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MEMÓRIAS DA MARIA ANTÔNIA

Fernando Henrique Cardoso *

Quando eu entrei na Faculdade de Filosofia em 1949, ela


ainda funcionava na praça da República, no prédio da Caetano
de Campos. Tínhamos aulas regularmente na Praça, como a cha-
mávamos, salvo as áulas de Matemática, que eram dadas num
velho prédio da avenida Brigadeiro Luís Antônio.

Eu tinha 17 anos, e para mim aquele universo era completa-


mente novo. Fui parar na "'Filosofia” motivado por um professor
de Geografia, prof . Roque (não me recordo o sobrenome) que
ensinava no Colégio São Paulo, e pelo contato que mantive com
um ilustre português, foragido de Salazar, professor de literatu-
ra, Fidelino de Figueiredo. Encontrara-me com ele em Lindóia e,
percebendo meu interesse por ver que livros ele lia, chamou-me
para conversarmos.

Decepcionou-me a pouca atenção que o prof. Fidelino pres-


tava aos meus ídolos literários da época — a geração dos poetas
de 45, de Péricles Eugênio da Silva Ramos, Domingos Carvalho
da Silva, etc. Eu tinha então, como quase todo mundo, veleidades
literárias. Havia assistido a um Encontro da Literatura (ou nome
parecido) onde Oswald de Andrade brilhara. Participava de um
grupo que publicou uma "Revista dos Novíssimos”, com^gente
que depois fez literatura a sério, como os irmãos Augusto è Ha-
roldo de Campos, Décio Pignatari e o, depois, historiador Boris
Fausto.

Foi Fidelino Figueiredo quem diretamente me motivou para


prestar exames vestibulares (além da Faculdade de Direito) na
Faculdade de Filosofia. Estive duas ou três vezes conversando
* Livre-docente em Sociologia pela FÉCL/USP. Eleito senador pelo PMDB (1987-
1995), é membro-fundador dõ PSDB. Entre outros, escreveu: Dependência e De-
senvolvimento na América Latina (co-autoria com E. Faletto) e A Democracia
Ne-
cessária.

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com ele em seu gabinete na avenida São Luís (outro casarão onde
funcionaram, em parte, os cursos de Letras) e tomei a decisão de
tornar T me aluno.

Na Faculdade, antes da Maria Àntônia, brilhava o prof . Cunha


Andrade — iconoclasta, excelente expositor — que ensinava filo-
sofia pré-socrática. O primeiro trabalho que escrevi, como aluno,
foi sobre Parmênides. Li a bibliografia — de Zeller e “tutte quan-
ti” — sob a orientação de um colega mais adiantado que depois
celebrizou-se no campo educacional por suas posições liberal-
conservadoras, Roque Spencer Maciel de Barros. Recebi um 5
e me decepcionei quando, ao reclamar da nota, desconfiei que o
Cunha Andrade não lera a prova . . .

O outro choque era o curso de Economia. O professor assis-


tente encarregado de fazer-nos entender a teoria do valor chama-
va-se José Francisco de Camargo. O titular, porém, era um fran-
cês, Paul Hugon, que dava as aulas em seu idioma natal. Tivemos
que habituar-nos a isto: no segundo ano quase todas as aulas
eram em francês, pois Roger Bastide ensinava Sociologia, Hugon
continuava com a Economia e Marthial Guéroult ensinava-nos
Kant e Descartes.
Nesse ambiente peculiar, entretanto, o professor que marca-
va era Florestan Fernandes, então jovem assistente do prof. Fer-
nando de Azevedo, titular da cátedra. Florestan fazia-nos ler com
devoção e devorávamos uma imensa literatura, mormente alemã:
Mannheim, Sombart, Weber, Simmel, Freyer. Mas quem nos “sal-
vava” era Raymond Aron, com seu livrinho sobre a sociologia
alemã, que ordenava um pouco nossa indigestão . . .

Como contraponto a nosso germanismo havia a influência


de um alemão americanizado, Emílio Willers, tradutor de Mann-
heim para o português, antropólogo dedicado às pesquisas de
campo. E, novamente, era Florestan quem encarnava o ideai da
“sociologia como ciência”. Fomos treinados na paixão pela pes-
quisa e na desconfiança do ensaio e da “filosofice”.

Florestan assentava as bases da “escola paulista” de sociolo-


gia, sob a sombra de Fernando de Azevedo, discípulo à distância
de Durkheim e precursor da “ciência social”, mas marcado ainda
pela ausência de treinamento de “pesquisa empírica”, como então
se dizia.

Figura de equilíbrio, o outro assistente de Fernando de Aze-


vedo, Antonio Cândido fascinava-nos pela síntese entre um sabor
literário indiscutível, a finura de sua antropologia social {Os

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parceiros do Rio Bonito ) y seu discreto socialismo e sua invulgar


capacidade de transformar os “tijolos acadêmicos” (como as au-
las de Florestan sobre Weber) em arabescos de sutileza e pene-
tração intelectual.

Esse era o “clima” da Maria Antônia. Por cima disso, vez por
outra um grande historiador francês passava por lá, como Lucien
Febvre (Braudel deixara suas marcas), Mombeig, desajeitado —
falando bom português, coisa rara — vinha reforçar os ensina-
mentos de Aroldo de Azevedo sobre a sua (dele Mombeig) “geo-
grafia humana”, Claude Lefort fazia a crítica da burocracia e,
na Filosofia — em cursos que eu não segui — Gilles Gaston
Granger ensinava lógica e um pouco da (não apreciada pela
maioria de nós) filosofia analítica.

Na época de estudante eu não participava da política uni-


versitária. Pertencia a uma família de militares e políticos, a
maioria dos quais “getulistas” e convivia com meus colegas da
Maria Antônia que se dividiam entre os comunistas e os que so-
friam as influências do liberalismo do jornal “O Estado de S.
Paulo”, pela presença indiscutível de Júlio Mesquita Filho na vida
da Faculdade.

Poucos sabiam, àquela altura — nos inícios da década de 50


— que meu pai era líder nacionalista (depois foi deputado federal
pelo PTB paulista, com forte apoio sindical e da esquerda, nas
eleições de 1954) e que eu tinha primos e tios no governo de Ge-
túlio: um era Ministro da Guerra, outro Prefeito do Rio, outro
Secretário de Finanças e depois diretor e presidente do Banco do
Brasil. Eu vivia à margem tanto da política estudantil como das
benesses do governo, abrindo meu caminho acadêmico.

Antes de terminar a faculdade, em 1951, fui trabalhar na


Faculdade de Economia, por indicação de Florestan, na cadeira
de Ciência da Administração, do prof. Mário Wagner Vieira da
Cunha, sob a orientação direta de Lucila Hermann, precursora das
pesquisas sobre a mão-de-obra industrial. No ano seguinte tor-
nei-me, aos 21 anos e antes ainda de terminar a faculdade, “pri-
meiro assistente” da cadeira de História Econômica, da prof, a
Alice Canabrava.

Tive que desdobrar-me para dar um curso sobre “História


Econômica da Europa”. Sabia pouco da história, mas lera muito
Weber e algo de Marx. A prof. a Alice fazia-me trabalhar furiosa-
mente nos arquivos e achava, no fundo, que eu poderia ser um
intelectual do gênero ensaísta (como o Antonio Cândido, dizia

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ela, para meu orgulho), mas nunca um pesquisador, vocação que


ela valorizava.

O mundo intelectual da “rua Maria Antônia” englobava tanto


a Faculdade de Filosofia como a de Economia: o pátio interno
era comum, a cafeteria era a mesma e também o barbeiro, Os-
waldo, era o mesmo. Na Economia, além dos professores já cita-
dos, começava a despontar o então jovem 2.° assistente de esta-
tística, Antônio Delfim Netto. (Hoje estamos na Assembléia Na-
cional Constituinte os três, Florestan, Delfim e eu: coisa inimagi-
nável quando nos conhecemos e estávamos voltados integralmen-
te para o mundo acadêmico, embora Delfim, à época, já fosse as-
sessor de empresas).

Na época de minha formação, como aluno e depois como


jovem assistente — em 1953 fui despedido por D. a Alice Cana-
brava e passei a trabalhar na cadeira de Roger Bastide, graças a
Florestan Fernandes — as vertentes que moldaram nosso espírito
foram três: uma formação acadêmica ó la européia, com base
num espectro de leituras amplo, da filosofia à antropologia social,
passando pela economia, pela história e pela sociologia, natural-
mente; um treinamento em pesquisa, precário porém o que era
disponível na época, graças a Florestan Fernandes e a Roger
Bastide; e fora da faculdade, a paixão pela leitura sistemática e
crítica de O Capital.

Na verdade a partir da segunda metade dos anos 50 começou


a infletir o clima intelectual da Maria Antônia. Até aquela época
— até ao fim do governo Juscelino — nós vivíamos numa ilha
intelectual. O sonho dos nossos maitres a penser era o de refazer-
se o ambiente de Heidelberg com sotaque francês. Tudo isso ma-
tizado, como já disse, pela “pesquisa empírica” que transforma-
ria São Paulo numa Chicago da sociologia urbana. Estudávamos
as culturas indígenas, a ascensão social dos negros e o precon-
ceito de raça, o folclore urbano, as “comunidades” da sociologia
americana dos anos 40, e assim por diante.

Com o populismo de Jânio e Jango, com o ISEB nacional-


desenvolvimentista e com a presença das massas urbanas o Brasil
mudara. E nós também. A “luta de classes”, as contradições do
capitalismo, a dialética (em lugar do “método funcionalista” que
tinha em Florestan um ardoroso defensor) passaram a ser o pão
nosso de cada dia.

O chamado “Seminário de Marx” — que agrupou os jovens


professores assistentes da faculdade como José Arthur Giannotti,

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Fernando Novaes, Bento Prado, Roberto Schwarz, Ruy Fausto,


Paul Singer, Octavio Ianni, Michel Lüwy, Francisco Weffort,
Juarez Brandão Lopes, Leôncio Martins Rodrigues, Ruth Corrêa
Leite Cardoso, Sebastião Advíncula e eu, entre outros — dava o
tom. Reuníamo-nos em nossas casas, um pouco escondidos do
ciúme que causávamos em nossos professores, líamos e discutía-
mos página por página, tradução por tradução, em cotejo com
o original, a nova bíblia.

Isso ocorreu antes de Althusser, de Poulantzas e da degrada-


ção teórica provocada pelo “Readers Digest ” de Marta Hanne-
cker. Era uma leitura crítica e não envolvia o outro lado de Marx,
a "Revolução”. Continuávamos acadêmicos. E como tal, ao lado
de Marx, seguíamos as outras correntes de pensamento. A mim,
na época (fins de 50) ninguém influenciou mais do que Alain
Touraine, com sua sociologia do trabalho.

Fundei na faculdade, sempre com o estímulo e a supervisão


de Florestan, o Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho
(CESIT), a partir do qual fizemos pesquisas e escrevemos teses
sobre o empresariado e o desenvolvimento, o Estado no Brasil, a
classe operária, etc.

Este foi o corte: a temática mudou. Mudou graças aos estí-


mulos da vida social e à revolução teórica que os estudos de
Marx produziram em todo o grupo. Já nas nossas teses de douto-
ramento (a minha e a de Ianni sobre a escravidão, a do Giannotti
sobre a noção de trabalho no capitalismo) era visível a leitura de
Marx.

Assim, a partir do início da década de 60, passamos a influ-


enciar tanto os estudantes da Maria Antônia quanto os dos cursos
de Ciências Humanas em geral. O outro pólo de influência era
o ISEB, que combatíamos intelectualmente, mas que, na verdade,
exercia muito maior influência doutrinária do que nós. itosso
“academicismo” tornava-nos difíceis, algo pedantes e isolados dos
movimentos políticos. Como contraponto a nós começava a exis-
tir a influência de alguns sociólogos de Minas Gerais, influencia-
dos pela FLACSO (Faculdade Latinoamericana de Ciências So-
ciais, de Santiago do Chile). Mas estes últimos exerciam influên-
cias bem menores do que as da Maria Antônia.

Foi neste clima intelectual que o golpe de 64 colheu-nos.


Nós, embora marxistizantes, não tínhamos prática de militância
política. Havíamos, entretanto, participado das lutas moderniza-
doras do ensino: a “Campanha em Defesa da Escola Pública”, no

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final dos anos 50 (com Florestan Fernandes à frente) e toda a


remodelação da USP, inclusive a criação da Fapesp, durante o
governo de Carvalho Pinto. Eu era membro-eleito do Conselho
Universitário e lá era “a esquerda”.

Resultado: perseguições, processos, exílio.

Fui para a Argentina no dia 19 de abril de 1964. Então eu


preparava uma tese que deveria servir para competir à cátedra
do prof. Fernando de Azevedo, que se aposentara. Estava fazendo
uma pesquisa comparativa sobre a “burguesia nacional” na Ar-
gentina, no Chile, no México e no Brasil. Imaginei — doce engano
ou amargo engano — que poderia regressar logo ao Brasil.

Em Buenos Aires fiquei na casa de José Nún, na época gran-


de amigo meu. Lá fui convidado por três outros amigos, os soció-
logos Gino Germani, Jorge Graciarena e Torcuato Di Telia para
dar um curso no departamento de Sociologia da Universidade de
Buenos Aires. Eu os havia conhecido anos antes num congresso
de Sociologia no Rio. Germani já era o grande sociólogo latino-
americano, entusiasta da teoria da modernização e do método
funcionalista.

Enquanto me decidia passou por Buenos Aires o economista


Nuno Fidelino de Figueiredo (filho do prof. Fidelino) que vinha
de Santiago, da Cepal, com um convite para eu ir trabalhar lá,
feito por José Medina Echevarría. Esse era um grande sociólogo
espanhol que, exilado em Porto Rico e no México, fora recrutado
para a Cepal por Celso Furtado. Eu conhecera Medina Echevar-
ría porque escrevi para a Cepal um trabalho sobre o mesmo tema
da tese que estava preparando, os empresários latinoamericanos.

Não hesitei. No dia l.° de maio de 1964 estava em Santiago,


pronto a trabalhar. E lá fiquei cinco anos, até outubro de 1967.
Foram anos de grande produção intelectual, sob o estímulo de
Echevarría e de homens como Raúl Prebisch, então direjor do
Instituto Latino-Americano de Planejamento Econômico e Social
(ILPES) da Cepal, e com os economistas chilenos Aníbal Pinto
e Oswaldo Sunkel. Ao lado deles havia uma enorme quantidade
de intelectuais latino-americanos de primeira ordem, entre os
quais Celso Furtado, que, também exilado, chegou a Santiago logo
depois de mim e lá ficou alguns meses

Não cabe na “história da Maria Antônia” alongar-me sobre o


Chile e a Cepal. Mas foi lá qúe eu, por assim dizer, “amadureci”
e me desprovincializei embora muito antes já houvesse estudado
na França com Touraine, Michel Crozier, Raymond Aron, entre

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outros. Foi a partir de lá também que, ensinando na FLACSO e


sendo diretor-adjunto da seção de ciências sociais do ILPES,
entrei em contato com a ''nova" — hoje madura — geração de
cientistas sociais latino-americanos, os quais ou foram meus alu-
nos ou meus colegas.

Escrevi, na época, um livro que exerceu influência no pensa-


mento latinoamericano e mesmo internacional: "Dependência e
Desenvolvimento Econômico na América Latina". Meu co-autor é
um chileno de grande talento, Enzo Faletto e, còmo contra-ponto,
ajudaram-nos Francisco Weffort, Adolfo Guarnieri, José Luís
Keyna, Edelberto Torres Riva, entre outros, com os quais
trabalhamos.

Do Chile fui para Paris, em outubro de 1967, a convite de


Alain Touraine, para formar a equipe de professores de Sociolo-
gia do campus da Universidade de Paris em Nanterre. Éramos
cinco professores titulares: Touraine, Henri Lefebre, Michel Cro-
zier, Lucien Goldman e eu. Entre os assistentes havia alguns que
se tornaram famosos depois: Manuel Càstells (que desde aquela
época passou a ser dos meus melhores amigos), Jean Baudrillard
entre outros. Pois bem, foi ao lado dessa excelente equipe que
assisti à "revolução de maio". Daniel Cohn-Bendit era meu aluno
(eu ensinava, no 2.° ano, teoria sociológica). Com ele e, uma noite,
ao lado de Touraine, de Alessandro Pizzone, o grande sociólogo
italiano, e do meu ex-professor em São Paulo, Charles Morazé,
saímos para percorrer as "barricadas" de Paris.

Regressei ao Brasil em julho de 1968 com outra tese, esta de


cátedra, debaixo do braço. Os processos contra mim cessaram em
1967. Inscrevi-me para o concurso da cátedra de Ciência Política
da USP cujo titular, Lourival Gomes Machado, falecera ainda
jovem (e naquela época só por vacância ganhava-se uma cátedra,
pois o sistema universitário era fechado). *

Eu tinha então 37 anos. Voltara muito mudado e mais seguro


intelectualmente. De repente, de novo a Maria Antônia. Durou
pouco: onda política muito forte e novos prédios, já na Cidade
Universitária. Prestei o concurso no edifício da História. Grande
agitação: os estudantes eram "contra a cátedra vitalícia" (eu tam-
bém). Não queriam concursos. Se não os houvesse, a titular
interina, que concorria comido, ficaria automaticamente na
cátedra ...

Graças à competência de Sérgio Buarque de Holanda, que


presidia a banca examinadora, entretanto, o concurso foi feito

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até ao final. Ganhei-o por unanimidade. Assistindo às provas ou-


tro amigo meu que pareceu sempre ser adversário por seu radi-
calismo: Andrew Gunnard Frank.

Mal deu para eu ter o gostinho de voltar à USP. Em dezem-


bro de 68 o AI-5 pilhou-nos a todos. Fora eleito diretor do depar-
tamento de Sociologia e estava junto com professores e estudan-
tes tratando de reformar os currículos. Não deu tempo: em abril
de 1969 fui arbitrariamente aposentado e afastado da cátedra
graças ao AI-5 e à delação e mau-caratismo de alguns professores
universitários da ultra direita.

Depois disso organizei com vários colegas o Cebrap e con-


tinuei, até assumir em 1982 o Senado, a passar parte do tempo
no exterior, ano a ano. Voltei a ensinar em Paris, na École des
Hautes Études e até no Collège de France; trabalhei em Cam-
bridge, na Inglaterra, em Princetòn e em Berkeley, nos USA
Fui vice-presidente e depois presidente da Associação Internacio-
nal de Sociologia. Publiquei furiosamente aqui e no exterior.

Guardo, entretanto, a sensação de haver sido extraído a fór-


ceps da "Maria Antônia". Quando voltei em 1968 ela, para mim,
já não era mais "aquela". O populismo penetrara fundo no meio
universitário. O marxismo vulgar tornou-se catecismo. Eu me in-
ternacionalizara. A própria USP ficou um tanto estranha para
mim. E não pude contribuir em quase nada, lá, para mudá-la nos
novos tempos.

Ainda bem que houve o Cebrap, uma espécie de Maria Antô-


nia mais internacionalizada. Com algumas virtudes e defeitos.
Mas foram defeitos e virtudes, outros, muitos outros, se compa-
rarmos com a "Maria Antônia" de tão marcante presença na vida
de todos nós.

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