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Nos tempos hodiernos, é comum nem mesmo nos darmos conta de que estamos imersos

em uma teia de comunicações, o que não nos exime do fato de que já fazemos parte dessa
teia.
De acordo com o teórico Marshall McLuhan, o advento da internet e, posteriormente, das
redes sociais convergiria para a estruturação de um novo mundo, marcado pela união entre
os povos e o relativismo cultural, criando-se, assim, o que o teórico chamava de "Aldeia
Global".
Esse conceito diz respeito a um mundo de integrações, marcado pela partilha de
conhecimentos, saberes e culturas, de forma que todos os pontos do planeta poderiam, por
meio da internet e de suas infinitas possibilidades, estar conectados e, a todo momento,
estabelecendo trocas enriquecedoras, que convergiriam para um mundo mais unido e
igualitário, da mesma natureza de uma aldeia, o que justifica, dessa forma, o uso da
metáfora "Aldeia Global".
Entretanto, diante das situações que a nós se apresentam na contemporaneidade, podemos
perceber que os conceitos de McLuhan parece ser um tanto idealistas, uma vez que a
internet e suas tecnologias, nem sempre se mostram como instrumentos ou ferramentas
promotores de igualdade e partilha, pelo contrário, por vezes, podemos perceber seu uso
convergindo para um mundo ainda mais opressivo e desrespeitosos com as minorias e as
diferenças subjetivas imanentes aos seres humanos.
Nesse sentido, podemos relembrar aquilo que o teórico francês Marc Augé pensava acerca
das redes sociais, isto é, a criação daquilo que ele nomeava como "não lugar". O conceito
de não lugar reside, essencialmente, na construção de um espaço virtual, o qual não teria,
na visão do pensador, uma sustentação na realidade. Dessa forma, um "não lugar" não
seria um espaço portador de história, de memórias, muito menos de afetividades; portanto,
não podendo ser chamado de "lugar".
À luz de tal conceito, podemos então perceber que, durante a chamada "Modernidade
Líquida", termos criado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman para designar a
contemporaneidade, a internet e suas possibilidades são ferramentas cujo potencial para a
união de diversas culturas e a contribuição positiva bosta globalização são inegáveis. No
entanto, essas mesmas ferramentas podem ser utilizadas para a alienação dos indivíduos,
os quais ao fazer um uso indiscriminado das redes podem se integrar a essa infinita teia a
qual não encontra um respaldo sólido na realidade objetiva, aquilo que Marc Augé chamou
de "não lugar".
Nesse sentido, faz-se necessário observar a construção de um padrão de vida
completamente irreal e idealizado, no qual as afetividades humanas são reduzidas apenas a
recortes de momentos alegres, luxuosos e exuberantes, excluindo, assim, a outra faceta
das experiências humanas, que dizem respeito ao sofrimento, dificuldade e desafios
inerentes à existência e seus desafios.
Dessa forma, podemos ver a propagação, nas redes sociais, de indivíduos fragmentados,
reduzidos a recortes de momentos que, por vezes, são artificiais, na tentativa de criar um
"não lugar" ideal, no qual se pode ser o que quiser. A problemática de tal questão, pois,
residiria no fato de que essa pseudo-realidade construída nas redes não se espelha na
realidade, criando, dessa maneira uma falsa realidade ideal capaz de entreter os indivíduos
e conquistar mais a sua atenção do que a realidade de suas vidas.
Outra problemática, ademais, consistiria no uso de tais mídias digitais para a propagação de
discursos que em nada contribuem para a criação de um mundo mais fraterno e igualitário,
pelo contrário, um mundo ainda mais segregado pela dificuldade da expressão honesta e
respeitosa dos diversos pontos de vista, de maneira que todos eles encontrem espaço e
respeito dentro dos intermináveis espaços de discussão digital.
Nesse sentido, o conceito de "Aldeia Global", converge para a via contrária frente a
utilização dessas redes para promover o ódio e o desrespeito entre as diferentes opiniões e
culturas. Dessa forma, podemos observar a fragmentação, de uma natureza diferente, dos
indivíduos, uma vez que os espaços digitais ainda não conseguem promover uma
horizontalidade e diplomacia nas discussões. Além disso, pelo fato de esses espaços não
serem, de fato, "lugares", isto é, territórios que possuem narrativas e afetos, fica mais
facilitada a propagação de ideias sem o uso da empatia e cordialidade com seus
interlocutores, intensificando, assim, o processo de fragmentação dos indivíduos em relação
aos seus semelhantes e à sociedade de maneira geral.
Por fim, não podemos deixar de citar a presença marcante das propagandas, as quais
bombardeiam os indivíduos constantemente de informações de diversas naturezas. A
veiculação massiva de informações em alta velocidade, a princípio, parece ser benéfica, no
que tange ao ganho de conhecimento pela humanidade em uma menor quantidade de
tempo. Entretanto, a questão reside no fato de que tantas informações são veiculadas de
maneira extremamente superficial, com a intenção de chamar a atenção para a criação de
necessidades e a venda de produtos para supri-las.
Dessa forma, o indivíduo pós-moderno se vê fragmentado mais uma vez, ao receber tantas
informações das mais diferentes naturezas, por vezes, sem profundidade ou honestidade,
contribuindo para a manipulação de suas ações e opiniões.
Portanto, podemos perceber que essa teia digital, carrega em si o poder não somente de
unir as diferentes culturas e nações, como também os indivíduos. Contudo, seu uso como
vem sendo feito na modernidade líquida mais contribui com a via contrária de tais
aspirações, isto é, com a segregação e separação das pessoas, as quais se encontram
distraídas e alienadas com uma vida construída com base em idealizações e que não
encontra respaldo na realidade.

Referências Bibliográficas:

Subtil, F. M. D. B. G. (2006). Compreender os media: as extensões de Marshall McLuhan.


Minerva.
Daolio, J. (2015). A PRODUÇÃO ACADÊMICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: A CAPES COMO
UM “NÃO–LUGAR”. Pensar a Prática, 18(2).

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