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Aula 1 - Responsabilidade Civil

Introdução
Tendência atual – não deixar a vítima irressarcida por atos ilícitos
Ato ilícito – 186 CC – dever genérico de não lesar (neminen laedere)
Teoria subjetiva
Dolo e culpa são fundamentos para que surja o dever de reparar.

Art. 186
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Pressupostos da responsabilidade civil

a) Conduta
Ação ou omissão

- por ato próprio

- por ato de terceiro (art. 932 CC)

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas


mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,


no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

- fato dos animais

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Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.
- fato das coisas

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que


resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse
manifesta.

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

Conduta voluntária – ficam afastadas situações de hipnose, sonambulismo etc.

Ação = fazer, ato positivo, conduta comissiva

Omissão – conduta omissiva

tem que existir o dever jurídico de praticar determinado fato (não se omitir) e que
se demonstre que, com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado.
Dever jurídico pode ser imposto por lei (ex. dever de prestar socorro às vítimas de
acidentes imposto a todo condutor de veículo) ou resultar de contrato (dever de
vigilância, de guarda, de custódia). Ex. enfermeira, babá, vigilante, guarda noturno,
etc.

Imputabilidade
Imputar: atribuir responsabilidade a alguém por alguma coisa.
Imputabilidade: conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para
poder responder pelas consequências de uma conduta danosa.
Imputável é quem podia e devia agir de outro modo.
Elementos:
Menoridade: os menores de 16 anos não são responsáveis.

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Sanidade mental:
Condições físicas e psicológicas.
São irresponsáveis, por enfermidade ou deficiência mental, os que não tiverem o
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil.
O CC antigo tinha norma expressa nesse sentido (art. 3º, II).
Foi revogada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015)
Falta de capacidade de entendimento e autodeterminação

b) Culpa/dolo – elemento subjetivo


Dolo e culpa em sentido estrito
Dolo – vontade de causar o dano
Culpa (leve) – falta de diligência do homem médio
Negligência
Imprudência
Imperícia: falta de conhecimento das regras técnicas de uma profissão ou ofício.
Não importa se a atividade é de alta ou baixa complexidade, mas que tenha regras
técnicas a serem seguidas.
Ex. engenheiro aeroespacial, costureira, cozinheiro, marceneiro etc.
Padrão de conduta = bom profissional (assim como o bonus paterfamilias)
Culpa lata assemelha-se ao dolo – ver art. 392.
Mesmo a culpa levíssima obriga a indenizar (in lege Aquilia et levíssima culpa

venit)
Em regra, não se mede o dano pelo grau de culpa.
O dano se mede mais com base no prejuízo comprovado da vitima.
Ver art. 944 e parágrafo único
Culpa in eligendo – decorre da má escolha do preposto, do representante
C in vigilando – ausência de fiscalização
C in omittendo – omissão quando havia o dever de não se abster

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C in custodiendo – na falta de cuidados na guarda de algum animal ou objeto
CULPA – falta do dever de cuidado que seria esperado do homem médio
Prever + evitar

c) Nexo causal – relação de causalidade


“causar” – art. 186.
Art. 393 – excludentes de responsabilidade. Ex A se joga nas rodas de um carro. O
motorista não causou o acidente, mas foi mero instrumento da vontade da vítima

d) Dano – patrimonial (material) e extrapatrimonial (moral).

Responsabilidade extracontratual (aquiliana) e contratual


Resp extracont – infringe um dever legal – 186 a 188 e 927 e 944 e ss
Resp contratual – advém do inadimplemento –
Graus de culpa – extracontratual vale a levíssima e na contratual depende do
contrato, mas em regra é a culpa “normal”

Responsabilidade civil e responsabilidade penal

Resp penal tem um aspecto/finalidade preventiva ou repressiva.


Resp civil – aspecto reparador

Resp penal o agente infringe uma norma de direito público. O interesse lesado é o
da sociedade.
Resp civil – interesse lesado é o privado. O prejudicado pode ou não pleitear
reparação.
Exceção – ação penal privada, ação penal publico mediante representação, Lei
9.099.

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Resp penal – pessoal e intransferível
Resp civil – há várias hipóteses de resp por fato de outrem.

Resp penal – privação da liberdade


Resp civil – patrimônio

Responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva

Subjetiva = culpa (é um dos pressupostos da resp civil, para que haja dever de
indenizar).
Há casos de culpa presumida
Objetiva – independentemente de culpa – é irrelevante para o dever de indenizar

Responsabilidade e imputabilidade
Imputabilidade – livre determinação da vontade – capacidade de discernimento
Amentais e menores

Responsabilidade por ato próprio

Fato voluntário – a ação ou omissão deve ser, em abstrato, controlável ou


dominável pela vontade do homem.
É uma conduta que viola um dever jurídico – violar o avençado (resp contratual)
ou violar a “lei” (não causar dano a outrem – extracontratual – violar a lei ou um
regulamento)

1 – Conduta humana – ação ou omissão


O 1º elemento do ato ilícito é a conduta humana e voluntária no mundo exterior.
Voluntariedade é diferente de querer intencionalmente o resultado.
Ato voluntário – realizado com discernimento, intenção e liberdade.

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A vontade do sujeito é de produzir o ato, não o resultado.
Atos que passam de um centro sensório, a um centro motor, produzindo o
movimento sem transitarem pela zona da consciência não são ação.
Ex. ato reflexo do joelho que bate em alguém.

2º Culpa
Dolo – comportamento consciente e voltado para um fim determinado.
É a vontade consciente de violar direito.
Culpa – comportamento equivocado da pessoa, da qual se poderia exigir
comportamento diverso.
Trata-se de um erro inescusável, sem justificativa plausível e evitável para o
homem médio.
- imprudência = comportamento precipitado, apressado, exagerado ou excessivo
- negligência = o agente se omite, deixa de agir quando deveria fazê-lo, deixa de
observar regras de bom senso, de cuidado, atenção e zelo.
- imperícia = atuação profissional sem o necessário conhecimento técnico ou
científico que desqualifica o resultado e produz o dano.
O CC manteve a culpa como pressuposto do ato ilícito e da obrigação de indenizar,
embora comporte exceções que, aliás, foram bastante ampliadas.
Há quem diga que o CC estabeleceu um critério dualista – Gustavo Tepedino
Da responsabilidade com culpa (art. 186) e da responsabilidade sem culpa (art.
927, par. único).
Outros discordam – o 186 define o ato ilícito e está na Parte Geral – regras gerais
de natureza conceitual.
O art. 927, par. único é uma exceção = estabelece a obrigação de reparar o dano
“independentemente de culpa” nos casos expressos em lei, ou quando a atividade
desenvolvida pelo autor implique risco para terceiro. Se a atividade desenvolvida
for normal, sem risco inerente, volta-se à regra do 186.
Não é em qualquer hipótese que se dispensa a culpa.

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Alguns autores colocam a culpa como elemento acidental da responsabilidade civil
– Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho.
É certo que o legislador do CC foi conservador – não afastou a culpa como
elemento fundamental, básico da responsabilidade civil, deixou de caminhar para
uma socialização dos encargos.

A culpa é falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o


desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observa-la, com resultado
não querido, mas previsível.
A culpa pode produzir um resultado danoso – aqui terá consequência, ou ser
inócua.
Quando tem consequência, tem-se o ato ilícito.
A responsabilidade penal é mais exigente e considera a tentativa.

Culpa contratual e extracontratual – violação de um dever preexistente


Lex Aquilia de damno – tribuno Aquilius colocou a lei para ser votada em
plebiscito pelo povo romano

Graus de culpa –
Culpa lata a- o agente se comporta como se tivesse querido o dano
Culpa leve – a do bonus paterfamilias
Culpa levíssima – uma pessoa muitíssimo diligente não teria aquela conduta, mas
uma pessoa média sim.
O CC cuida dos graus de culpa no 944.
Culpa levíssima é irrelevante por ser escusável.

Elementos da conduta culposa:


a) Conduta voluntária sem a intenção deliberada de causar dano, mas que
causa;

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b) Resultado previsível mas não previsto pelo agente;
c) Falta de cautela, atenção, diligência, cuidado, etc.
Previsão e previsibilidade:
O resultado é mentalmente antecipado – dolo eventual - o resultado não é querido,
mas previsto.
Previsibilidade – critérios
- objetivo = homem médio
- subjetivo – condições pessoais do agente – idade, sexo, grau de escolaridade,
cultura, local, etc

Teoria da culpa contra a legalidade


Desrespeito ou violação de uma determinação regulamentar implica, de per si, uma
verdadeira culpa, sem necessidade da demonstração de qualquer imprevisão,
imprudência, etc por parte do agente.
Responsabilidade civil automobilística – só infringir o limite de velocidade já é
culpa, nada mais há que investigar.

DANO

Para haver responsabilidade há de haver dano.


Para haver ato ilícito, não precisa haver dano, basta a violação a um direito.
A ilicitude está na transgressão da norma.
Há uma tendência em minimizar a importância a qualificação da conduta em ilícita
ou lícita, ganhando força a qualificação da lesão sofrida.
A responsabilidade objetiva mostra que - art. 927, par. Único – teoria do risco.
Responsabilidade objetiva dos pais – 932.
Responsabilidade do Estado – lícita – realização de obras – pode ensejar reparação.
Art. 186 define o ato ilícito
A obrigação de indenizar está no 927

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Classificação do dano
a) Patrimonial, material ou econômico
b) Extrapatrimonial, imaterial, moral
Perdas e danos = expressões sinônimas
(O CC francês fala em danos e interesses o que demonstra melhor o dano
emergente e o lucro cessante).
Em regra, os efeitos do ato danoso incidem sobre o patrimônio, diminuindo-lhe.
Pode atingir o patrimônio presente e o futuro.
Art. 402 – o que o credor “efetivamente perdeu” = damnum emergens
“razoavelmente deixou de ganhar” = lucrum cessans
O dano deve ser atual e certo = requisitos de certeza e atualidade.
Às vezes o dano pode ser futuro, mas ele é “consequência de um dano presente e
que os tribunais tenham elementos de apreciação para avaliar o prejuízo futuro”.
O requisito da “certeza” afasta o dano meramente hipotético ou eventual, que
poderá não se concretizar.
No “lucro cessante” não basta a simples possibilidade de realização do lucro (tb
não há necessidade de uma certeza absoluta)
Deve haver uma probabilidade objetiva, que resulte do curso normal das coisas -
"razoavelmente” (art. 402).
Não significa que se pagará o que for razoável, mas que se pagará, se se puder,
razoavelmente, admitir que houve lucro cessante.

Dano moral
Prova = às vezes não precisa provar – a presunção de dano é absoluta. Ex. morte de
alguém, protesto indevido de título, nome no SERASA.
Ex. pag. 495 do Carlos Roberto Gonçalves (prova pericial psicológica, filho que
não demonstra amor pelos pais).

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A reparação de dano moral está prevista na CF, art. 5º, V e X.
Antes, não reparação de dano moral.
As indenizações por dano material e dano moral podem ser cumuladas – Sum. 37
STJ.
O ato ilícito pode afetar a esfera material e moral ao mesmo tempo da vítima.
Natureza jurídica da reparação
Tem prevalecido o entendimento de que a reparação pecuniária do dano moral tem
duplo caráter: compensatório/satisfatório para a vítima e punitivo/penal para o
ofensor.
Serve de consolo, uma espécie de compensação para atenuação do sofrimento
havido, tb atua como sanção ao agente, como fator de desestímulo, a fim de que
não volte a praticar atos semelhantes.
A quantificação do dano moral
A reparação do dano moral objetiva apenas uma compensação, um consolo, sem
mensurar a dor.
Não há critérios uniformes e definidos para se arbitrar um valor adequado.
DANO ESTÉTICO
Súm. 387 STJ = é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano
moral.

Dano direto = atinge diretamente o lesado ou os seus bens.


Dano indireto ou “reflexo” ou “em ricochete” = uma pessoa sofre o reflexo de um
dano causado a outrem.
O dano sofrido pela vítima pode repercutir em 3ª pessoa.
Ex. ex-marido que paga pensão aos filhos e vem a falecer ou ficar incapacitado
para pagar – filhos sofrem dano em ricochete.
Dano moral em ricochete = pela morte de um parente próximo ou mesmo quando a
vítima sobrevive – estudante alvejada por bala perdida. Vítima, pais e irmãos

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ajuizaram ação – vítima recebeu dano material e moral, pais dano moral em
ricochete de 100 mil e cada irmão, dano moral em ricochete de 50 mil.

Dano pela perda de uma chance

Dano moral coletivo = lesão da esfera moral de uma comunidade.


Ex. propaganda enganosa ou abusiva; ofensa a valores e credos de uma dada
religião; colocação em risco da saúde ou integridade física dos trabalhadores de
uma dada empresa pela não adoção de medidas de segurança obrigatórias.
É necessário que o fato danoso seja grave e ultrapasse os limites do tolerável,
gerando sofrimento e intranquilidade social.
Pode-se perceber a partir de uma perda de estima, de indignação, de repulsa, de
humilhação.

Danos sociais = causam um rebaixamento no nível de vida da coletividade, e


decorrem de condutas socialmente reprováveis

Nexo Causal

Vínculo entre conduta e resultado.


É 1º, um conceito natural e depois, jurídico.
Um dos pontos mais difíceis da responsabilidade civil é saber que danos
acontecidos podem ser considerados causados por um determinado fato.
Nem sempre é fácil saber se a contribuição de um fato para um dano é suficiente
para que se deva considerá-lo gerador deste.
Pode acontecer que um só dano deva ser atribuído a diversas causas ou, haver
vários danos de diversas naturezas ligados a um só fato ou a fatos diversos, sem se
poder saber quais seriam os danos que foram determinados por cada fato.

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O nexo causal é analisado antes da culpa do agente, ou seja, primeiro há que se
analisar se foi a conduta do agente que deu causa ao resultado.
Ex. acidente de transito e pessoa morre de parada cardíaca segundos antes.
Esse é o elemento mais delicado e mais difícil da responsabilidade civil.

1. Teoria da equivalência das condições ou da equivalência dos antecedentes


Conditio sine qua non – Von Buri (CP 1984 – parte geral – 1980 parte especial)
Não distingue causa, condição ou ocasião – tudo o que concorrer para o resultado é
causa dele –
É uma teoria que agrada a vitima, tentando resolver, na prática, o problema da
relação causal. É uma teoria simples, mas foi afastada por ser inadequada.
Art 13 CP – considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.
Para saber se uma condição é causa, tem que se eliminar na mente essa condição.
Se ainda assim, o resultado persistir, essa condição não será causa.
No encadeamento dos fatos que antecederam a eclosão do evento danoso, não se
poderia cogitar qual dessas condições foi preponderante, mais ou menos eficaz.
Essa teoria permite uma regressão infinita.

2. Teoria da causalidade adequada


Ludwig von Bar (sec. XIX)
Causa é o antecedente não só necessário, mas adequado à produção do resultado.
Nem todas as condições serão consideradas causa, mas só aquela que for mais
apropriada.

3. Teoria dos danos diretos e imediatos ou teoria da interrupção do nexo causal


Nem todo fator que alcança o evento danoso será necessariamente causa do dano.
Ou seja, nem toda condição que interferiu no resultado será causa necessária.
Art. 403 CC.

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O agente responde somente pelos danos que se prendem ao seu ato. Pelos danos
consequentes das causas estranhas responderiam os respectivos agentes.
Ex. acidentado que vem a ser transportado em uma ambulância para hospital e
morre em virtude de uma forte colisão entre a ambulância e outro veiculo.
O autor dos ferimentos responde apenas por eles.
Pelos danos da morte responderia o motorista da ambulância ou do carro, ou
ambos.
O art. 403 do CC
O devedor, ainda que atue com dolo, não indenizará todos os prejuízos suportados
pela outra parte, nem todos os lucros cessantes, mas apenas aqueles que possam ser
considerados como efeito direto e imediato da inexecução.
Embora esse art. se refira à responsabilidade contratual, ele se aplica também aos
casos de resp extracontratual.
Não se indenizam os danos remotos ou indiretos – são lucros cessantes e para sua
configuração seriam necessários outros fatores que não fosse apenas a execução a
que o devedor faltou, ainda que sua conduta seja dolosa.
Ex. de Pothier – A vende uma vaca contaminada (ele sabe) que contamina todo o
rebanho, que morre. Deve indenizar o valor do animal vendido e daqueles outros.
Mas não responde pelos prejuízos decorrentes da impossibilidade de cultivar a
terra por terem sido atingidos animais que eram utilizados nesse serviço.
E se por impossibilidade de cultivar as terras deixo de pagar minhas dívidas, meus
credores vendem minhas coisas por preço vil, etc. Não responde – a perda da
fortuna pode ter concorrido outras causas.
Ex. alguém sofre um acidente de carro a caminha do aeroporto. Pode
responsabilizar o motorista pelos danos emergentes (despesas médicas e estragos
do carro) e lucros cessantes (dias de serviço perdidos). Mas não poderá cobrar os
danos remotos = eventuais lucros que poderia ter auferido, se tivesse viajado e
efetuado os negócios que tinha em mente.

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Concausas
É a sobreposição de causas, é outra causa que, juntando-se à principal, também
contribui para a ocorrência desse resultado.
Ela não inicia nem interrompe o nexo causal, apenas o reforça.
São circunstâncias que concorrem para o agravamento do dano - não excluem o
nexo causal desencadeado pela conduta principal, nem por si só produzem o dano.

Classificação: preexistentes, concomitantes e supervenientes.

Concausas preexistentes ou concomitantes, absolutamente independentes, podem


romper o nexo causal – o resultado não pode ser imputado ao agente.
Se forem relativamente independentes, em regra, não se rompe o nexo causal.
Ex. diabético que sofreu lesões corporais em acidente de transito e faleceu.
No caso concreto, 2 condições concorreram para o resultado morte = as lesões
provocadas pelo comportamento culposo do sujeito e a particular condição física
da vítima.
Não se rompe o NC e o agente responde pelo resultado mais grave.
Aqui se rompe o nexo causal = morte da vítima hemofílica em virtude de um
pequeno e insignificante ferimento que causou hemorragia.
Causa superveniente = não quebra o NC. Ex. vítima de um atropelamento que não
é socorrida em tempo, perde muito sangue e vem a falecer. Essa causa
superveniente só reforçou o resultado

Omissão – tb deve haver nexo causal entre a conduta omissiva e o dano.

Responsabilidade do empregador ou comitente perante terceiros, por


comportamentos lesivos de seus empregados, serviçais e prepostos.

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É diferente da responsabilidade do empregador perante seus empregados, por
danos sofridos por estes durante a jornada de trabalho.

A resp indireta do empregador percorreu uma curva:


Da concorrência de culpa com a culpa in eligendo ou in vigilando, passando pela
presunção de culpa do preponente, e marchando para a responsabilidade objetiva.
A Sum 341 do STF está superada “é presumida a culpa do patrão ou comitente
pelo ato culposo do empregado ou preposto”.
O empregado tem que ter agido com culpa.

Empregador = pessoa física ou jurídica, que, por efeito do contrato de trabalho,


utiliza os serviços de outrem.
Equiparam-se: profissionais liberais, instituições de beneficência, as associações
recreativas e outras instituições sem fins lucrativos (art. 2º, p. 1º da CLT).
Para efeitos de responsabilização, o conceito de empregador deve ser o mais amplo
possível, prescindindo mesmo de vínculo formal, não se exigindo um contrato de
trabalho entre as partes.
Basta que a pessoa física ou jurídica tenha alguém sob seu comando e ordem para
a realização e um serviço ou tarefa.
Sempre que se possa inferir relação de subordinação de uma pessoa a outra, ter-se-
á um vinculo empregatício para fins de responsabilidade por ato de outrem.

“Comitente” – pessoa que encarrega outra de comprar, vender ou praticar qualquer


ato, sob suas ordens e por sua conta, mediante certa remuneração – comissão”.
Embora o comitente sob vários aspectos se assemelhe ao mandante, nem sempre
eles se confundem, pois a comissão pode resultar de mandato ou simplesmente das
ordens para execução de atos comerciais, que são feitos sob o nome e
responsabilidade do comissário que, assim, age autonomamente perante os
terceiros com quem contrata.

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Para o direito civil, sempre que o ato ilícito for praticado por outrem, por força de
vinculo de mando, ordem, outorga, autorização ou comissão, responderá o
mandante pelos atos do subordinado.

Empregado – pessoa contratada com ou sem vinculo formal de emprego para


prestar serviços a pessoa física ou jurídica mediante remuneração.
A relação de emprego caracteriza-se não por um vinculo formal, mas pelo vinculo
de subordinação entre mandante, que dirige e subordinado, que é dirigido e
submetido a um regime de horário de trabalho.
O comportamento danoso do empregado fora do horário de trabalho ou com
excesso de mandato rompe o nexo causal e o empregador não responderá nos
termos do 932.

Serviçal – aquele que faz serviços, presta serviços. É o empregado domestico.


Os serviços podem ser eventuais e não permanentes. Mas deve ser trabalho
remunerado.

Preposto – aquele a quem o patrão, contratante ou tomador de serviços delegou


funções que, originariamente, lhe pertencem.
Preposto é aquele que presta serviço ou realiza alguma atividade por conta e sob
direção de outrem, podendo essa atividade materializar-se numa função duradoura
(permanente) ou num ato isolado (transitório).
Há uma relação de subordinação, de modo que o subordinado passa a agir em
nome ou por ordem do preponente.
O aspecto principal é o vinculo de subordinação.
Infere-se da expressão “no exercício do trabalho ou em razão dele” que para haver
responsabilidade os atos devam ser praticados pleo preposto enquanto contratado e
durante o horário de trabalho.
Mas não é essa a melhor solução.

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Em alguns casos o preposto pratica atos de proposição fora do local do trabalho ou
fora da jornada de trabalho, e ainda assim o terá praticado “no exercício do
trabalho”.

Para o preponente – pessoa que pôs alguém em seu lugar, em certo negocio ou
comercio, para que o dirija, o faça ou administre em seu nome – parece claro que
não se exigem vinculo trabalhista formal, horário ou local fixo de trabalho.
Cabe ir mais longe – basta a aparência da existência de preposição entre tomador e
prestador para que nasça a obrigação do 1º por ato ilícito praticado pelo 2º.
Atualmente, a teoria da aparência assume natureza vital e não pode ser desprezada.
Nos casos em que a atuação do suposto preposto, ainda que fora do horário ou do
local do trabalho, faz supor que agiu por força de ordem, comando ou orientação
do empregador, deve-se orientar no sentido de que incumbirá a este (empregador)
demonstrar a inexistência da preposição, pois o art. 932 estabeleceu ma
responsabilidade objetiva.

Assim, o patrão responderá pelos atos de seus empregados, nas atividades previstas
na legislação trabalhista; pelos seus serviçais, tais como empregados domésticos; e
pelos seus prepostos.
O comitente ou constituinte responderá pelos seus constituintes.

Há hipóteses em que, de mutuo acordo, o empregado assume tarefas que não se


inserem em suas atribuições normais, mas as cumpre por força de determinação,
que aceitou. Nesses casos, o patrão tb responde. Ex. empregado desviado de
função para cobrir um colega em férias, com outras funções; ou do porteiro que
cobre o vigia na ausência deste.
Teoria da aparência.

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A subordinação entre empregado e empregador é voluntária, diferente daquela
entre filhos e pais e tutelados – curatelados e tutor, curador.
Se faltar o vinculo de subordinação, não haverá responsabilidade.
Ex. funcionário que resolve, por conta própria, voltar no domingo e terminar uma
tarefa que ficou inconclusa, sem ter sido convocado e sem autorização do
empregador.

O fato de o empregador ser responsável não exclui o empregado. A vítima pode


acionar ambos ou um ou outro.

“Preposto, comissário, empregado” – aquele que se posta como dependente, que


recebe ordens, sob o poder de direção de outrem, que sobre ele exerce vigilância, a
titulo mais ou menos permanente.
Não importa o “registro em carteira” – basta haver uma relação de fato entre
empregador e empregado.
Relações novas na atualidade.

Pressupostos de responsabilidade:
1. Que o autor do dano seja, comprovadamente, subordinado do empregador ou
comitente;
2. Que o ato tenha sido praticado no exercício da atribuição que lhe foi conferida
pelo empregador, ou em razão dela;
3. Que essa pessoa subordinada tenha agido culposamente (culpa ou dolo)

Furto em estacionamento

1. Estacionamento de shopping center ou supermercado

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O usuário estabelece um contrato de depósito, expresso ou tácito, transferindo a
guarda de sue veículo ao shopping ou supermercado.
O fato dele poder escolher a vaga, ficar com as chaves, não descaracteriza a
transferência da guarda.
A partir do momento em que o veículo ingressa no local do estacionamento, este
assume sua guarda e passa a ser seu guardião.
Tanto assim que esses estabelecimentos mantém vigilantes internos para orientar o
sentido de direção para estacionar e vigiar e impedir furtos, roubos e outros danos.
Não importa se o estacionamento é gratuito.
Uma das maiores atrações desses locais é a facilidade para estacionar.
A guarda do veículo não é gratuita. O preço está embutido no custo das
mercadorias das inúmeras lojas. Tb pode ser cobrado á parte um valor fixo ou
proporcional ao tempo que o proprietário fica lá.
Aplica-se o CDC?
Só se o serviço for remunerado – art. 3º, parágrafo 2º CDC.
Se for gratuito – art. 186 – resp subjetiva, mediante culpa, ainda que presumida.

Caracteriza-se um contrato de depósito –


Não precisa maiores formalidades.
A inexistência do comprovante de entrega do veículo não descaracteriza o depósito
É verdade que em quase todos esses estabelecimentos são instaladas cancelas com
controle eletrônico que emite um bilhete quando o veículo passa. Além disso há o
sistema “sem parar”, que faz a leitura dos dados do veículo – a cobrança é feita
mensal.
O estabelecimento é depositário e garantidor do bem até mesmo contra a ação
voluntária de terceiro, como vândalos que, por maldade, quebram vidors, etc.
Sum. 130 STJ: “A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou
furto de veículo ocorridos em seu estacionamento”.

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Furto ou roubo de veículos estacionados dentre de igrejas e templos evangélicos ou
de seus acessórios.

Pode-se argumentar que se trata de mera cortesia e que a direção daquele local não
se responsabiliza pelos veículos ali estacionados.
Para Rui Stoco não é assim.
O veículo é recebido em depósito, não obstante seja gratuito.
Estabelece-se o dever de guarda.
Pode se dizer que se o pátio não for fechado, se não houver manobrista contratado,
nem ticket comprobatório do estacionamento, nem recebendo as chaves, a igreja
não responde.
Rui Stoco não pensa assim. Para ele tais circunstâncias são irrelevantes para a
questão do dever de indenizar.

Causas de irresponsabilidade
Caso fortuito ou força maior

O caso fortuito que exclui a responsabilidade é o externo – fatos ligados à natureza


(raio, inundação etc)
Interno – ligado à pessoa ou à coisa
- Anormalidade mecânica (defeito) em veículo automotor
Não caracterizam caso fortuito quaisquer anormalidades mecânicas, como ruptura
ou quebra de peças, estouro de pneus;
Estouro de pneu que estava em bom estado de conservação - sim.
- rompimento da borrachinha do freio é totalmente imprevisível.

Inseto que entra repentinamente no veículo – pessoa perde direção para se


defender. É um ato instintivo, compulsivo e irresistível de autodefesa. Ex. abelha.
Passar por um buraco, valeta e perder o controle do carro – é imperícia.

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Quem trafega em velocidade inadequada e se descontrola com a entrada de animal
no veículo, não se exonera da responsabilidade.
Condições físicas e emocionais – para dirigir veículos tem que se estar em boa
condição de saúde – estafa, stress, nervoso, irritado, cansado, sonolento, doente,
sob efeito de drogas, medicamentos e estimulantes, etc.
Se se põe a guiar é falta do dever de diligência. Será responsável pelo acidente.
Perda do controle da direção por súbito adormecimento, por espirro (está com
gripe).
Dirigir sob estado de fadiga e sonolência – responde
Ex. ficou 2 dias sem dormir, assume o risco.

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