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em São Luís/MA.
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Doutora em Economia Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas, professora do Departamento de
Serviço Social da UFMA e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do
Maranhão e membro do GAEPP (Grupo de Estudo e Avaliação da Pobreza e das Políticas Direcionadas à
Pobreza) eunicepereira.ufma@gmail.com
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Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Maranhão e Agente da Defesa Civil de São Luís/MA
flaviacristo.r@hotmail.com
1 – INTRODUÇÃO
O presente artigo faz uma reflexão acerca do “não direito à cidade” com base em
dados de uma pesquisa empírica sobre as áreas de risco em São Luís/MA.
Morar em áreas consideradas de risco é uma realidade bastante recorrente no
cenário urbano das cidades, nesse sentido, bem visível, entretanto, parece se configurar
como algo aparentemente invisível, que apenas toma visibilidade quando ocorrem eventos
catastróficos que estampam os noticiários.
Em São Luís/MA essa questão não se mostra diferente do cenário encontrado
em grande parte das cidades brasileiras, pois existe uma média de sete áreas com cerca de
60 pontos de riscos classificados como alto, médio e baixo risco
É dessa questão que trata o presente artigo que está estruturado em três partes
interligadas. Na primeira parte defende-se o pressuposto de que o processo de
industrialização do país vai implicar em mudanças drásticas no espaço urbano à medida em
que provoca a intensificação do êxodo rural, haja vista que crescem as oportunidades,
sobretudo de ocupação da força de trabalho no âmbito das cidades. Desse modo, é que
estas áreas urbanas passam a contar com um grande contingente populacional sem que
houvessem mudanças em suas estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais para
esta nova dinâmica urbana.
Em seguida discute-se a segregação socioespacial, enquanto uma categoria
compreendida em sua multidimensionalidade, e como tal determinante para a formação das
áreas de risco de São Luís/MA, tendo em vista que esta categoria inviabiliza o direito à
cidade, pois tende a repelir consciente ou inconscientemente as populações pobres para
áreas de degradação ambiental e de menor valorização imobiliária, quase sempre à margem
dos serviços públicos.
Conclui-se mostrando que a análise desenvolvida objetivou mostrar que a
realidade analisada se encontra associada ao contexto resultante das desigualdades do
modo de produção capitalista, que interfere diretamente na dinâmica urbana, resultando na
segregação socioespacial, no território das vulnerabilidades ambientais expondo vastos
contingentes da população a viver em áreas propícias a ocorrência de desastres e/ou
catástrofes.
2 – BREVE HISTÓRICO SOBRE A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
O incremento do processo de urbanização no Brasil se intensifica a partir da
década de 1930 com a implantação da industrialização no país.
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De acordo com Rosanvallon (1998, p. 23) essa expressão [...] foi criada no fim do século XIX,
referindo-se inicialmente às disfunções da sociedade industrial emergente. Os dividendos do
crescimento e as conquistas das lutas sociais que tinham permitido transformar profundamente a
condição do proletário daquela época.
O processo de urbanização/industrialização se consolida e se aprofunda a partir de
1930, quando os interesses urbano-industriais conquistam a hegemonia na
orientação da política econômica, sem, entretanto, romper com relações arcaicas de
mando baseadas na propriedade fundiária. É importante destacar essa característica
do processo social brasileiro: industrialização sem reforma agrária, diferentemente
do que ocorrera na Europa e nos Estados Unidos. Nesses, a industrialização foi
acompanhada de rupturas na antiga ordem social. Entre nós, predominou certo
arranjo, uma acomodação por cima, como ocorrera em outros momentos
importantes na história do país [...] (MARICATO, 2002, p. 1).
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Faremos um breve recorte sobre estes momentos a fim de nortear nossas reflexões no que diz respeito a
formação e ocupação das áreas de risco da cidade.
O segundo momento diz respeito às mudanças que ocorrem no contexto
econômico do país, com a dinamização do processo de industrialização. E é nesse contexto
que a partir de 1950, as fábricas têxteis começam a ser implantadas na cidade de São Luís.
Esta lógica vai orientar o planejamento urbano podemos verificar que nesse momento, os
investimentos públicos começam a ser voltados para a criação de estradas e para a área
dos transportes. Nesse processo de expansão percebemos que novos bairros surgem,
como o bairro do Anil e do Filipinho. Acontece também, a abertura de grandes avenidas
como Magalhães de Almeida e Getúlio Vargas e ainda, a Estrada de Ferro interligando
vários bairros do Centro a outras áreas.
A dinâmica social da cidade passa a ser transformada. No entanto, já se verifica
que os espaços urbanos centrais não são capazes de absorver o aumento populacional
demonstrando um planejamento restrito ou até mesmo a ausência dele, assim, é que as
áreas periféricas passam a surgir como possibilidade de moradia (DINIZ, 2007; BURNETT,
2012).
Desta forma, é que em São Luís/MA, vamos verificar a seguinte situação:
Com a implantação das fábricas de tecidos novas exigências se definiram em
termos da infraestrutura urbana, principalmente nos itens transporte, moradia e
saneamento. No tocante as implicações socioespaciais, as possibilidades de
trabalho e moradia perto das fábricas geraram dinâmicas que contribuíram para a
formação de “bairros fabris”, marcados pela precariedade da habitação e do entorno
urbano (COSTA, 2013, p.61).
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Vilas – a favela maranhense (Diniz, 2007), no geral, estes espaços são constituídos através de
processos ilegais de ocupação.
CONCLUSÃO
Procurou-se demonstrar que o processo de ocupação irregular do espaço urbano
brasileiro e em particular das áreas de risco da cidade de São Luís/MA, expressam as
contradições inerentes ao modo de produção capitalista, sendo assim o processo de
segregação socioespacial decorre de determinações de ordem social, econômica e cultural,
portanto, parte de uma totalidade maior estruturante do atual modo de produção, produtor e
reprodutor dos espaços segregados, onde sob este viés o não direito à cidade fica
explicitado como regra e não como a exceção.
Todo este contexto conforma processos de excludência, como por exemplo, a
segregação socioespacial que tem contribuído para a permanência dos moradores em áreas
consideradas impróprias para moradia, expressando aspectos sociais, políticos, econômicos
e culturais.
Por outro lado, verificamos que as atuais legislações urbanísticas expressam
limites ante ao planejamento do espaço urbano que deveria ser o eixo estruturador da
questão urbana, mas em verdade tem se demonstrado ineficiente para propor a correção
das desigualdades territoriais e assim, evitar os processos de segregação socioespacial que
se apresenta como um dos entraves para o direito à cidade.
Diante deste quadro é necessário que políticas públicas sejam formuladas e
implementadas, com vistas à redução e consequentemente eliminação das áreas de risco,
bem como o remanejamento destas populações para local seguro. Políticas que sejam
capazes de nortear o uso e a ocupação do solo urbano, políticas que sejam mais igualitárias
e menos tendenciosas.
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