Você está na página 1de 13

O CONFLITO COMO UM ASPECTO PRESENTE NA PRÁTICA DO

DESIGN: UM ESTUDO DE CASO NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

CONFLICT AS AN ASPECT OF THE DESIGN PRACTICE:


A CASE STUDY IN THE AUTOMOTIVE INDUSTRY

Carolina Vaitiekunas Pizarro


NUPECAM-PPG Design-UNESP
Bauru, São Paulo, Brasil
caroldipp@gmail.com

Paula da Cruz Landim


NUPECAM-PPG Design-UNESP
Bauru, São Paulo, Brasil
paula@faac.unesp.br

RESUMO tecidas considerações acerca desses aspectos


O mercado de trabalho atualmente exige do presentes no cotidiano dos designers, visando
designer o desenvolvimento de competências que contribuir para a produção científica na área e
ultrapassam o domínio da atividade de projeto e para as reflexões sobre a prática do design.
além de características como criatividade,
comprometimento e versatilidade, é necessário ABSTRACT
que o designer tenha flexibilidade para The market currently requires from the
compreender e lidar com os diversos aspectos designer that he has skills that go beyond the
envolvidos na prática profissional – entre eles o project activity and in addition of features like
relacionamento interpessoal. O caráter creativity , commitment and versatility , it is
interdisciplinar da profissão coloca designers em necessary that the designer has the flexibility to
constante contato com profissionais de diferentes understand and deal with the various aspects
áreas do conhecimento e como consequência involved in professional practice - including
dessa rotina a prática do Design é também interpersonal relationships. The interdisciplinary
permeada por situações particulares decorrentes nature of the profession puts designers in
das relações estabelecidas entre os profissionais constant contact with professionals from different
envolvidos, sendo o surgimento de conflitos uma fields of knowledge and as a result of this
dessas. O presente artigo é um recorte de um routine, the practice of Design is also permeated
estudo mais amplo, desenvolvido em nível de by particular situations arising from relationships
Mestrado cujo objetivo principal foi conhecer established between the professionals involved,
como se dá a prática profissional na indústria and the appearance of conflicts can be one of
automotiva no Brasil e quais os aspectos que a these. This article is an excerpt of a larger study,
caracterizam. Percebeu-se ao fim da pesquisa developed in Master's level whose main objective
que a maioria dos vários pontos destacados pelos was to know how is the professional practice in
participantes como negativos ao desenvolvimento the automotive industry in Brazil and what
de boas práticas em design envolviam situações aspects that characterize it. It was noticed at the
de conflito – ou de conflito em potencial. Nesse end of the research, that most points highlighted
artigo são apresentados os dados coletados e by participants as negative aspects for the

1
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
development of good practices in design involved plena. Nesse sentido, a pesquisa em Design pode
conflicts - or potential conflict situations. This colaborar com a prática ao detectar tais fatores e
paper presents the data collected and reflects refletir sobre a realidade enfrentada pelos
about these aspects present in the daily routine designers, denunciando-a e buscando novas
of designers, it also intends to contribute to the maneiras de intervir na mesma a fim de
scientific production in the area and to the colaborar para o futuro da profissão.
reflections on the practice of design.
O CONFLITO COMO UM ELEMENTO
INTRODUÇÃO INTEGRANTE DA PRÁTICA
O designer é o profissional responsável por PROFISSIONAL
desenvolver projetos de produtos, gráficos, O conceito de conflito apresenta diversas
informacionais, de serviço, entre outros. definições. Para Robbins [2], configura “[...] um
Além de características como criatividade, processo que tem início quando uma das partes
comprometimento e versatilidade, atualmente é percebe que a outra parte afeta, ou pode afetar,
cada vez mais exigido do designer que este tenha negativamente alguma coisa que a primeira
flexibilidade para compreender e lidar com os considera importante”. Ainda segundo o autor, os
diversos aspectos envolvidos na prática conflitos podem ter um caráter funcional –
interdisciplinar – entre eles o relacionamento quando são construtivos e contribuem para uma
interpessoal. O caráter interdisciplinar da melhoria – ou disfuncional – do tipo destrutivos,
profissão coloca designers em constante contato que atrapalham o desempenho do grupo. Para
com profissionais de diferentes áreas do Berg [3]: “O conflito nos tempos atuais é
conhecimento e como consequência dessa rotina, inevitável e sempre evidente. Entretanto,
a prática do Design é também permeada por compreendê-lo, e saber lidar com ele, é
situações particulares decorrentes das relações fundamental para o seu sucesso pessoal e
estabelecidas entre os profissionais envolvidos, profissional”.
sendo o surgimento de conflitos uma dessas. De acordo com Chiavenato apud Junior e
O presente artigo é um recorte de um estudo França [4], o nível de gravidade de um conflito
mais amplo, desenvolvido em nível de Mestrado pode ser caracterizado de três formas: a) Conflito
[1] cujo objetivo principal foi conhecer como se percebido ou latente – ocorre quando há
dá a prática profissional na indústria automotiva oportunidades de interferência ou bloqueio de
no Brasil e quais os aspectos que a caracterizam. objetivos por parte dos participantes; b) Conflito
Percebeu-se ao fim da pesquisa que a maioria experienciado ou velado: ocorre quando as
dos vários pontos destacados pelos participantes partes envolvidas nutrem sentimentos de
como negativos ao desenvolvimento de boas hostilidade, no entanto, não é manifestado
práticas envolviam situações de conflito – ou de externamente de forma clara; e c) Conflito
conflito em potencial. manifestado ou aberto: ocorre quando o conflito
Este trabalho apresenta tais dados e tece é manifestado sem nenhuma dissimulação.
considerações acerca desses aspectos presentes Considerando os diferentes níveis, em
no cotidiano dos designers automotivos, ambientes organizacionais – área de trabalho de
entendendo-os não como uma exclusividade do grande parte dos designers – de acordo com Berg
design ou do segmento automobilístico, mas sim [3] os conflitos podem ser causados
como sendo o surgimento de situações de conflito principalmente por mudanças, recursos limitados
uma possibilidade presente também em outras e choque entre metas e objetivos. Para Robbins
áreas do design – dado o caráter interdisciplinar [2], o conflito constitui na verdade um processo,
da profissão – e em outras profissões nas quais o que de acordo com o autor, se dá em cinco
trabalho envolvendo grupos é uma realidade. estágios:O primeiro estágio se caracteriza pelo
Especificamente no caso do Design, situações que o autor denomina de Oposição potencial ou
de conflito por vezes constituem obstáculos ao Incompatibilidade, tendo como condição
desenvolvimento de uma prática interdisciplinar antecedente a falha na comunicação; a estrutura
2
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
– que compreende fatores como o tamanho do um tipo de gerenciamento visando a melhor
grupo envolvido, a especialização de cada solução.
integrante, seu papel dentro do departamento
entre outras; e as variáveis pessoais – que O DESIGNER E O CONFLITO NA PRÁTICA
incluem o sistema de valores de cada pessoa. A interdisciplinaridade, característica
O estágio dois compreende a fase de intrínseca ao design é uma realidade na rotina
Cognição e Personalização, ou seja, há a profissional do designer. Para Cardoso [6], por
percepção do conflito e o mesmo passa a ser concentrar-se no planejamento de interfaces e
sentido, envolvendo emocionalmente os para a otimização de interstícios, o Design tende
integrantes da situação. No terceiro estágio, o a se ampliar conforme o sistema se torna mais
das Intenções, Robbins declara a existência de complexo e aumentam, por consequência, o
intenções de administração do conflito formado – número de instâncias e inter-relações entre suas
apoiado no método denominado “Estilos de partes.
administração de Conflitos”, criado por Kenneth Desta maneira, a área tende a dialogar em
Thomas e Ralph Kilmann em 1970. algum nível com quase todos os outros campos
Essas intenções configuram as decisões de do conhecimento. Essa atuação conjunta com as
agir de uma determinada maneira, e podem ser demais áreas, contudo, frequentemente implica
de: competição, colaboração, evitação, no surgimento de situações conflituosas –
acomodação e concessão. Durante o estágio prejudicando a própria prática interdisciplinar
quatro do processo de conflito, denominado de quando não a inviabilizando. Considerando o
Comportamento, se dá o conflito aberto, no qual projeto como um processo coletivo, Lawson [7]
o mesmo se torna visível por meio do destaca que: “Onde há grupos envolvidos na
comportamento das partes envolvidas e da tomada de decisões, não só existem tensões,
reação de ambas frente aos mesmos. O estágio como também coalizões e, portanto, facções.
cinco ou das Consequências, constitui, como o Frequentemente, portanto, os projetistas
nome assinala, as consequências provenientes do precisam de habilidade social para transmitir suas
conflito, que podem resultar na melhora ou na ideias”.
piora do desempenho do grupo a partir de tais Ao entrar no mercado, muitos profissionais
situações. recém-formados sentem o impacto que as
Uma vez estabelecida a situação de conflito, o atividades de projeto demandam para além da
gerenciamento e a busca pela resolução se dão execução do próprio projeto, tais como a
por meio dos denominados métodos de resolução formação de juízos e a necessidade de tomada de
de disputas, que segundo Muszkat [5] podem decisões ponderadas em um contexto moral e
ser: Negociação – processo de comunicação entre ético de trabalho. Tal panorama difere do
duas ou mais partes em um conflito, levando-as a ambiente mais aberto a experimentações
conversar e buscar um acordo entre si; encontrado em sala de aula. Uma vez atuante no
Conciliação – harmonização de duas ou mais mercado, o contato do profissional com situações
partes, com o auxilio de uma terceira pessoa de conflito torna-se parte integrante da realidade
externa ao conflito, conduzindo-as a uma de trabalho.
concessão mútua; Arbitragem – processo de
negociação no qual uma terceira pessoa, após MATERIAIS E MÉTODOS
ouvir as partes envolvidas no conflito, tem o Os dados apresentados a seguir, como dito,
poder de tomar decisões; e a Mediação – compõem parte de uma pesquisa desenvolvida
realizada por uma terceira parte externa: o em nível de Mestrado [1] na qual a seleção dos
mediador, cujo papel é facilitar a comunicação – designers participantes compreendeu uma
visa buscar acordos entre as pessoas em litígio amostra do tipo não-probabilística ou por
transformando a dinâmica adversarial do conflito conveniência, sendo o subgrupo da população
em uma dinâmica cooperativa, buscando assim, estudado composto por uma seleção de amostras
desconstruir as diferenças. Cada situação requer do tipo especialistas.
3
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
Desta maneira, optou-se pela abordagem dos entrevistados foram questionados sobre como se
profissionais atuantes nos quatro maiores dão as relações interdisciplinares entre o design e
estúdios de design automotivo instalados no país as demais áreas envolvidas no projeto de um
– oito no total – aos quais foi aplicada uma automóvel, e até que ponto tais relações
entrevista em profundidade. Após o contato para interferem em sua prática profissional.
a realização das entrevistas por telefone, as A questão seguinte solicitou aos mesmos que
mesmas foram registradas a partir da gravação definissem em sua opinião, qual seria o nível de
do diálogo, sendo posteriormente transcritas. relação desejável entre o design e estas áreas.
A análise dos dados foi realizada à luz do Na sequência, as demais questões
método de Análise de Conteúdo [8], propuseram aos participantes versar sobre a
caracterizado por ser um conjunto de técnicas de autonomia dos designers brasileiros no
análise das comunicações, visando compreender desenvolvimento de projetos; sobre os principais
criticamente o sentido das comunicações, seu desafios enfrentados no dia-a-dia da profissão; e
conteúdo manifesto ou latente, as significações quais os aspectos a serem trabalhados para
explicitas ou ocultas. melhorar sua prática.
A última questão indagou os participantes
RESULTADOS E DISCUSSÕES sobre qual será o papel do designer automotivo
Importa destacar nesse momento, que os no futuro, tendo em vista problemas de amplo
vários dados obtidos e discutidos na Dissertação espectro nos quais o projeto do carro como meio
contribuíram para a obtenção de um panorama de transporte está envolvido, tais como a
sobre a profissão de Designer automotivo no preservação do meio ambiente, mobilidade em
Brasil. No presente trabalho, contudo, o foco é grandes cidades, interação com os demais meios
direcionado para os aspectos negativos de transporte entre outros. Após a transcrição e
apontados pelos designers participantes, uma vez leitura dos documentos, foram elaboradas as
que a detecção de tais aspectos colabora para quatro categorias de análise e cada uma destas
que se tome conhecimento dos desafios que compostas por seus temas internos, como
permeiam a prática profissional e que são – ou apresentado na Figura 1
podem ser responsáveis – pelo surgimento de
situações de conflito no cotidiano dos FIGURA 1: CATEGORIAS DE ANÁLISE [1].
profissionais.
Os desafios relatados pelos profissionais são
de diversas naturezas e tendo também origens
diversas decorrentes da prática interdisciplinar
sendo esses, portanto, possíveis de serem
encontrados em outras áreas do Design,
constituindo obstáculos para o avanço e o
reconhecimento da profissão de Designer como
um todo e não somente para aqueles que
trabalham com projetos de automóveis.
A investigação através das entrevistas foi
desenvolvida com base em um formulário
elaborado contendo 11 questões abertas. A
estrutura do documento foi construída solicitando
inicialmente que os participantes identificassem o
trabalho do designer de automóveis, e
explicitassem sua visão sobre a profissão e seu
desenvolvimento no Brasil, na atualidade.
Em seguida, considerando as dinâmicas dos
estúdios de design dentro das montadoras, os
4
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
As respostas dadas pelos oito participantes – conflitos e até mesmo brigas oriundas de
aqui referenciados pelas siglas D1 a D8 – divergências na prática, como destacaram os
trabalhadores das quatro montadoras– participantes D1 “[...] é... tem muita discussão e
referenciados pelas siglas M1 a M4 – relativas aos muita assim... briga até, às vezes, pra viabilizar o
aspectos mais difíceis da prática revelam que a gente quer...” e D6 “A gente às vezes tem
detalhes do cotidiano da profissão. muitas brigas principalmente com a engenharia,
O volume de dados coletados resultantes de o marketing nem tanto [...] a engenharia ainda
cada uma das categorias e seus respectivos trava muito o trabalho dos designers no Brasil
temas encontram-se discutidos em detalhes no [...] hoje em dia todos os carros são iguais, as
documento original – [1] –, entretanto, como o tecnologias são as mesmas, os fornecedores são
foco do artigo trata dos desafios da profissão que os mesmos, então o quê que tem que diferencia
podem desencadear situações de conflito, serão um produto de uma companhia pra outra é o
apresentadas as posturas dos profissionais em design, não é só a aparência, é a inovação, é o
relação a tais aspectos. Todas essas posturas quê que a gente oferece a mais que vai chamar a
permearam as diferentes categorias de análise. A atenção do consumidor”.
seguir elas serão apresentadas na ordem de Em termos de prática de projeto, estas
aparição, no decorrer da análise de conteúdo das intervenções refletem em alterações diretas nos
entrevistas, junto às siglas dos designers que as produtos em diferentes níveis e fases
manifestaram, acrescidas da transcrição na desenvolvimento (D2, D5, D6, D7 e D8), o que
íntegra das falas de alguns designers visando torna este um ponto nevrálgico da relação entre
uma melhor compreensão e fundamentação os designers e os demais profissionais
sobre o conteúdo abordado. provenientes de outras áreas, as quais por vezes
A maioria dos participantes da pesquisa (D1, são responsáveis pelas primeiras diretrizes do
D2, D3, D4, D6, D7 e D8) identificaram que projeto – papel este que, espera-se que seja
executam uma prática interdisciplinar, mas desempenhado também pelos designers em uma
também explicitaram o fato de que esta prática construção conjunta com as demais áreas – como
não se faz apenas do suporte proveniente das revelou a fala de D6 “[...] hoje no Brasil a gente
demais áreas ao trabalho dos designers, ainda tem que... primeiro decide-se as coisa na
existindo antes interferências diretas de outras engenharia, depois decidem as coisas no
áreas, notadamente engenharia, marketing e marketing e depois eles passam isso pra gente. E
custos, no decorrer do processo de design de não deveria ser assim. Eu acho que as discussões
automóveis, como destacou D8: “Olha a deveriam ser de forma equalizada assim”.
interação realmente é muito intensa é... o tempo Também o participante D5 revelou que o
todo ela acontece... o tempo inteiro a gente tá projeto do veículo por vezes perde por conta
relacionado tanto com a engenharia, quanto com destas intervenções “E custos também, porque
a questão de custo do projeto”. vira e mexe precisa ir cortando pra ter, o... o
Tais interferências por vezes são percebidas valor do carro que ele precisa e tá no final, o
como positivas na medida em que posicionamento com a concorrência, e aí então
instrumentalizam o designer para a melhoria e acaba também denegrindo vai, aquilo que a
adequação de projetos (D2, D4, D5 e D8) como gente propôs no começo [...]”.
destaca a fala de D4: “Quanto mais o designer e Por outro lado, as dificuldades enfrentadas
o departamento de design interagem com outras pelos designers na atuação em conjunto às
áreas, de planejamento, de marketing, de custos, outras áreas também foram indicadas como
finanças, mais eu acho que [pausa] de mais reflexo de um déficit de formação dos próprios
excelência vai ser o produto final”. designers, como destacou o participante D3:
Mas, em sua maioria, as intervenções das “[...] é uma profissão muito difícil, porque
demais áreas no decorrer do processo de design normalmente todos os designers que saem da
são vistas pelos designers como negativas (D1, escola tem um pensamento... muito vamos dizer
D2, D4, D5 e D6), resultando inclusive em assim, muito ingênuo da função do designer [...]
5
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
O designer, ele tem que... pra realizar as ideias Este fator influencia inclusive a percepção dos
dele, ele tem que tá muito consciente, tem que profissionais das diversas áreas sobre quais suas
ter um conhecimento técnico profundo, tanto de reais competências e o papel de sua intervenção
produto quanto das técnicas de desenvolvimento dentro dos projetos, como destacado pelas falas
e tem que lidar com a escultura do automóvel, dos participantes.
com a forma do automóvel, mas sempre levando Neste cenário, torna-se imperativo aos
em consideração todos os processos industriais designers encontrar os meios adequados de se
[...]”. fazer compreender de maneira eficiente,
Na percepção de D3, a formação deficitária, gerenciando conflitos e visando conquistar o
em termos de conhecimento técnico devido espaço bem como o respeito dos demais
aprofundado, prejudica os designers e seu poder profissionais provenientes das áreas com as quais
de negociação dentro da empresa, permitindo interage no decorrer do projeto, fortalecendo o
que outros profissionais intervenham e próprio campo do design como consequência.
desempenhem este papel. Para o participante, Cabe também às diretorias e estúdios,
quanto mais amplo o conhecimento do designer, realizarem um diagnóstico sobre a quão
maiores serão suas chances de negociar, adequada tem se mostrado a atual abordagem
gerenciar conflitos e atender aos requisitos interdisciplinar no estabelecimento das
solicitados pelas demais áreas. necessárias inter-relações e interdependências
Cabe destacar que a gestão do design varia entre as diversas áreas no desenvolvimento do
dentro das empresas, mas o aspecto produto carro, o qual envolve grande número de
interdisciplinar da profissão acompanha a prática profissionais com as mais variadas competências
e por vezes mantém tênues as linhas que a serem aplicadas nos diferentes níveis da
separam as competências de cada área em produção.
relação ao projeto, prejudicando o campo do Nesse sentido, a tentativa de implantação de
Design, como ressalta Escorel [9]: uma prática transdisciplinar – embora difícil de
“Nos casos em que estão em jogo interesses ser visualizada na estrutura corporativa atual –
financeiros importantes e um público muito configura uma alternativa interessante a ser
extenso, por exemplo, o desejo do cliente e das considerada. Nicolescu [10] apresenta de
instâncias que costumam falar por ele, como as maneira sintética, no seu Manifesto da
agências de publicidade e especialistas em Transdisciplinaridade, as diferenças entre as
marketing, podem interferir de forma decisiva no abordagens:
processo, nem sempre direcionando a solução “A necessidade indispensável de laços entre
para sua melhor alternativa no plano do projeto. as diferentes disciplinas traduziu-se pelo
Quando isso ocorre, o designer passa de parceiro surgimento, na metade do século XX, da
a mero executante de decisões com as quais pluridisciplinaridade e da interdisciplinaridade. A
pode, inclusive, não estar identificado. Essa pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um
situação é muito comum no Brasil onde o design objeto de uma mesma e única disciplina por
ainda não conseguiu definir seu campo com várias disciplinas ao mesmo tempo [...] A
nitidez. Sendo assim, acabam por ditar as interdisciplinaridade tem uma ambição diferente
normas e atividades mais solidamente plantadas daquela da pluridisciplinaridade. Ela diz respeito à
no mercado, também ligadas ao universo da transferência de métodos de uma disciplina para
comunicação entre as empresas, seus produtos e outra [...] A transdisciplinaridade, como o prefixo
os públicos a que se dirigem”. 'trans' indica, diz respeito àquilo que está ao
Os problemas decorrentes da confusão e mesmo tempo entre as disciplinas, através das
desorganização no processo de Pesquisa e diferentes disciplinas e além de qualquer
Desenvolvimento dos produtos em relação à disciplina. Seu objetivo é a compreensão do
atuação interdisciplinar do Design residem, entre mundo presente, para o qual um dos imperativos
outros fatores, também na falha de comunicação é a unidade do conhecimento”.
entre as diferentes áreas.
6
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
Sendo o automóvel um produto complexo, o direções de criação de produto deveriam ser
qual prevê um desenvolvimento baseado na conversadas de forma igual e entre nós também,
articulação de diferentes saberes, a abordagem entre engenharia, design e marketing... e é
transdisciplinar aplicada ao projeto de aquilo que eu te falei, não existe ainda muito
automóveis poderia constituir-se em uma prática isso”.
coesa, na qual a construção do produto emerge Tal posicionamento foi compartilhado por D7,
da construção conjunta de conhecimento que vê no tratamento igualitário também a
proveniente das diversas áreas, uma vez que o solução para muitas situações problemáticas e
projeto do veículo se enquadraria como conflituosas que surgem no decorrer do projeto:
anteriormente destacado pelo autor “[...] entre “Eu acho que você deixaria de ter problemas na
as disciplinas, através das diferentes disciplinas e frente se todo mundo se conversasse antes, no
além de qualquer disciplina”. começo de tudo. E isso vale pro começo, meio e
O papel do designer e dos demais fim do projeto de qualquer forma”.
profissionais no desenvolvimento do projeto Também foi destacada a importância que teria
seria, nesse caso, de interagir entre si desde a para a prática de projeto a criação de uma equipe
fase inicial do mesmo, desprendendo-se das de pesquisa em design avançado ou um
posturas hierárquicas entre os departamentos e laboratório de inovação interno ao departamento
compreendendo a importância das diferentes de design (D2 e D5), o qual trabalhasse
competências no sucesso do desenvolvimento do antecipadamente na pesquisa a viabilização de
produto final – postura esta que poderia novos materiais, acabamentos e tecnologias,
contribuir inclusive para diminuição de tensões e considerando também as necessidades e
possíveis conflitos. limitações das demais áreas – tal equipe de
A adoção de tal abordagem, entretanto, pesquisa teria entre seus profissionais designers
dependeria de uma mudança de postura por e um membro representante de cada uma das
parte das empresas modificando sua estrutura e demais áreas envolvidas no projeto objetivando
dos próprios profissionais envolvidos, os quais equacionar com antecedência possíveis
deveriam estar abertos às diversas contribuições complicadores.
das diferentes áreas abstendo-se das – ainda A fala de D2 refletiu tal necessidade “[...]
muito presentes – categorizações recorrentes Então, ideal, que até seria meu sonho de
entre áreas atribuindo-as titulações como departamento [risos], seria a gente poder
tradicionais/novas/mais importantes/menos trabalhar em avançado... e aqui na M1
importantes, e principalmente, dedicando-se a infelizmente no nosso departamento a coisa é...
aprimorar a própria postura nas relações são poucas pessoas ainda pro tanto de
interpessoais estabelecidas no decorrer da prática programas globais que a gente tá desenvolvendo,
profissional. a gente não consegue trabalhar em avançado
Os principais pontos os quais poderiam ser [...]”.
melhorados visando uma interação desejável Também D5 identificou a criação do grupo de
entre o design e as demais áreas, segundo cinco pesquisa como um fator que melhoraria as
dos entrevistados (D1, D2, D6, D7 e D8), passam relações interdisciplinares no decorrer do projeto:
por uma maior abertura por parte das mesmas “[...] eu acredito que deveria assim... seria muito
em relação ao design e seu papel dentro das interessante a gente ter realmente assim como
companhias. se fosse um centro de design avançado sabe? No
A fala de D6 enfatizou a necessidade das qual você possa deslanchar com novas ideias mas
relações e decisões serem tomadas de maneira assim, tendo o suporte de todas essa áreas que
mais igualitária ou ao menos mais colaborativa são vitais”.
nas montadoras “[...] teria que ser uma conversa Esse posicionamento por parte dos designers,
de igual pra igual, não tem um termo que eu em relação a interação desejável entre o design e
posso te falar assim, mas deveria ter, assim... as demais áreas sinaliza uma predisposição para
é... os produtos, os novos produtos e... as novas o desenvolvimento de uma prática mais
7
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
aproximada entre as diferentes áreas no que começa com todo o desenvolvimento [...] o
desenvolvimento do projeto. Trabalhar de design eu vejo como o centro de todo o
maneira coesa, adotando uma postura flexível, desenvolvimento de um produto, ele está no
pode também favorecer o gerenciamento e centro [...]”.
possíveis soluções de conflitos resultantes dessa O participante ainda destacou novamente a
interação. formação acadêmica como deficitária, no sentido
Assim, a intenção dos designers em tomar de preparar o designer para tal atuação “[...] e
parte de desenvolvimentos e pesquisas futuras por isso mesmo, o designer tem uma
por meio da estruturação de uma equipe de responsabilidade cada vez maior... dentro da
pesquisa em design avançado ou um laboratório indústria. Isso é muito difícil de... é... [pausa] da
de inovação, indica que a materialização desse competência que é... eu volto a insistir nesse
centro/laboratório, dentro dos estúdios de design, ponto, os designers estão muito pouco
pode fomentar uma prática profissional preparados quando eles saem da escola. A escola
diferenciada e mais próxima à realidade do ela abrange o assunto design de uma maneira
usuário e às mudanças de projeto demandadas muito superficial, e muito acadêmica vamos dizer
pelos mesmos. assim”.
Nesse cenário, é também competência dos O destaque insistente por parte do
designers manter uma postura profissional a qual participante, em relação aos aspectos
reflita em uma prática transformadora e favoreça relacionados à formação do designer, sinaliza a
com que o campo do design adquira o necessidade de se olhar para os diversos modos
reconhecimento necessário, não desempenhando de ação pedagógica por parte dos formadores e
uma atuação passiva, sendo permeado pelas das instituições de ensino no que tange ao
demais áreas – como ocorre atualmente – mas aprimoramento dessa formação, buscando novas
também permeando as demais, estabelecendo abordagens e soluções de maneira a alinhar-se às
trocas constantes, com vistas a expandir seu demandas da realidade do mercado.
alcance e sua atuação, como destaca Dahlstrom O entrevistado D6 afirmou que tal
apud Silva [11]: reconhecimento não ocorre nas montadoras na
“O designer também deve almejar influir mais atualidade, como enunciou: “Normalmente é
na engenharia do processo de desenvolvimento assim: o presidente estipula uma verba; passa
de novas tecnologias e novos materiais. isso pra engenharia; a engenharia usa essa verba
Historicamente, novos materiais e técnicas têm e o que sobra ela passa pro design ’ó sobrou isso
um efeito direto na evolução da área; a utilização aqui e vocês tem que se virar’. E não é assim...
de conhecimentos e tecnologias características de tá... eu acho que a consciência de design já tem
outras áreas é um dos aspectos clássicos da que partir direto da presidência, e ela distribuir
interdisciplinaridade do design. No futuro, o de forma igual essas metas pra que todas as
design passará a fazer parte de uma equipe de áreas trabalhem em conjunto pra chegar num
pesquisa que tentará alargar suas fronteiras, na produto final”.
busca de novos caminhos que auxiliem as Também D8 enfatizou a necessidade de um
empresas a servir melhor seu usuário final, com maior reconhecimento para uma prática
ergonomia e sustentabilidade, adaptando interdisciplinar mais adequada “[...] então, eu
materiais existentes ao desenvolvimento de acho que, de repente se, a gente tivesse toda
novos produtos”. aquela importância que em outros lugares a
Os participantes revelaram ainda que, para gente já vê, em outros países tal, talvez a gente
uma prática desejável, seria importante o fosse levado mais em consideração”.
reconhecimento do design como centro do A atuação do designer envolve o
desenvolvimento de produtos, o qual, de maneira estabelecimento de relações com um amplo
interdisciplinar coordenaria o processo de design espectro de profissões visando a solução de
(D3, D4, D6, D7 e D8), ao que D3 inferiu “[...] o problemas complexos ligados à produção. Assim,
designer é sempre o primeiro da fila. Ele é o cara sua atuação, de acordo com Ono [12], não deve
8
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
ser relegada a uma participação final, como um Para D1, “[...] a gente tem uma autonomia,
apêndice no desenvolvimento de produtos, antes mas ao mesmo tempo a gente responde numa
“[...] deve interagir com as várias áreas e fases estrutura muito maior [...]”. Neste sentido, D3
envolvidas, de modo a, além de atender visualiza um provável crescimento da autonomia
requisitos como os de qualidade e custos, por parte dos designers “[...] estamos mostrando
otimizar os processos de fabricação, necessidade pro mundo que a gente consegue fazer... então
que surge da concorrência capitalista de reduzir pode ser que a nossa autonomia cresça”.
os procedimentos e as dificuldades dos processos Embora a submissão à matriz seja um
de transformar os produtos. Para tanto, o posicionamento previsível dentro de uma
designer deve observar tanto o micro, quanto o corporação multinacional, o design não se
macro ambiente em que se insere o produto, ou estabeleceu ainda como uma área que participa e
seja, tanto o usuário, o consumidor, a empresa, tem condições de influenciar no nível decisório
os fornecedores, os intermediários, os mais alto da empresa, como relatou D6 “Olha é
concorrentes, quanto a dimensão social e complicado isso porque existe uma visão assim
cultural, em um sentido mais amplo, a ecologia, a um pouco glamourosa e romântica de que o
economia, a tecnologia, a legislação e a política”. designer que fez aquele carro, ‘ahh o designer
A importância de o design estar integrado às criou’. Na verdade, isso não existe em companhia
demais áreas de maneira colaborativa depende nenhuma, em nenhum lugar no mundo. O que
também do empenho da empresa em estruturar você tem é uma diretoria, você tem uma
seus departamentos de maneira que sejam identidade que você tem que seguir [...] e então
favorecidas estas integrações, respeitando, nós temos autonomia de propor o que a gente
contudo, a autonomia e as potencialidades de quiser, só que, obviamente, o que a gente propõe
cada setor envolvido no projeto, diminuindo a tem que seguir uma... uma linha de raciocínio
centralização de decisões com base em aspectos que já é meio acertada dentro da companhia, e
administrativos, como destacado por Landim no final das contas quem escolhe é o Sr. Diretor
[13]: então [...]”.
”O design como atividade interdisciplinar terá Essa realidade também é discutida por
mais chances de sucesso em empresas em que a Heskett [14] para quem são variadas as fontes
integração organizacional prevaleça. Do que oportunizam ou restringem a atividade do
contrário, o design terá grandes barreiras em designer – entre estas o gosto pessoal dos
uma empresa com grande estrutura burocrática, responsáveis pela aprovação de projetos:
com uma minuciosa divisão de trabalho e com “A natureza exata desse processo de design é
elevada centralização das decisões acumuladas infinitamente variada e portanto difícil de resumir
em sua cúpula”. em numa simples fórmula ou definição. Pode ser
Assim, para uma prática interdisciplinar o trabalho de uma pessoa ou de uma equipe
efetiva, torna-se necessário uma modificação dos trabalhando em cooperação; pode surgir de um
padrões organizacionais estabelecidos pelas surto de intuição criativa ou de um juízo
empresas. Faz-se imperativo também que não calculado baseado em dados técnicos e pesquisa
apenas os designers busquem a integração no de mercado ou até mesmo, como sustentam
dia-a-dia, mas que o ambiente corporativo alguns designers, ser determinado pelo gosto da
favoreça tal prática. mulher de um gerente administrativo. Restrições
Questionados sobre o nível de autonomia dos ou oportunidades podem ser fornecidas, entre
designers no exercício profissional – dentro dos outros fatores, por decisões comerciais ou
limites possíveis em uma empresa multinacional políticas, pelo contexto organizacional em que
– a maioria dos entrevistados (D1, D2, D3, D4, um designer trabalha, pelo estado do material
D5, D6 e D8) caracterizou uma prática submissa disponível e pelas instalações de produção ou por
à matriz da empresa, condição esta que conceitos sociais e estéticos predominantes: a
apresenta pontos positivos e negativos. variedade de condições possíveis é imensa”.

9
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
Além destes fatores o mesmo participante às fases do projeto nas quais há dependência do
(D6) enfatizou o fato recorrente de que, em primeiro em relação ao segundo, impedem o
ocasiões às quais envolvem tomada de decisão avanço dos trabalhos, como ficou claro na fala de
em relação ao projeto, por vezes desconsidera-se D7 “[...] na minha opinião, é difícil as vezes você
as indicações dos designers e do departamento lidar com pessoas que não tem a mesma vontade
de design: “Então na verdade... é... nós temos de fazer aquilo acontecer que você tem, sabe?
mais é que obedecer ordens. O diretor decide que [...] A gente mesmo já chegou em ponto da
a gente tem que seguir aquela linha e a gente gente saber que com um pouco de boa vontade
meio que vai refinando... nós somos a... como você conseguiria ir além, você conseguiria pensar
eu costumo brincar lá na M3, nós somos a mão numa solução que pudesse dar uma volta naquilo
que move o mouse [risos]. Na verdade, a gente que você gostaria, naquilo que fosse um desejo
faz o que o chefe manda, obedece quem tem do designer de fazer. Então eu vejo que tipo... é
juízo”. aonde... a dificuldade mesmo é quando você
Tal postura por parte das diretorias das esbarra em um problema que você sabe que é
empresas revela a reticência com que as mesmas mais humano do que técnico [...]”.
lidam com o design como parte do Nestes ruídos de comunicação entre o design
desenvolvimento estratégico da companhia, e as outras áreas, Phillips [15] versa sobre a
sendo o setor por vezes visto como um corpo necessidade de o designer aprimorar sua própria
estranho dentro da gestão empresarial. Essa comunicação na empresa, utilizando-se dela para
dificuldade que o campo e seus profissionais promover e destacar a relevância do design para
enfrentam é também objeto de reflexão na a companhia: “[...] a coisa mais importante é
literatura, como ressaltado por Silva et al [11]: aprender a pensar e comunicar de maneira
“De maneira geral, o design está no fogo cruzado eficiente. Essa é a principal lição que os designers
entre interesses políticos, empresariais e os da deveriam aprender. Os designers devem ter a
população consumidora, sem apoio de nenhum capacidade de apresentar as vantagens e
dos lados. O design conta com um apoio restrito benefícios do design de maneira simples, sem
do Estado, ainda é visto como corpo estranho na usar uma linguagem técnica ou rebuscada. Para
gestão empresarial, e não tem uma tradição para isso, eles precisam compreender profundamente
sustentá-lo; muitas vezes, não é nem os objetivos dos negócios e o papel que o design
reconhecido pela cultura nacional como pode desempenhar nesse contexto. O design
linguagem particular. Cada vez mais, é utilizado deve atuar de maneira positiva, buscando
como instrumento para a venda [...]”. parceiros e aliados ao longo de toda a empresa”.
Além de desafios como o processo de criação Ainda de acordo com o autor, é comum aos
e seus desdobramentos técnicos, limitações demais profissionais admitirem a competência
técnicas e de custos, pressão por inovação dos designers em desenvolver soluções estéticas,
constante em curto espaço de tempo, todavia os mesmos não acreditam que os
alinhamento das variáveis de projeto, os designers possam pensar e atuar
entrevistados (D1, D5 e D7) também estrategicamente, apresentando soluções
caracterizaram as relações interpessoais – adequadas às necessidades dos negócios.
principalmente com as demais áreas envolvidas Assim, torna-se necessário aos designers
no projeto – como obstáculos a serem adquirir credibilidade e confiança dos seus
transpostos no dia-a-dia da profissão, como colegas não designers. Neste processo, a
ressaltou D5: “E um outro desafio muito grande comunicação eficiente entre as áreas faz-se
acho que é a pergunta que você fez no começo. primordial.
Essa comunicação desse grupo multifuncional. Uma vez identificados os desafios da
Muitas áreas é... trabalhando juntas”. profissão, os designers foram questionados sobre
Tais relações configuram obstáculos na quais seriam os aspectos a serem trabalhados
medida em que a ação conjunta do designer com visando à melhoria de sua prática.
outros profissionais, principalmente no que tange
10
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
Os pontos destacados pelos participantes FIGURA 2: SÍNTESE DOS ASPECTOS
como cruciais para a melhoria de sua prática – PRESENTES NA PRÁTICA PROFISSIONAL E
também presentes na Figura 2 – revelam seu PERCEBIDOS PELOS DESIGNERS
descontentamento diante do status quo definido
para a profissão e seus profissionais dentro da
empresa e fora dela.
Para Bonsiepe [16], tal descontentamento
deve se tornar ferramenta de transformação na
mão dos designers: “O designer que trabalha
profissionalmente, aplicando as ferramentas
disponíveis, acha-se frente ao desafio de traduzir
sua postura contra o status quo em uma
proposta projetual viável. Em outras palavras,
cabe ao designer intervir na realidade com atos
projetuais, superando as dificuldades e não se
contentando apenas com uma postura crítica
frente à realidade e persistindo nessa posição.
Afinal, projetar, introduzindo as mudanças
necessárias, significa ter a predisposição para
mudar a realidade sem se distanciar dela”.
Tal transformação depende de o profissional
designer não adotar uma postura passiva diante
do status quo como lembra Phillips [15]: “Ele
deve trabalhar seriamente para elevar o conceito
do design dentro da empresa, transformando-o
em uma atividade importante e participativa das
decisões estratégicas”.
Cabe aos designers, portanto, tomar
consciência das dificuldades encontradas em sua
prática e desenvolver habilidades que os auxiliem
na busca por um maior reconhecimento
profissional, visando à melhoria constante de sua
prática.
A Figura 2 apresenta uma síntese dos
aspectos percebidos pelos designers acerca de
sua prática profissional em cada um dos temas.
Os itens indicados na figura resultam das
percepções mais recorrentes verificadas nas
respostas dadas pelos participantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Importa salientar que os vários dados obtidos
e discutidos na Dissertação contribuíram para a A rotina de trabalho do designer envolve sua
obtenção de um panorama sobre a profissão de atuação constante junto às diversos outros
Designer automotivo no Brasil. profissionais, sendo a prática do design um
No presente trabalho, contudo, o foco é processo interdisciplinar.
direcionado para os aspectos negativos Seja em empresas de pequeno, médio,
apontados pelos designers, uma vez que a grande portes ou mesmo em ambientes de
detecção de tais aspectos configura desafios multinacionais, a atividade de projetar é,
importantes para a profissão de designer como portanto, sempre resultado da ação de vários
um todo, e não somente para os automotivos.
11
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
profissionais, cada qual responsável por partes profissional, além de lidar e gerenciar conflitos na
diferentes do projeto. prática.
Ao designer cabe o desafio de orquestrar as Cabe destacar, contudo, que à parte os
variadas contribuições profissionais e os saberes aspectos característicos da produção de
provenientes das diversas áreas visando a automóveis, os relatos aqui apresentados
qualidade do produto final – compreendendo o indicam particularidades e desafios da prática do
produto em seus diferentes perfis, podendo ser design que podem estar presentes também na
físico tridimensional, gráfico, virtual, serviço atuação em outras modalidades do design no
entre outros. Brasil – dado o caráter interdisciplinar da
Para que se consiga extrair o melhor do que profissão – ou mesmo de outras profissões nas
cada área pode oferecer ao projeto são quais a atuação interdisciplinar seja componente
frequentes os encontros e como consequência os da rotina de trabalho. Nessa perspectiva, a
embates – revelados ou em potencial – pesquisa científica desempenha importante papel
resultantes dos vários interesses das diferentes na investigação e produção de conhecimento na
áreas, o que por vezes resulta no área.
estabelecimento de situações de conflito. Espera-se que o presente artigo tenha
O conflito não pode ser considerado, contudo, colaborado nesse sentido, promovendo a reflexão
uma exclusividade da área de Design. Ele deve e abrindo novas possibilidades de estudo para
ser visto, antes, como parte integrante das novas e diferentes abordagens/estratégias de
relações sociais e mesmo consequência natural intervenção tanto junto ao mercado de atuação
de atividades nas quais existe o contato entre dos designers promovendo a melhoria da prática,
indivíduos e suas diversas percepções. quanto em ambiente acadêmico, desenvolvendo
No caso específico do designer de propostas de ação para melhoria desse cenário
automóveis, excluindo-se os aspectos de caráter ainda durante a formação universitária dos
“técnico” presentes na rotina de trabalho – futuros designers, contribuindo assim para o
autonomia, limitações técnicas e de custos, aprimoramento da ação do designer e do design
alinhamento de variáveis de projeto e falta de um no Brasil.
centro de pesquisa em design avançado –, com
base nas percepções dos designers participantes REFERÊNCIAS
da pesquisa, pode-se afirmar que tanto os [1] Pizarro, C.V., 2014, O designer e a prática
aspectos considerados negativos, quanto as profissional na indústria automobilística no Brasil,
melhorias vistas como essenciais pelos Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual
profissionais para uma prática desejável, passam Paulista Programa de Pós-graduação em Design,
pela solução de situações nas quais o conflito Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação,
está presente ou é uma possibilidade evidente. Bauru, 305 p.
Os destaques recorrentes por parte de alguns [2]ROBBINS, S. P., 2005, Comportamento
participantes em relação aos aspectos Organizacional, Pearson Prentice Hall, São Paulo,
relacionados à formação dos designers sinalizam 550 (11), pp 326-335.
a necessidade de se olhar para os diversos [3] BERG, E. A., 2012, Administração de
modos de ação pedagógica empreendidos na conflitos: abordagens práticas para o dia a dia,
atualidade por parte dos formadores e das Juruá, Curitiba, 134(1), pp.18.
instituições de ensino no que tange ao [4] JUNIOR, H.L.M; FRANÇA, S.L.B., 2012,
aprimoramento dessa formação, buscando novas “Gerenciamento de conflitos - conhecer,
abordagens e soluções de maneira a alinhar a diagnosticar e solucionar”, Anais do VIII
formação dos alunos às demandas da realidade Congresso Nacional de Excelência em Gestão, Rio
do mercado – ações estas que podem contribuir de Janeiro, 21, pp.7. Disponível
para um perfil mais flexível do futuro designer, o em:<http://www.excelenciaemgestao.org/Portals
qual consiga adaptar-se à mudanças na rotina /2/documents/cneg8/anais/T12_0454_2888.pdf>

12
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
[5] MUSZKAT, M. E., 2008, Guia prático de
mediação de conflitos em famílias e
organizações, Summus, São Paulo, 104 (2), pp.
69.
[6] CARDOSO, R., 2012, Design para um
mundo complex, Cosac Naify, São Paulo, 262, pp.
249.
[7] LAWSON, B., 2011, Como arquitetos e
designers pensam. Oficina de Textos, São Paulo,
296. pp.220.
[8] BARDIN, L., 2011, Análise de conteúdo,
Edições 70,Lisboa, 280, pp.
[9] ESCOREL, A. L., 2000, O efeito
multiplicador do design, Editora SENAC São
Paulo, São Paulo, 120. pp.40.
[10] NICOLESCU, B., 2005, Manifesto da
transdisciplinaridade, TRIOM, São Paulo, 156, pp
3-4.
[11] SILVA, J.C.R.P. et al., 2012, O futuro do
design no Brasil, Cultura Acadêmica, São Paulo,
60, pp. 28-47.
[12] ONO, M.M., 2006, Design e Cultura:
sintonia essencial, Edição da Autora, Curitiba,
132. pp.49.
[13] LANDIM, P.C., 2010, Design, empresa,
sociedade, Cultura Acadêmica, São Paulo, 191,
pp.138.
[14] HESKETT, J., 2006, Desenho industrial,
José Olympio, Rio de Janeiro, 228, pp.10.
[15] PHILLIPS, P. L., 2008, Briefing: A gestão
do projeto de design, Editora Blucher, São Paulo,
208. pp.159-172.
[16] BONSIEPE, G., 2011, Design, Cultura e
Sociedade, Blucher, São Paulo, 270. pp. 36-37.

13
Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.

Você também pode gostar