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desdobra-se, que nasce, que só é possível a partir de um dispositivo que pretende
tipo de espaço está em voga para que ocupar seja um ato de subversão, de
agenciamento ele produz, através de que estratégias ele atua para que seja possível
que – mesmo que traindo a sua intenção primeira - uma dinâmica de ressignificação
uma experiência que explorou outros caminhos, que pôde em algum nível
Num primeiro momento, parece fazer sentido apontar: Não ocupar um espaço
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Renata Abel <renata.abel@live.com>, graduanda em Ciências Sociais pela UFSC.
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Em referência ao modo como uma máquina de guerra é exterior ao aparelho de Estado: enquanto este
tende à desaceleração, cristalização, dominação e captura (estrato, entidade, identidade), aquela tende
à desterritorialização, à imanência, ao nomadismo, à “[...] potência de metamorfose que não cessa de
assombrar as instâncias-entidades formadas.” (Oneto, 2010:150) Mais em “Tratado de Nomadologia: a
máquina de guerra”. Mil platôs, vol. 5, Deleuze-Guattari (1997).
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Ocupação aqui tomada a partir da maneira com que tem se dado nos movimentos estudantis
brasileiros nestes últimos tempos (movimento dos secundaristas de São Paulo contra à “reestruturação”
de suas escolas; movimentos de secundaristas e universitários contra medidas do governo do
presidente interino Michel Temer, como a PEC 55 e a MP 746/2016)
invoca o poder – afinal, o poder não está em lugar nenhum, mas em todos os
lugares.4 Ao mesmo tempo, o poder produz o vazio, vazio que é preciso produzir
para que seja possível governar5 . (Comitê Invisível, 2016:93). Partindo deste ponto,
ocupar parece ser, enfim, um ato que convoca à provocação o comum, o cotidiano,
potentes outros - trazer presença ao espaço vazio produtor e produzido pelo poder.
Com isso, não se pretende afirmar que a condição normal do Centro é vazia por não
estar habitada por pessoas, por não haver trânsito de pessoas – inclusive, ocorre
ocupação, pelo que se pôde notar. A questão parece-me ser mais a qualidade da
presença dos sujeitos que ocupam e transitam pelo espaço. Atualmente, opera-se
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“O poder contemporâneo é de natureza arquitetônica e impessoal, e não representativa e pessoal [...]
O poder está em outro lugar, bem fora das instituições, mas no entanto não está escondido. [...]
Ninguém o vê porque todos o têm, o tempo todo, à frente dos olhos - na forma de uma linha de alta
tensão, de uma rodovia, de um semáforo, de um supermercado ou de um programa de computador. E
se está escondido é como uma rede de esgotos, um cabo submarino, a fibra ótica que corre ao longo de
uma linha de trem ou um data center no meio da floresta. O poder é a própria organização deste mundo,
este mundo preparado, configurado, designado. Aí está o segredo: não há segredo algum.” (Comitê
Invisível, 2016:99-100)
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Governar aqui não se refere à prática institucional administrativa de um Estado-nação, mas como “uma
forma muito particular de exercer o poder. [...] Governar é conduzir os comportamentos de uma
população, de uma multiplicidade que é necessário vigiar [...] para maximizar o potencial e orientar a
liberdade. [...] É pôr em funcionamento um conjunto de táticas [discursivas, materiais, emocionais…],
[...] agir a partir de uma sensibilidade permanente à conjuntura afetiva e política de modo a prevenir
tumultos e rebeliões. Agir sobre o meio e modificar continuamente suas variáveis, agir sobre uns para
influenciar a conduta de outros [...] Em suma, é manter uma guerra - que nunca terá tal nome nem
aparência - em praticamente todos os planos pelos quais se movimenta a existência humana. Uma
guerra de influência, sutil, psicológica, indireta.” (Ibid.:80)
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Isso pode ser testemunhado, também, a partir de escritos de Reich, Lowen e Xavier, no que aborda as
questões das mudanças dos padrões caracterológicos (estudo das estruturas de caráter, formadas pela
dinâmica da economia energético-libidinal do sujeito), por assim dizer, da modernidade à
contemporaneidade: o caráter neurótico do complexo de Édipo abre caminho para a estrutura psicótica
(Reich, 2014), esquizoide (Lowen, 1982) ou borderline (Xavier, 1997).
sintomáticos deste regime são muitos: Sujeitos que estão ali mas apenas na medida
em que é preciso registrar que por ali passou (lista de presença), ou quando devem
cumprir com alguma proposta avaliativa, apresentando textos de autores que não
aula apenas na medida em que a internet está boa o suficiente para que eu consiga
me distrair dessa situação que eu não queria estar. Ou, mesmo, o trânsito de
verdadeiramente com os vários outros que transitam nesse espaço – e isso não
“Aí reside o acontecimento: [...] nos encontros que efetivamente ali se produziram.
Invisível, 2016:52)
Tendo isto já em evidência, faz-se oportuno a tentativa de traçar paralelos e
aparecem como
[...] lugares reais, lugares efetivos, lugares que são delineados na própria
instituição da sociedade e que são espécies de contraposicionamentos,
espécies de utopias efetivamente realizadas nas quais [...] todos os outros
posicionamentos reais que se podem encontrar no interior da cultura estão ao
mesmo tempo representados, contestados e invertidos, espécies de lugares
que estão fora de todos os lugares, embora eles sejam efetivamente
Iocalizáveís. (Foucault, 2003:415)
heterotopia, a reflexão que Foucault (2003:415) levanta tendo o espelho como uma
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“Estamos em uma época em que o espaço se oferece a nós sob a forma de relações de
posicionamentos [não mais de lugares ou extensões]. [...] O posicionamento é definido pelas relações
de vizinhança entre pontos ou elementos; formalmente, podem-se descrevê-Ias como séries,
organogramas, grades.” (Foucault, 2003:412-413)
Por ser um conceito pouco desenvolvido pelo autor, parece pertinente para
esta análise levar em conta tanto a heterotopia como lugar efetivo, lugar que é (como
nos exemplos que Foucault traz, caracterizando manicômios, cemitérios e até jardins
por linhas que partem dele, mas que nele não permanecem (Deleuze, 1990).
heterotópica incutida nesse posicionamento, explorando uma das linhas de fuga que
sacralizado’ [...]” (Ramos, 2010:6). Essas formas últimas, que buscam a unicidade e
esse ponto, é interessante apontar para uma situação ocorrida na Ocupa CFH que
pelas (os) ocupantes); não tardou para ocorrer uma denúncia ao Ministério Público
ocupantes lixando e pintando as paredes que ecoavam os pixos que eles próprios
que guarda em si o esperado e mais como produto e produtor das relações de poder
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Embora vale ressaltar que “A insurreição não respeita nenhum formalismo, nenhum procedimento
democrático. Ela impõe, como qualquer manifestação de envergadura, sua própria forma de utilização
do espaço público.” (Comitê Invisível, 2016:64)
(e de potência) que ali se entravam. Neste sentido, analisar as estratégias de
Espaços onde as relações de poder podem ser lidas através de práticas que
se equilibram entre a gestão institucional (o que formalmente se espera, o
que é “permitido”, o que se “aprova”, o poder formal) e aquilo que é
(re)apropriado, (re)significado, contrariado, subvertido a partir das práticas
cotidianas dos que verdadeiramente “usam”, produzem, se reproduzem no
espaço. (Ramos, 2010:5)
Por fim, visto que o poder encontra-se cada vez mais disperso, faz sentido
que a prática da resistência leve sua atenção à capilaridade de sua ação, de modo a
descobrir e – por que não? – inventar novas táticas que não só respondam à
estratégia do poder, mas que a subvertam e a ultrapassem. Afinal, como dito pelo
COMITÊ INVISÍVEL. Aos nossos amigos: Crise e insurreição. São Paulo: N-1
Edições, 2016.
FOUCAULT, Michael. Outros Espaços. In: Ditos e escritos III - Estética: Literatura
sócio-espaciais dos Sem-Teto no Rio de Janeiro. [S. l.], Polis, Nº27, 2010.
XAVIER, Serrano. Contato, vínculo e separação. São Paulo: Ed. Summus, 1997.