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Introdução
Tendência atual – não deixar a vítima irressarcida por atos ilícitos
Ato ilícito – 186 CC – dever genérico de não lesar (neminen laedere)
Teoria subjetiva
Dolo e culpa são fundamentos para que surja o dever de reparar.
Art. 186
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
a) Conduta
Ação ou omissão
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
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Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.
- fato das coisas
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
tem que existir o dever jurídico de praticar determinado fato (não se omitir) e que
se demonstre que, com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado.
Dever jurídico pode ser imposto por lei (ex. dever de prestar socorro às vítimas de
acidentes imposto a todo condutor de veículo) ou resultar de contrato (dever de
vigilância, de guarda, de custódia). Ex. enfermeira, babá, vigilante, guarda noturno,
etc.
Imputabilidade
Imputar: atribuir responsabilidade a alguém por alguma coisa.
Imputabilidade: conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para
poder responder pelas consequências de uma conduta danosa.
Imputável é quem podia e devia agir de outro modo.
Elementos:
Menoridade: os menores de 16 anos não são responsáveis.
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Sanidade mental:
Condições físicas e psicológicas.
São irresponsáveis, por enfermidade ou deficiência mental, os que não tiverem o
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil.
O CC antigo tinha norma expressa nesse sentido (art. 3º, II).
Foi revogada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015)
Falta de capacidade de entendimento e autodeterminação
venit)
Em regra, não se mede o dano pelo grau de culpa.
O dano se mede mais com base no prejuízo comprovado da vitima.
Ver art. 944 e parágrafo único
Culpa in eligendo – decorre da má escolha do preposto, do representante
C in vigilando – ausência de fiscalização
C in omittendo – omissão quando havia o dever de não se abster
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C in custodiendo – na falta de cuidados na guarda de algum animal ou objeto
CULPA – falta do dever de cuidado que seria esperado do homem médio
Prever + evitar
Resp penal o agente infringe uma norma de direito público. O interesse lesado é o
da sociedade.
Resp civil – interesse lesado é o privado. O prejudicado pode ou não pleitear
reparação.
Exceção – ação penal privada, ação penal publico mediante representação, Lei
9.099.
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Resp penal – pessoal e intransferível
Resp civil – há várias hipóteses de resp por fato de outrem.
Subjetiva = culpa (é um dos pressupostos da resp civil, para que haja dever de
indenizar).
Há casos de culpa presumida
Objetiva – independentemente de culpa – é irrelevante para o dever de indenizar
Responsabilidade e imputabilidade
Imputabilidade – livre determinação da vontade – capacidade de discernimento
Amentais e menores
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A vontade do sujeito é de produzir o ato, não o resultado.
Atos que passam de um centro sensório, a um centro motor, produzindo o
movimento sem transitarem pela zona da consciência não são ação.
Ex. ato reflexo do joelho que bate em alguém.
2º Culpa
Dolo – comportamento consciente e voltado para um fim determinado.
É a vontade consciente de violar direito.
Culpa – comportamento equivocado da pessoa, da qual se poderia exigir
comportamento diverso.
Trata-se de um erro inescusável, sem justificativa plausível e evitável para o
homem médio.
- imprudência = comportamento precipitado, apressado, exagerado ou excessivo
- negligência = o agente se omite, deixa de agir quando deveria fazê-lo, deixa de
observar regras de bom senso, de cuidado, atenção e zelo.
- imperícia = atuação profissional sem o necessário conhecimento técnico ou
científico que desqualifica o resultado e produz o dano.
O CC manteve a culpa como pressuposto do ato ilícito e da obrigação de indenizar,
embora comporte exceções que, aliás, foram bastante ampliadas.
Há quem diga que o CC estabeleceu um critério dualista – Gustavo Tepedino
Da responsabilidade com culpa (art. 186) e da responsabilidade sem culpa (art.
927, par. único).
Outros discordam – o 186 define o ato ilícito e está na Parte Geral – regras gerais
de natureza conceitual.
O art. 927, par. único é uma exceção = estabelece a obrigação de reparar o dano
“independentemente de culpa” nos casos expressos em lei, ou quando a atividade
desenvolvida pelo autor implique risco para terceiro. Se a atividade desenvolvida
for normal, sem risco inerente, volta-se à regra do 186.
Não é em qualquer hipótese que se dispensa a culpa.
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Alguns autores colocam a culpa como elemento acidental da responsabilidade civil
– Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho.
É certo que o legislador do CC foi conservador – não afastou a culpa como
elemento fundamental, básico da responsabilidade civil, deixou de caminhar para
uma socialização dos encargos.
Graus de culpa –
Culpa lata a- o agente se comporta como se tivesse querido o dano
Culpa leve – a do bonus paterfamilias
Culpa levíssima – uma pessoa muitíssimo diligente não teria aquela conduta, mas
uma pessoa média sim.
O CC cuida dos graus de culpa no 944.
Culpa levíssima é irrelevante por ser escusável.
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b) Resultado previsível mas não previsto pelo agente;
c) Falta de cautela, atenção, diligência, cuidado, etc.
Previsão e previsibilidade:
O resultado é mentalmente antecipado – dolo eventual - o resultado não é querido,
mas previsto.
Previsibilidade – critérios
- objetivo = homem médio
- subjetivo – condições pessoais do agente – idade, sexo, grau de escolaridade,
cultura, local, etc
DANO
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Classificação do dano
a) Patrimonial, material ou econômico
b) Extrapatrimonial, imaterial, moral
Perdas e danos = expressões sinônimas
(O CC francês fala em danos e interesses o que demonstra melhor o dano
emergente e o lucro cessante).
Em regra, os efeitos do ato danoso incidem sobre o patrimônio, diminuindo-lhe.
Pode atingir o patrimônio presente e o futuro.
Art. 402 – o que o credor “efetivamente perdeu” = damnum emergens
“razoavelmente deixou de ganhar” = lucrum cessans
O dano deve ser atual e certo = requisitos de certeza e atualidade.
Às vezes o dano pode ser futuro, mas ele é “consequência de um dano presente e
que os tribunais tenham elementos de apreciação para avaliar o prejuízo futuro”.
O requisito da “certeza” afasta o dano meramente hipotético ou eventual, que
poderá não se concretizar.
No “lucro cessante” não basta a simples possibilidade de realização do lucro (tb
não há necessidade de uma certeza absoluta)
Deve haver uma probabilidade objetiva, que resulte do curso normal das coisas -
"razoavelmente” (art. 402).
Não significa que se pagará o que for razoável, mas que se pagará, se se puder,
razoavelmente, admitir que houve lucro cessante.
Dano moral
Prova = às vezes não precisa provar – a presunção de dano é absoluta. Ex. morte de
alguém, protesto indevido de título, nome no SERASA.
Ex. pag. 495 do Carlos Roberto Gonçalves (prova pericial psicológica, filho que
não demonstra amor pelos pais).
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A reparação de dano moral está prevista na CF, art. 5º, V e X.
Antes, não reparação de dano moral.
As indenizações por dano material e dano moral podem ser cumuladas – Sum. 37
STJ.
O ato ilícito pode afetar a esfera material e moral ao mesmo tempo da vítima.
Natureza jurídica da reparação
Tem prevalecido o entendimento de que a reparação pecuniária do dano moral tem
duplo caráter: compensatório/satisfatório para a vítima e punitivo/penal para o
ofensor.
Serve de consolo, uma espécie de compensação para atenuação do sofrimento
havido, tb atua como sanção ao agente, como fator de desestímulo, a fim de que
não volte a praticar atos semelhantes.
A quantificação do dano moral
A reparação do dano moral objetiva apenas uma compensação, um consolo, sem
mensurar a dor.
Não há critérios uniformes e definidos para se arbitrar um valor adequado.
DANO ESTÉTICO
Súm. 387 STJ = é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano
moral.
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ajuizaram ação – vítima recebeu dano material e moral, pais dano moral em
ricochete de 100 mil e cada irmão, dano moral em ricochete de 50 mil.
Nexo Causal
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O nexo causal é analisado antes da culpa do agente, ou seja, primeiro há que se
analisar se foi a conduta do agente que deu causa ao resultado.
Ex. acidente de transito e pessoa morre de parada cardíaca segundos antes.
Esse é o elemento mais delicado e mais difícil da responsabilidade civil.
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O agente responde somente pelos danos que se prendem ao seu ato. Pelos danos
consequentes das causas estranhas responderiam os respectivos agentes.
Ex. acidentado que vem a ser transportado em uma ambulância para hospital e
morre em virtude de uma forte colisão entre a ambulância e outro veiculo.
O autor dos ferimentos responde apenas por eles.
Pelos danos da morte responderia o motorista da ambulância ou do carro, ou
ambos.
O art. 403 do CC
O devedor, ainda que atue com dolo, não indenizará todos os prejuízos suportados
pela outra parte, nem todos os lucros cessantes, mas apenas aqueles que possam ser
considerados como efeito direto e imediato da inexecução.
Embora esse art. se refira à responsabilidade contratual, ele se aplica também aos
casos de resp extracontratual.
Não se indenizam os danos remotos ou indiretos – são lucros cessantes e para sua
configuração seriam necessários outros fatores que não fosse apenas a execução a
que o devedor faltou, ainda que sua conduta seja dolosa.
Ex. de Pothier – A vende uma vaca contaminada (ele sabe) que contamina todo o
rebanho, que morre. Deve indenizar o valor do animal vendido e daqueles outros.
Mas não responde pelos prejuízos decorrentes da impossibilidade de cultivar a
terra por terem sido atingidos animais que eram utilizados nesse serviço.
E se por impossibilidade de cultivar as terras deixo de pagar minhas dívidas, meus
credores vendem minhas coisas por preço vil, etc. Não responde – a perda da
fortuna pode ter concorrido outras causas.
Ex. alguém sofre um acidente de carro a caminha do aeroporto. Pode
responsabilizar o motorista pelos danos emergentes (despesas médicas e estragos
do carro) e lucros cessantes (dias de serviço perdidos). Mas não poderá cobrar os
danos remotos = eventuais lucros que poderia ter auferido, se tivesse viajado e
efetuado os negócios que tinha em mente.
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Concausas
É a sobreposição de causas, é outra causa que, juntando-se à principal, também
contribui para a ocorrência desse resultado.
Ela não inicia nem interrompe o nexo causal, apenas o reforça.
São circunstâncias que concorrem para o agravamento do dano - não excluem o
nexo causal desencadeado pela conduta principal, nem por si só produzem o dano.
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É diferente da responsabilidade do empregador perante seus empregados, por
danos sofridos por estes durante a jornada de trabalho.
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Para o direito civil, sempre que o ato ilícito for praticado por outrem, por força de
vinculo de mando, ordem, outorga, autorização ou comissão, responderá o
mandante pelos atos do subordinado.
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Em alguns casos o preposto pratica atos de proposição fora do local do trabalho ou
fora da jornada de trabalho, e ainda assim o terá praticado “no exercício do
trabalho”.
Para o preponente – pessoa que pôs alguém em seu lugar, em certo negocio ou
comercio, para que o dirija, o faça ou administre em seu nome – parece claro que
não se exigem vinculo trabalhista formal, horário ou local fixo de trabalho.
Cabe ir mais longe – basta a aparência da existência de preposição entre tomador e
prestador para que nasça a obrigação do 1º por ato ilícito praticado pelo 2º.
Atualmente, a teoria da aparência assume natureza vital e não pode ser desprezada.
Nos casos em que a atuação do suposto preposto, ainda que fora do horário ou do
local do trabalho, faz supor que agiu por força de ordem, comando ou orientação
do empregador, deve-se orientar no sentido de que incumbirá a este (empregador)
demonstrar a inexistência da preposição, pois o art. 932 estabeleceu ma
responsabilidade objetiva.
Assim, o patrão responderá pelos atos de seus empregados, nas atividades previstas
na legislação trabalhista; pelos seus serviçais, tais como empregados domésticos; e
pelos seus prepostos.
O comitente ou constituinte responderá pelos seus constituintes.
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A subordinação entre empregado e empregador é voluntária, diferente daquela
entre filhos e pais e tutelados – curatelados e tutor, curador.
Se faltar o vinculo de subordinação, não haverá responsabilidade.
Ex. funcionário que resolve, por conta própria, voltar no domingo e terminar uma
tarefa que ficou inconclusa, sem ter sido convocado e sem autorização do
empregador.
Pressupostos de responsabilidade:
1. Que o autor do dano seja, comprovadamente, subordinado do empregador ou
comitente;
2. Que o ato tenha sido praticado no exercício da atribuição que lhe foi conferida
pelo empregador, ou em razão dela;
3. Que essa pessoa subordinada tenha agido culposamente (culpa ou dolo)
Furto em estacionamento
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O usuário estabelece um contrato de depósito, expresso ou tácito, transferindo a
guarda de sue veículo ao shopping ou supermercado.
O fato dele poder escolher a vaga, ficar com as chaves, não descaracteriza a
transferência da guarda.
A partir do momento em que o veículo ingressa no local do estacionamento, este
assume sua guarda e passa a ser seu guardião.
Tanto assim que esses estabelecimentos mantém vigilantes internos para orientar o
sentido de direção para estacionar e vigiar e impedir furtos, roubos e outros danos.
Não importa se o estacionamento é gratuito.
Uma das maiores atrações desses locais é a facilidade para estacionar.
A guarda do veículo não é gratuita. O preço está embutido no custo das
mercadorias das inúmeras lojas. Tb pode ser cobrado á parte um valor fixo ou
proporcional ao tempo que o proprietário fica lá.
Aplica-se o CDC?
Só se o serviço for remunerado – art. 3º, parágrafo 2º CDC.
Se for gratuito – art. 186 – resp subjetiva, mediante culpa, ainda que presumida.
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Furto ou roubo de veículos estacionados dentre de igrejas e templos evangélicos ou
de seus acessórios.
Pode-se argumentar que se trata de mera cortesia e que a direção daquele local não
se responsabiliza pelos veículos ali estacionados.
Para Rui Stoco não é assim.
O veículo é recebido em depósito, não obstante seja gratuito.
Estabelece-se o dever de guarda.
Pode se dizer que se o pátio não for fechado, se não houver manobrista contratado,
nem ticket comprobatório do estacionamento, nem recebendo as chaves, a igreja
não responde.
Rui Stoco não pensa assim. Para ele tais circunstâncias são irrelevantes para a
questão do dever de indenizar.
Causas de irresponsabilidade
Caso fortuito ou força maior
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Quem trafega em velocidade inadequada e se descontrola com a entrada de animal
no veículo, não se exonera da responsabilidade.
Condições físicas e emocionais – para dirigir veículos tem que se estar em boa
condição de saúde – estafa, stress, nervoso, irritado, cansado, sonolento, doente,
sob efeito de drogas, medicamentos e estimulantes, etc.
Se se põe a guiar é falta do dever de diligência. Será responsável pelo acidente.
Perda do controle da direção por súbito adormecimento, por espirro (está com
gripe).
Dirigir sob estado de fadiga e sonolência – responde
Ex. ficou 2 dias sem dormir, assume o risco.
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