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Ministério Público
Promotoria de Justiça Especializada de Defesa dos Direitos Humanos
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Rua Marechal Deodoro, 347 Centro Rio Branco/AC - telefones (68) 3212-6860
E-mail: mribeiro@mpac.mp.br
Estado do Acre
Ministério Público
Promotoria de Justiça Especializada de Defesa dos Direitos Humanos
JOSÉ ALLAN DOS SANTOS AMORIM praticou, induziu e incitou, por intermédio de
meio de comunicação social, a discriminação e o preconceito às pessoas de pele
negra e cabelos tingidos, características historicamente estigmatizadas, ao publicar
anúncio no grupo de Facebook “VENDA TUDO AQUI!!! - ACRE” com os seguintes
dizeres: “Ladrão, R$ 1, ***IMPERDÍVEL***. Vendo filhote de assaltante, já vem
tatoado e cabelo amarelo, excelente para bater carteira e roubo de celular, R$
1.400,00 INVESTIMENTO COM RETORNO GARANTIDO EM ATE 3 SEMANAS
ÚLTIMA UNIDADE.. Favor entra encontato só enteressado” [sic], tendo o
denunciado agido de forma deliberada a denegrir a imagem de pessoas de origem
afrodescendente perante todos os integrantes do grupo acima mencionado.
I- Do Princípio in dubio pro reo
As provas, para autorizarem a aplicação de uma pena, devem ultrapassar o
umbral da dúvida razoável. Na dúvida, o juiz deverá absolver. Tem aplicação, às
inteiras, o princípio in dúbio pro reo. É evidente, não custa lembrar, que o juiz
criminal não fica cingido a critérios tarifados ou predeterminados quanto à
apreciação da prova.
Não é demais repetir, no entanto, que fica adstrito às provas constantes dos
autos em que deverá sentenciar, sendo-lhe vedado não fundamentar a decisão,
ou fundamentá-la em elementos estranhos às provas produzidas durante a
instrução do processo. Sempre é válido ressaltar que probabilidade não é certeza
e não conseguindo a acusação fazer a demonstração, estreme de dúvidas,
daquilo que se propôs na denúncia, existe razoável incerteza que tende em favor
do réu, que não pode ser condenado em indícios frágeis como os relatados neste
processo.
I- Dos Pedidos
Por todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ACRE requer
o provimento da apelação, para o fim de reformar-se a sentença atacada Assim
sendo, JOSÉ ALLAN DOS SANTOS AMORIM incurso no art. 20, § 2º, da Lei nº
7.716/89, ofereço a presente Ação Penal Pública, requerendo, após recebimento e
autuação, seja o denunciado citado para responder a acusação, nos termos do
artigo 396, caput, do Código de Processo Penal, interrogando, processando e, ao
final, condenando-o, nos trâmites do rito ordinário. Requer, ainda, seja inquirida a
testemunha adiante arrolada, dando-se o regular processamento a ação penal.
I- Doutrinas
Conforme assinala Ianni (1972), “(...) a doutrina da inferioridade do
mestiço, do negro e do índio convinha à camada dominante na
sociedade brasileira, interessada na manutenção do Status Quo.
Essa doutrina teve e ainda tem no Brasil um papel muito importante
na preservação das estruturas de dominação. Apesar da copiosa
legislação que lhe diz respeito, o índio brasileiro, em face da lei, é
cidadão por omissão e tem uma situação jurídica imprecisa, que dá
lugar a uma série de problemas. Essa imprecisão não é ocasional.
Ela opera em benefício dos que dominam as organizações e os
instrumentos de mando. Trata-se de preservar estruturas
constituídas, em detrimento de mudanças sociais. No caso do negro,
a própria situação existente nasce, em larga parte, do fato da
desigualdade racial ser percebida, explicada e aceita socialmente
como algo natural, justo e inevitável, como se a ordem social
competitiva não alterasse o antigo padrão de relação entre o negro e
o branco. A única fonte dinâmica de
Todos sabemos que não é de hoje que as redes sociais têm servido
de palanque para que pessoas vomitem preconceito e ódio.
Igualmente sabemos que as denúncias e punições, no entanto, não
parecem fazer frear a necessidade de muitos usuários das redes
sociais de exporem os seus preconceitos, como demonstra mais este
caso. O que antes era dito dentro de um círculo pessoal, ou entre
familiares, agora é colocado na rede sem qualquer constrangimento,
como se não fugisse da normalidade. Ou seja, nos últimos anos a
internet tem constituído um espaço privilegiado para a prática de
crimes de ódio, em especial o racismo MARTINS, Ilton Cesar. OP.
I- Jurisprudência