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Genética do desenvolvimento embrionário

Research · May 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.4885.6484

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José M.B. Cabeda


Universidade Fernando Pessoa
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Genética do Desenvolvimento
Embrionário
José M. B. Cabeda

Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal

1 Introdução
A maior e mais complexa aventura da regulação genética humana consiste no caminho que a
célula pluripotente por excelencia faz até originar um ser humano adulto. Se cada célula madura
tem habitualmente um programa genético bem definido, respondendo apenas a um pequeno
número de estímulos exteriores, já a célula pluripotente tem que possuir todo o potencial para
se tornar em cada uma das células do corpo. Por isso todo e cada um dos programas genéticos
individuais das células que pode originar tem que ser potencialmente ativável na célula
pluripotencial. Do mesmo modo, a enorme, longa e complexa cadeia de eventos que conduz à
morfogénese de um ser humano tem que se realizar de modo coordenado tanto no tempo como
no espaço, para que cada um dos tipos celulares seja formado quando é preciso, onde é
necessário e nas quantidades precisas que levam à correta formação dos órgãos.

Este processo de morfogénese e a sua base genética constitui por isso uma área de estudo tão
interessante como complexa, possuindo ainda a dificuldade acrescida de o seu estudo, por
óbvias razões éticas, não poder ser feito diretamente no alvo do estudo (embriões e fetos
humanos), mas apenas em modelos mais ou menos relacionados (drosófila, rã, galinha, rato,
etc).

2 Embriogénese
2.1 Fecundação
A aventura da embriogénese começa com a divisão especializada das células progenitoras dos
gâmetas: a meiose. Esta divisão especializada é fundamental para que de dois indivíduos
diplóides (2 x 23 cromossomas) se formem gâmetas haplóides (23 cromossomas), fazendo com
que a fusão dos dois gâmetas (masculino e feminino) origine um novo ser diplóide com uma
composição genética nuclear proveninte em partes iguais de cada um dos progenitores.
Contudo, a composição genética do embrião em formação tem ainda a contribuição do genoma
mitocondrial, o qual é totalmente proveniente do gâmeta feminino (óvulo), já que o gâmeta
masculino (espermatozóide) concentra todas as suas mitocondrias na cauda (onde é necessária
a energia) e esta não contribui para o embrião.

2.2 Do Ovo ao Blastocisto


A fusão entre um e um só espermatozóide (mais do que um origina aberrações genéticas) e o
ovócito ocorre habtualmente nas trompas de falópio perto do ovário, originando o ovo. Esta
fusão constitui o evento fundador da nova identidade genética, desencadeando uma cadeia de
eventos que levará à formação de um novo ser humano. O ovo inicia um conjunto de divisões,
simultâneas com a migração ao longo das trompas de falópio em direção ao útero. Cerca de 30
horas após a fertilização o ovo começa a dividir-se. Numa fase inicial, as divisões sucedem-se
sem qualquer tipo de diferenciação ou crescimento celular. Assim, em 4 dias forma-se uma

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massa compacta de células bem mais pequenas que o ovo original, formando uma pequena
bola: a mórula (Fig.1).

Figura 1 - Da fecundação ao blastocisto em 5 dias

Quando ao 5 dia alcança o útero, esta massa celular já sob a forma de blastocisto, cresceu,
desenvolvendo uma cavidade interna contendo uma pequena massa celular interna e a camada
externa celular: o trofoblasto (Fig.2).

Figura 2- Blastocisto

Nesta fase irá ocorrer a nidação, com o blastocisto a aderir ao revestimento uterino
(endométrio), e com o trofoblasto a invadi-lo para formar a placenta (fig.3).

2.3 - Gastrulação
À medida que cresce, a massa celular vai organizar-se em 2 tipos de células: uma camada que
contacta diretamente com a cavidade interna (o hipoblasto) e uma camada de células altas em
contacto com o trofoblasto (o epiblasto; Fig 3). Apenas o epiblasto originará o embrião,
enquanto o hipoblasto, juntamente com o trofoblasto forma o saco vitelino primitivo.

2
O epiblasto crescendo organiza-se na forma de um disco alongado interno ao trofoblasto, do
qual se separa originando uma segunda cavidade (a cavidade amniótica; fig. 3) o qual irá no
futuro rodear totalmente o embrião e posteriormente o feto até ao nascimento. Num processo
conhecido como gastrulação, começa a formar-se um sulco na extremidade caudal do disco oval
alongado (o sulco primitivo; fig. 4). Na extremidade interna do sulco primitivo encontra-se o
fosso primitivo e imediatamente acima desta uma estrutura sinalizadora (o nó primitivo).

Figura 3- Saco vitelino primitivo, cavidade amniótica, epiblasto e hipoblasto.

O sulco primitivo é na verdade uma zona de invaginação, por onde as células em divisão crescem
e invadem a zona inferior do disco, formando primeiro duas camadas de células e depois três
camadas por todo o epiblasto (fig. 4). A camada inferior (endoderme) irá originar entre outros,
os pulmões, fígado e tubo digestivo; a camada interna (mesoderme), originará entre outros o
coração, músculos, ossos e o sangue; a camada superior (ectoderme) originará o sistema
nervoso central, partes da pele e o cabelo.

Na continuação da linha do sulco primitivo, a partir do fosso primitivo, vai desenvolver-se uma
linha de células que se vai posicional na mesoderme (notocorda) constituindo a zona
sinalizadora para a formação das estruturas corporais (fig. 4).

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Figura 4 - Sulco primitivo, Nó primitivo, notocorda e a ectoderme, mesoderme e endoderme, saco amniótico e saco
vitelino

Uma das primeiras estruturas a formar-se sob a influência da notocorda é o sulco e as dobras
neurais. Formam-se por espessamento e dobra da ectoderme, com o sulco neural por cima da
notocorda e as dobras neurais lateralmente (Fig.5). As dobras neurais continuam a expandir-se
em direção ao centro, acabando por fechar formando um tubo (tubo neural) localizado agora
na mesoderme e que dará origem a todo o sistema nervoso (fig. 6). A ectoderme, separada do
tubo neural dará origem à derme. Simultaneamente, e também por ação da notocorda, bem
como por ação sinalizadora do tubo neural entretanto formado, a mesoderme diferencia-se em
várias estruturas: no centro, junto ao tubo neural a mesoderme somática que vai originar os
somitos, lateralmente a esta, de ambos os lados forma-se a mesoderme intermédia que vai

Figura 5-
Figura 6- Mesoderme Sulco e dobras
somática, neurais
intermédia e Placa lateral da mesoderme

4
originar os rins e as gónadas, e exteriormente (em ambos os lados) a placa lateral da mesoderme
(Fig. 6)

De seguida, na zona mediana da placa lateral da mesoderme formam-se espaços (coelum)


dividindo a placa lateral em duas zonas: a placa lateral visceral/esplénica da mesoderme (junto
à endoderme), a qual vai fundir-se com a mesma placa do outro lado do embrião, originando o
tubo gástrico (a partir da endoderme) e os tecidos conectivo, muscular, etc de suporte (da
mesoderme) (fig 7).

Figura 7- Tubo gástrico e tubo das cavidades


abdominal e torácica

Do mesmo modo, a placa lateral parietal/somática da mesoderme vai sofrer um processo


semelhante, acompanhado de crescimento, acabando por rodear a cavidade gástrica e mais
algum espaço (coelum), formando a estrutura que mais tarde originará as cavidade torácica e
abdominal, bem como a pélvis (fig 7). Neste processo, como a ectoderme está em contacto com
a cavidade amniótica (fig. 4), o movimento da ectoderme, que arrasta consigo a cavidade
amniótica acaba por forçar esta a envolver todo o embrião, dando origem ao saco amniótico
que separando-se da ectoderme acaba por envolver todo o embrião.

2.4 Somitogénese
Concomitantemente com a formação
do tubo neural, na mesoderme
somática, vão desenvolver-se
estruturas que promoverão a
diferenciação do embrião segundo um
plano diferente (anterior/posterior ou
Rostral/caudal ou ainda
cranial/caudal). Trata-se dos somitos,
estruturas regulares que se formam
ao longo do eixo, na zona do tubo
neural (Fig 8), ao longo do
crescimento da células da mesoderme
pré-somitica (PSM), uma estrutura da
mesoderme somática.
Figura 8- Somitos

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A sua formação tem sido amplamente investigada, sendo conhecidos vários genes envolvidos,
ainda que os mecanismos precisos estejam ainda a ser investigados.

Dois mecanismos gerais parecem intervir na formação destas estruturas: um mecanismo


espacial, associado a um gradiente químico de uma ou mais proteínas sinalizadoras (genes da
família fgf), e um mecanismo oscilatório (relógio somitogénico) expresso na oscilação
coordenada da expressão de vários genes (pelo menos os genes LNFG, NOTCH E WNT) ao longo
do tempo.

Os mecanismos precisos pelos quais tanto a coordenação da oscilação em todas as células


envolvidas, como a própria oscilação (feedback negativo ou positivo) ocorrem não estão
totalmente estabelecidos.

Também para o mecanismo espacial, dois modelos concorrentes parecem explicar os resultados
obtidos: o mecanismo da frente de oscilação, segundo o qual o limite do somito é definido não
pela situação na totalidade das células do somito, mas pelas células limite. Segundo este
modelo, o limite do somito é definido pela concentração de fgf8 no momento preciso de uma
oscilação do relógio. Assim, as células que naquele momento sentem uma dada concentração
definem o limite do somito, regulando as restantes células em conformidade. Já no mecanismo
alternativo esta definição ocorre simultaneamente em todas as células que farão parte do
somito.

2.5 Desenvolvimento dos membros


Definidos os principais eixos corporais, as estruturas formadas começam a diferenciar-se em
órgãos e sistemas.

Na quarta semana, mais precisamente ao dia 31 surgem os brotos dos membros superiores e
inferiores (Fig. 9). A sua formação tem origem em sinais dos somitos, da mesoderme,
envolvendo pelo menos os genes TBX5
(membros superiores) e TBX4 (membros
inferiores) e o gene HOXB8 (pelo menos
para os membros inferiores). Esta
sinalização origina um espessamento da
ectoderme (a crista apical da ectoderme),
responsável pela produção de fgf8 sem a
qual não se desenvolvem os membros.

A zona da mesoderme imediatamente por


baixo da crista apical da ectoderme é
denominada de Zona de Progressão e
origina os membros. Trata-se de uma zona
Figura 9- Formação dos brotos dos membros com células indiferenciadas em
proliferação. Quando estas células se
dividem e saem da zona de progressão iniciam a sua diferenciação.

Á medida que o broto cresce, começam a surgir diferenciações celulares ao longo dos 3 eixos de
diferenciação (Fig. 10). Assim, por exemplo, a expressão ectodérmica de Radical Fringe, SER-2 e
Engrailed bem como a expressão mesodérmica de Wnt7a, LMSX1 e Engrailed-1 definem o eixo
dorsal-ventral (Fig. 10).

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Figura 10- Diferenças de expressão génica ao longo do eixo dorsal-ventral dos membros

Já no eixo ântero-posterior, tem particular importância a formação dos dedos, e esta depende
criticamente de uma região denominada Zona de atividade polarizadora (ZPA) que parece ter
particular importância por influenciar a Crista Apical da Ectoerme. A ZPA produz Ácido retinóico,
o qual induz a produção de Sonic Hedgehog (SHH), regulando o eixo Antero-posterior (Fig. 11).
Na realidade o mecanismo é bem mais complexo envolvendo a indução de Gremlin-1 pelo SHH.
Por sua vez o Gremlin-1 bloqueia a produção de BMP (Bone morphogenetic protein) e mantém
a produção de FGF, o qual mantém a produção de SHH (fig.11)

A definição do eixo ântero-posterior e a formação dos dedos é também influenciada pela


expressão diferencial dos genes HOX, particularmente os genes HoxD e HOXA (Fig.11).

Figura 11- Figura 10- Diferenças de expressão génica ao longo do eixo ântero-posterior dos membros

Por volta da 5ª semana de desenvolvimento, os membros apresentam uma extremidade em pá,


a qual começa a formar 4 depressões que por extensa apoptose darão origem à separação dos
dedos. Isto ocorre concomitantemente com o fim da influência da crista apical da ectoderme na
mesoderme, originando o fim da expressão de fgf8, o que induz a expressão de BMP e Ácido
retinóico, induzindo a apoptose.

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3 – Genética da Embriologia

3.1 – Famílias de genes e genes envolvidas na embriogénese

Os cerca de 25,000 genes humanos conhecidos foram agrupados em famílias, classes e


subclasses de acordo com a sua homologia e função (ver Genetics Home Reference em
http://ghr.nlm.nih.gov/geneFamily ou a Hugo Gene Nomenclature Committee Gene
Families/Groupings Nomenclature em http://www.genenames.org/genefamilies/a-z). Destes,
um grande número encontra-se envolvido na embriogénese (tabela 1). Alguns genes não foram
ainda agrupados em famílias, e destes alguns participam também na embriogénese como o
Sonic Hedgehog (SHH), os genes do grupo Fibroblast Growth Factor (FGF), os genes do grupo
polycomb (PCG), e os genes Tritorax (TRXG).
Tabela 1 - Famílias, Classes e subclasses de genes envolvidos na embriogénese
Família Classe SubClasse Genes
Homeobox CERS CERS
CUT ONECUT;CUX;SATB
HFN HNF;HMBOX
ANTP HOXL HOX; CDX; EVX;GBX; MEOX; MNX; PDX
INKL NKX; BARHL; BARX; BSX; DBX; DLX; ENX;
EN1; HHEX; HLX; HMX; LBX; MSX; NANOG;
NOTO; TLX; VAX; VENTX;
LIM LHX;LMX;ISL
POU POU;HDX
PRD (Mix/Bix) ALX;ARGFX;ARX;CRX;DMBX;DPRX;DRGX;
DUX;DUX; ESX; GSC;GSC;HESX;HOPX;ISX;
LEUTX;MIXL;NOBOX;OTP;OTX;PAX;PHOX;
PITX;PROP;PRRX;RAX;RHOXF;SEBOX;
SHOX;TPRX;UNCX;VSX
PROX (PROS) PROX
SINE SIX
TALE1 IRX;MEIS;MKX;PBX;PKNOX;TGIF
ZF ZFHX;ZHX;ZEB;ADNP;HOMEZ
PAX2 PAX2
WNT3 WNT3
BMP4,5
NODAL5
ACTIVINS5
1) TALE = Three aminoacid loop estension;
2) PAX = paired boxes;
3) Wnt = Wingless;
4) BMP= Bone Morphogenetic Protein;
5) BMP,NODAL e Activins são membros da superfamilia do TGF-beta (Tumorigenic Growth factor beta).

Alguns destes genes participam de modo particular na definição dos vários eixos de simetria:

 Eixo Anterior/Posterior (Cabeda/Pés) é definido particularmente pelos genes SHH e HOX


 Eixo dorsal/Ventral (Costas/ventre) é definido particularmente pelos genes WNT e BMP
 Eixo Proximal/distal (Esquerda/Direita) é definido particularmente pelos genes FST, HOX
e pelo Ácido Retinóico

3.1.1 Genes da Família Homeobox

A Família Homeobox é composto por um grande número de Classes, muitas das quais possuem
dezenas de genes (Tabela 1). Trata-se pois de uma extensa família de genes caracterizados por

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codificarem fatores de transcrição que se ligam ao DNA por um domínio com 3 hélices. Para
além de se ligarem ao DNA estas proteínas ligam-se também a outras proteínas.

O efeito da ligação das proteínas Homeobox a outras proteínas é muito variável, e pode ser de
dois tipos: em alguns casos, a associação das proteínas resulta num domínio de ligação ao DNA
com afinidade alterada, o que permite modular os genes regulados pelas proteínas Homeobox
em função das proteínas a que estas se ligam; noutros casos, o domínio de ligação não é afetado,
mas o resultado da ligação ao DNA é modificado permitindo que a mesma proteína Homeobox
tenha efeitos diferentes em alvos diferentes, em função da proteína com a qual se associou.

Um exemplo do primeiro tipo de associação é representado pela associação das proteínas das
classes TALE e ANTP. Por exemplo, a associação entre HOX-B1 e pbx1 altera a especificidade de
ligação ao DNA passando a reconhecer a sequência 5’-TGATNNATN-3’, em vez da sequência
normalmente reconhecida pelas proteínas Hox-B1 (5’-TAATTA-3’).

De entre todos os genes da família Homeobox, merecem particular atenção os genes HOX
(subclasse HOXL; tabela 1). Trata-se de um extenso conjunto de genes, muito conservados na
evolução, e que em organismos diferentes apresentam habitualmente uma organização idêntica
(fig.12)

Figura 12- Organização genómica dos Genes Hox e sua ordem de expressão

No homem, existem 4 grupos de genes Hox, todos provavelmente resultado de duplicações de


um locus ancestral. Em cada locus, ocorrem pequenas variações que eliminaram ou
acrescentaram genes (fig. 12), contudo a posição relativa dos vários genes em cada locus é
conservada, tanto entre os vários locus do homem como entre as várias espécies (fig.12).

Esta organização parece importante, já que reflete a ordem temporal e espacial pela qual estes
genes são expressos no embrião, ao longo dos eixos definidos por estes genes (fig.12).

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A colinearidade entre a organização genómica e a expressão dos genes pode estar relacionada
com mecanismos de controlo epigenético da expressão destes genes. Segundo esta perspetiva,
a modificação progressiva do estado de condensação da cromatina estaria na origem da
regulação da expressão genética, o que explica a correlação perfeita entre a expressão de mRNA
destes genes e os níveis de repressão e ativação cromática avaliados por princípios epigenéticos
(fig. 13).

Expressão
de mRNA

Repressão da
cromatina

Ativação da
cromatina

Figura 13- Expressão dos genes HOX e níveis de repressão e ativação da cromatina.

Adicionalmente, e à semelhança do
que se passa noutros loci genéticos
potencialmente regulados da
mesma forma, foi possível
identificar locais de controlo do loci
HOX. Estes “Global Control
Regions” ou “Locus Control
Regions” provavelmente
funcionam como zonas
organizadoras de territórios
cromossómicos, os quais são alvo
de ativação preferencial, por
remoção do território
cromossómico reprimido (Fig. 14).

Um outro mecanismo que Figura 14- Global Control Regions e a regulação dos genes HOX
influencia não apenas os níveis de
expressão dos genes HOX, mas
também a sua utilização pós transcripcional envolve moléculas de RNA reguladoras: as miRNA.
Com efeito, foram identificados pelo menos dois miRNA (Mir10 e Mir196), os quais regulam
diferencialmente a expressão de diferentes genes HOX (fig. 15B), influenciando ainda a
possibilidade de os mRNA destes genes serem utilizados para tradução. Finalmente a proteína

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HOX pode também ela ser regulada pela sua interação com outras proteínas produzidas na
célula.

Figura 15- Regulação da expressão dos genes HOX por miRNA

Também o relógio somitogénico (ver secção 2.4) influencia a expressão dos genes HOX. O relógio
somitogénico consiste numa oscilação regular e sincroinizada da expressão de alguns genes, nas
células do embrião em crescimento. Como descrito na secção 2.4, esta oscilação, em conjunto
com gradientes químicos de concentração de algumas proteínas (fig.15) influencia a definição
dos limites de estruturas como os somitos, as quais por sua vez vão ser determinantes na criação
de estímulos espaciais que definirão não apenas a simetria, como a segmentação do embrião.

Figura 16- Modelo de relógio somitogénico e frente de onda(concentração proteica) na formação dos somitos

Os genes HOX, possuem eles próprios uma expressão cíclica, a qual constitui por si só uma
manifestação do relógio somitogénico, determinada por todos os mecanismos já descritos:
relaxamento/condensação progressiva da cromatina; influência de miRNA na expressão dos
genes; interação do mRNA com miRNA; interação das proteínas HOX com outras proteínas co-
expressas na célula (fig. 16).

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Figura 17- Expressão oscilatória dos genes HOX

3.2 - Os genes WNT


Enquanto os genes da família Homeobox são reguladores da atividade genética de outros genes
por interagirem diretamente com os promotores desses genes, outros genes como os genes FGF
e os genes WNT são mensageiros que enviam sinais de umas células para outras, controlando,
por vezes através do estabelecimento de gradientes químicos a função de múltiplas células, com
origem em pontos de controlo espacial e temporalmente bem definidos.

Estes genes, funcionam como as citocinas do sistema imunológico, ou as hormonas do sistema


endócrino, enviando sinais à distância e controlando simultaneamente várias células em função
dos recetores que nelas existam. Assim, dependendo da existência de recetores apropriados e
de cofatores ou mensageiros secundários, as células podem ser refratárias à ação destes
mensageiros, ou responderem de modo diverso.

Com efeito, para algumas destas moléculas são conhecidas vias de sinalização distintas, com
mecanismos alternativos e efeitos diversos. Um bom exemplo é o que ocorre com o gene WNT,
do qual se conhecem 3 mecanismos diferentes de ação: uma via de sinalização canónica
envolvendo a via da beta-catenina, e duas vias não canónicas (uma envolvendo o cálcio como
segundo mensageiro e outra envolvendo a proteína PCP), as quais possuem pontos de
convergência e elementos em comum (fig.18).

Esta forma de ação é particularmente importante no desenvolvimento embrionário, estando na


origem da definição dos vários eixos de desenvolvimento (Fig.19), bem como no início da
formação dos membros (“limb budding”; fig.18). Também a ação da notocorda se manifesta ao
longo do embrião por este processo, influenciando diferencialmente as estruturas vizinhas em
função das outras moléculas que competem/cooperam para a formação diferencial de vias de

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sinalização em cada uma das células do embrião, ao longo dos vários eixos e ao longo do tempo
(Fig. 19).

Figura 18- Vias de ativação do WNT

Figura 19 - Gradientes proteicos e sinalização embrionária

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