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CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

MÓDULO

ADMINISTRAÇÃO
FINANCEIRA
100h

2021/2024
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

DIRETORA GERAL

Suzana Karling

DIRETOR PEDAGÓGICO

Prof. Me. Argemiro Aluísio Karling

COORDENADORA DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO


Prof.ª Me. Daniela Caldas Acosta

ELABORAÇÃO DO MATERIAL
Prof.ª Me. Karin Borges Senra

REVISÃO – FORMATAÇÃO – ARTE FINAL


Prof.ª Me. Daniela Caldas Acosta

Nenhuma parte deste fascículo pode ser reproduzida sem autorização expressa do IEC e dos autores.

Direitos reservados para

INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO E DA CIDADANIA


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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. 8
UNIDADE 1 ....................................................................................................................................................... 9
FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ......................................................................................... 9
CONCEITOS, SIGNIFICADO E OBJETIVO ..................................................................................................11
1.1 FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ......................................................................................................... 11
1.2 OBJETIVOS DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ...................................................................................................... 12
ÁREA DE FINANÇAS................................................................................................................................18
2.1 RELAÇÃO COM A ÁREA DE MARKETING ............................................................................................................. 18
2.2 RELAÇÃO COM A ÁREA CONTÁBIL ..................................................................................................................... 19
2.3 RELAÇÃO COM A ÁREA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO.......................................................................................... 20
2.4 RELAÇÃO COM A ÁREA DE LOGÍSTICA ................................................................................................................ 21
2.5 RELAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO GERAL .......................................................................................................... 22
FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA .........................................................................................23
3.1 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DOS NEGÓCIOS ........................................................................................................ 23
3.2 A FUNÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ...................................................................................................... 28
3.3 O PERFIL DO ADMINISTRADOR FINANCEIRO ........................................................................................................ 30
3.4 TIPOS DE DECISÕES FINANCEIRAS EM UMA EMPRESA............................................................................................ 32
ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS E ORÇAMENTO ..........................................................................34
EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 1 ...............................................................................................................36
UNIDADE 2 ......................................................................................................................................................39
TIPOS DE MERCADOS FINANCEIROS................................................................................................................39
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................40
MERCADO FINANCEIRO .........................................................................................................................41
1.1 MERCADO MONETÁRIO ................................................................................................................................. 42
1.2 MERCADO DE CAPITAIS .................................................................................................................................. 43
1.3 MERCADOS PRIMÁRIOS ................................................................................................................................. 43
1.4 MERCADOS SECUNDÁRIOS ............................................................................................................................. 44
RELAÇÃO ENTRE RISCO E DECISÃO FINANCEIRA ....................................................................................46
2.1 RETORNO ................................................................................................................................................... 47
2.2 RETORNO E RISCO ........................................................................................................................................ 50
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, SEUS MERCADOS E SEGMENTOS ......................................................52
3.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SFN ......................................................................................................... 53
3.2 ESTRUTURA ATUAL DO SFN............................................................................................................................ 55
PLANEJAMENTO FINANCEIRO ................................................................................................................61
4.1 PLANEJAMENTO FINANCEIRO DE LONGO PRAZO (ESTRATÉGICO) ............................................................................. 61
4.2 PLANEJAMENTO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO (OPERACIONAL) ............................................................................. 65
EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 2 ...............................................................................................................70
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Graduação em Administração

UNIDADE 3 ......................................................................................................................................................72
ATIVO CIRCULANTE E ORÇAMENTO DE CAPITAL .............................................................................................72
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................73
ADMINISTRAÇÃO DO ATIVO CIRCULANTE..............................................................................................73
1.1 CICLO OPERACIONAL E FINANCEIRO .................................................................................................................. 75
1.2 ADMINISTRAÇÃO DE ESTOQUE ........................................................................................................................ 79
1.3 ADMINISTRAÇÃO DE CONTAS A RECEBER ........................................................................................................... 80
DECISÕES DE INVESTIMENTO DE LONGO PRAZO ...................................................................................81
2.1 AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE GASTO DE CAPITAL ........................................................................................... 83
TÉCNICAS DE ANÁLISES DE INVESTIMENTO ...........................................................................................86
EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 3 ...............................................................................................................89
UNIDADE 4 ......................................................................................................................................................91
ADMINISTRAÇÃO DO PASSIVO CIRCULANTE E ESTRUTURA DE CAPITAL .........................................................91
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................92
ADMINISTRAÇÃO DO PASSIVO CIRCULANTE ..........................................................................................92
1.1 GESTÃO DE CONTAS A PAGAR.......................................................................................................................... 93
1.2 DESPESAS A PAGAR ....................................................................................................................................... 96
1.3 EMPRÉSTIMOS DE CURTO PRAZO ..................................................................................................................... 96
DECISÕES DE FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO ..............................................................................101
2.1 CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO......................................................................................................................... 101
2.2 CUSTO DO CAPITAL DE TERCEIROS .................................................................................................................. 105
ESTRUTURA DE CAPITAL ......................................................................................................................105
FONTES DE FINANCIAMENTOS: CAPITAL PRÓPRIO E DE TERCEIROS.....................................................109
EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 4 .............................................................................................................112
BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................................................115
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Apresentação
Olá! Prezado acadêmico.

Inicialmente gostaríamos de informá-lo que a missão da FAINSEP é formar


profissionais educadores, bacharéis e tecnólogos; ampliar a formação humanística de
pessoas para o pleno exercício da cidadania e preparo básico para funções técnicas e
serviços gerais; oferecer educação continuada nas mais diversas formas, inclusive para o
exercício de docência na educação superior; enfim, promover a educação e a cidadania
por todos os meios, utilizando para tal o conhecimento, o desenvolvimento e a aplicação
de novas tecnologias e educação a distância.
Dessa forma, saiba que sua formação e profissionalização durante o curso dar-se-
á com a construção de conhecimentos e o desenvolvimento de competências necessárias
ao exercício da profissão. Com isso, espera-se o desenvolvimento de atitudes de reflexão e
análise da atuação profissional e de valores para bem atuar na sociedade como agente de
transformação, em busca de uma sociedade mais justa, a partir da identificação e análise
das dimensões sociopolíticas e culturais de seu meio.
No curso será trabalhado o campo teórico e investigativo da área, bem como o
processo de aprendizagem. Saiba que na FAINSEP, ao término da graduação, você não terá
apenas um diploma, mas, sim, uma mudança e/ou transformação, tanto nos aspectos
pessoais como profissionais, tornando-se um indivíduo capaz de autoaprendizagem, crítico,
criativo e participativo na busca de uma sociedade mais justa.

Bons estudos!

Daniela Caldas Acosta


Coordenadora de Administração

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I. PLANO DE ENSINO DO MÓDULO

1.1 EMENTA
O papel da Administração Financeira e do administrador financeiro. Funções e
estrutura financeira das empresas e orçamento privado. Receitas e despesas. Fontes
de recursos. Investimento. Planejamento e execução financeira e orçamentária.

1.2 OBJETIVO
Fazer com que o aluno seja capaz de compreender os fundamentos da
administração financeira e que essa compreensão o possibilite atuar na Administração
Financeira.

1.3 COMPETÊNCIAS

Como competências são destacadas:

 Atuar nos diferentes segmentos organizacionais na área de finanças.


 Reconhecer padrões financeiros do ambiente, selecionando e
classificando informações financeiras para gerenciá-las.
 Explicar o funcionamento do mercado financeiro e apresentar os
produtos existentes neste mercado para captação de recursos, fazendo
comparação entre eles para tomada de decisão de investimentos.
 Utilizar as ferramentas de avaliação para tomada de decisões de
investimento e financiamento.
 Elaborar um planejamento financeiro.
 Ser capaz de realizar diagnósticos e atuar preventivamente em relação
a problemas potenciais.
 Transferir e generalizar conhecimentos aplicando-os no ambiente de
trabalho e no seu campo de atuação profissional.

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Introdução
Caro aluno,

Este módulo refere-se à administração financeira no processo de administração de


empresas. O material foi elaborado considerando os principais conceitos que devem ser
compreendidos tanto pelos administradores financeiros, quanto pelos outros cargos de
gestão da empresa, que devem estar em constante sintonia com o departamento financeiro.
Embora seja evidenciado o papel do administrador financeiro, não devemos
esquecer de que o administrador financeiro é, ante de qualquer coisa, um administrador,
devendo ter sua formação ampla e contínua em relação à gestão das diversas áreas das
empresas. Nesse módulo buscamos sintetizar e sistematizar os principais conceitos que
devem ser compreendidos por administradores, de forma que sejam capazes de
compreender a realidade financeira de uma empresa e possuam as ferramentas
necessárias para avaliar sua situação atual e futura.
Assim, o objetivo do módulo de Administração financeira é despertar o interesse do
estudante para as práticas administrativas financeiras, bem como para a sua importância
dentro das empresas. Embora a Administração financeira seja uma área muito ampla e
possua escopo para além desse módulo, os conceitos aqui apresentados sustentarão o
desenvolvimento de futuros administradores preocupados e conscientes do papel da
administração financeira para as empresas.
Em complemento, os exemplos utilizados buscam aliar os conceitos apresentados à
realidade das organizações, de forma que facilite o aprendizado. É importante que
pratiquem os exemplos e avaliem os materiais complementares que lhes são fornecidos,
como vídeos e artigos, de forma que o conhecimento seja consolidado.

“As companhias prestam muita atenção ao custo de fazer alguma coisa.


Deviam preocupar-se mais com os custos de não fazer nada. ” (Philip
Kotler)

Prof.ª Me. Karin Borges Senra

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UNIDADE 1
Fundamentos da
Administração Financeira

Para começar nossos estudos


vamos entender...
 Quais os principais conceitos que envolvem a
administração financeira?
 Quais os objetivos da administração financeira?
 Qual o papel do administrador financeiro e quais as
principais decisões financeiras que ele deve tomar?
 Quais as origens e aplicações de recursos que a
empresa obtém e de que forma essas informações
contribuem para a formação do orçamento?

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As empresas possuem diversas fontes e gastos financeiros, como orçamento,


investimentos, custos, entre outros elementos que contribuem para a formação do
lucro empresarial. Conforme as empresas crescem, cada vez mais elas precisam se
atentar a esses elementos que interferem na sua lucratividade.
Com isso, a administração financeira, no âmbito empresarial, envolve todas as
movimentações financeiras de uma empresa em busca de rentabilidade. É um
conjunto de ações de coordenação entre todos os elementos que envolvem retirada
ou inserção de dinheiro dentro de uma empresa, de forma que o seu principal objetivo
é garantir o equilíbrio entre os gastos e ganhos, de maneira que sempre haja lucro e
ao mesmo tempo a empresa consiga continuar se sustentando no mercado.
Para a realização dessa administração, várias decisões devem ser tomadas,
dependendo da estrutura da organização, que envolvem aspectos como formação do
capital, produtos e serviços, necessidade de crédito, entre outros. Dessa forma, a
administração financeira se desenvolve como uma área específica dentro do contexto
da administração. Área essa que deve permear todas as outras, em busca da
eficiência do sistema.
O estudo da administração financeira permite a familiarização com os conceitos
e a escolha das oportunidades de carreira dentro da administração financeira. Com
base nisso, essa primeira unidade visa introduzir o conceito de administração
financeira, apresentando os seus principais conceitos, objetivos, aplicações e o papel
do administrador nessa atividade importante para qualquer empresa.

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Conceitos, significado e
objetivo
1.1 Finanças e administração financeira
Finanças é definida como a “arte e a ciência da gestão do dinheiro” (GITMAN,
2007, p.10). Essa área tem interesse sobre a transferência de dinheiro entre
indivíduos, empresas e órgãos governamentais, sendo, então, uma área útil não só
para as empresas, mas para qualquer indivíduo ou organização que possui fluxo de
entrada e saída de dinheiro (GITMAN, 2007).
De acordo com Gitman (2007) as finanças podem ser divididas em duas
grandes partes: serviços financeiros e administração financeira. Os serviços
financeiros envolvem o desenvolvimento e a entrega de serviços de assessoramento
e produtos financeiros a indivíduos, empresas e órgãos governamentais. A
administração financeira preocupa-se com a gestão das finanças corporativas.
As finanças corporativas buscam, de maneira geral, responder a três questões
(ROSS et al., 2013):

 Orçamento de capital: Quais investimentos de longo prazo você deve


fazer na sua empresa? Ou seja, em que ramos de negócios você se
encontra e que tipo de instalações, maquinário e equipamento são
necessários?
 Estrutura de capital: Onde você conseguirá o financiamento de longo
prazo para pagar o investimento? A empresa terá outros sócios ou
tomará dinheiro emprestado?
 Administração de capital de giro: Como administrará suas atividades
financeiras diárias, tais como cobrança dos clientes e pagamento dos
fornecedores?

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

As respostas a essas perguntas direcionam o administrador financeiro para os


objetivos, as decisões e as ações financeiras necessários para a administração
financeira da empresa, que envolvem o orçamento de capital, a estrutura de capital e
a administração de capital de giro, que serão vistas no decorrer deste módulo. Dessa
forma, a administração financeira envolve todos os assuntos financeiros de qualquer
tipo da empresa. (ROSS et al., 2013).

1.2 Objetivos da administração


financeira

O principal objetivo da administração financeira é ganhar dinheiro ou agregar


valor para os proprietários. No entanto, quando se fala em objetivos da administração
financeira, vários objetivos são envolvidos (ROSS et al., 2013). Abaixo citamos alguns
deles:

 Sobrevivência da empresa;
 Evitar problemas financeiros e falência;
 Superar a concorrência;
 Maximizar as vendas ou a participação de mercado;
 Minimizar os custos;
 Maximizar os lucros;
 Manter o crescimento constante dos lucros.

Quando se fala sobre esses objetivos, algumas questões surgem,


principalmente porque os elementos que envolvem os diferentes objetivos são
interdependentes. Vejamos alguns exemplos:

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 Para aumentar a participação de mercado ou as vendas unitárias pode-


se diminuir os preços. No entanto, isso pode diminuir o lucro.
 Para diminuir os custos basta eliminar, por exemplo, gastos com
pesquisa e desenvolvimento. No entanto isso impede melhorias no
produto, evitando que se possa cobrar mais por ele.
 Para evitar falência é viável não emprestar dinheiro. No entanto, o
empréstimo às vezes é necessário para a realização de alguma
inovação, ou para ampliação de mercado.

Com base nesses exemplos percebemos que ações em alguns dos elementos
interferem em outros. Isso impacta em quais ações serão tomadas e faz com que
esses objetivos sejam vagos.
Além disso, outra questão que se coloca sobre os objetivos é em relação ao
prazo que se quer atingi-los. Se o objetivo é maximizar os lucros a curto prazo, uma
solução seria acabar com os estoques. No entanto se o objetivo é maximização de
lucros a médio ou longo prazo, essa mesma ação não será efetiva. (ROSS et al.,
2013).
Um outro elemento importante para a determinação do objetivo é considerar os
riscos associados, isto é a possibilidade de que os resultados esperados não
aconteçam. O preço da ação, no caso de uma empresa de ação aberta, é determinado
pelo retorno (fluxo de caixa) e pelo risco associados. Isso porque o fluxo de caixa
maior associa-se a preços mais altos de ações, enquanto riscos mais elevados
associam-se a preços mais baixos das ações (GITMAN, 2007).
Isso nos mostra que para estabelecer os objetivos da administração financeira
é importante compreender os objetivos organizacionais e traçar ações alinhadas com
o que a organização deseja de maneira geral e em qual período de tempo.
De qualquer maneira, podemos perceber que os objetivos podem se enquadrar
em duas classes: lucratividade e sobrevivência. O objetivo de lucratividade refere-se
a vendas, participação de mercado, controle de custos e outras formas de ganhar
dinheiro. Por outro lado, os objetivos de sobrevivência se relacionam com manter a
estabilidade e a segurança, controlando os riscos. (ROSS et al., 2013).
O mais importante para esclarecer o objetivo da administração financeira é
entender que o administrador financeiro toma decisões pelos acionistas da empresa,

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dessa forma as ações financeiras devem ser orientadas pelos objetivos dos
acionistas. (ROSS et al., 2013).
Com isso o objetivo que parece mais apropriado à administração financeira,
que possa dar conta de todos os processos que a envolvem é:

“O objetivo da administração financeira é maximizar o valor do patrimônio


dos proprietários” (ROSS et al., 2013).

Com esse objetivo definido as ambiguidades de objetivos são resolvidas, pois


o valor do patrimônio dos proprietários só poderá ser maximizado se houver um
alinhamento entre todos os elementos que envolvem a lucratividade atual da empresa.
Esse objetivo pode englobar qualquer tipo de empresa.
Como exemplo, no caso de uma empresa de patrimônio aberto, a maximização
do preço da ação é o objetivo e isso está associado ao estabelecido na figura abaixo.

Sim Aceitar

Alternativa Aumenta
Administrador Retorno?
de decisão o preço
financeiro Risco?
financeira da ação?

Não Rejeitar

Fonte: Adaptada de Gitman (2007)

Um fator que influencia no alcance desses objetivos é o relacionamento com


grupos de interesse. Os grupos de interesse podem ser compostos por funcionários,
clientes, fornecedores, credores, proprietários e outros que possuem vínculo
econômico direto com a empresa. A meta da empresa é manter o bem-estar desses

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grupos, a fim de evitar conflitos. Faz parte da responsabilidade social da empresa, que
de certa forma auxilia na busca pela maximização do patrimônio dos proprietários.
Ao mesmo tempo, um problema comum na conquista desse objetivo é o
problema da agência. Agência é o relacionamento que se dá entre os acionistas ou
proprietários e os administradores. Esse relacionamento, como qualquer outro, é
passível de conflitos. Um conflito comum surge quando os interesses dos proprietários
entram em conflito com os interesses do administrador. (GITMAN, 2007; ROSS et al.,
2013).

VEJA O EXEMPLO
Suponhamos que você contrate alguém para vender seu carro e que
concorda em pagar a essa pessoa uma comissão fixa quando o carro for
vendido. O incentivo do representante, nesse caso, é fazer a venda, não
necessariamente conseguir o melhor preço. Se você oferecer uma comissão
de, por exemplo, 10% sobre o preço da venda em vez de uma comissão fixa,
então provavelmente não haverá esse problema. Esse exemplo mostra que a
maneira como um agente é pago afeta os problemas de agência. (ROSS, et
al., 2013).

Para que os administradores busquem os objetivos dos acionistas ou


proprietários dois fatores são importantes: remuneração dos administradores e
controle da empresa.
A remuneração dos administradores normalmente está ligada ao desempenho
financeiro e quase sempre ao valor da ação da companhia. Isso motiva os
administradores a trabalhar alinhados aos objetivos dos proprietários. Por exemplo,
em 2007, a Google anunciou a emissão de novas opções de ações para 16 mil
funcionários, dando à sua força de trabalho uma participação significativa no preço de
mercado de suas ações e alinhando os interesses dos funcionários aos dos acionistas.
(ROSS et al., 2013).
O controle da empresa é de responsabilidade dos acionistas, que elegem o
conselho administrativo. O conselho administrativo, por sua vez pode contratar ou
demitir administradores. Isso faz com que os acionistas tenham o poder de retirar os
administradores que não se adequem aos seus objetivos. (ROSS et al., 2013).
Por fim, tem uma questão ética que envolve os objetivos da administração
financeira. As ações éticas da empresa normalmente envolvem um investimento. Por

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outro lado, ações éticas auxiliam na construção da imagem da empresa, tanto interna
quanto externamente, fortalecendo suas posições.
Em complemento, é possível que ações éticas contribuam com o aumento do
valor da empresa (GITMAN, 2007), trazendo vários benefícios como:

 Reduzir a ocorrência de litígios;


 Reduzir os custos judiciais;
 Manter uma imagem positiva da empresa;
 Aumenta a confiança dos acionistas;
 Conquista da lealdade, do comprometimento e do respeito dos grupos
de interesse.

Dessa forma, as ações éticas passam a ser necessárias para a conquista do


objetivo de maximização do valor do patrimônio dos proprietários, aumentando o fluxo
de caixa e diminuindo o risco percebido. (GITMAN, 2007).

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REFLITA
O CASO DA ÉTICA DA HP
A Hewlett-Packard (HP) foi fundada em 1939 por Bill Hewlett e David
Packard com base nos princípios de negociação justa e respeito, muito antes
que alguém cunhasse a expressão ‘responsabilidade social da empresa’. A HP
considera seu compromisso de sempre ‘fazer o bem agindo bem’ uma
importante razão para ser procurada por funcionários, fornecedores, clientes e
investidores. A empresa não deixa dúvidas quanto a seu compromisso com o
aumento do valor de mercado de suas ações ordinárias, mas também se
esforça para manter a integridade de cada funcionário em todos os países nos
quais atua. Seus ‘padrões de conduta nos negócios’ incluem uma medida que
provoca a demissão imediata de qualquer funcionário que tenha mentido.
Espera-se que seus auditores internos obedeçam a todos esses padrões, que
estabelecem os ‘princípios mais elevados de ética e conduta empresarial’,
segundo o relatório anual de 2000 da HP.
A maximização da riqueza dos acionistas é o que alguns chamam de
‘imperativo moral’, no sentido de que eles possuem direitos de propriedade e
também de que os administradores, em seu papel como agentes, são
obrigados a se preocupar com os interesses dos acionistas. Muitas vezes,
fazer o que é certo se mostra coerente com a maximização do preço da ação.
Mas e se a preocupação com a integridade levar uma empresa a perder um
contrato ou dizer com que os analistas da ação mudem a recomendação de
‘compra’ para ‘venda’? O objetivo da maximização da riqueza dos acionistas
continua valendo, mas os administradores da empresa devem agir sobre
restrições impostas pela ética. Essas restrições às vezes limitam as
alternativas de escolha. Alguns críticos, erroneamente, supõem que o objetivo
da maximização da riqueza dos acionistas seja, de algum modo, a causa do
comportamento antiético, ignorando o fato de que qualquer meta de uma
empresa poderia ser citada como fator que pressiona os indivíduos a agir de
maneira antiética.
Os profissionais nas empresas norte-americanas têm mostrado uma
tendência a agir de acordo com princípios morais sólidos gerados por um
embasamento moral ocorrido na infância que é cultivado na família. Isso não
impede que ocorram lapsos de ética, é evidente. Mas não surpreende que os
diretores financeiros declarem que o principal atributo pessoal que exigem dos
formandos em finanças é a ética, e a colocam acima de habilidades de
relacionamento, capacidade de decisão e habilidades computacionais. A HP

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Área de finanças
A área de finanças possui relação com diversas áreas das organizações.
Compreender essas relações é importante para entender o papel do administrador
financeiro dentro da organização e identificar as possibilidades de gestão. Vamos
analisar a relação de finanças com algumas áreas.

2.1 Relação com a área de Marketing


Os profissionais de marketing também elaboram o planejamento e a execução
de estratégias e ações que envolvem gastos e recebimentos. O desenvolvimento do
composto de marketing – preço, distribuição, produto e comunicação – é permeado
de decisões financeiras, sendo fundamental para a continuidade da organização
(ROSS et al., 2013).
Dessa forma, os profissionais de marketing precisam entender sobre finanças,
pois devem saber gerenciar orçamentos e obter a melhor relação entre custo e
benefícios em suas estratégias e ações. Ao mesmo tempo, os administradores
financeiros devem acompanhar o trabalho dos analistas de marketing dentro da
empresa, de forma que juntos avaliem a otimização da lucratividade dos produtos ou
serviços fornecidos e consigam atender aos objetivos de ambos os departamentos.
(ROSS et al., 2013)
Ainda, os profissionais de marketing que trabalham na promoção de produtos
financeiros devem compreender a área de finanças para desenvolvimento e venda de
melhores soluções para os clientes. Por fim, A área de finanças é importante para a
área de marketing para que o profissional de marketing compreenda as políticas da
empresa em relação a gestão de caixa, a relação entre a ética e a imagem da
empresa, entre outras questões relacionadas aos recursos que o departamento de
marketing pode utilizar sem prejudicar a atuação do administrador financeiro.
(GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Isso demonstra a importância da relação entre os departamentos e funções de


marketing e finanças, indicando que tanto os profissionais de marketing devem
entender sobre os processos financeiros da empresa, quanto os administradores
financeiros devem entender dos processos da gestão de marketing e acompanhar as
ações estratégicas tomadas por eles.

2.2 Relação com a área contábil


Para a área de contabilidade da empresa, conhecer sobre finanças é
necessário. Os contadores devem caminhar junto com os administradores financeiros
e muitas vezes auxiliar na tomada de decisões financeiras. Os contadores precisam
compreender os impactos dos contratos financeiros nas finanças da organização.
(ROSS et al., 2013).
A principal ligação entre essas áreas é o compartilhamento de assuntos e
preocupações em relação aos processos empresariais. Os contadores precisam
compreender como as demonstrações financeiras que eles desenvolvem serão
utilizadas na tomada de decisão pelos administradores financeiros, tanto para
investimento, quanto para financiamento. (GITMAN, 2007)
Dessa forma, os administradores financeiros utilizam constantemente as
diversas informações financeiras produzidas pelos contadores e se baseiam nessas
informações para as diversas decisões que vão impactar o futuro da organização. Os
contadores podem, então, com uma ligação mais próxima com finanças, compreender
melhor que tipos de informações são necessárias ou não para serem transmitidas
para o departamento financeiro. (ROSS et al., 2013)
Em empresas pequenas essas duas funções podem se acumular no mesmo
indivíduo, dada a sua similaridade dentro da organização. (GITMAN, 2007)

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

2.3 Relação com a área de sistemas de


informação
A área de sistemas de informação da empresa é essencial para a área de
finanças, pois a primeira deve permitir o acesso da segunda às informações
necessárias para a sua gestão eficiente (GITMAN, 2007).
A área de sistema de informação é responsável por todo o processo de coleta,
recuperação, armazenamento e distribuição da informação, de forma a facilitar a
gestão da empresa. Com isso, os profissionais do sistema de informação devem
compreender as necessidades do administrador financeiro de forma antecipada para
conseguir armazenar as informações necessárias e desenvolver formas eficientes de
transmissão dessa informação, de forma que o administrador financeiro consiga
recuperá-las facilmente em diferentes momentos do tempo.
Ao mesmo tempo, o administrador financeiro deve comunicar-se com a área de
sistema de informações sempre que achar necessário a coleta de novas informações
para a gestão, ou até mesmo novas formas de apresentação das informações que já
estão disponíveis, como relatórios financeiros. Também, os departamentos de
finanças e sistemas de informação devem estra interligados para atender novas
exigências legais sobre demonstrações financeiras da empresa (GITMAN, 2007).
Por fim, os sistemas de informação englobam todas as formas de controle da
organização, tanto de produtos ou serviços, como de devoluções, formas de
pagamento, estoques, custos, entre tantas outras informações das quais a
administração financeira depende. Com isso, essas áreas devem, também,
comunicar-se constantemente, sendo que o seu trabalho é interdependente.
(GITMAN, 2007)

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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2.4 Relação com a área de logística


A área de logística da empresa também deve estar interligada com a
administração financeira. Principalmente porque “a utilização racional dos recursos,
levando à redução dos custos, e a possibilidade de ofertar maior nível de serviço,
agregando mais valor, poderão ser transformados num aumento da lucratividade para
a empresa “ (NETO, 2017).
Assim, diversas são as relações entre esses departamentos. Uma delas é a
preocupação da logística com a utilização de forma adequada dos recursos da
empresa. Tanto os recursos materiais quanto financeiros devem ser otimizados no
processo logístico, de forma a contribuir com a maximização do valor da empresa.
Com isso, os recursos devem ser alocados com o objetivo de obtenção do máximo de
retorno a curto prazo (NETO, 2017).
Outra relação entre a logística e a administração financeira é a análise
constante de custos, em busca de sua redução. Eliminando os custos desnecessários
ou melhorando o custo/benefício de um processo logístico pode impactar nos valores
financeiros de entradas e saídas da empresa (NETO, 2017).
Com isso, entende-se que os profissionais de logística devem se alinhar com
os objetivos de investimentos e custos do departamento financeiro, a fim de obterem
juntos, os melhores resultados desse processo.

VAMOS
REFLETIR!

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Veja o trecho abaixo da reportagem da revista exame, que avalia o impacto


positivo financeiro que uma mudança no processo logístico acarretou, e reflita
sobre a relação entre logística e administração financeira:

Como a gestão de processos ajudou a Natura a faturar mais

De cultura centralizadora para uma visão sistêmica de gestão por processos.


Essa foi a transformação necessária para que a Natura continuasse crescendo
financeira e regionalmente. Com uma estrutura muito concentrada em São Paulo,
a Natura precisou se reestruturar para expandir os negócios para outras regiões
do Brasil e até outros países. “Até 2006, a empresa era muito centralizada, tinha
as mesmas revistas, o mesmo material e promoções iguais para o Brasil inteiro.
Aí, entendemos que esse modelo não suportaria o crescimento da Natura”,
afirmou o diretor de sistemas de gestão da Natura, Daniel Levy, em conferência
na sede da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), em São Paulo.

Para mais informações visite: http://exame.abril.com.br/negocios/como-a-gestao-


por-processos-ajudou-a-natura-a-faturar-mais/

2.5 Relação com a administração geral


Conforme apresentado anteriormente, a área de finanças tem relação direta
com diversas áreas da organização, compondo sua relação com a administração da
organização de maneira geral. Além das áreas citadas, a área de finanças também é
importante para as operações da empresa, que deve compreender as estratégias
empresariais e seguir as instruções sobre ética e atuação da empresa, para garantir
que o planejado seja executado. (GITMAN, 2007).
Dessa forma, a área de administração financeira é o braço direito da
administração da empresa, especialmente por meio da definição e implementação das
estratégias da empresa. A estratégia empresarial, definida pela administração da
empresa, depende e complementa a estratégia financeira da organização. Todo
planejamento estratégico deve considerar os impactos financeiros de cada ação
pretendida, tanto em relação a custos, quanto sobre as receitas (ROSS et al., 2013).
Os administradores devem, então, entender como o seu negócio afeta a
lucratividade da empresa, de forma que eles consigam contribuir para atingir o objetivo
da administração financeira, que é maximizar a lucratividade dos proprietários. Para

22
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

isso, é responsabilidade da administração da empresa compreender o que gera valor


para o seu negócio e compartilhar todo esse conhecimento com as demais áreas,
principalmente a área de administração financeira.

Funções da
administração financeira
3.1 Formas de organização dos
negócios
As empresas podem se organizar de diferentes formas. A atuação do
administrador financeiro, suas responsabilidades e a ligação com outros membros da
empresa vai depender da forma em que a empresa está organizada legalmente.
Existem três formas legais de organização dos negócios: firma individual,
sociedades e sociedades por ações, de capital aberto. As formas de organização dos
negócios têm vantagens e desvantagens e devem ser utilizadas de acordo com as
especificidades de cada empresa (ROSS et al., 2013).

a) Empresa individual

A empresa individual pertence a apenas uma pessoa, por isso o nome.


Normalmente as empresas iniciam-se dessa forma, pois é a forma mais simples de
organizar legalmente uma empresa.
Isso faz com que existam muitas empresas individuais, tanto pela facilidade
legal de sua criação, quanto pela natureza da criação de empresas. A maioria dos

23
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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negócios que se tornam grandes corporações começam como pequenas empresas


individuais (ROSS et al., 2013).
A empresa individual limita-se ao tempo de vida do seu proprietário, bem como
o seu patrimônio líquido é respectivo aos bens pessoais do proprietário. Isso significa
que a empresa tem dificuldades para explorar novas oportunidades devido à limitação
do capital. A transferência de uma empresa individual exige a venda de toda a
empresa para um novo proprietário, não podendo haver sociedade (ROSS et al.,
2007).

b) Sociedade

A diferença da sociedade para uma empresa individual é a quantidade de


proprietários. Na sociedade há dois ou mais proprietários (sócios), que compartilham
tanto os lucros, quanto os prejuízos da empresa. Toda a sociedade possui um
contrato, que estabelece os objetivos da sociedade, os direitos e deveres dos sócios,
entre outros detalhes que interferem no andamento da empresa. (ROSS et al., 2013).
As sociedades podem se formar de diferentes formas conforme o Código Civil
Brasileiro:

 Sociedades em nome coletivo: são formadas somente por


pessoas físicas e todos os sócios respondem de maneira ilimitada pelas
obrigações sociais. O contrato social pode limitar as responsabilidades
entre os sócios. Nesse caso a administração da sociedade é exclusiva
dos sócios.

 Sociedade em comandita simples: Nessa forma de sociedade


existem duas categorias para sócios, os comanditados e os
comanditários. Os comanditados são pessoas físicas responsáveis
pelas obrigações sociais. Os comanditários são obrigados somente pelo
valor de sua quota. O sócio comanditário não pode participar de atos de
gestão, o que o levaria a ser um sócio comanditado.

 Sociedade limitada: Todos os sócios têm as suas


responsabilidades restritas aos valores de suas quotas. O capital social
é dividido em quotas, que podem ser iguais ou desiguais. A
administração deve ser determinada no contrato social, pode ser

24
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

realizada por uma ou mais pessoas e há a possibilidade de ser um


membro não-sócio.

 Sociedade em comandita por ações: Essa sociedade tem o


capital dividido em ações e tem as mesmas normas da sociedade por
ações. No entanto, somente os acionistas podem administrar a
sociedade. O administrador responde ilimitadamente pelas obrigações
da sociedade.

 Sociedade anônima ou Companhia (sociedade por ações):


Nessa sociedade o capital é dividido por ações e cada sócio ou acionista
tem sua obrigação referente ao capital integralizado ao preço das suas
ações. Essa forma é regida pela Lei das Sociedades por ações (Lei
6.404/76) e pode ser aberta ou fechada.

De acordo com as diferentes formas de sociedade, percebe-se que as


principais diferenças entre elas são em relação à quantidade de sócios, à função de
administrador e à responsabilidade de cada sócio. Por isso, é importante que todas
as responsabilidades referentes à sociedade sejam bem definidas no contrato social,
para evitar mal-entendidos no futuro. (ROSS et al., 2013).
Assim, as sociedades também possuem desvantagens relacionadas à
responsabilidade ilimitada dos proprietários, à vida limitada da empresa e à dificuldade
de transferência de propriedade. (ROSS et al., 2013).

c) Companhia aberta

As desvantagens das empresas individuais e das sociedades levam à limitação


da capacidade de crescimento do negócio. Isso pode ser resolvido por meio da
companhia aberta.
A companhia aberta ou sociedade por ações de capital aberto “é a forma mais
importante (em termos de tamanho) de organização de negócios; é uma ‘pessoa’
jurídica separada e distinta de seus proprietários e tem muitos dos diretos, deveres e
privilégios de uma pessoa física” (ROSS et al., 2013, p. 7). Com isso, as companhias
abertas podem emprestar dinheiro, ter propriedades, celebrar contratos, ser sócias
entre outras coisas que até então somente as pessoas físicas poderiam fazer.

25
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

No entanto, essa liberdade para a empresa agir como “pessoa” gera uma
elaboração mais detalhada de sua formação, com contratos sociais e um conjunto de
estatutos. Diversas informações como nome, prazo de funcionamento, finalidade dos
negócios, definições sobre as ações, entre outras são definidas no contrato social. Em
complemento, nos estatutos são elaboradas as regras de funcionamento da empresa
(ROSS et al., 2013).
A administração dessas empresas é determinada pela diretoria executiva e pelo
conselho de administração. Sendo a administração responsável por gerir todos os
assuntos da empresa em lugar dos acionistas (ROSS et al., 2013).
Uma das desvantagens desse tipo de empresa é a dificuldade e burocracia
para a sua formação, no entanto ela oferece vantagens de transferência de
propriedade, de responsabilidades dos acionistas, que é limitada, e de empréstimo de
dinheiro. Essas vantagens permitem que essa forma de sociedade aberta facilite o
levantamento de capital, influenciando no crescimento dos negócios. Em
contrapartida, os sócios somente correm o risco de perder aquilo que investiram
(ROSS et al., 2013).
Essas empresas podem ser chamadas de companhia de capital aberto,
sociedades anônimas de capital aberto, companhias abertas de responsabilidade
limitada, entre outras, dependendo do país e da região (ROSS et al., 2013).
A tabela abaixo apresenta as principais vantagens e desvantagens de cada
uma das formas de organização dos negócios:

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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PONTOS FORTES PONTOS FRACOS


 O proprietário recebe todos os O proprietário tem responsabilidade
lucros (e assume todos os ilimitada – todo o seu patrimônio
prejuízos); pessoal pode ser usado para pagar
 Custo baixo de organização; dívidas da empresa;
 Lucro incluído e tributado na  O poder ilimitado de captação de
declaração de rendimentos de recursos tende a restringir o
Firma
pessoa física do proprietário; crescimento;
individual  Independência;  O proprietário precisa ser um gestor
 Sigilo; eclético;
Facilidade de dissolução  É difícil oferecer carreiras de longo
prazo aos funcionários;
 Não tem continuidade com a morte
do proprietário.
 Pode captar mais recursos do que  Os proprietários têm
as firmas individuais; responsabilidade ilimitada e podem
 Poder de endividamento ampliado ser obrigados a saldar as dívidas de
com a existência de mais sócios; outros sócios;
Sociedade
 Maior disponibilidade de poder de  A sociedade é dissolvida quando
por cotas gestão; um dos sócios morre;
 Lucro incluído e tributado na  É difícil liquidar ou transferir a
declaração de rendimento de participação de um sócio.
pessoa física dos sócios.
 Os proprietários têm  Impostos geralmente mais altos,
responsabilidade limitada, o que porque o lucro da empresa é
garante que não podem perder mais tributado;
do que investem;  Os dividendos pagos aos
 Pode alcançar porte substancial proprietários também são
Sociedade com a venda de ações; tributados;
por ações  As participações (ações) são  Custo mais elevado de organização
ou facilmente transferíveis; que as outras modalidades;
companhias  Duração longa;  Sujeita a maior regulamentação
 Pode contratar administradores governamental;
profissionais;  Não oferece sigilo, porque os
 Tem acesso mais fácil a acionistas precisam receber
financiamento; demonstrações financeiras.
 Obtém algumas vantagens fiscais.
Fonte: Gitman (2007).

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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3.2 A função da administração


financeira
A função da administração pode variar de uma empresa para outra, sendo
descrita por meio do seu papel dentro da organização e suas relações com os outros
elementos organizacionais (GITMAN, 2007).
O primeiro elemento que interfere na função da administração financeira é o
tamanho da empresa, que determina o porte e a relevância desse setor. Em pequenas
empresas a função de administração financeira é realizada por departamentos de
contabilidade. Por outro lado, empresas médias e grandes já sentem a necessidade
da criação de um departamento separado. Normalmente o departamento de
administração financeira tem ligação direta com a presidência da empresa, conforme
figura abaixo (GITMAN, 2007).

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Fonte: Ross et al. (2013).

A figura apresenta um modelo organizacional simplificado que principalmente


as grandes empresas utilizam para a sua organização. Como pode-se perceber em
empresas de grande e médio porte o departamento financeiro, de responsabilidade
do CFO (vice-presidente financeiro), é formado por mais duas funções, o de tesouraria
e o de controladoria, que são subordinados ao CFO (GITMAN, 2007; ROSS et al.,
2013).
O tesoureiro é o principal administrador financeiro. “O tesoureiro é responsável
pela gestão das atividades financeiras tais como planejamento financeiro e captação
de fundos, tomada de decisões de investimento, gestão de caixa, gestão de atividades
de crédito, gestão de fundo de pensão e administração da área de câmbio” (GITMAN,

29
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

2007, p.9). O foco de atuação do tesoureiro é de caráter externo à empresa (GITMAN,


2007; ROSS et al., 2013).
O contador é responsável pelas atividades contábeis. Algumas atividades do
contador são contabilidade gerencial, gestão de assuntos fiscais, contabilidade
financeira e contabilidade de custos. Seu foco de atuação é mais direcionado para os
eventos internos da empresa (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).

3.3 O perfil do administrador financeiro


Os administradores financeiros são responsáveis, como afirmado
anteriormente, por tomar decisões no lugar dos proprietários ou acionistas da
empresa. Nesse caso, os administradores financeiros são associados ao CFO, ou o
que seria um diretor financeiro. Por outro lado, as principais atividades da
administração financeiras são realizadas pelo tesoureiro, que é, também, considerado
um administrador financeiro. A maioria das atividades aqui relatadas são de
responsabilidade dessa função, o tesoureiro, que aqui chamaremos de administrador
financeiro (ROSS et al., 2013).
Uma das primeiras responsabilidades do administrador financeiro é o
conhecimento sobre economia, uma vez que economia e finanças andam juntas. As
variações na atividade econômica, bem como alterações na política econômica
interferem diretamente na função do administrador financeiro. Assim, compreender
conceitos da economia e como aplica-los é fundamental (GITMAN, 2007).
Um exemplo disso é a análise marginal, que considera que uma decisão
financeira é viável a partir do momento que os seus benefícios superam os custos
adicionais de implementação. Esse processo guia todas as decisões do administrador
financeiro (GITMAN, 2007).
Outra função importante do administrador financeiro é a sua análise de fluxos
de caixa, isto é, das entradas e saídas do caixa. Dessa forma, o administrador
financeiro acompanha as entradas e saídas de caixa a fim de analisar se os objetivos
financeiros estão sendo atingidos (GITMAN, 2007).

30
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Ainda, a tomada de decisões é uma área de atuação efetiva do administrador


financeiro, como pode ser visto no exemplo a seguir. O papel do administrador
financeiro está em constantemente tomar decisões sobre todas as áreas de atuação
da empresa, de forma que haja uma avaliação dos retornos e riscos correspondentes
com cada tipo de transação que a empresa realiza (GITMAN, 2007).

EXEMPLO
Uma administradora financeira de uma rede de lojas de departamento quer
decidir se substituirá um dos computadores da empresa por um novo, mais
sofisticado, que aceleraria o processamento e permitiria processar maior volume
de transações. O novo computador exigiria um desembolso de R$ 80.000, e o
computador antigo poderia ser vendido por R$ 28.000 líquidos. Os benefícios
totais com a compra do novo computador (medidos em moeda atual) seriam de
R$ 100.000. Os benefícios produzidos pelo computador antigo no mesmo
período (em moeda de hoje) seriam de R$ 35.000. Aplicando a análise marginal,
a administradora financeira organiza os dados da seguinte forma:

Benefícios com o novo computador R$ 100.000


Menos: Benefícios com o computador antigo R$ 35.000
(1) Benefícios marginais (adicionais) R$ 65.000
Custo do novo computador R$ 80.000
Menos: Receita com a venda do computador R$ 28.000
antigo
(2) Custos marginais (adicionais) R$ 52.000
Benefício líquido [(1)-(2)] R$ 13.000

Como os benefícios marginais (adicionais) de R$ 65.000 superam os


custos marginais (adicionais) de R$ 52.000, a administradora financeira
recomenda a compra do computador novo. A empresa terá um benefício líquido
de R$ 13.000 com essa decisão.

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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3.4 Tipos de decisões financeiras em


uma empresa
Em complemento ao papel do administrador financeiros e às perguntas que ele
deve responder, as suas decisões baseiam-se em três tipos: orçamento de capital
(investimentos de longo prazo), estrutura do capital (financiamento de longo prazo) e
administração do capital circulante. A figura abaixo representa essas decisões.

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

Na figura podemos perceber que o administrador financeiro além de realizar


atividades de análise e planejamento financeiros, também realiza atividades
relacionadas a investimentos e financiamentos.

 Orçamento de capital: é o processo de planejamento e gerenciamento


dos investimentos de longo prazo da empresa. Nesse processo, o
administrador financeiro avalia as oportunidades de financiamento com
base no seu custo/benefício para a empresa. Além disso, as oportunidades
vão depender da natureza dos negócios da empresa. Assim, os
administradores financeiros devem avaliar as oportunidades pela
quantidade de dinheiro que esperam receber, e também pela possibilidade

32
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

de recebe-lo. O orçamento de capital é formado principalmente pela


avaliação do tamanho, do tempo e do risco dos fluxos de caixas futuros,
sendo os elementos mais importantes a se considerar diante de uma
oportunidade de investimento de longo prazo. (ROSS et al., 2013)
 Estrutura de capital: refere-se a como a empresa obtém e administra o
financiamento de longo prazo para sustentar os investimentos de longo
prazo. Para tomar as decisões de estrutura de capital o administrador
financeiro deve se preocupar com quanto deve ser emprestado e de qual
fonte deve ser emprestado. A primeira preocupação leva a decisões que
comparam o passivo e o patrimônio da empresa, a segunda leva a decisões
de comparação entre fontes de empréstimo para escolher o mais barato. A
estrutura de capital determina qual o percentual do fluxo de caixa vai para
os credores e qual vai para os acionistas. Escolher a melhor formação para
essa estrutura contribui para a sobrevivência da empresa. (ROSS et al.,
2013)
 Administração do capital circulante: O capital circulante é formado pelo
ativo circulante (ex.: estoque) e pelo passivo circulante (ex.: recursos
devidos aos fornecedores) da empresa. Essa administração financeira é
diária, envolve várias atividades de entrada e saída de caixa e é o que
garante o funcionamento da empresa. Portanto, as decisões envolvem a
manutenção de caixa e estoque, a venda a crédito, os financiamentos e
investimentos a curto prazo, entre outras questões. (ROSS et al., 2013)

Ambas as decisões analisadas são tomadas com base nos efeitos de seus
fluxos de caixa sobre os valores da empresa. (GITMAN, 2007). Seu conceito é, às
vezes, muito amplo e algumas dessas atividades serão analisadas com mais detalhes
nas Unidades 3 e 4 deste módulo.

33
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Origens e aplicações
de recursos e orçamento
As origens e as aplicações de recursos são avaliadas a partir das
demonstrações financeiras, especialmente do balanço patrimonial. O balanço
patrimonial apresenta a posição financeira de uma empresa em uma determinada
data. É um resumo do que ela possui (ativo) e o que ela deve (passivo), sendo que a
diferença resulta no seu patrimônio líquido naquele momento, conforme figura abaixo
(GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).
Os ativos podem ser circulantes e não circulantes, sendo não circulantes os
que têm uma vida longa, por exemplo computadores ou automóveis ou até mesmo
uma marca. Os ativos circulantes têm uma vida menor do que um ano, por exemplo,
estoques, o caixa e as contas a receber (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).
Os passivos são as obrigações da empresa e também são classificados como
circulantes e não circulantes de acordo com o seu tempo de vida. Dessa forma as
contas a pagar são passivos circulantes e dívidas longas (empréstimos), com mais de
um ano, são passivos não circulantes (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).
Assim o patrimônio líquido é formado pela diferença entre o valor total dos
ativos e o valor total dos passivos, de forma que se a empresa vendesse todo o seu
ativo e pagasse todas as suas dívidas o patrimônio é o que restaria para os
proprietários ou acionistas. A figura abaixo apresenta essa relação.

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Fonte: Ross et al. (2013)

Na figura podemos perceber que a diferença entre os ativo e passivo


circulantes é chamado de capital circulante líquido. Quando esse capital é positivo,
significa que o dinheiro disponível nos próximos 12 meses é maior que o que deverá
ser pago.
Dessa forma, o balanço patrimonial representa as origens e aplicações de
recursos. As origens dos recursos (ativos) podem vir de receitas das próprias
operações da empresa, dos acionistas, ou de terceiros por meio de empréstimos. Por
outro lado, as aplicações de recursos, são por meio de imobilização de recursos,
amortização de empréstimos e dívidas, remuneração de dividendos, contas a pagar,
estoques, mercadorias, entre outras (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).
Nesse caso o orçamento de caixa da empresa é a demonstração de entradas
e saídas planejadas para um período no caixa da empresa, utilizado para que o
administrador financeiro consiga compreender qual o caixa necessário a curto prazo
para a manutenção das operações da empresa, sempre visando o objetivo de
maximização do patrimônio (GITMAN, 2007).

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 1


1. Quais as relações entre finanças e administração financeira?
2. Pode-se dizer que a administração financeira possui diversos objetivos.
No entanto, esses objetivos em algum momento se conflitam. Explique
esse processo e argumente qual deve ser o principal objetivo da
administração financeira.
3. Existe relação entre administração financeira e ética? Justifique sua
resposta.
4. Quais são as principais formas de organização dos negócios das
empresas, bem como suas vantagens e desvantagens?
5. Qual o papel do administrador financeiro?
6. Quais as três questões básicas que a administração financeira busca
responder? Explique do que se trata cada uma das questões.
7. O que é o problema de agência que acontece na administração
financeira das empresas e como esse problema pode ser resolvido ou
amenizado?
8. Quais os tipos de decisões financeiras que circundam o papel do
administrador financeiro?
9. O que é o balanço patrimonial e como ele é formado?
10. Calcule o benefício líquido para uma empresa que quer substituir um de
seus equipamentos. O novo equipamento custa R$30.000. O
equipamento antigo pode ser vendido por R$ 5.000, líquidos. Os
benefícios totais com o uso do equipamento novo seriam de R$ 50.000
e os benefícios produzidos pelo equipamento antigo no mesmo período
seriam de R$ 15.000. Avalie se a empresa deve ou não realizar a troca
do equipamento.

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

 Os principais conceitos que envolvem a


administração financeira.
 O principal objetivo da administração financeira.
 A relação da administração financeira com as demais
áreas da empresa, especialmente com a
Administração.
 O papel do administrador financeiro e quais as
principais decisões financeiras que ele deve tomar.
 As origens e aplicações de recursos que a empresa
obtém e de que forma essas informações contribuem
para a formação do orçamento.

37
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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SAIBA MAIS SOBRE A UNIDADE I,


CONSULTE
 https://www.youtube.com/watch?v=ON0uDIfcrLg

 https://www.youtube.com/watch?v=hLecM9SPwzQ

 ANTONIK, Luis Roberto. A administração financeira


das pequenas e médias empresas. Revista FAE
Business, n. 8, p. 35-38, 2004.

 NETO, Francisco Ferraes. A relação da logística com


a administração financeira e seus impactos nos
índices financeiros de uma organização. Revista da
FAE, v. 5, n. 3, 2017.

 ASSAF NETO, Alexandre. A dinâmica das decisões


financeiras. Caderno de estudos, n. 16, p. 01-17,
1997.

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

UNIDADE 2
Tipos de mercados
financeiros

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39
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Para começar nossos estudos...


 Quais os tipos de mercado financeiro e como eles
contribuem para as transações financeiras?
 Qual a relação entre decisão financeira e risco?
 O que é e como funciona o sistema financeiro
nacional?
 Como é o processo de planejamento financeiro?
 Quais as principais etapas que devem ser executadas
pelo administrador financeiro no planejamento?

Introdução
As empresas, de maneira geral, mas especialmente as grandes corporações,
possuem uma necessidade frequente de levantamento de fundos. Uma das formas
de obtenção de fundos é por meio de terceiros, que podem ser mercados financeiros,
instituições financeiras ou colocações fechadas (GITMAN, 2007). Esses terceiros
realizam uma intermediação financeira.
O mercado financeiro é a principal forma em que as grandes empresas obtêm
fundos, por isso é necessário compreender o seu funcionamento para que cada
oportunidade seja avaliada. Essa unidade trata dos principais conceitos que envolvem
o mercado financeiro, a avaliação que se faz entre decisão e risco, o sistema
financeiro nacional e o planejamento financeiro.

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Mercado financeiro
Um mercado financeiro é a junção de compradores e vendedores, como
qualquer tipo de mercado. Nos mercados financeiros os produtos são os títulos de
dívidas e ações. A figura abaixo apresenta o fluxo da relação entre o mercado
financeiro e a empresa (ROSS et al., 2013).

Fonte: Ross et al. (2013).

A figura apresenta o processo em que inicialmente a empresa vende ações e


toma dinheiro emprestado para o levantamento de fundos. Com isso, o dinheiro do
mercado financeiro vai para a empresa (passo A). Com o dinheiro, a empresa investe
em ativos circulantes e permanentes (passo B), que geram dinheiro (passo C). O
dinheiro gerado pelos ativos vai para pagamento dos impostos da pessoa jurídica
(passo D), para o reinvestimento por parte da empresa (passo E) e para os mercados

41
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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financeiros como dinheiro pago aos credores e acionistas (passo F) (ROSS et al.,
2013).
Dessa forma, as sociedades por ações têm suas vantagens ampliadas pelos
mercados financeiros, que as permitem levantar fundos de maneira razoavelmente
fácil em relação às outras formas de estruturação dos negócios. Existem algumas
classificações de acordo com os tipos de mercados. Primeiramente, os mercados
financeiros podem ser classificados como mercados monetários ou mercados de
capitais (GITMAN, 2007).

1.1 Mercado monetário


O mercado monetário “é criado por uma relação financeira entre fornecedores
e demandantes de fundos de curto prazo (fundos com prazo de vencimento máximo
de um ano) ” (GITMAN, 2007, p.20).
Esse mercado tem como principal objetivo reunir diversos indivíduos,
instituições, órgãos governamentais e instituições financeiras de forma que alguns
possuem ociosidade de fundos e sentem a necessidade de investir esse dinheiro de
alguma maneira e outros possuem uma necessidade temporária de financiamento. O
mercado monetário facilita essas transações (GITMAN, 2007).
Os títulos negociáveis são instrumentos de dívida de curto prazo e fazem parte
da maioria das transações nos mercados monetários. Essas transações acontecem
por meio do apoio de grandes bancos e distribuidores de títulos públicos, tanto
nacionalmente, quanto internacionalmente.

42
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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1.2 Mercado de capitais


O mercado de capitais, ao contrário do mercado monetário, envolve as
transações de fundos de longo prazo. Dessa forma, esse tipo de mercado reúne os
fornecedores e demandantes que precisam levantar fundos e que querem investir seu
dinheiro a longo prazo (GITMAN, 2007).
Esse mercado é formado principalmente pelas diversas bolsas de valores. As
bolsas de valores são os locais para a efetivação das transações e serão analisadas
mais adiante (GITMAN, 2007).

Os mercados financeiros podem ser


classificados, também, como mercados
primários ou secundários. (ROSS et al., 2013).

1.3 Mercados primários


Os mercados primários são a primeira forma de venda de qualquer título pelos
governos ou pela empresa. Dessa forma, a empresa tem envolvimento direto na
transação, como vendedora dos títulos, e recebe o dinheiro pela venda.
Existem duas formas de transação que as empresas podem realizar no
mercado primário:
 Ofertas públicas: é a venda de títulos para o público em geral, não
havendo restrições para compradores.
 Colocações privadas: é uma venda que envolve compradores
específicos, que geralmente envolve a venda a um investidor ou a um grupo
de investidores, como uma empresa seguradora ou um fundo de pensão.

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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As ofertas públicas devem ser registradas na Comissão de Valores Mobiliários


(CVM), de forma a comunicar aos compradores os diversos detalhes da oferta do título
em questão. Esse registro possui uma série de exigências que acabam dificultando o
processo de venda, além de gerar despesas extras. (GITMAN, 2007; ROSS et al.,
2013).
Dessa forma, as empresas que possuem investidores qualificados podem
utilizar a opção de colocações privadas para evitar esses problemas, uma vez que as
colocações privadas não exigem tantos detalhes para a transação (GITMAN, 2007;
ROSS et al., 2013).

1.4 Mercados secundários


Nos mercados secundários são negociados os títulos após a primeira
transação, isto é, títulos que estão com compradores, atuais proprietários do título,
que desejam revender. Com isso esses mercados possibilitam a transferência de
propriedade de títulos de empresas (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).
Dessa forma, as empresas não estão mais diretamente envolvidas, como no
mercado primário, pois os títulos não são mais de sua posse. No entanto, os mercados
secundários são essenciais para as empresas. Um motivo disso é que os investidores
que compram os títulos das empresas no mercado primário só o fazem porque
possuem perspectiva de negociação posterior no mercado secundário a preços
melhores (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).
Portanto, caso não existisse o mercado secundário, as empresas teriam
menores condições de vendas no mercado primário, especialmente em colocações
primárias (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013). Existem dois tipos de mercados
secundários:

 Mercado de balcão: são mercados de ações e de títulos de dívida que


operam fora de bolsas. Esse mercado conecta as organizações
principalmente por meio eletrônico e é responsável pela maioria das
transações de títulos de dívidas. Ainda, as negociações são realizadas

44
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

diretamente entre corretoras e quase não há divulgação dos preços


praticados.
 Mercado de bolsas: Os mercados de bolsas funcionam como um pregão
e possuem localização física. Dessa forma, esse mercado busca reunir
compradores e vendedores num determinado local e os preços são
expostos para a concorrência dos compradores.

As corretoras atuam tanto no mercado de balcão, como no mercado de bolsas


e vendem para si e para terceiros. Os títulos das empresas são, em sua maioria,
negociados nos mercados de bolsas. Para participar do mercado de bolsas, os
interessados devem contratar corretoras e pagar pelos seus serviços. No Brasil, existe
a bolsa de valores BM&FBOVESPA, que funciona da forma apresentada acima
(ROSS et al., 2013).
Para participar de uma bolsa de valores, ou ser listada na bolsa, existem alguns
critérios como tamanho do ativo e número de acionistas. Dependendo da bolsa que
se quer entrar os critérios podem ser diferentes (ROSS et al., 2013).

PESQUISE E APRENDA MAIS 


Acesse o site https://br.financas.yahoo.com , escolha uma empresa nacional

ou internacional, faça a busca no site e analise os valores financeiros dessa


empresa, como preço de compra e venda, variação do dia, entre outras

informações.

45
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Relação entre risco e


decisão financeira
Risco “é uma possibilidade de perda financeira” (GITMAN, 2007, p.184). Para
avaliar as decisões a serem tomadas os administradores financeiros comparam os
riscos com as possibilidades de retorno para então escolher a opção mais favorável.
(GITMAN, 2007).
O risco deve ser considerado ao avaliar uma transação pois os ativos
considerados mais arriscados oferecem maiores possibilidades de perdas financeiras.
Isso significa que o risco está associado à incerteza de obter bons resultados pela
transação. O quadro a seguir apresenta algumas formas de riscos que podem afetar
as decisões dos administradores financeiros e dos acionistas.

FONTES DE RISCO DESCRIÇÃO


RISCOS ESPECÍFICOS DA EMPRESA
A possibilidade de que a empresa não seja capaz de cobrir seus custos
de operação. Seu nível é determinado pela estabilidade das receitas
Risco operacional da empresa (fixos) e pela estrutura de seus custos operacionais
(variáveis).
A possibilidade de que a empresa não seja capaz de saldar suas
obrigações financeiras. Seu nível é determinado pela previsibilidade
Risco financeiro dos fluxos de caixa operacionais da empresa e suas obrigações
financeiras com encargos fixos.
RISCOS ESPECÍFICOS DOS ACIONISTAS
A possibilidade de que as variações das taxas de juros afetem
Risco de taxa de negativamente o valor de um investimento. A maioria dos
juros investimentos perde valor quando a taxa de juros sobe e ganha
valor quando ela cai.
A possibilidade de que um ativo não possa ser liquidado com
facilidade a um preço razoável. A liquidez é significativamente
Risco de liquidez afetada pelo porte e pela profundidade do mercado no qual o
ativo é costumeiramente negociado.
A possibilidade de que o valor de um ativo caia por causa de
fatores de mercado independentes do ativo (como eventos
Risco de mercado econômicos, políticos e sociais). Em geral, quanto mais o valor
do ativo reage ao comportamento do mercado, maior é seu risco;
quanto menos reage, menor é seu risco.

46
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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RISCOS PARA EMPRESAS E ACIONISTAS


A possibilidade de que um evento totalmente inesperado exerça
efeito significativo sobre o valor da empresa ou um ativo
específico. Esses eventos raros, como a decisão do governo de
Risco de evento mandar recolher do mercado um medicamento popular,
costumam afetar somente um pequeno grupo de empresas ou
ativos.
A exposição dos fluxos de caixa esperados para o futuro a
flutuações das taxas de câmbios. Quanto maior a possibilidade
Risco de câmbio de flutuações cambiais indesejáveis, maior o risco dos fluxos de
caixa e, portanto, menor o valor da empresa ou do ativo.
A possibilidade de que a variação dos níveis gerais de preços,
causada por inflação ou deflação na economia, afete
desfavoravelmente os fluxos de caixa e o valor da empresa ou
Risco de poder de um ativo. Normalmente, as empresas ou os ativos com fluxos
aquisitivo de caixa que variam com os níveis gerais de preços apresentam
risco mais baixo de variação de poder aquisitivo. Ao contrário, se
os fluxos de caixa não variarem de acordo com os níveis gerais
de preços, oferecem maior risco de poder aquisitivo.
A possibilidade de que mudanças adversas na legislação
Risco de tributação tributária venham a ocorrer. Empresas e ativos cujos valores são
sensíveis a essas mudanças implicam maior risco.
Fonte: Gitman (2007, p.185).

No quadro é possível perceber os riscos que estão associados às empresas e


aos acionistas. Os riscos associados à empresa devem ser de preocupação dos
administradores financeiros. É importante destacar que existem outras fontes de risco,
que podem ser analisadas pelos administradores financeiros e acionistas, no entanto
as apresentadas são as mais comuns (GITMAN, 2007).

2.1 Retorno
O retorno sobre o investimento é o ganho (ou perda) com um tipo de
investimento. O retorno sobre o investimento é composto por um dinheiro recebido
pela posse de um investimento, o que é chamado de componente de renda, e a
alteração do valor do ativo alvo do investimento (ROSS et al., 2013).
Para entender melhor, acompanhe o exemplo abaixo.

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ATENÇÃO PARA O EXEMPLO


Suponhamos que uma companhia tenha 1000 ações em circulação e que você comprou algumas
delas no início do ano. Agora estamos no final do ano e você quer determinar o desempenho do
seu investimento. Em primeiro lugar, ao longo do ano, uma empresa pode pagar dividendos para
seus acionistas. Como acionista da companhia, você é um proprietário parcial da empresa. Se a
empresa for lucrativa, ela pode optar por distribuir parte de seus lucros aos acionistas. Assim, como
proprietário de algumas ações, você receberá algum dinheiro. Esse dinheiro é o componente de
renda recebido por possuir as ações.
Além do dividendo, a outra parte do seu retorno é o ganho ou a perda de capital sobre as
ações. Essa parte é determinada pelas variações no valor do investimento. Por exemplo, considere
os fluxos de caixa ilustrados na figura abaixo:

No início do ano, a ação era vendida a $37. Se você comprou 100 ações, teve um desembolso total
de $3.700. Suponhamos que, ao longo do ano, a ação tenha pago um dividendo de $1,85 por ação.
Ao final do ano, então, você teria recebido uma renda de:
Dividendos = $1,85 x 100 = $185
Além disso, o valor da ação subiu para $40,33 por ação ao final do ano. Suas 100 ações agora
valem $4.033, de modo que você tem um ganho de capital de:
Ganho de capital = ($40,33 - $37) x 100 = $333
Por outro lado, se o preço caísse para, digamos, $34,78, você teria uma perda de capital de:
Perda de capital = ($34,78 - $37) x 100 = -$222
Note que uma perda de capital é igual a um ganho de capital negativo. O retorno monetário total
sobre o investimento é a soma dos dividendos e do ganho de capital:
Retorno monetário total = Receita de dividendos + Ganho (ou perda) de
capital
Em nosso primeiro exemplo, o retorno monetário total é dado por:
Retorno monetário total = $185 + $333 = $518
Observe que, se você vendeu as ações no final do ano, o montante total em dinheiro que você teria
seria igual ao seu investimento inicial mais o retorno total. No exemplo anterior, teríamos então:
Dinheiro total se as ações forem vendidas = Investimento inicial + Retorno
total
= $3.700 + 518 = $4.218
Como verificação, observe que isso é igual aos resultados da venda das ações mais os dividendos:
Resultados da venda das ações + Dividendos = $40,33 x 100 + $185
= $4.033 + 185 = $4.218

Fonte: Ross et al. (2013).

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O exemplo anterior mostra a forma de cálculo dos valores absolutos. No


entanto, é mais comum e conveniente analisar os retornos financeiros em percentuais,
de forma que além do retorno não depender de quanto foi investido, o resultado do
retorno pode ser comparado entre diferentes ativos (ROSS et al., 2013).
Dessa forma, o retorno é calculado por meio da expressão abaixo:

𝐶𝑡 + 𝑃𝑡 − 𝑃𝑡−1
𝑘𝑡 =
𝑃𝑡−1
Onde,
kt = taxa observada, esperada ou exigida de retorno durante o período t
Ct = fluxo de caixa recebido com o investimento no atino no período de t – 1 a t
Pt = preço (valor) do ativo na data t
Pt – 1 = preço (valor) do ativo na data t – 1

Essa equação pode ser utilizada para determinar a taxa de retorno em qualquer
período de tempo. Na maioria das vezes t é um ano e k representa a taxa anual de
retorno.

APLICAÇÃO DA FÓRMULA DE TAXA DE RETORNO


A Robins´s Gamerron, um centro de diversões eletrônicas muito frequentado, deseja determinar a
taxa de retorno de duas de suas máquinas de videogame, Conqueror e Demolition.
A Conqueror foi comprada há um ano por R$ 20.000 e tem atualmente valor de mercado de R$
21.500,00; durante o ano gerou receitas de R$ 800,00, após o imposto de renda. A Demolition
adquirida quatro anos atrás e seu valor, no ano que acaba de terminar, caiu de R$ 12.000 para R$
11.800; durante o ano, gerou R$ 1.700 de receitas após o imposto de rendas. Usando esses
dados para calcular a taxa anual de retorno para cada uma das máquinas, temos que:
Conqueron (C):

800 + 21.500 − 20.000 2.300


𝑘𝐶 = = = 11,5%
20.000 20.000
Demolition (D):

1.700 + 11.800 − 12.000 1.500


𝑘𝐷 = = = 12,5%
12.000 12.000

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

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Nessa aplicação podemos perceber que mesmo a Demolition tendo caído de


valor durante o ano em questão, sua taxa de retorno ainda é maior porque ela gera
mais receitas que a Conqueron. Dessa forma, é importante avaliar a taxa de retorno,
pois considera ambas as variáveis no decorrer do ano (GITMAN, 2007).

2.2 Retorno e risco


Como o retorno pode variar ao longo do tempo, o cálculo histórico das médias
de retornos pode reduzir o impacto dos riscos associados à transação. O valor médio
de retorno de um tipo de ativo dá uma segurança maior para o administrador financeiro
de que aquele retorno tende a permanecer em determinado valor percentual ao longo
do ano, como pode ser visto no quadro abaixo (GITMAN, 2007).

INVESTIMENTO RETORNO ANUAL MÉDIO


Ações de empresas de grande porte 13,0%
Ações de empresas de pequeno porte 17,3%
Obrigações de longo prazo de empresa 6,0%
Obrigações de longo prazo do governo 5,7%
Letras do tesouro dos Estados Unidos 3,9%
Inflação 3,2%
Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

De qualquer maneira, as decisões frente a riscos podem ser diferentes de


acordo com o perfil do administrador financeiro ou com as estratégias e valores da
empresa. Os três comportamentos básicos em relação a risco são:
 Indiferença a risco: É característica do administrador financeiro ou da
empresa que não alteram o retorno exigido com base no aumento do risco.
 Aversão a risco: Acontece quando um aumento no risco percebido para a
realização da transação aumenta o retorno exigido pela mesma. Como se
fosse uma forma de recompensar o risco assumido.

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 Propensão a risco: Esse tipo de comportamento é quando o retorno


exigido diminui com o aumento do risco percebido. Esse comportamento é
arriscado e pode ou não obter resultados positivos.
A maioria dos administradores financeiros são avessos aos riscos, sendo
conservadores e não agressivos nas decisões, embora também existam outros perfis.
(GITMAN, 2007).

ASSISTA E PENSE SOBRE...

O filme “A GRANDE APOSTA” e perceba os diferentes


perfis de administradores financeiros e investidores
com relação ao risco.
Veja o trailler clicando na imagem abaixo:

51
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Sistema financeiro
nacional, seus mercados
e segmentos
O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por um conjunto de
instituições financeiras que auxiliam o financiamento do crescimento da economia.
Sua principal função é transferir o dinheiro daqueles que querem poupar e investir
para aqueles que querem emprestar. Portanto, é um sistema que tem funções
econômicas e sociais no desenvolvimento no país. (SELAN, 2015).
Com o passar do tempo o SFN tem se tornado cada vez mais importante para
aqueles que trabalham no meio financeiro. Por meio desse sistema, os agentes
econômicos conseguem segurança e rapidez nas suas transações, seja para adquirir
ou investir recursos (ASSAF NETO, 2003).
Os bancos formam a maior parte do SFN, pois eles detêm a maior parte do
dinheiro que circula no mercado. Por isso, são os principais agentes financeiros e
oferecem diversos produtos e serviços financeiros para os diferentes perfis de clientes
(SELAN, 2015).
Dessa forma, o SFN, “é o conjunto de instituições responsáveis pela captação
de recursos financeiros, pela distribuição e circulação de valores e pela regulação
desse processo” (SELAN, 2015, p.12).

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3.1 Origem e evolução histórica do SFN


O SFN passa por quatro grandes fases na sua história, as quais são detalhadas
a seguir (BRITO, 2005):

 Da família real até a Primeira Guerra Mundial (1808 – 1914): Essa fase
é marcada pela abertura dos portos, com acordos comerciais entre as
partes envolvidas, pela criação do Branco do Brasil e pela permissão para
a instalação de bancos estrangeiros no Brasil, especialmente por causa do
comércio internacional;
 Da Primeira Guerra Mundial até a Segunda Guerra Mundial (1914 –
1945): Nessa fase houve a criação da Inspetoria Geral de Bancos, a
criação da Câmara de Compensação e os critérios e normas para atividade
de intermediação financeira foram fortalecidos. Essas alterações
motivaram um crescimento na atividade bancária do país.
 Da Segunda Guerra Mundial até a Grande Reforma Financeira (1945 –
1964): Essa fase foi marcada pela criação da Superintendência da Moeda
e do Crédito (Sumoc), para a supervisão e controle do mercado monetário.
Essa instituição passou a dividir com o Banco do Brasil as demais funções
executivas de autoridade monetária, por quase duas décadas. Além disso,
houve a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), para fornecer créditos de longo prazo.
 Da Grande Reforma Financeira até os dias atuais (1964 – atual): Essa
fase é a de maior desenvolvimento e é marcada pela aprovação da Lei da
Reforma Bancária, pela criação do Banco Central, pela organização do
Sistema Financeiro, pela aprovação da Lei da Regulamentação do
Mercado de Capitais, pelo estabelecimento de bancos múltiplos e pela
formulação de um novo sistema de pagamento.

Principalmente durante o quarto período foi que o SFN se estruturou. Algumas


das leis que auxiliaram na estruturação desse sistema são listadas no quadro abaixo.

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INSTRUMENTO SOLUÇÃO/PROPOSTA
Lei da correção Instituiu normas para a indexação dos débitos fiscais, criou títulos públicos federais
Monetária com cláusula de correção monetária (ORTN) que seriam destinados a antecipar
(lei 4.357/64) receitas, cobrir déficits públicos e promover investimentos.

Criou-se o Banco Nacional de Habitação (BNH) que ficaria responsável pela gestão
Lei do plano do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) voltado ao incentivo à
Nacional de construção civil e obras de saneamento e infraestrutura urbana. Ficaria responsável
Habitação por instrumentos próprios de captação de recursos como as Letras Hipotecárias, as
(lei 4.380/64) Letras Imobiliárias e as Cadernetas de Poupança. Posteriormente, foram
adicionados os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS.
Lei da reforma
do Criação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil.
Sistema Criação das normas operacionais, as rotinas de funcionamento e procedimentos de
financeiro qualificação das entidades do SFN no subsistema intermediação.
Nacional
(LEI 4.595/64)
Lei do mercado Criação de normas e regulamentos básicos para a estruturação do sistema de
de investimentos destinado a apoiar o desenvolvimento nacional e à crescente
Capitais demanda por crédito.
(lei 4.728/65)
Lei da cvm Criação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para cuidar da responsabilidade
(lei 6.385/67) de regulamentar e fiscalizar as atividades relacionadas ao mercado de valores
mobiliários como ações, debêntures etc.

Lei das s.a. Criação de regras claras para as características, forma de constituição, composição
(lei 6.404/76) acionária, estrutura de demonstrações financeiras, obrigações societárias, direitos e
deveres de acionistas e órgãos estatutários e legais.
Nova lei das s.a.
(lei 10.303/01), Consolidação dos dispositivos da Lei da CVM e da Lei das S.A., melhorando a
Decreto 3.995 e proteção aos minoritários e dando força à atuação da CVM como órgão regulador e
mp 8, fiscalizador do mercado de capitais, incluindo os fundos de investimento e os
Todos de mercados de derivativos.
31/10/2002

Criação de regras para disciplinar os requisitos e procedimentos para a constituição,


Resolução cmn autorização para funcionamento, transferência de controle societário e
3.040 reorganização societária, bem como o cancelamento da autorização para funcionar
De 28/11/2002 de instituições financeiras e demais entidades equiparadas que precisam de
autorização prévia do BC para operar no país.
Fonte: Adaptado de Fortuna (2013) e Oliveira et al. (2016).

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3.2 Estrutura atual do SFN


O desenvolvimento de uma economia depende da participação de capitais,
disponibilizados pelos agentes econômicos e mediados pelas instituições financeiras
para chegar até os setores que mais necessitam de crédito para o crescimento
(ASSAF NETO, 2011).
O Sistema Financeiro Nacional, que é composto pelas instituições financeiras
intermediadoras de crédito, é estruturado por um subsistema normativo e um
subsistema de intermediação, conforme figura abaixo.
O subsistema normativo é o regulador e fiscalizador das práticas desenvolvidas
pelo subsistema de intermediação. Por sua vez, o subsistema de intermediação é
responsável pela intermediação financeira entre aqueles que possuem necessidade
de recursos e aqueles que possuem disponibilidades de recursos para investimento.
Vejamos as particularidades de funcionamento de cada um desses subsistemas
(ASSAF NETO, 2011).

3.2.1 Subsistema normativo

O subsistema normativo regula e fiscaliza o subsistema de intermediação, por


meio de normas legais. Dessa forma, esse subsistema é responsável pelo
funcionamento do mercado financeiro. As instituições que realizam essa regulação
são o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central do Brasil (BACEN)
(ASSAF NETO, 2011).
Ainda, conforme a figura da estrutura do SFN, o subsistema normativo é
composto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que é um órgão de apoio, que
atua na fiscalização do mercado de valores imobiliários. Em complemento, três
instituições fazem parte desse subsistema: o Banco do Brasil (BB), o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal
(CEF) (ASSAF NETO, 2011).
Conselho Monetário Nacional: pode-se dizer que o principal órgão do SFN é
o Conselho Monetário Nacional (CMN), que se responsabiliza pela direção da política

55
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monetária, creditícia e cambial do Brasil. Esse órgão foi criado em 1964 e funciona
como um conselho de política econômica (ASSAF NETO, 2011; FORTUNA, 2013).

Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2003)

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O CMN tem como principais objetivos decidir sobre as metas de inflação e criar
as condições de negociação de contratos derivativos para a política monetária e
cambial (FORTUNA, 2013). Das suas principais atribuições podemos destacar:
 Autorização de emissão de papel-moeda;
 Aprovação dos orçamentos monetários preparados pelo Banco Central;
 Fixação de diretrizes e normas de política cambial;
 Disciplinar o crédito em suas modalidades e as formas das operações
creditícias;
 Criação de limites para a remuneração das operações e serviços bancários
ou financeiros;
 Determinação da taxa de recolhimento compulsório das instituições
financeiras;
 Regulação sobre as operações de redesconto de liquidez;
 Estabelecer ao Banco Central o monopólio de operações cambiais quando
o Balanço de Pagamentos exigir.

Banco Central (Bacen): O BACEN é o segundo mais importante do SFN.


Sendo um órgão executivo, é responsável por fazer cumprir as disposições legais
sobre as decisões do CMN, sendo, portanto, fiscalizador do sistema (FORTUNA,
2013). Suas principais funções incluem:
 Controlar o fluxo de capitais estrangeiros, garantindo que tenha um correto
funcionamento para o mercado cambial;
 Determinar periodicamente, via COPOM (Comitê de Política Monetária), a
taxa de juros de referência para operações de um dia com títulos públicos
(taxa Selic);
 Formalizar e institucionalizar de forma complementar ao COPOM, via
Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), os processos para a discussão
interna via divulgação do Relatório de Estabilidade Financeira,
apresentando sua visão do sistema financeiro e suas condições de risco.

Com isso, o Banco Central funciona como o banco dos bancos, gestor do
sistema financeiro nacional, executor da política monetária, responsável pela emissão
e controle da moeda nacional e por financiar o tesouro nacional para administrar as
dívidas públicas, internas e externas (FORTUNA, 2013).

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Comissão de Valores Mobiliários (CVM): A CVM é um órgão de apoio,


responsável por fiscalizar o mercado de capitais e as sociedades de capital aberto,
isto é, o mercado de valores mobiliários que não são emitidos pelo SFN. A principal
função da CVM é “proteger os investidores, manter a eficiência e a ordem dos
mercados e aumentar a facilidade de formação de capital por parte das empresas”
(FORTUNA, 2013, p.23).

Além desses órgãos, existem ainda o Conselho de Recursos do Sistema


Financeiro Nacional (CRSFN), que tem a função de julgar os recursos sobre as
decisões de penalidades pelos BACEN e CVM, a Superintendência de Seguros
Privados (SUSEP), que se responsabiliza pelo controle do mercado de seguros, da
previdência privada aberta e da capitalização, entre outros órgãos que foram criados
para auxiliar o funcionamento do SFN (FORTUNA, 2013).

3.2.2 Subsistema de intermediação

O subsistema de intermediação é formado por instituições financeiras que são


“pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham como atividade principal ou
acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de
terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de
terceiros” (OLIVEIRA et al., 2006, p.33). Elas podem ser divididas em bancárias e não
bancárias, bem como instituições auxiliares do mercado financeiro.
As instituições bancárias são aquelas que podem criar moeda, como os bancos
múltiplos, comerciais e as caixas econômicas. Suas principais funções são:
 Oferecer crédito às empresas;
 Criar moeda (sem que seja por meio de impressão de moeda, atividade
própria do Banco Central);
 Prestar serviços às pessoas físicas e jurídicas (ex.: recebimento de
cheques, prestação de serviços de cobrança, contas a pagar, arrecadação
de tributos).

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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As instituições não bancárias não recebem depósitos à vista e trabalham com


ativos não monetários, sendo formadas geralmente por corretoras, financeiras,
bancos de investimento, entre outras (OLIVEIRA et al., 2006).
Essas diversas instituições bancárias e não-bancárias funcionam como
intermediárias entre os agentes que buscam e investem em crédito, sendo essa a sua
principal função dentro do SFN e do mercado financeiro (OLIVEIRA et al., 2006).
Ainda, o subsistema de intermediação é composto pelo Sistema Brasileiro de
Poupança e Empréstimos (SBPE), que investe no sistema de habitação por meio dos
recursos captados (OLIVEIRA et al., 2006).
A tabela abaixo apresenta algumas das instituições financeiras que compõem
o subsistema de intermediação.

INSTITUIÇÕES INSTITUIÇÕES NÃO INSTITUIÇÕES


BANCÁRIAS BANCÁRIAS AUXILIARES
Bancos comerciais Bancos de Investimento Bolsas de Valores
Bancos Múltiplos Bancos de Desenvolvimento Sociedades corretoras
Caixas econômicas Sociedades de crédito, Bolsas de mercadorias e
financiamento e Futuros
investimentos e
Sociedades de crédito
imobiliário
Sociedades de Sociedades Distribuidoras
Arrendamento Mercantil de títulos e valores
mobiliários
Cooperativas de crédito Sociedades corretoras de
câmbio
Instituições Não Financeiras: Fomento Mercantil e Sociedades Seguradoras
Fonte: Adaptado de Selan (2015).

Existem ainda, instituições que pertencem ao Sistema Financeiro Internacional,


que se relacionam com as instituições do SFN. Algumas delas são: Banco Mundial,
Banco para Compensações Internacionais e Fundo Monetário Internacional
(FORTUNA, 2011; OLIVEIRA et al., 2006).

59
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Para saber mais...


Acesse o site do Banco central do Brasil e explore a
estrutura do Sistema Financeiro Nacional, bem como
a sua formação histórica.

http://www.bcb.gov.br/pre/composicao/comp_evol.asp

60
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Planejamento
financeiro
O planejamento financeiro é uma forma de pensar no futuro da organização,
de forma a oferecer os caminhos para a tomada de decisão do administrador
financeiro. Os principais elementos que compõem o planejamento financeiro são o
planejamento de caixa, que envolve a elaboração do orçamento, e o planejamento de
resultados, que envolve a projeção das demonstrações (GITMAN, 2007). Esse
planejamento cria os objetivos financeiros que a empresa quer alcançar, de forma que
as decisões sejam antecipadas e pensadas antes de sua execução (ROSS et al.,
2013).
O processo de planejamento financeiro passa pelo planejamento de longo
prazo e pelo planejamento de curto prazo, conforme veremos a seguir. O
planejamento de longo prazo orienta o planejamento de curto prazo, por meio das
estratégias definidas que são desdobradas em ações de curto prazo (GITMAN, 2007).
Quando se fala em organizações, o curto prazo significa, em geral, um período de até
12 meses, enquanto um tempo maior que 12 meses é considerado longo prazo (ROSS
et al., 2013).

4.1 Planejamento financeiro de longo


prazo (estratégico)
O planejamento de longo prazo oferece as estratégias que a empresa deve
adotar ao longo dos anos, incluindo planejamento de gastos com ativos permanentes,
atividades de pesquisa e desenvolvimento, programa de desenvolvimento de produtos
e marketing, estrutura de capital e fontes básicas de financiamento, bem como

61
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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exclusões, como cancelamento de ativos, extinção de dívidas, entre outras (GITMAN,


2007).
Assim, para desenvolver um plano financeiro de longo prazo, a administração
financeira deve estabelecer quatro elementos básicos, conforme argumentam Ross et
al. (2013):
 O investimento necessário em novos ativos (decisões de orçamento de
capital);
 O grau de alavancagem financeira que a empresa escolhe empregar
(política para a estrutura de capital);
 O montante de caixa considerado necessário e apropriado para pagar aos
acionistas (política de dividendos);
 O montante de liquidez e capital de giro necessário para suas operações
continuadas (decisão dobre o capital de giro).

As decisões nessas quatro áreas irão interferir o seu desempenho futuro e


determinarão o crescimento financeiro, que é o principal objetivo da empresa, definida
por meio da taxa de crescimento (ROSS et al., 2013).

Um planejamento financeiro de longo prazo deve conter:


 Horizonte de planejamento: é o tempo ao qual ele se refere, normalmente
sendo de 2 a 5 anos;
 Agregação: Junção das propostas de investimento de cada unidade de
forma a determinar o investimento total necessário no período;
 Exame das interações: analisar as relações entre as propostas de
investimento das atividades operacionais e as opções de financiamento
disponíveis;
 Exploração das opções: analisar diferentes opções de investimento e
financiamento, como a criação de novos produtos;
 Evitar surpresas: criar estratégias de saída caso algo dê errado;
 Assegurar a capacidade de realização e a consistência interna: incorporar
todas os objetivos específicos que a empresa almeja nas diversas áreas e
operações, alinhando os conflitos;
 Previsão de vendas: em taxa de crescimento de vendas, por exemplo;

62
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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 Demonstrações projetadas: previsão do balanço patrimonial, de


demonstração de resultados e de demonstrações de fluxos de caixa;
 Necessidades de ativos: Gastos de capital projetados;
 Necessidades de aportes financeiros.

4.1.1 Um modelo simples de planejamento financeiro

Esse modelo serve como base para a compreensão de um planejamento


financeiro, conforme Ross et al., (2013).

As demonstrações contábeis da Zona do Computador S/A do ano passado


são as seguintes:

Pressupondo que todas as variáveis estão diretamente ligadas às vendas e


que as relações são perfeitas, digamos que as vendas aumentem em 20%, subindo
de $1.000 para $1.200. Os planejadores também preveem um aumento de 20% nos
custos, de $800 para $800 x 1,2 = $960. A demonstração de resultados projetada
seria:

A hipótese de que todas as variáveis crescerão 20% nos permite construir


facilmente o balanço patrimonial projetado:

63
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Observe que aumentamos apenas 20% em cada item. Os números entre


parênteses são as variações para os diferentes itens.
Agora temos de conciliar essas duas demonstrações projetadas. Por
exemplo, como pode o lucro líquido ser igual a $240 e o aumento do patrimônio
líquido de apenas $50? A resposta é que a Zona do Computador provavelmente
terá pago a diferença de $240 - $50 = $190 em dividendos. Nesse caso, os
dividendos são a variável de fechamento.
Suponha que a Zona do Computador não pague os $190. Nesse caso, o
acréscimo aos lucros retidos é de $240. Assim, o patrimônio líquido da Zona do
Computador aumentará para $250 (o montante inicial) mais $240 (lucro líquido), ou
$490, e parte da dívida deve ser resgatada para manter o total do ativo em $600.
Com $600 de ativo total e $490 de patrimônio líquido, a dívida terá de ser de
$600 - $490 = $110. Como iniciamos com $250 de dívida, a Zona do Computador
terá de resgatar $250 - $110 = $140 dela. O balanço patrimonial projetado resultante
seria assim:

Neste caso, a dívida é a variável de fechamento utilizada para equilibrar os


totais projetados do ativo e do passivo.
Esse exemplo mostra a interação entre o crescimento das vendas e a política
financeira. À medida que as vendas aumentam, o total dos ativos também aumenta.
Isso ocorre porque a empresa precisa investir em capital circulante líquido e ativo
imobilizado para permitir níveis de vendas mais altos. Como o ativo está
aumentando, o total do passivo e do patrimônio líquido (o lado direito do balanço
patrimonial) também aumentará.

64
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).

4.2 Planejamento financeiro de curto


prazo (operacional)
O planejamento financeiro de curto prazo determina as ações da empresa
no curto prazo, incluindo principalmente a previsão de vendas e dados operacionais e
financeiros, conforme figura abaixo.

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

Por meio da figura é possível perceber que o processo de planejamento se


inicia com a previsão de vendas. A partir da previsão de vendas são elaborados os
planos de produção, que incluem o tempo para a produção e a matéria-prima exigida.
Esses planos auxiliam na estimativa de mão-de-obra e gastos gerais da produção.
Com essas estimativas são realizadas as demonstrações projetadas de resultados e

65
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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é planejado o orçamento de caixa. Por fim, utilizando todas essas informações, pode-
se elaborar o balanço patrimonial projetado (GITMAN, 2007).
Diante disso, percebemos que as principais informações para o plano financeiro
de curto prazo são: o orçamento de caixa, as demonstrações projetadas e o
balanço patrimonial projetado.
a) Orçamento de caixa contempla as entradas e saídas de caixa de
uma empresa, representando uma estimativa do que falta no caixa,
conforme figuras abaixo, que exemplificam as entradas, as saídas e o
orçamento de caixa de uma empresa, ambas retiradas de Ross et al.
(2013). Inicialmente é realizada uma análise dos pagamentos projetados
para cada período (representados por T1 a T4), que envolvem compras à
vista, pagamento de contas a pagar, aluguel, salários, impostos, ativos
permanentes, entre outros.

Após isso é realizada uma análise dos recebimentos projetados para cada
período, que envolvem previsão de vendas, recebimentos de contas a receber entre
outros.

Por fim, une-se as duas informações anteriores, de forma a estabelecer o saldo


de caixa no final de cada período.

66
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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A sobra ou falta acumulada nos períodos representam o orçamento de caixa


para o período seguinte. Especialmente a falta indica a necessidade de financiamento
para a continuação das atividades (ROSS et al., 2013).

b) Demonstração projetada de resultados preocupa-se com a projeção de lucro


da empresa, que envolve as demonstrações financeiras do período anterior e
a previsão de vendas para o próximo período (ROSS et al., 2013). Vejamos o
exemplo abaixo.

A demonstração do resultado efetivo da Vectra em 2003 e a projeção do


resultado da empresa em 2004, decompostas em elementos fixos e variáveis de
seus custos são apresentados a seguir.

Resultado
Itens Resultado 2003
projetado 2004
Receita de vendas R$ 100.000 R$ 135.000
Menos: custo dos produtos vendidos
Custo fixo 40.000 40.000
Custo variável (0,40 x vendas) 40.000 54.000
Lucro bruto R$ 20.000 R$ 41.000
Menos: despesas operacionais
Despesas fixas 5.000 5.000
Despesa variável (0,05 x vendas) 5.000 6.750
Resultado operacional R$ 10.000 R$ 29.250
Menos: despesas financeiras 1.000 1.000
Lucro líquido antes do imposto de renda R$9.000 R$ 28.250
Menos: imposto (15%) 1.350 4.238
Lucro líquido depois do imposto de renda R$ 7.650 R$ 24.012

67
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A decomposição dos custos e das despesas da Vectra em elementos fixos e


variáveis fornece uma projeção mais precisa de seu lucro, sendo elementos
importantes na demonstração projetada.
Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

c) Balanço patrimonial projetado representa o patrimônio da empresa projetado


para um determinado período, analisando as possibilidades das diversas
informações que compõem o balanço patrimonial. Vejamos a continuação do
exemplo da Vectra.

O principal enfoque utilizado é o julgamento subjetivo das possibilidades para


o período analisado, que formam o seguinte balanço patrimonial projetado para
2004.

Ativos Passivos e patrimônio líquido

Caixa R$ 6.000 Fornecedores R$ 8.100

Aplicações de curto prazo 4.000 Impostos a pagar 455

Contas a receber 16.875 Instituições financeiras a 8.300


pagar

Estoques Outros passivos circulantes 3.400

Matérias-primas R$ 4.000 Total de passivos R$ 20.255


circulantes

Produtos acabados 12.000 Exigível de longo prazo R$ 18.000

Total de ativos circulantes 16.000 Patrimônio líquido

Ativos permanentes líquidos R$ 42.875 Capital social R$ 30.000

R$ 63.000 Lucros retidos R$ 29.327

Total dos ativos R$ 105.875 Total R$ 97.582

Financiamento externo R$ 8.293


necessário

Total de passivos e R$ 105.875


patrimônio líquido

68
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Para 2004 o administrador financeiro da Vectra supõe que:


1. Se quer um saldo mínimo de caixa de R$ 6.000;
2. As aplicações em títulos de curto prazo permanecerão constantes em R$
4.000;
3. As contas a receber, de acordo com a previsão anual de vendas, devem
representar R$ 16.875;
4. Os estoques permanecerão em R$ 16.000;
5. Será comprada uma nova máquina que custa R$ 20.000, com depreciação
anual de 8.000, que juntos com os ativos permanentes líquidos existentes
resulta em R$ 63.000;
6. As contas a pagar sejam de R$ 8.100;
7. Os impostos sejam de R$ 455
8. Não haverá variação de passivos circulantes, permanecendo em R$ 3.400;
9. Não haverá variação de exigível de longo prazo e capital social,
permanecendo em R$ 18.000 e R$ 30.000, respectivamente;
10. Os lucros retidos subirão para R$ 29.327.

Todas essas suposições são realizadas com base nas estimativas de vendas,
recebimentos e gastos, bem como das análises do balanço patrimonial atual e assim
é construído o balanço patrimonial projetado. Assim, é determinado o valor do
financiamento positivo ou negativo, devendo a empresa decidir se para o período
analisado ela deverá tomar dinheiro emprestado ou investir.

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EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 2


1. O que é mercado financeiro e quais os seus principais tipos de
classificação?
2. Quais os principais tipos de riscos financeiros para as empresas e
acionistas?
3. Analise qual o retorno financeiro de um computador, com as seguintes
informações: O computador foi comprado há 1 ano por R$ 80.000 e tem
atualmente um valor de mercado de R$75.000. Durante o ano gerou
receitas de R$ 7.500, após o imposto de renda.
4. Quais os três tipos de comportamento em relação a risco e qual o
recomendado para administradores financeiros?
5. O que é o sistema financeiro nacional e como ele é composto?
6. Existem duas formas de realização de planejamento financeiro, de longo
e curto prazos, explique sobre cada uma delas, bem como sua relação.
7. Qual a relação entre riscos e decisão financeira?
8. Quais as instituições que compõem o subsistema normativo do SFN e
qual a sua função?
9. O que é o subsistema de intermediação do SFN e qual a sua função?
10. Avalie o retorno financeiro para as duas máquinas a seguir e indique
qual obtém o melhor retorno. A máquina A foi comprada há 1 ano por R$
45.000 e tem atualmente um valor de mercado de R$37.000. Durante o
ano gerou receitas de R$ 10.000, após o imposto de renda. A máquina
B foi comprada há 2 anos por R$ 70.000 e tem atualmente um valor de
mercado de R$ 65.000. Durante o ano gerou receitas de R$ 6.000, após
o imposto de renda.

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NESTA UNIDADE VOCÊ APRENDEU

Os tipos de mercado financeiro;


A relação entre decisão financeira, retorno e risco;
O que é e como funciona o sistema financeiro
nacional.
O processo de planejamento financeiro de longo e
curto prazos.

SAIBA MAIS SOBRE A UNIDADE II, CONSULTE

https://www.youtube.com/watch?v=nRR_RGGRZfY
HALFELD, Mauro; TORRES, Fábio de Freitas Leitão.
Finanças comportamentais: a aplicações no contexto
brasileiro. Revista de administração de empresas, v.
41, n. 2, p. 64-71, 2001.
LINS, Clarissa; WAJNBERG, Daniel. Sustentabilidade
corporativa no setor financeiro brasileiro. CEP, v.
22610, p. 180, 2007.
 TELÓ, Admir Roque et al. Desempenho organizacional:
planejamento financeiro em empresas familiares.
2000.

71
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UNIDADE 3
Ativo circulante
e orçamento de
capital
Para começar nossos estudos...
 O que é capital de giro e quais suas principais
características?
 Como é realizada a administração do ativo circulante?
 Quais são as principais decisões de investimento a longo
prazo?
 Quais as principais técnicas de análise de investimento?

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Introdução
As decisões de administração envolvem administração de curto e longo prazo
ao mesmo tempo que avaliar decisões de gestão de investimento e gestão de
financiamento para equilibrar o fluxo de caixa da empresa.
O que diferencia as decisões de curto e longo prazo é a distribuição dos fluxos
de caixa no tempo, em que as decisões de curto prazo normalmente envolvem um
ano ou menos e as decisões de longo prazo envolvem mais de um ano (ROSS et al.,
2013).
Nessa unidade analisaremos as questões que permeiam a administração de
investimentos, tanto de curto prazo, que se refere à administração do ativo circulante,
quanto a longo prazo, que diz sobre o orçamento de capital.

Administração do ativo
circulante
Primeiramente vamos esclarecer o conceito de capital de giro. Existe uma
diferença entre capital de giro e capital circulante líquido, embora esses valores sejam
sempre iguais. A diferença está entre usos e fontes de recursos. O capital circulante
líquido é a diferença entre os ativos circulantes e passivos circulantes. Se essa
diferença é positiva, significa que a empresa tem mais recursos a receber do que a
pagar no curto prazo. Isso significa que a empresa tem mais dinheiro aplicado em
estoques e nas contas a receber dos clientes do que dinheiro devido a fornecedores,
isto é, a empresa empresta mais dinheiro do que toma emprestado no curto prazo
(ROSS et al., 2013).
Essa sobra é devido ao capital de giro, que é resultado do passivo não
circulante mais o patrimônio líquido menos o ativo não circulante. Isso significa que

73
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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esse dinheiro vem dos sócios e dos recursos captados por empréstimos e
financiamentos de longo prazo. Com isso, o capital de giro é que financia os estoques
e as contas a receber, o que mantém a empresa funcionando (ROSS et al., 2013).
Assim, a empresa precisa manter os ativos circulantes em valor maior às saídas
de passivos circulantes, de forma a manter sua capacidade de pagar as contas
(GITMAN, 2007).
O ativo circulante “é composto pelo caixa e por outros ativos que espera
converter em caixa durante o ano” (ROSS et a., 2013, p.622). Os principais elementos
que compõem o ativo circulante são o caixa e os equivalentes de caixa, as aplicações
em ativos financeiros, as contas a receber e os estoques (ROSS et al., 2013).
O caixa é representado pelo passivo não circulante, mais o patrimônio líquido,
mais o passivo circulante, menos o ativo não circulante e outros ativos circulantes.
Dessa forma, as atividades que aumentam o caixa (fontes de caixa) são, de acordo
com Ross et al. (2013):
 Aumento do passivo não circulante (tomar empréstimos a longo prazo);
 Aumento do patrimônio líquido (aumentar o capital próprio com emissão de
ações);
 Aumento do passivo circulante (tomar um empréstimo de 90 dias);
 Diminuição dos outros ativos circulantes, não caixa (vender estoques
mediante pagamento à vista);
 Diminuição do ativo não circulante (vender alguma propriedade).

Por outro lado, Ross et al. (2013) argumentam que as seguintes atividades
diminuem o caixa (usos de caixa):
 Diminuição do passivo não circulante (pagar dívidas de longo prazo);
 Diminuição do patrimônio líquido (recomprar algumas ações);
 Diminuição do passivo circulante (pagar um empréstimo de 90 dias);
 Aumento de outros ativos circulantes (comprar estoques à vista);
 Aumento do ativo não circulante (comprar alguma propriedade).

74
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1.1 Ciclo operacional e financeiro


As principais preocupações financeiras de curto prazo são operacionais e
financeiras que envolvem, por exemplo, compra de matéria-prima e sua forma de
pagamento, fabricação do produto, venda do produto e formas de cobrança. Essas
atividades geram fluxo de caixa.
O ciclo operacional é o tempo que uma empresa leva desde a aquisição do
estoque, até o recebimento pela venda do estoque. Dessa forma, “é o tempo
necessário para adquirir o estoque, processá-lo, vende-lo e receber o pagamento das
vendas” (ROSS et al., 2013, p.627).
Esse ciclo é composto por dois componentes, o prazo médio de estocagem,
período entre a aquisição do estoque e a sua venda, e o prazo médio de recebimento,
período que se leva para receber a venda. A cada etapa do ciclo operacional o ativo
se move para mais perto do caixa (ROSS et al., 2013).
O ciclo financeiro “é o número de dias decorridos até o recebimento do
dinheiro pela venda, medido desde o momento em que realmente pagamos pelos
estoques” (ROSS et al., 2013, p.628). Como o prazo médio de pagamento é o tempo
que se leva para pagar o estoque comprado, temos que o ciclo financeiro é a diferença
entre o ciclo operacional e o prazo médio de pagamento.
A figura a seguir nos mostra essas atividades de fluxo de caixa.
EXEMPLO 18.1

Fonte: Ross et al. (2013).

75
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A administração financeira de curto prazo é importante e necessária para suprir


essa defasagem entre os fluxos de entrada e de saída de caixa. Para aprendermos a
calcular esse ciclo vejamos o exemplo abaixo.

Para começar, precisamos determinar diversas coisas, tais como os prazos


médios para vender o estoque e para receber o caixa das vendas. Começamos
reunindo algumas informações do balanço patrimonial, tais como as seguintes (em
milhares):

Agora precisamos calcular alguns indicadores financeiros. Antes de mais


nada, precisamos do prazo médio de estocagem. Gastamos $8,2 milhões em
estoque (nosso custo das mercadorias vendidas). Nosso estoque médio foi de $2,5
milhões. Assim:

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎𝑠 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎𝑠 8,2 𝑚𝑖𝑙ℎõ𝑒𝑠


𝐺𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 = = = 3,28 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠
𝑀é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 2,5 𝑚𝑖𝑙ℎõ𝑒𝑠

De modo geral, isso nos mostra que compramos e vendemos nosso estoque
3,28 vezes durante o ano. Isso significa que, em média, mantemos nosso estoque
durante:

365
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚 = = 111,3 𝑑𝑖𝑎𝑠
𝑔𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒

76
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Assim, o prazo médio de estocagem é de cerca de 111 dias. Em outras


palavras, o estoque ficou parado, em média, aproximadamente 111 dias antes de
ser vendido.
Da mesma maneira, as contas a receber atingiram uma média de $1,8
milhão, e as vendas foram de $11,5 milhões. Supondo que todas as vendas foram
a prazo, o giro de contas a receber é:

𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜 11,5 𝑚𝑖𝑙ℎõ𝑒𝑠


𝐺𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 = =
𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 1,8 𝑚𝑖𝑙ℎã𝑜
= 6,4 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠

Se girarmos nossas contas a receber 6,4 vezes, então o prazo médio de


recebimento é:

365
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = = 57 𝑑𝑖𝑎𝑠
𝑔𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟

Dessa forma, o ciclo operacional é a soma dos prazos médios de estocagem


e de recebimento:

𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 = 111 𝑑𝑖𝑎𝑠 + 57 𝑑𝑖𝑎𝑠 = 168 𝑑𝑖𝑎𝑠

Para calcular o ciclo financeiro precisamos saber o prazo médio de


pagamento:

𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎𝑠 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎𝑠 8,2 𝑚𝑖𝑙ℎõ𝑒𝑠


𝐺𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑟 = =
𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑟 0,875 𝑚𝑖𝑙ℎã𝑜
= 9,4 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠

E assim, o prazo médio de pagamento é:

365 𝑑𝑖𝑎𝑠
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = = 39 𝑑𝑖𝑎𝑠
𝑔𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑟

77
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Por fim, o ciclo financeiro é a diferença entre o ciclo operacional e o prazo


médio de pagamento:

𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 = 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 − 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 129 𝑑𝑖𝑎𝑠

Assim, em média, existe uma defasagem de 129 dias entre o momento em


que pagamos pelas mercadorias e o momento em que recebemos pelas vendas.
Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).

Quanto maior o ciclo financeiro da empresa, maior o financiamento necessário


para manter a sua operação (ROSS et al., 2013). Assim algumas estratégias para a
gestão do fluxo de caixa, que visam diminuir o ciclo financeiro são (GITMAN, 2007):
 Girar o estoque com a maior velocidade possível;
 Cobrar as contas a receber com a maior rapidez possível;
 Gerir tempos de correspondência, processamento e compensação, para
reduzi-los ao cobrar dos clientes e aumenta-los ao pagar aos
fornecedores;
 Efetuar o pagamento das contas a pagar com a maior lentidão possível.

Vamos analisar estratégias de administração de alguns desses itens.

78
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1.2 Administração de estoque


As técnicas de administração de estoque mais utilizadas, que visam o seu giro
o mais rápido possível, são: Sistema ABC, modelo de lote econômico, sistema just-in-
time e sistema de planejamento de necessidades de materiais (GITMAN, 2007).
O sistema ABC divide o estoque em grupos de maior investimento e menor
quantidade até grupos de menor investimento e maior quantidade. Os elementos do
grupo de menor investimento são monitorados com técnicas simples recolocação de
estoque. Os outros grupos exigem técnicas de controle mais elaboradas (GITMAN,
2007).
O modelo de lote econômico considera os custos associados, como custos
de pedido (ex.: processar papelada) e custos de carregamento (ex.: armazenagem),
a estoques para determinar o tamanho de pedido que minimiza o total desses custos
(GITMAN, 2007).
O sistema just-in-time busca minimizar o investimento em estoques
planejando a chegada dos materiais na empresa no momento em que eles devem ser
usados para a produção, evitando alguns custos de carregamento. Esse sistema é
arriscado pois pode parar a produção caso haja algum problema na entrega da
mercadoria (GITMAN, 2007).
Por fim, o sistema de planejamento de necessidades de materiais utiliza um
controle computacional para determinar todos os materiais necessários para a
produção e planejar quando eles devem ser encomendados, reduzindo o investimento
em estoque, sem prejudicar a produção (GITMAN, 2007).

79
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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1.3 Administração de contas a receber


Para diminuir o prazo médio de recebimento, a administração de contas a
receber tem o objetivo de receber as contas com a maior rapidez possível, sem perder
vendas com técnicas de cobrança muito agressivas. Para isso, são realizadas três
atividades básicas: seleção e padrões de crédito, condições de crédito e
monitoramento de créditos. (GITMAN, 2007).
A seleção e padrões de crédito envolve a avaliação dos requisitos mínimos
para que a empresa forneça crédito para o cliente e envolve o caráter, a capacidade
de pagamento, o capital do cliente, as garantias que ele possui e as condições da
transação (GITMAN, 2007).
As condições de crédito envolvem os prazos oferecidos e os descontos por
pagamento rápido. Por fim, o monitoramento de crédito é sobre o acompanhamento
dos pagamentos dos clientes e as ações para diminuir atrasos de pagamentos e
inadimplências (GITMAN, 2007).

80
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Decisões de
investimento de longo
prazo
A decisão que envolve os ativos imobilizados que devem ser comprados
chama-se orçamento de capital. Como o objetivo do administrador financeiro é
determinar o máximo de valor para os proprietários da empresa, deve-se compreender
quais os investimentos que contribuem com esse objetivo (ROSS et al., 2013).
O processo de orçamento de capital envolve decisões que determinarão as
operações da empresa nos próximos anos, sendo difíceis de reverter. Por isso, Ross
et al. (2013) consideram o orçamento de capital como uma das questões mais
importantes das finanças corporativas.
O gasto de capital “é o desembolso de fundos com o qual a empresa espera
obter benefícios em um período superior a um ano” (GITMAN, 2007, p.304), enquanto
o gasto operacional é um desembolso que gera benefícios antes de um ano. Os gastos
com ativos imobilizados são gastos de capital. Esses gastos são realizados para a
ampliação, a substituição ou a renovação de ativos imobilizados ou a obtenção de
outro benefício menos tangível a longo prazo. O quadro abaixo mostra os principais
motivos para a realização de gastos de capital. (GITMAN, 2007).

81
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

O processo de orçamento de capital é formado por cinco etapas, conforme


argumenta Gitman (2007):
 Geração de propostas: Vários departamentos realizam suas propostas
de orçamento, que posteriormente são revisadas e examinadas pela
administração financeira, especialmente as propostas que envolvem
maior valor financeiro;
 Revisão e análise: É realizada uma revisão detalhada e formal das
propostas financeiras, analisando sua viabilidade econômica. Essa
análise gera um relatório preparado para os responsáveis pelas tomadas
de decisão.
 Tomada de decisão: A decisão nas empresas normalmente é delegada
de acordo com um limite de valor envolvido. Caso esse valor seja
ultrapassado, a decisão envolve o conselho de administração ou os donos
da empresa, dependendo de sua formação.
 Implantação: É a etapa de realização dos gastos planejados;

82
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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 Acompanhamento: É o processo de monitoramento dos gastos e dos


resultados dos projetos, comparando com o que era esperado. Em casos
de projetos longos, pode ser necessário intervir caso os resultados e
gastos sejam muito diferentes do que era previsto.

2.1 Avaliação de alternativas de gasto


de capital
A avaliação de alternativas de gasto de capital é feita por meio da determinação
dos fluxos de caixa relevantes, que representam a saída de caixa (investimento) e as
entradas resultantes desse investimento. Assim, são avaliados somente os custos e
recebimentos que entraram em caixa e que são relacionados ao investimento inicial,
de forma que se possa compreender o que resultou de positivo ou negativo do
investimento inicial (GITMAN, 2007).

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).


Os fluxos de caixa de projetos financeiros, que podem ser de expansão,
substituição, renovação ou com outras finalidades, possuem três componentes
básicos: investimento inicial, entradas de caixa operacionais e fluxo de caixa terminal,

83
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

conforme exemplo acima. Esses elementos são as saídas e entradas associadas ao


investimento inicial (GITMAN, 2007). Vamos analisar esses três componentes.
O investimento inicial são as saídas de caixa na avaliação do gasto de capital,
ocorrendo na data zero, momento em que o gasto é realizado. O investimento inicial
representa a análise na data zero de todas as saídas e entradas, ou seja, consideram-
se o custo do ativo, bem como o custo de sua instalação (se houver), menos os
recebimentos da venda do antigo ativo após o imposto de renda, em caso de
substituição e a variação (se houver) do capital de giro líquido. A variação de capital
de giro líquido é a diferença entre os ativos circulantes e passivos circulantes da
empresa.
A determinação das entradas operacionais de caixa são as entradas
decorrentes do investimento inicial após o imposto de renda. Os benefícios devem ser
calculados após o imposto de renda pois os descontos decorrentes do mesmo não
serão benefícios para a empresa (Gitman, 2007). Os benefícios são medidos
comparando a compra e a não compra do ativo e analisando os resultados para os
próximos períodos, conforme figura abaixo.

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

Por fim, o fluxo de caixa terminal é o resultado do encerramento de um


projeto, representando o fluxo de caixa após o imposto de renda, excluindo as
entradas operacionais do último ano. Nem sempre os projetos apresentam fluxo de
caixa terminal.
Esses três elementos juntos representam o quanto melhor ou pior a empresa
ficará se decidir concretizar o projeto. Vamos analisar um exemplo.

84
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Os fluxos de caixa relevantes da proposta de substituição da Powell


Corporation podem ser representados graficamente em uma linha do tempo. Como
se supõe que o novo ativo será vendido no final de sua vida útil de cinco anos, a
entrada de caixa operacional incremental no ano 6 não tem relevância e o fluxo de
caixa terminal efetivamente toma o lugar desse dado na análise. Conforme mostra
a linha de tempo a seguir, os fluxos de caixa relevantes obedecem a um padrão
convencional de fluxos de caixa.

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

PARA SABER MAIS...


Faça uma busca de vídeos na internet – You Tube –
sobre ORÇAMENTO DE CAPITAL para compreender com
mais detalhes o processo de investimento inicial,
entradas operacionais de caixa e fluxo de caixa terminal.

85
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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Técnicas de análises de
investimento
Existem algumas técnicas disponíveis para a análise dos investimentos
propostos para o orçamento de capital. Após a estimativa dos fluxos de caixa
relevantes, utiliza-se uma dessas técnicas para avaliar o projeto e julgar se ele é
aceitável ou não. As três técnicas mais conhecidas para avaliação de investimentos
de capital são: período de payback, valor presente líquido e taxa interna de retorno
(GITMAN, 2007).
O período de payback é o tempo necessário que a empresa leva para
recuperar o investimento inicial em um projeto. Para análise dos períodos de payback
são determinados limites para a recuperação do investimento, se o período de
recuperação do projeto em questão for menor que o limite, o projeto é aceito, caso
contrário, o projeto é negado. A administração determina os limites subjetivamente
com base em fatores como o tipo de projeto, os riscos associados entre outros
(GITMAN, 2007).
Essa técnica é muito usada, especialmente em projetos pequenos, mas é vista
como pouco sofisticada para as análises de investimento, pois não considera o valor
do dinheiro no tempo (GITMAN, 2007).
O valor presente líquido (VLP) é considerada uma técnica sofisticada, pois
considera o valor do dinheiro no tempo. Essa técnica é calculada subtraindo-se um
investimento inicial de um projeto (FC0) do valor presente de suas entradas de caixa
(FCt), descontadas a uma taxa igual ao custo de capital da empresa (k), conforme
equação abaixo. (GITMAN, 2007).

𝑉𝐿𝑃 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 − 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙


𝑛
𝐹𝐶𝑡
𝑉𝐿𝑃 = ∑ − 𝐹𝐶0
(1 + 𝑘)𝑡
𝑡=1
𝑛

= ∑(𝐹𝐶𝑡 × 𝐹𝑉𝑃𝑘,𝑡 ) − 𝐹𝐶0


𝑡=1

86
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Assim, se o VLP é maior que 0 o projeto é aceito, caso contrário, o projeto é


negado. Isso porque o VLP maior que 0 significa que a empresa obterá retorno
superior a seu custo de capital, aumentando o seu valor de mercado. Esse valor pode
ser calculado por meio de calculadora financeira ou pelo Excel (GITMAN, 2007).
A taxa interna de retorno (TIR) é, também, uma técnica sofisticada de
orçamento de capital. Essa técnica “é uma taxa de desconto que iguala o VLP de uma
oportunidade de investimento a R$0, uma vez que o valor presente das entradas de
caixa se iguala ao investimento inicial” (GITMAN, 2007, p. 344). Essa taxa representa
o retorno anual que a empresa obteria caso o projeto saísse como o esperado,
conforme equações abaixo.

𝑛
𝐹𝐶𝑡
𝑅$ 0 = ∑ − 𝐹𝐶0
(1 + 𝑇𝐼𝑅)𝑡
𝑡=1
𝑛
𝐹𝐶𝑡
= ∑ = 𝐹𝐶0
(1 + 𝑇𝐼𝑅)𝑡
𝑡=1

Para analisar os valores da TIR considera-se o custo de capital, se a TIR for


maior, o projeto é aceito, caso contrário, é negado. Seu cálculo manual, no entanto, é
muito mais difícil do que o da VLP, embora essa seja a técnica mais usada nas
grandes empresas. Dessa forma, as calculadoras financeiras (função IRR) e planilhas
eletrônicas auxiliam nesse cálculo (GITMAN, 2007).
Comparando as duas técnicas mais sofisticadas, VLP e TIR, Gitman (2007)
argumenta que de um ponto de vista teórico VLP é a melhor técnica, principalmente
por considerar uma taxa de reinvestimento mais conservadora e realista. No entanto,
do ponto de vista prático, os administradores preferem o uso da TIR, por uma
preferência por taxas de retorno e não por retornos monetários. De qualquer maneira
essas duas técnicas fornecem base para os administradores financeiros das
empresas tomarem suas decisões em busca da maximização do valor da empresa
(GITMAN, 2007).

87
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

APRENDA AINDA MAIS!


Aprenda a calcular o VNP e o TIR na
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88
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 3


1. O que é capital de giro e qual a sua importância para as empresas?

2. Explique o que é o ciclo operacional e o ciclo financeiro, bem como as medidas


que são envolvidas nesses ciclos.

3. Considere as seguintes informações da demonstração financeira de uma


empresa e calcule os ciclos operacional e financeiro.
Item Inicial Final
Estoque R$ 1.320 R$
1.432
Contas a receber 3.930 3.326
Contas a pagar 1.835 2.022
Vendas líquidas R$
15.250
Custo das mercadorias 11.632
vendidas

4. O que são os gastos de capital e como eles podem ser utilizados?

5. Quais são os três elementos que devem ser avaliados numa proposta de gastos
de capital?

6. Explique para que servem as medidas VLP e TIR e qual a diferença entre elas.

7. Como é representado o caixa de uma empresa e de que forma o caixa pode ser
aumentado?

8. Explique a relação entre a lucratividade contábil da empresa e o seu ciclo


financeiro?

9. Explique o processo de orçamento de capital.

10. O que é o período de payback?

89
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

NESTA UNIDADE VOCÊ APRENDEU

O que é capital de giro e quais suas principais


características;
Como é realizada a administração do ativo circulante;
As principais decisões de investimento a longo prazo;
As principais técnicas de análise de investimento e uma
comparação entre elas.

SAIBA MAIS SOBRE A UNIDADE III, CONSULTE


 https://www.youtube.com/watch?v=X8X1Iaria4E
 DE SOUZA, Paula; LUNKES, Rogério João. Práticas de
orçamento de capital: um estudo em empresas
hoteleiras de Florianópolis (SC). Revista Universo
Contábil, v. 9, n. 1, 2013.
 ROGERS, Pablo; RIBEIRO, Karém Cristina Sousa;
ROGERS, Dany. Avaliando o risco na gestão financeira
de estoques. In: SIMPOSIO DE ADMINISTRAÇÃO DA
PRODUÇÃO, LOGÍSTICA E OPREAÇÕES
INTERNACIONAIS. 2004.
 MINARDI, Andrea Maria Accioly Fonseca; SAITO,
Richard. Orçamento de capital. RAE-Revista de
Administração de Empresas, v. 47, n. 3, p. 79-83, 2007.

90
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

UNIDADE 4
Administração do
passivo circulante e
estrutura de capital
PARA COMEÇAR NOSSOS ESTUDOS...

 O que é administração do passivo circulante e


como é realizada a sua administração?
 Quais são as decisões e financiamento de
longo prazo que o administrador financeiro
deve se preocupar?
 Quais as diferenças entre as fontes de
financiamento próprias e de terceiros?

91
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Introdução
De maneira parecida com os ativos circulantes e decisões de investimento de
longo prazo, a empresa enfrenta obrigações em relação ao seu passivo, tanto
circulante, quanto não circulante, isto é, de longo prazo. Essas decisões se relacionam
com a necessidade de financiamento por parte da empresa, para controlar o fluxo de
caixa (ROSS et al., 2013).
Nessa unidade analisaremos as questões que permeiam a administração de
financiamentos, tanto de curto prazo, que se refere à administração do passivo
circulante, quanto de longo prazo, que diz sobre a estrutura de capital.

Administração do
passivo circulante
A administração do passivo circulante refere-se às obrigações de curto prazo
da empresa, isto é, àquilo que a empresa precisa pagar, em dinheiro, num período de
até um ano. O passivo circulante é formado pelas contas a pagar aos fornecedores,
pelas despesas a pagar, que incluem salários, impostos e contribuições, e pelas
dívidas por empréstimos, financiamentos e por emissão de instrumentos financeiros
(ROSS et al., 2013).
Os passivos circulantes de contas a pagar e despesas a pagar são chamados
de passivos espontâneos, pois são gerados pelo andamento das operações da
empresa. Conforme há o crescimento das vendas, há a necessidade de mais compra
de material, aumentando as contas a pagar, ao mesmo tempo, aumenta-se a
necessidade de mão-de-obra, crescendo também as despesas a pagar. Assim, as
contas a pagar e as despesas a pagar são as principais fontes espontâneas de
financiamento de curto prazo da empresa (GITMAN, 2007).

92
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Dessa forma, a gestão do passivo circulante considera observar o passivo


circulante espontâneo ao longo dos próximos períodos e avaliar as necessidades de
financiamento de curto prazo com base em passivos circulantes que excedem os
ativos circulantes. Essa gestão tem o objetivo de manter a organização funcionando,
cumprindo com as suas obrigações financeiras (GITMAN, 2007; ROSS et al., 2013).
Tanto as contas a pagar, como as despesas a pagar, que são passivos
espontâneos, são entendidas como formas de financiamento de curto prazo sem
garantias, pois não há a vinculação de ativos específicos como garantias das dívidas.
Além disso, são financiamentos “livres de juros”, devendo a empresa tirar o máximo
de proveito possível dessas duas modalidades (GITMAN, 2007).

1.1 Gestão de contas a pagar


As contas a pagar são a principal fonte de financiamento de curto prazo sem
garantias, uma vez que são geradas principalmente por meio da compra de
mercadorias, em que são especificados prazos e formas de pagamento, que são
acordados entre as partes (GITMAN, 2007).
O prazo médio de pagamento, como visto no módulo anterior, representa o
tempo entre a compra e o efetivo pagamento da dívida. O prazo médio de pagamento
é composto por duas partes. A primeira parte está entre a compra e a emissão do
pagamento pela empresa. A segunda parte está entre a emissão do pagamento e o
momento em que o fornecedor dispõe do valor pago em seu caixa. Essa segunda
parte é chamada de float de pagamento (GITMAN, 2007).
A gestão das contas a pagar refere-se à gestão da primeira parte do prazo
médio de pagamento, o tempo entre a compra e a emissão do pagamento. Como
vimos, o objetivo para manter o fluxo de caixa é adiar ao máximo o pagamento das
contas, de forma que o dinheiro fique disponível no caixa o maior tempo possível,
utilizando ao máximo o empréstimo do fornecedor sem prejudicar as contas da
empresa (GITMAN, 2007).
Uma primeira análise que o administrador financeiro deve fazer é sobre os
prazos de créditos. Os prazos estabelecidos pelos fornecedores normalmente já

93
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

incluem o benefício de pagamento posterior. No entanto, existem fornecedores que


dão descontos para menores prazos de crédito, devendo o administrador financeiro
decidir qual a melhor opção.
O aproveitamento ou não do desconto será avaliado por meio do desconto e
prazo que será dado ao comprador. Para realizar essa análise o comprador utiliza o
custo de renúncia do desconto, que pode ser calculado de maneira aproximada pela
equação abaixo:

365
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥𝑖𝑚𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑛ú𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑎𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛𝑡𝑜 = 𝐷 ×
𝑁

Onde,
D = desconto em termos percentuais
N = número de dias pelos quais o pagamento pode ser adiado quando o
desconto não é aproveitado.

Vejamos um exemplo:

A Lawrence Industries, operadora de uma pequena rede de lojas de vídeo, comprou $


1.000 em mercadorias em 27 de fevereiro de um fornecedor que oferecia termos de
2/10 (2% em 10 dias após o início do mês) líquido 30 dias a contar do final do mês
(FDM). Se a empresa aproveitar o desconto financeiro, deverá pagar $ 980 [$ 1.000 –
(0,02 × $ 1.000)] em 10 de março, economizando $ 20.
No entanto, se ela renunciar ao desconto financeiro, poderá pagar em 30 de março.
Para ficar com seu dinheiro por mais 20 dias, a empresa deve abrir mão da oportunidade
de pagar $ 980 por sua compra no valor de $ 1.000.
Em outras palavras, adiar o pagamento por 20 dias custará $ 20. Para calcular o custo
de renúncia ao desconto financeiro, o preço real da compra deve ser encarado como o
custo da mercadoria com desconto, que é de $ 980 neste caso. O custo percentual
anual por rejeitar o desconto financeiro pode ser calculado por meio da equação de

94
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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aproximação. Usando essa aproximação, o custo de renúncia ao desconto financeiro


para a Lawrence Industries seria de 36,5% = [2% × (365 ÷ 20)].
A figura a seguir representa o cenário a ser analisado pela empresa.

Fonte: Adaptado de Gitman (2007).

Para avaliar qual a melhor opção diante de uma possibilidade de desconto, as


empresas precisam comparar as opções disponíveis, comparando os custos de
renúncia com taxas de empréstimos praticadas pelos bancos em que a empresa
poderia conseguir fundos. No caso de pequenas empresas, que às vezes possuem
dificuldades em conseguir fundos em instituições financeiras, uma solução seria
sempre aceitar o máximo de prazo, descartando os descontos, para manter o máximo
de caixa possível pelo máximo de tempo (GITMAN, 2007).

95
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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1.2 Despesas a pagar


As despesas a pagar são “passivos gerados pela utilização de serviços cujo
pagamento ainda não foi feito” (GITMAN, 2007, p.545), normalmente salários e
impostos. A manipulação dos impostos não pode ser realizada pela empresa. A
manipulação de salários somente pode ser feita em alguns casos, pois a maioria dos
contratos de trabalho são regidos por normas sindicais e leis federais e estaduais
(GITMAN, 2007).

1.3 Empréstimos de curto prazo


Os empréstimos de curto prazo podem ser realizados com ou sem garantias.
As formas de empréstimo sem garantias mais comuns são por empréstimos
bancários e pela emissão de notas promissórias comerciais (GITMAN, 2007;
ROSS et al., 2013).

1.3.1 Empréstimos bancários


É o modo mais fácil de financiar a falta temporária de caixa. Os bancos
possuem linhas de crédito não garantidas, isto é, que deverá passar por uma
avaliação prévia do banco. Os empréstimos bancários podem ser feitos por meio de
notas promissórias, em que é previsto um único pagamento, linhas de crédito ou
acordos de crédito rotativo. (GITMAN, 2007).
Um empréstimo com a emissão de uma nota promissória para pagamento
único é um acordo entre um banco ou outra instituição financeira que estabelece a
taxa de juros e o prazo para pagamento único, sendo normalmente prazos curtos (até
1 ano) (GITMAN, 2007).
Uma linha de crédito é um acordo que especifica o volume disponível de
crédito para uma empresa em um período. Os bancos estabelecem as condições para

96
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

as linhas de crédito de acordo com uma classificação de risco da empresa. Dessa


forma, não é um empréstimo garantido, mas há a possibilidade desse valor estar
disponível para a empresa, que pode passar por uma avaliação do banco (GITMAN,
2007).
Um acordo de crédito rotativo é uma linha de crédito garantida. A diferença
para a linha de crédito, é que o valor estabelecido pelo banco estará sempre disponível
para a empresa, sem necessitar passar por uma avaliação posterior. Em troca dessa
garantia de fundos, há normalmente a cobrança de uma comissão de compromisso
(GITMAN, 2007).

1.3.2 Notas promissórias comerciais


É uma fonte de financiamento não garantido de curto prazo. Essa ação
normalmente é utilizada por empresas grandes e de baixo risco de crédito. Vender
notas promissórias comerciais pode ser mais vantajoso para essas empresas do que
obter fundos em bancos comerciais devido à sua taxa de juros, que é mais baixa
(GITMAN, 2007).
As formas de empréstimo com garantia devem ser utilizadas quando a empresa
não tem mais opções de empréstimo sem garantia. Para isso, são oferecidos alguns
ativos específicos como garantia de dívidas, como contas a receber ou estoque.
Nesse caso é realizado um acordo de garantia entre credor e o devedor, especificando
a garantia e as condições do empréstimo. As principais fontes de empréstimos de
curto prazo com garantias são bancos comerciais e financiadoras. (GITMAN, 2007).

97
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

1.3.3 Contas a receber


Existem duas formas de utilizar as contas a receber como garantias de
empréstimos, por meio de descontos de contas a receber e o factoring de contas
a receber.
 Desconto de contas a receber é realizado por meio de uma análise da
empresa credora das contas a receber disponíveis para a solicitando do
empréstimo. O pagador das contas (terceiro) não é notificado dessa
operação. Com base nas contas a receber disponíveis é estabelecida
uma porcentagem a ser adiantada contra a garantia, que representa o
principal do empréstimo e costuma variar entre 50 e 90%. (GITMAN,
2007).
 Factoring é uma operação que envolve a venda das contas a receber a
uma instituição financeira. Isso não é necessariamente o mesmo que
obter um empréstimo de curto prazo, mas é um processo semelhante.
Dessa forma, as empresas de factoring dão suporte para pequenas e
médias empresas. Para isso, é realizado um acordo de factoring, que
determina as condições da venda. Essa operação normalmente é
comunicada ao pagador (terceiro) e o não pagamento é de
responsabilidade da instituição financeira (GITMAN, 2007; ROSS et al.,
2013).

98
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Para entender melhor


Entenda o processo de factoring assistindo o vídeo sugerido:
https://www.youtube.com/watch?v=rYgO9jiz524

 Estoque: Os estoques podem ser usados como garantias em


empréstimos porque possuem um valor de mercado, de forma que o
credor do empréstimo pode, se necessário, vender o estoque para
liquidar o empréstimo. Dessa forma, o que o credor avalia para o
empréstimo é a facilidade de venda do estoque. Existem três formas
básicas para esse acordo, conforme Ross et al. (2013).
 Penhor de estoques: A garantia é dada pela penhora de
estoques do mutuário para o financiador. Em caso de
inadimplência, o credor tem o direito de solicitar uma mercadoria
em estoque para saldar a obrigação;
 Alienação fiduciária: A diferença para o penhor é que a
propriedade dos estoques é do credor e não do devedor. Dessa

99
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

forma, em caso de inadimplência, o credor pode buscar a


mercadoria para saldar a obrigação. (Ex.: financiamento de
automóveis);
 Financiamento com garantia de estoques em armazém
depositário: uma empresa especializada em gestão de estoques
age como um agente de controle, assumindo o controle sobre o
estoque. O armazenador é o “fiel depositário”, podendo emitir
título passível de ser negociado.

100
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Decisões de
financiamento de longo
prazo
Um conceito importante para avaliar as decisões de longo prazo é o custo de
capital, sendo definido como “a taxa de retorno que uma empresa deve conseguir nos
projetos em que investe para manter o valor de mercado da sua ação” (GITMAN, 2007,
p.402). Dessa forma, representa o principal índice na avaliação de uma decisão de
financiamento de longo prazo. O custo de capital é formado pelo custo da dívida
(capital de terceiros) e o custo do capital próprio, conforme veremos a seguir. (ROSS
et al., 2013).

2.1 Custo do capital próprio


Existem duas formas de determinar o custo do capital próprio: a abordagem
do modelo de crescimento de dividendos e a abordagem da linha de mercado
de títulos (LMT) (ROSS et al., 2013).

101
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

2.1.1 Abordagem do modelo de crescimento de dividendos

Essa abordagem considera que os dividendos da empresa crescerão a uma


taxa (g) constante, assim o custo de capital próprio é:

𝐷1
𝑘𝑠 = +𝑔
𝑃0

Onde, ks é o custo de capital próprio, D1 são os dividendos projetados para o


próximo período e o P0 representa o preço por ação.
A estimativa de g, isto é, a taxa de crescimento, pode ser realizada utilizando-
se o histórico das taxas de crescimento ou usando previsões de analistas. Vamos a
um exemplo da taxa sendo determinada pelo histórico de crescimento.

Suponha que observemos as seguintes informações de uma empresa:

Podemos calcular a variação percentual anual dos dividendos da seguinte


maneira:

Observe que calculamos a variação dos dividendos anualmente e, em


seguida, expressamos a variação percentual. Assim, em 2006, os dividendos

102
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

subiram de $1,10 para $1,20, um aumento de $0,10. Isso representa um aumento


de $0,10/$1,10 = 9,09%.
Se calcularmos a média das quatro taxas de crescimento, o resultado é (9,09
+ 12,50 + 3,70 + 10,71)/4 = 9%, de modo que poderíamos usá-la como estimativa
para a taxa de crescimento esperada (g).
Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).

Assim, um exemplo da aplicação da equação do custo de capital próprio é o


seguinte:
Para ilustrar como estimamos o custo de capital próprio, suponha que a
Distribuidora Maior, uma empresa de serviços de distribuição de energia, tenha
pagado dividendos de $4 por ação no ano passado. Cada ação da empresa está
custando $60. Você estima que os dividendos aumentarão constantemente a uma
taxa de 6% ao ano indefinidamente. Qual é o custo do capital próprio da
Distribuidora Maior?
Por meio do modelo de crescimento de dividendos, podemos calcular que os
dividendos esperados para o ano atual (D1) são:
D1 = D0 X (1 + g)
= $4 X 1,06
= $4,24
Com isso, o custo do capital próprio é:
= D1/P0 + g
= $4,24/60 + 0,06
= 13,07%
Portanto, o custo do capital próprio é 13,07%.
Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).
Embora essa abordagem seja simples, ela possui desvantagens, como a
sensibilidade à taxa de crescimento determinada, a desconsideração do risco e a
inutilidade para empresas que não pagam dividendos (ROSS et al., 2013).

103
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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2.1.2 Abordagem da linha de mercado de títulos (LMT)

Essa abordagem considera a taxa sem risco (Rf), o prêmio pelo risco de
mercado (Rm – Rf) e o risco sistemático do ativo em relação à média, que chamamos
de coeficiente beta (β) (ROSS et al., 2013). Assim:

𝑘𝑆 = 𝑅𝑓 + 𝛽 × (𝑅𝑀 − 𝑅𝑓 )

Para usar a abordagem da LMT, precisamos de uma taxa sem risco (Rf), de uma
estimativa do prêmio pelo risco de mercado (Rm _ Rf) e de uma estimativa do beta
relevante (β). Uma estimativa do prêmio pelo risco de mercado (com base em ações
ordinárias de grandes empresas) é de 7%. Digamos que as letras do Tesouro
paguem cerca de 1,83%, e, portanto, usaremos essa como nossa taxa sem risco.
Suponhamos, também, que uma empresa tenha um beta estimado de 2,13. Assim,
poderíamos estimar o custo do capital próprio:
𝑘𝑆 = 𝑅𝑓 + 𝛽 × (𝑅𝑀 − 𝑅𝑓 )
= 1,83% + 2,13 x 7%
=16,74%
Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).

Essa abordagem tem vantagens de se aplicar a empresas que não possuem


dividendos e se ajustar ao risco. No entanto, apresenta desvantagens principalmente
por resultar de estimativas que, se forem mal calculadas, podem interferir nos
resultados (ROSS et al., 2013).

104
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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2.2 Custo do capital de terceiros


O custo de capital de terceiros pode ser calculado antes ou após o imposto de
renda. O custo específico de financiamento deve ser medido depois do imposto de
renda. Sendo assim, o custo de capital de terceiros depois do imposto de renda (ki) é
encontrado pela seguinte equação:

𝑘𝑖 = 𝑘𝑑 × (1 − 𝑇)

Onde, kd é o custo antes do imposto de renda e T a alíquota do imposto de


renda.

Assim, com o custo do capital próprio e de terceiros calcula-se o custo médio


ponderado de capital (CMPC), que reflete o custo médio futuro de fundos esperados
no longo prazo e é obtido pela multiplicação do custo de cada tipo específico de capital
por sua proporção na estrutura de capital. Esse conceito representa a taxa de retorno
exigida na empresa em geral (ROSS et al., 2013).

Estrutura de capital
As decisões sobre a estrutura de capital têm impacto significante no valor da
empresa e no seu custo de capital. A estrutura de capital diz respeito a como a
empresa deve escolher seu índice de capital/dívida. Uma relação clara é que o valor
da empresa é maximizado quando o valor do CMCP é minimizado. Assim, o objetivo
é escolher a estrutura de capital que minimize o CMCP (ROSS et al., 2013).
A estrutura de capital é formada pelo capital próprio mais o capital emprestado
de terceiros, conforme figura abaixo. Um conceito que interfere nessa relação é a
alavancagem financeira. A alavancagem financeira é a o quanto a empresa se apoia
nas dívidas, quanto maior o financiamento por meio de dívidas, maior a alavancagem
financeira da empresa (ROSS et al., 2013).

105
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Fonte: Adaptada de Gitman (2007).

De acordo com pesquisadores há uma estrutura ótima de capital (GITMAN,


2007). Modigliani e Miller (conhecidos como M&M) criaram um modelo argumentando
que a estrutura de capital de uma empresa não altera o seu valor. Assim, uma
estrutura ótima de capital está no equilíbrio entre os benefícios e custos do
financiamento com capital de terceiros (GITMAN, 2007).
O financiamento com capital de terceiros possui principalmente benefício fiscal,
que permite que as empresas deduzam de pagamentos juros de dívidas ao calcular o
lucro tributável, reduzindo o volume de impostos pagos sobre os lucros. Por outro lado,
os custos dessa operação são associados à probabilidade de falência, ao risco
econômico e financeiro associados, à agência e à posse de informação (GITMAN,
2007).
Uma estrutura ótima de capital, então, em teoria, é determinada pela seguinte
equação:

𝐿𝑎𝑗𝑖 × (1 − 𝑇)
𝑉=
𝑘𝑎

Onde, Laji é o lucro antes de juros e imposto de renda, T é a alíquota do imposto


de renda, ka é o custo médio ponderado de capital.

106
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Assim, a estrutura ótima pode ser representada pela figura abaixo. Na figura,
podemos perceber que o ponto M representa o custo médio ponderado mínimo de
capital, sendo a estrutura ótima de capital.

Na prática, não há como calcular esse nível ótimo, por isso as empresas
calculam uma faixa perto do que seria uma estrutura ótima de capital. A seguir, são
apresentados alguns fatores que devem ser considerados na tomada de decisão
sobre a estrutura de capital, a fim de maximizar o valor da empresa e minimizar o
custo de capital (GITMAN, 2007).

107
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

PREOCUPAÇÃO FATOR DESCRIÇÃO


Empresas com receitas estáveis e previsíveis podem adotar
com maior segurança estruturas de capital altamente
alavancadas do que outras cujos padrões de receita de
Estabilidade
vendas sejam mais voláteis. Empresas com vendas
da receita crescentes tendem a beneficiar-se do acréscimo de dívida,
colhendo os benefícios da alavancagem financeira, que
Risco amplifica o efeito desse crescimento.
econômico
Ao considerar uma nova estrutura de capital, a empresa
deve concentrar-se em sua capacidade de gerar os fluxos
Fluxo de de caixa necessários para atender a suas obrigações.
caixa Qualquer alteração da estrutura de capital deve encontrar
respaldo em projeções de caixa que reflitam a capacidade
de serviço da dívida (e das ações preferenciais).
A empresa pode estar contratualmente limitada quanto aos
tipos de fundos que é capaz de levantar. Por exemplo, ela
pode estar proibida de emitir mais dívida, a menos que os
Obrigações
direitos dos titulares dessa dívida sejam subordinados aos
contratuais dos titulares existentes. Também pode haver restrições
contratuais à venda de novas ações e à capacidade de
distribuição de dividendos.
Em alguns casos, a empresa impõe uma restrição interna ao
Preferências uso de dívida para limitar sua exposição ao risco a um nível
da tido como aceitável pela administração. Em outras palavras,
administraçã por causa da aversão ao risco, a administração da empresa
Custos de
o restringe sua estrutura de capital a limites que podem ou não
agência representar o ótimo verdadeiro.
Uma equipe de administradores que esteja preocupada com
o controle pode preferir emitir dívida em vez de ações
ordinárias (votantes). Sob condições favoráveis de mercado,
uma empresa que queira vender ações pode fazer uma
oferta preventiva ou emitir ações sem direto a voto,
Controle permitindo que cada acionista mantenha sua participação
proporcional. De modo geral, é só em empresas de capital
fechado ou ameaçadas por aquisição hostil que o controle
torna-se uma preocupação significativa nas decisões quanto
à estrutura de capital.
A capacidade da empresa para levantar fundos rapidamente
e a taxas favoráveis depende das avaliações externas
Avaliação realizadas pelos credores e pelos responsáveis pela divisão
de obrigações. Deve-se considerar o impacto das decisões
externa do de estrutura de capital tanto sobre o valor da ação quanto
risco sobre as demonstrações financeiras obrigatórias com base
nas quais credores e agências de rating avaliam o risco da
Informação empresa.
assimétrica Às vezes, quando as taxas de juros estão baixas, o
financiamento com capital de terceiros pode ser mais
atraente, quanto elevadas, a venda de ações pode ser mais
interessante. Às vezes é impossível obter dívida, ou capital
Oportunidade próprio, sob condições aceitáveis. As condições econômicas
gerais – especialmente as do mercado de capitais – podem,
portanto, afetar de forma significativa as decisões de
estrutura de capital.
Fonte: Gitman (2007).

108
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

Fontes de
financiamentos: capital
próprio e de terceiros
Como visto anteriormente, as empresas em algum momento precisam obter
capital para equilibrar o seu fluxo de caixa. As principais formas de obter capital são
vender participações na empresa, isto é, financiando o capital próprio, ou tomar
dinheiro emprestado de terceiros, ou seja, financiar-se por meio de dívidas (ROSS et
al., 2013).
A venda de valores mobiliários ao público segue uma série de
procedimentos que são regulamentados pela comissão de valore mobiliários (CVM).
Valor mobiliário é usado para dar referência a títulos de dívida, ações, certificados,
letras, notas e quaisquer outros ativos mobiliários negociáveis. Como vimos
anteriormente, essa oferta de ativos imobiliários pode ser feita por uma oferta pública,
que tem mais exigências de registro de informação, ou por uma oferta privada, quando
a venda é realizada para investidores específicos. Para os casos em que a oferta for
pública, as instituições intermediárias têm o papel de mediar as relações entre as
empresas fornecedoras de ativos e os compradores (ROSS et al., 2013).
No Brasil, para abrir o capital de uma empresa, ela deve entrar com o pedido
de registro de companhia aberta na CVM, conforme figura abaixo. Por ser a primeira
oferta da empresa, é chamada de oferta pública inicial. Ao mesmo tempo, a empresa
pode solicitar sua listagem na BM&FBOVESPA.

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Graduação em Administração

Fonte: Adaptado de Ross et al. (2013).

Além do segmento tradicional, a BM&FBOVESPA oferece outros segmentos


especiais de listagem, cada um com exigências específicas.
Para a divulgações das ações o intermediário financeiro define junto com a
empresa as características da emissão, como o volume de recursos a serem
captados, a definição da faixa de preço de oferta da ação, entre outras informações.
Após isso, as empresas podem anunciar as ofertas em periódicos (ROSS et al., 2013).
Para o financiamento direto por dívida privada de longo prazo, ou o uso de
recursos de terceiros, existe principalmente os empréstimos a longo prazo (ROSS at
al., 2013).
Os empréstimos diretos a longo prazo são realizados junto a bancos e outras
instituições financeiras e normalmente possuem vencimento entre um e cinco anos.
No Brasil, o BNDES é a principal fonte de empréstimos a longo prazo para as
empresas. O BNDES possui diversas linhas de financiamento destinadas a diferentes
perfis de empresas. Ross et al. (2013) identificam algumas linhas do BNDES ativas
em 2012:
 BNDES Finem: financiamentos a projetos de investimento de valor
superior a R$ 10 milhões.
 BNDES Automático: financiamento a projeto de investimento de valor
até R$ 20 milhões caso o cliente seja micro, pequena, média ou média

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

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grande empresa, ou até R$ 10 milhões, se o cliente for uma grande


empresa.
 BNDES Finame: financiamentos para a produção e aquisição de
máquinas e equipamentos novos.
 BNDES Finame Agrícola: financiamentos para a produção e aquisição
de máquinas e equipamentos novos destinados ao setor agropecuário.
 BNDES Finame Leasing: financiamento de aquisição isolada de
máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, destinados a
operações de arrendamento mercantil.
 BNDES Exim: financiamentos destinados tanto à produção e
exportação de bens e serviços quanto à comercialização destes no
exterior.
 BNDES Limite de Crédito: crédito rotativo para o apoio a empresas ou
grupos econômicos já clientes do BNDES e com baixo risco de crédito.
 BNDES Empréstimo-Ponte: financiamento a um projeto, concedido em
casos específicos, para agilizar a realização de investimentos por meio
da concessão de recursos no período de estruturação da operação de
longo prazo.
 BNDES Project Finance: engenharia financeira suportada
contratualmente pelo fluxo de caixa de um projeto, servindo como
garantia os ativos e recebíveis desse mesmo empreendimento.
 BNDES Fianças e Avais: prestação de fianças e avais com o objetivo
de diminuir o nível de participação nos projetos. Utilizado,
preferencialmente, quando a combinação de formas alternativas de
funding permitir a viabilização de operações de grande porte.
 Cartão BNDES: crédito rotativo pré-aprovado, destinado a micro,
pequenas e médias empresas e usado para a aquisição de bens e
insumos.
Existem algumas diferenças entre usar ativos próprios ou de terceiros para o
levantamento de fundos. Por exemplo, o empréstimo direto evita os custos de registro
na CVM, a colocação direta pode proteger melhor os credores, a renegociação de
empréstimos a prazo em caso de inadimplência é mais fácil, entre outras (ROSS et
al., 2013).

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EXERCÍCOS DE FIXAÇÃO UNIDADE 4

1. O que são os passivos circulantes e o que é passivos espontâneo?

2. Calcule o custo aproximado de renúncia a um desconto para uma empresa e


avalie se ela deve pagar antecipado com desconto ou pagar no último prazo,
considerando que a taxa de empréstimo do seu banco é de 8%. A compra foi
realizada em 27 de março com o valor de R$ 2.000. O fornecedor ofereceu
prazos à base 3/10, 30 dias líquidos a contar do final do mês.

3. Compare as seguintes propostas que uma empresa obteve para a compra de


uma mercadoria e avalie em cada uma delas qual a forma de pagamento que
a empresa deve realizar, considerando que o seu banco opera com uma taxa
de 13%.

Fornecedor Prazos de crédito Custo aproximado da


renúncia ao desconto
A 2/10, 30 dias líquidos, fim do 32%
mês
B 1/10, 55 dias líquidos, fim do 7%
mês
C 4/10, 60 dias líquidos, fim do 21%
mês

4. Quais são as principais formas de empréstimos de curto prazo?

5. Calcule a taxa de crescimento de uma empresa com os seguintes dividendos


nos últimos 5 anos:

Ano Dividendos
2013 R$1,10
2014 1,15
2015 1,30
2016 1,45
2017 1,50

6. O que a estrutura ótima de capital considera com relação a benefícios e custos?

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7. O que significa custo da renúncia ao desconto e para que esse custo é usado?

8. O que é alavancagem financeira e qual a sua relação com o valor da empresa?


9. Explique a diferença entre financiamento de capital próprio e de terceiros e
quais as formas de realização.

10. O que é o CMCP e qual a sua importância para a administração financeira?

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NESTA UNIDADE VOCÊ APRENDEU

 Administração do passivo circulante;


 Decisões e financiamento de longo prazo que o administrador
financeiro deve se preocupar;
 A importância do custo do capital para a estrutura do capital e
o valor da empresa;
 As fontes de financiamento próprio e de terceiros;
 As diferenças entre as fontes de financiamento próprias e de
terceiros.

SAIBA MAIS SOBRE A UNIDADE IV CONSULTE

 https://www.youtube.com/watch?v=MkXUXvpEtf0

 COLAUTO, Romualdo Douglas; BEUREN, Ilse Maria. Um estudo


sobre a influência de accruals na correlação entre o lucro
contábil e a variação do capital circulante líquido de empresas.
Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 95-116,
2006.
 SILVA BRITO, Giovani Antonio; CORRAR, Luiz J.; BATISTELLA,
Flávio Donizete. Fatores determinantes da estrutura de capital
das maiores empresas que atuam no Brasil. Revista
Contabilidade & Financas-USP, v. 18, n. 43, 2007.
 KAYO, Eduardo Kazuo. A estrutura de capital e o risco das
empresas tangível e intangível-intensivas: uma contribuição ao
estudo da valoração de empresas. 2002. Tese de Doutorado.
Universidade de São Paulo.

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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Graduação em Administração

BIBLIOGRAFIA
REFERÊNCIAS BÁSICAS
ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2012.

GITMAN, J. Lawrence. Princípios de Administração Financeira. 10. ed. São Paulo:


Pearson, 2007. 745 p.

BRUNI, Adriano L. Avaliação de Investimento. São Paulo: Atlas, 2008. 519 p.

ROSS, Stephen A. et al. Fundamentos de administração financeira. AMGH Editora,


2013.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
ANTONIK, Luis Roberto. A administração financeira das pequenas e médias
empresas. Revista FAE Business, n. 8, p. 35-38, 2004.
ASSAF NETO, Alexandre. A dinâmica das decisões financeiras. Caderno de
estudos, n. 16, p. 01-17, 1997.

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

COLAUTO, Romualdo Douglas; BEUREN, Ilse Maria. Um estudo sobre a influência


de accruals na correlação entre o lucro contábil e a variação do capital circulante
líquido de empresas. Revista de Administração Contemporânea, v. 10, n. 2, p. 95-
116, 2006.

FORTUNA, E. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 19ª Ed. Rio de Janeiro:


Qualitymark Editora, 2013.

HALFELD, Mauro; TORRES, Fábio de Freitas Leitão. Finanças comportamentais: a


aplicações no contexto brasileiro. Revista de administração de empresas, v. 41, n.
2, p. 64-71, 2001.

KAYO, Eduardo Kazuo. A estrutura de capital e o risco das empresas tangível e


intangível-intensivas: uma contribuição ao estudo da valoração de empresas.
2002. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

KARKOTLI, Gilson. Administração financeira. Curitiba: Camões, 2008.

LINS, Clarissa; WAJNBERG, Daniel. Sustentabilidade corporativa no setor financeiro


brasileiro. CEP, v. 22610, p. 180, 2007.

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Graduação em Administração

MATARAZZO, Dante C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e


gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

NETO, Francisco Ferraes. A relação da logística com a administração financeira e


seus impactos nos índices financeiros de uma organização. Revista da FAE, v. 5, n.
3, 2017.
OLIVEIRA , V. et al. Mercado Financeiro: uma abordagem prática dos principais
produtos e serviços. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

ROSS, Stephen A. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas,


2007.

ROSS, Stephen A. et al. Administração financeira. AMGH Editora, 2015.

SELAN, Beatriz. Mercado Financeiro. Rio de Janeiro: Estácio, 2015.

SILVA BRITO, Giovani Antonio; CORRAR, Luiz J.; BATISTELLA, Flávio Donizete.
Fatores determinantes da estrutura de capital das maiores empresas que atuam no
Brasil. Revista Contabilidade & Financas-USP, v. 18, n. 43, 2007.

TELÓ, Admir Roque et al. Desempenho organizacional: planejamento financeiro


em empresas familiares. 2000.

116

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