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As corporações do crime

Em relação à criminalidade, muitas vezes o nosso olhar é carregado de moralismo,


potencializado pelo sensacionalismo com que parcela da imprensa trata o tema. Isso nos impede de
ver o tema com bom senso. Uma cobertura jornalística cheia de chavões e a falta de dados
confiáveis colaboram para uma visão míope daquilo que chamamos de “crime organizado”. Porém,
é possível fazer um exercício mental, deixando de fora os aspectos morais e legais do crime
organizado. Logo, devemos entender esses crimes enquanto parte de uma cadeia produtiva, parte de
um grande negócio, com altas margens de lucro, embora com grande risco. Mas operar na bolsa de
valores é um negócio também arriscado, não?
Alguns desses empreendimentos possuem um faturamento similar aos das grandes
empresas mundiais. Vejam só: se o narcotráfico e o contrabando de armas fossem uma joint-venture,
esta “corporação” teria uma arrecadação anual variando entre US$ 800 bilhões e US$1,5 trilhão –
mais do que o PIB brasileiro! Seria a 3ª maior transnacional do planeta perdendo apenas para a
Coca-Cola e a Microsoft! Apenas um “probleminha”: lidam com coisas ilegais. Suas estratégias
para conquistar novos mercados e consolidar suas “marcas” são questionáveis, pois promovem a
morte e ferem a dignidade da pessoa humana. Portanto são “empresas” imorais, à margem da lei.
Quando se atua em escala global, com grandes investimentos e amplo mercado consumidor,
é que temos crime organizado. Aqui temos poderosa articulação político-econômica, que em muito
supera o banditismo comum, cujos protagonistas são equivocadamente elevados por setores da
imprensa à categoria de maiores inimigos da sociedade. Essas empresas do crime atuam
corporativamente, diversificando a oferta de produtos em um permanente ir e vir de mercadorias
ilegais de toda a sorte. Na sociedade de mercado, o ser humano é coisificado, e vira um produto
como outro qualquer.
O tráfico internacional de seres humanos, para ser combatido com eficiência, deve ser
entendido nessa lógica, praticados por máfias que agem em escala global, com enorme poder
político. Essa atividade criminosa inclui "a exploração da prostituição ou outras formas de
exploração sexual, serviços forçados, escravidão ou práticas análogas à escravidão, servidão ou
extração de órgãos". Infelizmente, é mais uma commoditie do crime organizado, promovido pelos
mesmos grupos mafiosos. Na melhor das hipóteses, são grupos locais associados às grandes máfias
internacionais, compartilhando as mesmas redes de contatos e contando com o mesmo apoio
logístico de quem trafica drogas, armas ou promove a pirataria. Em 2009 vitimou entre 800 mil e
2,4 milhões de pessoas. O faturamento desse crime estava na faixa de US$ 32 milhões naquela
época. Hoje, já é a 3ª maior atividade criminosa em escala global, logo atrás do tráfico de armas e
do tráfico de drogas.
Portanto, é fundamental oportunizar reflexões mais consistentes para as pessoas. Se
desejamos combater o tráfico de pessoas, será necessário entender melhor os mecanismos que
fazem com que essa atividade vil continue atingindo tanta gente. Qualquer campanha, ação pública,
denúncia, somente terá efeito se conhecermos profundamente esse fenômeno perverso.
Prof. Jorge Alexandre
Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso

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