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PACKER A.L. Et Al. SciELO Uma Metodologia
PACKER A.L. Et Al. SciELO Uma Metodologia
Na segunda metade dos anos 90, a pu- Brazilian Journal of Genetics Francisco A. Moura Duarte
blicação científica eletrônica passa a ser
Brazilian Journal of Medical and Lewis Joel Greene
aceita universalmente como um fenôme- Biological Research Dalva Pizeta (Editora Executiva)
no inexorável pela maioria dos atores do
processo de comunicação científica. É Brazilian Journal of Physics Sílvio Roberto de Azevedo Salinas
também consenso que sua realização Neusa M. L. Martin
atravessa um período de transição en- (Secretária Executiva)
tre o modelo baseado puramente no Dados: Revista de Ciências Sociais Charles Pessanha
periódico impresso em papel e o predo-
minantemente eletrônico. Essa transi- Journal of the Brazilian Computer Society Cláudia Bauzer Medeiros
ção não tem sido simples, e sua evolu-
ção tem se caracterizado por promes- Memórias do Instituto Oswaldo Cruz Hooman Momen
sas e frustrações (Peek3, Hunter4). Uma Revista Brasileira de Ciência do Solo Antonio C. Moniz
vasta literatura reflete essa transição Elpídio Inácio Fernandes Filho
(Bailey5).
Revista Brasileira de Geociências Hardy Jost
O uso de computadores no processo da Cláudio Ricomini
comunicação científica data dos anos Revista do Instituto de Medicina Thales de Brito
60 e vem crescendo e se aprimorando Tropical de São Paulo Maria do Carmo Berthe Rosa
rapidamente (Lancaster6, Hickey7), dan- (Secretária Executiva)
do um salto quantitativo e qualitativo a
partir da segunda metade da década de tindo a publicação impressa e sua dis- O aparecimento e a rápida universaliza-
80, quando se gesta e se projeta uni- tribuição em papel como produto final. ção da Internet, particularmente a ope-
versalmente a ampla receptividade do Paralelamente, o armazenamento (ou ração continuamente aprimorada de hi-
computador de mesa, corroborado pelo impressão) das publicações em meios pertextos através do World Wide Web
aumento progressivo da sua capacida- magnéticos ou óticos e a sua distribui- (WWW), foram fatores decisivos em fa-
de de armazenamento e processamen- ção em disquetes, discos compactos vor da consolidação da publicação ele-
to de dados, pelo seu aperfeiçoamento ou diretamente na Internet passam a ser trônica com crescente identidade pró-
contínuo na estruturação de textos, na encarados, paulatinamente, entre os pria, e não simplesmente como réplica
manipulação e apresentação de elemen- diferentes atores, como fato natural e da versão em papel (Guedon10). Em pri-
tos gráficos, assim como na simulação inerente ao processo de publicação meiro lugar, a Internet assegura um meio
de modelos complexos e, finalmente, científica, de tal modo que, em meados de publicação rápido e com cobertura
pela sua incorporação como estação de da década de 90, a maioria das edito- universal através de uma interface co-
comunicação através da sua integração ras científicas internacionais e várias mum capaz de operar hipertextos com
em redes locais e à Internet. É essa universidades e bibliotecas dos países múltiplos suportes de informação, enri-
combinação de avanços ocorridos no desenvolvidos já contava com projetos quecidos com conexões internas e ex-
conjunto das tecnologias de informação avançados em publicações eletrônicas ternas. Em segundo lugar, a constante
que tem originado progressivamente (Borghuis8, Communications9, Hunter4). evolução da Internet sinaliza, para o
novas expectativas, propostas e contri- Ao mesmo tempo, algumas iniciativas futuro da publicação eletrônica, uma
buições em prol da consolidação da pioneiras tiveram lugar no Brasil e na míriade de novas possibilidades, quase
publicação eletrônica. América Latina, como é o caso do Gru- sempre orientadas no sentido de agre-
po de Publicações Eletrônicas em Me- gar valor ao tempo do leitor, dotando-o
Com o uso intensivo de tecnologias de dicina e Biologia, da Universidade com mais iniciativa e interatividade.
informação, os métodos tradicionais de Estadual de Campinas, e do CD-ROM
produção de publicações científicas ga- Artemisa, publicado pela Red Nacional Ao mesmo tempo em que a publicação
nharam mais flexibilidade e novas pos- de Colaboración en Información y eletrônica se afirma por sua contribui-
sibilidades nos aspectos técnicos, além Documentación en Salud, México. ção ao aperfeiçoamento do processo
de maior eficiência nos aspectos geren- tradicional da publicação científica, sur-
ciais e econômicos. Assim, na primeira gem perspectivas, propostas e iniciati-
metade da década de 90, a relação cus- vas propugnando-a como agente de re-
to-benefício da impressão usando tec- novação e mudança do modelo domi-
nologias de informação — desktop nante de comunicação científica, desen-
publishing — atingiu um ponto no qual volvido ao longo dos últimos três sécu-
a produção eletrônica passou a ser obri- los (Schafner11). Entre outras perspecti-
gatória e generalizada, mesmo persis- vas, vislumbra-se a publicação direta do
autor na Internet, além da criação e ope- Outros questionamentos importantes ção (Peek3). Ao contrário, o estabeleci-
ração de bases de dados de artigos pro- referem-se à preservação das coleções mento de conexões entre os registros
duzidos por comunidades de autores, de publicações eletrônicas devido, por bibliográficos e os respectivos textos
por exemplo, as formadas por cientis- um lado, à ausência de políticas, nor- completos agrega um novo valor tanto
tas de uma universidade ou instituto de mas e procedimentos consolidados em aos serviços de pesquisa bibliográfica
pesquisa, membros de sociedades nível nacional e internacional e, por ou- quanto às publicações eletrônicas.
científicas e outros. Alguns aspectos tro lado, à constante evolução das tec- Assim, os registros bibliográficos pas-
que emergem dessas propostas são al- nologias de armazenamento de dados sam a proporcionar acesso imediato aos
tamente polêmicos, permanecendo em e das interfaces de operação que tem textos completos, do mesmo modo que
debate, como a diminuição do papel das provocado a rápida obsolescência de estes incorporam conexões para os re-
editoras científicas com fins lucrativos, muitas soluções. Nesse aspecto, o pa- gistros bibliográficos, a partir dos nomes
a redefinição do direito de autor, a subs- pel exercido pelas bibliotecas no mode- de seus autores e das referências bi-
tituição do processo clássico de avalia- lo de organização e conservação dos bliográficas, por exemplo. Em conse-
ção por pares por uma revisão pública e periódicos em papel ainda não encon- qüência, o papel das bases de dados
interativa, a eliminação da organização trou equivalente na publicação eletrôni- bibliográficos na promoção da visibilida-
dos periódicos em volumes e números ca. Esses questionamentos são mini- de das publicações científicas tende a
em favor da publicação de artigos indivi- mizados em parte pelo fato de que fortalecer-se e ampliar-se com a publi-
duais e, por último, a eliminação da pró- atualmente a maioria das coleções ele- cação eletrônica, ao constituir-se como
pria identidade dos periódicos científi- trônicas é composta de versões eletrô- componente que integra o acesso a vá-
cos em benefício das bases de dados nicas de periódicos publicados em pa- rios produtos independentes de diferen-
de artigos (Harnard12, Rowland13). Entre- pel. Existem, também, questionamen- tes editoras. Isto é, as bases de dados
tanto, embora exista um número cres- tos que são comuns ao uso e operação bibliográficos se projetam como solução
cente de iniciativas para a renovação do de produtos e serviços de informação às incompatibilidades entre periódicos
modelo de comunicação científica, a em formato eletrônico, destacando-se a eletrônicos.
tendência dominante na comunidade de segurança e a integridade dos dados e
editores e publicadores científicos é a garantia aos direitos de propriedade e Essa tendência revela a perspectiva de
manter a sua essência e aperfeiçoar de autor, principalmente no contexto da um aumento ainda maior da visibilidade
progressivamente o seu funcionamento Internet, que, ao promover a universali- das publicações que são indexadas em
por meio de contribuições das tecnolo- dade de acesso aos servidores a ela bases de dados internacionais, em sua
gias de informação. conectados, aumenta o grau de exposi- maioria pertencentes à chamada ciên-
ção de produtos e serviços a ações de- cia de corrente principal dos países de-
Embora a publicação eletrônica seja lituosas. A origem e resposta a esses senvolvidos. Por outro lado, ressalta a
considerada um fenômeno inexorável questionamentos não são necessaria- necessidade de os países em desenvolvi-
enquanto suporte, persistem questiona- mente intrínsecas somente à publica- mento, como o Brasil, criarem meca-
mentos originados, em parte, de posi- ção eletrônica, mas também à adminis- nismos alternativos e complementares
ções inflexíveis com relação ao funcio- tração da operação dos protocolos e às bases de dados internacionais para
namento do modelo de periódicos em meios de comunicação de dados na promover o aumento da visibilidade na-
papel e, em parte, da constatação de Internet, e seu escopo estende-se ao cional e internacional das suas publica-
que existem muitas indefinições e va- conjunto das aplicações e serviços nela ções. Essa situação é notoriamente
zios nas propostas em gestação para a operados. Finalmente, permanece a desfavorável, como mostra o reduzido
operação do modelo de periódicos em advertência que a predominância do número de títulos nacionais indexados
formato eletrônico (Lesk14). Os mais re- acesso às fontes de informação eletrô- na base de dados do ISI, especialmen-
calcitrantes concentram-se nas vanta- nica pode conduzir ao abandono cres- te o índice de impacto, considerado in-
gens, em termos de eficiência e como- cente dos livros e periódicos em papel, ternacionalmente como a principal fon-
didade, que se obtêm com a leitura de criando assim uma ruptura artificial no te de dados para a avaliação do impac-
um artigo impresso em papel em rela- conjunto do conhecimento científico de to de publicações científicas e de auto-
ção ao exibido em um monitor. Como o uma diciplina. res com base em indicadores biblio-
artigo científico clássico em formato ele- métricos de citações. Dessa forma, a
trônico pode sempre ser impresso em Um componente importante do modelo maioria das publicações científicas na-
papel, esse argumento tem perdido for- vigente de comunicação científica são cionais está excluída tanto dos meca-
ça à medida que as cópias impressas as bases de dados bibliográficas, que nismos internacionais de promoção da
por computador melhoram e o reconhe- tradicionalmente registram e indexam a visibilidade, quanto dos instrumentos de
cimento das vantagens aumenta por literatura científica, constituindo, assim, avaliação de impacto (Meneghini15).
parte do público, sem contar com a pos- os principais mecanismos de controle
sibilidade única de incluir a operação de e promoção da visibilidade das publica-
som e vídeo nos artigos eletrônicos. ções científicas. É certo que a publica-
ção eletrônica, especialmente a dispo-
nível na Internet, possui maior grau de
exposição e acessibilidade do que a
publicação em papel, mas não ao pon-
to de dispensar os serviços de indexa-
Essas questões são alguns dos aspec- Com base nas questões anteriores, a O segundo princípio é a obediência a
tos críticos da evolução da publicação primeira fase do Projeto SciELO traba- normas e padrões, jure et facto, para a
eletrônica na segunda metade de 1996, lhou com os seguintes objetivos espe- publicação científica eletrônica pratica-
que condicionaram a formulação do pro- cíficos: dos internacionalmente. Entretanto,
jeto SciELO, elaborado para promover como discutimos anteriormente, a pu-
a inclusão do processo de comunica- •Desenvolver metodologia comum para blicação eletrônica é um fenômeno em
ção científica brasileira no movimento a preparação, armazenamento, disse- transição, contando, em nível interna-
internacional rumo à publicação eletrô- minação e avaliação de publicações cional, com inúmeras soluções e pas-
nica. científicas eletrônicas, reunindo e apli- sando por constantes mudanças resul-
cando recursos avançados de tecnolo- tantes de novos aportes que emergem
HIPÓTESES E OBJETIVOS DO gia de informação. tanto das tecnologias de informação
PROJETO SciELO como das tentativas, por parte de publi-
•Implantar e operar a aplicação piloto cadores e agentes intermediários, de
As seguintes hipóteses fundamentaram da metodologia em um núcleo selecio- impor suas próprias contribuições. Não
a proposta para o desenvolvimento da nado de periódicos científicos brasilei- existe, ainda, um corpo completo de nor-
Metodologia SciELO: ros. mas e padrões para esse novo tipo de
publicação, mas a literatura está cres-
•O uso intensivo de tecnologias de in- • Promover a disseminação ampla da cendo rapidamente.
formação no processo de comunicação metodologia em nível nacional e inter-
científica, conformando a publicação ele- nacional, especialmente nos países da Dessa forma, para o Projeto SciELO, o
trônica, contribui para o enriquecimen- América Latina e no Caribe. princípio de obediência a normas e pa-
to e a ampliação dos meios tradicionais. drões estende-se necessariamente ao
A consecução desses objetivos repre- acompanhamento das experiências in-
•A adoção da publicação eletrônica por senta o primeiro passo rumo à criação, ternacionais em publicação eletrônica,
parte de editores, publicadores, biblio- a médio prazo, de uma biblioteca na- que podem constituir-se em modelos no
tecas e leitores será facilitada pela cional de periódicos científicos em for- futuro. Devido também a esse período
criação e pela disponibilidade de uma mato eletrônico. A longo prazo, o proje- de transição da publicação em papel
metodologia comum que viabilize téc- to contribuirá para o desenvolvimento da para a predominantemente eletrônica,
nica, econômica e gerencialmente o ciência brasileira e latino-americana, ao permanece a necessidade de igualmen-
processo de transição da publicação aperfeiçoar e ampliar os meios de dis- te incorporar normas e padrões nacio-
tradicional para o formato eletrônico. seminação, publicação e avaliação dos nais e internacionais da publicação
Ao mesmo tempo, o uso de uma me- seus resultados. científica em papel, assim como normas
todologia comum evitará a pulverização para registro bibliográfico e operação de
de publicações eletrônicas incompatí- PRINCÍPIOS E MÉTODOS bases de dados. Apesar da instabilida-
veis entre si. EMPREGADOS NO de inerente aos processos de transição,
DESENVOLVIMENTO DO a obediência a normas, padrões e ex-
•A publicação eletrônica, a partir de uma PROJETO SciELO periências é fundamental para assegu-
metodologia comum, promoverá uma rar a compatibilidade da Metodologia
renovação no processo da comunicação O projeto adotou um conjunto de princí- SciELO com as iniciativas internacio-
científica tradicional, ao integrar as fun- pios e métodos fundamentais para ser- nais em publicação eletrônica.
ções de publicação propriamente ditas, vir de base ao seu desenvolvimento. O
mais o controle bibliográfico, a manu- primeiro desses princípios é o compro- O terceiro princípio adotado para o de-
tenção e preservação de coleções de misso com a preservação das identida- senvolvimento do projeto refere-se ao uso
periódicos, bem como a mensuração do des dos periódicos, incluindo a política intensivo de tecnologias de informação,
seu uso e impacto. editorial e de produção específica de que sejam adequadas às condições da
cada um. Esse compromisso permitiu América Latina e do Caribe. A publica-
•A aplicação de uma metodologia co- dotar a Metodologia SciELO com a ne- ção eletrônica é, por natureza, baseada
mum e avançada na criação de bibliote- cessária flexibilidade para atender o em tecnologias de informação. Embora
cas de periódicos científicos on-line pro- amplo espectro de situações a ser en- disponíveis nos países latino-america-
moverá radical aumento na acessibili- frentado no processo de transição para nos, o acesso da comunidade científica
dade e visibilidade da literatura científi- a publicação eletrônica. Entretanto, tal e do público em geral a essas tecnolo-
ca e contribuirá para o aumento do seu compromisso não impede que os edi- gias está muito aquém da situação dos
impacto. tores venham modificar ou até mesmo países desenvolvidos. Da mesma forma,
incorporar novos elementos em seus é preciso considerar a extensão e a con-
•O uso de metodologia comum criará processos de publicação, motivados fiabilidade da infra-estrutura de comuni-
um ambiente propício que induzirá à pelos avanços da publicação eletrô- ção e a qualidade e a quantidade de re-
melhoria da qualidade dos periódicos nica, em geral, e pela Metodologia cursos humanos gerenciais e técnicos
científicos em sua forma e em seu con- SciELO, em particular. existentes nos países em desenvolvimen-
teúdo. to, como também a disponibilidade de
recursos econômicos para operar siste-
mas altamente sofisticados.
Para que a solução investigada e pro- periódicos, mas também avaliando os um seminário organizado pelo projeto
posta pelo projeto possa ter amplo uso avanços alcançados. O último protóti- (os textos apresentados no seminário
na região, ela deve ser baseada em tec- po, de março de 1998, é a versão 1.0 da estão publicados neste número da Ciên-
nologias de informação baratas, prefe- Metodologia SciELO. cia da Informação). Realizada na fase
rencialmente de domínio público, de fá- final de desenvolvimento da metodolo-
cil operação e transferíveis para diferen- Em sua fase de finalização, os protóti- gia, essa consultoria teve por objetivos
tes plataformas de equipamentos, in- pos foram controlados e avaliados exaus- discutir, sob diferentes ângulos e opi-
cluindo ambientes em que a telecomu- tivamente em diferentes instâncias. Na niões, experiências e avanços na área
nicação seja limitada ou predominem primeira, os modelos foram avaliados de avaliação de literatura científica e
canais de baixa velocidade. Assim, já por profissionais da Bireme, sendo que também oferecer ao projeto subsídios
de início, descartou-se o desenvolvimen- erros graves e sugestões simples de sobre a condução futura do módulo
to ou a importação de soluções que exi- melhoramento eram corrigidos e implan- de relatórios de uso e de indicadores
gissem o uso de equipamentos de gran- tadas imediatamente, antes mesmo de bibliométricos.
de porte e de softwares cujo custo de serem submetidos às outras duas ins-
compra e manutenção fossem elevados. tâncias. Na segunda instância, a equi- A quinta e última instância de controle
Esse princípio, além de representar um pe do projeto comparou os periódicos e avaliação realizou-se com a apre-
desafio para o projeto, é importante por- produzidos pela Metodologia SciELO sentação e divulgação do projeto em
que contribui decisivamente para dotar com os periódicos eletrônicos disponí- reuniões nacionais e internacionais nas
a Metodologia SciELO de abertura tec- veis na Internet, quanto à sua opera- áreas de informação e de comunicação
nológica e de independência das solu- cionalidade, compatibilidade, estilo e efi- científica. Apesar de não representar um
ções caras, características necessá- ciência. Por último, os protótipos foram mecanismo formal de avaliação, os de-
rias para responder às condições de de- organizados em um site na Internet para bates que ocorreram em torno da pro-
senvolvimento econômico e tecnológi- que a terceira instância, formada pelos posta e a aprovação de diferentes públi-
co da região. editores científicos participantes do pro- cos constituíram uma retroalimentação
jeto, pudesse analisar os modelos pro- positiva para o projeto.
Os métodos de trabalho incluíram a for- postos, operar as versões eletrônicas
mulação conceitual do projeto em mó- de seus periódicos e avaliar a metodo- Finalmente, foi desenvolvido um
dulos e o desenvolvimento de protótipos. logia. O editores e a equipe do projeto segundo site na Internet com a
A Metodologia SciELO foi, então, divi- reuniram-se quatro vezes durante o pe- finalidade de documentar e tornar público
dida em cinco grandes módulos que ríodo de desenvolvimento da metodolo- o desenvolvimento do projeto, assim
abrangem todo o processo de publica- gia, quando se discutiam os protótipos como receber críticas e sugestões
ção eletrônica, a partir dos artigos em e a programação das atividades futuras. (http://www.scielo.br/fbpe/projeto/
formato digital. Cada um dos módulos pmain.htm).
reúne conjuntos de funções afins, ao Uma quarta instância de controle e ava-
longo do fluxo de processamento dos liação do desenvolvimento do projeto foi PRODUTOS DO PROJETO:
textos (sua descrição detalhada se en- constituída por consultores nacionais A METODOLOGIA SciELO E O SITE
contra mais adiante neste artigo). A di- e internacionais. A primeira consulto- SciELO
visão da metodologia em módulos res- ria foi de Geoffrey Adams, especialista
pondeu, por um lado, a uma opção em publicações eletrônicas da editora Produto principal do projeto, a Meto-
para o gerenciamento da equipe e das Elsevier, realizada logo após a finaliza- dologia SciELO é um conjunto de
respectivas funções de cada pessoa ção do primeiro protótipo, tendo como normas, guias, manuais, programas de
no projeto, estimulando a explosão das objetivo a análise e avaliação tanto da computador e procedimentos operacio-
capacidades individuais no contexto de formulação conceitual da Metodologia nais dirigidos à preparação de textos de
uma obra coletiva. Por outro lado, essa SciELO quanto de sua implantação. periódicos científicos em formato
decisão implementa, promove e enfa- O resultado dessa avaliação foi positi- eletrônico, incluindo, entre outras, as
tiza o caráter aberto da Metodologia vo e muito significativo para o projeto, seguintes funções: armazenamento de
SciELO. porque reforçou em todos os envolvi- textos estruturados em bases de dados,
dos a confiança na proposta de traba- publicação dos periódicos na Internet ou
A formulação modular da metodologia lho e na própria metodologia de desen- em outros meios, recuperação de artigos
foi também motivada pelo desenvolvi- volvimento. e outros textos por seu conteúdo,
mento de protótipos, que se mostrou um produção regular de relatórios de uso e
método bastante eficiente, ao permitir A segunda consultoria foi solicitada a indicadores bibliométricos, aprimora-
que cada solução fosse implementada Ernesto Spinak, especialista em infor- mento de critérios para a avaliação da
em cada um dos módulos e testada mação técnico-científica, visando à for- qualidade de periódicos e o desen-
imediatamente em condições operacio- mulação de recomendações específicas volvimento de procedimentos e políticas
nais reais. Ao longo de um ano, foram sobre a produção de indicadores biblio- para a preservação de publicações
desenvolvidos quatro protótipos da me- métricos. A terceira consultoria foi con- eletrônicas. A aplicação modelo da
todologia. Os editores parceiros do pro- duzida por um grupo de especialistas metodologia é o site SciELO.
jeto participaram ativamente desse brasileiros e internacionais em informa-
processo, não somente preparando e ção técnico-científica e em bibliometria,
enviando os arquivos de textos dos seus informetria e cienciometria, reunido em
•Módulo de Relatórios
automáticas com as seguintes bases e solucionadas pela Metodologia d) a avaliação da produção científica dos
de dados: Web of Science, Lilacs, SciELO e por suas aplicações. Entre países da América Latina e Caribe per-
MEDLINE, HighWire Press, consórcio outras, destacam-se: manece ainda com uma questão: a re-
de publicações eletrônicas internacio- gião requer indicadores próprios à ciên-
nais em São Paulo etc. Ao viabilizar a) aperfeiçoamento dos critérios que cia local, ou são suficientes os indica-
essas conexões, a Metodologia deverão orientar a seleção de periódi- dores consagrados nos países desen-
SciELO integra os periódicos brasilei- cos para inclusão e permanência na volvidos, mais particularmente os pro-
ros nas bibliotecas científicas virtuais in- SciELO. Inicialmente, foram adotados duzidos pelo ISI?
ternacionais. os critérios de avaliação de periódicos
da Fapesp (tema do artigo Avaliação de e) aperfeiçoamento do tratamento de
c) A partir dos textos estruturados em periódicos científicos e técnicos brasi- dados implantado pela Metodologia
bases de dados, será possível a produ- leiros, de R. F. Krzyzanowski e M. C. SciELO, entre outros: 1) uso da Exten-
ção de novos relatórios de uso e de im- G. Ferreira, publicado neste fascículo da sible Markup Language (XML) – Lingua-
pacto, além dos já produzidos pela Me- Ciência da Informação). À medida que gem Extensível de Marcação, como
todologia SciELO, de modo a atender a a biblioteca SciELO acumule uma mas- complemento ou mesmo em substitui-
necessidades específicas de estudos sa crítica de dados, será possível medir ção à SGML. A XML, aprovada pelo W3
bibliométricos e informétricos. mais precisamente não apenas as va- Consortium (Goldfarb23), é um subcon-
riáveis de forma e de conteúdo dos perió- junto simplificado da SGML e se proje-
Embora a Metodologia SciELO possa dicos, mas também o seu impacto rela- ta como padrão de uso universal na
ser aplicada na criação e na operação tivo em nível nacional e internacional; Internet para o tratamento de conteúdo
de versões eletrônicas de periódicos in- de textos, sendo que a apresentação
dividuais, a experência com a bibliote- b) desenvolvimento de um modelo eco- dos textos continua dirigida pelo padrão
ca experimental do Projeto SciELO si- nômico que atenda aos objetivos da HTML. A incorporação da XML pela
naliza uma série de vantagens em favor SciELO e às necessidades de financia- Metodologia SciELO não somente sig-
da produção de bibliotecas eletrônicas mento para a produção dos periódicos nificaria uma sincronização com os
ou de coleções de periódicos, corrobo- participantes. Certamente, em um pri- avanços da publicação eletrônca, mas
rando algumas das hipóteses do proje- meiro momento, a publicação gratuita também a possibilidade de utilização de
to, dentre as quais, destacam-se: dos periódicos na Internet facilitará a sua inúmeros componentes de software que
diseminação e acessibilidade, mas exi- estão ou serão desenvolvidos, como é
a) a operação centralizada de periódi- girá mecanismos complementares de o caso dos elementos individuais e de
cos eletrônicos viabiliza economicamen- financiamento para as revistas. Os re- fórmulas matemáticas, hoje convertidos
te e acelera a transição para a publica- cursos financeiros poderão ser mobili- em imagens para viabilizar sua exibição
ção eletrônica, pois minimiza as implan- zados a partir da combinação de dife- através do HTML;
tações locais por parte dos editores; rentes fontes, como as agências de apoio
a pesquisas, as organizações respon- f) extensão da Metodologia SciELO para
b) ao mesmo tempo em que evita a pul- sáveis pelas revistas, o patrocínio de sua aplicação a outros tipos de literatu-
verização de soluções incompatíveis, a empresas privadas etc. Poderá ocorrer ra, incluindo monografias, teses, anais
biblioteca facilita a preservação e a também uma combinação de recursos de congressos etc., o que ampliaria a
criação de coleções espelhos, assim com uma política de preços baixos. Por utilidade e as contribuições da metodo-
como possibilita a sincronização e a último, a busca de uma operação pro- logia e aumentaria significativamente a
compatibilidade de dados com os avan- gressivamente auto-sustentada. A defi- cobertura das conexões entre textos.
ços no campo da publicação eletrôni- nição desse modelo econômico represen-
ca. Assim, é possível copiar a bibliote- ta um dos grandes desafios futuros para Um dos fatores cruciais no desenvolvi-
ca em meios óticos ou outros suportes o projeto e sua formulação deverá contar mento da Metodologia SciELO foi a par-
que venham a ser criados no futuro; com o aporte de todos os seus agentes; ticipação e contribuição dos editores
científicos, assegurando a sua aplica-
c) as bibliotecas tradicionais, com seus c) conversão das coleções dos periódi- ção a um variado número de situações,
serviços de referência, terão acesso a cos integrantes da SciELO impressos incluindo organização e formato de tex-
coleções integradas de periódicos que em papel nos últimos dez anos para o tos eletrônicos, padrões de apresenta-
adotam a mesma interface de operação, formato eletrônico. Essa conversão ção de artigos científicos e de referên-
facilitando e barateando o processo de criaria de imediato uma biblioteca digi- cias bibliográficas. O projeto evidenciou
intermediação de acesso; tal com massa crítica suficiente para a também problemas clássicos (ou crôni-
realização de estudos sobre o conjunto cos) da comunicação científica brasilei-
d) a biblioteca agrega valor ao tempo do da produção científica brasileira relevan- ra, caso da periodicidade regular e da
usuário final, ao minimizar os esforços te, contribuindo também para a sua pre- obediência a padrões bibliográficos na-
para atender a suas necessidades de servação, além de promover a sua visi- cionais ou internacionais. A biblioteca
informação. bilidade universal. A perspectiva que a SciELO, ao mesmo tempo em que exa-
Metodologia SciELO abre com relação cerba esses problemas, certamente
Por outro lado, a primeira fase do proje- ao uso dessas coleções justifica plena- contribuirá para a sua superação.
to apontou uma série de questões e mente o investimento de recursos para
demandas que deverão ser abordadas sua concretização;
CONCLUSÕES nologia, de Anna Maria Prat, publicado 10. GUEDON, J.-C. Why are electronic publica-
tions difficult to classify?: the orthogonali-
neste fascículo da Ciência da Informa-
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como uma solução eficiente, flexível e outros países está em discussão. poe.acc.virginia.edu/~pm9k/libsci/
ampla para a publicação científica ele- guedon.html]
trônica. Sua aplicação no site SciELO, Com relação ao Brasil, o Projeto
11. SCHAFFNER, A.C. The future of scientific
a aprovação que tem recebido de dife- SciELO, em sua segunda fase, propõe
journals: lessons from the past. Informati-
rentes setores envolvidos na comunica- avançar rumo à operação de 70 a 100 on Technology and Libraries, Dec. 1994.
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as perspectivas de seu aperfeiçoamen- brasileira, com alta visibilidade nacional
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how to get there from here. The Informati-
riódica de indicadores para estudos bi- on Society, v. 11, n. 4, p. 285-91, 1995.
A Metodologia SciELO possui as con- bliométricos, informétricos e cienciomé-
dições para ser adotada como metodo- tricos. 13. ROWLAND, F. Electronic journals: neither
logia comum não somente para a publi- free nor easy. The Information Society, v.
cação eletrônica brasileira, mas também 11, n. 4, p. 273-4, 1995.
para a América Latina e Caribe. Nesse
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sentido, a Bireme já adotou essa meto- rican, v. 276, n. 3, p. 58-60, Mar. 1997.
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