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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA JUNTO AO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE
E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - SEDE
GABINETE/PFE/IBAMA-SEDE
SCEN - SETOR DE CLUBES ESPORTIVOS NORTE - TRECHO 2 - BL. A - ED. SEDE DO IBAMA CEP.:
70.818-900 BRASÍLIA/DF

DESPACHO n. 00399/2017/GABIN/PFE-IBAMA-SEDE/PGF/AGU

NUP: 02001.003679/2015-07
INTERESSADOS: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA - FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI
ASSUNTOS: LICENCIAMENTO AMBIENTAL PARA ATIVIDADES AGRÍCOLAS EM TERRAS INDÍGENAS.

1. Cuida-se de processo inaugurado em função do recebimento, pelo Ibama, do Ofício nº


35/2015/PRES/FUNAI-MJ, que tem por objeto o licenciamento ambiental para atividades agrícolas nas Terras
Indígenas Pareci, Rio Formoso, Utiariti e Tirecatinga e Manoky, no Estado de Mato Grosso.
2. Nesse sentido, acompanho, com acréscimos, o entendimento firmado no Parecer n°
040/2017/CONEP/PFE-IBAMA-SEDE/PGF/AGU, confeccionado pela Procuradora Federal Renata Almeida
D’Ávila (Sequencial 28), por seus próprios fundamentos jurídicos.
3. Inicialmente, vale esclarecer que, no tocante à aplicação da Convenção OIT 169, ao Ibama
cumpre cientificar o ente responsável pela proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas acerca da
possível intervenção do empreendimento em terra indígena, nos termos do procedimento instituído pela
Portaria Interministerial nº 60/2015, cabendo ainda, nessa oportunidade, instar sobre a realização da consulta
livre, prévia e informada, de que trata a OIT 169.
4. Não cabe ao Ibama, entretanto, a obrigação de realizar procedimentos especiais de consultas
às comunidades indígenas no âmbito do processo de licenciamento, uma vez que a tutela de seus interesses
é garantida pela participação da respectiva entidade interveniente, ou seja, a Funai, a quem compete
manifestar-se a respeito dos aspectos relacionados a questões indígenas, inclusive sobre a forma e o
procedimento de aplicação da Convenção OIT 169 com relação a esses povos tribais.
5. Importante também frisar que o exercício de atividades agrícolas pelos indígenas encontra
amparo jurídico no postulado constitucional do usufruto exclusivo (art. 231, § 2º), que compreende, segundo a
norma infraconstitucional recepcionada, “o direito à posse, uso e percepção das riquezas naturais e de
todas as utilidades existentes nas terras ocupadas, bem assim ao produto da exploração econômica
de tais riquezas naturais e utilidades.” (art. 24 da Lei nº 6.001/73).
6. Não obstante, a exploração econômica de tais riquezas naturais e utilidades deve ser realizada
de forma ordenada territorial e ambientalmente, até porque as terras indígenas, ao lado das unidades de
conservação da natureza, representam os últimos bastiões de proteção e de preservação ambiental das
áreas verdes no País, principalmente na área da Amazônia Legal, donde ressai a importância de mapear
e categorizar as áreas de relevância ambiental, sociocultural e produtiva para os povos indígenas, conforme
previsto no PNGATI (art. 2º do Decreto nº 7.747/2012).
7. Nesse contexto, impende ainda registrar que uma das diretrizes da Política Nacional de Gestão
Territorial e Ambiental de Terras Indígenas é contribuir “para a manutenção dos ecossistemas nos biomas das
terras indígenas por meio da proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais imprescindíveis à
reprodução física e cultural das presentes e futuras gerações dos povos indígenas” (art. 3º, V, do Decreto nº
7.747/2012).
8. Também não é demasiado relembrar que a lei veda a qualquer pessoa estranha às
comunidades autóctones a prática de atividades agropecuárias nas terras indígenas, inclusive mediante
arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pelos
indígenas (art. 18, caput e § 1º da Lei nº 6.001/73), o que implica dizer que as atividades agrícolas devem ser
exercidas diretamente pelos próprios indígenas ou por suas comunidades. Além disso, também existe

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vedação legal para o cultivo, nas terras indígenas, de organismos geneticamente modificados (art. 1º da Lei
nº 11.460/2007), como bem observado no Opinativo.
9. Evidencia-se, portanto, um regime jurídico bastante diferenciado de exploração de atividades
agrícolas em terras indígenas.
10. Por fim, manifesto concordância com a parecerista no que tange à inexistência de lacuna
normativa a obstar a apreciação do pedido de licenciamento ambiental das atividades em testilha (vedação
ao non liquet), ante a possibilidade de sua regência pelo procedimento ordinário de licenciamento. Isso não
impede, contudo, de reforçarmos a sugestão da construção pelo Ibama, conjuntamente com a FUNAI, de um
marco normativo específico visando regulamentar o procedimento de licenciamento ambiental da exploração
econômica, pelos indígenas, de atividades agrícolas mecanizadas dentro das terras indígenas, dada a
magnitude e a relevância da questão para todos os atores envolvidos.
11. Com essas observações, retornem-se os autos à Presidência do IBAMA, para ciência e
providências afetas.

Brasília, 13 de julho de 2017.

(Documento assinado eletronicamente)


CLEITON CURSINO CRUZ
Procurador-Chefe Nacional Substituto
PFE-IBAMA-SEDE

Atenção, a consulta ao processo eletrônico está disponível em http://sapiens.agu.gov.br


mediante o fornecimento do Número Único de Protocolo (NUP) 02001003679201507 e da chave de acesso
daabd47c

Documento assinado eletronicamente por CLEITON CURSINO CRUZ, de acordo com os normativos legais
aplicáveis. A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 59313013 no
endereço eletrônico http://sapiens.agu.gov.br. Informações adicionais: Signatário (a): CLEITON CURSINO
CRUZ. Data e Hora: 14-07-2017 18:01. Número de Série: 5124185496837830228. Emissor: AC CAIXA PF
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