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DOI: 10.1590/1413-81232020259.

22152020 3421

Implicações da pandemia COVID-19 para a segurança alimentar

Artigo Article
e nutricional no Brasil

Covid-19 pandemic implications for food and nutrition security


in Brazil

Rita de Cássia Ribeiro-Silva (http://orcid.org/0000-0002-8387-9254) 1,2


Marcos Pereira (https://orcid.org/0000-0003-3766-2502) 2,3
Tereza Campello (https://orcid.org/0000-0002-9905-9453) 4
Érica Aragão (https://orcid.org/0000-0002-4903-0556) 2,3
Jane Mary de Medeiros Guimarães (https://orcid.org/0000-0002-9538-2675) 3,5
Andréa JF Ferreira (http://orcid.org/0000-0002-6884-3624) 2
Maurício Lima Barreto (http://orcid.org/0000-0002-0215-4930) 2,3,6
Sandra Maria Chaves dos Santos (http://orcid.org/0000-0002-4706-0284) 1

Abstract The emergence of COVID-19 in Brazil Resumo O surgimento da COVID-19 no Brasil


further explained the massive discrepancy between explicitou ainda mais a enorme discrepância en-
different social realities coexisting in the country, tre diferentes realidades sociais que coexistem no
rekindling the discussions about food and nutri- país, reacendendo as discussões acerca da seguran-
tion security, similarly to what has been happen- ça alimentar e nutricional, à semelhança do que
ing in other countries facing the same pandemic vem acontecendo em outros países que enfrentam
situation. In this paper, we argue that the risks a mesma situação de pandemia. Argumenta-se
to hunger and food security in Brazil have been neste trabalho que os riscos para a Segurança Ali-
present since 2016 and are now being exacerbated mentar e Nutricional (SAN) e a fome dos brasilei-
due to the emergence of the COVID-19 epidemic. ros já vinham se apresentando desde 2016, sendo
This situation requires knowing the extent and agora aprofundados pela emergência da epidemia
magnitude of the issue and articulation of mea- da COVID-19, passando a exigir compreensão da
sures in the three governmental spheres(federal, extensão e da magnitude dos problemas e articu-
municipal and state) to ensure access to adequate lação de medidas governamentais nas três esferas
1
Departamento Ciência and healthy food and reduce the disease’s adverse de gestão (federal, municipal e estadual), que pos-
da Nutrição, Escola de
Nutrição, Universidade effectson the diet, health, and nutrition among the sam assegurar o acesso à alimentação adequada e
Federal da Bahia (UFBA). most vulnerable people. Thus, this work aims to saudável, com vistas a reduzir os impactos negati-
Av. Araújo Pinho 32, Canela. contribute to the debate on the measures to be ad- vos da doença na condição de alimentação, saúde
40110-150 Salvador BA
Brasil. rcrsilva@ufba.br opted by governments and society to promote and e nutrição dos mais vulneráveis. Assim, este texto
2
Rede CoVida Ciência, ensure food and nutrition security and prevent pretende contribuir para o debate sobre as medi-
Informação e Solidariedade. insecurity and the expansion of hunger during das a serem adotadas pelos governos e sociedade
Salvador BA Brasil.
3
Instituto de Saúde Coletiva, and after the social and health crisis created by para promover e garantir a SAN e impedir que a
UFBA. Salvador BA Brasil. the pandemic. insegurança e a expansão da fome avancem du-
4
University of Nottingham. Key words COVID-19, Pandemics, Food and rante e após a crise social e sanitária gerada pela
Nottingham Reino Unido.
5
Campus Jorge Amado, nutritional security, Public policy pandemia.
Universidade Federal do Palavras-chave COVID-19, Pandemias, Segu-
Sul da Bahia. Itabuna BA rança alimentar e nutricional, Política pública
Brasil.
6
Centro de Integração de
Dados e Conhecimentos
para Saúde, Instituto
Gonçalo Moniz, Fiocruz.
Salvador BA Brasil.
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Ribeiro-Silva RC et al.

Introdução ponsabilizada isoladamente pela severidade que


se anuncia na situação de fome, desnutrição e
Após décadas de declínio constante, a tendência insegurança alimentar e nutricional (ISAN) de
da fome no mundo, que é refletido pela preva- todos. Antes, as desigualdades não superadas, o
lência da desnutrição, foi revertida em 2015. Nos avanço de políticas neoliberais e o desmonte do
últimos três anos, as taxas permaneceram pra- sistema que contemplava políticas sociais inclu-
ticamente inalteradas em um nível ligeiramente sivas e promotoras da SAN vem se somando para
abaixo de 11%1. No entanto, o número de pesso- a situação atual, que tende ao agravamento dado
as atingidas pela fome vem aumentando. Como os impactos da pandemia. Decerto, a inseguran-
resultado, pouco mais de 821 milhões de pessoas ça alimentar nos domicílios brasileiros, seja nos
no mundo, ou seja, 1 em cada 9 pessoas, ainda gradientes leve, moderada ou grave, deve tender
passavam fome em 20181. Estimativas mais re- à maior magnitude, com o advento da pandemia
centes registram que mais de 130 milhões de pes- da COVID-19. Assim, o objetivo deste artigo é
soas podem entrar nesta categoria até o final de discutir as repercussões da COVID-19 na situ-
20202. Além disso, a pandemia pode levar cerca ação de segurança alimentar e nutricional e sua
de 49 milhões de pessoas à extrema pobreza em interface com políticas de proteção social.
20203, ressaltando o imenso desafio de atingir a Para tanto, foram analisados documentos
meta do Fome Zero até 20301. oficiais sobre decretos e leis relativas ao enfrenta-
Observa-se, ainda, que a fome está aumen- mento da COVID-19 no âmbito estadual e fede-
tando em quase todas as sub-regiões da África, ral. Privilegiou-se as ações voltadas à geração de
tendo a prevalência de subnutrição atingido pre- renda e intervenções direcionadas à garantia da
valência de 22,8% na África Subsaariana e, em alimentação adequada. O ensaio é delineado em
menor grau, na América Latina e no Sudoeste três secções: a primeira abrange a conjuntura das
Asiático em 20181. Também mais de dois bilhões políticas de proteção social, a segunda refere-se
de pessoas, principalmente em países de baixa e às dimensões da segurança alimentar e nutricio-
média renda, não têm acesso regular a alimentos nal e por fim, são apresentadas possíveis estra-
seguros, nutritivos e suficientes. Mas o acesso ir- tégias para o enfrentamento da fome e trilhar o
regular também é um desafio para os países de caminho da SAN no Brasil.
alta renda, incluindo 8% da população na Amé-
rica do Norte e na Europa1. O desmonte das políticas de proteção social
No Brasil, a desnutrição alcançou até 5,2 mi- no Brasil
lhões de brasileiros no triênio 2015-20171. A taxa
de conceptos nascidos abaixo do peso se manteve Ao longo das últimas duas décadas, diversas
em 8,4%1. Além da desnutrição, o sobrepeso e a políticas públicas foram criadas para a saída do
obsidade continuam a crescer em todas as regi- Brasil do Mapa da Fome6. Uma delas é o Progra-
ões, particularmente entre adolescentes e adul- ma Bolsa Família (PBF), um programa de trans-
tos1; em algumas delas enfrentam epidemia que ferência condicional de renda (CCT)7. Entre
combina a obesidade e a desnutrição4. A baixa 2004 e 2014, o programa aumentou as despesas
ingestão de micronutrientes como ferro, cálcio e de 0,29% para 0,46% do Produto Interno Bruto
vitaminas A e D, doenças carenciais conhecidas (PIB) anual e a cobertura familiar de 6,6 milhões
como “fome oculta” desde os estudos de Josué de para 14 milhões8,9. Estima-se que o componente
Castro nos anos 40, do século passado, permane- de transferência de renda adotado pelo progra-
cem sendo importantes problemas nutricionais ma tenha sido responsável por 25% de redução
no país5. Essa condição traz sérias implicações da pobreza extrema e por quase 15% da redução
para a saúde e o desenvolvimento físico e cogni- da pobreza desde 200410. Seu efeito de distribui-
tivo, com efeitos diretos na qualidade de vida das ção poderia explicar entre 1% e 1,5% da redução
pessoas; a anemia é um dos problemas nutricio- anual do coeficiente de Gini no país10.
nais que representam riscos mais significativos A prevalência de subnutrição reduziu de
para a saúde, particularmente quando ocorre du- 11,9% no período 1999-2001 para menos de
rante a gravidez. Segundo este mesmo relatório, 2,5% no período 2008-20101,5. Reconhece, ainda,
27,2% das mulheres em idade fértil no Brasil (14 no período, um conjunto de políticas, de progra-
a 49 anos) sofriam de anemia1. mas e de ações que, mesmo não tendo a mesma
Este conjunto de dados e informações é re- cobertura do PBF, foram relevantes para promo-
levante neste contexto porque, de uma parte, ver a redução da pobreza, da fome e da ISAN, no
revelam que a pandemia não poderá ser res- Brasil9. Contudo, as políticas sociais com impac-
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to na renda, na pobreza, e na SAN dos brasileiros ma temporário de transferência de renda15,16. Tais
perderam força desde 2016, com a ascensão de condições de vulnerabilidade podem ser mais
Michel Temer à Presidência da República11. danosas nas comunidades formadas por famílias
Conta-se com o desmonte, iniciado em 2016, que vivem em único cômodo doméstico e com
do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e compartilhamentos de materiais de higiene pes-
Nutricional, criado em 2006, especialmente pela soal. Gera-se, portanto, necessidade de superar
redução de recursos e da cobertura de programas os desafios em torno das medidas efetivas para a
estruturantes, como o programa de transferência redução da incidência de COVID-19.
de renda (Programa Bolsa Família), o Programa A redução do poder de compra das famílias e
de Aquisição de Alimentos da Agricultura Fami- a alta nos preços dos alimentos nos últimos anos
liar, os Programas de incentivo à agricultura fa- foram os principais fatores que levaram a retra-
miliar, o Programa Água para todos, e pela extin- ções importantes no consumo alimentar, parti-
ção do Ministério de Desenvolvimento Agrário, cularmente de alimentos nutricionalmente mais
além do ato simbólico de retirar o termo Comba- saudáveis17,18. Tudo isso em meio a ambientes ali-
te à Fome do nome do Ministério de Desenvolvi- mentares agressivos, repletos de alimentos ultra-
mento Social, dentre outros. Sem dúvida, a apro- processados (de fácil acesso e baixo custo), agra-
vação da emenda constitucional 95, em 2016, que vando, assim, a situação de ISAN entre os mais
congelou os gastos públicos por 20 anos, integra vulneráveis19. Neste contexto, ressaltar-se que o
fortemente este cenário10,12. desmonte das políticas públicas e do CONSEA
Neste âmbito, o novo governo, que tomou expõe, na pandemia COVID-19, a omissão do
posse em janeiro de 2019, herdou e aprofundou Estado na redução de desigualdades e no enfren-
os péssimos resultados dos indicadores sociais, tamento da insegurança alimentar e nutricional
como o incremento significativo do número de no Brasil e pode deixar as pessoas/famílias – já
pessoas em situação de extrema pobreza13. Regis- expostos às privações alimentares – mais vulne-
tra-se que um dos primeiros atos do governo do ráveis à fome antes do início desse cenário epi-
presidente Bolsonaro foi a extinção do Conselho demiológico.
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(CONSEA), uma instância consultiva da Presi- Segurança alimentar e nutricional:
dência da República com expressiva participação dimensões no contexto da pandemia
da sociedade civil organizada, por isso mesmo, COVID-19
caixa de ressonância de demandas da sociedade,
estratégica na agenda de construção das políticas A Lei Orgânica de 200620 apresenta um con-
de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). ceito de Segurança Alimentar e Nutricional que
A desaceleração do crescimento econômico consiste na realização do direito de todos ao aces-
no país em adição às políticas econômicas de aus- so regular e permanente a alimentos de qualida-
teridade fiscal adotadas pelo governo tem contri- de, em quantidade suficiente, sem comprometer
buído, ainda mais, para o desmonte das políticas o acesso a outras necessidades essenciais, tendo,
sociais no Brasil. Este processo de desmonte afe- como base, práticas alimentares promotoras
tou não só o Sistema Único de Saúde (SUS) e o de saúde que respeitem a diversidade cultural e
Sistema Único de Assistência Social (SUAS), bem que sejam ambiental, cultural, econômica e so-
como o Sistema Nacional de Segurança Alimen- cialmente sustentáveis20. A partir de fevereiro de
tar e Nutricional (SISAN), com aprofundamento 2010, a alimentação foi incluída entre os direitos
da situação de pobreza e de vulnerabilidade so- sociais previstos no artigo 6º da Constituição Fe-
cial vivenciado por muitas famílias brasileiras, deral. Entretanto, o Direito Humano a Alimenta-
indo na contramão do processo da redução da ção Adequada (DHAA) está distante da realidade
desigualdade social e redistribuição de renda, de muitas pessoas em todo o mundo12 e com a
experimentado no país entre os anos de 2003 e pandemia da COVID-19, os desafios são maiores.
201412,14. Para tematizar os desafios durante a pande-
Nessa pandemia, famílias e populações, em mia, pode-se considerar, em termos gerais, duas
contextos de vulnerabilidade social, podem apre- dimensões bem definidas: a alimentar e a nutri-
sentar maior vulnerabilidade à Covid-19 por cional. A primeira se refere aos processos de dis-
conta da desigualdade social presente, sobretudo, ponibilidade (produção, comercialização e aces-
entre pessoas de baixa renda – os desempregados so ao alimento); e a segunda diz respeito mais
e aqueles na informalidade, que necessitam com- diretamente à escolha, ao preparo e ao consumo
plementar renda, ainda que estejam em progra- alimentar e sua relação com a saúde e com a uti-
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lização biológica do alimento. Cada uma delas é exacerbada pela pandemia. Inúmeras atividades
permeada pelos objetivos de garantir alimentos foram interrompidas sem que houvesse medidas
saudáveis, que respeitem a cultura alimentar da suficientes de amparo aos trabalhadores que per-
população e que tenham sido produzidos de for- deram seus meios de subsistência, portanto, de
ma sustentável21,22. Tais dimensões foram afeta- acesso aos bens e serviços essenciais, dentre eles
das pela pandemia COVID-19 (Quadro 1). os alimentos.
Na dimensão alimentar, as necessárias medi- Na dimensão nutricional, as precárias condi-
das preventivas de distanciamento e isolamento ções de vida, incluindo a falta de acesso à água
social adotadas pela grande maioria dos governos e ao saneamento básico bem como a fragilidade
estaduais e municipais, seguindo recomendações dos sistemas de saúde (sistemas de saúde tensos
do Ministério da Saúde e da Organização Mun- e sobrecarregados pela pandemia), ao incidirem
dial de Saúde (OMS), tendem a gerar comprome- sobre o estado de saúde do indivíduo, sobretudo
timentos particularmente para a população mais entre os mais vulneráveis, podem limitar a utili-
vulnerável no que concerne à oferta suficiente zação biológica dos nutrientes e colocá-los, por-
de alimentos frescos e minimamente processa- tanto, em risco de desenvolver a má nutrição (em
dos, em especial os provenientes da agricultura suas diferentes manifestações, em particular, a
familiar. Diversos agricultores viram os canais de desnutrição e as carências de micronutrientes)24.
comercialização serem suspensos, seja pelo fe- Avaliação mais recente (2017) do estado nutri-
chamento temporário de restaurantes, seja pela cional dos beneficiários do programa Bolsa Fa-
paralisação das aquisições pelo Programa Nacio- mília aponta 12,6% e 5,3% de menores de 5 anos
nal de Alimentação Escolar (PNAE), ou, ainda, com déficit de crescimento e desnutrição aguda
em virtude da redução (e, em diversos casos, fe- (déficit de peso para altura), respectivamente25.
chamento) da comercialização nas feiras livres e Por outro lado, alerta para o excesso de peso
nos mercados. Outros vivenciam dificuldades de nesta população (13,3%), situação que pode ser
comercialização (de alimentos, produtos, artesa- agravada, amparada pela falta de consumo de
nato, mão de obra etc.) em virtude de medidas alimentos saudáveis e adequados (especialmente
que têm limitado os deslocamentos intermunici- pobre em frutas, legumes e verduras, contribuin-
pais ou restringido o transporte público. do para as inadequações de micronutrientes).
Ao lado disso, para muitos grupos da agricul- Um aumento expressivo do consumo de alimen-
tura familiar, aqueles que já viviam em situação tos ultraprocessados é esperado em virtude do
de pobreza ou limitações nas condições socioe- preço, da saciedade que propiciam e da facilidade
conômicas, a pandemia da COVID-19 pode sig- de acesso nesta crise sanitária.
nificar intensificação da vulnerabilidade social. Assim, possíveis consequências da ISAN in-
Esses problemas tendem a ter consequências ain- cluem (direta ou indiretamente) efeitos negativos
da a serem dimensionadas a médio e longo prazo, sobre a saúde e a qualidade de vida. A situação se
para além da crise sanitária, pela quebra das ca- agrava quando são considerados grupos sociais
deias de produção e comercialização de agricul- que ainda não experimentaram um processo de
tura familiar (Quadro 1). inclusão mais sólido na sociedade para serem
Ainda na dimensão alimentar, deve se consi- alcançados por políticas públicas, tais como re-
derar o acesso físico e econômico aos alimentos, manescentes de quilombolas, populações indí-
sendo essencial a disponibilidade de alimentos genas, comunidades tradicionais como povos de
e de renda para a aquisição dos itens que repre- terreiro, fundo de pasto, quebradeiras de coco,
sentam o padrão alimentar das famílias. O dis- marisqueiras, pescadores artesanais e população
tanciamento social repercute na dinâmica e na em situação de rua, entre tantos outros povos e
condição socioeconômica de inúmeras famílias grupos que conformam a sociedade brasileira.
brasileiras, em especial daquelas em situação de Cabe ainda considerar os idosos (com dificulda-
vulnerabilidade socioeconômica. Em julho de des de acesso físico aos pontos de venda de ali-
2019, chegavam a 41,3% os brasileiros ocupa- mentos), seja em suas casas ou institucionaliza-
dos no mercado de trabalho informal no Brasil, dos. Portanto, a emergência e a disseminação da
ou seja, mais de 38 milhões, conforme cálculos pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 traz
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mais intensidade aos problemas que já vinham
(IBGE)23. Além da informalidade, também a fra- se acumulando no que concerne à SAN de todos,
gilização dos vínculos empregatícios, que já esta- especialmente dos mais vulneráveis em termos
va em curso no país devido à crise econômica e sociais, econômicos e sanitários, sinalizando para
às políticas adotadas em nome da austeridade, foi possível aumento de situações de fome.
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Quadro 1. Repercussões da COVID-19 na Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil.
Dimensão de SAN Repercussões da pandemia Covid-19
Disponibilidade de - Prejuízos na oferta de alimentos in natura da agricultura familiar (AF), especialmente as
alimentos frutas e os vegetais;
- Paralisação do PNAE e aquisição de alimentos da AF;
- Fábricas de processamento de alimentos fechadas devido a surtos entre trabalhadores;
- Equipamentos de venda e comercialização de alimentos foram fechados: fechamentos
de feiras livres, restaurantes;
- Limitação de transportes de alimentos;
Acesso aos - Redução ou suspensão de renda para os mais vulneráveis- trabalhadores informais;
alimentos - Redução de cobertura do BF;
Consumo - Redução do consumo de alimentos in natura;
-Aumento do ganho de peso e/ou transtornos alimentares associados à inatividade física
e ao isolamento social;
Utilização biológica -Redução ou ausência de acesso aos serviços de saúde pode tornar crianças, idosos,
gestantes mais vulneráveis as deficiências nutricionais;
-Pessoas/populações sem acessos regular e permanente à água, saneamento e higiene
adequados estão sob o risco de desenvolver a má-nutrição, em particular, a desnutrição e
as carências de micronutrientes.
Fonte: Elaboração própria.

Estratégias para aplacar a fome e trilhar o no pós-crise, quando os trabalhadores se verão


caminho da segurança alimentar e nutricional sem perspectiva. Portanto, o impacto na seguran-
ça alimentar de parcela das famílias estará com-
Situações de emergência exigem respostas rá- prometido se não forem construídas estratégias
pidas. Considerando as diferentes dimensões da de garantia de emprego e renda para esta parcela
SAN, as iniciativas e as políticas para sua garantia da população. Soma-se ainda que parte dos esta-
devem conter ações articuladas que contemplem, belecimentos (pequenos e médios negócios, in-
a um só tempo, tanto seu componente alimentar clusive os ligados a cadeias de alimentos) foram
(disponibilidade, produção, comercialização e fechados e depende de medidas para não falir e
acesso aos alimentos) como nutricional (relacio- poder reabrir nos pós-pandemia.
nado às práticas alimentares e utilização biológi- Com as medidas de combate à COVID-19,
ca dos alimentos), de forma a corrigir os desvios os agricultores familiares estão passando por
urgentes, e definir um futuro de maior SAN. dificuldade para escoar a produção e enfrentam
De partida, importa dizer que a população prejuízos financeiros27. A agricultura familiar res-
em situação de vulnerabilidade em SAN é exa- ponde pela maior parte da produção de alimen-
tamente a mesma que só poderá cumprir as me- tos destinados ao consumo interno no Brasil,
didas de isolamento e distanciamento social se mas tem vulnerabilidade econômica significati-
puder contar com renda para ficar em casa. Para va, decorrente de diferentes fatores como limita-
responder a esta demanda, o congresso aprovou ção no acesso a equipamentos que aumentam a
a Renda Básica Emergencial de R$ 600 por tra- produtividade do trabalho, distância das cidades,
balhador, podendo chegar a R$1.200 por família escala da produção, exploração de atravessado-
destinada ao público do Cadastro Único, infor- res, entre outros mecanismos.
mais (autônomos ou por conta própria) e Micro- Com a pandemia, a comercialização de ali-
empreendedores Individuais (MEI)26. A medida mentos, sobretudo em feiras livres e mercadi-
vale por 3 meses; infelizmente, questões logísticas nhos, poderá ser diretamente afetada, limitando
podem comprometer e retardar a liberação das a renda das famílias agricultoras e camponesas.
parcelas aos que mais precisam do benefício. No Portanto, medidas emergenciais de suporte à
que se refere aos assalariados, o nível de desem- produção de alimentos precisam ser acionadas
prego tem aumentado e a parcela dos trabalha- como a criação de seguro emergencial de renda
dores está sendo dispensada colocando em risco para a agricultura familiar, linhas de crédito di-
a renda no curto prazo, durante a pandemia, e ferenciadas, mecanismos de apoio à comerciali-
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Ribeiro-Silva RC et al.

zação, que mitigam eventuais efeitos negativos A entrega de cestas básicas tem superado a
no equilíbrio econômico e financeiro dos produ- transferência direta de renda, na modalidade de
tores. Infelizmente, agricultores familiares ainda cartão/vale alimentação, e depende da escolha
esperam que medidas emergenciais anunciadas das autoridades locais. Os órgãos que optaram
pelo governo federal saiam do papel e cheguem pelas cestas básicas apontam a necessidade de
ao campo. Promessas como investimentos nos uma compra em grande quantidade para atender
programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e ao maior número de pessoas atingidas pelo dis-
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – para tanciamento social recomendada pelos governos
compras de produtos dos agricultores –, além da locais. Por outro lado, o cartão/vale alimentação
criação de linhas de créditos especiais, esbarram é apontado por aqueles que o adotam como um
na falta de regulamentação e de condições para meio mais ágil para aumentar a renda e garantir
a execução. a segurança alimentar de famílias que antes con-
No que se refere à comercialização dos pro- tavam com a alimentação escolar para parte dos
dutos da agricultura familiar, é preciso ampliar membros da família, reduzindo os gastos diários
iniciativas que permitam a entrega de alimen- com alimentos.
tos, sobretudo dos frescos e saudáveis às pessoas Em Resolução Nº 2, de 9 de abril de 202028, o
com maiores dificuldades em chegar aos pontos Ministério da Educação/Fundo Nacional de De-
de venda; especialmente relevantes para idosos e senvolvimento da Educação autoriza a distribui-
pessoas em risco. Em geral são recursos de geo- ção de gêneros alimentícios adquiridos no âmbito
processamento que permitem identificar locais do PNAE às famílias dos estudantes na forma de
de produção e comercialização ativos, por tipo de Kits. O abastecimento das escolas com alimen-
alimentos, de tal forma que consumidores pos- tos produzidos por pequenos agricultores é uma
sam seguir consumindo e os produtores possam maneira eficiente de fortalecer a agricultura fami-
produzir, comercializar e manter a vida. Decerto liar e reduzir a pobreza ao promover o combate à
um recurso como este é útil na emergência, com fome. Por outro lado, importa manter ao máximo
os comércios e feiras paralisados, mas também a oferta de uma alimentação adequada e saudável
pode ser incorporado ao cotidiano pós-pande- aos escolares, conforme preconizam as normas do
mia. E obviamente, promoção de medidas sa- programa depois de anos de luta para alcançar tal
nitárias que permitam aumentar a segurança definição. No entanto, mais uma vez, o governo fe-
alimentar e contribuam para conscientizar da deral agiu à revelia dos entes federados, e a medida
importância do uso de medidas de higiene para foi implementada em descompasso com o que já
reduzir a transmissão do vírus SARS-CoV-2 e vinha sendo implementado pelos estados e muni-
proteger trabalhadores e consumidores. cípios. A escuta aos estados e municípios seria im-
A preocupação com o acesso aos alimentos perativa, já que a parcela federal é a menor parte
é grande na crise. O Brasil tem experiência com do recurso na composição da merenda escolar, e
programas que incidem e garantem consumo ali- que parcela dos entes não conta com alternativas
mentar adequado para grupos relevantes. O Pro- de estoque e reorganização dos produtos para dis-
grama Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), por no modelo exigido pela norma federal. Esta
representa um dos principais meios de garantir descoordenação impediu que parte dos recursos
alimentação adequada aos escolares brasileiros fosse utilizado. Impera que as diferentes realidades
durante os dias letivos, e um dos mercados mais do Brasil exigem que as medidas federais levem
importantes para geração de fonte de renda para em conta os limites e os potenciais de cada comu-
muitos agricultores familiares. O fechamento das nidade, ainda mais em se tratando de alimentos.
escolas, medida necessária para conter a propaga- Tendo em vista a necessidade de alimentos
ção do vírus, impôs a interrupção desta política. para a população vulnerável, os restaurantes po-
Infelizmente, o atraso na orientação federal e pulares, apesar dos desmontes, têm se organiza-
na coordenação do Sistema Nacional de Educa- do e colocado suas estruturas e funcionários para
ção no que se refere ao PNAE gerou grande dis- preparar alimento e distribuir para as populações
crepância nas iniciativas de governos estaduais e vulneráveis; portanto sendo estratégicos para as-
municipais, que tentaram amortecer os impactos segurar a entrega de refeições à população de rua,
da interrupção das aulas e de fornecimento da idosos em situação de pobreza, e trabalhadores
alimentação escolar emitindo normas e decretos, informais. Acertadamente, alguns deles distri-
para garantir que os recursos ou os alimentos buindo refeições prontas em bandejas descartá-
chegassem às famílias carentes e em situação de veis. Para evitar aglomerações em filas, o horário
vulnerabilidade. de distribuição também tem sido ampliado.
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Outras iniciativas estão sendo criado para pandemia na SAN exigirá do poder público, da
prover ajuda humanitária às pessoas mais atin- iniciativa privada e da população ações alinhadas
gidas pela crise econômico-social causada pela para o enfrentamento da situação sem desconsi-
pandemia da COVID-19. As Organizações Não derar a insegurança alimentar nas suas várias di-
Governamentais (ONGs), igrejas, associações co- mensões. Nesta perspectiva, recomendações são
munitárias e grupos anônimos, têm desempenha- apresentadas.
do papel fundamental no combate à COVID-19,
estando na linha de frente, em especial nas favelas
e nos territórios onde o poder público não chega, Considerações finais e recomendações
repassando cestas básicas àqueles atingidos pela
pobreza e extrema pobreza (ex: Ação da Cidada- Não se discute que os problemas nutricionais
nia, uma das maiores e mais respeitadas ONGs do crônicos do Brasil só serão superados de forma
país). Em meio à pandemia, a Companhia Nacio- definitiva com medidas estruturais que reorga-
nal de Abastecimento (Conab), anunciou um lei- nizem os sistemas alimentares de forma a tor-
lão para aquisição de alimentos das cestas básicas ná-los saudáveis, sustentáveis, estimuladores da
em apoio às pessoas em situação de vulnerabili- produção, geradores de emprego e alavancado-
dade, agravada pela pandemia; medida essa que res do desenvolvimento. Mas há um quadro real
pode chegar tardiamente frente à emergência da acirrado pela crise sanitária e pelas medidas de
situação29. distanciamento social que vem sendo aplicadas
Para aumentar o ônus da COVID-19, os am- no Brasil, resultando em impactos econômicos
bientes superlotados e sem condições de seguir re- profundos nas condições de renda e emprego. Os
comendações de higiene que garantam a qualida- brasileiros podem morrer por falta do que comer.
de sanitária e o preparo dos alimentos se desenha Assim, ao desvelar essa situação, urge a necessi-
no Brasil. Não se pode desconsiderar os riscos da dade de saídas que coloquem a vida e a digni-
transmissão do SARS-CoV-2 por alimentos con- dade humana no centro das decisões e políticas
taminados caso tenham sido expostos à secreção públicas, salvaguardando os direitos humanos.
respiratória de uma pessoa contaminada. Assim, No caso do DHAA, significa garantir que todas
as comunidades onde são constatadas situações as pessoas, especialmente as mais vulneráveis, te-
de insuficiência e/ou precariedade nos serviços nham acesso a alimentos adequados e saudáveis
de abastecimento de água, os moradores acabam para poder atender ao clamor de Fiquem em casa.
obrigados a lançar mão de estratégias de sobrevi- Assim, o desafio nesse momento é assegurar
vência que também levam a outras situações de diferentes mecanismos que contribuam para ga-
riscos para a proliferação do SARS-CoV-230. rantir o DHAA, potencializando diferentes es-
Particularmente em questões relacionadas à tratégias de abastecimento alimentar. Nesse con-
nutrição, é o momento de compartilhar preocu- texto, o fortalecimento do PAA (notadamente as
pações, alertar e, quem sabe, ampliar o campo de modalidades de Compra Direta e Compra com
ideias e de práticas para reorientar as pessoas no Doação Simultânea) e a continuidade da opera-
rumo da boa nutrição. O isolamento social im- cionalização do PNAE (ajustado às demandas sa-
põe importantes mudanças socioculturais, redu- nitárias da COVID-19) são algumas das medidas
ção da atividade física e alterações nos hábitos ali- que podem ser rapidamente acionadas. Também
mentares, determinantes consideráveis do estado políticas de proteção social extraordinárias, como
nutricional. Evidências convincentes mostraram a distribuição da agricultura familiar, obviamen-
que os hábitos alimentares são afetados também te adaptadas aos cuidados sanitários necessários
por condições de angústia e distúrbios emocio- para reduzir o risco de disseminação do SARS-
nais, em que níveis elevados são associados à má CoV-2 são de suma importância como estratégia
qualidade da dieta24. Além disso, emoções como pontual para mitigar a fome de diversos grupos
medo e tristeza estão associadas a menos desejo vulneráveis no Brasil.
ou motivação para comer e menor prazer duran- Recomenda-se incluir, ainda, iniciativas de
te a refeição24. Portanto, neste momento, importa educação alimentar e nutricional (por meio de
ser criativo para criar alternativas que respeitem programas educacionais na televisão, virtual ou
o Guia alimentar dos brasileiros, de 2014, reco- rádio) que orientem e estimulem a adoção/ma-
mendado pelo Ministério da Saúde, e que prote- nutenção de hábitos alimentares saudáveis para
jam as pessoas da má nutrição31. toda a família, incluindo o sempre oportuno
Em síntese, enquanto ainda há muito a ser estímulo ao aleitamento materno exclusivo até
conhecido sobre o COVID-19, a influência dessa os 6 meses como prática nutricional segura e es-
3428
Ribeiro-Silva RC et al.

sencial para crianças menores de 2 anos. Sempre


considerando medidas de precaução sanitária.
Logicamente, o monitoramento do estado nutri-
cional deve ser considerado. Por fim, reforça-se
o fortalecimento do sistema de vigilância e de
monitoramento da disseminação do vírus, com
vistas a se definirem estratégias alinhadas para o
enfrentamento da COVID-19.

Colaboradores Agradecimentos

RC Ribeiro-Silva trabalhou na concepção do tex- Grupo de evidências sobre os impactos sociais e


to, nas análises dos dados e na redação. M Pereira, econômicos (Rede CoVida)
T Campello, AJF Ferreira e SMC Santos trabalha-
ram nas análises dos dados e na redação do texto.
E Aragão, JMM Guimarães, ML Barreto traba-
lharam na revisão crítica do trabalho. Todos os
autores aprovaram a versão final do manuscrito.
3429

Ciência & Saúde Coletiva, 25(9):3421-3430, 2020


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Artigo apresentado em 24/06/2020


Aprovado em 28/06/2020
Versão final apresentada em 30/06/2020

CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

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