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Tipologias

Os branqueadores de capital e os financiadores do terrorismo, usam de vários instrumentos e


técnicas para atingir os seus objectivos, sendo este conjunto de técnicas e instrumentos
denominados por tipologias.

A principal característica das tipologias é a evolução e melhoramento ao longo do tempo, o que


constitui uma prática pode mudar e /ou evoluir á medida em que são criados mecanismos de
contramedidas contra determinada tipologia, pelo que é importante conhecer, criar medidas de
prevenção e estudar de forma contínua as novas formas.

No domínio da luta contra o branqueamento de capitais, e atendendo às suas enormes


potencialidades e porque na esmagadora maioria o que se pretende branquear são capitais,
procura-se sempre separar o mundo financeiro das restantes actividades, para uma melhor
sistematização e compreensão do fenómeno.

Existem várias actividades suspeitas que por si só constituem red flags mostrando sintomas de
anomalias nas contas em causa. Começaremos por mostrar a seguir um conjunto de “indicadores
gerais” que podem indicar algumas tipologias usadas na acção de branqueamento através de
relações contratuais de vários tipos.

Indicadores Gerais

 Mudanças frequentes de endereços;


 O cliente não quer que a correspondência seja enviada para o endereço da residência.
 O cliente repetidamente usa um endereço mas muda frequentemente os nomes
envolvidos;
 O cliente usa uma caixa postal ou outro tipo de entrega de correspondência em vez do
endereço de uma rua ou o que é normal para aquela área;
 O número de telefone do cliente de casa ou da empresa encontra-se desligado, ou
inexistência desse número quando tentamos contactá-lo, pouco tempo depois de ter
aberto a conta;
 O cliente faz-se acompanhar e mantêm-se sob observação;
 O cliente mostra uma curiosidade fora do comum acerca dos sistemas internos, controlos,
procedimentos e reporte;
 O cliente tem conhecimentos pouco usuais da lei referente ao reporte de transacções
suspeitas de branqueamento de capitais;
 O cliente tem somente uma vaga ideia do montante depositado;
 O cliente dá explicações pouco realistas, confusas ou inconsistentes das transacções ou
actividades realizadas na conta;
 O cliente quando questionado acerca de uma transacção assume uma atitude defensiva ou
dá demasiadas justificações;
 O cliente é furtivo e relutante nos contactos pessoais;
 Nervosismo pouco habitual da pessoa que está a efectuar a operação;
 O cliente encontra-se envolvido em transacções que são suspeitas, mas não parece muito
preocupado em que se veja envolvido em actividades de branqueamento de capitais.
 O cliente insiste em que uma transação seja efectuada apressadamente.
 Indícios de que o cliente estabeleceu recentemente uma série de novos relacionamentos
com diferentes instituições financeiras;
 O cliente faz tentativas tendo em vista desenvolver uma estreita relação com o
empregado;
 O cliente oferece dinheiro, gratificações ou outros favores fora do comum, que poderão
parecer insólitos ou suspeitos, pela normal prestação de serviços;
 O cliente faz tentativas no sentido de convencer o empregado a não preencher os
formulários/ documentação exigida, conforme se encontra determinado, para que uma
transação possa ser efectuada;
 O cliente tomou a iniciativa (voluntariou-se) em afirmar que os fundos são “limpos” ou
que não estão a ser branqueados;
 Falta de conhecimentos do negócio, por parte do cliente (empresa), atípica de um
empresário.

Quanto ao “Sector Bancário”, e atendendo às suas especificidades e ao potencial risco por todos
reconhecido, vamos dividir os indicadores que indicam tipologias diversas, através dos 4 grandes
tipos de operações designadamente: “Transacções em numerário”, “Depósitos”,
“Transferências”, “Outras transacções comerciais”, “Operações com recurso a crédito” e
“Operações relacionadas com a actividade Off-shore” que serão apresentados no ANEXO
XXXXX. (Braguês 2009)

Por já, apesentaremos abaixo algumas das principais tipologias ao longo dos tempos:

Cuckoo smurfing e sociedade-ecrã ou sociedade de fachada

Nesta tipologia, várias pessoas ou mesmo uma só pessoa, durante um determinado período,
efectuam depósitos de montantes reduzidos em contas de diferentes bancos. Tal técnica dificulta
a detecção destes movimentos e o seu respectivo cruzamento por parte das instituições
financeiras.

Estas sociedades, são constituídas de forma legal, e aparentam o desenvolvimento de actividades


comerciais perfeitamente legítimas. No entanto, na realidade estas apenas servem de fachada
para justificar o dinheiro ilícito com respectivos lucros fictícios.

Colocação

 Cliente de origem africana (empresa) efectua diversos depósitos, em momentos de tempo


diferentes e em várias agências do banco, na conta da sua empresa, em montantes
inferiores a 50.000,00mt.
 O dinheiro tem origem na venda de droga traficada de Brasil para Moçambique.
 A empresa é usada como fachada.

Circulação

 Posteriormente verifica-se a transferência de fundos para contas brasileiras, com a


justificação de que as mesmas se destinavam a pagar importações (compra de mobiliário)
para venda.

Integração
 O dinheiro ilícito entra no circuito financeiro africano, como receita da empresa
exploradora.

Movimentação anómala de contas

O padrão de movimentação das contas bancária de um dado cliente altera-se, sem qualquer
justificação.

Colocação

 Um individuo A desviava cheques na empresa onde trabalhava, que eram destinados a


pagamentos a fornecedores. Tais cheques eram depositados na conta do sujeito B, no
banco C.

Circulação

 O individuo B transferia os montantes para o Banco D onde solicitava empréstimos.

Integração

 O dinheiro depositado no Banco D era utilizado para liquidar os empresários cedidos.


 O dinheiro ilícito entra no sistema financeiro.

Testas de ferro (fronting) e apropriação de identidade

Indivíduos sem antecedentes criminais abrem contas no seu nome (normalmente), em troca de
compensação monetária, com vista a serem utilizadas para fazer depósitos e posteriores
movimentações de capitais com origem criminosa.

Apropriando-se dos documentos legais do individuo, os criminosos praticam sobretudo


operações financeiras, em seu nome.

Colocação

 O líder de um grupo abriu várias casas de jogos em nome de Testas de Ferro para
branquear capitais oriundos de actividades de bingo e jogos de apostas ilegais.
 Abertura de contas abertas em nome das Testas de Ferro e realização de depósitos.
Circulação

 Movimentação posterior das contas bancárias para retirada do capital.

Integração

 O dinheiro regressa ao grupo criminoso.

Paraísos fiscais

Os paraísos fiscais consistem em territórios nos quais inexiste a intervenção do Estado na


actividade económica no plano tributário, permitindo que as actividades e transações de natureza
comercial e financeira, desde que de carácter internacional, sejam conduzidas sem que delas se
origine a obrigação do recolhimento de quaisquer tributos. (Walcher 2008)

Tratam-se de países caracterizados por terem reduzido ou mesmo tornado inexistes encargos e
obrigações tributárias. Esta situação facilita a circulação e a aplicação de produtos financeiros,
tanto de origem local como externa. As sociedades que têm as suas sedes nestes países recebem a
designação de offshore. (Salgado 2015)

Rui Gonçalves afirma que num sentido lato, estes paraísos fiscais isentam total ou parcialmente,
do pagamento de impostos, os rendimentos auferidos por indivíduos jurídicos constituídos no seu
território, desde que tal capital social seja detido por não residentes e as suas actividades sociais
decorram no estrangeiro, o mesmo sublinha que ainda que esta situação resulta também na
intencionalidade de os paraísos fiscais atraírem capital estrangeiro para as respectivas economias.

Colocação

 Uma empresa Moçambicana A do ramo das telecomunicações mantinha uma relação


comercial com uma empresa Angolana B.
 B emitia Facturas fictícias a A.
 A empresa moçambicana fazia transferências para a angolana como forma de pagamento
às Facturas.

Circulação

 A empresa angolana transferia o dinheiro para uma terceira empresa, situada num paraíso
fiscal.
Integração

 A terceira empresa emitia Facturas a comprovar os recebimentos, depositando-os na


Suíça.
 Re-trasnferência do valor para a conta da empresa portuguesa já “branqueado”.

Simulação de sinistros

A simulação de um sinistro é uma das formas de branquear dinheiro através de uma seguradora.

Colocação

 Um individuo contraiu um empréstimo no Banco B para adquirir um veículo de alta


cilindrada. Como garantia fez um seguro de vida.

Circulação

 Decorrido algum tempo, o sujeito simulou um acidente e participou tal, à seguradora,


com o objectivo de ser indemnizado. O esquema tinha a conveniência da equipa médica
que confirmava tal facto.

Integração

 A seguradora pagou o empréstimo com a indemnização e o individuo vendeu o veículo,


tendo um lucro lícito entregue ao grupo terrorista a que o individuo pertencia.

Empréstimos fraudulentos

O aguente branqueador faz um depósito numa conta bancária em nome de um terceiro ou


sociedade-ecrã (sociedade de fachada). Posteriormente solicita a outro banco um empréstimo
com a finalidade de um dado negócio, dando como garantia o depósito realizado anteriormente.
Mais tarde, aquando do vencimento do empréstimo este não é pago. O banco aciona a garantia
junto do outro banco que a prestou e este, por sua vez, vai penhorar o depósito do agente. O
branqueador já recebeu o dinheiro na concessão do empréstimo. O capital de origem ilícita será
utilizado pelo banco emitente da garantia para pagar o empréstimo ao banco mutuante.
Sobrefacturação e subfacturação

Operações financeiras com valor superior ou inferior ao valor real da mesma, podendo existir
falsidade dos valores monetários, das quantidades transacionadas ou de ambos.

Últimas tendências – Tipologias

De acordo com (Braguês 2011), actualmente, especialmente no GAFI, discutem-se as tipologias


relacionadas com o branqueamento do produto da corrupção, o Tráfico de seres humanos,
Pirataria marítima, etc.

De todas as tipologias referidas anteriormente, a que se mais destaca, é o Depósito em


numerário, identificada como potencialmente relacionada com o branqueamento de capitais, na
verdade sempre foi, até pelo grande risco que este risco de operação acarreta. De referir que
quando se deram os primeiros passos na prevenção do branqueamento de capitais, quase só se
comunicavam operações que envolvessem numerário.

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