army Corp. of Engineers, 1969. p.59.
125
“Arenitos foram formados pela fragmentação de rochas elementares como gnaisses e rochas
ígneas. As partículas da rocha-mãe foram transportadas, de maneira geral, pela ação da água e
depositadas no fundo de mares e lagos, embora o transporte pudesse ocorrer, também, por outros
mecanismos, como ventos e geleiras [...] as partículas mais finas seriam levadas mais longe que as
mais grossas, e quanto mais tempo a sedimentação demorasse, mais diversificada seria [...]. Uma
vez que a sedimentação tenha sido assentada, ela pode ser unida através de diversos tipos de
cimentos” (YATES, T. Natural building stone, op. cit., p.202. Tradução nossa).
68
rochas mães que deram origem ao material lítico. Dentre as sandstones126, existem,
por exemplo, as beachrocks127, que enquadram os arenitos da costa baiana, entre
os quais, nesse contexto, segundo estudos de Caparó, "há uma predominância de
grãos de quartzo, em quantidade superior a 90%"128.
Também é importante relatar que, entre os diversos tipos de cimentação que
podem unir os sedimentos de um arenito, podem-se citar:
1 – sílicática;
2 – calcífera;
3 – ferrífera;
4 – argilífera.
126
Arenitos (Tradução nossa).
127
Arenitos de praia (Tradução nossa).
128
CAPARÓ, E. F. Os arenitos de cimentação calcífera dos antigos edifícios em Salvador:.., op. cit.,
p.37.
129
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120, op. cit.
130
CAPARÓ, E. F. Os arenitos de cimentação calcífera dos antigos edifícios em Salvador:.., op. cit.,
p. 127.
131
As dimensões dos corpos de prova eram de aproximadamente 7x7x7 cm (CAPARÓ, E. F. Os
arenitos de cimentação calcífera dos antigos edifícios em Salvador:.., op. cit., p.127).
132
VALLEJO, L. I. G.; FERRER, M.; ORTUÑO, L.; OTEO, C. Ingeniería Geologica. Madrid: Prentice
Hall, 2002.
69
133
OLIVEIRA, M. M. de. Pedra: arquitetura e restauração, op. cit., p.7.
134
Id., loc. cit.
135
SANTOS SEGURADO, J. E. Materiais de construção, op. cit., p. 13.
136
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120, op. cit.
137
VALLEJO et al. Ingeniería Geologica, op. cit.
70
3.1.1.2.4 Lioz
O lioz é uma rocha calcária não natural do Brasil, chamada pelos antigos
construtores de "Pedra do Reino"138, pois se tratava de um elemento construtivo
vindo do Reino de Portugal. Durante as viagens transatlânticas, em período colonial,
o lioz era utilizado como lastro que assegurava a estabilidade das embarcações139.
As pedreiras desse material são encontradas, em sua grande maioria, no
entorno de Lisboa e, como relatado anteriormente, foi trazido pelos portugueses,
durante a colonização, para a edificação de prédios religiosos importantes ou
adornar casarões e solares dos nobres da primeira Capital brasileira. Suas
características físicas são citadas por Santos Segurado:
138
BURY, J. Arquitetura e arte colonial no Brasil. Organização de Myriam Andrade Ribeiro. Brasília:
IPHAN/MONUMENTA, 2006. p.183.
139
MARTINS, M. M. Do mar ao ultramar: a transmigração do lioz português para São Luis do
Maranhão. Revista de História da Arte e Arqueologia, Campinas, n. 19, p. 101-105, jun. 2013.
140
SANTOS SEGURADO, J. E. Materiais de construção, p. 53-54.
141
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120, op. cit.
142
ROQUE, J. C. A Metodologia Integrada para avaliação e mitigação da vulnerabilidade sísmica das
construções históricas em alvenaria: a Igreja dos Jerónimos como Caso de Estudo. 2009. 231 f. Tese
(Doutorado em Engenharia Civil)-Universidade do Minho, Portugal, 2009. p.112.
71
módulo de elasticidade do lioz oscila de 14099 MPa a 88259 MPa, com o coeficiente
de Poisson ficando entre 0,12 e 0,33.
143
ATTEWELL, P. B.; FARMER, I. W. Principles of engineering geology. London: Chapman and Hall,
1976.
72
obtidos com fio diamantado, por exemplo, considerando o dano à estrutura interna
da pedra.
Nem todas as referidas características podem ser avaliadas para o diagnóstico
do material lítico, no entanto, existem outros parâmetros fundamentais, capazes de
ser classificados através de ensaios destrutivos (maioria) e não destrutivos, que
serão vistos em capítulos posteriores. Os testes não realizados in loco, com
equipamentos especiais de laboratório, não entraram no escopo desta dissertação,
no entanto, o conhecimento das possibilidades desses diagnósticos é importante
para sanar qualquer dúvida que venha a surgir na individualização da composição
de uma alvenaria antiga.
Entre inúmeros ensaios, destacam-se, segundo Oliveira144:
144
OLIVEIRA, M. M. de. Tecnologia da Conservação e Restauração, op. cit., p. 84; 85; 86.
73
3.1.2 Os tijolos
2 – Tijolos ordinários;
145
BOERI, A. Pietre naturali nelle costruzioni..., op. cit.
146
SANTOS SEGURADO, J. E. Materiais de construção, op. cit., p. 93.
74
3 – Tijolos refratários.
1 – Maciços;
2 – Perfurados.
147
ROCHA, I. Tijolo por tijolo..., op. cit., p. 147; 148.
75
3.1.2.1 Adobes
148
Embora seja possível encontrar exemplos do uso do adobe em fundação em zonas desérticas,
como no Peru.
149
ROCHA, I. Tijolo por tijolo..., op. cit.
150
COLE, E. História ilustrada da arquitetura. Tradução de Lívia ChedeAlmendary, São Paulo:
Publifolha, 2011, p. 13.
151
OLIVEIRA, M. M. de. O uso da terra na construção da antiga capital da América Portuguesa: uma
memória. In: ASSOCIAÇÃO CENTRO DA TERRA (Org.). Arquitectura de Terra em Portugal. Lisboa:
Ed. Argumentum, 2005. p. 86-91.
76
apresentar-se com terra comum com adição de cal e apresentam cor vermelha; e os
segundos são feitos com argila quase pura, tendo a propriedade de resistirem a
altas temperaturas, sendo empregados exclusivamente em fornos e fornalhas152.
Os engenheiros militares, grandes responsáveis pelas construções nas
colônias portuguesas do Novo Mundo, acreditavam que o melhor material a ser
utilizado para edificação de paredes nos fortes seriam os tijolos cozidos, visto sua
elevada resistência e sua capacidade de não estilhaçar quando golpeados por
projéteis.153 Esses elementos construtivos podiam possuir diversas formas, como já
relatado por Rocha154.
152
SANTOS SEGURADO, J. E. Materiais de construção, op. cit., p. 94.
153
OLIVEIRA, M. M. de. As fortificações portuguesas de Salvador quando Cabeça do Brasil, op. cit.,
p. 152.
154
ROCHA, I. Tijolo por tijolo..., op. cit.
77
2 – módulo de elasticidade;
3 – rugosidade;
4 – absorção de água;
7 – forma;
155
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6460: Tijolo maciço cerâmico para
alvenaria: verificação da resistência à compressão. Rio de Janeiro,1983.
156
Expressão italiana para denominar um conjunto de três elementos.
157
ANTONUCCI, R. Restauro e recupero degli edifici a struttura muraria: analisi e interventi sul
"costruito storico". 4.ed. San Marino: Maggioli, 2012. p.201.
78
3.1.3 As argamassas
158
SANTOS, L. C. A. N. A arqueologia da arquitetura e a produção de tijolo na Bahia do Século XVI
ao Século XIX. 2012, 433f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo)-Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2012. p.373.
159
“Avaliar as características mecânicas de um muro com base nas características de seus
componentes deve ser feito com prudência. De fato, ainda não é totalmente claro o mecanismo que
envolve a deformação e o colapso de um prisma de tijolo, dada a complexidade do fenômeno de
interação entre argamassa e tijolo, a direção e a grandeza da força aplicada em relação com a
geometria do corpo de prova” (ANTONUCCI, R. Restauro e recupero degli edifici a struttura
muraria..., op. cit., p. 201. Tradução nossa).
160
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7170: Cargas Tijolo maciço cerâmico
para alvenaria. Rio de Janeiro, 1983.
161
As argamassas compostas por solo são chamadas de “argamassas bastardas” (SANTIAGO, C. C.
Argamassas tradicionais de cal, op. cit., p. 27).
79
2 – módulo de elasticidade;
3 – aderência;
4 – trabalhabilidade e plasticidade;
162
BAHIA. Governo do Estado. Salvador e a Baía de Todos os Santos, op. cit., p. 89.
163
OLIVEIRA, M. M. de. Argamassas e restauro de edifícios. In: SEMINÁRIO TIRADENTES:
CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, 2003, Tiradentes, MG. Anais...
Tiradentes, 2003. p.3. Texto disponibilizado pelo autor.
164
SANTIAGO, C. C. Argamassas tradicionais de cal, op. cit., p.30.
165
MARTINS, L. M. S. Desenvolvimento de ferramenta de cálculo para uma avaliação expedita de
estruturas de alvenaria antiga de pedra. 2011. 158f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Construção e Reabilitação)-Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu/Instituto Politécnico,
Viseu, Portugal, 2011.
166
Id., ibid..
167
ANTONUCCI, R. Restauro e recupero degli edifici a struttura muraria..., op. cit., p.201.
80
168
MAGALHÃES, A. C. A. Degradação de revestimentos de paredes de edifícios antigos:
metodologia de diagnóstico. 2013. 161f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)-
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013. p.122.
169
MAGALHÃES, A. C. A. Degradação de revestimentos de paredes de edifícios antigos..., op. cit.
170
VEIGA, M. R. As argamassas na conservação. In: JORNADA DE ENGENHARIA CIVIL DA
UNIVERSIDADE DE AVEIRO: AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DAS CONSTRUÇÕES EXISTENTES,
1., 2003, Aveiro, Portugal. Anais... Lisboa: LNEC, 2003. Disponível em: <mestrado-reabilitacao.fa.utl.
pt/disciplinas/jbastos/Rveiga2CONF-UA-RV.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2016
81
171
Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc (1814 d.C. – 1879 d.C.), arquiteto, teórico da arquitetura,
restaurador, professor. Foi responsável pela restauração da Catedral de Paris (Notre-Dame) com
Jean-Baptiste-Antoine Lassus; Chefe do Bureau des Monuments Historiques e membro da
Commission des Monuments Historiques; seus trabalhos Dictionnaire raisonné de l'architecture
française e Entretiens sur l'architecture são verdadeiros clássicos do restauro e da história da
arquitetura.
172
OLIVEIRA, M. M.; SANTIAGO, C. C. Viollet-le-Duc e o restauro de Notre-Dame. Salvador:
EDUFBA, 2014.
82
173
Pisos em madeira (tradução nossa). Estrutura em barrotes de madeira com tabuados.
174
BACCO, V. Meccanismi di collasso per effetto di solai di copertura spingenti. Rivista Gazzetta dei
Solai, Roma, n. 59, p. 1-7, luglio 2009. Disponível em: <http://www.solaioinlaterizio.it/ sol/newsletter/
n058/news_1.pdf>, Acesso em: 16 set. 2015.
175
Ações permanentes nos edifícios.
176
CROCI, G. Conservazione e restauro strutturale dei beni architettonici. Torino: UTET Libreria,
2001. p. 95.
83
5 – ampliação de gabarito;
177
CROCI, G. Conservazione e restauro strutturale dei beni architettonici, op. cit., p. 95 (Tradução
nossa).
84
178
APPLETON, J. Reabilitação de edifícios antigos: patologias e tecnologias de intervenção. 2.ed.
Alfragide: Edições Orion, 2011.
179
Id., ibid., p.20.
180
Id., loc. cit.
85
182
OLIVEIRA, M. M. de. Tecnologia da Conservação e Restauração, op. cit., p.201.
183
Id.. loc. cit.
184
“Todos os efeitos que tendem a destruir os edifícios provêm da gravidade, a qual age em razão
dos obstáculos que ela encontra. Quando os corpos pesados são colocados imediatamente uns
sobre os outros, o resultado dos seus esforços é uma simples pressão suscetível a produzir sua
compressão ou esmagamento das partes que os sustentam” (RONDELET, J. B. Traité théorique et
pratique de l'art de bâtir, op. cit., p.72. Tradução nossa).
87
2 – esmagamento;
anterior é de maior interesse para este trabalho e são descritos a seguir. Croci
destaca a importância dessa pesquisa:
189
“Um exame dos diferentes tipos de patologias é muito importante porque a distribuição das
deformações e das lesões é ligada ao comportamento estrutural e às ações que os produziram. O
exame das patologias e o conhecimento dos fenômenos correspondentes são elementos
fundamentais para um bom diagnóstico” (CROCI, G. Conservazione e restauro strutturale dei beni
architettonici, op. cit., p. 115. Tradução nossa).
190
PINHO, F. F. S. Soluções construtivas de paredes de edifícios antigos em Portugal. In: REPAR
2000: ENCONTRO NACIONAL SOBRE CONSERVAÇÃO E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS,
2000, Lisboa. Anais... Lisboa: LNEC, 2000. p.137.
89
Fonte: Acervo do autor (dez. 2014). Fonte: Acervo do autor (dez. 2014).
3.2.2.2 Esmagamento
191
CROCI, G. Conservazione e restauro strutturale dei beni architettonici, op. cit., p. 116.
90
192
APPLETON, J. Reabilitação de edifícios antigos..., op. cit., p.109.
91
193
Trata-se do efeito de expansão horizontal, de um material, após o recebimento de uma carga
vertical.
194
OLIVEIRA, M. M. de. Tecnologia da Conservação e Restauração, op. cit.,p.170.
195
MUÑOZ, R. Acidentes e desastres em um trecho da falha de Salvador..., op. cit.
196
Id., ibid., p.123.
197
OLIVEIRA, M. M. de. Tecnologia da Conservação e Restauração, op. cit., p.163.
198
MUÑOZ, R. Acidentes e desastres em um trecho da falha de Salvador..., op. cit., p.102.
199
RANZINI, S. M. T.; NEGRO Jr., A. Obras de contenção: tipos, métodos construtivos, dificuldades
executivas. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. Q.; CARVALHO, C. S.;
NIYAMA, S. Fundações: teoria e prática. São Paulo: PINI, 1998. p.497-515.
92
influência para o colapso da estrutura, que são menores que 0,5 mm de espessura,
as quais são diferentes de rachaduras que apresentam maior dimensão e largura.
De acordo com Pinho200, esses fenômenos são muito recorrentes quando perto
das aberturas de portas e janelas, zonas mais frágeis da construção, pois são áreas
de grande convergência de forças. Do mesmo modo, essa patologia pode ser
encontrada com facilidade em paredes resistentes, sem elementos de ligação entre
elas, e as quais não se comportam como uma caixa estrutural conexa, com
movimentação uniforme. Appleton relata:
A B
C.1 C.2
200
PINHO, F. F. S. Soluções construtivas de paredes de edifícios antigos em Portugal,op. cit., p.138.
201
APPLETON, J. Reabilitação de edifícios antigos..., op. cit.,p.109.
94
As rachaduras, fendas e brechas são lesões bem mais perigosas, para muros
antigos e novos, podendo causar o colapso estrutural rapidamente, fomentando o
estudo urgente para a consolidação da alvenaria ou do tratamento da causa dos
danos que estão assolando o prédio.
Além das patologias descritas anteriormente (desagregação, esmagamento,
fendilhamento), que podem se agravar para dar espaço a novas lesões mais graves,
Oliveira202 relata os seis movimentos deformantes que se constituem em matrizes
para o aparecimento dessas fissuras e rachaduras problemáticas para as paredes
tradicionais, são eles:
202
OLIVEIRA, M. M. de. Tecnologia da Conservação e Restauração, op. cit., p.166.
95
203
“A análise das lesões, eventualmente encontradas, deverá dizer respeito tanto às estruturas
verticais como às horizontais, com o auxílio [...] dos cadastros do quadro de fissuras e de adequada
96
1 – resistência à compressão;
2 – resistência ao corte;
3 – resistência à flexão;
4 – relações tensões/extensões207.
deformação (ε):
209
Também chamado de constante de proporcionalidade, por representar a proporção entre tensão e
deformação; ou, pode ser determinado como Módulo de Young.
210
ASSAN, A. E. Resistência dos Materiais. São Paulo: Unicamp, 2010. v.1.
211
Id., ibid., p.244.
212
Robert Hooke (1635 d.C. – 1703 d.C.), cientista e professor inglês; principal ajudante do arquiteto
Cristopher Wren, responsável pelo projeto da Catedral de St. Paul de Londres, após o grande
incêndio; foi o motivador do desenvolvimento de diversos instrumentos importantes para a ciência
como barômetros, higrômetros, medidores de chuva e anemômetros.
98
σ = Εε (1)
3 – núcleo amplo;
Com tais informações, foi possível elaborar novo quadro com os coeficientes
que devem ser aplicados nos supracitados casos (Quadro 7).
carga de segurança (valor admitido para o sobrepeso que o muro recebe, que é
igual a 1/10 da tensão de esmagamento).
O autor observa que, para utilizar os valores descritos, é importante levar em
conta o seguinte:
Peso Tensão de
Tipo de alvenaria esmagamento
(kgf/m³)
(MPa)
1. Cantaria de pedra muito dura e
2500 a 2700
argamassa ordinária. 29 a 58
213
SANTOS SEGURADO, J. E. Alvenaria e Cantaria, op. cit., p.113.
102
4 TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO
214
“Servem para definir a composição das argamassas e dos rebocos originais, bem como as
características químicas, físicas e mecânicas das pedras, tijolos, madeiras e metais empregados na
construção existente. São úteis em fase de diagnóstico para verificar a extensão do dano, sobretudo
no que diz respeito à superfície externa dos elementos murais ou lígneos, mas, também, para fazer
um prognóstico da durabilidade dos materiais para reparações e/ou tratamentos” (BINDA, L.; SAISI,
A.; ZANZI, L.; BARONIO, G. Tecniche di indagine e progetto delle indagini per la diagnostica
strutturale. In: PESENTI, S. Il progetto di conservazione: linee metodologiche per le analisi preliminari,
l'intervento, il controllo di efficacia. Rapporti di ricerca. Politecnico di Milano/Dipartimento di
Conservazione e Storia dell'Architettura. Firenze: Alinea, 2001. p.104. Tradução nossa).
104
Quadro 9 – Classificação dos danos causados por ensaios destrutivos e não destrutivos
Classificação Descrição Danos Medidas de Construções em
do dano reparação que é aceitável
Irrelevante Visíveis apenas se Marca de martelo, Nenhuma ou Todas.
Exemplos: procurados, não visíveis riscos, manchas limpeza.
(Ensaios sônicos, em distância normal. d’água.
Termocâmera,
Georradar)
Ligeiro Visíveis de perto, mas, Furos de pequeno Reparação Todas, exceto em
Exemplos: normalmente diâmetro, danos com edifícios
(Endoscopia, imperceptíveis. de penetrômetros. argamassa da classificados em
Acelerômetros, mesma cor e zonas perto dos
penetrômeros) características utentes.
mecânicas
Médio Óbvios mas sem Remoção de Substituição Todas, exceto em
relevância estrutural ou material de juntas, da unidade ou edifícios
Exemplo: para durabilidade a curto remoção de reparação com classificados em
(Ensaio com prazo unidades de argamassa zonas perto dos
macacos planos) alvenaria ou de expansiva, de utentes.
corpos de prova mesma cor e
de pequeno características
diâmetro. mecânicas.
Significativo Muito óbvios. Podem exigir Remoção de Reconstrução Temporariamente
(Grandes ensaios medidas de segurança se pequenas áreas com materiais em edifícios
em laboratório) não forem reparados. de alvenaria, idênticos ou recentes e
corpos de prova costura sobre estruturas
de grande o dano. classificadas não
diâmetro. acessíveis.
Sério Muito óbvios. Exigem Extensas áreas Reconstrução Aceitável apenas se
(Grandes ensaios medidas de segurança se de alvenaria com materiais impedido o acesso
em laboratório) não forem reparados (por removidas ou similares. ao público.
exemplo, escoramentos, realização de
barreiras). ensaios pesados.
Fonte: Elaboração do autor a partir de Cóias (2006, p.9).
215
No caso de monumentos localizados em locais mais frios, o fenômeno do gelo e degelo é de
grande agressividade aos edifícios antigos, ainda mais atuando em áreas com grande concentração
de sais solúveis.
216
BINDA et al. Tecniche di indagine e progetto delle indagini..., op. cit., p. 06.
217
CÓIAS, V. Inspecções e ensaios na reabilitação de edifícios, op. cit., p. 8.
105
2 – termografia (qualitativa);
4 – endoscopia (qualitativa).
218
CÓIAS, V. Inspecções e ensaios na reabilitação de edifícios, op. cit., p.8.
219
BINDA et al. Tecniche di indagine e progetto delle indagini..., op. cit., p.98.
106
220
TASSIOS, T. P.; MAMILLAN, M. Valutazione strutturale dei monumenti antichi. Apresentação de
Carlo Cestelli Guidi, Roma: Kappa, 1985. p.9.
107
Materiais utilizados:
1 – dois transdutores, que podem ser geófonos ou acelerômetros (Figura 26);
221
TASSIOS, T. P.; MAMILLAN, M. Valutazione strutturale dei monumenti antichi, op. cit., p.19.
108
Figura 30 – Ensaios sônicos por transmissão Figura 31 – Ensaios sônicos por propagação
direta de superfície
(3 )
222
TASSIOS, T. P.; MAMILLAN, M. Valutazione strutturale dei monumenti antichi, op. cit., p.21.
110
E = p.Vm² [(1+v).(1-v)/(1-v)] (3 )
223
TASSIOS, T. P.; MAMILLAN, M. Valutazione strutturale dei monumenti antichi, op. cit., p.23-25.
111
4.2.2 Termografia
224
CÓIAS, V. Inspecções e ensaios na reabilitação de edifícios, op. cit., p. 331.
112
225
SOUSA, L. Aplicação de termografia no estudo do isolamento térmico de edifícios. 2010, 101 f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica)–Universidade de Aveiro, Portugal, 2010. Disponível
em: < http://ria.ua.pt/bitstream/10773/3650/1/240593.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2014.
226
Id., ibid., p.44.
227
BUFFARINI, S.; D’ARIA, V.; GIACCHETTI, R. Il consolidamento strutturale degli edifici in cemento
armato e muratura, op. cit.
113
O ensaio com macacos planos é uma técnica que surgiu nos fins dos anos 70,
aplicada ao estudo do comportamento mecânico de maciços rochosos228, e sua
primeira utilização, no âmbito estrutural, aconteceu em Milão, em 1979, na pesquisa
sobre a restauração do Palácio da Razão. Esse teste foi adaptado para aplicação
em muros antigos pelo engenheiro Pier Paolo Rossi durante os trabalhos de
reestruturação do monumento.
Segundo Buffarini, D’Aria e Giacchetti229, para a realização dos ensaios com
macacos planos, são necessários os seguintes equipamentos:
228
LOURENÇO, P.; GREGORCZYK, P. A Review on Flat-Jack Testing. Guimarães, Portugal:
Universidade do Minho/Departamento de Engenharia Civil, 2000.
229
BUFFARINI; S.; D’ARIA, V.; GIACCHETTI, R. Il consolidamento strutturale degli edifici in cemento
armato e muratura, op. cit.
114
Fonte: Acervo do autor (nov. 2015). Fonte: Acervo do autor (nov. 2015).
115
Fonte: Acervo do autor (nov. 2015). Fonte: Acervo do autor (nov. 2015).
Fonte: Acervo do autor (dez. 2013). Fonte: Acervo do autor (dez. 2013).
116
4.2.3.1 Normatização
Figura 47 – Seção mostrando as etapas para execução do ensaio com macaco plano
simples
Bomba
hidráulica
Fonte: Elaboração do autor (2014).
234
BINDA, L.; ANZANI, A.; CANTINI, L. Flat-Jack Test..., op. cit.
118
0,27 0,04
Área do rasgo = 0,1089 m²
Ka = 0,745
Cotas em metros
0,48
horizontal237 (Figura 50), embora seja possível utilizar mais bases de medição
(Figura 51), respeitando a distância máxima entre eles.
Efetuando uma prova cíclica, com retorno ao zero após atingir um limite
determinado, e incrementando gradualmente o nível de solicitação, pode-se atingir o
estado máximo de ruptura ou identificar a resistência à compressão através da
análise do gráfico tensão/deformação e/ou pressão/deformação.
No eixo positivo do referido gráfico, são marcadas as medidas das fiadas das
bases verticais de medição, enquanto, no eixo negativo, são determinadas as
medidas das bases horizontais de medição, para o caso da determinação do
módulo de elasticidade tangencial e coeficiente de Poisson (Figura 52).
237
RILEM. Recommendation MDT.D.5, op. cit.
121
Onde Ka’ é a relação entre a área dos macacos e o valor médio das duas
áreas de corte.
O cálculo do módulo de elasticidade será efetuado no intervalo linear
previsível, que, no gráfico de tensão-deformação, representa o primeiro setor,
elástico, antes do escoamento do material. Este parâmetro é, também, o coeficiente
angular da reta tangente à curva de tensão/deformação:
E = (∆σ/∆εy) (6)
O coeficiente de Poisson, outro dado que pode ser obtido, é a relação entre a
deformação transversal e a longitudinal:
v = (∆εx/∆εy) (7)
122
238
BUFFARINI S.; D’ARIA, V.; GIACCHETTI, R. Il consolidamento strutturale degli edifici in cemento
armato e muratura, op. cit.
123
No relatório final, para cada teste com macacos planos, deverão constar os
seguintes dados239:
5 – Valores de calibração;
6 – Data do teste;
4.2.4 Endoscopia
239
BINDA, L.; ANZANI, A.; CANTINI, L. Flat-Jack Test..., op. cit.
124
Assim como no ensaio sônico, por meio desse tipo de diagnóstico é possível
detectar áreas vazias no muro, presença de materiais não coesos, consolidações
anteriores, áreas não compactas na alvenaria, bem como a existência de diversos
outros elementos não visíveis dentro da parede resistente.
O critério de escolha dos edifícios que seriam avaliados na pesquisa teve como
base as determinações de Croci240, que estabelece a importância da verificação
física e mecânica de estruturas danificadas para posterior consolidação. Neste
âmbito, a Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo (Figura 56) foi o
primeiro monumento a ser eleito para ser avaliado, considerando as diversas lesões
que apresenta.
Além disso, o referido edifício encontra-se em obras, o que facilitou seu
acesso, antes impossibilitado pelo estado de arruinamento da igreja. As instalações
de canteiro também foram fundamentais para a aplicação dos ensaios.
Outra alvenaria avaliada foi a do antigo prédio da Companhia Circular de Carris
da Bahia (Figura 57). A escolha desse monumento deu-se, a princípio, por
apresentar todas as condições para execução dos ensaios com macacos planos,
graças à infraestrutura de obra.
Além disso, apesar de se apresentar com tipologia eclética, o prédio ainda
possui altas paredes espessas, em seu pavimento enterrado, provavelmente
remanescentes de antiga estrebaria, construída no local, presumivelmente no século
XIX.
Fonte: Acervo do autor (jan. 2015). Fonte: Acervo do autor (dez. 2015).
240
CROCI, G. Conservazione e restauro strutturale dei beni architettonici, op. cit.
127
1 2 3
IGREJA DO
PASSO
O edifício, construído por irmandades locais no século XVII, foi concebido com
nave única e corredores laterais dotados de tribunas e sacristia transversal, tal como
as igrejas matrizes da época, seguindo as tipologias da matriz de São Bartolomeu
241
Muitos referem-se à Igreja como do “Paço”. Há referências dessa grafia, inclusive, em alguns
azulejos internos da edificação. No entanto, no Inventário de Proteção ao Acervo Cultural da Bahia, a
supracitada edificação está referida como Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo.
242
BAHIA. Governo do Estado. Inventário de proteção do acervo cultural da Bahia. Organização de
Paulo Ormindo de Azevedo e Vivian Lene. 3. ed. Salvador: Secretaria da Indústria e Comercio, 1997.
p.39.
128
243
BAHIA. Governo do Estado. Salvador e a Baía de Todos os Santos, op. cit., p.231.
129
244 .
BAHIA. Governo do Estado. Inventário de proteção do acervo cultural da Bahia, op. cit., p. 40.
130
Figura 68 – Posições dos principais danos encontrados na Igreja do Passo (em vermelho)
LEGENDA: LEGENDA:
1 - Lesão vertical do 1 2 4 - Lesão vertical e
piso ao teto inclinada, do teto até
2 - Lesão vertical do a padieira do vão
piso ao teto,
3
4 5 - Lesão vertical na
inclusive fundação seção intermediária
3 - Lesão inclinada, da parede
do piso ao teto, 6 - Ruptura total da
inclusive fundação pedra de soleira do
5
vão
7 - Lesão vertical, do
7 6 piso até a superfície
N superior do muro.
0 5 10 15 20 m
245
MUÑOZ, R. Acidentes e desastres em um trecho da falha de Salvador..., op. cit.
132
Figura 69 – Plantas baixas mostrando os resultados dos ensaios efetuados com Georradar
no corredor lateral esquerdo
De 0 a 1,00 m de profundidade
De 1,00 a 2,00 m de profundidade
LEGENDA
E2, T2 US1
US2
E1, T1 Ensaios:
E3, T3 E – Endoscopia
US3
US6, T5 T – Térmico
US4 US – Ultrassom
US5
E4, T4
Ponto de aplicação
0
dos ensaios
5 10 15 20 m
246
CROCI, G. Conservazione e restauro strutturale dei beni architettonici, op. cit.
134
Fonte: Acervo do autor (ago. 2015). Fonte: Acervo do autor (ago. 2015).
247
Até a finalização desta dissertação, o martelo instrumentado requisitado à Fundação de Apoio à
Pesquisa não havia sido disponibilizado, o que dificultou o desenvolvimento do trabalho.
248
TASSIOS, T. P.; MAMILLAN, M. Valutazione strutturale dei monumenti antichi, op. cit.
135
Alvenaria mista de
US1 74,1 8,99 pedra (arenito) e tijolos -*
argamassados
Alvenaria de pedra de
US2 21,5 1,02 2.500
arenito
Alvenaria de pedra de
US3 22,8 1,02 3.125
arenito
Alvenaria de pedra de
US4 22,3 1,02 1.111
arenito
Alvenaria mista de
US5 70,2 8,99 pedra (arenito) e tijolos -*
argamassados
Alvenaria mista de
US6 89,9 4,49 pedra (arenito) e tijolos -*
argamassados
249
TASSIOS, T. P.; MAMILLAN, M. Valutazione strutturale dei monumenti antichi, op. cit., p.24.
250
CÓIAS, V. Inspecções e ensaios na reabilitação de edifícios, op. cit., p.8.
251
BUFFARINI, S.; D’ARIA, V.; GIACCHETTI, R. Il consolidamento strutturale degli edifici in cemento
armato e muratura, op. cit., p.85.
252
TASSIOS, T. P.; MAMILLAN, M. Valutazione strutturale dei monumenti antichi, op. cit., p.24.
137
US3
US3
US2
US2
Para o Ensaio US4, por exemplo, não é possível obter a resistência com o
gráfico, pelo valor obtido ser bastante inferior. Existe, então, a possibilidade das
alvenarias no monumento apresentarem defeitos pela pouca capacidade mecânica
desses arenitos, se foram utilizadas para a composição dos muros do edifício.
Para esses ensaios, a metodologia de teste procurou, por meio dos danos
encontrados no monumento, definir se a composição física dos muros do edifício
permanece em bom estado de conservação, se existem outros tipos de argamassas,
ou pedras que fazem parte da estrutura da parede, irregularidades geométricas, ou
253
ATTEWELL, P. B.; FARMER, I. W. Principles of engineering geology, op. cit.
138
254
ROCHA, I. Tijolo por tijolo..., op. cit.
139
255
DI STEFANO, R. Il consolidamento strutturale nel restauro architettonico, op. cit.
256
SANTOS SEGURADO, J. E. Alvenaria e Cantaria, op. cit., p. 67.
257
Todas as estimativas desenvolvidas neste trabalho, para o peso das paredes, foram baseadas no
estudo de SANTOS SEGURADO, J. E. Alvenaria e Cantaria, op. cit., p. 113.
140
Fonte: Acervo do autor (ago. 2015). Fonte: Acervo do autor (ago. 2015).
258
– Provável causa do dano: recalque ou escorregamento por umidade no
terreno;
258
DI STEFANO, R. Il consolidamento strutturale nel restauro architettonico, op. cit.
141
Fonte: Acervo do autor (ago. 2015). Fonte: Acervo do autor (ago. 2015).
Fonte: Acervo do autor (ago. 2015). Fonte: Acervo do autor (ago. 2015).
142
Fonte: Acervo do autor (ago. 2015). Fonte: Acervo do autor (ago. 2015).
259
Alguns autores já relatavam o problema em outros monumentos: “A presença de sulfatos, sais
bastante expansivos durante o processo de cristalização, está provavelmente associada à
contaminação do material e às intervenções de cimento existentes,fatos que podem estar causando a
degradação das argamassas” (OLIVEIRA, M. M. de; MUÑOZ, R.; MAGALHÃES, A. C. A. Capela de
Santana do Miradouro: proposta de estabilização estrutural. Relatório técnico. Salvador: Universidade
Federal da Bahia, 2013. p. 25).
147
1 2 3 ANTIGO PRÉDIO DA
COMPANHIA CIRCULAR DE
CARRIS DA BAHIA
CATEDRAL
A história desse prédio tem relação direta com a modernização dos ascensores
urbanos e da mobilidade de Salvador pela Companhia Circular de Carris da Bahia,
empresa que chega à Capital no fim do século XIX.
Inicialmente, servia de estribaria e casa de máquinas (Figura 95) para o recém-
construído Chariot260, antigo plano inclinado Isabel, porém, no início do século XX, é
demolida a construção original para a criação do atual edifício eclético (Figura 96),
com função administrativa.
260
SAMPAIO, C. N. 50 anos de urbanização: Salvador da Bahia no século XIX. Rio de Janeiro:
Versal, 2005. p. 208.
149
3 – o conjunto resultante foi uma linha horizontal com seis pontos a seu redor.
A distância vertical entre os dois pares de pontos obedeceu o máximo de 24
cm e o mínimo de 12 cm, seguindo a recomendação RILEM261 que determina a
distância dessas bases entre 30% e 60% da largura do macaco plano. Outros
261
RILEM. Recommendation MDT. D. 4, op. cit.
152
três pontos foram fixados acima do conjunto para a aplicação do ensaio com
macacos planos duplos;
4 – sobre os círculos desenhados, pequenas peças de metal foram fixadas
para serem utilizadas como as bases de medição (Figura 100). Foi medida a
distância entre elas com um deformômetro, acoplado a um relógio comparador
(Figura 101).
Fonte: Acervo do autor (jul. 2014). Fonte: Acervo do autor (jul. 2014).
Por fim, foi realizado o ensaio com macacos planos duplos. O procedimento
para fazer um segundo rasgo na alvenaria é similar ao utilizado para apenas um
155
macaco plano, sendo o novo talho feito acima do primeiro, no mesmo alinhamento
vertical, respeitando um máximo de 60 cm de distância entre as placas. Esse espaço
entre os equipamentos é recomendado pela RILEM262: 150% do valor da largura do
macaco.
Após a realização do rasgo superior, o segundo macaco plano foi
imediatamente inserido na alvenaria e a pressão aumentada até o aparecimento de
pequenas fissuras. Pode-se, também, ouvir estalos da alvenaria, assegurando que o
ensaio e o sistema chegaram ao limite.
5.2.1.5 Resultados
262
RILEM. Recommendation MDT. D. 5, op. cit.
156
263
ROCHA, I. Tijolo por tijolo...., op. cit., p. 147;148.
157
atenuar seu peso. Trata-se de sistema estrutural muito comum no início do século
XX, quando foi construído o prédio.
Figura 104 – Localização dos ensaios no antigo prédio da Companhia Circular de Carris da
Bahia
LEGENDA
US, T
Ensaios: Parte
US, T removida
T – Térmico MP da parede
US – Ultrassom
MP – Macacos
planos
Parede ensaiada
264
BARBEROT, E. Tratado Práctico de Edificación, op. cit., p. 43.
158
Assim:
Figura 107 – Execução de ensaios sônicos Figura 108 – Execução de ensaios sônicos
para avaliação mecânica de pedras mais para avaliação mecânica de pedras mais
escuras claras
Fonte: Acervo do autor (maio 2016). Fonte: Acervo do autor (maio 2016).
Pedras
escuras
Pedras
Pedras claras
escuras
Pedras
claras
265
ATTEWELL, P. B.; FARMER, I. W. Principles of engineering geology, op. cit.
266
VALLEJO et al. Ingeniería Geologica, op. cit.
267
STOWE, R. L. Strength and deformation properties of granite, basalt, limestone..., op. cit.
160
claros tiveram oscilação de 8000 a 18000 MPa de módulo, média de 12600 MPa,
desvio padrão de 3,16 MPa e coeficiente de variação abaixo de 0.
5.2.2.2 Aplicação dos macacos planos para definição das características mecânicas
da alvenaria
Figura 114 – Corte da Figura 115 – Macaco plano Figura 116 – Medição
alvenaria com serra inserido na alvenaria das distâncias das
diamantada bases
Fonte: Acervo do autor Fonte: Acervo do autor (maio Fonte: Acervo do autor
(maio 2016). 2016). (maio 2016).
Figura 117 – Gráfico das pressões obtidas para o retorno da alvenaria ao seu estado inicial,
por base de medição
No Quadro 12, complementar à Figura 117, foram dispostas sete colunas com
dados sobre o teste: uma seção que demonstra as variações de leituras no
manômetro para cada acréscimo de pressão (primeira coluna da esquerda para
direita); três seções (colunas do meio) que indicam a leitura no deformômetro para
cada mudança de pressão, nas três bases de medição (B1, B2 e B3); três seções
(últimas colunas da esquerda para a direita) que apresentam o posicionamento das
bases de medição para cada acréscimo de pressão, em relação ao estado inicial de
B1, B2 e B3, calculado pela variação das deformações lidas no deformômetro. As
últimas linhas demonstram os resultados da tensão (já corrigida em MPa), seu
desvio padrão e a média na porção ensaiada determinada pelas bases de medição.
Percebe-se, que o coeficiente de variação obtido foi relativamente alto (39%),
para tensões em uma porção muito pequena da parede ensaiada.
Finalizado o teste com macacos planos simples, foi realizado um novo corte
(Figura 118), acima do primeiro, e inseriu-se outro macaco plano para a realização
do ensaio de compressão monoaxial da parede (Figura 119).
A pressão no macaco inferior foi reduzida e realizou-se nova medição da
distância entre as bases (Figura 120), desta vez, aquelas que se encontravam na
porção de alvenaria entre os aparelhos.
164
Figura 118 – Realização Figura 119 – Dois macacos Figura 120 – Medição
do corte superior para planos conectados para a preliminar das bases
inserção do macaco plano realização de ensaio de localizadas na porção de
compressão monoaxial alvenaria entre os macacos
Fonte: Acervo do autor Fonte: Acervo do autor (maio Fonte: Acervo do autor (maio
(maio 2016). 2016). 2016).
O início do teste com macacos duplos deu-se com o aumento da pressão nos
dois pratos, realizando-se, no intervalo de 0,5 bar, a medição das distâncias dos
pontos marcados entre os aparelhos.
O ensaio, no caso de alvenarias mistas, termina ao se notar a resistência da
parede ao aumento de pressão na bomba, ou a presença de fissuras na alvenaria
(Figura 121) que, neste caso, ocorreram a 2,4 bar de pressão.
Figura 122 – Gráfico tensão/deformação para B1 Figura 123 – Gráfico tensão/deformação para
e equação da reta tangente à curva B2 e equação da reta tangente à curva
Fonte: Acervo do autor (maio 2016). Fonte: Acervo do autor (maio 2016).
268
CONCU, G.; DE NICOLO, B. Non-destructive methods as a tool in the assesment of monumental
buildings condition. In: BREBBIA, C. (Org.). Structural studies, repairs and maintenance of heritage
Architecture. Southampton: WIT Press, 2009. v. 9, p.349.
269
Id., ibid., p.349.
270
“Ensaios sônicos e endoscopia enfatizam que a qualidade das pedras diminuía da base para o
topo e em direção às camadas mais internas da alvenaria” (Id., ibid., p. 357. Tradução nossa).
271
ATTEWELL, P. B.; FARMER, I. W. Principles of engineering geology, op. cit.
272
“A endoscopia destacou que áreas não homogêneas na alvenaria são constituídas, na maioria das
vezes, de pedras irregulares e, esporadicamente, compostos cerâmicos, e os ensaios sônicos não
detectaram nenhum vazio importante ou macro cavidade que tivesse que ser considerada como
descontinuidade relevante no sistema mural” (CONCU, G.; DE NICOLO, B. Non-destructive methods
as a tool in the assesment of monumental buildings condition, op. cit., p.349. Tradução nossa).
169
273
VICENTE, R.; SILVA, J. A. R. M. da.; VARUM, H.; RODRIGUES, H.; JULIO, E. Caracterização
mecânica de paredes de alvenaria em construções antigas: ensaios com macacos planos. Revista
Internacional Construlink, Lisboa; v. 7, n. 9, p. 57-69. Disponível em: <http://www.civil.ist.utl.pt/
~cristina/RREst/Aulas_Apresentacoes/07_Bibliografia/inspeccao%20(inspection)/IJ_16.pdf>. Acesso
em: 10 maio 2016.
274
VICENTE et al. Caracterização mecânica de paredes de alvenaria em construções antigas..., op.
cit., p.60.
275
VICENTE et al. Caracterização mecânica de paredes de alvenaria em construções antigas..., op.
cit.,p.62.
276
LOURENÇO, P. B.; ROQUE J. C. A. Caracterização mecânica de paredes antigas de alvenaria:
um caso de estudo no Centro Histórico de Bragança. Revista do Departamento de Engenharia Civil
da Universidade do Minho, n. 17, p.31-42, maio 2003.
170
Janela 4 0,07 - - -
277
Id., ibid., p.39.
278
LOURENÇO, P. B.; ROQUE J. C. A. Caracterização mecânica de paredes antigas de alvenaria...,
op. cit., p.36.
279
Id., ibid.
171
280
VICENTE et al. Caracterização mecânica de paredes de alvenaria em construções antigas..., op.
cit.
281
SIMÕES, A.; GAGO, A.; BENTO, R.; LOPES, M. Flat-jack tests on old masonry buildings. In:
15TH INTERNATIONAL CONFERENCE ON EXPERIMENTAL MECHANICS, 2012, Porto. Anais...
Porto: Universidade do Porto, 2012. Disponível em: < http://www.civi.ist.utl.pt/
~rbento/tmp/SEVERES/ICEM2012_3056.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2016.
172
282
SIMÕES, A.; GAGO, A.; BENTO, R.; LOPES, M. Flat-jack tests on old masonry buildings, op. cit.
283
LOURENÇO, P. B.; ROQUE J. C. A. Caracterização mecânica de paredes antigas de alvenaria...,
op. cit.
173
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
284
Trata-se de um dos apelidos da Itália, pela presença, na região, da cordilheira apenina, que se estende por
quase 1000 km dentro do território italiano.
174
Espera-se que, por meio das informações deste trabalho, futuros restauradores
e pesquisadores possam consolidar o conhecimento integrado entre a história da
construção, resistência dos materiais, mecânica das estruturas e ciência da
restauração, no que tange à utilização correta dos ensaios e aparelhos e sua relação
com os problemas que as estruturas antigas sofrem.
A expectativa é que os dados teóricos aqui apresentados sejam base para
novos ensaios não destrutivos, os quais poderão ser descritos em relatório
comparativo e que darão base para futuras restaurações de monumentos com (ou
sem) valor patrimonial. Além disso, reforça-se a necessidade da inclusão desses
ensaios na rotina de diagnósticos dos diversos monumentos, para fomentar,
também, a multidisciplinaridade da ciência da restauração.
180
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
187
APÊNDICE A
OUTROS ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS
Existem diversos outros ensaios não destrutivos que são importantes para o
diagnóstico estrutural das alvenarias antigas, mas que, não diretamente, estão
ligados à determinação da composição física e mecânica das paredes resistentes,
ou não são ferramentas principais para esse escopo. Os principais, e mais
importantes, são os acelerômetros e os georradares.
1 – Acelerômetros e decibelímetros
2 – Georradares
285
ANNAN, A. P. Electromagnetic principles of Ground Penetration Radar. In: JOL, H. M. Ground
Penetration Radar: theory and applications. Oxford: Elslvier, 2009. p.4-40.
189
Fonte: Acervo do autor (jun. 2011). Fonte: Acervo do autor (jun. 2011).
286
“De fato, quando se usam as técnicas não destrutivas (ensaios sônicos, georradar, termocâmera)
para detectar danos escondidos, vazios ou inclusões, uma das maiores dificuldades está na
190
3 – Ensaios complementares
interpretação dos resultados, mesmo quando apresentados acuradamente. [...] Quem requisitou a
aplicação do ensaio precisa aceitar a interpretação dada pelos peritos em técnicas não destrutivas,
que frequentemente não são experts em materiais e técnicas construtivas antigas” (BINDA, L.; ZANZI,
L.; LUALDI, M.; CONDOLEO, P. The use of georadar to assess damage to a masonry Bell Tower in
Cremona, Italy. Science Direct, NDT & E International, Oxford, n.38, p.171-179, 2005. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/222431434_The_use_of_georadar_to_assess_damage_to
_a_masonry_Bell_Tower_in_Cremona_Italy>. Acesso em: 11 jan. 2015. Tradução nossa).
191
APÊNDICE B
MANUTENÇÃO DA SERRA DIAMANTADA E SEU MOTOR
Figura A – Nível de
óleo, mostrando
aparência turva,
necessitando troca
Fonte: Acervo do
autor (dez. 2015).
Fonte: Acervo do autor (abr. 2016). Fonte: Acervo do autor (abr. 2016).
193
Parafuso de Parafuso de
regulagem regulagem
Tampa
ANEXO
195