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BIOSSEGURANÇA

Lisiane Silveira Zavalhia


Doenças ocupacionais por
agentes biológicos, conduta
e normas de biossegurança
(HIV e hepatite B)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer a importância de adotar medidas de biossegurança para


a utilização de materiais perfurocortantes e/ou biológicos.
„„ Descrever a conduta para acidentes com materiais perfurocortantes
e/ou biológicos.
„„ Identificar os aspectos peculiares de biossegurança para a sorocon-
versão para hepatite B e HIV.

Introdução
Os profissionais de assistência à saúde estão frequentemente expostos
ao manejo com agulhas, bisturis e outros instrumentos perfurocortantes;
dessa forma, encontram-se sob maior risco de acidentes. As medidas de
biossegurança, quando empregadas corretamente pelos profissionais,
minimizam o risco de acidentes envolvendo materiais biológicos e ins-
trumentos perfurocortantes.
Neste capítulo, você vai conhecer as medidas de biossegurança e
sua importância no manejo de materiais perfurocortantes e biológicos.
Também vai identificar as condutas pós-exposição a acidentes com esses
materiais, além de identificar os aspectos peculiares de biossegurança
para a soroconversão pelo HIV e hepatites virais.
2 Doenças ocupacionais por agentes biológicos, conduta e normas de biossegurança (HIV e hepatite B)

Biossegurança
A primeira Lei de Biossegurança do Brasil foi criada no ano de 1995 — Lei nº
8.974, de 5 de maio de 1995. Posteriormente, no ano de 2005, ela foi revogada
pela segunda Lei de Biossegurança, a Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005.
A Lei da Biossegurança tem como premissa prevenir, minimizar ou eliminar
riscos que venham a comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio
ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos. Ela compreende um
compilado de procedimentos, ações, técnicas e metodologias.
Os métodos de controle de exposição voltados para a biossegurança
consistem em componentes fundamentais para a segurança tanto do paciente
quando do profissional da saúde. Esses componentes, segundo Estridge e
Reynolds (2011), incluem fatores como os descritos a seguir.

„„ Precauções-padrão: são condutas adotadas pelos profissionais da saúde


na realização de qualquer procedimento e têm por finalidade reduzir
riscos de transmissão de agentes patogênicos. Exemplos dessas condutas
são o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), imunização
e manejo adequado de resíduos dos serviços de saúde (NAZARIO;
CAMPONOGARA; DIAS, 2017). As precauções-padrão devem ser
utilizadas sempre que o profissional tiver contato com cada paciente e
cada amostra em sua rotina.
„„ Equipamentos de proteção individual (EPIs): são dispositivos e
equipamentos especializados que devem ser utilizados pelo profis-
sional da saúde para proteção contra a exposição direta a materiais
potencialmente infectantes. Os EPIs incluem luvas, máscaras, jalecos,
óculos de proteção.
„„ Controles de engenharia: são dispositivos e tecnologias direcionados
a isolar o profissional dos riscos. Recipientes resistentes a materiais
pontiagudos e agulhas de segurança são exemplos desses dispositivos
— veja outros exemplos na Figura 1.
„„ Controles de prática de trabalho: referem-se a como a tarefa no
ambiente de trabalho é executada. São hábitos corretos e seguros. O
uso desses controles de práticas no ambiente de trabalho minimiza a
probabilidade de um profissional se expor aos riscos. Exemplos dessas
práticas são lavar as mãos antes de colocar luvas e após removê-las, e
também em outros momentos que achar necessário; usar corretamente
EPIs ao ter contato com fluídos biológicos; remover e descartar os
EPIs ao término das atividades e ao deixar a área de trabalho; utilizar
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desinfetante para limpeza da área de trabalho, como água sanitária a


10%, antes e após o uso da área de trabalho e em momentos que houver
derramamento.

Sempre que existir um risco de exposição ocupacional a patógenos, a insti-


tuição deve fornecer EPIs adequados aos profissionais. A utilização de equipa-
mentos de proteção coletiva (EPCs) também é de suma importância. Trata-se
de dispositivos que proporcionam proteção a todos os profissionais expostos
a riscos no ambiente de trabalho. Exemplos de EPCs são estufas, autoclaves,
kit de primeiros socorros, extintor de incêndio, descarte de perfurocortantes.

Figura 1. Pôster educacional demonstrando os dispositivos de controles de engenharia.


Fonte: Slavish (2012, p. 225).
4 Doenças ocupacionais por agentes biológicos, conduta e normas de biossegurança (HIV e hepatite B)

As estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram


que, mundialmente, ocorrem 2 a 3 milhões de acidentes percutâneos com
agulhas contaminadas por material biológico anualmente entre trabalhadores
da área da saúde. Desses acidentes, 2 milhões referem-se à exposição ao vírus
da hepatite B (HBV), 900 mil ao vírus da hepatite C (HCV) e 170 mil ao
vírus da imunodeficiência humana (HIV) (BRASIL, 2010). Para minimizar
acidentes envolvendo materiais biológicos, a prevenção é necessária, logo, a
biossegurança e as boas práticas são de suma importância.
Para que os riscos ocupacionais sejam minimizados, podem ser adotadas
medidas institucionais para garantir um ambiente seguro para o trabalhador,
que incluem (SATO, 2018):

„„ proporcionar/realizar treinamentos sobre as principais medidas pre-


ventivas e orientações quanto aos riscos ocupacionais;
„„ zelar para que sejam disponibilizados os EPIs e os EPCs, os quais são
de suma importância como medida preventiva;
„„ dispor de recipientes adequados para o descarte de objetos
perfurocortantes;
„„ zelar pelo estado vacinal dos profissionais da área de saúde;
„„ promover campanhas de vacinação com periodicidade;
„„ disponibilizar instruções escritas e afixar cartazes informativos para
os procedimentos a serem realizados em casos de acidentes.

Em sua maioria, os fatores de risco ocupacionais estão relacionados ao


manuseio de materiais perfurocortantes. A situação de risco envolve a pos-
sibilidade de esses materiais estarem contaminados. As infecções de grande
relevância que ocorrem devido a acidentes são as causadas pelos vírus HIV
e das hepatites B e C (STAPENHORST et al., 2018).
Os profissionais da saúde devem ser orientados e treinados sobre a utilização
segura e o descarte adequado de agulhas e outros materiais perfurocortantes.
Esses materiais devem ser descartados em recipientes próprios para perfuro-
cortantes, que sejam à prova de vazamentos e apresentem resistência a furos
(SLAVISH, 2012). Os recipientes deverão ser mantidos em local seguro, no
intuito de reduzir o risco de acidente a pacientes, visitantes e profissionais
de assistência nos serviços de saúde. Quando o recipiente estiver com seu
volume preenchido, este deverá ser fechado com segurança e colocado em
um ponto de coleta indicado. Cabe salientar que os recipientes não devem ser
sobrecarregados.
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Acompanhe no Quadro 1 as orientações para o adequado manuseio e


descarte de materiais perfurocortantes e veja na Figura 2 um exemplo de
recipiente para descarte de perfurocortantes.

Quadro 1. Orientações para o adequado manuseio e descarte de perfurocortantes

Descarte Manuseio

„„ Devem ser descartados imediata- „„ Deve-se ter máxima atenção durante


mente após o uso, nos locais de sua a realização dos procedimentos com
geração, separadamente dos demais tais materiais.
resíduos produzidos nos serviços de „„ O trabalhador jamais deve utilizar
saúde. os dedos como anteparo durante a
„„ O descarte de todos esses materiais realização de procedimentos que en-
(inclusive os estéreis) deve ser feito volvam materiais perfurocortantes.
em recipientes com paredes rígidas, „„ As agulhas não devem ser reenca-
resistentes à ruptura, vazamento e padas, entortadas, quebradas ou
punctura, com tampa, identificados retiradas da seringa com as mãos,
de acordo com os parâmetros refe- ou seja, devem ser desprezadas
renciados na norma NBR 13.853, de conjuntamente.
30 de maio de 1997, da Associação „„ As agulhas não devem ser utilizadas
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). para fixar papéis.
„„ Os recipientes devem ter em seu in-
terior, além de papelão rígido, saco
plástico, que reforça o revestimento
e impede o vazamento dos resíduos.
„„ Os recipientes específicos ou caixas
coletoras devem ser utilizados até
a sinalização (linha pontilhada) do
limite máximo, o que corresponde
a 2/3 de sua capacidade.
„„ Os recipientes devem ser mantidos
em local seco e limpo, o mais pró-
ximo possível do local de geração
dos materiais perfurocortantes.
„„ Ao atingir a capacidade máxima
permitida, os recipientes devem ser
fechados e substituídos por outro.
„„ O reaproveitamento desses recipien-
tes é proibido.

Fonte: Adaptado de Giesel e Trentin (2017).


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Figura 2. Recipiente especialmente projetado para


o descarte de perfurocortantes.
Fonte: Slavish (2012, p. 126).

A literatura referente a acidentes ocupacionais envolvendo materiais bio-


lógicos entre profissionais da área da saúde indica que os profissionais mais
expostos são aqueles que prestam assistência direta aos pacientes. Entretanto,
cabe salientar que muitos outros profissionais que não são da categoria de
“assistência à saúde”, mas que estão em contato direto com fluidos corpo-
rais, também se envolvem em acidentes biológicos, como os profissionais da
limpeza, da lavanderia, da manutenção e da coleta de lixo (STAPENHORST
et al., 2018).

A exposição acidental a sangue e outros fluidos potencialmente contaminados deverá


ser tratada como caso de emergência médica, pois, para a sua maior eficácia, as
intervenções profiláticas devem ser iniciadas o mais brevemente possível após a
ocorrência do acidente.
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A vacinação também é parte importante no cenário do serviço de saúde


ocupacional, pois objetiva a saúde dos trabalhadores. Entre as vacinas re-
comendadas para os profissionais da área da saúde encontram-se as contra
hepatites A e B, difteria, tétano, coqueluche, varicela e influenza, além das
vacinas meningocócica C conjugada e tríplice viral (contra sarampo, caxumba
e rubéola) (SANTOS, 2010).
A Norma Regulamentadora nº 32, de 11 e novembro de 2005, estabelece que
o fornecimento de vacinas aos trabalhadores dos serviços de saúde deve ser
gratuito. Também estabelece que, sempre que existir vacinas eficazes contra
agentes biológicos a que os trabalhadores estão, ou poderão estar, expostos,
estas deverão ser fornecidas gratuitamente pelo empregador (SANTOS, 2010).

Tipos de exposição
Os tipos exposição que podem resultar em risco de transmissão ocupacional
do vírus HIV e de hepatites B e C são divididos em classes, mostradas no
Quadro 2.

Quadro 1. Classes de exposição a risco ocupacional

Exposição percutânea Lesão ocasionada por materiais perfurocortantes.

Exposição em mucosas Respingos em olhos, nariz, boca e genitália.

Contato direto com lesões abertas, como


Exposição em pele
feridas e lesões cutâneas, incluindo mordidas,
não íntegra
quando na presença de sangue.

Fonte: Adaptado de Stapenhorst (2018).

Na situação de exposição a agentes biológicos, consideram-se como aci-


dentes ocupacionais com maior gravidade aqueles que:

„„ relacionam-se com maiores volumes de sangue;


„„ envolvem lesões profundas causadas por materiais perfurocortantes;
„„ apresentam perceptível presença de sangue, quando no material cortante;
„„ relacionam-se com acidentes com agulhas utilizadas em punções ve-
nosas ou arteriais.
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Riscos de transmissão
Os materiais biológicos que denotam risco de transmissão do vírus HIV são:

„„ sangue e demais materiais contendo sangue, sêmen e secreções vaginais.


Salientando que sêmen e secreções vaginais são materiais que não
estão habitualmente envolvidos nas situações de risco ocupacional
para profissionais de saúde;
„„ materiais que podem ser considerados de baixo risco para transmissão
viral ocupacional: líquidos de serosas (peritoneal, pleural, pericárdico),
líquido amniótico, líquor e líquido articular.

Líquidos biológicos sem risco de transmissão ocupacional: suor, lágrima,


fezes, urina, vômitos, secreções nasais e saliva (excetuando-se em ambientes
odontológicos). Porém, se existir a presença de sangue nesses líquidos, eles
se tornam infectantes.
Os materiais biológicos que denotam risco de transmissão do vírus da
hepatite B são:

„„ sangue, caracterizado como material biológico que possui a maior


concentração de partículas infectantes do vírus da hepatite B, sendo o
principal responsável pela transmissão do vírus;
„„ fluídos como leite materno, líquido amniótico, líquido biliar, líquor e
líquido articular são potencialmente infectantes, porém com potencial
de transmissibilidade menor.

O vírus da hepatite B apresenta uma alta resistência ambiental, sobrevivendo por mais
de uma semana em sangue seco em temperatura ambiente, além de ser resistente a
detergentes comuns e álcool (GARCIA; FACCHINI, 2008). Isso reforça a importância de
medidas de biossegurança na higienização de superfícies e bancadas, que devem ser
higienizadas no início da jornada de trabalho, entre um paciente e outro e no final do
dia. Recomenda-se o uso de água e sabão, seguido da aplicação de solução alcoólica
70% ou hipoclorito de sódio 1% (STAPENHORST et al., 2018).
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O principal material biológico que denota risco de transmissão do vírus


da hepatite C é o sangue, caracterizado como material biológico de principal
risco para infecção pelo vírus da hepatite C. A exposição a outros materiais
biológicos apresenta pouco potencial de transmissão.

Segundo determinação da Legislação Trabalhista Brasileira, os fármacos que são utiliza-


dos para a quimioprofilaxia, bem como a vacina para hepatite B e as imunoglobulinas
deverão ficar sempre disponíveis nos locais de trabalho, sejam eles públicos ou privados.

Conduta em caso de acidente


Após exposição a materiais biológicos, algumas medidas imediatas devem
ser realizadas como primeira conduta. Essas medidas incluem (BRASIL,
2010; 2018):

„„ em casos de exposição percutâneas e/ou cutâneas, lavar exaustivamente o


local exposto, com água e sabão. Como opção, pode-se utilizar soluções
antissépticas degermantes;
„„ em casos de exposição de mucosas (olhos, boca e nariz), lavar exaus-
tivamente com água ou solução salina fisiológica;
„„ não se recomenda realizar procedimentos que possam aumentar a área
de exposição, como cortes e injeções;
„„ não se deve utilizar soluções irritantes, como éter e hipoclorito de sódio.

O Quadro 3 apresenta, resumidamente, algumas medidas a serem tomadas


frente a acidentes com material biológico.
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Quadro 3. Medidas a serem tomadas frente à exposição acidental a material biológico

As condutas incluem:
„„ cuidados com a área exposta;
Condutas após o
„„ avaliação do acidente;
acidente
„„ orientações e aconselhamento ao acidentado;
„„ notificação do acidente.

Deve ocorrer imediatamente após o acidente e,


inicialmente, basear-se em uma adequada anamnese
do acidente, caracterização do paciente-fonte,
análise do risco, notificação do acidente e orientação
de manejo e medidas de cuidado com o local
exposto. Os critérios que embasam a avaliação do
Avaliação da
potencial de transmissão de HIV, HBV e HCV após a
exposição
exposição ocupacional ao material biológico são:
no acidente
„„ tipo de exposição;
„„ tipo e quantidade de fluido e tecido;
„„ status sorológico da fonte, ou seja, da origem do
acidente;
„„ status sorológico do acidentado;
„„ susceptibilidade do acidentado.

Inclui as condutas que envolvem a


Manejo do
exposição aos diferentes patógenos, tanto
trabalhador
em relação à quimioprofilaxia quanto à
frente ao acidente
solicitação dos exames necessários.

Inclui condutas que possibilitam organizar um


Conduta diante da
modelo de atendimento assistencial adequado
coinfecção
ao profissional exposto a material biológico.

Envolve:
„„ medidas preventivas e gerenciais;
„„ capacitação e educação em saúde;
Prevenção „„ controle médico e registro de agravos;
„„ vigilância;
„„ registros com as devidas notificações dos
acidentes.

Fonte: Adaptado de Giesel e Trentin (2017).


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Conduta em caso de acidente com exposição a HIV e


hepatites virais
Se possível, deve-se avaliar o paciente-fonte quanto à infecção por HIV,
hepatite B e hepatite C no instante da ocorrência do acidente. Informações
disponíveis no prontuário médico sobre os resultados de exames laboratoriais
e história clínica prévia só poderão ser considerados se forem previamente
positivos para as infecções (HIV, HBV e HCV).

Acidente de exposição a paciente-fonte com sorologias


negativas

Quando ocorrer a exposição ocupacional e o paciente-fonte apresentar so-


rologias negativas, pode-se considerar que o acidente não oferece riscos ao
profissional quanto aos vírus testados. Dessa forma, não há necessidade de
realizar o acompanhamento sorológico ou clínico do profissional (SATO, 2018).

Acidente de exposição a paciente-fonte com sorologia positiva


para HIV

A quimioprofilaxia, quando for indicada, deverá ser realizada de preferência


até 2 horas após o acidente, mas pode ser realizada em até 72 horas, poste-
riormente a uma avaliação criteriosa da exposição.
A escolha da medicação antirretroviral (ARV) deve ser realizada com
base no uso prévio de medicação ARV do paciente-fonte, no intuito de evitar
a utilização de medicação com alto nível de resistência. Nos casos em que
não é possível obter a informação do paciente-fonte ou quando ele não fizer
uso de terapêutica ARV, a associação de três medicações, listadas a seguir,
deverá ser iniciada (SATO, 2018).

„„ Tenofovir (TDF).
„„ Lamivudina (3TC).
„„ Atazanavir (ATV/r).

Esse tratamento deverá ser mantido pelo período de 28 dias. Cabe salientar
que a escolha do melhor esquema terapêutico deverá ser realizada por um pro-
fissional, preferencialmente um infectologista. É importante que o profissional
que sofreu o acidente seja orientado a manter o tratamento e a não suspendê-lo
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sem orientação médica, além de manter relações sexuais protegidas durante


o período de acompanhamento (SATO, 2018).
O profissional exposto ao acidente biológico que fizer uso de quimiopro-
filaxia deve ter exames realizados antes do início dos ARVs, 15 dias após
o início e ao término dos 28 dias das medicações. Considerando os efeitos
adversos dos ARVs, devem ser avaliadas função hepática, icterícia e função
renal do profissional.
Os exames que devem realizados são: hemograma completo, exames bioquí-
micos, bilirrubinas, transaminase glutâmico-oxalacética (TGO), transaminase
glutâmico-pirúvica (TGP) e urina tipo I.

Acidente de exposição a paciente-fonte com sorologia positiva


para hepatite B

Caso o profissional exposto não seja vacinado ou não seja respondedor ao


esquema vacinal (anti-HBs < 10 U/mL), ele deverá ser encaminhado para
vacinação e uso de imunoglobulina específica para hepatite tipo B (HBIg),
que deve ser administrada o mais brevemente possível. No cenário ideal, a
vacinação e o uso de imunoglobulina devem ser realizados nas primeiras 12
horas após a exposição.
Há necessidade de acompanhamento laboratorial desse profissional, com
realização de coleta das sorologias para HIV, hepatite tipo B e hepatite tipo C
no momento da exposição e sorologia para hepatite tipo B entre 6 e 8 semanas
após exposição.
Cabe ressaltar que caso o profissional exposto ao acidente se recuse a
realizar os exames sorológicos ou a fazer uso de quimioprofilaxia, essas
informações deverão ser registradas e atestadas pelo profissional (STAPE-
NHORST et al., 2018).

O profissional da rede privada deve informar o acidente ocupacional em até 24h, por
meio de um formulário denominado CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho).
Para os profissionais da rede pública, o acidente ocupacional deverá ser registrado
em até 10 dias após a exposição.
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Soroconversão
No dia do acidente, o profissional deverá realizar, imediatamente, os seguintes
exames sorológicos:

„„ HIV: anti-HIV
„„ Hepatite B: HBsAg, anti-HBc Total, anti-HBs
„„ Hepatite C: anti-HCV

Sorologia do profissional exposto


De acordo com o status sorológico do profissional exposto, algumas recomen-
dações devem ser seguidas, conforme apresenta o Quadro 4.

Quadro 4. Recomendações de acordo com o status sorológico do paciente

Sorologia Sorologia
Exposição Observações
negativa positiva

HIV A indicação da Profilaxia A PEP é A PEP não é


Pós-Exposição (PEP) indicada, indicada, pois
é dependente do considerando a infecção
status sorológico que a pessoa pelo vírus HIV
para HIV da pessoa exposta é ocorreu antes
exposta, que deverá susceptível da exposição.
ser sempre avaliado ao vírus HIV.
por teste rápido (TR)
(executado na presença
do indivíduo e gerando
resultado em tempo
igual ou inferior a 30
minutos). Caso o TR seja
discordante ou inválido,
deve-se iniciar um
fluxo laboratorial para
elucidação diagnóstica.

(Continua)
14 Doenças ocupacionais por agentes biológicos, conduta e normas de biossegurança (HIV e hepatite B)

(Continuação)

Quadro 4. Recomendações de acordo com o status sorológico do paciente

Sorologia Sorologia
Exposição Observações
negativa positiva

Hepatite B O status sorológico Informa que A infecção


da pessoa exposta o profissional pelo HBV
deve ser avaliado por não apresenta ocorreu antes
meio do TR para HBV evidências de da exposição;
(HBsAg). Caso o TR seja infecção atual nesse caso, o
inválido, recomenda-se pelo HBV. profissional deve
encaminhar a ser encaminhado
pessoa para um para confirmação
fluxo diagnóstico. laboratorial.

Hepatite C O status sorológico da Demonstra A infecção pelo


pessoa exposta deve que o paciente HCV ocorreu
ser avaliado por meio não apresenta antes da exposi-
da pesquisa de anti- evidências de ção; nesse caso, o
HCV. Caso o TR seja contato prévio profissional deve
inválido, recomenda-se com o vírus. ser encaminhado
encaminhar a Se possível, para confirmação
pessoa para um avaliar o status laboratorial e
fluxo diagnóstico. sorológico acompanha-
do paciente- mento clínico.
fonte quanto
à hepatite C.

Fonte: Adaptado de Brasil (2018).

Para ler na íntegra o texto da Profilaxia Pós-Exposição (PEP) à infecção pelo HIV, IST e
hepatites virais acesse o link a seguir.

https://qrgo.page.link/iQp75
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O Quadro 5 demonstra as condutas a serem tomadas após acidente com


exposição a material biológico, baseadas em paciente-fonte conhecido e
desconhecido.

Quadro 5. Condutas em casos de paciente-fonte conhecido e desconhecido

Paciente-fonte
Exposição Paciente-fonte desconhecido
conhecido

HIV O paciente deve ser Deve-se levar em conta dados


orientado acerca da clínicos e epidemiológicos
importância da realização da infecção pelo HIV.
dos exames sorológicos, Tipo de exposição e situações
para dar encaminhamento podem sugerir o risco de
ao atendimento transmissão (aumentado ou
do trabalhador da reduzido). Avaliar também:
saúde acidentado. É prevalência da infecção na
necessário também localidade, origem do material
aconselhamento prévio (atentar para áreas de alto risco)
para realização do exame. e gravidade do acidente.

Hepatite B Deve ser avaliada a Com base no status vacinal do


história de infecção trabalhador acidentado, o tipo de
pelo HBV por meio do exposição e a probabilidade clínica
marcador sorológico e epidemiológica de infecção,
HBsAg. Essa avaliação irá poderá ser avaliada a necessidade
indicar infecção aguda de medidas de acompanhamento
ou crônica, reforçando a clínico-laboratorial e a aplicação
necessidade de profilaxia das medidas pós-exposição, que
e acompanhamento são vacina e imunoglobulina
do acidentado. contra a hepatite B.

(Continua)
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(Continuação)

Quadro 5. Condutas em casos de paciente-fonte conhecido e desconhecido

Paciente-fonte
Exposição Paciente-fonte desconhecido
conhecido

Hepatite C Deve ser avaliada a história De acordo com o tipo de


de infecção pelo HCV exposição e a probabilidade
por meio do marcador clínica e epidemiológica de
sorológico anti-HCV. Na infecção pelo HCV será decidida a
presença desse marcador, necessidade de acompanhamento
há provável indicativo de clínico-laboratorial.
infecção crônica pelo HCV.
Confirmar o diagnóstico
com a realização do
HVC-RNA (qualitativo).
Frente à positividade
desses exames e da
confirmação diagnóstica
de hepatite C no paciente-
fonte, é imperativo o
acompanhamento do
trabalhador acidentado.
Fonte: Adaptado de Brasil (2018).

É de suma importância que os casos de acidentes relacionados ao trabalho


sejam notificados no Sinan por meio da ficha de investigação de acidente de
trabalho com exposição a material biológico. Igualmente importante é notificar
os casos e compreender que devem ser avaliadas e planejadas ações no intuito
de promover a prevenção.

Caso o paciente-fonte seja conhecido e apresentar marcador sorológico específico


HBsAg, indicando infecção aguda, é indicada medida de profilaxia e acompanhamento
do profissional acidentado.
Doenças ocupacionais por agentes biológicos, conduta e normas de biossegurança (HIV e hepatite B) 17

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DST,


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