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31/12/2018 Arquivo Vivo O sequestro de Olivetto: do cativeiro em uma casinha de cachorro ao resgate dramático – Arquivo Vivo – R7

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O sequestro de Olivetto: do cativeiro em uma casinha de cachorro ao resgate dramático


Posted By rhakime On 05/09/2017 @ 20:46 In Notícias | 3 Comments

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Por Renato Lombardi

Um dos maiores publicitários do País, Washington Olivetto foi sequestrado por um grupo de chilenos que tinham participado de
movimentos políticos no combate ao governo de Augusto Pinochet, no Chile. Chefiados por Maurício Norambuena uma dezena de
homens, a maioria do Chile, decidiram usar os métodos aplicados contra a ditadura no crime comum e com isso ganhar dinheiro. Muito
dinheiro.

Norambuena juntou o grupo do qual faziam parte dois argentinos. Era o chefe. Condenado no Chile à prisão perpétua fora resgatado por
um helicóptero blindado de uma penitenciária em Santiago, a capital chilena, e depois de circular por diversos países da América do Sul
e Central decidiu se instalar no Brasil, montar a quadrilha e dar início ao plano do sequestro de pessoas de destaque que pudessem
pagar grandes quantias pela liberdade.

Olivetto foi um dos escolhidos. Arrebatado por Norambuena e outros homens que forjaram uma blitz como se fossem policiais federais,
Olivetto foi retirado do carro nas proximidades da Praça Buenos Aires, na região da Avenida Angélica, bairro de Higienópolis, onde ficava
sua agência de publicidade, e levado para uma casa do bairro do Brooklin.

Trancado dentro de uma casinha de madeira de três metros quadrados, igual aquelas em que ficam os cachorros, era monitorado 24
horas através de uma câmera. Seus carcereiros, chilenos, faziam relatórios minuciosos e diários. E tinham que anotar o horário em que
ele acordava, tomava café, fazia suas refeições, as necessidades fisiológicas, tudo dentro daquela pequena caixa ventilada por um cano
de plástico colocado através de um pequeno buraco na madeira.

O sequestro durou 53 dias. E eu acompanhei todo o trabalho da polícia. Desde o dia do sequestro, 11 de dezembro de 2001, até a sua
libertação, em 2 de fevereiro de 2002. Junto com outro colega do jornal, onde eu trabalhava, ficava a par de toda a movimentação dos
delegados e investigadores e dia a dia abastecíamos um caderno para uma edição final quando da libertação. Os telefonemas para a
família do publicitário indicavam a quantia a ser paga.

As exigências eram sempre acompanhadas de graves ameaças. Muito dinheiro era solicitado. Ou pagam ou ele morre, prometiam os
sequestradores. A polícia estava atordoada. Lidava com profissionais. Numa tarde de quinta-feira, Norambuena e quatro do seu grupo,
entre eles uma mulher, foram presos, numa casa afastada do centro da cidade de Serra Negra, interior de São Paulo, por guardas
municipais. Tinham armas, drogas, identidades falsas.

Foram denunciados pelo dono de uma chácara que estranhou o comportamento. Os inquilinos eram estranhos, contou o denunciante.
Números de telefones em poder de Norambuena chamaram a atenção da polícia ao sequestro de Olivetto. Os chilenos foram levados
para o Departamento de Investigações Criminais – o Deic, no bairro de Santana, na zona norte da capital, que era o responsável pelas
apurações. Norambuena era o único que sabia a localização do cativeiro do publicitário. Na casa havia um casal e dois homens. Todos
falavam espanhol.

Inteligente, com uma longa carreira de militância política, Norambuena resistia aos interrogatórios dos policiais experientes no trato com
sequestradores comuns. Ignoravam a importância dele na militância de grupos de terroristas chilenos. Dizia não saber do cativeiro. Mas

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era o único que sabia entre os cinco. Aos poucos, percebendo que não convencia mais os policiais, decidiu mandar soltar o publicitário.
Mas fez exigências.

Queria falar ao telefone com seus cúmplices que estavam na casa. Se negou a usar qualquer telefone dentro do Deic ou telefones
públicos das proximidades. Deveria ser um orelhão, no centro da cidade, mas ele iria escolher. O chileno sabia que os telefones públicos
em frente ao prédio da polícia e nas imediações poderiam estar grampeados.

No centro a poucos metros do Tribunal de Justiça e do Fórum João Mendes, escolheu um orelhão e escoltado por dois delegados e
quatro investigadores desceu do carro da polícia, telefonou para o cativeiro e avisou os cúmplices que fora preso com outros quatro
companheiros. Era uma manhã de sábado. Foi levado de volta ao Deic mas somente no final da tarde falou que o cativeiro ficava no
bairro do Brooklin mas não deu o endereço.

O casal e os dois homens que tomavam conta de Olivetto havia 53 dias tiveram tempo de abandonaram a casa, de levar documentos e
roupas. O publicitário foi deixado dentro da casinha de madeira, sem saber o que se passava na parte externa. Chovera muito naquela
tarde. A energia elétrica acabara no bairro. Olivetto somente notou que alguma coisa estava errado por causa do silêncio. Ninguém
falava. O salto alto da mulher que tocava o assoalho da casa havia emudecido. O silêncio tomara conta da casa.

Olivetto disse que teve a percepção de que algo acontecera e começou a bater na casinha de madeira. Como ninguém aparecia, alguma
coisa o fez pensar que seus carcereiros tinham abandonado a casa. E por que? É que dias antes ele se revoltara, perdera o controle, se
irritara com aquela situação, começou a bater na madeira com força e acabou sendo retirado por dois homens e espancado.

Bateram muito nele e prometeram: se voltasse a fazer barulho o matariam. Olivetto contou que com o silêncio decidiu correr o risco de
ser espancado novamente e passou a gritar. Gritou muito.

Os moradores da casa ao lado do cativeiro tinham a curiosidade em saber porque aqueles vizinhos não os cumprimentavam, quase não
saiam, e quando encontrados no portão eram de poucas palavras. Apenas um bom dia, uma boa tarde em espanhol. Outro detalhe: o
portão da garagem era alto. Não dava para saber o que faziam. Havia uma lona. Uma das moradoras, estudante de medicina, ouviu
gritos abafados e somente poderiam ser da casa ao lado. Estava tudo escuro. A chuva dera uma trégua. Ela, então, colocou seu
estetoscópio junto a parede e ouviu o desespero do publicitário.

Com os pais decidiu bater no portão dos vizinhos e não tiveram resposta. Insistiram. Continuaram ouvindo gritos e resolveram chamar a
polícia. Avisaram o vizinho do outro lado, um juiz de Direito. O juiz e três moradores esperaram a chegada de policiais militares e
entraram na casa. A porta de acesso à sala estava aberta. A escuridão atingia todas as dependências. Os gritos levaram o juiz e os
vizinhos até a casinha de cachorro, trancada por fora com um cadeado.

Encontraram Olivetto desesperado. Barba por fazer havia quase dois meses, assustado, o publicitário se identificou dizendo que fora
sequestrado e que tomassem cuidado com os sequestradores que eram perigosos.

O juiz se identificou, tranquilizou Olivetto e o levou para sua casa. Deu água e fez com que telefonasse para a mulher e os filhos. A esta
altura, a polícia especializada que apurava o sequestro também foi avisada. O juiz telefonou para um amigo policial falando sobre o
encontro do Olivetto e este policial me ligou. Eu estava em casa quando Mario Jordão, o delegado, que trabalhara em Homicídios e se
tornou depois o chefe da Polícia Civil de São Paulo, me disse.

- Acharam o Olivetto. Ele esta no Brooklin na casa do meu amigo juiz. Barba grande e assustado. Mas está bem.

Telefonei para o jornal, telefonei para a rádio em que eu também trabalhava e entrei no ar com a notícia da libertação de Olivetto de um
sequestro que durara 53 dias. Foi exclusivo. Segui para o Brooklin andei pelo cativeiro. A esta altura Olivetto estava no Deic. A cobertura
foi completa. Fechamos a edição especial. Trabalho gratificante.

Tínhamos passo a passo da história desde o instante do sequestro, pouco depois da saída da agência de publicidade até a prisão de
Norambuena e o encontro de Olivetto. O caderno especial saiu na edição do domingo. Na semana seguinte fui à entrevista coletiva que
Olivetto deu no auditório da Faap, em Higienópolis. Perguntei se estava bem e ele me disse que tentava retomar sua vida primeiro em
família e para depois voltar ao trabalho. Contou que houve momentos no cativeiro que duvidou de sua libertação. Pensava que não sairia
vivo. Principalmente depois de espancado.

Norambuena foi condenado a 30 anos. Seus cúmplices também. Jamais denunciou os casal e os dois homens que tomavam conta do
cativeiro. Eles nunca foram identificados. Alguns anos depois, Norambuena tentou o regime semi-aberto, negado pela Justiça. O governo
brasileiro também negou a extradição dele solicitada pelo governo chileno. Norambuena somente será expulso do país depois de
cumprida a pena como consta na Lei das Execuções Penais, capítulo destinado aos estrangeiros que cometem crimes no Brasil.

Hoje, aos 60 anos, o chileno que chegou a ser apontado como um dos presidiários ligados ao PCC e também mentor da grande rebelião
de maio de 2006 quando o crime organizado matou dezenas de policiais e agentes penitenciários, está atualmente na Penitenciaría
Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, no regime diferenciado. Fica 22 horas na cela com pouca luz natural, tem uma hora por dia
de banho de sol quando pode ficar no pátio com outros seis detentos. Não tem acesso ao rádio, TV, revistas e jornais. Apenas livros, dois
por semana. A correspondência mandada ou recebida é lida pelos agentes penitenciários.

Norambuena está condenado também a duas penas de prisão perpétua no Chile pelo assassinato de um senador e pelo sequestro do
filho de um empresário da mídia chilena. Era o líder máximo do grupo terrorista de extrema esquerda Frente Patriótica Manoel
Rodriguez. Cumpria pena no Chile quando foi resgatado em 1996, fugiu para a Colômbia, se juntou às Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia (Farc), guerrilha esquerdista que se transformou em braço do narcotráfico com fortes ligações com traficantes brasileiros.

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