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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

EDUARDO PINHEIRO LIMA DE CARVALHO

DESENVOLVIMENTO DO PPRA DE UMA COZINHA INDUSTRIAL

Florianópolis / SC
2017
EDUARDO PINHEIRO LIMA DE CARVALHO

DESENVOLVIMENTO DO PPRA DE UMA COZINHA INDUSTRIAL

Monografia apresentada ao Curso de


Especialização em Engenharia de Segurança e
Saúde do Trabalho da Universidade do Sul de
Santa Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de Especialista em
Engenharia de Segurança e Saúde do
Trabalho.

Orientador: Prof. Dr. José Humberto Dias de Toledo


Co-orientador: Prof. Migliane Réus de Mello.

Florianópolis / SC
2017
EDUARDO PINHEIRO LIMA DE CARVALHO

DESENVOLVIMENTO DO PPRA DE UMA COZINHA INDUSTRIAL

Esta Monografia foi julgada adequada à


obtenção do título de Especialista em
Engenharia de Segurança e Saúde do Trabalho
e aprovada em sua forma final pelo Curso de
Especialização em Engenharia de Segurança e
Saúde do Trabalho da Universidade do Sul de
Santa Catarina.

Florianópolis, (dia) de (mês) de (ano da defesa).

______________________________________________________
Professor e Orientador: Prof. Dr. José Humberto Dias de Toledo.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Ao meu pai Ramon, exemplo de caráter,
honestidade e trabalho, que mesmo partindo
cedo deixou muitos exemplos positivos e uma
imensa saudades.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe Tita, por acreditar em mim e me incentivar a buscar meus
objetivos, sempre me apoiando e me fazendo acreditar que no fim tudo da certo. Só tenho a te
agradecer.
À minha Tia Nana, também sempre incentivando a correr atrás dos meus
objetivos, ajudando de todas as formas possíveis. Obrigado por tudo.
Aos meus irmãos, Xandy, Fer, Zinho, Sú e Helô. Uns mais perto, outros mais
longe, mas todos importantes igualmente na minha vida.
À Gisele, parceira de vida, que esta sempre ao meu lado, me apoiou do início ao
fim em mais uma etapa vencida e me abriu as portas da sua empresa para realização deste
trabalho.
Aos colegas do curso, por tornarem os momentos de aprendizado mais leves e
interessantes.
Ao meu orientador Prof. Dr. José Humberto, coordenador do curso e aos demais
professores, com quem pude aprender muito sobre a profissão de engenheiro de segurança do
trabalho durante estes 2 anos.
À Prof. Eng. Migliane, que aceitou me co-orientar neste trabalho, sempre
disponível e trouxe muita prática e conhecimento à minha formação.
A todos que de alguma forma contribuíram para a execução deste trabalho.
“O que é sucesso? Rir muito e com frequência; ganhar o respeito de pessoas
inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a
traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um
pouco melhor, seja por uma saudável criança, um canteiro de jardim ou uma redimida
condição social; saber que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é
ter sucesso!” (Ralph Waldo Emerson)
RESUMO

O simples ambiente de uma cozinha doméstica já representa alguns riscos a nossa segurança e
a nossa saúde, agora imagine a dimensão dos riscos dentro de uma cozinha que trabalhe em
escala industrial. Este estudo buscou identificar os riscos ambientais presentes no dia a dia de
uma empresa que produz produtos congelados no centro de Florianópolis/SC, e de acordo
com o que determina a NR-09, possa ser elaborado o PPRA da empresa. Constatou-se a
existência de riscos físicos e químicos, principalmente na cozinha da empresa, onde ocorrem a
maioria das atividades. Foram identificadas fontes geradoras de calor, ruído e o contato com
produtos químicos de limpeza. Porém quando os níveis de exposição dos trabalhadores foi
quantificado, foi possível concluir que nenhum risco ambiental se encontrava de forma a
extrapolar os níveis de ação ou os limites de tolerância para exposição ocupacional a tais
agentes. Concluindo o estudo, fez-se as orientações quanto as medidas de controle e
prevenção a serem adotadas pela empresa quando necessário e elaborou-se um cronograma de
monitoramento. Com isso é possível desenvolver o PPRA da empresa.

Palavras-chave: PPRA. Ruído. Calor. Agentes químicos. Riscos ambientais.


ABSTRACT

The simple environment of a domestic kitchen already poses some risks to our safety and our
health, now imagine the dimension of risks within a kitchen that works on an industrial scale.
This study aimed to identify the environmental risks present in the daily life of a company
that produces frozen products in the center of Florianópolis / SC, and according to what
determines the NR-09, the company's PPRA can be elaborated. The existence of physical and
chemical risks was verified, mainly in the kitchen of the company, where most of the
activities take place. Sources of heat, noise and contact with cleaning chemicals were
identified. However, when the workers' exposure levels were quantified, it was possible to
conclude that no environmental risk was found in order to extrapolate action levels or
tolerance limits for occupational exposure to such agents. Concluding the study, the
guidelines were made regarding the control and prevention measures to be adopted by the
company when necessary and a monitoring schedule was elaborated. With this it is possible to
develop the company's PPRA.

Keywords: PPRA. Noise. Heat. Chemical agentes. Environmental risks.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Cozinha extensão.....................................................................................................30

Figura 2 – Cozinha equipamentos.............................................................................................31

Figura 3 – Masseira...................................................................................................................32

Figura 4 – Ultra congelador Compacta.....................................................................................32

Figura 5 – Cilindro usado para abrir a massa............................................................................33

Figura 6 – Forno industrial.......................................................................................................34

Figura 7 – Setor de embalagem................................................................................................36

Figura 8 – Medidor de Stress Instrutherm TGD-400...............................................................38

Figura 9 – Dosímetro Instrutherm DOS-600............................................................................42

Figura 10 – Mapa de riscos ambientais na empresa................................................ .................50


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Modelo para estimativa de risco (probabilidade x gravidade)...............................16

Tabela 2 - Limites de tolerância para ruídos contínuo ou intermitente...................................23

Tabela 3 - Quadro Nº1 do anexo III da NR-15.........................................................................26

Tabela 4 – Quadro Nº2 do anexo III da NR-15........................................................................26

Tabela 5 - Taxa metabólica por tipo de atividade....................................................................39

Tabela 6 - Média últimas 10 leituras IBUTGi ºC.....................................................................40

Tabela 7 - Nível médio de ruído x tempo (Cozinha)................................................................43

Tabela 8 - Nível médio de ruído x tempo (Embalagem)..........................................................45

Tabela 9 - Informações FISPQ àgua sanitária..........................................................................46

Tabela 10 - Informações FISPQ sabão em pó..........................................................................47

Tabela 11 - Informações FISPQ pasta rosa..............................................................................48

Tabela 12 - Informações FISPQ àlcoo 70%.............................................................................48

Tabela 13 - Tabela de riscos....................................................................................................49

Tabela 14 - EPIs fornecidos pela empresa...............................................................................52

Tabela 15 - Quadro proposta de medidas e cronograma de execução.....................................55


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 12
1.1 TEMA E DELIMITAÇÃO .............................................................................................. 13
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ......................................................................................... 13
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 14
1.4 OBJETIVOS .................................................................................................................... 14
1.4.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 14
1.4.2 Objetivos Específicos................................................................................................... 15
1.5 METODOLOGIA ............................................................................................................ 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 17
2.1 SEGURANÇA DO TRABALHO.................................................................................... 17
2.1.1 História ......................................................................................................................... 17
2.1.2 Conceito ........................................................................................................................ 18
2.2 NORMAS REGULAMENTADORES ...........ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
2.2.1 Norma regulamentadora 6 – Equipamento de proteção Individual – EPI ........... 19
2.2.2 Norma regulamentadora 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais –
PPRA....................................................................................................................................... 20
2.2.3 Norma regulamentadora 15 – Atividades e operações insalubres ......................... 21
2.3 NORMAS DE HIGIENE OCUPACIONAL ................................................................... 22
2.4 AGENTES NOCIVOS..................................................................................................... 22
2.4.1 Ruídos ........................................................................................................................... 22
2.4.2 Calor ............................................................................................................................. 24
2.4.3 Agentes químicos ......................................................................................................... 26
2.5 COZINHA INDUSTRIAL ............................................................................................... 27
3 RESULTADOS E ANÁLISES......................................................................................... 29
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ........................................................................... 29
3.2 ATIVIDADES POR SETOR ........................................................................................... 30
3.2.1 Cozinha......................................................................................................................... 30
3.2.2 Embalagem .................................................................................................................. 35
3.2.3 Ponto de Venda ............................................................................................................ 36
3.3 IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS ................................................................................... 36
3.3.1 Análise de calor............................................................................................................ 37
3.3.2 Análise de ruído ........................................................................................................... 41
3.3.3 Análise agentes químicos ............................................................................................ 45
3.3.4 Mapa de riscos ............................................................................................................. 49
3.4 MEDIDAS DE CONTROLE ........................................................................................... 51
3.4.1 Medidas de controle existentes ................................................................................... 51
3.4.2 Sugestões de melhorias e monitoramento ................................................................. 53
3.4.2.1 Treinamento ............................................................................................................... 54
3.4.2.2 PCMSO ....................................................................................................................... 54
3.4.2.3 Cronograma de ações e monitoramento .................................................................. 55
3.5 JUSTIFICATIVA DE INVESTIMENTO EM PREVENÇÃO ....................................... 55
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 57
5 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 59
12

1 INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988, no seu Art. 6º, estabelece entre os direitos sociais
fundamentais a saúde, o trabalho, e a segurança. Acontece que todos os dias no Brasil
milhões de trabalhadores exercem suas atividades profissionais se expondo a situações que
representam riscos à sua saúde e vida. Esta probabilidade de um trabalhador sofrer algum
dano em decorrência de sua atividade profissional, chamamos de risco ocupacional, ou seja,
são acidentes ou possíveis doenças a que os empregados se expõem no exercício do seu
trabalho (CUSTÓDIO, 2017). Um trabalhador acidentado ou doente representa prejuízo tanto
para o empregador/empresa como para o Estado.

Como forma de minimizar os danos à saúde dos trabalhadores o Ministério do


Trabalho e Emprego elaborou Normas Regulamentadores para regirem legalmente as
questões relativas à saúde e integridade física dos trabalhadores durante sua jornada laboral.
As NRs tratam-se do conjunto de requisitos e procedimentos relativos a medicina e segurança
do trabalho de observância obrigatória pelas empresas privadas, públicas e órgãos
governamentais que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho –
CLT. Em 1978 foram criadas através da Portaria nº 3.214, 28 NRs, no entanto, atualmente já
são 36. Dentre estas podemos destacar algumas de especial importância para a elaboração do
presente Trabalho, são elas a NR-09 que trata sobre a elaboração dos Programas de Prevenção
de Riscos Ambientais – (PPRA), NR-06 sobre equipamentos de proteção individual (EPI) e a
NR-15 que determina quais são e os respectivos limites de tolerância das atividades insalubres
e perigosas. Devemos trabalhar de forma a integrar as normas regulamentadores.

O PPRA é uma das formas de avaliar a influência dos riscos no dia a dia do
trabalhador. Este programa tem por finalidade identificar os agentes físicos, químicos e
biológicos presentes no ambiente de trabalho que possam ocasionar danos à saúde e
integridade do empregado, ou seja, através da antecipação de riscos, buscar meios de evitar
acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. A NR-09 define como riscos ambientais os
agentes físicos, químicos e biológicos, que em função de sua natureza, concentração ou
intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador (NR-
15). Para sua construção, devemos dividi-lo em etapas que compreendem:
- antecipação e reconhecimentos dos riscos;
- estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle;
13

- avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores;


- implantação de medidas de controle e avaliação de sua eficácia;
- monitoramento da exposição aos riscos;
- registro e divulgação dos dados.
Mesmo possuindo validade de 1 ano, este é um programa dinâmico e de ação
contínua, devendo sempre acompanhar as mudanças que venham a ocorrer no local de
trabalho, e seus dados devem ser guardados por um período mínimo de 20 anos, como define
a NR-09.

1.1 TEMA E DELIMITAÇÃO

O trabalho será desenvolvido em uma cozinha industrial, localizado no centro de


Florianópolis/SC. Se trata de uma empresa jovem, inaugurada em setembro de 2016, e atua no
ramo de alimentos congelados e pré-assados. A empresa possui 4 ambientes distintos, PDV,
escritório, cozinha e embalagem, todos localizados no mesmo prédio. Conta com um quadro
de funcionários no momento formado por 5 colaboradores, sendo que 3 trabalhando na
cozinha, 1 atendente do ponto de venda e mais 1 responsável pela embalagem.
Para produzir milhares de produtos semanalmente, praticamente quase todo o
quadro de colaboradores da empresa se encontra trabalhando na linha de produção, seja na
cozinha ou na embalagem, e onde, por natureza da atividade, se concentram os maiores
problemas em relação a segurança e saúde do trabalho. A sua cozinha conta com diversos
maquinários e equipamentos, que podem representar algum risco para seus trabalhadores.
Desse modo o presente trabalho visa estabelecer um plano de análise e controle de
riscos que possa vir a se tornar o PPRA da empresa.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

Com base nas informações citadas anteriormente, podemos observar que o ponto
crítico em relação a segurança e saúde do trabalho se encontra na cozinha. Nela os
colaboradores estão em contato direto com fontes de calor, de ruídos, além de máquinas que
possam representar algum perigo a integridade física dos mesmos. Podemos citar forno e
fogão industrial, ultra congelador, máquinas de misturar e abrir massa entre outros. Alguns
14

funcionários já reclamaram de calor e ruídos, e a empresa não possui nenhuma documentação


que ateste a que níveis e quais tipos de riscos estão expostos os trabalhadores durante seu
período laboral.
Será que hoje os empregados estariam expostos a níveis de ruído e calor que faria
jus ao recebimento do adicional de insalubridade conforme NR-15 ? Quais medidas
administrativas poderiam ser tomadas hoje para minimizar e extinguir os riscos ? É possível
implantar algum EPC ? Os EPIs fornecidos pela empresa são suficientes para os riscos
encontrados e atendem as especificações exigidas pela NR-06 ? Isso é o que pretendemos
responder ao final do trabalho, além, de como já citado anteriormente, construir o PPRA da
empresa.

1.3 JUSTIFICATIVA

O simples ambiente de uma cozinha doméstica já representa alguns riscos a nossa


segurança e a nossa saúde, com apenas um fogão e algumas panelas e utensílios. Imagine
agora a dimensão dos riscos dentro de uma cozinha que trabalhe em escala industrial. Para
garantir a segurança dos funcionários de uma cozinha de produção, os riscos devem ser
sempre identificados, minimizados e constantemente avaliados. Por isso se faz de extrema
importância a elaboração de um PPRA.
É importante salientar que a existência deste documento representa segurança
tanto para a saúde dos trabalhadores, como também representa uma segurança legal para a
empresa, atestando que a mesma, tomou todas as atitudes necessárias a fim de minimizar ou
extinguir os riscos de trabalho para os seus colaboradores. No caso de um acidente de trabalho
ou uma doença de um dos colaboradores, isso se mostra de grande valia a favor da empresa.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Observar as instalações, maquinários e atividades desenvolvidas dentro da


empresa, afim de identificar possíveis riscos á saúde dos trabalhadores em sua jornada de
trabalho, com o intuito de elaborar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA ,
de acordo com a NR-09 do MTE.
15

1.4.2 Objetivos Específicos

- Identificar e Antecipar os Riscos


- Mensurar quantidade de calor no ambiente da cozinha
- Medir os níveis de ruídos a que os trabalhadores estão expostos
- Propor um cronograma de monitoramento e controle dos riscos
- Definir EPCs se for o caso, e EPIs

1.5 METODOLOGIA

A pesquisa deste trabalho pode ser separada em duas etapas de acordo com suas
características em relação a forma de abordagem. Em um primeiro momento a empresa será
visitada para se realizar uma avaliação dos perigos de natureza qualitativa. Serão
inspecionadas as instalações, máquinas, equipamentos e processos produtivos para
identificação dos chamados agentes ambientais (físicos, químicos e biológicos), suas fontes
geradoras, possíveis trajetórias e meios de propagação, funcionários expostos. A apuração
qualitativa é presumida e independente de mensuração, ou seja, a simples presença e a
identificação de um agente nocivo no ambiente de trabalho caracteriza um perigo. Veja bem
que falamos em perigo e não risco. O perigo é a fonte (causa) e o risco a consequência. Para
Piza (2016) risco é o resultado da exposição ao perigo. Quanto maior for o perigo ou a
exposição (ou o produto de ambos), mais o risco aumenta.
Para este trabalho usaremos a definição de risco que leva em conta a gravidade e a
probabilidade de um evento acidental ou uma doença. Desta forma podemos definir o risco
como:
RISCO = GRAVIDADE X PROBABILIDADE

Em uma segunda etapa, já com os riscos e processos mapeados, será feita uma
avaliação quantitativa dos riscos classificados, com a intenção de verificar se os mesmos
ultrapassam os níveis de ação estabelecidos na NR-09, como também não extrapole os limites
de tolerância estabelecidos na NR-15. Os níveis de ação da NR-09 são os valores acima do
qual devem ser iniciadas ações preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que as
exposições a agentes ambientais ultrapassem os limites de exposição. A avaliação quantitativa
é realizada pela mensuração de intensidade ou concentração dos agentes nocivos,
16

considerando o tempo efetivo de exposição no ambiente de trabalho. As medições que se


fizerem necessárias serão realizadas com equipamentos devidamente calibrados e que
atendam as exigências das NRs e as metodologias definidas pelas normas de higiene
ocupacional (NHO) da FUNDACENTRO.
Com as atividades/riscos identificados e quantificados, faremos a classificação do grau
de risco de acordo com a probabilidade e gravidade de possíveis danos a saúde dos
trabalhadores relacionados às atividades, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Modelo para estimativa de risco (probabilidade x gravidade).

P 4 RISCO RISCO RISCO RISCO


R PROVAVEL MÉDIO ALTO ALTO CRÍTICO
O
B 3
RISCO RISCO RISCO RISCO
A POUCO
BAIXO MÉDIO ALTO ALTO
B PROVAVEL
I
L 2 RISCO RISCO RISCO RISCO
I IMPROVÁVEL BAIXO BAIXO MÉDIO ALTO
D
A
1
D RISCO RISCO RISCO RISCO
E ALTAMENTE
IRRELEVANTE BAIXO BAIXO MÉDIO
IMPROVÁVEL

1 2 3 4
REVERSÍVEL REVERSÍVEL IRREVERSÍVEL FATAL OU
LEVE SEVERO SEVERO INCAPACITANTE
GRAVIDADE
Fonte: Matriz elaborada a partir da combinação das matrizes apresentadas por MULHAUSEN & DAMIANO
(1998) e pelo apêndice D da BS 8800 (BSI, 1996). Retirado de material de disciplina Proteção e Controle de
Riscos em Máquinas e Equipamentos. Curso de especialização em Engenharia de Segurança do trabalho, Unisul,
Florianópolis/SC - 2015. Prof. Migliane Réus de Mello.

Por fim, com base nos dados levantados serão elaboradas as medidas e providências
com intenção de eliminar, mitigar ou controlar os riscos presentes no ambiente de trabalho.
17

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 SEGURANÇA DO TRABALHO

2.1.1 História

Desde a antiguidade até a idade média o trabalho sempre esteve aliado a um sentido
negativo, de castigo e sofrimento (CAMISASSA, 2016). A palavra trabalho vem do latim, da
palavra tripalium, um antigo instrumento de tortura.
A relação entre trabalho-saúde-doença já pode ser percebida desde a antiguidade.
Segundo Oiveira (2016) a informação mais antiga sobre segurança do trabalho está registrada
em um documento egípcio, onde um papiro fala da preservação da saúde e da vida do
trabalhador e descreve as condições de trabalho de um pedreiro. Porém como naquela época
apenas os escravos trabalhavam, eram eles que estavam expostos aos riscos do trabalho, e
estes não eram considerados cidadãos, de forma que não havia uma preocupação efetiva em
garantir proteção ao trabalho, já que também a mão de obra era abundante, (CAMISASSA,
2016).
O que percebemos ao longo da história são relatos de estudos isolados na investigação
das doenças oriundas do trabalho. Como Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.), filósofo
considerado por muitos como o pai da medicina, que identificou em um de seus trabalhos a
intoxicação por chumbo, chamada de saturnismo. Já em 1700, na Itália, Bernardino
Ramazzini publicou o livro De Morbis ArtificumDiatriba (As doenças dos trabalhadores) no
qual descreve a relação de doenças com 54 profissões existentes na época (OLIVEIRA,
2016).
Mas foi apenas com a Revolução Industrial na Europa Ocidental que surgiram as
primeiras leis de proteção ao trabalhador, pois viu-se a necessidade de preservar a mão de
obra para garantir o processo produtivo e seus baixos custos de produção. A Revolução
Industrial trouxe avanços tecnológicos para o processo produtivo aumentando a produção,
mas da mesma forma fez saltar o número de mortes, doenças e acidentes de trabalho, devido
às péssimas condições de trabalho e ambientes insalubres.
Em 1802, na Inglaterra, o parlamento aprovou a 1ª lei de proteção aos trabalhadores. A
Lei de saúde e moral do Aprendizes estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia e
proibia o trabalho noturno. Com o passar dos anos foram elaboradas outras leis que entre
outras coisas proibiram o trabalho de menores de 9 anos, estabeleceu-se a jornada diária de
18

trabalho de 8 horas, folga de meio dia por semana aos comerciários, até que em 1912 foi
criado o Código de Leis Trabalhistas.
No Brasil as primeiras leis prevencionistas vieram um pouco depois do que já
acontecia na Europa. A sistematização dos procedimentos preventivos ocorreu incialmente
nos Estados Unidos, no início do século 20, sendo o Brasil um dos membros fundadores da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1919, (OLIVEIRA, 2016). Em 1978 a
Portaria nº 3.214 regulamentou o Capítulo V, Título II (Segurança e Medicina do Trabalho)
da CLT, por meio da qual foram aprovadas as Normas Regulamentadoras (NR) relativas à
Segurança e Medicina do Trabalho, e em 1985 a Lei nº 7.410 criou a especialização em
Engenharia de Segurança do Trabalho, cabendo ao MTE a responsabilidade de seu registro.

2.1.2 Conceito

Para conceituar Segurança do Trabalho, separemos as duas palavras de forma a ajudar


no seu entendimento.
De acordo com o dicionário, a palavra segurança compreende o “conjunto das ações e
dos recursos utilizados para proteger algo ou alguém ou o que serve para diminuir os riscos e
ou os perigos” e a palavra trabalho é “qualquer ocupação manual ou intelectual ou obra feita
ou que se faz ou está por fazer”, (FERREIRA apud PIZA, 2016). Dessa forma podemos
concluir que a segurança do trabalho é o conjunto de ações e recursos, para proteger algo ou
alguém e para diminuir riscos ou perigos em qualquer ocupação laboral.
Para Piza (2016), A segurança do trabalho se faz presente no universo produtivo, seja
de bens ou serviços, identificando riscos e perigos que estejam presentes de forma a eliminá-
los ou, quando não seja possível, controla-los para que não resultem em acidentes ou doenças.

2.2 NORMAS REGULAMENTADORAS

A legislação de Segurança e Saúde no Trabalho SST se baseia na portaria nº 3.214, de


08/06/1978, que de início aprovou 28 normas regulamentadoras, hoje já são 36. As NRs
exigem das empresas que possuam empregados, regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), ações que visem prever e prevenir as situações capazes de provocar
ferimentos ou problemas de saúde ocupacionais (OLIVEIRA, 2016).
Sendo assim, segundo o MET, uma norma regulamentadora é composta das
obrigações trabalhistas que devem ser observadas e cumpridas por toda empresa que venha a
19

contratar um empregado pela CLT. Cada norma fornece instruções e parâmetros de acordo
com cada atividade ou função desempenhada e servem para nortear as ações de empregadores
e empregados, de forma que o ambiente laboral se torne um local saudável e seguro.
A seguir falaremos sobre algumas normas relevantes a este trabalho.

2.2.1 Norma regulamentadora 06 – Equipamento de proteção Individual – EPI

Esta norma regulamenta a escolha, fornecimento, utilização, manutenção e guarda dos


equipamentos de proteção individual, e também define responsabilidades tanto dos
empregadores como dos empregados. A NR 06 considera EPI todo dispositivo ou produto , de
uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. O EPI seja ele nacional ou importado só poderá
ser posto a venda e utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação – (CA), expedido
pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do MTE.
A empresa fica obrigada a fornecer de forma gratuita o EPI adequado ao risco, em
perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstancias:

a.) Sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra
riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho.

b.) Enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas.

c.) Para atender a situações de emergência.

Entre as responsabilidades do empregador quanto aos EPIs, estão fornecer o


equipamento adequado a cada atividade e aprovado, exigir o seu uso, orientar e treinar o
trabalhador quanto ao seu uso adequado, guarda e conservação, substituir imediatamente
quando danificado ou extraviado e responsabilizar-se pela higienização e manutenção
periódica.
Da mesma maneira cabe ao empregado, utilizá-lo apenas para a finalidade a que se
destina, responsabilizar-se pela guarda e conservação, comunicar ao empregador qualquer
alteração que o torne impróprio para uso e cumprir as determinações do empregador sobre o
uso adequado.
20

A norma traz em anexo uma lista dos EPIs de acordo com o tipo de proteção a que se
destina.

2.2.2 Norma regulamentadora 09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais –


PPRA

Esta norma objetiva a preservação da saúde e integridade do trabalhador, por meio da


antecipação, avaliação e controle dos riscos ambientais existentes, ou que venham a existir no
ambiente de trabalho, tendo em vista a proteção ao meio ambiente e recursos naturais,
levando-se em conta os agentes físicos, químicos e biológicos (OLIVEIRA, 2016).
A NR-09 define os agentes físicos como as diversas formas de energia a que possam
estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas
extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-
som. Os agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no
organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou
vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser
absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão. E os agentes biológicos as
bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros.
Esta norma possui um caráter prevencionista e define as ações a serem executadas
caso os níveis de ação sejam ultrapassados. As ações devem incluir o monitoramento
periódico da exposição, a informação aos trabalhadores e o controle médico.
A estrutura do PPRA é definida pela norma e deve no mínimo conter:
a.) planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades e cronograma;
b.) estratégia e metodologia de ação;
c.) forma do registro, manutenção e divulgação dos dados;
d.) periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA.

A NR 9 também estipula que deverá ser efetuada, sempre que necessário e pelo menos
uma vez ao ano, uma análise global do PPRA para avaliação do seu desenvolvimento e
realização dos ajustes necessários e estabelecimento de novas metas e prioridades.
Das responsabilidades de empregadores e empregados, a norma define que cabe ao
empregador, estabelecer, implementar e assegurar o cumprimento do PPRA como atividade
permanente da empresa ou instituição. E os trabalhadores ficam responsáveis por:
21

I. colaborar e participar na implantação e execução do PPRA;

II. seguir as orientações recebidas nos treinamentos oferecidos dentro do


PPRA;

III. informar ao seu superior hierárquico direto ocorrências que, a seu


julgamento, possam implicar riscos à saúde dos trabalhadores.

2.2.3 Norma regulamentadora 15 – Atividades e operações insalubres

A NR 15 descreve as atividades, operações e agentes insalubres, inclusive seus


limites de tolerância, define as situações que, vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos
trabalhadores, demonstrem a caracterização do exercício insalubre e também os meios de
protegê-los das exposições nocivas à saúde (PÉCORA, 2015). Os trabalhadores que estejam
expostos a agentes nocivos acima dos limites de tolerância, fazem jus a receber o adicional
de insalubridade.
Esta norma define como limites de tolerância, a concentração ou intensidade máxima
ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará
dano a saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral.
O adicional incide sobre o salário mínimo da região, e é separado em 3 níveis, que
são definidos em anexo no final da NR 15, sendo:
 40% para insalubridade de grau máximo
 20% para insalubridade de grau médio
 10 para insalubridade de grau mínimo

A eliminação ou neutralização da insalubridade determinará a cessação do pagamento


do adicional respectivo, e os motivos para sua descontinuidade podem ser :

a.) Adoção de medidas de ordem geral que conservem o ambiente de trabalho


dentro dos limites de tolrência, e;
b.) Utilização de equipamento de proteção individual (EPI).
22

2.3 NORMAS DE HIGIENE OCUPACIONAL

A Coordenação de Higiene do Trabalho da FUNDACENTRO publicou, em 1980, uma


série de Normas Técnicas denominadas Normas de Higiene do Trabalho – NHT, hoje
designadas Normas de Higiene Ocupacional – NHO.
As NHOs são essenciais para orientar o controle dos agentes de riscos ambientais,
assim como disponibilizam metodologias para avaliações ocupacionais, estabelecendo os
critérios técnicos dos equipamentos utilizados nas avaliações de riscos.
A NHO-01 tem por objetivo estabelecer critérios e procedimentos para avaliação da
exposição ocupacional ao ruído, que implique risco potencial de surdez ocupacional. Aplica-
se à exposição ocupacional a ruído contínuo ou intermitente e a ruído de impacto, em
quaisquer situações de trabalho, FUNDACENTRO (2001).
A NHO-06 tem por objetivo estabelecer critérios e procedimentos para avaliação da
exposição ocupacional ao calor que implique sobrecarga térmica ao trabalhador, com
consequente risco potencial de dano a sua saúde. Aplica-se a exposição ocupacional ao calor
em ambientes internos ou externos, com ou sem carga solar direto, em quaisquer situações de
trabalho, FUNDACENTRO (2002).

2.4 AGENTES NOCIVOS

2.4.1 Ruídos

Todo ruído é um tipo de som, mas nem todo som se trata de um ruído. Subjetivamente
o ruído é um som desagradável e indesejável, e objetivamente, é um sinal acústico aperiódico,
originado da superposição de vários movimentos de vibração com diferentes frequências, as
quais não apresentam relação entre si (TORRES, 2007).
O ruído se trata de um agente físico nocivo, reconhecidamente um agente otoagressor
comum em diversos ambientes de trabalho, que pode causar danos ao organismo humano
alterando processos internos com efeitos em curto e médio prazo (AMARAL, 2014).
A NR 15 separa os ruídos em duas categorias, ruído contínuo ou intermitente e ruído
de impacto. Segundo a norma, o ruído de impacto é aquele que apresenta picos de energia
acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, em intervalos superiores a 1 (um) segundo.
Entende-se por Ruído Contínuo ou Intermitente, para os fins de aplicação de Limites de
23

Tolerância, o ruído que não seja ruído de impacto. Segundo Alcantara (2008), a diferença
entre ruído contínuo e intermitente é que ruído intermitente é aquele cujo Nível de Pressão
Sonora (NPS) varia além de 3 decibéis (dB) em períodos entre 0,2 segundos e 15 minutos. Já
o ruído contínuo é aquele cujo NPS varia em até 3 dB durante períodos superiores a 15
minutos.
O limite de tolerância para exposição ao ruído em uma jornada de trabalho de 8 horas
é definido pela NR 15 em 85 dBs. A partir deste valor a norma traz uma tabela em anexo
(Tabela 2) que estipula os tempos máximos de exposição em função dos limites de tolerância,
para caracterização de insalubridade. Os níveis de ruído contínuo ou intermitente devem ser
medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão sonora operando no circuito
de compensação "A" e circuito de resposta lenta (SLOW).

Tabela 2. Limites de tolerância para ruídos contínuo ou intermitente.


Nível de ruído dB (A) Máxima exposição diária permissível

85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos
Fonte: Brasil, Ministério do Trabalho e Emprego, NR-15, Anexo-I.
24

Enquanto a NR 15 define os limites de tolerância, a NR 9 nos apresenta o nível de


ação, que no caso do ruído, se trata de 0,5 (dose superior a 50%), conforme critério
estabelecido na NR-15, Anexo I, item 6, onde 50% da dose equivale a 80 dBs.
A NHO-01 estabelece que os medidores integradores de uso pessoal ou portados pelo
avaliador, também denominados dosímetros de ruído, a serem utilizados na avaliação de
exposição ao ruído devem ter classificação mínima do tipo 2 e estar ajustados de forma a
atender aos seguintes parâmetros:

 Circuito de ponderação – “A”


 Circuito de resposta – lenta (slow)
 Critério de referência – 85 dB(A), que corresponde a dose de 100% para uma
exposição de 8 horas
 Nível limiarde integração – 80 dB(A)
 Faixa de medição mínima – 80 a 115 dB(A)
 Incremento de duplicação de dose = 3 (q=3)
 Indicação de ocorrência de níveis superiores a 115dB(A)

A NHO-01 define o que vem a ser grupo homogêneo de exposição (GHE) para análise do
ruído. Grupo homogêneo corresponde a um grupo de trabalhadores que experimentam
exposição semelhante, de forma que o resultado fornecido pela avaliação da exposição de
parte do grupo seja representativo da exposição de todos os trabalhadores que compõem o
mesmo grupo.

2.4.2 Calor

Calor é um risco físico presente em processos com liberação de grande quantidade de


energia térmica e está presente em várias atividades (SOUZA apud SPILLERE et al., 2007).
A avaliação do calor a que um indivíduo está exposto é importante, envolvendo uma
grande quantidade de fatores a serem considerados; a temperatura do corpo e as condições
ambientais devem ser levantadas, pois influenciam nas trocas térmicas entre o corpo humano
e o meio ambiente (SOUZA apud SPILLERE et al., 2007).
Os efeitos da sobrecarga térmica (ou estresse térmico), que um trabalhador está
submetido em uma área de trabalho quente, dependem de fatores ambientais e de
características individuais do trabalhador, tais como idade, peso e, condicionamento físico,
25

especialmente do aparelho cardiocirculatório. Entre os fatores ambientais devem ser


considerados a temperatura, a umidade, o calor radiante (sol, fornos) e a velocidade do ar
(LIMA, 2017).
A sobrecarga térmica no organismo humano é resultante de duas parcelas de carga
térmica: uma carga externa (ambiental) e outra interna (metabólica). A carga externa é
resultante das trocas térmicas com o ambiente e a carga metabólica é resultante da atividade
física que exerce (SILVA, 2010).
Segundo Lima (2017), as ocupações com maior risco de exposição ao calor incluem os
cozinheiros, padeiros, fundidores de metais, fabricantes de vidros, mineiros, entre outros. Os
riscos aumentam com a umidade elevada, que diminui o efeito refrescante da sudorese, e com
o esforço físico prolongado, que aumenta a quantidade de calor produzido pelos músculos.
A NR-15 determina que a exposição ao calor deve ser avaliada através do "Índice de
Bulbo Úmido Termômetro de Globo" – IBUTG, e os aparelhos que devem ser usados nesta
avaliação são: termômetro de bulbo úmido natural, termômetro de globo e termômetro de
mercúrio comum.
A NHO-06 define estes 3 equipamentos como conjunto convencional para
determinação do IBUTG.
A fórmula para calcular o IBUTG em ambientes internos ou externos sem carga solar
é:

IBUTG = 0,7 tbn + 0,3 tg

E em ambientes externos com carga solar é:

IBUTG = 0,7 tbn + 0,1 tbs + 0,2 tg

Onde,

tbn = temperatura do bulbo úmido natural

tg = temperatura do globo.

tbs = temperatura bulbo seco

Em função do índice obtido, o regime de trabalho intermitente será definido no


Quadro N.º 1 do anexo III da NR-15 (Tabela 3) se houver descanso no próprio local de
trabalho.
26

Tabela 3. Quadro Nº1 do anexo III da NR-15

REGIME DE TRABALHO INTERMITENTE


COM DESCANSO NO PRÓPRIO LOCAL DE LEVE MODERADA PESADA
TRABALHO(por hora)
Trabalho contínuo até 30,0 até 26,7 até 25,0
45 minutos trabalho
30,1 a 30,5 26,8 a 28,0 25,1 a 25,9
15 minutos descanso
30 minutos trabalho
30,7 a 31,4 28,1 a 29,4 26,0 a 27,9
30 minutos descanso
15 minutos trabalho
31,5 a 32,2 29,5 a 31,1 28,0 a 30,0
45 minutos descanso
Não é permitido o trabalho, sem a adoção de
acima de 32,2 acima de 31,1 acima de 30,0
medidas adequadas de controle
Fonte: Brasil, Ministério do Trabalho e Emprego, NR-15, Anexo-III.

Ou de acordo com o Quadro Nº 2 (Tabela 4) do mesmo anexo, se tratar-se de uma


atividade com descanso em outro ambiente.

Tabela 4. Quadro Nº2 do anexo III da NR-15

M (Kcal/h) MÁXIMO IBUTG

175 30,5
200 30,0
250 28,5
300 27,5
350 26,5
400 26,0
450 25,5
500 25,0

Fonte: Brasil, Ministério do Trabalho e Emprego, NR-15, Anexo-III.

2.4.3 Agentes químicos

Consideram-se agentes de risco químico as substâncias, compostos ou produtos que


possam penetrar no organismo do trabalhador pela via respiratória, nas formas de poeiras,
fumos gases, neblinas, nevoas ou vapores, ou que seja, pela natureza da atividade, de
exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por
ingestão (FIOCRUZ, 2017).
Ainda segundo a Fundação Oswaldo Cruz FIOCRUZ (2017), risco químico é o perigo
a que determinado indivíduo está exposto ao manipular produtos químicos que podem causar-
27

lhe danos físicos ou prejudicar-lhe a saúde. Os danos físicos relacionados à exposição química
incluem, desde irritação na pele e olhos, passando por queimaduras leves, indo até aqueles de
maior severidade, causado por incêndio ou explosão. Os danos à saúde podem advir de
exposição de curta e/ou longa duração, relacionadas ao contato de produtos químicos tóxicos
com a pele e olhos, bem como a inalação de seus vapores, resultando em doenças respiratórias
crônicas, doenças do sistema nervoso, doenças nos rins e fígado, e até mesmo alguns tipos de
câncer.
A NR-09 determina que o nível de ação para agentes químicos é a metade do limite de
tolerância estabelecido na NR-15, ou na ausência deste, toma-se por referência os limites
expostos na ACGIH – American Conference of Governamental Industrial Higyenists.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), estabeleceu através da NBR
14725:2001 a ficha de informação de segurança de produto químico – FISPQ. Este
documento fornece informações sobre vários aspectos desses produtos químicos (substâncias
ou preparados) quanto à proteção, à segurança, à saúde e ao meio ambiente. A FISPQ é um
meio de transferir informações essenciais sobre os riscos (incluindo informações sobre o
transporte, manuseio, armazenamento e ações em emergências) do fornecedor de um produto
químico ao usuário deste (NBR 14725:2001).
Segundo Marchezi (2012), existem inúmeros bancos de dados na área química. O mais
conhecido e abrangente é o “Chemical Abstracts Services” (C.A.S.). O número CAS ou
registro CAS de um composto químico é um número de registro único no banco de dados do
Chemical Abstracts Service, uma divisão da Chemical American Society. Este registro surgiu
porque diferentes cientistas descrevem muitas vezes a mesma substância química por nomes
diferentes. Ter um registro de todos os produtos químicos torna a busca de artigos sobre os
produtos químicos muito mais fácil. O número CAS normalmente esta disponível no rótulo ou
FISPQ dos produtos químicos.

2.5 COZINHA INDUSTRIAL

Segundo Casarotto et al. (2003), as atividades desenvolvidas em cozinhas industriais


caracterizam-se por manipulação manual intensa na preparação dos alimentos e pela
permanência na postura em pé por períodos prolongados de tempo.

As doenças e acidentes de trabalho que podem acometer trabalhadores do setor


alimentício, especificamente que realizam suas atividades em cozinhas industriais são
28

inúmeros e pouco descritos, o que dificulta a realização de intervenções que diminuam a


incidência e prevalência destes acometimentos e também o próprio atendimento médico e
encaminhamento previdenciário correto dos trabalhadores adoecidos (CASAROTTO et al.,
2003).

Nas cozinhas industriais existem diversas atividades que expõem os trabalhadores a


diferentes riscos ambientais, que na maioria das vezes se apresentam de forma simultânea e
sinérgica, como ruídos, umidade excessiva, temperatura elevada e ventilação insatisfatória,
além da forma de organização de trabalho (arranjo físico, ritmo de trabalho, postura no
ambiente ocupacional) (PAULA, 2011)

Um fator comum das cozinhas industriais que pode acarretar grandes danos à saúde é
o desconforto térmico, pois estes ambientes podem apresentar temperaturas elevadas e
umidade excessiva provenientes da emissão de vapores durante a cocção dos alimentos. Sabe-
se que o desconforto térmico ocasiona o aparecimento de vários fatores negativos, como
sensação de confinamento, prostração, dor de cabeça, mal-estar, tontura, náuseas, vômito,
comprometendo diretamente a produtividade e a qualidade do trabalho (SILVA JUNIOR apud
PAULA, 2011).

Outros risco físico muito presente nas cozinhas profissionais, é o ruído, geralmente
proveniente dos equipamentos elétricos, principalmente quando estão desregulados ou com
algum outro problema. Ruídos intensos, acima de 90 dB, dificultam a comunicação verbal,
prejudicam tarefas que exijam concentração mental, diminuindo a produtividade e a qualidade
da atividade (TEIXEIRA et al., 2010).

Segundo Paula (2011), os produtos químicos usados em cozinhas são produtos para
higiene pessoal, ambiental, de utensílios e equipamentos. São produtos que podem conter
soda cáustica, detergentes, desinfetantes, e como tal, requerem cuidados específicos ao serem
manipulados. A exposição dos funcionários a tais químicos se deve além do próprio contato
físico, às reações que podem ocorrer quando os produtos de limpeza são aplicados nas áreas a
serem higienizadas, liberando gases e vapores.
29

3 RESULTADOS E ANÁLISES

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

O trabalho foi desenvolvido dentro de uma empresa do setor de alimentação, que


produz alimentos processados congelados no centro de Florianópolis. A empresa possui 3
setores distintos, além das áreas de circulação, escritório, banheiro e almoxarifado. A linha de
produção é dividida em 2 setores, sendo a cozinha, onde os alimentos são processados,
cozidos e assados, e a embalagem, onde os produtos processados são congelados, embalados e
estocados. Além da linha de produção a empresa possui um Ponto de Venda (PDV), para
atendimento ao público, que pode comprar os produtos para consumir no local ou levar para
viagem.
Abaixo temos as principais informações da empresa:

 Razão Social: Empresa XYZ Ltda. Me.


 Nome Fantasia: Cozinha Industrial Congelados ABC
 CNAE: 56.11-2-03 / Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares
 Grupo: Restaurantes e outros serviços de alimentação e bebidas
 Horário de funcionamento da empresa: 07:30 às 20:00
 Jornada de trabalho: 8 horas
 Nº de funcionários: 6
 Grau de Risco: 2
 Área total: 111,25 mts²
 Setores: Cozinha, embalagem, PDV
30

3.2 ATIVIDADES POR SETOR

3.2.1 Cozinha

O trabalho na cozinha (figuras 1 e 2) é realizado por 5 funcionários, sendo 2


cozinheiras e 1 auxiliar de cozinha, 1 auxiliar de limpeza. A idade média dos trabalhadores é
de 29 anos. O grau de instrução dos funcionários é ensino médio, com exceção de uma
cozinheira que possui curso técnico em restaurante e bar e profissionalizante em confeitaria.
A jornada de trabalho é de 8 horas diárias e o trabalho é executado em pé por todo o tempo.
As atividades na cozinha são separadas em produção da massa, produção do recheio,
montagem dos produtos, cocção e forneamento ou assamento. Diariamente também ocorre
uma higienização do chão da cozinha e apenas no sábado ocorre uma limpeza geral.

Figura 1. Cozinha extensão

Fonte: Elaborada pelo autor.


31

Figura 2. Cozinha equipamentos

Fonte: Elaborada pelo autor.

As atividades na cozinha tem início com a produção da massa. A tarefa tem início as
7:30 hs, tem duração aproximada de 1 hora e 30 minutos para produção de aproximadamente
30 kg de massa e se desenvolve da seguinte maneira:

 Pesagem da matéria prima cozida na tarde anterior


 Aquecimento no micro-ondas
 Mistura dos ingredientes na masseira (20 a 30 min.)
 Resfriamento da massa no ultracongelador (5 a 10 min).

Este processo é realizado na maioria das vezes em duas etapas e cada uma leva cerca
de 45 minutos. Neste processo os equipamentos utilizados são a masseira da marca G. Paniz
modelo AM 25 (figura 3) e o Ultra Congelador (figura 4). A masseira AM 25 é um
equipamento para produção de massas em geral, possui um corpo basculante em inox, duas
pás fixas amassadoras em ferro fundido, trabalha a uma velocidade de 50 rpm, motor de 1 CV
de potência e pode produzir 65 kg de massa por hora.
O ultra congelador modelo Compacta da fabricante Genesis Refrigeração fica
localizado no setor de embalagem e tem capacidade de congelamento de 40 kg por ciclo.
O transporte dos produtos entre setores é feito com auxílio de um carrinho.
32

Figura 3. Masseira

Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 4. Ultra Congelador Compacta

Fonte: Elaborada pelo autor.


33

A próxima etapa compreende a montagem dos produtos. Esta é a tarefa mais


demorada durante o dia de trabalho na cozinha, realizada normalmente das 09:00 às 15:00 hs.
Este processo envolve Cilindro e molde. O cilindro abridor de massa Supermix Pro fabricado
pela Anodilar pode laminar 13 metros de massa por minuto.

Etapas do processo:

 Massa aberta no cilindro abridor de massa (figura 5)


 Porcionamento do recheio preparado na tarde anterior
 Produção no molde dos produtos.

A produção no molde é uma tarefa que compreende a disposição da massa e do


recheio no molde e através da prensa manual o produto é confeccionado. A empresa possui 2
moldes, e cada molde produz 2 produtos por vez. A produção diária é de aproximadamente
450 produtos.

Figura 5. Cilindro usado para abrir a massa

Fonte: Elaborada pelo autor.

O forneamento ou assamento ocorre em 3 momentos durante a jornada de trabalho.


O forno utilizado é equipamento profissional, modelo E200 produzido pela Prática. Este
equipamento possui porta com vidro duplo e câmara com isolamento térmico de alta
eficiência com espessura de 70mm. As paredes internas refletem o calor e possui sistema de
34

segurança com a paralisação do equipamento quando a porta é aberta. O forno (figura 6) é


ligado 3 vezes, sendo a primeira vez pela manhã as 10:30 hs, depois as 11:30 hs e a última
fornada ocorre as 14:30 hs.

O processo de forneamento compreende:

 Pré aquecimento do forno (20 a 30 min.)


 Assamento dos produtos moldados (14 min)
 Transporte das formas em carrinho para o congelamento no
ultracongelador (1 hora)

Figura 6. Forno industrial

Fonte: Elaborada pelo autor.

A produção do recheio tem início as 15 hs, e é onde os alimentos são processados e


cozidos para serem utilizados no manhã seguinte no processo de montagem.

 Higienização e processamento dos alimentos


 Cozimento em panelas industriais
35

 Transferência do recheio das panelas ainda quente para cubas inox


 Transporte com carrinho para o ultra congelador para resfriamento
 Armazenagem no refrigerador

Além do cozimento dos recheios, ao longo do dia ocorre a cocção das matérias primas.
Neste processo utiliza-se um fogão industrial de baixa pressão da fabricante Innal.
A biomassa que serve de base para produção dos produtos, como o aipim e proteína
animal, são cozidos na pressão por aproximadamente 1 hora. Dependendo do dia, o cozimento
da biomassa e do aipim começa as 9 horas da manhã e as carnes cozinham a partir das 13
horas. Porém quando não há o processamento de nenhuma proteína animal no dia, o aipim e a
biomassa começam a cozinhar apenas as 13 horas.
Diariamente o auxiliar de limpeza é responsável por lavar as louças utilizadas durante
o processo produtivo na cozinha com detergente, as bancadas com álcool hospitalar 70% e o
chão da cozinha ao final do expediente com esfregão, usando água sanitária e sabão em pó.
Após a limpeza os panos utilizados são deixados de molho na água sanitária até o dia
seguinte, quando são torcidos e estendidos. Apenas no sábado que ocorre uma limpeza geral,
desde o forno, fogão e demais equipamentos, como também o chão e as paredes. A limpeza é
realizada com água sanitária, sabão em pó e álcool. Apenas no forno é usado um
desengordurante e uma pasta multiuso, que são aplicados sexta-feira a noite para ficarem
agindo até sábado de manhã, quando a limpeza é finalizada.

3.2.2 Embalagem

O início do expediente na área de embalagem começa às 11:00 horas. Neste setor


trabalha apenas um empregado, 21 anos, curso superior incompleto. No setor de embalagem
(figura 7) ocorre a montagem das embalagens, a embalagem dos produtos e o
congelamento. As atividades no setor começam com a montagem das embalagens, que é feita
de acordo com a quantidade de produtos produzidos na cozinha no mesmo dia. Esta tarefa é
realizada sentada e dura aproximadamente 2 horas.
Na sequência, com auxílio de um carrinho, o que foi produzido na cozinha é carregado
para o setor de embalagem. Os produtos assados são transferidos das formas para caixas
plásticas e vão para o ultra congelador. Lá permanecem por 1 hora e assim que termina o
congelamento começam a ser embalados.
36

Figura 7. Setor de embalagem

Fonte: Elaborada pelo autor.

3.2.3 Ponto de venda

Neste setor, apenas uma estagiária trabalha, 20 anos, superior cursando. O trabalho é
realizado sentado com alguma eventual movimentação para atendimento ao público e receber
pagamentos.

3.3 IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS

Os principais riscos físicos encontrados na empresa estão diretamente ligados às


máquinas e equipamentos utilizados na linha de produção, principalmente na cozinha. Os
riscos identificados foram o calor, proveniente do forno e fogão, principalmente quando
funcionam no mesmo momento. E o ruído, proveniente dos equipamentos como a masseira e
o cilindro. O momento de maior percepção de ruído obviamente se dá no momento em que os
equipamentos estão ligados juntos.
Além dos riscos físicos observados, os produtos de limpeza utilizados no dia a dia da
empresa também mereceram atenção. Mesmo se tratando de produtos de uso doméstico, é
essencial que se possa identificar a composição química de cada um, e caso seja identificada
37

alguma substância perigosa afirmar com segurança que a saúde dos trabalhadores não esteja
em risco.
Apesar do PPRA não abordar riscos ergonômicos e de acidentes é importante destacar
alguns pontos. Mesmo se tratando de uma cozinha, o manuseio de utensílios cortantes é
mínimo devido ao tipo de produto fabricado, porém, observou-se alguns riscos de acidentes
como por exemplo, risco de queimaduras no manuseio das formas retiradas do forno e
principalmente no transporte das panelas quentes.
Também podemos salientar o perigo de esmagamento com o cilindro e enroscamento
na masseira. A masseira possui sistema de segurança que permite o funcionamento apenas
com a tampa fechada, além de um botão de emergência. Já o cilindro merece atenção especial,
pois apesar do fácil acesso ao botão liga/desliga, o contato com a área de “perigosa” é livre.
Não foi possível avaliar o grau da lesão em um eventual acidente.
Os riscos ergonômicos estão relacionados ao trabalho de pé, repetitividade de
movimentos e postura, porém para uma avaliação precisa seria necessário um estudo
aprofundado em relação a estes fatores. Como o foco deste trabalho são os riscos ambientais
para elaboração do PPRA da empresa, os fatores ergonômicos não foram levados em
consideração.
No setor de embalagem apenas o ruído proveniente do ultra congelador foi constatado
e avaliado. O setor do PDV não apresentou nenhum risco ambiental.

3.3.1 Análise de calor

Risco: Calor
Tipo de risco: Físico
Fontes Geradoras: Forno e fogão
Meio de propagação: Condução, convecção e radiação. Exposição com variação
conforme a estação do ano
Funcionários expostos: 4 (cozinheiras, aux. de cozinha e aux. de limpeza)

Com o risco físico de exposição ao calor identificado, fez-se necessário a


quantificação do mesmo. Para a análise de calor seguiu-se as orientações do anexo III da NR-
15 e também os procedimentos técnicos da Norma de Higiene Ocupacional 06 (NHO-06).
Para avaliação do agente físico calor, consideramos o grupo de trabalhadores da
cozinha como grupo homogêneo. Grupo homogêneo de exposição (GHE), segundo a NHO-06
38

corresponde a um grupo de trabalhadores que experimentam exposição semelhante, tanto do


ponto de vista das condições ambientais como das atividades desenvolvidas, de modo que a
avaliação da exposição de uma parte do grupo seja representativo para a exposição do grupo
todo.
O equipamento utilizado para a medição foi o Medidor de Stress Instrutherm TGD –
400 (figura 8). Este é um equipamento composto por termômetro de globo, termômetro de
bulbo úmido natural e termômetro de bulbo seco, que é o conjunto convencional para
determinação de IBUTG como estipulado pela NHO-06. O Aparelho já nos traz o Índice de
Bulbo Úmido Termômetro de Globo para ambientes internos sem carga solar –IBUTGi, que
foi o parâmetro considerado nesta análise.

Figura 8. Medidor de Stress Instrutherm TGD-400.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Além da quantificação da exposição ao calor, devemos definir o gasto metabólico dos


trabalhadores de acordo com as atividades exercidas, para que com ambas informações
possamos definir se os limites de tolerância são ultrapassados. Segundo a NHO-06 a
determinação do IBUTGi e da taxa metabólica representativos da exposição ocupacional ao
calor, deve ser obtida em um intervalo de 60 minutos corridos, considerando o mais crítico em
relação à exposição ao calor.
Como estabelecido na NHO-06 se o trabalhador exerce duas ou mais atividades,
devemos determinar a taxa metabólica média ponderada M – através da equação 1.1
utilizando os valores M representativos das atividades exercidas pelo trabalhador durante o
ciclo de exposição avaliado.
39

[1.1]

M= M1 x t1 + M2 x t2 +... + Mi x ti
60

M = Taxa metabólica ponderada no tempo em kcal/h


Mi = Taxa metabólica da atividade “i” em kcal/h
ti = tempo total de exercício da atividade “i” em minutos, no período de 60 minutos corridos
mais desfavorável
i = iésima atividade
t1 + t2 +...+ ti = 60 minutos

No nosso caso consideramos duas atividades distintas, porém, ambas atividades


expostas a mesma carga de calor. Assim consideramos uma atividade exercida por 50 minutos
(t1) dentro do ciclo, que seria o trabalho no molde, posicionado na bancada ao lado do ponto
avaliado. Com base nos dados apresentados no quadro da norma consideramos um trabalho
leve em pé, em máquina ou bancada com alguma movimentação, que nos trouxe uma taxa
metabólica de 175 kcal/h (M1). E outra atividade, que compreende a colocação e retirada das
formas de dentro do forno, trabalho exercido por 10 minutos (t2) dentro do ciclo, trabalho
considerado por nós como trabalho em pé moderado de levantar e empurrar, com uma taxa
metabólica de 300 kcal/h (M2), de acordo com a norma.
Com essas informações e a fórmula apresentada chegamos ao seguinte resultado:
M= 175 x 50 + 300 x 10
60

M = 196 kcal/h

Usou-se o quadro 3 do anexo III da NR-15 (Tabela 5) como referência da classificação da


taxa metabólica, conforme observa-se abaixo temos um trabalho que se classifica como
moderado.

Tabela 5. Taxa metabólica por tipo de atividade.


TIPO DE ATIVIDADE Kcal/h
SENTADO EM REPOUSO 100
TRABALHO LEVE
Sentado, movimentos moderados com braços e tronco (ex.: 125
40

datilografia). 150
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas (ex.: 150
dirigir).
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada,
principalmente com os braços.
TRABALHO MODERADO
Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas.
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma
180
movimentação.
175
De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com
220
alguma movimentação.
300
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar.
TRABALHO PESADO
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos
440
(ex.: remoção com pá).
550
Trabalho fatigante
Fonte: Brasil, Ministério do Trabalho e Emprego, NR-15, Anexo-III.

A medição de calor foi realizada no dia 07 de julho de 2017, ao meio dia e


Florianópolis registrava 23ºC. O medidor de stress foi posicionado sobre um tripé, entre o
forno e o fogão no momento em que ambos equipamentos funcionavam, no que foram
considerados o momento e o ponto mais críticos. O aparelho ficou aclimatando por 10
minutos para então realizar-se a medição. Como resultado consideramos a média das últimas
10 medições realizadas minuto a minuto, conforme tabela (6). O resultado obtido foi IBUTGi
= 26 ºC.

Tabela 6. Média últimas 10 leituras IBUTGi ºC.


Leitura IBUTGi ºC
1 26,6
2 26
3 25,6
4 25,6
5 26,2
6 26,5
7 26,5
8 26
9 25,5
10 25,2
Média = 26
Fonte: Elaborada pelo autor.

Como o trabalho realizado na empresa é contínuo sem descanso, e caso fosse


necessário, o descanso teria de ocorrer no mesmo ambiente, nos baseamos nos parâmetros
41

apresentamos pelo Quadro 1 do Anexo III da NR-15 apresentado anteriormente, e não no


Quadro 2 do mesmo anexo, que apenas seria usado se os funcionários pudessem descansar em
outro ambiente de temperatura mais amena. Sendo assim podemos concluir que o calor não
extrapola os limites de tolerância. Já que segundo a norma, o IBUTGi máximo para um
trabalho contínuo (sem descanso) classificado como moderado é de 26,7ºC.

3.3.2 Análise de ruídos

Risco: Ruído
Tipo de risco: Físico
Fontes Geradoras: Masseira, cilindro e ultra congelador
Meio de propagação: Propagação pelo ar e em meio sólido, em todos os sentidos e
direções
Funcionários expostos: 5 (cozinheiras, embalador, aux. de cozinha e aux. de
limpeza)

No mesmo dia 07 de julho de 2017 foi realizada a quantificação de exposição ao


agente ambiental físico ruído. A análise foi realizada de acordo com a NR-15 e observando
orientações da Norma de Higiene Ocupacional 01 (NHO-01). O grupo de trabalhadores que
estava exposto ao agente físico ruído na cozinha foi classificado como homogêneo como na
análise de calor. A NHO-01 que trata sobre ruído, traz a mesma definição que a NHO-06 para
grupo homogêneo. Além da cozinha onde um grupo de trabalhadores esta exposto ao agente
ruído, também foi mensurado o nível de exposição ao ruído do trabalhador que exerce suas
atividades no setor de embalagem, onde encontra-se o ultra congelador.
O equipamento usado para análise de ruído foi o Dosímetro Instrutherm DOS-600
(figura 9).
42

Figura 9. Dosímetro Instrutherm DOS-600

Fonte: Elaborada pelo autor.

Conforme as orientações do fabricante e da NHO-01, antes de realizar as medições o


aparelho foi calibrado e ajustado para atender aos seguintes parâmetros:
 circuito de ponderação - “A”
 circuito de resposta - lenta “slow”
 critério de referência - 85 dB (A)
 Incremento de duplicação de dose - 3
 nível limiar de integração - 80 dB (A)
 escala - 70 a 140 dB(A)

Na cozinha foram identificadas 3 situações de exposição ao agente físico ruído. O


momento que o abridor de massas esta ligado, outro momento com a masseira funcionando, e
por último, a situação em que os dois aparelhos funcionam simultaneamente. Através de
questionamento aos trabalhadores, definiu-se o tempo que cada situação ocorre dentro da
jornada de trabalho de 8 horas. Assim cada situação foi amostrada, e com as leituras do nível
de exposição em cada situação, calculou-se a dose conforme a fórmula apresentada na NR-15
e na NHO-01.
A NHO-01 e a NR-15 utilizam a mesma fórmula para calcular a dose diária de
exposição. A diferença entre as duas normas está no incremento de duplicação de dobra, onde
a NHO-01 adota 3 dB e a NR-15 adota 5 dB, logo a NHO-01 é mais rígida do que a NR-15.
Por este motivo optamos por fazer o cálculo de acordo com a tabela da NHO-01.
43

Se durante a jornada de trabalho ocorrer dois ou mais períodos de exposição a ruído


de diferentes níveis, devem ser considerados os seus efeitos combinados, como na fórmula:
Dose = ( C1 + C2 + C3 ____________________ + Cn ) x 100 [%]
( T1 T2 T3 Tn )

Onde:

Cn = tempo total diário em que o trabalhador fica exposto a um nível de ruído específico
Tn = tempo máximo diário permissível a este nível, segundo tabela da NHO-01.
Cada situação foi medida por aproximadamente 2 minutos, segundo a segundo, com o
medidor portado pelo avaliador. O dosímetro DOS-600 traz o valor do Nível Equivalente
(Leq). O Leq representa o nível médio de ruído durante um determinado período de tempo.
Realizadas as medições do nível de pressão sonora em cada situação chegou-se ao seguinte
resultado como exposto na tabela (7).
Tabela 7: Nível médio de ruído x tempo (Cozinha).
Tempo
Máxima exposição
exposição
Equipamento Leq (dB A) diária permissível
atividade
(NHO-01)
em minutos
Masseira 83.2 60 604,76
Cilindro 79.8 360 1523,9
Masseira + Cilindro 84.9 10 480
Fonte: Elaborada pelo autor

Aplicada a fórmula chegamos ao seguinte resultado:

Dose = ( 60 + 360 + 10 ) x 100 [%]


( 604,76 1523,9 480 )

Dose = ( 0,0992 + 0,2362 + 0,0208 ) x 100 [%]

Dose = 0,3562 x 100 %

Dose = 35,62%

Com a dose encontrada, podemos calcular o nível de exposição médio representativo


da exposição diária do trabalhador (NE). O cálculo do NE é feito através da fórmula
44

apresentada na NHO-01 que considera a taxa de incremento de duplicação de dose 3, como


segue:

NE = 10 x log ( 480 x D ) + 85 [dB]


( Te 100 )
Onde:
NE = Nível de exposição
D = dose diária de ruído em porcentagem
Te = tempo de duração, em minutos, da jornada diária de trabalho

Aplicando a fórmula com os números da empresa, temos:

NE = 10 x log ( 480 x 35,62 ) + 85 [dB]


( 480 100 )
NE = 10 x log ( 1 x 0,3562 ) + 85 [dB]
NE = 10 x -0,4483 + 85 [dB]
NE = 81 dB(A)

Logo, de acordo com a NHO-01, este valor não extrapola o limite de tolerância de
exposição ocupacional diário ao ruído contínuo ou intermitente que seria uma dose superior à
100% ou NE = 85 dB(A). Como também não esta acima do nível de ação, dose superior à
50% ou NE = 82 dB(A).
Aqui é importante observar que estamos falando da NHO-01, que como citado
anteriormente possui o fator de dobra de 3dB(A), por isso o nível de ação para a norma de
higiene ocupacional é 82 dB e não 80 dB, como diz a NR-09. Além de atender os critérios
matemáticos, os resultados obtidos com o incremento de dobra de 3dB(A) estabelecem uma
relação mais criteriosa de exposição. Se calculássemos o NE de acordo com a NR-09, pelo
fator de dobra maior 5 dB(A), teríamos que usar a seguinte fórmula:

NE = 16,61 x log ( 480 x D ) + 85 [dB]


( Te 100 )
NE = 16,61 x -0,4483 + 85 [dB]
NE = 78 dB
45

Com essa mudança na fórmula chegaríamos a um valor de 78 dB(A) de exposição, oque ainda
esta abaixo do nível de ação estabelecido na NR-09.
Para o trabalhador do setor da embalagem, consideramos apenas a exposição ao ruído
proveniente do seu setor. Apesar de fazer o transporte dos produtos entre os setores, o
trabalhador não entra de fato na cozinha, chegando apenas até a porta para pegar o carrinho
abastecido com os produtos.
O procedimento foi o mesmo aplicado na cozinha e chegou-se ao seguinte resultado
(Tabela 8):
Tabela 8: Nível médio de ruído x tempo (Embalagem).
Tempo
Máxima exposição
exposição
Equipamento Leq (dB A) diária permissível
atividade
(NHO-01)
em minutos
Ultracongelador 81,4 180 960
Fonte: Elaborado pelo autor.

Dose = ( 180 ) x 100 [%]


( 960 )

Dose = 0,1875 x 100 %

Dose = 18,75%

Aplicando a fórmula com os números da empresa, para calcular o NE, temos:

NE = 10 x log ( 480 x 18,75 ) + 85 [dB]


( 480 100 )
NE = 10 x log ( 1 x 0,1875 ) + 85 [dB]
NE = 10 x -0,7269 + 85 [dB]
NE = 78 dB(A)

A conclusão é a mesma que a obtida na análise da cozinha. Estes valores não


extrapolam o limite de tolerância de dose superior à 100% ou NE = 85 dB(A), nem o nível de
ação, dose superior à 50% ou NE = 82 dB(A).

3.3.3 Análise agentes químicos


46

A exposição a agentes ambientais químicos se deve exclusivamente ao manuseio dos


produtos domissanitários utilizados na limpeza das instalações, máquinas e utensílios da
empresa. Avaliamos o risco de cada produto com base na sua FISPQ e nos níveis de
tolerância de exposição a agentes químicos da NR-15. É importante salientar que na
elaboração da NR-15, tomou-se por base os níveis da norma americana ACGIH. Acontece
que a ACGIH sofre atualizações ano a ano, e a NR-15 pouco foi alterada desde sua
publicação. Por isso, os valores de alguns agentes químicos são discrepantes de uma norma
para a outra, e na ausência de limites de exposição na NR-15 para algum agente químico,
deve-se observar o que diz a norma internacional.
Os domissanitários utilizados são água sanitária e sabão em pó, utilizados no piso e na
limpeza geral da cozinha. Pasta rosa multiuso para limpeza do fogão e álcool hospitalar 70%
aplicado sobre as bancadas, vidros e na limpeza geral.

Risco: Substâncias químicas


Tipo de risco: Químico
Fontes Geradoras: Produtos de limpeza
Meio de propagação: Ar/vias respiratórias, e alguns agentes podem apresentar
propriedades de absorção pela pele
Funcionários expostos: 2 (auxiliar de cozinha e auxiliar de limpeza)

Para cada produto de limpeza fizemos um quadro com algumas informações da FISPQ
do produto relevantes para a análise de risco.

- Água Sanitária

Tabela 9. Informações FISPQ àgua sanitária


Informações - FISPQ
Marca: Indústrias Anhembi S/A
Produto: Q-boa
Nome Químico: Solução de Hipoclorito de Sódio 2,0 a 2,5% p/p.
Sinônimo: Água Sanitária
Composição: Hipoclorito de sódio (NaClO) / água industrial
Perigo mais importante: Incompatível com ácido, reagindo e formando gás cloro.
Classificação do Produto: Risco II
Fonte: Elaborado pelo autor
47

De acordo com as informações da FISPQ da água sanitária, pode-se observar que o


principal risco esta relacionado ao hipoclorito de sódio, composição principal do produto.
Ainda segundo a ficha de informação a rota de entrada no organismo se dá por inalação ou
ingestão. Deve-se evitar a mistura com produtos que contenham ou possam formar amônia.
O Hipoclorito de Sódio, segundo a sua própria FISPQ, é um forte oxidante e se em
contato direto com os olhos pode causar cegueira. Exposição nas vias respiratórias provoca
queimaduras, tosse e edema pulmonar. É incompatível com ácidos, reagindo com violência e
formando gás cloro, mas esta situação não ocorre na empresa estudada.

Limites de Exposição Ocupacional apresentados na FISPQ do hipoclorito de sódio:


 Anexo 11 da NR-15 >>> 0,8 ppm (como cloro - Cl2)
 TLVs da ACGIH >>> 0,5 ppm (como cloro - Cl2)

Apesar destas informações, por se tratar de um produto também de uso doméstico, a


água sanitária tem concentração reduzida de NaClO, então não cabe falar em insalubridade
por limite de exposição, como estabelecido na NR-15.

- Sabão em pó

Tabela 10. Informações FISPQ sabão em pó


Informações FISPQ
Marca: Girando Sol
Produto: Lava roupas em pó
Efeitos adversos: Não são esperados
Composição: Preparado com componente ativo Dodecil Benzeno Sulfonato de Sódio
Perigos físico e químicos: Produto estável em condições ambientais
Condições a evitar: Evitar o contato com produtos ácidos e meios oxidantes
Efeitos Ambientais: Produto biodegradável
Fonte: Elaborado pelo autor

Segundo a FISPQ do produto, o mesmo não oferece riscos para o seu manuseio, como
era de se esperar para um produto também de uso doméstico.
De acordo com a FISPQ do composto Dodecil Benzeno Sulfonato de Sódio, esta é
uma substância classificada como não perigosa. Quando em pó, em caso de vazamento pode
causar irritação nas mucosas nasais. O produto não é inflamável, combustível, ou explosivo e
tem baixa toxicidade oral e dérmica. A inalação do produto é mais preocupante que outros
48

meios de absorção. É pobremente absorvido pela pele, não ocasionando problemas no contato,
o qual mesmo assim deve ser evitado. Não possui níveis de tolerância na NR-15 ou ACGIH.

- Pasta rosa multiuso

Tabela 11. Informações FISPQ pasta rosa


Informações FISPQ
Marca: Cristal
Produto: Pasta Rosa Multiuso
Tipo de produto: Composto
Composição: Ácido Dodecilbenzeno Sulfônico
Perigos físico e químicos: Produto não perigoso
Limite de exposição Ocupacional: Não aplicável
Efeitos Ambientais: Produto biodegradável
Fonte: Elaborado pelo autor.
A pasta rosa não traz nenhum risco em si, sendo classificada como produto não
perigoso. Porém seu princípio ativo Ácido Dodecilbenzeno Sulfônico, na FISPQ própria é
considerado como um produto perigoso, sendo classificado como facilmente inflamável e
irritante. Não possui níveis de tolerância na NR-15 ou ACGIH.

- Álcool 70%

Tabela 12. Informações FISPQ álcool 70%


Informações FISPQ
Marca: Itajá
Desinfetante Hospitalar para superfícies fixas e
Produto:
artigos não críticos – Álcool Etílico 70º INPM
Composição: Álcool Etílico / Benzoato de denatônio
Indicação: Desinfecção de superfícies e artigos não críticos
Líquido inflamável / Irritação da pele, do globo
Perigos:
ocular e vias respiratórias / Danos se ingerido
Limite de exposição ocupacional: 780 ppm NR-15 / 1000 ppm ACGIH (inalatório)
Efeitos Ambientais: Atóxico
Fonte: Elaborado pelo autor

De acordo com a FISPQ o principal perigo em relação ao álcool etílico 70% esta
relacionado ao fato de ser este um produto inflamável. Porém a ficha de informações também
classifica como perigoso caso ingerido, inalado ou em contato com as mucosas. O álcool
etílico aparece na NR-15 e na ACGIH, mas os limites de exposição apresentados são para
49

absorção via inalação, não tendo risco de absorção pela pele. Sendo assim o manuseio do
produto para limpeza de bancadas e equipamentos no ambiente de trabalho não oferece risco
ocupacional, tanto pela quantidade utilizada como pela forma de contato com o produto, não
sendo necessário fazer uma análise quantitativa. Ainda assim a FISPQ do produto orienta o
uso de EPI para seu manuseio de forma preventiva.
O benzoato de denatônio se trata de um produto não perigoso de acordo com a FISPQ
própria. O código CAS informa que o benzoato de denatônio é conhecido como a substância
mais amarga do mundo, normalmente adicionado a outros produtos químicos para lhes
conferir o sabor amargo, como forma de segurança evitando sua ingestão acidental.

3.3.4 Mapa de riscos

Elaborou-se uma planilha com as informações mais relevantes em relação a cada risco
identificado (tabela 13). O grau de risco foi definido com base na matriz apresentada na tabela
1, que considera probabilidade e gravidade, e nada tem a ver com o grau de risco que define
insalubridade na NR-15.

Tabela 13: Tabela de riscos.


Tabela de riscos

Fonte Grau de Possíveis
SETOR Risco Probabilidade Gravidade funcionário
Geradora risco Sintomas
s expostos
Fogão e Leve Exaustão
Cozinha Calor Improvável Baixo 4
Forno reversível desidratação
Perda auditiva
Masseira, Altamente Irreversível
Cozinha Ruído Baixo Zumbido, 4
Cilindro Improvável Severo
Estresse

Perda auditiva
Ultra Altamente Irreversível
Embalagem Ruído Baixo Zumbido, 1
congelador Improvável Severo
Estresse
Substâncias Produtos altamente Leve Queimaduras,
Cozinha Irrelevante 2
Químicas de limpeza improvável reversível Intoxicação
Fonte: Elaborado pelo autor.

Cruzando a probabilidade com a gravidade dos riscos, concluiu-se que o grau de risco
do calor é baixo, considerando-se improvável pela quantificação da exposição e de gravidade
leve reversível, pois uma eventual temperatura alta causaria fadiga ou uma desidratação. Para
50

ruído, também entende-se como risco baixo, sendo altamente improvável pela quantificação e
somente ruídos a partir do nível de ação podem causar uma perda auditiva, desta maneira a
gravidade é leve. O risco químico com base na FISPQ dos produtos de limpeza classificou-se
como irrelevante, sendo altamente improvável um evento envolvendo os mesmos, e se fosse o
caso seria de gravidade baixa.
Com os riscos identificados e quantificados elaborou-se o mapa de riscos (Figura 10)
da empresa. O mapa de risco nada mais é do que uma representação gráfica baseada no layout
da empresa, com a identificação dos riscos. Atualmente esta ferramenta não faz parte do
PPRA, porém é um item presente na NR-05 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(CIPA), sendo atribuição da CIPA a elaboração do mesmo, com participação do maior
número de trabalhadores.
O mapa de risco tem o objetivo de informar e conscientizar os funcionários numa fácil
visualização das ameaças presentes através de círculos de diferentes cores e tamanhos, sendo
uma ferramenta essencial para a Segurança e Saúde do Trabalho.
Riscos físicos são representados pela cor verde, químicos pelo vermelho, biológicos
marrom, ergonômicos amarelo e de acidentes azul. Além disso os círculos tem tamanhos
diferentes para uma quantificação rápida e objetiva dos riscos (pequeno, médio, grande).

Figura 10. Mapa de riscos ambientais na empresa

Fonte: Elaborado pelo autor.


51

3.4 MEDIDAS DE CONTROLE

O item 9.3.5 da NR-09 trata sobre as medidas de controle no PPRA. Segunda a norma,
deverão ser adotadas medidas necessárias suficientes para a eliminação, a minimização ou o
controle dos riscos ambientais sempre que forem verificadas uma ou mais das seguintes
situações:
a) identificação, na fase de antecipação, de risco potencial à saúde;
b) constatação, na fase de reconhecimento de risco evidente à saúde;
c) quando os resultados das avaliações quantitativas da exposição dos trabalhadores
excederem os valores dos limites previstos na NR-15 ou, na ausência destes os valores limites
de exposição ocupacional adotados pela ACGIH - American Conference of Governmental
Industrial Higyenists, ou aqueles que venham a ser estabelecidos em negociação coletiva de
trabalho, desde que mais rigorosos do que os critérios técnico-legais estabelecidos;
d) quando, através do controle médico da saúde, ficar caracterizado o nexo causal
entre danos observados na saúde os trabalhadores e a situação de trabalho a que eles ficam
expostos.

3.4.1 Medidas de controle existentes

No projeto da empresa, já se previu que os trabalhadores alocados na cozinha,


possivelmente estariam expostos ao agente físico calor. Desta maneira, de forma preventiva e
como proteção coletiva, visando o conforto térmico, a cozinha possui dois ar condicionados
localizados em paredes opostas, cobrindo toda a extensão da cozinha. Cada aparelho possui
potência de 18.000 BTUs, mais que suficiente para os 20 mts² de área do setor. Além disso,
uma coifa esta disposta sobre forno e fogão. Para os demais agentes e setores, nenhuma
medida de proteção coletiva foi concebida.
Mesmo sem um trabalho técnico prévio de avaliação de riscos ambientais, a empresa
já havia tomado providências no sentido de melhorar a qualidade do ambiente de trabalho aos
empregados. A forma encontrada pela empresa foi o fornecimento de EPIs, solução mais
prática e imediata, porém menos eficiente, e que segundo a norma deve ser adotada apenas
quando ficar comprovado a inviabilidade ou insuficiência de medidas de caráter coletivo e
administrativas. Ao receberem os EPIS os colaboradores assinaram ficha de recebimento de
EPI, porém não foram treinados quanto ao uso correto e guarda dos equipamentos.
52

EPIs fornecidos (Tabela 14):

Tabela 14. EPIs fornecidos pela empresa.


EPI Marca C.A. Função do EPI Cargos
Cozinheira,
Sapato Evitar Aux. de cozinha,
Wedge 31.898
antiderrapante escorregamento Aux. de limpeza,
Embalador

Cozinheira,
Atenuar exposição Aux. de cozinha,
Protetor auditivo Vonder 10.043
ao ruído Aux. de limpeza,
Embalador

Proteger contra
Luva proteção calor e queimaduras
Cozinheira,
contra agentes Lamare 37.288 durante manejo de
Aux. De cozinha
térmicos formas e panelas
quentes
Luva proteção
Proteção contra Aux. De limpeza
contra agentes DVS 9.567
produtos químicos Aux. De cozinha
químicos
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os EPIs fornecidos estão todos com o CA válido, e funcionam de forma eficiente para
o controle de exposição ao risco a que se destinam.
O calçado antiderrapante, é fabricado em EVA, extremamente leve e evita acidentes
na movimentação pela cozinha, principalmente quando transportando panelas e formas
quentes, e segundo o fabricante resistente a óleo e cloro.
O protetor auditivo fornecido, possui três falanges é fabricado em copolímero e
segundo o fabricante atenua 13 dB devendo ser substituído a cada 30 dias. Mesmo com a
medição do ruído não ultrapassando os limites de exposição, este protetor é suficiente para
que um ruído de até 92 dB possa ser atenuado a níveis abaixo do nível de ação da NR-15.
As luvas para proteção contra agentes térmicos, confeccionada em grafatex 4 fios com
reforço externo simples, possuem 45 cm de comprimento, suportam temperaturas até 250ºC,
sendo esta a temperatura máxima atingida pelo forno.
A luva de proteção contra agentes químicos é fabricada em borracha natural, sem
revestimento e com palma antiderrapante, é o equipamento mais adequado para limpezas e
faxinas.
53

3.4.2 Sugestões de melhorias e monitoramento

De acordo com a análise de riscos e a quantificação dos agentes ambientais, não foi
constatado nenhum risco que ultrapasse os limites de exposição ocupacional a tais agentes, o
que a princípio poderia ser interpretado como a não obrigação da empresa em ter que investir
em proteção, já que o ambiente da empresa encontra-se seguro. Entretanto, sendo o PPRA um
documento de caráter preventivo, entendemos que a melhoria tem que ser constante, sempre
visando a saúde e o bem estar dos envolvidos, enquanto exercendo suas atividades
ocupacionais.
As medidas de proteção coletiva ao calor já existentes, são suficientes e eficientes na
redução da exposição dos trabalhadores a este agente presente na cozinha. Devemos observar
que a medição de calor foi realizada no período do inverno, então é prudente realizar uma
nova medição no verão, para monitoramento e a fim de eliminar uma suposta exposição ao
calor mais intensa no período mais quente do ano.
O uso de EPIs em relação ao calor pode ser controverso, porque pode acabar
aumentando o calor percebido pelo trabalhador. Como a situação apresentada aqui não
representou riscos, o uso de EPI no manuseio do forno e fogão estaria mais relacionado ao
risco de acidentes com queimaduras.
Os funcionários usam uniforme que inclui calça e avental, porém os mesmos não
podem ser considerados equipamentos de segurança por não possuírem CA. Desta maneira
sugerimos a adoção de vestes específicas para o trabalho na cozinha que possuam CA
aprovado e dentro da validade, sendo uma proteção adicional ao calor, como também uma
segurança contra acidentes de trabalho. Hoje no mercado existem várias opções de aventais
profissionais específicos para uso em cozinha. Geralmente são fabricados em tecido especial,
com tratamento em silicone, fornecendo proteção frontal contra calor de contato, conectivo ou
radiante.
Toda entrega de EPI deverá ser registrada em uma ficha individual contendo no
mínimo, data, para qual atividade se destina e prazo de validade do EPI, seguidos de
assinatura do colaborador. Além disso, a empresa deve controlar o prazo de validade dos
EPIs, para realizar a correta substituição quando do prazo vencido.
Para o agente ambiental ruído, as medidas de controle sugeridas são de caráter
administrativo e de proteção individual já que os níveis de ruído não ultrapassam os limites
seguros de exposição. Medidas de proteção coletiva são “desnecessárias” neste caso, tanto
54

pela falta de espaço na empresa para a adoção de barreiras acústicas como também
modificariam a dinâmica de trabalho, reduzindo a capacidade produtiva.
Podemos considerar que o protetor auditivo previamente fornecido pela empresa já
constitui uma boa proteção no caso de um eventual aumento dos níveis de ruído, além de
contribuir para diminuir a distração da atividade executada aumentando o foco no processo.
Apenas a empresa deve observar o prazo de validade para substituição. O fabricante diz que o
prazo de validade é de 30 dias e não encontramos informação se o protetor é lavável. Caso o
protetor seja lavável o prazo pode ser estendido para de 3 a 6 meses.
As máquinas e equipamentos em geral, e principalmente as que emitem ruídos devem
passar por manutenção e lubrificação periodicamente, com registro de data e o procedimento
realizado para controle e agendamento da próxima manutenção preventiva, sempre
respeitando o cronograma.
A empresa deverá realizar periodicamente, mensuração pontual dos níveis de ruído no
ambiente de trabalho e sempre que ocorrer alguma alteração de máquinas no ambiente,
mantendo registro dos dados coletados, com informações como data, instrumento utilizado.
Sugere-se a realização de medição imediatamente após a manutenção dos equipamentos.
Em relação aos agentes químicos, a empresa deve manter em arquivo de fácil acesso
as FISPQs dos produtos de limpeza utilizados no dia a dia. Armazenar os produtos de forma
adequada, em ambiente seguro. Fornecer o EPI necessário para a execução das atividades de
limpeza, neste caso a luva emborrachada já fornecida. Os funcionários devem evitar a
aplicação dos produtos em superfícies e objetos quentes para que não haja formação de gases
e vapores.

3.4.2.1 Treinamento

A empresa deve treinar os empregados sobre o correto uso e armazenamento dos EPIs
no momento da entrega dos equipamentos, mantendo registro assinado pelos colaboradores.
Sempre que necessário refazer o treinamento.

3.4.2.2 PCMSO

Implementar um Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO. O


PCMSO é o programa definido pela NR-07, composto de procedimentos médicos, como
exames clínicos e exames complementares, com a função de prevenir doenças ocupacionais,
55

proporcionando maior conforto aos empregados em seu ambiente de trabalho. Como exige a
norma o PCMSO deverá ser elaborado por Médico do trabalho indicado pela empresa.

3.4.2.3 Cronograma de ações e monitoramento

Tabela 15: Quadro proposta de medidas e cronograma de execução

Setor Item Agente Medidas propostas Prazo


Fornecer avental profissional para
1 Imediato
trabalho em cozinha com CA valido
jan/2018
Cozinha Calor
Medição da exposição ao calor no
2
verão pelo menos uma
vez ao ano
180 dias
Manutenção e lubrificação dos
3
equipamentos pelo menos 1 vez
ao ano
Ruído
Cozinha e 180 dias
Embalagem Medição exposição ao ruído
4
periodicamente pelo menos 1 vez
ao ano
Arquivar FISPQ dos produtos de
5 Químico Imediato
limpeza
30 dias
Treinamento uso correto do EPI
6 Calor e orientação sobre suas limitações de sempre na
Geral Ruído proteção entrega do
Químico equipamento
Indicação de Médico do Trabalho
7 60 dias
para implantação do PCMSO
Fonte: Elaborado pelo autor.

3.5 JUSTIFICATIVA DE INVESTIMENTO EM PREVENÇÃO

Sendo o PPRA um documento prevencionista, aqui pretendemos apresentar um


cálculo rápido para mostrar quanto que os empresários podem economizar na folha de
pagamento investindo em prevenção. É comum que os empresários vejam o gasto com
medidas para eliminar agentes insalubres como um gasto alto e desnecessário, sendo mais
“barato” pagar o adicional de insalubridade ou simplesmente fornecer o EPI.
Pois bem, fosse o caso da empresa em questão, a exposição ao calor ultrapassar os
limites máximos de exposição, as cozinheiras fariam jus a percepção do adicional de
56

insalubridade. Tratando-se a exposição ao calor de insalubridade de grau médio segundo a


NR-15, a empresa pagaria um adicional de 20% sobre o salário mínimo para cada funcionária
exposta ao calor. O salário mínimo atual (set/2017) equivale a R$ 937,00, multiplicado por
20%, temos um adicional de R$ 187,40.
De acordo com o Decreto Nº 3.048, de 6 de maio de 1999, que define as regras da
previdência social, o trabalhador que exercer suas atividades em ambientes insalubres ou
perigosos, tem o direito a aposentadoria especial. A aposentadoria especial se trata de um
benefício ao trabalhador, que pode antecipar sua aposentadoria caso trabalhe em situações
nocivas a sua saúde. A aposentadoria especial representa um acréscimo na contribuição do
INSS que a empresa deve recolher em favor do empregado.
Este acréscimo é um valor percentual, que incide exclusivamente sobre o total das
remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e
trabalhadores avulsos sujeitos a condições especiais (MP nº 1.729, de 02/12/98, DOU de
03/12/98 e Orientação Normativa nº 12, de 18/03/99, DOU de 23/03/99, do INSS). É
calculado conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a
concessão de aposentadoria especial após 15, 20 ou 25 anos de contribuição, sendo de 12, 9 e
6 por cento respectivamente. No caso da exposição ao calor, a aposentadoria especial se dá
com 25 anos de contribuição, logo o percentual de acréscimo equivale a 6% do salário bruto.
Sabendo-se que as cozinheiras recebem R$ 1.500,00 reais por mês, a empresa
contribui com a alíquota de 8% de acordo com as regras da previdência. Além disso, baseado
no CNAE da empresa é calculado o Risco de Acidente de Trabalho (RAT), que é uma
contribuição previdenciária paga pelo empregador para cobrir os custos da Previdência com
trabalhadores vítimas de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais. O RAT pode ser de
1, 2 ou 3% de acordo com a atividade da empresa. Aqui temos uma atividade de risco grave
logo o valor fica em 3%. Então a empresa gastaria com uma cozinheira trabalhando em
condições insalubres:

Salário: R$ 1.500,00
INSS: 8% de 1500 = R$ 120,00
RAT: 3% de 1500 = R$ 45,00
Acréscimo aposentadoria especial: 6% de 1500 = R$ 90,00
Adicional de insalubridade: R$ 187,40
Total: R$ 1.942,40
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Em condições de trabalho sem insalubridade o gasto cairia para:

Salário: R$ 1.500,00
INSS: 8% de 1500 = R$ 120,00
RAT: 3% de 1500 = R$ 45,00
Total: R$ 1.665,00

Logo R$1.942,40 – R$ 1.665,00 nos da uma diferença de R$ 277,40 reais por mês
para apenas uma funcionária, representando uma economia de aproximadamente 14,3% na
folha de pagamento de uma cozinheira.
No nosso trabalho temos 4 funcionários expostos ao calor na empresa. Estivessem eles
em condições insalubres, isso representaria um gasto de aproximadamente R$ 1.100,00 a mais
por mês na folha de pagamento. Multiplique-se por 12 meses e temos mais de R$ 13.000,00
gastos em um ano pelas condições insalubres.
Se a empresa gastar em prevenção de forma a eliminar a insalubridade, a economia
destes valores poderia facilmente justificar o valor investido. Isso sem falar no que a empresa
gasta com um eventual afastamento por conta de um acidente de trabalho.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou realizar um estudo de identificação dos riscos ambientais


segundo a NR-09 presentes em uma empresa do ramo alimentício de pequeno porte, onde
inclusive alguns empregados já haviam se queixado de condições insalubres de trabalho.
Como a empresa não possui um programa de prevenção de riscos ambientais, o estudo foi
executado de modo que o mesmo possa se converter em tal documento exigido por lei das
empresas contratantes de mão de obra no regime da CLT.
O estudo de campo identificou agentes físicos e químicos que poderiam prejudicar o
bem estar e a saúde dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Com base nos dados
levantados, quantificou-se a exposição ocupacional a tais agentes, concluindo-se que a queixa
dos trabalhadores, apesar de pertinente quanto aos riscos existentes, não fez jus a percepção
do adicional de insalubridade pelo fato dos limites de exposição não serem ultrapassados.
A exposição ao calor atingiu níveis médios do índice IBUTGi de 26ºC, estando abaixo
dos 26,7ºC de limite de exposição para trabalho moderado definido na NR-15. O ruído não
chegou nem a acionar os níveis de ação de exposição ao agente, que se dá com dose superior a
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50% do limite máximo. Os riscos químicos estão relacionados aos produtos de limpeza e por
se tratarem de produtos de uso doméstico, já esperava-se que não seriam nenhum tipo de risco
relevante, fato comprovado pela análise da FISPQ dos mesmos.
Seria interessante paralelamente ao PPRA que a empresa fizesse uma análise da
necessidade de adaptações na amassadeira e no cilindro de acordo com o que preconiza a NR-
12, norma que trata sobre segurança no trabalho em máquinas e equipamentos, principalmente
o que diz seu Anexo VI. Este anexo estabelece requisitos específicos de segurança para
máquinas de panificação e confeitaria, entre eles amassadeira e cilindro.
Da mesma maneira seria indicado a realização de uma análise ergonômica do trabalho
- AET –, documento essencial na avaliação qualitativa e quantitativa dos riscos ergonômicos
presentes nas máquinas, equipamentos, postos de trabalho e na execução da atividade
profissional.
Mesmo estando os riscos ambientais identificados em níveis aceitáveis e até
controlados, o desenvolvimento deste trabalho tem um caráter prevencionista. Então sugeriu-
se medidas de controle e monitoramento com a intenção de tornar o ambiente de trabalho da
empresa em questão cada vez mais seguro e agradável aos colaboradores.
Por fim, trazemos um cálculo básico e simples para justificar o investimento das
empresas e indústrias em prevenção, fazendo com que a economia na folha de pagamento
justifique o investimento que muitas vezes os empresários enxergam apenas como um gasto
desnecessário.
O presente trabalho contribuiu de forma expressiva para o enriquecimento prático e
teórico, aprendendo na prática como desenvolver um PPRA, o que será muito importante para
execução de forma confiante e segura a profissão de Engenheiro de Segurança do Trabalho.
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5. REFERÊNCIAS

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Disponível em: http://genjuridico.com.br/2016/03/23/historia-da-seguranca-e-saude-no-
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