Mente Curiosa - Ano 5, Nº 105 - Julho - 2021

VOCÊ SABE SONHAR?

Para tudo o que
desejamos, é preciso
planejamento. Aprenda a
traçar suas metas OUTRO
PONTO DE
VISTA
Erros e frustrações
fazem parte da
vida. Que tal
encará-los como
aprendizado?

NÃO TENHA MEDO DE

RECOMECAR
Criatividade, flexibilidade e aceitação ajudam a
criar uma rotina diferente

Será que eu segui
pelo caminho certo?
É comum ter dúvidas se o que esta-
mos fazendo hoje é o que queremos
para a nossa vida. Afinal, são tantas
possibilidades! A todo momento so-
mos obrigados a fazer escolhas, op-
tar por um caminho e abrir mão do
outro. E até aí tudo bem, são dúvi-
das com as quais temos que convi-
ver. O problema é quando percebe-
mos que uma escolha não foi a mais
adequada ou que a situação já não
traz mais motivação para o dia a dia.
Nesse caso, é melhor arriscar outras
editorial
oportunidades do que viver infeliz,
concorda? Para isso, muitas vezes
precisamos encarar novos desafios,
aprender mais, reinventar-nos e até
lidar com frustrações e erros. Mas
tudo isso nos torna mais confiantes
de que podemos ser o que quiser-
mos. É isso que esta edição da Mente
Curiosa quer mostrar a você, leitor:
você pode ser quem você quiser. Que
tal experimentar? Boa leitura!
Marisa Sei, editora

CAPA
PRODUÇÃO GRÁFICA Tácia Mota
FOTO ILYAFS/ Shutterstock Images Toque para ir na matéria desejada

FORA CORRA ATRÁS CONFLITOS APRENDENDO AUTOCONFIANÇA

DA CAIXA DOS SONHOS PESSOAIS COM OS ERROS Um item
Reinventar-se Mas se planeje Superar crises Eles também são indispensável para
pode tornar muito bem gera novas necessários para mudar o rumo
seu dia a dia para isso perspectivas nossa experiência
mais feliz de vida
Fora
DA CAIXA
Reinventar-se e criar novas
rotinas e metas para sua
vida pode fazer de você uma
pessoa mais realizada e feliz.
Já pensou sobre isso?

A
palavra “mudar” significa
levar de um lugar a outro,
fazer algo de outro modo, outra
maneira; transformar, renovar,
substituir, dar outra direção. Ou seja, mudar
ou fugir do que está acostumado implica
em alterar a maneira atual do que e de como
está fazendo, pensando ou resolvendo algo.
 Sair da zona de conforto significa, muitas
vezes, ir de encontro com vários obstáculos,
deixar a inércia de lado e abrir mão de várias
coisas para enfrentar esse novo desafio. Dian-
te desse conceito, surge o medo e, junto, a
pergunta: por que abandonar a estabilidade
e partir para novos caminhos? As respostas,
muitas vezes, convencem a nós mesmos de
que não existe vantagem alguma em assumir
tais riscos. Entretanto, só acreditamos nisso
porque, comumente, damos mais atenção
para as possíveis consequências negativas
do que para as oportunidades que podem
dar certo.
De acordo com o coach e reestruturador
de empresas Júlio Correia Neto, a zona de
conforto é não conseguir olhar além de seu
próprio modelo mental. “É se fechar em suas
crenças e dogmas, não permitindo que o
novo se apresente”, comenta. Desse modo,
“complexidade”, “cultura” e “medo” podem
ser três palavras que se aproximam bastan-
te da definição do que é mudar.
NÃO É NADA FÁCIL
Na teoria parece tão fácil, porém, na prá-
tica, nem sempre isso acontece de maneira
tão simples assim. A mudança não se rea-
liza de um dia para o outro, vai aos poucos,
com o tempo e com muita força de vontade.
Seja o estilo de roupa, a casa, a cidade,
o corte de cabelo, o telefone celular e até
mesmo sua cor preferida (por que não?), as
mudanças são comuns e naturais. Contu-
do, essa verdadeira mudança só é possível
a partir da sua própria consciência sobre ela.
Júlio comenta que “sem o ato de nos
observar permanentemente,
buscando o autoconhecimen-
to, dificilmente vamos conseguir
atingir o autodesenvolvimento,
continuando na procrastinação,
reclamando de tudo e de todos”.
Entretanto, não existe hora certa pra
mudar. Algo concreto só acontece depois
de uma percepção pessoal dos aspec-
tos negativos. Ou seja, essa mudança
envolve um processo de escolha por-
que, para transformar certos padrões, é preci-
so abandonar aqueles que não servem mais.
Para muitas pessoas, essa decisão pode sig-
nificar um salto no escuro. Mas, como dizia
Albert Einstein, “insanidade é continuar fazen-
do sempre a mesma coisa e esperar resulta-
dos diferentes”.
O QUE FAZ ALGUÉM SAIR
DA ZONA DE CONFORTO?
Mas, afinal, o que faz uma pessoa querer
mudar? Pesquisa realizada pela Kaspersky
mostrou que 53% dos brasileiros consideram
mudar de emprego nos próximos 12 meses,
devido à pandemia. Eles estão em busca de
equilíbrio entre vida pessoal e profissional e
salários mais altos, uma vez que a ficar mais
tempo em casa levou à reflexão sobre a im-
portância da família, o surgimento de novos
interesses pessoais e a valorização dos mo-
mentos de lazer.
Portanto, no geral, as principais razões
são a busca por possibilidade de ascensão
profissional e melhor qualidade de vida. Es-
sas características vão muito além da ques-
tão monetária, passando por um ambiente
com boas condições de trabalho e reconhe-
cimento do esforço. Outro fator envolvido é
a rotina, que costuma atormentar quem pro-
cura variadas perspectivas de vida.
MAS, COMO IDENTIFICAR?
A descoberta de que você está repetindo
a mesma ação ajuda a lutar contra um há-
bito nocivo e encontrar novos caminhos
e novas rotinas. Nesse sentido, é preci-
so refletir sobre os benefícios e malefícios
sobre aspectos da saúde, relações pesso-
as, sociais, profissionais e emocionais.
Antes de partir para a mudança de fato,
é preciso ter essa autoconsciência, aceitar
que algo está errado e identificar quais são
os hábitos nocivos que precisam ser subs-
tituídos ou quais rotinas devem ser altera-
das. A coach Soraya Salomão comenta que
é preciso “se perguntar e se questionar so-
bre suas atitudes. Sobre o que você quer
fazer? E por que não está fazendo?”.
PRÓS X CONTRAS
Ao nos arriscarmos, inconsciente-
mente avaliamos possíveis ameaças
e isso gera um sentimento de medo,
que pode ter intensidades variadas
de acordo com os riscos que pre-
vemos. O peso inicial gerado pela
mudança é temporário, já as trans-
formações podem ser valiosas e du-
radouras, inclusive com os erros.
Para a coach Soraya Salomão, o úni-
co malefício de sair da zona de con-
forto é não sair. “A pessoa perde
diversas oportunidades de ter uma
vida mais extraordinária ainda, pois,
no momento em que se sente con-
fortável com algo, ela provavelmen-
te não vai agir para tomar as pro-
vidências cabíveis para ser melhor
FOTOS Mr.Thanakorn Kotpootorn/ Shutterstock Images
A mudança pode acontecer aos poucos,
experimentar se desafiar em atitudes que
parecem simples: mudar o seu caminho até
o trabalho, por exemplo, ou alterar o seu ho-
rário de almoço ou de tomar banho, usar
roupas de cores diferentes... Esse “adeus
à zona de conforto” traz novidades, pesso-
as, situações novas e necessárias para o
aprendizado. Júlio ressalta que “sem arriscar,
desperdiçamos a oportunidade de crescer,
de evoluir, de experimentar os mais belos e
diferentes momentos da vida”.
ainda”, explica. Porém, é claro que
se arriscar exige cautela e é impor-
tante avaliar prós e contras. É fun-
damental sabermos quais sãoos pe-
rigos que corremos ao assumir uma
posição ousada ou inovadora para
não agirmos de forma imprudente.
Entretanto, é danoso superestimar
os possíveis efeitos negativos e es-
quecer que, às vezes, temos motivos
e metas bem definidos para nossa
própria realização. Esses, positivos,
lembra Júlio Correia, “quando pra-
ticado com responsabilidade e bom
senso, nos conduz ao sentimento de
liberdade plena, de estarmos nos
comportando como um ser integral
(matéria, mente e alma)”.
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 Como correr
ATRÁS DOS
SONHOS?
Para alcançar seus objetivos, por vezes, é preciso
parar e pensar. Especialistas explicam por que é tão
importante se planejar para alcançar o que se quer
T
er sonhos pode ser tão frustrante
como recompensador. Isso porque,
muitas vezes, tentamos de qualquer
forma determinar o que é desejado e
acreditamos que alcançar algo é uma ques-
tão de pura sorte ou de fatores que estão lon-
ge do nosso alcance.
Entretanto, a busca da realização de suas
metas de vida é algo que depende de organi-
zação e disciplina, além da capacidade de su-
perar as dificuldades e se reerguer após os
tropeços. Conversamos com especialistas para
determinar como se organizar para cumprir ob-
jetivos e sobre a importância da superação.
Não é culpa sua. A relação que temos com
o tempo nos dias atuais é complexa, muitas
vezes são as coisas ao nosso redor que nos
aceleram e consomem, como explica Marce-
la Rangel, especialista em desenvolvimento
humano: “Vivemos em um mundo cada vez
mais veloz, agora as mudanças são rápidas
demais e isso é um fato novo para nós. Nun-
ca em toda a nossa história se mudou com
tanta velocidade. Com isso a nossa noção
de tempo também mudou. Cada dia você se
levanta mais cedo e vai dormir mais tarde, e
sempre com a sensação de que deveria es-
tar mais tempo acordado”.

FALTA DE TEMPO PARA

SI PRÓPRIO
Um problema recorrente para quem tem so-
nhos como empreender ou deseja atingir uma
meta é a falta de tempo para as realizações
pessoais. “O desenvolvimento tecnológico –
incluindo a internet – deixou os processos
mais céleres”, explica Alexandre Prado, es-
pecialista em economia e coach de car-
reiras. “O resultado dessa celeridade é
que estamos cada vez mais com a sen-
sação de perder o tempo”.
Por vezes, a falta de tempo passa
uma sensação de que o dia é curto
para realizar as tarefas do nosso tra-
balho, que nos sustenta, e ao mesmo
tempo ter um projeto pessoal, explica
Alexandre: “Sabemos que um dia tem
aproximadamente 24 horas, mas insisti-
mos em ocupar-nos com tantas atividades
quantas forem possíveis para nos diferen-
ciar, aprender mais, entregar mais, agregar
mais valor. Porém, queremos fazer tudo isso
– e mais um pouco – sem organização”.
 É preciso contornar os problemas do tem- sitivas em tempos de crise, adotam a postura
po ao nosso redor para conseguir alcançar os de aprender continuamente com as experiên-
objetivos traçados, mas é preciso também sa- cias da vida e possuem sólida autoestima. As
ber não se preocupar com isso o tempo todo. pessoas que possuem resiliência são muito
“Pesquisas recentes mostram que o sentimen- valorizadas no convívio social e profissional,
to ‘acelerado’ pode levar ao estresse
e à infelicidade. Todos os dias nós
recebemos milhares de informa-
ções de todos os lados: mídias,
amigos, trabalho”, conta Marce-
la. “É preciso estar em equilíbrio
para processar esse turbilhão de
informações, é preciso ter auto-
controle e saber identificar o que
é útil e desnecessário para eliminar
o que não faz bem”, pontua.

RESILIÊNCIA
No entanto, como superar os desgastes
do dia a dia e as dificuldades de forma a con-
seguir superar o trauma de ter seus objetivos
negados? É preciso desenvolver resiliência, pa-
lavra explicada por Marcela: “Significa a ha-
bilidade de persistir nos momentos difíceis
mantendo a esperança e o equilíbrio emo-
cional. Pessoas altamente resilientes se tor-
nam mais fortes após situações difíceis. Isso
acontece porque elas desenvolvem autocon-
fiança aprendendo novas formas de lidar com
os desafios”.
O caminho para nos tornarmos mais resi-
lientes é, ainda, desafiador. É preciso mais do
que simplesmente insistir nas mes-
mas questões e continuar errando.
Conforme nos conta Alexandre, o
ideal é aprender com os erros: “In-
divíduos resilientes possuem grande ca-
pacidade de adaptação, esperam que as
coisas terminem bem, criam emoções po-
pois encaram as adversidades como oportu-
nidades de aprendizado ou melhoria”.
SUPERAR OS NÃOS
Em geral, a diferença entre uma pessoa
que apenas sonha e outra que realmente al-
cança seus objetivos é a capacidade de se
reerguer das dificuldades. O sonho de uma
promoção, por exemplo, pode ser negado al-
gumas vezes antes de ser realizado.
Em dados momentos, quando algo nos é
recusado, a atitude correta para conseguir al-
cançar o seu sonho é a de recuperação. “Ouvir
o ‘não’ faz parte do processo de maturidade
e é elemento integrante das relações huma-
nas. As pessoas são diferentes e podem pos-
suir percepções distintas sobre determinada
questão”, explica Alexandre. “Também, cada
um possui sua própria estrutura de crenças e
valores, o que impacta em suas atitudes no
mundo objetivo. Uma vez que o indivíduo te-
nha clareza de propósito e saiba onde quer
chegar ou o que alcançar, os ‘nãos’ não de-
vem impedi-lo de seguir em frente”.
Para Marcela, entender a importância do
‘não’ pode ser algo que transformará esse obs-
táculo em uma plataforma para alcançar um
objetivo mais alto: “Receber ‘nãos’ faz parte
de um processo de aprendizado e evolução.
É uma boa oportunidade para refletir sobre
estratégias e metas. Quando se depara com
os ‘nãos’ da vida, o inconformismo e a bus-
ca por explicações se fazem presentes. Mui-
tas pessoas fogem e acabam transferindo a
culpa para os outros e dando desculpas por
não terem conseguido”.
Mas o ‘não’ pode ser também um alerta,
uma forma de compreender o caminho a ser
tomado. Marcela fala da importância de en-
tender a mensagem passada pela nega-
ção de algo: “Falar e ouvir ‘não’ é uma
forma de dar limites, mostrar outros ca-
minhos e criar novas estratégias. O ‘não’
sempre abre novas portas. É um con-
vite para uma grande reflexão sobre
seus pensamentos, comportamentos
e atitudes”.
Para Alexandre, o resultado de uma
negação depende de como ela é encara-
da: “O ‘não’ pode ser analisado por dois
prismas. O primeiro, relacionado simples-
mente ao ponto de vista diferente da outra
pessoa. O segundo, como uma forma objeti-
va de aprendizado e aperfeiçoamento”.
 PLANEJAMENTO PESSOAL
Simplesmente não desistir dos sonhos é
importante, mas o caminho para realmente
alcançar uma meta é feito não apenas de
continuar a subida, e sim de planejar o cami-
nho. Ser organizado e processual é importan-
te, como explica Marcela: “Quem se planeja
sabe aonde quer chegar e o faz com maes-
tria. A falta de planejamento acaba levando
para muitos caminhos que não vão a lugar
nenhum. A maioria das pessoas desperdi-
ça tempo e energia tentando fazer mil coi-
sas de uma vez só, se perdendo em metas
desalinhadas e sem foco. Resultado final:
desistem ou levam o dobro ou até mesmo
o triplo do tempo”.
“Igualmente importante de saber para
onde, é como fazer para chegar lá. Aí entra
o planejamento. Um plano eficaz pode ser
determinante entre alcançar ou não o que
se deseja”, explica Alexandre. “Atitudes po-
sitivas relacionadas a este planejamento
– clareza de propósito, foco, disciplina, per-
severança, paciência – podem contribuir para
o melhor resultado. Por outro lado, compor-
tamentos negativos podem impedir que o
indivíduo chegue onde deseja”.
A principal vantagem do planejamento
é que ele possibilita uma visão mais real e
abrangente do seu sonho. “Existem muitas
pessoas que têm várias metas, que estão
desalinhadas ou em oposição umas com as
outras. Querem ganhar dinheiro, mas não
desejam trabalhar. Querem frequentar a uni-
versidade, mas não querem estudar”, conta
Marcela. “Todo esse desalinhamento causa
uma grande confusão que se torna tão insu-
portável que elas terminam não colocando
nada em prática. Isso gera um resultado de
realização limitada, sucesso limitado, saú-
de precária e infelicidade”.
Com o planejamento, é mais fácil con-
quistar confiança e se preparar para ser
mais resiliente e dedicado ao seu projeto,
como explica Alexandre: “Fundamentalmen-
te, o indivíduo preparado, que se organizou
e planejou, está muito mais seguro e con-
fiante que irá chegar onde quer”. Organiza-
ção, portanto, é a chave para a realização
dos seus sonhos.
“A escolha de uma meta não é algo opres-
sor e não se faz para agradar outras pes-
soas”, explica Marcela, esclarecendo que a
decisão de se organizar não é, necessaria-
mente, a mesma coisa que engessar o seu
sonho e torná-lo algo impessoal. “A forma
mais eficaz para se criar uma boa meta é
utilizar o seu melhor raciocínio, temperado
com a sua intuição”.
A conclusão final, portanto, é que traçar
objetivos e procurar um planejamento são
formas mais tranquilas de vencer os proble-
mas que se interpõe entre você e seu sonho.
“Costumamos dizer que metas são sonhos
com data de realização. Talvez o maior be-
nefício de traçar metas e planejar-se para al-
cançá-las seja uma certeza maior de êxito”,
finaliza Alexandre.
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Lidando com
CONFLITOS
PESSOAIS
Palavra quase sempre
na moda, a crise –
independentemente do
tipo – pode causar vários
problemas. Por outro lado,
superá-la garante novas
perspectivas de vida e
realizações

Q
uando você abre os olhos, se de-
para com uma situação indeseja-
da. De repente, aquilo que buscava
ficou inalcançável, o que tentava
manter escapou entre os dedos, e um turbi-
lhão de emoções te afunda. Em meio ao de-
sespero, você descobre o quão difícil é viver
em uma situação de crise. Como uma roupa
que entra e sai de moda com o passar do
tempo, a palavra crise ronda o mercado finan-
ceiro, a política, as instituições, mas ela é ain-
da mais perversa quando é individual. Seja
nas emoções, na carreira, nas relações, a
pessoa pode perder tudo por um simples erro.
Ao chegar neste momento, é difícil enxergar
além do muro construído pela adversidade.
“A crise traz a incerteza profunda sobre o fu-
turo e nos ilude com um presente aparente-
mente insosso”, observa Marko Porto, coach
motivacional e palestrante. Mas saiba que pu-
lar – ou destruir – esse muro pode ser ainda
mais prazeroso do que as conquistas anterio-
res. Basta recomeçar.
REFLETIR É PRECISO
E como devemos reiniciar nossa trajetória
após uma crise? Joseane Freitas, psicóloga,
especialista em desenvolvimento do poten-
cial humano nas organizações, ressalta que,
em primeiro lugar, é preciso aprender a lidar
com os erros de maneira mais natural. “Assu-
mir as rédeas de nossa vida implica em tomar
decisões, e nem sempre teremos condições
de tomar a melhor delas. Nesses casos, te-
mos que ser mais suaves com nós mesmos
e aprender a nos perdoar, entender que este
processo não nos fará menores, mas pelo
contrário, nos trará aprendizados importantes
para as próximas decisões de nossas vidas”.
Estar disposto a refletir sobre aconteci-
mentos desagradáveis é outro ponto a ser
trabalhado. Joseane comenta que a reflexão
deve existir, como uma forma de aproveitar
esses momentos para entender um pouco
mais sobre nós mesmos, analisando nossas
fraquezas e fragilidades. “A sociedade atual
muitas vezes nos impõe um modelo onde
não se pode errar, não se pode fraquejar, e
isso pode criar um sentimento de decepção
consigo mesmo muito grande nesses mo-
mentos, quando, na verdade, é um processo
absolutamente natural do desenvolvimento
do ser humano. Precisamos aprender a lidar
com essas ocorrências como somente mais
uma etapa dessa jornada que chamamos de
vida”, complementa.
Com esse ato reflexivo sobe os erros co-
metidos – da mesma forma que dos acertos
realizados –, acabamos criando elementos
para construir o que a especialista chamou
de “manual mental das lições aprendidas”,
dando condições de utilizar as experiências
pela quais passamos em nosso proveito e
daqueles que amamos, buscando não repetir
escolhas ruins. “Temos que nos questionar
sobre a motivação de termos escolhido um
caminho que não foi legal, como isso mexeu
conosco, o que precisamos fazer para tentar
não errar novamente e, finalmente, sempre
devemos estar dispostos a reparar um erro
quando este fizer mal a outras pessoas”, re-
comenda a psicóloga.
AÇÃO
Assim que a mente se recupera, é pre-
ciso passar para a prática tudo que é pla-
nejado. Esse é o movimento padrão para a
pessoa que passa por um momento de cri-
se, independente de qual tipo seja. “Cada
um lida com a crise de forma diferente. É
preciso identificar a raiz dela e ter consciên-
cia de que para mudar é necessário agir. Sei
que pode ser debilitante estar em crise, mas
nesses momentos precisamos compreender
que a nossa vida deve partir de nós”, comen-
ta Marko Porto.
É claro que os riscos de uma nova atribu-
lação e o desenvolvimento de outra crise po-
dem acontecer, mas não podemos deixar de
tentar. “Cada dificuldade superada é um ní-
vel maior de resiliência alcançado. A crise
nos ensina que é possível superá-las”, res-
salta Marko. Da mesma forma, Joseane Frei-
tas aponta a resiliência como grande aliada.
“Precisamos aceitar o fato de que viver impli-
ca em ter alegrias e tristezas, realizações e
decepções. Portanto, devemos estar prepara-
dos e trabalhar nossa resiliência, pois esses
momentos irão ocorrer, e se não soubermos
lidar com eles viveremos em uma montanha
russa de euforia e tristeza”.
Por mais dura e difícil de sair que seja, a
crise nos traz aprendizados. Segui-los pode
nos garantir um futuro de maiores conquis-
tas e alegrias. Viver na crise é terrível, mas
se ela for tratada com uma forma de su-
peração, é difícil que ela permaneça
por tanto tempo.
DA CRISE AO EXEMPLO
Hoje coach motivacional e pales-
trante, Marko Porto viveu dificul-
dades para conseguir sucesso em
seus negócios. Envolvido no ramo
da beleza e estética, ele precisou dar
a volta por cima após um baque fi-
nanceiro. “Minha maior crise foi aos
40 anos. Minha esposa estava grá-
vida e já tínhamos dois filhos. Está-
vamos falidos após investir em uma
segunda unidade do nosso salão. A
superação surgiu após muita análi-
se, nesta noite em particular, quan-
do tive a convicção de que eu preci-
sava fazer alguma coisa. Ninguém
me tiraria daquela situação a não
ser eu mesmo. Descobrindo essa
força, esse poder que eu tinha – e
tenho – de mudar a minha jornada,
decidi abrir o coração para as pesso-
as à minha volta para reconstruir
o meu negócio”, relata Marko,
que possui na atualidade uma
holding que controla várias
marcas de embelezamento
pelo país, atendendo a mais
de 200 mil clientes por mês.
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APRENDER
com os erros
Errar, cair e levantar. Pode ser difícil
lidar com a situação, mas os benefícios
e a satisfação em aprender e dar lugar
ao novo é incrível

Q uem nunca “tropeçou” uma vez na

vida? Afinal, o ditado popular “er-
rar é humano” permanece total-
mente válido ainda hoje. No entanto, mudar
depende da maneira como você interpreta
o erro. Uma falha durante algum momento
da longa caminhada que é a vida pode – e
deve – ser vista como uma nova oportuni-
dade para tomar decisões mais coerentes
no futuro.
Ao errar ou fracassar, aprendemos o que
não fazer. De acordo com a psicóloga Sha-
ron Feder, os erros permitem a autorrefle-
xão e o autoconhecimento. “A ‘garra’ é um
traço de personalidade que mistura paixão
com determinação e contempla a busca pela
realização de metas, altos níveis de motiva-
ção e superação de obstáculos. Esta força
interna é desenvolvida através dos erros ao
longo da vida. Pessoas com essa garra ten-
dem a atingir objetivos desejados por ter o
conhecimento, a experiência e a confiança
de saber lidar com erros”, elucida.
 PONTO FINAL
Abrir mão de alguém ou de algum objeto
ou objetivo é necessário, não dá pra ganhar
e/ou ter tudo sempre. Essa é uma das re-
gras básicas para a vida do ser humano. Não
existe uma espécie de bula ou regulamento
específico considerado ideal para colocar um
ponto final em alguma coisa, pois cada situ-
ação e cada indivíduo é diferente do outro.
A vida é repleta de começos e fins de eta-
pas. Por exemplo: uma gravidez que se ini-
cia com o crescimento da barriga e com a
formação do bebê e é finalizada com o nas-
cimento. A partir desse momento, começos
e finais fazem parte do crescimento e de-
senvolvimento humano. Mas, se a vida é re-
pleta de começos e fins de etapas, por que
é tão difícil colocar um ponto final nas coi-
sas? A psicóloga Lia Clerot comenta que en-
cerrar os ciclos é muito importante na vida
do ser humano, porém é algo que causa
medo. “A dificuldade não está necessaria-
mente em colocar um ponto final nas coisas
e sim no medo do novo, na ansiedade de
não saber o que vai acontecer em seguida.
Geralmente, quando se convive muito tem-
po com algo ou alguém, temos a tendência
a ficar na zona de conforto, como se nada
pudesse abalar aquela relação, sair dessa
zona confortável para algo desconhecido é
o que acaba fazendo com que muitas pes-
soas tenham medo de encerrar alguns ci-
clos da vida”, finaliza a especialista.
Enquanto a pessoa tem receio de conhe-
cer o novo e não se sente segura para dar
um passo adiante, ela prefere arrastar o re-
lacionamento, o emprego, uma atividade físi-
ca, ou outro vínculo que em algum momento
teve o efeito de felicidade, porém, que agora
só é levado como reticências.
O CORPO HUMANO EM AÇÃO
Quando algo sai errado, o cérebro tem
duas reações imediatas. Primeiro, o sinal
que reconhece o equívoco e, logo em se-
guida, acontece aquele que conscientiza o
indivíduo do erro e indica que ele já está
pensando em como consertá-lo. Baseados
nessas informações, cientistas da Michigan
State University, em um artigo publicado na
Psychological Science, afirmam que a atitu-
de de uma pessoa frente a um erro pode
dizer como esse influenciará em tentativas
futuras – se o erro servirá como ensinamen-
to ou não. De acordo com as reações ce-
rebrais dos voluntários, os pesquisadores
concluíram: quem pensava que a inteligên-
cia poderia ser desenvolvida e acreditava no
aprendizado extraído de erros tinha aquela
segunda reação – de aceitar o deslize e já
pensar em corrigi-lo – em maior intensidade.
Dessa forma, nos próximos testes, o índice
de acerto dessas pessoas era bem maior.
 LIDANDO COM OS ERROS
Apesar de sempre ouvirmos que errar é
ruim, a maneira com que olhamos para essa
situação aparentemente negativa pode mu-
dar tudo. Quando experimentar a decepção
ou o fracasso, procure enfrentá-los de ca-
beça erguida, mesmo que seja difícil. Vale
a pena! “É preciso encarar os erros como
algo que nos ensinou alguma coisa, e tam-
bém para nos ensinar a conviver com as
frustrações. Não temos o domínio de tudo
e isso deve nos educar para respeitarmos
mais nossos limites e melhorar também
nossa convivência com quem está ao nos-
so redor”, explana Lia.
Quando você se encontra num estado
de sofrimento, é automaticamente puxado
para baixo, onde seus pensamentos e an-
gústias se enraízam no medo, tristeza e dor.
O ciclo de negatividade só tende a crescer e
se tornar uma bola de neve cada dia maior
– é como se a tristeza se alimentasse da
sua própria tristeza, como em um ciclo sem
fim. Ninguém gosta de ficar decepcionado,
mas é preciso saber lidar com a situação.
De acordo com a psicóloga Sharon Feder,
“o primeiro passo é respirar. No segundo
momento, analisar a situação de uma nova
maneira e entender que tudo na vida pas-
sa”. Na mesma linha de raciocínio, a psi-
coterapeuta Triana Portal comenta que “o
ideal é sempre buscar o equilíbrio nessas
situações. A pessoa tem que manter a cal-
ma, evitar reações impulsivas, tentar conter
o medo, ansiedade e evitar se desesperar”.
OS BENEFÍCIOS DE ERRAR
Uma vez que você permanece em um
estado de desapontamento, fica preso nas
suas expectativas frustradas de como de-
veria ser a realidade. Mas, a maioria das
percepções não são verdadeiras, elas são
apenas invenções criadas por você e pelo
seu cérebro reagindo ao medo de errar.
“É importante aprender a conviver com
as frustrações até mesmo para aprender a
respeitar as limitações que são inerentes
a todo ser humano”, lembra Lia Clerot. Ain-
da que alguns dos seus objetivos antigos
possam ter resultado em decepções, isso
pertence ao passado. É preciso aprender
com elas e continuar em frente. Com os er-
ros, entendemos o melhor caminho, o que
funciona ou não. De acordo com a psico-
terapeuta, esses percalços e falhas “ensi-
nam a ouvir, observar e calcular melhor os
riscos e as consequências de suas ações.
Além de assumir suas deficiências e apren-
der a domar a vaidade, levando ao amadu-
recimento pessoal, ao empoderamento e à
segurança”.
 COMO LIDAR COM
O ERRO?
A frustração faz parte da vida e não
tem como escapar. Somos seres hu-
manos e, pela nossa natureza, iremos
cometer erros e ficaremos frustra-
dos. A psicoterapeuta Triana Portal
deu algumas dicas de como fugir das
ciladas que esses desapontamentos
podem colocar no seu caminho:
• Não compensar a dor com vícios de
nenhuma ordem, seja cigarro, bebi-
das, drogas, jogos, internet, isso é o
maior perigo quando a pessoa está
frustrada.
• Não culpar nem descontar nos ou-
tros, assuma sua responsabilidade e
dor, assim terás o outro como ajuda
e não como instrumento de descarga
da sua frustração.
• Peça ajuda, busque um ombro ami-
go, desabafe, não tenha vergonha de
externar sua dor nos momentos di-
fíceis. Estar com pessoas distrai, di-
reciona, preenche o coração e evita
pensamentos recorrentes, tira o foco
do problema.
• Reflita sobre o que realmente te in-
comoda e o que é possível fazer para
mudar a situação.
• Não se lamentar, nem se compor-
tar como vítima – controlar pensa-
mentos nocivos, ter visão ampla, não
se desesperar, aguardar por dias me-
lhores e seguir em frente.
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Ilustrações deviyanthi79, wowomnom e GoodStudio/Shutterstock Images
 AUTOCONFIANÇA:
a mola para
grandes saltos
Acreditar em si mesmo é primordial para
muitas coisas, o recomeço é uma delas

N ão há dúvidas da importân-
cia de acreditar em si mes-
mo para conseguir o que
almeja. Para ajudar nisso, Miguel Lu-
cas, psicólogo e preparador mental
de atletas e equipes esportivas, ela-
borou em artigo para o site Escola
Psicologia algumas dicas de ações
que auxiliam no desenvolvimento da
autoconfiança e da autoestima. Con-
fira alguns deles:

PENSE POSITIVAMENTE
SOBRE SI MESMO
Sempre que surgirem na sua mente
pensamentos depreciativos acerca de
si próprio, não os siga. Crie outros que
possam orientá-lo para as coisas que
quer alcançar e que o ajude a transmi-
tir confiança. Lembre-se de que, ape-
sar dos seus problemas, você é uma
pessoa única, especial e valiosa, me-
recedora de se sentir bem.
 APRENDA A GERIR SEUS
NÍVEIS DE ESTRESSE

Ilustrações Senntabi e Olga Strelnikova/Shutterstock Images

O estresse se faz sentir sempre que sua
capacidade de resposta seja inferior às exi-
gências enfrentadas. Se você não é capaz
de responder de forma funcional e eficaz ao
que acontece em seu dia a dia, a autoes-
tima pode sofrer abalos. É importante per-
ceber a exigência das tarefas que precisa
realizar e entender se está preparado para
responder ou resolvê-las de forma eficaz.

ORGANIZE SEU ESPAÇO

PESSOAL E PROFISSIONAL
Mantenha-os limpos, confortáveis e atra-
entes. Sentir-se bem nos espaços onde se
passa a grande maioria do tempo é essen-
FAÇA COISAS QUE VOCÊ
cial para receber estímulos de bem-estar. TEM ADIADO CONSTANTEMENTE
Organize as coisas da forma que possa ter
Pode ser algo que você não goste, mas
a maior satisfação possível.
que acredite ser necessário (como fazer aca-
demia, por exemplo), ou algo que lhe gera
ESTABELEÇA UM DESAFIO
QUE VOCÊ POSSA medo, receio ou dúvida sobre ter ou não ca-
REALMENTE CONSEGUIR pacidade para realizar bem o que for propos-
to. Ao enfrentar o que teme, pode ser bem
A melhor forma de se começar um desen-
sucedido, tendo como retorno o aumento e
volvimento da autoconfiança é com os pe-
o reforço da confiança em si mesmo.
quenos objetivos. Por exemplo, fazer yoga,

<
aprender a cantar, ou cozinhar um jantar
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para um pequeno grupo de pessoas em sua
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casa. E não pare até alcançá-lo!

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