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estudos não apresentaram significância estatística. Do total citrulinado: 742 UI/mL. Persistiu com alta atividade de doença,
de 756 pacientes, apenas 142 descontinuaram o tratamento apesar do uso de diversas drogas sintéticas e biológicas, além
por diferentes razões. do surgimento de úlceras cutâneas vasculíticas. Caso 3: Sexo
Conclusão: Estudos de vida real mostraram que beli- feminino, 46 anos, usuária de crack, evoluiu com poliartral-
mumabe é efetivo no tratamento do LES, confirmando os gia, alopecia, derrame pleural e pericárdico, fator antinuclear
resultados obtidos com estudos clínicos randomizados. A (FAN) 1:640 padrão nuclear pontilhado fino, anticorpos anti-
redução da atividade da doença e da taxa de flare pode sugerir -Sm, anti-SSA/Ro e anti-RNP positivos, além de úlceras com
redução do dano a órgão acumulado e melhoria da qualidade secreção amarelada em tronco e glúteo, cuja biópsia mostrou
de vida, com consequente redução da utilização de recur- vasculite leucocitoclástica. Caso 4: Sexo masculino, 35 anos,
sos em saúde. Mais estudos são necessários para demonstrar usuário de crack, apresentou quadro de fotossensibilidade,
estas associações. Estudo HO-16-17903. rash malar, lesões discoides, artrite, alopecia, FAN positivo
1:320 padrão nuclear pontilhado fino e anti-SSA/Ro positivo,
refer ê ncias evoluindo com insuficiência respiratória e óbito.
Conclusão: O uso de crack pode funcionar como um fator
gatilho para o aparecimento de doenças imunomediadas em
1. Iaccarino L, Bettio S, Reggia R, Zen M, Frassi M, Andreoli L, indivíduos susceptíveis, bem como deve ser ativamente pes-
et al. Effects of belimumab on flare rate and expected damage quisado e valorizado em pacientes com diagnóstico de doença
progression in patients with active systemic lupus reumatológica autoimune prévia, uma vez que esta parece ter
erythematosus. Arthritis Care Res (Hoboken). 2017;69:115–23. evolução mais grave nestes doentes, com refratariedade às
2. Scheinberg M, de Melo FF, Bueno AN, Costa CM, de Azevedo medicações usualmente prescritas e pior prognóstico.
Bahr ML, Reis ER. Belimumab for the treatment of
corticosteroid-dependent systemic lupus erythematosus: from
clinical trials to real-life experience after 1 year of use in 48 refer ê ncias
Brazilian patients. Clin Rheumatol. 2016;35:1719–23.
3. Collins CE, Dall’Era M, Kan H, Macahilig C, Molta C, Koscielny
V, et al. Response to belimumab among patients with systemic 1. Graf J. Rheumatic manifestations of cocaine use. Curr Opin
lupus erythematosus in clinical practice settings: 24-month Rheumatol. 2013;25:50–5.
results from the OBSErve study in the USA. Lupus Sci Med. 2. Rivera TL, Belmont HM, Weissmann G. Systemic lupus
2016;3:e000118. erythematosus in 6 male cocaine users at Bellevue hospital. J
4. Schwarting A, Schroeder JO, Alexander T, Schmalzing M, Fiehn Rheumatol. 2009;36:2854–5.
C, Specker C, et al. First Real-World Insights into Belimumab 3. Posada AF, Castellanos M, Bustos MF. Systemic Lupus
Use and Outcomes in Routine Clinical Care of Systemic Lupus Erythematosus Associated With Chronic Cocaine Use. Rev
Erythematosus in Germany: Results from the OBSErve colomb reumatol. 2015;22:174–9.
Germany Study. Rheumatol Ther. 2016;3:271–90. 4. Bose N, Calabrese L. Recognizing rheumatologic aspects of
cocaine abuse. J Musculoskelet Med. 2012;29:34–40.
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2017.07.156 5. Fox HC, D’Sa C, Kimmerling A, Siedlarz KM, Tuit KL, Stowe R,
et al. Immune system inflammation in cocaine dependent
PO264 individuals: implications for medications development. Hum
Psychopharmacol. 2012;27:156–66.
EVOLUÇÃO CLÍNICA EM PACIENTES
PORTADORES DE DOENÇAS AUTOIMUNES E http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2017.07.157
USUÁRIOS DE CRACK: RELATO DE QUATRO
CASOS E REVISÃO DA LITERATURA PO265

A.L.M. Andrade, A.K.G. Melo, M.R.M.P. Soares, FARMACODERMIA POR


D.C.S.E. Brito, A.S. Braz, E.A.M. Freire HIDROXICLOROQUINA SIMULANDO LESÕES
DE LÚPUS SUBAGUDO EM PACIENTE COM
Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW),
DIAGNÓSTICO RECENTE DE LÚPUS
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João
ERITEMATOSO SISTÊMICO: RELATO DE CASO
Pessoa, PB, Brasil
Palavras-chave: Crack; Cocaina; Doença autoimune A.C.M. Sodré, F.F. Barboza, J.F. Pignatari,
M.M.M. Cortês, A.A.V. Pugliesi,
Introdução: O consumo de cocaína e seus derivados (crack) L.T.L. Costallat, S. Appenzeller
pode ocasionar quadros clínicos semelhantes a doenças
Disciplina de Reumatologia, Universidade
reumáticas autoimunes idiopáticas e formação de autoanti-
Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP,
corpos. Relatos: Caso 1: Sexo feminino, 49 anos, usuária de
Brasil
crack, evoluindo com poliartrite, aumento de provas de ati-
Palavras-chave: Hidroxicloroquina; Farmacodermia; Lúpus
vidade inflamatória (PAI), fator reumatoide (FR): 137 UI/mL.
Eritematoso Sistêmico.
Diagnóstico de artrite reumatoide e manutenção de altos índi-
ces de atividade de doença apesar de várias drogas sintéticas
Introdução: A hidroxicloroquina é um antimalárico ampla-
e biológicas, evoluindo com deformidades. Caso 2: Sexo mas-
mente utilizada em pacientes com Lúpus Eritematoso
culino, 33 anos, usuário de crack, evoluindo com poliartrite,
Sistêmico (LES) para controle de doença leve, prevenção de
aumento de PAI, FR: 1.280 UI/mL e anticorpo antipeptídeo
recidivas e permitir redução de dose de glicocorticoides. É
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uma droga segura, que raramente provoca reações adversas investigação de acometimento neurológico pelo LES, que foi
cutâneas. futuramente excluído. Avaliação oftalmológica mostrou panu-
Descrição do caso: Relatamos o caso de uma paciente do veíte (Frosted branch angiitis), com áreas de hemorragias
sexo feminino, de 30 anos de idade, com diagnóstico recente bilateralmente, com etiologia provável por CMV, o qual foi atri-
de Lúpus Eritematoso Sistêmico (critérios SLICC: rash malar, buído como responsável pelas lesões vasculíticas, aumento
alopecia, leucopenia, FAN positivo, coombs direto positivo, persistente da PCR, já que não havia sinais de atividade lúpica:
proteinúria > 0,5 g/24 h e anticoagulante lúpico positivo), em complemento normal, sem proteinúria. Iniciou-se ganciclo-
atividade leve da doença (SLEDAI 4), que iniciou tratamento vir, com expressiva melhora da PCR, da vasculite e do quadro
com hidroxicloroquina 400 mg/dia. Vinte dias após início da ocular; creditando-se então ao CMV o gatilho da vasculite e o
medicação, desenvolveu placas eritematosas com bordos bem responsável pelo quadro articular.
delimitados, com aspecto anular e policíclico, sugerindo lúpus Discussão: O exame oftalmológico sugestivo de CMV, ali-
cutâneo subagudo, e que evoluíram, em poucos dias, para ada à pobre resposta clínica ao tratamento para atividade
exantema pustuloso difuso. As lesões ocupavam áreas foto- lúpica foram peças clave para reconhecimento etiológico e tra-
expostas e não-fotoexpostas. Realizado biópsia cutânea, que tamento oportuno. O caso ilustra a importância de reconhecer
revelou escamo-crosta paracetótico-neutrofílica, hiperplasia que os métodos complementares podem ter baixa sensibili-
psoriasiforme da epiderme e discreto infiltrado perivascular dade e especificidade na infecção por CMV (mesmo técnicas
superficial linfo-histiocitário, compatível com farmacoder- modernas como reação em cadeia da polimerase - que no caso
mia. Após suspensão da hidroxicloroquina, houve resolução foi negativo), sendo o diagnóstico eminentemente clínico. A
completa do quadro. combinação de moscas volantes e flash de luz é altamente
Discussão: O caso ilustra uma reação adversa incomum sugestiva de acometimento ocular por CMV. Os níveis de com-
da hidroxicloroquina e seu diagnóstico diferencial com uma plemento e de anti-DNA continuam sendo marcadores úteis
manifestação cutânea da doença de base. na diferenciação entre infecções e atividade do LES; este caso
não foi uma exceção.
refer ê ncias
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2017.07.159

PO267
1. Ponticelli C, Moroni G. Hydroxychloroquine in systemic lúpus
erythematous (SLE). Expert Opin Drug Saf. 2017;16:411–9. HIPERURICEMIA É UM FATOR PREDITOR DE
2. Assalie NA, Durcan R, Durcan L, Petri MA. PIOR DESFECHO RENAL EM LONGO PRAZO
Hydroxychloroquine-Induced Erythema Multiforme. J Clin
NA NEFRITE LÚPICA?
Rheumatol. 2017;23:127–8.
3. Lateef A, Tan KB, Lau TC. Acute generalized exanthematous S.S. Gavinier, M.R. Ugolini-Lopes,
pustulosis and toxic epidermal necrolysis induced by
L.P.S. Santos, V.T. Viana, E.P. Leon, E. Bonfá
hydroxychloroquine. Clin Rheumatol. 2009;28:1449–52.
Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina,
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2017.07.158 Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP,
Brasil
PO266
Palavras-chave: Ácido Úrico; Nefrite Lúpica; Lupus Eritema-
FROSTED BRANCH ANGIITIS EM PACIENTE toso Sistêmico.
LUPICA
Introdução: A hiperuricemia tem sido correlacionada com
L.R. Silverio-Scomparin, R.H. Sato, insuficiência renal em várias condições clínicas. Em lúpus, tra-
C.E.I. Echauri, M.L. Marconcini-Lacerda, balhos recentes observaram associação entre elevados níveis
R.P. Andreussi, M.R. Ugolini-Lopes séricos de ácido úrico (AU) e dano renal. Não se sabe, no
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo entanto, o valor preditivo do AU para o desenvolvimento de
(USP), São Paulo, SP, Brasil disfunção renal em longo prazo na nefrite lúpica.
Palavras-chave: Frosted Branch Angiitis; Lupus Eritematoso Objetivo: Avaliar se o nível de AU pode ser considerado um
Sistemico; CMV preditor de desfecho renal de longo prazo em pacientes com
nefrite lúpica.
Introdução: A infecção por citomegalovírus (CMV) é causa Métodos: 75 pacientes com nefrite lúpica comprovada por
de aumento da morbimortalidade no lúpus eritematoso sistê- biópsia com 7 anos de acompanhamento foram consecutiva-
mico (LES). Ela pode se comportar como fator desencadeante mente selecionados. O AU foi dosado em soros estocados a
do LES, em paciente sem diagnóstico prévio; como deflagrador -80 ◦ C datados da época da nefrite, 6 e 12 meses após. 75 paci-
de atividade lúpica ou, ainda, mimetizando atividade. entes tinham soros estocados na data da nefrite, mas apenas
Descrição do caso: AOS, 41 anos, feminino, com LES 31 tinham soros de 3 e 6 meses após a nefrite. O desfecho renal
há 02 anos, apresentava sonolência excessiva, alterações foi avaliado após 7 anos de acompanhamento para definir se
visuais ocasionais (moscas volantes, turvação visual, luzes o AU era preditor de bom desfecho renal em longo prazo (defi-
vermelhas no campo visual), dores articulares importantes nido como Cr < 1,5 mg/dL). Inicialmente os pacientes foram
e lesões do tipo vasculite em extremidades, além de celu- divididos em dois grupos de acordo com o desfecho renal, para
lite em antebraço. Internada para tratamento da mesma e avaliar se o AU em diferentes momentos da evolução era capaz

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