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29/12/2019 Brasileiro aponta solução para mistério da construção de Machu Picchu - 29/12/2019 - Ciência - Folha

Brasileiro aponta solução para mistério da


construção de Machu Picchu
Segundo estudo, incas ergueram a cidade sobre falhas geológicas, aproveitando-se
de pedras fraturadas

29.dez.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/12/29/)

Paula Sperb (https://www1.folha.uol.com.br/autores/paula-sperb.shtml)

PORTO ALEGRE Desde que o explorador norte-americano Hiram Bingham deu


de cara com Machu Picchu, no Peru, em 1911, durante uma expedição, uma
pergunta permanecia sem resposta: por que os incas construíram uma
cidade a 2.300 metros de altitude, praticamente inacessível?

O conjunto de construções com pedras era tão impressionante que Bingham


registrou o espanto no seu diário. “Alguém acreditará no que encontrei?
Felizmente, tenho uma boa câmera e o sol estava brilhando.”

Ele voltaria ao local novamente, e suas fotos e relato foram publicados em


Sua assinatura vale muito.
uma edição especial da “National Geographic” de 1913.
ENTENDA

A resposta para o mistério, mais de um século depois, foi proposta pelo


geólogo gaúcho Rualdo Menegat, professor do Departamento de
Paleontologia e Estratigrafia,
Jornalismo que do público
fiscaliza o poder Instituto de Geociências
e veicula da Universidade
notícias úteis e inspiradoras.
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
ASSINE A FOLHA
Segundo seus estudos, os incas
(HTTPS:/ fundaram propositalmente a cidade no local
/LOGIN.FOLHA.COM.BR/ASSINATURA/391202)

para que pudessem aproveitar falhas geológicas na crista montanhosa e se


Oferta especial R$ 1,90 no primeiro mês

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beneficiarem do tipo de rochas do lugar, que facilitavam "esculpir” a


superfície.

Machu Picchu vista do alto; estudo de brasileiro propõe detalhes sobre a construção feita
pelos incas - Yusuke Kawasaki

“São falhas geológicas que se cruzam no topo, lembrando um X. As fraturas


também ocorrem em um nível mineral. É como imaginar um pacote fechado
de bolachas. As bolachas se quebram e ficam esmigalhadas ali dentro, não
têm para onde ir”, compara Menegat.

Essa característica facilitava a extração das rochas para erguer monumentos


e muros e construir escadas. “Algumas falhas produzem rupturas muito
planas e pré-polidas. Os incas sabiam reconhecer os diferentes tipos. Além
disso, elas tinham formas que permitiam o encaixe, como triângulos ou
losangos, por exemplo”, diz.

Mas as falhas não ajudavam apenas na extração de pedras. “Ao remover os


blocos, era possível encravar a cidade na encosta montanhosa, tornando-a
firme e segura. Havia material de construção à disposição, que não exigia
cortar muito a rocha. Mas também tinha a água que vinha dos aquíferos
fraturados. Assim, temos todos elementos importantes para construção de
assentamentos humanos em locais elevados e seguros”, diz o pesquisador.

Machu Picchu reunia as melhores condições, especialmente se comparada a


outros ambientes na regiãoSua assinatura vale muito.
dos Andes, e era uma espécie de oásis. “No fundo
do vale, onde é plano, é extremamente perigoso. Em um ano pode ter
inundação e no outro seca. É muito instável, pode haver deslizamentos e o
vale pode ficar soterrado. Os Andes são inóspitos, é muito difícil viver ali
com terremotos
Jornalismo e vulcões.”
que fiscaliza o poder público e veicula notícias úteis e inspiradoras.

Desde que Menegat apresentou ASSINE seu estudo


A FOLHAno seminário anual da Sociedade
Geológica da America (GSA, da sigla em inglês), na cidade de Phoenix, no
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Arizona, em setembro, aOferta


sua pesquisa já foi
especial R$ 1,90 divulgada
no primeiro mês em pelo menos 15

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idiomas, em revistas como a “Science” e a publicação do “Instituto


Smithsonian”.

Menegat fez quatro expedições (em 2001, 2006, 2010 e 2012) a Machu
Picchu, analisou imagens de satélite com sete escalas para investigar o
lineamento e estudou lâminas de rochas de forma microscópica. Sua
pesquisa teve financiamento da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior).

Analisando as imagens de satélite e visitando o local, Menegat identificou


que as construções dos setores agrícolas, a direção das paredes e até
escadarias coincidiam com as linhas das falhas. “Os incas se orientaram pelas
fraturas e construíram de acordo com elas”, explica.

A pesquisa teve início com um “insight”, em 1999, durante uma expedição


pelo Peru para elaboração de um atlas. Menegat enfrentou as montanhas
íngremes, a 6.300 m de altitude. Do alto, viu a cidadela lá embaixo.

“Olhei para aquele cenário e percebi que tinha uma situação especial do
ponto de vista geomorfológico”, relembra. A hipótese se confirmou anos
depois. “É assim que os cientistas trabalham, 1% é o insight e 99% é suor”,
brinca. Agora ele estuda se a mesma dinâmica ocorre também na Bolívia.

A cultura inca, segundo o professor, é a única da história que conseguiu


construir um império em zonas de alta altitude. “Houve tribos e culturas no
Himalaia, por exemplo, mas sem as grandes construções. Não teve nada
semelhante nas montanhas do Irã, no Afeganistão e nem mesmo na região
rochosa dos Estados Unidos. São locais que não tiveram um império de 10
Sua assinatura vale muito.
milhões de pessoas em um ambiente inóspito como o montanhoso,
conseguindo garantir comida e sobrevivência de forma duradoura”, diz.

Com a resposta para o mistério de Machu Picchu, surge uma nova pergunta:
como os incas
Jornalismo conseguiam
que identificar
fiscaliza o poder falhas
público geológicas?
e veicula Para eoinspiradoras.
notícias úteis professor,
trata-se de um saber adquirido, fácil para um habitante dos Andes e difícil
para quem não vive em região de ASSINE A FOLHA
pedras expostas.
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Oferta especial R$ 1,90 no primeiro mês

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“Para quem mora no reino das rochas fraturadas, é possível reconhecer a


intensidade do fraturamento. É como morar na floresta e identificar árvores,
saber onde tem água e depender disso para a sobrevivência”, explica.

No seminário da GSA, em setembro, cerca de 6.000 pesquisadores estavam


reunidos. Mas Menegat não esperava uma repercussão mundial quase que
instantânea. “Percebi que meu trabalho deu suporte técnico e científico para
entendermos a singularidade andina.”

ENDEREÇO DA PÁGINA

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