Você está na página 1de 460

Capítulo 85

Gestão da diversidade e movimento social LGBT: Intersubjetividades esquecidas

Mariana Lima Bandeira1, Pedro Jaime2 y Carlos Frederico Lúcio3

Introdução

Desde o final dos anos 1970, os movimentos sociais trouxeram para a esfera pública a pauta do
direito à diferença de grupos historicamente subalternizados (Touraine, 1984; Santos, 2007).
O Brasil viu consolidar esta luta entre a população LGBT nos últimos 20 anos (Facchini, 2005,
2008, 2009).

Embora isso tenha acontecido em escala global, a maneira como as empresas incorporaram esta
Subjetividades, identidades y practicas pauta tem sido criticada (Burrell, 1984; Capper, 1999). Frequentemente, o próprio ambiente
frente a la reorganización del trabajo corporativo perpetua práticas perversas que reduzem a efetividade das políticas institucionais
(Caproni-Neto e Saraiva, 2013, 2014).
en América Latina
Este trabalho busca entender o alcance das conquistas do movimento social LGBT face
às iniciativas de gestão da diversidade implementadas pelas empresas no Brasil, e mais
especificamente na cidade de São Paulo. Seu propósito é resgatar a trajetória do movimento
LGBT no Brasil desde sua emergência no final dos anos 1970, buscando explorar, a partir da
perspectiva de alguns atores, as transformações na sua organização e nas demandas por ele
construídas a fim de problematizar os nexos entre as mudanças ocorridas neste movimento,
os percursos profissionais desenhados por pessoas LGBT no mundo empresarial e suas ações
individuais e coletivas mobilizadas nos ambientes de trabalho.

Este texto está organizado em quatro seções. Na primeira, é feita a descrição e justificativa
das escolhas metodológicas. Em seguida, são apresentadas brevemente tanto a configuração
do movimento social LGBT no Brasil (com suas principais demandas e conquistas) como sua
incorporação pelas empresas. A terceira seção apresenta os resultados da pesquisa empírica.
1. Universidad Andina Simón Bolívar, Ecuador e Universidad Estatal de Milagro, UNEMI. Email: limabandeira.mariana@gmail.com
2. Centro Universitário FEI, Brasil. Email: pedrojaime@fei.edu.br
3. Escola Superior de Propaganda e Marketing-ESPM, Brasil. Email: fred@espm.br

897 898
Finalmente, são propostas algumas considerações para discussão. sem ideologia” (p. 15)4, o que amplia a perspectiva subjetiva para o reconhecimento de uma
intencionalidade na produção da fala e, consequentemente, na construção de sua subjetividade.
O estudo está em construção. O recorte que ora dispomos apresenta reflexões iniciais para Concretamente, a avaliação das entrevistas deve se basear na interface de duas forças: o
suscitar o debate, seja sobre metodologia, seja sobre o corpus teórico proposto para análise ou conteúdo que circula no espaço social estudado; e a força que resulta do próprio processo
ainda sobre o desenvolvimento da investigação. de interação social e as pressões que geram e mantêm identidades coletivas. O princípio da
interdiscursividade (Fairclough, 2001) sugere que certas ordens de discurso têm primazia sobre
Percurso metodológico os tipos particulares de discurso. Os limites, no entanto, são flexíveis mostrando as possibilidades
de desarticulações e rearticulações dos discursos por meio da prática social.
A pesquisa mais ampla, realizada na cidade de São Paulo, é de caráter exploratório e qualitativo,
utilizando-se de fontes secundárias (levantamento bibliográfico e documental) e entrevistas em A interdiscursividade se manifesta, então, nos discursos indiretos e na prática social, mais
profundidade com diferentes atores/sujeitos (ativistas LGBT, consultores, executivos, políticos do que nos textos e falas evidentes. Uma forma de captar a interdiscursividade é observar o
e representantes de duas gerações de profissionais LGBT que estão desenhando carreiras silêncio como uma evidência de significação (Orlandi, 2015b). Os silêncios corresponderiam a
gerenciais no mundo empresarial – uma que iniciou seu percurso no final dos anos 1970 e momentos de interdiscursividade, pois são pontos de transformação de uma narrativa, onde se
outra que ingressou no mercado de trabalho no século XXI). Para a escrita deste trabalho criam novos sentidos, gerando novas narrativas.
foram utilizadas quatro entrevistas, realizadas entre 2017 e 2018, com duração média de
três horas cada: dois ativistas LGBT e dois consultores. Nelas, explorou-se a percepção desses Sob essa perspectiva, a análise do discurso seria responsável por articular um conjunto de
atores quanto à trajetória do movimento LGBT a partir dos anos 1970. A conversa enfocou as textos e práticas de um dado grupo social em determinado contexto. Entender essa permanente
demandas e agenda desse movimento, procurando mapear as relações (ou ausência delas) que construção implica em aceitar a dialogia do discurso, em que duas ou mais vozes se confrontam,
ele foi estabelecendo com as empresas, especialmente no que se refere à proposta da gestão se constroem, se desconstroem e se reconstroem5 e, também, aceitar sua impermanência e
da diversidade. possibilidades de modificar o repertório de significados na prática social.

Esses dados estão sendo organizados para captar os discursos em seus três níveis de análise O movimento LGBT e a gestão da diversidade nas organizações: equilíbrio distante
(Fairclough, 2001): texto, prática discursiva e prática social. O texto é uma dimensão do
discurso, mas não a única, e considera-se que as orações podem assumir distintas funções e são A consolidação das democracias contemporâneas proporcionou o fortalecimento da sociedade
transitivas, ou seja, “as pessoas fazem escolhas sobre o modelo e a estrutura de suas orações civil organizada (Bianchi, León e Perini, 2017) com consequências benéficas para a redução da
que resultam em escolhas sobre o significado (e a construção) de identidades sociais, relações injustiça social (Dávila-Paredes, 2010). Um dos movimentos que se destacou nos últimos anos
sociais e conhecimento e crença” (Fairclough, 2001, p. 104). foi o LGBT. Para analisar sua construção no Brasil, utilizou-se os estudos de Regina Facchini
(Facchini, 2005, 2008, 2009; Facchini e França, 2009), combinados com os trabalhos de Júlio
A origem etimológica da palavra discurso sinaliza a ideia de movimento e de uma construção do Simões e Sérgio Carrara (Simões e Facchini, 2009; Carrara & Simões, 2007; Carrara et al.
indivíduo para constituir-se como sujeito. Neste estudo, essa visão fica clara pois “o autor é quem 2006).
dá à inquietante linguagem da ficção suas unidades, seus nós de coerência, sua inserção no real”
(Foucault, 1999, p.31) e, portanto, “procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto Facchini (2009) resgata a trajetória do movimento no Brasil em relação ao contexto internacional
trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história” 4. Reinterpretação de Orlandi (2015a), fundamentando-se em Pêcheux, M. Les Vérités de la Palice, Maspero, Paris, trad. Bras. Semântica e Discurso,
(Orlandi, 2015a, p.13). Outrossim, assume-se que “não há discurso sem sujeito e não há sujeito Orlandi et al,, Editora Unicamp, 1975.
5. O termo desconstrução é utilizado nesta pesquisa com o mesmo sentido que Spink (2000) usa o termo desfamiliarização, como reflexão e
estranhamento com o habitual e constituído, necessários para transformar crenças e instituições em outros sistemas interpretativos.

899 900
e indica que seu início nos anos 1970 foi marcado pela pauta da construção de identidades empresas.
e por uma explicação científica da homossexualidade (Simões e Facchini, 2009). Muitos
mecanismos (jornais, revistas, festas, redes etc.) foram mobilizados na luta pela aceitação social Pesquisas recentes no país ainda têm essa proposta funcionalista e gerencialista, sugerindo
e reconhecimento dessas identidades. Entre os avanços mais visíveis estão as conquistas legais modelos de gestão da diversidade que possam gerar competitividade (Barbosa, Brito e Bizarria,
e normativas sobre os direitos civis, tais como o reconhecimento legal de vínculos afetivos 2016), aumentar a produtividade ou a satisfação laboral (Brito, Obregon e Dias-Lopes, 2016), ou
homossexuais, além do combate à homofobia. Além disso, uma mudança cultural em São Paulo ainda melhorar o desempenho e reduzir a discriminação (Macalli et al, 2015). Essa perspectiva
se perfila em função do surgimento de grupos organizados que apoiam o movimento LGBT, tais parece ser reflexo do mainstream internacional sobre o tema, já que também se observa um
como o Grupo SOMOS, o Grupo CORSA, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. debate semelhante em outros países (Pitts, 2009; Pitts et al, 2010; Hur e Strickland, 2015).
No cenário corporativo, tem-se iniciativas do Instituto Ethos e a criação do Fórum de Empresas
e Direitos LGBT+ (Bulgarelli, Jesus e Douek, 2013; Jesus, Douek e Bulgarelli, 2014; Gohn, 2011; Ainda há espaço para uma reflexão crítica sobre a diversidade nas organizações, que escape
ETHOS, 2000, 2016). aos ditames da visão instrumental (Zanoni et al., 2010). Um esforço nessa direção é encontrado
Alves & Galeão-Silva (2004). Partindo de um referencial teórico que articula o marxismo com
Dada a natureza plural das identidades articuladas no movimento, nota-se a consolidação de sua a teoria crítica da escola de Frankfurt, esses autores equacionam a gestão da diversidade,
representatividade nas reconfigurações de sua sigla: movimento gay, GLS, LGBT, LGBTQ, LGBT+ especialmente em sua aplicação no Brasil, com tecnocracia e a democracia racial, denunciando
etc. Ao mesmo tempo, isso se torna um ponto de fragmentação: mesmo tendo uma agenda seu caráter ideológico.
comum, os interesses particulares derivados da política de identidades pulverizam as demandas
e as conquistas. Assim, diferentes estratégias de ação mostram alguns encontros e desencontros Por sua lógica instrumental, se supõe que ao embutir o discurso da diversidade organizacional
(Facchini, 2008, 2009) que vão “desde disputas de poder e de espaço de representação nas crenças dos indivíduos, pelo uso de determinadas práticas e de políticas disciplinadoras,
governamental entre lideranças até desavenças quanto à demarcação de fronteiras identitárias” as organizações buscam a concordância dos empregados na incorporação de um determinado
(Almeida & Heilborn, 2008, p. 229). Por esse motivo, enquanto houver uma ênfase na definição conhecimento (Willmott, 1993). Ao coadunar com essa apropriação, o empregado perde poder
dos sujeitos e de suas fronteiras, poderá existir uma proliferação de categorias de sujeitos, e de barganha sobre sua força de trabalho. Pressupõe-se que as motivações que dão sustentação
principalmente de organizações que as defendam. a essa atitude são parte da própria construção de sua identidade, mesmo que em algumas
oportunidades essa suposta aceitação demande esforços e estratégias de superação de uma
Nesse contexto histórico-social, artigos científicos orientados à gestão empresarial da discriminação simbólica, socialmente construída (Irigaray, Saraiva e Carrieri, 2010; Caproni-
diversidade foram publicados nos Estados Unidos desde o início dos anos 1990, com destaque Neto e Saraiva, 2013). Por isso é grande a responsabilidade da organização ao propor um modelo
para Cox e Blake (1991) e Thomas e Ely (1996). A despeito de diferenças no tratamento da de gestão que de alguma forma participa da construção de identidades.
questão, o ponto central da argumentação dos autores é o mesmo: se for bem gerenciada a
diversidade melhora o desempenho do negócio, representando uma importante fonte de Ademais, os modelos de gestão ainda mostram poucos avanços quando se trata de valorizar
vantagem competitiva para as empresas. Isto porque a organização que possui um programa de as diferenças (McDonald, 2010; Olsen e Martins, 2012, 2016; Trittin e Schoeneborn, 2017;
gestão da diversidade consistente atrai e retém os melhores talentos, forma equipes de trabalho Schwabenland e Tomlinson, 2015). Mais ainda, a sexualidade continua sendo tratada no
compostas por indivíduos que possuem diferentes repertórios culturais, sendo, portanto, mais âmbito organizacional como um tabu e poucas são as iniciativas que realmente poderiam ser
criativas, inovadoras e capazes de atender às demandas de consumo dos distintos grupos sociais classificadas como inclusivas sob este prisma (Irigaray, Saraiva e Carrieri, 2010; Caproni-Neto
que compõem uma sociedade multicultural. Anos mais tarde, a gestão da diversidade chegou e Saraiva, 2013).
ao Brasil (Fleury, 2000), inicialmente a partir de um referencial analítico estado-unidense e
subscrevendo a visão da gestão da diversidade como fonte de vantagem competitiva para as Resultados empíricos: a perspectiva dos sujeitos

901 902
Os principais aspectos dos relatos dos entrevistados foram organizados a partir de categorias Essa relação com o mundo empresarial resultou em conflitos internos ao movimento LGBT. Os
extraídas das narrativas que convergiam para evidenciar a relação entre as demandas do dois ativistas entrevistados enfatizaram tensões na organização da Parada LGBT. Para um deles,
movimento e suas respectivas traduções no ambiente organizacional. Iniciamos com a percepção no entanto, o problema não se deve à participação empresarial, mas a decisões tomadas em
da configuração inicial do movimento LGBT, passamos para as transformações desse movimento função de interesses particulares.
e de como os entrevistados atribuem significados para a participação empresarial. Os ativistas
serão representados por A1 e A2; os consultores por C1 e C2. Sobre os riscos de mercantilização da Parada, os ativistas acreditam que se existir uma seleção
de quais empresas podem associar sua imagem à do movimento, pode haver um fortalecimento
A percepção comum entre eles é que na sua origem o movimento LGBT era bastante informal do mesmo. Mas reconhecem que possivelmente as empresas participam com uma perspectiva
e não tinha uma diretriz definida, estando unido a outros grupos socialmente vulneráveis. Essa de curto prazo.
informalidade resultava numa maior coesão, já que se dependia da colaboração de todos,
indiscriminadamente. Também nessa época o movimento possuía um viés marxista. As empresas Houve menção de todos os entrevistados sobre o apoio do setor público: A1, A2 e C1 explicitam
ainda não se vinculavam explicitamente à questão da diversidade e a pouca aderência que havia que a gestão da prefeita Marta Suplicy deu bastante abertura na época para se desconstruir
poderia estar associada a outros elementos. Em seu depoimento, A1 aponta a perspectiva mitos relacionados à homossexualidade e para se discutir a criminalização da homofobia. C2
comunitária do seu marco inicial: a 17ª Conferência da International Lesbian and Gay Association resgata o apoio, na esfera federal, da gestão do presidente Lula.
(ILGA), no Rio de Janeiro, que culminou com uma marcha “pride” na Av. Atlântica. Segundo ele,
esse momento era caracterizado por uma construção comunitária dos grupos que participaram. No que se refere à aproximação do mundo empresarial, C2 traz dois argumentos interessantes. O
primeiro é de ordem cronológica. Ele enfatizou que foi “no final dos anos 90 e nos anos 2000 que
Esta perspectiva se contrapõe a um discurso corrente atualmente de que a Parada se tornou mais a discussão começou a chegar nas empresas. [...] E essa discussão veio num primeiro momento
uma festa do que uma representação do movimento social. Quanto a isso, a fala dos entrevistados com essa lógica de tradução, de trazer para cá o que já era desenvolvido nos EUA há algum
corrobora estudos consultados: a política de identidades, a proliferação das organizações da tempo”. O segundo é da ordem do escopo da diversidade sexual:
sociedade civil, a organização e a profissionalização do movimento social resultaram também
em um mosaico de interesses que disputam o mesmo espaço. O marco para essa transformação O que a gente percebe muitas vezes é a inclusão de pessoas que já preenchem o perfil
foi, na opinião de A1, o sucesso do ano 2000 atestado pela visibilidade midiática da Parada. Teria da empresa. São os gays, principalmente, brancos e altamente escolarizados. É válida a
sido por conta dessa visibilidade que empresas passaram a apoiar o movimento como estratégia política, mas já me questiono se essas pessoas seriam realmente as vítimas do preconceito.
de posicionamento da marca.
Finalmente, um tema que emerge é a mistura entre os papéis que cada um exerce na cotidianidade,
C1 subscreve essa perspectiva e enfatiza a necessidade de as empresas terem uma visão da e que reforça o elemento de interdiscursividade nas entrevistas. Algo que foi enunciado por um
diversidade integrada a toda a sua gestão. Ele admite que algumas companhias patrocinam dos consultores entrevistados: “Eu realmente acredito que o trabalho que faço nas empresas é
a Parada mais não possuem políticas de diversidade consistentes. Ao mesmo tempo, outras um trabalho de ativismo”.
organizações não assumiram compromissos públicos em termos dos direitos humanos LGBT,
mas possuem iniciativas consistentes nessa área. Ele defende que o diálogo entre empresas e o Considerações Finais
movimento LGBT reforça as demandas do movimento, ao passo que as empresas que apenas se
interessam por aproveitar o movimento para consolidar a marca não estabelecem nenhum tipo A atuação do movimento LGBT no Brasil, até recentemente, não enfocava o mundo do trabalho.
de compromisso. Não se observava a construção de demandas relativas ao mundo empresarial, conectadas,

903 904
portanto com questões relativas às trajetórias profissionais de gays, lésbicas, transsexuais,
travestis, etc. O foco de preocupação do movimento, em suas distintas formas de manifestação e Alves, M. A. e Galeão–Silva, L. (2004). A crítica da gestão da diversidade nas organizações.
organização, esteve dirigido para a busca da aceitação, da redução da violência e da discriminação. Revista de Administração de Empresas, 44 (3), p.20-29.
Até mesmo no âmbito da pesquisa científica, essa interface entre movimento LGBT e o mundo
empresarial, salvo raras exceções, tem sido negligenciada no Brasil. Essa constatação reforça Ashikali, T. e Groeneveld, S. (2015). Diversity management for all? An empirical analysis of
a importância da investigação que estamos desenvolvendo. Além dela, duas outras reflexões diversity management outcomes across groups. Personnel Review, 44(5), p. 757–780.
podem ser extraídas dos dados e das análises de discurso dos sujeitos entrevistados para este
trabalho. Nós as deixamos aqui para suscitar o debate. Barbosa, F. L. S. Brito, A. S. e Bizarria, F. P. A. (2016) Tatuagens, Piercings e Diversidade Cultural:
o que gestores dizem sobre esse tema? Teoria e Prática em Administração, 6 (2), p.78-106.
A primeira reflexão se refere às distintas respostas que as empresas têm dado às demandas
do movimento LGBT. Foi possível notar que há uma variedade de motivações. Mas é certo Bianchi, M., León, C. e Perini, A. (2017). Transformaciones de la participación política en
que, seja pelo interesse de posicionar a marca, seja pelo reconhecimento da aderência dos América Latina. Asuntos del Sur. Buenos Aires, 2017. La versión original de este documento fue
direitos humanos LGBT aos princípios da responsabilidade social, as empresas têm começado publicada en diciembre de 2016 por la Revista Eletrônica de Ciência Política (DOI: http://dx.doi.
a interagir com esse movimento social. Percebeu-se que o mosaico de motivações independe org/10.5380/recp.v7i2.48528).
de seu tamanho e da sua área de negócios. Ainda não foi possível inferir algo sobre relação
entre a adesão da organização ao Fórum de Empresas e Direitos LGBT+ e a consistência de suas Brito, L. C. Obregon, S. L. e Dias-Lopes, L. F. (2016). Analyzing aspects that impact the
iniciativas em termos da diversidade sexual. Isto porque, segundo os entrevistados, é possível satisfaction in the generation of professionals working and in South Region of Brazil. Revista
encontrar companhias que não são signatárias do Fórum, mas têm programas de diversidade Científica Hermes, 15, p.99-121.
consistentes; e corporações que são signatárias, porém cumprem poucos princípios assinados
no compromisso, propagandeando uma imagem associada à diversidade, sem que haja uma Bulgarelli, R. Jesus, B. e Douek, B. (2013). O Compromisso das Empresas com os Direitos
adesão à causa LGBT. Humanos LGBT, 1 (1), p.17-43, Dez. 2013. Disponível em: <https://www3.ethos.org.br/cedoc/o-
compromisso-das-empresas-com-os-direitos-humanos-lgbt/>. Acesso em: 23 Fev. 2017.
A segunda reflexão está relacionada ao sujeito e o papel que assume em sua fala. No levantamento
feito, as falas mostraram que o sujeito efetivamente fala de onde exerce um papel. Percebemos Burrell, G. (1984). Sex and organizational analysis. Organization Studies, 5 (2), p. 97-118.
também que, em função de suas memórias, alguns entrevistados assumiam distintos papéis em
suas narrativas ao longo da entrevista. Na análise de narrativas, o tempo é um fator importante Capper, C. A. (1999). (Homo)sexualities, organizations and administration: possibilities for
a ser considerado, pois a sequência da narrativa pode não ser um resgate da memória real. Essa In(queer)y. Educational Researcher, 28 (5), p. 4-11.
sequência pode estar associada a uma seleção de fatos e a um encadeamento que serve a um
propósito. Nesse resgate, o papel que o sujeito tinha naquele momento passado é revivido. Talvez Caproni-Neto, L. H. e Saraiva, L. A. S. (2013). Não basta ser homem, tem que parecer homem:
por isso, em algumas entrevistas, essas múltiplas vozes do mesmo sujeito se fizeram presentes. masculinidades e reprodução de preconceitos sob a ótica de gays e lésbicas. Fortaleza, Anais.
Fortaleza: I Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais.
Referências
__________(2014). Estigma na Trajetória Profissional de uma Travesti. Teoria e Prática em
Almeida, G. e Heilborn, M. L. (2008) Não somos mulheres gays: identidade lésbica na visão de Administração. 4 (2), p.234-256.
ativistas brasileiras. Gênero, 9 (1), p. 225-249.

905 906
Carrara, S. e Simões, J. A. Sexualidade, cultura e política: a trajetória da identidade homossexual Revista de Administração de Empresas, 40(3), p.18-25.
masculina na antropologia brasileira. Cadernos PAGU, Vol. 28, janeiro-junho, 2007, pp. 65-99.
Foucault, M. (1999). El orden del discurso. Barcelona: Fábula-Tusquets Editores.
Carrara, S. Ramos, S. Simões, J. A.; Facchini, R. (2006). Política, Direitos, Violência e
Homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT – São Paulo 2005. Rio de Janeiro: Giddens, A. (2015). Sociologia. 6ª ed. São Paulo: Saraiva.
CEPESC, 2006.
Gohn, M. G. (2011). Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de
Cox, T. e Blake, S. (1991). Managing Cultural diversity: Implications for organizational Educação. 16 (47), p. 333-361. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
competitiveness. Academy of Management Executive, 5(3), p. 45-56. arttext&pid=S141324782011000200005&lang=pt>. Acesso em: 10 Mai. 2017.

Dávila-Paredes, T. (2010) ONG y Estado: participación, rivalidad y cooperación en la gestión Hur, Y. e Strickland, R. A. (2015). Diversity management practices, do they make a difference?
ambiental. Tesis. FLACSO-SEDE ECYADIR-ABYA YALA. Quito. Examining consequences of their adoption in local Governments. Public Administration Quarterly,
39 (2): 325-57
ETHOS (2000). Como as empresas podem (e devem) valorizar a diversidade. São Paulo: Instituto
Ethos. Irigaray, H. A. R. (2007) Estratégia de sobrevivência dos gays no ambiente de trabalho. Encontro
Anual da Associacao Nacional de Pós-graduacao e Pesquisa em Administracao – ENANPAD -,
ETHOS (2016). Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas Rio de Janeiro, XXXI, Anais... Rio de Janeiro: ANPAD.
ações afirmativas. São Paulo, Instituto Ethos.
Irigaray. H. A.; Saraiva, L. A. S. e Carrieri, A. P. (2010) Humor e discriminação por orientação
Facchini, R. e França, I. L. (2009). De cores e matizes: sujeitos, conexões e desafios no sexual no trabalho. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, 14 (5), p. 890-906.
Movimento LGBT brasileiro. Sexualidad, Salud y Sociedad. Revista Latinoamericana. 3, p. 54-81.
ISSN 1984-6487. Jesus, B.; Douek, B.; Bulgarelli, R. (2014). Promoção dos Direitos Humanos de Pessoas LGBT no
Mundo do Trabalho. 2, p. 4-78. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/promocao-
Facchini, R. (2005) Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades dos-direitos-humanos-de-pessoas-lgbt-no-mundo-do-trabalho-construindo-igualdade-de->.
coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond. Acesso em: 11 Nov. 2017.

__________(2008) Vinte anos depois: mulheres e (homo) sexualidades na cidade de São Paulo. Macalli, N.; Kuabara, P. S. S. e Takahashi, A. R. W. Roglio, K. D. Boehs, S. T. M. (2015) As práticas
Gênero, 9, p. 195-223. de recursos humanos para a gestão da diversidade: a inclusão de deficientes intelectuais em uma
federação pública do Brasil. Revista de Administração Mackenzie, 16(2), p.157-187.
__________(2009) Entre compassos e descompassos: um olhar para o “campo” e para a “arena”
do movimento LGBT brasileiro. Revista Boagoas, 4, p. 131-158. Mc Donald, D. (2010) The evolution of ‘Diversity Management’ in the USA: Social contexts,
managerial Motives and Theoretical Approaches. Institute of Business research Daito Bunka
Fairclough, N. (2001). Discurso e mudança social. Brasília: Editora UnB. University, Japan. Research Papers no. E-51.

Fleury, M. T. L. (2000). Gerenciando a diversidade cultural: experiências de empresas brasileiras. Olsen, J. e MARTINS, L. (2012) Understanding organizational diversity management programs:

907 908
a theoretical framework and directions for future research. Journal of Organizational Behavior, Harvard Business Review, 74 (5), p.
33, p. 1168-1187.
Touraine, A. (1984) Le retour de l’acteur: essai de sociologie. Paris: Fayard.
__________(2016) Racioethnicity, community makeup, and potential employees’ reactions to
organizational diversity management approaches. Journal of Applied Psychology, 101 (5), p. Willmott, H. (1993) Strength is ignorance; slavery is freedom: managing culture in modern
657–672. organizations. Journal of Management Studies, 30 (4), p.515-552.

Orlandi, E. P. (2015a) Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes Zanoni, P. Janssens, M. Benschop, Y. e Nkomo, S. (2010). Unpacking diversity, grasping
Editores. inequality: rethinking difference through critical perspectives. Organization. 17(1), p. 9-29.

__________(2015b). As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. (6ª. Ed., 4ª reimpressão) Zibechi, R. (2003). Los movimientos sociales latinoamericanos: tendencias y desafíos. En: OSAL:
Campinas, SP: Editora UNICAMP. Observatorio Social de América Latina. No. 9 (ene. 2003). Buenos Aires: CLACSO. ISSN 1515-
3282. Disponible en:http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal9/zibechi.pdf.
Pitts, D. W. (2009). Diversity Management, Job Satisfaction, and Performance: Evidence from
U.S. Federal Agencies. Public Administration Review. 69 (2), p. 328-338.

Pitts, D. W. Hicklin, A. K. Hawes, D. Melton, E. (2010). What drives the implementation of


diversity management programs? Evidence from Public Organizations. The Journal of Public
Administration Research and Theory, 20, p. 867-86.

Santos, G. G. C. (2007) Mobilizações homossexuais e Estado no Brasil: São Paulo (1978-2004).


Revista Brasileira de Ciências Sociais, 22, p. 122-133. Disponivel em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?pid=S010269092007000100010&script=sci_abstract&tlng=pt >. Acesso em:
Outubro, 2017.

Saraiva, L. A. S. (2016). Metonímia de um extermínio: a violência contra a população LGBT. Farol


- Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 3, p. 733-747.

Schwabenland, C. e Tomlinson, F. (2015). Shadows and light: Diversity management as


phantasmagoria. Human Relations, 68 (12), p. 1913–1936.

Spink, M.J. (org.). (2000). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações
teóricas e metodológicas. 2ª ed. São Paulo: Cortez.

Thomas, D. e Ely, R. (1996) Making differences matter: a new paradigm for managing diversity.

909 910
Capítulo 86 Ferris, Thompson & Sikora 2016).

En tal sentido, la ED es referida a la función de “Talento Humano” que tiene entre otros
La evaluación de desempeño y sus paradojas reificantes1 propósitos evaluar por medio de indicadores de desempeño y de resultados, cómo una
organización puede utilizar sus talentos; saber medir cómo la ARH contribuye a aumentar la
Sergio René Oquendo Puerta2 y Héctor L. Bermúdez3
sinergia entre la organización y las personas, para desarrollar competencias organizacionales y
ofrecer resultados (cf., Alles, 2000, 2003; Prahalad & Hamel, 1990; Spencer & Spencer, 1993;
Nord & Fox, 2004). En el sentido de estos autores, la ED es la fuerza de trabajo que tiene como
1. Introducción
objetivos motores: asegurar el crecimiento del negocio, aumentar las utilidades y asegurar la
sostenibilidad; y como parámetros de medición: la facturación por “empleado”, el rendimiento
El propósito de este artículo es presentar avances de los resultados de la Investigación
de “capital humano” y el gasto de “capital humano” por “empleado” (Chiavenato, 2009). En
denominada “El reconocimiento en el discurso de la evaluación de desempeño” Estudio de caso
general, las lógicas de ED se centran en identificar qué tanto aporta el trabajador a la cadena de
realizado en una gran empresa de la ciudad de Medellín – Colombia. El estudio consistió en
valor de la organización en el sentido de la teoría de Porter (1985).
examinar las prácticas actuales de evaluación de desempeño y su correspondiente discurso en el
ámbito de la Administración Estratégica de Recursos Humanos, con el fin de desentrañar de qué
No es muy explícito que en la literatura del campo se encuentren hallazgos que evidencien
manera se da el reconocimiento en la gran empresa contemporánea.
sobre el aporte de la organización y la ED al trabajador. En tal sentido, se hizo necesario la
contrastación empírica del fenómeno de la ED, desde los testimonios de la experiencia vivida por
Importante destacar que, para este artículo, la categoría filosófica del reconocimiento no será
los trabajadores sujetos a dicha práctica.
ampliamente desarrollada, en tanto el interés es más divulgar algunos las consecuencias del
ejercicio de Evaluación de Desempeño (ED) que, para los fines predeterminados de la ED,
Como consecuencia de los hallazgos y como conclusión del discurso de los entrevistados, se
terminan convirtiéndose en asuntos paradójicos para el cumplimiento de sus fines.
evidencia que, emergen paradojas entre los propósitos que ésta busca y los efectos reales
en el trabajador y en los resultados finales en el trabajo organizado. En otras palabras, los
La AERH utiliza como mecanismo para la valoración del aporte de los trabajadores4 a la empresa,
dispositivos implementados por las organizaciones ensayando a obtener mejores resultados –
la evaluación de desempeño, proceso que emana de otro más englobante, conocido como la
incluso buscando de manera genuina respetar a los trabajadores–, termina, en algunos casos,
gestión del desempeño. La ED en su evolución se ha centrado en el desarrollo de personal y este
convirtiéndolos victimarios y expertos en menosprecio Honneth (1997). Las paradojas de la ED
se ha limitado al desarrollo de las competencias (Alles 2002, 2003, 2005, 2008; Cuesta, 2015;
se manifiestan en tanto se declara algo, se tiene la intención de algo, pero lo que se logra es todo
Werther, David, & Guzmán, 2015; Prahalad & Hamel, 1990; Spencer & Spencer, 1993; Becker,
lo contrario y en algunos casos estas prácticas se convierten en reificantes.
Huselid & Ulrich, 2001), en consecuencia, la mayoría de las técnicas que la materializan están
relacionadas con el diseño de los puestos de trabajo, buscando la objetividad y la impersonalidad
2. Marco teórico
de los cargos para poder cumplir con los propósitos productivos (cf. Alles, 2002; Nuñez, 2007;
Yun, 2007; Purcell & Kinnie, 2007; Latham, Sulsky & MacDonald, 2007; Gerhart, 2007; Zeynep,
Este estudio definió como categorías centrales el de la ED y el reconocimiento, de la primera se
2008; Jaewon, 2010; Jiang, Lepak, Hu & Baer, 2012; Miller, Xu & Mehrotra 2015; Russell,
1. El presente trabajo emana del trabajo de investigación denominado “el reconocimiento en el discurso de la evaluación de desempeño”.
da cuenta partir de su tradición epistemológica como campo de estudio enmarcado en la AERH
2. Profesor Universidad de Antioquia. Email: sergio.oquendo@udea.edu.co y termina constituyendo en la categoría empírica del estudio, desde donde emanan las paradojas
3. Profesor Universidad de Antioquia. Email: hectorl.bermudez@udea.edu.co que se quieren dar cuenta en este artículo.
4. En todo el documento, únicamente por asuntos de estilo (y con consciencia de las implicaciones de esta decisión), el autor ha privilegiado el género
masculino para referirse a ambos sexos, a los cuales considera exactamente en el mismo nivel de importancia.

911 912
2.1 La Evaluación del desempeño Para examinar el discurso de la ED con el fin de desentrañar desde las narrativas de los
trabajadores de qué manera se presenta el menosprecio, fue necesario definir la porción de la
Para precisar los términos en que se enmarcan esta investigación, es preciso explicitar las realidad social en la que se llevó a cabo estos ejercicios. La ED es, fundamentalmente, un proceso
lógicas en las que se ha dado la ED en la tradición y el discurso del campo de estudio de la administrativo, mientras que el reconocimiento del otro es un acto existencial. Ambos, se llevan
Administración Estratégica de Recursos Humanos (AERH). a cabo en el mundo del trabajo en la empresa contemporánea

Plantean Coens y Jenkins (2000) que para comienzos de la década de 1950 las evaluaciones En consonancia con lo anterior y para aproximarse a dicha realidad, el enfoque hermenéutico,
de rendimiento se convirtieron en un lugar común en las organizaciones del “modelo máquina”: sirvió de soporte para lograr la intención comprensiva del estudio, en tanto no se tuvo un interés
prescriptivo, sino, de aporte interpretativo.
[Éstas] ofrecían una reconfortante sensación de responsabilidad y control. Las
evaluaciones creaban la ilusión de que cada parte (empleado) de la máquina (organización) La estrategia de investigación privilegiada fue de un estudio de caso, seleccionado bajo la
operaba (trabajaba) de manera eficiente y eficaz. Si todas las partes funcionaban bien, lo tipología de casos intrínsecos –único caso– descritos por Galeano (2004) y por Eisenhardt
mismo pasaba con la máquina. El organigrama vertical se convirtió en el plano del modelo (1991). La técnica de recolección de información utilizada fue las “entrevistas cualitativas poco
organizacional mecanicista, al alinear las personas como bolas de billar para crear en dirigidas y las “entrevistas en profundidad” (Beaud y Weber, 2010; Ortiz y Bermúdez, 2015).
apariencia una cadena de reacciones predecibles (p. 53).
4.Resultados
Indagar por los orígenes de las influencias teóricas en la ED, es necesario hacer referencia a una
de las más vigorosas, aquella de la teoría de las competencias organizacionales propuesta por 4.1.Las paradojas de la evaluación de desempeño
David McClelland (1973) y desarrollada por sus continuadores (Eg. Alles, 2000, 2003; Milkovich,
1997; Prahalad & Hamel, 1990). Aunque las primeras investigaciones de McClelland datan de La paradoja, como figura literaria, denota contradicción. Su etimología, indica que proviene del
finales de los años 1940 y sus publicaciones sobre la teoría del logro son de 1953, la influencia latín “Paradoxus-Paradoxa”, para referirse a lo contrario a la opinión común. La RAE (2017)
sobre la definición de las “competencias organizacionales”, emana fundamentalmente, de su señala que ésta designa un hecho o una frase que parece oponerse a los principios de la lógica.
célebre artículo de 1973, Testing for Competence Rather Than for “intelligence”. Como consecuencia de los hallazgos se evidencia que, a partir de las prácticas de ED, emergen
dilemas, tensiones o contradicciones entre los propósitos que ésta busca y los efectos reales en
En lo que respecta a los manuales contemporáneos, es preciso indicar, que la ED es entendida el trabajador y en los resultados. A continuación, se describen algunas de las evidencias de las
como el proceso por el cual se juzga el rendimiento individual y no el rendimiento de una seis paradojas emergentes del estudio.
organización. También es entendida como el proceso obligatorio en el cual, durante un periodo
específico de tiempo, el desempeño en el trabajo, los comportamientos o rasgos individuales de 4.1.1. De la valoración a la reificación
los empleados se valoran, juzgan o describen de manera individual (Coens y Jenkins, 2000, p.
22). Además pretende utilizar sus talentos y aumentar la productividad y mejorar resultados de Ésta, se aprecia en el discurso de los entrevistados de manera reiterativa y se refiere a que en
la empresa. (cf., Alles, 2000, 2003; Prahalad & Hamel, 1990; Spencer & Spencer, 1993; Nord cada narración, se anuncia la exigencia de implicaciones mayores de parte de la dirección y se
& Fox, 2004). muestra el sentir de los trabajadores relacionado con fenómenos de menosprecio y humillación
(reificación), contrarios a los que son los propósitos explícitos del modelo de evaluación y a las
3.Metodología declaraciones racionales de estos procesos por parte de las áreas de recursos humanos.

913 914
El menosprecio también se presenta por el desinterés, la omisión o la apatía de los jefes frente a
la ED, por lo tanto, se pierde la posibilidad de reconocimiento para con otras personas. Se suma a Aunque la dirección de la empresa argumenta que propende por la colaboración y el trabajo en
la paradoja de la reificación, el remplazo de un ejercicio de valoración, por uno de calificación del equipo, en el sentimiento expresado en las narraciones de los trabajadores, se anuncia un efecto
trabajador, salen a relucir los sentimientos que generan las experiencias de sentirse calificado, adverso del proceso de evaluación sobre el trabajo colectivo, la cooperación, la solidaridad y la
reducido a un número. convivencia. El enfoque de la ED individualizada y cuantitativa, sitúa en competencia a todos
los trabajadores. Es el efecto de ciertas retóricas manageriales que, en nombre de la incesante
4.1.2. De la productividad a la parsimonia búsqueda de la productividad y compromiso del trabajador, en la lógica de la racionalidad
instrumental, terminan impactando el trabajo grupal al híper-individualizar al trabajador,
El modelo de ED propone una alta exigencia, como elevar el nivel de desempeño y de la llevándolo a una especie de angustia de la soledad en sociedad (Arendt, 1999).
productividad del trabajador y por ende de la empresa, periodo a periodo. El mensaje que
acompaña dicha retórica es el del “valor agregado”, sin embargo, termina generando en los 4.1.6. De la sofisticación instrumental a la arbitrariedad deshumanizante
trabajadores la búsqueda de la comodidad, de trabajar al mínimo, “a media máquina”, aparece
la parsimonia, la calma o tranquilidad ceremoniosa para realizar las acciones o, simplemente, Los esfuerzos empresariales y de las áreas de recursos humanos por buscar cada vez más
cumplir con lo básico para no sentirse luego “crucificado”. objetividad apoyados en mayor tecnificación y sofisticación de las herramientas para la ED
(modelos estratégicos, teorías de vanguardia, etc.) quedan menguados, entre otros aspectos,
4.1.3. De la conversación al mutismo por el estilo de dirección, la “lejanía” del jefe, la imposibilidad de negociar y consensuar asuntos
fundamentales, el autoritarismo, la inflexibilidad, etc. En consecuencia, aspectos básicos para
Los ejercicios de ED, si bien se diseñan como unos “ejercicios conversacionales” para el desarrollo las relaciones intersubjetivas quedan cortadas. Así, el reconocimiento queda sujeto al punto de
y la movilización del trabajador, termina siendo deslegitimada por ellos, pues la asocian con una vista del jefe, por ello, depende de la arbitrariedad del jefe la posibilidad de otorgar o impedir el
práctica mediada por intereses propios a un ejercicio de autoridad que muchas veces desconoce reconocimiento.
los intereses de su desarrollo. Pudo constatarse que es común que el subalterno, no se siente
realmente invitado a participar. Emerge entonces un cierto mutismo que opera como mecanismo 5. Discusión y Conclusiones
de defensa del subalterno, alejándose por esto, de los propios objetivos de la dirección.
Después de analizar las experiencias vividas en los ejercicios de ED, desde las narrativas de los
4.1.4. De la motivación a la desmoralización trabajadores, emerge una pregunta: ¿Por qué el propósito y el sentido de las prácticas de ED,
paradójicamente, consiguen efectos contrarios a los que se buscaban desde su diseño?
Una de las premisas sobre las que se fundamenta la ARH es la de buscar elevar el rendimiento o
productividad de los trabajadores, para ello se apoya en el diseño y aplicación de modelos de ED. En concordancia se infiere que no se logran los objetivos porque no necesariamente se comprenden
Lo absurdo está en que en el centro de los intereses de la evaluación se encuentra la motivación, el alcance de la ED y los efectos de dicho ejercicio y las frustraciones que se pueden generar en
la movilización de los trabajadores a mejores niveles de desarrollo y desempeño. Sin embargo, el evaluado, al no encontrar un lugar en dicho ejercicio, todo lo contrario, se encuentra con un
los testimonios muestran una mayor cantidad de experiencias que narran el impacto negativo en momento hostil para su dignidad, es decir, de desconocimiento o menosprecio.
los sentimientos de los trabajadores; esto, en razón a que terminan sintiéndose descalificados y
desmoralizados, en algunos casos, o menospreciados y hasta reificados en otros. Como resultado del análisis de las narrativas de los trabajadores y apoyado en las paradojas
relatadas aquí, puede indicarse que, como se mencionó anteriormente, ambas racionalidades
4.1.5. De la solidaridad al individualismo (instrumental y sustancial) coexisten en la dirección de la empresa y su manera de concebir la

915 916
ED. Esto contrasta con lo planteado por Oliveira & Serva, 2012; Caitano & Serva, 2012; Siqueira,
2014; Serva, Caitano, Santos & Siqueira, 2015; particularmente los hallazgos dan cuenta que, Eisenhardt, K. (1991). Better stories and better constructs: the case for rigor and comparative
para el caso analizado la racionalidad instrumental prima sobre la racionalidad sustancial. logic. Academy of Management Review, 16(3), 620-627.
Asimismo, se puede evidenciar cómo, ésta realidad se encuentra relacionada directamente con
la forma, sentido y estilo de dirección de los jefes que tienen a cargo dichas responsabilidades. Galeano, E. (2004). Estrategias de investigación social cualitativa. Medellín: La Carreta Editores.

Bibliografía Gerhart, B. (2007). Modeling HRM and Performance Linkages. In P. Boxall, J. Purcell, & P.
Wright, The Oxford Handbook Of Human Resource Management (pp. 533- 551). New York:
Alles, M. (2000). Dirección estratégica de recursos humanos. Buenos Aires: Granica S.A. Oxford University Press.

Alles, M. (2003). Diccionario de preguntas : gestión por competencias : como planificar la Honneth, A. (1997). La lucha por el reconocimiento. Barcelona: Grijalbo Mondadori.
entrevista por competencias. Buenos Aires: Granica S.A.
Jaewon, K. (2010). Employee voice and organizational performance: Team versus representative
Alles, M. (2005). Desempeño por competencias. evaluación 360º. Buenos Aires: Granica S.A. influence. Human Relations, 63(3).

Alles, M. (2008). Dirección estratégica de recursos humanos. Gestión por competencias. Buenos Jiang, J., Lepak, D., Hu , J., & Baer, C. (2012, December). How Does Human Resource Management
Aires: Granica S.A. Influence Organizational Outcomes? A Meta-analytic Investigation of Mediating Mechanisms.
Academy of Management, 56-61.
Beaud, S., & Weber, F. (2010). Guide de l’enquête de terrain. París: La Découverte.
McClelland, D. (1973). Testing for Competence Rather Than for “intelligence”. American
Becker, B., Huselid, M., & Ulrich, D. (2001). El Cuadro de mando de RRHH vinculando las Psychologist, 1(28), 1-14.
personas, la estrategia y el rendimiento de la empresa. Barcelona: Gestión 2000.
Milkovich, G. (1997). Human Resource Management. Washington: McGraw-Hill.
Beaud, S., & Weber, F. (2010). Guide de l’enquête de terrain. París: La Découverte.
Miller, D., Xu, X., & Mehrotra, V. (2015). “When is Human Capital a Valuable Resource? The
Caitano, D., & Serva, M. (2012, Setembro). Racionalidade substantiva nas organizações: performance Effects of Ivy League Selection Among Celebrated CEOs”. Strategic Management
Consolidação de um modelo metodológico de pesquisa teórico -empírica. ANPAD, 22-26. Journal, 36(6), 930-944.

Chiavenato, I. (2009). Gestión del talento humano (3 ed.). México: MGrawHill. Nord, W., & Fox, S. (2004). O indivíduo nos Estudos Organizacionais: O grande ato de
desaparecimento? In S. Clegg, C. Hardy, W. Nord, M. Caldas, R. Fachin, & T. Fischer (Eds.),
Coens, T., & Jenkins, M. (2000). ¿Evaluaciones de desempeño? por qué no funcionan y como Handbook de Estudos Organizacionais (Vol. 3, pp. 186 -225). Sao Paulo: Atlas.
remplazarlas. Bogotá: Norma.
Latham, G., Sulsky, L., & MacDonald, H. (2007). Performance Management. In P. Boxal, J. Pucel
Cuesta, A. (2015). Gestión de recursos humanos en la empresa, desempeño y sentido de , & P. Wright, the oxford handbook of Human Resource Management (pp. 364 -384). New York:
compromiso. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 17(56), 1134-1148. Oxford University Press.

917 918
Capítulo 87
Oliveira, D., & Serva, M. (2012, Setembro). Racionalidade substantiva nas organizações:
consolidação de un modelo metodológico de pesquisa teórico-empírica. ANPAD, 22-26.
Reforma trabalhista – flexibilização das relações de trabalho: O que o Brasil
Ortiz, O., & Bemúdez, H. (2015). Fantasías que crean empresa. Elementos psicoanalíticos sobre pode aprender com a experiência chilena
la génesis de las empresas familiares. Medellín: Ediciones UNAULA.
Cristiane Fraga da Silveira Sastre1 y Andrea Poleto Oltramari2
Prahalad, C., & Hamel, G. (1990, Mayo). The Core Competence of the Corporation. Harvard
Business Riview.
Introdução
Purcell, J., & Kinnie, N. (2007). HRM and Business Performance. In P. Boxal, J. Purcell, & P.
Wright, The Oxford Handbook Of Human Resource Management (pp. 533-551). New York: O presente estudo tem por objetivo problematizar os possíveis impactos da recente Reforma
Oxford University Press. Trabalhista no Brasil, relacionando o contexto brasileiro com a experiência de flexibilização das
leis trabalhistas vivenciada pelo Chile, a fim de apresentar possíveis pontos de similaridade
Real Academia Española. (2017). Retrieved Enero 01, 2017, from Diccionario de la Lengua e de distanciamento entre estas duas realidades, assim como vislumbrar possibilidades de
Española: http://lema.rae.es/drae/?val=reconocimiento+ aprendizado.

Russell, Z. A., Ferris, G., Thompson, K., & Sikora, D. (2016). Overqualified human resources, Considerando-se o contexto mundial, é possível afirmar que nos últimos anos, o mundo do
career development experiences, and work outcomes: Leveraging an underutilized resource with trabalho por transformações mais substantivas e em maior número do que em muitos séculos
political skill. Human Resource Management Review, 26(2), 125–135. precedentes e tudo leva a crer que nos próximos anos ele continuará acontecendo em ritmo
acelerado, com complexas e variadas mutações que, sem sombra de dúvida, terão impactos
Spencer, L., & Spencer, S. (1993). Competence at Work: Models for Superior Performance. profundos nas relações sociais e no destino físico do planeta (Bianchetti & Cattani, 2014).
Nueva York: John Wiley & Sons.
Para Holzmann (2014), “a forma ‘emprego’ vem sendo gradualmente substituída por outras
Werther, W., David, K., & Guzmán, M. (2015). Administración de recursos humanos. Gestión del modalidades de inserção no mercado de trabalho e (...) nessas condições, o contrato de trabalho
capital humano. México, D.F.: Impresiones Editoriales F.T. S.A. de C.V. parece assumir novas formas pretensamente consideradas inovadoras e modernizantes”
(Holzmann, 2014, p.148). Segunda a autora, estas novas formas se concretizam em contratos
Yun, S. (2007). Alto rendimiento prácticas de recursos humanos, el comportamiento ciudadanía com duração determinada, de meio expediente ou projetos. Trabalhadores por conta própria,
y el desempeño organizacional: una perspectiva relacional. Academy of Management Journal, constituição de empresas de uma só pessoa e subcontratações têm sido modalidades em
50(3). expansão de ingresso e permanência no mercado de trabalho.

Zeynep, T. (2008). Gestión del Impacto. La rotación de los empleados en el desempeño: El papel Segundo Lima (2014), estas mudanças significaram em grande medida, para os trabalhadores,
de la Conformidad Proceso. Organization Science, 19(1). 1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGA. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Email: cris.
fsilveirasastre@gmail.com
2. Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGA. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Email: andreaoltr@
gmail.com

919 920
precarização das relações de trabalho pela instabilidade presente em novas formas de de rotatividade de pessoal ocasionam um custo importante para as empresas devido a não
precarização e acesso restrito a direitos sociais. Todavia, as relações capital-trabalho parecem possibilitarem os benefícios da capacitação que poderiam ter adquirido seus trabalhadores. Sob
estar respondendo ao “movimento das forças sociais envolvidas, das mudanças estruturais o ponto de vista social, os autores referem que a precariedade do emprego se acentua, podendo
do capitalismo, assim como das mudanças conjunturais, tendo como resultado a contínua ocasionar maiores níveis de pobreza e desmotivação para os trabalhadores.
organização, desorganização e reorganização dos trabalhadores e consequente movimento
contínuo de conquistas e perdas de direitos e condições de trabalho” (Lima, 2014, p.33). Vivenciadas contemporaneamente em diversos países, as Reformas Trabalhistas, são
consideradas uma importante possibilidade de flexibilização das relações de trabalho. Para
Apesar do fenômeno do aumento da flexibilização do trabalho ser observado globalmente, Fincato (2017), “as crises econômicas em Estados e continentes até então tidos como estáveis
Piccinini, Oliveira e Rübenich (2006), afirmam que a forma como se dá é diferenciada conforme e seguros quebraram diversos paradigmas e fizeram ali descontruir-se o direito do trabalho
a situação e evolução econômica de cada país. Para os autores, as formas flexíveis de trabalho, clássico, eminentemente social, para erigir-se um novo modelo, pautado na sustentabilidade e
ainda que legais e formais, reduzem sensivelmente a estabilidade dos empregos e, em alguns na flexisegurança” (Fincato, 2017, p.95).
casos, aumentam a carga de trabalho, levando à precarização do trabalho e à redução da
qualidade de vida do trabalhador. Em contrapartida, os autores referem que não se pode pensar Especificamente no caso da América Latina, as reformas trabalhistas têm uma história mais
em trabalho flexível somente como um sinônimo de trabalho precário, haja vista que o emprego longa e começam no Chile, em 1973, com a ditadura do Augusto Pinochet e a derrubada do
flexível também pode se mostrar como forma de inserção de trabalhadores jovens em processo Presidente Allende, que significaram o início de um período obscuro para os trabalhadores, uma
de qualificação, de trabalhadores que perderam sua qualificação e não encontram nenhuma vez que suas conquistas, que vinham desde a década de 1930, foram destruídas por Pinochet
outra forma de trabalho, ou de trabalhadores qualificados que querem uma jornada flexível e (Rigoletto & Salas Páez, 2018). Desde então, segundo os autores, as tentativas de se retomar
sem vínculo fixo com um empregador. a tela de proteção foram infrutíferas e os resultados foram um enorme grau de precariedade e
grande parte dos trabalhadores auferindo não mais que o salário mínimo – num país de elevado
A regulamentação das leis trabalhistas não pode ser dissociada de políticas de desenvolvimento custo de vida.
econômico e social de um país (Pires, 2013). No entanto, quando são duras, abrem possibilidades
para burlas na contratação, contratos precarizados e se proliferam contratos temporários, em Contexto Chileno
tempo parcial e a redução do número de trabalhadores com contratos de trabalho formais (Silva,
2013). O Chile apresenta uma situação paradoxal, de acordo com Arellano e Gamonal (2017): por um
lado existe uma intensa flexibilidade herdada do governo ditatorial e, por outro lado, algumas
Por outro lado, a regulamentação do mercado de trabalho pode ser vista pelo lado das firmas reformas legais na democracia aumentaram a tutela de direitos fundamentais e agilizaram os
como geradora de limites, mas também como organizadora e protetora dos trabalhadores, julgamentos nos tribunais do trabalho. Além disso, os juízes em seus julgamentos geralmente
das famílias e das empresas também, mesmo que essa proteção ao trabalhador traga maior decidem em favor do trabalhador, ao interpretar as dúvidas que emanam da legislação em
ineficiência à firma, crescimento do desemprego e a expansão do setor informal (Pires, 2013). seu favor, de acordo com o princípio de proteção ao trabalhador. Todavia, para os autores, a
Sob o ponto de vista macroeconômico, Ibarra Cisneros e Gonzalez Torres (2010) enfatizam flexibilidade no Chile tem sido unilateral, ou seja, beneficiou apenas os empregadores - conforme
que, em períodos de crescimento econômico, as estratégias de flexibilização contribuem de detalhado no Quadro 1 - e foi incondicional, com o entendimento de que o benefício para os
modo mais acentuado para a geração de empregos quando comparadas à uma economia sem trabalhadores não é apreciável, exceto por uma maior precariedade. A flexibilidade foi imposta e
flexibilidade. Todavia, em períodos de crise, a perda de empregos também se apresenta maior não houve processos de diálogo social entre eles (Arellano & Gamonal, 2017).
e, na etapa seguinte de crescimento, a criação de empregos não se mostra suficientemente
alta para reposição dos empregos perdidos. Sob o ponto de vista microeconômico, altos índices

921 922
com reformas mais recentes, e do Chile, como protótipo de reformas neoliberais mais antigas.
De modo geral, Rigoletto e Salas Páez (2018) consideram que os resultados anunciados nunca
foram atingidos, e as condições dos trabalhadores foram se deteriorando. Apontam ainda
que, após o período que se seguiu às modificações legislativas, não há prova alguma de que
a flexibilização das leis trabalhistas traga resultados positivos para o crescimento econômico,
para a diminuição das desigualdades e para menores taxas de desemprego. De modo contrário,
os autores defendem que há fartas evidências de que a redução da proteção ao emprego agrava a
proliferação dos empregos precários, traz o aumento da desigualdade e a piora na segmentação
do mercado de trabalho.

Em posição oposta, Coloma e Rojas (2000) apresentam uma avaliação positiva de economistas
neoliberais dessa regulação do trabalho. Para os autores, ao final de 1973, a economia chilena
encontrava-se em um ambiente de crise generalizada, que requeria profundas reformas estruturais
nos mais diversos campos. Em particular, a desregulamentação e flexibilização do mercado de
trabalho era considerada uma peça fundamental na nova estratégia de desenvolvimento que se
pretendia implementar, “ainda que não se tratasse de uma tarefa fácil e que impactasse em
setores altamente politizados e em interesses de muitos grupos de poder que defendiam seus
privilégios ou seus ‘direitos adquiridos’” (Coloma & Rojas, 2000, p.498).

A orientação central da reforma laboral chilena foi a de permitir um mercado de trabalho mais
flexível, que fosse funcional a um comportamento mais competitivo dos mercados e à geração de
empregos. A ênfase teria sido colocada na eliminação dos monopólios especiais dos quais alguns
usufruíam alguns grupos com poder de pressão – que além de levar a soluções ineficientes,
prejudicavam abertamente aos trabalhadores não organizados, aos desempregados e até mesmo
Para Arellano e Gamonal (2017), o Chile é um país de fortes contrastes e de enorme grau de aos próprios consumidores –, e em flexibilizar as leis relacionadas à negociação coletiva e às
“flexiprecariedade”, o que se constitui como um lastro para o seu desenvolvimento econômico greves, aos procedimentos de desligamento e compensação e ao regulamento da sindicalização
e social. Se por um lado exibe altas taxas de crescimento e sucesso macroeconômico, o que os (Coloma & Rojas, 2000).
autores denominam de “Chile dos economistas”, por outro lado encontra-se a realidade diária
do povo chileno, que convive com a frequente angústia de perder seu trabalho e de vivenciar uma A título de síntese, Coloma e Rojas (2000) referem que o fato do Chile ter atualmente uma
verdadeira bancarrota familiar. legislação trabalhista considerada avançada no contexto mundial, no que se refere à sua maior
desregulamentação e maior flexibilidade, é sem dúvida uma das importantes razões que explicam
No intuito de demonstrar o impacto das reformas trabalhistas, tanto na Europa como em alguns o seu bom desempenho econômico na última década e sua posição no contexto latino-americano
países da América Latina, Rigoletto e Salas Páez (2018) examinam o resultado das reformas sobre os indicadores trabalhistas. Considerando um contexto mais recente, a Figura 1 apresenta
levadas a cabo na Europa depois de 2008 – utilizando como exemplo os casos da Alemanha, a posição atual dos países latino-americanos em relação aos indicadores trabalhistas nos anos
da Espanha, da Itália e do Reino Unido – e na América Latina - examinando os casos do México, de 2016 e 2017.

923 924
As relações de trabalho brasileiras sempre tiveram um forte componente de flexibilidade, uma
vez que o emprego formal e o informal se mostram igualmente importantes para a economia
do país (Azevedo & Tonelli, 2014) e após mais de duas décadas de discussão acerca de sua
adequação à realidade do mercado de trabalho brasileiro, o governo brasileiro, sob a tutela do
presidente Michel Temer, institui a Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, denominada como a
Reforma Trabalhista, a qual iniciou sua vigência em 11 de novembro de 2017. Muito distante de
atenuar a polêmica acerca da legislação trabalhista no Brasil, a Reforma acentuou a diversidade
de posicionamentos por parte de entidades denominadas representantes do governo, dos
empresários e dos trabalhadores, especialmente as sindicais.

As normas que regulamentam as relações de trabalho no Brasil, de acordo com Benedetto (2017),
são o resultado de uma disputa entre o Legislativo, o Judiciário e o sistema sindical (patronal
e laboral). Segundo o autor, a reforma aprovada não apenas altera as regras dos contratos
individuais de trabalho, mas também pode modificar pro¬fundamente o equilíbrio de forças
na disputa pela definição do direito trabalhista. Nos debates do Congresso, foi expressamente
anunciada a intenção de reduzir o poder da justiça do trabalho e da estrutura sindical, em nome
Para Coloma e Rojas (2000), tem havido um reconhecimento crescente de que mercados de de uma negociação direta do trabalhador com o seu empregador.
trabalho muito rígidos – muito regulados e com pouca flexibilidade – constituem um obstáculo
muito forte ao investimento privado e ao desenvolvimento econômico. Apontando para uma polarização a respeito do tema, o Dossiê Reforma Trabalhista, elaborado
pelo Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho [CESIT] (2017), afirma que duas
Fincato (2017) pondera que, se os momentos de crise e estagnação da economia não são bons abordagens distintas polarizam os debates direcionados a este processo: de um lado, há os que
conselheiros na deliberação e estabelecimento dos contornos das reformas no cenário laboral, criticam a rigidez da Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, considerando-a incompatível
da mesma forma, a conduta de acomodação e não-atualização da legislação no Brasil leva à com os tempos modernos e atribuindo a geração de emprego, o incremento da produtividade
sensação de grande impacto, igualmente ao que ocorreu diante de outras grandes reformas e da competitividade à maior flexibilização das relações de trabalho e, de outro lado, estão
legislativas deste país, retardadas demasiadamente, geradoras de grande abalo e perda os que afirmam ser um equívoco associar a dinamização da economia à regulamentação do
momentânea de referências quando apresentadas à sociedade. trabalho, defendendo que os direitos trabalhistas e as instituições públicas não podem sucumbir
à competição internacional dos mercados.
Contexto Brasileiro De acordo com o CESIT (2017), ao se justificar como provedora da “segurança jurídica” e como
veículo para modernização das relações de trabalho, uma Reforma Trabalhista promove os meios
Direcionando o olhar para o contexto brasileiro, em 01 de maio de 1943, a Consolidação das para que as empresas ajustem a demanda do trabalho à lógica empresarial, reduzindo aqueles
Leis Trabalhistas – CLT surgiu pelo Decreto-Lei nº 5.452, no governo do então presidente custos que garantem estabilidade e segurança ao trabalhador.
Getúlio Vargas, com o objetivo de unificar toda a legislação trabalhista existente no Brasil e,
principalmente, de regulamentar as relações individuais e coletivas do trabalho, todavia, desde Através da nota técnica 178, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
seus primórdios, e ao longo de seus mais de setenta anos de vigência, a trajetória da CLT, tem Socioeconômicos [DIEESE] (2017), argumenta que não há dúvida de que as negociações coletivas
sido marcada por forte polêmica teórica. têm papel importante na regulação das relações de trabalho no Brasil, entretanto, a existência

925 926
de uma legislação trabalhista de cunho mais protetivo é necessária para assegurar um patamar de trabalho, a fim de que possamos analisar com a devida neutralidade e abrangência quais os
mínimo de qualidade de vida aos trabalhadores. Sob o ponto de vista da instituição, a prevalência seus reais impactos.
do negociado sobre o legislado, na ausência de outras condições necessárias à plena realização
do potencial das negociações coletivas, acarreta elevados riscos para os trabalhadores. Fincato (2017) pondera que “demonizar ou endeusar uma ou outra proposta (no que tange às
Reformas Trabalhistas) não parece ser a saída. Comportamentos neste sentido apenas acirram
Representando a voz da esfera empresarial e alegando que já há bastante tempo o Brasil precisa os ânimos, impedindo racionalizações necessárias e tornando míopes visões que carecem de
enfrentar esse desafio, a Confederação Nacional da Indústria [CNI] (2017), considera que a amplitude” (Fincato, 2017, p.115). Para a autora, se reformar por reformar não é adequado,
Reforma Trabalhista possui extrema relevância e representa um avanço para a modernização também não o é impedir a reforma por comportamento reacionário.
das relações do trabalho no Brasil e, que, sobretudo, abre um horizonte de maior segurança
jurídica e cooperação, proporcionando a melhoria do ambiente de negócios, o que contribui com Referências
o crescimento econômico e beneficia as empresas, os empregados e o país.
Arellano, O. P., & Gamonal, C. S. (2017). Flexibilidad y desigualdad laboral en Chile: el derecho
Em período contemporâneo à implementação da Lei 13.467/2017, Herzmann (2017) defende social en un contexto neoliberal. Boletín Mexicano de Derecho Comparado, 1(149), 555–579.
o ponto de vista de que a legislação trabalhista deve se adaptar às relações trabalho que se
modificam e ganham diretrizes a todo momento e considera que “temos uma reforma que Azevedo, M. C., & Tonelli, M. J. (2014). Os diferentes contratos de trabalho entre trabalhadores
podemos chamar de razoável do ponto de vista da dinâmica laboral atual. Não há mais espaço qualificados brasileiros. Revista de Administração Mackenzie - RAM, 15(3), 191-220.
no cenário trabalhista contemporâneo para a excessiva proteção ao trabalhador, como foi
necessário na década de quarenta” (Herzmann, 2017, p.4). O autor argumenta que a reforma Benedetto, R. (2017). Revendo mais de 70 anos em menos de 7 meses: a tramitação da reforma
não veio para afetar negativamente ou positivamente um lado da relação, mas sim veio para trabalhista do governo Temer. Espaço Jurídico Journal of Law - EJJL, 18(2), 545-568.
regulamentar uma realidade de trabalho que já nasceu e exige uma mudança e uma adaptação
legislativa há muito tempo. Bianchetti, L., & Cattani, A. D. (2014). Análise prospectiva: possibilidades da consciência
antecipadora. In A. D. Cattani (Org.). Trabalho: horizonte 2021. Porto Alegre: Escritos.
Considerações Finais
Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho. (2017). Dossiê reforma trabalhista:
Assim como na proposta da Reforma Trabalhista brasileira, Fincato (2017) aponta que, no contribuição crítica à reforma trabalhista. Recuperado em 18 novembro, 2017, de http://www.
panorama internacional, os países que fizeram reformas movimentaram-se sobre os eixos da cesit.net.br/dossie-reforma-trabalhista/
negociação coletiva e flexibilidade contratual, ainda que nenhum destes países possua o padrão
brasileiro (quanti e qualitativo) de judiciarização de conflitos individuais trabalhistas e alguns, Coloma, F., & Rojas, P. (2000). Evolución del mercado laboral en Chile: reformas y resultados. In
inclusive, sequer justiça especializada do trabalho – ao menos em todas as instâncias, como é a F. Larraín & Felipe, R. Vergara. La transformación económica de Chile. Santiago de Chile: Centro
realidade brasileira – possuem. de Estudios Públicos.

O binarismo constantemente identificado nas publicações relacionadas aos impactos da Reforma Confederação Nacional da Indústria. (2017). Modernização trabalhista: lei nº 13.467 de 13
Trabalhista brasileira traz à luz, assim como no país chileno, o grande nível de divergência acerca de julho de 2017, panorama anterior e posterior à aprovação. Recuperado em 15 setembro,
do tema. Como ponto de reflexão, propõe-se a importância de estabelecer-se um tempo de 2017, de http://www.portaldaindustria.com.br/relacoesdotrabalho/publicacoes/modernizacao-
acomodação das principais mudanças relacionadas à legislação trabalhista e ao próprio mercado trabalhista-lei-n-13467-de-13-de-julho-de-2017-panorama-anterior-e-posterior-aprovacao-/

927 928
exibir/ Pires, R. (2013). The organizational basis of rewarding regulation: contingency, flexibility, and
accountability in the Brazilian labor inspectorate. Politics & Society, 41(4) 621-646.
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. (2017). Nota técnica n. 178
- A reforma trabalhista e os impactos para as relações de trabalho no Brasil. Recuperado em 04 Rigoletto, T., & Salas Páez, C. (2018). As experiências internacionais de flexibilização das leis
janeiro, 2018, de https://www.dieese.org.br/notatecnica/2017/notaTec178reformaTrabalhista. trabalhistas. In J. D. Krein, D. M. Gimenez, & A. L. Santos (Orgs.). Dimensões críticas da reforma
html trabalhista no Brasil. Campinas: Editora Curt Nimuendajú.

Fincato, D. P. (2017). Reforma laboral no Brasil – tópicos. In J. L. Forteza, D. P. Fincato & E. Silva, L. M. (2013). The State, unions, and work reorganization: lessons from today’s Brazil. Latin
L. Silva (Orgs.). I Colóquio hispano-brasileiro: direito do trabalho e reformas. Madrid: UNIVEL. American Perspectives, 41(5), 22-41.
Recuperado em 01 junho, 2018, de https://issuu.com/unifatos/docs/i_coloquio_hispano_
brasileiro_downl

Herzmann, E. (2017). Reforma trabalhista: o que muda com as alterações da Lei 13.467/2017 e
as principais implicações na vida do empresário. Santa Catarina: SEBRAE/SC.

Holzmann, L. (2014). O futuro do trabalho – perspectivas para 2021. In A. D. Cattani (Org.).


Trabalho: horizonte 2021. Porto Alegre: Escritos.

Ibarra Cisneros, M. A., & Gonzalez Torres, L. A. (2010). La flexibilidad laboral como estrategia de
competitividad y sus efectos sobre la economía, la empresa y el mercado de trabajo. Contaduría
y Administración, 231, 33-52. Recuperado em 28 dezembro, 2017, de http://www.scielo.org.
mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0186-10422010000200003&lng=es&nrm=iso
Lima, J. C. (2014). Os desafios do presente e o trabalho do futuro. In A. D. Cattani (Org.). Trabalho:
horizonte 2021. Porto Alegre: Escritos.

Organización Internacional del Trabajo (2017). Panorama laboral 2017: empleo, desempleo,
mercado de trabajo, salario mínimo, brecha de género, estadísticas, condiciones de trabajo,
América Latina, América Central, Caribe. Lima: OIT - Oficina regional para América Latina y
el Caribe. Recuperado em 26 julho, 2018, de http://www.ilo.org/americas/publicaciones/
WCMS_613957/lang--es/index.htm

Piccinini, V., Oliveira, S. R., & Rübenich, N. V. (2006). Formal, flexível ou informal? reflexões
sobre o trabalho no Brasil. In V. Piccinini et al. (Orgs.). O mosaico do trabalho na sociedade
contemporânea: persistências e inovações. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

929 930
Capítulo 88 e mitos que conduzem determinada sociedade. É nesse espaço que a organização busca afirmar-
se como regente da vida de cada um, dado que o imaginário atua como balizador dos processos
sociais (Enriquez, 1997; Freitas, 1999). Os signos pelos quais as organizações modernas se
Imaginário organizacional neoliberal: Ressonâncias na subjetividade legitimam como instituições do capitalismo tardio – “a empresa cidadã, o culto da excelência,
da juventude eterna, o resgate da ética e moralidade e do sentimento de comunidade” (Freitas,
Jéssica Pereira de Mello1 y Fabio Bittencourt Meira2
1999, p.57-69) – constituem balizas para o ‘bom’ funcionamento do sistema e indicam a
normatividade investida pelo indivíduo na busca por referenciais identificatórios.
Este é um trabalho em construção que deriva de discussões de tese de doutorado e trata das
Este artigo desenvolve a hipótese de que os achados de Freitas (1999) podem estar sendo abalados
mudanças atuais na sociedade, na organização e suas ressonâncias na constituição subjetiva
pelo novo contexto sócio-histórico neoliberal. Alguns indícios apontam para um deslocamento do
dos indivíduos.
imaginário social e organizacional (Boltanski E Chiapello, 1999). Os movimentos e problemas da
atualidade manifestam-se por apatia, excesso de positividade (correlato à falta de negatividade),
A partir de Dardot e Laval (2016) entende-se a consolidação do regime neoliberal como
constante busca por mais desempenho, além da ‘epidemia’ de depressão (Han, 2017a; 2017b).
correlata ao imperativo de os sujeitos tornarem-se empresários de si mesmos, autorregularem-
Nota-se, ainda, uma proliferação de diagnósticos e saídas de tal modo alinhadas aos sintomas,
se e maximizarem seu desempenho. Isto desencadeia duas grandes implicações. A primeira é a
que soam inefetivas e incapazes de confrontá-los. Em síntese, a questão que move este ensaio
competição no nível individual, quem se gerencia melhor está à frente dos outros. A segunda é a
diz respeito à existência de um novo imaginário organizacional no contexto neoliberal.
transformação do trabalho, visto como único lugar possível de realização e reconhecimento, mas
também de risco. No mundo do trabalho, os sujeitos encontram a “flexibilização ao extremo da
Num primeiro registro, os signos sustentados pelas organizações estão atualmente ligados à
forma de ser de si próprios para se adaptarem às flutuações do mercado” (Birman, 2012, p.122).
ideia de uma renovação do capitalismo. “Um novo capitalismo é possível” é o lema de muitas
Nesse sentido, é necessário administrar bem todas as áreas da vida, e no âmbito do trabalho
empresas, cujo objetivo seria conciliar lucro e propósitos sociais (Yunus, 2010). Por outro lado,
este discurso tem sido avassalador. O discurso que se impõe declara formas mais humanas
a propaganda de um grande banco repete ad nauseam “isto muda o mundo”. A “renovação”
de trabalho, novas formas de fazer negócios, empoderamento dos trabalhadores, flexibilização
parece uma nova chave para o discurso das organizações, que se projetam na possibilidade
para maior autonomia e a tão famigerada liberdade. O avanço da tecnologia, as diversas
de um capitalismo humanizado. Freitas (1999) enfatiza que as organizações reagem de forma
transformações nas configurações institucionais e familiares e os avanços do capitalismo sobre
rápida às mudanças na sociedade. Boltanski e Chiapello (2009) mostram como as organizações
a subjetividade dão o tom da trama complexa de que estamos diante. O neoliberalismo impõe a
se atualizam através das críticas a elas endereçadas, para formar uma imagem palatável das
todos uma forma de trabalho que está sujeita a mudanças contínuas, além de responsabilizar os
consequências de suas ações.
próprios indivíduos pela adaptação a este processo.
Num segundo registro, as organizações aceitam e incentivam as diferenças – “você pode ser o
Freitas (1999) analisa o processo pelo qual as organizações empresariais se tornaram o polo
que você quiser”. As empresas internalizaram a crítica à discriminação de minorias, passando
principal de identificação para os indivíduos. Situa no centro deste processo o “imaginário
a usar a diferença como fonte de distinção. Assim, não importa “quem você é”, desde que seja
organizacional moderno”, fazendo referência ao lugar em que as representações psíquicas são
produtivo, que seja o melhor. O slogan é útil quando utilizado para inclusão de todos em uma
construídas. O imaginário3 define o espaço dos desejos e objetivos compartilhados, dos valores
1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: jessica.pereira@ufrgs.br
lógica de produtividade que perpassa todas as esferas da vida dos sujeitos (Dardot E Laval,
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: fabiobmeira@gmail.com 2016).
3. O imaginário é o lugar onde essas relações podem se constituir, Freitas (1999) afirma que para compreender esse conceito deve-se tentar conseguir de criação de significados, pode-se compreender como as organizações podem se utilizar dele para construir sua imagem, não deixando de considerar,
imaginar, ver além. O imaginário é o local das representações individuais e sociais, onde as significações são compartilhadas entre todos, como “o que os indivíduos também têm seu papel nesse contexto, pois projetam nas organizações seus desejos e veem a possibilidade de realizar suas fantasias
princípio fundador da sociedade” (Castoriadis apud Freitas, 1999, p. 54). Se este imaginário comum permeia toda a sociedade e se coloca como rede de onipotência.

931 932
pode ser compreendido como uma religião, visto que a exegese religiosa pressupõe operadores
De maneira geral, sob a bandeira da liberdade e flexibilidade – no tempo de trabalho, nas de culpa e desculpa, como nos rituais de confissão ou expiação. O capitalismo se apresenta
múltiplas funções, criatividade etc. – as empresas parecem ter ampliado seu controle sobre os apenas como inculpador, sem a possibilidade de se redimir, muitas vezes resta aos sujeitos a
sujeitos, para além do contexto de trabalho. Armazenamento de dados, espaços de lazer, viagens, depressão.
localização por GPS e programas de fidelidade são apenas algumas formas de controle há muito
utilizados pelas organizações. Este panorama também sofre impacto da inteligência artificial que Referências
avança e promete futuramente substituir os seres humanos por robôs nos postos de trabalho,
carros sem motoristas já vêm sendo utilizados em alguns casos específicos (Dirican, 2015). Benelli, J (2009). A cultura psicológica no mercado de bens de saúde mental contemporâneo.
Estudos de Psicologia. Campinas: v. 24.
Estas mudanças conformam os indivíduos na exata medida em que buscam atividades de saúde
mental, que visam o desenvolvimento pessoal e a busca da positividade. Este parece ser o caso Boltanski, L.; Chiapello, È (2009). O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes.
da análise transacional, da programação neurolinguística, da filosofia clínica, da eneagrama, do
coaching e da psicologia positiva (Benelli, 2009). Dessas abordagens, a psicologia positiva é Birman, Joel (2012). O sujeito na contemporaneidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
a que mais tem se disseminado. Núcleos e associações têm sido criados e seus pressupostos
ampliados para várias áreas de estudo. Assim tem-se um padrão de adjetivação que marca essa Dardot, P.; Laval, C (2016). A Nova Razão do Mundo - Ensaio sobre a Sociedade Neoliberal. São
tendência, por exemplo: educação positiva, organizações positivas, capital psicológico positivo. Paulo: Boitempo.
A psicologia positiva tem seu surgimento recente, por volta dos anos 2000, embora algumas
objeções tenham sido feitas quanto a sua originalidade (Pacico E Bastianello, 2014). A psicologia Dirican, C (2015). The impacts of Robotics, Artificial Intelligence on Business and Economics.
positiva surge no contexto das transformações contemporâneas. Seus disseminadores defendem Procedia- Social and Behavioral Sciences, v.165.
que a Psicologia apenas se ocuparia de patologizar e pensar o lado negativo dos sujeitos. Ao
estipular esta crítica superficial à Psicologia, posiciona-se como uma espécie de vertente Enriquez, E (1997). A organização em análise. São Paulo: Vozes.
redentora para pensar um suposto lado esquecido dos sujeitos: o lado positivo.
Freitas, M. E (1999). de. Cultura Organizacional: identidade, sedução e carisma? Rio de Janeiro:
Isto encontra um campo fértil para se proliferar nas organizações hodiernas, que refletem e são FGV.
porosas ao período histórico-social em que estão inseridas e se tornam uma via importante de
reprodução dos diversos imperativos presentes no imaginário social (Freitas, 1999; Enriquez, Han, B.-C (2017a). Sociedade do Cansaço. Rio de Janeiro: Vozes.
1997). A fixação no desenvolvimento pessoal aliada à busca da positividade empenhada por
estas abordagens marca o vácuo de negatividade no imaginário social contemporâneo (Han, Han, B.-C (2017b). The Agony of Eros. Cambridge, MA: The MIT Press.
2017). Neste quadro, todos precisam se tratar, buscarem em si mesmos a mudança que os torna
mais produtivos. Não há espaço nem tempo para reflexão, os sujeitos devem se encaixar, já que Pacico, J. C.; Bastianello, Micheline R (2014). In Claudio. S. Hutz (Org.). Avaliação em psicologia
para tudo há um perfil: doença, personalidade, tipos psicológicos ou programação de vida. positiva. Porto Alegre: Artmed. p. 101-110.

As mudanças apontadas incidem no imaginário organizacional e, correlatamente, na constituição Yunus, M (2010). Criando um negócio social. Rio de Janeiro: Elsevier.
psíquica dos sujeitos. A sociedade do desempenho não permite a desculpa e gratificação, porque
essas só podem ocorrer por intermédio de um Outro. Han (2017) defende que o capitalismo não

933 934
Capítulo 89 se esbarram e borram frequentemente nos limites de suas fronteiras, principalmente quando
coloca-se o desejo de transitar entre seus muros, saberes e modos de subjetivar. Para tanto,
partimos da produção de narrativas que se ocupem dos detalhes, dos silêncios e das histórias
Entre trabalho e educação: Experiências de uma escrita coletiva sobre trabalhar menores, onde os processos de subjetivação mostram força e intensidade.
e estudar
Espremer um tempo – fragmentos de percursos
Camila Pereira Alves1 y Jaqueline Tittoni2
“Outra vez atrasada para o encontro com a universidade3. Tem sido acolhedor perceber
que as agendas do grupo de pesquisa foram construídas coletivamente e que contemplam
A educação e o trabalho expandiram seus campos de atuação para além dos muros escolares os trabalhadores e suas condições de possibilidades para tornarem-se pesquisadores.
e fabris, já faz muito tempo. Nesta exposição, vamos abordar as tramas que podem compor Mas, mais uma vez, há um atrasono encontro com as colegas de pesquisa. Parece que
educação e trabalho a partir de um percurso descrito por narrativas que indicam as interseções, esses que pesquisam-trabalham estão sempre em outro tempo. No último minuto, ainda
distanciamentos e problematizações vividos num tempo em que uma pesquisadora se forja como sentada a mesa de trabalho, escutei a sirene do telefone tocar, atendi e descobri outro
trabalhadora no campo da educação, e retoma seu percurso acadêmico, como mestranda. O caso de violação de direitos praticado por algum adulto à uma das crianças matriculadas
tensionamento entre os processos de subjetivação por meio do trabalho e da educação passam a num dos programas de educação da instituição. Uma urgência. O encontro acadêmico
ser constantes e a pergunta que passa a rondar esses percursos-percalços inspirada na questão precisava dividir mais tempo com o trabalho.
espinozista passa a ser: o que pode um-atrabalhador-a no campus universitário? O que pode
uma trabalhadora escrever numa pós-graduação em psicologia social e institucional? Como se Vários minutos depois, já no segundo ônibus para acessar a universidade, após um dia
torna possível a aproximação entre aquilo que é produzido como conhecimento acadêmico e o extenuante de trabalho, passava em frente ao templo neopentecostal da avenida que não
trabalho que se realiza fora da universidade? O que há de Educação no Trabalho e de Trabalho cessava de movimentos. Vários trabalhadores sentados no coletivo urbano, com seus
na Educação? pescoços curvados e olhares fixamente detidos nos estímulos das pequenas e grandes
telas que iluminavam suas faces. Alguns, porém, olhavam pela janela (eu estava sem
De imediato, se pode perceber que a lógica disciplinar produz certas formas de segregação bateria). Muitos trabalhadores ambulantes, apesar do adiantado da hora e da noite fria que
institucional de modo a legitimar espaços-tempos distintos para a aprendizagem -a educação - se anunciava, seguiam em frente ao templo agitando e gritando seus objetos de venda.
e o ofício - o trabalho. Desta forma, é como se cada área correspondesse a uma instituição que, Do tempo em que o motorista precisava para estacionar na parada e recolher mais e mais
na maior parte das vezes, não se comunicam ou não permitem que quem se propõe a cruzar seus passageiros no ônibus já lotado, pela janela, era possível observar uma cena peculiar: um
altos muros gradeados, de fato, o consiga. Como se, na universidade todo o trabalho envolvido na pastor exorcizava uma mulher na escadaria que levava ao templo, quase em praça pública.
produção da aprendizagem, não fosse também um ofício marcado pelo trabalho e suas linhas duras Observava o trabalho daquele pastor e pensava na desinstitucionalização do trabalho
institucionalizadas em tempos, prazos e modelos e, da mesma forma, na empresa, a cognição templário. Ainda não tinha acompanhado uma cena de desobsessão em via pública no
inventiva do trabalhador, que produz seu oficio singularmente, não pudesse ser autorizada a século XXI e é possível que esse não seja um bom sinal dos tempos. Seguiu-se o balanço
compor um vasto campo das aprendizagens e de educação. O que nos tem movimentado nessa das acelerações e freadas do coletivo urbano. Era preciso passar pela rodoviária da cidade
pesquisa é a problematização acerca dessa notável separação entre campos e instituições, em para encontrar uma amiga que acompanharia a outra parte desse trajeto.
que cada uma tem funções genuínas e discursivamente contornadas, ao mesmo tempo, em que
1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional. Email: perr_ Andar pelas calçadas que levam a rodoviária seguiu sendo uma rota de encontro com
camila@hotmail.com
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional. Email: 3. Fragmento do Diário de Pesquisa de uma das pesquisadoras.

935 936
trabalhadores ambulantes, que só visibilizam a catastrófica fase político-econômica na menor, pequena e afetada pelo detalhe daquilo que se movia singularmente no entre caminhos
qual estamos mergulhados. Se a ‘moderníssima’ reforma trabalhista foi estimulada pelo universidade-empresa, educação e trabalho. Percorrer as ruas da cidade nesses deslocamentos
ramo empresarial ‘porque’, em 2016, tínhamos 11 milhões de desempregados e diziam fazia brotar linhas de fuga que reverberavam em sala de aula como aquilo que se via na avenida
que cumpria-se escolher entre o passado (Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943) e não conseguia ultrapassar o portão da pós-graduação. Afetada seguia e no turno inverso, já na
ou o futuro (o artigo definido já dava pista da segmentaridade que se propunha), como mesa destinada ao ramal de trabalho, seguia-se a agitação produzida pelas desacomodações de
suportar os constantes desvios que é preciso fazer nesse caminhar para não tropeçar questões feitas por professores e colegas ainda lá no campus universitário.
nas improvisadas lojinhas sobrepostas a pequenas áreas de tecido que se multiplicam
a cada metro entre o trem e a rodoviária? Como suportar a precarização das relações Um corpo de trabalhador agitado pelos atravessamentos da universidade e da rua, também era
de trabalho com a aprovação oligárquica de uma reforma trabalhista adjetivada como um corpo de estudante descontruído, que não mais questionava-se sobre as dicotomizações
moderna, quando se caminha por entre objetos à venda, pessoas gritando e crianças com da vida/pensamento, público/privado, trabalho/educação, pois experenciava atravessamentos e
frio? Lembrava que há dois anos os propositores dessa reforma ousavam justificar isso golpes de fluxos transbordando por todos lados, sentidos e direções. Não era mais isso ou aquilo,
tudo com pompa jurídica: ‘cumpre escolher entre o desemprego ou mais desemprego’. mas a composição de um território que fazia dessa existência os deslocamentos e acoplamentos
Cumpriu-se! de tudo que se via, cheirava, sentia e queria passar no atravessamento daqueles muros
instituídos que, antes, pareciam intransponíveis e encerrados em si. Não era mais um esforço
Escorada na marquise da rodoviária, enquanto aguardava a amiga que estrangeira, ainda hercúleo compor com estes campos, passava a ser um vício. Um constante anotar, registar e
não sabia os caminhos possíveis para deslocar-se pelo porto nem tão alegre e ainda com escrever daquilo que fazia arrepio, coçava e estranhava. As ruas transbordavam as instituições
a cena fresca da desinstitucionalização da (des)possessão, escuta-se uma melodia em de ensino e trabalho. O entre muros, o entre instituições, o entre cárceres desdobra-se num
ritmo interiorano, num dialeto acelerado, margeando o confronto com a neurose urbana possível território existencial (Romagnoli, 2009), um entre forjado com aquilo que acompanha
daquele lugar. Um senhor caminhava pela rodoviária com mochila nas costas, barriga um corpo de passagem.
protuberante e gargalhada alarmante cantando ritmicamente uma letra singularmente
armada: ‘Não precisa TeMeR o pecado!’, ‘Quem tem medo do pecado?’. E ao cantar e Daí a escrita com as ranhuras provocadas pelo caminhar e passar por esse cotidiano de
encarar insistentemente os que parados ali se encontravam, tornei a lembrar da cena composições territoriais de trabalho e educação. Os micros movimentos, os detalhes, aquilo que
produzida em praça pública, agora ritmada pela música do violeiro urbano de rodoviária passa correndo pelo vidro do ônibus, aquilo que afeta um percurso peripatético (Lancetti, 2008),
que me fazia pensar no quanto, de fato, não precisamos de templos para operação dos da ordem do errante e do inesperado de quem se joga num espaço a ser continuamente criado.
ofícios de trabalho...” A incerteza do menor, a provocação do pequeno, as condições de possibilidades suscitadas por
uma escrita do vulgar, do profanar ao caminhar universitário do trabalhador. Dessas singelezas
No início era a angustia por habitar, pelo menos, dois campos entendidos completamente desabrochou a vontade de sustentar um diário de pesquisa em que se escrevesse o que se
diferentes. De um lado a universidade pública, produtora de conhecimento e titulação, do outro experencia nesse entre de um trabalho e de uma educação. Nisso que se forja durante as
uma grande empresa que tinha por objetivos fornecer o melhor em educação para o mercado. passagens de corpos num cotidiano de trabalho e ensino, freneticamente acelerados num tempo
Lugares que pareciam intransitáveis. O modo binário de problematizar as convocações sociais que, por vezes, se faz dinheiro, em entregas do trabalho, e, por vezes, se faz letargicamente com
ainda se fazia presente. Linhas duras atravessavam e rasgavam a condição de estudante e os imperativos da formação escolar, e, ainda, por vezes, simplesmente preferem um não fazer,
trabalhadora que se pretendia produzir. A passagem dos fluxos era percebida de forma linear tal qual Bartleby, que aliás, também escrevia em Wall Street (Melville, 2017).
e, mesmo por isso, precária às condições de possibilidades que o tensionamento deste entre
espaços poderia criar. Se era de um ler entre-linhas, às vezes, também era seguir pelas linhas que Dessa intempestividade, dessas outras (micro)possibilidades cresce a vontade de escrever ao
forjavam um texto, e no acompanhamento desses fluxos e passagens se desdobrou uma escrita perceber que aquilo que no início era nomeado binário, angustiado por poucas visões de saída

937 938
numa lógica educação-trabalho, se (des)dobra e se recoloca como possibilidade de um entre, da Caópticos (PPGPSI/UFRGS), composto majoritariamente por trabalhadores-estudantes,
potencialização de um hiato, da visibilidade do discreto. Em algum momento da transitoriedade, uma escrita coletiva que possa dar visibilidade às experiências que compõem os percursos e
das navegações e caminhadas percebe-se que algo se desloca por uma trajetória de fuga, um percalços de pesquisadores-aventureiros que transpiram com as forças que compõem territórios
outro território, não mais aqueles dois nomeados desde o início, mas um território forjado na existenciais no entre caminhos das instituições trabalho-educação. Pois, se há anos foi preciso
experiência de quem pesquisa pelas margens, pelas beiradas, pelo que sobra. Restos margeados que inventássemos um corpo de trabalhador para habitar as instituições de trabalho e seus
por muros enormes, solidificados, instransponíveis, que, aliás, se você não for um estudante discursos gerencialistas-assistenciais-tutelares, propondo um jogo de cintura na proposição
convidado, dificilmente transpõe. de uma construção ética do trabalho psi, agora nos damos conta que também foi necessário
metamorfosear nossos corpos de trabalhadoras em corpos de pesquisadoras, ao estilo Gregor
Perseguindo o entre linhas desse tecido social, que se rasgam em fendas para composição de Samsa (Kafka, 2001). Mas se no passado saíamos da universidade ansiosas pelo primeiro
outras tramas, também tentamos inventar linhas que se anunciam como possíveis desenhos que emprego que precisava ser transformado em trabalho e metamorfoseávamos de estudante
marcam essa escrita. Escrever para voltar do caos que pode ser o estar no não lugar, num tempo para trabalhadora, agora percebemos que somos humanos e insetos ao mesmo tempo. Ao
não instituído, numa passagem caótica em que se atravessam fluxos e intensidades borradas mesmo tempo e não necessariamente em lugares distintos, como na graduação nos ensinaram.
e enigmáticas. Escrever o que ainda não permite entendimento do que acontece no percurso É tudo ao mesmo tempo e de todas as formas. A vida não estaciona para que um processo
daqueles que se arriscam no fora (Zanella, 2012), no entre, no meio-fio daquilo que não compõe de aprendizagem, muito menos de trabalho, aconteça. Talvez, por isso, tenhamos vivido como
o instituído na Educação e no Trabalho. Arriscar-se ao fora institucional para inundar folhas pesquisadores nômades que inventam territórios existências na passagem de uma instituição a
de papel e criar outros modos de (r)existência que permitam seguir habitando a bricolagem outra e marcam suas trajetórias em diários. Diários que contém narrativas profanas e menores
educação-trabalho para além dos muros das instituições. de um estilo de pesquisa vibrado por corpos que ficam sujos num dia de trabalho e carregam
essa imundícia corporal para as questões de podem sustentar uma pesquisa dos entres.
Escrever para (r)existir na invenção de um caminho
Apostando numa literatura-menor (Deleuze e Guatarri, 2015) ensaiamos apostas em
Pode um(a) trabalhador(a) escrever na universidade? Certamente pode! Escreve sobre a entrega transitoriedades e invenções de práticas para (r)existir nesse corpo de estudante-trabalhador
e devolução das chaves na recepção. Escreve sobre os litros de sabonete e detergente gastos que habita a pós-graduação da universidade pública como um tipo de pesquisador que não
no dia de limpeza com o departamento. Escreve os e-mails de divulgação das informações do cria raiz; que inventa outros usos para as pernas, cavocando percursos e muitos percalços
programa de pós-graduação. Escreve os relatórios administrativos e contábeis que sustentam para habitar, deslocar e tecer com as linhas de fuga, mas também, com as linhas mestras da
burocraticamente a instituição. Escreve sobre os cafezinhos vendidos no fiado na cantina. Escreve composição do tecido que recobre as grandes instituições. Forjando andanças pelo ‘entre’ das
sobre a mudança de turno e os avisos que ainda precisam ser encaminhados ao professor doutor. forças disciplinares, ao modo inseto que poliniza, e não mais, polariza, essa metamorfose de
estudante-trabalhador-pesquisador passa a ser tomado por nós como condição de possibilidade
Academicamente, talvez, o trabalhador possa escrever sobre aquilo que lhe passa (Larrosa, para a invenção de um pesquisador que pode ser nômade.
2002). Ao trabalhador que pode habitar o território universitário parece ser possível que conte
suas experiências como narrativas que dão passagem a outros modos de produção da escrita na Então, como seguir traçando linhas de fuga e travessias produzidas no enfrentamento de
instituição acadêmica. Encarnar o narrador a partir das possibilidades elencadas por Benjamim discursos e práticas capturadas pela lógica mercadológica e conservadora do binômio público-
(1994) pode ser um modo interessante para a composição de um modo de escrita localizada privado da educação-trabalho em tempos temerosos como esses em que vivemos no Brasil?
no saber do trabalho, narrada por aqueles que levam para a universidade e, em especial, para Como desviar do modo indivíduo (Foucault, 2009), que baliza a produção de subjetividade tanto
as linhas de pesquisas da pós-graduação, a sujeira dos ombros empoeirados pelas experiências de quem habita a educação quanto o trabalho? O pesquisador-estudante-trabalhador pode ser
de um dia de labuta. Inspiradas em Lazzarotto e Axt (2012) propomos ao Grupo de Pesquisa aquele que desenvolve a faculdade de intercambiar experiências, que comunica aquilo que vive

939 940
como narrativa, pois afirma, em seu modo de existência, que a vida não estaciona para que as Lancetti, A. (2008). A clínica peripatética. São Paulo: Hucitec.
aprendizagens e os ofícios se desenvolvam, carregando consigo a bagagem de quem modulou
diferentes territórios existenciais num mesmo percurso para forjar-se pesquisadora. Ainda Lazzarotto, G. D.R., e Axt, M. (2012) Uma singular pragmática do escrever: um diário coletivo.
estamos a experenciar estas tensões, mas alguns apontamentos já começam a se destacar: Polis e Psique, Porto Alegre, 2(1), 159 – 181. Recuperado em 29 de julho, 2018, de http://
a pesquisa não pode mais falar de um trabalhador outro, mas de uma pesquisa outra, que www.ufrgs.br/lelic/files_gerenciador_de_arquivos/artigo/2012/56/1373910734artigo_uma_
se faz na experiência de ser trabalhadora e estudante; os tempos que se tramam e compõe singular_pragmatica_do_escrever_um_diario_coletivo.pdf
trabalhar e estudar nas particularidades das experiências vividas como tempos de conexão,
como regularidades que podem se desenhar na impermanência das fronteiras disciplinares e, Melville, H. (2017). Bartleby, o escrevente. São Paulo: Via Leitura.
por fim, a potência da criação de um comum (Barros e Pimentel, 2012) que possa enfrentar
as forças individualizantes e reativar os coletivos para pensar a política nas políticas públicas Romagnoli, R. C. (2009). A cartografia e a relação pesquisa e vida. Psicologia & Sociedade,
em educação e trabalho. Assim, reafirma-se, nas experiências da vibração dessa pesquisa, que 21(2), 166-173. Recuperado em 29 de julho, 2018, de http://www.scielo.br/pdf/psoc/v21n2/
as questões que nos orientam poderão ser discutidas a partir da produção de um comum, da v21n2a03.pdf
composição coletiva de uma escrita que marque as passagens e intensidades daqueles que
conosco tem habitado esses territórios para outras (r)existências eescritas, marcadas num Zanella, A. V. Escrever (2012). In T. M. G.Fonseca; M. L.Nascimento&C.Maraschin, (Orgs.).
diário coletivo de pesquisadores-estudantes-trabalhadores-nômades. Pesquisar na diferença: um abecedário. Porto Alegre: Sulina.

Referências

Barros, E. B. e Pimentel, E.H.C. Políticas públicas e a construção do comum: interrogando práticas


PSI. Revista Polis e Psique, v.2, n.2, 2012. P. 3-22.

Benjamin, W. (1994). O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In W. Benjamin.


Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense.

Bondía. J. L. (2002). Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de


Educação, (19), 20-28. Recuperado em 29 de julho, 2018, de http://www.scielo.br/pdf/rbedu/
n19/n19a02.pdf

Deleuze, G., e Guatarri, F. (2015). Kafka: por uma literatura menor. Belo Horizonte: Autêntica
Editora.

Foucault, M. (2012). El gobierno de si y de los otros. Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica.

Kafka, F. (2001). A metamorfose e o veredicto. Tradução: Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM.

941 942
Capítulo 90 As forças encontradas e que pressionavam na direção da judicialização foram:

1. A trama pobreza-assistencialismo-tutelamento-culpa:
Judicializaçao e contracondutas no trabalho da equipe de um creas: forças
em tensão na assistência social Partícipes de um trabalho em assistência social – AS marcado por uma história de cunho
religioso, assistencialista e tutelador (Couto, 2015) eimersas em uma realidade de pobreza de
Lúcia Regina Ruduit Dias1, Jaqueline Tittoni2 y Andréa Vieira Zanella3 grande parte da populaçãoé que expressões como sentirem-se colocadas no lugar de salvadoras
ou deveremse perdoar por aquilo que não davam conta de realizar, assim como sentirem culpa,
emergiram nas falas das trabalhadoras.
O presente artigo é resultado de uma pesquisa que investigou as práticas de uma equipe de
vinte trabalhadoras4 de um Centro de Referência Especializada em Assistência Social – CREAS, Devolver estas falas para a equipe significou propiciar a análise do próprio processo de trabalho,
na cidade de Porto Alegre, Brasil. O CREAS é um equipamento do Sistema Único de Assistência oportunizando novos sentidos através do enlace de seus sentimentos com uma importante
Social - SUAS, responsável pela parte da população com direitos aviltados, mas com vínculos discussão que se travou no CREAS e que dizia respeito ao não desligamento das usuárias que
familiares, sociais e comunitários mantidos. não desejavam mais os serviços. A equipe se defrontou, então, com a prática do tutelamento, de
responsabilização pelas usuárias, consequência da culpa que as levava a assumirem para si, de
O estudo analisou as forças presentes nas práticas jurídicas das trabalhadoras e buscou forma individual, um peso de toda a política: Eu não sei mais o que fazer! Eu já fiz de tudo! (Dias,
visibilizar as possibilidades de contracondutas ao processo de judicialização do trabalho e da 2017, p. 82).
vida. A estratégia metodológica utilizada foi a pesquisa-intervenção, embasadanos pressupostos
ético, estético e político do pesquisar (Aguiar & Rocha, 2007; Paulon, 2009), fundamentada na Essa fala ilustra que, em uma sociedade capitalista que incrementa a noção de indivíduo e
Análise Institucional (Lourau, 1993)e em suas noções de produção conjunta do conhecimento. constitui subjetividades privatizadas, o peso recai sobre o eu, em uma tecnologia do poder
Os procedimentos utilizados para a produção de informações foram o acompanhamento da moderno que facilita o controle das populações: a individualização (Silva, 2005). Os resultados
equipe, a análise de implicação, a restituição e as oficinas de fotografia (Dias, Zanella e Tittoni são angústia e sensação de impotência.
2017). As informações foram registradas em diário de pesquisa e audiogravações. As discussões
provocadas pela intervenção foram analisadas à luz das noções de práticas jurídicas (Foucault, Ocorre que nessa relação entre trabalhadoras e usuárias há um terceiro, que é o sistema de justiça
2013), judicialização do trabalho e da vida (Augusto, 2012; Oliveira; Brito, 2013; Prado Filho, - SJ. A situação se complexifica, pois, mesmo que a usuária não queira o atendimento, não pode
2012), assim como de biopolítica (Foucault, 2008, 2011) e contracondutas (Foucault, 2008; haver o desligamento, pois as trabalhadoras devem respostas a tal sistema. As trabalhadoras
Grabois, 2011). O estudo indicou que, no CREAS, encontravam-se presentes inúmeras forças sentem-se como braços do judiciário (Dias, 2017, p. 84), pois se veem entre justiça e usuárias,
que, tansversalizadas pela individualização, se reuniam em um fluxo na direção da judicialização tendo que prestar contasdos atos de pessoas que nem comparecem mais.
do trabalho e da vida, alastrando os controles, bem como, os processos de julgamento e punição,
no tecido social. Se a pressão exercida pela herança de pobreza-assistencialismo-tutelamento-culpa é forte, os
rumos da política como um direito também exercem pressão. Contracondutas(Foucault, 2011;
1. Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Email: luciaruduit@gmail.com
Grabois, 2011) estavam presentes, pois, as trabalhadoras fizeram contrafluxos às forças que
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: jatittoni@gmail.com cristalizavam suas identidades. Inúmeras reflexões apareceram na atividade de revisão dos
3. Universidade Federal de Santa Catarina. Email: a.zanella@ufsc.br casos acompanhados, nos questionamentos sobre os porquês dos acompanhamentos (ou não) e
4. Tendo em vista as atuais discussões sobre a linguagem inclusiva de gênero e de pessoas com deficiência, opto por escrever no feminino,colocando
em relevo as mulheres presentes, em grande maioria, como trabalhadoras da AS, usuárias ou autoras desta escrita.
de seus significados tanto para as usuárias quanto para a equipe.

943 944
condicionalidades em meio a uma realidade de políticas públicas falhas e precárias. Essa
2. A noção de Estado social e a biopolítica: realidade faz com que as trabalhadoras estejam sempre imersas em escolhas que deixam
alguém de fora, sem os seus direitos básicos cobertos.
Com o processo de industrialização iniciado no final do século XIX, apauperização de uma
parcela da população ea quebra nas redes de solidariedade primárias, o Estado se colocou como No lugar de possibilitar que as usuárias sejam objeto de conhecimento e intervenção, as
responsável pela proteção daqueles que necessitavam. O Estado social (Castel, 1995), forma trabalhadoras percebiam-se executoras de uma biopolítica que conta e controla semdar em
de regulação sobre as relações entre trabalhadoras e mercado, antes de modificar as relações troca o que lhes é de direito(Dias; 2017, Trein; Dias; Tittoni, 2016). No CREAS pesquisado
sociaisdesiguais e tensionar suas causas fundantes,acaba tendo por efeito sua manutenção ficou evidente que quanto mais premidas pelo acúmulo de trabalho, pelas demandas do SJ, pela
(Castel, 1995; Couto, 2015) ao focar suas ações na pobreza, apresentando direitos sociais de regulamentação das leis e das normas (prazos, classificações, prescrições etc), maisas usuárias
caráter redistributivo de limites bem estreitos. Realidade, esta, perceptívelno Brasil e inúmeros se transformavam em metas a cumprir e suas histórias em reflexos de leis (e não em vidas
países da América Latina. com as quais se relacionar), mais as trabalhadoras ficavam rígidas quanto ao cumprimento das
exigências,buscando soluções rápidas e não tão condizentes com as necessidades de cada caso
O compromisso entre mercado e trabalho é regulado também por um aparato jurídico, que, em um movimento de judicialização do trabalho e da vida.
ancorado em contratos sociais, leis e constituições, procura garantir o acesso a direitos.
Ocorre que esse aparato jurídico está imerso em contradições,ora transpassado por uma visão Como contracondutas às forças biopolíticas e individualizantes a equipe estabeleceu algumas
meritocrática, onde cada um deve buscar a melhoria de sua vida a partir de suas próprias estratégias como:procurar estarem mais próximas das trabalhadoras de outras políticas
qualidades e empenho, ora transpassado pela visão de que é papel do Estado garantir igualdade públicas, realizando o descentramento de entender o lugar de onde tais trabalhadoras falavam e
de condições aos cidadãos. as precariedades que perpassavam seus trabalhos; propor a realização de um grupo de mulheres
em conjunto com a saúde; debaterem entre si e com outras equipes da AS o próprio processo de
Nos jogos contraditórios entre Estado social, mercado, SJ e suas próprias práticas é que as trabalho, bem como a AS enquanto política pública.
trabalhadoras se veem, muitas vezes, solitárias e onde o processo de individualização,
característico das sociedades capitalistas, tem grande força. As trabalhadoras são impulsionadas 3. As práticas jurídicas enraizadas na sociedade e seus mecanismos de exame, prova, testemunho
a verem-se através de uma subjetividade que tensiona na direção do privado e do afastamento do e criminalização:
coletivo, do público e do comum (Coimbra, 2009):
A intervenção da pesquisadora-interventora sobre os diferentes momentos em que a equipe
− Tu até divide com a equipe, mas o caso é teu! Se tu acolhe rápido é porque tu acolheu aceitava, ou não, ter seu trabalho registrado por áudio gravação fez emergir uma discussão que
rápido demais; se tu não [acolhe], tu te rala porque o guri morreu e a culpa é tua. Se tu visibilizou o receio quanto ao que poderia ser falado e quanto à dureza do SJ(principalmente
tem uma colega para dividir... é diferente de tu dizer: “Putz, como eu não vi...”. Culpa tua, o judiciário). Emergiu o medo de nãopoder cumprir o que era requerido por tal sistema, tendo
erro teu. Solitário... (Dias, 2017, p. 93). em vista limitações técnicas, não competência de atribuições demandadas ou o não desejo das
usuárias de cumprir o requerido (por exemplo, comparecer a um tratamento psiquiátrico ou
Mesmo que a tarefa de garantir direitos sociais seja uma tarefa impossível de se fazer só, é psicológico exigido).
sobre as trabalhadoras que recai o peso de utilizarem seus instrumentos, técnicas de trabalho e
seu saber fazer, nem sempre da forma que gostariam.As trabalhadorassentiamo peso de terem Ocorre que as responsáveis pelos acompanhamentos das usuárias poderiam ser responsabilizadas
que decidir, dentre as usuárias, quem teria direito a determinados benefícios de transferência penalmente por tal descumprimento. Isto evidenciava um descompasso entre o SJ e o SUAS, um
de renda, quem entraria para o grupo de mulheres ou, ainda, de quem seriam cobradas as desconhecimento de um em relação ao outro e, por vezes, até mesmo abuso de poder.

945 946
deslocamentos, a precarização também se manifestava nas diferenças contratuais consequentes
Em uma sociedade em que as práticas jurídicas, ou seja, “a maneira pela qual, entre os homens, do processo de terceirização (Aquino et al., 2016). Em um mesmo local encontravam-se
se arbitram os danos e as responsabilidades” é uma das principais formas de subjetivação trabalhadoras com salários, cargas horárias e direitos trabalhistas diferentes.
(Foucault, 2013, p. 21), o medo de poder ser responsabilizada penalmente era o medo de ser
colocada no lugar de infratora e de advir criminosa. Na AS a precarização se mostrou de forma insidiosa, encravada como um aviltamento de
direitos das próprias trabalhadoras. E sua relação com os processos de judicialização era sutil,
Nesta dinâmica, vários mecanismos das práticas jurídicas contemporâneas atuam: o próprio mas forte. Premidas por um enorme contingente de pessoas a serem atendidas, pelo acúmulo
trabalhoopera como prova contra si (o que se faz, ou não) e a memória e um eu que diga de de tarefas e pela urgência, as trabalhadoras procuravam cobrir as constantes faltas caindo
algo operam nas falas que tomam vulto de testemunho(Foucault, 2011). Daí o medo de serem na sobreimplicação. Travestida de comprometimento e participação, a sobreimplicação extrai
registradas em áudio: Precisamos cuidar o que se diz, medir as palavras (Dias, 2017, p. 117). - O sempre um a mais das trabalhadoras(Barros, 1997): Esses dias eu acordei de madrugada e fiquei
Judiciário[...] Pede o relatório para o técnico, que escreve um relatório que o Judiciário quer ler. pensando na [nome de uma usuária], em uma avaliação para ela. (Dias, 2017, p. 134).
Se escrevemos o que o juiz não quer, acabamos sofrendo com isto (Dias, 2017, p. 117).
Também fazem-nas cair em um ativismo que dificulta tanto a capacidade de pensar a
Ter que cumprir ordens com as quais nem sempre concordam fazia com que as trabalhadoras se multiplicidade e o que se produz com o próprio trabalho, como dificulta a utilizaçãodo potencial
sentissem marionetes do SJ, prestando serviços (como fazer visitas, escrever laudos, relatórios, criador (Coimbra; Nascimento, 2004).
etc) que as deslocavam do lugar de acompanhar as usuárias e as lançavam no lugar de avaliar,
do exame. Em função da pressão das práticas jurídicasé que as trabalhadoras transformavam A consequência da precarização é o medo de perder o emprego, a grande circulação de
as usuárias em efeito e objeto do saber e do poder, homogeneizando-as na forma de um caso. trabalhadoras entre os equipamentos em busca de melhores salários e melhores condições de
trabalho, bem como, a concorrência entre colegas. Elas percebem que o Estado que preconiza
Um intenso processo de judicialização do trabalho e da vida é a consequência. a garantia dos direitos das usuárias, que elas próprias devem defender, é o mesmo que não
consegue garantir seus próprios direitos.
Novamente se nota a presença do processo de individualizaçãoao recair o peso das decisões e
dos não cumprimentos sobre as trabalhadoras e não sobre o funcionamento do sistema ou sobre Ao sentirem-se premidas pela enorme demanda e sob a insegurança da saída, no mesmo
a forma como se dá a relação entre SJ e SUAS. período, de quatro colegas do serviço,as trabalhadoras detinham-se às prescrições e às leis
frias, para tentar dar conta de suas tarefas. Tal movimento fazia com que se perdessena
Convidar a juíza da vara da infância e juventude para conhecer e realizar uma reunião dentro discussão em profundidade, na complexidade das contingências específicas de cada caso.
CREAS e não do judiciário e assinar coletivamente documentos que antes eram assinados pelo Então, as trabalhadoras sentiam-sefazendo mal seu trabalho e emergia a sensação de culpa e
responsável por um serviço são alguns exemplos de contracondutas das trabalhadoras aos solidão. Um círculo vicioso se fechava sobre as trabalhadoras: culpabilização – individualização
poderes judicializantes. – judicialização.

4. Precarização do trabalho: Além das contracondutas já citadas anteriormente, a participação nos sindicatos e outras
organizações coletivas foi apontada para tensionar as forças de precarização, individualização
A precarização, consequência da diminuição de custos na produção à custa dos direitos das e judicialização.
trabalhadoras(Aquino et al., 2016; Toni, 2007) estava presente no CREAS. Sob a forma de falta
de recursos financeiros para os benefícios, de materiais para as oficinas ou de carro para os Algumas conclusões...

947 948
O acompanhamento da equipe e de suas relações com outros níveis e equipamentos da AS, Castel, R. (1995). Les metamorfoses de la question sociale: une chronique du salariat. Paris:
bem como com outras políticas públicas, fez ver que as forças judicializantes, bem como a Gallimard.
individualização e a culpa se fazem presentes em todas as políticas públicas brasileiras.
Coimbra, C. M. B. (2009). Psicologia social, políticas públicas e biopoder. In: Tatsch, D. T.,
Se por um lado existia uma trama de forças que pressionava na direção da judicialização, Guareschi, N. M. F. & Baumkarten, S. (Org.). Tecendo relações e intervenções em psicologia
também existiam forças que operavam como resistência através de contracondutas. E no CREAS social. (pp.161-172). Porto Alegre: ABRAPSO SUL.
estudado, as contracondutas construídas operavam na direção de um processo de coletivização,
de emergência de processos criativos que eram constituídos no plano relacional e que levavam Coimbra, C. M. B., Nascimento, M. L. (2004). Sobreimplicação: práticas de esvaziamento
em conta as diferenças (Escóssia; Kastrup, 2005). político? Niterói: Universidade Federal Fluminense. Recuperado dehttps://app.uff.br/slab/
uploads/texto22.pdf
Além do processo de coletivização, a produção de história e de memória no próprio ato dos
encontros, a passagem de um saber fazer das relações e da própria coletivização se evidenciaram Couto, B. R. (2015). Assistência social: direito social ou benesse? Serviço Social & Sociedade,
na equipe. 124, 665-677.

Se no creas estudado, tais contracondutas à judicialização do trabalho e da vida se apresentaram, Dias, Lúcia Regina Ruduit. (2017).Judicialização e contracondutas no trabalho da equipe de um
outras forças (ou as mesmas) podem emergir em outros locais. Sendo assim, cabe a continuidade CREAS: forças em tensão na assistência social. (Tese de doutorado). Universidade Federal de
de uma investigação dos processos de judicialização em outros CREAS da cidade e do país, bem Santa Catarina,Programa de Pós-graduação em Psicologia, Florianópolis.
como em outros equipamentos da AS e até mesmo de outras políticas públicas, com vistas a
analisar tais processos. Dias, L. R. Ruduit; Zanella, A. V.& Tittoni, J. (2017). Oficinas de fotografia na pesquisa-intervenção:
construção de coletivos de trabalho. NUPEM, 9 (16), 158-174.
Referências
Escóssia, L. da; Kastrup, V. (2005). O conceito de coletivo como superação da dicotomia
Aguiar, K. F. de & Rocha, M. L. da. (2007). Micropolítica e o exercício da pesquisa-intervenção: indivíduo-sociedade. Psicologia em estudo, Maringá, 10 (2), 295-304.
Referenciais e dispositivos em análise. Psicologia, ciência e profissão, 27 (4), 648-663.
Foucault, M. (2013). A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau.
Augusto, A. (2012). Juridicialização da vida: democracia e participação. Anarquia e o que resta.
Psicologia & Sociedade, 24 (n. spe.), 31-38. Foucault, M. (2011). Do governo dos vivos. São Paulo: Centro de Cultura Social; Rio de Janeiro:
Achimé.
Aquino, C. A.B. de, Sabóia, I. B. de, Melo, P. B. de, Carvalho, T. A. de, Ximenes& V. M. (2016).
Terceirização e saúde do trabalhador: Uma revisão da literatura nacional. Revista Psicologia: Foucault, M. (2008). Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes.
Organizações e Trabalho, 16(2), 130-142.
Grabois, P. F. (2011). Resistência e revolução no pensamento de Michel Foucault: contracondutas,
Barros, R. D. B. de. (1997). Dispositivos em ação: o grupo. SaúdeLoucura - Subjetividade, São sublevações e lutas. Cadernos de ética e filosofia política, São Paulo, 19, 07-27.
Paulo: Editora Ucitec, 2, 183-191.
Lourau, R. (1993). Análise Institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: UERJ.

949 950
Capítulo 91
Oliveira, C. F.B. de, Brito, L. M. T. de. (2013). Judicialização da vida na contemporaneidade.
Psicologia ciência e profissão, 33 (núm. esp.), 78-89.
Imigração de venezuelanos no Brasil: As relações de trabalho e comunicação
Paulon, S. M. (2009). Instituição e intervenção institucional: percurso conceitual e percalços
Idineia Bressan1, Djeimella Ferreira de Souza2, Felipe Angelo da Silva3,
metodológicos. Mnemosine, 5 (2), 189-226.
Willian Luan Rodrigues Pires4 y Lucilene Carolina de França5
Prado Filho, K. (2012). Uma breve genealogia das práticas jurídicas no ocidente. Psicologia &
Sociedade, 24 (n. espec.), 104-111.
Introdução
Silva, R. N. da. (2005). A invenção da psicologia social. Petrópolis: Vozes.
Os processos migratórios sempre foram uma realidade entre os continentes, entre países, por
vezes este processo é tranquilo e optativo de forma amistosa. Uma pesquisa feita em 2012 pela
Tittoni, J., Dias, L. R. R., Trein, A. L., & Prudente, J. (2017). O trabalho como arte: Invenção e
Fundação Europeia Estudos Progressivos aponta migração internacional crescente, em 2000
criação nos modos de trabalhar. Psicoperspectivas,16(1), 117-131.
foram 150 milhões de pessoas e em 2010 este número aumentou para 215 milhões, fora do seu
país de origem, sendo que deste número quase 50% são mulheres.
Toni, M. de. (2007). Precarização do mercado de trabalho no Brasil: um estudo da região
metropolitana de Porto Alegre. Análise Econômica, Porto Alegre: Faculdade de Ciências
O tema principal deste trabalho a imigração, com foco nos venezuelanos, que já chegaram a
Econômicas/UFRGS, 25 (47), 185-210.
controlar o processo imigração em seu país, no final de 1973, com o crescimento econômico em
pleno curso devido ao aumento do preço do petróleo, enfim, mediante a adoção de uma política
Trein, A. L., Dias, L. R. R., Tittoni, J. (2016). O direito à assistência social no Brasil: para quem e
de imigração mais aberta, porém seletiva (Bethell, 2005). Entretanto, atualmente, a realidade
para quê. Rio de Janeiro: Multifoco, Coletânea Bento-Gonçalvense de Direito II, 63-80.
é outra. Portanto, de uma forma objetiva, este trabalho contribui com estudo teórico-empírico
sobre migrações e adequações na recepção e acolhida dos mesmos, visto que é uma necessidade
emergente para que não haja somente uma crescente de população marginalizada na sociedade.
A imigração é um movimento que acontece há muito tempo entre os povos, por motivos variados,
e o seu impacto nas sociedades torna-se um dos maiores desafios sociais na atualidade. Durante
a segunda metade do séc. XX muitos países europeus transformaram-se em países de imigração
e a adaptação intercultural, tornou-se um conceito chave para as comunidades de imigração
(Sousa E Gonçalves, 2015).

Silva e Lima (2017) argumenta que é importante enfatizar, também, que a Comissão
Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) considera os imigrantes como sendo mais
1. Faculdade Católica de Mato Grosso FACC MT. Email: idineia.bressan@faccmt.com.br
2. Universidade Federal de Minas Gerais -UFMG. Email: djeimellaferreira3@gmail.com
3. Instituto Federal de Mato Grosso IFMT. Email: felipeangelo40@gmail.com
4. Universidade Federal de Mato Grosso UFMT. Email: willianluanrodriguespires@gmail.com
5. Faculdade Católica de Mato Grosso FACC MT. Email: lucilene.franca@faccmt.com.br

951 952
vulneráveis quando comparado com os nacionais ou residentes de um Estado, pois se encontram de comunicação social só tratam os aspectos negativos, como crimes e desastres, e raramente
em condição de desvantagem pela dimensão ideológica mantida por dessemelhanças legalmente os aspectos positivos da imigração, de acordo com o “Estudo de Recepção dos Meios de
estabelecidas e estruturadas. Segundo Batista e Pereira (2016) citado por Silva e Lima (2017, Comunicação Social”, promovido pela ERC, que será hoje divulgado durante a II conferência
p.389) o acesso dos imigrantes aos recursos públicos oferecidos pelos Estados é diferenciado, anual da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. No entanto Rodrigues (2012) defende
agravando assim, os preconceitos culturais que ultrajam ainda mais as condições de que a comunicação neste contexto de imigração não é tão somente a comunicação “é uma
vulnerabilidade enfrentada por esses indivíduos. Ademais, esta vulnerabilidade é reforçada por operação puramente social porque pressupõe o envolvimento de vários sistemas psíquicos
preconceitos étnicos, xenofobia e racismo, que dificultam sua integração à sociedade e levam à sem que se possa atribuí-la exclusivamente a um ou outro destes sistemas: não pode haver
impunidade por violações de direitos humanos cometidas contra os imigrantes. comunicação individual”.

Atualmente o movimento migratório venezuelano ocorre segundo Charleaux (2018) como forma Metodologia
de refúgio, neste caso, com o pedido autorizado no Brasil os mesmos recebem autorização para
estudar e trabalhar normalmente. Havendo algumas contradições em relação ao imaginário Trata-se de um estudo de natureza exploratória. A investigação utilizou dados primários e
da população e das informações distorcidas. Os venezuelanos possuem o principal destino de secundários, sendo que as fontes primárias foram baseadas em dados obtidos nas entrevistas
imigração a Venezuela, poucos se direcionando ao Brasil, sendo que estes não possuem baixo semiestruturadas aplicada a partir de um roteiro desenvolvido à luz dos fundamentos teóricos
grau de instrução, na grande maioria chegam com ensino médio completo. norteadores associados às questões que direcionam os imigrantes na Pastoral do Migrante
de Cuiabá e colaboradoras da OIT. Além de conversas diretas com migrantes com relatos da
A pergunta chave que deu o direcionamento inicial a este estudo é: Como ocorrem as relações mudança e das limitações da comunicação e o trabalho no Brasil
de comunicação e trabalho de imigrantes venezuelanos no Brasil? Mais especificamente aos que
chegaram em Cuiabá no primeiro semestre de 2018. A delimitação territorial da pesquisa é Cuiabá, onde houve uma negociação com o governo e
Pastoral para o recebimento fracionado de 300 imigrantes venezuelanos no período da pesquisa
O objetivo principal e observar limitações e oportunidades neste processo migratório, visto que do primeiro semestre de 2018.
chegam com outro idioma e em um país que também enfrenta suas limitações econômicas em
relação a classe trabalhadora. Outro ponto fundamental nos estudos de casos, o mesmo resulta refletir a distinção proposta
entre a investigação cujo objetivo é testar ou verificar a teoria versus o que pretende contribuir
O fato de que o Brasil também está em um contexto econômico delicado com alto número de com “gerar” novas teorias (Rialp, 1998). Assim, foram feitas entrevistas com gestores das
desempregos, este fator econômico de acordo com a OIT (2015) não é o fator considerado como organizações e imigrantes venezuelanos.
o mais importante, pois as informalidades das atividades desenvolvidas também são altamente
importantes neste contexto. No entanto é necessário garantir as condições de trabalho, visto Análise Dos Resultados
que a economia informal atinge muitos trabalhadores pela facilidade de acesso e fonte de
renda gerada, mesmo sendo um setor caracterizado por pobreza. E enquanto estas atividades Os resultados obtidos apontam um local de acolhimento temporário, limitada há 90 dias, e
de trabalho informal oferecem meios de subsistência e algum rendimento, há uma parte dos mesmo com a receptividade do Brasil o processo migratório em situação de refúgio os aspectos
trabalhadores exposta a condições de trabalho inadequadas e inseguras; sujeito a incerteza da econômicos e sociais caóticos gera a necessidade de políticas públicas de longo prazo para
formalização contratual, gerando uma instabilidade constante. inserir este novo morador na sociedade.

De acordo com afirmações da Lusa (2008) os imigrantes tendem a considerar que os meios Com família, venezuelanos buscam atividade formal ou informal no mercado de trabalho, como

953 954
pode-se observar na imagem 01 – Imigrantes venezuelanos na avenida do CPA em Cuiabá MT.
Complementado por Rodriguez, Oliveira e Freitas (2001) com a citação de que “é no homem, pois,
Imagem 01 - Venezuelanos com cartazes pedindo oportunidade de trabalho em Cuiabá MT. Fonte: Jornal Hipernotícias – julho 2018 – Cuiabá MT que reside a esperança de construção do novo mundo, e não na atual política de desenvolvimento
socioeconômico e técnico-informacional”. Fortalecendo as questões de que mesmo com falhas
em política públicas para apoio a causas sociais e humanitárias como é o caso dos imigrantes
venezuelanos no Brasil há muita movimentação de apoio por parte de organizações não
governamentais, buscando dar apoio nestas lacunas que as políticas públicas não conseguem
chegar com total propriedade.

Neste sentido, o papel da Pastoral do Imigrante e da OIT é fundamental para reorganização


das condições de vida e também para adaptação na nova cidade, apesar da importância das
ações destas duas instituições a falta de perspectiva de emprego no município aumenta a
vulnerabilidade dos estrangeiros que estão vindo para o Brasil.

Referências

Almeida; Cristóvão D. Haitianos no Brasil e sua relação com a comunicação, consumo e o


Trabalho. Editora Paulus. 2017. São Paulo.

Batista, V. O.; Parreira, C. G. Trabalho, imigração e o direito internacional dos direitos


humanos. Publica Direito. Disponível em: &lt;http://www.publicadireito.com.br/
artigos/?cod=47a3893cc405396a&gt; Acesso em: 29 jul. 2018.
Há uma séria distorção em relação as relações de trabalho e vagas ocupadas como um “roubo”
de vagas de brasileiros, um equívoco de boa parte da população sendo que em comparação com Bethell, Leslie. História da América Latina: a América após 1930: Economia e Sociedade;
outros países, o Brasil recebe poucos imigrantes em relação ao seu território. E a comunicação tradução Geraldo Gerson de Souza. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Brasília,
apesar de um pouco limitada é facilitada por haver muitos imigrantes que já residiam em região DF: Fundação Alexandre de Gusmão 2005.
de fronteira e o “portunhol” como é chamada esta variação do idioma que mescla palavras
em português e espanhol possuí uma fácil compreensão por ambas as partes, venezuelanos e Charleaux J. P. Três dados sobre venezuelanos no Brasil que contrariam o senso comum. Disponível
brasileiros. em https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/03/06/3-dados-sobre-venezuelanos-no-
Brasil-que-contrariam-o-senso-comum e acessada em março 2018.
Considerações Finais
Foundation For Europea Progressive Studies. Internacional migration, human development and
Trata-se de uma realidade que instiga o maior envolvimento dos órgãos governamentais e integrating societies. (2012). Disponível em:>http://www.feps-europe.eu/assets/40dcb173-
organizações estatais, visto que a sociedade civil organizada está envolvida, mas com recursos 2235-4ccf-a2ab-36b4f84b7912/final%20study.pdf<
limitados.

955 956
LUSA-Agência de notícias de Portugal.&quot; Estudo De Recepção Dos Meios Decomunicação Yin, R. K Case study Research – desing and methods applied social research methods. Vol 5 2nd
Social & quot;. Imigrantes consideram que comunicação social trata apenas os aspectos negativos ed, Newbury Park, CA, Sage (1994).
da imigração. In: Público Jornal, versão online. Portugal. Publicado em 17 de Outubro de 2008.
Disponível em:https://www.publico.pt/2008/10/17/portugal/noticia/imigrantes-consideram-
que-comunicacao-social-trata-apenas-os-aspectos-negativos-da-imigracao-1346402.
Visitado em: 13 de março de 2018.

OIT – Organização Internacional Do Trabalho. Inserção Laboral de Migrantes Internacionais:


transitando entre a economia formal e informal no município de São Paulo. Brasília 2017.
Disponível em http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-
brasilia/documents/publication/wcms_615540.pdf e acessado em 18 de abril de 2017.

Rialp, Criado A. El Método del caso como técnica de investigación y su aplicación al estudio de
la función directiva. Ponencia presentada en el IV Taller de Metodología ACEDE, celebrado en
Arnedilho (La Rioja) 23-25 de abril de 1998. Universidad Autónoma de Barcelona, 1998.

Rodrigues, Leo Peixoto; Neves, Fabrício Monteiro. Niklas Luhmann: a sociedade como sistema.
Porto Alegre: Edipucrs, 2012, 132 p

Rodriguez, A. M. S., Oliveira, C. M. V. E Freitas, M. C.v. 2001. “Globalização, cultura e sociedade da


informação”. Perspectivas em Ciência da Informação, 2001, vol. 6, no. 1,p. 97-105. Disponível
em:http://www.brapci.inf.br/index.php/article/view/0000003286/099476b99d8073d1703f
a005f82f3c61. Visitado em: 20 de julho de 2018.

Silva, L. M. M.; Lima, S. S. Os Imigrantes do Brasil, sua Vulnerabilidade e o Princípio da Igualdade.


Revista Brasileira de Políticas Públicas (Online), Brasília, v. 07, nº 02, ago. 2017, p. 384-403.

Smith, D., Finney, N., Halfacree, K. & Walford, N. (Eds.). InternalMigration. Geographical
Perspectives and Processes. 2015 Disponível em https://cronfa.swan.ac.uk/Record/
cronfa30139 e acessado em 18 de abril de 2018.

Sousa, C.; Gonçalves, G. Imigrantes e Sociedade de Acolhimento: Percepções e Realidades no


Caso de Portugal. Psicologia e Sociedade, 27(3), p. 548-557. Disponível em:&lt; http://www.
scielo.br/pdf/psoc/v27n3/1807-0310-psoc-27-03-00548.pdf&gt; Acesso em: 29 jul. 2018.

957 958
Capítulo 92
A partir das profundas modificações estruturais que estão sendo implementadas no âmbito do
sistema de proteção social, em específico as que estão sendo implantadas no Instituto Nacional
Choque de gestão: O impacto da reestruturação produtiva na seguridade social de Seguro Social (INSS), no estado do Rio Grande do Sul/Brasil, observam-se aspectos típicos
brasileira dos processos da reestruturação produtiva agora presentes no serviço público, tais como:
precarização dos espaços de trabalho, automação, informatização, substituição de mão de
Fabiane K S Machado1 y Jaqueline Tittoni2 obra e alterações significativas no processo de trabalho, sofrimento psíquico e seu impacto na
subjetividade dos trabalhadores públicos, entre outros.

O presente trabalho busca investigar o impacto da reestruturação produtiva na seguridade O resultado deste processo, aliado à própria reforma do Estado e na Seguridade Social no
social brasileira, em especial, junto ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A partir do país, é uma categoria de trabalhadores que estão em um processo de “estranhamento” de seu
processo de modernização do Estado brasileiro que teve início no final dos anos 1970 e início próprio trabalho, agora profundamente modificado, e não mais na visão ampliada de políticas
da década de 1980, com a promulgação da Carta Magna brasileira, passa a intensificar este públicas e sociais a partir da gratuidade de acesso garantidos até então, e sim, na mudança para
processo na década de 1990 e acelerou-se bastante nos anos 2000, alterando profundamente caracterização de serviços prestados a quem pode pagar por eles.
as características do trabalho nos serviços públicos do país, que passaram a contar com os
princípios da economicidade, excelência, eficiência e produtividade. Atualmente o INSS no estado do Rio Grande do Sul conta com uma força de trabalho no
quantitativo de 2.169 servidores (Brasil, 2018) e, segundo informações oficiais do Ministério
Assim, ao longo dos últimos 30 anos, observamos o processo de mudanças sucessivas no interior do Planejamento em torno de 25% dos trabalhadores públicos ativos estão em abono de
dos serviços públicos que se referem tanto à adoção de inovações tecnológicas e organizacionais, permanência, ou seja, em condições de aposentadoria imediata, o que ocasionará a extinção
em graus variados de profundidade e extensão, quanto à percepção e reação dos trabalhadores de alguns postos de trabalho significativos. O INSS no Rio Grande do Sul em dezembro de 2017
envolvidos. As reformas na administração federal proposta pelo Governo de Michel Temer (2016- fechou o ano com um total de 1.107.329 processos abertos junto ao órgão, sendo que cada
2018), acabaram por impactar direta e profundamente a vida laboral dos trabalhadores públicos um se transforma em muitos outros procedimentos administrativos diversos, o que se reflete
federais, em especial os trabalhadores públicos pertencentes ao INSS, que tem suas atividades diretamente na sobrecarga de trabalho e metas que não conseguem se manter, por falta de
separadas, a parte referente ao seguro social (arrecadação financeira) passa a pertencer ao quem as execute.
Ministério da Fazenda, pertencente à Receita Federal e a parte de assistência à população,
a parte do seguro social (INSS), agora pertence ao Ministério do Desenvolvimento Social. As Considerando este cenário, o INSS em 2018 passa pela mudança para um novo modelo de
mudanças na gestão dos órgãos partícipes foram profundas e tem como marca o desmonte da gestão do trabalho, cujo fio condutor é a transformação do trabalho presencial em trabalho
previdência social brasileira e as profundas mudanças no âmbito do trabalho e emprego no país, digital. O modelo do “INSS Digital” passa a ter determinados processos e benefícios que agora,
referentes aos movimentos políticos igualmente observados no próprio Ministério do Trabalho e passam a ser concedidos de forma automática pelo sistema virtual e também dá ao Advogado
também com a reforma da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A reforma da CLT também particular do segurado, características de concessor, não necessitando mais do trabalhador
tem sua expressão direta nos serviços oferecidos pelo INSS e os trabalhadores públicos já público e de seu trabalho para conclusão de algumas solicitações. Em um primeiro contato
sentem os impactos da mesma em seu cotidiano laboral. com este sistema, a impressão é de maior rapidez no processo de concessão de benefícios
1. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional e do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande e diminuição do atendimento presencial à população, o que muitas vezes é tido como ponto
do Sul-UFRGS. Email: fabiane.konowaluk@gmail.com de tensão permanente no campo das políticas públicas e sociais. Observando de forma mais
2. Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional e do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul-UFRGS. Email: jatittoni@gmail.com
profunda, o conceito motriz identificado nos materiais divulgados ao público em geral na página

959 960
oficial do órgão (INSS Digital) é a “celeridade” nos processos de trabalho, aliado ao discurso de observada como um dos aspectos vinculados e originados a partir da expansão da produtividade
maior resolubilidade e acesso por parte dos segurados que necessitam acessar benefícios do do trabalho, da intensificação do uso dos mecanismos de extração do sobretrabalho, com a
seguro social. expansão do trabalho morto agora corporificado no desenvolvimento do maquinário tecnológico,
técnico, científico e informacional (Antunes, 2018), todos potencialmente geradores de mais
Este novo mecanismo por sua vez, está produzindo a mercadorização de serviços (Antunes, valor e notadamente vinculados aos danos à saúde mental dos seus operadores, os trabalhadores.
2018) que até então eram gratuitos à população que deles necessitam e está mercadorização
da política de proteção social brasileira vem junto com uma terceirização disfarçada de O trabalho intelectualizado vem sendo cada vez mais exigido dos trabalhadores, demandando
modernização de um modelo de gestão pretensamente esgotado, pois agora dispões de trabalho agora não só suas qualificações técnicas para a tarefa laboral prescrita, mas também passa
externo, realizado por procuradores externos, diminuindo gradativamente a necessidade de a capacidade de escolha e de tomada de decisões, associadas à sua personalidade, a sua
trabalho pelo trabalhador público. subjetividade, que agora passam a se organizar e serem comandadas a partir do trabalho e não
de sua experiência, dando uma noção de imaterialidade na qualidade e quantidade do trabalho
O impacto desta mudança profunda tem sido observado em grupos operativos realizados com os realizado (Negri, A., Lazzarato, M., 2001). Para estes autores, denominados como “operaístas”
trabalhadores públicos, através do Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde, Trabalho e no movimento acadêmico italiano que discute o trabalho, as categorias clássicas do marxismo
Previdência Social (SINDISPREVRS) através da Secretaria de Saúde do Trabalhador. A secretaria perderiam seu valor explicativo. Os autores consideram, mesmo partir do atual modelo técnico
tem sido espaço de procura pelos trabalhadores públicos que referem a diminuição avassaladora de organização do trabalho descrito aqui neste texto até então, novas formas de expropriação
do espaço público na execução das políticas estatais, bem como sentimento de exclusão oriundo através do trabalho imaterial, mas também ressaltam traços como humanização, autonomia
deste processo. A referência mais forte que tem surgido nos grupos operativos é a da perda da e independência como fatores igualmente partícipes deste processo, em contraposição ao
identidade do trabalhador público como operador do direito do cidadão, implicando diretamente caráter meramente abstrato e sem sentido do trabalho imaterial originalmente proposto pela
não apenas nos efeitos sobre a sua subjetividade, mas também na qualidade dos serviços corrente teórica de filiação marxista. Esta discussão se projeta diretamente com os conteúdos
prestados à população que deles necessita. e marcadores emergentes do trabalho junto ao SINDISPREVRS, tanto nos grupos, quanto nos
atendimentos individuais realizados, e é observado, de forma concomitante ao adoecimento
A implementação do trabalho digital e seu impacto na saúde e subjetividade dos trabalhadores produzido por este processo.
tem suscitado a retomada da discussão da relação entre o trabalho vivo originalmente
conceituado por Marx (1818-1883). O trabalho vivo, na condição de lugar de realização de Ainda que os dados de adoecimento e afastamento dos trabalhadores públicos não sejam
práxis e de atualização da subjetividade do homem, constitui, para este autor, o núcleo central divulgados pelo INSS, o sindicato, através da Secretaria de Saúde do Trabalhador tem observado
entre os eventos da atividade humana. Sem sua intervenção, a matéria e os instrumentos de o aumento da busca pelo direito à saúde, muitas vezes invisibilizado e até mesmo não reconhecido
produção permaneceriam sem vida, em oposição ao trabalho morto, caracterizado como oficialmente, pelos trabalhadores que buscam o sindicato como ponto de apoio e suporte para
abstrato e vinculado trabalho alienado, ambos significantes do empobrecimento da vida. O o enfrentamento das mudanças nos processos de trabalho e suas expressões nos ambientes e
trabalho vivo, carregado de significado e produtor de sentidos e subjetividades é o determinante subjetividades presentes.
antropológico capaz de fazer ressurgir neles, em permanência, a vida, produz o valor de uso e,
consequentemente o sentido para quem o produz, reconhecido como utilizável pela sociedade A partir do trabalho realizado com os grupos de trabalhadores, foi possível perceber alguns
como fruto do que foi executado. O trabalho morto por sua vez é caracterizado pela significação marcadores considerados como negativos como: pressão permanente, disponibilidade total para
abstrata de quem o produz, contido nas mercadorias produzidas como algo que só é necessário o trabalho, controle excessivo, identificação dos riscos do processo de trabalho informatizado,
para a reprodução do capital, sem ser necessariamente subjetivado pelo trabalhador. Da mesma intensificação do trabalho pela sobrecarga, quantidade de processos na “nuvem” aguardando
forma, a discussão da relação entre a materialidade ou não do trabalho também tem sido “transbordo” do sistema e sua posterior redistribuição, diminuição crescente da força de

961 962
trabalho, extinção de serviços, terceirização, insegurança quanto às questões de afastamento realizada, direta ou indiretamente, na base destes mesmos resultados, porque, querendo o mercado
por saúde, no regime de teletrabalho. Por outro lado, também são identificados outros ou os órgãos públicos, farão sempre recair sobre os gestores a justificação e a responsabilização
marcadores identificados como positivos, como: desejo e possibilidade de controle sobre o mais imediatas desses mesmos resultados. Assim, os gestores tenderão a criar mecanismos de
processo de trabalho por parte dos trabalhadores, teletrabalho como alívio da carga emocional controle organizacional cada vez mais severas e formas de gestão supostamente mais eficientes
que o atendimento direto ao público gera, diminuição de atritos nas relações interpessoais e eficazes para garantir as condições necessárias à obtenção de bons resultados. É também
pela comunicação a partir de agora ser somente via sistema, não necessariamente pessoal, por isso que a ideologia organizativa designada por gestão da qualidade total (também nascida
acreditando que isso diminuirá a violência e o assédio moral no trabalho. nas empresas lucrativas e agora transposta para as organizações públicas) podem transformar
as políticas públicas em um novo panóptico (Foucault, 1977), agora totalmente informatizado,
Assim, percebemos que as chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC´s) estão incrementando os mecanismos de controle e vigilância sobre os seus trabalhadores.
cada vez mais presentes nos ambientes de trabalho, tanto no mundo material quanto imaterial,
tipificando também, os serviços privatizados e mercadorizados também nas políticas públicas, Em uma época de predomínio do individualismo possessivo e de pragmatismo do mercado, a
configurando-se então, como elemento novo e central para a efetiva compreensão dos novos adoção de modelos de gestão privada na gestão das políticas públicas pode transformar-se
mecanismos utilizados pelo capital mundializado. Este processo acaba por produzir também, a em estratégia de destruição dos valores do bem comum no campo público, levando assim ao
disponibilidade permanente do trabalhador para o trabalho, mantendo-se vinculado por sistemas aumento das desigualdades e exclusões sociais. Os valores considerados pelas políticas públicas
“on-line” e aplicativos cada vez mais simplificados, de forma a poderem coexistir e serem visam atender necessidades, preocupações e propósitos coletivos da sociedade, em seu caráter
operados em qualquer equipamento disponível ao trabalhador, em acesso a partir de qualquer universal. Neste sentido, a gestão de dos serviços públicos é também uma gestão de processos
horário e local. Estas tecnologias acabam por facilitar a invisibilidade do trabalho executado e políticos, relacionais, processuais, afetivos, éticos e sociais, implicando o reconhecimento de que
de seu operador, o trabalhador, ocultando igual e concomitante, os seus problemas de saúde, o próprio contexto dos serviços é atravessado por conflitos, desigualdades, diversas “visões do
oriundos muitas vezes, do próprio trabalho. mundo” e confronto de diferentes racionalidades, não sendo, por isso, a gestão uma questão de
simples competência técnica ou instrumental, finda em si mesma.
Stecher (2015) chama a atenção para a gestão a partir destas novas formas de trabalhar
inspiradas no neogerencialismo, movimento que também se expressou na reforma do Estado A partir da emergência dos conteúdos que são visibilizados nos grupos operativos, espera-se a
brasileiro, inspirada no modelo aplicado na Grã-Bratanha a partir da década de 1990, que põe retomada do senso de coletividade despedaçado por estes mecanismos gerencialistas típicos do
no serviço público conceitos e características ligadas a ideia de transição entre a lógica do processo de reestruturação produtiva, no intuito de novas formas de construção da resistência
modelo administrativo-burocrático para o modelo baseado na lógica de mercado. O resultado, coletiva e produção de novos modos de subjetivar, neste novo cenário, em contraponto ao
tanto no modelo de responsabilização baseado na lógica do mercado, quanto no modelo que se controle cada vez mais crescente e exacerbado do trabalho e do trabalhador.
apoia no controle administrativo-burocrático, as formas de avaliação privilegiadas são sobretudo
formas de avaliação que facilitam a comparação e o controle de resultados, embora no primeiro Referências
modelo se exija sempre a divulgação pública (o que nem sempre é garantido, vide a visibilização
das informações sobre afastamentos por doenças dos trabalhadores públicos) e no outro essa Antunes, R. O Privilégio da Servidão. O novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo,
prestação de contas seja feita sem a devida publicização e diretamente às hierarquias do topo Boitempo, 2018.
da pirâmide administrativa.
BRASIL. Ministério do Planejamento. Painel Estatístico de Pessoal – PEP. Disponível em: http://
De qualquer forma, sejam ou não publicamente divulgadas e publicitadas as informações sobre os www.planejamento.gov.br/painel-estatistico-de-pessoal. Consulta em julho/2018.
resultados obtidos pelos gestores do órgão públicos, a avaliação dos órgãos de gestão é sempre

963 964
Foucault, M. Vigiar e Punir. SP, Editora Vozes, 1977. Capítulo 93
Negri, A., Lazzarato, M. Trabalho Imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
El prestigio y sus sujetos: Narrativas identitarias en la universidad managerial

Carla Fardella Cisternas1 y Francisca Carvajal Muñoz2


Stecher, A. La empresa flexible como dispositivo de gobierno. Aportes de la Analítica de la
Gubernamentalidad al estudio de las subjetividades laborales en América Latina. Revista
Universitas Psychologica V. 14 No. 5 2015.
La managerialización de las universidades ha transformado el espacio académico en las últimas
décadas, naturalizando una cultura de la eficiencia, la competencia y la excelencia en la academia.
El nuevo sistema académico precisa estar sostenido por determinadas subjetividades y conmina a
elaborar nuevas narrativas identitarias competentes, para que sujetos y sujetas den cuenta de sí
en este espacio. Particularmente, en la región latinoamericana, este proceso ha sido fuertemente
apoyado por organismos internacionales (Banco Mundial, 1998; CEPAL, 2011; UNESCO, 2009),
que argumentan la necesidad estratégica de vincular los procesos productivos con la educación
terciaria (UNESCO, 1998a; 1998b; 2000). En el caso de la producción científica, se promueve
específicamente la necesidad de realizar investigaciones aplicadas (Albornoz, 2001; Dagnino &
Thomas, 1999), cuyo aporte a las economías locales sea evidente y así abandonar una matriz
productiva fundada en la extracción y exportación de materia prima (CEPAL, 2008; OCDE /
CEPAL / CAF, 2013; UNESCO, 2005).

El caso chileno encaja dócilmente con la corriente mundial y latinoamericana (Ordorika & Navarro,
2006; Slaughter & Leslie, 2001; Slaughter & Rhoades, G., 2004). A partir de los años ochenta,
las universidades chilenas han sido terreno de una serie de reformas neoliberales que han tenido
como consecuencia la privatización, y la consiguiente managerialización de las universidades
(Fardella, Carvajal, & Sisto, 2017; Sisto, 2005). De esta manera, la cultura empresarial o ethos
managerial se ha concretado en el país mediante fórmulas de descentralización y diversificación
de las fuentes de financiamiento, instalación de una cultura de la accountability, desarrollo de
instrumentos de acreditación institucional y medidas de eficacia para los procesos de trabajo
(Gill, 2009; Fardella, Sisto, & Jiménez, 2017; Slaughter & Leslie, 1997).

Al respecto, Slaughter y Rhoades (2004) indican que la cultura empresarial en las universidades
no es una consecuencia de fuerzas corporativas externas que subvierten el espacio académico,
sino que sugieren revisar la participación de docentes, administradores y académicos, quienes,
1. Universidad Andrés Bello. Email: carlafardella@gmail.com
2. Universidad Nacional de Córdoba. Email: frani.carmu@gmail.com

965 966
en su devenir cotidiano crean circuitos donde se vinculan los valores tradicionales de la cadencia del accountability y la estandarización de diferentes procesos del quehacer (Blackmore
universidad y la nueva economía (Bercovitz & Feldman, 2008). Asimismo, diversos autores & Kandiko, 2011; Bissett, 2009). Adicionalmente, la vocación, el compromiso y la pasión han
(D’este & Perkmann, 2011; Ibarra, 2003; Ledesma, 2014; Ross, 2009) suponen una relación encontrado una relación peligrosa con la autointensificación y las dobles jornadas laborales
más compleja entre universidades y cultura empresarial, al plantear que las comunidades (Fardella, Sisto, & Jiménez, 2017), pues, al mismo tiempo que los sistemas de aseguramiento
académicas han sido claves en la reconfiguración de las instituciones (Slaughter & Leslie, 2001). de la calidad simulan proteger la excelencia, referente histórico de la academia, las agencias
Ciertamente, la cultura empresarial que tiñe el trabajo académico, precisa estar sostenida por de calidad parecen asegurar una mínima probidad para la competencia y el libre mercado (Gill,
guiones y gramáticas identitarias que permitan su flujo por los pasillos universitarios (Sisto V. 2009). Indudablemente identidad académica y cultura empresarial entrelazan muchos otros
, 2014; Sisto & Fardella, 2009; Soto A. , 2009; Soto, Stecher, & Valenzuela, 2017). Por ello, la temas, pero hay una constante soterrada: el prestigio (Blackmore & Kandiko, 2011).
identidad académica tiene una incidencia ineludible para esta discusión (Fardella, Carvajal, &
Sisto, 2017). Tal como señala Davies y Harré (1990), los académicos tienden a dar cuenta de sí como sujetos
reflexivos y agudos, con facultades sobresalientes para leer determinados aspectos de la realidad
Desde la psicología social del trabajo de las organizaciones, la producción académica registra (Fardella, Carvajal, & Sisto, 2017). Esta narración de sí construye un self que se distingue del
un claro interés centrado en la relación subjetividad-trabajo. Esta relación ha sido comprendida resto y así justifica una mirada privilegiada sobre el mundo (Bourdieu, 2008; 1999). Se articula
desde diferentes aproximaciones conceptuales y teóricas; no obstante, de manera unánime de este modo una incómoda paradoja entre el prestigio como referente identitario histórico y la
se considera la subjetividad trabajadora como un producto de la articulación de prácticas y necesidad de volverse legible, a la vez que miembro legítimo y destacado del nuevo escenario
modos de acción sobre el sujeto y su intimidad (Zangaro, 2011; 2012). Junto con ello, una empresarial (Bercovitz & Feldman, 2008). Desde lo planteado por Burris (2004), existe un estilo
parte importante de las investigaciones en sociología del trabajo académico han explorado la propio de los académicos en la actualidad, que tienden a producir y reproducir, y que además
relación entre las universidades y los aspectos económico y socio-psíquicos como dimensiones es deseable debido al prestigio que trae consigo (Bourdieu, 2008). No obstante, el prestigio,
inseparables la problemática actual de este espacio educativo (Blackmore & Kandiko, 2011). junto con la excelencia y la distinción, ha ejercido un papel central en la identidad académica,
Las investigaciones iniciadas de este cruce disciplinar destacan el surgimiento de una cultura documentado históricamente (Bourdieu, 1999; Le Goff, 1996), pero inexplorado bajo las
empresarial (Shattock, 2008), cuyos valores desafían la lógica tradicional de las universidades categorías de la cultura empresarial.
(Barnett, 1994). Un indicador de este proceso es el avance de los enfoques corporativos como
forma de organización de las universidades (Dopson & McNay, 1996; Deem, 1998; 2004; En este escenario, parece relevante situar la mirada hacia la forma en que el trabajo académico
Brunner, 2008). no sólo ha sido de suma importancia en la constitución de estilos identitarios, sino que estas
identidades conectan, aceleran o promueven la legitimidad de las lógicas neoliberales en las
Si bien, los académicos han construido alianzas y complicidades silenciosas con este nuevo universidades (Sisto, 2005).
modelo, también es posible plantear que existe un margen considerable de agencia académica en
tal proceso (Fardella, Carvajal, & Sisto, 2017; 2017; Slaughter & Rhoades, G., 2004). La disputa De esta manera, el concepto de prestigio aparece como eje central de las prácticas cotidianas
identitaria entre el ethos académico y los valores empresariales implicados en la reestructuración académicas, partiendo porque las universidades competirían entre ellas, usando el prestigio de
universitaria, está ampliamente representada en la literatura (Beck, 2002; Boltanski & Chiapello, los académicos como recurso de batalla (Brunner & Flisfisch, 1983). Puede ser definido como un
2002; Dubar, 2000; 2001; Gubrium & Holstein, 1998; Íñiguez, 2001; Medá, 1998), donde se criterio para la descripción y valorización de las posiciones de las personas dentro de un campo,
cuestiona el valor del emprendimiento como motor para la producción de conocimiento. Sumado en este caso la academia. Vacarezza (2000), por ejemplo, señala que un criterio que define la
a ello, hay suspicacia acerca de la compatibilidad entre ganancias financieras y conocimiento actividad de los grupos científicos es la competencia por el reconocimiento de la comunidad y así
desinteresado, público y libre (Fuller, 2003; Smith & Sparkes, 2008). Junto con ello, aspectos el consecuente prestigio. Asociado a esto, señala que en las condiciones actuales este prestigio
históricos de la identidad académica, como la autonomía disciplinar, parecen desentonar con la está estrechamente relacionado con la producción intelectual y la visibilidad de los académicos,

967 968
siendo estos dos cometidos, aspectos fundamentales para el reconocimiento de sí mismos como En general la cultura académica supone que el reconocimiento se basa en principios
académicos valiosos. meritocrático y el sujeto se adscribe a esos códigos para mostrarse como un miembro pertinente.
El reconocimiento o incluso la consagración como un miembro eficaz de esta comunidad se
Desde la antropología, el prestigio ha sido un poco más estudiado, mediante el desarrollo del basan, al menos ostensiblemente, en principios meritocráticos. Incluso ideando tablas, diseños
concepto “economía de prestigio”, ligados a la observación y comprensión de acciones culturales e instrumentos que registran diferentes aspectos del rendimiento académico y disponibilidad de
que no son explicables sin estas categorías (Bascom, 1948; Grinev, 2005; Herskovits, 1948). El medidas cuantitativas que aparenta probidad para evaluar el desempeño de cada miembro de
desarrollo antropológico del concepto permite una lectura cultural en torno a la circulación del la comunidad.
prestigio, los procedimientos para su obtención, así como la concesión selectiva de éste (Allen
& Parsons, 2006). Recientemente, English (2005) ha propuesto la idea de una economía de Referencias
prestigio en el campo del trabajo cultural observando las formas en que la excelencia y el estatus
del autor son construcciones a posteriori de la obtención de premios y no como el reconocimiento Albornoz, M. (2001). Política científica y tecnológica. Una visión desde América Latina. Revista
de su excelencia. Afirma que el reconocimiento envuelve asuntos de poder y estatus social, lo Iberoamericana de Ciencia, Tecnología, Sociedad e Innovación, 1(4), 1-19.
que permite pensar que el prestigio va más allá de un atributo personal, es una construcción
social que requiere de determinadas relaciones sociales, asociadas a ciertas subjetividades, Allen, M. P., & Parsons, N. L. (2006). The institutionalization of fame: achievement, recognition,
siendo un campo donde se produce e intercambia capital social y cultural, y donde la validación and cultural consecration in baseball. American Sociological Review, 71(5), 808-825.
y aprobación académica es fundamental para circular en el campo.
Banco Mundial. (1998). The Financing and Management of Higher Education: A status report on
Este trabajo presenta un análisis discursivo de fragmentos en torno al prestigio y la excelencia worldwide reforms. New York: Banco Mundial.
de 40 entrevistas a académicos de diferentes áreas del conocimiento, con el objetivo de
comprender la interacción de académicos con las nuevas del mérito, la subjetividad académica y Barnett, R. (1994). The limits of competence: knowledge, higher education and society. Bristol,
el prestigio. Estos fueron los hallazgos: PA: Open University Press.

- El mérito como fundamento para el prestigio Bascom, W. R. (1948). Ponapean prestige economy. Southwestern Journal of Anthropology,
La narrativa de exposición de méritos propios busca la exhibición de sí a través de la distinción 4(2), 211-221.
con los demás. Esta distinción no es dada por el azar o algún contexto facilitador, sino por un
recorrido vital lleno de esfuerzo y también por ciertas cualidades que poseen y que, en definitiva, Beck, U. (2002). La sociedad del riesgo global. Madrid: Siglo XXI Editores.
son la base para su comprensión de sí como personas excepcionales, esforzadas y voluntariosas,
son sujetos “fuera de lo común”. Bercovitz, J., & Feldman, M. (2008). Academic entrepreneurs: Organizational change at the
individual level. Organization Science, 19(1), 69-89.
- La acreditación como validez del prestigio
La acreditación de sí es el ejercicio narrativo de dar cuenta de las actividades académicas y que Bissett, A. (2009). Academics as Entrepreneurs: The Changing Nature of Academic
estas actividades adquieren valor o validez por medio de una referencia a un tercero. Por ejemplo, Professionalism. En i. R. Network, Academic Futures: Inquiries into Higher Education and
los académicos anuncian el valor de sus actividades académicas aludiendo solapadamente a Pedagogy (págs. 111-126). Cambridge: Cambridge Scholars Publishing.
terceros y esto funciona como un respaldo para su lugar dentro del mundo de la academia.
Blackmore, P., & Kandiko, C. B. (2011). Motivation in academic life: a prestige economy. 399–

969 970
411. 20(2), 107-128.

Boltanski, L., & Chiapello, È. (2002). El nuevo espíritu del capitalismo. Madrid: Akal. D’este, P., & Perkmann, M. (2011). Why do academics engage with industry? The entrepreneurial
university and individual motivations. The Journal of Technology Transfer, 36(3), 316-339.
Bourdieu, P. (1999). Intelectuales, política y poder. Buenos Aires: Eudeba.
Dopson, S., & McNay, I. (1996). Organizational Culture. En D. Warner, & D. Palfreyman, Higher
Bourdieu, P. (2008). Homo Academicus. Buenos Aires: Siglo XXI Editores. Educational Management. Buckingham: SRHE.

Brunner, & Flisfisch. (1983). Los intelectuales y las instituciones de la cultura . Mexico D.F: Dubar, C. (2000). La crise del identités, l’interpretation d’une mutation. Paris: Presses
Facultad Latinoamericana de ciencias Sociales. Universitaires de France.

Brunner, J. J. (2008). Educación superior en Chile: instituciones, mercados y políticas Dubar, C. (2001). El trabajo y las identidades profesionales y personales. Revista Latinoamericana
gubernamentales. Leiden, Países Bajos: Leiden. de estudios del Trabajo, 7(13), 5-16.

Burris, V. (2004). The academic caste system: Prestige hierarchies in PhD exchange networks. English, J. F. (2005). The Economy of Prestige: Prizes. Awards, and the Circulation of Cultural
American sociological review, 69(2), 239-264. Value. Cambridge, MA: Harvard University Press.

CEPAL. (2008). Hacia la revisión de los paradigmas del desarrollo en América Latina. Santiago: Fardella, C., Carvajal, F., & Sisto, V. (2017). Las y los académicos de la Universidad del
Comisión Económica para América Latina y el Caribe. Management. Identidades y autodefinición. 3er Simposio Internacional de Trabajo, Actividad y
Subjetividad. Córdoba: Universidad Nacional de Córdoba.
CEPAL. (2011). Estudio Económico de América Latina y el Caribe 2010-2011. Santiago: Comisión
Económica para América Latina y el Caribe. Fardella, C., Sisto, V., & Jiménez, F. (2017). La transformación de la universidad y los dispositivos
de cuantificación. Estud. psicol. (Campinas) (en prensa).
Dagnino, R., & Thomas, H. (1999). La Política Científica y Tecnológica en América Latina: nuevos
escenarios y el papel de la comunidad de investigación. Redes, 6(13), 49-74. Fuller, S. (2003). The university: a social technology for producing universal knowledge.
Technology in Society, 25(2), 217-234.
Davies, B., & Harré, R. (1990). Positioning: The discursive production of selves. Journal for the
theory of social behaviour, 20(1), 43-63. Gill, R. (2009). Breaking the silenc. the hidden injuries of neo-liberal academia. En R. Flood, &
R. Gill, Secrecy and silence in the research process: Feminist Reflections. London : Routledge.
Deem, R. (1998). “New Managerialism” and higher education: The management of performance
and cultures in universities in the United Kigndom. International Studies in Sociology of Grinev, A. V. (2005). The Tlingit Indians in Russian America, 1741–1867. Lincoln: University of
Education, 8(1), 47-70. Nebraska Press.

Deem, R. (2004). The knowledge worker, the manageer-academic and the contemporary UK Gubrium, J., & Holstein, J. (1998). Narrative practice and the coherence of personal stories. The
university: New and old forms of public management? Financial accountability & Management, Sociological Quarterly, 39(1), 163-87.

971 972
precariedad. En P. Gentili, & B. Levy, Espacio Público y privatización del conocimiento. Estudios
Herskovits, M. J. (1948). The contribution of Afroamerican studies to Africanist research. sobre politicas universitarias en América Latina (págs. 523 - 574). Buenos Aires: Clacso Libros.
American Anthropologist, 50(1), 1-10. Sisto, V. (2014). Identidades en disputa: Identidades laborales en el contexto de las actuales
transformaciones en la gestión pública. En A. Stecher, & L. Godoy, Transformaciones del trabajo,
Ibarra, E. (2003). Capitalismo académico y Globalización: la universidad reinventada. Educação subjetividad e identidades: lecturas psicosociales desde Chile y América Latina (págs. 299-
& Sociedade, 24(84), 1059-1067. 322). Santiago: Ril Editores.

Íñiguez, L. (2001). Identidad: De lo personal a lo social. Un recorrido conceptual,. En E. Crespo, La Sisto, V., & Fardella, C. (2009). Control narrativo y gubernamentalidad: La producción de
constitución social de la subjetividad (págs. 209-225). Madrid: Catarata. coherencia en las narrativas identitarias. El caso de profesionales chilenos adultos jóvenes en
condiciones de vinculación laboral flexible [70 párrafos]. Forum Qualitative Sozialforschung /
Le Goff, J. (1996). Los intelectuales en la Edad Media. Barcelona: Gedisa. Forum: Qualitative Social Research, 10(2), Art. 29.

Ledesma, M. (2014). New modes of governance of Latin American higher education: Chile, Slaughter, S., & Leslie, L. (1997). Academic Capitalism. Politics, Policies and the Entrepreneurial
Argentina and Mexico. Bordon. Revista de pedagogía, 66(1), 137-150. University. Baltimore: Johns Hopkins University Press.

Medá, D. (1998). El Trabajo un Valor en Peligro de Extinción. Barcelona: Gedisa. Slaughter, S., & Leslie, L. (2001). Expanding and Elaborating the Concept of Academic Capitalism.
Organization, 2(8), 154-161.
OCDE / CEPAL / CAF. (2013). Perspectivas económicas de América Latina 2014. Logística y
competitividad para el desarrollo. Comisión Económica para América Latina y el Caribe. Obtenido Slaughter, S., & Rhoades, G. (2004). Academic Capitalism and the New Economy: Markets, State
de http://www.cepal.org/es/publicaciones/1504-perspectivas-economicas-america-latina- and Higher Education. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
2014-logistica-competitividad-desarrollo
Smith, B., & Sparkes, A. (2008). Contrasting perspectives on narrating selves and identities.
Ordorika, I., & Navarro, M. (2006). Investigación académica y políticas públicas en la educación Qualitative Research, 8(5), 5-35.
superior: El caso mexicano de pago por méritos. Revista del CEDES (Centro de Estudios y
Documentación sobre la Educación Superior Puertorriqueña), (1), , 52-71. Soto, A. (2009). Formas y tensiones de los procesos de individualización en el mundo del trabajo.
Psicoperspectivas. Individuo y Sociedad, 8(2), 102-119.
Ross, A. (2009). Nice work if you can get it: Life and labor in precarious times. New York: NYU
Press. Soto, Á., Stecher, A., & Valenzuela, A. (2017). Interpelaciones identitarias en el trabajo:
Propuesta para la comprensión de los procesos de construcción de la identidad laboral. Estudos
Shattock, M. (2008). Entrepreneurialism in universities and the knowledge economy: de Psicologia (Campinas), 34(1), 25-39.
Diversification and organizational change in European higher education. Buckingham: Society
for Research into Higher Educational Open University Press. UNESCO. (1998a). Indicadores de Educación en el Mundo. Guinea: Organización de las Naciones
Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura.
Sisto, V. (2005). Flexibilizacion laboral de la docencia universitaria y la gest(ac)ión de la
universidad sin órganos. Un analisis desde la subjetividad laboral del docente en condiciones de UNESCO. (1998b). La Educación Superior en el Siglo XXI. Visión y Acción (Documento de

973 974
Trabajo). Paris: Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura. Capítulo 94
UNESCO. (2000). La ciencia para el siglo XXI. Un nuevo compromiso. Conferencia Mundial sobre
la Ciencia. Paris: Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura.
Narrativas identitarias de académicas en la universidad actual

Francisca Carvajal Muñoz1 y Carla Fardella Cisternas2


UNESCO. (2005). Hacia las sociedades del Conocimiento. Paris: Organización de las Naciones
Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura.
Desde la década de 1970 se han experimentado transformaciones sistemáticas en la institución
UNESCO. (2009). Conferencia mundial sobre la educación superior - 2009: la nueva dinámica de
universitaria chilena, especialmente en las áreas de financiamiento y gestión de la investigación
la educación superior y la investigación para el cambio social y el desarrollo. Paris: Organización
y producción de conocimiento (Brunner, 2011; Slaughter & Rhoades, 2004), impactando
de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura.
en las condiciones laborales de la fuerza de producción de este engranaje: académicas y
académicos (Altbach, 2000; Fardella, Sisto, & Jiménez, 2015; 2017). Estas transformaciones
Vaccarezza, L. S. (2000). Las estrategias de desempeño de la profesión académica. Ciencia
se han caracterizado por el despliegue de políticas orientadas por el Nuevo Management
periférica y sustentabilidad del rol de investigador universitario. Redes, 7(15), 15-43.
Publico(Slaughter & Leslie, 2001) que, en un micro-nivel, ha conducido a intensificar, extender
y diversificar los procesos cotidianos de trabajo del cuerpo académico (Gill, 2009). Si bien estas
Zangaro, M. (2011). Subjetividad y trabajo: el management como dispositivo de gobierno. Trabajo
políticas han sido desplegadas masivamente, estas repercuten de una manera particular en las
y sociedad, (16), 163-177.
mujeres que conforman los espacios de investigación y producción de conocimiento, debido a la
ausencia de referentes y categorías propias (Franulic, 2015).
Zangaro, M. (2012). Subjetividad y trabajo. Una lectura foucaultiana del Management. Buenos
Aires: Ediciones Herramienta.
Esta investigación tiene como eje la Identidad Social, donde la identidad, como trama narrativa,
genera cohesión y coherencia continua respecto del sí mismo en un determinado escenario
(Fardella, Carvajal, & Sisto, 2017; Íñiguez, 2001; Henkel M. , 2000; 2005). En este proceso de
dar cuenta de sí, se realizan transacciones y concesiones con el entramado social, que fisuran y
reorganizan la identidad permanentemente. Así, la identidad en un contexto de reorganización
del trabajo desafía aspectos subjetivos y relacionales de quienes trabajan allí (Boltanski &
Chiapello, 2002).

Estas nuevas formas de organizar el trabajo, implica nuevas prescripciones identitarias desde
donde las y los académicos deben leerse, promoviendo la racionalidad, la estrategia, el trabajo
solitario e individual, competitivo y emprendedor (Brunner, 2008; De Armas & Venegas, 2016).
Entonces, la construcción actual afecta de manera diferenciada a las agentes, teniendo que
elaborar performances complejos para permanecer productivas y ser legibles dentro de esta
nueva gramática identitaria, que produce y reproduce relatos androcéntricos en la producción
1. Universidad Nacional de Córdoba. Email: frani.carmu@gmail.com
2. Universidad Nacional de Córdoba. Email: frani.carmu@gmail.com

975 976
científica (Franulic, 2015), lo que consecuentemente genera posibilidades diferenciadas para interior de la educación superior y, finalmente, los factores contextuales y estructurales que
hombres y mujeres en el espacio científico. afectan la producción científica (Katila & Meriläinen, 1999; Sarsons, 2015; Saracostti, 2006;
Lerback & Hanson, 2017).
Según UNESCO (2017), las mujeres representan el 28,8% de los investigadores a nivel mundial
y un 31,5 % a nivel nacional, accediendo en mayor proporción que los hombres a diplomados, De esta manera, bajo la interrogante sobre cómo las mujeres académicas dan cuenta de sí en un
en igual medida a magíster, y en menor cantidad a programas de doctorado. De esta manera, contexto de trabajo tensionado y en transformación, esta ponencia busca describir y comprender
mientras avanzan en la carrera académica, desertan: del total de graduados en magister, las identidades laborales de mujeres académicas de las diferentes áreas científicas del
representan el 53% y a 43% en el caso del doctorado. Luego, por diversos motivos, quienes se conocimiento (planteadas por la OCDE), en un contexto de rediseño e implementación políticas
dedican a investigación solo son el 28% (UNESCO, 2017). Este tercio persiste y se reitera luego públicas de orientación managerial para la productividad científica.
en la adjudicación de becas post-doc, Iniciación y también Regular (25%).
Este estudio se basa en una investigación de tipo cualitativa que, en su diseño consideró la
Para comprender los porcentajes que expone UNESCO, el enfoque de género en la lectura de realización de 40 entrevistas activas (Holstein & Gubrium, 1995) a mujeres académicas con
las transformaciones en la academia ha aumentado en los últimos años, centrados en visibilizar alta tasa de publicaciones científicas y adjudicación de fondos concursables para la investigación
la inequidad y la reproducción de la división sexual del trabajo en las diferentes actividades en las distintas áreas del conocimiento dentro de las universidades con mayores tasas de
propias de la configuración actual universitaria (Anderson, 2008; Mason & Goulden, 2004; investigación (escritura y proyectos adjudicados) de las Regiones Metropolitana y de Valparaíso.
Moncayo Orjuela & Pinzón López, 2013; Montes, 2014; Parsons & Priola, 2013; Van den Brink Luego de la grabación de las entrevistas, estas fueron transcritas e ingresadas al Software Atlas.
& Benschop, 2012).Desde los estudios de género se ha considerado que habitar un cuerpo ti y codificadas inicialmente a partir del Análisis de Contenido, para posteriormente apoyar la
femenino y feminizado (Lorente Molina, 2004; Lozano, 2004), implica interactuar, rechazar interpretación de narrativas con estrategias de Análisis del Discurso con enfoque pragmático
e incorporar nociones, sentidos e identidades con respecto a los roles de género en la vida (Potter, 1998; Potter & Wetherell, 1987; Wetherell & Potter, 1998).
cotidiana, la normación y normalización de lo realizable por hombres y por mujeres y su efecto
en las trayectorias laborales y la generación de identidades, además de la remuneración de sus Como hallazgos destacables, aparecen enunciaciones que permiten señalar ciertas situaciones
actividades (Gervais & Millear, 2016; Kinman, 2016) como si se hubieran elegido, o mostrar la pasión y la autorrealización como formas de recuperar
un estatus de enunciación y distanciarse de la subalternidad. Así, es posible establecer dos
Existen diferentes perspectivas que dan cuenta de la inequidad de y segregación de género, las narrativas reiterativas:
diferencias de productividad, la tubería rota, el techo de cristal y la reproducción de estereotipos
en el espacio académico (Gamboa Solís & Pérez Abreu, 2017; Gasser & Shaffer, 2014; Savigny, La negación de la vulnerabilidad
2014). Estos fenómenos tienen consecuencias específicas debido al espacio laboral donde
esto sucede, precisamente porque es un lugar donde se produce y reproduce conocimiento, El espacio académico es señalado como un espacio donde la discriminación visible en otros
por tanto, discursos sociales sobre lo verdadero, lo comprobado y lo legítimo (Aiston & Jung, lugares de trabajo acá emerge mediante prácticas que operan negando sistemáticamente a las
2015; Bagilhole, 1993). Así, la divulgación y visibilización de la desigualdad ha alcanzado hace mujeres (Itriago, 2017). Hay datos suficientes para reconocer la desigualdad de género en la
pocos años impacto en la toma de decisiones institucionales sobre cómo revertir las diferentes academia, pero hay que algo que agrava lo dicho anteriormente, y es que ni hombre ni mujeres
prácticas de fuga de las mujeres en el espacio académico (Acker, 2014; Howe-Walsh & Turnbull, en la academia reconocen de manera generalizada este problema. La mayoría de las científicas
2016), incluso volviendo perceptible y manifiesto la jerarquización de roles en función de la cree que el género no influye en su ambiente de trabajo y si lo sentían, lo minimizaban (Britton,
naturalización de estereotipos de género (Rivera, 2017; Sheltzer & Smith, 2014), principalmente 2010). Esto sin duda permite que la desigualdad de género se mantenga. Por la misma cultura
en cuanto a los puesto de poder, las tomas de decisiones, el diseño y ejecución de políticas al de este oficio y la producción identitaria académica puede que se haga difícil aceptar el sesgo

977 978
de género que perjudica a las científicas, pues esto haría trastabillar su prestigio, sus méritos y Referencias
recorridos, enunciarse como sujeto vulnerado (Berríos, 2018).
Acker, S. (2014). A foot in the revolving door? Women academics in lower-middle management.
La invención y protección del tiempo Higher Education Research & Development, 33(1), 73-85.

Asimismo, las entrevistas dejaron ver que las diferencias de género no aparecen como algo que Aiston, S. J., & Jung, J. (2015). Women academics and research productivity: an international
afecta la vida cotidiana laboral ni que dificulta la trayectoria académica, pues ésta depende comparison. Gender and Education, 27(3), 205-220.
de una cuestión individual de la gestión de tiempos, colaboraciones con pares y equipos de
investigación, y organización para la conciliación de la vida privada con la vida laboral (Quiroz, Altbach, P. (2000). The Changing Academic Workplace: Comparative Perspectives. Chestnut
2012). Es decir, no parece observable por las mujeres académicas que la organización de la Hill, Massachusetts : Boston College Center for International Higher Education.
carrera académica y la labor científica acentúa y agudiza las inequidades sociales de género,
por ello la maternidad emerge como un problema que amenaza con enlentecer la carrera, pide Anderson, G. (2008). Mapping academic resistancein the managerial University. Organization,
gestionar otros ritmos, requiere otros apoyos para el mantenimiento del estatus profesional 15 (2), 251-270.
(Montes, 2014) y es el único lugar donde se fractura discursos ya vistos y compartidos por
hombres académicos respecto a las narrativas de convergencia con la Nueva Gestión Pública Bagilhole, B. (1993). How to keep a good woman down: An investigation of the role of institutional
(Fardella, Carvajal, & Sisto, 2017), y se vislumbra la posibilidad de re-pensar la manera en que factors in the process of discrimination against women academics. British Journal of Sociology
se habita la academia, la investigación y la producción de conocimiento. of Education, 14(3), 261-274.

Finalmente, se puede concluir que la conciliación entre familia y trabajo es vista como uno de los Berlien, K., & Varela, P. (2016). Estudio Realidad Nacional en Formación y Promoción de Mujeres
principales obstáculos para desarrollar una carrera científica (Berlien & Varela, 2016). Ya que la Científicas en Ciencia, Tecnología, Ingeniería y Matemáticas. Santiago: CONICYT – Isónoma
conciliación es compleja, las científicas sienten que deben “optar” una u otra (Berlien & Varela, Consultorías Sociales Ltda.
2016; CEPAL, 2013; Yáñez, 2016). Esta tensión tiene varias salidas dudosas, la ralentización
de la carrera científica, el abandono o la aceptación de dobles o triples jornadas de trabajo Berríos, P. (2018). El sistema de prestigio en las universidades y el rol que ocupan las mujeres
que, en relación con la sociabilización de género, terminan siendo un caldo de cultivo para la en el mundo académico. Calidad en la Educación, (23)., 349-361.
proliferación del fenómeno de culpa principalmente en las mujeres. Varios estudios muestran
cómo las mujeres elaboran un discurso de “mala madre” asociado a la sensación permanente de Boltanski, L., & Chiapello, È. (2002). El nuevo espíritu del capitalismo. Madrid: Akal.
deuda por no destinar todo su tiempo en el cuidado y crianza de otro, por restar tiempo y energía
a la vida familiar (Cerros Rodríguez & Ramos Tovar, 2009) Britton, D. M. (2010). Engendering the university through policy and practice: Barriers to
promotion to full professor for women in the science, engineering, and math disciplines. En
Cabe destacar que la relación género-universidad permite visibilizar la multiplicidad de jornadas B. Riegraf, B. Aulenbacher, E. Kirsch-Auwärter, & U. Müller, Gender Change in Academia: Re-
en las que se mueve, producen y organizan las mujeres (Bruni, Gherardi, & Poggio, 2004). Esta mapping the fields of work, knowledge, and politics from a gender perspective (págs. 15-26).
perspectiva permite observar y dar cabida a prácticas invisibilizadas en su expresión cotidiana Wiesbaden: Springer Science & Business Media.
que son parte del quehacer de las mujeres académicas y que no son consideradas parte del
engranaje productivo de la ciencia. Bruni, A., Gherardi, S., & Poggio, B. (2004). Doing gender, doing entrepreneurship: An
ethnographic account of intertwined practices. Gender, Work & Organization, 11(4), 406-429.

979 980
Brunner, J. J. (2008). Educación superior en chile:instituciones, mercados y políticas Gasser, C. E., & Shaffer, K. S. (2014). Career Development of Women in Academia: Traversing
gubernamentales. Leiden, Paises Bajos: Leiden. the Leaky Pipeline. Professional Counselor, 4(4), 332-352.

Brunner, J. J. (2011). Gobernanza universitaria: tipología, dinámicas y tendencias. Revista de Gervais, R. L., & Millear, P. M. (2016). Exploring resources, life-balance and well-being of women
Educación, 355, 137-159. who work in a global context. Cham: Springer.

CEPAL. (2013). Mujeres en la economía digital: Superar el umbral de la desigualdad. XII Gill, R. (2009). Breaking the silence: The hidden injuries of neo-liberal academia. En R. Flood, &
Conferencia Regional sobre la Mujer de América Latina y el Caribe (págs. 1-75). Santo Domingo: R. Gill, Secrecy and Silence in the Research Process: Feminist Reflections (págs. 1-21). London:
Naciones Unidas. Routledge.

Cerros Rodríguez, E., & Ramos Tovar, M. E. (2009). Discurso de género y emociones en mujeres Henkel. (2005). Academic identity and autonomy in a changing policy enviroment. Higher
académicas de alto rendimiento. Perspectivas sociales, 11(1-2), 187-209. Education, 49, 155–176.

De Armas, T., & Venegas, C. (2016). Capitalismo académico y género: Estudio desde el enfoque Henkel, M. (2000). Academic Identities and Policy Change. London: Jessica Kingsley Publishers.
de la individuación en universidades de la Región de Valparaíso pertenecientes al “Consejo de
Rectores de Universidades de Chile. IX Congreso de Sociología. GT 29: Universidad, políticas y Holstein, J. A., & Gubrium, J. F. (1995). The active interview (Vol. 37). Thousand Oaks, CA: Sage.
capitalismo académico. Talca: Universidad Católica del Maule. Howe-Walsh, L., & Turnbull, S. (2016). Barriers to women leaders in academia: tales from
science and technology. Studies in Higher Education, 41(3), 415-428.
Fardella, C., Carvajal, F., & Sisto, V. (2017). Las y los académicos de la Universidad del
Management. Identidades y autodefinición. 3er Simposio Internacional de Trabajo, Actividad y Íñiguez, L. (2001). Identidad: De lo personal a lo social. Un recorrido conceptual,. En E. Crespo, La
Subjetividad. Córdoba: Universidad Nacional de Córdoba. constitución social de la subjetividad (págs. 209-225). Madrid: Catarata.

Fardella, C., Sisto, V., & Jiménez, F. (2015). Nosotros los académicos. Narrativas identitarias y Itriago, M. M. (2017). ¿La ciencia, cuestión de hombres? Mujeres entre la discriminación, los
autodefinición en la universidad actual. Universitas Psychologica, 14(Spe5), 1625-1636. estereotipos y el sesgo de género (Vol. 2). Quito: Ediciones Ciespal.

Fardella, C., Sisto, V., & Jiménez, F. (2017). La transformación de la universidad y los dispositivos Katila, S., & Meriläinen, S. (1999). A serious researcher or just another nice girl?: Doing gender
de cuantificación. Estud. psicol. (Campinas) (en prensa). in a male‐dominated scientific community. Gender, Work & Organization, 6(3), 163-173.

Franulic, A. (2015). Por un análisis feminista del discurso desde la diferencia sexual. Revista Kinman, G. (2016). Managing the work-home interface: the experience of women academics. En
Latinoamericana de Estudios del Discurso, 15(1), 7-22. R. L. Gervais, & P. M. Millear, Exploring Resources, Life-Balance and Well-Being of Women Who
Work in a Global Context (págs. 127-144). Cham: Springer.
Gamboa Solís, F., & Pérez Abreu, A. (2017). Tiempo de academia y el poder ‘poder’ de las mujeres
en el desafío familia-trabajo. Las académicas de la Universidad Michoacana de San Nicolás de Lerback, J., & Hanson, B. (2017). Journals invite too few women to referee. Nature, 541(7638),
Hidalgo. La ventana. Revista de estudios de género, 5(45), 241-268. 455-457.

981 982
Lorente Molina, B. (2004). Género, ciencia y trabajo. Las profesiones feminizadas y las prácticas
de cuidado y ayuda social. Scripta ethnologica, (26), 39-53. Sheltzer, J. M., & Smith, J. C. (2014). Elite male faculty in the life sciences employ fewer women.
Proceedings of the National Academy of Sciences, 111(28), 10107-10112.
Lozano, F. A. (2004). Las mujeres y la universidad española: estructuras de dominación y
disposiciones feminizadas en el profesorado universitario. Política y sociedad, 41(2), 223-242. Slaughter, S., & Leslie, L. L. (2001). Expanding and elaborating the concept of academic
capitalism. Organization, 8(2), 154-161.
Mason, M. A., & Goulden, M. (2004). Marriage and baby blues: Redefining gender equity in the
academy. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, 596(1), 86-103. Slaughter, S., & Rhoades, G. (2004). Academic Capitalism and the New Economy: Markets,
State, and Higher Education. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
Moncayo Orjuela, B., & Pinzón López, N. P. (2013). Mujeres líderes en la academia, estereotipos
y género. Panorama, 7(13), 75-94. UNESCO. (2017). Women in Science. Fact Sheet Nº 43. Montréal, CA: UNESCO Institute for
Statistics. Obtenido de http://uis.unesco.org/sites/default/files/documents/fs43-women-in-
Montes, E. (2014). La carrera académica vista con ojos de mujer: Análisis cualitativo de science-2017-en.pdf
experiencias profesionales. En E. González, & M. González, Mujeres en guerra / Guerra de
Mujeres en la sociedad, el arte y la literatura (págs. 259-272.). Sevilla: Arcibel. Van den Brink, M., & Benschop, Y. (2012). Gender practices in the construction of academic
excellence: Sheep with five legs. Organization, 19(4), 507-524.
Parsons, E., & Priola, V. (2013). Agents for change and changed agents: The micropolitics of
change and feminism in the academy. Gender, Work & Organization, 20(5), 580-598. Wetherell, M., & Potter, J. (1998). Discourse and Social Psychology-Silencing Binaries. Theory
& Psychology, 8(3), 377-388.
Potter, J. (1998). Discursive social psychology: From attitudes to evaluative practices. European
review of social psychology, 9(1), 233-266. Yáñez, S. (2016). Trayectorias laborales de mujeres en ciencia en tecnología: Barreras y desafíos.
Un estudio exploratorio. Santiago: FLACSO.
Potter, J., & Wetherell, M. (1987). Discourse and Social Psychology. London: Sage.

Rivera, L. A. (2017). When two bodies are (not) a problem: Gender and relationship status
discrimination in academic hiring. American Sociological Review, 82(6), 1111-1138.

Saracostti, M. (2006). Mujeres en la alta dirección de educación superior: posibilidades,


tensiones y nuevas interrogantes. Calidad en la educación, (25), , 243-259.

Sarsons, H. (2015). Gender Differences in Recognition for Group Work. Harvard University
Working Paper, 3.

Savigny, H. (2014). Women, know your limits: Cultural sexism in academia. Gender and
Education, 26(7), 794-809.

983 984
Capítulo 95 Por supuesto, subyacente se encuentra una visión de las organizaciones como un campo en
donde circulan diferentes versiones acerca de lo que ocurre. El lenguaje se constituye entonces
como centro de las negociaciones y las versiones circulantes se convierten en el eje de los
De artesanos a trabajadores fragmentados: acerca de la producción de análisis. La lectura que se realiza busca recopilar el mayor número de versiones desde las
subjetividad en organizaciones productoras de zapatos en Bogotá, Colombia diversas posiciones desde donde se negocia. Estas versiones a la vez contribuyen a constituir
esas posiciones que ahora se puede decir son lugares de poder en donde se anclan, no solamente
Hernán Camilo Pulido Martínez1 y Alba Luz Giraldo Tamayo2 formas de concebir a las organizaciones y el trabajo, sino también versiones sobre aquellos
que están inmersos en el acontecer organizacional que permiten constituirse mutuamente como
sujetos.
La lectura de las organizaciones productora de zapatos
La recopilación de las versiones conduce a establecer las racionalidades que están presentes en
Desde la década de los años cincuenta, la producción de zapatos en Bogotá, Colombia ha estado cada una de las versiones utilizadas para llevar a cabo negociaciones en el ámbito organizacional.
fuertemente vinculada con diversos tipos de unidades productivas, que varían en tamaño, De acuerdo con Schvarstein (1991), estas racionalidades vehiculizan los conflictos que en el
en estructura organizativa, en uso de tecnología, etc. En la actualidad existen en el sector momento presente (lectura sincrónica), o a lo largo del tiempo (lectura diacrónica) se han venido
artesanos independientes, unidades familiares, pequeñas y medianas compañías que producen escenificando en la organización. El panorama de estas tensiones constituye la lectura cultural
muy diferentes tipos de zapatos para alimentar diversas clases de cadenas productivas en las que se muestra tanto a investigadores como investigados, como una especie de fotografía con
que, también, se incluye grandes compañías, nacionales y multinacionales que se encargan de elementos de que han sido recogidos en el proceso etnográfico.
producir, coordinar la maquila, distribuir y exportar las manufacturas producidas, configurando
a su vez diversas formas relaciones entre talleres y compañías que implican a su vez, múltiples Sobra decir que la lectura hace énfasis en las condiciones laborales que tienen lugar en las
tipos de tercerización tanto de aquellas, como de los trabajadores. organizaciones. En este sentido, se recopilan y analizan las prescripciones internacionales que
regulan el trabajo, así como las apropiaciones que se realizan de estas prescripciones al nivel
Con miras a establecer los distintos tipos de organizaciones y las relaciones que las componen, nacional, para analizarlas a la luz de las condiciones laborales que se establecen el proceso
esta investigación se ha focalizado en siete empresas productoras de calzado de diferente etnográfico. Para establecer estas condiciones y hacer su correspondiente análisis se cuenta
tamaño. Estas empresas han accedido a participar permitiendo que el equipo de investigación con los documentos organizacionales que pueden existir a este respecto como con los datos
se haga presente a partir de una negociación inicial que, siguiendo las prescripciones de la que provienen de las actividades de la demanda de las organizaciones y del avance del proceso
psicología social de las organizaciones desarrollada en América Latina (Schvarstein, 1991; etnográfico que sigue a los trabajadores en sus labores diarias.
Coutinho, Hespanhol Bernardo, & Sato, 2017; Soto Roy, 2008; Stecher, 2014; Sisto, 2009),
se divide entre la demanda que la organización formula al equipo de investigación como una A través del trabajo etnográfico multi-situado (Marcus, 1995) se lleva a cabo simultáneamente
necesidad puntual y la propuesta de una investigación que dará cuenta de las tensiones que la lectura cultural en las siete organizaciones participantes. Estas lecturas, acompañadas de
están articulando el acontecer organizacional. Este es un proceso particular de observación revisiones bibliográficas, construcción de historias orales, etc. se convierten en el insumo
participante en donde las acciones que demandan las organizaciones son constantemente básico para empezar a describir las cadenas productivas que están presentes en el sector de la
negociadas con base en la recolección de información sobre el acontecer organizacional que producción de calzado en la ciudad, por medio de plantear preguntas de investigación que sean
contribuye a reformular la demanda inicial que se realiza. particulares al sector.
1. Pontificia Universidad Javeriana. Email: cpulido@javeriana.edu.co
2. Pontificia Universidad Javeriana. Email: Alba_giraldo@javeriana.edu.co
El escenario del calzado y la construcción del sujeto.

985 986
olvida que en la medida que no están presentes, en las pequeñas y medianas empresas, muchos
Curiosamente ha existido poca consideración de parte de las ciencias sociales por el sector del de estos aspectos se consigue una flexibilidad muy alta, cuestión que contribuye a nutrir cadenas
calzado. Esto es al menos asombroso si se tiene en cuenta que la producción de zapatos está de trabajo en donde las grandes compañías se benefician de la flexibilidad de los pequeños
vinculada con las maneras locales de hacer empresa. El barrio Restrepo de la ciudad, poblado productores en términos de renovación de los catálogos y de tiempos de entrega y cancelación
en un porcentaje alto por personas que han venido huyendo de la violencia política ha sido foco de facturación.
de esta industria. Desde los años cincuenta emergieron las primeras fábricas de calzado al
agruparse tanto los comerciantes de insumos para la zapatería como los productores. El barrio Algunos investigadores interesados presentan posiciones en donde asumen que la formalización
se constituyó en icono de la producción de zapatos en la ciudad. de las empresas permitiría que su desempeño mejorara y su permanencia se garantizara
(Álvarez y Trujillo, 2014). En el mismo sentido, otros abogan por el establecimiento de relaciones
El sector del calzado en la ciudad ha tenido una evolución que actualmente no le favorece. laborales más ceñidas a las disposiciones gubernamentales de manera que la fuerza laboral
De tener en la década de los años noventa un número de fábricas y unidades productivas que estuviera cubierta por la seguridad social. En términos generales, la construcción que se hacen
ascendía a 12.000, para el año 2016 apenas alcanzaba las 1.700 fábricas (Diario La Economía, de los actores del sector los ubica en una posición subordinada en donde tanto las entidades
2016; Periodismo Público, 2016). Este es un sector que tradicionalmente ha sido generador regulatorias como gremiales prescriben lo que es bueno para el sector y para las organizaciones
de empleo, al menos hay registrados 6.800 puestos de trabajo. El sub-registro en este y que a él pertenecen. Pero las mismas relaciones de una cierta minoría de edad, también se
otros muchos aspectos de las condiciones laborales del sector son el resultado de las manera presenta entre los propietarios de las empresas y los trabajadores, a quienes se les describe
“reservada” en que se lleva a cabo la producción del calzado que en muchas oportunidades muy frecuentemente como niños, que no saben discernir, que hay tener contentos y que no
hace que los pequeños talleres y los productores unitarios y familiares independientes, así comprenden las realidades de la producción.
como los trabajadores satélites de las empresas no aparezcan en las contabilidades oficiales,
ni organizacionales. Resulta también apropiado señalar en referencia a la flexibilización que impera, que el tipo de
relaciones de donde emergen concepciones acerca de lo que los propietarios y los trabajadores
En términos globales las estadísticas señalan que al menos se generan, en la actualidad al nivel son tiene como base unos acuerdos tácitos que son el resultado de las maneras en las que se
nacional, 60.000 puestos de trabajo en el sector del calzado. Estos puestos se ubican en su organiza el trabajo. Estos acuerdos permiten que el sector tenga una manera de organizarse,
mayoría, 98%; en minipymes en ciudades principales Bogotá, Cali, Bucaramanga y Medellín. en donde la actitud, no veo, no creo y no pasa, se comparten mutuamente tanto de parte de los
Al detenerse en los pocos estudios que se han adelantado teniendo como foco la producción propietarios como de los trabajadores, a sabiendas que esto garantiza que se perpetúen, tanto
de calzado en el barrio El Restrepo, se encuentra que estos construyen a las empresas, los la producción como, aunque en muchos casos intermitentes, unos puestos de trabajo. A este
empresarios y a los trabajadores desde una constante carencia. Al analizar la literatura respecto, de una parte por ejemplo, se asume la perspectiva del estilo, no veo que las condiciones
especializada los investigadores por ejemplo señalan que estas empresas no hacen uso de la en que se lleva a cabo el proceso afecte demasiado la salud de los trabajadores y de otra como
tecnología disponible en el mercado, ni de las posibilidades que ofrece el diseño el industrial contraparte los trabajadores arguyen, esas condiciones afectan, pero no es tan grave, se pueden
para renovar y mejorar sus productos (Morales, Sanabria y Arias, 2010). Igualmente, señalan manejar.
que no existe innovación, generación y transmisión de conocimiento (Calderón, 2015). Es muy
corriente que los escasos estudios se concentren en la informalidad del sector para atribuir a Las empresas participantes y los sujetos que las acompañan
esta situación el “atraso” de la empresas y su “estancamiento” al punto de que señalan que es
un “sector fallido” o “precario” debido, entre otros aspectos al limitado acceso a la tecnología Las empresas del sector como en otros campos de la producción, están vinculados con un grupo
y al capital financiero (Forero, 2014). Si bien es cierto que la informalidad se presenta, y que no familiar de propietarios. En efecto, las siete empresas que hacen parte del estudio tienen un tipo
se utilizan muchas de las herramientas que corrientemente en uso en otros sectores, también se de administración vinculado completamente a la familia fundadora. Las constelaciones familiares

987 988
son muy diferentes así como la influencia que tiene los lazos de familiaridad sobre las maneras Cesaire, 2009). El conocimiento de los aspectos que aquí se han mencionado y muchos otros
en las cuales se organiza el trabajo y se lleva a cabo la administración. Todas estas empresas que por cuestiones de espacio no se consideraron forman parte de ese insumo que permitirá el
ya han atravesado, o están atravesando, por un proceso de sucesión, que no ha sido claramente análisis de, las regulaciones nacionales e internacionales del trabajo presentes en el sector, las
planeado. En estas condiciones las relaciones que se establecen entre los propietarios y los diversas formas y relaciones que asumen las empresas en términos de condiciones laborales y
trabajadores difiere en gran medida de acuerdo con las relaciones que la familia establece organización del trabajo y de la producción, así como las relaciones sociales presentes entre los
entre sí. El rango de familiaridad e informalidad con respecto a las formas en que se conduce la actores involucrados en el suministro y consumo de bienes y servicios.
fuerza de trabajo muestra una variabilidad muy amplia. Asunto que compete directamente con la
construcción del trabajador como sujeto, que puede ser a la vez, un familiar cercano o lejano, una Referencias
especie de amigo o compadre, un compañero constructor de la empresa, un cómplice de juergas
o un rival en busca de establecer la competencia con otra empresa que puede entrar al mercado. Álvarez & Trujillo (2014). Estudio de las dinámicas socioeconómicas de cuatro conglomerados
de microempresas en la Ciudad de Bogotá. Inclusión y Desarrollo. (2), 99-118
Ahora bien, las empresas que participan en el estudio parecieran estar siguiendo dos caminos
que se ofrecen como posibles oportunidades o como callejones sin salida para el sector. Por una Calderón (2015). Análisis de la competitividad empresarial en las pymes del sector del calzado
parte se encuentra empresas que han logrado cierto nivel de formalización. Estas empresas le del barrio el Restrepo de la ciudad de Bogotá, a partir del factor humano. Bogotá. Universidad
apuestan a la industrialización logrando unos niveles de productividad altos, con establecimientos Nacional de Colombia. Facultad de Ciencias Económicas. Maestría en Administración
de contratos más cercanos a las disposiciones legales, pero que siguen manteniendo cierta
ilegalidad en la contratación y en las relaciones sociales que se presentan en su interior. Por otra Núñez (2016). El Calzado del Restrepo está en vía de extinción. Diario La Economía. http://
parte se encuentran aquellas empresas que son más pequeñas que mantienen unas relaciones diariolaeconomia.com/fabricas-e-inversiones/item/2737-el-calzado-del-restrepo-esta-en-v...
informales y que acuden en mayor medida al trabajo precarizado de los satélites para completar S.A (2016). La resistencia al cambio haría desaparecer la industria del calzado en el Restrepo.
sus procesos productivos. Estas últimas se dedican en mayor medida a la fabricación del calzado Periodismo Público. http://periodismopublico.org/La-resistencia-al-cambio-haria-desaparecer-
de una calidad notable por el proceso de hechura “a mano” del producto. En la construcción del la-industria-del-calzado en el barrio Restrepo
trabajador aparece entonces una tendencia a moverse entre el obrero industrial que sin embargo
aprende el oficio con otros que tuvieron la experticia del artesano, sin embargo, cuyo destino Forero (2014). El sector del calzado en el barrio El Restrepo, Bogotá: un análisis de caso a la luz
está en la línea de producción, y en el otro extremo se encuentran aquellos que hacen el trabajo de los sistemas productivos locales. Equidad & Desarrollo (21), 97-123.
de forma más artesanal con un mayor control de su trabajo y con la posibilidad de identificarse
con las variaciones que se le hacen al producto, pero que se encuentran en una situación dadas Gereffi, G. (2001). Las cadenas productivias como marco analítico para la globalización.
las condiciones de comercialización y las cadenas de trabajo que se presentan destinados a no Problemas del Desarrollo, 32(125), 9-37
salir de su situación de estancamiento.
Marcus, G. (1995). Ethnography in/of the world system: The emergence of multisited ethno
A manera de cierre Sisto, V. (2009). Cambios en el trabajo, identidad e inclusion social en Chile: Desafios para la
investigación. Universum, 24(2), 192-216.
Vale anotar por último, que el estudio que aquí se describe constituye una fase preliminar de
futuras investigaciones que vayan a considerar las cadenas productivas (Gereffi, 2001) que Morales, Sanabria & Arias (2010). Acumulación de conocimiento, innovación y competitividad
tienen lugar en la producción de zapatos en la ciudad de Bogotá. La investigación de estas en aglomeraciones empresariales. Revista de la Facultad de Ciencias Económicas. Vol. XVIII (2),
cadenas, se prescribe, debe partir del conocimiento de organizaciones particulares (Tomta & Diciembre 2010, 19-53

989 990
Capítulo 96
Schvarstein (1991). Psicología Social de las Organizaciones. Nuevos aportes. Argentina: Paidos

Sisto, V. (2009). Cambios en el trabajo, identidad e inclusion social en Chile: Desafios para la
El backstage de las universidades chilenas: diario ilustrado de un profesor
investigación. Universum, 24(2), 192-216.
Javier Bassi1 y Pablo Hernández2
Soto Roy, A. (2008). Flexibilidad Laboral y Subjetividades: Hacia una Comprension Psicosocial
del Empleo Contemporaneo. Santiago de Chile: LOM.
Mi nombre es Javier Bassi, soy argentino y residí en Chile de 2009 a 2016. Me desempeñé en
varias universidades, como es habitual en el caso de docentes que trabajan en condiciones de
Stecher, A. (2014). El campo de investigación sobre transformaciones del trabajo, identidades
precariedad laboral. Finalmente, trabajé de forma «establemente inestable» en dos universidades
y subjetividad en la modernidad contemporanea. Apuntes desde Chile y America Latina. En
estatales que, a pesar de ser, en sentido estricto, el Estado, tampoco me contrataron legalmente.
A. Stecher, & L. Godoy, Transformaciones del Trabajo, Subjetividad e Identidades: Lecturas
Durante mi paso por esas instituciones, mantuve un cuaderno de notas, por decirlo con elegancia:
Psicosociales desde Chile y America Latina.
más bien, amontoné apuntes apresurados en pequeños papeles de todo tipo, en mi computador y
en mi teléfono. Así recogí mis impresiones acerca del sistema universitario chileno (y de Chile en
Tomta, D., & Cesaire, C. (2009). Cadenas productivas y productividad de las mipymes. Criterio
un sentido general, que, en ese momento, vivía el surgimiento y clímax del llamado «movimiento
Libre, 11(Julio-diciembre), 145-169.
estudiantil») (UNICEF, 2014; Labarca, 2016).

Posteriormente, reescribí y ordené las notas y solicité a Pablo Hernández —psicólogo chileno,
tatuador, vocalista de una banda y traductor de textos en italiano— que ilustrara algunas. El
resultado es un documento de inspiración autoetnográfica (Crang y Cook, 2007; Alvarado e
Íñiguez-Rueda, 2009) para el que, cuando tengamos tiempo, buscaremos sin éxito editorial.
Al revisar el trabajo, me di cuenta de que muchas de las entradas abordaban un rasgo básico
del sistema universitario chileno: la precariedad laboral. Era imposible que la experiencia me
resultara ajena: un 81% de los/as docentes a nivel nacional trabajan en esa condición (Salazar,
2014). Así, con motivo del V Congreso Internacional de la Red Pilares, decidimos reunir y
organizar esas entradas, realizar algunas ilustraciones nuevas y presentar nuestro trabajo.

Su origen biográfico, su prosa «amigable» y alejada de tecnicismos y oscuridades y las


ilustraciones no deberían llevar a engaño: el valor de este documento no proviene de la
singularidad o atractivo de las historias, tampoco del toque de color y desborde de sentido
generados por las ilustraciones: proviene de situarse en un espacio prototípicamente psicosocial,
sea, la intersección entre individuo y estructura. Un espacio que Wright Mills llamó a abordar
mediante la «imaginación sociológica» (Wright Mills, 2003, p. 27) y que pone rostro y sangre a
1. (Texto) Universidad de Mendoza, Argentina. Email: javier.e.bassi@gmail.com
2. (Ilustraciones) Universidad de Chile, Chile. Email: p.hernandezlillo@gmail.com

991 992
una estructura que, de otro modo, no sería más que un sistema autoinsuflado de vida y compuesto De todos estos efectos, me interesan particularmente los disciplinarios. La precariedad laboral
de nodos vacíos e intercambiables (Montero, 2012; Bassi Follari, 2014). Así, importa más lo opera como un sosegate, como dice mi madre. Los/as que optan por la desviación tienen altas
que las notas e ilustraciones revelan del sistema educativo chileno que nuestra experiencia probabilidades de tener que cambiar de universidad y quizás de rubro y pasan por la versión
particular en él. neoliberal del despido: una vez finalizados sus convenios, no los/as llaman más. Al hacerlo, las
universidades no violan ninguna (otra) ley, por lo que pueden deshacerse sin costos de los/
A continuación presento algunas de las entradas del diario que abordan la precariedad laboral y as docentes «problemáticos/as». Por tanto, el margen para la rebeldía o, menos aún, para el
otros temas vinculados. Adicionalmente, incluyo cinco de las ilustraciones que Pablo Hernández acuerdo democrático acerca de las cuestiones importantes de la vida académica y la universidad
realizó especialmente para el congreso. Dado lo limitado del espacio, hemos preferido obviar es mínimo.
un análisis teórico profundo y mantener la mayor cantidad de entradas posible. Sin embargo,
he insertado referencias teóricas cuando me ha parecido pertinente y útil para un/a lector/a Así, a fuerza de mantener a la mayoría de los/as docentes en inestabilidad permanente (y,
interesado/a. consecuentemente, producir miedo), las universidades se aseguran una fuerza de trabajo dócil:
nadie mece el bote donde está parado/a, aunque sea un pésimo bote.

1. El buen esclavo 3. El cielo con las manos

Nunca me siento más idiota que cuando, para ahorrar, apago la luz al dejar la sala de una Hoy firmo contrato de media jornada: ¡el sueño de todo/a profe de carrera! La razón por la que
universidad que niega la relación laboral que nos une y mantiene mi vida en permanente estado trabajamos calladitos/as: que llegue el día en que, finalmente, después de años de «boletear»
de imprevisibilidad. sin decir ni pío, accedemos al privilegiado mundo de los/as docentes con contrato. Leo, firmo.

2. Así las cosas Luego me entregan otro papel: es un «declaración libre» de que no voy a «intentar formar» ni
«formar parte de sindicatos u otras organizaciones de trabajadores». Dulce palomita, yo pensaba
Un 81% del profesorado universitario a nivel nacional trabaja en condiciones de precariedad: sin que ahora sí iba a tener derechos…
contratos o, más específicamente, bajo su versión esclavista: los convenios de honorarios (forma
conocida popularmente como «boletear»). Esta vinculación débil no sería posible sin el abuso, ¿No es ilegal que nos hagan firmar esto? Sí, es ilegal. ¿Y por qué lo firmamos? Porque tenemos
por parte de todas las universidades de las boletas de honorarios (creadas, si se me perdona la miedo, porque creemos no tener poder, porque estamos aislados/as, porque esperamos años por
inocencia, con otro fin: formalizar trabajos ocasionales). Dicho abuso permite a las instituciones este contrato, porque queremos comprar una casa, porque hemos elegido salvarnos solos/as.
empleadoras —incluidas las que son parte del supuesto garante de la legalidad: el Estado— Como fuere, el hecho de que los/as mandamases de una universidad se sepan con la suficiente
desconocer la relación de dependencia que de facto existe. garantía de impunidad como para hacer firmar un documento ilegal muestra que el miedo no es
mutuo. Y cuánta razón tienen.
La precariedad laboral tiene variados efectos para los/as docentes: falta de cobertura de salud y
aportes previsionales, imposibilidad real de ejercer el derecho a organización colectiva y huelga 4. Inútiles imprescindibles
y no remuneración de faltas por enfermedad (por no mencionar otros, como la inestabilidad
económica y las patologías asociadas a la precariedad laboral) (Barnés, 2014; Calkin, 2014; Coro de docentes: «No leen. No saben escribir. No entienden. No estudian».
Reevy y Deason, 2014; Carrigan, 2015; Cholo, 2015; Berg, Huijbens y Larsen, 2016). ¿Sí? Pues ésos/as que no leen, no saben escribir, no entienden y no estudian son los/as que
están cambiando este país. Los/as que leemos, sabemos escribir, entendemos y estudiamos

993 994
estamos bien calladitos/as.
Algo estarán haciendo bien, ¿o no? 6. Tanto lío para eso

El SIMCE es una prueba que permite establecer fehacientemente cuáles estudiantes son ricos/
as y cuáles pobres.

7. Somos un equipo

En algunas universidades se usa la palabra «colaboradores/as» para referirse a los/as profesores


de planta (contratados/as). Supongo que trabajadores/as es una palabra demasiado comunista y
prefieren seguir la lógica eufemística de Walmart (que llama «asociados/as» a sus trabajadores/
as).

Por lo demás, los/as profes «a boleta» ni siquiera aparecemos: somos lumpencolaboradores/as,


digo yo, y nuestro estatus no da ni para llamarnos de algún modo.

8. Conversación predespido

—Yo acá tengo libertad total: pongo y saco los profes y nadie me dice nada. Y no voy a poner
eso en riesgo por ti.
—¿Eso qué significa? ¿Estoy despedido?
5. La piel de gallina —Ahora no. Pero si el correo [que envié a un grupo de estudiantes invitándolos/as a participar de
las manifestaciones y que un/a estudiante reenvió a su padre] llega para arriba, no voy a poder
Hoy echaron a una compañera de trabajo. Lo supe al llegar: la silla estaba vacía. Así, justamente, sostenerte. Y si la cosa es tú o yo, ya sabes.
es como sucede: van y vienen los rumores, hay temblor de tensiones soterradas, el clima se —Claro.
enrarece. Nada explícito, nada abierto. Hasta que se resuelve del modo más ominoso: una silla —Reemplazarte es el menor de mis problemas.
vacía, siempre en lunes (el manual manda a despedir los viernes). —Me imagino. Lo que pasa es que el menor de tus problemas es el mayor de los míos.
—Con tu currículum vas a encontrar trabajo.
Aunque quizás lo más ominoso sea el silencio posterior: nadie dice nada. Al menos en voz alta. No —Ya lo sé. Sólo te pido que me digas lo antes posible si me vas a echar porque yo vivo de esto:
se escucha un: «¿Qué pasó con…?». No: sólo seguimos trabajando y, así, la persona desaparece yo no hago otra cosa, yo soy profe.
de las conversaciones, que es desaparecer del todo. El despido cumple así su doble función de —Tranquilo que si sé algo te lo voy a decir.
castigo y advertencia: deshacerse de quien alborota el gallinero y escarmentar vicariamente a —Ok.
quienes presencian la escena. —(Bajando el tono). Pero, a ver, ¿tú no sabes que aquí se lucra? Lo sabe todo el mundo. Esta
gente está nerviosa con lo que está pasando. ¿No te das cuenta?
Los despidos son la versión contemporánea de la quema de brujas. —Ahora sí.

995 996
que es lo que el patriarcado quiere: que no hablemos, que no nos unamos, que no compartamos.
9. Honestidad brutal Y solas no hacemos na».

Me llega un correo: Sí a todo.

Estimados docentes:
Les reenvío nuevo calendario 2013.
Atte.,
D.

Las clases se iniciaron tarde por problemas de disponibilidad de salas y, consecuentemente, este
nuevo calendario —que llega sin preguntas ni reuniones ni nada: sólo llega— alarga el semestre
en dos semanas. Para quienes dan clases en otras sedes de la universidad eso significa, de facto,
la suspensión de sus vacaciones de invierno.

Habría sido más honesto:

«Estimados» docentes:
Como es de su conocimiento, nos importan un pepino. Por ello, hemos cancelado, sin aviso
ni explicaciones, sus vacaciones de invierno. Era eso o tener que tolerar las quejas de los/as 11. El show debe continuar
clientes/as. Y, dado que ustedes son un gasto y ellos/as un ingreso, la decisión estaba clara. No
nos importa si tenían algo planeado para las vacaciones en cuestión. Por otra parte, no vemos Algunas universidades contratan doctores/as en época de evaluación y los echan (dejan de
reparos en incumplir los contratos que todavía no firman porque sabemos que ninguno/a de llamar) después: les da igual que los/as doctores/as mejoren o no las prácticas de docencia,
ustedes hará nada al respecto. basta con que estén ahí cuando la Comisión Nacional de Acreditación (CNA) está mirando.
Atte.,
D. 12. Para una revolución se necesitan correvolucionarios/as

10. Día de la mujer En una de las primeras universidades que trabajé no pagaban los salarios: retrasos de una
quincena que se alargaron a meses.
Asisto a un acto de conmemoración por el día de la mujer. Una poetisa, porteña y declaradamente
feminista, recita algunos de sus textos en una micro suicida de Valparaíso: «Te compro pollo una Una estudiante me preguntó: «Profe, ¿y por qué no hacen algo? ¿Por qué no se organizan?». Le
vez por mes. Te saco a pasear en micro. ¿Qué más querí, conchetumare?». contesté, medio en broma y bastante en serio: «Mira, yo haría la revolución. Lo que pasa es que
no sé con quién».
En un momento, se interrumpe y dice: «Porque ése es el problema: cada una anda por su lado,
creyendo que está sola, que lo que le pasa le pasa a ella sola. Y así andamos, cada una en lo suyo, 13. Chile es el futuro… ¿o el pasado?

997 998
Un compañero presenta una ponencia en un congreso de Filosofía. Suele hablar siempre de las Ahora, si no hay convenios no se cobra. Y empieza la esquizofrenia institucional: la universidad se
mismas obsesiones, como todos/as. En su caso, la universidad. Comenta que había leído un artículo muestra sorprendentemente fiel a la ley en este asunto. Me dice el coordinador: «No te podemos
en el que se detallaba el estado actual y la tendencia futura del sistema universitario europeo: pagar porque no has firmado tu convenio. Sería ilegal».
cada vez menos dinero para investigación, personal contratado en reducción, precariedad laboral,
liberalización del «mercado» de estudios de posgrado, clases con más estudiantes, presiones En ese momento, tensionada al extremo por la contradicción, su cabeza implosionó.
para publicar por publicar, obsesión con los indicadores y los ránquines, etc. (Galceran Huguet,
2013; Ripalda Crespo, 2013; Chomsky, 2014; García-Quero, 2014; Hernández, 2015; Neylon, 16. Che Guevara de incógnito
2015; Villena, 2015).
Un compañero de trabajo se resta de una serie de acciones que tomamos algunos/as profes:
Mi compañero se sorprende: ese «capitalismo académico» (Slaughter y Leslie, 2001; Renault, quejarnos por los despidos arbitrarios, la rebaja unilateral de salarios, la falta de recursos para
2006) que el artículo presenta como una tragedia presente o por venir ¡es el estado del sistema trabajar, la exclusión de la toma de decisiones…
universitario chileno hace rato! (Miranda Hiriart, 2016; Sisto, 2007; Sisto, 2013). Cierra: «Así
que podríamos considerar que Chile está 20 años adelantado… o atrasado, según se quiera ver». Dice en un correo dirigido a unos/as pocos/as: «Mi compromiso con la causa tiene una cierta
expresión clandestina». Así es: el Che undercover no ha participado de los debates, de las
Chapeau. reuniones, de los intercambios de correos ni de la reescritura del documento que pensábamos
presentar a las autoridades.
14. Parirás con dolor
Sin sonrojarse, continúa: «No hay que olvidar, como señalaba Marx, que los gobiernos no son sino
Correo a una amiga embarazada que inicia un curso que sabe que no podrá terminar: apoderados del capital, por tanto, con o sin carta, nos estamos enfrentando a ese sujeto de la
historia, como dijo Marx en Das Kapital». ¡Y hasta cursivas pone!
Hola, madre:
Va mi CV actualizado hasta antes de que me echaran :). Espero que salga y seamos colegas (no 17. Los/as pares evaluadores son arquitectos/as
digas que estás embarazada). Beso y gracias por el aviso.
J Fuera cortinas rojas: hoy, persianas traslúcidas amplían y alegran la secretaría. Alfombra nueva.
Posters reordenados bajo la estricta ortogonalidad. Earl grey (nunca visto), leche, azúcar,
El nivel de precariedad en el que trabajamos lleva a una mujer embarazada a mentir acerca de calentador en funcionamiento, café de émbolo (!). Mesas estables, computadores encendidos.
su condición porque sabe que si «lo confiesa» no obtendrá la asignatura. Y miente. Y le miente ¡a Una mano de pintura a los consultorios.
otras mujeres! que, en ese momento, representan el statu quo y son, sabiéndolo o no, enemigas
de sí mismas. No conozco a los/as pares evaluadores/as de la CNA pero, desde ya, ¡gracias!: han hecho nuestra
vida mejor sólo con la amenaza de su presencia.
15. Principistas

Las clases empezaron el 11 de marzo. Hoy es 9 de abril y aún no firmamos los convenios. Las
autoridades de la universidad entienden que no hay nada que decir y nada dice.

999 1000
—(Claro, se llama democracia. Te la presento: «Democracia, el director de la escuela; señor
director, la democracia. Los dejo para que charlen de sus cosas»).
—Si esto sigue así, estas universidades dejarán de existir.
—(Dios te oiga).

19. Rambo

En mi mochila llevo: hilo dental, papel higiénico, desodorante, ibuprofeno y paracetamol, lágrimas
oculares, alcohol en gel, cepillo y pasta de dientes, crema para manos, mi compu (con todos
los cables posibles: HDMI, VGA, dos patitas, tres patitas redondas, tres patitas chatas….) y un
parlante bluetooth.

Eso dice bastante de mi vida como profe (Simbürger y Neary, 2016; Toro, Sottorff y Polanco,
2013).

18. Del director en brote psicótico, de mi diálogo socrático imaginario y de los desacuerdos que
nos unen

—¿Tú te crees que en esta universidad no se lucra? ¡Por favor! Claro que se lucra. Pero ése no
es el punto.
—(¿Ah no? Yo creía que ése era exactamente el punto).
—A esta universidad la pueden intervenir, ¿eh?
—(Dios te oiga).
—Y ahí cambia todo. Todo. Van a venir con lógicas estatizantes.
—(Dios te oiga).
—¿Y sabes lo que pasará?
—(¿Que gente como tú no existirá?).
—No se va a poder tomar decisiones. Para cada cosa va a haber que consultar a éste y a aquél…
Ya no se podrá tomar decisiones de la malla, del plantel docente, de las platas… Tendremos las
manos atadas. Todo el mundo va a opinar y ya sabes lo que pasa cuanto todo el mundo opina…
—(Era lindo ser gerente, ¿no?).
—Todo se va a complicar, porque va a haber que consultar todo. ¿Me entiendes?

1001 1002
20. Rigurosidad tuerta
Nuevo vicerrector académico en una de las universidades en que trabajo. Un correo me informa
«¿Me vas a decir que el SII [Servicio de Impuestos Internos] se da cuenta de una diferencia de que es licenciado en Ciencias Económicas e ingeniero comercial, que tiene un magíster en
10 lucas en mi declaración y no ve que esta universidad saca millones de pesos?». dirección de empresas y un doctorado en administración de una universidad con nombre en
inglés.
21. Entre el autoritarismo y el aburrimiento Entendido.

En las universidades privadas nada se discute y es insoportable. En las universidades públicas


todo se discute y es insoportable.

22.

—¿Tienes té?
—El mío.
—¿Pero no compraron? Qué miseria…
—Le doy del mío, profe.
—No, no.
—No, sí, tome.
—Bueno, gracias. Te lo debo. ¿Pero por qué no compran?
—Es que no hay plata. 26. 24/7

Y nos reímos por no llorar. Mando correos a colegas a las 2:00 de la mañana y me contestan inmediatamente: mal síntoma.

23. 27.

Dice la ministra de trabajo que, en estas fiestas, supervisarán que todo el personal de empaque Me piden una frase edificante para el día del/de la profesor/a. Recuerdo una de mi humorista
en los centros comerciales tenga contrato. Dice que esa relación es una relación laboral como preferido, Louis C. K.: «Tengo muchas creencias pero no vivo según ellas». No les parece y se
cualquiera: «Debe mediar un contrato». inclinan por «Haciendo futuro».
Habrá que aprender a envolver regalos…
28.
24. Just for laughs
Un día consulté a una secretaria de una universidad estatal acerca de los cambios en los montos
Nunca me río más que cuando escucho la publicidad de las universidades que conozco bien. de mis pagos: un mes cobraba 189.000, el otro 203.000, el siguiente 217.000…

25. Universidad S.A. (Parker, 2013) —Si te pagamos siempre lo mismo se nota que hay una relación de dependencia.

1003 1004
—A ver si entendí: ¿el Estado hace la pirula al Estado para que el Estado no se dé cuenta de que athenea.1315
el Estado está violando la ley?
—Exacto. Calkin, S. (2013, 1 de noviembre). The academic career path has been thoroughly destabilised
by the precarious practices of the neoliberal university [Post en el London School of Economics
29. The crying game Impact Blog]. Extraído de http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2013/11/01/precarity-
and-the-neoliberal-university/?utm_content=buffer9516e&utm_medium=social&utm_
Competencias, impacto, calidad, accountability, visibilidad, entrepreneur, autogestión… Ideas source=twitter.com&utm_campaign=buffer
que conforman un núcleo cuya raíz última es la managerización de la universidad, es decir, el
gobierno de la universidad según lógicas corporativas. La academia latinoamericana ha decidido Carrigan, M. (2015, 7 de abril). Life in the Accelerated Academy: anxiety thrives, demands
jugar el juego (aunque, eso sí, gritando a viva su profundo desacuerdo). intensify and metrics hold the tangled web together. [Post en el London School of Economics
Impact Blog]. Extraído de http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2015/04/07/life-in-
Como muestra, valga el ridículo extremo de intentar publicar en inglés. Al lograrlo, creemos the-accelerated-academy-carrigan/?utm_content=buffer8161a&utm_medium=social&utm_
estar entrando al gran mundo cuando, en realidad, sólo obtenemos las migajas de un modelo que source=twitter.com&utm_campaign=buffer
no fue creado pensando en Latinoamética: el/la macho/hembra alfa local es un don nadie en el
gran Monopoly. Participamos de un juego cuyas reglas no inventamos, que no sabemos jugar y Cholo, A. B. (2015, febrero). Are adjunct professors the new fast-food workers? Pacific Standard.
que a nadie le importa si jugamos (Kalfa, Wilkinson y Gollan, 2017; Leathwood y Read, 2013). Extraído de https://psmag.com/

30. Hablando en plata Chomsky, N. (2014, octubre). Corporate business models are hurting American universities.
Salon. Extraído de https://www.salon.com/
He emitido 149 boletas de honorarios en seis años, casi todas a unas pocas universidades. A
pesar de ello, nunca trabajé en relación de dependencia (reconocida). Raya para la suma: he sido Crang, M. y Cook, I. (2007). Doing Ethnographies. Londres: SAGE.
maltratado, en primer lugar, por el Estado chileno y, en segundo, por las universidades, que me
exigieron cumplir con mi deber y no cumplieron con el suyo. Galceran Huguet, M. (2013). Entre la academia y el mercado. Las Universidades en el contexto
del capitalismo basado en el conocimiento. Athenea Digital, 13(1), 155-167. doi: https://doi.
Referencias org/10.5565/rev/athenead/v13n1.1038

Alvarado, J. G. e Íñiguez-Rueda, L. (2009). Ethnography as a social science perspective: a review, García-Quero, F. (2014, junio). Crisis y Universidad: de intelectuales a hacedores de papers. Sin
Psico, 40(1), 7-16. Extraído de http://revistaseletronicas.pucrs.br/revistapsico/ojs/index.php/ Permiso. Extraído de http://www.sinpermiso.info/
revistapsico/index
Hernández, E. (2015, abril). La “cuantofrenia”: una definición de la estupidez que impera en la
Barnés, H. (2014, julio). Los 8 males del profesor universitario: “es uno de los trabajos más universidad. El Confidencial. Extraído de https://www.elconfidencial.com/
tóxicos que existen”. El Confidencial. Extraído de http://www.elconfidencial.com
Kalfa, S.; Wilkinson, A. y Gollan, P. J. (2017). The academic game: compliance and
Bassi Follari, J. E. (2014). Hacer una historia de vida: decisiones clave durante el proceso resistance in universities. Work, employment and society, 32(2), 274-291. doi: https://doi.
de investigación, Athenea Digital, 14(3), 129-170. doi: http://dx.doi.org/10.5565/rev/ org/10.1177/0950017017695043

1005 1006
Labarca, J. T. (2016). El “ciclo corto” del movimiento estudiantil chileno: ¿conflicto sectorial Salazar, P. (2014, 21 de enero). Estudio: el 19% del total de profesores universitarios es de
o cuestionamiento sistémico?, Revista Mexicana de Sociología, 78(4), 605-632. Extraído de jornada completa. La Tercera. Extraído de https://www.latercera.com/
http://www.revistamexicanadesociologia.unam.mx/
Simbürger, E. y Neary, M. (2016). Taxi Professors: Academic Labour in Chile, a Critical-Practical
Lawrence, B.; Huijbens, E. H. y Larsen, H. G. (2016). Producing anxiety in the neoliberal university. Response to the Politics of Worker Identity. Workplace, 0(28), 48-73. Extraído de http://ices.
The Canadian Geographer/Le Géographe canadien, 60(2), 168-180. doi: 10.1111/cag.12261 library.ubc.ca/index.php/workplace/index
Leathwood, C. y Read, B. (2013). Research policy and academic performativity: compliance,
contestation and complicity. Studies in Higher Education, 38(8), 1162-1174. doi: http://dx.doi. Sisto, V. (2007). Managerialismo y trivialización de la universidad. Nómadas, 0(27), 8-21.
org/10.1080/03075079.2013.833025 Extraído de http://nomadas.ucentral.edu.co/index.php

Miranda Hiriart, G. (2016). Paradojas de la modernización del sistema universitario chileno. Sisto, V. (2013). Entre la privatización y la reconstrucción de lo público en Chile: movimientos
Polis. Revista Latinoamericana, 15(45), 345-361. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718- estudiantiles y el debate acerca del devenir de la universidad. Horizontes Sociológicos, 1(1), 57-
65682016000300017 71. Extraído de http://aass.org.elserver.com/ojs/index.php/hs/index

Montero, M. (2012). Hacer para transformar. El método en la psicología comunitaria. Buenos Slaughter, Sh. y Leslie, L. L. (2001). Expanding and Elaborating the Concept of Academic
Aires: Paidós. Capitalism. Organization, 8(2): 154-161. doi: https://doi.org/10.1177/1350508401082003

Neylon, C. (2015). Researchers are not ‘hoodwinked’ victims. All choose to play the publishing Toro, M; Sottorff, S. y Polanco (2013, 21 de julio). El alza de “profesores taxi”, académicos que
game and some can choose to change it [Post en el London School of Economics Impact Blog]. trabajan en tres o más universidades. El Mercurio. Extraído de https://www.elmercurio.com/
Extraído de http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2015/09/11/researcher-as-victim-
researcher-as-predator/ UNICEF (2014). La Voz del Movimiento Estudiantil 2011. Educación Pública, Gratuita y de Calidad.
Santiago de Chile: UNICEF. Extraído de http://unicef.cl/web/wp-content/uploads/2014/07/
Parker, M. (2013). University, Ltd: changing a business school. Organization, 21(2) 281-292. Movimiento-estudiantil.pdf
doi: https://doi.org/10.1177/1350508413502646
Villena, A. (2015, marzo). La muerte del intelectual y el auge del burócrata ilustrado. SidesOut.
Reevy, G. M. y Deason, G. (2014). Predictors of depression, stress, and anxiety among non- Extraído de https://www.sidesout.com/
tenure track faculty. Frontiers in Psychology, 5(701), 1-17. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00701
Wright Mills, Ch. (2003). La imaginación sociológica. México: FCE.
Renault, C. S. (2006). Academic Capitalism and University Incentives for Faculty Entrepreneurship,
The Journal of Technology Transfer, 31(2), 227-239. doi: https://doi.org/10.1007/s10961-
005-6108-x

Ripalda Crespo, J. M. (2013). La universidad con condiciones. Athenea Digital, 13(1), 171-178.
doi: https://doi.org/10.5565/rev/athenead/v13n1.1066

1007 1008
Capítulo 97 para a produção, implicada nos jogos de poder que definem os modos de trabalhar e lhes dão
forma e institucionalidade.
O trabalho em imagens: Subjetivação e trabalho nas políticas públicas Nesta exposição, abordaremos a experiências com trabalhadores e trabalhadoras ligados
às políticas públicas de assistência social e saúde, cujo trabalho se caracteriza pelo trabalho
Jaqueline Tittoni1, Vanessa Maurente2, Arthur G. Almeida3 y Laura R. Wainer4
em equipe, pela imaterialidade que se mostra na importância das relações estabelecidas com
os usuários para a realização do trabalho, e na proximidade com os territórios geográficos
e existências onde vivem os usuários destes equipamentos. Discutiremos duas experiências
Introdução
de pesquisa com imagens nas políticas públicas, a saber, trabalhadores e trabalhadoras das
políticas de assistência social, em um equipamento assistencial privado, que desenvolve
Este estudo aborda o trabalho como produtor de modos de viver, tendo um lugar importante nos
políticas de assistência no cuidado de jovens e crianças em situação de vulnerabilidade
processos de subjetivação e, sobretudo, nas políticas de subjetivação que compõem os modos
social e econômica, assim como médicos e médicas veterinários em um hospital veterinário
de viver contemporâneos. O trabalho se configura em redes de poder que articulam diferentes
universitário, caracterizado como hospital-escola. Trata-se de um trabalho em andamento e os
elementos na produção da vida (criação) e de sua manutenção (sobrevivência), de forma a definir
grupos estão sendo acompanhados em suas atividades, reuniões e espaços de compartilhamento
– ou não – acessos aos bens materiais e sociais que derivam de seu delineamento. Como campo
do trabalhar. Junto a trabalhadores e trabalhadoras da assistência social, foram realizadas
definido por jogos de poder, implica em saberes amalgamados nas tecnologias de produção
oficinas de produção de imagens fotográficas buscando imagens que pudessem indicar sobre os
e gestão e difusos nos modos de trabalhar, que se produzem nas diferentes possibilidades
modos como se configura o trabalho e sua imaterialidade que, por vezes, carece de forma ou de
de agenciamento destes elementos. Deste modo expressa os jogos de poder que definem os
contornos que possam expressar suas intensidades.
modos institucionalizados de trabalhar e, da mesma forma, as resistências que se definem
como estratégias de enfrentamento e de criação de outros modos de viver e de trabalhar. O
2. Sobre o pesquisar trabalho e processos de subjetivação
trabalho contemporâneo, em suas configurações neoliberais, amplamente discutidas no âmbito
dos estudos sobre o trabalho, mostra os traços competitivos e individualistas que marcam os
A análise desta face do trabalho, muitas vezes, colados nos modos de viver e nas próprias
modos de trabalhar, bom como a precarização do trabalho através da fragilização das relações
individualidades - o que Foucault chama de “modo indivíduo” ( Foucault, 2009) exige
de trabalho e dos direitos dos trabalhadores, a individualização dos riscos do trabalho e as
estratégias de pesquisa que possam evidenciar os traços sutis que colocam o trabalho no sujeito
políticas de gestão de cunho gerencialista, somente para citar alguns aspectos. No Brasil, a
é, não só o trabalho e o sujeito, aos moldes foucaultianos. Em nosso estudo, desenvolvemos
recente Reforma Trabalhista ocupa lugar importante na precarização do trabalho e faz convergir
uma série de estratégias de acompanhamento de grupos e oficinas com produção de imagens,
certas estratégias de produção de desigualdade e dominação ligadas ao gênero, à raça e às
que buscam estas visibilidades-evidências através da sensibilização do olhar sobre o
etnias, trazendo à tona formas de trabalhar marcadas pelos valores do patriarcado, que dão
trabalho e da problematização dos modos de ver o trabalho forjados nas linhas de força que
forma ao pensamento conservador no viver em sociedade. Para compor este cenário, cabe
se institucionalizam e vão delineando os contornos do trabalho e dos modos de trabalhar. Com
ainda considerar a face imaterial do trabalho contemporâneo (Lazzaratto e Negri, 2001 ) e
importante referência foucaultiana, buscamos nas condições de possibilidade do olhar, as linhas
os modos como opera nas políticas de subjetivação, que se apropria da subjetividade como
de visibilidade que se evidenciam e, neste mesmo jogo, as linhas que se forjam como resistências,
ferramenta operacional do trabalho. Trata-se, assim, do uso da subjetividade como ferramenta
como descontinuidade, como inquietação.
1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional. Email: jatittoni@gmail.com
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Programa de Pós-Graduação em Informática da Educação. Email: vanessamaurente@yahoo.com A pesquisa que se utiliza da imagem como estratégia metodológica busca fazer contra ponto às
3. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional. Email: ibimaximus@gmail.com
4. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional. Email: lauraweiner5@gmail.com
funções de ilustração ou comprovação ligadas, muitas vezes, ao uso da imagem na ciência, na

1009 1010
medida em que se vale da imagem para ilustrar argumentações ou para legitimar discussões e de imagens
atestar a “veracidade” do que se afirma. Imagens microscópicas são um exemplo interessante
para pensar essa lógica, pois a limitação de registrar o que é micrométrico deixa de ser Neste estudo, discutiremos duas experiências, sendo que uma em estágio inicial, identificando o
impedimento, na media em que o recurso imagético é capaz de atestar mesmo o que o olho não acompanhamento dos grupos e o modo como vai se delineando – as equipes de saúde do hospital
alcança. A fotografia, nesta função, por exemplo, pode representar o que é exterior à imagem e veterinário – e outra, tendo já realizado oficinas de fotografia, uma equipe de trabalhadoras da
também o que dá visibilidade ao que até então era, apenas, hipótese. Na proposta deste estudo, ssistência social
a utilização de imagens e, sobretudo, de fotografias, fundamenta-se na noção de imagem como
produção, como estratégia de intervenção nas linhas de visibilidade institucionalizadas no No primeiro caso, cabe lembrar que a formação em medicina veterinária implica no conhecimento
trabalho e que incidem fortemente no que se torna mais e menos visível nos modos de trabalhar das patologias e sintomatologias das situações de adoecimento, mas, também, no fato de que os
e de viver. tutores humanos compõem a cena de trabalho intensamente. Neste caso, a equipe de saúde, ao
mesmo tempo em que foca no animal, também necessita lidar com tutoras e tutores, indicando
Neste estudo, os grupos em análise estão sendo acompanhados em seus cotidianos de trabalho e ser este um forte traço da imaterialidade de seu trabalho. Da mesma forma, o próprio trabalho
em fóruns de discussão sobre o trabalho, como reuniões de equipe, por exemplo, com a finalidade em equipe coloca a necessidade da articulação de redes de assistência e de colaboração
de identificar os jogos de poder que podem vir a definir modos institucionalizados de trabalhar, fundamentais ao desenvolvimento dos processos. Estes dois elementos têm mostrado sua
incluindo desde as linhas gerais de organização dos processos e fluxos do trabalho, bem como intensidade nas linhas de visibilidade que compõe o trabalho neste contexto. O acompanhamento
estratégias de remuneração e de qualificação de trabalhadoras e trabalhadores. A partir deste dos grupos tem sido registrado em diários de pesquisa e discutidos com a equipe de pesquisa
acompanhamento, linhas de visibilidade vão sendo definidas e vão sendo criados espaços para a em campo neste momento.
realização de oficinas de produção de fotografias que possam provocar reflexões sobre o trabalho
e os modos de trabalhar. As equipes foram convidadas a produzir fotografias que indicassem No segundo caso, trata-se de um equipamento da atenção básica da assistência social, a saber,
sobre o seu trabalho, sendo que estas imagens foram discutidas e, a partir das reflexões que um Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) na cidade de Porto Alegre, com
dispararam, foram produzidas narrativas para dar visibilidade aos modos de trabalhar, nem o objetivo de discutir o trabalho nas políticas de assistência social na cidade. Neste campo de
sempre visíveis, reconhecidos ou legitimados. intervenção, após seis meses de acompanhamento do trabalho e participação nas reuniões de
equipe, foram realizadas oficinas de fotografia com as trabalhadoras do local, organizadas da
Deste modo, tais oficinas fundamentaram-se na idéia de fotografia como produção, que articula seguinte forma: inicialmente houve um encontro específico para apresentar o projeto, falando
equipamentos, fotógrafos e conteúdos visuais, de formas distintas e que se contextualizam nas sobre o trabalho com fotografia e contando sobre outros projetos que o grupo de pesquisa
experiências vividas pelas trabalhadoras e trabalhadores. A pesquisa-intervenção com imagens, realiza, fazendo um contrato inicial de trabalho com o grupo. Em um segundo momento, foi
a que chamamos de intervenção fotográfica (Tittoni, 2009) implica em, se possível, realocar realizada a primeira oficina específica para produção de imagens, que chamamos de oficina
os jogos de poder e criar dispositivos de análise social coletiva em contextos institucionais, de sensibilização para a fotografia, onde são realizados exercícios de produção de imagens
provocando os modos institucionalizados de trabalhar (e de viver). Assim, conceitos como a com diferentes equipamentos e propostas, com o objetivo de uma maior familiarização com
ética do cuidado de si (Foucault, 1999) e mesmo a ética da resistência orientam os rumos da equipamentos, técnicas e procedimentos fotográficos. Em continuidade, as trabalhadoras
intervenção com imagens para que se pergunte sobre os modos de viver, sobre as trajetórias foram convidadas a produzir fotografias sobre o seu trabalho que indicassem sobre a relação
de vida e os percursos de trabalho e os modos como podem mostrar-se como resistência aos com aquele local de trabalho e com a comunidade periférica que existe no seu entorno. As
regimes instituídos das relações entre saber, poder e subjetividade. trabalhadoras foram enviando as fotografias que produziam, para que pudessem ser impressas e
discutidas em uma próxima oficina. Após a discussão, foram elaboradas narrativas fotográficas
3. Sobre duas experiências na pesquisa sobre trabalho, processos de subjetivação e produção e escritas, com base nas imagens produzidas e nos elementos dos modos de trabalhar que elas

1011 1012
deram evidência. A produção das narrativas intercalou a discussão sobre o conteúdo visual, e provocando reflexões que provocam as linhas de visibilidade instituídas e abrem espaços para
memórias sobre suas trajetórias de trabalho, histórias e situações vivenciadas. Em uma oficina, estratégias de enfrentamento das situações adversas no trabalho.
apareceu, por exemplo, a dificuldade para produzir as fotografias em razão da falta de tempo,
da correria do dia-a-dia e da intensificação dos ritmos de trabalho. Também foi destacada a Referências
necessidade de mostrar a importância dada ao local de trabalho e ao público a quem se dirige o
seu trabalho. Uma das fotografias feitas, por exemplo, foi sobre a chegada de novos brinquedos Foucault, M. (1999) A ética do cuidaDo de si como prática da liberdade In: Estética, ética e
no local, onde queriam mostrar a felicidade das crianças recebendo os novos materiais, já que hermenêutica. Obras esenciales, v.III. Barcelona: Paidós
é um local de trabalho que funciona com algumas dificuldades financeiras, recebendo muitas
doações de moradores do bairro. Ademais, outro ponto importante a ser destacado foi a _______(2012). El gobierno de si y de los otros. Buenos Aires : Fondo de Cultura Econômica.
valorização dos pequenos momentos de prazer no trabalho, como os lanches coletivos com as
crianças nas praças do bairro, subir em árvores, cuidar de animais que vivem nas ruas do bairro. Lazzaratto, M. E Negri, A. (2001) Trabalho Imaterial. Rio de Janeiro : DP&A.
Nestes momentos, ao que parece, o trabalho se converte em fonte de satisfação para ambos,
equipes e crianças. E finalmente, o último ponto a destacar foi a importância dada ao local de Tittoni, J. Psicologia e Fotografia. In: Tittoni, Jaqueline. (2009) Sobre psicologia e fotografia.
trabalho para o bairro, contada através da história do local e de suas dificuldades de sua criação In: Psicologia e Fotografia: experiências em intervenções fotográficas. Porto Alegre : Ed. Dom
e de manutenção. Para tanto, observavam que, apesar das dificuldades, o local havia crescido Quixote.
fisicamente e complexificado suas atividades. Esta visão de valorização do trabalho e de sua
importância para o bairro, possivelmente, funciona como elemento agregador e articulador da
equipe em redes de colaboração. A pesquisa segue em andamento, com a produção de outras
narrativas fotográficas e imagéticas.

4, Algumas considerações, para finalizar

O acompanhamento destes grupos têm mostrado a precarização no campo das políticas públicas,
bem como importantes transformação nos modos de trabalhar, sobretudo em termos da
intensificação dos ritmos de trabalho. No entanto, aparece uma forte valorização do trabalho na
identificação da importância do trabalho para o território e das políticas públicas que desenvolve,
tanto na área da assistência social quanto da saúde. Entre os trabalhadores e trabalhadoras da
saúde, observa-se um excesso de trabalho que insiste em impor-se como a forma normalizadora
e ordenadora de trabalho, indicando agendas sempre cheias, atividades que não podem ser
concluídas, demandas de que não podem ser viabilizadas. Este excesso de trabalho, em sua outra
face, mostra a escassez de recursos para a realização do trabalho e a precarização que marca o
trabalhar em políticas públicas, neste momento, no Brasil .

A pesquisa com imagens mostra-se um dispositivo importante para reflexões sobre o trabalho
e os modos de trabalhar, dando evidência à situações pouco visíveis dos cotidianos de trabalho

1013 1014
Capítulo 98

Reflexiones acerca de la sociedad del riesgo en Argentina: un abordaje a partir


de las organizaciones de alta confiabilidad

Javier H. Cantero1, Natalia L. Gonzalez2 y Daiana Díaz3

Originalmente pensada como un rasgo de las sociedades europeas de posguerra, la modernidad


reflexiva centrada en los riesgos expandió sus fronteras y en la actualidad resulta pertinente
como constructo aplicable a las sociedades de desarrollo económico intermedio como la
argentina. La sociedad del riesgo es global (Beck, 2008) al mismo tiempo que presenta ciertas
especificidades locales teniendo en cuenta la capacidad de respuesta y las consecuencias
altamente diferenciadas de cada país. En América Latina la sociedad del riesgo se configura en
función de su situación geopolítica, la historia y los hechos económico-sociales, el desarrollo
Organizaciones de la sociedad del riesgo económico, la escasez de recursos económicos y tecnológicos y la perdurabilidad de las
características de la sociedad industrial4.
latinoamericana: especificidades,
condicionamientos y desafíos La sociedad del riesgo en Argentina se encuentra en pleno proceso de transición de la era
industrial a la post-industrial. Impulsada por fuerzas exógenas y por el proceso de implantación
de empresas extranjeras se observa un fenómeno diferenciado en el que coexisten sectores
industriales característicos de la era post-industrial con sectores económicos anclados en la
lógica de las clásicas sociedades industriales. El establecimiento de empresas transnacionales
en otros países responde a múltiples objetivos (e.g. optimización de la estructura de costos,
desarrollo de la cadena de valor global, estrategias financieras y fiscales) y, consciente o
inconscientemente, se externalizan riesgos contribuyendo a la construcción de sociedades
post-industriales en los países de destino. La introducción de tecnología avanzada en donde la
producción y distribución del riesgo domina a los procesos de cambio social da cuenta de dicho
1. Universidad Nacional de General Sarmiento / Argentina. Email: jcantero@ungs.edu.ar
2. Universidad Nacional de General Sarmiento / Argentina. Email: ngonzale@ungs.edu.ar
3. Universidad Nacional de General Sarmiento / Argentina. Email: ddiaz@ungs.edu.ar
4. Si bien Latinoamérica inició un proceso de transformación hacia las economías de servicios, Argentina se encuentra en un rango de entre el 60 y
70% en contraposición a otros países que ya superan el 70 % del PBI y más del 60 % del empleo (Cámara Argentina de Comercio, Departamento de
Economía, 2010). Asimismo, si bien datos del INDEC (2016) indican un aumento en la inversión en investigación y desarrollo en el período 2011-2015,
cerca del 51% proviene de organismos gubernamentales nacionales y provinciales, mientras que el restante porcentaje se distribuye entre educación
superior y empresas. Las organizaciones de la sociedad civil representan un 1.5 %.

1015 1016
fenómeno5. el debate sobre dos de las afirmaciones planteadas por Ulrich Beck que emergen en forma
diferenciada en el contexto latinoamericano. En primer lugar, la distribución de la riqueza continúa
Uno de los rasgos de las sociedades del riesgo que aún no se constata en Argentina es el margen siendo el eje central de los procesos económicos, políticos y sociales y no ha sido desplazada por
que posee el crecimiento económico para alcanzar los límites ecológicos. En este sentido, para el la lógica de la producción y distribución de los riesgos. De hecho, la distribución de la riqueza y
caso argentino la biocapacidad supera el nivel de huella ecológica aún cuando esta brecha tiende el conocimiento científico-tecnológico es cada vez más inequitativa8, en particular en el contexto
a reducirse en los últimos años. En otras palabras, el país cuenta con una reserva ecológica latinoamericano, proceso que refuerza el rol secundario de la repartición de los riesgos entre los
a diferencia de los países económicamente desarrollados que presentan importantes déficit diversos actores sociales. De ahí que en las sociedades latinoamericanas convivan riesgos de
ecológicos (e.g. Alemania, Japón, EEUU, Gran Bretaña, China)6. la sociedad global del riesgo (e.g. como los medioambientales, utilización de transgénicos y/o
pesticidas en los alimentos que no llegan a ser problematizados o percibidos como una amenaza)
De manera más flagrante, en Argentina no se constata un proceso de democratización de los con algunos propios de la sociedad industrial clásica (e.g trenes tecnológicamente obsoletos que
mercados y de la política. En efecto, los altos niveles de concentración de la economía y la colisionan por falta de mantenimiento e infraestructuras vetustas; tragedias por negligencias en
profusión de estructuras de mercado monopólicas, oligopólicas o con empresas que ostentan el cumplimiento de normas básicas de seguridad)9.
fuertes posiciones dominantes junto con una menguada capacidad de regulación estatal se
encuentran en las antípodas de las sociedades del riesgo europeas. En segundo lugar, la democratización de los riesgos no se expresa tal como señala Ulrich Beck.
En efecto, los mapas de vulnerabilidad global presentan grandes asimetrías en los diferentes
Con respecto a la democratización de la política, se constatan prácticas reñidas con los principios países en relación al impacto del cambio del clima, al aumento del nivel del mar y a la pérdida
básicos de la democracia como los sistemas de elección de representantes sindicales, procesos de productividad (Wheeler, 2011; Mercado Dugarte, 2018). Por otra parte, los denominados
de elección de candidatos a cargos electivos de los partidos políticos, sistemas electorales que desastres naturales deberían ser objeto de relecturas a la luz de procesos sociales, económicos
conservan las denominadas “listas sábana” y sistemas de regulación que acotan la participación y políticos que se desarrollan en las sociedades periféricas (Climent, 2002).
y la capacidad decisoria de la ciudadanía en torno a temas societales que la conciernen
directamente. De esta manera, la sociedad del riesgo argentina se distingue de la caracterizada La especificidad de la sociedad del riesgo argentina se puede sintetizar en dos rasgos. Por un
por Ulrich Beck para el contexto europeo. lado, es una reflexividad ex post facto, especialmente de hechos catastróficos, y principalmente
enfocada en la identificación de culpables y su necesario castigo. Por otra parte, los debates que
Las situaciones catastróficas ocurridas en América Latina no necesariamente se corresponden emergen a partir de accidentes graves o catástrofes desembocan en la disyuntiva público-privado
con una sociedad del riesgo producto del desarrollo científico-tecnológico sino como un modo de para la gestión de organizaciones riesgosas. Así, se ponen en primer plano las vulnerabilidades
funcionamiento propio de las clásicas sociedades industriales, por lo que sólo se han desarrollado del sector público para hacer frente a los riesgos generados por el sector privado.
parcialmente los dispositivos administrativos y legislativos para la supervisión de los efectos del
avance científico-tecnológico sobre la naturaleza y la sociedad7. Esta cuestión permite abrir La centralidad de los riesgos industriales en las sociedades del riesgo mundial no se condicen
5. El análisis de la serie estadística del Indec para el período 1991-2016 da cuenta del proceso de extranjerización de la economía en Argentina
con las preocupaciones centrales de los actores políticos, sociales y económicos argentinos,
que alcanza magnitudes considerables en el conjunto de los agregados macroeconómicos (e.g. cantidad de empresas, valor bruto de la producción, (SINEC) y la Red de Organismos Científico-Técnicos para la Gestión Integral del Riesgo (GIRCYT) (Dec. 383/2017). En ambos casos aún no están en
puestos de trabajo asalariado, utilidad, exportaciones e importaciones). En 1991 el 28% de las 500 grandes empresas en Argentina eran de origen funcionamiento.
extranjero mientras que en 2008 superaron el 58% y 8 años más tarde alcanzaron el 61.6%. Cifras aún más contundentes se observan en el nivel 8. Mientras que Alemania destina el 2.88 % de su PBI a investigación y desarrollo, nuestro país alcanza un valor cercano al 0.59% según datos Banco
de extranjerización según el porcentaje de utilidades, el valor bruto de la producción, los puestos de trabajo asalariados, las importaciones y las Mundial: https://datos.bancomundial.org/indicador/GB.XPD.RSDV.GD.ZS?locations=AR. Asimismo el índice de Gini de nuestro país alcanzó el primer
exportaciones. trimestre de este año (2018) un valor de 0.44 mientras que en Alemania alcanzó un valor de 31.7.
6. Según datos del Global Footprint Network, Argentina cuenta con un superavit de reserva ecológica que supera el 80%, mientras que China, Alemania 9. Nos referimos a los accidentes ocurridos en las líneas férreas metropolitanas, fundamentalmente al accidente conocido como Tragedia de Once y a
y EEUU registran déficits que alcanzan 280%, 182% y 133% respectivamente. la Tragedia de Cromagnon. Se podrían agregar a la lista los casos de Time Warp y el derrame de cianuro en una mina explotada por Barrick Gold en la
7. Cabe destacar que en el caso argentino se creó recientemente por ley Nº 27287/2016 el Sistema Nacional de Emergencias por Catástrofes provincia argentina de San Juan.

1017 1018
focalizados en los riesgos económicos y la inseguridad ciudadana. Según un informe realizado agribusiness).
por IPSOS10, en diciembre de 2017, los temas de mayor preocupación de los argentinos son la
inflación (47%), el crimen y la violencia (43%), el desempleo (41%) y la pobreza y desigualdad Se trata de organizaciones altamente riesgosas que pueden generar catástrofes las veinticuatro
social (40%). Sólo 3% de la población encuestada mencionó como preocupaciones las amenazas horas del día, los trescientos sesenta y cinco días del año. Son sistemas tecnológicos complejos
para el medio ambiente y el cambio climático, temáticas propias de una sociedad del riesgo. De y altamente acoplados (Perrow, 1984) que desarrollan competencias organizacionales e
ahí que resulte pertinente apelar a la noción de incertidumbres manufacturadas (Beck, 2000) individuales distintivas como la competencia técnica extraordinaria, el alto desempeño
que se dan en el caso argentino con la particularidad de que, en gran medida, se mantienen en técnico y sustentable, la flexibilidad estructural y la redundancia, los patrones de autoridad
el terreno del inconsciente y ponen en evidencia el desajuste entre conocimiento y capacidad descentralizados y colegiados, los procesos flexibles de toma de decisiones, los procesos que
para percibir y conocer. Vale la pena señalar que en Argentina no se dispone de estadísticas permiten la continua búsqueda de la mejora y los procesos de recompensa al descubrimiento y
sistemáticas de los riesgos industriales por sector y estadísticas relativas a accidentes, situación reporte de errores (Roberts, 1990; Rochlin, 1993, 2001; Roe & Schulman, 2008; LaPorte &
que contribuye a la imperceptibilidad, incalculabilidad, desconocimiento e invisibilidad de los Consolini, 1991).
riesgos.
Un enfoque complementario hace hincapié en el desarrollo de una infraestructura cognitiva por
Siguiendo esa línea de reflexión, en la sociedad del riesgo hay una imposibilidad de atribuir los parte de las HROs. Karl Weick y sus colegas (Weick et al., 1999; Weick & Sutcliffe, 2007)
riesgos al azar, por el contrario, son actos de la sociedad ya sea acciones u omisiones. Esta es identificaron un conjunto de procesos cognitivos que están en el origen de la alta confiabilidad
una característica presente en la sociedad del riesgo argentina, no obstante lo cual, en ciertas (i.e.preocupación constante por el error; evitar la simplificación de las interpretaciones; realizar
ocasiones catastróficas están presentes los discursos de algunos actores que evocan la fatalidad, un monitoreo de las operaciones; poseer un compromiso con la resiliencia; desarrollar estructuras
la mala suerte y la desgracia. Lectura de los fenómenos catastróficos funcional a los procesos de de baja especificidad que respetan el savoir-faire por sobre la jerarquía).
desresponsabilización de decisiones y comportamientos organizacionales.
Finalmente, desde nuestra perspectiva el rasgo ontológico más distintivo de las HROs se encuentra
También está presente la incapacidad del sector público para regular y gestionar los riesgos, en la teleología organizacional. A diferencia del resto de las organizaciones, las HROs poseen
lo que se traduce en la actitud escéptica y de desconfianza de los actores sociales vis-à-vis las objetivos múltiples en conflicto que deben ser conciliados para alcanzar la alta confiabilidad. En
instituciones públicas. otras organizaciones se pueden establecer arbitrajes o se puede priorizar un objetivo por sobre
otro, se puede eliminar la multiplicidad de objetivos. Las HROs no poseen slack para optar, si
De manera concomitante, en los últimos años surgieron y van adquiriendo mayor presencia quieren ser confiables, deben conciliar sus múltiples objetivos contradictorios, antagónicos y
institucional y de intervención distintas asociaciones y agrupaciones sociales que plantean el concomitantes (Bourrier, 2001; Cameron, 1986, Cantero & Seijo, 2012).
debate acerca de la compatibilidad del desarrollo industrial y la sustentabilidad del medio en el
que habitan (e.g. minería a cielo abierto, instalación de aeropuertos, explotación shale oil y gas). Desde la teoría de la organización, dos grandes corrientes teóricas han adquirido importancia en
el estudio de la gestión del riesgo tecnológico-industrial: la teoría de los accidentes normales y la
Uno de los rasgos en común de nuestra sociedad con las sociedades del riesgo caracterizadas teoría de las organizaciones de alta confiabilidad. La primera, centrada en la variable tecnológica,
por Beck, Giddens y Lash (2008) es que en Argentina existen HROs (i.e. High Reliability preconizada por Charles Perrow (1984, 2009); y la segunda con un enfoque empirista indaga
Organizations, Organizaciones de Alta Confiabilidad) de todos los sectores industriales usualmente sobre la confiabilidad de los sistemas organizacionales complejos e identifica un conjunto de
concebidos como riesgosos (e.g. sector nuclear, químico, petroquímico, aerocomercial, minería, competencias organizacionales (LaPorte, 1996).
10. IPSOS Public Affairs (2018). What worries the world? Disponible en https://www.ipsos.com/sites/default/files/ct/news/documents/2018-02/
what_worries_the_world_argentina_enero_2018.pdf
De acuerdo a estas posturas, el desafío de las HROs es cómo mantener la seguridad y la

1019 1020
confiabilidad en un sistema que es cada vez más complejo y que además está sujeto al de vista organizacional? ¿Qué dimensiones de análisis deben integrarse para comprender el
comportamiento de diversas variables contextuales. La teoría formulada por Charles Perrow, comportamiento confiable de las organizaciones riesgosas? ¿Cómo impacta la experiencia y el
pone el acento en la interacción tecnológica-organizacional de naturaleza compleja que conocimiento de la sociedad europea del riesgo en el abordaje del fenómeno argentino? ¿Qué
presentan los sistemas riesgosos. De ahí que para el autor una organización de alta confiabilidad evidencias empíricas se poseen para dar cuenta de la sociedad argentina del riesgo? Este es el
(HRO) sea sinónimo de vulnerabilidad11, de sistema tecnológico de riesgo que puede generar una conjunto de preguntas de investigación que se plantea en el presente trabajo.
catástrofe en cualquier momento, a pesar de las barreras existentes para impedirla (Cantero &
Seijo, 2012). Se trata de un sistema en el que la concatenación de ciertos eventos puede derivar El presente trabajo constituye un ejercicio reflexivo que se nutre del marco teórico de la
en consecuencias graves para la seguridad de la organización y de su entorno inmediato y/o sociología del riesgo y de la teoría de la alta confiabilidad. El corpus teórico se complementa
mediato (Lagadec, 1984; Gilhou & Lagadec, 2002; Sagan, 1993, Barton & Sutcliffe, 2009). con una minuciosa recopilación y análisis bibliográfico de fuentes documentales. Se recurrió a
fuentes de información secundaria como papers en revistas académicas, informes de organismos
Otro de los niveles de análisis frecuentemente utilizado para el estudio de las HROs es el nacionales e internacionales de sectores riesgosos, publicaciones institucionales, artículos en
individual. El factor humano en las HROs no sólo es concebido como fuente de vulnerabilidad medios periodísticos y de divulgación.
sino como generador de confiabilidad. En efecto, los operadores de sistemas riesgosos pueden
generar catástrofes al mismo tiempo que pueden asegurar un funcionamiento altamente Parafraseando a LaPorte y Consolini (1991), las HROs funcionan en la práctica pero no en la
confiable. teoría, razón por la cual hay que dar cuenta de diversos aportes empíricos que serán de utilidad
para comprender las HROs en la teoría. Finalmente, el presente trabajo propone un conjunto
La teoría clásica del factor humano es una de las más utilizadas a la hora de investigar la de temas para la discusión y conclusiones entre las que se destacan: 1) la especificidad de la
temática de los accidentes dentro de las organizaciones (Neffa, 1989). Ella supone la existencia sociedad del riesgo en Argentina vis-à-vis la construcción teórica de Ulrich Beck (2008); 2) el
de la unicausalidad, afirmando que los actos inseguros responden a la propensión al accidente predominio de los factores tecnológicos y humanos en el corpus teórico y los escasos avances
por parte de los trabajadores, propensión difícil de prever, prevenir o anticipar. desde el punto de vista empírico; 3) el mito de la eficiencia del sector privado ante la ineficiencia
del sector público; 5) desarrollo futuro del corpus empírico en Argentina del conjunto de sectores
Indagar acerca de los factores humanos desde la perspectiva clásica implica centrarse industriales usualmente concebidos como riesgosos (e.g. nuclear, petroquímico, aerocomercial,
solamente en el análisis de accidentes y catástrofes a partir de los errores y la asignación de salud, ferroviario, etc.).
de responsabilidades, postura reduccionista que no da cuenta de la multicausalidad de los
eventos no deseados. En efecto, estudiar los factores humanos no equivale a intentar modificar Bibliografia
el comportamiento de las personas sino operar sobre los factores tecnológicos (máquinas y
artefactos), ambientales (iluminación, ruidos, temperatura, etc.) y los organizacionales (tiempo, Barton, M. & Sutcliffe, K. (2009) Overcoming dysfunctional momentum: organizational safety as
duración del trabajo, asignación de tareas, procedimientos, etc.). a social achievement, Human Relations, 62 (9): 1327-1356.

Abordar el estudio de la sociedad del riesgo en Argentina desde la perspectiva de los estudios Beck, U. (1992) Risk society: towards a new modernity, Newbury Park, CA: Sage.
organizacionales plantea diversos interrogantes. ¿Resulta pertinente el concepto “sociedad del
riesgo” para comprender el contexto local? En tal caso, ¿Cuáles son los rasgos característicos Beck, U. (2000) Retorno a la teoría de la sociedad del riesgo. Boletín de la A.G.E., 30: 9-20.
de la sociedad Argentina del riesgo? ¿Cómo se traduce la sociedad del riesgo desde el punto
Beck, U. (2006) La sociedad del riesgo. Hacia una nueva modernidad, Barcelona: Editorial Paidós
11. Gilbert (2005) conceptualiza a las vulnerabilidades como los efectos vinculados a la complejidad que produce la multiplicidad de actores que
participan en la gestión de los riesgos, de los diversos modos de implicación de los mismos y los modos de relacionarse.
Ibérica.

1021 1022
19-47.
Beck, U. (2008) La sociedad del riesgo mundial, Buenos Aires: Editorial Paidós.
La Porte, T. (1996) High reliability organizations: unlikely, demanding and at risk. Journal of
Beck, U; Giddens, A. & Lash, S. (2008) Modernización reflexiva. Política, tradición y estética en contingencies and crisis management, 4(2): 60-71.
el orden social moderno, Madrid: Alianza Editorial.
Mercado Dugarte, D. (2018) La gestión del cambio climático. Una mirada transdisciplinaria
Bourrier, M. (Dir.) (2001) Organiser la fiabilité. Paris: L’Harmattan. hacia un modelo de gestión de gobernanza local, CENARSEC, FCE-UBA

Cameron, K. (1986) Effectiveness as paradox: consensus and conflict in conceptions of Neffa, J. (1989) ¿Qué son las condiciones y medio ambiente de trabajo? Propuesta de una nueva
organizational effectiveness. Management Science, 32(5): 539-553. perspectiva. CEIL-CONICET/ Área de Estudio e Investigación en Ciencias Sociales del Trabajo de
la SECYT, Buenos Aires: CREDAL/Humanitas.
Cantero, J. & Seijo, G. (2012) Rasgos ontológicos de las Organizaciones de Alta Confiabilidad
(HROs): precisiones epistemológicas para la comprensión de un objeto de estudio en debate. Perrow, Ch. (1984) Normal accidents: living with high-risk technologies, New York: Basic Books.
Revista del Centro de Estudios de Sociología del Trabajo, 4, 69-96.
Perrow, Ch. (2009) Accidentes Normales. Convivir con las tecnologías de alto riesgo. Madrid:
Climent, I. (2002) Tercer mundo, desarrollo, desastres y tecnología. Una mirada desde la Modus Laborandi.
geografía, Serie Geográfica Nº 10: 11 – 26.
Pucci F. (2004) Aprendizaje organizacional y formación profesional para la gestión del riesgo,
Gilbert C. (2005) “Erreurs, défaillances, vulnérabilités: vers de nouvelles conceptions de la Montevideo: Cinterfor/OIT.
sécurite? “, Borraz O., Gilbert, C. & Joly P. (2005) Risques, crises et incertitudes: pour une
analyse critique, Grenoble: Publications de la MSH- Alpes. Roberts, K. (1993) (ed) New Challenges to Understanding Organisations. New York: Macmillan.

Gilhou, X. & Lagadec, P. (2002) El fin del riesgo cero, Buenos Aires: Editorial El Ateneo. Roberts, K. (1990) “Some characteristics of one type of high reliability organization”,
Organization Science 1 (2): 160-175.
Glogal Footprint Network. Disponible en: https://www.footprintnetwork.org/ INDEC (2016)
Anuario estadístico de la República Argentina 2016. Buenos Aires: Argentina. Rochlin, G. (1993) Defining “high reliability” organisations in practice: a taxonomic prologue.
In K. Roberts (Ed.), New Challenges to Understanding Organisations, Macmillan, New York, pp.
IPSOS Public Affairs (2018). What worries the world? Disponible en https://www.ipsos. 11-32.
com/sites/default/files/ct/news/documents/2018-02/what_worries_the_world_argentina_
enero_2018.pdf Rochlin, G. (2001) Les organisations à haute fiabilité: bilan et perspectives de recherché. In M.
Bourrier (ed.) Organiser la fiabilité, Paris, L’Harmattan, pp. 39-70.
Lagadec, P. (1984) La civilización del riesgo. Madrid: Editorial Mapfre.
Roe, E. & Schulman, P. (2008) High reliability management: operating on the edge. Stanford,
La Porte, T. & Consolini, P. (1991) Working in practice but not in theory: theoretical challenges CA: Stanford University Press.
of “High-reliability organizations”, Journal of Public Administration Research and Theory, 1(1):

1023 1024
Sagan, S. (1993) The limits of safety. Organizations, accidents and nuclear weapons, New Jersey: Capítulo 99
Princeton University Press.

Weick, K. & Roberts, K. (1993) “Collective mind in organizations: heedful interrelating on flight
Toponimia organizacional de la sociedad del riesgo en Argentina: precisiones
decks” Administrative Science Quarterly. 38:357-381. onto-epistemológicas acerca de la diversidad de organizaciones riesgosas

Weick, K.; Sutcliffe, K. & Obstfeld, D. (1999) Organizing for high reliability: processes of Javier H. Cantero1
collective mindfulness. Research in organizational Behavior, 21: 81-123.

Weick, K. & Sutcliffe, K. (2007) Managing the unexpected: resilient performance in an age of En las sociedades del riesgo todas las organizaciones son tributarias del riesgo aunque algunas
uncertainty. 2nd Ed. San Francisco: John Wiley & Sons, Inc. son más riesgosas que otras.

Wheeler, D. (2011). “Quantifying Vulnerability to Climate Change: Implications for Adaptation El presente trabajo apunta a identificar y analizar los rasgos específicos de la diversidad de
Assistance.” CGD Working Paper 240. Washington, D.C.: Center for Global Development. http:// organizaciones riesgosas. En ese sentido, la primera distinción realizada por los pioneros del
www.cgdev.org/content/publications/detail/1424759 campo de estudio de los sistemas riesgosos permitió identificar dos tipos organizacionales –
HEOs (High-Efficiency Organizations) y HROs (High-Reliability Organizations)– en función de
sus características tecnológicas, su nivel de complejidad, los riesgos inherentes a sus actividades
y las competencias organizacionales. Estudios posteriores dieron cuenta de las especificidades
teleológicas.

La evolución de los contextos (e.g. tecnológicos, sociales, económicos, regulatorios) generó un


proceso paralelo de complejización, diversidad y oscilación de organizaciones riesgosas. Ciertas
organizaciones que normalmente centraban su teleología en la eficiencia, en la actualidad se
ponen en evidencia por los riesgos que entrañan sus procesos productivos vis-à-vis la comunidad
y el medio ambiente. Por otra parte, las tradicionales organizaciones riesgosas, si bien conservan
sus peligros potenciales, mediante dispositivos de mitigación y gestión de lo inesperado se
destacan por su confiabilidad antes que por la vulnerabilidad de sus sistemas.

HEOs versus HROs aparece como un contrapunto necesario para distinguir la diversidad del
universo organizacional pero, al mismo tiempo, insuficiente. En efecto, al estudiar con mayor
detenimiento los sistemas riesgosos se puede discriminar entre las tradicionales organizaciones
riesgosas, las redes de organizaciones riesgosas (HRNs, por High Reliability Networks) y los
sistemas de comando de incidentes (ICSs, por Incident Command Systems).

1. Universidad Nacional de General Sarmiento / Argentina. Email: jcantero@ungs.edu.ar

1025 1026
Las HROs se distinguen en el universo organizacional por el sistema tecnológico que las sustenta
(Perrow, 1984), por las competencias organizacionales e individuales (Roberts, 1990; Rochlin, A través del análisis de las infraestructuras críticas, Schulman et al (2004) sostienen que las
1993, 2001; Roe & Schulman, 2008; LaPorte & Consolini, 1991), por su infraestructura HRNs son inherentemente vulnerables a disrupciones locales que pueden derivar en errores
cognitiva (Weick et al., 1999; Weick & Sutcliffe, 2007) así como por la articulación de objetivos catastróficos. Son organizaciones caracterizadas por la interconexión dentro de cada una y
múltiples contradictorios, antagónicos y concomitantes (Bourrier, 2001; Cameron, 1986, entre ellas. Presentan elementos constitutivos estructurales y geográficos heterogéneos. Su
Cantero & Seijo, 2012). multiplicidad teleológica conflictiva se traduce en la tensión entre el mantenimiento del flujo del
servicio y la protección de la red.
Al realizar un contrapunto entre las HROs y las HEOs se pueden identificar, al menos nueve
características distintivas. Difieren en cuanto a la teleología, los procesos decisorios, el sistema Según Berthod et al. (2015), las HRNs se distinguen por cuatro características interdependientes:
de autoridad, las consecuencias derivadas de los errores, el sistema tecnológico, la incidencia 1) todas las organizaciones participantes de la red confían en que realizarán contribuciones libres
de la incertidumbre, el patrón de interacciones necesario, los principios de gestión aplicables y de errores para lograr el desempeño de la red en su conjunto; 2) no todas las organizaciones
el predominio del sector público o privado en la gestión de organizaciones riesgosas (Cantero & participantes de la red son HROs; 3) la falla de uno de los participantes puede impedir la
Seijo, 2012). confiabilidad del desempeño de la red en su conjunto; 4) la combinación confiable de todas las
contribuciones organizacionales al desempeño del conjunto de la red se apoya en estructuras de
Cabe destacar que el esfuerzo epistemológico por caracterizar cada uno de los tipos cooperación y prácticas específicas que apuntan a la integración de la red.
organizacionales no debe conducir al error de reificar fronteras que no dejan de desplazarse
y que son inherentemente porosas entre uno y otro tipo organizacional. Es esencial evitar el En tiempos de políticas económicas market-friendly, las HRNs se ven enfrentadas a una
reduccionismo del pensamiento binario. Esto es, pensar que el universo organizacional se puede paradoja: se les exige cada vez más confiabilidad y al mismo tiempo los marcos organizacionales
dividir exclusivamente en HROs y HEOs. En realidad, existen innumerables tipos organizacionales, convencionales asociados a la alta confiabilidad están siendo desmantelados. Si bien no se trata
como en la vida, no todo es blanco y negro, razón por la cual tenemos que analizar el universo de un rasgo ontológico, inherente a la naturaleza de las HRNs, la perdurabilidad de los cambios
organizacional a partir de un continuum cuyos extremos sean las HROs y las HEOs y a lo largo contextuales plantea un desafío paradojal a la gestión de las redes altamente riesgosas.
del cual se encuentran organizaciones que presentan ciertas características que las acercan a
uno u otro extremo. Sin obviar un conjunto de organizaciones híbridas que se caracterizan por Con respecto a las modalidades de gestión de las HRNs, se pueden identificar cuatro modelos de
desarrollar, de manera concomitante, rasgos de HEOs y de HROs. desempeño pasibles de alcanzar la confiabilidad. Se denominan “justo a tiempo”, “justo para el
caso”, “justo para ahora” y “justo de esta forma” (Schulman et al., 2004). De acuerdo al nivel
Una vez realizada la primera distinción resulta evidente que no todas las HROs son idénticas. de variedad de las opciones de la red (i.e. alta o baja) y el grado de inestabilidad del sistema (i.e.
Una central nuclear no es lo mismo que una red de generación y distribución de agua potable así alto o bajo) se requerirá uno u otro de los modelos de gestión identificados. Por ejemplo, si el
como una empresa petroquímica se diferencia de un sistema de telecomunicaciones o de una sistema es altamente inestable y se cuenta con variadas opciones de gestión de la red, se logrará
red de organizaciones constituida para gestionar la recuperación de una ciudad luego de una la confiabilidad mediante el modelo de desempeño “justo a tiempo”. Por otra parte, la escasa
inundación o un atentado terrorista. variedad de opciones se compensará con una baja inestabilidad del sistema dando lugar a una
modalidad de desempeño “justo de esta forma”. El desempeño más exigente tendrá lugar cuando
El estudio de infraestructuras críticas, (e.g. generación y distribución de energía eléctrica, la red sea altamente inestable y se cuente con una baja variedad de opciones. Se trata del worst
provisión de agua potable, transporte ferroviario) dio lugar a la noción de HRNs, (High-Reliability case scenario que exige un modo de gestión “justo para ahora” en el que entra a desempeñar
Networks). Schulman y Roe (2004, 2007, 2008) identificaron las modalidades de gestión un rol esencial el crisis management. En contraposición, la situación menos exigente se dará
confiable de las HRNs, las características específicas y los roles clave. cuando el sistema sea modestamente inestable y se cuente con una gran variedad de opciones

1027 1028
para gestionar la red. dimensión económica-financiera.

Teniendo en cuenta las particularidades de las HRNs, el estudio de Schulman et al. (2004) puso La diversidad del universo HRO se completa con los Incident Command Systems (ICS). A
en evidencia el rol central de los denominados “profesionales de la confiabilidad”. Se trata de comienzos de los años 1970 se desarrolló un sistema de gestión organizacional de operaciones
profesionales de línea media como controladores, despachantes, supervisores técnicos y jefes de respuesta rápida ante emergencias (v.g. eventos) que escalan dinámicamente. El sistema
de departamentos cuya función y actividades se centran en la búsqueda del equilibrio, necesario se denominó Sistema de Comando de Incidentes (ICS). Sistema de gestión que modifica la
para lograr la confiabilidad en tiempo real de los sistemas en red. estructura jerárquica de comando y control tomada de las organizaciones militares hacia una
forma organizativa más flexible.
Es de particular interés la distinción de HRNs ya que en Argentina, las infraestructuras críticas
concesionadas en los años 1990 volvieron a la órbita estatal luego de gestiones empresariales El ICS se pone en funcionamiento ante alguna emergencia: inundaciones, incendios, accidentes
deficitarias y/o catastróficas, (e.g. sistema ferroviario) e incluso algunas redes de infraestructura viales o ferroviarios, etc. Es decir, son redes inter-organizacionales que confluyen ante un evento
crítica, (e.g. provisión de energía eléctrica, subterráneos, red de gas domiciliario) siguen bajo inédito. Son HROs ad hoc, de existencia efímera.
la órbita empresarial, a pesar de ser redes no necesariamente confiables. Entre los casos
paradigmáticos de HRNs con falencias flagrantes en su nivel de confiabilidad cabe destacar el Se trata de HROs que deben conciliar objetivos múltiples, antagónicos y conflictivos en la
sistema de generación y distribución de energía eléctrica (residencial), el sistema de transporte inmediatez. Salvar vidas humanas, proteger la propiedad (v.g. bienes materiales) y mantener
ferroviario suburbano de pasajeros, las HRNs de telecomunicaciones. En este sentido, resulta y restaurar la continuidad de los servicios públicos para la comunidad constituyen los tres
insoslayable estudiar las especificidades y modelos de gestión de las HRNs tanto para mejorar objetivos esenciales de todo ICS (Boersma et al., 2014).
la confiabilidad de aquellas redes que se encuentran bajo la órbita empresarial como para evitar
que la gestión pública de HRNs reproduzca la experiencia empresarial catastrófica. En pos de la conciliación teleológica de los ICSs se apela al equilibrio entre el control y la
flexibilidad. Según Bigley y Roberts (2001) hay tres categorías conceptuales que hacen que
Por otra parte, las HROs cada vez más apelan a la construcción de redes inter-organizacionales los ICS sean altamente flexibles y confiables para enfrentar contextos complejos y volátiles.
a través de la subcontratación, con lo cual existe una tendencia hacia la transformación de En primer lugar, los mecanismos estructurantes que rápidamente alteran la estructura
HROs en HRNs. Múltiples implicancias para la gestión se derivan del desarrollo de redes de organizacional formal. Procesos como diseño de la estructura, cambio de roles, migración de
organizaciones riesgosas. En un trabajo previo (Cantero, 2015) se identificaron seis dimensiones la autoridad y reajuste del sistema, mejoran la flexibilidad y la confiabilidad. En segundo lugar,
clave de la subcontratación en HROs: decisión de subcontratar, aspecto contractual; selección el apoyo organizacional para la improvisación restringida. En ese sentido, los supervisores del
de subcontratistas; organización de la subcontratación; desempeño alcanzado y cooperación con ICS proveen cierto grado de libertad para improvisar a sus subordinados. Siempre limitada por
subcontratistas. herramientas (v.g. recursos disponibles), reglas y rutinas. En tercer lugar, se logra flexibilidad y
confiabilidad utilizando métodos del management cognitivo (Bigley & Roberts, 2001). Esto es,
A la hora de gestionar HROs que apelan a la subcontratación como dispositivo constitutivo de desarrollar una representación operacional (de la organización y de sus contextos), comunicar
una red y no como mero instrumento de optimización de costos se debe definir si es conveniente la información representacional, cambiar la responsabilidad representacional e incorporar
subcontratar o no subcontratar; explicitar y formalizar las cuestiones contractuales entre la representaciones operacionales en el sentido de su alcance y especificidad. De esta manera se
HRO y las empresas subcontratistas; determinar los criterios de selección de empresas contribuye a la construcción de modelos mentales compartidos y de alta fidelidad que apuntan a
subcontratistas; especificar las tareas subcontratadas; realizar el seguimiento y la evaluación la coordinación de los sistemas con los comportamientos de los operadores y resolver problemas
del desempeño de la subcontratación; y asegurarse de que la subcontratación apunte a la generados por los contextos complejos y dinámicos.
cooperación interorganizacional y no sea un mero dispositivo contractual motivado por la

1029 1030
Realizar una cartografía del universo organizacional riesgoso plantea ciertos interrogantes:
¿Cuáles son los rasgos característicos de cada uno de los tipos ideales de organizaciones El presente estudio, predominantemente hipotético-deductivo, constituye un ejercicio reflexivo
riesgosas? ¿Cómo se traduce la especificidad de las organizaciones riesgosas en modalidades tendiente a proponer una tipología de organizaciones riesgosas. Desde el punto de vista
de gestión y comportamiento organizacional? ¿Qué dimensiones de análisis deben integrarse teórico se apela a la teoría de la alta confiabilidad, la teoría de los accidentes normales y los
para comprender el comportamiento confiable de las organizaciones riesgosas? enfoques técnico-ingenieriles de la gestión del riesgo. El corpus teórico se complementa con una
exhaustiva recopilación y análisis bibliográfico de fuentes documentales (e.g. libros y papers en
Luego de haber relevado el desafío de identificar los rasgos característicos de cada tipo ideal revistas académicas, artículos en medios periodísticos y de divulgación).
de HRO y esbozado los diversos modos de gestión para lograr la confiabilidad, resulta oportuno
reflexionar en torno a las dimensiones analíticas necesarias para comprender la toponimia Resulta imprescindible establecer las distinciones epistemológicas tendientes a caracterizar
diversa del universo HRO. En primer lugar, la naturaleza de la actividad a realizar. Tanto las con mayor precisión la diversidad del universo de organizaciones riesgosas, no sólo desde el
clásicas HROs como las HRNs realizan actividades, ya sea de elaboración de algún bien o punto de vista teórico sino, especialmente, para contribuir al desarrollo de modelos de gestión
prestación de un servicio en permanencia y la confiabilidad no sólo está dada por la ausencia de ajustados a la naturaleza de las organizaciones bajo análisis. En otras palabras, la diversidad de
catástrofes o accidentes sino esencialmente por mantener un nivel de producción o prestación organizaciones riesgosas en las sociedades homónimas exige un conocimiento profundo de sus
de servicio permanente. rasgos para gestionarlas y lograr la confiabilidad requerida por todos los actores involucrados.

En segundo lugar, las relaciones interorganizacionales (y la construcción de redes) ya sea que Mayor relevancia adquiere el esfuerzo toponímico (v.g. taxonómico) en los países latinoamericanos
se traten de un rasgo ontológico necesario o una configuración estructural voluntariamente por tres razones. En primer lugar, una cantidad considerable de catástrofes y accidentes de
construida por la HRO. gravedad en los últimos años ponen en evidencia las falencias tanto de los sistemas productivos
riesgosos como de los ICSs. En segundo lugar, se trata de un área de vacancia desde el punto de
La espacialidad o campo de acción en que se desarrollan las actividades constituye la tercera vista investigativo. En efecto, el incipiente terreno de estudio de las HROs en América Latina aún
dimensión para dar cuenta de la diversidad del universo HRO. En efecto, el campo de acción en no ha incursionado en el estudio de los ICSs como la evidencia empírica lo requiere. Finalmente,
el que se desenvuelven las clásicas HROs resulta sustancialmente más concentrado que el de la evolución hacia sociedades del riesgo entraña la proliferación de organizaciones altamente
las HRNs y de los ICS. En estas organizaciones riesgosas la dimensión espacial se presenta en riesgosas que desarrollan redes y que se constituyen ad hoc para enfrentar los desafíos de
términos difusos e imprecisos. eventos no deseados e inesperados.

La dimensión temporal es un cuarto rasgo distintivo. En las HRNs se debe hacer frente a una Bibliografia
exigencia de respuesta permanente. En las clásicas HROs se presenta el rasgo de respuesta
permanente y en ciertas ocasiones (i.e. anomalías, incidentes, accidentes) se reduce la holgura Berthod, O.; Grothe-Hammer, M. & Sydow, J. (2015) Some characteristics of High-Reliability
o slack para ofrecer una respuesta confiable. En el extremo, los ICS deben imperativamente Networks. Journal of Contingencies and Crisis Management, 23(1): 24–28.
ofrecer respuestas confiables en la inmediatez.
Bigley, G. & Roberts, K. (2001) The Incident Command System: high-reliability organizing for
La naturaleza del contexto juega un rol importante a la hora de distinguir entre distintas HROs. complex and volatile task environments. Academy of Management Journal, 44(3): 1281-1299.
Mientras que las clásicas HROs lidian con contextos complejos y relativamente estables, las
HRNs operan en contextos medianamente complejos y estables y los ICS enfrentan contextos Boersma, K., Comfort, L., Groenendaal, J. and Wolbers, J. (2014) Editorial: Incident Command
complejos y volátiles. Systems: A Dynamic Tension among Goals, Rules and Practice, Journal of Contingencies and

1031 1032
Crisis Management, 22(1): 1–4. In K. Roberts (Ed.), New Challenges to Understanding Organisations, Macmillan, New York, pp.
11-32.
Bourrier, M. (Dir.) (2001) Organiser la fiabilité. Paris: L’Harmattan.
Rochlin, G. (2001) Les organisations à haute fiabilité: bilan et perspectives de recherché. In M.
Cameron, K. (1986) Effectiveness as paradox: consensus and conflict in conceptions of Bourrier (ed.) Organiser la fiabilité, Paris, L’Harmattan, pp. 39-70.
organizational effectiveness. Management Science, 32(5): 539-553.
Roe, E. & Schulman, P. (2008) High reliability management: operating on the edge. Stanford,
Cantero, J. (2015) Subcontratación en organizaciones riesgosas. Desarrollo de una metodología CA: Stanford University Press.
para diagnosticar el impacto de la subcontratación en la confiabilidad y las CyMAT. Ponencia 12
Congreso Nacional de Estudios del Trabajo, ASET. Schulman, P & Roe, E. (2007) Designing Infrastructures: dilemmas of design and the reliability
of critical infrastructures. Journal of Contingencies and Crisis Management, 15(1): 42-49.
Cantero, J. & Seijo, G. (2012) Rasgos ontológicos de las Organizaciones de Alta Confiabilidad
(HROs): precisiones epistemológicas para la comprensión de un objeto de estudio en debate. Schulman, P.; Roe, E.; Van Eeten, M. & Bruijne, M. (2004) High Reliability and the Management
Revista del Centro de Estudios de Sociología del Trabajo, 4, 69-96. of Critical Infrastructures. Journal of Contingencies and Crisis Management, 12 (1): 14-28.

Groenendaal, J. & Helsloot, I (2016) A Preliminary Examination of Command and Control by Weick, K. & Roberts, K. (1993) Collective mind in organizations: heedful interrelating on flight
Incident Commanders of Dutch Fire Services during Real Incidents. Journal of Contingencies and decks. Administrative Science Quarterly. 38:357-381.
Crisis Management, 24(1): 2-13.
Weick, K. & Sutcliffe, K. (2007) Managing the unexpected: resilient performance in an age of
Jensen, J. & Waugh, W. (2016) The United States’ experience with the Incident Command uncertainty. 2nd Ed. San Francisco: John Wiley & Sons, Inc.
System: what we think we know and what we need to know more about. Journal of Contingencies
and Crisis Management, 22(1): 5-17. Weick, K.; Sutcliffe, K. & Obstfeld, D. (1999) Organizing for high reliability: processes of
collective mindfulness. Research in organizational Behavior, 21: 81-123.
La Porte, T. & Consolini, P. (1991) Working in practice but not in theory: theoretical challenges
of “High-reliability organizations”. Journal of Public Administration Research and Theory, 1(1):
19-47.

Perrow, Ch. (1984) Normal accidents: living with high-risk technologies, New York: Basic Books.

Roberts, K. (1990) Some characteristics of one type of high reliability organization, Organization
Science, 1(2): 160-175.

Roberts, K. (1993) (ed) New Challenges to Understanding Organisations. New York: Macmillan.

Rochlin, G. (1993) Defining “high reliability” organisations in practice: a taxonomic prologue.

1033 1034
Capítulo 100

El clima laboral como responsabilidad de los managers: Supuestos e


implicancias en el ejercicio del rol

Ruth B. Szvarc1

Introducción

El concepto de clima organizacional puede vincularse con una mirada sistémica, desde la que se
piensa a las organizaciones como ambientes complejos y dinámicos, cuyos integrantes tienen la
posibilidad de modificarlos con sus acciones y actitudes.

Para Chiavenato (2000) el clima organizacional puede ser definido como “las cualidades o
propiedades del ambiente laboral que son percibidas o experimentadas por los miembros de la
organización y que además tienen influencia directa en los comportamientos de los empleados”.
El proceso de managerialización de la sociedad
García Solarte (2009) agrega que estas percepciones “afectan las relaciones e inciden en las
reacciones del comportamiento de los empleados, tanto positiva como negativamente, y por
tanto, modifican el desarrollo productivo de su trabajo y de la organización”.

En los últimos años han surgido una serie de metodologías e instrumentos para medir el clima
laboral, establecer el grado de satisfacción de los empleados e identificar las causas que inciden
en su motivación y compromiso con la empresa. El supuesto que subyace es que las personas,
más satisfechas con sus lugares de trabajo, serán capaces de mostrar mayor compromiso y por
lo tanto, esforzarse para lograr mejores resultados.
La aplicación de estas metodologías son mayormente derivadas por las empresas a consultoras
especializadas. Estas, en muchos casos, operan desde una definición propia de lo que es un
buen clima laboral o un buen lugar para trabajar. Tomaremos, a modo de ejemplo, la concepción
que subyace en las definiciones de una de las consultoras de mayor prestigio internacional,
que anualmente publica en cada país un ranking de las 100 mejores empresas, basado en la
aplicación de su propia encuesta de medición del clima laboral.
1. Especialista en Ciencias Sociales y Humanidades Universidad Nacional de Quilmes (Argentina). Consultora independiente. Email: ruthszvarc@gmail.
com

1035 1036
Para esta consultora, los lugares de alta satisfacción son aquellos en los cuales “los colaboradores relación, con el supuesto de que esto generará una mayor identificación, orgullo y pertenencia
confían en las personas en las personas para las cuales trabajan, se sienten orgullosas de lo que con la organización, lo que incrementará la disposición personal para cumplir con los objetivos y
hacen y disfrutan con las personas con las que trabajan” (Levering, 1984). En estos lugares los resultados que la organización se ha propuesto.
managers logran que las personas entreguen lo mejor de sí, trabajando en un ambiente familiar
y de confianza. De este modo, se espera que el manager actúe como mediador en la “empresa – organismo
vivo” (Morgan, 1998), considerando los factores que podrían ayudar a lograr ese clima ideal que
El pilar fundamental para lograr un buen clima es la confianza, que se compone de tres logra satisfacer las necesidades de sus integrantes y los de la organización. Su esfuerzo consiste
elementos: la credibilidad en los jefes, el respeto y la justicia con que los empleados sienten que en lograr el equilibrio, como también en prevenir y contener aquello que podrían contribuir a su
son y esperan tratados. La responsabilidad de construir la confianza es básicamente una función desestabilización.
del jefe: no depende de la empresa ni sus políticas. Para ello, debe poner en práctica a serie de
competencias, que serán evaluadas en la encuesta anual de clima laboral. Como esto depende en gran medida de lo que haga (o no haga) el manager, este ideal funciona
como una orientación que establece las pautas que orientan lo que éste debe hacer para ser
Para lograr esa confianza, es necesario considerar las relaciones de trabajo bajo la modalidad evaluado como un buen jefe por sus colaboradores y también por sus superiores. Su tarea consiste
de “regalo”, - al modo de lo que Marcel Mauss (2009) identificó como un don, un acto social en desarrollar un lugar en el que las personas puedan confiar: la confianza no es algo que forme
que implica acciones, valores y principios jurídicos que se articulan en torno al acto de dar. parte naturalmente de este ecosistema. Se deben poner en juego una serie de competencias para
Se diferencia explícitamente de una concepción mercantilista del trabajo basada en la compra que las personas alcancen un alto nivel de satisfacción medido a través del índice de confianza.
–venta de horas y esfuerzo, a cambio de una remuneración. Por eso los managers deben ser
capaces de distinguir las interacciones meramente transaccionales de aquellas que destacan el Por ello el jefe debe invertir tiempo y esfuerzo en demostrar un interés genuino por el bienestar
valor del trabajo como un regalo o un don. En las primeras la moneda da cambio es el dinero y de sus colaboradores; al mismo tiempo debe manifestar a la empresa su propia implicación
la economía de mercado, mientras que en las segundas prevalece un lazo social que se realiza (Zangaro, 2011) y fidelidad, ayudándola a alcanzar los mejores estándares como lugar para
a partir de reglas implícitas de intercambio y cooperación genuinos, basados en la confianza: trabajar (aun cuando en muchos casos ni las políticas ni las prácticas reales de la empresa
estas implican para el jefe una inversión a largo plazo y suponen dar más de lo que se espera en lo ayuden o acompañen en su emprendimiento). Para él, el logro de un buen clima laboral se
beneficio de la organización. El objetivo es construir y llenar el “depósito de confianza”. transforma en un desafío personal que le permitirá ganar aceptación, continuidad en su puesto,
desarrollo de su carrera laboral y permanencia en la empresa, hasta que cambien las reglas de
Medir el clima laboral ayuda entonces a conocer cuál es, -en un determinado momento-, la juego.
temperatura actual del sistema en relación a la satisfacción / insatisfacción de sus integrantes.
Pero además brinda información acerca de cuán cerca/lejos se encuentra la organización de Esto implica para el manager un doble esfuerzo: se espera que sea capaz de lidiar con las
ese “clima ideal” que es necesario alcanzar (a modo de parámetro), para lograr ser percibido presiones, resolver los conflictos y mediar con los intereses de las partes para alcanzar un clima
como un gran lugar para trabajar: un lugar en el que el depósito de confianza aumenta de manera laboral de alta satisfacción, y al mismo tiempo, entregar los resultados que el negocio espera
constante. de él (por los que también será evaluado). Para ello sus colaboradores, altamente satisfechos,
confiados e implicados con la empresa, - como consecuencia directa del esfuerzo de su jefe para
El papel de los managers: supuestos e impactos que esto suceda-, deben ser capaces de entregar lo mejor de sí mismos.

Bajo el enfoque del trabajo como un regalo/don, las interacciones tienen como meta satisfacer Como resultado final, este esfuerzo se verá reflejado en la empresa (según lo propone la
el deseo personal de dar y servir para alcanzar el bienestar mutuo y el fortalecimiento de la consultora) en mayor rentabilidad, mejores rendimientos financieros, menor rotación de personal

1037 1038
(disminuyendo los costos que ello implica) y un incremento de la lealtad de los clientes. finalidad de ese supuesto ejercicio desinteresado de entrega y don: el de lograr los resultados
de negocio con la mayor eficacia, a través de su esfuerzo por lograr el compromiso de sus
Al analizar la dinámica de este modelo, surgen algunas preguntas: colaboradores.
¿Qué es lo que se pondera desde este modo de ver el trabajo y de medir el clima laboral? ¿Qué
se pone de manifiesto y qué se invisibiliza? Su rol se ve entonces doblemente comprometido: la efectividad de su desempeño será medida
por su capacidad de alcanzar resultados y al mismo tiempo, por el reconocimiento de sus
Podemos encontrar alguna clave revisando los supuestos y hallazgos de la Escuela de las colaboradores como manager inspirador de confianza, capaz de lograr el grado de engagement
Relaciones Humanas, cuando Elton Mayo, entre 1927 y 1932, realizaba sus experimentos de que le permita a la empresa mostrarse ante la sociedad como uno de los mejores lugares para
Hawthorne en la Western Electric Company. El trataba de “recuperar, en el interior del espacio trabajar. En su tarea, también él deberá luchar por mantener su propia estabilidad laboral.
de trabajo, la lógica del mundo doméstico, la lógica de las relaciones de parentesco, de las
relaciones de amistad (Anzoátegui, Chosco Díaz y Szlechter, 2018). A través de su investigación ¿Y cuál es el impacto en los managers?
empírica halló – en forma casual- la clave de lo que más tarde fue fundante para los estudios
sobre la motivación humana en el trabajo: lo que él descubrió es que, cuando las personas se El logro de esta doble exigencia implica para el manager un esfuerzo (muchas veces acompañado
sienten tenidas en cuenta como tales, se las escucha y se las contiene afectivamente, se sienten de un alto nivel de stress), que revela que la confianza y el engagement no son algo que
más motivadas y son capaces de producir más y mejor en su trabajo. Mayo, que sin proponérselo naturalmente se da en las organizaciones empresariales: es necesario trabajar arduamente para
“leía” a la organización como un sistema, va a propiciar con tu teoría la importancia de mantener lograr ese clima ideal, desarrollando ciertas competencias y comportamientos específicos.
la armonía, incorporando los cambios necesarios para lograr mantener su equilibrio. Para ello, las empresas invierten tiempo y dinero en la formación de sus managers, con el
fin de demostrarles y convencerlos de los beneficios de aplicar este modelo y desarrollar las
Si se analiza el modelo de evaluación del clima laboral desde los postulados de Mayo, surge con habilidades necesarias para ponerlo en práctica.
claridad el supuesto de que el rendimiento, la productividad y la rentabilidad, dependerán en gran
medida del grado de satisfacción alcanzado por los empleados. Quienes se sientan mejor serán Como respuesta a estas exigencias, es posible observar que algunos managers adoptan este
capaces de un mejor rendimiento, y por eso la organización – a través de sus managers- debe paradigma, -totalmente creyentes de sus bondades-, sin dejar de reconocer las dificultades de su
procurar la satisfacción de las necesidades de sus colaboradores. Esto supone que el empleado aplicación en un contexto que no siempre posibilita la satisfacción de las necesidades de todos
motivado, va a estar alineado totalmente con los intereses de la organización y que por su propia los actores.
convicción y elección va a “entregar lo mejor de sí” para que la organización logre sus objetivos
(lo que hoy las empresas denominan “engagement”: algo más fuerte aún que el compromiso, Otros, más bien cínicos, no creen en el modelo pero tratan de actuar como si creyeran porque
que forma parte de la literatura managerial y la agenda de preocupaciones empresariales, sobre saben que de ello depende su continuidad laboral y la posibilidad de obtener los beneficios de
todo en la era de los millennials). ¿Y quién es el responsable de que esto suceda?: el manager. una carrera laboral exitosa.

Sin embargo, nada nos dice este modelo acerca de las tensiones, la diversidad de intereses Finalmente, se encuentran aquellos que querrían creer pero encuentran trabas en la realidad
que puede existir entre dueños, managers y empleados: nada nos dice acerca de las relaciones cotidiana que les dificulta poner en práctica las competencias y alcanzar los resultados esperados:
de poder y el grado conflicto que puede darse al interior de estas relaciones. Estas relaciones por un lado se les pide que, para que sus colaboradores se sientan motivados y satisfechos se
quedan invisibilizadas por el vínculo entre jefe y colaborador, tal como lo sostiene Ibarra Colado les permita trabajar con autonomía, desarrollando sus capacidades y dando lo mejor de sí;
(1999). En su accionar, el poder del manager parecería estar al servicio de sus colaboradores, sin embargo, la empresa no está estructuralmente pensada para que ello suceda (porque las
con el fin de lograr su satisfacción y motivación; sin embargo, poco dice acerca de la verdadera prácticas cotidianas contradicen lo que se declaman como comportamientos deseados, porque

1039 1040
las decisiones se toman de manera concentrada y unilateral, porque las políticas de la empresa el bienestar, el respeto, la buena convivencia y el desarrollo de las personas, será necesario
en materia de recursos humanos son restrictivas, porque los juegos de poder internos impiden continuar la búsqueda de la posibilidad real de compatibilizar trabajo – satisfacción, sin negar la
la participación de los empleados en la toma de decisiones, etc). Sienten, y manifiestan una verdadera naturaleza de la relación laboral y los intereses genuinos de las partes, sin ocultar los
gran impotencia, por la imposibilidad de aplicar lo que se predica en las capacitaciones para verdaderos motivos bajo el manto de la confianza.
managers en el ejercicio de su rol, lo cual termina de generar frustración y falta de credibilidad
en el discurso managerial. Referencias

A modo de reflexión final Burchell, Michael y Robin Jennifer. (2011).The Great Workplace. Jossey Bass. San Francisco, CA.

La práctica de medición del clima laboral, habitual en las empresas, responsabiliza a sus Chiavenato, Idalberto. (2000) Administración de recursos humanos. Mc Graw Hill. Colombia.
managers por el logro del compromiso de sus colaboradores, que asumen los objetivos de la
organización como si fueran propios. Esto plantea algunas inquietudes: García Solarte, Mónica. (2009) “Clima Organizacional y su diagnóstico: una aproximación
conceptual”. Cuadernos de Administración [en línea] [Fecha de consulta: 15-02-2018].
-El modo particular de “hacer empresa” aparece muchas veces teñido de un discurso que Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=225014900004 ISSN 0120-4645
propone estar al servicio de la felicidad de los empleados, como si ésta fuera la verdadera
finalidad en lugar de la satisfacción de los intereses económicos de la organización. Gareth, Morgan.(1986) Imágenes de la Organización. Editorial Alfaomega. México.

-De algún modo, esto supone una homogeneización de las condiciones de satisfacción, Ibarra Colado, Eduardo (1999) “Los saberes sobre la organización: etapas, enfoques y dilemas”,
suponiendo que son iguales para todos, con iguales expectativas, necesidades e intereses en Castillo Mendoza, Carlos A. (coord.), Economía, organización y trabajo: un enfoque sociológico,
respecto del trabajo. Madrid, Pirámide, pp 95- 154.

-Ese discurso impone a los managers una serie de mandatos sobre su rol, que a través de su Levering, Robert. (1988) Un excelente lugar para trabajar. ¿Qué hace que algunos empleadores
ejercicio disimula la verdadera naturaleza de la relación laboral, compleja y conflictiva, basada sean tan buenos y que muchos sean tan malos? Great Place to Work Institute.
en la diversidad de intereses.
Luci, Florencia. (2016). La era de los managers. Paidós. Buenos Aires.
-Tampoco pone en evidencia cuáles son las necesidades e intereses de los propios managers,
cuyo papel parece estar signado -a modo de apostolado -, a procurar la satisfacción de todos los Maluf, Marcia. (2003) “Reseña de El enigma del don, de Maurice Godelier”, Iconos. Revista
demás actores (dueños, empleados, accionistas, etc), pero no la suya propia. de Ciencias Sociales, mayo, número 016, Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, Sede
Académica de Ecuador, Quito, Ecuador p. 161.
¿Será que el rol de manager es inherente a este modelo? ¿Qué es lo que lleva a la aceptación de
este mandato y el grado de exigencia implícito en él? Szlechter, Diego (coord...) y otros. (2018) Teorías de las organizaciones. Un enfoque crítico,
histórico y situado. Ediciones UNGS, Buenos Aires.
¿Existirá la posibilidad de re -construirlo desde una dinámica diferente?
Zangaro, Marcela. (2011) Subjetividad y trabajo. Una lectura foucaltiana del management.
Bajo la convicción de que siempre es preferible trabajar en ambientes en donde se promueve Herramienta Ediciones. Buenos Aires.

1041 1042
Capítulo 101 En los próximos apartados haremos algunas referencias conceptuales sobre la orientación de
las políticas de empleo. Resumiremos brevemente las medidas adoptadas desde el paradigma
de activación en la provincia de Buenos Aires3, incluyendo los cambios más recientes. Luego
“Vengo a ofrecerles un negocio”: Apropiación del lenguaje empresarial en se analizarán, desde una perspectiva crítica, los discursos de los funcionarios y agentes del
programas de empleo Ministerio de Trabajo provincial siguiendo cuatro ejes: la percepción que la formalidad es
condición para la inclusión social; la polaridad entre empleo y asistencialismo; la evaluación de la
Andrea Suarez Maestre1 gestión gubernamental con criterios manageriales; y finalmente, los razonamientos económicos
que suponen estos programas. Al finalizar se esbozará una reflexión final sobre estas estrategias
de adaptación y orientación empresarial en las acciones del Estado para reducir el desempleo.
1. Presentación
2. Acerca De Las Políticas Activas De Empleo
Este trabajo se propone analizar y reflexionar acerca de referencias al discurso managerial
identificadas en las estrategias adoptadas por los actores gubernamentales responsables de la En la literatura encontramos cierto consenso en considerar como políticas activas de empleo
implementación de programas de empleo en la provincia de Buenos Aires (Argentina) entre 2000 a aquellas medidas que se proponen reducir el nivel de desempleo, actuando en la oferta o
y 2015. Forma parte de un estudio sobre los subsidios al empleo privado, que está realizando la demanda de fuerza de trabajo (Neffa, 2011), desde una perspectiva de largo plazo (Gautié,
autora para la tesis doctoral en Ciencias de la Administración en la Universidad Nacional de La 2009) e incentivando a la “activación” de las personas desocupadas a reinsertarse en el
Plata. Este paper sigue el enfoque cualitativo de investigación, mediante el análisis de contenido mercado laboral (Freyssinet, 2007). Según la extendida clasificación de la OCDE, dentro de
de entrevistas2 realizadas a agentes y funcionarios del Ministerio de Trabajo de la provincia de este grupo se encuentran los servicios públicos de empleo, los programas de formación para el
Buenos Aires (MTPBA) que participaron en la gestión de: trabajo, las medidas focalizadas para promover la inserción de jóvenes vulnerables o personas
con discapacidad (PCD), y la creación directa de empleo a través con subvenciones y apoyo a los
• Programas Bonus y Segunda Oportunidad (BySO), ejecutados entre 2000 y 2009, que emprendimientos (Martin y Grubb, 2001; Samaniego, 2002).
consistían en becas para la capacitación en el puesto de trabajo;
Por otro lado, las políticas pasivas actúan principalmente sobre la oferta de fuerza de trabajo,
• Programa de Actividades Laborales de Autoempleo y Subsistencia (ALAS), vigente desde el para atender problemas coyunturales del mercado de trabajo (Gautié, 2009). Para contener
2007 al presente, para la formalización impositiva de microemprendimientos; el desempleo se proporcionan seguros al desempleo, transferencias directas de ingreso o
pensiones por retiros voluntarios (Neffa, 2011).
• Plan de promoción, preservación y regularización del empleo de la provincia de Buenos Aires
(PRE.BA) que tuvo su mayor alcance entre 2009 y 2015, comprendiendo distintas modalidades El paradigma de activación asume que los gobiernos deben implementar acciones para que la
de subsidios sobre el salario de puestos creados, registrados o preservados (en situación de población comprendida dentro de las políticas pasivas se reinserte al mercado de trabajo. Los dos
crisis) por la empresa. modelos más relevantes son, por un lado el workfare, que propone ir quitando paulatinamente las
prestaciones dinerarias, incentivando así a que las personas busquen activamente una ocupación
1. Facultad de Ciencias Económicas (UNLP) | Instituto de Ciencias Sociales y Administración (UNAJ). Email: andrea.suarezmaestre@econo.unlp.edu.ar
(Freyssinet, 2007); por otro lado el welfare plantea la aplicación de programas dirigidos a la
2. Se analizaron un total de 14 entrevistas realizadas en 2015 al personal jerárquico, técnico y profesional involucrado en la ejecución de programas población desocupada que ayuden a ésta a adaptarse a los requerimientos y exigencias del
de empleo (Suarez Maestre, 2017b). Dicha información se complementó y actualizó con 25 instrumentos normativos y otras fuentes documentales
como gacetillas de prensa y páginas web institucionales. Para mayores detalles sobre los aspectos metodológicos puede consultarse a la autora por 3. La relevancia de esta jurisdicción para la República Argentina se refleja en estos indicadores: allí reside el 40% de la población del país y genera
correo electrónico. aproximadamente el 40% del Producto Bruto Nacional.

1043 1044
mercado de trabajo y con ello aumenten su posibilidades de encontrar un empleo, es decir el año 2000, intentaron reemplazarlos con los nuevos Bonus y Segunda Oportunidad (BySO),
mejoren su empleabilidad (Pérez y Brown, 2014). destinados a jóvenes y mayores de 45 años desocupados respectivamente, y que consistían en
becas de capacitación en el puesto de trabajo en empresas privadas.
Desde los enfoques neoliberales sobre el funcionamiento de los mercados de trabajo, el concepto
de empleabilidad refiere a la capacidad de las personas a formar parte de una relación de Estos programas estuvieron vigentes hasta finales del año 2008, cuando fueron reemplazados
intercambio (Spinosa, 2007), siendo las personas más empleables aquellas cuyas características, por el Plan de promoción, preservación y regularización del empleo de la provincia de Buenos
siempre individuales, agregan valor al proceso de trabajo. Las personas desocupadas, en ese Aires (PRE.BA). En sus distintas modalidades subsidiaba una parte del salario de cada trabajador
sentido, serían menos empleables y por ello requieren de políticas activas, dando por sentado contratado legalmente o formalizado por la empresa, con el compromiso de mantener la relación
que los mercados de trabajo asignan en forma eficiente los niveles de ocupación. Neffa (2011) laboral por cierto plazo luego de finalizado el beneficio.
también considera políticas de tipo neoclásico a aquellas que proponen flexibilizar los costos y
las formas de contratación para estimular la demanda laboral. El cambio de paradigma implicó incorporar un nuevo actor en estas políticas, particularmente en
los programas de inserción laboral en el sector privado: las personas encargadas de gestionarlos
3. Políticas Activas De Empleo En La Provincia De Buenos Aires tenían una trayectoria de vínculos institucionales con municipios y organizaciones sociales pero
no con el sector empresario. Cuando el MTPBA comenzó a convocar a empresas y cámaras
En Argentina, tras una década de programas de transferencias condicionadas de ingresos, la empresariales, surgieron resistencias fundadas en el doble rol del organismo: mientras el área
agenda política incorporó el cambio de tendencia en las políticas de empleo en favor de las de empleo proponía a los empresarios adherir a los programas, otras áreas debían fiscalizar
políticas activas (Brown, Cienfuegos F. y Vera M., 2013; Neffa, 2012). Con la salida de la y controlar el cumplimiento de las normas sobre las condiciones de trabajo. Finalmente, cabe
convertibilidad, luego de la crisis del año 2001 que mostró sus consecuencias hasta principios destacar que el total de becas y subvenciones otorgadas por BySO y PRE.BA, entre 2000 y
de 2003, desde la opinión pública se comenzaron a cuestionar la administración masiva de 2015, fue cercano a 67 mil, con oscilaciones según la coyuntura económica (Suarez Maestre,
programas de transferencias de ingresos que se habían inaugurado en la década del ’90 y que 2017b).
en plena emergencia posibilitaba la subsistencia de los grupos más afectados. Pero en el nuevo
contexto, estos “planes sociales” eran acusados de desincentivar a las personas a buscar Asimismo, desde el año 2007, el MTPBA es responsable de la implementación de la Ley
empleo, causando la pérdida de la “cultura del trabajo” (Assusa y Brandan Z., 2014). Uno de los provincial 13.136 (ALAS)5, por la cual se acompaña a microemprendedores con capacitación y
más cuestionados fue el Plan Jefes y Jefas de Hogar Desocupados, que con la nueva orientación exenciones impositivas en la provincia y municipios adheridos. La Ley tenía como condición que
fue migrando a dispositivos de activación para la formación laboral y la creación de puestos de el destinatario estuviera inscripto previamente en el régimen de Monotributo Social, modalidad
trabajo (Seguro de Capacitación y Empleo en 2004; Programa de Inserción Laboral desde 2006; simplificada de los tributos nacionales, con aportes a la seguridad social y cobertura de salud.
el Programa Jóvenes con más y mejor Trabajo en 2008) y otros de desarrollo local y la economía
social (Neffa, Brown y López, 2012). En diciembre de 2015 se produce un nuevo cambio de gestión a nivel nacional y provincial. El
MTPBA incorporó dos nuevos dispositivos para la intermediación laboral: el Portal de Empleo, y
Paralelamente a estos cambios en las políticas nacionales, en la provincia de Buenos Aires el Instituto Provincial de Formación Laboral6 en 2018. El PRE.BA se ejecutó residualmente hasta
también se hicieron modificaciones para orientar a las personas que percibían las transferencias mediados de 2017, mientras ALAS y el Servicio de Colocación Laboral Selectiva -SeCLaS (para
condicionadas de ingresos hacia programas de “empleo genuino” (Suarez Maestre, y Neffa, PCD) continúan vigentes.
2014). El más cuestionado fue el Barrios Bonaerenses (informalmente llamado Barrios) por su mínimos.
vinculación con agrupaciones sociales y políticas4. Por ello, al asumir nuevas autoridades en 5. También involucra al Ministerio de Desarrollo Social provincial, responsable de programas para la economía social. Una síntesis de los programas de
empleo provinciales puede consultarse en Suarez Maestre (2017a).
4. Al cierre de este documento, los programas siguen administrándose en forma residual, en acuerdo con agrupaciones sociales puntuales y con montos 6. Anteriormente, las políticas de formación profesional eran competencia exclusiva de la Dirección General de Cultura y Educación.

1045 1046
4. La Lógica Empresarial En El Discurso De Los Actores Gubernamentales. En línea con lo anterior, el paradigma de activación supone que la inclusión social se logra a
través del empleo genuino, mientras la política asistencial reproduce la pobreza. Con esa idea, se
En esta sección analizaremos los discursos de los funcionarios y agentes gubernamentales reemplazó el programa Barrios con los BySO:
en relación a la orientación de las políticas de empleo y a las estrategias adoptadas en la
implementación de estos programas para captar la atención de los empleadores, apartarse del • “reconversión de planes a empleo genuino, esa fue la gran premisa” (E1),
rol fiscalizador del Ministerio de Trabajo, y promover el empleo registrado y la economía formal. • “los programas eran totalmente diferentes, uno apuntaba al empleo transitorio [Barrios] y el
Organizado en 4 ejes expondremos sobre la adopción de una lógica de mercado y la incorporación otro a un empleo genuino [BySO]” (E6),
de lenguaje managerial en los relatos de nuestros entrevistados. • “los planes que existían eran todos asistenciales, entonces nosotros queríamos cambiar a un
plan de inserción laboral” (E10).
4.1. Formalizar para incluir
También en ALAS se ponía de relieve este supuesto: “el municipio, de esa manera, cuanto más
El tema la informalidad laboral fue de gran importancia en la agenda nacional y provincial a partir pequeños emprendedores tenga, menor carga tiene de asistencia social obligatoria” (E12)
de 2007, luego que la recuperación del empleo permitiera preocuparse por las condiciones Las políticas comprendidas dentro del paradigma de activación están basadas y justificadas en
de trabajo. En los diferentes diseños de los programas, el objetivo último era que la persona la ideología neoliberal (Brown, 2016). Su función es promover que las personas accedan ya sea
desocupada obtuviera un empleo registrado y goce de los plenos derechos laborales. al mercado de trabajo o al de bienes y servicios, asumiendo que, a partir de allí, el liberalismo
democrático del mercado brindará la mejor solución para todos (Parker, 2002).
Los entrevistados dan cuenta de esta exigencia en el BySO “al final de la capacitación tiene que
quedar incorporado en el mercado laboral formal en el sector privado” (E10), y con el PRE.BA: 4.3. Eficiencia en la gestión
“se bajó la línea: hay que generar un programa de inclusión” (E1), “había que concientizar a las
empresas que tenían que registrar” (E2). Para una mujer emprendedora registrada en ALAS, En las diversas entrevistas, las personas utilizaron expresiones vinculadas al management para
hacer factura, es decir emitir el comprobante fiscal de la venta, representaba “estar incluido en evaluar el alcance de los programas. Un funcionario se preguntaba: “Cómo hacerlos [BySO]
un sistema” (E12), ser parte de una cadena de valor y del sistema financiero: “obtener, estando para que sea un medio para que consiga empleo en el sector privado, o sea hacerlo lo más eficaz
con toda la documentación en regla, también pequeños créditos para PyMEs” (E12). Asimismo posible” (E10). Otra persona manifestaba, refiriéndose a ALAS, que los empleados “la veían un
un entrevistado plantea la cuestión ética: “Se da moralmente esta situación: soy buenito, voy poco ineficaz” (E12) porque sólo había tenido 30 inscripciones en el primer año de su ejecución.
a misa, a la iglesia, a la sinagoga, a la mezquita, lo que sea, y después tengo trabajadores no En otra entrevista se advertía que un gran alcance dificultaba el seguimiento “porque lo masivo
registrados ¿es una contradicción o no?” (E13). te saca la calidad” (E9). Otro pedía “tener una estructura más eficiente” (E14).

Entonces, la formalidad resulta una condición para la inclusión ya que se relaciona con los En el management la eficacia se refiere al logro de una meta, es decir que un programa será
procesos identitarios y de pertenencia social, para formar parte de ‘un gran nosotros’ (Rivera- eficaz si cumple con el objetivo enunciado en su diseño. Si ello además, se logra con mínimos
Aguilera, 2016). Al participar del sector formal de la economía, la persona, a través de su recursos, entonces se habla de eficiencia. La calidad es otro de los criterios de evaluación
trabajo, se revaloriza -un valor que asigna el mercado-, accede a la protección social y también migrados de la gestión empresarial al ámbito gubernamental. Desde una mirada crítica del
al progreso económico, distanciándola de la condición de vulnerable. management se lo entiende como tecnología de control, que supone que las personas, las cosas
y las organizaciones funcionarán según lo esperado, liberándonos del caos y la ineficiencia
4.2. Empleo versus asistencialismo (Parker, 2002). En su aplicación al ámbito público, con la Nueva Gestión Pública, la eficiencia

1047 1048
se logra separando la administración de la política, es decir cumpliendo las normas y eliminando empleo ya mencionada (Rivera-Aguilera, 2016).
cualquier discrecionalidad (Cunill Grau, 2004). Si bien entendemos que las personas no hacían
alusión a indicadores, estándares o metas de presupuesto, el uso de estas expresiones dan una 5. Reflexiones Finales
idea de transparencia, señalando la diferencia entre la nueva orientación de los programas
respecto sus antecesores, de corte asistencial. El objetivo de este trabajo fue analizar las referencias al discurso managerial identificadas en los
relatos de actores participantes en la implementación de programas de empleo en la provincia
4.4. Negocios son negocios de Buenos Aires.
En relación a los lazos del MTPBA con el sector empresario se observa que las estrategias
comunicacionales realzan la dimensión económica en la adhesión a los programas: “en general el En los primeros años de la posconvertibilidad los programas nacionales y provinciales se
costo es un elemento que actúa como incentivo para que los usen [BySO] (…) había que entender reorientaron bajo el paradigma de activación de las políticas de empleo. En este trabajo nos hemos
un poco la lógica del empresario” (E10). También con el PRE.BA aparece esta cuestión: “tenía centrado en tres programas ejecutados desde el MTPBA entre 2000 y 2015. Los BySO eran
que facilitarle al empleador tomar gente y que no sea tan oneroso” (E11). También la registración becas de formación en puestos de trabajo del sector privado. En 2008 fueron reemplazados por
en ALAS se realza como una oportunidad de obtención de mayores beneficios económicos: “Al el PRE.BA que, en sus distintas modalidades, subsidiaba un porcentaje del salario de trabajadores
hacer factura, esto ¿qué le permite a la gente?: Ampliar su campo de colocación del producto” registrados. Ambos programas se proponían mejorar la empleabilidad, mediante la reducción del
(E12). costo de contratación de personas desocupadas. En la misma línea, desde 2007, ALAS promovió
el autoempleo como alternativa al desempleo, y la formalización de microemprendedores como
Pero también se observa que este lenguaje representa el modo en que se piensa la gestión potenciales empleadores: “con una familia que tenga un emprendimiento y logre tener un
gubernamental: empleado, uno solo, bajaba absolutamente el desempleo” (E12).

“A los empresarios podés hablarle de mil problemas o situaciones, pero las palabras En apretada síntesis, identificamos en los discursos de los agentes y funcionarios entrevistados
claves son decirles “vengo a ofrecerles un negocio”. El negocio para el empresario es cuatro ideas fundamentales. La primera es que sólo quienes participan en la economía formal
ahorrarse plata. Para la persona que está buscando trabajo su negocio es tener un puesto están incluidos socialmente. Segundo, la política pública debe orientarse hacia el empleo, porque
de trabajo para sostener a su familia y para el Estado es cumplir su función y propiciar el éste es el que garantiza la protección social. Tercero, la gestión de estas políticas debe ser
bien común, etc.” (E13). eficiente como propone la Nueva Gestión Pública. Por último, en estos programas subyace un
interés económico.
En este extracto puede advertirse que se equiparan los intereses empresariales a la necesidad
de quien busca un empleo y al rol del Estado como intermediario en el mercado de trabajo, con Para finalizar, consideramos que la reorientación de las políticas de empleo responde a una lógica
la idea obtención de algún beneficio económico. de mercado y la adopción de un lenguaje managerial en la gestión gubernamental, da cuenta de
una funcionalidad del Estado a los intereses del sector privado. El management ha penetrado en
También encontramos otros ejemplos de incorporación de un lenguaje propio del management diversas escenas de la vida cotidiana, basándose y reforzando sus supuestos sobre el control
refiriéndose a la difusión de los PRE.BA en términos de su comercialización: “A partir ahora, la social y el progreso. Por ello, esperamos que este documento sea un aporte a desenmascararlo y
idea es venderlo un poco más” (E1). reconocerlo detrás de la colonización de las formas del lenguaje (Parker, 2002).

Entendemos, siguiendo la perspectiva de los Estudios Críticos sobre el Management, que la 6. Referencias
incorporación de este lenguaje da cuenta de la orientación neoliberal de las políticas activas de

1049 1050
Assusa, G. y Brandán Zehnder, M.G. (2014). Salvar la generación perdida: Gubernamentalidad, Parker, M. (2002). Against Management. Reino Unido: Polity Press.
empleabilidad y cultura del trabajo. El caso de un programa de empleo para jóvenes en Argentina.
Sociología e Política; 22 (49), 157-174. Pérez, P. y Brown, B. (2014). Políticas de empleo para jóvenes: el Programa Jóvenes con Más y
Mejor Trabajo. En Pérez y Busso (coord.), Tiempos contingentes. Inserción laboral de jóvenes en
Brown, B. (2016). Sistema de Protección social y Programas de Transferencias Monetarias la Argentina postneoliberal. (p. 151-171). Buenos Aires: Miño y Dávila/CEIL/Trabajo y Sociedad.
Condicionadas. El “paradigma de activación” en Argentina 2003-2013. (Tesis de maestría en
Ciencias Sociales del Trabajo). Universidad de Buenos Aires. Rivera-Aguilera, G. (2016). Gubernamentalidad y políticas de empleo: la construcción discursiva
del joven trabajador en Chile. Última Década, 24 (45), 34-54.
Brown, B; Cienfuegos F., P y Vera M., F. (2013). Activación de las Políticas Públicas de Empleo
El caso de Argentina y Chile. Acta Científica del XXIX Congreso de la Asociación Latinoamericana Samaniego, N. (2002). Las políticas de mercado de trabajo y su evaluación en América Latina.
de Sociología. Chile: Asociación Latinoamericana de Sociología (ALAS). Santiago de Chile: CEPAL-ECLAC.

Cunill Grau, N. (2004). La democratización de la administración pública. Los mitos a vencer. Spinosa, M. (2007). Del empleo a la empleabilidad. De la educación a la educabilidad. Mutaciones
En Breser Pereira, L.C., Cunill Grau, N. Garnier, L., Oszlak, O. y Przeworski, A., Política y gestión conceptuales e individualización de los conflictos sociales. Actas del Séptimo Congreso de
pública (p. 43-90). Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, CLAD. especialista en estudios del Trabajo, Buenos Aires: ASET.

Freyssinet, J. (2007). El desafío de las políticas del empleo en el siglo XXI: la experiencia reciente Suarez Maestre, A. (2017a). Las políticas de empleo en la provincia de Buenos Aires. Actas del IV
de los países de Europa occidental. Buenos Aires: Miño y Dávila/CEIL-PIETTE/Trabajo y Sociedad. Seminario Internacional Desigualdad y Movilidad Social en América Latina. Ensenada: CIMeCS,
FaHCE UNLP; Instituto de Investigaciones Gino Germani, F. Soc. UBA.
Gautié, J. (2009). Les politiques de l’emploi et le chômage. Paris: La Découverte. Collection
Repères. Suarez Maestre, A. (2017b). Políticas de empleo en la provincia de Buenos Aires. Diseño e
implementación de dos programas de subsidio al empleo en el sector privado (2000-2015).
Martin, J. P., & Grubb, D. (2001). What works and for whom: a review of OECD countries’ (Tesis de maestría en Ciencias Sociales del Trabajo). Universidad de Buenos Aires.
experiences with active labour market policies. Swedish Economic Policy Review, 8(2), 9–56.
Suarez Maestre, A. y Neffa, J. C. (2013). Programas de promoción del empleo asalariado en la
Neffa, J.C. (2011). Políticas de empleo: dimensiones conceptuales y diversos componentes. Serie provincia de Buenos Aires. Serie Empleo, desempleo & políticas de empleo, 2/13 (14) 1-95.
Empleo, Desempleo & Políticas de empleo; 4/11(8), 5-100.

Neffa, J.C. (2012). De las políticas pasivas a las políticas activas: análisis comparativo de las
políticas públicas de empleo (1989-2011). Serie Empleo, desempleo & políticas de empleo;
2/12 (10), 6-41.

Neffa, J.C. Brown, B. y López, E. (2012). Políticas activas de empleo durante la posconvertibilidad.
Serie Empleo, desempleo & políticas de empleo; 3/12 (11), 4-103.

1051 1052
Capítulo 102 también su rol en el mercado laboral y los fundamentos de sus prácticas.

No obstante lo anterior, y a diferencia de otras organizaciones que participan del proceso de


Expertise, contactos, status y secreto: una mirada a la industria de Head Hunters managerialización de la sociedad, como pueden ser empresas consultoras de gestión o recursos
en Chile humanos (Armbrüster, 2010; Willman, 2014), las empresas de head hunters en Chile pueden
caracterizarse por una ambigua relación entre búsqueda de prestigio y status, y por otra parte,
Javier Hernández Aracena1 una cierta discreción y anonimato que les permita acercarse a sus potenciales adquisiciones
sin que ello levante sospechas en el mercado. La industria se articula en base a una visibilidad
selectiva que apela tanto a factores de distinción técnica como sociocultural, lo que en alguna
El presente artículo se enmarca en un proyecto que busca analizar cómo los procesos de medida le permite contar con un espacio de libertad moral que no tendrían los agentes insertos
reclutamiento y selección tienen un rol en la configuración de estructuras sociales desiguales. en los mercados, por ejemplo, a la hora de aproximarse a alguien que tiene un vínculo contractual
En ese contexto, el objetivo de este artículo es comprender un ámbito específico de los procesos con un competidor (Konecki, 1999).
de magerialización de la sociedad (Klikauer, 2013), esto es, como se constituyen grupos
y entidades socialmente legitimados como expertos (Abbott, 1988; Babb, 2004) y cuyos Las ciencias sociales han analizado el fenómeno de la distribución desigual de oportunidades y
resultados y decisiones tienen consecuencias sociales significativas, como es el caso específico salarios desde el punto de vista de sus resultados (Agostini, 2010; Allen & Van der Velden, 2001;
de las empresas de headhunters. En base a una encuesta y a entrevistas en profundidad se Nuñez & Gutierrez, 2004) o en el contexto de atribuciones culturales (Pager & Shepherd, 2008).
describen y analizan estas organizaciones, que se caracterizan por ser empresas especializadas En este sentido, hay mucha información respecto de cómo ciertos elementos adscriptivos, tales
en el reclutamiento de empleados altamente calificados para posiciones relevantes dentro de como el apellido, el colegio de procedencia y las redes familiares, explican el acceso a posiciones
otras empresas (Coverdill & Finlay, 1998). De este modo, lo que venden estas organizaciones y salarios, explicando una estructura de ingresos y recursos altamente concentrada en el caso
es la supuesta experiencia y especialización de sus empleados en materia de reclutamiento y de Chile; y por otra parte, también se observa cómo ciertos grupos (mujeres, pueblos originarios,
selección de recursos humanos, y por otra parte, un conocimiento o mapeo de las personas que minorías étnicas, minorías sexuales y personas provenientes de sectores populares) tienen bajas
ocupan posiciones relevantes en empresas del rubro de sus clientes o de rubros relacionados. probabilidades de acceder a las posiciones centrales y/o de mayor prestigio y remuneración
Esto último implica que sus profesionales también basan su trabajo en extensas redes de (Grusky, 2000; McDowel & Court, 1994; Nuñez & Perez, 2007). Sin embargo, aún falta
conocidos y/o referidos y que por tanto muchas veces ellos comparten un origen social con ellos. analizar cómo estos elementos se articulan en base a lógicas organizacionales e institucionales
De este modo, un primer punto de observación de este artículo tiene que ver con la constitución concretas (Rivera, 2012). Lo que se propone es que los aspectos de distribución desigual,
interna de las empresas de head hunters y de cómo desarrollan su trabajo y sus productos. reproducción social y discriminación siempre se basan en decisiones, políticas, mecanismos
y procesos organizacionales, y en particular, se expresan en los procesos de reclutamiento,
La encuesta del proyecto ha permitido observar una división del trabajo en el ámbito general de la selección, promoción y asignación de personal (Baron, Davis-Blake, & Bielby, 1986). De esta
industria de consultoría de recursos humanos y el rol que comienzan a desempeñar las empresas manera se busca comprender uno de los mecanismos explicativos de la desigualdad social, que
de head hunting en el contexto del mercado laboral chileno. De igual modo, releva el rol de tiene incidencia en los salarios, en el acceso a altos cargos, en las oportunidades laborales y en
ciertos tipos de conocimiento en los procesos de legitimación e institucionalización de prácticas la coherencia entre expectativas profesionales y trayectoria laboral y que se encuentra arraigado
y empresas de reclutamiento. Por otra parte, se entrevistaron tanto personas de la industria en la creencia en una administración eficiente y científicamente fundamentada.
de los head hunters como de otras organizaciones especializadas en reclutamiento y selección
con la finalidad de entender tanto los procedimientos seguidos por estas organizaciones como La reflexión sobre el managerialismo propuesto en este estudio se basa en la sociología del
1. Departamento de Sociología y Ciencia Política, Universidad Católica de Temuco. Email: jhernandez@uct.cl
conocimiento, y a partir de ahí respecto de cómo ciertas prácticas profesionales u ocupacionales

1053 1054
no solamente legitiman el papel de ciertas personas al interior de las organizaciones sino también se conocía”, hoy se articula como un componente de una creciente complejización de la
permite suspender la incertidumbre y complejidad, sin que ello necesariamente implique que economía y una también creciente sofisticación en los mecanismos y prácticas que explican la
se tomen mejores decisiones (Abbott, 1988; Michel & Wortham, 2009).En ese sentido, se alta persistencia de la reproducción de la elite (Ossandón, 2013). De esta manera, se propone
observa una confluencia entre el discurso managerialista que se observa en el ámbito público y que estas organizaciones forman un dispositivo (Beunza & Garud, 2007; McFall, 2009) tanto
tecnocrático con prácticas concretas que legitiman el saber y proceder profesional de personas y conceptual como práctico para la reproducción social (Bourdieu & Passeron, 1990; Peltonen,
organizaciones, en el entendido que apelan a la racionalidad, a la toma de decisiones informadas 2013), que recurre tanto a la legitimidad del conocimiento técnico como al anonimato para
y con la expectativa de poder anticipar resultados, reducir incertidumbre y en último término permanecer lejos del escrutinio social. Así se observa el rol legitimador del conocimiento en el
garantizar la eficiencia y eficacia económica (Fourcade & Babb, 2002; Shepherd, 2017). reclutamiento y selección de persona, las lógicas de grupo cerrado o inner circle que subyace a
esta industria en Chile y cómo estos juegan un rol, finalmente, en la actual distribución salarial
En el caso específico de la industria de la búsqueda de ejecutivos se ha observado que a nivel y de posiciones de prestigio y alto status en cada sociedad, y particularmente en la chilena. En
discursivo se conjugan aspectos técnicos, morales y conceptuales (Peltonen, 2013). Por otra este sentido, las empresas de head hunters han aparecido en distintos momentos, incluso en el
parte, se busca analizar desde una perspectiva organizacional la constitución de un mercado ámbito público, como garantía de toma de decisiones basadas en criterios técnicos y eficientes,
de organizaciones que aprovechan sus conexiones y una supuesta expertise para cumplir un rol sin dar a conocer los procedimientos, pasos y agentes involucrados en sus servicios y resultados.
central en la intermediación de los mercados (Gërxhani & Koster, 2015; Willman, 2014). En
este sentido, la sociología económica se ha centrado en entender los mercados y sus estructuras De este modo, se presenta un caso de managerialismo que impone criterios tenidos por técnicos
desde las organizaciones que forman parte directamente en cada mercado, como son las que en la toma de decisiones organizacionales acerca de su propia composición, pero al mismo
proveen concretamente los bienes y servicios como oferentes y que definen un mercado tiempo legitima el actuar de estas propias organizaciones suspendiendo la reflexión acerca de
particular (Granovetter & McGuire, 1998; Lorenc, 2010; White, 2002). Sin embargo, tanto los efectos sociales de estas decisiones.
en las decisiones, transacciones y en el comportamiento de estas organizaciones, intervienen
otras que de alguna manera configuran los cursos de acción de las organizaciones y participan Referencias
de la estructuración general de los mercados. Ello es particularmente interesante en el caso
de organizaciones que ofrecen servicios en base a supuestos conocimientos especializados, lo Abbott, A. (1988). The System of Professions: An Essay on the Division of Expert Labor. Chicago:
que puede llegar a hacer, en base a la teoría de la performatividad (MacKenzie, 2007), que el University of Chicago Press.
mercado se comporte de un modo muy similar a lo que señalan los marcos conceptuales que
buscan interpretarlos. Agostini, C. (2010). Pobreza, desigualdad y segregación en la Región Metropolitana. Estudios
Publicos, 117, 219–267.
En definitiva, este artículo estudia la relación entre conocimiento de Management (Ramos, 2013;
Schneidhofer, Latzke, & Mayrhofer, 2015), en este caso de recursos humanos , conexiones y Aguilar, O. (2011). Dinero, educación y moral: el cierre social de la elite tradicional chilena. En A.
estructuras sociales y el cierre social de los grupos más privilegiados en el caso de una economía Joignant & P. Güell (Eds.), Notables, Tecnocratas y Mandarines: Elementos de sociologia de las
fuertemente concentrada como la chilena (Aguilar, 2011; Solimano, 2012). Se ha estudiado elites (1990-2010). Santiago de Chile: Ediciones UDP.
el fenómeno de los headhunters en países donde tienen una mayor presencia, como Estados
Unidos y el Reino Unido, y donde sus comportamientos y modos de trabajo tienen consecuencias Allen, J., & Van der Velden, R. (2001). Educational Mismatches versus Skill Mismatches: Effects
concretas en la estructuración de ciertas organizaciones y en la generación de procesos de on Wages, Job Satisfaction, and On-the-Job Search. Oxford Economic Papers, 53(3), 434–452.
inclusión y exclusión (Meriläinen, Tienari, & Valtonen, 2015; Peltonen, 2013). Si hace algunos
años se consideraba que este tipo de industria era irrelevante en Chile porque “todo el mundo Armbrüster, T. (2010). The Economics and Sociology of Management Consulting. Cambridge UK:

1055 1056
Cambridge University Press. companies in ‘Competition Valley.’ Polish Sociological Review, 128(4), 553–568.

Babb, S. (2004). Managing Mexico: Economists from Nationalism to Neoliberalism. Princeton Lorenc, F. (2010). La Vida Social de los Precios. Evaluaciones Monetarias y Accion economica
University Press. en los mercados de la seguridad privada. Civitas, Revista de Ciencias Sociais, 10(3), 450–467.

Baron, J., Davis-Blake, A., & Bielby, W. (1986). The Structure of Opportunity: How Promotion MacKenzie, D. (2007). Is Economics Performative? Option Trading Theory and the Construction
Ladders Vary Within and Among Organizations. Administrative Science Quaterly, 31(2), 248– of Derivatives Markets. En D. MacKenzie, F. Muniesa, & L. Siu (Eds.), Do Economists Make
273. Markets? New Jersey: Princeton University Press.

Beunza, D., & Garud, R. (2007). Calculators, Lemmings or Frame Makers? The intermediery role McDowel, L., & Court, G. (1994). Gender divisions of labour in the post-Fordist economy: the
of securities analysts. En M. Callon, F. Muniesa, & Y. Millo (Eds.), Market Devices. New Jersey: maintenance of occupational sex segregation in the financial services sector. Environment and
Blackwell Publishers/ the Sociological Review. Planning A, 26(9), 1397–1418.

Bourdieu, P., & Passeron, J.-C. (1990). Reproduction in Education, Society and Culture. London: McFall, L. (2009). Devices and Desires: How Useful Is the ‘New’ New Economic Sociology for
Sage. Understanding Market Attachment? Sociology Compass, 3(2), 267–282.

Coverdill, J., & Finlay, W. (1998). Fit and Skill in Employee Selection: Insights from a Study of Meriläinen, S., Tienari, J., & Valtonen, A. (2015). Headhunters and the ‘ideal’ executive body.
Headhunters. Qualitatve Sociology, 21(2), 105–127. Organization, 22(1), 3–22.

Fourcade, M., & Babb, S. (2002). The Rebirth of the Liberal Creed: Paths to Neoliberalism in Four Michel, A., & Wortham, S. (2009). Bullish on Uncertainty: How Organizational Cultures transform
Countries. American Journal of Sociology, 108(9), 533–579. participants. Cambridge UK: Cambridge University Press.

Gërxhani, K., & Koster, F. (2015). Making the Right move. Investigating employers´ recruitment Nuñez, J., & Gutierrez, R. (2004). Classism, Discrimination and Meritocracy in the Labour Market:
strategies. Personnel Review, 44(5), 781–800. The Case of Chile. Universidad de Chile Economics Department Working Papers. Santiago de
Chile.
Granovetter, M., & McGuire, P. (1998). The making of an industry: Electricity in the United States.
En M. Callon (Ed.), The Laws of the Market (pp. 147–173). Oxford UK: Blackwell Publishers. Nuñez, J., & Perez, G. (2007). Dime como te llamas y te dire quien eres: La Ascendencia como
mecanismo de diferenciacion social en Chile. Universidad de Chile Economics Department
Grusky, D. (2000). The Past, Present and Future of Social Inequality. En D. Grusky (Ed.), Social Working Papers, (269).
Stratification: Class, Race, and Gender in Sociological Perspective (pp. 3–51). Boulder, USA:
Westview Press. Ossandón, J. (2013). Hacia una Cartografia de la Elite Corporativa en Chile. En J. Ossandon & E.
Tironi (Eds.), Adaptacion: La Empresa Chilena despues de Friedman. Santiago de Chile: Ediciones
Klikauer, T. (2013). Managerialism: A Critique of an Ideology. London: Palgrave Macmillan. UDP.

Konecki, K. (1999). The Moral Aspects of Headhunting. The analysis of work by executive search Pager, D., & Shepherd, H. (2008). The Sociology of Discrimination: Racial Discrimination in

1057 1058
Employment, Housing, Credit, and Consumer Markets. Annual Review of Sociology, 34, 181– Capítulo 103
209.

Peltonen, L. (2013). The rationales of practices in executive search - A discourse analytic


Abordagem das teorias tradicionais quanto ao relacionamento entre empresas,
perspective. Aalto University. Tesis obtenida de http://epub.lib.aalto.fi/fi/ethesis/pdf/13295/ governo e organizações da sociedade civil: A Regulação na saúde privada
hse_ethesis_13295.pdf
Arnaldo Ryngelblum1, José Estevam Freitas2 y Lia da Graça3
Ramos, C. (2013). Conocimiento Científico-Social, gubernamentalidad y gestión de las empresas
en Chile. In J. Ossandon & E. Tironi (Eds.), Adaptacion: La Empresa Chilena despues de Friedman
(p. 167). Santiago de Chile: Ediciones UDP. As teorias managerialistas (ou, gerencialistas) lidam com dificuldades quando se trata de analisar
o interrelacionamento entre empresas, governo e organizações da sociedade civil devido a alguns
Rivera, L. (2012). Hiring as Cultural Matching: The Case of Elite Professional Service Firms. dos motivos que passamos a expor. O tratamento de várias teorias gerencialistas de um tema
American Sociologial Review, 77(6), 999 –1022. como esse costuma partir do ponto de vista de uma empresa, ou seja, procura examinar qual
o desempenho e o êxito possível num contexto como esse, prescrevendo os fatores essenciais
Schneidhofer, T., Latzke, M., & Mayrhofer, W. (2015). Careers as Sites of Power: A Relational para essa tarefa. São exemplos dessa perspectiva a teoria contingencialista e a de stakeholders
Understanding of Careers Based on Bourdieu’s Cornerstones. En A. Tatli, M. Özbilgin, & M. (Donaldson, 1995). Uma das grandes restrições dessa sua forma de análise é sua ênfase em
Karatas-Özkan (Eds.), Pierre Bourdieu, Organisation, and Management (pp. 19–36). New York: estratégias competitivas, o que as faz enfocar prioritariamente os concorrentes e considerar
Routledge. as regulamentações como restrições à ação empresarial. Essas teorias não levam em conta,
portanto, a necessidade de ações de caráter institucional, que envolvem disputas de poder pelas
Shepherd, S. (2017). Managerialism: an ideal type. Studies in Higher Education, 43(9), 1668– definições normativas envolvidas.
1678.
Em decorrência de sua ênfase na competição, outra característica dessas teorias é desconsiderar
Solimano, A. (2012). Chile and the Neoliberal Trap: The New Elites of the Super-Rich, Oligopolistic as ações colaborativas que emergem num contexto onde vários atores envolvidos têm interesses
Markets, and Dual Production Structures. Cambridge UK: Cambridge University Press. comuns ou complementares. Quando as estratégias previstas são todas competitivas, essa
faceta da questão fica sem explicação conveniente (Granovetter, 2001).
White, H. (2002). Markets from Networks: Socioeconomic Models of Production. Princeton, N.J:
Princeton University Press. Ainda outro tipo de restrição por parte destas teorias é o entendimento de que as ações
empresariais são sempre intencionais e racionais, o que não abre espaço para as ações que são
Willman, P. (2014). Understanding Management: The Social Sciences Foundations. Oxford UK: o resultado da incompreensão, do acaso, da imitação, do impulso. Ou seja, nesta ótica as ações
Oxford University Press. são sempre percebidas como planejadas e avaliadas (DiMaggio e Powell, 1991).

Outro aspecto passível de discussão em relação aos modelos gerencialistas está relacionado
ao entendimento de que cada um dos atores envolvidos têm um interesse único. Empresas
1. Universidade Paulista, São Paulo. Email: arnaldoryn@gmail.com
2. Universidade Paulista, São Paulo. Email: estevamfreitas@bol.com.br
3. Universidade Paulista, São Paulo. Email: graca.lia61@gmail.com

1059 1060
que visam apenas avançar sobre os concorrentes no mercado, aumentar seu faturamento, seu Esta teoria, novamente, foi desenvolvida com um enfoque a partir da empresa individual em
lucro é apenas o exemplo mais patente. No entanto, empresas da área da saúde têm também direção a seus stakeholders. A sua capacidade de obter vantagens em relação a seus concorrentes
preocupações concomitantes com a qualidade do atendimento médico, que por vezes conflitam será função da resposta mais (ou menos) adequada em relação aos stakeholders. As condições
com os propósitos econômicos. Essas múltiplas preocupações é que fazem com que a ação institucionais como leis, normas profissionais ou hábitos são encaradas como restrições trazidas
empresarial nem sempre resulte em otimização de resultados (Thornton & Ocasio, 2008). pelos stakeholders, que a empresa deve ser capaz de responder adequadamente. Esse tipo de
prescrição sugere um conjunto de relações unívocas com os stakeholders, sem considerar os
A teoria dos custos de transação é uma teoria de base econômica, no entanto seu foco é no interrelacionamentos e, portanto, possíveis influências combinadas e colaborações. O gestor na
desempenho organizacional, onde a preocupação é o oportunismo e a racionalidade limitada dos teoria dos stakeholders tem uma orientação de como agir e portanto ele o fará racionalmente, o
agentes, o que pode gerar custos elevados de transação, levando a empresa a um desempenho que desconsidera as ações não-intencionais, o acaso, a imitação. E, nesta teoria, é clara a ideia
indesejado. A hierarquização das atividades econômicas ou uma adequada negociação contratual de que o gestor está orientado pela demanda do stakeholder caso a caso, que as influências que
podem ser soluções para resolver os problemas detetados pela teoria (Williamson, 1981). provenham de outra parte deverão ser pesadas para decidir por sua priorização, cabendo ao
gestor a decisão final.
Essa teoria confirma o conceito do enfoque individual quando sugere ou a internalização das
atividades, ou a amarração contratual em relações que possam resguardar a empresa de A Visão Baseada em Recursos (RBV) estipula que recursos estratégicos são distribuídos
incertezas. Nessas condições, a capacidade competitiva é incrementada, aumentando as chances heterogeneamente entre as empresas e que são estáveis ao longo do tempo. Decorre daí que
de uma empresa em relação a suas concorrentes. As condições institucionais existentes na a vantagem competitiva pode ser alcançada em função dessa diferença. A teoria menciona
sociedade, como leis bem redigidas, judiciário ágil, polícia eficiente, sugerem custos reduzidos, especificamente os recursos difíceis de serem imitados ou reproduzidos. Essa teoria entende
algo que é encarado para benefício individual. Entretanto, a teoria não enxerga as empresas e que outras teorias organizacionais pecam quando consideram que os concorrentes de um mesmo
indivíduos como agentes influentes na definição institucional, mas apenas como receptivos. É setor econômico possuem idênticos recursos estrategicamente relevantes e que, mesmo quando
neste espírito também que a teoria considera a colaboração, como uma forma de operar em há diferenças, estes podem ser adquiridos no mercado (Barney, 1991).
conjunto com outra empresa sob o resguardo de um contrato, o que impede reconhecer as
colaborações que surjam espontaneamente ou emergencialmente. Esse é precisamente outro Mais uma vez, a teoria parte do enfoque da empresa individual em competição com outras do
aspecto que a teoria não explica, as ações que não são planejadas, já que fala explicitamente mesmo setor e, nesse caso, como a ênfase está nos recursos próprios, ela descarta a análise da
em contratos bem amarrados para contornar incertezas. E, o fato de enfocar exclusivamente colaboração interorganizacional. A teoria tampouco parece dar grande importância às condições
a redução dos custos de transação, deixa claro que o entendimento da teoria é que o agente institucionais, uma vez que seu desempenho é sobretudo função de suas próprias condições. A
econômico tem uma única perspectiva a orientar sua ação. orientação mesma da teoria já aponta para um gestor racional, que deve somente enfocar os
recursos únicos para obter resultados.
A teoria dos stakeholders dirige seu foco para a interdependência que a corporação moderna
estabelece com uma variedade de grupos, em relação aos quais ela tem um envolvimento especial, Este artigo busca mostrar que a saúde privada requer uma abordagem teórica específica para
como funcionários, clientes, fornecedores, dentre outros. Dessa forma, a teoria fala em levar em sua análise que possa superar as questões enumeradas para melhor explicar o comportamento
consideração os interesses de cada grupo em relação à corporação e atendê-los dentro das de todas as organizações participantes neste campo. O estudo apresenta uma abordagem que
prioridades estabelecidas (Donaldson, 1995). Seu desempenho irá depender de sua capacidade utiliza a contribuição do institucionalismo sociológico (Thornton & Ocasio, 2008; Greenwood
em reconhecer os stakeholders mais relevantes e conseguir responder adequadamente a suas et al., 2011; Goodrick e Reay, 2011), que tem a intenção de explorar melhor as deficiências
demandas. apontadas anteriormente.

1061 1062
Essa abordagem teórica, resumidamente, fala que um contexto institucional é composto Assim, essas definições têm uma permanência que por vezes é curta, uma vez que os envolvidos
normalmente de uma multiplicidade de lógicas, que tendem a competir entre si pela definição buscam alterar o modo como os processos são feitos e os conteúdos estabelecidos, com o fim
das práticas, regras, entendimentos e valores que irão orientar os participantes daquele de favorecer seus pontos de vista. Ao mesmo tempo, todos os envolvidos agem incentivados por
contexto em determinado momento ou evento. Essa competição pode ser definida de diferentes distintas motivações: a preocupação profissional, o interesse pelo ganho e lucro, a preocupação
formas, como negociações ou por disputa, que irá resultar numa lógica orientadora. De modo pública do bem-estar, sustentabilidade, redução de desperdício, entre outras. Nem sempre é
geral, os participantes tendem a seguir as indicações dessa lógica prevalecente, por receio de possível levar em conta todas essas motivações, o que pode prejudicar a percepção dos outros
deslegitimação e sanções, o que não os impede de, em determinadas circunstâncias, buscarem envolvidos a respeito da forma com que um destes participantes do campo age. Por exemplo,
evadir-se dessas indicações para procurarem agir de outra forma. quando a agência reguladora cede a argumentos médicos por um novo procedimento a ser
oferecido aos beneficiários, os planos de saúde criticam sua atuação e, muitas vezes, acusam-na
O caso da saúde privada de descuidar da sustentabilidade econômica do setor.

A regulação na saúde privada em vários países, dentre eles o Brasil, deve definir questões tais A pesquisa a respeito da regulamentação da inserção de novos procedimentos médicos ao rol
como quais os procedimentos médicos e medicamentos que as empresas de planos de saúde de procedimentos médicos indicado pela agência reguladora no Brasil permitiu perceber que
devem oferecer a seus beneficiários, os reajustes anuais de mensalidade para algumas das empresas de planos de saúde e suas associações, médicos e suas associações, provedores
modalidades de planos, a forma de atendimento dos beneficiários, dentre outras. diversos, como hospitais, clínicas, laboratórios, tratamentos especializados, beneficiários-
clientes, associações de defesa do consumidor, judiciário, legislativo, mídia e ainda outros
A gestão das empresas de planos privados, e das organizações da sociedade, como associações envolvidos, disputam palmo a palmo a definição de cada item inserido a essa lista ao longo do
médicas, organizações de defesa do consumidor e outras, sofrem portanto uma grande influência período de dois anos entre cada normatização. A declaração do Presidente da FenaSaúde é um
das normas que são baixadas pela agência reguladora desse setor, a Agência Nacional de Saúde exemplo:
Suplementar-ANS, que é uma autarquia federal autônoma, porém subordinada ao ministério da
Saúde. A essas questões (sustentabilidade do sistema, estabilidade das regras e informações
acerca do funcionamento do sistema), soma-se ainda o fator desperdício. Na medida em
A definição dos conteúdos dessas normas e diretrizes de funcionamento não é um processo que nosso sistema atual de saúde suplementar é ancorado na remuneração por quantidade,
pacífico, onde a agência reguladora é a única a decidir. Cada uma das normas e diretrizes é em que médicos, hospitais e clínicas são remunerados por volume de atendimento, temos
debatida extensamente, seja em fóruns formais ou informais, sendo que o número de participantes historicamente um aumento de custos gerado pela maior quantidade e frequência nos
interessados nesses temas é bastante grande. Em entrevistas com executivos do campo, há atendimentos... De outro lado, já temos procurado sensibilizar os prestadores de serviços
discordância sobre o tema. A maioria aponta que atualmente existe uma maior discussão, mas e a própria Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para que ajudem o setor a fazer
que a ANS não ouve as sugestões dos demais atores. a mudança do modelo de pagamento por quantidade para um baseado no valor do serviço
para o paciente.
É possível inferir o interesse envolvido nessas questões quando se examina o número de ações
judiciais impetradas contra os planos de saúde, as reclamações junto à agência reguladora e Os profissionais médicos têm a preocupação de não errar seus diagnósticos, e assim tendem a
órgãos de defesa do consumidor, o noticiário da mídia a respeito das mudanças da lei ou de pedir exames excessivos e desnecessários, de acordo com as operadoras de saúde. Um órgão de
normas que surgem com frequência, os fóruns relativos à saúde privada organizados pelos defesa do consumidor defende que o contrato de plano de saúde serve para que o consumidor
envolvidos, dentre aqueles eventos mais facilmente observáveis. tenha a assistência devida no momento em que precisa, uma vez que ele não tem condição
técnica de avaliar o que é necessário para fazer seu tratamento. Quando a solicitação de exames

1063 1064
é negada, o diagnóstico é prejudicado. O consumidor faz o exame porque acata a decisão médica, Saúde Suplementar) para regular o reajuste dos planos de saúde individuais e familiares,
ainda que seja desconfortável fazê-lo. Quando o consumidor contrata a operadora, ele entende o Idec entrou com uma ACP (ação civil pública) em 07 de maio para pedir a suspensão do
que o contrato assinado custeia as frequências e tipos de exames diagnósticos, quaisquer sejam aumento anual e a revisão da fórmula de cálculo.
solicitados pelos médicos. Ainda que não haja consenso entre os médicos e operadoras sobre
frequência e tipo de exames, o tema traz a questão da prevenção, que raramente é discutida Além das disputas racionais pela definição das regras do jogo, é possível perceber-se
no setor de saúde suplementar, no tocante a políticas formais de prevenção. “A questão da consequências não esperadas. A perseguição inconsciente da entidade reguladora (ANS) em
prevenção não é estimulada e tem que estimular.” (Superintendente do PROCON). relação à proteção do consumidor, justificada pela sua atribuição primordial de defesa do
interesse público, resultou, ao contrário, em um prejuízo ao consumidor e em um benefício
As formas de disputa envolvem, por exemplo por parte da área médica, recomendações com base às operadoras, de forma indireta e não intencional, pois a efetividade do instrumento NIP
em estudos acadêmicos, normalmente do exterior; resultados estatísticos de pesquisas em torno (reclamações e respostas online) para registrar as reclamações ocasionou na ampliação do
de um procedimento ou medicamento; denúncia a partir de um evento médico negativo (p.ex., interesse do consumidor em recorrer à ANS, devido à sua agilidade, o que inflou a quantidade de
morte por falta de determinado medicamento); diferença dos procedimentos constantes na lista reclamações recebidas e acabou por dilatar os prazos de conclusão das apurações.
e a recomendação da OMS. A seguir, exemplo retirado de levantamento estatístico realizado pela
Associação de Obstetrícia e Ginecologia de SP: Estas consequências não estavam nas intenções iniciais do projeto NIP e tiveram que ser
enfrentadas pela ANS, o que fica claro na afirmativa de um entrevistado da agência: “a ideia de
A maioria dos ginecologistas e obstetras do estado de São Paulo, 94%, afirma que o plano sucesso da NIP é conceitual, na prática você teve o problema da explosão de demandas e apesar
de saúde interfere na autonomia do médico. Os profissionais apontam várias formas de do percentual de resolução de demandas ser alto, sobrava muita coisa”.
intervenção das operadoras de saúdeque vão desde o não pagamento de procedimentos e
consultas até pressão para influenciar o tempo e local de internação do paciente. A ANS, buscando trazer maior efetividade para o instrumento NIP, teve como efeito colateral e
não planejado ou previsto, além disso, a recepção de denúncias dos consumidores de maneira
As empresas de planos de saúde, por sua vez, argumentam que suas estruturas de custos estão quase que automática, ou seja, qualquer problema que eles percebiam entravam em contato
no limite de um desempenho economicamente sustentável; ao mesmo tempo, organizam fóruns com a ANS, sem antes tentar resolver o problema com a operadora de planos de saúde, o que
de debate sobre a sustentabilidade da saúde privada; constituem associações de classe e apoiam caracterizou a utilização da agência reguladora como forma de pressão pelos consumidores.
políticos; apresentam estudos médicos que dão apoio a seus argumentos. Outro exemplo: Neste sentido um entrevistado representante do mercado afirma que:

Quais dos reajustes dos planos de saúde mais se sustentam? Os 5,72% baseados no “o lado negativo é que alguns beneficiários não têm muito crivo, eles fazem reclamações
IPCA-Saúde ou os 10% da ANS em 2018? Ou ainda os índices das operadoras nos planos que não são pertinentes ao canal, eles poderiam ter (seu problema) resolvido com uma
coletivos, que na média giram em torno de 20%? Não se sabe, pelo simples fato de que ligação para a operadora, uma coisa simples que poderia ter sido resolvida. Virou uma
não existe um índice oficial que reflita realisticamente o custo da saúde no Brasil. (José coisa banal, ele achou esse canal e (agora) ‘vamos reclamar de tudo’, acho que a ANS
Seripieri Jr., presidente da Qualicorp, administradora de planos coletivos) deveria ter esse crivo”.

Os demais atores envolvidos neste setor também possuem suas próprias ferramentas para A análise institucional
tentar influenciar as diferentes definições que são realizadas e que afetam seu desempenho.
A análise institucional parte das lógicas presentes no contexto em estudo e como os participantes
Após questionar por 16 anos a metodologia utilizada pela ANS (Agência Nacional de as manipulam visando seus desígnios. Assim, neste caso específico, é possível reconhecer

1065 1066
uma lógica de mercado, que previlegia ações e entendimentos voltados para os resultados
econômico-financeiro; uma lógica profissional médica, voltada para o tratamento científico dos Granovetter, M. (2001) A Theoretical Agenda for Economic Sociology, IN Economic Sociology at
pacientes; uma lógica pública voltada para o bem-estar da sociedade, incluindo empresas e the Millenium. M. F. Guillen, R. Collins, P. England & M. Meyer (eds.). NY: Russel Sage Foundation
cidadãos; uma lógica de defesa do consumidor voltada para resguardar os benefícios que os
consumidores devem contar em seus tratamentos médicos. Neste último caso, como exemplo, Greenwood, R., Raynard, M., Kodeih, F., Micelotta, E., & Lounsbury, M. (2011), “Institutional
algumas práticas possíveis incluem acompanhamento das medidas em geral propostas pela complexity and organizational responses”. The Academy of Management Annals, Vol.5, No.1,
ANS, consulta a especialistas, proposição de medidas mais relacionadas com os interesses dos pp.317-371
consumidores, a partir do entendimento que os consumidores têm a saúde como essencial e têm
direito aos melhores tratamentos para as doenças que venham a contrair. Thornton, P., & Ocasio, W. (2008). Institutional Logics, in: Greenwood, R., Oliver, C., & Suddaby,
R. The Sage Handbook of organizational institutionalism. Sage, pp.99-129
A análise fazendo uso de lógicas institucionais que são utilizadas pelos participantes do campo
organizacional permite, primeiro, enxergar como a rede de relacionamentos influencia cada um Williamson, O. E. (1981) The Modern Corporation: Origins, Evolution, Attributes. Journal of
dos participantes e, por sua vez, é influenciada por suas ações individuais. Assim, as interrelações Economic Literature, 19(4), 1537-1568
podem ocorrer em situações onde é possível ou negociar, colaborar ou entrar em conflito, nesse
caso sem conseguir avançar proposições. Essa perspectiva portanto contrasta com a perspectiva
individualista mencionada.

As práticas previstas por cada lógica podem gerar consequências imprevistas, como no
exemplo anterior, e podem igualmente resultar de práticas historicamente aceitas sem serem
questionadas. Essas situações ajudam a entender o conceito de que nem sempre a ação
organizacional é racional ou intencional.

Referências

Barney, J. (1991). Firm Resources and Sustained Competitive Advantage, Journal of Management,
v.17, n.1, p.99-120

DiMaggio, P. e Powell, W. (1991) Introduction, in Powell, W. & DiMaggio, P. (eds.), The new
institutionalism in organizational analysis. Chicago: University of Chicago Press

Donaldson, T. e Preston, L. E. (1995) The stakeholder theory of the corporation. Academy of


Management Review, 20(1), 65

Goodrick, E. & Reay, T. (2011) Constellations of Institutional Logics: Changes in the Professional
Work of Pharmacists. Work and Occupations, Vol. 38, No. 3, pp.372-416, 2011

1067 1068
Capítulo 104 1986)

En ese contexto el planteamiento del ejecutivo federal implicaba:


Consentimiento o resistencia del académico a la mayor intensidad laboral
a. La descalificación de las instituciones de educación superior y de sus profesores,
Anahí Gallardo Velázquez1 y Raúl Rodríguez Robles2
b. El condicionamiento del financiamiento público a nuevas reglas del juego que promoverían el
productivismo, y
Introducción
c. La aceptación, por la vía de la autocrítica, del bajo desempeño de las IES y su adaptación a los
La resignificación de los académicos mexicanos observada en las últimas tres décadas y media
nuevos términos de la relación con el gobierno.
tuvo como punto de inflexión la declaración que hizo el titular del ejecutivo federal el primero
de septiembre de 1983, con motivo de la presentación del primer informe de gobierno, en la
Se daba así paso al modelo de gestión neoliberal en el sector educativo, a la transformación
cual manifestó “Hay que admitir que la educación nacional se enfrenta a una dura crisis. […] La
del perfil de la universidad pública, expresado en la disminución de su autonomía, en limitar el
expansión educacional lograda, la ampliación de su cobertura, significan un proceso evidente.
ejercicio de la crítica y sobre todo a la incorporación de la visión neoliberal que pone el énfasis
Sin embargo, este énfasis en la expansión no ha sido acompañado de una preocupación similar
solo en la productividad. Con ello se afectan los procesos de gestión interna de las instituciones
en la calidad. De aquí que haya áreas degradadas que tenemos que sanear y enderezar” (De la
educativas, se incrementa la intensidad laboral de maestros y estudiantes y se reducen las
Madrid, 1983).
oportunidades para ingresar a estudios superiores para el grueso de la sociedad.
Quien al referirse a las instituciones de educación superior públicas (IES) señalo los parámetros
1.- El modelo productivista en las instituciones públicas de educación superior.
que habrían de enmarcar la relación universidad gobierno:
Entre las acciones gubernamentales que favorecieron el modelo productivista en las IES están
“Hemos de conciliar en las universidades y centros de estudios superiores cantidad y
(Gallardo y Topete, 2014):
calidad. … Es preciso implantar modelos de enseñanza e investigación que permitan lograr
máximas calidades para un número creciente de estudiantes e investigadores. […] No
La reducción en términos reales de los recursos presupuestales destinados a las instituciones
tememos a la crítica que hagan a la sociedad, al Estado o al gobierno mexicano. … Les
de educación superior, colocando en condiciones de precariedad las finanzas tanto de las
pedimos no se reduzca únicamente a la crítica hacia afuera, sino que se efectué también
instituciones como de los académicos.
la crítica hacia adentro. Saludamos con entusiasmo la actitud de reflexión y autoanálisis
que ha anunciado la Universidad Nacional Autónoma de México, y que ya está realizando
La pérdida de la capacidad negociadora de las instituciones y de los académicos ante el sector
la Asociación Nacional de Universidades e Instituciones de Educación Superior.” (De la
gubernamental, como consecuencia de las restricciones financieras.
Madrid, 1983)
Aislamiento de los académicos al ámbito de los recintos educativos, limitando o excluyendo su
Con ello el gobierno señalaba la existencia de una crisis de la universidad pública, cuyo origen
actividad profesional.
estaba en la expansión del sistema educativo y en la improductividad de los docentes (Kent,
1. Universidad Autónoma Metropolitana /México. Email: Email: astro53@prodigy.net.mx
2. Universidad Autónoma Metropolitana/México. Email: Email: nostrus99@hotmail.com
La creación del Sistema Nacional de Investigadores en 1984, como un medio para mitigar

1069 1070
los efectos negativos que provocaba la escasez de recursos y que afectaba la continuidad de orientan sus esfuerzos a dichas labores para lograr conseguir y mantener las becas y estímulos
proyectos de investigación, así como el nivel de ingresos de los académicos más prestigiados e que se ofrecen.
influyentes, lo que introdujo la asignación selectiva de recursos en forma individualizada.
Pero cómo se ejerce el consentimiento o resistencia a estos sistemas de estímulos, llamados
Además en la década de los 90, para incentivar la formación de especialistas e investigadores también de pago por mérito. Los estudiosos del poder, del consentimiento y la resistencia en el
se institucionalizó en las IES la creación de becas y estímulos al desempeño, de acuerdo a sistema capitalista nos permiten comprender algunos de estos comportamientos.
indicadores de rendimiento académico (mayor número de productos de investigación).
2.- Consentimiento o Resistencia
Fue precisamente en la primera mitad de la década de los años noventa que el entonces rector
de la UAM, Gustavo Chapela, consiguió recursos para implementar el llamado sistema de puntos Para entender la relación laboral en el sistema capitalista, la relación social entre trabajadores y
orientado a gratificar de manera individual el desempeño de los profesores investigadores a empleadores (capitalistas) encontramos diferentes explicaciones que aluden a tres dimensiones:
través de estímulos y sobresueldos. Mecanismo que busco evitar la migración de científicos y las económicas, las culturales y las psicológicas
permitir que los académicos se dedicaran de tiempo completo a la universidad.
Destacan entre ellas la explicación de Harry Braverman (1975) quien desde el punto de vista
Estas medidas dieron origen al sistema de puntos y a la carrera académica que han propiciado económico señala que el trabajador acepta el contrato con el capitalista porque no le queda
un elevado nivel académico. Hoy existen departamentos donde la composición de profesores con otro medio para ganarse la vida. Burawoy (1979) refiere la dimensión cultural y se enfoca al
estudios de doctorado es superior al 70%. consentimiento del empleado, como causa y resultado de la organización de las actividades de
la empresa. En cuanto a los aspectos subjetivos o de conciencia del trabajador se encuentran
No obstante también se generaron algunos vicios que afectan el cabal cumplimiento de los las aportaciones sobre la construcción de la identidad en varios estudios de los años 90s, como
objetivos de la universidad. Pues el reglamento de estímulos presenta una falta de equilibrio los de Knights y Morgan (1990), Sturdy (1992) o Willmott (1993) llegando a señalar que ello
entre las tres funciones sustantivas: docencia, investigación y promoción y difusión de la cultura. se liga a la reproducción de la desigualdad en la empresa, es decir a una relación asimétrica
entre el capitalista y el trabajador, lo que limita la resistencia de este último a las condiciones de
Pero lo que más afecta al equilibrio institucional es el desarrollo de sistemas de estímulos explotación laboral. Otras investigaciones refieren también a cómo la subjetividad se constituye
externos a la universidad como el Sistema Nacional de Investigadores (SNI) y el Programa para por el discurso (narrativa cultural) o variedad de discursos y como nos sujetamos a ella a través
el Desarrollo Profesional Docente (PRODEP), pues son sistemas que establecen requisitos de de aceptar esos discursos (Foucault, 1988).
excelencia difíciles de cumplir para el grueso de los profesores, tanto para poder ingresar, como
para su cumplimiento y desarrollo. Pero revisemos esto a la luz de un estudio de caso

Los posgrados se convierten incluso en un espacio para dar cumplimiento a las exigencias del 3.- Estudio de Caso
PRODEP y del SNI. Lo que genera desequilibrios entre los ingresos de los académicos pues
un profesor que imparte clases en posgrado es mejor valorado que el que imparte clases en La presente investigación se centra en el comportamiento de algunos académicos de tiempo
licenciatura. completo del área de ciencias sociales y humanidades, de la Universidad Autónoma Metropolitana
quienes detentan plazas definitivas y son beneficiarios de diferentes becas (pago por mérito).
En otras palabras, los mayores puntajes en los estímulos internos y en los externos se advierten
en ciertos rubros, como son las tareas de investigación y de posgrado, por lo que los académicos La estrategia metodológica fue cualitativa, utilizando las técnicas de observación participante y

1071 1072
las entrevistas a profundidad, el sentido de la acción de los académicos estudiados se ligó a un en el posgrado y sus publicaciones suelen atender los intereses de dichos asesores. Este grupo
marco cultural de sometimiento (Sautu et. al. 2010). de académicos suele atravesar por momentos de crisis, que se expresa por la insuficiencia en el
número de investigaciones que logran publicar, lo que evidencia varias problemáticas:
Se recuperan varios argumentos de reconocidos investigadores al caso:
• El tiempo de respuesta para la aceptación o rechazo del trabajo propuesto para su publicación
Como lo señala Bourdieu (2012), que para poder interpretar el sentido y su objetivación, es es más largo del previsto;
necesario abordar el estudio de su situación existencial: de su habitus y de sus capitales (cultural,
relacional, económico etc.), e intereses que guían su actuar (de su ser y hacer). • La revista seleccionada para publicar no siempre es la idónea respecto al contenido del trabajo
propuesto;
En la misma lógica como lo puntualiza Aboites (2012), “La evaluación fue la imposición de una
cultura (…) una cultura política que implica una cierta forma de ejercer el poder. Entendida • La ausencia de una comunidad de investigadores, que coincida con las necesidades e intereses
de esta forma, la evaluación que surge en la década de 1990 no fue un asunto meramente que tienen los jóvenes investigadores.
académico (…) ni una cuestión meramente técnica” (p.91).
Pero el componente de mayor incertidumbre entre estos jóvenes se origina en el hecho de no
Y en cuanto al discurso de la “excelencia” sostenido por la sociedad capitalista contemporánea disponer de un empleo estable. Circunstancia que los condiciona a auto-sujetarse al modelo
Aubert y de Gaulejac ( 1993) señalan, que este discurso introduce en el ánimo y en las expectativas del reconocimiento por mérito, ya que esta vía representa la posibilidad de incorporarse a una
de los individuos la noción de competir, de alcanzar mayores niveles de productividad, de institución pública de educación superior.
sujetarse a reglas de juego que evalúen su desempeño y de tener el derecho al reconocimiento.
Académicos Maduros.
En suma, la creación y expansión del SNI así como el establecimiento de estímulos y becas en
las instituciones de educación superior, como lo señala Comas y Rivera (2011), “despertó entre En este grupo se observa una mayor diversidad de comportamientos respecto al modelo de
algunos académicos el afán por realizar nuevas prácticas (…) con el fin de posicionarse mejor en reconocimiento por mérito. La edad de los investigadores fluctúa entre los 40 y 60 años, quienes
cuanto a nivel y jerarquía dentro de la institución universitaria” (p.16). han conseguido perfilar líneas de investigación alrededor de las cuales desarrollan sus trabajos,
estableciendo relaciones con otros colegas adscritos a los posgrados, generando vínculos con
3.1 El involucramiento del académico hacia el pago por mérito los estudiantes de posgrado para asesorar tesis y desarrollando experiencias para orientar los
trabajos que tienen mejores oportunidades de ser publicados.
En este estudio se apreció que la experiencia y la trayectoria de los académicos entrevistados
juegan un papel fundamental para el consentimiento o resistencia a la mayor intensidad laboral Cabe señalar, que actualmente para las instituciones de educación superior en México es
(pago por mérito), por ello se examinan los resultados en tres agrupaciones: académicos jóvenes, primordial contar entre su personal con académicos incorporados al SNI, esto permite que
maduros y de larga trayectoria. dispongan de becas para los estudiantes y cuenten con financiamiento para proyectos especiales
de investigación.
Académicos Jóvenes.
Los investigadores maduros ponen en práctica estrategias en la búsqueda de resultados de corto
En este grupo se ubicó a los investigadores entre 30 y 40 años de edad, con posgrado y posibilidad plazo y en la construcción de condiciones que les permitan extender y profundizar la labor de
de obtener becas. Su experiencia en investigación se ve altamente influenciada por los asesores investigación. Las prácticas se caracterizan por:

1073 1074
• Establecer una secuencia en el desarrollo de los trabajos de investigación: conferencia, artículos Respecto a los investigadores con 10 o más años de pertenecer al SNI, se observó que han
y publicaciones; desarrollado una temática de investigación de forma consistente, atienden a estudiantes que
buscan con interés su asesoría en las tareas de investigación, algunos son promotores de
• Establecer contactos con otros investigadores para organizar coloquios, conferencias, etc. o proyectos especiales de investigación y suelen participar en los comités de evaluación del
para publicar productos de investigación, sin que necesariamente estas relaciones se conviertan propio SNI. Los investigadores entrevistados que se encuentran en este grupo tienen ciertas
en redes de investigación; particularidades que conviene mencionar: desarrollaron experiencias profesionales o actividades
académicas que les proporcionaron una visión de los fenómenos sociales, lo que les ayudó a
• Establecer vínculos tempranos con los estudiantes de posgrado para asesorar proyectos de definir una línea de investigación. Por su edad -más de 60 años-, estos investigadores tienen
titulación. ante sí la expectativa del retiro. Sin embargo, en las entrevistas aparecen dos situaciones de
gran peso para tomar la decisión sobre su posible jubilación. Por un lado, la resistencia a la
Estos profesores limitan su interacción con otros académicos en función de resultados idea de abandonar la actividad académica ejercida durante décadas y, por otro, el impacto que
específicos, evitan comprometerse en actividades de gestión académica y en general parece tendrá en las condiciones de vida la disminución de sus ingresos laborales. Así, el sentido que le
prevalecer una tendencia a prácticas individualistas en el trabajo académico. atribuyen a sus actividades cotidianas dentro de la academia se podría resumir en dos aspectos;
seguir acumulando capital económico y también capital simbólico, dado el prestigio alcanzado
Sin embargo, es importante destacar que entre los académicos de este segmento existen (Bourdieu, 2012).
personalidades que tienen una destacada vocación por contribuir al conocimiento, por participar
en la formación de las nuevas generaciones de estudiantes y por involucrarse en la creación de Reflexión Final
redes que fortalezcan las capacidades de investigación en las instituciones de educación pública
superior y quienes representan lo mejor de la comunidad. Este comportamiento requiere de una La experiencia histórica de las cuatro últimas décadas nos ilustra cómo las crisis económico-
fortaleza física, mental y anímica por encima de la media, ya que el esfuerzo y el desgaste son sociales han sido oportunidades para imponer una cultura de la excelencia y con ella, nuevas
mayores, pero su labor puede colocar a la institución en una vía cualitativamente superior. formas de control y sometimiento que favorecen al modelo neoliberal productivista.

En el grupo de académicos maduros, también se observa los que se incorporan al modelo de Entre los académicos entrevistados este sistema de evaluación y otorgamiento de reconocimientos
reconocimiento por mérito sin un compromiso firme con la institución. Lo que se asocia con e incentivos (pago por mérito) goza de legitimidad. Y en esa lógica los profesores suelen colocar
profesores que se incorporan al modelo, especialmente al institucional, privilegiando su en primer plano el rendimiento de sus labores (mayor número de productos académicos) y en
integración con el aparato burocrático encargado de las evaluaciones. Es una integración de segundo lugar, el cabal cumplimiento de sus funciones sustantivas.
naturaleza oportunista.
Sin embargo, es importante destacar que existen también profesores investigadores que
Finalmente en este segmento se evidenció que la decisión de algunos académicos de distanciarse tienen una destacada vocación por contribuir a la generación de conocimiento, por formar a las
del pago por mérito es totalmente justificada. Pues se relaciona con las condiciones de su nuevas generaciones de estudiantes y por participar en la creación de redes que fortalezcan las
contratación, con vínculos débiles con los órganos que distribuyen las cargas de trabajo, o con capacidades de investigación para la resolución de los graves problemas del país, académicos
la posibilidad de publicar. que representan a los mejores elementos.

Académicos con Larga Trayectoria También señalar que a partir de la crisis global de 2008 las IES se enfrentan a nuevos retos,

1075 1076
derivados de la reducción del financiamiento estatal y de nuevas demandas para desnaturalizar Gallardo, A. y Magallón, M.T. (2015). La cultura de la evaluación y la Resignificación del
la enseñanza y la investigación como bienes públicos, lo que nos plantea el concurso y propuestas académico. Memoria en Extenso de Ponencias del XII CICAGIAO 2015. Universidad Autónoma
de los involucrados para revitalizar a la universidad pública. de Chiapas/REMINEO A. C.

Referencias Kent, R. (1986). Los profesores y la crisis universitaria. Cuadernos Políticos (46), 41-54. México:
Ediciones Era.
Aboites, H. (2012). La medida de una nación. Los primeros años de la evaluación en México.
Historia de poder, resistencia y alternativa (1982-2012). México: Editorial, CLACSO, ITACA y Knights, D. y Morgan, G. (1990). The concept of strategy in sociology: A note of dissent. Sociology
UAM Vol. 24(3), 475-483

Aubert, N. y De Gaulejac, V. (1993). El coste de la excelencia. ¿Del caos a la lógica o de la lógica Sautu, R.; Boniolo, P.; Delle, P. y Elbert, R. (2010). Manual de metodología. Construcción del
al caos? Barcelona: Paidós. marco teórico, formulación de los objetivos y elección de la metodología. Buenos Aires: Promoteo
Libros.
Bourdieu, Pierre (2012). La Distinción. Criterios y bases del gusto social. México: Taurus.
Sturdy, A. (1992) Clerical consent: Shifting work in the insurance office. En Sturdy A, Knights D
Braverman, H. (1975). Trabajo y capital monopolista. México: Editorial Nuestro Tiempo. and Willmott H (eds) Skill and Consent: Contemporary Studies in the Labour Process. London:
Routledge.
Burawoy, M. (1979). El Consentimiento en la Producción. Cambios en el proceso laboral bajo el
capitalismo monopolista. México: ERA Willmott, H. (1993) Breaking the paradigm mentality. Organization Studies. Vol. 14(5), 681-
719.
Comas, O. y Rivera, A. (2011). Los estímulos económicos y la evaluación del desempeño docente
en las instituciones universitarias. Revista electrónica de la Red Durango de Investigadores
Educativos A.C., Vol. 3 (5), 15-26.

De la Madrid, M (1983). Informe de Gobierno. Recuperado: http://cronica.diputados.gob.mx/


DDebates/52/2do/Ord/19830901-I.html

Foucault, M. (1988). El sujeto y el poder. Revista Mexicana de Sociología, 50 (3). 3-20.

Gallardo, A. y Topete, C. (2014). La Universidad Pública en México. Efectos y desafíos de


las políticas productivistas. En Gil, Morales y López (coordinadores) Retos en materia de
Sustentabilidad y Responsabilidad Social en las Organizaciones valoradas desde el contexto
del Plan Nacional de Desarrollo 2013-2018. México, (381-401). México: UAM, Universidad
Veracruzana y HESS-Grupo Editorial

1077 1078
Capítulo 105 algunas características similares y con otras muy distintas a las descriptas, hace ya un siglo,
por Max Weber.
¿Poder managerial? Entre el management como tipo de dominación La difusión del management fuera de la empresa:
burocrática y el management como gubernamentalidad
Uno de nuestros entrevistados que trabaja en temas vinculados con el cambio climático para el
Osvaldo Javier López Ruiz1 Programa de Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD) comenta:

Creo que las grandes corporaciones no trabajan de forma demasiado diferente a las
agencias de la ONU. Ellas tienen las mismas preocupaciones: asegurarse que el dinero
¿Qué es el management hoy y qué lugar ocupa en nuestras sociedades? Cuando el management que entra sea gastado de forma correcta en algunos proyectos y programas. Es el caso
aparece en entornos organizacionales ajenos al empresarial, ¿debemos considerarlo como un de PNUD. A lo largo de los años y debido a las limitaciones financieras, PNUD ha tenido
sistema de administración alternativo o como una forma alternativa de burocracia? Por otra que adoptar más y más el abordaje del sector privado para conducir los negocios. O quizás
parte, ¿podemos afirmar que está en curso un proceso de managerialización de la sociedad? Si porque tiene los cuarteles generales en los Estados Unidos donde el sector privado es
es así, ¿a cuáles aspectos específicamente nos estamos refiriendo: a la adopción de diferentes muy fuerte. (…) No creo que haya demasiada diferencia respecto a la cultura de trabajo,
formas de organización y técnicas de gestión en los distintos ámbitos de nuestra sociedad o a realmente [entre el sector privado y las agencias de la ONU].
la difusión de una nueva forma de ejercicio del poder? En ese caso, ¿tiene entonces sentido
hablar de “poder managerial”? Diversas investigaciones y varios autores hablan hoy de la Una amplia mayoría de quienes trabajan en distintas agencias y organismos de Naciones Unidas
“universalización del management” y de la ubicuidad simbólica y material de la gestión. Thibault y que tuvimos oportunidad de entrevistar en Ginebra entre 2015 y 2016 coincidiría, en general,
Le Texier (2016), por ejemplo, afirma que su racionalidad se ha convertido en el sentido común con estas apreciaciones (López Ruiz, 2016, 2017b, 2018). De una forma u otra, no es para
de nuestras sociedades y en el rostro moderno del poder. Propone pensar a la gestión como una nadie novedad la difusión que ha venido teniendo el management en ámbitos distintos a los
figura de lo político. Nuestra ponencia pretende tomar como eje estas preguntas para poner de las empresas privadas. Así encontramos también el empleo de técnicas y procedimientos
en discusión cuál sería hoy la forma más adecuada —y teórica tanto como empíricamente manageriales dentro de la gestión pública no sólo internacional, sino también a nivel de los
más productiva para una sociología del management— de conceptualizarlo. En este intento, Estados nacionales. Su uso parece incluso estar muy difundido en el ámbito de las organizaciones
pretendemos revisar parte de la amplia discusión académica actual y clásica para tratar de no gubernamentales, las ONGs. Pero, ¿se trata entonces de un sistema alternativo de
encuadrar mejor este fenómeno. A su vez, para anclar la discusión sobre la difusión del administración que es tomado y adoptado desde el sector privado y que toma a la empresa como
management en entornos organizacionales distintos al de la empresa, tomaremos algunas de las modelo, o sería más adecuado considerarlo como una forma alternativa de burocracia?
entrevistas realizadas a funcionarios públicos internacionales que trabajan en distintas agencias
y organismos del sistema de Naciones Unidas, para ver cómo sus prácticas laborales (y su propia Una queja aparece en forma reiterada entre quienes trabajan en la ONU —y esto se repite
subjetividad) se han visto alcanzadas por la adopción de principios y técnicas de management en independientemente de qué sector sea (humanitario, salud, trabajo, comercio, derechos
sus lugares de trabajo. En otras palabras, proponemos explorar el management entendiéndolo, humanos o telecomunicaciones) y en órganos tan diversos como la Organización Internacional
más allá de sus técnicas y procedimientos específicos, como una racionalidad. Proponemos del Trabajo (OIT), el Alto Comisionado de Naciones Unidas para los Refugiados (ACNUR), las
pensarlo en la encrucijada entre una racionalidad de gobierno, en el sentido que le da Michel organizaciones mundiales de la salud o del comercio (OMS, OMC) o la Unión Internacional de
Foucault a su concepto de “gubernamentalidad”, y un tipo de dominación burocrática, éste con Telecomunicaciones (UIT). Esta queja tiene que ver con la multiplicación y sobrecarga con
1. Instituto de Ciencias Humanas, Sociales y Ambientales (INCIHUSA). Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Argentina.
Email: olopezruiz@mendoza-conicet.gov.ar
los procedimientos administrativos así como la falta de tiempo efectivo que dejan para la

1079 1080
consecución de las tareas sustantivas y propias de esos organismos. Sin embargo, la burocracia ciencia del control que se aplica dentro de una organización: una “ciencia” que se encarga de la
internacional que representa el sistema de Naciones Unidas viene adoptando en los últimos conducción (del gobierno) de los hombres que allí trabajan y que toma como principio rector a la
treinta años todo tipo de técnicas y sistemas de gestión que no difieren —o difieren muy eficiencia. La importancia de esta ruptura epistemológica habría escapado a autores tan agudos
poco— de los que son utilizados en la gestión empresarial privada, los que, supuestamente, como Michel Foucault quien, si bien esbozó algunas de las características de lo que podría ser un
vendrían a resolver dicho problemas. Para su adaptación e implementación son contratadas las “arte de gobierno managerial”, en opinión de Le Texier, no avanzó lo suficiente en su análisis de
mismas grandes empresas de consultoría internacional que los recomiendan y aplican para las la empresa y nunca realmente teorizó los aspectos propiamente gubernamentales de la gestión.
grandes corporaciones transnacionales y para empresas que operan en los más variados rubros y
contextos. No puede decirse entonces que el management no se haya difundido dentro de la ONU. Como primer avance en esta dirección, Le Texier propone establecer con claridad las diferencias
Algunos argumentarán, sin embargo, que aún no lo ha hecho en la medida suficiente, mientras entre “racionalidad mercantil” y “racionalidad managerial”. Destaca que si bien usualmente esas
otros criticarán los muy considerables gastos en los que se incurre con cada reestructuración y racionalidades son confundidas entre sí porque muchas veces operan en una misma dirección, se
cambio de sistemas, lo que, consideran, sólo aumenta la carga de trabajo y no produce mejoras apoyan y complementan, los principios y objetivos que cada una de ellas persigue son diferentes.
sustantivas (López Ruiz, 2017b, 2018). Si para el mercado los principios articuladores son la propiedad, el capital, el lucro, la oferta y
la demanda, para la empresa ellos, son la organización, la eficiencia, el control y la racionalidad.
La racionalidad managerial y el management como una forma de ejercicio del poder En este sentido no debe olvidarse que la empresa es un colectivo humano que en primer lugar
busca garantizar su continuidad, por lo que sus objetivos y los principios que privilegia no son
En una reciente y muy interesante genealogía del management, Le Texier (2016) muestra cómo siempre los del mercado. Hay una naturaleza no mercantil en la empresa y, por eso mismo, en
pueden distinguirse dos formas sucesivas e históricas de entenderlo. La primera tiene que ver con el management. Si entendemos al management como un modo particular de ejercicio del poder,
la difusión y los usos que la palabra “management” tuvo en la lengua inglesa entre mediados del existe una tendencia que no siempre juega a favor del mercado; incluso, en ocasiones, puede
siglo XVIII y finales del XIX. Durante un siglo y medio el “management”, de maneras diferentes, posicionarse como reacción a los mecanismos de coordinación de éste en función de garantizar,
remitía al ámbito doméstico del manejo de la casa y del cuidado de los niños —usado en manuales justamente, la continuidad de la empresa. Y, para este autor, hoy vivimos menos en una sociedad
dedicados a jóvenes esposas sobre “la administración criteriosa del hogar” o a la alimentación de mercado que en un mundo de empresas. La empresa se ha convertido en nuestro modelo
y cuidado de sus hijos—, o a la gestión de las granjas, el cuidado de los animales, las plantas y institucional y, por otra parte, prácticamente todas las necesidades y actividades de nuestra vida
los jardines. En el ámbito público apenas se aplicaba el término en relación a la gestión de los están mediadas por las empresas.
alumnos en las escuelas. Lo interesante a destacar es que nunca se hablaba de “management”
en referencia a hombres adultos. Hubo sí un momento, a partir del 1830, que los mecánicos Pero una vez establecida esta diferencia, la apuesta de Le Texier es pensar la racionalidad
ferroviarios ingleses y norteamericanos desplazaron el uso del término de la esfera doméstica managerial como una racionalidad gubernamental en sentido pleno y, por tanto, como una figura
para el universo empresarial, pero para referirse al manejo y al cuidado de sus máquinas, las de lo político. Su argumento es que en nuestras sociedades, el gobierno de los individuos es
locomotoras a vapor. Será recién a fines del siglo XIX y, sobre todo desde comienzos del siglo cada vez menos tributario de la ley y del capital, y cada vez más una tarea de optimización, de
XX, que los ingenieros industriales lo van a aplicar por primera vez a la gestión y organización de organización, de racionalidad y de control de grupos humanos organizados en función de la forma
los obreros dentro de las fábricas. Y, como es bien sabido, quien se encargará de teorizar este “empresa”. Se trata de una gubernamentalidad que ya existe en la actualidad y que necesita
uso será Taylor con su propuesta de “administración científica”. Ésta, en opinión de Le Texier, va ser pensada. Ésta no toma la forma de un Estado, ni funciona en relación a un soberano unitario.
a representar una ruptura epistemológica de suma importancia en el centro de las teorías y de Tampoco lo hace en términos jurídicos, ni se ejerce sobre un territorio. Ignora los mecanismos
las prácticas de gestión. En otras palabras, se pasa de una acepción del término que tiene como disciplinarios y, en lugar de proceder por la subordinación de los individuos, lo hace por la propia
principal referencia a la casa y a los niños, apoyandose fundamentalmente en el principio de los adhesión de éstos al sistema. La “gubernamentalidad managerial”, como propone llamar a este
cuidados que se les deben dar a ellos, a otra, moderna, que presenta al “management” como una modelo de gobierno (Le Texier, 2011/2), es una particular forma de ejercicio del poder —el

1081 1082
poder managerial— que no tiene al Estado como figura tutelar sino a la forma de organización (2014: 184) y, como bien señala Francisco Gil Villegas (Weber, 2014: 184, n. 88), el uso del
social que llamamos “empresa”. Esto no significa que el Estado desaparece, sino que él también concepto “dominación” admite una mayor precisión que el de “poder” y permite trascender las
se convierte en una “empresa” y adopta la forma de funcionamiento y gestión propia de las relaciones personales y voluntaristas dando cabida a las restricciones estructurales que generan
empresas: el management. organizaciones como la burocracia. O en otras palabras, la noción más clara y restringida de
la dominación permite analizar al mismo tiempo las restricciones y demandas que ejerce una
La “burocracia managerial” como tipo puro de dominación legal organización social más allá de la voluntad e intenciones originales de los actores individuales.

Frente a la estimulante propuesta de Le Texier de considerar al management como una forma En otro lugar analizamos las relaciones entre management y burocracia (López Ruiz, 2017a).
de ejercicio del poder con particularidades propias y, por tanto, de proponer elementos para Revisamos los argumentos de autores contemporáneos que llaman la atención sobre la gran
pensar una nueva teoría del poder, resuena, no obstante, una vieja advertencia de Max Weber: difusión de normas, reglas y procedimientos a los que estamos sometidos en la vida cotidiana y
el poder es sociológicamente amorfo (2014: 184). En sentido general, Weber entiende al poder que no emanan solamente de la administración pública, sino que son originadas en el mercado
como “la posibilidad de imponer la propia voluntad sobre la conducta ajena” (2014: 1072), y en las empresas, interviniendo en prácticamente cada aspecto de nuestra existencia (Hibou,
pero reconoce que tomado en un sentido tan amplio es una categoría difícilmente utilizable 2012; Graeber, 2015). A partir de estas constataciones, propusimos pensar al management
para la sociología. Ahora bien, ¿qué significa exactamente no tener forma sociológica? Para como una forma de burocracia y adelantamos la hipótesis de que sería posible (y de utilidad
Weber, esto remite a la dificultad de que el poder no puede ser aprehendido por una sociología sociológica) considerarlo como un tipo de dominación burocrática para entender mejor ciertos
empírica. Es decir que no necesariamente sirve para aludir a una conducta humana con sentido procesos sociales contemporáneos.
subjetivo, cuando dicho sentido está referido a la conducta de otro individuo. En otras palabras, el
concepto de poder es, por momentos, demasiado general y vago porque no siempre apunta a una La investigación, actualmente en desarrollo, consiste en avanzar en la definición y descripción de
acción social, sino a muchas otras cualidades o configuraciones que pueden colocar a alguien lo que vamos a llamar “burocracia managerial”. En otros términos, se trata de la construcción
en la posición de imponer su voluntad en una situación dada. En este sentido, es interesante de un “tipo ideal” o mejor, de un “tipo puro”, el que, de más está decir, no existe como tal
notar que también Foucault (2006) se topó con la ausencia de la forma sociológica del “poder” en la realidad sino que es una herramienta de conocimiento que, esperamos, nos permita
y —para no pensarlo a partir de las instituciones que lo ejercen— propuso hacerlo a partir de acercarnos mejor a la enorme complejidad y variedad que ésta presenta. Para Weber, cada tipo
las prácticas concretas y de las diferentes formas históricas de su ejercicio: la soberanía, la de dominación tiene diferentes fundamentos de legitimidad, los que se basan en sistemas de
disciplina y el gobierno. Entonces, cabe preguntarse, ¿es sociológicamente útil hablar de “poder creencias socialmente compartidas. La dominación legal, por ejemplo, encuentra el suyo en la
managerial”? ¿Sirve para ayudar a describir sus peculiaridades? En ciertos aspectos, Le Texier legalidad de las ordenaciones estatuidas —la legalidad de la regla— y su tipo más puro en
demuestra que sí. ¿Pero cómo seguir teorizándolo? Podríamos, continuando con su propuesta, la administración burocrática, la forma de administración específicamente moderna (2014:
intentar pensarlo como un particular “arte de gobierno”, una gubernamentalidad en sentido 266, 338-340). El neologismo “burocracia managerial”, lo proponemos como un subtipo de
pleno, pero también —y en contrapunto o en forma complementaria, según las necesidades dominación legal con administración burocrática —de igual manera a como Weber proponía, por
que los casos concretos presenten— podemos pensar al management, en sentido weberiano, ejemplo, el subtipo “burocracia patrimonial”— para intentar definir sus notas características
como un “tipo de dominación” concreto y con particularidades específicas que será menester en relación (y en contrapunto y/o desviación) del tipo puro de burocracia descripto por él. Para
determinar. ello es necesario recorrer todos y cada uno de los aspectos que la configuran para establecer las
cercanías y distancias entre el tipo y el subtipo, tarea que excede nuestras posibilidades aquí. No
Antes, es necesario recordar que la sociología política de Weber no gira en torno al concepto obstante, podemos adelantar alguna de sus características.
de poder sino al de dominación. La dominación es un caso especial del poder: un caso particular
y más definido de ejercicio del poder. Es “la probabilidad de que un mandato sea obedecido” La “burocracia managerial” es un tipo de dominación legal que agrega deliberadamente

1083 1084
componentes carismáticos. Concretamente, recurre al “carisma”, a la figura de líderes
carismáticos, como guías para la acción y modelo de orientación para la conducta de los Le Texier, T. (2016). Le maniement des hommes. Essai sur la rationalité managériale. París: La
dominados. Si, como tipos puros, la dominación carismática se opone a la burocrática en Décoverte.
términos radicales —la “irracionalidad personalista” vs. la “racionalidad impersonal”—, en este
subtipo encontramos una búsqueda de complementariedad. El manager intenta re-personalizar Le Texier, T. (2011/2). Foucault, le pouvoir et l’entreprise: pour une théorie de la gouvernementalité
buena parte de la impersonalidad formal —“sin acepción de personas”— característica del managériale. En Revue de philosophie économique, 12, 53-85. doi:10.3917/rpec.122.0053
tipo puro del burócrata, pero termina produciendo una suerte de “personalización” impersonal
y estandarizada. También busca flexibilizar el rigor formalista de la burocracia, pero lo hace a López Ruiz, O. (2018). El management en las organizaciones internacionales. La racionalidad
través de una “flexibilidad” establecida como procedimiento. Si bien con esta “flexibilidad” logra administrativo empresarial entrando en la ONU. En Revista de Ciencias Sociales, DS-FCS, 31,
dar cabida a una mayor pluralidad de circunstancias, esto es a costa de un aumento considerable 43, (en prensa). doi: http: 10.26489/rvs.v31i43.2
de los procesos, los que, aunque muchas veces sean explícitamente diseñados para simplificar
las tareas, “desburocratizar” y ahorrar tiempo, paradójicamente y en gran medida acaban López Ruiz, O. (2017a) “Management” o “Burocracia”: ¿antónimos o sinónimos? En los
obteniendo el efecto contrario y son experimentados a nivel individual como una sobrecarga caminos de la gubernamentalidad neoliberal y sus formas de subjetivación. Trabajo presentado
que se torna opresiva y más “burocrática”, en el sentido más coloquial y peyorativo del término. en las VIII Jornadas Debates Actuales de la Teoría Política Contemporánea, organizadas por
Debates Actuales, Universidad de Buenos Aires y Facultad de Ciencias Políticas y Sociales de la
En buena medida a esto parece responder la descripción (y en algunos casos la queja) que Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, 17 y 18 de noviembre de 2017.
recogimos en nuestras entrevistas en las distintas agencias del sistema de Naciones Unidas. En
esta burocracia internacional “managerializada” se enfrentan —como en otros ámbitos de los López Ruiz, O. (2017b). El management en las organizaciones internacionales: ¿falta de
social hoy— la figura del burócrata, tan desprestigiada socialmente, versus la alta estima social management o exceso de management dentro del Sistema de Naciones Unidas? Ponencia
que despierta la figura del manager. Quizás el construir este subtipo de “la dominación de las presentada en el XXXV Congreso Internacional de la Asociación de Estudios Latinoamericanos.
normas racionales convenidas u ordenadas” (Weber, 2014: 1399), la “burocracia managerial”, Lima, Perú, 29 de abril al 2 de mayo. Recuperando en: https://
nos sirva para ver que ambas figuras no son más que dos caras de una misma moneda. O, al lasa.international.pitt.edu/auth/prot/congress-papers/Past/lasa2017/files/29657.pdf
menos, esperamos que serva para describir y entender con mayor precisión esta forma de
ejercicio del poder que es el management hoy. Al fin de cuentas, como decía Weber: “para la López Ruiz, O. (2016). La difusión de la “forma empresa” en las organizaciones internacionales:
vida cotidiana dominación es principalmente ‘administración’” (2014: 343). valores promovidos, retóricas del management y procesos de subjetivación dentro del Sistema
de Naciones Unidas. Trabajo presentado en el VIII Congreso Latinoamericano de Estudios del
Referencias Trabajo, organizado por la Asociación Latinoamericana de Estudios del Trabajo (ALAST). Buenos
Aires, 3-5 de agosto. Recuperado de: http://alast.info/buscador/2017/ponencias/7_24_
Foucault, M. (2006). Seguridad, territorio, población. Curso en el Collège de France (1977- LOPEZRUIZ.pdf
1978). Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica.
Weber, M. (2014). Economía y sociedad. 3ª ed., México: Fondo de Cultura Económica [Edición
Graeber, D. (2015). The Utopia of Rules. On Technology, Stupidity, and the Secret Joys of revisada y anotada por Francisco Gil Villegas].
Bureaucracy [Versión DX Reader]. Brooklyn – Londres: Melville.

Hibou, B. (2012). La bureaucratisation du monde à l’ère néoliberale. Paris: La Découverte.

1085 1086
Capítulo 106 se tratando dos jovens na atualidade (Boltanski E Chiapello, 2009).

Tendo como base a discussão levantada por Boltanski e Chiapello (2009, p.39), a respeito
Negócios sociais, empreendedorismo e o novo espírito do capitalismo: de como o espírito do capitalismo, entendido como “a ideologia que justifica o engajamento
aproximações iniciais no capital”, se renova para produzir motivação para atuar no sistema. As características dos
negócios sociais podem ser ajustadas nesse, que os autores denominam de novo espírito do
Jéssica Pereira de Mello1, Luis Miguel Luzio dos Santos2 y capitalismo, assim o objetivo desse trabalho é situar os negócios sociais como fazendo parte
Priscila Terezinha Aparecida Machado3 dessa nova fase do sistema capitalista.

Dessa forma, este trabalho está organizado da seguinte forma: primeiramente evidencia-se os
1.Introdução pressupostos teóricos com foco nos conceitos que posteriormente serão utilizados na análise
dos dados, no entremeio, pontua-se as escolhas metodológicas. Além deste capítulo introdutório,
O sistema capitalista ao qual nossa sociedade está submetida gera diversos problemas de ordem em que se apresenta as considerações iniciais sobre o tema.
social, ambiental e econômica. Ao longo da história se observa que este sistema passou por
diversas transformações, bem como foi seguido por mudanças nas formas de vida da população. 2. Negócios Sociais: Definições, Contextualizações e Principais Características
Acompanhando este movimento, de forma dinâmica, surgem iniciativas que visam mitigar os
efeitos negativos ou superar o capitalismo, muitos desses empreendimentos se apresentam Apesar de partir de uma crítica ao capitalismo, os negócios sociais que tem como base as ideias
como alternativas a esse sistema. de Yunus, em outros momentos afirmam ser um complemento para o sistema capitalista, com
o objetivo de mitigar os problemas causados pelo capital. A teoria que embasa os livros de
Dentre os diferentes tipos, este artigo focaliza o modelo de negócios sociais desenvolvido Yunus sobre seu modelo é bastante controversa, por vezes, se assemelha a uma literatura mais
pelo economista indiano Muhammad Yunus, que tem como objetivo a resolução de problemas comercial do que cientifica. Entretanto, é necessária para compreender o desenvolvimento
sociais através de negócios voltados, principalmente, para a população chamada de base da histórico e conceitual dos negócios sociais (Yunus, 2008; 2010).
pirâmide. Além disso, o modelo de negócios sociais tem como pano de fundo ideais semelhantes
a atividades voltadas ao empreendedorismo social, a figura do empreendedor é central nesse O pressuposto básico do qual parte Yunus é de que o mercado livre da forma como se encontra
tipo de negócio. Frases de impacto que visam o engajamento de pessoas a uma nova forma não traz benefícios a grande parte da população, enquanto algumas nações se desenvolveram
de fazer negócio, que tenha propósito, são comuns nos veículos de comunicação desse modelo economicamente outras foram esquecidas ou exploradas. Assim o autor propõe que deve-se ter
(Yunus Negócios Sociais, 2017). algum concorrente a esta forma tradicional de livre empresa, destacando os negócios sociais
como propulsores de um equilíbrio e a resolução dos problemas deixados pelo capitalismo
Os negócios sociais relacionam-se a ideologia de que o bem comum e o bem-estar da população (Yunus, 2008).
pode ser alcançada através do mercado, que supostamente cobre as falhas deixadas pelo Estado
no atendimento à população (Yunus, 2008). Nesse sentido, o que fica claro é que o capitalismo Outro conceito abordado por Yunus (2008), ainda que de forma superficial, é quanto aos
vem adotando novas formas de mobilização das pessoas, pois os contornos mais antigos do conceitos de ser humano unidimensional e multidimensional, interligando com a crítica a redução
capital não conseguem engajar da mesma forma como há algumas décadas atrás, principalmente do homem como fim para obter lucro. Nesse sentido, as empresas tradicionais se resumem a um
1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: jessica.pereira@ufrgs.br modelo que restringe as pessoas a seguir um modelo único e unidimensional. Como forma de
2. Universidade Estadual de Londrina. Email: lmig@uol.com.br
3. Instituto Federal do Mato Grosso. Email: priscilamch@hotmail.com
se contrapor, Yunus propõe que os negócios sociais podem reverter esse quadro e abarcar um

1087 1088
ser humano multidimensional, através da valorização das potencialidades humanas e realização justamente por serem contínuos no tempo estes elementos não se mostram suficientes para
profissional. engajar os trabalhadores a servir o capital no cotidiano.

Observa-se que, teoricamente, segundo Yunus (2008), há algumas diferenças entre o modelo Alguns setores são utilizados pelo espírito do capitalismo como forma de se incorporar no
de negócios sociais e as empresas tradicionais. O primeiro teria como foco resolver problemas cotidiano das pessoas. Neste contexto, o discurso da gestão empresarial se mostra hoje como
sociais através de sua existência, já os negócios tradicionais têm apenas o lucro como objetivo. forma pela qual o sistema capitalista compartilha seus ideais de bem comum. Os executivos
Entretanto, para realizar suas atividades, o modelo de negócios sociais deve-se sustentar são os atores principais desse processo, sendo que estes completam o aparato se supridos de
financeiramente, ou seja, depende do lucro para atingir suas finalidades. Assim, em que medida garantias de autorrealização e segurança para si e seus descendentes (Boltanski E Chiapello,
realmente os negócios sociais se diferenciam da empresa convencional? 2009).

Diante desse questionamento outra questão que vem à tona é em que medida os negócios sociais Historicamente o espírito do capitalismo passou por três fases principais, sempre marcadas por
se utilizam do discurso de redução dos problemas sociais apenas como forma de justificar o figuras e valores característicos. O primeiro espírito teve como representação principal a figura
engajamento de novos atores no sistema capitalista? Para debater essa problemática, no do burguês, com valores que repousam nas tradições familiares e ao início e progresso da ciência,
tópico abaixo serão desenvolvidas as ideias de Boltanski e Chiapello (2009) a respeito das da técnica e da indústria. O segundo espírito tem a grande empresa e a figura do diretor como
transformações empreendidas pelo capitalismo para se manter como ordem vigente. centro, bem como o ambiente de trabalho que transmitia segurança e perspectivas de construção
de carreiras, infraestrutura para vida fora do trabalho e relação entre iniciativa privada e Estado
3.O Novo Espírito do Capitalismo com foco em alcançar o bem comum. O terceiro espírito que ainda se encontra em tempos de
formação, vem se constituindo a partir do questionamento do poder de engajamento do segundo
De acordo com Boltanski e Chiapello (2009), as diferentes transformações pelas quais o espírito, assim como a partir de mudanças profundas nas formas de acumulação. Esse terceiro
capitalismo passou foram acompanhadas também por mudanças ideológicas. Diante do espírito tem por base a figura da globalização que coloca em prática tecnologias de diversas
que os autores denominam como silencia da crítica, que teve a década de 80 como auge, o formas, será pautado na figura do grande executivo e das multinacionais (Boltanski E Chiapello,
capitalismo ganhou um impulso para se modificar com o objetivo de ampliar seu domínio. 2009).
Embora o capitalismo passe por diversas crises, esse sistema reúne elementos para superar e
formar um novo conjunto ideológico mais mobilizador. Contrariando assim, as previsões de seus As transformações no espírito do capitalismo são acompanhadas também de diferentes modos
críticos de que iria decair, a cada nova crise amplia seu império, através do apoio que recebe das de vida dentro e fora do ambiente de trabalho. Esse novo espírito do capitalismo incorporou
representações que cria na sociedade. as críticas destinadas a ele ao longo da história e vem construindo ideologias que eliminem
práticas que não são bem aceitas no contexto de acumulação do capital. Assim, analisando os
O espírito do capitalismo definido como “a ideologia que justifica o engajamento no capitalismo”, textos de gestão empresarial, os autores destacam as diversas mudanças que ocorreram neste
precisa se renovar de acordo com o contexto histórico e cultural. O espírito do capitalismo é âmbito, os modelos que antes eram pautados em um controle visível na figura vertical do diretor,
“justamente como o conjunto de crenças associadas à ordem capitalista que contribuem para vêm passando para figura heroica do líder, os horários extremamente rígidos podem dar lugar a
justificar e sustentar essa ordem, legitimando os modos de ação e as disposições coerentes formas mais flexíveis. O trabalho contínuo e exaustivo, passa ser dirigido por projetos, a figura
com ela” (Boltanski E Chiapello, 2009, P.39). Segundo Boltanski e Chiapello (2009, p. 45 central passa a ser a do empreendedor especialista (Boltanski E Chiapello, 2009; Casaqui,
e 46), o espírito do capitalismo se ancora em três bases: “a) progresso material, eficácia e 2015).
eficiência na satisfação das necessidades; b) modo de organização social favorável ao exercício
das liberdades econômicas e c) compatibilidade com os regimes políticos liberais”. Entretanto, Neste contexto, Casaqui (2015, p. 48) destaca que a figura do empreendedor pode ter duas

1089 1090
vertentes, o empreendedor tradicional e o empreendedor social que embora se utilizem da como estudo de um caso emergente. Foram analisados documentos públicos e relatórios, obtidos
tecnologia dos mecanismos de mercado, se diferem mediante o objetivo de suas ações, através dos diversos sites ligados ao modelo Yunus, com o objetivo de obter dados históricos,
“enquanto o empreendedor, em tese, prioriza o lucro, o ganho individual e os interesses de sua de funcionamento do modelo e principais pressupostos. Assim o método utilizado foi o não
organização, o empreendedor social tem como meta a resolução de problemas sociais”. O autor probabilístico que segundo Godoi; Bandeira-de-Mello; Silva (2006) se aplica a pesquisas que
corrobora com Boltanski e Chiapello (2009), ao criticar o uso da figura do empreendedor social não requerem nível de precisão estatística, geralmente se aplica a pesquisas de abordagem.
como figura heroica que guarda consigo a aura do bem comum, mesmo que tenha suas bases no
capitalismo neoliberal. Na análise dos dados procurou-se estabelecer relações entre as informações coletadas e a
teoria que deu base para a investigação, as categorias analisadas foram as características dos
De acordo com Boltanski e Chiapello (2009) caminhamos para um mundo permeado por conexões negócios sociais que a princípio parecem se ajustar ao espírito do capitalismo.
e redes, fator que pode ser observado através da exigem das empresas de um bom networking,
entretanto, o que se nota é a transferência deste modelo para fora do campo do trabalho. As 5.Negócios Sociais e o Novo Espírito do Capitalismo
empresas que possuem poder, vem se caracterizando cada vez mais pelo desvencilhamento dos
espaços físicos, do material, passando dados para o virtual, assim como o trabalhador que deve Ao analisar o modelo de negócios sociais de Yunus e a literatura derivada de suas ideias, vem
ter como principal diferencial a mobilidade e flexibilidade. O ideal que se prega em todos os à tona algumas contradições, verificadas na própria teoria que lhe dá embasamento, e outras
setores desse mundo de conexionista é o de um individualismo libertário que se dá através da que podem ser evidenciadas através de atividades práticas relatadas nos documentos avaliados
autorrealização como forma de sucesso. nesta pesquisa.

Desta forma, as organizações que se dizem fazer parte de novos modelos, podem estar relacionadas Iniciando com os aspectos mais teóricos do modelo, o primeiro aspecto a destacar é a adoção do
com a incorporação das críticas as características negativas das empresas capitalistas, sendo o empreendedorismo e da figura do empreendedor como centro dos negócios, pois o mecanismo
mesmo modelo, porém com formas mais aceitáveis. Conforme suscitado neste tópico, a respeito por base desse conceito está relacionado ao incentivo por parte do discurso hegemônico ligado
do novo espírito do capitalismo, os negócios sociais parecem se aproximar desta nova forma de ao capitalismo neoliberal. Segundo Boltanski e Chiapello (2009), no mundo conexionista a figura
apresentação do capital. do empreendedor especialista é figura central do novo espírito do capitalismo. Esse discurso
é bastante nocivo ao indivíduo e a sociedade, pois o modelo hegemônico o utiliza como forma
4.Procedimentos Metodológicos de disseminar a meritocracia, e, por meio disso, o homem com meras escolhas pessoais, em
que cada um é responsável pelos próprios resultados alcançados, como se todos tivessem as
Esta pesquisa, derivada de trabalho de dissertação, tem como objetivo situar os negócios sociais mesmas condições, e o sujeito que não alcança o sucesso se coloca perante a sociedade como
como parte do novo espírito do capitalismo, além de apontar contradições do modelo. Nesse um fracassado.
sentido, a perspectiva adotada foi a qualitativa, que também buscou iniciar uma discussão de
cunho teórico, relacionada principalmente ao objetivo do trabalho, que procura conhecer o objeto Nos negócios sociais o empreendedor é o que Boltanski e Chiapello (2009), destacam como
não se preocupando em mensurar, avaliar, generalizar ou criar perfis a respeito do fenômeno tipos ideais ou ser humano mínimo, ou seja, portadores de características que são necessárias
que, neste caso específico, é o modelo Yunus e sua relação com o novo espírito do capitalismo, para manutenção e ao mesmo tempo transformação do sistema. Assim pode-se questionar o
utilizando um conjunto de técnicas interpretativas que visam compreender os componentes de papel dos negócios sociais e seus semelhantes na atualidade, visto que corroboram as novas
sistemas complexos (Minayo, 2003; Évora, 2006). características do capital não se apresentando como alternativa. Em uma crítica a esses modelos
que se utilizam da figura do empreendedor (incluindo o modelo Yunus), Casaqui (2015, p. 52)
Dado que o assunto tratado neste artigo ainda é uma área incipiente, este estudo se configura destaca:

1091 1092
6. Considerações Finais
Esse agente emerge da combinatória da vertente social, associada ao trabalho devoto pelo
bem comum, com a mítica do empreendedor – figura também de longo percurso histórico, Para finalizar, ressalta-se que o discurso dos negócios sociais associado a redução da pobreza,
emblemático para a lógica liberal capitalista. Termos advindos dos processos capitalistas, da se mostra como mais uma forma de engajamento, pois o lucro por si mesmo não se coloca como
gestão corporativa, por meio dos quais se estabelece uma espécie de herói contemporâneo. fonte de satisfação. Além disso, mesmo que o negócio social deva ter lucro e ser autossuficiente,
Um sujeito que agrega tanto a eficácia das técnicas e tecnologias do capitalismo, quanto uma a imagem que permanece é a de um negócio que busca resolver um problema social e não a
formulação de utopia pragmática, um sonho materializado, concreto. perseguição do lucro. Sendo assim, cabe questionar o destino desses negócios quando acabarem
os problemas.
Nesse contexto, as transformações no espírito do capitalismo que são acompanhadas por
mudanças nas formas de ser e viver se utilizam dessa figura do empreendedor para ser seu Referências
agente e espelho para projetos de vida. Casaqui (2015) afirma que esse empreendedor possui
um ethos messiânico, representando a sociedade por projetos, que é pautada por vínculos móveis Barki, E (2014). Negócios com impacto social. Revista de administração de empresas:
e o bem estar através do mercado. São Paulo, v. 54, n. 5, Out. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0034-75902014000500594&lng=en&nrm=iso>.accesso em: 01 Mar. 2015.
Ao partir do pressuposto de que o capitalismo incorpora as críticas destinadas ao seu espírito para http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020140513
que possa adotar práticas mais condizentes com o contexto, destaca-se algumas características
do modelo de negócios sociais tais como a horizontalidade na hierarquia, horários e locais de Boltanski, L.; CHIAPELLO, È (2009). O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes.
trabalho flexíveis, tarefas por demanda e maior participação dos trabalhadores nas decisões,
que visam se apresentar de forma mais sutil aos trabalhadores, contudo permanecem com foco Casaqui, V (2015). A construção do papel do empreendedor social: mundos
em obter maior engajamento dos trabalhadores (Yunus Negócios Sociais, 2017; Boltanski E possíveis, discurso e o espírito do capitalismo1. Galáxia (São Paulo), São Paulo,
Chiapello, 2009). n. 29, p. 44-56. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S198225532015000100044&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 mar./2016.
No site do modelo Yunus e em suas redes sociais é possível encontrar diversas frases de impacto.
Como exemplo, “Sonho com o dia em que não haverá mais pobreza. Com o dia em que as novas Comini, G (2011). Negócios sociais e inclusivos: um panorama da diversidade conceitual.
gerações terão que ir a museus para saber como era viver na pobreza” (YUNUS NEGÓCIOS Instituto Walmart, projeto “Mapa de Soluções Inovadoras – Tendências de 13 empreendedores
SOCIAIS, 2017). Essas frases têm o claro objetivo de angariar e engajar novas pessoas para os na construção de negócios sociais e inclusivos” realizado em parceria com a Ashoka. 2011.
negócios, bem como acontece com o novo espírito do capitalismo (Boltanski E Chiapello, 2009). Disponível em: <http://www.walmartbrasil.com.br/noticias/negocios-sociais-e-inclusivos-um-
panorama-da-diversidade-conceitual/>. Acesso em: 18 set./2015.
Ao retomar a questão de em que medida os negócios sociais se diferenciam da empresa tradicional,
o que conclui-se é que embora possuam algumas características distintas, os negócios sociais Évora, I (2006). Metodologia qualitativa: experiências em psicologia social. Seminários em
se assemelham muito as empresas tradicionais, dado que muitas características desse que se Psicologia, Universidade Autonomia: Lisboa.
diz novo modelo, parecem ser novas roupagens para velhas ideologias, mesmo porque a empresa
tradicional também vem se modificando e oferecendo mecanismos de controle e engajamento Godoi, C. K.; Bandeira-de-mello, Rodrigo.; Silva, A (2006). Pesquisa qualitativa e o debate sobre
mais sutis aos trabalhadores. a propriedade de pesquisar. In________. (Org.) GODOI, Cristiane. K.; Bandeira-De-Mello, R.; Silva,
A. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São

1093 1094
Paulo: Saraiva. Capítulo 107
Godoy, A. S (1995). Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de
Empresas. São Paulo, v. 35, n. 3, p. 20-29, mai/jun. 1995.
La formación discursiva del management en la literatura europea del
Siglo XIX. Construcción del relato managerial y sus actores1
Minayo, M. C. S (2003). Pesquisa social: Teoria, Método e Criatividade. Rio de Janeiro: Vozes.
Yunus, M (2008). Um mundo sem pobreza: a empresa social e o futuro do capitalismo. São Sandra Farías2
Paulo: Ática.

______ (2010).Criando um negócio social: como iniciativas economicamente viáveis podem La revolución industrial fue la fuerza conductora en una época de grandes transformaciones
solucionar os grandes problemas da sociedade. Rio de Janeiro: Elsevier. del campo económico, algo que llevó a contar con nuevos actores en ese espacio y desafió la
existencia intelectual de ese periodo. Esto condujo a pensar en nuevos marcos de interpretación
Yunus social business (2004). Growing business that matter. Disponível em: <http://www. de esa escenografía, por medio de nuevos conceptos y a través de otras herramientas, a efectos
yunussb.com/wp-content/uploads/2014/09/YSB-Investment-Report-Web.pdf>. Acesso em: de explicar y analizar ese nuevo modelo que emergía en la acción económica, pero también en la
25 fev./2015. propia acción empresarial. (Chandler, 1987).

______ (2015). Social business. Disponível em: <http://www.yunussb.com/>. Acesso em: 25 La llamada revolución industrial, muy especialmente la que tiene lugar en la primera mitad del
fev./2015. siglo XIX, será el espacio temporal donde se desarrolla con mayor fuerza, principalmente en
Inglaterra y con algunas manifestaciones de cierto peso en otros países de Europa (Bélgica,
Yunus negócios sociais (2017). Negócios Sociais. Disponível em: <http://www. Holanda y Francia), la especialización productiva y el surgimiento de nuevas empresas.
yunusnegociossociais.com/>. Acesso em: 16 Jan./2017.
Estos hechos llevan a que la naturaleza económica de buena parte de esos sectores de la economía
sean más intensivos en la incorporación de capital, tecnología y gestión empresarial, dando lugar
a la llamada “Empresa moderna” que tendrá como rasgo distintivo el de crear varias unidades
de producción que deberán ser administradas por una jerarquía particular, los altos ejecutivos, a
los que luego se denominará managers. (Valdaliso y López, 2008).

Este artículo indagará cómo esas marcas socio históricas que provinieron de la revolución
industrial, están presentes en la empresa moderna y se visibilizan a través de cargos, funciones y
un tipo de comportamiento diferente que lenta, pero progresivamente, creara el género literario
del management, entendido como una teoría de gestión que establece valores propios a las
estructuras económicas y da lugar a un discurso concreto que aspira a tener un alto valor
1. El presente trabajo forma parte del Proyecto de Investigación “Las Organizaciones Económico Empresarias de Paraná y su relación con la
responsabilidad social empresaria la sostenibilidad y el medio ambiente”, integrado por docentes investigadores, estudiantes y graduados de la
Facultad de Ciencias Económicas de la UNER y dirigido por el Dr. Manuel Cavia.
2. Facultad de Trabajo Social UNER. Email: sandrafarias@live.com.ar

1095 1096
pragmático (Cavia, 2013). Pero también es posible encontrar, en este caso a mediados del siglo Inglaterra, este país era aun marcadamente agrario y al momento de su muerte era claramente
XIX, las marcas y condiciones socio históricas de las transformaciones del capitalismo, además industrializado.
de las formas de argumentar, narrar o persuadir que circularon en una determinada sociedad.
La novela de Gaskell fue muy exitosa cuando se inició, atento que se publicó en un periodo de
Por ello, el artículo pondrá su interés en analizar cómo la literatura de la época reflejó la ideología 22 entregas, teniendo como eje, además de las particularidades de sus personajes, de como
del management, su lucha por dejar en el pasado el antiguo régimen y como se reforzará el nuevo ellos se encuentran inmersos en la problemática que se desata en la disputa entre obreros y
orden, las nuevas formas de trabajo, las organizaciones a gran escala, la naturaleza del liderazgo, patrones y la propia vida del personaje central no se vuelve más favorable, más cuando los
la construcción de la autoridad empresarial; en síntesis, esa nueva forma vida industrial a gran problemas económicos y sociales que debe afrontar son altamente severos, teniendo siempre
escala y los problemas humanos de una civilización industrial y las controversias que se dieron como trasfondo ese mundo industrial.
desde sus comienzos.
La obra titulada Tiempos difíciles de Dickens, también será una novela publicada por entregas
Tomar la literatura para ver estas marcas socio históricas, nos introduce a la posibilidad de formato que, por cierto, era parte de la modalidad que se usaba en aquella época en la que no
un análisis comparativo de los vínculos en las complejas relaciones que ella plantea. Además, todo el mundo poseía los recursos para comprar un libro. En términos generales, buena parte de
esta propuesta nos permite desarrollar una interpretación alternativa, en este caso vía una elite la obra de Dickens se ocupa de describir las deplorables condiciones de las clases proletarias. En
intelectual que pone en consideración los frescos de la cultura intelectual burguesa y el análisis esta obra, como se verá, destaca cómo la clase proletaria tendrá en el trabajo su único modelo de
implícito con que nos encontramos en los textos seleccionados y la posibilidad de reencontrarnos vida por seguir y el de los patrones que se dedicara a controlar la vida y disciplina en las fábricas.
con el “espíritu del tiempo” y ese sistema de ideas, símbolos comunes y los sentidos de vida que
expresan los personajes de las novelas. (González García, 1987). En cuanto a la tercera obra que integra el corpus, ”El Paraíso de las damas” de Emile Zola, fue
publicada en Francia en 1883. La novela tendrá a Francia como el espacio donde se desarrolla
Consideraciones con respecto al corpus y narra la historia de una joven provinciana que por diversas circunstancias va a vivir a París y
comienza a trabajar en los antiguos almacenes que existían y, en ese contexto, el relato da cuenta
El corpus es un conjunto de secuencias discursivas estructuradas según un plan definido con de cómo esos comerciantes son incapaces de adaptarse a los nuevos tiempos, pero también
referencia a un tipo de discurso que, en este caso, lo constituyen los diferentes textos referentes de cómo ese modelo de comercio es reemplazado por otros, en donde los grandes almacenes
a la temática del management del siglo XIX. Por ello, el corpus seleccionado tiene una entidad, emergerán como el modelo a seguir y también de cómo serán esos grandes almacenes los que
posee un origen a partir del cual comienzan a aparecer cuestiones de forma y fondo que se hundirán a los pequeños. En ese contexto habrá una clara descripción de los perdedores de ese
reiteran en las obras inherentes al género; en el caso de este tipo de literatura, las reiteraciones proceso y sus incapacidades para adaptarse a los nuevos ritmos de los tiempos.
son significativas en la reproducción del género en su totalidad.
Es importante destacar que, más allá de las particularidades que se dan en los dos países, lo
El corpus seleccionado está integrado por tres novelas, dos de ellas escritas por autores ingleses constante serán esos rasgos que impondrá el proceso de industrialización y que vendrán para
y publicadas en Inglaterra, a mediados del siglo XIX: Norte y Sur de Elizabeth Gaskell de 1855 quedarse. La industrialización será pensada como obra de una naciente clase empresarial que
y Tiempos difíciles de Charles Dickens de 1854. Ambas tendrán como escenario la Inglaterra busca el reconocimiento social de los grupos gobernantes al mismo tiempo que, sus ideas y
encaminada hacia fuerte proceso de desarrollo industrial, además de la caracterización de esa actividades económicas, desafiaran las tradiciones de los otros grupos políticos. Esta nueva
época como victoriana, algo íntimamente imbricado con la revolución industrial, denominación condición socio-profesional que emerge en este periodo, o sea los antecesores de los hoy
que se toma del extenso reinado de Victoria (1837-1901), algo que implica cambios profundos llamados managers, serán los directores de la organización técnica e industrial, siendo por
en cuanto a los aspectos culturales, políticos y económicos ya que cuando ascendió al trono de cierto, los fundamentos materiales indispensables de cualquier espacio de las civilizaciones

1097 1098
modernas desde su propia perspectiva. en los enunciados construidos para la ficción. Para poder validar estos enunciados realizamos
un recorrido conceptual comparativo con el fin de constatar si la ficción está encuadrada dentro
El manager y el discurso del management. Los enunciados como acontecimientos discursivos de los mismos a priori históricos que constituyen las condiciones de posibilidad de los discursos
que se analizan en esta investigación. “Los espacios de saber de una época están sostenidos
La producción a gran escala, la expansión de las actividades, las plantas de personal cada vez por los a priori históricos definidos por ella. Los a priori históricos de cada época establecen las
mayores fueron consecuencias directas del crecimiento del capital y del cambio de la propiedad condiciones de posibilidad del saber, entendidas estas como el entramado histórico definido por
de la industria. Este escenario demandó de una administración experta que fuera ejercida por el conjunto de las prácticas discursivas. (...) Las condiciones de posibilidad de formulación de
cuadros diferentes a los dueños del dinero, que tuvieran la capacidad de enfrentar condiciones enunciados están socio – históricamente ancladas.”(Zangaro, 2011: 60)
cada vez más exigentes, no ya por las ganancias de su participación de capital sino por un
salario. La coyuntura donde estos nuevos emprendedores hicieron su aparición, les exigió El entorno en que se publicaron las novelas que integran el corpus marca cómo estos relatos
además creatividad, espíritu aventurero y una gran capacidad de aprender a gran velocidad y de encuentran su lugar en el contexto social del proceso post industrial y se convierten en espejo
manera autodidacta. (Sheldon, 1969). Estas características del incipiente manager, director o de la formación de un nuevo grupo social. La narración se convierte en narrativa de un proceso
administrador, se conservan en la actualidad a pesar de los cambios y la evolución de la actividad histórico que presta escenario y personajes de ficción a algo que se estaba gestando, ocupando
empresarial. Florencia Luci lo describe en La Era de los Managers: las calles, forzando nuevas relaciones laborales, y creando nuevas organizaciones.

“Se describe a los managers como a las personas de extracción generalmente media o La primera edición del libro Norte y Sur como tal apareció en 1855 (en dos volúmenes), seguida a
baja que, sin ser los dueños del capital, llevan adelante el proceso de valorización. Esto los pocos meses por una segunda edición. Pero un año antes la novela fue difundida en la revista
implica la preocupación central de los patrones de lograr que un grupo de asalariados “Household Words”, en veintidós entregas semanales (desde septiembre de 1854 hasta enero
dirija con eficacia una organización que no les pertenece, obtener su lealtad e implicación de 1855). La revista, publicada en Inglaterra a partir de 1850 y dirigida por Charles Dickens,
y además poder controlarlos.” (Luci, 2016) lleva un nombre tomado de la obra de Shakespeare “Enrique V” y la frase completa donde se
encuentra, significa “familiar en sus bocas como palabras domésticas”. El contenido de este
Como ya hemos señalado, el objeto concreto de estudio de esta investigación se construye a periódico incluye textos breves originales de ficción y artículos de periodismo social de lucha.
partir de tres novelas escritas en Francia e Inglaterra durante la segunda mitad del siglo XIX. La
selección tiene que ver por un lado con la temática de las novelas, es decir, lo escrito, y por el otro John M. L. Drew , en Dictionary of Nineteenth-Century Journalism, comenta acerca de “Household
con lo posible de escribir (lo decible) en esa época (Angenot :2010), para lo cual servirá el corte Words” que el contenido fue “algo bastante híbrido, (…) estaba dirigida a familias de clase
sincrónico arbitrario establecido. El material consultado acerca de la historia del management media y personas de influencia, pero también a lectores de la clase trabajadora que estaban
sugiere considerar como eje temporal la segunda mitad del siglo XIX y la primera del siglo XX. interesados en mantenerse actualizados. De los más de 380 contribuyentes, alrededor de 90
Y como centro geográfico, Europa occidental, principalmente Inglaterra y Francia, teniendo en eran mujeres pero la mayoría de los artículos fueron escritos por un pequeño cuerpo integrado
cuenta los procesos diferentes de evolución tanto de la industrialización como del pensamiento. por redactores fijos o por personal de “cabecera” a quienes Dickens entrenaba para que
La decisión metodológica de trabajar con obras literarias permite abordar la personalidad de escribieran en un estilo claramente Dickensiano y que comulgaban con la agenda ampliamente
los incipientes “managers” como la construcción de un personaje de ficción, y de esta manera Liberal de su Editor.”3 (Drew, 2009). En esta referencia no se amplía el alcance del término
reconstruir su lenguaje, recuperar expresiones y conectar el uso individual de la lengua con el “dickensiano” para definir el estilo de escritura, un término ampliamente usado y con diversos
contexto. fines. En principio, y tan sólo para describir el tipo de publicación de la que hablamos, ésta está
teñida de la crítica a la pobreza y a la estratificación social de la sociedad victoriana. A través de
Buscamos dar cuenta de la formación discursiva del management a través de las diversas marcas 3. Mi traducción.

1099 1100
sus trabajos, tanto literarios como periodísticos, Dickens mantenía una empatía por el hombre No sólo la práctica discursiva constituye y construye el mundo de significados posible y pensables
común y un escepticismo por la familia burguesa. Una de las características relevantes de su sino que además lo significa y lo transforma. “El discurso es un modo de acción de las personas
estilo era la parodia, la descripción de la realidad a través del cinismo, a veces revelado a través sobre el mundo y sobre las otras personas, al tiempo que un modo de representación”, (Zangaro,
de los personajes, sus nombres, o las analogías entre la vida real y la ficción. La mayoría de sus 2011).
novelas están relacionadas con el realismo social, enfocándose en mecanismos de control social
que dirigen las vidas de las personas, como por ejemplo en las redes industriales en Tiempos Conclusiones
difíciles y en códigos de clase hipócritas y excluyentes. Quizás su propia infancia de insolvencia
y marginación social pueda ser leída entre líneas en varias de sus obras. En Tiempos Difíciles, La construcción de la formación discursiva que hizo posible la circulación de un discurso social
Dickens presenta a un personaje, un empresario prominente, que tuvo, según él mismo afirma, como el del management debió valerse de teorías basadas en postulados ideológicos válidos
un origen de total marginación, y que se superó a sí mismo y es el artífice de su propio éxito para articular una relación entre jefes y obreros. “Se atribuyeron a empleadores o directores
y superación social y económica. En el discurso que conforma el personaje del Sr. Bounderby, cualidades de excelencia que los hicieron parecer dignos de las posiciones que ocupaban. (…)
formado principalmente por frases generalizantes de lo que es importante y lo que no, de cómo se El ejercicio de la autoridad también estaría justificado en términos de la posición subordinada
debe vivir y proceder, existen marcas de historias reales de la vida de Dickens, y los enunciados “por naturaleza” de la mayoría que obedece. A esto se agrega a menudo otra referencia al orden
son presentados desde la burla, provocando un efecto descalificador sobre los argumentos de social que significa una promesa para la mayoría que, con el debido esfuerzo, podría elevarse y
Bounderby. “yo no tenía zapatos que ponerme” – dice Bounderby en un pasaje de la novela, aún avanzar hacia posiciones de autoridad.(…)” (Bendix,1966)
“en cuanto a calcetines, no los conocía ni de nombre siquiera. Pasaba el día en una zanja y la
noche en una pocilga. Así celebré mi décimo cumpleaños.” Y continúa, “durante años fui una de Hemos recorrido el corte temporal analizado en este trabajo y hemos podido poner en paralelo
las criaturas más míseras que han existido…Iba tan desarrapado y tan sucio que ni con pinzas los textos y relatos literarios con la literatura socio histórica que da cuenta de este período. Tal
hubiera usted podido tocarme”. Y luego contrasta estos malos orígenes con su éxito posterior. como en la realidad, los relatos de ficción aparecen tensionados por ideales que se complementan
“Ignoro en absoluto cómo resistí todo esto. Sospecho que a fuerza de voluntad. … Y heme aquí, y se oponen a la vez, y si bien en las obras literarias los hechos están narrados desde la estética
ya ve a lo que he llegado, señora Gradgrind, y esto sin tener que agradecerlo a nadie sino a mí de la emoción y el éxito, las historias y las acciones de los personajes retratan un ajuste de la
mismo”. Dickens (2004: 22). moral que termina confirmando los ajustes de la moral social. (Sarlo 2011)

Tiempos difícil, de Charles Dickens, también fue difundida a través de una serie de entregas Bibliografía
semanales, en la publicación ya comentada.
Angenot, M. (2010), El discurso social, los limites históricos de lo pensable y decible. Buenos
El paraíso de las damas, cuyo título original en francés es Au Bonheur des Dames (A la alegría Aires: Editorial Siglo XXI.
de las damas), se publicó por primera vez en 1883. Es el volumen número once de la serie Les
Rougon Macquart, de este autor. Los Rougon-Macquart son una familia cuya historia se cuenta Bardin, L. (1977), Análisis de contenido. Madrid: Akal.
en una serie de veinte novelas, escritas entre 1871 y 1893. Lleva como subtítulo “Historia
natural y social de una familia bajo el segundo imperio”. Zola describe la sociedad durante el Barthes, R. (1990). La aventura semiológica. Barcelona: Paidos
Segundo Imperio de manera exhaustiva, sin olvidar ninguno de sus componentes, dando cabida
a las grandes transformaciones que se producen en esta época: urbanismo parisino, grandes Bell, D. (1991) El Advenimiento de la sociedad post-industrial. Un intento de prognosis social.
almacenes, desarrollo del ferrocarril, aparición del sindicalismo moderno, etc. Madrid: Alianza Editorial

1101 1102
Bendix, R (1966), Trabajo y autoridad en la industria. Las ideologías de la dirección en el curso Ediciones Argentina S. A.
de la industrialización. Buenos Aires: Eudeba
Sombart. W. (1979), El Burgues. Madrid: Editorial Alianza.
Bourdieu, P. (2014), ¿ Qué significa Hablar?. Economía de los intercambios lingüísticos. Buenos
Aires: Akal. Valdaliso , J y López, S. (2008), Historia económica de la empresa. Barcelona: Critica

Burnham, J. (1941), La revolución de los directores. Las ideas que conmueven al mundo. Buenos Zagaro, M. (2011). Subjetividad y Trabajo. Una lectura foucaultiana del management. Buenos
Aires: Editorail Claridad. Aires: Ediciones Herramienta

Burke, E. (2209), Vindificación de la sociedad natural. Madrid: Editorial Trotta. Libros que componen el Corpus:

Cavia, M (2013) La responsabilidad social empresaria en el discurso de diferentes instituciones Gaskell, E. Norte y Sur (2005) Barcelona, Alba Editorial
y actores sociales. Entre Ríos: La hendija
Dickens, C. (2010) Tiempos Difíciles. Barcelona: RBA Libros.
Chandler, Jr (1987) La mano visible. La revolución en la dirección de la empresa norteamericana.
Madrid: Ministerio de trabajo y seguridad social. Zola E. (2013) El Paraíso de las Damas. Barcelona: Alba Editorial

Du Gay, P. (2000) En Elogio de la Burocracia. Weber. Organización. Ética. Madrid: Siglo XXI.

Foucault, M. (1970), La arqueología del saber. México: Editorial Siglo XXI.

González García, J. (1987), La máquina burocrática (afinidades electivas entre Max Weber y
Kafka). Madrid: Editorial Visor

John M. L. Drew © Dictionary of Nineteenth-Century Journalism (Academia Press and the British
Library, 2009) en Dickens Journals Online. Recuperado de: http://www.djo.org.uk/indexes/
journals/household-words.html

Luci, F. (2016). La era de los Managers. Hacer carrera en las grandes empresas del país. Buenos
Aires: Paidós.

Sarlo, B. (2011). El imperio de los sentimientos. Narraciones de circulación periódica en


Argentina. Buenos Aires: Siglo XXI

Sheldon, O. (1969). En La Filosofía del Management (pp. 33-36). Buenos Aires: Hyspamerica

1103 1104
Capítulo 108 implementó observación participante, entrevistas en profundidad y análisis de documentos.

Caracterización de la organización objeto de estudio


El impacto cultural en los procesos de managerialización en el gobierno local.
Estudio de caso La organización objeto de estudio es un municipio ubicado en el denominado primer cordón del
Gran Buenos Aires de la República Argentina. La organización brinda servicios a los ciudadanos
Hernan Manzotti1 en Educación, Salud, Desarrollo Social, Seguridad, Servicios Públicos, Gobierno, Cultura y
Deportes.

Introducción La estructura de la organización es de tipo jerárquica, piramidal, vertical y compleja. Cuenta


además con departamentos funcionales y especializados con dependencias, estructurados en
En la República Argentina, históricamente los gabinetes de gobierno nacionales, provinciales y Secretarías. La cadena de mando es rígida y las comunicaciones son verticales y formales, por lo
locales se conformaron con cuadros de mando generado por integrantes que podíamos denominar que podríamos identificarlo con el modelo de una Estructura Mecanicista (Chiavenatto, 2009).
militantes del partido político vencedor. Se trataba de funcionarios con una gran formación en Al abordar el análisis estructural desde la propuesta teórica de Mintzberg (1996) se observan
cuadros políticos y, en algunos casos con formación específica de sus áreas de incumbencia. características tanto de la configuración denominada Burocracia Mecánica como también de la
Esta situación se modifica en los últimos años en la organización objeto de estudio. En las configuración Burocracia Profesional.
elecciones de octubre de 2011 obtuvieron la mayoría de los votos quienes hasta ese momento
se identificaban como la oposición de una gestión que había gobernado la ciudad por 24 años. Para analizar la Cultura de la organización objeto de estudio partiré de la concepción y el modelo
Con la consiguiente renovación de los gabinetes de gobierno de la organización, se incorporaron teórico de análisis basado en el análisis longitudinal-procesual, rescatando como concepto base
funcionarios provenientes de organizaciones privadas, de capitales nacionales y/o extranjeros, los dramas o hitos acaecidos en la organización que generan cambios en la cultura de la misma
siendo los sucesores de aquellos cuadros medios de conducción del capitalismo argentino. Muy (Pettigrew, 1980). Resulta entonces imprescindible considerar la historicidad de la organización.
pocos de los nuevos funcionarios contaban con experiencias de gestión y/o conducción en el El hito organizacional que genera el cambio cultural en el período analizado se centra en el
Estado o Empresas del Estado. cambio de gestión ocurrido en el año 2011. El cambio de gestión se centró en primer lugar en
una mirada diferente hacia el principal destinatario de los servicios prestado por la organización:
El presente trabajo tiene por objeto describir los procesos de managerialización del área de el vecino. Esto se manifestó en las diferentes dimensiones definidas por Scholz (Hodge, 2003)
Recursos Humanos2 en una organización municipal del Gran Buenos Aires de la República en la evolución de la nueva concepción plasmada a través de diferentes etapas, como así también
Argentina y sus consecuencias en la cultura organizacional. El punto de partida del estudio se el trabajo realizado internamente, a través de la concientización a los empleados municipales del
basa en un supuesto inicial que considera incompatible la implementación de las herramientas nuevo modelo y la dimensión externa, centrado en los vecinos del partido.
y técnicas de gestión de Recursos Humanos a las realidades de las culturales organizacionales
de los gobiernos locales. Desarrollo

La metodología utilizada en éste caso se basó en un Estudio de Caso. Se utilizó diseño descriptivo, a.Los cambios generales
apoyado en un abordaje cualitativo. Se trabajó a partir de una combinación de técnicas. Se
1. Email: lic.hernanmanzotti@gmail.com El atravesamiento contextual de las organizaciones (Aglamisis, 2000), y en especial, en esta
2. Si bien se han generado modificaciones trascendentales en todo el sector, el trabajo se centrará en dos implementaciones específicas: la
correspondiente al proceso de Evaluación de Desempeño y la creación del área de Comunicación Interna.
organización se vio reflejado claramente al producirse un cambio de gestión. La nueva gestión trajo

1105 1106
consigo la incorporación de funcionarios provenientes de organizaciones privadas de capitales gestión anterior en lo que respecta a la metodología de diseño de la herramienta, los alcances y
nacionales y/o extranjeros, siendo los sucesores de aquellos cuadros medios de conducción del público a quien estaba destinado. Las diferencias radicaban en:
capitalismo argentino identificado por Szlechter (2015). Muy pocos de los nuevos funcionarios - La concepción de la evaluación
contaban con experiencias de gestión y/o conducción en el Estado o Empresas del Estado. - La evolución del concepto dentro de la organización
- La implicancia del resultado de la evaluación
El cambio de gabinete trajo aparejado lo que Pettigrew (1980) define como un “drama social” - Los roles de evaluador.
o “hito” en la organización, basándose en que el cambio no es solo una modificación superficial
que implique continuidad, sino que lleva consigo un cambio que afecta desde los valores, la Una característica distintiva desde el momento de la implementación de un sistema en el que
ideología, hasta el lenguaje, los ritos y mitos de la organización. se reconozca el desempeño de los empleados radicó en los diferentes cambios que tuvo la
herramienta, como así también las implicancias. El cambio sustancial se produce con la creación
En el área específica de Recursos Humanos los cambios se fueron generando paulatinamente. de un Diccionario de Competencias Laborales de la organización. El espíritu del diccionario
Al comienzo de la nueva gestión se observaron serias dificultades por parte de las nuevas contiene lo planteado por McClelland (1973) cuando indica que la eficiencia de la medición
autoridades para entender ciertas lógicas de los sistemas administrativos y culturales tanto se realiza comparando los exitosos con los que se desempeñan en promedio. El problema es
de las organizaciones estatales en general como en la particularidad de la organización objeto que resulta complejo la incorporación del sistema de competencias teniendo en cuenta que el
de estudio. Se observaron también dificultades en los empleados municipales quienes habían mismo se basa en cualidades “innatas” reemplazando a los requerimientos o las calificaciones
conformado su identidad con marcos referenciales diferentes a los propuestos. necesarias para ocupar y desempeñarse en un puesto (Luci, 2016; Zangaro, 2011).

Al analizar los cambios generados por la nueva gestión, particularmente en temas de Recursos Con estos cambios que fueron incrementándose en complejidad en la herramienta y el proceso,
Humanos, se observa una evidente jerarquización del área. La misma se evidenció en un cambio en se reforzó año a año la idea de la necesidad de reconocer el “esfuerzo” y no atribuirse logros
la estructura organizacional, al obtener el nivel máximo en la estructura. En paralelo, se produce laborales a voluntades de ciertos funcionarios, lo que sería la herencia atribuida mencionada
un proceso de profesionalización, donde los cargos directivos comienzan a ser ocupados por por Van Dollingerregnier (como se citó en Szlechter, 2014). Tal como lo plantean Battistini y
profesionales provenientes de las Relaciones del Trabajo, el Derecho y las Ciencias Económicas. Szlechter (2015) para las grandes firmas, en esta organización se puede observar que el modelo
Se generan otras estructuras directivas internas, especializándose cada una de las Direcciones de gestión por competencias termina posicionado el “carácter ideológico del mérito como
a cargo. principal criterio para la edificación de categorías”. Como reforzamiento de la idea de mérito, se
implementó una Bonificación por Desempeño Destacado, apoyados en la noción de los teóricos
b. La Evaluación de Desempeño del Capital Humano cuando sostienen que la “productividad se ve reflejada en la remuneración”
(Becker, 1962; Schultz, 1948).
Como parte de la nueva mirada propuesta y el proceso de profesionalización, se decide volver a
implementar un sistema de Evaluación de Desempeño. La evaluación tenía como destinatarios a Cuando intentamos indagar más allá de los objetivos manifiestos de la evaluación de desempeño,
los comprendidos en la carrera municipal hasta el nivel de Director inclusive, quedando excluidos comienzan a evidenciarse los impactos en la cultura de la organización, con la transferencia
quienes ocupaban los cargos considerados como “políticos”3. de los “saberes gerenciales o manageriales”. Se observaron en los directivos que solicitaban
a sus empleados que tengan “pasión” por el trabajo que realizan. Esta “pasión” debía ser
El nuevo sistema de Evaluación de Desempeño guardaba similitudes con los implementados en la llevaba adelante por lo que denominaban “equipo”. Se utilizaba el término “equipo” en lugar
del de “Grupo de Trabajo” (Bion, 1972), basado sobre todo en concepciones manageriales.
3. Es dable aclarar que si bien no se trata de sistemas de evaluación para niveles gerenciales o manageriales como es el caso de los textos planteados
en el material bibliográfico (Battistini, y Szlechter, 2015; Szlechter, 2013, 2014, 2015), considero resulta pertinente la asociación.
Un dato destacable es que la conformación de estos “equipos” tuvieron una transformación

1107 1108
importante en lo referente la franja etaria a través de la incorporación de “millenians” (Molinari, “vecinos” “colaboradores”, “gestión” y “gente”, respectivamente.
2011). Serán entonces quiénes puedan responder a la necesidad de “pasión” solicitada por las
autoridades. Rescato entonces el sentido clásico del término donde “la pasión designa todos los La propuesta comunicacional de basa en la idea de idea de “cercanía” y la invitación a ser
fenómenos en los cuales la voluntad es pasiva y queda subordinada a los impulsos e instintos” “protagonistas del cambio”. No apunta solo a cambiar las técnicas de comunicación, sino
(Szlechter, 2015, p.30) También, este “equipo” en ocasiones se transforma en “la familia también los modos y procesos de identificación. Arribando de ésta forma a un planteamiento
municipal” aportando una mirada un tanto más primarizada, y por ende, confusa, a la relación de la identidad institucional, entendida como el efecto público del discurso de una identidad
vincular laboral (Rojas Breu, 2002). (Chávez, 1994)

Este cambio cultural afecta a quienes ocupan cargos jerárquicos no políticos, los que en su Situación similar se observa en eventos destinados a los empleados de la organización.
gran mayoría, son trabajadores municipales profesionales con antigüedad que por un lado deben
cierta “lealtad” a sus nuevos superiores y por otro lado son cuestionados por los empleados a su Otra característica distintiva del cambio en la estrategia comunicacional se basa en la presencia
cargo. En el proceso de Evaluación de Desempeño se encuentran con la necesidad de “ubicar” a en las redes sociales. Las diferentes TICs (Tecnologías de Información y Comunicación) son
su personal en base a lo pautado por la “distribución normal” prevista en la Campana de Gauss, utilizadas en su totalidad como forma de promoción, publicidad o propaganda. Las relevadas
sin perder de vista que ellos mismos también pasarán por esa situación al ser evaluados. Es son la web del empleado municipal, los correos electrónicos, whatsapp, facebook, twitter y un
importante aclarar que el proceso es completamente rígido y no contempla excepciones. canal de You Tube donde se accede a una serie de videos generados por Recursos Humanos. De
hecho, se “privilegia” tanto en forma interna como externa que el contacto se realice por redes
Se pueden detectar entonces diferentes focos de resistencia (Szlechter, 2014,p.64) en el sociales. La tendencia es a que los empleados municipales utilicen para realizar sus consultas
proceso de implementación de la evaluación de desempeño. En algunos casos es el trabajador e incluso trámites via web del empleado. La dificultad radica que al consultar la cantidad de
el que aumenta su sujeción al trabajo como mecanismo de defensa contra la angustia que empleados que se encuentran registrados en la web la misma representa solo un 23% del total
genera la misma organización (Aubert y de Gaulejac, 1991). Es lo que Szlechter denomina “foco de los empleados.
de resistencia en el trabajo”. La resistencia también se manifestaba alrededor del trabajo,
considerando el mismo solo como un medio que le permite realizar las actividades realmente En las diversas piezas comunicacionales analizadas4, las aserciones (Verón, 1985) aparecen
deseadas. Diversas fueron las manifestaciones de resistencia contra el trabajo, siendo desde claramente en cada uno de ellos, no dejando de lado los aspectos propagandísticos. Teniendo
muy sutiles (ausentismo por licencias medicas prolongadas) hasta más explícitos (acciones que en cuenta los medios seleccionados, el lenguaje y la gráfica los destinatarios principales son el
generaban sanciones disciplinarias). público joven.

c. La Comunicación Interna En las piezas comunicacionales observadas se detecta un estilo discursivo social. Como
plantea Sznaider (2015) las fronteras socio discursivas se relacionan con los componentes
Los procesos de cambio organizacional y su impacto en la cultura de la organización se vieron regionales, políticos, generacionales y son transformados históricamente. Las propuestas de
reflejados en las políticas comunicacionales implementadas. En primer lugar, partimos de cambio reflejadas en la política comunicacional abarcó las dimensiones tanto política, técnica
la base que el cambio se manifiesta en tanto en el discurso manifiesto como en las piezas como comunicacional propiamente dicha, contemplando los elementos básicos de la Imagen
comunicacionales que se han generado. Institucional: realidad, identidad, comunicación y lenguaje. (Chaves, 1994)

Respecto de los conceptos utilizados para comunicar, dejaron de utilizarse algunos como
4. Las piezas comunicacionales analizadas fueron las publicaciones las destinadas al personal municipal: correos electrónicos, página web, las
“contribuyentes”, “militantes”, “administradores” y “pueblo”. Fueron reemplazados por publicadas en las redes sociales mencionadas, los boletines informativos y los videos publicados.

1109 1110
Conclusiones
Chaves, N.(1994) La imagen corporativa. Teoría y metodología de la identificación institucional.
La implementación de un sistema de evaluación de desempeño basado en el modelo de México: Gedisa Diseño.
competencias en un organismo público deja en evidencia la persistencia del espíritu managerial,
entrando en contradicción con los objetivos estratégicos de los organismos públicos. Por otro FERNÁNDEZ, J.L. y SZNAIDER, B. (2012) Comunicación de Gobierno: reflexiones en torno a un
lado, resulta curioso que ante la impronta de expertise esgrimida por las nuevas autoridades, se objeto. Pensar la Publicidad, 6 (2), 489-515.
hayan realizado cambios tan significativos en las concepciones, procedimientos y herramientas
de evaluación. Luci, F. (2016), La educación de los dirigentes de empresas. La formación en negocios y el
acceso a la cúpula de las principales organizaciones. En V. Gessaghi y S. Ziegler (comps.) La
Mas allá de la necesidad de organización de instalar la idea de cambio como parte fundamente formación de las elites. Investigaciones y debates en Argentina, Brasil y Francia. (pp. 227-247).
de la Identidad resulta importante la revisión de las políticas de Comunicación Organizacional ya Buenos Aires, Argentina: Manantial-Flacso.
que como lo señalan Fernandez y Sznaider (2012) “todo elemento de la institución de gobierno
comunica” y es la institución como producto de su propio acta de enunciación la que inscribe en Molinari, P. (2011) Turbulencia generacional. Buenos Aires, Argentina: Temas.
su discurso y construye una imagen de si misma y de aquel al que se dirige.
Pettigrew A.(1980) Acerca del estudio de las Culturas Organizacionales. Buenos Aires,
El reforzamiento también se refleja en los conceptos de meritocracia empleados en estos Argentina: EPSO.
procesos, en ocasiones más orientados a la “supervivencia del más apto” darwiniana que a
los aportes posibles de un trabajador en relación de dependencia. No obstante, y más allá de Rojas Breu, R. (2002) Método Vincular. El Valor de la Estrategia. Investigación Social, Estrategia
ciertas actitudes de consentimiento a las medidas, se observan claras resistencias, algunas más y Comunicación. Buenos Aires, Argentinas: Ediciones Cooperativas.
saludables y otras que dejan manifiestos los altos costos de la adhesión pasional (Aubert, y De
Gaulejac, 1993) a una organización. Szlechter (2014); El malestar en el orden meritocrático managerial. Una problemática de grandes
empresas de la Argentina. Revista de Ciencias Sociales de la Universidad de la República, 27
Referencias (35), 49-70.

Aglamisis J., Rojas Breu R., (2000) Análisis contextual. Ficha de Cátedra. Buenos Aires, Szlechter, D. (2013); La segmentación del mercado interno de trabajo gerencial. Revista
Argentina: UBA. Latinoamericana de Estudios del Trabajo, 29, 13-51.

Aubert, N. y De Gaulejac, V. (1993) El Coste de la Excelencia. ¿Del Caos a la lógica o de la lógica Szlechter, D. (2015) Consentir y resistir. Las contradicciones del mundo del management de
al caos? Barcelona, España: Paidos Iberoamérica. empresas transnacionales en la Argentina. Los Polvorines, Argentina: UNGS.

Battistini, O. y Szlechter, D. (2015) Carrera meritocrática y desmovilización permanente: cara Sznaider, B.(2015) De las ciencias sociales, del fenómeno macrista, de la comunicación y de
y seca del trabajo managerial. El trabajo en su laberinto. Viejos y nuevos desafíos. Ponencia otras yerbas. Revista Sociales, 87, 80-85
presentada en el 12vo. Congreso Nacional de Estudios del Trabajo. Buenos Aires, Argentina.
Verón, E. (1985). “El análisis del contrato de lectura, un nuevo método para los estudios de
Bion, W. (1972) Experiencias en Grupos. Buenos Aires, Argentina: Paidos. posicionamiento de los soportes de los media”. En: Les medias: experiences, recherches

1111 1112
actuelles, aplications. Paris, Francia : IREP Capítulo 109
Verón, E. (1987) “La palabra adversativa. Observaciones sobre la enunciación política” En El
discurso político. Lenguajes y acontecimientos. Buenos Aires, Argentina: Hachette.
La dirección (administración) de las organizaciones como un proceso regulador
de tensiones entre el mundo material y el inframundo simbólico
Von Dollingerregnier (2006). O que conta como merito no proceso deseleção de gerentes e
executivos: uma análise baseada na oferta de empregos nos anuncios clasificados. Tesis de Arturo Andrés Pacheco Espejel1
doctorado en Ciencias Sociales. Universidades Federal do Rio de Janeiro, Brasil. En Szlechter
(2014); El malestar en el orden meritocrático managerial. Una problemática de grandes
empresas de la Argentina. Revista de Ciencias Sociales de la Universidad de la República, 27 Introducción
(35), 49-70.
El objetivo central del presente trabajo es, desarrollar una concepción integral de la
Zangaro, M. (2011). Capitalismo industrial y capitalismo cognitivo: gestión del saber y estrategias administración, entendiéndola como un tipo particular de praxis, la cual tiene como fin, regular y
de control. En M. Ruvituso (comp.) Cuadernos de pensamiento biopolítico latinoamericano 1, (pp. manejar las tensiones inherentes a la dinámica organizacional; dichas tensiones son el resultado
57 a 62) Buenos Aires, Argentina: UNIPE. de la convivencia de dos mundos: el material de “las cosas” y el inframundo de los significados.
Se propone pues, una re significación de la praxis administrativa, la cual se puede sintetizar como
un cambio cualitativo en su concepción: de verla -como sucede hoy en día en forma dominante-
como una actividad racional en búsqueda de la eficiencia con base en el control y utilización
al máximo posible de todos los recursos, a entenderla como un proceso político y simbólico
basado en el control de las tensiones que se manifiestan al tratar de alcanzar los objetivos de la
organización.

El texto inicia con la caracterización de metabolismo del fenómeno organizacional como resultado
de cuatro tensiones internas que son, justamente, los “motores” que le dan vida y movimiento
a toda organización.

Posteriormente, se describe la praxis directiva como un proceso de control y regulador de las


cuatro tensiones.

Finalmente, se describe a grandes rasgos, una guía metodológica encaminada al manejo


adecuado de las cuatro tensiones, la cual hemos titulado: Alineamiento Directivo.
Es importante señalar que ya en otros foros académicos, se han presentado algunos avances
preliminares de esta propuesta de re significación de la praxis directiva (por ejemplo, en el II
Congreso Internacional de la Red PILARES II-2012 y IV-2016, en el XVI Congreso Internacional
1. Profesor Investigador de la Universidad Autónoma Metropolitana (México). Email: apachecoe@hotmail.com

1113 1114
de Análisis Organizacional-2018). se rechazan y se necesitan al mismo tiempo: las tensiones políticas (entre individuos y grupos
de poder); las tensiones estratégicas (entre los objetivos organizacionales y las expectativas
1. El metabolismo del fenómeno organizacional. de los actores); las tensiones técnicas (entre la producción material de bienes y servicios y la
producción simbólica de sentidos); y las tensiones estructurales (entre la estructura y la cultura
Alrededor del fenómeno organizacional como objeto de estudio, se han gestado diferentes organizacionales). (Ver Fig. 1).
disciplinas científicas como, por ejemplo, la Sociología de la Organizaciones, la Administración, la
Teoría de la Organización, los Estudios Organizacionales, los Estudios Críticos del “management”; Cabe señalar que las organizaciones también interactúan en forma tensionante con su medio
la Ingeniería Industrial, etc2. ambiente exterior: con sus clientes o usuarios, con las organizaciones proveedoras de sus
insumos, con las instancias gubernamentales, con la Sociedad en general, etc., que por el
Es muy importante señalar que, la gran mayoría de estos enfoques administrativos está momento, escapan al análisis desarrollado en el presente texto3.
fundamentada en perspectivas epistemológicas de corte positivista (Burrell y Morgan, 1979),
que perciben el funcionamiento de las organizaciones como el de una máquina en busca de la
eficiencia; las personas que interactúan en ella se consideran y se manejan como un recurso
más con el que cuenta el administrador para conseguir los objetivos de la organización; y la
Administración misma se entiende como la aplicación acrítica de técnicas en calidad de recetas
universales e infalibles.

Con la argumentación desarrollada en el presente texto, pretendemos poner de pie al mundo


teórico de la Administración tomando como punto de partida, el análisis de las interacciones
cotidianas que tienen lugar entre sus actores, los cuales no sólo buscan producir con su
trabajo, los medios materiales de subsistencia de la sociedad (mercancías para el caso de las
organizaciones con fines de lucro, y bienes y servicios para el caso de organizaciones públicas),
sino que, además, buscan simbólicamente, darle sentido a sus actividades laborales. (Reygadas,
2002). Es decir, el corazón del funcionamiento de toda organización no está en la tecnología o
en los recursos financieros o en su posicionamiento en el mercado, sino en las personas que, Fuente: elaboración propia.
interactuando, la crean y la recrean todos los días; es decir, la esencia de las organizaciones se
encuentra en las relaciones sociales. (Etkin, 2009; Zangaro, 2011). 2. La praxis directiva.

Esta producción simultánea, de satisfactores materiales y de sentidos, por parte de los actores Como sabemos, la Administración interviene a las organizaciones con el fin transformarlas
organizacionales, da lugar a los dos mundos constituyentes del metabolismo de toda organización: con el fin de conseguir unos objetivos previamente determinados; es decir, se trata de una
el mundo material de “las cosas” y el infra mundo “de los significados”, los cuales se encuentran disciplina eminentemente transformadora y no especulativa o puramente teórica, en este
siempre en tensión, fuerte o débil, pero siempre en tensión. (Pacheco, 2012). sentido, podemos entenderla como un tipo específico de praxis4. Así, cuando nos referimos a la
praxis administrativa, lo que queremos decir es que se trata del pensamiento y la acción crítica
Dicho metabolismo se manifiesta a su vez, en cuatro tensiones internas, cuyos componentes 3. Ver: Díaz Mata (coord.), (2016).
4. Praxis es el proceso de pensamiento y acción crítica de transformación práctica de la realidad con base en referentes teóricos. En este sentido praxis
2. Una revisión crítica de las principales corrientes del pensamiento administrativo se pude ver en: Aktouf y Suárez (2012). es la categoría filosófica que une como un todo a la teoría y a la práctica. (Sánchez, 2003).

1115 1116
transformadora de la realidad organizacional a partir de la definición y concreción de objetivos, se mencionó, en las relaciones entre los actores organizacionales en función de sus intereses
orientando hacia ellos los procesos y la estructura, y sustentado todo ello, en la negociación de particulares, individuales y de grupo -con los que se puede estar o no de acuerdo-, tienen lugar
intereses de los actores. dentro de marcos jurídicos concretos. Recordemos que toda acción administrativa es, ante
todo, un acto humano interviniendo en actos entre humanos; y como todo acto humano, está
Es decir, se trata del manejo y control de las cuatro tensiones descritas, a través de un conjunto impregnado de valores, intereses, subjetividades, por lo que no se puede hablar de neutralidad
de metodologías y técnicas específicas para apoyar la operación de cada una de ellas, y que directiva. (Zangaro, 2011).
llamamos “riendas administrativas”. Así, la praxis administrativa consiste en llevar, en forma
simultánea, cuatro “riendas” por parte del cuerpo administrativo, en cada uno de los niveles de Nuestro enfoque pretende salirle al paso y superar el entendido generalizado, de reducir a la
la organización. praxis directiva a una actividad puramente práctica al limitarla a un “saber hacer”, bajo el
supuesto equivocado de que cualquier persona puede dirigir bien una organización. En este
La “rienda” estratégica está orientada a manejar y controlar la tensión entre los objetivos de sentido, no se encontrará aquí, una receta más de esas que hoy en día inundan la literatura del
la organización y las expectativas de los actores organizacionales. La “rienda” técnica busca “management”, basadas la mayoría, en visones mecánicas e ingenuas (“funcionalistas”) del
regular la tensión entre los procesos de producción material y los procesos de producción de funcionamiento de las organizaciones, y que prometen transformarlas de la noche a la mañana
sentido. La “rienda” estructural tiene como objetivo, controlar la tensión entre la estructura en máquinas más “inteligentes”, más “emocionales”, más “humanas”, más “creativas”, más
de la organización y la cultura (o culturas) que se van generando dentro de la dinámica de la “innovadoras”, más “competitivas”, más “rentables”, más “productivas”, “de clase mundial”,
organización. Y finalmente la cuarta “rienda”, tal vez la más delicada y difícil de llevar a la práctica, de “excelencia”, etc6.
la “rienda” política, es la que tiene como objetivo, reconocer y regular las contradicciones y
tensiones que se dan debido a los diferentes intereses de los actores que intervienen cada día, en 1. Metodología para regular las tensiones del metabolismo organizacional
el funcionamiento de la organización5.
La herramienta metodológica de intervención para la praxis administrativa y que hemos titulado
Tomando en cuenta estas cuatro “riendas”, podemos caracterizar el perfil general del como el Alineamiento administrativo, consiste en una serie de pasos para instalar y controlar las
administrador como la antítesis del directivo positivista, incorporando las cuatro habilidades cuatro “riendas administrativas” mencionadas; dicha herramienta se compone de tres fases: la
y características básicas que debe poseer: ser un estratega para controlar los objetivos de diagnóstico, la de diseño y la de mejora.
organizacionales y las expectativas de los actores; ser un mejorador para controlar los procesos
materiales y los simbólicos creadores de sentido; ser un negociador para manejar y controlar El primer paso consiste en definir clara y explícitamente, los objetivos estratégicos de la
los intereses de los actores organizacionales; y ser un configurador para diseñar estructuras y organización (en el mundo material), involucrando tomado en cuenta las expectativas de los
orientar las culturas organizacionales. actores organizacionales (en el inframundo simbólico).

Desde nuestra perspectiva, la praxis administrativa no busca hacer más rentables o más Enseguida, se deben alinear los procesos, tanto en su diseño como en su operación a dichos
productivas o más exitosas a las organizaciones, sino fortalecer al cuerpo administrativo para objetivos estratégicos (en el mundo material), tratando de que los actores que los ejecutan le
que se encuentre en mejores condiciones de enfrentar un ambiente altamente cambiante y encuentren sentido a sus tareas cotidianas (en el inframundo simbólico).
turbulento, tanto en el interior de la organización como en su relación con el exterior.
Posteriormente, se asegura que la estructura (puestos, funciones, atribuciones, responsabilidades,
Así mismo, no hay que olvidar que toda acción administrativa, la cual está basada, como ya
6. Unas de las propuestas que más han impactado entre los directivos de las grandes empresas de los países llamados desarrollados pero que no dejan
5. Ver: Saratxaga (2007). de ubicarse dentro de las visones mecanicistas de la organización, son: Laloux (2016), Hamel (2009) y Buckingham y Coffman (2009), entre otros.

1117 1118
etc.) orienten decididamente, la operación de los procesos hacia los objetivos estratégicos (en las relaciones sociales que tiene lugar entre sus actores; no se trata de una máquina procesadora
el mundo material), apoyándose en las culturas que se van construyendo entre los actores y optimizadora del uso de recursos (incluidos los “humanos”).
organizacionales (en el inframundo simbólico).
• El metabolismo de las organizaciones, es en realidad, el resultado de una lucha cotidiana
Estas tres acciones de la praxis administrativa se complementan con una acción que corre contra sí mismas, es decir, contra sus propias tensiones y contradicciones que la conducen a
transversalmente y que, tal vez, sea la más delicada y difícil de lleva a la práctica: la negociación su desaparición.
de los intereses de todos los actores organizacionales.
• La praxis directiva es en esencia un acto político y no una actividad racional, como lo propone
La concepción tensionante del metabolismo organizacional, así como la praxis directiva junto la visión positivista, dominante actualmente, tanto en la academia como en la práctica directiva
con su herramienta metodológica (el Alineamiento Directivo), la hemos llamado: el enfoque de de las organizaciones reales.
la Dirección Integral, el cual incorpora las técnicas que se han desarrollado en cada una de
los ámbitos de las cuatro “riendas administrativas”: la Dirección Estratégica, la Dirección por • La praxis directiva consiste en un conjunto de acciones encaminadas a disminuir las tensiones
Procesos, la Dirección Participativa y el Diseño Organizacional. (Ver Fig. 2). que se generan durante el funcionamiento cotidiano de las organizaciones, y que, por lo tanto,
son inherentes a su metabolismo.

• El corazón de la praxis directiva es la negociación de los intereses de los actores organizacionales.


Finalmente, la principal conclusión de nuestra re significación de la praxis directiva es que, lo que
en realidad hace un administrador, es gestionar relaciones sociales. (Ver Fig. 3).

Fuente: elaboración propia.

Reflexiones finales.

La re significación de la praxis administrativa que argumentamos en el presente texto se


caracteriza por lo siguiente:

• La organización es un producto social, es decir, su metabolismo inicia y termina y es producto de

1119 1120
Referencias
Saraxtaga, Koldo (2007). Un nuevo estilo de relaciones. Para el cambio organizacional pendiente.
Aktouf, Omar y Suárez, Tirso (2012). Administración, Tradición, revisión y renovación. Ed. Ed. Prentice Hall. España.
PEARSON. México.

Burrell, Gibson y Morgan, Gareth (1979). Sociological Paradigms and Organizational Analysis.
Ed. Heinemann Educational Books Inc. USA.

Buckingham, Marcus y Coffman, Curt (2009). Primero rompa todas las reglas. Qué diferencia a
los mejores gerentes del mundo de los demás. Ed. NORMA. España.

Díaz Mata, Alfredo (coord.) (2015). El entorno complejo de las organizaciones. Ed. UNAM. México.

Etkin, Jorge (2009) Gestión de la complejidad en las organizaciones. Ed GRANICA. Buenos Aires.

Hamel, Gary y Breen, Bill (2008). El futuro de la administración. Ed. NORMA. Colombia.

Laloux, Frederic (2015). Reinventar las organizaciones. Cómo crear organizaciones inspiradas
en el estadio de la conciencia humana. Ed. NORMA. España.

Mol, Michael J. y Birkinshaw, Julian (2008) Las grandes revoluciones del management.
Innovaciones que cambiaron nuestro modo de trabajar. Ed. DEUSTO. España.

Pacheco Espejel, Arturo Andrés (2012). El Mundo de “las cosas” y el infra-Mundo de “los
significados”: hacia una conceptualización integral de las organizaciones. II Congreso
Internacional de la Red PILARES-2012. Querétaro, Qro.

Reygadas, Luis (2002). Producción simbólica y producción material: metáforas y conceptos en


torno a la cultura del trabajo. En: Nueva Antropología, febrero, vol. XVIII, número 60. México.
pp.101-119.

Sánchez Vázquez, Adolfo (2003) Filosofía de la praxis. Ed. Siglo XXI. México.

Zangaro, Marcela (2011). Subjetividad y trabajo. Una lectura foucaultiana del Management. Ed.
Herramienta. Argentina.

1121 1122
Capítulo 110

Responsabilidade social corporativa na mineração em São Paulo: Pequenas


empresas, grandes danos

Renata Cherém de Araújo Pereira1 y Amon Narciso de Barros2

O objetivo deste trabalho é analisar os significados que a responsabilidade social corporativa


(RSC) assume paraatores representantes do mercado, da sociedade civil e do Estado na
mineração de agregados em São Paulo3.

O termo mineração de agregados é utilizado no Brasil para designar um segmento do setor


mineral que produz matéria prima especialmente para emprego na construção civil. Os
principais produtos são areia, rocha britada e industrial e argila (Anepac, 2004). Estes têm
Discursos y prácticas de sustentabilidad y diversas aplicações, tais como: construção de pontes, edificações, ferrovias, gabiões, muros de
contenção de base, pisos, pátios, galpões, estradas, tubulações, tanques, entre outros (Serna,
responsabilidad social en el Estado neoliberal: 2009). Ou seja, se destinam a atender à implantação e manutenção de obras de infraestrutura
análisis desde la multidisciplina y complejidad e tem aplicações em várias atividades essenciais ligadas ao desenvolvimento econômico. São
utilizados, por exemplo, em habitações, sistemas viários, reservatórios de água para consumo
humano ou geração de energia e outros (Cavalcanti; Parahyba, 2012).

O setor de mineração de agregados difere de outras atividades de mineração especialmente


em relação ao grande número de reservas, à distribuição geográfica da atividade, e ao porte
dos empreendimentos (Poletto, 2006). Em função dogrande volume físico de comercialização,
e baixo valor, sua utilização depende de métodos operacionais e de movimentação de baixo
custo, com localização perto do mercado consumidor (Serna; Rezende, 2009). Nesse sentido,
a mineração dos agregados ocorre próxima a centros urbanos, devido a influência do custo do
transporte no preço do produto (de um a dois terços do valor final) e à localização da jazida
(Batista, 2010).
1. Fundação Getulio Vargas. Email: cherem.renata@gmail.com
2. Fundação Getulio Vargas. Email: amonbarros@gmail.com
3. Ciente da multiplicidade de atores que formam essas três dimensões da sociedade, destaca-se que essa pesquisa irá considerar o mercado sendo
constituído pelas mineradoras, tendo como representantes os sócios e os funcionários dessas corporações. A sociedade civil será representada pelos
membros das comunidades do entorno das mineradoras. O Estado, por sua vez, será constituído pelo Poder Legislativo, Poder Judiciário, Departamento
Nacional de Produção Mineral, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, Secretaria de Energia e Mineração e Secretária do Meio Ambiente.

1123 1124
em relação aos empregos anunciados (Misocky; Bohm, 2013). Em 2017 em El Salvador, após
Por ocorrer próxima a centros urbanos, além dos problemas comuns à mineração em geral, a vários protestos de ativistas da sociedade a mineração de ouro e outros metais foi proibida
mineração de agregados adiciona-se questões específicas. Os impactos visuais e na saúde se no país (New York Times, 2017). No Brasil, em São José dos Campos (SP), pesquisadores,
fazem presentes nos indivíduos que vivem em seu entorno (degradação do solo, retirada de ambientalistas e Organização Não Governamentais (ONG´s) conseguiram proibir a mineração no
vegetação, escavações, modificação da paisagem local, emissão de fragmentos, fumo, gases, município desde 1990 (Suzumura, 2016). Outro exemplo mais recente de pressão da população
poeira, ruídos) (Poletto, 2006). Esses impactos fazem com que os benefícios vindos da atividade brasileira ocorreu em 2017, quando, pressionado pela comunidade nacional e internacional,
sejam colocados em xeque e, quanto menos convincente a ideia de que a mineração promove o governo revogou o decreto que tinha como objetivo liberar a Reserva Nacional de Cobre e
o bem estar e o desenvolvimento das comunidades locais, mais os indivíduosserão intolerantes Associados (RENCA), na floresta Amazônica, para exploração de mineradoras (El País, 2017).
com essa atividade extrativa e maiores conflitos serão gerados (Idemudia, 2009; Kemp, Owen,
Gotzmann & Bond, 2011; Misoczky & Böhm, 2013). É nesse cenário que entram os projetos de No que concerne o terceiro problema, foco cada vez maior do setor financeiro em empresas com
responsabilidade social corporativa, os quais são utilizados para a promoção do desenvolvimento gestão responsável, este se relaciona diretamente com a reputação das empresas. Há alguns
e, consequentemente, para a diminuição dos conflitos entre as mineradoras e a sociedade anos, a reputação das organizações se baseava, basicamente, no cumprimento das leis. Mas com
(Bebbington, 2010; Kapelus, 2002; Newenham-Kahindi, 2011). a valorização da sustentabilidade a partir dos anos 90, o significado de reputação tornou-se mais
complexo. Este passou a se vincular com a ética e com ações de RSC e assumiu um importante
Apesar da necessidade de práticas de RSC em todos setores, no caso das mineradoras, tais papel no mercado financeiro (Oliveira, 2010). Esse fenômeno alterou a visão do setor financeiro
práticas tornam-se ainda mais imprescindíveis. Walker e Howard (2002) elencam os cinco que percebeu que, para que as firmas permanecessem ativas e lucrativas, elas precisariam,
principais problemas associados a mineração que reforçam a importância dos debates da RSC além de recursos financeiros e técnicos, apoio cultural, passando a investir cada vez mais em
nessa indústria: i) má reputação do setor; ii) pressão de grupos da sociedade que desafiam empresas com ações responsáveis (Scott, 2013).
a legitimidade e a verdadeira necessidade da mineração; iii) foco cada vez maior do setor
financeiro em empresas com gestão responsável; iv) pouco valor agregado as ações de melhorias Em relação ao quarto problema que reforça o debate da RSC na mineração - pouco valor agregado
ambientais e sociais praticadas pelas mineradoras e v) desafio constante do setor em manter as ações de melhorias ambientais e sociais praticadas pelas mineradoras – Bebbington (2010)
sua licença para operar. advoga que a relação entre as mineradoras e o desenvolvimento que estas proporcionam
por meio de suas ações de RSC é algo contestável. Para Kemp e Owen (2013), as indústrias
Em relação ao primeiro problema, má reputação do setor, este ocorre em função dos desastres extrativas parecem não compreender a demanda das comunidades locais e quais os benefícios
ambientais ocasionados por mineradoras. Uma das calamidades com maior impacto e que mais que, de fato, estão sendo proporcionados para os indivíduos que vivem nessas comunidades.
afeta a imagem da indústria de mineração diz respeito ao rompimento de barragens ao redor do Nesse mesmo sentido, Jamali e Sidani (2012) exploram três artigos que abordam a RSC em
mundo: na Itália (1985), na África do Sul (1994), na Hungria (2010) e no Brasil (2007 e 2015) países em desenvolvimento e destacam a falta de compreensão das firmas sobre o alcance e os
(Costa, 2015). Devido a tais episódios, alguns grupos da sociedade começaram a contestar a efeitos positivos das suas ações de RSC.
forma como as mineradoras atuam e a lutar para barrar essa atividade, fato este o que reforça o
segundo problema apontado por Walker e Howard (2002): pressão de grupos da sociedade que Por fim, sobre o último motivo da importância da RSC na mineração, a licença social para operar,
desafiam a legitimidade e a verdadeira necessidade da mineração. este se refere ao relacionamento da firma com a sociedade e com as comunidades locais, no
sentido de aceitarem ou não determinada empresa (Demuijnck; Fasterling, 2016; Prno; Scott
Sobre esse segundo problema, um exemplo pôde ser observado em Catamarca, na Argentina, em Slocombe, 2012). A ideia de que uma empresa precisa de licença para atuar não apenas dos
1997, onde as comunidades locais fundaram a Voz do Povo, um movimento social organizado meios regulatórios legais como também da sociedade e das comunidades locais é mais forte na
para reivindicar as promessas não cumpridas da mineradora Minera Alumbrera, principalmente indústria de mineração do que nos demais setores, principalmente em relação a característica

1125 1126
particular da mineração de gerar expectativas e influenciar diretamente nos ambientes dados mais relevantes. Dentre essas 48 entrevistas foram então selecionadas 25, sendo dez
econômicos, sociais e ambientais. Enquanto outros termos associados a RSC procuram legitimar de representantes do Estado, sete de representantes da corporação e oito de representantes
uma função social para as empresas, a licença social procura concentrar-se mais na percepção da sociedade civil. O procedimento de análise dos dados ocorreu pelo método de comparação
dos atingidos por determinada firma (Parsons; Lacey; Moffat, 2014). constante defendido por Glaser e Strauss (1967). Nesta pesquisa, este método foi adotado
visando à construção de categorias. Ao finalizar o procedimento de comparação com todas
Além da importância e da necessidade dos projetos de RSC no setor de mineração, vale as entrevistas, tivemos um conjunto de categorias que responderam às questões de pesquisa
salientar algumas questões presentes nos debates sobre o termo. A primeira delas diz respeito elaboradas.
ao caráter voluntário ou obrigatório das ações de RSC. Alguns autores consideram que a RSC
refere-se apenas as ações voluntárias realizadas pelas corporações, outros acreditam que Os dados da pesquisa revelaram duas compreensões complementares sobre a RSC, a pragmática
tanto as ações voluntárias como as obrigatórias podem ser consideradas práticas de RSC. e a subjetiva. A RSC é pragmática, quando é compreendida apenas sob o olhar das ações das
Para a Comissão das Comunidades Européias (2001, p.7), por exemplo, a RSC é “a integração corporações, ou seja, quando os atores a conceituam sob sua perspectiva prática. Por outro lado,
voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operações ela é subjetiva, na medida em que os entrevistados vão além das práticas realizadas pelas firmas.
e na sua interação com outras partes interessadas”. Por outro lado, Jenkins e Yakovleva Ou seja, quando eles definem a RSC a partir do que eles acreditam que o termo deveria significar,
(2006) e Carroll (1979; 1991) apontam que a RSC se relaciona às atividades das empresas independente de ocorrer ou não. No caso dos indivíduos representantes do Estado, a RSC é
para alcançar sustentabilidade econômica, social e ambiental, independente dessas atividades compreendida tanto de maneira pragmática como subjetiva, sendo formadas duas categorias:
serem voluntárias ou obrigatórias. Apesar do debate, a RSC é amplamente concebida como um i) Compreensão pragmática: ações ambientais e ii) Compreensão subjetiva: ações voluntárias.
princípio voluntário que orienta as atividades das empresas (Jamali; Mirshak, 2007). Por outro lado, os respondentes da empresa estudada e da sociedade civil enxergam a RSC
apenas de forma pragmática. Para ambos, a RSC está ligada as ações realizadas pela firma para
O preceito de que a RSC é, principalmente, guiada por valores éticos e não é regulamentada por a melhoria de vida das comunidades locais. Nesse sentido, a terceira e a quarta categoria do
lei implica que o Estado tem um papel mínimo secundário no debate sobre RSC (Dentchev et al, estudo, nomeadas como “Compreensão pragmática: ações em prol de comunidades locais” diz
2014). Esse fato refere-se a um segundo ponto discutido com freqüência sobre RSC: o papel respeito ao significado que a RSC assume para os representantes do mercado e da sociedade
do Estado, do mercado e da sociedade civil no seu desenvolvimento (Kinderman, 2012; Prieto- civil, respectivamente.
Carrón Et Al, 2006; Jamali; Mirshak, 2007; Scherer; Pallazzo, 2011). A visão de que as empresas
deveriam alterar sua posição de conformista e passar a minimizar os danos que causam e a A primeira categoria demonstrou que os indivíduos representantes do Estado enxergam que
criar valores com os seus negócios tornou-se central (Luetkenhorst, 2004; Novak, 1996, Apud a responsabilidade social corporativa na mineração de agregados em São Paulo, de forma
Jamali; Mirshak, 2006 E 2007). Junto com essa visão, a ideia de que o setor privado é ator chave pragmática, está ligada as ações ambientais das mineradoras. Ou seja, as práticas voltadas a
para gerir recursos e que este tem obrigação de colaborar para o crescimento econômico e preservação do meio ambiente. Todos os respondentes ressaltaram que, na prática, a RSC na
sustentável, também se tornou presente (Jamali; Mirshak, 2007). mineração ocorre por meio dos investimentos ligados a manutenção e a preservação do meio
ambiente. Além disso, um argumento que foi ressaltado pela maioria dos entrevistados é que as
Com base no exposto, dada a complexidade do debate sobre RSC e o impacto gerado pela ações de responsabilidade são voltadas mais para questões ambientais, devido a obrigação das
mineração de agregados na sociedade, essa pesquisa adotou o estudo de caso como estratégia mineradoras em realizar essas ações para conseguirem o licenciamento ambiental.
de investigação e a entrevista semiestruturada como principal método de coleta de dados.
Destaca-se que os respondentes fazem parte de uma pesquisa mais abrangente de um estudo Em relação a segunda categoria, também relacionada aos representantes do Estado, esta indica
de múltiplos casos no qual foram realizadas 48 entrevistas. Dessa pesquisa, foram extraídos que, de acordo com a compreensão subjetiva dos respondentes, para serem consideradas
dados do contexto específico de um único caso, o qual se apresentou mais interessante e com responsabilidade social das corporações, as ações devem ser voluntárias e não obrigatórias.

1127 1128
Os entrevistados alegaram que as mineradoras desenvolvem a maioria dos programas de RSC defendido na orientação das ações de RSC. Destaca-se também que a abordagem voluntária da
baseadas no que devem cumprir para conseguirem licença para atuar. Ocorre que, de acordo RSC despontou-se, segundo os achados da pesquisa, como a mais apropriada para ser utilizada
com os respondentes, ao cumprir essas exigências, eles estão apenas cumprindo os aspectos na mineração de agregados.
legais e estes não podem ser considerados ações de caráter de responsabilidade social.
Embora os entrevistados tenham deixado claro a contribuição dessas ações obrigatórias para Para Prieto-Carrón et al (2006) uma abordagem voluntária para a RSC tende a ser aplicável
a sociedade, para eles, o que é pedido por lei não se configura como ação de responsabilidade quando os casos exigem o desenvolvimento de ações conjuntas para resolver aspectos sociais
social corporativa. e ambientais específicos. Seguindo a linha de raciocínio dos autores, a abordagem voluntária da
RSC, seria, de fato, a mais coerente para o setor de mineração de agregados devido a necessidade
A terceira categoria, relacionada aos representantes do mercado, indicou que todos os de ações conjuntas entre mercado e Estado para mitigação dos problemas sociais e ambientais
respondentes da mineradora estudada entendem que RSC diz respeito ao investimento na ocasionados pelas mineradoras.
melhoria de vida das comunidades que vivem ao seu entorno. Comentando sobre os principais
motivos que levam a mineradora a investir nos moradores que residem próximos a ela, alguns Advoga-se que os resultados desse estudo não corroboram o argumento de autores que defendem
informantes ressaltaram que a obtenção da licença social realmente colabora para isso. Um a falta de compreensão das firmas em relação as verdadeiras necessidades das comunidades
outro fator destacado pelos respondentes refere-se a divisão sobre as obrigações do mercado locais (jamali; thomsen; kara, 2015; blowfield, 2007; jamali; mirshak, 2007). Segundo os
e do Estado. Alguns entrevistados afirmaram que, visto que toda empresa tem como objetivo entrevistados representantes da corporação analisada, as ações de RSC da organização são
principal o lucro, não cabia as organizações realizarem ações que são dever do Estado. Eles pensadas e realizadas de acordo com as necessidades emergenciais das comunidades locais.
ressaltaram que a mineradora tinha que colaborar com a comunidade local, mas não fazer o que Esse fato, conforme apontado pelos respondentes, gera o impacto positivo de atender as
o Estado tem obrigação de fazer. principais demandas das comunidades, mas, por outro lado, acaba alcançando um número menor
de pessoas. Nesse sentido, nota-se que os dados dessa pesquisa vão de encontro aos achados de
A quarta e última categoria, a qual refere-se ao significado que a responsabilidade social Matten e Moon (2008) que afirmam que, apesar dos estudos e das práticas de RSC se basearem
corporativa assume para atores representantes da sociedade, evidenciou que, assim como na realidade dos países desenvolvidos, os projetos de responsabilidade social fazem parte de um
os respondentes representantes do mercado, os entrevistados que compõe a sociedade civil contexto específico nacional, tendo como conseqüência a diferenciação da forma como a RSC
compreendem que RSC diz respeito as ações realizadas pela firma estudada. Ficou claro ocorre em cada país.
que todos os respondentes dessa categoria compreendem que RSC diz respeito às ações
praticadas pelas mineradoras que eles têm conhecimento e que geram benefícios para eles. Os Por fim, em relação ao debate sobre a RSC e o papel de cada segmento da sociedade para o seu
entrevistados destacaram que os projetos sociais e os empregos fornecidos pela firma os ajudam desenvolvimento, de forma geral, os entrevistados representantes da mineradora defendem que
bastante. Observou-se que o sentimento da comunidade que vive ao entorno da mineradora é de a organização deve realizar ações em prol das comunidades locais, mas que, o principal segmento
gratidão pelas ações sociais desenvolvidas pela organização por quem se beneficia por elas e de responsável por isso é o Estado. Esse resultado corrobora a lógica de argumentação daqueles
desconhecimento em relação as pessoas que não as utilizam. que enxergam que a RSC deve ser gerida pelo Estado. Para Cheibub e Locke (2002), ao realizar
funções sociais que cabem ao Estado, as empresas passam a ser fonte de bem-estar social e a
Os resultados ratificaram o princípio do voluntarismo no significado de RSC. Evidencia-se influenciar diretamente no sistema político e na sociedade, podendo adquirir mais poderes que o
na compreensão subjetiva dos atores representantes do Estado que o caráter voluntário das Estado. Para os autores, outros segmentos além do Estado podem colaborar e participar da RSC,
práticas de RSC prevalecem como preceito para o conceito deste termo. Nesse sentido, os mas com limitações, devendo o Estado regular e normatizar as atividades de RSC.
resultados empíricos substanciam a linha argumentativa defendida por Jamali e Mirshak (2007)
e Mcwilliams e Siegel (2001), na qual os autores afirmam que o princípio voluntário é comumente Referências

1129 1130
towards a contingency approach. Business Ethics: A European Review, 2014.
Batista, C. A mineração de agregados na região metropolitana de Fortaleza: impactos ambientais
e conflitos de uso e ocupação do solo. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Centro de Ciências, El País. São Paulo, 26 de setembro de 2017. https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/25/
Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2010. politica/1506372008_097256.html

Bebbington, A. Extractive industries and stunted states: conflict, responsability and institutional Glaser, B.; Strauss, A. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. New
change in the Andes. En Ravi Raman y Ronnie D. Lipschutz (Eds.). Corporate social responsibility: York: Aldine de Gruyter, 1967.
discourses, practices and perspectives . London: Palgrave MacMillan, 2010.
Idemudia, U. Oil extraction and poverty reduction in the Niger Delta: A critical examination of
Blowfield, M. Reasons to be Cheerful? What we know about CSR’S impact. Third World Quarterly, partnership initiatives. Journal of Business Ethics, 90(SUPPL. 1), 2009. https://doi.org/10.1007/
v. 28, 2007. s10551-008-9916-8

Carroll, A. A Three-Dimensional Conceptual Model of Corporate Performance. The Academy of Jamali, D.; Mirshak, R. Corporate Social Responsibility (CSR): Theory and Practice in a Developing
Management Review, v. 4, 1979. Country Context. Journal of Business Ethics, v.72, 2007.

Carroll, A. The Pyramid of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management of Jamali, D.; Sidani, Y. CSR in the Middle East: Fresh perspectives. In D. Jamali & Y. Sidani (Eds.),
Organizational Stakeholders. Business Horizons, v. 34, n. 4, 1991. CSR in the Middle East: Fresh perspectives. Basingstoke, UK: Palgrave MacMillan, 2012.

Cavalcanti, V.; Parahyba, R. A indústria de agregados para construção civil na Região Jamali, D; Thomsen, P; Khara, N. CSR Institutionalized Myths in Developing Countries: An
Metropolitana de Fortaleza. DNPM, 2012. Imminent Threat of Selective Decoupling. Business & Society, v.33, 2015.

Cheibuck, Z.; Locke, R. Valores ou interesses? Reflexões sobre a responsabilidade social das Jenkins, H.; Yakovleva, N. Corporate social responsibility in the mining industry: Exploring trends
empresas. In: KIRSCHNER, Ana Maria et al (Org.). Empresas, empresários e globalização. Rio de in social and environmental disclosure. Journal of Cleaner Production, v. 14, 2006.
Janeiro: Relume-Dumará, Faperj, 2002.
Kapelus, P. Mining, corporate social responsibility and the “community”: The case of Rio Tinto,
Comissão Das Comunidades Europeias. Livro verde: promover um quadro europeu para a Richards Bay Minerals and the Mbonambi. Journal of Business Ethics, 39(3), 2002. https://doi.
responsabilidade social das empresas. Bruxelas, 2001. Disponível em:. Acesso em: 05 fev. 2017. org/10.1023/A:1016570929359

Costa, R. Rompimentos de barragens de mineradoras tem que se tornado mais graves nas Kemp, D.; John R. Owen Community relations and mining: Core to business but not “core
últimas décadas. Brasil de Fato, 2015. https://www.brasildefato.com.br/node/33496/ business” Resources Policy, 2013.

Demuijnck, G.; Fasterling, B. The Social License to Operate. Journal of Business Ethics, 136(4), Kemp, D.; Owen, J.; Gotzmann, N.; Bond, C. Just Relations and Company–Community Conflict in
2016. https://doi.org/10.1007/s10551-015-2976-7 Mining. Journal of Business Ethics, 101(1), 2011. https://doi.org/10.1007/s10551-010-0711-y

Dentchev, N; Mitchell, V; Haezendonck, E. On voluntarism and the role of governments in CSR: Kinderman, D. “Free us up so we can be responsible!” The co-evolution of corporate social

1131 1132
responsibility and neo-liberalism in the UK, 1977-2010. Socio-Economic Review, v. 10, 2012. em Planejamento Urbano e Regional) Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e
Regional da Universidade do Vale do Paraóba. São José dos Campos, São Paulo, 2016.
Matten, D.; Moon, J. ‘Implicit’ and ‘explicit’ CSR: A conceptual framework for a comparative
understanding of corporate social responsibility. Academy of Management Review, v. 33, n.2, Prno, J.; Scott, D. (2012). Exploring the origins of “social license to operate” in the mining
2008. sector: Perspectives from governance and sustainability theories. Resources Policy, 37(3),
2012. https://doi.org/10.1016/j.resourpol.2012.04.002.
Mcwillians, A.; Siegel, D. Corporate Social Responsability: a theory of the firm perspective.
Academy of Management Review. v 26, n, 1, 2001. Scherer, A.; Palazzo, G. The new political role of business in a globalized world: a review of a
new perspective on CSR and its implications for the firm, governance and democracy. Journal of
Misoczky, M.; Böhm, S. Resistindo ao desenvolvimento neocolonial: a luta do povo de Andalgalá Management Studies, v.48, n.4, 2011.
contra projetos megamineiros. Cadernos EBAPE.BR, 11(2), 2013. https://doi.org/10.1590/
S1679-39512013000200008 Scott, W. Institutions and organizations. London: Sage, 2013.

Newenham-Kahindi, A. A Global Mining Corporation and Local Communities in the Lake Victoria Serna, H. Agregados para Construção Civil. [S.l.]: [s.n.], 2009
Zone: The Case of Barrick Gold Multinational in Tanzania. Journal of Business Ethics, 99(2),
2011. https://doi.org/10.1007/s10551-010-0653-4 Serna, H.; Rezende, M. Agregados para Construção Civil. In: Economia Mineral do Brasil. Brasília:
DNPM: 2009.
Oliveira, A. Sustentabilidade E Equilíbrio Do Crescimento: uma abordagem contábil-financeira.
Tese (DoutorADO EM Administração) Escola de Administração de Empresas de São Paulo da The New York Times. New York: 29 de março, 2017. https://www.nytimes.com/2017/03/29/
Fundação Getulio Vargas. São Paulo, 2010. world/americas/el-salvador-prizing-water-over-gold-bans-all-metal-mining.html;

Parsons, R.; Lacey, J.; Moffat, K. Maintaining legitimacy of a contested practice: How the minerals Walker, J.; Howard, S. Finding the way forward: How Could Voluntary Action Move Mining toward
industry understands its ‘social licence to operate’. Resources Policy, v. 41, 2014 Sustainable Development. London: IIED, 2002.

Poletto, C. A exploração de pedreiras na região metropolitana de são Paulo no contexto do


planejamento e gestão do território. Tese (Doutorado em Geografia) Departamento de Geografia
a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo,
2006.

Prieto-Carón, M.; Lund-Thomsen, P.; Chan, A.; Muro, A.; Bhushan, C. Critical perspectives on CSR
and development: what we know, what we don’t know, and what we need to know. International
Affairs, v. 82 nº5, 2006.

Suzumura, G. A exploração de areia na região metropolitana do vale do paraíba e litoral norte e a


gestão minerária nos municípios de São José dos Campos e Jacareí – SP. Dissertação (Mestrado

1133 1134
Capítulo 111 poder que sobrepuja o poder político, territorial, ao passo que é seu capital que dita regras e
valores que lhes são de interesse à sociedade a qual está inserida.
A responsabilidade social empresarial em uma instituição bancária: entre o A instituição objeto de estudo é frequentemente premiada como referência em RSE, como, por
discurso e a prática exemplo, o prêmio da revista VOCÊ S/A - Melhores Empresas para se Trabalhar, além de possuir
índices de RSE elevados quando analisados os aspectos sociais. No entanto, é possível perceber
Naya da Cunha Cardoso1 y Naiara Tavares da Silva2 algumas contradições quando verificados dados de órgãos regulamentadores e fiscalizadores
governamentais brasileiros, como dados do Ministério Público do Trabalho - MPT, do Tribunal
Superior do Trabalho - TST e do Tribunal Regional do Trabalho - TRT.
1. Apresentação
Sendo assim, buscou-se com a pesquisa, após reunir informações e dados disponibilizados,
A Responsabilidade Social Empresarial é uma importante temática dentro do atual contexto social analisar as relações entre uma empresa dita socialmente responsável e a prática organizacional
e tem sido pauta de diversas discussões em importantes meios acadêmicos e empresariais. É em sua gestão interna.
interessante, aliás, perceber a pluralidade de significados e sentidos que o conceito traz e o quão
abrangente ele pode ser, sob as várias óticas de diferentes públicos de interesse. 2. Responsabilidade Social Empresarial

De forma geral, a Responsabilidade Social Empresarial - RSE é também uma ferramenta Apesar de antigo, cresce a discussão sobre o conceito de Responsabilidade Social Empresarial
verificadora das ações e comportamentos empresariais perante a uma nova postura social no que e todos os aspectos e complexidades que o assunto tem adquirido. Segundo Tenório (2006), em
diz respeito a sua complexa gama de atuação. Na pesquisa aqui desenvolvida, o foco de estudo um primeiro momento, a responsabilidade social era percebida ao âmbito filantrópico, ou seja,
foi com relação às ações de uma instituição bancária, referência em RSE no Brasil, para com doações feitas por alguns empresários sem que essa tivesse relação de compromisso com a
seu público interno, e quais as práticas adotadas por ela no que diz respeito a esse stakeholder. organização, um ato de boa-fé.

No atual contexto social e econômico em que a sociedade se encontra, não cabe somente pensar Outros fatos foram agregados ao contexto empresarial, ampliando seu escopo de atuação.
no trabalho e no trabalhador como um mero instrumento da empresa, reduzido a pagamento Um deles é atender a demandas sociais, que passam a exigir um retorno social por parte das
de salários e a obediência às leis trabalhistas. Respeitar o trabalhador e suas subjetividades organizações e que essas devem estar atentas e preparadas para tais mudanças (Borger, 2001).
fazem parte de uma postura responsável socialmente e estudar empresas que se utilizam desse Para Melo Neto e Fróes (2004), a definição de RSE é bastante clara sobre a complexidade
discurso faz-se necessário para validar suas ações. do termo e vai além de compensação ambiental, abrangendo as relações com fornecedores,
conscientização sobre consumo, transparência e ética nos negócios, prestação de informação e
Importante compreender e questionar como em um sistema de neoliberalismo econômico que relação com seus empregados.
sofre grande influência de multinacionais para regular o mercado, caso do modelo brasileiro
(Andrade, 2002), podem estar em consenso com tais discursos de responsabilidade social, De acordo com Pena et al (2007), pode-se entender RSE como o senso de responsabilidade e o
principalmente no que tange aos aspectos internos (empregados e dependentes). Sobre a esforço que a organização desempenha diante de seus stakeholders tanto no ambiente interno
influência das multinacionais, Gaulejac (2007) dispõe que, o fato de tais organizações serem quanto no externo. Nesse contexto, fica claro que as dimensões da RSE são bem mais complexas
internacionalizadas ou não possuírem uma nacionalidade que as restrinjam, elas exercem um e dissímil do que se considerava.
1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Email: nayacunhacrf@gmail.com
2. professora do curso de administração da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Email: naiaratavs@gmail.com

1135 1136
Ashley (2005) afirma que as ações de RSE devem estar intimamente ligadas a cultura da referem-se aos anos de 2014, 2016, 2017 e 2018.
empresa, assim, preocupa o fato de tais ações serem avaliadas e definidas por elas mesmas. Tal
fato é apresentado por Paoli (2002) quando essa afirma que, organizações corporativas ocupam O estudo de caso teve como objeto de análise uma multinacional, instituição financeira do setor
um espaço privilegiado na sociedade civil, e surgem para suprir uma deficiência do Estado em bancário3. Considerado o maior do banco do Brasil em abrangência territorial e lucratividade
prover demandas sociais, posição essa alcançada com a prerrogativa do argumento da RSE, e (Banco 1, s.d) atualmente, possui uma estrutura de nível internacional, com mais de cinco mil
que dessa forma, ficam livres para agirem em benefícios de seus próprios interesses. agências no Brasil e no exterior e conta com mais de 90 mil funcionários em seu quadro. Com
esses números o Banco estudado se consolida como o maior banco privado do país e da América
Para Fernandes (1996) é preciso pensar em melhorar as condições do trabalho e ainda nos Latina (Banco 1, 2017).
aspectos psicossociais que essas novas configurações envolvem. Segundo Melo Neto e Fróes
(2004), é essa nova percepção de responsabilidade social que contempla empregados e seus Quanto aos documentos analisados, foram levantados os critérios adotados e as respectivas
dependentes que os proporcionou serem enxergados como figuras capazes de influenciar a metodologias consideradas pelos premiadores da Revista Você S/A - Melhores Empresas para se
empresa, sua imagem e até seu lucro. Trabalhar, e os do IDJS e ISE ao definirem uma empresa como responsável socialmente. Fazendo
um paralelo com dados apresentados por órgãos reguladores e fiscalizadores governamentais,
A sistemática e contínua evolução do conceito de responsabilidade social empresarial acarreta observando as contradições entre o discurso da empresa e suas práticas de gestão.
uma necessidade de pensar em uma nova racionalidade de gestão estratégica para empresa.
Para Ashley (2005), nesse novo cenário as organizações precisam mediar entre os interesses de Os documentos analisados em contraposição aos índices e prêmios recebidos pela empresa,
seus acionistas e a gama de stakeholders envolvidos, como sociedade, funcionários e clientes, são referentes a levantamentos do MPT, TRTs, TST, Autos processuais e sentenças processuais,
o que para autores como Faria (2007) e Gaulejac (2007) se contrapõe em um antagonismo disponíveis publicamente.
intrínseco ao modelo organizacional capitalista.
Um fator limitador da pesquisa se refere ao acesso a informações, considerando que todo o
3. Métodos levantamento bibliográfico e documental contam com arquivos disponíveis publicamente,
ficando assim restrito a uma gama de informações internas da organização estudada, como o
Com base nos conceitos apresentados por Vergara (2005), Strauss e Corbin (2008) e Cresswell próprio banco, assim como os índices e premiador.
(2007), a pesquisa desenhada se caracteriza como qualitativa de caráter descritivo-exploratório.
Para esses autores, a pesquisa qualitativa tem um tratamento mais estruturado e uma análise 4. Resultados e Análises
dita mais subjetiva, com a qual é possível alcançar resultados que tendem a ultrapassar o escopo
estatístico. Os resultados obtidos nas pesquisa mostram que o Banco estudado compõe a carteira do IDJS
há 18 anos, desde sua criação, assim como a carteira do ISE, desde sua fusão com outro banco
Quanto aos meios de investigação, a estratégia adotada foi o estudo de caso, conceituado por no ano de 2008. Apesar de ambos os índices não revelarem sua pontuação nem sua oscilação
Creswell (2007), como a estratégia em que o pesquisador pode aprofundar-se em determinado durante esse período, não havendo assim como avaliar o desempenho ou desenvolvimento da
fato ou atividade, havendo múltiplas possibilidades de coleta de dados. empresa, ele segue fazendo parte de uma valiosa carteira no mercado de ações que tem com
premissa os valores da RSE e o desenvolvimento sustentável.
A coleta de dados foi efetuada por meio de levantamento bibliográfico e documental, ambos
obtidos por meio de consultas e disponibilização públicas, acessível a qualquer um que tenha
3.. Por questões éticas, a presente pesquisa se utiliza de nome fictício para a empresa, Banco 1, objeto de estudo, assim como as referências da citada
interesse. Os dados foram levantados entre os meses de novembro de 2017 e Julho de 2018 e instituição, podendo ser disponibilizada a quem possa interessar mediante

1137 1138
Assim, pode-se verificar que o IDJS é direcionado ao mercado de capitais, e tal qual o ISE, parte pesquisa, Margoto, Behr e Paula (2010), conclui que dentre diversas razões que podem levar o
do princípio da valia das empresas nesse segmento, o que em uma linguagem financeira seria empregado a se demitir, o choque entre valores pessoais e organizacionais é um fator comum ao
dizer aquelas que tem seu float4 de mercado mais estáveis as variações do próprio mercado, desligamento voluntário. Seguindo essa lógica o sofrimento no local de trabalho pode ser fruto
ou seja, um investimento mais seguro. Sendo esse o primeiro critério de seleção das empresa, desse conflito moral e da própria racionalidade instrumental ao qual o bancário está inserido.
questões como sustentabilidade, clientes e fornecedores são avaliadas posteriormente e através
de um questionário respondido pela própria organização.

O prêmio concedido pelo Guia Você S/A, da Revista Exame, tem por objetivo elencar as melhores
empresas para se trabalhar no Brasil, de acordo com seu segmento. O Guia Você S/A, conta
também com um questionário, respondido pela empresa e por seus funcionários, nesse caso,
há uma entrevista com alguns funcionários dentro da própria empresa para verificar a valia
das respostas, e atestar seu Índice de Felicidade no Trabalho - IFT, sendo esse o critério para as
empresas alcançarem o status de “Melhores Empresas para se Trabalhar”.

O Banco analisado tem liderado o setor nos últimos 3 anos (2017, 2016 e 2015), com um
aumento de IFT em 5,7% no período 2016 - 2017, o que teoricamente significaria dizer que seus
empregados estão mais felizes com seu trabalho, como mostrado no gráfico abaixo.

Em uma análise de dados fornecidos pelo TST, no período compreendido entre 2015 e 2018,
o Banco objeto de estudo esteve entre os 4 primeiros lugares como empresa que mais
recebeu processos trabalhistas em todo Brasil. Essa é uma informação não disponível em seu
Balanço Social, tampouco, citada ou considerada por nenhum dos premiadores/gestores de
carteira investigados. O que surge como uma possível evidência da fragilidade no processo de
reconhecimento de uma empresa como responsável socialmente. O gráfico abaixo representa o
número de processos recebido pelo Banco nos 4 anos.

Esse resultado é diretamente confrontado quando analisado o Relatório Anual Consolidado -


RAC do Branco de 2017, por meio do qual pode-se constatar um aumento de 17,31% na taxa
de demissão voluntária em relação ao ano anterior, representado abaixo pelo gráfico 2. Em sua
4. Float é um termo utilizado no mercado financeiro que significa mensurar o nível de variação de uma ação ao longo de determinado tempo. Servindo
para verificar seu grau de estabilidade dentro do mercado de capitais.

1139 1140
essa, métodos antigos de resolução de problemas não são eficazes (Silva & Navarro, 2012).

5. Considerações Finais

O presente trabalho teve por objetivo expor as contradições encontradas entre a retórica e a
prática de uma instituição bancária com relação ao seu público interno. Fato explanado em
um estudo de caso cujo o objetivo foi, de maneira descritiva e exploratória, confrontar dados
que destoava desse discurso, considerando outras fontes como base para pesquisa, como por
exemplo, MPT, TST e TRT.

A prática de gestão interna está diretamente relacionada aos preceitos de RSE, posto que, para
ser considerada uma empresa responsável socialmente é preciso que todos os seus sentidos
sejam absorvidos pela organização, planejados e estruturados com parte constituinte desta.
Assim, suas ações serão reflexo dessa postura.

A pesquisa não teve por objetivo traçar definições lineares, tão pouco padronizar procedimentos
Em 2015, foram 2.972 processos respondidos, em 2016 mais de 2.500 processos respondido e condutas no tocante a RSE, ao contrário, o intuito era explorar um cenário dessa dimensão que
até o mês de junho, no ano de 2017 o número superior à 3 mil processos, e até o mês de abril por vezes é considerado de por uma lógica instrumental, como direitos trabalhistas e remuneração
de 2018 já eram mais de 2.500 processos no polo passivo (Tribunal Superior do Trabalho [TST] financeira, mas que ficou evidenciado durante seu desenvolvimento, não ser resumido somente a
2015-2018). tais critérios. As subjetividades inerentes ao assunto, como observado no decorrer da pesquisa,
se mostram tão importantes quanto outros aspectos apresentados.
Outro dado levantado pela pesquisa é um estudo divulgado pelo MPT - Santa Catarina, segundo
a qual o Banco analisado foi responsável por um aumento de 356% do benefícios concedidos Podemos concluir também com a pesquisa, que usar dos preceitos da RSE é benéfico a
pelo Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS, por transtornos mentais entre o ano de imagem da empresa, socialmente esperado e influenciado pela atual dinâmica econômica-
2005 a 2014 (Ministério Público do Trabalho - Santa Catarina [MPT- SC], 2016). No mesmo política atualmente vivenciados, o que é ratificado pela quantidade e recorrência dos prêmios
período o INSS afastou do trabalho mais de 17 mil empregados da instituição bancária, entre e reconhecimentos concedidos a ela. No entanto, pode-se perceber que a perversidade da
benefícios acidentários e auxílio doença. O que o levou a uma condenação por danos morais instituição bancária incide sobre seu empregado, mascarado de fortes campanhas de marketing
coletivos de mais de 21 Milhões de reais (Rádio MPT, 2016). Apesar desse estudo compreender e um discurso amplamente difundido, mas que não se sustenta para esse público, corroborado
anos anteriores ao do escopo da pesquisa, ele coincide com o período em que o Banco começou por autores da teoria crítica como Gaulejac (2007) e Faria (2007).
a se destacar nos índices das Bolsas de Valores de São Paulo e Nova Iorque.
Diante de tal contexto e dos fatos e argumentos apresentados, as dicotomias encontradas entre
Para Silva e Navarro (2012), mudanças na organização do trabalho bancário, para essa fase o prática de gestão executada e a imagem transmitida, há a possibilidade da responsabilidade
mais horizontalizada, e uma lógica econômica voltada para o capital, é acompanhada de metas social empresarial ser vista como incongruente, considerando o fato de que algumas organizações
cada vez mais abusivas, ritmo de trabalho cada vez mais acelerado, assédio moral constantes e se utilizam desse discurso para legitimar-se.
acúmulo de funções, são responsáveis por um novo modo de sofrimento no trabalho, e que para

1141 1142
Insistir em uma plataforma de socialmente responsável somente como estratégia de marketing é
posto à prova frente às contradições observadas no decorrer desse processo. A lógica econômica Fernandes, E. (1996). Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. Salvador: Casa
é sobreposta ao trabalhador, que acaba afastando cada vez mais de seu produto. Pensar em da qualidade.
RSE é repensar os modelos de produção que só ganham novos contornos mas seguem o mesmo
princípio de maximização do lucro e coisificação do homem. Gaulejac, V. de. (2005) Gestão como Doença Social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação
social. (3a ed) São Paulo: Ideias e Letras.
Sendo assim, permanece a importância de não cercear o tema, pelo contrário, abre-se novas
discussões que carecem de investigação e pesquisa, como uma análise mais aprofundada dos Banco 1. Quem Somos. Recuperado de: Fonte Suprimida. Acesso em: 25 de nov. de 2017
motivos que levam o bancário a se desligarem da empresa, mesmo em um contexto de crise
econômica, como o Brasil vivencia atualmente, ainda para verificar sua possível relação com seu Banco 1. Relatório anual consolidado. 2017. Recuperado de: Fonte Suprimida. Acesso em: 20
adoecimento. nov. 2017.

6. Referências Banco 1: Sobre o Banco 1. Recuperado de: Fonte Suprimida. Acesso em: 20 de mai de 2017.

Andrade, Regis de Castro. (2002). Brasil: a economia do capitalismo selvagem. Lua Nova: Revista Margoto, J. B., Behr, R. R., & Paula, A. P. P. (2010). Eu me demito! Evidências da racionalidade
de Cultura e Política, (57), 05-32. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-64452002000200002. substantiva nas decisões de desligamento em organizações. Organizações & Sociedade, 17(52),
Acesso em 30 de mar de 2018. 115-135. Recuperado de: http://www.spell.org.br/documentos/ver/455/eu-me-demito--
evidencias-da-racionalidade-substantiva-nas-decisoes-de-desligamento-em-organizacoes/i/
Ashley, P. A. (Org). (2005). Ética e responsabilidade social nos negócios. (2a ed) Rio de Janeiro: pt-br. Acesso em: 25 de Jul de 2018.
Editora FGV.
Melo Neto, F. P & Fróes, C. (2004). Gestão da responsabilidade social corporativa: O caso
Bolsa de valores do Estado de São Paulo. Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Recuperado brasileiro. Rio de janeiro: Qualitymark Editora.
de: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/indices/indices-de-sustentabi lidade/
indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise.htm> Acesso em 20 de maio de 2018. Ministério Público do Trabalho de Santa Catarina. Termo de Audiência. Processo: 0010182-
28.2013.5.12.0035. Recuperado de: <http://www.prt12.mpt.mp.br/images/ Ascom/
Borger, F. G. (2001). Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. PRT12/2016/Documentos_PDF/SentenaIta.pdf> Acesso em: 26 nov. 2017.
(Tese de Doutorado). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade
de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Recuperado de http:// www.teses.usp.br/teses/ Ministério Público do Trabalho Notícias. TST julga condenação do Itaú de R$ 21 milhões.
disponiveis/12/12139/tde-04022002-105347/pt-br.php Acesso em: 04 mar 2018. Florianópolis: MPT/SC, 2016. Recuperado de: <http://portal.mpt.mp.br/wps/portal/portal_mpt/
mpt/sala-imprensa/mpt-noticias/e02bdb83-0663-44b6-a0d3-83c3b5817e2a/!ut/p/z0/
Creswell, W. J. (2007). Projeto de pesquisa: Métodos qualitativo, quantitativo e misto. (2a ed) jYzLDoIwEEV_BRcsmxlaBLZIDFFC1B12Y6ZQsSoFpfHx9-IPGJfn5twDEiqQlh6mJWd6S9eJ9
Porto Alegre: Artmed. zI6BDmGq8UGi7zYxpjugnK5ygOeYQxrkL-FqcDvZVa2IAdyJ2bssYdKI1eNSgTDKBIsDFXECB
vBElELNU-CWHP6Xs35dpMpyLq3Tr8cVN3gfBzpSl6jPdMNd21H8nGaPds7UxsaffyrPlykej_
Faria, J. H. ( Org). (2007). Análise crítica das teorias e práticas organizacionais. São Paulo: T2QeWBgQx/> Acesso em 31 mai. 2018.
Atlas.

1143 1144
Paoli, M. C. Empresas e Responsabilidade Social: os enredamentos da cidadania no Brasil
(2002) In A Sousa Santos, B. (org). Democratizar a Democracia - os caminhos da democracia Tribunal Superior do Trabalho. Coordenadoria de estatística e pesquisa do Tribunal Superior
participativa - Civilização Brasileira (pp. 373-418). do Trabalho. Ranking das partes em 2016. 2017. Recuperado de: <http://www.tst.jus.br/
documents/10157/842691ce-4a60-44b8-b1de-8abccfd696a4> Acesso em 31 mai. 2018.
Pena, Roberto Patrus, Queiroz, Helena, Carvalho Neto, Antonio, Teodósio, Armindo, Dias, Andréa
Soares, & Fernandes, Tássia. (2007). Responsabilidade social empresarial e estratégia: um estudo Tribunal Superior do Trabalho. Maiores litigantes 2018. Recuperado de: <http://www.tst.jus.
sobre a gestão do público interno em duas empresas signatárias do global compact. Organizações br/documents/18640430/17410cca-c898-4cbc-a06d-526f55ae7cd8> Acesso em: 31 mai.
& Sociedade, 14(40), 81-98. https://dx.doi.org/10.1590/S1984-92302007000100005 2018.
Acesso em 20 de mar. de 2018.
Vergara, S. C. (2005). Métodos de pesquisa em administração. São Paulo: Editora Atlas S.A.
Strauss, A. & Corbin, J. (2008). Pesquisa Qualitativa: Técnicas e procedimentos para o
desenvolvimento de teoria fundamentada. (2a ed) Porto Alegre: Artmed.

Revista Exame: Conheça as 150 Melhores Empresas para Trabalhar de 2017. Guia Você S/A.
2017. Recuperado de: https://exame.abril.com.br/carreira/conheca-as-150- melhores-
empresas-para-trabalhar-de-2017/. Acesso em 20 de mai. de 2018.

RobecoSam. Avaliação de sustentabilidade. 2018. Disponível em: <http://www.sustainabi lity-


indices.com/> Acesso em 29 de mai. de 2018.

RobecoSam. Dow Jones Sustainability Indices Methodology. Disponível em: <https://us.spindices.


com/documents/methodologies/methodology-dj-sustainability-indices.pdf> Acesso em
30/05/2018.

Silva, Juliana Lemos, & Navarro, Vera Lucia. (2012). Work organization and the health of
bank employees. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 20(2), 226-234. https://dx.doi.
org/10.1590/S0104-11692012000200003 Acesso em: 20 de maio de 2018.

Tenório, F. G. (Org). (2006). Responsabilidade social empresarial: Teoria e Prática. Rio de


Janeiro: Editora FGV.

Tribunal Superior do Trabalho. Coordenadoria de estatística e pesquisa do Tribunal Superior


do Trabalho. Ranking das partes em 2015 2016. Recuperado de: <http://www.tst.jus.br/
documents/10157/14446079/RP+2015+12+Dezembro+%28Ordem+Qtd+Processos%29.
pdf> Acesso em 31 mai. 2018

1145 1146
Capítulo 112 individualmente, en tiempos recientes destacado por el capital. Se trata de conducirse en libertad
empresarial como una forma de externar respeto al entorno donde se ubica cada empresa. La
fórmula relativa a la acumulación de ganancias pura y dura quiere ser matizada para mostrar
La responsabilidad empresarial frente a la cuestión social un rostro armónico con el entorno. Así la RSE es de reciente cuño para la gestión empresarial y
los negocios.
Benito León Corona1, María Teresa Magallón Diez2 y Jesús Manuel Ramos García3
“Es una visión de negocios que integra el respeto por las personas, los valores éticos, la
comunidad y el medioambiente con la gestión misma de la empresa, independientemente
Introducción
de los productos o servicios que ésta ofrece, del sector al que pertenece, de su tamaño o
nacionalidad” (Cajiga, S/F, 2).
Hoy el mundo de la empresa se orienta a definir modalidades de actuación para mostrar la
relevancia de su compromiso con la sociedad y la naturaleza. Nace así la “Responsabilidad
Esta orientación aparece en posiciones inscritas en el liberalismo podemos encontrar
Social Empresarial (RSE)”, concepto acuñado para orientar el comportamiento de las empresas
aseveraciones relativas a la responsabilidad individual de esta forma:
y, nos parece, analizable desde una posición diversa a la económica y empresarial para buscar
dimensionar de diferente manera las implicaciones para lo social. Esta orientación favorable
“De esta manera, el principio de la responsabilidad personal establece que la política
para la empresa nos conduce a buscar en el origen de esta estrategia cuál es la profundidad que
estatal debe afectar en el menor grado posible la libertad y la responsabilidad personal.
alcanza.
La responsabilidad requiere autonomía, la cual se relaciona con el desarrollo de la persona
y de sus asociaciones espontáneas como la familia, las asociaciones, etc” (Resico, 2010,
El objetivo es ensayar un acercamiento al contenido del concepto RSE y, en especial, nos
129).
preguntamos sí existe algún punto de contacto con la llamada “cuestión social”. Una hipótesis,
que quedará sin respuesta, es que la RSE es parte de una estrategia capitalista para legitimarse
Lo expresado por Resico implica la combinación de condiciones y principios muchas veces
de cara a la sociedad y, principalmente, para mantener y/o ampliar las ganancias.
contradictorios. Así la responsabilidad se ubica estrictamente en la esfera de las personas libres,
autónomas, lo que permite asumir las consecuencias de la propia conducta. Esto sitúa en el aquí
Para dicho propósito vemos, primero, la consistencia del concepto “responsabilidad social
y él ahora los actos que cada individuo lleva a cabo y, sin restricciones, por propia voluntad.
empresarial”, en un contexto donde se busca producir condiciones para mejorar la obtención
Ahora en el plano de la empresa
de ganancias en oposición a las prestaciones obtenidas por los trabajadores y los retornos
que hacen a la naturaleza; segundo, mostramos la relevancia de la “responsabilidad” amplia,
“Responsabilidad Social Empresarial, es el compromiso consciente y congruente de
general y no sólo la empresarial, a través de diversos autores que destacan aspectos cruciales,
cumplir integralmente con la finalidad de la empresa, tanto en lo interno como en lo
genéricamente denominados <<la cuestión social>>, concluimos con un breve comentario.
externo, considerando las expectativas económicas, sociales y ambientales de todos sus
participantes, demostrando respeto por la gente, los valores éticos, la comunidad y el
1. La responsabilidad social empresarial: perspectivas y realidades.
medio ambiente, contribuyendo así a la construcción del bien común” (AliarSE, citado por,
Cajiga, S/F, 4).
La responsabilidad es una forma de comportamiento éticamente relevante, localizado social e
1. Departamento de Administración, Universidad Autónoma Metropolitana Azcapotzalco. Email: belecor@msn.com No es esperable se conduzca fuera de la forma en que se define, principalmente por quienes la
2. Departamento de Administración, Universidad Autónoma Metropolitana Azcapotzalco. Email: tediez73@hotmail.com
3. Departamento de Administración, Universidad Autónoma Metropolitana Azcapotzalco. Email: jamaraga1@hotmail.com
conducen, tal como expresa el autor al establecer que:

1147 1148
inadecuado dejar alguna de ellas de lado, todas juegan. Además, se trata de un dispositivo para
“La Responsabilidad Social Empresarial debe sustentarse en los valores expresados por la ajustarse a nuevos contextos, al exigir que las empresas actúen apegadas a ciertos principios,
empresa y debe ser plasmada en un conjunto integral de políticas, prácticas y programas pero el discurso empresarial postula que se trata de un acto de responsabilidad de cada
a lo largo de las operaciones empresariales para institucionalizarla. De lo contrario, se empresa, como entidad autónoma y libre. En este sentido, el vínculo en red con otras empresas
caería en el riesgo de implementar prácticas que, si bien son socialmente responsables, (proveedores, distribuidores) también es afectado por las decisiones, además por supuesto del
al no responder a un mandato y cultura institucionales, están en peligro de suspenderse entorno donde se encuentra. Esto muestra vínculos estrategias entre los participantes, de tal
ante cualquier eventualidad, coyuntura, crisis presupuestal o cambio en la dirección forma que si aparece esta forma de gestión orientada a responder antes su entorno social y
de la empresa. Un elemento adicional fundamental es que la RSE debe ser apoyada e sus socios. las cuestiones a atender desde la RSE es amplia: las relaciones laborales (trabajo
incentivada por los altos mandos de la organización” (Cajiga, s/f, 4). infantil y forzoso, discriminación laboral, salarios), consecuencias en el consumidor por el tipo de
productos que se expenden; por otro lado, el tema del medio ambiente y todo aquello que puede
Los tomadores de decisiones son lo que dicen sí o no a la RSE, sí la respuesta es positiva, ellos serle pernicioso (tipo de materias primas y procesos productivos, además, consumo de energías,
mismos tiene en sus manos la orientación. Sólo así la empresa se compromete en atender los reciclaje, emisiones, residuos y contaminación, entre otros) , en lo económico, encontramos
aspectos sociales, no se trata de atender imposiciones externas, sociales dice Antonio Argandoña. estrategias de negociación y manejo de recursos con proveedores y distribuidores, precios,
Son las empresas o la empresa, que dan definen si son o no ESR. Esto implica incluir muchos de almacenaje y temas tan delicados como corrupción y sobornos.
los compromisos de la RSE, y asumidos de forma voluntaria. No se trata de actuar a partir de
regulaciones gubernamentales, impuestas por ley: Al final la RSE “Es un buen negocio”, a los resultados (búsqueda de ganancias). ¿En el fondo
de eso se trata, es decir, de lo mismo de siempre? Podemos revolotear todo lo que queramos
“Porque en cuanto la empresa formula ese compromiso, esos deberes adquieren un rango en este terreno y llegamos al mismo punto, “es un buen negocio”. Negocio que se centra en la
moral, que la empresa debe cumplir -aunque en la medida en que sean voluntarios, la disposición, la voluntad, de los empresarios y sus empresas en atender, bajo los principios de
empresa puede cambiarlos, si bien deberá entonces asumir alguna responsabilidad por autonomía y libertad lo que consideren relevante de este tema. Si bien se matiza al reconocer el
esa decisión” (Argandoña, 2009, 4). interés de los demás, al situamos en el tema de la rentabilidad se deja de lado la cuestión social,
es decir, el interés en el bienestar de la mayoría. Veamos este aspecto.
¿Qué es lo que es la RSE? Simplemente una disposición de ánimo, a voluntad de cada empresa
de definir y asumir compromisos, fijar actividades orientadas a tal fin y buscar resultados. Por 2. ¿La cuestión social y es atendida empresarialmente?
sentado, destaca la búsqueda de eficiencia. Sólo se busca realizar ciertos objetivos, para el Las exigencias del entorno y el interés empresarial se han combinado para producir la RSE,
propio beneficio matizado, “generando el mayor valor social posible a partir de los recursos conveniente “porque es un buen negocio”, y trae consigo una serie de ventajas adicionales. En
disponibles” (Argandoña, 2009, 5). Se trata de generar utilidades al colocar bienes y servicios en paralelo a este discurso, vivimos el deterioro de las condiciones de bienestar. La investigación
el mercado y esto posibilita o no y asumirse responsable socialmente. Es una posición endógena, social ha puesto el tema en la mira e investigadores como Richard Sennett, Sygmunt Bauman,
al colocar como referentes a los tomadores de decisiones, a los empleados (ejecutores de las Pierre Rosanvallon, Robert Castel y otros, han enfocado sus esfuerzos, para mostrar qué es lo
decisiones) y a otras empresas vinculadas como proveedoras y distribuidoras. La cuestión es ¿en que causa estas afectaciones, es decir, el “retorno de la cuestión social”. Esta nos conduce a
qué dimensión se sitúa la RSE? preguntarnos sobre lo social del dispositivo RSE. Veamos algunas de las consecuencias de las
nuevas modalidades de actuación de capitalismo y, por tanto, de las empresas para mostrar sí
Son, al menos, cinco grandes dimensiones relevantes: 1. técnica de gestión, 2. procedimiento son o no responsables socialmente y el papel del gobierno en todo esto.
para incrementar la tasa de ganancia, 3. estrategia para tranquilizar conciencias, 4. instrumento
legitimador o, 5. forma de intervenir para regular gubernamentalmente a las empresas. Es Para R. Sennett lo social en el capitalismo, es un camino andado desde el siglo XVIII y hacia

1149 1150
la segunda mitad del siglo XX muestra avance de posiciones mejorar la situación de la clase Imprescindible para estudiar los efectos de los procesos de globalización en lo que denomina
trabajadora, destaca la conexión de vínculos” sociales cotidianos y de organizaciones políticas, “consecuencias humanas”, es Baumann, al enfatizar la moralidad humana. Destaca el cambio
mediada por la “cooperación” (Sennett, 2012, 59). Esta transformación es “la socialidad, no en las modalidades de conducción de las empresas, la nueva gerencia, pues ésta le “pertenece
es el acto de tender la mano a los otros; es conciencia mutua, no acción conjunta”, se trata a las personas que invierten en ella: no a sus empleados, sus proveedores ni la localidad donde
de reconocimiento y de aceptación del otro, de la otredad, al extraño “como una presencia está situada”. El giro ocurrido es radical de tal forma que los empleados, proveedores y voceros
valiosa en el medio propio” (Sennett, 2012, 62). Uno de los aspectos cruciales para las de la comunidad no tienen voz en las decisiones que tomar las “personas que invierten”; los
nuevas modalidades gerenciales es lograr confianza de sus empleados, sus socios externos y el inversores son: “los verdaderos tomadores de decisiones, tienen el derecho de descartar sin más,
entorno, debido a los tres déficits del nuevo capitalismo: de lealtad, de confianza informal y de de declarar inoportunos y viciados de nulidad los postulados que pueden formular esas personas
conocimiento institucional (Sennett, 2007). Este nuevo contexto sistémico afecta lo social, en con respecto a su forma de dirigir la empresa” (Bauman, 1999, 13).
el deterioro, en la pérdida que ha sufrido en los últimos años, mientras el capitalismo florece.
Ahora esta novedosa alteración de la solidaridad, donde el reconocimiento del otro es central He aquí la contradicción en torno a la “responsabilidad”, pues la empresa sólo atiende el interés
para equilibrar la desigualdad social ahora es necesario recomponer la sociabilidad. de sus propietarios, así se cumple lo que Argañdosa afirma, la empresa está en manos de los
tomadores de decisiones y es su voluntad la que rige. Esto permite a los poseedores de riqueza
Pierre Rosanvallon destaca la necesidad de recuperar las condiciones que nos equiparen. Lo ubicarse donde las ventajas son mayores y sin riego de regulación, además hace posible que el
primero que destaca es el considerable uso de las instituciones de los ocupantes de altos cargos poder se desconecte de su responsabilidad en un grado altísimo y resulta:
de gestión vinculados con los grandes capitales, para acrecentar sus ventajas. La consecuencia
es el crecimiento de la desigualdad social, visible en el deterioro de los vínculos sociales y de “inédito en su drástica incondicionalidad, de las obligaciones: los deberes para con los
la solidaridad. La cuestión social aparece de esta forma, con la ruptura-modificación de las empleados y las mujeres, los jóvenes y débiles, las generaciones por nacer, así como la
estructuras institucionales dirigidas a matizar las diferencias sociales al producir condiciones autorreproducción de las condiciones de vida para todos; en pocas palabras se libera
para acrecentar el bienestar social de forma amplia, universal y facilitar el acceso a medios para del deber de contribuir a la vida cotidiana y la perpetuación de la comunidad. Sacarse
mejorar la posición social. Rasgos promovidos por los procesos económicos de la globalización de encima la responsabilidad por las consecuencias es la ventaja más codiciada y
y por “la individualización sociológica”, cuya génesis se encuentra en el programa de la apreciada que la nueva movilidad otorga al capital flotante, libre de ataduras; al calcular
modernidad. la “efectividad” de la inversión, ya no es necesario tomar en cuenta el coste de afrontar
las consecuencias” (Bauman, 1999, 17).
Lo que podemos observar en que en dispositivo empresarial de “responsabilidad...”, en el fondo se
expresa una disposición moral al ocultamiento, en este retorno de lo social donde se entreveran En esta nueva configuración de posiciones el capital disminuye drásticamente obligaciones, pero
como “confusión perversa” política y buenos sentimientos. Ya no se trata de la explotación del no las condiciones de dependencia que mantiene con los gobiernos nacionales, la regulación no
trabajo por el capital, de la exclusión provocada por la formación de un ejército industrial de desaparece, disminuye y se genera una nueva altamente favorable, de tal forma que la atención
reserva, ahora, dice Rosanvallon, la nueva cuestión social: “se traduce en una inadaptación de los de la <<cuestión social>> se ha modificado dramáticamente a favor de la empresa y el capital.
viejos mecanismos de gestión social.” (Rosanvallon, 2007, 8). Son dos problemas mayores: las Hoy son enormes las ventajas y sin control para capital, lo que se traduce “en un mundo donde
modalidades organizativas para brindar solidaridad y apoyo se ha visto severamente afectada y la el capital no tiene domicilio establecido y los movimientos financieros en gran medida están
concepción de atención de los derechos sociales, igualmente se ha erosionado. Ambos aspectos fuera de control de los gobiernos nacionales, muchas palancas de la política económica ya no
producidos, en buena medida por los excesos empresariales al buscar ampliar a toda costa los funcionan…” (Bauman, 1999, 75).
márgenes de ganancia.
Para Robert Castel lo relevante en la actualidad radica en el nuevo entramado institucional

1151 1152
centrado en la propiedad privada, benéfico sólo a un sector reducido de individuos demandantes
de garantías de seguridad para sus bienes; sesgo de apertura de conflictos y una permanente Referencias
exigencia de justicia por parte de marginados y desafiliados. Por lo demás, esto da paso
a la aparición de todo un entramado jurídico-legal para regular dichas exigencias y a la Abreu, J. L. y M. Badii (2007) “Análisis del concepto de responsabilidad social empresarial”, en
“omnipresencia de los policías”, lo que, a la vez, suma la demanda de respeto a la libertad Daena: International Journal of Good Conscience. 2(1), pp. 54-70. octubre 2006 – marzo 2007,
y la autonomía individual, y convierte estas formas de relación en una especie de carrera sin obtenido en www.daenajournal.org
fin, aunque los perdedores casi siempre son los mismos. De todo lo anterior surge la pregunta
¿la responsabilidad social empresarial atiende el conjunto de aspectos inscritos en la cuestión Aranda, R. Luis (1983) Introducción, en J. Locke, Ensayo sobre el gobierno civil, México, Edit.
social? Las posibilidades de reconducir las prácticas empresariales hacia la responsabilidad Aguilar.
para con la sociedad y los individuos es sumamente limitada.
Argandoña, Antonio (2009) La ética personal, los valores y la responsabilidad social corporativa,
Conclusión España, IESE Occacional Paper OP-164, febrero. www.iese.edu/ee

La estrategia empresarial llamada RS es un dispositivo empresarial “para lavarse la cara”, Bauman, Zygmunt (2011a) Daños colaterales: Desigualdades sociales en la era global, Edit. FCE,
para aparecer como una orientación dirigida a mostrar preocupación e interés por los asuntos México.
sociales, aunque al final se trata de algo propio de las empresas “un buen negocio”, originado
en las exigencias del entorno que genera críticas a las prácticas en el plano de las relaciones ______(2011b) Trabajo, consumismo y nuevos pobres, Gedisa Editorial, cuarta reimpresión,
laborales, medioambientales y económicas. En el terreno de la cuestión social, de la <<nueva España.
cuestión social>>, vivimos en una contradicción por los efectos regresivos en el bienestar donde
la propiedad ocupa un lugar privilegiado. Los efectos producidos en la configuración de las Cajiga Calderón, Juan Felipe (S/F) El Concepto de Responsabilidad Social Empresarial, México,
sociedades se manifiestan en la alteración, sin precedentes de la integración social al anular Centro Mexicano para la Filantropía. Obtenido en https://www.cemefi.org
los mecanismos, formas de solidaridad social que se construyen como procesos largos, donde el
reconocimiento del otro es fundamental para equilibrar la desigualdad social. Bauman atiende Castel, Robert (2010) El ascenso de la incertidumbre. Trabajo, proteccionismo, estatuto del
las ventajas que reporta para el capital la globalización, lo que permite a las élites económicas individuo, Edit. FCE, México.
y políticas (vinculadas, muchas veces, orgánicamente), maximizar las ventajas que ya tienen y
desatenderse de las necesidades de reproducción social. ______ (2004) La inseguridad social. ¿Qué es estar protegido?, Edit. Manantial. Argentina.
Fitoussi, Jean Paul y Pierre, Rosanvallon (2007(1997)) La nueva cuestión social, Edit. Manantial,
Finalmente, vivimos en la imposibilidad de hacer efectivos los derechos para lograr ejercer Argentina.
las libertades, es decir, se trata de un contexto favorable para quienes son libres de realizar
intercambios en el mercado por medio de contratos; se trata de quienes son propietarios, de ______ 2003d (1997)) La nueva era de las desigualdades, Edit. Manantial, Argentina.
capitalistas y de los vinculados con ellos. Quienes únicamente poseen su fuerza de trabajo para Sennett. Richard (2012) Juntos. Rituales, placeres y política de cooperación, Edit. Anagrama,
vender e intercambiar en el mercado se encuentran en una notable desventaja que los coloca en España.
situación de riesgo. El riesgo es producto de la inseguridad social, lo que implica la minusvalía de ______ (2007) La cultura del nuevo capitalismo, Edit. Anagrama, España.
la libertad promovida por Locke. Al final, la responsabilidad social empresarial es sólo “un buen
negocio”. Strandberg, Lena (2010) La responsabilidad social corporativa en la cadena de valor, España,

1153 1154
Cátedra “la Caixa” de responsabilidad social de la empresa y el Gobierno corporativo, IESE, N° Capítulo 113
6, abril. www.iese.edu/es
A relação sociedade-natureza e a emergência dos conflitos ambientais

Jaqueline Guimarães Santos1 y Eugenio Avila Pedrozo2

O horizonte que inspira este ensaio é a relação homem e natureza, ou sociedade/natureza, numa
perspectiva mais ampla, entendida como uma relação indissociável

envolvida num processo de produção social em que o homem produz sua própria vida. Tal relação
é tida como um processo pelo qual o homem, através das suas próprias ações, medeia, regula e
controla o metabolismo entre ele mesmo e a natureza, por meio de um processo dialético para
a produção da própria vida humana (Marx, 2013), em um ambiente que não é abstrato nem
neutro, mas constituído de atores sociais, animais, mitos, crenças, etc., “entidades consideradas
provenientes das ordens da natureza e da sociedade” (Almeida, 2016, p. 11).

Assim, compreendemos ser importante considerar que o metabolismo social entre homem e
natureza não se estabelece em um ambiente abstrato ou neutro, mas na teia da vida social
fundadas no modo de produção socialmente construído, sendo este ambiente “foco de atração/
objeção de alianças e disputas, as quais estão em constante elaboração pelos agentes sociais”
(Almeida, 2016, pág. 16). Desse modo, essa relação se constitui em um ambiente que é
socialmente-político construído pelos atores sociais e que, no estágio neoliberal do capitalismo,
as relações sociais são mediadas por imperativos sistêmicos da acumulação, da maximização
dos lucros e o imperativo da concorrência (Wood, 2014).

Logo, uma relação com a natureza para reprodução da própria vida humana, para os atores
sociais hegemônicos passa a ser de apropriação da natureza, muitas vezes tida como recurso,
para a geração de mais valor por meio da exploração exacerbada dos recursos naturais. Tal
apropriação gerou um conjunto de contradições ecológicas e vários efeitos negativos –
mudanças climáticas, desmatamento, perda da biodiversidade, poluição atmosférica, hídrica e
de solos, etc. – em escala planetária, colocando em perigo a biosfera em sua totalidade (Foster,
Clark & York, 2010).
1. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Email: jsantos.adm@gmail.com
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Email: eugenio.pedrozo@ufrgs.br

1155 1156
encontro de perspectivas e estão no centro das relações sociais, isto é, o mundo é um espaço
Nesse contexto, evidenciamos que as relações na organização societal capitalista é caracterizada de conflitos que depende de agenciamentos e do encontro entre pontos de vista” (Fleury &
por mudanças profundas na relação sociedade e natureza, caracterizada por dominação, Almeida, 2013, p. 24). Perspectivas estas que são resultados das formas como os atores sociais
exploração, subjugação e concentração, caracterizando o que o sociólogo John Bellamy Foster se relacionam com agentes – humanos e não humanos – fundantes para sua gênese enquanto
chama de falha metabólica (Moore, 2011b; Foster, Clark & York, 2010; Foster; 2015). É cada ator social, que, por vezes, são perspectivas concorrentes, as quais configuram as disputas em
vez mais comuns “ondas recorrentes de reestruturação geográfica, expansão global e crescente torno do ambiente.
bússola espacial das hegemonias que lideram e coordenam grandes ondas de crescimento
econômico” (Harvey, 2005; Moore, 2011a, pág. 110), nem que para isso seja necessário Nesse sentido, o conflito ambiental emerge a partir do enfrentamento de diferentes visões na
redefinir os espaços e formas de relação com a natureza ou mesmo expropriar atores sociais relação seres humanos e natureza, no encontro entre diferenças culturais e intersubjetividades,
de suas formas de vida. Todas estas transformações propiciaram as modificações no mundo na presença de heterogeneidades e múltiplos divergentes que se constituem em diferentes
social tornando recursos naturais de bem comum em bem privado, – energia, água, minério e visões de mundo, não sendo apenas a explicitação da diferença, mas a experiência do encontro
espaço como mercadorias – o avanço do capital na exploração da natureza choca-se com os de traços, formas de experimentar e de pensar que não são fixos, sendo uma categoria híbrida de
atores sociais que dão outros sentidos a seus territórios e, muitas vezes, associam suas próprias sociedade e natureza (Fleury & Almeida, 2013).
identidades.
Assim sendo, o argumento deste ensaio é que a relação sociedade-natureza imersa no processo
Tal configuração societal propiciou desenvolver relações sociais contraditórias e conflitantes e histórico e social atual contribui para a emergência dos diferentes conflitos ambientais, de
permitiu, por conseguinte, a eclosão de conflitos ambientais, uma vez que entram em choque os natureza diversa, mas que tem em comum a defesa da vida humana e dos ecossistemas, além da
diferentes interesses no processo de produção social. O conflito ambiental eclode envolvendo luta pelos territórios. Na América Latina os vários conflitos ambientais têm ganhado visibilidade
atores sociais que apresentam cosmovisões diferentes na relação homem e natureza. Henri desde do início dos anos 90, como os atingidos por barragens, movimentos de resistência à
Acselrad, autor brasileiro de destaque na temática aqui discutida, entende os conflitos ambientais expansão da monocultura, lutas contra a mineração, contra a contaminação urbano-industrial,
como: etc. (Acselrad, 2004). No Brasil, por sua vez, o ideário do desenvolvimento tem sido considerado
como “propulsor contínuo de conflitos com comunidades locais, que possuem outros projetos
Aqueles envolvendo grupos sociais com modos diferenciados de apropriação, uso para os rios, matas e lugares com os quais convivem” (Fleury, Barbosa & Sant’ana Júnior, 2017,
e significado do território, tendo origem quando pelo menos um dos grupos tem a p. 221). Nesse sentido, buscamos discutir neste ensaio a relação entre sociedade-natureza e as
continuidade das formas sociais de apropriação do meio que desenvolvem ameaçada por implicações dessa relação na emergência dos vários conflitos ambientais tendo como base o
impactos indesejáveis – transmitidos pelo solo, água, ar ou sistemas vivos – decorrentes contexto brasileiro. Consideramos, portanto, que esta pesquisa poderá contribuir para identificar
do exercício das práticas de outros grupos. O conflito pode derivar da disputa pela aspectos importantes concernentes à produção de conhecimento sobre conflitos ambientais.
apropriação de uma mesma base de recursos ou de bases distintas mas interconectadas A construção desse ensaio tem por base um levantamento e análise de trabalhos publicados
por interações ecossistêmicas mediadas pela atmosfera, pelo solo, pelas águas, etc. Este sobre a temática na base de dados Scielo, desde os anos 2000 até maio de 2017. Considero
conflito tem por arena unidades territoriais compartilhadas por um conjunto de atividades que foi um passo importante para uma aproximação ao tema e propiciou identificar as principais
cujo “acordo simbiótico” é rompido em função da denúncia dos efeitos indesejáveis da abordagens utilizadas e referenciadas pela literatura produzida sobre conflito ambiental no
atividade de um dos agentes sobre as condições materiais do exercício das práticas de Brasil nos últimos 17 anos, buscando caracterizar as principais vertentes teóricas que orientam
outros agentes (Acselrad, 2004, p. 26). os estudos.

Fleury e Almeida (2013), por sua vez, entendem os conflitos ambientais como parte “crucial do Um panorama das principais abordagens de Conflitos Ambientais

1157 1158
A centralidade da literatura brasileira sobre o campo dos conflitos ambientais tem como foco Nesse sentido, Fleury (2013) considera que conflitos ambientais apresentam especificidades
a expropriação material, violência simbólica, relações de poder assimétrico e de dominação e particularidades não atendidas pelas definições de conflitos sociais em geral, ao conectar
parecem ser o mote central das disputas e conflitos envolvendo diversos atores sociais (povos uma ampla rede de atores sociais – indígenas, ribeirinhos, instituições governamentais,
indígenas, ribeirinhos, quilombolas, etc., poder privado e Estado). É notável, portanto, que o conflito ambientalistas, entre outros – efetivamente está em jogo algo a mais, para além da atualização
ambiental apresenta um caráter político, com natureza processual e histórica, envolvendo um de antigos conflitos sociais mediante um discurso ambiental.
conjunto de atores sociais que mantém correlações de força distintas constituídas e contestadas
no âmbito de diversas práticas sociais. Os conflitos ambientais envolvem atores sociais com modos diferenciados de apropriação e uso
do espaço, relacionado a uma dimensão material, mas também envolve um conteúdo simbólico,
A literatura brasileira sobre conflitos ambientais tem aumentado sistematicamente nos últimos relacionado com as diferentes significações e representações do espaço para os atores, por
dez anos. As preocupações e propostas das agendas de pesquisas surgiram, simultaneamente, isso que o espaço não é neutro e contém um caráter político (Lima & Shiraishi Neto, 2015).
ao observar o aumento das iniquidades ambientais no país, o que tem exigido estudos que Laschefski e Costa (2008) destacam que no mesmo espaço há presença de divergências entre
tragam esses processos ao núcleo das pesquisas (Zhouri, 2014). Portanto, é possível identificar racionalidades e interesses dos segmentos sociais envolvidos e, frequentemente, as prioridades
algumas diferentes abordagens e eixos de discussão predominantes, as quais foram importantes de determinados grupos hegemônicos, muitas vezes contraditórias entre si, são atendidos, o que
debruçar para melhor aprofundamento neste campo de estudo. revela as relações de poder neste campo (Zhouri & Oliveira, 2012).

A ambientalização dos conflitos sociais relacionadas à construção de uma nova questão social De tal modo, compreender o conflito ambiental a partir do envolvimento de relações simbólicas
e o deslocamento do debate do conflito para arenas públicas, tornando o conflito uma questão de poder e dominação entre atores sociais em um campo é uma outra vertente de análise dos
pública é uma vertente teórica identificada (FUKS, 1998; 2001a; 2001b; LOPES, 2006). Para conflitos ambientais que segue o arcabouço analítico e conceitual da sociologia crítica e utiliza o
Lopes (2006), o processo de ambientalização dos conflitos sociais se dar, principalmente, pelo conceito de campo de Bourdieu. Desse modo, o campo delimita uma arena conflitiva, na qual os
crescimento da importância da esfera institucional do meio ambiente entre os anos 1970 e agentes disputam o poder e o seu posicionamento na hierarquia do mesmo (Laschefski & Costa,
o final do século XX, a partir da conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre 2008). Essa arena conflitiva emerge de eventuais rupturas do “acordo simbiótico” entre as
meio ambiente de Estocolmo, em 1972. O autor afirma que no âmbito das lutas sociais por diferentes práticas sociais dispostas no espaço, comprometendo a continuidade das formas que
apropriação do território, em determinadas circunstâncias históricas se constitui um campo adotam a apropriação do ambiente para reprodução da própria vida e/ou verifica-se uma recusa
ambiental que vincula as disputas de poder por recursos territorializados a um repertório de socialmente organizada frente a um novo tipo de acordo proposto pelos agentes hegemônicos,
práticas discursivas através das quais conflitos sociais e lutas territoriais se ambientalizam. como projetos de desenvolvimento e/ou atividades econômicas de grande impacto (Acselrad,
2004, 2005).
Logo, para esta vertente, o conflito ambiental se configura em um conflito social ambientalizado,
ou seja, atores sociais utilizam de argumentos ligados as questões ambientais para dar maior Conflitos ambientais resultantes de expropriação de povos tradicionais do seu espaço de
legitimidade e ganhar espaços nas arenas públicas. Contudo, embora o conflito ambiental seja de reprodução da própria vida para implantação de megaprojetos de desenvolvimento3 compreende
natureza social, entender o conflito em torno de um processo de ambientalização é compreender uma outra vertente explorada neste campo de estudo. A implantação dos megaprojetos traz,
que existe uma separação entre homem e natureza e que o conflito social precisa se ambientalizar principalmente, como argumento o discurso do progresso e desenvolvimento ou a noção de
para ganhar maior legitimidade. Tal compreensão sobre conflito ambiental não problematiza a “vazio demográfico” para justificar a ocupação do espaço, desconsiderando a existência de
separação homem-natureza e reduz a capacidade analítica que o campo de estudo tem para 3. Os megaprojetos implantados em território brasileiro, em sua maioria, fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que é um plano
do governo federal, lançado em 2007, que visa estimular o crescimento da economia brasileira, através do investimento em obras de infraestrutura
analisar uma determinada realidade social (Fleury, 2013). (portos, rodovias, aeroportos, redes de esgoto, geração de energia, hidrovias, ferrovias, etc.).

1159 1160
indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, dentre outros atores sociais (Meira Nesse sentido, considerar a carga cosmopolítica do conflito ambiental é o modo pelo qual se
& Almeida, 2016), o que tem contribuído para a emergência de vários conflitos ambientais atualiza a copresença de práticas problemáticas distintas, isto é, que existe no mesmo espaço
espalhados no território nacional. perspectivas que são diferentes e, muitas vezes, concorrentes. Logo, entendemos que evidenciar
a carga cosmopolítica do conflito ambiental contribuiu para o avanço teórico deste campo de
O governo, associado aos empresários privados, adotam um discurso “novo-desenvolvimentista” pesquisa, elucidando que o conflito ambiental é mais que um processo de ambientalização do
baseado nos significados de “vazio” e “atraso”, empreendendo ações no sentido de promover conflito social e envolve mais que uma dimensão material e simbólica. Fleury (2013) evidenciou
o “desenvolvimento” visando à industrialização e à infraestrutura exportadora. São vários os a concepção do ambiente como domínio de análise sociológica, com vistas a compreender os
megaprojetos – hidrelétricas, siderurgia, mineração e infraestrutura portuária, etc. – que não conflitos ambientais como um de seus desdobramentos, centrados em uma política pluriversa ou
levam em consideração consequências ambientais e sociais que estas ações podem provocar uma cosmopolítica, na qual diferentes mundos com suas formações socionaturais e suas visões
(Meira & Almeida, 2015) ao meio ambiente e a sociedade. Pelo contrário, alguns ganhos conflitantes possam ser considerados.
ambientais, como o código florestal, o licenciamento ambiental e os planos de mitigação e de
compensação ambiental, além dos direitos de grupos indígenas, quilombolas e povos tradicionais No geral, as vertentes analíticas no campo dos conflitos ambientais discutidas anteriormente
ancorados na Constituição de 1988, têm sido considerados como “entraves” ao desenvolvimento trazem à tona as diferentes racionalidades, lógicas e processos de apropriação do espaço com
(Zhouri & Laschefski, 2010, p. 15). vistas ao desenvolvimento de megaprojetos, envolvendo relações de poder assimétricos entre
os atores sociais, além de admitir que há cosmovisões diferentes coexistindo no mesmo espaço.
Cabe refletir, portanto, que os projetos de infraestrutura ou megaprojetos causam grandes Todavia, nenhuma destas analisou os conflitos ambientais situando-os em uma totalidade
transformações na vida das pessoas, modificando a dinâmica de vida dos atores sociais e/ou histórica e socialmente construída, resultantes da “organização espacial e da expansão
expropriando-as do seu espaço de reprodução social, as quais mantém vínculos simbólicos e geográfica como produto necessário para o processo de acumulação” inerente ao sistema de
afetivos. Além disso, é importante destacar que também são gerados vários impactos ambientais produção capitalista (Harvey, 2005, p. 46).
negativos como a perda da biodiversidade, alterações no lençol freático, poluição sonora,
visual, da água, ar, solo, além da privação de recursos naturais tidos como de bem comum, etc. Nessa perspectiva, Acselrad (2005) chama atenção para a importância de os conflitos ambientais
(Fearnside, 2013). Por isso, o conflito ambiental é mais do que disputas pontuais, apresenta um exprimirem as contradições internas dos modelos de desenvolvimento, haja vista que o objetivo
caráter holístico, caracterizam por “distintos conflitos que possuem em comum a luta contra o principal é a expansão da fronteira econômica do mercado e a intensificação do uso do espaço
imperativo do desenvolvimento, contra um desenvolvimento que na prática é expropriatório” territorial para a produção de riqueza a partir da implantação de projetos como hidrelétricas,
(Fleury & Almeida, 2013, p. 154). mineração, monoculturas de soja, eucalipto, construção de barragens, entre outros, como já
mencionado. Tais projetos são geradores de injustiças ambientais, na medida em que, ao serem
Nesse contexto, Fleury, Almeida e Premebida (2014) entendem que o conflito ambiental implementados, imputam riscos e danos as camadas mais vulneráveis da sociedade, as quais não
abrange mais que expropriação material e violência simbólica decorrentes dos processos de só são verdadeiramente excluídas do chamado desenvolvimento, mas assumem todos os ônus e
desenvolvimento, os autores consideram que é em termos cosmopolíticos que o conflito se impactos dele resultante (Zhouri, 2015).
expressa. A carga cosmopolítica manifestada no conflito ambiental visa identificar posições e
mapear as alianças e coalizões presentes nos embates políticos, além de observar elementos Rosa e Soto (2015) entendem que faz parte do próprio caráter do sistema de produção
cosmológicos, subjetividades e identitários subjacentes à configuração dos conflitos. Fleury capitalista a intensificação das contradições e que, na sociedade moderna, apresentam-se como
(2013) assegura que é preciso considerar a carga cosmopolítica do conceito de conflito contradições do espaço social. Os estudos envolvendo essa vertente seguem, principalmente, o
ambiental para investigar a emergência e configuração de tais conflitos. arcabouço teórico de Henri Lefebvre sobre a produção do espaço social, a qual recusa a visão do
“espaço como algo dado, neutro, imutável, ou um vazio em que se espalham coisas ou objetos.

1161 1162
Pelo contrário, o espaço é social e politicamente construído” (Laschefski & Costa, 2008, p. conflitos ambientais, no sentido de entender essencialmente como os conflitos são constituídos.
309). Assim, desenvolver pesquisas sobre conflitos ambientais é dar visibilidade a grupos de ribeirinhos,
seringueiros, quilombolas, povos indígenas, entre outros, para as incontestáveis transformações
Complementando, Laschefski e Costa (2008) consideram o espaço como um produto ou em suas vidas, retirando, muitas vezes, o direito de reprodução das suas próprias vidas, em
mercadoria, além de ser também um meio de produção intrínseco do capitalismo, e seu nome do “desenvolvimento e progresso”. Portanto, por ser considerado um campo teórico em
ordenamento segue a lógica de acumulação do capital. É justamente neste mesmo espaço que desenvolvimento e relevante no cenário nacional, crescentemente presente em vários eventos
se desenrolam as disputas sociais, onde o modo de distribuição de poder pode ser objeto de científicos brasileiros, compreendendo um espaço de debates, discussões e aproximação de
contestação e emergem os conflitos ambientais revelando as contradições internas dos modelos pesquisadores (Alonso & Costa, 2002; Fleury, Almeida & Premebida, 2014).
de desenvolvimento capitalista (Acselrad, 2005).
Referências
À guisa de síntese, compreendo que a literatura sobre conflitos ambientais no Brasil apresenta
perspectivas analíticas diferentes, abrangendo caminhos díspares para explorar o campo de Acselrad, H. (Org.). (2004). Conflitos Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
pesquisa. A seguir é apresentada uma sinopse das discussões e que, sumariamente, apresenta
um panorama brasileiro das abordagens de conflitos ambientais. Acselrad, H. (2005). Apresentação. In: Andréa Zhouri. (Org.). A insustentável leveza da política
ambiental. Belo Horizonte: Autêntica.

Almeida, J. (2016). Pesquisa Social sobre Ambiente: misturando sujeitos e objetos híbridos. In:
Almeida, J. (Org.) Conflitos Ambientais e controvérsias em Ciência e Tecnologia. Porto

Alegre: Editora da UFRGS, p. 11-26.

Alonso, A. M., & Costa, V. M. F. (2002). Para uma sociologia dos conflitos ambientais no Brasil.
In: Héctor Alimond. (Org.). Ecología Política Naturaleza, sociedad y utopía. 1a.ed. Buenos Aires:
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales - Clacso, v. 01, p. 115-135.

Cunha, I. (2003). Conflito ambiental em águas costeiras: Relação porto – cidade no Canal de São
Sebastião. Ambiente & Sociedade. Vol. VI nº. 2 jul./dez.

Dias, H. M., Soares, M. L. G., & Neffa, E. (2012). Conflitos socioambientais: o caso da carcinicultura
no complexo estuarino Caravelas - Nova Viçosa/Bahia-Brasil. Ambiente & Sociedade. São Paulo
É importante ressaltar que a maioria dos pesquisadores embasam seus estudos a partir do v. XV, n. 1, p. 111-130, jan.-abr.
conceito de conflito ambiental de Acselrad (2004). Se pode afirmar que os estudos problematizam
as relações de expropriação material e violência simbólica decorrentes dos processos de Fearnside, P. M. (2013). Hidrelétricas na Amazônia: Impactos e tomada de decisão. In: A.L. Val
desenvolvimento, entretanto, não avançam na compreensão das contradições inerentes ao & G.M. dos Santos (eds.) Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA), Tomo VI. Instituto
sistema de produção capitalista do espaço, as quais estão diretamente ligadas a emergência dos Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas. 2013. 202 pp.

1163 1164
ambientais: a elitização do meio ambiente na APA-Sul, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Fleury, L. C., Almeida, J., & Premebida, A. (2014). O ambiente como questão sociológica: conflitos Ambiente & Sociedade. Campinas. v. XI, nº 2. p. 307-322, jul.-dez.
ambientais em perspectiva, Sociologias, Porto Alegre, ano 16, n. 35, p. 34-82, jan./abr.
Lefebvre, H. (2006). A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins (do
Fleury, L. C. (2013). Conflito ambiental e cosmopolíticas na Amazônia brasileira: a construção original: La production de l’espace. 4e éd. Paris: Éditions Anthropos, 2000). Primeira versão: fev.
da usina hidrelétrica de belo monte em perspectiva. Tese de Doutorado. Programa de Pós-
Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS). 320p. Lima, R. M., & Shiraishi Neto, J. (2015). Conflitos Socioambientais: Direito Ambiental Como
Legitimador Da Atuação Do Estado No Jardim Icaraí, Curitiba. Ambiente & Sociedade, São Paulo
Fleury, L. C., & Almeida, J. (2013). A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte: conflito v. XVIII, n. 2. p. 133-148, abr.-jun.
ambiental e o dilema do desenvolvimento. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. XVI, n. 4, p. 141-
158, out.-dez. Lopes, J. S. L. (2006). Sobre processos de “ambientalização” dos conflitos e sobre dilemas da
participação. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 12, n. 25, p. 31-64, jan./jun.
Fleury, L. C., Barbosa, R. S., & Sant’ana Júnior, H. A. (2017). Sociologia dos conflitos ambientais: Marx, K. (2013). O capital. Livro I. Campinas: Boitempo.
desafios epistemológicos, avanços e perspectivas. Revista Brasileira de Sociologia, vol 05, no.
11, Set/Dez. Meira, A. C. H., & Almeida, J. (2015). Conflitos ambientais como categoria de análise
cosmopolítica e sentimentos de justiça injustiça. In: Anais XXX Congreso Latinoamericano de
Foster, J. B., Clark, B., & York, R. (2010). The ecological rift: capitalism’s war on earth. New York: Sociología ALAS 2015, 2015, San Jose - Costa Rica. Acta académica: XXX Congreso de la
Monthly review press. Asociación Latinoamericana de Sociología.

Foster, J. B. (2015). Marxism and Ecology: Common Fonts of a Great Transition. Monthly Review, Meira, A. C., & Almeida, J. (2016). Mar de quem? Crítica, sentimentos de (in)justiça e justificações
v. 67, n. 7, dez. em um conflito ambiental: empreendimentos portuários vs. pesca artesanal no litoral sul do
Espírito Santo, Brasil. Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPR), v. 39, p. 1-22.
Fuks, M. (1998). Arenas de Ação e Debate Públicos: Conflitos Ambientais e a Emergência do
Meio Ambiente enquanto Problema Social no Rio de Janeiro. Revista de Ciências Sociais, vol. 41, Moore, J. (2011a). Ecology, capital, and the nature of our times: accumulation & crisis in the
nº 1, Rio de Janeiro. capitalist world-ecology. Journal of World-System Research, v. 17, n. 1, p. 108-147.

Fuks, M. (2001a). Conflitos ambientais no Rio de Janeiro: ação e debate nas arenas públicas. Rio Moore, J. (2011b). Transcending the metabolic rift: a theory of crises in the capitalista
de Janeiro: Editora da UFRJ. worldecology. The Journal of Peasant Studies, v. 38, n. 1, p. 1-46.

Funks, M. (2001b). Environmental Conflicts and the Emergence of the Environment as a Social Rodrigues, L. R., & Thé, A. P. G. (2014). Veredas, oásis do sertão: conflito ambiental na apropriação
Problem in Rio de Janeiro. Space & Polity (Abingdon), Londres, v. 5, n.1, p. 49-68. das águas em Botumirim – MG. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v 26, nº 1, p.25-36, jan/abr.

Harvey, D. (2005). Produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume. Rosa, R. E., & Soto, W. H. G. (2015). Conflito Socioambiental e Contradições do Espaço Social: o
caso do polo naval de Rio Grande/RS. Caderno CrH, Salvador, v. 28, n. 75, p.607-622, Set./Dez.
Laschefski, K., & Costa, H. S. M. (2008). Segregação social como externalização de conflitos

1165 1166
Sant’ana Júnior, H. A. (2016). Complexo Portuário, Reserva Extrativista e desenvolvimento no Capítulo 114
Maranhão. Caderno CrH, Salvador, v. 29, n. 77, p. 281-294, Maio/Ago.

Wood, E. M. (2014). O Império do capital. São Paulo: Boitempo.


O requisito da sustentabilidade nas universidades públicas brasileiras à luz da
análise crítica do discurso
Zhouri, A., & Laschefski, K. (orgs.). (2010). Desenvolvimento e conflitos ambientais. Belo
Horizonte, Editora UFMG. Fernanda Mitsue Soares Onuma1, Flávia Luciana Naves Mafra2 y Gustavo Ximenes Cunha3

Zhouri, A. (2014). Mapping Environmental Inequalities in Brazil: mining, environmental conflicts


and impasses of mediation. Net Working Papers, v. 75, p. 1-39. Introdução

Zhouri, A. (2015). Megaprojects, epistemological violence and environmental conflicts in Brazil. O avanço do neoliberalismo tem favorecido a desresponsabilização do Estado de investimentos
Waterlat-Gobocit Working Paper Series, v. 2, p. 1-19. em áreas essenciais ao bem-estar da população, como a saúde, a educação e a cultura em
detrimento de políticas de ajuste fiscal que beneficiam agentes do mercado financeiro. Nesse
Zhouri, A., & Oliveira, R. (2012). Development and environmental conflicts in Brazil. Virtual contexto que, no Brasil, se acentua a partir dos anos de 1990, com a chamada Reforma
Brazilian Anthropology, v. 9, n. 1. January to June. Gerencial do Estado, a educação superior pública brasileira passa a adotar discursos ideológicos
gerencialistas, que se caracterizam pela colonização discursiva da Administração Pública pelos
discursos empresariais (Cunha, 1993; 2007c; Harvey, 2014; Rodrigues, 2010).

Diante desse panorama, buscamos compreender, por meio da Análise Crítica do Discurso
(ACD) em Fairclough (1985; 1992; 2001; 2005; 2008; 2010; 2012), o processo de mudança
organizacional pelo qual a sustentabilidade passou a requisito para as universidades públicas
brasileiras. O conceito de sustentabilidade tem sido apropriado nas organizações sob diferentes
perspectivas, dependendo do grupo que o utiliza, desde os ambientalistas radicais, governos
e organizações não-governamentais e, até mesmo, pelas empresas, que têm distorcido seu
sentido a fim de dinamizar seus negócios (Barbieri, 2012; Dias; Teodósio, 2011; Teodósio;
Barbieri; Csillag, 2006). Assim, embora envolva mais que o uso de tecnologias e práticas de
gestão ambientalmente corretas, seu uso em organizações públicas brasileiras tem se limitado à
ecoeficiência ou redução de consumo de recursos como água e energia elétrica (Barbieri, 2012;
Dias; Teodósio, 2011; Freitas, 2011; Nascimento, 2012).

A abordagem teórico-metodológica da Análise Crítica do Discurso (ACD): revelando o papel do


1. Universidade Federal de Alfenas-MG (UNIFAL), Brasil. Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) Email: fernanda.onuma@unifal-mg.edu.br
2. Universidade Federal de Lavras-MG (UFLA), Brasil. Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA). Email: flanaves@dae.ufla.br
3. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil. Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (POSLIN). Email: ximenescunha@yahoo.
com.br

1167 1168
discurso em processos de mudança organizacional compreensão de processos de mudança organizacional a exemplo do uso que o autor faz dessa
perspectiva teórico-metodológica para a mudança social, apenas com a mudança de escala
De acordo com Fairclough (2011), toda prática social é composta por elementos como os sujeitos da sociedade, como um todo, para as organizações. Fairclough (2005) sugere a existência
e suas relações sociais, as atividades, os objetos, instrumentos, tempo e lugar, valores, formas de quatro dimensões discursivas da mudança organizacional sem, contudo, indicar caminhos
de consciência e discurso. Tais elementos, embora estes sejam diferentes, são indissociáveis metodológicos para a realização de pesquisas desta natureza. Neste estudo, propomos tais
dentro da vida social (Fairclough, 2005; 2008; 2010). Fairclough (2010) explica que cada um caminhos, a partir da constituição de cadeia intertextual, no qual pelas citações diretas que
destes elementos da prática social acaba por internalizar os demais, sem que possa, contudo, diferentes textos fazem entre si se torna possível identificarmos a presença de intertextualidade
ser reduzido a estes. A partir de sua teoria social do discurso, Fairclough (1985, 1992, 2001, (quando um texto faz menção a outro) e como a articulação entre estes textos colabora para a
2005, 2008, 2010, 2012), apresenta como o discurso influencia em processos de mudança criação e o reforço de ideias, ideologias e hegemonia que colaboram para que as organizações
organizacional, visto que, como Fairclough (2005) aponta, o discurso é produto e produtor das mudem.
demais práticas sociais constituindo assim, elemento importante na análise de processos de
mudança. Para a compreensão da mudança organizacional pela via da ACD, Fairclough (2005) sugere
que quatro dimensões precisam ser analisadas em termos de discurso: 1) a emergência do
Justificamos nossa opção pelo referencial teórico-metodológico da ACD em Fairclough (2012) em novo discurso e sua constituição a partir de novas articulações de discursos já existentes; 2) a
virtude de considerarmos que, como Harvey (2014) observa, nenhuma forma de pensamento se hegemonia, buscando compreender como os processos do novo discurso emergente se articulam
torna aceita sem mobilizar valores e desejos das pessoas, ou seja, sem que se torne hegemônica, a discursos socialmente hegemônicos e como se tornam hegemônicos dentro da organização;
uma vez que a hegemonia corresponde a um direcionamento moral, cultural e ético por meio 3) recontextualização, que envolve a disseminação do novo discurso hegemônico emergente
do qual se busca adaptar as classes trabalhadoras às estratégias de dominação capitalistas ao longo da organização e 4) operacionalização, que envolve como tal discurso é colocado em
(Gramsci, 2001). prática por meio do uso de gêneros do discurso, estilos, inculcação de novos hábitos e identidades
e sua materialização em objetos ou propriedades no mundo físico da organização.
Em outras palavras, todo processo de mudança perpassa o discurso, que busca construir formas
de consenso visando à criação de formas de passividade que, para se tornarem efetivas na A partir de Orlinowski e Yates (1994) e Yates e Orlinowski (2002), retomamos o conceito
sociedade ou na organização, precisam ser hegemônicas a fim de facilitar a adesão das pessoas. de gênero discursivo de Bakhtin (1997) e o integramos ao estudo de processos de mudança
Como Chouliaraki e Fairclough (1999) apresentam, a ACD compreende que o discurso figura nas organizacional proposto por Fairclough (2005). Os gêneros discursivos, segundo Bakhtin (1997)
práticas sociais de duas formas: as práticas sociais são parcialmente discursivas e também são são formas relativamente estáveis de enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da
representadas discursivamente. atividade humana, consistindo em modelos comunicativos (como uma carta, uma portaria,
uma reportagem, uma ata, entre outros) dotados de caráter normativo e que promovem uma
Enquanto representações das práticas sociais, os discursos ajudam a sustentar relações de economia nos processos comunicativos. Por exemplo, ao lermos um boleto bancário, já sabemos
dominação, uma vez que se busca, por meio dos discursos, moldar o modo como as pessoas de antemão para que este gênero discursivo serve (daí a economia no processo comunicativo),
interpretam a si próprias e ao mundo (Chouliaraki; Fairclough, 1999). Argumentamos, bem como a obrigação de o pagarmos antes da sua data de vencimento (seu caráter normativo).
portanto, que o discurso participa do processo que envolve fomentar e operacionalizar a Por meio da ACD dos textos que compõem a cadeia intertextual de um processo de mudança
mudança organizacional, visto que esta depende da adesão de diferentes pessoas que compõe organizacional, buscaremos apresentar uma sugestão de como essa perspectiva teórico-
a organização. metodológica pode ser utilizada em pesquisas críticas em Estudos Organizacionais, ressaltando
a importância do discurso para a implantação e manutenção de mudanças nas organizações que
Em Fairclough (2005), encontramos a sugestão de que a ACD pode ser utilizada para a podem estar encobrindo a criação e manutenção de hegemonia.

1169 1170
vez, faz referência à Portaria nº370/2015 do MEC (Texto 04), aos Textos 06 e 07, que são duas
A cadeia intertextual ou sistema de gêneros discursivos corresponde à cadeia ou sistema dissertações defendidas na UFLA e ao “Desafio da Sustentabilidade” (Texto 01) que, segundo
formado pelas relações transformacionais estabelecidas pela relação entre os diferentes tipos consta no próprio Texto 05, foi originado a partir de dissertações originadas na UFLA.
de texto, configurando suas formas da organização das dimensões espacial, temporal e social.
(Fairclough, 1992, 2008; Yates; Orlinowski, 2002). A identificação do elo entre os textos que Estas duas dissertações foram defendidas no curso de Mestrado Profissional em Administração
conformam nosso corpus se deu por meio de intertextualidade manifesta, identificada a partir Pública do Programa de Pós-Graduação em Administração Pública da Universidade Federal de
da marca de heterogeneidade da referência direta. Ou seja, partindo do marco oficial da política Lavras- MG (PPGAP/UFLA), das quais nos importam, sobretudo, trechos em que conste o conceito
que tornou a sustentabilidade requisito legal às universidades públicas brasileiras (Portaria nº de sustentabilidade para as universidades sugerido em tais publicações. Essas dissertações,
370/2015, passamos a buscar textos que faziam referência direta a este, bem como o texto ao Textos 06 (Cavalcante, 2015) e 07 (Souza, 2015), são de autoria dos mesmos profissionais
qual a portaria fazia referência. Com isso, fomos identificando textos que, por sua vez, também do MEC responsáveis pela organização do Texto 02, que tiveram suas dissertações orientadas
faziam referência direta a outros textos, tal como explicamos a seguir. Ressaltamos que a pelo mesmo professor da UFLA com quem dividem a organização da “Coletânea Desafio da
numeração dos textos (Texto 01, Texto 02 e assim em diante) se deu pelo critério cronológico, Sustentabilidade” (Texto 02).
de modo que o Texto 01 foi o primeiro a ser publicado e o Texto 08 é o mais recente.
Buscando ainda no website do “Desafio da Sustentabilidade” (disponível em: http://
Partindo da Portaria nº 370, lançada pelo MEC em 16 de abril de 2015, temos que esta faz desafiodasustentabilidade.mec.gov.br/), encontramos um hiperlink (elo digital para outro texto)
referência direta a outro texto, a “Coletânea Desafio da Sustentabilidade”. Sobre esse desafio, para a “Coletânea Desafio da Sustentabilidade” (Texto 02) e para o “Anuário da Eficiência do
selecionamos como Texto 01 a apresentação do website do “Desafio da Sustentabilidade” (Texto Gasto Público com Água e Energia nas Instituições Federais de Ensino: Ano de 2015 – Desafio
01) (Ministério da Educação, 2015b). A “Coletânea Desafio da Sustentabilidade” é um livro da Sustentabilidade” (disponível em: http://desafiodasustentabilidade.mec.gov.br/anuario.
lançado ao final de 2014 do qual extraímos trechos que tratassem da questão da sustentabilidade pdf), do qual destacamos a apresentação, bem como alguns trechos que ilustram a visão de
nas universidades públicas brasileiras e que nos ajudassem a responder aos nossos objetivos de sustentabilidade que o MEC estabeleceu às universidades (Texto 08) a partir da Portaria nº
pesquisa (Texto 02) (Ministério da Educação, 2015c). Segundo a ficha técnica do Texto 02, 370/2015 (Texto 04). Logo, o Texto 08 (Ministério da Educação, 2016) corresponde a trechos do
o mesmo foi realizado pelo Ministério da Educação (MEC), pelas suas Secretaria Executiva e referido anuário que, por sua vez, faz referência direta à “Coletânea Desafio da Sustentabilidade”
Subsecretaria de Planejamento e Orçamento, contando com o apoio da Universidade Federal de (Texto 02).
Lavras-MG (UFLA). Os organizadores da obra, ainda conforme a ficha técnica dessa coletânea,
são dois profissionais do MEC e um professor da UFLA. A fim de facilitar a compreensão da construção de nosso corpus de análise a partir da
constituição da cadeia intertextual da sustentabilidade na universidade pública federal estudada,
Identificamos por Texto 03 uma notícia veiculada pela Agência Brasil (EBC), empresa pública apresentamos, a seguir, uma representação gráfica da intertextualidade manifesta estabelecida
que reúne os veículos de comunicação estatais e governamentais, um dia antes da publicação entre os textos que compõem nosso corpus (Figura 1), na qual os sentidos das setas indicam que
no Diário Oficial da União (DOU) da Portaria nº 370/2015, ou seja, em 15 de abril de 2015 um texto possui referência ao outro, identificando a existência de marca de heterogeneidade
(Tokarnia, 2015). Nessa notícia há uma breve apresentação da referida portaria, bem como mostrada de referência direta. A seta mais espessa indica que ambos os textos graficamente
trechos de uma entrevista feita pela equipe da EBC com o então Ministro da Educação a respeito. representados (Textos 06 e 07) fazem referência direta ao Texto 02.
O Texto 04 é a própria Portaria nº 370/2015 (BRASIL, 2015).

O Texto 05 (LIMA, 2015), por sua vez, é uma notícia veiculada pela Assessoria de Comunicação
da Universidade Federal de Lavras- MG (ASCOM/UFLA) de 04 de maio de 2015 que, por sua

1171 1172
O Texto 06 adota uma visão empresarial de sustentabilidade, preocupada não com a preservação
do meio ambiente, mas com o uso de recursos naturais para o aumento da competitividade e
do crescimento econômico que, na lógica neoliberal, se adequa ao uso da sustentabilidade nas
universidades no sentido de economia de gastos para redução de repasses orçamentários às
universidades públicas para fins de política de ajuste fiscal corresponde aos sentidos assumidos
por este discurso nos textos do MEC analisados.

Para a análise da dimensão discursiva da mudança organizacional de recontextualização,


analisamos como a força ilocucionária, os significados ideacionais e os significados interpessoais
dos textos colaboraram para a captação e adaptação de discursos externos no discurso
universitário de sustentabilidade. Retomando a força ilocucionária do Texto 01, o mesmo buscou
transmitir a ideia de que a sustentabilidade deve ser um requisito das IFEs não por uma imposição
O papel do discurso da sustentabilidade no avanço neoliberal contra as universidades públicas do MEC, mas por sugestão das próprias IFEs e visando a uma ampliação de ações de eficiência
brasileiras nos gastos com água e energia elétrica já em andamento nessas instituições.

Analisando a dimensão das práticas sociais da Análise Crítica do Discurso, pudemos identificar O Texto 02 apresentou por força ilocucionária a ideia de legitimidade da sustentabilidade
que, por meio do discurso como prática social, o MEC buscou atrelar a origem do discurso de como requisito às IFEs em razão do caráter democrático do processo que lhe deu origem e à
sustentabilidade como requisito às universidades públicas brasileiras a uma destas instituições, participação de uma destas, a UFLA, no próprio processo de criação da “consulta popular”. A
a UFLA. Conforme buscamos apresentar na análise da dimensão social da ACD, o fato da UFLA força ilocucionária do Texto 03 buscou validar a sustentabilidade como política oficial junto às
ser a universidade que mais tem se destacado em termos de sustentabilidade, sendo utilizada IFEs brasileiras, preparando expectativas para a força ilocucionária do Texto 04, a portaria do
por governos de orientação neoliberal para a contenção de gastos públicos na educação MEC, que fora publicada no DOU no dia seguinte à publicação da notícia do Texto 03. A força
superior brasileira não é mera obra do acaso. Percebemos que a emergência do discurso de ilocucionária do Texto 04 consistiu na obrigatoriedade da sustentabilidade (como eficiência no
sustentabilidade como requisito às universidades públicas brasileiras é anterior à política oficial gasto com consumo de água energia elétrica) nas IFEs e demais organizações ligadas ao MEC
do MEC, estando ligado ao discurso hegemônico anterior do gerencialismo (como conceito como requisito necessário à eficiência na gestão pública pela adequação a medidas já em uso
ideológico que reforça a dominação capitalista promovendo a colonização da gestão pública no Governo Federal.
pela gerencial) e da sustentabilidade (em seu sentido empresarial, tomada como a capacidade
de uma organização se auto sustentar financeiramente ao longo do tempo) (Andrade et al, 2016; Embora o Texto 05 tenha sido criado no âmbito da UFLA, pela ASCOM/UFLA, observamos que
Faria, 2011; Misoczsky; Böhm, 2012; Silva; Reis; Amâncio, 2012). a sua força ilocucionária complementa a dos demais textos anteriores por reforçar a ideia de
coparticipação da UFLA na elaboração da portaria que tornou oficialmente a sustentabilidade um
Por meio da análise das dimensões textual e discursiva da ACD de textos produzidos pelo requisito às IFEs, baseando-se na crença de que este seria um feito que a comunidade acadêmica
Ministério da Educação e por uma universidade pública brasileira pudemos compreender o(s) deveria reconhecer como positivo, dado o estilo publicitário do texto. O Texto 06, um trecho de
sentido(s) que o discurso da sustentabilidade tem assumido nestes, o que se tornou mais claro uma das dissertações defendidas no âmbito da UFLA que teriam colaborado para a criação da
na análise do Texto 06, que apresenta a definição de sustentabilidade adotada nessa política do portaria do MEC tem por força ilocucionária a ideia de que recursos naturais como a água devem
MEC. ser preservados não só para garantir seu acesso pelas gerações futuras, mas também para
favorecer o crescimento econômico e o potencial competitivo dos países no mercado global. A

1173 1174
força ilocucionária do Texto 07, por sua vez, foi a de que as premiações oferecidas constituíram marcas de heterogeneidade mostrada que, como apresentamos, foram utilizadas nos textos
forma artificial de garantir a participação do público das IFES no “Desafio da Sustentabilidade˜ para mascarar o caráter privatizante dessa política, julgamos que nossa análise nos permitiu
e, por fim, a força ilocucionária do Texto 08, por fim, foi de que a sustentabilidade tem se firmado compreender também que o processo de mudança organizacional estudado não se trata de um
como requisito às universidades públicas brasileiras e demais instituições públicas de educação processo novo e isolado, mas de uma reformulação da investida neoliberal contra as universidades
superior, dada a adoção de práticas de eficiência dos gastos com água e energia elétrica nestas públicas brasileiras que vêm se construindo ao longo da história do país como parte do projeto
organizações ao longo de 2015. societário desenvolvido por suas elites dirigentes segundo os ditames neoliberais.

Logo, em suma, os textos transmitem, em conjunto, a força ilocucionária ou intenção geral Referências
de que o requisito da sustentabilidade nas universidades a partir da política oficial do MEC é
necessário por garantir crescimento econômico e diferencial competitivo, foi decidido de Andrade, L. P. et al. (2016) Estratégia como prática: uma análise das práticas ambientalistas
maneira democrática (embora tenha contado com o artifício das premiações para impulsionar da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Revista de Gestão Social e Ambiental, 10 (2), 2-18.
a “consulta pública), com participação das próprias universidades públicas brasileiras,
especialmente, da UFLA (feito do qual a comunidade acadêmica desta universidade deveria se Bakhtin, M. (1997) Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes.
orgulhar) e que, enquanto política oficial do MEC após a publicação da Portaria n°370/2015
deve ser obrigatoriamente seguida para seguir se consolidando nestas instituições, que tanto Barbieri, J. C. (2012) Organizações inovadoras sustentáveis. Caderno de Inovação, 3 (1), 5-9.
avançaram em termos de implantação de soluções em eficiência do gasto público com água e 376
energia elétrica ao longo do ano de 2015.
Brasil. (2015a) Portaria nº 370, de 16 de abril de 2015. Diário Oficial [da] República Federativa
Nesse caso, portanto, a recontextualização dos discursos do MEC e da UFLA para que a do Brasil, Brasília (1, pp. 14).
sustentabilidade se tornasse requisito às universidades públicas brasileiras passa pelas
estratégias de dar a entender aos interlocutores dos textos que o discurso da sustentabilidade é Brasil (2015b). CCJ aprova PEC que permite cobrança por especialização em universidades
um critério gerencial importante para as universidades que fora adotado pelo MEC e demandado públicas. Retrieved November 30, 2016, from http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/
a estas instituições de maneira pretensamente democrática e sem imposição, o que não se noticias/educacao-e-cultura/490562-ccj-aprova-pec-que-permite-cobranca-por-
confirmou a partir de nossas análises. especializacao-em-universidades-publicas.html.

Considerações Finais Brasil (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal.

A análise de nosso corpus via ACD nos permitiu nos atermos não apenas ao caráter textual Brasil (2016). Anuário de eficiência do gasto público com água e energia elétrica nas
e aspectos linguísticos imediatamente apresentados nesses textos, mas também remetermos, instituições federais de ensino: ano de 2015. Retrieved September 12, 2016, from http://
sobretudo a partir da análise das práticas sociais, a questões acerca de processos históricos, desafiodasustentabilidade.mec.gov.br/anuario.pdf.
econômicos, sociais e políticos que construíram o atual contexto de mercantilização e privatização
da educação superior brasileira e que favoreceram a emergência de um requisito como o da Brasil (2015c). Coletânea desafio da sustentabilidade. Retrieved February 22, 2015, from
sustentabilidade, em sua concepção empresarial, nas universidades públicas brasileiras. http://desafiodasustentabilidade.mec.gov.br.

Para além das estratégias linguísticas de escolhas de vocabulário, gêneros discursivos ou Brasil (2015d). Desafio da sustentabilidade. Retrieved February 22, 2015, from http://

1175 1176
desafiodasustentabilidade.mec.gov.br. Fairclough, N. (1992) Intertextuality in critical discourse analysis. Linguistics and Education,
4(3), 269-293.
Cavalcante, C. C. M. (2015) Inovação aberta no setor público: soluções inovadoras para a redução
do consumo de água nas instituições federais de ensino do Brasil. Professional Master’s Degree Fairclough, N. (2005) Peripheral vision: discourse analysis in organization studies: the case for
Dissertation, Federal Universidade of Lavras, Lavras, MG, Brazil. critical realism. Organization Studies, 26(6), 915-939.

Chouliaraki, L.; Fairclough, N. (1999) Discourse in late modernity: rethinking critical discourse Faria, J. H. De. (2011) Por uma teoria crítica da sustentabilidade. Proceeding of the Seminário
analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press. sobre Sustentabilidade. Curitiba, PR, Brazil, 5.

Cunha, L. A. (2005) Autonomia universitária: teoria e prática. Avaliação, 10 (1), 31-49. Gramsci, A. (2001) Cadernos do cárcere, v. 4. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Cunha, L. A. (1993) Universidade e sociedade: uma nova dependência? Revista Brasileira de Harvey, D. (2014) O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Loyola.
Estudos Pedagógicos, 74 (176), 103-110.
Lima, M. (2015) Portaria do MEC para o uso racional de recursos originou-se de pesquisa do
Cunha, L. A. (2007) A universidade reformanda: o golpe de 1964 e a modernização do ensino PPGAP/UFLA. Retrieved November 13, 2015, from http://www.ufla.br/ascom/2015/05/04/
superior. São Paulo: Editora Unesp. portaria-do-mec-para-o-uso-racional-de-recursos-originou-se-de-pesquisa-do-ppgapufla.

Dias, S. L. F. G.; Teodósio, A. Dos S. De S. (2011) Perspectivas de análise do ambientalismo Magalhães, C. M. (2001) A análise crítica do discurso enquanto teoria e método de estudo. In
empresarial para além de demonizações e santificações. Revista de Gestão Social e Ambiental, MAGALHÃES, C. M. (Ed.). Reflexões críticas sobre a análise crítica do discurso (pp. 15-30). Belo
5 ( 2), 3-17. Horizonte: Editora UFMG.

Fairclough, N. (2012) Análise crítica do discurso como método em pesquisa social. Linha d’Água, Maingueneau, D. (1997) Novas tendências em análise do discurso. Campinas: Editora UNICAMP.
2 (25),307-329.
Marcuschi, L. A. (2007) Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In DIONISIO, A. P.;
Fairclough, N. (2001) A análise crítica do discurso e a mercantilização do discurso público: as MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Ed.). Gêneros textuais & ensino (pp. 19-36). Rio de Janeiro:
universidades. In MAGALHÃES, C. M. (Ed.). Reflexões críticas sobre a análise crítica do discurso Lucerna.
(pp. 31-81). Belo Horizonte: Editora UFMG.
Misoczky, M. C.; Böhm, S. (2012) Do desenvolvimento sustentável à economia verde: a constante
Fairclough, N. (1985) Critical and descriptive goals in discourse analysis. Journal of Pragmatics, e acelerada investida do capital sobre a natureza. Cadernos EBAPE.BR, 10(3),546-568.
9(6),739-763.
Nascimento, E. P. D. (2012) Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social ao
Fairclough, N. (2010) A dialética do discurso. Revista Teias, 11(22), 225-234. econômico. Estudos Avançados, 26 (74),51-64.

Fairclough, N. (2008) Discurso e mudança social. Brasília: Editora UnB. Orlikowski, W. J.; Yates, J. (1994) Genre repertoire: the structuring of communicative practices
in organizations. Administrative Science Quarterly, 39(4),541-574.

1177 1178
Capítulo 115
Rodrigues, J. (2010) “Vamos ganhar dinheiro à beça”: farsa e tragédia na política do governo
Lula para a educação superior. Universidade e Sociedade, 45(1),85-91.
As políticas ambientais no Brasil: uma visão sob a ótica da Economia
Sguissardi, V. (2006) Reforma universitária no Brasil - 1995-2006: precária trajetória e incerto Institucional
futuro. Educação e Sociedade, 27(96),1021-1056.
Tatiane Pelegrini1, Osmar Tomaz de Souza2 y Paola Liziane Silva Braga3
Silva, S. S. Da; Reis, R. P.; Amâncio, R. (2014) Conceitos atribuídos à sustentabilidade em
organizações de diferentes setores. Revista de Ciências da Administração, 16( 40), 90-103.
1. Introdução
Souza, W. V. L. De. (2015). Participação social na elaboração de estratégias para reduzir o
consumo e gastos da administração pública com energia elétrica. Professional Master’s Degree A partir da década de 70, com a Conferência das Nações Unidas em Estocolmo (1972), foram
Dissertation, Federal Universidade of Lavras, Lavras, MG, Brazil. iniciados os grandes debates sobre os riscos da degradação do meio ambiente, sendo que o auge
das discussões ocorreu na conferência realizada no Rio de Janeiro no ano de 1992 (Guimarães,
Teodósio, A. D. S.; Barbieri, J. C.; Csillag, J. M. (2006) Sustentabilidade e competitividade: novas 1997; Brüseke, 1995). A Rio 92 firmou a definição de Desenvolvimento Sustentável por meio
fronteiras a partir da gestão ambiental. Revista Ibero Americana de Estratégia, 5(1), 37-49. da Agenda 21, documento desenvolvido durante o evento, que tencionava estabelecer um novo
padrão de crescimento ambientalmente racional (BARBOSA, 2008).
Tokarnia, M. (2015). Portaria do MEC determina economia de recursos públicos a órgãos
vinculados. Retrieved February 22, 2015, from http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/ Conforme aponta Lehtonen (2004), foi a partir da própria Agenda 21 que a combinação
noticia/2015-04/portaria-do-mec-determina-economia-de-recursos-publicos-orgaos- das dimensões social, econômica e ambiental passou a ser associada ao Desenvolvimento
vinculados. Sustentável. Esse modelo serviu como referência para a maioria das definições posteriores de
Desenvolvimento Sustentável e deu ênfase às diferentes formas de relacionamento entre o meio
Yates, J.; Orlikowski, W. (2002) Genre Systems: structuring interaction through communicative ambiente e o contexto econômico (Galvanese, 2008).
norms. Journal of Business Communication, 39(1),13-35.
Nessa perspectiva, ao examinar o papel das instituições no desenvolvimento, North (1990),
dentre outros autores da corrente institucionalista, desenvolveu uma abordagem que permitiu
a integração entre análise institucional, economia e história econômica, conforme ressalta
Romeiro (2007) e Belik, Reydon e Guedes (2007). E ao evidenciar a importância da história e das
instituições, North incorpora elementos originais ao debate sobre o desenvolvimento, sobretudo
porque as instituições, enquanto regras, normas e padrões, acabam definindo o próprio perfil do
desenvolvimento que um país ou uma região terá.
1. Doutoranda em Economia do Desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PPGE/PUCRS). Email: tatikpelegrini@gmail.com
2. Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGE/PUCRS). Email:
osmar.souza@pucrs.br
3. Doutoranda em Economia do Desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PPGE/PUCRS). Email: ecopaolabraga@gmail.com

1179 1180
Dado o longo tempo de recuperação do meio ambiente, torna-se urgente a tomada de decisão
Assim, a temática ambiental e o desenvolvimento sustentável podem ser vistos como temas ecológica, considerando que o modelo atual de desenvolvimento é insustentável a médio ou longo
privilegiados ao enfoque institucional. Isto porque as políticas voltadas para o meio ambiente prazo, especialmente nos países industrializados. As mudanças de cunho ambiental pressupõem
constituem instrumentos formais de regulação pelos quais o Estado define regras e padrões um movimento anterior multissetorial e global, com a capacidade de alterar os próprios valores
de comportamento. Não seria razoável supor que as alterações no ambiente institucional por culturais, condicionados a uma mudança no estilo de vida de caráter civilizatório. Em suma,
si só dariam garantias de solução ou regulação de determinados processos, conforme reforça trata-se da evolução da consciência ambiental (Romeiro, 2007; Leis E D’amato, 1994).
Conceição (2002) e o mesmo se aplica aos problemas ambientais. Entretanto, tais alterações
são fundamentais quando se trata de internalizar ou institucionalizar determinados temas, como Embora recente, a perspectiva institucionalista traz à tona contribuições originais na percepção
o ambiental e a sustentabilidade, nos processos de desenvolvimento. dos problemas ambientais e sua gestão, perfazendo uma crítica a perspectiva dominante. De
acordo com Beaurain, Longuépée e Soussi (2009) duas linhas de pensamento derivam desta
É nesse contexto que o presente trabalho se insere, qual seja, analisar a relação entre o contexto constatação, em que a primeira averigua o meio ambiente por meio dos direitos de propriedade
institucional e o meio ambiente no Brasil, com ênfase na política ambiental do país. Em outras e dos custos de transação. A segunda enfatiza a ineficiência dos mecanismos de mercado na
palavras, busca-se compreender as questões ambientais, a coordenação do meio ambiente e a resolução de problemas ambientais, uma vez que esses conflitos demandam formas originais de
política ambiental brasileira à luz da abordagem institucional. coordenação, considerando fatores sociais, culturais e legais. A “crítica” do institucionalismo
ambiental fornece um novo aparato instrumental na perspectiva das leis de mercado, onde,
Para cumprir este propósito, este trabalho está dividido em quatro seções, além desta empiricamente, as instituições responsáveis pela gestão dos recursos públicos raramente são
introdução. A segunda verifica as especificidades que a questão ambiental possui para uma completamente públicas ou privadas (op. cit.)
análise institucionalista. A terceira parte analisa o papel das instituições na coordenação do .
meio ambiente. Por fim, apresentam- as considerações finais. As instituições regem a relação entre o homem e o ambiente (econômico, social e natural) e,
assim sendo, a problemática ambiental analisada sob este prisma pode ser melhor interpretada
2. Especificidades Das Questões Ambientais E A Abordagem Institucionalista se for utilizado o referencial teórico institucionalista. Isso ocorre, uma vez que muitos
elementos do ambiente institucional, tais como direitos de propriedade, custos de transação
Os problemas ambientais possuem um caráter multidisciplinar, o que requer o entrosamento e intersetorialidade econômica e política têm efeitos importantes sobre as ações dos agentes
entre diferentes áreas acadêmicas e profissionais, ou seja, a busca por uma “metodologia (North, 2003).
interdisciplinar” gera numerosos pontos de conflito. Trata-se de uma abordagem filosófica,
sociológica e biológica integrada ao ambiente econômico e político, donde há uma divergência A dinâmica formada pela interação entre instituições, políticas e mercados define a estrutura
entre conceitos, incoerências e contradições (Branco, 1995). institucional específica de cada setor, criando modelos distintos de restrições e incentivos. Desse
modo, as instituições moldam as políticas públicas para cada país, estado ou região levando em
Uma peculiaridade é o caráter de longo prazo requerido na análise, elaboração e aplicação consideração as especificidades de cada cenário (Zysman, 1994). A próxima seção analisa os
de políticas ambientais. Para Zulauf (2000) as decisões que dizem respeito aos mecanismos instrumentos institucionais criados para executar e fiscalizar as políticas públicas ambientais
corretivos e preventivos não têm a mesma velocidade que o ritmo de degradação ambiental. As brasileiras.
políticas ambientais tornam-se dependentes da “vontade social” ou de uma inversão de valores
que devem priorizar as futuras gerações e que vão além do consumo imediato e acúmulo de 3. O Papel Das Instituições Na Coordenação Do Meio Ambiente
riqueza.
3.1 A coordenação de políticas ambientais brasileiras

1181 1182
como a responsabilização e a definição de competências de cada ente federado individualmente
A preocupação mundial com o meio ambiente na década de 70 não contou com um grande e em comum, e uso dos mecanismos de integração e coordenação para a execução do trabalho
engajamento por parte do Brasil, que considerava o desenvolvimento econômico e social o melhor compartilhado (Arretche, 2001).
“instrumento” no combate à poluição. O país foi pressionado pela comunidade internacional
a criar um projeto nacional voltado à redução dos impactos ambientais, dada a forte política As políticas brasileiras carecem de instrumentos capazes de conciliar a relação socioambiental.
desenvolvimentista praticada pelos governos ditatoriais nesse período (Vieira e Cader, 2007). Um exemplo emblemático é o lançamento de esgoto a céu aberto, considerada a alteração
Foi criada em 1973 a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) a fim de orientar a ambiental que mais afeta a população e está positivamente correlacionada a mortalidade infantil
conservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos. Em 1981, foi promulgada a Lei e ocorrência de doenças infecto sanitárias. No ano de 2015, apenas 50,3% da população tinha
nº 6.938, instituindo a Política Nacional do Meio Ambiente, marco da introdução da questão acesso à coleta de esgoto, o que atingia mais de 100 milhões de brasileiros (BRASIL, 2015).
ambiental nas políticas públicas do país e sua efetiva institucionalização (Neves, 2010).
A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) divulgada pelo IBGE revela que, em
Sousa (2006) afirma que na década de 90 a política ambiental brasileira entrou em colapso, 2013, 90% dos municípios brasileiros dispunham de algum órgão para tratar exclusivamente
incapaz de seguir a nova pauta da política internacional proposta pela Rio 92 e de atender às das questões ambientais, representando uma evolução em relação a 2009 (84,5%) e 2002
demandas relativas à cidadania e nova consciência ambiental em voga. Foi revista a necessidade (67,8%). Verifica-se, ainda, que a existência de estruturas administrativas relativas ao meio
de redefinir as opções viáveis de políticas ambientais e, consequentemente, o papel do estado ambiente cresce à medida que se avança de municípios menos populosos para os mais populosos4.
nessa nova configuração.
Os servidores municipais para o meio ambiente representam 1,1% de todos os servidores
O arranjo institucional brasileiro, coordenado pelo Sistema Nacional de Meio Ambiente municipais (administração direta e indireta), relação reduzida e praticamente estável em
(SISNAMA), foi instituído pela mesma lei que determina a Política Nacional do Meio Ambiente comparação com 2009 (0,9%) e 2002 (1,1%). Em 2013, houve uma proporção de 12,2 pessoas
(Lei 6.938/81). Estruturado sobre três sistemas de ação cooperada: nacional, estadual e ocupadas por municípios (61.295 funcionários em 5015 municípios) (Munic, 2013). Os recursos
municipal, as instituições ambientais atuam na mesma escala e combinam iniciativas (Neves, humanos requeridos para o desempenho das atividades de planejamento, controle, fiscalização
2010). O Ministério do Meio Ambiente, como órgão central, tem a função de planejar, coordenar, e execução de leis ambientais é indissociável a uma estrutura administrativa na área ambiental.
supervisionar e controlar a política nacional e as diretrizes definidas para o meio ambiente.
Embora a existência de órgãos ambientais seja relativamente elevada, as iniciativas
Os órgãos seccionais ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e governamentais nessa área são restritas, uma vez que apenas 41% das cidades desenvolviam
projetos, assim como o controle e fiscalização de atividades passíveis de provocar a degradação alguma iniciativa na área de consumo sustentável (campanha, legislação ou parceria) em 2013
ambiental. Outrossim, os órgãos locais ou entidades municipais são responsáveis pelo controle e (op. cit.). Outro ponto é que, para o mesmo ano, apenas 21,5% dos municípios haviam iniciado
fiscalização dessas atividades em suas respectivas jurisdições. O SISNAMA também é composto o processo de elaboração da Agenda 21 Local, que consiste em um “processo participativo e
por um órgão superior, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e demais órgãos multissetorial de elaboração de um programa de ação estratégico dirigido ao desenvolvimento
executores. sustentável local, por meio de políticas públicas” (Munic, p. 68, 2013).

Embora as instituições pressuponham o uso da intersetorialidade ou articulação horizontal Quanto a Legislação Ambiental, 65,5% dos municípios dispunham de uma legislação específica
de conhecimentos e experiências para formulação, implementação e avaliação das políticas para tratar a questão ambiental em 2013, com um aumento de 10 pontos percentuais em
ambientais, estas não são abordadas sob uma ótica integrada (Lotta E Favareto, 2016; Sousa,
4. 82,3% dos municípios com até 5000 habitantes contam com órgãos ambientais, enquanto que para os municípios com mais de 50.000 habitantes,
2006). Os desafios das políticas públicas ambientais são semelhantes aos das políticas sociais, a porcentagem é de 97,4%, em sua maioria com secretarias exclusivas ou não.

1183 1184
comparação com o ano de 2012 (55,4%), especialmente em locais com problemas de fundo, tendo sido elaborada uma das leis ambientais mais avançadas no mundo, devido ao fato da
desmatamento mais sérios (MUNIC, 2013). O funcionamento do sistema municipal de meio legislação abranger os deveres dos cidadãos, empresas, instituições e o governo (Zulauf, 2000).
ambiente depende da integração da esfera ambiental nos instrumentos legais e no planejamento
urbano (Carlo, 2006). De acordo com Cunha e Coelho (2012), a partir de 1990 as políticas ambientais brasileiras
apresentaram diversas fases, entre elas as políticas regulatórias, estruturadoras e indutoras
Embora esses instrumentos legais sejam elaborados com o intuito de atender aos condicionantes de comportamento. As primeiras tratam da elaboração de leis e regulamentação específica
normativos, estes não envolvem (necessariamente) a formulação compartilhada de políticas ambiental, além da criação de aparatos institucionais de supervisão e garantia no cumprimento
(CARLO, 2006). Nesse ponto residem os conflitos, em que é requerida a coordenação de políticas da lei. As políticas estruturadoras regulamentam a intervenção direta do poder público e dos
ambientais e dos órgãos, nem sempre devidamente articulados, sobrepondo competências, organismos não governamentais na proteção do meio ambiente, já as políticas indutoras de
recursos e esforços (LEME, 2011). Neste panorama, a seção subsequente trata, de uma breve comportamento são iniciativas que pretendem influenciar o comportamento dos indivíduos.
evolução da legislação e das políticas ambientais brasileiras.
No início da década, a Rio 92 representou um divisor de águas no campo da política ambiental
3.2 As políticas ambientais brasileiras: evolução e entraves brasileira, promovendo uma maior participação de organizações não governamentais (ONGs)
e de empreendedores, que elevaram os investimentos no meio ambiente nos anos posteriores
As primeiras ações governamentais brasileiras com respeito ao meio ambiente remontam (Boeira, 2003). A aprovação da Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza (Lei 9.605/98)
a década de 30, com a criação de parques nacionais5 em locais onde havia desmatamento e é um marco na legislação ambiental, estabelecendo que toda infração ou contravenção penal
expansão agrícola. Ainda no ano de 1934 foi elaborado o primeiro Código Florestal Brasileiro, o deve estar prevista em lei. Será considerado crime ambiental todo e qualquer dano ou prejuízo
Código das Águas e o Código de Minas. De modo geral, o primeiro momento da política ambiental causado contra a fauna, flora, poluição e outros crimes e contra a administração ambiental.
brasileira foi pautado por dois objetivos: a racionalização do uso e exploração dos recursos
naturais, especialmente da terra, e a definição de áreas de preservação permanente (SALHEB A Agenda 21 Brasileira (2002) representou um avanço na descentralização das decisões
et al., 2009). ambientais, à medida que delega aos governos estaduais e locais a responsabilidade para um
desenvolvimento sustentável via planejamento estratégico e participativo. A Agenda 21 é tida
Algumas ações foram realizadas ainda na década de 60, com ênfase na promulgação do Novo como um dos grandes instrumentos formadores de políticas públicas e prioriza a inclusão social,
Código Florestal Brasileiro que estabelecia novos dispositivos, entre eles a criação de Áreas a sustentabilidade urbana e rural, a preservação dos recursos naturais e minerais e a ética
de Proteção Permanente (APPs) e a responsabilização dos produtores rurais na criação de política no planejamento rumo ao desenvolvimento sustentável.
reservas florestais em suas propriedades. Em realidade, a pressão dos movimentos ecologistas,
a maior divulgação pela mídia, a inserção do tema nos discursos políticos e a defesa do meio No início do século XXI surgem os conselhos deliberativos e consultivos nos níveis federal,
ambiente por meio de institutos técnicos e do meio acadêmico incentivou o governo a elaborar estadual e municipal, além da presença ativa de representantes de ONGs e movimentos
instrumentos de controle ambiental. sociais (Vieira E Cader, 2007). Atualmente, população tem condições de intervir nos processos
decisórios de interesse público, participando da gestão ambiental, estabelecendo conselhos,
O Brasil toma medidas mais efetivas no campo ambiental após a Conferência de Estocolmo, em audiências públicas, fóruns, procedimentos e práticas. (Jacobi, 2003).
1972, com a criação da SEMA em 1973 e demais órgãos ambientais na década de 80. Em 1988,
com a promulgação da Constituição Federal, a política ambiental pode ser explorada mais a De acordo com Vieira e Cader (2007), mesmo com a pluralidade de atores, o maior problema
das políticas ambientais no momento atual é a promoção de uma transversalidade que englobe
5. Destaca-se a criação do Parque Nacional de Itatiaia (na divisa de Minas Gerais e Rio de Janeiro), do Parque de Iguaçu (divisa entre o Paraná e a
Argentina) e da Serra dos Órgãos (Rio de Janeiro).
os múltiplos interesses governamentais no campo econômico, político e social. Mesmo com uma

1185 1186
ampla participação dos governos federal, estadual, municipal e da sociedade civil organizada os Espera-se que um país continental e rico em biodiversidades como o Brasil proteja seu patrimônio,
interesses socioambientais não tem prioridade na definição da agenda brasileira, uma vez que o garantindo qualidade de vida às futuras gerações, entretanto, longe de ideais, os esforços já
meio ambiente ainda é visto como um entrave ao desenvolvimento. empreendidos são ainda incipientes, o que exige uma aplicação mais eficiente da legislação
e normas já estabelecidas, além de uma coordenação entre os setores governamentais e seus
Nesse sentido, se evidenciam entraves na institucionalização de novas regras e padrões órgãos responsáveis.
ambientais. Nesse quadro, parece haver uma percepção de que quebras de contrato são
corriqueiras, enfraquecendo a política ambiental quando da sua execução. Ou seja, em certos Referências
casos, os atores parecem entender que se as regras (contratos) podem mudar ao sabor da
conjuntura, o não cumprimento das regras compensa. Arretche, M. Uma contribuição para fazermos avaliações menos ingênuas. In: Barreira, M. C. R.
N.; Carvalho, M. C. B. (Orgs.). Tendências e perspectivas na avaliação de políticas e programas
4. Considerações Finais sociais. São Paulo: IEE/PUC, p. 43-56, 2001.

A problemática ambiental não é considerada prioridade na agenda política brasileira, de fato, Barbosa, G. S. O desafio do desenvolvimento sustentável. Visões, v. 4, n. 1, p. 1-11, 2008.
foi a partir da década de 70, com a pressão dos movimentos ambientalistas internacionais que
o Brasil passou a desenvolver ações efetivas na área. A Rio 92 trouxe consigo a importância Beaurain, C.; Longuépée, J.; Soussi, S. P. La proximité institutionnelle, condition à la reconquête
do Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 21 promoveu um esforço por parte do governo de la qualité de l’environnement. L’exemple de l’agglomération dunkerquoise. Natures Sciences
brasileiro na área, que desenvolveu uma das legislações ambientais mundiais consideradas mais Sociétés, v. 17, n. 4, p. 373-380, 2009.
avançadas.
Belik, W.; Reydon, B.; Guedes, S. N. R. Instituições, ambiente institucional e políticas agrícolas.
O meio ambiente possui particularidades que permitem que seja desenvolvida a abordagem In: Ramos, P. (Org). Dimensões do agronegócio brasileiro: políticas, instituições e perspectivas.
institucional, especialmente em duas linhas, na qual a primeira analisa o meio ambiente sob Brasília: NEAD/MDA, p. 103-140, 2007.
a ótica dos direitos de propriedade em vigor e dos custos de transação. A segunda considera a
ineficiência dos mecanismos de mercado na resolução de conflitos ambientais, tendo em vista a Boeira, S. Luís. Política & gestão ambiental no Brasil: da Rio-92 ao estatuto da cidade. Revista
natureza multidimensional que engloba o meio. Alcance, v. 10, n. 3, p. 525-558, 2003.

As políticas ambientais ideais devem incorporar as várias dimensões da vida humana convivendo Branco, S. M. Conflitos conceituais nos estudos sobre meio ambiente. Estudos avançados, v.9, n.
em sociedade, o que compreende as dimensões sociais, ambientais, políticas e econômicas. Um 23, p.217-233, 1995.
dos principais entraves citados é a transversalidade requerida pela temática ambiental em sua
conceitualização, análise e elaboração de uma política ambiental integrada ao Desenvolvimento BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Sistema
Sustentável. A interação entre sociedade e Governo, nesse caso, torna-se crucial a fim de Nacional de Informações sobre Saneamento 2015. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/>.
conciliar os interesses sociais, ambientais e econômicos. Acesso em: 27 jun. 2017.

Desse modo, embora sejam observados avanços na área, com o aumento da preocupação Brüseke, F. J. O problema do Desenvolvimento Sustentável. In: Cavalcanti, C. (Org).
ambiental e maior participação da população, entidades e empreendedores, o meio ambiente Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, p. 29-
continua relegado a segundo plano, sobrepujado principalmente pelos interesses econômicos. 40, 1995.

1187 1188
públicas, v. 2, n. 35, p. 25-52, 2011.
Carlo, S. Gestão ambiental nos municípios brasileiros: impasses e heterogeneidade. Tese
(Doutorado), Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. Lotta, G.; Favareto, A. Desafios da integração nos novos arranjos institucionais de políticas
públicas no Brasil. Revista de Sociologia e Política, v. 24, n. 57, p. 49-65, 2016.
Conceição, Octávio Augusto C. Os antigos, os novos e os neo-institucionalistas: há convergência
teórica no pensamento institucionalista? Análise Econômica. Porto Alegre: UFRGS, ano 18, no. Neves, F. de O. Instituições e questão ambiental: Conselhos Municipais de Meio Ambiente no
33, março 2000. P.2-23. Paraná. Mercator, v. 8, n. 17, p. 147-162, 2010.

Cunha, S.; Coelho, M. C. Política e gestão ambiental. In: Cunha, S. B.; Guerra, A. J. T. (Orgs). A North, D. C. The Role of Institutions in Economic Development. United Nations Economic
questão ambiental: diferentes abordagens. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertand, 2012. Commission Europe, Geneva, Switzerland, Discussion Paper Series, 2003.

Galvanese, C. S. Instituições, estruturas sociais e meio-ambiente sob a ótica do desenvolvimento Romeiro, A. R. Desenvolvimento sustentável e mudança institucional: notas preliminares.
sustentável: por um quadro de análise do Vale do Ribeira paulista. In: IV Encontro da ANPPAS Econômica, v. 1, n. 1, p. 75-105, 1999. Santos, S. R. S. A Nova Economia Institucional. In:
(Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade), 2008, Brasília. Seminário temático centralidades e fronteiras das empresas no século, 2007, São Carlos.
Anais...Brasília, 2008. Anais...São Carlos, 2007.

Guimarães, R. P. Desenvolvimento sustentável: da retórica à formulação de políticas públicas. Salheb, G. J. M.; et. al. Políticas públicas e meio ambiente: reflexões preliminares. Revista
In: Becker, B. E Miranda, M. (Orgs.). A geografia política do desenvolvimento sustentável. Rio de Internacional de Direito Ambiental e Políticas Públicas, v. 1, n. 1, p. 5-26, 2009.
Janeiro: UFRJ, p. 13-44, 1997. ç
Sousa, A. C. A de. A evolução da política ambiental no Brasil do século XX. Revista de Ciência
Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística. Pesquisa de Informações Básicas Municipais - Perfil Política, n. 30, p. 21-25, 2006.
dos municípios brasileiros, 2013. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Perfil_Municipios/2013/
munic2013.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2017. Vieira, L.; Cader, R. A política ambiental do Brasil ontem e hoje. Eco 21, v. 21, n. 129, p. 1-4,
2007.
Jacobi, P. R. Espaços públicos e práticas participativas na gestão do meio ambiente no Brasil.
Sociedade e Estado, v. 18, n. 1-2, p. 315-338, 2003. Zysman, J. How institutions create historically rooted trajectories of growth. Industrial and
corporate change, v. 3, n. 1, p. 243-283, 1994.
Lehtonen, M. The environmental – social interface of sustainable development: capabilities,
social capital, institutions. Ecological economics, v. 49, n. 2, p. 199-214, 2004. Zulauf, W. E. O meio ambiente e o futuro. Estudos avançados, v.14, n.3, p.85-100, 2000.

Leis, H. R.; D’amato, J. L. O Ambientalismo como Movimento Vital: Análise de suas Dimensões Williamson, O. E. The economic institutions of capitalism. New York: The Free Press, 1985.
Histórica, Ética e Vivência. In Cavalcanti, C. (Org). Desenvolvimento e natureza: estudos para
uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, p. 77-103, 1994.

Leme, T. N. Os municípios e a política nacional do meio ambiente. Planejamento e políticas

1189 1190
Capítulo 116 con su aplicación y difusión, pero sobre todo analizando si su aplicación es verdaderamente ética
y beneficiosa para la sociedad.
El rol de la Responsabilidad Social Corporativa en la empresa privada La investigación respecto a RSC se ha realizado desde diferentes ángulos, pero destacan los
ecuatoriana. Uso del discurso y contradicciones que se enfocan en su conceptualización y la medición de sus impactos, (Husted, 2000 y Husted
y Allen, 1998 y 2000; Acquier y Gond, 2005a, 2005b y 2006; y Gond, 2001). Sin embargo,
Tania Alexandra Chicaiza Villalba1 casi en todos los documentos académicos revisados, se da por sentado que su ejercicio es
una actividad ética y positiva para la sociedad, pues muestran sus supuestas bondades y sus
contribuciones al logro de ventajas competitivas, afirmando que las compañías que la practican
Introducción son benefactoras de la sociedad.

En las últimas décadas, gran parte de las organizaciones grandes y medianas de tipo empresarial- Cuestionar la benevolencia intrínseca de la RSC se considera relevante en el momento actual
privado alrededor de todo el mundo, han considerado dentro de sus planes estratégicos incorporar y requiere encontrar evidencias que sustenten dicha imputación o, en su caso, las que sirvan
la Responsabilidad Social Corporativa (RSC) como una forma de hacer visible ante la sociedad para refutarla, sobre todo tomando en cuenta que gran parte de las publicaciones académicas la
acciones benéficas y extra legales frente a los problemas del entorno, mismos que en muchas asumen como algo intrínsecamente positivo y beneficioso para la sociedad. El afán es contribuir
ocasiones han surgido precisamente por la propia dinámica capitalista y depredadora de las al pensamiento crítico en las ciencias administrativas, mediante la determinación del rol que
actividades de dichas organizaciones. tiene la RSC en las empresas privadas grandes y medianas (que disponen los recursos para
aplicar planes y estrategias de este tipo) que operan en el Ecuador, a través del análisis de
La RSC es un discurso que se ha ganado las percepciones positivas de la sociedad, incluida la los discursos corporativos, las prácticas estratégicas en este campo y su impacto real en la
academia, ya que consigue humanizar a las empresas como entes capaces de intervenir en la sociedad ecuatoriana.
reparación de los problemas y daños sociales y económicos que de forma individual resultarían
imposibles de tomar acción. Por otra parte, especialmente los grandes capitales, han descubierto Desarrollo
que, mediante la aplicación y difusión al público de los planes y estrategias de RSC, se pueden
invisibilizar las externalidades propias del giro de sus negocios y conseguir la aceptación de la Un discurso que abiertamente afirma una idea, pero tácitamente refuerza otra totalmente
sociedad y sobre todo de sus consumidores. contraria, se convierte en el perfecto instrumento para desactivar o inmovilizar cualquier iniciativa
de cambio o demanda social. El presente análisis pretende evidenciar que éste es el caso de la
La práctica de la RSC gana terreno en el campo organizacional y en la academia. En apenas RSC. Recurriendo al ejercicio interpretativo, se demuestran las fuertes contradicciones entre lo
unas décadas se ha producido una amplia literatura referente a esta temática y se han escrito que las empresas publican abiertamente en sus espacios web, respecto a RSC y lo que realmente
un número considerable de artículos académicos y libros al respecto, en su gran mayoría persiguen con su aplicación. Las organizaciones empresariales privadas que ejercen con libertad
evidenciando el potencial que tiene como estrategia empresarial y los beneficios que conlleva su y dentro de un marco legal sus actividades lucrativas, utilizan a la RSC bajo el modelo de la
práctica a nivel de rentabilidad. De allí que es indispensable analizar esta potente herramienta racionalidad instrumental, asumiendo de manera acrítica sus prácticas y haciéndolo parte de un
estratégica y discursiva de las organizaciones empresariales privadas, especialmente en las estatus empresarial, donde dejan de lado y ocultan los vicios propios de su actividad.
corporaciones grandes, superando la perspectiva ortodoxa positivista y abordándola desde las
teorías críticas, buscando transparentar las verdaderas intenciones que persiguen las empresas La RSC como cualquier discurso que provenga de instancias con poder como son las grandes y
1. Universidad Politécnica Salesiana, Sede Quito. Carrera de Gerencia y Liderazgo. Grupo de Investigación Economía, Gestión y Consumo. Email:
tchicaiza@ups.edu.ec
medianas empresas o corporaciones, que habla de cambio y de la construcción de un futuro mejor

1191 1192
a nivel social, humano y ambiental, que se esfuerza por evidenciar que los problemas actuales y administración, en donde tiene gran aceptación y aplicación (Brownlie & Saren, 1997).
potenciales quedan superados gracias a su intervención, es suficiente para que despierte dudas
desde quienes profesan el pensamiento crítico, básicamente por su contradicción, pues vivimos La ética de la liberación será la que permitirá mostrar las inconsistencias del discurso de la
un momento histórico en donde las externalidades que dejan las corporaciones empresariales RSC y sus dificultades para ser una pragmática real. Para el RSC, detrás de la exaltación a
privadas se hacen evidentes en la salud de las personas, el daño medio ambiental, la precarización los clientes, la comunidad, los empleados, el medio ambiente y el Estado, la empresa es el fin
laboral y la evasión de impuestos. en sí mismo, superando a la misma vida humana y de la naturaleza (Nuñez Rodriguez, 2010,
pág. 35). Esta visión ética contribuirá a la reflexión racional y práctica de los reales efectos de
La RSC es una propuesta proveniente del sector empresarial que cuenta con el apoyo de la práctica de la RSC en la sociedad, relacionando las consecuencias para la vida humana y el
organizaciones multinacionales como son las Naciones Unidas y la Comisión Europera, donde medio ambiente de las acciones propias de la empresa.
se propone un nuevo modo de intervenir socialmente desde empresas, superando el marco legal
y como estrategia de cobertura social de aquello que el Estado no alcanza a cubrir, de este La definición de ética que será fundamental para abordar la RSC es la que propone el filósofo
modo, la empresa privada (abanderada del discurso de eficiencia y racionalidad en el uso de Dussel. “… la ética enmarca una conducta regulada por deberes, obligaciones, exigencias
los recursos) sería la responsable de aportar al desarrollo humano, el combate a la corrupción racionales que tienen como parámetro material la frontera que divide la vida de la muerte”.
y detener los daños ambientales. De esta manera, pretende superar la visión economicista y (Dussel, 1998). De esta manera la ética comprende una reflexión respecto a la actividad humana
de rentabilidad que tienen las organizaciones empresariales privadas, ampliando su accionar a individual o grupal, manifestada en las relaciones con los demás e incluso con el mismo sujeto y
aquello que antes era cubierto por el modelo de Estado de Bienestar. desde los cuales se debe reivindicar el derecho a la vida presentando una doble faz: un lado social
que está representado por las costumbres y los deberes de la sociedad en general y otra individual
Recurriendo al ejercicio hermenéutico, podemos encontrar dos discursos diferentes respecto a lo que está relacionada con la voluntad y los hábitos personales. Comprender esta dimensión es
que declaran las empresas en cuanto a planes, proyectos y acciones de RSC, a lo que llamaremos importante, pues los hábitos y ante todo las aspiraciones personales se respaldan actualmente
discurso de RSC de tipo descriptivo, para con detalles de ese mismo discurso respecto a quienes en unos valores y en una moral que le rinde culto al mercado por el poder de manipulación del
son los beneficiaros de dichos planes. Se encuentra que existen contradicciones, especialmente discurso hegemónico del que se sirve el capitalismo neoliberal.
cuando también se declara que las intervenciones de RSC benefician a los intereses de
rentabilidad de los accionistas. Para caracterizar a cada uno de los discursos, nos apoyaremos Las concepciones expresadas en el discurso de la RSC han conseguido engranarse perfectamente
en algunos postulados de David Harvey en cuanto a las contradicciones del capitalismo (Harvey, con la naturaleza de la dominante política internacional implementada a nivel mundial desde los
2014), los instrumentos de análisis crítico de discurso (Van Dijk, 1999) y la ética de la liberación años ochenta y reafirmada en el Consenso de Washington, desde donde se implementan medidas
(Dussel, 1998) . de corte neoliberal a los países del sur como respuesta a la crisis de la deuda externa, tema
prioritario para asegurar el retorno a los grandes acreedores mundiales: FMI y Banco Mundial.
Recurriendo a la metodología del análisis crítico del discurso (que para el presente estudio fue Las nuevas condiciones dictadas desde las superpotencias, favorecieron el poder de las grandes
ubicado en las páginas web de empresas privadas que exponen sus planes y proyectos de RSC) transnacionales a la vez que propiciaron la mínima interferencia de los Estados en sus propias
se identificaron sus estrategias retóricas, mismas que les permiten conseguir la consolidación de economías y en el bienestar social. Este régimen mundial, forja toda una retórica que ayuda al
una imagen positiva en la sociedad, que si bien ya ha sido criticada desde la mirada sociológica, refuerzo de los valores empresariales y el discurso de la RSC juega un papel preponderante.
filosófica y ética e incluso por los mismo manageristas desde los “Critical Management En general las políticas del Consenso de Washington se sostenían en “un modelo simplista de
Studies”2 o “Estudios Críticos de Administración”, continua siendo elogiada en el campo de la la economía de mercado” (Stiglitz, 2002), en donde la mano invisible de Adam Smith opera y
2. Los Critical Management Studies, son una línea de investigación que surge como tal en la Universidad de Manchester hace casi 20 años, desde la cual todo funciona a la perfección, sin controles y fuera de toda regulación estatal. De esta manera
se hacen fuertes cuestionamientos a las prácticas de la gestión y a la gestión empresarial en sí misma, con la novedad de que tales cuestionamientos
provienen desde la mirada de expertos docentes investigadores en administración y gestión de negocios.
el discurso del RSC logra precisamente ajustarse al nuevo orden, siendo una de sus estrategias,

1193 1194
difundir casos de intervención exitosa de las grandes corporaciones en ámbitos educativos, fuerte intersección entre el interés de los accionistas y el de la sociedad; y La creación
de salud, bienestar comunitario, protección del medio ambiente, etc., y de cómo son mejores de valor puede ser optimizada por ambos. Como resultado, la compañía invierte recursos,
gestores de la llamada sociedad del bienestar en reemplazo del Estado de bienestar. en términos de talento y de capital, en aquellas áreas donde el potencial de creación de
valor conjunto es el mejor, y busca acción colaborativa con los públicos relevantes en la
Lo que hace que el discurso de la RSC se torne “sospechoso”, pero sobre todo contradictorio sociedad” (Nestle, 2018)
respecto a sus reales objetivos, comienza con que se ha convertido en una herramienta que
se extiende con éxito en campos como la política, las ONG’s, la iglesia, etc., en donde la ética La declaración anterior nos muestra que la RSC está lejos de ser una intervención desinteresada
es relegada del análisis y de la práctica, y cuando es abordada, acaba siendo usada como o un servicio social, como lo sería cuando lo presta el Estado. Al contrario, el mismo discurso
una ideología al servicio de los intereses del capital, logrando encubrir las contradicciones, evidencia que su aplicación tiene sentido, siempre y cuando genere valor para los accionistas, de
distorsiones o efectos que resultan del ejercicio natural corporativo (despojo, contaminación allí que se describe como “piedra angular del éxito y sostenibilidad empresarial”. En el mismo
ambiental, precarización laboral, mala calidad de los productos, etc.) (Harvey, 2014) sitio web de la corporación Nestle, se pueden ver los programas de RSC ejecutados en el Ecuador:
“niños saludables”, “sembremos agua” y “plan cacao” (Nestle, 2018).
La RSC, por haber nacido en el seno del capitalismo de libre mercado, no logra asumir la ética
como una práctica desinteresada, es una más de sus inversiones comunicacionales y de branding En todos los casos, los programas desarrollados por la empresa en mención son funcionales a los
con miras al largo plazo (Lipobvetsky, 2003). Por tanto, cabe preguntarse si es posible una RSC intereses de la misma, la que se autodenomina “empresa líder en Nutrición, Salud y Bienestar”
planteada fuera de la lógica capitalista, que sea compatible con la ética en pro de la vida y que (Nestle, 2018). De esta manera, le programa niños saludables, tiene entre sus acciones el dar
sea capaz de condicionar sus logros en función de la eliminación de efectos devastadores para charlas de alimentación nutritiva, en donde sus productos industrializados se muestran como
la sociedad y que, proviniendo de las empresas, sea capaz de respetar el derecho fundamental a productos nutritivos y saludables a ser incluidos en las recetas de comidas cotidianas. El
la vida y a la dignidad humana. programa de sembremos agua, se aplica como un eje educativo en las comunidades rurales
agroproductivas, con la finalidad de que se optimice su uso y la población se acostumbre a su
Para evidenciar las contradicciones que tiene la RSC, basta revisar las declaraciones que se paulatina escases, producto de las actividades corporativas. Finalmente, el plan cacao, busca
encuentra en las páginas web de las mismas corporaciones. Tomaremos como ejemplo el caso garantizar la producción pura del cacao fino de aroma, materia prima que es adquirida por esta
de Nestle Ecuador, que declara lo siguiente: transnacional para la elaboración de chocolates premium para el mercado europeo.

“La Creación de Valor Compartido es parte fundamental de la forma en que NESTLÉ® Desde este ejemplo, se evidencia la principal dimensión respecto al discurso de la RSC y sus
hace negocios. Está enfocada en áreas específicas de las principales actividades de contradicciones. A través de este, se puede producir un abuso del poder social, por la manipulación,
negocio de la Compañía — Nutrición, Agua y Desarrollo Rural — donde se puede crear entendida como una destreza comunicativa de interacción, en donde el manipulador ejerce control
el mayor valor para la sociedad y los accionistas. El pensamiento de NESTLÉ® ha sobre otros grupos, perjudicando sus intereses. La manipulación pretende la dominación, ya que
evolucionado desde el concepto de Responsabilidad social corporativa (RSC) hasta el de ejerce una influencia ilegítima a través del discurso, haciendo que otros crean y hagan cosas
Creación de Valor Compartido (CVC). La CVC es la base de la estrategia de negocio de la que son favorables para el manipulador y perjudiciales para el manipulado (Van Dijk, 2006),
compañía y la piedra angular de la responsabilidad social y la sostenibilidad. NESTLÉ® como en los programas que muestra Nestle, en donde su dimensión de principal productora de
tiene la convicción de que una empresa tendrá éxito a largo plazo, solamente, si tiene en productos industrializados poco saludables queda oculto o disimulado cuando se imparte cursos
cuenta las necesidades de sus dos grupos de interés principales: la gente de los países de nutrición.
en los que opera y sus accionistas. Éste es el verdadero significado de Creación de Valor
Compartido. Nestlé identifica conscientemente las áreas de interés donde: Se da una En conclusión, las contradicciones discursivas de la RSC, sirven como dispositivo de manipulación

1195 1196
a los receptores, quienes tienen un papel pasivo y por tanto son víctimas pues no son capaces de
comprender las auténticas intenciones o consecuencias de las creencias o acciones que defienden Nuñez Rodriguez, C. J. (2010). Para una crítica a la ética de la empresa. México D.F: Plaza y
las empresas manipuladoras, ya que los manipulados carecen del conocimiento específico para Valdez.
resistir la manipulación, convirtiéndola en un fenómeno social, pues involucra la interacción y
el abuso de poder entre grupos y actores sociales (Van Dijk, 2006). De esta manera la RSC Sánchez Vázquez, Adolfo (2014), Ética, 2ª ed. México: Debolsillo
sería un fenómeno cognitivo ya que busca impactar en las mentes de los participantes (familias,
niños, comunidades rurales, etc.) y finalmente se puede calificar como un fenómeno discursivo- Suárez- Núñez, Tirso y Graciela Lara Gómez (2012), “Conclusiones y vislumbres de la RSC
semiótico porque se ejerce mediante la comunicación oral o escrita y los mensajes visuales que desde México”, en Tirso Suárez-Nuñez y Graciela Gómez Lara (coords.), Responsabilidad
aunque son contradictorios, resultan convincentes para dejar a la imagen empresarial en un Social Corporativa, México: PricewaterhouseCoopers/Universidad Autónoma de Yucatán/IMEF,
estado de aceptación positiva. Fundación de Investigación, pp. 211-224.

Referencias Stiglitz, J. (2002). El malestar de la globalización. Madrid: Taurus .

Brownlie, D., & Saren, M. (1997). Beyond the one-dimensional marketing manager: The discourse Van Dijk, T. (1999). El análisis crítico del discurso . Anthropos, 23-36.
of theory, practice and relevance. International Journal of Research in Marketing(14), 147 - 161.
Van Dijk, T. (2006). Discurso y manipulación: Discusión teórica y algunas aplicaciones. Revista
Dussel, E. (1998). Etica de la liberación en la Edad de la Globalización y de la Exclusión (Quinta Signos, 39(60), 49-74.
Edición 2006 ed.). Madrid: Editorial Trotta S.A.

Harvey, D. (2014). Diecisiete contradicciones y el fin del capitalismo. Quito: Editorial IAEN.

Hernández Páez, J. (2010). Sobre el consumismo. En C. L. Padrón Martinez, La problemática de la


ética en los negocios (págs. 139-167). Ciudada de México D.F: Miguel Angel Porrúa.

Kliksberg, Bernardo (2013), Ética para empresarios, Distal Ediciones Ética y Economía

Lipobvetsky, G. (2003). Metamorfosis de la cultura liberal. Etica, medios de comunicación,


empresa. Barcelona: Anagrama.

Montaño Hirose, Luis (2014), “Responsabilidad social corporativa, gobernanza e instituciones.


Armando el rompecabezas”, Revista internacional de Organizaciones, No. 13, diciembre, pp.
9-38.

Nestle. (11 de mayo de 2018). ww1.nestle.com.ec. Obtenido de https://ww1.nestle.com.ec/csv/


valorcompartido

1197 1198
Capítulo 117 pela cidade e recolhida pela prefeitura, sem necessidade de organizações intermediárias.

2. Teoria Social de Redes


Desafios e oportunidades na coleta de lixo reciclável em países emergentes:
Lições do Japão A abordagem social de redes inclui vários autores e conceitos, o presente estudo segue as
afirmativas de Granovetter (1985), Zaheer (1995), Gulati (1998) e DiMaggio e Powell (1983)
Edison Yoshihiro Hamaji1, Renato Telles2, Anderson Antônio de Lima3, Adriane Akemi Zenke4 y sobre as relações sociais serem a base da união entre os atores formando uma matriz relacional
Keilla Dayane da Silva Oliveira5 que direciona as ações, decisões, processos e comportamentos dos atores da rede. Um dos
processos originados por essa teia relacional é a construção gradativa das regras do grupo.

1. Introdução A abordagem social, portanto, tem como princípio orientador as relações sociais, construção
de uma teia social que influencia os processos na rede e o comportamento dos atores. A partir
O formato de redes aparece cada vez mais nos negócios, políticas públicas e ações sociais dessa teia social surge a governança que estabelece mecanismos de controle e incentivos para
(Castells, 1999; Nohria E Eccles, 1992). As redes são basicamente grupos de organizações ações coletivas.
agindo em conjunto para atingirem um objetivo comum a partir de problemas comuns. Em redes
de negócios a cooperação está acima da competição. Em redes de políticas públicas a hierarquia 2.1 Conceito de Comprometimento
dá lugar à democracia na implantação de planos.
Para Granovetter (1985) o comprometimento consiste na ação de um ator em valorizar e
Ao considerar o campo de coleta de resíduos sólidos surgem objetivos múltiplos, tais como: considerar as expectativas e a confiança dos outros atores sobre seu comportamento. Nesse
objetivos de sustentabilidade, políticos (de políticas públicas ambientais), sociais/solidários sentido, pode-se relacionar o comprometimento com a consciência da ação coletiva afirmada
(inclusão de pessoas desfavorecidas) e comerciais (o reciclável como produto de venda). por Nohria e Eccles (1992). Nessa mesma linha de entendimento Morgan e Hunt (1994)
descrevem que comprometimento é uma troca entre parceiros, acreditando que uma boa
Considerando essa multiplicidade de objetivos e as diferenças de contexto, o artigo busca relação é tão importante que justifica os esforços despendidos para mantê-la. Para os autores o
investigar as diferenças das redes de coleta de resíduos sólidos no Brasil e no Japão. A comprometimento é um dos principais fatores que assegura o sucesso de uma rede, pois ele cria
proposição orientadora é que existem diferenças fundamentais e que elas ocorrem basicamente as condições necessárias de cooperação e impede os comportamentos oportunistas.
por diferença do contexto, especialmente nas rotinas, hábitos, valores e ética das duas regiões,
no comprometimento e na governança dos atores envolvidos. Neste trabalho adotou-se a noção de comprometimento como atitudes e comportamentos
dirigidos para ações coletivas, ou seja, os atores da rede estão voltados aos objetivos do grupo
Dados iniciais de fontes secundárias indicam que no Brasil existem redes de coleta de resíduos evitando atitudes oportunistas em relação a recursos e ganhos individuais que prejudiquem o
sólidos apoiados pelo governo com componente solidário e de inclusão social. No Japão não grupo.
existem essas redes, a população separa todo o material dispensando em caçambas espalhadas
1. UNIP. Email: edisonhamaji@hotmail.com
2.2 Conceitos de governança
2. UNIP. Email: renato.telles@docente.unip.br
3. UNIP. Email: andersonantoniodelima@yahoo.com.br A revisão bibliográfica realizada indica pluralidade de conceitos sobre governança. As grandes
4. UNIP. Email: zenkeadri@gmail.com
5. USCS. Email: keilla.ufvjm@gmail.com
linhas conceituais afirmam que a governança pode ser estrutura de coordenação, formas de

1199 1200
gestão das redes, formas de solução de conflitos causados por diferenças. Também existem
linhas que separam a governança em formal e informal. Produção Mais Limpa (P+L), segundo (SILVA, et al., 2014), desenvolve-se nas organizações
baseada no tratamento dos resíduos gerados, aliando ganhos financeiros, preservação ambiental,
A perspectiva da governança como gestão afirma serem as ações realizadas por um indivíduo aumentando receitas, reduzindo desperdício e melhorando a competitividade (Tseng; Lin; Chiu,
ou equipe para a garantia do cumprimento dos acordos, controle dos conflitos e dos incentivos 2009).
pessoais direcionados para a obtenção dos resultados almejados pela rede (PROVAN e KENIS,
2009). A valorização da busca dos resultados é aceita neste trabalho, mas a perspectiva da 3. Metodologia
gestão não tem foco na construção da dinâmica do grupo e sim nas formas de controlar ou
alterar essa dinâmica. Esta pesquisa é dividida em qualitativa (Demo, 2000) e atendendo os objetivos do trabalho,
realizou-se pesquisa descritiva (Gil, 2007) a função principal da pesquisa descritiva é descrever
2.3 Conceito de governança relacional as peculiaridades dos objetos população ou fenômeno a ser estudado e para Cazau (2006) a
pesquisa descritiva estabelece a natureza da relação entre um ou mais efeitos ou variáveis
Williamson (1985) afirma que o conjunto de ações, criação, alteração e adaptação das regras dependentes, tendo como método de coleta de dados a observação participante.
realizadas pelo grupo de atores da rede é denominada governança relacional. Desta forma a
governança é definida como sistema de controle e incentivo dos comportamentos, dos processos Para buscar a resposta da proposição foram coletados dados secundários das seguintes fontes:
e das relações sociais podendo surgir dessas próprias relações sociais. Para Grandori (2006) (a) pessoal técnico no Brasil, que auxilia na gerência de redes de material reciclável; (b) pessoal
governança relacional é uma perspectiva do contrato relacional criada pelo grupo a partir dos técnico do Japão, que participa da organização e coleta de material reciclável; (c) Sites do
relacionamentos sociais. governo brasileiro, sobre como deve operar uma cooperativa de material reciclável; (d) Consulta
em matérias de jornais e revistas digitais sobre o tema, comparando sistemas de reciclagem
Na visão de Zaheer (1995) a governança relacional é baseada em componentes sociais e em nos países.
grande parte no comprometimento e na confiança entre os atores com o objetivo de resolver os
problemas do grupo, como conflitos de interesses e imprevisibilidades de demanda. Sobre os textos realizou-se uma análise de conteúdo, conforme a técnica de análise de conteúdo
de Bardin (2011), conforme essa técnica nos discursos deve-se buscar as convergências e se
2.4 Economia inteligente e produção mais limpa buscam as divergências que servem de parâmetros de comparação.

Segundo Reuter e Schaik (2015) a economia inteligente reduz e reutiliza os resíduos produzidos. Assim por um lado construíram-se as convergências dos discursos exclusivamente brasileiros
A consideração do tema está vinculada a sustentabilidade e produção limpa, relevância ou japoneses para que cada um ficasse caracterizado; e buscaram-se as divergências no
crescente dos pontos de vista social, econômico e cultura determinando a intensificação comparativo entre as regiões consideradas. Os resíduos sólidos investigados são originários do
das exigências de conformidade de práticas por fornecedores e compradores dos países uso doméstico, ou seja, resíduos industriais foram desconsiderados.
desenvolvidos. Condição que impõe adaptação para esse novo contexto de países que queiram
manter sua competitividade internacional, particularmente de países emergentes. A discussão 4. Apresentação e análise dos dados
global por políticos, profissionais, meios de comunicação, acadêmicos e pesquisadores (Dowell;
Hart; Yeung, 2000; Golini; Langoni; Cagliano, 2014; Xie, 2016) conduzem as organizações a A questão dos resíduos sólidos é regulamentada pelas legislações brasileira e japonesa, com
incorporar sustentabilidade em seus modelos de negócios (Rajala; Westerlund; Lampikoski, amplitude tal a abranger os pontos críticos e fundamentais ao bom funcionamento dos sistemas
2016). de gestão e operação de coleta e destinação de resíduos sólidos.

1201 1202
ex drogado, catadores de rua e pessoas sem teto. Essas pessoas são treinadas para trabalhar na
No Brasil o governo federal sancionou várias leis e atualizou outras existentes com o intuito cooperativa para a separação do material.
de conscientizar a sociedade e regular a questão do processo de reciclagem de resíduos. Uma
importante atualização ocorreu na lei nº 9605 de 12 de fevereiro de 1998. Após 21 anos No contexto organizacional existem outros agentes como o antigo ferro velho que também
tramitando foi aprovada em 2 de agosto de 2010, a lei nº 12305/2010, instituindo a política coletam o material e vendem por preços baixos. As organizações terceiras contratadas pelo
nacional de Resíduos Sólidos. Esta lei trata da disposição e tratamento dos resíduos sólidos e governo para fazer toda a coleta da cidade realizam sua tarefa sem nenhum interesse ou apoio
entre outros temas, alternativas para a manutenção do equilíbrio ambiental: gestão integrada às cooperativas e não tem comprometimento, simplesmente enviando o material para onde lhe
dos resíduos sólidos (Art. 3º, lei 12305/2010-XI), a responsabilidade compartilhada (Art. 3º, sugerem. Ocorre com alguma frequência que caminhões com material reciclável levem o produto
lei 12305/2010-XVII), a logística reversa (Art. 3º, lei 12305/2010-XII), coleta seletiva e o para depósitos comuns conhecidos como lixões porque não havia outra orientação ou destino.
incentivo para a associação de cooperativas de catadores. Segundo dados nas entrevistas técnicas, 80% do material reciclável não são aproveitados.

Cabe ressaltar o artigo 225-CF/88 que versa sobre o direito do ambiente ecologicamente 4.2 Sobre a convergência das redes no Japão
correto, “Todos tem o direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de No Japão foi introduzida cultura de coleta de resíduos sólidos e todo cidadão participa separando
defender e preservá-lo para o presente e futuras gerações”. por tipo de resíduo com descarte semanal nos postos de coletas distribuídos conforme a densidade
demográfica e coletada pela rede, envolvendo, prefeitura, empresas contratadas, comunidade
Por outro lado, no Japão em 1970 foi aprovada a Lei de Gestão de Resíduos (Waste Management voluntária e comprometida com a manutenção, fiscalização dos postos sem intermediários.
Law) com as seguintes definições: classificação de resíduos e os padrões para tratamento,
política nacional e programas regionais e municipais de gestão de resíduos, disposições sobre No Japão, desfazer-se do lixo adequadamente é lei e é considerada uma das cidades mais
tratamento dos resíduos municipais pelo município e autorização de transporte e instalação de limpas do mundo. Considerado uma referência mundial em 2010 no campo da reciclagem,
tratamento. quando setenta e sete por cento (77%) dos materiais plásticos foi reciclados, é resultado do
amadurecimento de um sistema que se valeu do envolvimento de toda a sociedade. A coleta das
Em 2001 foi aprovada a lei para regulamentar a reciclagem de eletrônicos que até então garrafas Pet que no ano de 1995 não passava de três por cento (3%), neste mesmo ano chegou
eram despejados em aterros. Aprovada a lei, os fabricantes de eletrônicos do Japão formaram a setenta e dois por cento (72%) e as de lata em torno de oitenta e oito por cento (88%).
cooperativas de reciclagem passando a coletar e reciclar máquinas de lavar, televisores,
condicionador de ar, refrigeradores e computadores. A realidade brasileira é bem diferente das Com uma população de 128 milhões de pessoas que produzem 52 milhões de toneladas de
leis que versam sobre a temática, diferentemente do que ocorre no Japão. lixo doméstico, incinera oitenta por cento (80%) do lixo que produz, eficiência ligada a falta de
espaço para aterros, principalmente em metrópoles como Tóquio que desde a década de 1990
4.1 Sobre a convergência das redes no Brasil tem investido nas centrais de incineração diminuindo a emissão de gases tóxicos.

No Brasil as redes de coleta de resíduos sólidos são constituídas basicamente pelas cooperativas, 4.3 Sobre as diferenças entre as duas redes
por um agente organizador, órgãos do governo, Ongs, instituições religiosas e por grandes
organizações (como Petrobras) que dão apoio financeiro e de equipamentos. Essas redes A primeira diferença importante entre os dois casos é que no Japão não existem cooperativas
legitimadas pelo governo atendem a uma função social importante, devido aos critérios de de material reciclável no mesmo modelo do Brasil, isso porque todos os cidadãos fazem a
contratação estarem voltados exatamente para aquelas pessoas desfavorecidas: ex presidiário, separação, colocam em locais específicos e o governo faz a coleta, levando para grandes centros

1203 1204
de enfardamento. Em outras palavras, não há todo o aparato organizacional que existe no Brasil Os dois países são equivalentes na legislação, mas na prática estão bem distantes. Enquanto
para tratar do reciclável, seja socialmente, seja comercialmente. Essa é uma diferença de campo que no Japão os resíduos sólidos são percebidos como um problema de cada cidadão, que
organizacional, incluindo aspectos culturais e políticas públicas. participa nos complicados processos de separação e descarte e a prefeitura é capaz de recolher
e destinar o material; no Brasil há todo um aparato público e comercial para recolher o material
A segunda diferença está na governança sobre o tema. No Japão a cultura e as regras de deixado junto com os resíduos orgânicos, sem cultura de sustentabilidade da população, sem
sustentabilidade estão claramente definidas, com as pessoas e as organizações envolvidas comprometimento das organizações terceiras que prestam serviços à prefeitura e sem um
realizando seu papel. No Brasil, a união de objetivos sociais, com políticos e comerciais leva à conjunto coeso de regras (governança) entre as instituições e mesmo dentro das cooperativas, já
construção de uma governança sobre a tarefa. Essa governança é instável, no sentido de cada que coexistem lógicas que pressionam por resultados sociais, políticos, religiosos e comerciais.
grupo ter que construir a sua e lógicas contraditórias convivem no mesmo espaço social.
Conclui-se que a coleta de resíduos sólidos para reciclagem no Brasil não tem atingido seus
A terceira diferença está no comprometimento. Os dados indicam que no Japão as pessoas e as objetivos solidários (ausência do comprometimento), objetivos sociais (catadores de rua); e seus
organizações estão comprometidas com a tarefa e não existem comportamentos oportunistas. objetivos de inclusão comercial (apenas 12% do material reciclável são aproveitados, comparado
No Brasil o comprometimento maior é entre os cooperados, já que as organizações cumprem com 74% no Japão). Ficam lançadas as sugestões de novas pesquisas.
suas tarefas comerciais e políticas.
Referências
4.4 Resposta ao problema de pesquisa
Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo 4ªed. Lisboa: Edições, 70, 1977.
Os dados sustentam a proposição da diferença entre as redes do Brasil e do Japão, quando se
considera a cultura no sentido de normas e valores do ambiente organizacional; a governança Beolchini, F., Fonti, V., Dell’Anno, A., Rocchetti, L., & Vegliò, F. (2012). Assessment of
e o comprometimento. A diferença na estrutura das redes é enorme, no Japão não existem biotechnological strategies for the valorization of metal bearing wastes. Waste Management,
cooperativas de material reciclável o que acabou prejudicando o comparativo. 32(5), 949-956.

5. Conclusões Bocken, N. M., Short, S. W., Rana, P., & Evans, S. (2014). A literature and practice review to
develop sustainable business model archetypes. Journal of cleaner production, 65, 42-56.
O trabalho discute dois assuntos importantes para a academia, para o governo e para a sociedade.
Um deles é a questão da eficiência e operacionalidade de redes e o outro é a solução dos resíduos Castells, M. (1999). A sociedade em rede, vol. 1. São Paulo: Paz e Terra, 8.
sólidos. A união dos dois campos, no estudo da governança em redes de material reciclável,
mostra-se importante e justificada. Cazau, P. (2006). Introducción a la investigación en ciencias sociales. Buenos aires, 27.

Por questões de interesse e contatos dos autores, decidiu-se realizar um comparativo de redes Demo, P. (2000). Metodologia para quem quer aprender. Editora Atlas SA.
no Brasil e Japão. A escolha revelou-se acertada, pois ao final da coleta surgiram distinções
importantes que levantam novos questionamentos. A pergunta principal da pesquisa foi sobre a Dias, D. M., Martinez, C. B., Barros, R. T. V., & Marcelo, L. (2012). Model to domestic solid waste
conjunção dos fatores de cultura, comprometimento e governança na operação e funcionalidade generation estimative in urban areas based on socioeconomic conjuncture variables. Engenharia
das redes de material reciclável. Sanitaria e Ambiental, 17(3), 325-332.

1205 1206
DiMaggio, P., & Powell, W. W. (1983). The iron cage revisited: Collective rationality and
institutional isomorphism in organizational fields. American sociological review, 48(2), 147-160. Reuter, M. A., & Van Schaik, A. (2015). Product-Centric Simulation-based design for recycling:
case of LED lamp recycling. Journal of Sustainable Metallurgy, 1(1), 4-28.
Dowell, G., Hart, S., & Yeung, B. (2000). Do corporate global environmental standards create or
destroy market value?. Management science, 46(8), 1059-1074. Rodrigues, W., Magalhães Filho, L. N. L., & Pereira, R. D. S. (2016). Analysis of urban solid waste
costs determinants in Brazilian state capitals. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, 8(1),
Gil, A. C. (2007). Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, 5(61), 16-17. 130-141.

Golini, R., Longoni, A., & Cagliano, R. (2014). Developing sustainability in global manufacturing Schaltegger, S., Lüdeke-Freund, F., & Hansen, E. G. (2012). Business cases for sustainability: the
networks: The role of site competence on sustainability performance. International Journal of role of business model innovation for corporate sustainability. International Journal of Innovation
Production Economics, 147, 448-459. and Sustainable Development, 6(2), 95-119.

Grandori, A. (2006). Innovation, uncertainty and relational governance. Industry and Innovation, Silva, A. L. E., Reis, L. V., dos Santos, L. M. A. L., & Mallmann, M. A. (2014). Aplicação da
13(2), 127-133. metodologia P+ L na redução de desperdícios dentro das empresas de beneficiamento de tabaco.
Tecno-Lógica, 18(2), 97-102.
Granovetter, M. (1985). Economic action and social structure: The problem of embeddedness.
American journal of sociology, 91(3), 481-510. Song, Q., Li, J., & Zeng, X. (2015). Minimizing the increasing solid waste through zero waste
strategy. Journal of Cleaner Production, 104, 199-210.
Gulati, R. (1998). Alliances and networks. Strategic management journal, 19(4), 293-317.
Tseng, M. L., Lin, Y. H., & Chiu, A. S. (2009). Fuzzy AHP-based study of cleaner production
Jones, C., Hesterly, W. S., & Borgatti, S. P. (1997). A general theory of network governance: implementation in Taiwan PWB manufacturer. Journal of Cleaner Production, 17(14), 1249-
Exchange conditions and social mechanisms. Academy of management review, 22(4), 911-945. 1256.

Morgan, R. M., & Hunt, S. D. (1994). The commitment-trust theory of relationship marketing. Williamson, O. E. (1985). The mechanisms of governance. Oxford University Press.
The journal of marketing, 20-38.
Xie, G. (2016). Cooperative strategies for sustainability in a decentralized supply chain with
Nohria, N., & Eccles, R. G. (1992). Networks and Organizations (Boston: Harvard Business competing suppliers. Journal of Cleaner Production, 113, 807-821.
School Press). Google Scholar.
Yong, J. Y., Klemeš, J. J., Varbanov, P. S., & Huisingh, D. (2016). Cleaner energy for cleaner
Provan, K. G., & Kenis, P. (2008). Modes of network governance: Structure, management, and production: modelling, simulation, optimisation and waste management. Journal of Cleaner
effectiveness. Journal of public administration research and theory, 18(2), 229-252. Production, 111, 1-16.

Rajala, R., Westerlund, M., & Lampikoski, T. (2016). Environmental sustainability in industrial Zaheer, A., & Venkatraman, N. (1995). Relational governance as an interorganizational strategy:
manufacturing: re-examining the greening of Interface’s business model. Journal of Cleaner An empirical test of the role of trust in economic exchange. Strategic management journal,
Production, 115, 52-61. 16(5), 373-392.

1207 1208
Capítulo 118

Confrontando a vivência de um empreendedor às teorias sobre


empreendedorismo: Um estudo pela perspectiva ergológica

Luana Jéssica Oliveira Carmo1, Lílian Bambirra de Assis2 y Admardo Bonifácio Gomes Junior3

Depois de investir em sua carreira empreendedora, o sucesso ou o fracasso no mercado dependerá


única e exclusivamente do desempenho e do esforço pessoal do empreendedor (Sabino, 2010).
Esse trecho representa um dos discursos dominantes do empreendedorismo que atribui ao
empreendedor a única responsabilidade pelo seu sucesso ou fracasso, desconsiderando as
variáveis do ambiente e as condições oferecidas a ele para sua atividade.

Ao empreendedor são prescritos imperativos que atribuem a ele a responsabilidade por criar algo
novo e conseguir resultados (Schumpeter, 1961, 1997). Além dessa responsabilidade, para ser
Diálogos sobre o trabalho. Perspectivas empreendedor é necessário acreditar na liberdade de iniciativa. É preciso preferir a competição
ao conforto, ter atitude, assumir riscos, ir à luta e fazer acontecer. É também imprescindível ter
clínicas de pesquisa e intervenção atitude (Leite, 2012). É possível observar que vários são os imperativos ao empreendedor e isso
se reproduz nos discursos que concebem o empreendedorismo como um fenômeno que alavanca
a economia e o empreendedor como um modelo de sucesso responsável por esse progresso.

Buscando entender o empreendedorismo como uma atividade industriosa, esse artigo teve
o objetivo de confrontar as experiências vividas por um empreendedor com os discursos do
empreendedorismo, utilizando a perspectiva ergológica. Buscou-se verificar como os relatos
do empreendedor estão atrelados a um discurso dominante, como também desvela outras
dimensões que são normalmente esquecidas quando se trata do empreendedorismo e que só
podem ser reveladas pelo próprio empreendedor ao narrar sua vida. De acordo com Schwartz e
Durrive (2010, p. 29), “não podemos julgar o valor das mudanças no trabalho sem se inquietar
do ponto de vista daquele que trabalha”.

Assim, nesse anseio de conhecer o trabalho pela perspectiva do trabalhador, optou-se pela
1. Mestranda do PPGA - CEFET-MG: Programa de Pós-Graduação em Administração. Email: luanajeoli@gmail.com
2. Professora Doutora do PPGA - CEFET-MG: Programa de Pós-Graduação em Administração. Email: Email: lilianbassis@hotmail.com
3. Professor Doutor do PPGA - CEFET-MG: Programa de Pós-Graduação em Administração. Email: admardo.jr@gmail.com

1209 1210
história de vida como caminho metodológico. É no caso concreto, no contexto social de história tradicional do empreendedorismo.
de vida, que as normas do meio, as saídas encontradas pelo sujeito e os saberes desenvolvidos
neste encontro serão confrontados às teorias sobre empreendedorismo e as leituras críticas De acordo com Tux, ele não se desvincula da empresa e nem de ser um empreendedor: “o
sobre este. Como afirma Schwartz (2000), os saberes dos trabalhadores estão ancorados em empreendedor não sai de mim hora nenhuma”. É o que Gaulejac (2007, p. 179) afirma: “Na nova
suas histórias e nas situações concretas. De acordo com Barros e Silva (2002), os saberes que ordem mundial, dominada pelos valores do empreendimento, tudo é business”. Nisso, percebe-
aparecem nas histórias jamais são dados a priori, sendo construídos na experiência cotidiana e se que os relatos de Tux estão alinhado aos valores do mercado, uma vez que expressa e reproduz
na interlocução. os imperativos dos discursos do empreendedorismo.

A vivência do empreendedor e os discursos do empreendedorismo Tux acredita que não tenha nascido para ter um emprego, e sim para ter uma empresa. Ele afirma
que ser o dono do próprio negócio é uma vocação. Mesmo quando ele conta que na infância
Tux nasceu em 1975, na cidade de Belo Horizonte. Ele é casado e possui uma filha de doze anos. pensava em ser um dentista, ele afirma que seria o dono do consultório e não um empregado:
É dono de uma empresa do segmento de tecnologia da informação. O nome Tux foi escolhido “Teve uma fase da minha infância que eu queria ser dentista. Mas na verdade eu ia ter um
pelo próprio empreendedor. Segundo ele, este é o nome do mascote do software livre LINUX. consultório, não ia ser empregado também não, então eu iria empreender do mesmo jeito. Só
Tux vê essa escolha como uma homenagem à oportunidade que lhe abriu as portas para ser um lembrei disso agora”.
empreendedor
Em relação ao contexto brasileiro, Tux relata que, com as mudanças atuais, o cenário caminha
Tux sempre esteve inserido no mundo dos negócios. Quando ainda era criança viu seu pai se para a direção de cada pessoa ser sua própria empresa e por isso cada um “deve se vender”.
aventurar pelo sonho da própria empresa, largando seu emprego fixo. O pai passou por bons Nisso, seu relato também se apresenta alinhado ao discurso do empreendedorismo, uma vez que,
e maus momentos como empreendedor e Tux vê as experiências do pai como suas, pois assim diante da situação atual do país, cabe a cada pessoa “ser sua própria empresa”.
evita cometer erros em seus negócios. Esse relato está alinhado ao que Gaulejac (2007, p. 179) critica sobre o delineamento de um
“verdadeiro projeto de sociedade: transformar o homem em empreendedor para um mundo
Ainda assim, Tux já viu o fracasso de perto com o fechamento de sua primeira empresa. Mas, ele produtivista”.
não desistiu e abriu um novo negócio. Segundo ele, sempre teve a “veia de empreendedorismo”.
Buscando nas origens dos termos “Empreendedorismo” e “empreendedor” vêm da palavra Os relatos de Tux parecem estar bem alinhados aos valores do mercado e aos discursos do
francesa “entrepreneur”, que tem origem no latim “imprehendere” e significa aquele que se empreendedorismo como uma forma de “se dar bem na vida”. Entretanto, é preciso salientar
encarrega e que faz alguma construção ou outra coisa (Boava & Macedo, 2006). Empreender que para os autores deste trabalho, esse “espírito empreendedor” bem como os discursos do
é então fazer algo, é criar, e nisto reside o homem industrioso, aquele que tem capacidade de empreendedorismo estão relacionados ao espírito do capitalismo e sua capacidade de impor
criar, de fazer algo. de forma sutil, com aparência de escolha, mas como a única alternativa viável a ser seguida.
Conforme Boltanski e Chiapello (2009), o espírito do capitalismo é a ideologia que justifica
Quando Tux diz que tem “veia de empreendedorismo” e que sempre se sente um empreendedor, o engajamento no capitalismo, pois as pessoas precisam de razões morais para se aliarem ao
mesmo que esteja fora da empresa está a todo tempo pensando em novas oportunidades sistema. Desse modo, o discurso se modificou, se adaptou, como sempre o fez de acordo com a
de “ganhar dinheiro” ele demonstra o como a ideologia do mercado está naturalizada ao dinâmica do momento.
empreendedor. Por intermédio da ideologia do management e sua fé inabalável nos valores de
mercado, nos procedimentos racionais e no gênio do empreendedor, os valores empresariais Além disso, as desigualdades presentes nos contextos sociais e políticos e culturais também
invadem a vida pessoal (Wood Jr., 2013) e isso é disseminado como algo natural pela corrente precisam ser consideradas, se distanciando da ideia imposta pelo empreendedorismo sobre o

1211 1212
sucesso ou o fracasso da carreira empreendedora ser mero resultado do esforço individual de expressas em suas atividades, às vezes em usos de si mais por si ou mais pelos outros. Os dramas
cada um (Sabino, 2010). relatados por Tux podem ser pensados nessa perspectiva e as perguntas são: que uso ele faz de
si? Para atender a si ou aos outros? Em que medida sob orientação dos valores do mercado ou
Assim, para que haja um equilíbrio no espaço social tripolar é necessária uma mudança na do bem comum? Ao que parece, Tux faz passar todos os valores pelo polo do mercado e vive a
concepção do empreendedorismo como algo que funcione num sistema bipolo, no qual os valores contradição de não saber passar valores do bem comum por outro lugar.
do mercado prevalecem sobre o sujeito. Propõe-se então que o empreendedor seja visto como
um ser industrioso, que cria sempre, que está em atividade. As dramáticas vividas por Tux

A contradição entre mercado e politeia Filho mais velho, é relevante observar que Tux sempre se sentiu o responsável pela família,
desde a infância, cuidava dos irmãos mais novos. Mais tarde, essa responsabilidade se reflete na
Nessas sociedades de mercado, é necessário obter recursos em dinheiro. Mas, satisfazer aos empresa, onde ele se sente o responsável não só pelos funcionários, como também pelas famílias
imperativos de valores dimensionados torna-se completamente desconectado de um objetivo de cada um deles.
relacionado ao bem comum, o bem público. Se tudo se resume a “ganhar dinheiro” se vê uma
crise que é vista nessa sociedade atual, e que culmina no individualismo, ou seja, as pessoas A transferência da responsabilidade para o sujeito é mais uma das mensagens transmitidas
não enxergam o mundo de seus semelhantes. Existe uma grande contradição entre dinheiro e pela ideologia capitalista, o qual segundo Gaulejac (2007, p. 126), precisa de se apoiar em
atividade e cada vez mais o poder do dinheiro e a hegemonia do polo do mercado têm aumentado. uma legitimidade para “justificar as desigualdades que provoca e apagar as contradições
As escolhas são tomadas em relação à rentabilidade, produtividade, e outros valores monetários que suscita”. Por isso, acredita-se que o discurso do empreendedor de sucesso é mais uma
(Venner & Schwartz, 2015). estratégia da ideologia capitalista, atribuindo ao sujeito a responsabilidade por sua todas as
esferas do trabalho. Pelo relato de Tux, é possível perceber uma contradição entre o que ele
Assim, se vê que os polos do mercado e o polo político convocam valores distintos e isso gera expressa de sua atividade, suas responsabilidades, seus desafios e suas escolhas e os valores
um debate permanente de normas, pois estes valores entram em conflito. A flexibilidade neoliberais que ele defende.
exigida pela ideologia liberal, em prol do progresso, soa aos ouvidos dos trabalhadores como
horários irregulares, falta de regulamentação e proteção. Ou seja, flexibilização do trabalho. Tux vê o seu negócio não somente como uma fonte de dinheiro, mas também como uma forma
Nisto, Gaulejac (2007) questiona a visão de equivalência entre o dinheiro, as mercadorias e os de garantir a renda de algumas famílias. Esse mundo de valores o faz escolher por continuar
homens. Segundo o autor, não pode haver liberdade sem o mínimo de segurança, pelo respeito seu negócio, mesmo diante dos obstáculos que surgem. O mundo de valores é mais ou menos
aos direitos, e o peso das decisões e a capacidade de negociação das condições de trabalho não anônimo e sem dimensões porque não se pode criar uma hierarquia ou uma escala desses valores
são os mesmos dos dois lados. (Venner & Schwartz, 2015).

“O mercado é um mestre muito severo: ao errar, o empreendedor será punido pela cruel lógica Dentre os depoimentos de Tux, é possível ver a manifestação de dramáticas do uso de si em
mercantil” (Leite, 2012, p. 57). No relato de Tux é possível ver essa severidade do mercado vários trechos. Um deles é quando expressa sua preocupação em não aumentar demais seu
quando ele fala que: “[...] a loja deu e depois ela começou a tirar as coisas, por que já não tava padrão de vida, pois corre o risco de perder tudo novamente e nunca chegar ao limite de se
dando tanto resultado assim”. “Aí eu voltei pra cá, deu tudo errado. Perdi tudo o que eu tinha sentir satisfeito. Tux diz que sabe sobre a necessidade de querer sempre mais que caracteriza o
conquistado eu perdi.” empreendedor. No entanto, ele se posiciona contra essa ideia ao estabelecer um padrão de renda
mensal para evitar essa constante insatisfação. Aí reside as dramáticas do uso de si, as tensões
No espaço tripolar, as contradições entre o mercado e a politeia são vividas pelo corpo-si e e o medo de se acostumar com um padrão de vida alto e depois perder tudo, como já aconteceu

1213 1214
com seu pai.
Schwartz (2015) continua que é uma tarefa pesada e difícil estar na posição de prescritor
“[...] eu vou ser empresário pra falar para todo mundo que eu sou empresário? Tem que ser de normas, pois a pessoa fica entre a tentação dominante do autoritarismo opressivo e sem
empresário pra valer a pena.” Nesses relatos, Tux manifesta um questionamento sobre o negócio explicações e a preocupação de aprender com o encontro de encontros que atravessam o meio
“ter que valer a pena”. Não consiste em uma necessidade de status, de poder ou reconhecimento, de trabalho. Isso pode ser visto no relato de Tux:
conforme defendido por McClelland (1961). Quando ele fala que “ninguém queria estar no
lugar dele” ele sente que uma mudança na situação atual se fazia necessária. Ele precisava É possível compreender que o empreendedor também é um lugar de dramáticas do uso de si,
renormalizar o meio em que estava vivendo para que o negócio “valesse a pena”. assim como diz Venner e Schwartz (2015) estamos todos às voltas com nossas dramáticas de
uso de nós mesmos, permeados por debates de normas e presos à um mundo de valores que não
“É um questionamento que eu faço o tempo todo, acho que todo empresário tem que pensar pode ser dimensionável. Esse fato instaura entre todos os humanos uma dimensão de igualdade
nisso, falar que é empresário só por paixão, só por vaidade, pra falar pra todo mundo que e universalidade. Essa dimensão de igualdade se enxerga quando Tux afirma que em alguns
você é empresário?”. Nestes questionamentos se expressam as dramáticas do uso de si momentos, escolhe fazer o “trabalho de seus funcionários” porque gosta. Essas escolhas de Tux
do empreendedor. Enquanto o discurso dominante tenta silenciar o debate de normas e as expressam o mundo de valores sobre o qual ele se declina.
dramáticas do uso de si desses agentes ao difundir ideias como a receita do sucesso, a mídia
de negócios constrói um estereótipo do empreendedor competente, brilhante, bem sucedido, As falas de Tux demonstram que ele transita entre a desaderência e a aderência. Quando
atualizado, corajoso, inovador e agente de mudança da sociedade (Souza-E-Silva & Stella, 2015). prescreve o trabalho a seus funcionários e em outros momentos ele desenvolve o trabalho deles.
Entretanto, de acordo com Stella (2015), ao olhar para a atividade do empreendedor pela sua Talvez por esse “transitar” entre esses dois locais, ele demonstra ter consciência de que o
perspectiva, são revelados os desafios, as dificuldades, os debates de valores. O empreendedor trabalho de seus funcionários nunca será igual às normas prescritas. Essas escolhas fazem com
já nasceu como um agente de renormalização das normas antecedentes (Stella, 2015). que o “empreender” seja repleto de dramáticas do uso de si. Dramáticas imanentes ao trabalho
humano, nas dialéticas entre o micro e o macro, nas circulações mutuamente reestruturantes
O empreendedor como prescritor de normas entre valores sociais, valores humanos, e construção passo a passo dos atos industriosos. Isso
tudo é evidenciado pelas escolhas inevitáveis a qualquer situação (Schwartz, 2004).
As falas de Tux sobre o seu papel de empreendedor varia entre um prescritor de normas, que as
produz na desaderência, e em outros momentos ele demonstra estar mais próximo da atividade Ser empreendedor não se reduz a “ganhar dinheiro” ou a ter sucesso. Essa ideia atende apenas
concreta de seus funcionários. É nesta variação que reside o drama, as tensões, os debates aos valores do mercado e faz com que o mundo de semelhantes seja desconsiderado em prol
entre o as normas antecedentes e a situação real do trabalho. Tudo isso evidencia a atividade do individualismo. Somente com o equilíbrio entre os polos do espaço tripolar será possível
industriosa do empreendedor. pensar em uma transformação da situação atual baseada em um prescritivismo que atende aos
valores do polo mercado em detrimento dos valores do polo político. É preciso se desviar desse
Schwartz (2015) afirma que “todo mundo trabalha” inclusive aqueles que estão numa posição prescritivismo meritocrático que atribui tudo ao polo dos usos de si e não reconhece os valores
de enquadrar e controlar o trabalho dos outros. Tux acredita que ser o prescritor de normas lhe do bem comum, que acentua o individualismo e a competição em detrimento da coletividade e
causa uma certa tensão. Pode-se entender que isso demonstra uma dramática do uso de si do da colaboração.
empreendedor. Para evitar essa situação, ele instaurou em sua empresa um sistema de abertura
de chamados para que os funcionários realizem as tarefas. “E a única coisa que eu estou te Considerações Finais
pedindo é que execute a sua tarefa. Então, é simples! Então a tarefa é aberta com o prazo pra ser
executada, com o passo a passo do que deve ser feito”. Percebeu-se que os relatos do empreendedor estão alinhados aos discursos do empreendedorismo

1215 1216
nos momentos em que ele sustenta a ideia de estar a todo o momento pensando em como ganhar Gaulejac, V. de. (2007) Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação
dinheiro, ou estimulando as pessoas ao seu redor a se tornarem empreendedores devido ao social. São Paulo: Ideias e Letras, p. 7-142.
contexto atual do Brasil.
Leite, E. (2012) O fenômeno do empreendedorismo. São Paulo: Saraiva.
Entretanto, em seus relatos residem também as contradições expressas entre os valores
neoliberais que defende e seus questionamentos sobre o negócio “ter que valer a pena”, o McClelland, D. C. (1961) The achieving society. New York: D. Van Nostrand Company.
receio de aumentar seu padrão de vida e perder tudo, ou de em seu cotidiano, transitar entre um
prescritor de normas e um renormalizador delas. Sabino, G. T. (2010) Empreendedorismo: reflexões críticas sobre o conceito no Brasil. Anais do
Seminário do Trabalho, v. 7, p. 1-16.
Para Tux, prescrever normas é um sofrimento, uma angústia, e como ele tenta instaurar
mecanismos para reduzir essas tensões. Além disso, ele também apresenta seu declinar sobre Schwartz, Y. (2000) A comunidade científica ampliada e o regime de produção de saberes. Belo
um mundo de valores, quando se sente responsável não só por seus funcionários, como pelas Horizonte: Trabalho e Educação. Revista do NETE/UFMG, jul-dez, nº. 07, pp. 38-46.
famílias deles e esse é um dos motivos que o faz dar continuidade ao negócio. Nisso, reverbera
as dramáticas do uso de si por si e pelos outros e é aí que se encontra a atividade industriosa do ______. (2015) Manifesto por um ergoengajamento. In:SCHWARTZ, Y. DURRIVE, L. Trabalho e
empreendedor. Ergologia II. Diàlogos sobre a atividade Humana. Tradução de Marlene Machado Zica Vianna.
Belo Horizonte. Fabrefactum.
Torna-se necessário então que o empreendedor seja visto com um ser industrioso, que está a todo
o momento criando, fazendo algo, ou seja, “empreendendo”. Mas, enquanto o empreendedorismo Schwartz, Y. & Durrive, L. (2010) (orgs) Trabalho & Ergologia: conversas sobre a atividade
for concebido pela hegemonia dos valores do mercado, torna-se impossível e invivível dar lugar humana. 2. ed. Niterói: EdUFF.
a atividade humana, e enxergar o mundo de valores do empreendedor e o viver junto com seus
semelhantes. É preciso considerar o fenômeno com todas as suas implicações sociais, culturais Schumpeter, J. A. (1961) Capitalismo, Socialismo e Democracia. Editado por George Allen e
e políticas, partindo da compreensão que ele deve perpassar e se equilibrar entre os três polos Unwin Ltd., traduzido por Ruy Jungmann. — Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura. Tradução
do espaço tripolar. do original inglês Capitalism, Socialism, and Democracy.

Referências Bibliográficas ______. (1964) Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital,
crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997. Título original: Theorie
Barros, V. A. & Silva, L. R. (2002). A pesquisa em história de vida. In: Goulart, Íris (Org.) Psicologia der Wirtschaftlichen Entwicklung Dunker & Humblot, Berlim, Alemanha.
organizacional e do trabalho: teoria, pesquisa e temas correlatos. São Paulo. Casa do Psicólogo.
Souza-E-Silva, M. C. & Stella, V. C. (2015) Quem é o empreendedor brasileiro? Discursos em
Boava, D. & Macedo, F. (2009) Sentido axiológico do empreendedorismo. Anais do Encontro concorrência. Letras de Hoje, v. 50, n. 5, p. 83-89.
Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, São Paulo,
SP, Brasil, 33. Stella, R. C. V. (2015) As dramáticas do uso de si de um jovem empreendedor. Ergologia, nº 13.
Wood Jr, T. (2013). Capitalismo Selvagem: Crônicas da vida corporativa e do trabalho. 1ª edição.
Boltanski, L. & Chiapello, È. (2009) O novo espírito do capitalismo. WMF Martins Fontes. Edição do autor.

1217 1218
Venner, B. & Schwartz, Y. (2015) Debates de normas, “mundo de valores” e engajamento Capítulo 119
transformador. In: Trabalho e Ergologia II. Diàlogos sobre a atividade Humana. Tradução de
Marlene Machado Zica Vianna. Belo Horizonte. Fabrefactum, 2015. P. 55-149.
La actividad laboral en los coworkings: Una propuesta de análisis basada
en la perspectiva ergológica

Gislene F. Haubrich1 y Louis Durrive2

Méda y Vendramim (2013) presentan un relato histórico acerca de la noción de trabajo que
considera las diversas capas de sentido en ella imbricadas desde su surgimiento, asociado al
período del Renacimiento, en el siglo XVI. Desde entonces, el trabajo viene siendo transformado
por cambios en los modos de realización, con la desaparición y el surgimiento de profesiones, así
como con la modificación de la representación construida sobre él. En el contexto contemporáneo,
se observa el desarrollo de un arreglo organizacional que agrega una diversidad de géneros, de
tipos de actividad y de relaciones laborales: los coworkings.

En el primer libro publicado sobre el tema en el mundo, Jones et al. (2009, p.8) afirman que “la
palabra coworking tiene diferentes significados: un nombre propio para designar un movimiento,
un verbo para describir una actividad o un adjetivo para caracterizar un espacio”. Desde el
surgimiento de los coworkings, en este nuevo contexto, muchos estudios han sido realizados con
el fin de comprender su funcionamiento y las motivaciones para ocupar ese espacio, entre otras
cuestiones. Sin embargo, ninguna de las definiciones propuestas parece ser tan flexible como la
de Jones et al. (2009) para dar cuenta de las múltiples posibilidades que este tipo de propuesta
reúne: desde la reducción de costos hasta un ecosistema que favorece las interacciones y la
innovación. Con esto, la elegimos como punto de partida para comprender el fenómeno coworking.

Desde nuestro punto de vista, es decir, el coworking puede ser designado como un arreglo
organizacional que se constituye de prácticas de comunicación vinculadas a la actividad laboral
de personas comprometidas con la construcción de un entorno colaborativo y conveniente con
el fin de producir conocimiento. Nuestra conceptualización está conectada con la reflexión de
Méda y Vendramim (2013), puesto que miramos el coworking como una nueva tentativa creada
por los trabajadores en la búsqueda de nuevas formas de trabajar laborar. Cuando observamos

1. FEEVALE/BR | UNISTRA/FR. Email: gisleneh@gmail.com


2. UNISTRA/FR. Email: louis.durrive@unistra.fr

1219 1220
los valores difundidos en la página web “Coworking Wiki”3 , es posible identificar la dimensión entre ambos. Asimismo, el concepto ergológico de actividad apoya una mirada al coworking
del trabajo como una actividad social, una posibilidad de vinculación personal entre las personas. como intento de la resignificación del trabajo, o sea, la agregación de capas de sentido que
Entretanto, se puede cuestionar el avance real de esta propuesta. Aun así, en este momento no destacan la creatividad y las decisiones elegidas por los trabajadores. La ergología se interesa
consideramos tener bases suficientes para hacerlo. por la relación entre el medio y el ser humano. La concepción del medio está basada en las ideas
de Canguilhem (1966) y es definido como el mundo de la percepción donde se queda el campo
Esta reflexión introduce el tema de la investigación: la actividad de trabajo en coworkings. Frente de la experiencia. El trabajador, que Schwartz (2014) denomina el cuerpo-sí (corps-soi), hace
a esto, se presenta el objetivo de este estudio, que es comprender cómo la démarche ergológica sus elecciones y reorganiza el medio en función del sí y lo hace todo el tiempo.
puede contribuir para al análisis de la actividad laboral en coworking. Guérin et al. (2001, p.16),
sostienen que la actividad es el “conjunto de fenómenos que caracterizan a la persona humana En este sentido, Durrive (2015) afirma que el cuerpo-sí está en actividad constante, pues es
cumpliendo actos”. En este mismo camino, Durrive (2015, p.42) señala que “una actividad impulsado a tomar iniciativas para superar las limitaciones que se presentan. El medio está
humana se estructura espontáneamente en los límites que permiten su existencia”. Vivir es lleno de limitaciones, bien sean materiales (muebles, utensilios, personas, etc.) o inmateriales
estar en actividad. Es decir, cada acto vivido deriva de elecciones realizadas bajo determinadas (símbolos, normas, etc.): el medio está repleto de usos propuestos por el otro. Sin embargo, una
circunstancias o limitaciones fenomenológicas de la situación. La actividad se constituye de de las características humanas, según la reflexión producida por Canguilhem y ampliada por
la secuencia de actos, que responden y simultáneamente demandan nuevas respuestas en la ergología, es “la lucha contra la pasividad, o aún, ofrecer resistencia a aquello que resiste
situación. Para que este movimiento sea mantenido, es fundamental que determinados aspectos a nosotros” (Durrive, 2015, p.17). Es esta premisa de la vida la que va a sostener la noción de
sean manejados conceptualmente y compartidos entre los miembros del grupo social. actividad mientras él va y viene entre la adherencia y la desadherencia (Durrive y Haubrich,
en prensa). Si comprendemos esta relación del cuerpo-sí con el medio, podemos avanzar en el
Esta es la base conceptual elaborada por Yves Schwartz, conocido como el “padre de la estudio de la gestión de los usos del sí y en su fundamento, el debate de normas.
ergología”. En respuesta a la cuestión propuesta por Mencacci, Schwartz (2015, p.38), elucida
que “la estructura esencial de la actividad es siempre un debate de normas, diversos debates La gestión de los usos del sí pasa por una dialéctica permanente entre el medio organizado por
de normas”. Las normas corresponden a determinadas orientaciones sociales y humanas, el otro y la reorganización del medio por el yo (cuerpo-sí). El enfoque ergológico no favorece
constituidas en desadherencia4 al momento vivido5, pero en él sostenido. Por ejemplo, la sólo uno de los usos, sino que reconoce que ellos son interdependientes. (Durrive, 2015).
prohibición al uso de cigarrillos en determinados ambientes resulta del acto de fumar realizado Así, si buscamos entender la actividad en coworking, necesitamos considerar del modo más
anteriormente. Hay varias aclaraciones en torno a la norma “prohibido fumar”, las cuáles son amplio las limitaciones que se muestran, así como comprender lo que sostiene las iniciativas
repensadas constantemente en diferentes situaciones, que quiere decir que la norma es definida tomadas por los trabajadores en su actividad. Según la ergología, esta comprensión se desarrolla
por el tiempo y el espacio. Toda norma es una construcción colectiva, aunque no implique mediante el estudio de los saberes y de los valores que son accionados por el cuerpo-sí. Sobre
consenso. Por eso se habla de conceptualización o manejo de conceptos, el acto desencadenador todo, necesitamos identificar cómo tales saberes y valores se interpretan y significan en el
de respuestas y de reflexión, luego, de debate. momento de la actividad. Los saberes no son sólo aquellos que están codificados, los llamados
saberes constituidos, sino también aquellos de la experiencia, que no están claros, pero que son
Con base en estas concepciones, entendemos que el abordaje ergológico es significativo para el determinantes para la iniciativa. En ambos casos, lo que define el accionar de estos saberes es
estudio de la actividad realizada en coworking, puesto que ello permite el acceso a las diferentes el valor que orienta la acción, cuya manifestación es el privilegio de determinada conducta en
dimensiones abarcadas, en los ámbitos micro y macro, además del establecimiento de un puente detrimento de otra.
3. Los cinco valores del movimiento coworking son: colaboración, franqueza, comunidad, accesibilidad, sostenibilidad. Disponible en: http://wiki.
coworking.org/w/page/16583831/FrontPage Si la identificación de las limitaciones pasa por una densa investigación preliminar, entender la
4. Distanciarse del presente de la acción.
5. La adherencia, la inmersión al presente de la acción.
toma de iniciativas depende de una inmersión al aquí y ahora. En este sentido, para la realización

1221 1222
de la investigación de campo, se opta por la interrelación y ampliación de las propuestas de coworker y, entonces, interrelacionarla con otras perspectivas, como aquella manifestada por la
Durrive y Quiniou. Durrive (2013, 2017), embaza su propuesta en la doble anticipación elaborada organización en el momento de la contextualización local y también las de los otros coworkers.
por Schwartz y la construye en tres etapas: la contextualización (repérage) en desadherencia, el En la imbricación de ese conjunto discursivo se llega a la etapa del diagnóstico, que permite
anclaje (ancrage) por medio de observación de la actividad y el diálogo de confrontación. Quiniou responder a la cuestión orientadora propuesta. El recorrido metodológico aquí propuesto fue
(2017), como ergonomista, presenta el abordaje ergonómico, también basado en tres pasos: el investido en la recogida de datos en un coworking, en Porto Alegre (Rio Grande do Sul, Brasil),
pre-diagnóstico, que corresponde al registro de la actividad; la validación con el trabajador o los cuyos datos pasan por proceso de análisis7.
trabajadores y el diagnóstico.
En este estudio, exponemos solamente resultados preliminares y parciales, ya que los datos
Nosotros, ante estas proposiciones, organizamos nuestra investigación de campo en una todavía están proceso de análisis. La recolección de datos recorrió las seis etapas mencionadas,
composición de seis pasos: 1) definición de la problemática orientadora para el estudio; 2) la siendo el período de realización entre los meses de abril y mayo de 2018, en el “Nós Coworking”
contextualización global (Repérage I); 3) la contextualización local, organizacional e individual (Porto Alegre, Brasil). En este sentido, considerando la contextualización, tanto global como
(Repérage II); 4) la observación de la situación (Ancrage); 5) la confrontación y la validación; 6) local, en su ámbito organizacional, se puede percibir que la traducción conceptual del coworking
diagnóstico. El recorrido propuesto se refiere a la proposición de pilares para fundamentar la comprende diversas etapas, estando asociada a la situación económica del país (Brasil). En
actuación de los investigadores, a fin de que tenga un enfoque sensible junto a los participantes el período mencionado, el espacio contaba con el 60% de su capacidad de ocupación y el
de la investigación y, así, se construyen, en sociedad, nuevas miradas a la actividad humana. público estaba compuesto mayoritariamente por pequeñas empresas. Pocas estrategias fueron
identificadas para la aproximación de los trabajadores, que se sentaban distantes unos de los
Esta proposición también sostiene la organización y el análisis de los datos recogidos, por lo que otros, puesto que había bastantes espacios vacantes.
se inicia con una cuestión clara acerca de lo que es central para el estudio, pero sin perder de
vista lo que orbita en su entorno. En este caso, se define como problemática orientadora: ¿cómo Los cambios en el proceso de construcción de la realidad del coworking también fueron
el coworking es renormalizado6 por los coworkers? En la secuencia, se busca comprender los señalados por los coworkers participantes de la investigación que, durante la entrevista de
diferentes sentidos accionados para conceptualizar el coworking, lo que resulta de la lectura de contextualización individual, apuntaban insatisfacción con la conducción de las prácticas del
libros, artículos, reportajes y otros documentos disponibles sobre el tema. coworking. Se percibe que los trabajadores, en este contexto, interpretan el coworking como un
proveedor de servicios, lo que resalta una relación de consumo en la base de la relación laboral.
La contextualización local se divide en dos etapas: una basada en la triangulación entre entrevistas En ese sentido, también la entrevista de confrontación a la situación observada en el ejercicio
con gestores, observaciones del espacio y análisis documental. La otra etapa, individual, se de la actividad de los coworkers, subraya la falta de vínculo percibido entre el coworking y su
basa en una doble triangulación de la actividad en adherencia: La triangulación inicial entre actividad. Del mismo modo, la investigación ergológica evidencia diversas fragilidades en lo que
la observación (Ancrage) y la entrevista de confrontación/validación, cuya consecuencia es se refiere a la relación laboral pretendida globalmente por el fenómeno coworking, o sea, una
la manifestación de los valores que han sostenido las renormalizaciones realizadas por los nueva forma de trabajar.
trabajadores; la segunda triangulación parte de estos valores manifiestos que son puestos en
diálogo con aquello que el coworker dice en una entrevista preliminar (Repérage II), la cual fue La primera de ellas se refiere a la distancia entre los valores propuestos por el movimiento,
estructurada a partir de 10 cuestiones que buscan identificar el punto de vista del trabajador en disponibles en el sitio Coworking Wiki (2018), y aquellos que pautan la organización del ambiente
relación con su actividad. contemplado. Se percibe un enfoque sostenido por el compartir recursos y las interacciones entre
7. Tesis de Gislene Feiten Haubrich, “Better Together: uma abordagem da produção de saberes a partir das interações da atividade laboral em
Mediante ese movimiento, adherencia-desadherencia, se puede comprender la realidad del coworkings”, desarrollada no Doctorado en Procesos Y Manifestaciones Culturales de la Universidade Feevale, con la orientación del profesor Ernani C.
de Freitas. El desarrollo metodológico presentado en este artículo transcurrió del período de doctorado “sándwich”, realizado con beca PDSE/CAPES
6. La renormalización se refiere a la forma propia de cada uno para interpretar la norma. Se sugiere mirar el glosario de la Ergología. en la Université de Strasbourg (Strasbourg, Francia), con la orientación del profesor Louis Durrive.

1223 1224
los trabajadores de empresas diferentes también están pautadas por la ocasión y por la iniciativa abordajes posibles para el estudio del trabajo contemporáneo, sobre todo en los arreglos
de los coworkers. Se reconoce, además, que los valores que basan las elecciones en situación organizacionales como los coworkings. En estos casos, es preciso considerar que las personas
de actividad se muestran asociadas al beneficio individual sobre la construcción del colectivo, tienen la posibilidad de elegir el espacio, la jornada, así como los colaboradores para sus
aunque en el momento de la contextualización, expresiones como “vivir en comunidad” hayan proyectos. Pero, es cierto que ellas también pueden trabajar demasiado y sufrir las presiones de
sido accionadas para caracterizar la actividad. En esta situación, es posible percibir el debate la demanda de la producción. ¿La libertad sería, en realidad, una prisión? En efecto, no hay una
de normas (Mencacci; Schwartz, 2015) vivido por el cuerpo-sí, ya que la conceptualización del respuesta correcta para esta cuestión, especialmente si adoptamos el punto de vista ergológico.
coworking es basada en la idea de compartir situaciones para mejorar los resultados de todos. En esto caso, es necesario considerar la inserción socio-histórica de las personas, invitarlas al
Pero, la confrontación entre lo que fue observado y lo debatido con relación a la realidad de la diálogo, y entonces, podremos construir, junto con los trabajadores, una comprensión de estas
actividad, manifiesta que las renormalizaciones están basadas en cuestiones particulares, sin nuevas formas de trabajar y las capas de sentido que están junto a ellas.
considerar la comunidad que está en el entorno.
Referencias
La gestión de los usos de sí implican que el cuerpo-sí haga su elección valorativa considerando
los gestores del coworking; los trabajadores, sean o no pertenecientes a la misma organización; Canguilhem, G. (1966). Le vivant et son milieu. En G. Canguilhem, Connaissance de la vie, (pp.
y los clientes. Valga subrayar que cada uno de estos interactuantes produce diversas normas, 129-154), Paris, France : Vrin. Recuperado de: http://perso.univ-lille3.fr/~lvinciguerra/espace/
las cuales deben ser interpretadas por el trabajador, siendo que éstas acaban por influenciar Le_Vivant_et_son_milieu.pdf
en su comportamiento y sus valores. En esto sentido, es evidente el componente formador de
la actividad, conforme presenta Durrive en su respuesta a la cuestión propuesta por Haubrich Durrive, L. (2013). Comment approcher une situation de travail en formation dans une
(en prensa), ya que, por veces, el tiempo disponible para una reflexión más profunda acerca perspective ergologique? Ergologia, 10, pp. 131-141. Recuperado de: http://www.ergologia.
de los eventos de la actividad es escaso. Así, vemos que la investigación ergológica arroja luz org/uploads/1/1/4/6/11469955/10_conf._1_durrive.pdf
sobre el proceso de producción de saberes de la actividad en el coworking, una vez que las
contradicciones pueden ser comprendidas por los trabajadores y, por ellos, renormalizadas. Durrive, L. (2015). L’expérience des normes: comprendre l’activité humaine avec la démarche
ergologique. Toulouse, France: Octares. Traducción propia.
Ante eso, de modo preliminar, se puede decir que la investigación ergológica subraya las
diversas contradicciones experimentadas por el cuerpo-sí en actividad (Schwartz, 2014), lo que Durrive, L. (Octubre de 2017). Le Langage au Travail: entre norme et renormalisation. Conferencia
implica una serie de consecuencias en cuanto a los saberes construidos y a los valores que en la « Journée d’études Le français à visée professionnelle », Strasbourg, France.
movilizan la acción. Sin embargo, sólo con la continuidad será posible presentar afirmaciones
en cuanto a la actividad laboral en coworking. Así, las reflexiones presentadas han tenido el Durrive, L. y Haubrich, G. F. (en prensa). La démarche ergologique pour accompagner la formation
propósito de tratar el recorrido metodológico desarrollado con base en las nociones ergológicas et le travail : entretien avec Louis Durrive.
de actividad, normas antecedentes, renormalizaciones, saberes y valor. Por ello, se reconoce
que los resultados emergentes de este tipo de investigación, que considera la imbricación entre Guérin, F. et al. (2001). Compreender o Trabalho para Transformá-lo: a prática da ergonomia.
global, local e individual, contribuyen al entendimiento de las interacciones en el contexto laboral São Paulo, Brasil: Blucher, Fundação Vanzolini. Traducción propia.
en coworkings, así como a la perspectiva que favorece la formación del sujeto y la producción de
conocimiento en tales escenarios. Jones, Drew. et al. (2009). I’m Outta Here! How coworking is making the office obsolete. Texas,
USA: NotanMBA Press. Traducción propia.
Sin embargo, los argumentos aquí presentados contribuyen con la reflexión acerca de los

1225 1226
Meda, D. y Vendramin, P. (2013). Réinventer le travail. Paris, France: Presses universitaires. Capítulo 120
Mencacci, N. y Schwartz, Y. (2015). “Diálogo 1 – Trajetórias e usos de si”. En Y. Schwartz y
L. Durrive. (Ed.) Trabalho e Ergologia II: diálogos sobre a atividade humana. (pp. 17-53). (Eliza
“Trabalho e subjetividade nas organizações contemporâneas”: Analisando as
Echternacht, Mariana Veríssimo e Francisco Lima), Belo Horizonte, Brasil: Fabrefactum. (Obra contribuições da disciplina no contexto da Pós-Graduação
original publicada en 2009). Traducción propia.
Geruza Tavares D’Avila1
Quiniou, S. (2017). Cours Analyse de l’activité. Conferencia en el « Master Ingénierie de la
Formation et des Compétences », Université de Strasbourg, France.
Introdução
Schwartz, Y. (2014). Motivações do conceito de corpo-si. Revista Letras de Hoje, 49 (3), 259-
274. doi: 10.15448/1984-7726.2014.3.19102 Apresento no presente artigo uma possível avaliação da disciplina eletiva “Trabalho e
subjetividade nas organizações contemporâneas” ministrada no âmbito de um Programa de
Schwartz, Y. y Durrive, L. (2008). Glosario de la ergología. Laboreal, 4, (1), pp. 23-28. Recuperado Pós-Graduação (PPG) acadêmico em Administração em uma universidade pública brasileira.
de http://laboreal.up.pt/es/articles/glossario-da-ergologia/ O objetivo foi analisar a contribuição, positiva ou negativa, da referida disciplina a partir das
dissertações produzidas pelos/as estudantes que a cursaram. A Psicologia Social do Trabalho
(PST) foi o norte para guiar o planejamento e a organização da disciplina, sem, no entanto, deixar
de apresentar outras abordagens teórico-metodológicas, como a Psicossociologia/Sociologia
Clínica (Gaulejac, 2014) e a Psicodinâmica do Trabalho (Dejours, 2009), por exemplo.

A PST busca compreender o trabalho – categoria central de análise, a partir das vivências dos/
as próprios/as trabalhadores/as, considerando sua historicidade e materialidade e em diferentes
contextos laborais, não apenas aqueles que são regulados (Sato; Coutinho; Bernardo, 2017). Tais
considerações possibilitam a compreensão da categoria trabalho neste momento do capitalismo,
cuja precarização e intensificação do trabalho, assim como a flexibilização de sua regulamentação
atingem não só a materialidade, mas também a constituição dos processos subjetivos dos/as
trabalhadores/as, distintamente no “continente do labor”, como expõe Antunes (2011).

Deste modo, desde 2014, quando da implantação do próprio programa de Pós-Graduação, a


disciplina, eletiva, vem sendo ministrada para mestrandos/as que se encontram no segundo
semestre letivo, próximos de defenderem seus projetos de pesquisa em banca de qualificação:
dos 49 matriculados no programa, 23 cursaram a disciplina. Os conteúdos da mesma foram
organizados em torno dos conceitos de subjetividade e trabalho, assim como suas relações.

1. Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Email: geruzad@yahoo.com.br

1227 1228
Tittoni e Nardi (2011, p. 375) introduzem que “A análise da relação entre subjetividade e trabalho
busca compreender os modos como os sujeitos vivenciam e dão sentido às experiências de
trabalho, assim como a forma que as relações e os contextos de trabalho produzem determinados
modos de constituição dos sujeitos” (grifos dos autores). Deste modo, foram apresentados
aos/às mestrandos/as ambos conceitos, considerando os diferentes aportes teóricos para a
subjetividade, assim como as relações de trabalho nas diferentes organizações possíveis na
contemporaneidade (organizações públicas e privadas, trabalho na Economia Solidária, trabalho
informal).

Método

Para realizar este estudo, enviei uma mensagem ao endereço eletrônico daqueles/as acadêmicos/
as das turmas de 2014 (7 matriculados/as), 2015 (11 matriculados/as) e 2016 (3 matriculados/
as) convidando-os/as a responder a mensagem com cópia digital de suas dissertações, além de
mencionar, de forma opcional, possíveis contribuições da disciplina.

Assim, foram analisadas em sua forma e conteúdo 6 dissertações de mestrado na área de A seguir, a partir de uma primeira sistematização destes textos, apresento uma breve síntese de
Administração, cujas categorias de análise foram a participação, a aprendizagem individual cada dissertação e destaco algumas referências utilizadas as quais se relacionam com alguns
e coletiva, as competências e práticas gerenciais, identidade, gênero e consumo e Economia conceitos trabalhados na disciplina aqui analisada.
Criativa. Quanto ao campo investigado pelos/as mestrandos/as, este compreendeu desde
o Sistema Nacional de Cultura (SNC), a gestão universitária e tecnológica pública, algumas As dissertações analisadas
empresas incubadas, plataformas de crowdfunding até microempresas (barbearias), tendo suas
pesquisas ocorrido, sobretudo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Apresento, de maneira breve, as dissertações analisadas. Caberá destacar, nesta síntese, algumas
definições problematizadas pelos/as mestrandos/as que chamaram a atenção, considerando
Quanto ao caminho metodológico adotado pelos/as pós-graduandos/as, destaco a pesquisa alguma possível vinculação com a disciplina, foco do presente texto.
empírica, sendo os principais instrumentos para levantamento das informações a observação, a
pesquisa documental e as entrevistas. A análise destas informações se deu, principalmente, via A primeira dissertação descrita foi a de Gonçalves (2016), cujo objetivo foi “Analisar o processo
Análise de Conteúdo. A Tabela 1, a seguir, sintetiza tais informações: de Participação Social nos Conselhos de Cultura da Baixada Fluminense.” (Gonçalves, 2016, p.
18) o que supõe uma articulação entre o SNC e Conselhos Municipais de Cultura, mas dentro de
uma gestão pública da Cultura. Assim, a autora discute em seu referencial teórico a Participação
Social no país e, de maneira articulada, a Administração Pública, especialmente no âmbito da
cultura e dos municípios. Chama a atenção a vinculação que a autora faz sobre a subjetividade e
a participação na política, especialmente a discussão sobre o sujeito político proposta por Sonia
Fleury, considerando a “radicalização da democracia” no contexto da saúde – que é tema central
do livro organizado pela mesma autora. Para Fleury (2009, p. 28):

1229 1230
do Crowdfunding e Formato das Plataformas de financiamento coletivo. Ao final do trabalho,
A constituição do sujeito deve ser vista dentro dessa perspectiva de uma ação que afirma Silva (2016) sustenta que apesar de o discurso e a forma do trabalho parecerem diferentes,
sua liberdade e consciência, dentro de um enquadramento que não foi por ele escolhido. mais próximas de uma racionalidade substantiva, a medida que vão crescendo, estas práticas
É no interior dessa tensão entre determinação social e afirmação da liberdade individual se parecem com aquelas encontradas na organização burocrática. Além disso, chama atenção o
e grupal que buscamos encontrar o lugar da constituição dos sujeitos. Para tratar da quanto as tecnologias estão presentes e estruturam tais organizações.
temática dos sujeitos políticos é necessário recorrer e buscar articulações entre distintas
disciplinas, isto é, encontrar um elo que liga desde a psicologia da aprendizagem e as Rodrigues (2017) faz um importante estudo ao “descrever como professores gestores de
análises antropológicas sobre os processos sociais de individualização até a política, Programa de Pós-Graduação em Instituição Federal de Ensino Superior – IFES aprenderam e
onde a sociologia do ator e a teoria da cidadania buscam compreender as dimensões que desenvolveram na prática cotidiana suas competências gerenciais” (Rodrigues, 2017, p. 15). A
articulam o sujeito à esfera pública, ao Estado, à nação, ao território (Fleury, 2009, p. 28). autora utiliza os conceitos de aprendizagem experiencial apresentada pelas professoras Beatriz
Villardi e Sylvia Vergara2, as quais se baseiam em abordagem socioconstrutivista. Assim,
Gonçalves (2016) introduz tal discussão no referencial teórico, embora esta não apareça pesquisa foi qualitativa e orientada por uma epistemologia “hermenêutica construtivista”,
da mesma forma nas análises realizadas. Assim, com base nos documentos, observações e seguida de uma análise indutiva das informações levantadas no estudo de caso, construindo seis
entrevistas com os conselheiros municipais a autora responde seus objetivos específicos e categorias: “(i) fontes de aprendizagem do professor gestor de PPG, (ii) formas de aprendizagem
analisa duas categorias que são o processo de participação social e a configuração dos conselhos. do professor gestor de PPG, (iii) aprendizagem requerida nos PPGs, (iv) sentimentos integrantes
A autora identifica avanços em relação a implementação do sistema dos conselhos, no entanto, do processo de aprendizagem gerencial dos professores gestores de PPGs, (v) práticas de
identifica vários entraves, especialmente na região da Baixada Fluminense: “Um dos principais gestão manifestadas, e (vi) motivos para o professor gestor coordenar o PPG” (Rodrigues,
pontos identificados na observação das reuniões é a falta de articulação do conselho com o poder 2017, p. 55). Foi interessante observar a ênfase dada aos sentimentos presentes no processo
público, a pouca influência que a sociedade civil tem nas decisões políticas dos municípios, e de aprendizagem dos professores gestores, uma vez que tais resultados não eram esperados
também a dificuldade de o órgão público municipal gerir as demandas culturais dos municípios pela autora. Além disso, há uma discussão sobre a vivência dos professores neste processo de
que são propostas pelos conselhos.” (Gonçalves, 2016, p. 147). aprendizagem da gestão universitária, o que se relaciona com alguns conteúdos mencionados na
disciplina “Trabalho e subjetividade nas organizações contemporâneas”.
A segunda dissertação analisada foi a de Silva (2016) e buscou responder “como é a forma
organizativa das plataformas crowdfunding disponíveis para o financiamento de projetos de Assim como Silva (2016), Bittencourt (2017) também discute a Economia Criativa, objetivando
Economia Criativa no Brasil”. Uma possível contribuição da pesquisa é, segundo a autora, a “Analisar a configuração do trabalho realizado” nestas organizações. Para isso, a pesquisadora
“possibilidade de parlamentares conhecerem melhor as plataformas crowdfunding brasileiras, apresenta os conceitos de Economia Criativa, considerando alguns posicionamentos de autores
de forma que a partir dos resultados da pesquisa, os projetos de lei elaborados para o setor não da Sociologia do Trabalho e, realiza análise de documentos sobre a incubadora Rio Criativo e
sejam incoerentes em relação às reais características e forma organizacional das plataformas” algumas organizações que por ali passaram, além de entrevistar dez representantes dessas
(Silva, 2016, p. 18-19). organizações. Logo, Bittencourt (2017) aponta o quanto o trabalho é um elemento estruturante
da vida dos trabalhadores nas organizações estudadas e que, apesar das atividades criativas
De alguma forma, a discussão realizada por Silva (2016) coaduna-se com a de Gonçalves (2016), realizadas, há um predomínio de tarefas operacionais nestas organizações “criativas”. Como
pois ambas abordam a cultura e a sua gestão no país. Assim, o referencial teórico apresenta a também foi presente na dissertação de Silva (2016), o amparo legal quanto à regulamentação e,
Economia Criativa e o uso das tecnologias e, as “novas” formas organizativas. A autora analisa a tecnologia são pontos nodais para estas organizações do setor cultural.
documentos, desde Projetos de Lei aos sites das plataformas consultadas, e as entrevistas 2. Trata-se do artigo Villardi, Beatriz Quiroz, & Vergara, Sylvia Constant. (2011). Implicações da aprendizagem experiencial e da reflexão pública para
o ensino de pesquisa qualitativa e a formação de mestres em administração. Revista de Administração Contemporânea, 15(5), 794-814. https://dx.doi.
com os representantes das mesmas e, discute as categorias Formas Organizativas, Dinâmica org/10.1590/S1415-65552011000500002

1231 1232
conceber a subjetividade, vinculada ao estudo das identidades e gênero. Em relação ao trabalho,
Na dissertação de Santos (2018) a questão central foi investigar “de que modo as identidades apesar de não ter sido a principal categoria de análise nas dissertações – exceto em Bittencourt
masculinas são construídas, administradas e negociadas em espaços de barbearias” (Santos, (2017), se fez presente em todas as análises produzidas pelos/as mestrandos/as. Isso mostra o
20018, p. 3), realizando escolhas teóricas desde a relação da Cultura e Consumo, Identidade de quanto se faz relevante, na contemporaneidade, estudar o trabalho, especialmente na América
Gênero, Masculinidades até os Espaços masculinos de consumo. A autora parte de uma discussão Latina – como faz Antunes (2011), por exemplo, e as suas relações com a subjetividade, da
na área do Marketing e vai dialogando com autores/as de outras áreas do conhecimento, sempre forma como Tittoni e Nardi (2011) apresentam.
considerando seu problema de pesquisa. Além de entrevistas com 12 clientes, 3 barbeiros e
2 empresários, a pesquisadora utilizou o Diário de Campo permanecendo por nove meses em Considerações finais
seis barbershops localizados em bairros diferentes das cidades do Rio de Janeiro e de Volta
Redonda. Na Análise de Conteúdo, a pesquisadora mostrou as categorias a priori e a posteriori, A partir da análise das dissertações produzidas por mestrandos/as que frequentaram a disciplina
incluindo Feminilidade como uma delas, uma vez que para os entrevistados um ponto importante “Trabalho e subjetividade nas organizações contemporâneas” foi possível iniciar uma reflexão
é a distinção com o feminino e o que ele representa. Ademais, considera que “ideais simbólicos e quanto a uma possibilidade de avaliação desta disciplina. Dessa forma, posso afirmar que estes
culturais sobre o que é ‘ser masculino’ emergem em um processo dialético entre os informantes resultados apontam o interesse dos/as pós-graduandos/as em dialogar sobre o trabalho e os/
e os espaços de barbearias, sendo utilizados ativamente pelos informantes para a construção, as trabalhadores/as, ainda que os materiais discutidos no âmbito da disciplina aqui analisada
administração e negociação das masculinidades deles” (Santos, 2018, p. 58). nem sempre apareçam de forma direta em suas produções textuais. Por outro lado, os objetos
escolhidos para estudo, assim como as análises produzidas revelam uma atenção especial aos/às
Finalmente, a dissertação de Inglat (2018) analisou “Como os trabalhadores concebem o trabalhadores/as cujos discursos foram incorporados à dissertação, levando em conta algumas
processo de aprendizagem, individual e coletivo, do trabalho que realizam na sua prática de dimensões subjetivas envolvidas no processo investigado em cada um dos trabalhos.
trabalho em uma organização pública”. Esse trabalho, assim como o de Rodrigues (2017),
abrange a aprendizagem nas organizações e à questões relacionadas a gestão de pessoal na Destaco ainda os enfoques teóricos abordados na disciplina, os quais provém essencialmente da
área pública, neste caso, em um Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET). Por meio Psicologia, mas em sua articulação com a Sociologia e também com a Administração. Tal fato
de um estudo de caso na área de patrimônio, o pesquisador entrevistou 15 servidores técnico- implicou, portanto, num esforço por parte da professora e dos/as estudantes em dialogar sobre
administrativos, além de observação nos diferentes campi do CEFET/RJ, bem como consulta a o trabalho e sobre a subjetividade – assim como suas relações, estabelecendo uma linguagem
documentos considerados pertinentes para a análise do processo de aprendizagem no trabalho. comum, uma vez que partiam de epistemologias distintas entre si para a compreensão destes
A análise fenomenográfica revelou quatro concepções distintas e, inter-relacionadas, da fenômenos. Por isso, as abordagens clínicas visitadas ao longo das aulas foram importantes para
aprendizagem, permitindo ao pesquisador considerar a relevância das vivências no processo de estabelecer um diálogo eficaz, no sentido de apresentar investigações de alguns pesquisadores/
aprendizagem, o que, novamente, remete a uma concepção de subjetividade. as da Administração cujo trajeto foi em direção a áreas do conhecimento fronteiriças, tais como
os trabalhos de Margoto, Behr e Paula (2010) e Gomes Júnior, Lopes e Guimarães (2016), por
Diante das diferentes investigações apresentadas é possível destacar que todas apresentam exemplo.
uma concepção de subjetividade, mesmo que isto não esteja de forma explícita nos textos.
Os trabalhos de Gonçalves (2016), Silva (2016) e Bittencourt (2017) apresentam visões Finalmente, menciono as mensagens recebidas por meio da resposta ao meu convite aos/às
semelhantes da subjetividade. Da mesma forma, Rodrigues (2017) e Inglat (2018) apresentam “ex-alunos/as”, analisadas de forma complementar. Estas revelam a contribuição positiva da
aproximações sobre suas concepções acerca da subjetividade, possivelmente por estudarem disciplina não apenas para a produção da dissertação de mestrado, mas ampliando o diálogo
a aprendizagem, com ênfase nas experiências e vivências dos/as trabalhadores/as. Por outro sobre o trabalho e a subjetividade em suas próprias vidas laborais. Assim, pesquisar o trabalho
lado, Santos (2018), ao pesquisar as masculinidades, também considerou uma outra forma de e os/as trabalhadores/as no capitalismo contemporâneo exige se colocar, também, enquanto

1233 1234
trabalhador nesse contexto, talvez se colocar “em suspenso” ou entre “parênteses” como bem prática em uma organização pública: do quebra-cabeça à reflexão pública. 144p. Dissertação
evidenciaram as histórias de vida descritas no artigo de Margoto, Behr e Paula (2010) partindo (Mestrado em Administração). Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/Instituto Multidisciplinar/
de conceitos de Alberto Guerreiro Ramos. Nesse sentido, caberia avaliar também de que forma Instituto de Três Rios. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
estas produções acadêmicas podem contribuir para uma mudança social.
Margoto, Julia Bellia; Behr, Ricardo Roberto & Paula, Ana Paula Paes. (2010). Eu me demito!
Referências Evidências da racionalidade substantiva nas decisões de desligamento em organizações.
Organizações & Sociedade. 17 (52), pp. 115-135.
Antunes, Ricardo. (2011). O continente do labor. São Paulo: Boitempo.
Rodrigues, Ana Cristina de Albuquerque Lima (2017). Aprendizagem e Desenvolvimento de
Bittencourt, Flora Thamíris Rodrigues (2017). O trabalho em organizações de economia criativa: Competências Gerenciais nas IFES: Uma análise indutiva das práticas de gestão utilizadas pelos
uma análise nas empresas participantes do processo de incubação do programa Rio Criativo. Coordenadores da Pós-Graduação Stricto Sensu da UFRRJ. p. 130. Dissertação (Mestrado em
2017. 67p. Dissertação (Mestrado em Administração). Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Administração). Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/Instituto Multidisciplinar/Instituto de
Programa de Pós-Graduação em Administração. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio Três Rios. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
de Janeiro.
Santos, Natália Contesini dos (2018). Barba, cabelo, bigode e uma masculinidade: Consumo
Dejours, Christophe. (2009). A banalização da injustiça social. (7ª ed. 4ª reimp.) Tradução de e Identidade em Espaços de Barbearias. 105p. Dissertação (Mestrado Acadêmico em
Luiz Alberto Monjardim. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. Administração). Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/Instituto Multidisciplinar/Instituto Três
Rios. Programa de Pós-Graduação em Administração. Rio de Janeiro: Universidade Federal Rural
Gaulejac, Vincent de. (2014). A neurose de classe. Trajetória social e conflitos de identidade. do Rio de Janeiro.
Tradução de Maria Beatriz Medina e Norma Takeuti. São Paulo: via Lettera.
Sato, Leny; Coutinho, Maria Chalfin & Bernardo, Marcia Hespanhol (2017). A perspectiva da
Gomes Júnior, Admardo Bonifácio; Lopes, Fernanda Tarabal & Guimarães, Ludmila de Vasconcelos Psicologia Social do Trabalho. In: Coutinho, Maria Chalfin; Bernardo, Marcia Hespanhol; Sato,
Machado (2016). Diálogos sobre o trabalho humano: perspectivas clínicas de pesquisa e Leny (orgs.) Psicologia Social do Trabalho. Petrópolis/RJ: Vozes.
intervenção. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 2(5), 736-755. doi:http://
dx.doi.org/10.25113/farol.v2i5.3208 Silva, Vanessa Faria(2016). A forma organizativa das plataformas brasileiras de crowdfunding
disponíveis para o financiamento de projetos de economia criativa. 153 p. Dissertação (Mestrado
Gonçalves, Marina Teixeira (2016). A participação social nos conselhos municipais de cultura da em Administração, Gestão e Estratégia). Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/Instituto
Baixada Fluminense. 165 p. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Administração). Seropédica: Multidisciplinar/Instituto Três Rios, Programa de Pós-Graduação em Administração, Seropédica:
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Fleury, Sonia (2009). Socialismo e democracia: o lugar do sujeito. In: Fleury, Sonia & Lobato, Tittoni, Jaqueline & Nardi, Henrique Caetano (2011). Subjetividade e Trabalho. In: Cattani,
Lenaura de Vasconcelos Costa (orgs.). Participação, Democracia e Saúde. (pp. 24-46) Rio de Antonio David; Holzmann, Lorena (orgs.). Dicionário de Trabalho e Tecnologia. (2ª ed. rev. ampl).
Janeiro: Cebes. (pp. 375-378) Porto Alegre: Zouk.

Inglat, Luís Phillipe da Silva (2018). Concepções sobre aprendizagem individual e coletiva na

1235 1236
Capítulo 121 contratem profissionais de todo o mundo para a realização de tarefas de maneira dissociada da
hierarquia ou de relações trabalhistas.
Gig Economy: Novas formas de trabalho e os desafios para as perspectivas A modalidade de contratação em si não é nova, mas ganha destaque na chamada era digital, com
clínicas a adoção de aplicativos para intermediar a prestação de serviço. Um desses segmentos são os
ride-hailing, que no Brasil conhecemos pelas atuações das empresas Uber e Cabify. De um lado,
Admardo Bonifácio Júnior1, Luciana Gelape Santos2 y Thamires Rodrigues Duarte3 encontram-se os trabalhadores temporários e autônomos, sem vínculo empregatício e, por outro,
empresas que contratam esses trabalhadores, sem regras ou qualquer amparo trabalhista. Tal
modalidade configura-se como uma promissora alternativa de geração de renda, uma vez que,
Introdução além dos aplicativos serem fáceis de usar, seu usuário pode, ao mesmo tempo, consumir e ser
um prestador de serviços, ganhando dinheiro com essas plataformas. Entretanto, podemos
O presente estudo apresenta os dados de uma pesquisa bibliográfica realizada sobre o tema da gig nos perguntar se não se configura como um novo estágio de exploração do trabalho, trazendo
economy, tomando os exemplos dos ride-hailings como sua mais atual e expressiva manifestação. mudanças qualitativas às formas de controle, gerenciamento e expropriação do trabalho.
Tais empreendimentos utilizam, de maneira intensiva, os preceitos das ciências sociais de base
comportamental, de conhecimentos oriundos das ciências de dados e engenharia de videogames O termo uberização foi empregado pela primeira vez por Maurice Lévy, diretor presidente do
e da chamada economia comportamental e experimental. Todo e qualquer contato, contrato ou Grupo Publicis, em uma entrevista ao Financial Times, relatando o temor das empresas de serem
mediação neste tipo de trabalho passa por uma plataforma que, para o trabalhador, pode se tomadas pela lógica da Uber. Um verdadeiro “tsunami digital” que, em um primeiro momento,
reduzir a um aplicativo de celular. Utilizando de uma lógica chamada de gamificação, os dados do abalou o funcionamento de negócios como o de taxistas, com a invenção da Uber, ou o negócio
contexto de trabalho e do comportamento dos trabalhadores são tratados online conduzindo-os, hoteleiro, com a plataforma digital Airbnb.
como num jogo, a diferentes desafios e metas, sempre apresentando aos condutores os riscos
de perdas e possibilidades de ganhos eminentes. O objetivo deste estudo é levantar questões Na França foi criado o Observatório da Uberização4, um site que compartilha estudos sobre
sobre as possíveis consequências subjetivas para os trabalhadores submetidos a tais formas de o fenômeno da uberização em todos os setores e as decorrentes mudanças no equilíbrio de
gestão do trabalho. poder por meio do digital. O observatório destaca vários fatores como amplificadores do
desenvolvimento da uberização: a crise econômica que desafia a concorrência a criar preços
1.Sobre a Gig Economy e os ride-hailings: a lógica econômica e de gestão da uberização cada vez mais baixos e atrair um grande número de consumidores; a criação de plataformas P2P
(People to People), ao contrário do B2C (Business to Consumer), que supostamente colocam em
A chamada gig economy, ou economia de pontuais trabalhadores autônomos, é composta de pé de igualdade consumidores e prestadores de serviços e bens; uma aposta nas relações de
algumas novas ferramentas na organização do trabalho que, além de desafiar as clássicas confiança P2P, sustentadas especialmente com os sistemas de classificação e notificação que
formas das relações de trabalho, parecem trazer aos profissionais que se ocupam da saúde permitem os consumidores avaliar e escolher diferentes empresas.
dos trabalhadores novos desafios na compreensão do que está em jogo neste novo cenário.
O neologismo uberização tem sido muito difundido para se nomear um suposto fenômeno de A lógica da uberização está sustentada sobre uma economia colaborativa (P2P), que conecta
transformação de modelo de negócios que, entre outros objetivos, tem servido para que empresas os atores e permitem aos consumidores trocar e compartilhar bens e serviços. Todas essas
1. CEFET-MG, Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. Belo Horizonte – MG – Brasil. Email: admardo.jr@gmail.com empresas foram criadas para efetivamente atender melhor aos interesses dos consumidores,
2. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Educação (FAE) –Belo Horizonte –MG–Brasil. Email: lugelape@uol.com.br mas também apresentam sérias questões fiscais e distributivas. São plataformas que geram
3. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) – Belo Horizonte – MG –Brasil. Email:
thamiressociais12357@gmail.com 4. www.uberisation.org

1237 1238
grande parte de sua rentabilidade ou lucro por não levar em conta restrições legislativas e plataformas digitais são uns dos mais preciosos meios de produção de nossa época para a
regulamentares que a empresa tradicional deve respeitar. A UBER Brasil, por exemplo, tem geração de mais-valia. Ou seja, nelas residem toda a inventividade destes modelos que usam
como enquadramento principal na CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas em seu benefício as novas tecnologias digitais como forma de conectividade e mundialização
– “Atividades de intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, exceto de negócios, pelo uso de várias e novas tecnologias digitais conjugadas (smartphone, internet,
imobiliários”. Dessa forma, mantém um escopo de atuação ampliado sem, contudo, caracterizar tablets, internet móvel, geolocalização, big data, etc.). Realizando ligações quase instantâneas de
qualquer vínculo com seus usuários (parceiros ou clientes), isentando-se de quaisquer encargos clientes e prestadores de serviços de bens e serviços, de acordo com a sua localização geográfica
e responsabilidades trabalhistas. conhecida por um meio digital. Incluindo também toda a logística envolvida na avaliação e
aconselhamento por clientes e prestadores de serviços. Quem detiver tais plataformas digitais
É questionável também até que ponto é possível defender a uberização como um bom exemplo de deterá a maior parte dos lucros.
Economia Colaborativa (Collaborative Economics - modelo de negócio inovador baseado na troca
e partilha entre indivíduos) que nascem com a digitalização das empresas. Não são em todos Em uma entrevista sobre a uberização, Pochmann (2016) afirma que nestes modelos econômicos
os modelos de economias colaborativas que há a intensa exploração da força de trabalho e dos o salário deixa de existir enquanto um custo fixo na relação de trabalho e passa a ser um custo
meios de produção como na lógica da UBER, onde a prática é o uso de bens e recursos do parceiro variável. Estaríamos assistindo a uma mudança na concepção do trabalho de base taylorista/
(o trabalhador uberizado) compartilhando lucros. Os termos aqui não são gratuitos, a lógica das fordista para uma lógica do trabalhador empreendedor. O que subjaz neste terreno é toda uma
assim chamadas economias colaborativas, sustentadas na ideia do compartilhamento, além de disputa ideológica que permite ou não que o indivíduo se considere, ou seja considerado, como
não serem novas, não são nada colaborativas em seus processos decisórios que permanecem um trabalhador. Considerar-se trabalhador é o que sustaria as lutas coletivas, as legislações que
altamente centralizados (TOZI, 2018, pg. 108). Assim como o hoje chamado “colaborador” nas os protegem, a garantia de negociações mais promissoras.
organizações não necessariamente participa mais ativamente das tomadas de decisões.
Esta disputa ideológica tem sido paulatinamente enfraquecida pela sedução do discurso do
Talvez seja possível apontar que, em última instância, empresas como a UBER, que investiram empreendedorismo, no qual cada indivíduo, voluntariamente, se auto concebe como “empresas
numa produção cientifica tecnológica criando uma plataforma digital para a prestação de um de si”. Todo percurso, desde a formação até o ingresso numa carreira, é um auto investimento
serviço de transporte que, pelo menos no Brasil, trata-se de um serviço precarizado de modo do indivíduo e sua família como um futuro negócio promissor. Um discurso que atende bem aos
geral, num espaço de ausência desse direito efetivamente, ganham respaldo no mercado pela interesses de um mundo onde o mercado dita as regras. Com os agenciamentos via dispositivos
legitimidade conferida a seu status de empresa multinacional. móveis o trabalho vai se tornando onipresente em forma de alertas, conexões e rastreamentos,
no qual a liberdade de empreender se torna aprisionamento em plena mobilidade.
Dessa forma, a UBER vem se beneficiando da produção de um conhecimento restrito socialmente
e mercantilizado, transformando tal conhecimento em seu dispositivo de poder e controle das/ O que leva a perceber que a separação entre tempo livre e tempo de trabalho passa a embaralha-
dos trabalhadoras/trabalhadores, transferindo a necessidade do manejo dos meios de produção se, se tornando cada vez mais difícil pensar nessa divisão, encoberta pela promessa de autonomia
e parte dos processos de organização do trabalho para o próprio trabalhador, que precisa ter que o discurso empreendedor do capitalismo contemporâneo intensifica, já que para sujeito
um carro apto ao serviço com toda a manutenção necessária, um smartphone para utilização do bastaria ligar seu aplicativo a qualquer hora do dia e em qualquer espaço para realizar o trabalho.
aplicativo, entre outros aspectos.
2. A conjunção de big datas analytics à economia comportamental e engenharia de games: os
É claro que não se pode desprezar o valor do trabalho e o investimento envolvido na digitalização ensaios de gamificação do trabalho
dos processos que visam transformar um objeto, uma ferramenta, ou um negócio em um código
de computador para substituir processos não digitais e torná-lo mais eficiente. As chamadas Para a produção do conhecimento útil à Gig economy alguns clássicos campos do conhecimento

1239 1240
científico são interligados entre si de modo a compor um quadro amplo de entendimento sobre dos consultores do grupo Lyft afirmou que os experimentos realizados com base na economia
variados aspectos do comportamento humano frente aos écrans. Sociologia, psicologia cognitivo- comportamental estudando os bloqueios cognitivos que frequentemente distorcem a tomada de
comportamental, economia, engenharia e ciência de dados se juntam criando novos domínios do decisões, indicam uma descoberta central que os conduziu ao conceito de “aversão à perda”. Tal
saber. Os principais balões de ensaio para tais experimentos são os jogos eletrônicos, os sites ideia sustenta que as pessoas não gostam de perder mais do que gostam de ganhar. É sob esta
de compra on-line, as redes sociais e os aplicativos de serviços. Nestes ambientes, altamente orientação que um algoritmo foi desenvolvido para enviar no aplicativo do motorista da empresa
frequentados hoje em dia por cada um de nós, nossos comportamentos são minuciosamente mensagens como: faça até os US$ 330. Você está US$10 de fazer US$330 em ganhos líquidos.
estudados com base nos dados que neles geramos. O tratamento de tais dados serve para a Tem certeza de que deseja ficar off-line? Abaixo são colocados dois prompts: ‘ficar off-line’ e
reprodução em massa de novas respostas comportamentais desejáveis, agora não mais dirigidas ‘continuar dirigindo’. Esta última opção aparece já destacada.
apenas aos consumidores, mas aos chamados “colaboradores”, ou seja, os trabalhadores
eventuais. O emprego de estratégias motivacionais dos trabalhadores baseadas na gamificação tem sua
origem na indústria de mídias digitais e pode ser definido de forma genérica pelo processo de
A base cognitivo-comportamental de tais estudos está centrada na identificação individualizada pensamento e mecânica do jogo para envolver/engajar os usuários e resolver problemas, com
de padrões comportamentais e de como a informação é tratada, estocada e recuperada propósitos que não sejam o entretenimento. Compreende a aplicação de elementos de jogos
pela pessoa. Com um tratamento minucioso e sofisticado de base numérica das variáveis em contextos diversos, com a intenção de promover a motivação, despertar emoções positivas
comportamentais, são construídos algoritmos que personalizam os estímulos a serem enviados e explorar aptidões atreladas a recompensas, virtuais ou físicas. Por meio dos jogos é possível
ao usuário em função tanto dos históricos de dados quanto dos dados instantâneos gerados por transformar rotinas de trabalho e fazer com que as pessoas se sintam mais inclinadas a se
ele. Todas essas métricas são utilizadas para estimular e impulsionar comportamentos, muito dedicar às tarefas e desafios que cada situação exige (Vianna, 2013).
presentes nos jogos, como a compulsividade e a competitividade.
Amplamente associada ao termo engajamento – aqui definido pelo período de tempo em que o
É assim que hoje, por exemplo, as empresas de ride-hailings depois de mapeado no tempo e indivíduo tem considerável volume de conexões com outra pessoa ou ambiente, a gamificação
espaço a prevalência das demandas de viagens, enviam simulações e comparações como pretende, numa estrutura de recompensa, esforço e feedback, potencializar o envolvimento, a
estímulos aos motoristas indicando locais e o tempo que eles devem permanecer on-line. O motivação e o comportamento do indivíduo. Dessa forma, é possível estimular ações individuais
tempo usado como padrão pela Uber nas simulações enviadas aos motoristas é de 10 horas e coletivas conforme as prescrições do trabalho e metas de produtividade (Zichermann E
diárias. Não se fala em jornada de trabalho e sim tempo on-line. Como o estímulo é de que o Cunningham, 2011; Deterding, 2012).
“colaborador” permaneça on-line nos locais e horas de alta demanda tornam-se frequentes as
longas jornadas de trabalho chegando a 15 horas diárias (Tozi, 2018). As principais características oriundas dos jogos que estão presentes em um ambiente gamificado
são: (i) um sistema de pontuação que recompensa o usuário de acordo com as tarefas por ele
Segundo Scheiber (2017), a Uber tem contratado centenas de cientistas sociais e de dados que, realizadas; (ii) um sistema de níveis de forma a demonstrar ao usuário seu progresso dentro
utilizando técnicas de vídeo game, gráficos e recompensas não remuneradas, de valor puramente no sistema, utilizado em conjunto com os pontos; (iii) um sistema de ranking como maneira de
simbólico (como em games), têm efetivamente impulsionado os motoristas a trabalhar mais visualizar o progresso de outros usuários e criar um senso de competição dentro do sistema;
tempo, frequentemente em horários e locais que lhes são menos lucrativos. Os motoristas (iv) um sistema de recompensas por meio de medalhas/conquistas/prêmios/bonificações; (v)
são encorajados a bater metas e quando tentam fazer logoff são alertados que estão perto de desafios e missões, caracterizados por tarefas específicas que o usuário deve realizar dentro de
alcançar o precioso alvo. Um outro algoritmo, semelhante a um recurso Netflix que carrega um sistema, sendo recompensado de alguma maneira por isso (pontos e medalhas), criando um
automaticamente o próximo programa, envia aos motoristas sua próxima oportunidade de senso de desafio para o usuário do sistema (Zichermann E Cunningham, 2011).
tarifa antes mesmo que sua corrida atual tenha terminado. Ainda segundo Scheiber (2017), um

1241 1242
3. Algumas reflexões teóricas sobre os desafios para as clínicas do trabalho desmobilização de toda forma de organização política crítica em torno do trabalho. Os valores
são deslocados do campo da coletividade para aqueles da individualidade expressos no discurso
As referencias aqui às perspectivas clínicas do trabalho querem exatamente destacar a da meritocracia e do empreendedorismo. Nesse contexto, a uberização referenda o surgimento
experiência humana do trabalho como objeto de estudo que não se deixam apreender em sua do “nanoempresário-de-si” – Você S/A, permanentemente disponível ao trabalho; retira-lhe
complexidade de forma quantitativa (Gomes Júnior; Lopes E Guimarães, 2015). Nas clínicas garantias mínimas ao mesmo tempo em que mantém sua subordinação.
do trabalho, os estudos recaem sobre a singularidade das formas de se vivenciar e realizar o
trabalho. No presente estudo a opção recai prioritariamente sob a Ergologia, para se compreender Como nos aponta Leguil (2017), as novas tecnologias captam o psiquismo e absorvem a libido de
o trabalho, e a Psicanálise para uma leitura das vicissitudes da subjetividade (Gomes Júnior, todos, modificando as relações consigo mesmo e com os outros, no que tange a temporalidade, a
2013; Gomes Júnior & Schwartz, 2014). publicidade, a intimidade, impulsionando uma hipertrofia do eu. O que a psicanálise nos ensina a
ver aqui é que este eu hiper narcísico, fabricado a partir de sucessivas imagens de si, empobrece
Uma leitura de nossas experiências contemporâneas realizada pelo psicanalista francês os recursos simbólicos da existência. Sem tais recursos, a exposição a erupção do real dos
Jacques-Alain Miller localiza de forma crítica a propagação das práticas de avaliação nas várias sintomas se faz certamente mais arriscada.
esferas da vida. Na experiência relatada acima, de manipulação comportamental que toma
o homem como frequência quantitativa de respostas, são as práticas contínuas de avaliação Conclusão
que as tornam possíveis. Seus resultados desenham um homem-máquina, como um fruto
ideal da ciência e da política baseadas na estatística. Mas isso conduziria necessariamente a Os achados deste estudo teórico conduzem a necessidade de investigação clínicas sobre a
um empobrecimento subjetivo e cultural, como resultado dos efeitos de uma homogeneização vivência concreta de indivíduos que trabalham sob estas formas de organização do trabalho
propagada por suas práticas de avaliação? (Miller, 2004). Estaria o trabalhador uberizado mais uberizadas. Como eles têm lidado com a gamificação do trabalho? Que impactos o controle
ou menos assujeitado aos controles do trabalho que seu predecessor sob a disciplina taylorista/ subjacente e a autonomia propagandeada têm sob o efetivo desejo pelo trabalho? Que percepções
fordista? Entre normas antecedentes, sob forma de controle ou formas disciplinares, o que muda tais trabalhadores têm das dimensões político sociais de tais formas de contratação? E quais
na experiência subjetiva do trabalhador com sua atividade? valores as sustentam?

As descrições acima parecem indicar estarmos frente a uma inédita, enorme e potente forma Aos profissionais que estudam o trabalho sob uma perspectiva clínica resta o desafio de bem
de controle comportamental do trabalho e do trabalhador, conduzindo-os “voluntariamente” compreender o trabalho como única e efetiva forma de transformação. E para fazê-lo há que se
à sobrecarga e à exposição a riscos. Tais formas de organização do trabalho podem tanto ouvir o trabalhador, um a um.
significar para o trabalhador uma precarização de suas condições reais de ganhar a vida como
também uma flexibilização da maneira de fazê-lo. Podem levar o trabalhador a mobilizar defesas Referências
que efetivamente o protegem, mas que também podem conduzir a patologias decorrentes da
dificuldade em lidar com o sofrimento, por vezes inevitável, advindos do confronto com um real Deterding, S. Gamification: designing for motivation. Interations magazine. Volume 19 Issue 4,
do trabalho que o forte discurso ideológico busca dissimular. A degradação e o aviltamento das July + August 2012, p.14-17. Association for Computing Machinery, Inc. (ACM), 2012.
normas que visam assegurar alguma equidade nas relações de trabalho também afetam o desejo
e o sentimento de segurança que contribuem com a continuidade do trabalho. Gomes Júnior, A. B. O uso de si e o saber fazer com o sintoma no trabalho. 2013. 213 p. Tese
(Doutorado em Educação/Filosofia) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas
Estamos, certamente, frente a novas formas de uso da força de trabalho que, sob a tentativa Gerais / Instituto de Ergologia, Aix-Marseille Université, Belo Horizonte, 2013.
de implementação de uma lógica neoliberal em escala mundial exige, acima de tudo, a

1243 1244
Gomes Júnior, A. B.; Lopes, F. T.; Guimaraes, L. V. M. Diálogos sobre o trabalho humano: Capítulo 122
perspectivas clínicas de pesquisa e intervenção. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e
Sociedade, v.2, p.709 - 728, 2015.
A superexploração da força de trabalho na América Latina: Análise comparativa
Gomes Júnior, A. B.; Schwartz, Y. La norme versant social, la norme versant psychique In: com a União Européia e os Estados Unidos (1995 à 2014)
Pratiques psychologiques, pratiques citoyennes: engagement, aliénation et lien social.1 ed. Paris
: Editions IN PRESS, 2014. José Flávio Avila1

Leguil, C. Nous vivons à lére dùne hypertrophie du moi. In: Le Monde, 6 août 2017.
Introdução
Miller, J. A. A era do homem sem qualidades. In: Opção Lacaniana online, 2004.
O caminho do desenvolvimento socioeconômico que os países percorrem deve ser compreendido
Pochmann, M. A uberização leva à intensificação do trabalho e da competição entre os como resultado de opções tomadas pelos que, neles exercem, o poder. Suas visões de mundo
trabalhadores, 2016. Entrevista a André Antunes. EPSJV/Fiocruz. Disponível em: http://www. conduzem a ações que permitem que poucos, em detrimento da maioria, se apropriem da riqueza
epsjv.fiocruz.br/noticias/entrevista/a-uberizacao-leva-a-intensificacao-do-trabalho-e-da- socialmente produzida. Logo, desigualdade e pobreza devem ser vistas não como conseqüência
competicao- entre-os. Acesso: 07/10/2017. inevitável da evolução da humanidade mas sim, da ação dos homens e, portanto, determinadas
por um complexo processo histórico que as gera e reproduz.
Scheiber, N. How Uber Uses Psychological Tricks to Push Its Drivers’ Buttons. In: The New York
Times, April 2, 2017. A América Latina2 é, segundo a ONU3, a região que apresenta os mais elevados graus de
desigualdade e um dos maiores graus de pobreza do mundo. Esta situação é oriunda do processo
Schwartz, Y. & Durrive, L. (Orgs.). Trabalho e Ergologia: conversas sobre a atividade humana. histórico adotado desde a colonização do território latino-americano que, pelas opções e ações
Niterói: EdUFF, 2007. dos colonizadores e governantes, constituíram países nos quais a riqueza socialmente gerada é
apropriada de forma extremamente desigual em benefício das elites governantes.
Tozi, F. A estratégia da Uber no Brasil: a informação como fator produtivo e o território como
recurso da empresa. In: Fabrício Bertini Pasquot Polido; Lucas Costa dos Anjos; Luiza Couto Este processo de apropriação da riqueza nos países latino-americanos é analisado por Ruy
Chaves Brandão. (Org.). Tecnologias e conectividade: direito e políticas na governança das redes. Mauro Marini que, em sua obra intitulada Dialética da Dependência, introduz o conceito
1ed. Belo Horizonte: Instituto de Referência em Internet e Sociedade, 2018, v. 1, p. 103-108. da superexploração do trabalho com o qual procura demonstrar que, nos países da região,
os trabalhadores estão sujeitos a um nível maior de exploração do que àqueles dos países
Vianna, Y.; Vianna, M.; Medina, B.; Tanaka, S. Gamification, Inc: como reinventar empresas a desenvolvidos, isto devido ao fato de que a burguesia local busca minimizar os efeitos da sua
partir de jogos. MJV Press: Rio de Janeiro, 2013. perda de lucro oriunda da relação estabelecida entre esta e a burguesia dos países centrais.

Zichermann, G.; Cunningham, C. Gamification by Design: Implementing Game Mechanics in Web 1. O papel da América Latina na divisão internacional do trabalho
and Mobile Apps. Sebastopol, CA: O’Reilly Media, Inc. 2011.
1. Doutorando em Políticas Públicas (UCPel). Email: zeflavio4985@yahoo.com.br
2. O termo América Latina refere-se a região da América do Sul, América Central, do Caribe e o México.
3. Organização das Nações Unidas.

1245 1246
A América Latina insere-se no sistema de divisão internacional do trabalho a partir da ocupação De acordo com Salama e Valier (1997, p. 14), as elites sul-americanas procuram manter “um
de seu território pelos europeus no processo de expansão mercantilista que ocorre no século nível de renda comparável àquele que teriam se vivessem na Europa ou nos Estados Unidos”.
XVI. Desde este momento o território latino-americano esteve ligado aos interesses do mundo
ocidental. Inicialmente pelo colonialismo e, posteriormente, por um modelo de capitalismo Mas, como estas classes dirigentes são, elas mesmas dependentes e subalternas às classes
dependente (Marini, 2012). dirigentes dos países centrais, este padrão de vida não pode se repetir sem que uma forma
diferente de apropriação da riqueza socialmente produzida seja gestada no interior da América
Os países da região desenvolveram-se economicamente “em estreita consonância com o capital Latina.
internacional” e, devido as características da colonização a que foram submetidos, tornaram-
se exportadores de metais preciosos e produtos agrícolas fundamentais para a expansão da 2. Ruy Mauro Marini e a superexploração do trabalho nos países periféricos
economia européia e que “abriram o caminho para a criação da grande indústria.” (Marini,
2000, pp. 107 e 108). No decorrer das décadas de 1960 e 1970 se aprofundam, na América Latina, as tentativas de
discutir o problema do subdesenvolvimento no qual a região esta imersa a partir de uma visão
As transformações econômicas por que passam os países latino-americanos levaram ao aumento não eurocêntrica. Neste contexto, de acordo com Traspadini e Stédille (2011) quatro “correntes
do grau de dependência uma vez que voltadas para atender as necessidades do capitalismo, ideológicas” estão em debate no que eles denominam de “pensamento de esquerda”. São elas:
agora industrial, dos países europeus pois, o processo de industrialização dos países da região “os partidos comunistas vinculados à Terceira Internacional, o foquismo, a CEPAL e a Escola da
foi pensado, e levado a efeito, dentro de uma lógica de produção e exportação dos chamados Dependência” (Traspadini e Stédile, 2011, p. 17). É nesta última corrente que Marini desenvolve
bens primários cuja função era o de abastecer, com matérias-primas a indústria dos países o conceito de superexploração do trabalho.
desenvolvidos.
2.1. A Escola da Dependência
Mesmo com as alterações ocorridas a partir do advento das políticas desenvolvimentistas
da CEPAL4 (especialmente na segunda metade do século XIX), o quadro geral não sofre uma Historicamente, o período é de refluxo das forças de esquerda. Os partidos comunistas estão
alteração profunda. proscritos em vários países da região e na defensiva em outros. O foquismo está em baixa com
o assassinato do Che na Bolívia. A teoria desenvolvimentista da CEPAL não havia conseguido dar
Basicamente a produção da nova indústria local é voltada para o consumo interno e, no limite, respostas práticas para o problema do subdesenvolvimento latino-americano e ditaduras - civis,
para a produção de bens considerados matéria-prima para a indústria dos países centrais, tendo militares ou cívico-militares - se espalhavam pelo continente.
seu desenvolvimento financiado pelas economias centrais, o que mantém a subordinação e
dependência bem como reserva, as economias latino-americanas, a função de meras reprodutoras Segundo Traspadini e Stédille (2011, pp.27 e 28),
da lógica do capital internacional.
Nesse cenário, ganha importância a iniciativa de um grupo de intelectuais de esquerda,
E considerando-se a matriz cultural que formatou as sociedades latino-americanas e a forma brasileiros, argentinos e mexicanos, a maioria já no exílio, que retoma o debate das
subalterna e dependente como estas foram inseridas no sistema internacional de divisão do características da dependência latino-americana [...].
trabalho, não se pode estranhar o modo como as riquezas produzidas no território, após a
independência política dos países da região, restou distribuída. Este grupo constituiu o que veio a ser conhecido como Escola da Dependência. Era, na verdade,
mais um espaço de diálogo e debate sobre os problemas do desenvolvimento e da dependência
4. Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.
latino-america do que propriamente uma escola de pensamento. Isto porque, no seu interior, dois

1247 1248
grupos se distinguem: um de orientação capitalista e outro de orientação marxista. uma que possui uma qualidade especial que a diferencia de todas as outras mercadorias, a
capacidade de criar valor. Esta mercadoria é a força de trabalho.
Este segundo grupo se constituiu na vertente marxista da Escola da Dependência tendo sido
fortemente influenciado por Paul Baran e Andre Gunder Frank5 (Martins, 2011, p. 237). Logo, se os meios de produção - a força de trabalho entre eles - e seus valores reaparecem no
valor do produto final e, sendo a força de trabalho o único capaz de agregar valor às mercadorias
De acordo com o autor, Paul Baran mostrou que os excedentes gerados nos países subdesenvolvidos e, portanto, transformar M em M’, é somente da força de trabalho que o capitalista pode extrair
seriam “apropriados pelos investimentos estrangeiros e todo o sistema financeiro e comercial a mais-valia.
organizado em torno deles.”. Já Gunder Frank “desenvolve uma concepção sistêmica com a qual
o mundo se divide em metrópoles e satélites [...] condição determinada pela capacidade positiva De acordo com Netto e Braz (2012, p. 113)
ou negativa de se apropriar dos excedentes gerados [...]. (Martins, 2011, p. 237 e 238).
[...] é justamente aí que se encontra o segredo da produção capitalista: o capitalista paga
Uma vez que é a apropriação do excedente que define a relação metrópole/satélite - ou ao trabalhador o equivalente ao valor de troca da sua força de trabalho e não o valor criado
desenvolvido/subdesenvolvido - e que o excedente dos subdesenvolvidos é apropriado pelos por ela na sua utilização (uso) - e este último é maior que o primeiro.
países desenvolvidos, como então as burguesias locais poderiam manter um padrão de vida
similar ao das burguesias dos países centrais? Analisando como se dão as relações entre a burguesia dos países dependentes com os
trabalhadores dos mesmo e com a burguesia dos países desenvolvidos, Marini chega ao conceito
É para responder a esta questão que Marini desenvolve os conceitos de superexploração e de superexploração do trabalho.
subimperialismo.
Segundo Traspadini e Sétille (2011, p. 33) a “superexploração do trabalho é a principal categoria
2.2. O conceito da superexploração do trabalho desenvolvida por Marini para explicar a particularidade histórica que cumpre a América Latina
no âmbito geral de reprodução do capital.” Ela constitui-se na forma pela qual os capitalistas
Marx demonstra n”O Capital que a mercadoria pode circular de duas formas: uma na forma locais buscam compensar a mais-valia que deixam de se apropriar devido ao seu relacionamento
mercantil simples e outra na forma mercantil capitalista. A primeira é expressa pela fórmula M subalterno e dependente com os capitalistas dos países desenvolvidos.
-> D -> M e a segunda pela fórmula D -> M -> D’ na qual D’ = D + AD.
Então, para manter seu padrão de vida similar aos da burguesia dos países desenvolvidos, a
Ou seja, a segunda fórmula representa a utilização de dinheiro na forma de capital que será burguesia local lança mão do expediente de uma maior exploração dos trabalhadores do que
utilizado para adquirir as mercadorias necessárias ao processo de produção cuja finalidade é a existente nos países centrais. Esta maior exploração se dá através da utilização de três
produzir uma mercadoria acrescida de valor (M’) e que tenha a capacidade de ser vendida por um mecanismos de acordo com Marini (2000, p. 125): “ a intensificação do trabalho, a prolongação
valor maior retornando ao capitalista como D’. (Marx, 2011, pp. 177 - 182). É este valor maior da jornada de trabalho e a expropriação de parte do trabalho necessário ao operário para repor
(AD), acrescido ao valor inicial (D) que Marx denomina de mais-valia6. sua força de trabalho [...].”

Assim, o processo de produção capitalista se realiza quando o proprietário do capital adquire 3. Apropriação da riqueza pelo trabalho na América Latina
as mercadorias necessárias para a transformação de D em D’. Entre estas mercadorias está
5. Para Traspadini e Stétille (2011) André Gunder Frank fazia parte do grupo que se identificou com a interpretação marxista da dependência. Os Nesta seção se analisará as relações entre a participação das pessoas assalariadas no PIB da
autores ainda incluem dentro dos componentes do grupo Augustin Cueva.
6. Não se faz, aqui a distinção entre mais-valia absoluta e relativa.
América Latina, dos Estados Unidos e da União Européia com o intuito de verificar a aplicabilidade

1249 1250
do conceito de superexploração do trabalho elaborado por Marini na América Latina e, assim, a) PIB - para determinar o PIB de cada uma das regiões estudadas somou-se o PIB - fornecido
buscar uma melhor compreensão dos motivos pelos quais desigualdade e pobreza são elementos pelo Banco Mundial - dos países que as compõem;
persistentes na região.
b) Participação dos salários no PIB - aqui, foram dois os procedimentos utilizados:
Comparar a participação dos salários no PIB entre uma região subdesenvolvida e dependente,
como é a América Latina, com a participação dos salários no PIB de regiões desenvolvidas, b.1) Para determinar o valor monetário da participação do salários no PIB na América Latina,
como são a União Européia e os Estados Unidos, permitirá verificar a ocorrência ou não da utilizou-se os percentuais contidos na base de dados fornecida pelo professor Alarco Tosoni11 e
superexploração do trabalho, na primeira, como afirma Marini. aplicou-se estes percentuais sobre os valores do PIB encontrados na base de dados do Banco
Mundial;
3.1. Fonte de Dados e Metodologia
b.2) Para determinar os percentuais de participação dos salários no PIB da União Européia e dos
3.1.1. Fonte de dados Estados Unidos, utilizou-se, inicialmente, os valores apresentados na base de dados PORDATA
para a União Européia e do FRED para os Estados Unidos. Com eles estabeleceu-se os percentuais
Os dados utilizados para este trabalho são os disponibilizados pelo Banco Mundial através de de participação dos salários no PIB que,posteriormente, foram aplicados aos valores do PIB
sua base de dados Indicadores de Desenvolvimento Mundial, os disponibilizados pela Fundação disponibilizados pelo Banco Mundial;
Francisco Manoel dos Santos através da Base de Dados de Portugal Contemporaneo (PORDATA),
do Economic Data do FRED7 e, também, os extraídos da base de dados gentilmente envida pelo b.3) Para definir os valores regionais do PIB, somou-se os valores dos PIB’s dos países que os
professor da Universidad del Pacífico, Germán Alejandro Alarco Tosoni8. compõem e,

3.1.2. Metodologia b.4) Para determinar os percentuais de participação dos salários no PIB de cada região, utilizou-
se a média dos percentuais do países que as compõem.
Para possibilitar a verificação da existência da superexploração do trabalho na América Latina,
optou-se por realizar uma comparação entre a participação dos salários no PIB da América A série temporal utilizada é compreende os anos de 1995 à 2014 perfazendo um total de 20
Latina9, União Européia10 e Estados Unidos. (vinte) períodos temporais.

Os dados dos países, obtidos junto às bases de dados mencionadas na subseção anterior foram, O PIB é apresentado em sua versão de Paridade de Poder de Compra (PPP) que é o Produto
inicialmente, agrupados da seguinte forma: Interno Bruto convertido em dólares internacionais usando taxas de paridade de poder de
7. Federal Reserve of Saint Louis. compra onde um dólar internacional tem o mesmo poder de compra em relação ao PIB, como
8. A base de dados do professor Alarco Tosoni foi fornecida por ele através de e-mail em 15/08/2017 tendo sido utilizada para a construção, além do
trabalho citado este artigo, para o seguinte trabalho: Participación Salarial y Crecimiento Económico en América Latina, 1950-2011. Revista CEPAL,
o dólar americano nos Estados Unidos. Os valores monetários utilizados são apresentados em
n/º 113, Agosto, 2014. Santiago de Chile: CEPAL, 2014. Disponível em: http://www.cepal.org/es/publicaciones/tipo/revista-cepal Acesso em: 30 dólares internacionais constantes de 201112.
Ago 2017.
9. Para os fins deste trabalho compreende-se como América Latina, o seguinte conjunto de países (16): Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa
Rica, Equador, El Salvador, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Os países foram escolhidos pela disponibilidade 11. Na base de dados do professor Alarco Tosoni constam duas séries diferentes para a Argentina. Neste trabalho optou-se por utilizar aquela que
de dados mais ampla no período. apresentava os maiores percentuais de participação dos salários no PIB para que, desta forma, se obtivesse um resultado “puxado” para cima evitando
10. A União Européia é representada pelo conjunto dos seguintes países (28): Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Chipre, Dinamarca, que se pudesse “forçar” a confirmação, a priori, da tese de Marini.
Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Holanda, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, 12. Preços constantes significa que os valores de cada ano estão avaliados aos preços de um determinado ano, selecionado como ano base. No caso
Portugal, Reino Unido, República Checa, Romênia e Suécia. o ano base é 2011.

1251 1252
3.2. Análise dos dados média, 35,37%, não superando os 36,80%.

Como era esperado, a América Latina encontra-se em um patamar de geração de riquezas inferior Da mesma forma que quando se analisa os valores monetários do PIB e das remunerações, o
a União Européia e aos Estados Unidos caracterizando-se como uma região subdesenvolvida e percentual máximo atingido pela apropriação do PIB pelos trabalhadores na América Latina não
periférica. atinge, sequer, o mínimo das outras duas regiões.

Não se pode menosprezar o fato de que, no período analisado, o valor máximo do PIB latino- Com médias praticamente idênticas no período, a União Européia (47,56%) e os Estados Unidos
americano é inferior ao valor mínimo do PIB tanto da União Européia quanto dos Estados Unidos (47,59%) apresentam, em média, uma participação dos salários no PIB, doze pontos percentuais
o que fortalece a visão de que, a região, faz parte da periferia do sistema capitalista mundial. mais elevada que a América Latina, diferença que atinge os 13,13% entre União Européia e
América Latina e, praticamente, 14% entre esta e os Estados Unidos.
Os dados mostram que, no período, a soma do PIB da União Européia é 2,5 vezes superior a da Considerações Finais
América Latina e, a soma do PIB dos Estados Unidos é 1,8 vezes maior quando comparada com
a latino-americana. O objetivo deste trabalho foi o de buscar, através da análise de dados, verificar a forma como
a riqueza socialmente produzida na América Latina é apropriada e, desta forma, comprovar ou
Assim como ocorre com o PIB, quando se compara os valores máximos e mínimos das refutar a tese de Ruy Mauro Marini sobre a existência de uma superexploração do trabalho na
remunerações, verifica-se que a América Latina apresenta um intervalo ligeiramente superior ao América Latina.
dos Estado Unidos e inferior ao da União Européia indicando, também, que, no período temporal
analisado, a apropriação da riqueza na América Latina, variou mais intensamente quando A análise dos resultados permite afirmar que, comparando-se a América Latina com a União
comparada aos Estados Unidos e com menor intensidade quando comparada a União Européia. Européia e com os Estados Unidos, no período de tempo estudado, a tese da superexploração do
trabalho, formulada por Ruy Mauro Marini, é uma realidade na América Latina.
Para que se possa verificar a existência ou não de uma superexploração da força de trabalho na
América Latina, os valores absolutos não são suficientes pois mostram, apenas que esta é uma Referências
região mais pobre que as demais. Para o objetivo proposto é necessário que sejam analisadas as
relações existentes entre as remunerações dos trabalhadores e os PIB’s das três regiões. Alarco Tosoni , G. Ciclos distributivos y crecimiento económico en América Latina. Cuadernos
de Economía, 36(72), xx-xx. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, 2017. Disponível em:
Com relação as remunerações, os dados mostram que, as diferenças são ainda maiores do que http://www.fce.unal.edu.co/media/files/Alarco_junio_16.pdf Acesso em: 29 ago 2017.
as verificadas com relação ao PIB. A parcela do total do PIB apropriada pelo trabalho na América
Latina é 3,3 vezes menor do que na União Européia e 2.4 vezes menor que nos Estados Unidos. Furtado, Celso. A ECONOMIA LATINO-AMERICANA: Formação histórica e problemas
Estas relações indicam que a tese de Marini, da superexploração do trabalho na América Latina, contemporâneos. Companhia das Letras. São Paulo, 2007.
encontra respaldo nos dados.
________Raízes do subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. pp.87 - 88.
Os resultados permitem verificar a existência de diferenças substanciais entre a apropriação
da riqueza socialmente gerada pelos trabalhadores da América Latina e as demais regiões. Ao Marini, Ruy Mauro. Dialética da Dependência: uma antologia da obra de Ruy Mauro Marini.
passo que, na União Européia e dos Estados Unidos, a participação das remunerações do trabalho Sader, Emir (org.). Petrópolis: Vozes; Buenos Aires: CLACSO, 2000.
no PIB apresentam percentuais superiores a 45%, na América Latina esta participação é, em

1253 1254
________Subdesenvolvimento e revolução. Florianópolis: Insular, 2012. Capítulo 123
Martins, Carlos Eduardo. Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina. São
Paulo: Boitempo, 2011.
Enfrentando el Burnout: Análisis crítico comparativo del efecto de dos
intervenciones para reducir sus manifestaciones en el ámbito del trabajo
Marx, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I. 29. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2011. Matías Sanfuentes1 y Eduardo Acuña A.2

Netto, José Paulo E Braz, Marcelo. Economia Política: um introdução crítica. 8. ed. São Paulo:
Cortez, 2012. Introducción

Pereira, Camila Potyara E Amorim, Álvaro André Santarém. Pobreza no Brasil e na América Este trabajo describe a una experiencia de investigación-acción realizada desde la óptica del
Latina: concepções restritas sobre realidades complexas. Argumentum, Vitória, v. 2, n. 2, p. socio-análisis en el Instituto Nacional de Geriatría (ING) durante un lapso de dos años. El ING
132-148, jul./dez. 2010. es la institución geriátrica pública más importante de Chile, por la complejidad de su modelo de
atención y el número de pacientes atendidos. El proyecto contó con el interés y la colaboración
Salama, Pierre E Valier, Jacques. Pobrezas e desigualdades no terceiro mundo. São Paulo: Nobel, de la Dirección del ING para llevarlo a cabo, debido a los altos niveles de estrés ocupacional
1997. existentes en el personal de la institución3.

Traspadini, Roberta E Stedile, João Pedro (orgs.). Ruy Mauro Marini - vida e obra. São Paulo: El estudio fue diseñado desde la metodología de investigación-acción con el propósito de evaluar
Expressão Popular, 2011. la efectividad del método socio-analítico, Análisis del Rol Organizacional (ARO), en reducir los
niveles de burnout en los profesionales del ING (Newton et al. 2006). Para comparar los efectos
del ARO, se consideró también la aplicación, en otro grupo de profesionales del ING, de una
intervención de índole psico-educativa orientada al manejo del estrés en ambientes laborales de
salud (Párraga, 2005). También se incluyó un grupo control sin tratamiento, para fortalecer el
análisis comparativo de los resultados. Ninguno de los tres grupos experimentó una reducción
significativa en los niveles de burnout en los profesionales del ING , ni tampoco se mostraron
diferencias significativas entre ellos.

El foco central de este artículo es examinar críticamente las dinámicas que obstruyeron las
oportunidades de cambio existentes, no obstante, los abundantes aprendizajes que emanaron a
partir de las intervenciones realizadas. Este foco es relevante porque existe poca investigación
que evalúe el impacto de intervenciones diseñadas para reducir las manifestaciones del burnout
1. Profesor Asistente. Facultad Economía Y Negocios. Universidad de Chile. Email: msanfuentes@unegocios.cl
2. Profesor Titular. Facultad Economía Y Negocios. Universidad de Chile. Email: eacuna@unegocios.cl
3. Este proyecto fue financiado por FONIS. Estos fondos, junto al apoyo de la Dirección del ING, fueron aspectos centrales para el desarrollo de las
distintas etapas del estudio.

1255 1256
(Halbesleben and Buckley, 2004). Estos tipos de intervenciones se pueden dividir en dos en el mundo, que afecta a un porcentaje significativo de los trabajadores que se desempeñan
aproximaciones principales: 1) aquéllas que buscan cambiar individuos y grupos (dirigida a las especialmente en hospitales y servicios de atención primaria de salud (Billeter-Koponen and
personas); 2) aquéllas que buscan transformar la organización y su contexto ocupacional. Aunque Freden, 2005). Esta situación se torna aún más compleja en los servicios de salud que atienden
la literatura indica que fortalecer las competencias personales es fundamental para reducir pacientes con riesgo vital. La atención de este tipo de pacientes demanda de los profesionales un
los niveles de burnout (Awa et al. 2010; Van der Klink et al. 2001), las aproximaciones más control mental y emocional mucho más riguroso, debido a la exposición a múltiples agresiones,
promisorias para alcanzar tales metas muestran que el foco debiese centrarse principalmente a la manipulación de sujetos con diagnósticos poco nítidos, y a la necesidad de brindar cuidados
en el contexto de trabajo (Halbesleben and Bucley, 2004). intensivos y prolongados (Spinetta et al. 2000). Muchas de estas exigencias se traducen en
estados de sobrecarga y susceptibilidad a las emociones de otros (pacientes, familiares, etc.)
En este estudio adoptamos una perspectiva crítica respecto del aprisionamiento psíquico que hacen al trabajador más vulnerable al estrés emocional (Le Blanc et al. 2001). Para los
colectivo que lleva a los profesionales a invalidar en forma sincrónica la ocurrencia de cambios profesionales de la salud es particularmente importante el valor intrínseco que tiene el trabajo,
como resultado de dichas intervenciones. Este análisis indaga en las dificultades que existen que se desprende de la posibilidad de ayudar a otro ser humano (Lewandoski, 2003). Esto hace
para contrarrestar las condiciones institucionales y personales que bloquean los intentos de que la falta de recursos humanos y materiales para realizar un trabajo adecuado, acompañado de
reducción del burnout en el contexto organizacional contemporáneo (Bain, 1998). También falta de tiempo y energía para vincularse con los pacientes, generen un estado de incompetencia
se analiza la compleja situación que enfrentan investigadores de las ciencias sociales cuando profesional que erosiona la posibilidad de establecer una relación de ayuda, central para la
intentan impulsar cambios emancipadores en funcionarios de organizaciones públicas de salud salud del trabajador (Billeter-Koponen and Freden, 2005). En consecuencia, los factores más
(Acuña & Sanfuentes, 2011; Foladori, 2013). importantes que causan este síndrome son de naturaleza organizacional y ligadas al tipo de tarea
que tiene que desempeñar el trabajador. Las investigaciones han mostrado que el burnout está
Este artículo también enfatiza el rol jugado por las resistencias de los profesionales, autoridades poco vinculado a disposiciones individuales, y mucho más conectado con variables situacionales,
y de la organización del trabajo frente a los intentos de transformación que fueron promovidos sobrecarga de trabajo y carencia de soporte social (Maslach et al. 2001; Lewandoski, 2003;
dentro de la institución. La resistencia frente al cambio es concebida como una oposición que Shirom, 2005).
opera en los intersticios de la economía formal del espacio de trabajo (Ford et al. 2008; Putnam
et al. 2005). Estas resistencias se manifiestan a través de ‘sutiles subversiones , acomodaciones Por lo tanto, para obtener una perspectiva más clara de cómo se origina el burnout, resulta
ambiguas y de varias formas de desvinculación’ en los roles desempeñados por los trabajadores fundamental comprender la acción de los trabajadores en el contexto institucional, social
(Mumby, 2005, p. 36). Este tipo de conductas puede ser descrita como ‘resistencia rutinizada’, y político en el que se desempeñan. En el campo de la salud, como también en otras áreas
que se refiere a formas menos visibles de oposición que emergen en el contexto laboral cotidiano de la administración pública, se han impuesto reformas masivas que han buscado mejorar
(Prasad and Prasad, 2000). Este estudio describe formas en las que opera la resistencia la efectividad del sistema. Sin embargo, su acción se ha instalado a través de una postura
rutinizada en el ING, tales como la victimización de los profesionales, la idealización de sus omnipotente y omnisciente, que amparada en la eficiencia organizacional del management, ha
capacidades para resolver las continuas fallas del Sistema hospitalario, y el alineamiento de las buscado la realización de ambiciosos planes estratégicos que presagian un continuo progreso
personas con las prácticas de trabajo ritualizadas. Este tipo de Resistencia es una respuesta (Fotaki, 2006). Tal como plantea Hoggett (2010), gran parte de las reformas neoliberales a
directa al abuso institucional que opera dentro del ING y en el Sistema de salud público como los servicios públicos se han realizado siguiendo la estrategia de despojar al gobierno central
totalidad (Dejours, 1998). de la responsabilidad de proveer servicios básicos – traspasándoselo a una serie de ‘centros
de costo y rendimiento’ de tipo privado y público, entre los que se encuentran instituciones de
Teoría salud – bajo la premisa que la competencia permitiría una reducción de costos, liberando al
gobierno de asumir responsabilidades operacionales para poder concentrarse así en el desarrollo
Tal como indican las cifras, el burnout es una patología altamente prevalente tanto en Chile como de estándares para controlar la gestión. Esto ha generado una explosión del uso de sistemas de

1257 1258
control y auditoría, a través de inspectores y métodos de administración de la gestión, que se estar ocupado al límite de las capacidades permite a los trabajadores no pensar en lo que están
han extendido por todos los servicios alcanzando a cada uno de los profesionales, adquiriendo la haciendo. De esta forma, esta dinámica intoxicante y enajenante se transforma en un escenario
forma de un intensificado clima de vigilancia. De esta forma, por medio del mantra Orwelliano ´lo privilegiado para el desarrollo del estrés y el burnout (Hoggett, 2010).
privado es bueno y lo público malo’, el neoliberalismo ha propuesto una progresiva desregulación
de los mercados, prescribiendo paradojalmente lo opuesto para la esfera pública (menos Dejours (1998) acude a la noción de ‘banalidad del mal’, elaborada por Hanna Arendt
confianza y más regulación) (ibid. p. 206). (2008), para explicar y entender cómo los nuevos métodos de Management que se ocupan en
organizaciones contemporáneas, debilitan y deterioran las condiciones de trabajo causando
La esfera pública se transforma así en la encarnación de propósitos en conflicto. Todas las sufrimiento en trabajadores. La intensificación del trabajo, la flexibilidad en contratos, la
contradicciones, tensiones, y dilemas valóricos no resueltos a nivel del diseño de políticas supervisión controladora, el cumplimiento con estándares de calidad, las continuas evaluaciones
públicas son dramáticamente experimentados a nivel de los funcionarios públicos. En este de desempeño y sus calificaciones de deméritos, los despidos masivos, y la ausencia de
contexto, los funcionarios públicos deben contener la rabia y frustración presente en el sistema, protección sindical, son condiciones de precariedad laboral que fuerzan a que los trabajadores
transformándose así en los chivos expiatorios que pueden ser culpados de cuestiones que no desgasten sus energías para contribuir al éxito organizacional.
son adecuadamente asumidas y resueltas, tanto por los gobiernos como por los ciudadanos
(Hoggett, 2006). Dejours (1998) considera ‘la banalidad del mal’ en términos de la ‘psicodinámica del trabajo’
que opera en la actualidad, siendo entendida como una reacción colectiva que inhibe, remueve
El contacto con estas ansiedades tiene repercusiones muy significativas sobre la capacidad o cancela la capacidad para pensar, emitiendo un juicio moral condenatorio respecto de los
de los miembros para concertar acuerdos y acciones colaborativas en el logro de los dilemas abusos que se comenten con los trabajadores. La ‘banalidad del mal’ supone una trivialización
primarios. Este es un escenario propicio para generación de profundas fragmentaciones al y normalización colectiva de los males que afectan a la gente, con lo cual los trabajadores
interior de la institución, lo que potencia rivalidades y quiebres entre distintos grupos y equipos. se vuelven promotores anónimos de la maldad, porque pierden la conciencia de su propio
Divisiones entre personal administrativo y clínico, entre distintas profesiones al interior de sufrimiento e incurren en la indiferencia frente a los dolores ajenos. La incapacidad de pensar,
los equipos, así como entre diferentes servicios, son algunos de los medios que las personas que se instala inadvertidamente en los individuos, es una forma de defensa colectiva que evita el
encuentran para lidiar con la ansiedad y beligerancia presente en el sistema. La imposibilidad de pronunciamiento de juicios morales condenatorios respecto de los males en el trabajo y el tener
integrar, reflexionar, y elaborar lo que parecen ser las contradicciones y dilemas fundamentales que considerar acciones emancipadoras ante las injusticias.
que plantea el trabajo de las instituciones de salud, tales como el sufrimiento, la muerte, la
precariedad, la dependencia termina potenciando la instalación de una serie de mecanismos Metodología
compensatorios que están al servicio de no pensar (Sievers, 1999).
Para evaluar la eficacia de la metodología Análisis del Rol Organizacional (ARO) en la reducción
Adaptarse a las formas precarias y poco gratificantes que la institución ha creado para defenderse de las manifestaciones del síndrome de burnout, se utilizó un diseño cuasi-experimental de
de la ansiedad resulta ser la única forma de sobrevivir en un entorno institucional construido en investigación que comprendió tres grupos compuestos por profesionales de las distintas unidades
base a innumerables disyuntivas y contradicciones que todos parecen evitar. En este sentido, del NGI: el grupo de tratamiento experimental (GE), un grupo de tratamiento alternativo (GA) y
las vivencias de agotamiento emocional, despersonalización, impotencia, y falta de sentido de un grupo control (GC), con mediciones pre y post intervención (Shadish et al. 2002). Para ello
logro en el trabajo emergen como un resultado natural de las condiciones operativas reinantes se combinó el uso de metodologías cuantitativas y cualitativas en cada una de las mediciones
(Obholzer, 1994). Asímismo, la hiperactividad y la sobrecarga de trabajo, por las necesidades realizadas. Sin embargo, el componente cualitativo del proyecto se refirió únicamente al GE y el
que plantea el cuidado de pacientes complejos en sistema precarios de atención, emergen como GA, pues sólo se realizaron entrevistas a los grupos que recibieron algún tipo de tratamiento (y
recursos muy utilizados. El trabajo en los equipos adquiere así un sentido maníaco en el cual el no al grupo de control).

1259 1260
realistamente sobre las posibilidades de cambio, pero nunca llega a la acción. En cambio, el GA
Cada grupo fue sometido a una evaluación inicial, una semana antes del comienzo de los implementa nuevas estrategias de auto cuidado, pero estás se van diluyendo con el progresivo
respectivos tratamientos. Esta evaluación consistió en la aplicación del Maslach Burnout avance de las sesiones de seguimiento.
Inventory (MBI). Para los GE y GA también se utilizó una entrevista grupal focal de seguimiento.
Estas entrevistas se llevaron a cabo a la segunda, octava y catorceava semana después de La ineficacia de los tratamientos se puede explicar en parte por la precariedad de las condiciones
finalizada cada intervención para evaluar la percepción subjetiva de los cambios y su mantención laborales, las que implican una exposición continua a fuentes de malestar y sufrimiento. Estas
en el tiempo. experiencias socavan la entereza vocacional y la integridad psíquica y física de los profesionales,
abriendo paso a una impotencia que anula la iniciativa individual y colectiva para lograr un
El análisis cualitativo de las entrevistas grupales focalizadas se realizó de acuerdo a los principios mayor bienestar psicológico y emocional en la organización. Los profesionales destacan que
de la Teoría Fundada (Strauss and Corbin, 1998). En primer lugar, se realizó una interpretación los sufrimientos son el resultado de condiciones abusivas de trabajo presentes en el ING, y en el
hermenéutica de cada entrevista. Esta interpretación se hizo inmediatamente después del sistema público de salud chileno.
término de las entrevistas. Este análisis preliminar sirvió como resumen e indicación para la
entrevista siguiente. Luego se realizó una codificación abierta de los textos transcritos, para El abuso institucional corresponde a un fenómeno que se arraiga en el modelo ingenieril y
terminar con una codificación axial de cada entrevista. Los análisis fueron realizados por dos economicista con que opera la salud pública en Chile, mediante el cual se busca maximizar la
analistas con el programa Atlas.ti, las que además fueron revisadas por un investigador senior. eficiencia organizacional en las prestaciones sanitarias (Acuña & Sanfuentes, 2011; Dejours,
Las codificaciones abiertas arrancaron de la interpretación hermenéutica hechas previamente. 1998). La eficiencia organizacional considera que los recursos humanos y materiales que
Cada analista propuso una codificación axial para cada entrevista. Luego se estandarizaron los intervienen en salud deben ser aprovechados en el extremo de sus rendimientos. Todos los
conceptos y categorías, a modo de aunar criterios. recursos son reducidos a la condición de objetos económicos, lo que implica que trabajadores y
pacientes tiendan a ser tratados como insumos. El reduccionismo económico tiene el efecto de
Para efectos de este trabajo sólo nos focalizaremos en los resultados obtenidos a través del deshumanizar el trabajo en salud, lo que colisiona con el espíritu hospitalario que es indispensable
análisis cualitativo de las entrevistas focales. en el tratamiento de los enfermos y sus dolencias (Hoggett, 2010).

Resultados Este ambiente deshumanizante es el que permite entender las razones por las cuales las
intervenciones para reducir el burnout resulten inefectivas. Probablemente las intervenciones
Respecto de la eficacia de los tratamientos, los participantes de los GE y GA consideran que en sí mismas no son inefectivas. Sin embargo, existen condiciones institucionales que hacen
ninguna de las dos intervenciones permite disminuir manifestaciones de síntomas de burnout. inoperantes cualquier medida que intente generar un cambio que provea mayores niveles de
Esto se evidencia con especial fuerza en la última sesión de seguimiento cuando ambos grupos bienestar (Bain, 1998). El malestar en el personal del ING trasciende la óptica sintomática del
sostienen que “las cosas siguen igual” en el ING. Esto significa que las intervenciones, en la burnout, apuntando a causas estructurales profundas que tienen que ver con el modo como se
inmediatez de sus realizaciones, consiguen que los grupos puedan afrontar constructivamente piensa y gestiona la salud en Chile (Schaufeli et al. 2008).
manifestaciones de burnout. Sin embargo, con el avance de los seguimientos esa efectividad se
diluye, llevando a que finalmente los profesionales consideren que hay un retroceso al tener que La naturaleza totalitaria del abuso y el miedo, y sus inmobilizantes consecuencias, socava la
afrontar las mismas condiciones precarias de trabajo que existían al momento de iniciarse las realización de los principales propósitos de la institución. Los profesionales inconscientemente
intervenciones. se adhieren a conductas ritualistas que les garantiza un alineamiento con el orden burocrático
institucional, pero que simultáneamente entorpece el logro de los propósitos principales. Las
Los procesos grupales que siguen ambos tratamientos son distintos: el GE reflexiona conductas ritualizadas son el reflejo de las defensas sociales del hospital que los protegen

1261 1262
en contra del sufrimiento, pero reduciendo la efectividad organizacional con respecto a los Awa, W, Plaumann, M and Walter, U (2010) Burnout prevention: a review of intervention
propósitos primarios (Bevan and Hood, 2006; Cummins, 2001; Menzies, 1960). programs Patient Education and Counseling 78: 184-190.

Los profesionales quedan envueltos en un estado mental de confinamiento de naturaleza colectiva, Bain, A (1998) Social defenses against organizational learning. Human Relations 51(3): 413-
el cual bloquea la búsqueda de cambios emancipadores como resultado de las intervenciones 429.
(Dejours, 1998). Acentuamos la imposibilidad de los profesionales de preservar nuevas formas de
gestionar las situaciones estresantes, que emergieron a partir de ricas reflexiones desarrolladas Bevan, G and Hood, C (2006) What’s measured is what matters: targets and gaming in the
en los grupos. Estas acciones son inconscientemente negadas por el poder hegemónico de un English public health care system. Public Administration 84 (3): 517-538.
estado mental que tácitamente unifica al grupo de profesionales en torno a la victimización
frente al abuso institucional del ING. Billeter-Koponen, S and Freden, L (2005) Long-term stress, burnout and patient-nurse relations:
qualitative interview study about nurses’ experiences. Scandinavian Journal of Caring Sciences
La victimización adopta una forma colectiva de defensa frente a la ansiedad por el logro de 19: 20-27.
mayores niveles de autonomía, lo que implicaría adoptar un rol responsable para enfrentar
las complejas condiciones de trabajo del ING (Miller, 1993). La victimización colectiva de los Cummins, A (2001) The road to hell is paved with good intentions: Quality assurance as a social
profesionales refuerza un vínculo vicioso donde se sienten que “nada se puede hacer”, con lo defence against anxiety. Organisational and Social Dynamics 2: 99-119.
cual los profesionales, inconsciente y anónimamente, se transforman en promotores del sistema
de abuso institucional (Dejours, 1998). Como resultado, los profesionales quedan atrapados en Dejours, C (1998) Trabajo y sufrimiento: cuando la injusticia se hace banal. Madrid: Modus
una cultura del exceso y del trabajo heroico para poder cubrir los requerimientos del sistema Laborandi.
de atención, tratando así de cubrir las deficiencias y fallas del sistema. Muchas veces, tal
desempeño heroico termina socavando las capacidades de los profesionales al quemarse a sí Foladori, H (2013)
mismos en un esfuerzo de alcanzar objetivos idealizados (Sanfuentes, 2011). Tales ideales son
sostenidos por los esfuerzos diarios de los profesionales, quienes quedan atrapados en círculo Ford, J, Ford, L and D’ Amelio, A (2008) Resistance to change: the rest of the story. The Academy
vicioso que por una parte fortalece la victimización, pero también exacerba la vivencia de sentirse of Management Review 33(2): 362-377.
indispensables para el sistema. Cuando la vida de otro individuo está en juego, resulta muy difícil
establecer fronteras claras en el rol laboral. El sistema profita de este proceso, reforzando así el Fotaki, M (2006) Choice is yours: A psychodynamic exploration of health policymaking and its
abuso institucional (Acuña & Sanfuentes, 2011). consequences for the English National Health Service. Human Relations 59(12): 1711-1744.

Referencias Halbeslen, J and Buckley, M (2004) Burnout in organizational life. Journal of Management,
30(6): 859-879.
Acuña, E and Sanfuentes, M (2011) Institutional Abuse: caught between professional vocation
and system´s efficiency”. In Gould, L and Stapley, L (eds) The Reflective Citizen: Organizational Hogget, P (2006) Conflict, ambivalence, and the contested purpose of public organizations.
and Social Dynamics (111-129). London: Karnac. Human Relations 59(2): 175-194.

Arendt, H (2008) Eichmann en Jerusalén. Madrid: Debolsillo. Hoggett, P (2010) Government and the perverse social defence. British Journal of Psychotherapy
26(2): 202-212.

1263 1264
dynamiken des Heroismus in Einrichtungen des. Freie Association
Le Blanc, P, Bakker, A, Peeters, M, Van Heesch, N and Schaufeli, W (2001) Emotional job
demands and burnout among oncology care providers. Anxiety, Stress and Coping 14: 243-263 Shadish, W, Cook, T and Campbell, D (2002) Experimental and Quasi-Experimental Designs for
Lewandoski (2003) Generalized Causal Inference. New York: Houghton Mifflin Company.

Menzies, I (1960) A case study in the functioning of social systems as a defence against anxiety. Schaufeli, W, Leiter, M and Maslach, C (2008) Burnout: 35 years of research and practice.
Human Relations, 13, 95-121. Career Development International, 14(3): 204-220.

Miller, E (1993) From Dependency to Autonomy: Studies in Organization and Change. London: Shirom, A (2005) Commentary: Reflections on the study of burnout. Work and Stress 19(3):
Free Associations Books. 263-270.

Mumby, D (2005) Theorizing resistance in organization studies: a dialectical approach. Sievers, B (1999) Psychotic organization as a metaphoric frame for the socioanalysis of
Management Communication Quarterly 19(1): 19-44. organizational and interorganizational dynamics. Administration and Society, 31(5): 588-615.

Newton J, Long S and Sievers B (2006) Coaching in Depth: The Organizational Role Analysis Spinetta, J, Jancovic, M, Ben Arush, M, Eden, T, Epelmen, C and Greenberg, M (2000)
Approach. London: Karnac. Recomendaciones para el reconocimiento, prevención y solución del síndrome de burnout en
los profesionales de la salud comprometidos en la asistencia del niño con cáncer. Medical and
Newton, J (2013) Organisational role analysis. In: Long, S (Ed) Socioanalytic Methods (pp. 205- Pediatric Oncology 35: 122-125.
226). London: Karnac.
Strauss, A. and Corbin, J (1998) Basics of Qualitative Research, London: Sage.
Obholzer, A. (1994). Managing social anxieties in public sector organizations. In: Roberts, V and
Obholzer, A (eds) The unconscious at work, individual and organizational stress in the human Van der Klink, J, Blonk, R, Schene, A and Van Dijk, F (2001) The benefits of interventions for
services (pp. 67-90). London: Routledge. work-related stress. American Journal of Public Health, 91(2): 270-276.

Párraga, J (2005). Eficacia del programa I.R.I.S. para reducir el Síndrome de Burnout y mejorar las
disfunciones emocionales en profesionales sanitarios. PhD Thesis, Universidad de Extremadura,
España.

Prasad, P and Prasad, A (2000) Stretching the iron cage: the constitution and implications of
routine workplace resistance. Organization Science, 11(4): 387-403.

Putnam, L, Grant, D, Michelson, G and Cutcher, L (2005) Discourse and resistance, targets,
practices and consequences. Management Communication Quarterly, 19(1): 5-18.

Sanfuentes, M (2011) Narzissmus oder Sozial-ismus? Eine psychoanalutische Exploration der

1265 1266
Capítulo 124 desafiadoras estagnam a máquina produtiva (Osborne, 1995). Isto, por sua vez, revela um
prognóstico de efeitos devastadores para as organizações, mas, sobretudo, para os próprios
trabalhadores (Seabra, 2001).
Os servidores públicos em adoecimento: Uma reflexão sobre a lógica
gerencial no funcionalismo público Diante disto, este trabalho visa analisar como a saúde de servidores públicos é impactada
por seus trabalhos. Ao realizar entrevistas semiestruturadas com onze servidores públicos
Eliane Ferreira dos Santos1, Renata Cherém de Araujo Pereira2 y Adele Carneiro3 brasileiros, percebe-se a ocasião de diferentes patologias como ansiedade, stress, desiquilíbrio
emocional e doenças do metabolismo como pressão alta, entre outros. Estudos já realizados com
profissionais do setor público mostram um aumento frequente no nível de stress e instabilidade
No conhecimento social e popular, muitas vezes, o funcionalismo público no Brasil é qualificado psíquica e orgânica (Barcelos Silva, 2004; Lipp & Tanganelli, 2002; Tavares, 2003), e boa parte
como prestações de serviços excessivamente burocráticas, cujos servidores, já acomodados pela ocasionado por fatores relacionados à rotina, execução e perspectiva no trabalho. Entretanto,
estabilidade garantida pelos concursos, comportam-se profissionalmente de maneira passiva. o impacto do contexto social como um todo, reverberadas no ambiente organizacional, ou os
Ainda por este conceito imaginário, o emprego em empresas privadas, por exigir resultados próprios modelos de gestão adotados são pouco evidenciadas para o estudo desse tipo de
financeiros imediatos, desencadeia em seu profissional excessivamente comprometido com a adoecimento de funcionários.
instituição e com sua função preocupações que prejudicam sua saúde psíquica ou até física.
Por modelo de gestão, conforme Chanlat (1996), entende-se como o conjunto de práticas
De acordo com Tavares (2003), a saúde é algo dinâmico, ou seja, não é um estado fixo, aplicadas para atingir os objetivos organizacionais compreendendo as características que
mas um processo. Esta ideia concebe que a saúde de uma pessoa se forma e se transforma envolvem a constituição, o planejamento e a execução nestes ambientes. Especificamente
continuamente, e envolve aspectos biológicos, psíquicos, sociais e culturais. Além disso, entende- sobre o serviço público, Chanlat (1996) considera como recorrente o funcionamento de gestão
se, na particularidade do universo quando se refere a um ambiente de trabalho, que profissionais tecnoburocrático, cuja ação humana, para este tipo, é limitada pelas normas pré-existentes.
conduzam formas de negociação e de tomada de decisão de maneira também influenciadas por Outra característica, especificamente sobre o funcionalismo público, é o nível consideravelmente
um contexto organizacional. Desta forma, pressupõe-se que tanto organizações como indivíduos maior de estabilidade empregatícia pela vigência de contratação estabelecida para estes locais
tendem a reproduzir situações (e suas consequências) em modelos institucionais aquilo que se de trabalho.
preconiza em ações cotidianas, estabelecendo padrões de ação a ser apreendidos e reproduzidos
por outros (Berger & Luckmann, 2008) No cenário atual, esta última característica é ainda mais reverenciada no Brasil. Com as taxas
de desemprego altas desde os últimos três anos4 e com o trabalho contratado e regulamentado5
Desta forma, parte-se do princípio hipotético de que qualquer profissional, sobretudo em sendo substituído pelos diversos modelos de “empreendedorismo”, “cooperativismo”, “trabalho
sociedades cada vez mais voltadas aos padrões de consumo e que cobram resultados das voluntário”, entre outras formas, que mascaram a realidade da auto exploração do trabalhado
instituições, está sujeito a adoecer no e pelo seu ambiente de trabalho. Em outras palavras, e produz uma insegurança generalizada nos indivíduos (Antunes, 2010). Como destaca Harvey
identifica-se nas diversas ocupações a situação patológica de trabalhadores desencadeada (1993, p. 144) o mercado de trabalho atual caracteriza-se por “reduzir o número de trabalhadores
por algum fator relacionado ao trabalho (Silva, 2009). Em sociedades cujo contexto delineia ‘centrais’ e empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra facilmente e é demitida
a capacidade do Estado para administração e satisfação das necessidades sociais, exige-se sem custos quando as coisas ficam ruins”.
flexibilização e criatividade de trabalho, porém, muitas vezes, estruturas burocráticas e pouco
1. FGV – Fundação Getúlio Vargas. Email: efseliane@yahoo.com.br 4. Ver: https://www.valor.com.br/brasil/4790799/numero-de-desempregados-dobra-desde-o-inicio-de-2014-aponta-ibge. Acesso em 02 de julho de
2. FGV – Fundação Getúlio Vargas. Email: Cherém.renata@gmail.com 2018.
3. FGV – Fundação Getúlio Vargas. Email: carneiro.at@gmail.com 5. Conforme Lei nº 13.467/17.

1267 1268
Nesse cenário, a estabilidade oferecida no funcionalismo público com a constituição de 1946 trabalhadores, os quais serão abordados no próximo tópico.
e confirmada na constituição de 1967 no art. 77, que garante a permanência do indivíduo em
seu emprego com mais de cinco anos de serviço público (Lima Junior, 1998), torna-se fator de A Gestão como “doença social” tem como precedente as concepções da chamada ciência
grande relevância para a entrada e permanência do trabalhador no Estado. Entretanto, tal fator, gerencial como figura do capitalismo financeiro e da mundialização, após a crise dos anos de
que deveria estimular o desempenho das funções com apreço, dedicação e a diminuição das 1970. A partir destas perspectivas, o gerenciamento tende a mobilizar o trabalho das pessoas a
pressões e injustiças, acabou tornando-se indevidamente associado à acomodação, influenciando serviço dos interesses do capital e a subordinar o conjunto de funções da empresa, por sua vez,
negativamente a eficiência no serviço público (Souza, 2002). Este é considerado ineficiente e à lógica financeira. Por consequência, esta ideologia gerencialista transforma o ser humano em
oneroso, e recebe críticas principalmente em função de seu modelo de gestão burocrático, ao um recurso explorável ao mesmo título dos recursos financeiros, já que as organizações nesta
invés da incorporação da lógica do modelo gerencial que rege as empresas privadas (Bresser- finalidade, é transformar neste sistema cada indivíduo em trabalhador, e cada trabalhador em
Pereira, 2017). um instrumento adaptado às necessidades da empresa (De Gaulejac, 2005).

A gestão pública, definida por Santos (2006) como sendo “às funções de gerência pública dos Nestas concepções gerenciais contemporâneas, ao colocar até mesmo o recurso humano como
negócios do governo”, é de demasiada importância para o servidor, pois é ela que delimita o estratégia para ganho financeiro, o dinheiro se torna a finalidade da existência de tudo. Segundo
seu campo de sua atuação e possibilita o controle da eficiência do Estado na realização do bem De Gaulejac (2005), a partir do momento em que o sucesso se mede em termos financeiros,
comum dentro das normas administrativas. Para Chanlat (1996), a gestão pública pode ser em que o reconhecimento e a existência sociais não tem mais um outro valor a não ser o
definida como tecno-burocrática, sendo caracterizada por forte hierarquia, normas e padrões monetário, o registro simbólico perde sua substância humanista. A gestão gerencialista gera
formais, altos níveis de controle, limitação na expressão e pouca autonomia para os cargos uma rentabilização do humano, e cada indivíduo deve se tornar o gestionário da sua vida, fixar-se
hierarquicamente inferiores. objetivos, avaliar seus desempenhos, tornar seu tempo rentável.

É importante considerar que a grande ênfase dada aos controles tornou a administração pública A partir disso, entende-se que a sociedade gestionária cria organizações paradoxantes, pois cria
pesada e amarrada à formalidade técnica e processual e a rígida estrutura hierárquica não “problemas sociais e conflitos são transferidos para o plano individual”, já que nesta lógica não
favorece a criatividade nem o compromisso com os resultados da prestação de serviços. O é mais permitido alguém ser limitado (De Gaulejac, 2005, p. 195). Estes paradoxos criados, por
modelo de gestão do Estado, ao invés de torná-lo mais eficiente e focado nas demandas da sua vez, levam a doenças pessoais, pelas constantes frustações pela vida nestas organizações,
população, gerou uma prevalência de interesses particulares das elites da burocracia e dos já que é impossível manter a eficiência sempre, ainda que altamente estimulada. Estas pessoas
interesses organizados. acabam sempre se refugiando ao seu próprio interior, ao invés de tratar estes problemas como
conflitos sociais e empresariais.
Nesse sentido, em decorrência do insuficiente investimento em recursos humanos e atuando
em condições precárias de trabalho e sob o descontentamento da sociedade, o trabalho para Ainda que não possua os mesmos padrões e finalidades de empresas privadas, o funcionalismo
o servidor público tem se tornado um estágio para maiores complicações da saúde, levando público, assim como a sociedade cotidianamente, foi atingido pela cultura gerencial apresentada,
a transformação do sofrimento em doenças, e repercutindo em debilidades temporárias e causando em seus servidores os malefícios da lógica produtivista como mencionado. Estes
permanentes. Dessa forma, a análise do funcionário público frente ao modelo de gestão no profissionais são na maioria das vezes prejudicados psicologicamente, sendo diagnosticados
qual está inserido é essencial para uma compreensão mais realista da complexa configuração com ansiedade, stress, desiquilíbrio emocional, entre outros. Questiona-se, a partir de então, e a
na qual ele se encontra e das consequências que tais políticas geram no comportamento e na partir do conteúdo teórico exposto, o procedimento metodológico para a pesquisa.
saúde dos indivíduos. Dessa forma, diante das considerações feitas, é necessário, portanto, uma
maior reflexão acerca dos modelos de gestão e suas influências na saúde física e psíquica dos Esta pesquisa utilizou entrevistas semiestruturadas como meio de obter informações sobre como

1269 1270
o trabalho impacta na saúde de servidores públicos. O roteiro de entrevistas foi elaborado a de curso de nível superior.
partir das experiências de uma das autoras no atendimento de servidores públicos na Secretaria
de Planejamento e Gestão de São Paulo, conforme segue: Em relação a categoria “crescimento vertical” na carreira observamos que esta representa
18,18% das URs. Esta categoria é composta por profissionais com formação consolidada em
1. Trajetória profissional na organização pública. Direito e Psicologia e que o funcionalismo público foi uma escolha baseada em uma estratégia de
2. Atividades realizadas no setor público. carreira. As outras duas categorias menos representativas referem-se à trajetória profissional
3. Situação atual da saúde do servidor público. “consolidada em uma única empresa” e a situação de “aposentadoria” cada uma com 9,09%
4. Impacto do trabalho na saúde. de URs.
5. Ilustração de um evento onde houve impacto do trabalho na saúde do servidor.
Identificar se o servidor já se afastou do trabalho Em relação à situação da saúde identificamos quatro diferentes categorias, são elas: doenças
motoras, doenças do metabolismo, doenças psíquicas e situação saudável. Entre estas categorias
A partir desta estrutura, o tratamento dos resultados ocorreu a partir do processo de as “doenças psíquicas” representam 46,67% da URs. Esta categoria demonstra que os servidores
categorização e resultou em setenta e nove unidades de registro (URs), conforme os resultados públicos pesquisados sentem constantemente abalados psicologicamente, principalmente por
apresentados na seção a seguir. Para este fim, separamos as respostas dos entrevistados em ansiedade, stress e depressão. Esses sintomas têm abalado tanto o ambiente profissional quanto
categorias e, posteriormente, iniciamos a produção de inferências, objetivando a interpretação familiar e, neste sentido, todos os entrevistados relataram o uso de medicamentos específicos.
dos dados coletados. Nesta pesquisa foram realizadas cinco etapas:
Em relação a “doenças metabólicas” foram identificadas apenas 6,67% representando doenças
a) Preparação, tratamento do conteúdo das entrevistas, considerando e leitura do conteúdo; como pressão alta e diabetes. Uma outra categoria denominada “situação saudável” representa
b) Definição de Unidades de Contextos (ou temas) a partir das questões das entrevistas 13,33 % das unidades de registros identificadas. Esta categoria revelou que alguns participantes,
c) Transformação dos conteúdos das respostas dos entrevistados em unidades de registro (UR); mesmo apresentado sintomas de stress e ansiedade, se consideram saudáveis. Para estes
d) Categorização ou classificação das unidades de registro; entrevistados a ansiedade e stress é uma condição normal nos dias de hoje e não consideram
e) Descrição e interpretação dos dados. como patológicos. Quando se deparam com o sintoma, utilizam de artifícios que buscam tentar
restabelecer a calma e o equilíbrio. Aqui é possível inferir que há um fator motivacional que
Ao iniciar a análise, identifica-se que a “remuneração” apresenta o maior percentual de permite que estes trabalhadores lidem melhor com as situações de stress e ansiedade por existir
unidades de registro (36,36%). Para os entrevistados, a escolha e a permanência no serviço a possibilidade de sair da função, pois a aposentadoria oferece a segurança financeira desejada.
público são justificadas pela segurança financeira e pelo programa de bônus salariais. Um dado
importante é que parte dos entrevistados utilizam a programa de bônus como forma de aumentar A partir destas identificações, a temática e questão problema principal desta pesquisa revelou
sua remuneração e deixam de elaborar um plano para sua carreira. cinco categorias sobre o impacto do trabalho na saúde, são elas: periculosidade, sem impacto,
físico, emocional e psicológico. A categoria mais representativa deste tema refere-se ao
A próxima categoria é “ crescimento horizontal”, apresentando também 36,36% das unidades “psicológico” apresentando 41,67% das URs. Esta categoria evidenciou que o principal impacto
de registros. Nesta categoria ficou evidente que uma das características na trajetória profissional do trabalho na saúde do servidor público é na sua saúde psíquica ou mental. As principais
do servidor público é a prática em fazer além das atividades que o seu cargo determina, bem doenças são stress, ansiedade e depressão, que fazem com que o servidor público se torne vitima
como em maior facilidade de mudar de área do que crescer verticalmente. Essa categoria reforça do ambiente de trabalho. Os motivos que levam essas doenças são principalmente pelo ritmo de
a anterior, uma vez que alguns servidores públicos têm dificuldades em crescer verticalmente, a funcionamento do setor público e a carga de trabalho do servidor que, segundo os entrevistados,
opção que poder ser adotada é usufruir dos programas de bônus salariais a partir do investimento não recebem o valor justo.

1271 1272
A partir dos dados obtidos e da análise por meio de codificação das entrevistas, identifica-se nesta
As categorias que representam 16,06% das URs identificadas são os impactos “físicos”, pesquisa que a trajetória profissional pública dos entrevistados foi construída, principalmente,
“emocionais” e a “periculosidade”. Estas categorias demonstram que o trabalho dos servidores com base no benefício da estabilidade no emprego. Assim, este dado se aproxima das pesquisas
públicos tem maior impacto na esfera emocional principalmente a aqueles que trabalham na de Lima Junior (1998) que considera a estabilidade um fator relevante na entrada e permanência
área da saúde diretamente com o público. Os impactos físicos estão relacionados ao ambiente de do trabalhador na esfera pública. Apesar da oferta de estabilidade, este estudo evidenciou que
trabalho, as atividades repetitivas ou as condições ergométricas inadequadas que causam lesões os servidores públicos possuem dificuldades no crescimento vertical, isso por que os critérios
físicas nos trabalhadores. A última categoria deste tema denominado “sem impacto” refere-se de crescimento, promoção e ascensão não são anunciados de forma clara na organização. Como
aos entrevistados que não consideram que os trabalhos lhe façam mal à saúde e que conseguem meio de obter vantagens econômicas, os trabalhadores apostam nos bônus salariais a partir
lidar com o ambiente labora hostil. do próprio investimento na educação. Porém, não foi possível identificar se os investimentos
em educação possibilitam o crescimento vertical destes trabalhadores, ou seja, se há um plano
Em relação às situações no local de trabalho, a categoria mais representativa deste tema de carreira estruturado que os beneficiem com trabalhos que ofereçam aprimoramento e
refere-se à “situação de stress” que gerou 50% URs. Esta categoria evidenciou que o trabalho desenvolvimento profissional contínuo.
do servidor público é caracterizado por eventos altamente estressantes, principalmente nas
relações interpessoais entre colaboradores ou servidor e o público. Tais eventos evidenciaram A pesquisa destacou a característica de um modelo burocrático focado no controle e
um alto nível de stress conforme descrições de desconfortos físicos enfrentados pelos servidores. monitoramento das atividades da organização. Assim, como aponta Osborne e Gaebler
A categoria “insalubridade” apresentou 18,75% das URs e representa os trabalhadores que (1994), que o modelo burocrático das organizações públicas resultou em uma ineficiência
consideram seus trabalhos insalubres pelo nível de stress e pela possibilidade de contrair organizacional, nesta pesquisa alguns entrevistados relataram sentir um ritmo demasiadamente
doenças no contato com o público. No entanto, a insalubridade de seu trabalho não é reconhecida lento do funcionamento dos processos no setor público. Esta ineficiência e lentidão impacta não
por órgãos públicos. apenas no cidadão, mas também no trabalhador que se sente incapaz de resolver os problemas
do sistema de gestão. Esta lentidão também é um dos fatores que causam stress e ansiedade
As categorias “abalo emocional” e “ambiente de trabalho” representam 12,50% das URs aos servidores públicos.
identificadas. A primeira categoria aponta o significativo impacto que o trabalho causa na
esfera emocional do indivíduo, principalmente em situações que envolvem tragédias, mortes e Esta pesquisa demonstra ainda que para a classe de trabalhadores do nível operacional (como
violências. Esta categoria está relacionada ao desenvolvimento de doenças psíquicas no individuo assistentes, auxiliares) há um acumulo de tarefas e um crescimento que tende a linha horizontal
tais como depressão e ansiedade, principalmente quando não há um acompanhamento com da estrutura organizacional. Para aqueles que possuem carreiras mais direcionadas, pessoas
um psicólogo. Em relação ao “ambiente de trabalho” as condições ergonômicas inadequadas com formação superior concursado ou comissionado, evidenciou-se um crescimento mais
impactam negativamente na saúde do servidor contribuindo no desenvolvimento de doenças na verticalizado na estrutura organizacional. Para ambos as casos, independentemente do tipo de
estrutura óssea, desconforto e problemas na coluna. crescimento organizacional o trabalho impacta na saúde dos trabalhadores.

Por fim, a temática “afastamento do trabalho” gerou quatro categorias: doenças da estrutura As principais doenças que impactam os servidores públicos são de ordem psíquicas tais como
óssea, doenças da pele, doenças psíquicas e não se afastaram. Nesta temática, identifica-se stress, ansiedade e depressão, ocasionadas pelo ambiente de trabalho. Tais doenças são
que a categoria denominada “não se afastaram” representa 45,45% das URs. Quando há as principais causas de afastamento das atividades de trabalho, porém, há pessoas que não
afastamento, as URs analisadas evidenciaram que 27,27% dos casos são por doenças psíquicas, consideram tais sintomas como patológicos. Neste último caso podemos se aproximar dos
18,18% por doenças de pele e 9,09% por doenças da estrutura óssea. argumentos de De Galeujac (2013) ao apontar que o gerencialismo tem se encarregado de
apresentar os problemas e conflitos sociais decorrentes do trabalho como de ordem particular.

1273 1274
Apesar de De Gaulejac (2013) trazer um forte enfoque às empresas privadas em sua obra, Administração Pública, v. 51, n. 1, p. 147-156.
considera-se que esta lógica tem se adentrado nas organizações públicas e a cultura do
gerencialismo tem se encarregado de delegar toda a responsabilidade para o servidor público: Chanlat, f. (1996) modos de gestão, saúde e segurança no trabalho. In: davel epb e vasconbcelos
sua carreira profissional e seu estado de excelência. A gestão como doença social, proposta pelo jgm – recursos humanos e subjetividade. Petropolis: vozes.
autor, é adequada a este trabalho, haja visto que a estrutura de trabalho do servidor público tem
se apresentado nesta pesquisa como uma fonte fértil as doenças psíquicas. E, por ser considerada Durand, J. C., & Beltrão, R. E. V. (1994). Recensear funcionários públicos: uma necessidade.
fonte de doenças, por conta de sua natureza estrutural, defende-se que esses tipos de trabalhos
sejam reconhecidos como insalubres perante os órgãos públicos e que os trabalhadores sejam Dejours, C (1986). Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. n.
de alguma forma “recompensados” pelo impacto. 54, v.14, p. 7-11.

Conclui-se, a um primeiro momento, e para delineamentos mais específicos para elaboração Gaulejac, V. de. (2007). Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação
de artigo completo, que o trabalho dos servidores públicos tem se adentrado a lógica do social. São Paulo: Ideias e Letras, p. 7-142.
gerencialismo onde a oferta da estabilidade econômica tem exigido uma estrutura psíquica forte
o suficiente para suportar um ambiente estressante e por vezes hostil de trabalho. Diante das Harvey, D. (1993) Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança social.
dificuldades apontadas pelos trabalhadores e o impacto do trabalho, cabe a classe de diversos São Paulo: Edições Loyola.
níveis hierárquicos cobrar por melhores condições de trabalho dos servidores e oferecer
acompanhamento psicológico de forma que possa amenizar os dados decorrentes de suas Lima Júnior, B. (1998). As reformas administrativas no Brasil: modelos, sucessos e fracassos.
funções. Revista do Serviço Público. RJ - DASP: v. 49, n. 2.

Referências Lipp, M. E. N. & Tanganelli, M. S. (2002). Estresse e qualidade de vida em magistrados da Justiça
do Trabalho: diferenças entre homens e mulheres. Psicologia Reflexão e Crítica, 15 (3), 537-
Antunes, R. (2010). A crise, o desemprego e alguns desafios atuais. Serviço Social & Sociedade. 548.
Silva, I. B. D. (2004). A motivação dos juízes e servidores como técnica de eficiência. Revista
CEJ, 8(24), 43-48. Moraes, M. R. C. (2012). Resenha: Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e
fragmentação social. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 37, n. 126, p. 287-289.
Berger, P. L., & Luckmann, T. (1974). A construção social da realidade: tratado de sociologia do
conhecimento. Petrópolis: Vozes. Osborne, D.; gaebler, T.(1994). Reinventando o governo: como o espírito empreendedor está
Boétie, E. (2004). Discurso Sobre a Servidão Voluntária, Tradução para o Português: Cultura transformando o setor público. Brasília: MH Comunicação.
Brasil, LCC.
Ribeiro, C; Mancebo, D. (2013). O servidor público no mundo do trabalho do século XXI.
Bonezzi, C; Pedraça, L. (2008) A nova administração pública: reflexão sobre o papel do Servidor Psicologia: ciência e profissão.
Público do Estado do Paraná. Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Formulação
e Gestão de Políticas Públicas da U.E.L. – Universidade Estadual de Londrina. Santos, C. (2006). Introdução à Gestão Pública. 1ed. São Paulo: Saraiva.

Bresser-pereira, L. C. (2017) Managerial reform and legitimization of the social state. Revista de Silva, R. R. da. (2009). Uma análise da pressão no trabalho, da liberdade e do apoio social entre

1275 1276
servidores de um tribunal. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, v. 12, n.1, p. 123-135. Capítulo 125
Souza, T. (2002) Mérito, estabilidade e desempenho: influência sobre o comportamento do
servidor público. Dissertação. Faculdade Getúlio Vargas. Rio de Janeiro.
Sofrimento do trabalhador docente e o posicionamento da sociedade diante da
violência relacionada à profissão
Tavares, D. S. (2003). O Sofrimento no trabalho entre servidores públicos: Uma Análise
Psicossocial do Contexto de Trabalho em um Tribunal Judiciário Federal. Dissertação de Cristiane Fraga da Silveira Sastre1
Mestrado. Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo, São Paulo.
O trabalho humano tem duas faces: por um lado é fonte de satisfação e realização, estruturando
o processo de identidade dos sujeitos e por outro lado, pode se transformar em elemento
patogênico, sendo nocivo à saúde do trabalhador (Seligmann-Silva, 1986).

Fonseca (2001), diz que o trabalho de cada pessoa contribui, através dos êxitos e fracassos, para
que o indivíduo se sinta satisfeito ou insatisfeito consigo mesmo, realizando-se profissionalmente
ou não. Não é à toa que, etimologicamente, a palavra trabalho vem do latim tripalium, que
está associado à tortura, porém “trabalhar não deve ser sacrifício ou sofrimento. Trabalhar é
aceitar responsabilidades e, também, deixar espaço, para autocrítica por fracassos. O prazer
vem de sentimentos de sucesso, de valorização moral, de cumprimento das responsabilidades”
(Fonseca, 2001, p.21).

A categoria docente, segundo Freitas e Cruz (2008), é uma das mais expostas e exigidas dentre
as categorias profissionais, sofrendo críticas e cobranças ferrenhas da sociedade. Para os
autores, o sistema educacional vem enfrentando nos últimos 30 anos uma crise sem precedentes,
com os professores reivindicando respeito e condições mais dignas de trabalho. Entretanto,
exige-se desses profissionais boa qualificação, qualidade de ensino, contínua atualização de
conhecimento, sem que lhes sejam dados subsídios para isso; na maioria das vezes o professor
faz investimentos com recursos próprios para se manter qualificado.

Para Esteve (1999), os profissionais da educação tiveram que se adaptar às características


evolutivas dos processos de trabalho, ainda que, na maioria das vezes, não se tenha observado
necessariamente uma melhoria das condições desse tipo de exercício profissional. O sistema
de ensino evoluiu ao longo dos séculos, desenvolvendo-se técnicas, métodos e ferramentas que
ajudam a levar conhecimentos a um elevado percentual da população mundial. A atividade do
1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGA. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Email: cris.
fsilveirasastre@gmail.com

1277 1278
professor, entretanto, ainda deve ser objeto de reflexões, considerando-se a necessidade de historicamente se cala perante à violência implícita e moral em relação aos seus professores,
valorizá-la, bem como para que sejam evitados efeitos negativos sobre a saúde desse profissional. mas que necessita de um momento de conflito explícito para se mobilizar concretamente diante
O presente estudo tem por objetivo problematizar o posicionamento da sociedade diante do da violência para com esta profissão?
sofrimento vivenciado pelo trabalhador docente, decorrente de diferentes formas de violência
relacionadas ao exercício de sua profissão, a partir da análise do episódio de greve dos Figura 1 - Mulher corre de paredão da Tropa de Choque durante repressão do protesto de professores em Curitiba,
PR (legenda original). Créditos da fotografia: Daniel Castellano / Agência Gazeta do Povo. Fonte: http://g1.globo.
professores do estado do Paraná, localizado na região sul do Brasil.
com/pr/parana/noticia/2015/04/apos-confronto-professores-marcam-reuniao-para-definir-rumo-da-greve.html

A referida greve eclodiu em abril de 2015 e foi amplamente noticiada pela mídia, surpreendendo
a sociedade brasileira com um turbilhão de perplexidade e de reflexões. Não pelo ineditismo da
manifestação, que infelizmente vem tomando corpo nos últimos anos, nos diferentes estados do
país, mas especialmente pela intensidade da reação do poder público diante desta mobilização.

“Eles estão atirando em nós”. A frase atravessa vídeos sobre o massacre dos professores,
executado pela Polícia Militar do Paraná a serviço do Governo (...) em 29 de abril.
Professores desmaiam, professores passam mal com as bombas de gás lacrimogêneo,
professores são feridos por balas de borracha (...). Há sangue na praça de Curitiba,
diante da “casa do povo”, a Assembleia Legislativa do Estado. Mais do que imagens, é
essa frase anônima, em voz feminina, que me atinge com mais força. Porque há nela
uma incredulidade, um ponto de interrogação magoado nas entrelinhas e finalmente a
compreensão de ter chegado a um ponto de não retorno. Depois de ser humilhada por
baixos salários, depois de dar aula em escolas em decomposição, depois de ser xingada
por pais e por alunos, agora a PM também podia aturar nela. E atirava. E, se as bombas
de gás, as bombas de efeito imoral não matam, pelo menos não de imediato, a sensação é
de morte. (...). O susto causado pela percepção de que não havia mais limite para o que se
Dejours (1992), afirma que o ambiente e a pressão sobre determinadas tarefas têm alterado
podia infligir a um professor era a prova de que um professor não era mais um professor.
experiências de trabalho e seus significados, fatos que afetam a psiqué dos indivíduos. O autor
Toda a aura que envolve aquele que ensina se esvaía em sangue na praça de Curitiba. Os
também afirma que a docência é uma profissão de sofrimento e que os desgastes físico e mental,
PMs, cujos filhos possivelmente são ensinados por aqueles educadores, tinha autorização
ocasionados pelas exigências permanentes desta profissão trazem, certamente, impactos, em
para atirar. Esse extremo, o da fornteira rompida, causou uma comoção nacional (Brum,
termos de bem-estar e saúde, para a maioria dos profissionais. Ao fazer referência sobre a
2015, maio 11).
relação trabalho-saúde, Dejours defende que o trabalho não é neutro em relação à saúde, pois
contribui diretamente para o adoecimento dos trabalhadores.
Este trecho do artigo de Brum (2015, maio 11), intitulado “Humilhar e ignorar professor
pode. Sufocar e ferir não”, publicado no jornal eletrônico El País – seção Brasil, em 11
Para Assunção (2008), o mal-estar docente pode ser explicado pela presença de obstáculos
de maio de 2015, assim como a fotografia ilustrada na Figura 1, a qual foi extraída de uma
relacionados ao volume de trabalho e à precariedade das condições existentes, mas também as
veiculação contemporânea ao movimento grevista, apresentam-se como uma grande reflexão
altas demandas no trabalho, incluindo as demandas emocionais, junto à uma expectativa social
para a sociedade e a coloca em posição de extrema confrontação: que sociedade é essa que

1279 1280
de excelência, cujo limite é exigir do professor uma atuação capaz de reverter a situação na qual alunos.
se encontra.
De acordo com Lantheaume (2012), a dignidade do trabalhador docente é constituída pelo
As condições de trabalho, ou seja, as circunstâncias sob as quais os docentes mobilizam as suas sentimento de exercer um ofício de valor à sociedade, pela consciência de participar da história
capacidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produção escolar podem e de ser reconhecido como qualificado e competente. Todavia, “(...) os professores se sentem
gerar sobreesforço ou hipersolicitação de suas funções psicofisiológicas. Se não há tempo para a hoje coletivamente rebaixados, ‘menores’ do que eram, e, individualmente, uma dificuldade
recuperação, são desencadeados ou precipitados os sintomas clínicos que explicariam os índices profissional não superada deixa-lhes a impressão de perderem a própria dignidade” (Lantheaume,
de afastamento do trabalho por transtornos mentais (Gasparini, Barreto & Assunção, 2005). 2012, p.371).

As circunstâncias de realização de um determinado trabalho, de acordo com Assunção (2008), O espaço dedicado à discussão sobre o sofrimento no trabalho tornou-se tão restrito que, nos
são definidas e (re)conhecidas (ou negadas) como condições de trabalho em um determinado últimos anos, produziram-se situações dramáticas como jamais se viu anteriormente: tentativas
contexto histórico-social. Por isso, as condições de trabalho não são dadas a priori, estão de suicídio ou suicídios consumados no local de trabalho que atestam provavelmente o impasse
abertas a novos critérios e não são inerentes aos processos de trabalho, pois marcadas pela sua psíquico criado pela falta de interlocutor que dê atenção àquele que sofre e pelo mutismo
historicidade. generalizado (Dejours, 2007, p. 44).

Partindo do conceito que que o mal-estar docente é um dos traços da profissão professor Segundo Brito e Barros (2014), a não negligência dos crescentes sinais do adoecimento do
na atualidade, Aranda (2007) refere que este manifesta-se frequentemente através de professor nos protege de naturalizar um cenário produtor desse adoecimento, como o que vem
sentimentos de angústia, desconforto e impotência, resultantes do tensionamento das relações acontecendo por meio das precarizações e fragmentações do trabalho, do caráter restritivo e
pré-estabelecidas. O mal-estar docente se torna maior na medida em que se sente sozinho, instrumental das formações e, sobretudo, pelo alijamento de processos coletivos.
solitário nesta tarefa, sobrecarregado de tanto trabalhar, com valores que vão de encontro à uma
sociedade fluídica. Para a autora, o mínimo que se espera, diante deste fenômeno tão complexo Tão relevante quanto dar visibilidade ao contexto de violência implícita e explícita e ao consequente
que o professor vivencia, é que tenha o direito de falar sobre os seus sentimentos, medos e sofrimento relacionado ao trabalho docente, revela-se de extremo valor a ampliação de estudos
anseios. que problematizem o “adormecimento” da sociedade diante desta situação.

De acordo com Pereira (2012, p.4), o “acirramento das condições de produção capitalista tem Referências
alterado as formas de organização do trabalho, inclusive o docente, permitindo a perpetuação
da máquina de produção de mais valia e seus mecanismos exploratórios que “coisificam” o ser Aranda, S. M. (2007). Um olhar implicado sobre o mal-estar docente. Tese de doutorado,
humano, tornando-o descartável”. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

Codo e Vasques-Menezes (1999) argumentam que as preocupações com a saúde do professor, Assunção, A. A. (2008). Saúde e mal-estar do(a) trabalhador(a) docente. VIII Seminário
em especial no caso brasileiro, apesar de recentes, indicam que os problemas de saúde que Redestrado – Nuevas Regulaciones en América Latina, Buenos Aires, Argentina.
afetam a categoria estão intimamente relacionados a um conjunto de fatores, entre os quais
destacam-se: o tipo de trabalho exercido, tendo em vista a responsabilidade pela formação de Brito, J. M., & Barros, M. E. B. (2014). Prática de pesquisa e saúde docente: a narratividade como
outros sujeitos; o excesso de trabalho; a precarização do trabalho, à perda de autonomia, à estratégia metodológica. Revista Psicologia e Saúde, 6(2), 38-46.
sobrecarga de trabalho burocrático, ao quadro social e econômico e às condições de vida dos

1281 1282
Brum, E. (2015, maio 11). Humilhar e ignorar professor pode. Sufocar e ferir não. El País [Versão (Orgs.). Crise, trabalho e saúde mental no Brasil. São Paulo: Traço.
eletrônica, Brasil – Coluna Opinião]. Recuperado em 07 agosto, 2015, de http://brasil.elpais.
com/brasil/2015/05/11/opinion/1431351138_436101.html

Codo, W., & Vasques-Menezes, I. V. (1999). O que é Burnout? In W. Codo (Coord.). Educação:
carinho e trabalho. Burnout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar à falência da
Educação. Petrópolis: Vozes.

Dejours, C. (1992). A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho (5a ed.). São
Paulo: Cortez-Oboré.

Dejours, C. (2007). A banalização da injustiça social (7ª ed.). Rio de Janeiro: Editora FGV.

Esteve, J. M. (1999). O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru:
EDUSC.

Fonseca, C. C. O. P. (2001). O adoecer psíquico no trabalho do professor de ensino fundamental


e médio da rede pública no Estado de Minas Gerais. Dissertação de mestrado, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

Freitas, C. R., & Cruz, R. M. (2008). Saúde e trabalho docente. Anais do XXVIII Encontro Nacional
de Engenharia de Produção: a integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura
sustentável, Rio de Janeiro, RJ. Recuperado em 07 agosto, 2015, de http://www.abepro.org.br/
biblioteca/enegep2008_tn_sto_072_509_10776.pdf

Gasparino, S. M., Barreto, S. M., & Assunção, A. A. (2005). O professor, as condições de trabalho
e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa, 31(2), 189-199.

Lantheaume, F. (2012). Professores e dificuldades do ofício: preservação e reconstrução da


dignidade profissional. Cadernos de Pesquisa, 42(146), 368-387.

Pereira, J. A. (2012). Sofrimento mental relacionado ao trabalho docente. VIII Seminário de


Saúde do Trabalhador e VI Seminário O Trabalho em Debate, Franca, SP, Brasil.

Seligmann-Silva, E. (1986). Crise econômica, trabalho e saúde mental. In V. A. Angerami et al.

1283 1284
Capítulo 126 mundiais desse serviço. Assim como no restante do mundo, pululam polêmicas que despertam
preocupações de teóricos e práticos sobre as implicações dos novos modelos na economia e na
esfera do trabalho (Codagnone, Abadie & Biagi, 2016).
O trabalhador e a Gig Economy: investigação sobre os reflexos de uma nova
organização do trabalho sobre a saúde de motoristas de aplicativos Este artigo faz parte de uma pesquisa mais abrangente que investiga o cenário em que estão
inscritos os motoristas de aplicativos brasileiros. O objetivo do presente estudo é fundamentar
Marcia Cristiane Vaclavik1, Aurinez Rospide Schmitz2 y Bruna Athanazio3 os elementos teóricos para a criação do questionário que será utilizado na segunda etapa
da pesquisa. Por meio de uma investigação quantitativa do tipo survey, visa-se investigar, a
partir da autopercepção, a condição de saúde destes trabalhadores. Análises preliminares de
entrevistas realizadas pelas pesquisadoras com estes profissionais revelam que, impelidos por
1. Introdução necessidades econômicas e seduzidos pela flexibilidade e pela (falsa) ideia de que “dirigir é pra
qualquer um”, se veem desamparados frente às pressões de uma atividade com baixas barreiras
“Trabalho” e “transformação” são termos vistos frequentemente associados. Hoje circunscritas à entrada, cujas consequências para a saúde ainda são desconhecidas.
em contexto amplo e globalizado, as mudanças laborais relacionam-se com questões econômicas,
sociais e ambientais (Bakhshi, Downing, Osborne & Schneider, 2017; Cattani, 2014) que, É possível encontrar estudos anteriores que vinculam a saúde no trabalho com a direção
entrecruzadas, complexificam sua compreensão. Ademais, a ubiquidade da tecnologia digital profissional - ainda que estes estejam restritos a uma organização do trabalho mais tradicional,
está transformando significativamente os modos de organização econômica, contribuindo com como no caso de motoristas de caminhão, ônibus e táxis. Esta constatação reforça a importância
o surgimento de diversos modelos de negócio e alterando os padrões das relações de trabalho de estender os estudos que relacionam trânsito, saúde e trabalho para a atividade de motoristas
(Coyle, 2017; Todolí-Signes, 2017). de aplicativos, tipicamente contemporânea e representativa dos novos modos de organização
econômica, ainda não contemplados nos estudos sobre a temática.
Neste cenário, há um fenômeno que vem ganhando visibilidade: a Gig Economy, ou “Economia
dos Bicos” (Scholz, 2016). Um dos desdobramentos desse movimento está sendo chamado de Para a discussão proposta neste artigo, apresenta-se a sua estrutura. Além desta introdução, no
“uberização” por acadêmicos (Codagnone, Biagi et al., 2016; Degryse, 2016; Fleming, 2017; capítulo dois apresentam-se os elementos da organização laboral característica da gig economy,
Schmidt, 2017; Valenduc & Vendramin, 2016) e práticos (Elgot, 2017; Freeman, 2015; O’Marah, em especial no que tange aos motoristas de aplicativo; no capítulo três, discutem-se elementos
2017). O termo faz referência à empresa norte-americana Uber, uma start-up fundada em 2009 relacionados à saúde dos profissionais que atuam diretamente no trânsito: os motoristas. No
e que já está presente em mais de 600 cidades ao redor do mundo (Uber, 2018). O formato do quarto e último capítulo são tecidas as considerações que finalizam o presente estudo.
negócio é simples: a Uber opera como uma plataforma que conecta motoristas e passageiros.
Qualquer pessoa habilitada a dirigir e com acesso à tecnologia digital pode se tornar motorista, 2. A Organização do Trabalho na Gig Economy
sem a necessidade de treinamentos e sem maiores restrições regulamentares (Degryse, 2016).
Entendida como um conjunto de mercados que conectam fornecedores/trabalhadores a
No Brasil, o fenômeno ganhou visibilidade a partir da entrada da Uber na cidade do Rio de consumidores/usuários por meio de plataformas tecnológicas que operam sob demanda
Janeiro/RJ em 2014 e hoje já opera em mais de 100 cidades (Uber, 2018). Atualmente, há (Donovan, Bradley & Shimabukuro, 2016), a Gig Economy caracteriza-se pelo predomínio
diversas plataformas operando no território brasileiro, competindo por um dos maiores mercados de trabalhos transitórios, de curta duração e pagos por tarefa (Manyika et al., 2016) onde
1. PPGA/EA/UFRGS. Email: mcvaclavik@gmail.com não há contrato, salário fixo, férias ou garantias. O apelo à liberdade e à autonomia que vem
2. Ande Bem Instituto de Psicologia do Trânsito. Email: aurinezrs@gmail.com
3. Ande Bem Instituto de Psicologia do Trânsito. Email: bru.ath@gmail.com
acompanhando a organização do trabalho nas últimas décadas encontra respaldo nos modos

1285 1286
mais contemporâneos desta nova morfologia laboral. trabalhadores (Lancman, 2011, p. 29). Assim, mutações nesta esfera preocupam porque tem o
potencial de trazer novas formas de sofrimento, em um ritmo tão acelerado que impossibilitam
Neste novo ideal, os trabalhadores da Gig Economy, entendidos como “autoempregados”, “o acompanhamento cognitivo destas mudanças” (Lancman, 2011, p. 26).
“microempreendedores” ou “trabalhadores independentes”, entre outros, podem experimentar
a flexibilidade em nível muito maior do que trabalhadores tradicionais (Cherry, 2016), em uma No escopo deste estudo que pretende, em sua etapa empírica, investigar a autopercepção de
relação na qual as plataformas não atuam como empregadores, mas como mediadores entre saúde de motoristas de aplicativos, não se pode ignorar a influência que as características deste
aqueles que ofertam um serviço e aqueles que o procuram. Enquanto os benefícios deste modelo formato de trabalho exercem sobre a saúde do trabalhador. Deste modo, busca-se analisar o
são evidentes para organizações e usuários, uma vez que reduzem-se custos e preços (Balaram, cotidiano laboral dos motoristas que, como autoempregados, definem seus horários, sua jornada
Warden & Wallace-Stephens, 2017), os trabalhadores que aderem a esse formato encontram- semanal e suas metas, considerando ainda que muitos deles, até então, não exerciam a direção
se, muitas vezes, preteridos quanto aos ganhos e afastados de contratos de emprego estáveis e profissionalmente. O grupo de pessoas que hoje desempenha a atividade de motorista de
de longo prazo (Zwick, 2017). aplicativos é, notadamente, muito heterogêneo, composto por profissionais das mais distintas
áreas e nos mais diversos níveis de formação escolar. A heterogeneidade do campo também se
Uma vez que as tecnologias de comunicação e informação (TICs) influenciam diretamente na expressa nos motivos para ingressar na atividade, como desemprego, desencantamento com o
organização laboral, impactando os locais de trabalho e suas características (Kovács, 2006), mercado de trabalho formal ou necessidade de complementação de renda (Vaclavik & Pithan,
cabe referenciar que também afetam diretamente os trabalhadores. Muitas vezes, entretanto, no prelo).
os efeitos dessas mudanças sobre os indivíduos são negligenciados, desconsiderando-se “o
decréscimo do bem-estar desses trabalhadores e da sua qualidade de vida em geral” (Guerreiro, Essas características, associadas à flexibilidade do modelo, requerem um olhar atento para
Barroso & Rodrigues, 2016, p. 423). compreender as consequências das microdecisões cotidianas tomadas pelos motoristas. Desse
modo, há de se investigar questões que dizem das rotinas de trabalho relacionadas a: quantidade
Nesse sentido, reforça-se a importância de analisar as novas mutações do mundo do média diária de horas trabalhadas; turnos de trabalho; dias da semana que trabalha e o dos dias
trabalho, sobretudo no que tange à saúde física e mental do trabalhador. As movimentações descanso; aplicativos nos quais opera; tempo decorrido desde o ingresso na atividade; finalidade
características da Gig Economy (e, no escopo deste estudo, da uberização e da atividade de do ingresso na atividade: se fonte de renda exclusiva ou complemento; profissão ou ocupação
motorista de aplicativos), além de recentes, ancoram-se em uma organização laboral na qual exercida anteriormente; experiência em dirigir profissionalmente; expectativa de continuidade
inexiste a estrutura típica de Gestão de Pessoas para regular um labor saudável. Mesmo na atividade: se temporário ou permanente; estipulação de metas de produtividade; sistema de
sendo tecnicamente habilitados a exercer a direção, os motoristas de aplicativos, tidos como avaliação pelo passageiro; autoidentificação como motorista de aplicativo.
autoempregados, encontram-se integralmente responsabilizados pelo gerenciamento do seu
tempo, do seu trabalho, dos seus rendimentos e desafiados por questões que demandam alta Entende-se que, a partir da exploração e inter-relação destes elementos com as questões
carga emocional, com impactos na sua saúde física e psíquica. relacionadas à saúde, seja possível avançar com os estudos sobre este tema. Segue-se, deste
modo, para a próxima seção deste artigo, que visa explorar questões ligadas à saúde dos
Se, até então, na análise dos modos de organização e gestão do trabalho, já existiam profissionais do trânsito.
preocupações que diziam da exaltação da individualidade, do peso da hierarquia e do desmonte
da cooperação entre colegas, em um cenário em que crescem as relações autônomas, informais 3. Trânsito e Saúde: discutindo o trabalho de motorista
e individualizadas, essas preocupações ganham novos contornos. O labor, “mais do que o ato
de trabalhar ou de vender a força de trabalho em busca de remuneração”, tem também função Esta nova organização de trabalho dos motoristas de aplicativos, até aqui destacada, se
social e psíquica, sendo um dos alicerces da constituição da identidade e subjetividade dos desenvolve em um espaço específico: o trânsito. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro

1287 1288
(Brasil, 1998) o trânsito é um direito de todos e engloba o direito de ir e vir com segurança.
Neste sentido, menciona-se a definição de trânsito proposta por Rozestraten (1998): conjunto Estudos como o de Wit et al (2017) alertam para o fato de que este processamento básico
de deslocamentos de pessoas e veículos nas vias públicas, dentro de um sistema convencional de diz respeito a componentes cognitivos individuais, que não são suficientes para garantir um
normas, que tem por fim assegurar a integridade de seus participantes. Em ambos os conceitos, adequado comportamento no trânsito, tendo em vista a inserção no contexto e no ambiente total
destacam-se a segurança e integridade das pessoas como fatores essenciais no trânsito, aspectos do trânsito. Destaca a motivação, atitudes, expectativas, crenças e emoções como fatores que
salutares tendo em vista que a mortalidade decorrente de acidentes de trânsito no mundo atingiu interferem significativamente no comportamento de dirigir. Especificamente sobre a motivação
1,25 milhão de pessoas em 2013, enquanto os traumatismos atingiram cerca de 50 milhões de para dirigir, Maoski (2014) destacou três fatores principais: o fator instrumental, relacionado ao
pessoas que sobrevivem com sequelas (WHO, 2015). Tais questões assumem relevância para o uso do veículo e ao grau de mobilidade, na qual o veículo tem relação direta com o transporte; o
cenário nacional quando se considera que o Brasil está nas posições de liderança em acidentes fator econômico, pois existe maior flexibilização e velocidade nas movimentações das pessoas; e
fatais (Lima & Cavalcante, 2015). o fator psicológico, quando o carro propicia mais atratividade e status a quem o possui. O autor
conclui que o apego excessivo ao carro pode ser um gerador de violência no trânsito.
A Psicologia do trânsito surge como uma área que tem como foco o estudo do comportamento
no trânsito (Rozestraten, 1998). Para dirigir com segurança, torna-se fundamental o Rozestraten (1998) enfatiza que um desempenho adequado do condutor no trânsito é resultado
desenvolvimento de algumas habilidades cognitivas e psíquicas (Balbinot, Zaro & Timm, 2011). do equilíbrio entre o ambiente, o estado de saúde e a manutenção do automóvel. No que tange ao
O Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2009), prevê condições mínimas aos candidatos que trânsito, o ambiente é considerado gerador potencial de estresse, uma vez que vai exigir que o
buscam a carteira nacional de habilitação (CNH) para tornarem-se condutores de veículos motorista esteja atento aos diversos processos que ocorrem ao mesmo tempo enquanto assume
automotores. Tais habilidades são examinadas através de instrumentos de avaliação psicológica o volante - o dirigir, a sinalização, os outros veículos e as pessoas (Carvalho, Sandri, Schmitz &
devidamente validados. Alchieri, 2016). Além disso, é importante perceber que ser condutor requer estabelecer uma
relação com o trânsito que envolve responsabilidade, conhecimento e comportamento (Balbinot,
Os processos psíquicos básicos para a adequada condução são: a tomada da informação, a qual Zaro & Timm, 2011). Considerando um aumento no ritmo do trabalho e atividades cotidianas
envolve a capacidade de atenção e percepção; o processamento da informação, na medida em no cenário contemporâneo, parecem cada vez mais escassos os momentos de lazer e descanso,
que o condutor necessita compreender, selecionar e prever a ação; e a tomada de decisão, que corroborando ao aumento do estresse, fadiga e carga emocional (Lima & Cavalcante, 2015).
pressupõe uma capacidade de julgamento da situação e decisão sobre a ação para, então, reagir,
identificando na sequência o resultado de sua ação. Na prática, este processamento ocorre Estudos relacionados com o campo da direção profissional apontam que os motoristas estão
inúmeras vezes e está presente em todos os momentos da condução (Rozestratren, 1988; Silva, diretamente expostos ao estresse ocupacional. Matos, Moraes e Pereira (2015) apontaram
2016). Desta forma podemos, para além de impulsionar esta reflexão com base na relação que motoristas de coletivo urbano apresentam sintomas de estresse físico e psíquico, cujas
trânsito e indivíduo, também ampliá-la, na medida em que a mesma é perpassada pela questão causas foram o trânsito, as pressões organizacionais e a relação conflituosa com passageiros.
do trabalho, aspecto que pode trazer consequências diversas, tanto a nível pessoal como social, Nascimento et al (2015) também apontaram a existência de problemas físicos e emocionais
a cada integrante deste sistema. derivados das condições de trabalho de motoristas de transporte urbano. Foram relatadas
dificuldades relacionadas ao atendimento das necessidades fisiológicas básicas, às condições
Trabalhar como motorista de aplicativo subentende dirigir, pois o deslocamento é por meio do ergonômicas e no relacionamento com os passageiros.
veículo automotor. Contudo, nota-se que o ato de dirigir um veículo é, muitas vezes, subestimado.
O próprio condutor desvaloriza essa ação quando a considera uma atividade simples, quando, na Recentes estudos têm se dedicado a estudar a relação entre comportamento do condutor,
realidade, envolve uma complexa articulação das suas funções cognitivas, sociais, emocionais, percepção de risco e fadiga ao volante (Yang & Pei, 2014; Williamson, Friswell, Olivier &
além das habilidades técnicas (Schmitz et al 2014). Grzebieta, 2014; Zhang, Wu, Yan & Qiu, 2016). Os resultados da pesquisa de Yang e Pei (2014)

1289 1290
mostraram o impacto no desempenho de motoristas após duas, três e quatro horas na direção Como limitações deste estudo em específico, cita-se que ele é parte de uma pesquisa mais
do veículo: os motoristas apresentaram diversos prejuízos associados à atenção, ao aumento da abrangente, cujos dados empíricos não foram aqui relatados. Ainda, no que toca aos estudos
fadiga, ao tempo de reação e à tomada de decisão. Miyata et al (2010) concluem que uma noite sobre os novos modos de organização econômica e do trabalho, reforça-se que este estudo, em
de sono insuficiente já interfere negativamente na habilidade de direção. Em estudo transversal sua abrangência, limita-se ao estudo apenas da atividade de motoristas de aplicativos.
realizado em 10 países com 5.293 pessoas com distúrbio de sono, Leger et al (2014) concluíram
que a redução do tempo de sono é um fator de alto risco para acidentes. Destas constatações, considerando ainda a continuidade deste estudo na sua fase quantitativa,
sugere-se o seu aprofundamento de forma qualitativa, de modo a explorar com maiores
A partir destes apontamentos, surgem questões cabíveis de investigação no que tange à detalhamentos a heterogeneidade que compõe o campo. Além disso, diante da complexidade dos
realidade da atividade dos motoristas de aplicativos, em especial no que se refere à consciência fatores que envolvem o ato de dirigir, faz-se essencial uma busca mais detalhada dos aspectos
dos efeitos negativos da privação sono e alimentação, cansaço e estresse sobre a direção. relacionados à saúde física e emocional dos trabalhadores que diariamente exercem a função de
Deste modo, aliadas ao entendimento das características da rotina de trabalho apresentadas dirigir como fator fundamental da sua vida profissional.
na seção anterior, em especial pelo fato de que muitos deles não eram motoristas profissionais
anteriormente ao ingresso nesta atividade, cabe investigar a adoção ou não de hábitos que Referências
possam preservar a sua saúde física e emocional, como realização de pausas regulares, rotina
de alimentação, sintomas capazes de apontar sinais de cansaço físico e mental, envolvimento Bakhshi, H., Downing, J. M., Osborne, M. A., & Schneider, P. (2017). The Future of Skills:
recente em acidentes de trânsito, percepção de exposição ao risco, participação em grupos de Employment in 2030. Londres: Pearson and Nesta.
motoristas, participação prévia em treinamentos para realização da atividade profissional.
Balaram, B., Warden, J., & Wallace-Stephens, F. (2017). Good Gigs: a fairer future for the UK´s
4. Considerações Finais: investigando os reflexos de uma nova organização do trabalho sobre a gig economy. Londres: RSA e Mangopay.
saúde do trabalhador
Balbinot, A. B., Zaro, M. A., & Timm, M. I. (2011). Funções psicológicas e cognitivas presentes
Este estudo teve como objetivo fundamentar os elementos teóricos para a criação do questionário no ato de dirigir e sua importância para os motoristas no trânsito. Ciências & Cognição, 16(2).
que será utilizado na segunda etapa da pesquisa. Desse modo, foram discutidos elementos que Brasil (1988). Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/
dizem de um formato de organização do trabalho que, ao mesmo tempo em que possibilita ccivil_03/leis/L9503Compilado.htm. Acesso em 25 de julho de 2018.
flexibilidade e autonomia, se desenvolve em um ambiente que é potencialmente gerador de
estresse e que exige do trabalhador/condutor uma complexa articulação das funções cognitivas, Carvalho, T. A., Sandri, P., Schmitz A. R. e Alchieri J. C. (2016). Gestão do trânsito no Brasil
motoras, sociais e emocionais. aspectos técnicos, estruturais e psicológicos. In Conselho Federal de Psicologia (Org). Psicologia
do Tráfego: Características e desafios no contexto do MERCOSUL (Vol. 1, cap. 2, pp. 26-33).
Entende-se que este estudo pode contribuir para o mapeamento das condições diárias Brasília: CFP
vivenciadas pelos motoristas de aplicativos. Espera-se colaborar, assim, com o desenvolvimento
de estratégias e ações preventivas condizentes com a prática destes trabalhadores, resultando Cattani, A. D. (2014). Trabalho: horizonte 2021 (1a). Porto Alegre: Escritos.
assim em maior qualidade de vida e saúde no âmbito pessoal e de maior segurança no trânsito no
âmbito da mobilidade humana. Defende-se que a exploração conjunta dos aspectos relacionados Cherry, M. A. (2016). Beyond misclassification: the digital transformation of work. Comparative
à prática profissional do exercício da direção por motoristas de aplicativos é importante para Labor Law and Policy Journal, 37(3).
compor uma investigação detalhada sobre uma atividade que se consolida nos hábitos brasileiros.

1291 1292
Codagnone, C., Abadie, F., & Biagi, F. (2016). The Future of Work in the “Sharing Economy”: Lancman, S. (2011). O mundo do trabalho e a psicodinâmica do trabalho. In S. Lancman & L. I.
Market Efficiency and Equitable Opportunities or Unfair Precarisation? JRC Science for Policy Sznelwar (Eds.), Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho (3a.). Rio de
Report, 1–100. http://doi.org/10.2791/431485 Janeiro: Editora Fiocruz.

Codagnone, C., Biagi, F. & Abadie, F. (2016). The Passions and the Interests: Unpacking the Leger, D., Bayon, V., Ohayon, M. M., Philip, P., Ement, P., Metlaine, A., ... & Faraut, B. (2014).
“Sharing Economy.” JRC Science for Policy Report, 1–160. http://doi.org/10.2791/ 47455. Insomnia and accidents: crosssectional study (EQUINOX) on sleeprelated home, work and car
Coyle, D. (2017). Precarious and Productive Work in the Digital Economy. National Institute accidents in 5293 subjects with insomnia from 10 countries. Journal of sleep research, 23(2),
Economic Review, 240, 5–14. pp. 143-152.

Degryse, C. (2016). Digitalisation of the economy and its impact on labour markets. Bruxelas: Lima, A. I.O. E., & Cavalcante, S. (2015). Tempo e Trânsito na Experiência Subjetiva de Motoristas.
ETUI. http://doi.org/10.2139/ssrn.2730550 Psicologia Ciência e Profissão, 35(1).

Donovan, S. A., Bradley, D. H., & Shimabukuro, J. O. (2016). What Does the Gig Economy Mean Manyika, J., Lund, S., Bughin, J., Robinson, K., Mischke, J., & Mahajan, D. (2016). Independent
for Workers ? Congressional Research Service, 1–20. Retrieved from https://fas.org/sgp/crs/ Work: Choice, Necessity, and the Gig Economy. McKinsey Global Institute. McKinsey Global
misc/R44365.pdf Institute.

Elgot, J. (2017). John McDonnell: We must stop “Uberisation” of the workplace. The Guardian. Maoski, F. (2014). Ter um carro é....a percepção sobre o significado do carro e o comportamento
Retrieved from https://www.theguardian.com/technology/2017/feb/17/john-mcdonnell-we- do condutor. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil.
must-stop-uberisation-of-the-workplace
Matos, M. G. de, Moraes, L. F. R. de, & Pereira, L. Z. (2015). Análise do Estresse Ocupacional em
Fleming, P. (2017). The Human Capital Hoax: Work , Debt and Insecurity in the Era of Uberization. Motoristas de Coletivo Urbano na Cidade de Belo Horizonte. Revista Gestão & Tecnologia, 15(1),
Organization Studies, 38(5), 691– 709. http://doi.org/10.1177/0170840616686129 256–275.

Freeman, S. (2015). “Uberization” of everything is happening, but not every “Uber” will Miyata S, Noda A, Ozaki N, Hara Y, Minoshima M, Iwamoto K, Takahashi M, Iidaka T, Koike
succeed. HuffPost. Retrieved from https://www.huffingtonpost.ca/2015/04/01/uberization- Y.(2010). Insufficient sleep impairs driving performance and cognitive function. Neurosci Lett.
uber-of-everything_n_6971752.html Jan 22;469(2):229-33. Acesso em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19969042

Guerreiro, M. das D. H., Barroso, A. M. M., & Rodrigues, E. A. A. (2016). Organizações saudáveis Mognon, J. F., & Santos, A. A. A. dos. (2017). Avaliação do comportamento do motorista, lócus de
e qualidade do trabalho na Europa. Desafios para organizações e profissões no setor público de controle e estilos de direção no trânsito. Temas Em Psicologia, 25(4), 1621–1635. http://doi.
saúde. Organizações & Sociedade, 23(78), 421–437. http://doi.org/10.1590/1984-92307845 org/10.9788/TP2017.4-07

Kovács, I. (2006) Emprego flexível em Portugal – alguns resultados de um projeto de investigação. Moreno, C. R. de C., & Rotenberg, L. (2009). Fatores determinantes da atividade dos motoristas
In: PICCININI, V. et al. (Eds.). O Mosaico do Trabalho na Sociedade Contemporânea: persistências de caminhão e repercussões à saúde: um olhar a partir da análise coletiva do trabalho. Rev. Bras.
e inovações. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 23–46. Saúde Ocup, 34(120), 128–138.

1293 1294
Nascimento, R. P., Neves, D. R., Vasconcelos, F., Alferes, M., Abreu, M. R. de, & Demier, M.
(2015). Estresse Ocupacional: um estudo de Caso com Motoristas de Transporte Urbano do Valenduc, G., & Vendramin, P. (2016). Work in the digital economy: sorting the old from the new.
Município do Rio de Janeiro. Revista Raunp, 8(1), 19–30. Bruxelas: ETUI.

O’Marah, K. (2017). Uber is in trouble, but Uberization is a Must-Have. Forbes. Retrieved from Wang, L., & Pei, Y. (2014). The impact of continuous driving time and rest time on commercial
https://www.forbes.com/sites/kevinomarah/2017/09/28/uber-is-in-trouble-but-uberization- drivers’ driving performance and recovery. Journal of safety research, 50, 11-15.
is-a-must-have/#268cf9b96580
WHO. Relatório Global sobre o estado da segurança viária 2015. http://www.who.int/violence_
Rozestraten R. J. A (1988) Psicologia do Trânsito: conceitos e proces­sos básicos. São Paulo: injury_prevention/road_safety_status/2015/Summary_GSRRS2015_POR.pdf
EDU-EDUSP.
Williamson, A., Friswell, R., Olivier, J., & Grzebieta, R. (2014). Are drivers aware of sleepiness
Schmidt, F. A. (2017). Digital Labour Markets in the Platform Economy: Mapping the Political and increasing crash risk while driving?. Accident Analysis & Prevention, 70, 225-234.
Challenges of Crowd Work and Gig Work. Bonn: Friedrich-Ebert-Stiftung.
Zhang, H., Wu, C., Yan, X., & Qiu, T. Z. (2016). The effect of fatigue driving on car following
Smith, A. P. (2016). A UK survey of driving behaviour, fatigue, risk taking and road traffic behavior. Transportation research part F: traffic psychology and behaviour, 43, 80-89.
accidents. BMJ open, 6(8), 11461.
Zwick, A. (2017). Welcome to the Gig Economy: neoliberal industrial relations and the case of
Schmitz, A. R; Santos, S; Vasconcelos Júnior, J.R.;Von Diemen, L. Psicologia do trânsito. In Uber. GeoJournal, (2016), 1–13. http://doi.org/10.1007/s10708-017-9793-8.
Aperfeiçoamento em técnicas para fiscalização do uso de álcool e outras drogas no trânsito
brasileiro. Org. Flavio Pechansky, Lísia Von Diemen, Veralice Maria Gonçalves.2ª Ed. Brasília.2014

Scholz, T. (2016). Cooperativismo de Plataforma: contestando a economia do compartilhamento


corporativa. Editora Elefante, Autonomia Literária & Fundação Rosa Luxemburgo.

Silva, M. A. (2016). Uso da Técnica de Dinâmica de Grupo na Avaliação Psicológica no Contexto


do Trânsito: Relato de Experiência. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 380-388.

Todolí-Signes, A. (2017). The “gig economy”: employee , self-employed or the


need for a special employment regulation 
? Transfer, 23(2), 193–205. http://doi.
org/10.1177/1024258917701381

Uber. (2018). Uber. Retrieved June 21, 2018, from https://www.uber.com/pt-BR/

Vaclavik, M. C.; Pithan, L. H. (no prelo). A Busca pela Agência: o sentido do trabalho para
motoristas de aplicativos. RAM. Revista de Administração Mackenzie.

1295 1296
Capítulo 127 trabalhadores como versões da realidade produzidas, de modo interdependente, pelos processos
psíquicos e sociais; (b) o uso de categorias-chave, como o binômio cooperação-conflito, para
a compreensão destas experiências com relação às organizações e instituições de referência
Reflexões sobre o uso da Psicossociologia na investigação do processo do assentamento; (c) a possibilidade de estabelecer campos de diálogo com outras áreas do
organizativo em assentamentos rurais conhecimento e incorporar novas chaves explicativas e (d) o balanço sobre as possibilidades e
limitações de se trabalhar com a perspectiva clínica de intervenção.
Thainara Granero de Melo1 y Rosemeire Aparecida Scopinho2
Por que escolhemos a Psicossociologia?

A Psicossociologia busca compreender as relações que se estabelecem entre psíquico e social, Diferentes disciplinas tem investigado o processo organizativo dos assentamentos rurais há,
estrutura e agência, determinação e criatividade. Do ponto de vista teórico, interpreta o sujeito pelo menos, 30 anos, quando as primeiras áreas foram criadas e as organizações coletivistas
social à partir do confronto entre as relações estruturais e as práticas e respostas dos indivíduos (associações e cooperativas) foram institucionalizados como porta de entrada para a implantação
ao tentarem se posicionar como sujeitos de sua própria história (Gaulejac, 2001). Esta abordagem de políticas públicas de trabalho e renda no setor. Se parece haver um certo esgotamento da
também é desenvolvida, concomitantemente, por pesquisa e intervenção. Isto nos coloca diante literatura ao discutir os problemas que impactam as condições de reprodução da vida nestes
de um exercício constante de reflexão sobre suas possíveis leituras, contribuições e limitações territórios, por outro lado ainda encontramos elementos empíricos que sinalizam a necessidade
a partir das diferentes realidades em que a desenvolvemos (Barus Michel, Giust-Desprairies & de apostar neste debate, tomando como ponto de partida a perspectiva dos próprios trabalhadores
Ridel, 2007). sobre sua condição.

Desde 2013, temos trabalhado com este referencial como parte da vertente de estudos em Primeiro porque as organizações formadas pelos trabalhadores assentados são materializações
Psicologia Social do Trabalho para investigar os processos organizativos conduzidos por de um processo organizativo que envolve todo o território, fruto da ação coletiva e da cooperação
trabalhadores rurais assentados. Por sua característica complexa, os assentamentos e entre os trabalhadores. São fundamentais para a reprodução econômica das famílias e para a
as organizações ali formadas são considerados campos férteis para melhor compreender construção de novas sociabilidades, arranjos e regras que estruturam a vida em comunidade.
a constituição do sujeito social e o cotidiano das relações estabelecidas entre os diferentes Segundo, porque também expõem os constrangimentos, as divergências e tensões produzidas na
grupos, organizações e instituições (Gaulejac, 2001). Por outro lado, este contexto também nos relação com o Estado, instituições e agentes responsáveis pela implantação de políticas públicas.
desafia a estabelecer diálogos com outras áreas do conhecimento e a examinar a pertinência do Além disso, as organizações ainda estão longe de resolver as condições de pobreza, precarização
uso de seu método de intervenção. e desigualdade a que estão submetidos os trabalhadores, que permanecem encontrando na
proletarização sua principal estratégia de sobrevivência.
O objetivo deste trabalho é refletir sobre estas experiências, tomando como referência um
estudo de caso em curso3, conduzido em um assentamento rural do Estado de São Paulo. Serão Como a inserção da Psicologia no contexto dos assentamentos rurais é relativamente
apresentados neste trabalho as razões pelas quais escolhemos a abordagem psicossociológica recente, enfrentamos o desafio de construir um arcabouço teórico-metodológico para melhor
para investigar os processos organizativos dos assentamentos rurais; e quatro aspectos teórico- compreender estes fenômenos e que estejam articulados às diferentes determinações da
metodológicos relevantes para discutir o referido caso: (a) a priorização das experiências dos vida dos trabalhadores assentados - semelhantes em termos estruturais e do funcionamento
1. Doutoranda em Psicologia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Email: thainaragm@gmail.com político e institucional – e aos diferentes meios de trabalho e modos de vida, relacionamentos e
2. Professora Associada, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Email: scopinho.rose@gmail.com realidades que conferem singularidade e heterogeneidade às experiências dos sujeitos (Dantas,
3. Agradecemos à Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo apoio concedido para a realização da pesquisa (Processo n.
2014/25042-0).
Dimenstein, Leite, Torquato & Macedo, 2018).

1297 1298
as organizações, das contradições entre discurso e ação (Barus-Michel, 2004). A estratégia
Apostamos na Psicossociologia como referencial teórico-metodológico para investigar o de triangulação tem sido funcionado como parte desta tarefa no estudo do caso em questão. A
processo organizativo dos assentamentos porque o seu conjunto de pressupostos considera partir da articulação do referencial psicossociológico, com as informações produzidas a partir
tanto as articulações entre os determinantes macro e micro políticos, quanto suas reverberações das observações e conversas formais/informais com os trabalhadores e agentes públicos, e com
na produção da subjetividade, nas estratégias e níveis de organização social dos trabalhadores. o levantamento bibiográfico e documental, elegemos quatro aspectos teórico-metodológicos da
A seguir, descrevemos três reflexões que fundamentam a pesquisa psicossociológica e Psicossociologia que consideramos relevantes para discussão pretendida neste trabalho. Os
que reforçam a nossa escolha: a concepção de sujeito; a articulação entre os determinantes descreveremos a seguir.
psíquicos e sociohistóricos e suas contradições; e a adoção da perspectiva clínica de pesquisa e
intervenção para o desenvolvimento de uma ciência crítica (Nunes & Silva, 2018). (a) a priorização das experiências dos trabalhadores como versões da realidade produzidas, de
modo interdependente, pelos processos psíquicos e sociais;
A noção de sujeito sustentada pela Psicossociologia parte de um pressuposto básico: a
contradição. O sujeito é um ser desejante, portador de uma história - comum e singular - sobre Quando priorizamos interpretar a perspectiva dos próprios trabalhadores sobre o processo
a qual ele busca construir significados e autonomia, agir e reagir sobre as suas determinações. É, organizativo, nosso objetivo não é provar a existência de uma determinada realidade, mas sim
também, um ser dividido, assujeitado aos códigos sociais, normas, instituições e leis simbólicas desvelar os sentidos atribuídos às diferentes versões possíveis de uma história comum. As
(Gaulejac, 2001). Por isso, tanto a subjetividade quanto os sentidos produzidos neste movimento narrativas produzidas pelos trabalhadores nos ajudam a entender como os sujeitos representam
não são, exclusivamente, produtos de um suposto livre arbítrio, tampouco da consequência sua condição na estrutura social, que ideologias e mensagens institucionais são reproduzidas, e
lógica das determinações sociais, mas sim da articulação entre os aspectos individuais, grupais as singularidades dos afetos.
e societais.
Esta escolha exige alguns cuidados. Quando o sujeito dá a sua versão, ele privilegia um
A análise psicossociológica busca conhecer como as relações e reações dos sujeitos dentro determinado significado em função daquilo que pretende comunicar ao seu interlocutor. Essa
de uma determinada estrutura institucional e organizacional interagem com os sistemas de mesma opinião, em um outro recorte temporal, prescreve ou se desfaz em beneficio de novos
proximidade entre os diferentes grupos, os imaginários, afetos, poderes, conflitos e contradições arranjos de sentido (Giust-Desprairies & Lévy, 2005). Isso exige maior atenção do pesquisador
(Barus-Michel, 2004). As organizações e os grupos são o palco privilegiado para analisá-las para não conferir legitimidade científica às representações da realidade expressas pelos
porque refletem, reproduzem e se inscrevem em um funcionamento social mais amplo, colocando sujeitos sem antes verificar suas posições de enunciação (Giust-Desprairies & Lévy, 2005). Por
os sujeitos em uma base comum da qual procede a subjetividade (Rouchy, 2001). exemplo, no assentamento é comum interagirmos com maior frequência com as lideranças das
cooperativas. Tanto porque nos ajudam como informantes-chave para a exploração do campo,
Do ponto de vista da investigação, o sujeito também ocupa o lugar de co-construção da quanto suas situações de poder os autoriza a falar pelo grupo e, consequentemente, a generalizar
pesquisa. Isso porque os modos pelos quais ele compreende as dinâmicas psíquicas e sociais a sua visão da realidade.
que o envolvem se manifestam na relação intersubjetiva estabelecida com o pesquisador e com
a situação da pesquisa. A relação entre pesquisador e sujeito abre um campo para a reflexão de As conversas individuais e coletivas também foram reveladoras das diferenças de opiniões, dos
como a realidade é construída e dos elementos objetivos e subjetivos que atuam neste processo detalhes omitidos ou das informações contraditórias sobre uma mesma questão. Não nos coube
(Gebrin & Andreotti, 2016). julgar a veracidade das informações, mas compreender em quais situações estas diferenças
ocorriam e de que maneira eram elucidativas das perspectivas assumidas pelos grupos e pelos
Portanto, a compreensão de um processo organizativo nunca acontece diretamente, devendo sujeitos sobre as suas experiências.
ser construída a partir da interpretação dos textos de referência, dos ditos e não-ditos sobre

1299 1300
Ainda que cada versão seja uma produção singular, também é construída por processos sociais O processo organizativo do caso estudado foi marcado por importantes experiências de
inscritos em uma mesma estrutura. Por isso, notamos haver um certo padrão dentro do espectro cooperação que foram, progressivamente, ressignificadas pelos trabalhadores como sinônimo
de perspectivas a que tivemos contato, o que nos permitiu atingir o critério de saturação. de imposição, frustração e conflito. Um bom exemplo foi a implantação de quatro organizações,
Quando confrontamos estes depoimentos com as demais informações, identificamos o binômio conduzida por agentes estatais. Embora as organizações tenham trazido outra perspectiva de
cooperação-conflito como categoria central do estudo. trabalho e de renda, os esforços dos trabalhadores para formalizar a cooperação seguindo os
critérios e exigências institucionais esbarraram na falta de recursos mínimos que comprometem
(b) o uso de categorias-chave, como o binômio cooperação-conflito, para a compreensão destas desde o funcionamento das organizações até as tentativas de saírem da condição crônica de
experiências com relação às organizações e instituições de referência do assentamento descapitalização. Além disso, a diversidade social do assentamento, em termos de origens,
culturas, experiências e expectativas, amplifica os desafios típicos da gestão democrática das
Cooperação e conflito são fenômenos indissociáveis para a Psicossociologia pois se referem organizações coletivas (Scopinho, 2012).
às ambivalências das relações de confronto e conciliação, da busca por reconhecimento, mas
também de domínio sobre o outro (Araújo & Carreteiro, 2005; Barus-Michel & Enriquez, 2005). Este processo é dinamizado pelo conflito porque manifesta as resistências (individuais e
São também categorias-chave para a compreensão das dinâmicas organizativas e relacionais coletivas) dos trabalhadores em relação às imposições e determinadas regras estabelecidas
dos assentamentos rurais por algumas razões. para o assentamento. Em contrapartida, também se constitui como um risco para a sobrevivência
política do grupo. Para Giust-Desprairies (2005) o refluxo da cooperação é provocado pela
O sentido do trabalho em cooperação se alicerça em uma dupla lógica, instrumental e social. transformação abrupta da realidade de trocas (materiais e psíquicas) e das práticas do grupo pela
A articulação de ambas no cotidiano da organização depende das condições concretas que interferência e controle das instituições de referência. A segurança psíquica até então sentida dá
permitirão aos sujeitos realizarem seu objetivo técnico, como também das condições subjetivas, lugar à desconfiança e frustração, e a história coletiva torna-se uma evidência emocional de um
ou seja, do investimento psíquico necessário para negociar interesses e contornar as diferenças. passado que já não encontra mais ressonância no futuro.
Por isso, a cooperação não pode ser produzida unicamente por mecanismos de controle
burocrático das instituições ou por qualquer ação externa (Lévy, 2005). O componente processual é fundamental para identificar de que modo as relações estabelecidas
com as diferentes instituições de referência dos assentamentos constrangeram ou ampliaram
A outra razão tem relação com a primeira e se refere a uma particularidade dos assentamentos. a margem de manobra dos sujeitos para a negociação dos problemas coletivos. Por esta razão,
A porta de entrada das políticas de fomento e comercialização da pequena agricultura, incluindo entendemos que estas experiências, no que elas possuíram de erros e acertos do ponto de vista
os assentamentos, está condicionada à formalização de associações e cooperativas. Além disso, dos próprios trabalhadores, se articulam às sucessivas relações e negociações com outras
no assentamento investigado, a prática da agricultura agroecológica e do trabalho cooperado instituições e intervenções que aconteceram recentemente assentamento.
completam o conjunto de exigências estabelecidas às famílias para que permaneçam na área.
(c) a possibilidade de estabelecer campos de diálogo com outras áreas do conhecimento e
A literatura não tem um posicionamento consensual sobre a institucionalização destes formatos incorporar novas chaves explicativas
organizativos. Enquanto parte dos estudos as enxergam com otimismo; há os que criticam que a
cooperação é instrumentalizada pelo Estado e agências internacionais do desenvolvimento para A Psicossociologia valoriza a articulação com outros métodos e teorias. Barus-Michel (2004)
forjar um falso consenso e ocultar os conflitos produzidos estrutura fundiária desigual do Brasil. sugere ao pesquisador buscar outras fontes de informações para completar suas hipóteses a
Entendemos que a leitura psicossociológica do binômio cooperação-conflito, ao posicioná-los respeito do funcionamento da organização. Giust-Desprairies e Lévy (2005) defendem que a
como faces de um mesmo processo, tensiona as possíveis idealizações ou negações destas troca destes questionamentos com outros áreas e pesquisadores é parte constituinte da pesquisa
contradições sociais e das estratégias de organização coletiva. e pode facilitar os seus ajustes e esclarecimentos.

1301 1302
o que permite ao pesquisador ter a sensibilidade necessária para compreender certas nuances
Articulamos à Psicossociologia outras estratégias teórico-metodológicas convergentes com que colocam em questão as escolhas tomadas durante a pesquisa, as estratégias de construção
seus pressupostos. A primeira delas é a Bricolagem Institucional. Formulada por Frances Cleaver da informação ou as análises e formulações preliminares.
(2012), combina conceitos da Sociologia e do Institucionalismo crítico para analisar a relação
entre sujeitos e instituições em contextos de mudanças provocadas por arranjos burocráticos Partindo desse entendimento, nossa inserção na investigação dos assentamentos rurais rende
e programas intervenção. A bricolagem é definida como um processo no qual as pessoas, ricos materiais que alimentam não só as análises sobre os diferentes elementos e momentos do
conscientemente ou não, interagem com os recursos materiais e simbólicos para improvisar processo organizativo, como também revelam de que modo nossa relação com o campo e com
os arranjos impostos de acordo com suas regras e relacionamentos. Resultam em arranjos os sujeitos pode nos conduzir a diferentes caminhos de construção de sentido da informação.
imprevisíveis que não se limitam ao funcionamento racional pretendido pelos formuladores Citamos, por exemplo, nossas tentativas de organizar reuniões com as organizações do
de políticas. A bricolagem tem contribuído para analisar as relações entre a lógica subjacente assentamento a fim de discutir possíveis encaminhamentos para os problemas da cooperação
presente nos desenhos dos programas de desenvolvimento rural implantados nos assentamentos, que foram levantados pelos próprios trabalhadores ao longo das entrevistas e observações.
como as improvisações, acontecem na prática e quais são os efeitos para os sujeitos, em termos Pensávamos em construir com os sujeitos um processo de discussão sobre a definição das
de constrangimentos e possibilidades de negociação. normas de funcionamento das organizações e do uso dos equipamentos coletivos. Era uma
tentativa de esclarecer alguns dos não-ditos que alimentavam desconfianças e conflitos.
A segunda é o Monitoramento Reflexivo em Ação (RMA), abordagem metodológica desenvolvida
por van Mierlo (2010) e pesquisadores holandeses, que oferece um conjunto de ferramentas As reuniões não saíram como o planejado. Primeiro porque os trabalhadores tinham outras
e estratégias flexíveis para o monitoramento e avaliação reflexiva dos projetos com foco na expectativas que não poderiam ser atendidas pela pesquisa. Esperavam, por exemplo, que as
mudança sustentável, especialmente de setores da agricultura. O RMA pretende construir reuniões pudessem sanar dúvidas de caráter técnico sobre o funcionamento das organizações
mecanismos de reflexão recorrentes sobre as intervenções com relação aos objetivos de longo (e.g., quais eram as diferenças entre cooperativa e associação, em termos administrativos e
prazo, ações concretas, efeitos e lições aprendidas, devendo ser conduzidos pelos próprios legais). Também porque alguns membros se recusavam a discutir os problemas de caráter
sujeitos implicados no processo com o apoio de um monitor. Usaremos as ferramentas do RMA relacional, e questionavam a relevância do papel de uma psicóloga naquele momento.
para promover uma reflexão coletiva sobre as experiências de cooperação relacionadas aos
diferentes projetos implantados no assentamento. Também servirá como estratégia de validação Esta experiência nos mostrou como o processo relacional da pesquisa é confrontado pela lógica
e restituição da pesquisa para os trabalhadores. do outro, seus critérios e expectativas. O vai-e-vem entre a aproximação e o distanciamento
do objeto de pesquisa (Nunes & Silva, 2018) é necessário para ter clareza sobre as limitações
(d) o balanço sobre as possibilidades e limitações de se trabalhar com a perspectiva clínica de da pesquisa nos pontos em que ela toca nos sujeitos (Barus Michel, Giust-Desprairies & Ridel,
intervenção. 2007).

O método próprio da Psicossociologia, de inspiração clínica, pressupõe uma posição de escuta do As limitações nos levaram a retraçar nossa trajetória no campo. Buscamos a ajuda de um órgão
sujeito e dos elementos subjacentes a sua fala a partir do contexto social. A referência ao termo público que presta serviços de orientações administrativas e legais para atender as demandas
“clínica” não significa ação terapêutica. É utilizada no sentido de denotar a implicação ativa do levantadas pelas organizações. Acompanhamos este trabalho e isto nos permitiu entrar em
pesquisador sobre realidade concreta da vida do agente principal, com o objetivo de ativar um contato, mesmo que na condição de observadoras, com as relações estabelecidas entre os
processo coletivo, reflexivo e deliberado, de outras formas de pensar, agir e viver (Machado, próprios trabalhadores e destes com a referida instituição.
2010). Não se trata de uma mera prestação de contas, ou da resolução de uma problemática
no âmbito psíquico (Gebrin & Andreotti, 2016). A implicação, segundo Barus-Michel (2001), é Uma segunda lição aprendida foi a de que a construção da relação de confiança com os sujeitos

1303 1304
demanda tempo e não ocorre “por procuração”. Embora as lideranças das organizações Dantas, C. M. B, Dimenstein, M., Leite, J. F., Torquato, J., & Macedo, J. P. (2018). A pesquisa em
autorizassem a nossa presença no campo, facilitando o trabalho de campo, essa legitimidade contextos rurais: desafios éticos e metodológicos para a Psicologia. Psicologia & Sociedade, 30,
não é necessariamente dada pelo restante dos grupos. 1-10.

Outro pressuposto da perspectiva clínica da pesquisa é o compromisso com os sujeitos e com a Fernandes, B. M. (2008). Questão agrária e conflitualidade. In A. M. Buainain et al. (Orgs.). Luta
compreensão dos mecanismos emancipadores e/ou reativos empreendidos por eles nos processos pela terra, reforma agrária e gestão de conflitos no Brasil. (pp. 175-211). Campinas, Unicamp.
de mudança. Sobretudo, com as mudanças de como se relacionam com as condições objetivas
e histórias pessoais. Entretanto, tal como vimos em nosso caso, nem sempre a intervenção é Gaulejac, V. (2001). Psicossociologia e sociologia clínica. In: J. N. G. Araújo & T. C. O. Carreteiro
possível ou conduzirá à transformação da realidade, em razão das condições objetivas do campo (Org.). Cenários sociais e abordagem clínica (pp. 35-48). São Paulo: Escuta.
ou da situação de pesquisa (Nunes & Silva, 2018).
Gebrin, A., & Andreotti, R. (2016). Sociologia Clínica e Psicossociologia: a noção de implicação
A partir da experiência relatada, a perspectiva clínica da pesquisa se faz possível quando a do pesquisador. Teoria e Sociedade, 1(24), 142-157.
complementamos com outras estratégias de inserção no campo e de construção da informação
que não demarcam a intervenção propriamente dita sobre o grupo. Mas podem, no limite, acionar Giust-Desprairies, F. (2005). Crise. In J. Barus-Michel, E. Enriquez & A. Lévy (Orgs.). Dicionário
outros processos, como a reflexão dos sujeitos a respeito da sua própria condição e da situação de Psicossociologia. Lisboa, Climepsi.
coletiva do assentamento. O que, ao nosso entender, reafirma o compromisso ético e político da
pesquisa crítica em Psicologia Social do Trabalho, seja ela amparada na Psicossociologia ou em Giust-Desprairies, F.; & Lévy, A. (2005). Análise do discurso. In J. Barus-Michel; E. Enriquez; & A.
qualquer outra abordagem. Lévy (Orgs.). Dicionário de Psicossociologia. Lisboa, Climepsi.

Referências Lévy, A. (2005). Organizações. In J. Barus-Michel, E. Enriquez & A. Lévy (Orgs.). Dicionário de
Psicossociologia. Lisboa, Climepsi.
Araújo, J. N. G.; Carreteiro, T. C. (2005). Conflito. In J. Barus-Michel, E. Enriquez & A. Lévy (Orgs.).
Dicionário de Psicossociologia. Lisboa, Climepsi. Machado, M. N. M. (2010). Intervenção Psicossociológica, Método Clínico, de Pesquisa e de
Construção Teórica. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 5(2), 175-181.
Barus-Michel, J. (2004). O sujeito social. Belo Horizonte, Puc Minas.
Nunes, C. G. F., & Silva, P. H. I. (2018). A Sociologia Clínica no Brasil. Revista Brasileira de
_________., & Enriquez, E. (2005). Poder. In J. Barus-Michel, E. Enriquez & A. Lévy (Orgs.). Sociologia, 6(12), 181-199.
Dicionário de Psicossociologia. Lisboa, Climepsi.
Rouchy, J. C. (2001). Identificação e grupos de pertencimento. In J. N. G. Araújo & T. C. O.
_________., Giust-Desprairies, F., & Ridel, L. (2007). A psicologia social clínica: abordagem clínica Carreteiro. (Org.). Cenários sociais e abordagem clínica. São Paulo, Escuta.
e posições epistemológicas. In T. M. J. A. Vaisberg & V. E. Cury. Primeira jornada de pesquisa em
Psicanálise e Fenomenologia. (pp. 5-19). Campinas, PUC Campinas. Scopinho, R. A. (2012). Processo organizativo de assentamentos rurais: trabalho, condições de
vida e subjetividades. São Paulo, Annablume.
Cleaver, F. (2012). Development through bricolage. Rethinking Institutions for Natural Resource
Management. London, Routledge. van Mierlo, et al. (2010). Reflexive monitoring in action. A guide for monitoring system innovation

1305 1306
projects. Wageningen, Communication and Innovation Studies, Wageningen University and Capítulo 128
Research.
Profissionais de enfermagem de um banco de leite humano: Os usos de si nas
atividades

Stephania Mendes Demarchi1 y Monica de Fatima Bianco2

Introdução e tema

Apesar dos estudos realizados em administração seguirem a tendência da corrente funcionalista


(Burrell, Morgan, 1979), atualmente parte dos autores tem buscado problematizar e romper com
esta ordem. Estudos organizacionais feitos em ambientes hospitalares buscam sustentação em
diversas áreas do conhecimento (Matos, Pires, 2006) e isto ocorre por serem tais instituições
locais de ação social relativamente abertos às disciplinas formais bem como aos debates que
abrangem uma variedade de assuntos provenientes do tecido social, tornando-se assim, lugares
interessantes para a realização de estudos organizacionais (Clegg, Hard, Nord, 1999).

Da mesma forma, nos estudos organizacionais que têm como temática o trabalho humano existe
uma intensa busca em se estabelecer diálogos com outras correntes e diversos autores, tais
como os estudiosos da Ergologia. Entre eles destacam-se os franceses Jacques Duraffourg,
Marcelle Duc, Louis Durrive, Yves Schwartz e os brasileiros Milton Athayde, Jussara Brito, Élida
Azevedo Hennington, Daisy Cunha, Mônica de Fatima Bianco (Holz, Bianco, 2014).

A ergologia é uma abordagem que abrange diversas disciplinas com o objetivo de estudar o
trabalho principalmente na dimensão micro, mas em relação com o macro, buscando entender
a atividade concreta a partir da atividade de quem trabalha, tendo como ponto de partida a
diferença entre o trabalho prescrito e o trabalho efetivamente realizado. Nessa perspectiva,
trabalhar é a atividade de seres humanos situados no tempo e no espaço, atividades estas que
são sempre complexas e enigmáticas (Borges, 2004).

A atividade é a maneira pela qual os trabalhadores se envolvem no cumprimento dos objetivos do


trabalho, em um lugar e tempo determinados, utilizando recursos que lhes são oferecidos. Para
1. Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil. Email: Stephaniamendes2008@hotmail.com
2. Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil. Email: mofbianco@gmail.com

1307 1308
lidar com as variabilidades que aparecem o trabalhador se engaja por inteiro, a cada segundo, década de 1940 e este setor foi inaugurado há mais de 20 anos. Há nele 15 profissionais,
com o seu corpo, inteligência, afetividade, psiquismo, história de vida e de relação com outros sendo 3 enfermeiras, isto é, que exercem o cargo de Enfermeira, e 12 técnicas e auxiliares de
indivíduos. Para Borges, a atividade pode ser compreendida como o esforço intenso executado enfermagem, que atuam em 6 plantões (3 matutinos e 3 noturnos). Todas as trabalhadoras
pelo trabalhador no sentido de gerir as variabilidades, ou seja, a dicotomia entre o prescrito e são do sexo feminino, concursadas. A faixa etária varia entre 37 e 54 anos. Quanto ao tempo
o real. Nesse esforço de gestão, há uma mobilidade cognitiva e afetiva do trabalhador, o qual é de exercício profissional, há quatro trabalhadoras com mais de 10 anos de trabalho no setor;
convocado em sua multidimensionalidade (Borges, 2004). nove trabalhadoras com 1 a 9 anos de exercício e uma funcionária com 3 meses. Todas as
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) como exigido pelo
É relevante ressaltar que a atividade humana é realizada através do uso de si, diante das Comitê de Ética. Os critérios de inclusão para os participantes foram: serem profissionais de
normas e possíveis renormalizações e ao mesmo tempo é também determinada pela história do enfermagem, atuantes no setor, quer sejam enfermeiros, técnicos ou auxiliares de enfermagem
trabalhador (Schwartz, 2001). A renormalização é tudo que o trabalhador executa no momento e serem funcionários efetivos da Instituição.
em que entra no meio ambiente de trabalho, fazendo o uso de si (Schwartz, Mencacci, 2008).
O trabalhador age e reage de forma motivada em diferentes situações, ele nunca pode ser Para produção de dados foram escolhidos 4 métodos: Levantamento documental, Observação
classificado como uma máquina, como algo sem sentimento e afeto. O indivíduo sempre está participante com geração de Diário de Campo, Entrevistas individuais e semiestruturadas e
no trabalho realizando gestões, ações, interagindo e articulando, pois ao exercer o seu trabalho, realização de um Grupo de Discussão ao final do processo. A observação em si ocorreu por um
tem que executar seu arbítrio, mesmo que em micro decisões (Lima, Bianco, 2009), estas período de 3 meses consecutivos, com duração aproximada de 6 horas a cada vez no período de
sempre permeadas por um contexto socioeconômico e político, ou seja, macro que delineia as agosto a outubro de 2016. No total foram, cerca de, 266 horas de observação. Neste período
organizações do trabalho. Daí a importância de se analisar o trabalho com base nessa analítica, foram feitas anotações em diário de campo. Ao todo foram 11 horas e 48 minutos de entrevistas,
com uma concepção pluridisciplinar. todas foram gravadas e transcritas para melhor avaliação. Ao final da pesquisa, no grupo de
discussão foram 2 horas e 36 minutos de discussão com as participantes, um encontro que
Esta pesquisa tem como objetivo entender as práticas e situações de trabalho dos profissionais também foi gravado e transcrito. Importante salientar que nesse grupo de discussão – feito em
de enfermagem num banco de leite humano e analisar os usos de si nas atividades realizadas um lugar diferenciado - os dados e conclusões foram apresentados, discutidos e validados com
por esses profissionais à luz da ergologia. Dessa forma, esclarecida a pertinência da abordagem, as profissionais.
a seguir esta proposta de comunicação apresenta os aspectos metodológicos da pesquisa
realizada. Na análise dos dados, optou-se por trabalhar com a Análise de Conteúdo. Seguiram-se as
seguintes fases no processo de análise: pré-análise, exploração do material e o tratamento/
Aspectos metodológicos da pesquisa interpretação dos resultados (Bardin, 2011). Na análise temática observaram-se, em diversas
oportunidades, os temas mais frequentes. Após leituras mais intensas sobre o material e com a
Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa e descritiva, alinhada ao objetivo da revisão da teoria, foram elaboradas quatro categorias analíticas na pesquisa, das quais apenas
investigação. Este tipo de abordagem tem sido utilizado por diversos pesquisadores sejam em uma é base para discussão nesta comunicação: “Busca pela satisfação do cliente e outros
estudos sociais, pesquisas médicas, em questões organizacionais e etc., ao longo do tempo valores no trabalho”. A análise, feita no próximo item, revela os usos de si pelos profissionais do
tornou-se uma proposta de pesquisa consolidada e respeitada em diversas disciplinas e BLH. Os nomes usados são fictícios.
contextos (Barbour, 2009).
Busca pela satisfação do cliente e outros valores presentes no trabalho
O banco de leite humano (BLH) onde aconteceu a pesquisa está localizado em hospital público
e universitário de grande porte situado no sudeste do Brasil, tal hospital funciona deste da Produtividade é considerada um valor mercantil, mas existem valores presentes na organização

1309 1310
que nada tem a ver com a percepção de mercado. São os chamados “valores sem dimensão”, outros atendimentos. O enfrentamento das situações presentes no trabalho leva o trabalhador a
geralmente relacionados às questões de saúde, justiça, bem-estar e o bem viver em comum fazer escolhas baseadas na dimensão dramática entre os saberes e o uso do corpo-si (Schwartz,
(Schwartz, Durrive, 2015). Entre as trabalhadoras do banco de leite foram encontrados valores 2011), num ambiente normatizado.
individuais e coletivos, utilizados por elas no seu ambiente de trabalho e que nada têm a ver com
produtividade. A funcionária Myra fez o finger após a proibição e relata que não anotava mais esta ação na ficha
técnica da paciente.
Percebe-se que a satisfação do cliente é um valor entre estas trabalhadoras, conforme Betty
fala: “Olha, o meu objetivo aqui é ver a satisfação do cliente”. Baseando-se no valor de [...] Mas se você não fizer, a criança vai ficar sem comer, a paciente vai sair insatisfeita
satisfação da paciente e seu bebê, as trabalhadoras direcionam suas ações. Assim, durante a e seu atendimento não vai ter valor. Então, tem coisa que a gente tem que colocar, que
pesquisa, uma técnica chamada de finger, que consiste em alimentar o bebê colocando uma a gente sabe que foi muito claro na reunião que não pode, mas tem coisa que você não
sonda no dedo tinha sido proibido pela coordenação, tomando como norma antecedente que as tem como não fazer. Como eu sei que não pode e tal, e eu faço até pelo bem da criança e
técnicas e auxiliares não podem realizar uma conduta por decisão própria, sem a permissão e da mãe, aí eu não anoto lá na ficha que eu fiz translactação, que eu fiz finger, mas muitas
supervisão da enfermeira-chefe. É importante ressaltar que durante um período da pesquisa, vezes eu tenho que fazer (Myra).
duas enfermeiras estavam de licença (uma de licença médica e outra para capacitação) e tinha
apenas uma enfermeira no turno de 6 horas no setor. Assim, estas funcionárias ficavam sem Pode-se observar na fala dessa funcionária a renormalização e o descumprimento da norma,
supervisão boa parte do tempo. Viu-se nesse período o medo de se fazer tal procedimento, mas a ação baseada no valor de fazer o melhor para os pacientes, procurando a satisfação do binômio.
grande maioria continuou realizando a técnica em horários que não tinham enfermeiras no setor. Assim, as renormalizações envolvem escolhas, que estão imersas nos valores das trabalhadoras,
O relato a seguir exemplifica isto: que debatem as normas e valores no ato (Echternacht, 2008). Após algum tempo, a coordenação
permitiu a prática, liberando novamente as técnicas para realizarem esta tarefa quando achassem
No caso da proibição do finger, algumas vezes eu infringi essa regra aí para o bebê não de extrema necessidade, ou seja, a chefia delegou a decisão, a gestão de si, que consiste em uma
ficar aqui esperneando de fome, pois ou era matar a fome do bebê ou infringir esta regra. questão humana que envolve escolhas, valores e arbitragens (Borges, 2004).
Eu tive que priorizar uma coisa ou outra, então priorizei matar a fome do neném (Ida).
Ainda sobre renormalizações baseadas no valor, durante a pesquisa foi observado que uma
Há outra forma de alimentar o bebê além do finger, e é uma técnica chamada copinho, a qual funcionária tinha sempre a preocupação de cobrir as mamas da paciente logo após o atendimento,
exige mais experiência e habilidade. Logo, o finger é uma escolha principalmente para as para não a expor mais que o tempo necessário, e pedia licença antes de encostar. Geralmente,
funcionárias mais novas. Conforme relata a profissional: na prática, as mamas das pacientes ficam expostas praticamente durante todo o atendimento.
Sobre isto ela relata:
Todo profissional vai ter mais facilidade com o finger, pois a gente tem aquele trabalho
todo de fazer a ordenha, e no copinho existe a perda (o leite vaza), assim se o profissional Eu acho importante, você tem que tocar a mama com delicadeza, porque é uma mama, não
não tiver manejo, ele vai perder aquele leite todo (Florence). é uma bola, você tem que tocar, ter essa habilidade. Quando você se coloca no lugar dela,
você sabe a forma de tratar, porque a mama é uma coisa muito privativa da pessoa, não
Nesse período, as funcionárias que escolhiam realizar esse procedimento agiam como se é? Eu vou atender e digo “olha a forma que eu tô pegando, se doer você fala”. Então assim,
estivessem cometendo uma infração, ao ponto de mostrarem-se nervosas no dia em que o que é mais importante pra mim é isso, você se colocar no lugar da paciente, o mais
estavam sendo observadas. Faziam questão de explicar o porquê decidiram por tal conduta e importante, porque tem vários..., não é? Ter paciência, saber conversar, saber respeitar, o
perguntarem inclusive nossa opinião sobre o quadro clínico da paciente, algo que não ocorria em respeito a paciente é muito importante, você respeitar. (Ernestine).

1311 1312
controlar o meio em que se encontra. É importante ressaltar que o indivíduo não cria isoladamente
Vemos na passagem a forma como a profissional percebe a mama e como ela entende que deve os seus valores, mas este é reinventado constantemente pelo meio (Durrive, Schwartz, 2008).
ser o atendimento. Isso influencia na sua decisão de como direcionar o seu cuidado. Segundo Assim, quando perguntado no grupo de discussão sobre o porquê de comumente falarem sobre
Schwartz e Durrive (2010), o trabalhador sempre renormaliza o trabalho, fazendo escolhas e a vida pessoal no trabalho, ressaltaram que elas se consideravam uma família. Josephine relata:
executando a atividade conforme a sua forma de enxergar o mundo. “[...] de uma forma ou de outra você passa 12 horas lá dentro. É uma outra família”. Imogenes
acrescenta: “é uma outra família (risos). Por isto eu chego lá de manhã dando esporro em todo
Foi observado que as funcionárias têm orgulho do valor empatia, ressaltando que fazem o melhor mundo”. Sobre isto, Madeleine diz sorrindo: “Ela só dá bronca porque tem uma determinada
para a execução do seu trabalho. Conforme Wanda relata: “Eu sempre me coloco no lugar do intimidade”.
outro, então eu sempre trabalhei para o outro pensando no que eu queria que fizessem pra
mim, se fosse eu naquele lugar”. Além de relatarem que atender bem gera alegria por serem Outro valor visto nessas profissionais é o de cooperação. A cooperação evidencia uma ação
reconhecidas, conforme se vê: comum que foca em atingir metas desejadas por todos. Comumente ocorrem em resposta a
normas sociais e podem assumir um valor em si mesmo (Silva, 1986). Tal realidade pôde ser
Porque me realizo de ver a mãe chegar desesperada e sair tranquila, sair sorridente e vista com a funcionária Myra, da noite, que relata: “[...] se eu puder, eu passo o plantão sem
acho que a gente acrescenta muito na vida delas e dos bebês também. E isso é uma nada, eu faço tudo, eu não deixo meu serviço pro outro fazer, igual eu te falei, eu abro mão do
satisfação imensa, ver a mãe chegando desesperada, cheia de problemas e depois voltar, meu descanso, eu chego mais cedo, mas eu faço”. Os profissionais do dia também não gostam
principalmente mãe que o bebê tá de UTIN, volta igual à [Nome] aquele dia, né? Traz o de deixar muito material sujo para a noite, conforme relato de Madeleine: “Não gosto de deixar
bebê lindo e maravilhoso, e quando eles reconhecem então, aí que aumenta a satisfação muito material, pois a noite geralmente é uma só pessoa, e se a gente deixa tudo para a noite e
(Martha). ela tem uma noite agitada”.

Pode-se observar nessas falas a importância que estas trabalhadoras dão à satisfação do cliente Considerações finais
diante dos cuidados oferecidos por elas. É importante ressaltar que o cuidado é essencial na
profissão de enfermagem, e esse cuidado é empenhado e executado na interação entre o sujeito Na pesquisa buscou-se analisar os usos de si pelas profissionais de enfermagem nas tarefas
que cuida e aquele que é cuidado. Nesse sentido, o profissional de enfermagem ao cuidar do cotidianas do banco de leite humano estudado, em busca desse objetivo foram encontrados
doente, não está apenas realizando uma ação técnica, mas realizando uma ação que envolve aspectos situacionais que mostram o quanto a ergologia pode contribuir para entender o trabalho
contato entre enfermeiro e paciente, que ocorre por meio do toque, do olhar, do ouvir e do falar e, como no caso das trabalhadoras de enfermagem, ela pode ser relevante para compreender as
(Ferreira, 2006). Pode-se ver nas falas dessas profissionais que as decisões do cotidiano (micro), práticas dessas profissionais por meio da lente dos usos de si. Nesta proposição discutiu-se um
as decisões por satisfazer o cliente por meio do seu cuidado, são colocadas nas atividades do eixo da análise realizada, a “Busca pela satisfação do cliente e outros valores no trabalho”.
trabalho como características que podem ser projetadas para visão macro, como a função de
cuidar da melhor forma possível que o profissional de saúde possui em sua formação acadêmica É importante ressaltar que o cuidado é a ação fundamental da equipe de enfermagem que, ao
e como exigência de instituições hospitalares. realizar o seu trabalho, efetiva sua autonomia, liberdade e compromisso com o outro. Ao realizar
as atividades a trabalhadora do BLH leva em conta crenças e valores próprios e do paciente,
Entre os valores coletivos, um dos mais evidentes foi a percepção de que a equipe se declara considerando o bem-estar dos seres humanos (binômio) que estão sendo atendidos. Diante do
como a extensão de uma família. Segundo Durrive e Schwartz (2008), os valores podem ser cuidado a ser prestado, cada profissional age de forma diferente diante das lacunas deixadas
definidos como características subjetivas que atribuímos às coisas, uma categorização própria, pelas normas. Cada uma vai renormalizar o meio a seu modo, para dar conta do que está definido
a um fator que estimamos ou preferimos. De certa forma, é uma investida da pessoa em tentar (Borges, 2004).

1313 1314
Durrive, L., Schwartz, Y. (2008). Glossário da ergologia. Laboreal, 4(1), 23-28. Retrieved from
O valor coletivo de satisfação do cliente, seja este o bebê, a mãe ou ambos, foi base para diversas http://laboreal.up.pt/files/articles/2008_07/pt/23-28pt.pdf
renormalizações e, da mesma forma, para a criação de normas como a proibição do finger. Tal
descumprimento gerou angústia e medo nas trabalhadoras. O valor coletivo de “serem uma Echternacht, E. (2008). Atividade humana e gestão da saúde no trabalho: Elementos para a
família” também esteve presente, fazendo com que as trabalhadoras tentassem cuidar umas reflexão a partir da abordagem ergológica. Laboreal, 4(1), 46-55. Retrieved from http://
das outras, deixando menos tarefas para o plantão seguinte, sendo isso associado ao valor de laboreal.up.pt/files/articles/2008_07/pt/46-55pt.pdf.
cooperação entre elas, celebrado com comemorações de aniversário ou de pequenas vitórias e
pelo compartilhamento de assuntos pessoais no momento do descanso. As condutas também Ferreira, M. A. A. (2006). Comunicação no cuidado: uma questão fundamental na enfermagem.
eram baseadas em valores pessoais, como cortesia, empatia e comprometimento, sabendo-se Revista Brasileira de Enfermagem, 59(3), 327-30. Retrieved from http://revistaseletronicas.
que as trabalhadoras justificavam a escolha de como fazer determinada tarefa baseadas em pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/19111/12164.
seus valores.
Holz, E. B.; Bianco, F. M. (2014). Ergologia: uma abordagem possível para os estudos
A análise revela os usos de si pelas profissionais participantes. Elas conduzem e organizam suas organizacionais sobre trabalho. Cadernos EBAPE, 12, 494-512. Retrieved from http://www.
atividades com base em percepções, preferências e valores - nos níveis profissional e pessoal, scielo.br/pdf/cebape/v12nspe/07.pdf.
mas também se engajam para fazer o que pensam ser melhor para os outros, não importando
se são outro profissional de enfermagem ou um paciente. As trabalhadoras conduzem suas Lima, E. L. N.; Bianco, M. F. (2009). Análise de situações de trabalho: gestão e o uso
atividades fazendo renormalizações, justificando que isso deve ser feito para atingir as metas de sidos trabalhadores de uma empresa do ramo petrolífero. Cadernos EBAPE. Rio de
que elas queriam, com base em valores ambientais, individuais e coletivos. Assim, os usos de si, Janeiro, 7(4), p. 630-648, Retrieved from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
pelas profissionais, foram definidos por seus padrões e valores (Schwartz, 2000). arttext&pid=S167900400008.

Referencias Matos, E.; Pires, D. (2006). Teorias administrativas e organização do trabalho: de Taylor aos
dias atuais, influências no setor saúde e na enfermagem. Texto e Contexto Enfermagem, 15(3),
Barbour, R. (2009). Grupos focais. Porto Alegre: Artmed. 508-514.

Bardin, L.(1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. Schwartz Y. (2001). Trabalho e educação. Presença Pedagógica, 7(38), 5-17.

Borges, M. E. S. (2004) Trabalho e gestão de si: para além dos “recursos humanos”. Cadernos Schwartz, Y. (2011). Conceituando o trabalho, o visível e o invisível. Trabalho, Educação
de Psicologia Social do Trabalho, 7, 41-49. Retrieved from http://pepsic.bvsalud.org/scielo. e Saúde. Rio de Janeiro, 9, 19-45. Retrieved from http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172004000100005. php?pid=S1987462011000400002&script=sci_abstract&tlng=pt.

Burrell, G., Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organizational analysis. London: Schwartz, Y. (2000). Le paradigme ergologique ou un métier de philosophe. Toulouse: Octarès
Heinemann Educational Books. Éditions, 2000.

Clegg, S. R., Hard, C., Nord, W. R. (1999). Handbook de Estudos Organizacionais. v.1. São Paulo: Schwartz, Y., Durrive, L. (2015). Trabalho e ergologia II: Diálogos sobre a atividade humana. Belo
Atlas. Horizonte: Fabrefactum.

1315 1316
Capítulo 129
Schwartz, Y.; Durrive, L.(2010). Trabalho e uso de si. In: Schwartz, Y.; Durrive, L. (Org.). Trabalho
& Ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói: EdUFF.
Desenvolvimento de uma metodologia de reconhecimento de saberes de
Schwartz, Y.; Mencacci, N. (2008). Trajectoire ergologique et genèse du concept d’usage de soi. mulheres em situação de prisão
Informática na educação: teoria & prática, 11(1), 9-13.
Carolina Riente de Andrade Paula1, Admardo B. Gomes Junior2,
Silva, B. (1986). Dicionário de ciencias sociais. Rio de Janeiro: FGV. Ludmila de Vasconcelos Machado Guimarães3 y Natália Alves Oliveira4

Introdução

O objetivo deste estudo é apresentar a primeira parte da experiência de um trabalho de extensão


universitária oriundo da parceria do Núcleo de Estudos Organizacionais, Sociedade e Subjetividade
(NOSS) do CEFET-MG com a Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia e Ensino
Superior do Governo do Estado de Minas Gerais (SEDECTES), que tem enfrentado o desafio de
contribuir com a efetivação de um curso (PRONATEC) de “Gestor de Microempresa”, alinhado ao
projeto “Mulheres Mil”, ofertado para mulheres em situação de prisão. O Projeto Pedagógico do
curso “Gestor de Microempresa” tem por objetivo geral “qualificar profissionais para atuação
no mundo do trabalho, em curto prazo, na gestão de negócios próprios ou de terceiros, utilizando
técnicas administrativas aplicadas aos ambientes organizacionais e econômicos característicos
das microempresas e empresas de pequeno porte” (Minas Gerais, 2017, p. 5).

Por sua vez, o projeto Mulheres Mil originou-se de uma experiência canadense e foi implementado
no Brasil no período de 2007 a 2011 visando à formação educacional, profissional e cidadã de
mulheres em situação de vulnerabilidade social, nas regiões Norte e Nordeste. O programa visa
“a promoção da equidade, igualdade entre sexos, combate à violência contra mulher e acesso à
educação”. Além de buscar contribuir “para o alcance das Metas do Milênio, promulgada pela
ONU em 2000 e aprovada por 191 países. Entre as metas estabelecidas estão a erradicação da
extrema pobreza e da fome, promoção da igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres e
garantia da sustentabilidade ambiental” (Brasil, 2018, s/p.).

1. Professora do CEFET-MG. Email: profcarolinariente@gmail.com


2. Professor do PPGA/DCSA/CEFET-MG. Email: admardo.jr@gmail.com
3. Professor do PPGA/DCSA/CEFET-MG . Email: Email: ludmilavmg@gmail.com
4. Mestranda no PPGA/DCSA/CEFET-MG. Email: Email: nataliveiras@gmail.com

1317 1318
A primeira experiência dos pesquisadores/interventores tem sido a adaptação de metodologias O primeiro passo da intervenção objetivou levantar as histórias pregressas a fim de jogar luz
já existentes à necessidade de identificação e valorização simbólica dos saberes desenvolvidos sobre aprendizados prévios, formais ou não, adquiridos ao longo da vida. O método utilizado é
por estas mulheres antes ou durante a prisão. Essa proposta metodológica vai ao encontro das do Mapa da Vida, recomendado pelo Guia Metodológico do Sistema de Acesso, Permanência e
diretrizes inicialmente desenhadas para o Programa Mulheres Mil, que reconhece e valoriza os Êxito do Mulheres Mil. Esse método coloca o sujeito em posição de autor de sua própria história,
saberes construídos pelos próprios indivíduos, estabelecendo, desse modo, um diálogo plural a permitindo a visualização de sua trajetória e estimulando a troca de experiências.
partir da interação dos conteúdos ministrados e das experiências cotidianas que as participantes
trazem consigo. Em círculo conduz-se uma breve apresentação mais dialogada e descontraída seguida de uma
fala destacando que todas possuem uma história única, composta por momentos felizes e de
O desafio científico tem sido o de desenvolver e aplicar uma metodologia de reconhecimento de sofrimento, erros e acertos, mas sempre repleta de aprendizados. Baseando-se nessas histórias,
saberes prévios (pertencentes a estas mulheres), que sirvam de base para uma futura aplicação elas deveriam formular o Mapa da Vida, a fim de retomar esses momentos e refletir sobre
dos conhecimentos adquiridos na formação para o trabalho e que estejam alinhados à proposta os saberes adquiridos com eles. Reforça-se que não há conhecimentos “errados” e que todo
do “Mulheres Mil” conforme portaria MEC 1015 de 21 de julho de 2011. Esta iniciativa, além aprendizado é único e de inestimável valor. O mapa da vida é um convite a relembrar os momentos
dos efeitos de envergadura social enquanto ação extensionista, traz para dentro da instituição mais marcantes da vida, levando em consideração os lugares, as pessoas, os trabalhos, a escola
de ensino um campo vivo de experimentações e aprendizados para os integrantes do NOSS/ e qualquer outro aspecto julgado relevante.
CEFET-MG. A possibilidade do acompanhamento e desenvolvimento desta metodologia reforça o
caráter ensino, pesquisa e extensão da presente atividade. Distribui-se folhas tamanho A4 pautada, revistas, tesoura e cola. Com imagens retiradas das
revistas, estimula-se cada uma das participantes a encontrar figuras que representem sua
1. A proposta metodológica história e incorpore-as ao relato. Durante a realização da atividade, a interventora esclarece
dúvidas e incentiva o trabalho. Frente as dificuldades, recomenda-se que retome as primeiras
A construção aqui proposta parte de uma lógica temporal, buscando lembranças do passado, memórias de infância. A fim de estabelecer uma relação de confiança a interventora conta um
percepções do presente e projeções do futuro para a construção da presente adaptação pouco de sua própria história, incluindo relatos sobre a infância, convivência com a família, sua
das metodologias de Mapa da Vida, Plano de Desenvolvimento Individual e Oficina Canvas, trajetória acadêmica e profissional. Encerrada a etapa da construção do Mapa da Vida, dá-se
respectivamente. O intuito é com cada uma destas metodologias propiciar reflexões início à conversação acerca do que se construiu.
individualizadas sobre os saberes adquiridos ao longo da vida, que atualizados no presente
possam ser desenvolvidos e servir de sustentação para projetos futuros. É importante o cuidado Da experiência do mapa da vida na Piep:
de que as experiências compartilhadas no coletivo possam ampliar a percepção das diferenças
expressas na pluralidade de saberes adquiridos. Outra importante orientação é que todo e De imediato as integrantes se recusaram a dividir sua história com as demais. Justificaram,
qualquer tido de saber, decorrente de qualquer experiência vivida, seja valorizado. O que se quer dizendo temer que as histórias se espalhassem por todo o presídio. Suspeita-se que o pouco
é sobretudo atribuir valor simbólico aos saberes adquiridos na experiência, para além daqueles tempo de curso não tivesse permitido ainda vínculos de confiança, que já são frágeis em
prioritariamente valorizados pelo mercado, destacando-se alinhamentos e contradições vividas ambientes carcerários.
por cada sujeito entre seus valores pessoais, os valores do bem comum, em constante tensão
entre si e com o polo dos valores do mercado (Schwartz e Durrive, 2010). Algumas sugeriram que, ao invés da leitura do mapa, fossem feitos relatos orais de suas histórias.
As mesmas se prontificaram a iniciar a conversa, contando episódios isolados de suas vidas com
1º Momento: o olhar sobre o passado – o mapa da vida uma riqueza de detalhes superior ao que havia sido relatado no mapa. Intervenções foram feitas
sempre no sentido de estimular a fala e obter mais detalhes. Ao final dos relatos, o encontro se

1319 1320
transformou em uma roda de conversa. Todas participaram em algum momento, com relatos Ao final, solicita-se que uma carta seja escrita, endereçada às interventoras e a ser entregue no
próprios ou com manifestações de concordância em relação aos relatos das colegas. próximo encontro, relatando as atividades que elas gostariam de fazer e/ou com o que gostariam
de trabalhar, independente da remuneração. Após esse pedido faz-se um breve encerramento,
Ao final da atividade, a interventora se despede das alunas. Algumas se sentiram à vontade para que retomava o objetivo da atividade realizada.
abraçá-la. Todas pareceram gostar muito da conversa, agradeceram e pediram que a atividade
fosse feita mais vezes. A interventora também agradeceu às alunas por compartilharem um Da experiência do PDI na Piep:
pouco de suas histórias.
Nesta etapa, realizada aproximadamente um mês após a primeira, uma relação de confiança
2º Momento: percepções do presente – o PDI entre as alunas já permitia maior troca de histórias e experiências entre elas. Enquanto umas se
gabavam de suas histórias, outras demonstravam o medo de errar, de não fazer o suficiente, de
O segundo passo da intervenção objetiva uma reflexão sobre a percepção pessoal sobre as não conseguir preencher tudo que era solicitado. Como na atividade anterior, as interventoras
necessidades de aprendizados presentes, que possam ser sanadas tanto a partir de programas passaram de carteira em carteira a fim de esclarecer possíveis dúvidas. Nesses momentos,
formais de educação quanto de aprendizagens práticas. De acordo com Canastra e Ferreira algumas chamavam as pesquisadoras em algum canto da sala e, em tom baixo, contavam mais
(2012), a construção do Plano de Desenvolvimento Individual – PDI consiste em um processo de detalhes sobre suas vidas dentro e fora do cárcere. Surgiram relatos sobre o dia-a-dia na prisão,
reflexão que auxilia na definição de tais objetivos pessoais e profissionais. sobre os crimes que elas e outras presas haviam cometido, sobre os hábitos que elas tinham na
infância e de como elas começaram a se envolver no mundo do crime – foi revelado que algumas
Depois das devidas apresentações e explicações das atividades do dia as interventoras retomam já tinham contato com a criminalidade e com a violência antes mesmo de terem condições de
a ideia de saberes trabalhada no primeiro encontro e tecem explicações ampliando a noção do perceber e julgar tal fato. As detentas demonstraram muita satisfação em receber e ter contato
que se entende por saberes para além dos conhecimentos formais, certificados e obtidos em com pessoas diferentes, se mostrando muito agradecidas e desejosas de uma nova visita.
escolas ou em cursos, abrangendo todo um conjunto de aprendizados adquiridos ao longo da
vida. 3º momento: projeções do futuro – a oficina Canvas

Entrega-se uma folha A3 dobrada ao meio às alunas, de forma que o PDI fique na parte não A terceira etapa objetiva ajudar as presidiárias a visualizar as correlações entre os saberes
visível da folha, deixando visível a parte em branco. Antes de abrir a folha, solicita-se que as levantados na primeira etapa e os objetivos identificados na segunda. O Canvas é uma ferramenta
alunas escrevam um pequeno parágrafo que responda às seguintes questões: “o que aprendi desenvolvida por Osterwalder e Pigneur (2010) que objetiva melhorar a representação de
na vida?”, “que habilidades práticas possuo?”, “o que eu aprendi a fazer vendo outras pessoas um modelo de negócio novo ou já existente. Os nove blocos que compõe o modelo permitem
fazendo?”, “o que desenvolvi sozinha?”, “quais atividades me vejo fazendo?”. Terminada essa identificar rapidamente a maneira como a empresa gera valor para o cliente, suas atividades
etapa, as alunas são convidadas a relatar o que haviam escrito. principais, seus custos e demais aspectos relevantes ao negócio.

Após os relatos, solicita-se a abertura da folha, onde há uma coluna com quatro quadros de
metas com os títulos: saúde, família, trabalho, social/espiritual. Em frente à coluna de metas
encontram-se duas outras colunas, uma de ações e outra de recursos, com cinco linhas para
cada meta. Explica-se que naquelas linhas elas devem, pensando no que tem no presente, traçar
objetivos pessoais para cada âmbito (saúde, família, trabalho, social/espiritual), descrevendo as
ações que desde o presente precisam ser realizadas e os recursos a serem mobilizados para tal.

1321 1322
Explica-se o objetivo do Canvas da Vida, passando rapidamente pelas subdivisões do método:
1- definir uma proposta de valor (o que); 2- identificar as parcerias, atividades e recursos
necessários (como); 3- projetar quem é o público, como se relacionar com ele e com que canais
de comunicação (para quem); 4 - pensar nos custos e retornos (quanto). Após as explicações
preliminares, formam-se grupos, objetivando estimular a interação e a cooperação entre as
participantes. Cada pessoa recebe uma folha tamanho A3 com o Canvas da Vida impresso e
post-its coloridos, para as respostas de cada campo serem realizadas nas cores definidas a eles.
O uso dos post-its também possibilita trocar respostas ao longo do planejamento. Conduz-se a
realização de cada uma das 4 etapas descritas acima.

Da experiência do Canvas da vida na Piep:

Para a definição da proposta de valor orientou-se levar em consideração traços da personalidade:


talentos, interesses, habilidades, conhecimentos, valores, crenças, dentre outros. Ressaltou-se
Foram realizadas adaptações a fim de tornar a ferramenta mais próxima da realidade das a possibilidade de escolher entre abertura de uma empresa ou desenvolver uma característica
presidiárias, ampliando a noção de negócio para além das definições voltadas para o mercado pessoal. Essa orientação pareceu confundi-las. Durante algum tempo elas perguntavam “é pra
difundidas pela lógica do empreendedorismo. Em sua etimologia, “negócio” vem da combinação fazer do negócio que eu quero abrir ou de mim?” Houve queixas acerca da complexidade da
das palavras “nec”, negação, e “otium”, ócio. Sendo assim, um plano de negócio não remete tarefa. Poder escrever diretamente no papel ou nos post-its e colar no espaço correspondente
unicamente à ideia de abrir um estabelecimento, mas de negar o ócio, planejar uma atividade no gerou controvérsias entre elas se estava certo ou errado. A maioria das participantes solicitou
sentido de ocupar o tempo disponível. A ferramenta adaptada foi nomeada de Canvas da Vida. ajuda e revisão de suas atividades, seja por dificuldade em entender a proposta ou pela busca
da validação dos pesquisadores: “vê aqui se tá certo”. As ajudas buscavam clarear a proposta
da ferramenta, a importância das etapas do Canvas, e nunca no sentido de modificar os tópicos
abordados por elas.

Observou-se grande dispersão durante a execução das atividades. As atividades foram


constantemente interrompidas para dar lugar à rotina do presidio. As que terminavam a tarefa
primeiro conversavam entre si, com os pesquisadores ou iam até as grades para chamar as
carcereiras. Nas conversas com os pesquisadores, elas contavam outros causos de suas vidas ou
histórias da cadeia. Geralmente o assunto começava com alguma dúvida em relação à atividade
e ia progredindo ao ponto em que elas se sentiam à vontade para estender a conversa. Nenhuma
delas se omitiu diante das dúvidas: algumas chamavam os pesquisadores, enquanto outras, mais
tímidas, esperavam pela oferta de ajuda e a aceitavam. O ato de tirar dúvidas com as colegas não
pareceu muito comum, ocorrendo apenas entre aquelas que pareciam ter mais intimidade entre
si ou serem amigas há mais tempo.

1323 1324
Ao final do exercício, as folhas onde as atividades haviam sido feitas foram recolhidas mediante Laval (2016) da estratégia do estágio atual do neoliberalismo de produção de subjetividades
a entrega de uma outra folha em branco e da promessa de devolução da que elas preencheram. empreendedoras, ou “sujeito empresarial” (pg.135), precisa encontrar seu lugar na metodologia
A proposta da folha em branco era permitir que elas pudessem anotar alguma ideia que pudesse proposta. Não se pode correr o risco de em nome de uma emancipação econômica, ressocialização
surgir fora do horário das aulas, fazer outro Canvas com uma proposta de valor diferente ou até e reinserção no mundo do trabalho, repetir cegamente o mantra do “empreendedorismo como
mesmo apresentassem a ferramenta a uma colega que não teve a oportunidade de frequentar modo de governo de si” (pgs. 144-148).
o curso.
O segundo desafio passa por trabalhar os lugares da alteridade e da autoridade como orientação
O encerramento da atividade ficou a cargo da fala dos pesquisadores ressaltando o valor das e organização no trabalho do coletivo. Aqui as obras de Pereira (2011) e (2015) podem servir
experiências vividas por cada uma ao longo da vida. Aconselhou-se que elas preenchessem seu de ponto de partida para uma discussão mais ampliada de como a orientação psicanalítica pode
tempo com atividades que pudessem auxiliar na retomada da vida, que não esperassem o futuro nos ajudar na lida com estes lugares.
para agir. Ressaltou-se que tinham oportunidades que fora dali não seriam oferecidas: estudos,
profissionalização, tempo livre para ler, aprender. Sugeriu-se que essas oportunidades fossem O terceiro desafio refere-se à posição de saber ocupada pelas(os) interventoras(es). Baseado na
aproveitadas ao máximo, a fim de prover certo amparo à realização de seus objetivos futuros. A lógica de “O Coletivo”, tal como proposto por Jean Oury e retrabalhado por Geoffroy e Alberti
criação de vínculos e parcerias entre as colegas de cárcere também foi uma sugestão da equipe. (2015), propõe-se pensar o lugar a ser ocupado pelo interventor para propiciar o aparecimento
Uma vez que elas encontrassem colegas com objetivos semelhantes ou que possibilitassem daquilo de mais singular e genuíno dos saberes dos sujeitos no grupo. O desafio é criar formas
alguma integração e/ou ajuda, que elas buscassem cooperar entre si. de interlocuções possíveis que implique cada integrante com sua fala, de forma a dar lugar à
diversidade e a separação da alienação aos discursos que vem do Outro e que sufocam o desejo.
2. Considerações a partir da experiência: conclusões e reconduções Mais do que respostas e aconselhamentos, o que se quer é acolher a questão trazida por cada
sujeito e permitir que nela se reconheça um saber.
As oficinas estiveram bastante alinhadas às disciplinas ofertadas no curso de Gestor de
Microempresas. A experiência permitiu a estas mulheres em situação de vulnerabilidade social Referências
e em privação de liberdade refletir sobre seus saberes prévios e possibilidades de emancipação
econômica, ressocialização e reinserção no mundo do trabalho. Com a estratégia de trabalhar Brasil. Ministério da Educação. Mulheres Mil: Educação, Cidadania e Desenvolvimento
dimensões do passado, presente e futuro, alinhadas aos saberes, produziu-se nesta experiência Sustentável. 2018. Disponível em http://mulheresmil.mec.gov.br/
um riquíssimo material que permite aos pesquisadores/interventores várias reflexões <acesso em 19/04/2018>
para o aprimoramento da metodologia. Alguns pontos se destacaram como desafios para o
desenvolvimento da metodologia e que passam a ser objetos de estudo, discussão e reorientação Canastra, M. A. A. P., Ferreira, M. A. D. Liderar com competência... ou (treinar) competências de
dos trabalhos. liderança. Revista de Enfermagem da UFPI, ed. 1, p.77-81, 2012.

O primeiro desafio aponta para a possibilidade de deslocamento do modelo de empreendedorismo Dardot, P.; Laval, C. A Nova Razão do Mundo - Ensaio sobre a Sociedade Neoliberal. São Paulo:
neoliberal (presentes no PDI e no Canvas) para uma perspectiva mais alinhada ao desvelamento Editora Boitempo, 2016.
dos saberes mais genuínos presentes no destino dado à pulsão no fazer industrioso de cada
sujeito. Os conceitos ergológicos, sobretudo a lógica proposta por Schwartz e Durrive (2010) Geoffroy, R. M. G. ; Alberti, Sonia . Contribuições de JEAN OURY para verificar uma possível
do espaço tripolar, podem ajudar a compreender os campos de tensão entre valores produzidos emergência do sujeito na escola. Estilos da Clínica, v. 20, p. 246-264, 2015.
nos polos do mercado, da potitéia e dos usos de si. Além disso, a crítica proposta por Dardot e

1325 1326
Minas Gerais. Secretaria de Desenvolvimento, Ciencia e Tecnologia e Ensino Superior do Estado Capítulo 130
De Minas Gerais – SEDECTES. PRONATEC. Projeto Pedagógico do Curso Gestor de Microempresa.
Belo Horizonte, 2017.
Enegrecendo a carreira
Mulheres Mil: Guia Metodológico do Sistema de Acesso, Permanência e Êxito. Disponível em:
Taís Colling1, Andrea Poleto Oltramari2 y Maria Beatriz Rodrigues3
<https://map.mec.gov.br/projects/mulheres-mil/documents>. Acesso em 15/07/2018.

Osterwalder, A.; Pigneur, Y. Business Model Generation. Ed. Wiley John & Sons. New Jersey –
Introdução
United States of America, 2010.
As relações de trabalho (RT) se constituem por relacionamentos entre agentes sociais
Pereira, Marcelo Ricardo. A autoridade docente e a questão do saber-fazer com o sinthoma.
que acabam ocupando papéis opostos nos meios produtivos, sendo eles determinados por
Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre , v. 45/46, p. 141-155, 2015.
características das relações sociais, econômicas e políticas de uma dada sociedade (Fischer,
1987). Nas RT, por serem formas de relações sociais, os atores envolvidos estão distribuídos
________. et al. Acabou a autoridade? – professor, subjetividade e sintoma. Belo Horizonte:
em classes sociais diversas, onde essas favorecem a precarização do trabalho e das condições
FinoTraço/Fapemig, 2011.
de vida de maneira mais incisiva para grupos socialmente menos privilegiados. A coexistência
de categorias opressivas e discriminatórias, como propõe o conceito da Teoria Interseccional
Schwartz, Y.; Durrive, L. (2010) (orgs) Trabalho & Ergologia: conversas sobre a atividade
(Crenshaw 1989), pode direcionar trabalhadoras a uma situação de desprivilegio social, onde
humana. 2. ed. Niterói: EdUFF.
a redefinição de prioridades pessoais e de carreira, por vezes, não é possível em função do
contexto histórico social de exploração laboral.

Crenshaw (1989) cunhou a palavra “interseccionalidade” para enfatizar a incidência de


opressões sofridas por mulheres negras em diversas interações sociais. Para a autora, era de
suma importância a percepção de que as mulheres negras não poderiam ser compreendidas
por um olhar singular que as colocavam no mesmo patamar das mulheres brancas. Para tanto,
Crenshaw (2004) utiliza a interseccionalidade como conceituação do problema que visa capturar
as implicações estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação.
Ela trata especificamente da maneira pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe
e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições
relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras.

Por esse motivo, Carneiro (2003) propõe enegrecer o feminismo, sendo expressão utilizada
para designar a trajetória das mulheres negras no interior do movimento feminista brasileiro.
1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. Email: taiscolling@hotmail.com
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. Email: andreaoltr@gmail.com
3. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. Email: biarodrigues@hotmail.it

1327 1328
Conforme a autora, a expressão tem como significado dissertar sobre o peso da questão racial vez que suas necessidades e enfrentamentos são distintos. Por esse motivo, Crenshaw (1989)
no que se refere ao acesso às políticas públicas, incidência da violência, saúde e mercado de em seu ensaio disserta sobre a intersecção levantada ser provisória, uma vez que se tem muito a
trabalho, capazes de produzir e reproduzir disparidades e privilégios. analisar em termos de categorias opressivas que incidem sobre minorias desprivilegiadas. Todos
os movimentos interseccionais são, via de regra, transitórios e incompletos. São trabalhos e lutas
No campo teórico, buscas realizadas nas bases de dados Scielo - Scientific Electronic Library em andamento, funcionando como uma condição e possibilidade que os agentes sociais possuem
Online, Google Scholar, e, ainda, eventos da Anpad – Associação Nacional de Pós-Graduação como forma de locomoção para outros contextos sociais e formações grupais (Carbado, 2013).
e Pesquisa em Administração, não foram encontradas pesquisas que abordassem carreira
associada às múltiplas categorias opressivas: gênero, raça, classe e suas repercussões nas Por esse motivo, Carneiro (1995, 2011) propõe “enegrecer o feminismo”. A autora evidencia
relações de famílias negras. Dessa forma, constata-se uma insuficiência teórica no campo da que os principais eixos das reinvindicações femininas não se relacionam às experiências
Administração sobre a construção e manutenção de carreiras das mulheres negras, e, ainda, das mulheres negras, mais precisamente das negras brasileiras: no que diz respeito ao mito
sobre os padrões de sociabilidade desenvolvidas pelas famílias negras frente às desigualdades da fragilidade feminina, por exemplo, as mulheres negras nunca foram consideradas frágeis,
advindas do contexto laboral e social. ao contrário, trabalharam duro junto de seus homens durante a escravidão. Quando grupos
feministas diziam que as mulheres deveriam se lançar no mercado de trabalho, soou estranho
Por fim, enegrecer a carreira tem como propósito colocar em pauta a realidade da mulher negra para aquelas que já trabalham há séculos, como escravas, empregadas domésticas, vendedoras
no Brasil, propondo a análise de carreiras para além de posições executivas, inserindo uma visão ou prostitutas. Enquanto as mulheres brancas procuravam romper as barreiras do espaço
interseccional nos embates sobre gênero e carreira. Estudos com essa proposta significariam privado para participar do espaço público por meio do trabalho, as mulheres negras já estavam
novos passos em direção à discussão sobre a questão racial nas relações sociais, redefinindo o em atividade profissional (formal ou informal) há muito tempo (Fernandes, 2016).
seu peso nas relações de trabalho e em suas análises.
Para além disso, o questionamento realizado por Sueli Carneiro (2011) “De que mulheres estamos
Por fim, este trabalho apresenta além desta sessão introdutória, o conceito da Teoria falando?” remete a uma diversidade de imperativos sociais, principalmente aos abordados pela
Interseccional, seguida da sessão Enegrecendo a Carreira. autora no que se refere às necessidades das mulheres negras em um contexto histórico marcado
pela exploração sexual e do trabalho. Nesse sentido, Bilge (2009) procurando utilizar uma visão
Teoria Interseccional transdisciplinar que abarque a complexidade das identidades e desigualdades sociais, conceitua
o termo interseccionalidade como uma teoria que despreza o enclausuramento e a hierarquização
O conceito de interseccionalidade vem sendo trabalhado por mulheres negras há mais de um da distinção social que são: sexo/gênero, classe, raça, etnicidade, idade, deficiência e orientação
século, e ganhou maior atenção quando a crítica e teórica estadunidense Kimberlé Crenshaw o sexual.
utilizou como marco teórico em seu ensaio. O termo interseccionalidade foi por ela empregado
para determinar a interdependência das relações de poder de raça, gênero e classe (Crenshaw, Contudo, o sentido interseccional vai além da simples constatação da variedade dos sistemas
1989). de opressão que agem a partir dessas categorias e postula sua interação na produção e na
reprodução das distinções sociais. Por esse motivo, a diversidade de agentes sociais em torno
Crenshaw (1989) tem argumentado em suas pesquisas e estudos, que as mulheres negras de diferentes gêneros, etnias e orientações sexuais passam a abranger a interseciconalidade
estão frequentemente esquecidas de análises de opressão de gênero ou racismo, uma vez que a de modo a envolver uma gama cada vez maior de experiências e estruturas de poder (Carbado,
primeira se aplica em experiências das mulheres brancas e a última em homens negros. Dessa 2013).
forma, a autora evidencia a importância da luta feminina por um movimento que todas sejam
ouvidas, onde um único movimento é incapaz de reivindicar e lutar por todas as mulheres, uma

1329 1330
Enegrecendo A Carreira socioculturais e ambientais – falta de acesso à educação, estereótipo sexual e discriminação
racial.
Conforme a fala de Carneiro (2011), enegrecer o feminismo é a expressão que vem sendo
utilizada para designar a trajetória das mulheres negras no interior do movimento feminista No campo teórico, trabalhos que compreendem a temática carreira, como o de Oltramari
brasileiro. Conforme a autora, a expressão tem como significado dissertar sobre o peso da (2010), procurou compreender dentre homens e mulheres, a vivência dos dilemas pessoais de
questão racial no que se refere ao acesso às políticas públicas, incidência da violência, saúde executivos bancários relativos à carreira em contexto de trabalho imaterial e suas repercussões
e mercado de trabalho, capazes de produzir e reproduzir disparidades e privilégios. Carneiro nas relações familiares. Para além disso, Cepellos (2016) procurou explorar como as mulheres
(1995) ainda busca revelar em suas obras a insuficiência teórica e prática política das diferentes experimentam o processo de envelhecimento, tendo como referência a ocupação da mulher em
expressões do feminino construídos em sociedades multirraciais e pluriculturais, procurando cargos executivos. Ainda, os estudos de Fraga e Rocha-de-Oliveira (2016) se direcionam ao
viabilizar uma perspectiva feminista negra que nasce de uma condição específica do ser mulher, sedentarismo involuntário nas carreiras de mulheres, propondo uma discussão a respeito de
negra e, em geral, pobre. carreira, mobilidade e gênero, mais especificamente sobre as especificidades da mobilidade
geográfica das mulheres em razão de anseios profissionais.
Ha décadas a mulher negra vem sendo apontada como aquela que experimenta a maior
precariedade nas relações de trabalho. Porém, as análises que aprofundaram a perspectiva O que se observa nos trabalhos supracitados, é a não consideração da realidade social da mulher
de gênero dificilmente consideram a variável raça, homogeneizando a força de trabalho como negra no contexto brasileiro, que como já mencionado por Carneiro (2003), é, em geral, pobre e
se a questão racial não existisse enquanto diferencial de direitos ou especificidades que com poucas oportunidades de mobilidade social. Se para as mulheres brancas de classe média,
afetam a mulher negra (Bento, 1995). Ainda, para Prasad (2007), outros grupos socialmente um ponto importante para autonomia é sua entrada no mercado de trabalho; para as mulheres
marginalizados como, por exemplo, minorias raciais, étnicas e religiosas, grupos fisicamente negras de classe baixa, a participação no trabalho é, em geral, precoce, precarizada e as colocam,
desfavorecidos e, ainda, indivíduos com diferentes orientações sexuais, também são vítimas em de início, em patamares desvantajosos (Marcondes, 2013).
função de processos discriminatórios, sendo eles destinados a trabalhos de baixo status social.
Para além disso, Rocha-de-Oliveira e Fraga (2017) retomam classe social para discussões
Nesse sentido, adentrando o contexto laboral, o conceito aqui utilizado de carreira é o seguido por em carreira, onde apontam a influência da classe e da origem social sobre a mobilidade do
De Luca e Rocha-de-Oliveira (2015), como uma combinação processual entre aspectos objetivos sujeito. Os autores ainda apontam que nos conceitos de carreira sem fronteiras, sendo essa
e subjetivos para além de sua ocupação, pelos quais a pessoa experiencia e dos quais interpreta compreendida por um futuro de ilimitados arranjos profissionais, independente de uma única
e molda a própria realidade. Segundo Rocha-de-Oliveira e Closs (2013), as possibilidades de organização (Defilipe, Arthur, 1994); e, de carreira proteana, aquela guiada pelas pessoas e não
construir carreiras podem ser limitadas de forma parcial ou total, dependendo da posição em pelas organizações (Hall, 1996), a discussão de classe fica em segundo plano, uma vez que o
que o sujeito se encontra no meio social. Para os autores, é importante a análise dos motivos que objetivo central incide sobre o desenvolvimento balizado na performance individual.
fizeram com que o sujeito deixasse de escolher alguns caminhos, identificando os limites que se
impuseram interna e externamente durante suas escolhas profissionais. Segundo Prasad (2007), imagens negativas e estereótipos não são os únicos problemas
enfrentados por determinados segmentos da população em processos seletivos e, por
Ainda, Ituma e Simpson (2009) dissertam sobre as barreiras encontradas na construção consequência, no desenvolvimento de suas carreiras. Os autores destacam o fato de negros
da carreira, sendo elas enfrentadas com maior incidência por determinados segmentos da não terem acesso a determinadas posições no mercado de trabalho em função da sua menor
população. Os autores ainda explicam que as barreiras podem ser compreendidas por fatores representação no ensino superior. Dados que fazem parte da pesquisa “Estatística por Gênero”
que restringem o desenvolvimento da carreira, sendo elas divididas em dois eixos principais: as divulgada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), mostram que o
barreiras centradas no indivíduo – falta de confiança e motivação –, e a centrada em condições percentual de mulheres brancas com ensino superior completo (23,5%) é 2,3 vezes maior do

1331 1332
que o de mulheres pretas ou pardas (10,4%) e é mais do que o triplo daquele encontrado para
os homens pretos ou pardos (7%). Tais dados vão ao encontro de Ituma e Simpson (2009), no O presente trabalho procurou explorar as barreiras estruturais enfrentadas pelas mulheres
momento em que os autores dissertam que o desenvolvimento da carreira do sujeito não está negras no Brasil, inserindo uma visão interseccional nos diálogos sobre gênero, raça, classe
somente centrado em suas escolhas individuais, devendo-se considerar os fatores contextuais, e carreira, enfatizando a não problematização e discussão de classe e raça, que são essenciais
os quais criam oportunidades e barreiras para o desenvolvimento de carreira. para análises de carreira em países com grande miscigenação e desigualdade social, como o
Brasil (Rocha-De-Oliveira; Fraga, 2017).
Como resultado, segundo o IBGE (2010), a proporção da população ocupada em trabalhos
formais é maior para mulheres brancas, ficando as mulheres negras com trabalhos informais, A cooptação de gênero, raça e classe, acabam por colocar a mulher em uma situação de
sem seguridade social e tendencialmente precários, comprovada no quadro abaixo. desprivilegio social. Dessa forma, pensar em mulheres negras no contexto de trabalho dissociadas
de intersecções determinantes, é desconsiderar fatores essenciais da construção da identidade
de determinado grupo, uma vez que são as mulheres negras que ocupam historicamente a base
da hierarquia, ficando elas, por vezes, com os trabalhos e condições de vida mais precárias e
subalternizadas do meio social. A segmentação racial e de gênero compõem uma estrutura social
que acaba por desconsiderar anseios e necessidades para além dos imperativos dominantes.
Por fim, a cooptação de categorias opressivas advindas do contexto da Teoria Interseccional, às
análises relacionadas ao mundo do trabalho, auxilia na compreensão da dinâmica de produção e
reprodução das desigualdades sociais.
Foram consideradas trabalhadoras com carteira de trabalho assinada, inclusive as trabalhadoras
domésticas, as militares e funcionárias públicas estatutárias, bem como as empregadoras e Referências:
trabalhadoras por conta própria que contribuem para a previdência social (Ibge, 2010). Ainda,
segundo o Ibge (2010), 59,9 % das mulheres pretas ou pardas se encontram ocupadas nos Bento, M. A. da S. (1995). A mulher negra no mercado de trabalho. Estudos Feministas,
setores de serviços, sendo esses prestados principalmente às famílias de terceiros. Isso sugere Florianópolis, v. 2, p.479-488, jul.
que fatores pessoais, contextuais e experenciais podem interferir em nas escolhas relativas à
carreira, uma vez que as pessoas estão menos propensas a esforços quando percebem que são Bilge, S. (2009). Théorisations féministes de l’intersectionnalité. Diogène, França, v. 225, n. 1,
impedidos por fatores ambientais (Ituma, Simpson, 2009). p.70-88, CAIRN. http://dx.doi.org/10.3917/dio.225.0070.

Contudo, enegrecer a carreira tem como propósito explorar as barreiras estruturais enfrentadas Carbado, D. W. Crenshaw, K. W. Mays, V. Tomlinson B. (2013) INTERSECTIONALITY. Du Bois
pelas mulheres negras no Brasil, inserindo uma visão interseccional nos diálogos sobre gênero, Review: Social Science Research on Race, [s.l.], v. 10, n. 02, p.303-312. Cambridge University
raça, classe e carreira. Passa, ainda, a galgar novos passos nas relações sociais, definindo o Press (CUP). http://dx.doi.org/10.1017/s1742058x13000349.
peso que a questão racial possui nas relações de trabalho e em suas análises, enfatizando a não
problematização e discussão de classe e raça, que são essenciais para a discussão da carreira Carneiro, S. (1995). Gênero Raça e Ascensão Social. Estudos Feministas, v. 3, n. 2, p. 544-552.
em países com grande miscigenação e desigualdade social, como o Brasil (Rocha-De-Oliveira,
Fraga, 2017). Carneiro, S. (2003). Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a
partir de uma perspectiva de gênero. Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora,
Considerações Finais v. 49, p. 49-58.

1333 1334
Carneiro, S. (2011). Enegrecer o Feminismo: A Situação da Mulher Negra na América Latina a Ibge. Estatísticas de Gênero. 2010. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/apps/snig/
partir de uma perspectiva de gênero. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/enegrecer- v1/?loc=0&cat=-1,-2,3,4,-13,128&ind=4699>. Acesso em: 25 mar. 2018.
o-feminismo-situacao-da-mulher-negra-na-america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-
genero/>. Acesso em: 23 jan. 2018. Ituma, A. Simpson, R. (2009). In. The ‘boundaryless’career an career boundaries: Applying an
institutionalist perspective to ICT workers in the context of Nigeria. In Human Relations. v.62,
Cepellos, V. M. (2016). Os sentidos da idade: morte e renascimento no processo de envelhecimento n5 727-761.
de mulheres executivas.
Marcondes, M. M. Pinheiro, L. Queiroz, C. Querino, A. Valverde D. (2013). Dossiê Mulheres
Crenshaw, K. (1989) “Demarginalizing The Intersection Of Race And Sex: A Black Feminist Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil. Brasilia: Ipea, 2013. 160 p.
Critique Of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory And Antiracist Politics,” University Of
Chicago Legal Forum: Vol.: Iss. 1, Article 8 Oltramari, A. (2010). Dilemas relativos à carreira no contexto do trabalho imaterial bancário
e suas repercussões às relações familiares. 157 pg. Tese de Doutorado – Gestão de Pessoas,
Crenshaw, K. (2004). A intersecionalidade na discriminação de raça e gênero. VV. AA. UFRGS, Porto Alegre.
Cruzamento: raça e gênero. Brasília: Unifem, p. 7-16.
Prasad, P. D’abate, C.; Prasad, A. (2007). Organization Clalenges at the Periphery. Career issues
Defilipe, R. Arthur, M. (1994). The boundaryless career: a Competency-Based Perspective. for the Socially Marginalized. In: Gunz, H. & Peiperl, M. (Eds.). Handbook of Career Studies.
Journal of Organization Behavior, v.15, p. 307-324. Thousand Oaks, CA: SAGE Publications.

DeLuca, G. (2015). “Você só tatua?” A trajetória profissional no campo da tatuagem. 187 p. Rocha-De-Oliveira, S. Closs, L. (2013). História De Vida E Trajetórias Profissionais: Uma Proposta
Dissertação de Mestrado. UFRGS. Porto Alegre. Interdisciplinar Para Os Estudos De Carreira. Iv Encontro De Gestão De Pessoas E Relações De
Trabalho, Brasília, P.1-16. Anual.
Fernandes, D. A. (2016). O gênero negro: apontamentos sobre gênero, feminismo e negritude.
Revista Estudos Feministas, [s.l.], v. 24, n. 3, p.691-713. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.
org/10.1590/1806-9584-2016v24n3p691.

Fischer, R. M. (1987). Pondo os Pingos nos “is”: sobre as relações do trabalho e políticas de
administração de recursos humanos. In: Fleury, M.t.; Fischer, R.m. (Coord.). Processo e relações
do trabalho no Brasil. São Paulo: Atlas.

Fraga, A. M.; Rocha-De-Oliveira, S. (2016). Um olhar sobre classe social na discussão sobre
carreira, gênero e mobilidade. In: Anais do Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais.

Hall, D. (1996). Protean careers of the 21st century. Academy of Management Executive, v.10,
n.4, p.8-16, Nov.

1335 1336
Capítulo 131 que envolvem a trajetória individual, como os principais acontecimentos pessoais e familiares
que tiveram influência sobre a trajetória, os episódios históricos e as mutações sociais que
modificaram seu curso (Gaulejac, 2014).
A história de vida laboral de uma ex-gestora pública
Assim, a seguir, será exposta a metodologia da realizada na pesquisa, a história de vida laboral
Luana Sodré da Silva Santos1
de uma ex-gestora pública e, por fim, as considerações finais.

Metodologia
Introdução
Esta pesquisa inspira-se no método das histórias de vida para conhecer a trajetória laboral de
Este artigo faz parte de uma dissertação, e tem como objetivo propor uma agenda de pesquisas que
uma EPPGG do ERJ, mais precisamente o percurso dessa trabalhadora como gestora no serviço
compreenda a investigação acerca das histórias de vida laborais para os Estudos Organizacionais,
público. A escolha dessa carreira ocorreu pelo fato de que a Lei de Criação da Carreira (Rio de
particularmente o (a) Especialista de Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG) do
Janeiro, 2008) prevê que o servidor trabalhe nos altos cargos comissionados na administração
estado do Rio de Janeiro (ERJ), também conhecido (a) como gestor (a) público (a). A atuação
pública, sendo vocacionado para a ocupação de cargos de comissão, e para trabalhar, desde
desse gestor (a) dá-se essencialmente nos órgãos nos quais se articula o cerne da administração
o início, com a gestão. Considerando que o distanciamento do cargo comissionado possibilita
pública estadual, ou seja, em cargos de direção e assessoramento em escalões superiores. Cabe
reflexões acerca do trabalho gerencial em sua vida, optou-se por conhecer a história de uma
destacar que é uma profissão fundamental para as diversas ações governamentais, uma vez que
ex-gestora pública.
seu campo de trabalho é amplo e está interligado a atividades de gestão relativas à formulação,
implementação e avaliação de políticas públicas do ERJ.
A participante foi convidada a participar da pesquisa por meio de um convite do subsecretário de
recursos humanos da secretaria estado de planejamento e gestão (SEPLAG/RJ), que foi contatado
Nesse sentido, é importante conhecer as relações entre trabalho e subjetividade na história de
pela pesquisadora numa visita de campo. Na época, a então secretaria era a responsável pela
vida desse indivíduo, uma vez que é figura chave às políticas públicas e, consequentemente, ao
carreira de EPPGG.
rumo do estado em tais questões. Para que isso aconteça, o suporte teórico-metodológico é
desenvolvido a partir da Psicossociologia, em que considera os sujeitos inscritos numa dupla
O recolhimento das histórias de vida ocorreu em dois momentos. O primeiro em junho de 2017, e
determinação social e psíquica, além de acrescentar o cenário social na dinâmica da relação
o segundo em janeiro de 2018. A ex-gestora foi convidada a falar abertamente sobre sua história
homem-trabalho (Guimarães, 2014).
de vida laboral. As entrevistas foram gravadas, transcritas e enviadas por correio eletrônico para
a participante, para que, se quisesse, modificasse alguma informação. Ela retirou e/ou modificou
É importante enfatizar que a pesquisa em história de vida permite a compreensão da
algumas partes, pois não queria se “expor de forma alguma”. O nome da participante, assim
“personalidade biográfica, que se relaciona ao modo como os indivíduos são autores de sua própria
como dos lugares narrados são fictícios. A história de vida aqui apresentada, tem a autorização
biografia, sendo ao mesmo tempo transformadores das condições sóciohistóricas que a regem”
da participante para a exposição, uma vez que teve acesso prévio a mesma.
(Colomby et al, 2016, p.828). Pinto et al (2015) e Carvalho e Costa (2015) argumentam que a
história de vida atua como mediação entre a história individual e a história social, abrangendo
Ademais, observou-se que a ex-gestora demonstrou medo em narrar sua história de vida, uma
o campo psicológico e o campo social, fundamentais para a leitura psicossociológica. Desse
vez que está em um ambiente político e em suas vivências laborais perpassa a gestão de políticos
modo, o estudo da história de vida permite compreender de maneira mais detalhada os fatores
cujos nomes e decisões não podem ser revelados.
1. Mestra em Administração pelo programa de pós-graduação em Administração da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: luana.
sodre4223@gmail.com

1337 1338
e começou a estudar em 2014. No entanto, devido a alguns problemas com seus colegas de
A História de Antonia trabalho, o “ambiente ficou insustentável e aí, em meados de 2014 eu comecei a me mexer para
sair de novo”.
Vinda de uma família de servidores públicos, Antonia estudou em um colégio católico tradicional
até o vestibular. Passou para direito em três universidades públicas, e para letras em uma. Ela E foi com um convite para assessorar a presidente do Instituto Brasileiro de Infraestrutura, uma
afirma que queria seguir a trajetória dos seus familiares, fazer concurso público. Depois de Autarquia Federal, que Antonia deixou o Instituto Estadual de Infraestrutura. A ex-gestora afirma
formada, passou para o mestrado em direito em uma universidade pública. Conciliava o mestrado que foi um momento excepcional em sua vida:
com os estudos para os concursos públicos, passando para três destes. E foi aí que entrou para
o serviço público. Eu recebi a ligação da antiga presidente, [...] e aí ela me perguntou ‘você não quer vir me
assessorar aqui em Brasília?’ Nossa, assim, eu me lembro, eu tava na faculdade assistindo
Antonia lembra que o primeiro concurso que a convocou foi o de gestor público (EPPGG), ela aula, eu tava tipo, no bandejão sabe? Botando a comida, ela me ligou, me lembro que a
achava “uma proposta muito encantadora”. A partir daí teve que conciliar o trabalho no estado bandeja caiu, as pessoas ficaram me olhando assim...
com o mestrado, que ainda faltava um ano para concluir. Ela aponta que, infelizmente, o início da
carreira no estado foi um tanto quanto conturbado: Dessa vez passou a ser uma assessora do nível estratégico com cargo. Mas não era só o fato
de ter um cargo que animou Antonia, que passou a ganhar mais. A presidente do Instituto
De uma certa forma foi bastante frustrante porque o edital do concurso dizia que a gente Brasileiro de Infraestrutura lhe deu autonomia para estruturar um núcleo de projetos especiais,
tinha função de assessoramento no nível estratégico da instituição, que é o maior engana que se mantém até hoje, o que a faz se sentir muito feliz e recompensada: “eu deixei, eu montei o
bobo de todos os tempos... [risos]. núcleo, estruturei, botei as pessoas lá, e eles estão lá tocando aqueles projetos, [...] e o trabalho
deles continua sendo bem avaliado pelos seus pares.” O fato de Antonia estar na alta cúpula
No início tinha atribuições burocráticas, “eu era o burocrata que fazia o termo de referência. estratégica também a impressionava. Como era assessora da presidência, estava a par de tudo
Tipo, a decisão já chegava pronta, faça aqui essas referências com essas premissas”. Depois de o que acontecia na área de infraestrutura do país. Era uma das primeiras a ficar sabendo dos
dois anos, viu uma oportunidade de trabalhar na área de infraestrutura, área de interesse desde acontecimentos e conflitos, e teve a oportunidade de trabalhar com temas importantes, “temas
a faculdade, e foi trabalhar no Instituto Estadual de Infraestrutura. que você vê no jornal, é o que você tava fazendo ontem, sabe? São temas relevantes pro futuro
do país, pra questão de infraestrutura, isso passava por lá.”
Ali, Antonia se viu pela primeira vez trabalhando com assessoramento de decisões estratégicas,
atribuição prevista na Lei de criação de sua carreira. A melhoria no seu cotidiano laboral foi Até que em agosto de 2016 aconteceu o impeachment da Presidente Dilma Rousseff. No dia
significativa: seguinte o presidente Michel Temer exonerou quase todos os presidentes das autarquias, “foi
uma lavada.” Antonia enfatiza que, mesmo não sendo vinculada a partido algum, foi exonerada
[...] quando eu virei assessora, nossa, foi assim, uma mudança da água pro vinho! Eu tava do cargo de assessora da presidente.
realmente assessorando, e era uma pegada assim, de você tá na ponta fazendo política
pública mesmo né. [...] Ela explica que quem ocupa um cargo de comissão nesse nível, “sabe que isso é do jogo.” O
rompimento com o cargo comissionado foi repentino, seco e brusco. Quando perguntada se
Após dez meses, foi para a função de coordenação no mesmo órgão, e assim passou a ter um sentia alguma culpa, Antonia responde claramente que não se sente responsabilizada pela perda
cargo, algo que tanto desejava, numa área que era “muito apaixonante”. Ao mesmo tempo, do cargo. Tinha competência técnica, era bem avaliada por seus pares e sua chefe. Disse que, no
Antonia decidiu voltar a estudar, fez o processo seletivo para o doutorado em políticas públicas, primeiro momento, ficou pensando se não deveria ter feito uma articulação política, mas depois

1339 1340
viu que não seria bom, porque tinha um perfil mais de gestão. Quem entrou no seu lugar foi por Antonia tentou ir para a Secretaria de Estado de Infraestrutura, para ser assessora de um
indicação política. A nova presidente do Instituto, na tentativa de manter Antonia, ligou para o subsecretário, mas não conseguiu. Além disso, o estado começou a atrasar seu pagamento. Tinha
político e falou: “olha eu vi o currículo da menina, é ótimo, não dá pra manter? E aí o político me que terminar a tese de doutorado, o estado não estava pagando, não conseguiu ir para área de
disse ‘não, esse cargo é meu. Esse cargo não é do Instituto Brasileiro de Infraestrutura, é meu’.” infraestrutura, o nível de pressão no trabalho só aumentava. Queria sair, “não tinha condições de
Então a nova presidente nada pôde fazer por Antonia e, infelizmente, lamentou o ocorrido. permanecer aqui.” Começou a procurar outra forma de rendimento para sustentar sua vida para
pedir licença do estado. Antonia comenta o seu nível de “maluquice”: “faço doutorado, tenho
No primeiro dia que ficou sabendo da exoneração, Antonia não foi trabalhar, “fiquei em casa, experiência em gestão de projetos [...]. Eu já tava no nível assim, gente eu vou sair pra ser Uber!
abracei o travesseiro e chorei bastante”. Ficou “sem chão”, pois “foi um golpe muito difícil pra Que pelo menos o Uber eu consigo controlar o horário, estudava de manhã e dirigia a noite”.
mim”. Nos dias seguintes, voltou ao Instituto Brasileiro de Infraestrutura para conversar com sua
equipe, explicou a importância dos projetos para a nova presidente e tentar a convencer a manter E aí ela encontrou sua primeira diretora do Instituto Estadual de Infraestrutura, a quem assessorou,
o núcleo de projetos. Como estava cursando uma disciplina do doutorado numa universidade em professora de uma universidade pública no ERJ, que estava procurando uma bolsista com um
Brasília, tinha provas e ainda tinha uma orientadora muito rigorosa, que continuava a exigir o perfil de Antonia. Com a bolsa de pesquisa, pediu uma licença sem vencimento. Atualmente,
cumprimento dos prazos. Então sua “depressão durou uns quatro dias [..]. Tinha prova, tinha é pesquisadora em tempo integral, participa de um “projeto incrível” que será “ótimo para o
trabalho em grupo, tinha coisa pra ler, [...] eu tinha apresentação pra fazer, então não, vamos currículo acadêmico”. Considera que sua experiência profissional foi muito importante para
levantar, vamos fazer isso.” E esse foi um dos motivos que segurou Antonia nesse momento definir seu tema de pesquisa e que, estar “fora do estado me dá uma tranquilidade sabe? O
difícil. Enquanto tinha uma tese de doutorado para escrever, “eu tinha alguma coisa para fazer.” estado está afundando, as pessoas não recebem, [...] e eu to lá, discutindo urbanismo”.

Voltando ao ERJ, Antonia esperava voltar para o órgão de infraestrutura estadual onde trabalhou, No entanto, após um ano de licença, comentou: “eu sinto falta de voltar pro estado. Eu acho que
mas não a aceitaram de volta. Então teve que ir à secretaria de planejamento, para saber onde eu não faria escolha de largar o cargo de gestão que eu tenho, [...] e sinto muita falta.” Antonia
iria trabalhar. Mas, para sua surpresa, a secretaria estava na mesma situação do primeiro dia em não só deseja retornar a gestão pública, como já não está tão feliz atuando só com a pesquisa.
que entrou no estado, “ninguém sabia o que fazer comigo.” Depois de trabalhar no “melhor dos Para o futuro, não descarta a possibilidade de voltar a ter um cargo comissionado, assim como
mundos”, “no centro do palco”, “da noite para o dia” se viu “numa prateleira para tomar poeira”. o que teve em Brasília.
Dentre as opções que tinha na secretaria, Antonia decidiu ir para a área de gerenciamento de
projetos, sua especialidade, mas para o setor de Tecnologia da Informação (TI). Considerações finais

Ali trabalhou com um chefe muito bom, com conhecimento técnico, capacidade de lidar com A partir da história de vida de Antonia, foi possível conhecer as dificuldades e contribuições do
pessoas e que lhe deu flexibilidade para terminar seu doutorado. Ela estava naquele setor, uso do método nos Estudos Organizacionais. A utilização da história de vida como se mostrou
enquanto não aparecia algo melhor. Até que a SEPLAG acabou. bastante frutífera, sobretudo porque permitiu um olhar para o passado, mostrando que a
trajetória é um processo histórico, que foi se construindo aos poucos, mediado pelo seu contexto
Com a fusão da SEFAZ com a SEPLAG, as duas áreas de TI também se fundiram e Antonia passou social, e não uma produção individual. Assim, incorporou-se as vivências passadas e o histórico
a ter um novo chefe. Uma pessoa que “no primeiro dia falou, eu enxergo aqui minha área de TI, familiar como elementos que ainda ecoam em sua respectiva história, chamando a atenção
tem que ser igual a área de TI de um banco.” Assim, o clima tranquilo e ameno que tinha com de tais aspectos na discussão de trajetórias profissionais na Administração. A história de vida
o outro chefe, “foi por água abaixo”. Como das outras vezes em que estava insatisfeita com o também mostrou que as vivências do passado persistem no presente. Assim, passado, presente
ambiente de trabalho, tentou procurar outro local para trabalhar. e futuro estão emaranhados e são indissociáveis.

1341 1342
Ressalta-se que a história de vida de Antonia perpassa o contexto da administração pública do escolhas dos gestores públicos.
ERJ. Logo, como aponta Gaulejac (2014), as trajetórias são constituídas por fatores sociais e
individuais. Esses dois fatores caminham juntos e interagem entre si. Um exemplo é o momento A partir do olhar psicossociológico, constatou-se que Antonia estabeleceu um vínculo psicológico
da entrada da ex-gestora no serviço público e durante o trabalho gerencial, em que o contexto com o Estado, de grande intensidade e envolvimento. Assim, observa-se um vínculo similar ao
social do ERJ estava bom. Isso contribuiu para que Antonia galgasse posições superiores na afetivo, que foi se constituindo aos poucos, gradativamente. Esse vínculo tem raízes na história
administração pública. Os aspectos econômicos e políticos caminhavam ao encontro do familiar, que contribuiu para conduzir seus primeiros passos em direção à função pública. Ele
“momento de ouro”, que Antonia comenta em sua trajetória. Assim como no desligamento. No começou na infância. Seus familiares eram/são funcionários públicos. Outro momento marcante
momento da saída do cargo, o ERJ estava enfrentando um momento de crise financeira. A troca na formação desse vínculo foi a entrada no serviço público. O ingresso foi vivenciado como
da gestão governamental a levou a sair do cargo, bem como a reestruturação organizacional uma vitória, visto que criou uma expectativa grande com a carreira almejada. Nesse momento
(fusão de secretarias), que influenciou o seu distanciamento da função pública. da trajetória, o envolvimento afetivo foi ficando mais intenso, até o período em que esteve
como gestora pública. Durante a experiência gestionária esse vínculo se constituiu porque
É interessante observar também como esses elementos contextuais interferem mais a ex-gestora obtinha satisfações pessoais no Estado e recebia dele salário, reconhecimento,
significativamente em alguns momentos em sua história, e podem servir de base para autonomia, relações sociais, etc.
redirecionamentos futuros. Como no caso do desligamento, por exemplo, o contexto social não
só impulsionou o distanciamento dela da gestão, como também mostrou ser um momento de No entanto, chega um momento em que esse laço afetivo se fragiliza, quando é exonerada do
reflexão para novos direcionamentos em sua trajetória. Possibilitou o olhar para outras esferas cargo. Sente-se triste e angustiada, chegando a se afastar da atividade laboral. Embora tenha se
da vida além da função pública, como dedicar-se integralmente a pesquisa, ao seu relacionamento desligado formalmente do cargo de gestão, no plano subjetivo, o envolvimento afetivo continua.
e sua vida pessoal. Antonia argumenta que, após a saída do cargo, estes aspectos melhoraram Isso quer dizer que o vínculo afetivo não acabou, ainda está lá. Pode ter perdido o encantamento
em sua vida. com o Estado, mas num futuro próximo espera ter um trabalho igual ao que fora realizado. Desse
modo, não houve um rompimento com a gestão pública, e não é uma ex-gestora. Esse laço afetivo
É necessário apontar que o contexto social não foi determinante para condicionar as escolhas faz parte da história dela. Se for se dedicar a outra atividade no futuro, esta terá influências
individuais. Ressalta-se que Antonia intervém como ator, não se torna agente passivo de dessas experiências gestionárias passadas.
determinismos sociais. Ela inventa práticas para não se sujeitar acriticamente ao contexto social
e político vigente. O fato de sair de seu cargo, ou até mesmo afastar-se, mesmo que por um Referências
tempo, da função pública, e fugir de articulações políticas, comprova que é ativa nas situações,
e pode intervir em sua própria história. Isso demostra que é um processo psicossociológico. Por Carvalho, J. C. B.; Costa, L. F. (2015) História de vida: aspectos teóricos da Psicossociologia
isso, a ótica da Psicossociologia permitiu compreender a dinâmica complexa dos processos que clínica. Rev. bras. psicodrama, São Paulo , 23 (2), 24-31.
regem as relações entre o subjetivo e o social.
Colomby, R. K.; Peres, A.; Lopes, F. T.; Costa, S. G. (2016) A pesquisa em história de vida nos
No entanto, cabe enfatizar que a resistência da ex-gestora é limitada pelo contexto social em estudos organizacionais: um estudo bibliométrico. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e
que vive, evidenciando que também é um processo sociopsicológico e, por isso, um olhar da Sociedade, Belo Horizonte, 3 (8), 821-856.
Sociologia Clínica também foi importante neste estudo, embora não tenha sido o foco principal. É
no momento da saída do cargo comissionado e na movimentação entre os órgãos, o “se mexer”, Gaulejac, V. De. (2014) A neurose de classe: trajetória social e conflitos de identidade. Trad.
que ela se depara com o fato de que não basta sua dedicação e sabedoria para ingressar ou se Maria Beatriz de Medina, Norma Takeuti (col.). 1 ed. São Paulo: Via Lettera,
manter nos cargos, mas as articulações políticas e as transformações sociais influenciam nas

1343 1344
Guimarães, L. de V. M. (2014) Entre o céu e o inferno: confissões de executivos no topo da Capítulo 132
carreira profissional.211 f. Tese (Doutorado em Administração) - Universidade Federal de Minas
Gerais, CEPEAD, Belo Horizonte.
O trabalho real: Confrontando-se com as metas de produção e de perdas
Pinto, B. O. S, Carreteiro, T. C. O. C., Rodriguez, L. S. (2015) Trabalhando no “entre”: a história em uma beneficiadora de vidros
de vida laboral como método de pesquisa em Psicossociologia. FAROL-Revista de Estudos
Organizacionais e Sociedade, Belo Horizonte, 2 (5). Jéssica de Azerêdo Rizzi1 y Monica de Fatima Bianco2

Introdução

A ergologia é o estudo do trabalho humano com base na atividade, que busca conhecer as
pressões, os desafios e as dificuldades às quais os trabalhadores estão sujeitos e enfrentam em
suas atividades de trabalho (Athayde & Brito, 2010; Schwartz, 2010a; Athayde & Brito, 2011).
Entende-se que, de algum modo, os trabalhadores “criam o que a norma não prescreve e recriam
o que a prescrição, de fato, não prevê e não conhece da situação real” (Bianco, 2014, p. 291).
Neste sentido, analisa e entende o trabalho como uma atividade humana e, portanto,
transformadora da realidade (Bellies, Efros, & Schwartz, 2013; Efros, Lemaître, & Bellies, 2015;
Castejon, 2016). Ou seja, buscam-se conhecer as pressões, os desafios, as variabilidades e
as dificuldades às quais os trabalhadores estão sujeitos e enfrentam em suas atividades de
trabalho, além das adaptações que eles devem fazer nos processos para conseguir atingir os
objetivos esperados pelas chefias (Salerno, 2000), já que o trabalho só funciona porque “as
pessoas vão além do que lhes é simplesmente pedido” (Noel, Revuz, & Durrive, 2010, p. 223).

Essa analítica pressupõe a importância de se ir ver o trabalho de perto, para conhecer as


dificuldades e problemas enfrentados pelos trabalhadores, pois ao exercer suas atividades cada
indivíduo é único, e carrega consigo suas histórias, suas experiências passadas e expectativas
(Schwartz, 1996; Schwartz, 2004b; Duraffourg, Duc, & Durrive, 2010; Noel et al., 2010; Durrive
& Jacques, 2010; Moraes & Schwartz, 2017). A presente pesquisa se propôs a fazê-lo.

O objetivo da pesquisa consistiu em analisar aspectos pertinentes às situações de trabalho em


um setor específico, de uma empresa beneficiadora de vidros. A empresa está localizada em Serra
– ES, Brasil. O setor investigado foi escolhido por sua relevância para a organização, relevância
produtiva, assim como pelo número elevado de não conformidades (perdas) a ele associado.
1. Universidade federal do Espírito Santo (UFES). Email: jessicarizzi@outlook.com.br
2. Universidade federal do Espírito Santo (UFES). Email: mofbianco@gmail.com

1345 1346
Partiu-se do pressuposto que num setor, onde os trabalhadores buscam incessantemente atingir existente entre as equipes de trabalho. Nas análises a seguir, alguns trechos do diário de campo
as metas de produção e de redução das não conformidades (perdas), há, possivelmente, maiores e das entrevistas com os operadores são discutidos. Os nomes usados no texto são fictícios.
constrangimentos no trabalho (Maggi, 2006), na tentativa da gestão de monitorar e melhorar
tais indicadores num contexto de produção capitalista. Pelo fato de ainda não possuir nenhuma atividade de trabalho em que não exista uma doação
do sujeito trabalhador, de forma intelectual ou não intelectual, tem-se que toda atividade de
Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, e para a produção dos dados foram trabalho é sempre uso: usos de si, por si e por outros (Schwartz, 2004b; Schwartz, 2010c;
utilizadas diversas técnicas. Primeiramente, foi feito um levantamento documental, seguido Schwartz, Duc, & Durrive, 2010; Schwartz & Echternacht, 2007; Schwartz, 2014). Em que o
de observação direta das atividades no setor operacional de beneficiamento, realizada por um trabalhador necessita fazer uso de si por si próprio e/ou para outro trabalhador, de acordo com
período de dois meses, gerando um diário de campo. Optou-se no processo da pesquisa em se as normas antecedentes e as renormalizações (Athayde & Brito, 2011).
fazer o acompanhamento no setor, das atividades dos trabalhadores de três linhas produtivas
denominadas linhas Forvet -, pois estas linhas são consideradas pelos gerentes e diretores O termo “uso de si” é usado como uso e não como execução, pois qualquer trabalho necessita da
como o “coração da fábrica”, já que as três linhas juntas correspondem a 30% do volume total singularidade de como o trabalhador faz uso de si, e dos outros. Pelo fato de o trabalho se apoiar
produzido pela empresa. em uma dimensão subjetiva, o “si” também pode ser considerado um corpo, pois não existe uma
situação de trabalho que não venha a comprometer o “si”. Isso acontece pois, não é possível
A fase do acompanhamento dos trabalhadores em suas atividades de trabalho teve como propósito dissociar um corpo para o trabalho e um corpo para a vida pessoal, já que ambas as partes se
compreender os aspectos de gestão do trabalho ali envolvidos, uma vez que cada indivíduo comunicam permanentemente (Schwartz, 1996).
possui uma forma única e singular de agir. Posteriormente, foram realizadas entrevistas. Foram
cinco entrevistas individuais com os operadores do setor (linhas Forvet), além de uma com o Todo trabalho é direcionado por normas e prescrições, e nessa dialética de uso de si, o trabalhador
coordenador de produção. As entrevistas seguiram um roteiro com questões semiestruturadas ao renormalizar uma norma por meio de seus saberes e valores, faz uso de si em função dele
com base referencial e no que se “observou” inicialmente. A abordagem em entrevista visa que próprio e em função dos outros, pois em um posto de trabalho jamais se trabalha totalmente
o trabalhador para além de responder questões, possa refletir sobre o seu trabalho e verbalizar sozinho. Com isso, pressupõe-se que todo trabalho é também em função do coletivo, ou seja,
aspectos esclarecedores de suas atividades validando (ou não) o entendimento do pesquisador. “uso de si pelos outros”, em que os outros são considerados os colegas de trabalho próximos e
As entrevistas foram gravadas, e, posteriormente, transcritas e submetidas à análise de conteúdo também os trabalhadores responsáveis em fazer as prescrições do trabalho. Enfim, “os outros”
(Bardin, 2012). são todos os trabalhadores que estão envolvidos na atividade, desde a elaboração a execução
(Schwartz, 2000; Schwartz, 2010c; Schwartz et al., 2010; Holz & Bianco, 2014).
A análise de todo o material foi feita e as categorias de análises foram definidas a posteriori.
Contudo, nesta proposição será discutida uma das categorias de análise gerada, aqui apresentada Em qualquer que seja o trabalho há também “uso de si por si”, que é algo absolutamente singular
como um recorte de toda a pesquisa. A categoria discutida neste texto é: Os usos de si em e momentâneo, não consegue ser repetido por outra pessoa ou em outro momento. Por conta
benefício do trabalho. dessa ideia, que o “uso de si por si” corresponde a toda troca existente entre o trabalhador
e seu trabalho em um espaço de tempo, em que o sujeito trabalhador faz o uso de todos os
Análise E Discussão Dos Dados: Os Usos De Si Em Benefício Do Trabalho conhecimentos já adquiridos em sua história, além de sua sensibilidade e sua forma corporal
para a execução do trabalho, de forma espontânea (Duraffourg et al., 2010).
Numa pesquisa, para se analisar e interpretar melhor as situações de trabalho é importante
conhecer o ambiente e suas possíveis implicações sobre o trabalho, isto é, compreender a O “uso de si por si” se refere ao posicionamento que o trabalhador toma ao perceber que a
relação existente entre os trabalhadores participantes e a organização e, também, a relação prescrição da atividade não corresponde ao que de fato será executado. Então, o trabalhador

1347 1348
confronta e cria estratégias de acordo com seus valores, buscando minimizar os desafios do seu Depois das lapidações, o operador joga água nas ventosas da máquina, as ventosas servem
ambiente de trabalho e se adequando ao seu meio, já que o meio sempre é gerido como um uso para elevar a peça de vidro e equiparar com as cabeças lapidadoras. Essa prática de jogar água
de si (Schwartz, 2000; Schwartz et al., 2010). No fundo, essa renormalização só acontece pelo acontece também nas correias que transportam as peças de vidro entre a Chiara e a Francesca –
fato de o cumprimento dos objetivos e exigências das tarefas serem muito mais complexas do as duas máquinas fazem parte da linha de produção Forvet. O objetivo é limpar qualquer resíduo
que suas prescrições previam (Schwartz & Echternacht, 2007). que possa existir de pó de vidro. Ao serem questionados sobre a constância em que jogam água,
os trabalhadores não souberam responder o padrão, já que não existe um normativo, mas foram
Sabe-se que em qualquer situação de trabalho sempre haverá a aplicação de normas antecedentes, unanimes em dizer “sempre que é lapidado uma peça grande”.
entretanto a qualquer tempo haverá também decisões parcialmente não antecipáveis (Schwartz
& Echternacht, 2007; Durrive & Schwartz, 2008; Schwartz, 2010c). Nas linhas de produção Apesar dos trabalhadores da Forvet não saberem responder com que frequência jogam água
Forvet, apesar de possuir normativos de operação, não existe nenhuma prescrição sobre o nas ventosas e nas correrias transportadoras, são enfáticos que se não jogarem água com certa
avanço das quatro cabeças de lapidação das Forvet 1 e 2. A Forvet 3 por ser a máquina mais frequência, as peças futuras podem arranhar por conta do pó de vidro que fica grudado na
nova, tem seu valor de lapidação pré-estabelecido. As cabeças são responsáveis por lapidar e máquina, o que levaria a uma perda. O trabalhador ao fazer uso de suas subjetividades para
polir os filetes das peças de vidro (lapidação nas laterais das peças). Como os operadores das fazer escolhas sobre jogar água nas ventosas e correias, ele faz uso de seus conhecimentos, de
Forvet 1 e 2 tem a escolha sobre o avanço que colocarão em cada peça, cada um coloca o avanço seus limites, de seus valores e de suas capacidades. Pelo fato do trabalhador fazer uso de si,
que acredita trazer um acabamento melhor para a peça. A seguir o relato de dois trabalhadores doando-se, intelectualmente e fisicamente, é que uma atividade não é somente execução, pois
das linhas. envolve o sujeito trabalhador (Schwartz, 1996; 2004; Schwartz et al., 2010).

“Cada operador coloca o parâmetro que acha melhor. Eu gosto de ver o filete da peça Assim que as peças de vidro saem do processo de lapidação, elas passam pelas esteiras que
lisinha e brilhando, então, eu vejo o tanto que eu posso lapidar de cada lado da peça. Só transportam até a máquina Francesca para fazerem furo ou recorte. Os furos nas peças são
tem que ficar de olho para não lapidar muito e a peça ficar menor que a dimensão que o feitos por uma ferramenta de furo (broca), que são trocadas de acordo com a espessura do vidro
cliente pediu.” José que está na máquina. Se não for feita a troca da ferramenta, o acabamento do furo ou do recorte
pode vir a ficar ruim e a peça pode vir a quebrar. No normativo da Forvet é ensinado como afiar
“Aqui na empresa não existe um padrão para lapidação, mas sempre que chega uma a ferramenta de furo ou quando trocá-la, e não, quando afiá-la.
peça grande eu reduzo a velocidade de avanço da máquina. Eu faço isso, pois não dá para
arriscar fazendo um avanço profundo e acabar perder uma peça grande. Além do mais, a O operador quando questionado sobre a frequência com que fazia a afiação, não soube responder
qualidade do filete vai depender dos polimentos, pois se todos estiverem ativados, a peça de modo exato. Mas, disse que antes a afiação da ferramenta era feita uma vez ao dia, na parte
sai com um filete mais bonito. ” Lucas da manhã, quando pegavam o turno. E que depois, os próprios operadores começaram a perceber
que no período da tarde começava a haver perdas de peças de vidro. Com isso, os próprios
Ao analisar o relato dos trabalhadores, é possível observar que cada profissional vai lidar trabalhadores decidiram em conjunto afiar duas vezes ao dia. Logo, criaram uma nova norma
com o avanço de uma maneira diferente, pois não é possível padronizar a maneira de agir dos antecedente. E, por conta da curiosidade exposta em saber quantas peças de vidro a ferramenta
trabalhadores. Além de que, é impossível esperar que os trabalhadores tenham a mesma atitude já tinha feito furo até as 15h, o trabalhador olhou no sistema e constatou, que 121 furos já
frente as situações de trabalho, pois cada trabalhador faz escolhas e usos de si de acordo com tinham sido feitos até aquele horário.
sua própria história, com seus valores, sua subjetividade e com o meio que está inserido, ou seja,
em cada situação o trabalhar é único (Schwartz et al., 2010). Os operadores, ao decidirem em conjunto, afiar as ferramentas de furo duas vezes ao dia,
tomaram uma decisão baseada no saber do meio, já que os conhecimentos tácitos de cada

1349 1350
operador passam a ser explícitos e são incorporados durante as atividades de trabalho. As importância de se ir conhecer o trabalho de perto, conhecer as situações de trabalho, e entender
atividades ocultas apesar de estarem ligadas com a história e a trajetória do trabalhador, elas os valores usados nos debates que guiam esses trabalhadores (Schwartz, 2014).
acabam socializando e passando para o coletivo. O coletivo são combinações de indivíduos
singulares que reconfiguram o meio, que dividem conhecimento e se ajudam de forma mútua, Referências
fazendo uso de si e dos outros (Duraffourg et al., 2010; Bianco, 2014).
Athayde, M.; Brito, J. (2010). Introdução à edição brasileira: Ergologia é um livro-ferramenta, uma
Com as noções de uso de si, uso de si por outros e usos de si por si, observou-se que a atividade tecelagem que se propaga. In: Schwartz, Y.; Durrive, L. (Org.). Trabalho & Ergologia: conversas
é sempre um campo a se viver, com uma troca de técnicas, saberes e valores. sobre a atividade humana (p. 47-82). Niterói, RJ: EdUFF.

Considerações Finais Athayde, M.; Brito, J. (2011). Ergologia e clínica do trabalho. In: Bendassolli, P. F.; Soboll, L. A. P.
(Org.). Clínicas do trabalho: novas perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade (p.
Definir uma situação de trabalho se torna impossível e indescritível, pois não são padronizadas, 258-281). São Paulo, SP: Atlas.
e não possuem um limitador de espaço e tempo. Mas de algum modo, é caracterizada como um
ambiente singular e técnico (Schwartz, 2010c). Isso supõe que existe uma infiltração da história Bardin, L. (2012). Análise de conteúdo. São Paulo, SP.
do sujeito trabalhador nas situações de trabalho, pois por meio das particularidades e saberes
dos sujeitos e da sociedade, o ser humano busca gerir os protocolos e normas, e assim, recompor Bellies, L.; Efros, D.; Schwartz, Y. (2013). Héritages du passé, travail et urgences actuelles: la
o ambiente de trabalho de acordo com o meio em que vive (Schwartz, 2010b). mise à l’étude annuelle des “tâches du présent”. Sciences de l’Homme et société/Philosophie,
201-208. Retrieved from: https://halshs.archives-ouvertes.fr/halshs-01021714/document
No decorrer da presente pesquisa buscou-se analisar as situações de trabalho envolvendo
operadores de três linhas de produção automáticas – denominadas Forvet - da empresa Bianco, M. F. (2014). Ergologia: Uma perspectiva analítica para o trabalho humano. In: Souza,
beneficiadora de vidros. Para refletir sobre o trabalho usando a perspectiva ergológica, E. M. (Org). Metodologias e analíticas qualitativas em pesquisa organizacional (pp. 275-293).
foi necessário ir ao encontro dos trabalhadores, permanecendo horas no campo e fazendo Vitória, ES: EDUFES.
observações diretas, questionamentos sobre as atividades realizadas e tarefas, além de
entrevistas com os próprios operadores. Neste período esforçou-se para compreender os usos Castejon, C. (2016). C’est un truc que j’ai jamais compris, ceci est un indice de l’activité:
de si nas condutas e por meio das falas reflexivas do processo de entrevistas, mostrando as inventer des formes pour penser autrement. Ergologia, 15, 81-106. Retrieved from: http://www.
ações dos trabalhadores que investem seus saberes de forma pessoal e única, e que as pautam ergologia.org/uploads/1/1/4/6/11469955/art._4.pdf
nos valores, nas experiências, além das histórias presentes no meio.
Duraffourg, J.; Duc, M.; Durrive, L. (2010). O trabalho e o ponto de vista da atividade. In: Schwartz
Com as noções de uso de si, uso de si por outros e usos de si por si, observou-se que nas Y.; Durrive, L. (Org.). Trabalho & Ergologia: conversas sobre a atividade humana (p. 47-82).
atividades são usados os saberes coletivos, que muitas vezes vieram das experiências passadas Niterói, RJ: EdUFF.
pela própria equipe. Como a equipe está junta há algum tempo, a convivência cotidiana e a
dependência de se desenvolver para o trabalho com base na experiência do outro criaram um Durrive, L.; Schwartz, Y. (2008). Revisões temáticas: glossário da Ergologia. Laboreal, 4 (1), 23-
sentimento de grupo, que é permeado pela responsabilidade, pela solidariedade e necessidade 28. Retrieved from: http://laboreal.up.pt/pt/articles/glossario-da-ergologia/
em sempre alertar outros sobre os perigos da atividade, além de ser perceptível aspectos de
confiança, e de amizade que, muitas vezes, transcendem o meio. Assim, se espera ter mostrado a Efros, D.; Lemaître, C.N; Bellies, L. (2015). Analyser l’activité pour comprendre le travail. Assises

1351 1352
du ceperc, junho, Aix-en-Provence, France, 1-9. Retrieved from: https://hal-amu.archives-
ouvertes.fr/hal-01291595 ______. (2010a). A dimensão coletiva do trabalho e as Entidades Coletivas Relativamente
Pertinentes (ECRP). In: Schwartz Y.; Durrive, L. (Org.). Trabalho & Ergologia: Conversas sobre a
Holz, E. B.; Bianco, M. F. (2014). Ergologia: uma abordagem possível para os estudos atividade humana (p.149-164). Niterói, RJ: EdUFF.
organizacionais sobre trabalho. Cad. EBAPE.BR, 12 (Edição Especial), 494-512. Retrieved from:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape/article/view/9106 ______. (2010b). Reflexão em torno de um exemplo de trabalho operário. In: Schwartz Y.; Durrive,
L. (Org.). Trabalho & Ergologia: Conversas sobre a atividade humana (pp. 37-46). Niterói, RJ:
Maggi, B. (2006). Do agir organizacional: Um ponto de vista sobre o trabalho, o bem-estar, a EdUFF.
aprendizagem. São Paulo, SP: Edgard Blücher.
______. (2010c). Uso de si e competência. In: Schwartz Y.; Durrive, L. (Org.). Trabalho & Ergologia:
Moraes, T. D.; Schwartz, Y. (2017). Ergological perspectives for the use of driving simulators. Conversas sobre a atividade humana (pp. 205-221). Niterói, RJ: EdUFF.
Temas em Psicologia, 25 (4), 1605-1619. Retrieved from: http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S2358-18832017000401589&script=sci_arttext&tlng=en ______. (2014). Motivações do conceito de corpo-si: corpo-si, atividade, experiência. Letras de
Hoje, 49 (3), 259-274. Retrieved from: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/
Noel, C.; Revuz, C.; Durrive, L. (2010). O trabalho e o sujeito. In: Schwartz Y.; Durrive, L. (Org.). article/viewFile/19102/12151
Trabalho & Ergologia: conversas sobre a atividade humana (p. 223-243). Niterói, RJ: EdUFF.
Schwartz, Y; Duc, M.; Durrive, L. (2010). Trabalho e uso de si. In: Schwartz Y.; Durrive, L. (Org.).
Paladini, E. P. (2008). Gestão da qualidade: teoria e prática. São Paulo, SP: Atlas. Trabalho & Ergologia: Conversas sobre a atividade humana (pp. 189-204). Niterói, RJ: EdUFF.

Salerno, M. S. (2000). Análise Ergonômica do Trabalho e Projeto Organizacional: uma discussão Schwartz, Y.; Echternacht, E. H. (2007). O trabalho e a abordagem ergológica: “usos dramáticos
comparada. Produção, Edição Especial, 45-60. Retrieved from: http://www.scielo.br/scielo. de si” no contexto de uma central de tele-atendimento ao cliente. Informática na Educação: Teoria
php?script=sci_arttext&pid=S0103-65131999000400003 & Prática, 10 (2), 9-24. Retrieved from: http://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/
article/view/6029
Schwartz, Y. (1996). Trabalho e valor. Tempo social, 8 (2), 147-158.

______. (2000) Trabalho e uso de si. Pro-posições, 5(32), 34-50. Retrieved from: https://
periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8644041

______. (2004) Circulações, dramáticas, eficácias da atividade industriosa. Trabalho,


Educação e Saúde, 2(1), 33-55. Retrieved from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1981-
77462004000100004&script=sci_abstract&tlng=pt

______. (2004b). Trabalho e Gestão: níveis, critérios, instâncias. In: Figueiredo, M.; Athayde, M.;
Brito, J.; Alvarez, D. (Orgs.). Labirintos do Trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo
(p. 23-36). Rio de Janeiro, RJ: DP&A.

1353 1354
Capítulo 133 luzes para mostrar como as relações de trabalho estão permeadas por relações de afetividade,
especialmente se for considerada a natureza deste novo mercado.
Estudo sobre as percepções de saúde no trabalho de cuidadores de idosos Justifica-se a realização deste estudo pela importância de aprofundar a discussão sobre os
efeitos da organização e da natureza do trabalho na saúde do cuidador de idosos. Saúde no
Jandir Pauli1, Priscila Cerutti2, Vanessa Rissi3 y Paula Gomes4
trabalho não significa apenas ausência de sofrimento, mas o potencial que cada trabalhador
possui de utilização dos recursos internos e externos para transformação do sofrimento em
prazer e realização (Giongo, Monteiro, & Sobrosa, 2015). Em especial, na transformação dos
A profissão de cuidador de idosos foi regulamentada no Brasil em 2012 (Lei 284/2011). Tal
fatores da organização do trabalho que causam o sofrimento seguindo a intenção de estabelecer
lei formalizou os requisitos para exercício da profissão e estabeleceu que estes trabalhadores
uma relação mais gratificante e reconhecida no processo laboral (Mendes, 2004).
podem atuar nas casas dos idosos ou em instituições de longa permanência. Quando atuarem nas
casas, os contratos de trabalho deverão seguir as regras válidas à contratação de empregados
Por isso, foram entrevistados 10 cuidadores, que possuem outros empregos formais e exercem
domésticos (Brasil, 2011).
a atividade de cuidador de idosos como um trabalho complementar, na intenção de obter maior
renda. Buscou-se por profissionais que estivessem nessa profissão há mais de 2 anos, com
Estudos recentes mostram que as tarefas realizadas pelo cuidador podem vir a gerar eventos
o objetivo de possuir tempo considerável na profissão, agregando maior contribuição com a
estressores significativos, causando sofrimento e prejuízos ao profissional (Carraro, Magalhães,
pesquisa, independente de escolaridade, nível sócio econômico, idade ou sexo. No que se refere à
& Carvalho, 2016), especialmente, quando esses profissionais buscam o trabalho de cuidador
averiguação dos resultados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2010).
como um trabalho informal, visando complementara renda. E nesse sentido, as duplas jornadas
de trabalho, aliadas à repetição de tarefas e ao baixo salário, desencadeiam sofrimento físico-
Entre os achados da pesquisa, evidenciou-se que a intimidade entre cuidadores e idosos é um
psíquico nos cuidadores (Lopes, Mitre, Coelho, & Queiroz, 2012; Martinez & Brêtas, 2004).
elemento constitutivo das relações de trabalho, e está associada ao conhecimento e informações
compartilhadas, expressos pelo compartilhamento de segredos, informações corporais e
Assim, além destes componentes estressores típicos da organização do trabalho, este estudo
memórias de situações difíceis vivenciadas anteriormente pelos idosos. Essas questões indicam
considera que há um aspecto elementar relacionado à natureza do trabalho e que interfere na
condições de afeto e muitas vezes necessidade de suporte emocional:
saúde do cuidador: o componente afetivo inerente às relações de cuidado. Esta perspectiva,
conhecida como economia do cuidado (care economy), sugere que o trabalho do cuidado possui
Segredos existem sim. Somos muito psicólogas. Tive uma paciente que estava com câncer
características próprias e tem se mostrado um grande desafio na contemporaneidade (ILO,
de pulmão, bem sofrida, do interior, e ela compartilhou comigo que tinha sido estuprada
2018).
na infância. Ela pediu para eu não falar paraninguém, mas que ela precisava compartilhar
e botar para fora. Existe muito isso de segredos, como eles nos falam, a gente tem que
O estudo pretende trazer uma contribuição acerca dos reflexos que o trabalho do cuidador de
guardar para a gente. E por mais que as pessoas peçam (médicos, familiares) a gente não
idosos traz à saúde deste profissional, especialmente os que desenvolvem a atividade de cuidador
fala. Se o idoso quiser ele mesmo diz. É segredo! (C1 – 32 anos).
como uma segunda profissão, realizando o cuidado no próprio domicílio do idoso ou em clínicas
de longa permanência. Acredita-se que investigar o trabalho destes profissionais pode trazer
Eles contam as coisas pra gente, a vozinha que eu cuido sempre me conta que sofreu na
1. Faculdade Meridional – IMED – Passo Fundo – RS - Brasil. Email: jandir.pauli@imed.edu.br vida, o marido que batia nela. Bá! Ela chora. Agora que podia viver bem está doente e os
2. Faculdade Meridional – IMED – Passo Fundo – RS – Brasil. Email: ceruttipriscila@gmail.com filhos trabalham e não tem muito tempo de cuidar, dai ela fica comigo uma noite sim e
3. Faculdade Meridional – IMED – Passo Fundo – RS - Brasil. Email: vanessa.rissi@imed.edu.br
4. Faculdade Meridional – IMED – Passo Fundo – RS – Brasil. Email: paulagomesrd@gmail.com
outra não, mas ela sempre conta as tristezas dela (C5- 48 anos).

1355 1356
que não aguentou muito, pegou e largou de mão, é sofrido. Eu acho que a pessoa tem que estar
Encontram-se, também,evidências relacionadas ao luto, ao sofrimento que o cuidador enfrenta preparada, tem muita coisa triste” (E 10- 37 anos).
quando o idoso vai a óbito. Todos os entrevistados mencionam dificuldades no enfrentamento da
morteem razão dos laços afetivos criados com o idoso na relação de trabalho, pois “nada supre O reconhecimento do investimento no trabalho é um ponto de alicerce para a saúde mental,
a lacuna de quando um vem a falecer. É muito difícil. Essa barreira que você tem que passar, é pois permite que o trabalhador desenvolva senso de identidade e sentimento de pertencimento
complicado no momento que você perde (C1- 32 anos). E, ainda, “eu sinto de ver o luto, às vezes (Lima, 2013). Relacionado a isso, é relevantecompreender o que diz respeito à percepção
o vínculo é muito grande, a gente se apega, afetivamente, tu acaba se envolvendo” (C3- 30 de falta de reconhecimento: “não somos reconhecidos como deveríamos. Fizemos das tripas
anos). coração e nunca é o suficiente, nunca está bom. É sofrido pra gente” (C1 – 32 anos). O trabalho
realizado pelo cuidador envolve elementos de invisibilidade laboral, como é o caso da dedicação
O sofrimento gerado no trabalho de cuidadortambém contempla aspectos relacionados à à dimensão efetiva, sentimental e comportamental na relação com o idoso. Esta particularidade
sobrecarga de trabalho, o quegera ambientes propícios ao estresse, com elevadas cargas do trabalho invisível voltado ao cuidado repercute como variável para a falta de reconhecimento,
psíquicas no trabalho devido às demandas relacionais e comportamentais dos idosos (Rote, como aponta Lima (2012).
Angels, & Markides, 2001; Dejours, 2009): “lá pela meia noite acalma, aí agente tem um
intervalo, para lanchar e descansar, mas às vezes quando tem paciente muito doente, ou muito À guisa de considerações finais, este estudo lançou luz, especialmente, sobre elementos
agitado, tem dias que não dá para parar” (C8 -45 anos). Assim como: geradores de sofrimento no trabalho de cuidadores que exercem a atividade em segundo plano.
Neste sentido, identificou-se a sobrecarga de trabalho, do ponto de vista físico e emocional, a
(...) daí um dia ela me ligou no meu outro trabalho para saber onde que tava um pacotinho decepção gerada no confronto com o trabalho real e a falta de reconhecimento. A intimidade entre
de dinheiro que ela tinha guardado em tal lugar, daí eu disse que não sabia, mas que eu ia cuidador e cuidado foi constatada como um aspecto constituinte das relações de trabalho, que
sair do trabalho e ia ir lá ajudar a procurar (...) insinuou que eu tinha pego,eu quase morri suscita alto investimento por parte do cuidador, mas que não contribui com o reconhecimento,
na hora. Daí depois a filha dela achou esse dito pacote porque ela tinha trocado de lugar provavelmente em razão da invisibilidade deste elemento.
e não lembrava, foi quando iniciou a doença. Depois de uns dias,foi um brinco(...) a filha
dela sabia que ela tava esquecida, mas agente nunca sabe né. Podia achar que eu tava Referências
roubando. Então eu saí e fiquei com meu trabalho fixo (...)”.
Bardin, L. (2010). Análise de conteúdo. 4.ed. Lisboa: Edições70.
A lacuna entre o trabalho prescrito e o trabalho que realmente é executado pelos
cuidadores,também gera sofrimento, manifestado pelas falas dos entrevistados: “quando agente Brasil. Senado Federal. Secretaria-Geral da Mesa. Atividade Legislativa - Tramitação de
faz o curso, quando começa, acha que é uma coisa, e depois é bem diferente é bem trabalhoso, Matérias. Projeto de Lei do Senado nº 284, de 2011. Disponível em: <http://www.senado.gov.
tem que gostar mesmo, ter amor” (C4- 65 anos). E, “você vai com uma expectativa de que vai br/atividade/materia /get.asp?t=115376&tp=1>. Acesso em: 18 abr. 2018.
ser uma coisa, e você chega lá e ‘da com os burros na água’. Encontra-se barreiras, dificuldades,
o paciente não aceita, tem que ter um ótimo desenvolvimento psicológico” (C1 – 32 anos). Carraro, P., Magalhães, C., &Carvalho, P. (2016). Qualidade de vida de cuidadores de idosos
com diagnóstico de Alzheimer e o emprego de acupuntura – Revisão de Literatura. Mudanças -
O sofrimento oriundo do contato com o trabalho real vai exigir que o trabalhador improvise Psicologia da Saúde,24(2).
ou adapte sua maneira de sentir, pensar e agir (Dejours, Abdoucheli, & Jayet, 1994). Não
conseguindo, pode emergir o sofrimento ou até mesmo levar acomportamento de fuga, fazendo Dejours, C. (2009). Travail vivant: Travail et émancipation. Paris: Payot.
com que os profissionais venham a abandonar a profissão: “eu tinha uma colega durante o curso

1357 1358
Dejours, C., Abdoucheli, E., & Jayet, C. (1994). Psicodinâmica do trabalho: contribuições da
escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas.

Giongo, C., Monteiro, J., & Sobrosa, G. (2015). Psicodinâmica do trabalho no Brasil: revisão
sistemática da literatura. Temas em Psicologia, 23(4), 803-814.

ILO – International Labour Organization. (2018). A Economia do Cuidado. Disponível em: <http://
www.ilo.org/global/topics/care-economy/lang--en/index.htm>. Acesso em: 19 abr. 2018.

Lima, S. (2013). Reconhecimento no trabalho. Dicionário crítico de gestão e psicodinâmica do


trabalho. Curitiba: Juruá, 512, 351.

Lima, S. (2012). Coletivo de trabalho e reconhecimento: uma análise psicodinâmica dos


cuidadores sociais.

Lopes, R., Mitre, N., Coelho, M., & Queiroz, B. (2012). Perfil dos cuidadores das instituições de
longa permanência para idosos de Itaúna – MG. ConScientiae Saúde, 11(2), 338-344.
La diversidad organizacional y las redes de
Martinez, S. & Brêtas, A. (2004). O significado do cuidado para quem cuida do idoso em uma solidaridad en la América diversa
instituição asilar. Acta Paulista de Enfermagem,17(2),181-188.

Mendes, A. (2004). Cultura organizacional e prazer e sofrimento no trabalho: Uma abordagem


psicodinâmica. In: Tamayo, A.Cultura e saúde nas organizações. Porto Alegre: Artmed.

Rote, S., Angel, J., & Markides, K. (2015). Health of Elderly Mexican American Adults and Family
Caregiver Distress.Research on Aging, 37(3), 306-331.

1359 1360
Capítulo 134 de dados e informações junto a Rede Ecovida.

Agricultura Familiar e Práticas Agroecológicas


Um estudo sobre a rede ecovida de agroecologia
Ressalta-se que em termos conceituais, para ser assegurado o caráter familiar da produção
Josimari de Brito Morigi1
exige-se a presença, de ao menos um membro da família, que combine as atividades de
administrador da produção com a de trabalhador. Para Abramovay (1997, p. 3) a agricultura
familiar:
Introdução
[...] é aquela em que a gestão, a propriedade e a maior parte do trabalho, vêm de indivíduos
A exclusão social, a fome, a degradação ambiental, são problemas graves em nossa sociedade,
que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento. Que esta definição não seja
representam um desafio a ser transposto, e estão profundamente atrelados à dominação
unânime e muitas vezes tampouco operacional. É perfeitamente compreensível, já que
capitalista dos fatores de produção. Tais problemas evidenciam que o atual padrão de produção
os diferentes setores sociais e suas representações constroem categorias científicas
agrícola, voltado principalmente para as commodities e para a reprodução do capital, não tem
que servirão a certas finalidades práticas: a definição de agricultura familiar, para fins
priorizado a questão da seguridade alimentar da população e não tem dado a devida atenção à
de atribuição de crédito, pode não ser exatamente a mesma daquela estabelecida com
preservação do meio ambiente.
finalidades de quantificação estatística num estudo acadêmico. O importante é que estes
três atributos básicos (gestão, propriedade e trabalho familiar) estão presentes em todas
Contudo, vale destacar que a soberania alimentar pode constituir um novo paradigma
elas.
agroalimentar e remete a um extenso conjunto de relações, tais como a o direito dos povos
de deliberar sua política agrária e alimentar, que possa assegurar o abastecimento de suas
A agricultura familiar apresenta relevância significativa para o desenvolvimento econômico do
populações e a preservação do meio ambiente, e ainda, estabelecer um desenvolvimento mais
Brasil, bem como de seus estados e municípios, tanto no que se refere à geração de renda das
sustentável e também garantir a proteção de sua produção diante da grande concorrência dos
famílias envolvidas, como também no que diz respeito a produção de alimentos e na redução
países mais capitalizados, através da priorização de mercados e circuitos de comercialização
do êxodo rural, além de favorecer a realização de práticas produtivas ecologicamente mais
locais.
equilibradas, tais como a diversificação de cultivos e a diminuição da utilização de insumos
industriais. Dentro dessa conjuntura, Gomes (2004) enfatiza que a relevância da agricultura
A agricultura familiar em conjunto com os princípios da Agroecologia, representa um caminho
familiar tem se destacado devido às diversas discussões que vem ganhando força, especialmente
possível para se atingir a soberania alimentar brasileira. Busca-se neste estudo analisar a questão
considerando os debates alicerçados no desenvolvimento sustentável e na segurança alimentar.
da soberania alimentar brasileira, apresentando possíveis alternativas para uma sociedade mais
Conforme ressalta Meirelles (2004), os conceitos de soberania alimentar remetem a um
soberana, com destaque para a Rede Ecovida de Agroecologia que é integrada por agricultores
extenso conjunto de relações, com ênfase para o direito dos povos de definir sua política agrária
familiares dos três Estados da Região Sul do Brasil e do Estado de São Paulo, os quais estão
e alimentar, assegurando dessa maneira o abastecimento de suas populações, a preservação
organizados em associações ou cooperativas, e se articulam com associações e cooperativas de
do meio ambiente visando um desenvolvimento mais sustentável e a proteção de sua produção
consumidores, ONGs (Organizações Não Governamentais) e outras instituições que integram um
perante a concorrência dos países mais capitalizados.
núcleo regional.
A soberania alimentar é considerada um direito do povo e precisa ser alcançada por meio do
Como procedimentos metodológicos, adotou-se o levantamento bibliográfico e o levantamento
1. Universidade Estadual do Paraná. Email: josimorigi@gmail.com
desenvolvimento de práticas sustentáveis, para não colocar em risco a sobrevivência das futuras

1361 1362
gerações. A agricultura familiar de base agroecológica privilegia o resgate da produção de equilíbrio ecológico, reciclagem de nutrientes, insumos caseiros, conservação do solo e controle
alimentos saudáveis sem danificar a dinâmica dos ciclos da natureza. De acordo com Araújo de pragas e doenças de maneira ecológica. Lembrando que a utilização de insumos próprios e
et al. (2010), nos cultivos agroecológicos são adotadas algumas práticas culturais de grande naturais na cultura contribui também para uma diminuição nos custos de produção, tornando-a
relevância, tais como o manejo adequado do solo, a adubação orgânica, a rotação de cultura, o ainda mais lucrativa ao produtor.
plantio em curvas de nível, melhor controle da irrigação, preservação dos microrganismos do solo,
uso de coberturas vegetais e adubação verde, controle biológico, etc. Sendo que essas práticas A Rede Ecovida de Agroecologia
visam a realização de plantios que sejam sustentáveis e que proporcionem o desenvolvimento
saudável das plantas, assegurando uma produção de qualidade diferenciada e que não agrida o Vale ressaltar que a Rede Ecovida de Agroecologia apresenta em si uma trajetória de lutas e
meio ambiente. Isto proporciona um valor agregado aos produtos e contribui para o aumento da conquistas fundamentadas em esforços coletivos em prol ao fortalecimento da agricultura de
renda dos agricultores. base agroecológica. Nesse sentido, Perez-Cassarino (2012, p, 41) pontua que:

Contribuindo com o exposto, Meirelles (2004) pontua que as formas de produção sustentáveis A Rede foi constituída em 1998, mas o processo que lhe deu origem é anterior.
as quais abrangem a soberania alimentar, a agroecologia, tal como a consequente valorização de Inicialmente foram os movimentos contestatórios ao modelo tecnológico da agricultura
produtos locais vem sendo cada vez mais reivindicadas por agricultores familiares e consumidores de final dos anos 1970 e início dos anos 1980; em seguida começaram a se desenvolver
e também estão sendo apoiadas por políticas públicas, uma vez que acabam proporcionando “experiências” e a multiplicação das iniciativas práticas, quando se constituiu a Rede
alimento mais saudável à população, bem como respeitam e preservam o meio ambiente. TA-Sul (Rede de Tecnologia Alternativa do Sul do Brasil), que levou à constituição da Rede
Ecovida.
Nesse contexto, Araújo et al. (2010) afirmam que a agroecologia é um movimento social que
envolve a gestão da agricultura a partir de um modelo sustentável, o qual se caracteriza pela não Conforme supracitado, a Rede Ecovida de Agroecologia foi criada em 1998, reúne agricultores
utilização de substâncias químicas de síntese e pelo respeito ao meio ambiente e pelos ciclos familiares, organizações e movimentos, além de ONGs, organizações de apoio e de consumidores,
naturais de vida, permitindo a obtenção de alimentos de qualidade, considerando os aspectos de e representa um interessante espaço de articulação entre agricultores familiares, organizações
dignidade de vida para o agricultor. Assim sendo, a agricultura orgânica é o sistema agronômico de assessoria e pessoas envolvidas com a produção, processamento, comercialização e consumo
dentro da agroecologia. de alimentos ecológicos. A rede está organizada em 27 núcleos regionais, sendo 26 espalhados
pela região Sul do Brasil e 1 em São Paulo, em Barra do Turvo, que em conjunto abrangem
O mercado de produtos orgânicos encontra-se em considerável ascensão, sobretudo, em cerca de 352 municípios. Atualmente são mais de 4,5 mil famílias de agricultores familiares
decorrência das vantagens que o consumo deste tipo de alimento pode proporcionar, tanto no articuladas nesta rede e organizadas em 300 grupos, 30 organizações da sociedade civil, 20
que se refere a saúde humana quanto para o ambiente. Ademais, a viabilidade econômica desse cooperativas e associações de consumidores e 100 unidades de processamento. Em toda a área
mercado acaba favorecendo o aumento da produção e melhorando a renda dos agricultores. de atuação da Ecovida acontecem mais de 120 feiras livres ecológicas e outras modalidades
Nessa mesma linha de raciocínio, Buainain et al. (2003) destaca que a crescente demanda por de comercialização. Ademais, a Ecovida possui princípios e objetivos bem definidos e busca
produtos orgânicos pode proporcionar a expansão da produção e da geração de renda para os fortalecer a Agroecologia em seus mais amplos aspectos, conforme o Quadro 1; disponibilizar
produtores familiares. informações entre os envolvidos e criar mecanismos legítimos de geração de credibilidade e
de garantia dos processos desenvolvidos por seus membros, por meio de certificação (Rede de
Salienta-se ainda que, no que tange a necessidade da diversificação da produção pelos pequenos Agroecologia Ecovida, 2018).
produtores, Beltrão (2002) ressalta que há uma maior facilidade e uma melhor adaptação
por esses agricultores aos princípios da agricultura orgânica, principalmente pela indução do

1363 1364
Nesse contexto, Meirelles (2004), pontua que a Ecovida destaca o mercado local não somente
como uma localização geográfica, mas também como um processo de comercialização que almeja:
i) facilitar o acesso ao alimento ecológico (democratizar, popularizar e massificar o consumo de
produtos ecológicos); ii) reduzir a distância entre produtores e consumidores, estabelecendo
relações solidárias; iii) valorizar os serviços sócio-ambientais gerados; iv) compartilhar os
benefícios da comercialização entre os envolvidos; v) proporcionar a cooperação, transparência
e complementaridade entre os envolvidos e vi) promover a crescente inclusão dos agricultores
e consumidores ao mercado.

Magnanti (2008) destaca três princípios básicos norteadores das atividades da Ecovida: i) todos
os produtos ofertados para a comercialização precisam ser de origem ecológica e certificados
pelo Selo da Rede Ecovida (Figura 1), e obrigatoriamente devem ser oriundos da agricultura
familiar, o que privilegia a segurança alimentar dos produtores e consumidores; ii) todas as
organizações, além de vender, devem comprometer-se em comprar das demais organizações
do circuito, garantindo a troca e aumentando a diversidade de produtos ofertados e iii) a
Dentro desse contexto, cabe enfatizar que a Rede Ecovida se destaca como uma organização valoração dos produtos é feita de forma justa e transparente, reavaliada periodicamente, busca-
que segue princípios de produção agroecológica e que valoriza o consumo de alimentos se remunerar justamente o agricultor, e ao mesmo tempo, ofertá-los a um valor acessível aos
produzidos localmente. Meirelles (2004, p.13) destaca que os membros da Ecovida “têm consumidores.
buscado privilegiar os mercados locais para o escoamento de sua produção”. Darolt (2013,
p. 148) complementa que “no Brasil, a maioria dos produtores de base ecológica com bons
resultados de comercialização em circuitos curtos tem utilizado pelo menos dois canais de
venda, feiras e programas de governo”. Segundo Sepulcri e Trento (2010) os mercados locais
configuram-se como elementos estratégicos para os agricultores familiares, uma vez que essa
parcela importante da categoria social acaba sendo muitas vezes, menosprezada no processo de
comercialização, de modo particular no mercado de commodities.

Visando uma melhor articulação interna, os grupos organizam-se em uma rede horizontal, pois
assim pode estimular a responsabilidade coletiva por meio da atuação conjunta dos núcleos
regionais, fortalecendo desse modo, os sistemas de produção e os comércios locais. Sendo que,
a Rede Ecovida tem buscado o mercado local como alvo principal para o escoamento de sua
produção. Ressalta-se ainda que, as células de comercialização desta Rede são basicamente
as feiras livres, os mercados institucionais, as cooperativas de consumidores, os pontos de Vale mencionar que a Rede Ecovida tem se empenhado na construção de um processo diferente
abastecimento popular, e as pequenas lojas e comerciantes (Rede de Agroecologia Ecovida, de certificação denominado “participativo em rede” (CPR), o qual se contrapõe ao modelo mais
2018). convencional que é realizado por meio de auditoria por inspeção externa. Além disso, o CPR

1365 1366
envolve um processo que fomenta a credibilidade, o qual implica a participação solidária de todos a longo prazo, está a consolidação de sua capacidade de obtenção e manutenção de resultados
os segmentos interessados em garantir a qualidade do produto final e do processo de produção. econômicos efetivos sem a necessidade de abdicar dos princípios da economia solidária e da
Sendo que tal processo resulta de uma dinâmica social que emerge a partir da integração entre Agroecologia que norteiam a Rede Ecovida. A superação desse desafio engloba questões de
os envolvidos com a produção, o consumo e a divulgação dos produtos a serem certificados. políticas públicas e outras de natureza prática e organizativa.

Magnanti (2008) também enfatiza que o circuito de circulação de alimentos da Rede Ecovida Por fim, salienta-se que a organização social da Rede Ecovida busca privilegiar relações de
(Figura 2) funciona em oito rotas estratégicas que estão articuladas com base em sete estações- reciprocidade, como por exemplo, por meio da troca de produtos, de sementes e de experiências,
núcleos, localizadas nos municípios de Erechim (RS), Lages (SC), Curitiba (PR), Lapa (PR), e ainda estimula outras formas de cooperação no interior da rede. Ademais, a realização de feiras,
Palmeira (PR), Jesuítas (PR) e Porto União (SC), e dez subestações, localizadas nos municípios de reuniões de grupos e a participação em encontros regionais de articulação são elementos
de Passo Fundo (RS), São Mateus do Sul (PR), Lapa (PR), Palmeira (PR), Castro (PR), Cerro Azul essenciais para a construção de uma identidade comum e fomentam o seu projeto de autonomia.
(PR), Morretes (PR), Torres (RS), Praia Grande (SC) e Florianópolis (SC). Seu sistema de gestão Destarte, a rede vem desenvolvendo dispositivos comerciais que estão alicerçados em princípios
é considerado enxuto e se fundamenta especialmente na realização de reuniões mensais que da economia solidária, almejando uma justa distribuição de resultados, a melhoria das condições
ocorrem em rodízio nas estações ou subestações. Sendo que tais reuniões vêm sendo promovidas de trabalho e o compromisso com o meio ambiente e o bem-estar dos envolvidos no processo,
regularmente desde 2006, por ocasião da instituição do circuito. O escopo principal de tais até mesmo os consumidores. Contudo, cabe destacar que isso não evita, que na sua relação com
encontros é o aprimoramento das políticas que regulamentam o circuito, e ainda a realização agentes econômicos externos, tal como diante da falta de coordenação interna, alguns de seus
de planejamento e monitoramento das atividades, definição de estratégias comerciais para o agentes acabem se posicionando de maneira competitiva (Rover & Lampa, 2013).
escoamento de alimentos agroecológicos e a negociação dos preços praticados.
Considerações Finais

O setor agropecuário familiar desempenha considerável importância na geração de emprego


e na produção de alimentos de modo sustentável, especialmente para o autoconsumo e para a
comercialização local. Desse modo, está mais atrelada as funções de caráter social do que as
econômicas, haja vista sua menor produtividade e também sua menor incorporação tecnológica.
Todavia, vale destacar que a produção familiar, além de contribuir para a redução do êxodo rural,
representa a principal fonte de recursos para as famílias com menor renda, e ainda, contribui
significativamente para a geração de riquezas no Brasil.

Em síntese, destaca-se que o processo participativo dos agricultores familiares da Rede Ecovida
mostra-se como elemento fundamental para a construção de aspectos de confiabilidade e troca
de experiências entre os mesmos e com os consumidores. Originada a partir de reivindicações
por uma agricultura mais sustentável, a Rede, encontra-se alicerçada em princípios de produção
agroecológica. Nesse sentido, é importante frisar que a Rede Ecovida possui o potencial de
contribuir para a soberania alimentar brasileira e para a subsistência das famílias de agricultores
que a integra, e também para a prática de um desenvolvimento mais sustentável.
Em suma, ressalta-se que dentre os principais desafios colocados para a viabilização do circuito

1367 1368
Referências Rover, O; Lampa, F. (2013). Rede Ecovida de Agroecologia: articulando trocas mercantis com
mecanismos de reciprocidade. Revista Agriculturas – experiências em agroecologia, Rio de
Abramovay, R. (1997). Agricultura familiar e uso do solo. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Janeiro, vol.10, n.2.
v. 11, n. 2, p. 73-78
Sepulcri, O.; Trento, E. J. (2010). O mercado e a comercialização de produtos agrícolas - Curitiba:
Araújo, J. M. M. de.; Chagas, M. C. M. das.; Torres Filho, J.; Silva, N. V. da. (2010). Técnicas Instituto Emater.
agroecológicas aplicadas à agricultura familiar. Natal: EMPARN.

Beltrão, N. E. M. (2002). Agricultura orgânica e seu potencial como estratégia de produção. In


Artigos do Simpósio Nacional sobre as Culturas do Inhame e do Taro (p. 71-94), João Pessoa, PB.

Buainain, A. M.; Romeiro, A. R.; Guanziroli, C. (2003). Agricultura familiar e o novo mundo rural.
Sociologias, Porto Alegre, v. 5, n. 10, p. 312-347.

Darolt, M. R. (2013). Circuitos curtos de comercialização de alimentos ecológicos. In: Niederle,


P. A.; Almeida, L.; Vezzani, F. M. (Org.). Agroecologia: práticas, mercados e políticas para uma
nova agricultura. Curitiba: Kayrós, p. 139-170.

Gomes, I. (2004). Sustentabilidade social e ambiental na agricultura familiar. Revista de biologia


e ciência da terra, v. 5, n. 1.

Magnanti, N. J. (2008). Circuito Sul de circulação de alimentos da Rede Ecovida de


Agroecologia. Revista Agriculturas: experiências em agroecologia. Assessoria e Serviços a
Projetos em Agricultura Alternativa, v. 5, n. 2, p. 26-29.

Meirelles, L. (2004). Soberania alimentar, agroecologia e mercados locais. Revista


Agriculturas: experiências em agroecologia: AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em
Agricultura Alternativa, v. 1, n. 0, p. 11-14.

Perez-Casssarino, J. (2012). A construção social de mecanismos alternativos de mercado no


âmbito da Rede Ecovida de Agroecologia. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento).
Curitiba: UFPR.

Rede Ecovida. (2018). Recuperado de: http://www.ecovida.org.br/

1369 1370
Capítulo 135 O tema reveste-se de relevância teórica e empírica, porque se relaciona com os esforços de
sustentabilidade e qualidade de vida, ambos integrantes da agenda 2030. Ao mesmo tempo,
amplia a corrente de pesquisa sobre GR, ainda em evolução.
A influência da governança relacional nos resultados sociais de
cooperativas de material reciclável 2. Base teórica

Ernesto Michelângelo Giglio1, Lina Juliana Robayo Coral2, O campo de redes é multifacetado. Revisões bibliográficas (Miles, Snow, 1986; Grandori, Soda,
Victor Silva Correa3 y João Batista Neroni Júnior4 1995) indicam a presença mais forte de três paradigmas principais: racional, econômico e
social. A abordagem social considera que as redes contêm uma teia social, isto é, uma cultura
de relacionamentos entre atores que direciona e influencia suas ações técnicas, comerciais
1. Introdução e comportamentais. Esses relacionamentos são estabelecidos pela confiança, cooperação,
comprometimento, jogos de poder e comunicação (Granovetter, 1985; Dimaggio, Powell, 1983;
O campo de estudos de redes está se expandindo. Conforme dados do Scopus, enquanto trabalhos Gulati, Gargiulo,1999).
sobre business network somavam 3 mil em 1997, em 2017, já eram 66 mil artigos sobre o tema.
Na essência das diferentes abordagens sobre o tema, duas deles vêm se destacando: governança Entre os diferentes resultados dessa teia relacional, encontra-se a governança. A suposição, a
e os resultados. Sobre governança, insere-se na literatura a concepção, ainda hoje vigente, de ser partir de conhecimentos sobre dinâmica de grupo (Pichon-Riviere, 1998) é a que ambientes de
um conjunto de mecanismos compartilhados e seguidos pelos grupos (Grandori, Soda, 1995). A relacionamentos, caracterizados pela confiança e pelo comprometimento, favorecem a abertura
governança que surge das relações entre os atores é denominada relacional. de discussão e de acordo sobre regras. Nesta governança socialmente construída, aceita-se que
o grupo se torna mais focado, mais orientado para a tarefa, com poucos conflitos, facilitando a
A governança pode estar associada a resultados. Em políticas públicas, os resultados se referem obtenção de diferentes.
aos benefícios sociais. Organizar-se em redes pode significar eficiência no alcance dos resultados
(Castells, 1999). Neste trabalho, o foco se volta aos resultados sociais, cuja literatura foca na 2.1. Conceito de governança relacional
consolidação das atividades de planejamento do setor público (Bauer, 1967; Bustelo, 1982;
Carley, 1985; Miles, Snow,1986; Resende et al., 2010). A governança relacional pode ser entendida como as negociações, as decisões, os acordos, a
implantação e implementação de regras que nascem das interações do grupo. Esses ajustes
Neste trabalho os indicadores selecionados se referem à qualidade de vida dos atores cooperados, são necessários, já que acordos formais não abarcam todas as situações (Zaheer, Venkatraman,
na sua inserção social e econômica. À despeito do crescente interesse na associação entre 1995). A governança relacional é baseada em processos derivados de componentes sociais
governança e resultados, a ligação entre elas ainda não se demonstra claramente estabelecida. O como a confiança e ela permite o equilíbrio e coesão da rede, o que dificilmente se obtém
artigo busca contribuir nesse sentido, investigando redes de cooperativas de material reciclável. através de contratos formais (Grandori, Soda, 1995; Grandori, 2006). Milagres, Silva e Rezende
A proposição principal é que a presença de governança relacional-GR- possibilita melhores (2016) propõem um modelo de governança colaborativa, que ocorre pela junção da governança
resultados sociais das redes. processual, contratual e relacional, construída a partir da organização de cinco elementos
presentes na produção acadêmica: (1) identidade da rede – formada por elementos simbólicos e
1. Universidade Paulista Brasil. Email: ernesto.giglio@gmail.com cognitivos; (2) contratos psicológicos – entendidos como expectativas e suposições não escritas;
2. Fundación Universitaria de Popayán - Colombia. Email: lina.robayo76@gmail.com (3) visão coletiva – objetivos a serem alcançados; (4) sentimento de justiça, pertencimento
3. Universidade Paulista Brasil. Email: victorsilvacorrea@yahoo.com.br
4. Universidade Paulista Brasil. Email: joao.neroni@uol.com.br
e acolhimento; e (5) criação de ambiente seguro - recursos, informações e conhecimentos

1371 1372
compartilhados. 2.2. Sobre resultados sociais das redes

Para os propósitos deste trabalho, os itens 3 (visão coletiva) e 5 (ambiente seguro) são os mais As redes que se formam com objetivos de políticas públicas, ou voltadas às ações voluntárias,
próximos do conceito de governança relacional aqui compreendido. Isso porque valorizam as buscam resultados sociais para a população. No caso das redes que lidam com material reciclável,
relações entre os atores, aqui de destaque. Sobre os resultados obtidos, no entanto, são raros objeto do presente estudo, elas perseguem diversos objetivos - comerciais, sociais, políticos,
os estudos que definiram operacionalmente e com indicadores a relação entre governança ambientais e religiosos, muitos deles conflitantes. Neste artigo valorizam-se os resultados
relacional e resultados da rede. Este artigo procura preencher parte desta lacuna. Uma seleção sociais - qualidade de vida, melhora da saúde, lazer e condições de trabalho (Machado, 2006) –
de indicadores é apresentada no Quadro 1 a seguir. dos trabalhadores das cooperativas.

Quadro 1. Indicadores de governança relacional nas redes. Fonte: Construído pelos autores, 2018, a partir de Salienta-se que os indicadores de resultados sociais foram selecionados considerando-se o
conteúdos encontrados em Gamba, 2014; Bertoli, 2015; Veloso, 2016; Casarin, 2017 e Lima, 2017. critério de sua incidência na vida de cada cooperado, e não em índices demográficos genéricos,
tais como o de pobreza. Inseriram-se, aí, saúde física, o estado psicológico, as crenças, os
relacionamentos sociais e as relações com o meio ambiente (Schmidt, 2004; Diener, Suh,
1997). Para a seleção dos indicadores, foram consultadas medidas de qualidade de vida da
Organização Mundial de Saúde (OMS, 1992), o Índice de Desenvolvimento Humano (Jannuzzi,
2011), e os indicadores do Sistema de Bem-Estar da Escandinávia (Nussbaum, Sen, 1993). Os
indicadores estão no Quadro 2.

Quadro 2. Indicadores de resultados sociais sobre qualidade de vida dos cooperados. Fonte: Construído pelos
autores, 2018, a partir de conteúdos encontrados em Schmidt, 2004; Flanagan, 1982; Nussbaum e Sen,1993;
Omari, 2016; e Instituto Ethos, 2017.

1373 1374
2.3. Sobre correspondência entre governança relacional e resultados sociais A partir dos indicadores foi construído roteiro estruturado de entrevista. Além das entrevistas,
foram coletados dados de fontes secundárias, tais como contratos, atas de reuniões e notícias
A convergência mais clara é que as redes são uma forma de as organizações alcançarem na mídia. Os dados na forma de discurso foram analisados utilizando a análise temática
resultados difíceis, ou mesmo impossíveis de serem obtidos isoladamente (Nohria, Eccles, 1992; (Bardin, 2011), que consiste em inferir o conteúdo básico do discurso. As categorias de análise,
Grandori, Soda, 1995). Diferentes autores (Provan, Kenis, 2008; Jones, Hesterly, Borgatti, 1997; apresentadas na Figura 1, são formadas por 25 indicadores de governança relacional e 12 de
Milagres, 2016) salientam como a governança leva aos resultados. Wegner, Koetz e Wilk (2012) resultados sociais. Os sujeitos foram os atores das redes com conhecimento sobre as regras do
conseguiram evidenciar estatisticamente essa relação. grupo; e/ou sobre as mudanças na vida dos cooperados. Eles foram selecionados por critérios
teóricos.
Quando se trata especificamente da governança relacional, há raridade de trabalhos. Yang,
Wacker e Sheu (2012) investigaram a estimativa de eficiência de governança contratual e 4. Apresentação de Resultados
relacional sobre os resultados de custos de transação. Concluíram que a governança relacional é Foram investigadas quatro redes de material reciclável do Brasil. As duas primeiras redes aqui
mais efetiva que a contratual. Já Caldwell, Roehrich e George (2017) buscaram a relação entre investigadas se localizam em uma região de praia no Estado de São Paulo, denominada Baixada
governança e criação de valor social, evidenciando relação positiva entre a coordenação dos Santista.
relacionamentos e o impacto no desempenho social dos colaboradores.
4.1. Rede 1 – Guarujá- São Paulo
A relação entre governança relacional e resultados sociais é, portanto, item específico dos
grandes temas de governança e resultados. Seguindo a linha geral da afirmativa da relação Os dados de fontes secundárias foram obtidos no jornal A Tribuna, no site da cooperativa e em
positiva sobre esses dois temas, aceita-se, neste trabalho, que essa relação se mantém na duas entrevistas técnicas com o presidente da Cooperativa e com a coordenadora da Secretaria
especificidade da governança relacional e dos resultados sociais, especialmente em redes nas de Meio Ambiente local. Com os dados sobre relacionamentos entre as partes, foi possível
quais o objetivo social é um dos mais importantes. construir o desenho da estrutura da rede, apresentado na Figura 2 a seguir.

3. Metodologia Figura 2. Estrutura de ligações da Rede de Material Reciclável do Guarujá. Fonte: Construído pelos autores, 2018.

A Figura 1 foi construída a partir da relação entre governança relacional e resultados sociais.

Figura 1. Proposta de relação de facilitação entre a governança relacional e os resultados sociais de redes.

1375 1376
Figura 3: Estrutura de ligações da rede de material reciclável de Santos. Fonte: Construído pelos autores, 2018.
Foram entrevistados três sujeitos, sendo dois da Cooperativa do Guarujá e um da Prefeitura. A
convergência dos discursos foi sobre a relação entre a decisão dos cooperados sobre a forma
de remuneração (item 4.8 da governança) e o resultado social sobre formas de endividamento.
O sujeito 2 ilustra essa interpretação: “a gente estipulou para todo mundo um salário, um
salário mínimo; quando você arruma algo que dê uma renda já ajuda pra caramba, você não fica
dependente de ninguém, você não fica pedindo favor”. A segunda convergência foi entre o uso
de recursos e as condições/qualidade de trabalho. O conjunto de dados das fontes secundárias
e das entrevistas mostra correspondência entre indicadores de governança relacional e os de
resultados sociais, conforme Quadro 3.

Quadro 3: Correspondências entre indicadores de governança relacional e indicadores de


resultados sociais na rede de Guarujá. Fonte: Construído pelos autores, 2018.

Foram entrevistados três sujeitos, sendo um da prefeitura, um da Ong e um da cooperativa.


A convergência mais clara foi entre o uso de recursos e as condições/qualidade de vida dos
cooperados. “O município cede a área, apoia com a infraestrutura de logística operacional,
máquina, água, luz, segurança do espaço e faz a coleta... então o cooperado sai de um regime
de escravidão, digamos assim, onde ele é praticamente um escravo do depósito, e aí ele passa a
integrar um regime onde ele é considerado um cooperado”.

A característica de função social da cooperativa influencia na presença de outra convergência,


4.2. Rede 2 – Santos- São Paulo entre as regras de inclusão na cooperativa e a oportunidade de trabalho. Além das convergências,
também, houve relatos (especialmente do sujeito 3) sobre comportamentos oportunistas no
Nessa rede participam diretamente a prefeitura, Ongs, associações empresariais, sindicatos, uma passado. Eles acabaram por impactar em danos financeiros que persistem até hoje na cooperativa,
cooperativa e empresas compradoras. A Cooperativa de Material Reciclável da rede de Santos resultando em certa desconfiança dos parceiros de apoio, como a prefeitura. O Quadro 4 indica
nasceu com o objetivo de ocupação terapêutica para pacientes da saúde mental e também como as correspondências entre a governança relacional e os resultados sociais.
forma de ocupação e renda extra de aposentados. Essa origem acaba influenciando as decisões
dos gestores. A função social terapêutica continua forte, contrastando aos objetivos comerciais. Quadro 4: Correspondências entre os indicadores de governança relacional e os indicadores de
A Figura 3, a seguir, ilustra a estrutura de ligações da rede. resultados sociais na rede de Santos. Fonte: Construído pelos autores, 2018.

1377 1378
porque aqui nós não damos curso ... esse fato de ser ex-presidiário não tem problema nenhum”.
4.3. Rede 3- Rede Paulista
Outro item de convergência, sobre comércio e legalidade, foi entre treinamentos e normas de
A Rede Paulista é constituída de sete cooperativas, que formam uma rede ampla de atores, segurança. O terceiro item de convergência foi sobre o uso de recursos e as condições de saúde.
com prefeitura, Ongs, organizações religiosas (Cáritas Brasil e Ordem dos Franciscanos), Tal se mostrou diferente das redes anteriores, que privilegiavam as condições de trabalho.
universidades de apoio, compradores e fornecedores. Como fontes secundárias na forma de
entrevistas técnicas, foram coletados dados de dois gerentes administrativos da rede. Eles Conforme discursos dos entrevistados, as cooperativas que formam a Rede Paulista são
informaram a existência de um contrato entre a prefeitura e a rede de cooperativas, com organizações imaturas e instáveis, isto é, os recursos humanos precisam de treinamento e
normas de comercialização (coleta, organização, pesagem, entre outras) e de cooperativismo conscientização, além de itens básicos, como documentação. De fato, a grande maioria dos
(por exemplo, distribuir a renda de forma equitativa; agir de forma transparente). Os discursos cooperados nunca trabalhou em organização, sendo carrinheiros solitários. Tudo precisa ser
desses sujeitos mostram que as organizações envolvidas nem sempre valorizam a função social explicado e combinado e a regra de ouro é a transparência. Historicamente, a Rede Paulista
das cooperativas, agindo como atores de um mercado competitivo. Isto acaba por pressionar o tinha maior foco no bem-estar dos cooperados. Atualmente, contudo, busca equilíbrio entre
gestor da rede para assim proceder (por exemplo, substituindo pessoas pouco produtivas). A resultados sociais e ação comercial. O Quadro 5 resume as correspondências.
Figura 4 mostra a estrutura.
Quadro 5: Correspondências entre indicadores de governança relacional e indicadores de resultados
Figura 4: Rede de material reciclável, tendo como foco a rede Paulista da cidade sociais encontradas na rede Paulista. Fonte: Construído pelos autores, 2018.
de São Paulo. Fonte: Construído pelos autores, 2018

4.4. Rede 4 Rede de Várzea Grande- Mato Grosso

A rede está localizada no município de Várzea Grande, no Mato Grosso, e a cooperativa é a


Asscavag- Associação dos Catadores de Várzea Grande. Ela surgiu em 2009 com o objetivo
de oferecer melhor qualidade de vida e de trabalho aos catadores que recolhiam materiais
recicláveis do lixão de Várzea Grande/MT. A rede conta com 23 organizações envolvidas, dentre
Foram entrevistados 3 sujeitos, sendo 1 da cooperativa Glicério, 1 da cooperativa Vira lata e elas o governo, BNDES, terceiro setor, e uma empresa de grande porte com programas de
1 da administração da Rede Paulista. Um item de convergência é sobre as regras de inclusão responsabilidade social.
e ausência de discriminação (no sentido de oportunidade de trabalho). As cooperativas se
originaram de ações religiosas, com forte objetivo de inclusão social. “Tem que ser indicado por Foram realizadas cinco entrevistas, sendo 2 com representantes da cooperativa, 1 com
algum cooperado e esse cooperado vai ser responsável por aquela pessoa, se ela trabalhar 3 dias representante da empresa com programa social e 1 com representando do governo local.
e não vim mais, aquela pessoa vai pagar a despesa ... a pessoa tem que entender de reciclagem Um dado convergente nos discursos é sobre a forte presença de comprometimento entre os

1379 1380
cooperados, no seu esforço de legitimação e continuidade da cooperativa. Esses laços fortes de
comprometimento e de confiança possibilitaram a criação de regras seguidas pelo grupo.

Outro ponto convergente é que as regras de cooperativismo e de remuneração do trabalho


possibilitaram melhoria na qualidade de vida dos cooperados. De uma situação de miséria e
doença, ficando no lixão, eles evoluíram para uma vida mais saudável. Diferente das redes
anteriores, os resultados sociais mais valorizados nesta rede são: identidade dos cooperados
(que se sentem humanos ao trabalharem num ambiente com boas condições) e stress da vida
(porque eliminam os perigos de se trabalhar num lixão). 5. Comentários finais

4.5. Resposta da pesquisa As conclusões indicam que o programa de resíduos sólidos no Brasil ainda não se organizou de
modo efetivo, tanto nos resultados de sustentabilidade, uma vez que se coleta apenas 11% do
Unindo as análises chega-se ao resumo do Quadro 6. Nele, verifica-se a associação entre os material potencial (Ipea, 2017); quanto nos resultados sociais, pois o objetivo principal, que
indicadores de governança relacional com os de resultados sociais. Destaque para as regras era retirar os catadores das ruas, ainda não obteve sucesso. O mesmo se observa na Colômbia.
mais citadas sobre entrada de pessoas, uso de recursos e equipamentos, modos de cursos de Conforme dados ainda não publicados, organizados por Lina Coral, os programas de resíduos
treinamentos e regras de produção. Essas variáveis foram relatadas como tendo correspondência sólidos, criados em 2015, não apresentam resultados sociais expressivos até o momento. Os
com variáveis de resultados sociais, especialmente na melhoria de condições de saúde, de dados das redes investigadas indicam que o campo organizacional se configura mais como
ergonomia no trabalho e nível de endividamento. negócio que como política pública. Mesmo as prefeituras têm discurso de custos e ganhos com
a formação das cooperativas.
Os dados secundários sobre a história, os objetivos, a estrutura, os recursos obtidos indicam que
a rede 2 (Santos) e 3 (São Paulo) buscam, com maior intensidade, o objetivo comercial, impondo O benefício teórico do artigo consiste em aprofundar a análise da correspondência entre
regras de produção que dificultam a obtenção dos objetivos sociais. indicadores de governança relacional e de resultados sociais, ainda hoje raramente enfatizada
na literatura latino-americana sobre o tema.
Já a rede 1 (Guarujá) e 3 (Várzea Grande), por sua vez, buscam com maior intensidade objetivos
sociais, embora ainda não tenham se organizado forma a obterem resultados sociais expressivos. O benefício metodológico consiste em apresentar indicadores operacionais e confiáveis, podendo
ser utilizados em pesquisas futuras. Já o benefício gerencial consiste em mostrar um caminho de
Quadro 6. Resultados da correspondência entre governança relacional e resultados sociais gestão na formação de cooperativas de material reciclável. Estudos em andamento dos autores
em redes de material reciclável no Brasil. em 12 redes de cooperativas na América Latina mostram que a gestão participativa é capaz de
gerar resultados sociais.

Referências

Bardin, L. (2011) Análise de conteúdo, v.1. São Paulo: Edições 70.

Bauer, R. (1967) Social Indicators. Cambridge: MIT Press.

1381 1382
Grandori, A. (2006) Innovation uncertainty and relational governance. Industry and Innovation,
Bertoli, N. (2015) A Confiança e o Comprometimento como Eixos Organizadores dos Estados de 13(2):127-133.
Redes: proposta conceitual e estudo de casos do agronegócio do Norte do Paraná. Dissertação
(Mestrado em Administração) – Universidade Paulista. São Paulo. Granovetter, M. (1985) Economic Action and Social Structure: A Theory of Embeddedness.
American Journal of Sociology, 91(3): 481-510.
Bustelo, E. Planejamento e Política Social. In: Bromley, R. & Bustelo, E. Política X Técnica no
Planejamento. São Paulo: Brasiliense/UNICEF, p.132-152. Gulati, R.; Gargiulo, M. (199) Where do interorganizational networks come from? American
Journal of Sociology, 104(5):1439-1493.
Caldwell, N.; Roehrich, J.; George, G. (2017) Social Value Creation and Relational Coordination in
PublicPrivate Collaborations. Journal of Management Studies, 54(6):906-928. Instituto Ethos. (2014) Indicadores Ethos para negócios sustentáveis e responsáveis, Ciclo
2015/2016. Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Disponível em: < https://
Carley, M. (1985) Indicadores sociais: teoria e prática. Rio de Janeiro: Zahar. www3.ethos.org.br/cedoc/indicadores-ethos-para-negociossustentaveis-e-responsaveis/#.
WgWKamhSzIX>. Acesso em: 08 de abril de 2017.
Casarin, A. (2017) Os estados de organização de redes de negócios: discussões e exemplos
das redes nas quais estão presentes as cooperativas habitacionais de São Paulo. Dissertação IPEA. (2017) Apenas 13% dos resíduos sólidos urbanos no país vão para a reciclagem. Ipea –
(Mestrado em Administração) – Universidade Paulista. São Paulo. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br. Acesso em
10/12/2017.
Castells, M. (1999) A sociedade em rede São Paulo: Paz e Terra.
Jannuzzi, P. (2011) Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fontes de dados e aplicações.
Diener, E.; Suh, E. (1997) Measuring quality of life: Economic, social, and subjective indicators. Campinas: Alínea.
Social Indicators Research, 40(1): 189-216
Jones, C.; Hesterly, W.; Borgatti, S. (1997) A general theory of network governance: exchange
DiMaggio, P.; Powell, W. (1983) The iron cage revisited: institutional isomorphism and collective conditions and social mechanisms. Academy of Management Review, 22(4): 911-945.
rationality in organizational fields. American Sociological Review, 48:147-160.
Lima, A. (2017) A correspondência entre governança relacional e resultados sociais nas redes:
Flanagan, J. (1982) Measurement of Quality of Life. Archives of Physical Medicine and casos de redes de cooperativas de material reciclável. Dissertação (Mestrado em Administração)
Rehabilitation, 63:56-59. – Universidade Paulista. São Paulo.

Gamba, J. (2014) Os estados de organização de redes de negócios: discussões e exemplos Milagres, R.; Silva, S.; Rezende, O. (2016) CONASS Debate – governança regional das redes de
das redes nas quais estão presentes as cooperativas habitacionais de São Paulo. Dissertação atenção à saúde. CONASS.
(Mestrado em Administração) – Universidade Paulista. São Paulo.
Miles, R.; Snow, C. (1986) Organizations: New concepts for new forms. California Management
Grandori, A.; Soda, G. (1995) Inter-firm networks: Antecedents, mechanisms and forms. Review, 28(3): 62-73.
Organization Studies, 16(2):183-214.
Nohria, N. (1992) Is a network perspective a useful way of studying organizations? In Nohria,

1383 1384
N.; Eccles, R. Networks and organizations: Structure, form, and action. Boston: Harvard Business Capítulo 136
School.

Nussbaum, M; Sen, A. (1993) The Quality of Life. Clariton: Paperbacks.


Red de innovación social: Asociaciones heterogéneas para la resolución
de una problemática social
Pichón-Riviére, E. (1998) O processo grupal. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Selma Mendoza García1
Provan, K.; Kenis, P. (2008) Modes of network governance structure, management, and
effectiveness. Journal of Public Administration Research and Theory, 18:229-252.
1. Planteamiento del problema
Resende, I. et al. (2010) Análise da performance empresarial da Petrobrás: Um estudo sob o
enfoque dos indicadores econômico-financeiros. Revista Ambiente Contábil, 2(1):54-69. Las problemáticas sociales, entendidas como situaciones desfavorables para el desarrollo
o bienestar de una comunidad, se expresan en diversas dimensiones: pobreza, violencia,
Schmidt, D. (2004) Qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho de profissionais de contaminación, analfabetismo, tortura, desnutrición, abandono, entre otros (Suárez, 1989). Estos
enfermagem atuante em unidades do bloco cirúrgico. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) comparten, en sus poblaciones de alcance, las características de indeseabilidad y la creencia de
– Universidade de São Paulo. São Paulo. que es posible que se resuelva gracias a la acción colectiva2 (Suárez, 1989). Un problema social,
puede afectar en diversas dimensiones a un individuo y su entorno de actores, dando oportunidad
Veloso, C. (2016) Análise das definições e das manifestações da governança em redes de a una gama de interpretaciones e iniciativas tan diversas como sea el entorno.
serviços: exemplos no setor de serviços da saúde. Dissertação (Mestrado em Administração) –
Universidade Paulista. São Paulo. Uno de estos problemas sociales es la situación de calle, ésta se entiende como la condición de
un individuo sin techo o domicilio fijo y que conlleva a una serie de situaciones desfavorables
Yang, C.; Wacker, J.; Sheu, C. (2012) What makes outsourcing effective - a transaction-cost para el sujeto en los temas de la alimentación, la salud, el acceso a los servicios básicos, la
economics analysis. International Journal of Production Research, 50(16): 4462-4476. economía del sujeto, temas de adicción y criminalidad, tráfico de órganos, empleo informal,
prostitución, maltrato y abuso (Suárez, 1989).
Wegner, D. et al. (2011) Capital social e a construção da confiança em redes de cooperação:
mudando padrões de relacionamentos na pecuária de corte. Revista de Administração Imed, Uno de estos problemas sociales es la situación de calle, ésta se entiende como la condición de
1(1): 72-96. un individuo sin techo o domicilio fijo y que conlleva a una serie de situaciones desfavorables
para el sujeto en los temas de la alimentación, la salud, el acceso a los servicios básicos, la
Zaheer, A.; Venkatraman, N. (1995) Relational governance as an interorganizational strategy: economía del sujeto, temas de adicción y criminalidad, tráfico de órganos, empleo informal,
an empirical test of the role of trust in economic exchange. Strategic Management Journal, prostitución, maltrato y abuso (Suárez, 1989).
16:373-392.
En México la situación de calle abarca a una población heterogénea: niños, jóvenes, adultos,
1. Instituto Politécnico Nacional - UPIICSA. Email: selmamg8@gmail.com
2. La definición de problema social que Suárez F. (1989) toma es: “un problema social es una condición de afecta a un número significativamente
considerable de personas, de un modo considerado inconveniente y que según se cree debe corregirse mediante la acción social colectiva”; de Horton,
P. & Leslie G. (1955); “Sociology of social problem”; Appicton-Century-Cropts; New York.

1385 1386
ancianos; hombres, mujeres u otros géneros. De acuerdo con datos del Censo de Poblaciones
Callejeras del Instituto de Asistencia e Integración Social (IASIS, 2017), existen en la Ciudad de En las acciones de los actores descritos con anterioridad, los servicios y actividades que cada
México (CDMX) 6,754 personas en situación de calle, de las cuales 4,354 habitan en espacios uno de estos desempeña son de vital importancia para mitigar esta problemática, pero sus
públicos y 2,400 se encuentran en albergues (públicos y privados). Los motivos por los que esta acciones se ven limitadas en el objetivo posterior: contribuir a una condición de independencia
población se encuentra en esa condición son varios, y se intersectan en puntos muy particulares del individuo sin techo que le permita la reinserción social y económica. Con un enfoque
de las historias de vida de los individuos; esta condición parece estar sujeta a temáticas asistencialista y paternalista, los programas diseñados para ayudar a los sujetos en condición de
económicas, culturales, religiosas o ideológicas (Suárez, F., 1989). De acuerdo con este censo calle, merman los objetivos de una vida digna y autónoma para estos (Suárez F., 1989).
(IASIS 2017) el 39% de la población callejera de la CDMX se encuentra en esta condición como
producto de problemas familiares; identificando como principales: la expulsión del núcleo familiar, Si bien, las personas acceden a la oferta de servicios de asistencia, conseguir un empleo o una
violencia, abuso sexual y abandono. Este censo refleja que el 100% de los encuestados consume fuente de economía que les permita salir del circuito de la situación de calle es un problema para
alguna sustancia estimulante: alcohol (39%), tabaco (32%) y drogas (29%). Las principales las organizaciones y los usuarios. Ante esta problemática de “graduar” a los sujetos sin techo,
actividades de sustento van de recibir apoyos de asistencia social (42%), pedir dinero (31%) han aparecido proyectos desde distintas trincheras; en la Ciudad de México existen proyectos
y caridad (14%). De acuerdo con el mismo, el 34% de los encuestados consideran que no han alternativos que buscan dar solución a este fenómeno. Uno de estos es la reinserción laboral.
tenido otra opción para abandonar la situación de calle; además consideran como necesidades El emplear a las personas sin techo es una iniciativa que se expresa de distintas formas: los
primordiales el apoyo en la obtención de documentos de identidad (22%) y la capacitación para centros de capacitación en pro del autoempleo3, voluntariados con donativos en asociaciones
el empleo (22%). civiles u organismos sin fin de lucro, el autoempleo informal y empleos en empresas4. Esta última
iniciativa, la de las empresas que transforman5 su esquema establecido de trabajo e integran a
Este problema, que afecta a los individuos en esta condición, es un contrariedad que también esta población en el interior de sus organizaciones, es el caso que aviva esta investigación.
afecta a la sociedad en su conjunto: a quienes transitan por las calles como peatones,
automovilistas y usuarios de la infraestructura vial que interactúan con esta problemática; a los Si bien, esta empresa se define como una empresa social, es el trabajo en red el que permite la
gobiernos que deben hacerse responsables de este en materia de derechos humanos y justicia innovación social como un proceso establecido por actores heterogéneos que participan para
social; a la riqueza nacional que debe destinar presupuestos a la resolución del mismo a través de mejorar y dar solución a una problemática social (FCCyT, 2017).
políticas públicas e infraestructura de asistencia. Por ello, resolverlo es una prioridad colectiva.
1.1El caso
Alrededor de este, una serie de actores se han perfilado buscando dar “solución”. En México,
existen instituciones públicas destinadas a resolver esta situación a través de servicios Una pequeña empresa de la CDMX que se dedica a la preparación y venta de alimentos, busca
alimenticios o de albergue, así como a través del diseño de normas, programas de intervención también contratar a jóvenes en situación de calle de la Ciudad. Este proyecto comenzó en 2015,
y de financiamiento para proyectos de asistencia. Usualmente, las instituciones públicas como un programa de empoderamiento6 a través del empleo, en la colonia Juárez de la delegación
se apoyan de los organismos del sector sin fines de lucro (tercer sector) para ejecutar los 3. Campaña de reinserción laboral para personas sin techo en la delegación Miguel Hidalgo (2014) “Antes vivía en la calle, hoy me preparo para ser
programas de asistencia. Las organizaciones del tercer sector se dedican a prestar servicios empresario”
de albergue, centros de rehabilitación, centros de servicios psicológicos, talleres y cursos, 4. Un ejemplo de esto es el proyecto de comunicación Revista Mi Valedor, que ofrece una figura de autoempleo para personas sin techo a través de
la venta de su revista impresa; se les otorga una vestimenta e identificación como distribuidores oficiales, y por cada venta se otorga un porcentaje al
espacios de convivencia, entre otros (INEGI, 2016). De igual manera, otro sector de la sociedad vendedor, con la finalidad de generar un ingreso económico para este.
que contribuye a mitigar la situación de calle es la ciudadanía, quien a través de cooperaciones 5. Una transformación en la cual estas organizaciones socialmente económicas, que son normalmente asociadas a la lógica de la generación de
individuales de tipo económicas o en especie (alimentos, bebidas, vestimenta y calzado) abona capitales, logran plantearse como objetivos propios la resolución de una problemática que trasciende distintos ámbitos de la sociedad.
6. Entendiendo por esto, al cultivo y estímulo de capacidades y habilidades en el individuo que le permitan un desarrollo pleno, confianza en sus acciones
de manera interpersonal a la solución de esta problemática. y un panorama más justo para a toma de decisiones.

1387 1388
Cuauhtémoc; actualmente cuenta con una locación más en los límites de la colonia Roma de la 2.1 Innovación social
misma delegación. Su objetivo es emplear a jóvenes de 18 a 25 años de edad interesados en
mejorar sus condiciones de vida a través del empleo. Este objetivo se alcanza con la elaboración La conceptualización sobre lo que es la innovación describe primeramente a las transformaciones,
y venta de pizzas a base de productos locales: maíz azul e ingredientes típicos de la gastronomía inventos y mejoras que lleven a una empresa a la mayor productividad y competitividad (OECD,
mexicana. A través de la preparación y venta de este producto, se destina un porcentaje 2000); cambios orientados hacia nuevos mercados o nuevas formas de distribución (North, Sma-
monetario de lo excedente al costo de producción para la elaboración de otras pizzas que serán Llbone & Vickers, 2001 en FCCyT, 2017); las cuales se vuelven una característica o competencia
donadas por rebanada a habitantes de albergues en la Ciudad. Con esta actividad de donación, la distintiva que permite potenciar a las empresas (Fernández, 2012).
empresa hace explícita su intención de iniciar un programa de evaluación y participación con la
población en albergues comprendida en el intervalo de edad antes mencionado. La dinámica, bajo Así mismo, la innovación de ninguna manera es solamente científica o tecnológica (Carrillo,
el nombre “La Ruta del Cambio”7, consiste en 5 donaciones8 dominicales de pizza por individuo 2014); las nuevas conceptualizaciones económicas de muchos países Americanos, Europeos
y un voluntariado posterior por parte de beneficiario; esta secuencia se realiza una vez más y Asiáticos se orientan a buscar los resultados y relacionar las ideas, servicios o nuevas
después del primer voluntariado, para a continuación recibir un taller de “habilidades para la transformaciones con los impactos sociales (OECD, 2000); es decir, puede definirse como el
vida”, una capacitación de “habilidades en el trabajo”, una ducha, una evaluación médica y la desarrollo y la implementación de nuevas ideas para cubrir necesidades sociales y crear nuevas
oferta formal de empleo9. Si bien, esta empresa se define como una empresa social, es la red relaciones sociales o colaboraciones” (Foro Consultivo Científico y Tecnológico-FCCyT, 2017).
solidaria entre los diversos actores donde ocurre la innovación social. La innovación social es un proceso complejo en el cual, mediante la introducción de nuevas
formas de hacer, se transforman a profundidad las rutinas básicas, los recursos y las dinámicas
En este proceso el papel de la pequeña empresa es fundamental pero no protagónico. De acuerdo de poder; o el sistema de creencias sociales en el que la innovación ocurre, persiguiendo la
con información recabada en las primeras entrevistas, en la etapa inicial de este proyecto la durabilidad y el amplio impacto es ese mismo contexto (Westley & Antadze, 2010 en FCCyT,
pequeña empresa se acerca al Instituto de Asistencia e Integración Social de la Ciudad de México 2017). Es decir, esta puede contribuir a la solución de muchos problemas que aún siguen
(IASIS) para introducir su proyecto y buscar la facilitación de información de albergues o centros vigentes en: la pobreza, la desigualdad social, la educación, la seguridad alimentaria, la salud,
de refugio donde poder implementar el programa. Seguido de esto comienza a trabajar con la entre otros. (FCCyT 2017)
plantilla de las y los jóvenes en ellos, donde los albergues cumplen la función de evaluadores del
desempeño de los participantes de la ruta del cambio. A continuación y de manera constante, 2.2 La Teoría del Actor-Red
los clientes a través de su consumo permiten la movilización de recursos para el costeo de
donaciones en especie, así como a través de voluntariados en la entrega de estas donaciones. Dicho esto, existen varios enfoques que se encargan de estudiar fenómenos como este, estos
Finalmente, los jóvenes empleados en la plantilla productiva de la empresa, permiten alcanzar el establecen y caracterizan a los actores, su naturaleza y los procesos de interacción entre ellos.
objetivo de reinserción y son quienes ejecutan las labores de producción y venta de esta. Como lo hace el concepto de ecosistema o de sistema de innovación social, donde en una localidad
determinada convergen distintos actores que en la interacción comparten conocimientos, formas
2. Revisión de literatura y perspectivas que propician la innovación (Dutrénit, 2009).
7. Información oficial obtenida del sitio www. Pixza.mx
8. Este proceso de La Ruta del Cambio puede durar hasta 10 semanas, y los participantes por la oferta de empleo reciben 10 donaciones y entregan Esta conceptualización de un sistema plantea una lista de integrantes deseables para la innovación
2 voluntariados.
9. Otra de sus actividades, si bien no es la actividad crítica, es la convocatoria el “horno social”. Esta consiste en la recepción de proyectos de beneficio
social: emprendedores sociales, universidades, empresas, centros de investigación, organismos
social, cultural o de interés colectivo que se encuentren en la búsqueda de fondos de financiamiento alternativos. Se realiza una selección y el proyecto intermediarios, entre otros; donde se busca entender los procesos de generación y movilización
ganador tiene la oportunidad de realizar un evento de fondeo en las instalaciones de la empresa. Donde esta ultima, diseña y agrega a su menú de de conocimiento como un proceso de interacción y de diseño de estrategias entre actores clave
manera temporal una pizza con el nombre del proyecto ganador. Y durante un periodo corto (1 o 2 meses), destinará las ganancias de la venta de la
pizza al fondeo del proyecto.
en la innovación (FCCyT, 2017). Se plantea a una red delimitada con elementos interconectados,

1389 1390
donde el cambio de alguno de sus elementos afecta al conjunto (Ramírez, 1989); donde el entre actores heterogéneos: la Ciudad de México, su cultura e infraestructura, el fenómeno de
conjunto se encuentra bajo las influencias de un objetivo y tipo de relación definida (Bertoglio, situación de calle, instituciones públicas, asociaciones civiles, un par de pequeñas empresas,
1993; Arnold & Osorio, 1998). Y en su acción, busca encontrar isomorfismos para entender sus clientes, los beneficiarios, las tecnologías disponibles; aprovechando la flexibilidad que la
y teorizar alrededor de fenómenos de la realidad: con terminologías comunes, descripciones ANT plantea para observar distintos actores con un enfoque al proceso de la red, y su actitud
formales, modelos, abstracciones de fenómenos complejos y “únicos” (Parsons, 1968). Pero ponderada a resaltar los conceptos y metodologías propias de los actores sobre las propias de
que, ante el reto de comprender un sistema complejo como la sociedad, se concentra de manera la ciencia.
sustancial en las entradas y salidas: cajanegrizando10 al sistema (Lilienfeld en ENBA, 2004).

Esta perspectiva, como se deduce de lo anterior, contribuye a la construcción de herramientas


que permiten aproximarse a la complejidad de las dinámicas estudiadas y poner un acento en
su traducción práctica. No obstante, todavía es una perspectiva que da continuidad a nociones
sistémicas, que reducen al mismo tiempo la complejidad del problema al dar por supuesto la
existencia de conexiones necesarias y procesos posteriores entre los elementos de un sistema
atribuyendo al objeto de conocimiento las características del instrumento para conocer. Por
esto, a partir de una apropiación crítica de esas herramientas teórico-prácticas reflexionamos
acerca de la posibilidad de completar el abordaje de nuestro objeto de conocimiento poniendo
atención en las dinámicas propias de los procesos humanos y en la producción de cursos de
acción posibles derivados de la variedad de arreglos que se producen en la operación, en este
caso, de los procesos de innovación social. Es decir, en lugar de suponer relaciones necesarias
entre los elementos del sistema, el interés es identificar los puntos críticos en la articulación
entre dichos elementos y procesos; el proceso de innovación social entre las pequeñas empresas
en relación con otros actores que pueden explicar las variaciones percibidas en su naturaleza.

La Teoría del Actor Red (ANT por sus siglas en inglés Actor Network Theory) entonces permite
imaginar una aproximación que, enriqueciendo a las anteriores, pueda reconstruir los procesos
de surgimiento, consolidación y desarrollo de las agrupaciones humanas. Es un enfoque
teórico metodológico que presenta conceptos de análisis para el fenómeno que se pretende Dicho lo anterior, la ANT presenta retos para la investigación. Según Kanger (2016) pese a las
estudiar. Ofrece un esquema de reflexión dotado de líneas de pensamiento generales a seguir; proposiciones bastante flexibles de esta teoría, en su aplicación resulta un instrumento bastante
su objetivo no es ofrecer una receta detallada de cómo investigar, sino que propone una serie confuso. La ANT se diversifica11 en las investigaciones de acuerdo a su uso o capacidad de
de incertidumbres (Ilustración 1) a las cuales se debe prestar atención cuando rastreamos el aplicación; y se presenta en distintas etapas, a veces aisladas y otras en conjunto (Kanger, 2016).
quehacer de la sociedad. Su alcance teórico le permite funcionar o situarse como literatura de sensibilización o marco
teórico, o como metodología, o tal vez como la descripción y/o explicación misma al fenómeno
Por ello, esta propuesta de investigación pretende ahondar en los elementos que este enfoque o la herramienta para explicar y/o describir el fenómeno en cuestión. En ese sentido y a través
teórico metodológico propone para observar este fenómeno de innovación social que se suscita
11. De acuerdo con Kanger (2016), se han mapeado 7 usos de la Teoría Actor – Red en las investigaciones; partiendo desde los usos puntuales hasta el
10. es decir simplificando o suprimiendo sus relaciones complejas y trabajando en el entendimiento de sus insumos y productos idóneo empleo de la herramienta como el diseño de la investigación.

1391 1392
de la integración de las funciones anteriores, se usa como la herramienta que estructura las misma resuelve una problemática para el IASIS y las ONGs que ven limitadas sus capacidades
descripciones y/o explicaciones, así como permite estructurar y dar soporte a las proposiciones para independizar a los individuos de sus servicios, 3) y finalmente coordina a través de su
teóricas y metodológicas. Y en el mejor y más alto nivel de integración, es una herramienta que modelo de negocio la integración de actores diversos como los que son miembros de esta red.
trasciende a la investigación en todas sus áreas: teóricas y metodológicas.
Estos datos, informados por la Teoría Actor-Red, permiten mostrar el potencial de este enfoque
A pesar de la complejidad y reto que la ANT presenta, se ha utilizado en muchas disciplinas: teórico-metodológico para abordar fenómenos complejos que exigen, más allá de las propuestas
desde la sociología, la geografía, la administración y los estudios organizacionales, economía, de mejora o sistematización, un entendimiento holístico de este. Así mismo, ANT permite a la
antropología y filosofía (Cressman D., 2009). Es por ello, que la intención de abordar desde este investigación mostrar un fenómeno complejo como una asociación de actores (o asociaciones)
enfoque teórico metodológico este fenómeno complejo de asociación de actores heterogéneos altamente relacional (donde ocurren ajustes, negociaciones, persuasiones), donde los roles y
para la resolución de un problema social, presenta amplitud de perspectivas y rentabilidad objetivos van cambiando como consecuencia de su característica dinámica y de transición.
analítica para enfrentarnos a este fenómeno complejo.
Estas implicaciones plantean retos para seguir fenómenos dinámicos y cambiantes; pero también
Conocer lo esencial que es invisible a los ojos (De Saint-Exupery, 1998) se vuelve el argumento potencial descriptivo para entender asociaciones tan vastas como la abordada en este trabajo.
en la base de la Teoría Actor-Red. Estas descripciones no pueden generalizarse a otras redes, sino son particulares de la estudiada
y pueden orientar la reflexión más no definir un método de acción.
3. Conclusiones
El presente trabajo permite dar evidencia de la complejidad de un problema social y de cómo Referencias
intervienen en su solución una red heterogénea de actores, cada uno de ellos con características,
roles e intereses distintos pero complementarios. Los primeros datos del estudio muestran que: Arocena R. & Sutz J. (2002). Sistemas de innovación y países en desarrollo. SUDESCA
Research Papers No. 30 (2002), Department of Business Studies, Aalborg University, Denmark.
1. En la RED de actores heterogénea y cambiante; la dirección y decisiones de la red se ve Universidad de la República Uruguay, Uruguay.
infuenciada por las contantes actividades de negociación, persuación, coordinación, agencia
entre estos actores. Bertoglio, J. (1993) . Introducción a la Teoría General de Sistemas. México, D.F.: Limusa.

2. Existen varios y distintos miembros en la red, con caracterisiticas organizacionales, objetivos


y funciones distintas. Este arreglo de actores busca dar respuesta a un problema colectivo; Bouchon, M. S. M. por el, & Mundo. (2009). Recogida de datos Metodologías Cualitativas.
algunos actores ofrecen servicios de alojamiento, otros de comida, algunos de rehabilitación
física o mental, otros ofrecen la oportunidad de laborar, otros aportan economía a través del Bloor D. (1998); Conocimiento e imaginario social; GEDISA, 2da. Ed., Barcelona.
consumo. Por ello, pensar que un fenómeno de esta índole se entiende como un trabajo aislado
únicamente a la pequeña empresa, es un error de percepción, y el concepto de una red se Caulier-grice, J., Mulgan, G., & Murray, R. (2010). The open book of social innovations. Social
posiciona como aquel que permite explicar de mejor manera al fenómeno que se observa. innovator series: ways to design, develop and grow social innovations. The Young Foundation,
30(8), 224.
3. El papel que juega la pequeña empresa en la red, si bien no es central para la resolución de la
situación de calle, es importante porque ofrece 1) una alternativa de asistencia y generación de Cressman D. (2009). “A Brief Overview of Actor-Network Theory: Punctualization, Heterogeneous
habilidades en los sujetos sin techo a través de ofrecer una oportunidad laboral a estos, 2) esta Engineering & Translation”; ACT Lab/Centre for Policy Research on Science & Technology

1393 1394
(CPROST), School of Communication, Simon Fraser University; Canada. conceptos , definiciones y marcos conceptuales.

Denzin, N. & Lincoln Y. (2015). Métodos de recolección y análisis de datos. (1ª). Buenos Sabino C. (1997). El proceso de investigación. (3ª). Bogotá: Panamericana editorial.
Aires, Argentina: Gedisa.
Sautu, R. (2005). Todo es Teoría: Objetivos y métodos de investigación (1a). Buenos Aires,
Formichella, M. M. (2005). La Evolución del Concepto de Innovación y su Relación con el Argentina: Lumiere.
Desarrollo. 46.
Suárez F. (1989), “Problemas Sociales y Problemas de Programas Sociales Masivos”INT-0761,
Foro Consultivo Científico y Tecnológico, A. (2016). Ecosistema de Innovación Social en México. CEPAL-CIDES, Costa Rica.

Gómez M., Manero R., Soto M.A. & Villamil R. (2004), “El Mundo de la Calle: Consideraciones TEPSIE. (2014). Building the Social Innovation Ecosystem in Europe. Proyecto TEPSIE.
metodológicas de un proyecto”, Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Xochimilco,
México.

Guadarrama H. & Acosta A. “Ecosistema de innovación socia en México”, 2017, Foro Consultivo
Científico y Tecnológico, México.

Guber, R. (2001). La etnografía: Método, campo y reflexividad. Bógota: Norma.

Hammersley, M. & Atkinson, P. (1994). Etnografía: Métodos de investigación. (1ª). Barcelona,


España: Páidos Básica.

Lamo E., González J. & Torres C. (1994). La sociología del conocimiento y de la ciencia. Cap. 21
& 22. Madrid: Alianza Editorial

Latour, B. (2005). Reensamblar lo social: una introducción a la teoría del actor – red. (1ª).
Buenos Aires, Argentina: Manantial.

Poirier, Y. (2014). Economía social solidaria y sus conceptos cercanos Orígenes y definiciones :
una perspectiva internacional, 1–26.

DG Regional and Urban Policy and DG Employment, S. A. and I. (2013). Guide to social innovation.
European Comission, (Guido to social innovation), 5–72.

RIPESS. (2015). Visión global de la economía social solidaria : convergencias y contrastes en los

1395 1396
Capítulo 137 publicidad y moda)(Luzardo, De Jesús, & Pérez, 2017).

La importancia de la industria cultural es evidente: en 2014 produjo entre el 6.1 % y 7.3 % del
Redes de colaboración: Caracterización de las relaciones de cooperativas PIB mundial, generando 23.3 millones de empleos en las Américas (Buitrago & Duqué, 2014).
culturales de la ciudad de México Esto a pesar de las dificultades que las empresas culturales enfrentan al vivir en la volatilidad de
un mercado que depende de la creatividad y la innovación asociada a la originalidad (Salgado,
Gabriela Medina Tapia1 y Gibrán Rivera2 García, & Demuner, 2015)

En el caso particular de México, las organizaciones culturales han demostrado estar presentes
La cultura ha sido declarada por la Organización de las Naciones Unidas para la Educación, en labores sociales que hicieron frente a eventos caóticos en la ciudad, tales como el reciente
la Ciencia y la Cultura (UNESCO, 2017) como “el conjunto de rasgos distintivos, espirituales, sismo del 19 de septiembre de 2017, en donde voluntarios, organizaciones civiles, colectivos y
materiales, intelectuales y afectivos que caracterizan a una sociedad; englobando las artes y las cooperativas culturales de la Ciudad de México, se unieron para atender necesidades resultantes
letras, los modos de vida, los derechos fundamentales del ser humano, los valores, las tradiciones de dicho desastre. Fungieron como centros de acopio, alojamiento, apoyo en otros centros
y creencias; así como, el conjunto de atributos que generan la capacidad de autoconciencia y impartiendo actividades asociadas al arte-terapia para personas afectadas con estrés post-
distintos medios de expresión para el hombre. Un concepto que permite visualizar que, de solo traumático, y entretenimiento para los niños, o participaron en la creación de campañas de
asociar las bellas artes clásicas (arquitectura, pintura, escultura, música, literatura, danza y reconstrucción a través de donativos.
cine) al aspecto cultural de una sociedad, se estaría limitando el poder de un instrumento del que
se valen los individuos para integrarse a su entorno y expresar su realidad. Si bien México es un país rico culturalmente, su situación no difiere mucho a la de otros países,
ya que las empresas de la industria se encuentran en un entorno altamente competitivo, con
A través de los años y del surgimiento de actividades económicas asociadas a la cultura, surge concepciones erróneas sobre su trabajo con limitadas posibilidades para acceder a los recursos
la industria cultural, también llamada industria creativa, misma que ha sido reconocida en el públicos al ser homologados con otros tipos de instituciones sin fines de lucro (R. Ramos, 2011)
Departamento de Cultura, Medios y Deportes desde 1998 como aquella que integra actividades y en muchos casos se ha generado dependencia a los apoyos, pues al estar en un mercado
que tienen sus orígenes en la creatividad, habilidad o talento de un individuo por medio de la volátil , su oferta está sujeta a actividades estacionales y a las creaciones tangibles que puedan
creación y explotación de la propiedad intelectual (Blythe, 2001). Esta industria está compuesta producir (Ferrándiz, 2011; I. Ramos & Maya-Jariego, 2013).
por las artes clásicas, arquitectura, música, artes escénicas; así como, por el mercado de
antigüedades y artesanías, la publicidad, el diseño de modas, la creación de películas y de Ante esta situación, que hace que la industria cultural se enfrente a problemáticas particulares,
software interactivo del ocio; y, por medios como la televisión y el radio (Jeffcutt & Pratt, 2002). se ha sugerido que las relaciones pueden ser una estrategia de crecimiento y fortalecimiento
para las organizaciones, pues debido a la pluralidad de actividades que ofrecen dependen en
Recientemente, las actividades relacionadas con el entretenimiento y los medios de gran medida de los las relaciones que establecen (Horng, Chang, & Chen, 2012). El Banco
comunicación se integraron al concepto cultural, dando vida a la economía naranja, que ha Interamericano de Desarrollo (2017) fortalece esta noción al señalar que para que esta industria
permitido comercializar ideas transformadas en bienes y servicios. En ella se incluyen actividades florezca se necesita de la creación de alianzas público-privadas y clústeres. Si bien es clara la
como el Arte y Patrimonio (artes visuales, escénicas y espectáculos), las industrias culturales importancia que tienen las relaciones en el sector cultural, existe poca literatura relacionada
convencionales (editorial, audiovisual y fotográfica) y las creaciones funcionales, nuevos medios a las relaciones y su importancia en el contexto cooperativo, lo que invita a profundizar en su
y software (diseño, software de contenidos, agencias de noticias y otros servicios de información, estudio.
1. Instituto Politécnico Nacional - UPIICSA. Email: gamelrc.gm@gmail.com
2. Instituto Politécnico Nacional - UPIICSA. Email: gibranrg@gmail.com

1397 1398
Por lo que la presente investigación se realizó con uno de los organismos más representativos de Como antecedentes o momento previo a la relación se incluyen categorías que explican el origen
la Economía Social en la Ciudad de México, las Sociedades Cooperativas. Eligiendo cooperativas de dichas interacciones y las razones por las qué se crean. En la etapa intermedia o durante la
culturales dedicadas a la creación o promoción cultural, que han surgido y trabajado con el relación se ubican las características o atributos de dicha relación es decir se responde a la
objetivo de contrarrestar problemas sociales en comunidades con violencia, deserción escolar o pregunta cómo son. En un tercer momento se encuentran los efectos de las relaciones en donde
enfrentando escenarios de exclusión. se analizan los beneficios o el provecho obtenido por haberse vinculado con otros actores.

Asumiendo que las relaciones, vínculos, alianzas o enlaces son un elemento fundamental para A su vez, es importante considerar que los aspectos negativos se encuentran interfiriendo en
la construcción de una red, pues a través de ellas se puede intercambiar información, adquirir dos distintos momentos, por un lado los conflictos suelen presentarse en momentos previos
conocimiento (Horng et al., 2012), compartir recursos (I. Ramos & Maya-Jariego, 2013), a la relación y son de menor gravedad pues aún pueden mediarse para lograr que la relación
solucionar problemáticas y, principalmente ser un canal que permite potencializar los nuevos se dé; y por otro lado, las barreras son adversidades que se presentan después de la relación y
vínculos o relaciones (Mance, 2008), originando así el crecimiento exponencial de la red; se suelen de ser mayor gravedad al existir la posibilidad de impedir que se obtengan beneficios de
vuelve importante conocer los atributos que describen a dichas relaciones y los elementos que la interacción o limiten nuevas interacciones. En la figura 1 se muestra la representación que
las ponderan. incorpora dichas categorías.

A través de un estudio exploratorio, en donde se entrevistaron a seis sociedades cooperativas Figura 1. Representación gráfica de los elementos que describen las relaciones de
culturales de la Ciudad de México, dedicadas a producción musical, creación de artesanías, Cooperativas Culturales de la Ciudad de México. Fuente: Elaboración propia.
cine con impacto social, difusión cultural, artes escénicas y escenarios de interacción social
a través de actividades artísticas. Se llevaron a cabo tres grandes etapas de familiarización,
recolección y análisis inductivo de datos, guiado por principios de Teoría Fundamentada (Glaser
& Strauss, 1967), que permitieron obtener elementos para caracterizar las relaciones que
establecen. Dichos elementos no tienen la intención de ser generalizados o aplicados a otra
industria, pero buscan mostrar la cotidianeidad con la que interactúan los sujetos de estudio,
elegidos por conveniencia del investigador y por la experiencia que mostraron tener en el sector
de la economía social, al ser cooperativas formalmente constituidas y con participación en la
industria cultural.

Partiendo de que una relación es aquella interacción formal o informal de una organización
con distintos actores, que participan recurrente o esporádicamente en las actividades de Es importante recalcar que se adoptaron algunos términos de redes, encontrados en la literatura
la cooperativa, buscando un beneficio para los involucrados, en un entorno económicamente analizada, que hacían sentido con las definiciones y su esencia en el contexto. La tabla 1 muestra
tradicional o solidario, en la cual pueden surgir situaciones desfavorables; se generaron seis los elementos que permiten dar respuesta a las preguntas planteadas en la investigación, así
grandes categorías: actores, origen, motivaciones, características, beneficios y conflictos- como sus subcategorías.
barreras. Los resultados muestran los distintos momentos por los que pasan las relaciones que
sostienen las cooperativas culturales con los actores de su contexto, presentando dichos actores
de manera transversal previa, durante y posteriormente a la relación.

1399 1400
Tabla 1. Elementos que caracterizan las relaciones de las cooperativas
culturales de la CDMX. Fuente: Elaboración propia. Características

Se encuentra que las relaciones que sostienen las cooperativas culturales de la Ciudad de México
son afectivas, amables, informales y abiertas. Presentando un mayor grado de afinidad entre los
involucrados, en donde se presentan acciones de amistad, cercanía y confianza, especialmente
con cooperativas, clientes y proveedores. A su vez tienen la cualidad de ser amables,
permitiéndoles estar abiertos a negociaciones, apoyos y gratificación solidaria, particularmente
con instituciones gubernamentales y educativas. La informalidad se refleja en aquellos acuerdos
de palabra en donde la buena fe y el beneficio llevan al cumplimiento de reglas intrínsecas. La
apertura de las relaciones juega un papel fundamental al otorgarles la posibilidad de interactuar
con aquellos agentes que no pertenecen a su ecosistema tradicional, sin importar sus diferencias.

Beneficios

Entre los beneficios generados por las relaciones se encuentran el acceso a recursos que pueden
ser económicos, formativos, de contenido o que les permite acceder a apoyos, incorporar
A continuación, se describen las subcategorías creadas a partir de las entrevistas realizadas, así tecnología o equiparse. Otro beneficio es la extensividad, que es aquella posibilidad de
como evidencia proporcionada por los informantes que busca servir de ejemplo para entender de multiplicar el número de relaciones con el que cuentan a través de ciertos agentes estratégicos.
qué manera fue tomando forma la estructura de los momentos de relación. Un tercer beneficio tiene que ver con uno de los principios de las cooperativas, la cooperación
entre cooperativas, que para este estudio se identifica como intercooperación, que se presenta
Origen principalmente entre cooperativas que pertenecen al mismo giro y comparten estrategias
comerciales o colaboran para atender a un mismo cliente. Y finalmente, un beneficio que tiene
Esta categoría permite responder a la pregunta dónde surgen las relaciones y se compone por gran valor para las cooperativas es la autorregulación puesto que al fortalecer sus relaciones
eventos de difusión y eventos dirigidos a distintas causas sociales. En ellos, participan diversos obtienen mas seguridad para ser independientes y limitar la intervención de agentes externos
actores tales como cooperativas, uniones, instituciones gubernamentales, clientes, artistas, sobre su estilo de trabajo o decisiones.
entre otros.
Conflictos o Barreras
Motivaciones
Los aspectos negativos de las relaciones se integran en esta categoría, estando presentes antes
Esta categoría integra aquellas razones por las cuales se crea una relación, detectando entre de que la relación se dé o de que se pueda obtener un beneficio de ella. Las adversidades que se
las principales los antecedentes profesionales solidarios, la disposición mutua y la coincidencia presentan en mayor medida son el protagonismo y la pérdida de autogestión. Se generan por la
ideológica Esta categoría la integran finalmente los contactos clave, que son aquellas relaciones falta de coincidencia ideológica o por falta de coincidencia en los objetivos esperados de unir
previas de un socio o de la cooperativa en general que dan apertura a una nueva relación, con la esfuerzos, que limitan el progreso de acciones conjuntas.
intención de tener tratos comerciales.

1401 1402
Discusión y conclusiones Si bien padecen de problemas contextuales similares y la forma de enfrentarlos se da de manera
independiente y con desconocimiento; actuando en red les permitiría aprender del camino ya
El conocimiento de las relaciones entre las organizaciones cooperativas y otros actores de su recorrido por otros.
ecosistema puede ser tomado como punto de partida para la generación de estrategias efectivas
que impacten en la creación y fortalecimiento de redes de colaboración, bajo el supuesto que el Así mismo, el desempeñarse aisladamente, o en el mejor de los casos relacionándose con
actuar en red de un conjunto de actores con intereses en común genera mayores beneficios y de actores con cercanía geográfica o ideológica tiende a minimizar su acceso a conocimientos
manera más eficiente que actuar de manera individual y aislada. A su vez, este estudio pretende diversos; actuando en red les permitiría conectar con otras redes de actores con conocimientos
generar conciencia en la sociedad de que las cooperativas culturales que realizan actividades complementarios e innovadores.
artísticas, son unidades económicas que trabajan a cambio de una remuneración digna, a pesar
de ofrecer un servicio asociado al entretenimiento o impacto social. Las implicaciones de estudiar las relaciones de un contexto solidario con miras a la creación
de mecanismos más formales de colaboración a través de redes de cooperativas, pareciera
Sin embargo, para que esta concepción pueda permear en la sociedad es importante que las presentarse como una alternativa que dé solución a las problemáticas de la industria cultural
cooperativas se auto conciban de este modo y busquen estrategias para unificar esfuerzos, y de las organizaciones que participan en ella, pues, actuando de manera colectiva, clara y
evitando caer en un ciclo de dependencia constante a los apoyos externos, o bajo un estilo de coincidiendo en intereses, en definitiva cada uno de los miembros de la red, podrían obtener
trabajo en donde se pierda el equilibrio entre lo económico y lo social. mayores beneficios que actuando de manera individual.

Los hallazgos del estudio muestran, en el mejor de los casos, que, si bien las cooperativas Referencias
culturales estudiadas han establecido relaciones de colaboración con diversos actores de su
ecosistema, éstas en su gran mayoría no han sido generadas de manera intencionada, sino más Blythe, M. (2001). The Work of Art in the Age of Digital Reproduction : The Significance of the
bien como consecuencia de su actuar cotidiano y de las necesidades que se presentan en el día a Creative Industries. Interna Tional Jour - Nal of Art & Design Education, 20(2), 144–150.
día. El establecer relaciones bajo esta lógica, atenta no solo contra la efectividad de la relación,
sino contra su continuidad y probable perpetuidad. Buitrago, F., & Duqué, I. (2014). La economía naranja. Aguilar.

En casos menos afortunados, a pesar de la situación que permea la industria cultural y que hace Ferrándiz, R. R. (2011). De industrias culturales a industrias del ocio y creativas: Los límites del
a las organizaciones de esa industria altamente dependientes de su relación con otros actores «campo» cultural. Comunicar, 18(36), 149–156. https://doi.org/10.3916/C36-2011-03-06
con competencias complementarias, las cooperativas parecieran actuar de manera aislada,
negándose así a la obtención de beneficios que al actuar en red podrían obtener. Glaser, B. G., & Strauss, A. L. (1967). The Discovery of Grounded Theory: Strategies for Qualitative
Research. Observations (Vol. 1). https://doi.org/10.2307/2575405
Si bien sus productos culturales son dirigidos a un mercado claramente acotado y sus acciones
para llegar a esos mercados se realizan por propia cuenta; actuando en red cabría la posibilidad Horng, S.-C., Chang, A.-H., & Chen, K. (2012). The Business Model and Value Chain of Cultural
de eficientar canales de promoción y distribución. and Creative Industry. In Kirk Plangger (Ed.), Proceedings of AMS’ World Marketing Congress ~
Cultural Perspectives in Marketing (pp. 198–200). Ruston, LA, USA: Springer. Retrieved from
Si bien buscan satisfacer cualquier tipo de demanda cultural y su especialización inhibe su https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-24148-7.pdf
capacidad de ofrecer productos culturales de calidad; actuando en red permitiría satisfacer
necesidades particulares con expertos especializados, así como productos culturales integrales. Jeffcutt, P., & Pratt, A. C. (2002). Managing creativity in the cultural industries. Creativity and

1403 1404
Innovation Management, 11(4), 225–233. Capítulo 138
Liu, C. H. S. (2018). Examining social capital, organizational learning and knowledge transfer in
cultural and creative industries of practice. Tourism Management, 64, 258–270. https://doi. Um estudo da organização do movimento dos atingidos por projetos
org/10.1016/j.tourman.2017.09.001 hidrelétricos brasileiros frente ao processo indenizatório a partir da experiência
de Salto Da Divisa-MG
Luzardo, A., De Jesús, D., & Pérez, M. (2017). Economía naranja. Innovaciones que no sabías que
eran de América Latina y el Caribe. Banco Interamericano de Desarrollo. Venícios Oliveira Alves1 y Maria Gracinda Carvalho Teixeira2

Mance, E. (2008). La revolución de las redes _________. (E. I. ECOSOL, FONDESO, UACM,
Delegación Azcapotzalco, Alcona, Acatl, Municipio de Ecatepec, BanMacondo, Gobierno del Introdução
Estado de Michoacan, Indesol, STyFE del GDF, El Colegio de Tlaxcala, Tiangus Tlaloc, Movimiento
Nacional por la Esperanza, SNTE Comité Nacional, Ed.). México. Os grandes projetos hidrelétricos brasileiros faziam parte do programa de Grandes Investimentos
no país, tendo em vista a sua dimensão, atuação e objetivos. Sua consolidação ocorreu nos anos
Ramos, I., & Maya-Jariego, I. (2013). Alianzas y redes de colaboración entre las agrupaciones 70 por meio da política nacional de exploração energética de recursos hídricos que foi marcada
culturales de las Artes Escénicas en Andalucia. Empiria, (26), 15–34. https://doi.org/10.5944/ por duas importantes características: o predomínio do Estado como agente empreendedor e
empiria.26.7151 a afirmação de grandes empresas no planejamento e na expansão do sistema de geração de
energia (Vainer & Araújo, 1992).
Ramos, R. (2011, September). Por las Pymes culturales. El Economista. Retrieved from https://
www.eleconomista.com.mx/arteseideas/Por-las-Pymes-culturales-20110926-0036.html A quantidade de usinas hidrelétricas no Estado de Minas Gerais foi intensificada na década de
1990, assim como em outros estados, com a privatização do setor elétrico. De um lado estava
Salgado, P., García, P., & Demuner, M. (2015). Fundamentos y aplicación de la Investigación o discurso do desenvolvimento econômico por parte das empresas e do governo, de outro, as
Acción Participativa ( IAP ) en la conformación de una cooperativa artesanal en el Estado de denúncias, pelos movimentos sociais, em torno dos impactos sociais e ambientais gerados por
México. Administración y Organizaciones, 18(35), 109–140. esses empreendimentos. Esses movimentos eram compostos por atingidos pela construção de
barragens, somado a um conjunto de outros atores sociais que exerciam um papel fundamental
Secretaría-de-Cultura. (2017). En México se realizan más de 890 mil actividades artísticas na assessoria aos atingidos (Zhouri & Rothman, 2008).
al año, casi 2 mil 500 por día. Retrieved from https://www.gob.mx/cultura/prensa/en-
mexico-se-realizan-mas-de-890-mil-actividades-artisticas-al-ano-casi-2-mil-500-por- A principal motivação para a escolha desse caso empírico para estudo é que há escassos registros
dia?state=published acadêmicos dessa experiência, além de um dos pesquisadores ser originário da região envolvida
no estudo, e, ao longo dos anos ter vivenciado a problemática dos atingidos pela UHE Itapebi,
UNESCO. (2017). Líneas Generales. Retrieved July 20, 2018, from http://www.unesco.org/new/ no tocante ao território mineiro, e observado a organização de pessoas que se agruparam em
es/mexico/work-areas/culture/ associações frente às questões que as impactaram com a construção do empreendimento. Nesse
sentido, buscou-se compreender a importância da organização de grupos sociais atingidos pelo

1. Programa de Pós-Graduação em Administração. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: venicios009@yahoo.com.br
2. Programa de Pós-Graduação em Administração. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: gracinda@uol.com.br

1405 1406
empreendimento, de um lado, e de outro, investigar como essa organização se insere no âmbito ausência e desintegração social estava bastante presente, com explicações focadas nas
do MAB. Assim, delineou-se a seguinte questão de pesquisa: como a organização dos atingidos reações psicológicas, nas frustações e aos medos, e nos mecanismos de rompimento da ordem
pela UHE Itapebi tem contribuído no enfrentamento às questões indenizatórias envolvendo a social vigente. O âmbito político era visto como uma sociedade aberta para todos, com isso os
população do munícipio de Salto da Divisa-MG? movimentos sociais não teriam a capacidade de influenciar o sistema político devido as suas
características espontâneas e explosivas. Influenciando desta forma, somente partidos políticos,
Para apresentar a pesquisa, o texto está estruturado em cinco seções além desta introdução. Na grupos de interesse e alguns líderes teriam essa capacidade (Gohn, 1997).
segunda seção, é apresentada uma breve fundamentação teórica em que se revisita a literatura
sobre os paradigmas dos movimentos sociais e a constituição do MAB enquanto um movimento Paradigma Europeu dos Movimentos Sociais
social. Na terceira seção, aborda-se a metodologia da pesquisa. Na quarta parte, apresenta-se
a análise dos dados da pesquisa e por último, uma discussão final do trabalho, seguida dos O paradigma europeu se caracteriza pelo estudo de movimentos sociais numa abordagem
registros das referências bibliográficas do estudo. construtivista, tendo como base diferentes movimentos estudados pela abordagem marxista e
também a dos novos movimentos sociais (Gohn, 2011). As categorias principais construídas por
Fundamentação Teórica seus analistas foram: classes sociais, contradições, lutas, experiências, consciência, conflitos,
interesses de classes, reprodução da força de trabalho, Estado, entre outras. As noções e
Paradigmas dos Movimentos Sociais: O Ponto de Partida conceitos desenvolvidos foram: experiência coletiva, campo de forças, organização popular,
projeto politico, cultura política, contradições urbanas, movimentos sociais urbanos e meios
Os movimentos sociais, assim como qualquer fenômeno social, são marcados pela complexidade coletivos de consumo. Já a corrente dos novos movimentos sociais se pauta em explicações
de suas características e pelo conjunto de relações sociais existente na sociedade. Devido a essa mais conjunturais, localizadas ao nível da política ou dos micros processos da vida cotidiana,
complexidade existem muitas formas de abordar os movimentos sociais. Por essa razão, o esforço fazendo recortes na realidade para observar a política dos novos atores sociais. As categorias
de fazermos escolhas de uma ou outra abordagem, recai no reconhecimento da delimitação básicas deste paradigma são: cultura, identidade, autonomia, subjetividade, atores sociais,
analítica da pesquisa. Nesse sentido, optou-se pelo ponto de partida teórico com uma breve cotidiano, representações, interação política, entre outros. Os conceitos e noções criados foram:
síntese da apresentação a abordagem dos paradigmas dos movimentos sociais apresentados identidade coletiva, representações coletivas, micropolítica do poder, política de grupos sociais,
por Gohn (1997), procurando ao final, situar o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no solidariedade, redes sociais, impactos das interações políticas, entre outros (Gohn, 2011).
país no âmbito dos paradigmas.
Paradigma Latino Americano dos Movimentos Sociais
Paradigma Norte-Americano dos Movimentos Sociais
Nas últimas décadas os estudos do paradigma latino americano estiveram concentrados nos
Esse paradigma explica os movimentos sociais em forma de ciclo com surgimento, crescimento movimentos sociais libertários ou emancipatórios. O paradigma que deu base para esta corrente
e propagação, intermediada por meio da comunicação que envolvia contatos, rumores, reações foi o paradigma europeu. Os movimentos sociais na América Latina estão voltados, principalmente
circulares, difusão de ideias entre outras formas de diálogo. As reivindicações eram vistas para três grandes áreas, conforme estudou Petry (2008): a urbana, a rural e a indígena, sem falar
como pressões por respostas rápidas às mudanças sociais e “desordem social”. Dava-se nas demais que são bastante importantes para a sociedade contemporânea. Nesse cenário novos
muita importância às reações psicológicas como comportamento não racional ou irracional que atores e organizações surgiram como os movimentos sociais de identidades, ambientalistas,
ocorriam diante das mudanças. feministas, LGBT, religiosos, étnicos, entre outros (Almeida & Cordero Ulate, 2017).

Os comportamentos coletivos eram considerados produtos de tensões sociais. A ideia de Com a crescente ascensão da esquerda na América Latina, houve alguns avanços na luta

1407 1408
dos movimentos. Segundo Gohn (2015), entre esses avanços, a questão ambiental foi palco
de mobilizações em algumas regiões, a exemplo da luta contra a instalação de papeleiras no Foram mapeadas todas às associações de atingidos pela implantação da UHE Itapebi em Salto
Uruguai; a luta contra empreendimentos de mineração a céu aberto na Argentina; a luta contra da Divisa e organizações locais que apoiam os atingidos, conforme o quadro 1. Entretanto,
as novas hidroelétricas e contra a implantação de áreas de exploração mineral e vegetal, a nesta etapa da pesquisa, apenas seis sujeitos foram ouvidos, visto que esse trabalho apresenta
exemplo do Movimento de Atingidos por Barragens no Brasil e dos pequenos agricultores no os resultados iniciais de uma pesquisa maior. Na análise dos dados utilizou-se a abordagem
Brasil e na Argentina, respectivamente. interpretativista nos moldes de Gil (2002).

Movimento dos Atingidos por Barragens

Uma das experiências pioneiras dos atingidos por barragens que deu origem ao MAB, como
o fórum máximo nacional que congrega as mais diversas formas de ações coletivas, foi a
organização dos atingidos pelo “Projeto Uruguai” no Sul do Brasil. Segundo Scherer-Warren
e Reis (2008), tudo começou em 1979 quando veio a público um projeto hidroenergético que
previa a construção de 25 usinas hidrelétricas na Bacia do Rio Uruguai, localizado entre os
Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Com isso, as populações locais, em sua maioria
formada de agricultores familiares se mobilizaram contrárias a esse projeto e criaram uma
Comissão de Barragens para discutir os problemas a serem enfrentados com a implantação do
“Projeto Uruguai”. Essa comissão passou a ser conhecida como Comissão Regional de Atingidos
por Barragens (CRAB), que hoje se chama Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

No conjunto de demandas locais e do MAB estadual e nacional, tem sido recorrente a defesa de
uma causa comum que é a criação de políticas públicas como à Política Estadual dos Atingidos
por Barragens e outros Empreendimentos (PEABE), e a Política Nacional de Direitos das Apresentação e Análise dos Dados da Pesquisa
Populações Atingidas por Barragens (PNAB). Trata-se de documentos de autoria do MAB com
apoio de instituições que o assessoram, fruto das inúmeras experiências que o MAB vivenciou Nesse tópico serão apresentados os dados preliminares do estudo com base em pesquisa
ao longo de décadas. documental e entrevistas realizadas em janeiro de 2018 com os sujeitos selecionados de acordo
com o seu conhecimento e envolvimento com as organizações mapeadas, conforme o quadro 1.
Metodologia da Pesquisa
A Construção da Usina Hidrelétrica de Itapebi: Salto da Divisa e o Empreendimento
A análise empírica da pesquisa apresenta uma síntese da construção da UHE de Itapebi, trajetória
da organização dos grupos socais envolvidos por meio da realização de pesquisa documental O município de Salto da Divisa está localizado no Vale do Jequitinhonha, estado de Minas Gerais,
como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da UHE Itapebi; notas taquigráficas, leis, documentos divisa com o estado da Bahia, a 854 quilômetros de Belo Horizonte. De acordo com o censo
da PEABE e da PNAB, entre outros acessados no site do MAB e entrevistas individuais com demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, sua população
os representantes de associações locais dos atingidos para compreender a organização e sua é de 6.859 habitantes. O município é banhado pela margem direita, pelo rio Jequitinhonha, que
demanda principal, os direitos no processo de indenização. corre por alguns municípios da Bahia, desaguando no oceano Atlântico na cidade de Belmonte-

1409 1410
BA. localidade. A Igreja Católica estimulou a criação do GADDH, e esses dois atores se constituíram
as principais instituições articuladoras na esfera local junto aos atingidos, conforme relato a
O aproveitamento Hidrelétrico de Itapebi está localizado no rio Jequitinhonha, extremo sul da seguir:
Bahia, a 8 km da cidade de Itapebi-BA e a 118 km da cidade de Belmonte-BA. O local onde foi
instalada a usina hidrelétrica fica a 619 km de Salvador e 902 km de Belo Horizonte. O principal O papel da igreja foi com irmã Rosa que tomou assim a iniciativa de proteger os atingidos,
acesso ao empreendimento se dá através da BR-101 que faz ligações com cidades que possuem né. Então ela trabalhou muito, ela viajou muito, ela foi onde tinha construção de barragem
aeroporto na região como Ilhéus e Porto Seguro, distantes 200 km e 110 km, respectivamente pra ver qual foi o resultado dos atingidos. Então, lá onde ela foi, como Dalva também foi.
da usina (Engevix, 1995). Elas viram assim uma situação muito dramática porque os atingidos não foram atendidos
pelos empresários, os construtores da barragem prometeram... (Igreja Católica).
O processo indenizatório da UHE Itapebi é grande motivador da organização dos atingidos. De
um modo geral os sujeitos da pesquisa relatam lacunas na elaboração do Estudo de Impacto Outras articulações foram se formando como a Associação Comunitária de Comunicação
Ambiental (EIA), que conseguirem ter acesso e entendimento com ajuda de pessoas que os (ASCCOM), também conhecida como Rádio Comunitária “A Voz do Povo” que apoiou os atingidos
assessoraram, principalmente no tocante à compreensão da projeção da área que seria inundada pela UHE Itapebi. A ASCCOM tem reforçado o seu apoio aos atingidos no decorrer dos anos nas
e quanto aos impactos socioeconômicos do empreendimento, assim como quanto às medidas suas reivindicações conforme se observa no relato a seguir:
compensatórias para a população atingida apresentada pelas empresas do setor elétrico, sem
contar com a noção de atingidos que foi adotada pelo setor, a qual prejudicou a muitos. Essas A rádio comunitária sempre esteve à disposição dos atingidos, e está até hoje. E nós
lacunas inviabilizaram a formulação de um planejamento para a região afetada que contemplasse estamos nessa luta com eles aí, né. Reivindicando seus direitos, que até hoje nós ainda
uma política indenizatória da UHE Itapebi que fosse coerente com os efeitos das inundações e não tivemos uma posição... (Associação Comunitária de Comunicação).
deslocamento compulsório dos atingidas pelo empreendimento.
Essa articulação local inicial foi vital para alavancar outros meios organizativos dos atingidos
Organização da População Frente ao Processo Indenizatório: Síntese dos Relatos e Discussão desde que o anúncio do empreendimento foi divulgado pelas autoridades locais. Os relatos abaixo
consideram que embora o MAB não tenha participado inicialmente dos processos de negociação
A construção da UHE de Itapebi embora fosse um assunto que não se cogitava mais vir a ser junto a UHE Itapebi, a forma que a organização local estava tomando já era considerada como
realidade, pois era uma antiga ideia do setor elétrico, pegou de surpresa os Moradores de Salto um movimento local de atingidos por barragens:
da Divisa, e, por mais que esse projeto fosse assunto no passado, a população não demonstrava
ter conhecimento da dimensão dos efeitos que provocariam o empreendimento na região. Esse Então a gente, é, se falar dos movimentos dos atingidos por barragem, falamos apenas de
desconhecimento é relatado conforme abaixo: Salto. Que era o grupo formado por moradores, pela Igreja Católica, os direitos humanos,
tudo in loco, tudo em local (Movimentos dos Atingidos por Barragens em Salto da Divisa).
...o povo não acreditava não. Eu acho eu era nem nascida quando se falava da construção da
Hidrelétrica de Itapebi. Mas o tempo foi passando, foi passando, e de repente eu já adulta O processo indenizatório da UHE Itapebi, após reivindicações dos grupos afetados foi concretizado
e olha ela ali chegando. E pegou o povo de surpresa, até então sem muito conhecimento, por meio de medidas mitigadoras. Contudo, para as associações locais, essas medidas foram
esclarecimento (Associação das Comunidades Rurais). ineficientes, uma vez que foram indenizações parciais e em alguns casos, como no relato a seguir
não houve a utilização da lavanderia construída para as lavadeiras, por não apresentar boas
Em 1997, a Igreja Católica e o GADDH tiveram acesso ao Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) condições de uso:
que fornecia informações sobre o impacto que a implantação do empreendimento iria causar na

1411 1412
...Nós tinha água com abundância, não comprava água e não dependia de ninguém pra absorver as demandas dos MABs locais.
poder lavar roupa, entendeu. Eles colocaram essas pias e ninguém usou, ninguém fez
nada. E ficou lá. Nenhuma, ninguém, ninguém. Ninguém utilizou nada, cabo com tudo, A partir do paradigma latino americano dos movimentos sociais, os resultados apontam para a
quebrou tudo, quebrou por... foi um espaço que não tinha condição de utilizar (Associação relevância da organização dos grupos sociais locais frente ao processo indenizatório apresentado
de Lavadeiras). pelas empresas responsáveis pelos projetos hidrelétricos brasileiros e da importância da conexão
da organização local com o MAB para o fortalecimento do encaminhamento das demandas e
A UHE Itapebi delimitou a proximidade do reservatório para sua política indenizatória e não garantia de direitos, principalmente para que as reivindicações locais sejam representadas pela
reconheceu todas as pessoas que foram atingidas pelo empreendimento. A Associação das Política Estadual e Nacional de Atingidos por Barragens.
Casas Danificadas relata que a empresa se recusa a reconhecer os danos causados nas casas
que estão distantes a mais de 100 metros da beira do lago. Essa situação está interligada ao Referências
entendimento de atingido pelas empresas do setor elétrico:
Almeida, P. & Cordero, A. (2017). Movimientos sociales en América Latina. In Almeida, P., &
Hoje só na, na área que eles fala que tem a responsabilidade são duzentas e cinquenta e Cordero A., (editores). Movimientos sociales en América Latina: perspectivas, tendencias y casos
oito casas. Cê entendeu? Que é só dentro dos 100 metros, na margem do lago, dentro dos (pp. 15-28). Buenos Aires: CLACSO.
cem metros de distância. E na cidade toda hoje, a gente fala que a cidade toda é atingida,
que tem casa lá no Curral da Matança que é um bairro afastado do lago, e as casas lá tá Engevix. (1995). AHE Itapebi: Estudo de Impacto Ambiental. Salvador: Empresas Petroquímicas
pior que a nossa na beira do rio, da beira do lago. Então pra mim hoje, pra muita gente, a do Brasil S.A
cidade toda é atingida (Associação das Casas Danificadas).
Instituto Brasileiro de Geografia, Estatística. (2010). IBGE Cidades. Acesso em 18 de fevereiro,
Dentre as várias judicializações movidas pelos atingidos pela UHE Itapebi, o processo 2018. Disponível em: www.cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/salto-da-divisa/historico
indenizatório permanece como principal demanda de suas lutas. Em dezembro de 2016 foi
realizada pela Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa (4ª edição). São Paulo: Editora Atlas.
(ALMG), uma audiência pública com objetivo de discutir o processo indenizatório dos atingidos
pela UHE Itapebi em Salto da Divisa, conforme as notas taquigráficas acessadas (Minas Gerais, Gohn, M. D. G. M. (1997). Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos.
2016). Essa audiência foi importante para que os atingidos tomassem conhecimento das São Paulo: Edições Loyola.
expectativas apresentadas pelo MAB Estadual e da atuação da Defensoria Pública que passou a
fazer um acompanhamento do processo indenizatório da UHE Itapebi junto aos atingidos. Gohn, M. D. G. (2011). Sociologia dos movimentos sociais: um blanaco das teorias classicas e
contemporaneas. Canadian Journal of Latin American and Caribbean Studies, 36(72), 199-227.
Discussão Final
Gohn, M. D. G. (2015). Vozes que gritam e vozes silenciadas na América Latina. Civitas-Revista
Através dessa experiência local, vivenciada ao longo dos anos pelos envolvidos, relatada de Ciências Sociais, 15(3), 491-509.
brevemente nesse texto, compreende-se que a criação de políticas públicas articuladas entre o
Estado, o setor elétrico e as organizações dos atingidos poderá contribuir para que o processo Minas Gerais. (2016). Notas Taquigráficas da 26ª 27ª Reunião Extraordinária da Comissão de
indenizatório proposto pelos sujeitos locais seja devidamente reconhecido, garantindo assim, os Participação Popular da 3ª Sessão Legislativa Ordinária da 18ª Legislatura. Belo Horizonte:
direitos dos atingidos, uma vez que a PAEBE e a PNAB desempenham um importante papel de Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

1413 1414
Capítulo 139
Pereira, P. J. C. R. (2011). Desafios do licenciamento ambiental de usinas hidrelétricas: um
estudo de caso da UHE Itapebi. (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil).
Indicadores socioambientais e redes de cooperação em áreas protegidas

Duarcides Ferreira Mariosa1, Ernesto Michelangelo Giglio2,


Petry, A. (2008). Os movimentos sociais na América Latina. Universidade do Vale do Rio dos
Leandro Pereira Morais3 y Pedro Henrique Mariosa4
Sinos. Formação Humanística. Eixo: América Latina.

Scherer-Warren, I. & Reis, M. J. (2008). Do local ao global: a trajetória do movimento dos


Para avaliar a interface entre diversidade organizacional e sustentabilidade local, considera-
atingidos por barragens (MAB) e sua articulação em redes. In Rothman F. D. (org.), Vidas
se neste artigo o ambiente físico e os impactos econômicos das relações socioambientais que
alagadas: conflitos socioambientais, licenciamento e barragens (pp. 64-82). Viçosa: Editora
operam no território. Mediante o uso de modelos conceituais trazidos das técnicas de estudo de
UFV.
caso e da abordagem multimétodos, discute-se a pertinência teórico-metodológica do emprego
de indicadores de sustentabilidade socioambiental, construídos a partir da observação das redes
Vainer, C. B. & Araújo, F. G. B. (1992). Grandes projetos hidrelétricos e desenvolvimento regional.
de cooperação socioeconômica em área de proteção ambiental e como estratégia de gestão
Rio de Janeiro: Centro Ecumênico de Documentação e Informação.
organizacional.
Zhouri, A. & Rothman, F. D. (2008). Assessoria aos atingidos por barragens em Minas Gerais:
Indicadores socioambientais são aqui apresentados como toda e qualquer construção intelectual
desafios, limites e potencial. In Rothman F. D. (org.), Vidas alagadas: conflitos socioambientais,
fundamentada na observação das relações entre sociedade, ambiente e economia, tal como
licenciamento e barragens (pp. 122-167). Viçosa: Editora UFV.
definido na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (Nações Unidas, 2015). “Como
ferramenta de gestão, permite indicar medidas tópicas ou pontuais para que a ação de agentes
públicos, lideranças comunitárias e moradores se desenvolvam na direção do viver com mais
conforto e desfrutar de uma melhor qualidade de vida” (Mariosa, Georges, Ferraz, & Benedicto,
2017, p. 37).

O tema da sustentabilidade tem-se mostrado de grande relevância teórica para a compreensão de


uma série de contrastes e contradições emergentes na sociedade moderna (Léna, Nascimento, &
Latouche, 2012). Para exemplificar este contexto contraditório, tem-se o caso das comunidades
situadas em áreas ambientalmente protegidas localizadas na região amazônica, especificamente
em Reservas de Desenvolvimento Sustentável.

No Cadastro Nacional de Unidades de Conservação do Ministério do Meio Ambiente consta


1. Investigador do Centro de Investigações OBSERVARE da Universidade Autônoma de Lisboa e do Grupo de Pesquisa Biotupé – INPA. Email: dmariosa@
autonoma.pt
2. Professor e Pesquisador do Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP. Email: ernesto.giglio@gmail.com
3. Professor e Pesquisador da Universidade Estadual Paulista - UNESP – Araraquara. Email: lpmorais@gmail.com
4. Doutorando da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Email: pedromariosa@ufam.edu.br

1415 1416
que no Brasil existem atualmente 43 Reservas de Desenvolvimento Sustentável, sendo 39 ao caso e construídos a partir de indicadores socioambientais que levem em consideração o
situadas em área continental, totalizando uma cobertura de 112.400 km²; e 04 em área conjunto de forças e de poderes atuando no território.
marinha, com cobertura total de 46 km². No Bioma Amazônia encontra-se o maior número de
áreas ambientalmente protegidas, classificadas como RDS, 23, ocupando 111.089 km², o que Num esforço conciliatório, as discussões acadêmicas e as práticas econômica e socialmente
representa 2,6% de toda a área territorial da Amazônia brasileira e duas vezes e meia a área inclusivas, propostas sob a perspectiva da sustentabilidade e de uma economia social e solidária,
total do Estado do Rio de Janeiro (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, 2014). têm sido concebidas como alternativa ao atual padrão dominante de desenvolvimento que, se
restrito unicamente às regras do jogo capitalista, promoveria a degradação ambiental e a
Uma Unidade de Conservação do tipo Reserva de Desenvolvimento Sustentável é, nos termos da insegurança social (dos Santos, Vieira, & Borinelli, 2013). Dado que não é o ambiente físico,
Lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000, “uma área natural que abriga populações tradicionais, geográfico, econômico, ou biológico que isoladamente determina os comportamentos, mas, sim,
cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais”, tais as atividades que nestes espaços são organizadas e desenvolvidas (Espí, 2010), o presente
sistemas foram “desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas texto propõe analisar como os pressupostos conceituais da Economia Solidária e das Redes de
locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da Cooperação podem ser utilizados na construção de indicadores socioambientais para a gestão
diversidade biológica” (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, 2000). organizacional de áreas ambientalmente protegidas.

Populações tradicionais, por sua vez, é um termo que se aplica a grupos humanos que de A Contribuição Da Economia Solidária
forma isolada e culturalmente diferenciados reproduzem seu modo de vida “com base em
modos de cooperação social e formas específicas de relações com a natureza, caracterizadas No âmbito da Economia Solidária (EcoSol), o principal objetivo estratégico é o de fomentar a
tradicionalmente pelo manejo sustentado do meio ambiente” (Arruda, 1999, p. 92). Esta organização de sistemas territoriais sustentáveis, considerando para tanto, como principais
definição, continua Rinaldo Arruda (1999, p. 92), abrange tanto os “povos indígenas quanto parâmetros para a ação, as conformações econômicas, sociais e ambientais existentes no
os segmentos da população nacional que desenvolveram modos particulares de existência, território, de modo a criar condições para a permanência das populações em seus locais de
adaptados a nichos ecológicos específicos”. Exemplos de populações tradicionais são, assim, origem, principalmente os mais jovens (Singer, 2002).
“as comunidades caiçaras, os sitiantes e roceiros tradicionais, comunidades quilombolas,
comunidades ribeirinhas, os pescadores artesanais, os grupos extrativistas e indígenas”. A economia solidária compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais, que realizam
atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo
Considerando-se as peculiaridades das áreas ambientalmente protegidas sob a forma de reserva e consumo solidário. Refere-se, portanto, à produção de bens e serviços por um amplo conjunto
de desenvolvimento sustentável, a Amazônia apresenta-se, assim, como um caso paradigmático: de organizações e empreendimentos que têm objetivos econômicos, sociais e ambientais, e são
frente à necessidade de conservar a riqueza e a diversidade exuberantes da natureza e da vida guiadas por princípios e práticas de cooperação, solidariedade, ética e autogestão democrática.
que ela abriga, opõe-se o imperativo de atender às necessidades e interesses das comunidades O campo da EcoSol inclui cooperativas e outras formas de empreendimentos sociais, grupos
locais, postas pela dinâmica capitalista, conquistas democráticas e de mecanismos inclusivos de autoajuda, organizações comunitárias, associações de trabalhadores da economia formal e
(Becker, 2004). Para estas, o mesmo instrumento legal criado para proteger o ambiente, limita, informal, ONGs que asseguram a prestação de serviços, iniciativas de finanças solidárias, entre
restringe, condiciona e constrange a atividade humana em seu espaço de vivência e sobrevivência. outros (Morais, 2013, 2014).
Ademais, “a criação de um instrumento de proteção e, por consequência, de novas tipologias de
áreas protegidas, reflete, precisamente, tanto as expectativas sociais de grupos interessados, No Brasil e em muitos países, nos últimos anos a EcoSol apresenta-se como inovadora alternativa
quanto os arranjos políticos e institucionais que exercem pressão, ou influência sobre o Estado” de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão sociolaboral. Para muitos,
(Medeiros, 2006, p. 42). O que demanda instrumentos de gestão organizacional adequados pode ser considerada também como um novo modelo de desenvolvimento, mais humano e

1417 1418
inclusivo (Morais, Dash, & Bacic, 2017). distribuição da riqueza; b) social e cultural: implica qualidade de vida, equidade e integração
social; c) ambiental: se refere aos recursos naturais e a sustentabilidade dos modelos de médio
O campo de estudos e da “práxis” da EcoSol contempla diferentes correntes teóricas, que hoje e longo prazo e d) política: trata-se de aspectos relacionados à governança territorial, bem como
influenciam o pensamento sobre o seu papel e o seu lugar na transformação do modo de produção ao projeto coletivo sustentável.
capitalista. Ou seja, este campo é caracterizado pela permanente tensão, seja no que se refere
às questões teórico-conceituais, seja entre as diferentes iniciativas locais, sua escala, seus No momento atual, a EcoSol é inclusive considerada pelas Nações Unidas, como um dos
contextos, suas especificidades, seus enquadramentos e seus modos de operação. Assim, esta caminhos auxiliares que podem contribuir para a construção dos Objetivos de Desenvolvimento
temática é permeada por embates e conflitos que vão da teoria à práxis, uma vez que envolvem Sustentável (ODS) da Agenda 2030 (Nações Unidas, 2015). Isto, pois, os ODS são integrados e
diferentes posicionamentos em termos políticos, culturais, ideológicos e conceituais. No entanto, mesclam as três dimensões do desenvolvimento territorial sustentável: a econômica, a social e
acredita-se que, conforme afirmou VIEIRA (2005, p. 366), a EcoSol “enquanto conceito possui a ambiental.
uma tripla natureza. Ao mesmo tempo em que é um objeto empiricamente verificável, também é
um movimento social e uma teoria propositiva da mudança socioeconômica”. Nesta perspectiva, a EcoSol tem por base a ação local enraizada na comunidade, compreendida
como partilha de um mesmo território e pertencente a uma rede de relações comuns. É justamente
Outro aspecto fundamental reside no fato de que a EcoSol apresenta um caráter transversal, ou esse enraizamento que vai permitir a estes empreendimentos possuírem uma relação direta
seja, pode mobilizar diferentes áreas da ação pública e social, uma vez que pode contemplar, com o desenvolvimento da localidade, potencializando as capacidades e os recursos humanos e
em suas ações, objetivos econômicos (geração de trabalho e renda), sociais (melhora das materiais endógenos.
condições de sociabilidade e fortalecimento dos laços territoriais), políticos (criação de espaços
públicos para analisar, discutir e resolver problemas), culturais (novos padrões de produção e de Sendo assim, o conceito de redes de cooperação é de fundamental importância para o
consumo) e ambientais (reeducação ambiental em prol da sustentabilidade). Tais aspectos levam fortalecimento das práticas de EcoSol nos seus respectivos territórios, inclusive, pelo fato das
à melhores condições para se atingir o desenvolvimento territorial sustentável. debilidades estruturais inerentes ao modus operandi da EcoSol, que envolvem questões micro e
macroeconômicas.
Ou seja, na visão de França Filho (2005), a EcoSol não diz respeito apenas a um problema
econômico, uma vez que pode envolver outras questões tais como a sociabilidade nos territórios, A Contribuição Das Redes De Cooperação
a participação política das pessoas, o grau de organização associativa, a preservação ambiental,
a afirmação de identidades culturais, etc. Trata-se, portanto, do desenvolvimento “endógeno” Os conceitos de redes são multifacetados, mas é possível agrega-los em três grandes paradigmas,
de economias de dinâmicas territorializadas, assentadas na cooperação, na aprendizagem, nos que se interconectam, conforme o objetivo que guia a formação da rede: racional, econômico e
conhecimentos tácitos, nas culturas técnicas específicas e nas inter-relações sinérgicas. A ideia social.
do desenvolvimento endógeno baseia-se na visão de que os sistemas produtivos consistem em
um conjunto de fatores materiais e imateriais que permitem que as economias locais e regionais Na abordagem racional, as redes se formam para que cada organização, ou pessoa obtenha
adotem caminhos diferentes para o crescimento econômico, o desenvolvimento social e a vantagens e recursos que, isoladamente, não teriam como obter (Grandori & Soda, 1995). Na
sustentabilidade ambiental. abordagem econômica, as redes se formam para que as organizações consigam vantagens de
custos nos seus processos de produção e de serviços (Williamson, 1985). A abordagem social
Desta forma, ao se referir em desenvolvimento territorial sustentável, há que considerar considera que as redes contêm uma teia social, isto é, uma cultura de relacionamentos entre
a importância das seguintes dimensões, adotando-as como matrizes para a construção atores que direciona e influencia suas ações técnicas, comerciais e comportamentais (DiMaggio
de indicadores socioambientais: a) econômica: relacionada com a criação, acumulação e & Powell, 1983; Granovetter, 1985; Gulati & Gargiulo, 1999).

1419 1420
Quando se considera a estrutura de ligações e a tarefa principal das redes, elas são genericamente Interpreta-se que essa é a ideia de Granovetter (1985), ao propor o conceito de laços fortes.
caracterizadas como redes de cooperação. Cooperação significa a ação conjunta entre dois, Encontros constantes entre os atores e fluxos de trocas que são variados, incluindo afetos,
ou mais atores, para conseguir um resultado que, individualmente, nenhum deles conseguiria informações técnicas, jogos de poder e acordos de processos, só para citar alguns. Esses laços
(Balestrin & Verschoore, 2010). fortes criam a rede de apoio que o ser humano necessita e que lhe serve para desenvolver suas
habilidades (Berger, Luckmann, & Fernandes, 1995).
Conforme a natureza do objetivo predominante de uma rede, ela pode ser classificada como
rede de cooperação de negócios, ou de políticas públicas, ou de ações sociais. As redes também Considerações Finais
podem ser agrupadas conforme sua localização local, ou global (Hoffmann & Molina-Morales,
2007); seu grau de informalidade, ou formalização (Grandori & Soda, 1995) e a dominância Diante dos potenciais riscos e ameaças à estabilidade e permanência de populações situadas em
da governança, se mais burocrática, se mais processual, se mais relacional (Milagres, Silva, & áreas protegidas na Amazônia, o maior desafio, portanto, seria o de aliar a função social destes
Rezende, 2016). espaços, acomodada na legislação que orienta e delimita uma Unidade de Conservação de Uso
Sustentável, com políticas sociais e estratégias de desenvolvimento territorial que considerem
A ordenação dos conceitos e das classificações auxilia na compreensão de fenômenos complexos, ainda o contexto geopolítico, pois que este estabelece e prioriza as questões ambientais e os
como é o caso das atividades produtivas em áreas ambientalmente protegidas investigado neste problemas organizacionais das populações locais. O uso de indicadores socioambientais permite
artigo, bem como fornecem padrões e referenciais a serem considerados na construção de que as redes sejam observadas a partir das articulações entre os empreendimentos econômicos
indicadores socioambientais. Deve-se ressaltar, no entanto, que são pontos de partida, porque as solidários e suas organizações de apoio para, de forma conjunta, promover atividades com a
relações humanas não se reduzem a padrões fixos. As redes, a estrutura, os relacionamentos, os finalidade de fortalecer o desenvolvimento de suas práticas e/ou promover a comercialização
interesses, as pessoas participantes; tudo se transforma no tempo, o que exige uma metodologia solidária dos seus produtos e serviços, e/ou para permitir seu consumo coletivo. Considera-
de investigação que seja capaz de captar os elementos estruturantes, tais como os processos se, assim, justificado, que a análise das redes de cooperação socioeconômica contribua
decisórios, ou os modos de comunicação e, ao mesmo tempo, as transformações no tempo com elementos para subsidiar a construção e análise dos indicadores socioambientais das
(Halinen, Salmi, & Havila, 1999). comunidades em Áreas Protegidas.

Esses elementos estruturantes, ou varáveis, na linguagem de metodologia, formam uma matriz Referências
operacional importante para a investigação da gestão das redes em uma determinada unidade
socioterritorial. Arruda, R. (1999). Populações tradicionais. Ambiente & sociedade, (5).

Conforme Latour (2015) uma característica importante das redes de cooperação é que os Balestrin, A., & Verschoore, J. (2010). Aprendizagem e inovação no contexto das redes de
participantes da vida coletiva não permanecem em constante comunicação com os demais em cooperação entre pequenas e médias empresas. Organizações & Sociedade, 17(53), 311–330.
todas as situações e em igual intensidade, o que gera assimetrias de informações, comportamentos
e decisões. Outra característica é que redes se unem com outras redes, e surgem subredes de Becker, B. K. (2004). Amazônia: Geopolítica Na Virada Do Iii Milênio. Rio de Janeiro (RJ): Editora
ligações estruturadas em parentesco, em trocas econômicas, em identidades civis e religiosas Garamond.
(Latour, 2015). O mesmo autor ainda registra que para apreender as características das redes, é
necessário entender esta não como algo estático, mas dinâmico, observando os movimentos de Berger, P. L., Luckmann, T., & Fernandes, F. de S. (1995). Construção social da realidade: tratado
agregar, desagregar e reagregar destes participantes da vida coletiva. de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes.

1421 1422
Léna, P., Nascimento, E., & Latouche, S. (Orgs.). (2012). Enfrentando os limites do crescimento:
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza sustentabilidade, decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Garamond.
– SNUC, Pub. L. No. Lei No 9.985, de 18 de julho de 2000, § Brasilia - DF (2000).
Mariosa, D. F., Georges, M. R. R., Ferraz, R. R. N., & Benedicto, S. C. D. (2017).
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. (2014). Cadastro nacional de unidades de conservação. Sustentabilidade socioambiental, padrão construtivo habitacional e comunidades Ribeirinhas
Recuperado de http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/cadastro-nacional-de-ucs do Tupé - Manaus, Amazonas. Revista Cerrados, 15(1), 30. https://doi.org/10.22238/
rc24482692v15n12017p30a52
DiMaggio, P., & Powell, W. W. (1983). The iron cage revisited: Institutional isomorphism and
collective rationality in organization fields. American Sociological Review, 48, 147–160. Medeiros, R. (2006). Evolução das tipologias e categorias de áreas protegidas no Brasil.
Ambiente & Sociedade, 9(1), 41–64.
dos Santos, L. M. L., Vieira, S. F. A., & Borinelli, B. (2013). Economia solidária e estratégia: entre
princípios e pragmatismo. Revista Ibero-Americana de Estratégia, 12(4), 261. Milagres, R., Silva, S. da, & Rezende, O. (2016). Governança Colaborativa. In CONASS Debate
– Governança Regional das Redes de Atenção à Saúde / Conselho Na - cional de Secretários de
França Filho, G. (2005). L’économie populaire et solidaire au Brésil. In Laville, J.-L et al. Action Saúde (p. 14–48).
publique et économie solidaire. Une perspective internationale. Ramonville Saint-Agne, Éditions
éres (p. 57–72). Morais, L. (2013). As políticas públicas de economia solidária (ESOL): avanços e limites
para a inserção sociolaboral ds grupos-problema (Tese de Doutoramento). Universidade
Grandori, A., & Soda, G. (1995). Inter-firm Networks: Antecedents, Mechanisms and Forms. Estadual de Campinas, Campinas - SP. Recuperado de http://repositorio.unicamp.br/handle/
Organization Studies, 16(2), 183–214. https://doi.org/10.1177/017084069501600201 REPOSIP/286124

Granovetter, M. G. (1985). Economic action and social structure: a theory of embeddedness. Morais, L. (2014). Social and Solidarity Economy and South-South and Triangular Cooperation in
American Journal of Sociology, 19, no 3, 481–510. Latin America and the Caribbean: Contributions to Inclusive Sustainable Development. In Social
and solidarity economy reader: towards inclusive and sustainable development (p. 67–94).
Gulati, R., & Gargiulo, M. (1999). Where do interorganizational networks come from? American Geneva, Swiss: Internacional Labour Office.
journal of sociology, 104, n. 5, 1439–1493.
Morais, L., Dash, A., & Bacic, M. (2017). Social and solidarity economics in India and Brazil.
Halinen, A., Salmi, A., & Havila, V. (1999). From dyadic change to changing business networks: Social Enterprise Journal, 13, 95–112.
an analytical framework. Journal of Management Studies, 36(6), 779–794.
Nações Unidas. (2015). Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o desenvolvimento
Hoffmann, V., & Molina-Morales, F. (2007). Redes de empresas: proposta de uma tipologia para sustentável. Rio de Janeiro: Nações Unidas no Brasil. Recuperado de http://nacoesunidas.org/
classificação aplicada na indústria de cerâmica de revestimento. Revista de Administração pos2015/agenda2030/
Contemporânea, 11(Ed. Especial), 103–127.
Singer, P. (2002). Introdução à economia solidária. São Paulo (SP): Fundação Perseu Abramo.
Latour, B. (2005). Reassembling the social: An introduction to actor-network-theory. Oxford:
Oxford Press. Vieira, F. (2005). Coerência e aderência da economia solidária: um estudo de caso dos coletivos

1423 1424
de produção do MST em Mato Grosso do Sul (Tese de Doutoramento). Faculdade de Economia, Capítulo 140
Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP). Recuperado de
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12138/tde-28082006-155039/en.php
O Comércio Justo e as novas formas organizacionais
Williamson, O. E. (1985). The economic institutions of capitalism: firms, markets, relational
Jorge A. P. Sturmer1 y Eloise H. L. Dellagnelo2
contracting. New York : London: Free Press ; Collier Macmillan.

1. Contextualização

Este ensaio teórico com base em uma pesquisa bibliográfica tem como objetivo entender como o
movimento do Comércio Justo está se desenvolvendo em alguns países da América Latina. Nesse
caminho buscamos compreender como o comércio justo e suas diretrizes estão inseridas nas
transações comerciais das comunidades referenciadas e quais formas de organização e gestão
estão sendo utilizadas nestas organizações.

Para o desenvolvimento do trabalho selecionamos no Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento


de Pessoal de Nível Superior- CAPES, 11 artigos que trazem experiências de organizações
localizadas em sete países, com predomínio para a América Latina (Brasil, México, Peru,
Colômbia, Argentina e Equador); e uma na Etiópia, continente Africano.

Nosso aporte teórico se sustenta nas propostas de modelos organizacionais alternativos que
tem se espalhado ao redor do mundo nos últimos anos, incluindo organizações da economia
social, cooperativas de trabalhadores, e outras formas de resistência ao discurso hegemônico do
management, tendo como principais autores Rotchild-Witt (1979), Clegg (1998), Daft EeLewin
(1993), Volberda (1998), Spicer e Böhm (2006), Misoczky (2006), Palmer, Benveniste E
Dunford (2007), Laville (2009), Reedy (2014) e Parker et al (2014).

Nesta proposta Clegg (1990) e Volberda (1998), apontam que as organizações tradicionais
podem não ser o objeto mais adequado para a construção de uma sociologia da ação econômica
e que um dos grandes desafios das organizações modernas é a redução das barreiras
organizacionais. Os autores consideram que uma empresa não será capaz de utilizar plenamente
1. Doutorando em Administração na Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisador do Núcleo Organizações, Racionalidade e Desenvolvimento
(ORD), UFSC. Email: jorgesturmer@hotmail.com.
2. Professora do Programa de Pós Graduação em Administração da UFSC, Coordenadora do Observatório da Realidade Organizacional UFSC. Email:
eloise.livramento@ufsc.br.

1425 1426
de suas capacidades flexiveis sem uma estrutura organizacional adequada. que priorizem a gestão e inclusão social. Estas organizações devem conciliar o balanço social
com o desempenho econômico, caminho que nas últimas décadas têm levado a um debate em
De acordo com Misoczky (2006), devemos nos interessar pelo que considera como outras torno da economia social.
formas de organizar e que ainda são consideradas utópicas, pois afrontam e assustam as nossas
concepções tradicionais de organização. Nesta perspectiva de formas menos tradicionais de Desta forma, estas novas formas associativas se organizam para busca de solução e práticas que
organização, Faria et al. (2008) consideram que a autogestão é um processo que busca a abrangem ações desde pequenos problemas do cotidiano a grandes questões mundiais. Entre
organização direta da vida coletiva em todos os níveis, abdicando da participação do Estado. algumas destas iniciativas, Laville (2009), aponta que a busca de uma forma mais justa nas
Para os autores nos últimos anos o conceito de autogestão tem sido utilizado com a finalidade transações comerciais tem obtido destaque.
de definir a experiência de organizações autônomas de trabalhadores no interior do capitalismo.
Nesta proposta, o comércio justo pode ser considerado como um contra movimento, que desafia
Com estes pressupostos, o estudo de Rotchild-Witt (1979) já apontava para a necessidade de as regras capitalistas tradicionais ao propor uma nova forma de relação entre produtores e
um modelo ideal para organizações coletivas. Deste grupo fariam parte, instituições alternativas consumidores, que através de suas instituições, princípios e práticas realizam esforços para
ou coletivas que contrastam com o modelo tradicional das organizações. Estas organizações conduzir o comércio com base em valores relacionais e cívicos, constantemente desafiados, mas
abominam todas as bases de autoridade, hierarquia, e poder individual e se fundem em torno dos não subordinados, por forças econômicas dominantes.
traços característicos da democracia e de uma logica de racionalidade substantiva.
De acordo com a European Fair Trade Association – EFTA (2001) o termo comercio justo
Neste aspecto Misoczky; Silva e Flores (2008); Cheney et al.(2014) abordam a questão das deve considerar relações comerciais baseadas no diálogo, na transparência e no respeito e
cooperativas de trabalhadores como uma possibilidade organizacional e como uma alternativa seu objetivo principal é alcançar uma maior equidade no comércio mundial. Esta definição faz
para a crise econômica mundial. Nesta orientação, as cooperativas, incluindo as empresas de parte das diretrizes da red fine, nome formado a partir das letras iniciais dos nomes das quatro
propriedade dos trabalhadores, têm um papel importante a desempenhar na reestruturação e organizações de comércio justo que se agrupam para formar esta rede: Fairtrade Labelling
reconfiguração da economia, bem como na apresentação de formas alternativas de governança. Organizations International, FLO; International Fair Trade Association, IFAT, atualmente com a
denominação de World Fair Trade Organization, WFTO; Network of European Worldshops, news!,
Assim, para Spicer e Böhm (2006) e Bommer e Spicer (2011) os grupos se organizam para e European Fair Trade Association, EFTA.
resistir ao discurso hegemônico do “management”. Neste movimento de resistência, os autores
identificam quatro grandes grupos: os sindicatos, os movimentos cívicos, organizações de Em janeiro de 2009 a FLO elaborou a Carta dos Princípios do Comercio Justo, um documento
movimentos cívicos e grupos que trabalham em prol de estratégias de mau comportamento onde declara a visão, definição e princípios básicos que toda rede integrante do movimento deve
organizacional. Estes grupos buscam estratégias para articular discursos e construir pontos compartilhar. Assim, de acordo com as premissas da FLO (2009) os principais critérios para as
nodais que possibilitem o estabelecimento de vínculos entre movimentos de gêneros, de raça e relações baseadas em práticas de comércio justo são: o estabelecimento de uma relação direta
dentro do discurso da diversidade. entre produtores e consumidores; a eliminação sempre que for possível de intermediários e
especuladores; a aplicação de um preço justo e estável que permita ao produtor e sua família
Considerando esta dinâmica dos movimentos sociais, Laville (2009) argumenta que o aumento viver dignamente; a liberação de financiamento parcial para os produtores mesmo antes da
do número de cooperativas em todo o mundo, resulta de uma reação popular contra o ostracismo colheita e o estabelecimento de contratos de longo prazo baseados no respeito mutuo, e em
e a exclusão social, e tem como um de seus objetivos a luta contra a dispersão através da valores éticos, que visem o bem comum, a equidade e o cuidado com o meio ambiente.
criação de uma organização econômica que proporcione à sociedade uma relação de forças
menos desfavorável. Com esse propósito defende a utilização de novas formas organizacionais A organização estabelece critérios para diversos tipos de transações e de comercialização para

1427 1428
cada produto. Assim existem os critérios para os pequenos produtores, para a contratação de
mão de obra, para a produção através de contratos e para os comerciantes. Também define Nestes artigos podemos encontrar uma relação entre comércio justo e formas de organização
prescrições estritas para o cuidado com os trabalhadores e com o meio ambiente, a proibição que estão relacionados a práticas de comunidades, associações e cooperativas direcionadas para
para o trabalho infantil e forçado e liberdade para livre associação dos trabalhadores. Fomenta a produção e comercialização de seus produtos através da rede de comércio justo. Considerando
também a formação de cooperativas de pequenos agricultores que devem ser dirigidas pela que a proposta do CJ pressupõe formas associativas e deliberativas de tomada de decisões,
assembleia geral, onde todos tenham direito a voto e uma direção democraticamente eleita para buscamos encontrar nestes relatos, formas alternativas de organização. Assim nosso olhar
determinar o uso do premio social. (FLO, 2017). sempre esteve focado nas questões da gestão e da organização destes coletivos, procurando
vislumbrar pistas que pudessem nos conduzir a estes achados.
Partindo destas perspectivas o comércio justo é uma abordagem alternativa às transações
de comércio internacional convencional, pois devem ser consideradas a partir de uma relação Após a leitura atenta dos trabalhos é possível compreender porque estes grupos mantem
de parceria entre produtores e consumidores, oferecendo aos produtores condições negociais relações de cooperativismo, mas estão sujeitos as questões organizativas mais tradicionais. De
melhores que permitam a melhoria de suas vidas. Essa premissa inclui o movimento como uma forma geral são comunidades com poucos recursos e carentes de amparo de todos os tipos:
um mecanismo de inserção dos produtores do sul nos mercados do norte, em uma situação econômico, tecnológico, cultural e social.
de maior equidade na direção de um desenvolvimento progressivo, respeitando os critérios de
sustentabilidade social, ambiental e econômica (Chiang, 2011). No princípio do comércio justo, os movimentos de solidariedade ligados à igreja católica deram
origem a um relacionamento informal entre os pequenos produtores do Sul e os consumidores do
2 Análise dos artigos Norte. Estas organizações alternativas buscavam criar relacionamentos e importar produtos de
pequenos produtores artesanais do Sul. Deste movimento ou contra movimento “como preferem”
Do corpo de 17 artigos analisados que abordam questões do comércio justo (CJ), separamos alguns autores, algumas destas comunidades de pequenos produtores foram tomando corpo e se
11 trabalhos que tem como ponto comum o comércio justo e a produção e comercialização organizando para compreender e participar deste novo modelo de comércio.
através do associativismo e do cooperativismo. Os artigos selecionados trazem experiências de
organizações localizadas em sete países, com predomínio para a América Latina (Brasil, México, Assim podemos encontrar nos artigos de Fridell (2005) e Chiang (2011) além de citações de
Peru, Colômbia, Argentina e Equador); e uma na Etiópia, continente Africano. O Brasil tem outros autores que a Unión de Comunidades Indígenas de la Región del Istmo (UCIRI) fundada
relatos de três casos, o México de dois, o Peru de dois e os demais países uma experiência cada. em 1984 foi uma das entidades fundadoras em 1988, do primeiro processo de certificação
Estes trabalhos começaram a ser publicados em 2005, desde então até 2014 praticamente de organizações para o comércio justo. A UCIRI, apesar de sua imensa rede de organizações
todos os anos aparecem publicações no Portal da CAPES, sugerindo o interesse crescente sobre representa pequenas comunidades indígenas preocupadas com as suas necessidades básicas
o tema do comércio justo. vitais, com problemas de produção, de coordenação e de manutenção de seus mercados.
Processos semelhantes encontramos nos casos das demais cooperativas produtoras de café, que
Desta amostra, sete artigos estão direcionados para a produção de alimentos com predominância buscam formas de organizações que lhe forneça primeiro uma segurança econômica, ficando em
para a cadeia produtiva do café (Fridell, 2005; La Revista Agraria, 2007; Chiang, 2011; Coscione, plano secundário as demais questões sociais e ambientais.
2013; Ferro-Soto; Mili, 2013), e também da produção de guaraná (Bastos et al., 2014) e da
quinua orgânica (Laguna; Cáceres; Carimentrand, 2006). Dois são voltados para o artesanato No trabalho de Ferro Soto e Mil (2013) podemos verificar os impactos econômicos, sociais e
(Presta, 2009; Schmitt: Moretto, 2011), um trabalho sobre o cultivo de flores (Lyall, 2013), e ambientais nas quatro cooperativas de café analisadas pelos autores. Nas questões sociais as
um artigo sobre a parceria de uma empresa com uma comunidade Kalunga que produz alimentos conquistas estão relacionadas à existência de escolas de agricultura, posto de socorro médico,
e artesanato (Tiburcio; Valente, 2007). dentista, tendas de produtos de primeira necessidade, residência para estudantes, associação

1429 1430
de mulheres, abastecimento de eletricidade e agua potável, construção de escolas, dispensários. alternativas ao hierarquismo. Mas o que resultou dos textos não se aproxima de um desenho
A mesma preocupação encontramos no depoimento da representante nacional das mulheres coletivo de construção de poder de baixo para cima, ou das formas organizacionais mais
produtoras de café no Peru, demonstrando os primeiros passos na luta por um espaço de alternativas como os grupos de bases autônomas, conforme descrevem Sutherland, Land e
participação mínima das mulheres. Bohm (2014) e suas formas de organização horizontal que eliminam as tradicionais formas de
liderança e chefia. Também não foi possível distinguir os princípios da proposta de Rotchild-
O caso dos produtores de flores no Equador (Lyall, 2013) demonstra que os trabalhadores Witt (1979) de um modelo para organizações coletivas que também busca eliminar as formas
ainda consideram que os benefícios conseguidos são benesses dos patrões, gerando um tradicionais de autoridade, hierarquia e poder individual, privilegiando os valores de realização,
endividamento moral para com eles. Achados semelhantes verificamos em Presta (2009) na os incentivos solidários e os valores simbólicos.
organização do trabalho de mulheres artesãs na Argentina, que segundo o autor, reproduzem
os velhos processos de poder e dominação; em Tibúrcio e Valente (2007) com a história da É relevante olhar também as tensões apontadas principalmente por Lyall (2013) entre as práticas
parceria entre uma empresa privada e membros do território Kalunga, população que sobrevive do mercado e a postura dos trabalhadores nas florícolas equatorianas e o paradoxo levantado
com dificuldade, em condições de extrema pobreza e que consideram razoável qualquer forma por Presta (2009) que também pode ser considerado presente nas relações do comércio justo
de comércio que melhore suas condições de vida. com o mercado capitalista, onde a lógica que os exclui é a mesma que pode lhe trazer melhores
condições de subsistência.
Destes relatos emergem situações que não deveriam ser produto de relações de pessoas
envolvidas no processo de cooperativas de trabalhadores. Apesar do tipo de associação que Estas questões podem ser vistas a partir da análise de Faria et al (2008) sobre a necessidade
fundaram, as relações de poder permanecem distantes da proposta cooperativa. Este fenômeno de analisarmos os conflitos e contradições que se desenvolvem nas organizações. Os autores
não é isolado para os casos estudados. De acordo com Misoczky, Silva e Flores (2008) muitas consideram que mesmo nas organizações coletivistas de trabalho estes conflitos podem se
cooperativas que nasceram de uma proposta coletivista, se transformam com o tempo em constituir como instrumentos de defesa e resistência dos trabalhadores, mas também podem
empresas convencionais, pois o modelo não pressupõe transformações na estrutura econômica servir como formas de mediação destes com o modelo vigente. Assim, em alguns casos os próprios
da sociedade. Principalmente nas associações de menor porte, ou onde a carência econômica é mecanismos de controle social são dissimulados na prática dos trabalhadores como forma de
maior, estas relações ainda estão próximas do modelo de um grupo que executa e de um grupo garantir a convivência em contradições, que naquele momento lhes parecem insuperáveis.
que manda.
3 Considerações Finais
Nas cooperativas com “maior nome” e abrangência internacional, as relações estão subordinadas
ao poder dos mercados. Para melhorar as condições de vida dos pequenos produtores estas A reflexão a partir grupo dos artigos escolhidos e que tratam de casos específicos de associações
associações estão sofrendo com pressões dos grandes grupos varejistas mundiais. Estes e /ou cooperativas de pequenos produtores, demonstra que de uma forma geral a possibilidade
movimentos pressionam os preços que afetam o resultado final para os pequenos produtores. da participação no movimento de Comércio Justo surgiu como uma alternativa econômica para
Além disso, a força deste mercado tem levado a formação de novas entidades certificadores, as associações de pequenos produtores que já laboravam nas atividades.
nem sempre tão envolvidas e preocupadas com os princípios que originaram a proposta de
comércio justo. Deste movimento ou contra movimento como preferem alguns autores, algumas destas
comunidades foram se organizando para compreender e participar deste novo modelo de
Assim, ao apontarmos estes fatos, não estamos considerando as associações e cooperativas comércio.
como formas inferiores de organização, pelo contrário, para Misoczky, Silva e Flores (2008)
os princípios do cooperativismo podem ser vistos como sinais de práticas organizacionais Por outro lado, como o movimento do comércio justo ampliou sua rede de participantes, tem

1431 1432
sofrido com as questões da produção e a necessidade de ampliação dos mercados para a A partir desta premissa é possível entender que para a mudança nas práticas e associação do
comercialização dos produtos provenientes desta rede. Esta necessidade está revelando uma comercio justo a novas formas de organização, é necessário que a mobilização social em prol do
tensão entre as premissas e as necessidades práticas da gestão da rede. Assim para colocar movimento seja ainda mais forte.
sua produção, o movimento necessita de parcerias com os principais representantes do mercado
capitalista: governos, bancos e grandes empresas transnacionais. Bibliografia

Esta dicotomia entre seus princípios e a necessidade de ampliação de mercado, leva para os Bastos. A.t; Furtado, C.f. C; Matos, F.r. N; Ogasawara, M.h (2014, jan./fev./mar.). Guaraná
integrantes do comércio justo as pressões tradicionais do mercado: preço, prazo, qualidade, orgânico: ecodesenvolvimento e comercio justo. Administração Ensino e Pesquisa. Rio de
ou seja, necessidade de competitividade. Estes condicionantes estruturais afetam o modo Janeiro. (v. 15, n.1), p. 173-222.
de produção, e as questões sociais tendem a ficar submetidas aos processos econômicos,
dificultando a democratização e a alteração nas relações de poder convencionais. Bossle, M.b; Nascimento, L.f; Trevisan, M; Figueiró, P.n. (2012, jan./jun.). O comércio justo como
agente mitigador das mudanças climáticas: o caso do algodão ecológico. Contextus. Revista
É factível afirmar que as comunidades integrantes das associações estudadas têm obtido Contemporânea de Economia e Gestão. ( v. 10, n. 1).
melhorias substanciais em serviços sociais através de projetos cooperativos em saúde, educação
e capacitação. Mesmo através do olhar crítico das práticas emancipatórias, é possível enxergar Chiang, A.g. (2011). El comercio justo: ¿una alternativa de desarrollo local? Polis. (v.7.n.1),
a existência destes fatores nos casos analisados. O crescimento dos volumes das transações p.105-140.
através do comércio justo está diretamente relacionado às associações cooperativas dos
trabalhadores campesinos. Se ainda estão distantes das melhores práticas de gestão coletiva, é Cheney, G; Santa Cruz, I; Peredo, A.m; Nazareno, E. (2014). Worker cooperatives as an
inegável que o movimento do comércio justo contribuiu para a inclusão de muitas comunidades organizational alternative: Challenges, achievements and promise in business governance and
na economia internacional. ownership. Organization. (v. 21/5), p. 591-603.

Assim, com base no material analisado entendemos que de uma forma geral, as praticas Coscione, M. (2013, Jul. /Dez.). Comercio justo y relevo generacional: la experiencia colombiana
organizacionais existentes nestas organizações são convencionais. As formas organizacionais de la Asociación de Jóvenes Agricultores Del Valle. AGO.USB. Medellin, Colombia. (v.13, n.2), p.
das associações e cooperativas de trabalhadores não apresentam as principais características 487- 504.
de gestão participativa, compartilhamento do poder, redução da hierarquia, uso de incentivos não
econômicos, e eliminação da relação de trabalhadores que executam as tarefas e trabalhadores Cruz, L.b; Alves, M.a; Delbridge, R. (2015). Organizing alternatives to capitalismo. Call for
que controlam a sua execução. papers. Management.

Para finalizar julgamos importante ressaltar uma reflexão de Faria et al (2008), que defende Daft, R.l.; Lewin, A.y. (1993, Nov.). Where are the theories for the “new” organizacion forms?
que a realização de mudanças importantes não depende somente da capacidade e da condição Organization Science. (v.4, nr. 4), p. I – V.
interna do grupo social. Depende também da capacidade de outros grupos sociais, que se
enfrentam nas condições objetivas da sociedade. O sucesso de muitas das iniciativas populares European Fair Trade Association – Efta. (15 de fevereiro de 2017). Disponível em https://
depende da conquista do acesso a certos espaços já instituídos na sociedade, e é através da european-fair-trade-association.org/efta/library.php.
mobilização em torno das relações sociais organizadas que os grupos podem conquistar o acesso
a estes espaços. Fairtrade Labelling Organizations International - FLO. (15 de fevereiro de 2017). Disponível em

1433 1434
www.fairtrade.net/es/standards/our-standards.html. Misoczky, M.c. A; Silva, J.m; Flores, R.k. (2008). Autogestão e Práticas Organizacionais
Horizontalizadas: Amplificando Sinais. Encontro dos Estudos Organizacionais da ANPAD.
Faria, J.r.v. Leal, A.p.; Attie, J.p;.; Hirayama, W.h; Matos, R.d; Dutra, R.s.a.(2008). Autogestão
e Poder: esquema de análise das relações de poder em organizações com características Palmer, I; Benveniste, J; Dunford, R. (2007). New organizational forms: towards a generative
autogestionárias. Encontro de Estudos Organizacionais da ANPAD. dialogue. Organizations Studies. (v.28), n. 12, p. 1829 – 1847.

Ferro-Soto, C; Mili, S. (2013, jul./dez.). Desarrollo rural e internacionalización mediante redes Parker, M; Cheney, G; Fournier, V; Land, C. (2014). The question of organization: A manifesto for
de comercio justo del café. Un estúdio del caso. Cuadernos de Desarrollo Rural. n. 10 (72), p. alternatives. Ephemera. v.14 (4), p. 623- 638.
267-28.
Presta, S.r. (2009, dez.). Comercio justo, Estado y sociedad civil. Uma aproximación crítica.
Fridell, G. (2006, Jan.). Comercio justo, neoliberalismo y desarrollo rural: una evaluación Periféria. (n 11). p . 1 -22.
histórica. Iconos. Revista de Ciencias Sociales. Quito. (n.24), p. 43-57.
Reedy, P. (2014). Impossible organisations: Anarchism and organisational praxis. Ephemera.
Bommel, K.v; Spicer, A. (2011). Hail the snail: Hegemonic Struggles in the Slow Food Movement. v.14 (4) p. 639-658.
Organization Studies. v. 32(12), p. 1717-1744.
Rothschild-Witt, J. (1979, Aug.). The collectivist organization: an alternative to rational-
La Revista Agraria. (2007, Out.). Café con aroma de mujer. La Revista Agraria. (n. 88). p. 16. bureaucratic models. American Sociological Review. (v.44), n. 4, p. 509-527.

Laguna, P; Cáceres, Z; Carimentrand, A. (2006, jan/jun.). Del Altiplano Sur boliviano hasta el Schmitt, V.g.h; Moretto, L. (2011, jul/set.). Associativismo, comércio justo e o desenvolvimento
mercado global: coordinación y estructuras de gobernancia en la cadena de valor de la quinua territorial sustentável: a experiência da Toca Tapetes. REGE. São Paulo – SP, Brasil, (v. 18, n.
orgánica y del comercio justo. Agroalimentaria. Universidad de Los Andes, Venezuela. (v.12, 3), p. 323-338.
n.22), p. 65-76. Del altiplano sur boliviano hasta el mercado global: coordinación y estructuras
de Spicer, A; Bohm, S. (2006). Moving management: theorizing struggles against the hegemony of
management. Organization Studies. p. 1-32.
Land, C; King, D. (2014) Organizing otherwise: Translating anarchism in a voluntary sector
organization. Ephemera. v. 14 (4), p. 923-950. Sutherland, N; C, Land; Bohm, S. (2014). Anti-leaders(hip) in Social Movement Organizations:
The case of autonomous grassroots groups. Organization. v. 21(6), p. 759-781.
Laville, J.l. (2009, mar.). A Economia Solidária: um movimento internacional. Revista Crítica de
Ciências Sociais. ( n. 84). p. 7- 47. Tiburcio, B.a; Valente, A.l.e.f. (2007, abr./jun.). O comércio justo e solidário é alternativa para
segmentos populacionais empobrecidos? Estudo de caso em território Kalunga (GO). RER. Rio
Lyall, A. (2013, set.). Las negociaciones en turno a estándares de comercio justo dentro de de Janeiro. (v. 45, n.2), p. 497 – 519.
florícolas ecuatorianas. EUTOPIA. (n.4). p.47 -58.
Volberda, H.w. (1998). The organization design task: reducing organizational barriers. In:
Misoczky, M.c. A; Vecchio, R.a. (2006). Experimentando Pensar: da fábula de Barnard à aventura Volberda, H.w. Building the flexible firm. How to remain competitive. New York: Oxford
de outras possibilidades de organizar. Cadernos Ebape. br. (v. 4), (n.1). University Press. (Cap. 6). p. 122-183.

1435 1436
Capítulo 141
Del neologismo funcional “organizacional” a las organizaciones en contextos de diversidad
socio-cultural
¿Diversidad organizacional u organizaciones en contextos
de diversidad socio-cultural? Para las escuelas de negocios, la gestión intercultural, la negociación intercultural o la
administración intercultural son indispensables e integrales para dar un buen trato a las
Wilson Noe Garcés Aguilar1, Lina Juliana Robayo Coral2, Rogelio Mendoza Molina3, “nuevas” formas del capitalismo global, pues en esencia se toma “la diversidad como un objeto
Rosa Isela García Herrera4 y Oscar Alvarado5 de estudio que aparece en el teatro de la empresa” (Arcand, 2015).

Ante dichas “nuevas formas” se salvaguarda la matriz de poder en las organizaciones, de ahí que
Introducción la denominada administración intercultural permite “el alcance de la administración domestica
para cubrir las esferas internacionales y multicultural” (Nancy Adler, 1991). Es decir, pone a la
El estudio de las organizaciones ha dado por llamarse estudios organizacionales, haciendo uso organización en el escenario de lo global y lo local, pues ante una economía abierta de mentalidad
del sufijo adjetivizador -al -ales, el cual adiciona “lexías de base sustantívales” que configuran neoliberal, los preceptos de una administración moderna deben seguir intactos.
monemas y semas, que en síntesis establecen una unidad funcional de significado sistemático.
Dicho juego léxico semántico es propio del lenguaje administrativo según Lubomír Bartos La diversidad cultural en el entramado de la administración y el capitalismo ha generado
(1998:41), para Guerrero Ramos (1995) en el fondo es la generación de neologismos lo un entrecruce funcional a los diseños globales del capital y el mercado. De esta forma la
perseguido por el lenguaje administrativo. administración intercultural posibilita la hidra capitalista, el patrón de poder mundial que
configura el mundo de la empresa y les da sentido a los fines de la administración moderna.
Según la RAE (Real Academia Española) lo organizacional es adjetivo de organizativo y
este a su vez es relativo o perteneciente a la organización. Por organización en términos En estas se evidencian (Garcés, Robayo y Volveras, 2015: Garcés y Robayo, 2016) formas de
administrativos se refiere a la “asociación de personas regulada por un conjunto de normas en comprensión de organización, administración y gestión tendientes a dar cuenta de esos “modos
función de determinados fines” en el cual hay una “acción y efecto de organizar u organizarse” otros”, en los cuales habita la administración.
presentándose “disposición, arreglo, orden”.
Así pues el reto para los enclaves interculturales críticos en la administración parten de
De ahí la necesidad de deconstruir el neologismo léxico “organizacionales”, incluso mas allá comprender el pluriverso de esos mundos otros en los cuales las categorías campesino, indígena,
del plano lingüístico, propósito de la presente ponencia en la clave del plano cultural y político. afro, rural se desdibujan ante la capacidad de pervivencia.
Por ello el texto presentado a continuación se propone a modo de ensayo, en tanto apuesta por
explorar las formas de estudio de las organizaciones en contextos de diversidad socio-cultural. En esa medida habría que discutir el sentido de las organizaciones en contexto de resistencia,
subsistencia y pervivencia. En las cuales la administración vuelve a la esencia de la vida y propone
1. Docente Investigador Corporación Universitaria Autónoma del Cauca, Cauca-Colombia. Doctorante en Administración Universidad del Valle – el autogobierno como punto de partida, la razón comunal como espectro de convivencia y el bien
Colombia. Email: garces505@gmail.com
2. Docente investigadora Fundación Universitaria Autónoma del Cauca Magister en Estudios Interdisciplinarios del Desarrollo. Email: lina.robayo76@
común como proceso, pero también como fin.
gmail.com
3. Profesor-investigador de la Facultad de Administración de la Universidad Autónoma Metropolitana-Azcapotzalco. Email: romemo88@gmail.com Si bien los estudios organizacionales han dado un giro cognitivo hacia lo cultural, lingüístico,
4. Profesora-investigadora de la Universidad Pedagógica Nacional Unidad 291, Tlaxcala. Email: Email rosaisela99@hotmail.com
5. Vicerrector de investigaciones Corporación Universitaria Autónoma del Cauca, Cauca-Colombia. Email: oscar.alvarado.m@uniautonoma.edu.co
el poder, la violencia, las anarquías, isomorfismos, psicoanálisis, entre otros, en una apuesta

1437 1438
por comprensión ampliada de la realidad y partiendo que “todos coinciden en que en las
organizaciones se gesta una parte importante del proyecto social” (Montaño, 2004), la Pues aunque la administración tradicional se ha construido socialmente también en sistemas
circunstancialidad de la realidad Latinoamericana sin lugar a dudas hace un llamado al abordaje esclavistas, gamonalistas, hacendatarios y capitalistas, es decir que si tuviésemos rigor
de esos “otros” proyectos sociales que con fuerza se levantan desde comunidades indígenas, historiográfico y animo investigativo se podría dar cuenta de la administración esclavista, la
afrodescendientes y campesinas. administración gamonalistas, la administración hacendataria y la administración capitalistas
(hoy hegemónica), también se debería dar cuenta de la administración del palenque cimarrón,
Pues estas comunidades que hacen diversa a Latinoamérica en prácticas sociales, en formas del resguardo indígena, de las reservas campesinas, de los consejos comunitarios, de la lucha
de entendimiento de la realidad, en contenidos de la vida, en resistencias al sistema económico social es decir de la administración en resistencias y re-existencias en tanto construcciones
hegemónico y por tanto en epistemologías diversas y divergentes que reclaman justicia cognitiva. sociales “otras”.

Ante ello podríamos partir del hecho que los estudios organizacionales se han centrado en A modo de conclusión
organizaciones propias de la modernidad y el capitalismo, tanto en la escala macro (geopolítica)
como institucional (estado moderno, burocracia ideal, supuestos de administración tradicional) En ese sentido, la construcción social en la administración debe pasearse por las formas-
y por tanto de configuración del yo organizacional. contenido en la organización, las utopías, apuestas concretas, lógicas de la acción, epistemologías
efervescentes en los procesos, teleologías y por ende las gestaciones desde adentro de las
Por ello consideramos necesario movernos del neologismo de los estudios organizacionales al comunidades.
estudio de las organizaciones con “otras” matrices socio-culturales.
Para Montaño (2006) “el avance del estudio de las organizaciones reside precisamente en el
Por tanto, la incidencia que el trasegar histórico social tiene en la configuración de sistemas de reconocimiento de las particularidades institucionales, culturales, etc. que delimitan y orientan
pensamiento (Cruz Kronfly, 2010), lenguaje y movilización de la palabra. nuestra mirada analítica”.

Asistimos pues a la proliferación de lógicas comunales para la acción colectiva en la cual, la Así las cosas, algunas formas contenido claves para esta investigación son la comunalidad, la
diversidad organizacional toma un sentido legitimado por el colectivo pero ilegal por vía del relacionalidad constitutiva de multiplicidades, la pluriversidad y el diseño autónomo o co-diseño.
Estado y ausente en la política pública.
Por comunalidad Toledo (2016) comenta que es “un fenómeno vivo” inventado por los
En ese sentido, se hace necesario adentrarse en el debate desde una interculturalidad crítica para intelectuales indígenas Floriberto Díaz y Jaime Martínez al calor de “la lucha social, la resistencia
construir desde abajo y con la gente, en una comprensión plena de sus lógicas y en consecuencia comunitaria y regional” (2016:179) en organizaciones sociales en México.
de una inteligibilidad de la diversidad y no un reconocimiento para la homogenización legal.
De la comunalidad Toledo (2016) destaca que “toca todos los aspectos de la vida social y socio-
De ahí que el indagar por la configuración de mundo (Heidegger, 1983), el espacio y tiempo natural, aunque hace especial énfasis en lo ético, lo educativo y en la gobernanza” (2016:179)
(Heidegger, 1997), los sistemas de pensamiento (Cruz Kronfly, 2010), el lenguaje y la
movilización de la palabra, la condición de humanidad, las practicas, valores, creencias y la Para Toledo (2016) la definición formulada por Jaime Martínez Luna en su obra “Eso que
acción social permitirá acercarse al marco referencial (Goffman, 2006) de la realidad social llaman comunalidad”, es de “enorme fuerza telúrica” destacando su “contundente posición
(Searle, 1995) que se entreteje en la trama de las comunidades y por ende los sentidos del contestataria” a decir
mundo de la vida. (Schütz y Luckmann, 2003).

1439 1440
“Somos Comunalidad, lo opuesto a la individualidad, somos territorio comunal no propiedad “paradigma que contrapone a la universalidad donde se muestre la emergencia de pensamientos
privada, somos compartencia no competencia, somos politeísmo no monoteísmo. Somos otros/propios que parten desde lógicas, modelos, metodologías, subjetividades, experiencias y
intercambio no negocio, diversidad no igualdad, aunque a nombre de la igualdad también practicas con historias coloniales de no-existencia” (León-Castro: 2015:270). Es decir, como
se nos oprima. Somos interdependientes, no libres. Tenemos autoridades, no monarcas. núcleo de inteligibilidad, “conjunto de artefactos argumentales” (Ayus Reyes y Mendoza Molina,
Así como se han basado en el derecho y en la violencia para someternos, en el derecho y 1999: 73) que permiten “interpretar/dar sentido mediante criterios propios de una comunidad
en la concordia nos basamos para replicar, para anunciar lo que queremos y que deseamos particular” (Gergen, 1996 citado por Ayus Reyes y Mendoza Molina, 1999: 73)
ser” (2016:184)
De ahí que para comprender la pluriversalidad se debe tener en cuenta que “cualquier núcleo de
De esta manera la relacionalidad nos permitiría “vínculo e interconexión entre todos los inteligibilidad está compuesto por cuerpos de discurso, cuya articulación entre sí les da alguna
elementos que conforman la totalidad” Quijano-Valencia (2016:156) congruencia y coherencia interna, haciendo de algún modo explícita la inteligibilidad” (Ayus
Reyes y Mendoza Molina, 1999: 73)
De ahí que la relacionalidad permita dar cuenta de la “Multiplicidad” entendida como “práctica,
horizonte y principio de posibilidad. Tal categoría tiene como sustrato el aporte analítico Finalmente, por diseño autónomo o co-diseño referimos de acuerdo a Mazini (2015) y Escobar
proporcionado, de una parte, por pensadores de la filosofía y política de la diferencia y la (2016) a la co-labor que desde gentes del común, experticias sociales y locaciones epistémicas
multiplicidad y, de otra, por pensadores latinoamericanos y tercermundistas que han imaginado populares produce nuevos significados, sentidos y relaciones, trascendiendo el mundo del
y explicado el mundo como un tejido heterogéneo, donde la diversidad es una histórica condición mercado y permitiendo la ampliación de la inteligibilidad en la administración, el estudio de las
de hecho” (2016:156) organizaciones nuestras, pertinente para el contexto campesino rural y por ende que dé cuenta
del diseño autónomo en organizaciones sociales y solidarias de baso comunal.
En ese sentido la relacionalidad permite a su vez estudiar las lógicas de la acción y en
consecuencia de la organización, de ahí que de acuerdo a Alonso (2007) las lógicas de la acción Siendo entonces pertinente una dialogicidad transcrítica6, con bases igualitarias que permitan
se “construyen en los mismos regímenes de acción históricamente determinados logrando con la co-gobernanza (y por tanto la co-decisión), en el cual la pluralidad epistémica permita la
ello situar la explicación social en las razones prácticas de los agentes para evidenciar con ello multiplicidad de referentes que potenciarían una geopolítica de la complementariedad
un marco social múltiple, diverso, conflictivo e histórico suscita una pluralidad de lógicas de democrática7, es decir rompiendo de entrada el colonialismo interno y las formas democráticas
acción concretas” tradicionales, para ampliar el horizonte deliberativo, intersubjetivo y por ende político, a partir
de la diversidad socio-cultural.
En tanto “sólo una sociología concreta y relacional históricamente enfocada que estudie las
lógicas de acción de actores reales en contextos reales (lo que hace que lo micro y lo macro, así Referencias
como lo interno y lo externo, se integren inmediatamente como perspectivas de escala múltiple)
puede salvar a las teorías de la organización de un formalismo paralizante estéril” Adler S., Paul (2009) Introduction. A social Science which Forgets its Founders is lost, en Adler S.
Paul (2009) The Oxford Handbook of Sociology and Organization Studies: Classical Foundations.
En tanto pluriversalidad denota pluri de plural, versidad de versar, en ese sentido la pluriversidad Oxford. UK. P.p. 3-19.
es entendida como la capacidad de poder versar desde la diversidad, versar desde otras formas
de entendimiento, comprensión y formas de vivir/existir en el mundo. 6. La dialogicidad transcritica refiere a poner a caminar la palabra para el encuentro conversacional en condiciones de igualdad.
7. De acuerdo a Luis Tapia “se puede pensar que la complementariedad democrática es un modo de producir igualdad compleja, es decir que la política
económica y social de un país contribuya a que en otros espacios socio políticos y culturales se puedan obtener condiciones de autosuficiencia y de
Es entonces un posicionamiento clave para la construcción social de la administración en tanto autogobierno” (2009:115)

1441 1442
Aktouf, Omar. (2001): La Administración: entre Tradición y Renovación. Cali: Ediciones Garcés y Robayo, (2016). Proliferaciones en Administración. El caso de las organizaciones
Universidad del Valle, Tercera Edición en español. Prólogo a la Edición Anterior Págs. XIX–XXVI. solidarias en contexto de diversidad en el Cauca. Inédito
Introducción general. Págs. 1-12. Primera Parte.
Garcés, W., & Sanchez, D. (2015). Senti-pensar la administración desde el contexto de las
Alexander, Jeffrey. (1990) La centralidad de los clásicos, en Giddens, Anthony y Jonathan Turner, organizaciones de economía social y solidaria en Cajibio, Cauca. En Memorias Encuentro
comps. 1990 La teoría social hoy. CNCA-Alianza. México. P.p. 22-80 Internacional de Investigadores en Administración 2015 Noviembre 24 y 25. Universidad del
Externado. Disponible en http://administracion.uexternado.edu.co/encuentroInvestigacion/
Alonso, L.E. (2007). Las lógicas de acción. Por un Estudio socio Histórico de la Vida Organizacional. plantillas/2015/MemoriasEncuentroInvestigacion2015.pdf
En: Vigilar y Organizar. Siglo XXI Editores. Madrid, España, p. 317-338.
Gergen, K.ennet J. (2015). El ser relacional. Más allá del yo y de la comunidad. Editorial Desclée
Ayús Reyes , Ramfis y Rogelio Mendoza Molina. (1999) De la ontología muda a las retóricas De Brouwer
de la calidad; aproximaciones al construccionismo social, en Adminstración y Organizaciones.
Noviembre. UAMX. México. Goffman, Erwin [Goffman, E. (1974:2006). Frame analysis: los marcos de la experiencia. Madrid:
Centro de Investigaciones Sociológicas].
Barnard, Chester. (1959): Las Funciones de los Elementos Dirigentes. Madrid: Instituto de
Estudios Políticos. Traducción de Francisco F. Jardon. Introducción. Capítulos 1 al 5. Págs. 21- Gomez, Lende (2005) La naturaleza como construcción social. La ingeniería genética y la
101. Conclusión. Págs. 317-365 cronoexpansión de la frontera agropecuaria. En Revista Universitaria de Geografia. Disponible
en http://bibliotecadigital.uns.edu.ar/pdf/rug/v15n1/v15n1a01.pdf
Berger, Peter & Luckman Thomas [Berger, P. & Luckman, Th. (2001). La construcción social de
la realidad. Buenos Aires: Amorrortu Editores]. Gonzales-Miranda, D. R. (2014). Los estudios organizacionales. Un campo de conocimiento
comprensivo para el estudio de las organizaciones. Innovar, 24(54), 43-58.
Cruz Kronfly, Fernando (2012) Desarrollo cultural, modernidad e identidad en Santiago de Cali.
Alcaldía de Cali Guerreiro Ramos, A. (1969). La reducción sociológica. México: UNAM. (pp. 95-100, 143-195).
Latour, Bruno (1991: 2007). Nunca fuimos modernos. Ensayo de antropología simétrica. Madrid:
Cruz Kronfly, Fernando (2013). Pensamiento, Obsesión por la verdad y gestión: Legitimidad de Siglo XXI].
los estudios críticos organizacionales. En, Estudios Críticos de la Organización. Qué son y cuál es
su utilidad. Cali: Universidad del Valle, p. 129-146. Leonardo Schvarstein, Diseño de organizaciones. Tensiones y paradojas. México, Paidós, 1998
Medina-Salgado (2007). ¿Que son los estudios organizacionales? Universidad EAFIT, Oct – Dic
Duayer, M. (2014). Filosofía de la ciencia y crítica ontológica: verdad y emancipación. Vol 43 No 148. Medellín, Colombia. PP 9-24.
Herramienta No 55
Misoczky, M. C. (2016). Teorización organizacional: de las mutaciones funcionales a las
Manzini, Ezio (2015) Cuando todos diseñan. Una introducción al diseño para la innovación social. posibilidades de una crítica ontológica. Capítulo de la edición en español del Handbook of
Madrid: Experimenta editorial. Organization Studies.

Feyerabend, P. (1975:1993). Contra el Método. Barcelona: Planeta Montaño Hirose, Luis (2004) Compilador. El estudio de las organizaciones en Mexico. Cambio,

1443 1444
poder, concocimiento e identidad. UAM Unidad Itztapalapa.

Montaño Hirose, Luis (2006), “La Sociología de las Organizaciones: desarrollo, rompimientos
y perspectivas”, en Enrique de la Garza Toledo (coord), Tratado latinoamericano de sociología,
Anthropos y Universidad Autónoma Metropolitana-Iztapalapa, Barcelona, pp. 195-208.

Pfeffer, Jeffrey. (2000): Nuevos Rumbos en la Teoría de la Organización. Oxford University Press
México, S.A. de C.V. Págs. Prefacio, Capítulos 1, 8 y 9.

Schütz, Alfred. (2009). Cap. 2. Las estratificaciones del mundo de la vida en: Las estructuras del
mundo de la vida (pp. 41-108). 1ª edición. 2ª reimpresión. Buenos Aires: Amorrortu Editores.
Schvarstein, Leonardo (1998). Diseño de Organizaciones: Tensiones y paradojas . Buenos Aires:
Paidós. 424 p.

Toledo, Victor (2016) . La comunalidad, una “eco-politica del sur” ante la crisis de civilizacion.
En Despojo capitalista y luchas comunitarias en defensa de la vida en México - Claves desde
la ecologia politica - Coord. Mina Lorena Navarro y Daniel Fini. Instituto de Ciencias sociales y
humanas. Benemeruta Universidad de Puebla, Pág 173-185 Organizaciones no empresariales,
desarrollo e innovación social

1445 1446
Capítulo 142 a partir de la interacción con los asociados de esta Cooperativa y desde el rescate de sus
narrativas, trabajadas a través de encuestas en profundidad y encuestas grupales, y de fuentes
secundarias análisis documental periodístico y con información extraída de portales específicos
El esfuerzo por transformar la débil línea entre el “todavía no estar fuera” y del colectivo social de empresas recuperadas.
el “aún no estar dentro”
Contextualización de la problemática
Laura Fabiana Molina1
En la tarea de indagación planteada, se procuró realizar un abordaje desde la Comunicación
Estratégica para la empresa recuperada Cooperativa provisión de servicios sociales y turísticos
Introducción Capdeville ubicada sobre la ruta provincial 54, km 14, en el Departamento de Las Heras de la
Provincia de Mendoza (Argentina).
Este resumen extendido es parte del trabajo final presentado en el marco del Seminario de
Comunicación Estratégica e Innovación, a cargo de la Dra. Sandra Massoni, dentro de la Maestría En relación a esta organización, se relevó que fue un proyecto encarado por los ex- trabajadores
de Ciencias Sociales y Humanidad de la Universidad Nacional de Quilmes (Argentina), donde de las Cementeras “Minetti” y “Corcemar”, nacido en un contexto cincelado por una amenaza
se propone el interesante desafío de trizar las estructuras del conocimiento convergente para concreta: la pérdida del trabajo. La cortina de fondo del entorno socioeconómico de principios
dar lugar al conocimiento divergente dentro del abordaje de la Comunicación Estratégica como del siglo XXI, los conducía casi directamente a la exclusión social, a la marginación o a impulsar
un fenómeno cognitivo, complejo, situado y fluido, donde el corazón del análisis es la acción y prácticas colectivas de resistencia para intentar conservar sus fuentes de trabajo.
los sentidos emergentes de sus actores socioculturales, que son tejidos dentro de un proceso
dinámico y contingente en un contexto cambiante e incierto que circunscribe y condiciona el En este escenario, la identidad colectiva de este grupo de ex trabajadores, a través de la figura
análisis de esos actores (Massoni, 2016, p.163). jurídica de cooperativa de trabajo, se reafirmó como un colectivo del cual la creencia y la
esperanza constituyeron los cimientos y los garantes del proceso que iniciaron estos obreros,
En esta línea de trabajo, no pretendemos describir ni inventariar, sino construir dispositivos de sus intereses y expectativas frente a la necesidad de seguir trabajando bajo una lógica de
conversacionales a través del reconocimiento de la lógica de funcionamiento de matrices autogestión y sin patrones.
socioculturales capaces de movilizar la situación de la empresa recuperada Cooperativa provisión
de servicios sociales y turísticos Capdeville, desde los intereses, necesidades, expectativas y Así pues, sus veintinueve miembros fundantes, con el objetivo de afrontar la crisis, se reunieron
emociones de los actores involucrados que, a través de nuevos vínculos habiliten la innovación con la intención de tomar y reabrir alguna de las ex fábricas cerradas para recuperar el lugar de
y el cambio para transformar la endeble línea que atraviesa la problemática situada de esta trabajo2.
organización entre el “todavía no estar fuera” y el “aún no estar dentro” del sistema general.
Hacia 2003, quedó conformada la Cooperativa Provisión de Servicio Sociales y Turísticos
La labor se realiza a partir del marco teórico y metodológico de la Comunicación Estratégica, Capdevilla, situación que les permitió recibir un subsidio de $3.000 por parte del Estado Nacional
como un ejercicio introductorio que entiende que, la comunicación es un momento de encuentro para la compra de mercadería, para la construcción y reparación de lo que quedaba del predio,
relacionante de la diversidad sociocultural, como un cambio social en lo conversacional. de acuerdo a la expresado por el Presidente de la Cooperativa, Sr. Roberto Guajardo. Asimismo,
también comentó que, hacia el año 2005, a través del programa “Manos a la obra” del Ministerio
Para cumplir con nuestro objetivo, se relevaron datos a través de fuentes primarias, efectuada
2. Gordillo, V. (12 de noviembre del 2012). Historia MDZ: la mutación de los cementeros. MDZ. Recuperado de https://www.mdzol.com/nota/432388-
1. Facultad de Ciencias Políticas y Sociales. Universidad Nacional de Cuyo. Argentina. Email: molina.lauraf@gmail.com historias-mdz-la-mutacion-de-los-cementeros/

1447 1448
de Trabajo de la Nación, se logró amoblar el 90% de las cabañas. a partir del diseño e implementación de estrategias de comunicación como algoritmos fluidos,
para comunicar como un hacer enactuar (Massoni, 2016, p.46)
Sin embargo, la empresa no donó directamente el predio a la Cooperativa en formación, sino que
la concedió a la Municipalidad de Las Heras (Provincia de Mendoza), para que posteriormente ésta Dentro de este metaperspectiva del conocimiento, la Investigación Enactiva en Comunicación
lo otorgara en forma de comodato a los trabajadores3. Según lo indagado, hasta el 2016, no se (IEC) es una invitación a construir y a diseñar una estrategia comunicacional a partir de pasos y
había producido este otorgamiento, y el trámite se encontraría en un estado de encajonamiento, procedimientos analíticos y operacionales para aportar al encuentro en la diversidad con el fin de
o sea, sin ningún avance. buscar transformaciones deseables y posibles en situación (Massoni, 2016, p.111).

En consecuencia, la Cooperativa Capdeville respondió a la necesidad de luchar por no quedar En esta línea de trabajo, la labor se inició con la construcción de una Versión Técnico
fuera del sistema político y legal. No obstante, la potencial exclusión por falta de resultados Comunicacional del problema (VTC), que permitió la traducción del tema a problema, la definición
productivos no anuló las expectativas de una potencial re inclusión. La precariedad legal de de la VTC del problema y la desagregación de los componentes del problema. Posteriormente,
esta organización, la instaló en la débil línea entre el “todavía no estar fuera” y el “aún no estar se continuó con el mapeo y caracterización de los actores y sus Matrices Socioculturales con
dentro” del sistema general. incumbencia en la solución, la definición de procesos comunicaciones por matrices, para luego
finalizar con el Árbol de Soluciones para cada matriz sociocultural (Massoni, 2016, pp.112-116).
A partir de esta breve presentación de la Cooperativa, fue planteada la posibilidad de delinear
una solución construida y compartida a partir del conocimiento y reconocimiento de los actores Aplicación de Técnicas de IEC
sociales involucrados como protagonistas en relación a la temática situada de nuestra empresa
recuperada dentro de un contexto socioeconómico cambiante e incierto. A continuación se describen, en forma general, las características distintivas de cada una de estas
Técnicas que se desarrollaron en el estudio sobre la Cooperativa provisión de servicios sociales
En ese norte, se pretendió construir y diseñar un conjunto de dispositivos conversacionales y turísticos Capdeville, a través del despliegue de veinte tablas que permitieron desagregar la
que indaguen, interpelen y planteen, a partir del reconocimiento y articulación de las lógicas problemática, la identificación de los actores socioculturales involucrados, la caracterización de
de funcionamiento de sus actores socioculturales implicados con la problemática, a través de sus comportamientos y actitudes a fin de idear y diseñar soluciones comunicacionales operativas
nuevas conexiones y vínculos para aportar a la innovación y el cambio buscado. al problema núcleo según las pautas de la IEC.

Aspectos metodológicos 1. Versión Técnica Comunicacional (VTC)

El presente trabajo se realizó a partir del marco teórico y metodológico de la Comunicación La VTC es una herramienta de inicio de la IEC que establece la dinámica y la dirección de la
Estratégica que entiende que, la comunicación es un momento de encuentro relacionante de la transformación buscada por el proyecto, a partir de la definición concertada del tema y su
diversidad sociocultural, como un cambio social en lo conversacional (Massoni, 2016, p.111). traducción al problema situado. En este marco, se entiende por problema a todo aquello que
Esta concepción de la comunicación interpela al conocimiento desde un abordaje multidimensional está obstaculizando, al momento del planteamiento, la transformación que se pretende propulsar
desde la complejidad, donde el foco del conocimiento está en la tensión que abreva las distintas con el proyecto (Massoni, 2013, p.28).
acciones encadenadas entre sujeto y objeto para transformar la realidad histórica y situacional
que los convoca. En este sentido, la Comunicación Estratégica favorece un proceso de enlace Es importante aclarar, que la VTC que se diseñó fue producto de la interacción y del rescate de
los discursos narrativos que aportaron los asociados de la Cooperativa a través de encuestas en
3. Gordillo, V. (14 de noviembre del 2012). Los obreros que quedaron entre Las Heras y una cementera. MDZ. Recuperado de https://www.mdzol.com/
nota/432716-los-obreros-que-quedaron-entre-las-heras-y-una-cementera/
profundidad y de encuestas grupales dentro del marco de relevamiento organizacional efectuado

1449 1450
en la Cooperativa objeto de estudio.

A través del desarrollo de tres tablas de VTC se logró la definición del problema núcleo
(Incapacidad para transformar la débil línea entre el “todavía no estar afuera” y el “aún no
estar dentro” del sistema general. Además, se identificó los componentes y subcomponente
conformante de ese problema (culturales, técnico-funcional, administrativo-político, económico
financiero) y se reconocieron determinados niveles del problema a partir de la visibilidad de
ciertos síntomas, consecuencias, causas próximas y causas básicas que se expresaron en
determinados comportamientos de los actores según lo marcado desde la metodología de la
comunicación estratégica.

A continuación se presenta, solo a manera referencial, la tabla sintética donde se integran todas
las variables de la VTC:

Elaboración propia en base a: Massoni, 2013

2. Mapeo comunicacional de actores

Asimismo, según marca la línea de indagación de la Comunicación Estratégica, en toda


problemática, existen y coexisten actores que, con mayor o menor incidencia, se relacionan de
una forma particular con los diferentes componentes y subcomponentes del problema definido.
En consecuencia, y para desarrollar una estrategia de comunicación, es importante poder
reconocerlos en su diversidad (Massoni, 2013, p.79).

Así pues, los actores socioculturales son “los otros” que influyen, de manera directa o indirecta,
consciente o inconscientemente, que se pueden identificar como personas, o grupos de personas
u organizaciones de distintas naturaleza, que desde el rol de analista se reconocen como
relevantes en cada componente del problema detallado y que coexisten dentro de un escenario
lábil, cambiante e incierto (Massoni, 2013, p.79).

1451 1452
matrices (Massoni, 2013, p.95)
En esta línea de acción, se presentaron cuatro tablas donde se identificaron ocho actores en
relación a cada uno de los componentes anteriormente identificados dentro del problema Cuando hablamos de procesos comunicacionales nos estamos refiriendo a los procesos
núcleo. Estos actores fueron: la Cooperativa Capdeville, el Movimiento nacional de empresas micro/macro sociales que favorecen modalidades de vinculación específicas con cada matriz
recuperadas, la Confederación Nacional de Cooperativas de Trabajo, la Dirección de sociocultural. En esta línea de trabajo, y para poder construir acciones comunicacionales, se
Asociativismo y Cooperativa del Gobierno provincial, la Subsecretaría de Gobierno y relaciones pudieron identificar – en forma no excluyente de otros - los procesos informativos (como realizar
con la comunidad del Gobierno Municipal de Las Heras, Universidad Nacional de Cuyo a través comisiones transdisciplinarias entre los distintos actores que asesoran y áreas funcionales de
del Programa Economía Alternativa, el sector bancario provincial y los medios de comunicación gobiernos para efectuar seguimiento y asesoramiento ad hoc a las empresas recuperadas),
del nivel local. los de sensibilización (como encuentros periódicos para conocer vivencias y experiencias);
los de participación (como jornadas con empresas recuperadas con resultados exitosos) y
3. Caracterización de las Matrices Socioculturales (MS) los de encuentro sociocultural (como organización de encuentros regionales/nacionales con
empresas recuperadas y emprendedoras de la economía social para conocer sus problemáticas
Una matriz sociocultural es el esquema desde donde los actores establecen la comunicación, y e inquietudes) (Massoni, 2013, pp. 63-65).
su reconocimiento nos permite identificar rasgos básicos de una lógica de funcionamiento, en
lo material y en lo simbólico, a fin de describir la modalidad del vínculo que cada sector-matriz Conclusiones
desarrolla a partir de su involucramiento o compromiso actual con el problema identificado
(Massoni, 2013, p.83). El proceso de elaboración y diseño de cada una de estas técnicas de IEC conformó una suerte
de ejercicio a nivel conceptual, procedimental y actitudinal de esta innovadora perspectiva
Igualmente, caracterizar matrices implica rescatar los saberes, los intereses, las necesidades, de analizar y de proponer soluciones situadas desde el marco teórico y metodológico de la
las expectativas y las emociones de los grupos y sectores implicados para diseñar acciones Comunicación Estratégica.
capaces de asumir las lógicas en juego en la estrategia comunicacional (Massoni, 2007, p.84).
Esta mirada transformadora de la comunicación nos invita a construir una solución concertada
A partir del desarrollo de dos tablas, se procedió a agrupar los actores (los que producen, los a un problema ubicado dentro de un contexto cambiante e incierto, a partir de la identificación
que defienden derechos corporativos, los que gobiernan y los que asesoran) según su modalidad y reconocimiento de distintos actores socioculturales que posibilitan la construcción de
de vínculo con la problemática identificada, recuperando en ello sus rasgos visibilizados en dispositivos de comunicación, y que posibilitan la apertura de nuevos caminos del conocer y del
sus saberes, sus intereses, sus necesidades, sus expectativas y sus emociones en relación al hacer, superando la mera descripción y explicación de lo ocurrido, de lo acontecido en el pasado,
problema núcleo. propio de la investigación clásica.

4. Árbol de soluciones (AS) Dentro de esta nueva forma de investigar y de buscar salidas a través de la aplicación de las
distintas técnicas de IEC, conforma una atrayente forma de descubrir distintas facetas de un
El Árbol de Soluciones es otra de las herramientas de trabajo de la IEC que procura la sinergia problema - previamente identificado – y de reconocer a los actores/Matrices socioculturales
necesarias que suscita el proyecto, es decir, posibilita el diseño de acciones comunicacionales implicados, a fin de detectar diferentes niveles de procesos de comunicación para construir el
sobre cada uno de los componentes identificados en la VTC del problema. Para ello, la andamiaje de acciones en comunicación que posibiliten la transformación el problema situado.
identificación de los procesos comunicacionales implicó insumos para el diseño de las acciones/ En definitiva, este marco de investigación habilita el camino a una novedosa forma de investigar
productos a desplegar en torno a cada aspecto y nivel del problema con los diferentes actores/ de manera lateral e innovadora que genera un interesante aporte de los actores participantes,

1453 1454
dentro de un espacio conversado y de concertación, que permite comprender que el mañana es Capítulo 143
una construcción colectiva, concebido éste a partir del encuentro y el diálogo de conocimientos,
vivencias y experiencias multidimensionales para promover y trabajar en forma superadora
hacia una mayor equidad, y transformar así, la endeble línea entre el “todavía no estar fuera” y
Lógicas y trabajo institucional en organizaciones híbridas. El caso de una
el “aún no estar dentro” del sistema general. organización colombiana sin ánimo de lucro

Bibliografía trabajada y consultada Olga Lucía Garcés-Uribe1

INTA. (2012). La comunicación del INTA Lechero Investigación para el encuentro sociocultural.
Proyecto de comunicación estratégica en lechería. Programa Nacional Leches. Recuperado Introducción
de https://inta.gob.ar/documentos/la-comunicacion-del-inta-lechero-investigacion-para-el-
encuentro-sociocultural. Las organizaciones institucionalmente híbridas enfrentan el desafío de conservar su hibridez.
Esto no solo depende de la incorporación de distintas lógicas institucionales (IL)2 sino, también,
Gordillo, V. (12 de noviembre del 2012). Historia MDZ: la mutación de los cementeros. MDZ. de las acciones que se desarrollen en la organización en procura de su adecuada imbricación,
Recuperado de https://www.mdzol.com/nota/432388-historias-mdz-la-mutacion-de-los- bien sea con el propósito de incorporarlas en el desarrollo de las actividades cotidianas, o bien,
cementeros/ con el fin de integrarlas y combinarlas para crear lógicas propias que orienten la dinámica
organizacional y, eventualmente, incidan en el entorno.
________ (14 de noviembre del 2012). Los obreros que quedaron entre Las Heras y una cementera.
MDZ. Recuperado de https://www.mdzol.com/nota/432716-los-obreros-que-quedaron-entre- Por definición, las IL condicionan la acción de los individuos y, en consecuencia, conducen la
las-heras-y-una-cementera/ materialización de la acción de las instituciones en las entidades organizacionales (Thornton,
Ocasio & Lounsbury, 2012). Así entonces, la acción intencionada de incorporar o crear nuevas
Massoni, S. (2016). Avatares del comunicador complejo y fluido. Del perfil del comunicador lógicas a partir de las ya existentes en el entorno institucional, puede considerarse una forma
social y otros devenires. Quito, Ecuador: Ediciones Ciespal. de trabajo de institucional (IW)3, pues en últimas, dicha acción contribuye a la creación de un
nuevo orden institucional o al mantenimiento o disrupción de algún(os) orden(es) existentes en
________ (2013). Metodologías de la Comunicación estratégica: del inventario al encuentro el entorno de la organización híbrida.
sociocultural. Rosario, Argentina: Homo Sapiens Ediciones.
Este documento es producto de la investigación desarrollada por la autora como tesis doctoral,
________ (2007). Estrategias. Los desafíos de la comunicación en un mundo fluido. Rosario, cuyo objetivo central fue comprender la incorporación de lógicas institucionales bajo condiciones
Argentina: Homo Sapiens Ediciones. de hibridez, mediante el estudio de caso de una organización colombiana creada con propósitos
sociales, de gran impacto en su territorio de influencia. La investigación cualitativa, se llevó a
cabo mediante estudio de caso único con aproximación etnometodológica en la Corporación
Parque Arví, entidad sin ánimo de lucro establecida en la ciudad de Medellín, Colombia. El
enfoque etnometodológico condujo la indagación de prácticas organizacionales asociadas con
1. Universidad Eafit, Medellín, Colombia. Email: olgu@eafit.edu.co
2. De sus iniciales en inglés, Institutional Logics
3. De sus iniciales en inglés, Institutional Work.

1455 1456
la estructura formal de la organización estudiada. Para la recolección de la información se de un proyecto socioambiental denominado Proyecto Parque Arví, así como la conservación,
realizaron entrevistas semiestructuradas, observación no participante y revisión documental. mantenimiento y promoción del territorio en el cual se encuentra ubicado”, según reza en el
certificado de Existencia y Representación Legal de dicha entidad, expedido por la Cámara de
El propósito de este escrito es contribuir a la reflexión acerca de la articulación de IL e IW para el Comercio de Medellín
mantenimiento de la condición de hibridez en organizaciones. El tema resulta relevante toda vez
que ambos han sido considerados conceptos centrales para dos perspectivas surgidas en el NIS, Desde su concepción, el denominado Proyecto Parque Arví fue ideado con el fin de disponer un
las cuales, se han entendido como opuestas en cuanto a su concepción acerca de la incidencia territorio rural de, aproximadamente, 1671Ha, cercano al área metropolitana de la ciudad de
de la acción intencional en el cambio institucional, entre otros aspectos. Sin embargo, Zilber Medellín, como espacio de equidad y participación ciudadana, destinado a la recreación de la
(2008; 2009; 2013); Battilana & Dorado (2010) y otros, han explorado la complementariedad población de escasos recursos de la ciudad. Al mismo tiempo, el proyecto contempló entre sus
de ambas para el estudio de distintos fenómenos organizacionales. La investigación que dio derroteros, la conservación del patrimonio ambiental, arqueológico y cultural del territorio y
origen a esta reflexión, se suma a la agenda iniciada por dichos autores y aporta una nueva el desarrollo integral de sus habitantes, una comunidad caracterizada por su heterogeneidad
evidencia para continuar la discusión acerca de complementariedades entre la perspectiva de cultural.
las lógicas institucionales (Institutional Logics Perspective, ILP) y la perspectiva del trabajo
institucional (IW). En aras de materializar tales propósitos, quienes concibieron el Proyecto convocaron a distintas
organizaciones estatales y privadas, instituciones de la ciudad y diversos representantes de la
Para lograr su propósito, el documento se ha estructurado de la siguiente manera: El primer comunidad habitante del Parque. La multiplicidad de intereses, reglamentaciones, normativas y
apartado describe, a modo de contextualización, la problemática organizacional sobre la modos de proceder de quienes, inicialmente, conformaron la Junta Directiva de la Corporación,
cual versó la investigación. El segundo apartado sintetiza elementos teóricos y conceptuales suscitó considerables conflictos que derivaron en obstáculos a la acción de la Corporación en
pertinentes para la comprensión de los vínculos entre IL, IW y el mantenimiento de la hibridez sus primeros años de existencia, hasta el punto de sabotear su intervención y causar severas
en organizaciones de esta naturaleza. En el tercero, se sintetizan hallazgos de la investigación afectaciones al territorio mismo y a sus recursos naturales.
de base, relacionados con el rol de los actores organizacionales en la incorporación de diversas
lógicas institucionales en la entidad estudiada. Por último, el lector encontrará algunas Pese a la oposición, la Corporación emprendió sistemáticos acercamientos a la comunidad
reflexiones acerca de la posible complementariedad de IL e IW en el mantenimiento de la habitante del Parque con el propósito de identificar sus necesidades prioritarias, sus carencias
condición de hibridez institucional en las organizaciones. materiales y emocionales, sus valores, su historia y los significados construidos por ellos,
torno al territorio. Al mismo tiempo, orientados por el desarrollo de un proceso de planeación
1. Problemática de investigación. estratégica, la organización se configuró conforme a pautas derivadas de las características de
dicha comunidad y decidió orientar su estrategia de acción hacia la promoción del turismo rural
Como se ha dicho, la investigación en la que se basa este escrito tuvo por objetivo principal, comunitario. Esta estrategia condujo al diseño de una estructura formal soportada por cuatro
comprender la incorporación de lógicas institucionales en una organización institucionalmente líneas de trabajo, cada una de las cuales se designó como proceso misional en la organización.
híbrida. Las particularidades configuracionales e históricas de la organización denominada Tres de las líneas -1.Sostenibilidad Ambiental y Cultural; 2. Competitividad del Destino Turístico y
Corporación Parque Arví (CPA), ameritaron su elección como caso de estudio único para 3. Comercialización Integral- se respaldaron con áreas funcionales en la estructura organizativa
desarrollar empíricamente el proceso investigativo. y la restante –cultura Arví- se asumió como transversal a todos los procesos llevados a cabo por
la organización.
La CPA es una organización creada en el año 2007. Sin ánimo de lucro y constituida por entidades
públicas y personas jurídicas de derecho privado, fue fundada para “trabajar por la consolidación Así entonces, la CPA emprendió la tarea de incorporar distintos parámetros de acción originarios

1457 1458
de su entorno, caracterizado por la diversidad institucional. Logró configurar su estructura y aquellas formuladas en otras perspectivas. En todo caso, la condición de hibridez hace referencia
sus procesos bajo directrices trazadas por la combinación de lógicas de diversos órdenes a la combinación de distintos elementos legales, organizacionales, económicos y/o institucionales
institucionales y, a su vez, delineó las lógicas propias de la organización. De este modo, a lo con el propósito de atender a un objetivo específico.
largo de su existencia, la entidad ha desarrollado su misión y se ha legitimado en su territorio
de influencia y en el ámbito político-administrativo del Municipio de Medellín. En casi 11 años Así entonces, la hibridez institucional en una organización se entiende como, aquella condición
de existencia, ha logrado posicionarse como referente nacional en el sector del turismo rural en la que se imbrican distintas lógicas institucionales (IL) en el proceso mismo de constitución
comunitario, bajo la premisa de la conservación de su hibridez institucional, sin decantarse a y configuración de la entidad organizacional. Esta característica suele concretarse en alianzas
favor de los intereses de unos u otros sectores representados en su Junta Directiva. ¿De qué entre Estado, empresas y organizaciones de la sociedad civil, para llevar a cabo propósitos
modo ha logrado conservar su hibridez ante las presiones institucionales de su entorno? ¿De previamente establecidos que, generalmente, se orientan hacia el desarrollo y bienestar de la
qué modo se han incorporado y se han entrelazado las diversas lógicas provenientes del entorno población o de comunidades en situación de vulnerabilidad.
institucional de la entidad? ¿De qué modo, la organización estudiada ha logrado legitimarse en
su entorno institucional? Estos cuestionamientos generales enmarcaron la problemática de la Investigadores en los campos de las Organizaciones y el NIS se han dedicado a estudiar la hibridez
investigación a la que se hace referencia en este escrito. institucional como una particularidad para el análisis de las dinámicas intraorganizacionales y
han señalado su relación con distintos aspectos como, la identidad organizacional (Batillana &
2. Referentes conceptuales y teóricos Dorado, 2010), las dinámicas internas relacionadas con la estructuración y la estrategia (Jäger
& Schroër, 2014) y las interacciones organizacionales con el entorno (Pache & Santos, 2013;
En la problemática descrita se resaltan tres elementos: 1.La hibridez institucional como Hustinx, 2014). De otro lado, Jolink & Niesten (2012), señalan varios tópicos de interés para
característica de la organización estudiada, 2.La imbricación de distintos órdenes institucionales continuar la investigación alrededor de la hibridez institucional, entre los cuales se cuentan,
en dicha entidad y, 3.Las acciones intencionales de la organización para legitimarse en su la profundización en el conocimiento de las dinámicas internas de este tipo de organizaciones
entorno. A continuación se alude brevemente a cada uno de estos elementos desde perspectivas y la combinación de distintas perspectivas teóricas para abordar la diversidad de fenómenos
teóricas que permiten comprenderlos conceptualmente. problemáticos derivados de la hibridez. En esta línea, Skelcher & Smith (2015), por ejemplo,
han destacado el potencial teórico de la ILP para explicar el fenómeno de la hibridez institucional
2.1 El concepto hibridez institucional en las organizaciones.

La denominación organización híbrida es polisémica y desde su acotación en Grandori &


Soda se le han incorporado elementos de distintas perspectivas teóricas en las cuales 2.2 Perspectiva de las Lógicas Institucionales –ILP- para comprender la diversidad institucional
se resalta su carácter económico, legal, estratégico o institucional. Los autores definen
la hibridez como, “formas de organización de actividades económicas a través de la La ILP, surgida en el campo del NIS hace cerca de 30 años, es concebida como marco metateórico
cooperación, la coordinación y la regulación entre varias firmas” (Grandori & Soda, 1995. que posibilita la transversalidad del análisis institucional en los niveles macro, meso y micro
Citado por Jolink & Niesten (2012, p.151)). (Thorton, Ocasio y Lounsbury, 2012). Se caracteriza por su determinismo en la comprensión de
las relaciones entre el ambiente institucional y las organizaciones y le atribuye al primero el
No obstante, con el ánimo de enmarcar conceptualmente dicho término en la problemática protagonismo, dada su mayor complejidad. De acuerdo con Thorton, Ocasio & Lounsbury(2012),
de investigación descrita, se asumirá la definición acotada por Batillana & Dorado (2010), el ambiente institucional (conceptuado como sistema interinstitucional), está conformado por
según la cual, una organización híbrida es aquella que incorpora elementos de distintas lógicas subsistemas u órdenes que pueden asumirse como representaciones abstractas (tipos ideales) de
institucionales”. Pese a su sesgo institucional, la generalidad de esta definición no riñe con las instituciones. Son éstos, Familia, Estado, Mercado, Religión, Profesión, Corporación (u orden

1459 1460
empresarial) y Comunidad. Dicho sistema condiciona la acción de individuos y organizaciones Teóricamente, los enfoques de las LI e IW resultan contradictorios y, a la vez, complementarios.
mediante diversas lógicas (LI) que le son propias a cada orden. La investigación de base evidenció elementos relacionados con el IW de los miembros de la
organización estudiada, por lo cual, fue posible justificar empíricamente, la vinculación de
Thornton & Ocasio (2008), definen las LI como, patrones culturales, simbólicos y materiales, ambas perspectivas para la comprensión de la incorporación de LI y el mantenimiento de la
entre los cuales se cuentan los supuestos fundamentales, los valores y creencias, construidos hibridez institucional.
histórica y socialmente, mediante los cuales los individuos y las organizaciones le otorgan
significado a su vida cotidiana, organizan su tiempo y espacio y reproducen sus vivencias y Pese a su aparente oposición, en los últimos quince años, investigadores de una y otra corriente
experiencias. han trabajado en la construcción de vínculos entre ILP y IW (v.gr. Pache & Santos, 2010; Hwang
& Colyvas, 2011; Zilber, 2002; 2006; 2009; 2013; Lock, 2010; Coule & Patmore, 2013;
Así, las LI provenientes del sistema interinstitucional, expresan los modos en los cuales debe Siewke, 2014; Dahlmann & Grosvold, 2017).
disponerse la vida cotidiana de los individuos y organizaciones conforme a las normas, reglas
y significados proveídos por la institución representada en cada orden institucional. Esta En sus trabajos, las organizaciones cobran protagonismo como escenarios de acción individual
perspectiva permite entonces comprender la incorporación de diversas LI en las organizaciones y colectiva bajo parámetros institucionales, más aún, si dichas entidades se configuran bajo
y, si bien, en sus microfundamentos contempla aspectos cognitivos de los individuos para condiciones de hibridez (Pache & Santos, 2010; 2013), característica que implica, de un lado, la
explicar su acción institucionalmente condicionada, deja de lado otros aspectos relevantes para interacción de distintas lógicas al servicio de un propósito y, de otro, la configuración de nuevas
comprender la dinámica institucional en las organizaciones; por ejemplo, el devenir cotidiano, lógicas como resultado de la hibridación institucional. También se evidencia la respuesta de los
aspectos que le son propios a la Perspectiva del Trabajo Institucional. individuos ante las directrices institucionales (Glaser, Fast, Harmon & Green, 2017) y la creación
de nuevos esquemas de acción como resultado de la incertidumbre propia de la presión ejercida
2.3 Perspectiva del Trabajo Institucional –IW- para comprender la acción intencional sobre los por distintos órdenes institucionales sobre la acción individual (Battilana, Leca & Boxenbaum,
ambientes institucionales 2009; Battilana & Dorado, 2010; Hojgaard & Lounsbury, 2013).

Esta corriente surge hacia el año 2006, en un intento por reivindicar el papel de los individuos Sucintamente, estos planteamientos teóricos dan cuenta de la pertinencia de la ILP y el IW,
y las organizaciones en la configuración de sus ambientes institucionales. Como concepto, el para el estudio de problemáticas organizacionales como la que se ha expuesto. Como se verá a
IW se define como toda “acción intencionada de individuos y de organizaciones, orientada a la continuación, los hallazgos de la investigación en la que se basa este artículo, corroboraron la
creación, mantenimiento o disrupción de instituciones” (Lawrence, Suddaby & Leca, 2009). necesidad de considerar elementos de ambas perspectivas para la comprensión del fenómeno
de la hibridez institucional.
Su focalización en las acciones individuales y organizacionales conduce el análisis institucional
desde la pragmática e involucra el estudio de aspectos culturales y cognitivos que inciden 3.Hallazgos relevantes del estudio
en la vida cotidiana de individuos y las organizaciones. De ahí que pueda afirmarse que esta
perspectiva privilegia el análisis de los niveles meso y micro (o intraorganizacional) (Lawrence El análisis de la información recogida en el trabajo de campo evidenció la incidencia preponderante
& Suddaby, 2006; Lawrence, Suddaby & Leca, 2009). Adicionalmente, esta perspectiva resalta de lógicas provenientes de los órdenes institucionales Estado, Mercado, Profesión y, en particular,
el papel de la agencia en los procesos de cambio institucional. (Battilana & D’Aunno, 2009). de la Comunidad, en el diseño y desarrollo de los procesos misionales de la organización
estudiada, asumidos éstos últimos, como prácticas formales asociadas a la estructura de la
2.4 ILP e IW: complementariedades para la hibridez institucional entidad. Este hallazgo, verificado en los diez años de existencia de la organización, confirma su
naturaleza híbrida y la determinación del ambiente en la estructura organizacional, tal como lo

1461 1462
plantea la ILP. convergencia entre la ILP e IW. En este sentido, el planteamiento se ubica en una conversación de
frontera para el campo de los Estudios Organizacionales, en la perspectiva del NIS (Zilber, 2013;
Sin embargo, la investigación mostró también la importancia que ha tenido la construcción Dalhmann & Grosvold, 2017). Este postulado, sobre el cual Zilber y otros autores convergen, se
colectiva de sentido en el equipo de trabajo de la organización; sentido que se ha focalizado sitúa en el contexto de las organizaciones híbridas; esto se le agrega un atributo adicional a la
en tres constructos fundamentales: 1) la entidad, es decir, la CPA; 2) el objeto administrado, conversación, como contribución de la investigación.
en este caso, el territorio4 comprendido en el Parque Arví y, 3) el rol de cada miembro de la
organización. De igual modo, la información recabada mostró la preeminencia de la acción de Referencias
la directora ejecutiva de la organización en la conducción del grupo de trabajo, hasta el punto
de convertirse en referente e inspiración para la mayoría de los miembros de la entidad. Estos Battilana, J., Leca, B., & Boxenbaum, E. (2009). How Actors Change Institutions: Towards a
elementos escapan al potencial explicativo de la ILP pero encajan en el marco teórico del IW. Theory of Institutional Entrepreneurship. The Academy of Management Annals 3(1), 65-107.

Finalmente, la investigación mostró que el mantenimiento de la hibridez institucional y el Battilana, J. & D’Aunno, T. (2009). Institutional Work and the paradox of embedded agency. In:
desarrollo de lógicas propias de la organización, posibilitaron la legitimación de esta última en T. Lawrence, R. Suddaby & B. Leca. (Eds.) Institutional Work. Actors and Agency in Institutional
el territorio de influencia. Así, la entidad logró los propósitos de desarrollo territorial para los Studies of Organizations (31-58).
cuales fue creada. Además, dio lugar al desarrollo de procesos de isomorfismo en contextos
fuera del territorio y promovió la creación de iniciativas de asociación surgidas de la comunidad Battilana J. y Dorado S. (2010). Building Sustainable Hybrid Organizations: The Case of
misma. Commercial Microfinance Organizations. Academy of Management Journal, 53, 1419-1440.
Cambridge: Cambridge University Press.
4. Reflexiones finales, a modo de conclusión
Coule, T. & Patmore, B.A. (2013). Institutional Logics, Institutional Work and Public Service
Los hallazgos retomados en este escrito, plantean un punto de quiebre para las premisas de Innovation in Non-Profit Organizations. Public Administration, 91(4), 980-997.
la ILP, pues muestran que el proceso de incorporación de lógicas institucionales no obedeció
exclusivamente a la sobre determinación del ambiente en la organización y a procesos Dahlmann, F. & Grosvold, J. (2017). Environmental Managers and Institutional Work: Reconciling
cognitivos centrados en la modificación de esquemas mentales en los miembros del equipo Tensions of Competing Institutional Logics. Business Ethics Quarterly, 27(2), 263-291.
de trabajo, sino que, además, intervinieron, con preeminencia, los significados y sentidos
construidos colectivamente. Además, tanto la construcción de sentido como la acción individual Glaser, V.L., Fast, N.J., Harmon, D.J. & Green Jr., S.E. (2017). Institutional Frame Switching:
y organizacional han sido influidos por la agencia en la organización, en cabeza de su directora How Institutional Logics Shape Individual Action. In J. Gehman, M. Lounsbury, R. Greenwood
ejecutiva, quien mediante sus cualidades de líder natural, direcciona la acción colectiva y media (Eds.).How Institutions Matter! (Research in the Sociology of Organizations, Volume 48A). UK:
en las relaciones organización-ambiente. Emerald Group Publishing Ltd. (35-69).

Lo anterior suma evidencias acerca de la necesaria concomitancia del entorno institucional, Hojgaard, L., & Lounsbury, M. (2013). Strange Brew: Bridging Logics Via Institutional Bricolage
la acción individual y la agencia para el mantenimiento de la hibridez institucional en las and the Reconstitution of Organizational Identity. In M. Lounsbury & E. Boxenbaum. (Eds.).
organizaciones de este tipo. En otras palabras, plantea la posibilidad y la necesidad de la Institutional Logics in Action, Part B. (Research in the Sociology of Organizations, Volume 39B).
4. Entiéndase territorio en la acepción político-antropológica, expuesta por Ther Ríos (2012) como, un espacio geográfico determinado que se configura UK: Emerald Group Publishing Ltd. (199-232)
a partir de las relaciones establecidas entre los seres humanos que allí habitan, con la naturaleza, con los suyos y con los integrantes de otros grupos
humanos.

1463 1464
Hustinx, L. (2014). Volunteering in a Hybrid Institutional Organizational Environment: An Organizations, and Actor Identities: The Case of Nonprofits. Public Administration, 93(2), 433-
Emerging Research Agenda. In: Freise, M. & Hallmann, T. (Eds.). Modernizing Democracy (99- 448.
110). New York: Springer Science+Business Media.
Ther Ríos, F. (2012). Antropología del territorio. Polis, Revista de la Universidad Bolivariana,
Hwang, H. & Colyvas, J.A. (2011). Problematizing Actors and Institutions in Institutional Work. 11(32), 493-510.
Journal of Management Inquiry 20(1), 62-66.
Thornton, P.H. & Ocasio, W. (2008). Institutional Logics. In: Greenwood, R.; Oliver, C.; Sahlin, K.
Jäger, U.P. & Schroër, A. (2014). Integrated Organizational Identity: A Definition of Hybrid & Suddaby, R. (Eds.). The SAGE Handbook of Organizational Institutionalism (99-129). London:
Organizations and Research Agenda. Voluntas, 25, 1281-1306. SAGE Publications.

Jolink, A. & Niesten, E. (2012). Recent Qualitative Advances on Hybrid Organizations: Taking Thornton, P.H., Ocasio, W. & Lounsbury, M. (2012). The Institutional Logics Perspective. Oxford:
Stock, Looking Ahead. Scandinavian Journal of Management, 28(2), 149-161. Oxford University Press.

Lawrence, T. & Suddaby, R. (2006). Institutions and Institutional Work. In Clegg, S; Hardy, C.; Zilber, T. (2002). Institutionalization as an Interplay between Actions, Meanings and Actors:
Lawrence, T. & Nord, W. (Eds.). The SAGE Hadbook of Organizational Studies (215-254). London: The case of the Rape Crisis Center in Israel. Academy of Management Journal, 45(1), 234-254.
SAGE Publications.
Zilber, T. (2006). The Work of the Symbolic in Institutional Processes: Translations of Rational
Lawrence, T., Suddaby, R. & Leca, B. (Eds.) (2009). Institutional Work. New York: Cambridge. Myths in Israeli High Tech. Academy of Management Journal, 49(2), 281-303.
Lok, J. (2010). Institutional Logics as Identity Projects. Academy of Management Journal, 53(6),
1305-1335. Zilber,T. (2008). The Work of Meanings in Institutional Processes and Thinking. In: Greenwood, R.;
Oliver, C.; Sahlin, K. & Suddaby, R. (Eds.). The SAGE Handbook of Organizational Institutionalism
Lounsbury, M. (2002). Institutional Transformation and Status Mobility: The Professionalization (151-169). London: SAGE Publications.
of the Field of Finance. Academy of Management Journal, 45(1), 255-266.
Zilber, T. (2009). Institutional Maintenance as Narrative Acts. In: T. Lawrence, R. Suddaby &
Pache, A-C. & Santos, F. (2010). When Worlds Collide: The Internal Dynamics of Organizational B. Leca. (Eds.) Institutional Work. Actors and Agency in Institutional Studies of Organizations
Responses to Conflicting Institutional Demands. Academy of Management Review, 35(3), 455- (205-235).
476.
Zilber, T. (2013). Institutional Logics and Institutional Work: Should They Be Agreed? In M.
Pache, A-C. & Santos, F. (2013). Inside the Hybrid Organization: Selective Coupling as a Response Lounsbury & E. Boxenbaum. (Eds.). Institutional Logics in Action, Part A. (Research in the
to Competing Institutional Logics. Academy of Management Journal, 56(4), 972-1001. Sociology of Organizations, Volume 39B). UK: Emerald Group Publishing Ltd. (77-96)

Sieweke, J. (2014). Imitation and Processes of Institutionalization - Insights from Bourdieu’s


Theory of Practice. Schmalenbach Business Review (SBR), 66(1), 24-42.

Skelcher, C. & Smith, S.R. (2015). Theorizing Hybridity: Institutional Logics, Complex

1465 1466
Capítulo 144 el apoyo de CORFO y fondos FIC del Gobierno Regional. Participaron destacadas autoridades
regionales, emprendedoras y alumnos del mencionado establecimiento educacional.
Proyecto perfil de emprendedores de innovación social en la región de Atacama Dado lo anterior, podemos apreciar que en la Región de Atacama se están llevando a cabo
iniciativas orientadas a relevar la importancia de la innovación social como herramienta de
Hernan Marcelo Pape Larre1
cambio para las comunidades.

Proyecto De Investigación
Antecedentes
Dado lo anteriormente presentado, nos parece importante seguir apoyando estas actividades y,
En los últimos tres años en la Región de Atacama se han realizado diversas actividades y eventos
por ello, se plantea la presente investigación para que las instituciones educativas dispongan de
orientados a potenciar la innovación social.
mayor información respecto de la innovación social, y así mejorar la oferta formativa en el área
de la innovación social.
Por ejemplo, el programa Inventa Comunidad, promovido por la empresa minera Candelaria,
Chrysalis (UCV) y la Universidad de Atacama, busca difundir y posicionar la innovación social
Objetivo
como una herramienta de cambio para impactar positivamente a las comunidades, junto con
establecer nuevas redes de trabajo y de apoyo integradas por los sectores productivo, educacional
La presente investigación tiene como objetivo determinar el perfil humano y profesional de un
y comunitario de la región. Este programa ha organizado concursos con la finalidad de generar
emprendedor de innovación social junto con identificar las motivaciones que tiene para abordar
ideas y proyectos por parte de vecinos y agrupaciones comunitarias de Tierra Amarilla, Caldera
proyectos de innovación orientados a un mayor bienestar comunitario.
y Copiapó. Además, para focalizar la discusión y las ideas de proyectos ha establecido áreas de
interés: generación de comunidades inclusivas, cobre y comunidad, desarrollo territorial, turismo
La pregunta de la investigación es: ¿Cuál es el perfil humano y profesional de un emprendedor
sustentable, energías limpias y medio ambiente, por ejemplo.
de innovación social de la Región de Atacama?
Algunas ideas y proyectos que han surgido de este programa son:
Metodología
• Adoquines producidos de relaves con el objetivo de minimizar estos puntos contaminantes y ser
Es una investigación de tipo cuantitativa, descriptiva, no experimental, y seccional porque recoge
un aporte en la recuperación de espacios comunitarios.
datos e información en un momento del tiempo.
• Propuesta para dotar de agua purificada a campamentos sociales, aportando al ahorro
comunitario y a la eficiencia de recursos.
Se considera una muestra no probabilística de 20 emprendedores compuesta por innovadores
• Sistema de recolección de agua por contacto con la niebla.
sociales y expertos en el tema de innovación social que han formulado y ejecutado innovaciones
• Proyecto comunitario que busca guiar a la población a lograr una soberanía alimenticia y a la
sociales en la Región de Atacama en los últimos dos años (2016 y 2017). Se aplica un muestreo
transformación de la dieta hacia lo orgánico.
por conveniencia y se efectúan entrevistas, con apoyo de cuestionarios, a emprendedores
sociales de las localidades de Copiapó, Caldera y Tierra Amarilla.
Por otra parte, a fines del año pasado se realizó el Tercer Encuentro de Ideas e Innovación Social
en Copiapó (SUMAR FEST). Esta actividad se efectuó en la sede de INACAP Copiapó y contó con
1. Universidad de Atacama. Email: Hernán.pape@uda.cl
Las unidades de observación son los emprendedores de innovación social y las variables de

1467 1468
medición se clasifican en variables demográficas (edad, género, profesión, nivel educativo, Capítulo 145
estatus socio-económico, entre otras), variables psicográficas (personalidad, estilo de vida,
valores, actitudes, intereses, entre otras) y variables relacionadas con competencias laborales
para la innovación social (economía, gestión financiera, trabajo en equipo, liderazgo, entre otras).
“Nosso mundo parece condenado à empresa”: O Museu das remoções da
Vila Autódromo como “Princípio de Esperança”
Análisis de los datos
Gabriela Izabel de Alvarenga1 y Leonardo Vasconcelos Cavalier Darbilly2
El análisis de los datos se efectúa aplicando la técnica estadística multivariante denominada
Análisis de Clúster, conocido como Análisis de Conglomerados, que busca agrupar elementos (o
variables) tratando de lograr la máxima homogeneidad en cada grupo y la mayor diferencia entre 1. Introdução
los grupos. Así, se puede determinar qué variables se relacionan en mayor medida y determinan
un perfil del emprendedor de innovación social. Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aprofundou-se a americanização da
América Latina. Nesse período, conhecimentos e práticas do management deram origem
Beneficios a escolas de negócios na região (Alcadipani & Rosa, 2011). O management, que preza pela
eficiência e eficácia das organizações por meio da burocracia formal (Parker, 2002; Böhm,
Se espera que con la evidencia empírica encontrada se pueda identificar la brecha existente 2006, Alcadipani & Rosa, 2011), tornou-se a fórmula do sucesso econômico dos Estados Unidos
entre las competencias laborales demandadas o requeridas por los innovadores sociales y la e a base do conhecimento no campo. Com isso, disseminou-se globalmente um modo particular
actual oferta educativa. Asimismo, con esta información se facilita la determinación de un de organização, posicionada de acordo com os discursos hegemônicos do capital (Böhm, 2006).
perfil de egreso de un programa educativo, el diseño de planes de estudio y de programas de
capacitación orientados a la formación y fortalecimiento de emprendedores de innovación social. Assim, especialmente, no caso dos países latino-americanos, há o grande desafio do
desenvolvimento teórico e metodológico de abordagens que tornem visíveis organizações
variadas, que possam ser contestadas e não reduzidas a leis econômicas inexoráveis (Parker,
Fournier, Reedy, 2012). De acordo com Misoczky (2010), os processos de mobilização social
e política presentes na América Latina, se articulados com os movimentos populares e suas
práticas, farão deste continente um cenário propício para que sejam desenvolvidas teorias e
conceitos emancipadores.

Com base nisso, acreditando-se na existência de mundos organizacionais plurais e diversos,


especialmente, os existentes em países da América Latina, que acabam ofuscados pela hegemonia
do modelo de organização advindo do Norte, apresenta-se neste trabalho um organizar alternativo,
construído no âmbito da Vila Autódromo. A Vila Autódromo é uma comunidade localizada na Zona
Oeste do Rio de Janeiro, cidade brasileira, que possui um histórico de resistência popular contra
as tentativas de remoção promovidas pelo poder público. Houve na comunidade um processo
de articulação entre os residentes da Vila Autódromo e atores diversos, tais como moradores
1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: gabriela.i.alvarenga@gmail.com
2. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: leonardo.darbilly1@gmail.com

1469 1470
de outras comunidades, membros da Defensoria Pública, representantes da Igreja Católica, Moraes, 2011, Parker, Fournier & Reedy, 2012).
pesquisadores de Universidades (Tafakgi, 2014) etc de forma a efetuar ações de resistência às
remoções na comunidade. Isso significa que este conceito extrapola a coordenação racional de atividades de um grupo de
pessoas que perseguem metas ou objetivos formais, ou seja, que a sua concepção não é reduzida
A partir da necessidade coletiva de registrar essas ações e de comunicar a realidade da a empresas (Solé, 2003). Parker, Fournier e Reedy (2012) defendem a possibilidade de a
comunidade antes do processo de remoção (Museu das Remoções, 2016); apoiadores da organização ser utópica como a expressão do que Ernst Bloch chamou de Princípio da Esperança
comunidade, moradores, ex-moradores, moradores de comunidades próximas, universitários, (1986). De acordo com os autores, isso envolve a tentativa de mostrar a grande “diversidade de
especialmente, alunos da Universidade Anhanguera construíram o Museu das Remoções. modos em que a organização humana pode ser imaginada.” (Parker, Fournier & Reedy, 2012,
O Museu das Remoções demonstra, empiricamente, um organizar diferente dos preceitos p.XX). Misoczky (2010), inspirando-se em Dussel, afirma que a organização pode ser um meio
dominantes na área de Estudos Organizacionais. Demonstra que é possível um organizar desde para a emancipação, “em que cada participante aprende a cumprir responsabilidades diferentes,
baixo, construído a partir da cultura de um país latino-americano. Com base nisso, o objetivo sempre no espaço da unidade do consenso produzido no coletivo” (Misoczky, 2010, p.39). A
deste trabalho é analisar o processo de criação do Museu das Remoções a partir das ações de partir disso, pactua-se com a concepção de que há um modo de organizar que transcenda o modo
resistência dos moradores da comunidade Vila Autódromo. burocrático, com práticas organizacionais horizontais, isto é, pautadas no mandar obedecendo,
na participação direta, com decisões tomadas coletivamente, com delegação autorizada e com
2 Referencial Teórico corresponsabilidade, que quer dizer que “o coletivo reponde ao indivíduo e o indivíduo responde
ao coletivo pela implementação das decisões” (Misoczky & Moraes, 2011, p.86).
2.1 A pluralidade do termo organizar
Com isso, percebe-se a importância de uma ampla participação de todos os atores envolvidos no
O management tornou-se a fórmula do sucesso econômico dos Estados Unidos, disseminado processo, pois, desta forma, mais funções serão preenchidas. Dussel (2007) afirma que no caso
globalmente a hegemonia do modelo organizacional da empresa (Rampazo, 2015). O Brasil, dos países da América Latina, principalmente os pós-coloniais, isso se torna ainda mais relevante,
assim como outros países da América Latina, importou conceitos e teorias envoltos por tendo em vista que essas nações estão imersas em democracias advindas de um processo de
este modelo ideológico que preza por um organizar baseado na eficiência, na eficácia e no transição com uma “classe política” que frequentemente se corrompe. Misoczky (2010) defende
alcance máximo de resultados por meio da burocracia formal (Parker, 2002; Bohm, 2006; que se houver articulação entre os processos de mobilização social e política presentes na
Alcadipani & Rosa, 2011). Tem sido aplicado em diferentes setores, modificando linguagens e América Latina com os movimentos populares e suas práticas, poderão ser desenvolvidos teorias
conceitos (Parker, 2002; Solé, 2003; Böhm, 2006), naturalizando valores e práticas do mundo e conceitos emancipadores no continente. Para tanto, os próprios pesquisadores podem fazer
dos negócios. Alunos e usuários do serviço público se tornaram clientes, atletas mercadoria, parte dessa articulação se adotarem uma postura de observadores críticos e de participantes
trabalhadores são colaboradores. Enfim, é como se a influência dos negócios em nosso mundo ativos, por meio da ação de colocarem seu conhecimento a serviço das organizações com as
torne impossível imaginar outra forma de organização. “Nosso mundo parece condenado à quais estejam interagindo (Misoczky, Flores, & Böhm, 2008). Os autores sugerem a adoção
empresa” (Solé, 2003, p. 5). da conduta prática teórica proposta por Böhm (2002). Isto é, a intensa conexão entre teoria e
prática, ainda que com relativa autonomia de uma em relação à outra, isso se concretiza, por
Porém, apesar da aparente unicidade do discurso do management, ele está aberto à contestação exemplo, no engajamento dos pesquisadores com os movimentos populares (Misoczky, Flores,
e resistência (Spicer & Böhm, 2007). A partir disso, surgem experiências de pensamento sobre & Böhm, 2008).
modos alternativos de organizar que vão além do que ocorre em empresas verticais orientadas
pelas políticas neoliberais que existam para alcançar de forma eficiente objetivos e metas Defende-se então a articulação do conhecimento elaborado em sua dimensão estritamente
racionalmente preestabelecidos (Solé, 2003; Böhm, 2006; Misoczky, 2010; Misoczky & teórica com o conhecimento que emerge de baixo e que está contido nas práticas (Rauber, 2004).

1471 1472
Conceitos-chaves para tanto são: articulação; construção e processo; diversidade; pluralismo; deu pelos Jogos Olímpicos em si. Os entrevistados mencionaram que os argumentos variaram ao
democracia radical participativa; propostas abertas, ou seja, a construção e desenvolvimento longo da história da comunidade.
permanente (Rauber, 2004). O conceito de articulação é importante por indicar uma maneira
de questionar a realidade, de compreendê-la e de, em paralelo, transformá-la (Rauber, 2004). A Esse histórico de possibilidades com justificativas para que as remoções acontecessem foi
troca de experiências também é um ponto crucial em espaços que abrigam as práticas coletivas, lembrado por todos os entrevistados, que se utilizaram de frases como: “nós entramos em
pois, assim, as informações são socializadas, as identidades constituídas, os conhecimentos pânico” (Ex-moradora 2), “, “o processo foi lento, doloroso, muito sofrido pra comunidade”
dos resultados obtidos por outros grupos absorvidos e as memórias de experiências passadas (Padre 2) para mencionar esse histórico processo. Entretanto, apesar disso, essa trajetória
reavivadas (Gohn, 1991). de possibilidades demonstrou ter sido fundamental para a construção das ações contra as
remoções na comunidade. Os entrevistados expressaram a importância dessa característica
A partir dessas reflexões, acredita-se na importância da desnaturalização do modelo hegemônico para a construção da experiência e da articulação para o desenvolvimento dessas ações. A
de organização a partir da visibilização de mundos organizacionais plurais, especialmente os articulação entre atores sociais comprometidos com a transformação de suas condições de vida
desenvolvidos em países historicamente ofuscados pelo domínio teórico e conceitual de países e da sociedade é, segundo Rauber (2004), um passo indispensável na direção da construção de
considerados do Norte. alternativas concretas.

3 Metodologia Outra característica importante para a construção dessas ações foi a existência da Associação
de Moradores, regularmente constituída desde 1987. Os dados, após interpretados, apontaram
Para essa pesquisa de natureza qualitativa foram coletados dados de fontes primárias a que esse era um local que prezava pela participação de todos, tornando-se um espaço de
partir de 18 entrevistas individuais com moradores e ex-moradores contrários às remoções e aprendizagem, em que as discussão se davam, majoritariamente, no coletivo, sem que as decisões
representantes de organizações que apoiaram a luta contra as remoções na comunidade Vila fossem tomadas a partir de único líder, apesar de existir o cargo de presidente da Associação.
Autódromo. Além disso, durante os anos de 2016 e 2017, a pesquisadora participou de eventos Além disso, os moradores e ex-moradores entrevistados estavam cientes da necessidade de
envolvendo o Museu das Remoções. Os dados foram analisados e interpretados qualitativamente existir na comunidade uma organização que possuísse um estatuto, uma estrutura formalizada,
utilizando como base o referencial teórico proposto. ou seja, que seguisse as características das organizações verticais. Visto que, há a consciência
de que os trâmites burocráticos são valorizados na sociedade contemporânea. A Ex-Moradora
4 Análise Dos Dados 2 frisou a relevância de existir na comunidade uma organização alinhada aos preceitos
burocráticos, afirmando que: “vivemos numa sociedade que papel tem mais valor que a sua fala
O processo de criação do Museu das Remoções a partir das ações de resistência dos moradores [...] Ele te dá mais credibilidade que a tua origem, a tua história, a tua fala, a tua organização.”
da comunidade Vila Autódromo
Destaca-se entre os então moradores da comunidade, o nível de consciência que se transformou
As ações de resistência desenvolvidas na Vila Autódromo possuem estreita relação com na busca pela legalização da Associação. A regulamentação da Associação se deu dentro dos
importantes características contidas na comunidade. Quanto a isso, a primeira possibilidade trâmites burocráticos, dando a entender que seria formal, hierárquica, delimitada e que prezasse
de remoção da Vila Autódromo ocorreu em 1993 na gestão de César Maia (1993-1996) por pela administração ou manutenção da ordem das coisas (Böhm, 2006). Mas a intenção dos
justificativas que envolviam dano ao meio ambiente urbano, dano ao meio ambiente natural, dano moradores que buscaram a legalização era a de a Associação ser um espaço em que houvesse
estético paisagístico e turístico. Em seguida, com o Pan-americano na cidade do Rio, em 2007 a participação direta, com as decisões tomadas no coletivo, sem o exercício despótico do
e, a partir de 2009 com o anúncio do Comitê Olímpico Internacional sobre a eleição do Rio de presidente. Inclusive, durante a observação participante, um dos moradores mostrou um pedaço
Janeiro como sede das Olimpíadas 2016. Mas, nem sempre a justificativa após esse período se da parede em que estava escrito “Associação de Moradores”. Ele afirmou que quando a prefeitura

1473 1474
demoliu a Associação de Moradores da comunidade, vários moradores escreveram “Associação Conceição”, que foi por um período o local em que ocorreram os chamados “Ocupas”. Durante
de Moradores” nos muros de suas casas com o intuito de demonstrar que a Associação não era a observação da pesquisadora, um dos alunos que auxiliou a construção da escultura explicou
simplesmente um prédio feito de tijolos e cimento, mas sim, um espaço formado por pessoas que: “[...] o Espaço Ocupa era o ponto de encontro da comunidade, então, todos os eventos eram
atuando coletivamente. A importância da Associação para a comunidade foi materialmente aqui, eles tinham um espaço de convivência, de alegria [..]”. O conceito de ocupação, indo além
representada no Museu das Remoções pela escultura: “A Associação sou eu”. De acordo com das ocupações urbanas de moradias de sem-teto, apareceu fortemente em dezembro de 2010
um dos alunos que contribuiu para a construção da escultura: “a Associação era um local de a partir da Primavera Árabe, passando pelo Occupy Wall Street e pelas manifestações de junho
reunião, de união das pessoas[...]”. de 2013 no Brasil. Supõe-se que tenha advindo daí o uso do #OcupaVilaAutódromo, mas, assim
como no caso de outras ações, não foi possível identificar de forma sistemática o surgimento do
As ações desenvolvidas em torno da Associação, de acordo com os entrevistados, poderiam ser conceito na comunidade. Mas, é possível perceber o significado contido nele: eram eventos com
exemplos para outras comunidades passíveis de remoção. A noção da importância dessa troca o intuito de ocupar a comunidade para que o coletivo fortalecesse a resistência, não deixando
de experiências entre comunidades foi observada na interpretação dos dados, principalmente, que os indivíduos ficassem isolados, pois assim, seriam mais vulneráveis às remoções.
por meio da participação dos moradores no Movimento União Popular (MUP). Movimento de
base, originado em 2004, formado por 32 comunidades que sofriam a possibilidade de remoção. As ações ocorridas na comunidade surgiram a partir dessas articulações entre os moradores
Esse movimento possibilitou a troca de experiência entre comunidades, sendo fundamental e diferentes como grupos como universidades e movimentos sociais. Ainda de acordo com os
para a construção da conscientização política . Conforme apontado por Gohn (1991), a troca entrevistados, as ações eram pensadas no coletivo, não sendo possível, muitas vezes, identificar
de experiência é elementar devido à possibilidade de informações serem socializadas e quem pensou na ação. Elas surgiam nas assembléias, ocorridas na Associação de Moradores,
identidades serem construídas. Outro importante movimento que envolveu a comunidade foi o e nas reuniões ou eventos envolvendo a comunidade. Os moradores envolvidos na resistência
Comitê Social do Pan, que reuniu associações de moradores, universidades, organizações não demonstraram ser receptivos às ideias e à presença de quem estivesse na comunidade para
governamentais, grupos de esportistas e movimentos sociais que se agregaram com o objetivo apoiar essas ações. Dessa forma, surgiu a ideia do Museu das Remoções. Dois dos entrevistados
de intervir criticamente na implementação dos Jogos Pan-americanos de 2007 no município do citaram que um museólogo bastante presente na luta da comunidade teria sugerido a ideia de
Rio de Janeiro (Behnken, 2010). A partir do Comitê, iniciou-se mais fortemente o diálogo com construção do Museu. Mas, demonstraram que o processo de construção em si pautou-se no
as universidades. Pois, havia a presença de professores universitários, que foram convidados coletivo.
pelos próprios moradores para construírem um plano urbanístico para a comunidade Vila
Autódromo. A construção desse Plano, organizado pela Associação de Moradores, juntamente A coletividade foi um fator essencial na construção das ações, que foram propostas abertas, que,
com pesquisadores de duas Universidades Federais, denominado Plano Popular da Vila segundo Rauber (2004), são abertas por estarem relacionadas ao desenvolvimento constante
Autódromo, ampliou a presença das universidades na comunidade e possibilitou a articulação dos atores envolvidos no processo e também por terem relação com as condições sócio-
entre conhecimento científico e popular, ou seja, foi a materialização da articulação explicitada históricas do mundo. As falas demonstram não haver atitudes negativas explícitas às sugestões
teoricamente por Rauber (2004). Os resultados positivos alcançados por esse Plano, sendo de novas ações de resistência. Há a receptividade e a abertura ao diálogo justamente devido a
inclusive vencedor de um prêmio internacional, fortaleceu a importância do diálogo entre conscientização que ambos são relevantes para a resistência, sendo priorizado o consenso, que
universitários, pesquisadores e moradores, e estimulou a construções de novas ações com a segundo Dussel (2007) é um acordo dos participantes enquanto sujeitos livres e autônomos
participação desses grupos. para garantir a solidez da união de vontades. A participação dos moradores enquanto sujeitos
livres só foi possível devido à outra característica da comunidade: não havia na Vila Autódromo,
Muitas dessas ações foram denominadas “Ocupa Vila Autódromo”, que são agendas de atividades diferentemente da grande maioria das comunidades do Rio de Janeiro, a presença de casos
com apresentação de bandas, projeção de filmes, teatro e exposições. A importância dessas explícitos de milícias e tráfico de drogas, que poderiam prejudicar a liberdade de participação
ações ocasionou na construção de uma das esculturas do Museu: o “Espaço Ocupa e Casa da dos moradores.

1475 1476
Böhm, S. (2002). Movements of theory and practice. Ephemera, (2) 4, 328-351.
Conclusão
Böhm, S. (2006). Repositiong organization theory. New York: Palgrave MacMillan.
Ao analisar o processo de criação do Museu das Remoções a partir das ações de resistência dos
moradores da comunidade Vila Autódromo, percebeu-se que a construção do Plano Popular, os Dussel, E. (2007). 20 Teses de Política. Tradução de Rodrigo Rodrigues. São Paulo: Ed. Expressão
“Ocupas Vila Autódromo” e as ações construídas em torno da Associação de Moradores foram Popular.
fundamentais no processo de criação do Museu. Por sua vez, essas ações estão diretamente
vinculadas a algumas características da comunidade, como o histórico de resistência a tentativas Gohn, M. (1991). Movimentos Sociais e Luta pela moradia. São Paulo: Loyola.
de remoção, a participação dos moradores em movimentos sociais, a ampla participação em
torno da Associação de Moradores e o fato de não haver no local indício de tráficos de drogas Misoczky, M. C., Flores, R. K., & Böhm, S. (2008). A práxis da resistência e a hegemonia da
ou milícias. organização. Organizações & Sociedade, (15) 45.

A presença da Universidade na comunidade se deu fortemente a partir da construção do Plano Misoczky, M. C. (2010). Das práticas não-gerencias de organizar à organização para a praxis da
Popular. E, a interação entre conhecimento teórico e popular é uma das marcas da construção libertação. In M. C. Misoczky, R. K. Flores, & J. Moraes (Orgs.). Organização e práxis Libertadora.
do Museu. Visto que as esculturas foram desenvolvidas com a participação de alunos de uma Porto Alegre: Dacasa Editora.
universidade. Constatou-se também que os “Ocupas” eram eventos em que as ideias surgiam
e que eram reconhecidos pela receptividade dos moradores para novas sugestões. Isso pode Misoczky, M. C, & Moraes, J. (2011). Práticas Organizacionais em Escolas de Movimentos
ter estimulado a participação ativa de diferentes grupos para a construção do Museu, tanto é Sociais. Porto Alegre: Dacasa Editora.
que uma das esculturas foi nomeada por “Espaço Ocupa”. Além disso, as ações envolvendo a
participação em coletivo nas decisões da Associação de Moradores foram fundamentais para a Monteiro, P. G., & Medeiros, M. G. P. (2016). O sistema de justiça e a luta pela moradia no
construção da noção de que isolados, os sujeitos são mais vulneráveis, coletivamente, tornam-se Rio de Janeiro: o percurso jurídico da resistência da Vila Autódromo contra a remoção. Revista
capazes de transformar a realidade. Noção essencial para a construção do Museu, posto que, foi Brasileira de Direito Urbanístico (RBDU), v.2, Belo Horizonte: Fórum (p.99 - 121) ISSN 2447-
construído a partir da articulação de diferentes grupos. 2026.

Referências Museu das Remoções (2016). Museu das Remoções [Sobre]. Disponível em: https://www.
facebook.com/pg/museudasremocoes/about/?ref=page_internal
Alcadipani, R, & Rosa, A. R. (2011). From Grobal Management to Glocal Management: Latin
American Perspectives as a Counter-Dominant Management Epistemology. Canadian Journal of Parker, M. (2002). Against Managemen: Organization in the age of Managerialism. Cambridge:
Administrative Sciences, (28) 4, 453-466. Polity Press.

Behnken, L. M. (2010). Jogos Pan-Americanos de 2007: uma avaliação social. Dissertação de Parker, M., Fournier, V., & Reedy, P. (2012). Dicionário de alternativas. São Paulo: Octavo.
Mestrado, Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, Brasil.
Rampazo, A. V. (2015). O management e o projeto de controle do mundo. Farol-Revista de
Bloch, E. (1986). The Principle of Hope. Cambridge: Mit Press. Estudos Organizacionais e Sociedade, 2(4), 591-642.

1477 1478
Rauber, I. (2004). La transformación social en el siglo XXI: camino de reformas o de revolución. Capítulo 146
Pasado y Presente XXI.

Solé, A. (2003). L’entreprise: une invention Latine? Anais do Colóquio Internacional sobre Poder
Rede ecovida de agroecologia, representações sociais e sustentabilidade: A
Local, Salvador, BA, Brasil, 9. inovação da certificação participativa

Spicer, A., & Böhm, S. Moving management: theorizing struggles against the hegemony of Jorge A. P. Sturmer1 y Sergio L. Boeira2
management. Organization studies, v. 28, n. 11, p. 1667-1698, 2007.

Tafakgi, M. Copa e Olimpíadas pra quem? (2016). Uma etnografia sobre os impactos sociais e as 1. Contextualização
mobilizações coletivas no processo de preparação do Rio de Janeiro como sede de megaeventos
esportivos. Revista Ensaios, 7, 1-16. A proposta deste trabalho é compreender a partir das práticas de uma comunidade de
agricultores agroecológicos do interior do Estado de Santa Catarina, como o processo de
Certificação Participativa da Rede Ecovida de Agroecologia tem influenciado na formação das
representações sociais do desenvolvimento territorial sustentável. Este procedimento tem
conduzido estas famílias de pequenos agricultores no processo de transição da agricultura
convencional para a Agroecologia.

O arcabouço teórico que deu embasamento para a pesquisa foi relacionado aos temas centrais
ao trabalho: desenvolvimento territorial sustentável (Sachs, 1993, 2004, 2007,2009),
teoria das representações sociais (Moscovici, 2003; Jovchelovitch, 1995, 1998,2007), e a
metodologia reflexiva (Alvesson E Skoldberg, 2000; Villardi, 2004). Estas teorias e metodologias
representaram o fundamento teórico do trabalho de coleta de dados, interpretação e reflexão
dos resultados.

Para entender representações sociais nas práticas do cotidiano, optamos pela realização de uma
observação não participante, com entrevistas em profundidade e por uma imersão de 10 dias no
campo. Nossas observações foram realizadas em eventos, encontros e reuniões realizados nas
residências dos agricultores durante 14 meses.

Assumimos como premissa que a utilização descontrolada de insumos químicos na agricultura


brasileira está desencadeando um problema público. O Brasil está entre os países que mais
consomem agrotóxicos no mundo, prática que causa problemas no campo e nas cidades e que
1. Pesquisador do Núcleo Organizações, Racionalidade e Desenvolvimento (ORD), UFSC. Email: jorgesturmer@hotmail.com.
2. Professor do Programa de Pós Graduação em Administração da UFSC, pesquisador do Núcleo Organizações, Racionalidade e Desenvolvimento (ORD),
UFSC. Email: sbsergio762@gmail.com.

1479 1480
demonstra que também no campo o expansionismo produtivista causa problemas e acelera de relacionamento entre economia e sociedade. Nesta perspectiva, a inovação social no contexto
a crise do meio ambiente. Este quadro confirma a necessidade da busca de soluções para os das organizações e movimentos ligados ao terceiro setor e a economia solidária tem gerado
problemas gerados pelo atual processo de desenvolvimento que vem causando degradação e soluções inovadoras na busca da redução das desigualdades e da melhoria da qualidade de vida
escassez dos recursos naturais do planeta. dos grupos e comunidades que buscam assim se organizar (Santos, 2005).

Nesta perspectiva, Leff (2009) entende que a crise ambiental que se evidencia nos anos 60, Partindo destas premissas, Abramovay (2007) considera que o desenvolvimento territorial está
veio questionar o modelo dominante e os paradigmas que impulsionaram e legitimaram o estreitamente ligado à cooperação e as parcerias feitas entre o território e as instituições de
crescimento econômico sem considerar a natureza no ciclo da produção, gerando processos de fomento de seu entorno. A capacidade de estes empreendimentos conquistarem novos mercados
destruição ecológica e degradação ambiental. está fortemente vinculada ao apoio institucional disponibilizado no território e à cooperação
(interação) entre as instituições e atores territoriais.
Deste debate surgiram as primeiras preocupações com as questões do desenvolvimento
sustentável. Este termo que até o final dos anos 1970 era um conceito empregado quase que Com este entendimento, adotamos como premissa que o desenvolvimento territorial sustentável
exclusivamente pela biologia populacional, passou a ser utilizado para qualificar uma nova é um tema de interesse público e faz parte da vida do nosso século. Nesta perspectiva de ação é
proposta de desenvolvimento: a sustentabilidade ecológica (Leff, 2009). que entendemos a existência da Rede Ecovida de Agroecologia.

De acordo com Sachs (2009) para se discutir o desenvolvimento é necessário um profundo 2 Rede Ecovida de Agroecologia e a Certificação Participativa
conhecimento da ecologia cultural, para isso é essencial o contato com o terreno e as interações
com os que ali vivem, buscando suas experiências, fracassos e surpresas. A Rede Ecovida é um movimento associativo fundado em 1998, que tem como objetivo principal
organizar, fortalecer e consolidar a agricultura ecológica familiar no sul do Brasil. De acordo com
É dentro desta perspectiva que as representações sociais se apresentam para o nosso trabalho. Rover (2011), o movimento surgiu da experiência de um conjunto de organizações e movimentos
A participação dos atores sociais na construção do conceito de desenvolvimento sustentável sociais com uma história de enfrentamento com o modelo hegemônico de desenvolvimento.
de um determinado território é de fundamental importância para a busca do conhecimento
compartilhado e para os encaminhamentos práticos de um conceito tão amplo, abstrato e Assim, as premissas da formação da Rede contemplam um modelo de desenvolvimento que
distante para a maior parte da sociedade civil. evite a degradação ambiental, inclua a desconcentração da população, dos recursos e serviços,
através da articulação de mecanismos sociais, políticos e econômicos. Defendem o respeito à
As representações sociais são geradas pelas mediações sociais e representam uma estratégia diferença cultural, e ao multiculturalismo e o acesso justo aos recursos ambientais.
utilizada por atores sociais, para enfrentar a diversidade e mobilidade de um mundo que embora
pertença a todos, transcende a cada um individualmente. O interesse das representações A Rede Ecovida é resultado da crítica ao modelo dominante de produção, distribuição e consumo
sociais está nos fenômenos sociais que por qualquer razão se tornaram de interesse público, de alimentos. O funcionamento da Rede é descentralizado e está baseado na criação de núcleos
que geram temas que causam tensões e provocam ações e debates entre grupos da sociedade regionais, que reúnem membros de uma mesma região com características semelhantes.
que se engajam em pensar e comunicar estes fenômenos. O grande desafio da teoria é entender Atualmente a Rede coordena 27 núcleos regionais, abrangendo 170 municípios localizados nos
como se dá a construção dos saberes e das práticas que induzem ações e comportamentos, e estados do RS, SC, PR e SP, congregando em torno de 200 grupos de agricultores, 20 ONGs e
constroem as interações sociais no dia-a- dia, através do engajamento dos atores sociais, das 10 cooperativas de consumidores (CEPAGRO, 2013).
suas verdades e dos simbolismos que estão por detrás destas interações (Jovchelovitch, 2007).
Neste contexto, cada vez mais as iniciativas dos movimentos sociais, buscam um novo modelo Desta articulação, nasceu o Núcleo Litoral Catarinense, fundado em 2002. Sua atuação

1481 1482
geográfica abrange a faixa litorânea que inclui o município de Garopaba como limite ao sul e o processo de transição para a produção de alimentos agroecológicos que está sendo vivenciado
Joinville como limite ao norte de Santa Catarina. Esta área atualmente abrange 20 municípios, pelas famílias de agricultores. Este processo que tem como pano de fundo a agroecologia, e a
abrigando 14 grupos de agricultores rurais com 60 propriedades certificadas e a participação busca do certificado de autorização da comercialização de produtos orgânicos, é o fio condutor
de mais de 100 famílias integradas ao processo da Agroecologia. das falas, dos eventos e das ações que estão acontecendo na comunidade.

É neste contexto que encontramos no município de Nova Trento – SC, o Grupo Associada, O guarda-chuva da agroecologia abriga as questões mais importantes do cotidiano, pois está
comunidade que contribuiu para a nossa investigação. Formado por 10 famílias de pequenos diretamente imbricada com os conceitos e entendimentos sobre a natureza, sobre a ecologia e
agricultores, com um histórico familiar de trabalho com a cultura do fumo, o grupo é orientado associada diretamente ao processo de sustentabilidade.
e acompanhado pelo CEPAGRO3 e está vivenciando o processo de transição para a agroecologia.
Assim acompanhamos o processo das atividades voltadas para a adaptação das práticas e As crenças e valores partilhados pelos atores estão se interligando e transformando-se em
organização das ações do grupo para a obtenção da Certificação Participativa de Garantia. Este práticas sociais da comunidade dos agricultores familiares observados. A necessidade da
modelo de certificação foi uma experiência inovadora da Rede Ecovida, onde as próprias famílias adaptação dos processos e das propriedades aos normativos do processo de certificação
tem a responsabilidade de certificar as propriedades de outras famílias integrantes da Rede. participativa está transformando o cotidiano dos agricultores.

Este dispositivo tem como finalidade garantir a conformidade dos produtos orgânicos de acordo A “construção de um mundo de significados” está acontecendo no cotidiano da comunidade.
com as diretrizes da legislação brasileira. Este processo além de ser economicamente mais As situações vividas no mundo diário destas famílias começam a ter similaridades, que
viável para as famílias tem contribuído para o enriquecimento das relações pessoais entre os estão transformando agricultores acostumados a pensar isoladamente, em participantes da
membros da Rede. construção de um projeto comum, onde os saberes compartilhados estão criando identidades e
transformando padrões históricos de convivência e produção existentes na comunidade.
A participação nas atividades do Grupo é critério importante no processo de certificação, o
que tem gerado um fluxo de melhoria constante nas propriedades das famílias participantes. Para entender as representações sociais que foram associadas aos temas considerados como
As propriedades se transformaram em espaço de troca de conhecimentos e experiências na de maior relevância neste trabalho, usamos os mecanismos da Ancoragem e da Objetivação. De
produção agroecológica, e as visitas às propriedades vizinhas se transformaram em prática acordo com Moscovici (2003) a ancoragem é responsável por manter a memória em movimento,
instalada nos territórios. que neste processo é dirigida para dentro, está sempre colocando e tirando objetos, pessoas
e acontecimentos, que busca classificar de acordo com um tipo e rotula com um nome. A
Este é um diferencial dos processos de certificação convencional. Este modelo de certificação Objetivação é direcionada para fora (para outros), tira daí conceitos e imagens para juntá-los e
pressupõe o envolvimento com o grupo, com participação em reuniões mensais locais, bimestrais reproduzi-los no mundo exterior, para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é conhecido.
com o conselho de ética e, anuais com os demais grupos do Núcleo. Estes encontros criam Considerando estas premissas, a representação que se apresenta com mais clareza dentro do
vínculos entre as famílias de produtores e as instituições de apoio e geram um sentimento de processo investigado é referente à produção orgânica. A produção orgânica que, a princípio
pertencimento à causa da agroecologia. poderia ser um termo estranho para uma comunidade de agricultores, já faz parte do universo
consensual das famílias e está enquadrada dentro dos processos de categorização positiva,
3. Representações Sociais do Desenvolvimento Sustentável como uma “ancoragem do bem” onde tudo que é relacionado a este processo significa coisas
boas e positivas.
A questão fundamental para a formação das representações sociais da comunidade estudada é
3. CEPAGRO – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo.
A produção orgânica representa a vida e saúde, objetivada através de um modo natural e ecológico

1483 1484
de produzir alimentos saudáveis, preservando a natureza e contribuindo para um mundo mais Na questão da sustentabilidade, apesar da abstração e ambivalência do conceito, o termo
sustentável. Também está associada a culturas de cultivo da terra do passado e uma herança demonstrou fazer parte das representações e do imaginário social dos agricultores familiares,
para o futuro, confirmando as questões apontadas por Moscovici (2003) que tanto a ancoragem refletindo o universo consensual dos atores. A ancoragem da sustentabilidade também está
como a objetivação são processos que estão baseados na memória e em conclusões passadas. colada ao processo da agroecologia e associada ao “sustento”, palavra que faz parte do conjunto
Assim como o agroecologia é representada por uma cultura do bem, o modo de cultivo da terra de memórias dos agricultores e significa ter acesso às necessidades básicas.
convencional, principalmente pelas memórias passadas associadas à produção de fumo, está
classificada como cultura do mal e representa as doenças e a morte. A forma convencional de O sustentável é categorizado como um objetivo a ser alcançado, como se fosse uma forma de
cultivo da terra é objetivada através da associação com produtos químicos (venenos), da poluição vida melhor. É objetivado através da produção de alimentos mais limpos - sem utilização de
das águas e dos problemas de saúde ocorridos com as famílias do campo e dos consumidores produtos químicos - e saudáveis, do cuidado com os recursos naturais, retirando da natureza
de seus produtos. somente o necessário para o seu consumo - sustento - e reaproveitando o que for possível na
própria natureza. Nas representações da sustentabilidade também aparece à necessidade de
Com estas representações os agricultores estão num processo de transição da “produção do melhorias na saúde e educação, ainda grandes carências da população rural.
mal” para uma cultura de “produção do bem” e se consideram participantes de um grupo que
tem valores e identidades fortes entre si. Esta transição demonstra o constante movimento da As representações relativas ao desenvolvimento são familiares aos agricultores e o termo faz
ancoragem e da construção das representações sociais no espaço comunitário e no tempo/ parte do seu cotidiano, das suas falas e de suas expectativas. Neste conceito ficou mais claro o
história vivida. trabalho dos divulgadores científicos, principalmente a influência dos meios de comunicação de
massa a que os agricultores têm acesso e que “disponibilizaram” o entendimento do universo
Para a representação do termo Ecologia, um conceito construído dentro do universo reificado, reificado ao imaginário social. A ancoragem do desenvolvimento está ligada ao progresso e as
ainda persistem algumas dificuldades para a classificação no contexto familiar dos entrevistados. questões econômicas e também ao acesso a saúde e a educação. Sua categorização é positiva,
A transposição das coisas estranhas para o processo consensual é tarefa “realizada pelos uma “ancoragem do bem”, pois em princípio todo o processo de desenvolvimento é bom e sua
divulgadores científicos de todos os tipos, como jornalistas, comentaristas econômicos e objetivação acontece através da melhoria da qualidade de vida, chegada da tecnologia ao campo
políticos, professores, propagandistas que têm nos meios de comunicação de massa um recurso e principalmente com o acesso a bens materiais e conforto. No processo de classificação o seu
extraordinário” (Guareschi, 1998, p.212). “protótipo” de comparação é o nível de qualidade de vida e conforto existente nas cidades, o que
os leva a esperar mais facilidades no acesso à saúde e educação e que a chegada do progresso
No caso dos agricultores ligados à Rede Ecovida, a “decodificação” para o universo consensual traga mais oportunidades para a permanência dos jovens no campo.
pode ter sido facilitada pelas interações entre estes e as organizações que prestam apoio à
agricultura agroecológica na região. Em alguns momentos o processo de desenvolvimento foi também categorizado como negativo, e
objetivado através da associação do homem à devastação da natureza, à ganância do ser humano,
Assim o termo Ecologia, ainda “estranho”, já é associado e representado pelas atividades ligadas a utilização de produtos químicos e ao tamanho e nível de poluição das cidades. Também nesta
à agroecologia, ancorado na preservação da natureza e do meio ambiente. É categorizado com categorização podemos enxergar o trabalho dos divulgadores científicos – através dos meios
uma relação de coisas positivas e objetivado através do cuidado com as nascentes de água, da de comunicação – e dos amadores que trabalham esta questão nas reuniões de grupo, nos
preservação das matas, do cuidado com o lixo, e com a não poluição dos rios. A manutenção das encontros e treinamentos feitos com a comunidade.
matas também é considerada como uma herança para o futuro. A presença do homem não faz
bem para a natureza, pois quanto maior a sua presença, maior o nível de devastação. Na questão relativa ao território as associações realizadas não mantêm correlações com os
diversos aspectos enfatizados no conceito acadêmico moderno. No imaginário coletivo, o

1485 1486
território está associado mais diretamente aos limites físicos das cidades, dos distritos, e de utilização de agrotóxicos, como a responsável pelos grandes problemas de saúde que afetaram
suas propriedades, mas na prática vivenciada, os limites geográficos do território estão se as diversas famílias de agricultores durante muitos anos.
delineando em torno dos limites da produção agroecológica. A representação social é de que o
campo está isolado e depende das cidades e a vida no campo é mais penosa. Nas representações sociais destes agricultores, o desenvolvimento territorial sustentável é um
objetivo a ser alcançado através da produção de alimentos mais saudáveis, cultivados de um
Estas questões são objetivadas nos problemas com as estradas, nas dificuldades de acesso à modo ecológico que resultem em uma nova forma de vida, com mais cuidado com o meio natural,
saúde e educação, nas leis que prejudicam mais o pequeno produtor e no trabalho pesado do dia- atraindo para o campo o progresso socioeconômico e tecnológico, visando reduzir o isolamento e
a-dia. A categorização do território pode ser positiva quando se refere ao “seu” território que é a dependência do meio rural em relação às cidades.
bem cuidado e preservado e é negativa quando se refere ao território “de outros” onde estão as
cidades e outras propriedades rurais que não são bem cuidadas. Portanto, as representações Assim a agroecologia é associada à vida, e a produção de alimentos “limpos” é considerada
sociais têm aspectos paradoxais e contraditórios, quanto ao território. como um valor, já ultrapassando as fronteiras da simples questão produtiva. O processo está
rompendo as barreiras da agricultura convencional, transformando-se em um modo de vida, uma
A distribuição da população no território está diretamente relacionada à devastação (ancoragem). opção política e social de cultivo da terra.
Mais gente no território representa mais devastação, e as cidades são associadas a “formigueiros
de gente” (objetivação). Bibliografia

4 Considerações Finais Abramovay, R. (2007). Para uma teoria dos estudos territoriais. In: I Colóquio Internacional
sobre Desenvolvimento Territorial Sustentável. Florianópolis (SC). Disponível em: <http://www.
O grupo de agricultores que está envolvido com o processo de produção de alimentos orgânicos cidts.ufsc.br/>. Acesso em: 14/06/2014.
está criando uma identidade em torno de algumas crenças. A principal é que a produção orgânica
significa a vida, saúde e respeito com a natureza. Abramovay, R.(2012). Muito Além da Economia Verde. São Paulo: Ed. Abril, 2012.

Estas crenças estão direcionando as ações da comunidade e gerando novos simbolismos que Alvesson M.; Skoldberg, K. (2000). On reflexive interpretation: the play of interpretive levels. In:
começam a fazer parte do cotidiano das pessoas. Assim o trabalho da terra não é mais apenas Alvesson M.; Skoldberg, K. Reflexive Methodology: new vistas for qualitative research. (2 ed).
um ato de produzir alimentos, os discursos estão recheados de significados. Trabalhar com London: Sage, p. 263-280.
a lavoura orgânica é não ter dores de cabeça, vômitos e tonturas no retorno da lavoura. O
significado deste processo é trabalhar com mais saúde: significa a vida. Brundtland, Relatório (15.07.2013). Nosso Futuro Comum. Disponível em http://futurocomum.
spruz.com/?page=login&cmd=register.
Assim, através das propostas da Rede Ecovida para o processo da Certificação Participativa,
estas famílias estão criando laços de pertencimento e identidade em torno da causa da produção CEPAGRO (2013). Certificação Participativa de alimentos Agroecológicos. In: Coleção saber na
orgânica, transformando-os em atores de um movimento em busca de uma nova forma de prática. Florianópolis: Florimage.
produção.
CEPAGRO (15.06.2014). Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo. Disponível em:
Estas famílias de agricultores, ao mesmo tempo em que elegeram a produção orgânica como http://cepagroagroecologia.wordpress.com/.
um caminho para uma vida melhor, apontam a agricultura convencional com suas técnicas e

1487 1488
CIDTS (2007). Colóquio Internacional sobre Desenvolvimento Territorial Sustentável. representações sociais. In: Guareschi, P. A; Jovchelovitch, S. Textos em representações sociais.
Florianópolis. Colóquio Internacional sobre o Desenvolvimento Territorial Sustentável. Disponível Petrópolis, RJ: Vozes, p. 63-85.
em http://cidts.ufsc.br. Acesso em 19 de set 2014.
Leff, E. (2009). Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. (Trad.
ECOVIDA (08/08/2013). Rede Ecovida de Agroecologia . Disponível em: http://www.ecovida. Orth L.M. E). (7 ed.). Petrópolis, RJ: Vozes.
org.br/category/publicacoes/cartilhas.
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário (08.08.2013). Política de Desenvolvimento do
Escobar, A. (1996). Constructing Nature: Elements for a postcultural political ecology. In: Peet. Brasil Rural. Disponível http://portal.mda.gov.br/portal/condraf/.
R. E Watss.m. (eds.). Liberation Ecologies: Environment, development, social movements. New
York: Routledge, p.46 -68. MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário (08.08.2013). Atas de Reunião. Disponível em:
http://portal.mda.gov.br/portal/condraf/institucional/atas.
Farr, R. M. (1998). Representações sociais: A Teoria e sua História. In: Guareschi, Pedrinho A;
Jovchelovitch, S. Textos em representações sociais. (4 edição). Petropólis, RJ: Vozes, p. 31-59. Menezes, E. C. O. ; Serva, M.(2012). Desenvolvimento territorial em debate: estrutura e
organização da pesca artesanal na Grande Florianópolis. In: Textos de Economia, (v. 15). p. 11-
França Filho, G. C.(2002). Terceiro Setor, Economia Social, Economia Solidária e Economia 40.
Popular: traçando fronteiras conceituais. In: Bahia Análise & dados. Salvador: SEI, (v.12, nr. 1).
p. 9-19. Minayo, M.c. S. O. (1998). Conceito das Representações Sociais dentro da Sociologia Clássica.
In: Guareschi, P. A; Jovchelovitch, S. Textos em representações sociais. (4 edição). Petrópolis,
Guareschi, P. A. (2007) Psicologia Social e Representações Sociais: avanços e novas articulações. RJ: Vozes, p. 89-111.
In: Veronese, M.v; Guareschi, P.a. (org.), Psicologia do Cotidiano: Representações Sociais em
ação. Petrópolis, RJ: Vozes, p. 17-40. Moscovici, S. (2003). Representações Sociais: investigações em psicologia social. Rio de
Janeiro: Vozes.
Guareschi, P. A.(1998). “Sem dinheiro não há salvação”: Ancorando o bem e o mal entre
Neopentecostais. In: Guareschi, P. A; Jovchelovitch, S. Textos em representações sociais. (4 Pecqueur, B. (2003). A guinada territorial da economia global. Eisforia/ UFSC. (v. 1, n.1).
edição). Petropólis, RJ: Vozes, p.191 -225. Florianópolis: PPGAGR.

Jean, B. (2010). Do desenvolvimento regional ao desenvolvimento territorial sustentável: rumo Rover, Oscar J. (2011). Agroecologia, mercado e inovação social: o caso da Rede Ecovida de
a um desenvolvimento territorial solidário para um bom desenvolvimento dos territórios rurais. Agroecologia. In: Ciências Sociais Unisinos. São Leopoldo, (v. 47 n. 1). p. 56-63.
In: Vieira. Paulo Freire et al (orgs.). Desenvolvimento territorial sustentável no Brasil: subsídios
para uma política de fomento. Florianópolis: APED: Secco. Sachs, I. (1993). Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente.
(trad. Lopes M.). São Paulo: Studio Nobel.
Jovchelovitch, S. (2007). Apresentação. In: Veronese, M.v; Guareschi, P.a. (org.), Psicologia do
Cotidiano: Representações Sociais em ação. Petrópolis, RJ: Vozes. p.7-8. Sachs, I. (2004). Desenvolvimento includente, sustentável e sustentado. Rio de Janeiro:
Garamond.
Jovchelovitch, S. (1995). Vivendo a vida com outros: intersubjetividade, espaço público e

1489 1490
Sachs, I. (2007). Rumo à ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvimento. Vieira, Paulo Capítulo 147
(org.). São Paulo: Cortez.

Sachs, I. (2009). A Terceira Margem: em busca do ecodesenvolvimento. São Paulo: Companhia


La ‘vulnerabilidad’ de los grupos vulnerables: Una mirada desde las
das Letras. organizaciones sociales

Santos, B.de S.(1999). Um discurso sobre a ciência. (11 ed.). Porto: Afrontamento. Karem Sánchez de Roldán1

Santos. L.c. R. (2005). Certificação Participativa em Rede: um processo de certificação adequado


à agricultura familiar agroecológica no sul do Brasil. Florianópolis. 1.Introducción

Souza Filho, E.a. (2004). Análise de Representações Sociais. In: Spink, Mary J. (org.). O De cara el siglo XXI América Latina se enfrenta a múltiples desafíos en los ámbitos económico,
conhecimento no cotidiano - As representações sociais na perspectiva da psicologia social. São social y medioambiental. Sortearlos de forma simultánea y efectiva se traduciría, en principio,
Paulo: Brasiliense, p. 109-145. en trasformaciones conducentes al reconocimiento de un nivel de desarrollo superior al de
encontrado en el punto temporal de partida. En el contexto del diseño de políticas públicas, de la
Veiga, J. E. (2008). Desenvolvimento Sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: investigación académica y de los enfoques del sector productivo de la economía los debates sobre
Garamond. qué, cuál, cómo priorizar una perspectiva disciplinar y conceptual sobre otra son interminable.
En raras ocasiones se producen consensos que convoquen a todas las partes involucradas: el
Vergara, S. C. (2010). Metodologia Reflexiva. In: Vergara, S.c. Métodos de pesquisa em Estado, la sociedad civil, el sector productivo empresarial y la academia.
Administração. (4 ed.). São Paulo: Atlas, p.172-181.
La prevalencia de las soluciones económicas como respuesta a los desafíos económicos, sociales
Villardi, B.q. (2004). Estudo reflexivo sobre processos de mudança através de aprendizagem y medioambientales ha mostrado con creces sus limitaciones y consecuencias negativas.
coletiva docente. Tese de doutorado. PUC – RJ. Así, por la fuerza de estas realidades, la búsqueda de alternativas y de nuevas prácticas han
permitido visibilizar la agudeza de problemas apenas descritos, insuficientemente comprendidos
y difícilmente explicados. Vulnerabilidad, desigualdad, inequidad, entre otros, se suman a la
pobreza consuetudinaria en América Latina como situaciones que deben superarse en el logro
del desarrollo sostenible. Por otra parte, situar en el centro de las agendas de desarrollo estos
problemas, además de aquellos de orden eminentemente económico, arroja como uno de sus
resultados el llamado de atención sobre estrategias y recursos –más sociales y culturales que
económicos-- hasta ahora no considerados como centrales en la ecuación de las soluciones.
Ejemplo de ello son las nuevas formas de organización y de trabajo no solo en los ámbitos
productivos de la economía en los sectores públicos, privados o mixtos. Lo son también la
revitalización de antiguas y nuevas formas de organización social cuyos orígenes y dinámicas
encuentran sus raíces en el reconocimiento cabal de la diversidad social latinoamericana; en la
1. Facultad de Ciencias de la administración. Universidad del Valle, Cali – Colombia. Email: karem.sanchez@correounivalle.edu.co

1491 1492
identificación de los desafíos específicos que enfrentan los grupos sociales que la conforman; y en realidades se encuentran la configuración de las estructuras sociales, la distribución del poder
la confrontación académica e investigativa a los enfoques analíticos hegemónicos y totalizantes y, en últimas, la naturaleza de las relaciones sociales que marcan la pauta para para comprender
indiferentes a las especificidades de los contextos sociales y culturales nacionales y locales. factores intervinientes en la fragmentación o cohesión social . Es este el sustrato en donde
se cristaliza o diluye la capacidad de agencia tanto de individuos como de organizaciones, las
Este texto, discute desde una perspectiva teórica las nociones y el vínculo existente entre posibilidades de la participación social, en últimas, el ejercicio de la ciudadanía y la consolidación
desarrollo y vulnerabilidad con énfasis en la dimensión social. Examina los enfoques conceptuales o quiebre de la democracia.
subyacentes en la identificación de los llamados grupos sociales vulnerables y en la definición
de estrategias conducentes a la superación de la condición de vulnerabilidad. Establece algunos Desde una perspectiva analítica, el estudio de cada uno de estos fenómenos (pobreza, exclusión,
aspectos estructurantes de una mirada alternativa a la vulnerabilidad desde los mismos grupos desigualdad, inequidad y vulnerabilidad), arroja luces y alternativas de solución sobre caminos
sociales y provee ejemplos, a partir del caso colombiano, del tránsito posible a formas de posibles para su superación –algunos, como la pobreza, reciben mayor atención que otros. La
organización social constituidas en actores insoslayables en la arena política. Finalmente, centra formulación de iniciativas públicas o privadas bajo la forma de políticas, programas y proyectos
sus conclusiones en torno a la importancia de dirigir la mirada de los estudios de la organización configuran el intrincado mundo de las acciones para el logro del desarrollo social. Desde una
y la administración hacia estas entidades poniendo a prueba los enfoques teóricos y prácticos perspectiva relacional resulta mucho más complejo establecer las conexiones causales que
vigentes, examinando sus alcances y limitaciones e indagando por enfoques novedosos que vinculan las múltiples facetas de una misma realidad social. Intentar establecer qué fenómeno
respondan a las especificidades de sus problemáticas y contextos de acción. determina o a cuál otro, conduce a una espiral en la cual las causas se convierten en efectos,
y estos a su vez en nuevas causas en relación sinérgica de retroalimentación. Con propósitos
2. Desarrollo y vulnerabilidad social descriptivos, comprensivos y hasta cierto punto explicativos, es preciso elegir de entre este
entramado conceptual un punto partida. Para efectos del argumento que aquí se presenta, el foco
Pobreza, exclusión, desigualdad, inequidad y vulnerabilidad son algunas de las nociones que han está puesto en la ‘vulnerabilidad’. El supuesto de base consiste en considerar la vulnerabilidad
delimitado el espacio teórico y el campo de prácticas por la vía de programas y proyectos de como la noción y condición abarcante de las otras. Se es vulnerable a la pobreza, a la exclusión,
variado origen para el Desarrollo Social en América Latina (CEPAL, 2015, 2017; Galvis-Aponte a la desigualdad y a la inequidad.
& Alba-Fajardo, 2016; Georgalakis, Jessani, Oronje, & Ramalingam, 2017). Cada uno de estos
términos –polisémicos en su naturaleza—tiene como referente las circunstancias y condiciones La interdependencia entre estos fenómenos se ilustra de buena manera en un documento
en las que se desenvuelven las vidas de miles de personas en sus particulares contextos reciente de la CEPAL. (Barcenas, 2016) En la discusión sobre los ejes de la desigualdad en
económicos, sociales, culturales, políticos y ambientales. Estas nociones, estructurantes en sí América Latina salen a relucir aquellas características de apuntan a identificación de los grupos
mismas de redes conceptuales funcionales a propósitos descriptivos, analíticos y propositivos, sociales vulnerables. El primer eje y considerado el más básico es el del clase social o estrato
han estado en el centro de la configuración de las agendas desarrollo regionales, nacionales y socioeconómico determinado por la matriz económico y productiva. La estructura de la propiedad,
sub-nacionales desde hace más de cuatro décadas. la distribución del poder, de los recursos y activos productivos son sus elementos centrales los
cuales remiten a la estructura social dominante. La desigualdad en el ingreso incide en el acceso
El enfoque metodológico dominante para el estudio de estos fenómenos se ha caracterizado a la educación, la salud y el mercado de trabajo. Otros de los ejes estructurantes de la matriz de
por el énfasis de la aproximación cuantitativa (Domínguez & Martín, 2006; Ruiz Rivera, 2012; desigualdad son el género, la etnia, la raza, el momento en el ciclo de vida en el cual se encuentra
Sotelsek, 2006). A partir de los datos generados por las oficinas nacionales de estadísticas, la el individuo (la infancia, la juventud, la vida adulta y la vejez) y la heterogeneidad territorial
construcción de indicadores de pobreza, exclusión y desigualdad, si bien proporcionan una visión (urbano, rural). Al vincular la desigualdad social y su incidencia en ejercicio de derechos, el
aproximada del estado de cosas en el conjunto, ha desviado la atención de otras dimensiones tanto acceso a oportunidades, el desarrollo de capacidades y el trato el documento plantea:
o más importantes invisibilizándolas. Entre los aspectos subyacentes no cuantificables de estas

1493 1494
‘Entre los ámbitos en los que se manifiesta y reproduce la desigualdad social, (…) se
consideran los siguientes: ingresos y trabajo, protección social y cuidado, educación,
salud, vivienda y servicios básicos (agua potable, saneamiento y electricidad). Además de
estos, que remiten a componentes fundamentales del desarrollo social, la participación
social constituye otro ámbito importante, relativo a la capacidad diferenciada de agencia
(o influencia) a nivel individual y colectivo, en la esfera pública y privada, y al goce de
derechos y de autonomía para tomar decisiones.’ (Barcenas, 2016:15)

La síntesis de Ruiz Rivera (2012), indica que la vulnerabilidad social se define siempre en relación
con algún tipo de amenaza de origen físico o antropogénico; la unidad de análisis (individuo,
hogar o grupo social) se define como vulnerable ante una amenaza específica o es vulnerable a
estar en una situación de pérdida (de salud, ingreso, capacidades básicas entre otros elementos)
(Ruiz Rivera, 2012:64)

3. La vulnerabilidad de los grupos vulnerables

Existe una abundante literatura sobre vulnerabilidad social, --definiciones, conceptos asociados,
ámbitos de incidencia y alternativas de superación --, referida a América Latina. Una fuente
importante por el alcance de su influencia, la continuidad en sus principales líneas temáticas
y el carácter técnico de los estudios es la CEPAL (Busso, 2001; Pizarro, 2001; Sojo, 2004) .
La relevancia de este enfoque reside en su capacidad de incidir en las agendas de desarrollo a
nivel de los gobiernos nacionales, quienes adoptan como referente y marco para la formulación
de políticas sociales sus lineamientos. Una revisión a las redes conceptuales asociadas a
‘vulnerabilidad’ identificadas en los documentos de autores adscritos a la CEPAL se presenta en
la Tabla 1: Vulnerabilidad social, definiciones y componente: El enfoque de la CEPAL.

En el marco de una prolífica literatura, otros trabajos describen y analizan la articulación ente
vulnerabilidad y fenómenos asociados: la protección de los derechos humanos (Beltrão, Monteiro
de Brito Filho, J. Gómez, Pajares, Paredes, & Zúñiga, 2014), la pobreza (Galvis-Aponte & Alba-
Fajardo, 2016), la exclusión social (Labrunée & Gallo, 2005; Sotelsek, 2006), la desigualdad

1495 1496
social (González, 2009; Moreno Crossley, 2008).
La perspectiva de vulnerabilidad discutida en la sección anterior se origina en los centros de
El espacio de intersección de estos estudios se encuentra en la delimitación de una categoría poder y de toma de decisiones de la política pública. Encuentra también expresiones en las
de análisis, los grupos sociales vulnerables. Niños y adolescentes, personas con discapacidad, acciones de organizaciones no gubernamentales internacionales y en sectores empresariales
género, pueblos originarios y afrodescendientes, orientación e identidad sexual, migrantes, quienes en el contexto del ejercicio de la responsabilidad social empresarial hacen suya esta
refugiados, desplazados, minorías étnicas, entre otros son algunas de las variables adscritas a misma perspectiva.
la población vulnerable. El análisis de los planes de desarrollo nacionales en Colombia considera
en la sección relativa a las políticas sociales como grupos vulnerables los siguientes la infancia El intento por identificar una mirada alterna tanto en su conceptualización como en sus
la adolescencia y la juventud, las mujeres y las familias, los discapacitados, la población de lineamientos para la acción obliga a mirar el fenómeno en la otra cara de la moneda. Esto
la tercera edad, la población desplazada por el conflicto armado, las minorías sexuales, los es, desde la perspectiva de aquellos que son considerados los grupos sociales vulnerables,
campesinos y las poblaciones rurales, la población afrocolombiana y los indígenas (Sánchez de usualmente al margen de los ejes y núcleos del poder. Una entrada posible consiste en establecer
Roldán, 2017, pp. 202–203). Un examen a tan extenso listado sugiere que la única población no los vínculos entre los grupos sociales y las organizaciones sociales que encuentran su origen en
vulnerable son los hombres blancos adultos, quienes generalmente se encuentran en condiciones las condiciones que generan vulnerabilidad. Las entida se erigen en entidades que desde la base
de ejercer el poder. enfrentan los riesgos que definen las condiciones de vulnerabilidad.

Al arrojar luces sobre el contraste entre las aproximaciones victimistas de la vulnerabilidad Tomando como referente el caso colombiano, la Tabla 2 establece una tipología que ilustra la
y aquellas que se proponen constructivas y reparadoras (Beltrão et al., 2014) destacan el amplitud alcance y diversidad de las organizaciones sociales. En ella, las organizaciones sociales
carácter acumulativo de las condiciones de vulnerabilidad y su incidencia en la fragmentación son instrumentos en la construcción de la ciudadanía y del ejercicio pleno de los derechos.
social. Sugieren como alternativas posibles la mejora en la capacidad de respuesta, reacción y
recuperación frente las condiciones de vulnerabilidad y restauración de los derechos que ellas
vulneran. Subyace en esta perspectiva el interrogante respecto a qué actores deben desempeñar
su rol en la mejora de estas capacidades. En el marco de un estado social de derecho es tradición
demandar del estado y sus instancias, eficiencia, eficacia y efectividad en el despliegue de esas
capacidades. Sin embargo, el estado siempre queda en deuda frente a esta responsabilidad. La
identificación y análisis de los factores que intervienen en esta debilidad del estado de cara a la
vulnerabilidad es una tarea pendiente que se escapa del alcance de este texto.

Por lo pronto, se puede argumentar que dada la conceptualización dominante sobre vulnerabilidad
(debilidad, incapacidad, inseguridad e indefensión) y los grupos sociales afectados por la
misma, resulta natural e imperativo demandar del estado el cumplimiento de su deber. Cabe
preguntarse, como el problema de la vulnerabilidad es visto desde el ángulo de los aí llamados
grupos vulnerables. La siguiente sección sugiere y examina la que puede ser una perspectiva
alternativa que se encuentra y dialoga con la predominante.

4. Una mirada alternativa: De los grupos sociales vulnerables a las organizaciones sociales

1497 1498
el impulso a la actividad productiva de bienes y servicios tradicionales, pero también de aquellos
que la sociedad de la cuarta revolución industrial demanda y ofrece. En este contexto, antiguas
y nuevas formas de producción, circulación y mercado coexisten agudizando contradicciones y
contrastes al mejor estilo de lo que Nestor García Canclini denominara en los años 1990 como
‘las sociedades híbridas’ con las subsecuentes formas inéditas de organizaciones y del trabajo
y s y su organización en el marco de la actividad productiva.

Sin embargo, no es menos cierta la imposibilidad de continuar ignorando las relaciones


intrínsecas de influencia mutua entre esa dimensión económica y sus correlatos sociales y medio
ambientales.

En esta perspectiva, se impone encontrar un nuevo equilibrio entre los tres componentes del
desarrollo sostenible. Este exige integrar en los análisis y propuestas los hallazgos existentes y los
aún muchos por generar en torno a los ámbitos sociales y medio ambientales. La configuración de
una agenda de investigación a futuro que responda a los desafíos que avizora el siglo XXI deberá
girar en torno a la interrogación sobre nuevas formas del que hacer económico, en particular en
lo que se refiere a la producción, el trabajo y la organización. Pero, igualmente, deberá poner a
Es en el nivel meso y micro de la sociedad colombiana y latinoamericana en donde reside esa prueba la capacidad comprensiva, explicativa y propositiva de los enfoques hegemónicos para
capacidad de organización y agencia enraizada en lo más profundo del sentido de comunidad, dar cuenta, como hasta hoy lo han hecho, de las especificidades y complejidades del contexto
confianza, acción colectiva y solidaridad. latinoamericano.

En suma, la construcción de tejido social en contexto sociales de alta fragmentación. Más Lo que está en juego, entonces, es el rebalanceo de la correlación de fuerzas y poder entre quienes
allá de las oportunidades y posibilidades, el reconocimiento de los desafíos y riesgos que las tiene la capacidad de generar e imponer el conocimiento con sus respectivos planteamientos
organizaciones sociales enfrentan es el antídoto contra una visión utópica y cándida sobre el conceptuales, teórico y prácticos. Se trata por fuerza, de una tarea de orden político en el más
papel que pueden desempeñar en el desarrollo tanto económico, como social y ambiental. He amplio sentido de la expresión.
aquí el campo de posibilidad en el avance y profundización de los estudios de la organización al
incorporar en su agenda de investigación este tipo particular de formación social organizada. Las consideraciones expuestas en las secciones anteriores sobre ‘vulnerabilidad’, ‘los grupos
sociales vulnerables’ y ‘las organizaciones sociales’ ilustran el punto. Adoptar una definición
Los roles estratégicos que pueden desempeñar las organizaciones sociales y las claves de su determinada de vulnerabilidad –es decir, adoptar la visión de un actor o sector particular-- e
acción, encierran tanto oportunidades como desafíos y riesgos. imponerla como trasfondo estructurador de respuestas a la situación problemática bajo la forma
de planes de desarrollo gubernamentales, políticas públicas, programas y proyectos públicos
5.Conclusiones o privados, es un hecho con consecuencias sociales y políticas no despreciables. Genera la
posibilidad de sostener estructuras y acciones sociales que apuntalan de forma implícita, a
Es innegable la urgencia del fortalecimiento de la dimensión económica en los niveles macro y veces explícita, las condiciones generadoras de esa misma vulnerabilidad. Debilita los esfuerzos
micro en el contexto latinoamericano para alcanzar el desarrollo sostenible. Va de la mano con ello hacia el logro de una sociedad en el reconocimiento de su diversidad más equitativa, justa, e

1499 1500
incluyente. Aleja la posibilidad de un mundo mejor para todos, de la realización genuina del
desarrollo sostenible y sensible las especificidades del contexto, en este caso el latinoamericano. Galvis-Aponte, L. A., & Alba-Fajardo, C. A. (2016). Dinámica de la pobreza en Colombia:
vulnerabilidad, exclusión y mecanismos de escape. Documentos de Trabajo Sobre Economía
La imposición de una perspectiva sobre ‘vulnerabilidad’ y la identificación de ‘grupos sociales Regional. Banco de La República, 244, 1–56. Retrieved from http://repositorio.banrep.gov.co//
vulnerables’ claramente determinados orienta el quehacer investigativo sobre el interrogante handle/20.500.12134/6945
sobre el auto – reconocimiento de esos mismos grupos en tanto que vulnerables. Las evidencias
empíricas analizadas sugieren visiones y situaciones alternativas que resultan en la identificación Georgalakis, J., Jessani, N., Oronje, R., & Ramalingam, B. (2017). The social realities of
de recursos de orden social y cultural alejados del enfoque ‘oficial y ortodoxo de vulnerabilidad’. knowledge for development: Sharing lessons of improving development processes with
Tienden también a revelar capacidades de empoderamiento y acción con el potencial de desafiar evidence. The social realities of knowledge for development: Sharing lessons of improving
estructuras de poder vigentes mostrando otros caminos posibles. Todo ello se concreta y development processes with evidence. Retrieved from https://opendocs.ids.ac.uk/
formaliza en el surgimiento de organizaciones sociales. opendocs/bitstream/handle/123456789/12852/Social_Realities_of_Knowledge_for_
Development_FullIssue.pdf?sequence=1%0Ahttps://opendocs.ids.ac.uk/opendocs/bitstream/
Referencias handle/123456789/12852/Social_Realities_of_Knowledge_for_Developmen

Barcenas, A. (2016). La matriz de la desigualdad social en América Latina. Cepal, 96. González, L. (2009). Lecturas sobre vulnerabilidad y desigualdad social.

Beltrão, F., Monteiro de Brito Filho, J. Gómez, C. I., Pajares, E., Paredes, F., & Zúñiga, Y. (2014). Labrunée, M. E., & Gallo, M. E. (2005). Vulnerabilidad social: el camino hacia la exclusión. Trabajo
Derechos Humanos de los Grupos Vulnerables. Manual (RDHES). Barcelona: Universitat Pompeu Decente: Diagnóstico y Aportes Para La Medición Del Mercado Laboral Local. Mar Del Plata,
Fabra. 1996-2002, 133–153. Retrieved from http://nulan.mdp.edu.ar/716/1/01207f.pdf

Busso, G. (2001). Vulnerabilidad social: nociones e implicancias de políticas para latinoamerica Moreno Crossley, J. C. (2008). El concepto de vulnerabilidad social en el debate en torno a la
a inicios del siglo xxi. Seminario Internacional Las Diferentes Expresiones de La Vulnerabilidad desigualdad: problemas, alcances y perspectivas. Observatory on Structures and Institutions of
Social En América Latina y El Caribe, 39. Retrieved from http://www.redadultosmayores.com. Inequality in Latin America, WORKING PA, 29–32. Retrieved from http://www.sitemason.com/
ar/buscador/files/ORGIN011.pdf files/chFeN2/Denilde_Holzhacker.pdf

CEPAL. (2015). Desarrollo Social Inclusivo. Director, 182. Retrieved from http://repositorio. Pizarro, R. (2001). La vulnerabilidad social y sus desafíos: una mirada desde
cepal.org/bitstream/handle/11362/39100/4/S1600099_es.pdf América Latina. Serie estudios estadísticos y prospectivos. Retrieved from
http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/4762/S0102116_
CEPAL. (2017). Brechas, ejes y desafíos en el vínculo entre lo social y lo productivo, 182. es.pdf;jsessionid=5EB6316C346859D7B1C71D8680EB5C61?sequence=1%0Ahttp://
Retrieved from https://www.cepal.org/es/publicaciones/42209-brechas-ejes-desafios- repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/4762/S0102116_
vinculo-lo-social-lo-productivo es.pdf;jsessionid=F94EE6CA3F70BC2A40ED610774D3228B?sequence

Domínguez, J., & Martín, A. M. (2006). Medición de la pobreza: una revisión de los principales Ruiz Rivera, N. (2012). La definición y medición de la vulnerabilidad social. Un enfoque normativo.
indicadores. Revista de Métodos Cuantitativos Para La Economía y La Empresa, I(2), 27–66. Investigaciones Geográficas, (77), 63. https://doi.org/10.14350/rig.31016
https://doi.org/1886-516X

1501 1502
Sánchez de Roldán, K. (2008). Capital Social e Inclusión Social en el Valle del Cauca, Colombia. Capítulo 148
Cali.

Sánchez de Roldán, K. (2017). Land of contract, context of exclusion : social capital in policy
Formas de organización autóctonas y prácticas de redistribución económica: un
formulation: Valle Del Cauca - Colombia, 1998-2008. The Hague: Erasmus Univesity of análisis desde los fundamentos teóricos de la economía social-solidaria
Rotterdam. Retrieved from http://repub.eur.nl/pub/100167
Ronald Yonny González Medina1 y Leonardo Solarte Pazos2
Sojo, A. (2004). Vulnerabilidad social y políticas públicas.

Sotelsek, D. (2006). Exclusión social y pobreza en américa latina, 111–146. Introducción

La figura legal con la que se constituyen los cabildos indígenas en Colombia, corresponde a una
división territorial establecida por la Ley con autonomía y propiedades de ejercicio de funciones
públicas para la población indígena. Tanto su forma de gobierno como los mecanismos de
intercambio económico en su interior se alejan de las estructuras de gobierno y de mercado
tradicionalmente definidas por la filosofía política y la económica liberal.

Sin embargo, algunos de sus mecanismos de redistribución económica guardan semejanza con
aquellos planteados por la economía social (Enjolras, 2004; A. Evers, 1995; Adalbert Evers &
Laville, 2004; J-L. Laville & Eme, 2004; J.-L. Laville, 1997), aun cuando la cosmovisión indígena
latinoamericana sobre la que se instituyen, es muy diferente de las explicaciones teóricas basadas
en la filosofía liberal comunitarista o en las tradiciones antropológicas (el “don” maussiano, p.e),
que se utilizan para justificar comportamientos ajenos al egoísmo utilitarista (Hall & Gay, 2003;
Mauss, 2007).

El interés de nuestra ponencia es reflexionar hasta dónde, la naturaleza y características de


algunas de estas formas transaccionales vigentes dentro de los cabildos indígenas, pueden ser
asociadas con las explicaciones teóricas justificativas de la economía social, esencialmente las
que se fundamentan en las ideas de Polanyi (Polanyi, 1977, 1993; Polanyi & Leal, 2004) y en
las visiones anti-utilitaristas basadas en la solidaridad o la prevalencia de la comunidad sobre el
individuo liberal (Sandel, 2000).

Método

1. Estudiante Doctorado en Administración (C.). Email: ronald.gonzalez@correounivalle.edu.co


2. Profesor Universidad del Valle. Email: leonardo.solarte@correounivalle.edu.co

1503 1504
A partir de los fundamentos teóricos de la denominada “economía social”, desde el punto de la •Un rechazo a la idea de que el intercambio de mercado es la única manera eficaz de satisfacer
filosofia política liberal, se hace una comparación de carácter epistemológico con los principios las necesidades de los individuos y a la visión utilitarista liberal del bienestar. En su concepto,
que orientan ciertas prácticas económicas y sociales en los resguardos indígenas en Colombia. existen aspectos colectivos que el mercado no está en capacidad de garantizar, ni de tomar en
La comprensión de los elementos de la cosmovisión indígena han sido tomados de textos cuenta.
autóctonos y por medio de datos provinientes de entrevistas y observación participante en el
marco de una investigación doctoral en la Universidad del Valle. •Igualmente, una oposición al modelo de economía planificado y a la idea de un Estado autoritario
que gestiona y planifica racionalmente en reemplazo del mercado. Esta idea las aparta de la
Algunos elementos epistemologicos y axiologicos distintivos en las dos formas de pensamiento. perspectiva marxista del Estado.

Sobre la economía social y solidaria como critica liberal •Una oposición a la visión anglosajona del tercer sector, que plantea que los aspectos de interés
de los individuos que no pueden ser garantizados por el Estado, ni por el mercado, deben ser
La etiqueta de economía social se utiliza de manera muy amplio. La definición ampliamente aportador mediante una tercera vía. Esta vía se soporta bajo el concepto de la filantropía, en la
utilizada en Europa manifiesta que está conformada básicamente por organizaciones cooperativas, tradición liberal, o de la caridad y del asistencialismo. Esta característica restringe el criterio
mutuales y por organizaciones sin ánimo de lucro (OSAL) (J. Defourny, 1992); sin embargo en el de rentabilidad en las organizaciones que se ubican dentro de este campo, tal como las OSAL.
Reino Unido el concepto de economía social no es utilizado (Kendall, Paton, & Thomas, 1992).
•El principio de solidaridad que rige la economía solidaria no se opone a lo material, ni a la
Dentro del proceso de construcción del Estado Liberal, los orígenes de la economía social se ganancia económica, pero reivindica el derecho de aquellas organizaciones de mantenerse
ubican en el siglo XIX, en las asociaciones de trabajadores de la época y en los trabajos de Saint- alejadas del mercado económico. El concepto de solidaridad se manifiesta mediante la capacidad
Simon, Buchez, Owen, Fourier, Proudhon, sobre el socialismo utópico y el social cristianismo. de subordinar el interés individual al bien común.
Igualmente en la idea de economía social de Charles Dunoyere y la “escuela solidarista” de la
solidaridad, dentro de la cual se encuentran Ott, Gide y la escuela de Nimes (J. Defourny, 1992; Dentro de la economía social y solidaria se perciben diversos matices y corrientes. Aunque todas
Favreau, 2005). rechazan el predominio del interés individual sobre el colectivo. Algunas explicaciones sobre el
origen de la asociatividad son compatibles con la idea de bien común liberal, construida sobre la
Existen múltiples definiciones de la economía social. Una definición general, tomada de Favreau base de la racionalidad colectiva.
(2005, p. 12), contiene los siguientes conceptos: Empresas cuya finalidad no está dirigida
a satisfacer los intereses de los dueños de capital y buscan cumplir funciones sociales; Los De manera formal se acepta que las asociaciones que comprenden este tipo de organizaciones se
actores se asocian para responder a las necesidades de base de un grupo o de una colectividad rigen por: un propósito de servicio colectivo a sus miembros en vez de beneficio; Administración
local; Poseen estructuras y reglas orientadas a la participación democrática y no reparten independiente; Proceso de toma de decisiones democrático; y prioridad hacia las personas en
el poder en función del capital; Actividades colectivas de producción de bienes o servicios de vez que a la distribución de beneficios (J. Defourny, 1992). Sin embargo, esta definición no niega
mercado, a partir de un trabajo de cooperación entre asociados; El patrimonio y los excedentes la posibilidad de rendir beneficios económicos a sus miembros.
son colectivos.
Características diferenciadoras que la literatura plantea sobre la naturaleza del fenómeno de la
Por su parte, la economía solidaria reúne una serie de corrientes de pensamiento social y asociación.
económico que, según Caillé (2005) comparten los siguientes elementos (Caillé, 2005):
•Plano axiológico de la justicia liberal a la acción colectiva: Rechazo al utilitarismo… la dificultad

1505 1506
para explicar la acción colectiva como la suma de intereses egoístas individuales (Carvalho & Canoas, 2015; Nacional, 2014; Wilches-Chaux, 2005) .
Dzimira, 2000; J.-L. Laville, 1997). Si bien la solidaridad puede explicar a partir del utilitarismo,
reduce la explicación de la asociación a los resultados maximizadores de la economía y deja por Si se quisiera establecer un orden de importancia se diría que lo fundamental es la tierra o el
fuera una dimensión asociativa humana que conlleva un proceso mental y simbólico, que no se territorio, seguido de la comunidad y en tercer lugar las autoridades del cabildo. Cada cabildante
justifica por el discurso de la razón (Caillé, 2005; Chanial & Laville, 2004). tiene asignado una porción de tierra para que la trabaje. TODO gira en torno al plan de vida, el cual
es un concepto netamente indígena que no es equivalente al concepto de planificación racional
•Reinterpretación del sentido y rol del intercambio entre los individuos (el principio de occidental. Los cabildos son la forma de “administración” de los planes de vida, y regularmente
reciprocidad): el “motor” que posibilita amarrar las diferentes dimensiones en función del atienden los asuntos de defensa del derecho propio: educación, salud, justicia.
intercambio entre los individuos y trascender la dimensión económica utilitarista como explicación
de la naturaleza de los intercambios, es la idea de don y no la de utilidad. El don entraña (en la El concepto de “derecho propio” ofrece una síntesis de los principios sobre los que se basan
tradición de Mauss: “dar-recibir-devolver”) un principio de reciprocidad, al cual los seguidores las relaciones sociales y económicas. Todas las personas interactúan dentro del territorio o “la
de la corriente de Mauss anclan y subordinan el intercambio de mercado, concediéndole una gran casa” o “Yat Wala”, se debe respetar, proteger y agradecer a los demás, esto configura el
connotación que va más allá del mero intercambio de bienes (Caillé, 2005). En esta perspectiva derecho propio, o la ley de origen. Los principios del “derecho propio” son: La reciprocidad, la
el don es antiutilitario, en el sentido exclusivo que le asigna la economía, y es antiacumulativo, diversidad, la territorialidad, la complementariedad, la colectividad, y el territorio (Peña Guetio,
en la medida en que lleva implícito el desprendimiento de los individuos de objetos importantes. Capaz, & Cucuñame, 2010).
Además afirma Carvalho y Dzimira de que lo que está en juego no es ni el valor de uso, ni el de
cambio en los objetos sino el valor de las personas (Carvalho & Dzimira, 2000). Para la cultura Nasa las prácticas económicas de subsistencia se basan en una cosmovisión
propia, en relación con la territorialidad colectiva “vista como pasado, presente y el futuro de los
•Visión múltiple y extensa de la economía: las asociaciones se explican como parte de una humanos y del planeta”. Por lo tanto, la economía tiene un sentido de solidaridad relacionada
visión extensa de la economía, diferente a la economía capitalista dominante. De acuerdo con con valores humanos y espirituales y “se debe compartir con los demás seres naturales y
ésta visión, la economía solidaria comprende cuatro dimensiones: económica, social, cultural y sobrenaturales en busca del equilibrio y de esta manera alcanzar armonía” (Vitonás Tálaga,
política, con cada una de las cuales se entremezcla. 2010).

•La asociación como racionalidad axiológica: existen organizaciones que, aunque poseen una Las autoridades del cabildo son personas nombradas por las comunidades para representar
dimensión económica, no tienen como fin básico la racionalidad económica sino la racionalidad la autoridad en el territorio y actúan de manera voluntaria como un servicio a la comunidad.
basada en valores (Enjolras, 2004). El Cabildo como estructura organizativa de gobierno propio según usos y costumbres tiene
entre sus tareas “velar por el bienestar individual y colectivo, promover el equilibrio para que
Sobre las relaciones sociales y económicas de los pueblos indigenas haya armonía, abordar y resolver conflictos y tomar decisiones que respondan a la orientación
colectiva” (Vitonás Tálaga, 2010).
El marco en el que se realizan las relaciones comerciales y sociales se delimita dentro de lo que
se conoce como resguardos y cabildos indígenas. Los resguardos son las tierras comunitarias La minga comunitaria es la forma de trabajo tradicional (trabajo colectivo). Es un esfuerzo
y el cabildo es la forma de administración de esas tierras; inicialmente esta figura se utilizaba colectivo para lograr objetivos comunes. Nadie es dueño de una minga, ni puede atribuirse
como mecanismo para la reclamación de tierras y para la asignación de estas a los cabildantes. personalmente resultados. En las mingas se comparte la alimentación y la bebida, además se
La estructura jerárquica del cabildo siempre había sido piramidal, pero ha evolucionado hacia cohesiona el tejido comunitario. Las mingas tienen finalidad social, no económica (Yule Yatacue
una estructura en espiral en donde todos son iguales, y en donde no hay un único líder (Castaño & Vitonas Pavi, 2012), además responden a necesidades locales, como también a iniciativas

1507 1508
zonales, regionales o nacionales (Vitonás Tálaga, 2010). Pazos, 2016).

En los pueblos Nasa para que la vida siga su curso, su ciclo natural, los espíritus que crearon NASA En contraposición, la cosmovisión y praxis indígena no puede analizarse desde la clásica división
TXIME “territorio de los seres”, como espíritus guardianes cumplen la función de protectores y entre lo individual y lo colectivo como una simple forma de lograr bienestar social y económico.
con mayor compromiso también los hombres son responsables de cuidarlos para que la vida siga Su accionar no gira en torno a la economía, sino a la naturaleza, el territorio (tierra y comunidad),
su curso normal en armonía y equilibrio. Además tienen la tarea de vigilar, proteger a los demás y el respeto a los mayores (cultura y espiritualidad). El concepto de tradición, a diferencia de
seres de Nasa Txime. Al cumplir las normas naturales o ley de origen entonces viven en armonía la visión comunitarista clásica, no está anclada en la historia sino que se interrelaciona con la
y obtienen beneficios (Yule Yatacue & Vitonas Pavi, 2012). creación del mundo y el imperativo de mantener equilibrio en la naturaleza, que es un mandato
que recae sobre el hombre y sus guías.
La administración en la concepción Nasa consiste en mantener, preservar el corazón de lo que
existe en la Gran Casa, a los seres que conviven en familias y que se orientan mediante un plan En ésta, las prácticas colectivas y económicas se ordenan dentro de la necesidad de mantener el
de vida a través de las acciones como vigilar, cuidar el territorio como casa y semilla; entre otros. equilibro, teniendo como preocupación básica “cumplir la ley de Origen y proteger a los seres de
Pi’txnas es “acompañarse”, como en la minga. Otra forma de asociación es la parcela tradicional. la naturaleza”. Las interacciones dominantes no están separadas entre lo social y lo económico,
Los hombres destruyen el territorio los Seres, pero luego la madre tierra nos castigará y se sino que se extienden sin limitaciones dentro del mundo siempre y cuando se aproveche lo que
auto-regenera (el principio de complementariedad, reciprocidad, respeto, dialogo, integralidad existe de forma respetuosa, lo cual implica para lo material, social y espiritual.
para obtener vida armónica en relación hombre- naturaleza). La organización como unidad es
agruparse con un mismo sentido, es compactarse, cohesionarse como grupo en torno a un plan Las prácticas colectivas que muchos relacionan con la economía social y solidaria de manera
de vida (Yule Yatacue & Vitonas Pavi, 2012). automática, tienen la función de fortalecer la identidad como persona y como grupo en torno a
un plan de vida. Las practicas están asociadas con el acompañarse y disfrutar, la reciprocidad
Discusion y el agradecimiento a los espíritus. En este caso, a separación entre lo público y lo privado, tan
importante en el liberalismo y que se encuentra presente en la economía social no existe como
Al analizar los principios filosóficos entre las dos culturas, es evidente que si bien existen tal.
prácticas que se asimilan a la denominada economía social y solidaria, tal como se concibe en la
perspectiva crítica liberal, sus fundamentos son bien diferentes. Tal vez la mayor diferencia tiene La tabla No 1., resume la comparación entre tres visiones coexistentes en la economía andina
que ver con la oposición entre la cosmovisión indígena que integra la naturaleza, lo espiritual y la latinoamericana: la visión económica tradicional de mercado, la visión económica solidaria y
vida social en un todo balanceado y equilibrado, en comparación a la racionalidad occidental que social y esta visión de la sociedad y la economía tradicional de los pueblos indígenas en Colombia.
justifica la acción en el interés individual y colectivo en sí mismo.

La economía social y solidaria se podría relacionar con una axiología comunitarista, desarrollada
mediante modelos de asociación que pretenden integrar el interés individual y el colectivo. La
solidaridad es el criterio de resolución de las contradicciones entre los individuos y se basa en
explicaciones de carácter antropológico (como el DON maussiano, por ejemplo), diferentes a
las explicaciones de la acción social desarrolladas en el liberalismo económico. Sin embargo,
también existen explicaciones desde el criterio del interés que intentan dar cuenta del fenómeno
de la asociación, y que lo acerca en algunos aspectos a la perspectiva del tercer sector (Solarte-

1509 1510
Referencias

Caillé, A. (2005). Dé-penser l’économique - Contre le fatalisme. (Paris: La Découvete - M.A.U.S.S.,


Ed.).

Carvalho, G., & Dzimira, S. (2000). Dont et économie solidarie. (M.A.U.S.S. GERDA/CRIDA, Ed.).

1511 1512
Paris. social (pp. 35–73).

Castaño Canoas, M. (2015). La planeación en el municipio y resguardo de Jambaló (Colombia). Laville, J.-L., & Eme, B. (2004). Renovación y diversidad de la prácticas. In E. A. Argentina. (Ed.),
Campos, 3(2), 239–260. Economía Social y Solidaria. Una visión europea (pp. 35–50).

Chanial, P., & Laville, J.-L. (2004). French civil society experiences: attempts to bridge the gap Mauss, M. (2007). Intoduccion: Sobre el don y, en particular, sobre la obligación de devolver los
between political and economic dimensions. In J.-L. Evers&Laville (Ed.), The Third Sector in regalos. Ensayo Sobre El Don: Forma Y Función Del Intercambio En Las Sociedades Arcaicas,
Europe, chapter 4 (pp. 83–100). 67–79.

Defourny, J. (1992). The origins, Forms and Roles of the Third Major Sector. In J. L. Defourny, Nacional, M. de E. (2014). Leyendo la vida nasa 1.
Monzón Campos, & C.i.d.r.e.d.i.s.l.é.p.s.e. copérative (Eds.), Écon omie sociale: entre économie
capitaliste et économie publique=The third sector: cooperative, mutual and nonprofit Peña Guetio, J. J., Capaz, E. M., & Cucuñame, N. (2010). Derecho propio, justicia propia. In
organizations (pp. 27–49). G&G Editores (Ed.), Autonomía y Dignidad en las Comunidades Indígenas del Norte del Cauca
- Colombia (pp. 191–218).
Enjolras, B. (2004). Formes institutionnelles, rationalité axiologique et conventions. In Annals of
Public & Cooperativa Economics (pp. 595–617). Polanyi, K. (1977). La falacia económica. In El Sustento del Hombre. Retrieved from www.eumed.
net/textos/
Evers, A. (1995). Part of the welfare mix: The third sector as an intermediate area. In Voluntas:
International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations (pp. 159–182). Polanyi, K. (1993). La gran transformación: crítica del liberalismo económico. Revue (Vol. 44).
http://doi.org/10.2307/3502271
Evers, A., & Laville, J.-L. (2004). Defininig the third sector in Europe. In U. E. E. P. Limited (Ed.),
The Third Sector in Europe (pp. 11–42). Polanyi, K., & Leal, G. F. (2004). A noção de exclusão social em debate: aplicabilidade e
implicações para a intervenção prática. XIVEncontro Nacional de Estudos Populacionais ABEP,
Favreau, L. (2005). Qu’est-ce que l´économie sociale? Synthése introductive. In Montréal: Caxambu, 44(6), 1–17. http://doi.org/10.2307/3502271
Crises, Centre de Recherche sur les innovations Sociales.
Sandel, M. (2000). El liberalismo y los límites de la justicia. (E. Gedisa, Ed.). Barcelona.
Hall, S., & Gay, P. du. (2003). Cuestiones de identidad cultural. Anibal Ford. http://doi.
org/10.1017/CBO9781107415324.004 Solarte-Pazos, L. (2016). Management y Gestión de Contradicciones, una perspectiva
comparativa entre el Tercer Sector y la Economía Social. (P. E. U. del Valle, Ed.).
Kendall, J., Paton, R., & Thomas, A. (1992). The “Social Economy” in the U.K. In B. De Boeck
& Ciriec (Eds.), Économie sociale: entre économie capitaliste et économie publique = The third Vitonás Tálaga, E. (2010). Kiwe, La economía indígena y la gobernabilidad del territorio Cxab
sector: cooperative, mutual and nonprofit organizations (pp. 107–148). Wala. In G. Editores (Ed.), Autonomía y Dignidad en las Comunidades Indígenas del Norte del
Cauca - Colombia (pp. 121–142).
Laville, J.-L. (1997). L’association: une liberté propre à la démocratie. In J.-L. In Laville & R.
Sainsaulieu (Ed.), Sociologie de l’association : des organisations à l’épreuve du changement Wilches-Chaux, G. (2005). Proyecto Nasa: La Construcción del Plan de Vida de un pueblo que

1513 1514
sueña. Capítulo 149
Yule Yatacue, M., & Vitonas Pavi, C. (2012). Pees Kupx Fxi´zenxi “La metamorfosis de la vida”,
pensar, mirar y vivir desde el corazón de la tierra, Cosmovisión Nasa. (Grafitextos, Ed.). Toribio,
Captação de recursos financeiros para inovação social
Cauca.
Idineia Bressan1, Djeimella Ferreira2, Felipe Ângelo da Silva3,
Willian Luan Rodrigues Pires4 y Edson Sestari5

Introdução

Muito se tem discutido sobre os problemas sociais no Brasil e a sociedade civil muito tem
colaborado com a inovação social e desenvolvimentos territoriais.

Segundo Goldschmids (2009) o conceito de responsabilidade social empresarial está aliado ao


conceito de que a organização, empresa, indústria está intimamente ligada a responsabilidade
do impacto causado pela sua atividade econômica, devendo ter ações que mitiguem o impacto
ambiental e melhorias na qualidade de vida do entorno onde atua.

Para Santos (2012) o Terceiro Setor é aquele que com exclusividade atua com as preocupações
sociais e suas atividades. Estão neste meio a fim de executar atividades para geração de bens
e serviços com finalidade pública. Pode-se elencar dentre as organizações que compõem o
Terceiro Setor: as ONGs (Organizações Não Governamentais), as instituições religiosas, as
entidades beneficentes, os centros sociais, os clubes, serviços etc. Importante ressaltar uma
característica em comum dessas organizações é a presença de voluntários que atuam prestando
serviços para a comunidade mais vulnerável economicamente favorecida, que não consegue
receber os serviços do poder público (Primeiro Setor), nem contratar os serviços do setor
privado (Segundo Setor).

Podendo segundo Cândido e Abreu (2000) aplicar a definição de redes de desenvolvimento no


atual contexto de negócios em panoramas de sobrevivência e desenvolvimento. A terminologia
ONGs como sinônimo normalmente é utilizada em publicações internacionais e quando se referem
1. Faculdade Católica de Mato Grosso FACC MT. Email: idineia.bressan@faccmt.com.br
2. Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Email: djeimellaferreira3@gmail.com
3. Instituto Federal de Mato Grosso IFMT. Email: felipeangelo40@gmail.com
4. Universidade Federal de Mato Grosso UFMT. Email: willianluanrodriguespires@gmail.com
5. Faculdade Católica de Mato Grosso FACC MT. Email: edson.sestari@faccmt.edu.br

1515 1516
às organizações sociais que atendem aos países subdesenvolvidos com aspectos relacionados a dos trabalhadores.
assistência humanitária, direitos humanos e sociais, desenvolvimento regional e posicionamento “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
diante de direitos. Porém na América Latina as ONGs assim chamadas é relacionado ao termo União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
que designa organizações pós ditadura das décadas de 1960 e 1970 e movimentos sociais. VI - instituir impostos sobre:
b) templos de qualquer culto;
Este estudo tem como problema de pesquisa o seguinte questionamento: Há necessidade de c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
profissionalização para captação de recursos para desenvolvimento de projetos relacionados à entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência
inovação social no terceiro setor? social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas “b” e “c”, compreendem somente
Objetivo principal é elencar os requisitos necessários para captação de recursos para o terceiro o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das
setor, demostrar a complexidade dos projetos, além da definição do que compõe o terceiro setor. entidades nelas mencionadas.
Independente da terminologia utilizada, o impacto que o terceiro setor faz sobre as diferentes Art. 195. ...§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades
economias é indiscutível. Para Salamon (1994) este movimento pode ser visto como uma beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.”
revolução associativa, desde o momento que pessoas se organizam formando associações para
fins humanitários de proteção aos direitos civis, promoção de desenvolvimento econômico de Aqueles que desejam ter os benefícios tributários, deverão seguir as condições legais, estipuladas
base, cuidados ambientais a fim de atender milhares de demandas não atendidas ou ignoradas no Código Tributário, em seu Artigo 14, e no parágrafo 2º, do Artigo 12 da Lei 9.532/97, e
pelo Estado. requerer junto aos órgãos fiscais, que possuem a jurisdição para deferir a imunidade solicitada
(Antonuk, 2018).
Anaz (2016) nos apresenta a inovação social e mostra como está o avanço ao empreendedorismo
social, que normalmente é vinculado a uma organização sem fins lucrativos. Neste contexto Metodologia
surgem então o Negócio social, o empreendedor social inovador.
A presente pesquisa é qualitativa quanto a sua natureza. Creswell (2007) afirma que os
Existe diversos benefícios, até de cunho tributário para estas organizações sem fins lucrativos, procedimentos qualitativos apresentam um grande contraste com os métodos da pesquisa
apoiados no Artigo 150 da Constituição Federal, de 1988, pela justificativa de que estas quantitativa. A investigação qualitativa emprega diferentes alegações de conhecimento,
organizações visam o bem coletivo, prestando serviços sociais e complementando as atividades estratégias de investigação e métodos de coleta e análise de dados. O tema proposto para ser
que são exercidas pelo Estado, ajudando empresas estatais em suas ações. Antoniuk (2018) em estudado, em uma análise inicial, é abrangente e com complexidade nas relações envolvidas.
suas contribuições afirma que desta forma o poder público então concede benefícios de ordem Assim, uma pesquisa de cunho exploratório e de análise qualitativa é a mais indicada.
tributária a estas pessoas jurídicas, ao considerar injusto tributar quem ajuda socialmente o país.
O presente estudo é classificado como exploratório e qualitativo, realizou-se um estudo das
A imunidade tributária é uma garantia constitucional, ou seja, a União, Estados, Distrito organizações que lançaram editais para inovação social nos últimos períodos, tendo destaque
Federal e Municípios são proibidos de cobrar qualquer imposto sobre a renda, serviços ou a plataforma Prosas que no Brasil é um dos principais canais de informação sobre editais que
patrimônios de entidades determinadas, conforme segue: possibilita uma ponte de relacionamento no momento do edital e processo de captação de
O Artigo 150 da Constituição Federal, de 1988, institui quais entidades não podem ser recursos, tendo como parceiros instituições ativas em projetos sociais como: Itaú Social, CNH
tributadas, sendo elas, as entidades religiosas, as instituições de educação e assistência Industrial, Swiss Foundation For Solidarity In Tourism (SST), Fundo Socioambiental CASA, CNPq,
social, sem fins lucrativos, os partidos políticos e suas fundações, e as entidades sindicais Meninos Diamantes, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),

1517 1518
SAP Labs Latin America, SESI – SP, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Instituto Nacional •Documento comprovando Isenção de ITCMD;
de Desenvolvimento e Integração Social, Cultural e Educacional (Indisce), Caixa Econômica •Número registro CMDCA;
Federal, Fallling Walls Foundation, Fundação SOS Mata Atlântica, Santander, Solution Search, •Documentos do presidente da Instituição com telefone e e-mail;
International Women’s Media Foundation (IWMF), BAOBÁ - fundo para a equidade racial, entre •Documentos do vice-presidente da instituição;
diversos outros editais. Neste período observou-se uma tendência de apoio para cultura, artes, •Documentos do tesoureiro da Instituição;
exposições, filmes, livros, no entanto de acordo com o intuito da obra apoiada há enquadramento •Conta ativa da instituição – vinculado ao CNPJ ativo Razão social, conta e agência;
em inovação social. •Estatuto Social;
•Ata última diretoria;
A relevância deste estudo visa contribuir no contexto de desenvolvimento de orientação para •CNPJ;
captação de recursos para o desenvolvimento e inovação social a partir do terceiro setor. Com •Certidão negativas de débitos fiscais (CDN) âmbito federal;
base nas ações esperadas para o tipo de pesquisa os trabalhos serão dirigidos para que o plano •Certidão negativas de débitos fiscais (CDN) âmbito estadual;
de trabalho chegue a um desfecho satisfatório e aponte caminhos futuros para formatação de •Certidão negativas de débitos fiscais (CDN) âmbito municipal;
diretrizes de orientação. •Carta da Organização atestando atividades desenvolvidas de acordo com as leis trabalhistas
brasileiras;
Durante a observação e pesquisa sobre os editais de recursos para desenvolvimento social e •Cópia CPF e RG dos representantes legais da organização, diretoria eleita;
inovação social, no período definido do primeiro trimestre de 2018, na plataforma Prosas, onde •Cópia simples do registro conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente (exceto
foram levantados dados para identificar uma constante de requisitos nos editais a fim de traçar instituições trabalham com jovens acima 18 anos);
um diagnóstico de necessidade de profissionalização na elaboração de projetos de captação de •Declaração, para fins do disposto no inciso V do art. 27 da lei nº 8.666, de 21 de junho de
recursos. 1993, acrescido pela Lei nº 9.854, de 27 de outubro de 1999, de que não possui em seu quadro
de pessoal empregado (s) com menos de 18 (dezoito) anos em trabalho noturno, perigoso ou
Análise Dos Resultados insalubre e, em qualquer trabalho, menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz
a partir de 14 (quatorze) anos.;
Dentre as observações e análise das necessidades de organização, disponibilidade de •Declaração do dirigente máximo da organização acerca da inexistência de dívida com o poder
documentação, base financeira de planejamento orçamentário e principalmente no que tange público ou de inscrição da organização nos bancos de dados públicos ou privados de proteção
a parte de execução e comprovação da utilização dos recursos, considera-se uma atividade ao crédito.
extremamente complexa em níveis decisórios, de gestão e contabilidade.
Segue um roteiro básico solicitado em praticamente todos editais lançados no período e na Referente a Organização parceira no desenvolvimento do projeto, já que em praticamente todos
plataforma escolhidos nesta pesquisa. editais é solicitado uma organização que seja parceira na implementação e desenvolvimento do
projeto de inovação social é solicitado em sua predominância:
Roteiro básico observado:
•Natureza jurídica com dados como: nome, endereço, e-mail, CNPJ, Público alvo da instituição
•Fotos da Organização proponente; parceira.
•Inscrição Municipal; •A Proposta da parceria estabelecida com dados sobre:
•Receita da organização referente ao ano fiscal anterior; •Descrição do projeto;
•Fonte de captação de recursos da organização; •Local das ações;

1519 1520
•Estágio de projeto; Há uma gama de organizações estatais lançando editais de apoio às causas sociais e com apoio
•Data início e justificativa; governamental, são o primeiro e segundo setores dando apoio ao terceiro. O primeiro setor com
•Os problemas da comunidade que o projeto vai combater; recursos para atividades sociais, inclusive inovação social e o governo com o escudo tributário
•Justificativa da parceria; de imunidade e isenção que assegura o Artigo 150 da Constituição Federal de 1988.
•Como surgiu parceria;
•Ganhos com a parceria; No entanto é preciso romper as fragilidades profissionais das organizações sem fins lucrativos
•Objetivos do projeto; e profissionalizar o setor, nos aspectos relacionados a elaboração de projetos, planejamento
•Público alvo do projeto; estratégico, orçamento e planejamento financeiro, contabilidade para o terceiro setor,
•Número de beneficiários do projeto; comunicação, enfim, gestores precisam estar à frente destes projetos como suporte profissional
•Ações preparatórias do projeto; diante da complexidade das exigências dos editais, para que haja uma harmonia e um bom
•Ações de atendimento após o recurso repassado; desenvolvimento dos projetos apoiados. Para que a prestação de contas não tire a paz de quem
•Descrição das responsabilidades entre instituições parceiras; tanto se esmera para o desenvolvimento social, por não ter acesso ou formação suficiente em
•Resultados esperados; gestão de projetos sociais.
•Monitoramento e avaliação dos resultados;
•Descrever estratégias de monitoramento; Percebe-se uma dificuldade imensa de acesso a estes editais, pela documentação exigida. Tão
•Indicadores do projeto; nobre as obras que as organizações sem fins lucrativos desempenham que diante das sugestões
•Coleta de dados; de diretrizes a partir do estudo recomenda-se formação específica para esta finalidade ou
•Metodologia/ análise dos dados; profissionalização dos atores envolvidos.
•Sustentabilidade do projeto, plano de continuidade para próximos anos;
•Cronograma e orçamento. Referências

Além da prestação de contas ao final da execução de cada projeto. O que demanda muita Anaz S. Inovação social aponta novos caminhos para as empresas. Revista HSM. Fevereiro de
responsabilidade e conhecimentos de contabilidade do terceiro setor, além das orientações de 2016. Acessado em julho 2018e disponível em: http://www.revistahsm.com.br/inovacao/
legislação sobre imunidade e isenção para organizações sem fins lucrativos. inovacao-social/

Trata-se de uma complexidade interessante para garantir que a instituição captadora de recursos Anheier, H. K., 2000. Managing non-profit organizations: Towards a new approach. Civil Society
seja idônea e de que conseguirá, de forma ética e eficiente, executar o que se propõe em termos Working Paper 1. London.
de desenvolvimento de inovação social.
Antoniuk, C. Isenção e imunidade tributária - benefícios do terceiro setor. Disponível em: http://
Como foi observado nos editais houve no período selecionado uma tendência de apoio para www.amorimassociados.com.br/isencao-imunidade-tributaria-beneficios-terceiro-setor.asp
projetos onde o direcionamento de apoio estava ligado em apoio a cultura, artes, exposições,
filmes, livros, no entanto de acordo com o objetivo e justificativa do projeto apoiado pode haver ASHOKA Empreendedores Sociais e McKinsey&Company,Inc., 2001. Empreendimentos Sociais
o enquadramento em inovação social. Sustentáveis: como elaborar planos de negócio para organizações sociais - São Paulo:Peirópolis.

Considerações Finais Cândido, G. A., Abreu, A. F., 2000. Os conceitos de redes e as relações Inter organizacionais: um

1521 1522
estudo exploratório. In: ENANPAD, 24 Florianópolis. Anais : ANPAD, 2000. 1 CD. Capítulo 150
Drucker, P. F., 1990. As Organizações sem fins lucrativos. Difusão Cultural – Sociedade Editorial
e Livreira Ltda. Lisboa.
Los dilemas organizacionales del sindicalismo y su vínculo con la construcción
de modelos de desarrollo1
Duarte, J. C. S., 2000. Redes Sociais: Uma estratégia de ação local para o desenvolvimento.
SENAC. São Paulo. Mariela Quiñones2, Leonel Rivero3 y María Julia Acosta4

Franco, R. C., 2004. Controvérsia em torno de uma definição para o terceiro setor. A definição
estrutural-operacional da Johns Hopkins vs a noção da economia social. VII Congresso Luso Afro Esta ponencia se orienta a ampliar la reflexión en torno al concepto de organización, dando
Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra. visibilidad a la organización sindical como un fenómeno que adquiere relevancia hoy, tanto para
pensar las transformaciones que están operando al interior del mundo organizativo empresarial,
PROSAS editais. Plataforma de acesso aos editais. https://prosas.com.br/editais acessado em como del no empresarial, y también de la articulación entre organizaciones y desarrollo.
março/2018 e julho/2018.
A partir del análisis del sindicalismo uruguayo y sus lógicas de acción, la ponencia busca
Santos, S. X. Organização do Terceiro Setor – Natal: EdUnp, 2012 / Ebook – Livro Eletrônico reflexionar en torno a cuatro hipótesis:
disponível online. ISBN 978-85-61140-69-4. Disponível em:&lt;https://conteudo.unp.br/
ebooks_ead/Oganizacao_no_Terceiro_Setor.pdf&gt; Acesso em:28 jul. 2018. a)El sindicalismo uruguayo se encuentra transitando desde una situación histórica donde
el problema fue la construcción de clase, proceso que se desarrolló en torno a acciones que
buscaban “reunir fuerzas” (sumar trabajadores sindicalizados y ganar espacios de acción), en
una nueva etapa donde el problema del sindicalismo está centrado en su propia organización.

b)La segunda hipótesis ubica al sindicalismo en su posición de subalternidad y se proyecta en


relación con la organización en referencia al emprendimiento empresarial.

c)La tercera hipótesis, refiere a las formas de implicancia del sindicalismo en los modelos de
desarrollo, según los espacios de construcción organizacional, diferenciándolos según aquellos
que nuclean trabajadores que entienden su labor de forma instrumental o de forma expresiva.

d)La cuarta hipótesis, está relacionada con nuevos posicionamientos al interior del sindicalismo
uruguayo que se relacionan de una forma más autónoma con el desarrollo societal, radicalizando
1. Los autores presentan esta ponencia en el marco del Proyecto I+D (CSIC) de la Universidad de la República titulado “El sindicalismo uruguayo en
el proceso de construcción de una cultura del trabajo para el desarrollo”, que se lleva a cabo en el marco del Grupo de Investigación “Sociología del
Trabajo y Organizaciones” del Departamento de Sociología de la Facultad de Ciencias Sociales.
2. Departamento de Sociología, Universidad de la República (Uruguay). Email: mariela.quinones@cienciassociales.edu.uy
3. Departamento de Sociología, Universidad de la República (Uruguay). Email: lriverocancela@gmail.com
4. Departamento de Sociología, Universidad de la República (Uruguay). Email: macosta@gmail.com

1523 1524
sus posturas inclusionistas, que se refleja en el apoyo o incluso la organización de nuevos por otros procesos como la desregulación, la flexibilidad y precariedad, abre espacios de
emprendimientos colectivos. construcción e identificación diversos en términos culturales. Pese al aumento significativo que
tuvieron las tasas de sindicalización en el periodo, los trabajadores ya no perciben al sindicato
Los cambios en el sindicalismo uruguayo en el contexto de un sistema de relaciones laborales a partir de una identidad de clase como referente cultural único, sino que el mismo se inserta
postfordista en una trama más compleja y diversa. Todas estas transformaciones intervienen en dos puntos
centrales de la acción sindical: la actitud de los trabajadores con respecto a sus sindicatos y
Arribamos al 2018 con un gobierno de orientación de izquierda que permanece en el poder desde las funciones que les asignan. Un cambio de actitud que tiene consecuencias muy grandes en
hace tres legislaturas. Al igual que muchos otros países de América latina, tras una época de re- el plano de la acción colectiva, en el perfil de los líderes sindicales y en la organización del
formas neoliberales durante la década del noventa, en el año 2005 accede al gobierno un partido movimiento sindical.
que mantenía vínculos históricos con los sindicatos. Su ascenso significó un esfuerzo sostenido
de regulación a partir del cual se ha ido consolidando una reforma laboral caracterizada por un En función del contexto actual, los sindicatos uruguayos se han transformado en comunidades
continuo proceso de activación de mecanismos de protección de los trabajadores. Se han pro- cada vez más pluralistas, teniendo que convivir en su seno posturas colectivistas e individualistas,
mulgado un abanico de leyes ligadas a los derechos de estos, que mayoritariamente recogen vinculadas a la convivencia de una nueva modernidad que se instala o a la persistencia de
viejas aspiraciones del movimiento sindical. situaciones tradicionales que subsisten. A nivel teórico, esto se expresa en un problema ligado a
la multiculturalidad y al reconocimiento de las diferencias, problema que pasa por la visualización
Estas políticas han favorecido la revitalización del sindicalismo, lo cual ha generado grandes y representación de las distintas demandas de reconocimiento (Wieviorka y Gutiérrez, 2006;
transformaciones al interior del mismo. Los cambios en la regulación de las relaciones laborales, Fraser, 1997: Honneth, 1997) y cómo el sindicalismo asume las consecuencias de este proceso
junto a las mayores garantías para la actividad sindical y la institucionalización de la negociación a nivel de su propia organización. En este trabajo, que forma parte de una investigación más
colectiva - que habían sido socavadas en los períodos históricos precedentes- fueron el trasfondo amplia, se propone analizar esta realidad y las exigencias que suponen a nivel de la organización
de un aumento importante del número de afiliados, alcanzando en 2015 la cifra de 400.000 sindical.
traba-jadores sindicalizados. El dato es significativo si se tiene en cuenta que diez años antes la
central sindical lanzaba una campaña para captar nuevos afiliados, contando con una base de Frente a esta problemática, la investigación se ha enfrentado a algunas miradas que difieren
110.000 trabajadores registrados en algún sindicato (ya en el año 2007 los afiliados supera los en cuanto a la forma de abordar al sujeto “sindical”. Una mirada centrada como actor
200.000). específicamente clasista en un régimen de acumulación capitalista, con las características que
adoptó el mismo en el SXX, y otra, centrada en el marco de las transformaciones que están
El caso uruguayo es paradigmático, y es concebido de esta forma por muchos analistas. Sin duda operando en su seno, producto de la emergencia de nuevos movimientos sociales, con nuevos
cuenta con importantes avances, sin embargo, en este proceso se han verificado marchas y con- tipos de reivindicaciones, nuevos repertorios de acción e identidades. Es en esta última esfera
tramarchas. El sindicalismo uruguayo se desarrolla en un contexto de cambio de las relaciones del conocimiento donde nosotros hemos puesto el énfasis en la emergencia en la innovación
laborales, donde cobra centralidad el aspecto cultural. Esta nueva configuración surge ligada de las formas organizativas, que se consideran tienen correlato con ciertas modificaciones de
también al cambio de escenario que ha supuesto la globalización, tanto en la orientación hacia un contexto en el cual el sindicalismo actúa. Entendiendo que la organización opera a partir de la
mercado externo, como en la penetración de las multinacionales en la sociedad, importando con interpretación que el actor sindical realiza del contexto político actual y de la identificación de
ello sus culturas de trabajo y de relaciones laborales. Por lo tanto, el sistema de relaciones labora- problemáticas internas de reconocimiento, lo cual se traduce en una reestructura organizacional.
les uruguayo, a pesar de los esfuerzos de los sucesivos gobiernos progresistas y de sus logros
en términos de crecimiento de la afiliación sindical, también está expuesto a transformaciones
simi-lares a las acaecidas en otros espacios. El avance de la individualización laboral, favorecida

1525 1526
Primera hipótesis: hacia una nueva organización sindical departamentos (de género o juventud, por ejemplo), a nivel de sindicatos específicos, o a nivel
de representación de rama o empresa, es un reflejo de este esfuerzo por dar respuesta desde la
La evidencia empírica muestra que el sindicalismo uruguayo se encuentra en un tránsito desde propia organización a los cambios en el contexto.
una situación histórica donde la acción giró en torno a “reunir fuerzas” -sumar trabajadores
y ganar espacios de acción-, a una nueva etapa donde la acción se reorienta a “organizar” la Segunda hipótesis: hacia una complejización de la organización empresarial como contexto de
fuerza laboral. Dicho de otra forma, de un tipo de lucha sindical que se organiza frente a los la acción sindical
intereses de empresarios y el Estado, se sobrepone un tipo de lucha de clases frente a los meta
discursos y meta narrativas de la globalización que -procesos de flexibilización y exclusión social En esta hipótesis lo relevante es el papel que se da el sindicalismo uruguayo en relación a las
mediante- le enfrentan al desafío de cómo organizar a amplios sectores asalariados y a sectores transformaciones productivas que han impulsado muchas empresas. La experiencia de muchos
populares, muy heterogéneos y con demandas sociales diversas. Una forma de canalizar esta sindicatos que han estado implicados en procesos de reestructuración refiere a nuevos procesos
situación es llevar la lucha de clases a la lucha de modelos de desarrollo5, lo cual radica en de diálogo, construcción identitaria, organización colectiva, que amplían el concepto más
pensar su organización más que en términos de actores sociales, en términos de individuos tradicional de organización, ligado a estructuras y procedimientos técnicos, dominante en los
portadores de derechos que se organizan en torno a la lucha por el reconocimiento (Honneth, estudios empresariales hasta hace algunas décadas. De esta forma se comienza a problematizar
1997; Fraser, 1997, Taylor, 1993). el papel del sindicalismo en la discusión de los modelos de desarrollo netamente económico
sostenidos por las empresas uruguayas a través de tales reestructuraciones, al que oponen un
En el contexto de los actuales procesos de transformación y revitalización del sindicalismo uru- modelo inclusivo, que sea socialmente sostenible. De este modo se visualiza como el sindicalismo
guayo, esto tiene expresión a través de dos niveles: por un lado, la organización en torno a la opera sobre un espacio complejizado de lo organizacional, introduciendo dos tipos de demandas:
demanda de reconocimiento de grupos que se organizan sindicalmente y demandan su reconoci- a) ampliar la participación del colectivo en la toma de decisiones; b) plantear la lucha en términos
miento como sindicato (por ejemplo el caso de los supermercados), y la de aquellos en el marco de reconocimiento (salarial, trabajo digno, justicia y condiciones de trabajo).
de la manifestación de la diversidad al interior de los trabajadores (generacional, de género,
pro-fesional, de raza, nacionalidad, etc.), a la que se abren hoy las organizaciones, y que además Tercer hipótesis: hacia una diferenciación de los espacios de construcción organizacional
es promovida por las políticas públicas (por ejemplo la lucha por la equiparación efectiva de
los salarios de mujeres y hombres en el ámbito público y privado). Cualquiera de estos mundos Por otra parte, esta hipótesis también refiere a las formas de implicancia del sindicalismo en
que representan estas esferas, construyen referenciales para la búsqueda de reconocimientos los modelos de desarrollo, según los espacios de construcción organizacional, diferenciándolos
y contri-buyen a la construcción y/o fortalecimiento de identidades en torno a ellos. Al interior según aquellos que nuclean trabajadores que entienden su labor de forma instrumental o de
del sindi-calismo, se crean nuevos repertorios de acción desde los cuales se canalizan estas forma expresiva. En tal sentido, se entiende que los sindicatos que nuclean a quienes realizar
postura, los que son asumidos tanto por el nivel superior de la dirigencia sindical que ha iniciado un trabajo expresivo, tales como científicos, educadores, artistas, tienen una mayor implicancia
un proceso reflexivo en torno a su propia estructura organizacional, de modo que puedan en los modelos globales de desarrollo, mientras que aquellos sindicatos que nuclean a quienes
quedar expresadas estas demandas. La organización a través de la creación de secretarías y realizar un trabajo instrumental, se concentran principalmente en reivindicaciones salariales.
5. Como consecuencia de estas transformaciones algunos autores han propuesto leer la realidad sindical a través de la categoría de “sindicalismo del Esta división se intensifica en la medida en que la estructura productiva del país se transforma
movimiento social” (Ferrero y Gurrera, 2007). La misma permite caracterizar una modalidad de hacer sindicalismo diferente a la manera de lucha y aparecen nuevos trabajadores, sin tradición sindical, con una mayor precarización, y con
clasista y corporativista en función de la reivindica-ción de sus trabajadores, asociada a la negociación de salarios y categorías laborales. Sin dejar de
ser importantes estos temas para la acción y los repertorios de acción sindical, se le enmarca en la lucha por un modelo de desarrollo orientado a la
necesidades económicas más urgentes, y complejiza la posibilidad de disputar un modelo de
inclusión social. Es decir, en la crítica de los modelos de desarrollo impulsados por el Estado y los empresarios, y la búsqueda de modelos alternativos, desarrollo alternativo, como ejemplifica el sector de los servicios en el Uruguay.
donde prima la justicia social estructurada sobre el reconoci-miento de un derecho al bienestar y la inclusión social, que no pueden quedar restringidos
a los imperativos del mercado y la lógica de la competitividad. Esto supone que temas como solidaridad o capacidad de movilización, adopten una nueva
forma, con un carácter más social, inclusivo y cercano al trabajador en tanto que “ciudadano”.

1527 1528
Cuarta hipótesis: hacia la promoción de nuevos emprendimientos organizativos al interior de la necesidad de demo-cratizar la sociedad.
masa salarial
Reflexiones abiertas: En suma, todas estas hipótesis contribuyen a una reflexión sobre el
La tercera hipótesis, se desprende en parte de la anterior y esta relacionada con nuevos problema organizacional que se le plantea al sindicalismo, que a su vez está ligado a problemas
posicionamientos al interior del sindicalismo uruguayo que se relacionan con el desarrollo marcosociales vinculados a su revitalización y sostenibilidad, así como al rol del sindicalismo
societal de una forma más autónoma, radicalizando sus posturas inclusionistas, que se refleja en en la sociedad. Estos procesos de transformación reflejan sin duda tensiones y búsquedas de
el apoyo o incluso la promoción y organización de nuevos emprendimientos colectivos. solución del sindicalismo frente a dilemas propios de la globalización, que se cristalizan en
diversos planos, tales como la pérdida de empleos, la tercerización y flexibilización laboral, lo
Aquí aparecen manifestaciones como el conflicto en torno a la acción colectiva de trabajadores cual tiene no solo un correlato económico, sino que se traduce en crecientes complejidades
rurales, actualizando el repertorio convencional de reivindicación de las clases asalariadas, de generar identificación social, y en tal sentido, de construir actores colectivos. Se subraya,
como ha sido el caso de UNATRA (Unión Nacional de Asalariados, Trabajadores Rurales y Afines) además, la dificultad de construir una solidaridad orgánica entre actores disímiles, formal y
organizando a los trabajadores y trabajadoras del sector, como pequeños productores rurales prácticamente, y que se encuentran, en ocasiones, dispersos en el territorio.
a partir de proyectos de colonización, promoviendo como acción colectiva la recuperación de
tie-rras ya colonizadas por asignaciones irregulares, así como las tierras estatales ociosas, y En segundo lugar, es de enfatizar que las transformaciones referidas abonan también una serie de
la reco-lonización agraria en un plan productivo más amplio. Por otro lado, las manifestaciones cambios que disputan la hegemonía de un modelo civilizatorio. En tal sentido, las problemáticas
de aque-llos colectivos, que tras la crisis de muchas empresas capitalistas ocurrida en los de jóvenes, y fundamentalmente las reivindicaciones de género, no deben ser entendidas como
noventa, co-mienzan a resistir el desempleo y ensayar nuevas herramientas de lucha que les “cortes” o “partes” de la demanda, sino que suponen una transformación cualitativa de la de-
permitan pasar a la autogestión de aquellas unidades productivas en proceso de cierre. Dicho manda en sí a la que la organización sindical debe responder de distintas maneras, ampliando sus
fenómeno, que con-figura el movimiento de empresas recuperadas por los trabajadores, remite espacios participativos, generando asociaciones y espacios fuertes, por fuera de la propia organi-
a determinadas prác-ticas colectivas que, si bien deben entenderse como expresiones de zación, con los cuales la organización sindical debe coordinar. Estudiar estas transformaciones,
respuesta a la crisis, también se configuraron como propuestas exploratorias de modalidades de por último, funcionan como clave de legibilidad, tanto de la forma en que están interpretando la
gestión alternativas, en la que el sindicalismo tuvo un papel protagónico. Por tanto, la ocupación coyuntura, como de los arreglos institucionales que se generan para enfrentarla. Estos muestra
de empresas por parte de sus trabajadores y su puesta en producción, se inscribe en acciones continuidades, actualizaciones e innovaciones, que son de gran interés, en tanto ponen en juego
defensivas y de resistencia que constituyen una prolongación de los reclamos por la fuente de la lucha por los derechos y el reconocimiento frente a los dilemas del siglo XXI.
trabajo a partir de métodos alter-nativos que no formaban parte del repertorio tradicional de la
lucha sindical. Bibliografía

Es en este contexto que el sindicalismo uruguayo ha empezado a ligarse al mundo concreto de Fraser, N. (1997). ¿De la redistribución al reconocimiento? Dilemas en torno a la justicia en una
las luchas sociales lideradas por agrupamientos que experimentan otras formas de organizar época postsocialista. En Nancy Fraser Justicia Interrupta: Reflexiones críticas desde la posición
la sociedad desde espacios con una orientación autonómica con respecto al orden del capital. postsocialista. Bogotá, Colombia, Siglo del Hombre Editores/ Universidad de los Andes.
Desde tal punto de vista, las formas autogestionarias de organización son vistas como iniciativas
orien-tadas a recuperar las facultades de trabajo autónomo que el modelo fordista intentó Honneth, A. (1997). La lucha por el reconocimiento: por una gramática moral de los conflictos
apropiarse por diferentes mecanismos de control empresarial y a comprender estas nuevas sociales. Barcelona, España, Crítica.
formas organiza-tivas, en tanto capacidad colectiva de emprender, de responder a un proyecto
colectivo cuyo va-lor adquiere sentido en el marco de los cambios axiológicos de una mayor Taylor, C. (1993). El multiculturalismo y la “política del reconocimiento. México, D.F, México,

1529 1530
Fondo de Cultura Económica. Capítulo 151
Wieviorka, M. y Gutiérrez, D. (2006). Multiculturalismo: perspectivas y desafíos. México, D.F,
México, Siglo XXI.
Innovación, cambio social y gobernanza territorial

Germán Vargas Larios1 y Rosa María Magaña Álvarez2

Introducción

Lo primero, es plantear que la problemática en el tema de la innovación tecnológica es diversa


y plantea situaciones diferenciadas dependiendo del posicionamiento de los países y su grado
de desarrollo. En el mundo desarrollado, la revolución de la ciencia y la tecnología que se dio
en la segunda mitad del siglo xx, coincidió con el nacimiento de actitudes de rechazo y temor
tanto respecto a sus posibles riesgos para la vida humana y la salud del planeta como en lo
referente a los cambios que suponía la invasión (y la consiguiente transformación) científico-
tecnológica de todos los ámbitos de las relaciones sociales (Vijande, 2003). En cambio, desde el
mundo subdesarrollado, la ausencia de tecnología, pasa a ser el problema, y no su proliferación
exagerada. También es diferente la cuestión de riesgos tecnológicos y consecuencias negativas
de la tecno-ciencia cuya distribución tiende a trasladarse a nuestros países.

Así, Rodrigo Arocena y Judith Sutz, en su obra “Navegando contra el viento» se ofrece una
reflexión sobre la innovación tecno-científica desde la perspectiva de los países que están lejos
de sus centros tradicionales y que en ésta ponencia tomamos como referencia para abordar un
concepto de innovación no sólo técnico, sino social y bajo un contexto de práctica determinada
(Vijande, 2003).

De este modo, la innovación es concebida no como un evento aislado, sino como un proceso
que combina diversas dinámicas sociales en las que interactúan actores heterogéneos. Se
ofrece una perspectiva social y sistémica de la in- novación, siguiendo los pasos de las teorías
elaboradas por autores como Freeman o Nelson (en Vijande, 2003: 167) mediante un minucioso
recorrido por todos los actores implicados en este proceso, desde los receptores de la in-
novación, trabajadores y consumidores más o menos pasivos, hasta las institu- ciones públicas o
privadas (universidad, empresas, laboratorios de ID, gobiernos que diseñan políticas de apoyo a
1. Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Iztapalapa, Mexica. Email: germanv88@yahoo.com
2. Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Iztapalapa, Mexico. Email: rosamaria953@yahoo.com.mx

1531 1532
la innovación), y las formas en que estos actores pueden y deben estar implicados en el proceso dependencia es la que provoca que los países periféricos no sólo sean atrasados, sino también
para hacer posible la innovación científico-tecnológica en su contexto. subdesarrollados, en una situación en la que la posición superior de unos determina la posición
inferior de los otros, en un círculo vicioso que se perpetúa a sí mismo.
Estas concepciones se inscriben en una perspectiva de que la tecnología no evoluciona en un
proceso lineal y unidireccional, sino que avanza siguiendo un camino en el que se van abriendo Más allá del determinismo que proyectan los planteamientos de Centro-Periferia de Freeman,
múltiples opciones, cada una de las cuales responde a intereses sociales, valores, contextos puede afirmarse que en proporciones importantes se corroboran y constituyen un referente
culturales. La tecnología es, si- guiendo a Mumford, un factor de estructuración de prácticas y insoslayable para estudiar nuestra realidad latinoamericana. «La nueva revolución tecnológica
representaciones del mundo, como se refleja en el concepto de “imaginario tecnológico”. Esta protagonizada por las ciencias de la comunicación, la electrónica y las telecomunicaciones ha
elección de opciones tecnológicas puede darse de forma cooperativa entre diferentes actores, desembocado en profundos cambios en el mundo del trabajo, en la estructura de las empresas y
o ser un desencadenante de conflicto social (Vijande, 2003). Así, Vilches y Gil (2003) plantean las instituciones.» La sociedad resultante es una “sociedad económica basada en el conocimiento
que los caminos de la innovación siempre han funcionado de manera “natural” en el Norte, y monitorizada por la innovación”, en la que además el conocimiento es un requisito básico para
donde existía la capacidad para producir y recibir innovaciones tecnológicas, y de manera esta última, y por lo tanto la distribución del progreso cientí cotécnico corre en paralelo con la
sobreimpuesta en el Sur, donde la entrada de la innovación se da por medio de importaciones distribución del conocimiento» (Vijande, 2003: 168).
irreflexivas y fuera de contexto de productos tecnológicos, por lo tanto sin crear el tejido social
necesario para promoverla endógenamente. La inversión en ciencia y tecnología en el Norte es 19 veces mayor que en el Sur. En el Norte
los sistemas de producción industrial están articulados con los sistemas de producción de
El proceso de industrialización en México, tanto en el histórico periodo de la industrialización conocimiento, y además este último se entiende como un recurso nacional y propio, por lo que
por Sustitución de Importaciones (SI) como en el de (des) industrialización por maquiladoras autores como Weiss (2012) a partir de demostrar que en esta dimensión, conjuntamente con el
instrumentado recientemente en el marco del Tratado de Libre Comercio de América del de las finanzas, los Estados-nación han reorientado estratégicamente sus áreas de intervención,
Norte (TLCAN), es un el testimonio de los costos que implica la importación de innovaciones so- bre todo, los del mundo desarrollado, y consecuentemente rechaza la tesis muy generalizada
tecnológicas al prescindir de una promoción endógena. Al margen de las diferencias y sin del supuesto debilitamiento del Estado frente al proceso de globalización. El debilitamiento
soslayar su importancia (esquemas de acumulación interna con crecimiento y “políticas del poder estatal es un mito, señala esta autora, lo que ha sucedido en realidad, es que se ha
intervencionistas”, en el primero; y acumulación en el exterior sin crecimiento al interior con transformado y, hoy por hoy, la fortaleza de su poder no solamente no ha disminuido, sino que se
“políticas neoliberales” en el modelo maquilador) ambos periodos coinciden en los costos de ha visto notoriamente incrementado (Weiss, 2012).
estos procesos «truncos» de industrialización3: desarticulación y grandes capacidades ociosas
en la planta industrial, costos excesivos y permanentes déficits en el intercambio con el exterior En el Sur, no se valora el conocimiento propio, sino que se importa cuando se necesita, de forma
(para el periodo de la industrialización por SI, véase Fanjzilber y Martínez, 1976; y Guillén, 2001, no conectada con el sistema productivo. Esta diferencia en la valoración del conocimiento es
para el periodo reciente del TLCAN). consecuencia de lo que denominan Arocena y Sutz (2003) “divisorias del aprendizaje”: las
diferencias en índice de alfabetización y acceso a estudios terciarios, entre otras, muestran
De acuerdo con esta visión periférica, nuestro planteamiento es que en la relación entre una diferente distribución del conocimiento según la cual en el Norte es posible desarrollar
innovación y subdesarrollo, la ciencia y la tecnología están implicadas con la desigualdad entre mecanismos de innovación que demandan continuamente la mejora de las habilidades existentes
regiones. De acuerdo a Freeman (1982), el sistema mundial de Centro-Periferia que se ha y del conocimiento, mientras que en el Sur este desarrollo no es posible.
configurado desde la Revolución Industrial, dio lugar, paralelamente a la expansión industrial
de los países del Norte, a una situación de dependencia en el Sur. Conforme a este autor, esta La desigual distribución del conocimiento es entonces la clave principal de la diferencia Norte-
3. Término utilizado por Fajnzylber (1983) para caracterizar el proceso de industrialización latinoamericano.
Sur y entre grupos sociales. Por ello, la transición hacia una nueva sociedad del conocimiento en

1533 1534
el Norte no hace sino agrandar la brecha con el Sur, que una vez más vuelve a quedarse atrás. buscar un desarrollo humano autosustentable pasa por generar endógenamente el desarrollo
Las diferencias en el cono- cimiento son las más importantes, porque afectan directamente a la y buscar soluciones plurales y colectivas que permitan potenciar desde dentro, creando las
capacidad para mejorar las propias situaciones de desventaja. En conclusión, “el conoci- miento interconexiones que faltan —por ejemplo, redes interactivas de aprendizaje—, los sistemas
es el más poderoso agente de prosperidad y desigualdad”. nacionales de innovación de los países del subdesarrollo, y romper las divisorias del aprendizaje
(Arocena y Sutz, 2003).
Así, de acuerdo con Jacques Marcovitch (2002) se plantea que los principa- les retos a los que
se enfrenta la universidad pública en un país periférico dentro de la sociedad del conocimiento, Para ello, es necesario volver a la idea con la que empezábamos, reflexionar sobre la ciencia y la
en todas sus dimensiones: investigación, docencia y extensión, es sin duda el problema de la tecnología, bajo una concepción no sólo técnica sino social: se trata de analizar su implantación
generación de conocimiento en el lado sur de esa «divisoria del aprendizaje» (Vijande, 2003): en un contexto de práctica determinado. Sin embargo, antes se requieren algunas precisiones
¿Hasta dónde es posible revertir este determinismo que se sostiene desde la corriente de sobre los procesos de invención-innovación-difusión para encontrar su articulación con los
pensamiento Centro-Periferia? ¿La Universidad es o debe ser el agente de cambio social? En procesos sociales. La diferenciación entre invención e innovación puede efectuarse a través del
su caso, ¿qué cambios organizacionales deben impulsarse en la Universidad para cumplimiento siguiente gráfico:
de esta misión? Para iniciar esta discusión y análisis, partimos con la respuesta al primer
interrogante: ¿es posible innovar el sistema social? Modelo evolutivo de Greiner y el ciclo de vida de las organizaciones

La innovación para el cambio social: hacia un modelo sostenible

En los primeros planteamientos de la Comisión Económica para América Latina y el Caribe


(cepal), organismo creado en los años cincuenta del siglo pasado, el seno de la Organización
de Naciones Unidas (ONU), con la oposición de Estados Unidos, se decía en su propuesta de
reforma, que “en el exterior no se tenía, o era mínima la capacidad de hacer cambios, por lo
que el ámbito de las posibilidades de reformas económicas, y por ende sociales, se tendrían que
contemplar en procesos de desarrollo hacia adentro, particularmente en la industria, como fue
característico en el desarrollo latinoamericano de posguerra”. Hoy, como se señala en el informe
de la Conferencia de las Naciones Unidas sobre Comercio y Desarrollo (UNCTAD, 2017)4, esta
opción, si alguna vez fue factible, hoy ya no lo es: cualquier intento de reforma no podrá ser
afrontado por los países que intenten aislarse de las fuerzas económicas mundiales, sino más
bien a un nivel global compatible con el mundo interdependiente de hoy en día.

Ante esta situación, una acción posible es potenciar en nuestros países líneas de investigación Como se aprecia, la innovación es “la implementación con éxito de una creación” (Rodríguez
orientadas al desarrollo, con miras a largo plazo y carácter interdisciplinario. En definitiva, y colaboradores, 2012: 13). Estos autores recuperan la idea de Shumpeter, quien define a la
4. Después de plantear los efectos de la hiperglobalización en la economía, alta financiarización y rentismo financiero con creciente desigualdad social,
innovación como un proceso de destrucción creativa distinta a la invención, la cual es una idea
en dicho informe de la UNCTAD se propone un Nuevo Pacto Mundial que afronte las asimetrías mundiales y nacionales en la movilización de recursos hecha realidad mientras que la in- novación es una idea hecha realidad y llevada a la práctica
que generan y perpetúan resultados excluyentes. Para ello, lo primero es reconocer al Estado-nación como unidad básica de legitimidad y liderazgo (Rodríguez y cols., 2012). El objetivo de la innovación es dar lugar al cambio, añadir valor y
en el mundo interdependiente de hoy y un nuevo pacto mundial similar al New Deal, lanzado en los años treinta con los tres componentes estratégicos
generales: Recuperación, Regulación y Redistribución.
mejorar procesos, productos o experiencias. Por lo tanto, la innovación también implica la

1535 1536
implementación. La difusión da cuenta de la propagación de lo nuevo y permite que la innovación se constituya
en una nueva manera de hacer (Porter, 1990, citado por Rodríguez y cols. 2012: 13). Por ello,
Lo importante en esta gráfica es mostrar la diferencia de talentos que implican, por una parte, los estudiosos de dicho proceso destacan el carácter comunicativo de la difusión: “Difusión
el proceso creativo de la innovación, y por la otra, quienes se ocupan de obtener resultados de es el proceso por el cual una innovación es comunicada a través de ciertos canales a lo largo
acuerdo con la estrategia y acciones operativas del momento: el buen funcionamiento diario de del tiempo entre los miembros de un sistema social” (Rogers, 1995: 5, citado por Arocena y
la organización, quienes se ocupan de convertir la idea creativa en actividades específicas. Estas Sutz, 2003: 12). En los países subdesarrollados, los procesos truncos de difusión constituyen
últimas se basan en habilidades muy diferentes a las que se necesitan, en estricto sentido, para un fenómeno recurrente debido a dificultades de comunicación; por una parte, los sistemas del
innovar. Así, si se analiza el ciclo de vida de la organización en el gráfico de Greiner, es sólo en conocimiento no están vinculados con los sistemas productivos, por lo que no hay condiciones
la fase inicial, o de creatividad, donde la innovación es verdaderamente esencial. El resto de las materiales para tal comunicación; por otra parte, el conocimiento, más allá del discurso, no se
etapas se centran más en competencias de orientación de resultados, análisis, planificación y, en contempla como un recurso estratégico en las políticas públicas.
una palabra, de una implementación ordenada (Dyer, Gregersen y Christensen, 2011).
Como antes se ha anotado, la innovación tiene aspectos tanto propiamente técnicos como
La etapa de creación, según la describe Greiner, es el nacimiento donde los fundadores han institucionales. Entre los primeros, y sin mengua de su diversidad, lo que tiene que ver con las
creado una causa, servicio o producto, según se trate de organizaciones no lucrativas o empresas máquinas y las herramientas ha constituido, a lo largo de la historia, un espacio privilegiado para
productoras de bienes y servicios. Una vez concluida esta fase, la segunda etapa de evolución la innovación: el reinado de los ingenieros, época en que primaba lo técnico. Ahora, cuanto más
se caracteriza por la introducción de sistemas de gestión más eficientes y liderazgos técnicos relevante es el cambio técnico, más vinculado suele estar a transformaciones institucionales,
para incrementar el control y procedimientos más sistemáticos. La diferencia drástica entre el auge de las redes de conocimiento, las instituciones y organizaciones, públicas y privadas, el
ambas etapas, la de emprendedores innovadores que prometen frente a los constructores de los trabajo en equipo y las nuevas concepciones de la gobernanza son fundamentales en la unión,
procesos necesarios para hacer que la idea sea una realidad, muestra las diferentes habilidades primero de los talentos de la creación con los de la implementación para materializar la innovación;
necesarias en una organización. Cuando se logran reunir estos talentos, entonces estamos frente luego impulsar la innovación mediante un amplio proceso de difusión, hasta convertirla en un
a una organización innovadora. auténtico cambio social, lo cual no sólo en nuestros países, sino en cualquier contexto, no es
labor del mercado sin la mediación de políticas públicas encaminadas a tal propósito.
Ahora bien, cuando lo que interesa es el impacto social y económico de los cambios ligados a
la producción, hace falta distinguir no sólo entre invención e innovación, sino también entre Conclusión: Gobernanza Universitaria
innovación y difusión. Hay inventos que no dan lugar a innovaciones, pues no se introducen
efectivamente o también es posible que una innovación sea utilizada por poca gente, en En este contexto, la transformación de las universidades es una necesidad inminente. La
actividades de repercusiones muy limitadas. Por lo general, las innovaciones influyentes son las Universidad está experimentando cambios, Burton Clark (citado por Tarapuez y cols., 2012)
que se difunden y utilizan ampliamente. plantea la Universidad Emprendedora como un tipo específico de institución de educación
En la innovación, para el análisis de sus efectos sociales, o para ser precisos, de su impacto en el superior como respuesta al nuevo modelo neoliberal que obligó a las economías de casi todo
cambio social es menester distinguir tres “momentos”: la invención, la innovación propiamente el mundo a abrir sus mercados a la competencia externa y a reducir la intervención del Estado
dicha, y la difusión. Como en todas las prácticas sociales, las fronteras no son nítidas; se trata en ellos. Muchas instituciones pertenecientes al sistema de educación superior, dice el autor,
de procesos a la vez continuos y discontinuos, pero son diferentes, y si se descarta la distinción debieron diseñar estrategias alternativas para captar recursos adicionales de fuentes no
entre invención, innovación y difusión, muy poco se puede comprender de los procesos sociales tradicionales para compensar la disminución de los recursos provenientes del gobierno.
del cambio técnico y de sus variaciones a lo largo de la historia.
Los aportes de Burton Clark (citado por Tarapuez y cols., 2012: 103, 109, 114 y 116) acerca

1537 1538
de la Universidad Emprendedora como un tipo específico de institución de educación superior, a nivel mundial y proyección de la industria mexi- cana, México, Fondo de Cultura Económica.
si bien, sus referentes son del mundo desarrollado, son útiles tanto porque dan la pauta de que
la Universidad no puede estar ajena a los cambios sociales mundiales y locales como también, Freeman, C. (1982), e Economics of Industrial Innovation, Londres, Pinter.
por otra parte, por sus contribuciones pioneras en elaborar “un mapa conceptual que permitiese
interpretar la división del trabajo, la morfología de los sistemas y la institución” (Tarapuez y Giddens, A. (1995), La constitución de la sociedad. Bases para una teoría de la estructuración,
cols., 2012: 105h) con el objetivo de describir de manera detallada y sistémica la forma como Buenos Aires, Amorrortu.
está organizada y se gobierna la educación superior.
Guillén Romo, Arturo (2001), “Flujos comerciales en el marco del Tratado de Libre Comercio
Referencias de América del Norte”, Revista de Comercio Exterior, vol. 51, núm. 6, junio, pp. 467-479.

Arocena, R. y Sutz, J. (2003), Navegando contra el viento, ciencia, tecnolo- gía y subdesarrollo, Helmsing, A. H. J. y Paula Ellinger (2011), “La economía política institucional del desarrollo
Madrid, Cambridge University Press/oei. local: dos cuentos de turismo en Brasil”, Revista Eure, vol. 37, núm. 110, pp. 31-57.

Bédard, R. (2004), “La Trilogía, otra manera de mirar a la organización”, en G. Ramírez, Hodgson, Geo rey (2007), “Meanings of Methodological Individualism”, Journal of Economic
Desempeño organizacional: enfoques y retos contemporáneos, México, udo, pp. 13-30. Methodology, vol. 14, núm. 2, junio, pp. 211-226.

Brenner, N.; Madden, D. J. y Wachsmuth, D. (2011), “Assemblage Urbanism and Challenges of _______ (2009), “Instituciones e individuos: interacción y evolución”, en Eduardo Ibarra (coord.),
Critical Urban eory”, vol. 15, núm. 2, pp. 225-240. Estudios institucionales: caracterización, perspectivas y problemas, México, uam-c/Gedisa,
pp.103-134.
Carson, R. (1980), La primavera silenciosa, Barcelona, Grijalbo.
Kooiman, Jan (2005), “Gobernar en Gobernanza”, en La gobernanza hoy: 10 textos de referencia,
Coq, D. (2005), La economía vista desde un ángulo epistemológico. De la economía a la economía inap-Madrid, pp. 57- 81.
política, del estructuralismo a la complejidad, Universidad de Sevilla, en <www.moebio.uchile.
cl/22/coq.htm>. Lascoumes, Pierre y Lè Gales (2015), Sociología de la Acción Pública, México, Colmex-Cedua.

Dryzek, J. S. y Leonard, S. T. (1988), “History and Discipline in Political Science”, American Marcovitch, J. (2002), La Universidad (im)posible, Madrid, Cambridge University Press/oei.
Political Science Review, vol. 82, núm. 4, pp. 1245-1260.
Marsh, D. y Rhodes, R. A. W. (I992), Police Networks in British Government, Oxford, Clarendon Press.
Dyer, J.; Gregersen, H. y Christensen, C. (2011), e Innovator’s dna: Maste- ring the Five Skills of
Disruptive Innovators, Boston, Harvard Bussines Review Press. Nelson y Winter (1982), An Evolutionary eory of Economic Change, United States of America, e
Belknap Press of Harvard University Press.
Fajnzylber, Fernando (1983), La industrialización trunca de América La- tina, México, Nueva
Imagen. Pierre, Jon y Guy, Peters B. (2000), Gobernance, Politics and
the State, Political Analysis, Nueva York, St. Martin ́s Press.
Fajnzylber, Fernando y Martínez, Trinidad (1976), Las empresas transna- cionales; expansión

1539 1540
del conocimiento: a ambos lados de las divisorias del aprendizaje”, Revista de Filosofía Moral y
Ramírez, Guillermo; Rosas, Jorge y Vargas, Germán (en prensa), Un modelo alternativo para el Política, núm. 28, pp.159-170.
diseño organizacional en una universidad pública estatal en México, México, FCPyS-UNAM.
Weiss, L. (2012), e Myth of Powerless State, Ithaca, Cornell University. Zurbriggen, Cristina
Rodríguez B. Elena; Carreras, Ignasi y Sureda, María (2012), Innovar para el cambio social. De la (2006), “El institucionalismo centrado en los actores: una perspectiva analítica en el estudio de
idea a la acción, Barcelona, Programa Esade-Pwc. las políticas públicas”, Revista de Ciencia Política, vol. 26, núm. 1, pp. 67-83.

Ros, Jaime (2015), ¿Cómo salir de la trampa del lento crecimiento y la alta desigualdad?,
México, Colegio de México-unam.

Rosales y Brenner (coord.) (2015), Geografía de la gobernanza. Dinámicas multiescalares de los


procesos económicos ambientales, México, uam-i/Siglo XXI Editores, pp.131-150.

Scharpf, Fritz W. (1997), Games Real Actors Play: Actor-Centred Institu- tionalism in Policy
Research, Boulder, Westview Press.

Tarapuez Chamorro, Edwin; Osorio Ceballos, Hugo y Parra Hernández, Ra- miro (2012), “Burton
Clark y su concepción Acerca de la Universidad Em- prendedora”, Tendencias revista de la fceya,
Universidad de Nariño, vol. XIII, núm. 2, julio-diciembre, pp. 103-118.

Torres, Gerardo (2015), “Gobernanza de los sistemas agroalimentarios locali- zados. Políticas
de desarrollo territorial”, en Rosales y Brenner (coord.), Geografía de la gobernanza. Dinámicas
multiescalares de los procesos económicos ambientales, México, uam-i/Siglo XXI Editores, pp.
209-232.

UNCTAD (2017), “Informe sobre el comercio y el Desarrollo 2017. Un New Deal Mundial como
alternativa a la austeridad. Panorama General”, Orga- nización de Naciones Unidas, Nueva York
y Ginebra.

Velázquez D. Víctor Manuel y Rosales O., Rocío (2015), “Gobernanza del sis- tema productivo
pirotécnico de Tultepec, Estado de México”, en Rosales y Brenner (coord.), Geografía de la
gobernanza. Dinámicas multiescala- res de los procesos económicos ambientales, México,
uam-i/Siglo XXI Editores, pp. 131-150.

Vijande Martínez, Amalia (2003), “Ciencia, tecnología, sociedad e innova- ción en la sociedad

1541 1542
Capítulo 152

Literatura sobre violencia laboral en trabajadores del sector salud

Andrea Palma Contreras1

Introducción

Según Hopenhayn (2001) el trabajo constituye un ámbito central en la vida de las personas,
puesto que además de la función económica cumple un conjunto de funciones psicosociales y
es relevante en la construcción de la identidad. Así, el trabajo como fenómeno esencialmente
humano puede, por una parte, promover el autodesarrollo de los sujetos, permitirles transformar
su entorno, desplegar y construir su identidad, integrarse a la sociedad y potenciar sus
capacidades. Pero, por otra parte, puede constituir una fuente de esclavitud, implicar la negación
de la propia identidad, privar de libertad, ser fuente de conflicto social y generar atrofia de las
Perspectivas latinoamericanas en los capacidades cuando las condiciones laborales y organizacionales no son las óptimas (Hopenhayn,
estudios sobre violencia laboral: 2001).
teoría, investigación y práctica
La violencia laboral se enmarca en la segunda situación, se trata de un fenómeno que ha sido
considerado como la epidemia del siglo XXI y ha sido identificada como uno de los mayores
estresores en el trabajo debido a su magnitud y a los nocivos efectos en las personas y las
organizaciones (Di Martino, Hoel y Cooper 2003; Di Martino, 2002; Cassitto, Fattorini, Gilioli y
Rengo, 2004).

De acuerdo a la Organización Internacional del Trabajo, se entiende por Violencia Laboral


“cualquier acción, todo incidente o comportamiento que no puede considerarse una actitud
razonable y con el cual se ataca, perjudica, degrada o hiere a una persona dentro del marco de su
trabajo o debido directamente al mismo” (OIT, 2003, p. 14).

La evidencia internacional muestra que la violencia laboral se encuentra relacionada con


indicadores de salud mental (De Puy, et. al., 2015; Einarsen y Nielsen, 2015; Giorgi, Mikayo,
Arenas, Shoss y León-Pérez., 2013; Itzhaki, et. al., 2015; Magnavita, 2014; Palma, Ansoleaga y
1. Doctorado en Psicología Universidad Diego Portales. Becaria CONICYT N° 21170967. Tesista FONDECYT Regular N°1170239. Email:
andrea.m.palma.c.@gmail.com

1543 1544
Ahumada, 2018; Rugulies, et. al., 2012; Rodwell y Demir, 2012;). Todas ellas, manifestaciones de la violencia laboral que se encuentran presentes en el sector
laboral de salud.
El sector salud ha sido identificado como uno de aquellos de alto riesgo en exposición a violencia
laboral (OIT y OMS, 2002) y es un área en que junto con los efectos en la salud mental de los En segundo lugar, cabe destacar que la mayoría de los estudios internacionales en la materia
trabajadores se han evidenciado repercusiones negativas en la atención a pacientes (Cavanaugh, son cuantitativos (Palma et. al., 2018). Ello contrasta con la evidencia disponible en Chile que
Campbell, Messing, 2014; Yada, et. al., 2014). resulta escasa e insuficiente para ilustrar la magnitud y el impacto del fenómeno, siendo posible
acceder sólo a estudios preferentemente de carácter descriptivo y en poblaciones específicas
Teniendo en cuenta lo anterior, se propone una ponencia cuyos objetivo, método, resultados y (Toro y Gómez- Rubio, 2016). En este sentido, es importante señalar que la mayoría de los
conclusiones son los siguientes: estudios internacionales sobre violencia laboral se inscriben en el enfoque empírico-descriptivo.
En ellos la violencia laboral es medida de acuerdo a los episodios que ha experimentado la
Objetivo: Analizar la evidencia científica publicada entre los años 2011 a 2015 sobre violencia víctima y la violencia es considerada como un riesgo psicosocial, se trata de investigaciones
ocupacional en el sector salud dando cuenta de la justificación y relevancia de estudiar en la que generalmente apelan a modelos explicativos multicausales del fenómeno pero excluyen las
tema desde las perspectivas que se ha hecho en la evidencia. categorías de “dominación” y “poder” (Wlosko y Ros, 2015). Según Wlosko y Ros (2012), en
estas investigaciones se encuentran las basadas en el concepto de violencia de la OIT (2003), de
Método: Sobre la base de una revisión sistemática de la literatura en las bases Academic la OMS (Cassito, Fattorini, Gilioli y Rengo, 2004) y de CAL/OSHA (1995), que tienden a llevar
Search Complete (EBSCO Host), Medline, Pubmed, Scielo, Scopus y Web of Science en que a cabo estudios sobre la frecuencia y los factores asociados al fenómeno. Cabe destacar que en
se seleccionaron 23 artículos para el análisis (Palma, et.al., 2018) se profundizó en el análisis los últimos años los estudios desde el enfoque empírico-descriptivo han puesto cada vez más
respecto a la evidencia adicionando la relevancia y justificación de realizar investigación en el énfasis en los factores organizacionales por sobre los individuales (como ocurría en el pasado)
área y estudiar el fenómeno atendiendo a ciertos aspectos de él. y resultan de gran importancia para generar indicadores y datos sistemáticos que permitan dar
cuenta de la prevalencia del fenómeno en América Latina donde este tipo de investigación aún
Principales resultados es incipiente (Wlosko y Ros, 2012).

Dentro de las principales características de los estudios sobre violencia laboral en el área de En tercer lugar, se aprecia un alto interés en los estudios internacionales por investigar sobre la
salud del periodo revisado se encuentran las siguientes: violencia laboral en el área de salud (Palma et. al., 2018).Este interés se debe a la gran relevancia
del tema en el área, dicha importancia radica en lo siguiente: la calidad de la atención de salud
En primer lugar, como ya se mencionó en la introducción, una definición ampliamente utilizada se encuentra indiscutiblemente mediada por los funcionarios del área (WHO, 2000); la violencia
durante los años incorporados en la revisión de la literatura para investigar en la temática es la laboral repercute negativamente en la atención de los usuarios; la violencia laboral es un riesgo
propuesta por la Organización Internacional del Trabajo (Acosta, Torres, Díaz, Aguilera y Pozos, psicosocial laboral muy relevante (MINSAL, 2013); los funcionarios de salud se encuentran en
2013; Imran, Pervez, Farooq, y Asghar, 2013). Cabe señalar que se trata de una definición alto riesgo de ser víctimas del fenómeno (OIT y OMS, 2002) y proveen un servicio de primera
muy ventajosa para desarrollar investigaciones sobre el tema en el área de la salud puesto que necesidad para la población que los expone a un alto riesgo de ser víctimas del fenómeno (OIT
es un concepto amplio, que admite diversos tipos de comportamientos agresivos o abusivos, y OMS, 2002)
sean físicos, sexuales o psicológicos que causan malestar en las víctimas, quienes pueden ser
involucradas en estos hechos de manera directa, indirecta o accidental (Barreto y Heloani, En cuarto lugar, la mayor parte de los estudios en el área de salud incluyen muestras
2013). A su vez, se trata de un concepto que permite incluir en las mediciones tanto la violencia multiestamentales y se realizan en hospitales (Palma et. al., 2018). La preferencia por estudiar
interna (horizontal y vertical) como la externa para estimar la magnitud del fenómeno en estudio. el fenómeno en muestras multiestamentales se relaciona con el interés por dar cuenta de

1545 1546
las diversas manifestaciones del fenómeno en los distintos niveles jerárquicos. Resulta muy y Toro, 2014; Ansoleaga, Toro, Godoy, Stecher y Blanch, 2011; Himmelweit, 1999; Leidner,
importante considerar dicha diversidad de estamentos en las investigaciones sobre el tema 1999; Peiró, 2004). Este concepto se refiere al intento que hacen los trabajadores por mostrar
por dos motivos centrales: primero, porque una de las característica del trabajo en salud es la con expresiones faciales y corporales emociones observables que facilitan la creación de
estructura jerárquica de poder, rasgo típico del modelo burocrático de Weber (Blanch, 2003), que determinados sentimientos en los clientes (Gracia, Ramos y Moliner, 2014; Moreno- Jiménez,
consiste en “una precisa ordenación vertical de atribuciones, responsabilidades y obligaciones, Gálvez, Rodríguez- Carvajal y Garrosa, 2010; Ortiz, Navarro, García, Ramis y Manassero, 2012).
con unidad y escala de mando” (p. 63), y en segundo lugar, porque la asimetría de poder entre Es decir, implica que el trabajador “despliegue una emoción adecuada para el cumplimiento
el perpetrador y la víctima es un atributo característico de la Violencia Laboral (Leymann, 1996; de los fines organizacionales” (Ansoleaga y Toro, 2014, p. 181) lo que genera altas demandas
Einarsen, 2000 y 2003, en Einarsen y Hauge, 2006). Por otra parte, la preferencia por estudiar emocionales para los trabajadores. Por su parte, Wlosko y Ross (2016) señalan que este sector
el fenómeno en hospitales en lugar de hacerlo en establecimientos de menor complejidad se caracteriza por complejos procesos de trabajo y la centralidad de la dimensión relacional.
tiene que ver con que -dentro de los servicios de salud- es en este contexto laboral donde se El primer aspecto se refiere a que es un trabajo con alto nivel de incertidumbre, con alto nivel
aprecian de mejor forma las características propias del sistema de trabajo sanitario tales como de autonomía, con gran intensidad laboral debido a la carga horaria y de trabajo, es “trabajo
la realización de turnos y la mayor estructura burocrática (Ansoleaga, Artaza y Suárez, 2012). vivo en acto” (Merhy, 2006, en Wlosko y Ross, 2016, p. 27) donde los funcionarios y los
usuarios “despliegan representaciones, conocimientos, expectativas, necesidades” (p. 27). La
En quinto lugar, cabe destacar que las investigaciones sobre violencia laboral en el área de la segunda característica, en coincidencia con lo señalado por otros autores (Ansoleaga y Toro,
salud se enfocan principalmente en violencia externa y psicológica (Palma et. al., 2018). Resulta 2014; Ansoleaga, Toro, Godoy, Stecher y Blanch, 2011; Himmelweit, 1999; Leidner, 1999;
relevante incluir estos dos tipos de violencia en las investigaciones puesto que se ha encontrado Peiró, 2004), se refiere a que el aspecto relacional es una herramienta de trabajo, representa
que la cultura organizacional del área de salud contribuye a que se enmascare la violencia una exigencia y es fuente de desgaste y es la calidad de la relación la que define límites y
laboral- especialmente la psicológica y la proveniente de los usuarios-, se la considere una parte posibilidades como la cooperación y el reconocimiento.
inevitable del trabajo y no se la notifique (Jacobsen 2016; Kennedy y Julie, 2013; Pai, Lautert,
De Souza, Marziale y Tavares, 2015; Vasconcellos, Abreu y Maia, 2012). Dentro de las principales consecuencias establecidas en los estudios actuales en la materia
se encuentran las de salud mental, dentro de ellas las más comunes son: la sintomatología
Respecto al origen de la violencia laboral, se establecen como centrales las dimensiones depresiva, especialmente la baja en el ánimo y la anhedonia; sintomatología de TEPT, el distrés
organizacionales y la naturaleza del trabajo en salud (Palma et.al., 2018). laboral y el uso de psicofármacos (Palma et.al., 2018).

La mayoría de las investigaciones que estudian elementos de la organización del trabajo y El interés por estudiar este tipo de consecuencias de la violencia laboral se relaciona, por una
violencia laboral consideran a la violencia como un factor de riesgo psicosocial que unida a parte, con que la salud mental se ha instalado en la agenda de los organismos internacionales más
otros explica cambios a nivel de la salud de los trabajadores (Lesuffleur, Chastang, Sandret y importantes y, por otra parte, con que estas patologías representan una de las principales causas
Niedhammer, 2014; Niedhammer, Lesuffleur, Coutrot y Chastang, 2016; Pien y Cheng, 2016; de enfermedad mundial y ausentismo laboral (World Bank Group y World Health Organization,
Cheng y Cheng, 2017). Por otra parte, la naturaleza del trabajo hace alusión a ue el trabajo en 2016 y Tsutsumi, Ito, Saxena, Marquez e Izutsu, 2015). Así por ejemplo, el Banco Mundial y
el área de salud posee atributos que le son propios e inamovibles que lo hacen emocionalmente la Organización Mundial de la salud han señalado que: las enfermedades mentales afectan al
complejo (Ansoleaga y Toro, 2014; Pisaniello, Winefield y Delfabbro, 2012), dentro de ellos se menos al 10% de la población mundial, se estima que una de cuatro personas va a presentar una
encuentran el que los trabajadores buscan desarrollar su vocación; es una labor desarrollada condición de salud mental a lo largo de su vida, los trastornos mentales representan el 30% de
en contacto permanente con los usuarios; la evaluación de la calidad de la atención depende la carga de enfermedades no mortales del mundo y el 10% de la carga global de enfermedades
en gran medida de dicha relación y todo ello representa un aumento de demandas emocionales (World Bank Group y World Health Organization, 2016 y Tsutsumi, Ito, Saxena, Marquez e Izutsu,
para los trabajadores puesto que requiere la realización de “trabajo emocional” (Ansoleaga 2015), generando “más de 10 millones de días de trabajo perdidos anualmente” (Tsutsumi, Ito,

1547 1548
Saxena, Marquez e Izutsu, 2015, p.5). Dadas sus graves repercusiones, la salud mental ha sido Salud Pública, 31 (1), 181-191. Recuperado de: http://www.scielo.org.co/pdf/rfnsp/v31s1/
declarada como uno de los objetivos clave de la Agenda para el desarrollo sustentable hasta el v31s1a20.pdf
año 2030 de la ONU, que además incluye en el objetivo número 8: “promover un crecimiento
económico inclusivo y sustentable, con pleno empleo y trabajo decente para todos” (United Ansoleaga, E., Artaza, O. y Suárez, J. (2012). Personas que cuidan personas: Dimensión humana
Nations, 2015, en Tsutsumi, Ito, Saxena, Marquez e Izutsu, 2015, p. 9). Más específicamente, y trabajo en salud. Santiago, Chile: OPS/OMS.
es relevante realizar estudios en Chile que incluyan el impacto de la violencia en la salud
mental porque las cifras de enfermedades de este tipo son alarmantes, de acuerdo a la última Ansoleaga, E., Gómez- Rubio, C. y Mauro, A. (2015). Violencia laboral en América Latina: una
sistematización de la Superintendencia de Seguridad Social (en adelante SUSESO) del año 2015, revisión de la evidencia científica. Rev. Arg. De Psiquiatría, 26, 444-452. Recuperado de:
las enfermedades mentales son la causa más frecuente de licencias médicas por enfermedad https://www.researchgate.net/publication/291161742_Violencia_laboral_en_America_Latina_
común, agrupando el mayor número de días por este concepto, donde las mujeres duplican a los una_revision_de_la_evidencia_cientifica
hombres en licencias médicas por este concepto y los diagnósticos más comunes son: en primer
lugar, los trastornos afectivos (58%) y en segundo lugar, los trastornos neuróticos secundarios Ansoleaga, E. y Toro, J.P. (2014). Salud Mental y Naturaleza del Trabajo: Cuando las demandas
a situaciones estresantes (38%) (Tardito, 2015). Siguiendo las estadísticas de Seguridad Social emocionales resultan inevitables. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 14(2), 180-189.
del año 2016, los trastornos mentales y del comportamiento son la tercera causa de licencias Recuperado de: http://submission-pepsic.scielo.br/index.php/rpot/index
médicas electrónicas, representando el 14.5% del total de ellas donde el 73% son cursadas a
mujeres (SUSESO, 2017). Ansoleaga, E., Toro, J.P., Godoy, L., Stecher, A. y Blanch, J. (2011). Malestar psicofisiológico en
profesionales de la salud pública de la Región Metropolitana. Revista Médica de Chile, 139(9),
Conclusiones 1185-1191. doi: 10.4067/S0034-988720110.0900011

La producción científica de violencia en el trabajo se ha incrementado considerablemente Barreto, M. y Heloani, R. (2013). Violencia organizacional: un riesgo no visible, pero objetivo
durante los últimos 20 años (Toro y Gómez- Rubio, 2016; Wlosko y Ros, 2012; Ansoleaga, e innegable. Revista Salud del Trabajo (Maracay), 21 (1), 69-86. Recuperado de: http://www.
Gómez- Rubio, y Mauro, 2015; Hogh y Viitasara, 2007) existiendo un cambio desde un objeto de scielo.org.ve/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1315-01382013000100007&lng=es&tlng=
estudio centrado en la violencia física hacia modalidades de violencia emocional o psicológica y es
a las consecuencias emocionales y organizacionales del fenómeno. Particularmente, en el área
de trabajo de salud existe aumento de publicaciones que miden principalmente el fenómeno Blanch, J. M. (2003). Trabajar en la modernidad industrial. En: Blanch, J.M., Espuny, M. J., Gala,
y sus consecuencias, destacándose entre éstas las de salud mental. En las investigaciones de C. y Martin, A (ed). Teoría de las relaciones laborales. Fundamentos. Barcelona, España, Editorial
violencia ocupacional en el sector salud se destaca la naturaleza del trabajo, entendida como UOC.
las características de la labor realizada, como el principal facilitador para el surgimiento de ésta
(Palma et. al., 2018). CAL/OSHA (1995). Guidelines for workplace security (on line). Recuperado de: https://www.dir.
ca.gov/dosh/dosh_publications/worksecurity.html
Referencias
Cassitto, M. G., Fattorini, E., Gilioli, R. y Rengo, Ch. (2004). Sensibilizando sobre el acoso
Acosta, F., Torres, T., Díaz, D., Aguilera, V. y Pozos, R. (2013). Seguro Popular, condiciones psicológico en el Trabajo. Ginebra. Organización Mundial de la Salud. Recuperado de: http://
psicosociales de trabajo y violencia en empleados de una institución de salud en México: un www.who.int/occupational_health/publications/en/pwh4sp.pdf?ua=1
análisis desde el modelo de los determinantes sociales de la salud. Revista Facultad Nacional

1549 1550
Cavanaugh, C., Campbell, J., y Messing, J. T. (2014). A Longitudinal Study of the Impact of
Cumulative Violence Victimization on Comorbid Posttraumatic Stress and Depression Among Gracia, E., Ramos, J. y Moliner, C. (2014). El trabajo emocional desde una perspectiva
Female Nurses and Nursing Personnel. Workplace Health & Safety, 62(6), 224-232. doi: clarificadora tras treinta años de investigación. Universitas Psychologica, 13(4), 1517-1529.
10.1177/216507991406200602 Recuperado de: https://search-proquest-com.ezproxy.puc.cl/docview/1771627734?rfr_
id=info%3Axri%2Fsid%3Aprimo
Cheng, W-J. y Cheng, Y. (2017). Minor mental disorders in Taiwanese healthcare workers and
the associations with psychosocial work conditions. Yawen Journal of the Formosan Medical Himmelweit, S. (1999). Caring Labor. Annals of the American Academy of Political
Association, 116(4), 300-305. doi: 10.1016/j.jfma.2016.05.004 and Social Science, 561, 27-38. Recuperado de: http://www.jstor.org.ezproxy.puc.cl/
stable/1049279?seq=1#page_scan_tab_contents
De Puy, J., Romain-Glassey, N., Gut, M., Wild, P., Mangin, P., y Danuser, B. (2015). Clinically
assessed consequences of workplace physical violence. International Archives of Occupational Hogh, A. y Viitasara, E. (2007). A systematic review of longitudinal studies of nonfatal workplace
and Environmental Health, 88(2), 225-236. doi: 10.1007/s00420-014-0950-9 violence. European Journal of Work and Organizational Psychology, 14(3), 291-313. doi:
10.1080/13594320500162059
Di Martino, V. (2002). Workplace violence in the health sector. Country case studies Brazil,
Bulgaria, Lebanon, Portugal, South Africa, Thailand, plus and additional Australian study. Hopenhayn, M. (2001). Repensar el trabajo. Historia, profusión y perspectivas de un concepto.
Synthesis report. Recuperado de: www.who.int/violence_injury_prevention/injury/en/ Buenos Aires, Argentina. Editorial Norma.
Wsynthesisreport.pdf.
Imran, N., Pervez, M. H., Farooq, R., y Asghar, A. R. (2013). Aggression and violence towards
Di Martino, V., Hoel, H. y Cooper, C. (2003). Preventing violence and harassment in the workplace. medical doctors and nurses in a public health care facility in Lahore, Pakistan: a preliminary
European Foundation for the improvement of living and working conditions. Luxemburgo, Bélgica: investigation. Khyber Medical University Journal, 5(4), 179-184.Recuperado de: https://pdfs.
European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions. Recuperado de: semanticscholar.org/bde2/1d745a9172b3392658795b464f784e1aae6d.pdf
http://www.eurofound.europa.eu/sites/default/files/ef_files/pubdocs/2002/109/en/1/
ef02109en.pdf Itzhaki, M., Peles- Bortz, A., Kostisky, H., Barnoy, D., Filshtinsky, V., Bluvstein, I. (2012). Exposure
of mental health nurses to violence associated with job stress, life satisfaction, staff resilience,
Einarsen, S. y Hauge, L. (2006). Antecedentes y consecuencias del acoso psicológico en el and post-traumatic growth. International Journal of Mental Health Nursing, 24(5), 403-412. doi:
trabajo: una revisión bibliográfica. Revista de psicología del trabajo y las organizaciones, 22(3), 10.1111/inm.12151
251-273. Recuperado de: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=231317121002
Jacobsen, F. (2016). Workplace violence, organizational culture, and registered nurses incident
Einarsen, S. y Nielsen, MB. (2015). Workplace bullying as an antecedent of mental health problems: reporting patterns in acute hospitals in California. A dissertation presented to organization
a five-year prospective and representative study. International Archives of Occupational and and leadership Program The Faculty of the School of Education. Is partial fulfillment of the
Environmental Health, 88(2), 131-142. doi: 10.1007/s00420-014-0944-7 requirements for the degree Doctor of Education. Universtiy of San Francisco. Recuperado de:
https://search.proquest.com/docview/1864738283/
Giorgi, G., Mikayo, A., Arenas, A., Shoss, M. y León- Pérez. J. (2013). Exploring Personal and
Organizational Determinants of Workplace Bullying and its prevalence in a Japanese Sample. Kennedy, M. y Julie, H., (2013). Nurses’ experiences and understanding of workplace violence
Psychology of Violence, 3(2), 185-197. doi: 10.1037/a0028049 in a trauma and emergency department in South Africa. Health SA Gesondheid: Journal of

1551 1552
Interdisciplinary Health Sciences, 18(1), 1-9. doi: 10.4102/hsag.v18i1.663 wcms_117581.pdf

Leidner, R. (1999). Emotional Labor Service Work. The Annals of the American Academy of OIT y OMS (2002). Directrices marco para afrontar la violencia laboral en el sector
Political and Social Science, 561, 81-89. Recuperado de: http://www.jstor.org.ezproxy.puc.cl/ de salud. Ginebra, Suiza: OIT y OMS. Recuperado de: http://apps.who.int/iris/
stable/pdf/1049283.pdf?refreqid=excelsior%3A49ce5fb4eecd91699d0be7096afee7c9 bitstream/10665/44072/1/9223134463_spa.pdf?ua=1

Lesuffleur, T., Chastang, J.-F., Sandret, N. y Niedhammer, I. (2014). Psychosocial factors at work Ortiz, S., Navarro, C., García, E., Ramis, C. y Manassero, M.A. (2012). Validación de la versión
and sickness absence: Results from the French National SUMER Survey. American journal of española de la Escala de Trabajo Emocional de Frankfurt. Psicothema, 24(2), 337-342. Recuperado
industrial medicine, 57(6), 695–708. doi:10.1002/ajim.22317. de: http://web.a.ebscohost.com.ezproxy.puc.cl/ehost/detail/detail?vid=0&sid=e0375335-
ceec-4b59-a0b2-
Leymann, H. (1996). The content and development of mobbing. European Journal of Work and
Organizational Psychology 5(2), 165-184. doi: 10.1080/13594329608414853 Palma, A., Ansoleaga, E. y Ahumada, M. (2018). Violencia laboral en trabajadores del sector
salud: revisión sistemática. Revista Médica de Chile 146(2), 213-222. Recuperado de: http://
Magnavita, N. (2014). Workplace Violence and Occupational Stress in Healthcare Workers: A www.revistamedicadechile.cl/ojs/index.php/rmedica/article/view/6009
Chicken-and-Egg Situation Results of a 6-Year Follow-up Study. Journal of Nursing Scholarship:
an official publication of Sigma Theta Tau International Honor Society of Nursing, 46(5), 366- Pai, D., Lautert, L., De Souza, S., Marziale, M. y Tavares, J. (2015). Violência, burnout e transtornos
376. doi: 10.1111/jnu.12088. psíquicos menores no trabalho hospitalar. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 49(3),
457-464. doi: 10.1590/S0080-623420150000300014
MINSAL (2013). Protocolo de vigilancia de riesgos psicosociales en el trabajo. Departamento
de Salud Ocupacional. División de Políticas Públicas Saludables y Promoción. Subsecretaría de Peiró, J. (2004). El sistema de trabajo y sus implicaciones para la prevención de los riesgos
Salud Pública. Chile. psicosociales en el trabajo. Universitas psychologica, 3(2), 179-186. Recuperado de: http://
sparta.javeriana.edu.co/psicologia/publicaciones/actualizarrevista/archivos/V3N204sistema_
Moreno- Jiménez, B., Gálvez, M., Rodríguez- Carvajal, R. y Garrosa, E. (2010). Emociones y salud trabajo.pdf?
en el trabajo: análisis del constructo “trabajo emocional” y propuesta de evaluación. Revista
Latinoamericana de Psicología, 42(1), 63-73. Recuperado de: http://web.b.ebscohost.com. Pien, L. y Cheng, Y. (2016) A multilevel analysis of organisation-level psychosocial safety climate,
ezproxy.puc.cl/ehost/detail/detail?vid=0&sid=40b87d50-ecf4-474e-87f0-bc0dabfcd5f6% experience of workplace violence and self-rated health among nurses in Taiwan. Occupational
40sessionmgr101&bdata=Jmxhbmc9ZXMmc2l0ZT1laG9zdC1saXZl#AN=49390082&db=a9h and Environmental Medicine, 73(1), A204. doi: 10.1136/oemed-2016-103951.563

Niedhammer, I., Lesuffleur, T., Coutrot, T. y Chastang, J-F. (2016). Contribution of working Pisaniello, S., Winefield, H. y Delfabbro, P. (2012). The influence of emotional labour and
conditions to occupational inequalities in depressive symptoms: results from the national French emotional work on the occupational health and wellbeing of South Australian hospital nurses.
SUMER survey. International Archives of Occupational and Environmental Health, 89(6), 1025- Journal of Vocational Behavior 80(3), 579–591. doi: 10.1016/j.jvb.2012.01.015.
1037. doi: 10.1007/s00420-016-1142-6.
Rodwell, J., y Demir, D. (2012). Psychological consequences of bullying for hospital and
OIT (2003). La Violencia en el trabajo. Educación Obrera 2003/2004. Recuperado de: http:// aged care nurses. International Nursing Review, 59(4), 539-546. doi: 10.1111/j.1466-
www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---actrav/documents/publication/ 7657.2012.01018.x.

1553 1554
Wlosko, M. y Ros, C. (2015). Violencias en relación al trabajo: consideraciones teórico-
Rugulies, R., Madsen, I., Hjarsbech, P., Hogh, A., Borg, V., Carneiro, I., et. al. (2012). Bullying metodológicas a la luz de experiencias de investigación. En Godoy, L. y Ansoleaga, E. (Comp.).
at work and onset of a major depressive episode among Danish female elder care workers. Un campo en tensión o tensión entre campos. Psicología de las organizaciones y del trabajo en
Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 38(3), 218- 227. doi: 10.5271/sjweh.3278. Iberoamérica (p. 471- 484). Santiago, Chile: Ril Editores.

SUSESO (2017). Estadísticas de seguridad social 2016. Recuperado de: http://www.suseso. Wlosko, M. y Ross, C. (2016) Trabajo en el sector salud: invisibilización, relevancia y desafíos.
cl/608/w3-article-40458.html Diplomado Calidad de Vida Laboral en la Salud Pública. Santiago de Chile, Mayo- Agosto, 2016.

Tardito, S. (2015). Seminario de Salud Mental y Trabajo. Estadísticas de Licencias Médicas de World Bank Group y World Health Organization (2016). Out of the shadows: Making Mental
Origen Común. Superintendencia de Seguridad Social (SUSESO). Noviembre 2015. Recuperado Health a Global Development Priority. Recuperado de: http://documents.worldbank.org/
de: http://www.suseso.cl/wp-content/uploads/2015/11/8-Licencias-M%C3%A9dicas- curated/pt/270131468187759113/pdf/105052-WP-PUBLIC-wb-background-paper.pdf
Mentales-en-Chile.pdf
Yada, H., Abe, H., Omori, H., Matsuo, H., Masaki, O., Ishida, Y. y Katih, T. (2014). Differences in
Toro, J.P. y Gómez- Rubio, C. (2016). Facilitadores de la Violencia Laboral: Una revisión de la job stress experienced by female and male Japanese psychiatric nurses. International Journal of
evidencia científica en América Latina. Ciencia y Trabajo, 18(56), 110- 116. Recuperado de: Mental Health Nursing, 23(5), 468-476. doi: 10.1111/inm.12080.
http://www.scielo.cl/pdf/cyt/v18n56/art06.pdf.

Tsutsumi, A., Ito, A., Saxema, S., Marquez, M e Izutsu, T. (2015). Mental Health, well-being and
disability: A new global priority. Key United Nations Resolutions and Documents. United Nations
University, United Nations, World Bank Group, The University of Tokyo. Recuperado de: http://i.
unu.edu/media/iigh.unu.edu/news/3735/UN-MHWD-Book-2015.pdf

Vasconcellos I., Abreu A. y Maia E. (2012). Violência ocupacional sofrida pelos profissionais
de enfermagem do serviço de pronto atendimento hospitalar. Revista Gaúcha de Enfermagem,
33(2), 167-175. doi: 10.1590/S1983-14472012000200024.

WHO (2000). The World Health Report 2000. Health Systems: improving performance. Genova.

WHO. Recuperado de: http://www.who.int/whr/2000/en/whr00_en.pdf

Wlosko, M. y Ros, C. (2012). Violencia laboral en el sector salud: abordajes conceptuales y


resultados de investigación en personal de enfermería en la Argentina. En Ansoleaga, E., Artaza,
O., y Suárez, J. (Ed.). Personas que cuidan personas: Dimensión humana y trabajo en salud (pp.
211-230). Santiago, Chile: OPS/OMS.

1555 1556
Capítulo 153 humillantes o exclusión grupal emergen como nuevas formas de mostrar desprecio hacia los
compañeros en estos contextos.
Incivilidad en el lugar de trabajo: “El clivaje silencioso de la violencia Considerado las asociaciones que incivilidad establece con otras formas de maltrato laboral,
laboral”. Un estudio en la industria bancaria chilena12 se ha observado que ciertas conductas abusivas, agresivas y antisociales; así como también
bullying, mobbing, tiranía y difamación social se superponen formando un proceso de escalada
Fernanda Laura Castillo Toro3 en espiral, fenómeno a partir del que la literatura reconoce a la incivilidad como el origen de
todas aquellas, considerando que la víctima puede responder con comportamientos incívicos
de igual o mayor intensidad, transitando eventualmente de víctima a instigador (Andersson y
Introducción Pearson, 1999).

Históricamente los entornos laborales han sido un escenario favorable para el desarrollo personal Respecto de las consecuencias asociadas a esta violencia incívica, a nivel individual se ha
y profesional de las personas, así como fuente de riesgo para su salud considerando que suponen verificado ansiedad psicológica (distrés), burnout, depresión y angustia en trabajadores
un espacio para la ocurrencia de accidentes y enfermedades (Gil-Monte, 2012). Los grandes (Lim & Cortina, 2008) y disminución de su salud física y mental (Salin, 2003). En términos
cambios sociales, tecnológicos, económicos, políticos y demográficos acontecidos durante el organizacionales, la reducción del compromiso organizacional y el aumento de comportamientos
siglo XX han tenido su correlato en estos entornos, por medio de la transformación significativa laborales contraproducentes (Morales, Topa, Depolo, 2011).
de los sistemas de trabajo. La literatura internacional evidencia dentro de las consecuencias
emergidas de estas trasformaciones a un grupo de riesgos psicosocial perjudiciales, tanto para En Chile, si bien la escasa producción científica sobre violencia laboral no resulta suficiente
la salud de las personas como para la producción de la organización. Entre ellos, la violencia para comprender el fenómeno de la incivilidad en su complejidad, los resultados del estudio
laboral se ha identificado como uno de los problemas sociolaborales que mayor preocupación nacional “Dimensiones organizacionales de la violencia en el trabajo en Chile considerando
provoca dado su creciente nocividad, impacto y formas de desarrollo previamente desconocidas diferencias ocupacionales y de género” revelan que, en el segmento de servicios - como la
(Chapelle y Di Martino, 2006). industria bancaria - los trabajadores/as reportan en mayor proporción experiencias de agresión
verbal y acoso psicológico Conjuntamente, advierte de la existencia de formas predominantes
Dentro del abanico de conductas violentas documentadas, estudios internacionales desarrolladas de violencia en los ambientes laborales, emergiendo conceptualmente incivismo laboral toda
hacia fines de los ´90 evidenciaron la existencia de Incivilidad en el lugar de trabajo, objeto de vez que los discursos de los entrevistados hacen referencia a “la vulneración de derechos de
estudio de la presente investigación, y conceptualizada como aquellas conductas desviadas, trabajadores y trabajadoras, así como al incumplimiento por parte de los empleadores de la
rudas y descorteses, de baja intensidad y con ambigua intención de dañar a su objetivo, normativa vigente, tanto laboral como de salud ocupacional” (PEPET, 2017).
pero que muestran falta de consideración hacia los otros, violando normas de mutuo respeto
en el lugar de trabajo (Anderson & Pearson, 1999: 457). En esta línea, estudios liderados En atención a los antecedentes expuestos, el propósito de este estudio fue explorar empíricamente
por las investigadoras Cortina y Magley (2011) han caracterizado este fenómeno como un las asociaciones que establece incivilidad laboral con determinadas consecuencias sociolaborales,
tipo de maltrato selectivo, dirigido a determinados trabajadores que, por sus características a saber estrés psicosocial y comportamientos laborales contraproducentes, en una muestra
sociodemográficas y ocupacionales, se encuentran en situación de desigualdad. Comentarios de trabajadores pertenecientes a la industria bancaria dando cuenta, además, de cómo ciertos
1. Esta investigación se inserta en el proyecto FONDECYT REGULAR N° 1140060 “Dimensiones organizacionales de la violencia en el trabajo en Chile. aspectos sociodemográficos y ocupacionales incrementan la exposición de determinados grupos
Un estudio en tres sectores económicos considerando diferencias ocupacionales y de género (2014 – 2017) de trabajadores a este tipo de violencia.
2. Este trabajo fue financiado por CONICYT PFCHA/BECA MAGISTER NACIONAL/2016 – 22160167.
3. Académica Escuela de psicología, Universidad Católica Silva Henríquez, Chile. Correo electrónico: fcastillot@ucsh.cl

1557 1558
Método iii. Estrés psicosocial. Evaluado por medio de la escala de Distrés Psicológico (Kessler et al,
2002), instrumento que mide los efectos negativos para la salud asociados a sintomatología
Participantes psicológica como depresión, inquietud, fatiga, sentimiento de culpa y ansiedad. Es de tipo Likert,
En el presente estudio participaron 330 trabajadores/as empleados en alguna institución con cinco alternativas de respuesta (1= nunca y 5= siempre). El rango de puntuaciones puede
bancaria con sede en Chile. De ellos, el 93% reportó hacerlo en la Región Metropolitana y fueron, variar de 7 a 30.
finalmente, a quienes se les informó sobre la investigación y sus implicaciones. A continuación se
les envío, vía plataforma virtual, el instrumento evaluativo junto con el consentimiento informado, Procedimiento
aprobado previamente por el Comité de Ética en investigación de la Universidad Diego Portales Con la información recolectada se elaboró la base de datos y procedió a realizar los análisis
(CEI- POSTGRADOS FCSH). La participación fue voluntaria y con garantía de confidencialidad estadísticos pertinentes, con el programa IBM SPSS Statistics versión 21.0.
y anonimato.
Resultados
Instrumentos
Las variables estudiadas, y sus respectivos instrumentos de evaluación, fueron las siguientes. Estudio de Validez
En primera instancia se procedió a traducir y adaptar semánticamente los instrumentos. Como
i. Incivilidad en el lugar de trabajo. Se evaluó mediante la Workplace Incivility Scale (Cortina et al, resultado se obtuvo la escala de incivilidad laboral en español, y el reemplazo de uno de sus
2001), instrumento tipo Likert compuesto por siete reactivos orientados a medir la frecuencia términos como estrategia para evitar interpretaciones erróneas. Para las otras dos escalas
con que los trabajadores bancarios percibieron ser víctima de comportamientos irrespetuosos, aconteció la misma situación, en términos semánticos.
groseros o condescendientes por parte de superiores o compañeros de trabajo, durante los
últimos cinco años. Cuenta con un rango de cinco alternativas de respuesta (1 = nunca a 5 = la En segunda instancia se analizó la consistencia interna de cada uno de los cuestionarios,
mayor parte del tiempo). El rango de puntuaciones puede variar de 7 a 35. obteniéndose para la escala de incivilidad laboral un alfa de Cronbach de 0.86 (α = 0.92,
Cortina et al, 2011); para distrés psicológico, α = 0.87 (α = 0.88, Ansoleaga, 2013); y para
ii. Comportamientos laborales contraproducentes. Su medición se realizó por medio de la comportamientos contraproducentes en el trabajo, α = 0.75 (α = 0.82, Omar et al, 2012).
“Escala de Comportamientos Contraproducentes en el Trabajo” (Omar et al, 2012), cuestionario
construido a partir de una estructura trifactorial, compuesta por 24 reactivos, y orientada a Finalmente se procedió a validar cada una de las escalas por medio de Análisis Factorial, con
medir acciones voluntarias y discrecionales que violan las normas organizacionales. Es de tipo procedimiento de reducción factores comunes y método de extracción máxima verosimilitud. El
Likert, constituida por cinco alternativas de respuesta (1= nunca y 5= siempre) y con rango de modelo factorial hipotetizado inicialmente para la escala de Incivismo en el Lugar de Trabajo no
puntuaciones entre 24 y 120. presentó el ajuste esperado, por lo que se procedió a eliminar los reactivos de la escala original
con coeficientes factoriales disminuidos (ítems 5 y 7). La evaluación del modelo arrojó un ajuste
Las subescalas asociadas, son: (i) Comportamientos laborales contraproducentes organizacionales, razonable (X²/gl < 3; CFI = 0.94; RMSEA = 0.09).
conductas orientadas a dañar la organización en su totalidad, ya sea a través de sus activos como
de su productividad; (ii) Comportamientos laborales contraproducentes interpersonales cuyo Para la escala de Distrés Psicológico, el modelo factorial hipotetizado presentó el ajuste esperado
objetivo es perjudicar a los miembros de la organización; y (iii) Comportamientos laborales (X²/gl = 3; CFI = 0.93; RMSEA = 0.01), por lo que se mantuvo todos los ítems de la escala inicial.
contraproducentes antiproductivos o conductas orientadas a obtener provecho o distracción Finalmente, y en relación a la escala de Comportamientos Contraproducentes en el Trabajo, el
personal durante las horas de trabajo. modelo factorial hipotetizado inicialmente no exhibió el ajuste esperado. Dado ello, se procedió a
eliminar a aquellos reactivos con coeficientes factoriales disminuidos (3, 5, 6, 7, 12, 13, 14, 15,

1559 1560
17, 18, 19, 21, 23, 24) alcanzándose un modelo con ajuste razonable (X²/gl = 1.55; DFI = 0.97; En relación a la presencia de comportamientos laborales contraproducentes (ver tabla 2), un 39%
RMSEA = 0.04), una estructura trifactorial y una matriz de factores con diez reactivos (λ > 0.5). del universo de participantes reportó haber emitido algún tipo de conducta orientada a dañar a
sus compañeros, siendo los hombres quienes lo indicaron en mayor medida. Conjuntamente, el
Resultados por variable de estudio. 36% de los respondientes reportó haber emitido algún tipo de acción orientada a perjudicar
a la organización en su totalidad, siendo aquellos con nivel educativo universitario quienes lo
En relación a la violencia incívica (ver tabla 1), se observó que un 53% de los participantes indicaron mayormente. Finalmente, el 47% de este universo informó emitir actos intencionales
reportó haber sido víctima de algún tipo de estrategia de acoso incívico en su lugar de trabajo orientados a su provecho personal, siendo los trabajadores con edad entre 35 y 50 años, y con
durante los últimos cinco años, siendo las mujeres y los trabajadores de menor edad quienes lo estudios de postgrado, quienes lo hicieron en mayor medida.
reportaron en mayor proporción. Conjuntamente, el 43.4% informó sobre la presencia de índices
de estrés moderado, siendo nuevamente las mujeres y los trabajadores de menor edad quienes
indicaron exhibirlos en mayor medida.

1561 1562
Escrutinio empírico de las hipótesis de trabajo. los participantes disminuye en 0,01 unidades el efecto del incivismo laboral sobre la emisión de
aquellos (B = - 0.05; t (302) = - 2.34; p < 0.05).
H1: Los trabajadores bancarios, que son objeto de conductas incívicas, reportan mayores índices
de comportamientos laborales contraproducentes y estrés de origen psicosocial.

En relación a las asociaciones que incivilidad laboral establece con las otras dos variables
de estudio (ver tabla 3), es factible evidenciar que aquella genera correlaciones positivas,
moderadas y significativas con comportamientos contraproducentes interpersonales (r = 0.314;
p < 0.05) y organizacionales (r = 0.269; p < 0.05), y positivas, fuertes y significativas con estrés
psicosocial. Estos resultados presuponen que una mayor percepción de conductas incívicas se
asocia a mayores niveles de estrés, y a una mayor emisión de comportamientos orientados a
perjudicar tanto a compañeros de trabajo como a la organización misma. Conjuntamente, se
aprecia una asociación significativa, débil y negativa con la variable edad (r = - 0.166; p < 0.05),
por lo que los participantes de menor edad percibirían una mayor presencia de incivilidad.

H2: Los comportamientos laborales incívicos operan selectivamente, descrinando a trabajadores


o grupos de éstos según su sexo, su calificación profesional y la relación contractual sostenida
En relación a los efectos de la violencia incívica en la emergencia de comportamientos laborales con la organización bancaria.
contraproducentes, cuando existe algún nivel de estrés psicosocial en los trabajadores bancarios
(ver tabla 4), se observa que sólo en la emisión de comportamientos contraproducentes Para esta segunda hipótesis, se procedió a testear cuatro modelos que, paulatinamente,
orientados a dañar a miembros de la organización, la presencia de estrés en trabajadores incorporaron el efecto de las variables sociolaborales seleccionadas (ver tabla 5). Se observa
bancarios incrementa en 0,01 unidades el efecto que, el ser víctima de incivismo laboral, que este tipo de violencia operaría selectivamente afectando, en mayor medida, a trabajadores/
tiene sobre aquellos (B = - 0.05; t (302) = - 1.81, p < 0.05), mientras que en la emisión de as bancarios/as: (i) mujeres (B = 0.13; p < 0.05), (ii) con menor nivel académico (universitarios:
comportamientos contraproducentes orientados a dañar la organización, la presencia estrés en β = - 0.212; p < 0.05; postgrado: β = - 0.192; p < 0.05, en relación a técnico de nivel superior), y

1563 1564
(iii) jóvenes (51 a 36: B = - 0.23; p < 0.05; 63 a 52: B = - 0.26; p < 0.05, en relación a aquellos presentaba el mismo efecto en la emergencia de comportamientos contraproducentes, en sus
entre 23 y 35 años). Conjuntamente, se observa que la variable contrato no exhibe un efecto tres modalidades, para aquellos trabajadores bancarios con presencia de estrés psicosocial que
significativo sobre la variable de exposición en ninguno de los modelos testeados. para aquellos que no lo reportaron. Se evidenció que sólo en la emisión de conductas orientadas a
dañar a compañeros de trabajo, la presencia de estrés en la población de trabajadores bancarios
incrementó el efecto que, el ser víctima de incivilidad laboral, tiene sobre aquellos, mientras que,
de un modo inversamente proporcional, se observó que para los comportamientos orientados a
perjudicar a la organización, la presencia de estrés en la población bancaria estudiada disminuyó
el efecto de la incivilidad sobre la emisión de aquellos. Este resultado permite presuponer que
frente a experiencias de incivilidad laboral, la presencia de estrés tiene un efecto diferenciado y
favorecedor de conductas destinadas a perjudicar a compañeros de trabajo.

En relación a la forma en que opera este tipo de comportamiento violento, se evidenció


parcialmente lo expuesto por la literatura: la incivilidad laboral se desplegaría selectivamente,
discriminando a trabajadores - o grupo de éstos - según su sexo, afectando en mayor medida
a mujeres trabajadoras bancarias; según su edad, afectando a funcionarios jóvenes; y según su
educación, afectando a aquellos con menor nivel académico.

A partir del trabajo desplegado es posible recomendar el uso de instrumentos cuantitativos


breves para la investigación de violencia incívica y estrés psicosocial en Chile. También lo
es, el disponer de escalas endémicas para la observación de los comportamientos extra rol
– o comportamientos laborales contraproducentes – considerando sus alcances y potencial
Discusión Y Conclusiones nocividad, como la necesidad de instrumentos cultural y sustantivamente contextualizados.

Los hallazgos del presente estudio sugieren la existencia de asociaciones entre la percepción de La perspectiva explicativa de los riesgos psicosociales en el trabajo, y utilizada en este estudio,
ser objeto de conductas incívicas, la emisión de comportamientos laborales contraproducentes ofrece un marco enriquecido para el análisis de los fenómenos de violencia laboral vinculados
y la presencia de estrés psicosocial en trabajadores bancarios de la Región Metropolitana. tanto a la salud como a las conductas desviadas. Sin perjuicio de ello, se enfatiza la necesidad
Se evidenció relaciones positivas y significativas entre incivilidad laboral y comportamientos de continuar investigando esta problemática a partir de modelos de multinivel como estrategia
contraproducentes orientados a dañar a compañeros de trabajo (r = 0.314; p < 0.05), a dañar a para profundizar su entendimiento pues, tal como evidencia la literatura internacional, el origen
la organización (r = 0.269; p < 0.05) y estrés psicosocial (r = 0.569; p < 0.01), corroborándose del problema es multivariado y situado en las condiciones de riesgo psicosocial dado su potencial
parcialmente la hipótesis de trabajo declarada, y aquello que la evidencia internacional ha como estresor, y no en el individuo; en el entorno laboral como resultado de un mal diseño y
sugerido: los sujetos victimas de incivilidad en sus lugares de trabajo exhiben mayores índices ordenación del trabajo.
de estrés psicosocial y emiten mayores comportamientos orientados a dañar a los miembros de
su organización y a ésta misma en su totalidad. Del análisis se concluye parcialmente lo expuesto por los investigadores Andersson y Pearson
(1999) y Rosario y Rovira (2013), en relación a la incivilidad: el ser víctima de alguna estrategia
Conjuntamente, fue de interés para este estudio conocer si el ser víctima de incivismo laboral de acoso psicológico se vincula positivamente con la manifestación de comportamientos

1565 1566
contraproducentes en el trabajo. Particularmente, este estudio evidencia que los trabajadores, Multidimensional Scaling Study. The Academy of Management Journal, vol. 38 (2), 555-572.
víctimas de incivilidad laboral, pueden incurrir en la manifestación de comportamientos
orientados a dañar a compañeros de trabajo y a la organización como un todo, con efectos Blau, G. y Andersson, L. (2005). Testing a measure of instigated workplace incivility. Journal of
potenciales como la disminución del compromiso en la organización, el incremento del grado de Occupational and Organizational Psychology, vol. 78, 595 – 614.
estrés psicosocial y en general, un efecto negativo en la cultura organizacional (Cortina, 2001).
Brenlla, M.E y Aranguren, M. (2010). Adaptación Argentina de la Escala de Malestar Psicológico
Conjuntamente, se concluye y confirma una prevalencia en la exposición a violencia incívica de Kessler (K10). Revista de Psicología, vol. 28(2), 311 - 342
según sexo, nivel educacional y edad, siendo las mujeres, los trabajadores más jóvenes y con
menor calificación académica quienes presentan mayores niveles de exposición a este tipo Cortina, L; Magley, V.J; Williams, J.H y Langhout, R.D. (2001). Incivility in the workplace:
de situaciones laborales estresantes. Esta información reafirma lo expuesto por la literatura Incidence and impact. Journal of Occupational Health Psychology, vol. 6(1), 64 – 80.
internacional: el fenómeno del incivismo en el trabajo no se distribuye homogéneamente sino
de forma selectiva, enmascarando discriminaciones a grupos o a trabajadores específicos Cortina, L; Magley, V.J; Lim, S. (2008). Personal and Workgroup Incivility: Impact on Work and
sobre los que se ejercería en diversas formas de hostigamiento, considerando determinadas Health Outcomes. Journal of Applied Psychology, vol. 93 (1), 95 – 107.
características como es el bajo nivel educativo (calificación profesional), la relación contractual
con la empresa y/o ser parte de grupos socialmente discriminados (sexo, etnia, padecimiento de Cortina, L.M; Kabat-Farr, D; Leskinen, E.A; Huerta, M y Magley, V. (2011). Selective Incivility as
enfermedad profesional) (Cortina, 2008; Morales, Topa, Depolo, 2011). Modern Discrimination in Organizations: Evidence and Impact. Journal of Management, vol. XX
(10), 1 – 27.
La discusión en torno a la evidencia disponible en esta materia, junto con el análisis de los
datos en la población chilena, permite visibilizar un problema de salud ocupacional y encaminar Dirección del Trabajo. (2001). Estrés Laboral. Cartillas específicas, n° 9. Departamento de
propuestas de mejora que considere el contexto laboral como un factor etiológico importante Fiscalización. Santiago de Chile, diciembre. Recuperado 03.05.2016, en: http://www.dt.gob.
en la emergencia de aquellas patologías. En esta línea, emerge la necesidad de identificar cl/1601/articles-86559_recurso_1.pdf
determinados segmentos de la industria como aquellos con mayor riesgo de exposición a este
tipo de problemáticas dado el tipo de labor desempeñada; el sector terciario de la economía Fox, S. & Spector, P.E. (In press). Counterproductive Work Behavior: Investigations of Actors and
o de servicios es uno que, por la naturaleza de su giro, exhibe condiciones inherentes para la Targets. Washington, DC: APA Press.
emergencia de aquellos.
Gil-Monte, P (2012). Riesgos psicosociales en el trabajo y salud ocupacional. Revista Peruana
Referencias de Medicina Experimental y Salud Publica, Vol.29 (2). Lima.

Andersson, L.M; Pearson, C.M. (1999). Tit for tat? The spiraling effect of incivility in the Informe UDP-CEM (2014). Industrias de elaboración de alimentos y bebidas, Retail y Sector
workplace. Academy of Management Review, vol. 24 (3), 452 – 471. Financiero Informe. Características económicas, del empleo y de la situación sindical por sector.
Fundación Sol.
Baron, R. A y Neuman, J.H. (1996). Workplace violence and workplace aggression: Evidence on
their relative frequency and potential causes. Aggressive Behavior, vol. 22, 161 – 173. Kessler, R. C., Andrews, G., Colpe, L. J., Hiripi, E., Mroczek, D. K., Normand, S. L., et al. (2002). Short
screening scales to monitor population prevalences and trends in non-specific psychological
Bennett, R. J., & Robinson, S. L. (1995). A Typology of Deviant Workplace Behaviors: A distress. Psychol Med, vol. 32(6), 959-976.

1567 1568
Ministerio de Salud. (2011). Primera encuesta nacional de empleo, trabajo, salud y Quinceno, J; Báez, C; Vinaccia, S. (2008). “Incivismo en el lugar de trabajo: “Un nuevo factor de
calidad de vida de los trabajadores y trabajadoras en Chile 2009 – 2010 (ENETS). Informe estrés laboral”. Acta Colombiana de Psicología, vol. 11, 37 – 46.
Interinstitucional. Santiago de Chile. Recuperado 03.05.2016 de: http://www.isl.gob.cl/wp-
content/uploads/2011/09/Informe-Final-ENETS-Interinstitucional.pdf Rosario-Hernández, E.; Rovira, L. (2008). Índice de Conductas Laborales Contraproducentes.
Desarrollo y Validación del índice de Conductas Laborales Contraproducentes (ICLC). Revista
Molina, T; Gutiérrez, A; Hernández, L; Contreras, C. (2008). Estrés psicosocial: Algunos aspectos Interamericana de Psicología Ocupacional, vol. 27 (1), 16 – 27.
clínicos y experimentales. Revista Canales de Psicología, vol. 24 (2), 353 – 360.
Rosario, E; Rovira, L; Velazquez, A; Zapata, A (2013). La relación entre la manifestación de
Morales, J.F; Topa, G ; Depolo, M. (2011). Acoso laboral y conductas incívicas: una perspectiva conductas laborales contraproducentes, estresores laborales, emociones y acoso psicológico: El
desde la psicología social. Revista de Educación, vol. 21, 111 – 132. efecto moderador de las emociones negativas.

Oficina Internacional del Trabajo. (2006). Cambios en el Mundo del Trabajo. Conferencia Salin, D. (2003). Workplace bullying among business profesionales. Prevalence organizational
Internacional del Trabajo, 95° reunión. Ginebra. antecedents and gender differences. Publications of the Swedish School of Economics and
Business Administration. vol 117. Helsingfors.
Omar, A.; Vaamonde, J.D. y Uribe, H. (2012). Comportamientos contraproducentes en el trabajo:
diseño y validación de una escala. Diversitas, vol. 8 (2), 249 – 265. Spector, P; Fox, S; Domagalski, T. (2006). Emotions, violence and counterproductive work
behavior. In: E. k. kelloway, j. Barling & J. Hurrell, eds. Handbook of Workplace Violence. Pp.
Paulin, D, K. (2016). The development and assessment of a multilevel model of team climate for 29 – 46. Thousand Oaks, CA: Sage.
incivility (Tesis doctoral). Macquarie University, Sidney. Australia.
Troncoso, M; Valenzuela, S. (2005). “Enfermeras en Riesgo. Violencia Laboral con enfoque de
Pearson, C.M; Andersson, L.M y Porath, C.L. (2005). Workplace Incivility. En S. Fox and P.E género”. Index Enferm (Gran), vol. 51, 40-44.
Spector (Eds.). Counterproductive work behavior: Investigations of actors and targets (177 –
200). American Psychological Association. Trucco, B.; Valenzuela, P. y Trucco, D. (1999). Estrés ocupacional en personal de salud. Revista
médica de Chile, vol. 127 (12).
Pearson, C.M. y Porath, C. L. (2005). On the nature, consequences and remedies of workplace
incivility: No time for “nice”? Think again. Academy of Management Executive, vol. 19(1), 7-18. Vielma, W (2009). Trabajadores Bancarios. Santiago de Chile. Recuperado 28.06.2016 de:
http://www.sigweb.cl/biblioteca/TrabajadoresBancarios.pdf.
Peiró, J.M (2004). El sistema de trabajo y sus implicaciones para la prevención de los riesgos
psicosociales en el trabajo. Univ. Psychol. Vol.3 (2), 179-186. Bogotá (Colombia)

Programa de Estudios Psicosociales del Trabajo, PEPT (2017). Dimensiones organizacionales de


la violencia en el trabajo en Chile considerando diferencias ocupacionales y de género. Estudio en
tres sectores económicos. Recuperado de: http://pepet.udp.cl/wp-content/uploads/2017/05/
Documento-Cientifico-Final.pdf.

1569 1570
Capítulo 154 estudiadas y con características distintivamente propias que los tienden a alejar de la realidad
sindical chilena (Frank, 2009; Palacios-Valladares, 2010).
Estrategias de revitalización sindical en Chile: la respuesta de un sindicato de la El orden en el cual este documento se lleva a cabo es en tres partes: comienza con la definición
industria de alimentos frente a actividades de de-colectivización empresarial de conceptos claves de la revitalización sindical, para pasar a la identificación de las principales
estrategias de renovación sindical finalizando con una discusión sobre los principales desafíos
Daina Bellido de Luna Mayea1 que enfrenta este sindicato en particular y el movimiento sindical a nivel nacional.

Conceptos Claves: Revitalización sindical


Introducción
Los sindicatos participan en diferentes esferas de la vida política, social y económica, de donde
La renovación sindical y la modernización de las relaciones industriales son preocupaciones también obtienen sus recursos y su poder (Behrens et al, 2004). Es por ello que se tiende a decir
crecientes en el mundo académico y laboral (Murray, 2017). Hace poco más de tres décadas, que la actividad sindical sería multidimensional. Asociado a esto se encuentra la revitalización
el debate sobre la revitalización sindical se tomó el foco de la discusión analizando cual debería sindical, la cual también estaría constituida de diferentes dimensiones, a saber la dimensión
ser el rol del sindicato en el cambiante mundo laboral. Es así que se origina el concepto de de membresía, la económica, la política y la institucional. Para cada una de estas dimensiones
revitalización sindical definido como todas aquellas actividades establecidas por los sindicatos existen diferentes estrategias de revitalización sindical identificadas en la literatura. Estas
para renovar sus repertorios de acciones colectivas y continuar siendo un actor vigente en las estrategias de revitalización fueron descritas para diferentes contextos económicos, políticos
relaciones laborales (Frege y Kelly, 2004). e institucionales y son las siguientes: organización (en forma de campañas de reclutamiento
de nuevos socios y/o nuevas formas de organizarse), restructuración interna y/o externa del
A pesar de que la revitalización sindical se viene analizando desde hace años en la literatura sindicato, coaliciones con grupos comunitarios, coaliciones con partidos políticos, generar links
mundial, su desarrollo se ha concentrado principalmente en países de Europa central y con organizaciones internacionales y finalmente, implementar una relación más colaborativa con
Norteamérica. Poco se conoce sobre revitalización sindical en países de Latinoamérica, los empleadores o pactos de diálogo social con ellos. Adicionalmente a estas seis dimensiones,
exceptuando algunos estudios aislados realizados en Brasil (ver Anner y Candia, 2013) y y en la búsqueda de prácticas innovadoras, se incluyeron dos actividades suplementarias para
Argentina (ver Atzeni y Ghigliani, 2009). El caso de Chile puede ofrecer importantes ideas en el la renovación sindical: la capacitación de dirigentes sindicales y sus bases y el uso de las
debate de la revitalización sindical latinoamericano dadas las diferencias en torno los contextos plataformas de redes sociales para comunicar y organizar a los miembros.
económico e institucional. Es por ello que el objetivo principal de esta investigación es identificar
las estrategias mediante las cuales los sindicatos de un sector industrial en Chile están haciendo Además de determinar las estrategias desarrolladas en diferentes contextos, también existe un
frente a los desafíos impuestos por sus empleadores y de esta forma volver a centrar el debate debate en la literatura sobre qué estrategia será más efectiva en lograr la renovación sindical.
en la colectivización de trabajadores. Frege y Kelly (2003) creen que los sindicatos tienen cierta discreción sobre cómo reaccionar
ante los desafíos, por lo que elegirían estratégicamente una determinada estrategia para
Utilizando la metodología de caso de estudio, se optó por realizar esta investigación en la revitalizarse. Por otro lado, Hyman (2007) sostiene que la identidad de un sindicato influirá
industria de alimentos por tratarse de un sector con una tradición importante de relaciones directamente en la estrategia de renovación seleccionada. Asimismo, Poole (2013) indica que el
industriales con sindicatos que han ido ganando espacios y legitimidad progresivamente. Se papel de los empleadores y el estado es decisivo para elegir una estrategia laboral. Este trabajo
buscaba alejarse de sectores como la minería y la banca por tratarse de industrias altamente se alinea con aquellos argumentos que ven el contexto institucional y el arraigo histórico de las
1. Estudiante de PhD en la Alliance Manchester Business School, Universidad de Manchester, Reino Unido. Email: daina.bellidodelunamaye@
manchester.ac.uk
instituciones laborales teniendo influencia directa en la estrategia de renovación seleccionada.

1571 1572
Es decir, los sindicatos realmente no tienen discreción a la hora de determinar qué estrategia son operadores. Hasta la fecha, hay seis sindicatos existentes en la compañía contando con una
implementar. Las actividades que un sindicato implementa para lograr la revitalización vendrían tasa de sindicalización de 23%. En términos de distribución por edad, hay un mayor porcentaje
determinadas por el contexto institucional en el que se encuentra ubicado el sindicato. Este (22%) de trabajadores seniors que de trabajadores jóvenes (10%). Es una empresa con mayor
argumento se basa en la discusión de Clegg (1976) sobre cómo la institucionalidad de las porcentaje de hombres (83,4%) que mujeres (16,6%). Consistente con la caracterización de la
relaciones laborales moldea las estructuras y los comportamientos de los actores. Como indican empresa, los miembros del sindicato pertenecen a un rango etario adulto, disfrutan de varios
Martínez-Lucio y Hamann (2003), el contexto político y los legados históricos son cruciales para años de antigüedad en la empresa y son predominantemente hombres empleados a tiempo
explicar las elecciones que los sindicatos hacen cuando se trata de la revitalización. completo.

El contexto chileno Los primeros resultados indican la existencia de varios desafíos para renovar el poder sindical.
Chile se describe como una economía de libre mercado cuyas relaciones laborales y procesos de Estos desafíos fueron más evidentes a nivel de empresa donde los dirigentes se enfrentan
negociación colectiva se encuentran a nivel de empresa, existiendo también múltiples sindicatos diariamente a la fragmentación del movimiento sindical y al aislamiento del sector de instituciones
en un mismo lugar de trabajo (Palacios-Valladres, 2010b). Asimismo, las relaciones laborales a nivel nacional. El primer hallazgo interesante fue la ambivalencia en la relación establecida
tienden a ser individualistas enfatizando la participación directa de los trabajadores en su entre la gerencia y el sindicato. A pesar de que la organización y el sindicato tuvieron una relación
lugar de trabajo. Según la perspectiva de recursos humanos, existiría una alta presión hacia confrontacional en el pasado, la relación comenzó a evolucionar hacia la colaboración luego de
los trabajadores ejercida por el empleador con bajos niveles de autonomía y empoderamiento una huelga de 45 días en 2013. Los jefes de RRHH coincidieron en que la huelga fue un punto de
del trabajador (Rodríguez y Gómez, 2009). Las cualidades deseables en trabajadores chilenos inflexión en la forma en que se llevaban las relaciones laborales en la empresa.
serían la lealtad, dedicación, compromiso y profesionalismo. Perez-Arrau et al (2014) indican
que se trata de una cultura laboral paternalista y predominantemente autoritaria con altos La alta gerencia se esforzó por escuchar las demandas de los trabajadores canalizadas a través
niveles de externalización y creciente precarización. Como se verá en las próximas secciones del sindicato y por alinear a todos los mandos medios para interactuar con los sindicatos de la
del documento, estas características van a ser claves para determinar las estrategias de empresa de una manera más colaborativa. Sin embargo, paralelo a estos esfuerzos, la gerencia
revitalización elegidas por los sindicatos. se encontraba apoyando la implementación de un grupo de negociación que viene a competir
directamente con el sindicato por miembros y beneficios. La literatura indica la posibilidad
Metodología que algunos empleadores participen en este tipo de relación más colaborativa en apariencia
El documento se basa en un caso estudio, cuyos datos se recopilaron entre septiembre de 2016 con la real intención de mermar el sindicalismo. En este caso, es posible que la motivación del
y julio de 2017. Se utilizó la metodología cualitativa de caso de estudio dado que el objetivo es empleador para hacer un cambio hacia un enfoque más amigable fuera limitar el poder que ganó
comprender el fenómeno de la revitalización sindical en el contexto en el que ocurre. Para este el sindicato después de la huelga. Esta motivación puede también explicar el enfoque más bien
caso estudio se realizaron 15 entrevistas específicamente siendo parte de una tesis doctoral simbólico que tendría el empleador en establecer una relación de colaboradora con el sindicato.
más amplia que consta de cerca de 60 entrevistas en profundidad. Se entrevistó entonces a Los problemas se hicieron más evidentes con el uso de un mecanismo legal llamado multi-rut.
cinco dirigentes sindicales de la empresa, tres jefes de recursos humanos, dos especialistas Esta práctica facilita la segmentación y fragmentación del movimiento sindical al simular la
en higiene y seguridad, dos jefes de línea y tres trabajadores. También se obtuvo información existencia de múltiples empresas y, forzando por lo tanto, la formación de múltiples sindicatos
adicional visitando la empresa, asistiendo a reuniones con sindicatos y sosteniendo discusiones (Bondi, 2015). Multi-rut también obstaculiza directamente la negociación colectiva y la libertad
con expertos. de asociación de los trabajadores pues en la mayoría de los casos, las empresas más pequeñas
no tienen el quórum necesario para establecer un sindicato y, por lo tanto, los trabajadores no
Resultados y Discusiones pueden formar sindicatos.
La compañía en la cual se realizó el estudio tiene cerca de 3000 trabajadores, de los cuales el 70%

1573 1574
Estas estrategias de supresión y substitución del sindicato generadas por los empleadores han “Entendemos que la única manera de tener poder, poder de negociación, poder para
movilizado al sindicato de este caso estudio a generar respuestas directamente vinculadas con obtener más cosas es tener más miembros, eso es lo único que nos da poder (...) Decidimos
tales acciones de debilitamiento. Las estrategias más desarrolladas para renovar el movimiento buscarnos dentro de la misma empresa, mirar para más sindicatos y les pedimos que se
sindical en la empresa que fueron elegidas por este sindicato son la reestructuración mediante integren con nosotros “(Dirigente sindical, p.1).
unificación, el establecimiento de un pacto de colaboración entre el empleador y el sindicato y la
organización de trabajadores dentro de la misma empresa. La Tabla 1 resume las estrategias de El proceso no ha sido tan fácil como esperaban los dirigentes. Existe una falta de voluntad de
revitalización sindical y su de nivel de desarrollo. parte de los otros sindicatos para participar en un proceso de fusión que pueda beneficiar a todos
los trabajadores. Esta falta de voluntad se ha traducido en no informar a los miembros de otros
sindicatos sobre el proceso de unificación que se está persiguiendo o de los beneficios directos
que podría ocasionar.

El segundo hallazgo en términos de renovación es el establecimiento entre la gerencia y el


sindicato de un pacto de colaboración gerencia-sindicato. El deseo de firmar este acuerdo se
originó después de la huelga de 2013 como una forma de restablecer la confianza entre las
partes. El alto mando necesitaba estabilidad para restablecer la producción a su ritmo habitual y
entendió que la única forma de lograrlo era buscar la ayuda del sindicato. Reuniones mensuales
entre los jefes de recursos humanos y el sindicato se incorporaron en el contrato colectivo y se
fortalecieron los canales de comunicación. Estas reuniones y la relación de colaboración son
enfatizadas por los jefes de recursos humanos como un ejemplo directo de la nueva forma de
interactuar con los sindicatos. Como un gerente de recursos humanos en la empresa explica:

“Después de un año, creo que sí, podemos hablar de una relación con más diálogo,
cooperación de ambas partes, las cosas se expresan de diferentes maneras, no es como
en el pasado (...) ahora se sientan y hablan. La compañía hoy tiene una posición diferente,
solo el hecho de que hay reuniones mensuales donde se abordan todos los temas. Si se
remonta a 5 años, nunca se escuchó al sindicato y por eso ocurrió la huelga “(Jefe de
En relación a la primera de estas estrategias, la restructuración a través de la unificación, las recursos humanos, p.4).
entrevistas indicaron que el objetivo principal al que apuntaban los dirigentes era el incremento
directo de miembros. Dado que la legislación chilena permite múltiples sindicatos en un único Sin embargo, en las entrevistas fue claro que el sindicato ha hecho concesiones al empleador sobre
lugar de trabajo, esta estrategia puede mostrar los resultados más rápidos para los sindicatos flexibilidad pero la gerencia ha faltado al compromiso soslayando los acuerdos de colaboración
que necesitan aumentar el número de miembros y su fuerza. Según los dirigentes sindicales, de forma sostenida mediante su apoyo a grupos de negociación paralelos y generando despidos
se encuentran intentando fusionarse con diferentes sindicatos más pequeños ubicados en masivos sin previa consulta al sindicato.
diferentes sitios de su compañía. Como resultado, el sindicato crecerá en tamaño, agregando
más miembros, fortaleciendo así su posición en la mesa de negociaciones. Una tercera estrategia de revitalización detectada fue la ‘organización’ para reclutar nuevos
miembros. El sindicato se encuentra haciendo campañas activamente, exhibiendo posters,

1575 1576
repartiendo folletos y teniendo sesiones de preguntas y respuestas en todas las plantas de lugar de trabajo y una legislación que tiende hacia la fragmentación del movimiento sindical.
producción y sitios donde podría haber miembros potenciales.
Conclusiones
Existen otras estrategias de revitalización desarrolladas a un menor nivel que el sindicato intenta
desarrollar. Se pudo determinar que los dirigentes sindicales acudían a capacitación de forma Uno de los primeros objetivos de este documento era determinar la aplicabilidad del marco de
continua, principalmente en el último tiempo dada la entrada en vigencia de la reforma laboral revitalización sindical generado por Frege y Kelly (2004). Con la evidencia mostrada aquí, se
y también formó coaliciones con vecinos y bomberos durante la huelga para asegurar apoyo. puede indicar que el modelo fue útil en la descripción y evaluación de las respuestas generadas
Estas relaciones, aunque circunstanciales, aún se mantienen. De forma similar se implementaron por este sindicato.
distintas redes sociales las que tuvieron su máximo efecto durante la huelga pues el sindicato
pude organizarse y comunicarse de forma más eficaz con sus miembros. Similarmente se pudo determinar la existencia de importantes barreras para el trabajo de los
dirigentes sindicales y para la colectivización del lugar de trabajo. El empleador fue capaz de
Finalmente, hubo dos estrategias de renovación que se pueden categorizar como subdesarrolladas implementar diferentes prácticas de supresión y sustitución para intentar debilitar el poder del
en este caso de estudio. Estas estrategias son acción política y enlaces internacionales. sindicato y de esta forma moldea las respuestas que el sindicato puede generar para revitalizarse.
Interactuar con sindicatos de todo el mundo y apoyarse mutuamente es poco frecuente para Frente a este escenario, las actividades que el sindicato debiera implementar podrían ser
este sindicato. Aunque los líderes de este sindicato conocen organismos internacionales que limitadas, sin embargo en este caso el sindicato respondió con estrategias bien planeadas y
pueden ayudarlos en el proceso de renovación de su movimiento, no han recurrido a estas desarrolladas en diferentes niveles. Esto parece sugerir que el sindicato hizo esfuerzos por
instituciones de manera sistemática. Una posible explicación puede ser el aislamiento que tiene recobrar la colectividad en su lugar de trabajo e intentó implementar aquellas actividades que
este sindicato, no sólo de los organismos internacionales, sino también de las instituciones pudieron dentro del marco político e institucional que les es permitido. De esta forma se puede
de nivel nacional. Este sindicato dejó en claro en las entrevistas que relacionarse con otras ver la influencia directa de la institucionalidad y el contexto político-económico que de alguna
instituciones relacionadas con el trabajo puede afectar su autonomía como líderes del sindicato. forma moldean las prácticas de revitalización sindical disponibles. El contexto contribuye a las
En consecuencia, es posible ver la creación de redes y la coordinación a nivel internacional y decisiones que toman los sindicatos, pero también los restringe.
nacional como estrategias subdesarrolladas.
A partir de estos resultados se entiende que el sindicalismo chileno tiene la oportunidad de
La misma reticencia a recurrir a organismos internacionales se encuentra la estrategia de acción informar y aportar al debate internacional acerca de cómo las organizaciones de trabajadores
política. Aunque este sindicato comprende las posibilidades y los beneficios de unirse a un partido enfrentan la crisis mundial del trabajo y cómo se enfocan en la revitalización sindical.
político, los dirigentes se mostraron renuentes a hacerlo por miedo a perder su autonomía. Según
los líderes sindicales, la pérdida de autonomía ocurriría porque los partidos políticos intentarían Referencias
sobreponer sus objetivos por sobre las demandas del sindicato. Tales percepciones podrían
explicarse, entre otras cosas, debido a la crisis de legitimidad que experimentan actualmente los Ahumada, M, Troncoso, S and Mesina, L. (2017). Pasado, presente y futuro del sindicalismo
partidos políticos a nivel nacional. chileno: Sindicalismo hoy problemas y desafíos. Conversatorios Museo de la Memoria Mayo-
Julio, 2017.
En general se pudo determinar que en línea con las prácticas de de-colectivización de la empresa,
el sindicato se encuentra implementando varias estrategias de revitalización que han sido útiles Anner, M. & Candia, J. (2013). Brazil. In Frege, C., & Kelly, J. (2013). Comparative employment
en contextos internacionales, pudiendo adaptarlas al ámbito local. El principal problema es que relations in the global economy. London. Routledge.
estos esfuerzos se encuentran con gran aislamiento a nivel nacional, crecientes tensiones en el

1577 1578
Atzeni, M & Ghigliani, P. (2009). The Resilience of Traditional Trade Union Practices in the
Revitalization of the Argentine Labour Movement. In Phelan, C. (2009). Trade Union Revitalization: Palacios-Valladares, I. (2010). Industrial Relations After Pinochet: Firm Level Unionism and
Trends and Prospects in 34 countries. Bern: Peter Lang. Collective Bargaining Outcomes in Chile (Vol. 11). Bern: Peter Lang.

Behrens, M., Hamann, K. & Hurd, R. (2004). Conceptualizing Labour Union Revitalization. In Palacios-Valladares, I. (2010b). From militancy to clientelism: labor union strategies and
Frege, C., & Kelly, J. (2004). Varieties of unionism: comparative strategies for union renewal. membership trajectories in contemporary Chile. Latin American Politics and Society, 52(2), 73-
Oxford: Oxford University Press. 102.

Biondi, A. (2015). Europa y América Latina y Caribe: Un frente común para construir las Estrategias Perez Arrau, G., Eades, E., & Wilson, J. (2012). Managing human resources in the Latin American
en materia de Derechos de los Trabajadores. Accessed on July 22nd from http://www.ilo.org/ context: the case of Chile. The International Journal of Human Resource Management, 23(15),
wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---actrav/documents/publication/wcms_230682.pdf. 3133-3150.

Clegg, H. (1976). Trade unionism under collective bargaining: a theory based on comparisons of Poole, M. (2013). Industrial relations: origins and patterns of national diversity. Routledge.
six countries. Oxford: B. Blackwell. Rodriguez, J. K., & Gomez, C. F. (2009). HRM in Chile: the impact of organisational culture.
Employee Relations, 31(3), 276-294.
Frank, V. (2009). The difficult road for trade unionism in Chile. In Phelan, C. (2009). Trade Union
Revitalization: Trends and Prospects in 34 Countries. Bern: Peter Lang.

Frege, C. & Kelly, J. (2003). Union revitalization strategies in comparative perspective. European
Journal of Industrial Relations, 9(1), 7-24.

Frege, C. & Kelly, J. (2004). Varieties of unionism: Strategies for union revitalization in a
globalizing economy. Oxford Scholarship Online.

Hyman, R. (2007). How can trade unions act strategically?. Transfer: European Review of Labour
and Research, 13(2), 193-210.

Martinez-Lucio, M. & Stuart, M. (2002). Assessing partnership: the prospects for, and challenges
of modernisation. Employee Relations, 24(3), 252-261.

Martínez-Lucio, M. & Hamann, K., (2003). Strategies of union revitalization in Spain: negotiating
change and fragmentation. European Journal of Industrial Relations, 9(1), 61-78.

Murray, G. (2017). Union renewal: what can we learn from three decades of research?. Transfer:
European Review of Labour and Research, 23 (1), 9-29.

1579 1580
Capítulo 155 social son más vulnerables a diversas formas de abuso. Una de las formas de poder social es el
género. Al ser un principio de organización de la vida social, la desigual distribución del poder
afecta también el ejercicio de los roles laborales.
Acoso laboral maternal: Análisis de dos casos del ámbito clínico
En la práctica clínica también se presenta el acoso laboral maternal como motivo de consulta y
Ana-Carolina Reynaldos Quinteros1
en los últimos 10 años se han ido haciendo más frecuentes las situaciones de hostilidad hacia
mujeres embarazadas y/o que retornan de su reposo postnatal, que en Chile se amplió el año
2011 de 12 a 24 semanas. Es habitual que el perfil de mujeres que consulta por este tipo de
I. Introducción.
acoso laboral sea de extremado compromiso con la empresa en los años previos a convertirse en
madre, saliendo a trabajar a otras localidades y trabajando horas extras o fines de semana si así
La problemática del acoso laboral se encuentra ampliamente estudiada sobre todo en los
hubiera sido necesario, sin poner demasiadas condiciones.
sectores productivos de la educación, salud, educación superior, comercio y hotelería así como
empleados públicos en general. No obstante hay ámbitos laborales donde se encuentra poco o
II. Caracterización de los casos.
nada de estudios. Es el caso del área de servicios financieros y sector judicial. Por otra parte
también se ha estudiado la violencia hacia la mujer embarazada en diferentes países pero ésta se
En esta oportunidad se mostrarán dos casos atendidos en psicoterapia entre octubre de 2017
concentra más bien en la violencia de pareja o bien violencia obstétrica (Tailllieu & Bronwridge,
y mayo de 2018: uno de una mujer de un servicio público (área judicial) y otra del área privada
2010; Moura, Dezett, Rolim & De Abreu, 2014).
(servicios financieros).
Existe una incipiente área de estudio sobre el acoso laboral maternal que se presenta en mujeres
La edad de una (O) corresponde a adulta joven (una hija lactante) y la otra (X) adulta media (con
trabajadoras que son hostigadas principalmente por sus jefes directos y empleadores en el
3 hijos, el último de ellos lactante). En un caso el acoso es institucional y no está concentrado
periodo del embarazo y del post-natal (Riquelme, 2011; Trujillo, Valderrábano y Lámbarry, 2012;
en un solo funcionario que hostiliza sino que se trata de todo el equipo directivo que presiona
Peña Gallo, 2016). Uno de los casos más dramáticos conocidos a nivel nacional fue el de Galia
para marginar a la trabajadora de la empresa, obligándola a que renuncie aún cuando ella tiene
Diaz, trabajadora del Consejo de la Cultura, que falleciera en un accidente de avión en la isla Juan
fuero maternal. En el otro caso el acosador es el jefe directo, con antecedentes de haber ejercido
Fernández sin que se considerara una carta dirigida al subdirector nacional de su organismo
violencia laboral contra otros funcionarios de la misma institución, entre ellos otras mujeres
empleador, donde denunciaba prácticas discriminatorias durante su permiso prenatal y luego
embarazadas.
del retorno al trabajo posterior al reposo posnatal (Pacheco, 2011), toda vez que ella nunca
debió haber abordado dicho avión ya que el cometido que se le encargó trasgredía el derecho a
Lo que tienen en común ambos casos es que el desempeño de las mujeres previo al hostigamiento
amamantamiento de su hija de 8 meses (Contraloría General de la República, 2011).
fue de extremo compromiso con la institución, cumpliendo metas muy por sobre lo esperado y
exponiéndose incluso a postergación de necesidades personales y familiares con el fin de cumplir
Tal como señalan Díaz, Mauro, Ansoelaga y Toro (2017) se puede concebir la violencia laboral
antes que nada con sus obligaciones laborales. Al momento de ellas comenzar a intentar hacer
“cuando uno o varios individuos perciben persistentemente en un periodo de tiempo que reciben
respetar sus derechos maternales, surge el conflicto que va creciendo y culmina en serios daños
acciones negativas de una o varias personas, en una situación donde el sujeto acosado/a tiene
a la salud en ambas.
dificultades para defenderse contra esas acciones” (p.43). Esto hace referencia a que existe un
desbalance de poder entre las víctimas y los victimarios, tanto de la estructura de poder formal
Otro elemento común que muestran ambas trabajadoras es el reclamo de sus derechos
como del poder social de las organizaciones. Normalmente los trabajadores con menos poder
1. Universidad Católica del Maule. Email: ps.acrq@gmail.com
maternales y – con posteriorioridad a la resistencia de que estos se respeten- la solicitud de

1581 1582
ayuda a instancias internas que puedan comprender y resolver a su favor. También ambas
terminan solicitando ayuda externa a profesionales de la salud (médico y psicólogo al menos).
La sintomatología que presentan es de tipo ansioso-depresivo y claramente asociada al acoso
laboral pues decrece en periodos en que se encuentran en reposo médico.

Ambas permanecen en sus puestos de trabajo por necesidad económica pero por sobre todo por

1583 1584
la sensación de injusticia (“¿Por qué me tengo que ir yo? Si lo único que he hecho es hacer uso violentas o amenazantes sino que estas formas de hostilidad sean impredecibles en el tiempo y
de mis derechos?”), en especial después de haber trabajado con tanto esmero y compromiso contextos, de modo que van generando indefensión aprendida.
todos los años anteriores.
En el ámbito laboral específicamente, Salin (en Trujillo, Valderrábano y Lámbarry, 2012) plantea
III. Factores que facilitan el acoso maternal. que en el caso del acoso laboral se pueden identificar 3 grupos de factores que lo permiten:
los necesarios, los motivadores y los precipitantes. Los necesarios incluyen los desequilibrios
Existen factores comunes a todas las formas de violencia contra la mujer y en particular a de poder, expectativas de las consecuencias de sus acciones por parte de los acosadores e
mujeres durante el embarazo, sin embargo en la mayor parte de los estudios se ha explorado insatisfacción laboral. Estos contribuyen a facilitar el abuso pero no lo gatillan por sí solos.
la violencia proveniente de las parejas. Taillieu & Brownridge (2010) revisan una gran cantidad Los motivadores apuntan a alta competitividad interna y un sistema de recompensas basado
de estudios sobre maltrato a la mujer embarazada y clasifican los factores de riesgo. Estos en un modelo colectivo, elementos que permiten que el acosador considere que vale la pena
autores reportan que mujeres que han sufrido violencia anteriormente tienen más probabilidades desarrollar conductas de acoso a sus subordinados o compañeros. Finalmente los precipitantes
de sufrir agresiones en este periodo, al igual que ser soltera, separada o divorciada. De igual dicen relación con cambios organizacionales como reducción de personal, reestructuración de
modo son factores de riesgo pertenecer a minorías raciales o étnicas, tener baja escolaridad, equipos, etc. En el caso de la actividad financiera esto es especialmente atingente, al igual que
bajo nivel de ingresos, aislamiento social, control prenatal tardío o que el bebé sea producto de en el sector judicial, que a nivel nacional es uno de los más criticados y sobre el cual hay mayor
un embarazo no planificado. En relación con características de los perpetradores, éstos suelen presión por resultados y eficiencia.
provenir de una cultura patriarcal y tradicionalista, además con mayor frecuencia muestran
abuso de sustancias y la victima suele tener dependencia económica de ellos. Por otro lado, existe un discurso instalado entre empresarios y directivos de centros de trabajo
de que la maternidad afecta el desempeño en la empresa (Riquelme, 2011), debido a eventuales
Taillieu & Brownridge (op.cit.) plantean algunas explicaciones teóricas ante el maltrato hacia la cambios en los puestos de trabajo (por turnos nocturnos o exposición a riesgos), ausencias por
mujer embarazada. Desde el concepto médico, la violencia se explica como una enfermedad que posibles licencias médicas y permiso para alimentación. A pesar de estas creencias generalizadas,
requiere remedio. Desde la sociología, se da énfasis a estrés, desempleo, falta de habilidades estudios realizados por la OIT sobre costos laborales desmienten estos supuestos y se calcula
para resolver conflictos y desequilibrio de poder en la relación hombre – mujer como factores que los costos monetarios directos para el empleador asociados a protección a la maternidad no
que contribuyen a la conducta de abuso. También mencionan algunas teorías psicológicas que sobrepasan el 2% de la remuneración bruta de las mujeres (Díaz et al., 2017).
explicarían el maltrato hacia la mujer como las del aprendizaje social y la psicología evolutiva.
Esta última menciona el sentido de “propiedad” sobre la mujer como parte de una necesidad de En las grandes empresas es frecuente que trabajadoras protegidas por el fuero maternal día a
asegurar la continuidad de su reserva genética. Esto explicaría los celos y el aislamiento de otros, día lleguen a un trabajo donde no pueden hacer nada pues no se les asignan claves de acceso al
para asegurarse que las crías sean de él. sistema ni se les asignan tareas (Riquelme, op. cit, p.61). Esta es una de las formas clásicas de
hostigamiento a embarazadas o madres con fuero que termina repercutiendo en sus ingresos ya
Escudero, Polo, López y Aguilar (2005) agregan otra posible explicación de corte psicodinámico que no pueden cumplir metas. También es frecuente que a estas trabajadoras se las amenace
del maltrato hacia la mujer en general, no necesariamente durante el embarazo, que dice relación con despido o con limitarles los ascensos o bien se les presione para que renuncien a su reposo
con que los maltratadores buscan víctimas a las que puedan dominar, sobre todo si son ellos prenatal o al derecho a alimentación (Díaz et al., 2017). Además, si ellas se defienden y piden
quienes pueden manejar la distancia emocional en la relación. La otra persona para él sólo cobra la intervención de la Inspección del Trabajo o asociaciones de funcionarios, en el caso del sector
valor en la medida que está dispuesta a gratificar sus deseos o necesidades, y cualquier intento público, los malos tratos y hostigamientos suelen intensificarse.
de satisfacer alguna necesidad de ella es percibida como “amenazadora de su integridad” (p.95).
Las estrategias que usan para mantener la dominación contemplan no sólo actos y actitudes IV. Perspectivas.-

1585 1586
Si bien existe una normativa legal a nivel nacional e internacional que respalda a la mujer
trabajadora y a la mujer madre (Riquelme, 2011; Herrera, 2014; Peña Gallo, 2016) las Díaz, X., Mauro, A., Ansoleaga, E. y Toro, J.P. (2017) Violencia de Género en el trabajo en Chile.
condiciones en que algunas mujeres deben sobrellevar su maternidad en los centros de trabajo Un campo de estudio ignorado. Ciencia y Trabajo, 19 (58): 42-48
están lejos de ser las óptimas para su bienestar y la salud física y mental de ellas y sus hijos/as
(Camacho, Morales y Güiza, 2014; Verona, Déniz y Santana, 2014). Escudero, A., Polo, C., López, M. y Aguilar, L. (2005) La persuasión coercitiva, modelo explicativo
de mantenimiento de las mujeres en una situación de violencia de género I: las estrategias de la
No obstante la empresa moderna, sea pública o privada, si aspira a sobrevivir en el mercado violencia. Rev. Asoc. Española de Neuropsiquiatría, Vol. XXV (95): 85-117.
y cumplir con sus metas, necesariamente tendrá que ir alineándose con el perfil de las
“organizaciones saludables” que junto con lograr buenos indicadores económicos facilitan el Fiscalía de Chile (2018) Reglamento de responsabilidad administrativa de fiscales y funcionarios
desarrollo profesional y personal de sus trabajadores (Moreno, 2011). Los actuales ranking del Ministerio Púbico. Obtenido de: http://www.fiscaliadechile.cl/transparencia/documentos/
de empresas del tipo “Great places to work” introducen parámetros más allá de las ventas y reglamentos/reglamento_de_responsabilidad_administrativa_para_fiscales_y_funcionarios_del_
servicios, como políticas de bienestar a sus trabajadores, en un esfuerzo por levantar una buena MP_.pdf
imagen corporativa.
Herrera, G. (2014) Mujer, colectivos vulnerables y discriminación laboral. Un estudio comparado
En el caso de las madres acosadas psicológicamente, la empresa se arriesga a estar perdiendo a partir del caso mexicano (Mobbing maternal). Una voz pro persona, 4:16-21. Obtenido de:
permanentemente eficientes y fieles trabajadoras, con experiencia y capacitación, financiada https://cdigital.uv.mx/bitstream/123456789/38966/2/VozPron4p16-21.pdf
por la misma empresa generalmente, que puede generar además un mal clima de trabajo y un
trato de menor calidad a clientes y proveedores (Verona y otros, 2014). Moreno, B. (2011) Factores y riesgos laborales psicosociales: conceptualización, historia y
cambios actuales. Med. Segur. Trab, Vol 57, suplemento 1: 4-19.
En este ámbito queda bastante camino por recorrer a nivel nacional e internacional puesto
que aunque existan protocolos internos que apunten a la prevención y denuncia de situaciones Moura Bessa, MM., Drezett, J., Rolim, M. & De Abreu, LC (2014) Violence against women during
como el acoso laboral (Fiscalía de Chile, 2018), en la práctica el abordaje y resolución de los pregnancy: systematized revision. Reproduçâo & Climatério, 29 (2): 71-79
casos se dificulta por el temor a denunciar por parte de las mujeres acosadas debido a posibles
represalias y a poca imparcialidad de los miembros que integran los Comités o Comisiones de Pacheco, C. (2011) La carta que Galia Díaz envió al Subdirector de Cultura denunciando acoso
Investigación (Camacho, Morales y Güiza, 2014), que son los que finalmente toman decisiones laboral. Obtenido de: http://radio.uchile.cl/2011/09/09/la-carta-que-galia-diaz-envio-al-
sobre la calificación de las situaciones presentadas y toman medidas remediales. subdirector-de-cultura-denunciando-acoso-laboral/

Referencias Peña Gallo, M.L. (2016) El mobbing maternal: una forma de discriminación laboral en contra de
la mujer en Europa. Institut de drets humans de Catalunya. Obtenido de: https://www.idhc.org/
Camacho Ramírez, A., Morales Vargas, E. y Güiza Suárez, L. (2014) Barreras al acceso a la arxius/ajudes-formacio/1467892046-PE%C3%91A_MLuisa.pdf
justicia en el acoso laboral. Opinión Jurídica, Vol. 13 (25): 121-138.
Riquelme, V. (2011) ¿La maternidad castigada? Discriminación y malos tratos. Departamento
Contraloría General de la República (2011) Detalle dictamen 077560N11. Obtenido de Estudios. Santiago de Chile, Dirección del Trabajo.
de: http://www.contraloria.cl/appinf/LegisJuri/DictamenesGeneralesMunicipales.nsf/
DetalleDictamen?OpenForm&UNID=72C97C4629DE3D0D842579660071846A Taillieu, T. y Brownridge, D. (2010) Violence against pregnant women: prevalence, patterns, risk

1587 1588
factors, theories, and directions for future research. Aggression and violent behavior, 15: 14-35. Capítulo 156
Trujillo Flores, M., Varderrábano Almegua, ML. y Lánbarry Vilchis, F. (2012) Cuantificación
del mobbing en el sector financiero mexicano bajo la perspectiva de género. XVII Congreso
La violencia psicológica en el trabajo: 15 años de investigación,
Internacional de Contaduría, Administración e Informática, México DF. Obtenido en: http:// promoción y atención de salud de trabajadores en Uruguay
premio.investiga.fca.unam.mx/docs/ponencias/2012/10.1.pdf
Silvia Franco1
Verona, MC., Déniz, J. y Santana, R. (2014) Consecuencias y responsabilidades de la empresa
ante el mobbing, Ciencia y Sociedad, 39 (3): 413-440.
El presente trabajo da cuenta del trayecto realizado desde el punto de vista teórico, empírico
y profesional, así como la reflexión ética y política en relación a la violencia psicológica en el
trabajo. Desde la mirada académica a la profesional pasando por la clínica a la organización del
trabajo, la complejidad y contingencia histórica donde emerge este problema.

El tema:
La Violencia Psicológica en el Trabajo (VPT) entendida como la vivencia de intimidación a partir de
actos negativos entre trabajadores y perpetrada sea por acción o por omisión, degrada, humilla e
intimida a quien está expuesto, produciendo consecuencias individuales y organizacionales. Los
problemas reportados refieren a perturbaciones en la salud (psicológica y física), problemas
económicos y sociales, así como enrarecimiento del clima laboral y costos en las organizaciones
(Einarsen, 1999; Hirigoyen, 2001; Rayner, Hoel & Cooper, 2002; Heames & Harvey 2006;
Einarsen, Hoel, Zapf & Cooper, 2011; Van Fleet & Van Fleet, 2012). Por otra parte, existen
condiciones subjetivas de los afectados (VA), de la gestión y de la organización del trabajo (TO)
que median en la aparición de estas consecuencias (Franco, 2015).

El objetivo:
El objetivo inicial de la investigación fue identificar las consecuencias para los trabajadores
expuestos y posteriormente se incorporaron las consecuencias para la organización y los
elementos de vulnerabilidad en una y otra dimensión. Se analizaron la incidencia en el daño
de los contextos organizacionales (cambios en la organización, tipo de liderazgo del superior
inmediato, manejo de conflictos) y de los elementos subjetivos de los trabajadores expuestos
(situaciones de estrés, tipo de contrato, soporte social y apoyo del jefe). También se analizó la
existencia de diferencias en la magnitud del daño ocasionado tanto a los trabajadores expuestos
como a las organizaciones en función de quién fuera el perpetrador de los maltratos y para ello
1. Universidad de la República del Uruguay. Email: sfrancov@psico.edu.uy

1589 1590
se hizo un corte en la muestra entre quienes fueron expuestos a VPT por su superior inmediato El dispositivo HVT (Suaya, 2003) ofrece a sus participantes, efectos terapéuticos en el proceso.
(Jefe) y quienes reportaron otros agresores (no Jefe). Se trata de un dispositivo psicosocial grupal el cual se desarrolla con objetivos delimitados en
un período acotado de tiempo. El objetivo de este dispositivo es generar un espacio de narración,
Población y recolección de datos: analizar la dimensión subjetiva y operar oportunamente para promover la resignificación por parte
En total 583 trabajadores de los cuales 186 reportaron ser expuestos a violencia psicológica en del participante de la actividad que realiza y las relaciones que establece. Este proceso contribuye
su trabajo. Entre 2002 – 2004 se realizaron 24 entrevistas. Entre 2005 y 2017 se realizaron 6 paralelamente a disminuir su sufrimiento, así como de fortalecer la confianza, expresión de sí
grupos de Historia Vital del Trabajo (HVT) con 49 trabajadores expuestos a la VPT. Desde 2006 mismo y su autoimagen. El espacio de narración está integrado por pares que contribuyen a
a la fecha hubo 510 encuestados con el cuestionario Relaciones Interpersonales en el Trabajo esa resignificación en el compartir, pensar y sentir. Este dispositivo, habilita a materializar un
incluyendo el cuestionario de Actos Negativos en el Trabajo revisado (NAQ-R 23 ítems) de espacio de atención a través de la palabra en el interjuego narración-interpretación, a la vez que
Einarsen & Hoel (2001) en su versión en español con un Alfa Cronbach de .91 en esta aplicación. permite la investigación mediante la reflexión estableciendo puentes de entendimiento entre la
singularidad-universalidad (Bourdieu, 2005).
Desarrollo de la investigación:
La investigación llevada a cabo mediante metodologías cualitativa y cuantitativa utilizando la La conveniencia en el uso de este dispositivo de abordaje cualitativo de investigación es explorar
técnica de entrevistas individuales, un dispositivo grupal psicosocial HVT (Suaya, 2003) y un el propio concepto de estudio (Creswell, 2013) desde la experiencia misma de los participantes.
cuestionario autoadministrado (Relaciones Interpersonales en el trabajo). La pregunta de investigación aquí es: qué piensan los participantes acerca de su vivencia de VPT
y de sus reacciones ante la misma, cuáles son sus percepciones.
Para la integración de los grupos de HVT y respuestas a los cuestionarios, a partir del año 2004
se organizaron talleres sobre “Acoso Moral en el Trabajo” en acuerdo con la Central Sindical del Descubrir a través de las consignas, preguntas, señalamientos, propiedades invariantes, que
Uruguay (PIT-CNT) y la Facultad de Psicología de la Universidad de la República de Uruguay. una acción, pensamiento y afecto oculta bajo la apariencia de su singularidad en los tres ejes
La atención en organizaciones mediante estudio de casos, procesos sumariales, expedientes, de análisis interpretativo conceptual que son la subjetividad (Castoriadis, 1993), el trabajo
consultas particulares ad hoc, entrevistas a responsables de organizaciones sede. El abordaje (Antúnez, 2005; Freud, 1925; Neffa, 2003; Peiró y Prieto, 2007; Postone, 2014; Vatín, 2004)
para la promoción de espacios de trabajo saludables ha sido fundamentalmente a través de y el constreñimiento (Foucault, 1984). Los contenidos que se observan de las narraciones son
talleres y conferencias de sensibilización. la aparición del miedo (Lazarus y Folkman, 1984), los niveles de constreñimiento y poder-
dependencia Emerson (1972), las posibilidades de irse del trabajo (Tepper Carr, Breaux, Geider,
Enfoque epistemológico y Métodos de análisis: Hu & Hua, 2009; Keashly & Jagatic, 2011), margen de libertad para rehusar lo que el otro pide
En una interpretación sociohistórica de la construcción de la realidad, analizando las huellas de (Crozier y Friedberg, 1990), el grado de conciencia de que de todo ello tiene el participante.
organización del trabajo (Dessors & Guiho-Bailly, 1998) y de las condiciones y medio ambiente
de trabajo (Neffa, 1988) en los signos de sufrimiento (Dejours, 1990; Seligmann-Silva, 2014) El proceso del HVT tiende a problematizar el constructo trabajo como actividad, rescatando al
que trasmiten los relatos de los participantes. Para el caso de la metodología cualitativa el propio proceso productivo en procura de rescatar el potencial creativo y deseante (Deleuze,
método de análisis utilizado fue interpretativo y la recolección de datos del cuestionario, el 1995) produciendo efectos terapéuticos en dicho tránsito. Generando un movimiento desde el
análisis fue discriminante y regresiones en una modelización con ecuaciones estructurales. constreñimiento que la organización del trabajo impone sobre los cuerpos de los trabajadores: el
trabajo como marca de identidad, de lo que el sujeto es, define y aprisiona lo que el propio sujeto
El dispositivo grupal HVT: quiere ser (Suaya, 2003).
La metodología cualitativa utilizada para esta investigación procuró comprender la VPT a partir
de la descripción y desde la percepción de los trabajadores expuestos (Sterns, 2017)

1591 1592
en las variables dependientes o constructos para el caso de esta investigación: 1) componentes
de violencia (VPT), 2) vulnerabilidad afectado, (VA) 3) vulnerabilidad organizacional, (TO) 4)
consecuencias personales, (CP) y 5) consecuencias organizacionales, (RO) (Franco, 2015).

Análisis Discriminante:
Este análisis se realizó con el fin de establecer las variables que mejor explicaban el sentimiento
de sentirse expuestos a actos negativos en el trabajo (SI -ANT). La variable a explicar en este
caso fue el sentimiento de ser maltratado en el trabajo que corresponde a la pregunta número
23 del cuestionario NAQ-R versión español (Einarsen & Hoel, 2001) y las explicativas fueron
edad, sexo y antigüedad junto a preguntas del cuestionario de 1-22 que se escogieron al azar Resultados
por su frecuencia de respuesta: carga de trabajo, ocultamiento de la información, cambio de
responsabilidades, opiniones ignoradas, subutilización, ignorado-excluido. De las entrevistas pudo observarse daño psicológico, sentimientos de constreñimiento,
percepción de finalidad de las agresiones recibidas y falta de apoyo por parte de su superior
El modelo de ecuaciones estructurales: inmediato.
Se hizo una modelización de ecuaciones estructurales (Hair, Anderson, Tatham & Black, 1999)
para examinar de manera simultánea una serie de relaciones de dependencia. De acuerdo al Historia Vital del Trabajo:
planteamiento de Hair et al. (1999) este tipo de análisis tiene dos ventajas principales: 1) La inhibición (Freud, 1925) de la expresión comunicativa producida por el miedo a perder
proporciona un método directo de tratar con múltiples relaciones simultáneas a la vez que el trabajo fue un recurso psicológico presente en el proceso de violencia en el 100% de los
da eficacia estadística, y 2) su capacidad para evaluar las relaciones exhaustivamente y participantes.
proporcionar una transición desde el análisis exploratorio al confirmatorio (p.612). Las ecuaciones
estructurales brindan un estudio del tipo holístico del problema basándose en las relaciones “No me gusta enfrentar la situación así, la esquivo de alguna manera” . “(...) si me pagaran
causales entre los diferentes constructos donde la variación de una de las variables propuestas más o menos bien [menciona otro trabajo] hubiese dejado el centro de enseñanza, porque
como independientes para cada uno de los constructos, producen unos efectos, unos cambios, era horrible, pero necesitaba el dinero y había estudiado para eso”. “Me quiero ir de la

1593 1594
empresa, pero mi esposa me dice: cómo vas a dejar el trabajo, pensá en tus hijos”. “El Modelo de Ecuaciones Estructurales:
asunto es que yo me encuentro contra una pared”. “(...) mi desahogo es ir al baño a llorar Los temas organizacionales impactan tanto en las consecuencias personales como en los
o darme contra un locker, pero ta y después tengo que trabajar en eso”2 resultados organizacionales siendo más importantes cuando el perpetrador es el superior
inmediato.
El proceso del HVT permite en la co-reflexión, la resignificación del proceso vivido y conectar con
los aspectos más creativos de los participantes.

“Deja que te diga … con mucho amor, el crecimiento que tú has tenido, vivir el hoy, el aquí
y el ahora… este cambio que hiciste... con esta nueva actividad…”. “… estás contenida,
estás en un lugar de amor, de gente que te contiene y que te quiere. De repente ese era tu
lugar y no era aquel”. “…este encuentro me abrió otros horizontes, o sea yo estaba muy
encerrada en lo que nos estaba pasando a mí y a todo el conjunto de los trabajadores…
ahora lo entiendo que le hemos puesto un nombre y me he dado cuenta en el lugar donde
estoy”. “…me gustaría trabajar con los compañeros, formar algún grupo (como) este… y
poder trabajar en bien de los demás compañeros”. “He visto ahora un poco a la distancia… Conclusiones
que fue muy acelerado desde el punto de vista de refrescar cosas que yo tenía y poderlas
aplicar a la situación concreta… me ha servido… para depurar cosas… ganar en mi propio La investigación ha dado elementos suficientes para comprender la cristalización de un
desenvolvimiento (social). Yo… sentía temor al exponer, hablar…”. “…uno va agarrando problema social en la tensión de la relación interpersonal en un contexto de vulnerabilidad y
más la táctica de la cosa y va incorporando… para enfrentar situaciones”3 . constreñimiento. Los elementos de vulnerabilidad subjetiva y organizacional permiten visualizar
a través de sus cuerpos las manifestaciones singulares del problema de la violencia.
Análisis discriminante:
La percepción por parte del trabajador de tener de manera muy frecuente “carga de trabajo”, En el análisis con ecuaciones estructurales podemos decir que: 1) en relación al constructo VPT,
“críticas sobre su trabajo” y que sus “opiniones son ignoradas” y algo frecuente “ocultamiento como era de esperar la cantidad de comportamientos negativos y la frecuencia son importantes
de la información” y “subutilización” explican el sentimiento de sentirse maltratado en el trabajo. para la configuración de la VPT, no así la duración, lo cual pudo haberse debido a cómo fue
formulada la pregunta, más que al fondo del asunto. En cuanto a la aparición de la finalidad
para el caso del perpetrador jefe es altamente significativo y se corresponde con los grupos del
estudio cualitativo previo (HVT), en el cual los participantes que habían sido expuestos a la VPT
por sus jefes y manifestaban mayores daños, referían a que el comportamiento que recibían era
deliberado y con un objetivo determinado. 2) En el constructo de consecuencias personales (CP),
importa el Sentimiento de Pérdida de Estatus y en menor medida la Depresión ésta última es
significativa para el caso que el perpetrador sea el jefe. La preocupación por el futuro ocupacional
sólo se da con significancia estadística cuando el perpetrador no es el jefe. 3) En el constructo
de resultados organizacionales (RO), importan la percepción del Clima y en menor medida el
Ausentismo, aunque sin significación estadística. El elemento Clima laboral ha demostrado tener
2. Fragmentos de las sesiones de HVT en las propias palabras de los participantes.
3. Ídem anterior
robustez en la conformación del constructo, no así el ausentismo, aunque puede haberse debido a

1595 1596
la formulación de la pregunta más que al fondo de la misma. En los grupos de HVT, el ausentismo como emergente, como síntoma de nuestro tiempo, producto de una organización del trabajo y
aparecía como una de las estrategias principales de defensa de los trabajadores. 4) El constructo sistema social que muestra en sus fisuras el daño que produce.
de vulnerabilidad del afectado (VA) importan el Apoyo del jefe y la situación vital del afectado,
aunque sólo cuando el perpetrador no es el jefe. En menor medida se encuentra el Apoyo Social Referencias
y Estabilidad, aunque sin significancia estadística. Los elementos del constructo no demostraron
suficiente fortaleza para su conformación. Por último, 5) el constructo de temas organizacionales Antunes, R. (2005). Los Sentidos del Trabajo, Bs. As.: Herramienta
(TO) importa el tipo de liderazgo del jefe del tipo coercitivo incrementándose su valor en el caso
que el perpetrador sea el jefe. También importa el manejo de conflictos del superior inmediato Bourdieu, P. (2005). Una invitación a la sociología reflexiva, Bs. As.: SXXI
para todos los casos, incrementándose en el caso que el perpetrador no sea el jefe. La seguridad
en la organización importa para el caso que sea el jefe el perpetrador. Los tres elementos son Castoriadis, C. (1993). La institución imaginaria de la sociedad. Barcelona: Tusquets
muy fuertes en la conformación del constructo. Por lo que podemos afirmar que la Organización
juega un papel protagónico en este problema. Esto no es menor en la medida que para resolverlo Creswell, J. W. (2013). Qualitative inquiry and research design:Choosing among five approaches
podremos utilizar elementos de gestión, lo vemos más adelante en este capítulo. Es interesante (3rd ed). Thousand Oaks, CA: Sage.
observar cómo el (mal) manejo de los conflictos se incrementa cuando el perpetrador es no jefe,
esto da cuenta de la importancia del rol de jefe en resolver los problemas que surgen y la falta Crozier, M. & Friedberg, E. (1990). El Actor y el Sistema. México: FCE
de competencia u omisión en ello en el caso que se presenta.
Dejours, Ch. (1992). Trabajo y desgaste mental. Bs. As.: Ed. Humanitas.
Lo que ha quedado de manifiesto con este análisis es que el jefe decididamente importa en el
desarrollo de las consecuencias que la VPT tiene para los afectados: trabajadores y organizaciones. Deleuze, G. (1995). Deseo y Placer. Barcelona: Cuadernos de crítica de la cultura, nº23, 1995,
Este estudio muestra con claridad que cuando el jefe es el perpetrador, las consecuencias p.12 y ss.
negativas aumentan y cuando éste no es quien lo perpetra el maltrato, su mal manejo de
conflictos, sí las incrementa. Esto permite reflexionar sobre la importancia que un supervisor Dessors, D. & Guiho-Bailly, M.P. (comp.) (1998). Organización del Trabajo y Salud. Bs.As.: Lumen
tiene en el bienestar de sus subalternos y de las organizaciones mismas. Así como también, del
estudio cualitativo ha quedado de manifiesto la importancia de comunicarse y relacionarse de Emerson, R.M. (1972). Exchange Theory, Part II: Exchange Relations and Networks. Pp. 58-87.
manera constructiva con los otros. No importará ya estar de acuerdo o en desacuerdo, pero un En Sociological Theories in Progress, Berger, J., Zelditch, M. & Anderson, B. (eds). Vol. 2. Boston:
ambiente que no propicie manifestar las discrepancias y molestias se transforma en un ambiente Houghton Mifflin.
en una olla a presión con alto riesgo de desarrollo de VPT. Trabajar en un medio ambiente
adecuado, cuidadoso de las personas, que brinde oportunidad de asistir a los colaboradores Einarsen, S. (1999). The nature and causes of bullying at work. International Journal of Manpower,
que lo requieran, que fomente el trabajo en equipo y comunicación abierta, la resolución de Vol. 20 No. ½, pp.16-27
conflictos, el respeto por las diferencias, pero también su manifestación e integración en las
relaciones, constituyen elementos saludables en el inter-relacionamiento laboral. Es necesario Einarsen, S. & Hoel, H. (2001). The Negative Acts Questionnaire: Development, validation and
que las organizaciones tomen este tema en sus agendas y propicien un cambio involucrando a revision of a measure of bullying at work. [Versión Oral presentation at the 10th European
todos sus actores, de manera de erradicar la VPT y su incidencia negativa tanto en trabajadores Congress on Work and Organisational Psychology, Prague, May] (mimeo facilitado por el autor).
como organizaciones. En este sentido, no nos contentamos con establecer el protagonismo del
jefe en este problema. La violencia psicológica en el trabajo surge desde nuestra perspectiva, Einarsen, S., Hoel, H., Zapf, D. & Cooper, C. (Eds) (2011). Bullying and Harassment in the

1597 1598
Workplace. Developments in Theory, Research, and Practice. New York: Taylos & Francis Group,
495pp Seligmann-Silva, E. (2014). Trabajo y Desgaste Mental. El derecho de ser dueño de sí mismo.
Barcelona: Octaedro.
Foucault, M. (1984). Microfísica del poder. Madrid: La Piqueta
Suaya, D. (2003). Salud Mental y Trabajo. Historia Vital del Trabajo. Un dispositivo Psicosocial.
Freud, S. (1925). Inhibición, Síntoma y Angustia. En Obras Completas, Bs. As.: Amorrortu Bs. As.: Lugar S.A.

Franco, S. (2015). Violencia Psicológica en el Trabajo: caracterización e impacto en los Stearns, B. A. (2017). Aspects of workplace bullying in correctional environments. Capella
trabajadores y las organizaciones. Tesis Doctoral. Universidad de Deusto. San Sebastian, University, ProQuest Dissertations Publishing, 2017. 10255683.
España. https://dkh.deusto.es/comunidad/thesis/recurso/violencia-psicologica-en-el-trabajo/
dca26252-99f2-45ab-90ec-f746f7376f21 Tepper, B. J., Carr, J. C., Breaux, D. M., Geider, S., Hu, C. & Hua, W. (2009). Abusive supervision,
intentions to quit, and employees workplace deviance: A power/dependence analysis.
Hair, J., Anderson, R., Tatham, R. & Black, W. (1999). Análisis Multivariante. Madrid: Prentice Organizational Behavior and Human Decision Processes, 109, 156-167.
Hall
Van Fleet, D. & Van Fleet, E. (2012). Towards a Behavioral Description of Managerial Bullying,
Heames, J. & Harvey, M. (2006). Workplace bullying: a cross-level assessment, Management Springer Science+Business Media, LLC 2012, Employ Respons Rights Journal, DOI 10.1007/
Decision, Vol. 44 Iss: 9, pp.1214 - 1230 s10672-012-9190-x

Hirigoyen, M. (2001). El acoso moral en el trabajo. Bs. As.: Paidós Vatin, F. (2004). Trabajo, Ciencias y Sociedad, Bs.As.: Lumen

Keashly L. & Jagatic, K. North American Perspectives on Hostile Behaviors and Bullying at Work.
En: Einarsen S, Hoel H, Zapf D, Cooper CL, editors. Bullying and harassment in the workplace.
Developments in theory, research, and practice. 2nd ed. Boca Raton, London, New York: CRC
Press. Taylor & Francis Group; 2011. p. 41-71.

Lazarus, R. S. & Folkman, S. (1984). Stress, Appraisal and Coping. New York: Springer

Neffa, J. C. (1988). ¿Qué son las Condiciones y Medio Ambiente de Trabajo?, Bs. As.: Humanitas.

Neffa, J.C. (2003). El Trabajo Humano, Bs. As.: Lumen

Peiró, J.M. & Prieto, F. (2007). Tratado de Psicología del trabajo. Volumen I: La actividad laboral
en su contexto. Madrid: Síntesis.

Postone, M. (2014). Tiempo, trabajo y dominación social, Madrid: Marcial Pons

1599 1600
Capítulo 157 A la fecha no existen estudios cuantitativos a nivel nacional que hayan medido y analizado este
problema en su complejidad. En base a estos antecedentes, el equipo de investigación que realizó
el estudio anterior, elaboró un proyecto que permitiera generar evidencias empíricas sobre
Prevalencia y formas de manifestación y factores facilitadores de la violencia violencia laboral en el país, que comenzó a ejecutarse en abril del 2017 (Proyecto Fondecyt
laboral en Chile1 Regular Nº 1170239, 2017-2020).

Elisa Ansoleaga2, Ximena Díaz3, Amalia Mauro4 y Juan Pablo Toro5 Objetivos

El objetivo general del proyecto fue “determinar la prevalencia de la violencia laboral, las formas
Antecedentes de manifestación y dimensiones de la organización del trabajo y de la cultura organizacional
que la facilitan, y problemas de salud mental en la población asalariada en las tres principales
La violencia en el trabajo es considerada la fuente principal de estrés laboral, pudiendo conducir áreas metropolitanas del país (Gran Santiago, Gran Valparaíso y Gran Concepción), teniendo
a graves problemas emocionales. En Chile, los “trastornos mentales y del comportamiento” en consideración desigualdades sociales y de género”. Sus objetivos específicos fueron: (a)
constituyen la primera causa de licencia médica para las mujeres trabajadoras y la segunda determinar la prevalencia de violencia laboral en las urbes seleccionadas, (b) describir las formas
para sus pares hombres. Un estudio en base a técnicas cualitativas (Fondecyt Nº1140060) como se manifiesta, (c) (d) establecer la existencia de asociaciones entre exposición a violencia
realizado entre los años 2014 y 2017 detectó los principales focos y nudos problemáticos para laboral y salud mental; (e) identificar dimensiones de la organización del trabajo y de la cultura
comprender el fenómeno de la violencia laboral en Chile y sus efectos en la salud mental de organizacional que se asocian a la presencia de violencia laboral, (f) identificar diferencias en
la población trabajadora. Entre otros hallazgos, permitió conocer múltiples manifestaciones de la exposición a la violencia en el trabajo según género, (g) identificar diferencias en el grado
violencia -que van desde formas sutiles y ambiguas hasta formas abiertas de agresión- y el uso de exposición a violencia laboral según la calidad del empleo, e (h) identificar diferencias en el
instrumental de la violencia como forma de control y gestión de la fuerza -de trabajo. Asimismo, grado de exposición a violencia laboral según situación social de los trabajadores/as.
entregó nuevos antecedentes acerca de los efectos de la violencia en la salud mental de los/
as trabajadores/as, así como la influencia determinante de dimensiones de la organización Metodología
del trabajo en la emergencia de violencia -como intensidad del trabajo, sistema y monto de
las remuneraciones, tipos de liderazgos, cultura organizacional-. Permitió además establecer Se realizó un estudio cuantitativo de corte transversal, en base a una muestra de 2000 casos
articulaciones entre relaciones de poder y violencia, develando la vulnerabilidad de grupos con representativa de la población asalariada de 20 y más años de las áreas metropolitanas
bajo poder formal y social como trabajadores/as en posiciones de bajo estatus en la estructura seleccionadas. La muestra se seleccionó en forma aleatoria en tres etapas: manzanas, hogares,
ocupacional, con escasos recursos para moverse en el mercado, y en particular el modo en que trabajador/a asalariado/a. Se incluyeron trabajadores/as asalariados/as del sector público
las desigualdades de poder basadas en el género interactúan con desigualdades de poder en las y privado pero se excluyeron trabajadoras/as de casa particular y funcionarios de las fuerzas
relaciones laborales, determinando una mayor vulnerabilidad de las mujeres frente a la violencia armadas para asegurar una mayor homogeneidad de la muestra.
en los espacios de trabajo.
El cuestionario incluyó la medición de dimensiones que el estudio cualitativo reveló como más
1. Proyecto Fondecyt Regular Nº 1170239, 2017-2020
relevantes para comprender el problema de la violencia laboral en el país. En primer lugar, para
2. Facultad de Psicología, Universidad Diego Portales. Email: maria.ansolega@udp.cl captar el amplio rango de actos de violencia señalados por las personas entrevistadas en el
3. Centro de Estudios de la Mujer. Email: ximenadb@gmail.com estudio cualitativo, se midió la prevalencia de violencia laboral y sus formas de manifestación a
4. Centro de Estudios de la Mujer. Email: amaliamauro@yahoo.es
5. Programa Estudios Psicosociales del Trabajo, Universidad Diego Portales. Email: juan.toro@udp.cl
través de dos métodos sugeridos por la bibliografía sobre este tema (Mikkelsen y Einarsen 2010).

1601 1602
Por una parte, un método “operativo” que mide la frecuencia con que las personas entrevistadas Resultados preliminares
han experimentado varios tipos de actos negativos durante un período previo determinado. En
esta dirección se aplicó el Cuestionario de Actos Negativos Revisado (NAQ-R) constituido por Perfil de la muestra
22 ítems referidos a distintas situaciones de violencia (Einarsen, Hoel y Notelaers, 2009). Un La encuesta fue aplicada entre enero y mayo del presente año a 2000 trabajadores/as, 59,7%
segundo método que los autores califican como “subjetivo” (Mikkelsen y Einarsen 2010) le pide de hombres y 40,3% de mujeres. Algunos de los datos más relevantes relativos al perfil de
a la persona que indique, en base a una definición amplia de violencia, si ha estado o no expuesta trabajadores/as que integraron la muestra son los siguientes: la edad media es de 43,2 años
a esa experiencia en un período de tiempo previo en su trabajo. En esta línea se incluyeron para los hombres y de 42,2 años para las mujeres, distribuyéndose por edades en forma
tres preguntas sobre experiencias de acoso psicológico, violencia física y acoso sexual en bastante homogénea desde los 20 a los 59 años, pero decayendo a poco más de la mitad a
los últimos 12 meses, y su frecuencia si la respuesta a la pregunta anterior era afirmativa. partir de los 60 años. La mayor parte de los casos de la muestra tiene educación media completa
Complementariamente, se les preguntó a los/as encuestados/ que reportaron haber estado (36,6%), le siguen aquellos/as con técnica completa (20%) y con educación superior (18%),
expuesto a violencia laboral si habían enfrentado la situación y en caso de haberlo hecho, cuáles mostrando las mujeres niveles educativos más altos que los hombres. Respecto a sus ingresos el
fueron las acciones. Los indicadores de salud mental considerados en el estudio son: consumo 51,3% los/as trabajadores/as declaró ganar menos de $550.000 al mes, el 17,2% gana entre
de psicotrópicos, escala de distréss de Kessler, K-6 (2002); y el DSM-IV (1994) para medir 550.001 y 800.000 en igual período, y el resto recibe menos de esa cifra. El 56,3% de las
sintomatología depresiva. Asimismo, las dimensiones de la organización del trabajo y la cultura mujeres declararon ser jefas de hogar pero sus ingresos mensuales se concentran en los tramos
organizacional que se asocian a prevalencia de violencia laboral se midieron a través del modelo inferiores a pesar de tener un nivel educativo mayor.
demanda-control-soporte social de Karasek y Theorell (1990), la escala desbalance esfuerzo-
recompensa de Siegrist (1996); escala de términos opuestos de tres dimensiones de cultura Prevalencia de violencia y formas de expresión
organizacional, basada en Hofstede (1999); escala de liderazgo destructivo-constructivo, DCL, Un análisis muy preliminar de las respuestas al Cuestionario de Actos Negativos Revisado
14 ítems (Einarsen, Aasland y Skogstad, 2007), y una escala de 4 ítems de satisfacción laboral. (NAQ-R) constituido por 22 ítems referidos a distintas situaciones de violencia, muestra que
Para determinar calidad del empleo, dimensión que se vincula con el grado de exposición a los actos más señaladas por los/as trabajadores/as se relacionan con situaciones propias del
violencia y capacidad de afrontamiento, se incorporaron en el cuestionario variables como: tipo trabajo. Entre un 30 y 40% de las personas entrevistadas –con pocas diferencias entre hombres
de contrato, nivel de ingresos personales, períodos de desempleo los últimos doce meses, y y mujeres- señalan que:
percepción de inseguridad en el empleo. Asimismo para determinar la existencia de asociaciones
entre relaciones de poder y exposición a violencia laboral se incluyeron indicadores de poder Ha sido excesivamente supervisado en su trabajo
formal al interior de las organizaciones como categoría ocupacional del/la trabajador/a, de su Ha sido expuesto a una excesiva carga de trabajo
nivel educacional y de ingreso, e indicadores de estatus socio económico (poder social) como: Alguien le ha ocultado información que ha afectado a su rendimiento
ingreso familiar, educación y ocupación del jefe del hogar. El género es una dimensión estructural Sus opiniones y puntos de vista han sido ignorados o ha recibido críticas persistentes sobre su
que determina desigualdades de poder formal y social lo que sostiene la hipótesis de una mayor trabajo y esfuerzo
vulnerabilidad de las mujeres a conductas violentas en el trabajo. Por esto, todas las variables se
analizarán considerando diferencias de sexo, y los resultados se analizarán a la luz de conceptos Fueron señalados, con frecuencias algo menores (por un 25% a 30% de personas), algunos
explicativos de las desigualdades sociales de género. actos que afectan la dignidad de la persona:

Por último, se incluyeron además potenciales confusores de las asociaciones entre violencia y Le han cambiado de realizar tareas de responsabilidad por otras más triviales o desagradables,
salud mental como problemas de salud relevantes: enfermedad crónica, y evento vital estresante. Le han ordenado realizar un trabajo que está por debajo de su nivel de competencia o calificación

1603 1604
Los ítems referidos a distintas formas de intimidaciones como amenazas de violencia física, ser obstante, las mujeres son mucho más acosadas por sus superiores (49,4% versus 43,6% de los
apuntado con el dedo, su espacio personal invadido, recibir empujones o ser ignorado o excluido hombres), mucho más por sus compañeros (29,8% versus un 18,3% de los hombres) y por sus
por el resto de sus compañeros o grupo profesional fueron señalados por una proporción menor subalternos (8,1% versus un 5,7% de los hombres).
de trabajadores/as.
Asimismo, respecto al sexo de los agresores las mujeres son agredidas tanto por hombres como
Como se señaló anteriormente, se aplicó un segundo método para indagar prevalencia y formas por mujeres (31,6% y 31,2% respectivamente), en tanto los hombres son agredidos en mayor
de expresión de la violencia. En este se le pidió a las personas encuestadas que señalaran si proporción solo por hombres que por mujeres (49,7% y 8,8% respectivamente).
habían sufrido violencia física, psicológica y sexual en los 12 meses anteriores a la encuesta, en
base a una definición de cada tipo de violencia y no a situaciones específicas como en el método Los datos que se exponen en este resumen son resultados preliminares descriptivos que entregan
anterior6, 7, 8,. Se obtuvieron los siguientes resultados. antecedentes valiosos de la prevalencia de violencia y de las formas como se manifiesta en
trabajadores y trabajadoras asalariadas en tres grandes urbes del país. Sabemos, sin embargo,
La mayor frecuencia de respuestas positivas se refieren a experiencias de acoso psicológico. Un que la violencia no se distribuye homogéneamente entre los y las trabajadoras, y que, tampoco
8,5% los hombres y un 11,6% las mujeres señaló haber vivido experiencias de acoso psicológico adquiere similar magnitud y formas en distintas empresas u organizaciones. Un conocimiento
en los últimos doce meses. Un 16,3% de hombres y un 28,9% de mujeres señalaron haberlas profundo del problema requiere analizar por una parte, las asociaciones entre violencia y sus
vivido en forma “seguida” o “muy seguida”. dimensiones determinantes como organización del trabajo, cultura organizacional, tipos de
liderazgos y relaciones laborales que promueven las empresas, y por otra, es necesario identificar
El acoso sexual y la violencia física son señalados por una proporción mucho menor de los grupos más expuestos a ella así como caracterizar las situaciones que configuran su mayor
trabajadores/as, pero en ambos casos con diferencias importantes entre hombres y mujeres. vulnerabilidad respecto de otros, en particular las mujeres.

En el caso de acoso sexual, a pesar del bajo porcentaje de mujeres que señalan haber vivido una Responder a estas preguntas es parte del análisis en curso de los resultados de este estudio.
experiencia de este tipo en los 12 meses previos, estas doblan a los hombres (1,7% de mujeres
vs. 0,9% de hombres) y un 32,2% % señala además que han sido experiencias experimentadas Referencias
“seguido” o “muy seguido”. Resulta relevante considerar además que un 5,5% de las mujeres
señalaron haber sido testigos de conductas de acoso. Einarsen, S. (2000). Harassment and bullying at work: A review of the Scandinavian approach.
Aggression and Violent Behavior: A Review Journal, 5(4), 371–401. doi: 10.1016/S1359-
La violencia física es casi inexistente, y la mayor exposición la muestran los hombres (1,3% 1789(98)00043-3
versus un 0,7% de las mujeres).
Einarsen, S., Aasland, M.S., & Skogstad, A. (2007). Destructive leadership behaviour: A
Al analizar el estatus y sexo de los/as acosadores se constatan diferencias importantes entre definition and conceptual model. The Leadership Quarterly, 18 (3), 207-216. doi.org/10.106/j.
hombres y mujeres lo cual entrega indicios de determinaciones de género en la relaciones de leaqua.2007.03.002
poder en los espacios de trabajo. Los/as acosadores (de cualquier forma de violencia) son los/
as superiores jerárquicos, compañeros, subalternos y personas externas a la organización. No Einarsen, S., Hoel, H., & Nothelaers, G. (2009). Measuring exposure to bullying and harassment at
6. Si consideramos los últimos 12 meses, en su trabajo principal, ¿ha sido alguna vez objeto de acoso psicológico, es decir de palabras o actos repetidos work: Validity, factor structures and psychometric properties of the Negative Acts Questionnaire.
que atacan su dignidad o integridad? Revised. Work & Stress: An International Journal of Work, Health & Organisations, 23(1), 24-
7. En los últimos 12 meses, en su trabajo principal ¿ha sido objeto de palabras o gestos de carácter sexual no deseado
8. Se preguntó ¿En su trabajo principal, en los últimos 12 meses, ha sido víctima de agresión física?
44. doi. 10.1080/0267837092815673

1605 1606
Capítulo 158
American Psychiatric Association. (1994). DSM-IV. Manual Diagnóstico y estadístico de los
trastornos mentales. (1994). Versión española de la cuarta edición de la obra original en lengua
inglesa Diagnosistic and Statistical Manual of Mental Disorder. Washington. DC.
Dimensiones organizacionales de la violencia en el trabajo en Chile: un estudio
en tres sectores económicos considerando diferencias ocupacionales y de
Hofstede, G. (1999). Cultura y organizaciones, el software mental: la cooperación internacional género
1

y su importancia para la supervivencia. Recuperado de https://seryactuar.files.wordpress.


com/2015/08/3-culturas-y-organizaciones-hofstede.pdf Elisa Ansoleaga2, Ximena Díaz3, Amalia Mauro4 y Juan Pablo Toro5

Karasek, R.,& Theorell, T. (1990). Stress productivity and the reconstruction of working life.
New York (N.Y): Basics Books. Antecedentes

Kessler, R. C., Andrews, G., Colpe, L. J., Hiripi, E., Mroczek, D. K., Normand, S. L., et al. (2002). Short La violencia laboral ha llegado a ser un fenómeno mundialmente alarmante por su creciente
screening scales to monitor population prevalences and trends in non-specific psychological magnitud, con efectos negativos en la salud de los/as trabajadores/as. Representa un fenómeno
distress. Psychol Med, 32(6), 959-976. doi: 10.1017/S0033291702006074 plural y diverso que incluye una variedad de comportamientos cuyo límite de lo que es o no
aceptable es a menudo muy vago, representando un continuo de comportamientos que pueden
Mikkelsen, E.G., & Einarsen, S. (2001). Bullying in Danish worklife: Prevalence and health traslaparse unos con otros (Chappell y Di Martino, 2006).
correlates. European Journal of Work and Organizational Psychology. 10:4, 393-413. Doi.
org/10.1080/13594320143000816 En Chile, los estudios sobre violencia laboral -mayoritariamente exploratorios- han aportado
indicios que advierten que la violencia se ha instalado en forma permanente en las relaciones
Siegrist J. (1996). Adverse health effects of high-effort/low-reward conditions. J Occup Health laborales afectando mucho más a las mujeres. Sin embargo, pocos han indagado en sus factores
Psychol. 1(1), 27-41. doi.org/10.1037/1076-8998.1.1.27 explicativos, si bien la literatura reconoce principalmente tres modelos de aproximación, unos que
dan preeminencia a los factores individuales como desencadenantes de la violencia, otros a los
factores de las relaciones interpersonales y otros ponen de relieve las características del entorno
socio-laboral (Einarsen, 2000). Los enfoques explicativos más aceptados son aquellos referidos
a dimensiones relevantes de la organización del trabajo, tales como ambigüedad y conflicto de
roles, falta de información, tareas mal definidas, sobrecarga cuantitativa, bajo control, estilos de
liderazgo, cultura organizacional y estilo de gestión (Di Martino, 2002; OMS, 2004). En Chile,
la instalación de un modelo de producción y acumulación flexible ha creado condiciones que
son “caldo de cultivo” para la emergencia de violencia en concordancia con lo señalado por la
literatura internacional, en tanto en diversos sectores de la economía se han generado espacios
1. Proyecto Regular Fondecyt Nº 1140060, 2014-2017
2. Facultad de Psicología, Universidad Diego Portales. Email: maria.ansolega@udp.cl
3. Centro de Estudios de la Mujer. Email: ximenadb@gmail.com
4. Centro de Estudios de la Mujer. Email: amaliamauro@yahoo.es
5. Programa Estudios Psicosociales del Trabajo, Universidad Diego Portales. Email: juan.toro@udp.cl

1607 1608
de trabajo precario, con alta asimetría de poder entre empleadores y trabajadores(as) y baja inconsultos de condiciones de empleo o de trabajo; prácticas antisindicales; negación de
capacidad de estos últimos para representar y hacer valer sus derechos en forma colectiva. derechos o beneficios regulados

Propósito del estudio “se van quitando beneficios a la gente … y es cuando la gente se siente como violentada,
como que les están quitando algo que era de ellos y se lo están quitando. Yo pienso que
Esta investigación, que obtuvo financiamiento Fondecyt (Proyecto Regular Nº 1140060, en eso se siente un poco de violencia, se siente en la gente, se siente en el ambiente”
2014-2017), tuvo como propósito identificar, describir y analizar las dimensiones y (Hombre en cargo de Jefatura, Industria de Alimentos)
procesos organizacionales que facilitan el desarrollo de la violencia laboral en tres contextos
organizacionales de empresas del sector privado –la industria del retail, industria de elaboración Asimismo, los relatos destacan el hecho de que la violencia es generalizada y colectiva más que
de alimentos e industria bancaria–, dando cuenta de las desigualdades sociales y de género en personalizada. Es decir, se dirige al colectivo de trabajadores y tiene como objetivo, a menudo
la exposición a violencia laboral, desde la perspectiva de tres actores labores, trabajadores/as, encubierto, presionarlos/as para mantener un ritmo intensivo de trabajo que asegure el logro de
representantes de empresas y sindicatos. las metas de la empresa, no cuestionar las órdenes, cumplir con lo que se les manda. Esto es,
se orientan a disciplinar la fuerza de trabajo, lo que ha sido descrito como bullying estratégico
Metodología u organizacional por algunos autores (Ferrie et al. 2007; Neuberger, 1999, citado en Einarsen,
Hoel, Zapf & Cooper, 2011):
Se aplicaron 70 entrevistas en profundidad a trabajadores/as, dirigentes sindicales y
representantes de empresas de los sectores seleccionados, acerca de sus percepciones y “… te gritan encima de toda la gente, te reclaman en grupo, yo eso lo encuentro una falta
experiencias sobre violencia en sus entornos laborales y sobre las dimensiones y procesos de respeto, porque siempre tendrían que llamarte a un lugar donde puedan conversar
organizacionales que facilitarían la emergencia de comportamientos, o manifestaciones de contigo, conversar, no gritarte” (Dirigente, industria de alimentos)
violencia en las relaciones laborales.
Estas prácticas gerenciales pueden llegar a establecer rutinas que dan lugar a lo que Hoel & Beal
Resultados (2006) han denominado “régimen de trabajo opresivo”, cuya dinámica supone un desbalance
de poder en que trabajadores y trabajadoras no están en condiciones de prescindir de su empleo
Manifestaciones de la violencia en los espacios de trabajo. Los/as entrevistados/as señalan que la y aceptan continuar en malas condiciones ya que las alternativas que se les ofrecen son aún
forma predominante de violencia es la psicológica o verbal, por sobre la violencia física y el acoso perores.
sexual, la que se expresa de diversas formas: desde conductas asimilables a comportamiento
inciviles (como maltrato verbal, uso de lenguaje grosero, malos modales, miradas críticas o Dimensiones organizacionales que promueven la violencia. Se constató que la organización
trato irrespetuoso) hasta agresiones abiertas entre las cuales aparece como muy relevante la del trabajo y la cultura organizacional juegan un rol central en la emergencia de la violencia,
amenaza de despido: especialmente la excesiva presión y carga de trabajo; los sistemas de compensaciones y
recompensas y los estilos de liderazgo y de gestión de recursos humanos:
“en términos de las relaciones verticales no hay una violencia física, pero sí hay un
hostigamiento porque siempre está, por ejemplo, el rollo [preocupación] de que te van a “…el problema es el trabajo, la carga laboral, la exigencia de jornadas largas; muchas
echar” (Trabajador del retail) veces tiene que dejar a sus hijos al cuidado de otras personas, la preocupación. Entonces
es un ambiente agresivo” (Dirigenta sindical Industria Bancaria).
Ésta se expresa además en la vulneración de derechos fundamentales, como ocurre con cambios

1609 1610
El marcado verticalismo en las relaciones laborales y el predominio de estilos de liderazgo y en el trabajo. El temor al despido y la incertidumbre inhiben la capacidad de respuesta y/o
de supervisión autoritarios fueron señalados por trabajadores/as y dirigentes sindicales como afrontamiento del problema:
factores directamente asociados al ejercicio de la violencia:
“Yo soy vendedora, y mi jefe me explota, me hace quedarme continuamente hasta muy
“Me tocó ver cuando el gerente general, el dueño de la empresa, trató a garabatos a tarde, antes éramos 4, ahora somos 2 y no han traídos reemplazos. Tengo que hacer yo la
un gerente adelante mío. Yo lo miré y dije yo de qué estamos hablando, y el gerente pega que antes hacíamos varios…. un jefe estaba diciendo que a los que no trabajaran los
prácticamente agachó la cabeza. Es la política del patrón de fundo que ya en este país está sobre tiempo que les pedían, los iba a echar, a todas, entonces asustadas por esas cosas,
arraigada” (Dirigente sindical Industria del Retail). te fijas?” (Trabajadora Industria del Retail).

En la mayor parte de las empresas se describe a las jefaturas como autoritarias, poco respetuosas De acuerdo a Niedl (1995), una persona estará expuesta a acciones negativas reiteradas solo si
y poco interesadas en los/as trabajadores/as. Asimismo, se señalan elementos de la cultura ella percibe que es incapaz de defenderse o escapar de la situación, de allí que la acción colectiva
organizacional que favorecen o inhiben la violencia: empresas que manifiestan preocupación y sindical ocupe un rol central en el afrontamiento, situación que ha sido destacada en estudios
por los/as trabajadores/as y otras más interesadas en resultados económicos. Se constata internacionales.
una distancia entre las declaraciones y las prácticas cotidianas, de modo que, al parecer, el
ethos autoritario emerge y se mantiene a pesar de políticas y procedimientos de la organización Género y violencia en el trabajo
orientadas al mejoramiento de esa relación.
La violencia de género en el trabajo expresa la articulación de dos formas de opresión sobre las
“creo que en Chile aún persiste este tipo de liderazgo, o de jefatura muy de dueño de fundo mujeres: su bajo poder formal en las organizaciones y su bajo poder social derivado de relaciones
que finalmente lo que pretenden es que la gente trabaje por miedo y no del convencimiento. de género que las subordinan y discriminan:
¿Y qué es lo que logras al final? no logras respeto por ningún modo, pero sí logras que
la gente se paralice y terminas trabajando con gente autómata, gente que no es capaz “(…) la gente anda muy atemorizada, sobre todo lo que es la mujer. ¿Por qué? porque se
de tomar decisiones porque sabe que cualquier movimiento en falso que haga va a tener sienten desprotegidas, porque saben que ‘si me echan de aquí ¿qué hago?’, entonces pasa
reprimenda” (Hombre en cargo directivo, Industria de Alimentos). eso mucho” (Dirigente sindical Industria del Retail).

El predominio de un estilo de relaciones verticales y autoritarias ha sido destacado por Ramos Las/os entrevistadas/os destacan una mayor exposición al maltrato de las mujeres asociado
(2014) quien señala que, si bien han ocurrido cambios positivos en las empresas chilenas desde a ocupaciones de menor estatus y a condiciones precarias de empleo, actitudes y conductas
los años 70, en materia de relaciones internas siguen prevaleciendo relaciones verticales, con “machistas”, acoso sexual y discriminaciones asociadas a la maternidad.
un alto diferencial de poder y donde existe un marcado grado de desconfianza y distancia social
entre ejecutivos y trabajadores. El afrontamiento de la violencia en el trabajo

Articulaciones entre desigualdades ocupacionales y violencia en el trabajo Se identifican distintas formas de afrontamiento de la violencia por parte de los y las trabajadoras,
activas, pasivas, individuales y colectivas. Las formas activas de afrontamiento se ven facilitadas
El estudio reveló que los/as trabajadores/as que no tienen posibilidades de hacer valer sus por la existencia de un sindicato y por el rol de acompañamiento que desempeñan los dirigentes.
derechos debido a su escasa autonomía y falta de poder y al temor a las consecuencias -como El afrontamiento activo individual es más escaso y a veces tardío:
menoscabo de condiciones de trabajo o pérdida del empleo- están más expuestos a violencia

1611 1612
“nos falta alguien que se atreva de verdad. Lo más cercano la niña dijo “este señor un día discriminación de género en la estructura ocupacional así como a la persistencia de relaciones
me invitó a salir” y no sé qué le dijo una par de cosas y ella lo increpó y le dijo “yo no laborales patriarcales y autoritarias.
necesito que nadie me defienda así que sale de aquí degenerado” y no la molestó más”
(Dirigente sindical Industria del Retail). Bibliografía

“entonces ahí el trabajador cuando ya se ve sin ninguna salida que ya está como a punto Chappell, D. & Di Martino, V. (2006). Violence at Work (3a. Ed.). Ginebra, Suiza: International
de abandonar el trabajo, que ya le da lo mismo dejar el trabajo y todo, ahí como que el Labour Office.
trabajador se empodera y dice no yo ya estoy dispuesto a ir a la inspección del trabajo, a
decirle al sindicato de lo que pase ahí, pero sí, aguanta mucho o sea eso, es como que los Di Martino, V. (2002). Workplace violence in the health sector. Country case studies. Brazil,
chilenos tenemos esa condición.” (Dirigenta sindical, industria del Reail) Bulgaria, Lebanon, Portugal, South Africa, Thailand, plus an additional Australian study.
Recuperado de http://www.who.int/violence_injury_prevention/injury/en/WVsynthesisreport
El afrontamiento pasivo aparece en testimonios que dan cuenta de la desesperanza en conseguir Einarsen, S. (2000). Harassment and bullying at work: A review of the Scandinavian approach.
un cambio en la situación denunciada y el temor a perder el empleo, lo que lleva a la inacción: Aggress Violent Beh. 2000; 5(4):379-401.

“…hay gente que es muy atropelladora, que mira en menos a la gente que realiza ese Einarsen, S., Hoel, H., Zapf, D. & Cooper C.L. (2011). The concept of bullying and harassment at
tipo de trabajo, le pasan pero por encima, la tratan mal, la tratan de la peor manera y work: the European Tradition. En S. Einarsen, H. Hoel, D. Zapf & C.L. Cooper (Eds.) Bullying and
normalmente las chicas, en realidad yo no, no veo nunca una que se salva de nadie, porque, Harassment in the Workplace. Developments in Theory, Research, and Practice (2nd. Ed.) (pp.
porque también tienen el temor de perder la pega, entonces se callan, se callan y tratan de 3-30). London, UK: CRC Press Taylor & Francis Group.
como de calmar la situación.” (Jefe, industria del retail).
Ferris, G.R., Zinko, R., Brouer, R.L., Buckley, M.R. & Harvey, M.G. (2007). Strategic bullying as
Así como la existencia de un sindicato actúa como facilitador de la denuncia de violencia, del a supplementary, balanced perspective on destructive leadership. The Leadership Quarterly, 18,
mismo modo puede operar la existencia de políticas de la organización al respecto, que proveen 195–206. doi:10.1016/j.leaqua.2007.03.004
de un marco de normas y procedimientos que previenen y permiten actuar en estos casos.
Con todo, la existencia de esas políticas no asegura su cumplimiento ni la efectividad de su rol Hoel, H. & Beale, D. (2006). Workplace bullying, psychological perspective and industrial
preventivo. relations: toward a contextualized and interdisciplinary approach. Brit J Ind Relat, 44(2), 239–
262. doi:10.1111/j.1467-8543.2006.00496.x
Conclusiones
Niedl, K. (1995). Mobbing/bullying am Arbeitsplatz [Bullying at work]. Munchen, Germany:
El abordaje de la violencia en el trabajo, más allá de los modelos causales que ponen el acento Rainer Hampp Verlag.
en las características individuales de los actores o en las relaciones interpersonales, requiere
de un modelo multicausal que preste atención central a las dimensiones organizacionales que Organización Mundial de la Salud. (2004). Sensibilizando sobre el Acoso Psicológico en el
caracterizan el proceso de trabajo y el marco de las relaciones laborales en que éste se da. Trabajo. Programa de Salud Ocupacional y Ambiental (Serie Protección de la Salud de los
Desde esta perspectiva, se hace evidente la incidencia fundamental que ejercen los contextos Trabajadores Nº4). Recuperado de http://docplayer.es/6615517-Este-folleto-se-puede-
socioculturales y económicos y los modelos de gestión de personas en los espacios cotidianos obtener-de-organizacion-mundial-de-la-salud-programa-de-salud-ocupacional-y-ambiental-
de trabajo. La violencia en el trabajo aparece asociada a las desigualdades de poder y a la 1211-ginebra-27-suiza.html

1613 1614
Capítulo 159
Ramos, C. (2014). La modernización de la empresa chilena: posfordismo con huellas autoritarias.
En A. Stecher & L. Godoy (Eds). Transformaciones del trabajo, subjetividades e identidades.
Lecturas psicosociales desde Chile y América Latina. (pp.79-101). Santiago de Chile: RIL
Violência Urbana: marcas traumáticas do inesperado no trabalho
editores.
Claudia Piccolotto Concolatto1 y Andrea Poleto Oltramari2

“Em determinado momento eles chegaram [em um dos estabelecimentos assaltados] com
um refém, arrebentaram a frente, entraram né, fizeram todo mundo [que estava dentro]
refém”. “...Quando deram o primeiro estouro, daí ei levantei e até olhei para trás porque
eu não consigo enxergar lá na frente, daí que eu vi que os vigilantes gritaram que era
assalto, daí que eu ver que tinha alguma coisa”. “Um deles [assaltante] veio sozinho pra
cá com uma pessoa já na mira do revólver dele né, ameaçaram atirar na pessoa se não...
então conseguiram entrar, foi autorizado ele entrar aqui, o pessoal daqui de dentro foi lá
pra fora para um cordão humano e eu fiquei com o ladrão aqui para abrir o cofre.” “...Eles
botam todo mundo para fora para fazer proteção para eles”.

Tal fato narrado acima diz de um episódio de violência urbana no trabalho, a qual mostra o
inesperado – não no sentido fantástico ou inovador – mas o inesperado sombrio – durante
a execução das atividades laborais levando as experiências de susto e terror que impactam
diretamente nas relações de trabalho. Para compreender os resultados desse fato, faz-se uso da
teoria psicanalítica, argumentando que o susto, o medo e a angústia fazem parte do cotidiano
do trabalhador e incluem receio em relação à própria vida, deixando marcas que caracterizam o
trauma psíquico, fragilizando as relações de trabalho.

A pesquisa ocorre no atual cenário brasileiro, mundialmente conhecido pela criminalidade. No


Brasil já não há mais local de risco quando o tema é a violência urbana, a qual tem sido definida
como toda a ação humana que ocasione a morte ou afete a integridade física, material, mental ou
moral de outro sujeito (Minayo; Souza, 1998; Tavares dos Santos, 2004; Melo, 2010).

Argumenta-se que o modo de tratar episódios de violência urbana dentro das organizações diz
respeito à forma como se manifestam as Relações de Trabalho na atualidade: cada vez mais
fragilizadas (Gaulejac, 2007; Faria e Menegheti, 2002). Durante o trabalho o sujeito está tal em
1. Doutoranda UFRGS. Email: claudia.con@terra.com.br
2. Docente PPGA/UFRGS. Email: andrea.oltramari@ufrgs.br

1615 1616
estado de disponibilidade para a realização das tarefas laborais que se encontra especialmente neoliberalismo. É importante considerar as consequências para a subjetividade dos sujeitos
despreparado para um evento como assalto ou sequestro. Este tipo de violência o encontra desses aspectos apresentados, modos de ser e viver que desconsideram o semelhante. Pode-
em estado indefeso, desprotegido, causando, portanto, importante impacto subjetivo, aqui se associar a isso, a ideia apresentada por Concolatto, Oltramari e Santos Filho (2016), sobre
compreendido pela noção de trauma psíquico (Freud, 1926/1976; Laplanche, 1993 E 1994, as relações de trabalho individualizadas, cuja gestão institui a competitividade entre colegas,
Santos Filho, 2011). planos de carreira individualizados, questões já apontadas por Gaulejac (2007).

Salienta-se que, desde as entrevistas realizadas para reconhecimento do tema, foi possível Para Freud, não há maneiras de livrar os homens de seus desejos agressivos e destrutivos,
identificar que, quando a violência urbana adentra o espaço laboral, temos a conjunção de contudo, todas as ações que favorecem os vínculos emocionais entre eles atuam contra a
elementos, os quais dizem respeito ao trabalhador (cuja vida fica afetada pela vivência), à guerra, bem como se desenvolvem por amor ao outro e por identificação com o outro (Freud,
empresa (responsável pelo trabalhador e pelo ocorrido durante a execuções de suas atividades 1932/1976). Muitos autores contemporâneos estudam a questão do enfraquecimento dos laços
profissionais) e ao Estado (responsável pela segurança pública), tal como apresenta Fischer fraternos (Birman, 2006), o predomínio do individual sobre o laço social (Gaulejac, 2007), os
(1987). quais se sustentam pelo amor e pela identificação. Pontos que merecem ser considerados, para
a compreensão de formas de enfrentamento da violência.
Este estudo objetivou compreender os impactos nas relações de trabalho a partir de um episódio
de violência urbana vivenciado por um grupo de trabalhadores de uma pequena comunidade no Nesse âmbito, o estudo olha o fenômeno da violência urbana dentro dessa perspectiva
interior do Brasil. integradora, compreendendo-a como um fenômeno humano que tem íntima ligação com o social
e o político, assim como produz marcas subjetivas em todos. Para permitir a compreensão dessa
A Violência Urbana: marcas do traumático perspectiva apresenta-se um panorama teórico - ancorado na psicanálise - sobre o susto, o medo
e a angústia. Inicialmente, Freud (1920/1976) adverte claramente que susto, medo e angústia
A violência urbana é um termo utilizado para abordar a violência cotidiana enquanto problema são termos usados equivocadamente como sinônimos.
da sociedade urbana, vinculando, na maioria das vezes, a questão da criminalidade em ações
como assaltos, sequestros, assassinatos (Gullo, 1998; Izumino e Neme, 2002). Conforme Neme Laplanche (1993), explica como Freud, ao longo da sua obra, abordou esses conceitos. Para este
(2005), no Brasil, a criminalidade violenta é um problema nacional. autor, Freud tratou de explicar que a angústia se refere a um estado, uma forma de sentir-se,
sem que se tenha um motivo específico, um objeto definido para o qual ela é dirigida. O medo,
Considerando a perspectiva histórica e cultural, torna-se relevante apresentar que no Brasil até ao contrário, pressupõe um objeto definido, do qual “se tem medo”. Há ainda o susto, o qual se
os anos de 1970 o estudo da violência raramente tomava o ângulo da criminalidade, a qual não sente quando chega uma situação de perigo, em que o sujeito não está preparado. Nesse caso, o
era considerada um problema a ser enfrentado, o que adveio nos anos 1980 com o aumento fator surpresa é um elemento que faz a diferença: o indivíduo é surpreendido, sem que o aparelho
da criminalidade. A violência popular era entendida por muitos como uma reação legítima ao psíquico possa munir-se para enfrentar a situação (Laplanche, 1993).
poder ilegítimo do Estado. Os estudos das práticas extralegais do período da ditadura militar
predominavam no campo acadêmico, mesmo depois da Constituição de 1988, que estabelecia O susto, além da não preparação, também carrega consigo o elemento do transbordamento. Por
no país um Estado democrático de Direito (Zaluar, 1999). falta de preparo do psiquismo, a pessoa é invadida por um excesso de sensações, sentimentos
(em psicanálise diz-se que são excitações para o aparelho psíquico), os quais, psiquicamente,
É possível olhar para a violência urbana e suas marcas a partir da psicanálise. Partindo dos convertem-se em quantidade de energia superior àquela costumeiramente vivida pelo sujeito, por
estudos de Bleichmar (2010), apresenta-se a proposição de que o debate do incremento da isso transborda à sua capacidade de elaboração psíquica. Laplanche (1993) refere que o susto é
violência não pode ser travado considerando apenas os fatores externos, como a ditadura, o como uma derrota subjetiva, pois não houve preparação do sujeito para esse transbordamento,

1617 1618
de tal modo que fracassa a capacidade de simbolização. Nesse âmbito, Laplanche (1993, p. 49) funcionários e clientes do estabelecimento assaltado, bem como membros da comunidade. O
afirma que “traumatismo e susto estão estreitamente solidários”. assalto caracteriza-se por intenso tiroteio, uso de cordão humano como meio de proteção dos
assaltantes e reféns para fugir do local. A proximidade dos estabelecimentos bancários permite
A evolução da teoria freudiana sobre a angústia permitiu identificar que o ego é capaz de fornecer que três bancos sejam assaltados simultaneamente.
um sinal de angústia, o qual permitiria uma espécie de preparo para uma situação de perigo,
cujo objetivo seria proteger o aparelho psíquico do transbordamento, portanto do seu efeito Os sujeitos
traumático. Entretanto, essa operação mental só é possível quando o psiquismo já foi capaz, Foram entrevistadas nove pessoas, funcionários dos bancos assaltados, de diferentes funções,
no passado, de suportar outras situações, em que fora invadido pelo excesso de excitações idade e tempo de empresa: gerente, segurança, estagiário, caixa; funcionários da prefeitura que
advindas da chamada angústia automática. Dessa forma, a angústia automática caracteriza-se estavam a serviço no banco, no momento do assalto; e a prefeita da cidade. Pessoas com idade
pela inundação do aparelho psíquico por excitações que ele não é capaz de dominar, levando-o a entre 20 e 51 anos; homens e mulheres; casados, solteiros e separados; com e sem filhos; com
sensação de desamparo (Laplanche, 1994; Freud, 1926/1976). experiência profissional e tempo de empresa no dia do assalto que variou de uma semana a trinta
anos.
Sabe-se que esse desamparo que está na origem do sujeito o acompanha ao longo da vida, bem
como fica evidente a importância que os outros (um outro humano, semelhante) têm na vida de Estratégia de pesquisa
qualquer ser humano (Bleichmar, 2011; Birman, 2006). Dessa forma é possível acompanhar a A pesquisa, de caráter qualitativo e importante salientar que há a migração da violência urbana
ideia de que há uma estreita relação entre angústia, medo, susto e desamparo. Dentro dessa para pequenas cidades, corroborando com Adorno e Dias (2014) quando afirmam que a escalada
visão, abre-se um espaço de investigação acerca de como se dá essa relação nas situações da violência no Brasil não se resume aos grandes centros urbanos.
de risco no trabalho, que diz do inesperado, como aquelas nas quais a violência urbana ataca o
trabalhador. Percorrendo as marcas do trauma: impactos nas relações de trabalho

Presume-se que, quando o trabalhador é vítima da violência urbana no seu espaço de trabalho, Enquanto para os gestores há uma racionalização e naturalização do fato ocorrido, para os
vive conjuntamente as experiências do susto, do medo, da angústia e do desamparo. Logo, outros trabalhadores o trauma é sentido com mais força e sofrimento. Os trabalhadores que não
poderá adquirir caráter traumático para o psiquismo e, consequentemente, interferir em toda possuem a responsabilidade pela gestão da agência manifestam sentimento de insegurança e de
a vida posterior do sujeito. Santos Filho (2011) refere que o trauma é a combinação única entre indignação, bem como referem que se questionam sobre seguir na profissão.
uma excitação excessiva ao aparelho psíquico e os recursos que a pessoa dispõe para liquidá-la
resulta numa delicada composição cujos resultados impactam os rumos futuros de uma vida e Durante as entrevistas, as palavras: susto, trauma, terror foram as mais repetidas. Chama
portanto, também de uma carreira. Evidencia-se, portanto, que os episódios de violência urbana atenção que praticamente todos os entrevistados referiram que se sentem extremamente
podem constituir-se, por excelência, como traumáticos. alertas a barulhos, aos quais reagem imediatamente em lembrança ao dia do assalto. Angústia
sinal (Laplanche, 1993; 1994; Freud, 1926/1976), que se por um lado protege - uma vez que
Método põem o sujeito em estado de alerta, por outro cria um constante estado de tensão emocional,
já que é unânime a certeza de que vai ocorrer novamente. Este assalto, foi o segundo episódio
O Caso dessa natureza - em 2015 houve um assalto quase igual, algumas pessoas presenciaram os dois.
O estudo se deu em uma cidade no Brasil, de pequeno porte, com cinco mil habitantes. Em 2017, Embora a violência urbana não esteja na esfera de um evento advindo da organização e sim do
pela segunda vez, moradores e trabalhadores dessa comunidade sofreram um assalto que se entorno social, esta tem impactado fortemente a relação do sujeito com seu trabalho causando-
caracteriza por um grupo de assaltantes mascarados, fortemente armados, que fazem reféns lhe sofrimento e a sensação de ser prisioneiro de uma carreira que pode lhe custar a vida, como

1619 1620
refere um entrevistado: realidade tem atingido com frequência cada vez maior o trabalhador durante a execução do
seu trabalho, todavia não encontrou-se em nenhuma entrevista menção a uma política mais
“(...) se tivesse tido possibilidade de ter saído do banco, eu teria saído por questão de clara a esse respeito. E aquelas que existem aludem a colocar o trabalhador em contato com
segurança. Eles poderiam ter matado alguém. E, se eu não lembrasse a senha [para a algum profissional da empresa ou terceiro, com quem não possui nenhum laço de convivência,
abertura do cofre] podia ter acontecido alguma coisa, poderiam ter me matado. A ameaça denotando formalismo nas relações. Tal burocratização dos procedimentos aporta a ideia de
foi clara: “eu vou atirar”. (...) eu pensei muito na minha filha, na minha própria segurança que, se eles existem, são mais para atender a possíveis “risco trabalhistas” e cumprir com
pessoal, se tivesse condições de ter saído do banco eu teria saído. Mas claro, hoje o obrigações “pró-forma” do que para atender um trabalhador em sofrimento.
mercado, a estabilidade, é tudo complicado.
A falta de potência das instâncias, tradicionalmente responsáveis pela segurança do sujeito e
Sentimento de serem tratados com descaso, de trauma, terror e pânico bem como a sensação de do trabalhador, passa a ser vivida como impotência do próprio sujeito. Em contribuição a este
não ter como escapar refletem-se em todas as entrevistas comprovando marcas traumáticas e aspecto, Birman (2006) ao analisar o atual cenário brasileiro, refere que as pessoas perderam
desamparo psíquico (Freud, 1926/1976; Laplanche, 1993; 1994; Santos Filho, 2011). a ilusão de um Estado soberano que as proteja do desamparo, causando um sentimento de
desalento. As pessoas, individual e coletivamente, sustentavam a crença de um soberano que as
Ampliando a vivência de desamparo, um dos entrevistados refere que: protegia, assim assujeitavam-se a ele em nome da qualidade de vida e do amor. Tal proteção foi
retirada, adventos como a globalização contribuíram para esse fato, o esvaziamento da soberania
“o banco vê primeiro o patrimônio. Os processos de segurança são arranjados em função mostra que o Estado não pode mais dar sua contrapartida no pacto anteriormente estabelecido,
do patrimônio. A gente fica um pouco revoltado, porque eu tive que fazer um relato rompe-se assim a ordem existente. Para o autor (Birman, 2006) a disseminação da violência é
minucioso do ocorrido ao setor de segurança da empresa, sendo que o fato de que o uma das consequências desse cenário.
assaltante me exigia que eu passasse a senha porque ele ameaçou atirar em um colega é
um fato que parece não ter muita importância, infelizmente”. Partindo dos aspectos apresentados nessa seção, sobre a ação das empresas e do Estado, o
cenário encontrado revela sujeitos desamparados. A psicanálise compreende o desamparo
Isso posto, percebe-se a banalidade com que a violência urbana tem sido tratada e está como presente desde as origens do sujeito, o qual nasce em completa dependência de outrem
impregnada também na forma como as organizações tratam esses eventos, muitas vezes para satisfazer suas necessidades de sobrevivência. Nascemos em “estado de desamparo”,
desresponsabilizando-se, demonstrando ausência de comprometimento com os rastros de na qualidade de recém-nascido somos impotentes e incapazes de qualquer ação coordenada
devastação e prejuízo psíquico que os atos de violência urbana deixam em suas vítimas. e eficaz. Essa condição acarreta um incremento da tensão de necessidade, cujo insipiente
psiquismo do bebê não é capaz de dar conta. Esse fato demonstra que o psiquismo está destinado
A violência urbana é ou não um problema causado pelas condições de trabalho, ou decorrentes a se constituir na relação com um outro humano adulto, em posição de alteridade e em condição
da natureza do trabalho realizado? Pode ser compreendida no mesmo rol dos acidentes de de ir em auxílio a esse bebê “desamparado” e “despreparado”. Para o homem adulto, esse
trabalho? Nesses eventos tanto a integridade física como psíquica do trabalhador está em risco. estado de desamparo será o protótipo da situação traumática geradora de angústia (Laplanche;
Contudo, foi possível perceber que as empresas, amparadas no fato de que a segurança pública Pontalis, 1994).
é dever do Estado, nem sempre tratam esses episódios como decorrentes da natureza do negócio
e, portanto, como um acidente de trabalho. Partindo dessa compreensão, é possível estabelecer uma relação entre o trauma e esse estado
inicial de desamparo do homem, na medida em que, na situação traumática, o psiquismo também
Cabe apontar que acerca da atual realidade da violência urbana nos espaços de trabalho, se encontra tomado de um excesso do qual não pode livrar-se, nem descarregar de maneira
embora ela seja fruto de uma situação social maior e independa das ações das empresas, essa adequada, o que toma a forma de angústia.

1621 1622
de perspectivas de melhores condições de segurança, a ausência de dispositivos de amparo às
Do mesmo modo que é verdade que a condição de desamparo faz parte da existência humana, vítimas, o que demonstra claramente o desamparo do trabalhador na atualidade.
também é verdade que, desde a infância, o sujeito é capaz de tolerar o desamparo. Nesse sentido,
estamos de acordo com Menezes (2012), quando coloca sobre a importância da mãe (o outro Encontra-se sugerido que as empresas não têm procedimentos ou regulamentos para atender o
humano adulto que se encarrega da criança) desempenhar sua função, permitindo a criança trabalhador que sofre este tipo de violência no cumprimento de suas atividades. Fica a critério
poder, aos poucos, passar por um processo de desilusão acerca de sua onipotência, bem como de cada empresa como proceder em situações de violência urbana. Assim, a maioria espera
encontrar um processo de subjetivação junto ao mundo real, o qual não corresponde àquele que acontecer e, quando ocorre, encontra um meio de tratar, tendo em vista que as leis trabalhistas
ela imaginava. Assim, a realidade do desamparo pode ser uma experiência tolerável, permitindo no Brasil não contemplam episódios de violência urbana no trabalho ainda que estes sejam
ser aceitável a ideia de que não há um ser capaz de garantir-lhe a estabilidade e a proteção cotidianos.
absoluta.
Os achados empíricos mostram que há uma extensa agenda de pesquisa a ser explorada em
Contudo, considera-se importante destacar que o desamparo somente é aceitável e tolerável, relação a violência urbana no trabalho: consequências para a saúde mental do trabalhador,
porque há alguém em posição de alteridade que acompanha o sujeito. Então, ao mesmo tempo impacto nas relações familiares, novas formas de sofrimento no trabalho, criação de políticas
em que não há a ilusão de uma proteção absoluta, também não há a solidão. Há o encontro públicas para enfrentamento da violência no trabalho e políticas de gestão de pessoas que visem
com alguém que pode oferecer algum nível de apoio, no sentido de ajuda/assistência alheia que o amparo das vítimas.
permita o enfretamento por si mesmo dos perigos do mundo.

Pretende-se argumentar que, em situações de violência urbana no trabalho, pode instalar-se o Referências
desamparo, pois o sujeito sente que não há com quem contar, não há esperança de que algo será
feito para minimizar esses riscos. Não se trata de eliminar os riscos, nos refiro ao constatado Adorno, Sérgio; Dias, Camila. Monopólio estatal da violência. In: Lima, Renato Sérgio De; Ratton,
nas entrevistas: ninguém acredita que algo está sendo feito para enfrentar o problema, todos José Luiz; Azevedo, Rodrigo Ghiringhelli (Org). Crime, Polícia e Justiça no Brasil. São Paulo:
sentem-se entregues ao risco. E está impossibilidade de enfrentamento do risco que caracteriza Contexto, 2014.
o desamparo.
Bauman, Z. Globalização: consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
Tais constatações corroboram para argumentar sobre as condições de insegurança de um mundo
de flexibilidades (Menezes, 2012), o enfraquecimento das instâncias que outrora ordenavam o Birman, J. Arquivos do Mal-Estar e da Resistência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
modo de viver (Bauman, 1999), o sentimento dos trabalhadores de ameaça e exclusão, bem
como a ausência de esperança por melhores condições (Dejours, 2007). Nessas condições a Bleichmar, Silvia. La construcción del sujeto ético. Buenos Aires: Paidós, 2011.
saúde mental do trabalhador padece.
______. Violência social, violência escolar: de la puesta de limites a la construcción de legalidades.
Considerações Finais Buenos Aires: Centro de Publicaciones Educativas y Material Didáctico, 2010.

Para permitir melhor compreensão do episódio estudado ancorou-se na psicanálise na busca da Concolatto, Claudia P.; Oltramari, Andrea P.; Rodrigues, Tatiana G. Mudanças nas relações de
compreensão dos conceitos de susto, o medo e a angústia, uma vez que a incursão pelo material trabalho e o papel simbólico do trabalho na atualidade. Farol – Revista de Estudos Organizacionais
empírico marcou a banalidade com que os episódios de violência urbana são tratados, a falta e Sociedade, n. 9, v. 4, jun. 2017.

1623 1624
Acesso em: 28 abr. 2017.
Concolatto, Claudia; Oltramari, Andrea P.; Santos Filho, Francisco Carlos. Relações de Trabalho
e Psicanálise: um diálogo em aproximação. IV Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais, Laplanche, Jean. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
Porto Alegre, out./2016. Disponível em: <https://anaiscbeo.emnuvens.com.br/cbeo/article/
viewFile/103/95>. Acesso em: 04 maio 2017. ______. A Angústia. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

Dejours, Christophe. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: FGV, 2007. Melo, Elza Machado. Podemos Prevenir a violência? In: Melo, Elza Machado. Podemos Prevenir a
violência: Teorias e Práticas. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde. 2010.
Faria, José Enrique De; Meneguetti, Francis Kanashiro. A instituição da violência nas relações de
trabalho. Enanpd, 2002. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2002- Menezes, Lucianne Santa’anna. Psicanálise e Saúde do Trabalhador: Nos rastros da precarização
grt-453.pdf>. Acesso em: 09 maio 2017. do trabalho. São Paulo: Psi Primavera Editorial, 2012.

Fischer, Rosa Maria. Pondo os Pingos nos “is”: sobre as relações do trabalho e políticas de Minayo, Maria Cecília De Souza; Souza, Edinilsa. Ramos De. Violência e saúde como um campo
administração de recursos humanos. In: Fleury, M. T.; Fischer, R. M. (Coord.). Processo e relações interdisciplinar e de ação coletiva. História, Ciências, Saúde, Manguinhos, v. IV, n. 3, p. 513-531,
do trabalho no Brasil. São Paulo: Atlas, 1987. nov. 1997-fev. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v4n3/v4n3a06.pdf>.
Acesso em: 19 abr. 2017.
Freud, Sigmund. Por que a guerra? In: Edição standard brasileira das obras completas psicológicas
de Sigmund Freud. V. XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1976 [1932]. Neme, Cristina. Violência e segurança: um olhar sobre a França e o Brasil. Revista de Sociologia
e Política, Curitiba, n. 25, p. 123-137, nov. 2005. Disponível em: <http://br.123dok.com/
______. O mal-estar na civilização In: Edição standard brasileira das obras completas psicológicas document/8ydn27jq-violencia-e-seguranca-um-olhar-sobre-a-franca-e-o-brasil.html>. Acesso
de Sigmund Freud. V. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1976 [1930]. em: 21 abr. 2017.

______. Inibição, Sintomas e Ansiedade In: Edição standard brasileira das obras completas Santos Filho, Francisco Carlos Dos. Traumatismo psíquico: realidade dos fatos, realidade
psicológicas de Sigmund Freud. V. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1976 [1926]. psíquica e des(a)tino do sujeito. 2011. 187 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/
Gaulejac, Vincent De. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação handle/handle/14997 . Acesso em 07 janeiro 2018.
social. Aparecida: Ideias & Letras, 2007.
Santos, José Vicente Tavares Dos. Violências e Dilemas do Controle social nas
Gullo, Álvaro De Aquino S. Violência Urbana um problema social. Tempo Social: Revista de sociedades da “Modernidade Tardia”. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 1,
Sociologia da USP, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 105-119, maio 1998. Disponível em: <http://www. p. 3-12, jan./mar. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
revistas.usp.br/ts/article/view/86719>. Acesso em: 28 abr. 2017. arttext&pid=S0102-88392004000100002>. Acesso em: 20 abril 2017.

Izumino, Wânia Pasinato; Neme, Cristina. Violência Urbana e Graves violações de Direitos Wieviorka, Michel. O novo paradigma da violência. Tempo Social: Revista Sociologia USP, São
Humanos. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 54, n. 1, jun./set. 2002. Disponível em: <http:// Paulo, v. 9, n. 1, p. 5-41, maio de 1997.
cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=s0009-67252002000100022&script=sci_arttext>.

1625 1626
Wood Jr., T; Tonelli, M. J.; Cooke, B. Para onde vai a gestão de pessoas? GV Executivo, v. 11, n. Capítulo 160
2, jul./dez. 2012.

______. Colonização e Neocolonização da Gestão de Recursos Humanos no Brasil (1950-2010).


Assédio moral: análise comparativa entre programas de pós-graduação
ERA, v. 51, n. 3, maio/jun. 2011. stricto sensu públicos e privados no contexto brasileiro

Zaluar, Alba. Violência E Crime. In: Miceli, S. (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970- Vanessa Rissi1, Janine Kieling Monteiro2 y Vinicius Renato Thomé Ferreira3
1995). V. 1: antropologia. São Paulo: Anpccs, 1999. p. 13-107. Disponível em: <http://www.
anpocs.com/index.php/universo/acervo/biblioteca/coletaneas/o-que-ler-na-ciencia-social-
brasileira-1970-1995-opcao-b/volume-i-antropologia/631-violencia-e-crime/file>. Acesso em: O assédio moral corresponde a práticas abusivas no contexto do trabalho, frequentes e
02 maio 2017. repetidas, que objetivam a humilhação da vítima, o que atinge a sua dignidade e coloca em risco
a sua integridade pessoal e profissional (Freitas, Heloani & Barreto, 2008). No Brasil, tomou
proporções tamanhas a ponto de ser considerado um problema de saúde pública (Oliveira &
Nunes, 2008).

Segundo a Organização Mundial da Saúde e a Agência Europeia de Saúde e Segurança no Trabalho


(OMS, 2004; EU-OSHA, 2009), o assédio está relacionado ao adoecimento de trabalhadores. Os
efeitos adversos da exposição frequente e prolongada a atos negativos podem variar de sintomas
depressivos e de ansiedade, a doenças somáticas, como problemas cardiovasculares e queixas
musculoesqueléticas (Jacobsen, Nielsen, Einarsen, & Gjerstad, 2018).

Também foram descritos como consequências do assédio, sintomas de estresse (Verkuil, Atasayi,
& Molendijk, 2015) e alterações físicas, como cefaleia, problemas de sono e fadiga (Goris et
al., 2016). Trabalhadores vitimados por assédio também apresentaram maior probabilidade de
ideação suicida em relação aos que não sofreram (Pompili et al., 2014) e estão mais propensos
a sofrer de doenças em geral, mesmo após um longo tempo desde o incidente (Kostev, Rex,
Waehlert, Hog, & Heilmaier, 2014). Independente da direção do assédio seja ela advinda de
superiores, de pares, de subordinados ou misto, o processo é sempre nocivo (Heloani & Barreto,
2010).

O assédio moral abrange duas grandes perspectivas: a do assédio interpessoal e a do assédio


1. Programa de pós-graduação stricto sensu em Psicologia. Faculdade Meridional – IMED – Passo Fundo – RS - Brasil. Email: vanessa.rissi@imed.
edu.br
2. Programa de pós-graduação stricto sensu em Psicologia. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – São Leopoldo – RS – Brasil. Email:
janinekm@unisinos.br
3. Programa de pós-graduação stricto sensu em Psicologia. Faculdade Meridional – IMED – Passo Fundo – RS - Brasil. Email: vinicius.ferreira@imed.
edu.br

1627 1628
organizacional. O primeiro envolve pessoalidade, com alvo escolhido e determinado, e o Robazzi, 2010; Caran, 2007). Em menor número são os estudos que focam o assédio moral no
objetivo da violência é excluir e/ou prejudicar a vítima. O assédio organizacional, por sua vez, contexto do ensino superior privado (Teixeira, Kruszielski, & Gomide, 2016; Rodrigues & Freitas,
está associado a demandas do contexto, do processo e da gestão do trabalho, sendo que os 2014). Ainda é inédito o confronto do assédio moral no ensino superior público em relação ao
alvos são indefinidos e coletivos, e o objetivo é aumentar a produtividade e o controle sobre os privado.
trabalhadores (Soboll, 2008a; 2008b).
Considerou-se, então, a possibilidade de que o assédio moral prevaleça na pós-graduação stricto
O modelo teórico causal relacionado ao assédio moral, que tem recebido maior atenção da de maneira diferente nos contextos público e privado. Destarte, este estudo objetivou determinar
comunidade científica é aquele que enfatiza a importância de fatores organizacionais como a prevalência do assédio moral objetivo no contexto público da pós-graduação stricto sensu
antecedentes. Por exemplo, a intensificação do trabalho, desequilíbrio de poder, competição brasileira em comparação com o privado.
interna, precarização do trabalho, deficiências no comportamento dos líderes e insatisfação e
frustação com o trabalho (Bradaschia, 2007; Salin, 2003). Assim, a organização do trabalho é a Realizou-se estudo quantitativo, descritivo e correlacional, no qual participaram 230 docentes,
maior responsável pela ocorrência ou não do assédio moral (Heloani, 2016). divididos em número de 117 (51%) atuantes em PPGs públicos, 105 (46%) em PPGs privados
e 8 (3%) em ambos. Como instrumentos utilizaram-se um Questionário Sociodemográfico e
O contexto de trabalho da educação está entre os que apresentam mais chances de ocorrência Laboral, construído especificamente para este fim e o Questionário de Atos Negativos (QAN).
de assédio moral (Hirigoyen, 2006). Quando uma cultura educacional prioriza cobrança por O QAN, conhecido internacionalmente como Negative Acts Questionnaire (NAQ), foi elaborado
resultados em detrimento do processo de ensino pode favorecer a ocorrência do assédio moral na Noruega por Einarsen e Raknes (1997). Estudos demonstraram a consistência interna do
(AM) (Nunes & Tolfo, 2015). questionário, com valores de Alpha de Cronbach variando de 0,83 a 0,92. No Brasil, foi traduzido
e adaptado por Maciel e Gonçalves (2008), demonstrando, também, a confiabilidade (Alpha de
O contexto brasileiro do ensino superior passou por mudanças significativas ao longo das Cronbach = 0,9). O instrumento está dividido em duas partes, uma que avalia o assédio objetivo
últimas décadas, que pode significar um cenário propício à ocorrência de assédio moral. Em e, a outra, o assédio subjetivo.
linhas gerais, o Brasil, pressionado por organismos internacionais, passou por uma reforma
universitária vigorosa, a fim de que a educação se inserisse no campo das atividades econômicas Quanto aos dados sociodemográficos, a presença de diferenças entre o grupo de professores de
(Souza, Mendonça, Rodrigues, Felix, Teixeira, & Moura, 2017). De um lado, instaurou-se uma PPGs públicos em relação aos privados foi verificada a partir do valor de p≤0,05, no teste qui-
racionalidade organizacional nas universidades públicas, a partir da incorporação de conceitos quadrado (χ2). Para as variáveis idade, tempo de ensino superior e tempo de PPG foi utilizada a
como eficácia, eficiência, metas e produtividade (Chauí, 2003; Piolli, Silva, & Heloani, 2015); de ANOVA. No QAN objetivo (assédio objetivo), a diferença entre os dois grupos de participantes foi
outro, assistiu-se à ascensão do ensino superior privado de perfil empresarial (Martins, 2009). avaliada através do teste de Mann-Whitney, considerando um nível de significância de p≤0,05
e o tipo de dado considerado (ordinal). Foi calculado o tamanho de efeito (d) para identificar a
É consenso de que o resultado direto dessas mudanças foi à instauração de uma nova organização diferença entre as duas amostras em escores z. No QAN subjetivo (assédio subjetivo), procedeu-
do trabalho no ensino superior, cuja característica principal é a intensificação do trabalho por se à análise de diferenças entre os grupos a partir de p≤0,05, no teste qui-quadrado (χ2) (Dancey
demandar maior carga física, cognitiva e ou emocional, a fim de que o desempenho seja melhor, & Reidy, 2013).
do ponto de vista quantitativo e qualitativo (Dal Rosso, 2006; Souza et al., 2017).
A amostra distribuiu-se de forma homogênea em todas as variáveis sociodemográficas, na
No Brasil, a ocorrência do assédio moral vem sendo discutida, principalmente, tendo como comparação dos dois grupos, exceto no tipo de vínculo contratual. Isto significa que não houve
cenário as universidades públicas (Nunes, Tolfo, & Espinosa, 2017; Jacoby & Monteiro, 2017; diferença estatisticamente significativa entre os grupos de PPGs públicos e privados. Assim,
Nunes, Tolfo, & Nunes, 2013; Nunes & Tolfo, 2012; Nunes, 2011; Caran, Seco, Barbosa, & a amostra total foi constituída por 230 professores de pós-graduação brasileiros, sendo que

1629 1630
51% estão vinculados a PPGs públicos, 46% a PPGs privados e 3% em ambos. A quantidade de público em geral (não exclusiva das IES públicas), em relação àqueles que infringem os limites
mulheres foi de 126 (55%) e de homens foi de 104 (45%). O estado civil predominantemente da conduta ética (Nunes, Tolfo, & Espinosa, 2017) e um dos elementos mais marcantes, o abuso
foi casado (n=184, 80%). A idade média dos participantes situou-se em 48,3 anos (DP=9,54); de poder, arranjos e apadrinhamentos políticos, que possibilitam que a violência se perpetue, na
todos são doutores 84 (36%) e realizaram estágio pós-doutoral. Em média, os professores atuam intenção de afastar aqueles que não pertencem ao grupo dominante (Nunes, Tolfo, & Espinosa,
em IES há 17,55 anos (DP=10) e nos PPGs, em média, há 9,3 anos (DP=6,98). A maior parte 2017; Einersen, Hoel, Zapf, & Cooper, 2011; Nunes, 2011; Buendía, 2003).
dos PPGs representados na amostra situam-se nas regiões Sul (n=150, 65%) e Sudeste (n=40,
17%). Prevaleceram PPGs de natureza acadêmica (n=160, 70%). A maioria dos docentes exerce Por fim, tomados em conjunto, os dados desta pesquisa demonstraram que, embora não exista
as atividades tanto nos cursos de mestrado quanto doutorado (n=155, 67%), e mencionaram não diferença estatisticamente significativa na prevalência de assédio moral na pós-graduação
atuar como coordenadores de PPGs (n=187, 81%). O tipo de vínculo contratual contrastou entre stricto sensu pública em comparação com a privada, o contexto público é mais prejudicado.
os grupos: prevaleceram os de dedicação exclusiva no âmbito de PPGs públicos (n=107, 80%) e Toma-se a afirmativa anterior, em razão de que a frequência dos atos negativos foi maior entre
de 40 horas nos privados (n=75, 89%) (χ2=118 p≤0,01). Quanto à faixa salarial, os professores professores de PPG´s públicos.
que indicaram maiores salários estão nos PPGs privados, embora a diferença estatística seja
limítrofe, considerando-se o “p” definido para este estudo (χ2=7,15; p=0,06). Referências

Considerando-se o assédio objetivo, no grupo de PPGs públicos a prevalência de assédio moral foi Bradaschia, C. A. (2007). Assédio moral no trabalho: a sistematização dos estudos sobre um
de 32% (n=38). Para o assédio moral nos PPGs privados, a prevalência foi de 30% (n=32). Não campo em construção. Dissertação de Mestrado, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.
houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Este achado é particularmente
importante, pois demonstra que o setor a que estão vinculados os professores – público ou Buendía, J. (2003). El mobbing e el centro de estúdios.Mobbing Opinion. Boletin de noticias
privado – não influencia em maior ou menor índice de prevalência de assédio moral. Embora sobre acoso psicológico. Retrieved from http://mobbingopinion.bpweb.net/artman/publish/
a literatura relacione que as características do setor educacional público o predispõe a mais article_793.shtml.
chance de ocorrência de assédio moral (Nunes, Tolfo, & Espinosa, 2017; Nunes, 2011; Buendía,
2003; Hirigoyen, 2006), em termos de prevalência, este risco não se traduziu significativo Caglar, D., Tözün, G., & Karay, M. (2017). Mobbing Behaviors in Public and Private Banking
quando comparado ao setor educacional privado. Símile a este achado está o estudo de Caglar, Sector: A Case Study in Northern Cyprus. International Journal Of Economic Perspectives, 11(2),
Tozun e Karay (2017), que comparou a prevalência de assédio moral no setor público bancário 74-86. Dancey, C. P., & Reidy, J. (2013). Estatística sem matemática para psicologia. 5. ed.
em relação ao privado, não encontrando diferenças significativas. Porto Alegre: Penso, 2013.

Contudo, docentes de PPGs públicos estiveram expostos a atos negativos em maior frequência Caran, V. C. S., Secco, I. A. O., Barbosa, D. A., & Robazzi, M. L. C. C. (2010). Moral harassment
do que os de PPGs privados, sugerindo que a organização do trabalho nas instituições de ensino among professors in a public university in Brazil. Acta Paulista de Enfermagem, 23(6), 737-744.
superior apresente características peculiares que influenciem na frequência de atos hostis. doi: 10.1590/S0103-21002010000600004.
Isto pode ser atribuído a aspectos da cultura organizacional das instituições públicas de ensino
superior (Nunes, 2011). Dentre estas características, mencionam-se: a falta de clareza quanto Caran, V. C. S. (2007) Riscos psicossociais e o assédio moral no contexto acadêmico. Dissertação
a definição de tarefas, o que implica na permissão de culpar os outros, o indiscriminadamente de Mestrado, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.
(Hirigoyen, 2006); o despreparo técnico e comportamental dos que exercem cargos de gestão,
pois são ocupados, geralmente, por professores sem experiência na função de liderança, Chauí, M. (2003). A universidade pública sob nova perspectiva. Revista brasileira de educação,
indicados pela rede de poder dominante (Buendía, 2003); a impunidade característica do setor 24, 5-15.

1631 1632
Hirigoyen, M-F. (2005). Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. 7. ed. Rio de Janeiro:
Dancey, C. P., & Reidy, J. (2013). Estatística sem matemática para psicologia. 5. ed. Porto Bertrand Brasil.
Alegre: Penso, 2013.
Jacoby, A., & Monteiro, J. K. (2017). Assédio Moral em Estudantes Trabalhadores e sua Relação
Dal Rosso, S. (2006). Jornada de trabalho: duração e intensidade. Ciência e Cultura, 58(4), 31- com o Bem-Estar no Trabalho. Interação em Psicologia, 20(3). doi: http://dx.doi.org/10.5380/
34. Retrieved from http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v58n4/a16v58n4.pdf. psi.v20i3.29684.

Einarsen, S., Hoel, H., Zapf, D., Cooper, C. L. (2011). Bullying and harassment in the workplace: Kostev, K., Rex, J., Waehlert, L., Hog, D., & Heilmaier, C. (2014). Risk of psychiatric and neurological
Developments in theory, research and practice. Boca Raton, FL: CRC Press. diseases in patients with workplace mobbing experience in Germany: a retrospective database
analysis. GMS German Medical Science, 12. doi: 10.3205/000195.
Einarsen, S., & Raknes, B. I. (1997) Harassment in the workplace and the victimization of men.
Violence and Victim, 12(3), 247-263. Retrieved from https://www.ncjrs.gov/App/Publications/ Maciel, R. H., & Gonçalves, R. H. (2008). Pesquisando o assédio moral: a questão do método e
abstract.aspx?ID=173376. a validação do Negative Acts Questionary (NAQ) para o Brasil. In L. A. P. Soboll. (Org). Violência
psicológica e assédio moral no trabalho: pesquisas brasileiras (pp. 167-185). São Paulo: Casa
EU-OSHA – Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho. (2009) Resumo Relatório do Psicólogo.
Anual 2009. Retrieved from https://osha.europa.eu/pt/tools-and-publications/publications/
corporate/ar_summary_2009/view. Martins, C. B. (2009). A Reforma Universitária de 1968 e a abertura para o ensino superior
privado no Brasil. Educação e Sociedade, 30(106), 15-35. Retrieved from http://www.cedes.
Freitas, M. E., Heloani, J. R., & Barreto, M. (2008). Assédio moral no trabalho. São Paulo: Cengage unicamp.br.
Learning.
Maues O. (2010). A reconfiguração do trabalho docente na educação superior. Educar em
Goris, S., Ceyhan, O., Tasci, S., Sungur, G., Tekinsoy, P., & Cetinkaya, F. (2016). Mobbing against Revista, 1, 141-160. Retrieved from http://www.scielo.br/pdf/er/nspe1/07.pdf.
Nurses in Turkey: How Does it Affect Job Satisfaction? International Journal, 9(3), 810.
Nunes, T., & Tolfo, S. (2015). O Assédio Moral no Contexto Universitário: uma discussão necessária.
Heloani, J. R. M. (2016). Assédio moral: ultraje a rigor. Revista Direitos, trabalho e política Revista de Ciências da Administração, 17(41), 21-36. doi: https://doi.org/10.5007/2175-
social, 2(2), (29-42). Retrieved from http://revista91.hospedagemdesites.ws/index.php/rdtps/ 8077.2015v17n41p21.
article/view/28/24.

Heloani, J. R., & Barreto, M. (2010). Aspectos do trabalho relacionados à saúde mental: Assédio Nunes, T. S., Tolfo, S. R., & Nunes, L. S. (2013). Assédio moral em universidade: a violência
moral e violência psicológica. In D. M. R. Glina, & L. E. Rocha. Saúde mental no trabalho: Da teoria identificada por servidores docentes e técnico-administrativos. Organizações em contexto,
à prática (pp. 31-48). São Paulo, SP: Roca. 9(18), 25-61. doi: 10.15603/1982-8756/roc.v9n18p25-61.

Hirigoyen, M-F. (2006). Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. 2. ed. Rio de Janeiro: Nunes, T. S., & Tolfo, S. R. (2012). Assédio moral no trabalho: consequências identificadas por
Bertrand Brasil. servidores docentes e técnico administrativos em uma universidade federal brasileira. Revista Gestão
Universitária na América Latina, 5(3), 264-286. doi: 10.5007/1983-4535.2012v5n3p264.

1633 1634
Paulo: Casa do Psicólogo.
Nunes, T. S. (2011). A influência da cultura organizacional na ocorrência do assédio moral no
trabalho na Universidade Federal de Santa Catarina. Tese de Doutorado, Universidade Federal Souza, K. R., Mendonça, A. L. O., Rodrigues, A. M. S., Felix, E. G., Teixeira, L. R., & Moura, M. (2017)
de Santa Catarina, Santa Catarina, SC, Brasil. The new organization of labor at public universities: collective consequences of job instability
on the health of teachers. Ciência e Saúde Coletiva, 22(11), 3667-3676. doi: 10.1590/1413-
Nunes, T. S., Tolfo, S. R., & Espinosa, L. M. C. (2017). A Prática e o Discurso Institucional sobre 812320172211.01192016.
o Assédio Moral no Trabalho: A Percepção de Servidores Universitários. Anais 1. Congresso
Internacional. de Desempenho do Setor Público. p. 2455-2470. Florianópolis, SC. Teixeira, N, R, M., Kruszielski, L., & Gomide, P, I. C. (2016). Identificação de assédio moral
em professores universitários. Revista Paradigma, 25(1), 124-146. Retrieved from http://
Oliveira, R. P., & Nunes, M. O. (2008). Violência relacionada ao trabalho: uma proposta conceitual. localhost:8080/tede/handle/tede/873.
Saúde e Sociedade, 17(4), 22-34. doi:10.1590/S010412902008000400004.
OMS - Organização Mundial da Saúde. (2004). Sensibilizando sobre el acoso psicológico em el Verkuil, B., Atasayi, S., & Molendijk, M. L. (2015). Workplace bullying and mental health: a meta-
trabajo. Retrieved from http://www.who.int/occupational_health/publications/harassment/es/ analysis on cross-sectional and longitudinal data. PloS one, 10(8). doi: e0135225.
index.html.

Piolli, E., Silva, E. P., & Heloani, J. R. M. (2015). Plano Nacional de Educação, autonomia controlada
e adoecimento do professor. Cad. CEDES, 35 (97), 589-607. Retrieved from http://www.scielo.
br/pdf/ccedes/v35n97/1678-7110-ccedes-359700589.pdf.

Pompili, M., Lester, D., Innamorati, M., De Pisa, E., Iliceto, P., Puccinno, M., & Girardi, P. (2008).
Suicide risk and exposure to mobbing. Work, 31(2), 237-243.

Rodrigues, M., & de Freitas, M. (2014). Assédio moral nas instituições de ensino superior: um
estudo sobre as condições organizacionais que favorecem sua ocorrência. Cadernos EBAPE.BR,
12 (2), 284-301. doi: 10.1590/1679-39518275.

Salin, D. (2003). Ways of explaining workplace bullying: a review of enabling, motivating and
precipitating structures and processes in the work environment. Human Relations, 56(10),
1213-1232.

Soboll, L. A. P. (2008a). Assédio moral/organizacional: Uma análise da organização do trabalho.


São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.

Soboll, L. A. P. (2008b). Assédio moral no Brasil: a ampliação conceitual e suas repercussões.


In L. A. P. Soboll. Violência psicológica e assédio moral: pesquisas brasileiras (pp.23-55). São

1635 1636
Capítulo 161

El peso de la historia institucional en la ambigüedad y contradicciones del


desarrollo de carrera1

Thiare Espinoza A.2 y Matías Sanfuentes A.3

El presente estudio busca comprender la evolución de una organización que transita desde una
estructura burocrática a una post-burocrática, describiendo los principales conflictos y puntos
de tensión que han marcado el proceso. El estudio examina esta transformación desde una
perspectiva histórica y contextual que explica sus particularidades. En específico, el estudio
profundiza en el análisis del proceso de desarrollo de carrera, que ilustra los altos niveles de
ambigüedad que los distintos trabajadores experimentan.

Lecciones de la historia empresarial: La organización estudiada es una de las mayores empresas sanitaria de Chile e integrante
de uno de los grupos sanitarios más importantes de América Latina. La organización posee
los desafíos de las ciencias sociales tres sindicatos formales, los cuales en su conjunto agrupan aproximadamente al 90% de los
en la sociedad contemporánea miembros de la organización. Este número contrasta con los observados a nivel nacional, donde
para empresas en un rango de trabajadores entre 1.001 y 10.000 el porcentaje promedio de
tasa de sindicalización es de 28,7% (Cámara de Comercio de Santiago, 2015), encontrándose
muy por bajo el número de esta empresa, que posee aproximadamente 1070 trabajadores.

Esta empresa sanitaria fue privatizada en 1999, siendo una de las organizaciones sujetas a
las medidas implementadas en Chile desde 1973 y que son conducentes a la implantación de
una economía de mercado (Dahse, 1979). Según Acuña (1995), estas medidas modernizadoras
tomadas por el gobierno militar constituyen transformaciones radicales. Además, van en línea con
el paso de una estructura burocrática a una estructura post-burocrática. Como señala Heckscher
(1994), por ejemplo, en esta nueva estructura post-burocrática se busca la flexibilidad y fluidez
en la toma de decisiones, versus en la burocracia tradicional donde es central que los procesos
de toma decisiones sean fijos y definidos (Hodgson, 2004).
1. Investigación financiada por el proyecto FONDECYT Nº1161717 “Movilidad social, Inequidad y Segregación laboral en Chile: El rol de las
Organizaciones y la Gestión de Personas”
2. Ayudante de Investigación, Departamento de Administración, Facultad de Economía y Negocios, Universidad de Chile. Email: tespinoza@unegocios.cl
3. Profesor Asistente, Departamento de Administración, Facultad de Economía y Negocios, Universidad de Chile. Email: msanfuentes@unegocios.cl

1637 1638
La recolección de datos se realizó en el marco de un proyecto Fondecyt que busca “Reconocer “E: Nuestro desarrollo de carrera hoy día para dramatizar y sólo dramatización, se va un
cómo las prácticas de gestión de personas implementadas en las organizaciones en Chile gerente y terminamos contratando un operario, todo lo que hay entre medio es producto
favorecen la incorporación de los méritos como criterio para la toma de decisiones, reduciendo de que...esta persona reemplaza, este supervisor reemplaza al subgerente, el supervisor
la inequidad, la segregación laboral y facilitando la movilidad social dentro de la organización”. reemplaza a un operario y así. Y todo ¿por qué, (..) tenemos una serie de programas en
De esta forma, se confeccionó un guion que busca indagar principalmente en los factores qué el año de distinta índole para poder potenciar aquellos talentos que tenemos dentro de la
facilitaban o fomentaban el desarrollo de carrera en la organización, y de igual forma que organización” (Extracto entrevista a gerente).
elementes lo dificultaban. Además, se realizaron preguntas enfocadas en comprender como
distintas dinámicas presentes podían estar operando en relación con el desarrollo de carrera, El segundo aspecto se vincula a las diferencias frente a cómo la organización aplica criterios
la movilidad en la organización y justicia organizacional. Para el análisis de las entrevistas y meritocráticos para asignar o potenciar el desarrollo de carrera. El grupo gerencial señala
focusgropus se utilizó una codificación abierta de las transcripciones de las sesiones, utilizando que en la organización existe un reconocimiento al mérito y una serie de oportunidades para
como base “The Grounded Theory” (Strauss & Corbin, 1990) y el método narrativo (Boje, 2001). desarrollarse. Por su parte los trabajadores declaran que el desarrollo de los trabajadores queda
En el análisis de datos se pudo observar que las variables en torno al desarrollo de carrera y sus a criterio de la jefatura, siendo un proceso poco formalizado y discrecional, donde no se utiliza la
particularidades eran experimentadas de forma distinta por el grupo de trabajadores y por el evaluación de desempeño existente en la organización como herramienta para definir movilidad
grupo de gerentes. o desarrollo.

Hallazgos: Ambigüedad en el desarrollo de carrera “E: No hay evaluación, o sea como te digo, hay procesos se suponen formales de evaluación
que no están sirviendo para nada, porque si una persona está bien evaluada por par de
Los datos obtenidos a partir del análisis muestran que los trabajadores de esta organización se años, debiera tener una posibilidad de crecer al interior y eso no está pasando.” (Extracto
ven enfrentados a dos visiones diferentes al momento de referirse y experimentar a su desarrollo focusgroup trabajadores)
de carrera en la organización. Por un lado, el grupo gerencial considera que existe un “fomento
al desarrollo de carrera”. Por otro lado, el grupo de administrativos, profesionales y operarios “E: Muchos de los gerentes han ido ascendiendo, han hecho carrera, entonces no sé acá,
perciben una “ausencia del desarrollo de carrera”. yo en esta empresa siento que la meritocracia existe, si tú lo haces bien y tú tienes la
posibilidad de mostrar que lo haces bien eh… en algún minuto se reconoce eso, yo creo
Ahondando en las diferencias o contradicciones presentes frente al desarrollo de carrera en que el grueso de los que somos gerentes hemos sido subgerentes o jefes, ha sido como un
esta organización, se pueden señalar cuatro aspectos o elementos donde se generan las ascender de forma natural.” (Extracto entrevista a gerente).
mayores visiones contrapuestas. Un primer elemento se relaciona a la inexistencia de una
política organizacional que fomente el desarrollo de carrera, donde el grupo gerencial señala la En tercer lugar, se encuentra la importancia que tienen los estudios o capacitaciones en el
existencia de una estructura o política que facilita el desarrollo de carrera en la organización, desarrollo de carrera, donde el grupo de trabajadores señala que su repercusión es baja o nula,
versus los trabajadores que declaran que no existe una política en la organización que fomente versus el grupo gerencial que destaca el gran impacto que han tenido los estudios de posgrado
el desarrollo de carrera de todos sus trabajadores. en su desarrollo profesional.

“No, aquí no hay [refiriéndose al desarrollo de carrera]...porque la política de la compañía, “E: Y cómo te digo con respecto a lo de los estudios, yo lo veo, vemos el comité de
de los de arriba, no dice: “ya Juanito Pérez que está de operador vaya a pasar de corporativo, capacitación. Compañeros que han estudiado, han sido técnico y estudiado ingeniería
para hacer tal, va a cambiar a otro rubro”. (Extracto focusgroup trabajadores) y al final deciden irse de la empresa porque no les dan cabida.” (Extracto focusgroup
trabajadores)

1639 1640
Olsen, 1976). Esto se relaciona por un lado a las dificultades en adoptar una nueva cultura o
“Entrevistador: ¿Cuál crees en ese sentido cuáles han sido los factores que más han lineamientos conjuntos en esta organización, donde aún conviven, o se encuentran en pugna,
contribuido en el desarrollo de tu carrera profesional? muchos elementos del mundo público y privado. También es relevante considerar una segunda
E: Eh… Yo creo que puntualmente para estar hoy día donde estoy el magíster ha sido lo que fuente de ambigüedad como la ambigüedad de intención, donde no está claro qué intenta hacer
más me ha contribuido.” (Extracto entrevista a gerente). la organización (March y Olsen, 1976). En esta organización esta fuente de ambigüedad se ve
presente en la política de desarrollo y en las variadas visiones o interpretaciones que surgen
El cuarto elemento guarda relación con la impresión de que las acciones orientadas al desarrollo sobre ella. Por un lado, ambos grupos (gerentes y trabajadores) comparten la visión de que los
de carrera se aplican dependiendo de quién es y cuál es su rango jerárquico en la organización. méritos deberían ser el criterio para definir el desarrollo. Sin embargo, ambos grupos coinciden
Los trabajadores señalan que los pocos casos de desarrollo se limitan a los ingenieros, o que en que existen altos niveles de discrecionalidad en la organización, no quedando claro qué tipos
se privilegia a candidatos externos para nuevos puestos. En cambio, los gerentes destacan la de privilegios guían las decisiones y por qué se sostienen. Esto muestra una falta de claridad o
existencia de la movilidad en el desarrollo de carrera en la organización, sin embargo, reconocen existencia de contradicciones respecto al funcionamiento de las promociones y el desarrollo
que no se da uniformemente en la compañía. profesional, y la función que ocupa el uso de méritos como un criterio que permita alcanzar
mayor desarrollo.
“E: Los operadores en general, que son por ejemplo que llegan si una carrera o… o algo
técnico después se especializan en sí, y pasa que a lo mejor ellos quedan con un sesgo Esta ambigüedad presente en el desarrollo de carrera tiene consecuencias para las personas
no sé, cuesta más avanzar, les cuesta más avanzar que a las personas que estamos en el que componen esta organización. De esta forma, tal como señala Grueso (2010), ante la falta
edificio por decirlo de alguna manera” (Extracto focusgroup trabajadores) de formalización las promociones se vuelven sesgadas en sus sistemas de promoción y en los
criterios que se emplean en la toma de decisiones. En el caso la empresa estudiada se puede
“E: Puedes crecer en la organización. En algunos casos es un poco lento, en ciertas áreas.” apreciar que el sistema de promoción que es empleado promueve una toma de decisiones
(Extracto entrevista a gerente). subjetiva y discrecional (Powell, 1999), tal como señalan trabajadores y gerentes. Además,
la evaluación de desempeño no logra determinar el crecimiento, transformándose en una
La diferencia de visiones existente entre el grupo gerencial y los trabajadores genera confusión herramienta inadecuada y subvalorada de valoración del mérito en esta organización (Quijano,
y poca claridad con respecto a las oportunidades que ofrece la organización y las decisiones que 1997). Los entrevistados consideran que la indefinición de las prácticas de gestión de personas,
determinan quienes son los beneficiados y postergados. Este tipo de condiciones inequitativas y su pobre implementación, influyen negativamente en las posibilidades de desarrollo al interior
producen altos niveles de ambigüedad al interior de la organización, la que se define como de la organización, fomentando la fuga de algunos trabajadores calificados y el descontento de
un fenómeno que ocurre cuando no hay una interpretación clara de los procesos o conjunto otros.
de eventos que allí se desenvuelven (Feldman, 1991). Best (2012) señala que la ambigüedad
en la organización nos inquieta en parte porque los hechos que la ocasionan no se resuelven En ese sentido, Best (2012) señala que la ambigüedad puede darse de forma intencional para
fácilmente con más información, o con nuestra solución habitual a las incógnitas que enfrentamos flexibilizar la aplicación de ciertas políticas o procedimientos. De esta forma, las ambigüedades
cotidianamente. se pueden interpretar de forma estratégica por los grupos de mayor poder para su propio
beneficio. Además, Acuña y Sanfuentes (2016) señalan que la ambigüedad tiene el potencial
March y Olsen (1976) identifican cuatro fuentes de ambigüedad en las organizaciones intention de amplificar conflictos y resistencias. Esto se debe a que la falta de definiciones claras lleva a
(intención), understanding (entendimiento), history (historia) y organization (organización). que la gente se sienta desorientada, manipulada y desconfiada (Martin, 1992; Feldman, 1991;
Considerando lo anterior, una primera fuente de ambigüedad pertinente de revisar para este Meyerson, 1991; Hoggett, 2006).
caso es la ambigüedad de historia, donde no queda claro qué se hace y por qué (March y

1641 1642
Baier, March, & Saetren, (1986), señalan que muchas veces quienes diseñan las políticas en la que se está manejando la pérdida y comienzan a emerger nuevos significados y formas
al interior de la organización ignoran o subestiman los requerimientos administrativos que de manejo. Este fenómeno puede ir acompañado de un retraimiento en quienes conservaron su
demanda implementar una política de gestión. De esta forma, las autoridades diseñan políticas empleo después de la privatización, que se traduce en una preocupación excesiva por aprender
que aseguran una incapacidad administrativa. Además, los autores complementan lo anterior y cumplir las reglas, de manera de comportarse de la forma ¨correcta¨ (Miller, 2005). Además,
indicando que, en el momento del diseño de políticas, se asume que los objetivos organizacionales se puede percibir un retraimiento de la identificación con la frontera externa de la organización,
son claros y se sabe lo que se busca. También se considera que los objetivos son consistentes, es decir, se busca apoyo en grupos más pequeños para reafirmar la identidad del individuo y su
y estables; supuestos que raramente se cumplen. En ese sentido, se parece asumir que quienes necesidad de encontrar significado en el nuevo contexto organizacional (Miller, 2005).
diseñan las políticas al interior de las organizaciones pueden escoger el nivel de claridad con
el que van a trabajar, y que las políticas se presentan con ambigüedad debido a un mal diseño En este contexto, el sindicato se vuelve un nuevo agente donde se busca el paternalismo y la
inicial (Baier, March, & Saetren, 1986). Sin embargo, este punto de vista ignora el complejo dependencia de la cultura previa (Miller, 2005). Puesto que los esfuerzos tangibles por modernizar
proceso involucrado en la elaboración de dichas políticas de gestión, donde los objetivos no la gestión y promover la autonomía no son totalmente claros o adoptados por los trabajadores,
siempre están claros, ya que se deben unificar distintos puntos de vista y satisfacer variadas el sindicato en su nuevo rol cobra mayor relevancia y preponderancia en la organización, posee
necesidades que surgen en la organización. Por lo tanto, para obtener una visión más integrada mayor poder. Esto se vincula al sentido de bienestar que les da el sindicato, y que los acerca al
del proceso de gestión, se requiere desarrollar una aproximación que integre el contexto de la modelo y funcionamiento ya conocido de dependencia. Además, el rol benefactor del sindicato
organización, como también la dimensión histórica que muestra la evolución en el tiempo del potencia las ganas de quedarse en la organización a pesar de existir elementos que podrían llevar
diseño e implementación de estas políticas. a querer renunciar o irse.

Best (2012) plantea que la ambigüedad tiene un rol bastante importante en las organizaciones “hay pequeñas cositas que te tienen contento que vienen de los beneficios del sindicato
contemporáneas, ya que se constituye como una respuesta institucional al mundo desconocido. que son, seguro de salud, si, que si no existiera el sindicato la empresa ya lo hubiera
Las organizaciones contemporáneas se ven enfrentadas a incertidumbre, diversidad y límites en borrado o disminuido, los cuatro días extras, los administrativos” (Extracto focusgroup
la cuantificación. Esta incertidumbre tiene dos efectos en la vida social. Por un lado, ha habido trabajadores)
una integración de la ignorancia en la vida individual y organizacional. Por otro lado, existe una
mayor dependencia en la toma de decisiones basadas en el riesgo (Best, 2012). La incertidumbre “yo ahora en este minuto estoy estudiando por una beca, pero es a través del sindicato,
ilustra lo poco predictivo que es el futuro, problemas centrales en la vida posmoderna. porque se institucionalizo en *Nombre empresa antes de su privatización*, es una herencia
nosotros, todos los respaldos que tenemos son de la herencia” (Extracto focusgroup
Dependencia Fallida y el rol de los sindicatos trabajadores)

Lo anterior releva lo complejo que cambiar su funcionamiento y fundamentos, y operar en Miller (2005) también señala que la existencia de sindicatos fuertes ayuda a la gerencia. Por su
un contexto cargado de incertidumbre. En el caso de la empresa sanitaria analizada en este parte esta puede potenciar el mito de que la pertenencia a la “gerencia” aumenta el poder. Así
estudio, se evidencia la existencia de políticas con un alto grado de ambigüedad y la operación de se contribuye a una rivalidad que posiciona al sindicato como un enemigo público, ya que busca
defensas sociales derivadas del gran cambio vivido, defensas que surgen de lo que Miller (2005) quitar poder. Esta rivalidad potencia la aparición del supuesto de ataque/fuga (Bion, 1961), que
denominó dependencia fallida. puede llegar a ayudar a cohesionar a la gerencia. En ese sentido, mientras el conflicto prevalezca
será difícil adoptar de forma eficaz un modelo de mayor autonomía.
La dependencia fallida se presenta como una pérdida de significado y de capacidad de
enfrentamiento (Miller, 2005. La dependencia fallida es percibida como una etapa de transición, “*Nombre Empresa* es una empresa bastante especial, y me hizo recorrer todos mis

1643 1644
años de carrera hacia atrás y cuestionarme qué, si te lo pudiera decir en un chilenismo, Best, J. (2012). Bureaucratic ambiguity. Economy and Society, 41(1), 84-106.
¿qué mierda hago aquí?’, ¿por qué? Porque cuando llegue, como verdaderos animales los
sindicatos me pegaron su mordida o levantaron la patita, orinaron, me marcaron territorio Bion, W. (1961). Experiences in Groups. New York.
y me amenazaron que me iban a echar (…).
Cámara de Comercio de Santiago. (2015). Informe de Coyuntura: Sindicalización en Chile
La verdad que a mí me preocupó, (…) porque independiente de que tenga un cargo ejecutivo converge hacía promedios OCDE.
dentro de la organización, soy un empleado, y como tal me senté frente a ellos y les dije
‘miren, ustedes también son trabajadores acá porque necesitan la pega, yo también la Dahse, F. (1979). Mapa de la extrema riqueza. Santiago, Chile: Editorial Aconcagua, Santiago
necesito, yo tengo familia, me imagino que ustedes también la tendrán, ustedes tendrán
cuentas que pagar, me imagino que dependerá del sueldo, tendrán que pagar un dividendo, Feldman, M. (1991). The meanigns of ambiguity: Learning from stories and metaphors. En P.
tendrán muchos compromisos y es por eso que están aquí o sino ya se hubieran ido, (…), Frost, L. Moore, M. Louis, C. Lundberg, & J. Martin (Eds.), Reframing organizational culture.
uno toma sus decisiones y podrá buscar otras alternativas si no se siente agradable, así London, UK: Sage.
que si nos vamos a empezar a entender mejor, relacionémonos bien porque yo estoy
cumpliendo un rol, ustedes también lo están cumpliendo y tienen las mismas necesidades Gómez-Mejía, L. R., Balkin, D. B., Cardy, R. L., (2008). Gestión de recursos humanos. Madrid:
que yo, o sea somos tan iguales indistinto de los distintos cargos, pero aquí las cosas se Prentice Hall.
tienen que aplanar, yo soy un empleados más y ustedes también.’” (Extracto entrevista a
gerente). Grueso, M. (2010) Implementación de buenas prácticas de promoción de personal y su relación
con la cultura y el compromiso con la organización. INNOVAR. Revista de Ciencias Administrativas
Conclusiones y Sociales, 20 (36), 79-90.

Este estudio muestra cómo esta organización ha experimentado un transitar desde una Hodgson, D. (2004). Project work: th legacy of bureaucratic control in post post-bureaucratic
organización burocrática a post burocrática y los conflictos que derivan de dicho proceso, como organization. Organization, 11(1), 81-100.
las tensiones y ambigüedades presentes en el desarrollo de carrera. Además, evidencia que los
sistemas de desarrollo se basan en procesos discrecionales, posibilitando la toma de decisiones March, J. G., and Olsen, J. P. (1976). Ambiguity and Choice in Organizations. Bergen, Norway:
subjetivas y potenciando la segregación y la inequidad, privilegiando a un grupo de elite por Universitetsforlaget.
sobre otro que ve su desarrollo postergado.
Meyerson, D. (1991). Normal ambiguity? A glimpse of an occupational culture. . En P. Frost, L.
Bibliografía Moore, M. Louis, C. Lundberg, & J. Martin (Eds.), Reframing organizational culture (pp. 131-156).
London, UK: Sage.
Acuña, E. (1995). La transición de empresa pública a privada: cambio cultural. Rev. Facultad de
ciencias económicas y Administrativas, (19404492), 307-323. Miller, E. (2005) Poder, Autoridad, Dependencia y Cambio Cultural. En Acuña, E (Ed). Liderazgo,
Creatividad y Cambio en Organizaciones (pp. 113-141). Santiago, Chile: Universidad de Chile,
Baier, V. E., March, J. G., & Saetren, H. (1986). Implementation and ambiguity. Scandinavian Facultad de Economía y Negocios, Departamento Administración.
Journal of Management Studies, 2(3-4), 197-212.
Mondy, R. W., & Noe, R. M. (2005). Administración de recursos humanos. Pearson educación.

1645 1646
Powell, G. (1999). Reflections on the glass ceiling: Recent trends and future prospects. En Capítulo 162
Powell, G. (ed), Handbook of Gender & Work. London: sage Publications.

Quijano de Arana, S. (1997). Sistemas efectivos de evaluación del rendimiento: resultados y


Análisis estratégico de la dinámica organizacional de una MIPYME mexicana
desempeños (2ª. Ed.). Barcelona: EUB.
Catalina Santiago González1

Introducción

Este texto se basa en un peculiar negocio familiar ubicado en Hidalgo, México; donde la esencia
fundamental de su identidad no depende del nombre, sino de quien lo atiende, por lo tanto los
actores organizacionales nucleares son la madre y la hija. Esta organización está por cumplir
veinte años de ofrecer sus productos, en ese recorrido han transitado otros miembros de la
familia, sin embargo actualmente los empleados son ajenos a ella. La idea de comenzar con este
negocio nace como estrategia emergente para apoyar una situación de crisis en la logística de
otra organización, sin embargo se regularizo su existencia definitiva en el momento en que se
convirtió en una fuente de ingresos económicos rentable.

Partiendo de la idea de que toda empresa está constituida por estructuras administrativas,
políticas, legales entre etc. Este ensayo propone una comprensión de las características
particulares que se encuentran en la dinámica organizacional de una MIPYME mexicana que
se gesta en una familia no nuclear/tradicional, desde tres dimensiones de análisis estratégico
organizacional (teórica-epistémica-técnica); y a su vez cómo a través de la institucionalización
de tres grandes instituciones (familia-cocina-empresa) ha utilizado el institucionalismo como
estrategia inconsciente para enfrentar sus retos y vicisitudes organizacionales. (Revisar gráfico1)

Desarrollo

En este sentido, nuestro análisis de esta organización como pequeña empresa mexicana no
nuclear-tradicional, se fundamenta en las siguientes conceptualizaciones:

La definimos como organización de acuerdo a la propuesta de Hall(1996) que la concibe como


“Una colectividad con una frontera relativamente identificable, un orden normativo, niveles
1. Maestrante del posgrado en estudios organizacionales en la Universidad Autónoma Metropolitana, unidad Iztapalapa (2017-2019). Email: www.
kty@hotmail.com

1647 1648
de autoridad, sistemas de comunicaciones y sistemas de coordinación de membrecías; esta A partir de esta conformación de los elementos particulares que caracterizan a la organización
colectividad existe de manera continua en un ambiente y se involucra en actividades que se analizada, abordaremos la convivencia de las tres instituciones institucionalizadas en su
relacionan por lo general con un conjunto de metas; las actividades tienen resultados para los dinámica organizacional, entendiendo que a una institución “como procedimiento organizado y
miembros de la organización, la organización misma y la sociedad” establecido” Maclver (1931)

Además que la organización que se analizó la consideramos como pequeña empresa, con relación De esta manera en el gráfico 1 podemos identificar las tres instituciones institucionalizadas en la
a la clasificación proporcionada por la OCDE, OE y CEPAL, organizaciones que clasifican a la organización analizada, mismas que vistas desde el nuevo institucionalismo, les han funcionado
empresa según su tamaño de acuerdo con el número de trabajadores de la misma, y que en para hacer frente a su realidad organizacional desde sus diferencias ante retos comunes de las
nuestro caso analizado al ser cinco empleados, las organizaciones antes mencionadas denominan Mipymes mexicanas, y que a pesar de su estrecha convivencia en la dinámica organizacional y
a esta organización como: muy pequeña (0 a 19 empleados), microempresa (hasta 9 empleados) después de un gran período de estudio aún conservan identificables las siguientes características
y pequeña (entre 5 y 49) respectivamente. principales de cada institución: saber especializado, interiorización del sujeto, figura central,
reproducción de sí misma, conjunto de limitaciones y prohibiciones.(Revisar tabla 1)
Y finalmente la denominamos como no nuclear-tradicional debido que no cumple con los
elementos básicos de la definición de familia tradicional donde Como se muestra en la tabla 1, las características fundamentales de cada institución conviven y
reafirman su legitimidad entre sí, naturalizando la institucionalización de la tríada institucional
“La organización familiar considerada como la célula básica de la sociedad ha sufrido en las que se encuentra en la dinámica organizacional de esta organización.
última décadas considerables cambios en su aspecto estructural y funcional; así, ya no es tan
común encontrar grupos familiares conformados como tradicionalmente los conocíamos, es
decir, con papá, mamá e hijos, la cual denominamos nuclear; o la extensa que es otra forma
clásica de su constitución en la cual se incluyen familiar es cercanos de uno o ambos integrantes
de la pareja familiar”

1649 1650
Con fundamento en el análisis realizado y expresado en la imagen 1 y tabla 1, podemos analizar Conclusiones
cada institución desde las tres dimensiones de análisis estratégico Organizacional, mismo que
expresamos en la tabla 2. Con relación al análisis estratégico organizacional realizado a esta pequeña empresa no nuclear-
tradicional mexicana, encontramos que todas la acciones y decisiones tomadas por la figura
central de cada organización identificada, mantiene como prioridad la trascendencia a través de
una estrategia dinámica, que permitió que la tríada institucional de esta organización, se fusionase
con el comportamiento organizacional y que a su vez se replicó en la dinámica organizacional, al
mismo tiempo que se institucionalizó en la organización. Es decir que la adopción de estructuras
administrativas de otras organizaciones, mismas que construyeron su identidad y generaron
posibilidades de sobrevivencia y trascendencia en el tiempo y de escenario organizacional; es
el resultado la intención por parte de la figura central familiar de posibilitar la capacidad de
elección de realidades al sucesor, y en su caso de tener la posibilidad de no asumir la sucesión.

Referencias

Crozier, Michel y Erhard Friedberg (1990) “El juego como instrumento de la acción organizada”,
“El análisis estratégico de los sistemas de acción como planteamiento sociológico”, en Crozier,
Como podemos ver en la tabla 2, la organización se encontraba en un contexto estratégico, Michel y Erhard Friedberg, El actor y el sistema. Las restricciones de la acción colectiva, Alianza,
que brindó las condiciones estratégicas e históricas idóneas para utilizar la institucionalización México, pp. 76-105, 187-207, 208-228 y 229-250.
de la tríada institucional antes abordada, como estrategia de sobrevivencia y trascendencia
organizacional. Este fenómeno organizacional surge de manera inconsciente desde el punto Rendón Cobián, Marcela (2007) “La dinámica organizacional en una pequeña clínica de tipo
el punto vista estratégico, más bien nace como respuesta empírica de la forma de vida de familiar. Contradicciones y complementariedades institucionales.” Tesis de doctorado, UAM.
los integrantes de la organización, es decir, desde una experiencia práctica-reflexiva y una
orientación normativa natural que condujo la toma de decisiones en la organización. Romero, Jorge Javier(2001) “De la organización al sistema”, en Powell, Water y Paul Di
Maggio(comps.) El nuevo institucionalismo en el análisis organizacional, FCE, CNcPYAP y UAME,
Es este sentido y retomando las estrategias con mayor relevancia que Rendon, Marcela (2005) México, pp.7-29.
propone en su tesis sobre una empresa familiar que usa la institucionalización como estrategia,
podemos observar que también se aplican en esta organización pero a diferente escala, por Scott, W. Richard (2001) “Retomando los argumentos institucionales” en Powell, Walter y Paul
ejemplo: La sucesión es auto aceptada por la hija, pero sólo por tiempo determinado; La Di Maggio (comps.) El nuevo institucionalismo en el análisis organizacional, FCE, CNCPyAP y
modernización e innovación se genera con beneplácito, siempre y cuando no genere problemas UAME, México, pp. 216-236.
organizacionales no negociables; Las alianzas con otras organizaciones y/ empresas se reflejan
en acuerdos de cooperación con relación con las condiciones de surtido entre proveedores y Vásquez Rúa, Clara Inés (2005) “Las nuevas tipologías familiares y los malestares
empresas colindantes, sin embargo estos alianzas también han llegado a establecerse con interrelacionales que se suscitan en ellas. Revista Virtual Universidad Católica del Norte, núm.
clientes a través de la implementación de un proceso comunicativo específico para la atención al 14, febrero-mayo, 2005. Fundación Universitaria Católica del Norte. Medellín, Colombia.
público según sea su nivel y frecuencia de compra o su relación con la dinámica organizacional.

1651 1652
Capítulo 163 eficiência organizacional por meio da redução de custos e gestão da informação; documentação,
preservação e prestação de contas exigidas pela legislação e por órgãos públicos no serviço legal
e público; atendimento às necessidades gerais da empresa, que envolve o registro e o arquivo
Acervos e arquivos de empresas: Um estudo sobre os centros de de informações sobre as diversas atividades, eventos e projetos desenvolvidos pela empresa; e
memória e documentação corporativos1 fonte de informação, como repositório do conhecimento, experiência e competência gerados na
organização” (Coraiola, 2012, p.263).
Alessandra de Sá Mello da Costa2
Neste sentido, a história empresarial como um conjunto de narrativas acerca de tempos
memoráveis começa a ser utilizada pelas empresas de forma estratégica para: aproximar
A presente pesquisa – ainda em andamento - teve por objetivo identificar como as organizações funcionários, colaboradores e parceiros (Costa e Saraiva, 2011), estabelecendo e/ou confirmando
contemporâneas organizam a sua história e as suas memórias a partir da análise dos seus centros a identificação destes com a organização (Anteby e Molnar, 2012); fortalecer a marca e a
de memória e documentação. A relevância deste objetivo reside no crescente interesse da área identidade da organização no mercado, através da transmissão de uma imagem de credibilidade
de administração por estudos acerca do tema história, memória e organizações (Costa, Barros e solidez (Rowlinson et. al 2010; Costa e Pessoa, 2017); contribuir com a gestão de pessoas
e Martins, 2010; Rowlinson, Hassard e Decker, 2014; Godfrey, Hassard, O’Connor, Rowlinson e com a comunicação interna e externa, como no caso de estudos em memória comunicativa
e Ruef, 2016). (Assmann, 2011); desenvolver mecanismos que permitam a uma organização um maior grau de
autoconhecimento, por meio do resgate de processos, princípios e valores (Ribeiro e Barbosa,
Pode-se argumentar, inclusive, que existe um movimento progressivo de diluição de fronteiras 2007; Totini e Gagete, 2004); cooperar com pesquisadores, oferecendo informações históricas
entre as áreas de Administração e de História que pode ser evidenciado, por exemplo, pelo da organização (Figueiredo, 2009); e viabilizar uma integração mais eficiente de diferentes
grande número de gestores que gerenciam os centros de documentação e memória de suas culturas empresariais provenientes de fusões, aquisições e processos de reestruturação.
empresas (Decker, 2013); pelas oficinas de trabalho cada vez mais recorrentes (como foi o caso
da atividade “Qualitative historical methods in management and organization studies” realizada Assim, mais do que apenas espaços de alocação e/ou guarda de documentos, os acervos
em 2011, no Centre for Management History at Queen Mary, (UK); e pelas edições especiais organizacionais e empresariais passam a ser entendidos como provedores de futuras vantagens
vinculadas a importantes periódicos (ver: Academy of Management Review, 2016: Special Topic competitivas (Ribeiro e Barbosa, 2007; Worcman, 2004) e fonte de legitimidade (Suddaby,
Forum on History and Organization Studies). Assim, cada vez mais pesquisadores aproximam- Foster e Trank, 2010). E, dentro do escopo de espaços de memória empresarial, os Centros
se das pesquisas históricas ampliando e legitimando um aparato teórico-epistemológico de de Memória e Documentação adquirem visibilidade sendo considerados - pelos pesquisadores
entendimento dos fenômenos organizacionais (Costa, Barros e Martins, 2010; Coraiola, 2013; - como o produto mais completo de gestão da memória institucional (Costa, Barros e Celano,
Rowlinson, Hassard e Decker, 2014; Godfrey, Hassard, O’Connor, Rowlinson e Ruef, 2016). 2013). Neste contexto, a partir de 1980 vários destes Centros foram sendo criados no Brasil,
como é o caso do Núcleo de Memória Odebrecht em 1984; do Centro da Memória da Eletricidade
Ao mesmo tempo, identifica-se um aumento representativo também no número de organizações em 1986; do Centro de Documentação e Memória da Klabin em 1989; do Memória Gerdau e
que escrevem a sua própria história e depois disponibilizam de forma sistematizada seus do Memória Globo em 1999; do Memória Votorantim e do Centro de Memória Bosch em 2003,
documentos como fontes de informação para grupos considerados estratégicos e de interesse entre outros (Figueiredo, 2009; Costa, Barros e Celano, 2013).
(Nissley e Casey, 2002; Foster et al., 2011). Como salienta Diego Coraiola, a história
empresarial vem sendo cada vez mais utilizada como “(...) ferramenta essencial para aumentar a Segundo Totini e Gagete, (2004, p.124), os centros de memória e documentação constituem-
1. A Pesquisadora gostaria de agradecer à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo apoio financeiro que viabilizou se como os “setores responsáveis pela definição e aplicação de uma política sistemática de
a pesquisa.
2. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Departamento de Administração - IAG. Email: alessandra.costa@iag.puc-rio.br
resgate, avaliação, tratamento técnico e divulgação de acervos e, principalmente, pelos

1653 1654
serviços de disseminação do conhecimento acumulado pela empresa e de fonte de interesse
histórico”. No que diz respeito aos documentos que compõem os seus acervos, podemos Como principais resultados alcançados nesta fase atual da pesquisa, pode-se identificar que (1)
destacar: (a) fitas de áudio e/ou vídeo produzidas pela empresa e referentes à sua área de a maioria das empresas pesquisadas faz uso estratégico das formas mais básicas de sua história
atuação ou setores correlacionados (acervo audiovisual/videoteca); (b) publicações e estudos (como relato de fatos e datas importantes e imagens históricas ilustrativas) e conforme o formato
de procedências diferentes e relacionados às linhas de acervo definidas (acervo bibliográfico); dos acervos e dos documentos se torna mais elaborado e complexo, o número de empresas que
(c) objetos e documentos que representam aspectos significativos da trajetória da empresa, os utilizam vai diminuindo. De qualquer forma, deve-se ressaltar que do conjunto de empresas
como prêmios, certificados, equipamentos, mobiliários (acervo de cultura material); (d) objetos selecionadas para pesquisa, apenas 3 não faziam uso de nenhum tipo de informação histórica
e documentos com caráter único e inovador, relacionados ao contexto da empresa e do seu em seus sítios eletrônicos. Todas as demais 42 empresas apresentaram alguma informação
setor de atuação no país (acervo museológico); (e) iconografia relacionada à empresa (origem histórica.
interna ou externa) em suportes como papel, eletrônico, digital ou filme (acervo fotográfico); e
(f) acervos documentais e virtuais referentes às linhas de acervo e que podem também abranger Ao mesmo tempo, (2) pode-se constatar que poucas empresas concentram a tarefa de construir
monitoramento da concorrência (acervo de referência); (g) a documentação referente à trajetória grande parte das memórias e das histórias das empresas pesquisadas no Brasil (ver: Binhote
do empreendimento como projetos viabilizados; projetos fracassados ou abandonados; relatórios e Costa, 2017). No caso desta pesquisa, foram identificadas e analisadas as seguintes cinco
técnicos, relatórios administrativos; campanhas promocionais de marketing; perfis; clipping empresas: Tempo & Memória, Griffo; Memória & Identidade; Expomus; e Museu da Pessoa. Todas
em papel e eletrônico; jornais e revistas internas; correspondências de diretoria; projetos e as empresas estudadas estão localizadas na cidade de São Paulo (SP – Brasil) e possuem uma
programas de relações institucionais e planos estratégicos (acervo permanente); documentação trajetória bastante parecida em termos de data de início dos trabalhos e projetos; trajetórias
relativa à trajetória pessoal e/ou política de fundadores, dirigentes e outras personalidades profissionais das equipes; e portfólio de produtos. Também atuam a mais de duas décadas e
ligadas à história da empresa (acervo de coleções); e registros gravados em áudio/vídeos de estabeleceram relações de proximidade entre si muitas vezes trabalhando em parceria e
entrevistas com pessoas ligadas (direta ou indiretamente) à história da empresa (bancos de compartilhando clientes (Binhote e Costa, 2017).
depoimentos) (Totini e Gagete, 2004).
A Empresa Tempo&Memória foi criada nos anos 1980 por historiadores. A sua equipe é
É neste sentido que este estudo buscou responder à seguinte pergunta: Como, por quem e com multidisciplinar e formada por historiadores, arquivistas, designers e jornalistas. De acordo com
que finalidade são constituídos e gerenciados os acervos dos principais Centros de Documentação as informações obtidas em seu sítio eletrônico (www.tempoememória.com.br) e por meio de
e Memória Corporativa no Brasil? entrevistas presenciais com seus gestores, as suas trilhas de atuação são: (1) organização de
acervos históricos e administrativos; (2) implantação de centros de memória; (3) desenvolvimento
Em relação aos procedimentos metodológicos, a pesquisa assume-se como qualitativa e, para a e implementação de exposições; e (4) criação e execução de projetos editoriais. Como exemplo
construção do corpo de dados utilizou fontes documentais (públicas e privadas) e fontes orais de seus principais clientes pode-se destacar as empresas: Klabin, Britanite e Lello Condomínios.
(entrevistas). Em função da potencial abrangência do tema, a pesquisa delimitou seu escopo A Empresa Grifo também foi criada nos anos 1980 por historiadoras e desde então desenvolve
às empresas listadas no ranking Great Place to Work (GPTW) entre os anos de 2011 a 2016, seus projetos de consultoria abrangendo um amplo escopo de trabalho. A sua equipe é formada,
totalizando 45 empresas pesquisadas. Em relação aos seus acervos de memória e documentação, de forma geral, por historiadores, jornalistas e arquivistas. De acordo com as informações
estes foram reunidos em 6 categorias: (1) divulgação da história e/ou da memória como contexto recolhidas em seu sítio eletrônico (www.grifo.com.br) as suas trilhas de atuação são: (1) edição
em textos institucionais; (2) divulgação de uma linha do tempo; (3) divulgação do histórico de de livros comemorativos empresariais; (2) organização de exposições temáticas; (3) construção
premiações e/ou certificações; (4) divulgação de imagens históricas; (5) divulgação de vídeos de produtos audiovisuais e espaços de memória, tais como museus corporativos; e (4) criação
históricos institucionais; (6) divulgação da existência de centros de memória e documentação e gestão de acervos históricos e centros de memória e documentação. Como exemplos de seus
com instalações físicas. As fontes foram analisadas por meio de análise de texto e de conteúdo. principais clientes pode-se destacar as empresas: Atlas Schindler, Mappin; Unilever; Instituto

1655 1656
Moreira Salles; e Acervo da Fundação Bienal de São Paulo. história e memória empresarial possuem e da necessidade, já identificada por Binhote (2017),
de existir um maior incentivo na promoção de políticas de gestão de memórias empresariais.
A Empresa Memória e Identidade também foi criada nos anos 1980 por historiadores e desenvolve Como expressão deste pouco (re)conhecimento, as ações nesta direção são muitas vezes
projetos de consultoria na área de criação e gestão de centros de memória e documentação (www. encaminhadas por empresas de comunicação e de assessoria de imprensa que posteriormente
memoriaeidentidade.com.br). A sua equipe é grande e contempla historiadores, arquivistas, até subcontratam (ou não) empresas especializadas na construção de espaços de história e
gestões de informação, bibliotecários, entre outros. Como exemplos de seus principais clientes memória empresarial. Como desdobramento, logo após este potencial ser identificado pelas
pode-se destacar as empresas: Natura; Chocolates Garoto (Centro de Documentação e Memória empresas contratantes como diferencial competitivo, ao invés de serem construídos centros de
Garoto); Grupo Ultra (Centro de Documentação e Memória Grupo Ultra); entre outros. memória e documentação, sua manifestação acaba assumindo outra direção. Ou seja, como já
foi mostrado por Costa e Pessoa (2016), “o movimento de materialização e uso estratégico do
A Empresa Expomus foi criada no início dos anos 1990 por profissionais da área de relações passado feito pelas organizações ocorre, em grande parte, por meio dos meios de comunicação e
públicas e museologia. A sua equipe é formada, de forma geral, também por projetistas, tem como um de seus principais objetivos [apenas] construir e fortalecer a marca, a identidade
arquitetos e historiadores. De acordo com as informações recolhidas em seu sítio eletrônico e a reputação das empresas no mercado”.
(www.expomus.com.br) o seu foco reside em (1) projetos museológicos; (2) Exposições; e (3)
Coleções. Como exemplos de seus principais clientes pode-se destacar o Museu da Universidade Referências
de São Paulo; o Museu de Arte Sacra (MAS) de Paraty; e o Centro de Cultura do Banco do Brasil
(CCBB). Anteby, M.; Molnar, V. Collective Memory meets organizational identity: Remembering to Forget
in a Firm’s Rhetorical History. Academy of Management Journal, 55(3): 515-540, 2012.
A última empresa pesquisada, o Museu da Pessoa, foi criado também no início dos anos 1990.
Com base no seu sítio eletrônico (www.museudapessoa.com.br) pode-se identificar que o foco Assmann, J. Communicative and Cultural Memory. Cultural Memories, 4: 15-27, 2011.
da organização é na construção de acervos de memória oral por meio de histórias de vida e
engloba (1) coleta dos depoimentos; (2) tratamento dos depoimentos; (3) transcrições; (4) Barbosa, I.m.f.; Binhote, J.m.; Costa, A.s.m. Tempo&Memória: Um Estudo Inicial sobre a Produção
e criação de sinopses. No caso da presente pesquisa, o foco principal foi nas atuações e nos de Memória e História Empresarial. Anais do AdCont, 2017.
projetos relacionados com as memórias de empresas (registro, sistematização, preservação
e divulgação). Da mesma forma que as empresas anteriormente citadas, a sua equipe conta Binhote, J.m.; Costa, A.s.m. Quem constrói a História e Memória das Empresas? Reflexões Iniciais
com historiadores, jornalistas e museólogos. Como exemplos de seus principais clientes pode- sobre Gestão e Produção de Memória Organizacional. Anais do XX SemeAd, São Paulo, 2017.
se destacar a Fundação Bradesco; a Anglo American; a Votorantin (Memória Votorantin); e a
Petrobras (Memória Petrobras). Binhote, J.m. Quem Constroi e Gerencia a História e Memoria das organizações? Um Estudo
sobre as Empresas Produtoras de Histórias Organizacionais. Dissertação de Mestrado. PUC-Rio,
Em relação ao seu funcionamento e organização, de uma forma geral, pode-se observar três 2017.
principais diretrizes: (a) funcionam como empresas de consultoria; (b) atuam principalmente
na organização de eventos e produtos comemorativos pontuais; e (c) não são, efetivamente, Costa, A.s.m.; Barros, D.f.; Martins, P.e.m. Perspectiva Histórica em Administração: Novos
gestoras dos centros de memória e documentação dos seus clientes. Objetos, Novos Problemas, Novas Abordagens. Revista de Administração de Empresas, São
Paulo, 50(3): 288-299, jul/set, 2010.
Por fim, em relação ao último resultado alcançado pode-se destacar (3) a identificação do
ainda incipiente reconhecimento, por parte das empresas, de todo o potencial estratégico que a Costa, A.s.m.; Saraiva, L. A. S. Memória e formalização social do passado nas organizações.

1657 1658
Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, 45(6): 1761-1780, 2011.
Suddaby, R.; Foster, W.m.; Trank, C.q. Rhetorical history as a source of competitive advantage.
Costa, A.s.m.; Barros, D.f.; Celano, A.c. The Social Engagement of Individual Memories: The Globalization of Strategy Research, 27: 147-173, 2010.
Petrobras Workers´ Memory Program. 73rd Annual Meeting on Academy of Management, Lake
Buena Vista, Orlando, Flórida, 2013. Totini, B.; Gagete, E. Memória Empresarial: uma análise de sua evolução. IN: Memória de Empresa.
Nassar, P. (Org). São Paulo: Aberje, 2004.
Costa, A.s.m.; Pessoa, L.a.g. História e Memória no Discurso Publicitário da Revista VEJA.
Pensamento Contemporâneo em Administração, Niteroi, 10(1): 19-35, 2016. Worcman, K. Memória do Futuro: um desafio. IN: Memória de Empresa. NASSAR, P. (Org). São
Paulo: Aberje, 2004.
Decker, S. The silence of the archives: business history, post-colonialism and archival
ethnography. Management & Organizational History 8(2): 155-173, 2013.

Figueiredo, M.c. Da Memória dos Trabalhadores à Memória Petrobras: a história de um projeto.


Dissertação de Mestrado. CPDOC – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2009.

Foster, W. M., Suddaby, R., Minkus, A. And Wiebe, E. ‘History as Social Memory Assets: The
example of Tim Hortons’. Management & Organizational History, 16(1), 101-120, 2011.

Godfrey, P. C., Hassard, J., O’connor, E. S., Rowlinson, M., & Ruef, M. What Is Organizational
History? Toward a Creative Synthesis of History and Organization Studies. Academy of
Management Review, 41(4), 590-608, 2016.

Nissley; N.; Casey, A. The Politics of the Exhibition: Viewing Corporate Museums Through the
Paradigmatic Lens of Organizational Memory’. British Journal of Management, 17: 535-543,
2002.

Ribeiro, A.p.g.; Barbosa, M. Memória, relatos autobiográficos e identidade institucional.


Comunicação e Sociedade, 47: 99-114, 2007.

Rowlinson, M; Booth, C.; Delahaye, A.; Pocter, S. Social remembering and organizational memory.
Organization Studies, 31(10): 69-87, 2010.

Rowlinson, M.; Hassard, J. Decker, S. Research strategies for organizational history: a dialogue
between historical theory and organizational theory. Academy of Management Review, 39(3):
250-274, 2014.

1659 1660
Capítulo 164 En este contexto surgió y ha venido funcionando “Central de Abarrotes” (Central, de aquí
en adelante), organización chiquinquireña que en 2018 cumple 40 años de funcionamiento
durante los cuales se ha convertido en una empresa comercial con alto posicionamiento
“Central de Abarrotes”: Un caso en la historia empresarial de la en el mercado local por su participación y reconocida colaboración con la ciudadanía. Como
identidad del comerciante de Chiquinquirá, Boyacá tema de investigación en historia empresarial, y en un intento por recopilar historias de vida
para estructurar experiencias empresariales de comerciantes de Chiquinquirá, se considera
Carlos Alberto Molina Rodríguez1, Melissa Pedroza Buitrago2 y conveniente preguntar: en sus cuarenta años de existencia, ¿qué factores administrativos han
Yineth Katerine Barbosa Quitián3 permitido el crecimiento económico, el desarrollo empresarial y el compromiso social con la
comunidad chiquinquireña del autoservicio Central de Abarrotes?

Introducción Metodología

La economía del nororiente colombiano –región conformada por los departamentos de Arauca, La investigación detenta un enfoque de carácter descriptivo; se basa en las experiencias y
Boyacá, Norte de Santander y Santander, onceava parte del territorio nacional– ha cambiado en la vida empresarial de los comerciantes que fundaron y dirigen Central; asimismo, puede
su composición económica interna: disminución relativa del sector primario, en función del reconocerse como un estudio de campo, por el modo de acceso a las fuentes de información;
fortalecimiento de los sectores secundario y terciario (Mojica, 2013, p. 2). Boyacá ha sido finalmente, como estudio de caso, posibilita un acercamiento a individualidades que pueden
reconocido históricamente como fuente de diversidad de productos agrícolas y, gracias a su tomarse como referente de las decisiones administrativas tomadas por individuos y que han
territorio, en importante destino turístico. Sus habitantes se han valido, para su supervivencia, redundado en la perdurabilidad y en la expansión de algunos entes comerciales que apuntan a
de otras actividades como la minería, la industria, la construcción, la artesanía, la alfarería y el configurar la identidad del comerciante de Chiquinquirá.
comercio. Así, sin dejar de lado su vocación primaria, la economía de Boyacá ha sufrido cambios
en su composición sectorial, con una ligera tendencia a la industrialización y a la tercerización Como caso de historia empresarial, utiliza similares fuentes de investigación que cualquier
(DANE, 2015, p. 74). otro estudio histórico: una gama de fuentes documentales (memorias, archivos de prensa,
fuentes secundarias, etc.); y, como un estudio que cubre la época contemporánea, recurre
La cabecera municipal de Chiquinquirá, al occidente de Boyacá, se reconoce como una ciudad a las entrevistas en profundidad. La entrevista se justifica debido a que la oralidad en las
cuya economía depende fundamentalmente del sector comercial. El actual Plan de desarrollo organizaciones hace parte de la comunicación informal y su función consiste en transmitir la
municipal señala que sobresalen los establecimientos comerciales frente a los industriales; memoria organizativa (o una parte de ella) producto de las evocaciones de las personas, pues no
asimismo, la gran mayoría se dedican al comercio por mayor de víveres en general (Consejo toda la información se encuentra registrada en documentos, mucha de ella queda en la memoria
Municipal, 2016, p. 86). La Cámara de Comercio en 2016 señala que el 79% ejerce la actividad de las personas (Ordóñez, diciembre, 2012, p. 25). Adicionalmente, utiliza otras fuentes
comercial, el 19% de servicios y el 2% se reparte entre lo financiero y lo industrial (Cámara de documentales (actas, libros contables, manuales de organización del trabajo y correspondencia,
Comercio de Tunja, 2016). entre otros), archivísticas, pictóricas (fotografías) y sistemas de información gerencial que
permitan contrastar y verificar lo expresado por los entrevistados.
1. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Historia, Educación, Economía, Contabilidad, Sociedad (Hecos).
Email: carlos.molina@uptc.edu.co
2. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Historia, Educación, Economía, Contabilidad, Sociedad (Hecos). Resultados: breve historia de una empresa comercial de carácter familiar
Email: melissa.pedroza@uptc.edu.co
3. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Historia, Educación, Economía, Contabilidad, Sociedad (Hecos).
Email: yineth.barbosa@uptc.edu.co
Referirse a la historia de Central de Abarrotes implica reconstruir la historia de vida de la familia

1661 1662
Domínguez-Suárez: más que una empresa, Central –como la denominan sus propietarios– es una menor. En ese entorno desde Central se miró a Chiquinquirá como centro del mercadeo...
familia. Si bien es cierto que el establecimiento cuenta con una historia centrada en la figura de
Santos Agustín Domínguez Sánchez, también es evidente que en la transformación de mayorista En 1991, tras su matrimonio con Santos Domínguez, María Eugenia Suárez Torres se vinculó de
a autoservicio pequeño y, posteriormente, al autoservicio con dos puntos de atención que en la manera directa a la administración de Central de Abarrotes. Hacia finales del 1992 se contempló
actualidad funcionan en la ciudad de Chiquinquirá se debe, en gran parte, a la labor adelantada en Central la posibilidad de vender al por menor mediante un local de autoservicio; para tal
por María Eugenia Suárez Torres. Además, en el funcionamiento y en la transformación de actividad, se dividió el local y se destinó un porcentaje pequeño del mismo para la venta de
Central se han vinculado sus hijos y algunos de sus familiares más cercanos. productos, ahora exhibidos en góndolas. Las ventas en el autoservicio fueron cobrando mayor
preponderancia; así, se realizó una remodelación y ampliación de la infraestructura para atender
La etapa de mayorista comenzó en 1978 como un establecimiento comercial llamado “Los dos a los nuevos clientes del autoservicio, sin dejar de lado al cliente mayorista. Este lento proceso
amigos”, sociedad entre Santos Agustín Domínguez Sánchez y Lucindo Rivera, como negocio demandó que en 1995 se comenzaran a adelantar modificaciones en las instalaciones con el fin
dirigido a la población de Chiquinquirá y del Occidente de Boyacá en el cual vendían al por mayor adecuar un espacio para atender directamente al cliente en sus compras al menudeo.
productos alimenticios y distribuían, además, implementos, materiales, insumos y herramientas
para las labores agrícolas y mineras. Al asumir Santos Domínguez la totalidad del establecimiento, Así, en 1998 Central entró a funcionar como un autoservicio y esta modalidad ofrecida al
por cerca de dos años no recibió utilidad alguna. Además, la continuidad del negocio se posibilitó mercado chiquinquireño empezó a demandar mayor variedad de productos; de esta manera,
gracias a una próspera época productiva de las minas de esmeraldas del Occidente de Boyacá. se generó una ampliación en la oferta de víveres en el portafolio de Central. Si anteriormente
Santos Domínguez debía viajar a Corabastos en Bogotá para adquirir mercancía5, ahora, los
Hacia 1980, “Los Dos Amigos” cambió su nombre a “Central de Abarrotes”. El modelo de grandes proveedores vendrían directamente a atender los pedidos de Central de Abarrotes. Esas
negocio consistía en que Santos Domínguez visitaba la zona de Occidente de Boyacá, principal empresas confiaron en Santos Domínguez: entregaban sus productos y otorgaban créditos de 60
nicho de mercado, realizaba preventa de los productos y posteriormente enviaba la mercancía a 90 días para el pago sin ningún tipo de sobrecosto por financiación.
en encomiendas transportadas en camiones. Las condiciones sociales y económicas de la región
fueron cambiando. La llamada “guerra verde” desató una complicada situación social que se Mientras la transformación de Central empezaba a virar hacia el autoservicio y se apuntaba a
vivía en la zona esmeraldífera que solo vino a apaciguarse a comienzos de la década de los años un nuevo nicho de mercado, el tipo de negocio cambió y ya no era tan fundamental ni la región
noventa4, cuando el 12 de julio de 1990 se reunieron los esmeralderos para firmar un tratado de occidente ni la venta al por mayor. Sin embargo, ni la población inicialmente atendida ni la
de paz. inicial forma de mercadeo se abandonaron del todo, pues Santos Agustín seguía pendiente de la
atención al por mayor; entretanto, María Eugenia se encargaba del autoservicio. Para ello, inició
De este modo, los aspectos sociales y económicos cobraron una nueva dinámica que no solo se una serie de actividades de capacitación formal y continuada que le facilitaran su tarea. A su
sustentaba en la producción de esmeraldas. La agricultura y el comercio se reactivaron de forma vez, Santos Domínguez realizaba negocios fuera de la distribuidora: además de atender el sector
distinta y los caminos hacia la región se hicieron más accesibles. Ese contexto permitió que las de la distribución al por mayor, cuidaba de las parcelas agrícolas de su propiedad y los fines de
grandes distribuidoras ampliaran sus fronteras hacia ese territorio: así, ya no se requería de un semana, gracias a sociedades con comerciantes de la región, adquiría productos como panela,
intermediario que desde Chiquinquirá surtiera los almacenes y tiendas que vendían víveres al por fríjol o arveja para posteriormente ser comercializados.
4. Otra guerra colombiana que lideraron bajo su estampa de “patrones” los desaparecidos esmeralderos Gilberto Molina, Víctor Carranza y Luis Murcia
Chaparro, también conocido como el “Pequinés”. La prometedora mina de Coscuez fue el botín que desató la confrontación […] cuando los habitantes
Central comenzaba una etapa de crecimiento y de reconocimiento comercial y social en el
del occidente de Boyacá quedaron divididos por una línea invisible que los confinaba y les marcaba el límite geográfico entre la vida y la muerte. Los municipio. Así, gracias a la contribución realizada por Central de Abarrotes al desarrollo de
municipios de Otanche, San Pablo de Borbur, Zulia, Pauna, Tununguá y Briceño contra los pueblos de Quípama, Muzo, Maripí, Buenavista y Coper,
matándose por la mina de Coscuez, por tener la oportunidad de dejar la vida entre los cortes de tierra donde dormían las esmeraldas (Flórez, 2015, 5. La Corporación de Abastos de Bogotá (CORABASTOS) es la principal plaza de abastos del Colombia. Con sede en Bogotá, esta organización organiza
septiembre 20). el mercadeo del sector agropecuario en la ciudad y su área metropolitana mediante el manejo de varias centrales de comercio mayorista.

1663 1664
la ciudad y a la generación de empleo, la administración municipal le otorgó la exaltación se contrataron los servicios del arquitecto chiquinquireño Wilmar Rodríguez. Como resultado,
“Mérito chiquinquireño” en el año 2001 (Central de Abarrotes: a puro pulso, 2002, sep. se entregaron al servicio de la comunidad unas amplias instalaciones con características no de
10). Posteriormente, en el año 2002, la Cámara de Comercio de Tunja le concedió el premio supermercado sino, en lo más cercano posible, a una gran superficie. Además, en diciembre de
Chibchacum en la categoría mejor empresa comercial (Entregarán premio Chibchacum, 2002, 2016 en Central de Abarrotes se decidió abrir una sucursal hacia el norte de la ciudad, sector en
agosto 30)6. Además de destacar el esfuerzo y la tenacidad de los mejores comerciantes, el cual no existía un autoservicio de amplias proporciones. De este modo, con las dos sucursales
empresarios e industriales, el reconocimiento se le entregó a Central de Abarrotes por su aporte se atendería mayor población y se enfrentaba la competencia.
integral al desarrollo de la región valorado en cuanto a la generación de empleo, la competitividad,
el posicionamiento regional, el impacto ambiental y la responsabilidad social empresarial. En el año 2018 se presenta un nuevo reto para Central: la llegada de Almacenes Éxito al antiguo
local que ocupaba almacenes YEP7. Con el local en Chiquinquirá, el Grupo Éxito completó 562
En la historia comercial colombiana se conoce a almacenes YEP como una cadena de almacenes puntos de venta en Colombia y 4 en el departamento de Boyacá (El Éxito llega a Chiquinquirá…,
fundada en la década de los años 50 del siglo xx por Manuel Yepes Pérez y sus hijos en la 2018, feb. 27). Previendo tal anunciada llegada, durante 2017, la administración de Central
ciudad de Neiva. Comercializaba, principalmente, abarrotes, productos para el hogar, ropa, realizó una serie de actividades que incluyeron una remodelación locativa consistente en
papelería, cosméticos, ferretería y eléctricos. Llegó tener 19 almacenes en diferentes ciudades la aplicación de estrategias de mercadeo como iluminación, decoración, redistribución de la
de Colombia; entre ellas, en el municipio de Chiquinquirá. Esta cadena cerró definitivamente sus mercancía en las distintas góndolas y acercamiento a la comunidad para consolidar la recordación
almacenes en 2016 al quebrar, en parte, por su inadecuado manejo interno y, de otro lado, por el de la marca como patrimonio chiquinquireño. Para cumplir este último objetivo, se realizó en la
impulso que adquirieron las llamadas grandes superficies en el ámbito comercial colombiano. A “Plaza de la Libertad” la jornada recreativa denominada “La bolsita feliz” que reunió más de dos
pesar de que una de las últimos almacenes en cerrar fue, precisamente, el de Chiquinquirá, entre mil personas en la celebración del “Día de los niños” el 31 de octubre.
Central de Abarrotes y Almacenes YEP no existía una rivalidad directa, pues atendían diferentes
poblaciones. Por el contrario, se diría que complementaban la demanda de productos al por El comercio detallista siempre ha estado en constante cambio, y en el caso colombiano en los
menor en la región. últimos años ha venido presentando, quizás, el más interesante dinamismo, tras la llegada y
expansión de las cadenas de Hard Discount, o mejor conocidas como tiendas de descuento. En
Sin embargo, a finales de la primera década del siglo xxi, un nuevo jugador entraría en el ámbito especial, han entrado en juego tres grandes cadenas: D1, Ara y Mercadería Justo & Bueno. El
de los supermercados en el municipio: Almacenes Colsubsidio. Colsubsidio, organización sin crecimiento de estas cadenas ha sido geométricamente exponencial y se ha extendido a los más
ánimo de lucro fundada en 1957, se reconoce como una caja de compensación familiar que diversos rincones del país. Y en su competencia, las tres ocupan el mismo sector geográfico; es
aparte de atender servicios esenciales de salud y recreación ha entrado a competir en el sector decir, donde llega una de ellas, a las pocas semanas se abren locales de las otras dos marcas. Y
de los supermercados; y de atender a la población de la capital de Colombia, ha ido ampliando no lo hacen con un solo local, en lo posible, si lo consideran pertinente, abren dos o más locales
sus servicios a poblaciones circunvecinas del departamento de Cundinamarca y el sur de Boyacá, en determinado sector. Así, en un municipio como Chiquinquirá en el último año han llegado
entre otras. De esa manera, en 2011 entró en funcionamiento el supermercado en Chiquinquirá, hecho presencia estas tres cadenas de hard discount y al día de hoy cuentan con seis locales
además de prestar sus servicios en el sector salud. distribuidos a lo largo del casco urbano, para atender a una población de aproximadamente
90.000 habitantes.
Central consideró a este nuevo almacén como una competencia directa y, como tal, decidió 7. Almacenes Éxito hace parte del conglomerado denominado Grupo Éxito que, a su vez, hace parte del Grupo Casino. Históricamente el Grupo Éxito es
el resultado de una serie de fusiones iniciadas en 1994 cuando Almacenes Éxito, (fundado por Gustavo Toro Quintero en 1949) inició un proceso de
enfrentarlo. Las instalaciones se habían venido ampliando y refaccionando en la medida que la apertura accionaria y desarrolló una estrategia de crecimiento y consolidación para enfrentar los retos de la entrante competencia internacional. En
demanda así lo ameritaba; sin embargo, tal crecimiento obedecía a circunstancias particulares. dicho proceso, ha adquirido las cadenas Carulla (fundada por José Carulla Vidal en 1905), Ley (Cadenalco; Luis Eduardo Yepes, 1922) y Vivero (Alberto
Por eso se consideró necesaria una remodelación más y mejor planificada y, para ello, en 2011, Azout, 1969). En la actualidad, cuenta con presencia en cuatro países de Suramérica: Colombia, Uruguay, Brasil y Argentina. En Colombia, dentro de
su propuesta opera, además del comercio al detal, otras ocho industrias: inmobiliaria, financiera, seguros, textiles, alimentos (marca propia), viajes,
6. Reconocimiento de la Cámara de Comercio de Tunja a las mejores empresas del departamento de Boyacá. telefonía móvil y estaciones de servicio.

1665 1666
Chiquinquirá”. Chiquinquirá, Boyacá.
Ese es el contexto del reto con el cual se tiene que enfrentar la administración de Central de
Abarrotes, la empresa comercial de la familia Domínguez Sánchez que a agosto de 2018 ha DANE. Departamento Administrativo Nacional de estadística. (2015). Informe de coyuntura
sostenido sus históricos indicadores económicos. económica regional. Tunja.

Conclusiones El Éxito llega a Chiquinquirá por primera vez y fortalece su presencia en Boyacá. (2018, feb.
27) disponible en https://www.grupoexito.com.co/es/sala-de-prensa/noticias/el-exito-llega-a-
El estudio se hace necesario y pertinente cuando la historia empresarial se constituye en chiquinquira-por-primera-vez-y-fortalece-su-presencia-en-boyaca
alternativa para generar conocimiento en la administración desde la comprensión de fenómenos
empresariales: actividad realizable mediante procesos de investigación que contrasten lo teórico Entregarán premio Chibchacum. (2002, ago. 30). El Tiempo. Disponible en http://www.eltiempo.
con la realidad; justificable en contextos donde no existe una historia empresarial de la región, com/archivo/documento/MAM-1372120
donde los estudiantes pueden construirla desde la relación interdisciplinar.
Flórez, M. (2015, septiembre 20). Boyacá, 25 años después del fin de la Guerra Verde. Conflicto,
Una empresa familiar se origina gracias a la epifanía, a la idea de negocio, de la primera Historias. Disponible en http://pacifista.co/boyaca-veinticinco-anos-despues-del-fin-de-la-
generación; y su administración deriva y se mantiene gracias al emprendimiento (en el sentido guerra-verde/.
de la actitud y la aptitud para iniciar nuevos retos, nuevos proyectos) de los integrantes de
la familia. En la medida que crece la empresa sus retos derivan de las condiciones sociales y Mojica, A. et al. (2013). Composición de la economía de la región nororiente de Colombia.
económicas de su entorno inmediato. Sortear estos retos le permite asegurar su supervivencia Bogotá: Banco de la República.
y le va generando un good-will relacionado con la identidad regional que pueda generar. Sin
embargo, en el caso de los comerciantes cuya actividad deriva de la compraventa de víveres Ordóñez, M. (2012, diciembre). Dinámica del proceso de enseñanza en la asignatura de historia
para el consumo de la canasta familiar, como el caso de Central de Abarrotes, no es suficiente empresarial. FACE, Revista de la Facultad de Ciencias Económicas y Empresariales. Universidad
a la hora de que en la región aparecen llamadas grandes superficies y las tiendas hard discount. de Pamplona, Colombia. vol. 3, no. 1, p. 23-32.
Estas condiciones demandan una clara transformación de la familia empresaria a empresa
familiar como principio o punto de partida para enfrentar la nueva competencia y supervivir en
el ámbito regional del cual hacen parte identitaria.

Referencias

Cámara de Comercio de Tunja. (2016). Censo empresarial municipio de Chiquinquirá, Boyacá.


s. l.

Central de Abarrotes: a puro pulso. (2002, sep. 10) El Tiempo. Disponible en http://www.
eltiempo.com/archivo/documento/MAM-1318291

Concejo Municipal de Chiquinquirá. (2016). Plan de desarrollo 2016-2019: “Unidos por

1667 1668
Capítulo 165 Las historias de empresas y empresarios se iniciaron hace aproximadamente 200 años con los
trabajos de Lizt y Schmoller de la vieja escuela histórica alemana, quienes tras la falta de unidad
territorial, se interesaron por el estudio de la empresa y del empresario para sustentar su modelo
Hacienda Agrícola Casa de Lata Ltda.: Un caso de éxito del sector de desarrollo económico (Romero, 2003). Estudios que han permitido identificar las prácticas
agropecuario en la historia empresarial administrativas y su aporte al desarrollo de los países.

Ana Patricia Díaz Aldana1, Dora Marcela Rodríguez García2 y Juan Carlos Ruiz Torres3 En Colombia, la historia empresarial “ha sido pionera en la enseñanza universitaria, principalmente
en facultades de administración, antes que de historia o economía” (Dávila, 2012).

La historia empresarial en Colombia es una actividad investigativa que ha venido alcanzado Por lo cual cabe destacar que sus primeros inicios en la academia se dan hacia el año 1974:
relevancia: en el ámbito académico, investigadores de disciplinas como historia, economía,
administración y sociología han hecho aportes a este campo de estudio. El presente documento La investigación sobre historia empresarial en Colombia prácticamente no existía (...)
se enfoca a una historia empresarial rural; en particular, en la Hacienda Agrícola Casa de Lata años después puede constatarse que la existencia de docencia especializada contribuyó
Ltda., ubicada en el Municipio de Chiquinquirá, Boyacá. Esta investigación en curso nace del a fomentar la investigación histórica especializada sobre el empresariado colombiano (…)
proyecto “La gobernanza corporativa en las empresas de familia del municipio de Chiquinquirá”, ha sido decisiva en la conformación en Colombia de un nuevo campo de conocimiento, la
liderada por los grupos de investigación HECOS y Estudios Regionales “Julio Flórez”, cuyos Historia Empresarial (Grupo de Investigación, junio de 2015).
integrantes pertenecen a las escuela de Contaduría Pública y de Administración de Empresas de
la UPTC, Facultad Seccional Chiquinquirá. Así, diversos autores ven en la historia empresarial un aporte a la historia económica de un país,
tal como lo describe Kalmanovitz, cuando referencia un recorrido a la evolución económica del
Metodología país desde finales del siglo XIX hasta el crecimiento económico del siglo XX; análisis que deja
entrever la evolución que han tenido las empresas en los diferentes sectores a través del tiempo
Se pretende forjar un trabajo interdisciplinario enfocado a la historia empresarial del sector y la participación de estas en los mercados del mundo (Kalmanovitz, 2010).
agropecuario encaminado a las empresas de familia del Municipio de Chiquinquirá (Boyacá).
Desde una metodología de estudio de caso, respondiendo: ¿cuál es la historia empresarial de la Es de destacar que el interés por profundizar en el campo de la historia empresarial surge desde
Hacienda Agrícola Casa de Lata Ltda., ubicada en el municipio de Chiquinquirá, Boyacá?. la misma necesidad de reconocimiento al aporte que hacen las empresas, tanto a la economía
del país como de su región y su contexto local que, de cierta manera, involucran actores tan
Realizar esta historia empresarial busca caracterizar el modelo de empresa, identificar las buenas importantes como la sociedad, la organización empresarial y su dirección.
prácticas y establecer el aporte al sector agropecuario regional por parte de esta empresa.
Gran cantidad de estas empresas han surgido a partir de la participación de las familias en su
Marco Teórico constitución, realidad que no es ajena ni a Colombia ni al mundo; desarrolladas bajo un esquema
familiar, se gestan básicamente desde una mentalidad emprendedora, motivadas a través de los
1. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Estudios Regionales “Julio Flórez”. Email: ana.diaz02@uptc.
edu.co
cambios generacionales. Por tanto, “una familia empresaria con mentalidad emprendedora sabe
2. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Historia, Educación, Economía, Contabilidad, Sociedad (Hecos). escuchar, apoyar, materializar a través de una estructura adecuada, las ideas de sus familias
Email: dora.rodriguez02@uptc.edu.co emprendedoras” (Nogales 2008). Sin embargo, uno de los principales problemas que se
3. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Historia, Educación, Economía, Contabilidad, Sociedad (Hecos).
Email: juan.ruiz@uptc.edu.co
presentan a su interior radica en la falta de planes sucesorios que les permita tener continuidad

1669 1670
y proyectarse en el tiempo.
Para concebir la definición de empresa de familia se ha recurrido a una revisión documental, la
De ahí la importancia de construir una historia empresarial que recupere y coloque en contexto cual da como respuesta la relación existente entre las variables empresa-familia-propiedad. A
la memoria de la empresa Hacienda Agrícola Casa de Lata Ltda. y el legado de sus gestores, continuación se exponen diferentes enfoques de la definición de empresa de familia planteados
como organización chiquinquireña surgida en el ámbito de la región cundiboyacense. por diversos autores en investigaciones realizadas a través del tiempo.

Empresas de familia, en sentido amplio, son el conjunto de miembros de una familia cuando •Es aquella cuya propiedad total o más significativa pertenece a uno o varios propietarios unidos
definen un proyecto de vida en común que buscan un propósito primordial consistente en generar por lazos familiares y alguno de sus miembros participa en los órganos de gobierno y dirección,
bienestar a su núcleo familiar. En efecto, esta institución social propende por satisfacer sus cuyo funcionamiento está sometido a unos determinados principios o cultura con la clara
necesidades básicas, bajo el marco de un interés colectivo, cuyos lazos están vinculados bien sea intencionalidad de ser transmitida a las siguientes generaciones (Calavia, 1998).
por consanguinidad, legalidad o afinidad. Por ello, es importante aclarar el concepto de familia:
•Una empresa familiar es aquella en que el 51% o más de la propiedad está en manos de los
Una institución social anclada en necesidades humanas universales de base biológica: miembros de una familia, que tienen la intención de que las relaciones intraempresariales de
La sexualidad, la reproducción y la subsistencia cotidiana. Sus miembros comparten un propiedad y control directivo estén basadas en lazos familiares y donde se ha incorporado la
espacio social definido en términos de relaciones de parentesco, conyugalidad y pater- segunda generación o posteriores (Lozano, 2008).
maternalidad. Se trata de una organización social, un microcosmos de relaciones de
producción, reproducción, y distribución, con su propia estructura de poder y fuertes Los conceptos mostrados apuntan al hecho de que este tipo de organizaciones han sido creadas
componentes ideológicos afectivos. Pero donde también hay bases estructurales de por un grupo humano conformado por miembros de una misma familia, en la cual se evidencia la
conflicto y lucha (Jelin, 1994). complejidad del manejo de la propiedad y el control directivo.

Ahora bien, en muchas ocasiones, al buscar mejorar unas condiciones de vida y obtener un En síntesis, en las empresas de familia se presentan roles, responsabilidades y funciones que
sustento, trasciende el vínculo biológico a un vínculo institucional; se logra así la consolidación ayudan a consolidar la toma de decisiones. Sin embargo, este tipo de relaciones al interior de las
de una unidad económica denominada empresa. Como lo sustenta Bonilla, una empresa es una familias, cuando se trata de la distribución del poder y de la participación de sus miembros y de
“categoría económica organizada para el intercambio o asignación de recursos, cuyo objeto terceros se gestan unos modelos informales, limitando el liderazgo y la comunicación, debido a
principal es combinar los factores de la producción para minimizar los costos y maximizar las la misma rigidez de su modelo de negocio que se tiene a menudo en los lazos familiares.
utilidades” (1998). En este contexto, se podría decir que el propósito de la familia, desde el
concepto de empresa, se fundamente en ayudarse entre sí, optimizando los procesos y el manejo Marco espacial
de recursos a fin de lograr bienestar y ganancias para todos.
La Hacienda Agrícola Casa de Lata Ltda. se encuentra ubicada en el municipio de Chiquinquirá,
De igual forma, García define empresa como “una o más personas, naturales o jurídicas, que perteneciente al Altiplano Cudiboyacense. Esta zona comprende tres regiones planas: la sabana
pueden asociarse bajo un mismo objeto social para desarrollar una actividad lícita aportando un de Bogotá, los valles de Chiquinquirá y Ubaté y los valles de Sogamoso, Duitama y Tunja. El
capital con el fin de obtener unos beneficios que pueden ser económicos, sociales o económico municipio está situado en el centro del país, a 130 km de su capital: Bogotá. Se caracteriza por
sociales” (2013). Esta definición demuestra cómo la suma de esfuerzos logra consolidar una tener una temperatura promedio de 12°C., lo que permite que sea favorable para la producción
organización económica que contribuye al bienestar y al desarrollo integral, no solo del individuo de forrajes, base fundamental de la explotación ganadera.
sino de la sociedad.

1671 1672
La ciudad ha recibido apelativos como “Capital Religiosa de Colombia”, por contar con la cruda quienes, bajo un sistema especializado, enfrentan una serie de retos para afrontar los
Basílica de Nuestra Señora de Chiquinquirá, considerada centro de devoción religiosa; condición mercados internacionales y la consolidación de mercados internos. Por ende, el proceso de
que genera un turismo religioso, debido a la peregrinación de fieles nacionales y extranjeros. articulación de los productores con todos los actores de la cadena láctea resulta importante a
la hora de crear valor. Esta situación obliga a mirar las organizaciones como un conjunto dentro
La actividad económica más importante en la ciudad se centra en el comercio, por encontrarse de la cadena y demanda no actuar de manera aislada: el subsector presenta altos costos de
ubicada estratégicamente: en la ciudad confluye población de regiones circundantes como el sur producción, baja productividad frente a productores internacionales, altos niveles de informalidad
de Santander, Norte de Cundinamarca y Occidente de Boyacá. Asimismo, se destaca el sector en la comercialización y transformación de la leche y sus derivados y bajo nivel de diversificación
agropecuario con la producción de leche y sus derivados, aproximadamente el 89,0% de la de los productos. Tales factores hacen importante la formulación de estrategias para mejorar la
población rural del municipio tiene actividad agropecuaria (Alcaldía Municipal de Chiquinquirá). competitividad del subsector.

Resultados En el departamento de Boyacá, el sector agropecuario se reconoce como uno de los principales
sectores productivos “de conformidad con la secretaría de Fomento Agropecuario de Boyacá
A continuación se presentan resultados parciales de la investigación en curso. (2011), representando 19,2% del PIB del departamento, en el que la explotación lechera
constituye un alto porcentaje, que lo ubica en el tercer lugar de la producción lechera nacional”;
Sector agropecuario. A lo largo de la historia, el sector agropecuario ha contribuido al progreso en importancia en este renglón de la economía le siguen los departamentos de Cundinamarca y
económico y social de las regiones, mediante el desarrollo de actividades propias de la ganadería, Antioquia (Suárez Pineda, 2013).
la agricultura, la silvicultura, la apicultura, la acuicultura, la caza y la pesca que dinamizan las
cadenas productivas tanto de bienes y servicios que han sido soporte del sustento familiar, no Además, para la Federación Colombiana de Ganaderos “Boyacá y el resto del país presentan una
sólo en el sector rural sino también en el urbano. En la actualidad colombiana, se puede resaltar enorme brecha en la productividad que pone al sector en desventaja competitiva frente al resto
la ganadería como una actividad preponderante en su economía: de las naciones, debido a factores que retrasan el proceso de modernización lechera” (FEDEGAN,
2006).
…equivale a 2,1 veces el sector avícola, 3 veces el cafetero, 3,1 veces el floricultor,
4,4 veces el piscícola, 5,3 veces el bananero y 8 veces el palmicultor. Además, genera Por tanto, el subsector lácteo colombiano ha visto disminuido sus márgenes de rentabilidad y los
810.000 empleos directos que representan el 6 por ciento del empleo nacional y el 19 por niveles de informalidad se han incrementado. La inversión es alta en estas unidades económicas,
ciento de la ocupación en actividades agropecuarias (Portafolio, 2017). pero el análisis y el uso de la información para la toma de decisiones no se tienen en cuenta en
su gestión empresarial; además, es un sector que sufre grandes dificultades por mantenerse en
Asimismo, el sector ganadero en Colombia es un factor sumamente importante para la actual el mercado. Asunto que se complica gracias al hecho de que el sector rural ha sufrido abandono
economía nacional: “representa el 2.3% del PIB nacional y el 24,3% del PIB agropecuario, en Colombia; sumado a ello el desplazamiento por los mercados internacionales, a efectos del
además de generar más de 700.000 empleos directos. La producción lechera hace presencia en conflicto armado nacional e impactos del cambio climático, entre otros. Ante este escenario, la
22 departamentos del país, siendo Antioquia, Boyacá y Cundinamarca los departamentos más empresa objeto de estudio ha logrado contrarrestar estas dificultades, lo cual le ha permitido
destacados” (Pinto, 2017). Esta actividad se desarrolla con base en dos tipos de producción: crecer y ser sostenible en el tiempo.
1) la especializada, con una participación del 40% y 2) la doble propósito, con el 60% de la
producción total (FEDEGAN, 2009). Esta empresa se constituyó como persona jurídica en julio de 2002 y su vigencia está prevista
hasta el año 2022. Sus orígenes se remontan como una finca de tradición comprada en 1936
En particular, en el segundo eslabón del sector lácteo se encuentran los productores de leche por Don Gregorio Mateus. En los años 70, la finca pasó a ser herencia de sus hijas, momento en el

1673 1674
cual el señor Víctor Ardila, esposo de una de ellas, tomó el manejo administrativo de la empresa; certificaciones y valores agregados a la producción, innovación tecnológica, lo cual la ha llevado
ello repercutió en la implementación de técnicas de avanzada para esa época en la región – a ser un modelo a seguir a nivel nacional y también a certificase en buenas practicas ganaderas
inseminación artificial, ordeño mecánico, silos de monto, dos ordeños al día y la estabulación en la producción de leche.
del ganado–. Es una empresa de familia de economía cerrada como la gran mayoría de las
empresas que se ubica en el altiplano cundiboyacese, región central de Colombia donde el sector La empresa, a lo largo de su historia, ha velado por contribuir con el cuidado del medio ambiente.
agropecuario es uno de los reglones fundamentales de la economía nacional, la producción de Por ello, cuenta con el permiso de concesión de aguas otorgado por la Corporación Autónoma
leche es uno de los eslabones de la cadena láctea. Regional CAR, el papel se recicla y es destinado a la lombricultura para hace extraer humus
líquido y sólido. La finca esta arborizada con eucaliptos, sauces, cipreses, pino romeron, cedros
La siguiente línea de tiempo representa los cambios más relevantes que ha tenido la organización y bosques nativos, para proteger los pastos de vientos y heladas. Las prácticas de manejo han
en el periodo comprendido entre el año 1936 y 2017: permitido disminuir al minino el uso de insecticidas, lo que genera bajo impacto ambiental.

A nivel administrativo, se ha implementado la contabilidad de gestión, tanto para el control de


sus inventarios, como de activos biológicos y productos agrícolas, asunto que ha determinado
a través del sistema de costeo basado en actividades el valor de cada uno de los semovientes
en cada una de sus etapas de desarrollo y ha permitido determinar el costo de producción de
un litro de leche; asimismo, el uso de la contabilidad financiera de acuerdo a los requerimientos
de las normas internacionales para Pymes, ha posibilitado el cumplimiento de todas las normas
tributarias para Colombia en cuanto al manejo de activos biológicos y productos agrícolas.

El ámbito patrimonial. Su máximo órgano social no se encuentra identificado como asamblea


de familia o consejo de familia; tampoco cuenta con un reglamento de control que regule las
funciones y responsabilidades del máximo órgano de dirección. El organismo que se encuentra
institucionalizado es la junta de socios donde su competencia se limita a la delegación de
funciones administrativas al gerente y a limitar la celebración de contratos y compromisos
de la sociedad por monto superiores a $50.000.000, en cuyo caso la aprobación de dichas
operaciones se lograran con voto favorable de por lo menos el 51% de las cuotas sociales.

En la actualidad, el manejo administrativo está a cargo de uno de los herederos quien, por medio Debido a esta condición se corren riesgos de conflictos entre administradores y dueños de
de su gestión, ha logrado certificar la empresa en Buenas Practicas Ganaderas (BPG); además, capital y partes vinculadas. En este momento, la administración está en cabeza de uno de los
es líder en Colombia en el manejo del sector lácteo, lo cual se reflejó al obtener en el año 2007 el socios, lo cual genera ambigüedades en la regulación de las relaciones dadas entre la empresa,
premio Nacional de la Ganadería “José Raimundo Sojo Zambrano”, en su modalidad Excelencia los administradores y el cumplimiento de sus responsabilidades.
Ganadera, Categoría Lechería Especializada; reconocimiento otorgado por FEDEGAN. Para ello
se evaluaron aspectos como manejo empresarial de la explotación, sostenibilidad ambiental y El ámbito de sucesión. Es un tema de riesgo para la organización ya que la administración está
económica de los procesos productivos, niveles de productividad alcanzados, calidad de la leche en cabeza de uno de sus socios y no se cuenta con un plan de sucesión establecido y una parte
o animales en pie reproducidos en la empresa, costos de producción por unidad de producto, de los socios muestra desinterés por el manejo que se le da a la empresa.

1675 1676
Moderna y Solidaria. 2006. Retrieved from [en línea]http://portal.fedegan.org.co/Documentos/
Tales condiciones permiten tomar esta empresa como referente en el proyecto “La gobernanza pega_2019.pdf
corporativa en las empresas de familia del municipio de Chiquinquirá”, dado que, a pesar de
ser una empresa líder en su sector a nivel nacional, presenta debilidades en sus prácticas de Garcia, P. (2013 ). Contabilidad de costos en la alta gerencia. . Bogotá D.C.: Grupo editorial
dirección y control y riesgos en su sostenibilidad. nueva legislación LTDA.

Conclusiones Ginebra, J. (2001). Las empresas familiares: su dirección y su continuidad. In E. a. e. u. r. d. u. d.


d. t. d. l. U. d. C. V. B. (2005). (Ed.). México.: Panorama
El estudio de la historia de la empresa como mecanismo dinamizador del desarrollo económico
ha permitido apreciar el trabajo del empresario como agente fundamental que explica el Grupo de Investigación, H. (junio de 2015). History, Business and Entrepreneurship Newsletter.
comportamiento económico de una región o país. Grupo Historia y Empresariado, 6. Retrieved from https://administracion.uniandes.edu.co/
phocadownload/GHE/06_boletin_newletter_ghe_ene_2015.pdf
Este recorrido histórico ha sido relevante, en la medida que permitió identificar su génesis y
conocer los aportes logrados por esta empresa, a través del tiempo, al servir como ejemplo Jelin, E. (1994). “Familias: crisis y después…” Buenos Aires.: En Wainerman, Catalina H. (comp.)
del sector lácteo en su proceso de formalización. Es de resaltar los esfuerzos por mejorar y Vivir en familia. UNICEF- Losada.
contrarrestar las dificultades, permitiéndole ser más competitiva y caso de éxito, como unidad
empresarial del orden familiar que se ha mantenido pujante en el sector agropecuario por varias Kalmanovitz, S. (2010). Nueva historia económica de Colombia. Bogotá, Colombia: Editora
generaciones. Aguilar, Altea, Taurus, Alfaguara.

Referencias Lozano, M. (2008). Elementos del proceso de formación de descendientes antes de su vinculación
a la empresa familiar. Un estudio de casos Colombianos. Cuadernos de Administración. Bogotá
Alcaldía Municipal de Chiquinquirá –Boyacá. (2017). Recuperado de http://www.chiquinquira- (Colombia). 21 (37), 243-268.
boyaca.gov.co/Paginas/default.aspx
Nogales, F. (2008). La Familia empresaria. Ediciones Díaz de Santos. Argentina. 2008. Pág. 39
Calavia, M. J. M. (1998). Aspectos societarios de la empresa familiar: raíces históricas y nuevas
opciones. Alta Dirección., 33(202). 31-38. Portafolio. (27 de 08 de 2017). La ganadería sigue siendo la actividad que más aporta al
PIB. Recuperado el 25 de 06 de 2018, de Portafolio: http://www.portafolio.co/economia/la-
Dávila, C. (2005). Historia empresarial y Dirección estratégica: Vecinos aislados con potencial ganaderia-sigue-siendo-la-actividad-que-mas-aporta-al-pib-509081
de interacción. In G. Calderón & G. Castaño (Eds.), Investigación en Administración en América
Latina. Evolución y Resultados. (pp. 57-79). Manizales: Universidad Nacional de Colombia. Rodríguez, O. (1994). Historia económica del siglo XIX. In B. Tovar (Ed.), La historia al final del
milenio. (pp. 240). Bogotá: Universidad Nacional.
Dávila, C. L. (2012). Empresariado en Colombia: perspectiva histórica y empresarial. Ediciones
Uniandes. Bogotá. Romero, M. E. (2003). La historia empresarial. En: México. Universidad Nacional Autónoma de
México., LII, núm. 3, p. (enero-marzo, 2003), 806-807.
FEDEGAN. (2006). Plan Estratégico de la Ganadería en Colombia 2019. Por una Ganadería

1677 1678
Capítulo 166 municipalidades.

A partir de lo anterior, se hace conveniente preguntar, en sus treinta años de existencia, ¿qué
Serviagrofinca, una historia empresarial del sector comercial de Chiquinquirá, factores administrativos han permitido el crecimiento económico, el desarrollo empresarial y el
Boyacá compromiso social con la comunidad chiquinquireña de Serviagrofinca?

Carlos Alberto Molina Rodríguez1 y Sergio Esteban Ruiz Martínez2 Metodología

Introducción Esta investigación debe reconocerse como un producto derivado del proyecto “Los Comerciantes
de Chiquinquirá: caracterización social y administrativa”; en ese entorno, procura construir
En la economía del departamento de Boyacá, ubicado en la región nororiente colombiano, la una historia empresarial de comerciantes que se constituyan en ejemplo de perdurabilidad
producción agrícola y ganadera ha sido un factor económico de relevancia. Sin embargo, tal y crecimiento y de quienes se puede aprender y ofrecer la posibilidad de diálogo academia-
vocación económica ha variado: en la actualidad, el departamento muestra una economía de entorno social (empresarial). La investigación se ha considerado pertinente en tanto que la
miscelánea: sin dejar la vocación agrícola y ganadera, la economía deriva de diversas actividades: historia empresarial resultante se constituye en alternativa para generar conocimiento en la
transporte, comercio, industria, minería, agricultura, ganadería (Boyacá tiene una economía de administración desde la comprensión de fenómenos empresariales: actividad realizable mediante
miscelánea, 2002, jun. 21). procesos de investigación que contrasten lo teórico con la realidad; es decir, es justificable en
contextos como el de Chiquinquirá en donde no existe una historia empresarial de la región y
El municipio de Chiquinquirá se reconoce como la capital de la Provincia de Occidente, una de las en donde se genera un espacio para los estudiantes de administración de empresas puedan
13 del departamento; su economía se centra en el comercio, frente a la prestación de servicios y construirla desde la relación interdisciplinar.
con una mínima presencia de la industria. Otros renglones muestran la preponderancia que aún
conserva el sector agropecuario: producción de leche y derivados; cultivo de maíz, papa, trigo y Como caso de historia empresarial, utiliza similares fuentes de investigación que cualquier otro
hortalizas. estudio histórico: una gama de fuentes documentales y, como un estudio que cubre la época
contemporánea, recurre a las entrevistas en profundidad. La entrevista se justifica debido a que
En el casco urbano se encuentra Serviagrofinca S.A.S, cuya principal actividad económica, la oralidad en las organizaciones hace parte de la comunicación informal y su función consiste
de acuerdo con la Clasificación Industrial Internacional Uniforme (CIIU), se reconoce con el en transmitir la memoria organizativa (o una parte de ella) producto de las evocaciones de las
código 5153 (DANE, 2012, p. 307): distribuye y comercializa productos como medicamentos personas, pues no toda la información se encuentra registrada en documentos, mucha de ella
veterinarios, sales mineralizadas, plaguicidas, insecticidas, fertilizantes y productos inherentes queda en la memoria de las personas (Ordóñez, diciembre, 2012, p. 25).
a las actividades de control, producción y cuidado agropecuario. Con sede principal ubicada en
la ciudad de Chiquinquirá, su ámbito de operación se establece en gran parte a las jurisdicciones Se cataloga como un estudio con enfoque de carácter descriptivo; por su acceso a las fuentes de
de los municipios de Boyacá, como Chiquinquirá, Saboyá, Paipa; y del departamento de información, puede reconocerse como un estudio de campo que se acerca a ciertos referentes a
Cundinamarca, como Simijaca y Ubaté. Se extiende también a otros municipios menores fin de ver en decisiones administrativas tomadas por individuos el efecto en la perdurabilidad y
aledaños a los centros mencionados; sin embargo, no cuenta con puntos de venta en todas las expansión de algunos entes comerciales que apuntan a configurar la identidad del comerciante
1. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Historia, Educación, Economía, Contabilidad, Sociedad (Hecos). de Chiquinquirá.
Email: carlos.molina@uptc.edu.co
2. Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia (UPTC). Grupo de Investigación: Historia, Educación, Economía, Contabilidad, Sociedad (Hecos).
Email: sergio.ruiz@uptc.edu.co

1679 1680
Resultados: breve historia de una empresa comercial consolidada gracias al valor agregado y a convinieron otorgarle cada uno un 10% de sus utilidades; sin embargo, esto no se convertiría en
la formalidad dinero en efectivo sino que se irían capitalizando con el paso del tiempo. Hacia 1994, González
decidió recapitalizar las utilidades abonadas y con otro capital recopilado en trabajos extras que
Inicios y crecimiento. adelantaba junto con su familia les propuso a Arias y a Flórez la posibilidad de convertirse en
socio de Serviagrofinca.
En 1987 Ananías Arias estableció un almacén para distribuir concentrados para bovinos,
principalmente, e insumos agropecuarios. Su apertura se dio de manera informal debido La asistencia técnica, el valor agregado a una nueva ubicación.
a la cultura comercial de experimentar y establecer ideas de negocio. En se momento, el
establecimiento se denominó “Distribuidora Finca Ananías Arias”. En estos primeros años, se hizo visible y se comprobó el bajo nivel nutricional proporcionado
a la ganadería de la región. Luis Armando continuaba con sus funciones que ahora consistían
En el año de 1988, Arias estableció una sociedad comercial con Luis Armando Flórez, médico también en sugerir algo más que el aporte de concentrado a las ganaderías de sus clientes:
veterinario, vendedor de insumos agrícolas de la marca FINCA3. En febrero de 1989, para darle procuraba concienciar a los ganaderos de que estos animales podían incrementar su producción
un carácter formal a la nueva empresa, crearon una sociedad de hecho, con la que cambiarían y mantenerla de manera rentable si se llevaban rigurosos registros e identificación de los
el nombre de Distribuidora… a Serviagrofinca –conservar la palabra finca indicaba, a la vez, su animales. En otros términos, se ofrecía un valor agregado: la alimentación del ganado bajo
nicho de mercado y mostraba su relación con su principal proveedor–. Luis Armando seguía parámetros técnicos que eran proporcionados por Serviagrofinca. Los resultados positivos no se
realizando visitas técnicas a las fincas y, a la vez, estaba a cargo del almacén distribuidor. Así, los hicieron esperar; esto redundó en mayores ventas en el almacén.
ahora socios discurrían en otras actividades ajenas al almacén; por ello, fue necesario contratar
un trabajador más, aparte de la secretaria con que se contaba y la supervisión ocasional realizada En el año 1990 se decidió entregar productos directamente en las fincas de sus clientes. Esta
por un hombre de confianza de Ananías Arias. atención directa demandó más inversión por parte de los socios; pero, al igual que la anterior
idea, generó un valor agregado frente a la competencia: atender al cliente directamente en su
Para la época contrataron a Héctor González, quien, por decisiones administrativas, a los pocos parcela. En 1991, el almacén se reubicó y se tomó en arriendo un local donde permanecieron
meses asumiría las labores de confianza de los dos socios, pues los anteriores empleados fueron por 25 años. A partir del año 1992, se formalizó el servicio de asistencia técnica a las fincas:
declarados insubsistentes. se realizaba control genital, se practicaban pequeñas cirugías y se adelantaban diagnóstico y
monitoreo de hatos, control de crecimiento y peso por animal, entre otros. Para ello, se adquirió
De este modo, pasaron cerca de dos años, en los cuales ocurrió una huelga en Cervecería Bavaria, un computador y una impresora portátil, asunto novedoso para la época en la región. Ya para
esto llevó a que Finca, la empresa proveedora, disminuyera su producción. Se provocó un efecto este entonces, Serviagrofinca contaba con cinco trabajadores.
en cadena que dejaba a sus distribuidores con unos niveles mínimos de inventario insuficientes
para suplir la demanda existente; asunto que ponía en aprietos a la naciente empresa. Por La formalización e implementación tecnológica.
tal motivo, se debió conducir una camioneta diariamente hasta la planta de Finca en Bogotá
para transportar los concentrados mínimos necesarios con los cuales se pudieran mantener la En 1995, dada la fuerza demandante se hizo necesario, como acto innovador, la compra un
nutrición animal en las fincas de sus clientes, a quienes se les entregaban los pedidos en forma computador Compaq Presario, acompañado de un software contable israelí, cambiado
escalonada. Esta labor fue de iniciativa y adelantada por González. Su tenacidad e inventiva posteriormente por el software “siigo” con el cual se posibilitó el manejo de caja, la organización
llevó a que Flórez convenciera a su socio de que Héctor González mereciera un trato especial: y el control del inventario, además de ordenar información de proveedores y sus respectivas
3. El acrónimo Fincada a conocer la actividad misional de la empresa: fábrica integral de concentrados para animales. La empresa fue creada por el cuentas.
Grupo Santodomingo con el fin de manipular y aprovechar los subproductos de la Cervecería Bavaria. En la actualidad, esta empresa pertenece al grupo
Contegral

1681 1682
Para ese entonces, se tomó la decisión de transformar Serviagrofinca en una empresa de productos lácteos).
sociedad limitada. Y gracias a la utilización de este software y a la continua gestión, se empezó el
registro, el agrupamiento y la clasificación de la información que se obtenía de los movimientos Cabe notar que la distribución y la comercialización de Serviagrofinca nunca se dejaron de lado.
de la empresa. Tal sistematización posibilitó dar un tratamiento de la información y análisis de Por consiguiente, a medida que iban creciendo sus ventas y gestión de mercadeo, aumentaron
la misma, y con el ánimo de seguir avanzando, se inició un proceso de toma de decisiones a sus colaboradores para la creación y mejoras de estas prácticas, del mismo modo las personas
partir de la información suministrada por la empresa, se vislumbra el planteamiento futuro de la contratadas enriquecieron con éxito la visión que se planteaba. En la actualidad sobrepasan los
empresa que, para ese entonces había incrementado sus ventas aproximadamente siete veces 30 empleos.
más de lo hecho en su primer año.
La sede actual.
Expansión.
Para el año 2012 se volvió a intervenir la visión empresarial y se quiso dar una infraestructura
Dado el crecimiento comercial y ciertas dificultades administrativas, se pensó en la disolución propia que acompañara la imagen corporativa y promoviera la perduración en el tiempo. Como
de la sociedad; pero la decisión fue otra: el cambio de gerencia, se nombró a Héctor González consecuencia, en mayo de 2016 se abrió el local en un lote de propiedad de la empresa, luego de
como gerente encargado. Como consecuencia, de esta y de otras decisiones, a partir de 1997 surtir los procesos de búsqueda de recursos, trámite de documentos, permisos de construcción,
se consolidó el plan estratégico y se fortaleció su modelo de operar el comercio: Serviagrofinca contratación para el diseño y aprobación de planos.
Ltda. no esperaba a los clientes en el almacén sino que salía buscarlos, a identificarlos por su alta
demanda y visitarlos para darles a conocer los servicios y sus beneficios adscritos. El crecimiento En el entretanto, en 2015 se acogió la forma jurídica Sociedad por Acciones Simplificada
constante que se dio durante esos años permitió tomar la decisión de abrir paulatinamente (SAS), creada en Colombia mediante la ley 1258 de 2008. La decisión se tomó tras reconocer
puntos de venta en Simijaca, y Ubaté, municipios del departamento de Cundinamarca, y Duitama, los beneficios como protección del patrimonio familiar, menor cantidad de trámites para
ciudad del departamento de Boyacá. Con el paso de los años las utilidades no alcanzaron lo modificación de estatutos, agilidad para el ingreso y egreso de socios, al igual en venta y compra
presupuestado y se tomó la decisión de cerrar algunas sedes. de acciones, entre otras.

En el nuevo milenio, la empresa entró en la actividad de importación: comercializar equipos En el presente esta empresa no cesa en sus aspiraciones de sostenerse en el tiempo, fortalecer
de ordeño con manufactura argentina. Actividad que adelantó durante unos cuatro años. En las actividades en que participa. De manera que su gerente actual visiona con lograr la transición
ese momento se llegó a contar con 35 trabajadores y se abrieron cuatro puntos de venta. o relevo generacional; además de contar con una infraestructura comercial y administrativa que
De una participación porcentual de Serviagrofinca, se pasó a la existencia de dos empresas demande la presencia de 100 colaboradores a nivel general de las operaciones en que hacen
independientes. presencia; de otra parte, se aspira a facturaciones mayores, a estar presentes en otras regiones
del país y a exportar el talento humano.
La empresa comenzó un nuevo proyecto: adquirir una participación de “Picos del Sicuara”,
una empresa destinada al acopio y a la comercialización de leche que daba un valor agregado En la actualidad, Serviagrofinca cuenta con una estructura organizacional concertada de la
al lograr implementar la pasteurización y posibilitando que la leche cruda fuera enviada a la siguiente manera: La Asamblea de Socios conformada por Luis Armando Flórez, Héctor González
capital nacional; en su auge comercial, alcanzó a manejar alrededor de 70.000 litros diarios. y Ananías Arias, quien en los últimos años traslada la representación de la tercera parte a sus
Esta empresa en 2008, después de algunos inconvenientes administrativos y financieros, dos hijas; el Gerente General (hoy Héctor González); y las Líneas de Apoyo o Asesoría: Jurídica,
fue absorbida en su totalidad por Serviagrofinca; sin embargo, la planta pasó a arrendarse a Fiscal, Tributario. Asimismo, el organigrama refleja áreas de: Compras, Tesorería, Contabilidad,
Leche Alquería (conglomerado especializado en la transformación y en la comercialización de Comercial, Asistencia Técnica, y Logística.

1683 1684
tributos, los deberes y las obligaciones empresariales que en el ámbito empresarial de la región
El sello Serviagrofinca. en más de una oportunidad no es visto “con buenos ojos”.

Con el paso de los años, la empresa ha creado una identidad basada en los principios de respeto, Conclusiones
confianza, y puntualidad. Rasgo que la administración ha engendrado con pasión en cada uno de
sus colaboradores y, de esta manera, se propaga a sus funciones particulares que, relacionadas, Chiquinquirá es una población con un censo aproximado de 90.000 personas; ciudad chica,
generan una armonía tanto al interior como a los grupos de interés; entre ellos los clientes, dirían en otras latitudes. Además de su vocación comercial y de estar en un entorno agrícola, se
proveedores y, por supuesto, sus accionistas. caracteriza por su talante conservador. El altiplano cundi-boyacense es una región colombiana
de clima frío, bellos paisajes y gente introvertida.
Consideran al interior de la empresa vital el valor agregado en la atención a sus clientes, quienes
se dedican a las actividades agropecuarias y quienes le han puesto orden a sus actividades y que Los estudios adelantados por el proyecto “Los Comerciantes de Chiquinquirá: caracterización
valoran el trabajo y el apoyo prestado por Serviagrofinca. La permanencia de la empresa se ha social y administrativa” han hecho evidente una premisa: a pesar de constituirse en un puerto
construido gracias a un lazo de confianza y fidelidad; esto ha redundado en que la competencia en donde confluyen la actividad comercial y de servicios de tres regiones del país, el talante
no se constituya en punto de referencia para el actuar de Serviagrofinca, pues sus decisiones se administrativo de los propietarios de las empresas de la ciudad es de carácter empírico. Esto ha
toman a partir de los indicadores generados por la misma empresa. llevado a que sean muy pocas las empresas que perduren en el tiempo y el ciclo de vida de las
organizaciones sea breve: múltiples ideas de negocio que naufragan, según se evidencia en la
En lo administrativo, aunque existan las jerarquías ligadas de los organigramas verticales, alta tasa de rotación de arrendamiento de locales comerciales.
se procura que la comunicación cumpla una trazabilidad que permita ser efectivos entre las
distintas áreas competentes. Encontrar una empresa que perdure en el tiempo por varios decenios más que un asunto singular,
genera suspicacia no solo en la población en general sino, especialmente, en el ámbito de los
Las sedes resultado de los procesos de expansión no requieren administración in situ, pues comerciantes. En ese contexto, lo descrito acerca de Serviagrofinca puede que en otros ámbitos
se direccionan y controlan con base en los sistemas de información y en las tecnologías de no suene como algo espectacular o novedoso, pero para el contexto regional sí lo es. Cuando los
comunicación, pero también, desde el principio de la confianza delegado a cada uno de los comerciantes de una región no acostumbran a formalizar sus empresas, a determinar qué tipo
colaboradores. Se procura una sincronía en todas las áreas, a las que se empoderan y que, a su de sociedad conviene más a una etapa de la empresa, a capitalizar las ganancias, a proyectar,
vez, no genera una dependencia sino una coordinación por parte de la gerencia. aplicar y evaluar planes estratégicos, a aventurarse en otro tipo de negocios alternos, a jugar a
la trasparencia y al cumplimiento de las obligaciones externas e internas, ve en empresas como
Gracias a las relaciones con el sector bancario y a la credibilidad que ha puesto la administración Serviagrofinca con un leve dejo de ilegalidad, cuando, por el contario, la legalidad comercial ha
de Serviagrofinca, se reconoce la trasparencia de la información como una estrategia fructuosa: sido el pilar fundamental del crecimiento.
ser responsables en el pago de obligaciones tanto internas como externas es una filosofía que
desde sus inicios germinó y hasta el presente se cumple a cabalidad. Para la empresa esto es Referencias
una complacencia que ha dado recompensas hasta intangibles como la confianza, la experiencia
para la toma de decisiones y asumir riesgos coherentemente. Boyacá tiene una economía de miscelánea. (2002, jun. 21). El Tiempo. Disponible en http://
www.eltiempo.com/archivo/documento/MAM-1342066
Lo anteriormente descrito ha llevado a Serviagrofinca a un liderazgo y un reconocimiento regional
soportado, también, con el hecho de establecer la actividad económica a partir de asumir los DANE (Departamento Administrativo Nacional de Estadística). (2012) Clasificación industrial

1685 1686
internacional uniforme de todas las actividades económicas. Revisión 4 adaptada para Colombia
CIIU Rev. 4 A.C. Bogotá.

Ordóñez, M. (2012, diciembre). Dinámica del proceso de enseñanza en la asignatura de historia


empresarial. FACE, Revista de la Facultad de Ciencias Económicas y Empresariales. Universidad
de Pamplona, Colombia. vol. 3, no. 1, p. 23-32.

Nuevas formas de organizar el trabajo:


el cambio tecnológico en el mundo del trabajo

1687 1688
Capítulo 167 y negocios en la Alcaldía Milpa Alta en el 2018 (350 empresas y negocios) como parte del
proyecto de “Competitividad y desarrollo en la Alcaldía de Milpa Alta en el 2018.
La interconexión y el uso de TIC´s en las microempresas en la Alcaldía de Milpa El presente trabajo se estructura en tres partes: en la primera se analizan la interconexión y las
Alta en el 2018 TIC´s a nivel internacional y nacional. El segundo apartado pretende destacar el efecto de las
TIC´s en el desempeño de las empresas. Y en el tercer apartado se realiza un análisis general del
Ignacio M. López Sandoval1 uso de la telefonía e internet en la Alcaldía de Milpa Alta.

Interconexión y Tecnologías de la Información y comunicación (TIC´s)


La Ciudad de México está integrada por 16 delegaciones, dentro de las cuales la Alcaldía de
Milpa Alta destaca por sus altos índices de marginación y pobreza respecto al resto de las otras Las tecnologías de información y la comunicación (TIC’s) han ayudado a mejorar la transmisión
delegaciones. Según CONAPO (2010), en una escala del 0 al 100, el índice de marginación de la información, es decir, se han abierto nuevos canales para mejorar la comunicación entre
de Milpa Alta fue de 15.068 mientras que la delegación Benito Juárez reportó el 1.211. Esta dos o más lugares que se encuentran alejados. La utilización de TIC´s por las empresas tiene
delegación enfrenta altos índices de analfabetismo, un elevado número de viviendas con piso como objetivo elevar la productividad y la eficiencia para generar costos unitarios menores que
de tierra, y en algunas zonas de la de marcación carencia de servicios básicos como: energía le permitan ofrecer precios más competitivos en mercados locales, nacionales e internacionales.
eléctrica, agua potable, drenaje y escusados. Las TIC’s se han incorporado a las empresas para solucionar y mejorar los procesos y actividades
a realizar. Cuando se crea una empresa además de que se busca que sea rentable se busca que
Aun cuando la delegación tiene 64 planteles educativos de preescolar a nivel superior, Milpa Alta la empresa tenga crecimiento, y cuando se logra tener ese crecimiento en las empresas se
tiene el primer lugar en analfabetismo en la Ciudad de México (INEGI, 2010). necesitan más canales de distribución de la información y comunicación.

La principal fuente de ingreso de los pobladores de esta delegación proviene del sector agrícola Con respecto a algunos datos sobre indicadores de desempeño en Telecomunicaciones Scielo
y el comercio. Las remuneraciones derivadas de otras actividades diferentes a la agricultura (2011) publicó un informe sobre la interconexión internacional de 27 países de América Latina,
generan el complemento de los ingresos de los pobladores. Según información del INEGI (2010), Europa y Asia que oscilan entre un PIB per cápita de 10,000 a 17,000 dólares. Se encontró una
la Población Económicamente Activa (PEA) fue de 21,752 personas. De la PEA el 18.3% se ubicó media de 13,860 dólares como PIB per cápita en estos países, México obtuvo 15,139 dólares
en el sector primario, 17.2% sector secundario y 64.5% sector de servicios. En este sentido, aun (lugar 19 de 27 países) superior también a la mediana de 14,746. En líneas fijas por cada mil
cuando la actividad primaria tiene un porcentaje considerable, el sector secundario y terciario habitantes, la media fue de 22, México reportó 17, ligeramente menor a la media (lugar 20 de
emplean a más del 70% de la PEA. Indicando la importancia de empresas y negocios de estas 27 países). En suscriptores a celular de cada 100 habitantes, la media fue de 121, México solo
actividades en el crecimiento económico de la delegación. 82 (lugar 26 de 27 países). Suscriptores de banda ancha por cada 100 habitantes la media 9.3,
México 10.6 (lugar 11 de 27 países). Para los usuarios de Internet por cada 100 habitantes el
El objetivo de este trabajo es investigar la penetración de la conexión de internet y el uso de TIC´s estudio presenta una media de 43.5, en México se registró 36.2 (lugar 23 de 27 países). México
por las microempresas asociado al nivel de interconexión en la Alcaldía de Milpa Alta en la Cd. De es un país que muestra un rezago en la conexión y uso de internet.
México durante el periodo 2017-2018.
Las telecomunicaciones son un mercado que puede llegar a ser una buena fuente de ingresos
Para lograr el objetivo mencionado, se utilizó la información de la encuesta aplicada a empresas para la economía, la Unión Internacional de Telecomunicaciones (2010), realizó un estudio de los
1. Profesor Investigador de Tiempo Completo en la Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Cuajimalpa. Adscrito al Departamento de Estudios
Institucionales. Email: ignaciolsmx@yahoo.com.mx
principales 20 mercados en términos de ingresos por servicios de Telecomunicaciones: Estados

1689 1690
Unidos, Japón y China obtienen los mayores niveles de ingresos (más de 200 mil millones de de información.
dólares), mientras que los de menor ingresos por ventas de servicios fueron Arabia Saudita,
Suiza y Turquía (lugar 18, 19 y 20) muy por debajo de los 50 mil millones de dólares. México Impacto de la interconexión e Internet en la empresa
ocupó el lugar 15 de los 20 países estudiados con ingresos muy cercanos a estos últimos.
La empresa, en economía es percibida como una unidad productiva que genera recursos, pero
El comportamiento del mercado de las telecomunicaciones nos da una idea de la penetración las que también consume factores e insumos productivos para producir bienes y servicios para
TIC´s en un país. En un estudio sobre quienes usan el servicio de Internet, se reportó que en 2006 el mercado. Esta misma naturaleza dual, hace que la empresa en el sistema económico, tome
había un promedio de 20.2 millones de usuarios, mientras que, en 2017, alcanzó un total de 79.1 en consideración la adopción de la tecnología para incrementar sus niveles de productividad y
millones de usuarios (Estadística Digital, 2018). eficiencia con el objetivo de aumentar sus niveles de competitividad.

Esta población, conocida como internauta, mostró el siguiente perfil (Estadística Digital, 2018): Así, tanto oferentes como demandantes están de acuerdo en que Internet a diferencia de otros
medios de comunicación o de intercambio de información provee de interactividad. (Iniesta
•51% son mujeres y 49 hombres. & Díaz, 2005) y aumenta la eficiencia y eficacia de los procesos productivos, comerciales y
financieros de todo tipo de organización, en especial de las empresas.
•19% son usuarios entre 25 a 34.
La red, web o Internet, posibilita una interacción directa con el consumidor, en tiempo real y a un
•La zona centro sur de México tiene el 23% de estos internautas activos (Ciudad de México, costo reducido. La presencia de compradores y vendedores en el mismo mercado virtual ha dado
Estado de México y Morelos. origen a empresas con sitios web que actúan como intermediarios entre estos dos grupos. En
estos sitios web se coloca al comprador potencial frente a una amplia variedad de proveedores
•56% de las personas que se conectan a internet suelen hacerlo por medio de una red wifi de una categoría de producto determinada, como AutobyTel (automóviles) o Insweb (seguros),
contratada. o a un vendedor frente a varios compradores en una subasta virtual, como en OnSale (venta de
ordenadores). Sea cual sea el caso, cuanto más completa sea la información proporcionada y
•Los lugares más utilizados para conectarse a internet por los usuarios son: Hogar (86%), cuanto más homogéneo y similar a otros productos sea el producto básico intercambiado, más se
cualquier otro lugar (68%) y trabajo (49%). acercará el precio de ese producto al precio de competencia perfecta. Estas nuevas tecnologías
(TIC´s) han generado no solo la creación de nuevos mercados, sino que también han modificado
•89% de las actividades más realizadas por las personas que utilizan internet son el acceso a las actividades económicas de producción, distribución, comercialización de un gran número de
Redes Sociales. bienes y servicios en todas las áreas productivas.

•Con base en el Instituto Nacional de Estadística Geografía e Informática (INEGI), en un informe Las estrategias en Internet exigen a las empresas un cierto grado de desarrollo organizativo, con
de 2016, el 59.5% de la población de seis años o más en México se declaró usuaria de Internet. personas que tienen el conocimiento y las habilidades para moverse con facilidad por el mundo
digital y para incorporar este nuevo canal en su rutina cotidiana. Es decir, también modificaron
•Esta misma institución considera que el internet está asociado al nivel de estudios; entre más los tipos y procesos de organización de las empresas y las habilidades del personal que trabaja
estudios mayor uso de la red. en dichas organizaciones.

En general, internet se utiliza principalmente como medio de comunicación y para la obtención

1691 1692
La conectividad y el uso de TIC´s en las microempresas en Alcaldía de Milpa Alta en el 2017. Antonio Tecomitl (17.8%); mientras que el pueblo que menos utiliza la telefonía móvil fue San
Salvador Cuauhtenco (3.3%). Esto se relaciona con los niveles de ingresos y las actividades
La Cd. de México está integrada por 16 delegaciones, dentro de las cuales la Delegación Política económicas que realizan estos pueblos, la mayor actividad comercial y empresarial se desarrolla
Milpa Alta destaca por sus altos índices de marginación y pobreza respecto al resto de las otras en Villa Milpa Alta, San Pedro Atocpan y San Antonio Tecomitl. Los pueblos con menores ingresos
delegaciones. Según el Consejo Nacional de Población (CONAPO, 2010), en una escala del 0 al en la población y un fuerte predominio de las actividades del sector agrícola son San Francisco
100, el índice de marginación de Milpa Alta fue de 15.068 mientras que la delegación Benito Tecoxpan y San Salvador Cuauhtenco.
Juárez reportó el 1.211. Esta delegación enfrenta altos índices de analfabetismo, un elevado
número de viviendas con piso de tierra, y en algunas zonas de la de marcación carencia de
servicios básicos como: energía eléctrica, agua potable, drenaje y escusados.

Aun cuando la delegación tiene 64 planteles educativos de preescolar a nivel superior, Milpa
Alta tiene el primer lugar en analfabetismo en la Cd. de México. Un porcentaje importante de
la población de Milpa Alta solo cuenta con educación primaria como nivel máximo de estudios
(INEGI, 2010).

La principal fuente de ingreso de los pobladores de esta delegación proviene del sector agrícola
y el comercio. Las remuneraciones derivadas de otras actividades diferentes a la agricultura
generan el complemento de los ingresos de los pobladores. Según información del INEGI (2010),
la Población Económicamente Activa (PEA) fue de 21,752 personas. De la PEA el 18.3% se ubicó
en el sector primario, 17.2% sector secundario y 64.5% sector de servicios.
Con relación al uso del Internet por parte de las empresas y negocios se encontró que solo el
Durante los meses de abril y mayo de 2018, el cuerpo Académico de “Análisis Económico. Social 20.3% del total encuestado utiliza internet (73 empresas).
y Jurídico de las Instituciones” de la Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Cuajimalpa
(UAM-C), aplicó una encuesta para determinar el nivel de competitividad de empresas y negocios
en la alcaldía de Milpa Alta, para ello se requería identificar los su nivel de interconexión y el uso
de las TIC’s por las empresas y negocios de esta alcaldía, así como sus niveles de innovación.

De un total de 350 empresas y negocios encuestados, el 94.3% (330 empresas y negocios)


reportaron que utilizaban telefonía. De las empresas que utilizan telefonía el 35.4% telefonía fija
(117 empresas y negocios) y el 64.6% telefonía móvil (213 empresas y negocios).

El pueblo de la Alcaldía de Milpa Alta con el mayor nivel de uso de telefonía fija fue San Pedro
Atocpan con un 20.5 % del total de empresas y negocios que utilizan teléfono fijo y el de menor
nivel en telefonía fija fue San Francisco Tecoxpa con un 4.3%. Con relación al uso de servicio
de telefonía móvil los pueblo que más utilizan este medio fueron Villa Milpa Alta (18.8%) y San

1693 1694
le permitan ofrecer precios más competitivos en mercados locales, nacionales e internacionales.
El pueblo en que existen un mayor número de empresas que utiliza internet es San Pedro Atocpan Las TIC’s se han incorporado a las empresas para solucionar y mejorar los procesos y actividades
con un 30%, Seguido de San Antonio Tecomitl y San Pablo Oztotepec con 24%. San Lorenzo a realizar. Cuando se crea una empresa además de que se busca que sea rentable se busca que
Tlacoyucan (14.3%) y San Salvador Cuauhtenco (15%) son los pueblos con el menor número la empresa tenga crecimiento, y cuando se logra tener ese crecimiento en las empresas se
de empresas y negocios que hacen uso de esta herramienta. Estos resultados reafirman que los necesitan más canales de distribución de la información y comunicación.
pueblos con menores niveles de ingresos y actividad comercial y con predominio de actividades
agrícolas son las de menor uso de internet. Estas nuevas tecnologías (TIC´s) han generado no solo la creación de nuevos mercados, sino que
también han modificado las actividades económicas de producción, distribución, comercialización
El uso de Internet en muchas empresas tradicionales es una forma de innovación que debe de un gran número de bienes y servicios en todas las áreas productivas.
depender del tipo de giro de empresas y negocios y posiblemente del tamaño de las empresas.
Bajo esta visión, considerando que solo el 66% respondió sobre la importancia de la innovación Las estrategias en Internet exigen a las empresas un cierto grado de desarrollo organizativo, con
se encontró que el 20.3% de empresas y negocios consideran muy importante la innovación personas que tienen el conocimiento y las habilidades para moverse con facilidad por el mundo
(calificación de 10), mientras que el 33.4% dan una calificación de 7, que no la consideran digital y para incorporar este nuevo canal en su rutina cotidiana. Es decir, también modificaron
tan importante. La calificación promedio de todos los pueblos de la alcaldía fue de 8.3 para la los tipos y procesos de organización de las empresas y las habilidades del personal que trabaja
importancia de la innovación. en casi todas las organizaciones.

De un total de 350 empresas y negocios encuestadas el 94.3% (330 empresas y negocios)


reportaron que utilizaban telefonía. De las empresas que utilizan telefonía el 35.4% telefonía fija
(117 empresas y negocios) y el 64.6% telefonía móvil (213 empresas y negocios).

El pueblo de la Alcaldía de Milpa Alta con el mayor nivel de uso de Telefonía Fija fue San Pedro
Atocpan con un 20.5 % del total de empresas y negocios que utilizan teléfono fijo y el de menor
nivel en telefonía fija fue San Francisco Tecoxpa con un 4.3%. Con relación al uso de servicio
de telefonía móvil los pueblo que más utilizan este medio fueron Villa Milpa Alta (18.8%) y
San Antonio Tecomitl (17.8%) y el pueblo que menos utiliza la Telefonía móvil es San Salvador
Cuauhtenco (3.3%). Esto se relaciona con los niveles de ingresos y las actividades económicas
que realizan estos pueblos, la mayor actividad comercial y empresarial se desarrolla en Villa
Milpa Alta, San Pedro Atocpan y San Antonio Tecomitl. Mientras que los pueblos con menores
ingresos en la población y un fuerte predominio de las actividades del sector agrícola son San
Conclusión Francisco Tecoxpan y San Salvador Cuauhtenco.

Las tecnologías de información y la comunicación (TIC’s) han ayudado a mejorar la transmisión Con relación al uso del Internet por parte de las empresas y negocios se encontró que solo el
de la información, es decir, se han abierto nuevos canales para mejorar la comunicación entre 20.3% del total encuestado utiliza internet (73 empresas).
dos o más lugares que se encuentran alejados. La utilización de TIC´s por las empresas tiene
como objetivo elevar la productividad y la eficiencia para generar costos unitarios menores que

1695 1696
Bibliografía Capítulo 168
Cabrero, Enrique. (2012). Retos de la competitividad urbana en México. México. CIDE.
Políticas Públicas de fomento al cambio tecnológico vs productividad,
Cabrero, Enrique & Ziccardi, Alicia (2003). Ciudades competitivas-ciudades cooperativas: empleo y crecimiento económico de México
concepto clave de un índice para ciudades mexicanas. México. CIDE, División de Administración
Pública, M.A. Porrúa. Aureola Quiñónez Salcido1

Campos, M. y Naranjo, E. (2010). La competitividad de los estados mexicanos 2010, fortalezas


ante la crisis. México. S/E. Introducción

Diccionario de Economía (1987). España. Editorial ORBIS El Presente trabajo tiene como objetivo analizar las políticas públicas del Estado mexicano para
fomentar la innovación tecnológica mediante el análisis de las acciones públicas establecidas en
Iniesta, F. & Díaz, R. (2004). El impacto de Internet en la estrategia empresarial. Revista de los Programas Nacionales de Desarrollo, así como el gasto público destinado para su fomento,
Antiguos Alumnos del IESE. Madrid. Empresa Digital. para evaluar la incidencia en los niveles de productividad, empleo y crecimiento económico de
México.
Nol, Ronald. (2013,06,24). Evaluación de las políticas de telecomunicaciones en México. En
scielo. Recuperado de : http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2448- La estructura del trabajo presenta los antecedentes del impulso a la ciencia y tecnología del país,
718X2013000300603 con la creación del el Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología (CONACYT) y las recomendaciones
del Consenso Washington. Posteriormente, el análisis inicia con la planeación pública a partir
Tamayo, J. (2018,07,01). Hábitos de Usuarios De Internet En México 2018.Recuperado de: de las políticas de apertura comercial presentada a finales de los ochentas, con el gobierno de
https://webmarketingtips.mx/local/habitos-usuarios-internet-en-mexico-2018-7-417/ Carlos Salinas de Gortari (1988-1994) y concluye con el periodo de Enrique Peña Nieto (2013-
2018).
Red Eléctrica de España (2018,07,03). Interconexiones internacionales. Recuperado de: http://
www.ree.es/es/actividades/operacion-del-sistema-electrico/interconexiones-internacionales Las acciones del Estado para fomentar la educación y la investigación científica y tecnológica
fueron estudiadas por la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (OCDE),
Unión Internacional de Telecomunicaciones. (2010,07,05). Sobre la Unión Internacional de identificando a México como el país miembro con menor representación en el gasto interno
Telecomunicaciones (UIT). Recuperado de: https://www.itu.int/es/about/Pages/default.aspx bruto en investigación y desarrollo, por lo que destacó la necesidad de fomentar la innovación e
impulsar la productividad, para crear “nuevas fuentes de crecimiento” (OCDE, 2012: 39).

Antecedentes

Para impulsar la educación, investigación, ciencia y tecnología del país, en 1970 se creó el
CONACYT otorgándole la responsabilidad de la elaboración de políticas de ciencia y tecnología
1. Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Cuajimalpa. Email: aquinonez@correo.cua.uam.mx

1697 1698
de México, funcionando como un organismo público descentralizado de la Administración Pública Durante la primera mitad de la década de los noventa, la política agrícola mexicana se enfrentó
Federal y parte del Sector Educativo y con patrimonio propio. a un proceso de ajustes, entre los que destacan la apertura comercial, la menor intervención
estatal y la Reforma al Artículo 27 constitucional. Además, en 1993 el gobierno federal le dio
Mayagoitia (2011) señaló que CONACYT administraba solamente un peso de cada 10 pesos autonomía al Banco de México, con lo que se desligaron los vínculos financieros con la banca de
destinados al fomento a la ciencia y tecnología, ya que otras dependencias públicas también desarrollo y propiciando rediseños de fideicomisos (Del Angel, 2005).
destinaban recursos con el mismo fin, pero sin coordinación
La aportación más relevante durante el gobierno de Salinas de Gortari para impulsar la educación,
Ante esta duplicidad de objetivos de ciencia y tecnología, en 1985 se creó la Ley para Coordinar la investigación y la ciencia, fue la reforma al Artículo tercero de la Constitución Política de los
y Promover el Desarrollo Científico y Tecnológico, con el objetivo del establecimiento de la Estados Unidos Mexicanos. Al incluir la promoción y atención de la educación superior, así como
normatividad para coordinar las actividades para la promoción, difusión y aplicación de los el establecimiento de la responsabilidad del Estado para fomentar la investigación científica y
conocimientos científicos y tecnológicos requeridos para el desarrollo nacional” (LCPDCyT, tecnológica (Cámara de diputados, s.f.).
1985: Artículo 2º.), fijando los lineamientos a los organismos de la Administración Pública
Federal, sentando las bases para la coordinación del Ejecutivo Federal con los demás órdenes de En el PND de Ernesto Zedillo (1995-2000) se reconoce la responsabilidad del Estado para
gobierno y promoviendo la participación e interrelación de los sectores público, social y privado. impulsar la generación, difusión y aplicación de las innovaciones tecnológicas, apoyando los
Con la creación de esta Ley, se estableció la promoción, integración y funcionamiento del proyectos innovadores que incrementen la competitividad de la economía, así como fomentar
Sistema Nacional de Ciencia y Tecnología (Artículo 3º. fracción. III), conforme a lo establecido la mayor vinculación de los centros de investigación científica y tecnológica con el sector
en el Programa Nacional de Desarrollo Tecnológico. productivo.

Por otra parte, en la década de los ochenta se presentaron desequilibrios fiscales y problemas Ernesto Zedillo estableció en su PND cinco objetivos esenciales, dos de ellos son la promoción del
de pagos de la deuda externa, situación que propició la intervención del Fondo Monetario crecimiento económico sustentable y el avance en el desarrollo social. proponiendo estrategias
Internacional (FMI) y del Banco Mundial (BM), a través del Consenso Washington, emitiendo diez que permitieran superar los desequilibrios entre las regiones geográficas, los grupos sociales y
recomendaciones a los países en desarrollo con elevada deuda pública externa y déficit fiscal los sectores productivos, como estrategia para promover el uso eficiente y el aprovechamiento
(Bustelo, 2003). productivo de los recursos, estimulando la productividad de la mano de obra, la actualización
tecnológica y la capacitación laboral
Entre las recomendaciones del Consenso Washington destacan la apertura comercial, la
privatización de empresas públicas y la disminución del gasto público, A partir de ello, México La estrategia para el desarrollo social fue orientar la política pública a ampliar la base científica del
entró en un acelerado proceso de apertura comercial, cuyo antecedente fue en 1986 al ingresar a país, mejorando la infraestructura física y el número de proyectos de investigación. Finalmente,
la Organización Mundial de Comercio (OMC) y la entrada en vigor del Tratado de Libre Comercio propuso la creación de nuevos centros de investigación y difusión tecnológica y científica.
con América del Norte (1994), propiciando que los sectores productivos mexicanos pasaran
de un modelo proteccionista con un mercado cautivo, a un proceso de apertura comercial y Para el crecimiento económico sostenido, estableció como estrategias: Fomentar el ahorro;
globalización, con probables desventajas en los productos provenientes de países desarrollados propiciar la estabilidad y certidumbre en la actividad económica; promover el uso eficiente de
con reducidos costos de producción y alta tecnología (Cruz, J. y Herrera P. (2011). los recursos para el crecimiento; desarrollar una política ambiental que permitiera favorecer el
desarrollo sustentable; y aplicar políticas sectoriales.
Políticas públicas de fomento al cambio tecnológico
Se estableció que la prioridad el gasto público debía orientarse al desarrollo social y fomentar

1699 1700
la inversión privada en sectores estratégicos, destacando que, a través de la inversión, se puede En el tercer eje del PND 2001-2006 se estableció la prioridad de fomentar la educación, la
ampliar la capacidad productiva, aumentando los factores de producción o la productividad. innovación y el avance tecnológico. Una de las estrategias de este eje fue proporcionar educación
de calidad, creando mecanismos para que las actividades de investigación científica y desarrollo
Durante el gobierno de Zedillo se creó en 1999, por decreto la Ley para el Fomento de la tecnológico se orientaran a temas prioritarios como alimentación, salud, educación, pobreza
Investigación Científica y Tecnológica , estableciendo los principios del apoyo del Gobierno y medio ambiente. Además de impulsar la descentralización de las actividades científicas
Federal a las actividades de investigación científica, tecnológica y desarrollo tecnológico y tecnológicas y difundir el conocimiento científico y tecnológico. Para su cumplimiento se
realizadas por representantes de los sectores públicos, social y privado. destacando que sin el establecieron los programas sectoriales especiales de financiamiento para el desarrollo; y de
avance de la ciencia y la tecnología se limita el crecimiento y desarrollo. ciencia y tecnología.

Por otra parte, con el fin de instrumentar políticas públicas con una perspectiva integral, con En 2001, se creó la Ley de Ciencia y Tecnología (LCT, 2001) , dentro de sus objetivos destaca
coordinación interinstitucional, Vicente Fox Quesada, en su PND (2001-2006), estableció una el establecimiento de los mecanismos de coordinación con los gobiernos estatales y los de
nueva estructura de la administración pública, con el fin de dar un uso eficaz y efectivo de los vinculación de la investigación científica y tecnológica con la educación superior, y apoyar
recursos, evitando que las funciones de la administración pública se duplicaran. el fortalecimiento de los grupos de investigación científica y tecnológica realizados por las
instituciones públicas de educación superior.
Para ello, durante el gobierno de Fox, se creó la Oficina Ejecutiva de la Presidencia de la República,
que contempló las comisiones: de desarrollo social y humano; crecimiento con calidad; y de Por su parte, el Plan Nacional de Desarrollo de Felipe Calderón Hinojosa (2007-2012) estableció
orden y respeto, entre otras, con funciones de planeación, coordinación, colaboración, apoyo y como objetivo lograr un crecimiento sostenido más acelerado, generar empleos formales y
promoción. mejorar el nivel de vida de los mexicanos.

En dicha Comisión, se consideró primordial conducir responsablemente la economía, incrementar Estableció cinco ejes rectores: 1) Estado de Derecho y seguridad, 2) Economía competitiva
y ampliar la competitividad del país y promover un crecimiento estable, dinámico, incluyente, y generadora de empleos, 3) Igualdad de oportunidades, 4) Sustentabilidad ambiental y 5)
sostenido y sustentable. Los compromisos adquiridos por las entidades y dependencias que Democracia efectiva y política exterior responsable.
integraron la Comisión consistieron en generar crecimiento económico para crear empleos, abatir
la pobreza, dar certidumbre en las inversiones, además del fortalecimiento a la competitividad de En el eje de economía competitiva y generadora de empleos, estableció una estrategia en tres
las empresas mexicanas, entre otras. vertientes: a) Inversión en capital físico, b) capacidades de las personas y c) crecimiento elevado
de la productividad, con el fin de lograr que para 2012 México se ubicara entre las entre las
Uno de los objetivos establecidos en el PND de Fox fue la solidez macroeconómica, en la que se treinta economías más competitivas del mundo, de acuerdo con el Foro Económico Mundial.
destacó la reforma del sistema financiero para fomentar el ahorro y mejorar los incentivos de
los intermediarios y de los usuarios. Las estrategias establecidas para el cumplimiento de este En la vertiente de inversión en capital físico estableció que las políticas públicas buscaron
objetivo fueron fortalecer a los intermediarios financieros no bancarios, crear la banca social impulsar la rentabilidad de los proyectos, reduciendo los costos de producción, promoviendo la
y En el objetivo rector de elevar y extender la competitividad del país, del PND, se propuso inversión en infraestructura y limitando el riesgo de las inversiones.
una política de competitividad industrial que extendiera la competitividad a otros sectores y
regiones, considerando el fortalecimiento a la educación, capacitación para el trabajo productivo En la vertiente de capacidades de las personas pretendió mejorar la cobertura y calidad de los
y el desarrollo tecnológico y científico, además de un marco regulatorio más flexible. servicios de salud y educación y combatir la marginación, para que los mexicanos emprendieran
proyectos ambiciosos y ampliaran su “abanico de oportunidades productivas”.

1701 1702
pública como privada, Así como la promoción y vinculación de la ciencia, el desarrollo, además
Finalmente, en la vertiente de crecimiento elevado de la productividad, se reconoció la de la incorporación del desarrollo tecnológico y la innovación a los procesos productivos, para
necesidad de incrementar la competencia económica e implementar condiciones favorables aumentar la productividad y competitividad del sistema productivo nacional.
para la adopción y el desarrollo tecnológico, permitiendo producir nuevos bienes y servicios,
participar en mercados internacionales y desarrollar procesos más eficientes. Se destacó que la Enrique Peña Nieto reconoció en su PND (2013-2018) la falta de dinamismo de la productividad
competencia económica es generadora de incentivos para la innovación empresarial, reduciendo en México, ocasionada principalmente, por la existencia de barreras que limitan la productividad,
costos de los insumos, incrementando la competitividad y mejorando la distribución del ingreso. entre las que destaca: fortaleza institucional, capital humano y proyección internacional
Para alcanzar un mayor desarrollo científico y tecnológico se estableció continuar con un sistema
de libre mercado, atraer la inversión extranjera para la adopción de las tecnologías avanzadas, En cuanto al capital humano, estableció que la falta de educación es una barrera para el desarrollo
con menores costos; incrementar el apoyo directo a la investigación científica y tecnología para productivo, ya que limita la capacidad de usar efectivamente las tecnologías de la información y
la innovación, garantizando la propiedad intelectual; para la innovación. Por ello, establece que la nación debe incrementar el nivel de inversión, tanto
pública como privada, en ciencia y tecnología, fortaleciendo la “Sociedad del Conocimiento”
Asimismo, se consideró la creación de un vínculo estrecho entre el sector público, la academia (PND 2013-2018: 17).
y el sector empresarial, para integrar nuevos conocimientos en los procesos productivos: y
facilitar el financiamiento de las actividades de ciencia, innovación y tecnología, permitiendo la El PND consideró a la ciencia y la tecnología como una de las piezas clave para alcanzar una
adquisición, adaptación y desarrollo de nuevas tecnologías. “Sociedad del Conocimiento”, asimismo, señala que de acuerdo a la experiencia internacional,
para detonar el desarrollo en ciencia, tecnología e innovación, debe superar o igualar al uno por
Una de las estrategias para la promoción de la productividad y la competitividad consistió en ciento del PIB, en tanto que en México, solo fue de medio punto porcentual en 2012. Señalando
profundizar y facilitar los procesos de investigación científica, adopción e innovación tecnológica, que algunos de los factores que han incidido en dicho rezago, fueron la baja participación del
señalando que el sector ciencia y tecnología está integrado por las instituciones del sector sector privado en la inversión para el desarrollo de la ciencia y la tecnología; pocos centros de
público y las de educación superior que forman posgraduados y realizan investigación, además investigación privados; y la falta de vinculación del sector privado con los grupos y centros de
de las empresas que invierten en desarrollo tecnológico e innovación. investigación científica y tecnológica del país.

Las líneas de acción para fomentar la productividad y competitividad fueron enfocadas hacia la Por ello, uno de los planes de acción establecidos en el PND 2013-2018 fue “articular la
articulación del Sistema Nacional de Ciencia y Tecnología; el fomento del mayor financiamiento educación, la ciencia y el desarrollo tecnológico para lograr una sociedad más justa y próspera”,
de la ciencia básica y aplicada, la tecnología y la innovación; la evaluación de la aplicación de destacando la necesidad de la vinculación entre escuelas, universidades, centros de investigación
los recursos públicos en la formación de recursos humanos de alta calidad y en las actividades y el sector privado para que el desarrollo científico, tecnológico y la innovación se establezcan
de investigación científica, innovación y desarrollo tecnológico; y finalmente, impulsar el como “pilares del progreso económico y social sostenible”.
crecimiento en la inversión en infraestructura científica, tecnológica y de innovación.
En el PND de Peña Nieto se establece el Programa de Innovación, Investigación, Desarrollo
Durante el gobierno de Felipe Calderón se realizaron reformas a la Ley de Ciencia y Tecnología Tecnológico y Educación (PIDETEC), integrado por seis componentes, para efectos de este
para establecer la integración del Sistema Nacional de Ciencia y Tecnología e Innovación, trabajo, destacan: Innovación para el Desarrollo Tecnológico Aplicado (IDETEC) y minería social.
sustentado en incrementos de la capacidad científica, tecnológica, de innovación y la formación Al analizar el comportamiento del gasto en investigación, ciencia y tecnología se apreció que
de investigadores que resuelvan problemas nacionales y contribuyan al desarrollo de México. durante el presente milenio, solo se ha destinado 1% del gasto total para impulsarla, aún peor
Estableciendo que la nación debe incrementar el nivel de inversión en ciencia y tecnología, tanto resulta al comprar el gasto respecto al Producto Interno Bruto, ya que fue de 0.2%, situación que

1703 1704
refleja que a pesar de planear el fomento a la investigación, ciencia y tecnología, los recursos que número de tasas de crecimiento negativas (2007-2009) (Ver figura 1).
se transfieren son reducidos (ver cuadro 1).
En cuanto a la contribución de los factores productivos al crecimiento económico, en relación
al valor de producción, se apreció que la mayor tasa de crecimiento en la contribución a la
economía se presentó en los años 1994, 1997 y 1998, con una tasa de 6%, asimismo, se apreció
que solo en los años 1995, 2001 y 2009 se registraron tasas negativas (Ver figura 1).

Productividad, empleo y Crecimiento económico de México En el análisis del empleo se observó que la población ocupada total creció 98% en 2017
respecto a 1991, destacando el sector terciario con un aumento de 125% y el sector secundario
Para realizar el análisis de la productividad de los factores productivos y su contribución al con 115%, en tanto que el sector primario solo creció 14% en 2017 vs 1991. El crecimiento
crecimiento económico se consideró la información del Instituto Nacional de Estadística y anual promedio de la población ocupada total fue de 3% , el mayor crecimiento se presentó en
Geografía (INEGI), donde se apreció que la productividad tuvo reducidas tasas de crecimiento el sector terciario con una tasa de 3.5%, seguido del sector secundario de 3.4%, en tanto que
durante 1991-1995, donde el periodo de mayor crecimiento se presentó en el año 1996, con una el sector primario su crecimiento fue inferior a un punto porcentual (0.6) durante el periodo
tasa fue inferior a tres por ciento (ver figura 1). investigado (ver figura 2).

La característica que predominó en la productividad total de factores fue la presencia de tasas El sector terciario ha tenido mayor participación de la población ocupada respecto al total, al
inferiores a uno por cientom, además de que durante ocho años (1993, 1995, 1999, 2001, pasar de una participación de 53 a 60% de 1991 a 2017, el sector secundario por su parte, solo
2007, 2008, 2009 y 2013) se registraron tasas de crecimiento negativas, al apreciar las tasas se incrementó dos puntos porcentuales al pasar de 23 a 25%, en tanto que en el sector primario
negativas, se observó que durante el gobierno de Calderón (2006-2012) se presentó el mayor la población ocupada descendió diez puntos porcentuales al pasar de 23 a 13% (ver figura 2).

1705 1706
Conclusiones

La planeación pública ha consdierado el fomento a la investigación, ciencia y tecnología, así como


favorecer la productividad, el empleo y crecimiento económico, sin embargo, en el presente
trabajo se apreció que los recursos destinados para ese fin son reducidos.

Se apreció que la población ocupada ha crecido a un ritmo similar en los sectores industrial y de
servicios, sin embargo, en el sector primario la población ocupada ha mostrado un comportamiento
descendiente en tanto que el producto interno bruto del sector se ha incrementado, situación que
podría implicar una mayor productividad del sector y desplazamiento de la mano obra por las
tecnologías implementadas en el sector, sin embargo, la tasa de crecimiento de la productividad
de los factores productivos registró tasas negativas o menores a uno por ciento, en su mayoría.
A partir de los resultados obtenidos en la presente investigación, se proponen cambios en la
clasificación funcional del gasto público para fomentar la investigación agrícola, favorecer la
productividad de los factores productivos, impulsando la capacitación y especialización en los
En el análisis del crecimiento económico, se puede apreciar que la economía ha tenido un ritmo trabajadores, evitando el desplazamiento de la mano de obra ante incrementos tecnológicos.
incremento muy lento, con tasas de 4% o inferiores, incluso tasas negativas durante los años
2000, 2007 y 2008, el mayor crecimiento se alcanzó durante 1996 (veáse figura 3). Referencias

Bustelo, P. (2003). Desarrollo económico: del Consenso al Post-Consenso de Washington y más


allá. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. Recuperado de http://pendientedemigracion.
ucm.es/info/eid/pb/BusteloPCW03.htm (23 de octubre de 2011)

Cámara de Diputados (s.f.) V. Evolución jurídica del Artículo 3 Constitucional en relación a la


gratuidad de la Educación Superior. Servicio de Investigación y Análisis. Recuperado de <http://
www.diputados.gob.mx/bibliot/publica/inveyana/polint/cua2/evolucion.htm>

Cruz, J. y Herrera P. (2011): “El empleo en México. Del modelo de sustitución de importaciones
(ISI) al modelo de libre mercado”. México, Economía y Sociedad, vol. XVII núm. 27 México,
Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, enero-junio.

Del Angel, G. (2005). “Transformaciones del Crédito Agropecuario. El caso de FIRA en


perspectiva histórica”. Documento de Trabajo No. 320. México, Centro de Investigación y
Docencia Económica. División de Economía, junio

1707 1708
INEGI. (2015). Sistema de Cuentas Nacionales. Consultado por internet el 18 de PR. (2013, 22 de enero). Decreto por el que se establece el Sistema Nacional para la Cruzada
septiembre de 2015. Recuperado de <http://www.inegi.org.mx/Sistemas/BIE/Default. contra el Hambre. Diario Oficial de la Federación.
aspx?Topic=0&idserPadre=1020009000200030#D1020009000200030>
SEP (Secretaría de Educación Pública). (5 de junio de 2001). Decreto por el que se expiden la Ley
LCT (Ley de Ciencia y Tecnologìa) (2002, 5 de junio). Cámara de Diputados del H. Congreso de de Ciencia y Tecnología y la Ley Orgánica del Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología. Diario
la Unión. México. Oficial de la Federación.

LFICyT (Ley para el Fomento de la Investigación Científica y Tecnológica). (21 de mayo de 1999). SHCP (Secretaría de Hacienda y Crédito Público). Cuenta de la hacienda pública federal de
Diario Oficial de la Federación. Cámara de Diputados 1995 a 2017. Recuperado de <http://finanzaspublicas.hacienda.gob.mx/es/Finanzas_Publicas/
Cuenta_Publica>
LCPDCyT (Ley para coordinar y promover el desarrollo científico y tecnológico). (21 de enero de
1985). Diario Oficial de la Federación. Cámara de Diputados, SHCP (2015). Presentación de la estructura programática para el Presupuesto de Egresos
2016. Boletín de prensa 067/2015, 30 de junio. Recuperado de <http://www.shcp.gob.mx/
Mayagoitia, H. (2011). “Rumbo a la independencia científica y tecnológica”. Testigos de una Biblioteca_noticias_home/comunicado_067_2015.pdf>
historia. Conacyt. Ciencia y Desarrollo. Num. 252. México. Mayo-Junio. Recuperado de <http://
www.cyd.conacyt.gob.mx/252/articulos/testigos-de-una-historia.html>

Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (OCDE). (2001). Measuring


Productivity Manual. Measurement of aggregate and industry-level

OCDE. (2012). México mejores políticas para un desarrollo incluyente. Serie “Mejores Políticas”.
México, septiembre

PND 1989-1994 (1989, 31 de mayo). Diario Oficial de la Federación. México

PND 1995-2000 (1995, 30 de mayo). Diario Oficial de la Federación. México

PND 2001-2006 (2001, 30 de mayo). Diario Oficial de la Federación. México

PND 2007-2012 (2007, 31 de mayo). Diario Oficial de la Federación. Mèxico.

PND 2013-2018 (2013, 20 de mayo). Diario Oficial de la Federación. Mèxico.

Poder Ejecutivo Federal (1992, 6 de enero). Diario Oficial de la Federación.

1709 1710
Capítulo 169
Antes de exponer el panorama normativo del derecho humano a las TIC conviene profundizar en
la noción de derechos habilitante, pues es a partir de ésta como se articulan los mecanismos
El acceso y uso de las tecnologías de la información y la comunicación desde la de exigibilidad y vigencia de los primeros. La expresión habilitante sugiere, a primera vista, un
noción de los derechos habilitantes y su inclusión en la universidad pública presupuesto para una vida digna.

Mariana Moranchel Pocaterra1 y Eduardo A. Peñalosa Castro2 Así, de la mano de lo expuesto en la introducción de este trabajo, podemos decir de manera
preliminar, que los derechos habilitantes, en este caso el derecho humano al acceso y uso de
las TIC, son aquellos que posibilitan el ejercicio de otros derechos, tales como el derecho a la
Introducción educación5. De tal forma que una figura adecuada para describirlos puede ser la de una puerta
que se abre para el alcance de otros derechos; o bien, la de un puente que conecta a un derecho
Si se acepta la concepción actual de sociedad de la información, como aquella en la cual las con el ejercicio de otros. En el caso de las TIC, la noción de habilitación cobra fuerza cuando se
interacciones entre los diversos actores está condicionada por el incremento de información toma en cuenta que:
disponible, la proliferación de las nuevas tecnologías así como de los avances científicos, es
menester reflexionar en torno a las condiciones en las cuales las personas pueden acceder y El acceso a la información —que las TIC facilitan—, ayuda/puede ayudar a la gente a
desarrollarse en este tipo de sociedades. En ese sentido, una herramienta fundamental para identificar y evaluar oportunidades de crecimiento y desarrollo y a mejorar sus vidas y
tal efecto son las tecnologías de la información y la comunicación (TIC), y es a través de la vía las de sus familiares y comunidades. El acceso a la información facilita la participación
de la educación y los derechos humanos3, así como de su ejercicio y exigibilidad, como puede en la sociedad, en la economía, en el gobierno y en los mismos procesos de desarrollo.
avanzarse en la progresiva inclusión de las personas a la sociedad de la información, y superar lo La capacidad de compartir informaciones ayuda a superar barreras de comunicación y
que se ha denominado como brecha digital4. fomenta el intercambio y la colaboración. (Del Río, 2009: 57)

A partir del rompimiento con la tradicional clasificación de los derechos humanos en generaciones, Para comprender de mejor forma la noción de derechos habilitantes, pueden resultar interesantes
se han creado innovadoras categorías para su estudio. La noción de derechos habilitantes puede las voces que señalan que el ejercicio de algunos derechos son a su vez, medios para el ejercicio
considerarse como una perspectiva provechosa para aproximarse al derecho humano al acceso de otros. A manera de ejemplo podemos señalar el caso del acceso a internet, pues se ha
y uso de las tecnologías de la información y la comunicación, pues es a través de este derecho señalado que es un medio para el ejercicio de derechos humanos, tales como el derecho a
como puede asegurarse el ejercicio de otros derechos, tales como el acceso a la información, a la la libertad de expresión al momento de realizar publicaciones en determinados portales, así
educación, a la libertad de expresión, a un trabajo digno, entre otros; lo cual tiene implicaciones como a la participación política o a la transparencia gubernamental, a través de plataformas de
en el grado de bienestar y de desarrollo económico y social que puede alcanzar una persona. datos; o bien los derechos de reunión y asociación cuando a través de los diversas opciones de
comunicación se organizan diversos grupos de acción política, entre otros (Ruiz y Pérez, 2016:
Una aclaración conceptual 6)
1. Profesora investigadora UAM-C. Email: marmorpoc@yahoo.es
2. Profesor investigador UAM-C. Email: eduardo.penalosa@gmail.com
3. Sobre la faceta del acceso a la información como derecho humano en la sociedad de la información, véase: Villanueva y Díaz (2015:4).
Si aplicamos las consideraciones anteriores al ámbito de la educación y de las universidades
4. Este término ha sido definido por la Conferencia Regional de Educación Superior de América Latina y el Caribe (CRES) y la Organización de las 5. Piénsese por ejemplo en los casos en los que la falta de acceso a la infraestructura educativa supone un menoscabo a este derecho. En ese sentido
Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura (UNESCO) de la siguiente forma: “la separación existente entre las personas, comunidades, pueden resultar ilustrativas las consideraciones de Symonides (2005: 55) respecto de los derechos culturales cuando señala que estos son derechos
Estados y países que tienen acceso y utilizan las tecnologías de la información y la comunicación de aquellas que no tienen acceso o aún teniéndolo no habilitantes, pues: “Sin que sean reconocidos y observados, sin que se aplique el derecho a la identidad cultural, la educación y la información, no puede
poseen la habilidad para usarlas” (Citado en Torres, Barona y García, 2011: 10). garantizarse la dignidad humana ni pueden hacerse efectivos plenamente otros derechos humanos”.

1711 1712
públicas se puede advertir el papel y la relevancia que tiene el enfoque de derechos humanos de tecnologías por parte de las universidades, tales como el perfeccionamiento de las habilidades
las TIC, pues a partir del acceso que tengan las personas a éstas es como puede potencializar o docentes, así como de la habilidades investigativas y de aprendizaje de los estudiantes y de la
aprovechar las virtudes de la educación en su beneficio. Si se toma en cuenta que en la actualidad, asunción plena del carácter dialógico de la relación entre los estudiantes y los profesores es como
en la era de las sociedades del conocimiento, el grado de bienestar o preparación profesional que puede reivindicarse plenamente el carácter transformador de la Universidad y el conocimiento.
puede alcanzarse depende en mayor o menor medida del acceso que se tenga en la tecnología6,
podemos dar cuenta de la enorme relevancia que tienen éstas en el papel transformador de la En el campo del derecho humano al acceso y uso de las TIC, el empleo de la categoría de derechos
educación. habilitantes resulta apta en tanto que, como describimos en líneas anteriores, a manera de puerta
o de puente son aquellos que posibilitarán el alcance de otros derechos.
Si bien esta categoría resulta novedosa tanto en el plano nacional como internacional, pueden
rastrearse dos antecedente o categorías similares en el ámbito de los principios que rigen en Las obligaciones a cargo del Estado y de las universidades
materia de derechos humanos, a saber: los principios de interdependencia e indivisibilidad. Estos
principios consisten, básicamente, en que no existen jerarquía entre derechos, pues todos son Ahora bien, una vez asentadas las cuestiones terminológicas y teóricas, podemos abordar lo
igualmente necesarios para alcanzar un nivel de vida digno, pues sin los derechos económicos y relacionado con la implementación y operatividad del derecho humano al uso y acceso de las
sociales no es posible satisfacer plenamente los derechos civiles y políticos y viceversa (Serrano TICS o como lo llaman Serrano y Vázquez (2017), con su puesta en acción.
y Vázquez, 2017: 38).
Es bien sabido que una condición sine qua non para la plena vigencia de los derechos humanos es
De lo anterior puede advertirse que en el fondo, tanto la noción de derechos habitantes como el cumplimiento efectivo por parte del Estado de aquellas obligaciones que le son correlativas8.
los principios de interdependencia e indivisibilidad de los derechos asumen como idea básica y En el caso del sistema constitucional mexicano, como obligaciones generales en materia de
fundante, que las personas deben ser titulares y ejercer el mayor número de derechos humanos derechos humanos encontramos en el plano nacional: promover, respetar, proteger y garantizar;
posibles. Pues por una parte, si se piensa en algunos derechos como habilitantes, existe de mientras que en el plano supranacional encontramos, principalmente, en la Convención
forma subyacente la convicción de que la existencia de un derecho es solamente un medio para Americana sobre Derechos Humanos (CADH) las de respetar y de adoptar disposiciones de
alcanzar el ejercicio de otros más. Y por la otra, la noción de interdependencia de indivisibilidad derecho interno. Lo complicado en estos casos, es la forma en que éstas se concretan, o como
sugiere que el hecho de que se proteja o viole cierto derecho o grupo de derechos de forma consideran Serrano y Vázquez (2017: 83) cómo se informan las obligaciones generales antes
directa, esto tendrá implicaciones en otros derechos. señaladas, pues dependen de cada derecho humano en particular.

Sin embargo, consideramos que resultaría benéfico el impulso de la teoría de los derechos Rebasaría los límites de este trabajo trazar un plan de acción detallado y pormenorizado sobre la
habilitantes, pues ésta resulta más apta en algunos contextos y derechos particulares, siendo ruta que debería seguir el Estado y las universidades públicas para cumplir con las obligaciones
los referentes por antonomasia los relativos a la educación. Y es que si se atiende a la larga correlativas al derecho humano al uso y acceso de las TIC; sin embargo, lo que sí puede plasmarse
tradición que le asigna a la educación un papel transformador e impulsor de los cambios sociales, en este texto es una exposición sobre los elementos que debe seguir la conducta estatal para
puede arribarse a la conclusión de que la educación en sí misma es un elemento habilitante informar las obligaciones generales.
para alcanzar el bienestar7, pues a partir de los elementos que implica la apropiación de las
6. En ese sentido resultan ilustrativas las aportaciones de Madrazo (2012) cuando sostiene que los derechos humanos y las nuevas tecnologías
Para Serrano y Vázquez (2017) son cuatro los elementos que deben de satisfacer las autoridades
constituyen un vínculo valioso para el desarrollo del ser humano en tanto que la realidad en la que vive es construida por los medios y las tecnologías, y para el cumplimiento de las obligaciones: disponibilidad, accesibilidad, calidad y aceptabilidad.
sólo a partir del acceso y pleno involucramiento en ellas es cuando se alcanza una calidad de sujeto operante en dicha realidad y del sistema imperante. universitaria y los sistemas nacionales de conocimiento, que a su vez, fungen como condicionantes de un rol reproductor de capital humano y cultural.
7. Esto cobra mayor relevancia en el contexto de la sociedad del conocimiento, pues como sostienen Carreón y Melgoza (2012:124), la educación, en 8. Para explorar desde diversas perspectivas la dinámica derecho subjetivo - obligación correlativa puede consultarse, entre otros: Burgoa (2010: 179);
el contexto de la sociedad del conocimiento funciona como un elemento articulador de los objetivos de desarrollo, los cambios de la institucionalidad Ferrajoli (2004: 59; 2014: 56); y, Piccato (2006: 156).

1713 1714
Por lo que hace al primero, puede decirse que es aquél por el que se garantiza “la suficiencia derechos no son de calidad, las acciones del Estado no habrán sido suficientes.
de los servicios, instalaciones, mecanismos, procedimientos o cualquier otro medio por el cual
se materializa un derecho para toda la población” (Serrano y Vázquez, 2017: 84). En este caso Con estos apuntes pretendemos plantear un esquema general de la acción de las universidades
estamos ante un elemento que supone directamente una carga administrativa al Estado, pues encaminada a la satisfacción del derecho humano al acceso a las TIC, pues son aquellas las que
debe realizar acciones encaminadas a que existan recursos suficientes para el ejercicio pleno en un escenario deseable y con base en los recursos y la capacidad operativa con la que cuentan,
de los derechos. podrían generar las condiciones y escenarios propicios para la educación basada en esta clase
de tecnologías, que además tenga como fin el incremento de la calidad en ella de la mano de la
Por lo que hace a la accesibilidad, este principio consiste básicamente en tratar de “asegurar que construcción de redes de crecimiento y el desarrollo de proyectos intra e interinstitucionales
los medios por los cuales se materializa un derecho sean accesibles sin discriminación alguna a 10
(Torres, Barona y García, 2010: 110).
todas las personas” (Serrano y Vázquez, 2017: 86). Este elemento supone tres dimensiones: la
no discriminación, la accesibilidad física y la accesibilidad económica9. Una aproximación normativa

La aceptabilidad como tercer elemento que informa las obligaciones generales en materia de Ahora bien, en la configuración moderna de este derecho habilitante, este solo puede ser
derechos humanos significa que: abordado desde una perspectiva multinivel, por lo tanto, es preciso realizar una revisión
al desarrollo que han tenido en el orden jurídico internacional. Para ello, pueden destacarse
El medio y los contenidos para materializar el ejercicio de un derecho sean aceptados por dos resoluciones de la Asamblea General de la Organización de las Naciones Unidas: la 55/2,
las personas a quienes están dirigidos, lo que conlleva el reconocimiento de especificidades conocida como Declaración del Milenio, en la cual los Estados partes se obligaron a emprender
y, consecuentemente, la flexibilidad necesaria para que los medios de aplicación de un acciones encaminadas al aprovechamiento generalizado de las TIC; y la 56/183, en la cual se
derecho sean modificados de acuerdo con las necesidades de los distintos grupos a los señala que: “…es una necesidad promover el acceso de todos los países a la información, el
que se dirigen en contextos sociales y culturales variados. (Serrano y Vázquez, 2017: 88) conocimiento y la tecnología de las comunicaciones en favor del desarrollo de los Estados.”

Aunque en sí mismo el elemento de aceptabilidad supone un mecanismo de informar a lo Como puede advertirse, el desarrollo de este derecho en el ámbito internacional ha sido más bien
general, también contiene ciertas características que hará que necesariamente sea el derecho modesto, sin embargo, existen propuestas para consolidar su articulación normativa, tales como
en cuestión el que sea determinante para el cumplimiento de la obligación a cargo del Estado, el proyecto de una Declaración Universal sobre Derechos a la Comunicación, surgida en el Foro
pues este elemento es mutable en razón del contexto social y cultural en el que se encuentre el Social Mundial sobre los Derechos de la Comunicación. O bien, los materiales resultantes de la
operador estatal. Cumbre Mundial de la Sociedad de la Información, tales como la Declaración de Principios de
Ginebra y su Plan de Acción. En ambos, se hace hincapié en las cuestiones relacionadas con la
Por último, el elemento institucional referente a la calidad “asegura que los medios y contenidos infraestructura que deberán construir e impulsar los Estados con el objeto de reducir la brecha
por los cuales se materializa un derecho tengan los requerimientos y propiedades aceptables digital existente.
para cumplir con esa función” (Serrano y Vázquez, 2017: 89). Al respecto, podemos comentar
que este elemento funge como una característica determinante del actuar estatal en materia de En el escenario internacional también destaca el documento publicado por la UNESCO en 1996
derechos humanos, pues a partir de éste puede concluirse que no obstante se hayan cumplido titulado “La UNESCO y la sociedad de información para todos”, en el que se expone un proyecto
con todos los estándares, si los medios y contenidos por los cuales se pretende la garantía de los educativo, científico y cultural relacionado con las TIC. En él se recupera un mandato de la
10. Evidencia de ello son las nuevas formas de establecer uniones y asociaciones académicas en las cuales se genera el conocimiento tales como los
9. Rebasaría los alcances de nuestro trabajo la explicación detallada de estos elementos debido a la minuciosidad que estos representan. Para ello, comités de investigación, consultorías y grupos de investigación, que progresivamente se han imbricado con los grupos de investigación tradicionales
recomendamos la lectura de Serrano y Vázquez (2017: 86-88), así como de Comité de DH (2004). (Ruiz, 2002: 116).

1715 1716
Asamblea General consistente en fortalecer la cooperación internacional en el terreno de la las explicaciones, las demostraciones, la reflexión guiada o la indagación; quinto, facilitan el
comunicación, la información y la informática en el terreno de la comunicación, la información desarrollo de estrategias de aprendizaje a través del uso de herramientas que extienden los
y la informática con el objeto de palear la alarmante desigualdad existente entre los países alcances cognitivos, como las que ayudan al estudiante a planear, a estudiar, a investigar, a
desarrollados y aquellos que se encuentran en vías de desarrollo (Del Río, 2009: 62). pensar crítica y reflexivamente (Peñalosa, 2013).

Para el caso de México, este derecho habilitante se encuentra en el párrafo tercero del artículo A partir de las potencialidades indicadas, podemos señalar que, si bien la serie de saberes
6º de la Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos, en el cual se establece que: “El que promueven las Tecnologías digitales son innumerables, podrían resumirse en tres: 1)
Estado garantizará el derecho de acceso a las tecnologías de la información y comunicación, así conocimiento teórico-conceptual, a través del acceso a la enorme cantidad de información
como a los servicios de radiodifusión y telecomunicaciones, incluido el de banda ancha e internet disponible en las redes; 2) conocimiento procedimental, que se encuentra en tratados, videos,
(…). Asimismo, en la fracción I del apartado B del artículo citado, se establece la obligación animaciones o listados de pasos que se requieren para conseguir metas derivadas de las
correlativa a cargo del Estado pues se indica: “[que] garantizará a la población su integración actuaciones, y 3) desarrollo de autonomía psicológica de los estudiantes, que permite que
a la sociedad de la información y el conocimiento, mediante una política de inclusión digital éstos utilicen herramientas para plantear metas de su actuar, monitorear su desempeño, poner
universal con metas anuales y sexenales.” en práctica estrategias para aprender mejor o reflexionar respecto de los eventos en los que
participa mediante la interacción en espacios digitales que implican la participación social.
Cabe destacar que este derecho no encontraba regulación en el ámbito nacional sino hasta el
año 2013, cuando en el marco de la agenda política “Pacto por México” y derivado de la reforma Es imprescindible que, como derecho habilitante, en los alumnos del nivel superior se favorezca el
constitucional en materia de telecomunicaciones se incluyó dicho derecho con la finalidad de acceso, el uso y la apropiación de estas tecnologías, ya que con ellas podrán lograr un desarrollo
impulsar un proyecto político encaminado a la inclusión de la población en las TIC. (Ayllón y Pla, individual y podrán tener acceso a otros derechos humanos.
2016: 528)
A partir del giro en cual se han inscrito diversas instituciones de educación consistente en
Sin embargo, para que este derecho habilitante sea una realidad requiere que la educación que la transformación de instituciones centradas en la enseñanza a instituciones centradas en el
imparta el Estado posibilite a través de distintas políticas púbicas este derecho. aprendizaje (Torres, Barona y García, 2010: 109) no sólo los estudiantes, sino también los
docentes y las universidades, tienen un papel fundamental en la recepción de las TIC en la
Implicaciones educativas de las tecnologías de la información y la comunicación educación, pues deberán adaptarse al nuevo esquema de enseñanza-aprendizaje que deberá ser
garantizado por mecanismos institucionales, tales como el diseño de infraestructuras adecuadas
En el caso particular de la educación superior, los estudios universitarios han logrado en poco así como la capacitación técnica y pedagógica de los diversos agentes involucrados con la
más de dos décadas, que gran parte de los alumnos desarrollen habilidades digitales a través de finalidad de la apropiación y el uso correcto de las TIC en el sector11. (Muñoz y González, 2011:
diversas herramientas educativas. 47)

Podemos identificar cinco grandes aportaciones al aprendizaje de los recursos de Internet: La inclusión de las TIC en las Universidades
primero, permiten un acceso flexible y amplificado a la información; segundo, extienden las
posibilidades de interacción con objetos y agentes que de otra manera serían imposibles de Sin embargo, para que este derecho habilitante sea una realidad requiere que la educación
acceder; tercero, establecen contextos visuales-verbales para anclar el aprendizaje y plantear que imparta el Estado posibilite a través de distintas políticas púbicas este derecho. En el caso
problemas, casos, proyectos, narrativas, dilemas, etc; cuarto, facilitan la construcción de 11. Y es que como señalan Torres, Barona y García (2010: 126), la mera posesión de infraestructura y equipos tecnológicos modernos no implica
necesariamente la apropiación de las habilidades y el uso adecuado de las TIC en el sector universitario. A esta problemática se le puede sumar el hecho
estructuras de conocimiento, en esquemas cualitativamente efectivos como las inducciones, de que en la mayoría de los casos los directivos y autoridades académicas ignoran esta circunstancia o no la perciben como un problema.

1717 1718
particular, de la educación superior, los estudios universitarios han logrado en poco más de dos
décadas, que gran parte de los alumnos desarrollen habilidades digitales a través de diversas Carreón, H. & Melgoza, R. (2011). México hacia una sociedad del conocimiento. Nóesis. Revista
herramientas educativas. de Ciencias Sociales y Humanidades del Instituto de Ciencias Sociales y Administración, 41,
122-1236.
Podemos identificar cinco grandes aportaciones al aprendizaje de los recursos de Internet:
primero, permiten un acceso flexible y amplificado a la información; segundo, extienden las CRES-UNESCO (2008), Conferencia Regional de la UNESCO para la Educación Superior en
posibilidades de interacción con objetos y agentes que de otra manera serían imposibles de América Latina y el Caribe: diez años después de la Conferencia Mundial de 1998, Carlos
acceder; tercero, establecen contextos visuales-verbales para anclar el aprendizaje y plantear Tünnermann (edit.), del 3 al 6 de junio de 2008, Cartagena de Indias, CRES-UNESCO.
problemas, casos, proyectos, narrativas, dilemas, etc; cuarto, facilitan la construcción de
estructuras de conocimiento, en esquemas cualitativamente efectivos como las inducciones, Del Río Sánchez, O. (2009). TIC, derechos humanos y desarrollo: nuevos escenarios de la
las explicaciones, las demostraciones, la reflexión guiada o la indagación; quinto, facilitan el comunicación social. Anàlisi: Quaderns de comunicació i cultura, 38, 55-69.
desarrollo de estrategias de aprendizaje a través del uso de herramientas que extienden los
alcances cognitivos, como las que ayudan al estudiante a planear, a estudiar, a investigar, a Ferrajoli, L. (2014). La democracia a través de los derechos. El constitucionalismo garantista
pensar crítica y reflexivamente (Peñalosa, 2013). como modelo teórico y como proyecto político, Madrid: Trotta.

A partir de las potencialidades indicadas, podemos indicar que, si bien la serie de saberes Janusz, S. (2005). Derechos culturales: una categoría descuidada de derechos humanos.
que promueven las Tecnologías digitales son innumerables, podrían resumirse en tres: 1) Derechos Humanos. Órgano informativo de la Comisión de Derechos Humanos del Estado de
conocimiento teórico-conceptual, a través del acceso a la enorme cantidad de información México, 74, 53-64.
disponible en las redes; 2) conocimiento procedimental, que se encuentra en tratados, videos,
animaciones o listados de pasos que se requieren para conseguir metas derivadas de las López Ayllón, S. & Luna Pla, Issa. (2016). Comentario al artículo 6º. En Derechos del pueblo
actuaciones, y 3) desarrollo de autonomía psicológica de los estudiantes, que permite que mexicano. México a través de sus constituciones. 9a. ed. (pp. 474-451), México: Cámara de
éstos utilicen herramientas para plantear metas de su actuar, monitorear su desempeño, poner Diputados, SCJN, CNDH, TEPJF, INE, Senado de la República, UNAM, Instituto de Investigaciones
en práctica estrategias para aprender mejor o reflexionar respecto de los eventos en los que Jurídicas, Miguel Ángel Porrúa.
participa mediante la interacción en espacios digitales que implican la participación social.
Madrazo Piña, I. (2012). Los derechos humanos y los nuevos medios. Dfensor. Revista de
Es imprescindible que, como derecho habilitante, en los alumnos del nivel superior se favorezca el derechos humanos. 8, 6-10.
acceso, el uso y la apropiación de estas tecnologías, ya que con ellas podrán lograr un desarrollo
individual y podrán tener acceso a otros derechos humanos. Muñoz Carril, P. & González Sanmamed, Mercedes (2011). La integración de las TIC en la
universidad. Formación y uso de aplicaciones de infografía y multimedia. Perfiles educativos,
Referencias 137, 46-67.

Burgoa, I. (2010). Las garantías individuales, 40a. ed. México: Porrúa. Peñalosa Castro, E. (2013). Estrategias docentes con tecnologías: guía práctica. México, Pearson.
Piccato, A. (2006). Teoría del derecho, México: IURE.
Comité de Derechos Humanos (2004). “Naturaleza de la obligación jurídica general impuesta a
los Estados Partes en el Pacto”, Observación General núm. 31. Ruiz, C. & Pérez de Acha, G. (2016). La medición del impacto del internet sobre los derechos

1719 1720
humanos. Dfensor. Revista de derechos humanos, 6, 4-10. Capítulo 170
Ruiz, G (2002). La sociedad del conocimiento y la educación superior universitaria. Revista
Mexicana de Ciencias Políticas y Sociales, 185, 109-124.
“Vamos jogar?” – Capacitação profissional por meio da gamificação

Sandra Mara Berti1 y Anelise Rebelato Mozzato2


Serrano, S. y Vázquez, D. (2017). Los derechos en acción. Obligaciones y principios en materia
de derechos humanos, México: FLACSO México.
Introdução
Torres Velandia, Serafín Ángel, Barona Ríos, César, & García Ponce de León, Omar. (2010).
Infraestructura tecnológica y apropiación de las TIC en la Universidad Autónoma del Estado de
Sistemas gamificados tem derivação dos jogos digitais que utilizam técnicas e ideias de jogos
Morelos: Estudio de caso. Perfiles educativos, 32(127), 105-127.
para atender objetivos específicos, refere-se à aplicação de elementos de jogos, fora do contexto
dos jogos (Sigala, 2015). Como salienta Cherry (2012), a gamificação vem ganhando cada vez
Villanueva, E. & Díaz, V. (2015). Derecho de las nuevas tecnologías (en el siglo XX derecho
mais espaço nas organizações como uma ferramenta promissora na gestão, podendo ser utilizada
informático, México: Oxford University Press.
para atrair maior atenção dos trabalhadores, aumentar o engajamento desses, especialmente os
envolvidos em tarefas tediosas ou repetitivas.

A utilização da gamificação como estratégia para a área de capacitação e desenvolvimento


torna-se viável pela capacidade de engajar os trabalhadores em torno não só do processo
de aprendizagem, mas também do uso do aprendizado nas atividades desenvolvidas para
a organização (Di Bartolomeo, Stahl, & Elias, 2015). De acordo com Armstrong e Landers
(2018, p. 162) a gamificação “pode ser usada para melhorar realisticamente o treinamento
de funcionários baseado na web”. Os jogos farão parte da vida das pessoas e das organizações.
De acordo com o Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) 85% das atividades
cotidianas incluirão aspectos próprios aos jogos em 2020.

Conforme Di Bartolomeo et al. (2015) a capacitação tradicional, feita apenas com a teoria e
baseado em leituras, apresentações orais e visuais, é definida como um método sistemático
e cansativo de aprendizagem, uma vez que essa abordagem não proporciona o envolvimento
do indivíduo com os conteúdos, e, consequentemente, torna-se ineficiente ao não promover a
experiência do encontro entre indivíduo, aprendizagem e desenvolvimento. Segundo os autores,
por meio dessa orientação, a gamificação surge como método inovador para a capacitação e
desenvolvimento profissional, uma vez que provê a eficiência na aprendizagem ao trabalhar os
conhecimentos, habilidades e atitudes em um cenário alternativo, dinâmico e criativo, composto
1. Mestranda em Administração PPGAdm/UPF bolsista Capes/PROSUC. Email: 170033@upf.br
2. Professora titular permanente PPGAdm/UPF. Email: anerebe@upf.br

1721 1722
por uma jogabilidade intuitiva. Entende-se por capacitação profissional, conforme Marras sem precisar esperar pelo colega para ensinar, ou então ler manuais ou ainda ter que aguardar
(2011), um processo de assimilação cultural de curto prazo, cujo objetivo é repassar ou reciclar a realização por parte de terceiros.
Conhecimentos, Habilidades ou Atitudes (CHA), ou seja, competências relacionadas diretamente
à execução de tarefas ou à sua otimização no trabalho. Após esta introdução, o artigo está dividido da seguinte forma: no capítulo 2 apresenta-se
o referencial teórico, onde é abordado a capacitação de pessoas por meio da gamificação e
Por mais que a gamificação tem sido cada vez mais utilizada (Brustolin & Brandão, 2017; Cherry, engajamento e motivação. No capítulo 3 apresenta-se a metodologia utilizada na pesquisa.
2012; Dale, 2014), como bem pontuam Azevedo filho (2016), a sua utilização em contexto No capítulo 4, os resultados preliminares e, por fim, no capítulo 5 as considerações finais são
organizacional ainda é incipiente. Tal lacuna de pesquisa é apontada por pesquisa recentes, delineadas.
tais como as desenvolvidas por Zambelli (2014), Azevedo Filho (2016) e Armstrong e Landers
(2018), os quais salientam a necessidade de mais estudos, sobretudo empíricos, para verificar Referencial Teórico
sua validade e melhor aplicabilidade.
Capacitação das pessoas por meio da gamificação
Portanto, neste artigo trabalha-se com a lacuna apontada, sendo a implementação da gamificação
em uma organização hospitalar por meio do método experimental, com foco na capacitação No contexto corporativo a gamificação apresenta-se como uma ferramenta que aperfeiçoa o
de pessoas. Assim, este artigo tem como objetivo analisar a contribuição da aplicação da desempenho e a satisfação dos trabalhadores (Penenberg, 2013), auxiliando na resolução de
gamificação em processos de capacitação profissional em uma instituição hospitalar. problemas de falta de incentivos, inclusive no que diz respeito à área de capacitação profissional.
Segundo Reeves e Read (2009), os cursos baseados na gamificação devem ser capazes de
Diante disso, com o potencial visto que a gamificação pode proporcionar, será utilizada uma estimular o comprometimento e provocar mudanças no comportamento das pessoas, sendo
ferramenta gamificada, plataforma Elfos3, a qual poderá contribuir para com os processos de possível alterar as atitudes e ampliar o compromisso delas.
capacitação no hospital veterinário, onde hoje são realizados apenas com manuais (procedimento
operacional padrão), entre colegas ou ainda em convenções e eventos. Já as capacitações com De acordo com Suh, Wagner e Liu (2018), juntamente com a proliferação das mídias sociais,
viés individual (comportamento, motivação, trabalho em equipe) são esperadas capacitações diversas plataformas e aplicações móveis, mercados online tornaram-se cada vez mais
feitas pela instituição, os quais são feitos esporadicamente e dificilmente se consegue a competitivos, e muitas empresas estão se esforçando para envolver os usuários. Como um
participação efetiva de todos. paradigma relativamente novo para engajar pessoas, a gamificação foi adotada como uma
estratégia para influenciar e incentivar as pessoas a participar na educação e capacitação.
Desta forma, o uso da gamificação pode proporcionar engajamento dos trabalhadores para a Gamificação, neste contexto, refere-se a utilização de elementos de jogo, tais como técnicas
realização das capacitações, seja para aprender uma nova habilidade, adquirir conhecimentos e de projeto, o pensamento e mecânica para melhorar os contextos de não-jogo para envolver os
atitudes ou ainda atualização dos procedimentos técnicos. Quando uma capacitação é concluída, usuários aumentando o valor hedônico de um sistema de informação existente.
conta pontos para a equipe, no final de determinado período a equipe vencedora ganhará
prêmios, proporcionando assim o engajamento dos trabalhadores para que todos realizem os Conforme aponta França (2007, p. 87) “em virtude das constantes modificações macro
desafios propostos pela plataforma. A importância de ter esta forma alternativa de realizar as ambientais, competição por nichos e segmentos de mercado e maior competição interna por
capacitações, se vê nos benefícios para a organização e principalmente para os trabalhadores, ascensão na carreira, é um consenso nas organizações a importância do treinamento em todos
que poderão realizar suas capacitações quando sentirem necessidade, quando tiverem tempo e os níveis empresariais”. Pessoas preparadas produzem melhor e se sentem mais autoconfiantes,
já aqueles que não possuem um preparo adequado ao cargo estão mais propensos à tomada
3. A plataforma Elfos, está sendo desenvolvida por uma empresa de desenvolvimento de sistemas e integra comunicação interna, gamificação,
inteligência artificial e bots.
de decisão incorreta e frequentemente culpam terceiros por sua falha, desta forma, é possível

1723 1724
afirmar que o lado criativo das pessoas deve ser estimulado, pois proporciona benefícios as que o executa (Kanaane, 2017).
organizações, a curto e longo prazo, e consequentemente um diferencial competitivo.
Neste contexto, a gamificação cujo principal objetivo é proporcionar o engajamento do
Até recentemente prevalecia a ideia de que os jogos possuíam como único intuito, o lazer ou trabalhador, deve observar que é necessária a motivação para que ocorra o engajamento. Para
qualquer outra função associada ao conceito de ludicidade ou entretenimento. Hoje, empresas isso, torna-se importante a participação ativa dos trabalhadores no uso da plataforma proposta,
de software estão utilizando estes elementos dos jogos para criar soluções úteis para as a qual usará de mecanismos para engajar o trabalhador nos desafios propostos.
organizações, utilizando como estratégia viável para incentivar clientes ou trabalhadores. Estas
técnicas também são aplicadas para influenciar o comportamento das pessoas em diferentes Metodologia
áreas, como da saúde, educação, turismo, entre outras.
Esta pesquisa de caráter exploratório tem como campo de pesquisa um hospital veterinário
Engajamento e motivação localizado numa Universidade do norte do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Por meio de
pesquisa experimental (Morton & Willians, 2012) e qualitativa (Yin, 2016), serão analisados os
A motivação influencia as atitudes e o comportamento dos indivíduos no ambiente de resultados da implementação da gamificação na capacitação profissional, como ferramenta de
trabalho (Ambrose & Kulik, 1999). A motivação pode ser intrínseca (as pessoas realizam algo gestão, buscando ampliar, melhorar e otimizar os processos de capacitação profissional no local
espontaneamente, pois acham a atividade interessante por si só, como no estado de fluxo) e/ da pesquisa. O método experimental, conforme apontam Gerber & Green (2012), Glennerster
ou extrínseca (as pessoas percebem consequências tangíveis pela realização da atividade, & Takavarasha (2013), Morton & Willians (2012) e Teele (2014), tem como vantagem a
tais como recompensas materiais ou verbais) (Gagné & Deci, 2005). Portanto, a motivação, clareza referente a causa e efeito dos fenômenos, dificilmente alcançado com outros métodos
conforme Vergara (2016), é entendida como uma força, uma energia que impulsiona na direção empíricos. Conforme afirma Battisti (2017), a antiga ideia de que o comportamento humano
de alguma coisa, sendo ela absolutamente, intrínseca, isto é, está dentro de cada pessoa, e social é complexo demais para ser analisado experimentalmente, vem sendo derrubada por
nascendo das necessidades interiores. Desta forma, a pessoa se motiva ou não, ninguém pode diversas pesquisas experimentais em ciências sociais, podendo ser aplicadas amplamente na
motivar ninguém; outras pessoas podem fazer é estimular, incentivar, provocar nossa motivação, administração de empresas.
ou seja, a diferença entre motivação e estímulo é que a primeira está dentro de das pessoas e, a
segunda, fora (Bergamini, 1996; Vergara, 2016). A pesquisa será desenvolvida em três fases: 1) exploratória inicial, consiste em conhecer
o campo de estudos, utilizando-se da entrevista com roteiro semiestruturado e observação
O trabalhador pode estar satisfeito parcial ou até plenamente, sem que com isso tenha atingido não participante para entender a demanda de capacitação necessária para a realidade do
o nível de realização pessoal ou profissional em dado contexto organizacional, contrariamente, local. Com estas informações foi possível ter o diagnóstico da situação inicial e desta forma
pode ocorrer que a ação de enfrentar obstáculos organizacionais possa trazer-lhe satisfação fazer as definições e planejamento da fase de execução; 2) execução, nessa fase será feita a
e realização, à medida que ela esteja associada às expectativas e possibilidades percebidas implementação da plataforma Elfos, com as instruções e apoio necessário para o uso. O tempo
pelos indivíduos. Tem-se, então, que o trabalho assume distintas finalidades: de um lado, ativa será de aproximadamente 2 meses, seguindo o estudo desenvolvido por Stanculescu, Bozzon,
mecanismos psicológicos que permitem o estímulo da produtividade do trabalhador, eliminando Sips e Houben (2016). Será observado durante o uso como as pessoas estão se sentindo com
obstáculos secundários, procurando adequá-los de forma otimizada ao sistema, isto é, trata de a nova tecnologia, utilizando-se como técnica de coleta de dados entrevistas semiestruturadas
manipular, através de mecanismos coercitivos ou subliminares, a mente do trabalhador para e observação não participante, visando entender a opinião de cada um sobre a mudança; 3)
que este trabalhe melhor, de outro, pode dirigir-se a um fim diferente, caracterizando-se pela Avaliação, etapa na qual será feita uma avaliação de todo o processo da gamificação. Para tanto,
progressiva participação, comprometimento, envolvimento e responsabilidade de todos os técnicas de coleta de dados como grupo focal, além das entrevistas semi-estruturadas, serão
trabalhadores, através da transformação do trabalho, de modo a dotá-lo de sentido para aquele utilizadas. Após, o corpus de pesquisa será analisado com a utilização da análise de conteúdo

1725 1726
(Bardin, 2011). comunicação interna, gamificação, inteligência artificial e bots. Na comunicação interna, o
aplicativo fará uma rede social interna para interação entre os trabalhadores e acompanhamento
Esta pesquisa, conforme já mencionado, encontra-se em execução. Portanto, os resultados do que está acontecendo na corporação com ajuda de fóruns, chats e feeds de notícias.
preliminares fazem parte da primeira fase da pesquisa. Com as entrevistas semi-estruturadas,
buscou-se entender como são feitos os processos de capacitação no hospital no momento O uso de elementos de jogos (gamificação) para promover o engajamento entre os participantes
atual e em como os trabalhadores avaliam esta forma de capacitação, foram entrevistados 7 na busca para solucionar os desafios, se dará por meio de rankings com pontuações para quem
trabalhadores. Na observação não participante, foram observadas as formas de organização das participar dos desafios, recebendo premiações após determinado período ou poderá fazer a troca
tarefas do dia a dia, gestos e atitudes das pessoas durante a execução de suas atividades e o de seus pontos por brindes na loja virtual. Outra forma de recompensa sugerida pelos próprios
engajamento e motivação dos trabalhadores. trabalhadores seriam cursos e capacitações.

Resultados Preliminares Com a inteligência artificial os dados gerados durante o processo de execução das demandas
alimentarão um base de dados usada para modelos de aprendizagem. Os bots, auxiliarão o
Como resultados da primeira etapa da pesquisa, observa-se a existência de problemas que trabalhador nas ações que devem ser tomadas para alcançar o objetivo.
necessitam ser atendidos com a capacitação de pessoas, como por exemplo, o atendimento do
médico veterinário ao “tutor” do animal de estimação, dificuldade esta, apontada pelo gestor Considerações Finais
responsável e vista pelas pesquisadoras no momento da observação. A aprendizagem quando um
novo trabalhador é integrado à equipe ocorre da forma tradicional, por meio de manuais e com Observa-se que além de essencial nas atividades rotineiras dos trabalhadores, a capacitação
o apoio dos trabalhadores mais antigos. Conforme apontam Di Bartolomeo et al. (2015), está necessita ser constantemente planejada para se obter bons resultados que culminem em
forma de capacitação tradicional, não proporciona a aprendizagem esperada. aprendizagem. A gamificação tem mostrado grande potencial em engajar os trabalhadores nas
tarefas que lhes são propostas, obtendo assim um melhor aproveitamento das atividades que a
Os trabalhadores sentem falta de capacitações para atualização técnica para desenvolver suas capacitação proporciona.
atividades, assim como, capacitações individuais, com foco em questões comportamentais.
Neste sentido, França (2007) aponta a necessidade de haver constantes capacitações para Esta pesquisa pretende contribuir para validar a proposta da gamificação e sua efetividade na
acompanhar as mudanças que o ambiente macro e micro proporciona, visto que neste ramo as capacitação profissional, conforme é apontado por vários autores a necessidade de mais estudos
pessoas, estão investindo cada vez mais nos cuidados com seus animais de estimação. empíricos que comprovem a sua eficácia. Sendo assim, a partir de resultados preliminares,
verificou-se que é possível utilizar a plataforma Elfos para melhoria das capacitações, melhoria
O hospital tem uma grande dificuldade com os períodos de férias e de folgas, em virtude dos da comunicação, maior entrosamento entre os colegas e consequentemente uma melhoria no
horários do hospital e por haver grande quantidade de estagiários, assim, todos os dias ocorre de clima na organização, e a longo prazo, contribuir também para o desenvolvimento organizacional.
não ter algum trabalhador disponível. Assim os gestores apontam que quando estes trabalhadores Para finalizar, salienta-se que a equipe do hospital veterinário pesquisado está participando
não estão, ninguém sabe executar as suas tarefas, causando uma grande dificuldade na execução ativamente do processo de gamificação, demonstrando uma visão otimista, assim como a
das tarefas. Ao encontro disso, Reeves e Read (2009) apontam que os cursos baseados na empresa de tecnologia que desenvolve e implementa a plataforma, bem como os pesquisadores
gamificação podem contribuir para estimular o comprometimento e provocar mudanças no envolvidos.
comportamento das pessoas, sendo possível alterar as atitudes e ampliar o compromisso delas.
Desta forma, como estratégia para auxiliar na resolução de alguns destes problemas apontados Referências
pelos gestores, será a implementação da plataforma Elfos. A plataforma Elfos integra

1727 1728
Ambrose, M. L., & Kulik, C. T. (1999). Old friends, new faces: Motivation research in the 1990s. Gerber, A. S., & Green, D. P. (2012). Field Experiments: Design, analysis and interpretation. New
Journal of Management, 25(3), 231-292. York: W.W. Norton & Company.

Armstrong, M. B., & Landers, R. N. (2018). Gamification of employee training and development. Glennerster, R., & Takavarasha, K. (2013). Running Randomized evaluations: A pratical guide.
International Journal of Training and Development 22(2), 162-169. Princeton & Oxford: Princeton University Press.

Azevedo Filho, W. A. De. (2016). Aplicabilidade do conceito de gamificação no contexto Kanaane, R. (2017). Comportamento humano nas organizações: o desafio dos líderes no
empresarial: estudo de caso na Microsoft. Dissertação de mestrado, Faculdade FIA de relacionamento intergeracional (3a ed.). São Paulo: Atlas.
Administração e Negócios, São Paulo, SP, Brasil.
Marczewski, A. (2013). Gamification: A Simple Introduction a Bit More (2a ed.). Tumwater:
Battisti, J. E. Y. (2017, Jul-Ago). Indicações bibliográficas: o método experimental. Revista de Amazon.
Administração de Empresas, 57(4), p 414.
Marras, J. P. (2011). Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico (15a
Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70. ed.). São Paulo: Saraiva.

Bergamini, C. W. (1996). Motivação. São Paulo: Atlas. Morton, R. B., & Willians, K. C. (2012). Experimental political Science and the study of causality:
From nature to the lab. Cambridge: Cambridge University Press.
Brustolin, F. J., & Brandão, J. E. M. De sá. (2017). Análise de Gamificação no Simulador de
Operações Cibernéticas (SIMOC). Revista lbérica de Sistemas e Tecnologias de Informação, Penenberg, A. L. (2013). Play at work: how games inspire breakthrough thinking. New York:
(23), 103-118. Portifolio/Penguin.

Cherry, M. A. (2012). The Gamification of Work. Hofstra Law Review, 40(4), 851-858. Reeves, B., & Read, J. L. (2009). Total Engagement: How Games and Virtual Worlds Are Changing
the Way People Work and Businesses Compete. Boston: Harvard Business Review Press.
Dale, S. (2014). Gamification: Making work fun, or making fun of work? Business Information
Review, 31(2), 82–90. Sigala M. (2015) Gamification for Crowdsourcing Marketing Practices: Applications and
Benefits in Tourism. In: Garrigos-Simon F., Gil-Pechuán I., Estelles-Miguel S. (eds) Advances in
Di Bartolomeo, R., Stahl, F. H., & Elias D. C. (2015). A gamificação como estratégia para o Crowdsourcing. Springer, Cham
treinamento e desenvolvimento. Revista Científica Hermes, (14),71-90.
Stanculescu, L. C., Bozzon, A., Sips, R-J., & Houben, G.-J. (2016, February) Work and Play:
França, A. C. L. (2007). Práticas de Recursos Humanos: conceitos, ferramentas e procedimentos. An Experiment in Enterprise Gamification. Proceedings of the ACM Conference on Computer
São Paulo: Atlas. Supported Cooperative Work, CSCW. San Francisco, CA, USA, 19.

Gagné, M., & Deci, E. L. (2005). Self-determination theory and work motivation. Journal of Suh, A., Wagner, C., & Liu, L. (2018). Enhancing User Engagement through Gamification. Journal
Organizational Behavior, 26(4), 331-362. of Computer Information Systems, 58(3), 204-213.

1729 1730
Teele, D. L. (2014). Field Experiments and their critics: Essays on the uses and abuses of Capítulo 171
experimentation in the social sciences. New haven & London: Yale University Press.

Vergara, S. C. (2016). Gestão de pessoas. (16a ed) São Paulo: Atlas.


O Sentido do trabalho nos mercados laborais digitais: Em busca de
entendimentos a partir do olhar de motoristas de aplicativos
Yin, R. K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. (2016). Porto Alegre: Penso.
Renato Koch Colomby1 y Marcia Cristiane Vaclavik2
Zambelli, R. L. (2014). O uso de elementos de jogos em plataformas online de treinamento e
seu impacto na efetividade do treinamento. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. 1.Introdução

É consensual que o trabalho é central em nossas vidas e sociedade (Antunes, 2002; Dejours,
2004; MOW, 1987) e que a tecnologia afeta os modos como as pessoas vivem, trabalham e se
comunicam. E ao se considerar que as complexidades que circundam o mundo do trabalho não
estão desconexas daquelas que se apresentam na totalidade, pode-se compreender o trabalho
sendo atravessado tanto pela tecnologia, quanto pela prática de pessoas, organizações e políticas
públicas. Aproximamo-nos, assim, de Fischer (1987), que entende as relações de trabalho a
partir da interação de atores em contexto de relações.

Não é recente, também, a preocupação de que a tecnologia afeta diretamente o mundo do


trabalho, a natureza dos empregos e o número de postos disponíveis (Cattani, 2014; Rifkin,
1995, 2015). Nesse cenário, a ascensão da economia compartilhada e dos mercados laborais
digitais parece ser um indício de significativas mudanças (Sundararajan, 2016) que afetam
profundamente as relações laborais e podem se tornar predominantes neste século (Balaram,
Warden, & Wallace-Stephens, 2017; Codagnone, Abadie, & Biagi, 2016). Concomitantemente,
surge a gig economy, entendida como o conjunto dos mercados que mediam, através de
plataformas digitais, demandas dos consumidores aos fornecedores em trabalhos de curta
duração, os “gigs” (Donovan, Bradley, & Shimabukuro, 2016), em que não há contrato, benefícios
ou garantias. Esse movimento deflagra preocupações de ordens diversas e é tema de crescente
interesse (Codagnone, Biagi, & Abadie, 2016). O modelo centrado na empresa como agente de
entrega de benefícios regulados pelo poder público já não abarca completamente as relações
laborais contemporâneas: não se pode ignorar a realidade de milhões que não se encaixam nesse
modelo, seja por necessidade ou por escolha (Manyika et al., 2016).

1. PPGA/EA/UFRGS. Email: renato.colomby@gmail.com


2. PPGA/EA/UFRGS. Email: mcvaclavik@gmail.com

1731 1732
No Brasil, que vive nos âmbitos político e econômico uma de suas piores policrises, o desemprego de estudos futuros.
soma 13,2 milhões de pessoas, atingindo a marca de 12,7% no trimestre março-abril-maio
de 2018. É na confluência entre crises, desemprego, desalento com o mercado formal e o 2. O Trabalho nos Mercados Laborais Digitais
surgimento de novos formatos de trabalho que milhares de trabalhadores buscam alternativas
de resiliência e sobrevivência. Neste país, os fenômenos da economia compartilhada e da gig Tentar definir o que é “mercado laboral digital” não se mostra tarefa simples. A própria definição
economy ganharam visibilidade por meio de aplicativos de transporte privado de passageiros, de “mercado de trabalho” é dificultada em decorrência das várias abordagens econômicas e
que passaram a operar no ano de 2014 a partir do ingresso da norteamericana Uber. sociológicas possíveis (Rocha-de-Oliveira & Piccinini, 2011). Fenômeno possibilitado a partir
da aceleração do desenvolvimento tecnológico, encontra poucas barreiras à entrada (Balaram,
Empresas de tecnologia que mediam a relação entre passageiros e motoristas, juntamente com Warden, & Wallace-Stephens, 2017) e notadamente está “moldando novas formas de emprego”
outras representantes da economia digital (como Airbnb), encontram-se no centro de polêmicas (Donini, Forlivesi, Rota & Tullini, 2017, p. 207) e alterando os padrões de trabalho existentes
relacionadas a disputas econômicas e judiciais em todo o mundo e despertam preocupações (Balaram et al., 2017; Coyle, 2017).
sobre as implicações destes modelos de negócio nas esferas econômica e laboral (Codagnone,
Abadie, et al., 2016). Desse modo, debates capazes de contemplar esse contexto ainda em Este estudo vale-se, assim, do conceito plural de Codagnone; Abadie; Biagi (2016, p. 17): i)
construção carecem de aprofundamento (De-Stefano, 2017) e se mostram como oportunidade, mercados digitais que abrigam o trabalho incerto e não padronizado (“non-standard work”);
necessidade e desafio (Codagnone, Abadie, et al., 2016; Coyle, 2017). ii) “onde os serviços de várias naturezas são produzidos usando preponderantemente o
fator trabalho” (em oposição à venda ou aluguel de bens); iii) “em que o trabalho (ou seja, o
Assim, entendendo que o trabalho assume características próprias em relação aos fatores sociais serviço produzido) é trocado por dinheiro”; iv) onde a mediação é administrada digitalmente,
presentes na época de sua análise (Antunes, 2002), esta pesquisa objetivou compreender os independente se o fruto do trabalho for físico ou digital; v) “onde a alocação a mão-de-obra e do
sentidos e os significados do trabalho para motoristas de aplicativos brasileiros. Destaca-se que dinheiro é determinado por um conjunto de compradores e vendedores que operam dentro de
os vocábulos sentidos e significados nesse trabalho são compreendidos como sinônimos assim um sistema de preços”.
como optam diversos outros autores (Bendassoli, 2009; Morin, 2001; Mow, 1987). Além disso,
ressalta-se o entendimento de que o trabalho assume papel de centralidade na vida das pessoas, Cabe reforçar, entretanto, que o trabalho independente ou não padronizado não é fenômeno
não podendo ser analisado a partir de olhares simplistas ou reducionistas. Adota-se, deste recente (Kovács, 2006). É preciso, porém, ampliar o entendimento da expansão do trabalho
modo, uma lente polissêmica para analisar as respostas dos entrevistados, que seja capaz de mediado digitalmente e dos efeitos dessa expansão sobre os trabalhadores e sobre o próprio
expressar tanto os aspectos que dizem de uma atividade compulsória, torturante e sacrificante, mercado de trabalho. Isso sim, na visão de Manyika et al. (2016, pp. viii), é algo que carece de
voltada apenas à subsistência e aquisição, como também aqueles capazes de refletir o sentido de maior entendimento, dado que as altas taxas de crescimento das plataformas e da rápida adesão
autonomia, satisfação, realização e desenvolvimento pessoal (Baldry et al., 2007; Kovács, 2002; ao modelo sugerem que “apenas começamos a ver os seus impactos”.
Tolfo & Piccinini, 2007).
Nos mercados laborais digitais, também a caracterização da força de trabalho (isto é, aqueles
Para tanto, além desta seção introdutória, este estudo está assim estruturado: no capítulo que oferecem os serviços que são intermediados através de plataformas digitais) requer atenção
dois, são apresentados elementos característicos dos mercados laborais digitais. Em seguida, (Donovan, Bradley, & Shimabukuro, 2016). Apesar de serem considerados como fornecedores
apresenta-se o aparato teórico-conceitual que aborda o sentido do trabalho a partir da sua na relação com os consumidores e as plataformas, os indivíduos envolvidos nesta prestação
polissemia. No capítulo quatro, explicitam-se os procedimentos metodológicos que conduziram de serviços exercem uma atividade laboral, podendo ser considerados trabalhadores. É
o estudo, enquanto no capítulo cinco os resultados são apresentados e debatidos. No capítulo frequente o uso de termos como trabalhadores autônomos, independentes, autoempregados ou
seis, apresentam-se as considerações que finalizam esta pesquisa, suas limitações e sugestões microempreendedores, entre outros, em referência às pessoas envolvidas nas atividades dos

1733 1734
mercados laborais digitais. linha, trabalhos recentes de Colomby (2016), Colomby e Oltramari (2016), Colomby, Salvagni e
Costa (2017), Colomby, Oltramari e Rodrigues (2018), Colomby e Costa (no prelo) têm buscado
Uma vez que as mudanças em curso provocadas pela evolução tecnológica parecem estar em difundir e ampliar pesquisas que corroboram para a defesa do trabalho como um fenômeno
vias de consolidação, é fundamental ampliar a compreensão sobre seus impactos no mercado central e polissêmico. Os autores reforçam esse entendimento utilizando-se de dez perspectivas
de trabalho. Aqueles que se posicionam no sentido de defender o modelo argumentam em favor teóricas complementares: fisiológica, cultural, religiosa, espiritual, ideológica, econômica,
da autonomia, da liberdade e da flexibilidade que podem ser usufruídas pelos trabalhadores, na política, legal, psicológica e social.
medida em que podem decidir quando e como fazer o seu trabalho e optar por trabalhar em prol
de ganhos extras. Além disso, o crescimento do número de plataformas pode, ainda, aumentar a Na perspectiva fisiológica, discutem-se questões relacionadas ao funcionamento do corpo e
oferta e o número de postos de trabalho (Balaram et al., 2017; Codagnone, Abadie, et al., 2016; suas influências no trabalho, como doenças, acidentes laborais ou envelhecimento. Acrescenta-
De-Stefano, 2017; Fleming, 2017; Sundararajan, 2016). se ainda a visão mais tradicional aplicada à divisão sexual do trabalho, isto é, que homens e
mulheres teriam características distintas e por isso suas funções laborais também seriam
Entretanto, os mesmos autores apontam críticas e preocupações, já que os mercados laborais diferentes na sociedade. Contudo, ao ampliar este entendimento a partir da ideia de que
digitais também podem vistos como uma nova forma de “comoditização” do trabalho, exploração a distinção entre as atividades masculinas ou femininas deve-se mais à reprodução social e
de mão-de-obra e precarização. Modelos de negócio sob demanda tendem a individualizar o concepção de gênero presente em uma sociedade do que propriamente ao sexo (Holzmann,
trabalho e empurrar para os trabalhadores responsabilidades e preocupações que antes eram 2011), é possível analisar o trabalho pela perspectiva cultural. Essa perspectiva analisa também
dos empregadores ou do Estado, tais como as condições de trabalho, salário mínimo e jornada outras questões, como aquelas relacionadas à forma como são valorizadas, ao longo do tempo,
máxima ou proteção social. as pessoas (principalmente, as que passam a não condizer com os “padrões de excelência”
requeridos pelas organizações) e as profissões (que pode sofrer alterações e (des)valorizações
Dado o exposto, é possível que os efeitos das mudanças que se apresentam no mercado de com base nas transformações socioculturais da sociedade).
trabalho possam ser “positivos para a economia e para sociedade como um todo, incluindo
consumidores, empregadores e trabalhadores” (Codagnone, Biagi, & Abadie, 2016, p. 4). A perspectiva religiosa, por sua vez, questiona a influência das religiões no modo em que a
Porém, parece haver ainda um longo caminho de pesquisas, ajustes e regulamentações a ser sociedade se organiza e percebe o fenômeno trabalho, visto que ele é citado desde a bíblia e
trilhado para minimizar riscos e potencializar oportunidades. vem sendo problematizado por diferentes religiões como salvação, castigo, virtude ou resultado
de ordens divinas. Bastante próxima a essa discussão, está a perspectiva espiritual, que aqui é
3. O Trabalho como um Fenômeno Polissêmico compreendida como um sentimento humano universal. Ao mesmo tempo, se caracteriza como
um caminho mais pessoal, privado e inclusivo, com componentes relacionados à vida interior, ao
Os sentidos e significados do trabalho têm sido tema relevante na produção acadêmica, apesar trabalho significativo e à relação com a comunidade (Karakas, 2010).
de ainda existirem lacunas a serem preenchidas no contexto brasileiro (Spinelli-de-Sá & Lemos,
2015). Mostra-se necessário, assim, adicional esforço investigativo, a partir de olhares atentos e Em todas essas abordagens, uma perspectiva ideológica pode ser perpassada na relação que
análises sob diferentes perspectivas, fazendo jus ao caráter multifacetado do tema (Rodrigues & as pessoas estabelecem e percebem o trabalho. Por ideologia, aqui se compreende os modos
Barrichello, 2015), considerando também o momento de intensas transformações na sociedade de enxergar o mundo que tendem a ser compartilhados com um grupo, entre indivíduos (Löwy,
e na economia (Cattani, 2014). 1993; Horochovski e Taylor, 2001). Resumidamente, a partir desta perspectiva, o trabalho
poderia ser percebido como libertação ou alienação. Já na perspectiva econômica, o trabalho
Frente às diversas e profundas mutações que sofre o trabalho, se torna imperativa a retomada representa fonte de renda, riquezas ou segurança financeira e possibilita aos trabalhadores
do labor como objeto prioritário de pesquisa e de reflexão (Cattani & Holzmann, 2011). Nessa projetar minimamente seu futuro, organizando suas vidas e trazendo expectativas de ascensão

1735 1736
social (Cattani & Holzmann, 2011). Na perspectiva política, reforça-se a importância de se
discutir as relações de poder presentes no fenômeno em questão, assim como problematizar o
trabalho como forma de organização social.

Na perspectiva legal, o trabalho é visto como sinônimo de emprego, muitas vezes ligado a noções
básicas de dignidade e de cidadania. E nessa perspectiva discute-se, por exemplo, questões
ligadas à formalidade/informalidade, assim como os direitos sociais relacionados a essa questão.
A perspectiva psicológica trata de questões subjetivas que dizem respeito à individualidade e
que refletem a história pessoal de cada um. Por fim, a perspectiva social entende o trabalho
como sendo compartilhado por um conjunto de pessoas (Souza & Tolfo, 2009).

Assim, o entendimento do trabalho como um fenômeno polissêmico vai ao encontro do que


defende Bendassoli (2009), ao afirmar que o sentido do trabalho pode ser plural, formado por
influências diversas sem que, necessariamente, um se sobressaia ao outro.

4. Procedimentos Metodológicos 5. Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados

Neste estudo, de natureza qualitativa (Flick, 2009) e exploratória (Gil, 2010), foram convidadas A análise das falas dos 32 entrevistados revela a preponderância da perspectiva econômica,
a participar 39 pessoas que exercem atualmente a atividade de motorista de aplicativo. Os seguida pela perspectiva psicológica e, posteriormente, pela social e cultural. A preponderância
respondentes foram acessados em evento específico para motoristas de aplicativos, cujo foco da perspectiva econômica, em que sobressaiu o aspecto mais instrumental do trabalho (Andrade,
era debater aspectos ligados à saúde física e mental destes trabalhadores. O evento ocorreu na Tolfo & Dellagnelo, 2012), corrobora com os resultados encontrados por Vaclavik e Pithan (no
cidade brasileira de Porto Alegre/RS, em maio/2018. A média de idade dos participantes é de prelo). As autoras observaram que, para muitos motoristas de aplicativos, o sentido do trabalho se
47 anos, sendo 20 homens e 12 mulheres. Estes trabalhadores foram chamados a responder à ampara no retorno financeiro promovido pela atividade. Frente à atual conjuntura de desemprego
pergunta: “O que é trabalho para você?”, a partir do formulário de inscrição do evento. Sendo e baixos salários oferecidos pelo mercado formal, a atividade representa um meio para garantir
assim, foram obtidas 32 respostas que compõem o corpus de análise da pesquisa, cujos dados a própria sobrevivência e a da família. O trabalho visto como um meio para alcançar objetivos
são resumidos na tabela 1. Os nomes são fictícios e as idades referem-se ao momento de coleta apareceu nas falas de Alexandre, André, Silvio, Alessandro e Nilva, enquanto o trabalho visto
das informações. exclusivamente como fonte de renda e retorno financeiro ou vinculado ao sustento apareceu nas
falas de João, Geraldo, Indira, Fernando, Altair, Rolânia e Viviane.
Com posse das respostas, elas foram lidas integralmente e discutidas pelos pesquisadores, a
partir do que foram categorizadas nas dez perspectivas teóricas apresentadas no capítulo três. Cabe apontar, entretanto, que alguns respondentes, apesar de mencionar diretamente a
questão financeira, fizeram menção também a aspectos positivos da atividade: o prazer e
realização pessoal apareceram nas falas de Jorge, Rosângela, Rodrigo, Maria e Isabel. Para
alguns motoristas, entretanto, destaca-se a inexistência do aspecto instrumental do trabalho,
desvinculando-o da perspectiva financeira: Álvaro, Luiz, Otacílio, Vera, Eliane e César trazem nas
suas falas exclusivamente o prazer, a felicidade e a alegria que o trabalho pode proporcionar.

1737 1738
Nestas falas, claramente aparecem a perspectiva psicológica, capaz de manter o sujeito ativo, de processo de transformação do trabalho, caracterizado neste estudo a partir de uma das atividades
proporcionar realização pessoal e crescimento, de despertar potencialidades. Adriano, por sua características dos mercados laborais digitais, qual seja, a dos motoristas de aplicativos.
vez, destaca o desgaste mental a que estão sujeitos os trabalhadores.
Como limitações, cita-se que os respondentes foram selecionados a partir da sua participação
Na perspectiva social, o trabalho aparece vinculado à noção do outro, seja prestando um serviço em um workshop cujo tema abordava questões ligadas à saúde. É possível, a notar pela idade dos
de qualidade, seja ajudando alguém ou desenvolvendo novas amizades, como sugerem as falas entrevistados, que este assunto não tenha atraído o público mais jovem - que ainda tem a saúde,
de Assis, Josiane, Otacílio e César. A perspectiva cultural pode ser encontrada, por exemplo, na em geral, menos comprometida. Também, como não houve interação direta dos entrevistadores
fala de Jorge, 65 anos, que considera que a atividade que desenvolve atualmente faz com ele se com os respondentes, é razoável crer que não tenha sido possível captar, completa e em
mantenha ativo, em uma sociedade que tende a desvalorizar e excluir do mercado de trabalho profundidade, todos os elementos da percepção dos entrevistados sobre tema.
pessoas a partir de determinada idade (Antunes & Alves, 2004). De uma forma muito próxima,
está a fala de Rosângela, que tem “orgulho se ser mulher”, atuando em uma atividade que é Destas constatações, sugere-se a continuidade deste estudo, seja buscando maior interação
majoritariamente e culturalmente vinculada ao sexo masculino. com os respondentes da pesquisa, seja buscando ampliar a amostra de respondentes. Análises
capazes de contemplar as realidades sociais, econômicas e culturais podem trazer novas nuances
Também foram encontrados, porém em menor expressividade, elementos característicos das interpretativas para o fenômeno. Estudos capazes de interseccionar aspectos como raça, classe,
perspectivas fisiológica, religiosa, espiritual, política e legal. Ademais, ainda que a perspectiva gênero, idade, para citar apenas alguns, vão ao encontro da perspectiva polissêmica proposta
ideológica não tenha sido expressada diretamente pelos entrevistados, ela está presente de neste estudo.
maneira singular e é perpassada em todas as demais perspectivas levantadas. Além disso,
cabe ressaltar que, em muitos casos, foram encontradas mais de uma perspectiva em cada Referências
fala, reforçando a necessidade de compreender o fenômeno trabalho a partir de uma lente
polissêmica, não reducionista. Andrade, S. P. C. de, Tolfo, S. da R., & Dellagnelo, E. H. L. (2012). Sentidos do Trabalho e
Racionalidades Instrumental e Substantiva: interfaces entre a Administração e a Psicologia.
6. Considerações Finais RAC, 16(2), 200–216.

Neste estudo, que teve como objetivo compreender os sentidos e significados do trabalho Antunes, R. (2002). Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e negação do trabalho.
para motoristas de aplicativos brasileiros, merecem destaque os resultados encontrados que São Paulo: Boitempo.
sugerem uma tendência desse público em buscar essa atividade como uma forma de gerar
renda, sustentar a si e sua família. Entretanto, ressalta-se que também apareceu nas falas a Antunes, R. & Alves, G. (2004). As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do
necessidade de se relacionar com o mundo e com as outras pessoas, buscando dar sentido à sua capital. Educação & Sociedade, v. 25, n. 87.
existência: é o trabalho aparecendo como um “combustível para sua vida”, como destacou um
dos entrevistados. Balaram, B., Warden, J., & Wallace-Stephens, F. (2017). Good Gigs: a fairer future for the UK´s
gig economy. Londres: RSA e Mangopay.
Entende-se que este estudo contribui para ampliar as discussões acerca dos sentidos e
significados do trabalho e para corroborar com a polissemia do trabalho e com as múltiplas Baldry, C., Brain, P., Taylor, P., Hyman, J., Scholarios, D., Marks, A., … Bunzel, D. (2007). The
perspectivas vinculadas a ele. Ainda, destaca-se a importância de estudos empíricos que meaning of work in the new economy. Houndmills, Basingstoke, Hampshire, New York: Palgrave
possibilitem visualizar como está ocorrendo, a partir da perspectiva dos trabalhadores, mais um Macmillan.

1739 1740
and study possibilities. RAM. Revista de Administração Mackenzie.
Bendassoli, P. F. (2009). Psicologia e trabalho: apropriações e significados. São Paulo: Cengage
Learning. Coyle, D. (2017). Precarious and Productive Work in the Digital Economy. National Institute
Economic Review, 240, 5–14.
Brasil (2018). Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística. PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Trimestral. Disponível De-Stefano, V. (2017). The rise of the “just-in-time workforce”: On-demand work, crowdwork
em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/sociais/trabalho/9173-pesquisa- and labour protection in the “gig-economy.” Genebra: ILO.
nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral.html?edicao=21240&t=series-
historicas>. Acesso em julho 2018. Dejours, C. (2004). Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. (S. Lancman & L. I. Sznelwar,
Eds.). Rio de Janeiro: Fiocruz.
Cattani, A. D. (2014). Trabalho: horizonte 2021 (1a). Porto Alegre: Escritos.
Donini, A., Forlivesi, M., Rota, A., & Tullini, P. (2017). Towards collective protections for
Cattani, A. D., & Holzmann, L. (2011). Dicionário de Trabalho e Tecnologia. Porto Alegre: Zouk. crowdworkers: Italy , Spain and France in the EU context. Transfer, 23(2), 207–223. http://doi.
org/10.1177/1024258916688863
Codagnone, C., Abadie, F., & Biagi, F. (2016). The Future of Work in the “Sharing Economy”:
Market Efficiency and Equitable Opportunities or Unfair Precarisation? JRC Science for Policy Donovan, S. A., Bradley, D. H., & Shimabukuro, J. O. (2016). What Does the Gig Economy Mean
Report, 1–100. http://doi.org/10.2791/431485 for Workers ? Congressional Research Service, 1–20. Retrieved from https://fas.org/sgp/crs/
misc/R44365.pdf
Codagnone, C., Biagi, F., & Abadie, F. (2016). The Passions and the Interests: Unpacking the
“Sharing Economy.” JRC Science for Policy Report, 1–160. http://doi.org/10.2791/ 47455 Fischer, R. M. (1987). Pondo os Pingos nos Is sobre as relações do trabalho e políticas de
Colomby, R. K. (2016). Antes e depois do diagnóstico: o trabalho na história de pessoas que administração de recursos humanos. In M. T. L. Fleury & R. M. Fischer (Eds.), Processo e relações
vivem com HIV. UFRGS. do trabalho no Brasil (2a, pp. 19–50). São Paulo: Atlas.

Colomby, R. K., Oltramari, A. P. & Rodrigues, M. B. (2018). Integrating perspectives: proposal for Fleming, P. (2017). The Human Capital Hoax: Work, Debt and Insecurity in the Era of Uberization.
the analysis of work as a multifaceted phenomenon. Revista de Gestão, 25(1), 65-83. Organization Studies, 38(5), 691– 709. http://doi.org/10.1177/017084061668612

Colomby, R. K., Salvagni, J. & COSTA, S. G. (2017). Um Fenômeno Polissêmico: o Trabalho Flick, U. (2009). Introdução à Pesquisa Qualitativa (3a). Porto Alegre: Artmed.
Multifacetado em Dez Perspectivas Teóricas. In: EnANPAD 2017, São Paulo. Gestão de Pessoas
e Relações de Trabalho. Gil, A. C. (2010). Como elaborar projetos de pesquisa (5a). São Paulo: Atlas.

Colomby, R. K. & Oltramari, A. (2016). Integrando Perspectivas: O Trabalho Como Um Fenômeno Holzmann, L. (2011). Divisão social do trabalho. Trabalho e tecnologia: dicionário crítico.
Multifacetado. In: XL EnANPAD 2016, Costa do Sauipe. Gestão de Pessoas e Relações de Petrópolis: Vozes, Editora da Universidade, 64-67.
Trabalho.
Horochovski, R. R. & Taylor, C. R. (2001). A estruturação do sujeito nas instituições e
Colomby, R. K. & COSTA, S. G. (no prelo). Perspectives on labor polysemy: theoretical foundations organizações: aspectos inconscientes no cotidiano organizacional. Revista Spei, 2(2), 37-47.

1741 1742
um estudo com feirantes do largo da ordem de Curitiba, PR. Anais. XV Encontro da ABRAPSO.
Karakas, F. (2010). Spirituality and Performance in Organizations: A Literature Review. Journal
of Business Ethics, 94, 89–106. Spinelli-de-Sá, J. G., & Lemos, A. H. da C. (2015). Sentido do Trabalho: uma Análise da Produção
Científica Brasileira. In XXXIX Encontro da Anpad. Belo Horizonte: ANPAD.
Kovács, I. (2002). As metamorfoses do emprego: Ilusões e problemas da sociedade da
informação. Oeiras, Portugal: Celta. Sundararajan, A. (2016). The Sharing Economy. Cambridge: The MIT Press

Kovács, I. (2006). Emprego flexível em Portugal – alguns resultados de um projeto de Tolfo, S. da R., & Piccinini, V. (2007). Sentidos e significados do trabalho: explorando conceitos,
investigação. In V. Piccinini, L. Holzmann, I. Kovács, & V. N. Guimarães (Eds.), O Mosaico do variáveis e estudos empíricos brasileiros. Psicologia & Sociedade, 19 (Edição Especial 1), 39–
Trabalho na Sociedade Contemporânea: persistências e inovações (pp. 23–46). Porto Alegre: 46. http://doi.org/10.1590/S0102-71822007000400007
Editora da UFRGS.
Vaclavik, M. C. & Pithan, L. H. (no prelo). The Agency Search: the meaning of work for app
Löwy, M. (1993). Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: drivers. RAM. Revista de Administração Mackenzie.
Cortez.

Manyika, J., Lund, S., Bughin, J., Robinson, K., Mischke, J., & Mahajan, D. (2016). Independent
Work : Choice , Necessity , and the Gig Economy. McKinsey Global Institute. McKinsey Global
Institute.

Morin, E. M. (2001, julho/setembro) s sentidos do trabalho. São Paulo: Revista de administração


de empresas - RAE, 41(3).

MOW. (1987). International Research Team. Londres: Academic Press.

Rifkin, J. (1995). O Fim dos Empregos. São Paulo: Makron Books.

Rifkin, J. (2015). Sociedade com Custo Marginal Zero (1a). São Paulo: M. Books

Rocha-de-Oliveira, S. & Piccinini, V. C. (2011). Mercado de trabalho: múltiplos (des)


entendimentos. Revista de Administração Pública, 45(5), 1517–1538.

Rodrigues, A. L. & Barrichello, A. (2015). Em busca da substantivação do conceito de sentidos do


trabalho: um estudo com profissionais de enfermagem. XXXIX ENANPAD.

Souza, R. M. B. & Tolfo, S. R. (2009). Significados atribuídos ao trabalho em condições precárias:

1743 1744
Capítulo 172 imediatamente dados ao excluir conexões efetivamente existentes e ocasionar como resultado a
falsificação objetiva dos fatos. O autor reconhece, também, que, no capítulo sobre o fetichismo
da mercadoria, Marx (2013) expõe esse processo de fetichização das relações e das conexões
O fetiche das empresas-aplicativo sociais e demonstra que ele não se limita às categorias econômicas em sentido estrito, mas
constitui a base de uma deformação ontológica que atinge os objetos espirituais mais refinados
Fabiano Milano Fritzen1 y Maria Ceci Misoczky2
e importantes da vida humana.

A submissão da consciência do trabalhador, para Lukács (2003), configura a objetivação da


A fetichização é um fenômeno inerente ao processo de desenvolvimento capitalista e influencia
alma do trabalhador, pois mesmo suas qualidades psicológicas são separadas do conjunto da sua
constantes transformações no mundo do trabalho. Para Marx (2013), o fetichismo encobre as
personalidade e estranhadas. É como se a personalidade do indivíduo assistisse impotente ao que
relações entre os seres humanos produtores de mercadoria. Assim, uma relação social assume
ocorre com sua própria existência. Por esta razão, a troca mercantil, como forma dominante do
a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas (sachlich). Nesse sentido, a uberização
metabolismo social, não pode ser tratada apenas no viés quantitativo porque é uma diferença
do trabalho, que se materializa a partir do surgimento das empresas-aplicativo, ou empresas-
qualitativa, ou seja, a dominação da mercadoria opera uma mudança qualitativa que penetra as
plataforma, configura-se como mais uma manifestação deste processo, agora com a mediação
manifestações vitais da sociedade e as remodela conforme sua própria imagem.
da tecnologia de informação. Para Abílio (2017), empresas-aplicativo como a Uber3 firmam-se
no mercado como mediadoras entre consumidores e trabalhadores, provendo a infraestrutura
Neste sentido, Duayer (2015) entende que a crítica ontológica é condição necessária, ainda
necessária – ainda que virtual – para que esse encontro aconteça. Nesse contexto, se
que não suficiente, para a emancipação das estruturas sociais estranhadas e, portanto, da
argumenta que promessas de maior autonomia, liberdade, flexibilidade e vantagens financeiras
consciência fetichizada. Essa crítica deve ser, segundo o autor, a crítica ao modo de produzir
dissimulam formas de controle, gerenciamento, vigilância e expropriação de seu trabalho.
sob o regime do capital, ou seja, a crítica ao trabalho assalariado capitalista e não a crítica do
São ampliadas, desta maneira, as dimensões do fetiche e da alienação do trabalho. Busca-se,
capitalismo sob o prisma do trabalho. Com isso, enfatiza que o trabalho é a categoria mediadora
nessa reflexão, identificar a organização dos trabalhadores e se, neste contexto, se reproduzem
por excelência do ser social, isto é, a categoria fundante para sua autoconstituição. Por esta
formas tradicionais de organização, como sindicatos, ou se novas formas de associação são
razão, critica as interpretações que estipulam o trabalho como categoria central no sentido de
desenvolvidas.
atribuir-lhe posição de centralidade, quer dizer, posição hierarquicamente superior a partir da
qual todos os acontecimentos da vida do indivíduo são determinados. Para o autor, ao contrário,
Para abarcar o fenômeno da fetichização no contexto das empresas-aplicativo faz-se necessário
a crítica ontológica marxiana é, precisamente, a crítica da centralidade do trabalho. Nada tem a
compreender o mascaramento das relações sociais capitalistas como uma relação entre
ver, portanto, com idolatria do trabalho, com ternura por ele e, tampouco, com a heroicização do
coisas que produz, contudo, uma dominação que, além de objetiva, é também subjetiva, pois
trabalhador. Trata-se de reconhecer o caráter escravizador do trabalho sob o capitalismo e, ao
diz respeito ao enclausuramento da consciência do trabalhador. Lukács (2012) sustenta que,
mesmo tempo, sua posição unilateralizante e determinante para a socialização humana.
no âmbito das ciências sociais, a fetichização se caracteriza pelo apego pragmático aos fatos
1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Email: fmfritzen@gmail.com As manifestações contemporâneas desse processo compreendem, entre outras, noções
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Email: maria.ceci@ufrgs.br interdependentes como economia de compartilhamento4 , gig economy5 e uberização do trabalho
3. A Uber Technologies Inc. é uma empresa-aplicativo que atua no setor de transporte privado de passageiros. Foi fundada oficialmente em junho de
2010, na cidade de São Francisco, e hoje está em mais de 600 cidades em mais de 77 países. Segundo a empresa, seu objetivo é aproximar pessoas e 4. A economia de compartilhamento, ou também economia colaborativa, surge em meados dos anos 2000 e assume que todos somos consumidores
revolucionar o modo de se movimentar nas cidades. Conforme dados disponibilizados em seu site, a Uber chegou ao Brasil no ano de 2014, no Rio de e fornecedores simultaneamente, visto que o acesso a determinado bem ou serviço é mais importante que a posse. Possui um apelo supostamente
Janeiro, por ocasião da Copa do Mundo daquele ano. Atualmente, já está presente em mais de 100 cidades, com aproximadamente 500 mil motoristas comunitário e sustentável ao sugerir a divisão e compartilhamento de recursos humanos ou físicos (Hall, 2016).
cadastrados e 17 milhões de usuários. No Rio Grande do Sul, a empresa chegou ao final de 2015 na cidade de Porto Alegre. Atualmente, 133 municípios 5. O termo gig deriva de um jargão do jazz utilizado para caracterizar a contratação do músico ou banda para apresentação única. A gig economy,
já estão cobertos pelo serviço da UBER, o que compreende 69% da população do Estado e a maior área contínua de atuação do país (UBER, 2018). também conhecida como freelance economy, está baseada em contratos temporários em que os trabalhadores, sem vínculo empregatício, realizam

1745 1746
resultante do surgimento das empresas-aplicativo. Assim, a economia do compartilhamento e na dos trabalhadores. Em 2015, Seattle foi a primeira cidade nos Estados Unidos a legalizar a
gig economy propõe uma relação na qual todos supostamente ganham. O trabalhador autônomo sindicalização dos motoristas de empresas-aplicativo. A partir disso, surgiu a APP-Based Drivers
que obtém uma fonte de renda fácil e rápida, o usuário que paga menos e a empresa que aufere Association – ABDA, que está vinculada ao Teamsters Local 1176. A ABDA atua com motoristas
lucros. Propagada como uma alternativa aos canais públicos e privados tradicionais (táxis e de diferentes empresas-aplicativo na busca pelo reconhecimento e proteção de direitos a partir
rede hoteleira, por exemplo), a economia de compartilhamento se apresenta como caminho para da unificação desses motoristas em um coletivo (ABDA, 2018). A ABDA enfrentou, desde o
reviver valores comunitários por meio das relações de consumo. Para Hall (2016), contudo, não princípio, forte resistência das empresas-aplicativo. Atualmente, a Uber move ação junto à
se trata do compartilhamento de acesso a bens e serviços, mas da cobrança por esse acesso por Câmara de Comércio dos Estados Unidos com o intuito de anular a lei de Seattle, por considerar
organizações que controlam determinadas tecnologias da informação a fim de criar cadeias de uma violação antitruste (Asher-Schapiro, 2018).
fornecimento transnacionais globais, que se utilizam de sistemas de baixo custo (aplicativos)
para explorar trabalhadores. Nos Estados Unidos, o IBT7 têm sido o sindicato mais ativo na organização de motoristas das
empresas-aplicativo, mas outros sindicatos também estão se mobilizando para fazer parte
Para Harvey (2016), a economia de compartilhamento e a gig economy representam a apropriação dessa ação, como o Sindicato Internacional de Empregadores de Serviço (Service Employees
daquilo que é de livre acesso à sociedade pelo modo privado de acumulação capitalista. Segundo International Union – SEIU) e a Aliança dos Trabalhadores de Táxi de Nova Iorque (SAID, 2016).
o autor, essas formas de organizar o trabalho seduzem muitos trabalhadores por esconderem Outra organização surgida nesse contexto é a Independent Drivers Guild, afiliada ao Sindicato
de forma hábil os interesses monopolistas do capital. Por essa razão, a organização da luta dos Maquinistas, que representa cerca de 50.000 trabalhadores da Uber em Nova Iorque e
dos trabalhadores encontra a resistência dos próprios trabalhadores que, momentaneamente, busca intermediar acordos entre Uber e trabalhadores (Wartzman, 2017).
retiram dessas formas de trabalho sua principal fonte de renda, sem se aperceberem da
exploração crescente a que são submetidos. No Reino Unido, os trabalhadores de empresas-aplicativo também tem sido apoiados por
sindicatos. O Sindicato dos Caldeireiros (General Municipal Boilermakers – GMB8) tem
A uberização do trabalho, que se materializa a partir do surgimento das empresas-aplicativo mobilizado trabalhadores e atuado judicialmente para que direitos sejam reconhecidos pela
com suas promessas de trabalho autônomo e flexível, contribui para a criação de um ambiente justiça britânica. Recentemente, a Uber saiu derrotada em uma ação que reivindica para seus
favorável à fetichização. Nessa linha, Abílio (2017) afirma que a uberização do trabalho motoristas o status de empregados com direitos mínimos. A decisão, que possui forte potencial
para mobilizar o debate dos direitos trabalhistas na gig economy, deve chegar à Suprema Corte
refere-se a um novo estágio da exploração do trabalho, que traz mudanças qualitativas ao britânica ao longo de 2018 com a esperada apelação da Uber (Davies, 2017). A partir de casos
estatuto do trabalhador, à configuração das empresas, assim como às formas de controle, como esse, outros sinsicatos se mobilizaram, como o Unite9, a fim de investigar as práticas
gerenciamento e expropriação do trabalho. [...] A uberização consolida a passagem 6. O Teamsters Local 117 é a instância estadual da Irmandade Internacional dos Caminhoneiros (International Brotherhood of Teamsters – IBT). Foi
do estatuto de trabalhador para o de um nanoempresário-de-si permanentemente fundado em 1936 e é o terceiro maior sindicato estadual vinculado ao IBT (TEAMSTEAR LOCAL 117, 2018).
disponível ao trabalho; retira-lhe garantias mínimas ao mesmo tempo que mantém sua 7. O IBT foi fundado em 1903 da união de dois sindicatos: a União Internacional de Motoristas e o Sindicato Nacional de Caminhoneiros. Conhecido como
o sindicato dos motoristas de carga e dos trabalhadores dos armazéns, atualmente organizam os trabalhadores em praticamente todas as ocupações
subordinação; ainda, se apropria, de modo administrado e produtivo, de uma perda de imagináveis, tanto profissionais como não-profissionais, do setor privado e público (TEAMSTER, 2018).
formas publicamente estabelecidas e reguladas do trabalho. 8. O GMB, formado em 1889, tem suas origens com o Sindicato Geral e com os Trabalhadores do Gás. De lá para cá ganhou a adesão de inúmeros
sindicatos sendo que, atualmente, é composto de mais de 100 pequenos sindicatos (GMB, 2018).
9. O Unite The Union, comumente conhecido como Unite, é um sindicato britânico e irlandês, formado em 1 de maio de 2007, pela fusão da Amicus
Assim, as empresas-aplicativo seduzirem trabalhadores a aderir ao trabalho via aplicativo, e do Sindicato Geral dos Trabalhadores e Transportes. Esses dois sindicatos são provenientes de uma história de fusões entre pequenos e grandes
convencendo-os de que se trata de um caminho para melhores condições de vida. Diante desse sindicatos que remonta à década de 1850. Atualmente, o Unite é o maior sindicato do Reino Unido e da Irlanda com mais de 1,4 milhões de membros e
cenário, algumas formas de organização já se fazem notar no que se refere a luta por direitos subdividido em 20 setores, a saber: (1) Aeroespacial e Construção Naval; (2) Automotivo; (3) Produtos Químicos, Farmacêuticos, Processos e Têxteis;
(4) Aviação Civil e Transporte; (5) Jovens Trabalhadores Comunitários e Organizações Sem Fins Lucrativos; (6) Docas, Trens, Balsas e Canais; (7)
atividades pontuais sem a cobertura de qualquer tipo de benefício ou direito trabalhista (Kessler, 2014; Harrison, 2016; Wilson, 2017). Educação, (8) Energia e Serviços de Utilidade Pública; (9) Engenharia e Fabricação; (10) Finanças e Jurídico; (11) Comida, Bebida e Agricultura; (12)

1747 1748
de empregadores que desonestamente se esquivam de suas responsabilidades, classificando que os entregadores da Deliveroo são falsos autônomos (Martínez, 2017). A partir dessa decisão,
os trabalhadores como autônomos. Já o Sindicato dos Trabalhadores Independentes da Grã- a Confederação Sindical de Comissões de Trabalhadores – CCOO16, de Madri, apresentou
Bretanha (IGWB)10, que tem apoiado os entregadores da Deliveroo11, espera que seu caso possa denúncia à Inspeção do Trabalho que notificou novamente a empresa, questionando a relação de
ser resolvido de forma mais rápida e colaborativa. O Sindicato busca um acordo de negociação trabalho existente entre a Deliveroo e seus riders17 (Gómez, 2018).
coletiva para permitir que o IGWB negocie salários e condições em nome dos entregadores
(Coleman, 2016). Entre os esforços empreendidos pelos sindicatos e, principalmente, pela A UGT18 também apresentou denúncia à Inspeção do Trabalho contra as empresas Deliveroo,
Federação de Sindicatos (Trades Union Congress – TUC12) consta, ainda, a criação de campanhas Glovo19, Uber Eats20 e Stuart21. A confederação denuncia que os entregadores mantêm uma
e petições encaminhadas para os órgãos públicos responsáveis, a exemplo da solicitação de não “relação laboral encoberta” com essas empresas, ou seja, são assalariados que têm seus
renovação da licença da Uber em Londres, encaminhada pela Going to Work13 para o Transport serviços contratados como autônomos (Salvatierra, 2018). É também de iniciativa de afiliados
for London – TfL14 (100,000 STRONG..., 2017). Essa pressão contrinuiu para a perda da licença da UGT a criação da plataforma ‘Tu Respuesta Sindical Ya’22, criada para que os trabalhadores
da Uber na cidade, tranformando-se em um processo judicial que, recentemente, autorizou o de empresas-aplicativo possam sanar suas dúvidas e denunciar práticas abusivas (tu respuesta
funcionamento temporário da Uber na cidade (Guimón, 2017; UBER Recorre..., 2017; Satariano, sindical ya, 2018). Também na Espanha, a União de Associações de Trabalhadores Autônomos
2018; Fernández, 2018). e Empreendedores – UATAE23, uma organização sem fins lucrativos, se propõe a defender os
direitos do coletivo dos autônomos e promover sua cooperação recíproca. A UATAE tem atuado
Na Espanha, uma ação sindical já tem contabilizado vitórias para os trabalhadores das empresas- no apoio às manifestações e greves entregadores da Deliveroo (Martín-Nieto, 2017).
aplicativo. A partir de uma denúncia apresentada em julho de 2017 pela Intersindical Valenciana15
, a Inspeção do Trabalho de Valência, órgão vinculado ao Ministério do Emprego espanhol, decidiu Na Indonésia, o Kommunitas Uber Mainstream, abreviado como KUMAN foi formado por três
Gráfica, Papel, Mídia e Tecnologia da Informação; (13) Saúde; (14) Autoridades Locais; (15) Metalurgia; (16) Governo, Defesa, Prisões e Empreiteiros; motoristas de motocicletas Uber na primavera de 2017. Eles criaram uma lista de 14 demandas,
(17) Transporte de Passageiros; (18) Transporte Rodoviário, Logística Comercial e Distribuição no Varejo; (19) Serviços Industriais; (20) Construção,
lideraram quatro greves de um dia e já mobilizaram 6.000 motoristas. O KUMAN trabalha
Alianças Comerciais e Técnicos. É no setor de Transporte de Passageiros que as demandas relacionadas com as empresas-aplicativo têm sido debatidas
e encaminhadas (UNITE, 2018). em conjunto com a Persaudaraan Pekerja Anarko-Sindikalis (PPAS), uma iniciativa anarco-
10. O IWGB se autodenomina como um sindicato pequeno e independente, cujos membros são predominantemente trabalhadores migrantes mal pagos 16. A CCOO se caracterizou como um movimento sociopolítico surgido após a segunda guerra mundial para organizar a luta dos trabalhadores fabris.
em Londres. Surgiu em 2012 a partir De uma dissidência do Unite (IWGB, 2018). Esse movimento transiciona para o formato sindical na década de 70. Atualmente, a CCOO é o primeiro sindicato na Espanha em número de afiliados e
11. A Deliveroo é uma empresa-aplicativo que atua no setor de entrega de alimentos. Foi fundada em 2013, em Londres, e trabalha com mais de delegados eleitos em eleições sindicais. Está estruturado em federações, de acordo com a atividade ou setor ao qual a empresa pertence, e associações,
30.000 entregadores, atualmente. Se apresenta como interessada em aproximar os melhores restaurantes de seus clientes. Com aproximadamente de acordo com o território onde o centro de trabalho está localizado (CCOO, 2018).
800 funcionários, está presente em 200 cidades em 13 países, incluindo Austrália, Bélgica, França, Alemanha, Hong Kong, Itália, Irlanda, Países Baixos, 17. Rider é o nome atribuído aos entregadores da Deliveroo e de outras empresas-aplicativo, em sua maioria ciclistas. No entanto, dependendo a
Singapura, Espanha, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido (DELIVEROO, 2018). empresa, também são aceitos entregadores com motocicletas e carros.
12. O TUC é uma federação de sindicatos que atua no Reino Unido e País de Gales. Atua subsidiando os sindicatos membros com informações sobre 18. A UGT é uma confederação sindical fundada em 1888 com representação de todos os setores de atividade e presença em todo o território espanhol.
economia, igualdade, política de trabalho e política social e sobre as tendências no local de trabalho e na economia. Além disso, envolve-se com Possui, aproximadamente, 932.000 afiliados (UGT, 2018).
o governo e com os partidos políticos à medida que eles desenvolvem políticas, respondendo a consultas e participando de reuniões em nome do 19. A Glovo é uma empresa-aplicativo que atua no setor de entrega de mercadorias, sejam elas alimentos, medicamentos, compras em geral, ou
movimento sindical. O TUC realiza, ainda, campanhas sobre questões-chave que afetam todos os sindicatos (TUC, 2018). qualquer outra necessidade de entrega do consumidor, como documentos e mensagens. Foi fundada em 2015 e está presente na Espanha, Itália, Brasil,
13. O Going to Work é um projeto da Federação de Sindicatos (TUC) que trabalha regularmente com os sindicatos que fazem parte da Federação no Argentina, Peru, Portugal, Panamá, França, Costa Rica e Chile em aproximadamente 55 cidades. No Brasil, a Glovo está presente no Rio de Janeiro, São
intuito de auxiliá-los com questões específicas de campanha (GOING TO WORK, 2018). Paulo, Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Niterói, Recife, Salvador e Porto Alegre (GLOVO, 2018).
14. O TfL é a autoridade de transporte integrada responsável pela entrega da estratégia e dos compromissos da prefeitura de Londres no que diz 20. A Uber Eats é um segmento da empresa-aplicativo Uber que atua no setor de entrega de alimentos. Foi fundada em agosto de 2014 e está presente
respeito ao transporte. Criado em 2000, é o órgão que administra a operação do dia-a-dia da rede de transporte público da Capital e gerencia as nos cinco continentes, mas de forma mais pronunciada na Europa e América do Norte. No Brasil, encontra-se presente nas cidades de Belo Horizonte,
principais estradas de Londres (TFL, 2018). Rio de Janeiro e São Paulo (UBEREATS, 2018).
15. A Intersindical Valenciana é uma confederação nascida em 2002 da confluência de várias organizações sindicais com experiência no mundo 21. A Stuart é uma empresa-aplicativo que atua no setor de entrega de alimentos. Foi fundada em janeiro de 2015 e tem sede em Paris. Com
da educação, administração pública, saúde e trabalho, a saber: Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público e Governamental (STAS), Saúde aproximadamente 130 funcionários, está presente em 15 cidades do Reino Unido, França e Espanha (STUART, 2018).
Intersindical, Sindicato dos Trabalhadores da Educação do País Valenciano (STEPV), Sindicato dos Metalúrgicos (STM), Sindicato dos Trabalhadores e 22. http://www.turespuestasindical.es/index.php
Empregados da Indústria, Comércio e Serviços (STICS), União Ferroviária do País Valenciano (SF-i), Grupo Autônomo de Trabalhadores Autônomos do 23. A UATAE é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2003, composta por aproximadamente 350.000 autônomos e 300 distintas
País Valenciano (CAT-PV), e Sindicato dos Trabalhadores pela Unidade de Classe (TUC) (INTERSINDICAL VALENCIANA, 2018). organizações. Possui 18 escritórios em território espanhol (UATAE, 2018).

1749 1750
sindicalista de dois anos, na Indonésia, e uma afiliada da International Workers Association para os motoristas. Na primeira categoria o Sindicato elenca uma série de subsídios que poderiam
(IWA)24. ser regulamentados pelo poder público em favor dos motoristas. Na segunda, as reivindicações
são dirigidas às empresas: uniformes, formação, convênio médico e odontológico, e estrutura
Na Austrália, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte – TWU25 tem realizado pesquisas dedicada aos motoristas nas proximidades de aeroportos e terminais rodoviários. A terceira
com trabalhadores via aplicativo para identificar suas condições de trabalho e renda (BUTLER, categoria apresenta os benefícios ofertados pelo sindicato e a quarta menciona a segurança
2018). Por meio de sua fanpage em uma rede social, o TWU também mobiliza os trabalhadores dos motoristas em face à violência urbana (STATTESP, 2018). Também em seu site, a entidade
para se engajarem no debate por meio da participação em campanhas, eventos, pesquisas e comenta a aprovação da Lei no 13.640, de 26 de março de 201832, como “uma vitória para as
assinatura de petições (TWU FOOD..., 2018). empresas que administram os aplicativos e uma derrota para os taxistas” (STATTESP, 2018).
No mês de janeiro de 2018, o sindicato, que afirma possuir uma base de 150 mil trabalhadores,
Em localidades como Bolonha, na Itália, a organização dos ocorrepela mobilização coletiva em filiou-se à Força Sindical33 (trabalhadores com..., 2018).
comunidades nas redes sociais, como o Riders Union Bologna26 que, em fevereiro de 2018,
organizou uma paralização dos entregadores da Deliveroo, Glovo e Sgnam27 em protesto contra Outra entidade representativa dos motoristas de empresas-aplicativo é a Associação Brasileira
as condições de trabalho e o baixo valor pago aos entregadores (Fraioli, 2018). Outras iniciativas de Motoristas Autônomos por Aplicativo – ABMAP, fundada em agosto de 2017 na cidade
semelhantes são a Deliverance Milano28, de Milão, e o Colletif des Livreurs Autonome de Paris do Rio de Janeiro. A ABMAP é uma entidade sem fins lucrativos que apresenta como pautas
– CLAP29. o aumento da tarifa cobrada aos passageiros, a padronização da cobrança de 20% sobre as
corridas pelas empresas-aplicativo, equiparação de direitos previdenciários, e isenção de IPI
No Brasil, a atividade das empresas-aplicativo é, por hora, predominantemente mais significativa e ICMS como na categoria dos taxistas. A Associação também informa oferecer assistência
no setor de transporte privado de passageiros com as empresas Uber, Cabify e 9930 (atualmente social, orientação jurídica, capacitação educacional, políticas sociais e benefícios diversos aos
pertencente ao grupo Didi Chuxing31). O primeiro sindicato brasileiro a reunir trabalhadores das associados (ABMAP, 2018). Como essa, foram identificadas, pelo menos, outras 11 associações
empresas-aplicativo é o Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativo de Transporte Terrestre de atuando com propósitos similares em diferentes cidades brasileiras.
São Paulo – STATTESP (Ribeiro E Leite, 2018). Em seu site, as reivindicações são apresentadas
em quatro categorias: (a) projeto de lei federal, estadual e municipal; (b) reivindicações do O traço comum entre as associações citadas é que foram criadas no momento inicial das
sindicato; (c) benefícios do sindicato para com os motoristas de app; e (d) proposta de segurança operações da Uber nos seus respectivos municípios e, portanto, no momento de muitos
conflitos com a categoria dos taxistas. Na cidade de Porto Alegre, por exemplo, a AMPRITEC
24. A Associação Internacional dos Trabalhadores é uma federação internacional de sindicatos e iniciativas anarco-sindicalistas (IWA, 2018). surge em maio de 2016, menos de seis meses após a Uber chegar à cidade. Nesse sentido, são
25. O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes da Austrália (TWU) é um sindicato com mais de 90.000 membros em toda a Austrália. Possui 6
filiais principais: escritório nacional, Nova Gales do Sul e ACT, Victoria/Tasmânia, Queensland, Austrália do Sul/Território do Norte e Austrália Ocidental associações que adotam a bandeira da regulamentação do serviço, mas que, principalmente,
(TWU, 2018). fazem dessa luta uma luta contra os taxistas. De modo geral, incorporam a noção de que o
26. Fanpage: https://goo.gl/Zoht8j motorista é parceiro da empresa, portanto, um autônomo que têm a flexibilidade de trabalhar
27. Sgnam é uma empresa-aplicativo que atua no setor de entrega de alimentos. Foi fundada em 2012 na cidade de Bolonha. Não atua em nenhuma
outra cidade da Itália. (SGNAM, 2018).
quando quiser. Reivindicações direcionadas à Uber, Cabify e 99 restringem-se ao tarifário e aos
28. Fanpage: https://goo.gl/Lz9qvV problemas operacionais com a plataforma, casos em que a Associação manifesta seu interesse
29. Fanpage: https://goo.gl/6BKmsk na melhoria da relação entre motoristas e empresas (AMPRITEC, 2018).
30. A 99 é uma empresa-aplicativo que atua no setor de transporte privado de passageiros. Foi fundada em 2012, no Brasil, com sede em São Paulo.
Seis anos após sua fundação foi adquirida pelo grupo chinês Didi Chuxing (99, 2018).
31. A Didi Chuxing é uma empresa-aplicativo chinesa que atua no setor de transporte privado de passageiros. Foi fundada em 2012 e está sediada 32. Inteiro teor: https://goo.gl/4Medt6.
em Pequim. Em 2017 adquiriu a empresa-aplicativo brasileira 99, que também atua com transporte privado de passageiros (DIDI CHUXING, 2018). 33. A Força Sindical é um sindicato fundado em 1991 na cidade de São Paulo e está organizada verticalmente em uma Central Nacional e Instâncias
Inteiro teor: https://goo.gl/4Medt6. Estaduais. Horizontalmente, organiza-se por setores e ramos profissionais organizados em Confederações, Federações e Sindicatos e por Secretariados
Profissionais Nacionais. Os dados mais atualizados existentes no site da Força apontam 1635 entidades sindicais filiadas (FORÇA SINDICAL, 2018).

1751 1752
Diante disso, cabe destacar, primeiramente, que a flexibilização, informalidade e precarização
dos trabalhadores das empresas-aplicativo são resultantes das mudanças tecnológicas AMPRITEC, 2018. Associação dos motoristas privados e de tecnologias. Disponível em: https://
engendradas pela necessidade de desenvolvimento do capitalismo. Assim, ao utilizar da retórica goo.gl/rCP9mr. Acesso em: abr. 2018.
da melhoria da qualidade dos serviços, da queda de preços ao consumidor e da promoção de um
trabalhador autônomo, empresas como a Uber ocultam a deterioração das condições de trabalho Asher-Schapiro, Avi. Trump administration fights effort to unionize Uber drivers. The Intercept,
a partir de pseudogarantias, como maior liberdade e flexibilidade, supostamente oportunizadas 26 mar. 2018. Disponível em: https://goo.gl/ML5u1T. Acesso em: abr. 2018.
aos trabalhadores.
Butler, Josh. Uber, Deliveroo Food Couriers Want Better Pay, Working Conditions. HuffPost,
Em segundo lugar, a disseminação das empresas-aplicativo se fundamenta em uma relação na Estados Unidos, 31 jan. 2018. Disponível em: https://goo.gl/5NraoC. Acesso em: abr. 2018.
qual todos aparentemente ganham, o trabalhador que obtém uma fonte de renda fácil e rápida,
o usuário que paga menos e a empresa que aufere lucros, encobrindo o recrudescimento da CCOO, 2018. ¿Quiénes sómos? Disponível em: https://goo.gl/8jf3As. Acesso em: abr. 2018.
objetificação do trabalhador; a extensão e intensificação da jornada de trabalho; a legislação e os
interesses nela representados; o acirramento da competição entre pares e a perda de sentimento Coleman, Clive. Deliveroo riders seek to unionise and gain workers’ rights. BBC NEWS, Reino
de classe; a submissão ao trabalho precarizado; entre outras. Unido, 08 nov. 2016. Disponível em: https://goo.gl/3VuEiV. Acesso em: abr. 2018.

Por hora, a apreciação preliminar da organização dos trabalhadores no Brasil e no mundo Davies, Rob. Uber loses appeal in UK employment rights case. The Guardian News, Londres, 10
permite identificar que a fetichização das empresas-aplicativo influencia essa organização, nov. 2017. Disponível em: https://goo.gl/LdbM7u. Acesso em: abr. 2018.
ou seja, alguns grupos, sindicatos ou associações demonstram reconhecer e combater esse
processo, enquanto outros restringem suas ações à tentativas de melhorar as relações entre Deliveroo, 2018. About deliveroo. Disponível em: https://goo.gl/gvkFU6. Acesso em: jul. 2018.
trabalhadores e empresas-aplicativo ou, ainda, direcionam ao poder público demandas que
deveriam ser pautadas com essas empresas. Didi Chuxing, 2018. Milestones. Disponível em: https://goo.gl/NhHH4J. Acesso em: abr. 2018.
.
Referêcias Duayer, Mario. Crítica ontológica em Marx. In: Netto, J. P. Curso Libre Marx-Engels: a criação
destruidora. São Paulo: Boitempo, p. 115-138, 2015.
100,000 STRONG petition demands uber respect workers. General Municipal Boilermakers,
Londres, 18 set. 2017. Disponível em: https://goo.gl/7qKcmY. Acesso em: abr. 2018. Fernández, Victoria. Victoria para uber: podrá seguir operando en Londres. El Español, Madri, 26
jun. 2018. Disponível em: https://goo.gl/H4RX5i. Acesso em: jul. 2018.
99, 2018. Sobre nós. Disponível em: https://goo.gl/GEufeK. Acesso em: abr. 2018.
Força Sindical, 2018. A história da força. Disponível em: https://goo.gl/uZxgmr. Acesso em: abr.
ABDA, 2018. About us. Disponível em: https://goo.gl/E2mgeK. Acesso em: abr. 2018. 2018.

Abilio, Ludmila Costhek. Uberização do trabalho: subsunção real da viração. 2017. Disponível Fraioli, Cipo. Gig economy strike and the bologna riders union. Libcom.org, 05 mar. 2018.
em: https://goo.gl/nPvJP5. Acesso em: jul. 2018. Disponível em: https://goo.gl/Uy96CC. Acesso em: abr. 2018.

ABMAP, 2018. Quem somos. Disponível em: https://goo.gl/H8nnCs. Acesso em: abr. 2018. GLOVO, 2018. Ajuda e suporte. Disponível em: https://goo.gl/NMfDTM. Acesso em: jul. 2018.

1753 1754
autónomos. Eldiario.es, Valência, 18 dez. 2017. Disponível em: https://goo.gl/63Qgtf. Acesso
GMB, 2018. About GMB. Disponível em: https://goo.gl/VcZSSb. Acesso em: abr. 2018. em: abr. 2018.

Going To Work, 2018. Our manifesto. Disponível em: https://goo.gl/PjDzBw. Acesso em: abr. Martín-Nieto, Tereza Alvarez. Los autónomos de deliveroo en pie de guerra. El País, Madri, 06 jul.
2018. 2017. Disponível em: https://goo.gl/Mtk5ip. Acesso em: abr. 2018.
MARX, Karl. O Capital. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.
Gómez, Manuel V. La inspección de trabajo asesta otro golpe al modelo laboral de deliveroo. El
País, Madri, 26 jan. 2018. Disponível em: https://goo.gl/Q6EVDA. Acesso em: abr. 2018. Ribeiro, Bruno; LEITE, Fabio. Novo sindicato de motorista de aplicativo promete ‘proteção’ contra
assaltos em SP. Estadão, São Paulo, 04 jan. 2018. Disponível em: https://goo.gl/Z5wCeC.
Guimón, Pablo. Uber pierde la licencia para operar en Londres por motivos de seguridade. El País, Acesso em: abr. 2018.
Londres, 22 set. 2017. Disponível em: https://goo.gl/JGLbxk. Acesso em: abr. 2018.
Said, Carolyn. Uber, lyft drivers push to unionize. San Francisco Chronicle, São Francisco, 17 jun.
Hall, Gary. The uberfication of the university. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2016. 2016. Disponível em: https://goo.gl/Y7PhUN. Acesso em: abro. 2018.

Harrison, Jeb. How the gig economy can benefit boomers. Huffpost, Estados Unidos, 06 dez. Salvatierra. Javier. UGT denuncia a deliveroo, glovo, ubereats y stuart por “relación laboral
2017. Disponível em: https://goo.gl/dsBBXX. Acesso em: jul. 2018. encubierta”. El País, Madri, 22 dez. 2017. Disponível em: https://goo.gl/ZoB5o4. Acesso em:
abr. 2018.
Harvey, David. David Harvey on post-neoliberalism, Trump, infrastructure, sharing economy,
smart city. YouTube, 15 nov. 2016. Disponível em: https://goo.gl/szR1rW. Acesso em: jul. 2018. Satariano, Adam. Uber regains its license to operate in London, a win for its new C.E.O. The New
York Times, Nova Iorque, 26 jun. 2018. Disponível em: https://goo.gl/EJRxPT. Acesso em: jul.
IGWB, 2018. How we began. Disponível em: https://goo.gl/mWzhn3. Acesso em: abr. 2018. 2018.

Intersindical Valenciana, 2018. Què és intersindical valenciana. Disponível em: https://goo.gl/ Sgnam, 2018. Sobre nós. Disponível em: https://goo.gl/9i9DZs. Acesso em: abr. 2018.
VH6JkJ. Acesso em: abr. 2018.
Stattesp, 2018. Pautas de reivindicações. Disponível em: https://goo.gl/yt1yh3. Acesso em: abr.
IWA, 2018. Statutes. Disponível em: https://goo.gl/CTx5zZ. Acesso em: abr. 2018. 2018.

Kessler, Sarah. Pixel & dimed on (not) getting by in the gig economy. Fast Company, Nova Iorque, Stuart, 2018. About. Disponível em: https://goo.gl/ALqwMJ. Acesso em: jul. 2018.
18 mar. 2014. Disponível em: https://goo.gl/Qq11Nf. Acesso em: jul. 2018.
TEAMSTERS LOCAL 117, 2018. About us. Disponível em: https://goo.gl/sR7Hr7. Acesso em: abr.
Lukács, György. História e consciência de classe. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 2018.

______. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo, 2012. TEAMSTERS, 2018. The early years. Disponível em: https://goo.gl/Dd6pgZ. Acesso em: abr.
2018.
Martínez, Laura. La inspección de trabajo concluye que los ‘riders’ de deliveroo son falsos TFL, 2018. What we do. Disponível em: https://goo.gl/MtUULy. Acesso em: abr. 2018.

1755 1756
Capítulo 173
Trabalhadores Com aplicativo de transporte se filiam à Força Sindical. Força Sindical, São Paulo,
09 jan. 2018. Disponível em: https://goo.gl/BD6Feo. Acesso em: abr. 2018.
O uso das TICs no sistema nacional de emprego: um estudo sobre
Tu Respuesta Sindical Ya, 2018. ¿Quiénes somos? Disponível em: https://goo.gl/KZ8uMy. a institucionalização do aplicativo SINE Fácil
1

Acesso em: abr. 2018.


Fernanda Almeida da Silva Rosa2, Juliane Sachser Angnes3,
TUC, 2018. About the TUC. Disponível em: https://goo.gl/2A48QZ. Acesso em: abr. 2018. Silvio Roberto Stefano4 y Marcos de Castro5

TWU FOOD delivery campaign launch. Facebook, Melbourne, 31 jan. 2018. Disponível em:
https://goo.gl/XjVoa9. Acesso em: abr. 2018. 1. Introdução

TWU, 2018. About the transport workers union of Australia. Disponível em: https://goo.gl/ As tecnologias de informação e de comunicação (TICs) estão cada vez mais acessíveis e
LNsbN5. Acesso em: abr. 2018. presentes na vida das pessoas, seja por meio de computadores, tablets ou celulares. Elas
oferecem a sociedade a rapidez ao acesso a informação e comodidade na utilização de serviços
UATAE, 2018. Conoce UATAE. Disponível em: https://goo.gl/cWsjVU. Acesso em: abr. 2018. oferecidos, seja por empresas públicas ou privadas, seja por meio de sites ou aplicativos para
celular. Os brasileiros estão cada vez mais aderindo as TICs, o acesso à Internet por meio do
UBER, 2018. Sobre a uber. Disponível em: https://goo.gl/Z8Vaaq. Acesso em: jul. 2018. telefone celular nos domicílios brasileiros aumentou em 26,8% de 2013 para 2014 (Agência
IBGE Notícias, 2016).
UBER EATS, 2018. Perguntas frequentes. Disponível em: https://goo.gl/xcjYBp. Acesso em: jul.
2018. Para acompanhar essa nova realidade tecnológica, o governo brasileiro oferece por meio do
website do Ministério do Trabalho (MTE) serviços online para trabalhadores e empresas, e lançou
UBER RECORRE da proibição de operar em Londres. Folha de S.Paulo, São Paulo, 13 out. 2017. no final do mês de maio de 2017 um aplicativo para celular que oferece os mesmos serviços
Disponível em: https://goo.gl/ejR4VZ. Acesso em: abr. 2018. do site e das agências SINE – Sistema Nacional de Empregos, onde mais de 1,3 milhão de
trabalhadores já baixaram o aplicativo e cerca de 500 mil trabalhadores já foram encaminhados
UGT, 2018. Que és UGT. Disponível em: https://goo.gl/zkgFHU. Acesso em: abr. 2018. para vagas de emprego em todo o Brasil (Portal Emprega Brasil Ministério do Trabalho, 2017).
Desta forma, entende-se que ao serem definidas as ações pelo MTE as agências SINE precisam
UNITE, 2018. About us. Disponível em: https://goo.gl/2S28b5. Acesso em: abr. 2018. promover mudanças e institucionalizar essas ações, ou seja, torná-las comuns e habituais as
suas práticas de trabalho, para que as definições alcancem os objetivos propostos. Assim a
Wartzman, Rick. What the newest labor groups mean for US labors. Fortune, Nova Iorque, 18 abr. teoria institucional juntamente com o processo de institucionalização será utilizada como pano
2017. Disponível em: https://goo.gl/9jUcT9. Acesso em: abr. 2018. de fundo para explicar a institucionalização das ações do MTE para a população.
1. Agradecimentos à Fundação Araucária
Wilson, Bill. What is the ‘gig’ economy. BBC News, Reino Unido, 10 fev. 2017. Disponível em: 2. Mestranda do Programa de Pós de Graduação em Administração – PPGADM/UNICENTRO. Email: fer_almeida-silva@hotmail.com
https://goo.gl/wpPxV1. Acesso em: jul. 2018. 3. Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná - UNICENTRO. Email: julianeangnes@gmail.com
4. Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná - UNICENTRO. Email: professorsilvio2013@gmail.com
5. Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná - UNICENTRO. Email: marcosdecastroms@yahoo.com.br

1757 1758
Diante da presença cada vez maior das tecnologias de informação e de comunicação no cotidiano Tolbert e Zucker (1999), descrevem que a habitualização envolve a criação de novas combinações
das pessoas, das empresas e dos órgãos governamentais, e da importante relação entre todos estruturais em resposta a dificuldades ou problemas organizacionais específicos, ou a adoção
eles, torna-se relevante pesquisar o processo conexão entre políticas governamentais e a e formalização de arranjos provenientes de outra organização, ou conjunto de organizações
sociedade, por meio da utilização das TICs. Neste sentido, o objetivo desse estudo consiste em que estejam na mesma situação. “Esses processos resultam em estruturas que podem ser
identificar as práticas e o nível de institucionalização do aplicativo SINE FÁCIL, em uma agência classificadas como um estágio de pré-institucionalização” (Tolbert & Zucker, 1999, p. 206);
SINE do interior do estado do Paraná. Para alcançar esse objetivo foi utilizado o modelo teórico nesta fase é provável que poucas organizações terão adotado tal estrutura, e geralmente elas
proposto por Tolbert e Zucker (1999), no qual é possível medir o processo de institucionalização. acabam durando apenas uma gestão.
A partir dos objetivos, definiu-se como questão norteadora: Quais são as práticas realizadas pela
agência SINE que demonstram o nível de institucionalização do aplicativo SINE FÁCIL? O estágio de objetificação é alcançado quando, entre os decisores, há um consenso social
quanto ao valor que a estrutura oferece, e também pelo aumento de organizações que adotam
2.Referencial Teórico a estrutura, baseando-se em tal consenso (Tolbert & Zucker, 1999). Esse consenso pode surgir,
por meio de fontes diversas de informação sobre os benefícios das organizações que adotaram
Na literatura, o processo de institucionalização provém da abordagem institucional de base a estrutura; pode também vir por meio da influência do chamado Champion ou seja, aquele que
sociológica, que tem como objetivo explicar o surgimento e o funcionamento das estruturas tem interesse material no desenvolvimento de tal estrutura.
organizacionais como uma realidade construída através da padronização das relações de interação
e adaptação. Neste sentido, sua atuação se dá em função de regras, procedimentos, crenças A partir desse estágio, “as estruturas que se objetificaram e foram amplamente disseminadas
e valores que predominam no contexto em que elas estão inseridas (Meyer & Rowan, 1977; podem ser descritas como estando no estágio de semi-institucionalização” (Tolbert & Zucker,
Dimaggio & Powell, 2005). Uma estrutura se torna institucionalizada, quando é considerada 1999, p. 209); que caracteriza-se por adotantes bastante heterogêneos, além disso, a difusão
pelos membros de um determinado grupo social, como eficaz e necessária; porque ela serve torna-se mais normativa do que uma simples imitação.
como uma importante força que implica em padrões de comportamento estáveis (Berger &
Luckmann, 2003; Zucker, 1977; Meyer & Rowan, 1977; Tolbert & Zucker, 1999). Uma estrutura pode ser considerada totalmente institucionalizada quando chega a
sedimentação. “A sedimentação caracteriza-se tanto pela propagação, virtualmente completa,
Tolbert e Zucker (1999) baseando-se nas teorias de Berger e Luckman (2003) e nos estudos de suas estruturas por todo o grupo de atores teorizados como adotantes adequados, como
de Zucker (1977) sobre o processo de institucionalização, propõem um conjunto de processos pela perpetuação de estruturas por um período consideravelmente longo” (Tolbert & Zucker,
sequenciais, através do qual é possível analisar em que grau determinada estrutura está 1999, p. 209). Para chegar na sedimentação, a estrutura precisa legitimar-se perante aos
institucionalizada em uma organização. Esse processo de institucionalização proposto por eles, atores envolvidos, de forma que não haja resistência; a comparação dos resultados trazidos pela
é apresentado na figura 1. adoção da nova estrutura devem ser positivos; e além disso, deve haver incentivo a estrutura
pelos grupos defensores. (Tolbert & Zucker, 1999)

Em outras palavras, a partir da análise da figura, torna-se possível afirmar que o processo de
institucionalização refere-se a comportamentos ou ações que são disseminadas na sociedade
e que as organizações incorporam as suas práticas e torna parte da rotina. Assim cabe as
organizações aceitar ou não se adaptar as mudanças propostas, correndo o risco de não estarem
legitimadas caso não aceitem. No entanto, a partir da teoria de Tolbert e Zucker (1999) é
evidente que a adoção de novas práticas nas organizações não acontecem instantaneamente,

1759 1760
a institucionalização passa por um conjunto de processos sequenciais, que demandam tempo,
análise da situação e teorização, normatização da estrutura e principalmente colaboração e 4. Apresentação Dos Resultados E Análise Dos Dados
entendimento da importância da estrutura para a organização.
O aplicativo SINE FÁCIL, permite ao trabalhador agendar entrevistas com empregadores,
3. Metodologia acompanhar a situação do benefício do seguro-desemprego e acessar outros serviços de seu
interesse. Para o empregador, aplicativo possibilita encontrar um profissional com o perfil
Optou-se pela pesquisa qualitativa que se caracteriza por lidar “com interpretações das desejado, por meio da verificação de currículos, a seleção de trabalhadores para participar de
realidades sociais” (Bauer, Gaskell, & Allum, 2013, p. 23). Por sua vez, para o processo de processos seletivos e a consulta a entrevistas agendadas (Portal Emprega Brasil do MTE, 2017).
coleta de dados, foram utilizados dados primários e secundários. Os dados primários foram Por meio da entrevista com o gestor da unidade pesquisada, foi possível perceber que a agência
coletados por meio de entrevista, sendo o roteiro adaptado da pesquisa de Dalacosta, Maçaneiro, oferece atualmente como serviços, a intermediação da mão de obra – que envolve captação de
Castro e Angnes (2016). O roteiro de entrevistas foi composto por quatro blocos de questões vagas e encaminhamento de pessoas para as vagas; e habilitação do seguro-desemprego. Esta
abertas. No primeiro bloco, foram abordadas as características do entrevistado; os demais blocos agência possui doze funcionários, sendo, um cargo de confiança, seis funcionários de carreira ou
possibilitaram identificar as ações relacionadas aos estágios da institucionalização proposto por concursados e mais cinco estagiários, todos subsidiados pela prefeitura. O cargo de confiança
Tolbert e Zuckert (1999). seria o do Gestor que está oficialmente a dois meses na agência.

Já os dados secundários foram obtidos por meio de leitura de leis e resoluções, e informações 4.1 Processo De Institucionalização Do Aplicativo Sine Fácil
contidas no site do MTE - nível federal, bem como no site da Secretaria da Justiça, Trabalho e
Direitos Humanos do Paraná (SEJU) – nível estatal, a quem a agência estudada é submetida. Os resultados da pesquisa foram analisados considerando as três etapas do processo de
institucionalização, conforme modelo proposto por Tolbert e Zuckert (1999). Quanto ao primeiro
No que se refere a análise dos resultados, optou-se por utilizar a técnica de análise de conteúdo. estágio chamado de pré-institucionalização ou habitualização, a adoção do aplicativo SINE FÁCIL
Neste sentido, a partir da fala dos entrevistados, para análise os questionamentos foram pelo MTE, este pode ser proveniente das mudanças tecnológicas ocorridas nas últimas décadas,
organizados para responder as seguintes categorias de análise: a) habitualização, b) objetificação principalmente no que diz respeito a inserção da internet nos telefones móveis. Além disso, está
e c) sedimentação. O quadro 1 apresenta o resumo das categorias de análise. destacado no site do MTE (2017) que esse aplicativo tem o objetivo de proporcionar ao usuário
comodidade, por meio de um acesso prático e rápido aos serviços de intermediação de mão de
obra e seguro desemprego.

No que diz respeito a agência pesquisada, caracteriza-se por um órgão público submetido ao
MTE como órgão federal; e também a SEJU, a nível de estado (gestor). Dessa forma, o MTE já
disponibilizou no sistema computacional da agência, todas as ferramentas necessárias para que
a agência possa ativar o uso do aplicativo para os usuários. E além disso, conforme explicitado
pelo gestor, foi recebido instruções sobre o aplicativo através do e-mail da agência.

Conforme descrito no quadro 1, este estudo investigou a existência desses fatores no processo Para que os usuários possam usufruir dos serviços pelo aplicativo, o funcionário da agência
de implantação do aplicativo SINE FÁCIL em uma agência de atendimento SINE. explica que basta o trabalhador ir à agência e pedir que seja gerado um código de acesso -
chamado QR Code, este é gerado no sistema que emite um papel com o respectivo código.

1761 1762
Por meio da câmera do celular, o aplicativo reconhece o código e libera o acesso aos serviços. Caracterizados os três estágios de institucionalização do aplicativo na agência, o quadro 2
Dentre os serviços oferecidos estão: consulta vagas, entrevista de emprego, consultar o seguro apresenta uma síntese das práticas tomadas em função do aplicativo, indicando as ações que
desemprego, contratos de trabalho e consultar o abono salarial (funcionário). são realizadas em cada etapa do processo, com base no modelo teórico adotado neste estudo.

No que diz respeito ao treinamento dos funcionários e até mesmo do gestor, sobre a utilização e
divulgação do aplicativo, o gestor afirma que ainda não houve um treinamento aos funcionários
sobre o aplicativo, apesar deles já o conhecerem, não houve uma orientação de divulgação do
aplicativo seja na agência, ou por qualquer outro meio de comunicação. Em complemento a
isso, por meio das observações realizadas em campo percebeu-se que, desde a primeira ida na
agência para agendar a entrevista, até o dia desta houve grandes mudanças no layout interno da
agência, porém, não há banner ou cartaz interno sobre o aplicativo SINE FÁCIL.

Quanto à divulgação interna do aplicativo para os usuários, sejam os trabalhadores ou as Considerando as ações a serem desenvolvidas para alcançar a objetificação e a sedimentação
empresas, ainda não é uma prática inserida na rotina da agência. Durante a entrevista o gestor do aplicativo na agência pesquisada, conforme o quadro 2, além da necessidade de treinamento
afirma que, considerando a importância do aplicativo, deveria ser realizado um treinamento, de dos funcionários, da divulgação por parte da agência, é preciso que haja a permanência da nova
forma que “pra nosso atendente lá nas vagas, ou seja, no seguro mesmo, ter um tempinho a mais estrutura, neste caso envolve não somente o esforço da agência e do governo, mas principalmente
e explicar pra pessoa que existe esse aplicativo, que já está disponível e que nós já podemos da aceitação e adoção pelo público alvo, ou seja legitimação, da nova estrutura.
cadastrar aqui na captação” (Gestor).
Neste sentido, alguns questionamentos surgiram durante a análise das entrevistas, principalmente
Assim, fica claro que ainda o processo de institucionalização da agência encontra-se no período no que diz respeito ao público atendido pela agência e a utilização do aplicativo. De acordo com
de pré-institucionalização ou habitualização, já que foi implantando na agência novas estruturas, a afirmação do gestor os indivíduos que procuram a agência SINE, na busca de recolocação
como alteração no sistema computacional, no entanto ainda a rotina da agência não mudou em no mercado de trabalho, são caracterizadas por um nível de escolaridade mais baixo, ou seja,
função do aplicativo. sem um curso superior ou ensino médio completo. Ele ressaltou ainda, que existe uma grande
dificuldade por parte da agência em preencher vagas que exigem o nível superior completo,
Na agência pesquisada a semi-institucionalização ou objetificação, considerado o segundo visto que, pessoas com esse perfil quase não procuram vagas na agência, utilizando-se de outros
estágio, ficou evidente que ainda não se pode medir as melhorias que o aplicativo trouxe para a meios para procurar emprego.
agência, já que ele não faz parte da rotina. Além disso, o MTE ou a SEJU ainda não forneceram
diretrizes para as agências do sentido de divulgação do aplicativo, ou seja não há normatização Assim, levando em consideração o nível de escolaridade, citado pelo gestor, e supondo certo
para as agências referente ao aplicativo. grau de dificuldade que alguns usuários possam ter por exemplo, na instalação e utilização do
aplicativo, será que esta questão pode comprometer a institucionalização desta estrutura na
Assim, o último estágio que seria a institucionalização ou sedimentação, fica condicionado ao agência? Por mais que as pesquisas, do IBGE, por exemplo, apontem para um aumento do acesso
desenvolvimento do processo de divulgação, sequência de atividades; também a receptividade à internet por meio do celular, isto pode não significar que essas pessoas tenham um domínio
dos funcionários com relação a nova estrutura; e possíveis melhorias no funcionamento do completo de todas as funcionalidades oferecidas por ele.
próprio aplicativo.
Pode ser que algumas das perguntas levantadas possam justificar alguns pontos críticos a serem

1763 1764
enfrentados pela agência SINE, bem como pelo governo, no processo de institucionalização do realizada em apenas uma agência SINE, não sendo possível assim evidenciar como está o
aplicativo SINE FÁCIL. processo de institucionalização do aplicativo em outras agências. Portanto, como sugestão
para estudos futuros, poderia ser desenvolvida uma pesquisa nos mesmos moldes, com outras
5. Considerações Finais agências para analisar se há outras ações desenvolvidas para divulgação do aplicativo, e se
existirem quais são elas e como se caracterizam.
Este estudo buscou identificar o nível de institucionalização do aplicativo SINE FÁCIL em uma
agência de atendimento SINE, a partir do modelo teórico proposto na teoria institucional de Referências
Tolbert e Zucker (1999). Após entrevistas e análise de leis, resoluções e informações contidas
no site do MTE, foi possível descrever as ações que representam a nova estrutura adotada em Agência IBGE de Notícias. Estatísticas sociais. PNAD TIC: em 2014, pela primeira vez,
uma agência SINE. celulares superaram microcomputadores no acesso domiciliar à Internet. Recuperado em 02
de julho, 2017 de https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-
Quanto as fases do processo institucionalização na agência, foi possível concluir que a nova de noticias/releases/9564-pnad-tic-em-2014-pela-primeira-vez-celulares-superaram-
estrutura, no caso o aplicativo, ainda não passou do processo de habitualização. Nessa fase de microcomputadores-no-acesso-domiciliar-a-internet.html
pré-institucionalização, identificou-se que foi o avanço da tecnologia e a comodidade gerada, que
induziram a adoção do aplicativo como pivô das mudanças ocorridas na forma de prestação de Bardin, L. Análise de conteúdo. (1995). Lisboa: Edições 70.
serviço, bem como no sistema computacional da agência.
Bauer, M. W., Gaskell, G. E, & Allum, N. C. (2013). Qualidade, quantidade e interesses do
Dentre os fatos que caracterizam a não objetificação ou semi institucionalização, está falta de conhecimento. In: Bauer, M. W., & Gaskell, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um
treinamento dos funcionários com relação ao aplicativo, bem como a ausência de diretrizes por manual prático. Petrópolis: Vozes.
parte do MTE para orientar a agência quanto a forma de divulgação da nova estrutura. Como
consequência, não há ações que evidenciem a fase de sedimentação. Berger, P. L., & Luckmann, T. (2003). A construção social da realidade. 23. ed. Petrópolis: Vozes.

Levando em consideração, que este estudo baseou-se na importância do processo de conexão Dalacosta, R., Maçaneiro, M. B., Castro, M. de., & Angnes, J. S. (2016, novembro). O processo
entre políticas governamentais e a sociedade, por meio da utilização das TICs, ficou evidenciado de institucionalização de práticas de capacitação: um estudo em um sistema de cooperativas de
que, com relação ao aplicativo SINE FÁCIL, não há uma conexão intermediada pela agência SINE, crédito. Anais do Encontro Nacional de Cursos de Graduação em Administração. Campinas, SP,
entre a nova ferramenta governamental de emprego e a sociedade, podendo ser justificado pela Brasil, 27.
recente criação da nova estrutura.
Decreto nº 8.894, de 03 de novembro de 2016 (2016). Dispõe sobre a Estrutura Regimental e
Além disso, um questionamento foi levantado, no sentido de apresentar outros pontos que o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério do
possam justificar a não sedimentação do aplicativo, ou as dificuldades a serem trabalhadas para Trabalho, remaneja cargos em comissão e funções gratificadas e substitui cargos em comissão
que aconteça a institucionalização do mesmo. O questionamento envolve o público que frequenta do Grupo Direção e Assessoramento Superior - DAS por Funções Comissionadas do Poder
a agência estudada, o perfil no que tange a escolaridade e a habilidade ou conhecimentos Executivo - FCPE. Diário Oficial da União, Seção 1 - 4/11/2016, Página 1.
necessários para operar o novo aplicativo.
Dimaggio, P. J., & Powell, W. W. (2005) A gaiola de ferro revisitada: isomorfismo institucional e
Enquanto as limitações desta pesquisa, pode se considerar que, o fato da pesquisa ter sido racionalidade coletiva nos campos organizacionais. RAE - Revista de Administração de Empresas,

1765 1766
45(2), 74-89. Capítulo 174
Meyer, J. W., & Rowan, B. (1977). Institutionalized organizations: formal structure as myth and
ceremony. American Journal of Sociology, 83, 340-363.
La vinculación del mundo físico y digital. El Internet de los objetos (IoT) como
estrategia tecnológica para la organización del trabajo en los procesos
Pereira, D. M., & Silva, G. S. (2010) As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como de visualización de información y toma de decisiones
aliadas para o desenvolvimento. Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas, 10, 151-174.
Alfredo Garibay Suárez1
Portal do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) – Ministério do Trabalho (MTE). (2016). Sistema
Nacional de Emprego – SINE. Recuperado em 21 de maio de 2017 de http://portalfat.mte.gov.
br/programas-e-acoes-2/sistema-nacional-de-emprego-sine/ Introducción

Portal Emprega Brasil Ministério do Trabalho. (2017). Ministério do Trabalho lança o “SINE Un universo hiperconectado entre el mundo atómico y digital significa en la actualidad una
FÁCIL”, aplicativo que facilita busca por emprego. Recuperado em 02 de maio de 2018 de realidad disruptiva que genera un alto valor económico. La ubicuidad, toma de consciencia e
https://empregabrasil.mte.gov.br/348/ministerio-do-trabalho-lanca-o-sine-facil-aplicativo- inteligencia que adoptan los objetos hoy en día representan los elementos que potencian los
que-facilita-busca-por-emprego/ procesos de visualización y toma de decisiones en la organización, estos trastornos tecnológicos
definirán las ventajas competitivas sostenibles de los siguientes lustros. La irrupción tecnológica
Scott, W. R. (1987). The adolescence of institutional theory. Administrative Science Quaterly, del último lustro ha revolucionado el panorama organizacional, el IoT genera cambios sobre la
32, 493-511. competición y conduce nuevos modelos de negocio al mismo tiempo que exige la necesidad de
adaptar modelos institucionalizados por décadas en las organizaciones, sobre todo en aquellas
Tolbert, P., & Zucker, L. (1999). A institucionalização da teoria institucional. In: Clegg, S., C. que particularmente nacen en el ocaso de la sociedad industrial. En la actualidad cualquier objeto
Hardy, C., & Nord, W. (Orgs.). Handbook de estudos organizacionais: modelos e novas questões puede convertirse en un activo que nutre a la nube de información y recibe instrucciones de
em estudos organizacionais. São Paulo: Atlas. comportamiento, ello, permite definir eficiencias específicas.

Zucker, L. G. (1977). The role of institutionalization in cultural persistence. American Sociological La lucidez y clarividencia desencadenada por una armonía decantada en un sistema nervioso
Review, 42(5), 726-743. universal de objetos y servicios consolida los escenarios que redefinen procesos y procedimientos
organizativos. Pensar en nuevos procedimientos como el “mantenimiento anticipado” consolidará
la acción inteligente del lenguaje máquina con complejos sistemas de inteligencia artificial, es
plausible el escenario de la fabricación y generación de servicios predictivos, inteligentes y
perfectos.

Todo lo que se puede medir es susceptible de mejorarse, sólo y únicamente mediante procesos
sofisticados de visualización de información que soporten e ilustren la densa nube generada por
el “Big Data”, es papel preponderante el de la inteligencia artificial dar sentido a ello y arbitrar
1. Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Azcapotzalco. Departamento de Administración. Email: garibay@azc.uam.mx

1767 1768
el camino de la “Smart Decision Making”. El escenario es promisorio mas no su aplicación diferentes áreas y procesos de la organización– estén conectados. El análisis se puede
inmediata, ello, requiere de la acción pública y de la construcción de agendas digitales audaces. hacer desde tres visiones.

La cotidianidad resuelta por datos La visión perspectiva o descriptiva mira los datos históricos, se identifican patrones y se
observa qué se está haciendo y cómo. El resultado del análisis permite detectar aspectos
Tomar un decisión implica un proceso selectivo a partir de diferentes rumbos de acción, el de mejora, tanto dentro como fuera de la organización.
cotidiano organizacional que ha sido resuelto a través de la clarificación de problemas en su
conceptualización superior al síntoma. La estructura organizacional puede tomar diferentes La visión prospectiva o predictiva analiza los datos para identificar patrones y encontrar
estructuras y gestionarse por diversos mecanismos administrativos, no obstante, una relaciones entre los datos pero mirando al futuro, para averiguar qué podría suceder, que
constante serán los procesos acumulativos de construcción del conocimiento antecedidos por es más difícil de encontrar con el análisis descriptivo. El resultado del análisis in- forma de
la información y con base generativa en datos. Datos, elementos estructurados y magníficos hacia dónde puede evolucionar el entorno y la propia organización.
que soportan la verdad, una autenticidad que evoca a la precisión y con ello al nirvana de la
eficiencia, se eficienta el recurso económico, el temporal, el espacial, entre otros. La objetividad Por último, la visión prescriptiva analiza los datos para conocer cuál es la mejor opción de
de la información transmuta al convertirse en hecho comunicado y eso solamente decanta entre un conjunto de circunstancias. En este sentido, el análisis evalúa y determina nuevas
en veracidad por la estructura de los datos. Ignasi (2015) ensaya lo esencial del proceso de vías para actuar, qué objetivos de negocio por segmentos pueden ser más adecuados y
comunicación y el valor de la verdad del proceso. hace un balance de todos los pros y los contras.

La información es aquello absolutamente esencial para comunicar algo de la forma más Por lo tanto, podemos inferir en primer instancia que, los procesos de acumulación tecnológica
clara y objetiva posible, es un conjunto organizado de datos capaces de cambiar el estado hasta el día de hoy confieren nuevas posibilidades para los procesos decisionales basados en
de conocimiento en el sentido de las consignas transmitidas. Digamos que es la verdad, lo nuevas realidades y que, el análisis ampliado o potenciado del factor dato (donde la tecnología
que significan las cosas. (Ignasi, 2015, pág. 19) irrumpe de manera soberbia al decantarlo en un sistema nerviosos universal) declara desde
lucidez hasta clarividencia organizativa.
Los estudios de los procesos de comunicación dentro de la organización no son nada nuevos,
ellos recurren al reconocimiento de las estructuras formales e informales que se gestan en el De tecnologías y cosas
entorno organizacional y a las relaciones que guardan sus actores. La novedad se esgrime desde
el hecho de que en la actualidad cualquier objeto se convierte en un actor activo que nutre La riqueza tecnológica que reside en el escenario del siglo XXI es vasta e inconmensurable,
ostentosamente a las bases de datos y genera una densa nube de identificaciones con múltiples la cuarta revolución industrial nos ha entregado una serie de potencialidades derivadas de la
posibilidades de escenarios decisivos. Solamente los procesos de visualización de información desmaterialización y la transitoriedad ineludible. Conectar las cosas a internet vincula el mundo
inteligentes que superen las expectativas de los procesos de minería de datos tradicionales físico con el digital, la sensorización le otorga al ser humano un reconocimiento ampliado de su
condicionaran efectivamente la eficacia de la interpretación de datos, del descubrimiento de lo entorno. Iglesias (2017) reconoce dicho nivel de maduración de la tecnología IoT.
que nos dicen en su colección de acuerdo con la complejidad de lo que se busque explicar. La
visión de la gestión organizativa de García Alsina (2017) nos permite comprender el valor de los “La irrupción e implementación de las nuevas tecnologías ha revolucionado por completo
datos de acuerdo con su análisis y posibilidades de aplicación. el panorama empresarial hasta ahora conocido. En tan sólo tres años, el proceso de
maduración de determinadas corrientes tecnológicas ha sido abrumador, como es el caso
El origen del valor está en el análisis de los datos, y en que estos –procedentes de del Internet de las Cosas “. (Iglesias, 2017)

1769 1770
productos de infraestructura sino también la naturaleza de las industrias. La necesidad
Pero, sobre todo, es la inteligencia artificial y su lenguaje maquina lo que esta definiendo de agregar comportamiento inteligente y conectado a todas las máquinas y procesos
nuevas líneas de aplicación de conocimiento, entre ellas la domótica, que, llevada al ámbito productivos va a generar nuevas dinámicas competitivas y va a exigir que las empresas
organizacional (mediante la incursión de los agentes digitales expertos) redefinirá sin duda los industriales desarrollen conocimiento en ámbitos como el software y big data que
procesos de gestión. tradicionalmente no fueron sus puntos fuertes. (Vazhnov, 2016)

El Internet de las Cosas es un avance con un gran impacto sobre la sociedad y los negocios. Señalado lo anterior, es ineludible afrontar que, los cambios organizacionales por el uso del IoT
A medida que la información y las personas están cada vez más conectadas, la tecnología pueden tener diversas implicaciones en los modelos de negocio en función de la adopción de
sirve como herramienta de colaboración y toma de decisiones en un mundo en el que dicha tecnología, estudios de McKinsey & Company mapean dicho valor.
converge lo físico con lo digital. Los consumidores ganan en poder de negociación porque
los datos que necesitan los tienen a un clic, y surgen nuevos modelos de negocio que The businesses and other organizations that use IoT systems are faced with a multitude
pretenden maximizar las posibilidades de un sistema abierto y modificable por todos. Se of opportunities—and maybe just as many challenges. Depending on the industry, IoT
acabó aquello de que la empresa es una organización con fines económicos. Motivaciones applications can have far-reaching effects on how companies operate and may even
tan diversas como la optimización de recursos con un claro trasfondo medioambiental, force changes in business models. Some businesses (automobile manufacturers, for
la oferta del exceso de capacidad individual o la demanda colectiva de conocimiento del example) need to master both use of IoT in their operations and in their products. We
origen de los productos han servido como concepto de negocio innovador bajo el paraguas look at implications for businesses in three ways: using IoT to improve current business
del Internet de las Cosas. (Fundación de la Innovación Bankinter, 2011) models, new business models enabled by IoT, and organizational issues related to IoT
implementation. (Manyika, et al., 2015)
A manera de conclusión podemos decir que, la potencialidad del IoT se augura no solo para los
modelos de organización existentes, sino además para aquellos conducidos por la identificación Cualquier de las tres maneras expuestas obliga a repensar la apropiación tecnológica como
de las potencialidades de dicha tecnología. un proceso de gestión de asimilación profunda, seria y ordenada. La innovación organizacional
requiere de estudio de lo simbólico además de los procesos de consultoría.
La organización y el IoT
Por lo tanto, el primer imperativo derivado del impacto en el negocio de la cuarta revolución
Las organizaciones orientadas al mercado se han convertido en los precursores de la incorporación industrial es la urgente necesidad de mirarse a uno mismo como un líder de empresa
tecnológica del IoT, los procesos de producción y consumo se han alterado dramáticamente y dentro de su propia organización. ¿Existe evidencia de la capacidad de organización
por la obsesión del comportamiento inteligente y de la decisión perfecta. La reformulación de y liderazgo para aprender y cambiar? ¿Hay antecedentes en cuanto a fabricación de
ventajas competitivas tiene como punto nodal el atender hoy en día nuevas problemáticas, ello se prototipos y toma de decisiones de inversión a un ritmo rápido? ¿La cultura acepta la
logra allanando el camino a través de la formulación de estrategias que gozan de una sofisticada innovación y el fracaso? Todo lo que veo indica que la travesía solo acelerará su marcha,
base tecnológica y que son posibilitadas además por la omnipresencia e intoxicación del valor que los cambios serán fundamentales y que el viaje requerirá por lo tanto una mirada
servicio que entrega la computación en nube (a través de múltiples actores en el ecosistema de dura y honesta a la capacidad de las organizaciones para operar con rapidez y agilidad.
consultoría digital). La red de todo en la organización altera no solo el mercado sino además a la (Schwab, 2016)
industria; ello es ensayado acertadamente por Vazhnov (2016)
Operar de la forma que la sentencia anterior señala requiere una estrategia tecnológica que
La Internet Industrial no sólo cambiará como creamos, mantenemos y vendemos los además sea desarrollada por un equipo interdisciplinar que goce de habilidades de frontera

1771 1772
y conceptualizaciones profundas de la adopción tecnológica; algo a lo que Velosa (2017) le se benefician de ellos. (Robles, 2009, pág. 87)
nombra: IoT tiger team. El futuro del trabajo se caracteriza por una renovada consideración hacia
el aprendizaje continuo y permanente, ello, más otras facultades oportunas han sido ampliamente La brecha digital y la exclusión tecnológica aumenta, la problemática se configura con un carácter
expresadas en el World Economic Forum. exponencial que se aleja de la simple alfabetización digital y se redirecciona nuevamente hacia
el poder conocimiento y poder de infraestructura; dos elementos que se encuentran lejos de
A new ethos for lifelong learning, especially among younger generations, has contributed la acción pública y que son exclusivos de unos cuantos agentes preponderantes en el sector
to dynamism in the workforce, and technology has been applied broadly, alongside human empresarial. Una confluencia expuesta acertadamente por Villanueva (2010).
creativity and productivity, to a range of industries and sectors. High talent mobility within
countries and across borders, combined with widespread opportunities for online platform La encrucijada a la que nos enfrentamos es definir si la economía digital se articulará a
work that crosses borders, has created a global workforce that is highly agile, productive partir de formas nuevas de producción, que permitan a los individuos encontrarse en la
and globalized, rapidly diffusing values, ideas, technologies, goods and services around the red y cooperar colectivamente hacia objetivos complejos, o si los conglomerados globales
world. (World Economic Forum, 2018) seguirán siendo la ruta hacia la innovación. (Villanueva Mansilla, 2010, pág. 145)

El postulado anterior esboza también una visión romántica y de realidad limitada para las Sin lugar a duda, el mejorar los procesos tecnológicos para la organización del trabajo en sus
organizaciones que no cuentan con los activos y talantes que la tecnología demanda, elementos procesos productivos y decisorios (que gocen de la acción inteligente del universo de posibilidades
que, caracterizados por su ausencia conllevan a escenarios en menoscabo de la justa competencia. que brinda el IoT) requiere de la generación de políticas públicas que sean expresadas en agendas
Los retos son promisorios y su despliegue conlleva a la participación de otros actores, como lo es digitales audaces y que busquen en la inteligencia colectiva trascender a la configuración de la
el caso del sector gobierno. ciudad inteligente.

Desafíos por las cosas conectadas


Bibliografía
La organización ha superado los retos de la división del mundo en átomos y bits desarrollando
estrategias para cada ámbito. La vinculación del mundo físico y digital representa el siguiente reto Fundación de la Innovación Bankinter. (2011). El Internet de las Cosas.En un mundo conectado de
a través del IoT que integra dichos universos en uno solo. La acción tecnológica instrumentada objetos inteligentes. Recuperado el 16 de Junio de 2018, de Fundación de la Innovación Bankinter:
por las organizaciones para los procesos decisorios y de visualización eficientes todavía no https://www.fundacionbankinter.org/documents/20183/137558/Publicacion+PDF+ES+FTF_
cuenta con un piso firme y parejo, y ello, no representa la promesa fiel de la tecnología como IOT.pdf/829ef156-6ca4-4f94-9b84-5eeda198fed4
ente “democratizador del conocimiento”; desde la visión de Robles (2009) se ilustran dichos
postulados. García Alsina, M. (2017). Big data. Gestión y explotación de grandes volúmenes de datos.
Barcelona: Editorial UOC.
En otras palabras, lo que hace de Internet una tecnología potencialmente desigualitaria
son las consecuencias asociadas a algunos de sus usos, la conjunción de este hecho con la Iglesias , A. F. (14 de Enero de 2017). César Chiva (IoT Madrid Forum): “El Internet de las Cosas
desigual distribución de su acceso y las implicaciones de todo ello sobre el reforzamiento tiene gran potencial para crear empleo”. Recuperado el 14 de Junio de 2018, de TICbeat: http://
de las desigualdades sociales que definen la estructura social de un territorio. De esta www.ticbeat.com/entrevistas/cesar-chiva-iot-madrid-forum-el-internet-de-las-cosas-tiene-
forma, los riesgos desigualitarios de las TIC están asociados a las ventajas posiciona- les gran-potencial-para-crear-empleo/
que proporcionan algunos de sus servicios y con el carácter particular de los grupos que

1773 1774
Ignasi, A. (2015). Visualización de la información. De los datos al conocimiento. Barcelona: Capítulo 175
Editorial UOC.

Manyika, J., Chui, M., Bisson, P., Woetzel, J., Dobbs, R., Bughin, J., & Aharon, D. (Junio de 2015).
Relaciones sociales en equipos de trabajo distribuidos en red

Nora Inés Rubbini1


McKinsey & Company. Recuperado el 16 de Junio de 2018, de the internet of things: mapping
the value beyond the hype: https://www.mckinsey.com/~/media/McKinsey/Business%20
Functions/McKinsey%20Digital/Our%20Insights/The%20Internet%20of%20Things%20
Introducción
The%20value%20of%20digitizing%20the%20physical%20world/The-Internet-of-things-
Mapping-the-value-beyond-the-hype.ashx
Nos encontramos en una época en que el desarrollo de las tecnologías de la información y la
comunicación (TICs) ha permitido la aparición de un nuevo espacio social, denominado Tercer
Robles, J. M. (2009). Ciudadanía digital. Una introducción a un nuevo concepto de ciudadano.
Entorno por Echeverría (1999), donde los seres humanos pueden relacionarse e interactuar
Barcelona: Editorial UOC.
a distancia y aún mediante una comunicación asincrónica, es decir, independientemente del
lugar geográfico en que se ubiquen y sin requerir la simultaneidad, siempre que tengan acceso
Schwab, K. (2016). La cuarta revolución industrial. Ginebra: Debate.
a alguno de los nodos de la red. Una época también testigo de un proceso de globalización que
continúa avanzando, y en la que se busca una mayor flexibilidad en el mercado de trabajo y en la
Vazhnov, A. (2016). La Red de Todo: Internet de las Cosas y el Futuro de la Economía Conectada.
organización y gestión de los procesos productivos (CDSI, 2004). En este contexto el teletrabajo
Smashwords Edition .
y los equipos de trabajo distribuidos en red son un modo de organización del trabajo difundido
en las organizaciones laborales en gran parte del mundo. Los equipos de trabajo distribuidos
Velosa, A. (8 de Mayo de 2017). The IoT Roadmap for the Digital Business. Recuperado el 14 de
en red se caracterizan por: “a) la interdependencia de tareas y temporalidad fija o variable, b)
Julio de 2018, de https://www.gartner.com//it/content/3675400/3675418/may_8_the_iot_
la prevalencia de la comunicación mediada por computadora en lugar de cara a cara, y, c) la
roadmap_avelosa.pdf?userId=106316800
dispersión geográfica parcial o total.” (Guedes-Gondim, 2011, p.31)
Villanueva Mansilla, E. (2010). Vida digital: La tecnología en el centro de lo cotidiano. Lima:
El presente trabajo aborda, desde una perspectiva humanista de la Administración2, una
Fondo Editorial PUPC.
cuestión particular de la realidad actual: la de las relaciones sociales en equipos de trabajo
distribuidos en red. Se entiende por relación al proceso de influencia social que se da en un
World Economic Forum. (Enero de 2018). Eight Futures of Work. Scenarios and their Implications.
contexto social (en este caso el del trabajo) mediante la interacción entre individuos. “En la
Recuperado el 14 de Julio de 2018, de http://www3.weforum.org/docs/WEF_FOW_Eight_
comunicación interpersonal, los interactuantes están construyendo conjuntamente la definición
Futures.pdf
de la situación.” (Johansson, 2007, p.276)3

(…) las relaciones son categorías sociales que se crean, mantienen y alteran a través de la
1. Facultad de Ciencias Económicas, Universidad Nacional de La Plata (Argentina). Email: nrubbini@econo.unlp.edu.ar
2. Perspectiva que reconoce el lugar central de la persona humana en cualquier realidad social, teniendo en cuenta las características de la especie
humana y las particularidades de cada individuo. (Bédard, 2003)
3. Traducción libre del inglés.

1775 1776
comunicación (Sigman, 1995). Las relaciones no existen fuera de los individuos involucrados; - en el mercado laboral local hay más demanda que oferta de trabajadores del rubro informática.
más bien, son fenómenos sociales constituidos en la interacción de los individuos (Duck y
Pittman, 1994). Al mismo tiempo, las percepciones de los individuos sobre su relación influyen en Ello permite que los trabajadores tengan mayor poder de negociación sobre sus condiciones de
su comunicación entre ellos. Por lo tanto, la comunicación entre los individuos de la relación está trabajo y que los empleadores estén más propensos a atender las necesidades de sus empleados
influenciada por su interacción pasada e influye en su interacción futura. Como consecuencia, para evitar la rotación.
las relaciones se definen mediante un patrón de interacciones que ocurre a lo largo del tiempo.
Tal conceptualización enfatiza la naturaleza dinámica de las relaciones, sin embargo, reconoce la El que la empresa tenga un área con la función específica de gestionar al personal permite
estabilidad (comportamiento estructurado en el tiempo) dentro de ese dinamismo. (Sias, Krone, suponer que tiene recursos económicos y humanos para ocuparse formalmente de implementar
& Jablin, 2002, p. 616)4 políticas de organización del trabajo (como son el teletrabajo y los equipos distribuidos) y de
acompañar su desarrollo.
El propósito del trabajo fue conocer las percepciones de trabajadores integrantes de equipos
distribuidos en red de sus relaciones sociales en el trabajo. La unidad de recolección de datos fueron trabajadores de equipos distribuidos en red. Se utilizó
la entrevista como herramienta de relevamiento. Para realizar el análisis de los datos recogidos
Metodología se siguió el enfoque de Taylor y Bodgan (2000) que propone desarrollar una comprensión de
las personas o los escenarios estudiados (es decir, darles sentido a los datos) en sus propios
La investigación que dio lugar a este documento se inscribe en el paradigma interpretativo de términos. Las comprensiones se fundamentan en los datos y se emplearon los conceptos y teorías
las ciencias sociales, se llevó adelante con métodos cualitativos y con un diseño flexible. Se usó para iluminar rasgos de los escenarios o personas estudiados que faciliten la comprensión.
el método del estudio instrumental colectivo de casos (Stake, 1999). La muestra se conformó
combinando la de tipo intencional o basada en criterios con la muestra conformada a modo de Resultados
bola de nieve. (Miles y Huberman, 1994, en Mendizábal, 2006, p.103) En total se estudiaron 17
trabajadores de 5 empresas. La unidad de análisis fueron trabajadores que: Importancia de las relaciones sociales en equipos de trabajo distribuidos en red

- integran equipos de trabajo distribuidos y utilizan las TICs para realizar el trabajo y comunicarse, Se concluye que las relaciones sociales tanto entre compañeros de trabajo como entre ellos con
- están en relación de dependencia formalmente reconocida por la empresa empleadora, su jefe y con la organización empleadora son importantes para los trabajadores entrevistados.
- habitan en Argentina, y Todos ellos expresaron que les importa tener buenas relaciones con sus compañeros de trabajo,
- la empresa empleadora algunos con mayor y otros con menor grado de intimidad, partiendo del respeto, pasando por
•brinda servicios informáticos y/o basa su negocio en la informática, y la cordialidad, la camaradería y en algunos casos llegando a la amistad (aunque también hay
• cuenta con un área de Administración del Personal. algunos que dijeron no querer tener amigos en el trabajo).

Se limitó a empleados de empresas que brindaran servicios informáticos o basaran su negocio Diferencias en las relaciones sociales en equipos de trabajo co-presentes y distribuidos en red
en ellos porque:
La mayoría de los trabajadores de la muestra encuentran particularidades en el modo en que se
- los empleados de tales empresas hacen uso permanentemente de las TICs para hacer su dan las relaciones a distancia y mediadas por la tecnología, y en su mayoría las mismas provienen
trabajo, por lo que están muy familiarizados con esas tecnologías, de la experiencia del cuerpo del ser humano y sus sentidos. Encuentran una manera diferente
4. Traducción libre del inglés.
de ser, estar y relacionarse en el tercer entorno (también en el trabajo), que requiere nuevas

1777 1778
habilidades y esfuerzos. Comunicarse y socializar presencialmente es diferente que hacerlo a una estadía en las oficinas del cliente, o por un encuentro presencial -formal o informal-
distancia, para algunos positiva y para otros negativamente. (Aunque también hay una minoría organizado por la empresa). Incluso algunos trabajadores presenciales que integran equipos
de trabajadores entrevistados que consideran que no hay diferencias significativas). distribuidos expresan “mis compañeros son los que veo todos los días en la oficina”. Quienes
podrían teletrabajar pero prefieren ir a la oficina dicen “aunque mi equipo esté remoto, al
Se identificaron cinco posturas entre los entrevistados. Con la letra A se identifica a quienes menos comparto el día con otros en la oficina”. Los encuentros informales generan más
consideran negativo llevar las relaciones de trabajo a distancia y con la letra C a quienes lo confianza entre compañeros, incluso para trabajar.
consideran positivo. Quienes perciben las relaciones de trabajo compartiendo el espacio físico
negativas se identifican con la letra B, y quienes las consideran positivas con la letra D. Por último, E. Hay quienes experimentan las relaciones a distancia iguales a las presenciales. “Aunque sin
con la letra E se identifica a quienes no perciben diferencias significativas en las relaciones haberlo visto, lo conocés, tenés una relación.” “Se tiene amigos a distancia.” “Las relaciones
sociales según sean presenciales o a distancia. Se detalla seguidamente las percepciones de a distancia son iguales a las presenciales: si hay diferencia es por afinidad, no por distancia.”
cada grupo. Para otros la presencia a distancia no es tan buena como la presencial sólo al inicio, ya que
con el tiempo se equiparan.
A. Para algunos la relación gestada a distancia nunca puede ser satisfactoria como sí lo
puede ser aquella en la que se comparte un espacio físico. Dicen “Trabajo presencialmente Se concluye que para los entrevistados hay un antes y un después en las relaciones con sus
para interactuar, relacionarme”. Para ellos el teletrabajo (y aunque en menor medida pero compañeros de trabajo cuando han compartido un espacio físico durante algún tiempo al
también el trabajo distribuido) es sinónimo de: comunicación fría, aislamiento, soledad, menos, aun para aquellos que no buscan entablar amistades en el trabajo y para aquellos que
encierro (en la casa de uno), pérdida de relaciones, ser ermitaño. En las relaciones a distancia experimentan a distancia relaciones tan buenas como en proximidad. Hay quienes sólo se han
“Hay cierta intimidad, pero es diferente al ser virtual”. tratado a distancia, sin nunca haberse encontrado físicamente en un mismo lugar, hay otros que
han pasado tiempo a distancia y alguna vez se han encontrado cercanamente, y hay quienes
B. Para otros se puede estar corporalmente próximo a los demás pero personalmente habiendo compartido un espacio físico, ahora mantienen una relación a distancia. En el segundo
distantes, como ocurre con los trabajadores que trabajan en una oficina escuchando música y tercer caso los trabajadores reconocen tener lazos afectivos más fuertes que en el primer caso.
con los auriculares y, aunque están rodeados de compañeros, no interactúan con el resto.
También hay empleados que, por sus tareas, experimentan mayor relación con las personas a Equipos de trabajo distribuido en red: Ventajas individuales, desventajas relacionales
la que atienden (empleados de otras áreas de la empresa a las que brindan servicio) que con
los compañeros de su propio equipo. Si bien muchos de los trabajadores eligen el teletrabajo, lo hacen porque en su decisión pesan
más las ventajas individuales de adoptarlo (por ejemplo: comodidad, aprovechar mejor el
C. Hay empleados que consideran que la relación a distancia tiene aspectos positivos: permite tiempo de trabajo y no trabajo, conciliar la vida familiar y doméstica con la laboral, residir en
“descomprimir” tensiones que el día a día presencial genera con los demás; da lugar a una una localidad distante a la empresa, etcétera) que las desventajas relacionales de no hacerlo,
confidencia justamente por la distancia (“porque lo que me digas no se lo puedo contar a pero identifican las carencias. Evidencia es que, entre los motivos por los que prefieren trabajar
nadie que conozcas, ni me puedo reír de vos”). presencialmente mencionan:

D. Para algunos la presencia corpórea es más satisfactoria que aquella a distancia: “Tengo - el querer gestar o desarrollar buenas relaciones con los otros en el trabajo,
más contacto con los que tengo al lado”. “La comunicación presencial es más fluida, más - disfrutar del ambiente laboral,
efectiva”. El trato es bueno con todos (hay empatía), pero amigos se es de aquellos con los - el querer pasar tiempo con los compañeros,
que se pasa o pasó tiempo presencial (aunque fuera por cortos lapsos, por ejemplo, ante - querer conectarse con gente en la oficina,

1779 1780
- el estar en la oficina “abre” su vida social, aquellos que pueden ser excelente técnicamente, pero de difícil trato en un grupo.
- el verse permite vincularse con los demás de otra manera, más completa (y no es habitual el
uso de las cámaras web mientras se está a distancia). Empleados que consideran que la empresa cuida de los empleados como un medio para aumentar
su rentabilidad expresaron que:
Por otro lado, las carencias de la relación a distancia generan roces dentro de un grupo.
- El área de Personal monitorea el clima laboral, el ambiente de trabajo en los distintos equipos
¿A la empresa le importan las relaciones sociales de los integrantes de sus equipos distribuidos para medir el riesgo de rotación que puede haber. La idea es siempre evitar desvinculaciones.
en red? - La empresa organiza viajes de turismo para la integración de los empleados, pero abarca tantos
días laborables como no laborables (fines de semana). Una empleada que lleva 5 años trabajando
Según la percepción de los trabajadores entrevistados, sus empleadores se ocupan más de las para la empresa nunca participó de esos viajes “porque sentía que no podía dejar dos días el
cuestiones técnicas de la implementación del teletrabajo (aun cuando tienen deficiencias) que de trabajo”.
las cuestiones sociales y de gestión del mismo. Incluso cuando implementan el teletrabajo para - La empresa se preocupa por la productividad y considera que si los empleados se llevan bien
atraer o retener a los empleados talentosos, corren el riesgo de perderlos luego por no atender entre ellos aumentan la productividad. Sólo por eso le importa que haya un clima de trabajo
sus necesidades. distendido y que los empleados se lleven bien.
- Hay líderes a los que les importa saber si los empleados a su cargo tienen algún problema
Entre las acciones de la empresa que hacen considerar al empleado que a ella le importan las personal sólo porque baja su productividad.
relaciones sociales en el trabajo de los integrantes de sus equipos distribuidos, por ejemplo
expresan: Entre las acciones (o inacciones) de la empresa que hacen considerar al empleado que no le
importan las relaciones sociales en el trabajo de los integrantes de sus equipos distribuidos en
- Convocar a encuentros presenciales periódicos y cubrir el costo. red expresan las siguientes:
- No permitir el teletrabajo a tiempo completo, de modo que el trabajador interactúe
presencialmente con otros empleados de la empresa, sean sus compañeros de equipo o no. - La empresa no tiene una política para fomentar la integración entre los empleados, para que
- Hacer que los integrantes de un mismo equipo, que trabajan en la misma oficina, ocupen se trabaje mejor en grupo.
escritorios contiguos. - Las oficinas donde se trabaja son un gran espacio abierto. Ello por un lado da la posibilidad de
- Asignar un empleado del área de Personal para acompañar a cada equipo de trabajo. Que el interactuar más entre todos, pero por otro, siendo que hay trabajadores que se llevan mal entre
área de Personal realice reuniones periódicas con los integrantes de los equipos distribuidos en sí, genera mal clima laboral. Y a la empresa no le importa, le resulta más cómodo que el espacio
red para saber cómo están. En las mismas deben participar todos los miembros, preferentemente sea abierto.
presencialmente, y sino a distancia. - La empresa, aunque propicia encuentros presenciales, formales o informales, no se preocupa si
- Asegurar a los integrantes de los equipos distribuidos todos los medios para que las algunos empleados no pueden participar. Por ejemplo, una empleada con 12 años de antigüedad
comunicaciones a distancia puedan realizarse sin problemas (conexiones informáticas de no participó en ningún encuentro anual “porque sus hijos son pequeños”.
calidad, cámaras web, micrófonos y auriculares que funcionen correctamente, por ejemplo). - La empresa organiza reuniones informales al menos una vez al mes, como “after hour”, clases
- Diseñar el espacio físico en la oficina de modo que permita la interacción espontánea entre de baile, etcétera, y brinda espacios de integración informal en la oficina (por ejemplo, mesa de
los empleados, pero también la privacidad. Que ofrezca espacios lúdicos para las relaciones ping pong) pero lo hace por oficina no entre oficinas, por ende no se encuentran los integrantes
interpersonales informales. de un equipo distribuido.
- Tener líderes que prioricen el trabajar con empleados que sean “buenas personas” sobre - La empresa organiza encuentros presenciales, pero sólo para los empleados que están a cortas

1781 1782
distancia de CABA5, el resto no participa. brindar una oportunidad para el desarrollo de las personas mediante una mejor organización de
- La empresa, en pos de la eficiencia arma equipos de trabajo distribuidos, porque le es más fácil las relaciones humanas. Los directivos han de entender que la empresa debe ser una contribución
amar un equipo con los recursos que necesita el proyecto, que conseguir justo todas las personas al bienestar social y a la cultura, y cobrar conciencia de su responsabilidad social, no sólo como
en un mismo lugar. ciudadanos sino también como miembros de la profesión empresarial.
- La empresa ve como un gasto las reuniones presenciales de los integrantes de un equipo.
- La empresa genera reuniones presenciales de los equipos distribuidos, pero son para trabajar Referencias
(no informales), y por ejemplo cuando implican el traslado entre La Plata6 y CABA no paga los
pasajes (corren por cuenta de los empleados). Bédard, R. (2003). Los Fundamentos del Pensamiento y las Prácticas Administrativas. 1- El
- Tener líderes a los que no les importa cómo están los empleados, que no estén atentos a los que rombo y las cuatro dimensiones filosóficas. AD-Minister, (3), 68-88. Recuperado de http://
les pasa, al extremo de que les presenten la renuncia sin que ellos lo hubieran sabido o intuido. publicaciones.eafit.edu.co/index.php/administer/article/view/697
- Premiar con una mayor retribución individual a los gerentes de sucursal que no ejecutan todo
el presupuesto, por lo que los gerentes evitan costos como los que se requieren para reuniones Compendio de la Doctrina Social de la Iglesia, (2004). Número 312. Recuperado de http://
presenciales de equipos distribuidos o reuniones recreativas de los empleados. www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/justpeace/documents/rc_pc_justpeace_
- Cargar al cliente como costo del proyecto el de las reuniones presenciales que se hagan. doc_20060526_compendio-dott-soc_sp.html

Recursos de los empleadores para favorecer las relaciones sociales de los integrantes de sus Echeverría, J. (1999). Los señores del aire: Telépolis y el Tercer Entorno. Barcelona, España:
equipos distribuidos en red Destino.

Los trabajadores entrevistados identifican recursos de los que entienden pueden hacer uso las Guedes-Gondim, S., Puente-Palacio, K. y Borges-Andrade, J. (2011). Desempeño y Aprendizaje
empresas empleadoras para favorecer las relacionales sociales en el trabajo de sus empleados, en Equipos Virtuales de Trabajo: Comparando Brasileños y Argentinos. Revista de Psicología del
recursos que van desde asegurarles medios y canales para que la comunicación a distancia Trabajo y de las Organizaciones, 27(1), 31-41. DOI: 10.5093/tr2011v27n1a4
sea lo más satisfactoria posible, hasta la posibilidad de reunirlos físicamente periódicamente,
pasando por conformar equipos de trabajo con empleados de la misma ciudad y mantener en el Johansson, C. (2007). Goffman’s Sociology: an Inspiring Resource for Developing Public Relations
tiempo los equipos de trabajo que tienen buena sinergia aunque cambie el cliente o proyecto. Theory. Public Relations Review, 33(3), 275-280.

Comentario final Melé, D. (2007). Ethics in Management: Exploring the Contribution of Mary Parker Follett.
International Journal of Public Administration, 30 (4): 405-424.
Esperando haber realizado un aporte, aunque pequeño, se considera que las relaciones sociales
en el trabajo en las organizaciones actuales, donde el teletrabajo y los equipos distribuidos Mendizábal, N. (2006). Los componentes del diseño flexible en la investigación cualitativa.
son una realidad, deben ser más estudiadas por la Administración, para proponer modos de En Vasilachis de Gialdino I. (Coord.), Estrategias de investigación cualitativa (pp.65-106).
organización del trabajo que tengan en cuenta al ser humano, en sus características generales Barcelona, España: Gedisa.
y particulares. Siguiendo a Parker Follett (Melé, 2007), y en consonancia con la concepción
humanista de la actividad administrativa se entiende que la función principal de la empresa es Sias, P., Krone, K. y Jablin, F. (2002). An ecological systems perspective on workplace
relationships. En Knapp, M. y Daly J. (Ed.), Handbook of interpersonal communication (pp. 615-
5. CABA es la sigla de Ciudad Autónoma de Buenos Aires, capital de la República Argentina.
6. La Plata es la ciudad capital de la Provincia de Buenos Aires (Argentina).
642). Thousand Oaks, Estados Unidos: Sage Publications.

1783 1784
Stake, R. E. (1999). Investigación con estudio de casos. Madrid, España: Ediciones Morata.

Taylor S. y Bogdan R. (2000). Introducción a los métodos cualitativos de investigación. La


búsqueda de significados. Barcelona, España y Buenos Aires, Argentina, México: Ediciones
Paidós.

Trabajos independientes

1785 1786
Capítulo 176
Aunque el pronóstico del futuro tiene como cierto la conducción de su fracaso, es innegable que
todo directivo busca la estabilidad para su organización tratando de dimensionar la variación del
La Oficina del futuro: La tecnología vista desde una perspectiva humana entorno, situación nada fácil, considerando la imprevisibilidad de las variables que lo configuran:
económicas, culturales, políticas, tecnológicas y de mercado, entre otras. Esta postura le
José de Jesús López Loeza1 y Ricardo Alejandro Rodríguez Lara2
conduce a ese directivo a generar planes y estrategias que le permitan anticipar los fenómenos
de cambio y generar estrategias de adaptación al nuevo entorno. En este sentido, el mundo no es
el mismo desde que el fenómeno de la integración global llegó desde la década de los ochenta,
Los avances tecnológicos que ha presenciado la humanidad desde 1995, año en que comenzó el
no sólo cambiaron los mercados como arena competitiva de las empresas, también lo hicieron
crecimiento de la internet comercial, han sido enormes. No solo los individuos sino también las
factores determinantes del ámbito organizacional como la informática y las telecomunicaciones
empresas de cualquier tamaño se han visto beneficiados con la aparición de nuevos equipos de
(Heydebrand, 1989). Estas dos variables jugaron un papel fundamental en la evolución de las
telecomunicación, smartphones, ordenadores, robots, etc. que a simple vista parecen facilitar
empresas – y de las entidades gubernamentales-, la informática permitió sistematizar procesos
la manera de trabajar y comunicarse. La marca de tecnología HP promueve actualmente lo que
y mejoró los procesos de toma de decisiones gracias a la rapidez con la que se manejó la
llaman “La oficina del futuro” (HP, 2017) que conlleva la utilización de mayor número de equipos
información en los ámbitos de la alta dirección; por su parte, las telecomunicaciones agilizaron
inalámbricos, mayor seguridad de transferencia de datos y encriptación de los mismos, además
los procesos de intercambio de información entre una organización central y sus grupos de interés
de otras mejoras que apuntan tanto hacia la movilidad laboral como al trabajo entre equipos
-stakeholders-, elementos que generaron una gran dinámica de cambio en las organizaciones,
multidisciplinarios en tiempo real, sin estar en un mismo espacio geográfico y generando
pero que generó también mecanismos de presión para que los directivos se abocaran a dar un
aumento de la productividad.
mayor seguimiento a los cambios ambientales.
Pero ¿qué hay del otro lado?
La nueva realidad del entorno ha inducido a las firmas a buscar formas más eficientes y dinámicas
que les permita una mayor competitividad, los tiempos de aprendizaje se acortan y el mercado
En algunas ocasiones las personas llegan a trabajar 60 horas a la semana (o incluso más) aun
también se transforma de una manera tal que los directivos deben ser capaces de identificar con
cuando legalmente (al menos en México) deberían hacerlo por un tope máximo de 8 horas diarias
precisión el rumbo que debe seguir su organización a fin de ser más competitiva.
y 9 horas extra por semana, lo que se traduciría en un tope de 49 horas trabajadas por semana,
en una semana de 5 días laborales. Es decir, el tiempo que una persona dedica al esparcimiento,
El reto de monitorear el ambiente ha provocado que el directivo se centre más en el entorno
cuidado personal y familiar, así como descansos y vacaciones está siendo limitado por las
externo de la organización y deje la dimensión interna a sus gerentes quienes deben resolver
nuevas tendencias laborales. Aspectos importantes para la realización del ser. Al margen de
los problemas internos de la misma con los elementos informativos que el directivo central les
esta realidad surgen los trabajos freelance y homeoffice cuya finalidad podría ser precisamente
genera. Gilli señala que esta nueva naturaleza de trabajo demanda en la organización nuevos
lograr un equilibrio entre el trabajo y la realización personal.
proceso de trabajo, nuevas estructuras organizacionales, nueva tecnología, un personal mejor
La pregunta es ¿hasta qué punto esto se puede alcanzar?
habilitado y procesos estratégicos que conjuguen a los elementos del diseño antes señalados
(Gilli, 2007), es decir, nuevos procesos de rediseño que no son fáciles de llevar a cabo (Sotaquirá
Marco teórico
G., 1996) pues cuando se habla de estos temas relacionados con la transformación de las
organizaciones no hay garantías de que se alcancen los resultados esperados.
El entorno y su impredecibilidad
1. Universidad de Guanajuato, Mexico. Email: jesuslpzloeza@gmail.com
2. Universidad de Guanajuato, Mexico. Email: rijalexis@gmail.com
La realidad anterior que obliga al directivo a la transformación interna de su organización frente

1787 1788
al entorno complejo y dinámico le demanda también nuevas estrategias como la colaboración que apoyan a realizar las tareas de manera más eficiente. Adicionalmente, las tablets están
a distancia. En este sentido, tecnología, personal, procesos y estrategias se conjugan para dar más avanzadas en este sentido pues incluso pueden soportar aplicaciones de diseño gráfico,
cabida, entre otras propuestas al trabajo autodirigido, por proyectos, y al trabajo a distancia, arquitectura y modelismo lo que aumenta su potencial productivo.
nuevos paradigmas de los que se desprende la oficina del futuro como una nueva propuesta
que puede generar un fuerte impacto en las empresas, no sólo en el desarrollo de sus procesos La Oficina del Futuro, comenta Pacha, nace de la preocupación por atender las necesidades
de trabajo como tal sino como una estrategias económica que puede incidir tanto en los costos laborales de las nuevas generaciones como lo son los Millenials (Quienes actualmente forman ya
operativos como en los índices de productividad y rentabilidad por los alcances que se vislumbran parte importante de la fuerza de trabajo a nivel mundial) y la generación Z (mejor conocida como
en el paradigma. ¿Pero, a qué obedece esta posible tendencia? En seguida se presentan algunas centennials) quienes son hoy adolescentes y que según algunos autores comenzarán a formar
reflexiones en la materia. parte de la fuerza laboral para 2025.

¿Cuál es la razón de ser de “La Oficina del Futuro”? Estas generaciones se caracterizan principalmente por tener lo último en tecnología y ser
expertos en el uso de internet no solo para redes sociales sino en general cubriendo otros
Las organizaciones inteligentes, en la nueva era, deberían, por lo menos en la teoría, ser un ámbitos de las telecomunicaciones. Quienes pertenecen a estas generaciones ven en los
paradigma mediador entre la eficiencia, productividad laboral y el tiempo libre de la fuerza teléfonos inteligentes su manera de conectarse al mundo y al trabajo. Marcas como Canon,
laboral para dedicar tiempo a la autorrealización. En este contexto, se estaría hablando de Epson, HP y Apple han desarrollado toda una gama de periféricos como impresoras, cañones,
organizaciones que promueven el desarrollo personal a través de la capacitación en áreas de scanners; e incluso marcas como HID Global y Allegion han desarrollado ya sistemas de control
interés tanto para las mismas organizaciones como para el trabajador, combinado también con de accesos y seguridad generando una tarjeta electrónica con toda la información del usuario
un liderazgo que promueva equipos de trabajo multidisciplinarios entre sí, es decir, el desarrollo encriptada en el teléfono móvil.
de habilidades y conocimientos en diferentes campos, a la vez que le da a la empresa un valor
agregado que le otorgaría una cierta ventaja competitiva en el mercado ya que en la actualidad el Otra de las características de quienes pertenecen a las generaciones Millenial y Z es la necesidad
conocimiento se considera como uno de los principales recursos generadores de competitividad de la movilidad. Tal parece que los espacios cerrados no están entre sus consideraciones para el
(Zomer, 2015). desarrollo de su trabajo. Ellos están más motivados por las libertades que un empleo les pueda
ofrecer y es normal pensarlos en trabajos Freelance5, sin una oficina fija para trabajar.
Scott Steinberg3 (Steinberg, 2010), menciona en un artículo para la revista Entrepreneur que
los gadgets son una buena manera para ayudar a la operación y crecimiento de las empresas, Las mejores ideas han sido pensadas y desarrolladas fuera de una oficina como lo señala SPACE
especialmente las pequeñas y medianas empresas (PyMEs). Se considera que los smartphones, Arquitectura6 en su sitio de internet. “…Tenemos el convencimiento de que, cuando se piensa en
los equipos portátiles poderosos y las tablets son algunos de los gadgets que pueden incrementar términos de GENTE-TECNOLOGÍA-ESPACIO al mismo tiempo, las ideas se mueven más rápido.
la productividad de los equipos de trabajo menciona Steinberg en su trabajo. Así comenzamos fusionando personas inteligentes con tecnologías inteligentes en espacios
inteligentes.” Se puede leer en su sitio web.
Por otro lado, Marcos Pacha4 menciona en entrevista (Pacha, 2017) que los Smartphones
aportarán en gran medida al logro de la movilidad laboral pues la tendencia de estos aparatos ¿Qué beneficios podría tener este nuevo sistema?
es alcanzar las funcionalidades de las computadoras. Actualmente soportan aplicaciones (Apps)
de Microsoft Office como Word, Excel y Power Point, además de tener otras aplicaciones Actualmente, no es extraño ver a profesionistas trabajando por cuenta propia por proyectos o
3. Scott Steinberg es conferencista en temas como negocios, cambio, liderazgo, mercadotecnia y tendencias en innovación y tecnología, autor de libros
como “La Guía del Experto en Negocios” y escritor para la revista Entrepreneur. 5. El trabajo Feelance se caracteriza por no estar ligado a una sola empresa, sino por proyectos o con varias empresas a la vez.
4. Marcos Pacha es Host de “La Oficina del Futuro” de HP para América Latina. 6. SPACE Arquitectura es una firma dedicada al diseño de espacios de trabajo amigables entre personas y productividad

1789 1790
teniendo empresas que no requieren un gran espacio físico. En ocasiones solo basta un escritorio labores del hogar puede contribuir a un mayor equilibrio emocional.
y una computadora. En este sentido podríamos entender como trabajo colaborativo todo aquel
aprovechamiento de las tecnologías para generar conocimiento (y empleo) que contribuya al - Conexión desde casi cualquier parte (Accesibilidad). Acorde a lo que se ha tratado en este
crecimiento profesional y personal, con o sin fines de lucro, proveyendo de bienes y servicios a trabajo, la oficina del futuro podría ser adoptada tanto por grandes corporativos como pequeñas
la sociedad. empresas, pero sobre todo por las llamadas Startups.

Tal como se mencionó anteriormente, desde hace tiempo se están desarrollando nuevas Impacto Social / Bienestar
tecnologías que apuntan a una mayor productividad laboral a la vez que, su utilización podría
permitir a los colaboradores disfrutar de más tiempo libre para realizar actividades adicionales a Pfeffer, en su obra de 1997 “Nuevos rumbos en la teoría de la organización”, refiere que la
las laborales, para generar ingresos adicionales e incluso pasar más tiempo con la familia. estrategia, los procesos, el tamaño, la tecnología, el personal y el ambiente se relacionan entre
Algunos de los beneficios que se podrían destacar de este modelo de trabajo tanto para empresas sí para generar un mejor funcionamiento de la organización. En cuanto al diseño físico, Pfeffer
como para colaboradores son: argumenta que es un aspecto que no se ha estudiado a profundidad (Pfeffer, 1997), ya sea
porque puede verse relacionado a otras ramas como el diseño, arquitectura o a la ingeniería
-Reducción de tiempos y costos de traslado. Para los colaboradores representaría un ahorro de o bien porque generalmente suele prestarse más atención a los aspectos administrativos,
combustible y tiempo de tráfico pudiendo trabajar desde cualquier parte, contando únicamente estratégicos y de producción, sin embargo, un ambiente con un diseño físico agradable y bien
con conexión a internet, y tener reuniones presenciales solo en casos específicos. Algunos acondicionado podría tener un efecto favorable en el desempeño del personal.
lugares como We Work facilitan el desarrollo de este trabajo pues ofrecen a los freelancers un
espacio tecnológico en el que pueden disponer de un espacio en una mesa, una oficina pequeña, Cabe destacar que estos argumentos se desarrollan en un momento en el que la tecnología tenía
salas de juntas hasta un piso completo con acceso las 24 horas del día los 365 días del año. El menos relación con el día a día en las organizaciones. Así pues, espacios, tecnología (aspectos
acceso a cualquier área del edificio se hace mediante credenciales electrónicas en sus móviles. que parece esperar la generación millennial) y personal ayudados de las estrategias y el diseño
organizacional están apuntando a una nueva forma de trabajo (al menos en lo administrativo)
- Incremento de la productividad laboral. Algunos estudios demuestran que después de 6 horas diseñando, a la vez, la oficina del futuro. Sin embargo, no todo lo referente a este paradigma
la productividad de las personas comienza a disminuir, después de 8 horas su productividad baja genera visiones positivas.
hasta en un 80% y luego de 10 horas las probabilidades de que cometa errores en el trabajo
son mayores al 60%. Una buena manera de combatir este fenómeno es invertir en programas Desventajas o amenazas
de los llamados ERP que permiten tener información en tiempo real y tomar decisiones más
rápidas y oportunas. Dependiendo del giro de la empresa, se puede contar con herramientas Randi Zuckerberg (Zuckerberg, 2018) (Exdirectora de marketing de facebook y hermana de su
de las llamadas “respondedoras7” como Zendesk, las cuales facilitan enormemente la labor de fundador) menciona en entrevista para Entrepreneur en Español que realmente el balance entre
ventas y la atención al cliente. trabajo y vida personal no existe. En su reciente libro menciona como una técnica de equilibrio
el “Pick Three” (elige tres), que consiste en elegir diariamente 3 de las 5 áreas personales para
- Incremento del bienestar de los colaboradores. El paradigma permite dejar de lado el estrés de atender, pudiendo hacerse cargo de las otras 2 al día siguiente. Estas 5 áreas son, a decir de
permanecer en el tráfico, cumplir todos los pendientes del día y regresar a casa para realizar las Randi Zuckerberg: Trabajo, Sueño, Familia, Amigos y Salud.
7. Las herramientas respondedoras son robots que se puede decir funcionan con inteligencia artificial. Esta herramienta se instala en un ordenador
ligado a correo electrónico, whats app o Facebook. Cuando el cliente envía dudas o preguntas la primera vez hay que responder manualmente; al hacerlo, Podemos observar pues, que este como otros modelos tiene también puntos en los cuales
esta herramienta graba los parámetros de la pregunta y la respuesta, así cuando se reciba un correo o mensaje de otro cliente similar a alguno de los
anteriores la herramienta contesta automáticamente.
trabajar y retos que superar.

1791 1792
Para las empresas que quieran adoptar todas las bondades y beneficios de las nuevas tecnologías HP. (Julio de 2017). www.hp.com. Next-Gen Office: The Future of Workspaces. Recuperado el 14
tendrán que invertir fuertes sumas de dinero lo que podría dejar fuera a las pequeñas empresas de Septiembre de 2017, de www.hp.com: http://h20195.www2.hp.com/v2/getpdf.aspx/4AA7-
que normalmente tienen pocos recursos para invertir en estos rubros. 0601ENW.pdf

Mejorar los espacios de trabajo también podría acarrar consigo problemas en lo personal a los Pacha, M. (21 de Septiembre de 2017). La Oficina del Futuro de HP. (J. d. Loeza, Entrevistador)
colaboradores. Extraoficialmente existe el rumor de que han aumentado los casos de divorcio León, Guanajuato, México.
entre los colaboradores de Google ya que encuentran en esta empresa un lugar excelente y con
bastantes comodidades para pasar el tiempo, en consecuencia, descuidan su vida familiar. Pfeffer, J. (1997). Nuevos rumbos en la teoría de la organización. (M. d. Villareal, Trad.) México:
Oxford. Recuperado el 25 de noviembre de 2017
Podríamos decir entonces que encontrar el balance entre trabajo y vida familiar no solo depende
de la disposición de nuevas tecnologías sino también de una preparación de la persona para Sotaquirá G., R. H. (1996). Diseño organizacional con Dinámica de Sistemas y con un enfoque de
adaptarse a nuevas maneras de trabajar y de administración efectiva del tiempo. cambio radical. Masschusetts, USA: Cambridge.

Tecnología y personas no pueden o no deberían verse por separado pues hoy día uno requiere de la Steinberg, S. (Marzo de 2010). Moderniza tu equipo de trabajo. Entrepreneur México, 18 Issue 3,
ayuda del otro. Las computadoras, teléfonos inteligentes, robots, etc. requieren de programación, 98-104. Recuperado el 12 de Junio de 2018
diseño y mantenimiento que se desprende del conocimiento profesional o empírico de un
humano. Siguiendo en esta línea, el humano, para facilitar sus labores, requerirá de software de Zomer, I. D. (2015). Organizaciones inteligentes y gestión del conocimiento. Universidad
computadora que le auxilie en el diseño de partes y simulaciones para comprender su posterior Fidelitas. San José, Costa Rica: Universidad Fidelitas. Recuperado el 27 de septiembre de 2017
funcionamiento que operan con la programación que antes generó otro ser humano.
Zuckerberg, R. (02 de Julio de 2018). El balance vida-trabajo no existe. (E. e. Español,
A simple vista parece que los nuevos avances tecnológicos, en una sociedad capitalista, Entrevistador)
coadyuvan en la generación del conocimiento, aunque son estos mismos avances tecnológicos
los que en un momento dado podrían impedir que se dé esta colaboración entre equipos de
trabajo (Dorothy & Reygadas, 2013).

Bibliografía

Dorothy, S., & Reygadas, L. (enero-junio de 2013). Tecnología y trabajo colaborativo en


la sociedad del conocimiento. Alteridades, vol. 23(núm. 45), 107-122. Recuperado el 27 de
septiembre de 2017

Gilli, J. J. (2007). Diseño organizativo, estructura y procesos. Buenos Aires: Granica.

Heydebrand, W. V. (1989). New organizational forms. England: Work and Occupations.

1793 1794
Capítulo 177 los indicadores tradicionales de gestión en el seguimiento de las organizaciones, debieran
actualizarse desde una perspectiva incrementalista (mayor intensidad de las variables), o si por
el contrario no estamos en presencia de una situación cualitativa diferente que exige un nuevo
Visión integrada organizacional, mediante la operacionalización de enfoque en la mirada organizacional (integrado a través de metaprocesos).
metaprocesos, para el control de gestión
Para ello se diagrama una matriz, que combinará el metaproceso de la gestión organizacional
Miguel Ángel Blázquez1 y Aca Carolina Razzi2 DICCDAN a nivel de fila, con el metaproceso del diagnóstico organizacional CORPRIC a nivel de
columnas, de modo de generar una serie de cuadrantes. Cada celda integrará a nivel de indicadores
de gestión una encuesta semiestructurada, que facilite su análisis métrico comparativo, y por
1. Introduccion el otro un relevamiento de preguntas abiertas a referentes claves que faciliten el análisis de
tipo cualitativo, en la finalidad de diseñar un nuevo modelo de gestión aplicado a la realidad
Se estudia el metaproceso como una nueva metodología, desde la concepción de procesos organizacional, independiente de sus características.
de procesos, con el sentido de abordar la realidad organizacional de manera ampliada, dónde
cada fragmento de esa realidad pueda comprenderse desde uno o varios metaproceso/s. En 2. Marco Teorico
este sentido, el enfoque por metaproceso facilita la trazabilidad conceptual alrededor de macro
temas, como puede ser desde los enfoques desarrollados, el estudio del diagnóstico y/o de la 2.1. Concepto y tipos de metaproceso
dinámica organizacional para optimizar su evaluación y control. Un metaproceso, se constituye
desde el análisis de una realidad específica, en forma dinámica a través de la identificación de Un metaproceso es una entidad que se compone por un conjunto de núcleos centrales dentro de
un conjunto de núcleos altamente integrados mediante nexos conectores, con identidad propia. una perspectiva procesual, que facilita el análisis de la trazabilidad en la gestión organizacional.
(Blázquez, Razzi y Franco, 2014). Los núcleos constitutivos son variables definidas en tiempo y espacio, que se van gestando a
raíz de necesidades, oportunidades, o manifestación de hechos que se alejen de los objetivos
Los procesos se muestran insuficientes para comprender a las organizaciones desde una organizacionales, y/o procedentes del entorno en la que éstas se desarrollan. Estos núcleos que
perspectiva holística. Por este motivo es que la estrategia de operacionalización es la generación integran los metaprocesos asumen distintas características, en función al tiempo y espacio en
de metaprocesos, que permitan comprender su funcionamiento en este caso referido al control el cuál han sido definidos.
de la gestión organizacional, y a la adaptabilidad del entorno, contrarrestando los efectos de un
entorno VICA -volátil, incierto, complejo, ambiguo- (Levy y Baravalle, 2012). El estudio de los metaprocesos con sus más diversas miradas se transforma en una necesidad
para comprender la organización en sus entramado de relaciones como lo plantea Etkin y
Es así que el enfoque de metaprocesos se convierte en una herramienta necesaria para la gestión Schvarstein (1992; 157) “(…) el fenómeno organizacional es necesariamente complejo.
actual de las organizaciones, donde la complejidad aparece asociada a la propia disciplina desde Debe descartarse para su comprensión toda aproximación cuyo paradigma subyacente sea
una perspectiva intradisciplinaria (Blazquez, 2012. Desde un plano de control de gestión, se el de la simplificación, del que son rasgos dominantes el reduccionismo (descomposición en
fundamenta la implementación de la metodología de metaprocesos, considerando las profundas partes componentes que impide luego reconocer la totalidad) y la disyunción (eliminación de
modificaciones que se suscitan en el mundo, relacionadas en la necesidad de replantear si intersecciones e interacciones entre los distintos elementos que constituyen la organización)”.
1. Investigador Jefe de la Universidad Nacional de Córdoba. Director de Proyectos de investigación (Secyt). Docente Univ. e investigador IUA – Fac. Cs.
de la Adm. Email: mblazquez@iua.edu.ar Los conceptos que integra el CORPRIC son: Contexto 1, Organización, Recursos, Procesos,
2. Docente universitaria (Instituto Universitario Aeronáutico, Universidad Blas Pascal, Universidad Siglo 21, Córdoba-Argentina) e investigadora (IUA-
Fac. Cs. De la Administración – UES21, Córdoba-Argentina). Email: crazzi@iua.edu.ar
Resultados, Impacto y Contexto 2. Este esquema considera que la gestión organizacional

1795 1796
comprende un conjunto de etapas en la dimensión del tiempo y del espacio. El tiempo es el
período que transcurre desde el contexto inicial y el contexto final, denominados Contexto 1 y 2
respectivamente. Las etapas intermedias se refieren a un espacio determinado en el que opera
la Organización, donde intervienen Recursos, Procesos y Resultados. Estos resultados junto con
el Impacto se relacionan con el Contexto 2.

El DICCDAN se consolida a través de la integración de siete núcleos: D (Dato), I (Información),


C (Conocimiento), C (Capacidad), D (Decisión), A (Acción), N (Nuevo Dato). El nexo que integra
cada una de estas etapas está dado por la Comunicación y Tecnología. (Blázquez, 2016).

Dato y Nuevo dato son dos aspectos claves que representan la dimensión temporal como factor
crítico de la adecuada gestión. Mientras las restantes dimensiones se identifican en un espacio
determinado, estos dos conceptos se los asocia al factor tiempo de la gestión organizacional. La
información es clave y convive como proceso con la gestión de los datos. Abunda la información
pero contradictoriamente se carece de ella al momento de la decisión, al no estar presente 3. Desarrollo
en forma adecuada (ordenada según tipo de análisis). Conocimiento y capacidad dos núcleos
íntimamente vinculados. El conocimiento se corresponde con los saberes adquiridos, que hacen La operacionalización de la matriz se traduce en la lógica aplicada de cada uno de los cuadrantes
al sujeto, mientras que la capacidad es la interacción que se hace de estos conocimientos tanto con la identificación de indicadores de gestión, desde la interacción de los núcleos de los
en lo personal como en lo colectivo. La capacidad es el conocimiento institucionalizado que metaprocesos integrados.
permite aproximarse a la mejor decisión, a través de una sola persona o grupo.
Es así que se describen desde esta perspectiva, los indicadores que surgieron de esta experiencia
La Decisión es la que pone en movimiento las etapas que la preceden y debe ser analizada preliminar para el nivel de DATO (núcleo inicial del metaproceso DICCDAN), con cada uno de los
desde una perspectiva amplia e integrada. La Acción en diversas ocasiones, no se corresponde núcleos del metaproceso CORPRIC.
con las decisiones impartidas porque ha prevalecido el sentido común, que no es otra cosa que
conocimientos tácitos de quienes asumen la acción Los indicadores del núcleo dato que se pueden obtener a través de su interacción con el CORPRIC,
están identificados mediante los cuadrantes 1A a 1G, y se visualizan en Figuras 2, y 3.
2.2. Matriz de metaprocesos de organizacionales entre DICCAN y CORPRIC

Desde el marco teórico de los metaprocesos se desarrolla una matriz entre el diagnóstico del
CORPRIC y el proceso de DICCDAN, para que desde la perspectiva del moderno concepto de
control de gestión, se puedan validar su contenido, y operacionalizar su aplicación como una
primera etapa del proyecto de investigación. En la Figura 1 pueden apreciarse las interacciones.

1797 1798
1799 1800
Dato - Contexto 2

El factor tiempo de la gestión organizacional genera nuevos datos. No existe información sin dato,
de igual manera conocimiento sin información y así sucesivamente para la capacidad, decisión,
acción y nuevo dato. En un contexto 2, el dato toma relevancia, desde cómo se constituyó el flujo
interactivo de los núcleos de los metaprocesos, y en el sentido de cómo ha sido la registración de
la información para generar los nuevos datos.

Información - CORPRIC

Respecto al núcleo Información (DICCDAN), se corresponde a los datos procesados, previamente


enunciados, para los cuadrantes 2A a 2G. La teoría de combinaciones permite un número
próximo a infinito, que infiere una multiplicidad de indicadores de gestión en virtud al punto
anterior, cuya cantidad y calidad variará en virtud de la capacidad de la organización y sus
gestores.

Conocimiento - Capacidad - CORPRIC

El conocimiento y la capacidad (cuadrantes 3A a 3G – 4 A a 4 G), pueden ser observados a


través de los núcleos del CORPRIC, según los indicadores de Figura 4.

Decisión – CORPRIC

El proceso decisional es transversal al proceso administrativo, y a cada uno de los núcleos


del CORPRIC. A tal fin, en cualquiera de los cuadrantes que emergen de la matriz se toman
decisiones. En ese sentido se especifican una serie de indicadores diseñados de modo general
en Figura 4.

Acciones – CORPRIC

Existen acciones que se desarrollan subsiguiendo las decisiones tomadas, otras que se ejecutan de
manera exógena siendo no fundadas en decisiones específicas. Por otra parte pueden originarse
desvíos entre las decisiones tomadas y su consecución. Asimismo los sujetos tomadores de Nuevo Dato – Contexto 2
decisiones pueden ser los mismos que las ejecutan, o pueden ser otros quienes las lleven a la
práctica. Desde estas realidades se diseñan indicadores para su seguimiento (Figura 4). La secuencia lógica de causa y efecto de tipo lineal y relativamente mecanicista deja de

1801 1802
autogestionarse como un círculo cerrado, para asumir una forma espiralada con la presencia de correlaciona éstos para tomar decisiones en relación a los precios de los productos que ofrece.
los nuevos datos en un nuevo contexto (2), representados en el rango de cuadrantes 7 A - 7 G. Al ser líder en el mercado, los datos vinculados a la competencia, no son relevantes al momento
de tomar decisiones sobre los mismos, pero sí posee constantemente datos sobre los productos
4. Experiencia De La Investigacion Aplicada y precios de sus cuatro principales competidores, como referencia de manera sistemática al
igual que de sus proveedores.
4.1. Caracterizacion De Las Organizaciones
En el caso de la empresa brasilera, que posee solo un competidor, de manera no recurrente
Sorocabana es una organización de servicio gastronómico, de una trayectoria de 60 años y consulta los precios para garantizar su competitividad, a la vez que sistematiza la lista de
valor histórico significativo, de prestigio en el ambiente político y social en el casco céntrico proveedores, calidad, y precio de sus materias primas e insumos. Los datos provenientes de los
de la Ciudad de Córdoba, Argentina. Se focaliza en un segmento de mercado cuya edad de las organismos fiscalizadores, son una constante fuente de información, que limitan sus decisiones
personas es superior a los cuarenta años. Se diferencia por su atención de 24 horas, su café, y accionar.
medialunas y desayunos tradicionales producidos en la entidad, y servicio de delivery. Cuenta
con una dotación promedio de 20 colaboradores. Los sistemas de información que poseen en la actualidad no son suficientes para considerar la
integración de los datos que integran cada eslabón del CORPRIC. El control de gestión se focaliza
Paladare es una empresa que actúa en el sector de alimentación industrial, además de servicios en variables básicamente contables-financieras y vinculadas al proceso de compras. En el caso
de hotelería para asistir a las personas que trabajan en plataformas petroleras y gasoductos de Sorocabana, complementa el sistema PIXO con planillas de Excel para gestionar el negocio,
terrestres. Localiza logísticamente sondas para proveer su servicio en condiciones de higiene y de modo que además de las variables esenciales del sistema de información contable, registra
seguridad. Está presente en seis estados brasileros: Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Sergipe, ventas por producto, cantidad por hora y franja horaria, cantidad de productos expedido por
Alagoas e Rio Grande do Norte. Actualmente cuenta con 27 colaboradores, coordinados por un mozos y delivery. También registra condiciones macroeconómicas que afectan al negocio por
director general, dueño de la empresa. rubro de su estructura de costos de manera mensual.

4.2. Resultados Preliminares Los objetivos y planes se definen de manera informal a nivel estratégico y táctico, y no se lleva a
cabo una revisión periódica de los mismos ni se registran.
Las empresas bajo estudio encuentran puntos críticos desde el análisis de los indicadores
integrados, que antes no habían sido observados, por lo que vislumbran la virtud de la herramienta. Las decisiones en general son de tipo programadas en ambas organizaciones, las cuales tienen
Los primeros resultados de los indicadores aplicados, describen aspectos valorables de análisis, correspondencia con las acciones que se desarrollan consecuentemente. En ambas empresas se
de los cuáles cabe destacar los siguientes puntos en común, y específicos para cada una de las descentraliza la toma de decisiones que compete a funciones específicas de gerencias a nivel
organizaciones estudiadas. táctico. Las decisiones que no se delegan son las de índole financiera en ambas entidades, a la
vez que las de mayor envergadura que atañe responsabilidad corporativa y a largo plazo. Se
En ambas organizaciones, algunos de los datos de los núcleos se medían de manera inconsciente consensuan acciones a seguir, las cuáles responden a decisiones tomadas en equipo, dando así
e informal, sobre todo los vinculados a resultados e impactos, y en los que concierne al núcleo participación a los subordinados. Hay acciones cuyo sujeto condice con el tomador de decisiones,
organización a aquellos relacionados al capital humano. en el caso de las de tipo estratégica, no así con las de tipo táctico y operativo, en el que difieren.
Situación manifiesta en ambas empresas.
Con relación a datos del entorno, la empresa Argentina posee un exhaustivo detalle de datos
relacionados al tipo de cambio y a la inflación por periodo mensual, de modo que luego Se observa además, que no se registran las novedades en ambas organizaciones, las que se

1803 1804
originan de la rutina, como ser el reclamo de un cliente por un café quemado, o el empleo optimizar el funcionamiento del mismo.
excesivo de insumos por encima del estándar para un proceso productivo diario. Situación que
se resuelve de manera concurrente pero que no encamina acciones proactivas para desestimar La aplicación se perfecciona de manera gradual, a medida que el o los sujeto/s, es/son conscientes
su ocurrencia. En este sentido el uso de la herramienta, posibilita la trazabilidad de las de la diversidad de variables, la dinámica de las mismas en tiempo y espacio, y posteriormente
problemáticas que puedan suscitarse en cada una de ellas. con el seguimiento de la gestión, desestimando un modelo estático de la misma en un contexto
con cada vez más desafíos y obstáculos.
En ambas organizaciones, los órganos contralores de índole fiscal y sanitaria, son actores
discrecionales en el desarrollo de las funciones de ambas entidades, por lo que son los estándares 5. Conclusiones
y normativas externas las que introducen al sistema organizacional, información sobre requisitos
y funcionamiento que conllevan a una rigurosa toma de decisiones, y posterior accionar por parte La realidad de las organizaciones sumergidas en un entorno complejo, requiere nuevas miradas
de los responsables. de la gestión integrada, y es por ello que el control de gestión ya no puede operacionalizarse con
las mismas herramientas tradicionales con que viene funcionando.
Ambas organizaciones cuentan con manuales de funciones y procesos. Los mismos se cumplen de
manera exhaustiva en Paladare, por formalizarse sus servicios en contratos específicos que son El enfoque de metaproceso para el diagnóstico y la gestión organizacional, facilita estos análisis
controlados de manera rigurosa. En el caso de Sorocabana, esta situación es arbitraria de modo de modo que prioriza los flujos, velocidad y diversidad, por sobre las estructuras, normativas
que, su capital humano en promedio tiene 25 años de antigüedad, lo que hace que sus acciones y responsabilidades. De esta manera la matriz de ambos metaprocesos se presenta como un
se representen más por el hecho de costumbres arraigadas, que por el mero cumplimiento de lo instrumento idóneo para un nuevo control de gestión, sabiendo que su finalidad es gestionar la
especificado en los documentos formales. En ambas organizaciones la rotación del personal es sustentabilidad organizacional para trascender al mero cumplimiento de los objetivos formales
baja, lo que promueve el aprendizaje corporativo. La desventaja de Paladare, es que al tratarse y tangibles.
de una base logística de provisión de alimentos y alojamiento, ésta debe responder de manera
específica a condiciones socioculturales de los lugares donde se asienta, acompañando la labor De esta manera se puede afirmar el instrumento desarrollado, para abordar esta nueva
madre por la cual se la contrata oportunamente. realidad, y brindar la continuidad de las investigaciones futuras. Desde estas experiencias
se podrá comprobar si la herramienta es suficiente, o requiere modificaciones en lo sucesivo
Por lo expuesto, se infiere que la herramienta relativiza la incertidumbre, de modo que el bajo el supuesto básico del constante dinamismo manifiesto e implícito con el que conviven las
proceso analítico combinatorio entre componentes de los metaprocesos, de manera implícita, organizaciones.
contribuye a disminuir los efectos del dinamismo y la complejidad.
Referencias
La efectividad del instrumento depende de la capacidad de asimilar e interrelacionar las variables
por parte del sujeto o equipo que la gestione. Es decir que el modelo se limita por las condiciones Blázquez, M. y Buraschi, M. (2012) “Reflexión sobre taxonomías en los intangibles” XVIII
específicas del sujeto, como así también de los vínculos que emergen con los demás sujetos. Jornadas de Epistemología en Ciencias Económicas – Univ. Buenos Aires.

El uso de la herramienta minimiza el conocimiento implícito para transformarlo en explícito. Se Blázquez,M. y Mondino, A. (2012) “Recursos Organizacionales: Concepto. Clasificación e
enfatiza la cultura del dato, a la vez que la de la gestión del conocimiento. A través del contacto Indicadores”. Revista Científica Técnica Administrativa. Vol.:11, Nro.:01.Buenos Aires, Argentina.
con la herramienta, se operacionaliza de manera concreta, lo que se crea en la mente del gestor,
y se reconoce la importancia de las variables del negocio, su sistematización y seguimiento para Blázquez M. Razzi, C.(2013) Organizaciones que aprenden de su gestión. XXIX Congreso Nacional

1805 1806
de ADENAG Universidad Nacional de Sur. Argentina Capítulo 178
Blázquez M. Razzi, C. ,Franco,L. (2014) Gestión y análisis de las organizaciones mediante la
perspectiva metodológica de metaproceso. III Congreso Internacional Red Pilares. Porto Alegre.
Resistências das lideranças indígenas da etnia guarani do oeste do
Brasil. Paraná – Brasil: Uma busca pelo reconhecimento de seus Direitos

Blazquez, Miguel (2016) .”El interaccionismo simbólico desde un enfoque del Metaproceso Rozeli Aparecida Menon1, Juliane Sachser Angnes2 y Elisa Yoshie Ichikawa3
DICDDAN” 32 Congreso Nacional de Adenag. Lujan Argentina.

Etkin, J.,Schvarstein, L. (1992). “Identidad de las organizaciones- Invariancia y cambio”, 1. Introdução


Editorial Paidos .Buenos Aires
Este estudo discute de forma teórica o processo de resistência das lideranças indígenas quanto
Etkin, Jorge (2005) Gestion de la complejidad en las organizaciones:La estrategia frente lo aos direitos, que foram violados, durante o processo de demarcações territoriais (e porque não
imprevisto e inesperado. Ed. Granica – Buenos Aires dizer invasões territoriais) ocorridos na década de 50 até os dias atuais na região oeste do
estado do Paraná - Brasil, e, que foram (e continuam sendo) marcados por conflitos no que se
Levy, Alberto; BARAVALLE, Carolina. (2012). Mayonesa: estrategia, cognición y poder competitivo refere à legitimidade de permanência e sobrevivência dos Guarani neste território.
-3ra Versión. Buenos Aires: Granica.
Conforme Carvalho (2010) a população indígena Guarani desde tempos imemoriais ocupa
Norton y Kaplan (2000). “Balanced Scorecard: Cuadro de Mando Integral” Argentina Grupo tradicionalmente as Bacias dos Rios Paraguai, Paraná e Uruguai e seus afluentes, ou seja, a
Planeta. grande Bacia do Prata. A região da Bacia do Paraná na Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai
e Argentina é denominada pelos Guarani como sendo parcela do Tekoa Guassu (Aldeia Grande).
Neste território possuem o direito de permanecer, reconhecido legalmente desde a época
colonial portuguesa e pelas sucessivas constituições brasileiras.

Desta forma, o povo Guarani que habita esta região está inserido em periódicos confrontos com
agricultores e proprietários fundiários no que se refere à legitimidade da terra. Somado a isso,
a luta desse povo também está vinculada na permanência e na sobrevivência de sua cultura.
Ou seja, as terras paranaenses, entre os anos 40 e 80 do século XX, foram alvo do Estado
brasileiro que objetivou obter o efetivo domínio territorial e fronteiriço da região oeste do estado
do Paraná, região brasileira inserida na Tríplice Fronteira, localizada na Bacia do Paraná.

Assim, o território em questão é palco do protagonismo de violências intensas imputadas ao


povo Guarani. Há uma disputa pela terra entre o poder estatal e local dando visibilidade ao
1. Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO. Email: rozeliapmenon@gmail.com
2. Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO. Email: julianeangnes@gmail.com
3. Universidade Estadual de Maringá - UEM. Email elisa_ichikawa@hotmail.com

1807 1808
poder exercido em prol de outros interesses, como por exemplo, a agricultura. As plantações em é a preocupação desde o surgimento da humanidade em saber gerir um povo com competência
grandes fazendas ocupam as terras dos povos indígenas, além de conduzir para os prejuízos ao e justiça de direitos. No intuito de determinar o término do confronto que pode repercutir por
meio ambiente e para a saúde destes povos, devido ao uso de defensivos agrícolas nos cultivos. anos pela violência, gerando perdas lastimáveis para famílias inseridas em grupos sociais como
Somado a isso, temos o processo da instalação da Usina Hidrelétrica de Itaipu que na década de dos indígenas, além da estagnação até mesmo da economia tão necessária para a região de
1980 intensificou esse processo por meio da força bruta para a expulsão do povo Guarani de suas confrontos.
terras. Terras estas que apresentam características bem vindas ao projeto desenvolvimentista,
como por exemplo, terras roxas, extremamente férteis, belezas naturais como as Cataratas do Os movimentos criados em conflitos algumas vezes podem trazer danos sociais irreparáveis
Iguaçu, atrativas para o turismo e rios hidricamente potentes. no intuito de por manifesto se deparar com regras, regulamentações que geram ainda mais
enfrentamentos pelo anseio de obter resultado positivo e não se chegar a este propósito, é o que
Neste sentido, o objetivo geral deste estudo se propõe em realizar uma reflexão a respeito das acontece na região oeste do Paraná, os indígenas são suprimidos por parte da sociedade. Desta
estratégias de resistências que as lideranças indígenas fizeram/fazem uso durante este intenso forma, se vivenciam os percalços que estão enraizados nos dias de luta dos povos indígenas que
processo de violação dos direitos do povo Guarani. Portanto, partimos do pressuposto teórico que interagem de forma coletiva no mesmo desígnio e que consideram que a justiça não foi assim
os confrontos ocorridos na região oeste do Paraná se deram e ainda se dão em virtude da falta designada a eles.
de respeito que as autoridades estatais, latifundiários e agricultores têm sobre as necessidades
do povo Guarani que habita o local. É preocupante a situação pela qual se desencadeiam os conflitos na região oeste do Paraná
e para que caminho está direcionado. Apesar de ser necessário, não é possível ignorar esses
A justiça social para com o uso do local demarcado está pautada na Constituição da República acontecimentos, porque são meios de transformações ou mudanças para o reconhecimento e a
Federativa do Brasil de 1988 que considera legítimo o local de habitação para os povos indígenas busca da dignidade, além de ser o atributo para a busca da legitimidade. Seguindo o entendimento
que estão inseridos. Por isso, as resistências ainda procedem, e desde a vinda dos portugueses da legitimidade Berger e Luckman (1985) explicam que a simbologia no processo histórico é
para o Brasil ocorrem os conflitos, porque as terras brasileiras eram legítimas dos indígenas, uma forma de justificativa para a legitimidade dos indivíduos.
mas com a colonização grande parte desses povos nativos foi dizimada de seus territórios.
Já aqueles que fugiram para não serem dizimados buscaram pela luta para manter viva a sua Sendo assim, o processo de liderança pode ser considerado um fator chave em relação a solução
cultura, ideologia e formas de plantio agrícola. de conflitos, saber entender e aplicar a legitimidade, além de contribuir para o processo de
contentamento e respeito (Bass, 2007). Perante esses fenômenos epistemológicos que são
2. Geração de conflitos em prol do reconhecimento e da legitimidade atribuídas as soluções, pelo conhecimento da natureza da situação, do grupo que interage neste
meio, suas percepções e descontentamentos com o problema que repercutiu a se situarem
O conflito é considerado o meio pelo qual os sujeitos buscam defender os seus interesses, e naquele conflito.
quando estes interesses são divergentes Morgan (2006) comenta que a sociedade deve intervir
através de negociações e argumentos que são meramente necessários para que sejam resolvidos Os indígenas da região oeste do Paraná só desejam seguir com sua forma de vida, seus costumes
os problemas conflitantes que os indivíduos estão envolvidos e a solução é que as diferenças não e cultura, mas se deparam com a violência e a exclusão, devido a não corresponder ao que é
se perpetuem, porque com a sua permanência nenhuma atitude trará uma resolutiva. proposto pela sociedade capitalista. São ignorados quanto organização e carregam as marcas
do genocídio histórico de seus povos, Clastres (2004b) comenta que o genocídio e o etnocídio
Por este motivo quando as partes envolvidas no conflito buscam os seus interesses de forma geram a derrocada dos povos, a cessação espiritual e cultural dos indivíduos. Dessa maneira,
oposta, fica claro que são necessárias alternativas que não acarretem em violência e norteiem observamos que as relações de poder se dão por meio da coerção, na qual as minorias detentoras
o caminho para a argumentação. Cabe a liderança para solucionar isso, para Bass (2007) essa de capital praticam a violência para impor os interesses sem a possibilidade da defesa em

1809 1810
garantir que o território seja retomado. Na região oeste do Paraná, a organização indígena é vista como um obstáculo para os agricultores
e proprietários fundiários, porque consideram que as áreas demarcadas não são adequadamente
Neste sentido, o movimento das lideranças indígenas decorre da própria sobrevivência e consiste utilizadas como produtivas. Acreditam que podem realizar grandes cultivos, sendo, portanto os
em líderes com autoridade que desempenham o papel de conduzi-los para as resistências e pela índios percalços aos propósitos do capitalismo que objetiva ao lucro e a produtividade. Neste
luta em atingir os seus interesses, que geralmente é de reaver os direitos constituídos e também posicionamento, Carvalho (2013) afirma uma parcela da sociedade brasileira considera que
para permanecer com seu povo no local constituído e legítimo. Esse procedimento colide com os índios possuem muitas terras, reduzindo a possibilidade de expandir a agricultura e outras
a elite capitalista que objetiva o lucro e que não considera a organização social indígena, no atividades econômicas.
entanto, os enfrentamentos são inevitáveis.
Todavia, os propósitos dos indígenas não se concentram na produtividade econômica da terra,
Ou seja, a legitimidade é só aparente na justiça porque não é baseada na defesa de direitos da e sim na prática do cultivo para sua subsistência e de suas aldeias, com foco na coletividade,
classe inferior, segundo Horkheimer e Adorno (2002) o controle social que se desencadeia faz partilhando do que é produzido, ou seja, são atitudes que não agridem o meio ambiente e se
com que a forma suposta de legitimidade seja na visão real para os indivíduos como correta, mas utiliza da extração natural para sobrevivência. É uma organização que preza pela sua forma de
na verdade é algo mascarado que não atribui valor de mudança para o bem comum. liderança diferenciada, da cultura divergente, por isso são constantemente rechaçados, porque
não advém do modo capitalista de ser e gerir a sua organização.
Em contraponto, as organizações sociais nos quais se enquadram os índios, que são considerados
os excluídos se unem tentando combater as injustiças sociais e de terra pela supressão de que O argumento das lideranças indígenas do oeste do Paraná pela resistência e lutas em relação
são acometidos. As resistências são o caminho pelo qual buscam para que as coisas possam as suas terras centra-se no processo histórico de espoliação praticada desde a colonização e
mudar ou que possam ser resolvidas de uma maneira efetiva. com o progresso da urbanização, ou seja, os seus direitos foram violados, porque latifundiários
apossaram-se dos seus territórios mesmo sendo considerado legítimo pela Lei das Terras
Sendo assim tem-se na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 no artigo 231 (Carvalho, 2013), e que ilegalmente foram adentradas, reduzindo as extensões que hoje são
o consentimento dos índios sobre legitimidade sobre as terras que habitam pela proteção, agravantes para abrigar as famílias indígenas que residem no local.
demarcação e respeito aos seus bens, além das suas formas de organização social com sua
cultura diferente em crenças, costumes e língua regido nesta normativa (Brasil, 1990). Portanto, Nesta região, assim como em outras do Brasil, ocorreram as dizimações dos indígenas da
é papel do Estado garantir essa legitimidade das reservas indígenas para que usufruam da etnia Guarani, isso porque esses povos habitavam a fronteira do Brasil e Paraguai, mas com
maneira como fazem desde antes da colonização portuguesa no Brasil, pela sua tradição e para o progresso e a construção da Hidrelétrica de Itaipu em Foz de Iguaçu, muitas comunidades
o bem comum das comunidades locais. sofreram o esbulho de seus territórios e algumas comunidades fugiram para o Paraguai e outras
foram habitar algumas aldeias vizinhas (Inéia, 2014; Carvalho, 2013). Por isso as resistências e
O território que o povo guarani do oeste do Paraná possui é o principal meio pelo qual se chega as lutas hoje ocorrem, porque os indígenas estão buscando reaver a sua legitimidade.
ao bem-estar e proteção das suas famílias, porque por este caminho é que pode manter sua
organização sem necessitar de se abater em lutas incansáveis e constantes ameaças que são Diante disso, as lideranças indígenas utilizam as estratégias de resistência na defesa de suas
acometidos periodicamente. aldeias com barreiras, manifestações e tentativas de diálogos com as autoridades políticas como
forma de proteção para possíveis invasões as suas terras e para reaver os seus direitos em
3. Estratégias de resistência das lideranças indígenas da etnia guarani perante a violação de manter-se nas suas tradições e na garantia do bem-estar de seus povos. E consideram como
seus diretos agravante o processo de urbanização, que está cada vez mais próximo as suas propriedades
causando problemas para a organização nas aldeias, porque as culturas de rezas, as formas

1811 1812
de vida desses povos geram descontentamentos aos sujeitos urbanos na sociedade capitalista. Organizations, Second Edition. Robert P. Vecchio. Publication Year: University of Notre Dame
Além disso, o agronegócio é também um agravante para o povo guarani, porque na utilização Press.
de defensivos agrícolas, o cultivo tão próximo as reservas indígenas compromete a saúde
dos indígenas e também contamina o meio ambiente, principalmente a água que se utiliza no Brasil (1990). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de
abastecimento das famílias. 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. Ed. São Paulo: Saraiva. 168 p.

4. Considerações finais Carvalho, M. L. B. (2013). Das Terras dos Índios a Índios Sem Terra, O Estado e os Guarani do
Oco’y: Violência Silêncio e Luta. (Tese de doutorado em Geografia) São Paulo/SP: Universidade
Neste sentido o poder é considerado uma forma de dominação porque exerce um controle de São Paulo.
nos indivíduos limitando-os a utilizar a consciência para com os problemas sociais existentes,
deixando estagnadas as atitudes de empenho para o bem comum e a justiça social. Os conflitos Clastres, P. (2004b). Arqueologia da Violência: pesquisas de antropologia política. Tradução:
e as resistências são inevitáveis porque percorrem os caminhos pela busca da justiça, do olhar Paulo Neves. São Paulo. Edição Brasileira.
para o que é justo diante da legitimidade, no entanto, para haver a negociação é necessário
voltar ao passado e realinhar as regulamentações criadas e colocá-las em prática objetivando o Horkheimer, M. & Adorno, T. (2002). A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de
cumprimento adequado para evitar esses enfrentamentos. massas. p. 169 a 214. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra.
364p.
Dessa forma, também é preciso aceitar as novas organizações, como as lideranças indígenas,
que mesmo utilizando de seus costumes estão contribuindo na sociedade no momento que Inéia, C. P. (2014, agosto). Conflito, território e identidade: o caso dos indígenasguarani de
conduzem seu povo em comunidades solidárias em prol do envolvimento e da economia como Guaíra/PR. Anais do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos – CBG. Vitória, ES, Brasil.
grupo social e ainda preservam o meio ambiente em que vivem.
Morgan, G. (2006). Interesses, conflitos e poder: as organizações vistas como sistemas políticos.
Os intensos processos de violação de direitos na região oeste do Paraná exercem sofrimento In.______. (Tradução Geni G. Goldschmidt). Imagens das organizações. São Paulo: Atlas.
aos povos indígenas da etnia Guarani que habitam este território, lembrando que a angústia
que carregam e que percorre a um longo período sem a devida atenção das autoridades perante
os seus anseios, gera o desânimo e a falta de esperança em melhorias. Outro aspecto crítico
é com relação à forma como são vistos por uma parte da sociedade, como não produtivos. Ou
seja, os indígenas são discriminados devido sua forma de vida. O mundo capitalista que objetiva
lucratividade dominada por uma minoria é ainda a maior preocupação dos indígenas porque
buscam o progresso e a urbanização e contribui em desmantelar a sua cultura. As lutas desses
povos estão na interposição diante de um mundo divergente, que os ignora como cidadãos e
discriminam as suas práticas sociais.

Referências

Bass, B. M. (2007). Leadership. Understanding the Dynamics of Power and Influence in

1813 1814
Nuevas formas de organización y trabajo: Latinoamérica frente a los
actuales desafíos económicos, sociales y medioambientales

1ª Edición - Diciembre 2018 - Santiago de Chile

Red de Posgrados de Investigación Latinos en


Administración y Estudios Organizacionales

Você também pode gostar