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O ACIONISTA E A SOCIEDADE ANÔNIMA

Maurício Castilho Machado


2o ano do curso de Direito da Unesp
(Campus de Franca-SP)

SUMÁRIO: 1. Obrigações e deveres do acionista – 2. Conceito e formação do


capital social – 3. Tutela do capital social – 4. Administração da sociedade –
5. Conclusão – Bibliografia – Notas.

1. Obrigações e deveres do acionista

Nas sociedades por ações, mais especificamente nas sociedades


anônimas, os sócios são chamados de acionistas, pois nesse tipo de sociedade, o
capital se divide em ações obrigando cada sócio ou acionista somente pelo preço
de emissão das ações que subscrever ou adquirir (art. 1.088 Código Civil). São
essencialmente dois os tipos de acionista: o minoritário e o controlador.

Na sociedade anônima, o acionista tem para com ela obrigações e direitos.


Tem a obrigação de realizar o capital e também a responsabilidade dos
alienantes, solidárias com a dos adquirentes, pelo pagamento das prestações que
faltarem para integralizar o capital, ainda quando negociada as ações (art. 108 da
Lei das Sociedades Anônimas). O acionista tem como direito a participação nos
lucros sociais, de participar do acervo da companhia, em caso de liquidação, de
fiscalizar, na forma prevista nesta lei, a gestão dos negócios sociais, de
preferência de subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações,
debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto
nos artigos 171 e 172, retirar-se da sociedade nos casos previstos em lei (Lei
6.404 - Lei das Sociedades Anônimas), como é o caso de mudança do objeto da
companhia (LSA, artigos 136 e 137).1

O Direito de voto, não é direito essencial, pois existem ações que não
conferem esse direito ao seus titulares. A lei trata da disciplina do exercício do
voto, e coíbe o voto abusivo e o conflitante. É considerado voto abusivo aquele em
que o acionista visa causar dano à companhia ou a outro acionista, ou para tentar
conseguir, para si ou para outrem, vantagem indevida e da qual resulte ou possa
resultar prejuízo para a sociedade ou para outro acionista. O acionista responde
civilmente pelos danos causados pelo voto abusivo.

O acionista minoritário tem as garantias e direitos acima arrolados e


também o de reembolso no recesso, em caso em que o valor do reembolso não
deve ser abaixo do valor de patrimônio líquido das ações, tudo em consonância
com o último balanço aprovado (LSA, artigo 45). Pode também convocar a
assembléia-geral, desde que representem no mínimo 5% do capital com direito a
voto, na inércia dos administradores (LSA, artigo 123, parágrafo único, c). A Lei
6.404 teve como uma de suas diretrizes a proteção ao acionista minoritário.

A figura do acionista controlador surgiu com a Lei 6.404. O acionista (ou


grupo de acionistas vinculados por acordo de voto) titular de direitos de sócio que
lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos na assembléia geral e o
poder de eleger a maioria dos administradores e usa, efetivamente, desse poder
para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da
companhia, é considerado, pelo artigo 116 da LSA, acionista controlador.

O acionista controlador pode ser responsabilizado pelos danos que causar


por abuso de poder (LSA, artigo 117), quando houver: o desvio da finalidade da
companhia, a liquidação de sociedade próspera, a eleição de administrador ou
fiscal sabidamente inapto, moral ou tecnicamente, etc. O acionista controlador tem
responsabilidade também nos casos de dolo ou culpa, por dívidas previdenciárias
da companhia, ou se a sociedade anônima é instituição financeira, na hipótese de
decretação, pelo Banco Central, do regime de administração especial temporária,
liquidação extrajudicial ou intervenção.

Como já visto, o acionista controlador é aquele que de fato controla, dirige e


administra a sociedade pelo uso efetivo de seu poder de controle da vontade
social, tornando realmente um administrador de fato da sociedade, e portanto, não
tem sua responsabilidade limitada como a do acionista minoritário.
2. Conceito e formação do capital social

O capital social das sociedades anônimas é fracionado em unidades


representadas por ações. Devido a isso, seus sócios são denominados acionistas,
e eles respondem pelas obrigações sociais até o limite que falta para a
integralização das ações de que sejam titulares (assunto já tratado acima).
Segundo o legislador: o acionista responde pelo preço de emissão das ações que
subscrever ou adquirir (LSA, art 1o). É necessário observar que o preço de
emissão das ações não se confunde com o valor nominal ou de negociação.

A ação em uma sociedade anônima tem diferentes valores de acordo com o


objetivo da avaliação. A ação tem valor nominal quando é dividido o valor do
capital social pelo número de ações. A ação tem valor patrimonial quando é
dividido o patrimônio líquido pelo número de ações em que se divide o capital
social, é esse o valor devido ao acionista em caso de liquidação da sociedade ou
amortização da ação. A ação também pode ter seu valor de negociação, que é o
preço que seu titular consegue no momento de sua alienação. Seu valor
econômico é o valor calculado por avaliadores de ativos, através de técnicas
específicas. Por fim temos o preço de emissão, que nada mais é, que o preço
pago pela ação por quem a subscreve.

O valor nominal pode estar expresso ou não no estatuto da sociedade.


Enquanto o valor patrimonial se pode conhecer através das demonstrações
contábeis que a sociedade anônima é obrigada a levantar ao término do exercício
social. A lei estabelece mecanismos para a atualização desses instrumentos,
quando eles se encontram defasados no tempo (LSA, artigo 45, §§1o a 4o), assim
o valor patrimonial da ação passa corresponder à parcela do patrimônio líquido
atualizado da sociedade cabível a cada ação.

O preço de emissão é fixado, na constituição da companhia, pelos


fundadores e pela assembléia geral ou pelo conselho de administração, quando
houver aumento do capital social com a emissão de novas ações. Se o capital
social da companhia for representado por ações com valor nominal, o preço de
emissão das ações, não poderá ser inferior ao seu valor nominal. Caso seja
superior, a diferença é chamada de ágio, e constituirá reserva de capital, que
poderá futuramente vir a ser capitalizada (LSA, artigos 13 e200, IV).

Com a reforma da Lei das Sociedades Anônimas de 1997, fica permitido às


companhias que paguem aos acionistas, em caso de retirada, o valor econômico
das ações, mesmo que seja inferior ao valor patrimonial. Para que isso ocorra é
necessário que o estatuto estabeleça essa possibilidade. 2

O capital social de uma sociedade anônima poderá ser formado com


contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie e bens suscetíveis de avaliação
em dinheiro (artigo 7o LSA).

A formação do capital social poderá ser feita pelos sócios, integralmente ou


ainda de forma parcelada de acordo com o artigo 84, I da LSA. Se caso a
formação for parcelada, sempre será necessário que o subscritor realize no
mínimo 10% do preço das emissões em dinheiro (LSA, art. 80, II). Esta quantia
deverá ser depositada no Banco do Brasil ou em outro banco autorizado, dentro
de cinco dias do recebimento, em nome do subscritor e a favor da sociedade em
organização. A sociedade somente poderá levantar as quantias depositadas após
a aquisição de personalidade jurídica. Poderá ser exigido, pelo estatuto social ou
pela lei, que a subscrição inicial se dê com porcentagem maior que os dez pontos
percentuais acima citados.

Apesar da opção mais utilizada ser o dinheiro, pode-se optar pela


integralização do capital em bens. Para a integralização do capital social em bens
é necessário que se respeite as regras fixadas pela Lei 6.404 em seu artigo 8o,
fazendo-se uma avaliação deles. Qualquer bem, corpóreo ou incorpóreo, móvel ou
imóvel, pode ser usado para a integralização do capital social da companhia. O
bem é transferido a título de propriedade, salvo em estipulação diversa, e a
responsabilidade do subscritor equipara-se, outrossim, à do vendedor.

No que tange a integralização do capital por créditos de que seja titular o


subscritor, tem de ser observada a responsabilidade deste pela existência de
crédito e pela solvência do devedor. Mesmo em se tratando de cessão civil (em
que, em regra, o cedente não responde pela solvência do devedor, nos termos do
artigo 1.074 do Código Civil), será possível demandar o subscritor quando o
devedor não honrar o título junto à companhia cessionária (LSA, artigo 10,
parágrafo único). O mesmo se verifica na hipótese de endosso “sem garantia”,
sendo ineficaz perante a companhia a cláusula exoneratória da responsabilidade
do acionista-endossante. Além disso, o certificado de ação integralizada por
transferência de crédito somente poderá ser expedido após a sua realização (LSA,
artigo 23, §2o).3
3. Tutela do capital social

O capital social de uma sociedade anônima pode sofrer aumentos e, existe


também, a possibilidade de que esse capital venha a sofrer redução.

O aumento do capital em algumas vezes é necessário, mas quando há


esse aumento, nem sempre é decorrente do ingresso de novos recursos na
companhia. Pode haver aumento do capital social de uma sociedade anônima nas
seguintes hipóteses:

I- Com a capitalização de lucros e reservas. A assembléia geral ordinária


pode destinar uma parcela do lucro líquido ou de reservas para o aumento do
capital social, podendo emitir, ou não, novas ações (LSA, artigo 169), mas nunca
com o ingresso de novos recursos.

II- Através de valores mobiliários. A conversão de partes beneficiárias


conversíveis em ações ou de debêntures, assim como o exercício dos direitos
conferidos por bônus de opção de compra ou de subscrição, causam aumento no
capital social, com a emissão de novas ações (LSA, artigo166, III).

III- Através da emissão de novas ações. Quando há efetivo ingresso de


novos recursos no patrimônio social. O aumento será deliberado em assembléia
geral extraordinária (LSA, artigo 166, IV) e tem por pressuposto a realização de,
pelo menos, três quartos do capital social então existente (LSA, artigo 170).

IV- Através da correção da expressão monetária do seu valor, o que é da


competência da assembléia geral ordinária ao decidir da conversão da reserva em
capital (LSA, artigos 5o e 167).4

O estatuto da companhia pode definir em seu texto o chamado capital


“autorizado”. Desse modo a companhia pode aumentar seu capital, até um certo
limite (capital “autorizado”), sem necessidade da alteração do estatuto. A medida
visa agilizar o processo de decisão e emissão de novas ações. No estatuto deve
estar definido qual o órgão competente para decidir sobre a emissão de novas
ações.

Como já mencionado, o capital social da companhia também pode ser


reduzido. A lei considera duas causas para permitir a redução do capital social.
São elas:

I- Quando houver excesso do capital social. Isso se dá quando se percebe


o seu superdimensionamento.

II- Quando houver irrealidade do capital social, ou seja, quando houver


prejuízo patrimonial.

Quando há redução do capital social com restituição aos acionistas de parte


d o valor das ações ou diminuição do valor destas, se não-integralizadas, sujeita a
eficácia da deliberação da assembléia geral ao transcurso do prazo de 60 dias.
Durante este prazo os credores quirografários terão direito de manifestar oposição
à redução deliberada. Nesse caso o arquivamento da ata da assembléia geral fica
condicionado ao pagamento ou o depósito judicial do crédito do oponente. Para
que isso não ocorra seria necessário, a aprovação da redução pela maioria dos
debenturistas em assembléia especial (LSA, artigo 174).
4. Administração da sociedade

A vigente lei criou mais um órgão de administração, o Conselho de


Administração, desde que previsto no estatuto. Este novo órgão no entanto é
obrigatório para as sociedades de economia mista (LSA, art.239), as companhias
de capital autorizado e as companhias abertas (LSA, art. 138, § 2o). O estatuto
deve regular o funcionamento do Conselho, bem como sua composição, desde
que sejam no mínimo três membros, eleitos pela assembléia geral, destituíveis por
ela ad nutum. A competência do Conselho é tratado no artigo 142 da LSA. A
Diretoria por outro lado é órgão de execução e sua representação para a
sociedade, bem como composição deve ser regulada no estatuto. A lei prevê um
mínimo de dois diretores5.

A Lei das Sociedades Anônimas em seu artigo 145 define como


administradores os conselheiros e diretores da companhia, impondo-lhes deveres,
responsabilidades e especifica nos artigos subseqüentes requisitos e
impedimentos, investidura e remuneração.

São os seguintes os deveres dos membros do conselho de administração e


da diretoria impostos pela lei:

I- Dever de diligência pelo qual o administrador da companhia deve


empregar, no desempenho de suas atribuições, o cuidado e diligência que todo
homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios
negócios (LSA, art. 153).

II- Dever de lealdade pelo qual o administrador deve servir com lealdade à
companhia e manter a reserva sobre seus negócios, não podendo: tomar proveito
das oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão do exercício
de seu cargo; deixar de aproveitar oportunidades de negócio de interesse da
companhia para benefício próprio ou de outrem; adquirir, para revender com lucro,
bem ou direito que sabe necessário à companhia, ou que esta tencione a adquirir
(LSA, art. 155). O descumprimento desse dever pode caracterizar crime de
concorrência desleal (LPI, art. 195, XI e § 1o).

III- Dever de informar pelo qual o administrador de companhia aberta deve


fazê-lo, imediatamente, à Bolsa de valores e divulgar pela imprensa qualquer
deliberação da assembléia geral ou dos órgãos de administração da companhia,
ou fato relevante ocorrido nos seus negócios, que possa influir, de modo
ponderável, na decisão dos investidores do mercado de vender ou comprar
valores mobiliários emitidos pela companhia (LSA, art. 157, § 4o). De acordo com
o caput e o § 1o do artigo 157 da LSA, o dever de informar tem relação também
aos interesses que o administrador de companhia aberta possua nos negócios
sociais, os quais os acionistas têm o direito de conhecer.

As obrigações assumidas pela companhia por ato regular de gestão não


são responsabilidade do administrador, mas ele responderá por ato ilícito, por todo
prejuízo que causar, culposa ou dolosamente, mesmo que dentro de suas
atribuições ou poderes, ou com a violação da lei ou do estatuto (LSA, art.158).

Caso deliberado em assembléia geral, a companhia pode promover


judicialmente a responsabilização de seu administrador, por prejuízo que este lhe
tenha causado. O administrador será destituído do cargo de administração e
substituído de acordo com o estatuto.

Os administradores tem responsabilidade de caráter administrativo perante


a CVM, além de suas responsabilidades civil e penal. Pode ser imposta a eles,por
esta autarquia, por infração a dever prescrito na legislação do anonimato, sanções
que variam de multa ou advertência até suspensão do exercício do cargo ou
inabilitação (artigo 11 da Lei n. 6.835/76).
Conclusão

BIBLIOGRAFIA

ASCARELLI, Tullio. Problemas das sociedades anônimas e direito


comparado. Campinas: Bookseller, 1999.

BULGARELLI, Waldirio. Manual das sociedades anônimas. 10. ed. São Paulo:
Atlas, 1998.

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 16. ed. Re. E atual. São
Paulo: Saraiva, 2005.

CORRÊA-LIMA, Osmar Brina. A Reforma da lei das sociedades anônimas: Lei


n.9.457, de 5 de maio de 1997. Belo Horizonte: Del Rey, 1997.

LOBO, Jorge. A Reforma da lei das S. A..São Paulo: Atlas, 1998.

PAES, Paulo Roberto Tavares. Manual das sociedades anônimas- Legislação,


jurisprudência, modelos e formulários. 2. ed. São Paulo: Revistas dos
Tribunais, 1996.
NOTAS

1
Paulo Roberto Tavares Paes, Manual das sociedades anônimas- Legislação, jurisprudência,
modelos e formulários. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1996. p. 87.
2
Jorge Lobo, A Reforma da lei das S. A..São Paulo: Atlas, 1998. p. 72-73.
3
Fábio Ulhoa Coelho, Manual de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 197-198.
4
Paulo Roberto Tavares Paes, Manual das sociedades anônimas- Legislação, jurisprudência,
modelos e formulários. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1996. p. 35.

5
Paulo Roberto Tavares Paes, Manual das sociedades anônimas- Legislação, jurisprudência,
modelos e formulários. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 1996. p. 110.

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